issn 2236-0468 · 2019. 1. 14. · 9 interciência & sociedade revisÃo dos conceitos relacionados...

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  • ISSN 2236-0468

    Fundação Educacional Guaçuana – FEGPresidente – Márcia Urbini Brandão

    Faculdade Municipal Prof. Franco Montoro - FMPFMDiretor Geral – Prof. Dr. Estéfano Vizconde Veraszto

    Vice-Diretor – Prof. Dr. Odail PagliardiSecretária Geral – Profa. Kátia Elaine da Silva

    Coordenador do Curso de Administração – Prof. Dr. José Celso Sobreiro DiasCoordenador do Curso de Ciências da Computação – Prof. Dr. José Tarcísio Franco de Camargo

    Coordenador do Curso de Engenharia Ambiental – Prof. Dr. Alexandro Batista RicciCoordenador do Curso de Engenharia Química – Prof. Dr. Moacyr Rodrigo H. de Almeida

    Coordenadora do Curso de Nutrição – Profa. Daniela Soares de Oliveira Coordenadora do Curso de Psicologia – Profa. Me. Flávia Urbini dos Santos

    Editores: Profa. Dra. Maria Suzett Biembengut SantadeProf. Dr. Moacyr Rodrigo Hoedmaker de Almeida

    Conselho Editorial

    Profa. Dra. Ana Olivia Barufi Franco de MagalhãesProf. Dr. Antonio Medina Rivilla – Universidad Nacional de Educación a Distáncia (España)

    Profa. Dra. Daniela Melaré – Universidade Aberta de Lisboa (Portugal)Prof. Dr. Erico Fernando Lopes Pereira-Silva

    Prof. Dr. Estéfano Vizconde VerasztoProf. Dr. Francisco García García – Universidad Complutense de Madrid (España)

    Prof. Dr. João Alexandre BortolotiProf. Dr. José Celso Sobreiro Dias

    Prof. Dr. José Tarcísio Franco de CamargoProf. Esp. Luiz Carlos Aceti Junior

    Profa. Dra. Maria Suzett Biembengut SantadeProf. Dr. Moacyr Rodrigo Hoedmaker de Almeida

    Prof. Dr. Norian Marranghello - UNESPProf. Dr. Paulo Roberto Alves Pereira

    Pareceristas

    Prof. Dr. Ademilde Silveira Sartori - UDESCProf. Dr. Antonio Roberto Saad - UNG

    Profa. Dra. Carolina Del Roveri - UNESP / UNICASTELOProf. Dr. Claudio Manoel de C. Correia - PUC / UFAM

    Profa. Dra. Darcilia Marindir Pinto Simões - UERJProf. Dr. Denilson Pereira de Matos - UFPBProf. Dr. Eder Pires de Camargo - UNESP

    Prof. Dr. Eleone Ferraz de Assis - UFG / UERJProfa. Dra. Eliana Meneses de Melo - UBC / UMC

    Profa. Dra. Fernanda Oliveira Simon - FACProf. Dr. Gilberto Costa Justino - INPA

    Profa. Dra. Giselle Patrícia Sancinetti - FAEProfa. Dra. Ivani Aparecida Carlos - UFSCar

    Profa. Dra. Liliane Santos - Université Charles-de-GaulleProfa. Dra. Lucia Deborah Araujo - UNESA

    Prof. Dr. Luiz Antonio Rossi - UNICAMPProfa. Dra. Magda Bahia Schlee - UERJ / UFF

    Prof. Dr. Márcio Henrique Zancopé - UFGProf. Dr. Marcolino F. Neto - FAE/PUC-Poços de Caldas

    Prof. Dr. Marcos Vinícius Rodrigues - FAE/UNIFALProfa. Dra. Maria Salett Biembengut - FURB/CREMM

    Prof. Dr. Mauro Donizeti Berni - UNICAMPProf. Dr. Nelson Hein - FURB

    Prof. Dr. Nonato Assis de Miranda - UNESPProfa. Dra. Rozely Ferreira dos Santos - UNICAMP

    Prof. Dr. Sandro Xavier de Campos - UELProfa. Dra. Vania Lúcia Rodrigues Dutra - UERJ/UFF

    Profa. Dra. Vera Lucia M. dos Santos Nojima - PUC-RJProf. Me. Bruno Brandão Fischer – UCM/Madrid/Espanã

  • Diagramação e ArteAntonio Valdomiro Mucciolo Junior

    Gilson Anacleto da MotaGuilherme de Oliveira Martins

    Editora FMPFM

    FICHA CATALOGRÁFICA

    Ficha Catalográfica: Adriano Madaleno Miossi – CRB 8 / nº 6981

    Os textos publicados na revista são de inteira responsabilidade de seus autores.Permite-se a reprodução desde que citada a fonte e o autor.

    Endereço para correspondência e contato:REVISTA INTERCIÊNCIA & SOCIEDADE

    Faculdade Municipal Professor Franco Montoro – FMPFMRua dos Estudantes, s/nº, Cachoeira de Cima, Caixa Postal 293,

    CEP: 13843-971 - Mogi Guaçu - SP.Fone: (19) 3861-6255 e 3861-6606

    Homepage: www. fmpfm.edu.bre-mail: [email protected]

    I49 Interciência e Sociedade. v.1, n.1 (2012). – Mogi

    Guaçu : Faculdade Municipal Professor Franco Montoro, 2012.

    Semestral

    1. Divulgação científica – Periódicos. 2. Ciência. 3. Cultura. 4. Gestão. 5. Sustentabilidade. 6. Educação. 7. Saúde. 8. Tecnologia. 9. Multidisciplinar

    CDD-050 ISSN 2238-1295

  • EDITORIAL

    Para o caminho da pesquisa na teia do conhecimento

    A Sociedade do Conhecimento pode ser compreendida como a sociedade onde o conhecer forma a rede de recurso para a produção científica e teórica na troca de conheci-mento e para a criação de riqueza, de prosperidade e de qualidade de vida da população. Por esta razão, o investimento na pesquisa e em sua interação entre a diversidade de saberes tem caminhado na velocidade acelerada em nível científico pelo progresso tecnológico e pela capacidade de aprendizagem das sociedades.

    Desta feita, a segunda edição da REVISTA “INTERCIÊNCIA & SOCIEDADE” suscita a teia das ideias nos diálogos da produção científica de pesquisadores de diversas unidades e universidades de pesquisa para que haja a integração das abordagens diferentes na forma-ção da totalidade de pensamento que se movimenta, na soma de saberes, o conceito maior da trilha da humanidade. Essa noção de totalidade, mas ao mesmo tempo, cria uma concep-ção de que a simples soma das partes não leva ao simples total. É certo que a totalidade das pesquisas provoca o conjunto dos saberes e também conclama o espaço de cada colocação dos pesquisadores. Isso significa que na união das forças de cada pesquisa forma-se a soma das ideias coletivas num só corpo: o conhecimento em teia.

    Vale aqui ressaltar que os sentidos do homem não se diluem ao vento, mas são in-terlocutores do mundo. É nesse sentido, que se fala da capacidade auto-organizativa do ser humano e da sua autonomia diante da complexa ambiência em que se vive atualmente.

    Assim se observa que, na organização dos saberes da segunda edição da Revista, os artigos bradam a união de todas as inquietações humanas, como: vida sustentável, admi-nistração em setores contábeis, planejamento da construção civil, expansão e aplicação tec-nológica em diferentes setores, educação ambiental no aproveitamento do lixo urbano, ciclo organizativo do ecossistema, políticas públicas no planejamento das cidades, gastronomia na equação da vida social das pessoas, dentre outras preocupações.

    Na complexidade das pesquisas, a humanidade está sujeita a cruzamento de múl-tiplas dinâmicas pessoais, contextuais, familiares e institucionais. Nessa mesma dinâmica, a REVISTA “INTERCIÊNCIA & SOCIEDADE” ancora-se na multiversalidade das pesquisas para não se calarem as inquietações dos pesquisadores, dos docentes e dos discentes na busca da organicidade da vida através das pesquisas.

    O Editorial tem certeza de que todos os envolvidos nesta Revista demonstram a coragem de estarem juntos no fazer ciência para o crescimento sempre da instituição no en-volvimento cada vez mais dos docentes-pesquisadores e no fortalecimento de seus futuros profissionais.

    Profª Drª Maria Suzett Biembengut Santade

    Editora

  • SUMÁRIO

    MARCO REGULATÓRIO E O ESTABELECIMENTO DE INDICADORES COM FOCO EM REQUISITOS SOCIOECONÔMICOS PARA O RETROFIT DE EDIFICAÇÕES BERNI, Mauro Donizeti; DELGADO, Antonio Carlos; PAGLIARDI,Odail

    ANÁLISE AMBIENTAL E GEOESPACIAL DOS DEPÓSITOS DE LIXOS CLANDESTINOS DA CIDADE DE MOGI GUAÇUCOSTA, Ana Caroline; BARRAZA LARIOS, Mario Roberto

    SUSCEPTIBILIDADE DE MUSCA DOMESTICA À IVERMECTINA, DORAMECTINA E MOXIDECTINA EM MOGI GUAÇU-SPCAMARGO, Eliana Anunciato Franco de; PRADO, Angelo Pires do; CAMARGO, José Tarcísio Franco de

    INVENTÁRIO DA ARBORIZAÇÃO DAS VIAS PÚBLICAS DE INCONFIDENTES-MG E ANÁLISE DOS IMPACTOS GERADOSCORRÊA, Rony Felipe Marcelino; PINTO, Lilian Vilela Andrade

    PLANEJAMENTO PARA A VITALIDADE DAS CIDADESMARANGONI FILHO, Mário

    PLANEJAMENTO AMBIENTAL URBANO: O CASO DO MUNICÍPIO DE SERRA NEGRA – SPFAGUNDES, Anatália Silva Montoro; FRAISOLI, Camila

    REVISÃO DOS CONCEITOS RELACIONADOS À UTILIZAÇÃO CONJUNTA DE AÇOS DAS CATEGORIAS CA-50 E CA-60 EM PEÇAS SUBMETIDAS À FLEXÃO SIMPLES POR MEIO DE ESTUDO DE CASOSARTORTI, Artur Lenz 09

    19

    31

    41

    53

    61

    73

  • DEMONSTRAÇÃO DOS FLUXOS DE CAIXA (DFC): CONCEITOS E ESTRUTURACOSTA, Rodrigo Simão da

    EDUCAÇÃO EM DIABETESMIRANDA, Silvio Cesar; OLIVEIRA, Daniela Soares

    A SUSTENTABILIDADE E O EMPREENDEDORISMO NO MERCADO GASTRONÔMICOWERDINI, Marcelo Malta

    INTERFACEAMENTO DE MODELOS PARA OTIMIZAÇÃO DE SISTEMAS ANALÍTICOSBORTOLOTI, João Alexandre; OCCHIUCCI, Fernando

    DESENVOLVIMENTO DE METODOLOGIA PARA DETERMINAÇÃO DE COT POR ESPECTROFOTOMETRIALEME, Bruno de Campos; SAITO, Bruno Orui

    85

    95

    101

    109

    117

  • 9Interciência & Sociedade

    REVISÃO DOS CONCEITOS RELACIONADOS À UTILIZAÇÃO CON-JUNTA DE AÇOS DAS CATEGORIAS CA-50 E CA-60 EM PEÇAS SUB-

    METIDAS À FLEXÃO SIMPLES POR MEIO DE ESTUDO DE CASO

    RESUMO: Este artigo refere-se à utilização conjunta de aços das categorias CA-50 e CA-60 em peças de concreto armado submetidas à flexão simples. Este assunto tem gerado dúvidas e questionamentos em alguns membros da comunidade técnica, a qual muitas vezes tem dividido as suas opiniões. Desta forma, a presente pesquisa busca contribuir na elucidação do assunto com uma breve revisão teórica ampliada por um estudo de caso prático de uma viga bi-apoiada, submetida à flexão simples com arma-dura composta por aço CA-50 e CA-60. Este artigo pode ser de utilidade para estudantes de graduação em engenharia civil ou profissionais que queiram ampliar seu conhecimento sobre o assunto.PALAVRAS CHAVE: Aço CA-50 e CA-60; flexão simples; vigas

    SARTORTI, Artur LenzCentro Universitário Adventista de São Paulo (UNASP)

    [email protected]

    ABSTRACT: This article refers to the joint use of steels in CA-50 and CA-60 categories in reinforced concrete pieces submitted to the simple flexion. This issue has raised doubts and questions among members that belong to the technical community, which often have divided their opinions. Thus, this re-search tries to contribute with the elucidation concerning to the subject with a brief theoretical increased by a practical case study of a bi-supported beam, submitted to the simple flexion with a reinforcement composed by CA-50 and CA-60 steel. This article can be use for students of graduation in Civil Engine-ering or professionals that desire to improve their knowledge about the subject.KEYWORDS: Steel CA-50 and CA-60; simple bending; beams.

    1. INTRODUÇÃO

    A expansão dos produtos para a construção civil tem possibilitado ao enge-nheiro projetista especificar soluções estru-turais com variados materiais. Uma variável possível é a utilização de aços das catego-rias CA-50 e CA-60 em peças de concreto armado. Muitas vezes é levantada a dúvi-da por profissionais da área estrutural, no que diz respeito à viabilidade técnica da utilização de aços de diferentes categorias de resistência e comportamentos em uma mesma peça de concreto armado. Desta maneira, muitas opiniões têm divergido e alguns engenheiros têm evitado a “mistura” de aços em seus projetos.

    O presente artigo busca contribuir no sentido de elucidar alguns pontos desta discussão, apresentando um estudo teóri-co, baseado em uma revisão de conceitos, sobre a utilização de aços de categorias

    diferentes em peças de concreto armado submetidas à flexão simples. Para que os conceitos apresentados na revisão teórica possam ser bem compreendidos, reserva--se ao final do artigo um espaço para a demonstração de um caso prático de di-mensionamento de uma viga de concreto armado bi-apoiada com a mistura de aços de diferentes categorias.

    2. Objetivo

    De forma geral, o objetivo do arti-go é revisar os conceitos da aplicação de aços de diferentes categorias em peças de concreto armado submetidas à flexão sim-ples, tentando responder a questão da pos-sibilidade técnica de utilização conjunta de aços de duas categorias na mesma peça. Por meio de um estudo de caso, procura-se ilustrar os conceitos abordados no artigo.

  • Interciência & Sociedade10

    3. Metodologia

    O artigo é baseado em uma bre-ve revisão bibliográfica e em um estudo de caso de uma viga bi-apoiada sujeita a fle-xão simples. Esta viga foi escolhida por se tratar de uma estrutura básica de concreto armado, de fácil entendimento, na qual os conceitos aqui abordados podem ser facil-mente identificados.

    4. Aços CA-50 e CA-60

    O aço é um material metálico, pro-duto das usinas siderúrgicas, constituído essencialmente de ferro e uma adição de até 2% de carbono. Outros elementos quí-micos podem ser acrescentados para me-lhorar alguma de suas características.

    A NBR 7480:2007 classifica como barras os produtos de diâmetro nominal igual a 5,0mm ou superior obtidos exclusi-vamente por laminação à quente (CA-25 e CA-50), e como fios os produtos de diâme-tro nominal até 10mm obtidos por trefilação ou processo equivalente (CA-60).

    Assim, nota-se que o processo de fabricação do CA-50 e do CA-60 é diferen-te. Moraes e Rego (2005) afirmam que a laminação é um processo de deformação mecânica, responsável pela redução da se-

    ção transversal do tarugo de aço, através de cilindros paraleos em rotação. Já a tre-filação é um processo de conformação me-cânica a frio onde o fio-máquina passa por meio de matrizes ou fieiras que são orifícios calibrados.

    Entretanto, não é apenas na fa-bricação que os aços CA-50 e CA-60 se diferem. Como a sua designação deixa ex-plícita, a capacidade resistente das duas categorias é diferente. O comportamento mecânico dos dois aços pode ser descrito através dos diagramas tensão-deformação.

    A NBR 6118:2003 no item 8.3.6 apresenta um diagrama-deformação úni-co para qualquer categoria de aço. Porém, sabe-se que o comportamento dos dois ti-pos de aço é diferente. Com base na antiga NBR 6118:1978, Fusco (1981) apresenta os diagramas tensão-deformação ilustra-dos nas Figuras 01 e 02. Apesar de não serem mais válidos pela NBR 6118:2003, estes diagramas expressam o real compor-tamento dos aços CA-50 e CA-60, sendo, portanto, utilizados neste estudo para me-lhor elucidar o comportamento do uso misto destas categorias em peças de concreto ar-mado sujeitas à flexão simples. Vale ainda destacar que a NBR 7480:2007 valida ainda estes diagramas conforme as prescrições encontradas no item 6.6.1.

    SARTORTI, A. L.

    Figura 1: Diagrama tensão-deformação para o aço CA-50.Fonte: Adpt. Fusco (1981).

    s

    Es

    f yd

    0,7.f yd

    10‰ syd2‰

    Lei d

    e Hoo

    ke

    s= /Es + 1/45.( /f yd - 0,7)²s s

    Figura 2: Diagrama tensão deformação para o aço CA-60.Fonte: Adpt. Fusco (1981).

    s

    Es

    f ykf yd

    yd 10‰ s

    Lei d

    e Hoo

    ke

  • 11Interciência & Sociedade

    Da observação da Figura 01 pode--se notar que:

    • A resistência característica ao escoamento do aço CA-50 ( ) vale 50kN/cm²;• A resistência de cálculo ao escoamento do aço CA-50 ( ) vale 43,5kN/cm²;• A deformação específica de início de escoamento do aço CA-50 ( ) vale , onde é o módu-lo de elasticidade do aço da arma-dura passiva definido em norma com o valor de 210GPa. Portanto

    ;• A deformação específica últi-ma vale .

    Da observação da Figura 02 pode--se notar que:

    • A resistência característica ao escoamento do aço CA-60 ( ) vale 60kN/cm²;• A resistência de cálculo ao escoamento do aço CA-60 ( ) vale 52,2kN/cm²;• A resistência de fim da pro-porcionalidade de Hooke do aço CA-

    60 vale 36,54kN/cm²;• A deformação específica equivalente ao fim da proporcionali-dade de Hooke do aço CA-60 vale

    ;• A deformação específica de início de escoamento do aço CA-60 ( ) vale , onde é o módulo de elastici-dade do aço da armadura passiva definido em norma com o valor de 210GPa e é o valor da de-formação específica residual no início do escoamento. Portanto

    ;• A deformação específica últi-ma vale .

    5. Utilização conjunta de aços das cate-gorias CA-50 e CA-60 em peças submeti-das à flexão simples

    As peças sujeitas a flexão simples perfazem uma grande parcela dos elemen-tos estruturais de concreto armado. Para ilustrar a situação de uma peça fletida, tem--se como exemplo uma viga qualquer com esquema estático e seção transversal apre-sentada na Figura 03.

    Revisão dos conceitos relacionados à utilização conjunta de aços das categorias ca-50 e ca-60 em peças submetidas à flexão simples por meio de estudo de caso

    p

    M = p. ²/8

    h

    b

    As

    Figura 3: Esquema estático e seção transversal de uma viga genérica.

    Fonte: Autor.

  • Interciência & Sociedade12

    Admitindo-se que a armadura As é composta por barras e fios (CA-50 e CA-60) e que o momento fletor M inicial seja exata-mente maior que o momento de fissuração,

    a seção média desta viga estará no Estádio II. Sendo assim, o diagrama de deforma-ções e tensões para esta seção transversal pode ser ilustrado como na Figura 04.

    Figura 4: Diagrama de deformações e tensões da seção mais solicitada.

    Fonte: Autor.

    Quando o valor do momento fletor M aumenta, os valores da tensão no aço ( )gradualmente irão elevar-se para níveis mais próximos ao patamar de escoamento.

    Como a armadura é composta por aços das categorias CA-50 e CA-60 ter-se--ia a seguinte situação ao serem sobrepos-tos os diagramas tensão-deformação dos dois aços (Figura 05).

    Fazendo-se uma rápida leitura da Figura 05 nota-se que:

    • O trecho inicial do diagrama tensão deformação pode ser admi-tido igual para os dois aços, pois a NBR 6118:2003 define um único mó-dulo de elasticidade para as diferen-tes categorias de aço;• Em um determinado ponto (a 0,7 de fyd do aço CA-60) os diagra-mas se separam, sendo que o aço CA-50 segue ainda um pouco no re-gime elástico e o aço CA-60 passa ao regime elasto-plástico;• Ao o aço CA-50 chegar ao patamar de escoamento, o aço CA-60 ainda absorve tensões com o au-mento das deformações até o início de seu patamar de escoamento;• Os dois aços devem apre-sentar uma deformação específica máxima de , sendo então o fa-tor limitante a máxima deformação específica e não a tensão de uma ou outra categoria de aço;

    s

    f yd CA-50

    yd CA-50 10‰ s

    f yd CA-60

    yd CA-60

    0,7.f yd CA-60

    Trec

    ho co

    mum

    Figura 5: Diagramas tensão-deformação sobre-postos para os dois aços.

    Fonte: Autor.

    SARTORTI, A. L.

    s+

    -Linha Neutra

    es

  • 13Interciência & Sociedade

    • Na ruptura que se espera em uma peça solicitada à flexão sim-ples (deformação plástica excessiva do aço – Domínios 1, 2 e 3), os dois tipos de aço estarão em seus res-pectivos patamares de escoamento sendo limitados pela máxima defor-mação.

    6.Estudo de caso de uma viga composta de aços das categorias CA-50 e CA-60

    Para que os pontos observados na análise teórica fiquem mais claros, reserva--se este espaço para o desenvolvimento prático de um caso de um viga submetida à

    5m

    p

    M = p. ²/8

    50cm

    20cm

    As

    flexão simples, na qual é empregada arma-dura passiva composta por CA-50 e CA-60.

    Trata-se de uma viga bi-apoiada com vão de 5m e resistência característica à compressão do concreto (fck) equivalente a 25 MPa. O esquema estático bem como a seção transversal e o diagrama de momen-tos fletores estão representados na Figura 06.

    Para efeito de análise, adotou-se a posição relativa da linha neutra ( ) com o valor de 0,2, o que caracteriza a peça estar trabalhando no Domínio 2 de de-formações na ruptura, já que o limite entre os domínios 2 e 3 dá-se com o valor 0,259.

    Figura 6: Esquema estático e seção transversal da viga em análise.

    Fonte: Autor.

    Pelo equilíbrio de momentos no Estádio III em uma seção retangular deter-mina-se a equação (1):

    (1)

    Sendo: é o momento fletor máximo

    com seu valor de cálculo;b é a largura da seção transversal

    valendo 20cm neste caso;d é a altura útil da armadura de tra-

    ção medida do centro de gravidade da ar-madura de tração à borda mais comprimida e neste caso vale 46cm;

    é a posição relativa da linha neutra x;

    é o valor da resistência de cál-culo à compressão do concreto, e é deter-minada pela divisão da resistência carac-terística à compressão do concreto pelo coeficiente de minoração da resistência do concreto que nesta verificação vale 1,4. Portanto, para este caso vale 17,86MPa.

    Portanto, o máximo momento fletor que pode ser resistido por esta peça com a imposição de é:

    Revisão dos conceitos relacionados à utilização conjunta de aços das categorias ca-50 e ca-60 em peças submetidas à flexão simples por meio de estudo de caso

  • Interciência & Sociedade14

    Por meio do equilíbrio de forças normais na seção transversal retangular no Estádio III tem-se a área de aço necessá-ria para resistir a esta solicitação através da equação (2).

    (2)

    Sendo: é a resistência de cálculo ao es-

    coamento do aço.Admitindo inicialmente que a área

    de aço para resistir este momento seja ape-nas composta de aço CA-50, tem-se:

    Adotando-se a relação de eficiên-cia igual a 1,2 entre o aço CA-50 e CA-60 (60/50=1,2) e determinando-se que a arma-dura em aço CA-50 deverá perfazer 76,7% da área total e os outros 23,3% devem ser atendidos com aço CA-60, tem-se:

    Armadura em CA-50 = 0,767.5,14=3,95cm²

    Armadura em CA-60 = 0,233.5,14/1,2=1,00cm²

    Portanto o arranjo final fica em .

    Para ilustrar as variações de ten-sões dos dois aços em serviço, imagine-se que na seção central da viga:

    Situação 01: um pequeno carre-gamento seja aplicado a viga, o qual geraria um momento fletor M1. Sendo M1 um valor muito pequeno, ele estaria abaixo do mo-mento mínimo de fissuração (limite entre os Estádios I e II). Portanto, a peça não estaria fissurada e as tensões de tração estariam sendo suportadas apenas pelo concreto, in-dependentemente da quantidade e catego-ria de aço envolvida no problema.

    Para exemplificar, seja este carre-gamento igual a 2kN/m.

    O momento fletor resultante máxi-mo é igual à 625kN.cm.

    Já o momento de fissuração, defi-nido na NBR 6118:2003 no item 17.3.1, vale 3206,20kN.cm.

    Nota-se que o valor solicitante é in-ferior ao momento de fissuração e a seção está no Estádio I.

    Situação 02: um acréscimo no carregamento amplia os valores das ten-sões de tração e um novo momento fletor M2, maior que o momento de fissuração, começa a atuar. Desta maneira, o concre-to não resiste mais a tração e encontra-se fissurado. A armadura então começa a ab-sorver as tensões de tração, porém estes valores são baixos.

    Para exemplificar, seja este carre-gamento igual a 15kN/m.

    O momento fletor resultante máxi-mo é igual à 4687,5kN.cm.

    Já o momento de fissuração, defi-nido na NBR 6118:2003 no item 17.3.1, vale 3206,20kN.cm.

    Nota-se que o valor solicitante é superior ao momento de fissuração e a se-ção está no Estádio II.

    Para que seja possível o cálculo da tensão na armadura, faz-se necessário a determinação da posição da linha neutra na seção mediana no Estádio II. Fazendo-se a somatória do momento estático em relação à linha neutra (equação (3)) tem-se (Figura 07):

    LN x/2

    d-x

    dx

    20cmAs.ae

    Figura 7: Determiação da linha neutra e do momento de inércia no Estádio II.Fonte: Autor.

    SARTORTI, A. L.

  • 15Interciência & Sociedade

    Sendo: é a razão modular dada por

    onde é o módulo de elasticida-de do aço (210GPa) e é o módulo de elasticidade secante do concreto dado por

    . O valor de neste exem-plo é de 8,82.

    Desta forma:

    O valor da inércia no Está-dio II é dado por (equação (4)):

    A tensão na armadura então pode ser determinada conforme a equação (5):

    Esta tensão está abaixo do limite de proporcionalidade de Hooke, tanto para o aço CA-50 (43,5kN/cm²) quanto para o aço CA-60 (36,54kN/cm²). Portanto, essa tensão ainda está contida no trecho comum, ilustrado no diagrama tensão-deformação da Figura 05. Para o cálculo da deformação específica pode ser utilizada a Lei de Hooke e esta valerá 1,06‰.

    Situação 03: um acréscimo maior no carregamento amplia os valores das ten-sões de tração, e um momento fletor M3 começa a atuar. Esse novo momento fletor faz com que a deformação específica atinja o valor de 1,74‰, que é o limite da propor-cionalidade de Hooke para o aço CA-60. A tensão tanto no CA-50 quanto no CA-60 va-leria 36,54kN/cm².

    Situação 04: um outro acréscimo no carregamento amplia os valores das tensões de tração e um momento fletor M4 começa a atuar. Esse novo momento fletor faz com que a deformação específica atinja o valor de 2,07‰, que é o limite da proporcionalidade de Hooke para o aço CA-50. O aço CA-60 está em seu trecho curvo do diagrama tensão-deformação.

    A tensão no aço CA-50 valerá 43,5kN/cm².

    Isolando-se a tensão do aço CA-60 para o trecho curvo na equação apresenta-da na Figura 02 tem-se a configuração da equação (6):

    (4)

    (5)

    (6)

    Revisão dos conceitos relacionados à utilização conjunta de aços das categorias ca-50 e ca-60 em peças submetidas à flexão simples por meio de estudo de caso

  • Interciência & Sociedade16

    Percebe-se que a tensão no aço CA-60 é menor que no aço CA-50.

    Situação 05: Um novo carrega-mento gera um momento M5. Esse novo momento faz com que a deformação espe-cífica atinja o valor de 4,49‰, que é a defor-mação específica de início de escoamento do CA-60.

    A tensão no aço CA-50 valerá 43,5kN/cm².

    A tensão no aço CA-60 valerá 52,2kN/cm².

    Situação 06: Um último carrega-mento gera um momento M6, igual ao mo-mento resistente último. Esse novo momen-to faz com que a deformação específica atinja o valor de 10‰, que é a deformação específica máxima tanto para o aço CA-50 quanto para o CA-60.

    A tensão no aço CA-50 valerá 43,5kN/cm².

    A tensão no aço CA-60 valerá 52,2kN/cm².

    Nota-se que na ruptura as duas categorias de aço estarão em seus respec-tivos patamares de escoamento.

    7. Análise dos resultados

    Das situações apresentadas no item 6, podem ser observados os seguintes fatos:

    • Quando a deformação espe-cífica do aço está abaixo de 1,74‰, ambos os aços das duas categorias analisados apresentarão a mesma tensão atuante (situação 02 e 03);• Entre o limite de deforma-ção de 1,74‰ e 2,07‰, o aço CA-50 apresenta um acréscimo de tensão maior que o CA-60 (situação 04);• A partir da deformação 2,07‰, o aço CA-50 não tem acrés-cimo de tensão, enquanto que o aço CA-60 apresenta acréscimo até a deformação de 4,49‰ (situação 05);• Quando os dois aços che-gam a deformação limite de 10‰, ambos estarão com sua respectiva tensão de escoamento (situação 06);

    • As diferentes tensões en-contradas nos diversos níveis de carregamento, para cada categoria de aço, não representam problema para o comportamento conjunto, pois o concreto que envolve as bar-ras garante a mesma deformação específica para ambos os aços atra-vés do monolitismo;• As situações discutidas no item 6 podem ser aplicadas a qual-quer elemento simplesmente fletido de concreto armado.

    8. CONSIDERAÇÕES FINAIS

    Através dos conceitos expostos, nota-se que a utilização conjunta do aço CA-50 e CA-60 em peças submetidas à fle-xão simples não acarreta problemas. Esta conclusão pode ser sustentada pelos se-guintes fatos:

    • Não existe diferença na ten-são dos aços em uma fase inicial dos diagramas tensão-deformação. Os níveis de tensão usualmente encon-trados em peças fletidas em serviço, na maioria das vezes, estão abaixo do valor de 36,54kN/cm²;• Quando os diagramas de tensão-deformação dos dois aços se dividem, as tensões em cada cate-goria de aço são diferentes, porém não a deformação que é garantida pelo concreto que envolve as barras;• Na iminência de ruptura, as duas categorias de aço estão em regime de escoamento e, portanto, com tensões constantes. Isso é es-sencial para que seja garantida uma ruptura avisada.

    Portanto, fica evidente a possibili-dade de utilização das duas categorias de aço em uma peça simplesmente fletida. Isto se mostra como uma vantagem quan-do existe a necessidade de alocação de um número excessivo de barras. A eficiência maior do aço CA-60 quanto à resistência pode ajudar a descongestionar armaduras. Outra situação muito comum é a utilização de telas eletrossoldadas em aço CA-60

    SARTORTI, A. L.

  • 17Interciência & Sociedade

    como complementos de armaduras em ver-galhões CA-50 para elementos de superfí-cie.

    Contudo, não se pretende fechar a questão da utilização de armaduras con-juntas de aços de categorias diferentes em peças fletidas neste artigo. Entretanto, es-pera-se que os comentários aqui expostos possibilitem um melhor esclarecimento do assunto ao leitor.

    REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

    Associação Brasileira de Normas Técnicas. Projeto e execução de obras de concreto armado. NBR 6118. Rio de Janeiro, 1978.

    Associação Brasileira de Normas Técnicas. Projeto de estruturas de concreto - procedimento. NBR 6118. Rio de Janeiro, 2003.

    Associação Brasileira de Normas Técnicas. Aço des-tinado a armaduras para estruturas de concreto armado - especificação. NBR 7480. Rio de Janeiro, 2007.

    Fusco, P. B. Estruturas de concreto: solicitações normais. LTC editora. Rio de Janeiro, 1981.

    Moraes, V. R.; Rego, L. R. M. Aços para Concreto Armado. In. Concreto: ensino, pesquisa e realiza-ções. Isaia, G. C. – editor. Instituto Brasileiro do Con-creto (IBRACON). São Paulo, 2005.

    Artur Lenz Sartorti. Graduado em Engenharia Civil pelo Centro Universitário Adventista de São Paulo (2005), mestre em Engenharia Civil de Estruturas pela Universidade Estadual de Campinas (2008) e doutorando em En-genharia de Estruturas na Escola de Engenharia de São Carlos - USP, em fase de elaboração de tese. Atualmente é professor associado de Engenharia Civil do Centro Universitário Adventista de São Paulo na área de Estruturas. Engenheiro Civil Calculista/Projetista de Estruturas. Foi Calculista/Projetista de Estruturas na ILTRUK - Projetos & Consultoria Técnica-Comercial Ltda apoiando as ações de consultoria da mesma. Possui experiência na área de Engenharia Civil, com ênfase em Estruturas de Concreto Armado/Protendido e Estruturas Metálicas.

    Revisão dos conceitos relacionados à utilização conjunta de aços das categorias ca-50 e ca-60 em peças submetidas à flexão simples por meio de estudo de caso

  • Interciência & Sociedade18

  • 19Interciência & Sociedade

    PLANEJAMENTO AMBIENTAL URBANO: O CASO DO MUNICÍPIO DE SERRA NEGRA – SP

    RESUMO: Nas últimas décadas, com a necessidade de reflexão acerca das questões ambientais, o termo planejamento ambiental tem estado na pauta de discussões de esferas privadas e públicas. O termo planejamento, embora recente, vem sendo apontado como uma das soluções para promover o desenvolvimento de um meio ambiente urbano sustentável, capaz de preservar os recursos e, ao mesmo tempo, promover melhorias na qualidade de vida dos cidadãos. O presente trabalho visa rea-lizar uma breve reflexão acerca do planejamento ambiental e das possibilidades de implantação de tal planejamento no Município turístico de Serra Negra, interior do estado de São Paulo. Para realizar este estudo foi efetivado o levantamento de aspectos legais, ambientais e econômicos do município, a fim de compreender os principais problemas, impactos e limites de Serra Negra. PALAVRAS-CHAVE: Desenvolvimento Sustentável, Planejamento Ambiental, Turismo, Serra Negra.

    FAGUNDES, Anatália Silva MontoroFaculdade Municipal “Prof. Franco Montoro” (FMPFM)

    [email protected]

    FRAISOLI, CamilaUniversidade Federal de São Paulo (UNIFESP)

    [email protected]

    ABSTRACT: In recent decades, with the need to reflect on environmental issues, the term environ-mental planning has been on the table of discussions of private and public spheres. The term planning, although recent, has been appointed as a solution to promote the development of a sustainable urban environment, which can preserve the resources and at the same time, improvements in quality of life for people of medium and small municipalities. The present work aims at a brief reflection on the pos-sibilities of environmental planning and deployment of such planning in the City tour of Serra Negra, in the state of Sao Paulo. To make this study we realize an analyses of legal aspects, environmental and economic municipality to understand impacts and limits of Serra Negra.KEYWORDS: Sustainable Development, Environmental Planning, Tourism, Serra Negra.

    1. INTRODUÇÃO

    Desde a Primeira Revolução In-dustrial (meados do século XVIII) as trans-formações ambientais induzidas pelos homens foram intensas e ininterruptas, modificando por completo o meio ambiente em escala mundial. Após essa revolução, o meio ambiente e os recursos naturais pas-sam a ser vistos como mercadorias, sendo assim apropriados pelo modo de produção capitalista. Da mesma forma, a Revolução Industrial impôs um novo ritmo de consumo às sociedades humanas, fato que interfere

    diretamente sobre o meio ambiente, tanto como recurso como quanto depósito dos re-síduos gerados pela sociedade.

    Segundo RIBEIRO (2001), as dis-cussões sobre as questões ambientais nascem como resposta a destruição de ba-ses naturais, da caça indiscriminada e da matança de animais e pássaros. A primeira ação de destaque internacional relacionado à questão ambiental ocorreu em 1890 nos EUA, com a criação do Parque de Yellows-tone, sendo essa a primeira Área de Prote-ção Ambiental do planeta.

    Quase um século depois, em

  • Interciência & Sociedade20

    1972, ocorre em Estocolmo a Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente Humano. Essa conferência é o marco mais significativo do movimento ambiental mun-dial. Os objetivos da conferência davam ênfase principalmente às questões referen-tes à poluição ambiental, ao acelerado pro-cesso de industrialização e urbanização, a relação entre uso dos recursos naturais e crescimento populacional.

    Em 1983, a ONU organizou a Co-missão Mundial do Meio Ambiente e De-senvolvimento, que resultou no documento intitulado Nosso Futuro Comum, também conhecido como relatório Brundtland, pu-blicado em 1987. Nesse documento, o conceito de desenvolvimento sustentável ganha destaque ao propor a possibilidade de desenvolvimento, desde que este es-teja atrelado ao uso racional dos recursos naturais. O relatório também se destaca por dar grande ênfase à questão da pobre-za mundial, apontando este como um dos principais problemas ambientais mundiais (FERREIRA, 1992).

    Em 1992 ocorre na cidade do Rio de Janeiro a Conferência do Rio, chamada de Eco 92. Essa Conferência representou outro marco para o movimento ambienta-lista, pois resultou em alguns avanços te-óricos metodológicos no debate ambiental. A Conferência teve como principais itens: a reafirmação sobre a soberania dos territó-rios nacionais; elege a pobreza como o prin-cipal elemento de degradação ambiental; diferencia as responsabilidades dos países ricos e pobres quanto à poluição; reafirma a preocupação com as gerações futuras; coloca a necessidade de maior mobilidade social; difunde a meta do desenvolvimento sustentável; cria o documento conhecido como Agenda 21.

    No contexto nacional, os primei-ros movimentos brasileiros que podem ser considerados como “ambientais” surgem após 1930. Nesse contexto político, as pre-ocupações ambientais diziam respeito ao uso e ocupação do território, imprimindo, portanto, uma preocupação geopolítica, marcando assim o controle federal sobre a biodiversidade do país. Coincidindo com as tendências internacionais acerca das ques-tões ambientais, os espaços naturais brasi-

    leiros eram abordados, ao mesmo tempo, por perspectivas naturalistas e geopolíticas, procurando preservar os “ambientes natu-rais”, os ecossistemas, e os limites das fron-teiras naturais.

    As maiores mudanças das políticas públicas ambientais nacionais só se efetiva-ram de fato após a Constituição Federal de 1988. Após 1988, é implementada a Política Nacional de Meio Ambiente, cuja prioridade era: “preservação, melhoria e recuperação da qualidade ambiental propícia à vida vi-sando a assegurar, no país, condições ao desenvolvimento sócio-econômico, aos in-teresses da segurança nacional e proteção da dignidade da vida humana” (Lei 6. 938, art. 2º, VENTURA e RAMBELLI, 1996).

    Além da PNMA (Política Nacional de Meio Ambiente), todas as Constituições Estaduais passam a ter capítulos sobre o meio ambiente, tão ou mais abrangentes que a Constituição Federal. Os municípios, agora com maior autonomia com a consti-tuição de 1988, passaram a ter dispositivos legais para a preservação ambiental, como as Leis Orgânicas e os Planos Diretores.

    Com novos mecanismos legais, to-das as esferas do poder público são então capazes de prover um meio ambiente que respeite os recursos naturais e, ao mesmo tempo, preserve e/ou promova a qualidade de vida de seus habitantes. Nas esferas lo-cais, os grandes instrumentos de destaque são o Plano Diretor e a Lei Orgânica dos municípios. Ambos os instrumentos são ca-pazes de estabelecer normas que regula-mentam o território e as atividades sociais e econômicas das cidades.

    Especificamente os planos direto-res, apresentam a capacidade de organi-zar e traçar objetivos e metas de controle, gerenciamento e regulamentação do meio ambiente urbano. Assim sendo, o plano di-retor, em si mesmo, estabelece característi-cas próprias de um planejamento ambiental urbano. Nesse sentido, podemos entender que o plano diretor de um município pode ser um importante instrumento de planeja-mento ambiental.

    O município de Serra Negra, loca-lizado no interior de São Paulo, apresenta condições ambientais particulares. Essas características transformaram o município

    FAGUNDES, A. S. M.; FRAISOLI, C.

  • 21Interciência & Sociedade

    em um pólo de atração turística, sendo esta a principal atividade econômica da cidade. Porém, o intenso fluxo turístico, aliado ao uso intenso do meio ambiente do município pode comprometer tanto o sistema natural de Serra Negra quanto a própria atividade do turismo. Assim sendo, é necessário se pensar em soluções e regulamentações para o uso do meio ambiente do local.

    O objetivo deste trabalho, tendo em vista as condições de Serra Negra, con-siste na análise da viabilidade de implanta-ção de Planejamento Ambiental urbano no município, dado as necessidades geradas pela pressão turística.

    2. Metodologia

    Tendo como norteador os objetivos propostos nesse trabalho, a metodologia se baseia na interpretação e análise das carac-terísticas ambientais, econômicas, sociais e jurídicas do município de Serra Negra. Para esse fim, os seguintes passos foram segui-dos;

    - Avaliar o Plano Diretor Municipal, e outros mecanismos legais de Serra Negra;- Interpretar e avaliar as caracterís-ticas econômicas, sociais e ambien-tais de Serra Negra;- Identificar os principais problemas ambientais urbanos;- Avaliar os principais problemas de-correntes da atividade turística do município;

    3. Planejamento ambiental nas esferas municipais

    Após a Constituição de 1988, os três níveis de governo estão habilitados a, da forma que melhor os couber, planejar e controlar o meio ambiente. Á União cabe questões de interesses mais gerais, à esca-la do território nacional, aos estados cabem as questões em níveis regionais, enquanto aos municípios caberiam os assuntos de in-teresses locais.

    Na prática significa afirmar que a autonomia dos estados e municípios após 1988 representa maiores possibilidades

    de ação das administrações estaduais e municipais. Porém, por vezes esses novos instrumentos defrontam-se com a incapa-cidade política, com jogos de interesses e com a inoperância de determinadas ações frente aos problemas urgentes (financeiros, sociais, etc.) dos estados e municípios bra-sileiros.

    O termo Planejamento Ambiental é uma expressão recente, usada com maior freqüência nos últimos dez anos graças a Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento no Rio de Ja-neiro, a ECO-92.

    A conferência tem como destaque a produção da chamada AGENDA 21, que previa um planejamento ambiental desde o nível global até os níveis nacional, regional (estadual) e local (municipal). Segundo a AGENDA 21, o objetivo do planejamento é promover a melhoria da qualidade de vida do ser humano e a conservação e preser-vação do meio ambiente.

    Segundo BALDWIN (1985), o pla-nejamento ambiental pode ser definido como o iniciar e a execução de atividades para dirigir e controlar a coleta, a transfor-mação, a distribuição e a disposição dos recursos de forma a sustentar as atividades humanas com um mínimo de distúrbios nos processos físicos, ecológicos e sociais.

    Para FLORIANO (2004) planeja-mento ambiental é um processo de organi-zações de tarefas para se chegar a um fim, com fases características e seqüenciais que, em geral estão na seguinte ordem: identificar o objeto do planejamento, criar uma visão sobre o assunto, definir o objeti-vo do planejamento, determinar uma visão ou compromisso para se cumprir o objetivo, definir políticas e critérios de trabalho, es-tabelecer metas, desenvolver um plano de ações necessárias para se atingir as metas, desenvolver um plano de ações necessá-rias para se atingir as metas.

    Segundo CHRISTOFOLETTI (2000), o planejamento ambiental é um im-portante instrumento de tomada de decisão, e deve levar em consideração os seguintes fatores: cenários econômicos e demográfi-cos, projeção de uso das águas, demandas hídricas; avaliação de limitação de recur-sos; avaliação de processos e fenômenos

    Planejamento ambiental urbano: O caso do município de Serra Negra – SP

  • Interciência & Sociedade22

    naturais.No caso do setor público, o plane-

    jamento ambiental apresenta algumas ca-racterísticas diferenciadas. O governo tem papel fundamental na consolidação do de-senvolvimento sustentável1, uma vez que ele é o responsável pelo estabelecimento das leis e normas que estabelecem os cri-térios ambientais que devem ser seguidos por todos. As leis e normas citadas devem ter atenção especial ao setor privado que, em seus processos de produção de bens e serviços, se utiliza dos recursos naturais e produz resíduos poluentes.

    Além de definir as leis e fiscalizar seu cumprimento, o poder público precisa ter uma atitude coerente, responsabilizan-do-se também por ajustar seu comporta-mento ao princípio do desenvolvimento sus-tentável, tornando-se exemplo de mudança de padrões de consumo e produção, ade-quando suas ações à ética socioambiental.

    Com a maior autonomia dos muni-cípios, novos instrumentos políticos foram inseridos nas administrações públicas mu-nicipais, permitindo maior amplitude de so-lução dos problemas urbanos e rurais dos municípios (FERREIRA, 2000). Dentre es-ses instrumentos, os principais são o Plano Diretor e a Lei Orgânica municipal.

    Braga (2001, p: 96) conceitua o plano diretor como “instrumento básico da política municipal de desenvolvimento e ex-pansão urbana, que tem como objetivo or-denar o pleno desenvolvimento das funções sociais da cidade e garantir o bem estar de seus habitantes”.

    Para MOTA (1999, p: 25), “o plano diretor deve conter as diretrizes e padrões da organização do espaço urbano, do de-senvolvimento sócio-econômico e do setor político administrativo, sempre visando me-lhorar as condições de vida da população da cidade”.

    Inicialmente, a proposta era que todos os municípios com mais de 20 mil ha-bitantes seriam obrigados a formular seus

    Planos Diretores2. Porém, em 2001, com a aprovação do Estatuto da cidade (Lei 10. 257 / 2001), ficou estabelecido a obri-gatoriedade do plano diretor para os muni-cípios com as seguintes situações: cidades pertencentes a regiões metropolitanas e aglomerações urbanas; cidades localizadas em áreas de especial interesse turístico; cidades em áreas de influencia de empre-endimentos ou atividades com significativo impacto ambiental.

    Segundo o documento “Cidades Sustentáveis” do Ministério do Meio Am-biente, para a formulação e implementação de políticas públicas pautadas no desenvol-vimento sustentável e na Agenda 21, duas estratégias de sustentabilidade estão dire-tamente ligadas ao Plano Diretor:

    1 – Aperfeiçoar a regulação do uso e da ocupação do solo urbano e pro-mover o ordenamento do território, contribuindo para a melhoria das condições de vida da população, considerando a promoção de equi-dade, eficiência e qualidade ambien-tal.2 – Promover o desenvolvimento ins-titucional e o fortalecimento da capa-cidade de planejamento e gestão de-mocrática de cidade, incorporando no processo a dimensão ambiental urbana e assegurando a efetiva par-ticipação da sociedade.

    Analisando os parâmetros acima citados, o Plano Diretor se configura como instrumento institucional que busca a nor-matização dos usos e a regulamentação do espaço urbano. Por isso, sua regulamenta-ção e prática organiza e transforma as ci-dades, se constituindo em um instrumento de ação para o planejamento rural e urbano dos municípios.

    Segundo BRAGA (2001), há um grande distanciamento entre o que é pro-posto pelos planejadores e seus projetos e

    1 Nesse trabalho, entendemos por desenvolvimento sustentável o atendimento das necessidades da geração atual sem com-prometer o direito das futuras gerações atenderem as suas próprias necessidades.

    2 No caso do Estado de São Paulo, todos os municípios foram obrigados a compor um plano diretor.

    FAGUNDES, A. S. M.; FRAISOLI, C.

  • 23Interciência & Sociedade

    a realidade dos processos sociais e econô-micos que moldam o meio ambiente urba-no. Em grande parte das cidades brasilei-ras, os Planos Diretores jamais saíram do papel, ou então se tornaram obsoletos ou pouco práticos, frente à realidade dos mu-nicípios. Na prática, o sistema político ad-ministrativo brasileiro, baseado no jogo de interesse e na lenta máquina burocrática, dificulta a aprovação e a aplicação dos pla-nos, comprometendo o planejamento dos municípios.

    Ainda sim, a partir do Plano Diretor é possível não apenas administrar o espaço urbano dos municípios, mas também reali-zar um planejamento ambiental adequado às condições naturais dos sítios urbanos. Como instrumento de gestão, os planos di-retores se configuram como uma saída à degradação ambiental e a fragilização do meio ambiente urbano.

    Assim, podemos compreender que o Plano Diretor pode ser utilizado como or-ganismo de implantação de instrumentos de planejamento. Os planos, da mesma forma que os planejamentos ambientais aplicados a meios privados, devem seguir metodolo-gias de diagnósticos, traçar objetivos e me-tas, impor mecanismos de regulação de uso e ocupação de terras.

    4. O município de Serra Negra e o plane-jamento ambiental

    As cidades podem ser compreen-didas como a máxima representação do de-senvolvimento técnico, econômico e social das sociedades humanas. Desde os primei-ros aglomerados humanos, até as atuais e modernas megalópoles, podemos afirmar que as cidades são o espaço primordial do homem, onde ele realiza todas as suas ati-vidades e relações.

    Nos ambientes urbanos podemos encontrar os objetos e elementos constru-ídos pelo homem, bem como os elementos e fenômenos naturais próprios do meio am-biente e fundamental aos meios de vida hu-mana. É no meio ambiente urbano que se evidencia intensamente a modificação do meio ambiente causada pela ação humana.

    Tendo em vista os impactos am-bientais urbanos causados pela ação hu-

    mana, bem como a qualidade de vida das sociedades urbanas, é cada vez mais ur-gente pensar em alternativas para criar um meio ambiente urbano que vise o desenvol-vimento sustentável. Pensando em alterna-tivas, a implantação de um planejamento ambiental urbano pode ser uma saída para a questão.

    Nesse sentido, as políticas públi-cas municipais tornam-se um importante instrumento de planejamento, uma vez que permitem ao poder local a tentativa de enfrentar o processo de degradação sócio-ambiental.

    Assim, visando os objetivos des-se estudo, abaixo nos concentraremos nas questões referentes ao município de Serra Negra. O município de Serra Negra possui 26.613 habitantes (IBGE, 2011), e está si-tuado numa ramificação da Serra da Man-tiqueira, a leste do Estado de São Paulo. Faz parte do chamado Circuito das Águas Paulistas, sendo, portanto, um dos centros turísticos da região.

    Conforme suas características am-bientais e econômicas, Serra Negra é um grande centro turístico do país, recebendo um público flutuante de cerca de 100.000 pessoas durante todo o ano (Prefeitura Municipal de Serra Negra, 2011). O gran-de número de turistas, bem como sua alta rotatividade, faz com que o turismo seja a atividade econômica mais importante do município.

    Para compreender melhor as con-dições do município de Serra Negra é ne-cessário avaliar suas características, a fim de estabelecer limites e soluções propicia-das pelas pressões geradas pela atividade turística.

    4.1. Caracterização Ambiental

    Avaliando a Geomorfologia e a Geologia da região, podemos afirmar que o relevo de Serra Negra é esculturado sobre rochas muito antigas do chamado embasa-mento cristalino, e influenciado por grandes alterações climáticas pretéritas, além de movimentos tectônicos diversos. O municí-pio situa-se quase que integralmente sobre rochas do chamado Complexo Amparo, de idade pré-cambriana.

    Planejamento ambiental urbano: O caso do município de Serra Negra – SP

  • Interciência & Sociedade24

    A pedologia de Serra Negra obede-ce às características geológicas e climáticas da área, sendo, portanto, formado por solos rasos, classificados como Cambissolos. Os solos da região não apresentam acumula-ção significativa de óxidos de ferro, húmus ou argilas.

    O clima do Município é caracteri-zado como mesotérmico de invernos secos, com verões quentes e chuvosos. A tempe-ratura média do mês mais frio é inferior a 18°C e do mês mais quente, situa-se entre 22° e 24°C. O índice pluviométrico do Mu-nicípio varia entre 1.300 mm e 1.400 mm, sendo a média do mês mais seco inferior a 30 mm.

    A vegetação original era formada por floresta mesófila, caracterizada como formação florestal estacional latifoliadas subcaducifólia tropical pluvial. As espécies características são o cedro, a peroba e a fi-gueira, dentre outras.

    As águas minerais do município de Serra Negra são consideradas o principal recurso natural da cidade, estando vincula-das diretamente às atividades turísticas do

    município. O município é classificado como “Estância Hidromineral”, devido à explora-ção da balneoterapia e água de mesa. Os recursos hídricos de Serra Negra perten-cem à UGRHI (Unidade de Gerenciamento de Recursos Hídricos) nº 09, que é formada pelos territórios dos municípios contidos na Bacia do Rio Mogi Guaçu.

    4.2. Caracterização Demográfica

    De acordo com suas caracterís-ticas demográficas, o município de Serra Negra pode ser considerado um município de pequeno porte, com uma área de aproxi-madamente 203 Km2. Com uma população de cerca de 26.633 habitantes, o município apresenta uma taxa de densidade demo-gráfica de 131 habitantes por Km2. Com essa taxa, podemos considerar o município como sendo muito povoado, mesmo não sendo populoso. Na tabela abaixo (tabela 1), podemos fazer uma breve avaliação das condições demográficas gerais de Serra Negra:

    Tabela 1. Aspectos Demográficos do Município de Serra Negra

    Fonte: IBGE

    Área (km2 ) 203,01População (hab.) 26.633

    Densidade Demográfica (hab./km2) 131,19Taxa de Crescimento Anual da População (% a.a.) 1,02

    Grau de Urbanização (%) 86,76Taxa de natalidade (por mil hab.) 10,89

    Taxa de mortalidade Infantil (por mil mulheres entre 15 e 49 anos) 3,48

    4.3. Caracterização Socioeconômica

    Conforme já destacado, o municí-pio de Serra Negra apresenta como princi-pal fonte de renda a atividade turística. Essa atividade proporciona aos moradores do local um nível econômico considerado ele-

    vado, com alto PIB e alto índice de Desen-volvimento Humano (vide tabela 2). Além disso, o município também apresenta bons índices de infraestrutura urbana, apontado para uma boa qualidade de vida para gran-de parte de seus moradores.

    FAGUNDES, A. S. M.; FRAISOLI, C.

  • 25Interciência & Sociedade

    4.4 Plano Diretor de Serra Negra

    Conforme citado anteriormente, o plano diretor é o instrumento básico da polí-tica municipal de desenvolvimento e expan-são urbana. Tem como objetivo ordenar o pleno desenvolvimento das funções sociais da cidade e garantir o bem estar da popula-ção (BRAGA, 2001).

    De forma geral, os planos dire-tores tem se constituído basicamente em instrumentos definidores das diretrizes de planejamento, gestão territorial urbana e ambiental. Possibilita a ordenação do uso e ocupação do solo urbano por meio de uma gestão democrática, que permite a inserção da participação popular, gerando assim dis-cussões acerca da problemática urbana e das relações socioeconômicas das cidades (SIVIERO, 1995).

    O atual plano diretor do município de Serra Negra foi aprovado em 30 de ou-tubro de 2006. No decorrer do primeiro ca-pítulo são estabelecidas diversas diretrizes. Entre elas está a determinação de Plano Di-retor ser o orientador das atividades públi-cas e privadas desenvolvidas no Município pelo prazo de dez anos, e após esse prazo o mesmo deve ser revisto.

    No quarto capítulo, o Plano aborda os Aspectos Econômicos. Especificamente a Seção III determina que a política muni-cipal de industrialização deverá estar de acordo com a lei municipal vigente, bem como com a vocação turística do município, e não poderão ser instaladas indústrias po-luentes ou cujas atividades apresentem ris-co ambiental, além de promover a formação e atualização de mão-de-obra local.

    Esta seção faz paralelo com a Se-

    ção IV, que estabelece que a política mu-nicipal de turismo deverá estar plenamente adequada à presente lei, devendo privilegiar o potencial e a vocação turística do Municí-pio, procurando a sua consolidação e seu crescimento de forma ordenada e equilibra-da, de forma a não prejudicar suas maiores riquezas, assim compreendidos o clima, a água, a vegetação e sua paisagem natural.

    No Capítulo V, o Plano aborda os Aspectos Sociais do município, relacionado com a Saúde, a Assistência Social, a Edu-cação, a Cultura, ao Esporte e Lazer e a Habitação. Dentro de todos os aspectos, o Plano estabelece: a criação de programas de prevenção e tratamento de doenças de saúde pública; determina que os serviços de assistência social deverão ter estrutura organizacional adequada; que deverão ser garantidas ao ensino fundamental e médio, transporte gratuito e merenda escolar de qualidade; que deverão ser valorizados os eventos e manifestações culturais e artísti-cas existentes e incentivar o surgimento de outros novos; que o poder público deverá apoiar e incentivar todas as modalidades de esporte, bem como os atletas amadores que representarem o Município; que o Mu-nicípio e a iniciativa privada deverão desen-volver políticas de incentivo à construção de casas próprias. Todos os esforços deverão ser empenhados para evitar as sub-habita-ções e favelas, para isso o Município pode-rá ter áreas disponíveis para a implantação de loteamentos ou desmembramentos po-pulares.

    No sexto capítulo, encontramos questões relativas á Infra-Estrutura Física. Assim, ficam estabelecidas as zonas ur-bana e rural, bem como vias, anéis viários

    Tabela 2. Aspectos Econômicos do Município de Serra Negra

    Fonte: SEADE

    PIB (em milhões de reais correntes) 262,61Renda per Capita (salários mínimos) 3,08

    Índice de Desenvolvimento Humano – IDH 0,817Participação nas Exportações do Estado (%) 0,000390

    Domicílios com Infraestrutura Interna Urbana Adequada (%) 73,44Taxa de Analfabetismo (%) 8,90

    Planejamento ambiental urbano: O caso do município de Serra Negra – SP

  • Interciência & Sociedade26

    urbanos, entre outros e os critérios de fun-cionamento para todos os tipos de transpor-te. Neste mesmo capítulo, encontramos as questões relativas ao Saneamento Básico. Dessa forma, na seção IV, o Plano estabe-lece que os serviços de abastecimento de água e de coleta e destinação final de es-gotos sanitários do Município continuarão sendo prestados pela Companhia de Sa-neamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp) mediante concessão pública.

    O capítulo VII do Plano aborda as questões relativas ao Meio Ambiente. O Plano prevê a preservação dos corpos d’água através das áreas de proteção per-manente (APP). A paisagem urbana deve-rá preservar os aspectos característicos do município, especialmente morros, monta-nhas, nascentes, fontes, praças, monumen-tos e marcos históricos e urbanísticos. Ain-da, na seção IV, o Plano prevê a criação de um programa de minimização de resíduos, como também, o incentivo da participação da comunidade no programa de coleta sele-tiva e na educação ambiental.

    As questões relativas ás Áreas, o Parcelamento, do Uso e da Ocupação do Solo, do Código de Obras, Edificações e Posturas é abordado no capítulo VII. Neste capítulo é especificado que o território mu-nicipal fica subdividido em “área urbana”, “área rural”, “área de urbanização especí-fica” e “área de expansão urbana”. Define também os abairramentos setoriais do Mu-nicípio. Na seção IX tem-se que nenhuma edificação, reforma, demolição, movimen-tação de terra ou outra obra de qualquer espécie poderá ser feita sem licenciamento prévio pelos órgãos competentes e da Ad-ministração Municipal.

    O capítulo XI aborda as questões relativas ás Propostas das Audiências Pú-blicas. Dispõe que a gestão municipal deve-rá seguir as propostas votadas e aprovadas nas audiências públicas, no sentido de ele-var a qualidade de vida, priorizando a edu-cação, a saúde, protegendo os recursos na-turais e as paisagens, evitando a ocupação das áreas de risco, aumentando a eficiência e a abrangência da economia, pensando no bem-estar e na melhoria das condições de vida da população.

    A partir da leitura do Plano Dire-

    tor observa-se que o mesmo é uma peça chave para articular os processos de de-senvolvimento e de tomada de decisões em nível municipal, pois trabalha com meca-nismos diversos, incluindo técnicas legais e administrativas, cuidando da ordenação do espaço territorial municipal, envolvendo, ainda, aspectos sociais, econômicos, físico--territoriais e institucionais, além de suas interferências no uso e na distribuição da população e de suas atividades no solo ur-bano.

    4.5 A Questão do Turismo

    Estima-se (conforme dados da Prefeitura Municipal de Serra Negra) que a cidade recebe um público flutuante de cer-ca de 100.000 pessoas durante todo o ano, sendo que os períodos de final de ano, car-naval, páscoa e Corpus Christi são as épo-cas de maior visitação. O município possui uma média de 60 prédios voltados ao tu-rismo, entre hotéis e pousadas, totalizando uma média de 7000 leitos. Acredita-se que o turismo represente 50% de toda econo-mia do município.

    O comércio local representa um grande pólo de atração turística, com uma enorme variedade em produtos em lã, linha, couro, artefatos de madeira e laticínios. O turismo rural também é representativo na economia local, com propriedades abertas à visitação que desenvolvem desde o plan-tio de café à fabricação de queijos e vinhos. Atualmente encontra-se uma média de 10 propriedades rurais que oferecem esse tipo de serviço aos turistas.

    O plano diretor composto em 2006 aponta propostas e regulamentações a fim de privilegiar o potencial e a vocação turís-tica do Município. O plano procura a con-solidação e o crescimento da atividade tu-rística de maneira ordenada e equilibrada, de forma a não prejudicar seus recursos ambientais. Também faz parte do plano de-senvolver a educação da população, visan-do estimular a mentalidade turística interna e receptiva.

    Faz parte das propostas do plano diretor a criação de um Plano Diretor de Turismo, prevendo a construção de novos recursos e infraestruturas, além da explora-

    FAGUNDES, A. S. M.; FRAISOLI, C.

  • 27Interciência & Sociedade

    ção de um espaço já existente no municí-pio, chamado de “Centro de Convenções”.

    A localização do município na Serra da Mantiqueira, o clima tropical de altitude, a preservação de grande parte de suas ma-tas nativas, além dos recursos hídricos, são os elementos que proporcionaram a grande atratividade do município. Esses foram os recursos naturais e ambientais apropriados como mercadorias pelo sistema econômico e transformados em objetos de atração tu-rística e fontes de renda.

    Os recursos hídricos de Serra Ne-gra, e em especial as fontes e minas de água, são considerados os grandes bens naturais da cidade. O desenvolvimento da atividade turística ocorreu de fato a par-tir da descoberta da qualidade das águas minerais, sendo que hoje Serra Negra é considerada “Cidade da Saúde”. Segundo os dados do plano diretor (2006), as águas encontradas em Serra Negra têm como ca-racterísticas a radioatividade, o baixo índice de mineralização e o pH alcalino. As minas e fontes de água foram transformadas em fontanários, e hoje a cidade possui mais de 10 fontes de visitação pública.

    5. Propostas para o planejamento am-biental de Serra Negra

    A partir de toda a caracterização de Serra Negra, observa-se que o mesmo necessita de um Planejamento Ambiental Urbano. Isso se justifica pelo fato do municí-pio ter o turismo como atividade econômica principal, ao passo que possui muitos recur-sos ambientais. A grande pressão exerci-da pela atividade turística acarreta alguns problemas de ordem turística, ambiental e de infra-estrutura. Dessa forma, é preciso agregar o turismo ao Meio Ambiente para que se tenha o desenvolvimento da ativida-de sem causar degradação.

    Um importante instrumento do Pla-nejamento Ambiental é Plano Diretor Muni-cipal, uma vez que o mesmo possibilita a regulamentação do uso e ocupação da Ter-ra, legaliza atividades, e permite planejar os espaços urbanos. Após a análise do Pla-no Diretor de Serra Negra observa-se que muitas ideias contidas ali ainda não foram colocadas em prática. Talvez um primeiro

    passo seria a revisão do Plano e a tentativa de usar as propostas ali descritas a fim de melhorar alguns aspectos do município.

    Em relação ao Turismo, percebe-se que o mesmo deveria ter uma abrangência maior no município, ou seja, a cidade preci-saria criar Planos e Projetos a fim de desen-volver a educação da população, visando estimular a mentalidade turística interna e receptiva. Como descrito no Plano Diretor, seria importante criar intensas campanhas de motivação para todos os setores do mu-nicípio, a fim de que haja o engajamento da população na consolidação do turismo.

    Outro ponto importante seria inves-tir na promoção do Município e na capacita-ção dos prestadores de serviços. Além dos incentivos e investimentos, é importante sa-lientar a participação ativa da administração pública na criação e manutenção da infra--estrutura básica do município. Dentre eles, a limpeza, o calçamento em bom estado de conservação, iluminação eficiente, praças conservadas, gerenciamento do trânsito e dos estacionamentos, segurança etc.

    Outro tópico importante é a propos-ta de criação de um Plano Diretor de Turis-mo, que contemple e regulamente a imple-mentação de diretrizes importantes. Dentre elas pode-se citar: a execução e implanta-ção de pólos de atração turística em alguns pontos estratégicos; implantação de cursos profissionalizantes nas áreas de turismo e hotelaria, mediante convênios; intensa pro-moção; divulgação do Município no Estado de São Paulo e em âmbito nacional e valo-rização dos artesãos e agricultores locais.

    Não menos importante, é a explo-ração do espaço chamado “Centro de Con-venções”. Este espaço é uma ferramenta muito importante para o município, por pos-suir um grande espaço para convenções, além de abrigar um balneário que atualmen-te encontra-se desativado. O Plano Diretor previa também, a conclusão e estruturação administrativa do Centro de Convenções, bem como a integração do local ao centro da cidade durante as temporadas, dando oportunidade para o turista usufruir do bal-neário e de outras atividades no local. Esse espaço poderia contribuir muito para o de-senvolvimento do turismo local, mas para isso seria essencial o investimento para que

    Planejamento ambiental urbano: O caso do município de Serra Negra – SP

  • Interciência & Sociedade28

    sua construção fosse finalizada e o balneá-rio voltasse a funcionar.

    Com relação ao Meio Ambiente, também pode-se sugerir inicialmente a apli-cação do Plano Diretor. Como já dito, o mu-nicípio possui muitas Áreas de Preservação Permanente (APP), mas poucas são co-nhecidas da população e dos turistas. Um trabalho importante seria a recuperação e preservação das APP’s, bem como implan-tação de novos parques urbanos e áreas de preservação permanente com finalidades ecológicas e de lazer. Neste sentido seria importante trabalhar com a população para que os mesmos pudessem auxiliar na im-plantação, divulgação e preservação não só destes parques, como também das APP’s.

    Outro ponto importante seria a ela-boração de um plano integrado de preser-vação e manutenção da paisagem urbana do centro comercial, dos edifícios e dos mo-numentos históricos.

    Com relação aos Resíduos Sóli-dos, é importante que o município possua um Programa de Gerenciamento, a fim de reduzir os riscos de degradação ambien-tal, que no caso do Ribeirão Serra Negra, já está poluído. O gerenciamento dos resí-duos beneficiaria não só a população local, mas também os turistas que muitas vezes sentem-se incomodados com a falta de Co-leta Seletiva, por exemplo. O Plano Diretor mesmo prevê um programa de minimização de resíduos, visando a redução da quanti-dade de lixo a ser disposta em aterros. Nes-te sentido, a Administração Pública, deve incentivar a participação da comunidade, bem como a educação ambiental, divulgan-do a coleta seletiva, suas vantagens e for-ma de funcionamento.

    É importante salientar que muitas das propostas levantadas até aqui trarão benefícios não só ao Meio Ambiente, mas ao Turismo também. Uma ideia muito in-teressante apontada no Plano Diretor, é a viabilização dos “Monitores Turísticos e Am-bientais”, trabalhando com jovens a partir dos quatorze anos, visando um turismo am-biental e receptivo.

    Para que não só essas ideias, mas outras que possam surgir, sejam colocadas em prática é importante que se faça um Planejamento Ambiental Urbano. Segundo

    FLORIANO (2004), o processo de plane-jamento pode ser organizado da seguinte maneira: identificação do elemento do pla-nejamento, criação de uma visão sobre o assunto, definição dos objetivos, definição de critérios e ferramentas de trabalho, de-senvolvimento de métodos de controle e análise das ações planejadas e, então, a to-mada de decisões para prevenção e corre-ção quanto às irregularidades que poderão ocorrer em relação ao plano.

    Neste sentido, o Planejamento Ambiental Urbano é uma iniciativa onde poderão ser trabalhados muitos aspectos relativos ao município, seja ele ambiental, turístico, de uso e ocupação do solo, de infra-estrutura, entre outros. Através dele, será possível apontar os problemas do mu-nicípio e, principalmente, buscar soluções.

    6. CONSIDERAÇÕES FINAIS

    O município de Serra Negra, desde o início de sua fundação, possui um caráter turístico devido aos seus recursos ambien-tais e seu comércio local. Observa-se que o Turismo foi se desenvolvendo, e o municí-pio absorveu esse crescimento, porém de forma desordenada, sem o devido planeja-mento. Atualmente, percebe-se uma cidade privilegiada de recursos ambientais, com um fluxo de visitantes intenso, que mantém a economia local, mas que é carente de pla-nos de melhoria e previsão futura.

    Serra Negra, da mesma forma que outros municípios paulistas, possui um Plano Diretor que apresenta diversas idéias que, se postas em prática, poderiam não apenas solucionar problemas urbanos, como também alavancar a atividade turísti-ca e promover o desenvolvimento de Serra Negra. O plano, com diretrizes, objetivos e metas, poderia ser um forte instrumento de planejamento ambiental, garantindo que a atividade turística e o meio ambiente se mantivessem de forma concomitante e har-moniosa.

    O planejamento ambiental, confor-me exposto nesse artigo, além de preservar o meio ambiente, e garantir a sustentabili-dade da atividade turística, também poderia garantir uma maior qualidade de vida para os moradores da cidade, uma vez que esta-

    FAGUNDES, A. S. M.; FRAISOLI, C.

  • 29Interciência & Sociedade

    beleceria uma série de ações de melhorias contínuas. Com o Plano Diretor já compos-to, o mesmo poderia ser utilizado como em-basamento legal para a composição de um planejamento ambiental.

    Porém, vale destacar que mesmo com todos os aspectos positivos criados pelo Plano Diretor, esse não foi colocado em prática na íntegra, o que nos leva a crer na existência de barreiras políticas e sociais impostas pela dinâmica do município.

    As condições para a construção de um Planejamento Ambiental Urbano no município de Serra Negra existem e talvez não sejam tão complexas. Porém, ainda se-ria necessário ir além de questões legais, alcançando também as perspectivas políti-cas, sociais e culturais.

    Assim, podemos concluir esse es-tudo reafirmando as possibilidades de me-lhorias proporcionadas pelo planejamento ambiental. No caso de Serra Negra, seria de grande valia, pois uma cidade bem pla-nejada tem grandes chances de obter o re-torno de seu investimento, que não está só no presente, mas no futuro também.

    7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

    BRAGA, R ., CARVALHO, P. F., Perspectivas de

    Gestão Ambiental em Cidades Médias. Rio Claro, LPM-UNESP, 2001. pp 95 á 109. CHRISTOFOLETTI, A., Modelagem de Sistemas Ambientais, São Paulo, ed. Edgard Blücher, 2000. 236 p.

    FERREIRA, L., C., Estado e Ecologia: Novos Dile-mas e Desafios, Tese de Doutorado, IFCH, Unicamp, Campinas, 1992.

    FLORIANO, E. P., Planejamento Ambiental. Santa Rosa, ed. ANORGS, 2004. 54 p.

    FRANCO, M. A. R., Planejamento Ambiental para a Cidade Sustentável. São Paulo, ed. Annablume: FAPESP, 2001. 296p.

    MOTA, S., Urbanização e Meio Ambiente, Rio de Janeiro, ed. Abes, 1999.

    PLANO DIRETOR DO MUNICÍPIO DE SERRA NE-GRA ESTÂNCIA HIDROMINERAL – SP, 2006.

    RIBEIRO, W. C., A Ordem Ambiental Internacional, ed. Contexto, São Paulo, 2001.

    SANTOS, R. F., Planejamento Ambiental: teoria e prática, São Paulo, ed. Oficina de textos, 2004. 184 p.

    SIVIERO, S. O., A Política Ambiental e o Pode Lo-cal: O Caso do Município de Campinas – SP, Cam-pinas, 1995. 126 p. Tese de Mestrado, Universidade Estadual de Campinas – UNICAMP.

    Anatália Silva Montoro Fagundes é bacharel em Engenharia Ambiental pela Faculdade Municipal Professor Franco Montoro.

    Camila Fraisoli é bacharel em geografia pela Universidade Estadual de Campinas, UNICAMP, mestrado em geo-grafia pela Universidade Estadual de Campinas, UNICAMP.

    Planejamento ambiental urbano: O caso do município de Serra Negra – SP

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  • 31Interciência & Sociedade

    PLANEJAMENTO PARA A VITALIDADE DAS CIDADES

    RESUMO: O presente artigo abrange o estudo das propostas de três importantes autores que procu-raram estabelecer princípios e diretrizes para o planejamento urbano. Inicia com a teoria da Cidade--Jardim de Ebenezer Howard na passagem do século 19 para o século 20; em seguida verifica algumas das proposições do arquiteto Le Corbusier na primeira metade do século 20 e finaliza com as propostas de Jane Jacobs, elaboradas no início da década de 1960. Pretende verificar como as propostas de Jane Jacobs podem ser aplicadas no planejamento de cidades médias.PALAVRAS-CHAVE: Planejamento urbano, cidade-jardim, vitalidade das cidades.

    MARANGONI FILHO, MárioFaculdade Municipal “Professor Franco Motoro” (FMPFM)

    [email protected]

    ABSTRACT: This article covers the study of the proposed three important authors who sought to esta-blish principles and guidelines for urban planning. Starts with the theory of City-Garden of Ebenezer Ho-ward in the passage of the 19 century for the 20 century; then verifies some propositions of the architect Le Corbusier in the first half of 20 century and ends with the proposals of Jane Jacobs, compiled in the early 1960. Aims to see how the proposals of Jane Jacobs can be applied in the planning of medium--sized cities.KEYWORDS: Urban planning, City-Garden, vitality of cities.

    1. INTRODUÇÃO

    O presente artigo faz parte de uma pesquisa sobre o planejamento urbano e sobre o espaço de Mogi Guaçu, cidade mé-dia do interior do estado de São Paulo. A principal motivação da pesquisa foi a procu-ra de indicações para a vitalidade urbana na cidade de Mogi Guaçu. Considera-se que a questão do planejamento urbano local deve ser um processo contínuo que leve em con-ta os referenciais teóricos apropriados e as observações e descrições precisas das condições locais.

    Quais devem ser os pressupostos do planejamento urbano para o crescimento das cidades médias com vitalidade urbana? Esta é a problemática que a pesquisa pro-curou compreender e fazer indicações para o caso de Mogi Guaçu.

    O artigo concentra-se nos princí-pios de planejamento urbano a partir da te-

    oria da cidade-jardim de Ebenezer Howard, do planejamento moderno e racionalista de Le Corbusier e das propostas de planeja-mento para a vitalidade das cidades de Jane Jacobs. O trabalho tem por objetivos verificar como as propostas de Jane Jacobs podem ser aplicadas nos planos diretores de cidades médias.

    2. A teoria da Cidade-Jardim

    Em seu livro Cidades-Jardins de Amanhã, Howard (2002, p.191) apresenta suas ideias não apenas para uma cidade, mas para aglomerados de cidades de po-pulações máximas entre 30.000 e 54.000 habitantes1, como alternativa ao crescimen-to de Londres com aproximadamente 5 mi-lhões de habitantes por volta de 1900. O ta-manho das cidades-jardins preconizado por Howard, tinha a finalidade da preservação do espaço urbano próximo do setor agrí-

    1 As populações totais, incluindo os moradores da zona agrícola, seriam de 32.000 pessoas e de 58.000 pessoas.

  • Interciência & Sociedade32

    cola, e a intenção de construção de novas cidades, onde seria possível o estabeleci-mento de uma “sociedade na qual o amor próprio a si mesmo nos leva a insistir numa maior consideração pelo bem-estar de nos-sos semelhantes”.

    A sua representação gráfica da cidade-jardim (Figura 1), de forma circular, ressalta corretamente que era apenas um diagrama e a implantação deveria conside-rar o sítio selecionado para o projeto da ci-dade. A área da cidade ocupava 400 hecta-res, um sexto do total municipal de 2.400ha que incluía a zona agrícola. No centro, lo-calizavam-se os edifícios públicos: a sede da municipalidade, as salas de concertos e conferências, o teatro, a biblioteca, o mu-seu, a galeria de arte e o hospital, disposto como um belo e irrigado jardim. Seis aveni-das ou bulevares com 36 metros de largu-ra conduziam ao centro. Ao redor deste do centro, haveria um parque central de 56 ha

    com grandes áreas de recreação, circunda-do por um Palácio de Cristal.

    Os lotes para residências, com área mínima de 186 metros quadrados e di-mensões de 6,10 x 30,50 metros somariam 5.500 unidades, em um sistema de arren-damento por 99 anos. Haveria também a Grande Avenida com 128 m de largura di-vidindo a cidade em duas faixas circulares. As fábricas e armazéns seriam implantados na parte externa da cidade, defronte a via férrea e teriam os maquinários movidos à eletricidade.

    A administração e o controle da ci-dade e do município seriam de uma Junta Administrativa para o direcionamento da iniciativa municipal, organizada conforme o modelo de uma grande empresa e de forma que a responsabilidade por cada setor da administração seria assumida diretamente pelos funcionários daquele setor.

    Figura 1: Diagrama de Ebenezer Howard para a cidade-jardim.Fonte: Benevolo, 1974, p.400.

    MARANGONI FILHO, M.

  • 33Interciência & Sociedade

    Letchworth foi a primeira cidade--jardim implantada, conforme a teoria de Howard e localizada a aproximadamente 50 km ao norte de Londres, a partir de 1903, com a compra de 1.546 ha para uma área urbana de 505ha, pela companhia First

    Garden City Ltd. Com a previsão de 30.000 habitantes, a cidade de Letchworth atingiu 26.000 habitantes somente em 1962 (Cf. Ottoni, 2002, p.45). O plano inicial dos ar-quitetos Raymond Unwin e Barry Parker2, é mostrado na Figura 2 a seguir.

    Figura 2: Planta de Letchworth, a primeira cidade-jardim.Fonte: Benevolo, 1974, p.400.

    2 Os mesmos arquitetos são os autores do projeto do loteamento paulistano Jardim América, em 1919 (Cf. Ottoni, 2002, p.72).

    Planejamento para a vitalidade das cidades

  • Interciência & Sociedade34

    Em 1919 Howard funda uma se-gunda sociedade e começa a construção da cidade de Welwyn, localizada aproxi-madamente na metade do percurso entre Londres e Letchworth. Com previsão de po-pulação total de 50.000 habitantes, alcança 35.000 habitantes antes da segunda Guerra Mundial. Porém, o cinturão agrícola perde a importância econômica nas duas cidades--jardins e se reduz às áreas verdes circun-dantes das suas zonas urbanas. No caso de Welwyn, a proximidade de Londres propor-ciona a possibilidade de trabalhar na metró-pole e residir na cidade-jardim. A cidade-jar-dim, enfim, torna-se uma cidade como as demais, submetida à atração da metrópole, restando da concepção original a elegância dos traçados das ruas, a uniformidade dos edifícios e a distribuição das áreas verdes. A teoria e o movimento de Howard tiveram uma grande influência na Europa e assim, grande número de subúrbios das principais cidades adotaram a forma de cidades-jar-dins (Cf. Benevolo, 1974, p.401).

    A proposta da cidade-jardim e o projeto de Letchworth mostram o zonea-mento urbano como um dos fundamentos da nova cidade, com quatro zonas de uso do solo: residencial, industrial, comercial e as áreas verdes.

    Como visto acima, da ideia origi-nal da cidade-jardim permaneceu a parte formal de ruas curvas e áreas verdes, com resultados palpáveis em loteamentos arbo-rizados. A distância dos centros urbanos, outra ideia da cidade-jardim, também apare-ce em projetos de loteamentos murados ou também em condomínios horizontais fecha-dos, muitas vezes com apelos ou motiva-ções de proximidade da natureza. Por outro lado, loteamentos populares afastados das áreas mais centrais das cidades, são tam-

    bém chamados de jardins, o que aparece apenas como um recurso de mercado sem constituir uma prática imobiliária real.

    3. Le Corbusier e o planejamento racio-nalista

    Le Corbusier, um dos arquitetos mais influentes da arquitetura moderna, também foi um dos maiores teóricos do ur-banismo progressista ou racionalista, ca-racterístico do movimento moderno no sé-culo XX. Considerou a vida nos subúrbios um engano, onde o campo tornou-se uma zona imensa sem plano e sem ligação com a aglomeração. “Esta teoria, nas cidades--jardim da Inglaterra, dos Estados Unidos, criou a desarticulação do fenômeno urbano” (LE CORBUSIER, 1979, p.22).

    Procurou maneiras de evitar que as cidades se estendam e se diluam, perdendo a forma e a alma; assim, con-siderou que a solução é conferir altura às construções para ganhar terreno em torno delas (Cf. Le Corbusier, 2008, p.12 e p.87). Sua maneira de pensar o urbanismo abran-gia a reunificação da propriedade fundiária urbana em uma renovação pela arquitetura e pelo urbanismo, com a demolição do ca-sario existente e a implantação de edifícios, com a orientação racional da morada, onde a cidade pouco a pouco se transforma em um parque, e ocorria a abolição da tirania da rua, local principal de circulação.

    As figuras 3 e 4 mostradas a seguir exemplificam sua ideia de separa-ção entre os pedestres e os automóveis, e a construção dos imóveis em meio às áreas verdes. O projeto do plano piloto de Brasília também apresentou estes princípios, como parte da concepção urbanística de Lúcio Costa.

    MARANGONI FILHO, M.

  • 35Interciência & Sociedade

    Figura 3: Separação de pedestres e automó-veis (Le Corbusier).

    Fonte: Le Corbusier, 1979, p.49.

    Figura 4: Imóveis na cidade, conforme Le Cor-busier.

    Fonte: Le Corbusier, 1979, p.50.

    Esta breve exposição evidencia as propostas de Le Corbusier, como exemplos de um planejamento racional e organizado em todos os detalhes do espaço urbano, onde não haveria possibilidades de exis-tência da cidade espontânea e certamen-te desorganizada, conforme a sua visão. Deve-se considerar também que as suas ideias referem-se às grandes cidades, com grandes populações, problemas de circula-ção, necessidades de habitações com qua-lidades ambientais e necessidade de áreas verdes.

    Em relação às ideias de Le Cor-busier para o planejamento regional, des-taca-se sua proposta de fábrica verde, em centros industriais lineares ao lado das vias entre cidades:

    Os edifícios são dispostos segundo as necessidades do terreno e as exigências

    da fabricação; suas formas, suas dimen-sões são, em cada caso, proporcionais às funções. A luz é larga e sistematica-mente distribuída nas oficinas por dispo-sitivos apropriados.Mas, em determinados lugares, quando o sol não incomodar, aberturas verticais serão abertas, sobre perspectivas pai-sagísticas judiciosamente reservadas ou regulamentadas. Os espaços entre os edifícios constituirão conjuntos har-moniosos com vastas extensões de céu e de perspectivas sobre lugares lon-gínquos. A relva está justamente ao pé dessas vidraças aberta sobre o campo: as árvores são mantidas e outras são plantadas para vestir o lugar. [...] Este é um exemplo inteiramente ocasional da fábrica verde, que pode servir de nor-ma quando da constituição das cidades lineares industriais. (LE CORBUSIER, 1979, p.143)

    Planejamento para a vitalidade das cidades

  • Interciência & Sociedade36

    Figura 5: A fábrica verde de Le Corbusier.

    Fonte: Le Corbusier (1979, p.141).

    4. Vitalidade Urbana

    Para Jane Jacobs (2000, p.1), seu trabalho Morte e Vida de Grandes Cidades, escrito no início da década de 1960, abor-da o funcionamento das cidades na prática, principalmente e basicamente as grandes cidades norte-americanas. É uma tentati-va de introduzir novos princípios no plane-jamento urbano, diferentes e em oposição ao planejamento urbano moderno, cujos princípios e objetivos procuram estabelecer a ordem na desordem das cidades. Argu-menta que o funcionamento das cidades na prática é a única forma de saber que princí-pios de planejamento e quais iniciativas de reurbanização conseguem promover a vita-lidade socioeconômica nas cidades e quais práticas e princípios a inviabilizam.

    As grandes cidades são muito di-ferentes das cidades médias e pequenas e se tentarmos entender as cidades menores com base nas metrópoles, a confusão será maior do que tentar entender as cidades grandes com base no comportamento e no suposto funcionamento das cidades meno-res (cf. JACOBS, 2000, p.15).

    Para a autora (Jacobs, 2000, p.23), Le Corbusier foi o arquiteto europeu que propôs o planejamento anticidade den-tro das cidades, ao imaginar nos anos de 1920, uma cidade chamada Ville Radieuse formada por 24 grandes edifícios em meio a um parque, resultado da demolição de uma grande área de Paris. Com esta colocação fica evidente o interesse da autora pela vida urbana com possibilidade de encontro so-cial informal entre as pessoas e que esta possibilidade ocorre nas ruas com calçadas de tamanho apropriado à circulação de pe-destres e com a existência de comércio e serviços diversificados, e com alta densida-de populacional.

    Apresenta-se a seguir modos de análise para compreender as cidades, com base nas propostas de Jacobs (2000, p.491), tendo por objetivo a verificação das possibilidades de aplicá-los no planejamen-to de cidades médias brasileiras.

    1- Refletir sobre os processos.As cidades e os seus elementos

    abrangem processos urbanos; e é preciso pensar nos catalisadores desses proces-

    MARANGONI FILHO, M.

  • 37Interciência & Sociedade

    sos. Os processos urbanos podem ser com-preendidos por quase todos e não apenas por especialistas, e ao compreender esses processos é possível dar-lhes direção.

    Para isso é de importância a rea-lização de audiências públicas, tendo em vista a participação popular para a elabo-ração dos planos diretores municipais, con-forme é exigido no Estatuto da Cidade (Lei nº. 10.257/2001, Art. 40, §4º), ou seja, no processo de elaboração do plano diretor e na fiscalização da sua implementação o Po-der Legislativo e o Executivo garantirão a promoção de audiências públicas e debates com a participação da popu