israel ameaça irão

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ANO LVIII | ABRIL 2012 | ASSINATURA ANUAL | NACIONAL 7,00¤ | ESTRANGEIRO 9,50¤ #04 DIA DO ÍNDIO: A LUTA CONTINUA ISRAEL AMEAÇA IRÃO DOIS MODOS DE VER O MUNDO DOIS CREDOS DIFERENTES UM SÓ DIÁLOGO PARA UNIR Pág. 10 BISPO RECUPERA MISSÕES Pág. 14 MOVIMENTO FÉ E LUZ 40 ANOS Pág. 34

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Dois modos de ver o mundo Dois credos diferentes Um diálogo para a proximar

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ANO LVIII | ABRIL 2012 | ASSINATURA ANUAL | NACIONAL 7,00¤ | ESTRANGEIRO 9,50¤ #04

DIA DO ÍNDIO: A LUTACONTINUA

ISRAEL AMEAÇA IRÃODOIS MODOS DE VER O MUNDO DOIS CREDOS DIFERENTESUM SÓ DIÁLOGO PARA UNIR

Pág. 10

BISPO RECUPERAMISSÕES Pág. 14

MOVIMENTO FÉ E LUZ40 ANOS Pág. 34

CONSOLATA É CHEIA DE GRAÇA, POR DEUS AGRACIADA PARA LEVAR AO MUNDO A CONSOLAÇÃO DE JESUS.CONSOLADOS SÃO OS EVANGELIZADOS, PORQUE AMADOS DE DEUS. CONSOLAR É LEVAR A TODA A PARTE A CONSOLAÇÃO DE DEUS SALVADOR. COMO MARIA TORNAMO-NOS SOLIDÁRIOS COM TODOS. SOLIDARIEDADE É O OUTRO NOME DA CONSOLAÇÃO.COMO ELA SOMOS PRESENÇA CONSOLADORA EM SITUAÇÕES DE AFLIÇÃO. POR SEU AMOR COLOCAMOS A NOSSA VIDA AO SERVIÇO DO HOMEM TODO E DE TODOS OS HOMENS. ALLAMANO DEU-NOS MARIA POR MÃE E MODELO. POR ISSO CHAMAMO-NOS MISSIONÁRIOS DA CONSOLATA

MISSIONÁRIOS DA CONSOLATAwww.fatimamissionaria.pt | www.consolata.ptRua Francisco Marto, 52 | Apartado 5 | 2496-908 FÁTIMA | tel: 249 539 430 | [email protected] Dª Maria Faria, 138 | Apartado 2009 | 4429-909 AGUAS SANTAS MAI | tel: 229 732 047 | [email protected] do Castelo | 2735-206 CACÉM | tel: 214 260 279 | [email protected] Capitão Santiago de Carvalho, 9 | 1800-048 LISBOA | tel: 218 512 356 | [email protected] da Marginal, 138 | 4700-713 PALMEIRA BRG | tel: 253 691 307 | [email protected]

Funde uma bolsa de estudos. A oferta é de 250EUR e pode ser entregue de uma só vez ou em prestações. Pode dar-lhe o seu próprio nome ou outro que desejar.São-lhes concedidos, entre outros, os seguintes benefícios: fica inscrito no livro de benfeitores dos Missionários da Consolata; participa nas orações e nos méritos apostólicos dos missionários; beneficia de uma missa diária que é celebrada por todos os benfeitores.

Apoie a formação de JOVENS MISSIONÁRIOS

NOSSA SENHORA DA CONSOLATA

Abril 2012 3

editorial

EA

A Europa ficou atónita e chocada com o recente atentado de Toulouse, França, dirigido contra a comunidade hebraica. Num gesto louco, um jovemfranco-argelino, de 24 anos, confesso militante da Al Qaeda, matou quatro pessoas, diante de uma escola hebraica. Três eram crianças. Nenhuma religião pode aceitar ou admitir o uso da violência que desrespeita a vida humana.Mas seria um erro grosseiro confundir o Islão com o terrorismo, assim como não se pode confundir um jovem alucinado com a maioria da comunidade muçulmana que vive em França.

Mais de dois terços dos cinco milhões de membros da comunidade muçulmana nasceram em França e têm nacionalidade francesa. Já não podem ser considerados imigrantes estrangeiros, mas cidadãos franceses que querem viver

a sua fé muçulmana. Porém, sentem-se cada vez mais relegados para os guetos de bairros populares e para as periferias das cidades, onde experimentam dificuldades sociais acrescidas. O fenómeno regista-se em toda a Europa e traduz um défice acentuado de integração ou uma integração mal conseguida. Sobretudo os jovens sentem-se excluídos da sociedade e andam em busca de uma identidade própria e forte. Diante da precariedade e da ausência de uma vida social normal e integrada,

muitos refugiam-se em motivações ou percursos religiosos pouco esclarecidos ou construídos sobre a ignorância religiosa. Chegam a utilizar o nome de Deus para realizar atos que são verdadeira perversão da religião.

Factos como os ocorridos em Toulouse obrigam a refletir tanto os políticos como os líderes religiosos. Linguagens políticas e mediáticas agressivas, discursos de desprezo ou de intolerância só podem favorecer uma cultura belicosa e instigar gestos de demência. Uma cultura de resolução pacífica dos conflitos requer o empenho em abrir-se ao próximo, abrir as portas das famílias e dos templos para conhecer o outro, abater os medos, eliminar a ignorância e favorecer o encontro.

Casos de intolerância e de discriminação religiosa eram, até há pouco tempo, relacionados com países do chamado terceiro mundo. Ultimamente, os meios de comunicação deram voz ao sofrimento anónimo e à restrição dos direitos e liberdades de cristãos da Europa. Recentemente publicado, o relatório de 2011do Observatório sobre Intolerância e Discriminação denuncia casos ocorridosno continente europeu contra cristãos. Os factos descritos versam sobre a objeção de consciência a questões como a eutanásia, o aborto ou sobre a exclusãode cristãos da vida social e pública. Citam-se numerosíssimos casos de vandalismo e profanação de igrejas, e muitos outros atos de intolerância.

Viver e testemunhar a própria fé não deverá ser nunca sentido como culpa ou fragilidade, mas como exercício da liberdade, benéfico para todos, crentes ou não. A liberdade religiosa é um pilar fundamental da construção europeia e caminho para a convivência multicultural e plurirreligiosa. Celebramos a Páscoa cristã. É o gesto supremo de amor d’Aquele que reconcilia os homens com Deus e entre si. Em tempos favoráveis a tensões sociais, FÁTIMA MISSIONÁRIA apresenta votos de paz e entendimento entre as famíliase entre as diferentes comunidades culturais e religiosas.

TESTEMUNHAR A FÉEXERCÍCIO BENÉFICODE LIBERDADE

Viver e testemunhar a própria fé não deverá ser nunca sentido como culpa ou fragilidade, mas como exercício da liberdade, benéfico para todos, crentes ou não

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Pagamento da assinaturamultibanco (ver dados na folha de endereço),transferência bancária nacional (Millenniumbcp)NIB 0033 0000 00101759888 05transferência bancária internacionalIBAN PT50 00 33 0000 00101759888 05BIC/SWIFT BCOMPTPLcheque ou vale postal

(inclui o IVA à taxa legal)

Nº 4 Ano LVIII – ABRIL 2012Tel. 249 539 430 / 249 539 460Fax 249 539 429 [email protected]@fatimamissionaria.ptwww.fatimamissionaria.pt

03 EDITORIAL 05 PONTO DE VISTA O silêncio de Deus de Jesus na cruz e de Maria a seus pés 06 LEITORES ATENTOS 07 HORIZONTES Perto e próximo 08 MUNDO MISSIONÁRIO Sem-abrigo em Páscoa allamaniana 800 mil crianças escravas no mundo Cristãos de novo perseguidos no Laos Sahel: fome para um milhão de crianças Cristãos têm apenas uma Igreja no Qatar 10 A MISSÃO HOJE Brasil: Dia do Índio 11 FIO DA HISTÓRIA Consolata no Quénia 12 A MISSÃO HOJE Aumenta número de idosos isolados 13 DESTAQUE Jovens: entre o medo e a coragem 14 ATUALIDADE Luzes e sombras no Gurué na vida de dois milhões 22 GENTE NOVA EM MISSÃO Festa da Páscoa, festa da vida! 24 TEMPO JOVEM Comunicação Hi-Fi (alta fidelidade) 26 SEMENTES DO REINO A Igreja que eu amo 28 O QUE SE ESCREVE 29 O QUE SE DIZ 30 GESTOS DE PARTILHA 31 VIDA COM VIDA Habituado a escalar montanhas 32 OUTROS SABERES Dar com o coração 33 A MISSÃO É SIMPÁTICA Partidas que a língua prega 34 FÁTIMA INFORMA Movimento Fé e Luz 40 anos

ATUALIZEA SUA ASSINATURA

Rua Francisco Marto, 52Apartado 52496-908 FÁTIMA

FÁTIMA MISSIONÁRIA Registo N.º 104965Propriedade e Editora Delegação Portuguesa do Instituto Missionário da ConsolataContribuinte Nº 500 985 235Superior Provincial António Jesus FernandesRedação Rua Francisco Marto, 522496-908 FátimaIm pres são Gráfica Almondina,Zona Industrial – Torres NovasDepósito Legal N.º 244/82Tiragem 27.100 exemplaresDiretor Elísio AssunçãoChefe de Redação Francisco PedroRedação Elísio Assun ção, Manuel CarreiraColabora ção Alceu Agarez, Ângela e Rui, Carlos e Magda, Carlos Camponez, Darci Vila ri nho, Leonídio Ferreira, Luís Maurício, Lucília Oliveira, Norberto Louro, Teresa Carvalho; Diaman tino Antunes – Moçambique, Tobias Oliveira; Álvaro Pa che co – Coreia do SulFotografia Lusa, Ana Paula, Elísio As sunção e ArquivoCapa Benedetto Bellesi Contracapa Ana PaulaIlustração H. Mourato, Mário José Teixeira, Miguel Carvalho e Ri car do NetoDesign e com po sição Happybrands e Ana Pau la RibeiroAd mi nis tração Joaquim Bernardino e Cristina Henriques

Assinatura AnualNacional 7,00€Estrangeiro 9,50€De apoio à revista 10,00€Benemérito 25,00€Avulso 0,90€

2012

sumário

Padre greco-ortodoxo na cidade velha de Jerusalém

ISRAELVAI ATACAROU NÃOO IRÃO?

foto da capa

Abril 2012 5

pontode vista

texto LAURINDA ALVES

O SILÊNCIO DE DEUS DE JESUS NA CRUZ E DE MARIA A SEUS PÉSÉ difícil o silêncio. O mundo é uma vertigem, um cúmulo de vozes e ruídos que facilmente se sobrepõem às conversas e perturbam os verdadeiros encontros. As pessoas caminham de phones nos ouvidos e olhar a direito. Aquele olhar que tantas vezes atravessa o olhar dos outros sem se deter.

Acontece-nos frequentemente sentir a grande ausência de Deus, o grande silêncio que não é um exclusivo da Madre Teresa de Calcutá, nem de descrentes ou céticos. Falo do silêncio que nos magoa e atordoa, mas também nos interpela porque obriga a fazer mais perguntas e a dar mais passos. A procurar as respostas em nós e à nossa volta.

O diálogo com os grandes mestres é muitas vezes feito de longos silêncios e quando tudo isto fica plasmado no cinema, em filmes que nos tocam, não nos custa perceber o papel do mestre e do discípulo, mas na vida real e nesta intimidade de oração com um Deus que nem sempre nos responde, nem sempre nos dá sinais de nos ter ouvido, tudo se torna mais complexo. E porventura indecifrável. E, no entanto, é no silêncio que podemos interpretar o sentido das vozes, dos gestos, dos acontecimentos, da vida quotidiana. E é no silêncio que percebemos melhor os milagres (não a magia!) que Deus faz em nós e nos transformam.

Aprendi a observar esses mesmos milagres conferindo a vida para trás, olhando e vendo como estava há um dia atrás, há uma semana, há um mês, um ano… comparando com o presente e perspetivando o futuro. Compreendo cada vez melhor que Deus se mantenha em silêncio e nos fale através dos outros, nas relações que vamos construindo, nos laços que vamos tecendo, nas prioridades que vamos estabelecendo.

Comecei a gostar desta intimidade do silêncio de um grande Amigo que me ouve e guia, que me ama e nunca desiste de mim, que me perdoa e acolhe sempre, que conta comigo, tem paciência e tempo. Acho que é isto que Deus faz connosco: dá-nos inteira liberdade para pensar e agir, para concordar e discordar, para partir e chegar, enfim para progredir na intimidade da oração, para evoluir no silêncio e nos ruídos. Gosto de um Deus assim, que é Amigo, Pai e Mestre, que não tem a tentação de me encurtar caminhos nem de me poupar a sofrimentos, provações e crises, porque sabe que é também através das perdas e do que é difícil que nos superamos, que nos transcendemos, que nos tornamos mais fortes e vamos mais longe.

Tolentino de Mendonça diz numa das suas orações que nenhum coração é tão inteiro como um coração partido e esta frase faz eco em mim desde a primeira vez que a rezei. Seja o que for que nos parte o coração ou quebra a ‘casca do nosso entendimento’ (como diz Khalil Gibran, n’O Profeta), é sempre oportunidade de crescimento. Sempre que o silêncio de Deus me perturba ou interpela com mais intensidade, tento ler os acontecimentos à luz da Quaresma (pois não será toda a nossa vida, em si mesmo, uma grande Quaresma?) até conseguir chegar ao silêncio de Jesus na cruz, e de Sua Mãe aos pés do Filho crucificado. E é quando aterro nesse silêncio, nesse derradeiro sopro de vida, que sinto que Ele me fala.

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RENOVE A SUAASSINATURAFaça o pagamento da assinatura através dos colaboradores, se os houver, ou nas casas da Consolata, ou através de multibanco, cheque ou vale postal. Ou ainda por transferência bancária: NIB 0033 0000 00101759888 05.Refira sempre o nú me ro ou nome do assinante. Na folha on de vai escrita a sua direção, do lado esquerdo, encontra o ano pago e o seu númerode assinante.

Agradecemos que os nossoses ti mados assinantes renovema assinatura para 2012.Só as assinaturas atualizadas poderão beneficiar do pequeno apoiodo Estado ao porte dos correios.

Os do na tivos para as missões são de dutíveis no IRS. Se desejar recibo, deverá enviar-nos o seu número de contribuinte.

Muitos leitores chamam à FÁTIMA MISSIONÁRIA«a nossa revista». É bom que assim pensem e assim procedam. A revista é feita por muitas mãos e lida por mais de 29 mil assinantes. Ela é mesmo nossa! Somos uma grande família.

leitoresatentos

Revista modernaEx.mo senhor padre Elísio,Tenho lido atentamente a nossa revista e quero testemunhar o meu agrado e satisfação pela forma como escolhe e aborda os temas, bem como pela apresentação apelativa (capa, paginação e fotografias). Quem a viu (umas folhas A/4 dobradas) e quem a vê agora toda moderna e cheia de interessantes conteúdos. Parabéns a todos quantos nela e para ela trabalham.JORGE

Assinante de longa dataAmigos da FÁTIMA MISSIONÁRIA,É com muita estima e consideração que vos saúdo na paz do Senhor e vos junto esta importância para renovar a minha assinatura para o ano de 2012. Há longos anos que recebo esta maravilhosa revista, onde posso testemunhar as vossas notícias e muito admiro o trabalho dos missionários da Consolata espalhados pelos cantos do mundo ao serviço de Deus em favor dos mais pobres e abandonados. Que Deus vos dê muita saúde e muita coragem para tão grande obra a vós confiada.LURDES

Doente gosta de lerRev.mos missionários da Consolata,Continuam a consolar-nos com a revista FÁTIMA MISSIONÁRIA. Sempre que a recebemos é devorada, saboreada, refletida. Parabéns! Formulamos votos de muita saúde para que os queridos amigos da Consolata continuem com o fervoroso e ardente zelo nesta nobre e necessitada missão.É com todo o prazer que a dona Ester renova a assinatura da revista, embora a sua reforma seja mínima. É apaixonada pela leitura, embora se encontre muito doente.OTÍLIA

Sem descontosMando só 10,00 €. Será para o correio. Durante os anos de missão não «descontei» e agora sofro-lhe as consequências.TERESINHA

NR Conheço esta senhora desde longa data. Desde os tempos da missão em Moçambique. Por amor a essa causa ela não «descontou» e agora a reforma é magra. Como diz o provérbio: “Por bem fazer, mal haver”. O que vale é que Deus não dorme e não deixa sem retribuição tudo o que fazemos por Ele e pelos irmãos. Tenhamos confiança!

Ao senhor diretor da revista,Sou assinante há vários anos. Vivo longe de Fátima e vou aí raramente. Este ano fui na peregrinação da Consolata e diante de um seminário tão grande, perguntei quantos alunos tinha. Disseram-me que não tinha nenhum; que já teve muitos, mas agora já não tem,

Diálogo aberto porque não há vocações. Ora eu que paguei 250,00 € para uma bolsa de estudos com tanto sacrifício, gostaria de saber para onde foi esse meu rico dinheiro?ELVIRA

Esta pergunta que a dona Elvira faz, muitos a poderiam fazer. Para onde é que vai o dinheiro das bolsas de estudos? Para nós, missionários, é fácil dar uma resposta e é a seguinte: Não havendo vocações aqui na nossa

terra, temos de as ir procurar nos países onde trabalham os nossos missionários. Por exemplo em África, onde, graças a Deus, elas abundam. É para os seminários de lá que nós enviamos esses donativos. Fique, pois, tranquila senhora dona Elvira que o seu dinheiro não está perdido nem foi mal gasto.

MC

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horizontes

TEXTO TERESA CARVALHOILUSTRAÇÃO MÁRIO LINHARES

Mónica nunca fora de se lamentar. Via as mudanças, mesmo as que não desejava, como um novo desafio a vencer e um meio de aprender outras formas de viver. Talvez por isso não se assustou quando teve de sair com os dois filhos do apartamento onde viviam para um mais barato. Era triste! Mas tudo se resolveria.Hoje é dia de fazer as mudanças. Mobília e sacos num sobe e desce afogueado trouxeram os novos vizinhos à janela, às escadas, mas ninguém quis saber se Mónica precisava de ajuda. Nem perguntaram o seu nome ou o dos seus filhos. Parecia quererem investigar, mas não envolver-se.Mónica sabia estar atenta àquilo que se passava ao seu redor. Percebeu que tinha algum contributo a dar naquela indiferença. E começaria já. Como apartamento organizado, bateuà porta de cada um dos vizinhosdo prédio a apresentar-se:– Olá! Vimos apresentar-nos como

os novos vizinhos do terceiro esquerdo. Somos a Mónica, o Marco e a Rita. Gostaríamos que pudessem contar connosco e de podermos contar convosco. Era o início de uma conversa que, após a surpresa inicial, passava a um acolhimento curioso e prolongava-se em trocas de informação úteis. Em apenas uma semana, Mónica já trocava um “Bom dia, senhor Joaquim, como tem passado?” ou “Olá, Claúdia, bom treino!”. Apercebeu-se rapidamente das dificuldades dos seus novos vizinhos. Alguns eram idosos a viverem e a sentirem-se “sós”. Que fazer? Falou com o responsável do condomínio e propôs-lhe pensarem em conjunto a solução. Era um assunto invulgar para pensar numa reunião de condomínio, mas foi mesmo isso que aconteceu. O senhor Luís iniciou a reunião coma sua autoridade habitual: – Como sabem esta nossa reunião é extraordinária e tem como único assunto: “O meu vizinho e eu”. Temos ouvido na comunicação social que há pessoas que não

PERTO EPRÓXIMO

sabem nem se interessam por quem vive ao seu lado e apercebemo-nosque isso está a acontecer-nos. Podemos fazer diferente! Mas o quê? Todos tinham algo a dizer e, desta vez, cada um quis escutar o vizinho, enquanto pessoa. As soluções brotaram, juntamente com afetos, desejos, medos. Nesse dia, ao anoitecer, todos cumpriram a decisão ali tomada: “Doravante nenhuma famíliase deitará sem saber se o vizinhodo seu andar está bem”.E, em fevereiro, quando todos se juntaram no primeiro lanche trimestral do prédio, já ninguém era ou se sentiu desconhecido.As portas à frente e ao lado, antes fechadas e silenciosas, eram agora portos de segurança e partilha.No Bloco 105, porque “alguém” soube chegar “próximo”, inventaram-se laços de cuidadoque derrubaram um dos piores medos: o “ser só”.

No Bloco 105, porque “alguém” soube chegar “próximo”, inventaram-se laços de cuidado que derrubaram um dos piores medos: o “ser só”

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mundomissionário

800 MIL CRIANÇAS ESCRAVAS NO MUNDOMais de 800 mil crianças trabalhamdias inteiros, sujeitas a perigos de toda a ordem e a uma fadiga esgotante e insuportável para a sua idade. Mas o número estará muito aquém da realidade. Só no Equador, um relatório do governo indica que 367 mil crianças, dos cinco aos 14 anos, são usadas no mercado negro, em trabalhos domésticos, nas minas e na prostituição. Na Colômbia, cerca de 30 por cento dos menores são “tentados” a fazer parte de bandos armados ou das redes da prostituição, refere a agência Fides. Mais de 70 por cento abandona os estudos para trabalhar. Embora todos os países, menos a Somália e os Estados Unidos, tenham ratificado a convenção dos direitos da criança, os menores continuama trabalhar no campo, sem horários e expostos às inalações de pesticidas tóxicos, ou trabalham em fábricas em péssimas condições.

SEM-ABRIGO EM PÁSCOA ALLAMANIANAUns vivem na rua. Outros em extrema pobreza. Encontram-se,silenciosamente, na franja da exclusão social portuguesa. Mas há quem os ouça e não os ignore.Na sequência do «Projeto Solidário», que tem sido desenvolvido em Águas Santas, com quase uma centena de sem-abrigo, do Porto, um grupo de 25 voluntários da Consolata decidiu preparar uma Páscoa diferente para eles. A iniciativa já conquistou mais voluntários que se juntaram à causa. Todos os que seguem as peugadas de Allamano estão convidados a colaborar nas atividades com as 40 pessoas carenciadas do Porto. Acontecerá de 5 a 8 de abril, na casa dos Missionários da Consolata, de Águas Santas, com a esperança de que esta Páscoa seja verdadeiro tempo de renascer. Um vasto programa de atividades, que incluirá momentos recreativos, pedagógicos e religiosos, será desenvolvido com a colaboração e a presença acolhedora de todos os amigos da Consolata. Será uma Páscoa inesquecível para todos.Pode acompanhar o programa em:www.fatimamissionaria.pt

CRISTÃOS DE NOVO PERSEGUIDOS NO LAOSEncarcerados, recatados, direitos negados e ameaças de toda a ordem para obrigar os cristãos a renegar a fé cristã, é a ameaça permanente que as autoridades comunistas do Laos fazem pesar sobre a vida deles. Depois de muitas conversões ao cristianismo no passado recente, as autoridades reforçaram a perseguição. Particularmente atingida, tem sido a comunidade protestante, que nos últimos tempos sofreu um ataque contra um cristão recém-convertido e contra 10 famílias, numa aldeia da província de Luang Namtha. As autoridades convocam os cristãos e intimam-nos a abandonar a fé cristã. Quando se recusam, as forças policiais colocam-nos diante de um dilema: ou abandonam a própria casa e a aldeia ou renegam a fé cristã. Os cidadãos do Laos, para se converterem, são obrigados a pedir autorização ao oficial dos Assuntos Religiosos. Subjugado por um regime comunista, o Laos tem uma população de maioria budista (67 por cento), num total de seis milhões de habitantes. Apenas dois por cento são cristãos, dos quais 0,7 por cento católicos.

texto E. ASSUNÇÃO fotos LUSA E AIS

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texto TOBIAS OLIVEIRA*

*missionário da Consolataportuguês, em Jerusalém

Na missãohá ir e virQuando no contato de março mencionei que o meu batismo de missão se realizou no Quénia já lá vão 33 anos, o bom entendedor talvez tenha conseguido detetar entre linhas um velado aceno a uma possível mudança de campo de missão. Assim é de facto. O superior geral convidou-me a levantar a tenda e a enfrentar o desafio de novos horizontes. O padre Elísio Assunção, diretor da FÁTIMA MISSIONÁRIA, propõe que esta minha rubrica continue a ser publicada mesmo que não seja a partir do Quénia. Eu não lhe vou dizer que não.Desde meados de março, encontro-me em Jerusalém para um período de reflexão e estudo. Um dos momentos altos deste meu tempo sabático vai ser, a partir de 1 de abril, a celebração da Semana Santa neste lugar sagrado.Deixei o Quénia com algum pesar, mas também com a tranquilidade do dever cumprido, embora sem me poder gloriar de ter sido santo, sempre santo e só santo, como propunha aos seus missionários o beato José Allamano.Trabalho que fica por fazer é só o que eu não fiz e podia ter feito. O que não me foi possível fica nas boas mãos de Deus para quem nada é impossível.

SAHEL: FOME PARA UM MILHÃO DE CRIANÇASEm oito países da região africana do Sahel, mais de um milhão de crianças com menos de cinco anos arriscam-se a sofrer de desnutrição ou de fome. É mais um alarme lançado recentemente, pela UNICEF, organização das Nações Unidas para a infância, que denunciou a crescente situação de risco que ameaça sobretudo o Chade, Burkina Faso, Mauritânia, Mali, Níger, Nigéria, Camarões e o Norte do Senegal. É uma crise provocada pela seca naquelas zonas do continente africano. Os problemas causados pela quase nula precipitação atmosférica e pela perda das sementeiras atingem 10 milhões de seres humanos. A tragédia atingirá sobretudo as crianças do Sahel. Nos próximos seis meses, referem os peritos, um milhão e meio de crianças serão afetadas pela desnutrição e necessitarão de tratamento em centros nutricionais.

CRISTÃOS TÊM APENAS UMAIGREJA NO QATARApesar da Constituição do Qatar definir o Islão como religião do Estado, os cristãos gozam de estatuto legal, o que não os impede de ter medo. Não podem evangelizar, arriscam a prisão se o fizerem e os convertidos ao cristianismo enfrentam a perseguição. Em todo o país só existe uma igreja, inaugurada há quatro anos. É a primeira igreja católica construída no país em 1.400 anos. No dia da inauguração, o arcebispo Hinder emocionou-se: “Vi pessoas a chorar de alegria, porque, finalmente, tinham um espaço para rezar”. Apesar do estatuto legal que lhes foi concedido, os cristãos vivem numa espécie de liberdade condicionada no Qatar. A religião estatal e a lei islâmica são as principais fontes da legislação, pelo que os cristãos vivem numa espécie de limbo. Tanto podem ser tolerados como perseguidos. A lei permite todas as interpretações. A prática religiosa está condicionada.

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a missãohoje

Há dois anos, o então presidente do Brasil, Lula da Silva, escolheu a aldeia de Maturuca, no estado de Roraima, para celebrar o Dia do Índio, a 19 de abril. Comemorava-se a demarcação da área indígena Raposa Serra do Sol, confirmada em 2009 pelo Supremo Tribunal Federal (STF). Após três décadas de luta e muito sangue derramado, os índios podiam finalmente festejar por voltarem a ter a posse da terra que por direito sempre lhes pertenceu. Estava ganha uma grande batalha, mas não a guerra. Os problemas e as ameaças continuam a pairar sobre os mais de 20 mil indígenas que vivem naquela área, no norte do Brasil, próximo da fronteira com a Venezuela e a Guiana.«Há a tentação de construírem mini centrais hídricas

dentro da área indígena, sem o acompanhamento de estudos sérios de impacto ambiental e sem garantirema proteção e segurança dos povos indígenas», refereo missionário da Consolata, Fernando Rocha,há vários anos a trabalhar com os índios do Roraima.Embora o processo de demarcação da Raposa Serrado Sol tenha determinado a expulsão dos nãoíndios do território, os cinco povos que habitam

BRASIL: DIA DO ÍNDIORAPOSA SERRA DO SOL: A LUTA CONTINUA

A festa da posse da terra, em 2009, deu lugar à apreensão e ao receio de novas ameaças

Área indígena do Roraima, no norte do Brasil, corre o risco de sofrer novas invasões: desta vez de batalhões militares e multinacionais de mineração. Missionários temem que a entrada de não índios na zona demarcada possa fomentar a prostituição e o consumo de álcool

texto FRANCISCO PEDRO foto ANA PAULA

Estão lançados os alicerces de uma grande corrente espiritual, à escala nacional. No passado dia 16 de março, a Família Missionária da Consolata reuniu-se em oração e reflexão, um pouco por todo o país. Em Fátima ou no Zambujal (Amadora), em Águas Santas (Maia) ou em Braga, as pronúncias foram diferentes, mas os sentimentos foram os mesmos. Mais ou menos à mesma hora (21h00), como era proposto, muitos grupos seguiram as orientações dadas pela ficha mensal da (H)ora Allamano e rezaram. Rezaram pelas vocações e para que surjam mais pessoas corajosas a abraçar a vida consagrada, por intercessão do beato José Allamano. «A adesão foi muito boa. Acredito que é o princípio de uma cadeia

Um caminhocom dois sentidos

que vai unir muita gente e criar um caminho em duas direções. Que vai levar milhares de pessoas a conhecer melhor os Missionários da Consolata, através do trabalho do seu fundador [José Allamano] e outra, em sentido inverso, que as vai sensibilizar para colaborar mais com a causa missionária», disse Nuno Prazeres, doGrupo de Reflexão Allamano. O desafio pretende unir os cristãos em oração, criar espírito de família e fortalecer o compromisso com o trabalho missionário, numa caminhada conjunta até à peregrinação de fevereiro de 2013. Todos os meses é distribuída uma ficha na edição da revista FÁTIMA MISSIONÁRIA, onde constam o tema e as pistas a seguir durante os encontros, a realizar a cada dia 16, por volta das 21h00. O folheto pode ser enviado pelo correio ou descarregado na Internet, em www.fatimamissionaria.pt

Abril 2012 11

fio dahistória

texto MANUEL CARREIRA ilustração H. MOURATO

Em 1902 partem para o Quénia os primeiros quatro missionários, membros do novo Instituto fundado por Allamano. A expedição foi abençoada por Deus e, naturalmente, pela Consolata em nome de quem eram enviados. Em Turim, Allamano velava, aguardava notícias e dava indicações. À medida que outros missionários se iam formando, Allamano ia-os enviando para a terra da sua promissão. Os anos passaram, a missão foi-se alargando e o Quénia já não chegava:

CONSOLATANO QUÉNIA

veio a Tanzânia, Etiópia, Somália e Moçambique. E vieram também as guerras que levavam os missionários para campos de concentração. Nas missões, foram caindo as paredes e foram crescendo as silvas. Mas os missionários, mal se abriam as portas do arame farpado, voltavam à faina do apostolado e reconstruíam aquilo que o tempo tinha destruído. O pior foi a Segunda Guerra Mundial, em que muitos missionários foram obrigados a regressar à Itália. O superior interrogava-se: “Onde vou colocá-los?”. Brasil e Portugal eram novas hipóteses. Aqui entra em cena o padre Joãode Marchi.

a área – Macuxi, Wapichana, Taurepang, Ingaricó e Patamona – permanecem vulneráveis à intromissão de estranhos e às respetivas consequências sociais e culturais. «Fala-se muito na criação de pelotões militares nas fronteiras da zona demarcada, o que pode atrapalhar a vida dos índios, pois todos sabemos que isso pode ser uma fonte de prostituição e de entrada de bebidas alcoólicas», adianta o missionário português.

As contrariedades sentidas pelos índios de Roraima não são muito diferentes das vividas pelos restantes povos indígenas brasileiros. «Existe uma pressão muito grande no Congresso Nacional para que se abram as áreas indígenas às grandes multinacionais de mineração». Por outro lado, continua a discutir-se a aprovação do Estatuto dos Povos Indígenas, com base apenas «nos interesses políticos e partidários» e «sem a participação dos líderes indígenas», lamenta Fernando Rocha.

Neste momento, há 335 pedidos de demarcação de novas áreas indígenas em fase de aprovação e 348 que esperam parecer da Fundação Nacional do Índio (FUNAI) para abertura do processo. Segundo o Conselho Indigenista Missionário (CIMI), 15 processos encontram-se nas mãos do STF, o que impede a continuidade do procedimento administrativo. Destes, 12 são referentes a territórios indígenas no Mato Grosso do Sul, o estado onde nos últimos anos se tem registado o maior número de assassinatos e mortes de índios, por causa da luta pela posse da terra.

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a missãohoje

Antes era apenas a solidão, hoje é a solidão e o medo. Maria S., 74 anos, tornou-se uma mulher desconfiada. Continua a soltar o verbo de forma fácil e humilde, a irradiar ternura através do olhar azul turquesa, mas mudou de comportamento. Não o fez de livre vontade. As circunstâncias, as notícias constantes dos assaltos a idosos, a isso a obrigaram. «Gostava muito de receber e falar com quem aparecesse, mas agora todo o cuidado é pouco. Anda por aí muita

suas preocupações às figuras que desfilam no pequeno ecrã, ao longo do dia. Como se elas a ouvissem. Os filhos «têm as suas vidas» e raramente aparecem. Os poucos vizinhos saem ao nascer do sol e regressam já de noite. Os seus dias passaram a ser preenchidos de silêncios. E quando há um barulho estranho, o bater do coração acelera involuntariamente. «Nunca se sabe quem vem e ao que vem», desabafa, aconchegando os braços na bata escura, descolorida pelo tempo.

AUMENTA NÚMERODE IDOSOS ISOLADOS

SOZINHOSATÉ AO FIMO medo tomou conta das pessoas de idade que vivem sem companhia. A Igreja pede aos cristãos que sejam menos egoístas e apoiem os mais velhos

texto FRANCISCO PEDRO foto ANA PAULA

Timidamente começam a surgir campanhas da Cáritas, das conferências vicentinas ou projetos como o do Instituto Politécnico de Bragança – em parceria com a diocese, câmaras, juntas de freguesia e Santa Casa da Misericórdia – para incentivar os estudantes a atenuar a solidão da terceira idade. Mas há um longo caminho a percorrer. «Os cristãos continuam a caminhar no seu egoísmo, mesmo com momentos litúrgicos de intimidade com Deus e desconhecem-se no quotidiano. Desconhecem-se e esquecem-se. A solidão e os idosos, como outros problemas interligados, nunca deixarão de existir sem esta redescoberta da comunidade. Será esta a discernir caminhos adequados para acabar com este escândalo do abandono de muitas pessoas», alerta o presidente da Comissão Episcopal da Pastoral Social, arcebispo Jorge Ortiga.Leia a entrevista completa em www.fatimamissionaria.pt

O último Censos feito pela Guarda Nacional Republicana (GNR) identificou 18.082, mais 7.405 do que em 2011. Bragança é o distrito onde o fenómeno tem mais expressão, com 2.442 casos

malandragem», conta à FÁTIMA MISSIONÁRIA, encostada à porta de sua casa, numa pequena aldeia no distrito de Leiria.

Maria leva quase duas décadas de solidão. Desde que o marido morreu, em 1994, passou a partilhar os desabafos do dia a dia apenas com «a criação». Ralha com o pequeno cão rafeiro, conversa com as galinhas e dá conta das

Ainda que resumida, a história de Maria não difere muito da de grande parte dos idosos que vivem sozinhos e isolados em Portugal. O último Censos feito pela Guarda Nacional Republicana (GNR) identificou 18.082, mais 7.405 do que em 2011. Bragança é o distrito onde o fenómeno tem mais expressão, com 2.442 casos. Seguem-se Santarém, Évora e Guarda.

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destaque

Há poucas semanas, a revista do Expresso titulava: “O meu futuro não passa por aqui”. Referia-se a uma reportagem sobre uma dúzia de jovens portugueses, na casa dos 18 anos, e da sua visão (negra) sobre o seu futuro e o destino de Portugal. Esta expressão de desânimo e descrença só pode deixar-nos profundamente apreensivos, mas exige um sobressalto cívico e religioso. Os tempos de crise e incerteza, que nos conduzem à proximidade, ao abismo e à ausência de esperança, estão a destruir os sonhos de uma geração que se vai sentindo a mais.

Apesar de estarmos perante a geração mais qualificada de que há memória na sociedade portuguesa, os números do desemprego juvenil – a caminho dos 40 por cento –

mostram os caminhos fechados e desanimam qualquer um. Acresce que temos uma economia em queda livre e um ciclo diário de destruição de emprego. Nesse contexto, o medo vai-se apoderando da razão e do coração dos jovens e vai tolhendo a sua capacidade de lutar – aqui – por um futuro melhor, para si e para o seu país. A partida é a resposta mais óbvia para uma geração global, que nasceu depois da internet, dos voos low cost ou do Programa Erasmus. Outros destinos talvez ofereçam as oportunidades que, neste contexto, Portugal não é capaz de gerar.

No entanto, para uma visão cristã do mundo há um outro olhar e, sobretudo, um outro apelo. Neste tempo turbulento, temos de ser capazes de despertar a jovem geração do século XXI para a coragem de

JOVENS: ENTRE O MEDOE A CORAGEMtexto RUI MARQUES* foto ANA PAULA

lutar contra a tentação de todas as desistências. Portugal precisa, mais do que nunca, dos seus jovens. Sem eles nunca vencerá a crise. Precisa que arregacem as mangas e lancem mãos à obra de reconstruir um país em escombros: com a sua criatividade, com a sua cultura global e digital, com o seu espírito empreendedor, com a sua flexibilidade. Os dias de tempestade, onde tudo parece perdido com o medo do naufrágio, são também o momento para os grandes gestos corajosos de não desistir.

Dos cristãos, por maioria de razão, que são filhos da esperança e da confiança num Deus que nunca desiste de nós, é esperado um sinal. Entre o medo e a coragem, sabemos bem de que lado devemos estar. Os jovens precisam desse nosso testemunho em tempos de crise, para que acreditem que vale a pena ficar...e lutar. *Diretor Geral – Fórum Estudante

Entre o medo e a coragem, sabemos bem de que lado devemos estar. Os jovens precisam desse nosso testemunho em tempos de crise, para que acreditem que vale a pena ficar...e lutar

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atualidade MOÇAMBIQUEMetade dos habitantes da diocese de Gurué é católica

humano significa migração clandestina; tráfico de seres humanos: jovens e meninas para a prostituição; e, por fim, o tráfico de órgãos”. É um problema que “afeta Angola, Namíbia, Botsuana, Zimbabué e Malawi”.“Entre luzes e sombras, há muita esperança. Não obstante as dificuldades, lutamos para levar por diante um projeto pastoral”.

Quatro sonhos de um bispo “O tema da minha primeira mensagem, apenas eleito bispo há ano e meio, é o primeiro sonho: união e comunhão de todos os agentes da pastoral”. O segundo tem a ver “com uma evangelização atual e renovada”. Moçambique de hoje “já não é o mesmo do tempo colonial, nem da revolução ou da FRELIMO; os jovens, os adultos, a política, tudo é completamente diferente”. O terceiro sonho é uma boa formação dos agentes da pastoral. “Criámos escolas de leigos, para uma formação adequada aos tempos

LUZES E SOMBRAS NO GURUÉNA VIDA DE DOIS MILHÕES

Luzes são as duas mil comunidades, animadas por “leigos que as orientam nas celebrações dominicais, na catequese e na formação”, explica o bispo de Gurué, Francisco Lerma. Com três dezenas e meia de padres, a diocese não tem nada de clerical. “É uma expressão que não se refere a nós”, clarifica o prelado missionário da Consolata, espanhol, natural de Múrcia: “Uma Igreja ministerial bem edificada, enraizada no povo”.

Situada no triângulo mais produtivo do ponto de vista agrícola – Malema, Cuamba e Alto Molocué – a região de Gurué é muito rica. “Mas são muitíssimas as sombras de chagas sociais”. O prelado enumera três: “A assistência sanitária, a educação com níveis muito baixos e o tráfico humano”. Um corredor de passagem do tráfico atravessa a diocese, desde a fronteira da Tanzânia, passando pela alta Zambézia e Nampula, em direção à África do Sul. “Tráfico

Do oceano Índico à fronteira do Malawi, a diocese de Gurué mede cerca de metade de Portugal. Tem 42 mil quilómetros quadrados e é brindada com uma enorme riqueza. Habitada por luzes e sombras, a sua maior riqueza é a população: dois milhões de habitantes, com 50 por cento de católicos

texto E. ASSUNÇÃO fotos FM

Visita pastoral do bispo Francisco Lerma crismando em dia de festa e de alegria

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de hoje”. O quarto sonho é “a sustentabilidade económica, a partir das bases locais, sem depender totalmente do exterior”.

Dia do bispo em duas versões “O dia da visita pastoral é de triunfo.Sou recebido como o bom pastor, com capulanas estendidas no chão, grinaldas de flores, celebração, festa, muita dança, muitos crismas”. É dia de festa, mas também de trabalho. “Reúno o conselho da comunidade, escuto os leigos, os problemas e, às vezes, são problemas graves”.Mas há o dia a dia, na sede. “Começo o dia, de manhã cedo. Com dois padres que estão comigo, inicio com a adoração diária ao Santíssimo Sacramento, cerca de duas horas de oração, incluindo a celebração da missa”. Segue-se o corrupio das pessoas que querem falar com o bispo. “Sem protocolos, sem audiências marcadas”. Dias normais de muito diálogo, mas também de correspondência, de resposta a muitos questionários. “Muitas horas passadas no escritório”.Há ainda uma hora para passear. “O bispo já não é tão jovem e tem de queimar as gorduras e o açúcar”. A noite é reservada para a internet, “para atualizar o nosso blogue e a nossa página Web, para responder aos emails”.

Projetos do bispo“Uns são materiais, voltados para reabilitar as antigas sedes de missão, recuperar todo o património que foi perdido”. Há projetos para as pessoas. “Queria um seminário menor para os jovens que se abremà vocação”. Em terceiro lugar, “ambiciono que

cada missão, cada paróquia, tenha o pessoal suficiente para a pastoral; e, quarto, responder aos problemas gritantes e dramáticos da hora presente, sobretudo na saúde e na educação”. Há projetos “para combater tantas injustiças, o tráfico de seres humanos e a ocupação das terras pelas grandes companhias que estão a entrar”. O prelado alerta para “o problema da falta de terra para as pessoas, daqui a pouco tempo”.

Dois desafios para o bispo “A nível interno é preciso responder com equilíbrio e serenidade aos diferentes problemas que a sociedade nos coloca”. As injustiças, os pequenos conflitos criam “a necessidade de restabelecer o tecido social, ainda não completamente restabelecido depois da guerra. Dar um salto qualitativo na vida política, social e económica do país”.Outro desafio é a nível dos bispos: “Criar maior comunhão entre nós, para que haja uma pastoral de conjunto entre todos nós, que saibamos responder como conferência episcopal à hora presente do país. São desafios grandes!”.

Francisco Lerma, bispo da diocese de Gurué, Moçambqiue

Mensagem para os amigos de Portugal“Quero agradecer. Gostaria de dizer aqui os nomes, do primeiro ao último benfeitor da campanha a favor do Gurué. Agradeço a todos os leitores de FM que colaboraram. Li os nomes que eram publicados todos os meses na revista. Uma verdadeira ladainha! Houve quem deu mais e quem deu até um euro. Por trás desse euro há um empenho, uma amizade, uma fraternidade. Uma partilha de vida, de amor à missão e, no caso concreto, à minha diocese. Quem dá um euro significa que tem pouco e deu o pouco que tinha. Bem-haja a todos, em nome pessoal e em nome da paróquia da Catedral.Em breve teremos um centro para acolher os doentes e os familiares que os acompanham. Já demos os primeiros passos. Legalizámos a propriedade do terreno, foram colocados os marcos, fez-se a planta, obtivemos a licença municipal para a construção, e vedámos o terreno com a colaboração dos próprios cristãos da paróquia, que prepararam tijolos e areia. O lançamento da primeira pedra está para breve.Agradeço em nome de toda a diocese. Continuamos unidos na mesma missão. A meta é a mesma! Somos discípulosde Jesus e caminhamostodos de mãos unidas”.

“A nível interno é preciso responder com equilíbrio e serenidade aos diferentes problemas que a sociedade nos coloca”. As injustiças e os pequenos conflitos criam “a necessidade de restabelecer o tecido social, ainda não completamente restabelecido depois da guerra, dar um salto qualitativo na vida política, social e económica do país”

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dossier

PERGUNTAS & RESPOSTASTodas as pressões devem ser para uma solução negociada

ISRAELVAI ATACAROU NÃOO IRÃO?

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texto LEONÍDIO PAULO FERREIRA* fotos IRIN E LUSA

1.ISRAEL TEM RAZÕES PARA TEMER AS AMBIÇÕES NUCLEARES DO IRÃO?Sim. Primeiro que tudo porque, desde a sua criação em 1948, o Estado judaico existe num meio hostil, com a esmagadora maioria dos países do Médio Oriente a vê-lo como um corpo estranho na região. Aliás, a conflitualidade com os vizinhos árabes já valeu a Israel seis guerras (isto sem contar os mísseis disparados pelo Iraque em 1991). Apesar de não ter fronteiras com Israel e não ser árabe, o Irão assumiu, desde a revolução islâmica de 1979, uma retórica belicista contra o país fundado pela ONU para ser um refúgio para os judeus de todo o mundo. O seu presidente, Mahmud Ahmadinejad, chegou mesmo ao ponto de negar o Holocausto, o extermínio dos judeus europeus pela Alemanha nazi, durante a Segunda Guerra Mundial. E o guia supremo do Irão, Ali Khamenei, tem reafirmado a velha posição do ayatollah

Khomeini, fundador do regime, de que Israel é um tumor na região e que deve ser extirpado.

2.EXISTEM INDÍCIOS DE QUE ISRAEL PREPARA UM ATAQUE ÀS INSTALAÇÕES IRANIANAS?É evidente a preocupação dos líderes israelitas, como o primeiro--ministro Benjamin Netanyahu, que tem pressionado os Estados Unidos a tomar uma posição de força com o Irão. E se Netanyahu, um conservador, é visto como um falcão, designação para os mais belicistas, a verdade é que o seu receio de um Irão com armas nucleares é partilhado também pelo ministro da Defesa, Ehud Barack, um ex-militar que chegou a tentar a paz com os palestinianos para resolver de vez o velho conflito israelo-árabe. Como primeiro--ministro trabalhista Barack chegou, em 2000, a ser visto como uma pomba ou conciliador, por ter ordenado a retirada das tropas israelitas do Líbano e por ter feito

O Irão orgulha-se da proteção que dá aos seus 25 mil judeus, a maior comunidade que sobrevive num país islâmico, mas ao mesmo tempo tem um presidente que nega o Holocausto e ayatollahs que classificam Israel como um tumor que deve ser extirpado do Médio Oriente. Neste contexto, os israelitas sentem-se ameaçados pelo projeto nuclear iraniano e não acreditam que seja só para fins civis. E, como não creem que as sanções americanas e europeias forcem o Irão a desistir da bomba, admitem atacar as instalações nucleares do inimigo. No passado, fizeram o mesmo com o Iraque e a Síria, mas agora é muito mais arriscado, até porque o efeito surpresa não existe e o Irão pode retaliar. E uma guerra global no Médio Oriente seria uma tragédia mundial, pelo que todas as pressões devem ser para uma solução negociada

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Em termos práticos, sem apoio americano Israel pode estar a atacar no limite da sua capacidade militar, pois para atingir vários alvos e proteger os aviões de reabastecimento necessitará de uma centena de aparelhos, o que é bem mais que os oito usados em 1981 contra a central nuclear de Saddam Hussein construída com tecnologia francesa

Agora que retirou do Iraque e está a apressar a retirada do Afeganistão, Obama não está interessado numa nova guerra que envolva um país islâmico. E também não quer cometer o erro de George W. Bush, o antecessor, que em 2003 atacou o Iraque com base em falsas suspeitas de que Saddam teria armas de destruição maciça

uma oferta (fracassada) de acordo final com o então líder palestiniano, Yasser Arafat. A própria opinião pública israelita teme um Irão nuclearizado, mesmo que a maioria prefira que um ataque seja realizado com apoio dos aliados americanos.

3.ESTARÁ JÁ EM PREPARAÇÃO ESSE ATAQUE?Nos últimos tempos Israel tem feito várias compras de armamento aos Estados Unidos, desde aviões F-15 e F-16 a bombas antibunker GBU-28. E, em novembro do ano passado, houve exercícios militares sobre o mar Mediterrâneo que envolveram aviões a simular ataques e operações de reabastecimento em pleno voo. São indícios de que se prepara para tudo.

4.REABASTECIMENTO EM VOO PORQUÊ?Já por duas vezes Israel atacou instalações nucleares suspeitas: em 1981 destruiu o reator nuclear de Osirak, no Iraque, e em 2007 foi a vez de um centro sírio em Deir Ez-Zot. Mas desta vez, a distância a percorrer é superior, com os alvos em território iraniano a ficarem a mais de 1.500 quilómetros de distância. Isso significa que para voar até lá, lançar as bombas, responder a eventuais adversários no ar e regressar em segurança à base, os aviões israelitas poderão ter de ser reabastecidos em pleno voo. Sabe-se que o país tem uma dezena de aviões de reabastecimento, desenhados a partir do Boeing 707, e que os próprios caças F-15 e F-16 estão

a ser equipados com tanques de combustível suplementares.

5.EXISTEM OUTRAS DIFICULDADES EXTRA COMPARADO COM OSIRAK E DEIR EZ-ZOT?Várias. Além do desafio da distância maior, Israel também perdeu o fator surpresa. Outra dificuldade consiste na dispersão de alvos (Arak, Qom, Isfaãao, Bushehr e talvez até Teerão). É preciso também ter em conta que as instalações nucleares iranianas são subterrâneas e assim muito

mais difíceis de destruir. As bombas GBU-28 podem não ser suficientes e, por isso, os israelitas tentam ainda que os Estados Unidos lhes vendam as MOP, cuja carga explosiva de 14 toneladas é sete vezes mais destrutiva. E existe ainda o problema das rotas, pois qualquer ataque ao Irão implica sobrevoar outros países. A chamada Rota Norte, ao longo da fronteira entre a Síria e a Turquia, seria uma opção, se as boas relações

tradicionais com Ancara não se tivessem degradado por causa dos nove turcos mortos em 2010 quando tentavam, num navio, furar o bloqueio israelita a Gaza. Já a Rota Central, por cima da Jordânia e do Iraque, mereceu já advertências por parte das autoridades de Bagdad. O mais provável é a utilização da Rota Sul, com os aparelhos israelitas a voarem sobre a Arábia Saudita, que fecharia os olhos à violação da sua soberania pois tem interesse em fragilizar o Irão. Os sauditas, guardiães de Meca e Medina e campeões do islão

sunita, travam no Médio Oriente uma vasta guerra de influência com os iranianos, o grande país do islão xiita. Um bom exemplo desse conflito de interesses foi a supressão da revolta democrática no Bahrein em 2011, quando a maioria xiita se insurgiu contra o soberano sunita. Este disse estar a ser vítima de um complô iraniano e apelou a uma intervenção armada da Arábia Saudita, que acaboucom a Primavera Árabe na ilha.

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Um iron dome, sistema de anti-mísseis, para proteger ataques à população israelita

6.A AJUDA DOS ESTADOS UNIDOS É ESSENCIAL PARA O ATAQUE?Israel habituou-se a defender-sesozinho das ameaças e não esquece que os Estados Unidos criticaram o ataque de 1981 a Osirak (que foi também condenado pelo Conselho de Segurança da ONU). Mas, ao mesmo tempo, sabe que os Estados Unidos são o seu grande aliado e a maior potência militar do planeta, com vastos meios no Golfo Pérsico. Além de precisarem que os americanos lhes vendam armas, os israelitas aplaudiriam um ataque conjugado com os americanos, única forma de garantir a destruição em grande escala do projeto nuclear iraniano (ou pelo menos atrasá-lo uma década). Em termos práticos, sem apoio americano Israel pode estar a atacar no limite da sua capacidade militar, pois para atingir vários alvos e proteger os aviões de reabastecimento necessitará de uma centena de aparelhos, o que é bem mais que os oito usados em 1981 contra a central nuclear de Saddam Hussein construída com tecnologia francesa.

7.QUAL TEM SIDO A POSIÇÃO DA AMÉRICA?Nas reuniões do presidente americano com Netanyahu tem sido evidente a falta de confiança pessoal de Barack Obama no seu interlocutor. Isso não impede que diga, alto e bom som, que não tolerará um Irão com armas nucleares. Mas como a CIA lhe garante que falta no mínimo um ano para os iranianos poderem passar do nuclear civil para a opção militar, o presidente americano prefere apostar num misto de ameaças e negociações, acreditando que as sanções económicas acabarão por fazer ceder o regime dos ayatyollahs. Outro ponto importante é este ser um ano eleitoral nos Estados Unidos, com Obama a procurar a reeleição para a Casa Branca em novembro.

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Calcula-se que, a médio-prazo, as sanções possam causar uma quebra na riqueza na ordem dos 10 por cento, mesmo assim metade daquilo que aconteceu ao Iraque na última década de Saddam. Com menos recursos, os ayatollahs poderão ser pressionados a negociar para não terem de enfrentar a contestação nas ruas, seja da parte dos pobres (que foram decisivos nas vitórias de Ahmadinejad), seja dos mais liberais

Típica rua estreita de Ein Beit Alma, campo de refugiados extremamente superlotado

Agora que retirou do Iraque e está a apressar a retirada do Afeganistão, Obama não está interessado numa nova guerra que envolva um país islâmico. E também não quer cometer o erro de George W. Bush, o antecessor, que em 2003 atacou o Iraque com base em falsas suspeitas de que Saddam teria armas de destruição maciça.

8.ISRAEL TEM OUTRAS FORMAS DE ANULAR O PROGRAMA NUCLEAR DO IRÃO?Sabe-se que têm sido inúmeros os ataques informáticos ao Irão. E também se multiplicam os atentados contra cientistas iranianos. São já seis os mortos, com o caso mais recente a ter ocorrido em janeiro deste ano, quando um dos diretores do centro de enriquecimento de urânio de Nantaz, Mustafa Ahmadi- Roshan, foi assassinado em Teerão. A Mossad nunca reivindica as suas operações, mas é impossível não suspeitar do dedo de Israel nestes atentados. Aliás, numa retaliação também não assumida, diplomatas israelitas foram atacados na Índia e na Georgia.

9. QUAL A HIPÓTESE DO IRÃO RETALIAR?Imensas. Ao contrário do Iraque em 1981, que por estar em guerra com o Irão não abriu outra frente de batalha, e da Síria em 2007, que preferiu minimizar a destruição de umas instalações construídas pelos norte-coreanos, o Irão quase de certeza reagiria a um ataque. No início do ano, testou vários tipos de mísseis e sabe-se que possui o Sajjil-2, que terá um alcance de 2.400 quilómetros. Mas existe ainda a possibilidade de retaliar através dos libaneses do Hezbollah e dos palestinianos do Hamas, duas organizações financiadas desde sempre pelo regime dos ayatollahs. Nesse caso uma guerra de grandes dimensões no Médio Oriente poderia dar-se, agravada pelo fecho do Estreito de Ormuz, por onde

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urânio, que vão muito além do necessário para uso civil. E se é verdade que já no tempo do Xá, quando o Irão era aliado dos Estados Unidos, existia um projeto de central nuclear, também é óbvio nas declarações dos líderes de Teerão o seu desejo de paridade com Israel, que, embora não admita, é a única potência nuclear do Médio Oriente (por isso uma retaliação iraniana podem ser mísseis lançados contra a central de Dimona, no sul de Israel). Também não tranquiliza os israelitas que a viúva do último cientista assassinado declare que o grande desejo do seu marido era «aniquilar a entidade sionista». As grandes agências de espionagem concordam que ainda não houve ordem para construir a bomba, que teria de ser dada por ali Khamenei, e se a CIA fala de um ano, já a secreta alemã julga que mesmo depois da decisão serão necessários 18 meses a dois anos para construir a arma nuclear e ainda mais um ano para otimizá-la a fim de ser colocada na ogiva de um míssil.

11.AS SANÇÕES ECONÓMICAS TÊM DADO RESULTADO?O cerco às transações financeiras tem dificultado muito a vida ao regime iraniano, sobretudo quando se trata de converter o petróleo exportado em divisas. E a decisão da União Europeia de deixar de comprar petróleo ao Irão a partir de 1 de julho vai de certeza ter impacte negativo na economia. Mas a capacidade de resistência do Irão é grande, pois com um PIB de 480 mil milhões de dólares (25.ª economia mundial) as suas atividades económicas são muito diversificadas e China e Índia continuarão a importar petróleo. Calcula-se que a médio-prazo as sanções possam causar uma quebra na riqueza na ordem dos 10 por cento, mesmo assim metade daquilo que aconteceu ao Iraque na última década de Saddam. Com menos recursos, os ayatollahs poderão ser pressionados a negociar para não ter de enfrentar a contestação nas ruas, seja da parte

dos pobres (que foram decisivos nas vitórias de Ahmadinejad), seja dos mais liberais.

12.VALE A PENA INSISTIR NO DIÁLOGO?Sim, até porque um ataque israelita fracassado poderá ter como consequência a decisão de construir mesmo a bomba. Associado ao sentimento de cerco como país xiita (sobretudo depois da rebelião esmagada no Bahrein e das dificuldades do seu aliado Bachar al-Assad na Síria) existe também o nacionalismo persa e por isso a opção pela bomba poderia ser apresentada como uma estratégia de dissuasão contra agressões futuras. Ao mesmo tempo qualquer operação militar reforçaria o apoio ao regime, uma reação instintiva como a que aconteceu em 1980 quando o Iraque atacou o país envolvido ainda numa espiral revolucionária. Assim é preciso encontrar pontes de diálogo e não esquecer que a liderança iraniana, por muito belicista na retórica que seja, tem mostrado sempre certa racionalidade. É necessário encontrar pontes de diálogo. Não esquecer que em 2001 Teerão fez uma vigília pelas vítimas dos atentados do 11 de setembro, apesar do alvo da Al-Qaeda ter sido o Grande Satã dos ayatollahs, e que ainda em fevereiro um filme iraniano ganhou um Oscar. Figuras como Ahmadinejad, que respondeu à contestação à sua reeleição em 2009 com violência, não são o único rosto do Irão de hoje. Basta recordar o antigo presidente Mohammad Khatami, que além de ter oferecido negociações aos Estados Unidos, aproveitou o funeral do Papa João Paulo II para trocar umas palavras em farsi com o presidente israelita de então, Moshe Katsav, ele próprio nascido no Irão.

* jornalista do DN

transita um quinto do petróleo mundial. O preço do crude subiria para níveis recordes.

10. O IRÃO ESTÁ MESMO A CONSTRUIR A ARMA NUCLEAR?As autoridades dizem que não e argumentam que, com 80 milhões de habitantes, precisam da energia nuclear para produzir eletricidade, pois o petróleo é essencial para obter divisas. Mas, ao mesmo tempo, dificultam a vida aos inspetores da Agência Internacional da Energia Atómica e insistem em desenvolver técnicas de enriquecimento do

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gente nova em missão

Celebra-se a PáscoaEM ABRIL

texto CARLOS E MAGDAilustrações RICARDO NETO

FESTA DA PÁSCOA,FESTA DA VIDA!Viva a Páscoa! Sabes o que significa a palavra Páscoa? Vai ter com os teus pais ou com os teus colegas da catequese, ou da escola, e vê se eles sabem o que quer dizer Páscoa. Mas antes estuda e testa os teus conhecimentos.Damos-te uma ajuda:Páscoa vem do hebraico pesach (pascha), que significa “saída, passagem”. Está associada à festa da comemoração da fuga (saída) dos judeus do Egito.Com a morte e a ressurreição de Jesus, os primeiros cristãos usaram este termo para designar a passagem de Jesus da morte à vida, isto é, a sua ressurreição. Tanto a festa hebraica como a cristã celebram a entrada da primavera.Reparaste que estamos a falar de festas: festa hebraica, cristã e da primavera! Tantas razões para estarmos felizes!Agora vais conhecer as aventuras e dificuldades de uma árvore: o carvalho. De pequenina semente, transformou-se em grande e frondosa árvore com uma missão especial!

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O meu momentode oraçãoDe semente a grande árvoreNasci e muito irei crescerDificuldades surgirãoMas com elas eu irei aprender…

Do escuro à luz, da tristezaà alegriaDa morte até à vida, tudo mudae tudo passaSó Tu, Jesus caminhas sempre connosco e nos dizes: - Conta comigo. Continua o teu caminho, porque não estás sozinho.

Que a Festa da Tua Ressurreição renove a minha vida.Que a Tua Luz me indique o verdadeiro caminho…Porque o caminho do Amor é… amar sem medida.

ERA UMA VEZO cheiro da terra abafava o seu corpo de semente. Quando o vento a lançou para o chão, ainda se mexia. Mas a terra cobriu-a e sentia-se presa. “Que mistério seria aquele?”, pensava a pequena semente. Os dias passavam sempre iguais, com muito calor e pequenas minhocas a escorregarem pelo seu corpo. Um dia, um grande ruído despertou-a: a chuva abatia-se sobre o chão e o seu corpo ficou arrepiado de frio.

– Ei, semente! Já te podes libertar.– Como é que posso ser livre?.– Estás com medo de nascer?.– Senhora chuva, tenho tanto medo! Não sei por onde nascer.– Eu ajudo! Deve ser por aqui.Apalpando o seu corpo com os dedos, a chuva amoleceu a casca e a sementinha conteve a respiração. Sentiu que ia rebentar e forçou o ar. A casca rachou de cima a baixo e estremeceu.

– Ai, que dor! Ui, que frio!.– Deita fora os braços! – disse a chuva, rindo-se.A vida fora da casca parecia-lhe uma nova aventura. O contacto do seu corpinho com a terra húmida abriu--lhe a vida com novo encanto.– Viste? Não é assim tão difícil.– Mas dói!.– Se não doesse, não valia a pena viver. Agora sai daí, caminha.

Lá fora, a vida é maravilhosa!A chuva despediu-se com ternura, antes de adormecer. Toda a noite, a semente fartou-se de tirar grãos de terra. Quando deitou a cabecinha de fora, sentiu-se tonta. Ergueu os braços e ouviu gargalhadas. Levantou os olhos e viu umas árvores grandes e frondosas.– Olha! – exclamou uma bétula.– A pobrezinha está assustada.– É a primeira semente a nascer. Como é tão frágil e tão verde! – exclamou o velho castanheiro, agitando a sua copa. – Vai ser um belíssimo carvalho.

O tempo foi passando e os ramos do pequeno carvalho cresciam cada vez mais. A vida ensinava-lhe coisas novas e diferentes. Antes do final do inverno, já conseguia avistar o rio. Passaram os anos e tornou-seum belo carvalho. Enquanto os seus ramos escondiam ninhos de pássaros, o velho castanheiro sentia-se cansado. Os seus ramos quebradiços mostravam-se indiferentes às formigas que lhe invadiam o tronco. Numa noite de inverno, de muita chuva e muito vento, a trovoada lançou raios por cima das árvores e um clarão imenso, seguido de um estrondo monstruoso, abateu-se sobre o bosque.

– Castanheiro! – clamou o amigo carvalho, sem obter resposta.Quando o dia nasceu, as árvores confirmaram: o velho castanheiro fora atingido por um raio. O carvalho estava triste, sem forças para resistir ao vento, e as árvores diziam-lhe para se agarrar bem. – Já não vale a pena. É tarde!.Sacudido pelo vento forte, balançava-se em todas as direções. De repente, um estrondo! As forças cederam e o seu corpo caiu desamparado na torrente do rio. Pensava consigo: “Porque é que tinha nascido? Para quê tudo isto?”. E adormeceu.– Que belo tronco! Vamos cortá-lopara fazermos uma fogueira”, diziam umas vozes.O carvalho reuniu o pouco de vida que lhe restava num cantinho das suas raízes e adormeceu. Durante o

sono, ouviu uma voz conhecida:– Lembras-te de mim?.– A voz não me é estranha – respondeu o resto do carvalho, que estremeceu ao sentir as mãos de alguém que acariciava o seu corpo. – É a senhora das mãos que dão a vida!.

– Sou, meu filho! – sussurrou a chuva que o ajudara a nascer. Como é que me reconheceste, tão velho, tão gasto e cego?. – O coração nunca esquece as belezas que criamos. O velho carvalho sorriu, agradecido e feliz por ter contribuído para que os homens se aquecessem. E dormiu para sempre.

(Adaptação de “Rosinha, minha canoa”, de José Mauro de Vasconcelos)

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tempojovem

COMUNICAÇÃO HI-FI(ALTA FIDELIDADE)texto LUÍS MAURÍCIO

De nada me serve dominar todos os meios de comunicação se não souber comunicar fielmente o que quero comunicar. Estou convencido que a comunicação nunca é completa enquanto o recetor não tiver interpretado ou percebido a mensagem. Eis o grande desafio!

Erro! tente novamente

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Há uns meses atrás, participei numas jornadas de formação para o Clero do Patriarcado de Lisboa. Um dos conferencistas, o bispo António Couto, biblista, disse uma frase magistral que me deixou a pensar e motivou esta minha reflexão. A sua provocação defendia que os profetas do Antigo Testamento eram grandes comunicadores, devido à “alta fidelidade” (Hi Fi) na comunicação da mensagem que recebiam da parte de Deus. A afirmação fez-me pensar muito sobre a nossa vida, estruturada no dia a dia sobre os alicerces da comunicação.Comunicar consiste em transmitir informações, trocar experiências, manifestar o nosso sentir e o nosso querer, de forma a tornar mais simples e a facilitar a vida pessoal e comunitária.  

Paramos muito pouco e poucas vezes, para refletir sobre o nosso modo de comunicar. Paradoxalmente, vivemos num tempo em que os meios de comunicação se estão a desenvolver, de modo extraordinário, em rapidez e alcance. Todavia pouco têm contribuído para garantir a “fidelidade” da mensagem e aumentar a capacidade de saber comunicar bem. Por outras palavras, de nada me serve dominar todos os meios de comunicação, se não souber comunicar fielmente o que quero comunicar.Estou convencido que a comunicação nunca é completa, enquanto o recetor não tiver interpretado ou percebido a mensagem. Eis o grande desafio!

Qualificar a nossa comunicaçãoCuriosamente, o modo de nos relacionarmos uns com os outros determina a nossa qualidade de comunicadores. E digo mais ainda, antes de sermos bons emissores é preciso sermos bons recetores.

O missionário é, sempre e antes de mais, um “recetor” porque vive no esforço de escutar e compreender, com um ouvido, a voz de Deus e, com o outro, a voz do povo com quem caminha. Só depois de ter compreendido a mensagem, sintonizada pelo canal da oração, o missionário se torna emissor ou transmissor da mensagem que ouviu e foi enviado a proclamar

No mundo da comunicação fala-se muito de “ruídos”, como tudo aquilo que interfere na comunicação e a prejudica. Se o ruído for demasiadamente forte em relação ao sinal, a mensagem chegará incompreensível ao seu destino, ou chegará distorcida.

Eis algumas atitudes que contribuem para eliminar os ruídos da nossa comunicação diária e elevar a qualidade e a nossa capacidade de receção da mensagem do outro.

1Escuta ativa. Exige o desenvolvimento da capacidade de escutar a mensagem integral (verbal, simbólica e não-verbal), e responder apropriadamente ao conteúdo e à intenção (sentimentos, emoções e outros) da mensagem.

2Empatia. Na sua essência, empatia significa colocar-se na posição ou situação da outra pessoa, fazendo todo o esforço para entendê-la.

3Reflexão. É importante refletir sobre o que o outro diz, sem emitir qualquer julgamento prévio, para que a mensagem seja compreendida.

4 Confronto dialogado. A comunicação eficaz é um processo de troca bidirecional e o confronto dialogado é uma maneira de reduzir as falhas e as distorções da comunicação.

Primeiro recetoresdepois emissores!Deus, o grande comunicador, utiliza o silêncio e a história, como a frequência, para comunicar com o homem. Este utiliza a oração como canal para comunicar com Deus. Uma oração breve, concisa, direta, despida de linguagens solenes e retóricas, ao estilo de Jesus que nos ensina a dizer: “Pai” ajuda-nos a criar uma comunicação de confiança e intimidade com Deus.

Um grande amigo, de quem gosto muito, costuma dizer que um verdadeiro missionário é por excelência um grande comunicador. Acredito profundamente nesta afirmação, pois o missionário é, sempre e antes de mais, um “recetor”, porque vive no esforço de escutar e compreender, com um ouvido, a voz de Deus e, com o outro, a voz do povo com quem caminha. Só depois de ter compreendido a mensagem sintonizada pelo canal da oração, o missionário se torna emissor ou transmissor da mensagem que ouviu e foi enviado a proclamar.

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sementesdo reino

“Não se ama a Cristo, se não se ama a Igreja: e não amamos a Igreja, se não a amamos como a amou o Senhor: «Amou a Igreja e por ela se entregou» (Ef 5, 25)”. São palavras de Paulo VI que exprimem o que sinto por quem me deu a vida. Na abertura da Jornada Mundial da Juventude, em Madrid, Bento XVI alertou os jovens: “Seguir Jesus na fé é caminhar com Ele na comunhão da Igreja. Não se pode, sozinho, seguir Jesus. Quem cede à tentação de seguir ‘por sua conta’ ou de viver a fé segundo a mentalidade individualista, que predomina na sociedade, corre o risco de nunca encontrar Jesus Cristo”.

A Igreja que nos gerou na fé“Amai a Igreja, que vos gerou na fé, que vos ajudou a conhecer melhor a Cristo, que vos fez descobrir a beleza do Seu amor”. É fundamental “reconhecer a importância da vossa feliz inserção nas paróquias, comunidades e movimentos, bem como a participação na Eucaristia de cada domingo, a receção frequente do sacramento do perdão e o cultivo da oração e a meditação da Palavra de Deus”. Nem mais! É desta “amizade com

Jesus, que nascerá o impulso que leva a dar testemunho da fé nos mais diversos ambientes, incluindo os lugares onde prevalece a rejeição ou a indiferença. É impossível encontrar Cristo e não O dar a conhecer aos outros.”  Sem O conhecer, não se pode sentir dentro o fogo do Espírito que nos leva a anunciá-lo a quem não O conhece. Dizia o Papa aos jovens e diz a todos nós: “Incumbe sobre vós a tarefa extraordinária de ser

a unidade entre todos os homens e religiões; tem no seu seio o fogo do Espírito que abre espaços de liberdade. É uma Igreja capaz de dialogar, com amor e respeito, com todas as línguas e culturas; não se fecha em si mesma, mas abre-se aos novos horizontes da missão. Amo-a, porque é minha mãe! Mãe é sempre bela, apesar de desfigurada em tantos dos seus membros. Amo-a, procurando fazer resplandecer, cada vez mais, os seus

Ter fé é caminhar em Igreja, apoiando-nos mutuamente nesta grande caminhada para a Vida: “Ter fé é apoiar-sena fé dos teus irmãos, e fazer com que a tua fé sirva também de apoio para a fé de outros”

discípulos e missionários de Cristo noutras terras e países, onde há multidões de jovens que aspirama coisas maiores”.

É esta a Igreja que eu amo. Ela gerou-me para a vida e alimenta-me;apresenta-me caminhos de esperança: abre, de par em par, as suas portas à humanidade; sabe acolher e consolar; distribui a todos a Palavra de Deus que norteia a vida; alimenta o espírito sem descurar o corpo; vive com paixão

sinais luminosos, lutando para que as trevas não a dominem. Aprecio as suas virtudes e reconheço os seus defeitos, porque sou parte da construção do Reino do Senhor, na convivência do trigo e do joio, do pecado e da virtude, sem nunca desanimar ou perder a esperança.

Missa de encerramento da Jornada Mundial da Juventude em Madrid, agosto de 2011

A IGREJAQUE EUAMO“A Igreja! É o nosso amor constante, a nossa solicitude primordial, o nosso pensamento fixo!”

texto DARCI VILARINHOfoto HANNA GRABOWSKA

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intençãomissionária

A PALAVRA FAZ-SE MISSÃOABRIL

01Domingo de Ramos | Is 50, 4-7; Fil 2, 6-11; Mc 14, 1-15, 47ENTRO NA SEMANA SANTA“Completo o que falta aos sofrimentos de Cristo”. Vamos atrás do Senhora caminho do Calvário, cantando e sofrendo nos passos de cada dia. Quem quiser ser seu discípulo, há de carregar a sua cruz para o seguir. A cruz de Cristo precisa de cireneus. Os outros são a minha paixão que comungotodos os dias. Entro com Cristo na Semana Santa da minha vida para que Ele me ensine o valor da sua e da minha cruz.Que eu viva, Senhor, estes dias da tua Paixão, com a certeza de quea minha cruz adquire valor se for unida à tua Cruz redentora.

08Páscoa da Ressurreição | Act 10, 37-43; Col 3, 1-4; Jo 20, 1-9CRISTO RESSUSCITOU! ALELUIA! ALELUIA! É a certeza da nossa fé que o professa e anuncia. Acreditar não é fácil nem evidente. Evidente foi a crucificação, o sangue da paixão. Desconcertante o grito na cruz. Mas a ressurreição é uma questão de fé, não de evidência. Testemunhas foram os Apóstolos. Na sua está também a nossa fé. Eu sou a ressurreição e a vida; quem acredita em mim, não morrerá.

152º Domingo da Páscoa | Act 4, 32-35; 1Jo 5, 1-6; Jo 20, 19-31“FELIZES OS QUE ACREDITAM”Sou feliz porque tenho fé. É a ressurreição que gera a comunidade dos crentes. A fé assenta no testemunho dos Apóstolos que nos falam em nome de Cristo. A fé entra em crise quando falham a vivência e o testemunho da comunidade. Não há fé sem comunidade, sem partilha. Que o testemunho da minha comunidade faça crescer a minha fé.

223º Domingo da Páscoa * Act 3, 13-19; 1Jo 2, 1-5; Lc 24, 35-48“VÓS SOIS TESTEMUNHAS” Os discípulos estavam conscientes da missão de testemunhar a ressurreição de Cristo. Anunciaram por toda a parte que não há outro nome no qual possamos ser salvos. Por graça de Deus, foi-nos confiadaa mesma missão. Anda em todos os nossos gestos um anúncio de Páscoa, portador de esperança e de paz.Senhor, que a minha vida cristã seja sempre portadora de vida e de fé.

294º Domingo da Páscoa | Act 4, 8-12; 1Jo 3, 1-2; Jo 10, 11-18UM PASTOR APAIXONADOJesus é o Bom Pastor que conhece as suas ovelhas: conhece cada um de nós, ama-nos pessoalmente, guia-nos, vai à nossa procura quando nos afastamos dele, oferece a sua vida para que a nossa seja salva. Como missionário do Pai, não descansa enquanto toda a humanidade não fizer parte da sua família. Suscita, Senhor, na tua Igreja vocações de especial consagração que tenham a tua mesma paixão pela humanidade dispersa. DV

Para que Cristo ressuscitado seja sinal de esperança para os homens e mulheres do continente africano

Donos da esperançaPode parecer uma redundância pedir à África que tenha esperança. Pois se há um continente onde a esperança rebenta por todos os poros é mesmo a África. Só quem nunca lá esteve é que poderá duvidar disso. Mas os missionários, que fizeram de África o seu campo de apostolado não têm disso a menor dúvida. Aliás, nem é preciso ter lá estado; basta pegar numa revista missionária e ver as fotos que se reportam àquele continente: crianças a rir às gargalhadas; adultos nas suas danças ao som dos tambores. Podem não ter que vestir, mas sorriem; podem não ter que comer, mas têm esperança que se hoje não há, amanhã haverá. Outra prova está no facto de a maior parte de África ser revestida de verde e o verde é esperança. Foi certamente por isso que no chamado terço missionário em que cada mistério é dedicado a um continente e tem a sua cor própria, à África foi-lhe atribuída a cor verde. Esta alegria acontece apesar de tantas fraudes e roubos a quea África tem estado sujeita, quer pelos de fora quer pelos seus próprios governantes. Sendo assim, talvez não fique mal que nós peçamos a Deus que o Cristo ressuscitado venha pôr cobro a todas estas injustiças e os habitantesde África possam continuara ter esperança e a sorrir. MC

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o que seescreve

Na forçado EspíritoUm livro relativamente pequeno; mas contém uma série de propostas para atingiro seu objetivo que é a preparação dos jovens para receberem o sacramento do crisma. Responde essencialmente a três perguntas: Quem é Jesus Cristo? Como posso encontrar Deus na minha vida? O que é a Igreja e qual é o meu lugar dentro dela? Próprio para jovens: grafismo moderno, muitas cores, certos enigmas para avivar a atenção.Autor: Rui Alberto120 páginas | preço: 5,50€Edições Salesianas

DO CORPO MORTALAO CORPO DE LUZ

Em subtítulo: “Fundamentos e significado da ressurreição”. O livro divide-se em três grandes partes. A primeira intitula-se:

Proclamação da ressurreição. Afirma-se a veracidade da ressurreição de Cristo e dão-se as razões de tal afirmação. A segunda parte descreve as várias aparições de Jesus ressuscitado aos apóstolos e a outras pessoas. Na terceira afirma-se a nossa própria ressurreição e o modo como ela se realiza. Conclusão: para entender este livro é preciso ter fé, mas, ao mesmo tempo, ele aviva a fé que temos.Autor: Michel Hubaut240 páginas | preço: 18,05€Gráfica de Coimbra 2

MANUAL PARA ACÓLITOSO autor oferece aqui um manual prático para todos aqueles e aquelas que desejam exercer com amor e «profissionalismo» este serviço de apoio ao celebrante nas

missas e outras ações litúrgicas. Descreve as alfaias sagradas e outros objetos que se encontram nas igrejas para utilidade e adorno. Bom para acólitos e para todos os que participam nas celebrações e gostam de chamar as coisas pelo seu próprio nome.Autor: Diego Nicolás Pardo Motta112 páginas | preço: 9,90€Paulus Editora

VIA-SACRA, VIDA SACRA Um esquema para a celebração da via-sacra. O texto interpela-nos de forma diferente e ousada. Perante o sofrimento de Jesus refletimos sobre as muitas

cruzes que também nós carregamos no nosso dia a dia. Esta via-sacra pode ser muito útil nas paróquias e outras comunidades cristãs e até nas famílias.Autor: Carlos José Romero40 páginas | preço: 3,05€Edições Salesianas

LITURGIAPequeno opúsculo de 60 páginas. É o produto de uma conferência que o autor proferiu algures. Ao que já se sabia sobre o assunto, pouco acrescenta. No que diz respeito à música na

liturgia, isso então passa tudo por um filtro muito refinado. Socorre-seamiúde da citação de textos longos do atual Papa e isso dá ao livroa certeza da ortodoxia.Autor: Guido Marini64 páginas | preço: 7,50€Paulus Editora

JESUS RESSUSCITOUNO CAMINHO DE EMAÚSVIA LUCISTrês títulos de pequenos livros cada um com 30 páginas muito coloridas descrevendo em poucas linhas os passos de Jesus ressuscitado e de alguns discípulos que se encontram com ele. Ricas prendas para os mais pequeninos se divertirem nas férias da Páscoa. Desejamos a todos boas festas com amêndoas!Autores: Vários30 páginas | preço: 1,50€ cadaPaulus Editora

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o quese diz

20º ANIVERSÁRIO DA APARFDAR SEM RETORNO

Aqui fala-se do longo caminho percorrido pela APARF (Associação Portuguesa Amigos Raul Follereau) durante 20 anos.O livro tem história,

tem muitas fotografias, tem nomes de pessoas ilustres que deram vida a muitos projetos e obras realizadas em favor dos leprosos. No topo de tudo está sempre a figura ímpar de Raul Follereau. O livro abre-nos os olhos e o coração para vermos tanta caridade e tanto amor. Autor: Rosa Celeste Ferreira 112 páginas | preço: 5,00€Editora APARF

MEDJUGORJETodos, mais ou menos, temos ouvido falar de Medjugorje, mas nem todos damos o devido crédito ao que lá se passou e está passando,

desde 1981. Fala-se das aparições de Nossa Senhora a seis crianças e das palavras de mensagem que ela ali tem proclamado. A Igreja católica ainda não emanou o seu veredito. A convencê-la terão de ser os teólogos e os milhões dos fiéis que ali peregrinam. Ler este livro ajuda a compreender o fenómeno Medjugorje e a dar-lhe o devido apreço.Autor: Wayne Weible392 páginas | preço: 19,90€Paulinas Editora

Atentados contra a liberdade“O que atualmente se passa no mundo contra os cristãos, especialmente na Ásia, e, em particular contra os católicos, é gritante. E tanto mais o é quanto os apaniguados das liberdades se calam. Há, de facto, um silêncio inquietante e escandaloso, por parte da comunidade internacional, em relação a estes atentados à liberdade religiosa”.André Lagos | Boa Nova | março 2012

Alguém me chama“O Mestre chama-nos a todos! Que belo e profundo é o chamamento para ser enviado a anunciar o Evangelho, a socorrer os necessitados, a dar uma mão amiga àqueles que dela precisam. Ser padre, religioso ou religiosa, consagrado ou consagrada. É algo de muito belo; é responder a um chamamento especial”.Fátima Pires | Valentes | março 2012

Direitos da mulher“Se é inegável que, em alguns países africanos, se realizaram progressos visando favorecer a promoção e a educação da mulher, no conjunto dos mesmos, porém, a sua dignidade, os seus direitos e também a sua contribuição essencial para a família e a sociedade ainda não são plenamente reconhecidos nem avaliados”.Bento XVI | Vida Nova | janeiro/fevereiro 2012

Entregar-se por amor“A palavra só por si interpela e incomoda: caritas, é um desfio à generosidade gratuita e desinteressada do indivíduo. É um apelo ao sentimento e à atitude mais humana que pode haver, a entrega total de si, não por pena ou imposição legal, mas por compaixão, por amor”.Rui Ribeiro | O Mensageiro | 08 março 2012

O mais importante“Afirmamos facilmente que o que verdadeiramente tem valor é simples, mas requer empenho, fidelidade e perseverança; mas parece que nos esquecemos de aplicar estes princípios aos desafios mais importantes da vida”.Madalena Abreu | Missões Franciscanas | fevereiro 2012

Mistério pascal“Toda a nossa caminhada nesta vida deveria ser feita no sentido de nos fazermos a cada dia mais cristãos. Deveríamos a cada passo sentir que somos membros do povo de Deus e aceitar refazer com a nossa comunidade eclesial o caminho catecumenal que nos leva a entender mais profundamente o mistério pascal de Cristo”.Fátima Monteiro | Ação Missionária | março 2012

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gestosde partilha

Pode enviar a sua oferta para a conta solidária dos MISSIONÁRIOS DA CONSOLATA: NIB 0033.0000.45365333548.05IBAN: PT50.0033.0000.45365333548.05 – SWIFT/BIC: BCOMPTPL ou para uma das seguintes moradas: Rua Francisco Marto, 52 | Apartado 5 | 2496-908 FÁTIMA | Telefone 249 539 430 | [email protected] D.ª Maria Faria, 138 | Apartado 2009 | 4429-909 Águas Santas MAI | Telefone 229 732 047 | [email protected] do Castelo | 2735-206 CACÉM | Telefone 214 260 279 | [email protected] Rua Cap. Santiago de Carvalho, 9 | 1800-048 LISBOA | Telefone 218 512 356 | [email protected] da Marginal, 138 | 4700-713 PALMEIRA BRG | Telefone 253 691 307 | [email protected]

Solidariedadevários projetos

Contactos

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PROJECTO 2012MALOCA PARA TODOS

www.consolata.ptwww.fatimamissionaria.pt

Pode ajudar a erguer uma “Maloca para Todos” e a tornar realidade o sonho desta comunidade fazendo a sua oferta para a conta solidária dos MISSIONÁRIOS DA CONSOLATA através de transferência bancária:NIB: 0033.0000.45365333548.05IBAN: PT50.0033.0000.45365333548.05 SWIFT/BIC: BCOMPTPL

O seu contributo é uma dádiva e a sua ajuda fundamental!

MISSIONÁRIOS DA CONSOLATA

Bolsas de Estudo Mercês Jesus – 250,00€; Armindo Travassos – 150,00€; José Silva – 50,00€; Bárbara Silva – 50,00€; Noémia Canavarro – 10,00€. Crianças de Mecanhelas – Moçambique Mãe do padre Simão Pedro – 150,00€. Crianças de Moçambique Gabriel Silva – 5,00€; Piedade Mateus – 25,00€. Crianças do padre Paulino – Tanzânia Alexandre Monsanto – 10,00€. Empada Guiné – Bissau Joaquim Oliveira – 43,00€. Paróquia do Gurué, Moçambique Gracinda Moreira – 13,00€. Etiópia Adelaide Domingues – 5,00€. Ofertas várias Ester Cerveira – 93,00€; Rosa Valinhos – 143,00€; Maria Cardoso – 193,00€; Manuel Farinha – 193,00€; Maria Borges – 100,00€; Irene Lopes – 93,00€; Maria Chaves – 36,00€; Maria Vieira – 73,00€; Anónimo – 101,00€; António Guerra – 43,00€; António Mendes – 43,00€; Anónimo – 93,00€; Adria Jorge – 36,00€; Luísa Trovoada – 36,00€; Fátima Lucas – 30,00€; Rosalina Correia – 33,00€; José Sousa – 52,00€; José Lobo – 106,00€; Anónimo – 143,00€; Maria Magalhães – 108,00€; Sofia Figueiredo – 28,00€; Luís Almeida – 43,00€; Maria Sousa – 29,00€; Rosa Oliveira – 150,00€; José Graça – 100,00€; Luís Ferreira – 50,00€; Emília Sequeira – 500,00€; Eduardo Rodrigues – 10,00€; João Galvão – 50,00€; Vitória Antunes – 100,00€; Manuel Felizardo – 50,00€; Filomena Paulos – 5,00€; Manuel Pereira – 50,00€; João Santos – 50,00€.

Mulheres Missionárias da Consolata (Mem Martins) – 800,00€; Anónimo – 2,00€; Anónimo – 20,00€; Anónimo – 20,00€; Sandra Capote, Francisco Capote e esposa – 274,70€; Comunidade de Nossa Senhora da Saúde (Alhadas – Figueira da Foz) – 100,00€; Maria Costa – 17,00€; Sónia Silva – 5,00€; José Lourenço – 25,00€; Virgínia Sousa – 25,00€; Adriano Teixeira – 13,00€; Eugénio Lopes – 25,00€; Lurdes Curto – 23,00€; Maria Fernandes – 43,00€; Maria Neves – 19,20€; Fátima Matias – 10,00€; Carminda Alexandre – 8,00€; Maria Florêncio – 21,00€; Fernandina Teles – 50,00€; Ana Venâncio – 20,00€; Irmãs Doroteias (Figueira da Foz) – 30,00€; Risoleta Moreira – 5,00€; Anónimo (Fiães) – 125,00€; António Seco – 20,00€; Anónimo – 100,00€; Gracinda Santos – 10,00€; Guida Borges – 20,00€; Cesaltina Cardoso – 13,00€; Donzília Cardoso – 13,00€; Amélia Martins – 23,00€; Cecília Cartaxo – 50,00€; Anónimo (Canadá) – 100,00€; Alexandre Monsanto – 10,00€; Rui Paulo Silva – 50,00€. Total geral = 17.705,56€.

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vida comvida

texto MANUEL CARREIRA ilustração H. MOURATO

habituado a trepar os picos íngremes do Trentino, aquilo era canja. Aliás aquela excursão não era própria para gente idosa ou reumática. Era essencialmente para os jovens. Foi por isso que os superiores do seminário da Consolata mandaram oito seminaristas, entre os quais estava o Sérgio. Chegados ao local houve a celebração da Eucaristia presidida pelo bispo. Era tudo ao ar livre porque ali não havia nem igreja nem catedral. Mas nem por isso deixou de ser uma celebração solene. Mas o pior estava para vir. Até aqui funcionavam os planos dos homens: missa, coroação, lindos cânticos e um bom repasto sobre as toalhas já estendidas na relva. Mas lá nos altos céus funcionavam os planos de Deus: Repentinamente surge uma nuvem, o faiscar de relâmpagos, o sol a encobrir-se e o ferro da cruz a atrair o raio, num estrondo aterrador e a morte de quatro pessoas: dois seminaristas, uma jovem e uma criança. Gritos lancinantes, socorros impossíveis.Recolheram-se as toalhas estendidas no chão e com elas se enfaixaram os mortos. Aquilo que tinha sido uma festa na subida era agora na descida um cortejo de funeral. Tudo destroçado, tudo caído? Não! De pé ficou a estátuade Nossa Senhora com a sua coroa de rainha e ao lado a cruz da redenção erguida como que em desafio das forças naturais. Eram os sinais daquilo que não acaba, mesmo quando nos pareça que não há mais nada a fazer. E o sacrifíciodo jovem seminarista que fazer com ele? Destinado a ser missionário, a dois ou três passos da ordenação sacerdotal, com os olhos postos na missão onde tantas almas esperavam por ele… Deus preferiu outra via e aceitou a sua oblação aos 22 anos de idade.

HABITUADO A ESCALAR MONTANHASSeminarista Sérgio Andreolli nasceu em Trento, Itália, em 19 de novembro de 1938, entrou na Consolata em 1950 e fez a sua profissão religiosa em 2 de outubro de 1959. Faleceu em 3 de julho de 1960, antes de ser ordenado sacerdote. Tinha apenas 22 anos de idade

Faltavam-lhe três anos para ser padre mas Deus chamou-o a si antes de atingir essa meta. Quemé que havia de dizer que este jovem trentino cheio de vida e saúde havia de sucumbir assim tão novo e de forma tão inesperada? Mas foi o que sucedeu no dia 3 de julho de 1960. Habituado a escalar as montanhas da sua terra, ofereceu-se

para ir representar o seminário da Consolata numa procissão que a diocese de Cúneo organizara para subir ao monte da Costa Rossa, onde se erguia uma enorme cruz de ferro e uma estátua de Nossa Senhora. A intenção de quem promovera a romagem era coroara estátua da Virgem.A subida era difícil, mas para o Sérgio,

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outrossaberes

texto MANUEL CARREIRAfoto ANA PAULA

Não peças a quem pediunem sirvas a quem serviu Apoio à compreensão Quanta sabedoria se esconde por detrás destas palavras! E o que elas escondem é mais para mal do quepara bem. Quer dizer: Quem precisa de pedir uma esmola ou qualquer outro favor, não pode fazê-lo a quem já pediu, porque este terá recebido tantas respostas más que o seu desejo é vingar-se. A segunda parte tem o mesmo desfecho: Quem já serviu torna-se tirano para com os seus servidores, tentando vingar-se de quem lhe fez mal. Popular

Do casaco do avô estão sempre a saltar pulgas Apoio à compreensão Não parece o que é. À primeira vista dá impressão de ser uma coisa menos limpa, mas ao fim e ao cabo é limpíssima. De repente, como que por magia, as pulgas que saltam dos bolsos do avô transformam-se em rebuçados, amêndoas, caramelos ou outros mimos que muito agradam aos netos. É por este motivo que as

DAR COM OCORAÇÃO O padre Allamano dizia: “Não basta fazer o bem; é preciso fazê-lo bem feito”. Uma comida boa ganha ainda mais qualidade se for apresentada num prato bonito. Alguns provérbios acentuam bem este aspeto e convidam-nosa ser perfeitos

crianças gostam tanto dos avôs e das avós, pois estes nunca deixam ir embora os netos sem lhes dar qualquer coisa.Tanzânia

O burro trabalha, mas é o cavalo que recebe os galõesApoio à compreensão É bem verdade. Vemos cavalos bem nutridos, com as crinas bem penteadas e guizos a tilintar, mesmo que sirvam apenas para levar os seus donos a dar uns passeios ou a visitar uns amigos. E vemos burros ajoujados debaixo de cargas pesadas, tratados apenas com palha seca. Coisa parecida acontece com os humanos: Há fidalgos medalhados e agricultores malcomidos, agarrados à enxada e com mãos calejadas.Haiti

Quando não se pode morder, de que serve mostrar os dentes Apoio à compreensão É próprio de quem tem poucas forças. Mostrar essas poucas que tem e aumentá-las ao máximo para ver se intimida e afugenta o adversário.

Por exemplo: o gato perseguido pelo cão arriça os pelos parecendo um bicho muito maior e tomando um aspeto medonho; o cão ganha medo, afasta-se e tudo termina ali; doutra forma é o gato que tem de fugir mesmo que tenha pelos arriçados. Judeia

O rio profundo não se atravessa com a roupa vestidaApoio à compreensão Este provérbio diz respeito à riqueza, a qual não se adquire com as mãos no bolso ou a gravata bem posta. Quem quiser ter boa sorte na vida tem de fazer por ela, mesmo que isso custe sacrifícios. Não podemos exigir que Deus nos dê tudo de mão beijada; primeiro temos de fazer a nossa parte. Só então Deus fará o resto.Macua — Moçambique

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a missãoé simpática

texto NORBERTO LOUROilustração MÁRIO LINHARES

Março 2012

As línguas são uma das dores de cabeça que o missionário, e não só, tem de enfrentar. Sobretudo quando se trata de línguas com estrutura gramatical completamente diferente. Há línguas, por exemplo, cuja aprendizagem, mais ou menos razoável, requer de cinco a oito anos. Mas vale a pena. Torna-se indispensável, pois a língua é o melhor veículo para penetrar no coração das culturas dos povos que as falam. Para evangelizar, o missionário tem que se inculturar, ou seja, encarnar na cultura dos povos a quem anuncia a mensagem evangélica. Isto para não cometer o erro medonho de não respeitar os valores, porventura diferentes dos seus, dos povos que o acolhem.

Reconhecer esses valores é abrir a porta para ser aceite e facilitar o caminho para iluminar essas culturas com os valores cristãos para as purificar de aspetos porventura negativos. Nenhuma cultura é isenta de contravalores, nem as que se julgam mais refinadas. Vale a pena aprender a língua do povo a que é enviado, porque as línguas pertencem geralmente a grupos de forte parentesco (latinas, bantus, anglo-saxónicas, eslavas, árabes). Aprendida uma, requer-se muito menor esforço e tempo para aprender outras da mesma família.

Há missionários que, devido à mobilidade a que estão sujeitos, aprendem seis e sete línguas. Armazenam assim um património de valor incalculável.A língua aprende-se, sobretudo falando-a. Começar pela gramática,

não chega. É preciso ter bom ouvido, boa memória, muito atrevimento. O medo de errar tem que ser banido. A inteligência quase não é aqui chamada, a não ser para coordenar o processo de aprendizagem. Quando me atrevi a começar a falar a língua Macua, de Moçambique, preparei-me a falar do amor de Deus. Engendrei umas frases. Só que há uma palavra muito parecida com a palavra amor, que se escreve com um H a mais. E por isso pronuncia-se de maneira diferente. O resultado foi desastroso. Passei o tempo do sermão a falar de prostituição em vez de falar do amor de Deus. Naturalmente com grande escândalo para os ouvintes, pois atribuí a Deus o que ele absolutamente não é.

Quando as línguas são muito parecidas, como é o caso do português e espanhol, também se corre o risco de deturpar a própria língua. Foi o que aconteceu ao padre Luís Maurício, há vários anos em Portugal. Quando se encontrava de férias na sua terra, Argentina, foi convidado para

PARTIDAS QUE A LÍNGUA PREGA

celebrar o casamento da sua prima que no final da cerimónia fez o seguinte comentário: “Que bonito! Nunca pensei ter o meu casamento celebrado noutra língua!”.

Para terminar, acrescento mais um episódio extravagante. Acontece quando um estrangeiro se atreve a usar sinónimos rebuscados que, por vezes, têm aplicações algo diferentes. Um certo missionário, recém-chegado a Portugal, pelo Natal convidou os cristãos a beijar o rosto sagrado do Menino Jesus. Por lhe parecer mais carinhoso, usou um termo que indica a “cara” dos animais e que eu me não atrevo a repetir. Pensava ele que se tratava de um diminutivo de cara de pessoa, atribuído a crianças. Com sua surpresa, provocou o riso das pessoas. Seja como for, fazer-secompreender já é uma enorme mais valia!

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fátimainforma

Abril em agenda

texto LUCÍLIA OLIVEIRA foto E. ASSUNÇÃO

14 Federação nacional de voluntariado em saúde

14/15 Peregrinação da sociedade São Vicente

de Paulo 14/15 Convívio juvenil

missionário – Consolata 22 Federação de Folclore

Português 25 Encontro nacional de

coros infantis 28/29 Peregrinação do

Movimento Esperança e Vida

«Fé e Luz» é um movimento que se dedica a apoiar famílias com filhos deficientes. Nasceu há 40 anos, fruto da rejeição de uma pessoa com deficiência. Para assinalar a data, o movimento peregrina a Fátima, de 28 de abril a 1 de maio, sob o lema “Mensageiros da alegria”. Trata-se de uma iniciativa pensada para “reforçar os laços eclesiais e fazer crescer o amor na nossa Igreja, descobrindo juntos os dons preciosos das pessoas com uma deficiência”, afirmou Alice Cabralà FÁTIMA MISSIONÁRIA.

Dádiva no tempo de mercado“A dádiva no tempo do mercado” é o tema da conferência que decorrerá a 15 de abril, pelas 16h, na basílica de Fátima. O orador é Francisco Sarsfield de Cabral, da Rádio Renascença. Trata-se da última conferência deste ciclo promovido pelo Santuário sobre o tema do ano: “Quereis oferecer-vos a Deus?”. O apontamento musical será da responsabilidade do Coro Anonymus, do Porto.

Fátima JovemA peregrinação nacional dos jovens a Fátima ou Fátima Jovem realiza-se a 5 e 6 de maio. Tem como lema “Alegrai-vos sempre no Senhor”. O Festival Nacional da Canção Mensagem decorrerá nos dias 1 e 2 de dezembro, também em Fátima.

MOVIMENTOFÉ E LUZ40 ANOS

MENSAGEIROS DA ALEGRIA

Na comunidade «Fé e Luz», a pessoa frágil, sequiosa de comunhão, senteque é amada, que é aceite como é, e que pode participar plenamente na festa. A sua alegria é contagiosa e comunica-se”, explica a coordenadora do Movimento em Portugal. Destinado a apoiar as famílias com filhos deficientes,tem sido, no entanto, “difícil mobilizá-las”, confessa. A prioridade passa por alargar o Movimento, implantando novas comunidades em mais três dioceses. Fundado por Jean Vanier e Marie

Hélène, o Movimento conta, atualmente, 11 comunidades ativas no país, que se empenham em criar e fortalecer uma “rede de amizade tecida nos encontros mensais, onde refletimos sobre a Palavra de Deus, procurando usar outras linguagens” em torno da pessoa com deficiência, explica a coordenadora. Leia a entrevista completa em:www.fatimamissionaria.pt

Pastoral da SaúdeQue cuidados de saúde em Portugal? Há esperança para a saúde? Esta e outras questões estarão em debate no encontro nacional da pastoral da saúde que decorre em Fátima, de 17 a 20 de abril. Técnicos de saúde e responsáveis ligados à pastoral da Saúde debatem “A crise da saúde – A resposta da Igreja”.

Santuário no FacebookO Santuário de Fátima possui um perfil oficial na rede social Facebook, em http://www.facebook.com/SantuarioFatima. É “uma forma de fazer chegar a mensagem, a história e a atualidade deste lugar a todos quantos o queiram conhecer melhor”, salienta a sala de imprensa do Santuário.

CONSOLATA É CHEIA DE GRAÇA, POR DEUS AGRACIADA PARA LEVAR AO MUNDO A CONSOLAÇÃO DE JESUS.CONSOLADOS SÃO OS EVANGELIZADOS, PORQUE AMADOS DE DEUS. CONSOLAR É LEVAR A TODA A PARTE A CONSOLAÇÃO DE DEUS SALVADOR. COMO MARIA TORNAMO-NOS SOLIDÁRIOS COM TODOS. SOLIDARIEDADE É O OUTRO NOME DA CONSOLAÇÃO.COMO ELA SOMOS PRESENÇA CONSOLADORA EM SITUAÇÕES DE AFLIÇÃO. POR SEU AMOR COLOCAMOS A NOSSA VIDA AO SERVIÇO DO HOMEM TODO E DE TODOS OS HOMENS. ALLAMANO DEU-NOS MARIA POR MÃE E MODELO. POR ISSO CHAMAMO-NOS MISSIONÁRIOS DA CONSOLATA

MISSIONÁRIOS DA CONSOLATAwww.fatimamissionaria.pt | www.consolata.ptRua Francisco Marto, 52 | Apartado 5 | 2496-908 FÁTIMA | tel: 249 539 430 | [email protected] Dª Maria Faria, 138 | Apartado 2009 | 4429-909 AGUAS SANTAS MAI | tel: 229 732 047 | [email protected] do Castelo | 2735-206 CACÉM | tel: 214 260 279 | [email protected] Capitão Santiago de Carvalho, 9 | 1800-048 LISBOA | tel: 218 512 356 | [email protected] da Marginal, 138 | 4700-713 PALMEIRA BRG | tel: 253 691 307 | [email protected]

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NOSSA SENHORA DA CONSOLATA

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다른 세계관 | un’altra visione del mondo | mwingine mtazamo wa dunis another view of the world | otra visión del mundo | inny pogląd na świat

une autre vision du monde | wona wunyowani wa lapo eine andere sicht der welt | djobe mundu di oto manêra

OUTRA VISÃO DO MUNDO

APENAS 7 EUROS POR ANO

ALELUIASDA PÁSCOAManhã lavada!... O sol longe a rir-seAves em bando em louca chilreadaNa bruma matutina em oiro a abrir-seEsplende a minha aldeia engalanada.

É domingo de Páscoa e os sinosNum harmonioso e meigo bimbalharEcoam pelo céu ferventes hinosAleluias ao longe a ressoar:

Neste dia de amor e de esperançaOh! Como eu volto em sonho a ser criançaA acompanhar a cruz pelos casais.

Ao evocar o tempo já vividoE revendo o compasso ao sol erguidoQuanta saudade que não finda mais!

Ilda Pinto Ribeiro