isoterÁpico no crescimento de escherichia coli · adquiridos da farmácia de manipulação...
TRANSCRIPT
V Fórum Regional de Agroecologia e VIII
Semana do Meio Ambiente
“Pensar Globalmente, Agir localmente e utilizar
ecologicamente” 08 a 10 de novembro de 2012
27
ISOTERÁPICO NO CRESCIMENTO DE Escherichia coli
José Victor Hosken Cruz 1, André Narvaes da Rocha Campos
2, Fernanda Maria Coutinho de
Andrade 3
e Emi Rainildes Lorenzetti4
1 Bacharel em Agroecologia, IF Sudeste MG – [email protected] 2 Doutor em Microbiologia Agrícola, IF Sudeste MG – [email protected] 3 Doutora em Fitotecnia, Instituto de Homeopatia Agricultura e Ambiente – [email protected] 4 Doutora Fitopatologia, IF Sudeste MG [email protected]
RESUMO: A qualidade dos alimentos e a redução dos impactos de sua produção no planeta
estão em foco. A agricultura atual esta baseada em princípios desenvolvidos durante a
Revolução Verde, que traz alta dependência do agricultor às indústrias produtoras de insumos.
Com o intuito de promover a independência da família rural a Agroecologia englobou
técnicas da Ciência Homeopática. Um dos desafios neste contexto é compreender a atuação
dos preparados homeopáticos em microrganismos, uma vez que estes são a base dos sistemas
agrícolas pautados por princípios agroecológicos. Este trabalho teve como objetivo avaliar o
efeito do isoterápico nas potências 12CH, 30CH e 100CH no crescimento do microrganismo
teste Escherichia coli. O crescimento bacteriológico foi analisado por espectrofotômetro,
sendo avaliado por 12 horas em intervalos de 2 horas. Os isoterápicos utilizados no
experimento, nas condições de realização do mesmo, não apresentaram diferenças
significativas.
PALAVRAS-CHAVE: Crescimento bacteriológico, Escherichia coli e isoterápico,.
INDRODUÇÃO: A discussão sobre a qualidade dos alimentos e o impacto de sua produção
ao planeta está em foco. O modelo de desenvolvimento agrícola vigente é baseado em
insumos externos as unidades produtivas, sendo oriundos da indústria química. O processo de
obtenção destes insumos é altamente dependes de energia, destacando a energia fóssil, que é
finita e poluente.
Este modelo esta baseado em princípios desenvolvidos durante a Revolução Verde, que
traz a alta dependência do agricultor às indústrias produtoras de insumos, incorporando a
agricultura a motomecanização, fertilizantes de alta solubilidade, agrotóxicos, concentrados
balanceados, hormônios sintéticos, antibióticos e unidades especialistas de produção em larga
escala.
Na busca por soluções para a produção sustentável de alimentos, fibras e energia, a
Ciência da Agroecologia incorporou técnicas da Homeopatia, que tem como pilar o
restabelecimento do equilíbrio. A Homeopatia diferentemente dos modelos empregados pela
agricultura moderna, usa os semelhante visando equilibrar os organismos vivos. De acordo
com a Homeopatia uma das causas dos desequilíbrios são os procedimentos supressivos. Os
preparados homeopáticos escolhidos com base no princípio da semelhança, não causam
supressão, equilibram os organismos e não deixam resíduo no ambiente ou nos organismos
tratados, uma vez que são soluções altamente diluídas.
A Homeopatia é certificada pelo UNESCO como tecnologia social, pois soluciona os
problemas a que se propõem, tem baixo custo e é reaplicável. Outro aspecto é que o
conhecimento desta ciência é de domínio público, não sendo especialidade médica, como
28
revela a conclusão do Procurador da República, Fernando Almeida Martins, citado por
REZENDE (2009).
Muito se tem pesquisado sobre aplicabilidade da Homeopatia, que é Ciência
inicialmente estudada e pesquisada em seres humanos e, posteriormente, em animais,
vegetais, solos e água. O estudo sobre a aplicabilidade em microrganismos é relativamente
novo, embora indiretamente o efeito sobre microrganismos seja observado em experimentos.
Arruda (2005) revela que preparados isoterápicos tem grande potencial de aplicação no
meio rural, sendo importantes na independência da família agrícola. Quando se tem
dificuldade em conhecer o preparado homeopático mais semelhante pode-se dispor dos
isoterápicos que compreendem uma série de situações da produção agrícola, atuando em um
reequilíbrio do sistema.
O uso de microrganismos em bioteste, apesar de serem raros, com preparados
homeopáticos apresentam vantagens, como os realizados em plantas, principalmente quando
comparados às desvantagens dos ensaios clínicos: como o efeito placebo, dificuldades éticas,
demanda de tempo, baixo número de repetições e altos custos (BONFIM & CASALI, 2011).
Para a Agricultura microrganismos tem grande relevância, seja como causador de
patogenicidades ou como auxiliar do equilíbrio do sistema.
O objetivo deste trabalho foi avaliar o isoterápico, nas dinamizações 12CH, 30CH e
100CH, analisando o crescimento do microrganismo teste Escherichia coli, ao longo o tempo.
MATERIAL E MÉTODOS:
Local de realização:
O experimento foi realizado no Laboratório de Microbiologia do Solo e Laboratório de
Homeopatia, do Departamento Acadêmico de Agricultura e Ambiente, do IF-Sudeste de
Minas Gerais Campus - Rio Pomba.
Material biológico:
O material biológico, colônias de Escherichia coli, é proveniente da coleção do
Laboratório de Microbiologia do Departamento de Ciência e Tecnologia de Alimentos do IF -
Sudeste MG - Campus Rio Pomba.
Colônias de E. coli, foram inoculadas em 200 mL de caldo nutritivo (composto de 3
g/L de Extrato de Carne, 5 g/L Peptona de Carne, com pH a 25 °C 6,8 +/- 0,2), seguindo
orientação do fabricante (Micro Med ®) e incubadas em estufa de crescimento bacteriológico
a 37 °C. No dia anterior à realização do experimento, um tubo de ensaio com 10 mL de caldo
nutritivo foi inoculado com 0,1 mL da cultura descrita acima de E. coli, sendo incubada por
12 horas em caldo nutritivo nas mesmas condições descritas anteriormente.
O experimento foi realizado em tubos de ensaio com 10 mL de caldo nutritivo que
receberam 0,1 mL das colônias incubadas durante 12 horas.
Preparo dos Isoterápicos:
Foram adotados isoterápicos de E. coli, nas potências 12CH, 30CH e 100CH. Os
preparados homeopáticos, uma dinamização abaixo à utilizada no experimento, foram
adquiridos da Farmácia de Manipulação Homeopatia Santos, situada na cidade de Juiz de
Fora Minas Gerais, CNPJ 42.805.366/0001-88, sob responsabilidade da farmacêutica Laura
Lúcia C. de Oliveira, CRF MG 8047.
Como os preparados homeopáticos foram adquiridos de uma farmácia de manipulação,
o isoterápico de E. coli, só pode ser fornecido nas potências de 12CH em diante. Potências
abaixo de 12CH poderiam causar contaminação, pela probabilidade de existência de E. coli no
preparado, pois ainda não teria extrapolado a constante de Avogrado.
29
No Laboratório de Homeopatia do Departamento de Agricultura e Ambiente do IF -
Sudeste MG - Campus Rio Pomba foram preparadas as potências utilizadas no experimento.
Em vidros âmbar de 30 mL, esterilizados e identificados com códigos para que o experimento
pudesse ser conduzido em duplo cego, colocou-se 20 mL de água destilada e autoclavada.
Posteriormente cada vidro recebeu 5 gotas, o equivalente a 0,092 mL (ACESSO MAGISTAL,
2008), do preparado homeopático. Os preparados em água foram sucussionados por 100 vezes
em braço mecânico dando a origem a uma potencia maior.
Os preparados homeopáticos nas dinamizações corretas, a testemunha (álcool 70 °GL e
água) foram aplicados aos tubos de ensaio, na proporção de 0,01% do volume, contendo caldo
nutritivo, previamente inoculados com E. coli, conforme descrito no tópico anterior. Todos
estes procedimentos foram realizados em capela de fluxo laminar previamente esterilizada
evitando que o preparado homeopático ou a manipulação pudessem contaminar as culturas.
Delineamento experimental:
Os tratamentos usados foram: isoterápico de E. coli 12CH, 30CH e 100CH. Também
foram usados e um controle com álcool 70°GL e água destilada na mesma proporção dos
preparados homeopáticos, e uma testemunha contendo somente o caldo nutritivo e colônias de
E. coli.
O delineamento utilizado foi o inteiramente casualisado com 3 repetições, totalizando
de 5 tratamentos, 15 parcelas experimentais.
Avaliação do crescimento de E. coli:
Após a aplicação dos tratamentos seguiu-se a leitura da densidade ótica por meio da
absorbância em espetrofotômetro a 600 nm, aferido 0% de absorbância com água destilada.
A primeira leitura foi referente ao tempo zero. Na sequência, os tubos foram colocados
em estufa de crescimento bacteriológico, a 37 °C, sendo retirados somente para realização da
leitura, em períodos constantes de 2 horas. O procedimento foi repetido por seis vezes,
totalizando 12 horas de crescimento de que as colônias atingiram uma absorbância constante,
sendo o experimento paralisado. Os dados foram anotados em tabelas contendo códigos de
identificação, referentes ao tubo e o tratamento recebido,
Análises estatísticas
As medias dos tratamentos foram utilizadas na plotagem dos gráficos de absorbância
ao longo do tempo e na definição dos modelos matemáticos de crescimento bacteriano em
cada tratamento.
Na avaliação do crescimento, foi adotada a diferença na densidade ótica (DO) à 600
nm nos intervalos de 0 a 2 horas, 2 a 4 horas e 4 a 6 horas. Estas diferenças foram submetidas
à análise de variância e as médias comparadas pelo teste Scott-Knott à 5 % de probabilidade.
RESULTADOS E DISCUSSÃO: Observou-se que o crescimento de E. coli submetida aos
tratamentos com preparados homeopáticos seguiu um padrão de crescimento semelhante
(Figura 1). Este padrão também foi observado nos controles, destacando que a quantidade de
álcool utilizado nos homeopatias não interferia no crescimento das bactérias (Figura 2). Estas
afirmativas são subsidiadas pelo fato de que todas as equações ajustadas eram polinomiais de
terceira ordem apresentando valores muito próximos para os betas (Figuras 1 a 4). Este
resultado mostra que os preparados homeopáticos utilizados neste trabalho não alteraram a
cinética de crescimento das bactérias.
Nas cinéticas de crescimento de todos os tratamentos foram observadas as fases log e
estacionária. Este fato pode ser atribuído à continuidade estágio fisiológico das bactérias que
foram transferidas para o mesmo meio de cultura no início do experimento. Assim, fase lag,
na qual as bactérias se adaptariam ao novo meio de cultura, foi muito curta, a ponto de não ser
detectada nos intervalos de leitura utilizados no experimento.
30
Figura 1. Cinética de crescimento de E. coli submetidas ao tratamento com o isoterápico de E.
coli nas dinamizações de, 12CH, 30CH e 100CH. Linha Azul: valores de DO observados no
experimento. Linha preta: Modelo matemático polinomial de terceiro grau ajustado os dados
observados. Equação ajustada e coeficiente de determinação (R²) inseridos na área do gráfico.
31
Figura 2. Cinética de crescimento de E. coli submetidas ao tratamento com água e álcool 70º
GL (na mesma proporção das homeopatias) e sem tratamento homeopático. Linha Azul:
valores de DO observados no experimento. Linha preta: Modelo matemático polinomial de
terceiro grau ajustado os dados observados. Equação ajustada e coeficiente de determinação
(R²) inseridos na área do gráfico.
Os tratamentos com isoterápico de E. coli (figura 3) nas dinamizações, 12CH, 30CH e
100CH, não apresentaram resultados estatisticamente significativos em comparação aos
controles nos intervalos de tempo analisados de 0 a 2, 2 a 4 e de 4 a 6 horas.
Segundo Arruda (2005) o isoterápico tem grande importância no meio rural, e completa
que o este faz bom trabalho em sistemas vivos que estejam fracos quanto ao crescimento e
desenvolvimento ou mesmo vulnerável. Estendendo este fato às colônias estudadas pode-se
dizer que estas se encontravam em equilíbrio, pois eram provenientes de um meio de cultura
32
com as mesmas condições químicas e físicas, ao contrário do que foi citado por Arruda. Deste
modo o tempo necessário para adaptação do metabolismo e a volta ao crescimento foi
pequeno, período curto de adaptação ao novo meio de cultura rico em nutrientes. Assim, as
colônias apresentaram rápido inicio da fase log, que não foi possível observar neste trabalho.
Figura 3. Crescimento de E coli tratado com o isoterápico de E. coli nas dinamizações, 12CH,
30CH e 100CH, avaliado por meio da variação da densidade ótica (DO) 600 nm nos
intervalos de tempo de 0 a 2, 2 a 4 e de 4 a 6 horas. Médias seguidas de uma mesma letra não
diferem estatisticamente entre si pelo teste de Scott-Knott a 5% de probabilidade.
33
CONCLUSÕES: Os isoterápicos utilizados no experimento, nas condições de realização do
mesmo, não apresentaram diferenças significativas. Contudo, novos trabalhos devem ser
realizados para esclarecer melhor as relações entre microrganismos e preparados
homeopáticos.
REFERÊNCIAS
ACESSO MAGISTRAL. Dicas Farmacotécnicas: gotas X conta-gotas. Pharmapress.
Número 56. 2008. São Paulo. Disponível em: http://www.alternateweb.com.br/
acessomagistral/docs/pp56df.pdf. Acesso em: 03 de fev. 2012.
ARRUDA, Viviane Modesto et al. Homeopatia Trina una na Agronomia: as propostas de
Roberto Costa e algumas relações com os agroecosistemas. Viçosa: UFV; DFT, 2005 119p.
BOMFIM, Felipe Pereira Giardine; CASALI, Vicente Wagner Dias. Homeopatia: planta,
água e solo: comprovações científicas das altas diluições. Viçosa: UFV; DFT, 2011 102p.
REZENDE, Jesus Moreira de (Coordenador). Caderno de Homeopatia: Instruções práticas
geradas por agricultores sobre o uso da homeopatia no meio rural. 3° ed. Viçosa: UFV; DFT,
2009 62p.