irrigação em citros

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IRRIGAÇÃO EM CITROS

José Renato Zanini, Luiz Carlos Pavani &José Antonio Alberto da Silva

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Zanini, José RenatoZ31i Irrigação em citros / José Renato Zanini, Luiz

Carlos Pavani, José Antonio Alberto da Silva. --Jaboticabal : Funep, 1998.35 p. : il. ; 21 cm.

Bibliografia

1 - Irrigação em citros. I. Título.

CDU: 631.67:634.3

Ficha catalográfica preparada pela Seção de Aquisição eTratamento de Informação do Serviço de Biblioteca e Documentaçãoda FCAV.

FunepVia de Acesso Prof. Paulo Donato Castellane, s/nº14884-900 - Jaboticabal - SPTel: (16) 3209-1300Fax: (16) 3209-1306E-mail: [email protected] Page: http://www.funep.com.br

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ÍNDICE

1. INTRODUÇÃO .................................................................. 1

2. CARACTERÍSTICAS DA PLANTA E NECESSIDADESHÍDRICAS.......................................................................... 2

3. EXIGÊNCIAS CLIMÁTICAS E ESTRESSE HÍDRICO......... 3

4. IRRIGAÇÃO E PRODUTIVIDADE DOS CITROS ............ 7

5. IRRIGAÇÃO E MANEJO DA CULTURA ........................... 9

6. MÉTODOS DE IRRIGAÇÃO ........................................... 126.1. IRRIGAÇÃO POR SUPERFÍCIE ............................... 126.2. IRRIGAÇÃO POR ASPERSÃO ................................. 146.3. IRRIGAÇÃO LOCALIZADA ..................................... 18

7. ESTIMATIVA DA NECESSIDADE DE ÁGUA ................. 26

8. CUSTO DA IRRIGAÇÃO ................................................. 29

9. BIBLIOGRAFIA CITADA................................................. 31

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IRRIGAÇÃO EM CITROS

1. INTRODUÇÃO

Os citros são uma das mais importantes frutíferascultivadas no mundo e cerca de 45% da produção mundialprovém de pomares irrigados (25% produzido em países doMediterrâneo e 20% nos Estados Unidos; Shalhevet &Levy,1990). O Brasil é o maior produtor mundial de citros,com aproximadamente 22% do total, porém a maioria deseus pomares não são irrigados e apresentam produtividadeconsiderada baixa, com 2 caixas/planta, sem irrigação (Amaroet al.,1997).

A década de 60 pode ser considerada como o inícioda irrigação dos citros no Brasil, e hoje a expansão dacitricultura para regiões de clima de maior demanda hídrica,a crise do setor com baixos preços nos últimos quatro anos,a instabilidade climática e a elevação do custo de produção,principalmente pela ocorrência de pragas e doenças, têmdespertado grande interesse pela irrigação dos pomares,sobretudo com a esperança de que seja uma alternativa deconvivência com a CVC (Gravena et al.,1997).

Como uma técnica agrícola avançada, a irrigaçãosomente deverá surtir resultados se as demais técnicascitrícolas forem aplicadas com critério, propiciando produçãode frutos de mesa, na maioria das vezes em pequenas áreas,além da produção em períodos de entressafra, para limão,tangerinas e laranjas.

Tendo ocorrido uma reação dos preços no mercadointerno, devido redução da produção a partir de 1998, seiniciou uma nova fase para a citricultura brasileira. Diantedessa situação, muitos citricultores e as indústrias citrícolasestão adotando a irrigação, o que levará a maioresprodutividades e melhores qualidades, como ocorre emoutros países.

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2. CARACTERÍSTICAS DA PLANTA ENECESSIDADES HÍDRICAS

As plantas cítricas são verdes durante o ano todo, comdois ciclos principais de crescimento (de primavera -crescimentos vegetativo e floral; de verão - principalmentevegetativo). As folhas estão em contínua reposição, podendopersistir na planta durante 1 a 3 anos, em um número médiode 50 a 100 mil folhas (planta adulta), são consideradastipicamente mesofíticas, mas com muitas característicasxeromórficas - rígidas, sem atividade estomatal na partesuperior da folha, com uma camada de cera e o murchamentoem folhas maduras só ocorre com potenciais de águaconsiderados relativamente baixos. Em condições úmidas,são capazes de altas transpirações que limitam-se emcondições adversas de disponibilidade de água no solo oude condições de atmosfera desfavorável, fechando osestômatos. Das 70 mil flores produzidas na primavera cercade 0,1 a 3% resultarão em frutos (Guardiola, 1992).

O desenvolvimento vegetativo de plantas jovens éaltamente dependente da disponibilidade de água, sendopositivamente correlacionados o volume da copa e oconsumo de água, tal como obtiveram Levy et al. (1978)para plantas de pomelo e esse comportamento continuouaté os 20 anos de idade. Porém, quando as plantas atingemtamanho adulto, o excessivo crescimento induzido porirrigação e fertilização intensivas pode levar a decréscimosde produção.

Embora a maioria dos citros sejam relatados comoplantas capazes de suportar longos períodos secos quandoadultos, um apropriado manejo da água é necessário parase obter produções comercialmente aceitáveis e de altaqualidade de frutos. As folhas adultas são adaptadas paraeconomizar água, porém as folhas jovens não têm a mesmarigidez estrutural, com ausência de cera cuticular como as

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folhas maduras e murcham facilmente durante períodossecos. Comparando com outras plantas de mesmo grupofisiológico (C

3), a eficiência no uso de água pelos citros é

baixa e estudos mostraram que os frutos perdem água paraas folhas durante períodos de deficiência hídrica (Davies &Albrigo, 1994).

Laranjeiras adultas (10 a 23 anos) têm cerca de 90%das raízes até 60 cm; entre 75 a 99% encontram-secompreendidas num raio de 2 metros a partir do tronco(Montenegro, 1960). Os citros podem sobreviver em solosrasos, porém desenvolvem plantas menores e odesenvolvimento das raízes é limitado quando ofornecimento de água é reduzido (Moreshet et al.,1983). Acondutividade hidráulica das raízes é maior em porta-enxertos vigorosos como o limoeiro ‘Cravo’ e menor naquelesde crescimento lento como a tangerineira ‘Cleópatra’ (Davies& Albrigo, 1994).

3. EXIGÊNCIAS CLIMÁTICAS E ESTRESSEHÍDRICO

A maioria das regiões de produção de citros no mundodispõe de chuvas anuais entre 1.000 a 2.000 mm, comsazonalidade, apresentando normalmente uma estação seca.A disponibilidade de água para a cultura depende,essencialmente, do balanço entre a evapotranspiração e aprecipitação pluvial ao longo do ciclo fenológico, quecorresponde às fases de indução floral ou pré-florescimento,estabelecimento, crescimento e maturação do fruto ecrescimento vegetativo. Após a juvenilidade, chuvasconstantes podem favorecer maior incidência de doenças epragas, alterar o balanço hormonal, induzir múltiplosflorescimentos e comprometer a produtividade. A demandahídrica dos citros varia de acordo com a distribuição espacial

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e temporal da radiação solar, temperatura do ar, vento,umidade do ar, combinações porta-enxerto e copa,características hídricas do solo, aspectos da cultura comosanidade, densidade de plantio, porte, idade e manejo(Ortolani et al., 1991).

Reuther citado por Ortolani et al. (1991), comenta quelaranjais adultos irrigados necessitam de 762 a 1.245 mm/ano, bem distribuídos, para um bom desenvolvimento eprodução.

A partir do florescimento da primavera, ocorre oprincipal fluxo de crescimento das folhas, coincidindo como estabelecimento e crescimento dos frutos, constituindo-seem fases de alta demanda de energia e de necessidadeshídricas.

Dependendo das condições de deficiência hídrica, asfolhas se curvam, reduzindo a área de transpiração; os frutosmaduros desidratam-se estabelecendo fluxo inverso – dasfolhas para os frutos – ocorrendo alteração sensível daqualidade, com aumento de sólidos. As folhas e os frutospodem cair e até mesmo a planta pode secar.

As plantas perenes como os citros, respondem àirrigação em um determinado estágio de desenvolvimento,dependente da disponibilidade hídrica anterior a esse estágio,ou seja, o crescimento vegetativo de um ano é influenciadopela estação anterior. Essa disponibilidade hídrica afeta otamanho final da planta e sua futura capacidade defrutificação. Após a juvenilidade, ou em plantas adultas adisponibilidade hídrica influencia no vigor de crescimento,determinando a taxa de emissão de ramos de frutificação einterfere significativamente na fixação, tamanho final equalidade dos frutos (Rodriguez, 1987).

Em condições de climas semelhantes, as plantas cítricassão consideradas de menor taxa de transpiração que outrasculturas devido à baixa condutância de água pelas plantas.Como exemplo, a evapotranspiração diária durante o verão

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em Israel foi de 7 a 8 mm para muitas frutíferas e de 8,5 mmpara macieiras, mas somente de 4,5 mm para pomares decitros.

Conforme Shalhevet & Levy (1990), a ocorrência deum período de seca pode inibir a produção de ácidogiberélico nas raízes e induzir o florescimento de plantasem climas tropicais, enquanto em regiões frias, as baixastemperaturas induzem dormência, seguida por florescimentona primavera. O florescimento de citros em climas tropicaispode ocorrer em diversas épocas do ano e a capacidade daslaranjeiras reflorescerem, após um período de seca severa,é importante no Brasil, onde os citros normalmente não sãoirrigados.

O estresse hídrico ocorre sempre que as condiçõesambientais levam à insuficiente absorção ou transporte deágua pela planta para recuperar a água perdida pelatranspiração. Severos estresses inibem o crescimentovegetativo e, ou o crescimento do fruto, causandomurchamento e queda de folhas, não devendo ser asirrigações baseadas somente na umidade do solo, que nemsempre reflete o estado da água na planta. O inadequadoteor de água no solo ou elevado déficit de pressão de vapor(dpv), provoca déficit em plantas cítricas, com semelhançaà deficiência de nitrogênio e quando prolongado ouexcessivo limita o crescimento e a produção, provocandoqueda de flores e de frutos jovens, queda de folhas e mortede ramos terminais. Entretanto, a tolerância à seca pode serinduzida gradativamente, com redução no crescimento deramos, menor condutância estomatal, condutividadehidráulica e área foliar; paralelamente, o crescimento de raízespode ser aumentado, incrementando a relação raiz parteaérea e a planta consegue absorver mais água e nutrientes.

Doorenbos & Kassam (1979) comentam que “em citroso período de repouso parece ser essencial para florescimentoe a sua duração determina a quantidade de flores produzidas.

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O período de repouso, de 30 a 60 dias, pode ser induzidopor baixas temperaturas (em torno de 10 oC) nas regiõessubtropicais e nas regiões tropicais por um período dedeficiência hídrica (chuvas ou irrigações mensais ≤ 50 a 60mm). A iniciação das gemas florais ocorre durante o períodode repouso, quando o crescimento vegetativo é mínimo.Déficits hídricos podem representar, porém, efeitosprejudiciais à produção ao longo do tempo em comparaçãoà dormência causada por um período de frio. Finalizado operíodo de repouso, um adequado fornecimento de água énecessário porque o prolongado déficit irá retardar nãosomente o florescimento, mas também conduzir a umasuperprodução de flores. Isso pode resultar em baixasproduções para uma próxima estação e possivelmente, levarà bienalidade de produção. Para limões, déficit de água éutilizado para indução de florescimento em épocasconvenientes, levando à produções ao longo do ano”.

Embora sejam utilizadas avançadas metodologias paraestudar déficit de água na planta, existe dificuldade detransferir informações objetivas aos produtores, e o que osmesmos querem saber são respostas às indagações dosseguintes tipos: quando iniciar o estresse ?, como observá-lo por meio de instrumentos ou na própria planta ? e porquanto tempo deve ser aplicado? Infelizmente, as respostasa essas indagações não são claramente disponíveis, muitomenos o conhecimento de outros aspectos importantes,como por exemplo, o comportamento de diferentesvariedades, de diferentes porta-enxertos, tipos de solos emanejo da cultura, necessitando-se de pesquisas. Porém,estando bastante familiarizado com a cultura, o citricultorpoderá tentar estabelecer padrões de observação queauxiliarão na identificação de estresses, tais como intensidadede murchamento e de queda de folhas. É importante observartambém, que freqüentemente a época de colheita se dá empleno período seco e provocar déficit nessa época é

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inconveniente por resultar em prejuízos para a safra a sercolhida.

4. IRRIGAÇÃO E PRODUTIVIDADE DOS CITROS

A irrigação geralmente aumenta a produção pelo maiortamanho de frutos, porém também pode reduzir a queda defrutinhos (Kriedmann & Barrs, 1981). Essa situação de quedade frutos logo após o florescimento, com sérios prejuízos,ocorre freqüentemente nas regiões mais secas do Estado deSão Paulo, - Norte e Noroeste - nas quais veranicos de apenas15-20 dias provocam frustrações de safras. É comum nessasregiões o interesse pela irrigação apenas nesse período,situação em que os produtores definem como “irrigação desalvação”.

Os efeitos da irrigação no desenvolvimento da plantae na produção são cumulativos e lentamente tornam-seevidentes. Ao contrário, as mudanças na qualidade dos frutospodem ser detectadas em apenas uma estação; isso faz acomparação da qualidade do fruto, um ótimo diagnósticopara rápida detecção de diferenças entre os efeitos dediferentes regimes de irrigação. O tamanho do fruto é aprincipal característica física influenciada pela irrigação,porém, o aumento do tamanho pelo incremento daquantidade de água aplicada nem sempre é linear eaumentando o intervalo entre irrigações a porcentagem desuco decresce (Levy et al., 1979). Hilgeman (1966) concluiuque na Flórida, os frutos tiveram casca mais fina devido aomenor intervalo entre irrigações. Vieira (1991) informa queno Brasil, em vários experimentos, foram obtidos aumentosde produção da ordem de 20 a 75%, com irrigação.

Em experimento conduzido na Faculdade de CiênciasAgrárias e Veterinárias de Jaboticabal, UNESP, estão sendoestudadas três variedades (Pêra, Natal e Valência), enxertadas

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em dois porta-enxertos (limoeiro Cravo e tangerineiraCleópatra), irrigados por microaspersão e gotejamento, comlâminas referentes a 50 e 100% da evapotranspiraçãoestimada.

Observando-se os dados apresentados na Tabela 1,pode-se verificar que a média das produtividades comirrigação foi superior (uma caixa/planta em relação a nãoirrigada). Verifica-se também, que a redução para 50% nalâmina de água resultou em menores produtividades médiasquando comparado com a lâmina de 100% e a tangerineira‘Cleópatra’ proporcionou as menores produções.

Tabela 1. Produtividades (média dos anos 1995, 1996 e 1997) defrutos (caixa/planta)*, obtidas com plantas dos 5 até 7anos de idade.

* caixa de 40,8 kg de frutas

Em geral, a escassez de água causa aumento daconcentração de sólidos solúveis totais (SST) no suco eaumenta a sua acidez, mais do que os sólidos (Cruse etal.,1982; Koo & Smajstrla, 1985; Kuriyama et al.,1981), tendo-se como conseqüência menor ratio (relação SST/acidez). Airrigação decresce os SST e a acidez total pelo efeito dadiluição; assim, a irrigação excessiva pode reduzir a qualidadedo fruto (Hilgeman, 1977). Como no Brasil não há pagamentode frutos pela qualidade e nem pela composição química

Copa Pêra (7x4m) Natal (8x5m) Valência (8x5m)

Porta-enxerto Cravo Cleópatra Cravo Cleópatra Cravo CleópatraMédia

Microasp. 100% 3,21 3,22 3,09 3,43 3,92 2,99 3,31

Microasp. 50% 3,18 2,92 3,60 2,48 3,60 2,61 3,06

Gotejam. 100% 3,23 2,58 3,70 3,43 3,95 3,62 3,42

Gotejam. 50% 3,18 2,52 3,63 2,78 3,49 2,73 3,06

Média irrigado 3,20 2,81 3,50 3,03 3,74 2,99 3,21

Sem irrigação 1,73 1,31 3,09 2,35 2,87 2,19 2,27

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dos mesmos, pode-se concluir que condições de secas nascolheitas favorecem somente as indústrias.

Em experimento conduzido na Estação Experimentalde Citricultura de Bebedouro, aplicando níveis de água de50 e 100% da evapotranspiração com microaspersão, emlaranjeira ‘Pêra’ sobre tangerineira ‘Cleópatra’, concluiu-seque após três anos, os níveis 50 e 100% aplicados pormicroaspersão, produziram em média 44,2 e 34,4 kg/plantarespectivamente, a mais que o não irrigado. O peso individualdos frutos não foi alterado pelos tratamentos, mas a irrigaçãoproporcionou maior número de frutos/planta que atestemunha. Não houve diferença significativa para valoresde ratio e porcentagem de suco para frutos com ou semirrigação.

Havendo elevados potenciais de água na folha e nofruto, provocados pela irrigação ou pela ocorrência dechuvas, podem acontecer rupturas de glândulas de óleo dacasca devido a impactos da colheita, com posteriormanchamento. Esse fenômeno denominado oleocelose érelatado freqüentemente para a lima ácida ‘Tahiti’ e a altadisponibilidade de água pode propiciar também osurgimento de podridão estilar. Recomendam-se nessescasos, suspender a irrigação no período da colheita e colheros frutos sem estarem molhados pela irrigação, chuva ouorvalho.

5. IRRIGAÇÃO E MANEJO DA CULTURA

A implantação e realização de irrigação em citroscondicionam novas situações de manejo da cultura,influenciando outros tratos culturais e serviços: colheita,ocorrência de pragas e doenças, aplicação de fertilizantes,controle de plantas invasoras, tráfego no pomar, etc.

Segundo Shalhevet & Levy (1990), a incidência degomose é agravada em situações de irrigações que molham

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freqüentemente o tronco, pois a lâmina de água livre propiciao processo de infecção e de desenvolvimento do fungo;plantios em solos argilosos e replantios em locais de velhospomares contribuem para agravar o problema. Entretanto, aprática de irrigação não provoca a doença, desde que osolo e a água não possuam o agente causal (Phytophthoraspp).

Utilizando aspersão sobrecopa comparada comaspersão subcopa, Knapp et al. (1982) concluíram que airrigação afetou a população de ácaros em pomares,diminuindo o ácaro da falsa-ferrugem (Phyllocoptrutaoleivora) e o ácaro Eutetranychus citri, mas aumentou apopulação de ácaro vermelho (Panonychus citri). Emcondições brasileiras, a influência da irrigação na populaçãode ácaros é praticamente desconhecida; os resultados sãoimprevisíveis pois, por exemplo, para o ácaro da leprosesabe-se que em anos de estiagem prolongada aumenta suaincidência, sendo provável que pomares com aspersão terãomenores problemas devido aumento da umidade do ar;porém, a ação da água deverá “lavar” os acaricidas.

A realização de irrigação pode também ser umaalternativa para redução de problemas com doenças. Porexemplo, quando o florescimento se dá em períodos deelevada umidade do ar é comum a ocorrência do fungoColletotrichum gloeosporioides, tendo como conseqüência aqueda de “chumbinhos” (“estrelinha”). Possuindo irrigaçãoo citricultor pode viabilizar as primeiras floradas anterioresao período chuvoso, quando a umidade do ar ainda é baixa.

Embora não haja completo conhecimento das causasdo declínio dos citros sua ocorrência parece estar altamenterelacionada com a deficiência hídrica. Em estudo realizadopor Diware & Kolte (1990), na Índia, um levantamentoenvolvendo 68 pomares, com 39.261 plantas, 7.543mostraram sintomas de declínio; as ocorrências estiveramrelacionadas com os seguintes fatores:

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FERTIRRIGAÇÃO

Tradicionalmente, a fertilização dos citros é realizadaespalhando-se fertilizantes sólidos na forma granular; porém,recentemente, fertilizantes líquidos ou sólidos solúveis têmsido aplicados via irrigação, em muitas partes do mundo etambém no Brasil. Alguns estudos sugerem que aplicaçõesmais freqüentes e em baixas taxas de aplicação aumentamo desenvolvimento da planta (Dasberg et al.,1988; Willis etal.,1991); a lógica dessa forma de aplicação é que mantendo-se a concentração de nutrientes com pouca variação nasolução do solo é possível uma contínua absorção pela plantaou pode-se ajustar melhor as aplicações à marcha de absorçãoda mesma. É provável que diferenças de respostas àfertirrigação sejam devidas a diversos fatores: edáficos, porta-enxerto e condições de clima. Verificando a produção defrutos, Legaz et al. (1981) realizaram aplicações parceladasde nitrogênio e obtiveram produções superiores às aplicaçõesem poucas épocas.

Tal como observaram Shalhevet & Levy (1990), osucesso da fertirrigação em irrigação localizada depende dotamanho do sistema radicular ativo, que em condições deirrigação suplementar depende da quantidade de chuva deverão. Koo (1984) trabalhando na Flórida em solo arenoso,

Fator % de declínio

Profundidade : solo raso (< 45 cm) 30,4

: solo profundo (> 135 cm) 9,3

Dose de nitrogênio aplicado : < 0,5 kg/planta 28,3

: > 1 kg/planta 3,0

Período de deficiência hídrica : 2 meses 25,0

: 1,5 meses 15,0

: 1 mês 2,4

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sugeriu 40% de molhamento da área total do solo ou 80%da área de projeção da copa para se obter resultadoscomparáveis com fertilizantes sólidos espalhados.

O sucesso da fertirrigação dependerá também, damaneira que a irrigação é realizada: característica dedistribuição de água do equipamento, nível de instruçãodos trabalhadores e sobretudo, do conhecimento técnicodas interações equipamento de irrigação-água-solo-nutriente-planta. É viável ainda, em muitos casos, a aplicação de outrosprodutos via água de irrigação: fungicidas, nematicidas, etc.

6. MÉTODOS DE IRRIGAÇÃO

De um modo geral, em todas as situações de agricultura,os diversos sistemas de irrigação podem ser classificadosem quatro métodos, sendo apresentados aqui apenas trêspor serem os mais utilizados. É importante ressaltar porém,a clássica afirmação que, não existe método ideal de irrigação.Para cada situação, definida pelo clima, disponibilidade deágua, cultura, topografia, capacidade de investimento inicialpelo agricultor, disponibilidade de mão-de-obra, etc., umou mais métodos ou sistemas podem ser adotados ou atémesmo, nenhum sistema deve ser implantado.

É fundamental que seja feito um projeto por empresasexperientes no ramo de irrigação ou profissional capacitadosobre o assunto. Por mais simples que aparentemente seapresente, são indispensáveis os projetos e orçamentos,evitando-se prejuízos em diversos sentidos. Indivíduosapenas curiosos ou ditos “práticos”, devem ser evitados.

6.1. IRRIGAÇÃO POR SUPERFÍCIE

Consiste na distribuição de água às áreas irrigadas,utilizando-se a própria superfície do solo para escoamentogravitacional. Esses sistemas prevalecem em quase todas asáreas de agricultura irrigada no mundo e também no Brasil,

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porém estão sendo substituídos por métodos de irrigaçãopressurizada, principalmente por irrigação localizada.

VANTAGENS:• geralmente apresentam menor custo, resultante dos custos

fixos e variáveis;• elevado potencial para reduzir o uso de energia;• pode ser utilizada água de baixa qualidade física, química

ou microbiológica;• não interfere nos tratamentos fitossanitários da parte aérea;• uniformidade de distribuição de água não afetada pelo

vento;• baixo investimento com equipamentos.LIMITAÇÕES:• alta dependência das condições topográficas, geralmente

necessitando da sistematização do terreno;• inadequado para solos excessivamente permeáveis;• o dimensionamento requer determinações em campo;• o sistema de plantio deve ser programado ao sistema de

irrigação;• maior consumo de água e maior utilização de mão-de-

obra quando comparado com outros sistemas.

Para frutíferas plantadas em amplo espaçamento comoé o caso dos citros, os sistemas mais indicados de irrigaçãopor superfície são: sulcos de infiltração e bacias de infiltraçãolocalizadas ao redor das plantas. Dependendo do solo eidade da planta, um ou mais sulcos serão construídos emdesnível, acompanhando a direção das linhas de plantas.As bacias de inundação geralmente recebem água dospróprios sulcos, aumentando a área molhada por planta.Em qualquer caso, a água deve permanecer sobre o solodurante o tempo de aplicação, previamente calculado parainfiltração da lâmina d’água requerida. Apesar dos aspectosfavoráveis que apresenta, a irrigação por sulcos em citros épraticamente inexistente no Brasil, embora possa apresentarbons índices de eficiência.

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6.2. IRRIGAÇÃO POR ASPERSÃO

Neste método de irrigação, a água é aplicada na formade chuva artificial, com o fracionamento do jato d’água,originando gotas que se espalham pelo ar e atingem o solo.A pressurização da água geralmente é realizada por umconjunto de bombeamento e sua distribuição envolvetubulações com derivações que levam a água até osemissores, chamados aspersores, que direcionam o jato eauxiliam o seu fracionamento.

VANTAGENS:• indicado para qualquer tipo de topografia e de solo,

dispensando sistematização, remoção de pedras, restosculturais, etc.;

• o solo fica menos sujeito à erosão;• facilidade para realizar fertirrigação;• facilidade de controle do volume de água aplicada;• possibilidade de trabalhar à noite;• pouco exigente em qualidade física da água;• grande versatilidade, podendo, muitas vezes, ser

deslocado de uma área para outra;• possibilidade de revenda dos equipamentos ou de

deslocamento para outra cultura.LIMITAÇÕES:• exige muitos componentes industriais, com investimento

relativamente elevado;• maior uso de energia quando comparado com outros

métodos;• distribuição de água altamente influenciada pelo vento;• elevada interferência no tratamento fitossanitário;• podem ocorrer elevadas perdas de água por evaporação

e deriva;• induz amplo desenvolvimento de plantas invasoras,

sobretudo na fase inicial da cultura implantada;• em muitos casos exige grande uso de mão-de-obra.

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Existem diversos sistemas de irrigação por aspersão,desde os fixos, semifixos móveis e mecanizados. Na maioriadas vezes, esse método de irrigação é realizado comaspersores gigantes (canhões) em sistemas semifixos oumóveis, porém, a preferência por esses sistemas temdiminuído por diversos motivos: exige elevado uso de mão-de-obra, tratores e carretas para locomoção de tubos,aspersores e suportes; culturas implantadas em pequenaspropriedades, sem o planejamento para locomoção deequipamentos, dificultando sua distribuição; pequenadisponibilidade de água na propriedade; alto gasto comenergia. Entretanto, a irrigação por aspersão em citros éutilizada, sobretudo, com equipamentos mecanizados, comoo carretel enrolador (autopropelido).

Utilizados na África do Sul, os sistemas de aspersãocom pivô central têm despertado interesse também no Brasil,com equipamentos novos ou adaptando-se facilmenteequipamentos anteriormente utilizados para cereais.Funcionam com miniaspersores colocados em pendurais queaplicam a água na faixa de projeção das copas das plantas.Evidentemente, para implantação do sistema é necessáriaorientação das linhas de plantio em círculos. Esse sistemade aplicação possui muitas vantagens e leva a alta eficiênciade aplicação de água.

Shalhevet & Levy (1990) ressaltaram que alguns sistemasde aspersão podem resultar em uniformidade de distribuiçãode água relativamente baixa, porém quando a distribuiçãode água é em área total, esse aspecto não é tão importanteem se tratando de sistema radicular extenso, com maiorprobabilidade de recebimento de água em quantidaderazoável. Heller et al., citados por esses autores, utilizandoaspersão subcopa aplicaram água somente em um lado daslinhas de plantas de laranja Shamouti; o uso de água foireduzido em 18%, sem diminuição da produção.

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Figura 1. Sistema de irrigação com aspersor canhão em pomarde tangerina ‘Ponkan’.

Figura 2. Plantas de um pomar de laranja ‘Valência’ irrigadascom aspersor canhão.

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Figura 3. Vista aérea de pomares irrigados por pivô central (Áfricado Sul).

Figura 4. Detalhe da irrigação com pivô central em pomar decitros (África do Sul).

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6.3. IRRIGAÇÃO LOCALIZADA

A irrigação localizada tem por objetivo aplicar águaapenas a uma parte da área ocupada pela cultura, atingindopreferivelmente todo o volume de solo explorado pelasraízes. O tempo de aplicação é longo, as vazões são baixase a freqüência de irrigação é alta. Os sistemas mais utilizadossão o de gotejamento e o de microaspersão, constituindo-seem sistemas fixos de irrigação.

VANTAGENS:• grande uniformidade e eficiência de aplicação de água;• baixa potência do conjunto de acionamento devido baixas

vazões e baixas pressões de operação;• baixíssima necessidade de mão-de-obra, especialmente

em sistemas com automação;• altamente indicado para realização de fertirrigação;• indicado para qualquer condição de topografia e solo;• menor consumo de água por irrigar as plantas

localizadamente;• não interfere em tratos culturais, sobretudo no tratamento

fitossanitário;• possibilidade de irrigação 24 horas por dia;• possibilidade de ajustar o diâmetro de molhamento e a

quantidade de água aplicada desde o plantio até ocompleto desenvolvimento da planta.

LIMITAÇÕES:• tratando-se de um sistema fixo de irrigação, o investimento

inicial é alto;• altamente exigente em qualidade física e química da água,

necessitando de bom sistema de filtragem;• suscetibilidade dos componentes a roubo, danificações

casuais ou por vandalismo;• em alguns casos pode provocar interferência para

locomoção de máquinas na cultura e na realização decolheita;

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• a maioria dos componentes utilizados no sistema nãopossuem valor de revenda, devendo-se prever utilizaçãoexclusiva para o projeto implantado.

IMPLANTAÇÃO DE IRRIGAÇÃO LOCALIZADA

A irrigação localizada, por microaspersão, tem sidobastante procurada para implantação em citros. Por essemotivo e por se tratar de um método relativamente recentena agricultura irrigada brasileira e tendo adquirido grandesavanços tecnológicos na última década, dar-se-á maiorenfoque a esse método.

Os sistemas de microaspersão e gotejamento possuembasicamente os mesmos componentes e tipo de montagem,diferindo essencialmente nos emissores de água. Paraelaboração do projeto de irrigação localizada é necessário,inicialmente, o levantamento de dados na propriedade:planta planialtimétrica com eqüidistância de cotas de umou dois metros e em escala grande (1:1.000 a 1:4.000), posiçãoda rede elétrica quando existente, estradas, orientação daslinhas de plantio, espaçamento entre plantas, carreadores,afloramentos rochosos, local e condições da captação deágua, etc. Também, deverão ser obtidas informações sobrea qualidade da água, vazão no período de estiagem, nívelmáximo e mínimo da água, análise textural do solo, curvacaracterística de retenção de água no solo e dados climáticos:evaporação em tanque classe A, umidade relativa do ar eprecipitação pluvial. A existência de todos esses dados éimportante, porém, devido a diversas opções de manejo dairrigação que o sistema oferece por se tratar de um sistemafixo e com a experiência do projetista, algumas informaçõespoderão não ser obrigatórias.

Os principais componentes do sistema geralmente são:- linhas laterais: constituídas de tubos de polietileno,geralmente de 12 a 16 mm de diâmetro, estendidas na direção

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das linhas de plantas, podendo ficar enterradas ou sobre osolo. Essas linhas podem ter gotejadores já inseridos durantea fabricação ou conectados durante a instalação do sistemano campo (gotejadores, difusores ou microaspersores). Estesemissores podem ter ou não compensadores de pressão osquais controlam a vazão ao longo das linhas laterais,mantendo-a praticamente constante e permitem grandescomprimentos de linhas laterais. Apesar da elevação do custodos emissores, os compensadores de pressão permitemmaiores opções e simplificação do projeto hidráulico,resultando em maior uniformidade de aplicação de água eredução de outros custos, devido o menor número de linhasde alimentação das laterais, redução do diâmetro das lateraise menor necessidade de válvulas de controle de pressão naentrada das parcelas de irrigação.

Embora tratando-se de irrigação localizada, éimportante que a área molhada do solo para cada plantaseja compatível com seu sistema radicular. Assim, tendo asraízes ampla expansão lateral, como é o caso dos citros, emculturas adultas deve-se procurar atingir 50% de molhamentoda área total disponível às plantas, ou no mínimo a área deprojeção da copa. É favorável também, que a aplicação deágua pelos emissores resulte em uma faixa molhada nadireção da linha de plantas. Neste modo, considerando-seum espaçamento de 5 metros entre plantas na linha e ummicroaspersor por planta, o raio mínimo de molhamentodeve ser de 2,5 metros. Tal como ressaltam alguns autores,em regiões em que a irrigação é suplementar, o sistemaradicular é amplamente espalhado devido às condiçõesproporcionadas pelas chuvas; nessas regiões, particularmenteem solos arenosos, e em plantas adultas, mais que 50% dosistema radicular deve ser irrigado (Smajstrla & Koo, 1984).Similarmente, Bielorai et al. (1981) encontraram que em Israelproduções de laranja Shamouti foram maiores quando 70ou 90% da zona das raízes foram irrigadas, comparadas com35% de molhamento.

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Bielorai (1977) concluiu que a mínima área molhadadepende do intervalo entre irrigações: a produção de pomelofoi a mesma quando, com gotejamento, foi molhada 30% daárea ou com aspersão, molhando-se 70%, para intervalos de3 e 7 dias, respectivamente. Para intervalos de 7 dias comgotejamento, a produção foi 7% menor do que com aspersão.Moreshet et al. (1983) obtiveram 21% de redução na produçãode laranja Shamouti enxertada em laranja azeda quando aárea molhada foi reduzida de 40% pelo uso de difusores emsubstituição a aspersores.

Em regiões diferentes de condições desérticas, essesresultados também se confirmam. Koo & Smajstrla (1985)compararam plantas sem irrigação com irrigação suplementarde laranjeira ‘Valência’ enxertadas sobre limoeiro ‘Cravo’ empomar da Flórida, utilizando 2 ou 4 gotejadores/planta (5 e10% de área molhada, respectivamente) e 1 ou 2microaspersores/planta (28 e 50% de área molhada,respectivamente). O aumento médio de produção foi de43% para os tratamentos de gotejamento e 65% para ostratamentos de microaspersão.

Com irrigação por gotejamento, para atingir boascondições de distribuição de água, dependendo do tipo desolo e da vazão do gotejador, podem ser necessários emtorno de seis gotejadores por planta, adequadamentedistribuídos ao redor da mesma e o sistema exige melhorfiltragem da água; por isso, muitos produtores têm optadopela microaspersão.

- linhas de derivação: são linhas formadas por tubosde polietileno ou de PVC, nas quais conectam-se as linhaslaterais. Geralmente, permanecem enterradas e distribuídasperpendicularmente às linhas laterais, na direção do desníveldo terreno e cada uma ou mais linhas de derivação abastecemuma parcela de irrigação. A condução da água até as linhasde derivação é feita por linhas secundárias e linha principalligada ao cabeçal de controle.

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- cabeçal de controle: contém os elementosresponsáveis pela pressurização, filtragem, comando deaplicação de água às parcelas e ainda, o sistema de injeçãode fertilizantes. Para tal, possui o conjunto de bombeamento,filtro de areia e, ou filtro de tela ou de anéis com sistema delimpeza manual ou automático e injetor de fertilizantes(derivação de fluxo, bomba injetora ou outros). O controleda aplicação de água às parcelas e do tempo podem sermanual através de válvulas simples ou por automação comválvulas de comando hidráulico e, ou elétrico, associadas aum microprocessador, podendo ainda, controlar afertirrigação e limpeza automática de filtros, partida edesligamento do motor, indicação do volume aplicado, etc.

A Tabela 2 apresenta comparações entre os trêsmétodos, dando uma visão geral das diferentes situações.

Tabela 2. Comparação entre métodos de irrigação*.

* letras maiúsculas indicam maior intensidade de afirmação,negação ou de ocorrência.

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SUPERFÍCIE ASPERSÃOLOCALIZADAgot. micr.

Vazão (litro/hora/emissor) Alta (40-190).103 4-10 20-100

Necessidade de mão-de-obra SIM sim NÃO

Interferência nos tratos culturais Sim Sim Não

Possibilidade de fertirrigação NÃO Não SIM

Potência (hp/ha) média 3 0,5

Custo médio (US$/ha) baixo 800 1.500

Necessidade de filtragem da água não não SIM

Influência do vento não SIM não

Investimento em equipamentos muito baixo médio alto

Limitação topográfica SIM não não

Problemas em solos arenosos SIM não não

Consumo de água ALTO Alto Baixo

Irrigação à noite não sim SIM

Uniformidade e eficiência Baixa média ALTA

Possíveis roubos e danos sim Sim SIM

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Figura 5. Irrigação localizada por microaspersão com detalhe dadistribuição de água.

Figura 6. Irrigação localizada por gotejamento, com detalhe daárea molhada e duas linhas de gotejadores (Espanha).

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Figura 7. Sistema para fertirrigação composto por reservatóriode solução fertilizante e bomba injetora.

Figura 8. Cabeçal de controle composto por filtros de areia e detela, painel para automação, válvulas e sistema parafertirrigação.

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Figura 9. Implantação de um sistema de irrigação localizada comlinhas principais de PVC, linhas de derivação e linhaslaterais de polietileno.

Figura 10. Bulbos úmidos no perfil do solo em sistemas deirrigação localizada por gotejamento e pormicroaspersão (Gomes, H.P., 1994).

a) IRRIGAÇÃO POR GOTEJAMENTO b) IRRIGAÇÃO POR MICROASPERSÃO

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7. ESTIMATIVA DA NECESSIDADE DE ÁGUA

A quantidade de água necessária a uma cultura é funçãode diversos fatores: condições climáticas, idade das plantas,fase do ciclo fenológico, manejo do solo e da cultura.

Davies & Albrigo (1994) observará que, embora osefeitos da irrigação sejam mundialmente claros, o métodode manejo da irrigação ainda não está amplamentesolucionado na maioria das regiões de cultivo de citros.Existem diversos métodos baseados na estimativa daevapotranspiração do pomar, que é função da radiação solar,temperatura, velocidade do vento e umidade relativa do ar.A estimativa pode também ser baseada na evaporação deágua de um tanque classe A e ajustada em relação à fase dedesenvolvimento da planta, área de cobertura do solo pelaplanta, incidência de plantas invasoras, umidade do ar evelocidade do vento; essas variáveis definem coeficientesde ajustes – coeficiente do tanque (Kp) e coeficiente dacultura (Kc), encontrados facilmente em tabelas. Pereira &Allen (1997) apresentam valores médios de Kc para climassemi-úmidos (umidade relativa mínima aproximadamente45% e velocidade do vento moderada – aproximadamente 2m/s), apontados a seguir:

Pelos resultados apresentados de Kc, nota-se quemantendo o solo revestido, como por exemplo, controlandoas plantas invasoras somente com roçadeiras, a exigênciade água pode aumentar de 10 a 45%. Este é o motivo peloqual, apesar dos efeitos prejudiciais do uso de grades empomares (exposição à erosão, corte de raízes, poeiras, etc.),muitos produtores notam resultados positivos de seu uso,evidentemente, pela economia de água para a cultura.

Solo nu Solo revestido

Cobertura pela planta 70% 50% 20% 70% 50% 20%

Valor de Kc 0,80 0,65 0,55 0,90 0,90 1,00

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Entre os diversos métodos de estimativa do consumode água pelas plantas, para cálculo do volume de água a serfornecido, o método da FAO (FAO, 1975), baseado no tanquede evaporação classe A, oferece bons resultados, érelativamente barato e de fácil utilização.

Conforme apresentado por Ollita (1986), considerandoque na irrigação localizada é molhado somente parte dosolo ocupado pelas plantas, o cálculo da quantidade deágua deve ser um pouco diferente do realizado para culturasque recobrem totalmente o solo.

A evapotranspiração da cultura é calculada pelafórmula:

ETc = ECA.Kp.Kc

em que,ETc - evapotranspiração da cultura, mm/dia;ECA - evaporação no tanque classe A, mm/dia;Kp - coeficiente do tanque;Kc - coeficiente de cultura.O valor de Kp depende das condições climáticas e das

condições em que está instalado o tanque classe A; parauma condição de ventos leves (< 2 m/s), umidade relativamédia (40-70%) e tanque instalado em área vegetada comgrama, o Kp é igual a 0,75.

Na irrigação localizada, sobretudo em pomares, comosomente uma parte do solo é ocupado pelas plantas esomente parte do mesmo será molhado, recomenda-se autilização de um fator Kr, sugerido por Keller & Karmelli,citados por Olitta (1986), que deverá ser aplicado ao cálculousual de consumo de água, sendo:

%ACKr = _________ , onde,

0,85

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Kr - fator de redução de molhamento, devendo-seadotar o menor valor (Kr ≤ 1);

%AC - porcentagem de área coberta pela projeção dacopa.

Ainda, para calcular o volume (V = litros/planta) deágua a ser aplicado, considera-se a eficiência de aplicação(Ea), geralmente adotada como 0,9 para irrigação localizada,a área total disponível para cada planta (A) e a chuva efetivaocorrida no período (P). Assim, a fórmula final fica:

[(ECA.Kp.Kc) - P ].Kr.A V = ___________________________________

Ea

Exemplo de cálculo:

Considerando-se que as irrigações estejam sendoefetuadas em pomar com cobertura vegetal, com intervalosde três dias, mais os seguintes dados:

- ECA acumulada durante os três dias = 21 mm;- chuva efetiva no período = 0 mm;- espaçamento entre plantas = 7x5 m, (A=35 m2);- cobertura da área pelas plantas = 50%.

Com esses dados, obtém-se V=325 litros/planta. Então,devem ser aplicados 108 litros/(planta.dia).

Shalhevet & Levy (1990) afirmaram que como árvorefrutífera, o grau de cobertura do solo (índice de área foliar)dos citros tem forte influência na evapotranspiração e dos 5aos 6 anos, há rápido incremento da cobertura. Em Israel, oServiço de Extensão da Agricultura recomenda aplicaçõessemanais de 10, 15, 25, 45 e 65 litros/dia para plantas do 1ºao 5º ano. Do 6º ano em diante, são aplicados 4 a 4,5 mm/dia (aproximadamente 100 litros/planta).

As irrigações podem também ser baseadas na umidadedo solo. Estudos realizados na Flórida (Koo, 1963) sugeriram

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que sejam utilizados até 66% da água disponível do solo,enquanto Marler & Davies (1990) sugeriram somente 30 a45% de esgotamento da água disponível. Kaufmann & Elfving(1972) encontraram boa correlação entre leituras detensiômetro e potencial de água na folha e Gerard & Sleeth(1960) recomendam instalação de tensiômetro a 60 cm deprofundidade e irrigações quando o potencial de água nosolo for –0,05 a –0,07 MPa (–0,5 a –0,7 bar).

Para acompanhamento indireto da umidade do solopodem ser utilizados tensiômetros, porém comparados comestimativa baseada em evaporação, esses aparelhos são demanejo mais difícil para o citricultor.

8. CUSTO DA IRRIGAÇÃO

Os custos de irrigação de uma cultura envolvem custosfixos (levantamento de dados, aquisição de equipamentos,construção de estruturas, instalação do sistema, etc.) e custosvariáveis (energia utilizada, custo da água quando existente,mão-de-obra para operação, manutenção, etc.).

Com o objetivo de estudar os efeitos da irrigação e daadubação nitrogenada no rendimento econômico de laranja‘Pêra’, em pomar de 5 anos de idade, Bertonha (1997)utilizando microaspersão, concluiu: a irrigação antecipou amaturação de frutos; o número de frutos, caixas de frutos,volume de suco e sólidos solúveis por árvore aumentaramem função do volume de água e nitrogênio aplicados,segundo uma relação quadrática; o peso médio de frutosaumentou em função do volume de água e da dose de N,segundo uma relação quadrática para N e linear para água;o número de caixas de frutos teve maior relação com onúmero de frutos do que com o peso médio dos mesmos; ocusto da irrigação foi inferior às despesas com defensivos eherbicidas; a irrigação complementar favoreceu obter receitas

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líquidas positivas considerando-se o preço de US$ 3,00/caixa;aos valores pagos pelas indústrias na época (US$ 1,80/caixa),todas as combinações de irrigação e de doses de N resultaramreceitas líquidas negativas.

Os custos para implantação de irrigação dependemmuito das características de cada projeto: por exemplo, dalocalização da captação de água, pois fontes distantes ouágua de má qualidade exigindo rigorosa filtragemapresentarão acréscimo de custo.

Embora bastante variável para cada situação,considerando-se 300 plantas/ha, os atuais custos paraimplantação dos três tipos de irrigação são da ordem de:

aspersão convencional – US$ 800/ha (US$ 2,7/planta);

sistema autopropelido ou carretel enrolador – US$1.100/ha (US$ 3,6/planta);

microaspersão – US$ 1.500 a 2.000/ha (US$ 6,0/planta).

Visando comparar o custo de implantação da irrigaçãocom outras despesas do pomar de citros, foram tomados osseguintes dados:- controle do ácaro da leprose: 2 pulverizações/ano, 120

plantas/bomba, preço do acaricida/bomba = US$ 44 →US$ 0,7/(planta.ano)

- irrigação por microaspersão: vida útil mínima = 10 anos →US$ 0,6/(planta.ano)

Assim, verifica-se que o custo da implantação dairrigação pode ser menor que o custo do controle do ácaroda leprose. Considerando-se também o preço de US$ 3/caixa, bastariam ser produzidas apenas 2 caixas a mais parapagar o sistema de irrigação, durante os 10 anos. Admitindo-se também o aumento de 1 caixa de frutos/(ano.planta) comoconseqüência da irrigação, após apenas 2 anos, o sistemade irrigação estaria pago.

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