ironía de la intevrenciones , otras miradas sobre la ciudad.pdf

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Nome do autor: Prof. Dr. Felipe Scovino Instituio: Departamento de Teoria e Histria da Arte da Universidade do Estado do Rio de Janeiro Tipo de proposta: Comunicao oral Ttulo do trabalho: Ironia e in(ter)venes: outros olhares sobre a cidade Resumo do trabalho: O espao da cidade no territrio neutro. Nossas escolhas sobre onde viver, trabalhar, conviver esemoverdentrodacidade,sopredeterminadasporforaspoderosasquegovernama economiaeapolticadaqualparticipamos.Avastidoeasuperpopulaodascidadesdehoje exigem a aderncia a algum sistema de ordem, seja ele real ou percebido. Que essa tentativa de estabelecer a ordem, dentro da densidade e atravs das diferenas, se manifeste no isolamento e na conteno dos bairros centrais ou periferias, ou nas cmeras de segurana e nos portes das propriedadesprivadas.ArtistascomoaduplaFelipeBarbosaeRosaneRicalde,RonaldDuarte, Renata Lucas e Ducha se apropriam do espao urbano do Rio de Janeiro e imaginam um espao onde essas barreiras desabam, onde a possibilidadede desconstruir essas fronteiras, ainda que comosimplesgestosimblicodepavimentarumarua,porexemplo,poderesultarnuma dinmica social diferente, por mais temporrio que seja. Sesso temtica: A cidade como campo ampliado da arte 2 Ironia e in(ter)venes: outros olhares sobre a cidade Felipe Scovino1 Oespaodacidadenoterritrioneutro.Nossasescolhassobreondeviver,trabalhar, conviver e se mover dentro da cidade, so predeterminadas por foras poderosas que governam a economiaeapolticadaqualparticipamos.Avastidoeasuperpopulaodascidadesdehoje exigem a aderncia a algum sistema de ordem, seja ele real ou percebido. Que essa tentativa de estabelecer a ordem, dentro da densidade e atravs das diferenas, se manifeste no isolamento e na conteno dos bairros centrais ou periferias, ou nas cmeras de segurana e nos portes das propriedadesprivadas.ArtistascomoaduplaFelipeBarbosaeRosaneRicalde,RonaldDuarte, Renata Lucas e Ducha se apropriam do espao urbano do Rio de Janeiro e imaginam um espao onde essas barreiras desabam, onde a possibilidadede desconstruir essas fronteiras, ainda que comosimplesgestosimblicodepavimentarumarua,porexemplo,poderesultarnuma dinmica social diferente, por mais temporrio que seja. Os trabalhos que sero comentados nesse ensaio transmitem arte uma potncia capaz de influenciar o comportamento e desafiar, por meios de dispositivos que dialogam com a ironia, ummododevida,administrandodosesdeespetacularizao,estranhamentoeumpoucode liberdade violenta porque os sentimentos humanos so perversos e em permanente crise com a ordemdomundo.Emrelaoaessesconceitosdepaisagemurbanaetambmressaltandoa prticadaanalisedosistemadepoderecontrolefoucaltianodiscutindoacidadecomofora geradora, uma fora ativa e transformadora que determina uma nova poltica, o trabalho da dupla FelipeBarbosaeRosanaRicaldeumareinvenocrticadamaneiracomonossoambiente construdo determina aes, comportamentos e relaes sociais, e por extenso, a dependncia da sociedade em relao preservao de definies pr-estabelecidas de espao, propriedade e ordem.Um cruzamento movimentado no centro da cidade de Fortaleza. Quatro sinais de trnsito determinamoslimitesespaciaisdesselugar.Abroparnteses.Todainscrionesseamplo espaourbanopassa,emparte,necessariamentedespercebida.Impossvelconstruirummarco que se faa inequivocamente ler num campo to saturado. No deserto urbano no h como deixar trilhascontnuas.Osindciosdeixadosnesselugararriscamperder-se, confundidoscomoresto da cidade. As obras podem apenas sugerir uma articulao, aludindo ao mesmo tempo ruptura dascomunicaes,aoinsupervelesgaramentodotecidourbano.Agoranosetemmaiso indivduo como medida. As escalas da cidade so outras, desproporcionais experincia humana. Impe-setrabalharcomgrandezasquenopodemosmaisdarconta.Situaoopostaao 1 Doutor em Artes Visuais (EBA/UFRJ), curador independente e professor substituto do Departamento de Histria e Teoria da Arte (UERJ). 3 ambientecontroladodosmuseus:aartecolocadaemestadodeprecariedadeerisco.Fecho parnteses. Acenadlugaraoabsurdo.Nosecolocamaisaquestodoolhar:ocorreuma dissoluo da cidade como palco do espetculo, impossibilitando percorrer os espaos e articul-los pela viso. Felipe Barbosa e Rosana Ricalde interferem no tecido urbano, e mais do que nisso nasleisdessetecido.Aproveitandooprpriodiagramamatemticoqueacidadeofereceao cidado(pedestre,motorista),constroemumorganogramaquesemantmre-atualizadoacada aodojogo:osmovimentoscontnuos,horizontaiseverticais,dinamizamtodaarea, transferempotnciaparaalgoamorfo,modificamosentidodaquelesinaleinstaurama surpresa.Aduplaentendeacidadecomoumorganismo,vivo,justamenteporquemantmos seus fluxos ativos, evitando o seu repouso absoluto. Em Jogo da velha (2002), Barbosa e Ricalde apropriam-se da faixa sinalizadora de um cruzamento de trnsito e transformam esse quadriltero com feixes cruzados num tabuleiro de jogo. um trabalho entre-tempos. No pequeno intervalo entre o fechamento de um dos sinais de trnsito e a abertura do outro, os artistas disputam uma partida do jogo que d nome obra. Tudo gira em torno do tempo, desse momento de parada no trfego. Operam, portanto, no vermelho, no dbito, na falta... de tempo. Arriscando suas vidas e a dos motoristas, essa ttica irnica no significa divertimento, mas recusa ao cotidiano usufruto e justificvel daquele espao, reconhecendo-o como terreno de vivncia mvel, voltil, na cidade.Dispostos segundo uma grade, a marcao tinta das cruzes e crculos, feitos pela dupla noasfalto,fazemummapeamentonegativodoespao,indicamtudoaquiloqueeleno,que nosepodever.Opondo-seaotransitrio,aoritmodepassagemdoscarros,anovaocupao territorial tem a preocupao em no ser provisria: ela demarcada com a mesma tonalidade de tintaquecompeosgruposdesinaisurbanos.Asituaoaquinointeressatantocomouma simples demarcao, mas como deslocamento, um transitar entre as coisas, mas no sentido em queGuimaresRosaafirmava:Oslugaresnodesaparecem,tornam-seencantados.Tudoo que temos uma zona sem traado nem fronteiras. No se trata de simplesmente jogar (ou criar umpercursodeumlugaraoutro),masdeproduzirummovimentoqueafetesimultaneamente todo o espao. Naexperinciadoritmoedaseqncia,BarbosaeRicaldetrazemumsignificadode vivncianumareaentreeventos,ondenadaacontece,dominadaporumvazioesensaode inutilidade e descarte pelos motoristas, j vidos em cruzar o sinal antes mesmo dele transformar-seemverde.Passaaser,portanto,umespaoquenegaoseudesaparecimentoousua disfunonomapadacidade.nessemomentoqueadupladeartistassetransformaem cartgrafos:redesenhamofluxodocruzamentoeconstroemumanovateia(irnica)parao cotidianourbano.comoumcortequedesagregatodoodesenhourbanodarea,querompe sutilmente uma espcie de homogeneidade e continuidade no caos do trnsito. O jogo de Barbosa e Ricalde vai adicionando novos elementos (grficos) a malha viria urbana. A disputa entre os doisconstrinovasredeseinscriesnotecidodecomunicaodacidade,criandoassimum 4 circuitoirnicoquealiaperversidadeaumaexperinciadedeslocamentodotrnsitoedas operaescotidianasdapolis.Notempoemqueaaocriada,nojogoenquantoescolhae resultado, se faz visvel um espao aberto para o acontecimento, entra e sai tudo o que se move nacidade:gente,carro,mquina.Nointervaloentreossinais,aparecimentoedesaparecimento so, assim, concomitantes e complementares. Falamos, portanto, de passagens. ReconfiguraesdoespaourbanotambmseapresentamemCruzamento,quando RenataLucasrepavimentaumaesquinacomchapasdecompensado.2Aobraoperaemdois nveis.Formalmente,Cruzamentotratavadaqualidadefsicadoespao.Asuperfciecruado compensado sobre o asfalto normalmente escuro chamava a ateno para a juno de duas vias, ocruzamentodecaminhosopostose,porextenso,paraaspossibilidadesmetafricasdesse pontodeencontrooumudanadedireo.Comoexperincia,aobracriavaumainterrupoe geravamovimentosnovosnumespaopreestabelecido.Ocontrasteentrecoretextura,ea elevaoequedadasuperfciequandooscarrosepessoaspassavamporela,mudavama maneiradaspessoassemovimentaremporseuambientedirioaomesmotempoemque desestabilizavam o suporte do solo. Essas duas aes Jogo da velha e Cruzamento - contm a descoberta de instaurar um deslocamento temporal e espacial naquele espao dominado por uma aura funcional e precisa; a cidadeestsedesrealizando,elaumhorizonte,nopertencemaisaocidado,enemestea ela.Demasiadoextensaecomplexa,escapoudamedidahumana,tornou-seumpatchwork,na expressodeFlixGuattari,noqualvosejustapondodesordenadamentefragmentos disparatados.Descentradaeexcessiva,nemcomportamaisplanejamentointegrado.Aessa experinciaadicionamosofatodeambosostrabalhosconfluremparaoscamposda deslocalizaoedeslocamento.Enquantooprimeirocampoesvaziaohabitanteeohabitat desrealizando-os,osegundoesvazia-osparafaz-losacederplenitudedarealizao,pura presena.Focalizandotantoomovimentonegativoquantoopositivo,eatmesmoa possibilidadedeconversodoprimeironosegundo,acabamosencontrandoduasperspectivas paraoindivduoquehabitaacidade.Naprimeira,eleviveoprocessodedeslocalizaosem questionamento (j que em nenhum momento os artistas so interrompidos ou questionados por algum):aquioesvaziamentonosequerpercebidopoisohabitantesetransformano espectador-consumidorquesucumbesimagensdaestetizaogeneralizadaevivena ansiedadedeumademandainsacivel.Nasegundaoesvaziamentoexperimentadocomo positividade,comoseohabitanteeohabitatsedesrealizassemenquantofluxo,fluncia, intensidade, emergncia, transformao, num espao que criado e percebido num intervalo que se abre entre dois tempos, entre o tempo do fluxo expectante e o tempo do choque. A desrealizao do espao dialoga tambm com a questo tica e o papel social (?) que o trabalho de arte estabelece com o circuito em que opera. Uma casa enterrada no meio da praa 2 Cruzamento foi executado em 2003 no Rio, na esquina da Praia do Flamengo com a Rua Dois de Dezembro, e em 2004 em So Paulo, na esquina da Rua Padre Joo Manuel com a Rua Oscar Freire. 5 apenas com alguns centmetros de parede e o telhado mostra. O absurdo confunde as fronteiras entrecasaemundo,situa-anasfronteirasdoirnico,doestranho.Pblicoeprivadoestono mesmoespao,disputandoumlugarquenopodepertenceraosdoisaomesmotempo.Pelo menos at A casa enterrada (2004), de Felipe Barbosa e Rosana Ricalde, aparecer. A funo de sercasamudadesentido:deixadeserabrigoparaserinvasoradeespao.Perdeoseu entendimentocomolocalseguro,lugardasprticasdomsticas,comoobservaMarisaFlorido3, paratraduzir-senaimpossibilidadedeserumaterraparasi,osolofundadoreacolhedordo descanso e da privacidade. No dele, morador/proprietrio, nem muito menos do coletivo, j que a sua nica funo est desprovida de uso: no possui entradas; uma caixa intransponvel que noofereceacolhimento.Epior:ocupandoumdospoucosespaosdelazerdaquelebairro 4.A questo tica impe-se mais uma vez no trabalho de Barbosa e Ricalde: A Casa nos despertou para a questo tica do trabalho, que a noo do desperdcio.Ento,quandoomaterialmuitocaro,istoincomoda bastanteaspessoas. O fatodeumartista gastar,napoca,poucos mais de mil reais para fazer um telhado e tendo vrias pessoas desabrigadas na cidadeumfatoquepodeserencaradocomodesperdcio.Passaaser algo questionado pelo pblico. Eles perguntam: Qual o objetivo disso?5 Oprocessodeproduodacasapassaa sertovitalparaoseuconceitodeexperincia artsticaquantooresultadofinaldotrabalho:os fatores de desagregao, o conflito entre o artista e osfreqentadoresdapraa,tornam-seelementos queaobrapassaaincorporareporissomesmo deve ser levados em conta quando nos referimos ao curso da casa como um todo. O artista talvez nunca tenha sido marginal nem heri,outalveztenhaapenasumsensode observao (social e poltico) mais aguado do que a mdiapensa.Asuamarginalizaoefetivamente estnafaltadeestruturaedeapoiodocircuitode arteouento,noselementosescolhidosparaa produodesuasobrasmuitasvezesporrazes 3 Cf. FLORIDO, Marisa. A casa enterrada. In: BARBOSA, Felipe. Felipe Barbosa. Rio de Janeiro: Galeria Arte em Dobro, 2006, s/p. 4 O trabalho foi realizado dentro do evento Arte de portas abertas, em 2004, no Largo das Neves, bairro de Santa Teresa, no Rio de Janeiro. 5 Depoimento concedido ao autor. Rio de Janeiro, 19 de abril de 2006. Felipe Barbosa e Rosana Ricalde A casa enterrada, 2004 Materiais diversos Instalao produzida no bairro de Santa Teresa, Rio de Janeiro, durante o prmio Interferncias Urbanas 6 econmicas, masdificilmentenumcompromissodequeamarginalidade(comotransgressoao cdigo penal) a postura a ser seguida por sua engrenagem. Por um outro lado, podemos pensar nopapeldoartistaeatquepontoeleestforadosistemaquandoassumeparasiprprioo rtulo de artista. At que ponto ele est fora do sistema quando ele decide que artista? E at que ponto ele est fora do sistema quando ele decide fazer uma exposio numa galeria de arte? Oufazerumjornal?Nohmaisespaoparaeleficarmargem,porquehfortesindciosde quenohmaismargens.Esttudoocupadopelaarte:essasduasexpressesmundoe arte contaminam-se a todo o momento. A arte no est mais fora do mundo. Estabelecendoessevnculo,nadamaisconcreto,paraaobradearte,doqueexporas fragilidadesdacidadeedohomem.RonaldDuarteexecutaem2002duranteoevento Interferncias Urbanas, no bairro de Santa Teresa, no Rio de Janeiro, a interveno Fogo cruzado. No entroncamento de 3 vias dos trilhos do bonde, um tridente formado. A cidade est dividida. O artista espalha estopa e derrama querosene. Duarte utiliza aproximadamente uma extenso de 500 metros de cada via. Organiza 13 duplas de amigos que so incumbidos de espalhar a estopa e em seguidajogaroquerosenesobreostrilhos.So3horasdamanh.Todasasduplasdo-seas mos e a aproximao do pblico contida antes do acendimento do mesmo. Ocorre a hesitao. Ofogodeveseracesoagora?Estotodosprontos?Oestopimdado.Ofogonoatingeuma altura que possa provocar maiores perigos. O pblico comea a intervir: pular o fogo, interagir com a obra. Segundo o artista: Nomomento,emqueofogoaceso,apolciafechaadelegacia.Os policiais no sabem o que fazer. Comeam a perguntar ao pblico: Quem RonaldDuarte?.Euhaviaespalhadoentreopblicoquecasoalgum perguntasse quem era Ronald Duarte, que dissessem que era uma pessoa vestida com uma camisa estampada com os dizeres: Fogo cruzado. Havia 26 pessoas vestidas assim. Ento, Ronald Duarte poderia ser qualquer um deles.6 As intervenes de Duarte e de outros coletivos que atuam no Brasil7 partem do conceito de cidadecomocampodeexperincias,emqueseinstauraumanovalgicaperceptivatantode percursodoespectador-pedestrequantodasituaodasimagensenquantomodificadordeum certourbanismomoderno.Criarumasituaodeintolernciafrenteaostatusquoeaomesmo tempoenfrent-lo,mesmoquesejapelousodemetforas,implodi-loouaomenoscriaruma estruturatemporriaqueofaadesaparecer.RonaldDuartecriaNimbo/Oxaleantecipaasua 6 Depoimento concedido ao autor. Rio de Janeiro, 03 de maio de 2006. 7ColetivoscomoAtrocidadesmaravilhosas,Imaginrioperifrico,Rradial,ChavemestraeProjeto SUBSOLO,noRiodeJaneiro;Arevoluonosertelevisionada,ContrafileCobaia,emSoPaulo; TelephonecoloridoeRe:combo,emRecife;Entretantos,emVitria;Poro,emBeloHorizonte,soalguns exemplos. 7 visoexplosivasobreumesgotamento/sufocamentoqueasartesvisuaisvinhamsofrendono campo da viabilizao de verbas estatais a projetos artsticos. Essa ao foi realizada em 2004, na rea externa do Palcio Gustavo Capanema, no Rio de Janeiro. Duarte organizou um grupo de 20 artistas que formaram uma roda naquele espao. Cada um deles possua um extintor de incndio abastecido de gelo seco. Num determinado momento, programado por Duarte, todos acionavam os extintores ao mesmo tempo. Formava-se uma nuvem de fumaa ou cogumelo de fumaa, como chama o artista, que chegou a encobrir 4 andares do prdio. A potica de Duarte possibilitar estratgias de circulao, agrupar indivduos, deslocar a cidadedeseuplanohabitualdevivncia,provocaraes,dirigiropoderdefogoparauma situao onde se extingue a obrigatoriedade de existncia de um sentido por ser aquilo uma obra dearte,simplesmenteporqueaquilopodenoserumaobradearte.Aartenosereduzao objetoqueresultadesuaprtica,maselaessaprticacomoumtodo:prticaestticaque abraaavidacomopotnciadecriaoemdiferentesmeiosondeelaopera.Oobjeto desfetichiza-seesereintegraaocircuitodacriao,comoumdeseusmomentosedeigual importncia que os demais. Ele perde sua autonomia, apenas uma imanncia, como ressalta RonaldDuarte,queserounoatualizadapeloespectador. OtrabalhodeDuartesobrever, perceberasdiferenas.Noumaperformance,notemnadaavercomteatro.umaao. Uma necessidade da cidade, do lugar, do agora. 8 Isso fica bem claro em Fogo cruzado, quando a polcia chega ao localda obra para descobrir o culpado por aquele incndio, que obstruiu as viaspblicasecausoupniconacidade.Noeraumarepresentao,massimplesmenteao. Cidade sitiada pelo medo, pelas divises que so demarcadas pela geografia, histria, sociologia, polticaepelaviolncia.Balastraantesealvoshumanos.Suaidiaeratornarvisvelacidade invisvel (ou que ningum quer ver), tornar visvel o ato de ver.Quando Ducha realiza Projeto Cristo Redentor (2001)9, toma de assalto o smbolo mximo de cristandade, apelo turstico e orgulho do carioca e com a luz o pinta de vermelho, no est se falando de vandalismo ou uma simples e romntica crtica aos modelos de poltica de segurana pblicaoucultural.Questionam-seocircuitodearte,nossasambiesepercepessobreo mundo,eestrategicamenteutilizaosuportedamdiaparaseinseriremcircuitosideolgicos. DuchapenetranomorrodoCorcovadosemsernotado,massuaaoporsuavez reconfigurada nos jornais, que transmitem grande destaque ao absurdo. Falamos, portanto, de contgios: o trabalho de Ducha atualizado por essa capacidade, ou seja, a realizao da ao se d na medida em que penetra em espaos e meios completamente inesperados e inusitados, potencializando-oscomsuacapacidadededeslocamento,embaralhandosignosconstitudose gerando produo de diferena como necessidade de se pensar o local e o agora. 8 Depoimento concedido ao autor. Rio de Janeiro, 03 de maio de 2006. 9 Trata-se de uma interveno que se desenvolve no Cristo Redentor do Rio de Janeiro: duas pessoas o prprio Ducha e uma segunda pessoa que registra o acontecimento penetram no espao que circunda o monumento e usando os holofotes principais, introduzem papis de gelatina vermelha nos mesmos, escapando sem serem vistos. O Cristo ficou pintado durante algumas horas. 8 H nisto um movimento duplo, marcado inicialmente pela imerso no objeto expandido: em lugar da anttese entre sujeito e objeto, entre entidades complementares, porm inconciliveis, a cidade tomada como obra, permitindo-se o trnsito entre a continncia dos limites pessoais e a exterioridadeemrelaoaoseuoutro.Ostrabalhospodemserlidoscomoperversos?Ducha pedeapalavraerespondeemdepoimentoaoautor:Perverso?Avidaperversaconosco. naturalohomemterestegraudeperversidade.Eleestsemprenofiodanavalha.Aarteno foge disto. O que existe de mais perverso do que ser um artista?. Oconjuntodeobrasapresentadoconfigura-senumaespciederededeinterlocues, discusses e mapeamentos sobre um tecido que podemos identificar como o conceito de campo ampliadodaartecriadoporRosalindKrauss.Essaarenadepossibilidadesqueaironiaexerce sobreaobra,oespectadoretodososagentesenvolvidosnocircuitodeartetransmiteesse contorno produo estudada. Como identifica Basbaum, nesse territrio onde se desenvolvem asmanobrasdaartecontempornea,semesquecerqueoslimitesdessecampo,emesmoda artecomodisciplina,sotraadospelaprpriaprticadaarte,comtrabalhosqueexplorame estendem, sempre, os regimes de possibilidade.10 Segundo Basbaum o modelo de campo ampliado sugerido por Krauss permite pensar que o artista (ps-moderno) trabalharia diretamente em conexo com o mbito cultural, deslocando-seportodososterritrios,construindoestruturasdevisibilidadeapartirdomapeamentode impasses,oposies,conflitos,paradoxos.Porm,essespontosdeinstabilidadenoesto exatamentevisveis,esimencobertosporumsupostoestadodeequilbrio.11Seriaportanto nesseespaoqueaironiaexerceriaasuafuno.Oconceitodetermosemoposio(no arquitetura, no paisagem) citado por Krauss constitui efetivamente focos de instabilidade, locais ondepulsamastensesdocampocultural,conjuntosdepontosemestadodeconflito.Aao irnica,portanto,consistirianumfenmenodeflutuao,deirregularidades,queromperiao equilbrio e a imobilidade do contexto cultural de onde emerge. A afirmao especfica dos objetos artsticos, de suas caractersticas e formas particulares deatuao,assimcomoseupercursodentrodocampoampliado(docircuitoirnico),que permitiro a visibilidade das questes e tenses prprias do campo cultural em que este objeto se desloca. Bibliografia BARBOSA, Felipe. Felipe Barbosa. Rio de Janeiro: Galeria Arte em Dobro, 2006 ________. Depoimento concedido ao autor. Rio de Janeiro, 19 de abril de 2006. BASBAUM, Ricardo. Alm da pureza visual. Porto Alegre: Zouk, 2007. DUARTE, Ronald. Depoimento concedido ao autor. Rio de Janeiro, 03 de maio de 2006. LUCAS, Renata. Renata Lucas. Los Angeles: Redcat, 2007. 10 BASBAUM, Ricardo. Alm da pureza visual. Porto Alegre: Zouk, 2007, p. 109. 11 Idem, p. 110.