invisíveis

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Pessoas Invisíveis Fernando Zornitta, Cascavel 20 de outubro de 2012 - É possível alguém ser de carne e osso e não ser visível; é possível 45,6 milhões de pessoas invisíveis em um único país ? As PCDs estão invisíveis no Brasil desde 1500 e, juntamente com outros segmentos, como índios, idosos, negros e pobres nem eram considerados cidadãos de direitos e em igualdade de condições. Na carta magna de 1824, as PCDs eram considerados incapazes e, por isso, sem qualquer direito. Só em 1988, com a nova constituição, passam a ter seus direitos garantidos pelas leis que avançaram, mas na realidade, tudo continuou igual e elas invisíveis para a sociedade e para o poder público, omisso das suas responsabilidades em fazer cumprir as leis que lhes garantiam esses direitos. Em 2008 o Brasil passa as ser signatário a Convenção da Onu Sobre Direitos das pcds, dos seus 50 artigos e do seu protocolo facultativo, passando a ter as mesmas garantias constitucionais. Na sua condição de exclusão, sequer os dados estatísticos eram reais, pois as PCDs escondiam-se dessa sua condição. Mas isso vem mudando e agora lutam pelos seus direitos. Em 2010, 14,5% da população declarou-se com algum tipo de deficiência – 24,5 milhões de pessoas e, em 2010 23,9%, ou 45,6 milhões de pessoas, destes 38,5 milhões vivendo nas cidades e 67,2% desse total são de idosos, com mais de 65 anos. No nordeste representa 26,% da população; no Ceará em 2000 era de 17,34% e em 2010, declararam-se 27,7% - 2.340.000 de pessoas com deficiências; um dos maiores índices do pais. Vários são os seus problemas e, dentre esses as barreiras arquitetônicas e urbanísticas que encontram nas cidades. A acessibilidade é condição básica para o desenvolvimento das funções humanas nas cidades – para circular, habitar, trabalhar, recrear e, principalmente para que todos possam usufruir da cidade; para o exercício pleno da cidadania. Entretanto, essa condição sempre lhes foi negada, enquanto a cidade ia sendo pensada só para as pessoas sem deficiências e em boas condições de saúde. O débito social para com as PCDs é imenso e o foco para o pagamento desse débito social deve focar na busca pela melhoria da qualidade de vida em um ambiente urbano saudável, o qual gere oportunidades iguais e contemple o mais amplo espectro de pessoas e classes sociais; para uma convivência que se aproxime de um padrão mínimo de “urbanidade” e de oportunidades nas cidades, as quais avançam para o futuro com problemas de todas as ordens. O caminho para a solução vai no sentido dos direitos humanos e da justiça social, o que deve ser buscado com base na “legalidade”. A legalidade; a defesa das conquistas da legislação - deve ter o foco das administrações municipais, pois são elas que devem atuar na base do problema e oferecer igualdade de condições e os caminhos para tal; os quais podem ser pacíficos se

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Texto do pronunciamento pela criação do Conselho Municipal das Pessoas com Deficiência do município de Cascavel em evento realizado em 20 de outubro de 2012

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Page 1: Invisíveis

Pessoas InvisíveisFernando Zornitta, Cascavel 20 de outubro de 2012

- É possível alguém ser de carne e osso e não ser visível; é possível 45,6milhões de pessoas invisíveis em um único país ?

As PCDs estão invisíveis no Brasil desde 1500 e, juntamente com outrossegmentos, como índios, idosos, negros e pobres nem eram consideradoscidadãos de direitos e em igualdade de condições. Na carta magna de 1824, asPCDs eram considerados incapazes e, por isso, sem qualquer direito.

Só em 1988, com a nova constituição, passam a ter seus direitos garantidospelas leis que avançaram, mas na realidade, tudo continuou igual e elasinvisíveis para a sociedade e para o poder público, omisso das suasresponsabilidades em fazer cumprir as leis que lhes garantiam esses direitos.

Em 2008 o Brasil passa as ser signatário a Convenção da Onu Sobre Direitosdas pcds, dos seus 50 artigos e do seu protocolo facultativo, passando a ter asmesmas garantias constitucionais.

Na sua condição de exclusão, sequer os dados estatísticos eram reais, pois asPCDs escondiam-se dessa sua condição. Mas isso vem mudando e agora lutampelos seus direitos.

Em 2010, 14,5% da população declarou-se com algum tipo de deficiência –24,5 milhões de pessoas e, em 2010 23,9%, ou 45,6 milhões de pessoas,destes 38,5 milhões vivendo nas cidades e 67,2% desse total são de idosos,com mais de 65 anos. No nordeste representa 26,% da população; no Cearáem 2000 era de 17,34% e em 2010, declararam-se 27,7% - 2.340.000 depessoas com deficiências; um dos maiores índices do pais.

Vários são os seus problemas e, dentre esses as barreiras arquitetônicas eurbanísticas que encontram nas cidades. A acessibilidade é condição básicapara o desenvolvimento das funções humanas nas cidades – para circular,habitar, trabalhar, recrear e, principalmente para que todos possam usufruir dacidade; para o exercício pleno da cidadania. Entretanto, essa condição semprelhes foi negada, enquanto a cidade ia sendo pensada só para as pessoas semdeficiências e em boas condições de saúde.

O débito social para com as PCDs é imenso e o foco para o pagamento dessedébito social deve focar na busca pela melhoria da qualidade de vida em umambiente urbano saudável, o qual gere oportunidades iguais e contemple omais amplo espectro de pessoas e classes sociais; para uma convivência quese aproxime de um padrão mínimo de “urbanidade” e de oportunidades nascidades, as quais avançam para o futuro com problemas de todas as ordens.

“O caminho para a solução vai no sentido dos direitos humanos e da justiçasocial, o que deve ser buscado com base na “legalidade”. A legalidade; adefesa das conquistas da legislação - deve ter o foco das administraçõesmunicipais, pois são elas que devem atuar na base do problema e oferecerigualdade de condições e os caminhos para tal; os quais podem ser pacíficos se

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a inteligência humana for usada na formulação das políticas públicas e nasações.

Para os invisíveis tornarem-se cidadãos visíveis, devem ser oferecidas ascondições básicas para o exercício da cidadania, para que haja a possibilidadede usufruto da cidade e para que a cidade efetivamente seja boa para todos eque acolha as diferenças, focando-se em programas e projetos para que essesproblemas e suas fontes sejam enfrentados; atacando-se mormente e porprimeiro aqueles cujas soluções possam catalizar o processo de inclusão,como o da acessibilidade; tema imprescindível e prioritário.

Toda a cidade brasileira já deveria estar ao 100% acessível desde meados de2010, 36 meses após o Decreto 5296/2004, mas não estão. E, por isso, aspessoas com deficiência, condicionadas pelo ambiente, ficam impedidas dosseus direitos e do usufruto da cidade.

Parabéns aqueles que enfrentam e buscam os seus direitos pela linha dacivilidade, da legalidade e da urbanidade. Parabéns aos movimentos; parabénsao Conselho Municipal das PCDs de Cascavel; já começando a serem visíveispor todos.