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1 Seminário Internacional Fazendo Gênero 11& 13 th Women’s Worlds Congress (Anais Eletrônicos), Florianópolis, 2017,ISSN 2179-510X INVESTIGANDO NARRATIVAS DE MULHERES CIENTISTAS SOBRE MODOS DE FAZER CIÊNCIA Maria Rozana Rodrigues de Almeida 1 Paula Regina Costa Ribeiro 2 Resumo: Hoje em dia, é consenso que as mulheres têm uma maior participação no mundo científico, sendo reconhecidas e apontadas como responsáveis pelo aumento da produtividade acadêmica em diversas áreas. Porém, apesar desse consenso, é também perceptível uma separação do que se denomina “ciência masculina” e “ciência feminina”, já que as mulheres continuam em menor número quando comparado ao número de homens na área de ciências exatas. Autores/as dos estudos feministas da ciência têm questionado porque a presença das mulheres até hoje tem merecido pouca atenção dos estudos sociais da ciência. No presente artigo temos como foco a participação das mulheres que tiveram a oportunidade de realizar seus estudos no Continente Antártico, buscando analisar em suas narrativas alguns discursos e práticas sociais implicados na constituição de modos de fazer ciência feminina ou masculina. Palavras-chave: ciência, mulheres, gênero. “A Ciência é masculina? É sim, Senhora!” (CHASSOT, 2009) Introdução Com o título acima referenciado, Chassot(2009), nos traz em seu livro inúmeras reflexões sobre o quanto não só a ciência, mas (quase) toda a produção intelectual é predominantemente masculina. Hoje em dia, podemos perceber as mulheres tendo uma maior participação no mundo científico, sendo reconhecidas e apontadas como responsáveis pelo aumento da produtividade acadêmica em diversas áreas. Porém, apesar do avanço, foi consenso no Foro Regional da UNESCO Mujeres. Ciencia y Tecnologia en America Latina: diagnosticos y estrategias, Tabak (2002) que apesar do aumento da participação, as mulheres ainda estão concentradas em determinadas áreas e sub-representadas em outras. Autores/as da crítica feminista à ciência têm questionado porque a presença das mulheres até hoje tem merecido pouca atenção dos estudos 1 Doutoranda em Educação em Ciências, Universidade Federal de Rio Grande - Furg. E-mail: [email protected]. 2 Professora no Programa de doutorado em Educação em Ciências da Universidade Federal de Rio Grande - Furg. E- mail: [email protected].

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Seminário Internacional Fazendo Gênero 11& 13thWomen’s Worlds Congress (Anais Eletrônicos),

Florianópolis, 2017,ISSN 2179-510X

INVESTIGANDO NARRATIVAS DE MULHERES CIENTISTAS SOBRE

MODOS DE FAZER CIÊNCIA

Maria Rozana Rodrigues de Almeida 1

Paula Regina Costa Ribeiro2

Resumo: Hoje em dia, é consenso que as mulheres têm uma maior participação no mundo

científico, sendo reconhecidas e apontadas como responsáveis pelo aumento da produtividade

acadêmica em diversas áreas. Porém, apesar desse consenso, é também perceptível uma separação

do que se denomina “ciência masculina” e “ciência feminina”, já que as mulheres continuam em

menor número quando comparado ao número de homens na área de ciências exatas. Autores/as dos

estudos feministas da ciência têm questionado porque a presença das mulheres até hoje tem

merecido pouca atenção dos estudos sociais da ciência. No presente artigo temos como foco a

participação das mulheres que tiveram a oportunidade de realizar seus estudos no Continente

Antártico, buscando analisar em suas narrativas alguns discursos e práticas sociais implicados na

constituição de modos de fazer ciência feminina ou masculina.

Palavras-chave: ciência, mulheres, gênero.

“A Ciência é masculina?

É sim, Senhora!”

(CHASSOT, 2009)

Introdução

Com o título acima referenciado, Chassot(2009), nos traz em seu livro inúmeras reflexões

sobre o quanto não só a ciência, mas (quase) toda a produção intelectual é predominantemente

masculina. Hoje em dia, podemos perceber as mulheres tendo uma maior participação no mundo

científico, sendo reconhecidas e apontadas como responsáveis pelo aumento da produtividade

acadêmica em diversas áreas. Porém, apesar do avanço, foi consenso no Foro Regional da

UNESCO Mujeres. Ciencia y Tecnologia en America Latina: diagnosticos y estrategias, Tabak

(2002) que apesar do aumento da participação, as mulheres ainda estão concentradas em

determinadas áreas e sub-representadas em outras. Autores/as da crítica feminista à ciência têm

questionado porque a presença das mulheres até hoje tem merecido pouca atenção dos estudos

1Doutoranda em Educação em Ciências, Universidade Federal de Rio Grande - Furg. E-mail:

[email protected]. 2Professora no Programa de doutorado em Educação em Ciências da Universidade Federal de Rio Grande - Furg. E-

mail: [email protected].

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sociais da ciência e que a invisibilidade das mulheres na ciência diz respeito à predominância de

uma visão que continua sustentando a objetividade, a neutralidade e a racionalidade da ciência.

Sobre a quase ausência/invisibilidade das mulheres na história da ciência, não deixa de ser

significativo que, ainda nas primeiras décadas do século XX, a Ciência estava culturalmente

definida como uma carreira imprópria para a mulher, da mesma maneira que, ainda na segunda

metade do século XX, se diziam quais eram as profissões de homens e quais as de mulheres.

(CHASSOT, 2009, p. 29).

Nesse cenário, a proposta de investigação desenvolvida no presente artigo tem como foco a

inserção e a participação de pesquisadoras da Universidade Federal do Rio Grande - FURG, duas

coordenadoras de projetos no Continente Antártico e duas alunas de pós-graduação, em nível de

doutorado, buscando problematizar alguns discursos e práticas sociais implicados na constituição de

ser mulher, especialmente no modo de fazer ciência, em um lugar inóspito e majoritariamente

masculino como a Antártica. A proposta do presente artigo se justifica, a partir do relevante papel

que a Universidade Federal do Rio Grande – FURG tem na sua vocação, os ecossistemas costeiros e

oceânicos, o que a coloca como uma das principais Universidades, pioneira nas ciências do mar,

tendo criado o primeiro curso de Oceanologia do País. Esse pioneirismo credenciou a Universidade

a sediar a Estação de Apoio Antártico - ESANTAR, a qual fornece logística aos voos para

Antártica, no contexto do Programa Antártico Brasileiro – PROANTAR.

Um pouco sobre a participação brasileira na antártica...

Em 1961, entrou em vigor o Tratado da Antártica, criado em 1959, por 12 países, o Brasil

não fazia parte. O Brasil aderiu ao Tratado, em 16 de maio de 1975, por meio do Decreto

Legislativo nº 56, de 29 de junho de 1975 e promulgado pelo Decreto nº 75.963, de 11 de julho,

publicado no Diário Oficial da União de 14 de julho. Foi com a criação da Comissão

Interministerial para Recursos do Mar – CIRM, da Marinha do Brasil, em 12 de setembro de 1974,

que o Brasil começou seus primeiros passos para a realização das expedições oficiais à região polar

Sul da Terra, bem como para a viabilização de instalação de sua base, a Comandante Ferraz. A

primeira expedição brasileira à Antártica aconteceu no verão de 1982-83, com a participação de

vários ministérios, universidades e instituto de pesquisas.

O Programa Antártico Brasileiro, desde então, vem realizando expedições todos os anos. As

pesquisas são feitas nas áreas de Ciências do Mar, da Vida, da Terra, da Atmosfera e Geofísica da

Terra Sólida, além de programas de logística e treinamento. A Universidade Federal do Rio Grande,

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por meio, dos seus cursos de graduação e pós-graduação, especialmente na área da Oceanologia tem

participado de diversas operações antárticas.

Conforme Simões (2016), não há estudos específicos, de que se tenha conhecimento, sobre a

participação das mulheres no Programa Antártico Brasileiro, mas é possível afirmar que foi uma

mulher a maior defensora da presença brasileira naquele continente, nos anos 1950, 1960 e 1970. A

professora Therezinha de Castro foi autora do primeiro livro de Geopolitica Antártica escrito no

Brasil. O “Rumo à Antártica”, publicado em 1976, o qual ainda se caracteriza como uma referência

sobre a todos/as que se interessam pelo assunto.

Alguns pressupostos teóricos...

Compreender a ciência como uma construção social de determinada sociedade e espaço,

possibilita-nos conhecer como homens e mulheres vêm produzindo conhecimentos. Inserir a

categoria social gênero na produção do conhecimento permite a complexificação da

presença/ausência ou mesmo da invisibilidade das mulheres que fazem ciência, contribuindo na

problematização dos discursos e das relações de gênero em sua dimensão sócio espacial.

Ao longo do tempo, as mulheres foram direcionadas para a vida privada, voltadas ao

cuidado da casa e da família. Existem ainda nos dias de hoje, escolas que ensinam as mulheres “a se

princesarem”, ou seja, ensinam antigos modelos de como as mulheres devem se comportar na

sociedade.

mulheres e homens aprendem desde muito cedo a ocupar e/ou a reconhecer seus lugares na

sociedade, e para tanto um investimento significativo é posto em ação, uma vez que a

família, a escola, a universidade, a mídia, a ciência, entre outras instâncias sociais e

artefatos culturais, atuam nesse processo, desempenhando papel importante nessa complexa

rede que (con)forma e governa os corpos e a vida das pessoas (SILVA, 2012, p. 186)

No entanto, quando pensamos a (con)formação da mulher, o tema torna-se bastante

complexo, haja vista que ao longo da história as mulheres são vistas como sujeitos invisíveis e o

masculino aparece sempre como superior ao feminino. O papel e o lugar das mulheres aparecem, de

forma inclusive pejorativa, comparando-as como incapazes, conclamando-as para que não se

misturem aos homens, determinando o papel de boa mãe e esposa.

Nas palavras do filósofo Jean-Jacques Rousseau, assim estaria determinado o papel de

homens e mulheres:

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As mulheres têm a língua flexível; elas falam mais cedo, mais facilmente e mais

agradavelmente que os homens. O homem diz o que sabe, a mulher diz o que agrada; um

para falar tem a necessidade de conhecimento, o outro do gosto; um deve ter como objeto

principal as coisas úteis, a outra, agradáveis. (ROUSSEAU, 1992, p. 54).

Apesar das palavras do filósofo ser de longa data, e de todos os avanços alcançados, o

mundo contemporâneo ainda se mostra masculino, no que tange as relações de gênero. Durante

muito tempo, a mulher foi apartada do mundo da ciência, pois até recentemente eram impedidas de

frequentar as universidades, já que a elas estava reservado o mundo doméstico. Somente a partir do

final do século XIX e início do século XX, os bancos das Universidades começaram a receber

mulheres, como discentes e docentes. A ciência tem se apresentado como um território

hegemonicamente masculino.

Compreendemos que a ciência é uma construção humana que tem assumido o papel de

explicar, através da racionalidade, os dados empíricos apreendidos na realidade, podendo-se

considerá-la “como uma linguagem construída pelos homens e pelas mulheres para explicar o nosso

mundo natural” (CHASSOT, 2009, p. 12).

Atualmente, é possível perceber um aumento das mulheres nas Universidades, incluindo o

desenvolvimento de pesquisas. Contudo no mundo da ciência a presença feminina ainda está aquém

da presença masculina e ocorre de forma territorializada, ou seja, permanece a visão de que esse não

é um mundo das mulheres e essa visão apresenta-se bastante acentuada dependendo das áreas.

De acordo com dados disponibilizados pelo CNPq, Felício destaca que (2010, p. 47)

as mulheres ainda são minoria na Geociência, na Matemática, nas Engenharias, na Ciência

da Computação, na Economia e na Física. As mulheres estão representadas com um número

mais significativo na Psicologia, Lingüística, Nutrição, Serviço Social, Fonoaudiologia,

Economia Doméstica e Enfermagem, áreas em que na sua maioria lembra as aptidões para

o cuidado, de acordo com a construção histórica, demonstrando que a ciência reproduz um

viés sexista estabelecido na sociedade, envolvendo a própria história, bem como a

construção das identidades masculinas e femininas.

São diversos os espaços em que as mulheres são colocadas de forma estereotipadas, na

ciência, e especialmente pela cultura de uma sociedade patriarcal as mulheres permanecem à

margem. Essa situação fica demonstrada quando observamos o pequeno número de mulheres

cientistas que obtiveram reconhecimento pela sua contribuição ao mundo da ciência. O número de

mulheres que receberam o Prêmio Nobel nas áreas das ciências é insignificante quando comparado

aos homens: somente 12 (duas em Física, três em Química e sete em Medicina ou Fisiologia; destes

12, apenas 3 são exclusivamente a mulheres), em um universo de 510 premiados (CHASSOT,

2009). Outro dado importante, refere-se à Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência, criada

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em 1948, teve até os dias de hoje entre seus 18 presidentes, a presença de 3 mulheres presidentes. A

psicóloga Carolina Bori (primeira mulher presidente – 1987;1989); Glaci Zancepan (1999; 2003) e

Helena Nader (presidente desde 2011). Um marco no estudo sobre gênero e ciência, se estabeleceu

a partir dos estudos de Evelyn Fox Keller, quando publicou o livro “Reflections on Gender and

Science” (1985).

A partir daí muitos/as autores/as têm buscado entender as relações de gênero estabelecidas

na produção da ciência. Joan Scott (1998) coloca que o gênero é uma categoria historicamente

determinado que não apenas se constrói sobre a diferença de sexos, mas sobretudo, uma categoria

que serve para “dar sentido” e esta diferença. Assim, gênero é uma categoria usada para pensar as

relações sociais que envolvem homens e mulheres, relações historicamente determinadas e expressa

pelos diferentes discursos sociais sobre a diferença sexual. Serve, portanto, para determinar tudo

que é social, cultural e historicamente determinado. A forma como o masculino e o feminino são

concebidos em nossa sociedade instala relações de poder, assimétricos e desiguais, dos homens para

com as mulheres e de cada um destes entre si.

Ao longo do tempo o androcêntrismo das ciências tem trazido consequências às mulheres,

colocando-as em um lugar de desvantagem quando comparadas aos homens, excluindo-as do

processo de investigação menosprezando o estilo ditos “femininos”. Segundo Smith (1983, apud

SARDENBERG, 2001), o androcêntrismo tem contribuído para a produção de teorias sobre as

mulheres, representado-as como seres inferiores, desviantes ou só importantes no que tange aos

interesses masculinos, tal como acontece com as teorias de fenômenos sociais que tornam as

atividades e interesses femininos menores e obscurecem as relações de poder entre os sexos.

Os estudos de gênero vão problematizar justamente esta determinação biológica da

“condição feminina”. Dentro da uma perspectiva feminista Keller (1985), buscou compreender a

gênese da divisão sexual e emocional do trabalho, que rotulava mente, razão e objetividade como

“masculino”, e coração e corpo, sentimento e subjetividade como “femininos” e que, portanto, estão

subjancentes à exclusão das mulheres do empreendimento científico.

Assim, analisar as narrativas de mulheres cientistas que realizaram suas pesquisas no

Continente Antártico, buscando compreender as diferenças observadas, é extremamente instigador,

considerando a cultura estabelecida em um local em que os programas desenvolvidos são

coordenados pela Marinha do Brasil, Instituição que apenas recentemente permitiu o ingresso da

presença feminina em suas corporações. A participação da mulher na Marinha, foi estabelecida por

lei, em caráter pioneiro a partir de 1980, tendo perfil de carreira próprio e limitado a determinados

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cargos e ao serviço em terra. Entre 1995 e 1996, por intermédio de novos textos legais, foi

estendido o acesso das oficiais aos Corpos de Saúde e de Engenheiros Navais.

Apresentando questões metodológicas...

Nessa análise, buscar-se-á compreender as narrativas de mulheres que tiveram a

oportunidade de realizar suas pesquisas no continente Antártico, tornando visíveis suas experiências

com o desenvolvimento de suas atividades no continente branco. A produção dos dados narrativos

da pesquisa deu-se por meio de entrevistas semi-estruturadas, com duas pesquisadoras da

Universidade Federal do Rio Grande - Furg, coordenadoras de projetos no Continente Antártico e

com duas alunas de pós-graduação, em nível de doutorado. As entrevistas foram gravadas e também

assinado o termo de consentimento, em que se estabeleceu que a identidade das entrevistadas seria

preservada.

As entrevistas versaram sobre a trajetória acadêmica e profissional dessas mulheres, a

motivação para a escolha da área de atuação, a vivência e experiência dessas pesquisadoras ao

desenvolver seus trabalhos em um ambiente inóspito, de difícil acesso e com a presença

majoritariamente de homens. As pesquisadoras serão identificadas e apresentadas pela ordem das

entrevistas, sendo designadas como P1; P2, P3 e P4. As quatro pesquisadoras são formadas em

Oceanologia, com pós-graduação em ciências do mar, sendo duas solteiras, sem filhos, na faixa de

20-30 anos e duas casadas, com filhos e estão na faixa de 50 a 60 anos.

A análise das narrativas é uma tarefa complexa, pois tem de um lado a pessoa que busca em

sua memória e sentimentos respostas para algumas perguntas que talvez em nenhum outro momento

tenha pensado naquele assunto e/ou da forma que está sendo colocado, do outro lado o/a

pesquisador/a, com suas dúvidas, certezas e incertezas, ouvindo o que é dito tentando compreender

o lugar de quem está narrando.

De acordo com CORAZZA(2002, p. 124):

cada prática de pesquisa é uma linguagem, um discurso, uma prática discursiva, que sempre

está assinalada pela formação histórica em que foi constituída. Formação histórica esta que

marca o lugar discursivo de onde saímos; de onde falamos e pensamos, também de onde

somos faladas/os e pensadas/os; de onde descrevemos e classificamos a(s) realidade(s).

E assinala ainda que uma prática de pesquisa é um modo de pensar, sentir, desejar, amar,

odiar; uma forma de interrogar, suscitando acontecimentos, dizendo respeito ao modo como fomos

e estamos subjetivadas/os e como entramos no jogo de saberes.

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As entrevistas permitem interpretar, mesmo que de forma provisória ou parcial, a partir das

falas das entrevistadas, o lugar de onde essas mulheres falam e o quanto esse lugar poderá ou não

interpelar e constituir os seus discursos.

Algumas narrativas ediscussões...

A seguir apresentamos as narrativas das mulheres cientistas, quando questionadas sobre

se há um modo/jeito feminino de fazer ciência.

“Eu acredito que a forma de fazer ciência é uma só, mas a maneira como a gente se posiciona ao fazer

ciência varia muito entre homens e mulheres e acho que a visão também. A forma como a gente se

aproxima e se relaciona com as pessoas é diferente, mas muitas vezes não relacionadas à gênero, talvez

seja a personalidade, mas existe uma certa maneira maternalista, talvez de algumas mulheres tratarem

da ciência e outras talvez muito rígidas e tradicionais que uma pessoa poderia relacionar mais ao

comportamento masculino, mas eu não sei se é tanto uma questão de gênero ou se é uma questão de

educação, de formação e objetivo de vida”. P1

“Acho que sim. Nós sempre estamos enfrentando dificuldades se comparadas com nossos colegas homens.

Sempre temos que provar que somos capazes, e muitas vezes somos postas à prova e desafiadas”. P2

“Creio que há um jeito “pessoal’ de fazer ciência, independente do gênero. Acredito que as inclinações

e experiências pessoais sejam mais fortes em determinar o tipo de abordagem científica ou o tema, do

que o gênero do pesquisador”. P3

“Por consequência da forma da sociedade que criamos, desenvolvemos e vivemos hoje, onde o papel

exercido pela mulher foi bem definido e separado do papel exercido pelo homem, creio que há um jeito

feminino de se fazer quase tudo, onde se despeja mais atenção à algumas atividades, como por exemplo a

atenção com os cuidados com materiais, asseio e etc...

Em contrapartida, atividades que exigem mais força, por exemplo, são em geral, destinadas ao homem...

Claro que isso é uma generalização, mas que reflete muito nas ações das mulheres dentro de suas

profissões” P4

De acordo com Schienbinger (2001), o androcentrismo tem ido muito além da mera

exclusão das mulheres do mundo da ciência, tendo um papel determinante não só na construção da

cultura da ciência, mas também no próprio conteúdo dos conhecimentos produzidos. Importante a

reflexão sobre a maneira como essas mulheres se percebem nesse lugar e na sociedade atual, em

função das construções sociais e históricas estabelecidas.

Interessante também perceber como são interpeladas as pesquisadoras/coordenadoras de

projetos e as pesquisadoras/alunas. Para as primeiras, o modo de fazer ciência indifere da questão

gênero/mulher, estaria mais focado na formação pessoal de cada um, já as segundas entendem que

sim, especialmente pela questão das mulheres serem colocadas o tempo todo à prova, no sentido da

competência.

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A origem das discriminações é tão distante quanto o nascedouro da Ciência no mundo

ocidental. Essas posturas atravessaram séculos e para melhor compreensão podemos trazer uma

contribuição de homens das Ciências: Augusto Conte (1789-1857) “Quando vejo uma mulher

ligada à história, às questões jurídicas, à logica, eu entro em crise” (CHASSOT, 2009, p. 81). Então

perceber nas narrativas o quanto dessas discriminações/diferenciações nos interpelam não é algo de

difícil alcance. Surgem nas falas algumas dificuldades enfrentadas, especialmente no que tange a

necessidade de demonstrar a capacidade.

“Sim. Alguns deles super incentivam nossa participação em trabalho de campo, ajudam no que

realmente fica difícil fazer sozinha (não necessariamente por ser mulher, mas por entenderem que é algo

pesado pra se fazer só), enquanto outros são completamente contra nossa participação em campo”.

[...]“Depende muito da tripulação e de sermos conhecidas ou não. Eles geralmente tratam como "frágil"

(ou mesmo "peso morto"), até vermos que também trabalhamos e, principalmente, somos capazes de

executar nossas tarefas”. P3

Outro atributo que aparece com frequência, refere-se à força física ou na verdade a falta

dela, colocando essas mulheres de certa forma em um lugar que teoricamente não seria o delas, ou

seja, não seria um ambiente apropriado. A naturalização de determinados discursos se faz também

presente. Ao serem questionadas sobre os cuidados, percebe-se uma naturalização em algumas

ações, incluindo cuidados supostamente necessários. O fator idade, de certa forma, também surge,

ao mesmo tempo em que se vincula a seleção mais ao aspecto “experiência”.

“... Eu não tive tratamento privilegiado por ser mulher, talvez tenha tido tratamento por ser eu... que sou

uma pessoa que tenho o menor ou maior empatia, por ser prestativa ou não, mas não por ser mulher,

existe algum tratamento diferenciado mas geralmente por você apresentar maior ou menor afinidade com

as pessoas, mas eu não vejo comigo...”. [...]“... mas já vi comentários de colegas, que determinadas

coisas estão acontecendo porque é mulher...”. P1

Nas narrativas, a naturalização surge também em relação ao aspecto “tratamento

privilegiado por ser mulher”. As entrevistadas, em sua maioria, não percebem qualquer tipo de

privilégio, mas sim de afinidade entre as pessoas que naquele momento estão convivendo, ou

inclusive, um maior cuidado pelo fato da mulher ser considerada mais frágil, apesar de haver

comentários que algo aconteceu dessa ou daquela forma, por ser mulher.

“Entre colegas é mais difícil de quantificar... é mais sútil, é velado. A gente vê na forma das relações que seguem, mas por outro lado muitos colegas apoiam o trabalho que a gente faz e acreditam no trabalho da gente, e isso é muito importante”. P1

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Nas falas surgem algumas situações veladas que dificultam uma identificação mais concreta.

Essas situações poderão ser mais visíveis ou não, pois algo que aparece como motivação para a não

percepção de determinados tipos de preconceitos é o lugar ocupado por essas pesquisadoras. Já que

ao serem questionadas se já sofreram determinadas discriminações, as coordenadoras de projetos

demonstram não terem vivenciado de forma mais contundente.

“Depende do que você considera privilégio! Em navios de guerra somos alojadas em lugares muitas vezes

melhores que os meninos, por não podermos dividir camarote com militares, mas algumas vezes é a

enfermaria mesmo. Alguns tripulantes nos tratam melhor que nossos colegas, mas geralmente com

segundas intenções. Eu preferiria ser tratada de maneira igual e ser respeitada o tempo todo. Alguns

militares chegam a ser bastante inconvenientes com esses ´privilégios´”. P3

As pesquisadoras P1 e P2 entendem que não existem muitos privilégios, talvez apenas a

questão do cuidado e atribuem a isso uma questão mais cultural. A P3 foi mais enfática que preferia

ser tratada com respeito e de forma igualitária, pois no quesito força física se considera mais forte

que muitos homens e que isto não deveria estar vinculado a questão gênero, pois percebe muitas

vezes a mulher ser tratada como “mais frágil” e que brincadeiras do tipo “está com TPM” quando

uma mulher se estressa ainda são frequentes.

“Certamente, como dito acima, quando se trata de atividades muito pesadas ou equipamentos de

utilização muito complicada, há sempre um cuidado maior de auxiliar ou ser prestativo, por parte do

contingente masculino. Fora destes casos, não há privilégios declarado”. P2

Com relação a discriminação pela questão “mulher”, as pesquisadoras que são

coordenadoras de projetos dizem que nunca perceberam com elas qualquer tipo de discriminação,

mas que já ouviram falar a ocorrência com outras mulheres, já as que não são coordenadoras,

colocam que sim e que ocorre com muita frequência.

Há de se considerar o lugar que essas mulheres ocupam, tendo em vista que elas chegam

nesse lugar já como coordenadoras, com tratamentos diferenciados por conta da hierarquia existente

e portanto, sem a ocorrência de determinadas situações

Considerações...

Não há muitos estudos sobre a participação das mulheres no Continente Antártico, mas um

livro que se destaca sobre a vivência das mulheres no Continente Antártico (não necessariamente

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cientistas) é o da estadunidense Jennie Darlington – My Antarctic Honeymoon –, em que a mesma

afirma: “Taking eveything into consideration, I do not think womem belon in Antartica” (Levando

tudo em consideração, eu não acho que as mulheres pertençam à Antártica), SIMÕES (2016).

Interessante reflexão,partindo de uma mulher, ou seja, o quanto somos interpeladas pelo discurso do

que está estabelecido como algo apropriado para homens e não para mulheres, claro que o discurso

foi em outra época e não por uma mulher cientista, mas ainda é perceptível algumas dificuldades

que envolvem o ser mulher cientista ainda nos dias de hoje, especialmente em um lugar com

condições climáticas inóspitas, em que a presença é majoritariamente masculina.

Ao analisarmos as narrativas das cientistaspercebe-se certa naturalização de situações que

poderiam ser consideradas sexistas e preconceituosas, algo vinculado à cultura da sociedade,

educação ou até mesmo pela formação de uma corporação militar. Nota-se também que aparece de

forma explícita a questão hierárquica, do poder e do lugar ocupado.

Larrosa (1996), afirma que as nossas histórias contadas por meio das narrativas passam a dar

sentido a quem somos e a quem são os outros, constituindo assim as identidades – de gênero,

cientistas, classe, mãe/pai, filha/o, esposa/o, sexuais, étnico-raciais, entre outras.Assim, as

entrevistadas produziram narrativas sobre o que é ser uma mulher cientista no continente Antártico,

pois conforme o autor, a narrativa é uma modalidade discursiva, na qual as histórias que contamos

e ouvimos, produzidas e mediadas no interior de determinadas práticas sociais, mais ou menos

institucionalizadas passam a construir a nossa história.

É possível observar que atributos físicos femininos e masculinos são exigidos, o que nos

coloca na questão física e psicológica como “frágeis”, “mais fracas”, “peso morto”, “alvo fácil”,

“menos capazes”. Essas situações, tanto não foram superadas que ocorrem mais frequentemente

com as entrevistadas mais jovens. Segundo Meyer (2003), a partir das abordagens feministas pós-

estruturalistas, o conceito gênero é comoproduto e efeito de relações de poder, incluindo os

processos que produzem homens e mulheres, distinguindo-os e separando-os como corpos dotados

de sexo, gênero e sexualidade. Nesse sentido, homens e mulheres se (con)formam a partir dessas

construções e, inclusive, naturalizam determinadas situações.Nessa perspectiva, faz-se necessário

buscarmos as relações de poder existentes nos diversos espaços, pois esses refletem o que ocorre

hoje na sociedade. São muitos anos de preconceitos estabelecidos.

Precisamos aprofundar estudos e promoverdiscussões que buscam tornar visíveis as

experiências de mulheres em ambientes ditos masculinos, buscando refletir sobre as dificuldades

enfrentadas e os obstáculos ultrapassados, especialmente no campo do desenvolvimento da ciência.

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Seminário Internacional Fazendo Gênero 11& 13thWomen’s Worlds Congress (Anais Eletrônicos),

Florianópolis, 2017,ISSN 2179-510X

Conforme Chassot (2009), se nos afiliarmos como históricose pudermos entender que essas

concepções de uma Ciência masculina, se deram, e ainda se dão, como resultado de uma história,

humanamente construída, logo falível, seremos agentes dessa construção e poderemos promover

modificações.

Referências

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Investigating female scientist’s narratives on ways of doing science

Abstract: Presently, there is agreement in the sense that women currently have a higher

participation within the science community than in the past, being recognized and pointed out as

responsible agents for the increase in academic productivity in several areas. However, in spite of

this consensus, a separation of what is called "male science" and "female science" is also

perceptible, since women continue to represent smaller numbers when compared to men in STEM

(Science, technology, engineering, and mathematics). Authors of feminist science studies have

questioned why the presence of women in STEM to date has deserved little attention from social

studies of science. In this article we focus on the participation of women who had the opportunity to

study in the Antarctic, seeking to identify and analyze in their narratives some social discourses and

practices involved in the constitution of ways of doing feminine or masculine science.

Keywords: science, women, gender.