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INVESTIGAÇÃO SOBRE O DESGASTE PREMATURO DOS PARAFUSOS DE FIXAÇÃO DO BOCAL DE EXAUSTÃO EXTERNO DE MOTORES AERONÁUTICOS GE CF6-80C2 Rodrigo Sudá de Forton Bousquet Visintin Projeto de Graduação apresentado ao Curso de Engenharia Mecânica da Escola Politécnica, Universidade Federal do Rio de Janeiro, como parte dos requisitos necessários à obtenção do título de Engenheiro. Orientador: Prof Dr.Ing. Fernando Augusto de Noronha Castro Pinto Rio de Janeiro Abril de 2016

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INVESTIGAÇÃO SOBRE O DESGASTE PREMATURO DOS PARAFUSOS DE

FIXAÇÃO DO BOCAL DE EXAUSTÃO EXTERNO DE MOTORES AERONÁUTICOS

GE CF6-80C2

Rodrigo Sudá de Forton Bousquet Visintin

Projeto de Graduação apresentado ao Curso de

Engenharia Mecânica da Escola Politécnica,

Universidade Federal do Rio de Janeiro, como

parte dos requisitos necessários à obtenção do

título de Engenheiro.

Orientador: Prof Dr.Ing. Fernando Augusto de

Noronha Castro Pinto

Rio de Janeiro

Abril de 2016

i

INVESTIGAÇÃO SOBRE O DESGASTE PREMATURO DOS PARAFUSOS DE

FIXAÇÃO DO BOCAL DE EXAUSTÃO EXTERNO DE MOTORES AERONÁUTICOS

GE CF6-80C2

Rodrigo Sudá de Forton Bousquet Visintin

PROJETO DE GRADUAÇÃO SUBMETIDO AO CORPO DOCENTE DO CURSO DE

ENGENHARIA MECÂNICA DA ESCOLA POLITÉCNICA DA UNIVERSIDADE

FEDERAL DO RIO DE JANEIRO COMO PARTE DOS REQUISITOS NECESSÁRIOS

PARA A OBTENÇÃO DO GRAU DE ENGENHEIRO MECÂNICO

Examinado por:

Prof. Fernando Augusto de Noronha Castro Pinto;

Dr.Ing.(Orientador)

Prof. Fábio Luiz Zamberlan; DSc

Prof. Fernando Pereira Duda; DSc

RIO DE JANEIRO, RJ – BRASIL

ABRIL de 2016

ii

Visintin, Rodrigo Sudá de Forton Bousquet

Investigação sobre o desgaste prematuro dos

parafusos de fixação do bocal de exaustão externo de

motores aeronáuticos GE CF6-80C2/ Rodrigo Sudá de

Forton Bousquet Visintin. – Rio de Janeiro: UFRJ/ Escola

Politécnica, 2016.

XIII, 63 p.: il.; 29,7 cm.

Orientador: Fernando Augusto de Noronha Castro

Pinto

Projeto de Graduação – UFRJ/ Escola Politécnica/

Curso de Engenharia Mecânica, 2016.

Referências Bibliográficas: p. 62.

1. Inconel 718 2. Parafuso. 3. União Parafusada. 4.

Simulação de esforços. I. Pinto, Fernando Augusto de

Noronha Castro et al. II. Universidade Federal do Rio de

Janeiro, Escola Politécnica, Curso de Engenharia

Mecânica. III. Investigação sobre o desgaste prematuro

dos parafusos de fixação do bocal de exaustão externo

de motores aeronáuticos GE CF6-80C2.

iii

AGRADECIMENTOS

A minha Mãe, Daniella Sudá, pelo amor incondicional sem o qual nada seria possível.

As minhas avós, Vera Regina e Iracema Valle, e ao meu avô, Décio Araújo, por todo o

amor, carinho e suporte oferecidos sempre.

A minha irmã, Juliana Sudá, e ao seu marido, Ricardo Maciel, pela alegria que sempre

me proporcionaram e pelo prazer que apenas eles poderiam me conceder de ser o tio

da linda Íris Sudá.

A minha incrível namorada, Amanda, por todo amor e carinho dedicados ao nosso

sucesso.

Aos meus sogros, Jaqueline e Geraldo, e minha cunhada, Luana, por me receberem

sempre de braços abertos.

Aos meus orientadores Fernando Castro Pinto, Fernando Duda e Fábio Zamberlan,

por todos os ensinamentos que me permitiram realizar um estudo como este.

Aos amigos de trabalho Hugo Mendoza, Vinícius André, Daniel dos Santos, Marcio

Breder, Edison Silva, Wagner Silva, Marcelo Sales e Marco Martins, integrantes do

time GE do Banco de Provas do Rio de Janeiro, pela receptividade e pelo

desenvolvimento que me proporcionaram.

Ao amigo Rodrigo Martins, pela disposição com que me ajudou durante a execução do

trabalho.

Aos amigos que trilharam este caminho ao meu lado, sempre dispostos a ajudar uns

aos outros.

Muito obrigado a todos.

iv

Resumo do Projeto de Graduação apresentado à Escola politécnica/ UFRJ como parte

dos requisitos necessários para a obtenção do grau de Engenheiro Mecânico.

INVESTIGAÇÃO SOBRE O DESGASTE PREMATURO DOS PARAFUSOS DE

FIXAÇÃO DO BOCAL DE EXAUSTÃO EXTERNO DE MOTORES AERONÁUTICOS

GE CF6-80C2

Rodrigo Sudá de Forton Bousquet Visintin

Abril/2016

Orientador: Dr.Ing. Fernando Augusto de Noronha Castro Pinto

Curso: Engenharia Mecânica

O objetivo deste trabalho é investigar as possíveis causas para o desgaste prematuro

apresentado pelos parafusos de fixação entre o bocal de exaustão externo e os

motores aeronáuticos GE CF6-80C2, compondo uma união parafusada, no Banco de

Provas do Rio de Janeiro, GE Celma Filial. O desgaste dos parafusos nos obriga a

substituí-los, aumentando o custo de operação.

A principal hipótese se apoia no excesso de carga à qual os parafusos podem estar

sendo submetidos durante as condições de teste dos motores, dada a utilização

diferente dos elementos em Banco de provas quando comparado ao uso durante o

voo. No entanto, esta não será a única abordagem. Muitos dos problemas de desgaste

apresentados em uniões parafusadas são relacionados a erros cometidos durante a

montagem.

Desta forma, o estudo passará por análise da matéria prima e geometria dos

componentes, resultando em cálculos e simulações das tensões axiais nos parafusos

e das tensões nos membros da união parafusada, permitidos pelos softwares

SolidWorks© e Ansys©. Aplicaremos, também, os conceitos de interações elásticas

entre os elementos durante a montagem, bem como boas práticas para reduzir as

incertezas envolvidas.

O resultado da investigação permitirá determinar se os procedimentos de montagem e

desmontagem da união parafusada estão sendo executados corretamente.

Palavras-chave: União parafusada, parafuso, montagem, simulação.

v

Abstract of Undergraduate Project presented to POLI/UFRJ as a partial fulfillment of

the requirements for the degree of Engineer.

RESEARCH ON THE PREMATURE WEAR OF EXHAUST NOZZLE MOUNTING

BOLTS ON AERO ENGINES GE CF6-80C2

Rodrigo Sudá de Forton Bousquet Visintin

April/2016

Advisors: Dr.Ing. Fernando Augusto de Noronha Castro Pinto

Course: Mechanical Engineering

The objective of this study is to investigate the possible causes for premature wear

presented by fixing bolts on the exhaust nozzle for aero engines GE CF6-80C2,

composing a non-permanent joint, in the GE Celma Test Cell, at Rio de Janeiro. The

wear on bolts requires us to replace them, increasing the cost of operation.

The main hypothesis supported is about excess load to which bolts are being subjected

during the engine testing, given the different use of elements in a test cell when

compared to the use during the flight. However, this will not be the only approach.

Many wear problems presented in bolted joints are related to errors during assembly.

Thus, the study will undergo analysis of raw material and geometry of the components,

resulting in calculations and simulations of axial stress on the screws and tensions in

members of the bolted union by using SolidWorks© software and Ansys©. We will also

apply concepts of elastic interactions between the elements during assembly, as well

as best practices to reduce the uncertainties involved.

The result of the investigation will determine whether the assembly and disassembly

procedures of the bolted union are running correctly.

Keywords: Flange union, bolt, assembly, simulation.

vi

SUMÁRIO

ÍNDICE DE FIGURAS ................................................................................................... viii

ÍNDICE DE TABELAS ....................................................................................................xi

LISTA DE SÍMBOLOS E SIGLAS .................................................................................. xii

1. INTRODUÇÃO ........................................................................................................ 1

2. MOTIVAÇÃO ........................................................................................................... 3

3. BANCO DE PROVAS E O MOTOR AERONÁUTICO GE CF6-80C2 ..................... 4

3.1. Módulos do motor ............................................................................................. 5

3.1.1. Módulo do Fan .............................................................................................. 5

3.1.2. Módulo do Core ............................................................................................ 6

3.1.3. Módulo da Turbina de Alta Pressão ............................................................. 7

3.1.4. Módulo da Turbina de Baixa Pressão ........................................................... 8

3.1.5. Módulo das Caixas de Acionamento de Acessórios (Accessory Drive) ....... 8

3.2. Fluxo de ar e empuxo ....................................................................................... 9

3.3. Banco de Provas ............................................................................................ 10

4. Caracterização e Dimensionamento da Força Axial no Parafuso de União da

Descarga Externa Dos Motores CF6-80C2 .................................................................. 12

4.1. Caracterização da Montagem ........................................................................ 12

4.1.1. Matéria Prima ............................................................................................. 15

4.1.2. Inconel 718 ................................................................................................. 15

4.1.3. Fabricação .................................................................................................. 16

4.1.4. Composição química .................................................................................. 16

4.1.5. Propriedades físicas ................................................................................... 17

4.1.6. Análise geométrica do parafuso de fixação do bocal de exaustão externo 20

4.2. Dimensionamento da Carga Axial .................................................................. 21

5. Conceitos Gerais ................................................................................................... 32

5.1. Parafusos ....................................................................................................... 32

5.1.1. Classificação dos Parafusos ....................................................................... 33

5.1.2. Padrões de Fios de Rosca ......................................................................... 34

vii

5.1.3. Dimensões dos fios de rosca ...................................................................... 38

5.2. Uniões parafusadas e incertezas envolvidas ................................................. 39

5.2.1. Força de agrupamento ............................................................................... 40

5.2.2. Deformações .............................................................................................. 41

5.3. Montagem ...................................................................................................... 43

5.3.1. Alinhamento ................................................................................................ 43

5.3.2. Interferência ................................................................................................ 43

5.3.3. Aplicação do torque .................................................................................... 44

5.3.4. Relaxamento em parafusos ........................................................................ 46

5.3.5. Interações elásticas .................................................................................... 50

5.3.6. Simulação de montagem da união parafusada .......................................... 52

6. ANÁLISE DOS RESULTADOS ............................................................................. 59

7. CONCLUSÃO ........................................................................................................ 61

Bibliografia .................................................................................................................... 62

viii

ÍNDICE DE FIGURAS

Figura 1 - Kit de Bocais de Exaustão para motores GE CF6-80C2: (1) Bocal de

Exaustão Interno Posterior; (2) Bocal de Exaustão Interno Anterior; (3) Bocal de

Exaustão Externo ........................................................................................................... 1

Figura 2 - Motor GE CF6-80C2 [1] ................................................................................. 4

Figura 3 - Cinco módulos do motor GE CF6-80C2: Fan, Core, Turbina de Alta Pressão

(HPT), Turbina de Baixa Pressão (LPT) e Caixa Acionadora de Acessórios (AGB) [2] . 5

Figura 4 - Rotor do compressor de baixa pressão (LPCR), estator do compressor de

baixa pressão (LPCS) e módulo do Fan (FM) [2] ........................................................... 6

Figura 5 - Compressor de Alta Pressão (HPC) [2] ......................................................... 6

Figura 6 - Câmara de Combustão (CC) [2] ..................................................................... 7

Figura 7 - Módulo da Turbina de Alta Pressão (HPT) [2] ............................................... 7

Figura 8 - Turbina de Baixa Pressão (LPT) [2] ............................................................... 8

Figura 9 - Módulo das Caixas de Acionamento de Acessórios [2] ................................. 9

Figura 10 - Fluxo de ar secundário (By-pass) no motor CF6-80C2 [2] ........................... 9

Figura 11 - Fluxo de ar primário no motor CF6-80C2 [2] .............................................. 10

Figura 12 - Motor CF6-80C2 na Célula de Testes do Banco de Provas GE CELMA, Rio

de janeiro [3] ................................................................................................................. 11

Figura 13 – Vista frontal do parafuso de fixação do bocal de exaustão externo -

SolidWorks© ................................................................................................................. 13

Figura 14 - Vista isométrica da porca de fixação do bocal de exaustão externo -

SolidWorks© ................................................................................................................. 13

Figura 15 - Modelo em geometria simplificada do bocal de exaustão externo -

SolidWorks© ................................................................................................................. 13

Figura 16 - Modelo em geometria simplificada do flange traseiro da turbina de baixa

pressão - SolidWorks© ................................................................................................. 14

Figura 17 - Montagem dos elementos da união parafusada em geometria simplificada -

SolidWorks© ................................................................................................................. 14

Figura 18 - Flange da união parafusada em destaque - SolidWorks© ......................... 15

Figura 19 - Parafuso de fixação do bocal de exaustão externo no flange do motor GE

CF6-80C2 [12] .............................................................................................................. 20

Figura 20 - Diagrama de corpo livre de uma união parafusada sob ação de carga

externa [7] ..................................................................................................................... 21

Figura 21 - Equação para cálculo do torque inicial ....................................................... 27

Figura 22 - Equação para definição do fator de torque K ............................................. 28

ix

Figura 23 - Simulação de carregamento estático no parafuso de fixação do bocal de

exaustão externo .......................................................................................................... 31

Figura 24 - Diferentes modelos de parafusos com diferentes aplicações [13] ............. 33

Figura 25 - Variados tipos de acionamentos empregados em parafusos [8] ............... 34

Figura 26 - Perfis de filetes e suas aplicações [10] ...................................................... 35

Figura 27 - Modelos de fios de rosca: UNJ (superior esquerdo); ACME (superior

direito); Whitworth (inferior esquerdo) & Buttress (inferior direito) [5] ........................... 36

Figura 28 - Diferenciação entre os formatos de raízes em fios de rosca UN [5] .......... 36

Figura 29 - Dimensões de projeto de fio de rosca [6] ................................................... 38

Figura 30 - Parafusos podem ter múltiplas entradas de fio de rosca [11] .................... 39

Figura 31 - Representação de uma união parafusada axial (superior) e uma união

parafusada cisalhante (inferior) [5] ............................................................................... 40

Figura 32 - Deformações elásticas fazem membros e parafusos acumularem energia

potencial, atuando como molas. [5] .............................................................................. 41

Figura 33 - As barras a esquerda mostram que apenas o parafuso de Inconel 718 seria

capaz de gerar, mesmo contra interferência, a força de agrupamento para 50% do

torque final [5]. .............................................................................................................. 44

Figura 34 - Sequência de aplicação do torque preliminar em cruz [5] ......................... 45

Figura 35 – Estima-se que apenas 10% de todo o trabalho aplicado no parafuso é

acumulado na forma de energia potencial [5] ............................................................... 46

Figura 36 - Contato entre as faces dos fios de rosca ocorre nas rugosidades

superficiais [5] ............................................................................................................... 47

Figura 37 - Diferença entre o diâmetro do furo e do parafuso [5] ................................. 48

Figura 38 - Relaxamento da tensão dos parafusos vs. Tempo [5] ............................... 48

Figura 39 - Relaxamento torcional incrementa a tensão axial [5] ................................. 49

Figura 40 - Reaplicação de torque 8 (oito) vezes aumentou em 33% a tensão quando

comparada a do primeira aplicação [5] ......................................................................... 49

Figura 41 - Comparação entre o alongamento dos parafusos imediatamente após o

aperto (x) e após todos terem sido apertados (o) [5] .................................................... 50

Figura 42 - Comparação entre o alongamento dos parafusos imediatamente após o

aperto (x) e após todos terem sido apertados (o) [5] .................................................... 51

Figura 43 - Comparação entre o alongamento dos parafusos após todos terem sido

apertados (o) [5] ........................................................................................................... 51

Figura 44 - Tensão equivalente de von-Misses em união parafusada composta pelos

flanges do bocal de exaustão externo e da estrutura da turbina fixados por 4 (quatro)

pares de parafusos e porcas dispostos à 90° - Ansys© ............................................... 54

x

Figura 45 - Tensões máxima e mínima em cada ponto de união seguindo sequência

de aperto - Ansys© ....................................................................................................... 54

Figura 46 - Energia de deformação em união parafusada composta pelos flanges do

bocal de exaustão externo e da estrutura da turbina fixados por 4 (quatro) pares de

parafusos e porcas dispostos à 90° - Ansys© .............................................................. 55

Figura 47 - Energia de deformação máxima e mínima em cada ponto de união

seguindo sequência de aperto - Ansys© ...................................................................... 55

Figura 48 - Tensão equivalente de von-Misses em união parafusada composta pelos

flanges do bocal de exaustão externo e da estrutura da turbina fixados por 4 (quatro)

pares de parafusos e porcas dispostos em furos subsequentes - Ansys© .................. 56

Figura 49 - Tensões máxima e mínima em cada ponto de união seguindo sequência

de aperto - Ansys© ....................................................................................................... 56

Figura 50 - Energia de deformação em união parafusada composta pelos flanges do

bocal de exaustão externo e da estrutura da turbina fixados por 4 (quatro) pares de

parafusos e porcas dispostos em furos subsequentes - Ansys© ................................. 57

Figura 51 - Energia de deformação máxima e mínima em cada ponto de união

seguindo sequência de aperto - Ansys© ...................................................................... 57

Figura 52 - bocal de Exaustão Externo içado por talha elétrica de corrente dificulta o

alinhamento dos flanges ............................................................................................... 59

Figura 53 - Dispositivo suporte de bocais de exaustão promove melhor alinhamento

entre os flanges ............................................................................................................ 61

xi

ÍNDICE DE TABELAS

Tabela 1 - Composição química da liga metálica Inconel 718 baseada nas

especificações AMS [9] ................................................................................................ 17

Tabela 2 - Constantes físicas da liga metálica Inconel 718 [9] ..................................... 18

Tabela 3 - Módulo de elasticidade para diversas temperaturas da liga metálica Inconel

718 [9] ........................................................................................................................... 18

Tabela 4 - Propriedades mecânicas da liga metálica Inconel 718 [9] .......................... 19

Tabela 5 - Fatores a e b de acordo com o tipo de acabamento superficial [6] ............. 23

Tabela 6 - Fator de confiabilidade Kc [6] ...................................................................... 24

Tabela 7 - Fator de fadiga Kf* de acordo com o Grau SAE ou Grau Métrico [6] .......... 25

Tabela 8 - Valor do fator de torque (K) calculado e da Força Inicial (Fi) aplicada ........ 28

Tabela 9 - Cálculo da constante de rigidez do parafuso (Kp) ....................................... 29

Tabela 10 - Cálculo da constante de rigidez dos membros da união (Km) .................. 29

Tabela 11 - Fator de carga do parafuso (Cp) ............................................................... 30

Tabela 12 - Carga externa estimada atuante na união parafusada [P(N)] ................... 30

Tabela 13 - Força axial total estimada [Fb(N)] à qual o parafuso está submetido ....... 30

Tabela 14 - Comparação entre os valores de tensão equivalente de von-Misses e de

energia de deformação entre os dois métodos de montagem ..................................... 57

xii

LISTA DE SÍMBOLOS E SIGLAS

HPT – Turbina de Alta Pressão

LPT – Turbina de Baixa Pressão

AGB – Caixa Motora de Acessórios

LPC – Compressor de Baixa Pressão

LPCR – Rotor do Compressor de Baixa Pressão

LPCS – Estator do Compressor de Baixa Pressão

FM – Módulo do Fan

HPC – Compressor de Alta Pressão

CC – Câmara de Combustão

RPM – Rotações Por Minuto

LPTRFRF – Flange Traseira da Turbina de Baixa Pressão

L - Mudança no comprimento (in., mm)

A - Área da seção transversal (in.², mm²)

L - Comprimento da seção (in., mm)

E - Módulo de elasticidade (psi, Gpa)

F - Força de tensão aplicada (lb, N)

K - Constante de rigidez do elemento (lb/in., N/mm)

Φk - Razão de rigidez ou o fator de carga da união (adimensional)

Kp - Rigidez do parafuso (lb/in., N/mm)

Km - Rigidez do membro (lb/in., N/mm)

Fi - Força inicial que age sobre o parafuso após a aplicação do torque

P - Carga externa que atua nos membros da união no sentido de separação dos

mesmos

Pb - Parcela da carga externa que é absorvida pelos parafusos

Fat - Força de atrito entre os membros da junta

xiii

At - Área de resistência à tração

Fb - Carga axial total agindo no parafuso

Sp - Tensão de prova do parafuso

Sy - Tensão de escoamento do parafuso

Sut - Tensão de ruptura ou limite de resistência à tração do parafuso

Se - Limite de resistência à fadiga do prafuso

Ka - Fator de acabamento superficial

Kb - Fator de modificação do tamanho

Kc - Fator de confiabilidade

Kd - Fator de temperatura

Ke - Fator de concentração de tensões

Kf* - Fator de fadiga para concentração de tensões em elementos filetados

Se’ - Limite de resistência à fadiga em condições laboratoriais

Cb - Fator de carga do parafuso

°F – Grau Farenheit

1

1. INTRODUÇÃO

GE CELMA Ltda é uma empresa certificada para realizar os procedimentos de

manutenção e reparo em motores aeronáuticos. É composta por sua sede localizada

em Petrópolis, Região Serrana do Estado do Rio de Janeiro, e um Banco de Provas no

bairro da Ilha do Governador, onde há uma célula de testes na qual os motores são

submetidos aos procedimentos descritos em manual e, caso aprovados, liberados

para que sejam utilizados nas aeronaves dos seus clientes.

Para que os motores sejam testados, faz-se necessária a instalação de diversas

ferramentas e acessórios, dentre os quais está o kit de descarga do motor, composto

pelos elementos Bocal de Exaustão Externo (Exhaust Nozzle) e Bocal de Exaustão

interno (Exhaust Center Body).

Figura 1 - Kit de Bocais de Exaustão para motores GE CF6-80C2: (1) Bocal de Exaustão Interno Posterior; (2) Bocal de Exaustão Interno Anterior; (3) Bocal de Exaustão Externo

O objetivo do kit de descarga é otimizar o fluxo de saída dos gases gerados no ciclo

termodinâmico, reduzindo as perdas de energia e ajudando a manter o empuxo

gerado pelo motor. Ele age como fator controlador para os gases de exaustão,

2

restringindo o fluxo através de um diâmetro fixo. Sua instalação se dá através do

sistema de fixação conjunto porca/parafuso.

Para o Bocal de Exaustão interno, há porcas fixas no próprio motor, fazendo-se

necessária apenas a aproximação e o aperto dos parafusos. Quanto ao Bocal de

Exaustão Externo, a fixação se dá na flange posterior da estrutura traseira da turbina

do motor, estando as porcas fixas na descarga e os parafusos aproximados e

torqueados.

Este trabalho tem o objetivo de iniciar um estudo sobre o desgaste prematuro

apresentado nos parafusos de fixação do Bocal de Exaustão Externo dos motores

General Electric modelo CF6-80C2. Para tanto, serão abordados conceitos

relacionados às uniões parafusadas que têm vínculo direto com a vida útil dos

parafusos. Além disso, as características geométricas do parafuso serão avaliadas e

uma estimativa da força axial suportada por ele durante a realização do teste do motor

será dimensionada a partir do valor de torque a ser aplicado na montagem, segundo

manual do fabricante.

3

2. MOTIVAÇÃO

O conjunto de fixação é formado pelo parafuso J644P10A e pela porca fixa

1313M35P01. O custo de aquisição desse par é de aproximadamente US$50,00 e, ao

multiplicarmos pelos 60 pares necessários para completar a instalação, obtemos um

custo total de US$3.000,00.

O torque recomendado em manual a ser aplicado nos parafusos durante a montagem

do kit de descarga está na faixa de 55-70 Lb.in (6,2-7,8 N.m). A experiência nos

mostra que, quando esta recomendação é obedecida, enfrentamos muitas dificuldades

durante a desmontagem, tendo sido registrados danos nos dois elementos do

conjunto, tais como: fios de rosca danificados, estrias da cabeça do parafuso

danificadas e rompimento da fixação das porcas, nos obrigando a substituí-los.

Especificamente sobre a porca fixa, é preciso levarmos em conta que a mesma é

presa ao Bocal de Descarga Externo por meio de rebites (duas unidades para cada

porca, totalizando 120 rebites). Assim, para realizar a substituição de uma dessas

porcas, faz-se necessária a desmontagem do Bocal de Descarga Externo, retirando o

item de operação e impedindo a continuidade da produção, aquisição de 2 rebites para

cada porca danificada, além dos rebites necessários para a remontagem do Exhaust

Nozzle.

Após essa breve análise do cenário econômico e operacional, faz-se clara a

oportunidade de estudo de caso a fim de encontrar uma solução para o desgaste

prematuro apresentado pelos parafusos. Por tanto, iniciaremos nossas análises,

embasados tecnicamente nos conhecimentos de engenharia mecânica em projetos de

máquinas, apresentando alguns dos conceitos mais relevantes envolvendo o

comportamento e as interações das uniões parafusadas durante as etapas de

montagem e de funcionamento.

4

3. BANCO DE PROVAS E O MOTOR AERONÁUTICO GE

CF6-80C2

Este capítulo apresentará as principais características do motor aeronáutico fabricado

pela compania General Electric, modelo GE CF6-80C2. A intenção é expor o seu

funcionamento básico e uma breve explicação do modo como é realizado o

procedimento de teste em Banco de Provas, oferecendo a familiarização necessária

para que exista o claro entendimento do problema estudado ao longo desse trabalho.

Figura 2 - Motor GE CF6-80C2 [1]

5

3.1. Módulos do motor

Os motores aeronáuticos testados no banco de provas da GE CELMA Ltda.

são do tipo turbo-fan, podendo ser divididos em cinco módulos: Fan, Core,

Turbina de Alta Pressão, Turbina de Baixa Pressão e Caixas de Acionamento

de Acessórios.

Figura 3 - Cinco módulos do motor GE CF6-80C2: Fan, Core, Turbina de Alta Pressão (HPT), Turbina de Baixa Pressão (LPT) e Caixa Acionadora de Acessórios (AGB) [2]

3.1.1. Módulo do Fan

O Fan é o primeiro módulo do motor e é composto pelo conjunto do Fan e pelo

Compressor de Baixa Pressão (LPC). O módulo do Fan é responsável por prover

cerca de 80 a 85% do empuxo total do motor e o faz através de uma ventoinha que,

por sua vez, encontra-se fixada ao eixo N1 do motor. Esse eixo, para o modelo CF6-

80C2, pode atingir cerca de 4000 rpm.

6

Figura 4 - Rotor do compressor de baixa pressão (LPCR), estator do compressor de baixa pressão (LPCS) e módulo do Fan (FM) [2]

3.1.2. Módulo do Core

O Core é composto pelo Compressor de Alta Pressão (HPC) e pela Câmara de

Combustão (CC); está localizado logo atrás do módulo do Fan e justo à frente dos

módulos das Turbinas. Sua função é prover os 15 a 20% de empuxo que completam o

empuxo total gerado pelo motor, mas também é responsável por fornecer torque ao

módulo de acionamento de acessórios do motor e da aeronave.

O HPC tem a função de comprimir o ar admitido, elevando a sua pressão sem elevar a

velocidade. Contando com 14 estágios, cada um composto por um disco de palhetas

rotoras que aceleram o ar e um disco de palhetas fixas que o direcionam e freiam, o

motor CF6-80C2 promove o aumento de pressão necessário para a realização do

processo termodinâmico convertendo energia cinética em energia piezométrica. A

razão de compressão atingida é da ordem de 32 vezes, entregando a massa de ar à

câmara de combustão com pressão aproximada de 460 psia e temperatura próxima

aos 1360°C. O eixo de N2 ao qual estão fixas as partes rotoras do HPC pode atingir

rotações da ordem de 14000 rpm.

Figura 5 - Compressor de Alta Pressão (HPC) [2]

7

O ar a altas pressão e temperatura é direcionado à Câmara de Combustão, na qual é

misturado ao combustível (Querosene de aviação) injetado pelos bicos injetores e,

após o centelhamento realizado pelos ignitores, inicia-se a combustão. Os gases

serão agora direcionados ao módulo da Turbina de Alta Pressão (HPT).

Figura 6 - Câmara de Combustão (CC) [2]

3.1.3. Módulo da Turbina de Alta Pressão

A Turbina de Alta Pressão (HPT) fica localizada logo atrás da Câmara de Combustão

e à frente da Turbina de Baixa Pressão (LPT). A HPT é composta por 2 estágios, cada

um contendo uma parte rotativa (disco de palhetas) e uma parte estatora. A função da

HPT é converter as energias térmica e piezométrica dos gases vindos da Câmara de

Combustão em trabalho mecânico, acionando o HPC e, consequentemente, o módulo

de acionamento de acessórios.

Figura 7 - Módulo da Turbina de Alta Pressão (HPT) [2]

8

3.1.4. Módulo da Turbina de Baixa Pressão

A Turbina de Baixa Pressão (LPT) é o último módulo da sequência e fica localizada

logo atrás da HPT. A LPT é composta por 4 estágios, também com uma parte rotativa

(disco de palhetas) e uma parte estatora em cada, e está ligada ao eixo N1, sendo sua

função aproveitar o restante da energia dos gases remanescentes da HPT para prover

movimento ao primeiro módulo, composto por Fan e LPC.

Figura 8 - Turbina de Baixa Pressão (LPT) [2]

É importante ressaltarmos que a união parafusada em questão nesse trabalho envolve

a última flange da carcaça da turbina de baixa pressão (LPTRFRF – Low Pressure

Turbine Rear Frame Rear Flange). É nesta flange em que passamos os parafusos

para a fixação do bocal de exaustão externo.

3.1.5. Módulo das Caixas de Acionamento de Acessórios

(Accessory Drive)

Está localizada abaixo do Core e atrás do Fan; é composto por três caixas de

engrenagens (entrada, transferência e acessórios) e por dois eixos de engrenagens

cônicas (radial e horizontal). A função do módulo é transferir potência do motor para os

próprios acessórios e para a aeronave, mas também transfere potência no sentido

oposto – vindo da aeronave para o motor.

9

Figura 9 - Módulo das Caixas de Acionamento de Acessórios [2]

3.2. Fluxo de ar e empuxo

Como citado anteriormente, de 80 a 85% do empuxo gerado pelo motor é proveniente

da aceleração do fluxo de ar secundário (By-pass) gerado pelo módulo do fan. Os

outros 15 a 20% são gerados pelos módulos da HPT e LPT, liberando o fluxo de ar

primário no interior dos bocais de exaustão do motor.

Levando-se em consideração que os motores CF6-80C2 geram, em regime de

potência máxima, cerca de 60.000 lbf (267 KN) de empuxo, podemos afirmar com

base nos valores percentuais já citados, que o fluxo de ar primário é responsável por

40 a 53,4 KN de empuxo, enquanto que o fluxo de ar secundário gera de 213 a 227

KN.

Figura 10 - Fluxo de ar secundário (By-pass) no motor CF6-80C2 [2]

10

Figura 11 - Fluxo de ar primário no motor CF6-80C2 [2]

Apesar de este trabalho não contemplar a análise do impacto do escoamento do ar na

união parafusada, é importante deixar claro que o fluxo de ar que nos interessa é o

primário e, dessa forma, devemos manter os valores de empuxo gerado por este em

mente. Eles serão importantes ao ajudar a julgar se a estimativa de força axial que

encontrada na análise dimensional é plausível ou não, agindo como guia para os

cálculos.

3.3. Banco de Provas

Quando um motor é removido da asa de um avião, seja por apresentar alguma falha

ou por ter atingido o número de ciclos (corresponde a uma decolagem e uma

aterrisagem) que exige procedimentos de manutenção, ele é enviado para uma oficina

como a da GE CELMA Ltda.

Após receber o motor e executar todos os procedimentos de troca, reparos e ajustes

necessários regidos pelos manuais, ele é enviado para um Banco de Provas. Este, por

sua vez, é um local que oferece ambiente controlado e instrumentação adequada para

que seja possível avaliar o desempenho do motor através de testes.

Para executar o teste de um motor, faz-se necessária a instalação de algumas

ferramentas, dentre as quais estão os Bocais de Exaustão Interno e Externo. A partir

do término das instalações, o motor é levado para uma Célula de Testes, na qual é

acionado e testado em diferentes regimes de potência previstos nos manuais,

simulando todas as condições possíveis de se enfrentar durante voo.

11

Figura 12 - Motor CF6-80C2 na Célula de Testes do Banco de Provas GE CELMA, Rio de janeiro [3]

As situações de voo que representam maior exigência do motor são decolagem -

quando a aeronave precisa utilizar o empuxo para ganhar energia potencial - e

arremetida - quando um pouso é impedido de acontecer e a situação precisa ser

revertida rapidamente. Em ambos os casos o motor é submetido ao regime de

máxima potência, pois só assim gera o empuxo necessário para a movimentação da

aeronave.

Durante o teste em Banco de Provas, o motor é mantido em potência máxima durante

5 (cinco) minutos – mais que o dobro do tempo de decolagem – e é submetido a um

teste transiente, no qual o operador deve acelerar o motor desde o regime de 15% da

rotação máxima do eixo N1 até o de 95% em apenas 1 (um) segundo e mantido por

poucos segundos, sendo rapidamente conduzido ao regime mais fraco de Máximo

Contínuo – essa etapa simula a situação de arremetida. Essas são duas etapas que

nos interessam muito, porque é nesses momentos que a união parafusada discutida

neste trabalho é submetida ao esforço máximo. No entanto, consideraremos apenas o

teste de decolagem para estimar o tempo de permanência em máxima potência, visto

que os poucos segundos do teste de arremetida representam muito pouco

comparados ao tempo total.

É durante os 5 (cinco) minutos que o fluxo de ar primário está promovendo o empuxo

de cerca de 40 a 53,4 KN, com o ar passando entre os Bocais de Exaustão Interno e

12

Externo, gerando uma quantidade de carga externa que traciona os parafusos na

direção axial. Tentaremos estimar essa quantidade mais a frente deste trabalho.

Após a conclusão do teste, em caso de aprovação do motor, o mesmo é despreparado

e inspecionado uma última vez para que possa retornar ao cliente e novamente ser

instalado em uma aeronave. Caso o motor apresente alguma falha e seja considerado

inapto a voar, o mesmo retorna à linha de manutenção para retrabalho.

4. Caracterização e Dimensionamento da Força Axial no

Parafuso de União da Descarga Externa Dos Motores

CF6-80C2

Neste capítulo faremos a aplicação dos conceitos vistos até aqui sobre parafusos em

um modelo específico. Sua função é agir como elemento de união da descarga

externa conectada ao flange traseiro da turbina de baixa potência dos motores

aeronáuticos CF6-80C2 da General Electric. (Bickford) (GE Celma)

Conforme explicitado no início deste trabalho, este elemento apresentou alguns sinais

de desgaste prematuro, tais como: deformações permanentes nos fios de rosca e na

cabeça do parafuso. Dessa forma, tomada a decisão de estudar o problema, este

capítulo apresentará, também, uma estimativa da força suportada pelo parafuso

durante a instalação e execução do teste do motor. O intuito é oferecer um valor para

que possamos iniciar a avaliação da causa raiz. Posteriormente, complementaremos

os estudos teóricos e os validaremos por meio de simulações executadas no software

ANSYS©.

4.1. Caracterização da Montagem

Parafuso de Fixação do Bocal de Exaustão Externo - J644P10A

Quantidade: 60

13

Figura 13 – Vista frontal do parafuso de fixação do bocal de exaustão externo - SolidWorks©

Porcas Fixas do Bocal de Exaustão Externo –1313M35P01

Quantidade: 60

Figura 14 - Vista isométrica da porca de fixação do bocal de exaustão externo - SolidWorks©

Bocal de Exaustão Externo –1313M47G01

Quantidade: 1

Figura 15 - Modelo em geometria simplificada do bocal de exaustão externo - SolidWorks©

Flange Traseira da Turbina de Baixa Pressão

Quantidade: 1

14

Figura 16 - Modelo em geometria simplificada do flange traseiro da turbina de baixa pressão - SolidWorks©

Montagem dos elementos da união parafusada

Figura 17 - Montagem dos elementos da união parafusada em geometria simplificada - SolidWorks©

15

Figura 18 - Flange da união parafusada em destaque - SolidWorks©

4.1.1. Matéria Prima

A matéria prima utilizada na fabricação dos elementos da montagem é a mesma para

todos eles. Isso se deve ao fato de serem submetidos à condições de trabalho severas

envolvendo altos esforços à elevadas temperaturas, fazendo-se necessária a seleção

de uma liga metálica capaz de suportar tal ambiente.

A seleção do material é um dos passos mais importantes nos projetos de engenharia.

São as características dele que permitirão o prolongamento da vida útil de uma união

parafusada, como no caso. Sendo assim, descreveremos, a seguir, algumas das

características mais importantes da liga metálica Inconel 718.

4.1.2. Inconel 718

Inconel 718 é o nome comercial para uma liga metálica equivalente às especificadas

pelas normas abaixo [9]:

UNS N07718 (Unified Numbering System – oferece um sistema de correlação

entre os metais e ligas usados internacionalmente; criado em parceria entre a

Society of Automotive Engineers (SAE) e American Society for Testing and

Materials (ASTM) tem uso predominante na América do Norte). A letra “N” que

antecede a numeração representa o metal base da liga: Níquel.

AWS 013 – America Welding Society: missão de avançar a ciência, tecnologia

e aplicação de soldas, bem como processos de união e corte, através da

padronização de procedimentos.

16

4.1.3. Fabricação

Sua fabricação obedece às recomendações estabelecidas pelas medidas normativas

AMS5662, AMS 5663, AMS 5832, AMS 5962 e ASTM B637, o que garante que a liga

produzida terá suas características o mais similares possível, independentemente de

onde for fabricada. A colaboração das indústrias nesse sentido é de extrema

importância, ainda mais quando tratamos de uma liga metálica cujas aplicações são

muito específicas e envolvem a segurança da operação.

São dois os tipos de tratamento térmico empregados na obtenção da liga metálica

INCONEL 718 [9]:

Recozimento/Têmpera a 1700-1850ºF seguido por rápido resfriamento,

normalmente em água; endurecimento a 1325ºF durante 8 horas, sucedido por

resfriamento em fornalha a 1150ºF e envelhecido à mesma temperatura

durante 18 horas com posterior resfriamento a ar em temperatura ambiente.

Recozimento/Têmpera a 1900-1950ºF seguido por rápido resfriamento,

normalmente em água; endurecimento a 1400ºF durante 10 horas, sucedido

por resfriamento em fornalha a 1200ºF e envelhecido à mesma temperatura

durante 20 horas com posterior resfriamento a ar em temperatura ambiente.

O primeiro método citado é considerado o tratamento térmico ótimo, oferecendo a

melhor combinação entre ruptura, ruptura em entalhes e ductilidade. Além disso,

confere à liga os maiores valores de tensão de escoamento e resistência à tração e

fadiga em temperatura ambiente. Grande parte do desenvolvimento da liga teve sua

atenção voltada para a obtenção do tratamento térmico adequado visando,

justamente, aperfeiçoar as propriedades mecânicas. O material produzido nessa

condição atinge os requerimentos mínimos da tabela abaixo.

4.1.4. Composição química

Sua composição química é baseada no Níquel e Cromo e a participação desses

elementos é fundamental para a melhoria da resistência à corrosão apresentada. O

Níquel evita a adesão de fortes oxidantes e de compostos que apresentam altos

índices de acidez e alcalinidade, sendo útil também no combate às trincas causadas

pelos íons de cloro (processo conhecido por stress de corrosão). Quanto ao Cromo,

17

este é responsável por proteger contra os ataques de óxidos e, em especial,

compostos de enxofre [9].

Há ainda um terceiro importante elemento na composição da liga: o Molibdênio tem a

função de aprimorar a resistência ao desgaste por “pitting”. As porcentagens de cada

elemento encontrado na composição química da Liga Metálica Inconel 718 podem ser

analisadas na tabela abaixo [9].

Tabela 1 - Composição química da liga metálica Inconel 718 baseada nas especificações AMS [9]

Limities de Composição Química, %

Níquel + Cobalto 50.00 - 55.00

Cromo 17.00 - 21.00

Ferro Equilibrado

Nióbio + Tântalo 4.75 - 5.50

Molibdênio 2.80 - 3.30

Titânio 0.65 - 1.15

Alumínio 0.20 - 0.80

Cobalto 1.00 Máx

Carbono 0.08 Máx

Manganês 0.35 Máx

Silício 0.35 Máx

Fósforo 0.015 Máx

Enxofre 0.015 Máx

Boro 0.006 Máx

Cobre 0.30 Máx

As vantagens conferidas por essa composição são, como exposto anteriormente,

grande resistência à corrosão para temperaturas que variam desde -423ºF a 1300ºF,

mas também alta resistência a esforços de tração e torção. Além disso, apresenta

excelente soldabilidade e grande resistência à formação de rachaduras pós-solda.

4.1.5. Propriedades físicas

A liga endurecida e envelhecida pode ser fabricada prontamente, mesmo que em

formatos complexos. A facilidade e a economia com que são fabricados aliados às

boas resistências de tração, fadiga, fluência e ruptura, resultaram na sua adoção para

variadas aplicações tais como: foguetes, carcaças, partes metálicas de motores a gás

18

aeronáuticos e terrestres, e tanques criogênicos. Também é usado na fabricação de

parafusos e componentes de instrumentação. Algumas das propriedades físicas

atingidas podem ser encontradas nas figuras 34, 35 e 36 a seguir [9].

Tabela 2 - Constantes físicas da liga metálica Inconel 718 [9]

Constantes Físicas

Densidade, lb/in³

Temperado 0.296

Temperado e envelhecido 0.297

Faixa de fusão

°F 2300 - 2437

°C 1260 - 1336

Calor esecífico a 70°F, Btu/lb°F

0.104

Temperatura de Curie, °F

Material temperado < -320

Material temperado e envelhecido

-170

Permeabilidade a 200 oersted e 70°F

Material temperado 1.0013

Material temperado e envelhecido

1.001

Tabela 3 - Módulo de elasticidade para diversas temperaturas da liga metálica Inconel 718 [9]

Módulo de Elasticidade, E *¹

Temperatura, °F Módulo de Elasticidade, ksi x 10³ Razão de

Poisson*² Módulo de Young Módulo Torsional

70 29.0 11.20 0.294

100 28.8 11.20 0.291

200 28.4 11.00 0.288

300 28.0 10.90 0.28

400 27.6 10.80 0.28

500 27.1 10.60 0.275

600 26.7 10.50 0.272

700 26.2 10.30 0.273

800 25.8 10.10 0.271

19

900 25.3 9.90 0.272

1000 24.8 9.70 0.271

1100 24.2 9.50 0.276

1200 23.7 9.20 0.283

1300 23.0 8.9 0.292

1400 22.3 8.5 0.306

1500 21.3 8.1 0.321

1600 20.2 7.6 0.331

1700 18.8 7.1 0.334

1800 17.4 6.5 0.341

1900 15.9 5.8 0.366

2000 14.3 5.1 0.402

*¹ Laminado à quente e tratado térmicamente: 1800°F/1hr, 1325°F/8hr, 20°F/hr a 1150°F, mantido para envelhecimento por tempo total de 18hr. *² Razão de Poisson computada por [(E-2G)/2G], onde E é o módulo de Young e G é o Módulo torsional

Tabela 4 - Propriedades mecânicas da liga metálica Inconel 718 [9]

AMS 5662 e 5663 Barras, peças forjadas e anéis

Propriedade Temperatura ambiente 1200°F

Limite de resistência à tração, ksi

185 145

Limite de resistência ao escoamento (compensação de 0.2%), ksi

150 125

Alongamento em 2in., % 12 12

Redução de área, % 15 15

Dureza 331 BHN -

Tensão de prova:

Tensão, ksi - 100

Vida, hr - 23

Alongamento, % - 4

20

4.1.6. Análise geométrica do parafuso de fixação do

bocal de exaustão externo

Figura 19 - Parafuso de fixação do bocal de exaustão externo no flange do motor GE CF6-80C2 [12]

i. Geometria da cabeça: Duplo Sextavado (também chamado de

estriado);

ii. Geometria do pescoço: Cilíndrico;

iii. Geometria do corpo: Totalmente roscado com entrada simples

(nesse caso pode-se considerar a inexistência de pescoço);

iv. Geometria da extremidade: Cilíndrica;

v. Tipo de acionamento: Duplo (sextavado estriado);

vi. Tipo de rosca: Unificada UNJF – 3A com fios de rosca em acordo

com a norma AS8879;

vii. Passo: 28 fios por polegada ou 25,4/28 = ~ 0,91𝑚𝑚;

viii. Diâmetro nominal: Mínimo 0.2435(in.) - Máximo 0.2500(in.);

ix. Diâmetro de raiz: Mínimo 0.2041(in.) – Máximo 0.2088(in.);

x. Diâmetro primitivo: Mínimo 0.2243(in.) – Máximo 0.2268(in.);

21

xi. Avanço: 1𝑥(25,4/28) = ~ 0,91𝑚𝑚;

4.2. Dimensionamento da Carga Axial

O objetivo deste capítulo é estimar a carga axial total à qual é submetido um parafuso

cuja função é unir o bocal de exaustão externo ao flange traseiro da turbina de baixa

potência do motor CF6-80C2. Essa estimativa, no entanto, será baseada no torque

aplicado ao parafuso durante a montagem, conforme recomendação do manual,

fazendo-se uso das relações entre torque e tensão em parafusos.

O primeiro passo para que possamos iniciar os cálculos é entender quais são as

forças que atuam na montagem quando seus elementos estão sujeitos à ação de

forças externas. Faremos isso com a ajuda do diagrama de corpo livre representado

na figura 48 logo abaixo.

Figura 20 - Diagrama de corpo livre de uma união parafusada sob ação de carga externa [7]

Onde,

Fi: é a força inicial que age sobre o parafuso após a aplicação do torque,

sendo a responsável por garantir a força de agrupamento da união;

P: é a carga externa que atua nos membros da união no sentido de

separação dos mesmos;

Pb: é a parte da carga externa que é absorvida pelos parafusos;

Fat: é a força de atrito entre os membros da junta

22

O valor da carga axial total que buscamos é resultado da soma das cargas parciais Fi

e Pb; nós a chamaremos de Fb. Para este cálculo, será necessário que tenhamos

algumas propriedades relativas ao objeto de estudo, tais como [6]:

Área de resistência à tração (At): é a área calculada utilizando a média entre

os diâmetros primitivo e de raiz. Assim, utilizando-se os valores máximos para

cada um, seja 𝑑𝑚 = (𝑑𝑝 + 𝑑𝑟)/2 = (0.2500 + 0.2088)/2

𝑫𝒎 = 𝟎. 𝟐𝟐𝟗𝟒 𝒊𝒏. = 𝟓, 𝟖𝟐𝟔𝟖 𝒎𝒎

Logo, sendo a área 𝐴𝑡 = 𝜋 ∗ (𝐷𝑚^2)/4 = 𝜋 ∗ (5,8268^2)/4

𝑨𝒕 = 𝟐𝟔, 𝟕𝒎𝒎²

Tensão de prova (Sp): é a carga máxima suportada sem que haja

deformação.

𝑺𝒑 = 𝟏𝟎𝟎𝟎𝟎𝟎 (𝒑𝒔𝒊) = 𝟔𝟖𝟗, 𝟓 (𝑴𝑷𝒂)

Tensão de escoamento (Sy): é a tensão a partir da qual inicia-se o processo

de deformação plástica.

𝑺𝒚 = 𝟏𝟐𝟓𝟎𝟎𝟎 (𝒑𝒔𝒊) = 𝟖𝟔𝟏, 𝟗 (𝑴𝑷𝒂)

Tensão de ruptura ou limite de resistência à tração (Sut): é a tensão para a

qual ocorre a falha/ruptura do material.

𝑺𝒖𝒕 = 𝟏𝟒𝟓𝟎𝟎𝟎 (𝒑𝒔𝒊) = 𝟗𝟗𝟗, 𝟕 (𝑴𝑷𝒂)

23

Cálculo do Limite de Resistência à Fadiga (Se): é a tensão máxima que

pode ser exercida sobre o elemento, ciclicamente, sem que o mesmo

apresente falha por fadiga [6].

𝑺𝒆 = 𝑲𝒂 ∗ 𝑲𝒃 ∗ 𝑲𝒄 ∗ 𝑲𝒅 ∗ 𝑲𝒆 ∗ 𝑲𝒇 ∗ 𝑺𝒆’

Onde,

Ka é o fator de acabamento superficial calculado por:

𝑲𝒂 = 𝒂 ∗ 𝑺𝒖𝒕^𝒃

em que a e b são coeficientes em acordo com a tabela abaixo e variam com o

acabamento superficial oferecido ao material ao final do processo de fabricação.

Tabela 5 - Fatores a e b de acordo com o tipo de acabamento superficial [6]

Acabamento Superficial Fator a

Fator b

(kpsi) (MPa)

Retificado 1,34 1,58 -0,085

Usinado ou Laminado à frio 2,70 4,51 -0,265

Laminado à quente 14,40 57,70 -0,718

Forjado 39,90 272,00 -0,995

Sabendo que o parafuso em questão foi laminado à quente,

𝑲𝒂 = 𝟓𝟕, 𝟕 ∗ 𝟗𝟗𝟗, 𝟕𝟒 ^ (−𝟎, 𝟕𝟏𝟖)

𝑲𝒂 = 𝟎, 𝟒𝟎𝟓

24

Kb é o fator de modificação do tamanho. Visto que estamos

considerando apenas o carregamento axial no parafuso, não há efeito

pelo tamanho. Assim,

𝑲𝒃 = 𝟏

Kc é o fator de confiabilidade e indica a probabilidade de o elemento

trabalhar sem apresentar falhas durante o período estabelecido em

projeto. Seu valor pode ser encontrado na tabela da figura 40.

Tabela 6 - Fator de confiabilidade Kc [6]

Confiabilidade (%) Kc

50 1

90 0,897

95 0,868

99 0,814

99,9 0,753

99,99 0,702

99,999 0,659

99,9999 0,62

Levando-se em consideração que o parafuso em questão é adotado pela indústria

aeronáutica, na qual os índices de segurança e, por tanto, confiabilidade, devem ser

obrigatoriamente elevados, assumiremos 99,99% de confiança e, assim,

𝑲𝒄 = 𝟎, 𝟕𝟎𝟐

Kd é o fator de temperatura e, após a realização de 145 testes em 21

diferentes composições de ligas de aço-carbono, chegou-se ao

seguinte polinômio de 4º grau, cuja validade se restringe à seguinte

faixa de temperatura: 𝟕𝟎º𝑭 ≤ 𝑻𝒇 ≤ 𝟏𝟎𝟎𝟎º𝑭

𝑲𝒅 = 𝟎, 𝟗𝟕𝟓 + 𝟎, 𝟒𝟑𝟐(𝟏𝟎−𝟑)𝑻𝒇 – 𝟎, 𝟏𝟏𝟓(𝟏𝟎−𝟓)𝑻𝒇𝟐 + 𝟎, 𝟏𝟎𝟒(𝟏𝟎−𝟖)𝑻𝒇𝟑– 𝟎, 𝟓𝟗𝟓(𝟏𝟎^

− 𝟏𝟐)𝑻𝒇^𝟒

25

Utilizaremos o valor de Kd para a temperatura média obtida através da sonda T5.5:

𝑻𝟓. 𝟓𝒎 = 𝟗𝟓𝟕, 𝟑𝟑°𝑭

Assim,

𝑲𝒅 = 𝟎, 𝟕𝟒𝟕

Ke é o fator de concentração de tensões e pode ser calculado pela

seguinte equação:

𝑲𝒆 = 𝟏 / 𝑲𝒇 ∗

Onde Kf* é o fator de fadiga para concentração de tensões em elementos filetados e

pode ser retirado da tabela da figura 41 abaixo.

Tabela 7 - Fator de fadiga Kf* de acordo com o Grau SAE ou Grau Métrico [6]

Grau SAE Grau

Métrico

Processo de fabricação

Laminados Cortados Filetados

0 a 2 3.6 a 5.8 2.2 2.8 2.1

4 a 8 6.6 a 10.9

3 3.8 2.3

Para que possamos fazer uso desses dados, será necessário que calculemos o grau

métrico do parafuso em questão a partir dos valores de tensão de ruptura (Sut) e

tensão de escoamento (Sy).

O código de grau métrico é composto por dois algarismos separados por um ponto;

este ponto não significa um número decimal, mas apenas a separação entre os

algarismos do código.

26

O primeiro algarismo é o resultado da divisão da tensão de ruptura (Sut) por 100.

Logo,

𝟗𝟗𝟗, 𝟕𝟒

𝟏𝟎𝟎 = 𝟗, 𝟗𝟗𝟕𝟒 = ~ 𝟏𝟎

O segundo algarismo é o resultado da divisão da tensão de escoamento (Sy) por dez

vezes o primeiro algarismo. Por tanto,

𝟖𝟔𝟏, 𝟖𝟓

(𝟏𝟎 ∗ 𝟏𝟎) = 𝟖, 𝟔𝟏𝟖𝟓 = ~ 𝟗

Assim, podemos dizer que o parafuso em questão se trata de um elemento grau

métrico 10.9, de forma que, sendo esse laminado e seguindo os valores da tabela,

podemos assumir

𝑲𝒇 ∗ = 𝟑

Com isso, podemos agora estimar o valor de Ke como,

𝑲𝒆 =𝟏

𝟑 = ~ 𝟎, 𝟑𝟑𝟑

Se’ é o limite de resistência à fadiga em condições laboratoriais, nas

quais os corpos de prova são cuidadosamente preparados, de modo

que seu valor dificilmente é reproduzido em condições de uso normais.

Esse é o motivo de calcularmos Se utilizando os fatores de

modificação.

27

Para o cálculo de Se’ utilizaremos um polinômio aproximado para aços que sofrem

ação de força axial, apenas.

𝑺𝒆’ = [ 𝟎, 𝟓𝟔𝟔 – 𝟗, 𝟔𝟖 ∗ ( 𝟏𝟎^ − 𝟓 ) ∗ 𝑺𝒖𝒕 ] ∗ 𝑺𝒖𝒕

𝑺𝒆’ = [ 𝟎, 𝟓𝟔𝟔 – 𝟗, 𝟔𝟖 ∗ ( 𝟏𝟎−𝟓) ∗ 𝟗𝟗𝟗, 𝟕𝟒 ] ∗ 𝟗𝟗𝟗, 𝟕𝟒

𝑺𝒆’ = 𝟒𝟔𝟗, 𝟏 𝑴𝑷𝒂

Podemos agora, combinando todos os fatores e o limite de resistência à fadiga Se’,

calcular o valor de Se.

𝑺𝒆 = 𝑲𝒂 ∗ 𝑲𝒃 ∗∗ 𝑲𝒄 ∗ 𝑲𝒅 ∗ 𝑲𝒆 ∗ 𝑺𝒆’

𝑺𝒆 = 𝟎, 𝟒𝟎𝟓 ∗ 𝟏 ∗ 𝟎, 𝟕𝟎𝟐 ∗ 𝟎, 𝟕𝟒𝟕 ∗ 𝟎, 𝟑𝟑𝟑 ∗ 𝟒𝟔𝟗, 𝟏

𝑺𝒆 = 𝟑𝟑, 𝟐 𝑴𝑷𝒂

Cálculo da força inicial (Fi): Para o cálculo da força inicial que atua no

parafuso logo após a aplicação do torque, faremos uso da equação da figura

42. A fim de obter um valor mais preciso para a força inicial, calculou-se

também o valor do fator de torque K [6].

Figura 21 - Equação para cálculo do torque inicial

28

Onde,

Figura 22 - Equação para definição do fator de torque K

Os resultados para K e o valor da força inicial calculados encontram-se na

figura 44.

Tabela 8 - Valor do fator de torque (K) calculado e da Força Inicial (Fi) aplicada

K1= 0,96

Fi(N)= 1294,8

Determinação das constantes Kp e Km: Para que possamos,

posteriormente, calcular o valor da carga Pb absorvida pelo parafuso,

precisamos conhecer os valores das constantes de rigidez dos membros (Km)

e dos parafusos (Kp) [6].

𝑷𝒃 = 𝑲𝒃 ∗ 𝜹𝒃 (X)

Onde, da Lei de Hook,

𝜹𝒃 = (𝑭 ∗ 𝑳) / (𝑨 ∗ 𝑬)

E, por tanto,

𝑲𝒑 = (𝝅 ∗ 𝒅² ∗ 𝑬) / (𝟒 ∗ 𝒍)

29

Podemos, assim, verificar o resultado na figura 45,

Tabela 9 - Cálculo da constante de rigidez do parafuso (Kp)

EINC718(1100ºF)= 1,7 ∗ 105 MPa

ljunta= 11.2 mm

Kp= 4,8 ∗ 105 MPa.mm

Sabendo que o conjunto de fixação porca e parafuso é fabricado com o mesmo

material, pode-se assumir que,

𝑲𝒎 = 𝟖 ∗ 𝑲𝒑

Assim,

Tabela 10 - Cálculo da constante de rigidez dos membros da união (Km)

Km= 3,9 ∗ 106 MPa.mm

Cálculo do fator de carga (Cp): O fator de carga é o valor que determinará a

quantidade de carga externa absorvida pelo parafuso e pode ser calculado em

função das constantes de rigidez Kp e Km [6].

𝑪𝒑 =𝑲𝒑

𝑲𝒑 + 𝑲𝒎

Por tanto,

30

Tabela 11 - Fator de carga do parafuso (Cp)

Fator de Carga

Cp= 0.1

Cálculo da carga externa atuante (P): Sabendo que o tipo de carregamento

ao qual a união parafusada está submetida é do tipo variável e conhecendo o

alto valor da razão 𝑆𝑢𝑡/𝑆𝑒, podemos assumir que [6]:

𝑭𝒊 = 𝑨𝒕 ∗ 𝑺𝒖𝒕 –𝑪𝒃 ∗ 𝒏 ∗ 𝑷

𝟐 ∗ (𝑺𝒖𝒕/𝑺𝒆 + 𝟏)

E assim, utilizando o menor coeficiente de segurança indicado para parafusos, 𝒏 =

𝟏. 𝟓 , temos que:

Tabela 12 - Carga externa estimada atuante na união parafusada [P(N)]

P(N)= 9785,1

Cálculo da força atuante no parafuso (Fb): De posse do valor estimado

acima para a carga externa atuante, podemos chegar ao resultado da força

total sobre o parafuso somando a carga inicial (Fi) resultante do torque com a

parcela da carga externa absorvida por ele [6].

𝑭𝒃 = 𝑪𝒃 ∗ 𝑷 + 𝑭𝒊

Logo,

Tabela 13 - Força axial total estimada [Fb(N)] à qual o parafuso está submetido

Fb(N)= 2382,0

31

Validação da força Fb atuante no parafuso: Para que se possa dizer se o

valor encontrado através dos cálculos para a força total que atua nos parafusos

é aceitável, também foi executada uma simulação no software Ansys©.

Pode-se observar que o valor máximo de tensão encontrado – 284MPa – ainda

é bastante inferior ao limite de escoamento do material e também ao limite de

tensão de prova.

Figura 23 - Simulação de carregamento estático no parafuso de fixação do bocal de exaustão externo

Em outra simulação, realizada apenas para teste, foram necessários 9000N de

força para levar a tensão próxima a tensão de escoamento do parafuso.

32

5. Conceitos Gerais

A situação de desgaste prematuro abordada nesse trabalho, como já explicitada

anteriormente, se faz presente nos parafusos que unem o Bocal de Exaustão Externo

ao flange posterior da estrutura da turbina do motor GE CF6-80C2.

Naturalmente, a montagem é caracterizada como uma união parafusada, à qual é

imposta uma força inicial - através da aplicação de torque durante a montagem - e

uma carga externa - que surge quando o motor tem seu teste iniciado (o fluxo de ar

primário que passa entre os Bocais Interno e Externo gera uma força na direção axial

dos parafusos no sentido de tração, visto que a geometria destes busca extrair o

máximo empuxo da massa de ar deslocada. As forças na direção perpendicular ao

eixo dos parafusos não serão levadas em consideração nessa primeira abordagem;

consideraremos que na direção radial a resultante dos esforços é nula.)

Esse desgaste prematuro se apresenta na forma de danos nas cabeças dos

parafusos, deformações nos fios de rosca de ambos os parafusos e porcas fixas e, em

menor quantidade, deformações plásticas de alongamento nos parafusos.

A fim de que possamos iniciar as investigações sobre os motivos que cercam o

desgaste dos elementos, é importante salientar que, em uniões parafusadas, as

causas das falhas citadas acima não são relacionadas apenas a excesso de torque

aplicado na montagem ou excesso de carga externa durante operação. Muitos dos

problemas envolvem os processos que antecedem a aplicação do torque; ainda

durante a montagem, por exemplo, o correto alinhamento entre os membros da união

bem como a aplicação progressiva e uniforme da carga inicial promovem melhor

assentamento dos componentes e reduzem a tensão residual. Nas seções a seguir,

estudaremos esses processos e os motivos de influenciarem na qualidade final das

uniões parafusadas.

5.1. Parafusos

Este é o elemento para o qual dedicamos maior parte das atenções durante a fase de

projetos. Dimensões, geometria, material, tratamento térmico e temperatura de

operação são alguns dos fatores levados em consideração durante a escolha.

Como se pode observar na figura 26, há diversos tipos de parafusos comerciais,

suprindo as mais distintas aplicações, sejam de união não permanente de elementos

ou de transmissão de potência, transformando movimento angular em linear.

33

Figura 24 - Diferentes modelos de parafusos com diferentes aplicações [13]

5.1.1. Classificação dos Parafusos

Parafusos são elementos compostos por fios de rosca acompanhados de um

dispositivo que permita a aplicação de torque e, assim, configura-se o tipo de

acionamento. Suas classificações variam de acordo com formato da cabeça,

características do pescoço, corpo e extremidade. As classificações mais comuns são

[8]:

i. Geometria da cabeça: Sextavado, quadrado, oval ou borboleta entre outros

(Figura x);

ii. Geometria do pescoço: quadrado, cilíndrico, estriado ou cavado entre outros;

iii. Geometria do corpo: parcialmente ou totalmente roscado (nesse caso pode-

se considerar a inexistência de pescoço), diâmetro igual ou não ao do pescoço;

iv. Geometria da extremidade: taça, oval, cilíndrica ou cônica entre outros;

v. Tipo de acionamento: sextavado, quadrada, fenda, allen, torx, phillips, tri-

wing, torq-set ou spanner entre outras;

vi. Tipo de rosca: métrica ISO, unificada ou americana, withworth, quadrada,

ACME ou Buttress;

34

Figura 25 - Variados tipos de acionamentos empregados em parafusos [8]

5.1.2. Padrões de Fios de Rosca

O fio de rosca é o mais importante elemento dos parafusos, conferindo a estes a

capacidade de ser instalados, removidos e reinstalados quantas vezes forem

necessárias, ou seja, elementos de união não permanentes. Eles também afetam o

desempenho dos parafusos de acordo com o tipo de fio de rosca (Figura 26), classe,

geometria, técnica de fabricação empregada e características de assentamento,

definindo a resistência à tensão, afrouxamento e fadiga dos parafusos [8].

35

Figura 26 - Perfis de filetes e suas aplicações [10]

Alguns dos modelos de fios de rosca estão descritos abaixo [5]:

• ACME: utilizado para transmissão de potência, dada sua resistência a grandes

esforços;

• Buttress: utilizado quando o empuxo no parafuso ocorre em uma única direção;

• Withworth: padrão britânico por décadas incluía ângulo de 55º ao invés dos 60º

usuais e foi um dos primeiros a apresentar raiz arredondada. Foi substituído por uma

série ISO;

• UN/UNR (sistema inglês) ou MR (sistema métrico): rosca unificada básica

controlada pelas normas ASME utilizada nos Estados Unidos;

• UNJ (sistema inglês) ou MJ (sistema métrico): UN/UNR com pequenas alterações

que seguem as especificações militares em acordo com a MIL-S-8879 C. Padronizada

por ANSI/ASME quanto ao raio da raiz dos fios de rosca J;

36

Figura 27 - Modelos de fios de rosca: UNJ (superior esquerdo); ACME (superior direito); Whitworth (inferior esquerdo) & Buttress (inferior direito) [5]

A diferença entre as formas UN, UNR e UNJ consiste apenas do formato das raízes

dos dentes. Como podemos observar na imagem a seguir, a forma UN tem as raízes

planas ou pouco arredondadas (opcional). A forma UNR usa as raízes um pouco

arredondadas, enquanto que a UNJ exagera mais no arredondamento [5].

Figura 28 - Diferenciação entre os formatos de raízes em fios de rosca UN [5]

As formas dos fios de rosca se aplicam para qualquer tamanho de parafuso e, para

que seja possível identificá-lo, usamos as séries. Para o sistema unificado, por

exemplo, temos a já citada UNJ. O detalhamento do código pode ser visto abaixo [11].

37

.2500 – 28 UNJF – 3A Categoria 2

Onde,

.2500: indica o diâmetro nominal em polegadas;

28: indica o número de fios de rosca por polegada (é o passo do parafuso);

UN: indica o formato do filete;

J: indica que o raio de curvatura da raiz do fio de roscatem dimensão

controlada (aplicação militar, por exemplo);

F: indica que o fio de rosca é do tipo fino;

3: indica a classe em que se enquadra o fio de rosca;

A: indica que o fio de rosca é externo;

Categoria 2: é a categoria de desenho (usada quando requerida);

Para o sistema métrico, a nomenclatura empregada é descrita da seguinte maneira [6]:

M10 x 1.5 x 70 classe 5.8

Onde,

M indica que que as dimensões seguem a padronização métrica;

10 indica o diâmetro nominal do parafuso em milímetros;

1.5 indica o passo do fio de rosca em milímetros;

Classe 5.8 indica a classe do parafuso, sendo baseado nos valores das

tensões de ruptura e de escoamento;

É importante ressaltar que, independente das normas de fabricação seguidas para os

tipos de fios de rosca citados, todas são feitas seguindo a regra da mão direita: a

38

rosca é apertada quando giramos a mão direita no sentido horário e afrouxada quando

a giramos no sentido anti-horário.

5.1.3. Dimensões dos fios de rosca

Algumas dimensões precisam ser definidas para que possamos identificar qual o

modelo de fios de rosca mais aplicável para cada situação (Figura 31). Dentre elas,

estão [6]:

i. Passo: é a medida da distância entre dois fios de rosca adjacente na direção

paralela ao eixo do parafuso. No sistema imperial, é equivalente ao número de fios de

rosca por polegada;

ii. Diâmetro nominal: é o diâmetro externo da rosca do parafuso;

iii. Diâmetro de raiz: é o diâmetro medido na base/raiz do fio de rosca;

iv. Diâmetro primitivo: é o diâmetro de um cilindro imaginário, coaxial ao parafuso,

que corta os filetes no ponto em que a largura do filete é igual a distância entre dois

filetes.

v. Avanço: é a distância percorrida pelo parafuso quando seu eixo completa uma volta

completa (360º);

Figura 29 - Dimensões de projeto de fio de rosca [6]

Rosca Externa

Rosca Interna

39

Os parafusos podem ter, ainda, mais de uma entrada de fios de rosca, ou seja, um

corte de rosca ao lado do outro (Figura 30). A diferença se notará no avanço, cujo

valor será dado pelo produto entre o passo e o número de entradas existentes.

Figura 30 - Parafusos podem ter múltiplas entradas de fio de rosca [11]

5.2. Uniões parafusadas e incertezas envolvidas

Uniões parafusadas são montagens através das quais se unem dois ou mais

elementos com auxílio de parafusos que exercem forças de agrupamento. A união

pode conter não apenas os flanges dos membros a serem fixados, mas também há

montagens que fazem uso de juntas ou selos mecânicos que ajudarão a prevenir

contra vazamentos, aprimorando a qualidade do assentamento entre os elementos.

São infinitas as aplicações encontradas na indústria: vedação e selagem de

tubulações e válvulas, cabeçotes e tampas de motores, empilhamento de módulos em

motores aeronáuticos, são algumas delas.

As uniões parafusadas são classificadas de acordo com a direção da carga externa

que nelas atuam. Para o caso em que a força é exercida em uma direção paralela - ou

aproximadamente paralela - à direção axial dos parafusos, a união é dita tensionada.

Por outro lado, quando a força é exercida em direção perpendicular à direção axial dos

parafusos, a união é chamada cisalhante. Em determinados casos, as uniões podem

suportar forças combinadas em ambas as direções e, assim, são classificadas de

acordo com a direção da maior força em ação [5].

40

Figura 31 - Representação de uma união parafusada axial (superior) e uma união parafusada cisalhante (inferior) [5]

5.2.1. Força de agrupamento

Quando falamos de uniões tensionadas axialmente - e também em grande parte das

cisalhantes -, o propósito dos parafusos é gerar uma força de agrupamento entre os

dois ou mais elementos da junção. A força deve ser suficiente para evitar a separação

ou o vazamento entre os membros da junção. Para as demais uniões cisalhantes, a

função dos parafusos é atuar como um pino de segurança, contrapondo as forças

cisalhantes. Nesse caso, a força criada deve ser suficiente para evitar o

escorregamento entre os membros da junção.

A importante força de agrupamento surge durante a execução da montagem dos

membros e a aplicação do torque recomendado nos parafusos e porcas. Visto que a

aplicação do torque nada mais é do que submeter os parafusos à uma tensão inicial –

précarga -, entende-se que, uma das maneiras de se controlar a magnitude da força

de agrupamento é controlar todo o processo de montagem da união parafusada [5].

Durante a fase de projeto, o dimensionamento de sua magnitude tem como objetivo

uma tensão que seja capaz de manter a posição relativa entre os membros da junção.

Para isso, deve considerar as condições de serviço às quais a união será submetida:

vibrações, choques ou ciclos térmicos, por exemplo. O controle da magnitude e da

estabilidade da força são fundamentais para que se consiga prolongar a vida útil dos

componentes.

41

5.2.2. Deformações

É quando a précarga entra em ação que pode haver deformações como, por exemplo,

em alguns fios de rosca dos parafusos e das porcas. Em sua grande maioria, a

deformação sofrida pelos elementos se mantém no regime elástico. No entanto, para

os casos em que há utilização de peças novas, erros de dimensionamento ou até

mesmo erros de montagem, pode-se entrar no regime irreversível das deformações

plásticas.

Os membros da junção se deformam pouco devido à ação de compressão, enquanto

que os parafusos são alongados em maior quantidade. Na prática, ao serem

comprimidos e alongados, membros e parafusos atuam como molas, acumulando

energia potencial. É essa energia que permite aos parafusos manter a força de

agrupamento depois que remove-se a ferramenta de torque [5].

Figura 32 - Deformações elásticas fazem membros e parafusos acumularem energia potencial, atuando como molas. [5]

Tanto para parafusos quanto para os membros da união, podemos estimar as

deflexões a partir da aplicação da Lei de Hook, para a qual [6]:

𝑳 = 𝑭𝑳 / 𝑬𝑨

Onde,

L é a mudança de comprimento (in., mm)

A é a área da seção transversal (in.², mm²)

42

L é o comprimento da seção (in., mm)

E é o módulo de elasticidade (psi, Gpa)

F é a força de tensão aplicada (lb, N)

De posse dos valores de deflexão, é possível calcularmos um valor para a constante

elástica dos componentes:

𝑲 = 𝑭 / 𝑳

Onde,

K é a constante de rigidez do elemento (lb/in., N/mm)

L é a mudança de comprimento (in., mm)

F é a força de tensão aplicada (lb, N)

Quando identificamos as constantes de rigidez do parafuso e do membro, torna-se

possível calcular a razão de rigidez ou fator de carga da montagem. Este é um fator

importante para o dimensionamento da união parafusada e pode ser calculado como:

𝑪𝒃 = 𝑲𝒑 / (𝑲𝒑 + 𝑲𝒎)

Onde,

Cb é a razão de rigidez ou o fator de carga da união (adimensional)

Kp é a rigidez do parafuso (lb/in., N/mm)

Km é a rigidez do membro (lb/in., N/mm)

Durante o dimensionamento da união parafusada, deve-se levar em consideração os

fatores expostos acima. Quanto menos rígidos forem os parafusos utilizados na

43

fixação, mais energia eles serão capazes de armazenar e, consequentemente,

promoverão maior força de agrupamento. É mais vantajoso fazer uso de dois

parafusos mais finos e menos rígidos do que empregar apenas um que tenha maior

diâmetro e seja mais rígido.

Do ponto de vista dos membros, nós não esperamos que eles sejam menos rígidos

como os parafusos. Estes absorvem muito mais energia do que os membros e, por

isso, são considerados os elementos ativos da montagem.

5.3. Montagem

A montagem é uma etapa extremamente importante para o adequado funcionamento

das uniões parafusadas. É agora que a energia de um mecânico ou de uma

ferramenta é transformada em energia potencial que manterá os parafusos e os

membros sobtensão. Isso dá origem à necessidade de maior compreensão sobre os

procedimentos executados durante essa fase. Assim, faremos uma breve análise das

técnicas existentes [5].

5.3.1. Alinhamento

A primeira fase da montagem é o alinhamento que deve-se garantir entre as flanges.

Dessa forma, será possível inserir os parafusos sem que haja interferência e certificar

que todas as unidades avançaram a mesma distância em relação às porcas. Para que

isso aconteça devemos passar todos os parafusos e aplicar um torque preliminar em

todos eles; isso faz com que as faces dos flanges se ajustem, originando o

assentamento adequado [5].

5.3.2. Interferência

Outro ponto crítico ao qual se deve dedicar atenção é o subdimensionamento dos

furos que receberão os parafusos. Furos menores do que os parafusos originam

interferência que, por sua vez, representa energia perdida durante a passagem do

parafuso e aplicação do torque.

A figura 15 mostra, com as barras verticais à direita, a interferência gerada durante a

passagem de um parafuso de diâmetro 5/16” através de placas com espessuras de

¼”, ½” e ¾”. As barras verticais à esquerda mostram que, para um aperto de 50% do

objetivo final, apenas o parafuso de Inconel 718 apresentaria précarga suficiente para

44

ultrapassar o pior caso - ¾” - e ainda alguma força de agrupamento quando da

utilização das chapas de ¼” e ½” [5].

Figura 33 - As barras a esquerda mostram que apenas o parafuso de Inconel 718 seria capaz de gerar, mesmo contra interferência, a força de agrupamento para 50% do torque final [5].

5.3.3. Aplicação do torque

O somatório de todas as incertezas envolvendo a montagem de uma união parafusada

nos faz assumir que, mesmo com um valor de torque definido, é necessária muita

atenção durante o processo de aplicação deste para que os valores de tensão e de

força de agrupamento se mantenham adequados à necessidade. Normalmente,

termina-se uma montagem com menos précarga do que o planejado [5].

O problema é que, quando a précarga aplicada é baixa, o encontro com as forças

externas acima de um determinado valor pode gerar o alívio total dos membros da

junção, promovendo a separação entre eles. Por outro lado, quando as précargas

aplicadas são muito altas e a montagem se depara com a ação das forças externas, a

soma destas pode levar a eventos de falha tais como a ruptura de parafusos [6].

A fim de garantir maior homogeneidade nos valores de précarga atingidos em cada

parafuso, o torque preliminar deve ser aplicado seguindo as sequências de cruz ou

estrela (Figura 16), independente do formato da união. Para o caso em que existem

várias filas de parafusos, deve-se iniciar pelo centro e terminar pelas bordas [5].

Força de interferência

no furo

Tensão no parafuso

com 50% de torque

45

Além disso, o valor do torque preliminar aplicado deve ser de aproximadamente 1/3 do

torque final; aumenta-se sua magnitude até que se atinja o torque final na segunda ou

terceira aplicação, dependendo do material que compõe a junção [5].

Figura 34 - Sequência de aplicação do torque preliminar em cruz [5]

É importante dizer que uma boa estimativa é de que apenas 10% do trabalho

executado durante o torque é revertido em energia potencial para manter a tensão na

união (Figura 35); a grande maioria é perdida na forma de atrito, aumentando a

importância de outra técnica: a lubrificação ajuda a garantir que todos os pares

parafusos/porcas apresentarão atrito similar e perderão a mesma quantidade de

energia. A variação da energia perdida faz com que o cada parafuso armazene uma

quantidade diferente de energia potencial, exercendo diferentes tensões nos membros

da junção, promovendo falhas [5].

46

Figura 35 – Estima-se que apenas 10% de todo o trabalho aplicado no parafuso é acumulado na forma de energia potencial [5]

Há ainda fatores como a acessibilidade dos parafusos, o que pode influenciar na

qualidade do processo de montagem. O posicionamento da pessoa que executa a

montagem é crucial no modo como o torque é aplicado e isso se reflete na força de

agrupamento obtida.

5.3.4. Relaxamento em parafusos

Um desafio por trás das uniões parafusadas é a constante mudança de estado dos

seus elementos devido às adaptações às condições ambientes; muitas destas são

imprevisíveis, dificultando ainda mais o entendimento do seu funcionamento. Por

exemplo, ao término da execução do trabalho sobre os elementos, nos deparamos

com mais uma especificidade das uniões parafusadas: o relaxamento dos parafusos.

Os processos denominados assentamento e interação elástica, juntos, eliminam em

grande parte – ou até mesmo toda – a energia criada e acumulada durante o aperto

dos parafusos.

Depois de aplicarmos o torque nos parafusos ocorre o assentamento de fios de rosca

e também entre as faces de arruelas, porcas, parafusos e flanges. Quando as

unidades são inicialmente apertadas, o contato entre as faces em questão ocorre

através de pontos elevados nas superfícies (Figura 36) e, devido às altas pressões

Energia

acumulada

Perda por atrito nos

fios de rosca

Perda por atrito na

porca

Torção

47

geradas nesses locais, ocorre deformação plástica nos elementos até que a área seja

suficiente, reduzindo a pressão. Este processo tem maior presença nos fios de rosca

devido às pequenas áreas de contato, mas também é observado nas outras faces de

contato dos elementos, além de ser potencializado em partes novas, cujos pontos

elevados ainda não foram removidos pelo deslizamento entre faces [5].

Figura 36 - Contato entre as faces dos fios de rosca ocorre nas rugosidades superficiais [5]

Outros motivos para o relaxamento à curto prazo são [5]:

Poucos fios de rosca em contato, diminuindo a área que suporta a carga e

aumentando a pressão;

Elementos menos duros do que o necessário aumentam as deformações;

Parafusos flexionados durante aplicação do torque sentirão maior tensão em

um dos seus lados, promovendo a fluência plástica;

Porcas e cabeças dos parafusos não perpendiculares ao eixo axial diminuirão

a área de contato;

Encaixe ruim entre filetes e furos podem causar perda completa da précarga

(Figura 37);

Furos maiores do que o diâmetro do parafuso também reduzem a área de

contato entre flanges e porcas/cabeças dos parafusos (Figura 37);

Comprimento dos parafusos: os mais compridos relaxam menos do que os

mais curtos;

O número de membros na junção: quanto maior a quantidade, maior o

relaxamento;

48

Velocidade de aplicação do torque: quanto mais rápido, maior o relaxamento

porque os parafusos não têm tempo de relaxar durante o aperto;

Figura 37 - Diferença entre o diâmetro do furo e do parafuso [5]

Em geral, o relaxamento dos parafusos ocorre rapidamente após a aplicação do

torque e, com o assar do tempo, sua taxa de relaxamento diminui. O valor que

quantifica o relaxamento varia muito para cada situação, mas a figura 20 nos ajuda a

enxergar melhor o que acontece com a tensão nos parafusos à medida que o tempo

passa.

Figura 38 - Relaxamento da tensão dos parafusos vs. Tempo [5]

Outra importante forma de relaxamento é o torcional. Este também aparece durante o

aperto dos parafusos e, durante o relaxamento, termina por ajudar aumentando a

tensão na direção axial em cerca de 1% a 2% para uma diminuição de 50% do stress

torcional. A figura 39 abaixo ilustra a situação [5].

Tempo

Te

nsão

no

para

fuso

49

Figura 39 - Relaxamento torcional incrementa a tensão axial [5]

A fim de reduzir os efeitos dos modelos de relaxamento, o processo de aplicação de

torque nos parafusos e porcas deve ser realizado mais de uma vez durante a

montagem como especificado anteriormente. Através de um experimento é possível

construir um gráfico como o apresentado na figura 40, ilustrando o ganho de tensão na

união gerado pelo reaperto dos elementos [5].

Figura 40 - Reaplicação de torque 8 (oito) vezes aumentou em 33% a tensão quando comparada a do primeira aplicação [5]

Tensão

por tração

Tensão

por torção

Torque aplicado

50

Aplicando-se um torque de 150 lb-ft durante a montagem, foi necessário repeti-lo oito

vezes para que se conseguisse um ganho de aproximadamente 33% quando

comparados os valores medidos após o primeiro relaxamento e o oitavo [5].

5.3.5. Interações elásticas

O último efeito a ser exposto é o das interações elásticas. Até aqui já percebemos que,

quando se aplica o torque em cada um dos parafusos, mesmo que seguindo uma das

sequências de aperto recomendadas, todos os outros são influenciados.

Quando o segundo parafuso é apertado, o primeiro que fora apertado anteriormente

sofre um alívio de carga e, consequentemente, relaxa. O terceiro ajuda a reduzir a

tensão à qual estavam submetidos os parafusos 1 e 2, e assim por diante. O resultado

é que, ao final da montagem e após os relaxamentos, cada parafuso está submetido a

um valor diferente de précarga [5].

A melhor maneira de se observar esse fenômeno é através de um experimento. A

montagem é composta por 16 parafusos que unem dois membros e um selo, sendo os

parafusos apertados individualmente com variação de 180º. Os gráficos a seguir

(figuras 23, 24 e 25) apresentam os resultados medidos em uma montagem na qual o

torque fora aplicado em 3 etapas: na primeira foram aplicados 100 lb-ft, na segunda se

aplicou 200 lb-ft e na terceira 275 lb-ft. A ilustração representa a diferença de

alongamento atingido pelos parafusos imediatamente após o aperto, um por um (X’s),

e o alongamento depois de todos terem sido apertados (linha sólida) [5].

1º Aperto – 100 lb-ft

Figura 41 - Comparação entre o alongamento dos parafusos imediatamente após o aperto (x) e após todos terem sido apertados (o) [5]

51

2º Aperto – 200 lb-ft

Figura 42 - Comparação entre o alongamento dos parafusos imediatamente após o aperto (x) e após todos terem sido apertados (o) [5]

3º Aperto – 275 lb-ft

Figura 43 - Comparação entre o alongamento dos parafusos após todos terem sido apertados (o) [5]

A solução para evitar que as interações elásticas prejudiquem o funcionamento da

união é a aplicação de torque simultânea em todos os parafusos que compõem a

montagem.

52

A fim de resumir e melhor organizar os procedimentos executados durante montagens

de uniões parafusadas, encontram-se abaixo os tópicos abordados e as principais

recomendações a serem seguidas [5].

Escolher adequadamente as ferramentas, procedimentos e frequência de

calibração;

Treinar adequadamente os funcionários responsáveis pela execução da

montagem;

Garantir que os parafusos e porcas estão em boas condições, especialmente

em relação aos fios de rosca;

Verificar a possibilidade de complementar a montagem com o uso de arruelas;

Para os casos em que se faz uso de lubrificantes, garantir que os mesmos

estejam limpos e sejam novos;

Aproxime porcas e parafusos com as mãos e, se não for possível, verifique a

integridade dos fios de rosca;

Durante a aplicação do torque, garantir que a força seja aplicada

perpendicularmente ao eixo axial dos parafusos;

Aplicar o torque de maneira suave e uniforme, evitando “stick-slip” e

favorecendo o acúmulo de energia potencial;

Aplicar o torque em mais de uma etapa, ajudando a reduzir as diferenças entre

as précargas em cada parafuso;

Respeitar a ordem de aplicação do torque: estrela, cruz ou do centro para as

bordas;

Manter um controle organizado das ferramentas, operadores, procedimentos,

torques e lubrificantes para facilitar a identificação de um possível problema

posterior à montagem;

5.3.6. Simulação de montagem da união parafusada

A fim de que possamos enxergar melhor os problemas que se apresentam durante o

procedimento de montagem das uniões parafusadas, analisaremos os resultados de

algumas simulações realizadas no software Ansys©.

53

Para que a simulação fosse possível, fez-se necessária a adoção de uma hipótese

que ajudou a reduzir o custo computacional envolvido. Observando a diferença entre

as dimensões dos parafusos e porcas quando comparadas às dimensões do bocal de

exaustão externo e da estrutura da turbina, percebe-se que haverá uma dificuldade em

definir uma malha que seja capaz de estudar todos os detalhes.

O emprego de uma malha bem definida - capaz de analisar melhor as tensões nos

parafusos e nos flanges – em uma superfície grande como as apresentadas pelos

membros a serem unidos, faria com que a solução do problema matemático levasse

muito tempo para ser obtida. Seria necessário, então, implementar malhas distintas

para as peças maiores e menores.

Entendendo que a aplicação do torque nos parafusos não gera tensões suficientes

para afetar as superfícies da turbina e da descarga, a simulação será efetuada sobre

uma geometria simplificada, contendo apenas os flanges dos dois membros e os

parafusos e porcas. Além disso, não se fez necessária a aplicação de todos os

parafusos para que pudéssemos identificar as tendências que corroboram com as

teorias apresentadas nas seções anteriores.

A partir das simplificações geométricas, foi possível definir uma única malha capaz de

analisar adequadamente todos os elementos da montagem. Seus elementos são

tetraedros do tipo solid 186 com 10 nós (malha padrão do Ansys©), sendo o tamanho

da região de interesse configurado em 2 milímetros.

Foram feitas simulações para dois diferentes processos de montagem. As condições

de contorno empregadas foram idênticas, permitindo a comparação dos resultados

finais. As montagens eram compostas pelos dois flanges com 4 parafusos realizando a

força inicial de aperto (Fi=1295N); o aperto foi feito em 4 passos e, em cada um

desses passos, um novo parafuso sofria ação de Fi.

Montagem com torque aplicado cruzado:

Nesse situação os 4 parafusos foram dispostos distanciando-se 90° entre si.

Podemos identificar na simulação a distribuição das tensões, bem como os valores

máximos e mínimos (MPa) atingidos ao final da montagem.

54

Figura 44 - Tensão equivalente de von-Misses em união parafusada composta pelos flanges do bocal de exaustão externo e da estrutura da turbina fixados por 4 (quatro) pares de parafusos e

porcas dispostos à 90° - Ansys©

É importante destacarmos as tensões mínimas e máximas encontradas em

cada uma das 4 regiões após a conclusão da montagem. Seus valores servirão para

validarmos a teoria de que o aperto de um parafuso têm influência nas tensões de um

parafuso apertado anteriormente.

Figura 45 - Tensões máxima e mínima em cada ponto de união seguindo sequência de aperto - Ansys©

Outro dado importante extraído da simulação é a energia potencial elástica que

cada parafuso possui ao fim da montagem. Esse valor é de extrema importância pois,

como visto anteriormente, é a energia potencial absorvida pelo parafuso que permite a

ele exercer a força que mantém as partes unidas.

55

Figura 46 - Energia de deformação em união parafusada composta pelos flanges do bocal de exaustão externo e da estrutura da turbina fixados por 4 (quatro) pares de parafusos e porcas

dispostos à 90° - Ansys©

Assim como no caso das tensões, também temos os valores mínimos e

máximos de energia acumulada em cada parafuso no final da montagem.

Figura 47 - Energia de deformação máxima e mínima em cada ponto de união seguindo sequência de aperto - Ansys©

Montagem com torque sequencial:

Aqui, os parafusos foram dispostos em 4 furos subsequentes e apertados em série.

Observando os valores encontrados, fica óbvia a diferença entre os métodos de

montagem das uniões parafusadas.

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Figura 48 - Tensão equivalente de von-Misses em união parafusada composta pelos flanges do bocal de exaustão externo e da estrutura da turbina fixados por 4 (quatro) pares de parafusos e

porcas dispostos em furos subsequentes - Ansys©

Para esse caso específico, poderemos observar a seguir, que fica ainda mais

clara a teoria de que o torqueamento de um parafuso afeta todos os outros

torqueados anteriormente.

Figura 49 - Tensões máxima e mínima em cada ponto de união seguindo sequência de aperto - Ansys©

Em relação ao acúmulo de energia potencial para esse método de montagem,

obtivemos os seguintes resultados:

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Figura 50 - Energia de deformação em união parafusada composta pelos flanges do bocal de exaustão externo e da estrutura da turbina fixados por 4 (quatro) pares de parafusos e porcas

dispostos em furos subsequentes - Ansys©

Os valores de energia acumulada por cada parafuso seguindo a ordem de

aperto são expostos a seguir.

Figura 51 - Energia de deformação máxima e mínima em cada ponto de união seguindo sequência de aperto - Ansys©

Avaliação dos resultados obtidos nas simulações:

Tabela 14 - Comparação entre os valores de tensão equivalente de von-Misses e de energia de deformação entre os dois métodos de montagem

Parafusos dispostos à 90° Parafusos dispostos em

sequência

Sequência de aperto dos parafusos

Tensão Equivalente (von Misses) [MPa]

Mínimo Máximo Mínimo Máximo

1° 9.38E-13 86.712 5.80E-13 113.82

2° 9.85E-13 86.716 6.78E-13 113.82

3° 6.48E-13 86.798 6.82E-13 144.17

4° 3.85E-12 86.802 2.03E-12 144.17

Sequência de aperto dos parafusos

Energia de deformação [MJ]

Mínimo Máximo Mínimo Máximo

1° 8.92E-29 0.166 6.47E-29 8.61E-02

2° 2.17E-29 0.167 1.12E-28 8.61E-02

3° 3.89E-28 0.167 2.50E-28 8.61E-02

4° 7.94E-28 0.167 3.25E-28 8.61E-02

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Reunindo os dados de tensão equivalente e de energia de deformação em uma

única tabela, fica fácil identificar o melhor método de montagem. Em relação à

tensão equivalente, podemos observar que a variação dos valores se dá na

casa dos décimos para a montagem com torque cruzado, enquanto que para o

torque sequencial a variação ocorre na casa das dezenas. Além disso, no

torque sequencial, as tensões são maiores em uma ordem de grandeza.

Voltando nossas atenções para os valores de energia de deformação,

verificamos que as energias acumuladas durante o processo de aplicação de

torque cruzado é duas ordens de grandeza maior do que a energia acumulada

no processo de torque sequencial.

Sabendo que o excesso de tensão pode ser causado por interferências ou

flexões indevidas e que o fator decisivo para o adequado assentamento entre

os membros da união parafusada é a quantidade de energia potencial

acumulada nos parafusos, podemos validar a teoria de que a execução do

torque cruzado promove um produto final de melhor qualidade do que a

montagem feita com parafusos torqueados em sequência.

59

6. ANÁLISE DOS RESULTADOS

Quando a investigação sobre o desgaste prematuro dos parafusos foi iniciada, a

justificativa principal era uma suposta sobrecarga dos elementos durante a execução

do teste. No entanto, a partir do valor calculado nesse trabalho, e sabendo que o

parafuso ainda tem capacidade para suportar muito mais carga, podemos eliminar

esta hipótese.

Dessa forma, nos restou verificar os procedimentos executados pelos técnicos durante

a montagem do conjunto de bocais de exaustão nos motores GE CF6-80C2.

Auxiliados pelos resultados das simulações apresentados, pudemos confirmar as

teorias apresentadas e justificar o mais adequado dos procedimentos a serem

seguidos. Sendo assim, foram identificadas algumas das possíveis causas para a

deterioração dos elementos.

Durante a instalação, para que o bocal de exaustão externo seja montado, é

necessário que o mesmo seja içado com auxílio de uma talha elétrica. No entanto, o

fato de a talha por corrente assumir um comportamento dinâmico equivalente ao

pendular, a transforma em um fator que promove o desalinhamento entre furos e,

consequentemente, o aumento de interferência e de flexão nos parafusos.

Figura 52 - bocal de Exaustão Externo içado por talha elétrica de corrente dificulta o alinhamento dos flanges

60

Além disso, foi identificado que a velocidade com que o torque é aplicado está acima

da considerada adequada. A utilização de determinadas ferramentas que promovem o

ganho de tempo para a produção faz com que o tempo de relaxamento dos parafusos

durante a execução do torque seja reduzido. A consequência é que o relaxamento

posterior ao torque se dá em maior escala. Com menos précarga atuando, abre-se

espaço para fatores como a vibração dos elementos durante o teste dos motores e,

por tanto, aumenta-se o desgaste dos componentes.

61

7. CONCLUSÃO

Podemos concluir que a redução do desgaste sofrido pelos parafusos passa por três

etapas:

i. Processo de conscientização dos funcionários em relação à importância e à

influência que cada etapa durante a montagem tem na qualidade final da união

parafusada.

ii. Aplicação do torque em etapas, garantindo maior energia potencial acumulada

nos parafusos e membros e, consequentemente, promovendo maior força de

agrupamento entre os elementos, impedindo que o relaxamento represente um

fator gerador de falhas nos parafusos.

iii. Desenvolvimento de uma ferramenta capaz de manter o bocal de exaustão

externo fixo e sem deformações, facilitando o processo de alinhamento e

passagem dos parafusos, eliminando o fator talha elétrica das causas raízes de

falha dos parafusos (figura 53).

Figura 53 - Dispositivo suporte de bocais de exaustão promove melhor alinhamento entre os flanges

62

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