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14 INTRODUÇÃO Para nós estudantes do curso de Serviço Social, escrever sobre a História do Serviço Social no Brasil, lutas, conquistas, a ditadura, os congressos e militâncias foram de grande contribuição para nossa formação profissional. Expressar no Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) tudo aquilo que aprendemos durante a graduação e poder apontar nossas inquietações sobre a Política de Saúde brasileira que não reconhece o assistente social como um profissional da equipe mínima na atenção à Saúde da Família. Para tanto foi necessário um aprofundamento bibliográfico para melhor compreender o assunto. A escolha do tema Saúde da Família surgiu a partir do cotidiano das autoras como agente comunitária de saúde, auxiliar de enfermagem e estagiário no NASF, em uma unidade do município de Guarulhos, podendo-se apontar algumas situação. Nos últimos anos, assistimos a uma reestruturação do sistema de saúde brasileiro, o modelo centrado na cura e no profissional médico passa a enfatizar a promoção, proteção e recuperação da saúde. O PSF – Programa Saúde da Família que foi introduzido no Brasil em 1994, pelo Ministério da Saúde, tendo como precursor o PACS - Programa de Agente Comunitário estabelecendo um relacionamento mais próximo com a população. Contextualizar que a criação do NASF – Núcleo de Apoio a Saúde da Família é uma diretriz do MS – Ministério da Saúde para os municípios, de acordo com a Portaria 154/2008, após a implantação do ESF fez-se necessário à implantação destes Núcleos de Apoio, onde os profissionais dão suporte as equipes de saúde da família, na diretriz do MS o município deve optar pelo modelo de NASF de acordo com seu número de habitantes, a Portaria disponibiliza dois modelos de NASF, onde Guarulhos optou pela implantação

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INTRODUÇÃO

Para nós estudantes do curso de Serviço Social, escrever sobre a

História do Serviço Social no Brasil, lutas, conquistas, a ditadura, os

congressos e militâncias foram de grande contribuição para nossa formação

profissional.

Expressar no Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) tudo aquilo que

aprendemos durante a graduação e poder apontar nossas inquietações sobre a

Política de Saúde brasileira que não reconhece o assistente social como um

profissional da equipe mínima na atenção à Saúde da Família. Para tanto foi

necessário um aprofundamento bibliográfico para melhor compreender o

assunto.

A escolha do tema Saúde da Família surgiu a partir do cotidiano das

autoras como agente comunitária de saúde, auxiliar de enfermagem e

estagiário no NASF, em uma unidade do município de Guarulhos, podendo-se

apontar algumas situação.

Nos últimos anos, assistimos a uma reestruturação do sistema de saúde

brasileiro, o modelo centrado na cura e no profissional médico passa a

enfatizar a promoção, proteção e recuperação da saúde. O PSF – Programa

Saúde da Família que foi introduzido no Brasil em 1994, pelo Ministério da

Saúde, tendo como precursor o PACS - Programa de Agente Comunitário

estabelecendo um relacionamento mais próximo com a população.

Contextualizar que a criação do NASF – Núcleo de Apoio a Saúde da

Família é uma diretriz do MS – Ministério da Saúde para os municípios, de

acordo com a Portaria 154/2008, após a implantação do ESF fez-se necessário

à implantação destes Núcleos de Apoio, onde os profissionais dão suporte as

equipes de saúde da família, na diretriz do MS o município deve optar pelo

modelo de NASF de acordo com seu número de habitantes, a Portaria

disponibiliza dois modelos de NASF, onde Guarulhos optou pela implantação

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do NASF 2, com o mínimo de profissionais, sendo que o NASF 1 teria uma

gama maior de profissionais para atendimento a população.

Neste contexto, esta pesquisa exploratória tem como objetivo refletir

sobre o as políticas de saúde na atenção básica apontando a importância e

necessidade da inserção do assistente social na equipe da Saúde da Família.

Este TCC está estruturado da seguinte forma:

- Capítulo I: História do Serviço Social no Brasil. Discute-se os

conflitos entre o proletariado e a burguesia. A implantação do Serviço Social se

dá no decorrer desse processo histórico, não como medidas coercitivas por

parte do Estado e sim, da iniciativa particular e de grupos e frações de classes

que se manifestam principalmente por meio da Igreja Católica. Neste cenário a

questão social configura-se de diversas maneiras.

- Capítulo II – Serviço social na área da saúde. Apresenta-se a

história do Serviço Social no tocante a Saúde e, a implantação de Programas

específicos como a Estratégia em Saúde da Família e o Núcleo de Apoio à

Saúde da Família.

Por fim, no Capítulo III – A Inserção do assistente social na

Estratégia em Saúde da Família apresenta-se algumas considerações sobre

a necessidade da Inserção do profissional, por ser um profissional qualificado

para leitura de realidade e intervenção na garantia de direitos da classe

trabalhadora.

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CAPITULO I

A HISTÓRIA DO SERVIÇO SOCIAL NO BRASIL

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1. CAPÍTULO I: A HISTÓRIA DO SERVIÇO SOCIAL NO BRASIL

O Brasil a partir da década de 1930 entrou em um período de

desenvolvimento econômico, e isso refletiu no aumento da renda per capita,

dos salários reais e do consumo. Com isso deu-se o vasto crescimento da

população e da urbanização que trouxe consigo problemas de assistência,

educação, habitação, saneamento básico, de infraestrutura e tantos outros. Na

medida em que a industrialização avançava, crescia a concentração da renda,

ampliando-se as desigualdades sociais, aumentando tensões nas relações de

trabalho e agravando-se a questão social.

Nesta década o Estado brasileiro era regido pela Constituição Brasileira

de 1891, onde se negava a intervir nos conflitos entre patrões e empregados e

não se admitia a intervenção direta do Estado na economia, atuava

simplesmente como um regulador das forças econômicas, administrando,

cobrando impostos, fornecendo meios de comunicações e transportes baratos

para a circulação de mercadorias.

O governo populista, que assumiu o poder logo após a Revolução de

1930, reconheceu a existência da questão social, que passou a ser uma

questão política, a ser enfrentada e resolvida pelo Estado.

A partir do momento em que a sociedade burguesa vê como ameaça a

luta defensiva do operário à exploração abusiva a que é submetido, há a

necessidade que o controle social da exploração da força de trabalho seja feito

pelo Estado, através de uma regulamentação jurídica do mercado de trabalho.

Diante disso começam aparecer às leis sociais para responder aos movimentos

sociais desses operários, pois ao exporem o problema, exigem modificações

na composição de forças dentro do Governo e no relacionamento deste com as

classes sociais, portanto, podemos dizer que a questão social é a formação da

classe operária dentro do cenário político e de seu reconhecimento para o

Estado e das implantações de políticas que atendam seus interesses, sendo

assim, a “questão social” constitui-se, essencialmente, da contradição entre

burguesia e proletariado.

18

No decorrer desse processo histórico, da iniciativa particular de grupos e

de frações de classe que se manifestam por intermédio da Igreja Católica

ocorre à implantação do Serviço Social. As duas primeiras décadas são

marcadas por manifestações operárias, em que o Estado e a elite republicana

são dominados pelos setores burgueses e incapazes de tomar qualquer

decisão em favor do proletariado.

A preocupação do empresariado com o social aparece apenas a partir

do término da Segunda Guerra Mundial e representa uma nova fase do

capitalismo; a adesão às novas formas de dominação e controle do movimento

operário será dada pelo populismo e desenvolvimento da Era Vargas.

Com os grandes movimentos sociais fica então colocada definitivamente

para a sociedade a “questão social” e a análise da posição da Igreja frente a

esta, de maneira que, a Igreja seja vista não só como instituição social de

caráter religioso, mas também, por sua participação na dinâmica da posição

contrária de classe da sociedade na qual está inserida.

Segundo Bravo (2006), relata que o desenvolvimento capitalista, tendo

por núcleo central da acumulação a economia cafeeira, traz contraditoriamente

o aprofundamento da industrialização, a urbanização acelerada, com a

diferenciação social e a diversificação ocupacional resultantes da emergência

do proletariado e da consolidação dos estratos urbanos médicos.

O Estado Novo tem uma política vinculada a uma estrutura

corporativista, em que reprime e destrói a organização política sindical

autônoma. O Estado tem o objetivo de expandir a acumulação, intensificar a

exploração da força de trabalho através das medidas de legislação social e

sindical que estão relacionadas às redefinições das relações do Estado com as

diferentes classes sociais.

Neste cenário, a Igreja Católica ganha um campo de intervenção na vida

social através da conjuntura política e social, visando desempenhar um

importante papel para o novo regime e disputar a delimitação das áreas de

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competências de controle social e ideológico com o objetivo de conquistar

posições sólidas na sociedade civil.

Na década de 30 surge em São Paulo o CEAS - Centro de Estudos e

Ação Social, sob o controle e incentivo da Igreja, a partir do “Curso Intensivo de

Formação Social para Moças”, promovido pelas Cônegas de Santo Agostinho,

para o qual foi convidada a Mademoiselle Adéle Loneux, da Escola Católica de

Serviço Social de Bruxelas. As atividades do CEAS se orientarão para a

formação técnica especializada de quadros para a ação social e para a difusão

da doutrina social da Igreja.

Ainda nesta década, a partir dos esforços desenvolvidos por esse grupo

e do apoio da Igreja, é fundado a Escola de Serviço Social de São Paulo. Além

das atividades do CEAS começa a aparecer outro tipo de demanda, partindo

de certas instituições estatais e são vistas como conquistas significativas.

Organização parcial: o Serviço Social dos Casos Individuais, a Orientação

Técnica das Obras Sociais, o Setor de Investigação e Estatística e o Fichário

Central de Obras e Necessitados. O método central: Serviço Social de Casos

Individuais passa a chamar Departamento de Serviço Social.

Em 1935 cria-se o Departamento de Assistência Social do Estado,

através da Lei n. 2497, de 24.12.35, onde a maior parte dos artigos é dedicada

à assistência ao menor1. Apenas um único artigo se refere ao Serviço de

Proteção ao Trabalhador. A gestão da assistência social adota uma formação

técnica especializada desenvolvida pelas instituições particulares, além da sua

intervenção na regulamentação do trabalho e da exploração da força de

trabalho. Assim, o Estado regulamenta, incentiva e institucionaliza o trabalho

dos Assistentes Sociais.

1O Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), Lei Federal nº 8.069, de 13 de julho de 1990,

é a nova normatização jurídica brasileira que substituiu o nosso 2º Código de Menores, Lei

Federal nº 6.697, de 12 de outubro de 1979. A alteração do ‘nome’ do corpo de normas - de

Código para Estatuto -, o afastamento do uso do termo menor, substituído pelas categorias

criança e adolescente, o advento da Doutrina de Proteção Integral, em substituição à Doutrina

da Situação Irregular -consagrando a criança e o adolescente como sujeitos de direitos.

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Para atender as demandas do Estado a Escola de Serviço Social passa

por rápidos processos de adequação. O portador dessa qualificação se

transforma em um componente de força de trabalho, junto à divisão social e

técnica do trabalho.

2.1. Instituições Assistenciais e Serviço Social

Em 1937, inicia-se uma fase marcada pela política industrial e um

modelo corporativista. As entidades representativas da burguesia industrial e

sua participação aparecem no quadro corporativo do Estado, que indicam

delegados para planejar e programar as políticas estatais.

A Legislação Social tem um papel importante na integração para

regulamentar e disciplinar o mercado de trabalho, conquistando o avanço da

subordinação do trabalho ao capital.

O Estado procura a integração e a mobilização controladas dos

trabalhadores urbanos e a falsificação burocrática de suas reivindicações. A

paz social do Estado pressupõe o surgimento constante de novas instituições:

Seguro Social, Salário Mínimo, Assistência Social, Justiça do Trabalho, dentre

outras.O surgimento dessas grandes instituições sociais está ligada ao

aprofundamento das contradições iniciadas a partir da Segunda Guerra

Mundial juntamente com a crise política e social.

Na carta Constitucional de 1934, fica clara a primeira legislação Federal

a respeito dos Serviços Sociais, onde fica obrigatório assegurar o amparo aos

desvalidos e se fixa a destinação de 19 das rendas tributáveis à maternidade e

a infância.

A primeira medida legal nesse sentido será dada em 1938 (Decreto-Lei

n.525, de 01.07.30) que institui a organização nacional do Serviço Social,

enquanto modalidade de serviço público. Cria-se, também, junto ao Ministério

da Educação e Saúde, o Conselho Nacional de Serviço Social, com as funções

de órgão consultivo do governo e das entidades privadas, e estudar os

problemas do Serviço Social. (IAMAMOTO E CARVALHO, 2009, p.249).

21

Após 1939, aparece uma retomada capitalista exigindo do Estado uma

maior intervenção no mercado de trabalho, surge o SENAI – Serviço Nacional

de Aprendizagem Industrial, para responder à necessidade básica de

qualificação de força de trabalho necessária a expansão industrial.

Com a participação do país na Segunda Guerra Mundial, surge a

primeira campanha assistencialista de nível nacional com a criação da LBA -

Legião Brasileira de Assistência.

O SENAI surge em 1942, através de um Decreto-Lei Federal a fim de

organizar e administrar as escolas de aprendizagem para industriários,

atribuindo à Confederação Nacional da Indústria a função de gerenciá-la, e

está entre as primeiras instituições a incorporar e teorizar o Serviço Social, não

apenas enquanto serviços assistenciais corporificados, mas também enquanto

processos postos em prática para a obtenção de fins determinados, utilizando

para tal as práticas e as técnicas de Caso e de Grupo. O Serviço Social no

SENAI se destaca em dois pontos, na ação ideológica de ajustamento e na

coordenação da utilização dos serviços assistenciais corporificados.

O Estado e o empresariado apresentam uma mudança em seu

comportamento assistencial, passando a ter atitudes de uma política mais

envolvida representada por uma nova racionalidade. A educação e a saúde

aparecem como consumo produtivo na produção, conservação e reprodução

da força de trabalho.

Como trabalhador assalariado o assistente social aparece como produtor

de serviços que são necessários às existências e a maior produtividade dos

trabalhos diretamente produtivos, fazendo parte teoricamente do quadro de

funcionários na estrutura do SENAI.

Tendo por base as experiências do SENAI, surge o SESI – Serviço

Social da Indústria, que é oficializado em 1946, com a atribuição de estudar,

planejar e executar medidas que favoreça para o bem estar do trabalhador na

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indústria, fazendo parte da mudança da posição do empresariado em relação à

questão social.

A redemocratização2 de 1945 representa um momento importante da

redefinição das formas de dominação política, apesar da manutenção de

aspectos importantes da estrutura corporativa para a organização sindical dos

trabalhadores urbanos e a desmoralização e o desmoronamento de uma série

de mecanismo de controle e atenuação da repressão e principalmente à

necessidade de legitimação do poder junto às grandes massas.

Diante disso, o SESI surge como mais uma instituição assistencial

através da desmoralização dos círculos operários e de outras formas de

intervenção no movimento operário. No período de 1945 a 1946 aparecem às

primeiras experiências de eleições democráticas, que contribui para o

aparecimento de outras instituições, como a Fundação Leão XIII.

Com a implantação e o desenvolvimento dessas grandes instituições

sociais, são fornecidos mecanismos para a existência de um crescente

mercado de trabalho, contribuindo para um desenvolvimento rápido do ensino

de Serviço Social, e legitimando e institucionalizando a profissão e os

profissionais de Serviço Social. Nesse sentido a LBA se torna um mecanismo

importante para a reorganização do assistencial privado e o desenvolvimento

do Serviço Social, além disso, forneceram um apoio as escolas especializadas

existentes e facilitou o surgimento de escolas de Serviço Social nas capitais de

diversos Estados, atuando junto ao movimento de ação social católica.

O empresariado adere à política de controle social, porém procura fugir

de suas responsabilidades reclamando do funcionamento integral por parte do

Estado e aceitando apenas em última instância a participação que lhe é

imposta pelo Estado.

2 No dia 2 de dezembro de 1945, foram realizadas eleições para a presidência da República e

para a formação de uma Assembleia Nacional Constituinte. Na ocasião, a chefia de governo

estava a cargo de José Linhares, que em 30 de outubro, em seguida à ação militar que depôs

Getúlio Vargas e pôs fim ao Estado Novo, havia deixado a presidência do Supremo Tribunal

Federal para assumir a presidência da República.

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As novas posições da Ação Social Católica foram marcadas com o II

Congresso Brasileiro de Direito Social em 1946. A partir daí, o Direito Social

tem o papel de articular os diferentes grupos sociais de forma que estes se

submetam ao bem comum. O Serviço Social é reafirmado como o elemento

essencial para a intervenção entre capital e trabalho.

[...] o profissional assumiu a execução de serviços sociais, pautado

numa ação educativa e integrativa, visando suprir carências,

solucionar problemas sociais, prevenir e, com base na atividade

assistencial, buscou o enquadramento das relações sociais vigentes,

reforçando a mutua colaboração entre capital e trabalho (CESAR,

1999, p.170).

Para o funcionamento do SESI o empresariado fica legalmente obrigado

a uma contribuição mensal equivalente a 2% da folha de pagamento sob a

intervenção do Estado.

O SESI tem por objetivo a prestação de serviços assistenciais e o

desenvolvimento de relações industriais alcançando uma parcela da população

urbana, além de ser a primeira instituição com recursos e sob a direção do

empresariado.

A construção industrial e o trabalho coletivo que se realiza no SESI

viabilizam as passagens técnicas sociais utilizadas pelos assistentes sociais,

de diversas direções, a mecanismo de controle social e político de uso

estendido. O Serviço Social deixa de se ater apenas as atividades de

coordenação dos serviços assistenciais para se vincular mais profundamente

ao enfrentamento direto entre o capital e o trabalho.

As práticas sociais desenvolvida no SESI são caracterizadas pela

radicalização na utilização como instrumento de composição e organização

autônoma da classe operária e de lutas políticas anticomunistas.

24

2.2. O Resgate Teórico e Metodológico

A partir da década de 60 foram reformuladas e redimensionadas as

condições dos procedimentos profissionais. Os governos de Juscelino

Kubitschek e Jânio Quadros tinham uma concepção de desenvolvimento

humanista, que valoriza o profissional Assistente Social. Diante da demanda

apresentada à profissão é necessária a qualificação dos profissionais para a

inserção no mercado de trabalho. Assim, o Serviço Social caracterizado então

por práticas sob orientação de instrumentos e técnicas tradicionais, houve um

movimento interno na categoria que constrói os fundamentos, que vem a ser na

década de 1970 o Movimento de Reconceituação do Serviço Social.

[...] essencial e estruturalmente, esta perspectiva faz-se legatária das

características que conferiam à profissão o traço microscópico da sua

intervenção e a subordinam a uma visão de mundo que deriva do

pensamento católico tradicional; mas o faz com um verniz de

modernidade ausente no anterior tradicionalismo profissional, à base

das mais explícitas reservas aos limites dos referenciais de extração

positivista.” (NETTO, 2009, p.157).

O Serviço Social tinha duas vertentes, uma que defendia a manutenção

da origem conservadora adaptada às mudanças embasadas no modelo norte-

americano psicanalista-tecnicista (caso, grupo e comunidade), e outra que

sugeria mudanças, questionando delicadamente as estruturas sociais e tendo

sua base ligada a Igreja Católica. No entanto, ambas as vertentes

apresentavam traços conservadores do Serviço Social.

A demanda do governo, na década de 1960, em relação aos

profissionais assistentes sociais exigia uma ação no sentido de controle da

população, de forma a adequá-la e submetê-la a ordem do governo ditatorial

numa conjuntura de repressão, aumento da concentração de renda, de

desemprego, inflação e de diminuição do poder de compra dos salários.

[...] os Assistente Sociais consolidam importantes posições e campos

de atuação no interior do equipamento social. [...] Apenas nas áreas

ligadas a projetos e programas que se valem dos métodos de DC –

Desenvolvimento de Comunidade e DOC - Desenvolvimento e

25

Organização de Comunidade se faz sentir essa preocupação.

(IAMAMOTO E CARVALHO, 2009, p.343).

Muitos profissionais se negavam a desenvolver essa prática, só a partir

do Movimento de Reconceituação, segundo Netto (2009), é desenvolvida uma

disputa entre projetos políticos que divergem no interior da profissão. Tal

disputa é polarizada por três vertentes teórico-metodológicas denominadas:

Modernizadora, Reatualização do Conservadorismo e Intenção de Ruptura.

De acordo com Iamamoto (2006) o movimento de Intenção de Ruptura

possibilitou uma nova abordagem à profissão, uma apreensão construída pela

categoria não mais atribuída como nos primórdios da profissionalização. Assim,

o significado social da profissão é aprendido na complexidade das relações

sociais que esta categoria estabelece na realidade, sendo necessária a sua

compreensão na totalidade das relações sociais em várias dimensões do

exercício profissional, na sua relação com o usuário e na relação com o seu

empregador.

[...] o significado social da profissão deve ser compreendido a partir

do caráter contraditório da prática profissional nas relações sociais,

na reprodução destas relações, na reprodução da própria sociedade

capitalista, na sua totalidade, inclusive das suas contradições e

antagonismos.

Iamamoto (2006) e Martinelli (2007) afirmam que, o Serviço Social

constitui uma instituição que emerge e se desenvolve no interior da sociedade

capitalista, constituída e desenvolvida na dinâmica das relações sociais

estabelecidas nesta. Sendo uma particularidade da mesma, por isso, não está

fora desta dinâmica societária, uma vez que, é realizada e materializada nesta

e consequentemente influi e participam na reprodução e materialização

histórica desta ordem societária, de acordo com as características das relações

sociais desenvolvidas nesta sociedade, apresentadas em contextos sócio-

histórico determinados.

Conforme as autoras, o exercício profissional do assistente social tem

caráter interventivo, pois é demandado e contratado como profissional pelo

capital, com o objetivo de intervir nas manifestações da “questão social”

26

sofridas pela classe trabalhadora. Neste contexto, destaca-se a importância do

Projeto Ético-Político Profissional, o qual tem o objetivo de orientar o exercício

profissional, a partir de princípios embasados na liberdade e na democracia e

que prima por uma ação profissional comprometida com a classe trabalhadora

e não pela defesa e manutenção da burguesia.

Esse contexto que fortaleceu e impulsionou a vertente de Intenção de

Ruptura a se tornar hegemônica na categoria e a assumir a direção da

profissão, a partir da necessidade de construção da identidade profissional, os

profissionais buscam outro arcabouço teórico que compreenda a sociedade

burguesa e suas contradições.

O Movimento de Reconceituação do Serviço Social constitui o processo

que buscou romper com o Serviço Social tradicional, desenvolvendo entre a

categoria um debate crítico em torno da profissão, os avanços teóricos e

políticos que permeiam no cotidiano desta, expressos pelo Movimento de

Reconceituação do Serviço Social, admitindo a importância da pesquisa

científica e evidenciando um compromisso de classe, materializando a

preocupação com a formação profissional, no tocante ao trabalho profissional,

propondo o rompimento com a ideologia dominante e a vinculação do exercício

profissional aos interesses dos usuários.

[...] a ruptura com a herança conservadora expressa-se como uma

procura, uma luta por alcançar novas bases de legitimidade da ação

profissional do Assistente Social, que, reconhecendo as contradições

sociais presentes nas condições do exercício profissional, busca-se

colocar-se, objetivamente a serviço dos interesses dos usuários,

Istoé, dos setores dominados da sociedade” (IAMAMOTO, 2000,

p.37).

As discussões desenvolvidas neste processo constituíram a base inicial

da construção do Projeto Ético-Político Profissional, pela categoria, no seu

movimento histórico. A proposta primária do Projeto Ético-Político Profissional é

constituída pelo Código de Ética de 1986, posteriormente reformulado em

1993, pela Reformulação da Lei que Regulamenta a profissão, tendo sua

27

complementação com as Diretrizes Curriculares para o curso de Serviço Social,

aprovadas pela categoria em 1996.

Com o movimento de Reconceituação desenvolvido pela categoria,

inicia-se o movimento de intenção de ruptura, ou seja, o processo que busca

romper com o conservadorismo na profissão. No momento da formação

profissional, o debate desenvolvido pela categoria neste contexto de discussão

da profissão, coloca a necessidade de se discutir e avaliar o projeto de

formação que orientava a formação dos profissionais.

Assim, são colocadas as bases para o debate do projeto de Formação

Profissional, processo que está no auge da aprovação do Novo currículo

Mínimo para os Cursos de Serviço Social em 1982. Nossa reflexão será

norteada por Iamamoto, que afirma:

Pensar a formação profissional no presente é, ao mesmo tempo,

fazer um balanço do debate recente do Serviço Social, indicando

temas a serem desenvolvidas, pesquisas a serem estimuladas para

decifrar as novas demandas que se apresentam ao Serviço Social

(IAMAMOTO, p.169, 2000).

Temos a partir de uma reflexão crítica o projeto de formação profissional

de Serviço Social construído e implantado pela categoria na década de 1980,

que buscava a ultrapassagem da visão endógena da profissão e da vida

universitária, buscando historicizar o debate com uma visão crítica,

identificando as particularidades do Serviço Social.

Assim, a categoria mantém o debate com o objetivo de romper com o

conservadorismo, por meio da intenção de ruptura, o qual o serviço social

brasileiro consolida a sua maturidade intelectual, alcança o reconhecimento e

validação acadêmica como área de produção de conhecimento, determina o

seu estatuto profissional e o seu significado social, define a sua relação com as

demais disciplinas da área das ciências sociais e humanas, e, sobretudo,

constrói e defende objetivos legitimados por um projeto de sociedade na defesa

da liberdade, da democracia, dos direitos sociais e das políticas sociais

públicas.

28

A fundamentação teórica que orientou o currículo de 1982 é a teoria

social de Marx, que apresentou a compreensão de que a realidade é dinâmica,

e devia ser compreendida a partir do movimento da história, porém, era

contraditório, pois na disposição das disciplinas em teoria, história e

metodologia, reproduziu a compreensão da distinção entre teoria e prática. O

que se verifica no currículo de 1982 é a inexistência de uma lógica histórica no

processo de formação profissional pela disposição das disciplinas de forma

particularizadas de Teoria e Metodologia e História do Serviço Social, somada a

divisão entre teoria e prática disposta nas ementas das disciplinas.

Atualmente o Projeto Ético-Político-Profissional, busca romper com o

conservadorismo, tem caráter hegemônico na profissão, se apresentando

numa contínua construção no interior da categoria profissional, num processo

de fortalecimento e ampliação da preocupação dos profissionais. Porém,

apesar de ser hegemônico e buscar romper com o conservadorismo, apresenta

ao mesmo tempo, por parte da categoria profissional, diversas manifestações

conservadoras. Contudo, foi nesse movimento que se deu a sustentação para

se pensar numa formação profissional comprometida coma a luta dos

trabalhadores e consolidada na aprovação das Diretrizes Curriculares de 1996.

O movimento que a categoria profissional do Serviço Social vem

desenvolvendo com maior ênfase a partir da década de 1980, no auge da

formação profissional, buscou articular a Formação Profissional e a demanda

posta a profissão pelo mercado de trabalho. A direção desta articulação,

objetiva apreender as demandas postas à profissão no contexto nacional, tanto

demandas de ordens estatais, empresariais, como das demandas postas pelos

movimentos sociais com novas configurações ou como consequências das

respostas formalmente desenvolvidas através das políticas sociais às

manifestações da “questão social”.

A reformulação do currículo de 1982, que culminou no currículo de 1996,

representou um momento decisivo para pensar a formação profissional

comprometida com um novo projeto ético-político, manifestando a ruptura com

29

o conservadorismo. O movimento de reformulação busca construir uma

proposta de formação profissional que forme profissionais aptos a responderem

às demandas contemporâneas, que se constituem como consequência das

mudanças desenvolvidas no modo de produção capitalista, que alteraram

radicalmente a esfera da produção e do Estado tendo como estopim o

agravamento das manifestações da “questão social”.

Segundo Iamamoto (2000, p.172) uma “Reforma Curricular atenta às

transformações nos padrões de acumulação capitalista – produção e gestão da

força de trabalho – nas estratégias de dominação e no universo da cultura”. As

mudanças desenvolvidas nos padrões de produção e acumulação capitalista

representam uma resposta à crise que o processo de acumulação capitalista

passa a sofrer a partir da década de 1970, quando tinha sua base estrutural no

modelo fordista/ keynesiano – padrão da produção rígida.

Ainda segundo a autora estas mudanças visualizadas no ‘mundo do

trabalho’, não são alheias ao Serviço Social, as mesmas também ocorrem na

relação de trabalho do Assistente Social e ao mesmo tempo com o usuário dos

serviços sociais.

[...] formação profissional possibilite aos assistentes sociais

compreender criticamente as tendências do atual estágio da

expansão capitalista e suas repercussões na alteração das funções

tradicionalmente atribuídas à profissão e no tipo de capacitação

requerida pela ‘modernização’ da produção e pelas novas formas de

gestão da força de trabalho; (IAMAMOTO, 2000, p.180).

Sob as manifestações da “questão social”, com o processo de

flexibilização do sistema capitalista, vêm sendo complexa em suas múltiplas

expressões e determinações, o Serviço Social tem a sua demanda profissional

aumentada, diversificada.

Neste sentido, é colocada a necessidade de construção de um projeto

de formação profissional apto a formar profissionais capazes de aprender este

contexto e de responder às demandas apresentadas a profissão. Os caminhos

30

percorridos historicamente, através de debates desenvolvidos pela categoria e

que fundamentaram a construção do Projeto Profissional atual, materializado

nas diretrizes curriculares aprovadas pela categoria em 1996 tem como ponto

de partida a construção do Currículo Mínimo3 do Serviço Social de 1982, este

aprovado na Assembleia Nacional da ABESS4 em Natal – RN.

O debate crítico do Currículo Mínimo de 1982 e a construção das

Diretrizes Curriculares aprovadas em 1996 foram um processo desenvolvido

coletivamente pela categoria em âmbito nacional realizados em 200 oficinas

locais em unidades de ensino filiadas a ABESS, 25 oficinas regionais e duas

nacionais, sob a coordenação da ABESS, no período de 1993 a 1996, com a

participação do CFESS - Conselho Federal de Serviço Social, CRESS -

Conselhos Regionais de Serviço Social e ENESSO - Executiva Nacional de

Estudantes de Serviço Social.

“A proposta das Diretrizes Curriculares para os cursos de Serviço Social

apresenta como eixo central a “questão social” compreendendo que a

perspectiva é, então, aprofundar a compreensão da ‘questão social’ como

elemento que dá concretude à profissão, ou seja, que é ‘sua base de fundação

histórico-social na realidade’, e que nesta qualidade, portanto deve constituir o

eixo ordenador do currículo.” (ABESS, 1997, p.20-21), ou seja, a formação

profissional tem como objetivo capacitar e orientar os profissionais para intervir

nas expressões da “questão social”.

Outra questão, que é materializada através das diretrizes é a

consolidação da hegemonia da vertente de intenção de ruptura, que representa

a fundamentação da orientação do projeto ético–político profissional.

3 O currículo mínimo foi aprovado sob o Parecer 412/82 pelo Conselho Federal de Educação

com prazo de dois anos para ser implementado nas escolas de Serviço Social.

4 Na ocasião denominada de ABESS – Associação Brasileira de Ensino em Serviço Social.

Atualmente, denominada de ABEPSS – Associação Brasileira de Ensino e Pesquisa em

Serviço Social, desde dezembro de 1998 quando houve a fusão da ABESS com o então

CEDEPSS – Centro de Documentação e Pesquisa em Serviço Social.

31

CAPITULO II

SERVIÇO SOCIAL NA ÀREA DA SAÚDE

32

3. O SERVIÇO SOCIAL NA ÁREA DA SAÚDE

Iniciamos este capítulo com um breve relato sobre a História da Saúde

no Brasil com a finalidade de apresentar as diretrizes do SUS - Sistema Único

de Saúde, e abordarmos a implantação do ESF- Estratégia em Saúde da

Família, junto com esse novo modelo de assistência insere-se como um apoio

ao ESF o NASF- Núcleo de Apoio a Saúde da Família, o intuito é compreender

como essas Políticas de Saúde foram implantadas e a inserção do Assistente

Social dentro dessa política.

3.1. A SAÚDE NOS ANOS DE 1920 a 2010

A Assistência a Saúde dos trabalhadores se deu, através da

industrialização nos países centrais, tendo como espelho a medicina social5, foi

uma conquista da classe trabalhadora, para manutenção da ordem social

capitalista e a mediação das relações entre classes sociais.

Segundo Bravo (2006), a Saúde Pública, na década de 1920, adquire

novo relevo no discurso do poder. Há tentativas de extensão dos seus serviços

por todo o país. A reforma Carlos Chagas, de 1923, tenta ampliar o

atendimento à saúde por parte do poder central, constituindo uma das

estratégias da União de ampliação do poder nacional no interior da crise

política em curso, sinalizada pelos tenentes, a partir de 1922.

Surge em 1920 as Políticas Sociais, para responder as questões sociais

de uma forma orgânica e ordenada de ordem geral inclusive a de saúde que

precisava ser aprimorada. Era necessário criar um modelo de assistência que

atendesse as necessidades dos trabalhadores, os trabalhadores eram peças

importantes no cenário político, com isso ocorreu a aceleração da urbanização

e o aumento da classe trabalhara, e a precarização das condições de trabalho.

5 Medicina Social, um corpo de conhecimentos e ações, e métodos para adquirir

conhecimentos e realizar ações referentes à atenção médica na sociedade.

33

É neste período que a saúde avança aonde viria beneficiar os

trabalhadores das grandes indústrias visando à questão da higiene e saúde

destes, assim nascem as CAPs - Caixas de Aposentadorias e Pensões, os

trabalhadores contribuíam mensalmente com um valor, tendo como

administrador desta alguém eleito pelo Presidente da República.

A partir daí os trabalhadores passavam a ter direito a assistência médica

curativa, pensão por morte para seus familiares no caso de falecimentos do

trabalhador, auxílio invalidez e aposentadoria por tempo de serviço.

Na década de 20 o governo começa a analisar que os modelos das

CAPs, estavam aumentando os gastos para os seus financiadores, pois com a

crescente massa de trabalhadores, isso se tornou um impasse no sistema

financeiro já que uma parte da CAPs era financiada pela União então se

pensou na separação de previdência e assistência social, diminuindo-se então

os limites de atendimento médico hospitalar e farmacêutica.

Nesta época a política de saúde era organizada em duas vertentes:

saúde pública e medicina previdenciária, em que na saúde pública visava-se o

mínimo as populações urbanas(campo), enquanto que, a medicina

previdenciária só passou a funcionar a partir de 1966.

A saúde pública tinha como um de seus primórdios as campanhas

sanitaristas, interiorização das ações nas áreas de endemias rurais, em

decorrência dos grandes fluxos de mão-de-obra para os grandes centros e

combates as endemias.

De acordo com Bravo (2006), a medicina previdenciária, que surgiu na

década de 30, com a criação dos Institutos de Aposentadoria e Pensões (IAPs),

pretendeu estender para um número maior de categorias de assalariados

urbanos e seus beneficiários como forma de “antecipar” as reivindicações

destas categorias e não proceder a uma cobertura mais ampla.

34

Os IAP’s foram criados de acordo com a capacidade de organização,

mobilização e importância da categoria profissional, processo de unificação dos

IAPs já vinha sendo gestado desde 1941.

Em 1960 foi promulgada a lei 3.807, denominada Lei Orgânica da

Previdência Social, que veio estabelecer a unificação do regime geral da

previdência social, destinado a abranger todos os trabalhadores sujeitos ao

regime da CLT, excluídos os trabalhadores rurais, os empregados domésticos e

naturalmente os servidores públicos e de autarquias e que tivessem regimes

próprios de previdência.

Segundo Oliveira e Teixeira Fleury (1986), apud Bravo (2006) p.94, a

Saúde era para aqueles que tinham carteira assinada, houve uma extensão da

cobertura para áreas urbanas, incluindo trabalhadores informais empregadas

domésticas e trabalhadores autônomos.

Após 1973, a cobertura previdenciária contempla os trabalhadores

rurais, empregadas domésticas e trabalhadores autônomos passam a atender

quase toda população urbana, as empresas começaram a implantar dentro dos

grandes pólos industriais um complexo médico industrial conforme o

capitalismo crescia maior era o controle por parte do Estado sobre os

trabalhadores.

O Estado começa a privilegiar a medicina privada, pois tinha passado a

trazer lucro para o setor da saúde, devido à expansão do capitalismo no Brasil,

com diferença no atendimento dos clientes.

O bloco do poder instalado no aparelho estatal em 1964, não

conseguindo, ao longo de dez anos, consolidar a sua hegemonia,

precisou gradualmente modificar a sua relação com a sociedade civil.

Houve a necessidade de estabelecer novos canais de mediação, que

legitimassem a dominação burguesa e suas consequências políticas,

econômicas e sociais (Bravo, 2006. p.94).

35

Através da pressão popular entre os anos de 1974 e 1979, o governo

precisa equiparar o atendimento da saúde pública com um atendimento da

saúde privada, que demandava um grande gasto, nesta época eram oferecidas

pelo Estado as ações curativas, ou seja, ações que ajudam a compreender

suas dificuldades e angústias, buscando possíveis soluções e alternativas de

novos caminhos para alcançar melhoria na sua qualidade de vida.

O Movimento Sanitário Brasileiro, a partir da década de 1970, intercedeu

por transformações no sistema de saúde vigente, incluindo mudanças no

modelo de atenção à saúde, com a adoção de medidas que permitissem e

garantissem a participação da sociedade civil nas decisões. Nesta perspectiva,

uma das principais reivindicações foi à criação de conselhos de saúde. Estes

representaram na época de sua criação e institucionalização, demonstrações

institucionais de um processo amplo de re-ordenamento das relações Estado-

sociedade.

No Estado de São Paulo, nesta mesma época foi criada a Comissão de

Saúde da região do Jardim Nordeste (zona leste da cidade de São Paulo), que

também foi responsável pela organização geral do Movimento de Saúde na

região e pela dispersão em outros grupos comunitários da cidade desse tipo de

discussão e atuação em torno da questão da cidadania e saúde. O Movimento

de Saúde da Zona Leste (MSZL) tornou-se uma referência na área da

participação popular em saúde e cumpriu um papel fundamental na criação e

solidificação dos espaços institucionais de participação, que foram

estabelecidos constitucionalmente em 1988.

Na formação do movimento de saúde da zona leste acompanhamos

um processo pelo qual uma carência é percebida como negação de

um direito que provoca uma luta para conquistá-lo [...] alguns dos

bairros mais pobres da periferia leste da capital, detectamos a

presença de dois outros agentes cuja intervenção foi decisiva: a

Igreja Católica e um grupo de médicos sanitarista (SADER, 2001,

p.261).

O papel dessa Comissão de Saúde era organizar a luta por meio de

reuniões semanais realizadas na paróquia ou na casa de uma das mulheres

36

participantes. As reuniões eram abertas para quem quisesse participar e nelas

eram discutidos temas como a situação do bairro, as reivindicações a serem

feitas e a organização de assembleias públicas e de carreatas e caravanas

para pressionar os dirigentes da Secretaria de Estado da Saúde (SES), de São

Paulo.

Como obra da luta do grupo, o Centro de Saúde do Jardim Nordeste foi

inaugurado em 1979, em um imóvel alugado pela SES. No mesmo ano, foi

criado o Boletim de Saúde para ser um veículo de comunicação entre a

Comissão de Saúde e a população.

Reivindicações em torno dos serviços de saúde já haviam sido

levantadas antes. Em 1972 em grupo de mulheres do Jardim IV

centenário, vila do bairro de São Mateus, havia começado a debates

a falta de hospitais e centros de saúde na região. Depois de varias

reuniões na igreja, elas foram em, elas foram à comissão até a

Secretaria da Saúde levar a reivindicação de um centro de saúde

para o bairro (SADER, 2001, pg.263/264).

Após a instalação do Centro de Saúde e de seu funcionamento em

bases consideradas satisfatórias, as reivindicações passaram a ser dirigidas

para outras questões consideradas importantes pelo grupo. O objetivo era

garantir as conquistas alcançadas e ampliar a área de atuação. Um modelo

importante foi às reivindicações para a criação de um conselho supervisor,

formado por moradores da região que usavam os serviços oferecidos pelo

Centro de Saúde, para acompanhar o trabalho ali desenvolvido: “as demandas

cruzaram a fronteira da área no sentido que expandiam o nível e o tipo das

reivindicações”.

Depois de várias reuniões na Igreja, levaram suas reivindicações a

Secretaria de Saúde para ter um centro de saúde para o bairro. O movimento

ganhou força com a chegada de médicos na comunidade, que transmitiu

informações sobre as enfermidades e suas causas e qual seria o dever do

Estado para assegurar a população.

37

Em face de tão sombria perspectiva, o Dr. Jackson comunicou que

não seria preciso ir até a secretaria, porque já estava sendo

providenciado um lugar melhor para a instalação de centro de saúde

do Jardim Nordeste. Finalmente, em março de 1978, abriram o posto

de saúde (SADER, 2001,pg.271).

No âmbito da saúde os médicos tinham certa autoridade moral que fazia

efeito sobre a população, apoiando atividades realizadas pela Pastoral da

Saúde visitando favelas, promovendo cursos de primeiros socorros,

orientações para gestantes, etc.

Com base nas experiências anteriores perceberam que apenas o

abaixo-assinado não tinha força suficiente para pressionar as autoridades, mais

sim quando notarem que por trás do abaixo-assinado a população continua se

organizando, consciente do direito e se mobilizem para continuar pressionando

para alcançar seus objetivos, tendo assim um significado maior.

Foi a partir de atendimentos feitos por médicos estudantes e sua

professora nas dependências da igreja que a comunidade entendeu a

insegurança do atendimento e que de fato precisavam de melhores condições

de serviço de saúde.

Em 1976 chegaram os primeiros 50 médicos sanitaristas da Rede

Pública da Secretaria da Saúde, entre eles havia os que eram considerados de

esquerda e os que predominavam. O que se pretendia era levar os

conhecimentos sobre as causas sociais das doenças, a disposição

demonstrada por alguns médicos de colocar em pratica o serviço de

organização popular teria um papel decisivo na consolidação do movimento,

fazendo uma ligação entre o Estado e os movimentos populares.

O depoimento anterior, de um daqueles estudantes, já expressava

certa visão crítica dos encaminhamentos propostos pelos agentes

pastorais. No caso, considerava que o abaixo-assinado havia se

tornado uma rotina sem maior eficácia além da auto-satisfação dos

seus promotores. Porque ele havia simplesmente sido entregue ao

agente pastoral, que o enviou às autoridades (SADER, 2001, p.265).

38

A década de 80 foi muito importante para os movimentos sociais por

saúde porque as conquistas foram ampliadas, graças ao reconhecimento

público das lideranças e ao fortalecimento da organização popular nas diversas

regiões. O Movimento de Saúde da Zona Leste (MSZL), por exemplo, passou a

definir, mais claramente, seus princípios e objetivos e sua relação com a

política em geral, com os partidos políticos, com outras entidades civis, com os

movimentos populares e com o Estado.

Diante desses debates, as principais propostas eram que a saúde

passasse a ser um direito social e dever do Estado, surge então à

reestruturação da estratégia do sistema de saúde onde se pensa no

reordenamento setorial com um novo olhar para a saúde individual e coletiva,

usando as varias esferas de ordem municipal e Estadual através do

financiamento efetivo das políticas de saúde onde o poder local será

responsável pela gestão.

Um marco histórico na questão da saúde foi a 8ª Conferência, onde

houve uma grande participação da sociedade e, delegados os itens discutidos

priorizavam o direito a saúde, esse debate fugiu a regra, pois a participação de

entidades representativas com sindicatos, partidos políticos, associações não

se esquecendo dos moradores foram proposto não somente um Sistema Único

de Saúde6, mas Reforma Sanitária7.

6 O Sistema Único de Saúde (SUS) é um dos maiores sistemas públicos de saúde do mundo.

Ele abrange desde o simples atendimento ambulatorial até o transplante de órgãos, garantindo

acesso integral, universal e gratuito para toda a população do país. Amparado por um conceito

ampliado de saúde, o SUS foi criado, em 1988 pela Constituição Federal Brasileira, para ser o

sistema de saúde dos mais de 180 milhões de brasileiros. Além de oferecer consultas, exames

e internações, o Sistema também promove campanhas de vacinação e ações de prevenção e

de vigilância sanitária – como fiscalização de alimentos e registro de medicamentos –,

atingindo, assim, a vida de cada um dos brasileiros. 7 No Brasil, a noção de Reforma Sanitária vem sendo associada à de movimento. Isso traz

implicações importantes. Movimento significa processo, fenômeno dinâmico e inacabado.

Sendo um processo em curso e sem final predeterminado, demarcar seu início também é

tarefa complexa. A Reforma Sanitária brasileira tem sido objeto de estudo de vários

pesquisadores da área da Medicina Social, que a partir de fins dos anos 70 passou a ser

denominada, no Brasil, Saúde Coletiva. À produção desse conhecimento realizada no âmbito

das universidades e pulverizada pelas diferentes unidades, associaram-se profissionais

médicos militantes da rede pública de serviços na criação, em 76, do Centro Brasileiro de

Estudos de Saúde, na reunião daquele ano da SBPC, então um importante fórum político dos

cientistas brasileiros no combate ao autoritarismo vigente, constituiu-se o CEBES com a

39

A Assembleia Constituinte, com a relação à Saúde, transformou-se

numa arena política em que os interesses se organizaram em dois

blocos polares: os grupos empresariais, sob a liderança da

Federação Brasileira de Hospitais [...] representadas pela Plenária

Nacional pela Saúde na Constituinte, órgão que passou a congregar

cerca de duas centenas de entidades representativas do setor

(BRAVO, 2006. p.97).

3.2. Reforma Sanitária

O movimento da reforma sanitária culminou com a realização da 8a

Conferência Nacional de Saúde, que ocorreu em março de 1986, com a

participação de diversos setores da sociedade e na qual houve consenso sobre

uma necessária e ampla reestruturação financeira, organizacional e institucional

do setor saúde no Brasil indo ao encontro de uma ampliação do conceito de

saúde. Assim, a saúde deveria estabelecer uma estreita relação com as

condições de vida dos cidadãos, como moradia, alimentação, trabalho, lazer e

renda.

Após esta conferência, com a criação da Comissão Nacional da Reforma

Sanitária, iniciou-se a implementação das políticas naquele momento

sugeridas. O relatório obtido serviu de base para a Constituição de 1988, que

preconiza um SUS - Sistema Único de Saúde.

Esse novo modelo, inscrito na própria Constituição brasileira de 1988 no

Art. n° 196 estabelece a saúde como direito de todos os cidadãos e dever do

Estado, garantida mediante políticas sociais e econômicas que visem à redução

do risco de doenças e de outros agravos e ao acesso universal e igualitário às

ações e serviços para sua promoção, proteção e recuperação.

Pode-se dizer que três características definem o novo modelo: a criação

de um sistema nacional de saúde, a proposta de descentralização e a criação

de novas formas de gestão, que incluem a participação de todos os atores

proposta de criação de uma revista - Saúde em Debate. O objetivo dessa publicação era

veicular a nova perspectiva de análise da saúde, agora intimamente relacionada aos processos

histórico-sociais.

40

envolvidos com a política (prestadores de serviços, trabalhadores, gestores e

usuários), (VIANA e DAL POZ, 2012).

Mas, (a regulamentação do SUS se dá apenas em 1990, a partir das Leis

8.080 e a Lei 8.142), a chamada Lei Orgânica da Saúde (LOS), que cumprem

legalmente a proteção e defesa da saúde garantida na Constituição.

A Lei 8.080 dispõe sobre as condições para a promoção, proteção e

recuperação da saúde, e a organização e o funcionamento dos serviços

correspondentes e dá outras providências. Essa legislação regula as ações e

serviços de saúde em todo território nacional, destaca a saúde como direito

fundamental do ser humano, devendo o Estado prover as condições

indispensáveis ao seu pleno exercício; os fatores determinantes e

condicionantes da saúde, entre eles a alimentação, a moradia, o saneamento

básico, o meio ambiente, o trabalho, a renda, educação, o transporte, o lazer e

o acesso aos bens e serviços essenciais; princípios e diretrizes do SUS;

atribuições, organização, direção do SUS em cada esfera de governo, além do

financiamento, planejamento, recursos humanos e relacionamento com o setor

privado.

Vários estudos destacam a importância desta lei para país, como Minayo

et al. mostra que este conceito ampliado de saúde relaciona-se diretamente

com a melhoria da qualidade de vida da população, tendo como patamar

mínimo e universal a satisfação das necessidades humanas elementares.

No entanto, a lei 8080/90 teve de ser complementada devido aos vetos

recebidos, tendo sido criada e 28 de dezembro de 1990, a lei 8.142. Esta lei

dispõe sobre a participação da comunidade gestão do Sistema Único de Saúde

e sobre as transferências intergovernamentais de recursos financeiros na área

da saúde. Dispõe que o SUS contará em cada esfera de governo com a

Conferência de Saúde e o Conselho de Saúde; alocação e repasse de recursos

do Fundo Nacional de Saúde (FNS); bem como as exigências para receberem

tais recursos.

41

A partir de 1991 foi criada as Normas Operacionais Básicas (NOB’s) com

o objetivo de colocar em prática os princípios do SUS através de regimentos

operacionais que regulamentam a descentralização através da municipalização

da saúde. Foram editadas as “NOBs’ 01/91, 01/93 e a 01/96. E NOAS SUS

01/2001

A regulamentação do SUS, através das Leis Orgânicas da Saúde e

Normas Operacionais Básicas, estabelece princípios e direciona a implantação

de um modelo de atenção à saúde que priorize a descentralização,

universalidade, integralidade da atenção e o controle social. Ao tempo em que

incorpora em sua organização o princípio da territorialidade para facilitar o

acesso das demandas populacionais aos serviços de saúde. E a possibilidade

de extensão de acesso aos serviços de saúde aos mais pobres e excluídos aí

se apresenta, pois o controle e a destinação de verba pública pela sociedade

civil, realizado de forma democrática e com justiça social, tendem a diminuir as

iniquidades (FRIEDRICH, 2005).

Neste mesmo período o país atravessava um período de grandes

mudanças com declínio de crescimento populacional, da taxa de fecundidade e

taxas crescentes para o grupo de terceira idade. Além disso, do ponto de vista

epidemiológico, houve uma transição gradual dos problemas de saúde, com o

predomínio as doenças não infecciosas, podendo ser chamada de crônico-

degenerativa, no lugar de mortalidade por doenças infecciosas. E o crescimento

de causas externas, como homicídios e acidentes (VIANA e DAL POZ, 2012).

Esse novo perfil da população interferiu na forma como setor saúde

estava organizado, exigiu e ainda exige cada vez mais, a adoção de novos tipos

de ações, equipamentos e intervenções. Como por exemplo, ações voltadas

para a idade adulta e para a terceira idade. Ações estas não apenas voltada

para cura, mas visando a prevenção e promoção de forma a auxiliar a

população a conviver com estas doenças crônico- degenerativa e ter uma

melhor qualidade de vida (VIANA e DAL POZ, 2012).

42

Esse contexto incidiu de forma bastante aguda na demanda e na oferta

de saúde, e passou a ser denominado, nos anos 90, de crise da saúde. A crise

da saúde é uma das razões mais fortes para a partir de 1995, fossem propostas

mudanças no modelo assistencial operado por meio do Programa de Agentes

Comunitários de Saúde (PACS) e Programa de Saúde da Família (PSF),

provocando alterações na forma de organização dos serviços. Dessa forma, o

PSF constitui uma estratégia de reforma do sistema de saúde no Brasil, tendo

em vista que aponta para mudanças importantes na forma de remuneração das

ações de saúde, nas formas de organização dos serviços e nas práticas

assistenciais no plano local, e, portanto, no processo de descentralização

(VIANA e DAL POZ, 2012).

3.3. PROGRAMA DE AGENTE COMUNITÁRIO DE SAÚDE (PACS)

Para colaborar com as mudanças no modelo assistencial, o PACS foi

formulado em 1991 tendo como objetivo central de estender a cobertura de

ações de saúde às populações rurais e das periferias urbanas e principalmente

ao grupo materno-infantil, para contribuir com a redução da mortalidade infantil

e mortalidade materna. Inicialmente implantado na região Nordeste, com ações

de informação e educação em saúde direcionada a esse grupo, foi estendido à

região Norte, onde a epidemia de cólera demandou a ação emergencial dos

agentes comunitários no controle e prevenção da doença.

O PACS tinha como objetivo geral:

incorporar ao Sistema Único de Saúde, agentes

comunitários de saúde para desenvolver ações básicas de

saúde; identificar os fatores determinantes do processo

saúde-doença; funcionar como elo de ligação entre a

população e os serviços de saúde, contribuindo assim,

com a comunidade, no processo de aprender e ensinar a

cuidar da sua própria saúde” (BRASIL. 2012—E).

43

Desse modo, o programa assume o agente comunitário de saúde (ACS)

como articulador dos serviços de saúde à comunidade, incluindo entre as suas

atribuições o desenvolvimento de ações básicas de saúde e atividades

educativas individuais e coletivas. Contribuiria, ainda, na produção de

informações que possibilitassem a análise e o monitoramento da ação de

saúde. Tornando-se peça importante para organização do serviço básico de

saúde no município. Sendo responsável pelo acompanhamento de 400 a 750

pessoas, dependendo das necessidades locais, que vivem no seu território de

atuação, tendo suas atividades acompanhadas e orientadas por um enfermeiro

da unidade de saúde, na proporção máxima de 30 agentes para cada

enfermeiro, a qual atua como instrutor- supervisor, ministrando a capacitação

desses ACS. Ressaltando que para a escolha do agente era considerado entre

outras questões o fato de residir na área onde seria sua atuação, pois nada

melhor do que o próprio morador para conhecer a realidade local.

Dessa forma, pode-se afirmar que, o PACS auxiliou na implementação

do SUS e na organização dos sistemas locais de saúde, pois o município que

aderia ao programa era exigido certos requisitos. Entre eles estão o

funcionamento dos conselhos municipais de saúde; a existência de uma

unidade básica de referência do programa; a disponibilidade de um profissional

de nível superior na supervisão e auxílio às ações de saúde e a existência de

fundo municipal de saúde para receber os recursos do programa. Portanto, um

instrumento de (re) organização dos modelos locais de saúde (VIANA e DAL

POZ, 2012).

3.4. IMPLANTAÇÃO DA ESTRATÉGIA SAÚDE DA FAMÍLIA

O quadro que se segue apresenta a sistematização da história do PSF

no país. O mesmo foi elaborado pelo MS em comemoração aos 10 anos do

PSF no Brasil e foi divulgado no Informe da Atenção Básica.

44

Momentos relevantes na história do PSF no Brasil:

Final Década 80 Início da experiência de agentes comunitários de saúde pelo ministério da saúde (MS).

1991 Criação oficial do Programa de Agentes Comunitários de Saúde (PACS) Pelo MS.

1994 Realização do estudo: “Avaliação Qualitativa do PACS”. Criação do Programa de Saúde da Família (PSF). Primeiro documento oficial “Programa Saúde da

Família: dentro de casa”. Criação de procedimentos vinculados ao PSF e ao PACS na Tabela do SIA/SUS.

1996 NOB 01/96 – Definição de novo modelo de financiamento para a atenção Básica à saúde com vistas à sustentabilidade financeira desse nível de atenção.

Primeiro número dos “Cadernos de Saúde da Família: construindo um novo modelo.”

1997 Reforsus – Implantação dos Pólos de Capacitação, Formação e Educação Permanente de Recursos Humanos para Saúde da Família. Segundo documento

oficial “PSF: uma estratégia para a reorientação do modelo assistencial”,dirigido aos gestores e trabalhadores do SUS e instituições de ensino. O PACS e PSF

são incluídos na agenda de prioridades da política de saúde. Publicação da portaria MS/GM n. ° 1.882, criando o Piso de Atenção Básica (PAB). Publicação da

Portaria MS/GM n. ° 1.886, com as normas de funcionamento do PSF e do PACS.

1998 O PSF passa a ser considerado estratégia estruturante da organização do sistema de saúde. Início da transferência dos incentivos financeiros ao PSF e ao

PACS, do Fundo Nacional de Saúde para os Fundos Municipais de Saúde.

Primeiro grande evento: “I Seminário de Experiências Internacionais em Saúde da Família.” Edição do “Manual para a Organização da Atenção Básica.”,

importante respaldo organizacional para o PSF. Definição, pela primeira vez, de orçamento próprio para o PSF, estabelecido no Plano Plurianual.

1999 Realização do 1.º Pacto da Atenção Básica. Segundo grande evento: “I Mostra Nacional de Produção em Saúde da Família- construindo um novo modelo.”

Lançamento do 1. ° número da “ Revista Brasileira de Saúde da Família. Realização do estudo “ Avaliação da implementação e funcionamento do Programa

Saúde da Família.” Edição da Portaria n. ° 1.329 que estabelece as faixas de incentivo ao PSF por cobertura populacional.

2000 Criação do Departamento de Atenção Básica para consolidar a Estratégia de Saúde da Família. Publicação dos Indicadores 1999 do Sistema de Informação da

Atenção Básica.

2001 Edição da “Norma Operacional da Assistência à Saúde – NOAS/01”, ênfase na qualificação da atenção básica.

Terceiro evento: “II Seminário Internacional de Experiências em Atenção Básica / Saúde da Família”. Apoio à disponibilização de Medicamentos básicos para

Equipe de Saúde da Família (ESF). Incorporação das ações de saúde bucal no PSF. Primeira fase do estudo: “Monitoramento das equipes de Saúde da Família

no Brasil.”

2002 Quarto evento: “PSF – A saúde mais perto de 50 milhões de brasileiros”. Fase do estudo: “Monitoramento das equipes de Saúde da Família no Brasil.”

2003 Início da execução do Programa de Expansão e Consolidação da Estratégia de Saúde da Família (PROESF). Publicação dos Indicadores 2000, 2001 e 2002 do

Sistema de Informação básica.

Fonte: Brasil, 2012-C. Informe da Atenção Básica 21: dez anos de saúde da família Brasil.

A implantação do Sistema Único de Saúde (SUS) no Brasil a partir da

década de 1990 representou uma importante inflexão no padrão historicamente

consolidado de organização dos serviços de saúde no país. Financiado com

recursos fiscais, o SUS fundamentou-se em três princípios básicos:

Universalidade do acesso aos serviços em todos os níveis de

assistência para todos os cidadãos brasileiros, independentemente

de renda, classe social, etnia, ocupação e contribuição;

Descentralização em direção aos estados e municípios, com

redefinição das atribuições e responsabilidades dos três níveis de

governo; e

Participação popular no significado da política de saúde em cada

nível de governo, bem como no acompanhamento de sua execução.

Após as décadas de privilégio à atenção hospitalar, herança da medicina

previdenciária, em que a alocação de recursos federais em estados e

municípios se dava com base principalmente na produção de serviços e na

45

capacidade instalada, os esforços, programas e investimentos públicos

passaram a se concentrar na atenção básica, com a adoção do Programa de

Saúde da Família (PSF), por meio de incentivos financeiros específicos e da

criação de mecanismos de transferência de recursos federais calculados com

base no número de habitantes de cada município.

Esses pressupostos, tidos como capazes de produzir um impacto

positivo na orientação do novo modelo e na superação do anterior –

calcado na supervalorização das praticas da assistência curativa,

especializada e hospitalar, e que induz ao excesso de procedimento

tecnológico e medicamentoso e, sobretudo, na fragmentação do

cuidado encontram, em relação aos recursos humanos

(Especialização em Saúde da Família, UNIFESP).

A implantação do PSF é um marco na incorporação da estratégia de

atenção primária na política de saúde brasileira, influenciado a formulação das

políticas de saúde no Brasil, e seus princípios foram traduzidos no novo modelo

de proteção social em saúde instituído com o SUS. Contudo, uma política

específica, nacional, de atenção primária para todo o país nunca havia sido

formulada, ainda que diversas experiências localizadas tenham sido

implantadas de modo disperso. Surgido em 1994 e inicialmente voltado para

estender a cobertura assistencial em áreas de maior risco social.

Desde 1999, passou a ser considerado pelo Ministério da Saúde como

uma estratégia estruturante dos sistemas municipais de saúde, com vistas a

reorientar o modelo assistencial e imprimir uma nova dinâmica na organização

dos serviços e ações de saúde. A ESF agrupa os princípios do SUS e se

aborda os pressupostos da atenção primária em saúde, o primeiro contato,

abrangência do cuidado, coordenação e orientação à família e às

comunidades, procurando partir com a noção de uma atenção de baixo custo

simplificada.

[…] procurando reorganizar o processo de trabalho em saúde

mediante operações Intersetoriais e ações de promoção, prevenção e

atenção à Saúde, permitindo a gestores, profissionais e usuários do

SUS compreender a dinâmica dos lugares e dos sujeitos

46

(individual/coletivo), desvelando as desigualdades sociais e a

iniqüidades em saúde (Especialização em Saúde da Família,

UNIFESP).

O padrão preconiza uma equipe de saúde da família de caráter

multiprofissional (médico generalista, enfermeiro, auxiliar de enfermagem e

agente comunitário de saúde) que trabalha com demarcação de território de

abrangência, o cadastramento e acompanhamento da população residente na

área.

Almejar-se que a unidade de saúde da família constitua a porta de

entrada ao sistema local e o primeiro nível de atenção, o que supõe a

integração à rede de serviços mais complexos. Recomenda-se que cada

equipe seja responsável por entre 600 e 1.000 famílias (2 400 a 4 500

habitantes). A equipe deve conhecer as famílias do seu território de

abrangência, identificar os problemas de saúde e as situações de riscos

existentes na comunidade, tal como, elaborar um programa de atividades para

enfrentar os determinantes do processo saúde/doença, desenvolver ações

educativas e Intersetoriais relacionadas com os problemas de saúde

identificados e prestar assistência integral às famílias sob sua responsabilidade

no âmbito da atenção básica.

De acordo com as orientações da estratégia de Saúde da Família as

ações de cada um dos componentes da equipe ficaram assim estabelecidas:

Os ACS estabelecem a ligação entre as famílias e o serviço de saúde,

realizando mapeamento das áreas, o cadastramento/diagnóstico, a

identificação de micro áreas de risco e ações coletivas com vistas a mobilizar a

comunidade.

O médico atende a todos integrantes de cada família, independente de

sexo e idade, e desenvolve com os demais integrantes da equipe ações

preventivas e de promoção da qualidade de vida da população.

O enfermeiro supervisiona o trabalho do agente comunitário e do auxiliar

de enfermagem, realiza consultas na unidade de saúde, além de atender

pessoas que necessitem de cuidados de enfermagem no domicílio.

O auxiliar de enfermagem realiza procedimentos de enfermagem na

unidade de saúde e no domicílio, e executa ações de orientação sanitária.

47

A implantação do ESF foi acelerada nos municípios de pequeno porte,

com baixa ou nenhuma capacidade instalada. Entretanto, nos grandes centros

urbanos, a implementação do ESF tem sido lenta, pois se encontrou com

questões de maior complexidade relacionadas o agrupamento demográfico, ao

elevado grau de exclusão no acesso aos serviços de saúde, a agravos de

saúde típicos das grandes cidades e metrópoles e a uma oferta consolidada em

uma rede assistencial desarticulada e mal distribuída.

A grande questão diante destes trechos apresentados e como a equipe

de saúde, discute os desdobramentos da Questão Social dentro da estratégia

de saúde da família, em sua concepção, mudanças na dimensão

organizacional do modelo assistencial ao constituir uma equipe

multiprofissional responsável pela atenção à saúde de uma população

circunscrita, definir o generalista como o profissional médico de atenção básica

e instituir novos profissionais, a saber, os agentes comunitários de saúde,

voltados para a ação comunitária, ampliando a atuação da equipe sobre os

determinantes mais gerais do processo saúde-enfermidade.

Perante algumas situações de saúde e adoecimento em nosso país,

onde as doenças são definidas pelo perfil epidemiológico da população, frente

a globalização, faz com que a população apresente agravos a saúde, onde

surgem casos de violência sexual, doméstica, saúde mental, pobreza alto uso

de drogas lícitas e ilícitas, entre outros agravantes.

Tal função não basta em si mesma, e um aprofundamento é

necessário para cada um se reconheça e reconheça também a

atividade do outro e não perca de vista o trabalho compartilhado

(Especialização em Saúde da Família, UNIFESP).

Em 2008 o MS reconhece a necessidade de incluir novas categorias

profissionais para atuar na atenção básica dando suporte as equipes da ESF.

Através da portaria nº 154 de 24 de janeiro de 2008, cria-se os NASF - Núcleos

de Apoio à Saúde da Família.

48

§ 3º do Art.1º - Os NASF devem buscar instituir a plena

integralidade do cuidado físico e mental aos usuários do

SUS por intermédio da qualificação e complementaridade

do trabalho e das Equipes Saúde da Família (portaria 154

de 24/01/2008).

3.5. A experiência do município de Guarulhos na implantação dos

NASF

A cidade de Guarulhos, foi fundada 8 de Dezembro de 1560, é a

segunda cidade mais populosa do estado de São Paulo, sua população

segundo o IBGE de 2011 é de 1.233.436 habitantes; é considerada a 9º cidade

mais rica do Brasil.

Neste contexto, podemos apontar algumas expressões da Questão

Social no município, condições de habitação precárias, devido ao crescimento

desordenado, gerando a falta de saneamento e infraestrutura. Grande parte da

população está em situação de vulnerabilidade, consequência da má

distribuição da riqueza, sendo notória a diferença em alguns bairros tais como:

Jd. Maia, Vila Galvão e Vila Rosália onde há belas praças, bosques e pontos

de cultura e na periferia a população é paupérrima e não tem acesso as

políticas sociais.

O sistema de saúde de Guarulhos é dividido em quatro regiões de

saúde: Região 1 – Centro, Região 2 – Cantareira, Região 3 – São

João/Bonsucesso e Região 4 – Pimentas/Cumbica. A Atenção básica possui

68 unidades de saúde, mas nem todas possuem a Estratégia da Saúde da

Família, a cobertura populacional nesta modalidade é apenas de 20,13%

segundo, dados da Secretaria saúde da Saúde do município. A maior parte

configura-se como modelo tradicional, ou seja, a população vai a unidade de

saúde espontaneamente.

49

Fonte: Secretaria Municipal de Saúde de Guarulhos - 2011

Região 1

Região 3

Região 4

Região 2

50

A Saúde da Família é uma estratégia de substituição de um modelo em

que os trabalhadores da saúde atuam exclusivamente sobre a demanda

espontânea de usuários, demanda essa majoritariamente voltada para a cura

de doenças. Um modelo com ênfase no enfoque curativo, tratando o indivíduo

como objeto de ação, com baixa capacidade de resolver problemas de saúde,

saber e poder centrados no médico, acarretando desvinculação entre pessoal

de serviço e comunidade, e uma relação de custo beneficio desvantajosa. Já o

ESF busca um modelo plenamente sintonizado com os princípios da

universalidade e equidade da atenção e da integralidade das ações, e acima de

tudo, voltado à constante defesa da vida do cidadão.

O ESF é a tentativa de inversão do modelo tradicional e assim teria

início, meio e fim, mas com sua implantação e implementação viu-se que esta

reestruturação não teria término, pois este modelo ativo de atenção beneficia

muitas pessoas.

No Art. 7º da portaria 154/2008, é de competência das Secretarias de

Saúde dos municípios e do distrito federal, a definição do território de atuação

dos NASF, e as equipes de saúde da família a qual este NASF estará

vinculado, também dentre estas competências esta, disponibilizar estrutura

física adequada e garantir os recursos de custeio necessários ao

desenvolvimento das atividades mínimas, assegurar o cumprimento da carga

horaria, estabelecer estratégias para desenvolver parcerias com os demais

setores, selecionar e contratar profissionais para o NASF.

O município de Guarulhos em 2009, seguindo as diretrizes do MS –

Ministério da Saúde fez a opção de implantação do NASF 2 que deverá ser

composto no mínimo por 3 profissionais de nível superior não-coincidentes:

Fisioterapeuta, Nutricionista, Psicóloga, Assistente Social, Educador Físico,

Fonoaudiólogo e Terapeuta Ocupacional.

Segundo a Portaria 154/2008 cada NASF deverá estar vinculado a

no mínimo 3 equipes de ESF. Atualmente Guarulhos possui seis NASF

cadastrados que recebem o valor mensal de R$ 6.000,00, o repasse é

51

realizado através do Fundo Nacional da Saúde para o Fundo Municipal de

Guarulhos.

Podemos ilustrar o atendimento do NASF de uma das Unidades do

Município de Guarulhos, nesta unidade existem 9 equipes, onde tem-se 4

completas e 5 incompletas, as equipes são consideradas incompletas por não

terem na sua composição o Medico, sendo assim chamamos as de EACS –

Estratégia Saúde da Família e Agentes Comunitários de Saúde.

Cada um desses NASF deve estar vinculado a um mínimo de oito e

máximo de 20 equipes de Saúde da Família, exceto nos estados da

Região Norte, onde o número mínimo passa a ser cinco (Caderno de

Diretrizes do NASF, 2009 p. 20).

O NASF tem como campo de atuação à promoção, prevenção e

assistência, sendo:

1º Campo: o atendimento compartilhado para uma intervenção

interdisciplinar, com a troca de saberes, educação permanente e

responsabilização mutuam, gerando experiência para ambos os profissionais

envolvidos. Ênfase em estudo e discussão de casos e situações, realização de

projeto terapêutico, bem como atendimento em conjunto.

2º Campo: intervenções especificas do NASF com usuários e famílias,

encaminhados pela equipe de saúde da família com discussões e negociação a

priori entre profissionais responsáveis pelo caso, de forma que o atendimento

individualizado pelo NASF se dê apenas em situações extremamente

necessária.

3º Campo: Ações comuns nos territórios de sua responsabilidade,

desenvolvidas de forma articulada com as equipes saúde da família e outros

setores, exemplos: desenvolvimento de projetos de saúde no território, apoio

aos grupos, trabalhos educativos, de inclusão social, etc (escolas, creches,

pastorais e outros).

52

O NASF, não é porta de entrada do sistema e surge com um viés

técnico-pedagógico, ou seja, propor estratégias de como deliberar determinada

situação, dessa maneira o conhecimento passa a ser difundido. Essa prática de

expansão de conhecimento muda de região para região, e o método é aplicado

de forma diferente para cada equipe conforme sua necessidade.

São apresentadas estratégias de atendimento, por exemplo, a escola

da região faz diversos encaminhamentos para fonoaudiólogo, esse profissional

acumula um determinado número de encaminhamentos para serem atendidos,

em seguida faz a convocação dos mesmos, reúnem-se então os usuários em

uma roda de conversa, e através de técnicas ele consegue analisar quais

usuários realmente necessitam de um atendimento especializado, com

agendamento individual ou em grupo.

Assim, um pediatra que fizesse apoio matricial a essa equipe teria

que investir grande energia na dimensão técnico-pedagógica,

compartilhando conhecimentos com a equipe para que ela pudesse

se aproximar da resolutividade desejada para esses casos. Isso vale

para um psicólogo, para um nutricionista ou para qualquer outro

especialista que preste apoio para essa equipe (Caderno de

Diretrizes do NASF, 2009 p. 12).

Os acolhimentos são feitos pelo ACS em suas visitas domiciliares, onde

esses profissionais encontram situações diversas como: abuso sexual,

violência doméstica, contra idosos, crianças e adolescentes, estupro,

abandono, dependentes químicos entre outros. A partir do relato do usuário, o

profissional diante do seu conhecimento que é de nível fundamental faz as

respectivas perguntas para colher informações detalhadas dos fatos.

Diante do exposto pelo usuário, a enfermeira (o) responsável pelos

agentes comunitários recolhe esses relatórios, sendo discutido o caso a equipe

da ESF, não chegando a uma solução, passa-se então o caso para o NASF.

Em tal contexto, as equipes dos NASF deverão atuar em conjunto

com as equipes de Saúde da Família, apoiando-as para que possam

incrementar não só a integralidade, mas também a resolutividade, a

53

qualidade do cuidado, as ações de promoção de saúde e o

acompanhamento e monitoramento em seus diversos aspectos

(Caderno Diretrizes do NASF, 2009, p.17).

Após o matriciamento, são agendadas as visitas domiciliares com os

profissionais do NASF, dependendo da necessidade de cada caso a visita é

realizada pelo profissional especializado, por exemplo, o ACS identificou um

caso de maus tratos de um idoso, realiza-se a visita com Assistente Social, na

visita desse profissional ele identifica uma magreza extrema do idoso, então se

solicita a visita da nutricionista.

O profissional mais requisitado dentro da equipe do NASF é o Assistente

Social, principalmente em áreas de vulnerabilidade social, em que a maioria

das pessoas estão em habitações irregulares, existem também muitos casos

de violência, diante disso criou-se então a atuação do assistente social no

NASF, que podemos entender melhor através do Caderno de Diretrizes do

NASF.

[...] com discussão e negociação a priori com os profissionais da

equipe de SF responsáveis pelo caso, de forma que o atendimento

individualizado pelo Nasf se dê apenas em situações extremamente

necessárias e, quando ocorrer, continuar mantendo contato com a

equipe de SF, que não se descomprometeria com o caso, ao

contrário, procuraria redefinir um padrão de seguimento

complementar e compatível ao cuidado oferecido pelo Nasf

diretamente ao usuário, ou à família ou à comunidade (Caderno de

Diretrizes do NASF, 2009, p.20).

O Assistente Social é o profissional capacitado para trabalhar com as

questões do cotidiano. Através de uma visão especializada, consegue diante

do cenário da atualidade visualizar as necessidades dos usuários, sendo ele

capaz de planejar e realizar projetos junto a uma comunidade, onde estabeleça

uma relação e identifique a real necessidade daquela população.

Na área da Saúde é um profissional articulador, portador de

conhecimentos, conforme lei No. 8.662 de 7 de Junho de 1993 que

regulamenta a profissão, esse profissional tem habilidade de articulação entre

54

as secretarias e estratégias de atendimento para que o usuário tenha sua

autonomia.

O assistente social é um profissional que trabalha permanentemente

na relação entre estrutura, conjuntura e cotidiano, contribuindo com

as equipes na apreensão e na ação em face do cotidiano, no qual as

determinações conjunturais se expressam e a prática se realiza

(Caderno de Diretrizes do NASF, 2009 p.99).

.

Neste contexto, é possível refletir sobre a Inserção do Assistente Social

na ESF, uma vez que a desprofissionalização esta acontecendo com a

utilização de agentes comunitários de saúde e cuidadores para realizarem

atividades profissionais (BRAVO, 2006).

55

CAPITULO III

A INSERÇÃO DO ASSISTENTE SOCIAL NA ESTRATÉGIA DA

SAÚDE DA FAMÍLIA

56

4. A INSERÇÃO DO ASSISTENTE SOCIAL NA ESTRATÉGIA DA SAÚDE

DA FAMÍLIA

Ao iniciarmos o estudo sobre a trajetória do Serviço Social, pudemos

apreciar o seu percurso, que deixou de ser entendido como caridade,

benevolência, para ser tornar de fato uma profissão com cientificidade. Foi

requisitado para fazer parte do quadro de Recursos Humanos de grandes

organizações com SESI, SENAI, SESC onde iniciou sua atividade em

empresas. Desta forma o profissional vem ganhando espaço e se tornando

cada vez mais requisitado dentro dos grandes centros urbanos

Hoje na Atenção Básica do município de Guarulhos o Serviço Social está

inserido no NASF nas unidades com Estratégia Saúde da Família. O Assistente

Social em conjunto com demais categorias: psicólogos, fisioterapeutas,

nutricionistas, terapeutas ocupacionais de acordo com as Diretrizes MS,

procura conduzir-se suas atividades no sentido de compreender, intervir,

antecipar, planejar projetos sociais e terapêuticos que vão para além da

dimensão biomédica, ou seja, ir além dos problemas de Saúde, mas também a

questões relacionadas aos conflitos, à qualidade de vida, cultura, tradições e

violência.

Atualmente na ESF os profissionais que fazem parte da equipe mínima

exigida e que realizam a assistência às famílias são o médico (a), enfermeiro

(a) e agentes comunitários. Estes profissionais, mesmo possuindo na

graduação disciplinas relacionadas à área de humanas, têm formação

predominante no campo biológico, assim em muitos momentos os cidadãos

não são analisados também como sujeitos sociais. No entanto, hoje junto a

ESF foi criado o programa para apoiar esses profissionais como já citado no

capítulo anterior o NASF que está inserido junto a ESF como um “apoio”. Neste

Trabalho de Conclusão de Curso defende-se a ideia de cada equipe de ESF

deve conter um assistente social, pois, sabe-se que o NASF deverá atender

várias equipes o que precariza o trabalho profissional e sobrecarrega os

agentes comunitários que não tem qualificação teórico-metodológico para o

atendimento das expressões da Questão Social.

57

Podemos visualizar um cronograma estabelecido para nortear os

atendimentos dos profissionais do NASF, através desta tabela que os

profissionais norteiam seus atendimentos.

Parâmetros para organização das agendas e das ações a serem

desenvolvidas pelas equipes NASF No município de Guarulhos.

AÇÕES PROPOSTAS PARA O NASF/NAAB

PROPORÇÃO DE HORAS POR PROCEDIMENTO

SEMANAL MENSAL

Consulta/Atendimento domiciliar compartilhados

5-10%

5-10%

Consulta/ Atendimento profissional nível superior

compartilhado

2-4 horas

1,5 – 3 horas

10-20 horas

7,50-15 horas

Ações Compartilhadas

Atividade educativa / orientação compartilhada

Pratica corporal / Atividade física compartilhada

20-35%

20-35%

Pratica corporal em medicina tradicional chinesa

compartilhada

8-14 horas

9 –10,5 horas

40-70 horas

30-52,50 horas

Grupo com objetivo terapêutico compartilhado

Reuniões com equipe (Apoio Matricial)

Consulta / Atendimento profissional nível superior

10 - 30%

10 - 30%

Atividade educativa / Orientação

6 - 8 horas 5 – 4 horas

40 - 70 horas 15 - 22 horas

Atendimento Especifico

Pratica corporal / Atividade física

10 - 30%

10 - 30%

Pratica corporal em medicina tradicional chinesa

4 - 12 horas 3 – 9 horas

20 - 60 horas 15 - 45 horas

Grupo com objetivo terapêutico

Reunião com recursos da comunidade

5%

5%

Ações Intersetoriais

Reunião com conselho gestor

2 horas

1,5 horas

10 horas 7,5 horas

Visita Institucional

Outras

Reuniões NASF

5%

5%

Atividades

Educação Continuada equipe NASF/ e equipe da UBS

2 horas

1,5 horas

10 horas 7,5 horas

TOTAL

100%

200 Horas 150 Horas

100% 200 Horas 150 Horas

* Profissional 40 horas/semanal – Profissional 30 horas/semanal

58

Esses dados foram obtidos através das Diretrizes e Parâmetros

Norteadores das Ações dos Núcleos de Apoio às Equipes da Atenção Básica à

Saúde, 2011 da Secretaria da Saúde do Município de Guarulhos.

Parâmetro: Profissional – 40 horas semanais

200 horas/ mês

50 horas Consultas / Atendimentos

130 horas Grupos educativos e Apoio Matricial

10 horas Educação Continuada / reunião de equipes NASF/NAAB

10 horas Ações Intersetoriais

8 horas / dia

2 horas para Consultas/Atendimento (UBS / domicilio)

5 horas para Grupos educativos e Apoio Matricial

1 hora para ações intersetorial / reunião equipe NASF

Atividades Dia Mês Ano

Consulta/Atendimento 3 60 660

Grupos/Apoio Matricial 4 80 880

Ações Intersetorial 1 20 220

Nesta divisão já está inserido o tempo para processos de organização e preparação das

ações.

Parâmetro: Profissional – 30 horas semanais

150 horas/ mês

37,30 horas Consultas/Atendimento (UBS / domicilio)

97,30 horas Grupos educativos e Apoio Matricial

7,30 horas Educação Continuada / reunião de equipes NASF/NAAB

7,30 horas Ações Intersetoriais

6 horas / dia

1,30 horas para consulta/atendimento (UBS/domicilio)

4 horas para Grupos educativos e Apoio Matricial

30 hora para ações intersetorial / reunião equipe NASF

59

Os dados apresentados reforçam a necessidade da inserção do

Assistente Social nas equipes de ESF e que o NASF não supri as

necessidades da população. Contudo, a condição de trabalho é precarizado,

devido o excesso de demanda; tempo insuficiente; falta de continuidade no

serviço iniciado; conhecimento insuficiente do território no qual trabalha, pois o

mesmo profissional é referência em várias unidades e estão em cada uma

delas de uma a duas vezes na semana. Desta forma, limita o reconhecimento

do território enquanto local de trabalho para assim saber o que afeta a

comunidade no processo saúde-doença.

De acordo com Santos e Silveira (2008), […] o sentido da palavra

territorialidade, como sinônimo de pertencer aquilo que nos pertence…esse

sentido de exclusividade e limite ultrapassa a raça humana e prescinde da

existência de Estado […] a territorialidade humana pressupõe também a

preocupação como o destino, a construção do futuro, o que, entre os seres

vivos, é privilegio do homem.

Em um trabalho de equipe interdisciplinar é fundamental o

reconhecimento do território para verificar as condições em que a comunidade

vive descobertas de redes para parcerias e encaminhamentos que se fizer

necessário.

A Atuação dos profissionais do NASF devem ser articulada: abordagem

grupal8, abordagem familiar, individual, de redes, visitas domiciliares, grupos

educativos9 e de convivência10, visitas institucionais, estudo social, intervenção

coletiva.

8Abordagem grupal, realizada no início do processo de triagem, onde o Assistente Social para

organizar e padronizar este atendimento elabora um instrumental específico de registro.

9 Grupos Educativos constitui uma das mais eficientes maneiras de estimular a adesão ao

tratamento e mudanças de hábitos de vida, imprescindíveis para o sucesso terapêutico.

10 Grupos de Convivência promovem o desenvolvimento das relações familiares e

comunitárias, do sentimento de pertencer e participar, se identificar e integrar, compartilhando

objetivos e interesses. O grupo trabalha a importância da comunicação, regras,

responsabilidades, capacidade de encontrar soluções comuns e negociar conflitos, entre outros

aspectos do vínculo social.

60

Atualmente o trabalho vem sendo feito de maneira que as situações

trazidas pela equipe de ESF são discutidas, o NASF prioriza quais delas terão

a necessidade de uma visita domiciliar. Quando esta visita chega a ser

realizada, em grande parte dos casos são realizadas ações pontuais e não há

um acompanhamento da mesma. Desta forma, os casos acabam ficando

engavetados, e como a rotatividade dos profissionais do NASF entre as ESF

acontecem com frequência, ao chegar um profissional novo a história inicia-se

novamente desgastando toda a equipe.

Nos grupos educativos denominados “Roda de Conversa” os

profissionais abordam um determinado assunto exemplo: Depressão,

Hipertensão, Diabetes e a partir do conhecimento da população o tema

colocado em discussão e trabalhado pelo profissional ai vai se articulado ideias

a partir da adesão dos usuários. Desta forma em um grupo se consegue atingir

estes participantes.

As abordagens de grupo nos trás à necessidade de uma escuta ativa e

qualificada desses usuários com o objetivo de assim identificar a real

necessidade para uma estratégia coletiva ou individual. Porém, considerando

que o tempo em que o Assistente Social permanece em cada ESF, é pequeno,

temos uma contradição entre o que diz o Caderno de Atenção Básica do NASF

e como a política esta sendo aplicada em Guarulhos, e podemos perceber

claramente o papel de intermediador do NASF, transferindo a continuação do

processo para equipe de saúde.

A inclusão da escuta qualificada e/ou o acolhimento de problemas

psicossociais da população durante todo o processo de trabalho das

equipes de saúde constitui importante ferramenta para a melhora da

relação equipe– usuária/família, além de contribuir para o

enfrentamento e superação de diversos problemas (Caderno de

Atenção Básica NASF, 2009, p.127).

Neste cenário fica o questionamento: num trabalho marcado pela

descontinuidade, como a escuta do usuário pode ser qualificada?

61

Diante da complexidade do processo Saúde-doença o Serviço Social

deve fazer uma articulação e mobilização da equipe e de parceiros para a

discussão das situações individuais e familiares que apresentam maior

vulnerabilidade, para isso é necessário se fazer um estudo social de cada

comunidade atendida, e o profissional do serviço social se faz novamente o

mais requisitado para esse tipo de estudo devido a sua formação.

O Serviço Social domina procedimentos metodológicos e

instrumentais técnicos adequados, como a abordagem da Educação

em Saúde, que engloba as dimensões psicológica, Cultural,

socioeconômica, fundamentada em uma ótica reflexiva, e usa como

referencia as técnicas participativas, em oposição à praticas que

medicalizam as questões sociais, como modelo biomédico faz (Bravo

e Potyara, 2008,p.244).

Entende-se que o Ministério da Saúde deve rever a composição das

equipes da ESF e reconhecer que o NASF é um atendimento paliativo, com

pouca resolutividade.

Aqui podemos falar de Violência Estrutural11, por exemplo, o usuário vai

à busca de um Assistente Social na ESF, “não tem Assistente Social aqui”, é

essa a explicação assim e ponto, não se explica ao usuário de que forma que o

Assistente Social trabalha, porque naquela unidade de Saúde não tem

assistente social, como funciona o NASF no município, a quantas unidades ele

atende, que o NASF é o apoio da ESF, enfim tudo aquilo que já discutido nos

parágrafos anteriores.

11

Violência Estrutural entende-se como aquela que oferece um marco à violência do

comportamento e se aplica tanto às estruturas organizadas e institucionalizadas da família

como aos sistemas econômicos, culturais e políticos que conduzem à opressão de grupos,

classes, nações e indivíduos, aos quais são negadas conquistas da sociedade, tornando-os

mais vulneráveis que outros ao sofrimento e à morte. Conforme assinala Boulding (1981),

essas estruturas influenciam profundamente as práticas de socialização, levando os indivíduos

a aceitar ou a infligir sofrimentos, segundo o papel que lhes corresponda, de forma

“naturalizada”.

62

Neste ínterim, a violência estrutural é a palavra correta para

assemelharmos o sistema de Guarulhos, mas sabemos que esse tipo de

violência hoje acarreta grande parte da Saúde pública de outros município, ou

até mesmo na privada. O desrespeito ao usuário e a comunidade local é

enorme.

A inserção do Serviço Social na ESF, não deve ser de forma focalista,

pois dessa maneira contribuirá só pra reorganizar o modelo e não as ações

promocionais e preventivas, que o Serviço Social pode desenvolver; é valido

salientar que a equipe necessita da inclusão de outras categorias como

psicólogo, educador físico e nutricionista.

De acordo com Teixeira (2006) p.245, pensamos que o planejamento no

setor da Saúde, para ser caracterizar como estratégico deve partir das

necessidades de Saúde expressas na realidade local de sua população

especifica. Para tanto, o assistente social deverá imprimir em sua intervenção

profissional uma direção, sendo necessário, para isto, conhecer e

problematizar o objeto de sua ação profissional, construindo sua visibilidade a

partir de informações e análises consistentes - atitude investigativa.

Simultaneamente, o trabalho do Assistente Social deverá ser norteado por um

plano de intervenção profissional objetivando construir estratégias coletivas

para o enfrentamento das diferentes manifestações de desigualdades e

injustiças sociais, numa perspectiva histórica que apreenda o movimento

contraditório do real.

Conforme estabelece o Caderno dos Parâmetros do Assistente Social na

Saúde de 2010 que foi construído, a partir de discussões realizadas em

reuniões de trabalho pelo grupo Conselho Federal de Serviço Social – CFESS,

formado por um representante do Conselho Regional de Serviço Social –

CRESS de cada região e cinco conselheiros do CFESS. Tendo como finalidade

referenciar a intervenção dos profissionais de Serviço Social na área da Saúde,

procurando expressar a totalidade das ações que são desenvolvidas,

considerando a particularidade das ações desenvolvidas nas atenções de

básica, média e alta complexidade.

63

Para a construção desses parâmetros foi necessário uma discussão

tendo como referência para análise e construção o subsídio às lutas pela

ampliação da presença dos Assistentes Sociais nas instituições responsáveis

pela política.

A qualificação do atendimento oferecido à população e as condições de

trabalho desses profissionais;

A viabilização, a construção e a oferta de novas políticas determinadas

pela conjuntura;

As referências já existentes nas diretrizes e leis nacionais; e a

superação da lógica produtivista presente na gestão das políticas

sociais.

Assim, espera-se fortalecer o trabalho dos assistentes sociais na Saúde,

na direção dos Projetos de Reforma Sanitária e Ético-Político-Profissional,

trazendo maior qualidade ao atendimento prestado à população usuária dos

serviços de Saúde. Os assistentes sociais na Saúde atuam em seis grandes

eixos de ações, sendo importante destacar que eles não devem ser

compreendidos de forma segmentada, mas articulados dentro de uma

concepção de totalidade.

São eles: o assistencial; em equipe; sócio-educativa; mobilização,

participação, e controle social; investigação planejamento e gestão e

assessoria; e qualificação e formação profissional.

Não cabe ao profissional de Serviço Social se utilizar no exercício de

suas funções de atendimentos individuais, de grupo, de família ou

comunitárias, mas sim potencializar a orientação social com vistas à ampliação

do acesso dos indivíduos e da coletividade aos direitos sociais.

Teixeira (2008), nos traz que em decorrência das atividades

desenvolvidas por esses profissionais nas ESF, enfocamos a análise nas ações

sócio-educativas. Elas incidem em orientações reflexivas e socialização de

informações realizadas por meio de abordagens individuais, grupais ou

64

coletivas ao usuário, família e população de determinada área programática,

sendo o eixo central da atuação do profissional de Serviço Social a

denominada Educação em Saúde.

As ações de Educação em Saúde devem ter como intencionalidade a

dimensão da libertação na construção de uma nova cultura e enfatizar a

participação dos usuários no conhecimento crítico da sua realidade e

potencializar os sujeitos para a construção de estratégias coletivas.

As atribuições direcionadas a tais profissionais são diferentes dos outros

que compõe a equipe básica, uma vez que as atribuições desses são

estabelecidas pelo Ministério da Saúde.

Encaminhar providências, prestar orientações, informações a indivíduos,

grupos e à população na defesa, ampliação e acesso aos direitos de

cidadania;

Prestar assessoria a grupos, entidades e movimentos sociais existentes

na comunidade, viabilizando o processo de mobilização, organização e

controle social;

Desenvolver ações sócio-educativas e culturais com a comunidade;

Identificar as potencialidades existentes na comunidade, bem como os

recursos institucionais, estimulando as ações Intersetoriais, para a

melhoria da qualidade de vida da população;

Identificar, implementar e fortalecer os espaços de controle social na

comunidade;

Contribuir para a capacitação e formação de conselheiros de Saúde e de

outros sujeitos sociais;

Discutir, de forma permanente, junto à equipe de trabalho e à

comunidade, o conceito de cidadania, enfatizando os direitos à Saúde e

as bases que o legitimam;

Elaborar, coordenar e executar capacitações para os profissionais do

Saúde da Família;

Realizar atendimentos individuais de demandas espontâneas e/ou

referenciadas na Unidade Básica de Saúde da Família;

65

Emitir laudos, pareceres sociais e prestar informações técnicas sobre

assunto de competência do Serviço Social;

Planejar, executar e avaliar pesquisas que possam contribuir para a

análise da realidade social e para subsidiar as ações da ESF;

Acompanhar, (na qualidade de supervisor de campo, estagiários de

Serviço Social, desde que tenha supervisão acadêmica; em)

sistematizar e divulgar as experiências do profissional de Serviço Social

na ESF.

O desenvolvimento dessas atribuições é realizado de forma a apoiar na

garantia de direitos sociais, no atendimento das necessidades das demandas,

na efetivação do controle social com a participação intensa da comunidade

(junto com os movimentos organizados na comunidade), nas atividades

educativas e na intersetorialidade com os encaminhamentos realizados pelos

Assistentes Sociais a outras instituições.

A inserção de Assistentes Sociais na ESF acrescentaria no

desenvolvimento dessas ações que incentivariam a participação e o controle

social, informação e orientação qualificada nos atendimentos específicos e

inserções pontuais nos diversos grupos.

A mesma autora advoga-se assim a inserção do Serviço Social na

equipe básica, não como “outros profissionais”, mas mediante o entendimento

de sua presença como componente importante na implantação de um modelo

assistencial voltado para atenção à Saúde (Teixeira, 2008).

Entendemos a inserção do assistente social não como um profissional

messiânico, mas sim como um profissional dotado a metodologia, cientificidade

para promover a cidadania.

66

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

.

A sociedade brasileira ainda espera por um avanço no quadro

epidemiológico, ou seja, o tratamento de diabetes, hipertensão, dengue, saúde

bucal o atendimento as crianças menores de 2 anos e Gestantes, fazendo-se

necessário a melhor distribuição dos projetos sociais, o combate da

desigualdade em todos os âmbitos. È fundamental ressaltar programa criado

pelo Governo Federal em 2004: a ESF - Estratégia Saúde da Família, como

objetivo melhorar as condições de Saúde.

Para o Ministério da Saúde a equipe da ESF deve ser composta por um

médico da família, um (a) Enfermeiro (a), e os agentes comunitários de saúde

considerando que, os outros profissionais poderiam ser inseridos as unidades

básicas conforme as necessidades locais.

Apesar de já possuir um espaço reservado na Política de Saúde, o

Assistente Social continua mostrando sua importância neste meio. Os estudos

mostraram que a presença desse profissional é muito importante na

composição da equipe de saúde da família, pois contribui com a sua formação

em políticas públicas, mobilização de comunidade, autonomia dos sujeitos,

articulação dos serviços e entendimento da complexidade da realidade,

famílias e indivíduos.

Contudo, o que se pretende com este estudo é defender a inserção do

Assistente Social nas equipes da ESF como medida para avançar rumo a um

modelo de assistência à saúde, voltado para a atenção integral do indivíduo.

Não se trata de uma defesa corporativista, mas, sim, da importância da

construção de um projeto interdisciplinar que venha modificar as ações de

saúde no trato com o usuário.

Atualmente a área da saúde tem absorvido grande número de

assistentes sociais, principalmente na saúde pública, porém, na atenção a

67

básica a saúde ainda é um desafio à inserção da categoria na Estratégia da

Saúde da Família.

Neste contexto, conclui-se que a inclusão de profissionais como o

assistente social, além da equipe mínima enriquece e amplia o fazer de todos,

fortalece o conceito ampliado de saúde, potencializa a integralidade e a

organização do serviço.

O ESF é um novo espaço de trabalho e de inserção para o assistente

social, e o próprio profissional precisa fazer uma análise de que não trabalha

isolado, de que deve exercer suas ações de educação a saúde e promoção

dos usuários dentro de uma equipe multiprofissional, articulando ações e

serviços com outros setores.

O NASF é um grupo de apoio a Saúde da Família, o Município de

Guarulhos optou pela implantação do numero reduzido de profissionais do

NASF, consequentemente isso sobrecarrega o profissional, sendo assim não

há condições de atender a demanda.

Devido à rotina do profissional do NASF, que visita as unidades de

Saúde de 3 a 4 vezes por semana, o profissional não consegue manter um

vinculo com a população, muito menos pensar em projetos e ações para

qualquer comunidade.

Por fim conclui-se que a inserção do Serviço Social no ESF não deve

ser vista como redentora das causas sociais, mas de forma que o Assistente

Social poder contribuir para a compreensão da saúde como um fenômeno

coletivo, isso pela promoção da saúde, compreendendo o processo dos efeitos

dos problemas de saúde de várias pessoas e não isoladamente.

68

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