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Introdução à Filosofia Disciplina na modalidade a distância

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Introdução à Filoso�a

Disciplina na modalidade a distância

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Sumário

Apresentação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .7Palavras do professor . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .9Plano de estudo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 11

UNIDADE 1 - O que é Filosofia. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 15UNIDADE 2 - Conhecimento e conhecimento filosófico . . . . . . . . . . . . . . . . 47UNIDADE 3 - Filosofia e história: períodos e características . . . . . . . . . . . . . 65UNIDADE 4 - Os grandes temas da Filosofia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 109UNIDADE 5 - A Filosofia na vida e a vida na Filosofia . . . . . . . . . . . . . . . . . . 139

Para concluir o estudo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 165Referências . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 167Sobre o professor conteudista . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 173Respostas e comentários das atividades de autoavaliação . . . . . . . . . . . . . 175Biblioteca Virtual . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 183

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Apresentação

Este livro didático corresponde à disciplina Introdução à .

O material foi elaborado visando a uma aprendizagem autônoma e aborda conteúdos especialmente selecionados e relacionados à sua área de formação. Ao adotar uma linguagem didática e dialógica, objetivamos facilitar seu estudo a distância, proporcionando condições favoráveis às múltiplas interações e a

Lembre-se que sua caminhada, nesta disciplina, será acompanhada e monitorada constantemente pelo Sistema

caracterizada somente na modalidade de ensino que você optou para sua formação, pois na relação de aprendizagem professores e instituição estarão sempre conectados com você.

Então, sempre que sentir necessidade entre em contato; você tem à disposição diversas ferramentas e canais de acesso tais como: telefone, e-mail e o Espaço Unisul Virtual de Aprendizagem, que é o canal mais recomendado, pois tudo o que for enviado e

Nossa equipe técnica e pedagógica terá o maior prazer em lhe atender, pois sua aprendizagem é o nosso principal objetivo.

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Palavras do professor

Olá, acadêmico(a)!

Seja bem-vindo(a) ao Curso de Filosofia da UnisulVirtual.

O nosso curso tem como objetivos: favorecer atividades de pesquisa, difundir a cultura filosófica e incentivar o exercício da cidadania. É este o enfoque que daremos ao apresentar, nesta disciplina, os conceitos introdutórios ao estudo da Filosofia. Queremos familiarizá-lo(a) com o mundo da Filosofia, convencê-lo(a) de que fez uma boa escolha quando optou por aproximar-se da Filosofia e, motivá-lo(a) a permanecer conosco, contribuindo com este projeto: um sonho de muitos amantes da sabedoria.

Para quem ama a sabedoria, “longe é um lugar que não existe”. A distância física que nos separa não é maior que o mútuo interesse que nos une. Nós temos uma mesma paixão e, com o uso das novas tecnologias de informação e comunicação, a distância não é obstáculo para a produção, transmissão e socialização do conhecimento, na interação entre docentes e discentes.

Filosofia é busca, é curiosidade em conhecer e inquietação, é um “não se contentar de contente”. Por isso, não se limite a ler, estudar, fazer o que é dito, sugerido, solicitado neste livro didático: vá muito mais além, vá muito mais longe. Não tenha medo! Para quem ama a sabedoria, “longe é um lugar que não existe”.

Bons estudos!

Professor Marciel Evangelista Cataneo

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Plano de estudo

O plano de estudos visa a orientá-lo no desenvolvimento da disciplina. Ele possui elementos que o ajudarão a conhecer o contexto da disciplina e a organizar o seu tempo de estudos.

O processo de ensino e aprendizagem na UnisulVirtual leva em conta instrumentos que se articulam e se complementam, portanto, a construção de competências se dá sobre a articulação de metodologias e por meio das diversas formas de ação/mediação.

São elementos desse processo:

� o livro didático;

� o Espaço UnisulVirtual de Aprendizagem (EVA);

� as atividades de avaliação (a distância, presenciais e de autoavaliação);

� o Sistema Tutorial.

Ementa

O problema do conceito de Filosofia. Filosofia e outras formas de conhecimento. Os dois eixos norteadores para o estudo da Filosofia: o eixo histórico e o eixo temático. Panorama da história da Filosofia: principais períodos e respectivas características. Disciplinas clássicas da Filosofia.

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Universidade do Sul de Santa Catarina

Objetivos

Geral

Apresentar a Filosofia e o conhecimento filosófico como uma busca amorosa da sabedoria sobre a existência humana no tempo e no mundo.

Específicos

� Identificar um conjunto de referenciais teóricos que lhe possibilite divisar por detrás de tal multiplicidade de objetos de estudo a unidade que caracteriza a prática filosófica.

� Conhecer e compreender as especificidades da prática filosófica, diferenciando-a de outras formas de conhecimento e de atitude.

Carga Horária

A carga horária total da disciplina é 60 horas-aula.

Conteúdo programático/objetivos

Veja, a seguir, as unidades que compõem o livro didático desta disciplina e os seus respectivos objetivos. Estes se referem aos resultados que você deverá alcançar ao final de uma etapa de estudo. Os objetivos de cada unidade definem o conjunto de conhecimentos que você deverá possuir para o desenvolvimento de habilidades e competências necessárias à sua formação.

Unidades de estudo: 5

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Nome da disciplina

Unidade 1 - O que é Filosofia

Nesta unidade, você estuda o modo humano de ser e a origem e necessidade da atividade filosófica; a Filosofia como atitude, autonomia, reflexão, crítica, criatividade, sabedoria e visão de mundo; os primórdios da Filosofia e do pensamento ocidental; os objetivos e motivações do projeto pedagógico do curso de graduação em Filosofia da UnisulVirtual.

Unidade 2 – Conhecimento e conhecimento filosófico

Por meio desta unidade, você conhece o conhecimento e o conhecimento filosófico; as diferenças e aproximações entre ciência e filosofia; e as peculiaridades do conhecimento filosófico, assim como a missão do filósofo.

Unidade 3 – Filosofia e história: períodos e características

Você identifica, nesta unidade, a relação entre Filosofia e história; a importância do conhecimento da história e da história da Filosofia; as características dos diferentes períodos da história do pensamento; a relação entre o surgimento dos filósofos e os principais eventos históricos; e as características e transformações da sociedade ocidental.

Unidade 4 – Os grandes temas da Filosofia

Nesta unidade, você conhece os principais temas com os quais se ocupa o pensamento ocidental no desenvolvimento da Filosofia; as disciplinas clássicas da Filosofia; a aproximação do pensamento do acadêmico com o mundo da Filosofia.

Unidade 5 – A Filosofia na vida e a vida na Filosofia

Nesta unidade, você estuda a relação entre a vida humana em seu quotidiano e a reflexão filosófica; a importância do ter objetivos, metas e ideais para a realização da existência humana em todas as suas potencialidades; a Filosofia do cuidado como aproximação ideal e desejável entre reflexão filosófica e vida humana; e o momento existencial humano e seu necessário reencontro com a sabedoria e a Filosofia.

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Universidade do Sul de Santa Catarina

Agenda de atividades/Cronograma

� Verifique com atenção o EVA, organize-se para acessar periodicamente a sala da disciplina. O sucesso nos seus estudos depende da priorização do tempo para a leitura, da realização de análises e sínteses do conteúdo e da interação com os seus colegas e professor.

� Não perca os prazos das atividades. Registre no espaço a seguir as datas com base no cronograma da disciplina disponibilizado no EVA.

� Use o quadro para agendar e programar as atividades relativas ao desenvolvimento da disciplina.

Atividades obrigatórias

Demais atividades (registro pessoal)

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1UNIDADE 1

O que é Filosofia

Objetivos de aprendizagem

� Identificar no modo humano a origem e a necessidade da atividade filosófica.

� Conhecer e compreender a Filosofia como atitude, autonomia, reflexão, crítica, criatividade, sabedoria e visão de mundo.

� Identificar os primórdios da Filosofia e do pensamento ocidental.

� Conhecer os objetivos e motivações do projeto pedagógico do curso de graduação em Filosofia da UnisulVirtual.

Seções de estudo

Seção 1 O desejo de compreender o mundo

Seção 2 O que é Filosofia?

Seção 3 Os primórdios da Filosofia

Seção 4 Filosofia na UnisulVirtual

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Para início de estudo

Nesta primeira unidade, conversaremos sobre a importância do pensar e sobre o desejo humano de compreender a vida e o mundo. Também veremos o que é a Filosofia e conheceremos as principais etapas que percorreu no Ocidente. Afinal, concluiremos que a busca pelo conhecimento e pela sabedoria fez surgir a Filosofia, e que esta muito caracteriza o modo humano de ser.

Seção 1 – O desejo de compreender o mundo

Nosso impulso ao conhecimento é forte demais para que ainda sejamos capazes de estimar a felicidade sem conhecimento, ou a felicidade de uma ilusão forte, firme. (NIETZSCHE, 1983, p. 139).

Diante do mundo, da realidade que o cerca, encontram-se no homem o desejo e a necessidade de conhecer, explicar, compreender, dominar, etc. Desejo e necessidade nos tiraram das cavernas, dando início à aventura humana.

Homem: um ser que pensa

O homem é o animal que pensa! Assim se define o ser cuja principal característica é a racionalidade. A possibilidade do uso da razão nos faz diferentes de todos os outros seres, caracterizando-nos como senhor de engenhos e potencialidades. E nos coloca diante da realidade. Diferentemente de outros seres vivos que estão “apenas” imersos no mundo, o homem está diante do mundo, enfrentando-o, dando-lhe um sentido, transformando-o.

Veja o que diz Buzzi sobre o pensar humano.

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Introdução à Filosofia

Unidade 1

Para Buzzi (1983, p. 11), “Pensar, na significação etimológica do termo, quer dizer sopesar, pôr na balança para avaliar o peso de alguma coisa”. Assim, aprender a pensar é aprender a avaliar. Descobrir o verdadeiro “peso” de cada coisa, fato, realidade. É esta atividade que produz o conhecimento: a justa medida sobre determinado objeto. É por isso que Buzzi diz que o conhecimento das “coisas” é obra dos que pensam.

Um ser que busca explicações

A Filosofia é obra humana. É da atitude do homem que pensa. Ao fazê-lo, constrói a sua existência e origina a Filosofia.

Pensar é filosofar. Tudo começou na Grécia, banhada pelo mar Mediterrâneo, cujas águas foram o berço de civilizações e impérios. É na Grécia, com suas costas irregulares e suas muitas ilhas, que um punhado de homens contempla os mistérios do céu e do mar. O homem exercita o pensamento, diante do mistério. O homem que pensa é inquieto e suspeita do que vê. A realidade como se apresenta instiga o pensamento. O exercício do pensamento desvela mistérios, revela o escondido, descobre a realidade.

Veja o que expressa Martins Filho (1997, p. 19) sobre os primórdios da Filosofia:

Nos primórdios da história, as explicações que os homens davam para os fenômenos e para as coisas eram de caráter mitológico: forjavam mitos em que os deuses permeavam todos os acontecimentos (lendas e estórias de seres fabulosos, heróis e divindades) e que eram transmitidos de geração em geração através da tradição oral [...] Os gregos são o primeiro povo a dar explicações racionais às coisas, surgindo daí a Filosofia. No entanto, nos seus começos, a Filosofia não se distinguia das demais ciências: o conhecimento humano primitivo era um amálgama único...

Afinal, o que leva um homem à Filosofia?

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Para Aristóteles, é a admiração. Desde que dotado para tanto, o homem, impressionado pelo mundo que o circunda, pela variedade e diversidade das coisas que lhe são próximas, e, mesmo, as que se encontram bem distantes, tenta explicá-las com o recurso da razão.

Parafraseando Pessoa: “Pensar é preciso! Viver não é preciso.” Não há nesta frase do poeta nenhum desprezo pela vida, ou elogio exagerado à racionalidade. Pessoa fala de precisão, da confiança, da certeza que brota do exercício do pensamento, contrapondo-se às imprecisões que marcam a vida, principalmente quando vivida sem reflexão.

Veja que, já na origem da Filosofia ocidental, encontramos a convicção de que a vida, sem reflexão, não tem sentido. Sócrates, por exemplo, é um grande defensor desta perspectiva.

Um ser capaz de compreender

Compreender o mundo em que vivemos e o tipo de sociedade à qual pertencemos, o tipo de cultura e de civilização que nos envolvem é tarefa da qual nenhum de nós pode abrir mão. Por isso, pensar é preciso, pois permite a construção do conhecimento, e disto depende a qualidade das nossas escolhas, a realização dos nossos sonhos e projetos.

Pensar nos faz sujeito, protagonista da nossa própria história, senhor de si. Pensar liberta, torna-nos livres. Sistemas autoritários, regimes totalitários, tudo faz com que o homem não pense. Fazem uso de todas as formas de manipulação, alienando-o da sua própria existência, levando-o a realizar um projeto de vida que não é seu.

O pensamento e o conhecimento produzem ideias, renovam todas as coisas, reinventam o mundo. Entre as qualidades exigidas de um gestor no mundo dos negócios, por exemplo, sobressai-se a capacidade de pensar. Ou seja, avaliar o peso de cada coisa, fato, situação. Medir o peso de cada atitude, escolha, decisão. A sobrevivência e o sucesso pessoal e profissional,

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Introdução à Filosofia

Unidade 1

em realidade tão competitiva, dependem desta capacidade de compreender o mundo que nos envolve, os relacionamentos e as circunstâncias que nos definem.

Seção 2 - O que é Filosofia?

Você já pôde perceber que a Filosofia não é muito fácil de ser definida, não é mesmo? Ela é conhecimento do homem sobre si mesmo e o mundo. Diante desta afirmação, um universo de saberes e mistérios podem ser vislumbrados.

Filosofia é uma atitude

Saiba que Filosofia é antes uma prática, um exercício do pensar. Implica colocar a racionalidade a serviço da curiosidade, do prazer de conhecer. Não basta apenas aprender uma série de definições e teorias. É necessário aprender a filosofar. O filósofo Immanuel Kant (1724-1804) costumava dizer a seus alunos: “Não há Filosofia que se possa aprender, só se aprende a filosofar” (KANT apud ARANHA e MARTINS, 1996, p. 72).

Filosofia é uma atitude! Você já deve ter ouvido esta expressão em algum momento da sua vida: “Você tem que ter atitude!”

A atitude do filósofo caracteriza-se pela humildade intelectual de quem convive com a dúvida; pela admiração crítica diante dos mistérios e contradições da realidade; pelo espanto e encantamento diante do que se apresenta como normal ou natural.

Filosofia é autonomia

Conforme Pacheco e Nesi (2007, p. 23), a palavra “autonomia está ligada à capacidade de pensar por si próprio”. Tem “origem grega e é composta por duas outras palavras, autós e nómos. Autós refere-se à condição de independência, de realizar algo

Figura 1.1 - Immanuel Kant Fonte: Neo Lumen Veritatis (2011).

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por si mesmo, por si próprio. Nómos refere-se à lei, à norma, à regra”. Autônomo “é aquele que é capaz de estabelecer regras e procedimentos a partir de si mesmo”.

Os seres humanos encontram na autonomia um pressuposto para a realização do sujeito no exercício da liberdade. Não desenvolver esta habilidade implica ser conduzido, manipulado, robotizado, coisificado. Filosofia é autonomia, pois, enquanto reflexão, possibilita as escolhas que irão determinar os caminhos pelos quais trilhará o indivíduo que pensa a vida e se torna apto a conduzi-la segundo a sua própria vontade.

Filosofia é reflexão

O trabalho filosófico é um trabalho de reflexão. Esta palavra define bem a atitude do filósofo: reflexão vem do verbo latino reflectere, que significa voltar atrás. Filosofar significa, portanto, retomar, reconsiderar os dados disponíveis, revisar, analisar, examinar, prestar atenção. É este o sentido da expressão “acercar-se amorosamente do saber”.

A Filosofia é um exercício de raciocínio, é uma maneira de se posicionar diante das coisas e fatos do mundo. A Filosofia não é um conjunto de conhecimentos prontos, um sistema acabado, fechado em si mesmo. Mas um constante ver e rever, que permite o desenvol-vimento e a evolução.

A reflexão é o que qualifica o conhecimento filosófico, e esta reflexão tem que ser um exercício profundo e sério: ela tem que ser crítica.

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Introdução à Filosofia

Unidade 1

Filosofia é crítica

A palavra crítica vem do grego “krisis” (crise) e significa purificação, crescimento. É o conceito de crítica que torna a reflexão filosófica qualitativamente superior a uma reflexão, pelo simples prazer de refletir.

Conforme Pacheco e Nesi (2007, p. 25), “a crítica está ligada a nossa capacidade de questionar e julgar”. Criticar significa “não se conformar com as explicações já fornecidas sobre o nosso mundo” e a realidade que nos cerca. A crítica está sempre em relação com algo que nos é apresentado. É uma maneira privilegiada de nos posicionarmos perante fatos, objetos, conceitos e situações. O filósofo, feito criança envolta num mundo de muitos e variados porquês, não pára de questionar. Tem um espírito inquiridor, inquieto, investigativo.

Conforme Pacheco e Nesi (2007, p. 25), criticar abrange duas características básicas: questionar os fundamentos, as idéias, as causas e os efeitos de um fenômeno; julgar estes fundamentos ou idéias como aceitáveis ou não.

Filosofia é crítica. A filosofia parte do que existe, analisa, critica, coloca em dúvida, faz perguntas importunas, abre a porta das possibilidades, faz entrever outros mundos e outros modos de compreender a vida.

A Filosofia questiona o modo de ser das pessoas, das culturas, do mundo. Questiona as práticas política, cien-tífica, técnica, ética, econômica, cultural e artística. E, por isso, incomoda. A Filosofia quer encontrar o significado mais profundo dos fenômenos. Não basta saber como funcionam, mas o que significam na ordem geral do mundo humano. A Filosofia emite juízos de valor, ao julgar cada fato, cada ação em relação ao todo.

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Universidade do Sul de Santa Catarina

Filosofia é criatividade

A Filosofia é criatividade e, conforme Pacheco e Nesi (2007, p. 25):

a criatividade está relacionada com a nossa capacidade de gerar [novas explicações e realidades,] de criar o novo. [É a atitude ou atividade criadora.] A criatividade representa um passo posterior em relação à crítica. Se, ao criticar, questionamos e julgamos as explicações sobre o nosso mundo, então, agora estamos preparados para desenvolver a criatividade, ao propor uma ‘nova’ explicação sobre o mundo.

A crítica queima e purifica. A criatividade, por sua vez, constrói o novo.

Aqui a Filosofia encontra-se com a ousadia. O filósofo não tem medo de balançar as estruturas do que está estabelecido e caminhar em direção ao novo, ao inaudito. O filósofo é pensamento em busca do novo. Atividade de quem apressa o parto de novas ideias e concepções, gerando novos sentidos e explicações para a realidade.

A criatividade, enquanto atitude filosófica, exige a con-templação, a admiração, que são filhas do tempo. A criatividade exige o tempo da gestação do novo. Por isso ela não pode ser apressada sob pena de ser falseada e confundida com mero modismo, que muito barulho faz para, num breve e curtíssimo tempo, dissolver-se no ar pueril das novidades.

Filosofia é amor à sabedoria

A etimologia da palavra Filosofia confirma o enunciado. O vocábulo, originário do verbo grego philosophein, significa amar (philia) a sabedoria (sophia) ou procura amorosa da verdade, entendida como reflexão da pessoa acerca da vida e do mundo. A Filosofia, além de sofia (saber, ciência), é a procura dessa sofia.

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Introdução à Filosofia

Unidade 1

A essência da Filosofia é a procura do saber e não somente a sua posse: “O que eu sei, é que nada sei”, dizia Sócrates (470-399 a.C.). O sábio não julga saber, o sábio busca, procura, investiga. O verdadeiro sábio sabe que a verdade não lhe pertence e, por isso, acer-ca-se amorosamente dela.

A palavra Filosofia foi utilizada pela primeira vez por Pitágoras (século V a.C.). Em resposta aos que o chamavam de “sábio”, Pitágoras retrucava, exigindo não ser chamado assim, mas apenas de “amante da sabedoria”, alguém que procura pelo saber, ou seja: um filósofo. Veja a figura 1.2.

Filosofia é visão de mundo

Filosofar é olhar o mundo com os “olhos” da Filosofia. Por ser uma particularidade do ser pensante, há um grau considerável de subjetividade na atitude filosófica. Os filósofos podem chegar a conclusões diversas, dependendo das premissas de partida e da situação histórica dos próprios pensadores.

A Filosofia está sempre vinculada a um determinado contexto histórico que procura, ao seu tempo, responder às questões que intrigam a racionalidade humana. Estas diferentes concepções são chamadas de sistemas filosóficos. Mas, em qualquer situação, o processo do filosofar ultrapassará a mera informalidade, enquanto compromisso com respostas satisfatórias e com assento na realidade.

A Filosofia informal

Na vida cotidiana, as pessoas deparam-se com situações para as quais buscam respostas. Estas questões rotineiras são refletidas no ritmo em que acontecem, sem nenhum compromisso com a lógica, a coerência, o formalismo científico, por pessoas comuns, dotadas de racionalidade. Este pensar cotidiano dá origem a uma “filosofia” vulgar, ou seja, popular, ou do povo. Uma sabedoria de vida.

Figura 1.2 – Pitágoras

Fonte: Souza (2008).

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Universidade do Sul de Santa Catarina

Além destas reflexões que são provocadas naturalmente pelos acontecimentos diários, as pessoas optam -- condicionadas pelo meio em que vivem ou por tradições arraigadas -- , por princípios básicos que norteiam as suas vidas. E, de alguma forma, mesmo sem ser filósofo, toda pessoa tem uma proposta de vida, valores que são eleitos no decorrer da vida, um perfil do que pretende realizar na sua existência, uma maneira específica de enxergar e viver a realidade, mesmo que isto não seja muito claro para ela. Eis aqui o que podemos chamar de “filosofia” de vida.

É preciso deixar claro, no entanto, que esta “filoso-fia” informal é subjetiva e superficial. Não obedece a nenhuma exigência formal ou rigorosa. É construída artesanalmente ou espontaneamente, de acordo com a vida que cada indivíduo vai levando. Seu único limite são as convenções sociais, o espaço do outro. Assim compreendida a Filosofia, cada ser humano é um filósofo, pois pensa, reflete e cria a sua própria forma de enxergar o mundo.

A Filosofia formal

A Filosofia não se resume apenas à filosofia de vida. Ela também tem sua elaboração formal, seu compromisso com a lógica, seus critérios universais. É a chamada Filosofia formal.

Para que uma reflexão possa ser chamada de filosófica, é preciso que satisfaça a uma série de exigências. Entre elas, Saviani (2002) destaca três:

� radicalidade: a Filosofia exige que a questão a ser analisada seja colocada em termos radicais. Quer dizer, é preciso que se vá até as raízes, até seus fundamentos, ou seja, uma reflexão em profundidade;

� rigorosidade: deve-se proceder à reflexão com rigor, ou seja, sistematicamente, segundo métodos determinados;

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Introdução à Filosofia

Unidade 1

� totalidade: a questão não pode ser analisada de modo parcial, mas em uma perspectiva de conjunto, relacionando-a com os demais aspectos do contexto em que está inserida.

O filósofo, além de pensar com maior rigor lógico, com maior coerência, com maior espírito de sistema, deve conhecer a história do pensamento humano, saber explicar o desenvolvimento que o pensamento teve e ser capaz de retomar os problemas a partir do ponto em que se encontram, depois de terem sofrido as mais variadas tentativas de solução. Esta estrutura racional de tratamento das questões promove a pas-sagem do mito para o logos, das explicações mitológi-cas e religiosas para as explicações racionais.

Seção 3 - Os primórdios da Filosofia

Na história do pensamento ocidental, a Filosofia nasce na Grécia, por volta do século VI a.C. Surge, por meio de longo processo histórico, promovendo a passagem do saber mítico ao pensamento racional.

O que caracteriza, portanto, a origem da Filosofia, o aparecimento do espírito filosófico enquanto tal é a passagem das explicações a partir do sobrenatural para as explicações racionais ou humanas.

Os primeiros filósofos, assim como os poetas Homero e Hesíodo, buscam uma explicação para a relação entre o caos e a ordem do mundo. O que muda é a maneira de entender essa relação. Enquanto o poeta vê os deuses como os responsáveis por tudo que existe e acontece, os antigos pensadores preferem partir das formas da natureza (terra, água, ar etc...) para entender a vida.

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A mitologia

A palavra grega mythos significa narrativa. Trata-se de uma palavra que aponta a origem dos deuses, do mundo, dos homens, das técnicas (fogo, caça, pesca, artesanato, guerra etc...) e da vida social.

No entanto, pode-se afirmar que os mitos são mais do que simples narrativa. De acordo com Chaui (1998, p. 138), são a maneira pela qual, através das palavras, os seres humanos organizam a realidade e a interpretam.

O pensamento mítico grego teve início desde o séc. XXI ao VI a.C. A verdade do mito não obedece à lógica da verdade empírica, nem da verdade científica. É verdade intuída, que não necessita de provas para ser aceita. É uma intuição compreensiva da realidade, é uma forma espontânea do homem situar-se no mundo.

As características do logos, que o contrapõem ao pensamento mítico, são a imanência (oposta à transcendência), o naturalismo e o abandono do antropomorfismo.

A passagem da consciência mítica ou religiosa para a consciência racional ou filosófica não aconteceu instantaneamente. Esses dois tipos de consciência coexistiram na sociedade grega. Durante muito tempo, os primeiros filósofos gregos compartilhavam de diversas crenças míticas, enquanto desenvolviam o conhecimento racional que caracterizaria a Filosofia.

O mito não é exclusividade de povos primitivos, nem de civilizações nascentes, mas existiu em todos os tempos e culturas como componente indissociável da maneira humana de compreender a realidade, também na sociedade atual.

Imanência é a qualidade do que está aqui e faz parte deste mundo, da realidade da natureza e da realidade do homem.

Naturalismo é a concepção que defende a origem natural do homem e do mundo, sendo a natureza o lugar privilegiado para encontrar respostas e explicações para todo questionamento.

Antropomorfismo refere -se a explicações que atribuem aos deuses e à natureza formas humanas. Uma espécie de metáfora em que se fala dos deuses e da natureza a partir do entendimento, linguagem e realidade humana.

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Introdução à Filosofia

Unidade 1

Tudo começou com Tales

O grego Tales de Mileto (624-546 a.C.) é considerado o marco inicial da história da Filosofia. Ele se encontra entre os chamados filósofos pré-socráticos (os que viveram antes de Sócrates). A preocupação principal destes pensadores originais e originantes era a de desvendar para estes gregos os segredos do universo, compreender a natureza num sentido amplo, a physis. Por isso, dizemos que a Filosofia primeira era cosmológica (estudo do cosmos).

Tales inaugura uma nova atitude do homem em relação ao mundo. Conforme Pacheco e Nesi (2007, p. 20), começou a questionar racionalmente a natureza com perguntas como essas:

- Por que uma planta cresce? Por que ela se desenvolve e morre? Por que os seres vivos nascem, desenvolvem-se e morrem? O que garante a vida dos seres vivos?

Qual o princípio (arkhé) que origina todos os seres?

Tales não se satisfaz com as respostas dadas pela mitologia, que atribuía a realidade e o sentido de todas as coisas à ação dos deuses e a fenômenos inexplicáveis. “Ele procurava investigar, compreender o mundo de modo racional” (questionando).

Conforme Pacheco e Nesi (2007, p. 21), Tales

acredita que há razões, motivos, em função dos quais uma planta, por exemplo, nasce, cresce e morre. Fundamenta a investigação de Tales a concepção de que o nascimento, o crescimento e a morte são efeitos que podemos perceber, mas que existe uma causa que originou esta mudança. Esta relação de causa e efeito, o princípio da causalidade [...]

é o caminho de Tales para o entendimento racional da realidade e “marca o surgimento da Filosofia como tentativa de investigação racional da realidade”.(ibidem, p. 21).

De acordo com Pacheco e Nesi (2007, p. 20), os gregos antigos tinham uma concepção de natureza diferente da nossa, de hoje. O conceito de natureza (physis) grego abrangia todas as coisas que existem, inclusive a subjetividade humana, o processo de nascimento, desenvolvimento e morte dos seres, o processo de geração e corrupção das coisas.

De acordo com Pacheco e Nesi (2007, p. 20), arkhé é uma palavra grega que designa princípio. Os primeiros filósofos, os pré-socráticos, tinham em comum o fato de que investigavam qual seria o princípio (arkhé) constitutivo de todas as coisas presentes na natureza (natureza esta entendida em seu sentido amplo como physis).

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Por que a Grécia?

Você sabe por que a Filosofia surgiu justamente na Grécia e naquele período histórico? Quais as condições materiais (políticas, econômicas, sociais, históricas etc...) que permitiram o surgimento da Filosofia?

Acompanhe algumas das principais condições, segundo Chaui (1998, p. 31-32).

Viagens marítimas - estas permitiram aos gregos descobrir que os locais ditos pelos mitos como habitados por deuses, heróis etc... eram, na verdade, habitados por outros seres humanos; e que as regiões dos mares que os mitos diziam habitadas por monstros e seres fabulosos, não possuíam nada disso. As viagens produziram o desencantamento ou a desmistificação do mundo. A explicação do mito já não era mais razoável.

Invenção do calendário - observe que este é uma forma de calcular o tempo conforme as estações do ano, as horas do dia, enfim os fatos importantes que se repetem, revelando, com isso, uma capacidade de abstração nova, ou uma percepção do tempo como algo natural, e não como um poder divino incompreensível.

Invenção da moeda - permitiu uma forma de troca que não se realiza através das coisas concretas ou dos objetos concretos trocados por semelhança (escambo), mas uma troca feita pelo cálculo do valor semelhante das coisas diferentes, revelando, assim, uma nova capacidade de abstração e generalização.

Surgimento da vida urbana - com predomínio do comércio e do artesanato, dando desenvolvimento a técnicas de fabricação e de troca, diminuiu o prestígio das famílias da aristocracia proprietárias de terras, por quem e para quem os mitos foram criados; além disso, o surgimento de uma classe de comerciantes, que precisava encontrar pontos de poder e de prestígio para suplantar o velho poderio da aristocracia de terras e de sangue (famílias), fez com que se procurassem as artes, as técnicas, os conhecimentos, favorecendo um ambiente onde a Filosofia poderia surgir.

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Introdução à Filosofia

Unidade 1

Invenção da escrita alfabética - outro elemento que revela o crescimento da capacidade de abstração e de generalização, uma vez que a escrita alfabética ou fonética, diferentemente de outras escritas (como, por exemplo, os hieróglifos dos egípcios ou os ideogramas dos chineses), supõe que não se represente uma imagem da coisa que está sendo dita, mas a ideia dela, o que dela se pensa e se transcreve.

Desenvolvimento da política - que introduz três aspectos novos e decisivos para o nascimento da Filosofia:

� a ideia da lei como expressão da vontade de uma coletividade humana, que decide por si mesma o que é melhor para si e como ela definirá suas relações internas, dentro da polis;

� o surgimento de um espaço público, que faz aparecer um novo tipo de discurso, diferente daquele que era proferido pelo mito. Agora, com a polis, surge a palavra como direito de cada cidadão de emitir em público sua opinião, discuti-la com os outros, persuadi-los a tomar uma decisão proposta por ele, de tal modo que surge o discurso político como a palavra humana compartilhada, como diálogo, discussão e deliberação humana;

� a política estimula um pensamento e um discurso que não procuram ser formulados por seitas secretas dos iniciados em mistérios sagrados, mas que procuram, ao contrário, ser públicos, ensinados, transmitidos, comunicados e discutidos. A idéia de um pensamento que todos podem compreender e discutir, que todos podem comunicar e transmitir, é fundamental para Filosofia.

Segundo Abrão (1999, p. 18), há uma diferença fundamental entre o pensamento mítico e o pensamento racional dos primeiros filósofos. A mitologia exprimia, na forma divina e celestial, todo o conjunto de relações, quer dos homens entre si, quer entre o homem e a natureza. Assim como os deuses são criadores do mundo, o rei é o criador da ordem social. Por isso, a mitologia apenas narra a sucessão de fenômenos divinos, naturais e humanos. Ela não os explica, pois a explicação já está dada pelo poder real.

Em torno do ano 1500 a.C., começou a formar-se no seio da cultura semita, provavelmente na Síria, a escrita alfabética. O método consistia na representação gráfica de sons isolados mediante sinais próprios. Foi utilizado por numerosos povos antigos e, posteriormente, permitiu aos fenícios criar seu alfabeto, o qual disseminaram por todos os países a que levaram sua civilização. Os signos do alfabeto fenício, como os de todas as línguas semitas, só representam as consoantes. Os gregos, que o adotaram por volta do ano 800 a.C., acrescentaram-lhe a representação das vogais. Todos os alfabetos posteriores procedem do semita ou do grego e dispõem de um repertório de vinte a trinta letras. A primitiva escrita grega utilizava somente letras maiúsculas; posteriormente, introduziram-se as minúsculas.

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O desaparecimento do “rei divino” altera este cenário. A pólis surge como criação da vontade humana. Os acontecimentos, antes considerados realizações do rei (e dos deuses) perdem a base de compreensão. Tornam-se problemas. Para resolvê-los, o homem deve servir-se do meio que ele próprio desenvolveu ao criar a pólis: a razão.

Também o centro da cidade sofre uma mudança radical com a ágora, a praça pública, onde acontecem as transações comerciais e as discussões sobre a vida da cidade. O acesso à ágora torna-se cada vez maior, estendendo-se, com a instituição da democracia, a todos os que têm direito à democracia, ou seja, habitantes do sexo masculino, adultos e que não sejam estrangeiros ou escravos.

No entanto, muito antes do nascimento da pólis, a Grécia já vivia uma vida cultural intensa, da qual Homero é o representante. Os poemas atribuídos a ele, Ilíada e Odisséia, narram as últimas guerras troianas, que ocorreram por volta de 1250 a.C. Ilíada conta a fase final dos combates.

Derrotada Tróia, o herói Ulisses parte para Ítaca, sua terra natal, onde a esposa Penélope o espera. Odisséia descreve esta longa viagem através dos mares.

Em Ilíada, explica por que os troianos eram vitoriosos em certas batalhas e, em outras, a vitória cabia aos gregos. Os deuses estavam divididos: alguns, a favor de um lado; e outros, a favor de outro. Zeus (o rei dos deuses) ficava com um dos lados a cada vez: aliava-se a um dos grupos (gregos ou troianos) e fazia um dos lados vencer uma batalha.

A causa da guerra, aliás, foi uma rivalidade entre as deusas. Elas apareceram em sonho para o príncipe troiano Páris, oferecendo a ele seus dons, e ele escolheu a deusa do amor, Afrodite. As outras deusas, enciumadas, o fizeram raptar a grega Helena, mulher do general grego Menelau, e isso deu início à guerra entre os humanos.

Praça pública das antigas cidades gregas, em geral constituída de um espaço aberto, cercado de edifícios públicos. Símbolo da democracia grega, utilizada, sobretudo, em atividades políticas e assembléias dos cidadãos.

Epopéia em 24 cantos atribuída ao poeta grego Homero. Narra as proezas do herói Aquiles na Tessália, durante a última etapa da guerra de Tróia, quando esta é tomada pelos gregos.

Tróia: Cidade histórica erguida por colonos gregos por volta do ano 700 a.C. Base dos épicos de Homero.

Ulisses: Herói da mitologia grega, filho do rei Laerte e de Anticléia. Protagonista das epopéias homéricas, tornou-se símbolo da capacidade humana para superar as adversidades.

Odisséia: Epopéia do poeta grego Homero, escrita provavelmente no século VIII a.C. Narra as aventuras de Ulisses, ou Odisseu, rei de Ítaca e marido de Penélope.

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Introdução à Filosofia

Unidade 1

Você quer saber mais sobre a Odisséia de Homero?

Então, assista ao filme “A Odisséia”.

Acompanhe os dados básicos, o resumo e contexto histórico do filme.

TÍTULO DO FILME: “A ODISSÉIA” (The Odyssey, EUA 1997)

DIREÇÃO: Andrei Konchalovsky

ELENCO: Isabella Rosselini, Armand Assante, Eric Roberts, Greta Scacchi, Geraldine Chaplin, Christopher Lee, Irene Papas. 150 min, Alpha Filmes.

Resumo: O filme, uma produção de Francis Ford Coppola, é uma adaptação do poema A Odisséia, atribuído a Homero. Narra as aventuras de Ulisses na guerra de Tróia e sua saga para retornar para Itaca e para a sua amada Penélope. Para tanto, luta contra a vontade de deuses e deusas e contra o poder das criaturas mitológicas. A saga de Ulisses representa um marco na passagem da Mitologia para a Filosofia, pois, contra a força dos deuses, o herói usa as qualidades e habilidades humanas (racionalidade, engenhosidade, critividade, coragem).

Explicação racional e argumentada da realidade

Observando que os antigos narradores (Homero, Hesíodo) só transmitiam tradições, sem dar nenhuma prova de suas doutrinas, Aristóteles (384-322 a.C.), um dos fundadores da Filosofia ocidental, distinguiu entre Filosofia e mito, dizendo ser próprio dos filósofos dar a razão daquilo que falam, ou seja, justificar as suas afirmações.

Estabeleceu-se assim, na cultura ocidental, uma primeira delimitação do conceito de Filosofia como explicação racional e argumentada da realidade. No entanto, não havia sido definida, naquele momento, a separação da Filosofia e das diversas ciências. Aristóteles, por exemplo, investigou tanto sobre metafísica, como sobre física, história natural, medicina

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e história geral, todas reunidas sob a denominação comum de Filosofia. Somente a partir do Renascimento, as diversas ciências se diferenciaram, e a Filosofia foi-se definindo em seus atuais limites e conteúdos.

Pode-se afirmar que o homem sempre se questionou sobre temas como a origem e o fim do universo, as causas, a natureza e a relação entre as coisas e entre os fatos. Essa busca de um conhecimento que transcende a realidade imediata constitui a essência do pensamento filosófico, o qual, ao longo da história, percorreu os mais variados caminhos, seguiu interesses diversos, elaborou muitos métodos de reflexão e chegou a várias conclusões, em diferentes sistemas filosóficos.

Desta maneira, Filosofia é uma busca da sabedoria, conceito que aponta para um saber mais profundo e abrangente do homem e da natureza, o qual trans-cende os conhecimentos concretos e orienta o com-portamento diante da vida. A Filosofia pretende ser também uma busca e uma justificação racional dos princípios primeiros e universais das coisas, das ciên-cias e dos valores, e uma reflexão sobre a origem e a validade das ideias e das concepções que o homem elabora sobre ele mesmo e sobre o que o cerca.

Seção 4 - Filosofia na UnisulVirtual

A presença da Filosofia na Unisul não começa com o oferecimento deste curso na UnisulVirtual: temos uma história de proximidade e afinidade com o saber filosófico. Nesta seção, conheceremos um pouco desta história e acentuaremos alguns aspectos do projeto pedagógico que norteia a proposta atual de Filosofia na modalidade a distância.

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Introdução à Filosofia

Unidade 1

A Filosofia na Unisul

A Filosofia é considerada a mãe de todas as ciências. Está na origem da civilização e mentalidade ocidental. Na antiga Grécia, na passagem das explicações mitológicas para as tentativas racionais de explicação e entendimento da realidade, nasce a Filosofia, a ciência, a civilização ocidental. Não há produção ou descoberta do conhecimento sem a atitude filosófica, por isso a Filosofia não pode estar ausente da universidade virtual que estamos construindo.

A Universidade do Sul de Santa Catarina foi fundada na cidade de Tubarão, estado de Santa Catarina, no ano de 1964. Foi amizade pela sabedoria, o prazer em conhecer, a constante e inquieta busca pelo conhecimento que animou e encorajou os fundadores da nossa instituição. Ampliar as possibilidades de acesso ao conhecimento foi o ideal que desencadeou o processo de fundação e posterior desenvolvimento da nossa universidade.

O Curso de Filosofia da Unisul, na modalidade presencial, recebeu autorização de funcionamento do Conselho Estadual de Educação em fevereiro de 1973, iniciando as suas atividades no mesmo ano. Em 3 de novembro de 1977, o curso foi reconhecido pelo Ministério da Educação.

Contrariando a orientação tecnicista reinante no cenário educacional brasileiro no início dos anos setenta, a Unisul investe em cursos de formação humana e contribui, significativamente, para a transformação da história da região sul do estado catarinense.

São mais de três décadas de presença da Filosofia na história da universidade, formando professores, pesquisadores e cidadãos e oferecendo quadros para a gestão da universidade. Iniciou-se primeiramente com a oferta da modalidade Licenciatura no Campus Sul, em Tubarão, habilitando professores nas disciplinas Filosofia, Psicologia e Sociologia. Cabe destacar, neste período, a formação filosófica possibilitada pela Unisul ao clero da Igreja Católica do sul de Santa Catarina. Depois, com a oferta da modalidade Bacharelado, no Campus Norte, em Florianópolis, tendo como clientela seminaristas de diversas regiões do Estado e tantos outros amantes da sabedoria.

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Hoje nos encontramos mais uma vez diante de um cenário propício, diante de uma nova oportunidade: a Filosofia volta a ser considerada disciplina funda-mental na formação básica do cidadão. A resolução nº 4, de 16 de agosto de 2006, do Conselho Nacional de Educação inclui a disciplina Filosofia na grade curricu-lar do Ensino Médio, gerando uma demanda significa-tiva de profissionais habilitados nesta docência. O pre-sente curso de Filosofia na modalidade Bacharelado é o embrião da modalidade Licenciatura, a ser ofertada na continuidade deste projeto pedagógico.

Também cabe registrar a significativa procura de profissionais das mais diversas áreas e pessoas não comprometidas com atividades laborativas por formação humana e conhecimentos filosóficos.

Vivenciamos uma nova sociedade. A sociedade da informação, a sociedade do conhecimento. Um tempo de acelerado desenvolvimento tecnológico, caracterizado pelo uso intensivo das novas tecnologias da informação e da comunicação, que vem provocando uma intensa e permanente mudança de paradigmas. Neste contexto de mundo em mudança, o acesso e a apropriação do conhecimento têm extrema importância para a sobrevivência dos indivíduos e organizações.

A Filosofia na UnisulVirtual vem dar prosseguimento ao compromisso da universidade com a formação de profissionais nas mais diversas áreas de atuação e suprir uma lacuna na área da formação humanística na grade de cursos oferecidos nesta modalidade de ensino. Um curso que visa formar pessoas, profissionais, cidadãos.

A educação a distância não tem como objetivo substituir o ensino presencial, mas sim articular-se com este de maneira complementar, sinérgica, produtiva e criativa. O objetivo fundamental da educação a distância é o mesmo que sempre animou a atividade filosófica: ampliar as possibilidades de produção de conhecimento e acesso a ele; e promover a democratização do ensino superior, permitindo o ingresso de parcelas da população até então impedidas de cursar a universidade.

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Introdução à Filosofia

Unidade 1

Ensino a Distância e LDB

Em 1994, com a expansão da internet junto às Instituições de Ensino Superior (IES), e com a publicação da Lei de Diretrizes e Bases para a Educação Nacional (LDB), em dezembro de 1996 – que oficializa a EaD como modalidade válida e equivalente para todos os níveis de ensino – é que a universidade brasileira dedica-se à pesquisa e oferta de cursos superiores a distância e ao uso de novas tecnologias neste processo. (VIANNEY; TORRES; SILVA, 2003, p. 16).

O Decreto n.º 2.494, de 10 de fevereiro de 1998, que regulamenta o art. 80 da Lei que dispõe sobre as Diretrizes e Bases da Educação Nacional no Brasil, estabelece que os certificados e diplomas de cursos a distância terão validade nacional e assim define a Educação a Distância

[...] uma forma de ensino que possibilita a auto-aprendizagem, com a mediação de recursos didáticos sistematicamente organizados, apresentados em diferentes suportes de informação utilizados isoladamente ou combinados, e vinculados pelos diversos meios de comunicação. (BRASIL, 1998 apud VIANNEY; TORRES; SILVA 2003, p. 35).

Vianney, Torres e Silva, 2003 destacam que o decreto introduz o conceito de “auto-aprendizagem”, projetando o indivíduo como um dos gestores de seu processo educacional. Privilegia a informação possibilitada por recursos sistematicamente organizados, ensejando a intervenção de outros gestores que, mediante os meios de comunicação, deverão estabelecer uma relação interativa entre instituição e aluno.

Com base no exposto pelo Decreto, pode-se caracteri-zar a educação a distância como um processo em que o aluno constrói o conhecimento interagindo com professores e outros alunos de forma independente da relação tempo-espaço. Deste modo, sua respon-sabilidade passa pelos aspectos como estudar, onde estudar e com que frequência estudar.

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O papel da instituição de ensino nesta modalidade de educação, por sua vez, é o de mediar o processo de interação, garantindo a qualidade em todo o processo, em que o professor atua como facilitador do percurso de aprendizagem do aluno; os recursos técnicos de comunicação proporcionam igualdade de oportunidades de acesso ao saber; respeita-se a autonomia do aluno no processo de aprendizagem; a atividade educativa é bidirecional; a educação é otimizada pela tecnologia; e a barreira da distância geográfica é vencida.

O que significa estudar a distância

Estudar a distância significa modificar algumas referências e hábitos, substituindo-os por outros mais apropriados para a condição de aluno autônomo e a distância. Em vez de se pensar em “salas de aula e horários de curso”, deve-se imaginar um espaço virtual de gestão de horário de trabalho e de processo de aprendizagem. Em vez de imaginar “receber uma aula e fazer os seus deveres no prazo marcado”, é necessário imaginar um “caminho para uma aprendizagem e realização de atividades para aprender”.

Estas diferenças não são apenas de vocabulário. Elas envolvem atitudes, hábitos, estratégias de aprendizagem e responsabilidades bem diferentes das que são normalmente desenvolvidas. Trata-se de, partindo do que já se sabe, tentar desenvolver novas aprendizagens a partir de um ambiente virtual de aprendizagem.

A EaD é, pois, uma alternativa pedagógica de grande alcance, que deve utilizar e incorporar as novas tecnologias como meio para alcançar os objetivos das práticas educativas, tendo sempre em vista as concepções assumidas, de homem e sociedade, e considerando as necessidades das populações a que se pretende servir.

Tem-se, também, a possibilidade da simultaneidade entre estudo e trabalho; democratização de acesso aos estudos superiores a uma ampla população geograficamente distante de instituições universitárias; possibilidade de percorrer trajetórias diferentes de estudo, na medida em que eles próprios estabelecem seus horários; e possibilidade de realizar estudos diferentes daqueles orientados pelos professores, ampliando-os na medida das suas necessidades.

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Introdução à Filosofia

Unidade 1

A metodologia desenvolvida na UnisulVirtual pos-sibilita a realização de estudos individualizados ou estudos em grupo com objetivos de interagir na busca de respostas para as dificuldades ou compar-tilhar descobertas. Possibilita a emergência da roda de crítica e debate, a troca e embate permanente de ideias, próprios do exercício do filosofar. Possibilita uma ampliação significativa da tarefa da Filosofia.

A UnisulVirtual é uma realidade. Um ambiente de busca, transmissão e desenvolvimento do conhecimento. A Filosofia vem para a UnisulVirtual por compartilhar com esta a convicção de que não há ambiente em que a tarefa crítica da Filosofia não seja necessária.

A quem se destina o curso de Filosofia da UnisulVirtual

O curso de Filosofia da UnisulVirtual foi pensado para profissionais das mais diversas áreas, portadores de graduação ou não, desejosos de formação humana e filosófica que permita uma atuação diferenciada no mercado de trabalho e um entendimento dos problemas que afligem o ser humano em suas múltiplas dimensões, a saber: cognitiva, afetiva, econômica, política, cultural e ecológica.

Foi pensado também para lideranças políticas e comunitárias, de movimentos sociais e organizações da sociedade civil, atores sociais que reconhecem a importância da Filosofia para o exercício da cidadania e a busca de uma sociedade mais democrática. E também para amantes da sabedoria não comprometidos (as) com atividades laborativas, que buscam na Filosofia o conhecimento milenar sobre o ser humano e sobre o mundo.

Um olhar rápido nas listas dos livros mais vendidos ou a consulta aos lançamentos expostos nas livrarias revelam um fenômeno digno de nota: entre eles encontram-se muitos que, de alguma forma, são dedicados à Filosofia. Ao ser humano não basta o viver: ele quer compreender a vida! A forte demanda por Filosofia pode ser compreendida a partir da sensação de insegurança e desamparo em face dos desafios do mundo contemporâneo.

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Universidade do Sul de Santa Catarina

Vivemos com um pé num mundo que se dissolve diante dos nossos olhos e com um pé num mundo que está surgindo. Onde estamos? Para onde estamos indo? São questões que afloram nas mentes e corações. E remetem para as clássicas questões filosóficas: Quem sou eu? Por que estou aqui?

A Filosofia interpreta e interroga a vida, sonda a época, pensa com ela e contra ela, questiona as ilusões e reflete sobre teorias capazes de transcender o presente e iluminar o futuro.

Este curso destina-se a todos e todas que sentem esta necessidade profundamente humana de pensar a vida e de tê-la ao alcance das suas mãos. Destina-se aos que se querem sujeitos e protagonistas da sua própria história.

Quem são os filósofos?

Os filósofos são profissionais capazes de discutir a história da Filosofia e de compreender e transmitir os sistemas filosóficos elaborados pelos grandes pensadores da história e por grandes correntes de pensamento.

O Curso de Filosofia visa gerar as competências exigidas por um mundo e sociedade em constante transformação, habilitando-nos para refletir, com autonomia e de maneira crítica, questões do universo de trabalho e demais realidades que nos envolvem.

O campo de atuação do Graduado em Filosofia inclui a pesquisa e produção teórica e atividades diversas, tais como a consultoria em empresas, meios de comunicação, editoras, organizações não-governamentais, assessoria de movimentos sociais, assessoria política e outras. O licenciado em Filosofia irá dedicar-se à atividade docente na área da Filosofia, no Ensino Médio.

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Unidade 1

Espera-se do profissional formado pelo Curso de Filosofia da Unisul:

� capacidade de argumentação com embasamento e articulação do raciocínio na construção de um discurso claro e objetivo, que demonstre habilidade na escrita e expressão oral, compreensão e análise de textos e temas filosóficos;

� compreensão das questões acerca do sentido e da significação da existência humana e da relação intrínseca entre o estudo da filosofia, a produção científica e o agir pessoal e político;

� capacidade de relacionar o exercício da crítica filosófica com a promoção integral da cidadania e com o respeito à vida, dentro da tradição de defesa dos direitos fundamentais da pessoa humana e da natureza na elaboração de um saber que se contraponha aos estereótipos étnicos, sociais e culturais;

� espírito de liderança junto às comunidades, instituições sociais, ONGs, movimentos sociais e no interior de empresas;

� conhecimento das técnicas de elaboração, execução e avaliação de projetos de pesquisa e intervenção social; e

� aptidão (gosto) para a leitura e preparo acadêmico para iniciar e desenvolver pesquisas filosóficas, domínio do conhecimento filosófico e de suas técnicas de investigação, transmissão e produção do conhecimento.

Objetivos comuns do Bacharelado em Filosofia

O projeto pedagógico do Curso de Graduação em Filosofia da UnisulVirtual foi concebido a partir dos seguintes objetivos:

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� queremos promover a difusão da cultura filosófica nas instituições de ensino e nos diferentes ambientes educativos e corporativos, capacitando os acadêmicos para a leitura, compreensão, interpretação, análise e síntese dos clássicos da Filosofia habilitando-os para o enfrentamento das realidades emergentes, favorecendo a produção de novos conhecimentos e novos métodos de transmissão dos conhecimentos, resgatando assim a tradição do filósofo educador;

� queremos favorecer o exercício da cidadania, proporcionando aos profissionais de qualquer área instrumentos para a análise e compreensão da realidade social, histórica e política do Brasil e do mundo, despertando o senso crítico e propiciando o desenvolvimento do espírito investigativo. Para tanto, faz-se necessário aprimorar as habilidades de argumentação, de embasamento de pontos de vista e de articulação do raciocínio em um discurso claro e conceitual; e

� queremos desenvolver a liberdade e a solidariedade humana, estimulando o cultivo de valores que enfatizem a dignidade do indivíduo como cidadão, relacionando a atividade filosófica ao exercício da crítica social voltada para a promoção integrada da cidadania. A Filosofia incentiva a prática constante da análise dos valores que orientam o pensar e o agir humanos, despertando capacidades que facilitem a atuação na elaboração e coordenação de projetos de cunho artístico, cultural e educacional e político.

Concluindo

A Filosofia faz parte da história da Unisul e faz parte da sua história. E tem os seus méritos reconhecidos na busca da realização do conceito de Universidade comprometida com o desenvolvimento humano e a produção do conhecimento:

O que é uma universidade? É uma universalidade de ciências, do conhecimento humano. Por isto nós começamos a entrar no campo da saúde, no campo da promoção social, no campo da tecnologia, para, aos poucos, ir formando a Universidade que sonhávamos.

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E também, no campo da Filosofia, com a concepção de que não há ciência, não há universidade, sem Filosofia. (DELLA GIUSTINA, 1995, p. 26).

Em síntese: queremos um profissional que saiba compreender o contexto sociocultural do qual faz parte; relacionar-se – capaz de trabalhar em equipe, estabelecer e gerir relacionamentos entre pessoas e áreas de conhecimento; liderar – capaz de estimular, orientar, conduzir, delegar poderes e conduzir processos; empreender – capaz de identificar novas oportunidades e implementar ações criativas e inovadoras; e decidir – capaz de avaliar riscos e escolher soluções adequadas e ser responsável pelas suas escolhas.

Desenvolvidas estas competências e habilidades, o profissional de Filosofia está apto para atuar no campo da pesquisa acadêmica, transmissão e difusão da cultura filosófica e em projetos científicos e culturais nas diversas áreas do saber; como um cidadão participante, questionador e atento aos problemas sociopolíticos.

Síntese

Você identificou, nesta unidade, que o desejo e a necessidade de compreender o mundo e a própria existência, buscando para a realidade uma explicação racional e argumentada da realidade, fez surgir a Filosofia: um estar sendo homem no mundo! Tal realização exige atitude, autonomia, reflexão, crítica, criatividade, sabedoria e visão de mundo.

Conheceu, também, que a Filosofia faz parte da história da Unisul e não poderia deixar de estar presente na universidade virtual que estamos construindo com o Ensino a Distância, por fidelidade aos objetivos e missão da nossa universidade: formar pessoas, profissionais, cidadãos.

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Por fim, você identificou que o ensino a distância exige atitude filosófica, autonomia, criatividade, disciplina e clareza de objetivos, ou seja, responsabilidade para consigo e fidelidades aos sonhos.

Você inicia um curso de graduação para quem se sente convidado a interrogar a vida, transcender o presente e iluminar o futuro, sendo protagonista, ator principal de sua vida e história. Venha com a gente!

Atividades de autoavaliação

Ao final de cada unidade, você realizará atividades de autoavaliação. O gabarito está disponível no final do livrodidático. Mas se esforce para resolver as atividades sem ajuda do gabarito, pois, assim, você promoverá a sua aprendizagem.

1) Reveja o conteúdo da e depois responda: O que é Filosofia? Em seguida, partilhe a sua reflexão com os(as) colegas através da ferramenta Exposição, no Espaço Virtual de Aprendizagem (EVA).

2) A Filosofia ensina que a vida humana é um projeto que se realiza, ou não, por meio das escolhas que fazemos. De acordo com os conceitos de Filosofia apresentados nesta unidade, que contribuição ela aporta para a realização deste ensinamento?

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3) A filosofia informal é um dos níveis filosóficos possíveis. Sobre isso é CORRETO afirmar:

01) Exige uma lógica e método apropriado para ser comprovada.

02) Conhecida também por filosofia de vida de cada um.

04) Faz refletir de maneira superficial as questões do dia-a-dia.

08) É a filosofia do cotidiano, das questões rotineiras.

16) É refletida pelas pessoas comuns, sem estudos mais aprofundados.

32) Exige radicalidade, sistemática e visão de totalidade.

Somatória:______________

4) Caracterize as três exigências da Filosofia formal, segundo Saviani.

Saiba mais

Que tal um contato com um texto filosófico? Então leia o trecho abaixo do texto de Martin Heidegger. Mas não leia uma vez só. Leia com atenção, sublinhe palavras ou expressões desconhecidas, pesquise, use a ferramenta “tutor”, no Espaço Virtual de Aprendizagem (EVA) para dirimir dúvidas. Divirta-se!

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Que é isto — A filosofia?

O caminho para o qual desejaria apontar agora (para responder à questão proposta) está imediatamente diante de nós. E, precisamente pelo fato de ser o mais próximo, o achamos difícil. Mesmo quando o encontramos, movemo-nos, contudo, ainda sempre desajeitadamente nele. Perguntamos: Que é isto — a filosofia? Pronunciamos assaz freqüentes vezes a palavra “filosofia”. Se, porém, agora não mais empregarmos a palavra “filosofia’ como um termo gasto; se em vez disso, escutarmos a palavra “filosofia” em sua origem, então, ela soa philosophía. A palavra ‘filosofia” fala agora através do grego. A palavra grega é, enquanto palavra grega, um caminho. De um lado, esse caminho se estende diante de nós, pois a palavra já foi proferida há muito tempo. De outro lado, ele já se estende atrás de nós, pois ouvimos e pronunciamos esta palavra desde os primórdios de nossa civilização. Desta maneira, a palavra grega philosophía é um caminho sobre o qual estamos a caminho. Conhecemos, porém, este caminho apenas confusamente, ainda que possuamos muitos conhecimentos históricos sobre a filosofia grega e os possamos difundir.

A palavra philosophía diz-nos que a filosofia é algo que, pela primeira vez e antes de tudo, vinca a existência do mundo grego. Não só isto — a philosophía determina também a linha mestra de nossa história ocidental-européia. A batida expressão “filosofia ocidental-européia” é, na verdade, uma tautologia. Por que? Porque a “filosofia” é grega em sua essência — e grego aqui significa: a filosofia é nas origens de sua essência de tal natureza que ela primeiro se apoderou do mundo grego e só dele, usando-o para se desenvolver. Mas a essência originariamente grega da filosofia é dirigida e dominada, na época de sua vigência na Modernidade Européia, por representações do cristianismo. A hegemonia destas representações é mediada pela Idade Média. Entretanto não se pode dizer que por isto a filosofia se tornou cristã, quer dizer, uma tarefa da fé na revelação e na autoridade da Igreja. A frase: a filosofia é grega em sua essência, não diz outra coisa que: o Ocidente e a Europa, e somente eles, são, na marcha mais íntima de sua história, originariamente “filosóficos”. Isto é atestado pelo surto e domínio das ciências. Pelo fato de elas brotarem da marcha mais íntima da história ocidental-européia, o que vale dizer do processo da filosofia, são elas capazes de marcar hoje, com seu cunho específico, a história da humanidade pelo orbe terrestre.

Consideremos por um momento o que significa o fato de caracterizarmos uma era da história humana de “era atômica”. A energia atômica descoberta e liberada pelas ciências é representada como aquele poder que deve determinar a marcha da história. Entretanto a ciência nunca existiria se a filosofia

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Introdução à Filosofia

Unidade 1

não a tivesse precedido e antecipado. A filosofia, porém, é: he philosophía. Esta palavra grega liga nosso diálogo a uma tradição historial. Pelo fato de esta tradição permanecer única, ela é também unívoca. A tradição designada pelo nome grego philosophía, tradição nomeada pela palavra historial philosophía, mostra-nos a direção de um caminho, no qual perguntamos: Que é isto — a filosofia?

A tradição não nos entrega à prisão do passado e irrevogável. Transmitir, delivrer, é um libertar para a liberdade do diálogo com o que foi e continua sendo. Se estivermos verdadeiramente atentos à palavra e meditarmos o que ouvimos, o nome “filosofia” nos convoca para penetrarmos na história da origem grega da filosofia. A palavra philosophía está, de certa maneira, na certidão de nascimento de nossa própria história; podemos mesmo dizer: ela está na certidão de nascimento da atual época da história universal que se chama era atômica. Por isso somente podemos levantar a questão: Que é isto — a filosofia?, se começamos um diálogo com o pensamento do mundo grego.

Porém, não apenas aquilo que está em questão, a filosofia, é grego em sua origem; mas também a maneira como perguntamos, mesmo a nossa maneira atual de questionar ainda é grega.

Perguntamos: Que é isto...? Em grego isto é: ti estin. A questão relativa ao que seja algo permanece, todavia, multívoca. Podemos perguntar, por perguntar, por exemplo: Que é aquilo lá longe? Obtemos então a resposta: uma árvore. A resposta consiste em darmos o nome a uma coisa que não conhecemos exatamente.

Podemos, entretanto, questionar mais: Que é aquilo que designamos “árvore”? Com a questão agora posta avançamos para a proximidade do ti estin grego. E aquela forma de questionar desenvolvida por Sócrates, Platão e Aristóteles. Estes perguntam, por exemplo: Que é isto — o belo? Que é isto — o conhecimento? Que é isto — a natureza? Que é isto — o movimento? Agora, porém, devemos prestar atenção para o fato de que nas questões acima não se procura apenas uma delimitação mais exata do que é natureza, movimento, beleza; mas é preciso cuidar para que, ao mesmo tempo, se dê uma explicação sobre o que significa o “que’, em que sentido se deve compreender o ti. Aquilo que o ‘que’ significa se designa o quid est, tò quid: a quidditas, a qüididade. Entretanto, a quidditas se determina diversamente nas diversas épocas da filosofia. Assim, por exemplo, a filosofia de Platão é uma interpretação característica daquilo que quer dizer o ti. Ele significa precisamente a idéia. O fato de nós, quando perguntamos pelo ti, pelo quid, nos referirmos à “idéia” não é absolutamente evidente. Aristóteles dá uma outra explicação

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do ti, que Platão. Outra ainda dá Kant, e também Hegel explica o tí de modo diferente. Sempre se deve determinar novamente aquilo que é questionado através do fio condutor que representa o ti, o quid, o “que”. Em todo caso: quando, referindo-nos à filosofia, perguntamos: Que é isto?, levantamos uma questão originariamente grega.

Fonte: Versão eletrônica do livro “Que é isto – A Filosofia?” (Martin Heidegger). Tradução e notas: Ernildo Stein. Créditos da digitalização: Membros do grupo de discussão Acrópolis (Filosofia).

Para aprofundar as questões abordadas nesta unidade, confira estas indicações de leitura:

CHAUI, Marilena. Convite à filosofia. 12 ª. ed. São Paulo: Ática, 2002.

GAARDER, Jostein. O mundo de Sofia. Romance da história da filosofia. São Paulo: Cia da Letras, 1996.

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2UNIDADE 2

Conhecimento e conhecimento filosófico

Objetivos de aprendizagem

� Identificar o conceito de conhecimento e de conhecimento filosófico.

� Compreender diferenças e aproximações entre ciência e Filosofia.

� Identificar peculiaridades do conhecimento filosófico.

� Conhecer a missão do filósofo.

Seções de estudo

Seção 1 O que é conhecimento

Seção 2 Ciência e Filosofia

Seção 3 Comunicar e compreender

Seção 4 A missão do filósofo

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Para início de estudo

Nesta unidade, daremos continuidade à busca da compreensão e entendimento do conceito e abrangência da Filosofia, estudando-a como um caminho privilegiado de construção e descoberta do conhecimento. Neste sentido, você estuda o método e os objetivos da Filosofia como realização das potencialidades humanas, sujeito e objeto de todo conhecimento.

Seção 1 – O que é conhecimento

O conhecimento em nós, transmudou-se em paixão, que não se intimida diante de nenhum sacrifício e no fundo nada teme; a não ser a sua própria extinção. (NIETZSCHE, 1991, p. 139).

A sociedade em que vivemos é frequentemente caracterizada como sociedade do conhecimento. Conhecimento é mais do que ter informações e dados sobre determinado tema ou assunto. Conhecimento implica saber quais informações e dados são relevantes e em que situações usá-los. Conhecimento é sabedoria de vida. Esta perspectiva filosófica está na base de todo esforço humano por compreender as coisas e o mundo e atribuir-lhes sentido.

O conhecimento

Você sabe o que é conhecimento?

Conhecimento é a relação que se estabelece entre um sujeito cognoscente e um objeto. Assim, todo conhe-cimento pressupõe dois elementos: o sujeito que quer conhecer e o objeto a ser conhecido. Por extensão, dá-se também o nome de conhecimento ao saber acumulado pelo ser humano através das gerações.

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Unidade 2

No processo de conhecimento, quem conhece acaba apropriando-se, de certo modo, do objeto que conheceu, ou seja, transforma em conceito esse objeto e o reconstitui em sua mente. O conceito, no entanto, não é o objeto real, não é a realidade, mas apenas uma forma de conhecer (ou conceber, ou conceituar) a realidade.

Deve-se ressaltar que a relação estabelecida no processo de conhecimento pode implicar uma transformação tanto do sujeito quanto do objeto. O sujeito transforma-se mediante o novo saber e o objeto também pode transformar-se, pois o conhecimento lhe dá sentido. A partir do momento em que o sujeito conhece novos fatos, ele pode modificar sua ação, agir com mais liberdade, fazer com mais precisão, etc. O objeto pode ser aperfeiçoado, porque o conhecimento do sujeito permitirá desenvolvê-lo.

O conhecimento, portanto, implica uma posse da reali-dade. Essa posse confere ao ser humano a grande vanta-gem de se tornar mais apto para uma ação consciente. A ignorância tolhe as possibilidades de avanço, mantém as pessoas prisioneiras das circunstâncias. O conhecimento libera: permite atuar para modificar em benefício as circunstâncias. Contudo aqui cabe uma pergunta tipica-mente filosófica: Em benefício de quem?

Conhecimento filosófico

Já o conhecimento filosófico tem por origem a capacidade de reflexão do homem; e, por instrumento, o raciocínio. Será a Ciência suficiente para explicar o sentido geral do universo? Os que respondem que não, esses buscam essa explicação através da Filosofia. Filosofando, ultrapassam-se os limites da Ciência -- delimitados pela necessidade de comprovação concreta -- para compreender ou interpretar a realidade em sua totalidade.

Tendo o ser humano como tema permanente de suas considerações, o filosofar pressupõe a existência de um dado determinado sobre o qual refletir, por isso apóia-se nas ciências. Mas sua aspiração “ultrapassa” o dado científico, já que a essência do conhecimento filosófico é a “busca” do saber, e não sua posse.

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Tratando de compreender a realidade dos problemas mais gerais do homem e sua presença no universo, a Filosofia interroga o próprio saber e transforma-o em problema. É, sobretudo, especulativa, no sentido de que suas conclusões carecem de prova material da rea-lidade. Mas, embora a concepção filosófica não ofereça soluções definitivas para numerosas questões formu-ladas pela mente, ela se traduz em ideologia. E, como tal, influi diretamente na vida concreta do ser humano, orientando sua atividade prática e intelectual.

A Filosofia, por sua vez, propõe oferecer um tipo de conhecimento que busca, com todo o rigor, a origem dos problemas, relacionando-os a outros aspectos da vida humana, numa abordagem globalizante.

Segundo Platão, o homem começa a conhecer pela forma imperfeita de opinião (a doxa); depois passa ao grau mais avançado da ciência (episteme);para só então ser capaz de atingir o nível mais alto do saber filosófico.

Se a ciência tende cada vez mais para a especialização, a filosofia, no sentido inverso, quer superar a fragmentação do real, para que o homem seja resgatado na sua integridade e não sucumba à alienação do saber parcelado. Por isso a filosofia tem uma função de interdisciplinaridade, estabelecendo o elo entre as diversas formas do saber e do agir (ARANHA; MARTINS, 1996, p. 73).

Filosofia: negação cética e dogmática

Você sabe o que é ceticismo? E dogmatismo?

Ceticismo é uma posição filosófica a qual afirma que é impossível o conhecimento, seja como juízo de valor ou como conclusão. O dogmatismo, ao contrá-rio, considera certos conhecimentos como certezas e verdades absolutas e indubitáveis.

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Comparando as duas posições, perceba que elas têm algo em comum: a visão imobilista do mundo. Enquanto o dogmático atinge uma certeza e nela permanece, o cético afirma que não é possível alcançá-la.

A Filosofia, no entanto, é movimento, pois o mundo é movimento: a tese e a antítese serão superadas pela síntese, a qual, por sua vez, será nova tese, e assim por diante.

A Filosofia é a procura da verdade, não a sua posse: “fazer filosofia é estar a caminho; as perguntas em filosofia são mais essenciais que as respostas e cada resposta transforma-se numa nova pergunta”. (JASPERS, 1971 apud ARANHA; MARTINS, 1996, p. 76).

Seção 2 - Ciência e Filosofia

Filosofia e Ciência manifestam o esforço do ser humano em se aproximar da verdade das coisas. Possuem caminhos semelhantes com pretensões diferentes. Veremos nesta seção o que aproxima e o que diferencia estes dois campos do exercício da racionalidade.

2.1) Aproximações e diferenças

Quais aproximações podem ser traçadas entre a Ciência e a Filosofia?

Ciência e Filosofia são caminhos para o conhecimento. A Ciência busca descobrir as causas pelas quais as coisas são. Visa o conhecimento “certo” (seguro) pelas causas (causas próximas). A Filosofia busca compreender as causas últimas das coisas: o que uma coisa é, não de um ponto de vista particular, mas em todo o seu ser.

No começo da história do pensamento ocidental, não havia esta divisão. Para os antigos gregos, a Filosofia era a ciência universal e abarcava todo esse conjunto de conhecimentos que agrupamos sob os nomes de ciência, de arte e de Filosofia. Tal concepção perdurou até a Idade Média. No Renascimento e Idade Moderna, consuma-se a autonomia da arte e da ciência.

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Do ponto de vista material, ciência e Filosofia aplicam-se ao mesmo objeto: o mundo e o homem. Mas cada disciplina estuda este objeto comum sob um aspecto que lhe é próprio.

A ciência investe na determinação das leis dos fenômenos. A Filosofia quer conhecer a natureza profunda das coisas, suas causas supremas e seus fins derradeiros: visa propriamente, em todas as suas partes, o conhecimento do que ultrapassa a experiência sensível (ou os fenômenos), e do que só é acessível à razão.

A Filosofia é uma ciência universal enquanto tende a conhecer não tudo, como pensavam os antigos gregos, mas os primeiros princípios de tudo.

Ciência e Filosofia são caminhos autônomos para o conhecimento. Uma explicação científica não é uma explicação filosófica; nem uma explicação filosófica, uma explicação científica. O encadeamento dos fenômenos, como a ciência os visa descobrir, deixa intacta a questão da natureza profunda das coisas, de seu valor e seu fim. O conhecimento das essências, dos valores e dos fins não nos saberia dar a ciência das ligações fenomenais.

O Método da Filosofia

Você conhece o método da Filosofia?

O método filosófico é, a um tempo, experimental e racional. Definimos a Filosofia como a ciência das coisas por suas causas “supremas”.

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Observe as explicações.

� A Filosofia parte da experiência -- se a Filosofia é, de início, “ciência das coisas”, a saber, do homem, do mundo e de Deus, devemos começar por conhecer as coisas que queremos explicar; isto é, nosso ponto de partida será normalmente tomado na experiência. É de fato pelas propriedades das coisas que nós podemos conhecer sua natureza. E essas propriedades, é a experiência -- vulgar ou científica -- que nos faz descobri-las. Assim o método filosófico será primeiramente experimental, no sentido de que o ponto de partida da Filosofia é tomado na experiência.

� A Filosofia visa, pela razão, o que está além da experiência -- mas como a Filosofia é, por seus fins, essencialmente metafísica -- isto é, quer ir além da experiência sensível e chegar até as causas primeiras - o homem não as vê e não as toca com os seus sentidos, e não as pode então atingir a não ser por uma faculdade “superior” aos sentidos. Eis porque método filosófico é também um método racional. Razão natural, fundada na evidência de seu objeto.

Seção 3 - Comunicar e compreender

Nesta unidade, veremos o que faz da Filosofia um campo de estudo essencialmente humano, voltado para as necessidades e aspirações do ser humano, favorecendo a comunicação e a compreensão da realidade.

Filosofia é Comunicação

A modernidade trouxe o predomínio das ciências naturais sobre as ciências humanas. Tal postura é identificada no cenário do conhecimento como positivismo e encontra em Augusto Comte (1798-1857) o seu principal defensor. O positivismo, segundo Aranha (1996, p. 139), exprime a exaltação provocada no século XIX pelo avanço da ciência moderna, capaz de revolucionar o mundo com uma tecnologia cada vez mais eficaz. Veja a figura 2.1. Figura 2.1 - Augusto Comte

Fonte: Olivieri ([200-?]).

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Esse entusiasmo desemboca no cientificismo, visão reducionista segundo a qual a ciência seria o único conhecimento válido. Dessa forma, o método das ciências da natureza – baseado na observação, experimentação e matematização – deveria ser estendido a todos os campos do conhecimento e a todas as atividades humanas.

Como o positivismo dá enorme importância à experimentação, sem a qual a ciência não seria possível, isso vale também para as ciências humanas. Assim, a sociologia, a psicologia, a economia e a Filosofia deveriam usar um método semelhante ao das ciências da natureza.

O positivismo fica mais compreensível se for esclare-cido o que é um fato positivo, ou seja, aquele que pode ser medido e controlado pela experiência. O termo positivo provém do latim positivus, que sig-nifica: que repousa sobre algo seguro; cuja realidade não pode ser posta em dúvida. Um fato positivo é algo certo, real, verdadeiro.

Sendo assim, todo conhecimento do mundo material decorre dos dados “positivos”, que constituem o objeto de estudo para o sujeito cognoscente. Consequentemente, o conhecimento das realidades consideradas como não positivas (metafísica, teologia, etc...) é menosprezado, pois não é possível de ser verificado na prática. O conhecimento será científico se primar pela objetividade, promovendo o distanciamento necessário entre o objeto estudado e a realidade existencial do sujeito cognoscente (pesquisador).

Jüergen Habermas (1929-) desmascara a aparente “neutralidade” das ciências naturais, revelando o “interesse” que orienta o processo do conhecimento destas: interesse técnico de dominação da natureza. Em contrapartida, defende que o interesse que orienta o processo de conhecimento das ciências histórico-hermenêuticas é o da comunicação. Entre estas últimas, situamos a Filosofia.

Habermas, contudo, ressalta que ambas as formas de conhecimento, geradas pelos respectivos interesses, servem a um interesse mais fundamental, o da emancipação da espécie: o conhecimento instrumental permite ao ser humano satisfazer as suas necessidades, ajudando-o a libertar-se da natureza exterior (por meio da produção); o conhecimento comunicativo

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o impele a emancipar-se de todas as formas de repressão social. (HABERMAS, 2003)

O caminho da Filosofia é o da comunicação. Como ciência essencialmente humana, visa aproximar pessoas, culturas, mentalidades. Ensina a conviver com o diferente, ressaltando para tal a importância de se ter firmeza quanto aos próprios princípios e visão de mundo. Usar a Filosofia para a dominação é desvir-tuá-la de sua natureza, transformando-a em ideologia, visão mascarada e falsa de realidade.

Filosofia é explicação compreensiva da realidade

O sociólogo Max Weber (1864–1920) preocupou-se em estabelecer a diferença entre a metodologia das ciências naturais (biológicas e exatas) e das ciências sociais (humanas). Segundo o autor, a metodologia das ciências sociais deveria levar em consideração o fato de que o conhecimento dos fenômenos naturais é um conhecimento de algo externo ao próprio homem, enquanto o que se procura conhecer nas ciências sociais é a própria experiência humana.

De acordo com esta distinção, entre experiência externa e experiência interna, pode-se distinguir uma série de contrastes metodológicos entre os dois grupos de ciências. As ciências exatas partiriam da observação sensível e seriam experimentais, procurando obter dados mensuráveis e regularidades estatísticas que conduzissem à formulação de leis de caráter matemático.

As ciências humanas, ao contrário, dizendo respeito à própria experiência humana, seriam introspectivas, utilizando a intuição direta dos fatos; e procurariam atingir não generalidades de caráter matemático, mas descrições qualitativas de tipos e formas fundamentais da vida e do espírito humano.

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O modo explicativo seria característico das ciências naturais, que procuram o relacionamento causal entre os fenômenos. A compreensão seria o modo típico de proceder das ciências humanas, que não estudam fatos que possam ser explicados propriamente, mas visam os processos permanentemente vivos da expe-riência humana e procuram extrair deles seu sentido.

Os sentidos (ou significados) são dados, segundo Dilthey (2011), na própria experiência do investigador, e poderiam ser empaticamente apreendidos na experiência dos outros.

As ciências sociais estudam o mundo da cultura, uma criação do espírito humano. Nelas, homem é sujeito e objeto ao mesmo tempo. Visam a compreensão: um mergulho empático no espírito dos agentes históricos em busca do sentido e de sua ação.

Veja, a seguir, no quadro 2.1, as diferenças entre as ciências sociais e as ciências da natureza, segundo Weber (2002).

Tipo de Ciência Objeto Método Objetivo

Ciências da Natureza Natureza Explicação Leis Gerais

Ciências Sociais Sociedade (homem) Compreensão Singularidade dos fenômenos

Seção 4 – A missão do filósofo

O que faz o filósofo em meio a uma sociedade que vê no conhecimento a possibilidade de realização pessoal e profissional? É o que veremos nesta seção.

Quadro 2.1 - Ciências Sociais x Ciências da Natureza Fonte: Werber, 2002.

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A caverna

Platão (427–347 a.C.) revela em sua obra República o que está em jogo na alegoria da caverna: mostra que o conhecimento consiste em o ser humano ficar livre das correntes que o condenam à ignorância, e desvenda que o problema do conhecimento – em última análise – confunde-se com o da educação. (PLATÃO, 1989).

O homem deve caminhar desde a opinião até a ciência, educando-se gradualmente. No mundo sensível, os homens são como escravos presos numa caverna e obrigados a ver, no fundo dela, as sombras projetadas por um fogo que arde fora. Tomam estas sombras pela realidade, porque não conhecem a realidade verdadeira. De fato, trata-se de operar a passagem do mundo sensível (ilusão) ao mundo inteligível (conhecimento), e este é um doloroso e difícil movimento de alforria.

Desse modo, há uma ilusão constitutiva de nossa primeira abordagem do real. As sombras da caverna são essas aparências sobre a parede de nossos sentidos. Deformamos o real porque o apreendemos espontaneamente através de nossas impressões sensíveis, de nossos desejos, nossas paixões, nossos interesses, nossos hábitos, em suma, através de tudo aquilo que nos confina nesse reino de ilusões em que – impotentes para ver os objetos cujas sombras não passam de sombras – ignoramos que o são e as tomamos por realidade. Esta impotência está ligada à passividade do espírito acostumado desde a infância a receber, sem exame, muitas crenças falsas como verdadeiras.

A missão do filósofo

Segundo Platão, a educação consiste, desse modo, em volver o homem da consideração do mundo sensível à consideração do mundo do ser; e, em conduzi-lo, gradualmente, a avistar o ponto mais alto do ser, que é o bem. O bem corresponde, no mundo do ser, ao que o sol é no mundo sensível. O sol torna as coisas visíveis com a sua luz e as faz nascer, crescer e alimentar-se; assim o bem não só torna cognoscíveis as substâncias que constituem o mundo inteligível, mas lhes dá ainda o ser de que são dotadas.

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Conforme Platão, faz parte da educação do filósofo o regresso à caverna, que consiste na reconsideração e na reavaliação do mundo humano à luz do que se viu fora deste mundo. Regressar à caverna significa, para o homem, pôr o que se viu à disposição da comunidade.

Deverá, pois, reabituar-se à obscuridade da caverna; e, então, verá melhor do que os companheiros que ali permaneceram e reconhecerá a natureza e os caracteres de cada imagem, por ter visto o seu verdadeiro exemplar: a beleza, a justiça e o bem. Assim poderá o Estado ser constituído e governado por gente desperta, e não por quem sonha e combate entre si por sombras, e disputa o poder como se este fosse um grande bem.

Sintetizando, atente que, na alegoria da caverna, Platão resume a concepção a respeito do conhecimento, da realidade e da Filosofia. Acorrentados no interior de uma caverna e de costas para a abertura dela, os prisioneiros só podem ver as sombras do que acontece lá fora. Quando um deles consegue se libertar e visualiza a realidade externa, a luz ofusca a sua vista e o sol o deslumbra. Somente aos poucos, e com dificuldade, ele consegue adaptar-se à nova realidade, percebendo que o mundo onde vivera até agora era irreal, feito apenas de reflexos e sombras do mundo verdadeiro.

Se ele voltar e tentar convencer os outros de que ainda estão acorrentados, corre o risco de ser incompreendido e, mesmo, perigo de vida.

Essa é, no entanto, a missão do filósofo: orientar, auxi-liar, motivar as pessoas para que possam, por si só, tirar as correntes da alienação e favorecer o conheci-mento sobre a realidade em que estão inseridas.

Não é um processo fácil e nem rápido, mas deve ser enfrentado, sob pena de se ficar apenas vendo as sombras dos fatos que acontecem (opiniões), sem entender-lhes o significado real (conhecimento, verdade).

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Síntese

Caro aluno, nesta unidade, você estudou que conhecimento implica uma posse da realidade e nos torna aptos para a ação consciente, característica da atitude filosófica.

Identificou que a ciência e a Filosofia são caminhos para o conhecimento e possuem sua validade reconhecida ao longo da história do ocidente, uma vez que oferecem possibilidade de emancipação da espécie e realização dos projetos humanos.

Também conheceu uma reflexão sobre a missão da Filosofia e do filósofo, que implica ajudar a “tirar” as pessoas das sombras, das ilusões e da escuridão das cavernas, de ontem e de hoje.

Atividades de autoavaliação

Para praticar os conhecimentos apropriados nesta unidade, realize as atividades propostas. O gabarito está disponível no final do livrodidático. Mas se esforce para resolver as atividades sem ajuda do gabarito, pois, assim, você promoverá a sua aprendizagem.

1) Assinale as alternativas corretas.

Através da alegoria da caverna, Platão quer demonstrar que:

a) o ser humano deve caminhar da opinião à ciência, educando-se gradualmente;

b) o conhecimento consiste em ficar livre das correntes que condenam o ser humano à ignorância;

c) trata-se de operar a passagem do mundo inteligível ao mundo sensível, e este é um doloroso e difícil movimento de alforria;

d) no mundo das ideias (inteligível), os homens são como escravos presos numa caverna e obrigados a ver no fundo dela as sombras por um fogo que arde fora; e

e) esta alegoria sintetiza também a missão do filósofo: tirar das pessoas as correntes da alienação e favorecer o conhecimento sobre a realidade em que as pessoas estão inseridas.

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2) Não é possível negar a Filosofia sem fazer Filosofia! Por quê?

3) Por que a Filosofia “procura” ser uma negação do ceticismo e do dogmatismo?

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Unidade 2

4) Hoje, é comum ouvirmos afirmações do tipo: “Ciência e Filosofia são diferentes”. Por que esta reflexão não aconteceu na Filosofia Antiga? Que fatores surgidos na modernidade contribuíram para esta diferenciação?

Saiba mais

Para complementar o estudo desta unidade, leia o texto que segue. É uma reflexão sobre o homem com os “olhos” da Filosofia. Procure observar, na leitura, as diferenças e aproximações entre o conhecimento científico e o conhecimento filosófico sobre o homem.

Veja, também, como a ação consciente (ação acompanhada de reflexão) é de fundamental importância para a realização da vida. Por fim, perceba o quanto o conhecimento filosófico contribui para o estabelecimento de relações saudáveis e equilibradas do homem consigo mesmo, com o mundo das coisas e com os outros. Boa leitura!

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A Vida Humana

A existência humana é radicalmente diferente da vida dos animais. Os animais são levados pela vida, segundo simplesmente o movimento interno de seu dinamismo biológico. A vida não lhes é problemática, pois se encontram, já, sempre, plenamente constituídos em seu ser. Não podem ser mais do que já são. O homem pode ser mais do que aquilo que recebeu como seu ser, ao nascer. Não nasce pronto, realizado. Por isso, precisa assumir a sua vida como tarefa e responsabilidade sua. Não lhe basta ir vivendo, simplesmente. Precisa assumir o compromisso de ter que ir realizando a sua vida como projeto seu. Sua vida é um “ir-se-dando”, como concretização de suas capacidades e potencialidades. Isto, porque o homem é um ser “por fazer-se”, um ser que é projeto.

Assim, a existência humana é, em primeiro lugar, o encarregar-me do meu ser, recebido sob minha responsabilidade. É um ir desenvolvendo as potencialidades e capacidades e, neste processo, construindo a própria vida. Neste sentido, a existência humana é uma vontade pessoal, assumida, alimentada, desenvolvida. E quando isso não ocorre mais, o homem não vive: vegeta. E é por isso que só o homem pode perder a vontade de viver. E mais: por esta razão, há vidas qualitativamente diferentes: umas vividas mais intensamente; outras, menos.

Em segundo lugar, viver é projetar-se para o futuro. É lutar, preparar, construir um futuro. É propor-se ideais, objetivos, metas e ir em busca de sua realização, de sua concretização. E, neste movimento, ir constituindo a própria vida. O homem é o que ele vai fazendo de si mesmo, de sua vida. E ele sempre pode ser mais, nunca esgota plenamente as possibilidades de realização de sua vida.

Sujeito de realizações, o homem é um ser no mundo. Vive no mundo. Precisa do mundo para realizar sua vida, para caracterizar o que projeta ser. Isto é, o homem sempre se encontra numa determinada circunstância, num contexto determinado, que é o seu mundo, no qual e a partir do qual vai realizando-se e construindo sua vida. Com efeito, ao nascer, o homem é dado num mundo e submetido as suas leis. Ao mesmo tempo, e ao longo de sua existência, vai enfrentando os obstáculos e desafios que o mundo lhe apresenta. E, nesta atividade de enfrentamento e superação dos desafios que o contexto em que vive lhe apresenta, vai construindo sua própria vida. E mais: vai criando um mundo propriamente humano – o mundo cultural – segundo seu modo de ser.

No mundo, o homem compreende-se como distinto do mundo. Diferente dos animais, que nele vivem totalmente imersos e submetidos às suas leis, o homem vive no mundo e com o mundo.

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Vive situado face ao mundo. É um ser consciente. Isto é, é o único ser capaz de compreender o mundo e de compreender-se a si mesmo. É capaz de dizer o que as coisas são e qual o significado da sua vida. É capaz de compreender o contexto em que vive e, a partir disso, escolher o que quer ser, como deve agir, como vai realizar a sua vida. E, por isso, pode assumir com responsabilidade sua vida como tarefa e projeto seu.

Como ser consciente, o homem, e somente ele, é capaz de tomar distância frente ao mundo e de tomá-lo como objeto de sua compreensão; a partir disso, é capaz de agir conscientemente sobre o mundo e transformá-lo de acordo com essa compreensão. E neste processo, que é a própria vida humana entendida como práxis, o homem vai atualizando suas potencialidades e capacidades, e constituindo a sua vida. A práxis, unidade indissolúvel entre ação e reflexão, é a atualidade e manifestação do ser do homem. Com efeito, é pela práxis que o homem vai desenvolvendo suas potencialidades e realizando sua vida como um projeto. E, neste sentido, a práxis é simplesmente estar sendo homem.Por outro lado, a vida humana compreendida como práxis manifesta que o homem é constitutivamente um ser de relações. Relações que constituem sua própria vida, aquilo que ele é. Por exemplo: alguém só é pai na medida em que está em relação com (ao ter) um filho. Sem filho, ninguém pode ser pai. E a relação é de paternidade, que constitui alguém como pai. Daí a relação constituir o homem naquilo que ele é. E o homem vai realizando sua vida à medida que estabelece relações.

Há, fundamentalmente, dois níveis distintos de relações: a relação do homem com o mundo das coisas (natureza) e a relação do homem com os outros. E, nesta medida, relação do homem consigo mesmo.

A relação do homem com as coisas se caracteriza por ser uma relação de manipulação, de utilização e apropriação. Isto é, as coisas são úteis, utensílios com os quais o homem conta para ir construindo a sua vida. Com efeito, o homem é um ser de necessidades, um ser de carências. A necessidade, a carência é a falta do necessário para a vida (casa, alimento, roupa...). Assim, o homem abre-se ao mundo, desejando aquilo de que necessita. Quando obtém, reproduz sua vida e vai realizando-a. Assim, as coisas são objetos de uso, úteis, que permitem ao homem, através de sua apropriação pela práxis cotidiana, ir realizando sua vida. Porém, nem tudo que o homem necessita, encontra-se imediatamente ao alcance da mão. Neste caso, a coisa útil precisa ser produzida, através do trabalho, o necessário (produto do seu trabalho) para ir vivendo. Assim, o trabalho, relação fundamental do homem com a natureza, é a atividade humana que produz (põe a existência) a coisa útil (produto) de que o homem necessita para ir realizando a sua vida.

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Porém, mais fundamental que a relação do homem com o mundo das coisas, e absolutamente primeira, é a relação do homem com o outro. Essa relação é o ato pelo qual o sujeito humano se dirige diretamente a outra pessoa (aperto de mão, beijo, agressão...), ou indiretamente, por mediação do mundo das coisas. O específico desta relação é ser uma relação de alguém com alguém, e não uma relação de alguém com algo. O outro, como alguém com quem se está em relação, não é coisa, instrumento; por isso, não pode ser manipulado, coisificado, instrumentalizado. É uma pessoa que exige ser reconhecida.

É apelo constante ao diálogo, à convivência, à comum-união. Isto exige uma atitude de respeito (deixar o outro ser ele mesmo), saber ouvir, ter confiança (fé no outro), atitude serviçal. Só assim é possível a vida em comum-unidade. E o homem pode realizar sua vida em comunhão, com o outro.

Fonte: GAMBIN, Pedro. A vida humana Revista Mundo Jovem, Porto Alegre, Abril de 1997.

Para aprofundar as questões abordadas nesta unidade, você poderá pesquisar o seguinte livro:

PRADO, Jr. Caio. O que é Filosofia. [Coleção Primeiros Passos] São Paulo: Editora Brasiliense. 2007. (Sinopse: Qual a natureza, o objeto e o valor da investigação filosófica? A Filosofia é apenas uma citação literária ou uma modalidade de conhecimento? Qual a relação entre conhecimento científico e conhecimento filosófico? A Filosofia enquanto conhecimento do conhecimento. A Filosofia segundo os próprios filósofos: dos antigos gregos até Hegel e Marx).

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3UNIDADE 3

Filosofia e história: períodos e características

Objetivos de aprendizagem

� Compreender a relação entre Filosofia e História.

� Compreender a importância do conhecimento da História e da História da Filosofia.

� Identificar as características dos diferentes períodos da história do pensamento.

� Relacionar o surgimento dos filósofos com eventos históricos.

� Identificar características e “evolução” da sociedade ocidental.

Seções de estudo

Seção 1 Filosofia e história

Seção 2 A Filosofia Antiga e Medieval

Seção 3 A Filosofia Moderna

Seção 4 A Filosofia do século XX

Seção 5 A racionalidade ocidental

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Para início de estudo

Nesta unidade, vamos conversar sobre a relação entre Filosofia e história, confrontando pensamentos e fatos que marcaram o desenvolvimento da mentalidade do homem ocidental. Percorreremos os períodos da história da Filosofia com o objetivo de despertar a sua curiosidade e lhe alimentar a vontade de estudar Filosofia.

Seção 1 - Filosofia e história

Nesta seção, veremos a relação entre a Filosofia e a História; o pensamento que pensa o tempo, a cultura, os acontecimentos, procurando encontrar um sentido para eles, ora interpretando, ora direcionando os fatos. Há uma relação umbilical entre estas duas instâncias da existência humana.

O pensamento ocidental

Estudar Filosofia é estudar o desenvolvimento do pensamento ocidental. Acompanhar o homem ocidental no desenvolvimento da sua racionalidade, ao desdobrar-se sobre si mesmo e sobre o seu mundo. Porém, embora este desenvolvimento constitua a espinha dorsal do estudo da Filosofia, cabe ressaltar que o aprendizado da Filosofia não se limita ao estudo da história da Filosofia.

Ao longo do curso, você conhecerá uma quantidade impressionante de autores e de teorias, muitas das quais com a pretensão de estabelecer um juízo definitivo sobre os mais variados temas. A atividade filosófica não tem compromisso com certezas definitivas. Em muitos momentos da história do ocidente, esta pretensa certeza representou a morte da Filosofia, o seu silêncio ou submissão.

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O estudo da história procura elucidar os fatos no emaranhado de interesses e sentidos que os compõem, na tentativa de encontrar a verdade dos fatos. A Filosofia, por sua vez, em vez de certezas, nos dá inquietações.

Ao estudar a história da Filosofia, o ser cognoscente pensa o pensado e assim o faz até aprender a pensar por si mesmo. Esta é a ambição da Filosofia: possibilitar ao ser humano o exercício pleno da racionalidade, o pensar por si mesmo.

Estudar a história da Filosofia é dialogar com o pensamento dos filósofos, com a realidade do mundo, com as inquietudes do “eu”. Partilhar com o passado nossas alegrias, angústias e perplexidades. Aprender com o passado e contra ele, numa relação dialética que promove o desenvolvimento das ideias e concepções, aquelas mesmas que dão sentido ao mundo humano.

Mergulhar na história do pensamento é entrar num tempo não cronológico. Um tempo de busca, tempo conduzido pela vontade de conhecer a verdade deste mundo e a natureza das coisas.

A História e a Filosofia

Não estudamos a história da Filosofia para repetir o que foi pensado e dito, reproduzir respostas que, longe do contexto existencial em que foram produzidas, apresentam-se anacrônicas. É mais do que isso: é ter a coragem de formular explicações novas, muitas vezes para os mesmos problemas, e submetê-las à crítica e desenvolvimento de outros que se dedicarem a esta tarefa. Feito isso, colocamos a nossa racionalidade a serviço desse grande mutirão de ideias que faz a caminhada da humanidade.

O pensamento filosófico é filho do tempo. A Filosofia é sempre a filosofia de uma época, de determinado contexto histórico-social. O filósofo pensa o seu tempo na ambição de ultrapassá-lo, vencê-lo, conduzi-lo.

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Mas a história da humanidade não começou com a Filosofia. A Filosofia é um ponto de chegada à racionalidade, antecedida por acontecimentos significativos. Reproduzimos aqui uma linha do tempo com os principais fatos que marcaram a humanidade até o surgimento da Filosofia na Grécia.

Veja, na linha do tempo, os principais fatos da história do período:

3400 – Primeiro sistema escrito, pelos sumérios, no sul da Mesopotâmia (região entre os rios Tigre e Eufrates, no Oriente Médio).

2700 – Início da construção de pirâmides no Egito.

2500 – Comércio marítimo entre Egito e Biblos (atual Líbano). Surgimento das primeiras cidades na China.

1500 – Expansão do Império Egípcio até o Oriente Médio. Início do uso de metal e cobre no Peru. População mundial estimada em 28 milhões.

1200 – Decadência do império egípcio. Surgimento da civilização olmeca no México.

1000 – Fenícios desenvolvem o comércio marítimo, no Mediterrâneo oriental. David torna-se rei de Israel, com Jerusalém como capital. População mundial estimada em 70 milhões.

930 – Primeiros textos hebraicos (salmos, eclesiastes). Primeira versão do épico hindu Mahabharata.

850 – Surgimento dos poemas épicos Ilíada e Odisséia, atribuídos a Homero.

814 – Data legendária da fundação da cidade de Cartago pelos fenícios.

776 – Primeiros jogos olímpicos.

753 – Legendária fundação de Roma.

Fonte: Uol Bibliteca, [200-?].

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Seção 2 - A Filosofia Antiga e MedievalA Filosofia surgiu na Grécia Antiga, com o propósito de libertar o pensamento de suas bases míticas, para dar à vida explicações diferentes daquelas que dependiam de deuses e superstições. Era uma atividade dos homens sábios (philos = amigo ou amante; sophia = sabedoria), que se punham a pensar sobre conceitos estabelecidos, buscando novos entendimentos.

Academicamente, a Filosofia é dividida em:

� Antiga;

� Medieval;

� Moderna; e

� Contemporânea.

A Filosofia Antiga

A Filosofia Antiga compreende o período que vai do século VI a.C. até o século II d.C.

Tem início com os pré-socráticos, que são os filósofos anteriores a Sócrates e que viveram na Grécia por volta do século VI a.C., sendo considerados os criadores da Filosofia Ocidental. Essa fase, que corresponde à época de formação da civilização grega, caracteriza-se pela preocupação com a natureza e o cosmos. Ela inaugura uma mentalidade baseada na razão, e não mais no sobrenatural ou na tradição mítica.

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Os pré-socráticos também são chamados de filósofos da natureza (physis). A palavra grega phisis, como explica Abrão (1999, p. 24), pode ser traduzida por natureza. Mas seu significado é mais amplo. Refere-se também à realidade, não aquela, pronta e acabada, mas a que se encontra em movimento e transformação, a que nasce e se desenvolve. Neste sentido, a palavra significa gênese, origem, manifestação.

Saber o que é a phisis, assim, levanta a questão da origem de todas as coisas que constituem a realidade, que se manifestam no movimento; e procura saber se há um princípio único (arké) que dirige e ordena todas as coisas no mundo. Com estes tema ocupam-se os primeiros filósofos.

Tales de Mileto diz que tudo é água! A água é o elemento primordial de tudo que existe. Anaximandro de Mileto diz que o apeíron, um tipo de matéria a partir da qual tudo o mais é feito, é o princípio único de todas as coisas. Anaxímenes de Mileto diz que o ar é o elemento originante de todas as coisas. Pitágoras de Samos afirma que o número é o princípio de todas as coisas e que todo o universo é regido por leis matemáticas. Heráclito de Éfeso afirma que todas as coisas estão em movimento e são originadas por ele.

Um grupo de narradores e pensadores de diversas partes da Grécia, sobretudo de Atenas, contribuiu para a reflexão filosófica na antiguidade: os Sofistas. Estes livres pensadores exerciam o ensino de forma profissional e remunerada. Na maioria, eram professores itinerantes, que encaminhavam os jovens na vida pública e gozavam de grande prestígio social. Os sofistas são todos estrangeiros. Excluídos da condição de cidadãos, não se interessam pelos destinos da cidade.

Assim, não se preocupam com o que uma argumentação possa ter de justo ou injusto, moral ou imoral. Basta-lhes que seus discípulos aprendam a falar (não importa o que, desde que falem bem, de modo convincente) e que os remunerem pelo ensino. Eram criticados pelos filósofos clássicos e acusados de relativismo moral. Entre os principais representantes estão Protágoras, Górgias e Hípias.

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Sócrates, Platão, Aristóteles são os principais representantes da época áurea da Filosofia Antiga, também chamada de Filosofia Clássica.

“Sócrates fez a Filosofia descer dos céus à Terra”, é o que dizia Cícero. Antes, os filósofos buscavam obsessivamente uma explicação para o mundo natural. Para Sócrates, no entanto, a especulação filosófica deveria se voltar para o homem e tudo o que fosse humano, como a ética e a política. Dizia que a Filosofia não era possível enquanto o indivíduo não se voltasse para si próprio e reconhecesse suas limitações. “Conhece-te a ti mesmo”, era seu lema.

Para Platão, o sentido da Filosofia – o amor da sabedoria – é o de conduzir o homem do mundo das aparências ao mundo da realidade, ou da contemplação das sombras à visão das ideias, imutáveis e eternas, iluminadas pela ideia suprema do bem (cf. alegoria da caverna).

Aristóteles aperfeiçoa e sistematiza as descobertas de Platão e Sócrates. Desenvolve a lógica dedutiva clássica, que postula o encadeamento das proposições e das ligações dos conceitos mais gerais para os menos gerais. A lógica, segundo ele, é um instrumento para atingir o conhecimento científico, ou seja, aquilo que é metódico e sistemático.

Se, com Platão, a Filosofia já havia alcançado extraordinário nível conceitual, pode-se afirmar que Aristóteles – pelo rigor de sua metodologia, pela amplitude dos campos em que atuou e por seu empenho em considerar todas as manifestações do conhecimento humano como ramos de um mesmo tronco – foi o primeiro pesquisador científico no sentido atual do termo.

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Veja, na linha do tempo, os principais filósofos da história neste período.

640 – 548 a.C. – Tales de Mileto

610 – 547 a.C. – Anaximandro588 – 524 a.C. – Anaxímenes

570 – 490 a.C. – Pitágoras

540 – 470 a.C. – Heráclito

530 – 460 a.C.– Parmênides

504 – ?a.C. – Zenão de Eléia

499 – 428 a.C. – Anaxágoras

490 – 435 a.C. – Empédocles

485 – 380 a.C. – Górgias

481 – 411 a.C. – Protágoras

475 – ? a.C. – Leucipo

470 – 399 a.C. – Sócrates

460 – 370 a.C. – Demócrito

444 – 365 a.C. – Antístenes

427 – 348 a.C. – Platão

400 – ? a.C. – Diógenes

384 – 322 a.C. – Aristóteles

365 – 275 a.C. – Pirro

341 – 270 a.C. – Epicuro

334 – 262 a.C. – Zenão de Cicio

331 – 232 a.C. – Cleantes

281 – 205 a.C. – Crísipo

180 – 110 a.C. – Panécio

98 – 55 a.C. – Lucrécio

106 – 43 a.C. – Cícero

4 a.C. – 65 d.C. – Sêneca

50 – 125 – Epicteto

121 – 180 – Marco Aurélio

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150 – 215 – Clemente de Alexandria

185 – 254 – Orígenes

205 – 270 – Plotino

232 – 305 – Porfírio

Fonte: Pontifícia Universidade Católica de São Paulo ([200-?]).

594 a.C. – Sólon começa as reformas da lei ateniense.

586 a.C. – Nabucodonosor 2° invade Jerusalém; israelitas são levados para o cativeiro da Babilônia. Gregos colonizam a Espanha.

539 a.C. – Israelitas retornam do cativeiro da Babilônia.

509 a.C. – Proclamação da República Romana. Império persa atinge a Índia. Pregação de Sidarta Gautama (Buda).

508 a.C. – Clístenes proclama a constituição democrática ateninense.

499 a.C. – Tales dá início à Filosofia Grega.

490 a.C. – Pensamento de Confúcio começa a se propagar na China.

472 a.C. – Atenas lidera a Liga de Delos.

443 a.C. – Péricles passa a governar Atenas. Heródoto escreve História. Invenção do calendário solar na China.

431 a.C. – Início da Guerra do Peloponeso (Atenas e Esparta). Demócrito cria a teoria atômica.

405 a.C. – Fim da Guerra do Peloponeso, com a vitória de Esparta.

399 a.C. – Sócrates é condenado à morte, em Atenas.

371 a.C. – Tebas derrota Esparta e domina a Grécia. Roma domina o Lácio, construindo estradas e aquedutos. Hipócrates desenvolve a medicina.

Veja, na linha do tempo, os principais fatos da história neste período.

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334 a.C. – Alexandre torna-se senhor do império persa; seus domínios se estendem até a Índia.

323 a.C. – Morte de Alexandre e desintegração do seu império.

284 a.C. – Inauguração da Biblioteca de Alexandria (norte do Egito), com 100 mil volumes.

280 a.C. – Surgimento da cultura maia na Guatemala.

264 a.C. – Início das Guerras Púnicas, entre Roma e Cartago.

210 a.C. – Começa a construção da Grande Muralha da China.

146 a.C. – Fim das Guerras Púnicas e consolidação de Roma sobre o Mediterrâneo ocidental. Budismo se espalha pelo sudeste asiático.

133 a.C. - Caio e Tibério Graco iniciam reformas em Roma.

73 a.C. – Spartacus lidera revolta de escravos contra Roma.

63 a.C. – Liderados por Pompeu, romanos dominam a Síria e a Palestina.

45 a.C. – César torna-se ditador romano.

44 a.C. – César é assassinado.

27 a.C. – Otaviano aceita o título de Augusto, marcando o início do Império Romano.

19 a.C. – Romanos conquistam a Península Ibérica e criam três províncias, entre elas a Lusitânia, atual Portugal.

6 a.C. – Nasce Jesus de Nazaré.

1 – Começa a era depois de Cristo. População mundial chega a aproximadamente 170 milhões.

14 – Morte de Augusto. Tibério torna-se imperador, ficando no poder até 37. Ovídio escreve Metamorfose.

27 – Jesus é batizado e começa a sua pregação.

30 – Jesus é crucificado.

37 – Calígula torna-se imperador.

54 – Império Romano sob Nero.

64 – Cristãos são acusados e martirizados pelo incêndio de Roma.

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70 – Início da diáspora judaica após destruição do templo em Jerusalém. Surge o primeiro evangelho (S. Mateus).

75 – Começa a construção do Coliseu Romano. Provável data da invenção, na China, do papel.

79 – Erupção do vulcão Vesúvio destrói a cidade de Pompéia, na Itália.

98 – Auge da expansão territorial romana. Cristianismo também se espalha.

100 – População mundial: 180 milhões.

132 – Surgimento da cultura Teotihuacán, no México.

200 – População mundial: 190 milhões.

212 – Cidadania é estendida a todos os homens livres do Império Romano.

Fonte: Uol Biblioteca, [200-?].

A Filosofia Medieval

A Filosofia Medieval compreende o período que vai do século II d.C. até XV d.C.

Este período da história do pensamento ocidental é marcado pelo encontro da Filosofia com o cristianismo. Um encontro marcado por tensões entre a fé e a razão, que se iniciou no Império Romano e prolongou-se por toda a Idade Média, determinando a forma que a Filosofia assumiu por mais de um milênio. A Filosofia tornou-se cristã, e a fé cristã assimilou procedimentos racionais.

A Patrística

A Patrística é assim chamada por ser a Filosofia dos padres da Igreja Católica, nos primeiros séculos do cristianismo. Tem como objetivo desenvolver um pensamento que acomode o cristianismo e a tradição filosófica, a fé e a razão, procura conciliar as verdades da revelação bíblica com a Filosofia Grega (razão).

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O conteúdo do Evangelho, no qual se apoiava a fé cristã nos primórdios do cristianismo, era um saber de salvação, revelado, não sustentado por uma filosofia. O objetivo era claro: somente com tal conciliação seria possível converter os pagãos para a nova religião.Na impossibilidade de fazerem valer suas idéias racionalmente, os padres da Igreja apresentam um novo argumento: o dogma, ou seja, verdades reveladas por Deus e, portanto, irrefutáveis e inquestionáveis. Com isso surge uma distinção entre verdades reveladas e verdades da razão humana. Nesse sentido, o grande tema da Filosofia Patrística é da possibilidade ou impossibilidade de conciliar fé e razão.

Dentre os chamados santos padres, Santo Agostinho (354-430) é quem leva mais longe a conciliação entre a fé e a razão: elabora a “Filosofia Cristã”, como ele a chamaria.(AGOSTINHO,2002).

A Escolástica

Quando desapareceu o poder do Império Romano do Ocidente, a Igreja arrogou-se a supremacia universal. O papa foi reconhecido como a autoridade máxima, a quem deviam submeter-se os poderes temporais. Assim, a hierarquia eclesiástica de Roma representou o fator aglutinante das monarquias ocidentais. A progressiva conversão dos bárbaros ao cristianismo fez da Igreja a instituição mais importante da Idade Média.

As exigências que se apresentavam aos filósofos cristãos já não eram as mesmas, pois o pressuposto de que partiam não era o paganismo, mas o próprio cristianismo. A Filosofia, assim, deixou de ser apologética e tornou-se docente, magistral ou escolástica.

A escolástica pode ser conceituada como o ensino teológico-filosófico da doutrina aristotélico-tomista ministrado nas escolas de conventos e catedrais e também nas universidades européias da Idade Média e do Renascimento. O desenvolvimento da escolástica vale-se, além da Igreja e de sua imposição da unificação da fé cristã, do emprego do latim, tornado universal.

Apologética significa um discurso ou escrito que defende, justifica, elogia uma pessoa ou coisa.A Filosofia Patrística era apologética, pois usava a razão para defender a fé cristã em meio a um mundo cultural que lhe era desfavorável. O que não é mais necessário na Idade Média, com o predomínio da cristandade. Outros exemplos do uso do termo apologia: Apologia de Sócrates; apologia ao crime; apologia às drogas.

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Tomás de Aquino (1225-1274) é o grande nome da Filosofia Medieval. Um trabalhador incansável e de espírito metódico, que se empenhou em ordenar o saber teológico e moral acumulado na Idade Média. Ele não partiu de Deus para explicar o mundo, mas, sobre a experiência sensorial, empregou o conhecimento racional para demonstrar a existência do Criador. As “cinco vias” são cinco argumentos que provariam a existência de Deus a partir dos efeitos por ele produzidos, e não da ideia de Deus. Veja a figura 3.1.

Veja, na linha do tempo, os principais filósofos deste período.Figura 3.1 – São Tomás de Aquino Fonte: Skoob (2010).

354 – 430 – Santo Agostinho

480 – 524 – Boécio

980 – 1037 – Avicena

1079 – 1142 – Abelardo

1126 – 1198 – Averróis

1200 – 1280 – Santo Alberto

1214 – 1292 – Roger Bacon

1227 – 1274 – Santo Tomás de Aquino

1265 – 1308 – Duns Scotus

1300 – 1349 – Guilherme de Ockham

Fonte: Pontifícia Universidade Católica de São Paulo ([200-?])

Veja na linha do tempo os principais fatos da história neste período.

235 – Começo do declínio do Império Romano.

284 – Princípio da civilização Maia clássica.

300 – População mundial em torno de 190 milhões.

306 – Constantino torna-se imperador romano.

313 – Edito de Milão legaliza o Cristianismo no Império Romano.

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320 – Início do Império Gupta na Índia.

324 – Bizâncio é reconstruída por Constantino.

326 – Constantino declara domingo como dia sagrado para os cristãos.

330 – Renomeada de Constantinopla, Bizâncio torna-se capital

do Império Romano.

378 – Visigodos derrotam o exército romano.

391 – Teodósio proíbe os cultos pagãos.

395 – O Império Romano é dividido em dois, Ocidental e Oriental.

400 – Agostinho publica Confissões. População mundial em torno de 190 milhões.

410 – Visigodos saqueiam Roma.

434 – Átila torna-se o rei dos Hunos.

476 – Deposição de Rômulo marca o fim do Império Romano. Começa a Idade Média.

496 – Clóvis, rei dos francos, dá inicio ao reino Merovíngio.

500 – Os bretões, sob a liderança do legendário rei Artur, derrotam os saxões, retardando o avanço destes sobre a Bretanha. População mundial em torno de 195 milhões.

525 – Budismo, agora misturado ao taoísmo, alcança grande popularidade na China.

527 – Justiniano, imperador bizantino, tenta restaurar a parte ocidental do Império Romano.

550 – Ataque huno encerra Império Gupta, na Índia.

570 – Nascimento de Maomé (Muhammad).

600 – População mundial: aproximadamente 200 milhões.

607 – Unificação do Tibete, que se torna o centro da religião budista.

622 – Auge do Império Maia, no México.

632 – Maomé morre.

637 – Jerusalém é conquistada por tropas muçulmanas.

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641 – Biblioteca da Alexandria é destruída pelos árabes.

680 – Divisões internas no Islamismo criam os xiitas e os sunitas.

700 – População mundial estimada em cerca de 210 milhões. Data aproximada em que os chineses inventaram a pólvora.

711 – Árabes mulçumanos ocupam a Espanha.

751 – Pepino III encerra a dinastia Merovíngia e inicia a Carolíngia. Córdoba torna-se o centro da cultura muçulmana na Espanha.

768 – Carlos Magno torna-se rei dos francos.

800 – Carlos Magno é coroado em Roma pelo papa Leão III. População mundial: 220 milhões.

827 – Árabes conquistam Sicília e Creta, derrotando os bizantinos.

833 – Criação de um observatório em Bagdá.

885 – Paris é cercada pelos vikings.

896 – Declínio da civilização Maia e ascensão da cultura tolteca.

900 – População mundial: 240 milhões.

907 – Fim da dinastia Tang na China leva à dissolução do império.

925 – Pedra passa a ser usada no lugar de madeira em construções na Europa Ocidental.

936 – Budismo se espalha na Coréia.

960 – Início da dinastia Sung na China.

986 – Vikings estabelecem colônias na Groenlândia.

1000 – População mundial: 265 milhões.

1016 – Auge do Império Bizantino.

1054 – Cisma da Igreja Católica (Romana e Ortodoxa).

1090 – Relógio mecânico movido à água é inventado na China.

1095 – Papa Urbano II convoca cruzada para reconquistar lugares sagrados.

1099 – Cruzados conquistam Jerusalém. Auge do sistema feudal na Europa.

1100 – População mundial: 270 milhões.

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Universidade do Sul de Santa Catarina

1138 – Princípios da arquitetura gótica.

1150 – Templo Khmer, Angkor Wat, é erguido no Camboja. Declínio dos toltecas no México.

1166 – Astecas entram no México.

1167 – Fundação da Universidade de Oxford, na Inglaterra.

1170 – Fundação da Universidade de Paris. Começa a música polifônica.

1193 – Budismo Zen no Japão.

1200 – Civilização Inca (Cuzco) se desenvolve.

1209 – Fundação da Universidade de Cambridge. Criação da ordem franciscana.

1213 – Genghis Khan dá início ao Império Mongol.

1215 – Religião muçulmana chega ao sudeste asiático e à África.

1235 – Início do Império Mali na África Ocidental.

1236 – Reino de Castela conquista Córdoba.

1261 – Bizâncio reconquista Constantinopla.

1271 – Marco Polo dá início à viagem a China.

1300 – Surgimento de novo Império Maia em Yucatán. População mundial: 360 milhões.

1307 – Início do reino do Benin no sul da Nigéria (África Ocidental).

1309 – Dante começa a escrever A Divina Comédia.

1337 – Começa a Guerra dos Cem Anos entre França e Inglaterra.

1347 – Peste Negra chega à Europa.

1353 – Turcos otomanos invadem a Europa.

1368 – Fundação da dinastia Ming na China.

1400 – População mundial: 350 milhões. Balé começa nas cortes renascentistas italianas.

1405 – Mongol Tamerlane conclui a conquista da Pérsia, Síria e Egito.

1410 – Início da pintura a óleo.

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Introdução à Filosofia

Unidade 3

1413 – Início das viagens marítimas portuguesas.

1420 – Portugueses descobrem a ilha da Madeira.

1431 – Joana d’Arc é queimada na França.

1432 – Portugal chega ao arquipélago de Açores.

1440 – Começa a ser escrito As Mil e Uma Noites, em árabe.

1453 – Turcos otomanos conquistam Constantinopla, marcando o fim da Idade Média. Termina a Guerra dos Cem Anos e começa, na Inglaterra, a Guerra das Rosas.

1455 – Impressão da Bíblia de Gutenberg.

1469 – Fernando de Aragão e Isabel de Castela se casam, começando o processo de unificação da Espanha.

1478 – Começa a Inquisição Espanhola.

1492 – Árabes e judeus expulsos da Espanha. Cristóvão Colombo chega à América.

1494 – Portugal e Espanha assinam o Tratado de Tordesilhas.

1498 – Vasco da Gama atravessa o Cabo da Boa Esperança, na atual África do Sul.

1500 – População mundial: 400 milhões (demografia). Cabral chega ao Brasil.

Fonte: Oxford Encyclopedia of World History, 1999.

Seção 3 - A Filosofia ModernaA Filosofia Moderna compreende o período que vai do século XVII a.C. ao XIX d.C.

O Renascimento

A escolástica chegou ao seu limite. A desagregação da cristandade, com a reforma protestante e o renascimento cultural, trouxe novas questões. A desintegração da estruturas feudais, as grandes descobertas da ciência e a ascensão da burguesia assinalam a emergência do Renascimento.

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1401 – 1464 – Cusa, Nicolau de

1466 – 1536 – Erasmo, Desidério

1469 – 1527 – Maquiavel, Nicolau

1483 – 1546 – Lutero, Martin

1490 – 1525 – Müntzer, Tomás

1509 – 1564 – Calvino, João

1530 – 1596 – Bodin, Jean

1533 – 1592 – Montaigne, Michel Eyquem de

1548 – 1593 – Giordano, Bruno

1557 – 1638 – Althusius, Johannes

Fonte: Oxford Encyclopedia of World History, 1999.

Em contraste com a Filosofia Medieval, dogmática e submissa à Igreja, a Filosofia Moderna é profana e crítica, representada por leigos que procuram pensar de acordo com as leis da razão e do conhecimento científico. O resultado é a ruptura dos vínculos com a teologia e um crescente processo de secularização da Filosofia.

Veja, na linha do tempo, os filósofos deste período.

Veja na linha do tempo os principais fatos da história neste período.

1503 – Leonardo da Vinci pinta Mona Lisa. Franceses chegam às costas brasileiras.

1508/12 – Michelângelo pinta a Capela Sistina.

1509 – O relógio é inventado em Nuremberg, na atual Alemanha.

1517 – Começo da Reforma Religiosa na Alemanha.

1519 – Magellan cruza o Oceano Pacífico.

1521 – Hernán Cortés conquista os astecas, no México.

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1531 – Expedição Martim Afonso de Souza marca o início da colonização.

1532 – Fundação de São Vicente, primeira vila brasileira.

1533 – Francisco Pizarro derrota o Império Inca, no Peru.

1534 – Fundação da Ordem dos Jesuítas. Criação das quatorze capitanias hereditárias no Brasil, por D. João III.

1538 – Primeiros escravos africanos chegam ao Brasil.

1542 – Portugueses aportam no Japão.

1543 – Nicolau Copérnico conclui a obra De Revolutionibus Orbium.

1545 – Começa o Concílio de Trento.

1549 – Chega ao Brasil o primeiro Governador-Geral, Tomé de Souza. Fundação de Salvador.

1551 – Fundação da Universidade de Lima, a primeira na América.

1554 – Fundação de São Paulo.

1557 – Portugueses fundam Macau, na China.

1565 – Fundação do Rio de Janeiro.

1570 – D. Sebastião concede liberdade aos índios.

1572 – Camões publica o clássico Os Lusíadas.

1580 – Espanha ocupa Portugal (união das coroas ibéricas).

1583 – Invenção do microscópio e do termômetro.

1594 – William Shakespeare escreve Romeu e Julieta.

Fonte: Oxford Encyclopedia of World History, 1999.

O RacionalismoEste período tem como principal característica uma crescente confiança na capacidade do intelecto humano e o surgimento de uma série de sistemas fundados na convicção de que a razão constitui o instrumento fundamental para a compreensão do mundo. Esta era a ideia central comum ao conjunto de doutrinas conhecidas tradicionalmente como Racionalismo, e cuja primeira manifestação

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aparece na obra de René Descartes (1596-1650). Dá-se a descoberta da subjetividade: “Penso, logo existo!”. O conhecimento do mundo não se faz sem o sujeito, deslocando o foco do objeto para o sujeito capaz de conhecer; da realidade para a razão.

O Empirismo

Em oposição à crença racionalista, que se baseia, em grande medida, na razão, surge o empirismo, doutrina que reconhece a experiência como fonte válida de conhecimento. O empirismo deu início a uma nova e transcendental etapa na história da Filosofia, tornando possível o surgimento da moderna metodologia científica. O que o caracteriza e define é a afirmação de que a validade das proposições depende exclusivamente da experiência sensível. Nega qualquer outra espécie de realidade além da que se atinge pelos sentidos. Entre os principais representantes estão John Locke (LOCKE, 1999), Thomas Hobbes, George Berkeley, David Hume, Stuart Mill, Herbert Spencer.

O Iluminismo

O racionalismo cartesiano e o empirismo inglês preparam o surgimento do Iluminismo. O Iluminismo foi uma revolução intelectual ocorrida na Europa e, particularmente, na França, durante o século XVIII. Na verdade, foi o apogeu e a consolidação dos ideais renascentistas, que começaram a ser difundidos por todo o velho continente.

Foi durante o Século das Luzes (século XVIII) que se consolidou a separação entre a religião e as ciências. A grande preocupação dos iluministas era descobrir o funcionamento de todas as coisas, e apenas a razão era capaz de levá-los a tanto. Deve-se entender o Iluminismo também como uma reação burguesa ao absolutismo. Propunha-se a reorganização da sociedade e a adoção de uma política centrada no homem, que lhe garantisse sua total liberdade.

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A publicação da Encyclopédie (1751-1772), sob a direção do francês Denis Diderot, constitui exemplo excepcional desse empenho. Jean-Jacques Rousseau e o barão de Montesquieu defenderam a liberdade e a igualdade entre todos os cidadãos. Montesquieu propôs, em O espírito das leis (1748), a divisão dos poderes como garantia da liberdade política. Rousseau, em O contrato social (1762), reconheceu como depositário do poder o povo, que o cede aos governantes mediante uma delegação revogável segundo sua vontade.

O Criticismo

Diante desta efervescência, surge um filósofo que questiona o poder absoluto da razão: será que a razão pode conhecer tudo? Qual o conhecimento que possui fundamento? A razão é levada a julgamento pelo Criticismo do Immanuel Kant (1724-1804).

Kant objetivou superar o racionalismo e o empirismo. “Supera” esses dois movimentos ao afirmar que o conhecimento só existe a partir dos conceitos de matéria e forma: a matéria vem da experiência sensível (a posteriori) e a forma é dada pelo sujeito que pensa (a priori). O conhecimento é um processo de síntese no qual o intelecto proporciona a forma e a experiência oferece o conteúdo.

1561 – 1626 – Galilei, Galileu

1564 – 1642 – Galileu Galilei

1568 – 1639 – Campanella, Tommaso

1571 – 1630 – Kepler, Johannes

1588 – 1679 – Hobbes, Thomas

1596 – 1650 – Descartes, René

1614 – 1687 – More, Henry

1623 – 1662 – Pascal, Blaise

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1632 – 1677 – Espinosa, Baruch

1632 – 1704 – Locke, John

1638 – 1715 – Malebranche, Nicolas

1646 – 1716 – Leibniz, Gottfried Wilhelm

1668 – 1744 – Vico, Giambattista

1679 – 1754 – Wolff, Christian

1685 – 1753 – Berkeley, George

1689 – 1755 – Montesquieu

1694 – 1778 – Voltaire

1711 – 1776 – Hume, David

1712 – 1778 – Rousseau, Jean-Jacques

1713 – 1784 – Diderot, Denis

1717 – 1783 – D’Alembert, Jean Le Round

1724 – 1804 – Kant, Immanuel

Fonte: Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. ([200-?])

1603 – Shakespeare escreve Hamlet.

1609 – Galileu inventa o telescópio.

1612 – Franceses fundam São Luís, no Maranhão.

1614 – Padre Antônio Vieira chega ao Brasil.

1615 – Cervantes publica Dom Quixote. Franceses expulsos do Maranhão.

1618 – Guerra dos Trinta Anos começa na Europa.

1629 – Bandeira de Raposo Tavares e Manuel Preto destrói missões jesuíticas no Paraná.

1630 – Início do Quilombo dos Palmares. Holandeses ocupam Pernambuco.

Veja na linha do tempo os principais fatos da história neste período.

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1637 – Descartes publica Discurso sobre o Método, marco da Filosofia Moderna.

1640 – Portugal volta a se tornar independente da Espanha (Restauração).

1643 – Luís XIV chega ao poder na França.

1649 – Termina a construção do Taj Mahal, na Índia.

1651 – Thomas Hobbes escreve Leviatã.

1654 – Expulsão definitiva dos holandeses do Brasil.

1670 – Concluída a construção do Palácio de Versalhes, na França.

1674 – Bandeira de Fernão Dias Pais a Minas Gerais.

1687 – Newton publica a lei da gravidade.

1695 – Destruição de Palmares e morte de seu líder, Zumbi.

1698 – Savery inventa o motor a vapor.

Fonte: Oxford Encyclopedia of World History, 1999.

O IdealismoO Idealismo consiste na interpretação da realidade exterior e material a partir do mundo interior, subjetivo e espiritual. Isso implica a redução do objeto do conhecimento ao sujeito do conhecedor. Ou seja: o que se conhece sobre o ser humano e o mundo é produto de idéias, representações e conceitos elaborados pela consciência humana. Friedrich Hegel (1770-1831) afirma que a idéia passa por transformação contínua e tudo se desenvolve através da lógica dialética, do vir-a-ser, em três fases: a tese, a antítese e a síntese.

A tese é a afirmação; a antítese é a negação da primeira; a síntese, o resultado da dialética do sim e do não, isto é, dos contrários (Bussola, 1998, p. 47). Entre os principais representantes estão Johann Gottlieb von Fichte, Friedrich Wilhelm von Schelling, Friedrich Hegel, Immanuel Kant, George Berkeley.

Figura 3.2 - Friedrich Hegel Fonte: The Free Dictionary (2011).

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Figura 3.3 - Karl Marx Fonte: Ramos (2011).

O Materialismo

Em contraposição ao idealismo, surge o Materialismo. O Materialismo é a concepção filosófica que aponta a matéria como substância primeira e última de qualquer ser, coisa ou fenômeno. Para os materialistas, a realidade é matéria em movimento, que produz efeitos surpreendentes, entre os quais a consciência.

No século XIX, Karl Marx (1818-1883) utiliza o método dialético desenvolvido por Hegel e o adapta à sua teoria, o materialismo histórico, que considera o modo de produção da vida material como condicionante da história.(MARX, 1996).

Desta abordagem nasce um novo conceito de história, em que o motor interno é a contradição. Conhecer a gênese, o processo de constituição pelas mediações contraditórias é conhecer o real.

O Positivismo

As descobertas científicas e os avanços técnicos do século XIX fazem crer que o homem pode dominar a natureza, com uma ciência e tecnologia cada vez mais eficazes. Neste clima de exaltação do progresso científico, surge o Positivismo, e a convicção de que o único porto seguro para o conhecimento é a ciência. Defendem os positivistas que o método das ciências da natureza – baseado na observação, experimentação e matematização – deve ser estendido a todos os campos do conhecimento e a todas as atividades humanas.

Esse entusiasmo desemboca no cientificismo, visão reducionista segundo a qual a ciência seria o único conhecimento válido. Augusto Comte (1798-1857) é o grande nome desta corrente filosófica. (COMTE,1999).

Veja, na linha do tempo, os principais filósofos deste período.

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1770 – 1831 – Hegel, Georg Wilhelm Friedrich

1775 – 1854 – Schelling, Friedrich

1788 – 1860 – Schopenhauer, Arthur

1798 – 1857 – Comte, Augusto

1804 – 1872 – Feuerbach, Ludwing

1806 – 1873 – Mill, John Stuart

1809 – 1865 – Proudhon, Pierre Joseph

1813 – 1855 – Kierkegaard, Sören Aabye

1818 – 1883 – Marx, Karl

1820 – 1895 – Engels, Friedrich

1833 – 1911 – Dilthey, Wilhelm

1838 – 1916 – Mach, Ernst

1839 – 1914 – Peirce, Charles Sanders

1843 – 1896 – Avenarius, Richard

1844 – 1900 – Nietzsche, Friedrich

Fonte: Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. ([200-?])

1720 – China conquista o Tibete.

1741 – Bering chega ao Alasca.

1742 – Celsius desenvolve a escala em centígrados.

1751 – Diderot publica o primeiro volume de sua Enciclopédia.

1755 – Terremoto destrói Lisboa.

1756 – Começa a Guerra dos Sete Anos.

1757 – Escola fisiocrata na França inicia a teoria econômica moderna.

Veja, na linha do tempo, os principais filósofos deste período.

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1759 – Expulsão dos jesuítas do Brasil. Voltaire publica Cândido.

1762 – Rousseau lança Contrato Social, clássico do iluminismo.

1764 – Mozart escreve a sua primeira sinfonia, aos 8 anos de idade.

1774 – Luís XVI chega ao poder na França. Priestley descobre o hidrogênio.

1775 – Começa a Guerra da Independência nos EUA. Jenner descobre o princípio da vacinação.

1776 – Adam Smith publica Pesquisa sobre a Natureza e as Causas da Riqueza das Nações. Assinada a Declaração de Independência, nos EUA.

1777 – Cresce a indústria têxtil na Inglaterra.

1781 – Kant publica Crítica da Razão Pura.

1783 – Fim da Guerra da Independência (EUA). Irmãos Montgolfier realizam o primeiro “vôo humano”, num balão de ar quente. Cavendish identifica a composição da água.

1787 – Constituição norte-americana é assinada.

1789 – Revolução Francesa: fim da Idade Moderna e início da Contemporânea.

Lavoisier começa a química moderna. Inconfidência Mineira.

1791 – Revolta escrava no Haiti, sob o comando de Toussaint L’Ouverture.

Thomas Paine publica Os Direitos do Homem.

1792 – Proclamação da República Francesa. Julgamento dos inconfidentes e execução de Tiradentes.

1793 – Começa o Regime do Terror na França.

1799 – Napoleão assume o poder.

1800 – Alessandro Volta fabrica a primeira bateria. População mundial estimada em 900 milhões.

1803 – Inglaterra declara guerra contra a França de Napoleão.

1804 – Haiti torna-se o segundo país independente da América.

1808 – Começam os movimentos de independência nas colônias espanholas sul-americanas. Corte portuguesa chega ao Brasil fugindo de Napoleão; abertura dos portos brasileiros.

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1811 – Paraguai e Venezuela tornam-se independentes.

1812 – EUA declaram guerra à Inglaterra.

1814 – Napoleão abdica do poder. Stephenson inventa a locomotiva a vapor.

1815 – Napoleão retorna, mas sofre derrota definitiva em Waterloo. Brasil torna-se Reino Unido a Portugal e Algarves.

1816 – Argentina declara independência.

1817 – Estoura a Revolução Pernambucana (Brasil).

1820 – Primeira iluminação urbana, em Londres.

1821 – México torna-se independente. Hegel publica Fundamentos da Filosofia do Direito.

1822 – Independência do Brasil.

1824 – Peru independente. Beethoven compõe a Nona Sinfonia. Promulgada a primeira Constituição Brasileira.

1825 – Guerra entre Brasil e Argentina pela província Cisplatina (Uruguai).

1830 – Revolução liberal na França.

1831 – D. Pedro I abdica do trono (Brasil).

1835 – A Guerra dos Farrapos irrompe no Rio Grande do Sul, contra o governo federal (Brasil). Revolta dos malês na Bahia (Brasil).

1840 – Começam as Guerras do Ópio na China.

1843 – D. Pedro II assume o poder moderador (Brasil).

1846 – Início da guerra entre México e EUA. Anestesia é usada pela primeira vez em hospital.

1848 – Revoluções se alastram na Europa. Marx e Engels publicam O Manifesto Comunista.

1850 – Lei Eusébio de Queiroz extingue o tráfico de escravos (Brasil).

1857 – José de Alencar publica O Guarani (Brasil).

1859 – Charles Darwin publica A Origem das Espécies. Primeiro poço de petróleo é perfurado, nos EUA.

1861 – Começa a Guerra da Secessão nos EUA.

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1862 – Abraham Lincoln liberta os escravos (EUA).

1864 – Inicia a guerra do Paraguai. Lincoln é assassinado (EUA).

1870 – Fim da Guerra do Paraguai. Carlos Gomes compõe O Guarani (Brasil).

1872 – Primeiro recenseamento no Brasil.

1876 – Alexander Graham Bell inventa o telefone.

1885 – Gottlieb Daimler produzem o primeiro carro movido a gasolina.

1886 – Pemberton, farmacêutico norte-americano, inventa a Coca-Cola.

1888 – Lei Áurea abole a escravidão, no dia 13 de maio (Brasil).

1889 – Proclamação da República, em 15 de novembro (Brasil).

1891 – Promulgada a Constituição dos Estados Unidos do Brasil (Brasil).

1895 – Röentgen descobre o raio-X. Irmãos Lumière constroem o primeiro aparelho cinematográfico.

1896 – Primeiros Jogos Olímpicos modernos, em Atenas. Marconi inventa o telégrafo sem fio.

1897 – Destruição de Canudos.

1899 – Machado de Assis publica sua obra-prima, Dom Casmurro (Brasil).

1900 – População mundial: 1.550.000.

Fonte: Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, ([200-?]).

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Seção 4 - A Filosofia do século XX

Após duas guerras mundiais, o Holocausto e os ataques nucleares a Hiroshima e Nagasaki, em 1945, o humanismo europeu ruíra de alto a baixo e, com ele, a confiança iluminista na técnica e na ciência como agentes da civilização.

O pensamento ocidental passa por uma tremenda angústia, mostrando que a ciência, a Filosofia, o conhecimento, são incapazes de resolver os problemas da humanidade. No século XX, mais homens foram mortos ou abandonados à morte por decisão humana que jamais antes na história. (HOBSBAWN, 1999, p. 21).

A Filosofia passou a mostrar que as ciências não possuem princípios totalmente certos, seguros e rigorosos para as investigações, que os resultados podem ser duvidosos e precários, e que, frequentemente, uma ciência desconhece até onde pode ir e quando está entrando no campo de investigação de uma outra.

Fenomenologia e Existencialismo

Neste contexto de dúvida e desencanto, diversos pensadores passam a questionar o sentido da vida humana. Surge, assim, o existencialismo, interpretando esta urgente renovação e, ao mesmo tempo, testemunhando a situação de angústia na qual o flagelo horroroso da guerra lançara à humanidade.

O Existencialismo acredita que é a existência do ser humano, como ser livre, que define sua essência, e não a essência ou a natureza humana que determina sua existência. O homem primeiro vive e só depois pode ser definido.

O Existencialismo traz a experiência pessoal para a reflexão filosófica, opondo-se à tradição de que o filósofo deve manter certa distância entre ele próprio, como sujeito pensante, e o objeto que o examina. Os temas de reflexão do existencialismo

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giram basicamente em torno do homem e da realidade humana: a pessoa, a liberdade, a realidade individual, a existência cotidiana, o sentido da vida e da morte. Entre os principais representantes estão Soren Kierkegaard (1813-1855), Martin Heidegger (1889-1976), Maurice Merleau-Ponty (1908-1961), Jean-Paul Sartre (1905-1980).

O Existencialismo usa como método a Fenomenologia, desenvolvida por Edmund Husserl (1859-1938). A fenomenologia é o estudo do fenômeno, daquilo que realmente se manifesta. Ela despreza pressupostos e realiza uma descrição daquilo que se mostra por si mesmo, anterior a toda crença e juízo.

O Neopositivismo

A partir do começo do século XX, teve início uma reflexão radical sobre a natureza da Filosofia, sobre a determinação de seus métodos e objetivos: o neopositivismo.

No que diz respeito ao método, destacaram-se as novas reflexões sobre o estudo analítico da linguagem e o impulso dado à Filosofia da ciência. Representa a ênfase em ver a Filosofia, antes de tudo, como análise, ou seja, elucidação, esclarecimento. Nesse aspecto, seu interesse voltou-se fundamentalmente para a lógica e a análise dos conceitos subjacentes à linguagem, considerando que muitos dos dilemas filosóficos habituais podem ser resolvidos – ou deixados de lado, por insolúveis – mediante o estudo dos termos em que estão expostos.

Seus principais representantes são Rudolf Carnap (1891-1969), Ludwig Wittgenstein (1889-1951), Bertrand Russel (1872-1970), Karl Popper (1902-1994).

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Introdução à Filosofia

Unidade 3

A crítica à sociedade capitalista

A Filosofia cumpre a sua missão de ser crítica ao confrontar as necessidades e desejos humanos com os valores de uma época ou estrutura sociohistórica. Destacamos, aqui, três exemplos de posturas filosóficas questionadoras da sociedade moderna, industrial e capitalista.

Jürgen Habermas (1929-) Crítico da doutrina positivista e do tecnicismo da sociedade industrial capitalista, luta pelo restabelecimento de uma opinião pública democrática e crítica. Habermas acredita que, mesmo numa sociedade de conflitos e interesses antagônicos, permanece como possibilidade histórica um núcleo universal de comunicação entre os homens.

Por isso, ele apresenta a sua teoria da ação comunicativa como uma situação ideal na qual homens de boa vontade buscam o diálogo para solução de problemas comuns; colocam-se em acordo com algumas regras do jogo, aceitando que prevalecerá entre eles sempre o melhor argumento e que se curvarão diante das consequências das posições assumidas processualmente no debate de ideias e posições políticas, mudando suas formas de agir socialmente.

Herbert Marcuse (1898-1979) Denunciou o caráter repressivo da sociedade industrial e pregou transformações revolucionárias tanto nas instituições sociais como nas atitudes do homem, que, a seu ver, se deve libertar, inclusive pela sexualidade, das convenções e condicionamentos que o escravizam.

Acusou a sociedade capitalista de criar necessidades de consumo artificiais e incessantemente renovadas, mediante a manipulação das consciências pelos meios de comunicação de massa, fonte de um estilo de vida que chamou “unidimensional” – o conformismo. Suas ideias tiveram grande influência na rebelião estudantil de 1968.

Michel Foucault (1926-1984) Analisa as estruturas da sociedade ocidental e constata que diferentes práticas na medicina, nas penitenciárias, na educação, dão forma ao pensamento ocidental e produzem a ideia normativa e universal de ser humano. Foucault

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Universidade do Sul de Santa Catarina

mostra a arbitrariedade das instituições, o espaço de liberdade de que dispomos e as mudanças que podemos efetuar.

Foucault conclui que refletimos em nosso pensar a sociedade, a política, a história, os olhares universais, as estruturas formais, as instituições do Ocidente! Opõe-se à maneira como o saber circula e funciona nas relações de poder. (FOUCAUT, 1997).

Luta por uma nova subjetividade, que consiste em mostrar às pessoas que elas são muito mais livres; toma por verdade alguns temas fabricados na história: a pretensa evidência pode e deve ser criticada e destruída. Considera que o papel do intelectual é mudar algo no espírito das pessoas, mostrando que a realidade social e os conceitos que a sustentam, resultam de processos históricos e que todos nós podemos ser muito mais livres.

Veja, na linha do tempo, os filósofos deste período.

1848 –1915 – Windelband, Wilhelm

1856 –1939 – Freud, Sigmund1859 –1941 – Bergson, Henri

1859 –1938 – Husserl, Edmund

1866 –1952 – Croce, Benedetto

1871 –1919 – Luxemburgo, Rosa

1872 –1970 – Russell, Bertrand

1874 –1928 – Scheler, Max

1874 –1945 – Cassirer, Ernest

1880 –1936 – Spengler, Oswald

1884 –1962 – Bachelard, Gaston

1885 –1971 – Lukács, Georg

1885 –1977 – Bloch, Ernest

1889 –1951 – Wittgenstein, Ludwig

1889 –1976 – Heidegger, Martin

1891 –1937 – Gramsci, Antonio

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Introdução à Filosofia

Unidade 3

1891 –1970 – Carnap, Rudolf

1892 –1940 – Benjamin, Walter

1892 – 1964 – Koyré, Alexandre

1895 – 1973 – Horkheimer, Max

1898 – 1979 – Marcuse, Herbert

1900 – – Gadamer, Hans-Georg

1901 – 1981 – Lacan, Jacques

1902 – 1994 – Popper, Karl

1903 – 1969 – Adorno, Theodor Wiesegrund

1905 – 1980 – Sartre, Jean-Paul

1905 – 1995 – Lévinas, Emmanuel

1908 – 1961 – Merleau-Ponty, Maurice

1913 – – Ricoeur, Paul

1915 – 1980 – Barthes, Roland

1922 – – Kuhn, Thomas

1922 – 1974 – Lakatos, Imre

1922 – – Apel, Karl-Otto

1925 – 1995 – Deleuze, Gilles

1926 – 1984 – Foucault, Michel

1928 – – Chomsky, Noam

1929 – – Habermas, Jürgen

1930 – – Derrida, Jacques

1931– – Rorty, Richard

1934 – 1995 – Dussel, Enrique

Fonte: Pontifícia Universidade Católica de São Paulo ([200-?]).

Veja na linha do tempo os principais fatos da história neste período:

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1904 – Vacinação obrigatória gera distúrbios no Rio de Janeiro (Brasil).

1905 – Einstein anuncia a Teoria da Relatividade.

1906 – Santos Dumont voa com o 14 Bis.

1910 – Revolta da Chibata eclode no Rio (Brasil).

1913 – Ford desenvolve a linha de produção nas suas fábricas.

1914 – Começa a Primeira Guerra Mundial, na Europa.

1917 – Começa a Revolução Russa. Greve operária pára São Paulo (Brasil).

1918 – Fim da Primeira Guerra Mundial, com a derrota da Alemanha e seus aliados.

1919 – Assinatura do Tratado de Versalhes. Fundação das Ligas das Nações.

1920 – Primeira irradiação musicada.

1922 – Mussolini chega ao poder na Itália. Realização da Semana de Arte Moderna em São Paulo (Brasil).

1924 – Começa a Coluna Prestes.

1926 – Hirohito torna-se imperador do Japão.

1927 – Lindenberg realiza a primeira travessia aérea do Atlântico.

1928 – Stálin assume o poder na União Soviética.

1929 – Quebra da Bolsa de Nova York.

1930 – Revolução de 1930 marca o início da Era Vargas (Brasil).

1932 – Revolta Constitucionalista, em São Paulo (Brasil).

1933 – Hitler torna-se o Primeiro ministro alemão.

1935 – Primeira transmissão de TV (Alemanha).

1936 – Guerra Civil Espanhola. Primeira transmissão televisiva, na Inglaterra.

1937 – Japoneses ocupam Pequim, Xangai e Nanquim. Picasso pinta Guernica. Instalação do Estado Novo (Brasil).

1939 – Hitler invade a Polônia: começa a Segunda Guerra Mundial.

1940 – Paris é ocupada pelos alemães.

1941 – Ataque japonês a Pearl Harbour precipita a entrada dos EUA na Guerra.

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Unidade 3

1942 – Brasil entra na Segunda Guerra.

1944 – Desembarque aliado na Normandia (Dia D).

1945 – Fim da guerra na Europa, em 8 de maio. EUA explodem bombas atômicas no Japão. Capitulação do Japão, no dia 15 de agosto. Vargas renuncia à presidência (Brasil).

1947 – Independência da Índia e Paquistão.

1948 – Criação do Estado de Israel.

1949 – China torna-se comunista. Simone de Beauvoir lança O Segundo Sexo. Assinado o Tratado do Atlântico Norte (Otan).

1950 – Começa a Guerra da Coréia. Vargas é eleito presidente (Brasil).

1951 – Primeiro computador comercial é lançado nos EUA.

1954 – Vargas comete suicídio (Brasil).

1955 – Começa a Guerra do Vietnã.

1957 – União Soviética dá largada à corrida espacial, lançando o Sputnik.

1959 – Castro lidera a Revolução Cubana.

1960 – Kubitschek inaugura Brasília.

1961 – Jânio Quadros renuncia à presidência.

1963 – Kennedy é assassinado nos EUA.

1964 – João Goulart é deposto do poder pelos militares.

1966 – Começa a Revolução Cultural na China.

1968 – Protestos estudantis em vários países.

1969 – Homem chega à Lua.

1973 – Allende é derrubado por Pinochet no Chile.

1981 – Cientistas isolam o vírus da AIDS.

1983 – Internet é criada.

1989 – Queda do muro de Berlim.

1991 – Fim da União Soviética.

1999 – Cientistas escoceses produzem clone de uma ovelha.

Fonte: 5. 400 anos ([200 -?]).

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Seção 5 - A Racionalidade ocidental

A Filosofia é a filosofia de um tempo. Retrata a mentalidade e o pensamento dos seres humanos de uma determinada época e o desenvolvimento de determinada cultura. A civilização ocidental vem mudando consideravelmente ao longo dos anos, e a Filosofia acompanha estas mudanças, contribuindo para a compreensão do pensamento nos diferentes contextos existenciais.

Acompanhe, no Quadro 3.1 seguinte, a caracterização, grosso modo, do desenvolvimento da racionalidade ocidental nos seus principais períodos:

Idade Antiga(V a.C. – IV d.C.)

Idade Média(V d.C. – XVI)

Idade Moderna e Contemporânea

(XVI – XX)

Ideia básica

ou razão explicativa

Phisis – naturezaAção é contemplação

Ócio

DeusContemplação - Fé

Homo FaberAção é fabricação

Resultados

Ser humanoServo da natureza

Livre ou escravo Servo de DeusSenhor de si

Livre e iguais pela razão

VerdadeObjetivismo

Adequação do sujeito ao objeto (natureza)

ObjetivismoAdequação do sujeito

ao objeto (Deus)

SubjetivismoAdequação ao sujeito“Penso, logo existo!”.

Saber mais importante

Mito e FilosofiaContemplação da

natureza

TeologiaContemplação de Deus

Ciência e TecnologiaConhecer é ação

humana

TrabalhoAtividade de escravos

(negativo)Castigo devido ao pecado (negativo)

Ação autocriadora (positivo)

Política Atividade naturalSeparação entre

política (negativa) e moral

Atividade artificialMal necessário

HistóriaFisiológica

Nascer e morrer

Eterno retorno

TeológicaInício e fim em Deus

AntropológicaInício com o homem

(progresso – processo)

Quadro 3.1 - O desenvolvimento da racionalidade ocidental Fonte: Adaptado de um quadro sobre a evolução da racionalidade ocidental elaborado pelo Prof. Selvino Assmann, da Universidade Federal de Santa Catarina. 2006.

Este é o cenário em que se desenvolve o pensamento ocidental, ora explicando, ora questionando, ora conduzindo estas mudanças e acontecimentos.

Eterno retorno é uma concepção cíclica da realidade do mundo e da existência, na qual nossas vidas e tudo mais que existe continua se repetindo infinitamente, para sempre. Na modernidade, Nietzsche recupera esta concepção antiga de história e dá para ela uma dimensão ética: assim como, no mundo da natureza, cada decisão tomada por nós vai continuar produzindo resultados, cada decisão vale para sempre. A temporalidade não existe e, muito menos, as circunstâncias atenuantes da natureza transitória. Passarás à eternidade, fazendo o que estás fazendo agora. O homem está condenado a ser, eternamente, o mesmo.

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Introdução à Filosofia

Unidade 3

A história do pensamento ocidental é a história do desenvolvimento da racionalidade enquanto possibilidade humana de encontrar explicações de ordem natural para a realidade das coisas, do mundo e da sua própria existência.

Síntese

Somos seres humanos e nada do que é humano deve nos causar estranhamento. A Filosofia é obra humana e, por isso, chegamos ao final do estudo de mais uma unidade com uma sensação de familiaridade com o mundo da Filosofia. O mundo da Filosofia é o nosso mundo.

Vimos que estudar Filosofia é estudar a evolução do pensamento ocidental, sabendo que, ao entrar em contato com o pensamento de filósofos das mais diferentes épocas, não devemos ter a pretensão de encontrar respostas definitivas. A única pretensão aceitável por parte de quem faz e de quem estuda Filosofia é a de pensar por si mesmo.

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Universidade do Sul de Santa Catarina

Atividades de autoavaliação

Para praticar os conhecimentos apropriados nesta unidade, realize as atividades propostas.

O gabarito está disponível no final do livrodidático. Mas se esforce para resolver as atividades sem ajuda do gabarito, pois, assim, você promoverá a sua aprendizagem.

1) Os principais teóricos da História da Filosofia afirmam que a Filosofia da Antiguidade é cosmocêntrica, a Filosofia da Idade Média é teocêntrica e a Filosofia Moderna é antropocêntrica. Você encontra no estudo desta unidade argumentos que justifiquem esta afirmação? Fundamente sua resposta.

2) Você concorda com a afirmação de que o cristianismo fez mudar o curso da Filosofia e da história ocidental? Sim? Não? Justifique.

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Introdução à Filosofia

Unidade 3

3) Considere o seguinte texto:

A escolástica chegou ao seu limite. A desagregação da cristandade, com a reforma protestante e o renascimento cultural, trouxe novas questões. A desintegração das estruturas feudais, as grandes descobertas da ciência e a ascensão da burguesia assinalam a emergência do Renascimento. Em contraste com a Filosofia Medieval, dogmática e submissa à Igreja, a Filosofia Moderna é profana e crítica, representada por leigos que procuram pensar de acordo com as leis da razão e do conhecimento científico. O resultado é a ruptura dos vínculos com a teologia e um crescente processo de secularização da Filosofia.

Agora, relacione a descoberta e a valorização da subjetividade e da individualidade com a Filosofia Moderna.

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4) O filósofo contemporâneo Herbert Marcuse acusou a sociedade capitalista de criar necessidades de consumo artificiais e incessantemente renovadas. Cite fatos atuais e comportamentos humanos que justifiquem tal crítica.

5) Reveja, nesta unidade, o quadro que caracteriza o desenvolvimento da racionalidade ocidental e faça um breve comentário, citando exemplos, sobre a evolução do conceito de política nas Idades Antiga, Média e Moderna.

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Introdução à Filosofia

Unidade 3

Saiba mais

Para refletir sobre a sua história, a história do mundo e a história da Filosofia Ocidental, faça uma leitura comparativa entre o texto da unidade e o conteúdo da música Metamorfose Ambulante, de Raul Seixas (Gravadora Philips, 1973):

Metamorfose Ambulante

Eu prefiro ser

Essa metamorfose ambulante

Eu prefiro ser

Essa metamorfose ambulante

Do que ter aquela velha opinião formada sobre tudo

Do que ter aquela velha opinião formada sobre tudo

Eu quero dizer

Agora o oposto do que eu disse antes

Eu prefiro ser

Essa metamorfose ambulante

Do que ter aquela velha opinião formada sobre tudo

Do que ter aquela velha opinião formada sobre tudo

Sobre o que é o amor

Sobre o que eu nem sei quem sou

Se hoje eu sou estrela

Amanhã já se apagou

Se hoje eu te odeio

Amanhã lhe tenho amor

Lhe tenho amor

Lhe tenho horror

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Universidade do Sul de Santa Catarina

Lhe faço amor

Eu sou um ator

É chato chegar

A um objetivo num instante

Eu quero viver

Nessa metamorfose ambulante

Do que ter aquela velha opinião formada sobre tudo

Do que ter aquela velha opinião formada sobre tudo

Sobre o que é o amor

Sobre o que eu nem sei quem sou

Se hoje eu sou estrela

Amanhã já se apagou

Se hoje eu te odeio

Amanhã lhe tenho amor

Lhe tenho amor

Lhe tenho horror

Lhe faço amor

Eu sou um ator

Eu vou desdizer

Aquilo tudo que eu lhe disse antes

Eu prefiro ser

Essa metamorfose ambulante

Do que ter aquela velha opinião formada sobre tudo

Do que ter aquela velha opinião formada sobre tudo

Do que ter aquela velha opinião formada sobre tudo

Fonte: Seixas (1973).

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Introdução à Filosofia

Unidade 3

Para aprofundar as questões abordadas nesta unidade, pesquise os seguintes livros:

BUZZI, Arcângelo. Introdução ao pensar. Petrópolis: Vozes, 1983.

HEERDT, Mauri Luiz. Pensando para viver: alguns caminhos da Filosofia. Florianópolis: Sophos, 2000.

MORA, G. Filosofia para todos. São Paulo: Paulus, 2001.

MARTINS FILHO, Ives Gandra. Manual esquemático de história da filosofia. São Paulo: Editora LTR, 1997.

PRADO JR., Caio. O que é filosofia. [Coleção Primeiros Passos] 17. ed. São Paulo: Brasiliense, 1990.

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4UNIDADE 4

Os grandes temas da Filosofia

Objetivos de aprendizagem

� Conhecer os principais temas com os quais se ocupa a Filosofia.

� Identificar as disciplinas clássicas da Filosofia.

Seções de estudo

Seção 1 O homem

Seção 2 O mundo

Seção 3 A cultura

Seção 4 A cidade e o Estado

Seção 5 A religião

Seção 6 A arte

Seção 7 As disciplinas clássicas da Filosofia

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Universidade do Sul de Santa Catarina

Para início de estudo

Nesta unidade, você vê uma pequena contextualização e caracterização dos grandes temas sobre os quais se debruçaram os filósofos que fizeram a história do pensamento ocidental. Veja que, ainda hoje, estas temáticas representam as grandes questões para as quais buscamos a sabedoria no exercício do pensar. Também apresentaremos as principais disciplinas da Filosofia. Estas temáticas e disciplinas farão parte da sua rotina ao longo do curso que estamos iniciando.

Aproveite bem o conteúdo que segue e não se esqueça de buscar mais informações, saciar a curiosidade, aproximar-se amorosamente do saber, como faz todo filósofo.

Seção 1 – O homem

Quem sou Eu?

Primeira e fundamental questão filosófica. Objetivo de todo o conhecimento. A preocupação com o homem é coisa antiga no pensamento ocidental e perpassa todos os grandes momentos da história da Filosofia. Vejamos:

O que diz a Filosofia Grega

Na Filosofia Grega, como já vimos, a preocupação primeira dos filósofos é desvendar os mistérios do cosmos, os segredos do universo. Mas, mesmo quando contempla a escuridão dos céus, o brilho dos astros, os corpos celestes e planetas, o homem grego busca compreender quem ele é e qual o lugar do ser humano no universo.

Protágoras (485-410 a.C.), sofista, afirmava ser o homem a medida de todas as coisas. Sócrates traz a Filosofia dos céus para a terra e inaugura no ocidente a investigação antropológica (tendo o homem como centro das investigações). Sócrates define o homem como o ser que pensa (animal racional). Platão define o homem como alma espiritual e imortal. Aristóteles define o homem como animal político com alma e corpo, mortal.

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Introdução à Filosofia

Unidade 4

Com sua Filosofia, Sócrates procura responder à questão: “O que é a natureza ou realidade última do homem?”

Sua resposta é precisa e inequívoca: o homem é sua alma, pois é sua alma que o distingue de qualquer outra coisa.

Mas o que Sócrates entende por “alma”? Ele a concebe como a nossa atividade pensante e eticamente operante. Ou seja, a consciência e a personalidade intelectual e moral. Cuidar de si mesmo, agora, significa cuidar da própria alma (animação). Mais do que o corpo, a tarefa do educador consiste em ensinar os homens a cuidarem da própria alma.

Desse modo, Sócrates opera uma revolução no tradicional quadro de valores. Os verdadeiros valores não são aqueles ligados às coisas exteriores, como riqueza, o poder, a fama, e, tampouco, os ligados ao corpo, como o vigor, a forma, a saúde física e a beleza, mas somente os valores da alma, que se resumem, todos, no conhecimento. Consequentemente, a “virtude” do homem não pode ser outra senão a “sabedoria”, ao passo que o vício seria a privação da “sabedoria”.

Por que o homem pratica o mal? Segundo Sócrates, por que não conhece o bem, é vítima da “ignorância”. Ou seja: o mal reduz-se a um “erro de cálculo”, a um “erro da razão”, precisamente à “ignorância” do verdadeiro bem.

Em relação à noção de valor, são ainda importantes os conceitos de liberdade e felicidade. Em relação à liberdade, Sócrates afirma que o verdadeiro homem livre é aquele que sabe dominar os seus instintos. E o verdadeiro homem escravo é aquele que, não sabendo dominar os seus instintos, torna-se vítima deles.

A excelência da razão humana manifesta-se no autodomínio, ou seja, o domínio de si mesmo nos estados de prazer, dor e cansaço, no urgir das paixões e dos impulsos. Aliás, isto significa o domínio da racionalidade sobre a animalidade, tornando a alma (razão) senhora do corpo e dos instintos ligados ao corpo. A liberdade,

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por sua vez, consiste na afirmação da racionalidade sobre a animalidade. Com efeito, para o sábio que vence os instintos e elimina todas as coisas supérfluas, basta a razão para viver feliz.

Com isso, Sócrates inverte a noção de herói. O herói, tradicionalmente, era aquele capaz de vencer todos os inimigos, os perigos, as adversidades e o cansaço externos. Já o novo herói é aquele que sabe vencer os inimigos interiores. Da mesma forma, a Felicidade não pode vir das coisas exteriores, do corpo, mas somente da alma; a saúde da alma é a ordem da alma – e essa ordem “espiritual”, ou harmonia interior, é a felicidade.

O que diz o Cristianismo

O cristianismo defende a concepção criacionista, segunda a qual o homem foi criado por Deus e, como criatura de Deus, tem seu fim último em Deus, que é o seu bem mais alto e o seu valor supremo. Deus exige do homem a obediência e a sujeição a seus mandamentos imperativos supremos.

Assim, pois, na concepção cristã, o ser e o fazer do homem definem-se, não em relação com uma comunidade humana (como a pólis) ou com o universo inteiro (cosmos), mas, antes de tudo, em relação a Deus. O homem vem de Deus e todo o seu comportamento — incluindo a moral — deve orientar-se para ele como objetivo supremo. A essência da felicidade (a beatitude) é a contemplação de Deus; o amor humano fica subordinado ao divino; a ordem sobrenatural tem a primazia sobre a ordem natural humana.

Como ser criado por Deus à sua imagem e semelhança, o ser humano é o ápice da criação, e tudo o mais foi criado para que ele tenha vida, cresça e se multiplique. O destino do homem é dominar a criação e dar continuidade à obra do criador. Para tanto, deve estar em contínuo relacionamento com o criador e em sintonia com a sua vontade.

Criacionismo é uma doutrina que exprime a convicção de que o céu, a terra, o homem etc. devem a Deus a sua existência. Fundamentação na explicação bíblica exposta no livro do Gênesis pela qual o homem nasceu de uma ação divina imediata, através do ato da criação.

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Introdução à Filosofia

Unidade 4

O que diz a Filosofia Moderna e Contemporânea

O Iluminismo (século XVII e XVIII) defende que a razão deve iluminar as mentes e conduzir a humanidade ao progresso e à felicidade, desejando que o homem seja sujeito da sua própria história. Para Kant, o Iluminismo representa a saída do homem da sua minoridade, manifesta na coragem de usar o próprio entendimento. Defende o ideal de que o homem é o cidadão que tem o mundo como a sua pátria. O bem supremo do homem é a liberdade de pensamento, capaz de dar forma a um homem virtuoso, “iluminado”. (Kant, 1993).

A Filosofia Moderna faz do homem o ponto de partida da reflexão filosófica.

Immanuel Kant, por exemplo, divide toda a Filosofia em questões antropológicas: (a metafísica e a teoria do conhecimento) que posso saber?; (moral) que posso fazer?; (a religião) que posso esperar?; e (antropologia) o que é o homem?

Com o desenvolvimento das ciências e surgimento das mais diferentes especialidades, a Filosofia Contemporânea divide e esfacela o homem, privilegiando uma ou outra dimensão da pessoa humana: Marx: o homem econômico; Freud: o homem instintivo; Kierkegaard: o homem angustiado; Bloch: o homem utópico; Heidegger: o homem existente; Ricoeur: o homem falível; Gadamer: o homem hermenêutico; Marcel: o homem problemático; Gehlen: o homem cultural; Luckmann: o homem religioso.

É claro que esta “especialização” permite profundidade de análise e produção de conhecimentos sobre o homem a um nível jamais visto, mas traz também muitas dúvidas, na medida em que uma visão fragmentada impõe-se com a pretensão de definir o homem.

A contribuição da Filosofia Moderna para o entendimento do ser humano não é conclusiva. Ela está justamente nestas variadas e numerosas noções as quais deixam claro que nenhuma concepção unilateral e reducionista dá conta de defini-lo em suas muitas facetas. Tal tarefa exige esforço interdisciplinar que contemple os mais diferentes discursos num saber multidisciplinar.

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O que diz a esfinge

Um ensinamento da antiguidade sobre o homem, contido na esfinge assíria de Khorsabad, chamada Kerub, muito nos diz sobre o ser humano. A esfinge era composta de quatro partes: corpo de boi; tórax de leão; asas de águia e cabeça de homem. De acordo com Pierre Weil (1995, 25-26), existe uma tradição muito antiga segundo a qual cada uma destas partes representa uma parte do corpo físico do homem e também sua correspondência psicológica.Veja o quadro 4.1.

Boi Abdômem Vida Instintiva e Vegetativa

Leão Tórax Vida Emocional

Águia Cabeça Vida Mental (intelectual e espiritual)

Homem Conjunto Consciência e domínio dos três inconscientes anteriores

Quadro 4.1 - “eis o homem” Fonte Adaptado de Weil (1995).

Com esta esfinge, os antigos assírios nos ensinam que, no conhecimento do homem, devemos levar em consideração os instintos, as emoções e a razão, buscando o perfeito equilíbrio entre estas diferentes dimensões do mesmo ser. O homem que realiza plenamente todas as suas potencialidades é consciência e domínio dos instintos, das emoções e da razão.

Você encontrou alguma dificuldade para entender o ensinamento da esfinge? Que dimensão do ser humano fala mais alto em você? Instintos? Emoções? Ou razão?

Seção 2 - O Mundo

Espanto, inquietação, admiração, curiosidade, medo, respeito, reverência, dominação: atitudes que marcam a relação do homem com o mundo, com a natureza, com o cosmos; uma questão que tem feito a história da filosofia ao longo dos séculos.

WEIL, Pierre. O corpo fala.

Rio de Janeiro 1995.

Figura 4.1 - Esfinge Kerub Fonte: (1995).

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O que diz a Filosofia Grega

A Filosofia nasce com os pré-socráticos, com a contemplação do universo. Ao manifestarem preocupação com a natureza e o cosmos, os filósofos pré-Socráticos (século VI a.C.) inauguram uma mentalidade baseada na razão, e não mais no sobrenatural ou na tradição mítica. Defendem que a racionalidade humana pode encontrar na natureza todas as respostas (naturalismo).

Eram homens de saber prático, acostumados a viajar, dedicados à política e ao trabalho intelectual. A partir de fatos particulares, conceituaram a realidade como um todo organizado e animado. Diante da multiplicidade e da mutabilidade das aparências, buscavam um princípio unificador, geral, imutável, ao qual chamaram arké – origem, substrato e causa de todas as coisas e no qual se ultimam todos os seres. Estude alguns deles.

Tales de Mileto (625-546 a.C.) é chamado por Aristóteles de fundador da Filosofia, por ter criado uma nova concepção de mundo que a escola de Mileto denominou logos, palavra grega que significa razão, palavra ou discurso. Trata-se de uma primeira tentativa de explicar racionalmente o universo, sem recorrer a entidades sobrenaturais.

Tales teria sido um precursor do pensamento científico ao substituir a explicação mítica da origem do universo pela explicação física de sua cosmologia baseada na água. Para ele, a água era o princípio formador da matéria, porque o que é quente precisa da umidade para viver, o morto resseca-se, os germes são úmidos e os alimentos estão cheios de seiva. É natural que as coisas nutram-se daquilo de que provêm. A água é o princípio da natureza úmida, que entretém todas as coisas, e a terra repousa sobre a água.

Anaximandro de Mileto (610-546 a.C.) foi discípulo e sucessor de Tales, mas se recusa a ver a origem do real em um elemento particular: todas as coisas são limitadas, e o limitado não pode ser, sem injustiça, a origem das coisas. Por isso, Anaximandro é conhecido por sua concepção quase teológica do apeiron, o ilimitado, indefinido e imperecível, que tudo rodeia eternamente e que é também a arké, ou o princípio do processo cosmológico.

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Anaxímenes de Mileto (588-524 a.C.) defende ser o ar o elemento que dá origem a todas as coisas; elemento vivo, que constitui as coisas através de condensação ou rarefação. O ar (aêr) produz todas as outras substâncias, tanto por se rarefazer em fogo, como por se condensar em vento, névoa, água, terra e pedra. Essa foi a primeira vez, na tradição ocidental, que se ofereceu um tratamento físico das diferentes substâncias em termos de modificações de uma substância básica. A respiração foi o fenômeno que impressionou Anaxímenes, porque se pode soprar ar quente (quando este está rarefeito, isto é, quando a boca está aberta), ou ar frio (quando este é condensado, ou quando se assobia).

Pitágoras de Samos (571-497 a.C.) foi o fundador de um grupo ao mesmo tempo científico e religioso. Considerou os números como princípio de todas as coisas e a semelhança com a divindade como fim último e suprema felicidade dos seres humanos. Cada coisa possui um número (arithmós arkhé) que expressa a “fórmula” da sua constituição íntima. Da mesma forma, as leis que governam o cosmos são também relações matemáticas.

A Filosofia de Pitágoras constitui uma metafísica matemática. Na sua opinião, os números não representam apenas a expressão da harmonia da regularidade dos fenômenos, mas os próprios princípios de todas as coisas. Tudo sai da unidade absoluta: um é o ponto; dois fazem a linha; três determinam a superfície; quatro geram o sólido. Eis, portanto, a extensão da matéria. O mundo se traduz nesses números e em seus múltiplos, e, por isso, os pitagóricos consideram sagrado o número dez, que contém em si a totalidade das coisas (1+2+3+4= 10).

Heráclito de Éfeso (540-480 a.C.) afirmava que todas as coisas estão em movimento, que é processado através de contrários. Segundo ele, a estrutura do mundo é contraditória e dinâmica, e tudo está em constante modificação. Daí sua frase: “Não nos banhamos duas vezes no mesmo rio”, já que nem o rio nem quem nele se banha são os mesmos em dois momentos diferentes da existência. Tudo flui e nada permanece. O movimento produz-se pela tensão entre os contrários e provoca “o eterno retorno” de todas as coisas, regido pelo logos, que constitui a lei do universo.

Platão (428-347 a.C.) não compartilha da concepção de que a realidade do mundo tenha causas mecânicas ou naturais. Denomina estas causas de natureza não-física, realidades

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inteligíveis representadas pelos termos idéia e eidos, que significam “forma”. As Idéias de que fala Platão são mais do que conceitos ou representações puramente mentais: representam “entidades”, “substâncias”. As Idéias platônicas são a essência das coisas, ou seja, aquilo que faz com que cada coisa seja aquilo que é.

Segundo Platão, as Idéias existem “em si” e “por si”. Afirma que as Idéias existem “em si e por si” e se impõem ao sujeito de modo absoluto. Com isso, Platão pretendeu sustentar que o sensível só se explica mediante o recurso ao supra-sensível; o relativo, mediante o absoluto; o sujeito em movimento, mediante o imutável; e o compatível, mediante o eterno.

Ainda na visão platônica, o mundo das ideias, pelo menos implicitamente, é constituído por uma multiplicidade de ideias: ideias dos valores estéticos, ideias dos valores morais, ideias das diversas realidades corpóreas, ideias dos diversos entes geométricos e matemáticos etc. A ideia que ocupa o vértice e condiciona todas as outras, e não é condicionada por nenhuma delas (o incondicionado ou absoluto) é a ideia do Bem.

Como é possível o mundo sensível? Há um modelo (o mundo Ideal), existe uma cópia (mundo Sensível) e existe um Artífice, que produziu a cópia, servindo-se do modelo. O mundo Inteligível (o modelo) é eterno, como eterno é também o Artífice (a Inteligência). O mundo sensível, ao contrário, construído pelo Artífice, nasceu, isto é, foi gerado.

Mas por que o Artífice quis gerar o mundo?

A resposta de Platão é a seguinte: o Artífice divino gerou o mundo por “bondade” e amor ao Bem. Animado pelo desejo do Bem, o Artífice realizou a obra mais bela possível. O mal e o negativo que permanecem neste mundo derivam da margem de matéria sensível, presente na personificação e concretização das ideias perfeitas.

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O mundo sensível, assim, se forma “cosmos”, ordem perfeita, porque assinala o triunfo do inteligível sobre a necessidade cega da matéria, por obra da Inteligência do Artífice.

O que diz a Filosofia Cristã

Representativa da Idade Média, a Filosofia cristã procura conciliar a fé com a razão. Um dos grandes expoentes deste período é Santo Agostinho. Ao olhar para a realidade do mundo, Santo Agostinho apresenta a teoria da cidade dos homens e da cidade de Deus: os pecadores formam a cidade terrestre, que é o mundo dos homens. Essa cidade não é necessariamente má, porém, governada pela vontade humana, tende para o pecado e é castigada por Deus de tempos em tempos. A cidade dos homens é fruto do egoísmo, e a cidade celeste é criação do amor divino. (AGOSTINHO, 2002).

Segundo Agostinho, o que fundamenta a origem das duas cidades são dois amores. O amor por si mesmo, que leva ao desprezo de Deus e das coisas de Deus, dá origem à cidade dos homens, na terra. O amor a Deus que leva ao desprezo de si e das coisas do mundo gera a cidade de Deus, no céu: “Dois amores fundaram, pois, duas cidades, a saber: o amor próprio, levado ao desprezo a Deus, a terrena; o amor a Deus, levado ao desprezo de si próprio, a celestial” (AGOSTINHO, 2002, p. 169).

Essas duas cidades ou reinos existem simultaneamente na história humana, representadas na luta entre o bem e o mal, entre Deus e o Demônio. Essa luta terminará somente com o Juízo Final, que realizará a separação desses dois reinos, assegurando o triunfo definitivo de Deus sobre o Demônio. Será a vitória definitiva da Cidade de Deus, com o retorno do Messias e o Juízo Final. Na Filosofia de Agostinho, o mundo é lugar onde se trava a batalha entre o bem e o mal.

São Tomás de Aquino é o outro grande expoente da Filosofia Medieval. Segundo Tomás, a razão pode provar a existência de Deus através de cinco vias, todas de índole realista: considera-se algum aspecto da realidade dada pelos sentidos como o efeito do

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qual se procura a causa. Tomás de Aquino não partiu de Deus para explicar o mundo, mas, sobre a experiência sensorial, empregou o conhecimento racional para demonstrar a existência do Criador. As “cinco vias” são cinco argumentos que provariam a existência de Deus a partir dos efeitos por ele produzidos, e não da ideia de Deus: o movimento; a causa primeira; ser necessário; a ideia da perfeição; a inteligência ordenadora. Para a Filosofia de Tomás de Aquino, no mundo o assiste-se à manifestação da presença de Deus, criador, organizador e condutor da realidade do mundo.

O que diz a Filosofia Moderna

Se os pensadores medievais haviam concebido o mundo como um todo orgânico, hierarquizado segundo uma suposta ordem estabelecida por Deus, os renascentistas conceberam-no como uma pluralidade regida por leis físicas e convenções humano-sociais.

O mundo humano separa-se gradualmente do mundo da pura natureza e a origem e desdobramento da vida sobre o planeta ganha uma nova explicação: a teoria evolucionista.

O progresso atingido pelas ciências experimentais com a produção de novos conhecimentos e o desenvolvimento de novas tecnologias permite um controle, nunca antes experimentado, do homem sobre a natureza.

Veja no texto que segue:

A partir de Descartes (e de Galileu), as matemáticas passaram a constituir o modelo e a linguagem de todo conhecimento científico: substituem a qualidade sentida pela quantidade medida. O conhecimento permite que nos tornemos “mestres e possuidores da natureza”. Compete ao homem modelar e dominar o mundo: “Saber é Poder”, já dizia Francis Bacon. Nada há na natureza que não seja quantitativo. A matemática é aplicável à totalidade do real. Eis o postulado do racionalismo, reduzindo a quase nada o papel da experiência sensível e subordinando o objeto à Razão. Sendo assim, é proclamada a independência da Subjetividade, cujo primeiro ato de conhecimento é a Reflexão, a consciência de si mesmo reflexiva: a consciência toma consciência de

Evolucionismo é a doutrina que exprime a convicção de que o ser realiza-se pelo desenvolvimento interno de suas possibilidades em direção a novas metas, de forma ininterrupta. Entre as diferentes espécies há uma sucessão progressiva, das mais simples para as mais complexas, e o homem atual é fruto desta evolução.

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si mesmo como Sujeito e como Objeto de conhecimento. (JAPIASSU, 1996, p. 94).

O Positivismo faz sucesso e defende que todo conhecimento do mundo material decorre dos dados “positivos”, ou seja, aqueles que podem ser medidos e controlados pela experiência, os quais constituem o objeto de estudo para o sujeito cognoscente. Conseqüentemente, o conhecimento das realidades não positivas (metafísica, teologia, especulação filosófica) é menosprezado, por não ser possível ser verificado na prática. O ser humano se limita-se a descrever os fenômenos e a estabelecer “as relações constantes de semelhança e sucessão entre eles”. O conhecimento é pragmático: não se pretende achar as causas ou a essência das coisas, mas descobrir as leis que as regem.

Em contrapartida, no final do século XIX e século XX, a Fenomenologia e o Existencialismo defendem que o mundo adquire sentido com a existência humana. Como doadora de sentido, como fonte de significado para o mundo, a consciência não se restringe ao mero conhecimento intelectual, mas é geradora de intencionalidades não só cognitivas como afetivas e práticas.

Não existe mundo, ou conhecimento, com sentido, sem o homem. O olhar sobre o mundo é o ato pelo qual o ser humano experiencia o mundo, percebendo, imaginando, julgando. Isso significa que não existe pura consciência, separada do mundo, pois toda consciência é consciência de alguma coisa. Todo objeto será sempre percebido por um sujeito que lhe dá significado e sentido. É a proposta da retomada da humanização da ciência.

Seção 3 - A cultura

A atividade do ser pensante em busca da satisfação de suas necessidades constrói um mundo humano, diferente do mundo dado. É esta a temática deste tópico, também de fundamental importância para a construção do pensamento filosófico.

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A forma de vida de um povo

A palavra cultura tem sua origem no latim (colere, cultus) e significa tudo o que é cultivado. Referindo-se ao ser humano, cultura significa tudo o que é obra do homem na sociedade, em contraposição ao que é simplesmente natural.

É a forma de vida de um povo, transmitida pela tradição, na qual o indivíduo se insere e leva adiante suas realizações, na qual descobre e faz seu um sistema de valores que lhe é anterior e que o acolhe. Inserido no meio cultural, o indivíduo também é criador de cultura e deixa sua obra para o acervo comum dos que compartilham a sua cultura.

Cultura é, pois, o conjunto dos costumes humanos, o modo de vida (modus vivendi) que os homens, no decurso dos tempos, desenvolveram e desenvolvem reunidos em sociedade. É a maneira de agir, de pensar, de sentir que se manifesta na linguagem, no código de leis, na religião, na criação estética. Este modo de vida também se manifesta nos instrumentos e ferramentas utilizadas, nas vestimentas, nas habitações onde se busca abrigo (ULMANN, 1991, p. 84).

Um sentido para a vida

A cultura constrói um chão (ethos) ordenando o mundo e o agir dos homens de acordo com os valores que preserva e propaga. Noções de valor, de dever, de bem e de mal, de lícito e ilícito, permissões, tabus e proibições são construções culturais e fazem parte da “alma” que dá sentido à vida dos indivíduos e de um povo.

Toda cultura é expressão dos anseios criadores do espírito humano em busca da satisfação de suas necessidades e sonhos. A cultura é integrada por forças sociais muito diferentes e complementares, como a religião, a pátria, as instituições, os vínculos de parentesco, o idioma, as festas, a arte, etc. Um mundo de valores tão diferentes que inspiram os seus povos, bem como suas formas diversas de habitar, vestir, falar, trabalhar, relacionar-se. A cultura é a expressão da vida criadora de um povo.

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A cultura nasce da satisfação das necessidades básicas, ligadas à sobrevivência e manutenção da vida dos grupos humanos. O ser humano busca alimentar-se, aquecer-se, abrigar-se do frio, dos ventos, dos inimigos, das intempéries. Estas necessidades básicas geram necessidades instrumentais, tais como a construção de artefatos, e necessidades integrativas, tais como a organização em grupos cooperativos e o desenvolvimento de um sentido de valor e ética. (MALINOWSKI, 1975, p. 43).

Seção 4 - A cidade e o Estado

A Cidade (pólis) na antiguidade e o Estado na modernidade são construções do mundo cultural, obras da racionalidade humana, personificação da existência do ser pensante. Por isso, não escapam ao olhar atento da Filosofia. Vejamos:

A Cidade Antiga

O homem da Filosofia clássica grega é um animal político e encontra na pólis um lugar de realização de todas as suas potencialidades. A pólis é o lugar onde a vida humana pode ser vivenciada em todas as possibilidades e potencialidades: o lugar da civilização (civitas).

A Filosofia é filha da pólis. A vida na pólis introduz três aspectos novos e decisivos para o nascimento da Filosofia. Veja em seguida.

� A ideia da lei como expressão da vontade de uma coletividade humana que decide por si mesma o que é melhor para si e como definirá suas relações internas, dentro da pólis.

� O surgimento de um espaço público, que faz aparecer um novo tipo de discurso, diferente daquele que era proferido pelo mito. Agora, com a pólis, surge a palavra como direito de cada cidadão de emitir em público sua opinião, discuti-la com os outros, persuadi-los a tomar uma decisão proposta por ele, de tal modo que surge o discurso político como a palavra humana compartilhada, como diálogo, discussão e deliberação humana.

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� A estimulação de um pensamento e um discurso que não procuram ser formulados por seitas secretas dos iniciados em mistérios sagrados, mas que procuram, ao contrário, ser públicos, ensinados, transmitidos, comunicados e discutidos. A ideia de um pensamento que todos podem compreender e discutir, que todos podem comunicar e transmitir, é fundamental para a Filosofia.

A vida urbana enfraquece o saber das tradições religiosas da mitologia. Na mitologia, os deuses são criadores do mundo, e o rei, escolhido por deus, é o criador da ordem social. A pólis rompe com este mecanismo ao surgir como criação da vontade humana. Os acontecimentos, antes considerados realizações do rei (e dos deuses), perdem a base de compreensão. Tornam-se problemas do homem. Para resolvê-los, o homem deve servir-se do meio que ele próprio desenvolveu ao criar a pólis: a razão.

Também o centro da cidade sofre uma mudança radical com a ágora, a praça pública, onde acontecem as transações comerciais e as discussões sobre a vida da cidade. O acesso à ágora torna-se cada vez maior, estendendo-se, com a instituição da democracia, a todos os habitantes do sexo masculino, adultos e que não sejam estrangeiros ou escravos.

Os atenienses compartilham a experiência da democracia, em que o mundo humano aparece como uma criação do próprio homem. Nesse mundo, não há um único princípio que tudo comanda, mas convenções que os homens estabelecem, para, segundo os sofistas, depois abandonar.

Na democracia, na qual as diferenças sociais e econômicas não contam, a linguagem é a grande força que têm os seres humanos. Por isso, a vida na pólis faz crescer em importância a Filosofia, a Oratória e a Retórica enquanto artes do convencimento.

A morte de Sócrates e as experiências políticas levaram Platão a verificar que não é possível ser justo na cidade injusta e que a realização da Filosofia implica não só a educação do homem, mas a reforma da sociedade e do Estado.

Praça pública das antigas cidades gregas, em geral constituída de um espaço aberto, cercado de edifícios públicos. Símbolo da democracia grega, utilizada sobretudo em atividades políticas e assembléias dos cidadãos.

Em 479 a.C. acontece a vitória de Atenas sobre os persas, consolidando a democracia na cidade. Dentre os novos valores que surgem está o da educação. Trata-se de formar cidadãos aptos à vida pública, e, para isso, exigem-se bons oradores, que saibam argumentar em público. Dessa educação encarregam-se os sofistas

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Na visão platônica, a sociedade perfeita seria aquela em que cada classe e unidade estivessem fazendo o trabalho ao qual sua natureza e sua aptidão melhor se adaptassem; aquela em que nenhuma classe ou indivíduo interfeririam nos outros, mas em que todos cooperariam na diferença para produzir um todo harmonioso. Este seria um Estado justo (na justa medida). O fim do Estado é tornar o indivíduo feliz, facilitando-lhe a prática das virtudes. Sua constituição corresponde às três partes da alma e distingue-se no Estado em três classes sociais: a) os filósofos, únicos capazes de desempenhar cargos públicos; b) os guerreiros, incumbidos da defesa social; e c) os operários, encarregados da sua subsistência material.

O Estado moderno

A ideia moderna de Estado aparece a partir do Renascimento, quando se começa a refletir sobre a relação entre governados e governantes e a questionar os regimes absolutistas. A modernidade mostra que o Estado representa um poder que, para ser legítimo, deve ser respeitado sem ter de recorrer à força, pois recebeu da sociedade autorização para exercer tal poder. A organização do Estado materializa um acordo entre os cidadãos, por isso ele tem o controle do poder e está autorizado a legislar, administrar e, se necessário, punir.

O Estado é uma construção da sociedade moderna, representa e encarna os valores da modernidade. Dife-rentemente dos governos monárquicos, representa-dos pela figura do rei, o Estado não tem rosto. Isto lhe confere um poder muito maior do que o das anteriores formas de organização social. Este poder se confron-tará, por vezes, com o ideal de liberdade individual cultivado na modernidade.

O sociólogo alemão Max Weber (1864-1920) fez do Estado o seu principal objeto de reflexão e mostrou que as características principais do Estado moderno são o exercício do poder burocrático e o monopólio da violência física autorizada, condição para o exercício da soberania e necessária para fazer cumprir a lei.(WEBER, 2002).

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Diferentemente da realeza, que dizia “o estado sou eu”; na modernidade, compreendemos que o Estado moderno somos nós, está em nós: nós o elegemos e por isso lhe obedecemos. O Estado é um instrumento inventado pelos homens para resolver um problema fundamental: a ordem e a segurança necessárias para a vida em comunidade.

Seção 5 - A religião

A reflexão sobre Deus e sobre a experiência religiosa está presente em toda a história da Filosofia. Os pré-socráticos concebiam Deus como imanente ao mundo, como parte da realidade das coisas. Tales dizia que todas as coisas estão cheias de Deus e Xenofantes fala de um único Deus, estático e imanente ao mundo. Sócrates, Platão e Aristóteles fazem Filosofia num contexto politeísta em que os deuses retratam as grandezas e misérias humanas.

O que é experiência religiosa

A experiência religiosa é produto da fé humana na existência de uma ou mais entidades divinas -- um deus ou muitos deuses, e na possibilidade de se relacionar com este(s). Ela provém das revelações do mistério, do oculto, por algo que é interpretado como mensagem ou manifestação divina. Tais revelações são transmitidas por alguém, por tradição acumulada ao longo da história, ou através de escritos sagrados.

De modo geral, a experiência religiosa apresenta respostas para questões que o homem religioso não consegue resolver segundo o seu juízo, com o conhecimento científico ou filosófico. Assim, as revelações feitas pelos deuses ou em seu nome são consideradas por este homem como satisfatórias e aceitas como expressões de verdade. Tal aceitação, porém, racional ou não, tem necessariamente de resultar da fé que o aceitante deposita na existência de uma divindade.

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A dimensão do sagrado

As religiões organizam-se em torno da noção do que é sagrado. O sagrado abrange tudo o que este mundo pode ter de misterioso e que não podemos entender por meio do simples esforço da inteligência.

A palavra ‘sagrado’ vem do latim sacer, que significa ‘separado’. A religião impõe uma separação entre o mundo dos homens em relação com a divindade e o mundo natural. Assim, o que os homens criaram, e cuja origem é misteriosa, pode chegar a ter um caráter sagrado.

O sagrado sempre provocou, nas culturas primitivas, fascínio e temor. O sentido do sagrado é o sentimento da absoluta dependência do homem em relação a um poder que o supera infinitamente e que dá sentido a sua existência. Sendo assim, surgem as concepções de que um ser vivo é um ser movido por algo invisível que lhe mantém a vida.

Disto conclui-se que tudo o que se move, corre ou se transforma, possui uma força invisível que o dirige. No universo do sagrado, essas forças, esses espíritos, dominam o mundo e constituem a realidade última de todas as coisas. O caminho do sagrado é o da experiência de que algo invisível domina o mundo visível.

O fundamento da fé

A religião encontra na fé o seu fundamento. A fé nos pede para acreditar no impossível. Caracteriza uma determinada atitude do indivíduo que se deixa conduzir pelos princípios de determinada crença. A fé pede humildade ao homem que reconhece a sua ignorância (não saber) e sua fragilidade. A fé pede também confiança, ou seja, acreditar sem compreender, sem evidências concretas. Por isso, a fé não pode ser posta à prova. Quando assim o fazemos, acabamos por perdê-la. É o que dizem diferentes concepções religiosas do ocidente.

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Um fundamento para a moralidade

Na história do ocidente, as concepções religiosas têm-se transformado num fundamento para a moralidade. Para os judeus, foi Moisés quem mudou a maneira de honrar ao Deus único. Já não se trata de oferecer um sacrifício para demonstrar nosso temor da força divina. Basta respeitar as regras de vida que Deus ditou a seu povo. A religião converte-se em um respeito de cada instante da vida cotidiana e não demonstrável somente durante a cerimônia do sacrifício. O cristianismo acrescentará uma dimensão interior a essa interpretação.

A expressão concreta de cada religião está relacionada com as características sociais, econômicas e culturais de cada civilização e da cada época, para as quais estabelece um fundamento para a moralidade.

Seção 6 - A Arte

Quando a racionalidade silencia, surge a arte como espelho da alma, e a reflexão faz-se emoção, sentimento, afeto, beleza, alegria e dor, medo e confiança. Eis o homem, falando do mundo, falando de si, feito arte.

Expressão de um conhecimento

A arte oferece o conhecimento sobre determinada coisa ou realidade, interpretado pela sensibilidade do artista e traduzido numa obra. Desde os tempos pré-históricos, o ser humano constrói no mundo suas próprias coisas, demonstrando maior ou menor habilidade. A esse conjunto de coisas construídas pelo homem e que se distinguem por revelarem capricho, talento, beleza, chamamos de arte.

Quem já não sentiu o efeito de alguma obra de arte sobre os seus sentimentos, emoções, juízos?

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Mas não é tarefa fácil explicar, exatamente, o que leva as pessoas a se encantarem com uma obra de arte, ou entender as razões pelas quais milhões de seres humanos, ao longo da história, sentem-se fascinados e atraídos por manifestações artísticas.

A arte é produto do fazer humano. E deve combinar habilidade com imaginação. Qualquer que seja sua forma de expressão, cada obra de arte é sempre perceptível, com identidade própria. A arte é manifestação (expressão) dos sentimentos humanos. Uma capacidade de comunicar sentimentos, partilhar visões de mundo, emoções e racionalidades.

Expressão de humanidade

Desde os mais remotos tempos, a arte nos define como seres humanos e nos diferencia qualitativamente das demais criaturas. Este simbolismo (capacidade que o objeto ou obra de arte tem de evocar uma outra realidade) que contém a obra de arte corresponde a uma particularidade da espécie humana.

Na Grécia, a procura da beleza não se limitava à capacidade criadora dos artistas: ela defendia, demonstrava, questionava valores. A ideia da beleza está ligada às noções de harmonia, simetria, equilíbrio, justa proporção e se transforma numa proposta ética na medida em que busca reproduzir, no comportamento moral dos indivíduos e sociedade, esses valores e ideais.

Com a modernidade, a arte deixou de considerar a beleza (equilíbrio entre forma e conteúdo) como a meta principal, para se ocupar da realidade humana. Passa a expressar a vontade, visão do mundo do artista, com o objetivo de manifestar sentimentos ou provocar uma reflexão.

Em cada época, a arte reflete, em parte, o tipo de sociedade em que se desenvolve. Na modernidade contemporânea, a arte liberta-se de todos os padrões e enquadramentos, dificultando inclusive a sua definição. Não tem compromisso nem mesmo com uma linguagem compreensível.

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Expressão da liberdade

Para Nietzsche, a arte é a única prática autêntica, porque é uma ilusão que se reconhece como tal e, portanto, não pretende expressar a verdade de um mundo inventado, como a ciência ou a religião. Só na criação artística o homem é livre de inventar suas próprias regras. Segundo ele, a arte fará nos tempos modernos o que fez a Filosofia na Grécia antiga: manifestará o espírito do homem livre. (NIETZSCHE, 2007, p. 32).

Durante vários séculos, nos quais a arte era considerada uma imitação da natureza, a criação artística não era valorizada como uma criação original. Muitas veze tratava-se de ser fiel a uma tradição, a uma técnica. A partir do Renascimento, o interesse pelo novo permitiu uma liberdade maior aos artistas que se concentraram em sua capacidade de inovação.

O artista manifesta em sua obra a sua forma de ver o mundo. Nesta concepção, a obra não tem compromisso com a verdade, mas quer comunicar um olhar sobre o mundo, do lugar de um sujeito que domina esta linguagem. Por isso se deseja livre, comprometida somente com os sentimentos e emoções do sujeito que por ela fala. E se o discurso proferido na obra de arte falar com sentido também para nós: será arte!

Seção 7 - As disciplinas clássicas da Filosofia

A Filosofia é uma explicação racional da realidade mediante a elaboração de conceitos. Há quem duvide da sua utilidade, e, para estes, vale citar o texto de Ewing (1984):

Não esgotamos, porém, tudo o que pode ser dito em favor da Filosofia. Pois, à parte qualquer valor que lhe pertença intrinsecamente acima de seus efeitos, a Filosofia tem exercido, por mais que ignoremos isso, uma admirável influência indireta até mesmo sobre a vida de gente que nunca ouviu falar nela. Indiretamente, tem sido destilada através de sermões, da literatura, dos jornais e

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da tradição oral, afetando assim toda a perspectiva geral do mundo. Em grande parte, foi através de sua influência que se fez da religião cristã o que ela é hoje. Devemos originalmente a filósofos idéias que desempenharam papel fundamental para o pensamento em geral, mesmo em seu aspecto popular, como, por exemplo, a concepção de que nenhum homem pode ser tratado apenas como um meio ou a de que o estabelecimento de um governo depende do consentimento dos governados. No âmbito da política, a influência das concepções filosóficas tem sido expressiva. Nesse sentido, a Constituição norte-americana é, em grande parte, uma aplicação das idéias do filósofo John Locke; ela apenas substitui o monarca hereditário por um presidente. Similarmente, admite-se que as idéias de Rousseau tenham sido decisivas para a Revolução Francesa de 1789.

Como foi visto, a Filosofia é, antes de tudo, uma prática de vida que procura pensar os acontecimentos além de sua pura aparência. Assim, ela pode se voltar para qualquer objeto. Pode pensar a ciência, seus valores, seus métodos, seus mitos; pode pensar a religião; pode pensar a arte; pode pensar o próprio ser humano em sua vida cotidiana. Entre as áreas de conhecimento da Filosofia, destacamos as que seguem.

Filosofia Política

A Filosofia Política estuda a relação entre política e poder, autoridade, violência, coerção, origem e formas do Estado, ideias conservadoras, revolucionárias etc. Procura entender a política, refletindo sobre a luta pelo poder, sobre as instituições por meio das quais se exerce o poder, e promove a análise crítica das ideologias e sistemas políticos. A Filosofia dedica atenção especial à política por ser ela elemento indispensável na vida social.

Teoria do Conhecimento

O conhecimento é o pensamento que resulta da relação que se estabelece entre o sujeito que conhece e o objeto que é conhecido. A Filosofia preocupa-se com as formas e possibilidades de o sujeito conhecer o real e de se apropriar

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dele. A Teoria do Conhecimento é uma disciplina filosófica que investiga quais são os problemas decorrentes da relação entre o sujeito e o objeto do conhecimento, bem como as condições do conhecimento verdadeiro e os tipos de conhecimento.

Ética ou Filosofia Moral

É uma parte da Filosofia que busca refletir sobre o comportamento humano sob o ponto de vista das noções de bem e de mal, de justo e de injusto. Sendo assim, ela tem, pelo menos, dois objetivos: elaborar princípios de vida capazes de orientar o homem para uma ação moralmente correta e refletir sobre os sistemas morais elaborados pelos homens.

O comportamento humano é sempre um comportamento moral, dotado de moralidade. A Ética ou Filosofia Moral faz deste comportamento seu objeto de reflexão.

Lógica

Interessa aos filósofos a formulação de raciocínios que cheguem a resultados verdadeiros. Para alcançar este objetivo, diversos pensadores lançaram-se à tarefa de analisar as estruturas dos raciocínios, organizando-as e classificando-as. Esta é a tarefa da Lógica enquanto disciplina filosófica.

Estética e Filosofia da Arte

A estética pretende alcançar um tipo específico de conhecimento: aquele que é captado pelos sentidos. Ela parte da experiência sensorial para chegar a um resultado definido como “o belo”, que não apresenta a mesma clareza e distinção lógico-racional de outras disciplinas. Seu principal objeto de investigação é a obra de arte. O ideal de beleza da estética manifesta harmonia e equilíbrio entre a forma e o conteúdo. A Filosofia da Arte, por sua vez, é uma reflexão filosófica sobre os diversos aspectos histórico-culturais das manifestações artísticas.

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7.6) Metafísica ou Ontologia

A metafísica designa o que está além do mundo físico e provém da tradição aristotélica. Identifica os livros que tratavam do que Aristóteles denominava Filosofia Primeira, algo parecido ao que hoje se entende por Ontologia (estudo da origem dos seres). Ao longo da história da Filosofia, tem sido comum incluir na metafísica tanto os estudos mais abstratos sobre o conceito de realidade, sobre o ser, bem como as reflexões filosófico-teológicas sobre o ser supremo, a causa primeira etc.

Antropologia Filosófica

A Antropologia Filosófica é o estudo ou a reflexão acerca do ser humano. Desde o início da cultura ocidental, a reflexão sobre o ser humano foi uma constante no pensamento filosófico. É o homem interrogando a si mesmo e sobre a sua relação com o mundo exterior. Para Vaz (1991, p. 10-11), a Antropologia Filosófica precisa cumprir três tarefas fundamentais; a elaboração de uma idéia do homem que leve em conta, de um lado, os problemas e temas presentes ao longo da tradição filosófica e, de outro, as contribuições recentes das ciências; uma justificação crítica dessa idéia; uma sistematização filosófica dessa idéia do homem que seja capaz de responder ao problema clássico da essência: “O que é o homem?”.

Filosofia da Linguagem

A linguagem como manifestação da humanidade do homem, signos, significações, é o objeto de estudo da Filosofia da Linguagem. Trata-se de tendência contemporânea da Filosofia, que se pretende limitar a considerar os fatos da linguagem. Conforme Wittgenstein (1994, p. 165):

“A maioria das questões e proposições dos filósofos provém de não entendermos a lógica de nossa linguagem... Não é de admirar que os problemas mais profundos não sejam propriamente problemas.”

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História da Filosofia

O estudo dos diferentes períodos da Filosofia, de filósofos, de temas e problemas, de relações entre o pensamento filosófico e as condições econômicas, políticas, sociais e culturais de uma sociedade, de mudanças de concepção do que seja a Filosofia e de seu papel, constituem o objeto de estudo da História da Filosofia.

Síntese

O que é o homem? que é o mundo? que é a cultura? que é a cidade? que é a religião? que é a arte? Compreender a vida e dar um sentido para ela é a nossa tarefa, uma tarefa humana. Ao perseguir tais conceitos e temáticas, a Filosofia busca a real natureza de cada coisa. Por isso ela pensa o mundo e volta-se sobre ele, abrindo perspectivas de conhecimentos favoráveis à realização pessoal.

Atividades de autoavaliação

Para praticar os conhecimentos apropriados nesta unidade, realize as atividades propostas.

As respostas estão disponíveis no final do livrodidático. Mas se esforce para resolver as atividades sem ajuda das mesmas, pois, assim, você promoverá a sua aprendizagem.

1) Comente a afirmação: “A cultura é a expressão da vida criadora de um povo.”

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2) A esfinge, criatura monstruosa com corpo de leão, cabeça humana e asas, monstro devorador, na representação mais comum, foi um importante tema mitológico nas antigas civilizações egípcia e mesopotâmica. Na Grécia, literatura e arte inspiraram-se frequentemente no mito de Édipo e da esfinge. Esta, segundo a lenda, aterrorizava os habitantes da cidade de Tebas e matava os que não conseguiam resolver o enigma por ela proposto: “Que animal caminha com quatro pés pela manhã, dois ao meio-dia e três à tarde e, contrariando a lei geral, é mais fraco quando tem mais pernas?”. Qual a resposta para este enigma?

3) Você é capaz de estabelecer uma relação entre as ideias sobre homem e sobre mundo apresentadas na Filosofia Grega com as defendidas pela Filosofia Cristã? Releia o conteúdo da unidade e tente superar este desafio.

4) Faça uma interpretação da esfinge Kerub, dos assírios, completando o quadro com exemplos de atitudes manifestas nos comportamentos humanos da atualidade:

Simbolismo Característica Principal Exemplo de Atitudes

Homem Boi Guiado pelos instintos e vida vegetativa

Homem Leão Guiado pelas emoções

Homem Águia Guiado pela razão

Ser Humano Com domínio sobre os instintos, emoções e razão

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5) Relacione a primeira coluna com a segunda:

( ) Filosofia da Linguagem

( ) Metafísica ou Ontologia

( ) Ética ou Filosofia Moral

( ) Estética ou Filosofia da Arte

( ) Lógica

( ) Teoria do Conhecimento

( ) Filosofia Política

( ) História da Filosofia

( ) Antropologia Filosófica

I. Estuda a produção filosófica e sua relação com os diferentes contextos históricos.

II. Investiga as manifestações artísticas em busca da realização do conceito de belo.

III. Estuda as possibilidades do conhecimento e a relação que se estabelece entre sujeito cognoscente e objeto a ser conhecido.

IV. Um campo de reflexão em que o homem interroga a si mesmo, buscando a compreensão da sua natureza.

V. Considera os fatos da linguagem como objeto primordial da investigação filosófica.

VI. Visa orientar o homem em suas ações e comportamentos.

VII. Busca a compreensão do que está além da física e investiga a origem dos seres.

VIII. Auxiliar na formulação de raciocínios que cheguem a resultados verdadeiros é o objetivo desta disciplina.

IX. Estuda as relações que se estabelecem na sociedade em vista da manutenção ou conquista do poder.

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Saiba mais

Ao final desta unidade, delicie-se com a crônica que segue, de Antônio Prata. Um misto de Filosofia, arte, visão de mundo, crítica da cultura, reflexão sobre o homem e sobre o sentido da vida. Boa leitura!

Devagar é mais Gostoso

Crônica de Antônio Prata

O cara chegou empolgado como se fosse me comunicar a descoberta da vida em Marte ou a receita mágica para transformar pão duro em ouro. O que contou, no entanto, me pareceu bem menos interessante: os japoneses haviam criado um computador capaz de processar 3 milhões de dados em 1 segundo. “Três milhões!”, repetia ele entusiasmado e com umas gotinhas de suor na testa.

Não que eu quisesse acabar com a alegria do sorridente entusiasta da revolução informática, mas tive que perguntar: “e para que serve, filho de Deus, processar tantos dados ao mesmo tempo?”

O indivíduo me olhou, admirado de que eu não me admirasse diante de estupenda velocidade. Fitou-me com uma cara estranha, e ali eu pude perceber que, por trás de seu espanto pela minha falta de espanto, havia um terceiro espanto: ele também não sabia qual era a utilidade daquela colossal capacidade do computador japonês. Simplesmente nunca tinha parado para pensar no assunto. E acho que ele não é o único. Quantos de nós ficamos de queixo caído diante da suposta rapidez que a tecnologia pratica?

Temos a ilusão de que supercomputadores que fazem num segundo o que há anos fazíamos em dias, com aviões que percorrem em horas o que há séculos percorríamos em meses, o trabalho ficará mais rápido, a vida mais fácil, voltaremos mais cedo para casa e teremos tempo para brincar com o cachorro, jogar pingue-pongue e comer brigadeiro. Mentira!

Do jeito que o mundo está organizado (visando o lucro em primeiro lugar), quanto mais rápida é a tecnologia, mais teremos que trabalhar! Suponhamos que há 50 anos um trabalhador levasse oito horas para fazer uma mesa e que hoje, com a

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tecnologia disponível, leve apenas duas. O que acontece com esse trabalhador?

a) trabalha só duas horas por dia, entrega a mesa ao chefe e vai para casa feliz, brincar com os filhos;

b) Trabalha o dia inteiro, assim como fazia antes, faz quatro mesas em vez de uma e só vai para casa exausto, no final da tarde.

Quem respondeu b, acertou. Se o mundo funciona como uma enorme empresa, que só pensa na grana, nenhum supercomputador ou qualquer outra invenção vai conseguir deixar nossa vida mais tranqüila.

Se a nossa ambição é ganhar tempo, sugiro que tiremos o pé do acelerador e o ponhamos no freio. Deixemos de lado, um pouco, os computadores que processam 3 milhões de dados e comecemos a processar, em nossos cérebros, uma meia dúzia de questões realmente fundamentais: para que serve tanto computador, se a cada 4 segundos uma pessoa morre de fome no mundo? Para que serve tanta velocidade, se uma das principais causas de morte entre os jovens, nas grandes cidades, são os acidentes de trânsito? E para que tanta pressa, meu Deus, se não sabemos sequer para onde estamos indo?

Se a sua ambição é ganhar tempo, sugiro que tire o pé do acelerador.

Fonte: Prata ([200-?)].

Se desejar fazer uma viagem pelas raízes da espécie humana e assistir ao florescer da razão e das tecnologias, localize o vídeo:

• A Guerra do Fogo (La guerre du feu). Direção de Jean-Jaques Annaud. Fox Film, 100 min. VHS, França-Canadá, 1981.

E que tal ler um livro que irá problematizar os conteúdos apresentados nesta unidade e nas disciplinas que você frequentará ao longo do curso de Filosofia?

• NIETZSCHE, Friedrich W. Assim falou Zaratustra. Trad. Pietro Nasseti. São Paulo: Martin Claret, 2002.

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A Filosofia na vida e a vida na Filosofia

Objetivos de aprendizagem

� Relacionar a vida humana em seu quotidiano e a reflexão filosófica.

� Compreender a importância dos objetivos, metas e ideais para a realização da existência humana em todas as suas potencialidades.

� Identificar a ‘Filosofia do Cuidado’ como aproximação ideal e desejável entre reflexão filosófica e vida humana.

� Analisar o momento existencial humano e seu necessário reencontro com a sabedoria e a Filosofia.

Seções de estudo

Seção 1 A Filosofia e a vida

Seção 2 Ter objetivos é preciso

Seção 3 A Filosofia do cuidado

Seção 4 A defesa da sabedoria

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Para início de estudo

Filosofia é um exercício de pensamento, uma atitude de reflexão diante da vida e sobre ela. O pensar é a própria existência humana e, necessariamente, está sempre vinculado às experiências concretas do dia-a-dia. Do dia-a-dia, é daí que nasce, nutre-se e se constitui a Filosofia.

O homem vive no mundo, é o seu mundo. No mundo e com o mundo, faz da vida quotidiana objeto de reflexão, compreendendo-a, escolhendo-a, assimilando-a, transformando-a. O pensamento filosófico, sempre que se afasta da experiência quotidiana, não o faz com a intenção de negá-la, mas de estar mais presente nela, percebendo-a em toda a sua amplitude.

Seção 1 – A Filosofia e a vida

Ao longo de sua evolução histórica, a Filosofia sempre foi um campo de luta entre concepções antagônicas: materialistas e idealistas, empiristas e racionalistas, etc. Esse caráter antagonista da especulação filosófica decorre da dificuldade de se alcançar uma visão total das múltiplas facetas da realidade.

Entretanto, é justamente no esforço de pensar essa realidade, para alcançar a sabedoria, que o homem vem conquistando ao longo dos séculos uma compreensão mais cabal de si mesmo e do mundo que o cerca, e uma maior compreensão das próprias limitações de seu pensamento. Isso permite ao homem a reconstrução do seu passado, que, por sua vez, o ajudará na compreensão do presente e na construção do futuro.

O saber filosófico, conforme Luckesi e Passos (1996, p. 92-93), analisa o cotidiano dos seres humanos em sociedade, buscando investigar o seu sentido e o seu papel. Desse modo, quando trata dos assuntos e temas, mesmo da forma mais abstrata, tem articulações e fundamentação na realidade concreta e só faz sentido se for um saber que se voltará para o concreto, oferecendo-lhe, sob a forma de visão de mundo, um direcionamento para a práxis.

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E, sendo uma concepção de mundo, a Filosofia cumprirá bem o seu papel de norteadora da práxis humana, à medida que ultrapassar os limites indivi-duais de autores e estudiosos acadêmicos e der forma ao modo de pensar e de ser da multidão, das grandes massas. O poder do pensamento filosófico está na possibilidade de direcionar o sentido e o significado do cotidiano da coletividade social.

Viver é escolher

Vimos que, desde a mais remota Antiguidade, o ser humano aspira a compreender a si mesmo e o mundo em que vive. Assim nasceu a Filosofia no ocidente. Esta aspiração humana de interpretar o mundo, a sociedade e a si próprio é mais do que um desejo, pois, no homem, curiosidade e necessidade andam juntas. Vamos conversar agora sobre o modo de ser humano.

Um ser que pode ser mais

O ser humano não se encontra, ao nascer, plenamente constituído em seu ser. Esta aparente fragilidade inicial é o grande diferencial da espécie humana: o ser humano pode ser mais. Por isso não basta ao ser humano viver simplesmente. Ele quer compreender a vida, pois precisa realizá-la. O ser humano é um ser “por fazer-se”. Precisa, conforme Gambin (1987), assumir o compromisso de ir realizando sua vida como um projeto seu. Para tanto, vê-se constantemente diante de escolhas, possibilidades, caminhos, e constrói a sua vida a partir das escolhas que faz. GAMBIN, Pedro. A Vida

Humana. Revista Mundo Jovem, abr. 1987.

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Viver é escolher. Eu, você, todos nós, somos fruto das nossas escolhas. É claro que nem todas as nossas escolhas foram conscientes e livres. Por isso podemos dizer que a nossa liberdade tem o tamanho das nossas possibilidades de escolher. Escolhemos com consciência quando a escolha é acompanhada de um saber (conscientia). Ter consciência (saber o que está escolhendo) é condição necessária para ser responsá-vel. A vida, vivida como um projeto, exige responsabi-lidade consigo, manifesta nas nossas escolhas.

O desejo de escolher bem

O homem é um ser consciente, no mundo e distinto do mundo. É o único capaz de tomar distância do mundo, compreendê-lo e transformá-lo. Esta ação consciente do homem sobre o mundo é denominada pela filosofia de práxis: unidade indissolúvel entre ação e reflexão.

Pela práxis, o homem, ser de necessidades e carências, abre-se ao mundo produzindo aquilo de que necessita para reproduzir e realizar a sua vida. O homem precisa do mundo e dos outros para produzir a sua vida. A vida humana depende da relação do ser humano com o mundo, com a natureza, com a sociedade.

Por isso, a ação consciente demonstra a responsabilidade do homem consigo, com a natureza e com os outros. O ser humano realiza a sua vida por meio das relações que estabelece com as suas ações. Consigo, a relação é de descoberta da individualidade, da psique, do eu. Esta relação implica autoconhecimento, cultivo da auto-estima e uma atitude de cuidado para consigo mesmo.

Com os outros estabelecem-se relações de cooperação ou competição, de solidariedade ou individualismo. A relação com a natureza é mediada pelo trabalho. Pelo trabalho, o homem produz o necessário para a subsistência, manutenção e reprodução da vida. A relação com os outros e com a natureza é a base da construção da identidade do indivíduo e da cultura.

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A ação consciente colocá-nos diante do desafio de esco-lher o bem e o bom. Os antigos diziam que: o que é bom para a leoa, não pode ser bom à gazela. E, o que é bom à gazela, fatalmente não será bom à leoa. Deste tipo de dilema surge a necessi-dade de definir o bom e o bem.

Os filósofos antigos adotaram diversas posições na definição do que é bom, sobre como lidar com as prioridades em conflito dos indivíduos versus o todo.

Aristóteles (384-322 a.C.) definia como objetivo de todo o pensar a busca do contentamento e a felicidade com o bem supremo a ser alcançado.

Mas o que é a felicidade? O que o(a) deixa contente? O que lhe faz bem?

Para responder a esta questão, surgiram diferentes escolas de pensamento no mundo antigo, cuja influência perdura até os nossos dias. Conheça-as.

� O Eudemonismo (do grego eudaimonia, felicidade) defende que o bom é o que traz felicidade. Se o(a) deixou feliz, é bom, e pronto!

� O Hedonismo (do grego hedoné, prazer) diz que o bom é o que dá prazer. Devemos buscar o prazer! Como um fim em si mesmo, exacerbando os sentidos, buscando o prazer duradouro.

� O Utilitarismo defende que o bom é o que é útil e vantajoso. Tendo utilidade é bom! Mas, útil para quem? Para quantos? E os velhos, inválidos e crianças?

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Escolher, eis o desafio! Escolher o bem, escolher o que é bom, para si mesmo, para os outros, para o mundo. Construir o seu projeto de vida com as escolhas que faz e encontrar o contentamento, a existência feliz.

Pensar assim é viver a vida com arte, como ensinavam os antigos gregos; viver como quem constrói um projeto e ergue uma construção, edifica uma obra. Viver com cuidado, como um artista atento aos mínimos detalhes de sua obra, sendo otimista consigo (auto-estima) e com os outros (respeito e boa fé); fomentando em si e nos outros o desejo de ser melhor.

Desta forma, o objetivo da ética é determinar o que é bom, tanto para o indivíduo como para a sociedade como um todo. É o que veremos na próxima seção.

Seção 2 - Ter objetivos é preciso

Desde a mais remota Antiguidade, o homem aspira a compreender a si mesmo e o mundo em que vive. Todo o desenvolvimento mitológico, religioso, filosófico e científico originou-se dessa aspiração humana de interpretar o mundo, a sociedade e a si próprio. Vamos conversar, agora, sobre o modo de ser humano.

Cabe lembrar que somos parte da natureza e que, como tal, o destino da vida humana é uma simbiose com o planeta Terra. Entre a humanidade e o mundo da matéria existe uma afinidade profunda e radical. A existência humana é de real colaboração entre a terra e os seres humanos.

Um ser de muitas necessidades

Vimos que o homem não nasce pronto, precisa realizar a sua vida, suprindo suas necessidades. O homem é um ser de necessidades biológicas, psíquicas e sociais, satisfeitas na relação que estabelece com a natureza, consigo mesmo e com os outros.

COMBLIN, J. Antropologia Cristã. Petrópolis: Vozes p. 159.

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Entre todas as necessidades supracitadas, uma se impõe sobre todo ser humano: compreender a vida e dar sentido a ela! “Deixa a vida me levar... vida leva eu”, pode ser um bom refrão para um samba, mas não se constitui num caminho confiável para a realização das potencialidades e existência humana. Compreender a vida e dar um sentido a ela: eis a tarefa fundamental para a qual todo homem é chamado!

Veja uma reflexão poética sobre este tema no texto da norte-americana Nadine Stair.

“Se eu pudesse viver de novo a minha vida, na próxima trataria de cometer mais erros. Não tentaria ser tão perfeito, viveria mais frouxo. Seria mais bobo do que fui; de fato levaria a sério só umas poucas coisas. Seria menos higiênico. Correria mais riscos, faria mais viagens, contemplaria mais crepúsculos, escalaria mais montanhas, nadaria em muitos rios. Iria a mais lugares desconhecidos, comeria mais sorvetes e menos vagens, teria mais problemas reais e menos imaginários. Fui uma pessoa dessas que viveu sensata e pacificamente cada minuto de sua vida; e é claro que tivemos momentos de alegria. Mas, se pudesse voltar atrás trataria de ter somente bons momentos. Pois, caso não saibam, disto está feita a vida, só de momentos. Nunca percam o agora. Eu era um desses que nunca vão a lugar algum sem um termômetro, uma bolsa de água quente, um guarda-chuva e um pára-quedas; se pudesse voltar a viver, viajaria com menos peso. Se pudesse voltar a viver, andaria descalço desde o começo da primavera até o fim do outono. Andaria de carrocinha, contemplaria mais alvoradas e brincaria com as crianças, se tivesse a vida pela frente. Mas vejam, tenho 85 anos e sei que estou morrendo”.

Fonte: Stair (1990)

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Ter objetivos é tudo!

Você já deve ter visto esta frase em algum lugar:

“Não há vento favorável para aquele que não sabe aonde vai!”

Ela é atribuída ao filósofo latino Sêneca (4 a.C.- 65 d.C.) e faz sucesso nas palestras e seminários motivacionais, porque mostra, com muita clareza, a necessidade de termos objetivos na nossa vida.

Neste sentido, também a frase: “Homem, conhece-te a ti mesmo”, pode ser lida de uma maneira moderna e atual. Ao escolher esta frase como símbolo de sua filosofia, Sócrates (470-399 a.C.) ensina que o cultivo da alma (o conhecimento) vale mais do que toda riqueza material. O autoconhecimento permite ao ser humano compreender a vida, dar razão e sentido para ela e dar sentido também para as coisas que tem ou deseja.

Pare e pense: a vida, sem reflexão, vale a pena?

Nós sabemos o quanto é importante saber para onde se quer ir, não é mesmo?

A vida humana é feita de luta, esforço, dedicação, que nos permitem preparar e construir um futuro. Para tanto, precisamos ter ideais, objetivos e metas.

O poeta catarinense Lindolff Bell (1984) diz, em um dos seus poemas, que cada um de nós é o que espera da vida, que somos do tamanho da nossa esperança: “Menor do que o meu sonho... não posso ser”.

É da natureza do ser humano apostar na esperança, arriscar o real pelo sonho, transformar sonhos em desafios. Sem sonhos, sem esperança, sem objetivos na vida, não somos capazes nem de lutar, nem de sofrer.

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Por isso, ao falarmos sobre o modo humano de ser, podemos dizer: ter objetivos é tudo! Os objetivos atualizam a esperança e nos tornam fortes. Fazem-nos acreditar que é possível alcançar uma vida melhor e mais humana. Dão-nos a consciência de que somos seres inacabados, de que não estamos prontos.

E você? Tem clareza dos seus objetivos?

Pensar assim é viver a vida com arte, como ensinavam os antigos gregos. Viver como quem constrói um projeto e ergue uma construção edifica uma obra. Viver com cuidado, como um artista atento aos mínimos detalhes de sua obra sendo otimista consigo (auto-estima) e com os outros (respeito e boa-fé), fomentando em si e nos outros o desejo de ser melhor.

A força da inquietude

A Filosofia é movimento, dinamismo, questionamento, mudança. A atividade filosófica é para os inquietos, para os que não se acomodam e nem se contentam com as primeiras respostas.

Qualquer atividade que envolva a racionalidade ensina a pensar, mas nenhuma atinge a radicali-dade da atividade filosófica. Nenhuma instiga tanto, nenhuma demonstra tanta capacidade e vontade de nos converter realmente em seres livres.

Mas de que liberdade estamos falando? A atitude filosófica nos torna livres dos condicionamentos sociais e culturais que não criamos, das escolhas que não fizemos, dos caminhos que não escolhemos. Permite o exercício da liberdade de dar um sentido único, totalmente nosso para a realidade que nos circunda; envolve, mas não nos aniquila quando, diante dela, impomos a atitude filosófica.

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A filosofia liberta. E mesmo as obras filosóficas que mostram a originalidade do pensamento devem ser lidas e compreendidas dentro deste contexto de exercício da liberdade. Não procure nelas respostas ou caminhos. A filosofia liberta porque não faz discípulos ou seguidores. Os filósofos não oferecem respostas definitivas, senão uma inquietude que leva a colocar em suspenso as pretensas verdades.

A filosofia constrói o mundo. Sua tarefa não se resume a explicar o mundo. Ao dar um sentido para ele, o pensamento filosófico manifesta como ele é e como o desejamos.

A inquietude filosófica leva-nos ao diálogo com as visões concebidas da realidade. Dialogar filosoficamente é pôr à prova o que pensamos saber. Dialogamos com as obras filosóficas, com as concepções pré-concebidas da realidade, com nossas crenças e convicções, com as nossas dúvidas e inquietações. Dialogamos o tempo todo no exercício da atividade pensante, buscando o sentido da vida e das coisas. Isto é filosofia na vida.

Seção 3 - A Filosofia do cuidado

Vimos até aqui, que viver é escolher ser mais e, para tal, é necessário escolher bem, escolher o bem, ou seja: o que favorece a realização dos nossos objetivos e, consequentemente, da nossa vida. Vimos também que o pensar nos permite ver mais, ver o que não se enxerga num primeiro olhar, ver com profundidade as diferentes facetas da nossa existência.

Nesta unidade, ainda visando estabelecer uma relação entre a vida e a filosofia, conversaremos sobre o termo cuidado como síntese e encontro da filosofia com a ética e com a vida, radicalmente humana no seu modo de ser.

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O desejo de ser feliz

A tradição ocidental, desde os gregos clássicos, define a felicidade como objeto de estudo da filosofia, como saber supremo a ser buscado.

Felicidade para quem? Para quantos? A que preço? O que posso fazer para ser feliz? O que não devo fazer para ser feliz? Qual é o caminho para a felicidade? Qual o seu conteúdo? O que é ser feliz? A felicidade é um senti-mento, duradouro, forte? Ou não passa de uma leviana e pueril emoção? Você é feliz? Ou você está feliz?

Ser ou não ser feliz, eis a questão na qual se resume a vida.

Estamos vivendo tempos introspectivos. O ser humano, no começo do terceiro milênio, volta para si, busca conhecer-se e viver a vida de dentro para fora: exteriorizar-se! Quer existir! Acontecer! Mas, na busca de realizar este intento, encontra muitas dificuldades.

A sociedade industrial capitalista criou um estereótipo de homem e vende este seu “tipo ideal” como caminho e possibilidade de realização do desejo de ser feliz. Um indivíduo que encontra no sucesso, no poder, no ter e no prazer um sentido para a vida. Disto resulta um indivíduo que não conhece a si mesmo e confunde a sua identidade com as emoções que vive e as coisas que tem. Um indivíduo que cuida de tudo, das coisas que tem e deseja, e que se esquece de si mesmo.

A Filosofia do cuidado

A felicidade, a realização dos nossos sonhos e objetivos, o estar sendo plenamente humano não é dádiva que recebemos ao nascer: é uma conquista, uma escolha, um propósito! Por isso, há que se viver com arte, com consciência, com cuidado. A busca da felicidade implica um cuidado do ser humano consigo mesmo. E, nisto, a Filosofia tem muito a contribuir. É aqui que ela se aproxima da vida e da sua mais sublime tarefa.

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Martin Heidegger (1889-1976) chama-nos a atenção para o cuidado. Define-o como o solo em que se move toda a interpretação do ser humano, o fundamento para qualquer interpretação do humano. É a partir da condição, do encontrar-se como ser-aí, do estar lançado no espaço da mundanidade, que a pessoa constrói o seu modo de ser, a sua existência, a sua história, o seu sentido.

Com o termo dasein (ser-aí), Heidegger define o sentido do existir e da existência humana: a existência humana é movimento, difusão, diluição. Ao se difundir e se diluir no mundo, o ser-aí perde-se e, através da angústia, se revela e se encontra. Estar angustiado é estar ocupado e preocupado com o sentido da existência, com o sentido de tudo que a compõe: o mundo, a vida, o trabalho, a educação, as relações, os sentimentos. A angústia não é uma fatalidade: é existência humana; e oferece o solo observável a partir do qual se pode apreender a totalidade originária da presença, quando o ser-aí se descobre estar-junto-com-o-outro nos diferentes espaços e tempos do cotidiano.

O termo cuidado manifesta a atitude do homem diante da angústia: é o próprio ser da existência na sua capacidade de projetar-se a si mesmo e de poder-ser. Palavras como precaução, diligência, carinho, zelo, responsabilidade, servem como descrição adjetivada para uma compreensão do cuidado. Com a atitude de cuidado, o dasein (ser-aí) dá lugar ao ser-em-si, reve-lando uma compreensão acerca do modo como se organiza e vive o ser humano.

Michel Foucault (1926-1984) também contribui para a nossa reflexão na medida em que critica as pretensas evidências da sociedade moderna. Segundo Foucault, a sociedade moderna toma por verdades temas fabricados na história e os impõe aos indivíduos como normalidade. Foucault luta por uma nova subjetividade com a consequente afirmação do indivíduo. O que significa para ele uma libertação de uma dupla coação política.

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Ou seja, a sociedade moderna, ao incentivar o individualismo e a subjetividade, instaura um processo de individualização. Pensamos e desejamos ser sujeito, ser único, ser vip, ser prime, ser especial. Esta individuação gera um paradoxo: a totalização. Quanto mais buscamos ser diferentes, mais somos massificados, totalizados. O pseudo-sujeito não passa de um sujeitado: quem escolhe o que você vê, come, consome? Diante deste poder arbitrário, Foucault propõe uma verdadeira insurreição contra as estruturas epistemológicas que agem no nível inconsciente, nutrem os campos do saber, manifestam-se nos Discursos, dando sentido às coisas. E, nesse movimento, produzem o normal e o patológico e um ideal de homem: o Homem Ocidental!

O objetivo do pensamento de Foucault é mostrar às pessoas que elas são muito mais livres e que a pre-tensa evidência pode e deve ser criticada e destruída. Este é o papel da filosofia e do intelectual: mudar algo no espírito das pessoas!

Pacheco e Nesi (2007, p. 221) apresentam a ética de Foucault como autoformação do sujeito; como o cuidado de si:

um exercício, uma prática moral de si sobre si mesmo, que permite ao sujeito transformar-se e atingir um modo de ser. O cuidado de si é um exercício em que o sujeito pratica a liberdade. A liberdade é vista, por sua vez, como condição básica para a existência da ética. E a ética é entendida como a prática refletida, racional da liberdade...

E continuam os autores explicitando que

se, por um lado, o cuidado de si é uma prática em que se exercita a liberdade, por outro lado esta liberdade não significa liberdade absoluta, mas, antes, autodomínio, autoconhecimento, além do conhecimento de certas regras de conduta e prescrições morais. (PACHECO; NESI, 2007, p.221).

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Cabe lembrar, segundo os nossos comentadores, que o cuidado de si não significa amor exagerado por si mesmo, nem negligência pelos outros, nem abuso dos outros, mas, também, cuidado dos outros. Contudo o cuidado dos outros é, para Foucault, um momento posterior ao cuidado de si. Assim, à medida que exercito o cuidado de mim mesmo, desenvolvo as condições necessárias para também cuidar dos outros. (PACHECO; NESI, 2007, p. 220-222).

No livro “Saber cuidar: ética do humano – compaixão pela terra”, Leonardo Boff propõe o resgate do modo de ser cuidado como possibilidade de estabelecimento de uma relação simbiótica entre o ser humano e o cosmos.

Ao demonstrar a origem latina do termo, encontra dois significados: cura, desvelo, solicitude, atenção; e cogitare-cogitatus, preocupação, inquietação (BOFF, 2004, p. 90).

Segundo Boff, o cuidado é um modo de ser, isto é, a forma como a pessoa humana estrutura-se e se realiza no mundo com os outros.

O autor apresenta o cuidado com singularidade humana: “Não temos cuidado. Somos cuidado. Sem cuidado, deixamos de ser humanos”. (BOFF, 2004, p. 89). Aqui o cuidado é atitude filosófica e comportamento ético. A atitude de cuidado provoca preocupação, inquietação e responsabilidade do ser humano consigo e com tudo mais que o rodeia, a natureza e os outros.

O cuidado sempre acompanha o ser humano. Na sua falta, manifesta-se a negligência e a indiferença. A negligência é a atitude de desleixo, descuido para consigo mesmo. É o oposto da atitude filosófica, a vida vivida sem cuidado, sem reflexão, sem consciên-cia e responsabilidade. A indiferença é a atitude de desleixo, descuido para com a natureza e os outros. A negligência é a morte da filosofia. A indiferença é a morte da ética.

Simbiose: associação entre espécies vivas, beneficiando-se mutuamente; por extensão, associação entre seres vivos, sistemas sociais e máquinas; é o que ocorre, concretamente, no funcionamento de nossas sociedades atuais (BOFF, 2004, p. 198).

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O filósofo e educador espanhol Fernando Savater, no livro Ética como amor-próprio, define o amor-próprio como um ideal de excelência, de realização plena do humano; e afirma que o mais amante de si mesmo é aquele que “se empenha acima de todas as coisas pelo que é justo, ou prudente, ou qualquer coisa conforme a virtude”. (SAVATER, 2000, p. 41).

Em sua proposta de ética, o autor aproxima-se da dimensão do cuidado quando afirma que o ideal do amor-próprio é o trato que o “eu” quer para si mesmo. Aqui a expressão trato tem o sentido de cuidado ou relação com algo; ajuste, transação, acordo (ibidem p. 90). O “eu” configura no ideal de seu amor-próprio a qualidade e o tipo de atenção que deseja para si mesmo e também estabelece a qualidade da relação a qual gostaria de sustentar na sua necessária inserção na realidade social e natural. (ibidem, p. 91).

No amor próprio, encerra-se um instinto e um projeto humano:

O homem, cada homem, ama a si mesmo. Ama a si mesmo porque cada um é para si mesmo, a condição de possibilidade imprescindível de todo o resto. Se não amasse a si mesmo não poderia amar nenhuma outra coisa; quando ama qualquer coisa, ama a si mesmo como requisito necessário da coisa amada. Quando amo, me amo. Quando me amo, sinto as bases para poder amar os outros. (SAVATER,2000, p. 209).

A filosofia é busca, é atitude, é inquietação, é cuidado. E pode manifestar-se de uma maneira especial, na arte de quem reflete sobre a vida tendo como ponto de partida o sentimento, a emoção. Artistas que nos dão a dimensão do “sinto, logo existo”. Dimensão tão necessária enquanto companheira do nosso carte-siano e tradicional, “penso, logo existo”.

Veja que bela reflexão sobre o sentido da Filosofia nas nossas vidas nesta composição (letra e música) de Sérgio Magrão e Luis Carlos Sá, imortalizada na voz de Milton Nascimento (Universal Music, 1981):

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Caçador de MimPor tanto amor

Por tanta emoção

A vida me fez assim

Doce ou atroz

Manso ou feroz

Eu caçador de mim

Preso a canções

Entregue a paixões

Que nunca tiveram fim

Vou me encontrar

Longe do meu lugar

Eu, caçador de mim

Nada a temer senão o correr da luta

Nada a fazer senão esquecer o medo

Abrir o peito a força, numa procura

Fugir às armadilhas da mata escura

Longe se vai

Sonhando demais

Mas onde se chega assim

Vou descobrir

o que me faz sentir

Eu, caçador de mim

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Também vale recordar, ao final desta reflexão sobre a filosofia do cuidado, a receita antropológica de Epicuro (341-270 a.C.), uma bela síntese da atitude filosófica perante a vida:

� não há nada a temer contra os deuses;

� não há necessidade de temer a morte;

� a felicidade é possível; e

� podemos escapar à dor.

Epicuro dizia que a “palavra” é como um pharmakon; tanto substância que cura, quanto substância que enve-nena, depende da forma como ela é transmitida. E que a felicidade é uma conquista, é um direito de todos.

Epicuro busca o silêncio do campo para desenvolver a sua filosofia e escolhe um prédio com um jardim nos arredores de Atenas, longe do tumulto da vida pública. Suas lições acontecem no jardim. “Os filósofos do Jardim” passaram a indicar a Escola e os seguidores de Epicuro.

Tauria de Oliveira Gomes ( 2003, p. 151) assim sintetiza a “filosofia do jardim”:

a realidade é perfeitamente penetrável e cognoscível pela inteligência do homem; nas dimensões do real existe lugar para a felicidade do homem; desde que ele aprenda como buscá-la, a felicidade é ausência de dor e perturbação, e para atingi-la o homem só precisa de si mesmo.

A autora afirma que a doutrina de Epicuro ensinada no Jardim pregava que a vida prática deve ser não somente a nossa principal mas também nossa única preocupação. Para Epicuro, a filosofia não é uma ciência, (no sentido de produzir conhecimentos e descobertas); é uma regra de comportamento (como devo agir?).

Conheça o texto de Táuria Oliveira Gomes, A Ética de Epicuro: um estudo da carta a “Meneceu”. Metanoia, uma Revista Eletrônica da UFSJ - São João del-Rei, n. 5, p.147-162, jul. 2003.

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E, por fim, encontramos no texto que segue (GOMES, 2003, p.151) um complemento para a compreensão e o conceito de Filosofia que desenvolvemos neste livro didático:

Epicuro dizia que a filosofia era uma atividade destinada a estabelecer, por meio de raciocínios e de discussões, uma vida feliz, sendo o filosofar não apenas uma questão de palavras, mas sobretudo de atos. Ensinava que os homens fazem mal em perder tempo com buscas determinadas apenas pela curiosidade sobre assuntos que lhes importam pouco ou mesmo nada, quando deveriam concentrar todos os seus cuidados sobre as coisas que dizem respeito à sua felicidade.

Seção 4 - A defesa da sabedoria

No dia 13 de agosto de 1987, o Prof. Osvaldo Della Giustina, fundador da Unisul e, na época, Chefe de Gabinete do Ministério da Educação, proferiu uma Aula inaugural no curso de Filosofia da Fundação Educacional de Brusque (FEBE), em Brusque, Santa Catarina, desenvolvendo a seguinte temática: “O renascimento da Filosofia.” Passados mais de vinte anos, reproduzimos os principais conteúdos da reflexão apresentada por este visionário, para concluirmos esta unidade sobre a Filosofia na vida e a vida na Filosofia.

Também queremos registrar, com esta inclusão, a histórica insistência do Prof. Osvaldo na defesa da Presença da Filosofia na nossa Universidade e sua preciosa colaboração na elaboração do projeto pedagógico deste curso, bem como na sua e implantação e animação.

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O renascimento da Filosofia

Osvaldo Della Giustina

Inicio, manifestando a minha convicção de que as crises existenciais pelas quais estamos passando, que se manifestam nas perplexidades éticas e comportamentais e que se ampliam para as crises das instituições políticas, econômicas e sociais, ameaçando a vida humana em sociedade; decorrem essencialmente disto: vivemos um tempo em que o conhecimento, e mesmo a simples informação, ameaçam tomar o lugar da sabedoria. Esta nefasta substituição vem acontecendo num processo progressivo e sorrateiro de renúncia do homem à sua condição humana, sem que ele mesmo o perceba.

A substituição da sabedoria pelo conhecimento e pela informação ameaça reduzir o homem a um simples componente do processo tecnológico da sociedade no meio de sua história, isto é, a alguém que, tendo perdido sua especificidade de ser humano – a sabedoria – se reduziu a máquina – ao nível do elemento a informação, repositório ou memória de informações: informações captadas, armazenadas e expressas, sem que tenha havido o processo de análise e síntese, através do qual a informação, elaborada pela inteligência, se transforma em conhecimento, e o conhecimento apreendido pela consciência num processo global, e por ela ativado, se transforma em sabedoria.

Isto quer dizer que é necessário levantar a voz em defesa do retorno do homem à sabedoria como condição de salvá-lo de ser submetido e comido pelos processos cegos com que sua própria criação o ameaça. Não por que esses processos tenham crescido demasiadamente, mas por que o homem não soube entendê-los, crescer mais do que eles e dominá-los.

No entanto, tem-se disseminado a mentalidade de que este país não necessita da Filosofia, por que a filosofia não oferece mercado de trabalho, não tem utilidade. Tal argumento, e argumentos equivalentes usados com freqüência, revelam a pobreza dos conceitos que se têm do trabalho, da formação e, sobretudo, do homem, de sua capacidade de criar e fazer, a partir de sua qualidade essencial de pessoa.

Na verdade, são enganosas as informações de que a ciência moderna ultrapassou a filosofia e de que as ciências sociais, a psicologia, a história, a economia ou a política são instrumentos mais eficazes de compreender a realidade ou atuar sobre ela.

Essas posturas revelam que pouco se entende da filosofia, do homem e da sociedade, e todos estamos pagando um

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preço muito caro por isto. O que é preciso, pois, é retornar à sabedoria. O que é o filósofo, senão o amigo da sabedoria, o “filos ten sophias”, como já o tinham definido os gregos?

Na verdade, a decadência da filosofia está na ordem direta da incapacidade de entendê-la, incapacidade de fazê-la crescer na mesma direção e no mesmo ritmo ou velocidade, com que se vêm desenvolvendo as outras ciências, ou as outras coisas.

No entanto, é preciso entender que todas essas ciências, as ciências experimentais, param no liminar das coisas experimentáveis, e que, a partir deste nível, é possível realizar ainda o salto para o mundo das coisas dedutíveis ou das fórmulas, que nos levam um pouco mais adiante na descoberta das coisas. Mas sempre, e apenas, das coisas.

Existe, porém, o mundo do ser e de relações, que está além da experimentação e das fórmulas da lógica matemática, e é neste mundo do ser e das relações que está a lama das coisas: a dignidade, a liberdade, a justiça, a ética; que, em última análise, constitui a revelação da verdade. Esta alma não é redutível a nenhuma fórmula matemática, nem à repetição ou quantificação de experimentos. E, ai do mundo que perde a percepção, ou o entendimento, de sua alma!

Retorno a dizer, pois, neste contexto, que a decadência da filosofia é proporcional à incapacidade de empurrar o pensamento filosófico para além dos limites que alcançarem as ciências, seja a química fina, a engenharia biológica, a astrofísica, a sociologia ou a matemática.

Nesta perspectiva, a filosofia há de continuar sendo a ciência da totalidade do homem. Porque no infinito todas as coisas se encontram, e a filosofia limita neste infinito.

Na verdade, são enganosas as informações de que a ciência moderna ultrapassou a filosofia e de que as ciências sociais, a psicologia, a história, a economia ou a política são instrumentos mais eficazes de compreender a realidade ou atuar sobre ela.

Essas posturas revelam que pouco se entende da filosofia, do homem e da sociedade, e todos estamos pagando um preço muito caro por isto. O que é preciso, pois, é retornar à sabedoria. O que é o filósofo, senão o amigo da sabedoria, o “filos ten sophias”, como já o tinham definido os gregos?

Na verdade, a decadência da filosofia está na ordem direta da incapacidade de entendê-la, incapacidade de fazê-la crescer na mesma direção e no mesmo ritmo ou velocidade, com que se vêm desenvolvendo as outras ciências, ou as outras coisas.

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No entanto, é preciso entender que todas essas ciências, as ciências experimentais, param no liminar das coisas experimentáveis, e que, a partir deste nível, é possível realizar ainda o salto para o mundo das coisas dedutíveis ou das fórmulas, que nos levam um pouco mais adiante na descoberta das coisas. Mas sempre, e apenas, das coisas.

Existe, porém, o mundo do ser e de relações, que está além da experimentação e das fórmulas da lógica matemática, e é neste mundo do ser e das relações que está a lama das coisas: a dignidade, a liberdade, a justiça, a ética; que, em última análise, constitui a revelação da verdade. Esta alma não é redutível a nenhuma fórmula matemática, nem à repetição ou quantificação de experimentos. E, ai do mundo que perde a percepção, ou o entendimento, de sua alma!

Retorno a dizer, pois, neste contexto, que a decadência da filosofia é proporcional à incapacidade de empurrar o pensamento filosófico para além dos limites que alcançarem as ciências, seja a química fina, a engenharia biológica, a astrofísica, a sociologia ou a matemática.

Nesta perspectiva, a filosofia há de continuar sendo a ciência da totalidade do homem. Porque no infinito todas as coisas se encontram, e a filosofia limita neste infinito.

Por todas essas razões, que têm fundamentalmente a ver com o homem, sua sobrevivência e a preservação de sua dignidade, é com satisfação que vemos o renascimento dos cursos de filosofia, o debate sobre a importância da Filosofia e sua volta aos currículos de formação escolar.

É necessário, no entanto, nesta satisfação, não perder de vista, algumas questões. Dentre estas, creio que a mais importante é a da qualidade da filosofia, porque talvez pior do que não ter filosofia nenhuma, é ter apenas um arremedo de filosofia, uma tintura de filosofia, que não passa de filosofia do quotidiano, a filosofia do futebol, a filosofia dos planos, filosofia das ruas, do governo, a filosofia, enfim, inadequadamente entendida e inadequadamente expressa.

Tal ameaça se agrava, na medida em que vivemos um vácuo do pensamento filosófico, causado, dentre outras razões, no campo político, pelo poder autoritário; no campo do desenvolvimento econômico e social, pela postura tecnocrática, comandada pela ilusão das equações econométricas e do milagre tecnológico; e, no campo teológico, talvez, pela própria sede de justiça que passou a queimar os lábios dos pregadores como queimava os do profeta Isaías.

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Agora temos que resgatar este tempo, vencer o obstáculo do vazio do pensamento e a carência de homens que saibam pensar. Na verdade, não se forma um filósofo como se treina um digitador de computadores ou um programador, ou mesmo o analista de seus sistemas.

É que o filósofo precisa chegar além da informação. Seu desafio é descobrir a alma das coisas, seu preparo é chegar à sabedoria. Este processo só acontece com a reflexão e, portanto, com a paciência do tempo. Estamos ameaçados de gastar esta geração neste doloroso processo de recuperação, ou recriação, do novo pensamento.

A segunda questão é de ordem geral. O impacto da revolução industrial e da revolução tecnológica desestruturou e inibiu o pensamento filosófico.

De um lado, esta inibição levou a confundir a filosofia (e, às vezes, a teologia) com simples propostas interpretativas da história, ou da economia, ou da sociedade. Neste campo, estão o marxismo, o liberalismo ou, mesmo, o socialismo e o capitalismo, ou, ainda, a perspectiva da teologia chamada da libertação.

De outro lado, a filosofia renunciou à lógica, ou ao pensamento, para aderir à intuição, ao sentimento. Neste campo, situam-se o existencialismo e, a partir das filosofias da angústia, que ele gerou, as posturas místicas, ou escapistas, sua contrapartida. A intuição, o sentimento, a percepção são métodos auxiliares do conhecimento, são formas de buscar a sabedoria, mas não são a sabedoria.

A grande questão é que a busca da sabedoria – ou seja, a descoberta da verdade, exige uma lógica além da lógica do computador, e uma ultrapassagem, além do caos. Não há sentido em que se admita que só pelo caos o homem sobreviva, quando todo o universo sobrevive pela lógica. E nem há sentido, pois, em dizer-se que o caos existe por causa da liberdade, como seu pressuposto ou sua conseqüência.

O que é preciso, na verdade, é que a lógica como a liberdade, a ética e a verdade, sejam postas numa dimensão além do caos. Então prosseguirá a filosofia como a ciência além das ciências, a liberdade como a postura além da angústia e o homem como o ser além da máquina.

Fonte: Della Giustina, 1995.

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Síntese

Filosofia e vida são dois lados de uma mesma moeda. A Filosofia é, ao mesmo tempo, norteadora e produto do existir humano. A Filosofia orienta o ser humano em suas escolhas e caminhos, favorecendo nele o desejo de ser mais e melhor, de bem escolher em vista dos seus projetos, de desenvolver suas potencialidades, de realizar os seus sonhos e desejos. A Filosofia faz a vida valer a pena. E a vida faz valer a pena estudar Filosofia.

Vimos, nesta unidade, que a atitude filosófica diante da vida manifesta cuidado do ser humano consigo, com os outros e com a natureza. Também vimos que cuidamos porque amamos e amamos porque conhecemos. Filosofia, amor à sabedoria, é atitude de cuidado!

E, por fim, num grito em defesa da sabedoria como modo humano de ser, manifestamos os objetivos do projeto pedagógico do nosso curso de Filosofia na UnisulVirtual: numa sociedade que manifesta apreço pelo conhecimento e pela informação, a sabedoria vem nos lembrar da centralidade das dimensões humanas esquecidas. O ser humano é que dá sentido e direção para o conhecimento e a informação. Estes não podem ser usados contra o humano. A sabedoria resgata a possibilidade de manifestação da vida em todas as suas formas, em toda a sua plenitude. Por isso, queremos a Filosofia!

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Atividades de autoavaliação

Para praticar os conhecimentos apropriados nesta unidade, realize as atividades propostas. As respostas estão disponíveis no final do livro didático. Mas se esforce para resolver as atividades sem ajuda das mesmas, pois, assim, você promoverá (estimulando) a sua aprendizagem.

1) Depois de ter estudado o conteúdo desta unidade, elabore um breve comentário sobre a afirmação: “A reflexão filosófica permite a reconstrução do passado, a compreensão do presente e a construção do futuro”.

2) Descreva a sua interpretação para as frases: “Não há vento favorável para aquele que não sabe aonde vai!” e “Menor do que o meu sonho... não posso ser”.

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3) Conceitue Filosofia como um exercício de liberdade.

4) Por que o amor-próprio pode ser entendido como atitude filosófica?

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5) Encontre no conteúdo desta unidade argumentos em favor da tese: a tarefa da filosofia é auxiliar, orientar o ser humano na busca e no encontro da vida boa e feliz!

Saiba mais

Para aprofundar as questões abordadas nesta unidade, você poderá pesquisar os seguintes livros:

BOFF, Leonardo. Saber cuidar: ética do humano – compaixão pela terra. 10. ed. Petrópolis: Vozes, 2004.

SAVATER, Fernando. Ética como amor-próprio. São Paulo: Martins Fontes, 2000.

EPICURO. Pensamentos. São Paulo: Martin Claret, 2005.

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Para concluir o estudo

Chegamos ao final do estudo da disciplina. Com certeza, durante o caminho, você questionou alguns pensamentos e conceitos apresentados neste livro, identificou excessos e lacunas. Esta é a primeira edição deste livro didático de Introdução à Filosofia, e muita coisa terá de ser melhorada e acrescentada. Críticas e contribuições serão sempre bem-vindas. Este é o espírito da UnisulVirtual.

Como amizade prazerosa com a sabedoria, busca incessante do saber, procuramos demonstrar que a Filosofia tem muito a nos dizer e ensinar. Procuramos ressaltar a nossa condição de ser racional, animal que pensa, reflete, analisa, indaga, escolhe e faz história. A Filosofia nos lembra de que fomos feitos para sermos sujeitos, condutores dos nossos projetos e caminhos. E, por nenhum motivo, podemos abrir mão do direito e do dever de exercer a humanidade em todos os seus aspectos e potencialidades.

Com a apresentação da Filosofia e da proposta do nosso curso, procuramos lembrar do ideal magnânimo, verdadeiramente grandioso, que deve acompanhar as nossas escolhas e decisões: ser melhor, buscar a perfeição, exercitar a virtude, para o bem de todos e garantia de futuro, do mundo e da humanidade.

Ao concluirmos esta disciplina, reafirmamos a certeza de que o futuro da possibilidade de convivência passa pelo resgate das dimensões humanas na condução dos projetos de vida e sociedade. Pensar as organizações de uma perspectiva humana, eis o desafio da Filosofia e de todos nós.

Sejam felizes na continuidade dos estudos e sucesso!

Professor Marciel Evangelista Cataneo.

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Referências

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AGOSTINHO. A Cidade de Deus. 7. ed. Trad. Oscar Paes Lemes. Rio de Janeiro: Editora Vozes, 2002. (Parte I).

ANDRADE, Ricardo Jardim. A cultura: o homem como ser no mundo. In: HÜHNE, Leda Miranda (Org.). Fazer filosofia. São Paulo: UAPÊ, 1996.

ARANHA, Maria Lúcia de Arruda; MARTINS, Maria Helena Pires. Filosofando: introdução à filosofia. 2ª. ed. rev. e atual. São Paulo: Moderna, 1996.

ARISTÓTELES. Política. Trad. Therezinha Monteiro Deutsch e Baby Abrão. São Paulo: Nova Cultural, 1999.

______. Ética a Nicômaco. [Os Pensadores]. São Paulo: Abril Cultural, 1987. Coleção Os Pensadores.

ASSMANN, Selvino José. Filosofia. Florianópolis: CAD/UFSC, 2006. 192p.

BELL, Lindolff. O código das águas. São Paulo: Editora Global, 1984.

BERGEN, Karel Frans Van Den. As correntes filosóficas contemporâneas. In: OLIVEIRA, Admardo Serafim de, et al. Introdução ao pensamento filosófico. 6. ed. São Paulo: Loyola, 1998.

BÍBLIA SAGRADA: Edição Pastoral. São Paulo: Paulinas, 1990.

BOFF, Leonardo. Saber cuidar: ética do humano: compaixão pela terra. 10. ed. Petrópolis: Vozes, 2004.

BUSSOLA, Carlos. As correntes filosóficas contemporâneas. In: OLIVEIRA, Admardo Serafim de, CARNIELLI, Adwalter Antonio et al.

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BUZZI, Arcângelo. Introdução ao pensar. Petrópolis: Vozes, 1983.

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Sobre o professor conteudista

Marciel Evangelista Cataneo é graduado em Filosofia pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) e Bacharel em Teologia pelo Instituto Teológico de Santa Catarina (ITESC). Mestre em Educação pela Universidade do Sul de Santa Catarina (UNISUL). Professor universitário desde março de 1990, leciona Filosofia, Sociologia e Ética nos cursos de graduação da Universidade do Sul de Santa Catarina (UNISUL). É o coordenador do Curso de Filosofia da UnisulVirtual.

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Respostas e comentários das atividades de autoavaliação

Unidade 1

1) Filosofia é pensar, descobrir o verdadeiro “peso” (valor) de cada coisa, fato, situação. O “peso” de cada atitude, escolha, decisão. Filosofia é atitude (prática) e requer humildade, dúvida, admiração, espanto, encantamento. Filosofia é autonomia: capacidade de pensar por si próprio e estabelecer as suas próprias regras e leis. Filosofia é reflexão, ou seja, voltar atrás e revisar, analisar, examinar a vida e a existência. Filosofia é crítica, questionamento, purificação. Filosofia é criatividade, atividade que cria o novo. Filosofia é, literalmente, amor à sabedoria. Refletindo sobre estes e outros conceitos, você pode agora elaborar a sua concepção de Filosofia, criar o seu conceito e partilhar com os colegas no Fórum.

2) Aceitando a tese de que a vida não nos é dada pronta e que temos que realizá-la, transformá-la num projeto, a Filosofia permite a ação consciente, a ação acompanhada de sabedoria para que as nossas atitudes e escolhas venham a somar para a realização do nosso projeto, da nossa vida. Realizar a vida como um projeto exige atitude, e atitude filosófica: pensamento, autonomia, reflexão, criticidade, criatividade, sabedoria.

3) Somatória: 30

4) Radicalidade -- - A Filosofia exige que a questão a ser analisada seja colocada em termos radicais. Quer dizer, é preciso que se vá até às raízes, até seus fundamentos, ou seja, uma reflexão em profundidade.

Rigorosidade -- - Deve-se proceder à reflexão com rigor, ou seja, sistematicamente, segundo métodos determinados.

Totalidade -- - A questão não pode ser analisada de modo parcial, mas numa perspectiva de conjunto, relacionando-a com os demais aspectos do contexto em que está inserida.

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Unidade 2

1) As alternativas corretas são: a; b; e.

2) Para negar algo você precisa argumentar, pensar, refletir e, ao fazer isto, você estará fazendo filosofia.

3) Ceticismo e dogmatismo são dois caminhos a serem evitados na busca do conhecimento, na aproximação da sabedoria: o ceticismo não crê na possibilidade de conhecer, e o dogmatismo defende ter encontrado a verdade, tornando com isso toda atitude de busca desnecessária. Filosofia é busca, é procura, é movimento. Ceticismo e dogmatismo possuem uma visão imobilista do mundo, não permitindo o pleno desenvolvimento da atitude filosófica.

4) Na filosofia antiga, a Filosofia era a ciência universal e abarcava todo o conjunto de conhecimento que hoje agrupamos sob os nomes de ciência, arte, Filosofia. No Renascimento e Idade Moderna, a Filosofia coloca o ser humano no centro das preocupações, a arte e ciência adquirem autonomia da Filosofia e dão origem ao rol de ciências particulares que hoje temos. A modernidade trouxe o desenvolvimento da ciência e da técnica, promovendo a autonomia da ciência e da própria Filosofia.

Unidade 3

1) A filosofia na Antiguidade é cosmocêntrica; nasce do desejo de encontrar na natureza uma explicação para natureza e o cosmo. Por isso os filósofos pré-socráticos também são chamados de filósofos da natureza (physis). A questão da origem de todas as coisas que constituem a realidade é o centro das preocupações destes primeiros filósofos. A filosofia clássica, embora coloque o ser humano no centro das suas preocupações, não abandona o fundamento cosmológico: Sócrates traz a filosofia dos céus para a terra e preocupa-se com o autoconhecimento (ética); Platão vê a harmonia do cosmos e quer reproduzi-la na pólis (política); Aristóteles quer desvendar os segredos da natureza no estudo da matéria (ciência).

A filosofia da Idade Média é teocêntrica; nasce do encontro, marcado por tensões, aproximações e total assimilação, do cristianismo com a filosofia grega. Visava, em um primeiro momento, desenvolver um pensamento que acomodasse a religião cristã com a tradição filosófica; aproximar a fé da razão, para converter os pagãos, inclusive os mais

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Introdução à Filosofia

cultos, para a nova religião (patrística). Desenvolveu-se com o objetivo de ensinar as verdades da fé cristã, servindo-se da filosofia para tal intento (Escolática).

A filosofia moderna é antropocêntrica; é profana e crítica, representada por leigos que procuram pensar de acordo com as leis da razão e do conhecimento científico. O resultado deste movimento é a ruptura dos vínculos com a teologia e um crescente processo de secularização da filosofia. O pensamento moderno funda-se na convicção de que a razão constitui o instrumento fundamental para a compreensão do mundo. Também manifesta a concepção de que a experiência é a única fonte válida de conhecimento. O objetivo do pensamento neste período é descobrir o funcionamento de todas as coisas e apenas a razão era capaz de levá-lo a tanto. Também defende a necessidade de uma reorganização da sociedade e a adoção de uma política centrada no homem, que lhe garantisse sua total liberdade.

2) O encontro entre o cristianismo e a filosofia foi marcado por tensões entre a fé e a razão. Este encontro teve início no Império Romano, quando o cristianismo se torna religião oficial do império e prolongou-se por toda a Idade Média, determinando a forma que a filosofia assumiu por mais de um milênio. A filosofia tornou-se cristã e a fé cristã assimilou procedimentos racionais.

Quando desapareceu o poder do Império no Ocidente, a Igreja arrogou-se a supremacia universal. O papa foi reconhecido como a autoridade máxima a que deviam submeter-se os poderes temporais. Assim, a hierarquia eclesiástica de Roma representou o fator aglutinante das monarquias ocidentais. A progressiva conversão dos bárbaros ao cristianismo fez da Igreja a instituição mais importante da Idade Média. Desenvolve-se um conhecimento sobre Deus, e a filosofia se torna serva da teologia, limitando em muito seu campo de ação.

3) Subjetividade e individualidade são valores da modernidade, consequências da valorização do ser humano e de suas potencialidades e realizações, surgidas com o Renascimento e a Filosofia Moderna. São conceitos que evocam a autonomia do indivíduo, do seu pensamento, diante dos sistemas filosóficos, ideológicos, religiosos. Subjetividade e individualidade dão origem ao conceito de sujeito, grande conquista e bandeira do pensamento moderno.

4) Como vimos no estudo da unidade, Marcuse acusou a sociedade capitalista de criar necessidades de consumo artificiais e incessantemente renovadas, mediante a manipulação das consciências pelos meios de comunicação de massa, fonte de um estilo de vida que chamou “unidimensional”— o conformismo. Na crítica de Marcuse, o

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homem moderno é transformado por um eficiente instrumento de manipulação, em homem consumo: aquele que encontra na compulsão por consumir um sentido para a sua existência. Na ilusão de consumir, somos consumidos e temos a nossa vida tomada por atividades que dêem lucro, para poder consumir mais. Estar no mercado, poder consumir é ícone de realização. Você pode citar inúmeros exemplos de consumo motivados pelo apelo comercial e modismos; e que não se constituem necessidades para a manutenção da vida, consumo centrado no luxo, na moda, no status.

5) Na Idade Antiga, política é vista como uma atividade natural. Faz parte da natureza do cidadão contribuir com a discussão sobre os destinos da sua pólis. O homem realiza-se na pólis e deve estar constantemente preocupado com ela. A participação política define o cidadão e manifesta o ideal de homem grego.

Na Idade Média, impera o dualismo da Filosofia de Santo Agostinho e de São Tomás de Aquino: céus e terra, dia e noite, trevas e luz, bem e mal. A política, vista como preocupação com o mundo, com as coisas que passam, cai em descrédito. É considerada uma distração para o homem em sua caminhada para a verdade, o céu, a luz. Os santos e justos, os moralmente irrepreensíveis, devem se afastar desta atividade. Política não é para gente boa e honesta! Tal mentalidade perdura até os nossos dias.

Na Idade Moderna a política passa a ser vista como um mal necessário, uma obrigação da convivência social que exige aparar arestas, a resolução de conflitos de ideias e interesses através da argumentação e negociação para que esta convivência seja possível. Você pode citar exemplos de atitudes e estilos de vida hodiernos que representam ou manifestem estas diferentes concepções.

Unidade 4

1) A origem latina do termo (colere, cultus), tudo o que é cultivado, confirma a expressão citada na questão. Cultura significa tudo o que é obra do homem na sociedade, em contraposição ao que é simplesmente natural. É a forma de vida de um povo, fruto das realizações e atividade criadora dos indivíduos. Uma maneira de agir, de pensar, de sentir, que se manifesta na linguagem, no código de leis, na religião, na criação estética. É expressão dos anseios criadores do espírito humano em busca da satisfação de suas necessidades e sonhos.

2) O animal é o homem: ao nascer (pela manhã) engatinha; quando adulto (ao meio-dia) caminha; quando idoso (à tarde) busca o auxílio de

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Introdução à Filosofia

uma bengala, bastão ou apoio. Quando nasce, é mais necessitado de cuidados e proteção.

3) O homem, na Filosofia Grega busca, compreender quem ele é e qual o seu lugar no universo. Como ser que pensa (animal racional), ele é a medida de todas as coisas. Sócrates define o homem como atividade pensante e eticamente operante. Platão define o homem como alma espiritual e imortal. Aristóteles define-o como animal político. O homem realiza-se na medida em que conhece a si mesmo, a natureza e a pólis, o que lhe possibilita o autodomínio e a ação consciente.

Na filosofia cristã, medieval, o homem foi criado por Deus e, como sua criatura, tem seu fim último Nele, que é o seu bem mais alto e o seu valor supremo. Deus exige do homem a obediência e a sujeição a seus mandamentos imperativos supremos. O homem vem de Deus e todo o seu comportamento — incluindo a moral — deve orientar-se para Ele. Como ser criado por Deus à sua imagem e semelhança, o ser humano é o ápice da criação, e tudo o mais foi criado para que ele tenha vida, cresça e se multiplique. O destino do homem é dominar a criação e dar continuidade à obra do Criador. Para tanto, deve estar em contínuo relacionamento com o Criador e em sintonia com a sua vontade.

A explicação para a origem do mundo, na filosofia grega, não está no sobrenatural ou na tradição mítica. Está na própria natureza. Os primeiros filósofos (pré-socráticos) defendem que a racionalidade humana pode encontrar na natureza todas as respostas (naturalismo) para o seu entendimento e explicação. Eles conceituaram a realidade como um todo organizado e animado e, diante da multiplicidade e da mutabilidade das aparências, buscavam um princípio unificador, geral, imutável, ao qual chamaram arké: origem, substrato e causa de todas as coisas e no qual se ultimam todos os seres.

Platão não compartilha da concepção de que a realidade do mundo tenha causas mecânicas ou naturais. Busca explicar o mundo a partir de causas de natureza não-física, realidades inteligíveis representadas pelos termos ideia e eidos, que significam “forma”. As Ideias de que fala Platão são mais do que conceitos ou representações puramente mentais: representam “entidades”, “substâncias”. As Ideias platônicas são as essências das coisas, ou seja, aquilo que faz com que cada coisa seja aquilo que é. Segundo ele, há um modelo (o mundo Ideal), existe uma cópia (mundo sensível), e existe um Artífice, que produziu a cópia, servindo-se do modelo. O mundo Inteligível (o modelo) é eterno, como eterno é também o Artífice (a Inteligência criadora). O mundo sensível foi construído pelo Artífice que, em sua atividade, forma o “cosmos”, a ordem perfeita, triunfo do inteligível sobre a necessidade cega da matéria.

Na filosofia cristã, Santo Agostinho. Ao olhar para a realidade do mundo, apresenta a teoria da cidade dos homens e da cidade de Deus: os pecadores formam a cidade terrestre, que é o mundo dos homens. Essa cidade não é necessariamente má, mas, governada pela vontade humana,

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tende para o pecado e é, de tempos em tempos, castigada por Deus. A cidade dos homens é fruto do egoísmo; e a cidade celeste é criação do amor divino. Estas “duas” cidades ou reinos existem simultaneamente na história humana, representadas entre a luta do bem e do mal, entre Deus e o Demônio. Essa luta terminará somente com o Juízo Final. Na Filosofia de Agostinho, o mundo é o lugar onde se trava a batalha entre o bem e o mal.

Tomás de Aquino traz uma novidade para a reflexão cristã: ele não parte da ideia de Deus para explicar o mundo, mas parte do conhecimento sobre o mundo para provar a existência de Deus. Ou seja, sobre a experiência sensorial, empregou o conhecimento racional para demonstrar a existência do Criador. As “cinco vias” são cinco argumentos que provariam a existência de Deus a partir dos efeitos por ele produzidos na obra da criação. Nesta concepção, o mundo, obra do criador, manifesta a sua natureza e presença.

4)

■ Homem Boi: dê exemplos de atitudes e ações onde somos guiados pelos instintos (vontades, desejos, compulsões) e necessidades da vida vegetativa (comer, dormir, procriar). Não que estas atitudes não tenham o seu valor; a pergunta é: quem está no controle? Você domina, ou é dominado?

■ Homem Leão: dê exemplos de atitudes e ações em que somos guiados, tomados, dominados pelas emoções, pelos sentimentos, pelo coração; em que a racionalidade cede aos impulsos emocionais e afetivos.

■ Homem Águia: dê exemplos de atitudes e ações radicalmente racionais, nas quais a razão, o raciocínio, o cálculo domina as ações. Aqui medimos a finalidade, os prós e os contra, as consequências de cada ato.

■ Ser humano: dê exemplos de atitudes que demonstrem domínio sobre os instintos, emoções e razão, dimensões do homem integral que não podem ser negligenciadas ou esquecidas: nós somos instinto, paixão e razão.

5)

( V ) Filosofia da Linguagem

( VII ) Metafísica ou Ontologia

( VI ) Ética ou Filosofia Moral

( II ) Estética ou Filosofia da Arte

( VIII ) Lógica

( III ) Teoria do Conhecimento

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Introdução à Filosofia

( IX ) Filosofia Política

( I ) História da Filosofia

( IV) Antropologia Filosófica

Unidade 5

1) Filosofia é reflexão, por isso permite “voltar atrás” e compreender, entender, organizar experiências vividas e, ao seu tempo, não compreendidas. Filosofia é visão de mundo: permite o entendimento do contexto existencial, da realidade que nos cerca, possibilita a ação consciente ao analisar o cotidiano dos seres humanos em sociedade, buscando investigar o seu sentido e o seu papel. Filosofia é projeto, a atitude filosófica propõe metas, perseguindo ideais; dá um direcionamento para a práxis. Através desse movimento, o homem vem conquistando, ao longo dos séculos, uma compreensão mais cabal de si mesmo e do mundo que o cerca, e uma maior compreensão das próprias limitações de seu pensamento.

2) A primeira frase, atribuída a Sêneca, dá conta da necessidade de ter objetivos, metas, ideais. É preciso saber para onde queremos ir. Só assim será possível identificar ventos favoráveis e contrários. A segunda frase, de Lindolff Bell, dá conta da necessidade de sonhar e de transformar estes sonhos em desafios, metas, objetivos, buscando a realização deles.

3) Filosofia é um exercício de liberdade: ao ensinar a pensar, a Filosofia torna-nos livres dos condicionamentos sociais e culturais que não criamos, das escolhas que não fizemos, dos caminhos que não escolhemos. Torna-nos livres, ao permitir-nos um sentido único, totalmente nosso para a realidade que nos circunda, envolve. A filosofia liberta, porque não quer fazer discípulos ou seguidores. Os filósofos não oferecem respostas definitivas, senão uma inquietude que leva a colocar em suspenso as pretensas verdades. Na atitude filosófica, inquietude é libertação.

4) O amor-próprio, assim como é definido por Savater, pode ser entendido como atitude filosófica, pois encerra um instinto e um projeto humano. Pode ser entendido como atitude filosófica, porque ele se aproxima da dimensão do cuidado: o ideal do amor-próprio é o trato (relação com algo ou alguém) que o “eu” quer para si mesmo. Segundo Savater, o “eu” configura no ideal de seu amor-próprio a qualidade e o tipo de atenção que deseja para si mesmo e, também, estabelece a qualidade

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da relação a qual gostaria de sustentar na sua necessária inserção na realidade social e natural.

5) O objetivo da Unidade 5 é desenvolver esta tese: “A Filosofia manifesta o desejo e a vontade humana na busca e no encontro da vida boa e feliz!” Para desenvolver esta tese, as seções desta unidade falam da relação entre a Filosofia e a vida; da necessidade de ter objetivos; do viver com cuidado e com sabedoria. Em toda a unidade, você encontrará argumentos que corroboram esta tese.

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1727877885789

ISBN 978-85-7817-278-7