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Introdução à Bíblia 1 SEMINÁRIO TEOLÓGICO MARCOS BATISTA - Curso Básico em Teologia

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Introdução à Bíblia

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SEMINÁRIO TEOLÓGICO MARCOS BATISTA - Curso Básico em Teologia

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Introdução à Bíblia

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SEMINÁRIO TEOLÓGICO MARCOS BATISTA - Curso Básico em Teologia

ÍNDICE

Apresentação ........................................................................................................................................................... 3

Introdução ................................................................................................................................................................. 4

Definição do termo Bíblia .................................................................................................................................. 4

O que é a Bíblia ..................................................................................................................................................... 4

A Bíblia é muito mais do que apenas outro livro. Por quê?...................................................................... 5

A origem da Bíblia ................................................................................................................................................ 6

A formação do Antigo Testamento .................................................................................................................. 8

Os livros do Antigo Testamento ........................................................................................................................ 9

As línguas do Antigo Testamento ................................................................................................................... 10

As versões antigas .................................................................................................................................................. 9

A formação do Novo Testamento .................................................................................................................... 10

Os livros do Novo Testamento em ordem cronológica ............................................................................ 11

A língua no Novo Testamento ......................................................................................................................... 11

O Cânon das Escrituras ...................................................................................................................................... 12

O cânon do Antigo Testamento ....................................................................................................................... 12

O cânon do Antigo Testamento e os livros apócrifos ................................................................................ 15

O cânon do Novo Testamento ......................................................................................................................... 19

A formação do cânon do Novo Testamento ................................................................................................ 19

Fatores que influenciaram a formação do cânon do Novo Testamento ............................................... 19

Critérios utilizados para a inclusão de um livro no cânon do Novo Testamento ............................. 20

Os apócrifos do Novo Testamento .................................................................................................................. 22

A inspiração das Escrituras ............................................................................................................................... 23

Inspiração e Revelação ...................................................................................................................................... 23

O que a inspiração não é ................................................................................................................................... 23

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Definição de inspiração ..................................................................................................................................... 25

A inerrância das Escrituras ............................................................................................................................... 26

O poder da Palavra de Deus: a autoridade .................................................................................................... 27

A necessidade da Bíblia ..................................................................................................................................... 28

A divisão da Bíblia: capítulos, versículos e parágrafos ........................................................................... 29

A Igreja e a Bíblia ................................................................................................................................................ 30

Bibliografia ........................................................................................................................................................... 32

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Apresentação

Desde o surgimento da escrita, que ocorreu por volta do ano 3500 a.C., a humanidade ao

seu tempo, tem produzindo seus textos literários. Esta produção vai desde narrações históricas,

contos, poesias até aos tratados de filosofia, teologia e medicina. A escrita mudou o

comportamento da humanidade, pois a partir dela foi possível conservar as memórias dos antigos

e transmiti-las às novas gerações. Não foram poucos os homens de grandes talentos e de mentes

brilhantes, grandes pensadores e escritores. Ao lermos a Ilíada de Homero, a República de Platão,

a Ética e Política de Aristóteles e outros, ficamos fascinados com a criatividade destes ilustres

homens. Sem falar de Heródoto, considerado o primeiro historiador, de Agostinho, um dos maiores

pensadores cristãos, Shekesperare, Machado de Assis e muitos outros. A produção literária é

imensa, não é possível detalharmos em poucas palavras. Como disse o sábio: “...não há limite para

a produção de livros...” (Ec 12.12). Isso é evidenciado quando entramos em uma grande biblioteca,

ficamos até mesmo perdidos entre os livros, sem falar do mercado editorial, que diariamente

publica novos livros.

Mas diante de toda essa produção humana, de todos os escritores e mentes brilhantes, há

um livro que sobressai a todos eles: a Bíblia Sagrada. Ela é ainda o livro mais vendido e mais lido

do mundo. Isto decorre do fato dela não ser apenas uma simples produção humana, pelo contrário,

ela expressa a mente divina. Gosto de ler; leio muitos livros, mas quando me debruço sobre a

Bíblia, sinto que não estou lendo um livro qualquer, mas bebendo em uma fonte de amor

inesgotável.

Estudar a Bíblia Sagrada não pode ser um peso para o cristão, mas, sim, um momento de

prazer e alegria. A Bíblia é um presente de Deus para humanidade. Ela é o manual da vida cristã.

Portanto, devemos estudá-la com diligência e reverência.

O objetivo dessa matéria é fornecer ao estudante um panorama da Bíblia. Ao término desta

matéria o aluno será capaz de explicar a origem da Bíblia, bem como a sua formação, a origem

dos termos Antigo Testamento e Novo Testamento, o Cânon, a Inspiração, a Inerrância, a origem

dos Livros Apócrifos e outros elementos.

Para um estudo proveitoso é necessário ler a apostila pelo menos três vezes e ler também

as referências bíblicas. Tenha em mãos um dicionário bíblico e também da língua portuguesa. Não

tenha pressa para responder as avaliações, procure primeiro entender os assuntos abordados na

apostila.

Pastor Adriano

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INTRODUÇÃO

“Lâmpada para os meus pés é a Tua Palavra, e luz para o meu caminho” Sl 119.105

A Bíblia não é apenas um compêndio de literatura religiosa, e nem um livro entre muitos

outros. Ela é a Palavra de Deus, que ilumina o caminho do homem. A Bíblia é a Palavra de Deus.

É ela que determina o que devemos fazer e em quem devemos crer.

1. Definição do termo – Bíblia.

A Palavra “Bíblia” passou por grandes mudanças. “Biblos” era o nome de uma cidade

fenícia, famosa por exportação de papiros. Deste nome se originou a palavra “Biblon” que

significa “Livro” – e mais tarde “TABÍBLIA” que significa os livros por excelência.

O plural grego que determinava o nome “Bíblia” transformou-se no latim posterior em

nome feminino singular, “Bíblia” – o livro, e com esse sentido foi transmitido para todas as línguas

modernas. Mas o conceito vem do hebraico “Sefarim” Daniel 9.2. Para nós, a Bíblia é o livro por

excelência.

2. O que é a Bíblia?

Quando falamos da Bíblia, falamos de uma coleção de livros. Uma Biblioteca era o que a

Bíblia representava para o povo judeu (isto é o AT1).

Ela é um conjunto de livros, escritos sagrados, que chegou até nós atravessando séculos por

meio do povo judeu.

A Bíblia, Palavra de Deus, as Escrituras, Espada, são alguns nomes dados pelos cristãos às

Escrituras Sagradas.

Ela contém 66 livros, 39 no AT e 27 NT. Esse conjunto de livros sagrados foi escrito

primeiramente em tábuas de pedras (os dez mandamentos) e depois em papiros2. Mais tarde, esta

1 Observação, As siglas AT referem-se a Antigo Testamento, e NT a Novo Testamento 2 Papiro: é uma espécie de papel rudimentar, feito de folhas extraídas de uma planta originária do Rio Nilo que tem o mesmo nome, uma vez prensada servia de papel.

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técnica do papiro se aprimora e aparecem os rolos de papiros. Depois disso, no Séc. III e IV d.C.,

aparece o pergaminho3.

2.1 – A Bíblia como Escritura:

Apareceu tardiamente na história, porém, como mensagem oral é muito antiga.

Oral é uma forma de narrar ou contar algum fato, muito usada pelos israelitas nos seus

primeiros séculos de existência como nação.

A Palavra era muito significativa e se tornara o que hoje chamamos de livros.

Com Moisés, tem início a lei escrita, entretanto, a forma oral, que já existia, continuou ainda

naquele tempo. Antes de Moisés não existia registro de livros inspirados. Tudo era de natureza

oral.

Com isso queremos dizer que existiram homens ungidos por Deus, homens que tinham

andado de acordo com sua vontade (Enoque, Noé, Abraão, Isaque, Jacó, etc), os quais, segundo a

Bíblia, tinham constantes encontros com Deus, contudo, não foram inspirados a escrever as

Palavras de Deus.

2.2 – A Bíblia é ao mesmo tempo histórica e doutrinal, contendo a revelação que Deus fez

aos homens através de suas ações e palavras.

A Bíblia conta a história de nossa salvação. O gradual desenrolar-se de toda a redenção

através dos dois testamentos ou alianças.

2.3 – A Bíblia é Palavra de Deus encarnada nas Palavras humanas. “A Palavra de Deus em

palavras humanas”.

A Bíblia é a Palavra de Deus em linguagem humana, o que implica no fato de que aquele

sopro divino chega até nós não mais na forma divina, mas em forma humana. Significa dizer que

o sopro divino por trás das Escrituras está agora encarnado nas palavras dos homens que inspirou.

Como Palavra de Deus, a Bíblia está encarnada em palavras humanas.

3 Pergaminho: era feito de coro de animal. A palavra pergaminho tem origem no nome da cidade de Pérgamo, na Ásia Menor – pois a produção deste material estava associada a essa cidade.

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E trata de uma encarnação crida de tal forma que a única maneira de distinguir a Palavra de

Deus é ouvir as palavras humanas que a sustentam textualmente.

Ler a Bíblia com intenção de ouvir a Palavra de Deus implica da parte do leitor um esforço

por compreender as palavras humanas com que foi escrita.

A Palavra de Deus é significativa para cada um de nós. Ela é a fonte de nossa fé. Para chegar

até nós e transmitir a mensagem de salvação, essa palavra “encarnou-se” do mesmo modo como a

Palavra de Deus se fez carne (Jo 1.1, 14), para realizar a salvação do homem. Ela se fez o livro,

ou melhor, “os livros” da Bíblia.

E como a Palavra (Jesus) se fez carne e assumiu a nossa plena condição humana, exceto o

pecado, assim a Palavra de Deus se sujeitou às condições da linguagem humana, exceto o erro.

Ela foi transmitida através de autores humanos, e a inspiração divina não suprimiu nenhum

traço pertencente a eles como homens do seu tempo, do seu próprio ambiente, de sua própria

cultura. Essas características distintivas variam de um autor sagrado para outro, e são diferentes

das nossas.

A Bíblia é uma grande obra de um divino Autor – Deus, que a transmitiu a seus servos, os

quais a registraram e a transmitiram a nós (II Pe 1.21).

3. A Bíblia é muito mais do que apenas outro livro. Por quê?4

3.1 – Por causa da sua singularidade.

Uma das características mais impressionantes da Bíblia é sua singularidade. Ela é composta

de 66 livros; 39 do AT e 27 do NT formam um todo coeso, uma mensagem dinâmica dos tratados

de Deus com a humanidade.

Os primeiros escritos sagrados apareceram por volta de 1440 ou 1290 a.C., depois que o

povo saiu do Egito, e as últimas obras do NT, isto é, os escritos joaninos, foram escritos no final

do século I d.C. Temos aí mais de um milênio.

4 cDOWELL, JOSH – Responde

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Ela foi escrita por várias pessoas, que escreveram em épocas, lugares e circunstâncias

diferentes. Essas pessoas divergiam em sua educação e cultura, exemplo:

Moisés – educado na corte de Faraó;

Paulo – um doutor;

Pedro – pescador.

A Bíblia foi escrita em época e em lugares diferentes:

Ezequiel escreve da Babilônia;

Paulo escreve a maioria de suas cartas na prisão;

Davi escreveu alguns dos salmos em tempos de crise e de fuga.

A Bíblia foi escrita em três continentes: África, Ásia e Europa, e em três idiomas:

Hebraico, Aramaico e Grego.

Seria de esperar que o resultado de tal diversidade resultasse em um texto caótico, cheio de

contradições e distorções. Mas a Bíblia é consistente, coerente e digna de confiança. Nenhum dos

autores ou livros é interna ou externamente contraditório em si.

3.2 – A sua exatidão histórica.

Outro aspecto que separa a Bíblia de outros tipos de literaturas antigas é a sua fidelidade

exatidão histórica. Dentro de suas páginas existem inúmeras referências a eventos, lugares e

pessoas que são comprovados pela história e arqueologia.

3.3 – A Sua Indestrutibilidade.

As Escrituras sobreviveram ao tempo, à perseguição e à crítica.

Em 303 d.C., Diocleciano destruiu várias Escrituras.

Durante a Reforma, quando a Bíblia foi traduzida para a língua do povo, a igreja católica

impôs severas restrições, até mesmo queimando exemplares dela.

Voltaire – ateu francês – morreu em 1778, predisse que 100 anos a partir de sua época, o

Cristianismo estaria extinto. Mas, ao invés disso, apenas vinte e cinco anos após sua morte, a

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Sociedade Bíblica Inglesa foi fundada, e as mesmas impressoras que haviam imprimido a sua

literatura infiel, tem sido usadas desde então para imprimir a Bíblia.

3.4 – A Sua Franqueza.

Um aspecto espantoso da Bíblia é a franqueza com a qual ela trata as deficiências das pessoas

e até mesmo as falhas daquelas que escreveram a Bíblia.

Ela pinta um retrato realista de suas personagens, resistindo à tentação de modificá-los ou

aperfeiçoá-los.

A Bíblia não encobre o pecado de personagens importantes, como a embriaguez de Noé (Gn

9.20-21), o pecado de Davi (II Sm 11), o desentendimento entre Paulo e Barnabé (At 15.36-39).

O fato de as personalidades bíblicas serem imperfeitas não prejudica a mensagem da Bíblia;

é a santidade do Senhor Deus que ela proclama, não a perfeição dos seus seguidores e profetas.

3.5 – Suas Profecias.

Um dos aspectos mais incríveis da Bíblia são as suas profecias. Em nenhum outro livro

encontramos a riqueza das mensagens proféticas claramente apresentadas anos antes de seu

cumprimento e todas elas exatamente cumpridas na história.

Gn 3.15 - Gl 4.4; Lc 2.7; Ap 12.5;

Gn 12.3; 18.18 – descendente de Abraão; At 3.25; Mt 1.1; Lc 3.34; Is 9.7; 11.1-5; II Sm

7.13 – Mt 1.1-1-6;

Mq 5.2 – seu lugar de nascimento – Mt 2.1; Lc 2.4-7; Is 7.14 – Mt 1.18; Lc 1.26-35, Etc.

3.6 – A sua centralidade em Cristo.

Outro aspecto único e maravilhoso da Bíblia é o seu Cristo centrismo. Do começo ao fim,

tanto no A.T. como no N.T., a Bíblia é um testemunho de Jesus Cristo, Lc 24.25-27; Jo 5.39-40.

O A.T. registra os preparativos para a vinda de Cristo; Is 40.3; o tema para o qual o A.T. está

apontando é o estabelecimento do Reino de Deus através do reino do Messias.

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Gênesis

Adão – é o tipo daquele que havia de vir – Rm. 5:14;

A semente da mulher seria Cristo que esmagaria a cabeça da serpente – Gn 3.15; Gl 4.4;

O sangue de Abel – o homem justo, é comparado ao sangue derramado na cruz – Hb 12.24;

Melquisedeque é comparado com o Filho de Deus – Gn 14.18-20 = Hb 7.1-10.

Êxodo

O Cordeiro Pascal – Êx 12; Jo 1.29; I Co 5.7;

O maná – Êx 16; Jo 6.31-33;

A Rocha ferida – Êx 17.1-7; I Co 10.4.

Levítico

Os sacrifícios – figura do sacrifício de Cristo na cruz – Hb. 9.12-14; 10:1-4, 11-14.

A serpente de bronze – representando o pecado, sendo derrotado na cruz – Nm. 21:4-9; Jo.

3.14-16. É uma figura da crucificação de Cristo.

Nos Salmos

2 - O Ungido;

8 - O Filho do homem e sua humilhação;

22 - Os Sofrimentos na Cruz;

69 - Os insultos e o fel como vinagre;

72 - O Rei da Paz;

110 - O Senhor glorificado.

Códice: papiros encadernados.

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PROFETAS:

ISÁIAS

7:14 – o Emanuel nascido de uma virgem;

9:6 – o Filho, Deus Forte, o Príncipe da Paz;

11:1-10 – o Rebento do tronco de Jessé;

40:1-10 – o Deus que virá;

53 – o Homem de dores;

61:1-2 – o Ungido de Deus, o Restaurador;

63:1-6 – O Juiz.

➢ O A.T. registra os preparativos da vinda do Messias.

Os Evangelhos registram a vinda de Jesus Cristo, e suas obras.

O Livro de Atos – registra a proclamação das boas novas.

As cartas explicam o evangelho e suas implicações em nossa vida.

O Livro de Apocalipse – descreve a segunda vinda de Cristo e o estabelecimento de seu Reino.

Do início ao fim, a Bíblia glorifica Jesus Cristo e centraliza-se nEle.

3.7 – A sua integridade intelectual.

Embora tenha sido escrita entre 2 e 3 mil anos atrás, a Bíblia continua tendo o poder de

desafiar homens e mulheres inteligentes a desenvolver a sua total capacidade intelectual no estudo

de seus ricos ensinamentos e sua história. Ela pode enfrentar os ataques intelectuais mais rigorosos.

A Bíblia diz que devemos amar o Senhor nosso Deus com todo o nosso entendimento (Mt

22.37).

A Palavra de Deus vai prevalecer e continuar satisfazendo e estimulando o intelecto de

qualquer um que sinceramente investigue suas reivindicações.

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3.8 – Seus ensinamentos.

Outro aspecto maravilhoso da Bíblia é o que a separa de todos os outros livros religiosos e

dá testemunho de sua origem divina.

Os ensinamentos da Bíblia não podem ser explicados como um produto do ambiente

religioso de seus autores, uma vez que muitos de seus ensinamentos contrariavam a filosofia

religiosa contemporânea e foram difíceis para os próprios judeus aceitarem.

Grande parte dos ensinamentos especiais da Bíblia centralizava-se no Deus pessoal que ela

revela. Dt. 6:4-5; Is. 43:10-11; I Co. 8:4-6.

A natureza e os atributos de Deus na Bíblia são também diferentes dos conceitos de Deus

nas culturas ao redor dos judeus.

A Bíblia revela um Deus que é infinito, pessoal, que cuida dos seres humanos como um Pai

e que personifica o amor, o respeito, a justiça e a misericórdia. Isso está em oposição aos outros

deuses do Mundo Antigo que deviam ser obedecidos e servidos por causa do medo, e não por

causa do amor respeitoso. Lc. 11:9-13.

Em muitos outros ambientes religiosos, Deus deve ser obedecido para que os fiéis sejam

abençoados. Na Bíblia, somos ensinados a obedecer a Deus por amor. Jo. 14:15.

3.9 – Seu poder transformador de vidas.

Se ela é realmente a Palavra de Deus, deve demonstrar sua capacidade de transformar vidas.

Devemos primeiro observar que a Bíblia declara que Jesus Cristo pode preencher o vazio

espiritual de todas as pessoas Mt 5.6; 11.18-30; Jo 4.14; 10.10.

4. A Origem da Bíblia.

Como foi formada a Bíblia? Como chegou até nós? A maioria das pessoas que a lêem não

tem a mínima idéia de como ela chegou até nós.

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Ela é o livro mais lido do mundo, “e tem esse valor universal porque ela vem de Deus, e traz

consigo a graça da luz para todos os homens de boa vontade”5.

Mas o processo pelo qual ela chegou até nós ainda é complexo. Ela veio de Deus, mas não a

recebemos como a temos, ela não caiu do céu pronta em várias versões, com capa de couro de

luxo, no entanto, como já vimos, passou por um longo processo até chegar a sua forma final, e foi

compilada por várias pessoas.

Em seus escritos, a Bíblia não expõe nenhum sistema teológico, mas é a narração do falar e

do agir de Deus. Cada um desses escritos tem a sua história própria; Ela não afirma ter caído pronta

do céu como revelação, ou ter sido ditada de uma só vez; todavia, ela fornece informações sobre

suas origens.

4.1 – A formação do A.T.

Antes de falarmos da formação do A.T. é necessário explicar porque a Bíblia é dividida em

duas partes, em AT e NT; por que chamar a Bíblia Hebraica de AT?

O vocábulo “Testamento”, dentro das designações Antigo Testamento e Novo Testamento,

dada as duas divisões principais da Bíblia, recua ao termo latino “testamentum” e até ao termo

grego “diathekê” vocábulo este que, na maior parte de suas ocorrências na Bíblia grega significa

“pacto” e não testamento.

Em Jr. 31:31 ss. É predito um novo “pacto” (hebraico “berithi, LXX diathekê) que

ultrapassará aquele que foi estabelecida por Yahweh com Israel no deserto (Êx 24.7ss).

Quando ele diz “nova”, torna antiquada a primeira (Hb 8.13). Os escritores do N.T. vêem o

cumprimento da profecia sobre o novo pacto na ordem inaugurada pela obra de Cristo.

Suas próprias palavras de instituição (I Co 11.25) dão autoridade a essa interpretação.

Os livros do A.T. são assim chamados pela sua última associação com a história do Antigo

Pacto, e os livros do N.T. são assim denominados por serem os documentos básicos do “Novo

Pacto”.

5 R. de Vaux-Apud-W.Harrington. Chaves para a Bíblia p.6

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Os termos A.T. (Palaia diathekê) e N.T. (Kainê diathekê) para as duas coleções de livros,

entraram no uso cristão no final do segundo século de nossa era.6

Antes de cunhado o termo AT, a coleção dos livros do AT era conhecido pelos judeus como

“Tanak”, ou seja, a acrossemia das primeiras letras das três divisões da Bíblia Hebraica: Tora (lei

– Pentateuco), Nebhim (profetas) e Kethubhim (escritos)7.

A formação AT – O AT, como o temos hoje, possui uma longa história. Produto de épocas

e lugares distantes, ele passou durante séculos por um processo de edição, compilação, cópia e

tradução. Documentos de dezenas de autores, abrangendo quase um milênio, foram reunidos e

transmitidos por mãos devotas mais falíveis8.

A história sagrada começa com a escolha de Abraão feita por Deus por volta do séc. XIX

a.C., e as origens do A.T., as tradições formadas em torno dos patriarcas remotam, ao germe

(embrião, a parte da semente que forma a planta), a Abraão, o homem das promessas divinas, e a

seus descendentes imediatos. Contudo foi Moisés, o líder e o legislador, quem no século XIII, de

uma variegada multidão de refugiados formou uma nação, iniciou um poderoso movimento

religioso e deu impulso para a grande obra literária que é a dádiva de Israel – e em última análise

de Deus – à humanidade.

A partir daqui inicia-se o registro da revelação de Deus.

O Pentateuco traz a marca de Moisés, mas a obra, como nós a conhecemos, recebeu sua

forma final muitos séculos depois de Moisés.

A Literatura profética teve início com Amós e Oséias no século VIII e foi completado por

Joel, Ageu, Zacarias e Malaquias no século IV a.C.

O século VI a.C, que viu a forma final dos provérbios e o aparecimento de Jó, foi a

época áurea da literatura sapiencial, mas o movimento tinha começado sob Salomão no século X

a.C. Os livros históricos se estendem de Josué, Juízes, Samuel, Reis...

6 O Novo Dicionário da Bíblia – p. 217

7 GOTTWALD, Norman K. Introdução Socioliterária à Bíblia Hebraica p. 13 8 HARRINGTON, W. Chaves para a Bíblia p. 13

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Muito do A.T. está baseado na tradição oral. A parte que vem no início de nossa Bíblia – do

Pentateuco – a Samuel se baseia em muitas tradições orais centrada principalmente em torno dos

patriarcas, de Moisés, de Josué, os Juízes, Samuel, Davi e posteriormente numa seção dos Reis,

Elias e Eliseu.

Frequentemente, a data de um livro bíblico não é indicação da data do material contido e,

quando falamos de tradições, não excluímos a possibilidade – na verdade, a certeza de que muitas

delas podem ter sido redigidas bem cedo.

No período da monarquia, mesmo com o fracasso de Saul, a idéia da monarquia não foi

abandonada. Foi feito um novo começo com Davi, que teve êxito em estabelecer um reino e mesmo

um modesto império. Tal situação foi mantida e explorada por seu filho Salomão.

A fim de conduzir a administração do reino e império, surgiu uma grande classe de escribas,

homens cultos. Os anais reais foram guardados e os assuntos do estado registrados e arquivados.

Esse expediente forneceu matéria-prima para os escritos de natureza histórica.

Muito cedo, no tranquilo reinado de Salomão (c. 970 – 931 a.C.), um escritor de dotes

excepcionais produziu a primeira obra do A.T., a história da corte de Davi. II Sm. 9-30, I Rs. 1 –

2.

Davi (c. 1010 – 970 a.C.), cuja habilidade poética é abundantemente testemunhada, foi o

autor de alguns salmos. Esses formam o núcleo do saltério.

A obra toda, que recebeu dele o seu impulso original, foi tradicionalmente atribuída a ele.

Foi em Israel que Elias e Eliseu apareceram, I Rs. 17 – II Rs. 1 (Elias) em II Rs. 2 – 13 (Eliseu).

Foi em Israel, também durante o reinado de Jeroboão II (783 – 743 a.C.), que os primeiros

dos assim chamados “profetas escritores”, Amós, Oséias, e logo depois Isaías e Miquéias surgiram

em Judá9.

9 Ibid pp. 12-20

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4.1.1 – Os livros do AT

Se perguntássemos a qualquer cristão que lê seriamente a Bíblia, quantos livros tem o A.T.,

ele responderia: 39 livros, e daria até a divisão deles, Pentateuco, históricos, profetas maiores e

profetas menores e poéticos. De fato, as nossas versões nos fornecem esses dados, mas, não era

assim que a Bíblia hebraica ou Tanak era dividida.

Esta divisão do A.T. segue a organização da Septuaginta (LXX – tradução do hebraico para

o grego realizado por volta do ano 250 a.C. por 70 escribas); foi depois desta tradução que o A.T.

foi organizado em:

Lei, Pentateuco 5 livros de Moisés;

Históricos – 12 Livros;

Profetas – 17 livros;

Poéticos – 5 livros.

Na Bíblia Hebraica, os livros são arranjados em três divisões:

1) Torá – Lei – O Pentateuco – isto é os 5 livros de Moisés – Gênesis, Êxodo, Levítico,

Números, Deuteronômio.

2) Os Profetas – caem duas subdivisões:

2.1) Os Profetas anteriores (Nebhim, yshônim) composto dos livros de Josué, Juízes,

Samuel e Reis.

2.2) E os profetas posteriores (Nebhim ‘aharônim) composto dos livros de Isaías,

Jeremias, Ezequiel e o rolo dos 12 profetas (de Oséias a Malaquias). Na Bíblia Hebraica, esses 12

escritos dos profetas são agrupados em um único rolo (em nossas versões são separados).

3) Os Escritos contêm os restantes dos livros – primeiramente Salmos, Provérbios e Jó, então

os cinco rolos (meghillôth), a saber, Cantares, Rute, Lamentações, Eclesiastes e Ester, e,

finalmente o Livro de Daniel, Esdras, Neemias e Crônicas.

O total é tradicionalmente computado como 24 livros, ainda que esses 24 correspondam

exatamente à nossa computação comum de 39, visto que no Cânon hebraico, os profetas menores

são contados como um só livro (em contraste com as nossas versões onde eles são separados),

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enquanto consideramos Samuel, Reis, Crônicas e Esdras – Neemias (do cânon hebraico), com dois

livros cada.

Na Seputaginta, os livros são arranjados de conformidade com a similaridade dos assuntos.

O Pentateuco é seguido pelos poéticos e sabedoria, e esses pelos livros proféticos.

Em certos aspectos essa ordem é mais fiel à seqüência cronológica do que a que aparece na

Bíblia Hebraica. Por exemplo, o Livro de Rute aparece imediatamente depois de Juízes (visto que

registra acontecimentos verificados nos dias em que julgavam os juízes), e obra do cronista aparece

na ordem Crônicas, Esdras e Neemias.

Na Tríplice divisão da Bíblia é refletida na linguagem de Lucas (Lc 24.44 – Lei de Moisés,

os profetas..... Salmos), mas comumente, o N.T. se refere à Lei e aos Profetas (Lc 16.29).10

4.1.2 – As Línguas do A.T.

As duas línguas do A.T., hebraico e aramaico, são membros de uma família de línguas irmãs

chamados “semíticas”, palavra derivada de Sem, filho e Noé.

a) Hebraico - Como já citamos acima, o hebraico pertence ao grupo ocidental dos idiomas

semíticos. Está mais de perto relacionado com o idioma da antiga Ugarite, a capital de um reino

vassalo do norte da costa da Síria (atualmente Rãs Shamra), bem como ao fenício e o moabita.

No A.T. é chamado de “a língua (literalmente “lábio”) de Canaã (Is. 19:18), ou judaico (II

Rs. 18:26; cs. Is. 36:11 ss; Ne. 13:24).

A designação hebraica ocorre pela primeira vez no livro de Bem Siraque (c. 130a.C.).

Há uma grande afinidade entre o hebraico e outras línguas cananéias.

Os textos hebraicos mais antigos foram escritos em caracteres paleo-hebraicos 11 ,

emprestados dos fenícios e depois adaptados.

10 Novo Dicionário da Bíblia, p. 217

11 Paleo = é um termo grego que significa antigo

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O caráter paleo-hebraico, ao que parece, deu lugar à escrita quadrada, mais peculiar ao

aramaico – 200 a.C.12.

As vogais escritas (ou vocálicos) que aparecem em Bíblias hebraicas impressas foram

acrescentadas, após 500 D. C. pelos massoretas, um grupo de estudiosos judeus, que conseguiu

padronizar a pronúncia do hebraico bíblico conforme a compreendiam13.

O Hebraico é uma língua tradicionalmente consonantal, sem vogais. Uma vez que as mesmas

combinações das consoantes hebraicas poderiam soar de maneira diferente com vogais diferentes.

Quando o hebraico deixou de ser predominantemente uma língua falada, a pronúncia das palavras

ficou esquecida.

Os massoretas (hb “massora = tradição”) remediaram esse problema inventando um sistema

de símbolos colocados perto das consoantes e mesmo assim não interferiam de maneira alguma no

texto.

b) Aramaico – O aramaico, um cognato bem próximo do hebraico, e não derivado deste, é

o idioma em que estão escritas as passagens de Dn. 2:4-7, 28; Ed. 4:8 – 6:18; 7:12-26; Jr. 10:11,

duas palavras em Gn. 31:47, e também os “targuns” (traduções para o

aramaico de porções do A.T.).

Quando o império assírio começou a entrar no Ocidente em meados do século VIII, o

aramaico foi adotado como língua oficial diplomática e comercial. No auge do império persa (c.

500), essa era a segunda língua, e não a primeira, dos povos do Oriente Próximo, desde o Egito

até a Pérsia.

Mais tarde, ela foi adotada como a primeira língua de muitos plebeus durante o cativeiro e

depois dele. Assim, os autores de Esdras e Daniel não sentiram necessidade de fornecer, em seus

escritos, traduções das longas passagens em aramaico.

12 O Novo Dicionário da Bíblia p 933

13 LASOR, William. Introdução ao Antigo Testamento p. 662

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4.1.3 – As Versões Antigas

A expressão “versões antigas” refere-se a certo número de traduções do A.T., feitas entre o

fim da era pré-cristã e os primeiros séculos da era cristã. A escassez de manuscritos hebraicos

antigos torna essas versões importantíssimas como testemunhos das tradições primitivas.

a) O Pentateuco Samaritano - O povo que vivia em Samaria era o resultado da

miscigenação de judeus e assírios. Depois do cativeiro da Babilônia, eles se separaram

totalmente dos judeus, e a partir de então o seu desenvolvimento seguiu de forma independente.

Eles possuíam seu próprio texto da Bíblia (apenas o Pentateuco) e o seu próprio templo no monte

Gerizim (cf. Jo 4.7,9,42).

Os samaritanos criam que apenas o Pentateuco (os cinco primeiros livros do AT) era a

Palavra de Deus inspirada. Eles rejeitavam tanto os profetas como os escritos. O Pentateuco

Samaritano, escrito de maneira especial, sem vogais, difere do texto massorético.

b) Os Targuns – eram paráfrases judaicas do A.T., escritas principalmente em língua

aramaica. Um exemplo desses targuns se encontra no próprio AT. Quando Judá retornou do

cativeiro, muitas pessoas haviam esquecido o hebraico e falavam então o aramaico. Essa mudança

tornou as Escrituras incompreensíveis para elas. Os judeus instruídos que compreendiam as duas

línguas liam em voz alta aos cidadãos em hebraico e então faziam uma paráfrase da passagem em

aramaico (cf. Ne 8.8).

Essa prática continuou até que todo o AT, com exceção das passagens já escritas em

aramaico em Daniel e Esdras, recebesse paráfrase aramaica.

Os targuns, por mais práticos que fossem nunca receberam a autoridade santa registradas nos

originais hebraicos.

c) A Septuaginta (LXX) – é a tradução padronizada do AT. Foi composta para atender às

necessidades dos judeus de fala grega no Egito durante o período helenista (250 a.C.).

Essa grande comunidade judaica se concentrava na cidade de Alexandria. Os líderes judeus

ali começaram a traduzir o AT para o grego por volta de 250 a.C..

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De acordo com a tradição, a Septuaginta foi preparada por setenta judeus cultos durante um

período de setenta dias, cada um trabalhando separadamente.

Deus tanto honrou seu esforço, diz a tradição, que quando os mestres se reuniam, suas

traduções eram idênticas, sob todos os aspectos.

Contudo, na verdade, a LXX levou vários séculos para ser concluída, e como tradução varia

na qualidade. Algumas partes são versões fiéis do hebraico, outras não. Em algumas partes ela

diverge do texto massorético.

A importância da LXX é que ela constitui um testemunho antigo do texto do AT Até mesmo

nos pontos em que o texto se distingue do texto massorético, a porcentagem de diferenças não é

grande, e elas não apresentam alterações significativas no sentido14.

4.2 – A Formação do NT

A formação do NT foi bem diferente do AT. Enquanto este foi escrito em um período de

mais de mil anos, aquele foi escrito em menos de um século, isto é, todo o NT foi escrito dentro

do I século da era cristã.

Assim como os judeus consideravam a Torá ou Pentateuco, como a parte principal do A.T.,

os cristãos consideram os quatro evangelhos como o centro do N.T.

A origem do NT está no cumprimento da promessa de Deus feita no A.T. Os historiadores,

os poetas e os profetas que escreveram o AT foram homens que ardentemente anteciparam o

cumprimento do programa redentivo de Yahweh, a vinda de seu Ungido. Suas predições inspiradas

se concretizaram gloriosamente na vida de Jesus, o Messias. Portanto, o NT completa a história

cósmica iniciada no plano veterotestamentário de Deus para trazer salvação à terra.

A Nova Aliança foi ratificada com o sangue de Cristo, e uma pessoa entra na relação dessa

aliança quando se aproxima de Deus de acordo com os seus termos. Essa aliança redentora um

tema unificador que ata num só feixe todo o NT (cf. Lc 22.20; I Co 11.25; Hb 8.7-13; 9.15-17).

14 MCDOWEL, Johs. Responde. pp. 31-36

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O NT, menos de um terço da extensão do AT, foi escrito aproximadamente de 45 – 95 d.C.

em grego Koinê.

Dos nove autores neotestamentários, somente:

Lucas era um gentio genuíno;

Paulo escreveu treze livros;

João escreveu cinco livros;

Lucas e Pedro dois;

Mateus, Marcos, Tiago, Judas e o autor de hebreus, cada um deles escreveu um livro.

Estes livros costumam ser arranjados em três períodos:

1) A vida de Cristo, de 4 a 33 d.C. (Mateus, Marcos, Lucas e João). Devemos ressaltar que

só depois de duas décadas é que os evangelhos foram escritos; portanto, eles não foram os

primeiros livros do N.T. a serem escritos.

2) A expansão da igreja em atos, de 33 a 62 d.C. (e é durante esse período registrado no

livro de Atos que a maioria das epístolas foram escritas: Romanos, I e II Coríntios, Gálatas,

Efésios, Filipenses, Colossenses, I e II Tessalonicenses, Filemon e Tiago);

3) A consolidação da igreja depois de Atos de 62 a 95 d.C – N.T., a saber: I e II Timóteo,

Tito, Hebreus, I e II Pedro, I, II e III João, Judas e Apocalipse.15

4.2.1 – Os Livros do NT em ordem cronológica:16

Nº Livro Autor Data de Composição

1 Gálatas Paulo 49 – 50 d.C.

2 I Tessalonicenses Paulo 50 – 51 d.C.

3 II Tessalonicenses Paulo 50 – 51 d.C.

4 I Coríntios Paulo 54 d.C.

5 II Coríntios Paulo 55 d.C.

6 Romanos Paulo 55 d.C.

7 Tiago Tiago – meio irmão de Jesus Por volta de 50 d.C

8 Marcos João Marcos 55 – 60 d.C.

15 WILKINSON, Bruce. Descobrindo a Bíblia pp. 326,327

16 HOUSE, H. Wayne – O Novo Testamento em Quadros. pp. 14,15

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9 Filemon Paulo 60 d.C.

10 Colossenses Paulo 60 d.C.

11 Efésios Paulo 60 d.C.

12 Lucas Lucas 60 d.C.

13 Atos Lucas 61 d.C.

14 Filipenses Paulo 61 d.C.

15 I Timóteo Paulo 62 ou 63 d.C.

16 Tito Paulo 63 d.C.

17 I Pedro Pedro 63 – 64 d.C.

18 II Pedro Pedro 64 – 66 d.C.

19 II Timóteo Paulo 67 d.C.

20 Hebreus Autor desconhecido 60 – 70 d.C.

21 Judas Judas – meio irmão de Jesus 60 – 70 d.C.

22 Mateus Mateus 60 – 70 d.C.

23 João João 80 – 90 d.C.

24 I João João 80 – 90 d.C.

25 II João João 80 – 90 d.C.

26 III João João 80 – 90 d.C.

27 Apocalipse João 80 – 95 d.C.

Obs.: Essas datas são todas aproximadas.

4.2.2 – A linguagem do NT

A linguagem na qual foi escrito e têm sido preservados os documentos do N.T. é o “grego

comum” (Koinê), que era a língua franca das terras do oriente próximo e do Mediterrâneo nos

tempos Romanos. Havia sido estabelecido sobre esse extenso território mediante as conquistas e

o expresso propósito cultural de Alexandre o Grande.17

O período “Koinê” abrange o período de 330 a.C. até cerca de 130 d.C. Neste período, a

língua grega tornou-se universal, sendo livremente utilizada em todo o mundo civilizado.

Este grego é o que foi utilizado para a composição do NT. Era a língua comum (koinê) do

povo no seu dia a dia.18

17 O Novo Dicionário da Bíblia p. 938

18 REGA, Lorenço Estelio – Noções do Grego Bíblico p. 1

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5. O Cânon das Escrituras.

5.1 – Definição:

A palavra “Cânon” é derivada de uma raiz semítica (assírio quni; ugarítico: Qn; hebraico

(Qâneh).

“Qâneh” ocorre 61 vezes no A.T. e é sempre empregada no sentido literal (veja I Rs.

14:15; Jó 40:21; Is. 36:6; 42:3; Ez. 40:3, 5-7), significando “cana” (planta que era usada para

medir e pautar), “balança” (Is. 46:6), e também, “a cana para trançar os cestos, ou o bastão reto”.

A palavra grega (kânon) é derivado da raiz hebraica “Qàneh”, a portuguesa “cânon”, é

proveniente do grego, passando para o latim “Cânon”. Literalmente “cânon” é uma vara ou régua

de medir.

Na literatura secular, a palavra cânon é usada desde Homero (séc. IX a.C.), significando

“qualquer coisa que pode ser segurada contra outra coisa a fim de esticá-la, enrolá-la ou medi-

la”.19

Quando a palavra era aplicada à gramática, significava uma regra; à matemática, história e

astronomia tinha o sentido de tabelas e listas de datas e de números; à arte, pauta; à arquitetura,

haste; em literatura equivalia a uma lista de obras que pertenciam a um determinado autor. Dessa

forma, quando falamos de cânon de Platão (427 – 347 a.C.) estamos nos referindo às obras que

podem ser seguramente atribuídas à sua autoria.20

No uso eclesiástico, “cânon” representa a regra de fé, especialmente, a lista de escritos

reconhecidos pela igreja como documento de revelação divina.

A igreja aplicou essa regra para distinguir os documentos inspirados por Deus de outros

escritos que apareceram posteriores aos inspirados.

19 BROWN, Colin. NDITNT p. 2019 20 COSTA, HERMISTEN M.P.D.A. – A Inspiração e Inerrância das Escrituras p. 20

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O número de livros que foram redigidos em paralelo aos livros inspirados era grande, e

reivindicavam também autoridade divina; para separar os livros inspirados dos não inspirados e

determinar os que fariam parte da Bíblia e os que não fariam, foi aplicado a eles essa regra de

autenticação.

O Cânon é portanto “a vara de medir” ou padrão que utilizamos para julgar a inspiração, a

autenticidade e a veracidade de uma obra.

5.2 – Testes para a Inclusão de um Livro no Cânon.

Não sabemos exatamente quais foram os critérios usados para escolher os livros canônicos.

Possivelmente houve 5 princípios.

5.2.1 – Revela autoridade? – Veio da parte de Deus? (Ele veio com o autêntico “assim diz

o Senhor”?).

5.2.2 – É profético? – Foi escrito por um homem de Deus?

5.2.3 – É autêntico? (os pais da igreja tinham a prática “em caso de dúvida, jogue fora”).

Isso acentua a validade do discernimento que tinham sobre os livros canônicos.

5.2.4 – É dinâmico? – Veio acompanhado do poder divino de transformação de vidas?

5.2.5 – Foi aceito, guardado, lido e usado? – Foi recebido pelo povo de Deus? Pedro

reconheceu as cartas de Paulo, como Escrituras em pé de igualdade com as Escrituras do A.T. (II

Pe. 3:16).

Deve-se ter em mente que a igreja não criou o Cânon, nem os livros que estão incluídos

naquilo que chamamos Escrituras. Ao contrário, a Igreja reconheceu os livros que foram inspirados

desde o princípio. Foram inspirados por Deus ao serem escritos.21

5.3 - Cânon do Antigo Testamento.

21 MCDOWELL, Johs. Responde. pp. 37,38

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Quando falamos do cânon do A.T., queremos dizer que o A.T. é uma coleção encerrada de

escritos inspirados pelo Espírito de autoridade normativa e considerada como a regra para a nossa

fé e vida.

5.3.1– Seu caráter auto-autentificador.

Os livros do A.T., tal como aqueles do N.T., foram inspirados por Deus. Mas o Espírito

Santo também operou nos corações do povo de Deus a tal ponto que vieram aceitar esses livros

como a Palavra de Deus e submeteram-se à sua autoridade divina. A providência singular de Deus

se estendeu na origem dos livros separados, como também à sua coleção; é por causa disso que o

número de livros do A.T. é o que é, nem mais e nem menos.

Levantam-se diversas questões, portanto:

Que sabemos sobre esses atos e considerações humanas?

Quando é que o cânon ou partes do mesmo foram reconhecidos como canônicos?

Como foi efetuada a coleção dos escritos sagrados?

Quem exerceu influência sobre os vários estágios de seu crescimento?

A Bíblia é “autopistos”, “auto-autentificadora”, que irradia de si mesma sua divina

autoridade.

Pelo testemunho interno do Espírito Santo, o homem recebe uma visão que o capacita a

perceber essa luz. Conforme diz a Confessio Bélgica art. 5: “Cremos sem qualquer dúvida em tudo

quanto está implicado nelas; e não tanto porque a Igreja as aceita e considera como tais, mas

especialmente porque o Espírito Santo presta testemunho em nossos corações de que elas provêm

de Deus”.

5.3.2 – Reconhecimento dos livros separados.

Neste ponto, discutiremos os informes que o próprio A.T. apresenta no que respeita à coleção

e reconhecimento dos livros. Ao fazê-lo, seguiremos a ordem dos livros na Bíblia Hebraica.

a) A Lei.

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Dentro da própria época de Moisés, as coleções de leis foram postas em forma escrita.

Conforme se entende por Êx 24.4-7, Moisés formou o “Livro da Aliança” e o povo reconheceu

sua autoridade divina.

Dt. 31:9-13 (vd. Também, vers. 24 e sgs.) nos informa que Moisés anotou “esta lei” isto é,

os pontos essenciais do livro de Deuteronômio, e providenciou para assegurar que sua autoridade

divina fosse reconhecida em futuro remoto. Muitos testemunhos demonstram que, no decurso da

história de Israel, a Lei mosaica foi considerada a regra divina da fé e da vida (exemplo Is. 1:7-8;

I Rs. 2:3; II Rs. 14:6, etc.). Não sabemos com certeza quando o Pentateuco foi finalmente

completado, mas podemos supor que desde o princípio era dotado de grande autoridade.22

O Pentateuco parece ter sido oficialmente reconhecido em Judá no período de Esdras (cf.

Ed. 7:10, 14, 26; Ne. 8:1,2), que trouxe da comunidade do exílio na Babilônia o documento

completado e estabeleceu na comunidade pós-exílica sua autoridade religiosa e legislativa.23

b) Os Profetas.

Três fatores em particular teriam contribuído para o reconhecimento dos “profetas

anteriores” (Josué, Juízes, Samuel, Reis) como autoritativos.

Em primeiro lugar, esses livros descrevem os intercursos do Senhor com seu povo escolhido.

Em segundo lugar, fazem-no no mesmo espírito da Lei e dos profetas.

Em terceiro lugar, os autores teriam sido pessoas oficiais em sentido mais ou menos restrito.

Por causa de sua própria natureza, os escritos dos “profetas posteriores” (Isaías,

Jeremias, Ezequiel e os doze “profetas menores”) foram considerados autoritativos desde o

início em círculos maiores ou menores.

Que suas predições sobre desastre foram cumpridos no exílio sem dúvida contribui para a

extensão da aceitação de sua autoridade.

22 O Novo Dicionário da Bíblia, p. 247

23 LA SOR, William. Introdução ao Antigo Testamento p. 655

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Pelo fato de que um profeta algumas vezes cita outro, torna-se claro que atribuíam autoridade

aos seus predecessores. De fato, mas de uma vez algum profeta repreendeu Israel por não terem

ouvido aos seus predecessores (cf. Sf. 1:4ss; Os. 6:5, etc). Is. 31:16 provavelmente menciona o

rolo no qual as profecias de Isaías foram anotadas como o livro do Senhor. Dn 9:2 fala sobre “os

livros”, expressão que evidentemente significava uma coleção de escritos proféticos, incluindo,

entre outras, as profecias de Jeremias. Pelo contexto torna-se óbvio que é atribuída, autoridade

divina a esses escritos proféticos.24

Podemos ver que entre os profetas havia um objetivo comum. Independentemente de épocas

ou circunstâncias suas profecias eram coerentes com os propósitos de Deus, primeiramente para

com Israel, e também para toda humanidade. Não há contradição entre eles, isso demonstra que a

fonte de suas profecias era o próprio Deus. As suas palavras não eram meramente suas, mas de

Deus. “Homens santos falaram da parte de Deus, impelidos pelo Espírito Santo” (II Pe 1.21).

c) Os Escritos.

A terceira porção do cânon hebraico contém livros de caráter diverso:

No que tange ao livro de Cantares de Salomão, mesmo supondo que o livro não tivesse sido

completo antes do exílio, continua contendo material antigo (exemplo Ct 6:4). Não há motivo para

negar a possibilidade que já no período antigo, esses cânticos de amor, nos quais Salomão aparece

como um dos personagens principais fossem considerados como escritos sagrados, pelo menos até

certo ponto.

Não podemos ficar surpresos com o fato de que o saltério tenha sido reputado escritura

sagrada. Muitos dos salmos podem ter servido como formulários para o santuário. Davi teve papel

importante na escrita dos salmos. Vários salmos têm totalidade profética (exemplo: 50; 81; 110).

No que diz respeito aos livros de sabedoria, aos quais pertencem os de Provérbios e

Eclesiastes e, até certo ponto, o de Jó, devemos trazer na mente o fato de que a sabedoria, e

especialmente o poder de agir como mestre sábio, era reputado como dom excepcional de Deus

(cf. I Rs. 3:28; 4:29; Jó 38 e segs.; Sl 49:1-4; Pv 8; Ec 12:11; etc.).

O fato de que muitos provérbios vieram de Salomão certamente tem contribuído para o

reconhecimento do Livro de Provérbios.

24 O Novo Dicionário da Bíblia, p. 28

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Observações similares às que são feitas em (b), acima, podem ser feitas no tocante aos livros

históricos e proféticos de Esdras, Neemias, Rute, Ester, Lamentações, Daniel. Semelhantemente,

os dois livros de Crônicas, embora diferindo do caso dos livros dos Reis, foram escritos no mesmo

espírito da Lei e dos Profetas.25

5.3.3 – O Testemunho de Cristo a respeito do Cânon do AT

Durante o ministério de Jesus, e quando os livros do N.T. estavam surgindo, o AT já existia

como uma coleção completa, à qual era atribuída autoridade divina.

Lucas 24.44 – No cenáculo, Jesus disse aos discípulos: “que importava que se cumprisse tudo

o que de mim está escrito na Lei de Moisés, nos Profetas e nos salmos”. Com essas palavras, Ele

menciona as três divisões da Bíblia Hebraica – a Lei, os Profetas e os Escritos.

Lucas 11.51 (Mt. 23:35): “...desde o sangue de Abel até ao de Zacarias”. Aqui Jesus confirma

o testemunho que dá acerca da extensão do Cânon do AT Abel, como todos sabem foi o primeiro

mártir (Gn. 4:8). Zacarias é o último mártir citado (de acordo com a ordem dos livros do AT

hebraico). Foi apedrejado enquanto profetizava ao povo, no pátio da casa do Senhor (II Cr. 24:21).

Gênesis era o primeiro livro no Cânon hebraico, e Crônicas, o último. Em outras palavras, Jesus

disse “de Gênesis a Crônicas, ou como diríamos, de acordo com a nossa ordem dos livros, de

Gênesis a Malaquias”.

João 10:31-36; Lc. 24:44 – Jesus discorda das tradições orais dos fariseus (Mc. 7; Mt. 15), não

do conceito que tinham do cânon hebraico. “Não há indício de qualquer disputa entre Ele e os

judeus acerca da canonicidade dos livros do A.T.

5.3.4 – O Testemunho do NT acerca do AT como sendo Escritura Sagrada.

Além de Jesus, há no N.T. várias citações acerca do AT testemunhando-o como Escritura

Canônica.

Mateus 21:42; 22:29; 26:4-5, 56;

Lucas 24;

João 5:39; 10:35;

25 Ibid p. 248

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Atos 17:2, 11; 18:28

Romanos 1:2; 4:3; 9:17; 10:11; 11:2; 15:4; 16:26;

I Coríntios 15:3-4;

I Timóteo 5:18;

II Timóteo 3:16;

II Pedro 1:20-21; 3:16.

5.3.5– Testemunho de Escritores não Bíblicos

O mais antigo registro de uma divisão tríplice do AT é o prólogo do Livro de Eclesiástico

(escrito por volta de 130 a.c.). O prólogo, escrito pelo neto do autor diz: “A lei, e os profetas, e os

outros livros dos pais”. Existiam três divisões bem nítidas das Escrituras. Também em I Macabeus

1:56-57 (ambos considerados apócrifos) fala sobre os livros do A.T. Esses relatos dão testemunho

que no século 2 a.C. já havia uma coleção bem definida dos livros inspirados do AT.26

5.3.6 Josefo – Flávio Josefo registra em 95 d.C. (contra Apionem) que os escritos sagrados

dos Judeus dão à história da origem do mundo até o reinado de Artaxerxes I (465 – 425 a.C.). E

prossegue: “Tudo quando ocorreu do tempo de Artaxerxes em diante até o tempo presente, também

foi descrito, mas tais livros não foram fixados com segurança. Com essa declaração Josefo

provavelmente quer dizer que durante a vida de Esdras (c. do quinto século a.C.) pelo menos os

livros históricos do A.T. haviam sido completados.27

5.3.7 – O Cânon do AT e a Literatura Apócrifa.

Ao compararmos a Bíblia Protestante com a Bíblia católica, percebemos a existência de

livros nesta que não se encontra naquela. Por que esses “livros não foram também acrescentados

no cânon protestante”? Por quais motivos eles foram excluídos do nosso cânon?

a) Definição – O termo “apócrifo” vem do grego “apokruphos” e significa “oculto” ou

“escondido”.

26 McDOWELL, JOSH – Responde p. 40

27 O Novo Dicionário da Bíblia p. 249

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Apócrifos – são os livros acrescentados ao A.T. pela igreja católica (conhecidos pela igreja

católica como deuterocanônicos), os quais os protestantes afirmam não serem canônicos. Eles são

considerados apócrifos pelas obscuridades e incoerências em relação às Escrituras inspiradas.

b) Um resumo de cada livro apócrifo.

1 Esdras (cerca de 150 a.C.) fala da volta dos judeus à Palestina, após o exílio babilônico.

Baseia-se bastante nos textos de Crônicas, Esdras e Neemias, mas o autor acrescentou muito

material lendário.

2 Esdras (100 d.C.) é uma obra apocalíptica que contêm sete visões.

Tobias (início do segundo século antes de Cristo) é um breve romance. Contendo uma

mensagem fortemente farisaica, o livro enfatiza a Lei, os alimentos permitidos, as abluções

cerimoniais, a caridade, o jejum e a oração. A afirmação que nele existe de que as esmolas trazem

o perdão dos pecados é claramente contrária às Escrituras.

Judite (por volta de meados do segundo século antes de Cristo). Também é uma obra

fictícia e farisaica. A heroína desse romance é Judite, uma bela viúva judia. Quando sua cidade foi

sitiada, tomou consigo sua empregada bem como alimentos que a lei judaica permitia, e se dirigiu

à tenda do general atacante. O General estava embriagado e dormia, Judite apanhou a espada do

general e cortou a cabeça dele, depois de sair do acampamento levou a cabeça do general dentro

de uma sacola e pendurou no muro de uma cidade vizinha e o exército assírio, sem líder, foi

derrotada.

Adições a Ester (aproximadamente 100 a.C.) Dentre os livros do A.T., Ester é o único que

não faz qualquer menção de Deus. O livro nos diz que Ester e Mordecai jejuaram, mas não que,

especificamente oraram. Para compensar essa omissão, as Adições possuem longas orações

atribuídas aos dois, além de suas cartas supostamente escritas por Artaxerxes.

Sabedoria de Salomão (c. de 40 d.C.) foi escrito para evitar que os judeus caíssem no

ceticismo, materialismo e idolatria. Tal como em Provérbios, a Sabedoria é personificada. Existem

muitos sentimentos nobres expressos nesse livro.

Eclesiásticos ou sabedoria de Siraque (c. de 180 a.C.) revela um nível elevado de

sabedoria religiosa, algo semelhante à do livro canônico de Provérbios. Também oferece muitos

conselhos práticos.

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Baruque (aproximadamente 100 d.C.) se apresenta como tendo sido escrito em 582 a.C.

por Baruque, o escriba de Jeremias. Na realidade, o livro está provavelmente tentando interpretar

a destruição de Jerusalém, ocorrida em 70 d.C. O livro insta com os judeus para que não se

revoltem de novo, mas que se submetam ao imperador.

Acréscimos ao livro de Daniel. No primeiro século a.C., foi acrescentado o capítulo treze,

a história de Susana.

Bel e o Dragão – foi acrescentado na mesma época sendo o capítulo quatorze de Daniel. O

propósito principal era mostrar a loucura da idolatria.

A história do Dragão é obviamente uma história de caráter lendário. Junto com Tobias, Judite

e Susana pode-se classificar essas histórias como ficção puramente judaica. Tem pouco ou nenhum

valor religioso.

I Macabeus (século primeiro antes de Cristo) é talvez o mais valioso livro apócrifo, pois

descreve as façanhas dos três irmãos macabeus – Judas, Jonatã e Simão. É, ao lado dos escritos de

Josefa, a mais importante fonte de informações sobre esse período decisivo e movimentado na

história judaica.

II Macabeus (escrito no mesmo período) não é uma continuação de I Macabeus,

mas um relato paralelo, que trata das vitórias de Judas Macabeu. Geralmente se considera que é

um livro de caráter mais lendário que I Macabeus.28

c) Por que esses livros não foram canonizados?

Pelas seguintes razões:

Estão repletos de discrepâncias e anacronismos históricos e geográficos.

Ensinam doutrinas falsas que incentivam práticas divergentes dos ensinados pelas Escrituras

inspiradas.

Apelam para estilos literários e apresenta uma artificialidade no trato do assunto, com um estilo

que destoa do das Escrituras inspiradas.

28 MCDOWELL, Johs. Responde p. 435

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Faltam-lhes os elementos distintivos que conferem caráter divino às autênticas Escrituras, como

por exemplo, a autoridade profética e o sentimento poético e religioso.29

d) Testemunho histórico sobre a sua não-inclusão no Cânon.

1. Filo, um filósofo judeu de Alexandria (20 a.C. – 40 d.C.), foi prolífero nas citações do

A.T. e até chegou a reconhecer a divisão tríplice da Bíblia hebraica, mas jamais citou os apócrifos

como sendo inspirados.

2. O historiador judeu Josefo (30 – 100 d.C.) exclui claramente os apócrifos, informando

que são 22 os livros do A.T. também não cita esses livros como Escritura.

3. Os estudiosos judeus reunidos e Jâmnia (90 d.C.) não reconheceram os apócrifos.

4. Nenhuma deliberação ou concílio da igreja cristã, nos primeiros quatro séculos,

reconheceu os apócrifos como sendo inspirados.

5. Muitos dos grandes Pais da Igreja antiga atacaram pesadamente os apócrifos, como por

exemplo, Orígenes, Cirilo de Jerusalém e Atanásio.

6. Jerônimo (340 – 420), o grande erudito e tradutor da Vulgata, rejeitou a idéia de que os

apócrifos fizessem parte do Cânon. Inicialmente recusou até mesmo traduzir os livros apócrifos

para o latim, mas posteriormente fez uma tradução apressado de alguns deles. Depois de sua morte,

os livros apócrifos foram incorporados à Vulgata, tirados literalmente da versão velha latina.

7. Durante o período da reforma, muitos estudiosos católicos rejeitaram os apócrifos.

8. Lutero e os reformados rejeitaram a canonicidade dos apócrifos.

9. Não foi senão em 1546, numa atitude polêmica tomada no Concílio de Trento, dentro

da Contra-Reforma, que os livros apócrifos receberam pleno conhecimento canônico por parte da

Igreja Católica Romana.30

29 Ibid p. 42

30 Geisler e Nix-Apud-McDowell. Evidencias que exige um veredito p. 45

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Sempre é bom lembrar que na época de Jesus o cânon do AT já estava encerrado, e os livros

apócrifos desta época foram rejeitados pelos rabinos judeus como Escritura. O Cânon do AT, que

temos, é o mesmo dos judeus. Um dos motivos que levou a igreja católica acrescentar esses livros

no cânon bíblico foi a falta de base bíblica para sustentar a suas doutrinas tais como: oração pelos

mortos, purgatório, receber perdão através de esmolas. Sendo que as Escrituras não ensinam tais

coisas, eles apelavam para os apócrifos, onde há ênfase nesses tipos de doutrinas, contrário ao

ensino das Escrituras inspiradas.

Nota:

Para saber mais sobre a literatura apócrifa, leia o livro de David S. Russel, entre o

Antigo e Novo Testamento: o período inter-bíblico – Abba Press.

O CÂNON DO ANTIGO TESTAMENTO31

Bíblia Hebraica (24) Bíblia Protestante (39) Bíblica Católica (46)

Torá (5) Lei-Pentateuco (5) Lei (5)

Gênesis Gênesis Gênesis

Êxodo Êxodo Êxodo

Levítico Levítico Levítico

Números Números Números

Deuteronômio Deuteronômio Deuteronômio

Profetas (8) Históricos (12) Históricos (14)

Profetas anteriores (4) Josué Josué

Josué Juízes Juízes

Juízes Rute I Reis (ou I Samuel)

I e II Samuel I e II Samuel II Reis (ou II Samuel)

I e II Reis I e II Reis III Reis (ou I Reis)

Profetas Posteriores I e II Crônicas IV Reis (ou II Reis)

Isaías Esdras I Paralipônemo (I Crônicas)

Jeremias Neemias

II Paralipônemo (II

Crônicas)

Ezequiel Ester Esdras – Neemias

Os Doze: Poéticos (5) Tobias (Tohit)

31 LA SOR, William. Introdução ao Antigo Testamento p. 658

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Oséias Jó Judite

Joel Salmos Ester

Amós Provérbios Poesia e Sabedoria (7)

Obadias Eclesiastes Jó

Jonas Cântico dos Cânticos Salmos

Miquéias Profetas Maiores (5) Provérbios

Naum Isaías Eclesiastes

Habacuque Jeremias Cântico dos Cânticos

Sofonias Lamentações Sabedoria de Salomão

Ageu Ezequiel Eclesiástico (Siraque)

Zacarias Daniel Literatura Profética (20)

Malaquias Profetas Menores (12) Isaías

Escritos (11) Oséias Jeremias

Emeth (verdade) (3) Joel Lamentações

Salmos Amós Baruc

Provérbios Obadias Ezequiel

Jó Jonas Daniel

Megilloth (rolos) (5) Miquéias Oséias

Cântico dos Cânticos Naum Joel

Rute Habacuque Amós

Lamentações Sofonias Abdias (Obadias)

Ester Ageu Jonas

Daniel Zacarias Miquéias

Esdras-Neemias Malaquias Naum

I e II Crônicas Habacuc (Habacuque)

Sanfonias

Ageu

Zacarias

Malaquias

I e II Macabeus

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5.4 – O Cânon do Novo Testamento

5.4.1. A formação do Cânon.

A teologia bíblica exige como sua pressuposição uma extensão fixa de literatura bíblica.

Essa extensão está tradicionalmente fixada desde a época das grandes controvérsias teológicas no

Cânon do NT.

A Igreja cristã possuía, desde o princípio de sua existência, um cânon inspirado das

Escrituras: o Antigo Testamento. Contudo, para a igreja primitiva, estes 39 livros do AT era, em

seu sentido mais profundo, profecia do Cristo. Cristo tinha comissionado os seus apóstolos para

proclamar a boa nova e edificar a comunidade cristã e os tinha enchido do poder do Espírito Santo.

Eles tinham sido testemunhas oculares de sua obra e ouvintes de suas palavras.

No começo, as palavras do Senhor e o relato de seus feitos eram repetidos e relatados

oralmente, mas logo eles começaram a ser redigidos. Em sua obra missionária, os apóstolos

tiveram a necessidade de escrever a certas comunidades. Esses escritos logo ganharam a mesma

autoridade dos escritos do AT.

As palavras escritas do Senhor, os Evangelhos, embora não sejam os escritos mais antigos

do NT, foram os primeiros a serem colocados em pé de igualdade com o AT e reconhecidos como

canônicos. Por volta do ano de 140 d.C. Pápias, bispo de Hierápolis, na Frigia, conhece Marcos e

Mateus. Justino (c. de 150 d.C.) cita os evangelhos como autoridade. provável que já pelo fim do

século I ou começo do século II, treze epístolas paulinas (excluindo Hebreus) fossem conhecidas

na Grécia, Ásia Menor e Itália.

Temos poucos relatos de outros escritos apostólicos na primeira metade do século II.

Clemente conheceu Hebreus; Policarpo conhecia I Pedro e I João; Pápias conhecia I Pedro, I João

e Apocalipse. Na segunda metade do segundo século, Atos, Apocalipse e, pelo menos, I João e I

Pedro eram considerados canônicos; eles tomaram o seu lugar ao lado dos evangelhos e das

epístolas paulinas.

Admite-se geralmente que no começo do século III, o cânon do NT incluía a maioria, se não

todos os livros canônicos. A lista mais antiga fragmento “muratoriano ”32, documento descoberto

32 Cânon de Muratori – Documento mais antigo que se tem a respeito do cânon Bíblico do N.T escrito por volta do ano 150 d.C

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na Biblioteca Ambrosiana, em Milão, em 1740; ela registra os livros que foram aceitos em Roma

por volta do ano 200. Não se faz nenhuma menção de Hebreus, I e II Pedro, III João e Tiago. Pode

ser notado que Tiago, II Pedro, e III João e Judas não foram aceitos imediatamente, enquanto

Hebreus e Apocalipse encontraram a mesma oposição, respectivamente no Ocidente e no

Oriente.33

O quarto século viu a fixação do Cânon dentro dos limites que estamos acostumados tanto

no setor Ocidental como no Oriental da Cristandade. No Oriente o ponto definitivo é a Trigésima

nona carta Pascal de Atanásio, em 367 d.C. aqui encontramos pela primeira vez um NT de limites

exatos, conforme nós o conhecemos. Atanásio fez uma investigação dos livros que circulavam no

Oriente e separou vinte sete (27) como sendo inspirados, os mesmos que constituem o nosso NT

atual, os demais livros são rejeitados como livros apócrifos. Alguns como o Didachê e o Pastor de

Hermas podiam até ser lidos, mas não como livros inspirados.

No ocidente, o Cânon foi fixado por decisão do Concílio, em Cartago, no ano 397 d.C.,

quando uma lista semelhante a de Atanásio foi concordemente aceita.34

5.4.2 – Fatores que influenciaram a formação do Cânon do NT

a) O grande número de livros apócrifos. Assim como aconteceu com o A.T, o número de

livros escritos no primeiro e segundo séculos da igreja era muito grande, logo foi

necessário aplicar a “regra da fé ou cânon” aos escritos com o propósito de descobrir a sua

autoridade divina.

b) A heresia de Marcião (c. 140 d.C.) – desenvolveu o seu próprio Cânon, um evangelho,

o de Lucas com algumas modificações e dez cartas de Paulo, rejeitando as cartas pastorais, e outros

livros que compõe o N.T. Ele rejeitava o A.T. e com sua interpretação errônea das cartas de Paulo,

pregava uma doutrina de dois deuses: o A.T. era obra do Deus justo, o Criador, Juiz severo dos

homens.

Jesus era o emissário do Deus bom (ou bondoso), superior ao Deus Justo, enviado para

libertar os homens da escravidão àquele Deus justo. Ele transmitiu seu evangelho aos Doze, que

não puderam conservá-lo isento da corrupção, e depois a Paulo, seu único pregador fiel.

33 WILFRID J. HARRINGTON, Wilfrid J. – Chave Para a Bíblia. pp. 55-58.

34 O Novo Dicionário da Bíblia, p. 259

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Visto que Marcião rejeitava o A.T., de conformidade com seu sistema, ele sentia a

necessidade de uma Escritura distintamente cristã, e criou um cânon definido das Escrituras,

segundo o seu ponto de vista.

c) Os heréticos montanistas, que reivindicavam revelações adicionais do Espírito Santo.

d) A grande abundância de escritos gnósticos.

5.4.3 – Critérios usados para inclusão de um Livro no Cânon do NT

Foram empregados três critérios, quer no segundo, quer no quarto século, a fim de ficar

estabelecido que os documentos escritos sejam os registros verdadeiros da voz e da mensagem do

testemunho apostólico.

a) Atribuição aos apóstolos – esse não se adapta a todos os casos, Evangelho tais como os

de Marcos e Lucas foram aceitos como obras de associados íntimos dos apóstolos. A

apostolicidade dos livros foi o principal teste de inspiração.

Na terminologia do NT, a igreja foi edificada sobre o fundamento dos apóstolos e profetas

(Ef. 2:20), os quais Cristo prometera que, pelo Espírito Santo seriam guiados a toda verdade (Jo.

16:13). Atos 2:42 diz que a igreja em Jerusalém perseverava na doutrina dos apóstolos...

A Palavra “apostolicidade”, conforme empregada para designar o teste de canonicidade, não

significa obrigatoriamente “autoria apostólica” nem aquilo que foi preparado sob a direção dos

apóstolos. O teste básico de canonicidade é a autoridade apostólica, ou aprovação apostólica, e não

simplesmente a autoria apostólica.35

Mas a autoridade apostólica que se revela no NT nunca está divorciada da autoridade do

Senhor. Há nas epístolas um constante reconhecimento de que na igreja só existe uma única

autoridade absoluta: autoridade do próprio Senhor.

Sempre que os apóstolos falam com autoridade fazem-no exercendo a autoridade do Senhor.

b) O uso eclesiástico – isto é, reconhecimento por uma igreja liderante ou por uma maioria

de igrejas. Assim foram rejeitadas muitas obras apócrifas. Algumas talvez inócuas e que continham

35 Geisler e Nix-Apud-McDowell. Evidência que exige um veredito p.46

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até mesmo tradições autênticas das palavras de Jesus, mas também muitas invenções, nenhuma

delas ainda tenha sido reconhecida por uma maioria de igrejas, ao que se saiba.

Congruência com os padrões da sã doutrina – quanto a isso, o Quarto Evangelho foi a

princípio colocado em dúvida, mas finalmente foi aceito; ou para apresentar um caso contrário, o

Evangelho de Pedro foi banido por Serapião de Antioquia por causa de suas tendência docética36,

a despeito de sua reivindicação de autoria apostólica.

Dessa forma, a história do desenvolvimento canônico das Escrituras do NT demonstra ter

sido uma coleção atribuída a seus apóstolos ou seus discípulos, os quais na opinião da igreja, dos

primeiros quatro séculos de nossa era, eram com justiça assim reputados, visto que os discípulos

declaravam e defendiam a doutrina apostólica, sendo assim considerados apropriados para o ensino

público, na adoração divina.37

Sempre é bom lembrar que em tudo isso houve a influência do Espírito Santo, ou melhor,

assim como o Espírito Santo inspirou a certos homens escreverem as Escrituras, também os

direcionou na formação do Cânon. Os homens que se envolveram na formação do Cânon eram

piedosos, tementes, compromissados com Cristo e também com sua doutrina. Portanto, os 27 livros

que formam o Cânon do NT são realmente os inspirados, são 27 e não menos ou mais, porque

assim o Senhor quis. A igreja não os escolheu arbitrariamente: apenas reconheceu sua autoridade

e o poder transformador.

5.4.4 – Os apócrifos do Novo Testamento38

A criação da literatura apócrifa já começava nos tempos apostólicos. Paulo, evidentemente,

foi obrigado a autenticar a sua assinatura por causa de obras forjadas que então circulavam (cf. II

Ts. 3:17). No segundo século de nossa era, a literatura apócrifa tomou grande impulso, e daí por

diante ganhou mais importância, particularmente no Egito e na Síria.

Muitos motivos variados estão por detrás da produção destas obras posteriores, muitas das

quais escritas em nome de um dos apóstolos ou de algum dos outros cristãos primitivos bem

conhecidos.

36 Docetismo (do grego δοκέω [dokeō], "parecer") é o nome dado a uma doutrina cristã do século II, que defendia que o corpo de Jesus Cristo era uma ilusão, e que sua crucificação teria sido apenas aparente.

37 O Novo Dicionário da Bíblia p. 261

38 CHAMPLIN, Normam Russel. O Novo Testamento interpretado versículo por versículo p. 42, vol. 1

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O mais óbvio motivo é o vasto impacto da pessoa de Cristo. Muitas das obras foram escritas

para preencher os detalhes da vida de Cristo e dos apóstolos, de quem os livros canônicos não dão

informações; fruto da imaginação engenhosa de homens heréticos. Assim há vários evangelhos

que supostamente dão informação da infância de Jesus.

Epístolas e tratados foram escritos em nome dos apóstolos, fornecendo detalhes sobre certos

pontos de doutrina ou expandindo muito do que já era óbvio nas epístolas canônicas.

Outros escreveram para projetar no pensamento cristão as suas doutrinas ou preconceitos

favoritos; e o exemplo mais óbvio disso são muitos documentos gnósticos, tanto evangelho como

epístolas.

a) Os evangelhos apócrifos:

- Evangelho segundo aos Hebreus (100 d.C.) – é um evangelho de forte tom judaico;

Evangelho aos Egípcios – é uma espécie de diálogo ascético entre Cristo e Salomé. Foi usado

por alguns gnósticos para repudiar as relações sexuais. Foi escrito por volta de 130 a 150 d.C.

Evangelho de Tomé – o evangelho de Tomé é o único evangelho apócrifo completo

descoberto até o momento. Contém 114 “logias” ou declarações, atribuídas a Jesus, supostamente

escritas pelo apóstolo Tomé. Três fontes são evidentes: a) cerca da metade dessas declarações foi

tomada de empréstimo dos evangelhos canônicos; b) algumas dos evangelhos apócrifos,

principalmente dos evangelhos aos egípcios e aos hebreus; c) e uma fonte desconhecida. Este

documento é de caráter gnóstico.

Evangelho de Pedro (escrito no segundo século) – contém elementos gnósticos e

implicações docéticas. Está um tanto marcado por elemento miraculoso, espúrio e tolo. Reduz a

culpa de Pilatos, e aumenta a culpa de Herodes e dos judeus. O grito: “Deus meu, Deus meu, por

que me desamparaste?” é transformado em “Meu poder, me abandonaste”, um tom gnóstico.

Evangelho de Nicodemos (entre os séculos II e V) produzido por um autor piedoso, que

salienta fortemente a deidade de Cristo e apresenta algumas declarações vividas, mas certamente

forjadas, usando os evangelhos canônicos como base, além do chamado Atos de Pilatos. Altamente

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colorida descida ao inferno, é boa peça literária, que copia idéias gregas acerca do submundo, mas

certamente não é inspirada.

Evangelho da infância (séculos II a V) – o mais popular desses é o protevangelium de

Tiago. Foi escrito em defesa de certas teorias sobre a virgindade perpétua de Maria. E narra muitas

histórias fabulosas da vida de Maria

Evangelho de Tomé sobre a infância de Jesus Cristo – contêm muitas narrativas fabulosas

sobre o princípio da vida terrena de Cristo.

b) Atos Apócrifos:

Atos de João (150 – 160 d.C.) descreve milagres e cita sermões, gnósticos em seu caráter.

É bastante ascético em suas idéias morais.

Atos de Paulo (c. 160 d.C.) contém a secção chamada de Atos de Paulo e Tecla, que seria

a história de uma jovem de Icônio, convertida sob Paulo, e que rompeu o seu noivado por causa

da sua prédica. Seu alvo principal é exaltar a virgindade perpétua.

Atos de Pedro (século II) – narra a queda da igreja de Roma devido às vilezas. Simão Mago,

a fuga de Pedro de Roma, sua volta à crucificação de cabeça para baixo. É muito ascético em sua

totalidade.

Atos de Tomé (fins do século II) – descreve Tomé, missionário na Índia, e suas aventuras.

Muito ascético em seu caráter, também sofreu influência gnóstica.

Atos de André (século III) narra pregações entre os canibais, milagres e persuasão para que

se pratique abstinência sexual.

c) Epístolas Apócrifas:

Terceira Epístola aos Coríntios e Epístolas dos Apóstolos – uma espécie de fabricações de

visões, ligadas na forma de um discurso.

Correspondência entre Paulo e Adgar, rei de Edessa.

Epístola aos Laudicenses, escrita para materializar a epístola mencionada em Cl. 4:16, mas

sendo apenas uma fileira de declarações paulinas tiradas de outros fontes.

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Correspondência entre Paulo e Sêneca, provavelmente tencionando obter o favor, nos círculos

filosóficos.

d) Os Apocalipses:

Apocalipse de Pedro – contém visões do Senhor transfigurado, detalhes chocantes

da punição dos condenados.

Apocalipse de Paulo.39

A formação do Cânon do NT não foi nada simples. Foi ao mesmo tempo complexo e longo,

ou seja, foram mais ou menos dois séculos de análises e investigações buscando a autenticidade

dos livros inspirados. Como vimos o critério básico para a autenticação dos livros do NT era a

autoridade apostólica. Ainda assim, foi necessário um grande discernimento espiritual, pois era

grande o número de obras apócrifas que reivindicava autoridade divina.

Em tudo isso podemos ver duas ações diabólicas contra a igreja: em primeiro lugar ele

(diabo) levantou pessoas para perseguir a igreja desde os primórdios; em segundo lugar, ele usou

pessoas supostamente convertidas para escrever falsos livros e divulgar entre o povo de Deus suas

heresias com o propósito de destruir a igreja. Mas, graças a Deus, que houve homens fiéis e

submissos ao Espírito Santo, os quais discerniram entre a verdade e a mentira, entre o santo e o

profano, e assim estabeleceram o Cânon do NT.

6. A Inspiração das Escrituras

Como já falamos, o termo cânon” significa literalmente uma cana de medir; no uso

eclesiástico significa “regra de fé”. Quando falamos de “cânon bíblico”, estamos falando de um

conjunto de livros reconhecidos pela igreja como livros inspirados por Deus. A finalidade do cânon

bíblico era estabelecer e reunir os livros inspirados por Deus e que podem ser usados como regra

de fé e prática de vida cristã. Neste caso, os 66 livros que formam a nossa Bíblia foram inspirados

por Deus. Mas o que é inspiração? Como Deus inspirou as Escrituras? Passaremos agora a tratar

da Inspiração das Escrituras.

O termo “inspiração” (grego: theopneustos) aparece uma única vez na Bíblia (II Tm. 3:16).

Contudo além de um termo específico, a realidade da “possessão do Espírito Santo” é encontrada

com muita frequência na Bíblia. Ao mesmo tempo, a maneira pela qual esta é descrita é

39 Para saber mais sobre as obras apócrifas do N.T. veja o Novo Dicionário da Bíblia; Editora Vida Nova pp. 950

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Introdução à Bíblia

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extremamente variada. Será interessante examinar brevemente o extenso padrão da maneira que

Deus usa para mover os homens no contexto de seu plano salvífico para a humanidade.

No AT, o Espírito de Yahweh é uma força misteriosa que entra poderosamente na história

do povo escolhido e executa as obras de Yahweh, Salvador e Juiz. Ele se apodera de homens

escolhidos e os transforma, dá-lhes poder para representar papéis excepcionais, e por sua

instrumentalidade guia o destino de Israel e etapas da história da Salvação (cf. Jz. 6:34; 11:29;

13:25; 14:6-19; I Sm. 11:6-7). Muitos dos juízes, sem preparação ou predisposição, foram abrupta

e totalmente mudados, tornaram-se capazes de extraordinárias ações de coragem e de força e foram

dotados de uma nova personalidade, que fez deles líderes e salvadores de seu povo.

O Espírito também provoca entusiasmo e êxtase proféticos (Nm. 11:24-30; I Sm. 10:5-13;

19:20-24), o poder para operar milagres (I Rs. 17:14; II Rs. 2:15; 4:1-44), o dom de profecia (Nm.

24:2; I Cr. 12:19; II Cr. 20:14; 24:20) e a interpretação de sonhos (Gn. 40:8; 41:16, 38; Dn. 4:5;

5:11; 6:4).

Os profetas estavam cônscios de que uma pressão soberana – sobrepujando até mesmo as

suas próprias inclinações – os obrigava a falar (A. 3:8; 7:14-15; Jr. 20:7-9). As palavras que eles

falavam eram realmente as palavras do Senhor; pois é através do Espírito de Yahweh que os

profetas recebem as palavras de Yahweh (Is. 30:1; Zc. 7:2).

O Espírito transforma o profeta numa “cidade fortificada”, numa “coluna de ferro” (Jr.1:18;

cf. 1:8; 20:11; Ez. 3:8-9; Is. 6:6-9).

No N.T., descobrimos que, nos escritos de Lucas, o conceito de Espírito é semelhante à

idéia do A.T. Diz-se de quase todas as pessoas mencionadas em Lc. 1 – 2, que são movidas por ou

cheia do Espírito Santo: João desde o ventre de sua mãe (1:15-18); seus pais, Zacarias (1:67ss) e

Isabel, bem como Simeão (2:27 ss.) e Ana (2:36). Em todos esses casos o Espírito Santo é

apresentado como um poder divino sobrenatural (cf. 1:35). Jesus como o Messias é o portador do

Espírito Santo (4:14-18; Is. 61:2). E, no fim, o Senhor ressuscitado garantiu que enviaria a

“promessa do Pai” (Lc.24:49; At. 1:8). Do Pentecoste em diante, o Espírito é o guia e poder

motivador da missão cristã. Ele que impulsionou o Messias é agora derramado pelo Senhor

ressuscitado sobre a igreja (At. 1:8; 2:4) e a profecia de Joel (2:28-32) se cumpre (At. 2:17-21).40

40 HARRINGTON, Wilfred J. – Chave Para a Bíblia pp. 29-31

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Este rápido exame da atuação do Espírito Santo na Bíblia serve ao propósito de mostrar

que a Sua atuação dentro do contexto salvífico do plano de Deus é variada. O Espírito Santo age

no povo de Deus de várias maneiras, inspirando-os a agir e também falar e escrever as Palavras de

Deus.

6.1 – Inspiração e Revelação

Não devemos confundir inspiração com revelação. “Revelação” é a comunicação de

verdade que não pode ser de outro modo descoberta. É o ato pelo qual Ele, (Deus) se mostra ou

comunica a verdade à mente humana; é o ato pelo qual Ele, (Deus) se torna manifesto às suas

criaturas aquilo que não pode ser conhecido de outra maneira.

A inspiração está relacionada ao registro da verdade. Podemos ter revelação sem

inspiração, como tem sido o caso de muitas pessoas piedosas no passado e como fica claro pelo

fato de João ter ouvido as vozes dos sete trovões, apesar de não lhe ter sido permitido escrever o

que eles disseram (Ap. 10:3-4). Podemos também encontrar inspiração sem revelação, como

quando os escritores registram o que viram com seus próprios olhos e descobriram pela pesquisa

(I Jo. 1:1-4; Lc. 1:1-4).41

Enquanto a revelação é a comunicação da verdade divina de Deus para a humanidade, a

inspiração diz mais respeito à transmissão dessa verdade.42

6.2 – O que a Inspiração não é:

6.2.1 – Mecânica ou ditada – A teoria do ditado defende que Deus ditou a Bíblia aos

escritores. A inspiração não significa que os escritores receberam o conteúdo de seus escritos por

ditado divino. Se assim fosse, significaria que eles foram apenas os secretários, amanuenses de

Deus, que copiavam pura e simplesmente o que lhes fora ditado; logo, não haveria estilos

diferentes na Bíblia, o que, como sabemos, há. O estilo, nesse caso, seria do Espírito Santo! Um

dos textos que contrariam a hipótese do “ditado” é II Pe. 3:15-16, quando Pedro faz alusão à

maneira própria de Paulo escrever.43

41 THIESSEN, Henry Clarence. Palestra em Teologia Sistemática p. 65

42 ERICKSON, Millard J. Introdução à teologia Sistemática p. 68

43 COSTA, HERMISTEN M.P.D.A. – A Inspiração e Inerrância das Escrituras. p. 93

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6.2.2 – Iluminação – A teoria da iluminação sustenta que houve uma influência do Espírito

Santo sobre os autores das Escrituras, mas que isso implicou apenas um reforço de suas

capacidades normais, uma sensibilidade e percepção aumentadas no que dizia a respeito das

questões espirituais.44

A inspiração não consiste apenas numa intensificação da ação do Espírito Santo sobre os

escritores de tal forma que eles pudessem ter um grau mais elevado de percepção espiritual. Se a

inspiração fosse apenas isso, cairíamos num subjetivismo extremamente perigoso, pois, nesse caso,

a veracidade dos textos bíblicos dependeria da apreensão de cada “iluminado” para que pudesse

registrar o percebera. Consequentemente, não poderíamos considerar a Bíblia como o registro

inerrante da Palavra de Deus, visto que ela apenas conteria a Palavra que foi apreendida, captada.

Este conceito contraria o ensino das Escrituras (Jo. 10:35; At. 4:25-26; 6:2), que afirma que Deus

fala através dos seus servos, sendo o seu registro a Palavra de Deus, a qual não pode ser anulada.45

Devemos reconhecer que a iluminação não trata da transmissão da verdade, mas sim, da

compreensão da verdade já revelada. O salmista ora pedindo iluminação para entender a Lei de

Deus (Sl. 119:18; cf. I Co. 2:12; I Pe. 1:11).46

6.2.3 – Intuição – A teoria da intuição faz com que a inspiração seja principalmente um alto

grau de percepção. A inspiração não significa que os escritores foram inspirados da mesma forma

que os grandes autores da literatura, inventores, cientistas, músicos, etc. Se assim fosse, a Bíblia

poderia até ser um belíssimo livro, todavia apenas um livro humano criado pela genialidade

humana e, por mais belo e extraordinário que fosse, seria falível, cheio de erros, preceitos

antiquados e, o pior de tudo, não nos conduziria a Deus (Jo. 5:39).47

6.2.4 – Parcial – A teoria da inspiração parcial defende que há partes da Bíblia que foram

inspiradas e outras que não foram. Sendo assim, a Bíblia não é plenamente a Palavra de Deus, mas

contém a Palavra de Deus. Portanto, ela é passiva de erro histórico, geográfico, cronológico, etc.

A idéia mais comum é de que a ela só teria autoridade em matérias morais e espirituais.

A inspiração não significa que os autores tiveram apenas uma inspiração parcial quanto

alguns assuntos dela. A Bíblia afirma por si mesma que “toda Escritura é inspirada, e não parte

dela” (cf. II Tm 3.16).

44 ERICKSON, Millard. Introdução à teologia Sistemática p. 71

45 COSTA, HERMISTEN M.P.D.A. – A Inspiração e Inerrância das Escrituras. p. 46 THIESSEN, Henry Clarence. Palestra em Teologia Sistemática p. 65

47 COSTA, HERMISTEN M.P.D.A. – A Inspiração e Inerrância das Escrituras. p. 94

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6.2.5 – Mental – Inspiração não significa que os autores secundários tiveram apenas os seus

pensamentos inspirados, mas não as palavras de seus registros. Se fosse assim, os pensamentos

seriam verdadeiros, contudo, o registro desses pensamentos poderia e, de fato, conteriam erros.

Ora, essa concepção é extravagante, pois admite a possibilidade de Deus inspirar o pensamento

humano sem palavras. Não é justamente em palavras que nós pensamos, ainda que a sua expressão

possa ser pictórica? Além disso, a Bíblia nos ensina que Deus dá as palavras para serem registradas

(cf. Êx. 24:4; 34:27; Is. 30:8; Jr. 1:9; 36:2; Hc. 2:22; Ap. 21:5). A inspiração termina não nas

idéias, mas no registro final das Escrituras (II Tm. 3:16).

6.3 – O que entendemos por Inspiração.

6.3.1 – Considerações Gramaticais.

A palavra “inspiração” não ocorre no NT. Ela só aparece uma única vez no AT. “Mas

ninguém diz: Onde está Deus, que me fez, que inspira” (Nãthan “dar”, “conceder”) canções de

louvor durante a noite “Jó 35:10 – ARA). No NT, a palavra é decorrente de uma tradução

interpretativa do texto de II Tm. 3:16 que diz: “Toda a Escritura é inspirada por Deus...” A

expressão “inspirada por Deus” provém de um único termo grego “Theopineustos”, aparece

somente aqui. A tradução que temos (ARA) segue aqui a vulgata, que traduz como: Omnis

Scriptura Divinitus Inspirata48

.

A palavra “Theopineusto” não significa “ins-pirado”, mas sim, “ex-pirado”, ou seja, ao invés

de soprado para dentro, soprado para fora. Esse adjetivo não significa qualquer modo específico

de inspiração, tal qual alguma forma de ditado divino. Nem sequer dá a entender a suspensão das

faculdades cognitivas normais dos autores humanos. Do outro lado, realmente quer dizer algo bem

diferente da inspiração poética. Toda a Sagrada Escritura expressa a mente de Deus. Toda a

Escritura Sagrada é soprada, exalada por Deus.48

6.3.2 – Definição de Inspiração.

“Podemos definir a inspiração como sendo a influência sobrenatural do Espírito de

Deus sobre os homens separados por ele mesmo, a fim de registrarem de forma inerrante e

suficiente toda a vontade de Deus, constituindo esse registro na única fonte e norma de todo

o conhecimento cristão.”

48 BROWN, Colin . DITNT p. 694, vol. 1

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Com isto, estamos dizendo que o Deus que se revelou esteve “expirando os homens que Ele

mesmo separou para registrarem essa revelação”. A inspiração bíblica garante que seja registrado

de forma veraz aquilo que a inspiração profética fazia com respeito à palavra do profeta para que

ela correspondesse literalmente à mente de Deus. Em outras palavras: A Palavra escrita é tão

fidedigna quanto a Palavra falada, ambas foram inspiradas por Deus.

Desse modo cremos que a inspiração foi plenária, dinâmica, verbal e sobrenatural.49

a) Plenária: porque toda a Escritura é plenamente expirada de Gênesis ao Apocalipse,

tudo o que foi registrado, o foi pela vontade de Deus (II Tm. 3:16, II Pe. 1:20-21).

b) Dinâmica: porque Deus não anulou a personalidade dos escritores. Por isso, inspirados

por Deus, eles puderam usar de suas experiências, pesquisas, aptidões e manter o seu estilo (II Pe.

3:15-16).

O trabalho do Espírito de Deus foi o de dirigir o escritor aos pensamentos ou conceitos que

ele devia ter, deixando que a própria personalidade característica do escritor participasse da

escolha das palavras e expressões. Assim, a pessoa que escreveu expressou de um modo exclusivo,

característico dela, os pensamentos dirigidos por Deus.50

c) Verbal: porque Deus se revelou através de palavras e todas as palavras dos autógrafos

originais são Palavra de Deus. (II Sm. 23:2; Jr. 1:9; Mt. 5:18; I Co. 2:13).

d) Sobrenatural: por ter sido originada em Deus e produzir efeitos sobrenaturais, mediante

a ação do Espírito Santo em todos aqueles que crêem em Cristo (Jo. 17:17; Rm. 10:17; Cl. 1:3-6;

I Pe. 1:23).

De conformidade com IITm 3:16, o que é inspirado é, precisamente falando, os escritos

bíblicos. A inspiração é uma operação de Deus que terminava não nos homens que escreveram as

Escrituras (como se, tendo lhes dado a idéia do que deviam dizer, Deus os tivesse deixados

sozinhos para expressarem tais idéias da melhor maneira que pudessem), mas antes, terminou no

produto escrito real. A Escritura – graphê – o texto escrito – é que é soprado por Deus. A idéia

essencial do caso é que toda a Escritura tem o mesmo caráter que os sermões proféticos tinham,

49 COSTA, Hermisten M.P.D.A. – A Inspiração e Inerrância das Escrituras. p. 98

50 STRONG-APUD-ERICKSON, Millard. Introdução à Teologia Sistemática p. 71

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tanto quanto pregados como quanto escritos (cf. II Pe. 1:19-21), quanto a origem divina de cada

profecia da Escritura, vd. Também Jr. 36; Is. 8:16-20). Em outras palavras, a Escritura não é apenas

a palavra do homem, o fruto do pensamento, da premeditação e da arte humana, mas também é

igualmente a Palavra de Deus, proferida por meio de lábios humanos ou escrita com a pena

brandida pela mão humana. Ainda em outras palavras, a Escritura tem uma dupla autoria, e o

homem é apenas seu autor secundário. O autor primário, mediante cuja iniciativa e impulso, e sob

cuja superintendência, cada escritor humano fez a sua parte, é Deus Espírito Santo.51

6.3.3 – O Papel dos Escritores Sagrados nos seus respectivos registros.

a) Papel passivo – Eles foram inteiramente passivos no sentido de que não interferiram na

ação de Deus em se revelar e, também, no fato de que não expressaram a sua natureza pecaminosa.

Eles foram apenas instrumentos humanos por meio do qual Deus decretou registrar a sua

mensagem. Eles falaram, todavia, somente na medida em que foram conduzidos pelo Espírito

Santo.

b) Papel ativo – Conforme já foi falado anteriormente Deus não anulou a personalidade dos

escritores; caso contrário, na Bíblia haveria apenas um único e inconfundível estilo, o estilo do

Espírito Santo.

No entanto, quer através dos originais (isto é, os manuscritos em hebraico, aramaico e grego),

quer através das traduções, é facilmente percebida a diferença entre os escritos de Moisés, Isaías,

Amós, etc.; e assim acontece com os autores do NT: São perceptíveis de modo claro as

características próprias dos escritos de Paulo, de João, bem como de Mateus, Marcos e Lucas.

Portanto, podemos afirmar que de certa forma, cada livro da Bíblia é fruto do estilo literário do

seu autor humano (autor secundário).

Por isso, dentro da inspiração há lugar para assuntos pessoais. Por exemplo, Epístola de

Paulo a Filemon, e também há espaço para recomendações e preocupações específicas (cf. I Tm.

5:23; II Tm. 4:13).52

6.3.4 – As palavras da Escritura são as próprias Palavras de Deus.

51 O Novo Dicionário da Bíblia, p. 748

52 COSTA, Hermisten M.P.D.A. – A Inspiração e Inerrância das Escrituras. p. 102

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A Lei de Moisés com as palavras dos profetas, quer proferida quer escrita, são identificadas

como discursos divinos, ou seja, vindos do próprio Deus (cf. I Rs. 22:8-16; Ne. 8; Sl. 119; Jr. 25:1-

13; 36, etc.)

Os escritores do N.T. contemplam o todo como “os oráculos de Deus” (Rm. 3:2), profético

em seu caráter (Rm. 16:26; cf. 1:2; 3:21), escritos por homens que foram movidos pelo Espírito

Santo (II Pe. 1:20-21; cf. I Pe. 1:10-12).

Cristo e os seus apóstolos citam textos do A.T., não meramente como aquilo que, por

exemplo, Moisés, Davi ou Isaías disseram (vd. Mc. 7:10; 12:36; 7:6; Rm. 10:5; 11:19; 10:20, etc.),

mas igualmente como aquilo que Deus disse por intermédio desses homens (vd. At. 4:25; 28:25,

etc.), ou algumas vezes simplesmente como aquilo que Ele (Deus) diz (ex.: I Co. 6:16; Hb. 8:5, 8),

ou como aquilo que o Espírito Santo diz (Hb. 3:7; 10:5).53

7. A Inerrância das Escrituras

O conceito de inerrância é que a Bíblia é plenamente confiável em todos os seus ensinos.

A Bíblia é verdadeira em todos os seus ensinamentos, jamais conduzirá alguém ao erro.

A inerrância não é uma teoria defendida por cristãos conservadores, mas um reconhecimento

daquilo que a Bíblia afirma a respeito de si mesma. Portanto, inerrância é uma doutrina bíblica (Jo.

10:35; 17:17; II Co. 6:7; Cl. 1:5; II Tm. 2:15; Tg. 1:18) e, também, porque é uma decorrência

lógica do fato de que o Deus que “expirou” as Escrituras (II Tm. 3:16) não mente, não muda, não

falha (Tt. 1:2; Tg. 1:17).54

7.1 – Definição – “A Bíblia, quando corretamente interpretada, de acordo com o nível a

que a cultura e os meios de comunicação haviam chegado à época em que foi escrita e de acordo

com os propósitos a que foi destinada, é plenamente fidedigna em tudo que afirma”.55

7.1.1 – A inerrância diz respeito ao que é afirmado ou declarado não ao que é apenas

registrado. A Bíblia registra declarações falsas feitas por ímpios. A presença dessas declarações

53 O Novo Dicionário da Bíblia, p. 749

54 COSTA, Hermisten M.P.D.A. – A Inspiração e Inerrância das Escrituras. p. 103

55 ERICKSON, Millard. Introdução à teologia Sistemática p. 84

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nas Escrituras não significa que sejam verdadeiras; garante, apenas, que estão corretamente

registradas.

7.1.2 – Precisamos julgar a fidedignidade da Escritura de acordo com aquilo que as

afirmações significavam no ambiente cultural em que foram expressos. Devemos julgar a Bíblia

de acordo com as formas e os padrões de sua própria cultura. Por exemplo, em tempos antigos,

muitas vezes os números eram usados de maneira simbólica, muito mais do que acontece em nossa

cultura, hoje. Os nomes que os pais escolhiam para os filhos também carregavam um significado

especial; coisa que raramente acontece hoje.

7.1.3 – As afirmações da Bíblia são plenamente verdadeiras quando julgadas de acordo

com o propósito para o qual foram escritas. Aqui, a exatidão varia de acordo com o uso que se

pretende dar ao material. Suponha um uso hipotético em que a Bíblia registre uma batalha na qual

9.476 homens tenham-se envolvido. Qual seria o relato correto (ou infalível)? Seria 10.000? 9.000?

9.480? 9475? Ou 9.476 seria o único relato correto? A resposta é que isso depende do propósito

escrito. Se o relato for um documento militar oficial (que um subalterno deve submeter a seu

superior, o número deve ser exato). Se, por outro lado, a intenção do relato for apenas dar um idéia

da dimensão da batalha, um número redondo como 10.000 seria adequado e, nesse contexto,

correto.

7.1.4 - Os registros de acontecimentos históricos e assuntos científicos estão mais em

linguagem fenomenológica que técnica. Ou seja, o escritor relata de acordo com que as coisas

aparentam aos olhos.

7.1.5 – As dificuldades para explicar o texto bíblico não devem ser prejulgadas como

indícios de erros.

8. O Poder da Palavra de Deus: A Autoridade.

8.1 – Autoridade Religiosa.

Por autoridade, entendemos o direito de comandar a fé e/ou a ação.

No que se refere à autoridade religiosa, a pergunta crucial é: Existe alguma pessoa,

instituição ou documento que possua o direito de prescrever a crença e a ação em assuntos

religiosos?

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Em última análise, se existe um Ser Supremo acima dos homens e de tudo o mais na ordem

criada, ele tem o direito de determinar o que devemos crer e como devemos viver. Deus é a

autoridade final em questões religiosas. Ele tem o direito, tanto pelo que é como pelo que faz, de

estabelecer o padrão de fé e prática. Com respeito a assuntos importantes, porém, ele não exerce

autoridade de forma direta. Antes, ele delegou tal autoridade criando um livro, a “Bíblia”. Por

conter a mensagem de Deus, a Bíblia tem o mesmo peso que ele teria, caso nos desse uma ordem

pessoalmente.

“A autoridade das Escrituras significa que todas as palavras nas Escrituras são palavras de

Deus, de modo que não crer em alguma palavra da Bíblia ou desobedecer a ela é não crer em Deus

ou desobedecer a Ele”.

8.2 – O trabalho interno do Espírito Santo

A revelação é Deus dando a conhecer sua verdade à humanidade. A inspiração garante que

a Bíblia diz justamente o que Ele diria se nos falasse diretamente. Outro elemento, porém, é

necessário nessa cadeia. Para que a Bíblia funcione como se Deus estivesse falando para nós, seu

leitor precisa compreender o significado das Escrituras e estar convencido de sua origem e autoria

divina. Isso se realiza pela obra interna do Espírito Santo, que ilumina o entendimento do ouvinte

ou leitor da Bíblia, faz com que ele entenda seus significados e cria uma certeza de que é a verdade

e vem de Deus.

Precisamos do trabalho interno do Espírito Santo para compreendermos as Escrituras porque

a igreja e a razão são insuficientes. Por mais inteligente que seja o homem, ele é incapaz de

compreender toda a verdade das Escrituras, e também crer nelas sem a ajuda do Espírito Santo.

8.3 – Componentes objetivos e subjetivos da autoridade.

A ortodoxia56 escolástica do século XVII praticamente sustentou que a autoridade é apenas

a Bíblia. Em alguns casos, essa também tem sido a posição dos fundamentalistas do século XX.

Os que defendem essa posição vêem na Bíblia uma qualidade objetiva que leva automaticamente

ao contato com Deus. Pensa-se que, em si e por si, a leitura diária da Bíblia tem valor.

62 56 Ortodoxia – qualidade de ortodoxo, absoluta conformidade com um princípio ou doutrina - Escolásticas -

Doutrinas teológicas – filosóficas dominantes na idade média, dos séc. IX a XVII, caracterizadas, sobretudo pelo

problema da relação entre a fé e a razão

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Por outro lado, há alguns grupos que tem o Espírito Santo por principal autoridade do cristão.

Certos grupos carismáticos, por exemplo, crêem que as profecias especiais ocorrem hoje. Novas

mensagens de Deus estão sendo dadas pelo Espírito Santo. Na maioria dos casos, considera-se que

essas mensagens explicam o verdadeiro sentido de certas passagens bíblicas. Assim, o argumento

é que, embora a Bíblia seja autoridade, na prática, seus significados muitas vezes não podem ser

encontrados sem a ação especial do Espírito Santo.

Qual é a posição correta? A fundamentalista ou a carismática? Na verdade, é a combinação

desses dois fatores que constituem a autoridade. A Palavra escrita, corretamente interpretada, é a

base objetiva da autoridade. A iluminação interior e o trabalho de persuasão do Espírito Santo e a

dimensão subjetiva. Juntas, produzem uma maturidade que é necessária na vida cristã – mente

arejada e coração aquecido (não coração frio e cabeça quente). Como expressou um pastor, com

muita franqueza: “se você tiver a Bíblia sem ter o Espírito, acabará seco. Se você tiver o Espírito

sem ter a Bíblia, acabará explodindo. Mas se você tiver os dois, a Bíblia e o Espírito, juntos,

crescerá”.

9. A necessidade da Bíblia

Para que fins é necessária a Bíblia? Será que precisamos ter uma Bíblia ou alguém que nos

diga o que ela fala para saber que Deus existe? Ou para saber como encontrar a salvação? Ou para

conhecer a vontade de Deus para nossa vida?

Dizer que as Escrituras são necessárias significa dizer que a Bíblia é necessária para conhecer

o evangelho, para conservar a vida espiritual e para conhecer a vontade de Deus. Mas não que seja

necessária para saber que Deus existe ou para saber algo sobre o caráter e sobre as leis morais de

Deus.

Essa definição pode ser explicada nos seguintes aspectos:

9.1 – A Bíblia é necessária para conhecer o Evangelho. Romanos 10:13-17

Essa declaração aponta para a seguinte linha de raciocínio:

1º) Supõe que o homem precisa invocar o nome do Senhor para ser salvo;

2º) As pessoas só podem invocar o nome do Senhor, isto é, o nome de Cristo, se crê nele (ou

seja, que ele é um Salvador digno de ser invocado e que atenderá aqueles que o invocarem).

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3º) As pessoas não podem crer em Cristo a menos que tenham ouvido falar dele;

4º) Não ouvirão falar de Cristo a menos que alguém lhes fale sobre Cristo;

5º) A fé salvadora vem pelo ouvir (ou seja, ouvir a mensagem do evangelho), e esse ouvir a

mensagem do evangelho vem pela pregação de Cristo.

9.2 – A Bíblia é necessária para sustentar a fé espiritual

Jesus indica que a nossa vida espiritual é sustentada pela porção diária da Palavra de Deus,

assim como a nossa vida física é sustentada pela porção diária de alimento físico (cf. Mt. 4:4; Dt.

8:3). Negligenciar a leitura regular da Palavra de Deus é tão prejudicial à saúde da nossa alma

quanto é à saúde do nosso corpo negligenciar o alimento físico. A Bíblia é necessária para o

crescimento espiritual (cf. Dt. 32:47; I Pe. 1:23, 25; 2:2).

9.3 - A Bíblia é necessária para o conhecimento seguro da vontade de Deus

Todas as pessoas têm algum conhecimento da vontade de Deus por intermédio da

consciência. Mas esse conhecimento é, muitas vezes, indistinto e não pode substituir a Palavra

escrita de Deus. Não poderíamos alcançar a certeza da vontade de Deus por nenhum outro meio,

fosse consciência, conselhos de outras pessoas, testemunho íntimo do Espírito Santo, etc. Todos

esses meios podem proporcionar uma aproximação da vontade de Deus de modos mais ou menos

confiáveis, mas não plena certeza da vontade de Deus. Somente na Bíblia temos a revelação plena

da vontade de Deus (Dt. 29:29).57

10. A Divisão da Bíblia: Capítulos, versículos, parágrafos

Capítulos – Em 1250, a Bíblia foi dividida em capítulos pelo Cardeal Hugo.

Versículos – A Bíblia foi dividida em versículos em 1560 pelos reformadores em

Genebra.

Parágrafos – Em 1885, um grupo de mais de cem (100) homens dos mais eruditos, de várias

denominações protestantes da Inglaterra e América do Norte, dividiu a Bíblia em parágrafos. Este

trabalho durou mais de 15 anos.

11. A Bíblia traduzida para o português

57 DEM , Wayne. Teologia Sistemática pp. 77-80

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As primeiras porções da Bíblia em português datam de 1495, quando Dona Leonor esposa

do Rei D.João II, fez publicar em Lisboa uma tradução da Vida de Cristo, o qual inclui o Evangelho

de Mateus.

Em 1506, pela mesma rainha foram publicados Atos dos Apóstolos e as Epístolas de Tiago,

João e Judas.

A primeira tradução do Novo Testamento foi feita por João Ferreira de Almeida e publicada

na Holanda, em Amsterdã, no ano de 1681.

João Ferreira de Almeida traduziu também quase todo o Antigo Testamento, isto é, desde o

livro de Gênesis até Ezequiel 18:21, pois Deus o chamou para a glória. O restante foi completado

por um grupo de missionários. A publicação do Antigo Testamento tradução de Almeida foi

publicada no de 1753.

Em 1819, na Inglaterra, foi publicada a Bíblia completa, isto é, o Antigo e o Novo

Testamento juntos, completando assim a versão Almeida.

A primeira Bíblia impressa no Brasil foi a edição “Revista e Corrigida” da versão Almeida,

publicada pela Imprensa Bíblica Brasileira em 1952.

A prova do amor divino encontra-se no fato de que Deus se revelou ao homem, e esta

revelação ficou registrada na Bíblia. Nascida no oriente e revestida de linguagem do simbolismo

e das formas de pensar tipicamente orientais, a Bíblia tem, não obstante, uma mensagem para a

humanidade toda, qualquer que seja a raça, cultura ou capacidade pessoal. Contrasta com os livros

de outras religiões porque não narra uma manifestação divina a um só homem, mas uma revelação

progressiva arraigada na longa história de um povo. A Bíblia desenvolve um único tema: A

REDENÇÃO DO HOMEM.

O tema divide-se assim:

1) O Antigo Testamento: a preparação do Redentor;

2) Os Evangelhos: A manifestação do Redentor;

3) Atos dos Apóstolos: A proclamação do Redentor;

4) As Epístolas: A Explicação da obra do Redentor;

5) O Apocalipse: A consumação da obra do Redentor.

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12. A Igreja e as Escrituras

A igreja dá uma atenção especial e tem um compromisso especial com a Bíblia por causa da

relação que os cristãos sustentam coma Escrituras e vice-versa. Todos que já estudaram as

Escrituras com profundidade têm uma apreciação notável por elas, mas o compromisso da igreja

com as Escrituras é mais do que apreciação. Ele é um conectivo vital, um vínculo da salvação.

Essa relação vital que a igreja tem com as Escrituras resulta num profundo e imperecível

compromisso dela com a Palavra de Deus. Inquestionavelmente, uma das maiores ocupações da

igreja é a pregação das Escrituras, a meditação e o crescimento nelas.

12.1. A semente do Reino

Jesus indicou em Lucas 8:10 e 11, que a Palavra é a semente do reino. A Palavra de Deus o

ponto de partida da igreja. A igreja é idéia de Deus. Sua vinda foi anunciada pelos profetas, por

João Batista e por Jesus. A Palavra de Deus também é a origem da igreja. A igreja do Novo

Testamento só pode ser criada pelo Novo Testamento. Além disso, a Palavra contém a história

da igreja. A verdadeira revelação do início da igreja encontra-se no livro neotestamentário de

Atos. Além disso, o Novo Testamento revela o plano divino para ela. A organização, a adoração,

a missão e a identidade dela são todas fornecidas na Palavra do Senhor.

A semente do reino é a Palavra de Deus. Ensinando, pregando e vivendo fielmente a

Palavra, plantamos a semente que dá vida à igreja nos corações das pessoas. Quando essa semente

germina por meio da recepção dessa Palavra pelo espírito humano (At 2:41), nasce um cristão no

reino de Deus. A igreja só pode existir por meio da Palavra.

12.2. A origem da autoridade

A Palavra de Deus não é só a semente do reino. Ela também é a origem da autoridade para

a igreja. Uma das perguntas mais importantes sobre religião tem de ser a pergunta sobre a

autoridade: por que fazemos o que fazemos?

As Escrituras alegam claramente serem a única autoridade da igreja. Jesus disse: “Quem

me rejeita e não recebe as minhas palavras tem quem o julgue; a própria palavra que tenho

proferido, essa o julgará no último dia” (Jo 12:48).

A Palavra é o padrão pelo qual averiguamos o que Deus quer que façamos como Seu povo

e o que Deus quer que rejeitemos como Seu povo. Só se pode chegar a essas conclusões

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descobrindo-se os mandamentos específicos dados por Deus, encontrando-se exemplos inspirados,

aprovados, que Deus colocou nas Escrituras, e observando-se as implicações necessárias das

Escrituras. Se a igreja está sob a autoridade das Escrituras, ela não tem outra escolha senão

comprometer-se com a fiel interpretação dela e sua aplicação à vida. A igreja pode tomar decisões

sobre questões alternativas, mas ela não pode tomar decisões sobre questões doutrinárias. A igreja

está sob a autoridade de Cristo, conforme revelam as Escrituras.

Temos de tomar cada decisão à luz da autoridade das Escrituras. Nenhum pregador, pastor,

ou grupo de homens pode tomar o lugar de autoridade da Bíblia. A igreja está limitada por essa

autoridade e só pode honrar a Cristo como Sua verdadeira igreja vivendo, adorando e ensinado sob

essa autoridade.

12.3. A Espada do Espírito

A Palavra de Deus é a espada do Espírito para a igreja. Em sua descrição da armadura do

cristão, Paulo identificou a Palavra como a espada do Espírito (Ef 6:17).

Como espada do Espírito, a Palavra defende a igreja. Se alguém difama a integridade da

organização, da adoração e da missão ou da vida da igreja, a revelação da Palavra fornece a vontade

Deus para a Sua igreja como resposta para a crítica que se levanta contra a igreja.

Como espada do Espírito, a Palavra corrige e guia a igreja. Paulo escreveu: “Toda a

Escritura é inspirada por Deus e útil para o ensino, para a repreensão, para a correção, para a

educação na justiça, a fim de que o homem de Deus seja perfeito e perfeitamente habilitado para

toda boa obra”. (IITm 3:16-17). Nesta passagem significativa, Paulo se refere ao ensino, à

repreensão, à correção e à instrução – elementos que sugerem o crescimento, amadurecimento e

correção. Às vezes o crescimento requer ensino ou informação; às vezes, ele requer reprovação,

que a igreja saia de um erro no seu modo de entender ou que abandone uma pecado em suas

palavras ou feitos. Às vezes, utiliza a correção, um aperfeiçoamento da eficiência da igreja em

viver para Cristo; e às vezes é necessário instrução ou condução e orientação pelos que são mais

maduros na Palavra de Deus.

Uma passagem admirável no Novo Testamento é Gálatas 2:11-15. Essa é a única referência

do Novo Testamento em que um apóstolo censura e corrige outro apóstolo. Pedro havia

apresentado uma conduta imprópria, inclinando-se para os cristãos judeus que estavam ensinado

um erro relativo aos cristãos gentios. A conduta de Pedro influenciou outros – outros judeus

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cristãos e Barnabé, para sermos específicos – a fazerem o mesmo. Paulo disse: “Quando, porém,

vi que não procediam corretamente segundo a verdade do evangelho, disse a Cefas, na presença

de todos: se, sendo tu judeu, vives como gentio e não como judeu, por que obrigas os gentios a

viverem como judeus? (Gl 2:14). Paulo disse: “... resisti-lhe face a face, porque se tornara

repreensível” (Gl 2:11). Em outras palavras, Paulo repreendeu e corrigiu Pedro. Enquanto escreveu

a Palavra de Deus, Pedro foi infalível. Mas o fato de ter sido inspirado ao escrever a Palavra de

Deus não significava que ele era perfeito ao aplicar todas as verdades que Deus revelara através

dele. Por isso, desde o primeiro século até os dias atuais, a começar pelos próprios apóstolos, a

Palavra está sempre corrigindo, repreendendo e guiando a igreja como a espada do Espírito.

A igreja de hoje precisa olhar para a Palavra de Deus como a espada do Espírito. Precisamos

permitir que a Palavra nos sonde e prove continuamente. Jesus está guiando e purificando a Sua

igreja através da Sua Palavra “para a apresentar a si mesmo igreja gloriosa, sem mácula, sem ruga,

nem coisa semelhante, porém santa e sem defeito”. (Ef 5:27).

Conclusão

As Escrituras certamente sustentam uma relação singular com a igreja. Elas são a semente

do reino, os meios pelos quais Deus cria a igreja. Elas são a origem da autoridade da igreja. A

igreja é e faz o que as Escrituras ordenam que ela seja e faça. As Escrituras são a espada do Espírito

como a qual a igreja se defende e se corrige; são a revelação da realidade pela qual a igreja

esclarece o que é verdadeiro.

Ninguém pode entrar na igreja se não for pela obediência à Palavra. Lucas escreveu o

seguinte a respeito dos primeiros convertidos: “Então, os que lhe aceitaram a Palavra foram

batizados, havendo um acréscimo naquele dia de quase três mil pessoas” (At 2:41). Não basta

compreender a Palavra; também é preciso recebê-la e crer nela. Quando uma pessoa age com fé

na Palavra, ocorre a conversão a Cristo e o convertido é acrescentado pelo Senhor à Sua igreja (At

2:47).

Entregue-se a Cristo submetendo-se à Sua Palavra da verdade. Ele lhe dará a salvação e

colocará você dentro da igreja dEle. Nela, Sua verdade dará a você sustento, força e direção até o

seu lar eterno.58

58 Eddie Cloer. Site WWW. Bilbecourses.com

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– vol. 1 – Editora Candeia.

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Editora Candeia

Responsável pela a elaboração desta apostila: Adriano dos Santos Miranda