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Da cera à madeira: as representações simbólicas do artesão Véio (1980-2000) 1 Resumo: Este artigo dedica-se ao estudo das representações do artesão Cícero Alves dos Santos, conhecido popularmente por Véio. Em seu Sítio e residência denominado Sítio “SóArte” são encontradas esculturas em madeira bruta expostas a céu aberto, localizado na zona rural da cidade de Feira Nova-SE, onde também abriga um museu com peças e utensílios da história da antiga “Boca da Mata”, atual cidade natal do artesão, Nossa Senhora a Glória- SE, local que foi visitado durante a realização da pesquisa, sendo realizadas entrevistas com o artesão. A partir de Chartier (1990), percebe-se a importância da história cultural, que possibilita entender como os indivíduos constroem sentido e representações para suas vidas. Assim, as esculturas produzidas por Véio serão compreendidas como parte dessa interpretação histórica, na medida em que constituem um valoroso patrimônio cultural e local. Palavras-chave: Artesão; Madeira; Escultura;Representações; Museu. INTRODUÇÃO O presente trabalho tem como recorte histórico o período de 1980-2000, abrangendo como espaço empírico a cidade de Nossa Senhora da Glória, meu lugar de origem bem como do artesão Véio, conhecedor e pesquisador da história gloriense. O período escolhido se justifica na época em que a carreira do artesão ganhou notoriedade, seja através de reconhecimento local, estadual e nacional, como também no ano 2000 o referido artesão decide transferir o seu museu localizado inicialmente na área urbana para a área rural. Fato que foi comentado pelos habitantes do município, como também no depoimento do próprio artesão como forma de indignação e revolta para com os dirigentes políticos da época, pois em sua visão estes não valorizavam sua arte, assim como a cultura local. Véio produziu peças para demonstrar esta revolta e narrou esta história para as pessoas que visita seu museu. Diante do exposto, o referido artigo tem como objetivo efetuar um breve estudo das representações oriundas das esculturas feitas pelo referido artesão, com o intuito de descrever o seu trabalho artístico, pois conotam a expressão da memória individual e coletiva.São 1 Ana Celma Amaral Santos, Pedagoga, graduada em História Licenciatura. E-mail: [email protected]

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Page 1: INTRODUÇÃO - ANPUH...como o artesão troca da cera de abelha usada inicialmente aos cinco anos de idade para confecção de suas primeiras tentativas de fazer suas esculturas e que

Da cera à madeira: as representações simbólicas do artesão Véio (1980-2000)1

Resumo: Este artigo dedica-se ao estudo das representações do artesão Cícero Alves dos

Santos, conhecido popularmente por Véio. Em seu Sítio e residência denominado Sítio

“SóArte” são encontradas esculturas em madeira bruta expostas a céu aberto, localizado na

zona rural da cidade de Feira Nova-SE, onde também abriga um museu com peças e utensílios

da história da antiga “Boca da Mata”, atual cidade natal do artesão, Nossa Senhora a Glória-

SE, local que foi visitado durante a realização da pesquisa, sendo realizadas entrevistas com o

artesão. A partir de Chartier (1990), percebe-se a importância da história cultural, que

possibilita entender como os indivíduos constroem sentido e representações para suas vidas.

Assim, as esculturas produzidas por Véio serão compreendidas como parte dessa

interpretação histórica, na medida em que constituem um valoroso patrimônio cultural e local.

Palavras-chave: Artesão; Madeira; Escultura;Representações; Museu.

INTRODUÇÃO

O presente trabalho tem como recorte histórico o período de 1980-2000, abrangendo

como espaço empírico a cidade de Nossa Senhora da Glória, meu lugar de origem bem como

do artesão Véio, conhecedor e pesquisador da história gloriense. O período escolhido se

justifica na época em que a carreira do artesão ganhou notoriedade, seja através de

reconhecimento local, estadual e nacional, como também no ano 2000 o referido artesão

decide transferir o seu museu localizado inicialmente na área urbana para a área rural. Fato

que foi comentado pelos habitantes do município, como também no depoimento do próprio

artesão como forma de indignação e revolta para com os dirigentes políticos da época, pois

em sua visão estes não valorizavam sua arte, assim como a cultura local. Véio produziu peças

para demonstrar esta revolta e narrou esta história para as pessoas que visita seu museu.

Diante do exposto, o referido artigo tem como objetivo efetuar um breve estudo das

representações oriundas das esculturas feitas pelo referido artesão, com o intuito de descrever

o seu trabalho artístico, pois conotam a expressão da memória individual e coletiva.São

1Ana Celma Amaral Santos, Pedagoga, graduada em História Licenciatura. E-mail: [email protected]

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representações de homens, mulheres e animais, um grupo de esculturas que na visão do

artistaretratam o cotidiano sertanejo, ou seja, o mundo que o cerca.

Neste sentido há uma representação em suas peças refletindo suas crenças, o homem

sertanejo, curiosidades da época, religiosidade e críticas do cotidiano do nosso município.

Assim, há uma pretensão nesta discussão de perceber as representações das obrasdo artista

Véio, no sentido de conceber a partir de seu trabalho a importância da preservação da

memória e da cultura de nosso povo. Além de conhecer o mundo simbólico do artesão Véio

através da forma e objetos que utiliza para produção de sua arte, e que apesar de utilizar a

madeira como matéria prima, tem consciência da importância e cuidados com a preservação

ambiental. Fato que é observado na preservação de mata virgem existente em sua propriedade

onde está localizado seu museu a céu aberto, bem como a sua residência.

Partindo desse contexto, este estudo está estruturado em uma introdução, dois tópicos

e as considerações finais, levando em consideração que, por ser tratar de uma pesquisa-campo

qualitativa, a nossa escrita reflete as marcas da oralidade típicas dos atores envolvidos, ou

seja, tal uso dessas marcas são as representações sociais, políticas, simbólicas e territoriais de

se falar sobre lugar, arte etc.

Neste sentido, no primeiro tópico narrarei:1. DE CÍCERO ALVES DOS SANTOS A

VÉIO. Este tópico objetiva fazer uma descrição narrativa da vida e infância do artesão Véio.

Essa narrativa buscará captar os diversos movimentos que compõem o universo

simbólicodeste artesão. Assim, no item: 1.1 – A madeira como matéria-prima. Aqui mostrarei

como o artesão troca da cera de abelha usada inicialmente aos cinco anos de idade para

confecção de suas primeiras tentativas de fazer suas esculturas e que com a escassez dessa

matéria prima passa a usara madeira até o presente momento. No segundo,1.2– Ambientalista

por natureza. Nesta parte descreverei como Véio aproveita as sobras de madeira encontradas

em seus passeios pela mata, transformando a madeira morta em belíssimas obras de artes,

dando vida.

Deste modo, nestestópicos iniciais trará a vida, infância, costumes, história local e

matéria prima utilizada na arte deste notável artesão gloriense. Assim, essa narrativa do

universo simbólico de Véio servirá de substrato para as demais partes.

No segundo tópico, o2. A ARTE PAR SEUS OLHOS. Nesta parte, analisarei de que

forma a arte faz parte do universo de Véio, sua paixão, bem como seu compromisso com a

preservação da cultura local. Apresentarei no primeiro tópico: 2.1 – Um artesão apaixonado

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pela arte. Veremos através das memórias do artista as suas fontes de inspiração, numa

tentativa de decodificar o real e o abstrato, percebendo no seu trabalho uma forma de

preservação da memória do povo do sertão.

Continuando ainda nesta perspectiva, tratarei na parte 2.2 – Obras do artesão Véio.

Onde nesta parte do estudo será tratado o quanto suas obras ganharam notoriedade em

Universidades, exposições ao longo do Estado de Sergipe; diversos estados do Brasil e em

países estrangeiros, tais como, EUA, Chile, França e Bélgica, como também nas mãos dos

mais diversos colecionadores que apreciam sua arte. Já no tópico, 2.3 - As representações do

homem sertanejo – Tratarei de analisar através de suas esculturas rústicas, feitas de traços e

cortes simples uma representatividade do homem sertanejo que Véio pesquisa há 40 anos a

vida e costumes desses homens.

1 – DE CÍCERO ALVES DOS SANTOS A VÉIO

Cícero Alves dos Santos, nome dado em homenagem ao Padre Cícero, protetor do

sertanejo e do Rio são Francisco é filho do carpinteiro Maximino Alves dos Santos e de Maria

Júlia de Oliveira, nasceu na cidade de Nossa Senhora da Glória, no estado de Sergipe, em

1947. Conhecido popularmente e nacionalmente como Véio, nome dado devido passar horas e

horas ouvindo as pessoas mais velhas conversando, é hoje um importante artesão de Sergipe e

do Brasil.

Desde cinco anos de idade Cícero Alves dos Santos já demonstrava habilidades para

fazer trabalhos manuais, iniciando com cera de abelha, matéria-prima encontrada na sua

região.Enquanto outros meninos brincavam, ele priorizava os assuntos tratados por aqueles

que, em sua opinião, “tinham sempre importantes estórias para contar”2.

Com o passar do tempo, na idade adulta, Véio vai deixando para trás o interesse pelo

estudo formal e, devido à profissão do pai, carpinteiro, o então artesão começa a ter interesse

no trabalho em um tipo de madeira chamada de imburana, árvore de mata ciliar rara em

Sergipe, esculpindo com muita habilidade a cultura do homem sertanejo, bem como retrata

em suas artes a vida e o sofrimento do homem nordestino. Assim não só tem interesse pelas

esculturas, mas, passa a ter interesse pela história oral dos costumes e tradições do nosso

povo.

2Entrevista concedida a autora. Nossa Senhora da Glória, 09 de junho de 2012.

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Em 1986, recebeu o merecido prêmio do maior miniaturista do Brasil, reconhecido

pelo “GuinessWorld Book”, lançado em português como “O livro dos recordes” por suas

quase 3.000 peças de tamanho variado com até (3 mm), sempre retratando situações da vida

do sertanejo. Nesta mesma década também se dedicava a colecionar objetos raros e antigos da

nossa região e do nosso povo, pois as pessoas não valorizavam estes materiais e com grande

facilidade se desfaziam deste imenso legado cultural. Para ele, este acervo seria fundamental

para manter viva a história do nosso povo, que poderia ser levado e preservado de geração em

geração.

Véio, com muito esforço e determinação, já expôs seus trabalhos nas diversas capitais

brasileiras, a exemplo de Aracaju, Natal, Salvador, São Paulo, Recife, Brasília.Amostra de sua

arte também pode ser apreciada em país como: Bélgica, França, EUA e Chile.

Em 1995, Véio montou o seu próprio museu denominado “Boca da Mata” na cidade

de Nossa Senhora da Glória com o apoio dos acadêmicos do Curso de Relações Pública da

UNIT e da Prefeitura Municipal. O Museu foi entregue ao Município com um acervo de

aproximadamente 5600 peças, entre esculturas em madeira do próprio artista e algumas

relíquias que faziam parte da história do homem sertanejo, colecionadas pelo artesão.

Infelizmente, por falta de interesse do poder público local em manter este museu, após

pouco mais de três meses o artesão frustrado e decepcionado com tamanha falta de

sensibilidade e descaso com a cultura local procurou a administração da UNIT na tentativa de

viabilizar uma possível negociação do seu acervo. Revoltado, esculpiu em madeira o que para

ele representaria “o enterro da cultura” (Figura 01).

Esta revolta de Véio ficou explícita em depoimento a autora, quando relata: “Meu

trabalho aqui é como um copo descartável”1, deixando claro que a cultura local não é vista do

mesmo ponto de vista que o artesão apresenta, no sentido maisamplo da palavra cultura.

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Com um sentido de volume muito peculiar, Veio não só equilibra quatro elementos

com harmonia em uma única escultura de pequena dimensão – uma figura de mulher, duas

crianças, um feixe de lenha – como, mais recentemente, partiu para a instalação do seu

trabalho em espaços abertos, públicos, em pleno sertão sergipano. Na rodovia Engenheiro

Jorge Neto, quem passa em frente ao seu sítio, se depara com figuras em tamanho natural ou

agigantado de lavradores com suas pás, mulheres grávidas carregando pesos, crianças e

animais, Lampião, Maria Bonita, Padre Cícero, além de procissões de enterro, pares dançando

forró, criam uma atmosfera há um tempo onírica e crítica do penoso dia-a-dia do homem do

campo em sua pobreza, mas alimentado pela aura de sua cultura.3Igualmente cabe ressaltar

que as lendas folclóricas também fazem parte deste universo do artesão.

Ao conceituar a arte, mesmo que seja de forma genérica é possível dizer que é uma

criação humana que designa valores estéticos, tais como beleza, equilíbrio, harmonia, revolta,

3FROTA, Leila Coelho. Pequeno Dicionário da Arte do Povo Brasileiro. Rio de Janeiro, Aeroplano, 2005.

Fig.01 - O enterro da cultura - Fonte: Acervo do Max

– Museu de Arqueologia de Xingó.

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tristeza, e uma imensa gama de outras representações que sintetizam suas emoções, sua

história, seus sentimentos e a sua cultura.

1.1- A MADEIRA COMO MATÉRIA-PRIMA

Véio começou confeccionar suas obras de arte aos cinco anos de idade, ou

seja,inicialmente usou a cera de abelha como sendo suas primeiras tentativas de fazer suas

esculturas, usava como massa de modelar. Assim, com a escassez dessa matéria prima passa a

usar a madeira para confecção de sua arte, sendo utilizada até o presente momento, sempre

com um olhar pensado no uso consciente e na preservação do meio ambiente.

Com a dificuldade em conseguir o produto para esculpir suas obras e sendo o seu pai,

Maximino Alves dosSantos, um carpinteiro passou a utilizar “os restos” de madeira para fazer

o seuartesanato.A madeira utilizada pelo artista é o mulungu, que se caracteriza em uma

madeira macia, sem valor comercial, porém existente em grande quantidade na região. Já em

Fig.02 – Grupo de figuras nordestinas - Fonte: Acervo do

Max – Museu de Arqueologia de Xingó

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relação à fabricação de peças para seu mostruário e acervo, bem como para encomenda,ele

reproduz apeça na madeira cedro ou em imburana, sendo um tipo mais resistente e duradoura.

A partir de dois tipos de troncos de árvore é que Véio faz as suas esculturas. Para ele

os troncos abertos são aqueles em que a própria estrutura da árvore já se acomoda para a

projeção da imagem, exemplo de uma forquilha que por sua forma já pode se transformar em

duas pernas ou cifres o que vai depender do olhar do artista. O outro tipo, os troncos fechados

são trabalhados de acordo com sua fértil imaginação, dando vida a personagens criados por

ele.

É interessante ressaltar que essas produções artísticas, ou seja, essas projeções não

obedecem a uma ordem ou regra estabelecida. De acordo com o imaginário de Véio elas vão

sendo projetadas e criadas. Neste contexto é que acontece o mundo de representações do

artesão Véio, e esta particularidade está presente principalmente a partir das obras feitas no

que ele chama de “tronco aberto”. Assim podemos perceber e afirmar a relação de seu

trabalho com a natureza, fato que se comprova ao comprar uma área de terra nativa, em

extinção onde tem o privilégio de morar e trabalhar. Para ele:

A inspiração nasce da visão, você chega numa árvore dessa, como eu cheguei aqui, e

vi todo tipo de escultura, já que eu posso aproveitar uma árvore dessa, é só eu olhar

e ver qual a história de cada peça. No meu trabalho eu não sou um desmatador, eu

dou vida a quem já tá morto, eu coloco ela pra que seja apreciada com a beleza e as

curvas que ela tem. Quando você pega um tronco fechado, você aí cria a partir da

inspiração. Eu trabalho com os dois gêneros diferentes, tanto vejo a obra feita,

quando ela tem curva, e quando ela não tem curva eu dou forma, eu interpreto de

dentro de minha imaginação.4

Assim sendo, Véio é um artista popular que inventa, cria com liberdade e imaginação,

seu próprio universo, usando como instrumentos a madeira e um simples canivete. (Figuras

03 e 04).

1.2 – AMBIENTALISTA POR NATUREZA

Apartir da escassez de sua matéria prima utilizada inicialmente, a cera de abelha

resultando na permuta pelo uso da madeira como sua atual matéria primaVéio é um homem

4DVDteca Arte na Escola – Material educativo para professor-propositor; 66.

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simples, sem estudos, maspreocupado com as questões ambientais, haja vista a

aquisiçãodamatéria-prima que utiliza não é um dos principais problemas do artesão, pois é

conhecedor da importância da preservação do meio ambiente. Fato que se justifica ao manter

intocável e preservada uma pequena reserva de mata nativa, em extinção em nosso município

em seu sítio, local do museu intitulado Sítio “SóArte” em que busca preservar a fauna e a

flora local.Como o próprio autor afirma: “Eu não mato o que está vivo. Eu dou a vida a quem

já está morto”. 5

Ambientalista por natureza, Véio aproveita as sobras de madeira encontradas em seus

passeios pela mata, transformando a madeira morta em belíssimas obras de artes, dando vida.

2. A ARTE PARA SEUS OLHOS

À margem da Rodovia Engenheiro Jorge Neto, que leva ao município de Nossa

Senhora da Glória, no interior do sertão sergipano, mais precisamente na BR 206, entre os

5Véio / Instituto Arte na Escola ; autoria de Dora Maria Dutra Bay; coordenação de Mirian Celeste

Fig.03 - Sítio “SóArte” e local da reserva ambiental

de Véio – Acervo Pessoal

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municípios deNossa Senhora da Glória,e Feira Nova,na altura do Km 8, encontramos o Sítio

“SóArte”, é sem sombras de dúvidas, uma visita inesquecível e singular. (Figura 05).

Da própria rodovia o visitante já vislumbra de um magnífico cenário composto por

esculturas em madeira bruta expostas a céu aberto, dispostas nas laterais do acesso à

residência do artesão. Lá se encontra: museu, sítio, e residência oficial do artesão. Este espaço

é um convitea percorrer um pedaço especial do universo do artista. É o próprio artista quem

guia a visita, através de seu sítio transformado em museu ao céu aberto, com aulas reveladoras

sobre sua obra, suas crenças e sobre as coisas da vida e do Sertão.

Com isso, mostra como ele construiu, à frente de seusítio, uma verdadeira galeria de

arte a céu aberto. Lá encontramos esculturasem tamanho natural ou gigantes de homens,

mulheres,crianças e animais, ilustrando cenas cotidianas que traduzem um poucoda cultura

nordestina, é uma exposição permanente a céu aberto, que acaba enriquecendo o espaço ali

constituído.

Como ele afirma no documentário:

Essas são exposições que a gente coloca, assim, a céu aberto, com afinalidade de

mostrar que a arte, ela não é só para estar no gabinete ouem escritórios, ou em

museus. Ela pode estar também na roça, fazendoparte desse povo que também

convive com o sol, com a poeira ecom a seca. Por isso é que ela está aí, ressecada no

sol.6

As esculturas de Véio são rústicas, feitas de traços e cortes simples e agudos que

traduzem e representam o imaginário popular sertanejo.

6Entrevista concedida a autora. Nossa Senhora da Glória, 09 de junho de 2012.

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A madeira em seu estado bruto, vai aos poucos sendo ressignificada, a partir da

suanova existência e readaptação, fazendo parte deste universo único e particular de Véio que

afirma: “A inspiração nasce da visão. Então, numa árvore dessas, eu vejo todo tipo de

escultura que eu posso aproveitar. Só de olhar, eu já sei o que eu vou fazer e qual a história de

cada peça”. E ainda acrescenta: “Aqui eu converso com eles. Eles têm vida, têm alegria, têm

tristeza. Cada peça dessas é uma pessoa, é um filho, é um irmão, é uma família”.7

É certo que devido à exposição ao ar livre, ao sol e a chuva as peças de Véio terá vida

curta, mas sua eterna criatividade e paixão pela arte este cenário vai sempre se renovando,

resignificando.

Véio não fala só do homem nordestino, a religiosidade também está fortemente

presente em seu museu, através de peças produzidas demonstrando diversas devoções típicas

do catolicismo, encenando novenas, procissões, seguidas por fiéis. Apesar de se considerar

“um atoa”, deixa claro sua fé em um ser superior.

7Entrevista concedida a autora. Nossa Senhora da Glória, 09 de junho de 2012.

Fig.04 – Os personagens nordestinos presentes no

museu de Véio–Acervo Pessoal.

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Diante do contexto, é possível afirmar que a história está dentro de nós, e não fora.

Neste sentido o acervo museológico possui a capacidade de ampliar o significado do tempo e

do espaço quando da visitação ao museu, ou seja, relaciona presente e passado em tempos,

lugares e cidades diferentes para além do que se pode ver construindo e reconstruindo a

identidade coletiva.

Nesta perspectiva a memória, Le Goff (1996), está a serviço do homem visitante no

museu. O potencial de despertar no ser a busca de sua memória está contido no museu e

permeia o visitante em todos os momentos da visitação, inclusive naqueles indivíduos que não

estão, num primeiro momento,dispostos a esta busca.

Segundo Abreu (2003), o museu consegue engenhosamente entrelaçar a “história

oficial” de uma época com a história de nossos avós, em que o tempo perde singularidade e a

memória une passado e presente, despertando o “espírito” de um tempo, por meio de

testemunhos vivos do passado. Ou seja, na tentativa de aproximar presente e passado, pela

memória, é interessante observar, por exemplo, como pequenos costumes são preservados por

diversas pessoas até os dias atuais.

Fig.05 - Museu do Artesão Véio – Acervo Pessoal.

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Diante do exposto, é possível afirmar que Véio é um lutador para manter nossas

tradições e valores culturais (Figura 09), conseguindo a admiração de renomados críticos do

universo da arte, um homem apaixonado pela cultura local, pela cultura de seu povo.

2.1 – UM ARTESÃO APAIXONADO PELA ARTE

Em entrevista cedida à autora, em 09 de junho de 2012, é perceptível o amor, a paixão

pela arte, apesar de exercer também a função de lavrador como sua fonte de renda é através da

arte que ele se realiza, materializa seus pensamentos, sua ideias, seu eu. Além de seu

compromisso com a preservação da cultura, da arte. E ainda acrescenta: “eu não copio

trabalho de ninguém, eu crio”8, mostrando assim, sua particularidade, sua individualidade, sua

marca, o da criatividade no fazer artístico.

Quando questionado sobre a possibilidade da arte ser uma fonte de renda, um meio de

auto-realização ou ambas, argumenta: “Como artista não tenho como sobreviver em uma terra

tão pobre como é a nossa, a arte é mais como um lazer, um passatempo, hoje é também a

partir de agora uma fonte de renda, eu faço pensando no prazer pessoal”.9 Assim, é possível

concluir que a paixão pela arte está acima de lucros financeiros, mas acima de tudo, “lucro

espiritual”, que só um artista e apaixonados pela arte pode explicar seu valor.10Véio é uma

artista que apenas deseja revestir de símbolos, de representações, a história de sua gente,

como descrito no documentário:

Eu quis fazer um trabalho por amor à profissão, por respeito ao passadode um povo,

por ter uma história da arte num estado onde nãoé respeitada a cultura, então eu

passei a fazer o trabalho com esteobjetivo. Eu nasci assim com esta fascinação não

só pelas coisasantigas, mas pelas coisas do universo. Então eu não sabia, nem

faziapara me tornar um artista, mas fazia por uma necessidade que a própria mente

mandava.11

Segundo Chartier (1990), que tudo dentro da sociedade pode ser entendido como

representação e prática, e que as representações estão sempre presentes e lidas entre as linhas

de todos os atos que tomamos, sejam no campo da coletividade ou da individualidade.Ao

entrevistar o artesão Véio, este se diz se diz “palhaço da arte” e conversa com as esculturas,

8 Entrevista concedida a autora. Nossa Senhora da Glória, 09 de junho de 2012. 9Entrevista concedida a autora. Nossa Senhora da Glória, 09 de junho de 2012. 10Entrevista concedida a autora. Nossa Senhora da Glória, 09 de junho de 2012. 11DVDteca Arte na Escola – Material educativo para professor-propositor; 66.

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“pessoas da família, que têm vida, alegria e tristezas”12.

2.2 – OBRAS DO ARTESÃO VÉIO

Véio passa a ganhar notoriedade na década de 1980 com suas esculturas em

miniaturas, feitas a canivete, esculpidas em palitos de fósforo, tendo sua marca registrada no

GuinnesWorld Book, como sendo as menores peças do mundo confeccionadas em madeira.O

artista ressalta em documentário que, para ele, as miniaturas não são competição,mas

desafios, e comenta:

é forma de mostrar para os amantes da arte que ela não é medidanem pelo tamanho,

nem pelo peso, a arte, pela sua criatividade, pelasua simplicidade, pela mensagem

que ela passa, pode ter 10 m., ou1mm., é o seu sentimento, é sua forma de

expressão.13

As obras de Véio ganha cada vez mais espaços em universidades, tais como a UNIT-

Universidade Tiradentes, como também em várias cidades do estado, e em boa parte do

Brasil: São Paulo, Salvador, Recife, Natal e Brasília, e ainda em outros países como EUA,

Chile, Portugal, França e Bélgica, e para o mundo. Além do mais,Véio é um grande entusiasta

da cultura local, conhecedor da história de Nossa Senhora da Glória e colecionar de relíquias

de nossa localidade. Conta também com exposições permanentes no Memorial de Sergipe e

no Museu da Gente Sergipana.

Na luta para manter nossas tradições e valores culturais, consegue a admiração de

renomados críticos do universo da arte e, aos poucos, graças ao elevado nível de sua

sensibilidade, seus trabalhos ganham destaque nos mais renomados museus de arte do país e

em outros países. Neste sentido, Véio ganha dimensões gigantescas, de Nossa Senhora da

Glória para o mundo.

Recentemente em outubro de 2012, em Paris, o artesão Véio participou da exposição

coletiva “A exposição Histoires de Voir - Show andTell”, marcando o lançamento do livro

“Teimosia da Imaginação” na versão francesa, na ocasião em cartaz na Fundação Cartier.

(Figura 10).Mesmo com estas notáveis e expressivas obras Véio afirma: “Se chegar alguém

aqui dizendo “parabéns” ou “não vejo nada”, para mim é a mesma coisa”.14

12Entrevista concedida a autora. Nossa Senhora da Glória, 09 de junho de 2012. 13DVDteca Arte na Escola – Material educativo para professor-propositor; 66. 14Entrevista concedida a autora. Nossa Senhora da Glória, 09 de junho de 2012.

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É fato que além de inúmeras publicações de revistas de arte, a trajetória de Véio já foi

retratada em cinco documentários, a saber: “Véio- Tradição e Contemporaneidade”, “Nação

Lascada de Véio”, “A Glória do Sertão”, “Véio – O filme”, “O Universo Simbólico de Véio”,

e “Cavalhada de Poço Redondo”.

2.3 - AS REPRESENTAÇÕES DO HOMEM SERTANEJO

Véio pesquisa os costumes do homem sertanejo há 40 anos, fato que representa através

de suas esculturas esculpidas em madeira. Além disso, registra também em seu acervo os

costumes do sertanejo em peças que retratam os costumes de nossa gente, tais como a

gravidez e a tradição do parto com a ajuda da parteira e as crendices populares de enterrar o

umbigo da criança. Véio é também um contador de histórias do nosso folclore, sendo também

temas de sua preferência às histórias locais e as lendas. É fato que essa mesma compenetração

continua um traço marcante da personalidade do escultor sergipano Véio. Seus gestos e sua

Fig. 06 - Livro da exposição de Histoires de Voir -

Show andTell (Paris- 10/2012) –Acervo Pessoal.

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fala parecem constantemente externar a gravidade de seus sentimentos e pensamentos, os

quais ele articula e transmite com a destreza de um verdadeiro mestre.

Véio não é só simplesmente um artesão e agricultor, mas um homem simples,

preocupado em resguardar a memória do homem sertanejo, cujo objetivo, assegura Henry

Rousso:

Seu atributo mais imediato é garantir a continuidade do tempo e permitir resistir à

alteridade, ao „tempo que muda‟, as rupturas que são o destino de toda vida

humana; em suma, ela constitui – eis uma banalidade – um elemento essencial da

identidade, da percepção de si e dos outros”. (ROUSSO, 1998, pp.94-95).

Véio tira das peças brutas a sua tradução da arte nordestina sob a interpretação do

cotidiano a crítica econômica, social e política da nossa gente nordestina. Através da arte Véio

encontra uma forma de questionar as mazelas sociais trazidas pelo povo sofredor sertanejo,

seja pelas condições climáticas do sertão, seja pela falta de políticas públicas voltadas para

amenizar o sofrimento da população carente do nordeste. Nesta perspectiva a arte popular

acaba desnudando uma realidade, ou seja, é a angústia humana presentes em todas as culturas.

Desse modo, Chartier (1990) esclarece que a História Cultural é importante para

identificar o modo como em diferentes lugares e momentos uma realidade social é construída,

pensada, dada a ler. No entanto, aHistória Cultural deve ser entendida como o estudo dos

processos com os quaisse constrói um sentido, uma vez que as representações podem ser

pensadas como“[...] esquemas intelectuais, que criam as figuras graças às quais o presente

podeadquirir sentido, o outro tornar-se inteligível e o espaço ser decifrado”

(CHARTIER,1990,p.17).

É neste universo simbólico que Véio retrata o cotidiano das comunidades sertanejas

através de sua visão crítica. Assim, este universo representa não só o cotidiano dos grupos

vivenciais sertanejos, mas consegue também remetermos à abrangência antropológica do

homem contemporâneo, ou seja, aproximando tradição e modernidade.

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Contudo, Véio não representa apenas um artista, mas é um verdadeiro museu vivo no

qual está guardada toda a nossa história local.Autodidata, Véio admirava a cultura popular

desde criança, quando começou a executar suas primeiras peças em cera de abelha.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A principal contribuição que se pretendeu dar com este trabalho foi estabelecer uma

rápida discussão a cerca das representações das obras do artesão conhecido popularmente por

Véio. Estudar o universo simbólico deste notável artista possibilitou-me deparar com duas

prerrogativas: a sensibilidade do artesão e sua história.

Em relação a sua sensibilidade, o artesão utiliza a madeira praticamente em estado

bruto, o que a partir de sua visão artística são apenas readaptadas para sua nova existência,

resignificadas para integrarem este mundo particular e único de Véio. É neste mundo

simbólico que o artista vive.

Entretanto, ao observarmos uma obra de arte depende de nossa experiência,

conhecimento e sensibilidade para podermos entender suas múltiplas representações. É

Fig. 07 - Sítio “SóArte” – Acervo Pessoal.

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necessário que tenhamos disposição e imaginação para podermos compreender os

significados de uma arte e sua dimensão.

A história de Cícero Alves dos Santos é permeada de tristezas, alegrias, decepções,

superação e um amor incondicional a arte e a cultura, demonstrando a necessidade em

valorizar as identidades, em rememorar as tradições.

Ao utilizar a madeira como matéria prima tem a consciência de percebê-la como

elemento fundamentalmente inserido em um ecossistema, na qual precisa ser conservada e

preservada, não só pelos artesãos, artistas e usuários mais sim, de toda a humanidade, pois se

constitui em um dos mais importantes recursos naturais. No que concerne à madeira, tudo

causa influência ao fazedor de arte, textura, densidade etc. A forma como esta matéria-prima

se apresenta diante do homem e do mundo, parece despertar um desejo de transformar

pensamento em peças, e objetos de arte.

Neste trabalho fez-se necessário entender que a relevância desta discussão está

centrada na concretização de um sonho que o artesão tinha em criar um espaço vivo da

memória do povo sertanejo, com o intuito de preservar para que as gerações futuras pudessem

se apropriar das memórias da nossa gente, do cotidiano das comunidades sertanejas, com seus

misticismos, lendas e lutas relacionadas à natureza, vista a partir do olhar crítico de um

artesão simples e popular, com uma sabedoria grandiosa.

Desde seus cinco anos de idade já demonstrava habilidades com o fazer artístico, um

autodidata, moldava suas ideias inicialmente com a cera de abelha, material que tinha ao seu

redor, que ao tornar-se escassa passa a utilizar a madeira como sua matéria prima, utilizando-a

ultimamente para realização do seu fazer artístico, do seu eu, da sua subjetividade.

Conclui-se que o artesanato produzido pelo artesão Véio, assim como o acervo que

encontramos em seu museu (Figura 09), possuem de alguma forma, características culturais

do município de Nossa Senhora da Glória, agregando valores culturais que devem ser

preservados, assim como os visitantes de outras regiões possam conhecer a cultura e valores

do povo sertanejo, e o mais interessante é que o visitante é guiado pelo próprio artesão, cada

peça narrada tem a representação própria do autor, com a competência e simplicidade de um

autêntico nordestino. E, por fim, quando questionado sobre o que a arte representa para ele,

mas uma vez surpreende: “A arte é tudo, vida, alegria, comunicação, política”.15

15Entrevista concedida a autora. Nossa Senhora da Glória, 09 de junho de 2012.

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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Rio de Janeiro: DP&A, 2003.

BAY, Dora Maria Dutra. Véio/Instituto Arte na Escola. São Paulo: Instituto Arte na Escola,

2006.(DVDteca Arte na Escola – Material educativo para professor-propositor; 66).

CHARTIER, Roger: A história cultural entre práticas e representações. Tradução de Maria

Manuela Galhardo.Rio de Janeiro: Bertrand Brasil; 1990. 245p.

______. O mundo como representação. Estud. av.[online]. 1991, vol.5, n.11, pp. 173-

191.ISSN 0103-4014.(Acessado dia: 09/12/2012).

FUSARI, Maria F. & FERRAZ, Maria H. A arte na educação escolar. São Paulo: Cortez,

1993.

LE GOFF, Jacques. LEITÃO, Bernardo. (Trad.). [et. Al.]. História e Memória.Campinas, SP:

Editora da UNICAMP, 1996.

ROUSSO, Henry. A memória não é mais o que era. In: Ferreira, Marieta de Moraes &

Amado, Janaína. História oral: usos e abusos. R.J., FGV, 1996.

VÉIO: Entrevista concedida a autora. Nossa Senhora da Glória, 09 de junho de 2012.

Sites Consultados:

http://www.unit.br/memorial/arquivos/SALA%20Folclore.pdf. Acessado dia 09/12/2012.

http://www.galeriaestacao.com.br/artista/7. Acessado dia 08/12/2012.