introduÇÃo aos sistemas agroflorestais

33
5 INTRODUÇÃO AOS SISTEMAS AGROFLORESTAIS ALINE MARIA COSTANTIN MSc. AGROECOSSISTEMAS INSPETORA DE RECURSOS NATURAIS NATURATINS

Upload: lino-vieira

Post on 11-Feb-2015

75 views

Category:

Documents


14 download

TRANSCRIPT

Page 1: INTRODUÇÃO AOS SISTEMAS AGROFLORESTAIS

5

INTRODUÇÃO AOS SISTEMAS AGROFLORESTAIS

ALINE MARIA COSTANTIN

MSc. AGROECOSSISTEMAS

INSPETORA DE RECURSOS NATURAIS

NATURATINS

Page 2: INTRODUÇÃO AOS SISTEMAS AGROFLORESTAIS

6

INTRODUÇÃO

As técnicas agroflorestais têm sido desenvolvidas empiricamente e vêm sendo

utilizadas há várias gerações pelos índios e o homem do campo em diferentes partes do

mundo, mas só recentemente tem despertado interesse como atividade científica. De um

modo geral, os sistemas agroflorestais têm sido apontados como de grande relevância por

contribuir com o desenvolvimento de comunidades rurais. No mundo tropical, tais técnicas

têm sido utilizadas com eficácia, principalmente para atender as seguintes necessidades: a

produção de alimentos associando cultivos agrícolas (arroz, milho, feijão, mandioca...)

com manejo de espécies florestais de valor; a provisão de sombra em cultivos de

rendimento e exportação (café, cacau, etc.); a produção de lenha extraída do bosque

secundário ou produzida tradicionalmente em cercas vivas, combinadas com cultivos

agrícolas ou pastagens; a valorização de pastagens naturais ou melhoradas, com a

associação de árvores madeireiras que também protegem o solo, a pastagem e os animais.

É objetivo dos sistemas agroflorestais otimizar a produção por unidade de

superfície, respeitando sempre o princípio de rendimento contínuo, principalmente através

da conservação/manutenção do potencial produtivo dos recursos naturais renováveis:

conservação dos solos, recursos hídricos, fauna e das florestas nativas.

A maior dificuldade encontrada no sistema está na limitação de conhecimento por

parte dos agricultores e até mesmo dos técnicos e pesquisadores, o que dificulta sua

implantação na maioria das regiões.

2. CONCEITOS E DEFINIÇÕES

Os sistemas agroflorestais são considerados como uma alternativa de uso dos

recursos naturais que, normalmente, causam pouca ou nenhuma degradação ao meio

ambiente, principalmente por respeitarem os princípios básicos de manejo sustentável dos

agroecossistemas.

Altieri (2002) cita a definição do ICRAF (Centro Internacional para Pesquisa

Agroflorestal), nos seguintes termos:

Page 3: INTRODUÇÃO AOS SISTEMAS AGROFLORESTAIS

7

O Sistema Agroflorestal é um sistema sustentável de manejo de solo e de plantas que procura aumentar a produção de forma contínua, combinando produção de árvores (incluindo frutíferas e outras) com espécies agrícolas e animais, simultaneamente ou seqüencialmente, na mesma área, utilizando práticas de manejo compatíveis com a cultura da população local.

Altirei (2002), Dubois (1996) e Macedo (2000) conceituam os sistemas

agroflorestais como formas de uso e manejo dos recursos naturais nos quais espécies

perenes de porte arbóreo são utilizadas em associação com cultivos agrícolas e/ou animais,

em uma mesma área, durante um mesmo período ou em uma seqüência temporal.

De acordo com Altieri (2002), qualquer que seja a definição é consenso que o

Sistema Agroflorestal representa um conceito de uso integrado da terra, particularmente

adequado às áreas marginais e a sistemas de baixo uso de insumos.

Segundo Macedo (2000), os SAFs são sistemas de uso e manejo dos recursos

naturais que integram consorciações de árvores e culturas agrícolas e/ou animais de forma

científica, ecologicamente desejável, praticamente factível e socialmente aceitável pelo

produtor rural, de modo que este obtenha os benefícios das interações ecológicas e

econômicas resultantes. São consorciações que se alicerçam em princípios de

sustentabilidade, pois envolvem aspectos ambientais, econômicos e sociais.

Para Kageyama (1999), o conceito mais tradicional de SAF apontava que o simples

fato de juntar uma espécie agrícola com uma florestal já caracterizava esse tipo de sistema,

levantando-se a vantagem de maximizar a utilização do espaço aéreo e radicular. Isto

representou, de fato, o inicio de um movimento em favor do plantio consorciado que hoje

tem culminado num sistema multi-espécies, imitando a alta diversidade natural,

principalmente nos ecossistemas tropicais.

O avanço nos SAFs a partir da experimentação empírica por agricultores e, mais

recentemente, a partir de experimentos mais formais, denominados científicos, vêm

mostrando que os sistemas mais complexos imitando as florestas naturais, utilizando os

conceitos de biodiversidade e sucessão ecológica, apontam novos horizontes para a

agricultura nos trópicos. (KAGEYAMA, 1999).

Para Macedo (2000), os SAFs têm sido classificados de diferentes maneiras, quanto

a sua estrutura no espaço, seu desenho, sua importância relativa e a função dos diferentes

componentes, assim como os objetivos da produção e suas características sociais,

ecológicas e econômicas.

Page 4: INTRODUÇÃO AOS SISTEMAS AGROFLORESTAIS

8

3. PRINCÍPIOS

PRINCÍPIO ECOLÓGICO

Baseiam-se no princípio ecológico denominado biodinâmica da sobrevivência,

proporcionando o máximo aproveitamento da energia solar vital, através da

multiestratificação diferenciada de uma grande diversidade de espécies de usos múltiplos,

as quais exploram os perfis vertical e horizontal da paisagem, visando à utilização e

recirculação dos potenciais produtivos dos ecossistemas. Sua diversidade de espécies

vegetais forma uma estratificação diferenciada do dossel de copas e do sistema radicular

das plantas no solo.

As espécies arbóreas, por geralmente possuírem raízes mais profundas, exploram

maior volume de solo, sendo capazes de absorver nutrientes e água que os cultivos

agrícolas não conseguem. Com isso, a competição entre os indivíduos diminui e a retirada

de nutrientes e água do solo pelas plantas é diferenciada e aumentada.

O dossel de copas, formado pela diversidade de espécies vegetais, proporciona a

cobertura do solo através da deposição da camada densa de material orgânico, gerada,

continuamente, pela queda de folhas e ramos das diferentes culturas. Isto aumenta a

proteção do solo contra a erosão, diminuindo o escoamento superficial, promovendo maior

tempo de infiltração da água, reduzindo a temperatura do solo, aumentando a quantidade

de matéria orgânica e, conseqüentemente, melhorando as propriedades químicas, físicas e

biológicas do solo. Ainda através da estratificação do dossel de copas e da camada

depositada de material orgânico sobre a superfície do solo, ocorre a redução da incidência

direta de radiação solar que o atinge, diminuindo a ocorrência de plantas invasoras que são

extremamente exigentes em luz.

Através da presença do componente arbóreo, ocorrem modificações do microclima,

que são repercutidas no balanço hídrico do solo e contribuem para a elevação da umidade

do solo disponível para as plantas sob a copa das árvores. Isto ocorre devido a menor

incidência de radiação solar que chega ao solo, influenciando, de forma significativa, o

decréscimo da taxa de evaporação de água e a manutenção da umidade do solo. Este maior

teor de umidade no solo favorece a atividade microbiana, o que resulta na aceleração da

decomposição da matéria orgânica e possibilita o aumento da mineralização. As raízes

profundas das árvores podem interceptar os nutrientes que foram lixiviados das camadas

Page 5: INTRODUÇÃO AOS SISTEMAS AGROFLORESTAIS

9

superficiais e acumulados no subsolo, geralmente fora do alcance do sistema radicular das

culturas agrícolas e/ou pastagens, e ajudam a retorná-los à superfície na forma de

serrapilheira.

PRINCÍPIO SOCIAL

Quando implantados em uma determinada região possuem uma importante função

social, a de fixação do homem no campo devido principalmente ao aumento da demanda

de mão-de-obra e sua distribuição ser normalmente mais uniforme durante o ano (tratos

culturais ocorrem em diferentes épocas e formas, de acordo com as culturas), e da melhoria

das condições de vida, promovidas pela diversificação da produção (produtos agrícolas,

florestais e animais).

Ao serem comparados com os monocultivos os Sistemas Agroflorestais normalmente

produzem maior número de serviços e produtos para o consumo humano. Conferido

principalmente pela utilização de grande diversidade de espécies florestais arbóreas e

arbustivas, e pelas diferentes alternativas de consorciação com espécies agrícolas e/ou

animais, a partir de uma mesma área de terra. Como exemplo os Quintais Agroflorestais,

principalmente os da região Amazônica, que de acordo com Michon apud Macedo (2000)

são capazes de produzir até 40% das necessidades caloríficas de uma família rural.

PRINCÍPIO ECONÔMICO

A sustentabilidade econômica proporcionada pela alternância e diversificação da

produção e de produtos ao longo do ano caracteriza o principal princípio econômico do

Sistemas Agroflorestais.

A escolha de espécies utilizadas nos SAFs deve respeitar a preferência por produtos de

maior aceitação e venda no mercado em determinadas épocas do ano e ser diversificada,

para que o agricultor possa ficar protegido contra as quedas de preço de mercado as quais

nuca atingem todos os produtos ao mesmo tempo. E ainda através da comercialização

escalonada destes produtos aumentar a sua renda.

Page 6: INTRODUÇÃO AOS SISTEMAS AGROFLORESTAIS

10

A característica de perenidade dos SAFs diminui investimentos anuais pesados,

principalmente com o preparo de solo, adubação e controle de plantas invasoras.

Maiores oportunidades de emprego são geradas no meio rural devido a diversidade de

culturas, pois para o manejo destas é necessário uma gama variada de mão-de-obra.

Através do associativismo e da formação de cooperativas de produtos agroflorestais em

uma determinada região podem estimular a instalação de agroindústrias. Com a

agroindustrialização dos produtos agroflorestais na própria região é possível agregar valor

a estes produtos, gerar empregos e promover melhorias sociais no meio rural.

4. OBJETIVO DOS SAFs

O objetivo da maioria dos SAFs é otimizar os efeitos benéficos das interações entre

os componentes dos sistemas (arbóreo, agrícola e animal), a fim de obter uma produção

comparável com a obtida na monocultura, com os mesmos recursos, dadas as condições

econômicas, ecológicas e sociais predominantes. Para isso os SAFs necessitam:

- manter-se sustentável;

- conferir sustentabilidade aos sistemas agrícolas;

- aumentar a produtividade vegetal e animal;

- direcionar técnicas para uso racional do solo e água;

- diversificar a produção de alimentos;

- estimular a utilização de espécies para usos múltiplos;

- diminuir os riscos do agricultor;

- amenizar os fatores adversos do efeito de produção;

- minimizar os processos erosivos;

- combinar a experiência rural dos agricultores com o conhecimento científico.

5. Vantagens relacionadas aos Sistemas Agroflorestais

Como todo e qualquer sistema o contexto do sistema agroflorestal também apresenta

suas vantagens e desvantagens quando comparado a outros modelos agrícolas. Levando em

Page 7: INTRODUÇÃO AOS SISTEMAS AGROFLORESTAIS

11

conta os diferentes fatores que envolvem um sistema agrícola, os sistemas agroflorestais

apresentam como vantagens as seguintes características:

- Os custos de manutenção e implantação dos sistemas agroflorestais podem ser

mantidos dentro dos limites aceitáveis para o pequeno produtor. O estabelecimento do

sistema exige bastante mão-de-obra, porém esta pode ser reduzida fazendo-se o cultivo das

espécies perenes já na lavoura convencional. Sistemas já bem estabelecidos demandam

pouca mão-de-obra, com o conhecimento aguçado;

- Podem aumentar a renda familiar, e em sua fase de plena produção um consórcio

agroflorestal tem custo baixo de produção e pode gerar maior renda que os roçados

convencionais;

- Os sistemas agroflorestais contribuem com a melhoria da alimentação das

populações rurais. Acontece uma disponibilização de maior variedade e até quantidade

com qualidade de alimentos em muitos casos;

- Ajudam a manter ou melhorar a capacidade produtiva da terra. Ocorre melhor

proteção do solo e uma fertilização natural através da reciclagem de nutrientes;

- Diminuição do êxodo rural, porque facilitam a sedentarização dos agricultores.

Pelo fato de manter o solo produtivo por longos períodos, os SAFs têm grande vantagem

de fixar o agricultor a terra;

- Minimizam os riscos em virtude de uma maior diversificação da produção.

Quanto maior o número de espécies cultivadas menor é o risco relacionado a queda de

preços;

- Possibilitam melhor distribuição de mão-de-obra ao longo do ano. Não existindo

concentração de trabalho em apenas um período do ano;

- Tornam o trabalho mais confortável e favorecem a recuperação e preservação

ambiental. Os trabalhos em geral são realizados na sombra o que melhora o desempenho e

diminui o cansaço e a manutenção de vários extratos vegetais favorecendo a preservação

do ambiente;

- Menor necessidade de insumos, pois ocorre um reaproveitamento dos recursos

intrínsecos do sistema, requerendo menos investimento externo.

Page 8: INTRODUÇÃO AOS SISTEMAS AGROFLORESTAIS

12

6. Desvantagens relacionadas aos Sistemas Agroflorestais

Segundo Dubois, 1996, os conhecimentos dos técnicos, pesquisadores e dos

agricultores são ainda muito limitados. As relações entre plantas e exigências de muitas

espécies e a maioria dos agricultores nunca cultivou espécies florestais, muito menos

construiu sistemas agroflorestais.

- O manejo dos sistemas agroflorestais de modo geral é mais complicado quando

comparado a outros sistemas de cultivos;

- Em alguns casos o custo de implantação de sistemas agroflorestais é mais elevado,

principalmente quando as mudas de espécies florestais precisam ser compradas em

viveiros;

- O componente florestal pode diminuir o rendimento dos cultivos agrícolas e

pastagens dentro do sistema agroflorestal. A produtividade das diferentes espécies

dependerá das espécies escolhidas e do manejo;

- Os sistemas agroflorestais são de mais difícil mecanização. O uso dos atuais

equipamentos e máquinas é pouco recomendado existindo a necessidade de buscar

alternativas;

- Muitos produtos de sistemas agroflorestais ainda têm mercado limitado. É

preciso formar associações com espírito participativo, com o intuito de buscar

as melhores condições para vender os produtos;

7. Caracterização dos Sistemas Agroflorestais

Sistemas agroflorestais (SAFs) são formas de uso e manejo da terra, nas quais

árvores ou arbustos são utilizados em associação com cultivos agrícolas, também com

criação de animais numa mesma área de maneira simultânea ou numa seqüência temporal.

Para caracterizar-se como sistema agroflorestal, é obrigatória a presença de pelo menos

uma espécie florestal arbórea ou arbustiva (Dubois, 1996). São um conjunto de técnicas

Page 9: INTRODUÇÃO AOS SISTEMAS AGROFLORESTAIS

13

alternativas de utilização dos recursos naturais nos quais, espécies florestais são utilizadas

em associação com cultivos agrícolas e/ou animais em uma mesma superfície. Essas

combinações/associações/consorciações podem ser instaladas e manejadas de maneira

simultânea/escalonada/seqüencial no tempo e no espaço e apresentar caráter temporário ou

permanente (Macedo, 2000). Um SAF é composto por duas ou mais espécies, das quais ao

menos uma é lenhosa e perene (árvore, arbusto, palmeira, bambu) (Van Leeuwen et al,

1999, citado por Macedo, 2000). Segundo Macedo et al (1999), os SAFs são sistemas de

uso e manejo dos recursos naturais que integram consorciações de árvores e culturas

agrícolas e/ou animais de forma científica ecologicamente desejável, praticamente factível

e socialmente aceitável pelo produtor rural, de modo que esse obtenha os benefícios das

interações ecológicas e econômicas resultantes. São consorciações que se alicerçam em

princípios de sustentabilidade, que envolvem aspectos ambientais, econômicos e sociais.

Espécies florestais podem ser combinadas com uma ou mais espécies agrícolas ou

de animais. No caso de espécies de porte médio como citrus, café, cacau e outras que

apresentam o mesmo porte, não são consideradas como componentes florestais em

sistemas agroflorestais, isso em virtude do fato dessas espécies terem passado por um

longo processo de domesticação e melhoramento genético sendo hoje cultivos agrícolas

perenes. Quando do uso dessas espécies devemos consorciá-las com espécies florestais não

domesticadas para a obtenção de um legítimo sistema agroflorestal.

Dentro de um sistema agroflorestal as espécies florestais têm além do papel de

fornecer produtos úteis para o agricultor, o papel de manter a fertilidade do solo e a

biodiversidade. As espécies florestais geralmente têm grande capacidade de reciclar

nutrientes que enriquecerão o solo através da decomposição de ramos e folhas caídos ao

solo, além de abrigar e alimentar a variada fauna local.

Page 10: INTRODUÇÃO AOS SISTEMAS AGROFLORESTAIS

14

Ao levarmos em conta os diferentes tipos de associações e consórcios além dos

diferentes objetivos, os sistemas agroflorestais são classificados de maneira simplificada

em três grupos:

- Sistemas silviagrícolas: caracterizados através da associação de espécies florestais

com culturas agrícolas anuais ou perenes.

- Sistemas silvipastoris: caracterizam-se através da combinação de árvores ou

arbustos com plantas forrageiras herbáceas e animais.

- Sistemas agrossilvipastoris: tem como característica a criação de animais dentro de

um sistema silvi-agrícola.

Dentro desses três grandes grupos de sistemas agroflorestais existirão diferentes

classificações que dependerão do objetivo, tipo de consórcio, complexidade e outros

fatores que caracterizam o sistema. Dependendo do interesse e do manejo os sistemas

agroflorestais podem evoluir com o passar do tempo, e entrar para outra classificação

(Dubois, 1996).

8. Sistemas Silviagrícolas

8.1 Sistema Alley Cropping (aléias)

Esse sistema surgiu na Ásia, em regiões montanhosas das Filipinas, com a principal

finalidade de reduzir a erosão do solo (Kang et al, 1990, citado por Macedo, 2000). O

sistema de aléias é uma prática normalmente empregada em regiões tropicais da África e

Ásia, o qual vem permitindo melhoria nas características químicas do solo (carbono

orgânico e nutrientes), especialmente na camada superficial, quando comparado ao

Page 11: INTRODUÇÃO AOS SISTEMAS AGROFLORESTAIS

15

monocultivo (Macedo, 2000). Alley Cropping é descrito como sendo o plantio de árvores

nas entrelinhas das culturas agrícolas para produção de biomassa foliar. O plantio das

espécies florestais é feito em faixas e concomitantemente ou intermitentemente no tempo.

O componente arbóreo tem como função a melhoria e a conservação do solo e a produção

de biomassa foliar (Mac Dicken e Vergara, 1990, citados por Macedo, 2000).

As culturas anuais em virtude de suas características agronômicas, são plantas que

exigem bastante luz para se desenvolver e produzir adequadamente sendo assim bastante

complicado seu cultivo em agroflorestas densas e com vários extratos de plantas. Para

evitar a concorrência especialmente por luz estes cultivos são possíveis apenas em

situações onde se tenha um arranjo de plantas e um manejo que permita boa luminosidade,

permitindo assim o bom desenvolvimento das plantas.

Na fase inicial da implantação de uma agrofloresta em áreas antes ocupadas pela

agricultura convencional, o cultivo de plantas anuais torna-se possível e em certos casos

até interessantes. Faz-se o plantio das espécies anuais e em conjunto com este ou durante o

desenvolvimento da cultura faz-se também a semeadura de espécies arbóreas. A cultura

anual servirá, em alguns casos de proteção para o estágio inicial de desenvolvimento das

espécies florestais ali semeadas. Até que as condições de luminosidade e a velocidade de

desenvolvimento das espécies arbóreas permitam ser possível o cultivo de espécies anuais.

Esses cultivos dependendo da situação podem persistir durante os dois ou três

primeiros anos iniciais de implantação da agrofloresta.

Em situações onde não se tem condição de regenerar a terra com capoeiras de longa

duração, o terreno pode ser ocupado com espécies de ciclo curto, plantadas em faixas,

intercaladas com faixas de espécies arbóreas ou arbustivas adubadoras, que ajudarão a

Page 12: INTRODUÇÃO AOS SISTEMAS AGROFLORESTAIS

16

manter a capacidade produtiva do solo. No futuro estas espécies facilitarão a formação de

uma agrofloresta perene se assim desejar.

Para o sucesso do cultivo em aléias deve-se observar diversos fatores que são de

extrema importância no decorrer do desenvolvimento do sistema. A escolha das espécies

arbóreas que serão utilizadas para a formação das sebes verdes deve seguir vários

cuidados.

Deve-se primar por espécies que aceitam podas constantes e bastante drásticas, e

espécies com as quais o nível de competição com as culturas anuais fique em níveis

aceitáveis. Neste caso convém selecionar espécies com sistema radicular profundo e raízes

superficiais que não se afastam muito no sentido lateral.

O sistema de cultivo em aléias apresenta algumas desvantagens que o agricultor

deve analisar com cuidado. O sistema exige bastante mão-de-obra e as podas ou

rebaixamento não podem ser atrasadas. A maioria das podas é feita durante o período de

bastante desenvolvimento das culturas quando o agricultor já está muito atarefado. Além

do aumento da demanda por mão-de-obra, os rendimentos das culturas que ocupam as

aléias aumentam apenas depois do segundo ou terceiro ano. Algumas culturas anuais ou

bianuais podem não se adaptar bem ao sistema de cultivo em aléias.

Apesar das desvantagens, este sistema de cultivo apresenta características

importantes que ajudam a melhorar a fertilidade do solo e prolongar o tempo de uso do

mesmo. O material obtido nas podas e rebaixamento das sebes verdes é espalhado sobre o

solo das faixas de cultivo. A decomposição desse material fornece matéria orgânica para o

solo além de ajudar a reter umidade e aumentar a biodiversidade do solo.

Page 13: INTRODUÇÃO AOS SISTEMAS AGROFLORESTAIS

17

O processo de implantação das faixas de espécies florestais nas áreas de cultivo em

aléias deve seguir alguns princípios básicos. Em terrenos declivosos o cultivo das sebes

deve seguir as curvas de nível para ajudar na prevenção da erosão do solo. O cultivo dever

ser denso e a distância entre as faixas deve ser definida levando em conta o grau de

declividade do terreno. As distâncias mais comuns entre as sebes variam entre dois a seis

metros e o plantio das plantas adubadoras em geral é feito em filas duplas. Outra maneira

de ter melhor eficiência no controle da erosão é de associar as sebes adubadoras com

cultivo de faixas de gramíneas. Podem ser usadas entre outras o capim cidreira, que tem

crescimento lateral reduzido. No caso da associação de gramíneas como barreiras

antierosivas com as sebes verdes, as primeiras devem ser cultivadas logo abaixo das

espécies arbóreas ou arbustivas para melhorar o controle da erosão e favorecer o

desenvolvimento das sebes verdes.

Em terrenos planos as sebes verdes devem ser cultivadas em linhas paralelas e

orientadas no sentido leste oeste para diminuir o efeito do sombreamento destas sobre os

cultivos agrícolas. Em solos declivosos esta orientação sempre que possível, deve ser

perpendicular ao caminho do escoamento superficial da água da chuva.

Praticamente todos os cultivos agrícolas podem ser desenvolvidos em aléias, sejam

anuais ou plurianuais. O resultado dos cultivos pode ser melhorado com ajustes de

espaçamento e manejo adequado das sebes verdes.

As áreas ocupadas com sistemas de produção em aléias requerem tratos especiais

como, poda seletiva, podas de rebaixamento, eventuais podas de raízes das sebes verdes e

replantio para preenchimento de folhas ou brechas.

Page 14: INTRODUÇÃO AOS SISTEMAS AGROFLORESTAIS

18

A poda seletiva é feita para diminuir o grau de sombreamento e consiste na retirada

de apenas parte da folhagem das perenes adubadoras. O rebaixamento consiste numa poda

drástica e retirada de toda folhagem, mediante corte feito, em geral, a pouca altura acima

do solo. A altura do corte dependerá da espécie utilizada, assim como a periodicidade dos

mesmos. Os objetivos do rebaixamento são diminuir a competição e aumentar a quantidade

de matéria orgânica no solo. Deve-se fazer o maior número possível de rebaixamentos,

porém sem debilitar demais as perenes adubadoras.

Para diminuir a competição por água e nutrientes entre sebes verdes e cultivos

agrícolas, pode-se aumentar a largura das aléias e fazer a poda das raízes das adubadoras

perenes. O aumento da largura das aléias pode diminuir o grau de adubação esperado,

acelerando assim os gastos das reservas do solo. O sistema de produção em aléias assegura

melhor manutenção da capacidade produtiva do solo, assim mesmo, acontece um gasto

progressivo das reservas do solo, sendo necessário de tempos em tempos oferecer períodos

de descanso ou aplicação de pequenas quantidades de adubo.

8.2 Sistema de Taungya

Este sistema silviagrícola foi desenvolvido inicialmente na Europa, onde os

agricultores faziam semeadura direta de sementes de espécies florestais misturadas com

sementes de espécies agrícolas. Em 1856 o botânico alemão Dietrich Brandis introduziu o

método na Birmânia, onde recebeu o nome de Taungya, que na língua local significa

plantio de encosta. Taungya era o nome dado ao sistema de agricultura de queima e roça

(Flor, 1985, citado por Macedo, 2000). Seu uso no Brasil teve início a partir do trabalho

realizado por Gurgel Filho em 1962, que consorciou Eucalyptos Alba com milho (Passos,

Page 15: INTRODUÇÃO AOS SISTEMAS AGROFLORESTAIS

19

citado por Macedo, 2000). O termo Taungya está especificamente relacionado a uma roça

em que cultivos agrícolas de ciclo curto são associados, por um certo tempo, a um plantio

uniforme de mudas de uma ou mais espécies madeireiras que, ao crescerem, formam uma

floresta de rendimento e tem como objetivo final produzir madeira para serraria, celulose

ou outros tipos de produtos como compensados, lenha e carvão vegetal.

O sistema de Taungya constitui um sistema silviagrícola de substituição florestal ou

de reflorestamento, baseado em dois componentes: um florestal (principal e permanente) e

outro agrícola (secundário e temporário) (Macedo, 2000). A espécie florestal madeireira é

plantada junto a cultivos agrícolas de ciclo curto (milho, arroz, feijão e mandioca),

aproveitando-se dos cuidados dos cultivos agrícolas. Quando a última safra agrícola

termina, a espécie madeireira plantada já alcança uma boa altura. O lucro obtido pela

venda dos produtos agrícolas ajuda a pagar o custo do plantio das espécies madeireiras. No

Brasil, este sistema é utilizado, principalmente, para diminuir o custo na formação de

florestas de eucaliptos.

Para se formar florestas de rendimento com o método taungya, as mudas da

espécie madeireira são plantadas na roça no início do período das chuvas, e a distância

entre elas varia de acordo com a espécie: de 2,5 x 2,5 metros até 5,5 x 5,5 metros

(respectivamente 1682 e 332 mudas plantadas por hectare). Quando a espécie plantada visa

fornecer madeira de alta qualidade para produzir compensados ou móveis, as mudas devem

ser freqüentemente visitadas e devem ser feitas as eliminações de cipós e, quando

necessário, podas de formação.

Os cultivos agrícolas devem ficar afastados do pé das espécies madeireiras - pelo

menos 40 a 50 centímetros e, no caso da mandioca ou macaxeira, a distância mínima deve

ser maior (60 a 80 centímetros). Para que o pequeno produtor obtenha boas safras dos

Page 16: INTRODUÇÃO AOS SISTEMAS AGROFLORESTAIS

20

cultivos de ciclo curto, deve plantar as espécies madeireiras mais espaçadas e realizar

podas de formação para corrigir as forquilhas (tronco bifurcado) que poderiam depreciar o

valor das árvores.

A principal vantagem do taungya é diminuir o custo de formação da floresta

plantada, propiciando boas condições de sobrevivência, de crescimento às mudas de

espécies madeireiras e aumentando a disponibilidade de nitrogênio, quando as entrelinhas

são ocupadas com o cultivo de leguminosas (feijão, amendoim).

A principal desvantagem é a competição exercida pelas espécies madeireiras sobre

os cultivos agrícolas. Mas também existem outras, como os riscos de erosão. Quando os

cultivos agrícolas são localizados sobre ladeira, é grande a mão-de-obra exigida durante o

primeiro ano de estabelecimento do taungya.

Duas interações destacam-se em sistema de Taungya: a interferência entre os

cultivos e as árvores (competição e efeitos alelopáticos); e a provisão de sombra das

árvores para os cultivos. A competição por água, luz, nutrientes e espaço depende das

espécies utilizadas, da densidade e do tipo de manejo. A competição excessiva pode

ocasionar redução do rendimento dos cultivos e maior predisposição das plantas a

enfermidades ou ao ataque por insetos (Montagnini et al, 1992, citado por Macedo, 2000).

De acordo com esses autores o excessivo sombreamento dos cultivos pelas árvores

determina o final desse tipo de sistema agroflorestal e o início de uma plantação florestal

pura. A duração do período de cultivo é determinada pela densidade de plantio das árvores:

para densidades elevadas o período de cultivo será curto ou vice-versa. Neste tipo de

associação as plantações florestais crescem melhor que quando se encontram sós, pois

estão mais livres de doenças além de ter seu crescimento favorecido por efeitos residuais

dos fertilizantes empregados aos cultivos agrícolas (Macedo, 2000).

Page 17: INTRODUÇÃO AOS SISTEMAS AGROFLORESTAIS

21

Segundo Brienza Júnior (1982), citado por Macedo (2000), de acordo com a

dimensão do projeto, as espécies escolhidas e as tecnologia disponíveis, os sistemas

silviagrícolas podem ser dirigidos para uma economia de subsistência ou de mercado, e

cita as seguintes espécies como potenciais para implantação do sistema:

a) Culturas de Ciclo Curto

- Oriza sativa (arroz)

- Zea Mays (milho)

- Phaseolus sp (feijão)

- Vigna unguiculata (caupi)

- Manihot spp (mandioca)

b) Espécies Florestais

- Cordia goeldiana (freijó)

- Swietenia macrophilla (mogno)

- Bertholletia axcelsa (castanha-do-pará)

- Cordia alliodora (uruá)

- Carapa guianensis (andiroba)

- Bagassa guianensis (tatajuba)

- Didymopanax morototonii (morototó)

- Dinizia excelsa (Angelim-pedra)

- Vochysia máxima (quaruba-verdadeira)

- Vateireopsis speciosa (fava-amargosa)

- Jacarandá copaia (parapará)

- Simarouba amara (marupá)

- Eucalyptus spp (eucalipto)

- Pinus sp (pinus)

- Hevea brasiliensis (seringueira)

- Ilex paraguaiensis (erva-mate)

Page 18: INTRODUÇÃO AOS SISTEMAS AGROFLORESTAIS

22

As culturas intercalares, além de não prejudicarem o crescimento das espécies

florestais, em muitos casos têm gerado benefícios às mesmas, contribuindo para a obtenção

de melhores estandes de desenvolvimento inicial. Apenas no caso de espécies florestais

heliófitas, deve-se atentar para o fato de não se utilizarem no primeiro ano, culturas de

porte mais elevado e altamente competitivas, exceto para a utilização de espaçamentos

florestais mais amplos.

Este sistema apresenta grande perspectiva para produção de madeira em ciclos curtos

(celulose ou lenha), para maximizar a produção por unidade de área, uma vez que as

espécies arbóreas podem ser plantadas em densidades mais altas do que em outros

sistemas. O manejo desse sistema visando a produção de madeira para serraria, com

rotação em torno de trinta anos e desbaste intermediários (madeira para celulose, energia

ou ferramentas), seria preferível a rotações curtas (cinco a dez anos). Com esta medida, a

ciclagem de nutrientes é favorecida, assim como a minimização das perdas por exportação

dos mesmos. Se por um lado o uso de rotações longas podem favorecer a ciclagem de

nutrientes e minimizar as perdas por exportação, existe a desvantagem da imobilidade por

um longo período de tempo, sem que o agricultor tenha rendas intermediárias. Do ponto de

vista econômico, o preparo do solo e as limpezas durante a fase de desenvolvimento inicial

das espécies florestais são custeados, total ou parcialmente, pelas atividades agrícolas

temporárias (Yared et al, 1992, citado por Macedo, 2000).

8.3 Multiestratos ou multiestratificados

São também conhecidos como consórcios agroflorestais comerciais ou policultivos

multiestratificados. São uma mistura de um número limitado de espécies perenes, em geral

menores de dez, manejadas para fins comerciais.

Sua diferença dos Quintais Agroflorestais e da Agrofloresta ocorre em virtude do

número de espécies limitado e o objetivo da produção para comercialização.

Caracterizam-se pela associação de espécies vegetais (árvores, cultivos perenes e

anuais), geralmente de valor comercial, que formam diversos estratos verticais.

No estado do Acre um dos modelos de Sistema Agroflorestal mais comum é o

multiestratificado, superado apenas pelos Quintais Agroflorestais. Entre as espécies mais

Page 19: INTRODUÇÃO AOS SISTEMAS AGROFLORESTAIS

23

utilizadas pelos agricultores da região destacam-se o cupuaçu, a pupunha, o café, a

castanha-do-brasil, o mogno, e o freijó. Os produtos gerados nesse tipo de sistema

agroflorestaL se destina á venda (Dubois et al., 1996).

8.4 Quebra-ventos

O vento, dependendo de sua intensidade pode provocar danos na propriedade rural.

Nas culturas vegetais, os danos vão desde um estímulo excessivo à evapotranspiração, até

o efeito mecânico da quebra de galhos e arrancamento da planta do solo, podendo provocar

ainda a queda de flores e frutos, a seca de plantas e a erosão do solo.

Os quebra-ventos são fileiras de árvores plantadas no sentido de cortar a direção

dos ventos dominantes, a fim de diminuir sua velocidade e/ou modificar sua direção.

No plantio de árvores para obter uma cortina florestal devem ser plantadas espécies

de valor econômico para serem alcançadas duas finalidades: cortar a velocidade dos ventos

e ter uma fonte de renda alternativa.

Os quebra-ventos agem diretamente sobre o ambiente, proprocionando

sombreamento parcial ou temporário da cultura e diminuindo a velocidade dos ventos,

podendo assim proporcionar um microclima favorável às culturas agrícolas, um aumento

na produção e uma redução nos custos da cultura.

8.5 Cercas vivas

As cercas vivas são linhas de árvores ou arbustos utilizadas com o objetivo de

delimitar uma determinada área. São implantadas basicamente por estacas grandes

(geralmente 2,5m de comprimento e de 8 a 20 cm de diâmetro), que enraízam facilmente, e

sobre as quais se prendem lateralmente os fios de arame. Elas podem ser completamente

fechadas, bem densas ou abertas, interligadas por arames.

Destacam-se pelas possibilidades de obtenção de diversos produtos

(lenha,mourões,etc.), a proteção aos cultivos e animais contra o vento, a delimitação das

áreas de cultivo, pecuária e da propriedade, além da durabilidade em comparação com as

Page 20: INTRODUÇÃO AOS SISTEMAS AGROFLORESTAIS

24

cercas tradicionais. Mas este tipo de cerca apresenta desvantagens como: a necessidade de

podas para controlar o crescimento e a dificuldade de eliminação da cerca se necessário.

As espécies mais utilizadas na América Central para postes e cercas vivas incluem

a Gliricídia sepium, Erytrina spp., Spondias spp. e Pithecellobium dulce. Na Amazônia o

modelo mais utilizado é constituído por mourões vivos interligados por arames farpados.

9. Sistemas Silvipastoris

São associações de pastagens com espécies arbóreas, planejadas ou naturais. As

espécies arbóreas podem ser de essências florestais, frutíferas, leguminosas (forrageiras ou

não) e até de espécies de interesse industrial.

A presença de árvores em pastagens tem inúmeras vantagens para os animais,

forrageiras e o solo.

Os animais encontram nas árvores a proteção contra o excesso de insolação, chuva e

vento, obtendo um conforto que refletirá numa melhoria de sua produção.

As plantas forrageiras, principalmente nas regiões tropicais, têm seu desenvolvimento

prejudicado pelo excesso de insolação nas horas mais quentes do dia. Entretanto, na

sombra das árvores elas permanecem viçosas, além de serem favorecidas com a

manutenção da umidade do ambiente pelas árvores.

O solo é muito favorecido pelas árvores que além de se constituírem em verdadeiras

“bombas de adubação”, retirando nutrientes das camadas mais profundas do solo e os

depositando na superfície através das folhas e galhos que caem, protegem com sua sombra

a micro e meso vida do solo, que, por sua vez, usando como alimento os restos vegetais e

dejetos do gado, contribuem para a disponibilização de nutrientes antes indisponíveis às

plantas, promovendo um verdadeiro “circuito virtuoso” que tende a aumentar a fertilidade

do solo (MELADO, 2002).

A introdução de árvores nas pastagens contribui para a intensificação da produção

animal e abre caminho para uma produção mais sustentável e rendosa. Pois as espécies

Page 21: INTRODUÇÃO AOS SISTEMAS AGROFLORESTAIS

25

florestais aumentam as perspectivas de retorno econômico a médio e longo prazo,

fornecendo sombra e abrigo para o gado, além de proteger e adubar o solo.

Para a escolha das espécies arbóreas que comporão o sistema devemos buscar as que

reúnam maior número de características desejáveis: facilidade de estabelecimento,

adaptação ao meio ambiente, capacidade de fornecer forragem palatável, ausência de

efeitos alelopáticos negativos sobre as forragens do sub-bosque, tolerância a ataques de

pragas e doenças, ausência de efeitos tóxicos para os animais e capacidade de lhes fornecer

sombra e abrigo. Além destas qualidades as espécies arbóreas devem ser perenes,

resistentes ao vento, ter raízes profundas, possuir capacidade de rebrote e apresentar uma

arquitetura que permita a penetração da luz do sol até o estrato herbáceo.

Dentre as espécies de usos múltiplos mais indicadas para compor os sistemas

silvipastoris na região Norte do Brasil encontramos: a castanha-do-brasil (poteção-sombra

e castanha), pau-d`arco (madeira comercial, sombra), freijó-comum (madeira, sombra e

mel) e ingá-cipó (sombra, adubação do solo, lenha,mel, forragem) (MACEDO, 2000).

Para a região do cerrado destacam-se o baru, a mangaba e a lixeira. Esta última

principalmente pela grande quantidade de folhas que lança ao solo, contribuindo assim

para o aumento da matéria orgânica e a fertilidade do solo (MELADO, 2002).

Segundo Macedo (2000), dentre as vantagens do sistema silvipastoril adiciona-se o fato

de que o agricultor pode adaptá-lo como modificação silvipastoril dos cultivos em aléias,

nos quais são estabelecidas espécies forrageiras entre as linhas de plantio das árvores ou

arbustos. E de acordo com estudos concluídos as pastagens em aléias podem sustentar três

unidades (400Kg) animais/ha na época chuvosa e de duas a duas e meia unidade animal/ha

na época seca. De acordo com essa carga podem ser produzidos de 600 a 700Kg de

carne/ha/ano, nas zonas de trópico chuvoso e de 450 a 650Kg de carne/ha/ano nas zonas do

trópico seco. E ainda com estes sistemas podem ser obtidos aumentos de até 20% na

produção de leite de vaca.

Page 22: INTRODUÇÃO AOS SISTEMAS AGROFLORESTAIS

26

10. Sistemas Agrosilvipastoris

Estes sistemas são representados pela associação de animais, geralmente de pequeno

porte, com cultivos agrícolas e árvores ou arbustos em uma mesma área.

A característica sobressalente neste sistema é a presença de animais e de forragem

necessária para sua alimentação, além das árvores inseridas nessa atividade pecuária. O

componente animal introduz um tipo de interação que afeta as práticas de manejo. Os

princípios gerais de manejo se referem aos dois objetivos desse sistema: a produção animal

e a obtenção de produtos arbóreos como os frutos.

De acordo com Macedo (2000), é valido dizer que o termo agrossilvipastoril é utilizado

tanto para classificação de SAFs quanto para a definição de um dos modelos e, portanto, os

quintais agroflorestais que incluem o componente animal, são um tipo de sistema

agrossilvipastoril.

10.1 Quintais Agroflorestais

São áreas de produção localizadas perto da casa, onde são cultivadas espécies

agrícolas e florestais, envolvendo, também, a criação de pequenos animais domésticos

(frangos, patos, suínos, gatos e cachorros) ou animais domesticados (paca) (COSTANTIN,

2005).

Segundo Altieri (2002), os quintais domésticos nos trópicos são exemplos clássicos

de sistemas agroflorestais. Os quintais são formas altamente suficientes de uso da terra que

incorporam diversas culturas com diferentes hábitos de crescimento. O resultado é uma

estrutura semelhante às florestas tropicais, com diversas espécies e uma configuração em

estratos imitando o processo de sucessão. Em toda a zona tropical, os sistemas

agroflorestais tradicionais podem conter mais de 100 espécies de vegetais por quintal

doméstico. São usadas como material de construção, ferramentas, medicamentos, forragem

e alimentação humana.

Os quintais agroflorestais possuem diferentes funções como: produção de

alimentos, criação de pequenos animais, local de adaptação de novas variedades de

Page 23: INTRODUÇÃO AOS SISTEMAS AGROFLORESTAIS

27

espécies de plantas, produção de matérias-primas para artesanato, abastecimento da

farmácia caseira, reciclagem de resíduos domésticos, cultivo de plantas ornamentais,

secagem e beneficiamento de produtos agrícolas cultivados em outras áreas da

propriedade, servindo como espaço de convivência, dentre outros aspectos (COSTANTIN,

2005).

FIGURA 01 - Representação de um quintal agroflorestal com arranjos espaciais bem

definidos. FONTE: Dubois (1996).

Os quintais agroflorestais possuem sustentabilidade ecológica e biológica,

juntamente com o alto grau de aceitabilidade social, devido à sua produção diversificada, à

redução dos riscos de perda da produção, ao aumento da eficiência de mão-de-obra, à

produção contínua reduzindo as perdas de pós-colheita, à boa reciclagem de nutrientes e à

redução da erosão em função da boa cobertura do solo (COSTANTIN, 2005).

De acordo com Macedo (2000), estes sistemas baseiam-se no princípio ecológico

denominado biodinâmica da sobrevivência, proporcionando o máximo aproveitamento da

energia solar vital, através da multiestratificação diferenciada de uma grande diversidade

de espécies de usos múltiplos, as quais exploram os perfis vertical e horizontal da

paisagem, visando à utilização e recirculação dos potenciais produtivos dos ecossistemas.

Page 24: INTRODUÇÃO AOS SISTEMAS AGROFLORESTAIS

28

Os quintais agroflorestais são o modelo de SAF mais antigo e comum encontrado

em todo trópico úmido. Neles se evidencia mais o trabalho feminino onde, geralmente, é a

mulher que desempenha o papel mais importante na sua formação e manutenção, devido à

proximidade com a casa e o fato dos produtos originados desse quintal influenciarem

diretamente na dieta alimentar da família (frutas, hortaliças, condimentos, plantas

medicinais, pequenos animais). O excesso de produção deste quintal pode ser

comercializado, sendo este, visto como uma ajuda da esposa ao marido no orçamento

doméstico (DUBOIS et al., 1996).

FIGURA 02 - Representação dos diversos estratos de um quintal agroflorestal, segundo

Assare, Oppong e Twum-Ampofo (1990).

11. SAFs RECUPERAÇÃO DE AREAS DEGRADADAS

A degradação dos solos agrícolas vem ocorrendo de diferentes formas, sendo as

principais causas a erosão, a diminuição da matéria orgânica do solo, a exportação de

nutrientes com as colheitas, a lixiviação, e a compactação dos solos, pelas máquinas e

superpastoreio. Esta degradação causa a perda das características físicas, químicas e

biológicas, inviabilizando o desenvolvimento sustentável.

Através da falta de conservação dos solos, ocorre com freqüência a rotação das

áreas de plantio, onde as terras degradadas são abandonadas e em seguida são abertas

Page 25: INTRODUÇÃO AOS SISTEMAS AGROFLORESTAIS

29

novas áreas, aumentando a fronteira agrícola. Muitas vezes as terras abandonadas se

transformam em capoeiras.

Todo o método ou sistema de uso da terra somente será sustentável se for capaz de

manter o seu potencial produtivo também para as gerações futuras (comissão Mundial

Sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, 1991). Assim, para a recuperação do potencial

produtivo dos ecossistemas agropecuários é necessário, por um lado, oferecer condições

para que os produtores rurais possam assimilar e adotar tecnologias simples, de custo baixo

e apropriadas ao uso e ocupação do solo, e por outro lado, garantir um nível de renda

compatível com os investimentos requeridos para a recuperação das terras degradadas,

aumentando a produtividade.

Os sistemas agroflorestais se apresentam como uma boa opção para a recomposição

de áreas degradadas e estabelecem uma cobertura vegetal perene sobre o local alterado.

Para a recuperação de áreas degradadas pelas atividades agropecuárias as árvores

que serão utilizadas nos sistemas devem apresentar algumas características básicas como:

capacidade de enraizamento profundo; grande resistência a períodos longos de déficit

hídrico e exigir poucos nutrientes para que possam crescer nos solos de fertilidade

marginal.

Em áreas que o principal objetivo da recuperação das áreas degradadas por

atividades agropecuárias é a recomposição de seu potencial produtivo, o sistema

agroflorestal de plantio em faixas de leguminosas (Alley Cropping) se apresenta com

grandes possibilidades de utilização para atingir tal meta.

12. MEDIDAS AMBIENTAIS INERENTES AOS SISTEMAS

AGROFLORESTAIS

Empreendimentos rurais podem causar impactos ambientais de diferentes intensidades

sobre os meios físico, biótico e sócio-economicos, seja em sua fase de implantação e/ou

manejo.

Page 26: INTRODUÇÃO AOS SISTEMAS AGROFLORESTAIS

30

Algumas propostas são sugeridas por Alvarenga apud Macedo (2000), no quadro

abaixo para minimizaremos os impactos negativos e maximizarem os impactos positivos

causados ao meio ambiente por algumas atividades.

Problemas/Impactos Ambientais Alternativas de Sistemas Agroflorestais

Escassez de lenha

Cercas vivas

Capão de árvores em pastagens

Alley Cropping

Árvores lenhosas em quintais agroflorestais

Sombreamento de cultivos

Erosão/estabilização de terrenos ou dunas

Interplantio de cultivos

Faixas de árvores em culturas em nível

Arboretos de usos múltiplos

Ventos dominantes Quebra-ventos

Escassez de alimentação para animais Cercas vivas ou parcelas com arbustos/árvores forrageiras

Alley Cropping forrageiro

Falta de sombra para cultivos ou animais

Faixas de árvores ou arboretos em pastagens

Policultivos multiestratificados

Plantios sombreados de cultivos

Solos degradados

Alley Croppping

Consórcios com árvores leguminosas

Enriquecimento de capoeiras

Rotação de cultivos/árvores

Alimentação Humana (subsistência)

Quintais Agroflorestais

Frutíferas em pastagens

Policultivos multiestratificados

Sistema Taungya

Delimitação de Propriedades Cercas vivas

Quebra-ventos

Demarcação de pastagens; Divisão de aguadas;

Curral para animais.

Cercas vivas

Alley Cropping forrageiro

Quebra-ventos

Escassez de madeira

Sistema Taungya

Enriquecimento de capoeiras

Árvores/arboretos em pastagens

Policultivos multiestratificados

Cercas vivas

Quebra-ventos

Page 27: INTRODUÇÃO AOS SISTEMAS AGROFLORESTAIS

31

Pastagens degradadas Árvores leguminosas em pastagens

Alley Cropping

Estiagens prolongadas

Sistemas silvipastoris

Sistemas agrossilvipastoris

Faixas de árvores em nível

Quintais Agroflorestais

Estabilização da agricultura migratória

Sistemas silviagrícolas rotativo

Quintais Agroflorestais

Enriquecimento de capoeiras

Capitalização do produtor rural Capitalização através de árvores nobres em sistemas

agroflorestais

Riscos sócio-econômicos Diversificação com a utilização de espécies de usos múltiplos

em sistemas agroflorestais

Distribuição de mão-de-obra familiar Quintais Agroflorestais

Manejo de sistemas agroflorestais

Competições excessivas nos cultivos Direcionar as técnicas de manejo

Destruição das florestas tropicais Sistemas agroflorestais em reservas extrativistas e áreas

tampão

Destruição da fauna

Enriquecimento de matas secundárias, ciliares e áreas

degradadas com frutíferas nativas.

Silvicultura urbana com espécies restabelecedoras da fauna.

13. Implantação de Agroflorestas

"Implantar um sistema agroflorestal demanda um conhecimento prévio da evolução

do sistema e de como será a sua dinâmica. (...) conhecer um bom projeto implica tomar

decisões que envolvam não apenas a escolha das espécies e o método de plantio, mas

igualmente a composição do mosaico agroflorestal, de acordo com o atual estágio de

sucessão, ou seja, da quantidade e da qualidade de vida consolidada. (...) de forma que as

espécies escolhidas tenham o 'talento' necessário para fazer evoluir todo o sistema"

(Osterroht, 2002).

Ao se pensar em implantar um sistema agroflorestal, deve-se levar em

consideração, que se está implantando um sistema que sob a ótica de uma ou outra cultura,

representará uma diminuição significativa de produção se comparada a produção da

espécie no sistema tradicional, pelo menos na fase inicial. O que torna a agrofloresta

Page 28: INTRODUÇÃO AOS SISTEMAS AGROFLORESTAIS

32

altamente produtiva é o conjunto de espécies que se complementam, fazendo com que o

volume de produção da biomassa do sistema seja superior ao da agricultura tradicional.

A associação de diferentes espécies arbóreas, com diferentes ciclos e tamanhos

favorecem a criação de um microclima, que associado a maximização da luz, torna o

sistema cada vez mais complexo e produtivo.

Com condições de vida favorável, inúmeras espécies animais se instalam na

agrofloresta, passando a ter importante função na disseminação de plantas e regulação do

número de indivíduos. É importante que o sistema de agrofloresta busque alcançar os

seguintes objetivos:

- Uma rápida cobertura verde do solo com espécies arbustivas e arbóreas;

- Mesclar espécies presentes com o máximo de espécies futuras;

- Atingir alta diversidade biológica logo na implantação do sistema;

- Implantar espécies com alta capacidade de rebrote;

- Plantar exemplares em excesso para ter abundância de biomassa e permitir podas;

- Fazer atingir alto grau de autodinâmica.

A implantação da agrofloresta poderá ser de forma lenta com baixa diversidade de

plantas ou rápida com alta diversidade de plantas. A forma lenta, demanda menor custo

inicial com mão-de-obra, mas, por outro lado exige uma demanda por mais tempo. Ela faz

com que agrofloresta seja menos dinâmica no início, pela menor possibilidade de interação

entre espécies. Já a forma rápida exige uma maior demanda por trabalho no plantio, mas

em função da sua maior diversidade de espécies, multiplica a possibilidade de interação,

ampliando as chances de otimizar o sistema. Ao entrar em autodinâmica, a reprodução e o

replantio das espécies será exercido pelos animais silvestres a um custo mais baixo.

Não há necessidade de se fazer uma implantação homogênea. Pode-se variar as

espécies de acordo com a conveniência de quem está projetando/implantando a

agrofloresta.

Page 29: INTRODUÇÃO AOS SISTEMAS AGROFLORESTAIS

33

A implantação não precisa ser obrigatoriamente com espécies nativas. Muitas

espécies exóticas têm a capacidade de desenvolver bem em solos erodidos e

desequilibrados, formando assim um ambiente para o surgimento das espécies do futuro.

Muitos erros podem ocorrer na implantação da agrofloresta. Dentre eles os mais

comuns são a exclusão de espécies e não alcance da autodinâmica. Numa lavoura

tradicional as plantas expontâneas são vistas como invasoras. Cada espécie tem a sua

importância tanto na produção de produtos ou de biomassa quanto como indicadora e

corretora de desequilíbrios minerais no solo. O domínio de uma espécie invasora indica

que o projeto foi mal concebido e que a agrofloresta foi implantada com pouca diversidade

e em quantidade insuficiente. Assim, a autodinâmica está mal concebida e o sistema se

mantém estático e sem talento (capacidade) de gerar suficiente quantidade e qualidade de

vida.

As pragas e doenças contribuem muito para a otimização do sistema, pois somente

as espécies e exemplares melhor posicionados prevalecem, os demais são eliminados,

indicando erros de implantação e manejo. São benéficos porque contribuem para a

diversidade e são parte importante da teia da vida da agrofloresta.

Outro detalhe importante que deve ser levado em consideração é o papel que cada

espécie desempenhará e que porte atingirá no futuro. O estrato ocupado resultará numa

maior ou menor dinâmica de sucessão e intervenção no sistema.

A agrofloresta poderá ser implantada a partir de uma lavoura tradicional, ou de uma

pastagem, ou ainda do manejo de matas ou dos cerrados.

14. Manejo de Sistemas Agroflorestais

O manejo tem como objetivo recuperar, manter ou aumentar o nível de

produtividade do sistema e favorecer a conservação dos recursos disponíveis. Desse modo,

as técnicas de manejo visam manter a capacidade produtiva do sistema, o balanço de

nutrientes e o suprimento de água aos componentes.

Na escolha das espécies, são considerados os aspectos inerentes a cada espécie

(biologia, ecologia e fenologia), às condições ambientais, ao desenho do SAF, aos de

Page 30: INTRODUÇÃO AOS SISTEMAS AGROFLORESTAIS

34

ordem cultural (hábitos alimentares, materiais e crendices) e aos de ordem econômica

(mercado - comercialização e preço). As informações sobre biologia e ecologia das

espécies indicam as necessidades nutricionais, de temperatura, luz e água, dando uma idéia

da densidade de plantio e das associações possíveis.

Depende de vários aspectos, tais como espécies associadas, função de cada

componente no sistema, características dos produtos a serem obtidos, ciclo desejado de

cada componente, tratamentos culturais previstos, tipo de tecnologia empregada e colheita

da produção de cada componente. Atualmente, existe a tendência de se utilizar o plantio

em fileiras ou faixas, pois permite uma melhor ocupação da área e facilita a sistematização

dos tratos culturais e da colheita. É possível estabelecer SAF a partir da introdução de

cultivos agrícolas ou animais em áreas de vegetação natural arbustiva ou do componente

arbóreo em sistemas agrícolas já estabelecidos.

A introdução do componente arbóreo nas áreas agrícolas pode ser feita através da

regeneração natural ou artificial, sendo mais comum esta última, em virtude do

esgotamento do banco de sementes do solo e à ausência da vegetação natural remanescente

nas áreas circunvizinhas. Os tratos silviculturais empregados no manejo de regeneração são

os mesmos aplicados na condução de florestas naturais ou plantadas.

- Arranjo espacial com regeneração artificial - existe uma ampla flexibilidade na

distribuição espacial dos componentes, o que permite um melhor controle das condições

ambientais, obtidos também através do uso de tratamentos silviculturais como a poda e o

desbaste.

- Arranjo espacial com regeneração natural - nas áreas de vegetação nativa, as

espécies de interesse estão distribuídas em diferentes padrões, podendo estar dispersas

regular ou aleatoriamente na área, ou em grupos, dependendo das características dos

processos de dispersão. Esta distribuição natural poderá ser alterada com desbaste ou

adensamentos. A introdução de espécies domesticadas, nestas áreas, pode se dar a partir de

tratamentos de refinamento, podas e de aberturas no dossel, procurando-se privilegiar as

espécies florestais de interesse e compatibilizando a intensidade dos tratamentos

silviculturais às condições ambientais (luz, umidade, temperatura e solo) exigidas pela

espécie introduzida.

Page 31: INTRODUÇÃO AOS SISTEMAS AGROFLORESTAIS

35

- Arranjo temporal - aproveitam-se as diferenças nas exigências das espécies

através das etapas de crescimento e desenvolvimento e as mudanças ecológicas ocorridas

na sucessão da vegetação. A variável tempo amplia as dimensões do sistema agrícola que,

na maioria das vezes, pode ser considerado bidimensional: Área (A²), enquanto que os

sistemas agroflorestais (SAF) possuem, mais duas dimensões: Área (A²) x Altura (H) x

Tempo (T), o que confere a estes sistemas uma maior complexidade e dinamismo.

O manejo do solo nos SAF deve ser entendido sob o ponto de vista sistêmico. O

ecossistema possui um potencial produtivo natural, cujos nutrientes encontram-se

distribuídos entre os componentes bióticos (vegetação e animais) e no solo. As entradas

ocorrem através de precipitações atmosféricas, fertilizantes químicos ou orgânicos, de

rações e sais minerais, e as saídas pela erosão, lixiviação e colheita. Um dos objetivos do

manejo é a redução das perdas (saídas). A perda por erosão e lixiviação pode ser

parcialmente reduzida com práticas adequadas. No entanto, a colheita é uma atividade

desejável e fundamental nos SAF. As técnicas de manejo do SAF devem cumprir os

seguintes objetivos:

- Manter o solo coberto com vegetação ou com seus resíduos, durante a maior parte do

ano;

- Manter o conteúdo de matéria orgânica das camadas superficiais do solo;

- Manter um sistema de raízes superficiais para contribuir na estrutura e na ciclagem de

nutrientes;

- Minimizar a remoção de matéria orgânica e nutrientes, através da colheita;

- Evitar queimadas.

15. CONSIDERAÇÕES FINAIS

A evolução dos modelos atuais de agricultura para sistemas mais intensivos de uso

do solo, coerentes com a manutenção e/ou utilização racional da biodiversidade tropical, só

pode ser realizada de forma gradativa, sem grandes modificações no sistema tradicional.

Page 32: INTRODUÇÃO AOS SISTEMAS AGROFLORESTAIS

36

Qualquer sistema alternativo para ser bem sucedido deve envolver ao nível de produtor o

plantio de culturas alimentares associado a produtos destinados à venda, capazes de induzir

um processo de captação em benefício do agricultor.

A maior dificuldade encontrada nesse modelo reside na falta de dados (estudos)

científicos que sirvam de base para implantação e condução desse método, e, além disso,

não é possível criar um modelo único devido ao fato da grande diversidade de

características regionais.

A recuperação, principalmente de áreas tropicais, degradadas por atividade

agropecuária e a utilização racional da biodiversidade tropical através dos sistemas

agroflorestais, deverá ponderar no mínimo, dois componentes básicos relativos a custos e a

viabilização técnica. O primeiro relacionado à utilização mínima de insumo e, o segundo à

demanda total de mão-de-obra e sua distribuição durante o ano. Coerentemente, a estas

ponderações, recomendamos os sistemas agroflorestais de plantio em faixas (Alley

Cropping), e os consórcios multiestratificados para enriquecimento de capoeiras em

pousio.

Inserido neste contexto, acreditamos que os sistemas agroflorestais se apresentam

como protótipos alternativos de sustentabilidade, pois estão alicerçados em princípios

econômicos de utilização racional de recursos naturais renováveis, sob exploração

ecologicamente sustentável. E são capazes de gerar benefícios sociais, porém sem

comprometer o potencial produtivo dos ecossistemas, ou seja, se harmonizam aos

fundamentos de que o desenvolvimento sustentável é aquele que atende às necessidades do

presente, sem comprometer as possibilidades das gerações futuras também atenderem suas

próprias necessidades.

Page 33: INTRODUÇÃO AOS SISTEMAS AGROFLORESTAIS

37

9. REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS

COPIJN, A. N. Agrossilvicultura sustentada por sistemas agrícolas ecologicamente

eficientes. Rio de Janeiro: FASE, 1988.

COSTANTIN, A. M. Quintais Agroflorestais na visão dos agricultores de Imaruí-SC,

120 fls; Programa de Pós-Graduação em Agroecossistemas (Dissertação de Mestrado)

Florianópolis: Universidade Federal de Santa Catarina, 2005.

DUBOIS, J. C. L.; VIANA, V. M.; ANDERSON A. B. Manual agroflorestal para a

Amazônia. Rio de Janeiro: REBRAF, 1996. v. 1. 228p.

GOMES de ALMEIDA, D. .A construção de sistemas Agroflorestais apartir do saber

ecológico local (O caso dos agricultores familiares que trabalham com Agroflorestas em

Pernambuco) Florianópolis: UFSC, 2001. (Dissertação de Mestrado)

MACEDO, R. L. G. Princípios básicos para o manejo sustentável de sistemas

agroflorestais. Lavras: UFLA/FAEPE, 2000.

MELADO, J. Sistema Agroflorestal I. Agroecologia Hoje. Ano III, n. 15, jul/ago 2002.

OSTERROHT, M. V. Sistema Agroflorestal I. Agroecologia Hoje. Ano III, n. 15, jul/ago

2002.