introducao antropologia 1

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Web Aula 1 Compreendendo o conceito de homem. A disciplina Homem, Cultura e Sociedade tem como objetivo refletir e debater questões relacionadas a nossa humanidade, reconhecendo que uma área distinta de conhecimento não tem condições de explicar as diferentes facetas próprias do humano.Dessa forma, para evitar um olhar unilateral, a disciplina propõe trazer aspectos de diferentes campos de conhecimento para minimizar a fragmentação, buscando refletir sobre a trilogia: homem, cultura e sociedade. Que é o homem e qual é a sua finalidade? Como as pessoas me veem? Como eu me vejo? Foram incontáveis as tentativas de elaboração de uma definição que abarcasse o conceito de homem ao longo do tempo. Religiosos, sociólogos, antropólogos, historiadores, filósofos, biólogos, psicólogos, dentre outros, todos investigaram a realidade humana e os aspectos e complexidades que o cercam: sua origem, sua natureza, suas aspirações, suas fraquezas e grandezas. Para encontrarmos nossa resposta, vamos seguir juntos um percurso interessante sobre a evolução do homem, seus valores e sua cultura. Para começar, vejamos as explicações da antropologia a seguir: I. ANTROPOLOGIA

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Page 1: INTRODUCAO ANTROPOLOGIA 1

Web Aula 1

  Compreendendo o conceito de homem.   A disciplina Homem, Cultura e Sociedade tem como objetivo refletir e debater questões relacionadas a nossa humanidade, reconhecendo que uma área distinta de conhecimento não tem condições de explicar as diferentes facetas próprias do humano.Dessa forma, para evitar um olhar unilateral, a disciplina propõe trazer aspectos de diferentes campos de conhecimento para minimizar a fragmentação, buscando refletir sobre a trilogia: homem,

cultura e sociedade.    

    

Que é o homem e qual é a sua finalidade? 

Como as pessoas me veem?  Como eu me vejo?  

   Foram incontáveis as tentativas de elaboração de uma definição que abarcasse o conceito de homem ao longo do tempo. Religiosos, sociólogos, antropólogos, historiadores, filósofos, biólogos, psicólogos,  dentre outros, todos investigaram a realidade humana e os aspectos e complexidades que o cercam: sua origem, sua natureza, suas

aspirações, suas fraquezas e grandezas.  

    

Para encontrarmos nossa resposta, vamos seguir juntos um percurso interessante sobre a evolução do homem, seus valores e sua cultura. Para começar, vejamos as explicações da antropologia a seguir:   

I. ANTROPOLOGIA   

   

Page 2: INTRODUCAO ANTROPOLOGIA 1

O termo antropologia (anthropos, homem; logos, estudo) significa o estudo do homem. Classificada como ciência da humanidade, preocupa-se em conhecer o ser humano na sua totalidade, o que abriu em três campos distintos

de pesquisa:   Ciência Social – que visa estudar o homem como  ser integrante de grupos organizados. 

Ciência Humana – Enfoque no homem de forma global: sua história, suas crenças, usos e costumes, Filosofia,

linguagem etc  

Ciência Natural – Visa conhecer o lado físico do homem considerando processos evolutivos.   Conceituação   Para compreender melhor o conceito de Antropologia, acesse o link abaixo. 

http://conceito.de/antropologia 

  A Antropologia visa ao conhecimento completo do homem, o que torna suas expectativas muito mais abrangentes. Dessa forma, uma conceituação mais ampla a define como a ciência que estuda o homem, suas produções e seu comportamento. O seu interesse está no homem como um todo - ser biológico e ser cultural -, preocupando-se em revelar os fatos da natureza e da cultura. Tenta compreender a existência humana em todos os seus aspectos, no espaço e no tempo, partindo do princípio da estrutura biopsíquica. Busca também a compreensão das manifestações culturais, do comportamento e da vida social. 

   Na próxima página, vamos conhecer o objetivo do estudo na antropologia. Objeto de estudo da Antropologia:   O homem e suas obras. Seus estudos se concentram no homem como membro do reino animal, e por outro, no comportamento do homem como membro de uma sociedade.   Objetivo da Antropologia    É objetivo da antropologia o estudo do homem como um todo, sendo a ciência que estuda sistematicamente todas as manifestações do ser humano de forma unificada, buscando chegar ao entendimento da existência

humana   Para compreender as divisões da Antropologia acesse o link.  http://educaterra.terra.com.br/voltaire/cultura/2002/06/07/001.htm 

Vamos abordar nessa página sobre a Antropologia Cultural porque é neste eixo que iremos abordar as questões de nossas discussões.  ANTROPOLOGIA CULTURAL 

Page 3: INTRODUCAO ANTROPOLOGIA 1

  Este é o campo mais amplo da ciência antropológica. Tem raízes na antiguidade clássica quando os primeiros relatos escritos acerca de outros povos iniciaram as discussões acerca da cultura dos mesmos. Os registros

discutiam os povos descobertos como exóticos e estranhos ao mundo europeu.  Investiga as culturas humanas no  decorrer do tempo e no espaço, suas origens e desenvolvimento, suas semelhanças e diferenças. 

 Todas as sociedades humanas passadas, presentes e futuras interessam ao antropólogo cultural.  IMPORTÂNCIA DA ANTROPOLOGIA CULTURAL 

Podemos perceber que nas culturas dos povos primitivos e mesmo nas dos “civilizados”, o homem sempre centra sua atenção sobre si mesmo. Por isso, o estudo do homem, é tão antigo como o próprio homem. Contando ou escrevendo sua história, se explicando pelos mitos, refugiando-se na religião, preocupa-se o ser humano consigo

mesmo.  

  

 

 Acessando o link abaixo, vocês terão uma visão geral da ideia apresentada. Vale lembrar que a expressão “narcisista” tem sua origem na lenda de Narciso que está apresentada no texto e no vídeo. 

 http://www.netsaber.com.br/resumos/ver_resumo_c_374.html 

 

 

 Muitas pessoas vivem fechadas em si mesmo, sem perceber a riqueza que o mundo e as pessoas a sua volta

oferecem para o crescimento e desenvolvimento. 

A sociologia não vê o homem sozinho como homem, por definir este como um ser estritamente social. A psicologia vê o homem como um ser autoconsciente enquanto a filosofia o define como um ser moral e racional como defendia Hegel . Para a teologia, o fato de ser espiritual o distingue de toda a criação. Ronaldo

Lidório/Antropólogo 

Page 4: INTRODUCAO ANTROPOLOGIA 1

  MAS...DE ONDE SURGIU O HOMEM? 

 

 Há algumas teorias que buscam explicar a origem do homem, vamos conhecer algumas delas: 

  Teoria Criacionista 

E criou Deus o homem à sua imagem: à imagem de Deus o criou; homem e mulher os criou. Gênesis 1:27  

 Teoria Evolucionista  

 Os seres vivos evoluíram a partir de um ancestral comum, o mecanismo biológico pelo qual as espécies mudam, evoluem e se diferenciam é a seleção natural, processo em que os indivíduos mais adaptados ao meio ambiente

têm maiores chances de sobreviver e deixar descendentes.   

   

Vamos conhecer agora os principais pontos de contraposição de   cada uma das    teorias: A teoria da

Criação  X A Teoria da evolução          

 A corrente criacionista defende a tese de que o ser humano possui a exata forma na qual foi criado.   Muitas  religiões,  como cristianismo,  islamismo, judaísmo, hinduísmo etc. têm descrevem em narrativas que o 

homem foi criado de forma perfeita  e com todas as  características atuais.   

  

 

Page 5: INTRODUCAO ANTROPOLOGIA 1

Já o  evolucionismo defende o ponto de vista que a raça humana, da mesma forma que  os outros animais e  também as plantas, é o resultado  de uma evolução biológica, que levou alguns  milhões de anos para acontecer. De acordo com essa teoria o ser humano teria surgido na Terra a mais de três milhões de anos atrás e nunca

parou de evoluir.   A Teoria da Evolução é obra do biólogo inglês  Charles Darwin,  quem afirmou que os homens e os macacos de

grande porte (chimpanzé, orangotango e gorila) possuiam um ancestral em comum.    A evolução humana segundo Darwin:   

   As pesquisas científicas atuais permitem  afirmar que o surgimento da raça humana  ocorreu há cerca de 4

milhões de anos, pois  o fóssil mais antigo de um ancestral humano  foi datado dessa época. 

 Veja o vídeo: Criacionismo x Evolucionismo Debate SESC TV 

  

http://www.youtube.com/watch?v=53JrgU1-W78&feature=related

Ancestral mais antigo do homem é encontrado  

 Foi descoberta na Etiópia uma ossada do ancestral mais antigo dos humanos modernos. O Ardipithecus ramidus, apelidado de “Ardi”, viveu há aproximadamente 4,4 milhões de anos, e é 1,2 milhões de anos mais velho que

“Lucy” da espécie Australopithecus afarensis, até então o hominídeo mais antigo conhecido pela ciência. 

 http://hypescience.com/22049-o-elo-perdido-ancestral-mais-antigo-do-homem-e-encontrado/  

 

  

 VOCÊ ACHA QUE O ELO PERDIDO FOI ENCONTRADO? 

 

 (Elo perdido: ponto em que o homem deixou as características puramente animais tornando-se humano.) 

  

Page 6: INTRODUCAO ANTROPOLOGIA 1

    Do ponto de vista físico, o homem é um animal que nasce, cresce, reproduz-se e morre, como todo e qualquer

ser vivo.   Do ponto de vista filosófico o homem é um ser incompletamente determinado, potencialmente bom e

potencialmente mau. Tudo é possível, nada é certo. (Todorov)   

   Do ponto de vista da linguagem, esta é elemento constituinte do humano, pois com ela o homem significa emoções, interesses, pensamentos, sentimentos, vontades e atos.  A linguagem permite que o homem possa organizar o seu mundo  dando  sentido para o que faz e aprende, bem como para o que existe e acontece  no

mundo.   Do ponto de vista psicológico frequentemente é um ser inventivo e progressivo, pensante, possui senso ético com uma consciência moral é reflexivo, religioso, dotado de emoções estética, animal social e político, criatura

finita e inacabada. 

Page 7: INTRODUCAO ANTROPOLOGIA 1

 ASSISTA AO VIDEO E RESPONDA: O QUE É O HOMEM? 

  

 UMA DÚVIDA: NASCEMOS HUMANOS OU NOS TORNAMOS HUMANOS? O QUE VOCÊ ACHA?

 VEJA UM CASO ANTIGO QUE AINDA CAUSA CONTROVÉRSIAS:  

 AMALA E KAMALA: as meninas-lobo 

  

http://www.mdig.com.br/index.php?itemid=5252 

 http://pt.wikipedia.org/wiki/Amala_e_Kamala 

 

 

  Percebe como esta reportagem nos leva a pensar sobre a nossa existência no mundo, a importância da vida em

sociedade e o sentido que a cultura tem na vida humana? 

 

  ASSIM PODEMOS CONCLUIR APÓS NOSSO PERCURSO: NOS TORNAMOS HUMANOS

PELA CULTURA 

  

  Para discutir 

 

PERGUNTA DO FORUM: 

De onde surgiu o homem? Da criação ou da evolução? 

Page 8: INTRODUCAO ANTROPOLOGIA 1

UNIDADE 2

Web Aula 1 

  

UNIDADE II - A explicação antropológica da diversidade cultural 

  

UNIDADE II - A explicação antropológica da diversidade cultural 

Diversidade cultural: do estranhamento à alteridade. Etnocentrismo x Relativismo cultural. Explicações deterministas & Explicações antropológicas. Explicações sobre a origem das diferenças culturais. Características da cultura. 

 

 

Olá, vimos na aula passada diversas formas de definir o homem ao longo do tempo e concluímos que NOS

TORNAMOS HUMANOS PELA CULTURA! 

Agora vamos analisar como a cultura determina e justifica o comportamento do homem. 

O que você acha da seguinte atitude? 

Há um costume em diversas culturas indígenas em que no momento em que uma mulher fica grávida, o pai da

criança fica em casa deitado, repousando. É um jeito de mostrar para a sociedade que ele é o pai da criança. 

O que pensariam as pessoas de nossa sociedade de um homem que tomasse tal atitude? 

Page 9: INTRODUCAO ANTROPOLOGIA 1

 

2.1. A  CONDIÇÃO HUMANA E  O OLHAR ANTROPLÓGICO       

Rubem Alves, falando sobre o homem diz uma coisa bonita que quero compartilhar com vocês: 

“O  fato é que os homens se recusaram a ser aquilo que, à semelhança dos animais, o  lhes propunha. Tornaram-se inventores de mundos. E plantaram jardins, fizeram choupanas, casas e palácios, construíram tambores, flautas e harpas, fizeram poemas, transformaram os seus corpos, cobrindo-os de tintas, metais, marcas e tecidos, inventaram bandeiras, construíram altares, enterraram os seus mortos e os prepararam para viajar e, na sua ausência, entoaram lamentos pelos dias e pelas noites. . .” Leia o texto na íntegra: OS SÍMBOLOS DA

AUSÊNCIA 

 

 

Podemos inferir que Rubem Alves concebe a cultura como um sistema simbólico. 

Vejamos o que diz o antropólogo Geertz  

 “Cultura é um padrão historicamente transmitido, de significados incorporados em símbolos, um sistema de concepções herdadas, expressas em formas simbólicas, por meio das quais os homens se comunicam, perpetuam e desenvolvem seu conhecimento e suas atitudes acerca da vida”. (Geertz) 

 

Assim, quando do descobrimento do Brasil, houve um choque de culturas, entre os índios, habitantes do pais

recém descoberto e os colonizadores europeus. 

Veja a imagem a seguir: 

  

Page 10: INTRODUCAO ANTROPOLOGIA 1

 

  

Um verdadeiro confronto entre as duas culturas, demonstrando uma incompreensão aos hábitos e costumes de

ambas as culturas, não é mesmo? 

A Cultura segundo a definição antroplógica 

A cultura em si, de acordo com Levi- Strauss, Surgiu no momento em que o homem convencionou a primeira

regra, que teria sido a proibição do incesto.   

Já  para Leslie White a cultura foi inaugurada quando o homem foi capaz de gerar símbolos. Os símbolos são instrumentos para a transmissão de sentimentos,  atitudes, idéias, informações e meios de ação para provocar

outro homem. Os símbolos dão sentido às coisas. 

O ser humano sempre teve preocupação em compreender e dar sentido a sua própria existência e da sua vida no

meio social. 

No século XVI, com as grandes navegações, os europeus chegaram ao “Novo Mundo” e se depararam com um cenário muito diferente de seu ambiente de origem. A natureza se mostrava espantosa, mas, o que causou ansiedade foi o encontro com os nativos. Tal encontro gerou, em ambas as partes espanto e medo, ao mesmo tempo em que procuraram, dentro do repertorio de cada grupo compreender quem era esse “Outro” que tinha uma aparência incomum. Portugueses e espanhóis queriam  saber se aqueles seres  encontradas nus eram

humanos, isto é, se tinham alma  pois se tem então são homens.   

A mesma preocupação estava com os recém encontrados. Seriam aquelas seres do corpo peludo realmente humanos? Há relatos que passaram a afundar os corpos dos europeus mortos na água para observar se acontecia o mesmo que com os corpos dos índios; se apodrecer, como eles próprios, podiam concluir que

também eram homens.   

O IMAGINÁRIO EUROPEU 

 

 

Page 11: INTRODUCAO ANTROPOLOGIA 1

 

  

Alguns monstros que europeus julgavam existir.   Até os séculos XV e XVI, acreditavam que viviam nas Índias. Porém, à medida que os navegadores foram chegando a tais regiões e não encontraram tais monstros julgaram que estariam  em outras terras que ainda eram desconhecidas. Dessa forma o oceano  e o Continente Americano,

passaram a ser o lugar onde habitavam esses monstros. 

  

 

  

As sereias são monstros marinhos que têm sua origem na tradição grega, e que foram identificadas, por exemplo,

com a criatura denominada Ipupiara, encontrada nas brasileiras. 

Imagens retiradas do livro PRIORE, Mary del. Monstros e maravilhas no Brasil Colonial. In: Esquecidos por Deus.

Monstros no mundo europeu e ibero-americano (séculos XVI-XVIII). São Paulo: Companhia das Letras, 2000. 

Seriam os colonizadores Deuses? Seriam os colonizados monstros selvagens? 

A visão que os europeus tiveram do Novo Mundo e de seus habitantes estava contaminada pela religiosidade,

supertições e mitos. Os conceitos medievais de bem e mal, foram projetados nos habitantes do Novo Mundo.  

Dessa forma, podemos dizer que o encontro gerou uma forte necessidade de classificar o diferente. Enquanto os nativos se questionavam acerca dos europeus se eram seres divinos, portugueses e espanhóis buscavam na

Page 12: INTRODUCAO ANTROPOLOGIA 1

religião uma resposta a dúvida se os habitantes da terra descoberta possuíam alma. Caso tivessem, como teriam

vivido tanto tempo afastados de Deus?  

É nesse ponto que voltamos a pensar na essência da antropologia e entendemos que trata-se fundamentalmente da descoberta do outro. Do diferente, daquele que age de forma estranha a minha cultura e que é necessário para que não seja uma ameaça conhecê-lo e explica-lo.Lévi-Strauss já dizia que “Toda ordem é melhor do que o

caos”.  

O homem passa de sujeito a objeto do conhecimento. Até então o conhecimento sobre o homem se pautava nos mitos, na teologia e na arte.Uma ideia inicial é de que o outro é capaz de cometer atos impensáveis pela sua

selvageria ou maldade. 

Um ritual antropofágico observado por  

Hans Staden (no alto da imagem, de

barba). 

  

  

  

  

  

Ilustração de Theodore de Bry para a obra de Frei Bartolomeu de Las Casas (século XVI). Esse monge dominicano denunciou à monarquia espanhola as barbaridades cometidas pelos espanhóis contra os

índios. Pouco ou nada adiantou. 

  

Fonte: http://www.portalsaofrancisco.com.br/alfa/colonizacao-da-america/

colonizacao-da-america-5.php#ixzz20NAMdD6z 

Deglutição Eucarística 

“Cortez ordena que cada um dos [sessenta] caciques faça vir seu herdeiro. A ordem é . Todos os caciques são então queimados numa imensa fogueira e seus herdeiros  à execução. Cortez chama-os em seguida e lhes pergunta se sabem como foi dada a sentença contra seus pais assassinos, depois, tomando um ar severo, acrescenta que espera que o exemplo baste e que eles não sejam mais suspeitos de desobediência.”(Pierre Martyr Anghiera, “De Orbe Novo”, publicado em 1511).   

Diferentes opiniões podem ser identificadas no contato com outras culturas. No caso dos índios brasileiros, às vezes é identificado como um ser agradável, ingênuo e solidário Outras vezes ele é visto como um ser próximo da animalidade da natureza. Num momento existe uma exaltação do “outro’’; em outro momento existe uma

depreciação desse “outro”.   

Toda essa dicotomia deve-se aos valores culturais, crenças e moral diferenciadas, que acabaram por ocasionar

inúmeros conflitos, discordâncias e até mortes. 

Vejamos mais um pouco sobre esse choque de culturas.  

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Hans Staden, um alemão que esteve na América portuguesa no século XVI e acabou prisioneiro de uma tribo

tupinambá, na região do atual litoral de São Paulo. Sobre os nativos que conheceu, ele escreveu: “1547 

  

 

  

Já para Bartolomé das Las Casas integrante da Ordem dos Dominicanos, que viveu na América, a opinião sobre os habitantes da nova terra é bastante distinta. Las Casas é considerado um dos primeiros europeus defensores dos

índios brasileiros. 

   

  

Apesar  dos representantes da Igreja se posicionarem favoravelmente na defesa dos índios, eram fieis à fé católica e buscavam convertê-los à essa crença, impondo aos habitantes da terra um processo de negação de suas tradições e crenças promovendo uma aculturação.

 

Como foi uma  imposição feita por quem tinha o poder, gerou situações de discriminação e preconceito étnico, que tem ressonância até os dias atuais.

A ALTERIDADE 

 

 

Page 14: INTRODUCAO ANTROPOLOGIA 1

A antropologia pode ser pensada como o estudo do outro em relação a nós. Um aspecto fundamental desse campo de conhecimento e a dimensão comparativa possibilitada por causa dessa relação. Sempre estamos

comparando as culturas, buscando as diferenças. 

  

Você já observou  a quantidade de programas de TV que colocam o seu foco no estabelecimento das diferenças culturais? Percebemos a alteridade  na  relação de contraste, de comparação. Assim poderíamos

dizer que a antropologia busca produzir um conhecimento sobre nós, mas analisando  o outro. 

 

A capacidade de simbolizar e de fazer cultura é um diferencial entre os homens e os outros animais. 

A experiência e elaboração da alteridade levam a ver aquilo que nem se consegue imaginar devido à dificuldade

em prestar atenção ao que é habitual, familiar, cotidiano e considerado evidente.  

Através da experiência da “diferença” passa-se a notar que o menor dos comportamentos não é natural,

causando surpresa sobre nós mesmos. 

   

O conhecimento antropológico de nossa cultura passa pelo conhecimento das outras culturas. 

Para a antropologia o que caracteriza “unidade” do homem é sua aptidão para inventar modos de vida e formas de organização social muito diversos. O que seres humanos têm em comum é a capacidade para se diferenciar

uns dos outros, para elaborar costumes, línguas, modos de conhecimento, instituições, jogos muito diversos. 

   

TRIBO KAMAYURÁ | RITUAL DE PASSAGEM PARA A VIDA ADULTA 

Na relação com o outro a percepção que temos de nos mesmos é mudada, quando ao observar que os outros podem fazer as mesmas coisas, mas de forma diferente, nos indaga- mos sobre as nossas próprias maneiras. Por exemplo, pensem em que há de “natural” em comer com garfo e faca? Pode ser  “natural” para nós, mas como

outra cultura, os Bororo do parque do Xingu, por exemplo vê a mesma situação? 

  

No  Século XIX já existia a preocupação com a alteridade e com as formas culturais diferentes das encontradas na Europa. A isso damos o nome de estudo do outro. Esse será o objeto da antropologia. Nesse momento, aquelas sociedades, que no Século XVIII se conheciam como sociedades da natureza, começaram a ser chamadas de

sociedades ou culturas primitivas. E esse vai ser o objeto empírico da antropologia.  

Page 15: INTRODUCAO ANTROPOLOGIA 1

Também havia um método. Ele consistia em estudar os relatos das viagens nas quais se descreviam esses diferentes modos de vida. Com ele a antropologia encontrou uma forma de interpretar a diversidade cultural e, desse modo, estabelecer uma ordem nas culturas diferentes do mundo.

 

RELATIVISMO CULTURAL – O movimento inicial do relativismo cultural é colocar sob suspeita a sua própria visão de mundo e de sociedade. É a busca de compreender o ponto de vista do outro, não importando ele qual for. Dessa forma, para que haja entendimento das diferentes práticas culturais, valores e normas,  estes devem ser entendidos dentro da cultura mais ampla da sociedade. Essa atitude leva à suspensão provisória das próprias crenças culturais e permite o exame de uma situação de acordo com os padrões de outra cultura (ex.: Ramadã:

jejum da alvorada ao pôr-do-sol). 

Relativismo cultural  – princípio segundo o qual não é possível compreender, interpretar ou avaliar de maneira significativa os fenômenos sociais a não ser que sejam considerados em relação ao papel que desempenham no sistema cultural. No relativismo cultural a ideia de bem e mal entre outras categorias de valores, dependem de cada cultura. Aquilo que a  sociedade entende como  "bem" torna-se  o bem, o certo. A moral reflete as convenções sociais e é compartilhada pelo grupo cultural.

ESTRANHAMENTO  

Este é outro conceito importante a considerar. Primeiramente, estranho... para quem? Estranho e familiar são ideias que envolvem a mesma coisa, e à construção  social de familiaridades. Estranho ou familiar são ideias que dependem de quem observa  da carga de  influências culturais a que foi exposto e que determinou sua maneira de comportar  e de enxergar o mundo.   A palavra “estranho” refere-se a esse “outro” que  foi construído a partir

de uma  lógica diferente da minha.   

Isso implica entender que estranhar é  reconhecer e aceitar a existência da diferença, sabendo que existem

outras lógicas  que, por serem estranhas a que temos , precisamos  decifra-las.   

Descoberta proporcionada pela distância em relação a nossa sociedade: “aquilo que tomávamos por natural em

nós mesmo é, de fato, cultural; aquilo que era evidente é infinitamente problemático” (Laplantine, 1996:21).  

Daí a necessidade na formação antropológica do “estranhamento”, isto é, a perplexidade provocada pelo encontro das culturas que são para nós as mais distantes, levando tal encontro à modificação do olhar que se

tinha de si mesmo. 

 

 

 

Presos a uma única cultura ficamos cegos às outras e míopes em relação a nossa. 

  

Questão para discussão: O relativismo cultural significa que todos os costumes e

Page 16: INTRODUCAO ANTROPOLOGIA 1

comportamentos são igualmente legítimos? Há padrões universais aos quais todos os humanos deveriam aderir?

ETNOCENTRISMO 

Observe a figura  a seguir: 

 

  

A imagem encontra-se no Atlas "Theatrum Orbis Terrarum", de Ortelius Abraham (1527/1598), cuja primeira

edição foi publicada em 1570. 

Veja que a imagem possui quatro figuras. Elas representam os quatro Continentes: Europa, América, Ásia e África. A figura da parte superior representa a Europa, na parte inferior temos a América, à direita a África e a

esquerda a Ásia.  

"Em posiçao proeminente encontramos a Europa.(...) Está retratada com vestes de soberana, com coroa e cetro e segura um globo imperial que simboliza claramente a  das potências católicas. À esquerda, uma princesa oriental ornada de jóias,  um turíbulo de incenso, personifica a Ásia das especiarias; em frente, do outro lado, a África tem um aspecto de uma negra pobremente vestida, à qual meteram na mão um raminho de bálsamo, a santa planta de Nossa Senhora, que floresce, apenas, num jardim egípcio. A América reconhece-se na mulher impudicamente nua que jaz embaixo, com uma cabeça de homem cortada na mão e brandindo uma clava, a indicar que se alimenta de carne humana e que vive no estado de 'natura', isto é, na ignorância de qualquer forma de organização civil e política."   (ZAMBONI, 1996) 

  

A Europa majestosa e a América selvagem: um exemplo da visão de mundo do colonizador 

  

 

Page 17: INTRODUCAO ANTROPOLOGIA 1

 

 

O que você acha dessa representação?  

Em antropologia temos dois conceitos básicos para compreender os fenômenos que envolvem o contato de pessoas de culturas diferentes: relativismo cultural e etnocentrismo. Se o relativismo cultural trata-se de procurar ver o mundo a partir do ponto de vista do outro, considerando seu sistema simbólico e valores, o etnocentrismo faz o contrario. Coloca-se como modelo do que e correto e natural, e faz  julgamentos que depreciam o

comportamento daqueles que agem fora dos padrões de sua comunidade. 

Nossos valores, costumes, hábitos culturais, nos são tão caros que, dificilmente, achamos que outros além de nós mesmos são mais humanos, verdadeiros, honestos, justos, bons, cultos, civilizados do que nós. Mas isso é um engano. Se tomo minha cultura, minha sociedade e minha forma de encarar e entender o mundo como sendo

mais correta, verdadeira e melhor do que todas as outras, estou agindo etnocentricamente. 

  

Observe o que diz o antropólogo francês Claude Lévi-Strauss sobre o tema.   

Consiste em repudiar pura e simplesmente as formas culturais: morais, religiosas, sociais, estéticas, que  são as mais afastadas daquelas com as quais nos identificamos. “Hábitos de selvagens”, “na minha terra é diferente”, “não se deveria permitir isso”, etc, tantas reações grosseiras que traduzem esse mesmo calafrio, essa mesma

repulsa diante de maneiras de viver, crer, ou pensar que nos são  estranhas.  

Assim, a antiguidade confundia tudo o que não participava da cultura grega (depois greco-romana) sob a denominação de bárbaro; a  civilização ocidental utilizou em seguida o termo selvagem com o mesmo sentido. Ora, subjacente a esses epítetos, dissimula-se um mesmo julgamento: é provável que a palavra bárbaro  se refira etimologicamente à confusão e à inarticulação do canto dos pássaros, opostas ao valor da linguagem humana; e  selvagem quer dizer “da selva”, evoca também um gênero de vida animal, por oposição à cultura humana. Em ambos os casos, recusamos admitir o próprio fato da diversidade cultural; preferimos lançar fora da cultura, na

natureza, tudo o que não se conforma à norma sob a qual se vive (LÉVI-STRAUSS, 1976, p. 334). 

  

ETNOCÍDIO E GENOCÍDIO  

Vimos que o etnocentrismo é uma relação em que uma sociedade se toma como medida ou critério de excelência para julgar outras. Mas há outro termo que nos interessa bastante. Trata-se do etnocídio. Conforme adianta Clastres (1982), enquanto o genocídio é a negação total do outro, pois não admite nenhum diálogo, simplesmente propõe a supressão de toda vida diferente, o etnocídio vislumbra a possibilidade de mudança:

transformar o diferente em um reflexo de outra cultura.  

A expressão  genocídio remete a idéia de raça e ao desejo de extermínio de uma minoria racial, a expressão etnocídio aponta   não para a destruição física dos homens para a destruição de sua cultura (CLASTRES, 1982, p.

53). 

  

 

Page 18: INTRODUCAO ANTROPOLOGIA 1

Sugerimos que você veja o filme:  1492: A conquista do paraíso, nele vocês vão  encontrar  mais razoes  que

explicam a dominação européia na América 

 

  Voces poderão observar no filme  os conceitos de etnocentrismo, aculturação e genocídio, entre outras questões relevantes relacionadas ao processo de ocupação e dominação da América pelos europeus, a partir do

século XV.  

Veja o filme com olhar crítico pois o mesmo e apresentado sob o ponto de vista de Cristóvão Colombo. Entretanto, um olhar mais atento e problematizador pode encontrar, em várias passagens do filme , material para uma reflexão relevante acerca dos conceitos de etnocentrismo, genocídio e

aculturação, propostos para discussão na próxima  aula 

LEIA MAIS“(...) e é por isso que as feras são domadas e submetidas ao império do homem. Por esta razão, o homem manda na mulher, o adulto na criança, o pai no filho: isso quer dizer que os mais poderosos e os perfeitos dominam os mais fracos e os mais imperfeitos. Constata-se essa mesma situação entre os homens, pois há os que, por natureza,são senhores e os que, por natureza são servos. Os que ultrapassam os outros pela prudência e pela razão, mesmo que não os dominem pela força física, são, pela própria natureza, os senhores; por outro lado, os preguiçosos, os espíritos lentos, mesmo quando tem a força física para realizar todas as tarefas necessárias, são, por natureza,servos. E é justo e útil que sejam servos, e vemos que isso é sancionado pela própria lei divina. Pois está escrito no livro dos provérbios:‘O tolo servirá ao sábio’. Assim são as nações bárbaras e desumanas,estranhas à vida civil e aos costumes pacíficos. E sempre será justo e de acordo com o direito natural que essas pessoas sejam submetidas ao império de príncipes e de nações mais cultivadas e humanas, de modo que graças à virtude dos últimos e à prudência de suas leis, eles abandonam a barbárie e se adaptam a uma vida mais humana e ao culto da virtude. E se recusam esse império, é permissível impô-lo por meio das armas e tal guerra será justa,assim como o declara o direito natural (...) Concluindo: é justo, normal e de acordo com a lei natural que todos os homens probos, inteligentes, virtuosos e humanos dominem todos os que não possuem essas

virtudes.” (Juan Gines Sepúlveda, in: CASAS, Frei Bartolomé de Las. O Paraíso destruído. Porto Alegre: L&PM, 1985,p. 23.)

EXPLICAÇÕES DETERMINISTAS PARA JUSTIFICAR AS DIFERENÇAS 

 

 

O Determinismo Biológico 

Imagine a seguinte situação: 

 Você vai disputar uma vaga em um concurso que há bastante tempo tem aguardado. Ocorre que quando lê a lista de candidatos percebe que há um grande número de japoneses concorrendo.  O fato dos concorrentes

serem japoneses pode significar dificuldades para você?  

Dizem que o brasileiro, herdou a preguiça dos negros, a imprevidência dos índios e a sensualidade  dos

portugueses. Será isso verdade? 

De acordo com as teorias deterministas, existem raças com atributos e  capacidades especiais de forma inata, de maneira  que o indivíduo é determinado geneticamente. O  conceito de raça veio do italiano razza, que por sua vez veio do latim ratio, significando espécie, categoria sorte. Inicialmente foi usado pela botânica e depois, na

Idade Média passou a ser usado para classificar pessoas. 

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O determinismo biológico racial que explicava o comportamento das pessoas de um grupo social, ao mesmo tempo em que justificava a escravidão, uma vez que indivíduos  eram considerados inferiores biologicamente . O antropólogo Edward Tylor (1832-1917) rompeu com essa ideia quando fugiu a regra e propôs uma definição diferente da biologista, desconsiderando a ideia de  “raça”, abrindo os estudos voltados para a cultura e

diversidade humana. 

Hoje  os  antropólogos estão totalmente convencidos de que as diferenças genéticas não são  determinantes das diferenças culturais, e a antropologia e entendida como um sistema simbólico, que passou  a estudar a atribuição de sentidos, o significados e os sentidos impregnados nas coisas de forma geral. Dessa maneira, as diferentes atribuições de sentidos dados as coisas e circunstancias sociais determina a diferença entre povos. Por exemplo, para alguns grupos sonhar com parentes que já morreram é uma forma de lembrar destes. Para outros é chegado o momento da própria morte e há um pânico por parte de quem sonhou. As diferentes culturas atribuem

diferentes significados as coisas do mundo. 

 

  

A antropologia busca decifrar o “sistema simbólico” próprio de cada  sociedade e sua diversidade nas sociedades

humanas.   

Assista ao Filme:  “Os deuses devem estar loucos” (1980).   

Um avião sobrevoa o deserto de Kalahari, no Botswana, junto à África do Sul . Alguém no avião joga pela janela uma garrafa de Coca Cola que cai perto de crianças que estão brincando por ali. Rapidamente a crianças recolhem o objeto desconhecido e torna-se um brinquedo coletivo. Inventam diferentes usos para o mesmo. Mas, a tranquilidade do grupo é alterada pois a garrafa torna-se objeto de disputa, trazendo agressividade nas

relações pelo desejo de posse e por inveja. 

Trecho da Declaração elaborada por antropólogos  físicos e culturais, geneticistas,  biólogos e outros

especialistas, reunidos em Paris Reunião da UNESCO em 1950:   

Os  dados científicos de que dispomos atualmente não confirmam a teoria segundo a qual as diferenças genéticas hereditárias constituiriam um  fator  de importância primordial entre as causas das diferenças que  se manifestam entre as culturas e as obras das civilizações dos  diversos  povos ou grupos étnicos. Eles nos informam, pelo contrário,  que essas diferenças se explicam, antes de tudo, pela história cultural de cada grupo. Os atores que tiveram tini papel preponderante na evolução do  homem são a sua faculdade de aprender e a sua

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plasticidade. Esta dupla aptidão é o apanágio de todos os seres  humanos. Ela constitui,  de fato,  uma das

características específicas do Homo sapiens. 

 OBS: as culturas são diferentes porque um mesmo objeto, crença ou valor, para uma cultura, têm um significado

completamente diferente do que para outra. 

   

Caminhando mais um pouco na questão da diversidade cultural ... 

 O DETERMINISMO GEOGRÁFICO 

 

 

Observe o que diz Aristóteles  

 

 

O filósofo Aristóteles, que viveu na Grécia entre 384 - 322 a.C., em seu “Livro Quarto da Política”   

“[...] Os povos que moram nos países frios e nas diversas partes da Europa são, em geral, audaciosos, porém inferiores em inteligência e iniciativa. Por esse motivo é que eles sabem manter sua liberdade, porém não são capazes de organizar um governo, e não podem conquistar os países vizinhos. Os povos da Ásia têm inteligência e são industriosos, porém lhes falta coragem, e por esse motivo é que não deixam sua sujeição e cativeiro perpétuos. A raça dos gregos, que ocupam as regiões intermediárias, engloba essas duas espécies de tipos: é forte e inteligente. Permanece, pois, livre, mantém o melhor dos governos e poderia até submeter à sua

obediência todas as nações, se fossem fundidas em um só Estado”. (ARISTÓTELES, 2001 p. 129).   

Estariam os que  habitassem regiões quentes condicionados à escravidão e a governos despóticos?  Quanto aos

asiáticos em quem faltava energia, estariam condenados ao despotismo e para a escravidão?  

Em “Do Espírito das Leis”, de Montesquieu (1689 - 1755) pode-se encontrar  que o calor excessivo diminui a força e a coragem dos homens e que nos climas frios haveria uma força de corpo e de espírito que tornava os homens

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capazes de ações penosas, grandes e ousadas. Ainda como consequência das condições naturais derivaria a

coragem dos povos de clima frio e a covardia dos de clima quente. 

  

Montesquieu também faz suas considerações... 

 

“[...] Os povos dos países quentes são tímidos tais quais os anciãos; os dos países frios são corajosos tais quais os jovens. [...] Nas regiões frias, ter-se-á pouca  sensibilidade para prazeres; ela será maior nos países temperados; nos países quentes será extrema. Assim  como se distinguem os climas pelos graus de latitude, poderíamos distingui-los, por assim dizer, pelos graus de sensibilidade [...] Encontrareis nos climas  do Norte povos que têm poucos vícios, muitas virtudes, sinceridade e franqueza. Aproximai-vos dos países do Sul e julgareis afastar-vos

da própria moral; ali, as paixões mais ardentes multiplicarão os crimes. [...]” (MONTESQUIEU, 2002 p. 236-238) 

  

O QUE VOCÊ ACHA QUE ELES DIRIAM CASO TIVESSEM A OPORTUNIDADE DE CONHECER CIVILIZAÇÕES TROPICAIS

COMO OS INCAS E OS MAIAS? 

  

 

 

Para refletir mais sobre o assunto você pode assistir ao filme Apocalypto, e também ao conhecidíssimo  AVATAR.

Ambos lhe darão muitas oportunidades para refletir sobre as questões de dominação e  diferenças

culturais. 

Finalizando nosso tema, pudemos perceber que as tentativas de explicar as diferenças de comportamento entre os homens a partir das variações do ambiente físico são muito antigas.  O determinismo geográfico considera que

as diferenças do ambiente geográfico  condicionam a diversidade cultural. 

  

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Porém, em 1920 essa concepção foi modificada frente aos estudos Boas,  Wissler, Kroeber que  demonstraram que a influencia do ambiente geográfico  sobre a cultura possui muitas limitações. Inclusive demonstraram que

no mesmo ambiente físico os grupos humanos podem ter culturas muito diferentes.  

Exemplo: Lapões( norte da Europa) e os Esquimós (norte da América) vivem em regiões muito semelhantes, com invernos prolongados e rigorosos.  Mas, a organização cultural dos povos é bastante diferente mesmo tendo

fauna e flora semelhante. 

  

 

As casas dos  esquimós são construídas a partir de blocos de gelo e revestidas com peles de animais. Quando se mudam simplesmente abandonam a casa (iglu)não carregando peso. Já os  lapões,  armam tendas de peles  de rena que são desarmadas, limpas e secadas quando o grupo se muda para outro local. Os lapões são criadores de renas e fazem isso com muita competência. Já os esquimós  apenas caçam esses animais, havendo a

possibilidade da caça falhar e as pessoas terem fome. 

  

Exemplos como esse demonstram que não dá para dizer que o ambiente geográfico age  sobre  a humanidade determinando o seu comportamento como se as pessoas fossem  puramente receptivas. O ser humano, apesar de frágil, com pouca força física  rompeu com suas limitações e desenvolveu técnicas e tecnologias  que o

elevaram a condição de o mais temível predador. Isso  porque é o único ser vivo que  possui cultura. 

  

Leia o texto: MEIO AMBIENTE: DETERMINISMOS, METAMORFOSES E RELAÇÃO  SOCIEDADE-NATUREZA (http://www.ufrgs.br/pgdr/arquivos/746.pdf) e vamos ao fórum interagir  sobre as formas de dominação imposta pelos colonizadores, quais as formas de resistência utilizadas pelos povos dominados e como você percebe as ideias de

etnocentrismo, relativismo cultural e alteridade? 

 

 

CHAUÍ, Marilena. Convite à Filosofia. 14ª ed. São Paulo: Editora Ática, 2005.

GEERTZ, Clifford: A interpretação das culturas, Rio de Janeiro: Ed. Guanabara, 1989.

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LAPLANTINE, François. Aprender antropologia. 21 rp. São Paulo: Brasiliense, 2010. LARAIA, Roque de Barros. Cultura: um conceito antropológico. 24ª Ed. Rio de Janeiro: Zahar, 2009.

STRAUSS, Lévi C. O pensamento selvagem. Campinas: Papirus, [1962] 1990