introdução à microbiologia[1].pdf
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Matria de
Microbiologia
Fotografias colorizadas de bactrias observadas ao microscpio eletrnico. Da esquerda para a direita: Bacillus anthracis, Escherichia coli, Neisseria gonorrhoeae
2008
Introduo Microbiologia
Introduo
Microbiologia: Mikros (= pequeno) + Bio (= vida) + logos (= cincia)
A Microbiologia era definida, at recentemente, como a rea da cincia que
dedica-se ao estudo dos microrganismos, um vasto e diverso grupo de
organismos unicelulares de dimenses reduzidas, que podem ser
encontrados como clulas isoladas ou agrupados em diferentes arranjos
(cadeias ou massas), sendo que as clulas, mesmo estando associadas,
exibiriam um carter fisiolgico independente.
Assim, com base neste conceito, a microbiologia envolve o estudo de
organismos procariotos (bactrias, archaeas), eucariotos inferiores (algas,
protozorios, fungos) e tambm os vrus.
Bactrias
Archaea
Fungos
Vrus Algas
Protozorios
Tipos de microrganismos
estudados pelos microbiologistas.
(Adaptado de Tortora et al., Microbiology, 8 ed)
Esta rea do conhecimento teve seu incio com os relatos de Robert
Hooke e Antony van Leeuwenhoek, que desenvolveram microscpios que
possibilitaram as primeiras observaes de bactrias e outros
microrganismos, alm de diversos espcimes biolgicos. Embora van
Leeuwenhoek seja considerado o "pai" da microbiologia, os relatos de
Hooke, descrevendo a estrutura de um bolor, foram publicados
anteriormente aos de Leeuwenhoek. Assim, embora Leeuwnhoek tenha
fornecido importantes informaes sobre a morfologia bacteriana, estes dois
pesquisadores devem ser considerados como pioneiros nesta cincia.
Recentemente foi publicado um artigo discutindo a importncia de Robert
Hooke para o desenvolvimento da Microbiologia.
Esquema do microscpio construdo por Robert Hooke e um esquema de um fungo observado
por este pesquisador.
(Adaptado de Tortora et al., Microbiology - 8 ed)
Rplica do microscpio construdo por Leeuwenhoek e de suas ilustraes, descrevendo os
"animlculos" observados.
(Adaptado do livro Brock Biology of Microorganisms, 10 Ed., 2003)
Classificao dos seres vivos
De acordo com a definio tradicional da microbiologia, esta uma
cincia que at recentemente, era responsvel pelo estudo de organismos
classificados em trs reinos distintos: Monera, Protista e Fungi. No entanto,
a partir dos estudos de Carl Woese, a microbiologia passou a estar
relacionada a trs domnios de seres vivos.
Sistemas de classificao dos seres vivos:
Linnaeus (sc. XVIII): reinos Animal e Vegetal
Haeckel (1866): introduo do reino Protista
Whittaker (1969): 5 reinos, dividos principalmente pelas
caractersticas morflogicas e fisiolgicas:
Monera: Procariotos
Protista: Eucariotos unicelulares - Protozorios (sem parede celular) e
Algas (com parede celular)
Fungi: Eucariotos aclorofilados
Plantae: Vegetais
Animalia: Animais
Classificao dos seres vivos, de acordo com Whittaker (1969)
(Adaptado de Pommerville, J.C.(2004) Alcamo's Fundamentals of Microbiology)
No entanto, a partir dos estudos de C. Woese (1977), passamos a
dispor de um sistema de classificao baseado principalmente em aspectos
evolutivos (filogentica), a partir da comparao das sequncias de rRNA de
diferentes organismos. Com esta nova proposta de classificao, os
organismos so agora subdividos em 3 domnios (contendo os 5 reinos),
empregando-se dados associados ao carter evolutivo.
Archaea: Procariotos
Bacteria: Procariotos
Eukarya: Eucariotos
Classificao dos seres vivos, de acordo com Woese (1977)
(Adaptado de Pommerville, J.C.(2004) Alcamo's Fundamentals of Microbiology)
A princpio, acredita-se que estes 3 domnios divergiram a partir de um
ancestral comum. Provavelmente os microrganismos eucariticos atuaram
como ancestrais dos organismos multicelulares, enquanto as bactrias e
archaeas correspondem a ramos que no evoluram alm do estgio
microbiano.
Archaea: so organismos procariotos que, freqentemente so
encontrados em ambientes cujas condies so bastante extremas
(semelhantes s condies ambientais primordiais na Terra), sendo por isso,
muitas vezes considerados como sendo ancestrais das bactrias. No
entanto, hoje em dia considera-se as archaeas como um grupo
intermedirio entre procariotos e eucariotos.
Muitos destes organismos so anaerbios, vivendo em locais
"inabitveis" para os padres humanos - fontes termais (com temperaturas
acima de 100C), guas com elevadssimos teores de sal (at 5M de NaCl -
limite de dissoluo do NaCl), em solos e guas extremamente cidos ou
alcalinos (espcies que vivem em pH 0, outras em pH 10) e muitas so
metanognicas.
Genericamente, podemos dizer que as Archaeas definem os limites da
tolerncia biolgica s condies ambientais.
Bacteria: Corresponde a um enorme grupo de procariotos,
anteriormente classificados como eubactrias, representadas pelos
organismos patognicos ao homem, e bactrias encontradas nas guas,
solos, ambientes em geral.
Dentre estas, temos as bactrias fotossintetizantes (cianobactrias) e outras
quimiossintetizantes (E. coli), enquanto outras utilizam apenas substratos
inorgnicos para seu desenvolvimento.
Eukarya: No mbito microbiolgico, compreende as algas, protozorios
e fungos (alm das plantas e animais).
As algas caracterizam-se por apresentarem clorofila (alm de outros
pigmentos), sendo encontradas basicamente nos solos e guas.
Os protozorios correspondem a clulas eucariticas, apigmentados,
geralmente mveis e sem parede celular, nutrindo-se por ingesto e
podendo ser saprfitas ou parasitas.
Os fungos so tambm clulas sem clorofila, apresentando parede celular,
realizando metabolismo heterotrfico, nutrindo-se por absoro.
Como mencionado anteriormente, os vrus so tambm assunto
abordado em microbiologia, embora, formalmente, no exibam as
caractersticas celulares, no sentido de no apresentarem metabolismo
prprio, de conterem apenas um tipo de cido nuclico, etc.
A Microbiologia na atualidade
A definio clssica de "microbiologia" mostra-se bastante imprecisa, e
at mesmo inadequada, frente aos dados da literatura publicados nesta
ltima dcada. Como exemplo pode-se citar duas premissas que j no
podem mais ser consideradas como verdade absoluta na conceituao desta
rea de conhecimento: as dimenses dos microrganismos e a natureza
independente destes seres.
Em 1985 foi descoberto um organismo, denominado Epulopiscium
fischelsoni que, a partir de 1991, foi definido como sendo o maior procarioto
j descrito, exibindo cerca de 500 m de comprimento. Esta bactria foi
isolada do intestino de um peixe marinho (Surgeonfish, peixe barbeiro ou
cirurgio), encontrado nas guas da Austrlia e do Mar Vermelho. Alm de
apresentar dimenses nunca vistas, tal bactria mostra-se totalmente
diferente das demais quanto ao processo de diviso celular, que ao invs de
ser por fisso binria, envolve um provvel tipo de reproduo vivparo,
levando formao de pequenos glbulos, que correspondem s clulas
filhas.
Comparao entre o tamanho de uma clula de Epulopiscium e 4 paramcios
(Adaptado do livro Brock Biology of Microorganisms, 10 Ed., 2003)
Mais recentemente, em 1999, outro relato descreve o isolamento de
uma bactria ainda maior, isolada na costa da Nambia. Esta, denominada
Thiomargarita namibiensis, pode ser visualizada a olho n, atingindo at
cerca de 0,8 mm de comprimento e 0,1 a 0,3 mm de largura.
Microscopia
de luz polarizada,
revelando os
grnulos de enxfre
no interior da
bactria
Thiomargarita
namibiensis.
Comparao
entre a bactria
Thiomargarita
namibiensis e uma
Drosophila.
(Adaptado de
Schulz, H. N. et al.
(1999). Science,
284:493-495 -
Clique no autor,
caso deseje ler o
artigo original)
Como analisar a questo do tamanho dos
microrganismos?
Durante muito tempo se acreditava que o tamanho das bactrias era
imposto pelo seu prprio metabolismo, ou seja, se a bactria aumentasse
muito em tamanho, ela seria incapaz de se manter vivel e morreria. Tal
fato decorre da seguinte deduo: A rea superficial da membrana
citoplasmtica seria o fator limitante para a eficincia das trocas com o meio
externo.
Sabendo-se que a rea de uma esfera calculada pela frmula e
que o volume de uma esfera obtido pela frmula , a medida que a
rea aumenta, seu volume aumenta muito mais rapidamente. Assim, se uma
bactria comeasse a crescer, aumentando sua rea, a proporo
rea/volume diminuiria. Isto faria com que a clula passasse a apresentar
um volume muito grande, sendo que sua rea superficial seria insuficiente,
em termos de trocas atravs da membrana, para manter sua viabilidade.
A partir dos isolados de bactrias gigantes, o conceito da limitao
de tamanho bacteriano vem sendo abandonado, pois no h mais como
questionar a existncia e viabilidade destas bactrias e, possivelmente,
novos relatos sero incorporados, deixando de ser meras curiosidades.