introduÇÃo a economia polÍtica

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INTRODUO ECONOMIA POLTICA(GUIA DE ESTUDO) GERALDO MEDEIROS DE AGUIAR

Imagem fractal. Fonte Google

Recife, Fevereiro de 2012

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SUMRIO I. II. III. IV. V. VI. VII. VIII. IX. X. XI. XII. XIII. XIV. XV. XVI. XVII. XVIII. XIX. XX. 1. 2. 3. 4. APRESENTAO -- 03 INTRODUO 04 PRINCOS DO PENSAR COMPLEXO -- 15 LEIS DA ECONOMIA POLTICA -- 18 TRABALHO E ALIENAO -- 21 BENS, MERCADORIAS E MERCADO -- 23 TEORIA DA MAIS VALIA -- 25 VALOR E SUAS TEORIAS -- 27 VALOR E PROCESSO DE TRABALHO -- 30 LGICAS DO VALOR -- 32 CAPITAL E CRDITO -- 36 EMPRESA CAPITALISTA -- 39 EXCEDENTE ECONMICO E ACUMULAO DE CAPITAL 42 PROCESSO DE TRABALHO, TECNOCINCIA E SOCIEDADE -- 45 RENDA, LUCRO E INVESTIMENTO -- 54 RELAES DE TROCA NO COMRCIO MUNDIAL -- 56 RODADA DE DOHA-CONFERNCIA DE HONG KONG 63 FETICHE DOS RECURSOS NATURAIS E DOS NOVOS MATERIAIS COMO MERCADORIAS -- 65 DESENVOLVIMENTO/SUBDESENVOLVIMENTO 67 SINOPSE DA ECONOMIA REAL DE MERCADO -- 72 CONCEITO DE AMBIENTE -- 75 GNESE DO MEIO AMBIENTE -- 76 EVOLUO DO MEIO AMBIENTE -- 77 COLONIZAO IBRICA -- 78 IMPERIALISMO INGLS 80 BIBLIOGRAFIA-- 82 O AUTOR -- 90

A crtica a mais alta expresso do ser, a mais alta afirmao de hominidade. No ato de criticar que surge realmente a pessoa humana, pela qual o homem individual se destaca do homem em geral. (...) O homem se defende da alienao lutando pela preservao da conscincia crtica, com a prpria conscincia crtica". Lencio Basbaum

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APRESENTAO Este Guia de Estudos sobre Introduo Economia Poltica representa um esforo do Autor no sentido de dotar seus alunos de uma conscincia crtica abrangente sobre o contedo da disciplina. O Autor tem conscincia que no faltam manuais sobre a disciplina, em tela, mas sente neles a ausncia de um enfoque ou olhar no linear (no cartesiano) para melhor dotar os discentes de uma perspectiva holstica sobre o contedo e as categorias apresentadas para a disciplina. Grande parte dos textos foi extrada do Guia de Estudos elaborado para atender a ementa e o contedo pedaggico da disciplina Economia Poltico que o Autor lecionou na Academia Militar de Pernambuco (Paudalho), na Faculdade Boa Viagem e na Faculdade So Miguel. J pelo sumrio o leitor ver que o Autor busca apresentar as categorias fundamentais da Economia Poltica de tal forma a doar uma lgica seqencial que permita o discente a contextualizar e desconstruir algumas assertivas apresentadas. O leitor verifica, ainda, que o Autor traz para o mesmo uma viso sistmica para a disciplina partindo das categorias fundamentais da Economia Poltica passando, tambm, pela: tecnocincia, sociedade, economia real de mercado. Conclui com o conceito de meio ambiente de forma crtica abrangente. Dessa maneira o Guia tem o propsito de evitar a reao dos alunos aos manuais estrangeiros e importados dos pases cntricos onde os nveis de detalhes desnecessrios so inteis ao aprendizado pelo excesso de especializao dos seus enunciados. Este Guia de Estudo um prolongamento de outros que o Autor produziu para diferentes disciplinas, ou seja: Notas sobre metodologia de pesquisa cientfica. Recife, 2001. 90 p. Temas sobre epistemologia e ecologia. Recife, 2002. 68 p. Leituras sobre planejamento estratgico. Recife. 2003. 108 p. Agenda 21 e desenvolvimento sustentvel. (Caminhos e desvios). Recife. Livro Rpido. 2004. 109 p. (2 edio) Organizaes em rede. O que so como funcionam? Recife, 2006.150 p.

Anotaes sobre a anlise da realidade brasileira contempornea. Recife 2007. 135 p. Poltica de recursos humanos de base local. Recife, 2008. 130 p. Economia rural e agrcola. Recife, 2010. 167p. Introduo economia poltica. Recife, 2012. 91p. O Autor sentir-se- honrado em receber crticas e sugestes a este e demais guias de estudo produzidos para seus alunos no e-mail: [email protected]. br ou pelos telefones: 81 3465-7718 e 3326-6428. NOTA. Os textos deste Guia de Estudo no foram submetidos reviso ortogrfica e gramatical da lngua portuguesa. A redao e linguagem a coloquial do Autor servindo de apostila para aulas. Todos os autores citados nos textos tm suas obras explicitadas na bibliografia. 3

I. INTRODUO O Autor considera e conceitua a economia poltica como padro em rede de relaes de trabalho e de relaes sociais de: produo, distribuio e consumo imbricados a natureza. Seu objeto to complexo ou similar prpria complexidade da vida que se auto-recria. As suas relaes na sociedade implicam como na vida, em perspectivas de: Processo, como mudanas autocriativas ou autodeterminadas das aes induzidas a partir da ao comunicativa humana que se do nas relaes de produo e circulao dos bens econmicos pelo conhecimento reflexivo e pelo metabolismo do capital Forma, como ao estratgica tecnolgica dos relacionamentos humanos na sociedade e com a natureza ou biosfera Matria, como ao instrumental de fabricao de instrumentos e meios de trabalho que se do e se realizam nos processos de trabalho e de produo no mundo concreto para atender as necessidades humanas Sentido ou significado, como apreenso e entendimento das coisas, dos fenmenos e do metabolismo do capital no modo de produo capitalista em seus diferentes vieses. A economia poltica como cincia humana e exata sintetiza todas as perspectivas do quadrvio ou padres da vida na terra com o objetivo de atender ilimitadas necessidades humanas com vistas a um cenrio de antro poltica com ilimitados recursos naturais. No h que se temer a fraude a partir da aluso das mudanas climticas ditas antropocntricas, com o efeito estufa, difundida mundialmente pelas corporaes e estados nacionais com aval do IPCC das Naes Unidas. Esse medo e terror levam a humanidade s diferentes e pernsticas vises apocalpticas do planeta que apontam cada vez mais, para a explorao, cada vez maior, dos entes humanos, hoje, corporificadas em poderosas corporaes internacionais imbricadas ao metabolismo rapinante do capital globalizado, tambm, tendendo a uma crise sistmica e sua correspondente negao. Na definio supra de economia poltica est inserta a categoria de bens que podem ser livres (se confunde com recursos naturais que no absorveram trabalho humano) e econmicos (aqueles j oriundos do processo de trabalho humano e que so necessariamente mercadorias). O trabalho sempre um processo social que se d entre os humanos e a natureza e que se materializa em valores (valor, valor de uso, valor de troca, valor desenvolvimento). Por isso os elementos do processo de trabalho so trs: primeiro o trabalho em si, uma atividade produtiva com um objetivo; segundo, o(s) objeto(s) sobre os quais o trabalho realizado; e terceiro os meios que facilitam o processo de trabalho Bottomore. A partir dessa premissa vem o conceito de matria prima que uma substncia capaz de absorver trabalho humano seja ela renovvel (substncias/produtos vivos da natureza como vegetais e animais) e no renovvel (substncias/produtos inanimadas ou brutas da natureza como so os minrios e elementos qumicos). O presente conceito quando criticamente apreendido leva o leitor ao entendimento e o que vem a ser alienao do trabalho e, tambm, alienao da nao nas relaes de troca no mercado mundial. 4

Pelo fato de ter a capacidade de absorver trabalho humano toda e qualquer matria-prima uma mercadoria, logo, um bem econmico sujeito ao fetichismo da mercadoria. O presente ensaio tem o propsito de trazer ao leitor uma forma crtica de se analisar a economia poltica, os recursos naturais, a tecnologia, as relaes de produo e o ambiente em contra ponto a ladainha que se prega sobre mudanas climticas e suas conseqncias no Planeta e da economia poltica vulgar. Contrape-se a viso antropocntrica dos fenmenos climtico-ambientais pregados pelo IPCC da ONU. Nesta Introduo se explicitam, tambm, um sintico histrico da cincia economia poltica alm de vrias definies encontradas em manuais de diferentes escolas. O conhecimento e a sociedade so construes histricas. No se confundem com o universo natural, com o planeta e menos ainda, com as concepes do mundo. Da assegurar-se que a terra na sua biosfera contempla vrios mundos e sociedades. O prprio conceito de sistemas mundiais , portanto, uma demarcao para aferir os efeitos dos modos de produo e das formaes: econmica, poltica, social e ideolgica. Os sistemas mundiais so as articulaes intercontinentais ou internacionais com as difuses da revoluo demogrfica induzidas pelos modos de produo que levam a partilha do mundo entre algumas potncias que caracterizaram e caracterizam as seguintes formas no sistema mundial: antigo, mercantilista, mercantilista-colonialista, imperialista-monopolista, imperialista em crise, neoimperialista ou sistema mundo do capitalismo que tende a ser superado por outro modo de produo ainda no identificado. Historicamente, o sistema mundo do capitalismo tem seu inicio com a Revoluo Francesa (1789-1799), passando pelas Guerras Napolenicas (18481870 quando Napoleo sonha em transformar a economia mundo capitalista no sistema mudo do capitalismo cujo contra ponto foi a criao dos estados nacionais). Em seguida a Revoluo Russa de 1917 abala os alicerceis da formao do sistema e, no psguerra, vive-se a chamada Guerra Fria (1949-1998) passando pela Revoluo Mundial das Desiluses de 1968 a partir da qual aquela tendncia passa a consolidar-se para a chamada virada ciberntica o que hoje se chama de globalismo. A atual crise do sistema mudo do capitalismo tem as seguintes causas: Transformao de tudo em mercadorias Privatizao dos bens livres e da natureza como um todo Colapso dos sistemas morais e ticos nas diferentes sociedades Intensificao da queda das margens de lucro e gigantismo de corporaes com aumento dos seus poderes Formao de zonas opacas no prprio sistema do capitalismo Acelerao da desruralizao do mundo Aprofundamento das crises fiscais dos estados nacionais Transposio de fronteiras de todos os tipos na caa ao lucro pelas corporaes Intensificao do consumo como ruptura social e das sociedades Democratizao do uso de armamentos a nvel planetrio com aumento da grande e pequena violncia

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Imigrao de indivduos dos pases pobres para os pases mais ricos quase sempre em regresso populacional Aumento das incertezas e da insegurana social, econmica e ambiental Crises energticas e ecolgicas globais Mutaes dos estados nacionais e formaes de megablocos econmicos Unilateralismo crescente nas decises internacionais, particularmente, pelos Estados Unidos da Amrica do Norte. O pior da atual crise do sistema mundo do capitalismo que passa a ter aspectos histricos altamente indesejveis tais como: ter carter universal; ser de mbito global; ter escala temporal prolongada ou permanente; ter seu modo de evoluo rastejante e ser estrutural afetando a totalidade das sociedades e a vida humana no planeta. Etimologicamente, economia vem do grego: oikos, que significa casa e nomos, cujos sentidos so administrao, regra, governo ou lei. Poltica, como se viu, vem de plis, cidade, cidadania, estado. Economia Poltica a cincia das leis imbricadas ao processo de acumulao incessante de capital a partir do processo de produo onde tem lugar o excedente econmico e, oriundo dele, o lucro e o poder. Ressalve-se que a produo e distribuio dos bens econmicos, resultantes dos processos de trabalho e de produo, so para satisfazer necessidades ou desejos humanos. Nesta Introduo o Autor apresenta o seu conceito de economia poltica em termos de: processo, forma, matria e sentido. Na literatura, encontram-se vrios eptetos ou conceitos de economia poltica como, por exemplo: a) Cincia das leis da ordem social e da riqueza b) Cincia das leis que regem as atividades econmicas c) Cincia da escassez d) Cincia social que quantifica o produto e) Cincia das leis da oferta, da procura e do valor das mercadorias ou bens econmicos f) Cincia que explica o mercado e nele as mercadorias g) Cincia das leis do mnimo esforo na oferta e procura de mercadorias movidas pelas necessidades prprias e no pela conscincia das necessidades recprocas h) Cincia que estuda as leis caractersticas dos modos de produo, historicamente formados e o sistema de distribuio correspondente i) Cincia que se prope estudar todas as leis das formaes socioeconmicas e abranger o desenvolvimento total da humanidade j) Cincia que tem por objeto o conhecimento das leis que presidem formao, distribuio e ao consumo das riquezas l) Cincia das leis sociais das atividades econmicas. Segundo a historiografia (conceito eurocntrico), a expresso economia poltica apareceu no incio do sculo XVII, com o escritor francs Antoine de Montchrtien que, em 1615, publicou seu Trait de lEconomie Politique, abordando os problemas da atividade econmica do estado e da passou a fazer 6

parte da linguagem corrente tanto na Frana como na Inglaterra que foram, posteriormente, os palcos das revolues: francesa e industrial, respectivamente. Outrossim, o surgimento do termo se deu no mercantilismo fase anterior poca dos fisiocratas: Williams Petty (1623 - 1687); David Hume (1711-1776) e Franois Quesnay (1694 -1774). A fisiocracia (domnio ou governo da natureza) se constituiu na primeira escola de economia poltica, e considerava que a vida econmica est sujeita as leis naturais, e que as necessidades humanas podem ser satisfeitas sem que seja necessrio forar a marcha regular dos fenmenos econmicos. Foram os fisiocratas, os primeiros a visualizar os fatos econmicos como um conjunto da cincia social na medida em que apontaram as relaes necessrias entre a ordem natural e as necessidades humanas. As escolas de economia poltica conhecidas como clssica e como marxista partem dos estudos publicados pelos fisiocratas. A economia poltica clssica tem incio em 1776, com a publicao da obra de Adam Smith (1723-1790) A Riqueza das Naes, que , essencialmente, uma teoria do crescimento econmico onde se trata da diviso social do trabalho, da troca, do uso da moeda e das teorias do mercado e do preo. Tambm, as teorias do lucro e da alocao de capital so grandes contribuies de Adam Smith para a economia poltica como cincia. No obstante Smith ser considerado o pai da economia clssica John Nash (que em 1994 foi laureado com o Prmio Nobel de Economia) nas suas descobertas na Teoria dos jogos desconstruiu matemtica, econmica e politicamente toda a base da economia clssica de Smith. Tambm, desmontou ou desconstruiu a economia moderna neoclssica e neoliberal segundo as quais o nvel mximo de bem-estar social gerado quando cada indivduo, de forma egosta, persegue o seu bem-estar individual e nada mais que isso. Ver o filme Uma Mente Brilhante ganhador do Oscar de Melhor Filme de 2001. Nash com sua teoria dos jogos desmonta essa panacia do individualismo e da livre concorrncia como alicerce fundamental ou central da economia na medida em que ele prova matematicamente que o indivduo em favor do seu bem-estar no pode e no deve perder de vista o, outro, ou seja, os demais integrantes do grupo, da equipe ou da sociedade. A no cooperao entre os diferentes jogadores leva os mesmos obterem menor bem-estar do que poderiam. O inverso do que prega Smith, os neoclssicos e os neoliberais. Dois outros grandes pensadores da escola da economia poltica clssica foram Thomas Robert Malthus (1766-1834) com a teoria da superpopulao (que levou a ideologia do Complexo de Herodes denunciado por lvaro Vieira Pinto) e David Ricardo (1772-1823), com teoria da renda da terra, do valor trabalho e do comrcio mundial. Essa escola, que teve, ainda, como pensadores Georg Friedrich List (1789-1846), Thomas Hodgskin (1787-1869), Jean Baptiste Say (1767-1832) e John Stuart Mill (1806-1873) tinham como fundamento a investigao das leis naturais que induzem vida econmica e permanente busca dos princpios reguladores na livre concorrncia. Essa foi e , sem dvida, o alicerce da teoria da economia poltica at os dias de hoje. E, tambm, desconstruda por Nash na sua teoria dos jogos. As premissas das teorias da economia poltica clssica estavam imbricadas luta das burguesias industriais da poca na Europa, contra os restos das relaes feudais de produo. Isso se dava inclusive no mercantilismo e seu rebento, nas colnias, que foi o escravismo colonial racista contra os negros e os indgenas dos territrios invadidos ou ocupados pelos europeus como foi exemplo o Brasil. Por seu contedo de classe na contradio bsica do modo de produo capitalista que 7

se d na relao entre os humanos (fora de trabalho) e a natureza (bens livres) de onde se origina o capital (parte do excedente econmico ou do lucro em forma de investimento), surgiu a economia poltica clssica. Ela serviu para racionalizar e melhor encobrir a explorao dos entes humanos por outros humanos, particularmente, no processo de produo capitalista entre a burguesia e o proletariado com nfase ao operariado fabril e no mais desvairado hedonismo econmico. Essa foi razo que levou Karl Marx (1818-1883) a submeter os fisiocratas, mas, principalmente, os economistas clssicos a uma severa crtica no somente do ponto de vista da prpria economia poltica, mas tambm da filosofia (materialismo dialtico e materialismo histrico) e do socialismo cientfico. Ao criar a teoria da mais valia, ele a explicitava como o suplemento de tempo de trabalho do operrio apropriado pelo capitalista em seu benefcio e demonstrava a diferena entre o preo de custo e o preo de venda a partir do trabalho no-pago seja ele resultante da mais valia absoluta ou da mais valia relativa. A radical crtica de Marx a economia poltica dos fisiocratas e da escola clssica deu origem escola da economia poltica marxista ou marxiana. Os mecanismos de obteno e de distribuio de mais valia absoluta e de mais valia relativa constituem o fundamento da teoria da acumulao incessante do capital, que a gnese das foras motrizes do capitalismo consubstanciadas no lucro e no poder. Ainda, segundo Marx, o capitalismo concentra o processo de trabalho em grandes empresas produtivas, o que inevitavelmente conduz sua associao. Outrossim, a propriedade privada dos meios de produo faz com que as relaes entre as atividades individuais, via cooperao e diviso social do trabalho, regulem-se de forma espontnea por fora da lei do valor. Esse fato causa o carter irracional ou anrquico do modo de produo capitalista. O efeito da causa em tela retira qualquer direo consciente da sociedade e conduz o capitalismo a colapsos e guerras sob a forma de crises poltico-econmicas. Outra importante contribuio de Marx foi descoberta da taxa de uso decrescente no capitalismo que aponta para a sociedade descartvel que, hoje, se vivencia. Sem dvida essa taxa afeta negativamente as trs dimenses fundamentais da produo e do consumo capitalista, a saber: bens e servios, instalaes e maquinaria e a prpria fora de trabalho. Meszros explica como a taxa de uso decrescente no capitalismo leva no modo de produo a linha de menor resistncia do capital configurado no complexo militar industrial enquanto agente todo-poderoso e efetivo no deslocamento das contradies internas do capital. Dessa forma ele explicita a administrao das crises e da autoreproduo destrutiva do capital. A razo da natureza blica do capitalismo, atravs de suas crises, produziu nos ltimos cem anos nada mais que trs grandes conflitos mundiais estando agora, no quarto conflito ou guerra seno vejamos: a) A primeira guerra mundial entre os anos de 1914 e 1918 b) A segunda guerra mundial entre os anos de 1939 e 1945 c) A terceira guerra mundial denominada de guerra fria durou de 1949 at 1991 d) A quarta guerra mundial teve incio em 1991 e foi, unilateralmente, declarada pelos EUA em 11 de setembro de 2001 e intensifica a guerra dos ricos contra os pobres, diferentes, portanto, das anteriores onde os pobres buscavam alcanar novos direitos e mais liberdade. Hoje, so milhes de pessoas implorando para serem exploradas pelo capital, e os capitalistas respondem com a mais cruel excluso e manipulao social. Essa guerra ficou muito bem caracterizada no 8

Encontro Mundial sobre Mudanas Climticas realizado em dezembro de 2009 em Copenhague. No h previso de seu trmino com a hegemonia do imprio norteamericano que age de forma unilateral em todos os acontecimentos e eventos internacionais. Haja vista suas recentes intervenes no Afeganisto e no Iraque (neste, inclusive, sem o apoio do Conselho de Segurana da ONU) e a maneira como, atravs de Israel, sustenta no Oriente Mdio um dos maiores genocdios: tnico, religioso e racial do planeta. A partir da economia poltica marxista, a burguesia, ainda, na economia mundo do capitalismo adotou a escola da economia poltica neoclssica ou marginalista e a transformou em neoliberal (aps as revolues mundiais de 1968). Essa , hoje, a escola cujas disciplinas so ensinadas nas universidades do sistema mundo do capitalismo. Alm de Marx e Engels, a economia poltica marxiana teve outros grandes pensadores como: Bernstein, Rosa Luxemburgo, Bukharim, Lenine, Hilferding, Plekhamov, Kautsky, Mo Tse Tung, Dobb, Baram, Sweeze, Lange , Fidel Castro e, no Brasil, Caio Prado Junior e Florestan Fernandes. Hoje, um dos grandes filsofos e economistas marxista o hngaro Istvan Meszros. Em 1945, na ps-segunda guerra mundial, destaca-se a escola da economia poltica neoclssica ou marginalista com Keynes, Wicksell, Marshall e Walras para, em seguida, na Alemanha, tomar corpo a escola de economia poltica histrica a partir dos estudos de Menger, Jevons, Wieser e Bohm-Bawerk da escola austraca. Destacam-se, a partir da escola histrica e da escola austraca os pensadores da economia poltica conhecidos como: Pareto, Weber e Sombart. Sob influncia da escola marxiana surgiu a teoria do desenvolvimento econmico formulada por Schumpeter, tambm procedente da escola austraca. Ainda, na tendncia da escola histrica surge a escola institucionalista com Veblen, Mitchell, Commous, e qui Robinson e Kalecki. No perodo da guerra fria, surgem grandes pensadores econmicos como so exemplos: Berle, Means, Mandel, Leontief, Kuznets, Friedman, Myrdal, Galbraith, Sem, Stiglitz e, no Brasil, Celso Furtado, e na Argentina, Prebisch. Contemporaneamente, tm-se vrios economistas que receberam o Prmio Nobel quase todos ligados economia quantitativa e teoria dos jogos muito divulgados nos Estados Unidos e que vivem e trabalham em suas universidades com destaque para John Nash, Lipsey e Lancaster com o teorema do segundo melhor. Para finalizar esta Introduo o Autor apresenta uma sinopse das Perspectivas frente crise do sistema mundo do capitalismo na dcada (20122022) Partindo-se do princpio que a atual crise mundial, iniciada em 2008, do sistema mundo do capitalismo no somente entendida como econmicofinanceiro, mas sim como um colapso das relaes humanas frente ao metabolismo do capital procede-se, a seguir, as seguintes consideraes: 1. Que fazer de dentro da prpria pobreza? Como utilizar os recursos pblicos e naturais para servir de energia primria na luta contra a pobreza? De que forma a organizao, participao e capacitao permanente da populao poderiam 9

gerar e concentrar energias sociais suficientes para, gradualmente, por em funcionamento mltiplos mercados locais onde possam circular e financiar-se a compra e venda de produtos, servios e obras gerados com recursos pr-existentes nas prprias reas de pobreza? 2. Embora, no momento tais perguntas no permitam uma plena e fundamentada resposta, tem o propsito de convocar ao trabalho criativo dos reformadores, administradores e criadores de novas idias que permitam mudar o status quo ora reinante no Brasil. Em um futuro prximo, ainda sobre inspirao do Governo Lula e, agora do Governo Dilma, o Brasil est implementando novas idias com vistas a superar os histricos estrangulamentos de seu desenvolvimento com plena cidadania e soberania. Nesse momento, ser mais claro que os rgidos programas de ajustes estruturais propiciados pelos rgos gestores do capitalismo mundial no so suficientes para recompor o tecido social e gerar processos permanentes de desenvolvimento. 3. Provavelmente se chegar ao consenso de que os programas de ajuste estrutural e racionalizao administrativa do Estado devero continuar. Mas, tero que ser acompanhados por programas e projetos desenhados para acelerar, simultaneamente, a transformao econmica das reas de pobreza comprometendo a ativa participao da sociedade civil, criando novos mercados que mobilizem os fatores abundantes de terra e trabalho, ampliando a riqueza local em benefcio direto de seus habitantes. 4. Tais processos certamente demandaro e requerero financiamentos complementares, a serem captados mediante processos de racionalizao administrativa de recursos e, tambm, de tributaes especiais sobre os estratos sociais concentradores de renda e detentores de alta renda ou fortunas. 5. A entrada ao mercado interno da populao pobre, que se d hoje via Bolsa Famlia, criar condies para que no cenrio poltico do Brasil, os partidos mais representativos de seus interesses ampliem, tambm, sua participao equilibrando as relaes entre as classes e estratos sociais. No futuro, no s o capital e as grandes empresas sero necessrios para o progresso: social, ambiental, econmico e tecnolgico seno, tambm, as foras das populaes de escassos recursos trabalhando para superar suas enormes carncias e participando responsvel e diretamente, na construo de seus prprios destinos. 6. At o presente s as pessoas muito conscientizadas do campo religioso e da sociedade civil organizada, dos movimentos comunitrios, dos sindicatos, alguns partidos polticos e intelectuais trabalham a favor dos segmentos mais pobres da sociedade. Numerosas pessoas que podiam contribuir na grande cruzada para erradicar a pobreza no puderam fazer pelas restries ideolgicas que dominam o cenrio scio-poltico que as levam a situao de esmoleo caritativo frente aos sem nmero de pedintes. 7. O Brasil afortunadamente, nos Governos Lula, continuado por Dilma, est superando sua longa noite ou seu longo inverno no qual o trabalho com as comunidades configurava crime contra a segurana do Estado. Hoje, pelo contrrio, j se compreende que as democracias jovens no podem sobreviver se a pobreza no derrotada e, para isso, se requer a participao solidria de todos os estratos e classes sociais da sociedade. 10

8. As sociedades dos pases chamados desenvolvidos, cntricos e imperialistas assistem atnicas a crescente invaso da pobreza procedente da sia, frica e Amrica Latina, principalmente aps a primavera rabe. De igual modo, os setores sociais mais privilegiados nos pases latinos americanos se sentem cada vez mais ameaados pela pobreza, pela falta de higiene e salubridade em que vivem focos permanentes de doenas e epidemias, e pela violncia latente que invade as cidades. Envolve como vtimas no s as pessoas de fortuna seno, cada vez mais, as simples famlias da classe mdia. Em muitas situaes, aqueles delitos chegam j a configurar fatos sociais alm de serem fenmenos delituosos de responsabilidade individual. 9. Nesse panorama, a internacionalizao da economia representa uma opo necessria na medida em que responde as exigncias inexorveis da revoluo tecnolgica e da comunicao e organizaes vigentes nos centros do capitalismo mundial em sua plena crise sistmica. Como conseqncia, se amplia a circulao de: capitais, tecnologias, informaes e bens econmicos, mas os benefcios dessa poltica so apropriados, basicamente, pelos estratos sociais de rendas mais elevadas. Para a populao pobre ou de escassos recursos tais processos significam muito pouco na medida em sua base de sustentao econmica o salrio cada vez mais abaixo do seu nvel de subsistncia. Em condies de desemprego estrutural, o incremento de produtividade derivado da abertura econmica e da modernizao tecnolgica e informacional s acrescenta o nvel de acumulao do capital. Inclui, tambm, as remuneraes do pessoal tcnico especializado de nveis mdio e superiores profissionalizados e dos burocratas. Fica excluda do processo de aquisio de renda a massa de trabalhadores que percebem como mximo o salrio mnimo, hoje, aqum do nvel de subsistncia. 10. No futuro, sob a vigncia dos modelos atuais de poltica econmica, os estratos sociais de rendas mdias e altas ampliaro seus intercmbios com as sociedades de pases desenvolvidos, mas os segmentos pobres no podero transformar-se espontaneamente em agentes de negcios para ser incorporados aos fluxos do comrcio mundial. No obstante, se os governos no se decidem a adotar com urgncia novas polticas para erradicar a pobreza, essa populao continuar aumentando at que suas estratgias e prticas de sobrevivncia cheguem a travar os processos de intercmbio dos segmentos de altas e mdias rendas. 11. Duas concluses surgem dessa caracterizao da pobreza e do processo de excluso. A primeira, que a pobreza e a excluso devem ser combatidas j, com novas polticas, estratgias, programas e projetos que incorporem e visem verdadeiras transformaes na qualidade de vida tanto nas suas magnitudes financeiras como em suas formas de participaes e administrao. A segunda referese a adoo de tais polticas, estratgias, programas e projetos poderem criar uma extraordinria oportunidade para erradicar a pobreza. Na medida em que, sob fortes condicionamentos interno e externo da poltica econmica, o Governo racionalize seus gastos de funcionamento, reduzam parte dos subsdios ao setor privado empresarial, canalizem recursos significativos e investimentos produtivos e de infra-estrutura. Para a populao pobre preciso que os empresrios cheguem a perceber e sentir que sua prpria sobrevivncia depende dos nveis de custos e da produtividade do trabalho ou, em ltima instancia, da magnitude do mercado interno com a incorporao dos pobres. 11

12. Como reflexo resta, ainda, mencionar que a nova poltica para o desenvolvimento do Brasil, destinada a erradicar a pobreza e aprofundar as reformas: poltica, fiscal, judiciria, agrria, previdenciria e educacional dentro da poltica de ajuste estrutural s pode implementar-se no contexto de um amplo consenso poltico nacional e internacional que possibilite acordos razoveis no plano de negociaes na OMC, no MERCOSUL e outros fruns internacionais. Sem tais acordos, extremamente difcil avanar, com xito, na execuo das novas polticas e conservar e manter a vigncia das instituies democrticas. 13. Cabe lembrar que o individualismo metodolgico de Adam Smith, Stuart Mill, Bentham, Keynes e seus seguidores, como doutrina econmica, no mundo atual, no pode explicar a atual crise mundial do capitalismo na medida em que ela, agora, envolve a totalidade das relaes humanas no planeta. Ela prova e constata que a operacionalidade tima dos mercados (como mo invisvel) apenas uma crena deletria para resolv-la. A atual crise mundial do sistema mundo do capitalismo confirma a assertiva de Bernard Shaw segundo a qual sem compreendermos o capitalismo no podemos compreender a sociedade humana da maneira que ela atualmente existe. Esse o grande desafio e dilema para super-la na dcada 2012 a 2022. 14. Finalmente, o Autor defende a tese de que a atual crise sistmica do capitalismo mundial, em longo prazo, aponta para dois grandes caminhos: O primeiro permitir que a livre iniciativa na propriedade privada dos meios de produo leve a humanidade ao seu desastre total ou global com as regras e as premissas do individualismo metodolgico como fundamento da economia poltica global O segundo aponta para um socialismo de novo tipo com base na propriedade privada autogestionria (em nvel global) dos meios de produo voltada para um humanismo concreto ou, no dizer de MORIN, para uma antro poltica. Supe-se que esse segundo caminho erradique a livre iniciativa em favor da autogesto esta submetida a controles globais que viabilizem vrias utopias socialistas incluso com a reviso dos atuais princpios das corporaes transnacionais. Cronologia de acontecimentos importantes no sistema mundo capitalista. Saltos qualitativos no modo de produo capitalista. Apresentam-se, a seguir, uma cronologia muito sumria de acontecimentos que se deram no sistema mundo capitalista com vistas a induzir o leitor a meditar sobre eles com propsitos de se buscar sada para um novo modo de produo mais humano e mais ecumnico. 1415-1746. Expanso europia pelo mercantilismo. Invases e colonizaes dos novos e velhos continentes a partir do escravismo colonial principalmente dos negros e dos indgenas 1775-1848. Inicio e perodo de concretizao da Revoluo Industrial

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1789-1792. Revoluo Francesa. Abolio do feudalismo como modo de produo. Proclamao dos direitos do homem. O poder emana do povo. Cria-se o lema igualdade, fraternidade e liberdade 1848. Movimentos revolucionrios na Europa. Segunda Revoluo Francesa 1870-1873. 1 Grande Crise Mundial do Capitalismo. Recesso Mundial e a Guerra Franco-Prussiana 1914-1918. 1 Guerra Mundial 1917. Revoluo Russa 1929-1932. 2 Grande Crise Mundial do Capitalismo. Recesso Mundial 1939-1945. 2 Guerra Mundial 1945. Conferncia de Yalta e a diviso do mundo 1949-1990. Guerra Fria ou 3 Guerra Mundial. O equilbrio do terror nuclear 1968. Revoluo Mundial da Desiluso (Primavera de Praga, quebra-quebra na Frana, ofensiva do Tet e reao popular nos EUA, revolta racial nos EUA, crise da Polnia, etc.). Inicio da guerra dos ricos contra os pobres pelo metabolismo do capital. Inicio da virada ciberntica 1989-1990. Fim da URSS e do Tratado de Yalta

Fatos que abalaram o sistema mundo capitalista ps Segunda Guerra Mundial 1945. Bombas atmicas norte americanas sobre Hiroshima e Nagasaki ordenadas por Truman 1945-1948. Revoluo Chinesa. Tomada do poder por Mao Tse Tung a frente do Partido Comunista 1948-1949. Bloqueio de Berlin 1949-1991. A URSS torna-se potncia nuclear. D-se inicio a Guerra Fria ou 3 Guerra Mundial com inmeros conflitos localizados sob tenso nuclear (Equilbrio do Terror). Conflitos localizados da Guerra Fria principalmente na frica pelo conturbado processo de descolonizao 1950-1953-?. Guerra da Coria. At hoje existe apenas um armistcio sito no paralelo 38 em Pamujon entre as duas Corias. Os EUA com suas tropas na Coria do Sul encontram resistncia sem controle por parte da Coria do Norte, hoje, possuindo artefatos nucleares 1954. Partilha da Indochina 1959. Revoluo Cubana e ascenso de Fidel Castro ao Poder 13

1959-1975. Guerra do Vietnam onde os EUA sofrem de fato uma verdadeira derrota militar em campo de batalha aps arrasar o pas e sua retirada desmoralizada de Saigon. D-se a unificao do pas por Hochimin 1967. Guerra dos seis dias sobre a Palestina (rabes contra judeus) e vitria militar de Israel que perpetua uma situao de apartaid com atrocidades semelhantes as de Hitler na Alemanha nazista 1970-1971. Os EUA unilateralmente, no governo Nixon, retira o dlar do padro-ouro desarticulando o Acordo de Breton Woods. Crise do padro monetrio mundial 1973. 1 Choque do petrleo 1979. 2 Choque do petrleo. 1979. A Revoluo Iraniana 1980-1988. Crise da dvida. Diminuio de tamanho das empresas pela terceirizao nas redes corporativas 1989-1990. Fim da URSS e do Tratado de Yalta 1990-2000. Criao da primeira moeda transnacional o euro na Unio Europia. Guerra dos Blcs (inicio do fim da Yugoslvia), crise da OTAN, crise asitica, estouro da bolha imobiliria japonesa. Inicio da separao militar EUA versus Europa, intensificao dos conflitos hegemnicos na Trade 2001-? Incio da 4 Guerra Mundial a partir do ataque da Al-qaeda s torres gmeas e ao Pentgono nos EUA. Guerra declarada em discurso de Bush que mais pareceu, em nvel mundial, uma caricatura de Hitler. O processo se intensifica, hoje, com o advento da 3 Grande Crise Mundial do Capitalismo que teve incio em 2008.

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II. PRINCPIOS DO PENSAR COMPLEXO A seguir, se apresentam alguns princpios da teoria da complexidade para enfatizar as mudanas ou a transposio de paradigmas. Certamente, essa teoria ocupa cada vez mais espaos com a revoluo do conhecimento e da informao. Mais ainda, com a gestao de novas fontes de energia (biomassa, elica, solar) e da economia do hidrognio com vistas substituio dos combustveis fsseis, redistribuio no somente do lucro, mas tambm, do poder entre os humanos que vivem no planeta. A complexidade necessariamente supera o conhecimento disciplinarizado. Fala-se, no mais dos processos de produo na organizao da empresa convencional, mecnica e complicada, do sistema mundo do capitalismo, mas de uma empresa viva. Esta autorecria-se por ser capaz de aprender e pensar a partir das famlias que nela esto insertas, portanto, de uma empresa ou organizao to complexa como a vida ou como a sociedade humana. Para maior inteligibilidade de como funcionam essas vises da complexidade ou apreenses em rede, nos processos scio-econmicos e nas organizaes reticulares apresentam-se, sinoticamente, os princpios bsicos ou caractersticas da teoria da complexidade e o holismo com vistas contextualizao e apreenso da cincia, particularmente, da economia poltica. Em termos gerais e sinticos a forma do pensar complexo se caracteriza por ser: Dinmica. Com a observao dos campos de foras contrrias (impulsoras e restritivas) que pressupem o devir e o fazer novo imbricados as categorias de: atividade, criatividade, objetividade, historicidade e agilidade. Compreende as chamadas estruturas dissipativas para a criatividade possvel. o modo inovador do vir a ser. A dinmica da cincia est no fato de que enquanto mais paradigmtica ela for, menos cientifica ser. No-linear. Esse princpio do pensar complexo embora aceite que toda interveno ou criao tecnolgica que seja linear como parte da realidade, porm em totalidades complexas, a decomposio das partes desconstri o todo e impraticvel a partir das partes reconstiturem o todo. preciso entender que na complexidade da vida na parte est contido o todo. A no-linearidade implica equilbrio e desequilbrio que, geralmente, leva substituio do velho pelo novo. Tudo est conectado. Segundo Demo na no-linearidade implica, pois, muito mais que emaranhados, labirintos, complicaes, onde se podem ver processos que se complicam, mas no se complexificam. Na complexidade pulsa relao prpria entre o todo e as partes. O complexo pode provir do simples como este do complexo. Reconstrutiva. Essa caracterstica do pensar complexo doa sentido a produzir-se algo para alm de si mesmo. A luz pode ser vista como matria e onda dependendo do ponto de vista de quem a observa. Apenas na lgica formal linear 2+2 so iguais a 4, haja vista que se leva em conta que o primeiro 2 so dois euros e, o segundo, so dois reais seu somatrio jamais sero 4. Muito do que parece 15

igual esconde incomensurveis diferenas e vice-versa. A reconstrutividade sinaliza sentidos de: autonomia; aprendizagem, reconstruo e reformao. A vida no significa uma matria nova, mas certamente, uma nova modalidade de organizao da matria. Processo dialtico evolutivo. O computador no aprende, logo, no sabe errar. mquina reversvel, sofisticada, complicada, mas no complexa. O crebro humano possui habilidades Reconstrutiva e seletivas que ultrapassam todas as lgicas reversveis. , portanto, irreversvel e complexo. A vida no foi criada, ela mesma se reconstri. autocriativa. Dizia Herclito em 2000 a.C. que: vive-se com a morte e morre-se com a vida. Essa assertiva aponta ou compe o desafio dialtico do conhecimento sobre o cosmo e sobre a vida. Irreversibilidade. Nada se repete. Qualquer depois diferente do antes. no linearidade. impossvel voltar ao passado ou ir ao futuro permanecendo o mesmo. A irreversibilidade sinaliza o carter evolutivo e histrico da natureza. O tempo-espao so dimenses irreversveis. Toda e qualquer realidade est muito alm do que aparenta e que se pode verificar. O mximo que se pode fazer construir um modelo de aderncia realidade. Aquilo que aparece real muita das vezes virtual ou cpia. A natureza no doa sentido e no tem sentido em si, apenas age ou reage por causa e efeito. Intensidade de fenmenos complexos. O que bem explicita esse fato o chamado efeito borboleta, ou seja, aquelas que esvoaam em um continente causam um ciclone em outro ou o tambm conhecido efeito domin. Demanda relao de causa e efeito e ambivalncia em sua contextualizao. Sabese, hoje, que o mundo da complexidade o mundo das incertezas. No caso do direito pode-se aventar que a justia cega, no por ser injusta e imparcial, mas porque voltada para o que se quer ver. Esse mesmo fenmeno pode ter referncia a mais valia e alienao do trabalho. Ambigidade/ambivalncia dos fenmenos complexos. Ambigidade refere-se estrutura catica, isto , ordem e desordem. Ambivalncia diz respeito processualidade dos fenmenos. o eterno vir a ser. Argumentar questionar, penetrar no campo de foras que constitui a dinmica. A ambivalncia subentende a existncia e a simultaneidade de idias com a mesma intensidade sobre algo ou coisa que se opem mutuamente. Por isso a ambivalncia a tendncia do construtivo no destrutivo e vice-versa com vistas inovao e a criatividade. o que se conhece como crise. Sob a alegao que a inteligncia humana ser no-linear Pedro Demo, em seu livro Complexidade e aprendizagem, cita de Hofstardter o seguinte texto: ningum sabe por onde passa a linha divisria entre o comportamento no inteligente e o comportamento inteligente; na verdade, admitir a existncia de uma linha divisria ntida provavelmente uma tolice. Mas, certamente, so capacidades essenciais para a inteligncia: Responder a situaes de maneira muito flexvel Tirar vantagens de circunstncias fortuitas 16

Dar sentido a mensagens ambguas ou contraditrias Reconhecer a importncia relativa de elementos de uma situao Encontrar similaridades entre situaes, apesar das diferenas que possam separ-las Encontrar diferenas entre situaes, apesar das que possam uni-las Sintetizar novos conceitos, tomando conceitos anteriores e reordenlos de maneiras novas Formular idias que constituem novidades. Sobre o pensar complexo e sistmico a aluna Mirella Ferraz, junto com Aristfanes Jnior, (curso de publicidade e propaganda) contextualizou o tema resumindo-o nos seguintes princpios: Tudo est ligado a tudo O mundo natural constitudo de opostos ao mesmo tempo antagnicos e complementares Toda ao implica uma retro alimentao (feedback) Toda retro alimentao resulta em novas aes Vive-se em crculos sistmicos e dinmicos de retro alimentao e no em linhas estticas de causa e efeito imediato H que se ter responsabilidade em tudo que se influencia A retro alimentao pode surgir bem longe da ao inicial, em termos de tempo e espao Todo sistema reage segundo a sua estrutura A estrutura de um sistema muda continuamente, mas no a sua organizao Os resultados nem sempre so proporcionais aos esforos iniciais Os sistemas funcionam melhor por meio de suas ligaes mais frgeis Uma parte so pode ser definida como tal em relao a um todo Nunca se pode fazer uma coisa isolada No h fenmeno de causa nica no mundo natural As propriedades emergentes de um sistema no so redutveis aos seus componentes impossvel pensar num sistema sem pensar em seu ambiente ou contexto Os sistemas no podem ser reduzidos ao meio ambiente e viceversa. No final de suas apresentaes, em sala de aula, foram enfticos em afirmar que, nas suas bases de conhecimento o pensar complexo mostrou que: Pequenas aes podem levar a grandes resultados (efeitos: borboleta e domin) Nem sempre se aprende pela experincia ou repetio O autoconhecimento se dar com ajuda do outro Solues imediatistas podem provocar problemas ainda maiores do que aquele que se tenta resolver Toda ao produz efeitos colaterais 17

Solues bvias em geral causam mais mal do que bem possvel pensar em termos de conexes, e no de eventos isolados O imediatismo e a inflexibilidade so os primeiros passos para o subdesenvolvimento, seja ele pessoal, cultural e grupal. III. LEIS DA ECONOMIA POLTICA Na economia poltica, tem-se conhecimento de trs tipos de leis: Leis causais, cujas relaes se do sempre com determinado fato como efeito no tempo onde o fato anterior (causa) induz um fato posterior (efeito) Leis de concomitncia, quando as relaes entre dois ou mais fatos surgem ou aparecem constantemente juntas e que so normalmente chamadas de leis estruturais, por formarem estruturas regulares Leis funcionais, quando as relaes entre os fatos permitem serem mensurveis quantitativamente por funes matemticas, que do origem aos modelos e funes econometrias. Igualmente, tanto as leis de concomitncia como as funcionais podem ser apreendidas e contextualizadas, tambm, como leis causais, que so as fundamentais da economia poltica. Na controversa contextualizao das leis na economia poltica, existe uma gama de estudiosos que fazem distines entre leis de economia poltica, reflexos adequados das leis da economia, e leis econmicas, pelo carter estocstico ou de se prever as probabilidades (estatsticas) e possibilidades como se apresentam os fatos econmicos. No obstante os diferentes enfoques e contextualizaes, a quase totalidade dos economistas concorda que as leis econmicas so independentes da conscincia e da vontade dos humanos, ou seja, se os humanos tm ou no conscincia delas e de suas causas e efeitos. Segundo Marx os homens no so livres rbitros de suas foras produtivas que so base de toda sua histria porque toda fora produtiva uma fora adquirida, produto de uma atividade anterior. Essa viso marxista ampliada por Engels, citado por Lange, da seguinte maneira: ... na histria da sociedade, os fatores atuantes so exclusivamente homens dotados de conscincia, agindo com reflexo ou com paixo, e perseguindo objetivos determinados; nada produzido sem desgnio consciente, sem fim desejado (...) s raramente se atinge o objetivo colimado; na maioria dos casos, os numerosos objetivos perseguidos se entrecruzam e se contradizem, ou so eles mesmos a priori irrealizveis, ou ainda, os meios para realiz-los so insuficientes. assim que os conflitos das inumerveis vontades e aes individuais criam no domnio histrico, um estado inteiramente anlogo aos que se encontram na natureza inconsciente. Os objetivos das aes so desejados, mas os resultados que surgem realmente dessas aes no o so, ou, se parecem, a princpio, corresponder ao objetivo em vista, tm finalmente conseqncias diferentes das que se pretendia. Assim os acontecimentos histricos se apresentam, de maneira geral, como dominado tambm pelo acaso. Mas sempre que o acaso parece dominar na superfcie, na realidade est sob o imprio de leis interna ocultas, e basta descobrirem-nas. As leis econmicas do comportamento humano ou do entrelaamento das aes humanas decorrem das necessidades tcnicas e materiais no processo de 18

produo, isto , quando os humanos a partir de estmulos so incitados a realizarem os objetivos da atividade econmica colimada. Ainda, segundo Engels, citado por Lange, a natureza tambm (...) percorre uma histria efetiva (...) as leis da natureza modificam-se da mesma forma. Todavia, as mudanas que se do na natureza so muito lentas comparadas com as mudanas que se verificam na histria da sociedade humana e, por conseguinte com as condies de modificaes de ao das leis econmicas. Essas condies mudam de uma poca para outra.. A economia poltica, como diz Engels, ... trata de matria histrica, isto , em transformao constante; ela estuda em primeiro lugar as leis prprias de cada fase da evoluo da produo e da troca... por esse motivo que as leis econmicas no so de alcance universal, abrangendo todos os estgios do desenvolvimento social, mas sim leis histricas, relativas a nveis definidos de desenvolvimento e desaparecem quando passa para o nvel seguinte. O que se chamam leis econmicas no so leis eternas da natureza, mas leis histricas que surgem e desaparecem. No processo dialtico da ao recproca entre os humanos e a natureza que se materializa no processo de produo de bens e servios, pode-se, para fins didticos, explicitar trs tipos de leis estudadas pela economia poltica: O primeiro so as leis das relaes de produo e as correspondentes relaes de distribuio onde s aes se limitam pela formao social historicamente definida como exemplo a lei da formao da taxa de lucro O segundo trata das leis do comportamento humano e do entrelaamento das suas relaes expressas nas conhecidas leis: do valor; da oferta e da procura e da formao dos preos O terceiro tipo so as leis que resultam da ao da superestrutura sobre as relaes econmicas, ou melhor, as derivadas da ao recproca da superestrutura, como por exemplo, as leis que estabelecem o status quo no comrcio mundial, as do papel-moeda ou meios de pagamento, as do controle do cmbio, a moeda ouro, o protecionismo alfandegrio, etc. Com respeito ao metabolismo do capital h que se levar em conta a lei que estabelece a taxa de uso decrescente no capitalismo, ou seja, o decrscimo de vida til da mercadoria ou de suas horas de uso. Em outras palavras busca-se sempre aumentar a produtividade do trabalho com vistas, tambm, ao maior obsoletismo da mercadoria e, em conseqncia, sua maior vendabilidade. Essa lei do capital afeta negativamente as trs dimenses da produo e do consumo no capitalismo, a saber: Bens e servios Instalaes e maquinarias A prpria fora de trabalho. Est imbricada a taxa de uso decrescente no capitalismo o que se conhece como obsolescncia prematura, subutilizao crnica, ciclo curto de amortizao e ociosidade do capital tanto em nvel da empresa quanto da sociedade. A sua manifestao mais nociva sociedade est no desemprego em massa pela substituio do trabalho vivo pelo trabalho pretrito (produtividade do trabalho) e intensidade do trabalho nos processos produtivos que leva a criao da fora de trabalho suprflua ou ao conhecido desemprego estrutural. 19

Da lei de formao da taxa de uso decrescente no capitalismo resulta a linha de menor resistncia do capital que leva a produo destrutiva do capital. A partir do relacionamento com o estado, a doar alto significado ao chamado complexo militar-industrial se transforma no agente todo poderoso das contradies do capital em seu processo de desumanizao ou inumanizao. No dizer de Meszros o resultado positivo dessa interao dialtica entre produo e consumo est muito longe de ser seguro, j que o impulso capitalista para a expanso da produo no est necessariamente ligado a necessidade humana como tal, mas somente ao imperativo abstrato da realizao do capital ... pela transformao radical da produo genuinamente orientada para o consumo em destruio.

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IV. TRABALHO E ALIENAO Por viver em sociedade, ser dotado de conhecimento reflexivo e prospectivo com vistas a produzir bens econmicos e servios para satisfao de suas necessidades (infinitas), o ser humano foi e obrigado a trabalhar. O trabalho tem, por isso, um carter social, podendo ser: produtivo e no produtivo, abstrato e concreto, vivo e pretrito. O trabalho produtivo aquele que se d no processo de produo de mercadorias, nas organizaes empresariais ou no, capazes de satisfazer necessidades humanas e econmicas, e o no-produtivo aquele ligado aos meios de distribuio das mercadorias (servios) e das atividades institucionaladministrativas. Em quaisquer circunstncias, o trabalho tem sua gnese no processo econmico de produo de mercadorias (produtos e servios) pela relao ser humanocoisaser humano ou, ainda, sujeitoobjetosujeito. O trabalho pode ser: Abstrato, isto , um dispndio da fora de trabalho humana pura e simples, capaz de criar ou de doar valor a quaisquer atividades cujo fim seja transformar um bem livre em um bem econmico Concreto, quando esse mesmo dispndio tem utilidade, trabalho til, cujo resultado a criao do valor de uso do bem econmico. O carter objetivo de um e do outro puramente social e, portanto, poltico. Os marxistas enfatizam que s por meio da troca de mercadorias (valor de troca), o trabalho privado que as produziu se torna social, isto , a equalizao do trabalho como abstrato s ocorre por meio da troca dos produtos desse trabalho. Essa a razo de o trabalho, tanto abstrato quanto concreto, no processo de produo, doar ao produto seu valor e seu valor de uso desde o seu comeo pela intencionalidade de produzi-lo. O trabalho vivo aquele dispndio de energia humana que se d no prprio processo de produo de bens e servios de forma direta pelo vendedor de fora de trabalho. O trabalho pretrito, morto ou passado aquele dispndio de energia humana acumulada, incorporada e materializada nos bens de produo, isto , mquinas, equipamentos, edificaes, infra-estrutura, etc., que, no processo de produo, transferido ao produto. Muitos economistas fazem aluso ao trabalho domstico como produto da mais valia para o capital na medida em que uma mercadoria especfica ou fora de trabalho. Portanto, equivale a uma fbrica capitalista com um detalhe que as donas de casa no so assalariadas, logo essa modalidade de trabalho, historicamente, em sua essncia, uma brutal forma de opresso sobre o gnero feminino. Para compreenso da assertiva acima, necessrio que se entenda a categoria fora de trabalho como atributo dos seres humanos vivos que so mantidos pelo seu prprio consumo de valores de uso, alguns dos quais produzidos pelo trabalho domstico. 21

O conceito de trabalho socialmente necessrio , segundo Marx, o tempo de trabalho socialmente necessrio produo de qualquer valor de uso sob condies de produo normais em uma determinada sociedade e com o grau mdio de habilidade e de intensidade de trabalho predominantes nessa sociedade. Alienao do trabalho, segundo Marx, se manifesta por uma parte porque meu meio de subsistncia pertence a outro, porque o objeto do meu desejo o bem inacessvel de outro e por outra parte, porque toda coisa em si mesma outra que ela mesma, porque enfim e isto vale igualmente para o capitalista em geral domina o poder inumano. Epistemologicamente, esse processo de alienao do trabalho se expressa por dois modos distintos: O primeiro, pela forma ativa de o ser humano ter que trabalhar (sob esse ngulo, o trabalho humano a principal forma de alienao) O segundo, o ser humano educado para aceitar o trabalho como essncia de sua existncia social e no como forma histrica e circunstancial da alienao. luz desse ponto de vista tanto o trabalho quanto a educao so fatores essenciais do processo de alienao dos humanos. O ser humano, por natureza livre e consciente, passa a ser uma coisa que trabalha e aceita ser educado no trabalho para sua existncia, desumanizando-se como parte de sua natureza humana pela falsa conscincia de si mesmo. Nas palavras de Marx, a alienao (...) a oposio entre o em si e o para si, entre a conscincia e a conscincia em si, entre o objeto e o sujeito. Todo o processo de alienao do trabalho surge com a inveno ou criao humana da propriedade privada (quando do ponto de vista da tica os humanos perdem sua dignidade na medida em que cria, tambm, uma lgica de vencedores x vencidos, exploradores x explorados, conquistadores x conquistados, etc.). Esse fato transforma sua fora de trabalho em mercadoria em contraponto primitiva propriedade tribal ou comunal onde ela era livre como, ainda, se v na Amaznia em algumas tribos indgenas. Da Marx acentuar, o operrio se converte em mercadoria tanto mais vil quanto maior a quantidade de mercadoria que produz. A desvalorizao do mundo humano cresce em relao direta com a valorizao do mundo das coisas. Afirma, ele, em sua crtica aos clssicos, a economia poltica oculta alienao que est na essncia do trabalho. Este perde todo o carter de necessidade humana e a conscincia de si. O ser humano projeta-se e satisfaz-se em seu produto, que no mais seu como no a sua prpria fora de trabalho que passa, em toda sua vida, a resumir-se em gastar e recompor sua fora de trabalho que foi obrigado a alienar. O ser humano no vende apenas sua fora de trabalho, aliena-se ou vendese, a si prprio, por inteiro tanto pelos processos de trabalho quanto pelo processo de produo de bens e servios sob a gide do processo de educao que o domestica para a alienao.

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V. BENS, MERCADORIAS E MERCADO O conceito de bens leva o leitor a meditar que so todas as coisas ou objetos que so teis e prprios para satisfazerem necessidades humanas. Os bens podem ser classificados como: bens livres e bens econmicos. Os bens livres so aqueles que no tm valor, valor de uso e valor de troca, portanto, no so mercadorias, como so exemplos: o ar atmosfrico, os oceanos, as guas das chuvas, o clima, a natureza como um todo, etc. J os bens econmicos so dotados de valor, valor de uso e valor de troca na medida em que so resultado da interveno humana na natureza via processo de trabalho com vistas a produzir suas prprias condies materiais de existncia, ou seja, so mercadorias. Estas so pela atividade humana dotadas de: valor, valor de uso e valor de troca, tanto pelo trabalho concreto, quanto pelo trabalho abstrato, ou, ainda, pelo trabalho vivo e pelo trabalho pretrito ou material das mquinas. Os bens econmicos so tambm classificados como: Bens de consumo Bens de consumo durveis Bens de produo ou bens de capital Bens intermedirios ou insumos. Todo bem econmico necessrio e obrigatoriamente uma mercadoria. Esta pode ser conceituada como a forma que o produto (quando de sua produo) mediado pela troca e, portanto, propriedade de um agente particular (empresa que a clula base da atividade econmica), que tem o poder de dispor dele e de transferi-lo para outro agente. Claro que esse agente pode ser, tambm, a famlia. Esta a essncia, da empresa e da organizao onde se d no somente o processo de produo, mas, principalmente, o processo incessante de acumulao de capital. No mbito das mercadorias, duas delas assumem caractersticas especiais: A primeira fora de trabalho (geradora de mais valia). A segunda o dinheiro ou moeda, que, pelo valor de troca, estabelece a mediao das diferentes mercadorias no mercado atravs do preo, isto , tem a capacidade de transformar o custo de produo ou valor em preo. A mercadoria-dinheiro ou moeda d origem ao capital, que o valor que se expande atravs do processo de produo e da troca. Da Marx conceituar capital como uma forma da mercadoria-dinheiro que tem fundamento na existncia de um sistema de produo de mercadorias e na emergncia de forma monetria no valor. J a mercadoria fora de trabalho se apresenta na troca em forma de salrio. Hoje, o prprio capital se transforma em mercadoria quando tem um preo (a taxa de juros) e trocado no mercado financeiro. Note-se que na conceituao de mercadorias torna-se explcito o prprio conceito de mercado como o lcus onde se procedem as trocas das mercadorias, dos servios e das finanas (ttulos, aes, etc.). O mercado est imbricado conhecida lei da oferta e da procura, ou seja, ao ciclo de produo-distribuio23

consumo. Segundo Paul Singer (O que economia? So Paulo, Contexto, 2001) o mercado funciona de tal modo que as empresas so induzidas a produzir cada valor de uso em quantidades no muito diferentes das socialmente necessrias, isto , das que so desejadas pelos compradores, dotados de renda em dinheiro para adquiri-las. Esta quantidade constitui a demanda solvvel por mercadoria. Como a oferta e a demanda no so entidades ou categoria autnomas da economia poltica o mercado dentro das relaes contraditrias entre ambas se torna impotente para ajustar este processo governado por conflitos e incertezas entre as empresas e corporaes capitalistas. Da a existncia das sucessivas crises que envolvem o modo de produo capitalista desde sua gnese at aos dias de hoje. Outro grande paradoxo que se imbrica ao mercado o do subconsumo e superproduo de bens econmicos que contemporaneamente se manifesta no sistema mundo do capitalismo. notrio que a distribuio de renda rege tanto a evoluo quanto a retrao da oferta e da demanda das mercadorias, em nvel global, e ela marcada por conflitos cujos resultados so incertos, imprevisveis e contraditrios. Com a chamada virada ciberntica (anos 1968/70) surge o cibermercado que mais transparente que o mercado clssico. Na virtualizao da economia, como um todo, Pierre Lvy (O que o virtual? So Paulo, Ed. 34, 2009) trata da desterritorializao da economia, do mercado e das finanas e do maior mercado do mundo que o da moeda. Quanto ao processo de trabalho afirma que as pessoas no apenas so levados a mudar de profisso em sua vida, como tambm, no interior da mesma profisso, os conhecimentos tem um ciclo de renovao cada vez mais curto. Assegura, ainda, que o trabalhador contemporneo tende a vender no mais sua fora de trabalho, mas sua competncia, ou melhor, uma capacidade continuamente alimentada e melhorada de aprender e inovar, que pode se atualizar de maneira imprevisvel em contextos variveis. Complementa seu raciocnio alegando que na economia do futuro, as sociedades bem-sucedidas reconhecero e alimentaro em prioridade o virtual e seus portadores vivos. Com efeito, dois caminhos se abrem aos investimentos para aumentar a eficcia do trabalho: ou a reificao da fora de trabalho pela automatizao, ou a virtualizao das competncias por dispositivos que aumentam a inteligncia coletiva. Quanto ao cibermercado, ele afirma, os produtos e servios mais valorizados no novo mercado so interativos, o que significa, em termos econmicos, que a produo de valor agregado se desloca para o lado do consumidor, ou melhor, que convm substituir a noo de consumo pela de coproduo de mercadorias ou de servios interativos. Assim como a virtualizao do texto nos faz assistir a indistino crescente dos papis do leitor e o do autor, tambm a virtualizao do mercado pe em cena a mistura dos gneros entre o consumo e a produo.

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VI. TEORIA DA MAIS VALIA Essa teoria se explicita na forma especfica pela qual se processa a explorao da fora de trabalho sob o modo de produo capitalista onde a liberdade da venda da fora de trabalho que, sendo humana criativa por doao do conhecimento reflexivo/prospectivo. Ela capaz de produzir um valor adicional jamais pago por um salrio, por mais justo que se pense que ele seja. O excedente econmico (sobre trabalho, sobre produto, etc.) advindo do trabalho no-pago (mais valia), em geral, no processo de produo, toma a forma de lucro. Tanto o lucro quanto o salrio so faces que assumem o trabalho excedente e o trabalho socialmente necessrio quando esto sob o jugo do capital. Tanto um como o outro se expressa em dinheiro ou moeda, que a forma objetificada do trabalho humano, pela troca de sua fora de trabalho no processo de produo onde o conceito de mais valia ou trabalho no-pago tornase crucial e relevante. O produto resultante da venda da fora de trabalho humana, em geral, apropriado pelo detentor do capital (capitalista). Obtm-se mais valia da diferena entre o valor advindo do trabalho abstrato, imbricado ao produto, e o valor do capital envolvido em seu processo de produo. Este constitudo pelo capital constante ou bens de produo, transferidos ao produto, e pelo capital varivel expresso pelo salrio que o trabalhador recebe na troca ou venda de sua fora de trabalho no dito processo. Segundo Bottomore, o capital varivel assim chamado porque sua quantidade varia do comeo ao fim do processo de produo; o que no incio valor da fora de trabalho ao trmino valor produzido por esta fora de trabalho em ao. A mais valia a diferena entre esses dois valores: o valor produzido pelo trabalhador que apropriado pelo capitalista sem que um equivalente seja dado em troca. No h, aqui, uma troca injusta, mas o capitalista se apropria dos resultados do trabalho excedente no-pago. Sendo o consumo da fora de trabalho o prprio trabalho, sob condies de abstrato e concreto ou til, na produo de mercadorias, a fora de trabalho tornase, ela prpria, a mercadoria. Ela tem a propriedade especfica e nica de ser capaz de criar valor, alm de sua remunerao, que a essncia do trabalho no-pago ou da mais valia oriunda do processo de produo de mercadorias e servios no modo de produo capitalista. Bottomore em seu Dicionrio do Pensamento Marxista afirma os trabalhadores so explorados no em funo de uma troca injusta no mercado de trabalho, j que eles vendem sua fora de trabalho pelo valor que ela tem, mas devido s sua posio de classe que os leva a entrar no processo de produo capitalista no lugar onde a explorao efetivamente ocorre. No modo de produo capitalista, os trabalhadores, na prtica, no so livres para no vender sua fora de trabalho. O sistema em que se inserem no lhes permite possuir outro meio de sobrevivncia salvo quando transgridem e apelam para a violncia do roubo ou da expropriao de excedentes das pessoas comuns ou daqueles que os escravizam com a iluso do livre arbtrio de serem livres para trabalhar ou no. Da Marx concluir sobre a dupla liberdade que resta ao 25

trabalhador: a liberdade de vender sua fora de trabalho ou a liberdade de morrer de fome. Marx, ao criar a teoria da mais valia no modo de produo capitalista, atravs de sua monumental obra, que O capital, chegou a estabelecer a taxa de mais valia. Esta expressa pela relao entre o montante ou o somatrio do excedente produzido, no processo de produo, sobre o trabalho necessrio capital varivel despendido no mesmo, ou ainda, pela equao: Trabalho excedente Trabalho necessrio Horas despendidas pelo trabalho para o capitalista____ Horas despendidas pelo trabalhador para autoconsumo

Em sua teoria, Marx explicita no somente o conceito de mais valia como subdivide ou a diferencia em: mais valia absoluta e mais valia relativa. Como mais valia absoluta, ele mostra a taxa de mais valia ou de explorao luz do conceito de intensidade do trabalho (aumento, do trabalho vivo no processo de produo, no valor total produzido por cada trabalhador, em uma unidade de tempo, sem alterao do montante de trabalho socialmente necessrio). J a mais valia relativa conceituada e explicada pela produtividade do trabalho, cujo objetivo reduzir os custos individuais do capital varivel na fora de trabalho, tambm, por unidade de tempo, onde haja necessariamente, substituio de trabalho vivo por trabalho pretrito a partir da inovao tecnolgica substitutora de fora de trabalho, em geral, via mecanizao, automatizao ou robotizao no processo de produo de mercadorias.

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VII. VALOR E SUAS TEORIAS Entre os conflitos tericos das diferentes escolas da economia poltica um dos mais importantes aquele que trata das teorias do valor. So duas fundamentais: A teoria do valor-trabalho (concepo dos clssicos, criticada e aperfeioada por Marx) A teoria do valor-utilidade formulada pela escola marginalista de Keynes e seguida pelos neoclssicos. Essa polmica ou conflito apresenta-se pelo fato da economia poltica diferenciar-se de todas as demais cincias sociais ou humanas pela sua probabilidade e possibilidade de ser quantificada com o clculo matemtico. Esse atributo as outras cincias sociais ou humanas no tm, ou seja, expressam-se de forma qualitativa por relaes simtricas, assimtricas, iguais, desiguais, de cooperao, de antagonismo, de comparao estatstica, de percepo, de emoes, de atitudes, etc. A probabilidade/possibilidade de quantificao que tem a economia poltica, como cincia, decorre exatamente da lei do valor seja ela explicada por quaisquer umas das duas teorias. Essa diferena que faz o valor econmico ser padro de medida e fundamento cientfico da economia poltica. Pode o leitor indagar sobre o que vem a ser essas duas teorias do valor e quais as suas importncias? Essa pergunta pode ser respondida, de forma sintica, da seguinte maneira. Em toda atividade econmica de produo, segundo a teoria do valorutilidade, cria-se valor que reflete o grau de satisfao ou de atendimento a uma utilidade. Essa a razo que os humanos entre si e o meio ambiente atribuem valor aos objetos e aos servios na medida em que satisfazem necessidades humanas. Na teoria do valor-trabalho o sentido de valor doado no pelas relaes dos humanos com as coisas ou meio ambiente, mas, sim, dos humanos entre si pelas relaes sociais na atividade econmica, isto , pelo tempo de trabalho produtivo (vivo e material) na produo dos bens econmicos. Pode-se dizer que a teoria do valor-utilidade parte das relaes entre necessidades humanas e os servios ou objetos que as satisfazem (comportamento subjetivo). Por essa razo, o valor utilidade se interessa pela forma como as pessoas experimentam suas necessidades. Por isso, colocam o consumidor no centro do sistema ou em um pedestal com a apologtica da sua soberania. o rei do atual e insustentvel consumismo de utilidades e inutilidades econmicas, principalmente, nos pases chamados desenvolvidos pelas vias da manipulao da vontade do prprio consumidor, pelo marketing, imagem de marcas, propagandas subliminares e outros procedimentos, legais e ilegais, pela mdia falada, escrita, televisiva, cinematogrfica e pela Internet. Galbraith (economista e diplomata Norte americano) em seu livro O Novo Estado Industrial cria o conceito de superestrutura, prega uma teoria para os capitalistas, maximizarem os seus proveitos no consumismo e faz apologtica da sua majestade o consumidor, do rei mercado, do mercado sabe de tudo. O conceito de superestrutura encoberta e conforma as corporaes internacionais para a absoluta rapinagem sobre os pases 27

pobres. Essas e outras atitudes inconseqentes so divulgadas e propaladas pela mdia como se a economia poltica global fosse capaz de sustentar o consumismo exacerbado dos pases cntricos a custa dos pases pobres. A economia dos pases hegemnicos comprovadamente insustentvel, sem que haja a extorso e o saque das economias dos chamados pases emergentes perifricos a eles. No vem que a natureza violentada e que tende a dar respostas indesejveis pelo consumismo de utilidades e, principalmente, de inutilidades econmicas geradas pelo sistema. A teoria do valor-trabalho parte da idia da economia ou atividade produtiva ser essencialmente coletiva e jamais individual pelo corte transversal da diviso social do trabalho. Claro que h na economia, como um todo, atividades particulares que as pessoas fazem ou produzem. Outrossim, esto imbricadas a outras atividades coletivas. Tanto, isso verdade que um professor ou outro qualquer profissional liberal tm suas funes reconhecidas na medida em que existe outra atividade coletiva decorrente da diviso social do trabalho. O seu valor se expressa pelo produto social da atividade coletiva de toda a sociedade em que vive. Essa objetividade do valor pode ser medida e qualificada. Vale salientar que as duas teorias, em discusso, tm enfoques diferentes quanto ao produto social. Enquanto a do valor-utilidade o entende como somatrio de cada um dos bens segundo mudam as preferncias, expectativas e gostos, a do valor-trabalho afirma ser ele determinado pelo tempo de trabalho socialmente necessrio gasto na produo de cada um deles. Em tese a teoria do valor-trabalho trata da transformao de bens livre em bens econmicos, ou seja, todo trabalho que no socialmente necessrio no tem valor, logo todo valor resultado de um trabalho humano. A forma como se exprime mascara sua utilidade, isto , o segredo da sua realizao. O produto do trabalho e sua utilidade no falam da condio de o humano ser escravo ou livre para produzi-lo. A teoria do valor-trabalho explicita a lgica que regula o processo de produo em cada modo de produo em funo da correspondncia das foras produtivas com as relaes de produo e sua infraestrutura humana. Uma anlise acurada de ambas as teorias mostra a teoria do valor-utilidade como a-histrica pelo princpio de ser a atividade econmica sempre idntica. Para sua lgica todo e qualquer indivduo que esteja desempregado porque preferem o cio pequena remunerao que pode auferir em atividades outras de baixa remunerao ou biscates. Tende a justificar a manipulao econmica pelos reflexos condicionados e serve para escamotear e ocultar a explorao do trabalho ou do homem pelo homem. A teoria do valor-trabalho histrica e, principalmente dialtica, no somente por definio, mas pela sua doao de sentido. Toda ampliao e amplificao da atividade econmica so, no conjunto da humanidade, reveladas pela teoria do valor-trabalho que mostra o surgimento do valor a partir da lgica do processo de trabalho no processo de produo. Revela, portanto, que o sujeito produtor social como indivduo inserto na diviso social do trabalho nos diferentes modos de produo surgidos na histria da humanidade salvo no comunismo primitivo ou tribal onde todos os humanos eram coletores e caadores sem que houvesse quaisquer divises sociais de trabalho. Naquela poca os humanos tinham um dominante ou lder que poderia ser um homem grande ou um grande homem. A primeira diviso social do trabalho d-se, no processo civilizatrio, com a criao da agricultura e, em conseqncia, da propriedade privada dos meios de produo que d origem aos modos de produo assimtricos.

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A categoria econmica de excedente econmico , tambm, enfocada diferentemente por ambas as teorias. Para a teoria do valor-utilidade a renncia do consumo imediato em favor de um consumo futuro denominado poupana. O sacrifcio de poupar compensado com uma remunerao que chamada de taxa de juros. Para a teoria do valor-trabalho o excedente social fixado e medido de acordo com o tipo de sociedade que se analisa, ou seja, essencialmente histrica. O mais importante que a teoria do valor-trabalho explica a evoluo do excedente econmico-social pelo incessante crescimento da produtividade do trabalho. Sua viso macroeconmica, complexa e holstica na medida em que trata a economia poltica como um todo e no pelas suas partes como, por exemplo, a economia da firma, a microeconomia. A teoria do valor-trabalho incorpora na sua lgica importantes contribuies da teoria do valor-utilidade sem sacrificar a sua coerncia, embora a recproca no seja verdadeira pela bruta incoerncia do valor-utilidade que essencialmente niilista quando defendida pelos seguidores da escola marginalista. Tal procedimento dos defensores do valor-utilidade talvez negue o valor-trabalho com o propsito de escamotear, negar, encobrir e difamar a luta de classes, a alienao do trabalho e a explorao do capital dos capitalistas sobre os trabalhadores em geral.

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VIII. VALOR E PROCESSOS DE TRABALHO Na viso dialtica marxista a teoria do valor-trabalho no s designa os efeitos e as lgicas sociais da produo (pondo em causa toda estrutura econmica da sociedade), mas tambm, interpreta os fenmenos manifestos no mercado. Podem eles ser os preos, as rendas, os termos das trocas no mbito do pas e, principalmente, no mbito mundial ou internacional. Para melhor explicar os processos de trabalho ou as lgicas da produo busca-se de forma didtica explicitar-se o conceito de mais algumas categorias da economia poltica, ou sejam: Valor. o fundamento de toda e qualquer concepo que se ajusta para explicar a produo de mercadorias e, como tal, o dinheiro, o capital e a prpria dinmica dos modos de produo pr-capitalistas, capitalista e socialista de estado em vigor na China, na Coria do Norte, no Vietn e em Cuba. Para Marx, segundo Bottomore, o valor de uma mercadoria expressa forma histrica particular do carter social do trabalho sob o capitalismo, enquanto dispndio de fora de trabalho social. O valor no uma relao tcnica, mas uma relao social entre pessoas que assume uma forma material especfica sob o capitalismo, e, portanto aparece como uma propriedade dessa forma Valor de uso. a mais simples forma do valor e que aparece, com toda sua essncia, nas sociedades em que a troca no existe ou se d de maneira muito rudimentar. Outrossim, o valor de uso estar presente em todo e qualquer bem econmico em funo da utilidade que cada produto possui. Sobre essa categoria, Marx faz o seguinte resumo: no percebo a base de conceitos e, portanto, tambm no a partir do conceito de valor... Parto da mais simples forma social na qual o produto do trabalho na sociedade contempornea se manifesta, que a mercadoria. isso que eu analiso, e, em primeiro lugar, para estar seguro, na forma em que ele aparece. Ora, verifico a essa altura que ele , por um lado, em sua forma natura, uma coisa de valor de uso e, por outro lado, que portadora de valor de troca desse ponto de vista. Atravs de uma anlise mais aprofundada deste ltimo, descobri que o valor de troca apenas uma forma de aparncia, um modo independente de manifestao do valor contido na mercadoria. Em seguida abordo a anlise desse valor. Sem dvida, o valor de uso circula, nos diferentes modos de produo, sem, entretanto, se concretizar como forma propcia depurao das trocas Valor de troca. uma forma bem mais desenvolvida e complexa que o valor de uso no dizer de Fossaert. Sob essa forma cada produto conserva as suas caractersticas aparentes, entretanto, a quantidade de valor de troca a ele incorporado varia de uma a outra mercadoria qualificando todas indistintamente na medida em que assume um valor que exprime o tempo de trabalho socialmente necessrio. Este equalizado ou mediado pelo valor de troca podendo ser trocado em quaisquer transaes mercadolgicas. As lgicas da produo, ainda segundo Fossaert torna-se uma funo social ambgua: persegue trs fins distintos que nem a sua prtica, nem o seu conceito podem unificar perfeitamente. A produo de objetos teis, a produo de lucros e a produo de mais valia (que formam) trs crculos excntricos que girariam indefinidamente sem jamais poderem coincidir. A produo de mais valia estar no cerne do sistema: qualquer capital que emprega 30

trabalho assalariado na produo de mercadorias assegura produo como essa. Mas a mais valia no realizada, isto , no convertida em lucros efetivos, que se possam distribuir ou reinvestir, seno a partir do momento em que as mercadorias so vendidas, ou seja, quando o valor de troca se realiza. Os capitais empregados na centralizao dos capitais (bancos) participam da partilha da mais valia, na mesma qualidade que os capitais empregados na produo em que essa mais valia se cria. Entendidas essas breves consideraes pode-se, agora, assinalar as formas da organizao concreta dos processos de trabalho, nos diferentes modos de produo, da mais simples a mais complexa, ainda segundo Fossaert: Trabalho isolado Trabalho coletivo Trabalho coletivo concreto ou oficina Sistema de trabalhos coletivos organicamente ligados numa mesma empresa ou num mesmo grupo Sistema dos trabalhos coletivos acima citados (b, c, d) sujeitos ao domnio de um mesmo estado, ou economia nacional Sistema apresentado em e enriquecido pela regulao, pela cincia e pela formao do trabalhador. Essa abordagem permitiu Fossaert analisar detalhadamente cada um desses processos de trabalho, no conjunto da economia de um pas e ir alm do horizonte econmico que comanda a produtividade do trabalho, sinoticamente, explcita na seguinte imagem: Uma suficiente coordenao das atividades sociais em jogo

Dinamizar a aplicao da cincia produo

Ajusta a formao da mo de obra s necessidades da produo

Regulariza os mercados oferecidos a cada produo singular

No inibida pelos acasos dos mercados

Dinmica dos meios de trabalho m demanda q

Dinmica da organizao do trabalho

Dinmica da qualificao do trabalho

Produtividade do

trabalho

Segundo Fossaert a intensidade do trabalho (que no deve ser confundida com sua durao) a qualidade do esforo feito em dado tempo, numa produo e com um equipamento determinado (....) Designa a qualidade do esforo fsico e nervoso exigido do trabalhador, permanecendo iguais os demais fatores. (...) A dialtica da intensidade e da produtividade do trabalho mais ntima que aquela que 31

une esses dois fatores durao do trabalho e a separao analtica desses diversos fatores corta necessariamente uma unidade viva. IX. LGICAS DO VALOR Retomando as lgicas do processo de produo e dos processos de trabalho inclusive da eficincia do trabalho definida pela intensidade versus produtividade do trabalho procede-se, em forma de sntese, as lgicas do valor de uso, do valor de troca e do valor desenvolvimento conforme conceitua Fossaert. Na lgica de valor de uso tem-se que a eficcia do trabalho o resultado de sua durao e intensidade e a produo dotada de pequena variao na produtividade do trabalho. J na lgica do valor de troca que competidora e abrangente atinge tanto a durao e intensidade do trabalho quanto a sua produtividade. No dizer de Fossaert a rentabilidade econmica e a oportunidade poltica limitam o domnio que o capital pode conquistar numa sociedade dada. O ascenso do movimento operrio acaba por impor o teto da durao do trabalho e por conter mais ou menos a intensificao do trabalho. Por conseguinte, a produtividade do trabalho que, desde a origem, entra em progresso rpido, acaba por tornar-se o principal seno o nico fator de crescimento da produo. Assim a lgica do valor de troca impele ao aumento incessante da produtividade do trabalho. Em conseqncia h um aumento cada vez maior da excluso social ou substituio do trabalho vivo pelo trabalho pretrito pela via da valorizao do capital em detrimento do trabalho humano (trabalho vivo). Do ponto de vista da anlise do metabolismo do capital tal fenmeno leva, sem dvida, a nvel mundial, a guerra dos ricos contra os pobres. Essa a razo pela qual a burguesia coloca, no sistema mundo do capitalismo, todo o movimento sindical na contramo da histria. Contemporaneamente, passa a valer os movimentos de resistncia internacional para fazer frente rapina dos detentores do capital financeiro na medida em que os sindicatos pouco ou nada influenciam na contradio trabalho (descartvel e local) versus capital (mundializado, centralizado e concentrado). Contribui para esse fato a formao tcnica e cientfica de minorias da populao e a cincia, como um todo, hoje privatizada pelo sistema mundial de patentes. A regulao e regulamentao desse processo no tm preo observvel pelo dono do capital na medida em que aquelas formaes so, em geral, gratuitas oferecidas pelo estado ou por ele subsidiada. Atravs dela qualifica e renova os meios e instrumentos de trabalho (cuja obsolescncia cada vez maior na sua utilidade) e cada vez mais modernos e revolucionrios. Na prtica o custo da formao tcnica-cientfica resulta de impostos resultantes da mais valia de todos os demais trabalhadores, via capitalistas de toda ordem com os ganhos da produtividade do trabalho, hoje, cinicamente, divulgada e apregoada com o epteto de competitividade. sabido que no h relao entre os impostos pagos pelos capitalistas e os ganhos da produtividade e da intensidade do trabalho que eles obtm das atividades sociais estranhas produo e que os impostos financiam. Dessa maneira a lgica do valor de troca encobre aquilo que promove a fora produtiva do trabalho social no mundo contemporneo. Fossaert mostra que o tempo de trabalho socialmente necessrio, que determina o valor de troca de um produto qualquer, se definir como o tempo do trabalho vivo, de qualidade e intensidade mdias, que posto em ao, segundo 32

uma organizao do trabalho de eficcia mdia, e que se aplica a objetos e meios de trabalho que so por sua vez de qualidade mdia, por exemplo, a mquina cuja idade, o custo que resta amortizar e os desempenhos podem ser considerados como mdios na produo em tela. Portanto, segundo ele, o valor de troca une um quantum de trabalho e um conjunto de qualidades sociais mdias que distinguem o trabalho socialmente necessrio em termos de sua quantidade e do seu qualificativo. Em resumo, ele apresenta a seguinte lgica para o valor de troca: Valorizao do capital ao qual a produo est subordinada Impedimento extenso dos trabalhadores efetiva pelo sistema capitalista, ao prolongamento da jornada do trabalho e intensificao do trabalho Aumento incessante da produtividade do trabalho e aumento da mais valia relativa no total da produo Aumento das foras produtivas sociais ou do capital social bsico via formao, pesquisa e regulao Induo da produo de valor de uso quando nos perodos de crise ou quando a produo de valor de troca estabiliza ou regride. Toda essa lgica confirma a assertiva de Marx segundo a qual a relao geral- fundamental - entre o capital e o trabalho a de cada um dos capitalistas com os seus trabalhadores. Para finalizar esses breves comentrios sobre a lgica do valor, procede-se, agora, a contextualizao sobre o que vem a ser valor desenvolvimento e sua lgica no pensamento de Fossaert. Para ele o valor desenvolvimento uma sntese das trs lgicas do valor, aqui, apresentadas. Ele conceitua, caracteriza e pe em discusso essa modalidade de valor em acrscimo quelas contextualizadas por Marx. Essa modalidade de valor incorpora o tempo de trabalho socialmente necessrio efetivamente pago pelo capitalista e efetivamente gasto no conjunto da sociedade. A cincia e a tecnologia como as mais slidas formas de gerao de riquezas, aparecem na lgica do valor desenvolvimento como principal ramo da produo, o que assegura, por saltos qualitativos, o progresso dos demais ramos, isto , sua aptido para produzir mais, produzir melhor e produzir novos valores de uso. Progresso que se opera por saltos qualitativos, porque cada inovao cientfica, tecnologicamente adaptada modifica, por saltos descontnuos, a eficcia da fora produtiva social. A formao aparece, na lgica do valor desenvolvimento, como outro ramo da produo que assegura, por um movimento contnuo, o ajustamento da oferta de mo de obra s necessidades de todos os ramos da produo e de todas as demais atividades sociais. A tomada em conta sistemtica, em valor desenvolvimento, dessa funo produtiva da formao, acompanha-se necessariamente de um efeito em retorno, benfico para a formao: valor desenvolvimento ajuda a explicitar as adaptaes que a produo e as demais atividades sociais devem sofrer para que a formao consiga qualificar melhor os homens. Aps afirmar que a humanidade sair da lgica do valor, quando nenhuma coero e nenhum clculo sero mais necessrios para garantir a produo de tudo quilo de que ela tiver necessidade ele assegura: na lgica de valor desenvolvimento, a produo perde as suas fronteiras. A rigor, nenhuma atividade social totalmente estranha produo dos valores de uso bens e servios que valor desenvolvimento libera de valor de troca e ressenta sobre seu objeto primordial. O corolrio poltico dessa lgica , segundo ele, a suposio de que a 33

sociedade se organize de modo que possa escolher a parte das atividades dos homens que preciso dedicar ou sacrificar produo e que, uma vez feita a escolha, uma organizao conveniente se esforce por maximizar a eficcia do tempo de trabalho dedicado produo. Nos debates sobre a exausto dos recursos naturais pela violncia que se comete contra a natureza, em particular contra sua biosfera, pelo consumismo nas sociedades chamadas desenvolvidas com macias produes de lixo, entulhos e resduos e pela poluio desenfreada e descontrolada, Fossaert entende que, pertence lgica de valor desenvolvimento controlar esses riscos, isto , reorganizar a relao entre a sociedade e a natureza, moderar o uso dos recursos escassos, organizarem a produo de sucedneos apropriados, conter e eliminar as poluies. Vale lembrar que na sua contextualizao sobre a lgica do valor desenvolvimento ele explicita que ela no implica no fim da explorao do homem pelo homem ou da alienao do trabalho. Apenas inaugura ou aponta para essa possibilidade no fazendo dela uma necessidade na medida em que a explorao est imbricada ao prprio metabolismo do capital. Explicita, ainda, que o valor desenvolvimento uma hiptese que inspira a definio e conceituao da teoria do valor-trabalho s formas fundamentais das relaes de propriedade. Especula ou teoriza que a hiptese de valor desenvolvimento est imbricada aos modos de produo estatal-capitalista e estatal-socialista. Para melhor ilustra o conjunto de suas idias apresenta-se dois quadros sinticos por ele elaborados. O primeiro, com as trs lgicas do valor e, o segundo, com a sntese de suas pesquisas sobre os modos de produo com suas respectivas lgicas do valor.AS TRS LGICAS DO VALORVU Valor de Uso O valor se concretiza em... O excedente ou sobretrabalho manifesta-se sob forma de... A capacidade de desenvolvimento econmico assinala-se por... O horizonte econmico ... O trabalho apresentase como... A produo define-se como... As trocas organizadas... Produtos reais Prestao de trabalho VT Valor de Troca Mercadorias Mais-valia VD Valor de Desenvolvimento Produto social Excedente socialmente regido Crescimento canalizado

Forte dependncia da natureza; crescimento nulo ou fraco e aleatrio Delimitado pelos ciclos naturais ou blicas Produo de produtos materiais Produo de produtos materiais Segundo grande variedade de formas no-

Crescimento explosivo assinalado por crises; desvio das necessidades; domesticao e degradao da natureza Circunscrito pelas informaes recebidas pelos preos mercantis e pelos impostos Produo de lucros Produo de lucros Segundo a forma uniformizante do mercado

Ampliado tomada em considerao de todos os custos expostos em todas as atividades sociais Produo proporcionada de valores de uso (bens e servios) Produo proporcionada de valores de uso (bens e servios) Segundo uma regulao coordenadora de formas

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mercantis

variveis

MODOS DE PRODUO E SUAS LGICAS DO VALOR VU VU-VT VT VT-VD MP1 MP2 MP3 MP4 MP5 MP6 MP7 MP8 O O O O O O O O

MP9 MP10 MP11 MP12 MP13 MP14 MP15 MP16 VU VU-VT VT VT-VD O O O O VD - Lgica do valor de desenvolvimento. O O O O

Convenes: MP1 Comunitrio MP2 Tributrio MP3 Antigo MP4 Campons MP5 Artesanal MP6 Capitalista mercantil MP7 Escravista MP8 Servil MP9 Latifundirio MP10 Capitalista MP11 Cooperativo MP12-Estatalcapitalista MP13 Colonial MP14-Escravista concentracionrio MP15 Estatal socialista MP16 Novo modo de produo socialista. Legenda: VU Lgica do valor de uso VUVT Transio de VU a VT VT Lgica do valor de troca VTVD Transio de VT A VD

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X. CAPITAL E CRDITO Em sua forma mais vulgar, capital um bem econmico que pode gerar um fluxo de renda para seu dono. Confunde-se com: riqueza, investimento, aplicao financeira, taxa de retorno, pagamento de juros e ou participao no lucro. A