introdução a economia

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1 UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA DEPARTAMENTO DE ECONOMIA CURSO DE GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS ECONÔMICAS A INADIMPLÊNCIA DE CRÉDITOS NO SETOR BANCÁRIO BRASILEIRO: UM ESTUDO DE CASO FABIANA CUNHA ROCHA Florianópolis, 2010

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Introdução a economia com tópicos bem elaborados e bem claro.

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    UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA DEPARTAMENTO DE ECONOMIA

    CURSO DE GRADUAO EM CINCIAS ECONMICAS

    A INADIMPLNCIA DE CRDITOS NO SETOR BANCRIO BRASILEIRO: UM ESTUDO DE CASO

    FABIANA CUNHA ROCHA

    Florianpolis, 2010

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    UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA DEPARTAMENTO DE ECONOMIA

    Curso de Graduao em Cincias Econmicas

    A INADIMPLNCIA DE CRDITOS NO SETOR BANCRIO BRASILEIRO: UM ESTUDO DE CASO

    Monografia submetida ao Departamento de Cincias Econmicas para obteno de carga horria na disciplina CNM 5420 Monografia.

    Por Fabiana Cunha Rocha

    Orientador: Prof. Joo Randolfo Pontes rea de pesquisa: Economia Financeira Palavras-chave:

    1. Crdito 2. Inadimplncia 3. Cobrana terceirizada

    Florianpolis, 2010

  • 3

    UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA DEPARTAMENTO DE ECONOMIA

    Curso de Graduao em Cincias Econmicas

    A Banca Examinadora resolveu atribuir a nota 8,5 aluna Fabiana Cunha Rocha na disciplina CNM 5420 Monografia por este trabalho.

    Banca Examinadora:

    __________________________________________

    Prof. Joo Randolfo Pontes Orientador

    __________________________________________

    Professor Cau Serur Pereira Membro

    __________________________________________

    Professora Reginete Panceri Membro

  • 4

    Dedico este trabalho aos meus pais, pelo amor e dedicao incondicionais; e ao meu companheiro de todas

    as horas, Junior, por toda a pacincia e compreenso.

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    RESUMO

    A concesso de crditos um instrumento de venda que facilita a aquisio de bens pelas empresas e pelos consumidores de forma geral. O crdito dinamiza a economia permitindo aumentar a oferta dos bens e servios, facilitando o processo de compra pelos consumidores. As polticas de crdito afetam o volume de investimento em ativos de capital e habilita tambm o mercado consumidor a sincronizar suas fontes e aplicaes, expandindo os nveis de emprego e de renda. Por outro lado, o no pagamento dos crditos concedidos traz a ocorrncia de inadimplncia que est sempre presente em instituies financeiras que trabalham com a oferta de crdito aos mais diversos segmentos da economia. O desafio, portanto, minimiz-los tanto quanto possvel, para que os retornos financeiros sejam mximos, provocando a gerao de benefcios em cadeia para credores e devedores. O presente trabalho de pesquisa busca analisar como um determinado banco comercial federal no estado de Santa Catarina toma decises para recuperar os crditos concedidos que no foram pagos, utilizando o processo de terceirizao. A pesquisa envolveu a anlise do processo de recuperao de crditos atravs das polticas de terceirizao adotadas, visando constatar seu papel e a forma pela qual os bancos comerciais minimizam os efeitos dessas decises. Nesse sentido foram estudados os fundamentos tericos do crdito para a economia, bem como ocorre a oferta de crdito e os fenmenos da inadimplncia e da recuperao de crditos. Para esse fim, fez-se uma pesquisa de campo em um banco na cidade de Florianpolis, promovendo uma leitura de suas polticas atuais de concesso de crdito e um estudo de caso com uma das empresas prestadoras do servio de cobrana. Os resultados desse processo avaliam a relao custo x benefcio que a cobrana terceirizada traz ao Banco examinado.

    Palavras-chave: Crdito, Inadimplncia, Cobrana Terceirizada.

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    LISTA DE GRFICOS

    Grfico 1: Risco de falncia x retorno esperado pelos bancos 22

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    LISTA DE TABELAS

    Tabela 1: Fases das operaes 38 Tabela 2: Tabela de descontos 40

    Tabela 3: Remunerao das empresas 42 Tabela 4: Remunerao para acordos via reescalonamento 42

    Tabela 5: Desempenho ms Setembro/2009 46 Tabela 6: Custos para o Banco do Brasil 47

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    LISTA DE QUADROS

    Quadro 1: Avaliao de desempenho 44 Quadro 2: Distribuio de dvidas entre as empresas 45

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    SUMRIO Resumo 5 Agradecimentos

    Lista de Grficos 6 Lista de Tabelas 7

    Lista de Quadros 8

    CAPTULO 1 INTRODUO 10 1.1. Problemtica 10 1.2. Objetivos 13

    1.2.1. Objetivo geral 13 1.2.2. Objetivos especficos 13

    1.3. Metodologia 14 1.4. Estrutura do trabalho 14

    CAPTULO 2 FUNDAMENTAO TERICA 16 2.1. O papel do crdito na economia 16 2.2. Oferta de crdito 18 2.3. Inadimplncia 24 2.4 Recuperao de crditos

    27 2.5. Avaliao da inadimplncia 30

    CAPTULO 3 INADIMPLNCIA E RECUPERAO NO BANCO DO BRASIL: UM ESTUDO DE CASO

    34

    3.1. Caractersticas do Banco do Brasil 34 3.2. Sntese das polticas da oferta de crdito no Banco do Brasil 35 3.3. Processo de terceirizao dos crditos inadimplentes do Banco do Brasil

    36

    3.3.1. Consideraes Gerais 36 3.3.2. Mecanismo atual 37 3.3.3. Da remunerao das empresas contratadas 41

    3.3.4. Da distribuio de crditos entre as empresas contratadas 3.4. Processo de recuperao de crditos do Banco do Brasil por uma empresa contratada

    41

    44 3.5 Custo x Benefcio para o Banco do Brasil 46

    CAPTULO 4 CONCLUSES 49

    REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS

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    CAPTULO 1 INTRODUO

    1.1. Problemtica

    No mundo dinmico dos negcios a concorrncia enfatiza fortemente aos dirigentes das empresas privadas e pblicas uma mudana de postura. De forma especial a gesto e a anlise de crdito constituem um dos temas mais abrangentes e impactantes nas estratgias financeiras, evidenciando resultados que afetam a continuidade dos negcios. A necessidade de expandir seus negcios indica que as empresas devem alavancar a realizao de novos investimentos que estejam cobertos com crditos compatveis com sua estrutura de custos e perfil de obteno de rendas ou de lucros.

    As decises que vem sendo tomadas pelas empresas para enfrentar a concorrncia reforam a tese de que ter capital de giro a custo baixo torna mais eficiente a gesto das atividades que integram o processo decisrio (Valor Econmico, 2009). Na avaliao do risco associado a um pedido de crdito comum os bancos comerciais estabelecerem determinadas regras para evitar problemas futuros.

    Para incentivar o crescimento econmico a taxas mais rpidas os governos atravs das instituies financeiras utilizam mecanismos para ampliar a oferta de recursos ou de crditos com o objetivo de aumentar a renda e possibilitar a gerao de novos empregos. Essa postura leva os empresrios a realizarem maiores investimentos em plantas industriais expandindo a produo ou mesmo modernizado a produo j existente. Para os consumidores essa oferta de crdito permite expandir seu oramento, aumentando ou antecipando um consumo desejado. Cabe s instituies financeiras o papel de suprir tais recursos ao mercado nos mais diversos segmentos da economia.

    No tocante ao papel da concesso da oferta de crditos nas economias, tambm se pode observar a preocupao dos governos quando se estrutura uma poltica monetria. Em meados da dcada de 70 o mercado financeiro mundial passava por um momento muito voltil em virtude do fim do Sistema Monetrio Internacional, que at ento se baseava em taxas de cmbio fixas. Com a utilizao de taxas flutuantes, faziam-se necessrias medidas que diminussem os riscos do sistema com um todo, e em 1974 o sistema no suportou os distrbios nos mercados internacionais. Tais agravamentos tornaram ainda mais necessria a criao de um acordo para proteo e regulamentao do sistema bancrio, e esse acordo ocorreu em 1988 em Basilia, na Sua.

    O acordo contido no documento Os princpios essenciais da Basilia (1988), classifica, dentre outros, a possibilidade de um determinado cliente ficar inadimplente. Deve considerar as

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    caractersticas do cliente e est associado ao risco do cliente (rating) Essa classificao se d por meio de algumas das abordagens de risco consideradas, o PD (Probability of Default), e um outro componente de risco que pode ser considerado o LGD (Loss Given Default), ou PDI (Perda Dada Inadimplncia), no qual:

    Uma medida preditiva que informa o quanto efetivamente no recuperado quando um cliente entra em inadimplncia. Na apurao desta medida deve ser considerada a estimativa de quanto se recupera de uma dvida em atraso, menos os custos no processo de recuperao (Os princpios essenciais da Basilia, 1988).

    A constante preocupao em manter sob controle os nveis de inadimplncia, que naturalmente surge com a expanso do crdito e o incentivo cada vez maior ao consumo, mobiliza de forma significativa o mercado financeiro. fundamental que haja acompanhamento das operaes para que se possa garantir ao mximo o retorno dos emprstimos concedidos.

    Esse acompanhamento pode detectar e corrigir eventuais problemas de forma tempestiva, como sugere Blatt, (1998, p.32) bons crditos podem se tornar inadimplidos e eventualmente se converterem em prejuzos, caso o analista de crdito no acompanhe, no identifique e no tome aes corretivas no momento oportuno aos sinais de alerta, que possam vir a impactar os repagamentos das operaes de crdito previamente aprovadas.

    O risco de inadimplncia est presente em todas as operaes que envolvem crdito, porm esse risco pode ser minimizado com o rigoroso cumprimento dos pr-requisitos que envolvem a obteno e a liberao de tais crditos.

    No combate inadimplncia a atuao de profissionais especializados na gesto do risco tem importncia fundamental, pois, segundo Galdi (2009) o mercado deveria ser avaliado e reavaliado constantemente e de forma abrangente, no que tange a tendncias, novos produtos, mercados acessrios e necessrios, banco de dados; para ele imprescindvel:

    [...] conhecer bem o perfil da base de clientes existentes e filtrar apuradamente os novos, antes mesmo de caracteriz-los como base de dados trabalhvel, assim fica muito mais fcil, ou menos difcil, montar uma estratgia de concesso de crdito prxima do ponto de equilbrio entre Risco e Recompensa. (Galdi, 2009).

    De acordo com Silva (1998, p. 121) na parte relativa formalizao, a experincia tem demonstrado que muitos bancos tm tido prejuzos por desateno no cumprimento de determinadas formalidades legais, como a falta de assinatura pelos clientes nos contratos de emprstimos ou mesmo por falta de formalizao das garantias.

    No cenrio macroeconmico brasileiro pde-se observar no incio do ano de 2009 um

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    aumento expressivo da inadimplncia, um maior acirramento da concorrncia e as constantes redues nas taxas de juros, em consequncia desses fatores o spread1 bancrio cai, o que fora as instituies financeiras a aumentar os nveis de emprstimos, afim de que possam garantir o aumento de suas receitas e de lucratividade, porm no basta emprestar mais, h a necessidade de precauo para que esses novos emprstimos no aumentem ainda mais os nveis de inadimplncia da instituio (Serasa, 2009).

    Como revela a revista Exame (2009), a crise mundial, que afetou o Brasil mais fortemente a partir de Setembro/2008 teve fortes consequncias sob as polticas de concesso de crdito. Com o corao do sistema financeiro em crise os EUA, os outros pases tambm foram afetados. No Brasil, a restrio de crdito alterou o consumo, com a chamada crise no mercado de subprime2 nos EUA, o Banco Central brasileiro (BACEN) decidiu exigir mais rigor para a concesso de crdito.

    Diferentemente dos EUA, no Brasil, no houve uma crise de insolvncia dos bancos, e sim de liquidez dos mesmos, oriundos da crise, a retrao no crdito domstico e no fluxo de capitais do exterior, resultou em perda de liquidez e de financiamentos na economia brasileira. E uma vez efetivada a desacelerao econmica mundial, as expectativas dos agentes somadas queda de renda e do nvel de emprego, tiveram como resultado uma retrao da demanda por crdito. Dessa forma, a crise se estendeu da oferta demanda. (Carta Capital, 2009).

    O cenrio de contrao do crdito, porm foi passageiro. Segundo dados da - Federao Brasileira de Bancos (FEBRABAN, 2009) em Junho, o saldo de operaes de crdito foi de R$ 1.278 trilhes, o que equivale a 43,7 do Produto Interno Bruto3 (PIB), com relao ao ms de maio/2009 houve incremento de 1,3% e a comparao com o mesmo perodo do ano anterior o aumento foi de 19,7%. As taxas de juros e o spread bancrio continuaram a tendncia de queda que j acontecia desde o final do ano anterior.

    No Brasil, segundo dados do BACEN (Julho/2009) o volume de crdito cresceu consideravelmente nos ltimos anos, pois, somente em 2008 a expanso do crdito atingiu 30%. Porm em uma comparao internacional, o volume de crdito no pas ainda relativamente baixo. Normalmente o volume de crdito uma proporo do PIB do pas e, no caso do Brasil, essa proporo foi de 43,7% do PIB, o que equivale a R$ 1,27 trilho, um patamar at ento sem precedentes. Desse montante cerca de 30% destinado ao crdito rural e habitacional e o restante, os recursos livres so destinados s pessoas fsicas e jurdicas. Vale salientar que o incremento de

    1 Spread a diferena entre a taxa de emprstimo cobrada pelos bancos dos tomadores e a taxa de captao paga aos

    clientes investidores. 2 Subprime um crdito de risco fornecido para um tomador que no tem garantias suficientes para oferecer.

    3 PIB representa, em valores monetrios, a soma de todos os bens e servios finais produzidos em uma determinada

    regio, durante um perodo determinado. O PIB um dos indicadores mais utilizados na macroeconomia com o objetivo de mensurar a atividade econmica de uma regio.

  • 13

    crdito para pessoas fsicas, com a reduo das taxas de juros e o aumento significativo das operaes de crdito consignado foram de suma importncia para atingir esse patamar.

    Para o BACEN (2009) apesar do aumento expressivo no crdito, a proporo em relao ao PIB ainda baixa quando comparada com pases desenvolvidos nos quais a proporo chega a ultrapassar 100% do PIB em pases como Estados Unidos, Alemanha, e Japo. Um dos fatores explicativos para essa situao no Brasil a alta taxa de informalidade que o pas possui.

    Segundo Troster (2005) um dos relatrios do Banco Mundial do ano de 2000 defende que quanto maior a relao entre crdito e PIB, maior o PIB per capita dos pases, conforme trecho a seguir:

    Baseado em dados de 1998, os pases de renda mdia, dos quais o Brasil faz parte, tm um PIB per capita mdio de US$ 2.950 por ano e uma relao crdito/PIB de 52,9%, por outro lado os pases de renda alta tm respectivamente valores de US$ 25.510 de renda e 140,4%. Ou seja, os mais ricos tm proporcionalmente mais crdito. Empiricamente, a questo que se coloca no se so mais ricos porque tm mais crdito ou, se tm mais crdito porque so mais ricos. A relao de causalidade do crdito para o crescimento (TROSTER, 2005).

    Diante desse contexto dinmico de mudanas e evoluo das economias em que os crditos assumem importncia vital para as empresas e consumidores que o presente trabalho de pesquisa buscou responder a seguinte pergunta de pesquisa: Como os bancos comerciais agem no sentido de recuperar os crditos concedidos e no recebidos?

    1.2. Objetivos

    1.2.1 Objetivo geral

    Anlise do processo de recuperao de crditos inadimplentes de clientes pessoa fsica do Banco do Brasil, estado de Santa Catarina, por meio de empresas de cobrana terceirizada

    1.2.2 Objetivos especficos

    So propostos os seguintes objetivos especficos:

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    a) Caracterizar o papel e importncia do crdito na economia. b) Apresentar os critrios e o processo de terceirizao de dvidas do Banco estudado

    com aplicao e anlise de uma das empresas contratadas em Santa Catarina. c) Analisar os dados apresentados, custos e resultados para o Banco do Brasil.

    1.3 Metodologia

    A metodologia desse trabalho tem um cunho descritivo, quantitativo e qualitativo. Descritivo porque descreve o padro de terceirizao de crditos inadimplentes do Banco do Brasil, no estado de Santa Catarina e os meios para a recuperao dos mesmos. Quantitativo porque apresenta dados de uma das empresas prestadoras do servio de cobrana terceirizada que atende o estado de Santa Catarina. E qualitativo j que a partir dos dados apresentados analisa os resultados obtidos. Por meio de uma reviso terica no campo da economia so apresentados os conceitos de crdito e sua importncia para a economia, sendo apresentada a questo da inadimplncia e a recuperao dos inadimplentes, assim como os princpios normativos adotado pelo Banco do Brasil que versam sobre o assunto.

    Para caracterizar o processo de terceirizao e recuperao de crditos, so analisados dados fornecidos pelas Gerncias Regionais de Reestruturao de Ativos Operacionais (GERAT), rgo do banco em questo responsvel por inadimplncia, entre outros; e ainda pesquisa de campo em uma das empresas terceirizadas contratadas pelo Banco do Brasil para atuar no estado de Santa Catarina.

    1.4 Estrutura do trabalho

    O Captulo 1 apresenta um panorama geral sobre crdito, sua importncia e implicaes, objetivos geral e especficos e a metodologia utilizada. No Captulo 2 so abordados de forma descritiva os temas referentes ao conceito de crdito, seu papel e importncia na economia, a oferta de crdito, inadimplncia e a recuperao de crditos inadimplentes, fazendo ainda uma breve anlise da inadimplncia na literatura.

    O Capitulo 3 apresenta o estudo de caso do Banco do Brasil, relatando suas principais caractersticas, suas polticas de crdito vigentes, os atuais mecanismos que regem o processo de

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    terceirizao de um crdito inadimplente, os custos e os retornos proporcionados ao Banco e ainda a demonstrao e anlise de dados referente a uma das empresas contratadas pelo Banco do Brasil. Por fim, analisada a relao custo x benefcio que a terceirizao de cobrana proporciona ao Banco. O Captulo 4 apresenta as concluses sobre a contratao de empresas terceirizadas que prestam o servio de cobrana dos inadimplentes do Banco do Brasil.

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    CAPTULO 2 - FUNDAMENTAO TERICA

    2.1 O papel do crdito na economia

    Crdito um dos recursos mais utilizados nas economias modernas para tornar possvel e concretizar uma relao de consumo entre pessoas, sejam fsicas ou jurdicas, de uma cidade, estado ou pas. Isso porque as pessoas passam a consumir bens ou servios comprometendo-se a pagar em parcelas ou vista em data futura os compromissos assumidos.

    A origem da palavra crdito do latim creditu, que quer dizer confiana. Nesse sentido Plcido e Silva (1991) descrevem:

    Derivado do latim creditum, de credere (confiar, emprestar dinheiro), possui o vocbulo ampla significao econmica e um estreito sentido jurdico. Em sua acepo econmica, significa confiana que uma pessoa deposita em outra, a quem entrega coisa sua, para que em futuro receba dela coisa equivalente. Juridicamente, crdito significa o direito que tem a pessoa de exigir de outra o cumprimento da obrigao contrada. (PLCIDO E SILVA, 1991, p. 581).

    Geralmente quando se vende ou empresta a crdito o valor devolvido posteriormente no o mesmo que foi tomado. Essa diferena entre o que foi tomado e o que foi devolvido chama-se custo do crdito. Segundo Raymundo (2002, p.13), para os bancos o que se deseja a obteno de lucro, mesmo porque a qualquer crdito concedido est agregado um certo risco que o credor est disposto a correr devido expectativa de ganhos futuros com o negcio.

    O papel do crdito considerado historicamente como fundamental e indispensvel para a manuteno e desenvolvimentos das civilizaes. Dois valores interagem na formao do crdito: o tempo, que se refere ao perodo entre aquisio e liquidao do crdito, e a confiana, que deve haver entre credor e devedor. Tais valores so utilizados pelo Banco Central como forma de contabilizar os dados referentes ao mercado de crdito no pas.

    O risco e consequentemente a taxa de risco um dos componentes que formam o custo do crdito. O risco de crdito define a probabilidade de perda no negcio e como inerente atividade do negcio no pode ser eliminado, contudo, podem ser diminudas as probabilidades de perda ao ser reduzida a incerteza. O risco pode ser calculado com base em informaes e dados histricos fundamentados, a fim de que a deciso seja tomada a partir de estimativas julgadas aceitveis.

    Em todas as operaes de crdito est presente o risco, que de acordo com Schrickel (1998, p.25) pelo fato de esta cesso patrimonial envolver expectativas quanto ao recebimento de volta da parte cedida, imperativo reconhecer que a qualquer crdito est associada noo de risco. Para

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    se chegar ao risco do crdito so estimadas as probabilidades de que os recursos cedidos no sejam honrados, para tal consideram-se fatores internos e externos que podem interferir no pagamento ou no por parte do tomador.

    A taxa de risco uma parte incorporada ao spread com o intuito de formar um fundo que possa garantir ao investidor o pagamento quando se tem tomadores inadimplentes, dessa forma quando os bancos tm que devolver aos investidores o capital utilizado na concesso de emprstimos recorrem a esse fundo para saldar o importe referente aos inadimplentes. Sendo assim, quanto maior o ndice de inadimplncia, maior a taxa de risco, logo maior o custo do emprstimo.

    Nos bancos, por exemplo, os critrios de riscos aceitveis so definidos em suas polticas de crdito e operacionalizados por meio de normas, sistemas e metodologias adequados, embasados em informaes e no histrico do cliente. Desenvolvem-se ento tcnicas para antecipar o conhecimento que se deve ter do cliente, de forma a diminuir a incerteza. Ao conjunto dessas tcnicas, que se somam e se complementam, d-se o nome de anlise de crdito.

    Quanto s polticas de crdito Pereira (1991, p. 29) descreve que h trs tipos distintos, os quais so:

    a) poltica de crdito rgido: praticada por instituies financeiras e por bancos; b) poltica de crdito liberal: praticada por pequenos estabelecimentos comerciais, em

    que a compra anotada em caderno, o comprador no assina documento algum e os pagamentos parcelados no tm valor fixo e no se exigem garantias;

    c) poltica de crdito utilizvel: tem suas normas e regras, mas a compra ajustada ao poder aquisitivo do cliente. o sistema de credirio mais usado no comrcio lojista. Nele, o setor de Credirio orientado para facilitar a venda, atravs das seguintes opes: - aumento do plano de pagamento (quantidade de prestaes, substituio da mercadoria por uma de menor preo, diminuio do volume de produtos, limitao do crdito com base na renda familiar, exigncia de um avalista e exigncia de uma entrada, para diminuir o valor da prestao.

    No ato de emprestar ou vender, quem o faz cobra as correes que so relativas ao capital emprestado pelo investidor mais um spread, que uma parte somada remunerao do investidor. O spread pode ser definido como o lucro do credor (emprestador), ou seja, a parte que fica para ele cobrir os impostos, riscos, custos e sua remunerao.

    Assim como as famlias buscam o crdito como forma de financiar os gastos que ultrapassam suas receitas, a maior parte das empresas tambm recorrem ao crdito, visto que a maioria no tem um patrimnio suficientemente lquido capaz de financiar sozinho seus projetos de investimentos. Parte considervel de estoque de capital demandado para a realizao de um empreendimento comumente adquirida por financiamento, o que resulta em custo para essa captao, custo esse que geralmente est relacionado com a taxa de juros bsica da economia.

  • 18

    Ao possibilitar a concretizao de negcios, o crdito contribui para o aumento do consumo de bens e servios, o que naturalmente, aumenta a oportunidade de empregos na indstria, no comrcio e em outros segmentos da economia. O crdito tem importncia social e econmica na medida em que contribui continuamente para o desenvolvimento de cidades, estados e naes, fomentando a comercializao de bens e servios. Isso aumenta a arrecadao e impostos, os quais devem ser revertidos em benefcios para a sociedade.

    A varivel tempo mensurada atravs do intervalo de dias entre a aquisio e a liquidao do crdito tomado e atualmente no Brasil est em torno de 297 dias, segundo dados da Federao das Associaes Comerciais e de Servios do Rio Grande do Sul (FEDERASUL, 2009). J a varivel confiana tem no volume de crdito ofertado sua melhor medio. No caso brasileiro esses dois indicadores evoluram consideravelmente ao longo dos ltimos anos.

    Para Keynes (1937) a maioria dos movimentos de mercado leva em considerao suposies sutis, repletas de incertezas, e em virtude de tantas incertezas e no dos riscos estatsticos, que os investimentos dos empresrios ficam vulnerveis a juzos de valores como o tempo e principalmente a confiana.

    Keynes (Op. Cit) atribui ao crdito importncia fundamental, uma vez que para ele quem financia o investimento o crdito e no a poupana. Dessa forma, h uma inverso da teoria clssica, pois com o crdito financiando o investimento h aumento da produo, o que tem como consequncia um aumento de renda, e consequentemente uma parte maior poupada. Logo o investimento que tem efeitos sobre a poupana e no o contrrio.

    A mais recente crise econmica teve como consequncia relativa escassez da oferta de crdito, visto que grande parte das operaes de emprstimos foi contratada com base em informaes deficientes. Informaes incompletas ou precrias dificultaram uma avaliao mais criteriosa quanto a real magnitude dos riscos, o que ocasionou uma grande assimetria de informaes, com impacto negativo nas expectativas e na preferncia por liquidez. Assim as aes de poltica monetria tornam-se cada vez mais importantes para garantir liquidez, e para isso conta com mecanismos como a diminuio da taxa bsica de juros, reduo do compulsrio, entre outros.

    Mesmo sendo essencial durante uma crise econmica, a poltica monetria fica vulnervel e muitas vezes no to eficaz devido baixa confiana e a preferncia por liquidez que se alastra pelas instituies bancrias em geral.

    2.2 Oferta de crdito

    O crdito pode ser um importante propulsor do crescimento. O aumento do volume aquece

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    a demanda no mercado interno, atuando diretamente e de forma positiva no desempenho do PIB do pas. Pode-se dizer que ao fomentar o consumo, o crdito obriga o setor produtivo a fabricar mais bens e, por conseqncia, a empregar mais gente, aumentando a renda da populao, que ao melhorar seu nvel de renda compra mais.

    Muitas empresas recorrem ao crdito bancrio para financiar seus projetos de implementao ou expanso. De acordo com (Carneiro, Salles, Wu, 2004) tais empresas supem-se so agentes racionais e que visam maximizar seus lucros, visto que a taxa de juros pode ser considerada como o custo de oportunidade de uma unidade marginal do estoque de capital fundamental para maximizar os lucros que o custo de oportunidade (taxa de juros) seja igual produtividade marginal do capital. Se a produtividade marginal dos fatores de produo decrescente, uma menor taxa de juros resulta em um estoque de capital timo maior.

    funo do mercado financeiro intermediar a oferta e a demanda por crdito, sob a forma de captar poupana das famlias por um lado, e de outro financiar investimentos privados. Cabe ao mercado financeiro avaliar o risco de crdito daqueles que sero tomadores dos recursos, a fim de prever um possvel risco de default 4 e evitando assim futura inadimplncia. Pode-se considerar ento, que a oferta de crdito tem relao inversa ao risco de inadimplncia.

    Normalmente a oferta de crdito reage de forma positiva taxa de juros bsica, no caso brasileiro Selic5, assim quanto mais alta a taxa de juros, maior a rentabilidade que os depositantes esperam e menor a propenso a consumir, assim maior a disponibilidade de recursos a serem emprestados. Esse fenmeno est presente na curva IS6 tradicional.

    William Baumol (2008) sugere que h trs tipos de capitalismo, um deles aquele que conduzido pelo Estado, que marcado por economias e tem no crescimento econmico um objetivo fundamental e para alcanar esse objetivo beneficia determinadas empresas ou setores. Os governos, para favorecer os que acreditam que iro contribuir para o alcance de seus objetivos, oferecem subsdios, incentivos fiscais, adotam medidas de proteo ao comrcio, destinam crdito por meio de bancos pblicos ou influencia as decises de crdito dos bancos privados, entre outros tantos dispositivos reguladores.

    Seguindo a hiptese da renda permanente de Friedman (1957) pode-se considerar tambm que a oferta de crdito tem reao positiva renda agregada, pois um aumento transitrio na renda geralmente poupado pelas famlias, o que contraria a idia de Keynes (Op. Cit) o consumo no influenciado pela taxa de juros. Para Friedman, quando se incorporam as expectativas racionais,

    4 Risco de default est relacionado ao risco do no cumprimento de um contrato

    5 A taxa Selic utilizada nas operaes de curtssimo prazo entre os bancos, ao tomar emprestado recursos de outros

    bancos (por um dia) oferecem ttulos pblicos como lastro. 6 A curva IS relaciona o nvel de Produto/Renda com o nvel da taxa de juros.

  • 20

    consideram-se alm da renda, as expectativas que as famlias formam sobre essa renda e outros fatores de uma forma geral. Atualmente considera-se que o consumo est relacionado renda corrente, renda futura esperada, riqueza, e tambm taxa de juros.

    Inicialmente o mercado de crdito era visto de forma competitiva, cabendo aos bancos expandir ou reduzir a oferta de crdito por meio das oscilaes na taxa de juros e assim equilibrava-se o mercado. Porm Keynes (Op. Cit) j havia apontado para a possibilidade de que o mercado de crdito no seguisse os preceitos de um mercado concorrencial.

    Keynes (1930) verificou que havia uma margem de insatisfeitos, formada pelos agentes que se dispunham a pagar as taxas de juros impostas pelo mercado e ainda assim no obtinham acesso ao crdito, seria como conhecido atualmente um racionamento do crdito, o equilbrio entre oferta e demanda no ocorre por meio da taxa de juros e sim pela quantidade de crdito com limitaes para acesso ao mesmo. Pode-se considerar que os chamados insatisfeitos formam um excesso de demanda por crdito, taxa de juros praticada.

    Os primeiros modelos que estudaram o racionamento de crdito estavam amparados em caractersticas especficas dos mercados de crdito, como incertezas, relaes exclusivas, entre outras, para explicar a utilizao pelos bancos de taxas de juros abaixo das do ponto de equilbrio e do racionamento de crdito a fim de igualar a relao entre oferta e demanda. Atualmente os modelos de racionamento de crdito se baseiam na idia de que a existncia de informaes imperfeitas fundamenta a inexistncia de market clearing7. Mesmo que as incertezas possam resultar em averso ao risco, de modo geral os modelos consideram agentes neutros ao risco.

    Os bancos, motivados pelo lucro, exercem forte influncia na economia por serem capazes de criar moeda atravs da ampliao do crdito. Essa ampliao do crdito est relacionada expectativa que o banco credor tem quanto solvncia de seu tomador, j que o banco depende do fluxo de receitas futuras para honrar seus compromissos. Com a alterao das expectativas formadas pelo banco haver alterao no volume de crdito ofertado, com efeitos sob os nveis de financiamentos, de produo e de emprego.

    Com o agravamento das incertezas, as instituies bancrias tendem a optar por preferncia por liquidez, procuram aumentar a participao de seus ativos mais lquidos e tendem a diminuir a oferta de crdito a terceiros. As medidas de poltica monetria ficam mais limitadas e evidenciam-se os mecanismos fiscais e a oferta de crdito pelos bancos pblicos. A oferta de crdito por meio dos bancos pblicos, resguardadas a prudncia na concesso desses crditos, diminui os

    7 O market clearing uma hiptese simplificadora feita pela nova escola clssica de que os mercados vo sempre

    para onde a quantidade ofertada iguala a quantidade demandada

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    efeitos do ciclo recessivo que deriva do chamado credit crunch8 dos bancos privados (Mendona, 2009).

    Muitas das transaes que ocorrem no mercado de crdito tm particularidades prprias e dessa forma necessitam de relaes exclusivas. Stiglitz (1981) elencou algumas delas, entre as quais:

    a) Como os custos em adquirir informaes no so, em geral, negligenciveis os bancos tendem a direcionar sua oferta de crdito para clientes especficos. Por outro lado, esses mesmos clientes podem auferir economias de escala se concentrarem sua demanda de crdito em um nico fornecedor. Como resultado, h uma tendncia de monopolizar a oferta de crdito;

    b) Os demandantes de crdito sempre tm o incentivo de assumir os projetos mais arriscados porque estes apresentam maiores taxas de retorno. Os bancos podem tentar reduzir esse risco criando clusulas restritivas nos contratos de crdito, mas h custos em prever e monitorar todas as possibilidades. Relaes especficas provem maior estabilidade e previsibilidade;

    c) A estabilidade da relao gera menores custos para os bancos, pois as informaes que foram adquiridas em uma certa data podem ser utilizadas nas anlises para futuras concesses de crdito;

    d) A possibilidade de a firma empreender projetos mais rentveis e, por hiptese, mais arriscados limitada pela ameaa de suspenso do crdito. O desenvolvimento de relaes exclusivas aumenta as possibilidades de negociao desses possveis conflitos.

    No modelo mais utilizado de racionamento de crdito, o de Stiglitz e Weiss (1981), a assimetria de informaes manifesta-se no fato de que o tomador sabe qual o risco e qual o retorno esperado de seu projeto, j o banco que empresta os recursos sabe apenas o retorno mdio. O modelo se baseia principalmente na tese de que o comportamento do retorno esperado pelos bancos seja uma funo da taxa de juros contratada. Um aumento na taxa de juros contratada no aumenta de forma proporcional o retorno esperado por parte do banco j que tambm aumenta o risco de default.

    Se h aumento no risco de falncia, cada vez menor o retorno esperado pelo banco; h uma taxa que maximiza essa relao, chamada taxa j*. O Grfico 1 apresentando a seguir apresenta o formato dessa funo:

    8 Credit crunch refere-se a um cenrio onde predomina forte contrao do crdito, no qual mesmo os bons pagadores

    tm dificuldades em obter novas linhas de crdito.

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    Fonte: Stiglitz e Weiss (1981) Considerando mercados competitivos, sob uma taxa de juros j*, se ocorre uma demanda

    excessiva por crdito, os agentes considerados insatisfeitos aceitam a cobrana de taxas de juros mais altas para que eles possam obter crdito. Porm, nesse mercado de crdito competitivo o risco tira o estmulo dos bancos em aumentar sua taxa de juros para alm de j*

    Dessa forma, o racionamento do crdito passa a existir porque o retorno esperado pelos bancos no cresce proporcionalmente ao aumento da taxa de juros estipulada e o mercado de crdito no alcana o equilbrio competitivo, o lado direito da taxa j*, onde a curva fica inclinada negativamente corresponde ao racionamento do crdito. Stiglitz e Weiss (1981, p. 2488) apontam como motivos principais para que o retorno esperado pelos bancos e a taxa de juros estipulada no tenham relao de proporcionalidade a seleo adversa e o incentivo adverso. Os resultados mais relevantes desse modelo podem ser sintetizados com a idia de Stiglitz e Weiss (1981), de que na presena de assimetrias de informao, o comportamento maximizador dos agentes pode lev-los a equilbrios com racionamento de crdito, posto que a taxa de juros, alm de no exercer o papel de equilibrar o mercado, tambm gera efeitos adversos de seleo e incentivo.

    Na linha ps-keynesiana, alguns autores como, por exemplo, Minsky (1975) defendem a

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    ampliao de uma teoria financeira que englobe caractersticas como as incertezas e as expectativas atuando na formao do preo dos ativos. A partir da surgiu uma teoria ps-keynesiana de racionamento do crdito.

    O racionamento de crdito por parte dos ps-keynesianos enfatiza as incertezas e a preferncia pela liquidez por parte dos bancos. A oferta de crdito por parte dos bancos depende tambm de sua preferncia por liquidez. Caso as incertezas se agravem, a preferncia por liquidez aumenta, pois nesse caso os bancos optam por conservar o dinheiro para si, o que faz com que a taxa de juros aumente.

    Como citado acima Keynes considerou a existncia de uma margem de insatisfeitos e relacionou a concesso de crdito no s taxa de juros, mais tambm a outras variveis tais como o relacionamento entre o banco e o cliente. Na teoria ps-keynensiana, os bancos devem considerar que pertencem a um ambiente no qual as decises de curto e longo prazo so repletas de incertezas, tais incertezas incentivar os bancos a adotarem critrios que lhes d maior segurana quanto ao risco de crdito, como a criao de cadastros. A criao de cadastros pode ser uma das alternativas para minimizar o impasse entre credores e devedores, j que os mesmos passam a ter objetivos divergentes, pois conforme explicitado por Maia (2009), os tomadores de recursos preferem os projetos mais audaciosos e com taxas de juros mais baixas e os bancos, justamente o contrrio. Normalmente os possveis tomadores recebem uma classificao que varia de acordo com o risco de seus projetos, uma vez que a probabilidade de pagamento est associada ao risco que o projeto apresenta. Feita a avaliao do risco, o banco pode fixar a taxa de juros de acordo com a avaliao efetuada e conceder o crdito, ou no, se o banco concluir que o risco no compensa.

    O crdito no traz s vantagens para o mercado, a expanso descontrolada do crdito pode trazer riscos para a economia de um pas. O principal deles a inflao, desencadeando um conjunto de aes que poderiam colocar em xeque o crescimento econmico. Em boa parte porque, para conter a presso inflacionria, seria necessrio reverter a poltica de juros, elevando as taxas. Se os juros sobem, o mercado desaquece, uma vez que um de seus grandes motores justamente o crdito. Quanto mais crdito disponvel populao, mais ela compra.

    Caso o consumo aumente rpido demais e as indstrias no consigam atender demanda, a inflao dispara seguindo a lei da oferta e da procura se a oferta bem menor que a procura, os preos tendem a subir. Isso torna o investimento nas empresas essencial para evitar o reaquecimento inflacionrio em pocas de crdito farto. Ou seja, o crdito alavanca a economia do pas, mas se o crescimento ocorre em demasia e sem controle, ocasionada a inflao, cuja conteno exige desacelerao da economia. A elevao

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    dos juros um grande propulsor desse processo de desacelerao, visto que tende a reduzir o consumo de crdito (muitas vezes o referido movimento de frenagem pode acontecer em longo prazo).

    2.3 Inadimplncia

    A inadimplncia ocorre quando uma determinada obrigao no liquidada na data estipulada. De acordo com Silva (1997, p.314) crditos inadimplentes so aqueles que apresentam dificuldades de serem recebidos e consequentemente acarretam perdas para o credor.

    Tal fenmeno pode ser interpretado como uma situao na qual se esgotaram todas as alternativas de negociao para recuperao do crdito concedido e tem como conseqncia, entre outras, o envio de informaes dos clientes inadimplentes para empresas que atuam na proteo do crdito com um cadastro negativo dos mesmos, tais como o Servio Central de Proteo ao Crdito (SCPC) e a Serasa (empresa privada, que presta servios especializados em anlises econmico-financeiras). O cadastro nessas empresas tem como objetivo impedir o cliente inadimplente de obter crdito em outra instituio.

    Para Silva (Op. Cit) inadimplemento atualmente representa um dos maiores problemas na concesso de crdito, pois influencia diretamente as condies de acesso ao crdito, e pode tambm ter influncia sob o volume de crdito ofertado. Em perodos de nveis altos de inadimplncia o mercado de crdito sofrer ajustes nos critrios de concesso, visando uma menor exposio das instituies financeiras inadimplncia.

    Como forma de proteo e precauo as instituies financeiras, alm dos servios que disponibilizam informaes sobre clientes j inadimplentes e seus respectivos histricos de inadimplncia, como os j citados SCPC e a Serasa contam com outras formas de minimizar os riscos de no cumprimento dos contratos dos tomadores de crdito.

    Em algumas instituies financeiras, as anlises subjetivas para concesso de crditos (baseadas em cadastros) esto sendo complementadas por sistemas que visam garantir maior segurana nas operaes. Tais sistemas constituem-se principalmente de balanced scorecard9, que conferem pesos s caractersticas mais relevantes que os tomadores devem apresentar, tais como capacidade, carter, condies, capital, colateral e conglomerado, os chamados Cs do crdito. Segue a definio de cada um deles segundo Arajo (2007):

    9 Balanced Scorecard uma tcnica que visa a integrao e balanceamento de todos os principais indicadores de

    desempenho existentes em uma empresa, desde os financeiros/administrativos at os relativos aos processos internos, estabelecendo objetivos da qualidade dos indicadores para funes e nveis relevantes dentro da organizao.

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    a) carter: refere-se determinao de algum em honrar seus compromissos. Est ligado honestidade, idoneidade e reputao. Possivelmente o carter o componente mais importante da aparncia geral do cliente;

    b) capacidade: a habilidade, competncia empresarial ou profissional do indivduo, bem como o seu potencial de produo e/ou comercializao. Refere-se aos fatores internos: tradio, experincia, formao, capacidade instalada, recursos humanos, grau de tecnologia, projetos de modernizao, instalaes, fintes de matria-prima, etc;

    c) condies: dizem respeito aos fatores externos e macroeconmicos do ambiente em que est inserido o tomador: interferncias governamentais, conjuntura nacional e internacional, concorrncia, variaes de mercado, etc;

    d) capital: refere-se situao econmico-financeira do cliente (bens e recursos possudos para saldar seus dbitos). Para pessoa Fsica, refere-se ao rendimentos, composio das despesas, evoluo e qualidade do patrimnio e endividamento;

    e) colateral: capacidade acessria de oferecer garantias adicionais; f) conglomerado: avaliao acessria do grupo que pertence a empresa.

    Outra forma de proteo com que as instituies financeiras contam a Proviso para Crdito de Liquidao Duvidosa (PCLD), que por determinao do BACEN o mecanismo utilizado por todas as instituies. Ela tem o objetivo de sensibilizar contabilmente a conta de resultado, assim traz para o presente as previses de perdas com a carteira de crdito, possibilitando prever o impacto no resultado.

    A PCLD foi implementada pela Resoluo n 2.682/99 do BACEN, com o intuito de fortalecer e atribuir uma responsabilidade maior ao setor de crdito das instituies, j que exige que as polticas e procedimentos para concesso do crdito fundamentem-se em bases tcnicas. E ainda, as regras impostas pela resoluo acima esto em conformidade com as normas utilizadas em outros pases da Amrica Latina, principalmente no Mercado Comum do Sul (MERCOSUL).

    A austeridade dessa legislao imposta pelo BACEN possibilitou ao mercado uma melhor percepo do nvel de risco de crdito a que cada uma das instituies financeiras estava submetida, alm de conferir maior rigor na concesso de crdito, j que os bancos sentiram um aumento considervel na PCLD aps a resoluo 2.682, como evidenciado por Albuquerque, Corrar e Lima:

    [...] na amostra das 15 maiores instituies financeiras em operaes de crdito, no perodo de trs anos antes e trs anos aps a vigncia da Resoluo 2682, atravs da investigao emprica dos efeitos provados pela referida mudana ficou demonstrada que a mdia anterior que era de 0,028, isto 2,8% foi alterada para 0,073, isto 7,3%, provocando impacto representativo nos balanos patrimoniais das instituies financeiras [...] (ALBUQUERQUE, CORRAR e LIMA, 2003, p.84).

    Os principais riscos que compem o chamado risco de crdito so o risco do cliente, da operao, da concentrao do crdito, da administrao, de mercado, legal, de imagem, de liquidez, de conjuntura e o operacional. Todos tm impacto na poltica de concesso de crdito, pois podem impactar diretamente a inadimplncia.

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    Prado, Bastos e Junior relatam a transio ocorrida na dcada de 90 quanto ao risco de crdito no Brasil:

    a) As mudanas testemunhadas na economia brasileira aps a introduo do Plano Real em Julho de 1994 alcanaram a questo de administrao de risco de crdito a uma posio de destaque nas instituies financeiras locais. Antes disso, a alta inflao havia inibido o crescimento do mercado de emprstimos no pas. Ao invs de emprestar a clientes do setor privado (a um risco de crdito maior), os grandes bancos comerciais preferiam financiar a dvida interna do pas (a um risco de crdito menor), com maior liquidez, mas ainda assim cobrando taxas de juros substanciais.

    b) A estabilidade econmica que segui introduo do Plano Real tem estimulado a adoo de sistemas de avaliao e gerenciamento de risco de crdito mais sofisticados. Alguns grandes bancos de varejo brasileiro tm desenvolvido e implementado com sucesso tcnicas de avaliao de crditos individuais, tais como Credit Bureau Scoring e Behavior Scoring. Ao mesmo tempo, esses bancos comearam a organizar bancos de dados contendo sries histricas de Credito Bureau Scoring e Behavior Scoring, alm de estatsticas de inadimplncia, perdas e recuperaes. Estes bancos de dados esto possibilitando um refinamento ainda maior do processo de avaliao de crdito e das tcnicas de administrao de riscos. A estabilidade econmica gerada pelo Plano Real est estimulando o uso de metodologias mais sofisticadas para o gerenciamento de riscos de crdito.

    c) Recentemente, antecipando-se a futuras demandas de reguladores, e numa tentativa de aproximar-se da melhor prtica internacional, algumas instituies financeiras brasileiras moveram sua ateno para o desenvolvimento de metodologias cada vez mais sofisticadas para mensurao dos riscos de crdito de carteiras de emprstimos. (Prado, Bastos e Junior, 2006).

    Segundo Lucca (2007), a inadimplncia um fenmeno que prejudica tanto credores quanto devedores e ainda afeta a avaliao sistmica. Quando os bancos, por exemplo, no recebem o valor que foi emprestado aos inadimplentes, quem arca com esses prejuzos so os outros tomadores, j que os bancos incorporam na taxa de juros o risco de inadimplncia, seria um aumento do spread, isso acontece em todos os mercados financeiros, no mundo inteiro.

    Uma anlise feita pelo BACEN em 2004 mostrou que a processo de decomposio do spread bancrio para as operaes de crdito com taxas de juros pr-fixadas sofreu alteraes. Em uma anlise que compreende o perodo de 2000-2003, baseada em dados contbeis de 80 instituies financeiras, a inadimplncia, como fator de aumento do spread, teve a seguinte desempenho: 20,41%, 18,73%, 20,26%, 19,98% em cada um dos anos. No mesmo estudo foi realizada pelo BACEN a anlise das taxas de juros e spreads bancrios no Brasil.

    Um primeiro diagnstico pode concluir que os altos spreads bancrios praticados no Brasil so resultados, em grande parte, da alta inadimplncia e do baixo grau de alavancagem de emprstimos que restringir a diluio das despesas administrativas e de capital. O estudo acrescenta que o baixo grau de alavancagem uma maneira vlida dos bancos se protegerem em um cenrio incerto, j que um acrscimo imprevisto nos nveis de inadimplncia tem maiores efeitos negativos

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    um banco que empresta muito. de suma importncia o acompanhamento das operaes de crdito concedidas a fim de

    evitar que as mesmas tornem-se operaes inadimplentes, assim evita-se o custo que se tem para cobrar a operao e o custo de no se receber os valores emprestados.

    H muitas vantagens na utilizao na utilizao de mtodos quantitativos em gerenciamento de crdito, destacando-se os benefcios resultantes da otimizao no processo de tomada de deciso: fornece-se crdito (ou crdito adicional) aos melhores clientes (mais confiveis), gerando aumento dos lucros e nega-se (ou diminui-se) o crdito aos piores clientes (menos confiveis), resultando na diminuio das perdas. Alm disso, polticas timas de cobrana minimizam os custos de administrao e maximizam o montante recuperado do mal pagador. (ROSENBERG, GLEIT, 1994, p590.)

    At 2001 as estatsticas e ndices que tratavam de inadimplncia baseavam-se nas ocorrncias de cheques devolvidos e no volume de ttulos protestados, o que por serem indicadores isolados e no contemplarem todos os meios de pagamento no correspondia aos ndices reais. A necessidade de criao de um ndice que contemplasse todos os meios de pagamentos, que tivesse um critrio objetivo, com um tratamento metodolgico-cientfico e imparcialidade levou a Serasa a desenvolver em 2002 o Indicador Serasa de Inadimplncia. O ndice sugere uma inovao na forma de anlise de seus resultados, sempre os comparando com o volume de crdito total ofertado, e ainda separando os resultados para pessoa fsica e pessoa jurdica.

    O ndice Serasa agregou s sries tradicionais, que s englobavam cheques devolvidos e ttulos protestados, outras anotaes negativas oriundas de cartes de crdito, financeiras, entre outros. A partir da coleta, os dados so tratados de forma estatstica a fim de se obter uma ponderao dinmica, que mensalmente revisada para que sejam anulados efeitos de calendrio, sazonalidades e outras distores.

    2.4 Recuperao de crditos

    A inadimplncia inevitvel em instituies que tratam com grande volume de crdito, porm preciso minimizar tanto quanto possvel seu patamar. Passado o perodo de oferta do crdito vem a preocupao em reav-lo sob a forma acordada, e quando isso no acontece preciso investir em aes de recuperao de crdito, porm preciso alcanar o propsito de reaver o crdito concedido e ainda se preocupar com a fidelizao do cliente. muito usual entre as instituies que oferecem crdito realizar um trabalho de manuteno dos clientes aps regularizao dos dbitos.

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    No processo de recuperao de crdito pode estar uma tima oportunidade para esse fim. Isso porque no processo de negociao, se esse ocorrer de forma tempestiva e com presteza, o contato com o cliente pode aproxim-lo ainda mais da instituio permitindo que sejam criados vnculos duradouros. O objetivo da negociao saber o limite real da outra parte, ou seja, at onde o cliente pode ir.

    Para que o processo de cobrana e recuperao de crdito ocorra com xito imprescindvel que o cadastro dos clientes esteja atualizado e com o mximo de informaes possveis, principalmente s que dizem respeito a localizao desses clientes, como telefones e endereos.

    Se em dado momento informaes sobre o comportamento de determinado cliente levantarem preocupaes quanto quitao de suas operaes com a instituio credora, a mesma comea a adotar medidas aes preventivas, tais como estabelecimento de prazos ou alterao da linha de crdito contratada inicialmente a fim de reescalonar as dvidas. Caso essas medidas no logrem xito e se efetive o no cumprimento das obrigaes por parte do devedor tm-se incio o uso de tcnicas legais que visam o constrangimento moral, geralmente usam-se anotaes restritivas no cadastro que o cliente mantm na instituio, registro de ocorrncia em rgo de proteo ao crdito (SCPC, Serasa), uso de telecobrana, terceirizao da cobrana, cesso da dvida e por fim ajuizamento da dvida.

    Tefilo (2006), enfatiza que na telecobrana imprescindvel a negociao para se alcanar a mxima eficincia. Ele apresenta dois tipos de aes utilizadas na telecobrana, so elas: teleaviso de inadimplncia, ocorre quando os operadores ligam para o cliente devedor e os lembra do no pagamento de suas parcelas e a telenegociao que ocorre, por exemplo, nos bancos que financiam veculos (ou outro financiamento no qual sejam dados bens como garantia) na qual negociada a regularizao dos dbitos para que o bem (garantia) no tenha que ser reavido pelo credor. No teleaviso o que se busca uma data na qual os dbitos em atraso sero regularizados e na telenegociao o credor j possui um histrico de que as operaes esto vencidas h algum tempo, ento precisam ser definidas com cautela as regras para a negociao, pois o melhor acordo aquele em que todos saem satisfeitos.

    As empresas de crdito, dado os problemas de inadimplncia causados pela escassez de capital prprio, o afrouxamento no fornecimento do crdito, as elevadas taxas praticadas no crdito necessitam utilizar-se de alguma estrutura para realizar o trabalho de cobrana, e comum esse trabalho ser realizado por pessoal da rea de concesso da empresa, sem especializao e tampouco treinamento adequado necessrio ao exerccio da funo de cobrana. Muitas vezes o prprio empregado que concedeu o crdito recebe a incumbncia da cobrana desse crdito. A cobrana de dvidas realizadas nas instituies no so sistematizadas, padronizadas e os mecanismos de cobrana utilizados tendem a dar o

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    mesmo tratamento para diversos tipos de cliente e de dvidas. O processo nessa situao eleva o custo de cobrana para a instituio. (PIROLO, 2003,

    Para Pirolo (2003) recuperar crdito a misso mais rdua de qualquer instituio financeira, principalmente quando essa instituio est nos limites da inadimplncia resultantes do no recebimento dos crditos concedidos.

    Findas as alternativas de cobrana, iniciam-se as aes de recuperao de crdito, sempre visando eliminar ao menos minimizar as perdas do credor. As operaes inadimplentes podem ser cobradas por vias administrativa ou judicial. Na via administrativa, geralmente realizada pela prpria instituio fornecedora do crdito ou por empresa terceirizada contratada para esse fim, a negociao mais amena; j a negociao por vias judiciais (litigiosa) normalmente resultado de um impasse entre a instituio credora e o devedor.

    Com j citado, uma das alternativas de recuperao de crditos a terceirizao da cobrana, que tem como principal caracterstica a prestao de servios de cobrana extrajudicial, que englobam a cobrana de promissrias, duplicatas, cheques e principalmente a cobranas bancrias, sem que seja necessria a atuao de advogado.

    Esse tipo de prestao de servios atende desde as micro-empresas at aquelas de grande porte, que em sua maioria no possuem estrutura para realizao de cobranas extrajudiciais ou chegam a concluso de que a terceirizao do trabalho mais vantajosa e lucrativa para sua empresa.

    A cobrana pode ser efetuada por diferentes canais, so eles cobrana pessoal, por telefone, por carta, tradicional, e-mail, entre outras.

    A cobrana tradicional tem incio inicia depois de 30 dias de atraso da operao e realizada por meio de equipes treinadas para essa modalidade de cobrana. importante ressaltar que todos os tipos de cobrana devem estar de acordo com as normas estabelecidas pelo Cdigo de Defesa do Consumidor.

    As aes mais comuns de recuperao de crdito envolvem previamente um comunicado formal ao devedor de que suas operaes encontram-se em atraso de pagamento e que por esse motivo seu nome ser incluso nos rgos de proteo ao crdito caso a pendncia no seja regularizada no prazo estabelecido no comunicado. Se o dbito no for regularizado o devedor includo nas listas negativas de rgo como o SCPC e Serasa.

    A Lei 8.078 (Cdigo de Defesa do Consumidor, 1990) estabelece que somente possvel negativar um devedor nos rgos de proteo ao crdito aps a prvia comunicao ao mesmo. Essa comunicao pode ser realizada por meio dos Correios (carta registrada e com aviso de recebimento AR), Cartrio de Ttulos e Documentos, ou mesmo pessoalmente, desde que seja

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    protocolado o documento de notificao entregue ao devedor. E ainda, no artigo 71 da lei supra citada estabelecida como penalidade a deteno de trs meses a um ano e multa para quem:

    [...] utilizar, na cobrana de dvidas, de ameaa, coao, constrangimento fsico ou moral, afirmaes falsas incorretas ou enganosas ou de qualquer outro procedimento que exponha o consumidor, injustificadamente, a ridculo ou interfira com seu trabalho, descanso ou lazer (Cdigo de Defesa do Consumidor lei 8.078, 1990).

    O Servio brasileiro de apoio s micro e pequenas empresas (SEBRAE) em estudo realizado em 2007 prope algumas normas para se obter xito no processo de recuperao de dvidas:

    i. Cobrana instantnea: quanto mais rpida e eficaz a cobrana, menos ser a dvida. Portanto, deve ser iniciada o prazo de trs a dez dias de atraso no pagamento, tornando mais eficaz a recuperao do crdito e reduzindo os ndices de inadimplncia;

    ii. Cobrana tradicional prvia: cobrana tradicional aquela iniciada habitualmente aps 30 dias de atraso no pagamento, por equipes treinadas para esse tipo de cobrana e que respeitem as normas contidas no Cdigo de Defesa do Consumidor;

    iii. Os ttulos ou dbitos protestados, ou seja, aqueles intimados pelo cartrio e no pagos pelos devedores no prazo legal, so automaticamente comunicados para todos os cadastros de proteo ao crdito e sem qualquer despesa para os credores;

    iv. A utilizao de protesto eficiente tendo em vista sua legalidade, agilidade, eficcia e no tem custos adicionais para o credor, no coercitivo e no causa constrangimentos, assim evita conflitos com o Cdigo de Defesa do Consumidor.

    Se mesmo aps a realizao da cobrana prvia a dvida no for regularizada, o credor poder dar incio cobrana judicial, para isso necessria a contratao de advogado para que se ingresse com uma ao judicial cabvel. Normalmente percebe-se que a cobrana judicial seja vantajosa para operaes acima de R$ 1.000,00 (mil reais). J ttulos abaixo de R$ 1.000,00 mais eficiente que, aps os procedimentos da cobrana tradicional, sejam encaminhados ao cartrio de protestos (BLATT, 1998).

    O empresrio que desejar se eximir de riscos e evitar tarefas relacionadas recuperao de seu crdito poder preferir por no conferir o crdito diretamente ao consumidor, utilizando para isso os servios de uma financeira ou terceirizar a administrao de suas operaes de crdito para empresas especializadas. A tendncia de que em 2009 os ndices de inadimplncia do consumidor brasileiro sejam maiores que em 2008, visto que de Janeiro a Julho desse ano a inadimplncia cresceu 9,9% segundo dados da Serasa (2009).

    2.5 Avaliao da inadimplncia

    natural ocorrer algumas perdas no crdito bancrio ao longo do tempo. Entretanto, embora uma instituio financeira no tenha condies de conhecer de antemo as perdas que

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    incorrer em determinado perodo, dada a sua experincia no ramo pode estimar um nvel de perda para este perodo. No contexto de Basilia II esta estimativa conhecida por Perda Esperada ou EL do ingls Expected Losses (ANIBAL, 2009).

    Segundo o BCBS (apud ANIBAL, 2009), a EL o produto de trs fatores distintos:

    a) A proporo de devedores que apresentaro uma situao de default em um determinado horizonte de tempo (PD Probability of Default);

    b) A exposio da IF a estes devedores no momento do default (EAD Exposure at Default); e

    c) O percentual desta exposio que no ser recuperado em caso de ocorrncia do default (LGD Loss Given Default).

    Isto significa que, o montante da EL pode ser encontrado com a seguinte equao:

    EL= PD*ED*LGD

    Os ndices de inadimplncia encontrados na literatura e utilizados na divulgao de dados sobre o mercado de crdito bancrio adotam diferentes abordagens que abrangem um ou mais componentes da EL. A literatura a respeito de inadimplncia no setor bancrio apresenta diversas abordagens de mensurao, sendo que as principais abordagens de acordo com Anbal (2009, p. 20) so:

    Por Proviso Aquelas que propem medir a inadimplncia do setor bancrio por intermdio da razo entre as provises constitudas e o saldo total das operaes de crdito; Por Exposio As que calculam a inadimplncia segundo a razo entre o montante de operaes com atraso no pagamento superior a um determinado nmero de dias e o total da carteira de crdito; e Por Quantidade As que medem a inadimplncia de acordo com a proporo do nmero de operaes inadimplidas e o nmero total de observaes passveis de inadimplncia.

    Ainda de acordo com Anbal (2009), um ndice de inadimplncia perfeito seria aquele que fosse capaz de identificar as alteraes de inadimplncia no momento em que ocorrem e na sua exata magnitude. Em um sistema de simulao, os momentos das alteraes e suas magnitudes so conhecidos com preciso, porm, na prtica esses dados no so to precisos.

    Observa-se nos ltimos tempos, um grande nmero de inadimplncia nas instituies financeiras, esse fato pode ser mais bem percebido depois da instituio do Plano Real, onde se observou uma grande expanso da economia no Brasil, sendo que as operaes de crdito para pessoas fsicas foram as que apresentaram maior crescimento. As informaes consolidadas divulgadas pelo Banco Central do Brasil para cada modalidade de crdito do sistema financeiro

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    nacional mostram que no incio do ano 2001 o saldo total das operaes concedidas a pessoas fsicas representava um volume superior a 50% do saldo total das operaes concedidas a pessoas jurdicas (MEDEIROS; SILVA e DUCLS, 2009).

    A avaliao e o gerenciamento adequado dos riscos permitem organizao uma maior utilizao de financiamentos por meio de dvidas. O endividamento acaba criando mecanismos de economia fiscal relativos a juros, isto , os pagamentos de juros sobre o endividamento so deduzidos ao se mensurar o lucro tributvel. Em contrapartida, tais organizaes no podem deduzir dividendos de seu lucro, porque aumentam a sua possibilidade de vir a passar dificuldades financeiras justificando, deste modo, a gerncia de possveis perdas catastrficas (MARSHAL, 2002).

    Com todo o esforo realizado e, por mais positivo que seja a avaliao em relao ao crdito a ser concedido, somente possvel conhecer o resultado da operao no seu vencimento, quando se d o recebimento ou no do valor acordado pela operao de crdito. Esta falta de certeza quanto ao resultado do processo que cria condio de risco na operao creditcia (SECURATO, 2002).

    O crdito passou a ganhar espao por parte dos sistemas financeiros, na atualidade, no apenas em funo da escassez de recursos, mas de igual maneira como um risco que necessita ser controlado em situaes da grande volatilidade existente no mercado.

    De acordo com entendimento de Sanvicente e Minardi (1999), quando h concesso de um crdito, uma preocupao relevante associa-se com a possibilidade de que o cliente venha a ter sua capacidade de pagamento comprometida, no honrando dessa forma os compromissos assumidos.

    Dentro desse processo, a anlise de crdito envolve a juno de todas as informaes disponveis a respeito de um determinado tomador de crdito, podendo ser pessoa fsica ou jurdica, com o objetivo de decidir sobre a concesso ou no de crdito (MEDEIROS; SILVA e DUCLS, 2009).

    Silva (2006), apresenta algumas ferramentas que proporcionam significativo suporte estatstico quando so utilizadas na avaliao do risco de crdito, a saber: os sistemas especialistas, credit scoring, behaviour scoring, rating, redes neurais, algoritmos genticos, dentre outras.

    De acordo com Medeiros, Silva e Ducls (2009), a anlise de crdito envolve as habilidades de se tomar uma deciso dentro de incertezas, de ser constantemente mutvel, trabalhar com informaes incompletas e em situaes complexas, de forma a chegar a uma concluso clara e factvel de ser implantada.

    Esses autores acrescentam tambm que, quando aliado concesso do crdito, o envolvimento tanto dos riscos como das incertezas, so conceitos que se encontram intrinsecamente conectados rea de estatstica. As abordagens frequentemente reportadas sobre o significado do

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    que venha ser o risco podem ser sumarizadas como: (a) chance ou possibilidade de perdas; (b) disperso ou probabilidade de perdas em relao aos resultados esperados; (c) incertezas.

    Dessa forma, possvel constatar que a indeterminao e as perdas encontram-se presentes na maioria das definies, ficando implcita a noo de resultados indeterminados. Logo, quando o risco encontra-se presente, deve haver ao menos dois possveis resultados: a certeza, cuja probabilidade igual a zero ou a incerteza, cuja probabilidade igual unidade.

    O risco, nesse caso, pode ser entendido como a mensurao da variabilidade e a mensurao da possibilidade de um resultado negativo. Sobre avaliao do risco de crdito, esta designa a grande dificuldade, que a de poder prever, de maneira antecipada, se um determinado cliente, a quem est sendo concedido o crdito ou em quem o fornecedor do crdito est acreditando ir honrar o compromisso assumido.

    Conforme enfatizam Medeiros; Silva e Ducls (2009):

    As formas de se acreditar no cliente podem ser divididas em qualitativas ou subjetivas, levando-se em conta a opinio de quem est avaliando o crdito e quantitativas ou objetivas / economtricas, uma vez que se utilizam modelos com forte apelo matemtico. As formas qualitativas possuem a vantagem de tratar caso a caso; porm, possui a desvantagem da grande dependncia da experincia do analista, do baixo volume de produo na anlise e do envolvimento pessoal e at mesmo emocional da concedente.

    Contrariamente, as formas quantitativas de concesso de crdito baseiam-se em modelos estatsticos ou economtricos, sobre as caractersticas dos clientes e sua relao com os produtos e/ou servios, possuindo como grande desvantagem a impessoalidade e a rigidez de avaliao. Dessa forma, acontece que os mtodos no mensuram o risco de no recebimento depois da ocorrncia do atraso, nem mesmo dos valores a vencer; eles somente mensuram o risco daqueles valores j vencidos, o que os tornam limitados, vez que, acabam se restringido a modelos de classificao dos clientes, sem calcular o valor do risco da carteira de contas a receber por parte da organizao.

    O risco de crdito j e ser cada vez mais o centro das atenes do mundo financeiro, ao ponto de os rgos reguladores estarem sempre atentos e prontos a tomar medidas sobre esta questo. Alm disso, inegvel que diversas crises ocorridas no Brasil com algumas instituies financeiras vm levando esta preocupao, ao ponto de se desenvolverem tcnicas sofisticadas de gesto do risco de crdito de forma a evitar prejuzos para aqueles que concederam crdito financeiro.

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    CAPTULO 3 RECUPERAO DE CRDITOS NO BANCO DO BRASIL EM SC

    3.1 Caractersticas do Banco do Brasil

    O Banco do Brasil uma das instituies mais antigas de fomento ao crdito no Brasil, sendo sociedade annima (S.A) de economia mista e atua como banco mltiplo. De acordo com seu estatuto (1942), o Banco tem como objetivo o exerccio de todas as operaes bancrias ativas, passivas e acessrias, a prestao de servios bancrios, de intermediao e suprimento financeiro sob suas mltiplas formas e o exerccio de quaisquer atividades facultadas s instituies integrantes do Sistema Financeiro Nacional. O Banco do Brasil pode atuar tambm na comercializao de produtos agropecurios e promover a circulao de bens.

    de sua competncia exercer as funes que a ele so atribudas em lei, como instrumento de execuo da poltica creditcia e financeira do Governo Federal.

    No que diz respeito cobrana de dvidas inadimplentes, trabalha com polticas prprias de cobrana e recuperao de crditos. A cobrana de dvidas realizada por diferentes canais de acordo com a segmentao dos clientes, valor do endividamento, idade da dvida e natureza das operaes; as empresas de cobrana terceirizada so exemplos desses canais. Dentro dessas polticas esto as fases de conduo, cobrana e recuperao de crditos.

    Na fase de conduo so adotadas medidas preventivas de inadimplncia buscando evitar que o cliente se torne inadimplente, devendo as agncias zelarem por operaes vincendas de maior valor. A fase de cobrana se d a partir da quebra contratual dos contratos de concesso de crditos (vencimento no honrado das operaes), oportunidade em que se busca adotar medidas para que seja mantido o relacionamento com o cliente. Tais medidas so oferecidas pela rede de agncias, call Center do prprio banco, caixa eletrnico e internet.

    No logrando xito nas fases de conduo e cobrana, o Banco do Brasil adota aes de recuperao atravs da contratao de empresas terceirizadas que conduzem esforos para regularizar a dvida contrada pelo cliente. Este trabalho se desenvolve levando em considerao a posio dos clientes e das operaes realizadas, as quais esto subordinadas s GERAT, que trabalha com o propsito de minimizar as perdas do banco em detrimento da continuidade do relacionamento com o cliente. Esgotadas as tentativas de recuperao dos crditos o Banco realiza a cesso das operaes efetivadas, ou seja, a venda de um direito de crdito outra empresa, sem o necessrio consentimento do devedor.

    As empresas terceirizadas fazem acordos via boleto bancrio, emitido via Correios para endereo do cliente, de operaes vencidas h mais de 10 dias oriundas de cheque especial, carto

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    de crdito e crdito direto ao consumidor (CDC). O cliente no fica impedido de renegociar sua dvida com a agncia de relacionamento em

    razo da terceirizao extrajudicial, a no ser que as operaes j estejam negociadas com a empresa de cobrana. Caso no haja recebimento do boleto no prazo determinado considerada quebra de acordo. As operaes terceirizadas nas quais veculos so dados como garantia constituem uma exceo, quando enviadas para a cobrana terceirizada, mesmo no possuindo acordo formalizado, inviabilizam a renegociao no ambiente da agncia. Nesses casos a agncia poder somente intermediar o acordo entre o cliente e a terceirizada.

    3.2 Sntese das polticas da oferta de crdito no Banco do Brasil

    O Banco do Brasil implantou recentemente um conjunto de medidas para aumentar o acesso ao crdito para os principais segmentos da economia. Segundo relatrio do Banco (2009), so mais de R$ 36,7 bilhes em limites de crdito para 1,2 milho de clientes pessoa fsica, 240 mil micro e pequenas empresas, 11 mil produtores rurais e 4 mil prefeituras, todos selecionados a partir de um estudo da base de clientes, que considerou o histrico de relacionamento, perfil de risco e a propenso ao consumo. As medidas consideram o progressivo reaquecimento da economia, evidenciado em diversos indicadores econmicos.

    Com essa medida, que a terceira iniciativa de elevar a oferta de crdito em 2009, o Banco do Brasil d continuidade estratgia de ampliar o financiamento modernizao de bens e equipamentos, ao comrcio e ao consumo. Alm disso, expande o montante destinado agricultura e as linhas de crdito para o setor pblico que beneficiam diretamente a populao de milhares de cidades brasileiras.

    Para o vice-presidente de Crdito, Controladoria e Risco Global do Banco do Brasil, Ricardo Flores (2009), as medidas trazem novas oportunidades de negcios e so importantes para o crescimento da participao do Banco no mercado de crdito, para o resultado da Empresa e para a fidelizao da base de clientes. Contribuem ainda para a gerao de emprego e renda e para o desenvolvimento econmico do pas.

    No tocante pessoa fsica, o Banco aumentou o limite das operaes com o BB Credirio - financiamento feito diretamente nos estabelecimentos comerciais conveniados, num total de 12,7 bilhes, beneficiando 1,2 milho de clientes. O BB Crdito Material de Construo responsvel pela maior parte dessa carteira. Com o aquecimento do mercado imobilirio nos ltimos meses o Banco espera suprir a maior demanda por recursos dessa linha.

    Com foco no financiamento do consumo, o Banco tambm elevou os limites do carto de

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    crdito e do CDC desses clientes pessoa fsica. No total, esse grupo tem mais R$ 5 bilhes para financiar suas compras. Vale lembrar que em maio de 2009, o Banco elevou o limite para operaes de crdito de 10 milhes de clientes pessoa fsica em R$ 13 bilhes.

    Em consonncia com o cenrio atual que aponta para a retomada gradual dos investimentos no setor produtivo e em linha com a reduo de taxas dos financiamentos para a compra de bens de capital anunciada pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Social (BNDES), o Banco do Brasil, grande parceiro de micro e pequenas empresas, disponibilizou 13,9 bilhes em limites pr-aprovados para financiar as operaes de investimento de 240 mil clientes.

    Com isso, a contratao das operaes mais gil e permite que as empresas aproveitem as recentes redues de taxas e melhorias das condies promovidas nas linhas de longo prazo com recursos do BNDES. Ressalte-se que o Banco do Brasil foi lder no repasse de recursos do BNDES no 1 semestre e em Julho deste ano. O segmento conta ainda com novas condies para antecipar as vendas futuras com carto de crdito Visa: o prazo de pagamento foi ampliado de 12 para 24 meses e foram identificados clientes com potencial para a ampliao dos limites de crdito em at R$ 569 milhes.

    Em Julho de 2009, com o objetivo de aumentar o capital para comercializao, o Banco ampliou o limite de crdito para operaes com recebveis para cerca de 300 mil micro e pequenas empresas em R$ 11,6 bilhes.

    3.3 Processo de terceirizao dos crditos inadimplentes do Banco do Brasil

    3.3.1. Consideraes gerais

    A deciso do Banco do Brasil para promover a recuperao de crditos que foram concedidos e no foram pagos nas datas acordadas nos contratos assinados pelo tomador, leva em considerao o fato de que mais produtivo contratar uma empresa para fazer este servio do que montar uma estrutura prpria.

    Por parte da direo deste Banco existe um direcionamento para que sejam feitos todos os esforos para que a cobrana e a durao do prazo dos crditos concedidos sejam acompanhados com itens de controle apropriados. Dentre os vrios modelos analisados a premissa bsica a de que os recursos envolvidos tenham custo mnimo, focalizando o recebimento dos crditos no pagos, portanto, inadimplentes, no menor tempo possvel de recuperao.

    As alternativas estudadas levaram em considerao o conjunto de medidas de cobranas j feitas, o custo de manuteno dos cadastros de clientes e a margem de contribuio prevista no

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    processo de concesso dos crditos iniciais. Nesse sentido, a direo do Banco concluiu que se teria mais benefcios contratando empresas especializadas do que manter uma equipe prpria.

    3.3.2 Mecanismo atual

    A terceirizao da cobrana extrajudicial consiste na contratao de empresas para prestarem servios de cobrana e recuperao de crditos inadimplidos dos clientes do Banco do Brasil e de suas subsidirias. Essas empresas, que so exemplos de canais, realizam cobrana de acordo com a segmentao dos clientes, valor do endividamento, idade da dvida e natureza das operaes.

    A terceirizao operacionalizada de forma automtica por um sistema chamado CACS computer assisted collection system (sistema de cobrana assistida para computadores), observadas as estratgias previamente definidas pelo banco. O CACS uma ferramenta de utilizao licenciada para o Banco do Brasil que fornece suporte automtico e parametrizvel s atividades de cobrana e recuperao de crditos em atraso. A cobrana realizada pelo CACS possui a viso Clientes, ou seja, so avaliados critrios como pilar, encarteiramento, proventos, bloqueios e produtos para a organizao dos clientes no sistema, afim de efetivar as transferncias gerenciais entre os canais de cobrana e recuperao de crditos (agncias, call center, terceirizadas) para a realizao da cobrana. Os clientes com saldo devedor vencido de valor superior a R$ 50,00 so includos automaticamente no CACS e so excludos tambm automaticamente com a regularizao da dvida ou quando remanescer saldo inferior a R$ 50,00.

    As agncias devem observar no sistema CACS o canal em que se encontra a dvida inadimplida. Se j est terceirizada, o cliente deve ser orientado a contatar a empresa responsvel pela cobrana para a honra dos acordos firmados. A terceirizao da cobrana extrajudicial traz como benefcios para o Banco o seguinte:

    reduo dos riscos e aumento da eficincia operacional pela contratao de empresas especializadas;

    automatizao integral do processo por meio do sistema CACS, reduzindo os custos operacionais;

    direcionando dos esforos para a regularizao do endividamento total do cliente;

    aumento da produtividade no processo de cobrana ao definir a remunerao das empresas de cobrana vinculada aos respectivos desempenhos;

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    Desonerao da estrutura das agncias possibilitando redirecionamento de mo-de-obra para outros negcios.

    A contratao de empresas para a prestao de servios de cobrana realizada por meio de um processo licitatrio, com base em edital de credenciamento de acordo com as normas definidas pelo Banco. Para isso, firma com as empresas vencedoras da licitao, um contrato para prestao de servios com vigncia de 6 (seis) meses. O contrato pode ter sua vigncia prorrogada por iguais e sucessivos perodos, mediante aditamento, limitando-se sua validade a sessenta meses. O repasse dos servios por parte do Banco empresa contratada suspenso no caso de esta apresentar, durante a vigncia do contrato, qualquer irregularidade documental; a suspenso perdura enquanto persistir a irregularidade. As empresas habilitadas nesse processo so contratadas pelos Centros de Servios de Logstica (CSL).

    O processo composto por quatro fases que correspondem ao perodo de tempo em que as operaes ficam sob conduo da empresa. As trs primeiras fases tm durao de 60 dias cada e a ltima, 120 dias. Em cada uma dessas fases as aes de cobrana so realizadas por empresas distintas. A Tabela 1 demonstrada a seguir permite visualizar a relao entre os dias de vencimento das operaes e suas respectivas fases.

    Tabela 1: Fases das operaes

    PERODO FASES At 120 dias Fase 1

    De 121 a 180 dias Fase 2

    De 181 a 240 dias Fase 3

    De 241 a 360 dias Fase 4

    Fonte: Banco do Brasil (2009)

    A empresa contratada para o servio de cobrana terceirizada dispe de 60 dias corridos, no mnimo, para a realizao da cobrana, contados a partir do envio das informaes referente a divida em questo. O prazo calculado de acordo com a fase em que se encontra a dvida. Para as fases 1, 2 e 3, o prazo de 60 dias e para as fases 4 e 5 o prazo de 80 dias. Exceo feita s operaes inadimplentes oriundas do Banco do Estado de Santa Catarina (BESC), recentemente

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    incorporado pelo Banco do Brasil, as quais tm um prazo de 30 dias independente da fase em que se encontram.

    As operaes passveis de cobrana terceirizada so as de clientes com endividamento total inferior a R$ 100 mil, oriundas de cheque especial, carto de crdito e CDCs (nas modalidades automtico, salrio, renovao, credirio, turismo, carto parcelado cheque especial parcelado). Todas as operaes vencidas, passveis de terceirizao, pertencentes a um determinado devedor, tm a sua cobrana terceirizada para a mesma empresa cobradora no dia em que a operao de vencimento mais antigo atingir o prazo previsto para a terceirizao. medida que as outras operaes do cliente terceirizado vencem, a terceirizao ocorrer a partir do 7 dia do inadimplemento.

    No so terceirizadas cobranas de operaes:

    De clientes com endividamento total igual ou superior a R$ 100 mil; De saldo devedor inferior a R$ 50,00; De clientes pessoas fsicas do segmento Private, e jurdicas dos segmentos

    Atacado e Governo;

    De clientes para os quais recomendado tratamento diferenciado, em funo de sua representatividade poltico-social, tais como presidente, ministros, governadores, senadores, deputados, desembargadores, juzes, corregedor-geral, procuradores, promotores, prefeitos, oficiais de justia e vereadores;

    De clientes registrados em estado especial no sistema CACS, a exemplo de: suspeita de fraude,

    Devedor falecido,

    Falncia e recuperao extrajudicial Lei 11.101/2005, Ao judicial contra o banco decorrente de operao de crdito; De agronegcio, da rea internacional, de consrcio e de crdito imobilirio; e

    Ajuizadas

    As empresas terceirizadas efetuam a cobrana das dvidas do cliente pelas condies contratuais. Na impossibilidade de soluo nessas condies, as empresas podem se valer dos parmetros definidos pelo banco para as situaes de recuperao de crditos. Tais parmetros seguem uma tabela de rebates com condies especiais. As operaes vencidas at 60 dias somente podem ser negociadas vista, aquelas vencidas a partir de 61 dias podem ser negociadas vista

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    (com desconto) ou parceladas em at 12 vezes com desconto decrescente de acordo com nmero de parcelas, exceto as operaes vencidas entre 61 e 90 dias que somente podem ser parceladas em at 8 vezes. A Tabela 2 a seguir ilustra os percentuais mximos de descontos que as empresas podem conceder caso no obtenham xito na negociao com as condies contratuais.

    Tabela 2: Tabela de descontos TABELA DE REBATES - DVIDAS VAREJO

    Prazo de vencimento

    Desconto vista %

    % Desconto por quantidade de parcelas 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12

    De 61 a 90 dias 10 8,71 7,42 6,1 4,78 3,45 2,1 0,7 * * * *

    De 91 a 120 dias 20 18,86 17,7 16,54 15,36 14,18 13 11,77 10,55 9,32 8,08 6,84 De 121 a 180 dias 30 29 27,99 26,97 25,94 24,9 23,9 22,8 21,73 20,7 19,57 18,48 De 181 a 270 dias 40 39,14 38,28 37,4 36,52 35,63 34,7 33,83 32,91 32 31,06 30,13 De 271 a 360 dias 50 49,29 48,56 47,84 47,1 46,36 45,6 44,86 44,1 43,3 42,55 41,77 De 361 a 720 dias 70 69,57 69,14 68,7 68,26 67,82 67,4 66,91 66,46 66 65,53 65,06

    A partir de 721 dias 85 84,79 84,57 84,35 84,13 83,91 83,7 83,46 83,23 83 82,77 82,53

    * nmero de parcelas no disponvel para negociao. Fonte: Banco do Brasil (2009)

    As operaes vencidas a mais de 10 dias e registradas nos sistemas de cheque especial, carto de crdito e CDCs podem ser regularizadas por meio de boletos bancrios emitidos pelas empresas de cobrana. Durante a vigncia do compromisso de pagamento, a conta corrente fica inibida de movimentaes. Ocorrendo o no pagamento de qualquer boleto, no prazo mximo de 10 dias corridos aps o vencimento, a operao voltar a ser cobrada pelo seu valor original e as parcelas pagas sero consideradas meras amortizaes. As aes de cobrana da operao sero retomadas (envio de notificaes, bloqueios, reincluso SCPC/Serasa).

    vedado por acordo contratual empresa terceirizada o recebimento de quaisquer valores diretamente, cobrar, por iniciativa prpria, qualquer tarifa relacionada com prestao dos servios a que foi contratada ou prestar qualquer tipo de garantia nas operaes que estiver negociando.

    A regularizao das operaes registradas nos demais sistemas, ainda que terceirizadas, ser realizada no mbito das agncias, cabendo s empresas de cobrana contatar o cliente buscando a regularizao da pendncia, orientar o cliente a comparecer sua agncia de relacionamento, nos casos em que no for possvel solucionar a pendncia vista ou pelas alternativas disponveis nos canais automatizados e ainda, registrar no sistema CACS as aes de cobrana.

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    O Banco do Brasil fornece por meio eletrnico ou acesso ao seu ambiente tecnolgico (CACS e gerenciador financeiro), geralmente com periodicidade diria, as informaes referentes a operaes de crdito, necessrias execuo dos servios das empresas contratadas para a cobrana, tais como a localizao do cliente (endereo completo, telefones residencial, celular e recado, nmeros de CPF e documento de identidade), informaes referentes aos acordos efetuados com o cliente, valor da dvida, origem e data do inadimplemento.

    3.3.3 Da remunerao das empresas contratadas

    A remunerao das empresas contratadas para recuperar o crdito concedido devida sobre o valor efetivamente recebido ou, no caso de a operao ser reescalonada, a remunerao sobre o saldo devedor vencido, respeitando os percentuais e os critrios constantes do contrato de prestao de servios de cobrana extrajudicial de dvidas.

    A remunerao da empresa contratada estabelecida de acordo com as seguintes premissas:

    Fase de cobrana em que se encontra o cliente com operaes de crdito inadimplidas;;

    Prazo de regularizao da dvida, contado a partir do recebimento pela empresa contratada das operaes para cobrana;

    Forma de recebimento: vista, parcelado ou por meio de linhas de reescalonamento;

    O percentual de quebra de acordos verificados nos acordos a prazo gerados pela empresa contratada; e,

    Percentual de atingimento da meta de desempenho estipulada para a respectiva fase de cobrana em que se encontra a dvida em cobrana.

    convencionado que o percentual de comisso determinado incide sobre todos os valores efetivamente recebidos no ms, decorrentes de acordos gerados pela empresa contratada. Caso a negociao de uma dvida que est terceirizada ocorra diretamente no banco, enviado comunicado eletrnico empresa para que cessem os esforos de cobrana e a mesma faz jus remunerao sobre os valores efetivamente recebidos pelo banco, com o mesmo percentual de dvidas que so negociadas por ela. A Tabela 3 a seguir mostra os percentuais de remunerao que as empresas

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    recebem por dvida regularizada.

    Tabela 3: Remunerao das empresas

    Forma de recebimento

    Fases de cobrana 1 fase 2 fase 3 fase 4 fase

    Volume recuperado

    At 80% da

    meta

    81 a 100%

    da meta Acima da meta

    At 80% da

    meta

    81 a 100%

    da meta

    Acima da meta

    At 80% da

    meta

    81 a 100%

    da meta Acima da meta

    At 80% da

    meta

    81 a 100% da

    meta Acima da meta

    Acordos para recebimento vista At 30 dias

    da entrega empresa 4% 6% 10% 8% 10% 12% 10% 12% 14% 12% 14% 16%

    Aps 30 dias da entrega

    empresa 2% 4% 8% 6% 8% 10% 8% 10% 12% 10% 12% 14% Acordos para recebimento parcelado (via boleto): % abaixo indicado multiplicado por {1-(10% do percentual de quebra de

    acordos)} At 30 dias

    da entrega empresa 4% 6% 10% 8% 10% 12% 10% 12% 14% 12% 14% 16%

    Aps 30 dias da entrega

    empresa 2% 4% 8% 6% 8% 10% 8% 10% 12% 10% 12% 14% Fonte: Banco do Brasil (2009)

    Caso a regularizao da dvida em cobrana se d por meio de renegociao que envolva as linhas de reescalonamento de operaes autorizadas pelo banco, o clculo da remunerao incidir sobre as parcelas vencidas da operao renegociada e ser pago em parcela nica, conforme a Tabela 4 a seguir:

    Tabela 4: Remunerao para acordos via reescalonamento

    Forma de recebimento

    Fases de cobrana 1 fase 2 fase 3 fase 4 fase

    Volume recuperado

    At 80% da

    meta

    81 a 100%

    da meta

    Acima da

    meta

    At 80% da

    meta

    81 a 100%

    da meta

    Acima da

    meta

    At 80% da

    meta

    81 a 100%

    da meta

    Acima da

    meta

    At 80% da

    meta

    81 a 100%

    da meta Acima da meta

    Reescalonamento At 30 dias da

    entrega empresa 1,64% 2,46% 4,10% 3,28% 4,10% 4,91% 4,10% 4,91% 5,72% 4,91% 5,73% 6,55%

    Aps 30 dias da entrega

    empresa 0,82% 1,64% 3,28% 2,46% 3,28% 4,10% 3,28% 4,10% 4,91% 4,10% 4,91% 5,73% Fonte: Banco do Brasil (2009)

    Esse tipo de remunerao por desempenho uma forma de incentivar as empresas contratadas a buscarem melhores resultados, pois quanto melhores forem seus resultados, maior a sua remunerao.

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    3.3.4 Da distribuio dos crditos entre as empresas contratadas

    Para assegurar que o banco tenha um nmero aceitvel de empresas contratadas atuando em cada regio, ou que a empresa contratada no detenha a cobrana de 50% ou mais do total de dvidas daquela regio, o Banco pode promover, sempre que for necessrio e a qualquer momento, a reabertura do processo de credenciamento de novas empresas destinadas cobrana extrajudicial.

    O Banco apura, a cada perodo de seis meses, o desempenho obtido pelas empresas prestadoras do servio de cobrana terceirizada. A avaliao de desempenho considera os valores recebidos dos clientes relativos s operaes terceirizadas e feito em relao meta global do perodo (meta de manuteno), definida pelo Banco no incio do perodo de seis meses sob avaliao, que representa um percentual de recuperao relacionado ao volume mdio dos recursos repassados para a cobrana empresa terceirizada no perodo, por fase de cobrana, conforme pode ser visto no Quadro 1 a seguir:

    Quadro 1 Avaliao de desempenho Desempenho da CONTRATADA

    no perodo = mdia dos desempenhos mensais no perodo