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1 Introdução à Bíblia FACULDADE TEOLÓGICA IBETEL Site: www.ibetel.com.br E-mail: [email protected] Telefax: (11) 4743.1964 - Fone: (11) 4743.1826 Introdução à Bíblia

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Pequena apostila de introdução ao estudo das Escrituras judaico-cristãs segundo a perspectiva de um seminário teológico dispensasioncal.

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    Introduo Bblia

    FACULDADE TEOLGICA IBETEL Site: www.ibetel.com.br

    E-mail: [email protected] Telefax: (11) 4743.1964 - Fone: (11) 4743.1826

    Introduo Bblia

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    Introduo Bblia

    (Org.) Prof. Pr. VICENTE LEITE

    Introduo Bblia

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    Introduo Bblia

    Quem o IBETEL O IBETEL uma empresa de Sociedade Civil Ltda., fundada em 12 de Janeiro de 1995 pelo pastor e professor Vicente Paula Leite. Atualmente possui alunos em todo o territrio nacional e em alguns pases da Europa, sia, frica, Amrica do Norte e Amrica do Sul. O IBETEL alm de sua sede em Suzano, So Paulo, possui vrias unidades localizadas em vrias regies do Brasil, com endereos disponveis em nosso Site: www.ibetel.com.br. O IBETEL no administrado por nenhuma denominao eclesistica, seus ensinos esto abertos s pessoas de qualquer denominao. uma instituio particular, no possui patrocnio de nenhuma empresa, nem de instituies evanglicas. Sua sobrevivncia tem perdurado unicamente com a ajuda de Deus. Algum no evanglico pode estudar no IBETEL? Sim. O IBETEL uma instituio educacional, e seria inconstitucional proibir o ingresso de qualquer pessoa, todavia importante lembrar que todo o corpo docente evanglico, e que todo o material didtico oferecido e indicado, tambm elaborado por educadores e escritores evanglicos, e sua Teologia Protestante Pentecostal Ortodoxa. O IBETEL oferece cursos na modalidade frequencial e distncia. Para colao de grau do estudante no sistema EAD, o mesmo poder receber o Histrico Escolar e Diploma ou Certificado pelos Correios, ou ento marcar uma data para vir ser diplomado aqui em So Paulo, ou estar verificando a nossa agenda onde constam vrias formaturas em endereos e ocasies diversos, ou ainda, o aluno poder solicitar a presena de um dos representantes do IBETEL para entrega de seus documentos, ou finalmente, o discente poder esperar uma eventual colao de grau organizada pelo IBETEL mais prxima da sua regio. As disciplinas cursadas em outros seminrios, universidades, faculdades so aceitas pelo IBETEL? Sim, desde que legitimamente comprovadas. Algumas disciplinas sero averbadas e o aluno, se desejar, no precisar curs-las novamente.

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    Introduo Bblia

    Como o Estudar Teologia com Qualidade

    1 Preparao para o estudo teolgico

    O bom estudo teolgico exige preparao. Expomos a seguir quatro coisas que lhes traro maiores benefcios no estudo.

    (a) Fixe um horrio para o estudo teolgico

    Separe uma quantidade especfica de tempo para fazer o estudo teolgico a cada semana. Isto depender de quanto tempo voc quer passar estudando. No exagere, mas tambm no se dedique de menos. Se voc no colocar o estudo na agenda semanal, nunca encontrar tempo ou far um estudo espordico e pouco profundo. (b) Mantenha um caderno Voc no pode estudar sem escrever as coisas que observou. (c) Adquira as ferramentas certas Considere fazer um investimento nestas ferramentas de referncia e montar uma pequena biblioteca. Ser um investimento que voc usar pelo resto da vida.

    (d) Faa uma orao antes de cada estudo

    Primeiramente, pea ao Senhor que limpe sua vida de todo o pecado conhecido e o encha com o Esprito Santo, assim voc estar em comunho com ele durante o estudo. Portanto, certifique-se de que voc est em comunho com Cristo antes de estudar a Palavra. O apstolo Paulo disse que se voc estiver na carne, no poder entender as verdades espirituais (1Co 2.10-3.4). Em segundo lugar, ore para que o Esprito Santo o guie no estudo. Memorize o Salmo 119.18 e o use antes de cada estudo: ''Abre os meus olhos para que eu veja as maravilhas da tua lei".

    2 Como escolher as ferramentas certas para um bom estudo

    Nesta seo, examinaremos oito tipos de ferramentas indispensveis para o estudo teolgico.

    (a) Bblia de estudo

    Sua primeira e mais importante ferramenta uma boa Bblia de estudo. Certas Bblias so mais adaptveis ao estudo pessoal da Bblia que outras. Uma boa

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    Bblia de estudo deve ter letras grandes o bastante para voc ler por longos perodos de tempo sem ficar com dor de cabea por forar os olhos. Tambm deve ter papel espesso o bastante para voc tomar notas sem que a tinta traspasse o outro lado do papel. Margens largas so teis, porque permitem fazer anotaes pessoais. (b) Vrias tradues recentes Nos ltimos 50 anos, vimos a produo de muitas novas tradues da Bblia. Embora existam falhas em toda traduo, cada uma faz contribuio nica para o melhor entendimento da Bblia. O maior benefcio que podemos obter destas verses comparando-as umas com as outras no estudo. Os muitos possveis significados e usos de certa palavra podem ser encontrados mediante a leitura de determinado versculo nas vrias verses e anotar as diferenas. (c) Concordncia exaustiva Sem dvida, a ferramenta mais importante que voc vai precisar para o estudo da Bblia ao lado da Bblia de estudo a concordncia. Esta ferramenta um ndice bblico das palavras contidas em certa verso bblica. Vrias Bblias possuem concordncias limitadas a certo nmero de palavras e nomes importantes. Uma concordncia exaustiva relaciona todos os usos de cada palavra da Bblia, e d todas as referncias onde tal palavra encontrada. Tratam-se de volumes grandes e vultosos, bastante caros, mas valem cada centavo investido. (d) Dicionrio bblico e/ou enciclopdia bblica Um dicionrio bblico explica muitas das palavras, tpicos, costumes e tradies contidos na Bblia, bem como presta informao histrica, geogrfica, cultural e arqueolgica. Tambm fornece material do cenrio de cada livro da Bblia e apresenta biografias curtas das principais pessoas de ambos os testamentos. Uma enciclopdia bblica um dicionrio bblico expandido com artigos mais longos que tratam com maiores detalhes de mais assuntos. (e) Bblia temtica Esta ferramenta semelhante a uma concordncia, exceto que categoriza os versculos da Bblia por temas e no por palavras. Isto ajuda o estudante de teologia, porque freqente um versculo tratar de um tema sem nunca usar a palavra especfica. Se voc tivesse de confiar apenas na concordncia, perderia alguns versculos ao estudar um tema. Por exemplo, se voc procurar o assunto "Trindade" numa Bblia temtica, achar diversas referncias alistadas, embora a palavra no ocorra na Bblia.

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    Introduo Bblia

    (f) Manual bblico Esta ferramenta a combinao de enciclopdia com comentrio em forma concisa. usado para referncia rpida, enquanto se l do princpio ao fim determinado livro da Bblia. Em vez de estar organizado alfabeticamente por temas, os manuais so projetados a seguir a ordem dos livros da Bblia. Fornecem notas de fundo, breve comentrio e mapas, quadros, diagramas, notas arqueolgicas e muitos outros fatos teis. (h) Livro com estudo de palavras Esta rea na qual o cristo de hoje tem o grande privilgio de se beneficiar do trabalho dos estudiosos de teologia. Por causa da disponibilidade de ferramentas de referncia prticas escritas para o cristo comum, voc pode estudar as palavras originais da Bblia sem saber nada de hebraico ou grego. Alguns autores tm passado a vida inteira procurando os significados completos das palavras originais para depois escrever sobre elas em linguagem simples e compreensvel. Um bom livro com estudo de palavras lhe dar a seguinte informao: o significado da raiz original da palavra grega ou hebraica (sua etimologia), os vrios usos da palavra ao longo da Bblia e na literatura similar no-bblica daquele perodo histrico e a freqncia na qual a palavra ocorre na Bblia. (i) Comentrios Um comentrio uma coletnea especializada de notas explicativas e interpretaes do texto de determinado livro ou seo da Bblia. Seu propsito explicar e interpretar o significado da mensagem bblica analisando as palavras usadas, o plano de fundo, a introduo, a gramtica e a sintaxe, alm da relao desse livro em particular com o restante da Bblia. Usado corretamente, os comentrios aumentam grandemente sua compreenso da Bblia. Em geral, voc no deve consultar um comentrio at que faa seu estudo. No deixe outra pessoa roubar-lhe a alegria de descobrir insights bblicos por conta prpria. Nunca permita que a leitura de um comentrio tome o lugar do estudo pessoal da Bblia. Os comentrios so obras falhas, porque so escritas por homens. s vezes, comentaristas igualmente capazes discordam entre si no que tange a interpretaes do mesmo texto bblico. O melhor modo de usar um conferir os achados em seu estudo com os do autor!

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    Introduo Bblia

    Declarao de f A expresso credo vem da palavra latina, que apresenta a mesma grafia e cujo significado eu creio, expresso inicial do credo apostlico -, provavelmente, o mais conhecido de todos os credos: Creio em Deus Pai todo-poderoso.... Esta expresso veio a significar uma referncia declarao de f, que sintetiza os principais pontos da f crist, os quais so compartilhados por todos os cristos. Por esse motivo, o termo credo jamais empregado em relao a declaraes de f que sejam associadas a denominaes especficas. Estas so geralmente chamadas de confisses (como a Confisso Luterana de Augsburg ou a Confisso da F Reformada de Westminster). A confisso pertence a uma denominao e inclui dogmas e nfases especificamente relacionados a ela; o credo pertence a toda a igreja crist e inclui nada mais, nada menos do que uma declarao de crenas, as quais todo cristo deveria ser capaz de aceitar e observar. O credo veio a ser considerado como uma declarao concisa, formal, universalmente aceita e autorizada dos principais pontos da f crist.

    O Credo tem como objetivo sintetizar as doutrinas essenciais do cristianismo para facilitar as confisses pblicas, conservar a doutrina contra as heresias e manter a unidade doutrinria. Encontramos no Novo Testamento algumas declaraes rudimentares de confisses f: A confisso de Natanael (Jo 1.50); a confisso de Pedro (Mt 16.16; Jo 6.68); a confisso de Tom (Jo 20.28); a confisso do Eunuco (At 8.37); e artigos elementares de f (Hb 6.1-2).

    A Faculdade Teolgica IBETEL professa o seguinte Credo alicerado fundamentalmente no que se segue:

    (a) Cr em um s Deus eternamente subsistente em trs pessoas: o Pai, o Filho e o Esprito Santo (Dt 6.4; Mt 28.19; Mc 12.29).

    (b) Na inspirao verbal da Bblia Sagrada, nica regra infalvel de f

    normativa para a vida e o carter cristo (2Tm 3.14-17).

    (c) No nascimento virginal de Jesus, em sua morte vicria e expiatria, em sua ressurreio corporal dentre os mortos e sua ascenso vitoriosa aos cus (Is 7.14; Rm 8.34; At 1.9).

    (d) Na pecaminosidade do homem que o destituiu da glria de Deus, e

    que somente o arrependimento e a f na obra expiatria e redentora de Jesus Cristo que o pode restaurar a Deus (Rm 3.23; At 3.19).

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    (e) Na necessidade absoluta no novo nascimento pela f em Cristo e pelo poder atuante do Esprito Santo e da Palavra de Deus, para tornar o homem digno do reino dos cus (Jo 3.3-8).

    (f) No perdo dos pecados, na salvao presente e perfeita e na eterna

    justificao da alma recebidos gratuitamente na f no sacrifcio efetuado por Jesus Cristo em nosso favor (At 10.43; Rm 10.13; 3.24-26; Hb 7.25; 5.9).

    (g) No batismo bblico efetuado por imerso do corpo inteiro uma s vez

    em guas, em nome do Pai, do Filho e do Esprito Santo, conforme determinou o Senhor Jesus Cristo (Mt 28.19; Rm 6.1-6; Cl 2.12).

    (h) Na necessidade e na possibilidade que temos de viver vida santa mediante a obra expiatria e redentora de Jesus no Calvrio, atravs do poder regenerador, inspirador e santificador do Esprito Santo, que nos capacita a viver como fiis testemunhas do poder de Jesus Cristo (Hb 9.14; 1Pe 1.15).

    (i) No batismo bblico com o Esprito Santo que nos dado por Deus mediante a intercesso de Cristo, com a evidncia inicial de falar em outras lnguas, conforme a sua vontade (At 1.5; 2.4; 10.44-46; 19.1-7).

    (j) Na atualidade dos dons espirituais distribudos pelo Esprito Santo Igreja para sua edificao conforme a sua soberana vontade (1Co 12.1-12).

    (k) Na segunda vinda premilenar de Cristo em duas fases distintas. Primeira - invisvel ao mundo, para arrebatar a sua Igreja fiel da terra, antes da grande tribulao; Segunda - visvel e corporal, com sua Igreja glorificada, para reinar sobre o mundo durante mil anos (1Ts 4.16.17; 1Co 15.51-54; Ap 20.4; Zc 14.5; Jd 14).

    (l) Que todos os cristos comparecero ante ao tribunal de Cristo para receber a recompensa dos seus feitos em favor da causa de Cristo, na terra (2Co 5.10).

    (m) No juzo vindouro que recompensar os fiis e condenar os infiis, (Ap 20.11-15).

    (n) E na vida eterna de gozo e felicidade para os fiis e de tristeza e tormento eterno para os infiis (Mt 25.46).

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    Introduo Bblia

    Sumrio Quem o IBETEL 5 Como o Estudar Teologia com Qualidade 7 Declarao de f 11 Introduo 17 CAPTULO 1 A Bblia - Origem e Vocbulos 21

    1.1 Origem da Escrita 21 1.2 Materiais Usados para Escrever 24 1.3 O Vocbulo "Bblia" 32 1.4 Nomes atribudos a Palavra de Deus 33 1.5 A Palavra Rhema 36 1.6 A Expresso Logos 36 1.7 A Palavra Escrita e o Verbo Vivo 37

    CAPTULO 2 Lnguas, Caractersticas e Autoridade 39

    2.1 Lnguas em que a Bblia Escrita 39 2.2 A Sobrenaturalidade da Bblia 43 2.3 A Autoridade da Bblia 50 2.4 A Interpretao da Bblia 51

    CAPTULO 3 Dispensaes, Alianas e Composio 53

    3.1 Dispensaes e Alianas 53 3.2 A Composio da Bblia 65 3.3 O Texto e Estrutura da Bblia 67

    CAPTULO 4 Pentateuco Estrutura e Ensaio 69

    4.1 O Livro de Gnesis 69 4.2 O Livro de xodo 70 4.3 O Livro de Levtico 70 4.4 O Livro de Nmeros 71 4.5 O Livro de Deuteronmio 71

    CAPTULO 5 Histricos - Estrutura e Ensaio 73

    5.1 O Livro de Josu 73 5.2 O Livro de Juizes 73 5.3 O Livro de Rute 74 5.4 Primeiro e Segundo Samuel 74

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    5.5 Primeiro e Segundo Reis 74 5.6 Primeiro e Segundo Crnicas 75 5.7 O Livro de Esdras 76 5.8 Livro de Neemias 76 5.9 Livro de Ester 76

    CAPTULO 6 Poticos - Estrutura e Ensaio 77

    6.1 O Livro de J 77 6.2 O Livro dos Salmos 78 6.3 O Livro de Provrbios 78 6.4 O Livro de Eclesiastes 79 6.5 O Livro de Cantares de Salomo 80

    CAPTULO 7 Profticos - Estrutura e Ensaio 81

    7.1 Os Livros dos Profetas Maiores 81 7.2 Os Livros dos Profetas Menores 84

    CAPTULO 8 Evangelhos e Atos - Estrutura e Ensaio 87

    8.1 Introduo ao Novo Testamento 87 8.2 Os Evangelhos (Biografia) 87

    CAPTULO 9 Epstolas Paulinas 91

    9.1 A Epstola aos Romanos 91 9.2 A Primeira Epstola aos Corntios 92 9.3 A Segunda Epstola aos Corntios 93 9.4 A Epstola aos Glatas 93 9.5 A Epstola aos Efsios 94 9.6 A Epstola aos Filipenses 94 9.7 A Epstola aos Colossenses 94 9.8 A Primeira Epstola aos Tessalonicenses 95 9.9 A Segunda Epstola aos Tessalonicenses 95 9.10 A Primeira Epstola a Timteo 95 9.11 A Segunda Epstola a Timteo 96 9.12 A Epstola a Tito 96 9.13 A Epstola a Filemom 96

    CAPTULO 10 Hebreus, Epstolas Gerais e Apocalipse 97

    10.1 Epstola aos Hebreus 97 10.2 Epstola de Tiago 98 10.3 Primeira Epstola de Pedro 99 10.4 Segunda Epstola de Pedro 100 10.5 As Epstolas Joaninas 102

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    Introduo Bblia

    10.6 O Livro de Judas 103 10.7 O Livro do Apocalipse (Profecia) 104

    CAPTULO 11 O Cnon Bblico 105

    11.1 O Cnon Bblico do Antigo Testamento 105 11.2 Divises do Antigo Testamento 105 11.3 A Formao e Desenvolvimento do Cnon do Antigo Testamento 107 11.4 O Cnon do Novo Testamento 110

    CAPTULO 12 Apcrifos, Pseudopgrafos e Pergaminhos 113

    12.1 Escritos Apcrifos 113 12.2 Os Pseudopgrafos 118 12.3 Os Rolos do Mar Morto 120

    CAPTULO 13 Verses, Tradues e Revises 125

    13.1 Conceituao 125 13.2 Verses e Tradues mais Antigas 126

    CAPTULO 14 Verses Latinas e Inglesas 133

    14.1 Verses Latinas 133 CAPTULO 15 Tradues e Verses Castelhanas e Portuguesas 141

    15.1 Tradues Castelhanas 141 15.2 Tradues Portuguesas 141

    CAPTULO 16 Erros no Texto, Crtica Textual e Texto Receptus 151

    16.1 Causas dos Erros na Transmisso do Texto Bblico 151 16.2 A Crtica Textual e a Bblia 157 16.3 O Textus Receptus - Seus Defensores e Opositores 160 16.4 Edies Gregas aps Westcott e Hort 163 16.5 Nova Edio para os Tradutores da Bblia 165

    Apndice 167 Referncias 171

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    Introduo Bblia

    Introduo O nosso assunto o estudo introdutrio e auxiliar das Sagradas Escrituras, para sua melhor compreenso. tambm chamado Isagoge nos cursos superiores de Teologia. Este estudo auxilia grandemente a compreenso dos fatos da Bblia. Um ponto saliente nele a histria de como a Bblia chegou at ns. A necessidade desse estudo que, sendo a Bblia um livro divino, veio a ns por canais humanos, tornando-se, assim, divino-humano, como tambm o a Palavra Viva: Cristo, que se tornou tambm divino-humano (Jo 1.1; Ap 19.13). Atravs da Bblia, Deus se revela em linguagem humana, para que o homem possa entend-lo. Por essa razo, a Bblia faz aluso a tudo que terreno e humano. Ela menciona pases, montanhas, rios, desertos, mares, climas, solos, estradas, plantas, produtos, minrios, comrcio, dinheiro, lnguas, raas, usos, costumes, culturas etc. Isto , Deus, para fazer-se compreender, vestiu a Bblia da nossa linguagem, adaptando-a ao modo humano de perceber as coisas. A Bblia , sem dvida, um dos mais apreciados legados literrios da humanidade. Contudo o seu valor no se firma de maneira substancial no fato literrio. A riqueza da Bblia consiste no carter essencialmente religioso da sua mensagem, que a transforma no livro sagrado por excelncia, tanto para o povo de Israel quanto para a Igreja crist. Nessa coleo de livros, a Lei se apresenta como uma ordenao divina (x 20; Sl 119), os Profetas tm a conscincia de serem portadores de mensagens da parte de Deus (Is 6; Jr 1.2; Ez 2-3) os Escritos ensinam que a verdadeira sabedoria encontra em Deus a sua origem (Pv 8.22-31). Esses valores religiosos aparecem no s no ttulo de Sagradas Escrituras, mas tambm na forma que Jesus e, em geral, os autores do Novo Testamento se referem ao Antigo, isto , aos textos bblicos escritos em pocas precedentes. Isso ocorre, por exemplo, quando lemos que Deus fala por meio dos profetas ou por meio de algum dos outros livros (Mt 1.22; 2.15; Rm 1.2; 1Co 9.9) ou quando os profetas aparecem como aquelas pessoas mediante as quais se diz algo ou se anuncia algum acontecimento, forma hebraica de expressar que o prprio Deus quem diz ou anuncia (Mt 2.17; 3.3; 4.14); tambm quando se afirma a permanente autoridade das Escrituras (Mt 5.17-18; Jo 10.35; At 23.5), ou quando as relaciona especialmente com a ao do Esprito Santo (At 1.16; 28.25). Formas magistrais de expressar a convico comum a todos os cristos em relao ao valor das Escrituras so encontradas em passagens como 2Tm 3.15-17 e 2Pe 1.19-21.

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    A Igreja crist, desde as suas origens, tem descoberto na mensagem do evangelho o mesmo valor da palavra de Deus e a mesma autoridade do Antigo Testamento (Mc 16.15-16; Lc 1.1-4; Jo 20.31; 1Ts 2.13), por isso, em 2Pe 3.16, se equiparam as epstolas de nosso amado irmo Paulo (v.15) s demais Escrituras. Gradativamente, a partir do sculo II d.C., foram sendo reconhecidos os 27 livros que formam o Novo Testamento a sua categoria de livros sagrados e, em conseqncia, a plenitude da sua autoridade definitiva e o seu valor religioso. Tal reconhecimento, que implica o prprio tempo da presena, direo e inspirao do Esprito Santo na formao das Escrituras, no descarta, em absoluto, a atividade fsica e criativa das pessoas que redigiram os textos. Elas mesmas se referem a essa atividade em diversas ocasies (Ec 1.13; Lc 1.1-4; 1Co 15.1-3,11; Gl 6.11). A presena de numerosos autores materiais , precisamente, a causa da extraordinria riqueza de lnguas, estilos, gneros literrios, conceitos culturais o reflexes teolgicas que caracterizam a Bblia. A expresso a palavra de Deus (tambm a palavra do Senhor, ou simplesmente a palavra) possui vrias aplicaes na Bblia. Obviamente, refere-se, em primeiro lugar, a tudo quanto Deus tem falado diretamente. Quando Deus falou a Ado e Eva (Gn 2.16,17; Gn 3.9-19), o que Ele lhes disse era, de fato, a palavra de Deus. De modo semelhante, Ele se dirigiu a Abrao (Gn 12.1-3), a Isaque (Gn 26.1-5), a Jac (Gn 28.13-15) e a Moiss (x 3-4). Deus tambm falou totalidade da nao de Israel, no monte Sinai, ao proclamar-lhe os dez mandamentos (x 20.1-19). As palavras que os israelitas ouviram eram palavras de Deus. Alm da fala direta, Deus ainda falou atravs dos profetas. Quando eles se dirigiam ao povo de Deus, assim introduziam as suas declaraes: Assim diz o Senhor, ou Veio a mim a palavra do Senhor. Quando, portanto, os israelitas ouviam as palavras do profeta, ouviam, na verdade, a palavra de Deus. A mesma coisa pode ser dita a respeito do que os apstolos falaram no Novo Testamento. Embora no introduzissem suas palavras com a expresso assim diz o Senhor, o que falavam e proclamavam era, verdadeiramente, a palavra de Deus. O sermo de Paulo ao povo de Antioquia da Pisdia (At 13.14-41), por exemplo, criou tamanha comoo que, no sbado seguinte, ajuntou-se quase toda a cidade a ouvir a palavra de Deus (At 13.44). O prprio Paulo assegurou aos Tessalonicenses que, havendo recebido de ns a palavra da pregao de Deus, a recebestes, no como palavra de homens, mas (segundo , na verdade) como palavra de Deus (1Ts 2.13; At 8.25).

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    Introduo Bblia

    Alm disso, tudo quanto Jesus falava era palavra de Deus, pois Ele, antes de tudo, Deus (Jo 1.1,18; 10.30; 1Jo 5.20). Lucas, escritor do terceiro evangelho, declara explicitamente que, quando as pessoas ouviam a Jesus, ouviam na verdade a palavra de Deus (Lc 5.1). Note como, em contraste com os profetas do ANTIGO TESTAMENTO, Jesus introduzia seus ditos: Eu vos digo... (Mt 5.18, 20, 22, 23, 32, 39; 11.22, 24; Mc 9.1; 10.15; Lc 10.12; 12.4; Jo 5.19; 6.26; 8.34). Noutras palavras, Ele tinha dentro de si mesmo a autoridade divina para falar a palavra de Deus. to importante ouvir as palavras de Jesus, pois quem ouve a minha palavra e cr naquele que me enviou tem a vida eterna e no entrar em condenao (Jo 5.24). Jesus, na realidade, est to estreitamente identificado com a palavra de Deus que chamado o Verbo [a Palavra] (Jo 1.1,14; 1Jo 1.1; Ap 19.13-16; Jo 1.1). A palavra de Deus o registro do que os profetas, apstolos e Jesus falaram, isto , a prpria Bblia. No Novo Testamento, quer um escritor usasse a expresso Moiss disse, Davi disse, o Esprito Santo diz, ou Deus diz, nenhuma diferena fazia (At 3.22; Rm 10.5, 19; Hb 3.7; 4.7); pois o que estava escrito na Bblia era, sem dvida alguma, a palavra de Deus. Mesmo no estando no mesmo nvel das Escrituras, a proclamao feita pelos autnticos pregadores ou profetas, na igreja de hoje, pode ser chamada a palavra de Deus. Pedro indicou que, a palavra que seus leitores recebiam mediante a pregao, era palavra de Deus (1Pe 1.25), e Paulo mandou Timteo pregar a Palavra (2Tm 4.2). A pregao, porm, no pode existir independentemente da Palavra de Deus. Na realidade, o teste para se determinar se a palavra de Deus est sendo proclamada num sermo, ou mensagem, se ela corresponde exatamente Palavra de Deus escrita. O que se diz de uma pessoa que recebe uma profecia, ou revelao, no mbito do culto de adorao (1Co 14.26-32)? Ela est recebendo, ou no, a palavra de Deus? A resposta um sim. Paulo assevera que semelhantes mensagens esto sujeitas avaliao por outros profetas. Todavia, h a possibilidade de tais profecias no serem palavra de Deus (1Co 14.29 E falem dois ou trs profetas, e os outros julguem). somente em sentido secundrio que os profetas, hoje, falam sob a inspirao do Esprito Santo; sua revelao jamais deve ser elevada categoria da inerrncia (1Co 14.3).

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    Introduo Bblia

    Captulo 1

    A Bblia - Origem e Vocbulos

    1.1 Origem da Escrita Tem sido difcil determinar com exatido, onde, como e quando a escrita teve a sua origem. A escrita se originou quando o ser humano sentiu a necessidade de guardar seus feitos para que a posteridade os conhecesse. A escrita primitiva foi pictogrfica onde figuras representavam objetos. Logo a seguir aparece a ideogrfica, assim chamada pelo fato das figuras representarem idias. Num terceiro estgio aparece o fonograma figuras representando sons. Dos povos antigos, os dois que mais se destacaram, no desenvolvimento da escrita, foram os babilnicos e os egpcios. Cada um destes teve a sua destacada e particular escrita: os babilnicos criaram a escrita cuneiforme, assim denominada por consistir de pequenas cunhas, feitas especialmente em pedras; enquanto os egpcios usavam pequenas figuras para representar objetos e idias, os famosos hierglifos. A histria nos relata que a decifrao dessas escritas exigiu muito esforo e concentrao. A escrita cuneiforme foi decifrada pelo oficial ingls Henrique Rawlinson, aps 18 anos de labores intensos. Quanto escrita hieroglfica, todos sabem, que foi Champollion, o notvel egiptlogo francs, o primeiro a desvendar-lhe os mistrios. 1.1.1 A Escrita Cuneiforme A princpio, certa espcie de marca representava uma palavra inteira, ou uma combinao de palavras. Desenvolvendo-se a arte de escrever, passou a haver 'marcas' que representavam partes de palavras, ou slabas. Era este o gnero de escrita em uso na Babilnia no alvorecer do perodo histrico. Havia mais de 500 marcas diferentes, com umas 30.000 combinaes. Geralmente, essas marcas se faziam em tijolos ou placas de barro macio (mido), medindo de 2 a 50 centmetros de comprimento, uns dois teros de largura, e escritos de ambos os lados; depois eram secados ao sol ou cozidos no forno. Por meio dessas inscries cuneiformes, em placas de barro, que chegou at ns a vasta literatura dos primitivos babilnios.

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    1.1.2 Origem do Alfabeto Tem sido um assunto bastante controvertido a origem do alfabeto. Em geral se aceita que o alfabeto de 22 letras foi inventado pelos fencios e por eles levado aos gregos e depois aos latinos. At h pouco afirmava-se que a descoberta do alfabeto tinha sido pelos sculos XII ou XI a.C., sendo este argumento apresentado para provar que Moiss no podia ter escrito o Pentateuco, visto que em seu tempo no tinham ainda inventado a arte de escrever. Ira M. Price no livro The Ancestry of Our English Bible, p. 13, escreveu: "A escrita muito antiga na Palestina [...] O trabalho dos arquelogos nos mostra muitos exemplos de escrita antes de Moiss". Escavaes arqueolgicas em Ur tm provado que Abrao era cidado de uma metrpole altamente civilizada. Nas escolas de Ur os meninos aprendiam leitura, escrita, aritmtica e geografia. Trs alfabetos foram descobertos: junto do Sinai, em Biblos e em Ras Shamra, que so bem anteriores ao tempo de Moiss (1.500 a.C.). Estudiosos modernos, baseados em evidncias irrefutveis, sustentam que Moiss escolheu a escrita fontica para escrever o Pentateuco. O arquelogo W. F. Albright datou esta escrita de incio do sculo XV a.C. (tempo de Moiss). Interessante notar que esta escrita foi encontrada no lugar onde Moiss recebeu a incumbncia de escrever seus livros. Em xodo 17.14 encontramos a ordem divina para que Moiss escrevesse num livro. Note-se ainda a frase de Merril Unger sobre a escrita do Antigo Testamento: "A coisa importante que Deus tinha uma lngua alfabtica simples, pronta para registrar a divina revelao, em vez do difcil e incmodo cuneiforme de Babilnia e Assria, ou o complexo hierglifo do Egito". Sobre o problema de Moiss ter escrito ou no seus livros vale acrescentar o que escreveu o Dr. Renato Oberg: "Os primeiros livros da Bblia a serem escritos foram os que compem o Pentateuco e o de J, sendo a autoria deles atribuda a Moiss pela tradio judaica que, por sua vez, aceita sem contestao por grande nmero de cristos. O Talmude Babilnico afirma que 'Moiss escreveu o seu prprio livro e as passagens e respeito de Balao e J' (SDABC, vol. III, p. 493). Como vimos, nem todos aceitam Moiss como sendo o real autor destes livros, especialmente o de J. Os que o fazem, do J como tendo sido o primeiro dos livros escritos, e Moiss o teria feito quando pastoreava os rebanhos do seu sogro nas campinas de Midi, aps ter fugido do Egito. Os cinco livros que compem o Pentateuco foram escritos posteriormente. Os que no aceitam esta tese, j escreveram muito a respeito do assunto,

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    Introduo Bblia

    procurando arrazoar com argumentos os mais variados, inclusive a diferena de estilo entre os livros e at dentro de cada um deles. Um dos argumentos mais fortes, porm seno o mais forte de todos, foi o que comeou a dominar desde o fim do ltimo quartel do sculo passado, quando Wellhausen, professor da Universidade de Greifswald, chegou a afirmar que se fosse to-somente possvel saber que Moiss pudesse escrever, seria ridculo no aceit-lo. Evidentemente, segundo tudo o que se conhecia at ento, quando as primeiras grandes descobertas arqueolgicas comearam a empolgar o mundo e quando se dizia que tudo tem de ser decidido pela razo, tinha-se como certo que a inveno do nosso alfabeto se devia aos fencios que o tinham criado no af de facilitar suas transaes comerciais pelo mundo todo. Foi ento que a decifrao dos hierglifos feita por Champollion revelou o contedo de uma srie enorme de documentos com sinais tidos por muitos como decorao e misticismo religioso, e cujo contedo era, at ento, desconhecido completamente. Ora sendo o alfabeto inventado pelos fencios, cuja existncia foi bem posterior de Moiss, e se as escritas anteriores, hierglifos e cuneiformes, foram apenas decifradas no sculo passado, como poderia Moiss ter escrito aqueles livros? Se o tivesse feito, s o poderia fazer em hierglifos, lngua na qual a prpria Bblia diz que Moiss era perito (Atos 7.22) e, neste caso ela, a Bblia do Velho Testamento, teria ficado desconhecida por ns at Champollion! Da a frase de Wellhausen. Acontece, porm, que no princpio do sculo XX ou, mais precisamente, nos anos de 1904 e 1905, Sir Flinders Petrie, fazendo escavaes na Pennsula do Sinai, patrocinadas pela Escola Britnica de Arqueologia no Egito, descobriu algumas inscries muito diferentes do cuneiforme mas, embora aparentassem alguma semelhana com o hierglifo, no o eram, em absoluto. O caso despertou enorme interesse entre os que cuidavam do assunto, especialmente quando comearam a aparecer mais vasos e stracos (cacos de vasos com inscries) portadores de sinais idnticos, em outros lugares na Palestina. Para encurtar a histria, os estudos que arquelogos famosos como, inclusive, W. F. Allbright fizeram, elucidaram completamente o caso e hoje se sabe perfeitamente que os sinais descobertos por Flinders Petrie pertencem escrita chamada de proto-fencia, proto-sinatica ou cananita e [...] era alfabtica! Com esta descoberta, a origem do nosso alfabeto se transportava da poca dos fencios para a dos seus antecessores, sculos antes, os cananitas que viveram no tempo de Moiss e antes dele. Foram estes antepassados dos Fencios que simplificaram a escrita, passando a usar o alfabeto em lugar dos hierglifos, isto , sinais que representam sons ao invs de sinais que representam idias. Para ns, porm, assume importncia igualmente grande o fato de estes cananitas, inventores da escrita alfabtica, serem justamente os da

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    regio onde Moiss pastoreava as ovelhas do seu sogro. Convm, portanto que os conheamos um pouco mais.

    A partir da XII dinastia, os egpcios comearam a explorar as minas de cobre e turquesa da regio do Sinai, e uma das maiores delas ficava em Serabitel-Khaden, acerca de oitenta quilmetros do tradicional Monte Sinai, onde foram dados os Dez Mandamentos. Em termos de jornada, esta regio distava cerca de trs dias de viagem do Egito. Neste local trabalhavam para os egpcios muitos semitas que praticavam uma religio muito semelhante dos israelitas, tal como pde ser observado pelos restos deixados por eles e descobertos pelos arquelogos. Esta regio era a mesma naquele tempo conhecida tambm pelo nome de 'Terra de Midi', para onde Moiss fugiu da presena de Deus (x 2.15). Com estas descobertas, perderam sua razo de ser muitos dos argumentos contrrios Bblia feitos pela Crtica Histrica, porque se verificou que a histria bblica daquele perodo passou a ser perfeitamente compreensvel dentro dos costumes da poca, inclusive a boa convivncia de Moiss com o sacerdote Jetro, cujas religies eram fundamentalmente as mesmas.

    Ora vivendo Moiss quarenta anos nesta regio, bvio que tomou contato com a escrita rude daquele povo, viu nela a escrita do futuro e passou a us-la por duas grandes razes que teria julgado decisivas: a primeira foi a impresso grandiosa que teve de usar uma lngua alfabtica para seus escritos e que se compunha apenas de vinte e dois sinais bastante simples comparados com os ideogrficos que aprendera nas Escolas do Egito; a outra teria sido o fato de compreender que estava escrevendo para seu prprio povo, cuja origem era semita como a dos habitantes da terra onde vivia, tendo estes uma religio idntica dos primeiros, ambas, porm, deturpadas pelas influncias pags e oriundas do pecado; seus leitores seriam homens e mulheres, moos e moas do povo, especialmente israelitas que, no sendo versados em hierglifos por causa da sua posio de escravos no Egito, aprenderam com muito mais facilidade os poucos e simples sinais alfabticos que representavam sons do que os inmeros e complicados hierglifos que representavam idias.

    1.2 Materiais Usados para Escrever

    1.2.1 Manuscritos

    Vulgarmente os dicionrios registram MANUSCRITO como "escrito mo". Em sentido tcnico, esse nome refere-se volumosa bagagem de rolos ou fragmentos escritos mo com textos das Escrituras Sagradas. Em um sentido mais particular, alude aos escritos do Antigo e Novo Testamentos, desde os tempos patriarcais at inveno da imprensa, na metade do sculo XV.

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    Introduo Bblia

    De conformidade com o Prof. Antonio Gilberto (1996, p.74,75), desde os tempos mais remotos o homem tem usado vrios materiais e tcnicas sobre as quais tentava de alguma forma passar idias, fatos de gerao a gerao, alguns dos materiais usados foram:

    a) Pedra. Os caracteres eram gravados nas colunas dos templos, como os de Lxor e Camaque, no Egito; ou em cilindros, como o cdigo de Hamurabi; ou nas rochas, como em Perspolis; ou mesmo em lpides, como a pedra Roseta, decifrada por Champolion, nos dias de Napoleo.

    b) Cermica. Material usado desde tempos imemoriais na regio da

    Mesopotmia. Dois tipos de cermica tm sido encontrados pelos arquelogos: seca ao sol e seca ao forno.

    c) Linho. Tem sido encontrado nas descobertas arqueolgicas.

    d) Tbuas recobertas de cera (Is 8.1; Lc 1.63).

    e) Papiro. O papiro se destaca como o principal material antigo usado para escrever. Planta originria do Egito, muito comum nas margens lodosas do Nilo, e usada abundantemente na preparao de uma espcie de papel. Ele s cresce em terrenos alagadios, por isso em J 8.11 h a seguinte pergunta: Pode o papiro crescer sem lodo? Normalmente se escrevia s de um lado do papiro e as folhas mais longas eram enroladas. Estes rolos recebiam o nome de volumes, palavra do latim volvere que significa enrolar. Os egpcios guardavam ciosamente o segredo da preparao do papiro para a escrita. No sculo VI a.C. comearam a export-lo para a Grcia e depois para outros povos que habitavam nas margens do Mediterrneo, onde se criou um importante comrcio desta especialidade, mormente na cidade da Biblos. Quem hoje chega ao Cairo, capital do Egito, pode visitar, s margens do rio Nilo um navio-escola, onde se prepara o papiro com finalidades culturais e tursticas, mas no comerciais. The Interpreter's Dictionary of the Bible, vol. 3, p. 649, diz o seguinte sobre o papiro: "O papel, palavra derivada de papiro, era preparado de finas faixas da parte interior da folha do papiro arranjadas verticalmente, com outra camada aplicada horizontalmente em cima. Um adesivo era empregado (Plnio diz que era gua do Nilo!) e presso aplicada para lig-las formando uma folha. Aps secar, era polida com instrumentos de concha ou pedra; depois as folhas eram atadas, formando rolos".

    f) Pergaminho. A preparao do pergaminho para receber a escrita tem

    uma interessante histria. De acordo com a Histria Natural de Plnio,

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    o Velho (Livro XIII, captulo XXI), foi o rei Eumene de Prgamo, uma cidade da sia Menor, quem promoveu a preparao e o uso do pergaminho. Este rei planejou fundar uma biblioteca em sua cidade, que se rivalizasse com a famosa biblioteca de Alexandria. Esta ambio no agradou a Ptolomeu do Egito, que imediatamente proibiu a exportao de papiro para Prgamo. Esta proibio forou Eumene a preparar peles de carneiro ou ovelha para receber a escrita, dando-lhe o nome do lugar de origem pergaminho. O pergaminho era muito superior ao papiro, por causa da maior durabilidade. Os principais manuscritos bblicos esto escritos em Pergaminhos. Paulo na sua segunda Epstola a Timteo (4.13) roga ao jovem ministro para que lhe trouxesse os pergaminhos. Em grego a palavra no pergaminho mas membrana. O pergaminho continuou a ser usado at o fim da Idade Mdia quando o papel inventado pelos chineses e introduzido na Europa pelos comerciantes rabes tornou-se popular, suplantando todos os outros materiais da escrita. Os judeus eram bastante cuidadosos com a preparao de manuscritos destinados a receber os escritos sagrados, exigindo que a pele fosse de animal limpo e preparada por um judeu.

    g) Palimpsesto. Em virtude de crises econmicas o pergaminho tornava-se muito caro, era ento raspado, lavado e usado novamente. Estes manuscritos eram chamados palimpsestos (do grego palin = de novo e psesto = raspado). Um famoso manuscrito o Cdice Efraimita est escrito em um palimpsesto. Por meio de reagentes qumicos e raios ultravioletas eruditos tm conseguido fazer reaparecer a escrita primitiva desses palimpsestos. Dos 250 manuscritos unciais conhecidos hoje, do Novo Testamento, 52 so palimpsestos.

    1.2.2 Caracteres dos Manuscritos

    Na antiguidade havia dois tipos distintos de escrita em grego: o cursivo e o uncial. O cursivo, escrita rpida, empregado em escritos no literrios, tais como: cartas, pedidos, recibos. Neste tipo de escrita eram comuns as contraes e abreviaes. O uncial, usado mais em obras literrias, caracterizava-se por serem as letras maiores e separadas umas das outras. Assemelhar-se-iam s nossas letras maisculas. Os manuscritos bblicos apresentam estes dois tipos de escrita, porm, no nos devemos esquecer que os principais se encontram em letras unciais.

    No incio do sculo IX a.D., houve uma reforma na maneira de escrever e uma escrita com letras pequenas, chamadas minsculas, era usada na produo de livros. Letras minsculas, economizando tempo e material, faziam com que os livros ficassem mais baratos e pudessem ser adquiridos por maior nmero de pessoas. Nos manuscritos bblicos primitivos,

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    Introduo Bblia

    normalmente, nenhum espao era deixado entre as palavras e at o sculo VIII a pontuao era escassamente usada. De acordo com J. Angus em Histria, Doutrina e Interpretao da Bblia, Vol, I, p. 39, somente no sculo VIII que foram introduzidos nos manuscritos alguns sinais de pontuao e no sculo IX introduziram o ponto de interrogao e a vrgula. Sentidos distintos tm surgido, quando uma simples vrgula mudada de lugar, como se evidencia da leitura da conhecida passagem: "Em verdade te digo hoje, comigo estars no paraso". Muitas outras passagens bblicas podem ser lidas com sentido totalmente diferente ao ser mudada a sua pontuao como nos confirmam os seguintes exemplos: "Ressuscitou, no est aqui." "Ressuscitou? no, est aqui." "A voz daquele que clama no deserto: preparai o caminho do Senhor"; "A voz daquele que clama: no deserto preparai o caminho do Senhor."

    1.2.3 Manuscritos gregos

    a) Papiros. O texto do Novo Testamento continuou sendo escrito sobre papiro at ao sculo VII. Mas sabemos que a partir do sculo IV j se usava o pergaminho. H nada menos de 76 papiros que contm pores do Novo Testamento.

    b) Unciais e Cursivos. Existia uma variedade de escritos unciais e cursivos. H 252 cpias unciais, atribudas de 4 a 9 e mais ou menos 2646 cpias em cursivos, de 9 a 11 d.C.

    c) Lecionrios. Igualmente escritos em pergaminho. H 1997 cpias. Eram leituras escolhidas do texto do Novo Testamento, para serem lidas nas reunies pblicas nas igrejas. Portanto, h nada menos de cinco mil manuscritos gregos. De todas as obras literrias antigas, nenhuma to bem documentada como o Novo Testamento.

    d) Ostracas. Eram pedaos de jarros quebrados, grafados com pequenas pores do Novo Testamento ou de outras obras literrias. Do Novo Testamento h apenas vinte e cinco, com os seguintes textos: Mt 27.31,32; Mc 5.40,41; Lc 12.13-16; Jo 1.1-9,14-17; 18.19-25 e 19.15-17.

    e) Amuletos. Tambm chamados "talisms da sorte." Eram pedaos de lana, madeira, barro, pergaminho e papiro, com inscries, algumas com breves pores do Novo Testamento, inclusive a orao do Pai Nosso. Pertencem aos sculos IV XIII.

    1.2.4 Manuscritos Importantes do Antigo Testamento

    Muitos dos manuscritos medievais do Antigo Testamento exibem uma forma positivamente padronizada do texto hebraico. Essa padronizao reflete o

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    trabalho de copistas medievais conhecidos pelo nome de massoretas (500-900 d.C.). O texto resultante desse trabalho denominado texto massortico. A maioria dos manuscritos importantes, datados do sculo XI d.C. ou posteriores reflete essa mesma tradio textual bsica. Mas, visto que o texto massortico no se firmou at bem depois de 500 d.C., muitas questes rela-cionadas ao seu desenvolvimento nos sculos precedentes no podiam ser respondidas. Ento, a primeira tarefa para os crticos textuais do Antigo Testamento foi comparar as testemunhas antigas, a fim de descobrir como o texto massortico surgiu e como ele e os testemunhos antigos da Bblia hebraica esto relacionados, o que nos leva primeira tarefa da crtica textual: a compilao de todos os registros possveis dos escritos bblicos.

    Todas as fontes primrias das Escrituras hebraicas so manuscritos (grafados mo), geralmente escritos em peles de animais, em papiros ou, s vezes, em metais. O fato de serem escritos mo fonte de muitas dificuldades para o crtico textual. O erro humano e a interferncia editorial so freqentemente culpados pelas muitas leituras variantes nos manuscritos do Antigo e do Novo Testamento. Pela razo de os antigos manuscritos estarem escritos em peles ou em papiros, gera-se outra fonte de dificuldades. Devido deteriorao natural, a maioria dos antigos manuscritos subsistentes est fragmentria, difcil de ler [...] H muitas testemunhas secundrias para o texto primitivo do Antigo Testamento, incluindo tradues para outras lnguas, citaes usadas tanto por amigos quanto por inimigos da religio crist e evidncias dos primeiros textos impressos. Grande parte das testemunhas secundrias passou por processos similares s testemunhas primrias. Elas tambm contm numerosas variantes por causa de erros, no s intencionais como tambm acidentais, e esto fragmentrias como resultado da degenerao natural. Considerando que as leituras variantes realmente existem nos antigos manuscritos que subsistiram, estes devem ser compilados e comparados. O trabalho de comparar e alistar as leituras variantes conhecido por colao (COMFORT, 1998, p. 215).

    1.2.5 O Texto Massortico A histria do texto massortico um relato por si mesmo significativo. Esse texto da Bblia hebraica o mais completo que existe. Forma a base para nossas modernas Bblias hebraicas e o prottipo pelo qual todas as comparaes so feitas no estudo textual do Antigo Testamento. chamado massortico porque, em sua presente forma, foi baseado na Massora, a tradio textual dos eruditos judeus conhecidos como os massoretas de Tiberades (local dessa comunidade, no mar da Galilia). Os massoretas, cuja escola de erudio prosperou entre 500 e 1000 d.C. padronizaram o tradicional texto consonantal, adicionando pontos voclicos e notas marginais (o antigo alfabeto hebraico no tinha vogais).

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    Introduo Bblia

    O manuscrito massortico de data mais antiga o Cdice Cairense (895 d.C. atribudo a Moiss ben Aser. Esse manuscrito compreende os livros tanto dos primeiros profetas (Josu, Juzes, Samuel e Reis) quanto dos ltimos (Isaas, Jeremias, Ezequiel e os 12 Profetas Menores). O resto do Antigo Testamento est faltando no manuscrito [...] Outro importante manuscrito subsistente atribudo famlia Ben Aser o Cdice Alepo. De acordo com nota conclusiva encontrada no manuscrito, Aron ben Moiss ben Aser foi responsvel por escrever as notas massorticas e colocar os pontos voclicos no texto. Esse manuscrito continha todo o Antigo Testamento e data da primeira metade do sculo X d.C. De acordo com notcias divulgadas, foi destrudo em um tumulto antijudaico em 1947, porm mais tarde tal informe comprovou-se ser apenas parcialmente verdadeiro. Uma grande parte do manuscrito subsistiu e ser usada como base para uma nova edio crtica da Bblia hebraica a ser publicada pela Universidade Hebraica de Jerusalm [...] O manuscrito conhecido como Cdice Leningradense, atualmente guardado na Biblioteca Pblica de Leningrado, de especial importncia como testemunha ao texto de Ben Aser. Segundo nota contida no manuscrito, esse cdice foi copiado, em 1008 d.C., de textos escritos por Aron ben Moiss ben Aser. Visto que o mais antigo texto hebraico completo do Antigo Testamento (o Cdice Alepo), no estava disponvel aos eruditos no incio do sculo XX, o Cdice Leningradense foi usado como base textual para os populares textos hebraicos de hoje: a Bblia Hebraica, editada por R. Kittel, e sua reviso, a Bblia Hebraica Stuttgartensia, editada por K. Elliger e W. Rudolf [...] H um nmero muito grande de cdices de manuscritos menos importantes, que refletem a tradio massortica: o Cdice de Petersburgo dos Profetas e os Cdices de Erfurt. Tambm h vrios manuscritos que no existem mais, embora tenham sido usados pelos eruditos no perodo massortico. Um dos mais distintos o Cdice Hillel, tradicionalmente atribudo ao rabino Hillel ben Moiss ben Hillel, de aproximadamente 600 d.C. Esse cdice era dito como muito exato e foi usado para a reviso de outros manuscritos. Leituras desse cdice so repetidamente citadas pelos antigos massoretas medievais. O Cdice Muga, o Cdice Jeric e o Cdice Jerusalmi, tambm no mais subsistentes, foram igualmente citados pelos massoretas. [...] A despeito da perfeio dos manuscritos massorticos da Bblia hebraica, um importante problema ainda permanece para os crticos do Antigo Testamento. Os manuscritos massorticos, antigos como so, foram escritos entre um e dois mil anos depois dos autgrafos originais. (COMFORT, 1998, p. 215-219).

    1.2.6 Manuscritos do Mar Morto Num dia de vero, em 1947, o pastor beduno rabe, Muhammad ad Dib, da tribo dos Taa'mireh, que se acampa entre Belm e o mar Morto, saiu a procura de uma cabra desgarrada nas ravinas rochosas da costa noroeste do referido mar, e encontrou um inestimvel tesouro bblico. Estava o pastor junto encosta rochosa do udi Qmramo Ao atirar uma pedra numa das

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    cavernas ouviu um barulho de cacos se quebrando. Entrou na caverna e en-controu uma preciosa coleo de MSS bblicos: 12 rolos de pergaminho e fragmentos de outros. Um dos rolos era um MS de Isaas do ano 100 a.C., isto , mil anos mais antigo que os exemplares at ento conhecidos. Os rolos esto escritos em papiro e pergaminho e envolvidos em panos de linho. Outras cavernas foram vasculhadas e novos MSS foram encontrados. Novas luzes esto surgindo na interpretao de passagens difceis do Antigo Testamento. Exemplos: em xodo 1.5, o total de pessoas 75, concordando assim com Atos 7.14. (O hebraico no tem algarismos para os nmeros e sim letras; da, para um erro no custa muito) Em Isaas 49.12, o novo MS de Isaas diz "Siene" e no "Sinin". Ora, Siene era uma importante cidade fronteiria do Egito, s margens do Nilo, junto Etipia. hoje a moderna Assuam, com sua extraordinria represa. Ezequiel 29.10 e 30.6 referem-se a essa cidade; a verso ARC grafa "Seven". Muitos eruditos pensavam at agora que o termo "Sinin" de Isaas 49.12 fosse uma aluso China. muito confortante saber que os textos desses MSS encontrados concordam com os das nossas Bblias. Pesquisas revelam que os MSS do mar Morto foram escondidos pelos essnios - seita asctica judaica - durante a segunda revoluo dos judeus contra os romanos em 132135 d.C. Os responsveis por um grande mosteiro agora descoberto, ao verem aproximar-se as tropas romanas, esconderam ali sua biblioteca! Nas 267 cavernas examinadas, foram encontrados fragmentos de 332 obras, ao todo. Encontraram, inclusive, cartas do lder dessa revolta: Bar Kochba, em perfeito estado, estando sua assinatura bem ntida. Nos MSS encontrados h trechos de todos os livros do Antigo Testamento, exceto Ester. 1.2.7 Escritos em Blocos de Pedra Dos escritos em blocos de pedra h documentos que se tornaram famosos pela antiguidade e contedo. Dentre estes se destacam: o Cdigo de Hamurbi e a Pedra de Roseta. 1.2.7.1 Cdigo de Hamurabi Foi esta uma das mais importantes descobertas arqueolgicas que j se fizeram. Hamurabi, rei da cidade de Babilnia, cuja data parece ser 1792-1750 a.C., comumente identificado pelos assirilogos com o "Anrafel" de Gn 14, um dos reis que Abrao perseguiu para libertar L. Foi um dos maiores e mais clebres dos primitivos reis babilnios. Fez seus escribas coligir e codificar as leis do seu reino; e fez que estas se gravassem em pedras para serem erigidas nas principais cidades. Uma dessas pedras

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    Introduo Bblia

    originalmente colocada na Babilnia, foi achada em 1902, nas runas de Susa (levada para l por um rei elamita, que saqueara a cidade de Babilnia no sculo 12 a.C.) por uma expedio francesa dirigida por M. J. de Morgan. Acha-se hoje no Museu do Louvre, em Paris. Trata-se de um bloco lindamente polido de duro e negro diorito, de 2 m 60 cm de altura, 60 cm de largura, meio metro de espessura, um tanto oval na forma, belamente talhada nas quatro faces, com gravaes cuneiformes da lngua semito-babilnica (a mesma que Abrao falava). Consta de umas 4.000 linhas, equivalendo, quanto matria, ao volume mdio de um livro da Bblia; a placa cuneiforme mais extensa que j se descobriu. Representa Hamurabi recebendo as leis das mos do rei-sol Chams: leis sobre o culto dos deuses dos templos, a administrao da justia, impostos, salrios, juros, emprstimos de dinheiro, disputas sobre propriedades, casamento, sociedade comercial, trabalho em obras pblicas, iseno de impostos, construo de canais, a manuteno dos mesmos, regulamento de passageiros e servio de transporte pelos canais e em caravanas, comrcio internacional e muitos outros assuntos.

    1.2.7.2 A Pedra de Roseta

    a chave da lngua egpcia antiga. A lngua da antigo Egito era hieroglfica, escrita de figuras, um smbolo para cada palavra. Pelo ano 700 a.C. uma forma mais simples de escrita entrou em uso, chamada 'demtica', mais aproximada do sistema alfabtico, e que continuou como lngua do povo at aos tempos dos romanos. No 5 sculo d.C. ambas caram em desuso e foram esquecidas. De sorte que tais inscries se tornaram ininteligveis, at que se achou a chave de sua traduo. Essa chave foi a Pedra de Roseta. Achou-a M. Boussard, um dos sbios franceses que acompanharam Napoleo ao Egito (1799), numa cidade sobre a foz mais ocidental do Nilo, chamada Roseta. Encontra-se hoje no Museu Britnico. de granito negro, cerca de 1,30 m de altura, 80 cm de largura, 30 cm de espessura, com trs inscries, uma acima da outra, em grego, egpcio demtico, e egpcio hieroglfico, o grego era conhecido. Tratava-se de um decreto de Ptolomeu V, Epfanes, feito em 196 a.C. nas trs lnguas usadas ento em todo o pas, para ser colocado em vrias cidades. Um sbio francs, de nome Champollion, depois de quatro anos (1818-22) de trabalho meticuloso e paciente, comparando os valores conhecidos das letras gregas com os caracteres egpcios desconhecidos, conseguiu deslindar os mistrios da lngua egpcia antiga.

    1.2.8 Formato dos Livros

    O livro, atravs da sua longa existncia, apresentou duas formas bem distintas: o rolo e o cdice.

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    (a) Rolo. Entre o povo judeu, bem como no mundo grego-latino, os livros eram normalmente publicados em forma de um rolo feito de papiro ou pergaminho. Formava-se o rolo colocando vrias folhas de papiro ou couro uma ao lado da outra. O tamanho mdio de um rolo entre os gregos era de 11 metros. Alguns rolos chegaram a ter o comprimento de 30 metros. O maior rolo de papiro, conhecido, uma crnica do rei egpcio Ramss II, com a extenso de 40 metros, conhecido como o Papiro Harris. O comprimento mdio de um rolo bblico estava entre 9 e 11 metros. Livros longos como Reis, Crnicas e Isaas eram divididos em dois rolos. Os dois maiores livros do Novo Testamento, Lucas e Atos, cada um preencheria um rolo de mais ou menos 10 metros de comprimento. O manuseio de um rolo era mais difcil do que o de um livro atual, porque o leitor necessitava empregar as duas mos, uma para desenrol-lo e a outra para enrol-lo. Alm disso, as comunidades crists primitivas, em breve descobriram que era difcil encontrar especficos tpicos das escrituras num rolo. Diante dessas dificuldades, o engenho humano idealizou o livro nos moldes em que o temos hoje. Estes livros em seus primrdios eram chamados cdices.

    (b) Cdices. A palavra cdice vem do latim "codex", que designava

    primitivamente um bloco de madeira cortado em vrias folhas ou tabletes para escrever. O cdice era formado de vrias folhas de papiro ou pergaminho sobrepostas e costuradas. Estes cdices comearam a substituir os primitivos rolos no segundo sculo a.D. A afirmativa de que as comunidades crists, comearam a usar os cdices nas igrejas, para diferenar dos rolos, usados nas sinagogas, pode ser verdadeira, levando-se em conta o seguinte. Dos 476 manuscritos no cristos descobertos no Egito, copiados no segundo sculo a.D., 97% esto na forma de rolo. Em contrapartida, dos 111 manuscritos bblicos cristos dos primeiros 4 sculos da Era Crist, 99 esto na forma de cdice.

    As vantagens dos cdices sobre os rolos, no caso dos manuscritos bblicos, so evidentes pelas seguintes razes: Permitia que os quatro Evangelhos, ou todas as Epstolas paulinas se achassem num livro; era bem mais fcil o manuseio do livro; adaptava-se melhor para receber a escrita de ambos os lados, baixando assim o custo do livro; a procura de determinadas passagens era mais rpida. 1.3 O Vocbulo "Bblia" Este vocbulo no se acha no texto das Sagradas Escrituras. Consta apenas na capa. De onde, pois, vem? Vem do grego, a lngua original do Novo

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    Introduo Bblia

    Testamento. derivado do nome que os gregos davam folha de papiro preparada para a escrita - "biblos". Um rolo de papiro de tamanho pequeno era chamado "biblion" e vrios destes eram uma "Bblia". Portanto, literalmente, a palavra Bblia quer dizer "coleo de livros pequenos". Com a inveno do papel, desapareceram os rolos, e a palavra biblos deu origem a "livro", como se v em biblioteca, bibliografia, biblifilo etc. consenso geral entre os doutos no assunto que o nome Bblia foi primeiramente aplicado s Sagradas Escrituras por Joo Crisstomo, patriarca de Constantinopla, no Sculo IV. E porque as Escrituras formam uma unidade perfeita, a palavra Bblia, sendo um plural, como acabamos de ver, passou a ser singular, significando o Livro, isto , o Livro dos livros; o Livro por excelncia. Como Livro divino, a definio cannica da Bblia "A revelao de Deus humanidade". Os nomes mais comuns que a Bblia d a si mesma, isto , os seus nomes cannicos, so: Escrituras (Mt 21.42); Sagradas Escrituras (Rm 1.2); Livro do Senhor (Is 34.16); Palavra de Deus (Mc 7.13; Hb 4.12); Orculos de Deus (Rm 3.2). 1.4 Nomes atribudos a Palavra de Deus

    a) Bblia. A palavra Bblia, usada com referncia s Escrituras Sagradas desde o IV sculo, a forma latina da palavra grega Bblia, plural neutro de Biblion, que por sua vez diminutivo de Biblos nome grego para a planta da qual se fazia o papel papiro Pelo uso que se fez do papiro que biblos veio a significar livro e biblion um livro pequeno. Os fencios se ocupavam grandemente do comrcio de papiro, por isso no segundo sculo a.C. deram o nome de Biblos ao seu principal porto, passando depois cidade, e conservado at hoje para as suas runas. A palavra Biblos encontra-se em Marcos 12.26 como referncia a um livro de Velho Testamento, ou a um grupo no plural para designar os livros dos profetas Daniel 9.2. O plural usado no Velho Testamento passou Igreja Crist e as Escrituras so designadas por livros, livros divinos, livros cannicos. O nome Bblia para o conjunto dos livros sagrados, foi usado pela primeira vez por Crisstomo, no IV sculo. Alguns pais da Igreja denominaram as Escrituras de Biblioteca Divina.

    b) Escrituras. O Novo Testamento, que ocupa menos da terceira parte

    do Velho, usa a expresso Os Escritos ou as Escrituras para os livros do Antigo Testamento, em Mateus 21.42 e Joo 5.39.

    c) Outras Expresses: A Palavra de Deus (Hb 4.12); A Escritura de

    Deus (x 32.16); As Sagradas Letras (1Tm 3.15); A Escritura da

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    Verdade (Dn 10.21); As Palavras da Vida (Atos 7.38); As Santas Escrituras (Rm 1.2).

    d) Nomes figurativos: Uma luz. "Uma luz para o meu caminho" (Sl

    119:105); Um espelho (Tg 1.23); Ouro fino (Sl 19.10); Uma poro de alimento (J 23.12); Leite (1Co 3.2); Po para os famintos (Dt 8.3); Fogo (Jr 23.29); Um martelo (Jr 23.29); Uma espada do Esprito (Ef 6.17).

    e) Pentateuco. Etimologicamente, Pentateuco significa cinco estantes,

    onde se colocavam os livros e depois, por metonmia, os prprios livros. Pesquisando um pouco mais se tem a impresso de que as estantes eram aqueles pedaos de madeira que sustentavam os rolos, vindo depois a designar os prprios rolos. O termo pentateuco, de origem grega, significando cinco rolos tem sido usado para os cinco livros de Moiss, enquanto o nome hebraico para estes mesmos livros Tor. Este vocbulo comeou a ser usado para os primeiros cinco livros da Bblia depois da traduo da Septuaginta. Estes livros constituem a primeira diviso do Cnon Hebraico, que formado, como do conhecimento geral, da Lei, dos Profetas e dos Escritos. Eruditos modernos tm usado o termo "Hexateuco" em vez de Pentateuco, por adicionarem aos primeiros livros da Bblia o livro de Josu, por notarem muita afinidade entre os seis. Nenhuma razo plausvel existe para a aceitao desta nova nomenclatura, desde que o termo tem sido usado por crticos que no admitem tenha sido Moiss o autor do Pentateuco.

    f) Testamento. Este vocbulo no se encontra na Bblia como

    designao de uma de suas partes. Sabemos que toda a Bblia se divide em duas partes chamadas Antigo Testamento e Novo Testamento. Contendo a primeira, os escritos elaborados antes de Cristo, a segunda registra o que foi redigido no primeiro sculo da nossa era. A palavra portuguesa testamento corresponde palavra hebraica "berith" aliana, pacto, contrato, e designa aquela aliana que Deus fez com o povo de Israel no Monte Sinai, aliana sancionada com o sangue do sacrifcio como vemos em xodo 24.1-8; 34.10-28. Sendo esta aliana quebrada pela infidelidade do povo, Deus prometeu uma nova aliana (Jr 31.31-34) que deveria ser ratificada com o sangue de Cristo. (Mt 26.28). Os escritores neotestamentrios denominam a primeira aliana de antiga (Hb 8.13), contrapondo-lhe a nova (2Co 3.6,14). Os tradutores da Septuaginta traduziram "berith" para "diatheke", embora no haja perfeita correspondncia entre as palavras, desde que berith designa aliana (compromisso bilateral) e diatheke tem o sentido de "ltima

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    Introduo Bblia

    disposio dos prprios bens", "testamento" (compromisso unilateral). Pela figura de linguagem, conhecida como metonmia, as respectivas expresses "antiga aliana" e "nova aliana" passaram a designar a coleo dos escritos que contm os documentos respectivamente da primeira e da segunda aliana. O termo testamento veio at ns atravs do latim quando a primeira verso latina do Velho Testamento grego traduziu diatheke por testamentum. So Jernimo revisando esta verso latina manteve a palavra "testamentum", eqivalendo ao hebraico "berith" aliana, concerto, quando a palavra como j foi visto no tinha essa significao no grego. Afirmam alguns pesquisadores que a palavra grega para contrato, aliana deveria ser suntheke, por traduzir melhor o hebraico "berith". As denominaes Antigo Testamento e Novo Testamento, para as duas colees dos livros sagrados, comearam a ser usadas no final do II sculo a.D. quando os evangelhos e outros escritos apostlicos foram considerados como Escrituras. O cristianismo distinguiu duas etapas na manifestao do dom de Deus humanidade: A antiga feita por Deus ao povo de Israel (2Co 3.14); A segunda ou nova designa a unio que o prprio Deus, tomando a forma humana, selou com o homem pela oblao de Cristo (2Co 3.6).

    g) Torah. Palavra derivada do verbo Yarah, que no "hifil" significa lanar,

    jogar (x 15.4, 1Sm 20.36) e de modo especial lanar flechas para se conhecer a vontade divina (Js 18.6; 2Rs 13.17). O mesmo verbo usado no sentido de mostrar com a mo, apontar com o dedo (Gn 46.28; x 15.25). A significao fundamental de yarah , portanto; indicar uma direo. O substantivo cognato tem o sentido bblico mais corrente: ensinamento, instruo, como se deduz da leitura de Isaas 30.9; 42.4; Mq 4.2; Ml 2.6; J 22.22, onde esta palavra aparece. Do estudo desta palavra conclui-se que o termo portugus "lei" no traduz o vocbulo hebraico em toda a sua extenso. A torah o ensinamento que inspira bom procedimento em nosso viver.

    h) O termo Palavra. No Antigo Testamento, a palavra dbhr de Deus

    usada por 394 vezes para designar alguma comunicao divina provinda da parte de Deus aos homens, na forma de mandamento, profecia, advertncia ou encorajamento. A frmula usual a palavra de Yahweh veio (literalmente, foi) a ..., ainda que algumas vezes a palavra de Deus seja vista como uma viso (Is 2.1; Jr 2.31; 38.21). A palavra de Yahweh uma extenso da personalidade divina, investida de autoridade, e deve ser ouvida tanto pelos anjos como pelos homens (Sl 103.20; Dt 12.32). A palavra de Deus permanece para sempre (Is 40.8), e uma vez proferida no pode deixar de ser cumprida (Is 55.11). usada como sinnimo da lei, trah, de Deus,

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    em Sl 119, onde a referncia mensagem escrita e no mensagem falada da parte de Deus. No Novo Testamento, palavra geralmente traduz dois termos gregos, logos e rhema, a primeira usada supremamente para designar a mensagem do evangelho cristo (Mc 2.2; At 6.2; Gl 6.6), embora a ltima esteja revestida da mesma significao (Rm 10.8; Ef 6.17; Hb 6.5 etc.). Nos pontos seguintes veremos maiores detalhes

    1.5 A Palavra Rhema Rhema. Aquilo que dito, palavra, dito, expresso (Mt 12.36; Mc 9.32). Ameaa (At 6.13). Coisa, objeto, assunto, evento (Mt 18.16; Lc 1.37; 2.15,19,51). Nosso Senhor falou sobre a palavra de Deus (na parbola do semeador, Lc 8.11; Mc 7.13; Lc 11.28), porm, nos evangelhos sinpticos Ele sempre usava o plural para indicar a Sua prpria mensagem (minhas palavras, Mt 24.35 e paralelos; Mc 8.38; Lc 24.44). No quarto evangelho, entretanto, pode-se encontrar o singular com freqncia. Para a Igreja primitiva, a palavra era uma mensagem revelada da parte de Deus em Cristo, que deveria ser pregada, ministrada e obedecida. Era a palavra da vida (Fp 2.16), da verdade (Ef 1.13), da salvao (At 13.26), da reconciliao (2Co 5.19), e da cruz (1Co 1.18). 1.6 A Expresso Logos Significado etimolgico. Tem um grande nmero de diferentes significados: sua traduo bsica palavra, isto declarao significativa, de onde se desenvolvem seus muitos sentidos afirmao, declarao, discurso, assunto, doutrina, questo e, mediante um outro tipo de desenvolvimento, razo, causa, motivo, respeito. Na Bblia: palavra (Mt 12.37), dizer a palavra (Mt 8.8), assunto sob discusso, matria, coisa, ponto, tema (Mt 5.32; Mc 9.10), declarao, assero, afirmao (Mt 12.32; 15.12). A traduo do logos ir, freqentemente, variar de acordo com o contexto. Como termo gramatical significa uma sentena finita, em uma declarao lgica de fatos, definio ou julgamento, e na retrica significa uma declarao de oratria corretamente construda. Como termo de psicologia e metafsica, foi empregado pela Sto, seguindo Herclitos, para significar o poder ou funo divina pela qual o universo recebe sua unidade, coerncia e significado. Logos spermatikos, palavra seminal que, semelhana de semente, d forma matria disforme. O homem foi criado de acordo com o mesmo princpio, e em si mesmo se diz possuir um Logos, tanto internamente (logos endiathetos, razo), e que se

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    Introduo Bblia

    expressa pela fala externamente (logos prophorikos). O termo igualmente usado como padro ou norma mediante a qual o indivduo pode viver de conformidade com a natureza. Na Septuaginta o termo Logos usado para traduzir a palavra hebraica dbhr. A raiz desta palavra significa aquilo que est por trs e assim quando traduzida por palavra, tambm significa som compreensvel; e tambm pode significar coisa. De acordo com uma caracterstica comum da psicologia dos hebreus, o dbhr de um homem considerado como, em certo sentido, uma extenso de sua personalidade, e, alm disso, como algo que possui uma existncia substancial toda prpria. A palavra de Deus, portanto, Sua auto-revelao atravs de Moiss e dos profetas. Tambm pode ser usada para designar tanto vises isoladas e orculos como o contedo total da revelao inteira, e assim, especialmente o Pentateuco. A palavra possui um poder semelhante ao de Deus, o qual a profere (Is 55.11) e efetua Sua vontade sem qualquer resistncia. Por conseguinte o termo pode referir-se palavra criadora de Deus. 1.7 A Palavra Escrita e o Verbo Vivo A revelao que Deus fez de si mesmo centraliza-se em Jesus Cristo. Ele o Logos de Deus. Ele o Verbo Vivo, o Verbo encarnado, que revela o Deus eterno em termos humanos. O ttulo Logos s pode ser encontrado nos escritos joaninos, embora o emprego do termo haja sido relevante na filosofia grega daqueles dias. Alguns tm procurado uma ligao entre a linguagem de Joo e a dos esticos, dos primeiros gnsticos, ou dos escritos de Filo de Alexandria. Estudos mais recentes sugerem que Joo foi influenciado primariamente pelos seus alicerces no Antigo Testamento e na f crist. provvel, porm, que tivesse conscincia das conotaes mais amplas do termo, e que a tivesse empregado deliberadamente, com o propsito de transmitir um significado adicional e especial. O Logos identificado com a Palavra de Deus na Criao e tambm com sua Palavra autorizada (a lei para toda a humanidade). Joo deixa nossa imaginao atnita quando introduz o Logos eterno, o Criador de todas as coisas, o prprio Deus, como o Verbo que se encarnou a fim de habitar entre a sua criao (Jo 1.1-3,14). "Deus nunca foi visto por algum. O filho unignito, que est no seio do Pai, este o fez conhecer" (Jo 1.18). O Verbo Vivo tem sido visto, ouvido, tocado, e agora proclamado mediante a Palavra escrita (1Jo 1.1-3). Quando do encerramento do cnon sagrado, o Logos vivo de Deus, o Fiel e Verdadeiro, est em estado de prontido no Cu, prestes a voltar Terra como Rei dos reis e Senhor dos senhores (Ap 19.11-16).

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    A suprema revelao de Deus acha-se no seu Filho. Durante muitos sculos, mediante as palavras dos escritores do Antigo Testamento, Deus havia se revelado progressivamente. Tipos, figuras, sombras e prefiguraes desdobravam paulatinamente o plano de Deus para a redeno da humanidade (Cl 2.17). Depois, na plenitude dos tempos, Deus enviou o seu Filho para revelar o Pai de forma mais perfeita e para executar aquele gracioso plano mediante a sua morte na Cruz (1Co 1.1 7-25; Gl 4.4). Toda a revelao bblica, antes e depois da Encarnao de Cristo, centraliza-se nEle. As muitas fontes originrias e maneiras da revelao anterior indicavam e prenunciavam a sua vinda terra como homem. Toda a revelao subseqente engrandece e explica a sua vinda. A revelao que Deus fez de si mesmo comeou pequena e misteriosa, progrediu no decurso do tempo, e chegou ao seu ponto culminante na Encarnao do seu Filho. Jesus a revelao mais completa de Deus. Na Pessoa de Jesus Cristo, coincidem entre si a Fonte e o Contedo da revelao. Ele no era mais um meio de comunicar a revelao divina, conforme o foram os profetas e apstolos. Ele mesmo "o resplendor da sua glria, e a expressa imagem da sua pessoa" (Hb 1.3). Ele "o caminho, e a verdade, e a vida"; conhecer a Ele conhecer tambm o Pai (Jo 14.6-7). Os profetas diziam: "Veio a mim a Palavra do Senhor", mas Jesus afirmava: "Eu vos digo"! Jesus inverteu o uso do termo "amm", comeando assim as suas declaraes: "Na verdade [hb. amen], na verdade te digo" (Jo 3.3). Tendo Ele falado, a verdade foi declarada de modo imediato e inquestionvel. Cristo a chave que revela o significado das Escrituras (Lc 24.25-27; Jo 5.39,40; At 17.2,3; 28.23; 2Tm 3.15). Elas testificam dEle e da salvao que Ele outorga mediante a sua morte. O enfoque que as Escrituras dedicam a Cristo no justifica, porm, o abandono irresponsvel do texto bblico nas reas que parecem ter poucas informaes abertamente cristolgicas.

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    Introduo Bblia

    Captulo 2

    Lnguas, Caractersticas e Autoridade

    2.1 Lnguas em que a Bblia Escrita Quase todos os estudantes da Bblia sabem que o Velho Testamento foi escrito em hebraico, e o Novo, em grego, mas muitos desconhecem o fato de que h uma terceira lngua na Bblia o aramaico. 2.1.1 Aramaico O aramaico foi sem dvida, desde muito tempo, a lngua popular de Babilnia e da Assria, cuja linguagem literria, culta e religiosa era o sumero-acadiano. Documentos assrios mencionam o aramaico desde 1100 a.C. Durante o reinado de Saul e Davi, os estados aramaicos ou srios so mencionados na Bblia (1Sm 14.47; 2Sm 8.3-9; 10.6-8). O aramaico foi trazido para a Palestina porque os assrios seguiam costume de transplantar os povos das naes subjugadas, por isso depois de terem vencido o reino de Israel, trocaram as pessoas e as espalharam atravs de todo o seu imprio. 2Rs 17.24 menciona explicitamente que entre os povos trazidos para Samaria a fim de repovoarem a terra devastada, encontravam-se aramaicos de Hamate. Esta lngua dotada de grande poder de expanso, tornou-se usual nas relaes internacionais de toda a sia, e na prpria Palestina propagou-se to largamente, que venceu o prprio hebraico. O lar original do aramaico foi a Mesopotmia. Algumas tribos arameanos viviam ao sul de Babilnia, perto de Ur, outras tinham seus lares na alta Mesopotmia entre o rio Quebar (Khabr) e a grande curva do Eufrates, tendo Har como centro. O fato de os patriarcas Abrao, Isaque e Jac terem conexes com Har provavelmente responsvel pelo estatuto feito por Moiss de que Jac era "arameano". Dt 26.5. Deste seu lar ao norte da Mesopotmia o aramaico se espalhou para o sul de toda a Assria. Tudo indica que o aramaico foi preferido pelos assrios e babilnicos por ser mais simples do que a complicada escrita cuneiforme. A prova de sua simplicidade est relatada em 2Rs 18.26, quando Senaqueribe invadiu Jud

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    no fim do VIII sculo a.C. os oficiais judeus que dominavam to bem o hebraico quanto o aramaico, pediram ao general assrio que lhes falasse em aramaico. Esta ainda a razo porque durante os setenta anos do cativeiro babilnico os judeus se esqueceram muito do hebraico, adotando em seu lugar o aramaico. Ao voltarem do cativeiro continuaram falando o aramaico, como se depreende da leitura de Neemias 8.1-3 e 8. O aramaico era a lngua usada por Jesus (Mc 5.41; 7.34; 15.34), pela maioria das pessoas na Palestina, bem como pelas primeiras comunidades crists. Segundo outros estudiosos entre os quais se destaca Robertson, Jesus falava aramaico na conversao diria, mas no ensino pblico e nas discusses com os fariseus a lngua usada era o grego. J antes da Era Crist suplantou totalmente o hebraico que se tornou a lngua morta e exclusivamente religiosa. Na sia Ocidental, a lngua aramaica se difundiu largamente, assumindo naquelas regies e naquele tempo o mesmo papel que assumem em nossos dias o francs e o ingls. O aramaico, embora ainda utilizado em certas regies, vai cedendo lugar ao rabe, e corre o perigo de desaparecer como lngua falada, pois hoje falada somente em algumas povoaes da Sria. O aramaico desapareceu sob o impacto cultural do grego e do latim, j que deixou de ser conhecido pelos cristos. Quem conhece o hebraico pode com facilidade ler e entender o aramaico, dadas as suas marcantes semelhanas. As partes do Velho Testamento escritas em aramaico so as seguintes: A expresso "Jegar-Saaduta" de Gnesis 31.47; O verso de Jeremias 10.11; Alguns trechos de Esdras 4.8 a 6.18; 7.22-26; Partes do livro de Daniel, entre os captulos 2.4 a 7.28. 2.1.2 Hebraico A lngua hebraica foi a lngua dos Hebreus ou israelitas desde a sua entrada em Cana. A sua origem bastante misteriosa, porque alm do Velho Testamento s possumos escassos documentos para o seu estudo. O mais provvel que o hebraico tenha vindo do cananeu e foi falado pelos israelitas depois de sua instalao na Palestina. A atual escrita hebraica (chamada "hebraico quadrado") cpia do aramaico e entrou em uso pouco antes da nossa era, em substituio ao hebraico arcaico. Os Targuns o denominam de "lngua sagrada" (Is 19.18); e no Velho Testamento chamado "a lngua de Cana" ou a lngua dos judeus (Is 36.13, 2Rs 18.26-28). Salmo 114.1 mostra a grande diferena entre o hebraico e o egpcio. Israel por estar cercado de povos que falavam uma lngua cognata o aramaico foi se esquecendo do hebraico, at que este veio a extinguir-se como lngua falada. Era ainda a lngua de Jerusalm no tempo de Neemias (13.24), cerca de 430 a.C., mas muito antes do tempo de Cristo foi substituda pelo aramaico.

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    Introduo Bblia

    O alfabeto hebraico consta apenas de consoantes, em nmero de 22. O hebraico escrito da direita para a esquerda como o rabe e algumas outras lnguas semticas. Sua estrutura fundamental , como em todas as lnguas semticas, a palavra raiz, composta de trs consoantes. uma lngua bastante simples, seus melhores conhecedores sublinham sem hesitao a sua pobreza, quando comparado com o grego ou com lnguas modernas, como o ingls e o portugus. De acordo com a Pequena Enciclopdia Bblica o vocabulrio hebraico na Bblia conta com apenas 7.704 vocbulos diferentes. A Academia do Idioma Hebraico tem registrado o uso de cerca de 30.000 palavras. Quase no possui adjetivos nem pronomes possessivos, porm, rica em advrbios. uma lngua quase indigente em termos abstratos. Quase sempre os pronomes pessoais so ligados s formas verbais como se fossem sufixos ou prefixos. Com raras excees no faz uso de palavras compostas. O alfabeto hebraico possui letras com sons bem prprios, por isso no apresentam nenhuma semelhana com o nosso alfabeto. Os dois exemplos mais caractersticos se encontram no "alef" e no "ayin". Se lngua um organismo vivo que se transforma, o hebraico quase pode apresentar-se como exceo, como comprovam os escritos de Moiss e de alguns profetas mil anos depois, cujas diferenas lingsticas so insignificantes. Este fato tem levado a "alta crtica" a dogmatizar que os escritos do Velho Testamento foram produzidos num espao de tempo bem pequeno. Seus processos sintticos so muito simples, usando pouco as oraes subordinadas, preferindo sempre as coordenadas, quase sempre unidas pela conjuno "e" como inegvel influncia do hebraico. Os tempos do verbo, a exemplo do grego, indicam mais o "aspecto" da ao, conforme ela seja momentnea, prolongada ou repetida. Como lngua semtica no classifica os fatos em passados, presentes e futuros, mas em realizados ou de ao acabada (perfeito), e no realizados ou de ao inacabada (imperfeito). Uma das peculiaridades da lngua hebraica com respeito ao sistema verbal esta: a simples troca de um sinal voclico determina uma mudana nas formas verbais. No possui o verbo "ter", enquanto o verbo "ser" ativo e significa existir eficazmente. Quando os judeus sentiram que o hebraico estava em declnio como lngua falada, e que sua leitura correta ia perder-se, criaram um sistema de vocalizao. Este trabalho foi feito pelos massoretas, por isso o texto hebraico usado hoje chama-se massortico. 2.1.3 Grego Bblico Como do conhecimento geral, o Novo Testamento foi escrito na Koin, lngua na qual tambm foi traduzido o Velho Testamento hebraico pelos

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    Setenta. O termo Koin significa a lngua comum do povo entre os anos 330 a.C. e 330 a.D. Com exceo da Epstola aos Hebreus e da linguagem de Lucas (Evangelho e Atos) que se encontram num Koin mais literrio, os outros escritos pertencem lngua mais comum ou Koin vulgar. O insigne erudito Gustav Adolf Deissmann foi quem primeiro mostrou a identidade do grego do Novo Testamento, salientando que o grego da Bblia era o Koin, e no o grego erudito, nem a chamada "linguagem do Esprito Santo" ardorosamente defendida por alguns autores. 2.1.3.1 Caractersticas da Linguagem do Novo Testamento Se fosse possvel caracterizar o Koin, lngua em que foi escrito o Novo Testamento, sintetizando-a em uma palavra, a melhor seria "simplificao". Esta concluso facilmente deduzida estudando-lhe as caractersticas: Substituio dos casos pelas preposies; tendncia para simplificar a morfologia e a sintaxe; uso escasso de oraes subordinadas, tendo preferncia pelas coordenadas ligadas pela conjuno "e"; eliminao do dual e uso parcimonioso do modo optativo, aparecendo apenas 67 vezes no Novo Testamento; uso mais freqente do artigo; simplificao das riqussimas formas verbais do grego clssico; mudana de sentido de muitas palavras do grego clssico, por influncia religiosa, tais como: batizar, justia, graa, amor, glria, carne, cruz, mundo, crer, esprito, clice, dia, etc.; as formas diminutivas se tornam mais comuns; emprego mais generalizado de construes perifrsticas nos verbos; os adjetivos so mais usados no grau superlativo do que no comparativo; preferncia pela ordem mais direta, pois no grego clssico predomina a ordem inversa; emprego freqente dos pronomes sujeitos, em casos dispensveis, por estarem eles subentendidos nas desinncias verbais; idntico valor fontico para as vogais gregas; emprego de vrios latinismos, tais como: legio, centurio, denrio, colnia e flagelo; uso freqente do presente histrico nas narrativas; aparecimento generalizado da parataxe, com prejuzo da hipotaxe. Parataxe uma construo mais simples da frase, como as oraes coordenadas, enquanto a hipotaxe mais complexa, isto , formada de oraes subordinadas; uso de palavras que so emprstimos diretos do aramaico, a exemplo de: geena, Eli Eli, Hosana, litstrotos (gabat), Sat, Talita cumi, Rabi, Maranata; freqncia de hebrasmos, sobretudo na sintaxe, fastidioso emprego da conjuno "e", pois esta partcula aparece muito no Novo Testamento, em expresses como estas: "e ele falou dizendo", "e disse", "e aconteceu que". As frases: "Filhos da luz'; "filhos da perdio" so eminentemente semticas. Quanto linguagem dos escritores do Novo Testamento haveria muito que dizer, mas fiquemos somente com as seguintes observaes: Apenas

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    Introduo Bblia

    Hebreus, Lucas e alguns trechos de Paulo so escritos num estilo mais literrio. O vocabulrio mais rico no o de Paulo, mas sim o de Lucas, que emprega 250 palavras novas no Evangelho e, mais ou menos 500, em Atos. Se a linguagem mais polida e mais erudita a de Lucas, a mais pobre e menos aprimorada, quanto ao estilo, a de Marcos e a de Joo, especialmente no Apocalipse. O doutor Benedito P. Bittencour no livro O Novo Testamento, pgina 67, chama-nos a ateno para a linguagem pouco aprimorada do Apocalipse, onde h violaes flagrantes dos corretos cnones da gramtica. 2.2 A Sobrenaturalidade da Bblia A Bblia um fenmeno que s explicvel de um modo: a Palavra de Deus. Ela no o tipo de livro que o homem escreveria se pudesse, ou que poderia escrever se quisesse. Outros sistemas religiosos tambm tm seus desvios excntricos do curso comum do procedimento humano, desvios esses que no so muitos, e so de pequena importncia; e estes, realmente, so de se esperar, considerando que o homem est sempre determinado a crer em um Deus, ou deuses, quer sua crena seja baseada em fatos ou no. O estudante da verdade sempre ser convidado a reconhecer contra reivindicaes extra-bblicas e intrabblicas. Aquilo que extrabblico encampa todo o campo das religies humanamente arquitetadas e especulaes filosficas. O que intrabblico encampa todos os cultos e declaraes parciais da verdade divina que, embora professem edificar seus sistemas sobre as Escrituras, fazem-no, entretanto, atravs de falsas nfases ou negligncia da verdade, provocando uma confuso de doutrina que parente ou talvez at mais desencaminhadora do que o erro sem mistura. Embora no seja possvel apresentar uma lista exaustiva, enumeramos aqui alguns dos muitos aspectos sobrenaturais da Bblia: 2.2.1 O Livro de Deus Com este ttulo queremos chamar a ateno para a reivindicao que a Bblia apresenta de que a mensagem de Deus ao homem e no uma mensagem do homem aos outros homens, muito menos uma mensagem do homem a Deus. Neste Livro, Deus apresentado como o Criador e Senhor de tudo. a revelao dele prprio, o registro do que Ele tem feito e vai fazer, e, ao mesmo tempo, a revelao do fato de que cada coisa est sujeita a Ele e que s descobre suas vantagens mais elevadas e seu destino quando se conforma Sua vontade. Cada palavra da Bblia o resultado de sublimes declaraes como esta: "No h Deus como tu, em cima nos cus nem em baixo da terra" (1Rs 8.23), e, novamente: "Tua, Senhor, a grandeza, o poder, a honra, a vitria e a majestade; porque teu tudo quanto h nos cus

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    e na terra; teu, Senhor, o reino, e tu te exaltaste por chefe sobre todos" (1Cr 29.11). "Senhor, Senhor Deus compassivo, clemente e longnimo, e grande em misericrdia e fidelidade" (x 34.6). "As suas ternas misericrdias permeiam todas as suas obras" (SI 145.9). Quem, entre a humanidade cega, seria o escritor de fico capaz de criar os conceitos de um Deus trino de toda a eternidade que se encontra nas pginas das Escrituras? Quem, entre os homens, planejou o peculiar e perfeito equilbrio das partes de cada Pessoa da Divindade na redeno, ou o carter divino na sua consistente e inaltervel exibio de santidade infinita e amor infinito: os juzos divinos, a avaliao divina de todas as coisas, inclusive das hostes anglicas e dos espritos do mal? Quem, entre os homens, j foi capaz de conceber a criao de tais noes interdependentes, alm de express-Ias perfeitamente numa histria em andamento, a qual, sendo acidental, afinal no passa de imitao: uma imitao hipcrita e dissimulada da verdade? Que absurda a presuno de que o homem sozinho poderia escrever a Bblia, se assim o quisesse! Mas se o homem no deu origem a Bblia, Deus o fez, e por causa disso sua autoridade tem de ser reconhecida. 2.2.2 A Bblia e o Monotesmo O fato de que Deus supremo implica em que no h nenhum outro que se lhe compare; mas quase universalmente a humanidade tem praticado, com uma contumcia que est longe de ser acidental, as abominaes da idolatria. O povo judeu, de quem, considerando o lado humano, vieram as Escrituras, no ficaram imunes a esta tendncia. Desde os dias do bezerro de ouro, atravs dos sculos seguintes, os israelitas estiveram sempre revertendo idolatria e isto apesar da abundncia de revelao e castigo. A histria da igreja est manchada pelo culto de imagens esculpidas assimiladas do paganismo. Com que insistncia o Novo Testamento adverte os crentes a fugir da idolatria e da adorao dos anjos! luz destes fatos, como poderamos supor que os homens (at mesmo Israel) pudessem, parte da direo divina, dar origem a um tratado que, com os olhos apenas na glria de Deus, estigmatiza a idolatria como um dos primeiros e mais ofensivos crimes e insultos contra Deus? A Bblia no o tipo de livro que o homem escreveria se pudesse. 2.2.3 A Doutrina da Trindade Embora defendendo o monotesmo sem modificao, a Bblia apresenta o fato de que Deus subsiste em trs Pessoas ou modos de ser. A doutrina bblica da Trindade consiste em que Deus um em essncia, mas trs Pessoas em identificao. Sem dvida, este um dos grandes mistrios. A doutrina vai alm do alcance da compreenso humana, embora seja

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    Introduo Bblia

    fundamental na revelao divina. Quando consideradas separadamente, as Pessoas individuais da Divindade apresentam as mesmas evidncias indiscutveis quanto origem sobrenatural da Bblia. Deus Pai. Vasto realmente o campo das Escrituras que apresenta as atividades e as responsabilidades distintivas que so caractersticas da Primeira Pessoa. Dizemos que Ele o Pai de toda a criao, o Pai do Filho eterno (a Segunda Pessoa) e o Pai de todo aquele que cr para a salvao de sua alma. Esta revelao estende-se a todos os detalhes do relacionamento paternal e inclui a ddiva do Filho para que a graa de Deus pudesse ser revelada. Nenhuma mente humana poderia dar origem ao conceito de Deus Pai como Ele revelado na Bblia.

    Deus Filho. O registro referente Segunda Pessoa, que, de acordo com a Palavra de Deus, o Filho desde a eternidade, que sempre a manifestao do Pai e que, embora esteja agora sujeito ao Pai, o Criador das coisas materiais, o Redentor e Juiz final de toda a humanidade, oferece as evidncias mais extensas e mais incomensurveis da origem divina das Escrituras. A Pessoa e a obra do Filho de Deus com Sua humilhao e glria o tema dominante da Bblia; mas o Filho, em troca, dedica-se glria do Pai. As perfeies do Filho no podem nunca ser comparadas ao mais sbio dos homens, nem compreendidas por ele. Se, afinal, esta revelao ilimitada do Filho no passa de fico, no seria um desafio razovel (mesmo para a mente no regenerada) que este suposto autor fosse descoberto e, com base no trusmo de que a coisa criada no pode ser maior do que o seu criador, fosse adorado e reverenciado acima de tudo o que chamado de Deus?

    Deus Esprito. O Esprito Santo que apresentado na revelao como igual em cada particular ao Pai e ao Filho, , no obstante e para a promoo dos atuais empreendimentos divinos, retratado como sujeito a ambos, o Pai e o Filho. Do mesmo modo, Seu servio considerado como complemento e administrao da obra do Pai e do Filho.

    Assim o Deus trino revelou-se ao homem em termos que o homem, mesmo quando ajudado pelo Esprito, s pode compreender debilmente; e que pueril a intimao de que estas revelaes so o produto dos homens que sem exceo desde os dias de Ado so depravados, degenerados e incapazes de receber ou conhecer as coisas de Deus parte da iluminao divina! Tal conceito prope nada menos que a presuno de que o homem deu origem idia de Deus, e que o Criador um produto da criatura.

    2.2.4 A Continuidade da Bblia

    A continuidade da mensagem da Bblia absoluta em sua inteireza. Ela se mantm coesa por sua seqncia histrica, tipos e anttipos, profecias e seu

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    cumprimento e por antecipao, apresentao, realizao e exaltao da Pessoa mais perfeita que jamais andou sobre a terra e cujas glrias so o resplendor do cu. Mas a perfeio desta continuidade se mantm contra o que para o homem seriam impedimentos insuperveis; pois a Bblia uma coleo de sessenta e seis livros que foram escritos por mais de quarenta diferentes autores: reis, camponeses, filsofos, pescadores, mdicos, polticos, mestres, poetas e lavradores, que viveram suas vidas em diversos pases e no experimentaram nenhum contato ou concordncia entre si, e durante um perodo de no menos que mil e seiscentos anos de histria humana. Por causa destes obstculos de continuidade, a Bblia seria naturalmente a coleo mais heterognea, mais desigual, mais inconsonante e contraditria de opinies humanas que o mundo j viu; mas, pelo contrrio, ela exatamente o que pretende ser, isto , uma narrativa homognea, ininterrupta, harmoniosa e ordeira de toda a histria do relacionamento de Deus com o homem. Este livro contendo muitos livros no recebeu a impresso idiossincrtica de muitas mentes. Sua harmonia no a de trombetas tocadas em unssono, mas, antes, uma orquestrao em que, embora absolutamente afinada distingue-se perfeitamente os instrumentos. Em que base esta continuidade plenria poderia ser explicada se afirmssemos que a Bblia no a Palavra de Deus?

    2.2.5 Profecia e seu Cumprimento

    Um grandssimo nmero de profecias foram feitas pelos escritores do Antigo Testamento relativamente vinda do Messias e foram centenas, algumas vezes milhares de anos antes da vinda de Cristo. Essas predies que no propsito divino deveriam se cumprir no primeiro advento de Cristo cumpriram-se literalmente nessa ocasio. Muitas mais pe