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Introdução A autora discute neste livro as representações do e sobre o brasileiro, cujas preocupações sinalizam para a problemática da identidade do país , situando-a no contexto latino-americano. Logo de início esclarece o título da obra dizendo que ele não é novo e que remete a duas indagações: 1) quem eram ou são os nacionais; 2) e a que isolamento foram submetidos, a ponto de serem representados como estrangeiros em seu próprio país. Nos documentos do século XIX e início do XX: nacional >era a população pobre, geralmente mestiça e egressa da escravidão.

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Page 1: Introdução A autora discute neste livro as representações do e sobre o brasileiro, cujas preocupações sinalizam para a problemática da identidade do país,

Introdução A autora discute neste livro as

representações do e sobre o brasileiro, cujas preocupações sinalizam para a problemática da identidade do país , situando-a no contexto latino-americano.

Logo de início esclarece o título da obra dizendo que ele não é novo e que remete a duas indagações: 1) quem eram ou são os nacionais; 2) e a que isolamento foram submetidos, a ponto de serem representados como estrangeiros em seu próprio país. Nos documentos do século XIX e início do XX: nacional >era a população pobre, geralmente mestiça e egressa da escravidão.

Page 2: Introdução A autora discute neste livro as representações do e sobre o brasileiro, cujas preocupações sinalizam para a problemática da identidade do país,

Aqueles que observaram nessa população o seu abandono político e social > tiveram “a percepção de seu confinamento, de seu isolamento e do seu esquecimento dentro da sua própria terra e história”.

Diz Naxara > “A partir dessa percepção, representaram-no através de um imaginário que exprimia simultaneamente, uma sensibilidade, uma crítica e um lamento frente a tal situação” (p. 15)

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Os primeiros estudiosos (na literatura e na historiografia) das coisas do Brasil > insistem nessa idéia de isolamento e de abandono.

Na literatura: 1. Euclides da Cunha – Sertões; 2. Graça Aranha – Canaã 3. Roquete Pinto – anos 1950 – Rondonia Historiografia: Caio Prado Junior/ Peter Eisenberg/ Maria Silvia

de Carvalho Franco/Antonio Cândido

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Diz Marcia Naxara que foi dessas leituras que

despontou “o tema do esquecimento e da

desqualificação da população nacional, bem como o interesse pelo estudo do imaginário que esteve subjacentes às formulações, à sensibilidade, e ao pensamento complexo e repleto de ambiguidades, que fez parte de sua história” (p.17).

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A passagem do século XIX para o XX > é um momento privilegiado para o estudo do imaginário sobre a população brasileira > porque ocorreram diversas abordagens globalizantes sobre sua cultura e sua história

Isso favoreceu o estudo das identidades do país e do povo brasileiro > a partir de uma concepção evolucionista da história, tendo a idéia de progresso e suas possibilidades de realização no Brasil como questão central.

O dilema vivido por esses intelectuais > era de o país ser considerado “atrasado” em relação ao mundo “civilizado”.

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A oposição civilização/barbárie tomada no campo conceitual e explicativo como chave para compreensão dos povos > levou a um outro par daí derivado: progresso x atraso > originou outra oposição: elite x povo.

O povo brasileiro, visto por suas elites, aproxima-se do atraso e da barbárie, enquanto o que se almejava era o progresso e a civilização. Tais representações e preocupações apareceram na produção de intelectuais na virada do século XIX para o XX, nas obras de: Euclides da Cunha, Silvio Romero e Manoel Bonfim (AL) e dos literatos Valdomiro Silveira, Cornélio Pires e Monteiro Lobato (p. 18).

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O núcleo da análise da autora é SP > mas as reflexões desdobram-se para o Brasil e América Latina; as preocupações dos autores são, portanto, mais abrangentes e voltam-se para os deslocamentos populacionais para essas regiões e para as manifestações dos imperialismos em relação ao atraso das populações da América Latina > o que pode causar + problemas em relação as suas identidades.

No caso brasileiro, essa intelectualidade preocupada com a identidade nacional > “pensou e procurou essa identidade sempre contraposta ao estrangeiro e à ameaça que representava a entrada de grandes quantidades de povos considerados superiores (racial e culturalmente) para um povo ainda em formação, imaturo, como era representado, na época, o brasileiro”(p. 19).

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O fio condutor da análise da autora > representação do nacional que rapidamente transmigra para o povo brasileiro. Inicialmente ele foi caracterizado como “desqualificado, indolente e vadio”. Esse atributo > permaneceu como pecha ou mito > generalizando-se, de certa forma, para o povo brasileiro, dando-lhes como característica básica a preguiça, o conformismo, e a idéia de inadequação à civilização em marcha.

Essas questões serão abordadas ao longo dos capítulos em três partes distintas. No capítulo 1 será discutido a imagem do Jeca Tatu, síntese desse debate e projeção negativa desse ser desnaturado.

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O nascimento desse personagem data de 1914 quando Monteiro Lobato publicou no jornal O Estado de S. Paulo dois artigos “Velha Praga” e “Urupês” > desabafo pessoal e crítica a uma visão idílica dos estereótipos da literatura sertaneja. A primeira descrição de Jeca Tatu > traduziu uma vertente do conjunto de representações variadas que faziam parte do imaginário que vinha se forjando sobre o brasileiro que oscilavam entre a mais absoluta desqualificação à uma idealização romântica e condescendente.

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A figura do Jeca > materializou todo o pensamento sobre o brasileiro > “apresentado como regra do caipira brasileiro, despido de qualquer romantismo, como uma carga negativa enorme, como sendo impermeável ao progresso e à civilização. Sua figura era de um ser sombrio, comparada ao urupê (grupo de fungo que nascia em madeira podre), fugindo à luz, desenvolvendo-se nos lugares escuros da natureza, sem nada de criador, sem iniciativa, parasita da sociedade” (p. 24).

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As palavras de Lobato não deixam duvidas sobre essa associação:

“Este funesto parasita da terra é o CABOCLO, espécie de homem baldio, semi-nômade, inadaptável à civilização, mas que vive à beira dela na penumbra de suas fronteiras” (Lobato, 1955, p. 271). A autora cita várias passagens de seu texto em que descreve o caboclo e sua prole, sempre de forma extremamente negativa.

Esse personagem alcançou grande divulgação desde o seu surgimento; provocou impacto e polêmica quando Rui Barbosa o contestou em sua campanha presidencial, em 1919.

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Em 1918 > Lobato engajou-se na campanha sanitarista, associado a Fontoura. Reescreveu a história do personagem que na nova versão Jeca Tatu – A ressurreição, passou a atribuir os males da população brasileira a uma questão de saúde, que deveria ser resolvida pelo saneamento, pela educação básica e, portanto, pela política > porque qualquer ação dependia de vontade política, fosse essa vontade das elites ou do Estado. Foi dessa versão que surgiu o Jeca Tatuzinho divulgada por Cândido Fontoura > alçou vôo, distribuída sua história aos milhares pela Fontoura, numa campanha que visava difundir, além dos seus produtos, princípios básicos de higiene (p. 28).

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Contudo, a intenção do autor de acentuar um Jeca Tatu trabalhador, que num processo evolutivo foi recuperado pela ciência > a figura que permaneceu foi a do Jeca opilado. “Esta era a imagem que ia ao encontro da realidade próxima das pessoas, correspondendo ao imaginário do que se pensava a respeito do brasileiro e atendendo aos anseios de distinção da população letrada que se via como diferenciada do Jeca Tatu descrita na história” (p.31).

Por mais que fosse uma caricatura, e justamente por isso, ela parecia ser verdadeira. No universo da população brasileira, todos já conheciam ou tinham ouvido falar da pobreza, da miséria, da preguiça, do alcoolismo e pensavam o brasileiro, principalmente o homem do campo, como portador dessas características.

A partir de minhas pesquisas é possível fazer um contrapondo a abordagem de Lobato (e de Naxara). Diria que este debate projetou-se para outras expressões plásticas na década de 20, nas obras de Belmonte, Tarsila do Amaral e Osvaldo, da revista Careta. Porém, as representações do “povo” assumem sentido oposto. Vejam as imagens a seguir:

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Geca – Como agora eu vivo socegado! ...A policia deixa-se embalar pelo Centenario...

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Tópicos: . A Constituição da nacionalidade. A imposição de um tema: o Progresso e, de um

personagem problemático: o Nacional. As Interpretações CientificistasNaxara observa no início deste capítulo que há

silêncios e omissões na história, para a compreensão das representações que foram se constituindo ao longo do tempo sobre o brasileiro e o Brasil e que acabaram por se cristalizar na figura de Jeca Tatu. Na 2ª metade do século XIX > foi o momento crucial para o surgimento e constituição desse imaginário.

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• Ainda, segundo a autora, a longa trajetória de desqualificação do trabalhador nacional foi reforçada na passagem do século XIX para o XX, com a formação do mercado de trabalho livre que acrescentou novos ingredientes a esse imaginário.

• Os argumentos utilizados na definição da política imigrantista, centrados na idéia de imigrantes europeus, considerados trabalhadores ideais para substituir os escravos, reforçou e agregou novos elementos a esse imaginário ao acentuar a desqualificação e inadequação dos trabalhadores nacionais para se integrarem ao processo de modernização que se pretendia para o país.

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• Nessa trajetória foi realçada, tanto a incapacidade quanto à insubordinação, desse homem livre, atributos imputados a sua herança escrava e inferioridade étnica e cultural.

• Ajudou nessa construção, o processo que levou a substituição do escravo pelo trabalhador livre, impondo uma dupla representação: da desqualificação do nacional e do elogio ao imigrante europeu.

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Essa imagem não dominou sozinha a cena brasileira, embora tenha se imposto por bastante tempo, enquanto catalisadora dos sentimentos em relação aos trabalhadores nacionais.

Entre as elites, havia posições distintas: 1.uns queriam apenas a definição de uma

política imigrantista que garantisse mão –de- obra abundante e barata;

2. outra corrente defendia a imigração mas também a incorporação da população pobre nacional, vadia e nada propensa ao trabalho, que poderia ser disciplinarizada e educada para sua incorporação ao mercado de trabalho.

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Para Marcia Naxara “a desqualificação do brasileiro pobre serviu, portanto, para a valorização do imigrante e para a justificação de uma determinada política de imigração impregnada de preconceitos, definida ou resultante de uma tensão permanente, provocada não só pelo processo que levou a escolha do branco europeu, mas também pela preocupação de como controlar e submeter a um trabalho árduo, contínuo e disciplinado, amplas parcelas da população, fosse ela imigrante, nacional, branca mestiça ou negra”.

Alguns intelectuais como: Euclides da Cunha, Silvio Romero e Manoel Bonfim refletiram sobre o assunto, a partir das teorias cientificistas em voga no período e, traçaram o perfil do Brasil e dos brasileiros, > na busca da identidade nacional.

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Brasil e brasileiros: ensaios de caracterização Euclides da Cunha – um ponto de vista Sílvio Romero – um debate Manoel Bonfim – um contraponto O Brasil e o brasileiro ocupara um lugar de

destaque no cenário e no pensamento na virada do século XIX para o XX. Não apenas no que respeita a formação do mercado de trabalho, mas como ponto central da procura de uma identidade nacional. O que poderia ser, ou vir -a -ser o “brasileiro” > foi pensado por caminhos bastante diferenciados.

Abordar teoricamente essa população e conhecê-la >supunha uma análise da formação da sociedade brasileira tanto racial quanto cultural e o pensar as teorias raciais num país de mestiços apresentava não poucas dificuldades.

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EUCLIDES DA CUNHA SILVIO ROMERO N´Os Sertões e em artigos

> Euclides da Cunha desenvolveu suas idéias sobre o povo brasileiro > que enfatizam o papel do “meio e na raça” em sua conformação. Em Os Sertões elaborou a descrição do sertanejo, ao mesmo tempo “forte e fraco”, personagem que carrega em si suas ambiguidades > elaboração possível a partir da distinção entre mestiços do litoral e os do sertão. Previa a partir das teorias raciais o seu desaparecimento, em decorrência da presença estrangeira no país.

Silvio Romero em O Brasil Social estabeleceu uma polêmica com Euclides da Cunha. Com relação às suas previsões em relação à população tendo em vista o seu desaparecimento frente á entrada avassaladora de povos etnicamente superiores e melhor adaptados às condições de progresso do mundo. A desagregação da sociedade brasileira era mais ampla e atingia os pobres e as demais classes sociais. (p. 91)

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Uma diferença fundamental entre os autores define-se na > forma de encarar a mestiçagem.

Euclides da Cunha > caráter ambíguo > visão pessimista com relação ao Brasil, embora acreditasse no progresso.

Romero > via no mestiçamento a possibilidade de formação da identidade nacional > mas via no branqueamento a superação do atraso, com o predomínio da raça superior branca.

Manoel Bonfim > dava peso maior à herança cultural na formação dos povos > Numa contraposição às ambiguidades e dificuldades de se pensar a importância do meio e da raça na formação dos povos que estiveram presentes nas reflexões de Euclides da Cunha e Romero.

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A condição patológica do Brasil, como da América > baseava-se na história e no caráter nacional e não na raça. Para o autor a suposta inferioridade dos povos latino-americanos e, principalmente da população mestiça com índio e negros , que é apresentada como incapacidade para o progresso > teria por finalidade a simples justificação do exercício de dominação. A elite brasileira ao veicular idéias negativas sobre o povo – indolente, preguiçoso e incapaz para o trabalho - e contribuir para essa desqualificação foi acusada por Bonfim de tentar construir uma nação sem povo ou construir um povo através da imigração (p. 102). O grande mal que aflige o Brasil e a A.L. > é a ignorância, é a falta de educação para o progresso. Não pode existir democracia sem povo e este só pode existir a partir da educação popular.

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Procura de uma identidade: entre o Antigo e o Novo

(p. 111) - Neste capítulo a autora retoma a discussão sobre as representações literárias que surgiram a respeito do nacional, em particular, a perspectiva adotada por Antonio Cândido que toma a literatura como forma de expressão no pensamento do século XIX > a despeito da importância da oralidade devido ao alto grau de analfabetismo e da precariedade do mercado editorial.A literatura > é considerada fonte inesgotável para o conhecimento histórico dos povos . Ela manifesta, discute, transmite e produz valores e o imaginário que circulam na sociedade.

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(p. 112) -Para analisar as representações literárias do nacional na passagem do século XIX para XX > Faz-se necessário reiterar, também, que a procura de uma identidade nacional > foi uma idéia que perpassou toda a literatura brasileira desde a independência política.A autora destaca os estudos de dois autores: Antonio Cândido e Dante Moreira Leite para compreensão do problema.Dante Moreira Leite > considera que talvez não fosse absurda a escolha do índio como modelo (arquétipo) do brasileiro. Tal escolha idealizada não se constituía em uma ameaça a ordem vigente e escapava de apresentar o negro e o mulato como tema literário.

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Foi através da figura do índio idealizado que o nacionalismo romântico > estabeleceu a primeira identidade.-Era uma busca de autonomia da cultura brasileira frente a Portugal; - e, também, o índio “idealizado” > satisfazia a “exigências rudimentares de um conhecimento” e a “sensibilidade e consciência nacional”. -Assim, o índio pensado no passado e ignorado na sua materialidade > pode ser o agente ideal para pensar a nacionalidade e identificar uma origem mítica e idealizada do passado.

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No primeiro momento > a busca da identidade teve por personagem a figura do índio romântico, europeizado nas “virtudes e costumes” , ignorando a mestiçagem ;Num segundo momento (que pode ser identificado na passagem do século XIX para o XX) > essa idealização das origens genealógicas e da formação nacional >mudou de objeto e passou a se concentrar no caboclo, no sertanejo, no caipira > denominações variadas da união das etnias formadoras do brasileiro. Essa literatura deu origem ao “conto sertanejo”, gênero artificial e pretensioso que olhava o Brasil com olhos europeus >criando um sentimento subalterno de condescendência em relação ao próprio país . O homem rural >pitoresco.

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Simultâneo a essa visão condescendente e idealizada seja do indígena, seja do caboclo > houve um movimento na literatura, engajado e com preocupações sociais > voltado para a denúncia e a colocação em evidência das mazelas e dos problemas da sociedade brasileira > antevisão de uma complexidade e dos caminhos futuros possíveis.- A complexidade das três etnias > recebeu novos acréscimos, com a presença de estrangeiros > considerados uma ameaça, pela pretensa superioridade étnica e cultural.

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Ampliava-se o espaço das ambigüidades e dificuldades da construção da identidade do povo brasileiro. Tal espaço “representava cada vez mais o domínio do diverso, das diferenças de classe, de regiões, de costumes, de aparências e falares” (p.115).Os romancistas circunscreveram esse universo estranho, com destaque ao urbano > identificado à civilização. O seu oposto era o meio rural > lugar do atraso, traço que caracterizava os seus habitantes, ridicularizados no seu jeito de vestir-se, falar, portar-se. Essa desqualificação não somente foi estabelecida para o homem pobre. Eram duas oposições: urbano/rural, elite/povo.A oposição urbano/rural > estende-se até aos membros da elite que não têm esse verniz. O segundo elemento elite x povo > a desqualificação do homem rural tornou-se senso comum.

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Para Naxara, a imagem do caipira ignorante, preguiçoso, incapaz > generalizou-se para as populações citadinas pobres > Ambos eram vistos como evidência do atraso e para quem eram preconizados medidas educativas e disciplinares. A Educação > era a porta para o esclarecimento e a cidadania.“A representação do povo brasileiro tendeu a recobrir parcela pobre da população, de forma que os atributos da indolência,da preguiça, da ignorância e do despreparo para vida “civilizada” tornaram-se as características marcantes do povo brasileiro, tomado como um todo” (p.117).

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CORNÉLIO PIRES: CARACTERIZAÇÕES

A autora inicia este tópico fazendo referência ao estudo de Carlos Rodrigues Brandão cuja preocupação inicial > buscar a definição do que é o “caipira” > resultado esse, marcado pela negação. Ele é definido como “ignorante, sem trato social, que não sabe vestir-se, simplório acanhado”. O autor indicou dois autores que valorizaram a figura do caipira , seu modo de vida e atividade agrícola: Antonio Cândido (Parceiros do Rio Bonito (1975)) e Cornélio Pires (Conversa ao pé do fogo (1921).Cornélio Pires >imerso nos valores e paradigmas de sua época > embora represente o caipira como um homem do trabalho > sua representação contribui para reforçar preconceitos de cor e raça em relação a população nacional (p. 123).

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Cornélio Pires, em suas reflexões, elaborou uma tipologia dividindo os caipiras em quatro grupos: o caipira branco, o caipira caboclo, o caipira preto e o caipira mulato. Os dois extremos seriam os caipiras branco e mulato.-O caipira branco > distingue-se pela cor e propriedade. Suas casas são limpas e seus filhos educados. Cultivam o pomar e a horta, tem criação.-O caipira caboclo > é forte, descendente dos bugreS. É rejeitado pelas famílias brancas e pelos negros porque foi desse grupo que saiu o feitor.- O caipira preto > distinção entre os “pretos velhos” (foram abandonados a sua própria sorte) e pretos novos > caracterizados como trabalhadores valorosos. São os melhores braços na lavoura e na estiva.-O caipira mulato > despreza suas origens negras.

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Cornélio Pires > exagerou na ênfase em um dialeto caipira. Contava histórias e cantava modinhas do interior > confirmando a tendência à oralidade na literatura e na cultura brasileira > contribuindo para coleta e permanência de histórias e crendices populares. Mostrou um Brasil caipira em processo de transformação, incluindo em sua temática os novos personagens da sociedade brasileira constituídos pelos imigrantes. > Sua visão tendeu a desclassificar o nacional (p. 129).No próximo subitem a autora propõe examinar os dois autores em seus contos mais significativos.

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Lobato > tinha uma preocupação marcadamente social vendo na situação do caipira paulista um entrave ao progresso que ele considerava necessário e inevitável - seu tom era de denúncia: ele simultaneamente denunciava a miséria do caipira e o responsabilizava por isso.

Já Valdomiro Silveira > promoveu uma aproximação do universo caipira sem a preocupação de denúncia social > embora as situações que marcam as desigualdades e que refletem problemas íntimos e conflituosos do mundo caipira transpareçam em sua obra. Faz isso > numa linguagem dialetal não caricaturizada que respeita falares e saberes de uma outra cultura não urbana, mas nem por isso inferiorizada.

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As referências dos autores são diferentes. Ambos representam o caipira, mas enquanto Valdomiro Silveira apresenta um caipira trabalhador, que labuta de sol a sol, Lobato o retrata como um destruidor da natureza e como inadaptável à civilização. Apesar da discordância, os dois apresentam um ponto comum: “ao caboclo toca-se”( p. 132) quando é inoportuno mantê-lo.

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A representação de Lobato atribui a parcela mais desqualificada da população > uma tarefa de destruição da natureza. Aquele que não trabalha, não produz, é vadio, preguiçoso, indolente > imputado o papel de depredador da natureza com a qual convive. Lobato deixa de lado o grande fazendeiro >predador da natureza > usando as queimadas para formar os cafezais e produzindo uma destruição em escala ampliada sem preocupação com o desequilíbrio ecológico ou a reposição da uberdade do solo.