introduÇÃo 2 - cópia

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INTRODUÇÃO Em todo o Brasil, aumentam as situações em que os profissionais da Odontologia vêm sendo alvos de processos movidos por pacientes que, sentindo-se prejudicados, buscam judicialmente uma maneira de serem ressarcidos. Os principais fatores desencadeadores destes processos contra cirurgiões-dentistas são a degradação da relação profissional-paciente e principalmente, os erros profissionais, seja na escolha da espécie de tratamento, erro de diagnóstico ou ainda com a falta de cuidado. No dia 29 de Julho, uma menina de quatro anos morreu após se engasgar com um dente decíduo extraído que escapou do alicate da dentista durante a cirurgia e caiu na garganta da menina, que estava muito agitada em razão do procedimento. Segundo a Polícia Militar, ela ficou sufocada e sofreu duas paradas cardíacas ao caminho do hospital e, infelizmente, não resistiu. Os pais da menina registraram um boletim de ocorrência e pediram judicialmente a exumação do corpo da criança para que seja investigado se foi uma fatalidade ou um erro médico. A versão apresentada pela dentista para a causa da morte foi que a criança morreu asfixiada. Porém, a mãe, que relatou que a menina antes de morrer citou o nome do pai, alega que a causa da morte pode ter sido outra, como por exemplo, uma complicação gerada pela anestesia ou a falta de equipamentos suficientes na emergência do hospital em que a mesma foi atentida. PRIMEIRAS CONSIDERAÇÕES SOBRE O CASO: Formas de Investigação 1. De acordo com o Código de Defesa do Consumidor O Código de Defesa do Consumidor, prevê, em seu artigo 14, § 4º, que a responsabilidade do profissional da Odontologia é subjetiva, sendo que só podem ser responsabilizados mediante a apuração da culpa, devendo haver verificação judicial para analisar se o mesmo não agiu com negligência, imprudência e imperícia, sendo estes os três pilares do conceito da culpa. NEGLIGÊNCIA A negligência, "é caracterizada pela omissão do agente no desenvolvimento de determinado ato". Assim, trata-se da omissão do profissional, seja por passividade, descuido ou menosprezo. IMPRUDÊNCIA A imprudência "é a falta de diligência, ou seja, a falta de cuidado necessário para a prática de determinado ato". O profissional que age com imprudência tem atitudes não justificadas, precipitadas, sem cautela e descuidadas. IMPERÍCIA Por fim, a imperícia, nada mais é do que "a incapacidade, a falta de conhecimentos técnicos no exercício de arte ou profissão, não tomando o agente em consideração o que sabe ou deve saber". Desta forma, o profissional não possui habilidade suficiente para realizar determinada ação, agindo de maneira equivocada e inexperiente.

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INTRODUÇÃOEm todo o Brasil, aumentam as situações em que os profissionais da Odontologia vêm sendo alvos

de processos movidos por pacientes que, sentindo-se prejudicados, buscam judicialmente uma maneira de serem ressarcidos.

Os principais fatores desencadeadores destes processos contra cirurgiões-dentistas são a degradação da relação profissional-paciente e principalmente, os erros profissionais, seja na escolha da espécie de tratamento, erro de diagnóstico ou ainda com a falta de cuidado.

No dia 29 de Julho, uma menina de quatro anos morreu após se engasgar com um dente decíduo extraído que escapou do alicate da dentista durante a cirurgia e caiu na garganta da menina, que estava muito agitada em razão do procedimento. Segundo a Polícia Militar, ela ficou sufocada e sofreu duas paradas cardíacas ao caminho do hospital e, infelizmente, não resistiu.

Os pais da menina registraram um boletim de ocorrência e pediram judicialmente a exumação do corpo da criança para que seja investigado se foi uma fatalidade ou um erro médico.

A versão apresentada pela dentista para a causa da morte foi que a criança morreu asfixiada. Porém, a mãe, que relatou que a menina antes de morrer citou o nome do pai, alega que a causa da morte pode ter sido outra, como por exemplo, uma complicação gerada pela anestesia ou a falta de equipamentos suficientes na emergência do hospital em que a mesma foi atentida.

PRIMEIRAS CONSIDERAÇÕES SOBRE O CASO: Formas de Investigação1. De acordo com o Código de Defesa do ConsumidorO Código de Defesa do Consumidor, prevê, em seu artigo 14, § 4º, que a responsabilidade do

profissional da Odontologia é subjetiva, sendo que só podem ser responsabilizados mediante a apuração da culpa, devendo haver verificação judicial para analisar se o mesmo não agiu com negligência, imprudência e imperícia, sendo estes os três pilares do conceito da culpa.

NEGLIGÊNCIAA negligência, "é caracterizada pela omissão do agente no desenvolvimento de determinado

ato". Assim, trata-se da omissão do profissional, seja por passividade, descuido ou menosprezo. IMPRUDÊNCIAA imprudência "é a falta de diligência, ou seja, a falta de cuidado necessário para a prática de

determinado ato". O profissional que age com imprudência tem atitudes não justificadas, precipitadas, sem cautela e descuidadas.

IMPERÍCIAPor fim, a imperícia, nada mais é do que "a incapacidade, a falta de conhecimentos técnicos no

exercício de arte ou profissão, não tomando o agente em consideração o que sabe ou deve saber". Desta forma, o profissional não possui habilidade suficiente para realizar determinada ação, agindo de maneira equivocada e inexperiente.

No caso da menina Mayquelle, segundo apurou-se até o momento, a dentista, pelo o que tudo indica, agiu com IMPRUDÊNCIA, pois tomou uma atitude precipitada, sem usar a cautela necessária, ou seja, atuou de modo descuidado ao realizar o procedimento cirúrgico fazendo com que a criança viesse a engolir o dente e, posteriormente, viesse a falecer.

A investigação não poderá recair por NEGLIGÊNCIA, já que não houve omissão de socorro por parte da profissional, fato este relatado pela própria mãe da menina, que admitiu ainda que a dentista tentou realizar alguns procedimentos para que a criança cuspisse o dente e, inclusive, levou-a para a emergência. Também não foi por IMPÉRÍCIA, sendo que, aparentemente, ela tinha experiência suficiente para realizar o procedimento odontológico, já que estava no exercício da profissão há algum tempo.

2. De acordo com o Código Civil BrasileiroDe acordo com o Código Civil Brasileiro, a responsabilidade do cirurgião-dentista é, geralmente, de

natureza contratual, devendo este ser um acordo bilateral de vontades. A responsabilidade de natureza extra-contratual deverá ocorrer somente em casos de atendimento de emergência.

Portanto, com o contrato de prestação de serviços odontológicos, as obrigações serão em sua maioria de meios e, dependendo do caso, obrigações de resultado.

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Nas obrigações de meio, não existe o compromisso de se alcançar o resultado, devendo o profissional utilizar de toda sua habilidade e atenção.

Já nas obrigações de resultado, o profissional é obrigado a realizar o tratamento de maneira que atinja o objetivo proposto e caso isto não ocorra, presume-se a culpa do mesmo, o qual deverá responder pelos danos causados ao paciente.

3. De acordo com o Código de Ética OdontológicaEste código normatiza, basicamente, os direitos e deveres dos profissionais com inscrição nos

Conselhos de Odontologia.O artigo 40 deste código prevê às penalidades impostas àqueles que infringirem os seus princípios.

“ (...) o infrator e quem, de qualquer modo, com ele concorrer para a infração, ainda que de forma omissa, esta sujeito às seguintes penas:

I - advertência confidencial, em aviso reservado;II - censura confidencial, em aviso reservado;

III - censura pública, em publicação oficial;IV - suspensão do exercício profissional até 30 (trinta) dias;

V - cassação do exercício profissional (...)”O julgamento do processo ético se divide em duas instâncias, a primeira é representada pelos

Conselhos Regionais e a segunda pelo Conselho Federal, sendo que a profissional em questão responderá as sanções determinadas por estes conselhos.

MODALIDADES DE CULPA E SANÇÕESO crime doloso é aquele caracterizado quando há consciência e vontade de produzir o resultado ou

quando o profissional assume o risco de sua produção. Por sua vez, o crime culposo se apresenta como um tipo que independe da intenção do profissional.

Os erros profissionais, na maioria das vezes, constituem se em crime culposo já que o profissional não visa causar prejuízo à vítima, mas por conta de sua atitude negligente, imprudente ou imperita, resulta em determinado dano.

Desta maneira, ao causar qualquer tipo de dano ao paciente por erro durante um procedimento, o profissional estará sujeito às sanções previstas pelo Código de Ética Odontológica, Código Civil e pelo Código de Proteção e Defesa do Consumidor. Ou seja, poderá sofrer sanções ético-disciplinares, penais e de reparação.

Estas instâncias são independentes entre si, ou seja, se o profissional for absolvido em uma delas por insuficiência de provas ou qualquer outro motivo, poderá ainda assim ser responsabilizado em outra instância.

Cabe, portanto, uma análise pelos tribunais, dizer se uma ou várias regras foram violadas pela profissional e qual a gravidade da violação, aplicando as efetivas sanções (punições) que devem sofrer.

POSSÍVEL DESENVOLVIMENTO DO CASOA profissional em questão deverá responder por homicídio culposo, sendo que não possuía a

intenção de matar a criança, mas de forma descuidada ocasionou o resultado.A morte da criança, vítima de homicídio praticado em decorrência de procedimento cirúrgico

odontológico, se trata de causa inegável de dano moral e material à mãe. A fixação da indenização por danos morais levará em consideração a gravidade objetiva, a

personalidade da vítima, considerando-se ainda sua situação familiar e social, as condições do autor do crime, ou seja, aqui será levado em consideração a condição financeira da dentista.

A possível condenação de pensão alimentícia aos familiares da vítima é dada pela perspectiva de que a criança futuramente sustentaria por meio de seu estudo ou trabalho sua família. Sendo assim, a condenação em pensão mensal decorrente de homicídio, incidirá deste a data em que o menor completaria 14 anos de idade, quando já se é admitido o trabalho na condição de aprendiz, até a data em que completaria 65 anos de idade.

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Entretanto, mesmo tendo ocorrido um resultado que não tenha sido o previsto pelo paciente, a cirurgiã-dentista poderá ser isentada da reparação, desobrigando-o do dever de indenizar. As excludentes de responsabilidade podem ser: a legítima defesa, a culpa da vítima e o fato de terceiros, como por exemplo, o fato de o hospital não possuir equipamentos suficientes para o socorro imediato da vítima ou até mesmo a administração de adrenalina pelo médico para tentativa de salvamento. No caso em questão, contudo, pelo o que tudo indica, não houve nenhum fato excludente de responsabilidade.

CONCLUSÃOA responsabilidade do cirurgião-dentista poderá ser disciplinada pelo Código Civil, pelo Código de

Defesa do Consumidor e pelo Código de Ética Odontológica.Para se descobrir se houve ou não responsabilidade do profissional em relação ao dano causado, é

necessário avaliar a existência da culpa no caso. Sendo que será julgado de acordo com determinadas modalidades de culpa.

Mesmo tendo ocorrido um resultado que não tenha sido o previsto, o cirurgião dentista pode ser isentado da reparação já que não há como responsabilizá-lo pelo evento danoso se este não tenha decorrido por falha.

Portanto, conclui-se principalmente que, o profissional deve sempre se resguardar e admitir ao seu paciente os riscos do procedimento, expondo a estes as opções de tratamento e, atento a estes elementos, tentar minimizar a ocorrência de processos judiciais e éticos.