intertextualidade e linguagem catia delatorre

38
INTERTEXTUALIDADE (no ENEM) Prof. Vinicius Rodrigues

Upload: catia-delatorre

Post on 14-Aug-2015

109 views

Category:

Education


6 download

TRANSCRIPT

Page 1: Intertextualidade e linguagem   Catia Delatorre

INTERTEXTUALIDADE

(no ENEM)

Prof. Vinicius Rodrigues

Page 2: Intertextualidade e linguagem   Catia Delatorre

Intertextualidade – esse palavrão...

“(...) todo o texto é absorção e transformação de outro texto. (...) a linguagem

poética se lê, pelo menos como dupla.” (KRISTEVA in CARVALHAL, 1992, p. 50.)

“(...) não é possível ler senão comparativamente (ou seja, racionalmente) (...) não se trata tanto da opção entre comprar e não comparar... Não há de fato como não comparar. Toda leitura é ativação, partilha e ‘cooperação interpretativa’(...).” (BUESCU, 2001, p. 23.)

“A noção de intertextualidade abre um campo novo e sugere modos de atuação diferentes ao comparativista (...). Principalmente, as novas noções sobre a

produtividade dos textos literários comprometem a também ‘velha’ concepção de originalidade.” (CARVALHAL, 1992, p. 53.)

Page 3: Intertextualidade e linguagem   Catia Delatorre

INTERTEXTUALIDADE nada mais é do que o conceito mais importante

nos dias de hoje quando falamos sobre criação artística – colocando,

então, nesse “caldo” de arte, a literatura. É muito difícil nos depararmos

com algo realmente original atualmente no meio da cultura e do

entretenimento. E isso se deve ao exercício constante da comparação,

onde estabelecemos, quase sempre, aproximações entre uma criação e

outra. Quando percebemos que um texto usa outro texto em sua

construção, mesmo que sem a intenção do autor, o que estamos fazendo é

comprovar a ocorrência de INTERTEXTUALIDADE.

Intertextualidade – esse palavrão...

Page 4: Intertextualidade e linguagem   Catia Delatorre

Sendo assim, INTERTEXTUALIDADE nada mais é do que o

cruzamento de um texto com outro (ou outros), muitas vezes

utilizado conscientemente, sendo parte fundamental da criação do

autor; comporta-se não como plágio involuntário, mas,

frequentemente, é um dos objetivos de determinada obra a

CITAÇÃO explícita para fins de REFERÊNCIA, HOMENAGEM ou,

ainda, PARÓDIA.

Intertextualidade – esse palavrão...

Page 5: Intertextualidade e linguagem   Catia Delatorre

Na prova do ENEM, na maneira como são explicitados seus conteúdos e

habilidades, fala-se muito sobre questões como “DIVERSIDADE DE GÊNEROS

TEXTUAIS”, “O TEXTO EM INTERAÇÃO COM DIVERSOS CONTEXTOS” e

“COMPREENSÃO DE DIVERSAS LINGUAGENS TEXTUAIS E ARTÍSTICAS”

(onde devemos, portanto, compreender que um texto pode expressar-se como

imagem, propaganda, palavra escrita ou símbolo). Logo, compreender a forma

como um texto (artístico ou não) comporta-se na sua composição é uma habilidade

importante, pois perceber a INTERTEXTUALIDADE denota CONHECIMENTO DA

CULTURA e de como o SENSO COMUM influencia nossa LEITURA DE MUNDO.

Intertextualidade – esse palavrão...

Page 6: Intertextualidade e linguagem   Catia Delatorre

Há, basicamente, duas maneiras de se perceber a intertextualidade...

• Uma explícita, facilmente notada e parte do corpo do texto (geralmente apoiando-se justamente

no conhecimento do senso comum por parte do leitor/espectador).

Na série cinematográfica Shrek, por exemplo...

INTERTEXTUALIDADE

...É fundamental a

presença de diversas

referências dos

contos de fadas (ou

contos infantis)...

...Temos o Gato de Botas...

... Há personagens importantes na

trama, como Rapunzel, Branca de

Neve, Cinderela e muitos outros,

todos misturados...

...Sobra espaço até para outras

citações, como o filme Matrix,

lendas medievais, etc, até

mesmo em cenas “soltas”...

Page 7: Intertextualidade e linguagem   Catia Delatorre
Page 8: Intertextualidade e linguagem   Catia Delatorre

• O outro caso de ocorrência de INTERTEXTO é quando este está implícito, mais subjetivo, portanto,

dependendo muito do olhar do leitor/espectador para ser encontrado e, muitas vezes, colocado de

forma inconsciente pelo autor, justamente pelo fato de certas INFLUÊNCIAS ou REFERÊNCIAS de

senso comum estarem tão dispersas no mundo que essas acabam surgindo naturalmente.

A história da saga Crepúsculo, por exemplo, tenta renovar os mitos vampíricos tão presentes na

cultura de massa...

INTERTEXTUALIDADE

...Ainda que não

se consigam

evitar outras

referências

clássicas do

gênero, como

Drácula.

...Com

direito a

referências

como A Bela

e a Fera...

...Abrindo espaço para a

velha história do “amor

proibido”, que remete a

Romeu e Julieta, Tristão e

Isolda...

Page 9: Intertextualidade e linguagem   Catia Delatorre

Semana que vem

Pitty

Amanhã eu vou revelar

Depois eu penso em aprender

Daqui a uns dias eu vou dizer

O que me faz querer gritar

No mês que vem tudo vai melhorar

Só mais alguns anos e o mundo vai mudar

Ainda temos tempo até tudo explodir

Quem sabe quanto vai durar

Não deixe nada pra depois

Não deixe o tempo passar

Não deixe nada pra semana que vem

Porque semana que vem pode nem chegar

A partir de amanhã eu vou discutir

Da próxima vez eu vou questionar

Na segunda eu começo a agir

Só mais duas horas pra eu decidir (...)

Carpe Diem

Horácio

Não indagues muito: é cruel querer saber

Que fim nos reservaram os deuses; nem

Fiques consultando os números babilônios.

Pode ser que Júpiter te conceda muitos

[invernos,

Ou somente este último, como expressa

[agora

o mar tirreno ao bater nas rochas.

Sê sensato, bebe teu vinho e abrevia as

[longas esperanças,

Pois o tempo foge enquanto aqui parlamos.

Curte o dia de hoje – não te fies no futuro!

Page 10: Intertextualidade e linguagem   Catia Delatorre

INTERTEXTUALIDADE não demonstra falta de originalidade, necessariamente, mas, muitas

vezes, uma nova noção sobre o que é originalidade. Inferir que um texto utiliza outro texto na

sua construção é um exercício comparativo comum do ser humano; está muito evidente na

propaganda (no uso de símbolos de marcas, por exemplo) e, no texto artístico, apóia-se no

conhecimento dos clássicos.

Canção do Exílio

Gonçalves Dias

Minha terra tem palmeiras,

Onde canta o Sabiá;

As aves, que aqui gorjeiam,

Não gorjeiam como lá.

Nosso céu tem mais estrelas,

Nossas várzeas têm mais flores,

Nossos bosques têm mais vida,

Nossa vida mais amores.

Em cismar, sozinho, à noite,

Mais prazer eu encontro lá;

Minha terra tem palmeiras,

Onde canta o Sabiá.

Minha terra tem primores,

Que tais não encontro eu cá;

Em cismar –sozinho, à noite–

Mais prazer eu encontro lá;

Minha terra tem palmeiras,

Onde canta o Sabiá.

Não permita Deus que eu morra,

Sem que eu volte para lá;

Sem que disfrute os primores

Que não encontro por cá;

Sem qu'inda aviste as

palmeiras,

Onde canta o Sabiá.

HINONACIONALBRASILEIRO

Page 11: Intertextualidade e linguagem   Catia Delatorre

Canção do Exílio Facilitada

José Paulo Paes

lá?

ah!

sabiá...

papá...

maná...

sofá...

sinhá...

cá?

bah!

Nova Canção do Exílio

Carlos Drummond de Andrade

Um sabiá na

palmeira, longe.

Estas aves cantam

um outro canto.

O céu cintila

sobre flores úmidas.

Vozes na mata, e o maior amor.

Só, na noite,

seria feliz:

um sabiá,

na palmeira, longe.

Onde tudo é belo

e fantástico,

só, na noite,

seria feliz.

(Um sabiá,

na palmeira, longe.)

Ainda um grito de vida

e voltar

para onde tudo é belo

e fantástico:

a palmeira, o sabiá,

o longe.

Page 12: Intertextualidade e linguagem   Catia Delatorre

Quando falamos sobre ENEM, há um termo

importantíssimo que é sempre lembrado:

INTERDISCIPLINARIDADE. A possibilidade de, por

exemplo, poder ler um texto a partir de perspectivas

diversas pode vir a ser um indício de INTERTEXTUALIDADE.

Page 13: Intertextualidade e linguagem   Catia Delatorre

QUESTÕES – ENEM

1) Quem não passou pela experiência de estar lendo um texto e defrontar-se com passagens já

lidas em outros? Os textos conversam entre si em um diálogo constante. Esse fenômeno tem a

denominação de intertextualidade. Leia os seguintes textos:

I. Quando nasci, um anjo torto

Desses que vivem na sombra

Disse: Vai Carlos! Ser “gauche” na vida

(ANDRADE, Carlos Drummond de. Alguma poesia. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1964)

II. Quando nasci veio um anjo safado

O chato dum querubim

E decretou que eu tava predestinado

A ser errado assim

Já de saída a minha estrada entortou

Mas vou até o fim.

(BUARQUE, Chico. Letra e Música. São Paulo: Cia das Letras, 1989)

Page 14: Intertextualidade e linguagem   Catia Delatorre

III. Quando nasci um anjo esbelto

Desses que tocam trombeta, anunciou:

Vai carregar bandeira.

Carga muito pesada pra mulher

Esta espécie ainda envergonhada.

(PRADO, Adélia. Bagagem. Rio de Janeiro: Guanabara, 1986)

Adélia Prado e Chico Buarque estabelecem intertextualidade, em relação a Carlos

Drummond de Andrade, por

(A) reiteração de imagens.

(B) oposição de idéias.

(C) falta de criatividade.

(D) negação dos versos.

(E) ausência de recursos

Page 15: Intertextualidade e linguagem   Catia Delatorre

Deve ser observado que a questão relaciona os dois textos,

concomitantemente, ao original, de Drummond – não apenas

um deles. As imagens repetidas (reiteradas) não

necessariamente concordam com o poema de Carlos

Drummond de Andrade, mas convém ressaltar que os versos

de “Até o Fim”, de Chico Buarque, utilizam plenamente o

sentido do primeiro texto; diferentemente de Adélia Prado que,

isoladamente, e só dessa forma, traz sentidos opostos à

imagens de Drummond. Somados (unidos), os dois textos são

apenas reiterações.

Page 16: Intertextualidade e linguagem   Catia Delatorre

2) Cândido Portinari (1903-1962), um dos mais importantes artistas brasileiros do século XX,

tratou de diferentes aspectos da nossa realidade em seus quadros.

1.

2.

3.

4.

Page 17: Intertextualidade e linguagem   Catia Delatorre

Sobre a temática dos retirantes, Portinari também escreveu o seguinte poema:

(….)

Os retirantes vêm vindo com trouxas e embrulhos

Vêm das terras secas e escuras; pedregulhos

Doloridos como fagulhas de carvão aceso

Corpos disformes, uns panos sujos,

Rasgados e sem cor, dependurados

Homens de enorme ventre bojudo

Mulheres com trouxas caídas para o lado

Pançudas, carregando ao colo um garoto

Choramingando, remelento

(….)

(PORTINARI, Cândido. Poemas. Rio de Janeiro: José Olympio, 1964.)

Das quatro obras reproduzidas, assinale aquelas que abordam a problemática que é tema do

poema.

(A) 1 e 2 (B) 1 e 3 (C) 2 e 3 (D) 3 e 4 (E) 2 e 4

Page 18: Intertextualidade e linguagem   Catia Delatorre

Para esta questão, um breve conhecimento da obra de Portinari

seria interessante. A obra “Retirantes” (imagem 2) é um de

seus clássicos e traz, povoado pela referência expressionista,

dramaticidade, tristeza e terror à imagem da seca e desses

indivíduos que migram pelos espaços miseráveis do interior

nordestino. A imagem 1 faz referência aos salões de baile

aristocráticos do início do século, enquanto a imagem 4 traz a

figura de um cangaceiro, um habitante típico da “mitologia”

nordestina, mas que foge à temática do retirante, sempre

associada à miséria e ao sofrimento. A imagem 3 é uma outra

versão da mesma obra, sem a presença tão marcante do horror

que está expresso na imagem 2, influenciado por certas

marcas cubistas, mas, ainda assim, com a presença dos

mesmos temas.

Page 19: Intertextualidade e linguagem   Catia Delatorre

3)

Texto 1: "Mulher, Irmã, escuta-me: não ames,

Quando a teus pés um homem terno e curvo

jurar amor, chorar pranto de sangue,

Não creias, não, mulher: ele te engana!

As lágrimas são gotas da mentira

E o juramento manto da perfídia."

Joaquim Manoel de Macedo

Texto 2: "Teresa, se algum sujeito bancar o

sentimental em cima de você

E te jurar uma paixão do tamanho de um

bonde

Se ele chorar

Se ele ajoelhar

Se ele se rasgar todo

Não acredite não Teresa

É lágrima de cinema

É tapeação

Mentira

CAI FORA"

Manuel Bandeira

Page 20: Intertextualidade e linguagem   Catia Delatorre

Os autores, ao fazerem alusão às imagens da lágrima sugerem que:

(A) há um tratamento idealizado da relação homem/mulher.

(B) há um tratamento realista da relação homem/mulher.

(C) a relação familiar é idealizada.

(D) a mulher é superior ao homem.

(E) a mulher é igual ao homem.

Page 21: Intertextualidade e linguagem   Catia Delatorre

A questão guarda a particularidade da referência à lágrima

indicada no enunciado. Fora isso, poderia ser dito, de fato, que

há um tratamento realista e até irônico, por parte dos autores,

sobre as relações amorosas; mas é a imagem da lágrima que

nos importa e, nesse sentido, há uma negação da mesma,

mostrando o quanto o exagero está expresso no ato de chorar

em frente à pessoa amada quando o homem o faz (“lágrima de

cinema”, como dito por Manuel Bandeira). A sutileza está no

fato de que tanto Bandeira quanto Joaquim Manuel de Macedo

indicam que há, no senso comum, idealização nas relações,

não realismo, veracidade. É a idealização que é, portanto,

negada por eles.

Page 22: Intertextualidade e linguagem   Catia Delatorre

4) Os transgênicos vêm ocupando parte da imprensa com opiniões ora favoráveis ora desfavoráveis. Um

organismo, ao receber material genético de outra espécie, ou modificado da mesma espécie, passa a

apresentar novas características. Assim, por exemplo, já temos bactérias fabricando hormônios humanos,

algodão colorido e cabras que produzem fatores de coagulação sangüínea humana. O belga René Magritte

(1896 – 1967), um dos pintores surrealistas mais importantes, deixou obras enigmáticas.

Caso você fosse escolher uma ilustração para um artigo sobre os transgênicos, qual das obras de Magritte,

abaixo, estaria mais de acordo com esse tema tão polêmico?

(A)

(B)

(C)

(D)

(E)

Page 23: Intertextualidade e linguagem   Catia Delatorre

A questão da transgenia apontada nesta questão está

particularmente associada ao trecho que afirma que “Um

organismo, ao receber material genético de outra espécie, ou

modificado da mesma espécie, passa a apresentar novas

características”. Logo, devemos estar atentos a ideia da

mistura, da fusão de elementos diferentes que forma algo

novo, talvez até híbrido – visivelmente percebido na imagem do

“homem-peixe” da opção B

Page 24: Intertextualidade e linguagem   Catia Delatorre

5) Cândido Portinari (1903-1962), em seu livro Retalhos de Minha Vida de Infância,

descreve os pés dos trabalhadores.

Pés disformes. Pés que podem contar uma história. Confundiam-se com as pedras e os

espinhos. Pés semelhantes aos mapas: com montes e vales, vincos como rios. (...) Pés

sofridos com muitos e muitos quilômetros de marcha. Pés que só os santos têm. Sobre a

terra, difícil era distingui-los. Agarrados ao solo, eram como alicerces, muitas vezes

suportavam apenas um corpo franzino e doente.

(PORTINARI, Cândido. Retrospectiva. Catálogo MASP)

As fantasias sobre o Novo Mundo, a diversidade da natureza e do homem americano e a

crítica social foram temas que inspiraram muitos artistas ao longo de nossa História. Dentre

estas imagens, a que melhor caracteriza a crítica social contida no texto de Portinari é

Page 25: Intertextualidade e linguagem   Catia Delatorre

(A)

(B)

(C)

(D)

(E)

Page 26: Intertextualidade e linguagem   Catia Delatorre

Uma questão simples, que exige um nível de leitura bastante

superficial. Como é comum no ENEM, a relação entre texto e

imagem, em nível intertextual, é solicitada, principalmente

quanto à sensibilidade do leitor – poder observar uma imagem

sem estar isento de emoção. São apenas as opções D e E que

causam alguma dúvida, pelo uso da fotografia, o que dá

alguma percepção de verossimilhança; mas é na opção E que

encontra-se a relação com trechos como “Pés disformes. Pés

que podem contar uma história”, “Pés sofridos com muitos e

muitos quilômetros de marcha”, que “Confundiam-se com as

pedras”, uma provocação que a imagem indica, pois, pela

deformidade e visíveis marcas da idade, do trabalho, etc,

“difícil era distingui-los”.

Page 27: Intertextualidade e linguagem   Catia Delatorre

OUTRAS QUESTÕES

1) (FUVEST)

Chega!

Meus olhos brasileiros se fecham saudosos.

Minha boca procura a Canção do Exílio..

Como era mesmo a Canção do Exílio.?

Eu tão esquecido de minha terra ...

Ai terra que tem palmeiras

onde canta o sabiá!

(ANDRADE, Carlos Drummond de. “Europa, França e Bahia”. In:

Alguma Poesia. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1964)

Neste excerto, a citação e a presença de trechos ........ constituem um caso de ........ .

Page 28: Intertextualidade e linguagem   Catia Delatorre

Os espaços pontilhados da frase acima deverão ser preenchidos, respectivamente, com o

que está em:

a) do famoso poema de Álvares de Azevedo / discurso indireto.

b) da conhecida canção de Noel Rosa / paródia.

c) do célebre poema de Gonçalves Dias / intertextualidade.

d) da célebre composição de Villa-Lobos / ironia.

e) do famoso poema de Mário de Andrade / metalinguagem.

Page 29: Intertextualidade e linguagem   Catia Delatorre

Mais uma vez, Drummond retoma o clássico de Gonçalves

Dias, citado nominalmente nos versos. Tal como no ENEM, a

Fuvest aposta, aqui, no conhecimento do senso comum, obtido

através de um texto fundamental para a construção da própria

brasilidade. A intextualidade é um conceito genérico que, aqui,

seria o mais bem aplicado, pois, ainda que abarque questões

como metalinguagem, paródia, entre outros, não aplica

nenhum desses nesta questão.

Page 30: Intertextualidade e linguagem   Catia Delatorre

2) (UNICAMP-SP)

Leia com atenção esse poema de Carlos de Oliveira e responda às questões que seguem.

Lavoisier

Na poesia,

natureza variável

das palavras,

nada se perde

ou cria,

tudo se transforma:

cada poema,

no seu perfil

incerto

e calígrafo,

já sonha

outra forma.

O princípio enunciado por Lavoisier, na Química, diz que “na natureza nada se cria, nada se perde, tudo se

transforma”.

a) O que teria levado Carlos de Oliveira a dar a esse poema o título de “Lavoisier”?

b) Como podem ser interpretados seus versos finais (“cada poema / no seu perfil / incerto / e calígrafo, / já

sonha / outra forma.”)?

Page 31: Intertextualidade e linguagem   Catia Delatorre

Um exemplo de uma típica questão interdisciplinar que aposta

na interdisciplinaridade. Sem os conhecimentos obtidos nas

áreas de Química e Biologia, ficaria bem mais difícil interpretar

o poema e o sentido brincalhão do seu título.

Page 32: Intertextualidade e linguagem   Catia Delatorre

A REDAÇÃO DO ENEM

Page 33: Intertextualidade e linguagem   Catia Delatorre

Caracterizada por sempre abordar temáticas de cunho político-

social, uma das particularidades da prova de Redação do ENEM é

embasar a proposta em algo que flutue em torno de políticas

públicas relacionadas ao tema – um caso bastante visível em

algumas questões dentro das outras provas também.

Na proposta de 2009, solicitou-se que o candidato refletisse sobre a

seguinte questão: O INDIVÍDUO FRENTE À ÉTICA NACIONAL.

Trata-se de uma oportunidade de questionar – “sem ferir os direitos

humanos”, como sempre lembra a prova – aspectos cruciais da

própria brasilidade. O que salta aos olhos é a presença constante,

nas redações do Exame Nacional do Ensino Médio, de discutir os

efeitos e consequências que certas práticas sociais têm na vida do

cidadão brasileiro, preservando o caráter de unidade nacional

que a prova, como um todo, guarda.

Page 34: Intertextualidade e linguagem   Catia Delatorre

Apesar da impressão generalista que o tema nos impõe, é

importante perceber que a exigência da habilidade de leitura do

ENEM é solicitada, inclusive, na prova de Redação (que, em princípio,

é apenas uma avaliação de produção textual). Isso é notável na

organização da proposta de redação, que pede para que se inspire

nos textos de apoio

TEXTO 1:

Millôr Fernandes

Page 35: Intertextualidade e linguagem   Catia Delatorre

TEXTO 2:

TEXTO 3:

Lya Luft (adaptado)

Contardo Calligaris (adaptado)

Page 36: Intertextualidade e linguagem   Catia Delatorre

Os textos de apoio indicam, por sua vez, uma redução do

tema ao sub-tema “honestidade” que, teoricamente,

deveria nortear a questão da “ética nacional” apontada no

enunciado da proposta.

A seguir, veremos um texto modelar quanto à abordagem

da proposta. Bastante consciente de seu posicionamento,

o autor manipula muito bem as informações, produzindo

um texto crítico, porém equilibrado.

Page 37: Intertextualidade e linguagem   Catia Delatorre

Uma redação modelo*:

Na década de 80, foi veiculado, em canais abertos da TV, uma propaganda de cigarros

que usava como ícone um jogador da seleção brasileira: o Gerson. Versava essa propaganda sobre o

certo e errado. O certo seria o sujeito sempre tirar vantagem, em qualquer situação em que estivesse.

Essa ideia, a de que é correto sempre “se dar bem”, tem muito a ver com o caráter do

político brasileiro e vai de encontro a questões elementares de ética. Se a tendência é sempre tirar

proveito da situação para benefício próprio, como pode o indivíduo representar alguma parcela da

população, por exemplo? A grande questão é que por mais que condenemos esse tipo de atitude,

quando ela acaba sendo personificada através de alguma pessoa pública, temos uma forte tendência

a fazer vista grossa em situações em que os dilemas morais corriqueiros se apresentam – o troco do

pão que foi dado a mais e não o devolvemos; o “gato” na luz, na TV, na água; da fila “furada” nos

bancos.

Talvez a nossa indignação frente às atitudes não éticas exercidas por toda a classe política

seja velada, porque sabemos que, no fundo, o político é, antes de sua função, um cidadão com os

mesmos princípios que a maioria de nós. A grande diferença é que ele está mais exposto. Muito antes

de pôr milhões de dólares na cueca, ele afanava algumas inocentes balinhas na fila do caixa do

supermercado.

Com certeza, a máquina pública facilita a vida do malandro. Mas o malandro só se torna

um político corrupto porque, quando jovem, os preceitos éticos jamais lhe foram suficientes para

moldar o seu caráter.

*Texto de autoria de um vestibulando. Escrito em 2010.

Page 38: Intertextualidade e linguagem   Catia Delatorre

ALGUMAS CONSIDERAÇÕES:

Na década de 80, foi veiculado, em canais abertos da TV, uma propaganda de

cigarros que usava como ícone um jogador da seleção brasileira: o Gerson. Versava essa

propaganda sobre o certo e errado. O certo seria o sujeito sempre tirar vantagem, em qualquer

situação em que estivesse.

Essa ideia, a de que é correto sempre “se dar bem”, tem muito a ver com o caráter do

político brasileiro e vai de encontro a questões elementares de ética. Se a tendência é sempre

tirar proveito da situação para benefício próprio, como pode o indivíduo representar alguma

parcela da população, por exemplo? A grande questão é que por mais que condenemos esse

tipo de atitude, quando ela acaba sendo personificada através de alguma pessoa pública, temos

uma forte tendência a fazer vista grossa em situações em que os dilemas morais corriqueiros se

apresentam – o troco do pão que foi dado a mais e não o devolvemos; o “gato” na luz, na TV,

na água; da fila “furada” nos bancos. (...)

EXEMPLOS INTEGRADOSCOM O CONTEXTO NACIONAL

DEVE-SE TOMAR CUIDADO COM GENERALIZAÇÕES!

(NESTE CASO, POSTERIORMENTE, O TEXTO CONSEGUE ARGUMENTAR

DE FORMA COERENTE)

DETERMINADOS TERMOS SUAVIZAM A POSTURA DO ESCRITOR, TORNANDO O

TEXTO MENOS REDUCIONISTA.

USO REDUNDANTE DO PRONOME OBLÍQUO

“DA” NO LUGAR DE “A”: FALTA DE

COESÃO/PARALELISMO