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Intercom – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação XXXIX Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação – São Paulo - SP – 05 a 09/09/2016 O Herói Olímpico entre a Tradição e a Cultura Pop: Reflexões Iniciais sobre Estudo de Caso da Cobertura Pré-Rio 2016 do jornal gratuito Metro 1 Anderson Gurgel CAMPOS 2 Universidade Presbiteriana Mackenzie e Centro Universitário Belas Artes, São Paulo, SP Resumo Neste paper, vamos introduzir a pesquisa em desenvolvimento sobre a cobertura jornalística do período pré-Jogos Olímpicos Rio 2016, em especial as reportagens sobre atletas com maior probabilidade de conquistar uma medalha de ouro durante as disputas. O recorte da análise é uma parte de uma série de reportagens visuais, publicadas no jornal gratuito Metro entre os dias 24 de maio e 14 de junho de 2016 e que apresentam esses candidatos a medalhistas como heróis esportivos. O diferencial dessa série é o deslocamento da construção simbólica desses atletas do ideário de herói tradicional para o sentido de super-herói dentro da cultura pop, sob influência do universo de HQs e filmes da Marvel e DC Comics. A questão que investigamos é justamente a mudança de estratégias comunicativas num contexto de discussão sobre o papel do jornalismo na sociedade contemporânea. Palavras-chave: Rio 2016; herói olímpico; tradição olímpica; cultura pop; jornalismo esportivo. Introdução sobre o herói e a façanha nas olimpíadas: trajeto e metáforas “Mais rápido. Mais alto. Mais forte.” O lema olímpico sintetiza magistralmente do que se tratam as competições esportivas dentro de uma olimpíada: trata-se de o ser humano pôr-se à prova, superar desafios, realizar façanhas. Àqueles que conseguem superar as barreiras, os desafios e os limites do corpo, do espaço e do tempo, realizando o sublime ato de levar o esporte a novos patamares, mais que uma medalha, é dado, pelos espectadores (por todos os que assistem àqueles que se colocam à prova), o reconhecimento da história: tornam-se heróis. Arthur da Távola (1985, p. 11) comenta que “o herói (...) é o centro dos acontecimentos por simbolizar o ser humano em sua etapa evolutiva”. A teoria literária e os estudos sobre o mito dedicam-se extensivamente aos estudos sobre o herói e suas façanhas. No contexto de uma olimpíada, grande parte do heroísmo surge justamente do relato da façanha que permite que o feito vire memória e possa, inclusive, sair do ambiente da competição e “ganhar o mundo”, fazendo do protagonista da narrativa uma lenda entre os 1 Trabalho apresentado no GP de Comunicação e Esporte do XVI Encontro dos Grupos de Pesquisa em Comunicação, evento componente do XXXIX Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação. 2 Doutor em Comunicação e Semiótica, pesquisador de comunicação e esporte e professor de Jornalismo da Universidade Presbiteriana Mackenzie e Centro Universitário Belas Artes. E-mail: [email protected].

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Intercom – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação XXXIX Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação – São Paulo - SP – 05 a 09/09/2016

O Herói Olímpico entre a Tradição e a Cultura Pop: Reflexões Iniciais sobre Estudo de Caso da Cobertura Pré-Rio 2016 do jornal gratuito Metro1

Anderson Gurgel CAMPOS2

Universidade Presbiteriana Mackenzie e Centro Universitário Belas Artes, São Paulo, SP Resumo

Neste paper, vamos introduzir a pesquisa em desenvolvimento sobre a cobertura jornalística do período pré-Jogos Olímpicos Rio 2016, em especial as reportagens sobre atletas com maior probabilidade de conquistar uma medalha de ouro durante as disputas. O recorte da análise é uma parte de uma série de reportagens visuais, publicadas no jornal gratuito Metro entre os dias 24 de maio e 14 de junho de 2016 e que apresentam esses candidatos a medalhistas como heróis esportivos. O diferencial dessa série é o deslocamento da construção simbólica desses atletas do ideário de herói tradicional para o sentido de super-herói dentro da cultura pop, sob influência do universo de HQs e filmes da Marvel e DC Comics. A questão que investigamos é justamente a mudança de estratégias comunicativas num contexto de discussão sobre o papel do jornalismo na sociedade contemporânea. Palavras-chave: Rio 2016; herói olímpico; tradição olímpica; cultura pop; jornalismo esportivo. Introdução sobre o herói e a façanha nas olimpíadas: trajeto e metáforas

“Mais rápido. Mais alto. Mais forte.” O lema olímpico sintetiza magistralmente do

que se tratam as competições esportivas dentro de uma olimpíada: trata-se de o ser humano

pôr-se à prova, superar desafios, realizar façanhas. Àqueles que conseguem superar as

barreiras, os desafios e os limites do corpo, do espaço e do tempo, realizando o sublime ato

de levar o esporte a novos patamares, mais que uma medalha, é dado, pelos espectadores

(por todos os que assistem àqueles que se colocam à prova), o reconhecimento da história:

tornam-se heróis.

Arthur da Távola (1985, p. 11) comenta que “o herói (...) é o centro dos

acontecimentos por simbolizar o ser humano em sua etapa evolutiva”. A teoria literária e os

estudos sobre o mito dedicam-se extensivamente aos estudos sobre o herói e suas façanhas.

No contexto de uma olimpíada, grande parte do heroísmo surge justamente do relato da

façanha que permite que o feito vire memória e possa, inclusive, sair do ambiente da

competição e “ganhar o mundo”, fazendo do protagonista da narrativa uma lenda entre os

1 Trabalho apresentado no GP de Comunicação e Esporte do XVI Encontro dos Grupos de Pesquisa em Comunicação, evento componente do XXXIX Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação. 2 Doutor em Comunicação e Semiótica, pesquisador de comunicação e esporte e professor de Jornalismo da Universidade Presbiteriana Mackenzie e Centro Universitário Belas Artes. E-mail: [email protected].

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demais seres humanos. E alimentando imaginários míticos que permeiam as relações

humanas.

De certa forma, no sistema olímpico moderno, cabe aos meios de comunicação de

massa o papel de construir as narrativas mais persistentes sobre as competições esportivas.

Uma das formas mais efetivas, nesse contexto, é o jornalismo que se dedica ao esporte. Por

meio dele é que o feito de um atleta sai do local de competição onde ocorreu e alcança

públicos que não estiveram in loco ou mesmo no momento da prática esportiva.

O jornalismo esportivo, assim, vai ser fundamental para a construção e reconstrução

de um imaginário dinâmico sobre o que é ser um herói perante a sociedade. Desde as

narrativas tradicionais, que vão retomar o ideário grego, aos novos imaginários de uma

cultura pop efervescente, as narrativas de heroísmo esportivo sempre foram fundamentais e

não foi diferente durante os Jogos Olímpicos Rio 2016.

Távola nos lembra de que

“Mito é uma forma comunicativa de conservar e de significar valor através de um símbolo ou meta-símbolo, que expressa, amplia, antecipa, fixa, esclarece, oculta ou exalta o valor significado. É, portanto, uma verdade profunda da mente (Ibidem, p. 11)”.

A chegada das olimpíadas ao Rio de Janeiro, em 2016, trouxe desafios variados para

o mundo esportivo. E, como sempre no mundo dos megaeventos esportivos, utiliza de

estratégias comunicativas centradas em gestão das imagens (CAMPOS, 2014a) para

estabelecer-se, comunicar-se e, por fim, impor seu modelo. Os mitos e as narrativas

heroicas, nesse contexto, são muito utilizadas para fazer com que esse projeto se viabilize

no imaginário social.

Por isso, além de todas as discussões sobre a preparação, execução e legados deste

megaevento esportivo, também apontamos como um tema pertinente à investigação o papel

e o trabalho desenvolvido pelas empresas de comunicação no processo de midiatização dos

jogos olímpicos. Entre as várias facetas comunicacionais, interessa-nos particularmente a

questão do jornalismo esportivo ante ao desafio de retratar as competições do que foi a

primeira edição de uma olimpíada no continente sul-americano.

São vários os fatores que fazem com que o jornalismo esportivo nos Jogos Rio 2016

seja um tema da maior relevância para pesquisas em comunicação. Ao longo deste artigo,

abordaremos aspectos fundamentais. Contudo, já preliminarmente, podemos colocar como

uma questão central para esse trabalho a problemática a cerca de quais são as estratégias

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usadas pelo jornalismo esportivo brasileiro – que notadamente dedica grande parte da sua

atuação ao futebol – para atuar e retratar um contexto de esporte muito adverso (e

extremamente complexo de significados e histórico) do futebolístico, como é o caso de uma

edição de jogos olímpicos.

Dessa dúvida geral, que permeia as pesquisas que estamos atualmente

desenvolvendo3, identificamos no caso aqui em análise, do jornal gratuito Metro, que é

distribuído em pontos centrais da cidade de São Paulo, um excelente objeto para auxiliar na

compreensão da questão geral destacada acima. Como eixos norteadores desta pesquisa,

temos como hipótese a ideia de que uma das estratégias usadas é justamente usar de

recursos da cultura pop, como é o caso das figuras dos super-heróis, para gerar uma

narrativa mais “palatável”, mais “popular”, para o público pouco acostumado com o esporte

além do futebol.

Outro aspecto relevante e que temos como uma hipótese mais filosófica desta

pesquisa ainda em desenvolvimento é a ideia que levantamos de que há uma troca do

imaginário do herói clássico. Esse, que é atinente aos valores e cultura das olimpíadas, é

substituído pelo imaginário pop dos heróis do mundo das HQs e do cinema de filmes de

Marvel e DC Comics.4

Em um contexto de desafio para o jornalismo esportivo, ao lidar com o mundo

olímpico, um contexto menos rotineiro às práticas cotidianas centradas no futebol, a busca

do imaginário pop, altamente popular no período em que os Jogos Rio 2016 ocorreram,

funcionou como uma forma de estratégia comunicacional bastante ardilosa. Seguindo com

linhas de estudos que já viemos desenvolvendo há algum tempo e que aqui chamaremos de

economia das imagens do esporte (CAMPOS, 2014a), identificamos o caso do jornal

Metro, como uma excelente oportunidade para aplicar a objetos concretos da realidade o

arcabouço teórico citado.

Enfatizamos, ainda, que esta pesquisa, no momento de finalização deste paper,

ainda não está concluída. Após o fim da publicação de todas as edições do especial com os

possíveis atletas em destaque no Rio 2016, voltaremos ao assunto para fazer uma reflexão

final sobre o tema. O que se segue aqui é a primeira versão do estudo, trabalhando com um

corpus reduzido do objeto selecionado.

3 O relato que se segue neste paper é uma versão ainda introdutória do estudo em desenvolvimento, durante o segundo semestre de 2016. 4 Para essa reflexão, seguiremos a linha de estudos proposta por Eco no livro Apocalípticos e Integrados (2006), mas não aprofundaremos sobre essa questão neste paper.

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Os Jogos Olímpicos e os Megaeventos Esportivos

O esporte moderno pode ser explicado sobre variadas definições e classificações.

Contudo, algumas questões se colocam em comum entre a maior parte delas. A primeira é

quanto à organização das práticas esportivas a partir do século XIX, pós-revolução

industrial, expansão do urbano e, principalmente, sob influência da modernidade. Para

abordar uma definição bem simples, lembramos Tubino (1999), que vai dizer que o

desporto se organiza em três grandes manifestações: o alto rendimento, o amador e o

voltado para a educação.5

Ainda que haja divergências entre autores sobre definições e nomenclaturas, é

consenso que, ao longo do século XX, as práticas desportivas voltadas para o alto

rendimento ganharam cada vez mais importância na sociedade, ao ponto de se impor sobre

as demais. Uma das justificativas para esse fato deve-se à associação entre esporte e

espetáculo, principalmente quando falamos de megaeventos esportivos, como esses também

estão sendo definidos atualmente (CAMPOS, 2014a).

O fato é que o esporte de alto rendimento e inserido nos megaeventos esportivos é

distinto da visão tradicional da prática esportiva, mais próxima ao conceito tradicional de

jogo. Ou seja, a prática do jogo, nesse sentido, é descompromissada, livre, lúdica, sem

objetivos de produção e trabalho. Mas como podemos perceber na prática esportiva de alto

rendimento “o velho fator lúdico sofreu uma atrofia quase completa” (HUIZINGA, 2005, p.

220), rompendo com visão lúdica. O competitivo, com vocação para o produtivo, impõe-se

ao modelo do jogar/praticar esporte somente pelo prazer ou sem objetivos maiores.

Por isso, como já abordamos anteriormente (CAMPOS, 2014a), as mais variadas

práticas esportivas modernas, sejam elas do alto rendimento, do mundo amador ou da

educação, acabam sofrendo forte influência do modelo profissional. Isso faz com que o

esporte tenha se tornado uma forma de indústria, com produção de bens simbólicos e

geração de riquezas. E mais: o esporte, com isso, vai se tornar um dos modelos de produção

de imaginário social contemporâneo, tendo os atletas (muitos deles ídolos pop) como

personagens centrais em narrativas típicas que misturam façanhas esportivas e estímulo ao

consumo.6

5 Há autores que vão apontar outras propostas e variações dessa ideia, mas para fins de simplificação, adotaremos a classificação de Tubino (1999), como já citada. 6 Falamos bastante desse tipo de estratégia em Campos (2014a). Filmes publicitários de empresas como Nike, Adidas, Coca-Cola ilustram claramente essa ideia, ao associar o esporte e os ídolos esportivos com produtos de consumo para o público em geral, muitos, inclusive, não-praticantes de qualquer atividade esportiva.

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Assim, é possível afirmar que o esporte de alto rendimento e altamente focado no

espetáculo é parte integrante da sociedade contemporânea:

“O esporte como espetáculo gera um “show de imagens”, que é ingrediente perfeito para o entretenimento na sociedade contemporânea. Jogos, jogadores, jogadas, façanhas e narrativas, arenas, torcedores, produtos, dirigentes, políticos, produtos e celebridades do (e no) esporte são alguns dos itens fundamentais dessa grande fonte geradora de imagens e imaginários que constroem um sistema de práticas e de sentido inseridos no ambiente capitalista do trabalho e da geração de interesses econômicos (CAMPOS, 2014a, p. 149-150).”

Dessa percepção temos um link perfeito para abordar a questão dos megaeventos e,

particularmente, o caso dos Jogos Olímpicos, um dos seus principais casos. A literatura

especializada vai muito além de definir megaeventos esportivos como “eventos esportivos

gigantescos”. Além do tamanho, fazem parte da construção de identidade dessas práticas

questões de ordem econômica, política, de gestão comunicacional, de relações

internacionais, entre outros. Esses megaeventos envolvem também a busca pela vitória

sobre o espaço e o tempo (CAMPOS, 2014a).

Como forma de permanência, é da estratégia dos megaeventos gerar etapas de

realização de forma a ampliar a sua exposição junto aos meios de comunicação e

formadores de opinião. Assim, de toda a campanha para ser sede da Olimpíada à cerimônia

de anúncio da cidade-sede, cumpre-se todo um ritual de atividades. Após a oficialização da

cidade ganhadora até a cerimônia de abertura do evento também se seguem inúmeras

atividades de foro político, econômico, de gestão e etc. Outro exemplo relevante é o evento

de revezamento da tocha, que permite ações de patrocinadores dos jogos olímpicos.

Com isso, percebemos que os megaeventos esportivos possuem, dentro do seu

escopo, muito mais que os os seus dias de realização. Um caso salutar para ilustrar essa

ideia é o da cidade de Barcelona. Sede dos Jogos Olímpicos de 1992, a cidade conseguiu,

por meio do megaevento esportivo, uma estratégia fortalecimento da imagem do país ou

cidade-sede e, por fim, à conquista de turistas. Mais de 20 anos após, a cidade atrai turistas

por causa da mística que envolveu o evento e a sua realização naquela cidade.7

7 Contudo, estudos mais recentes apontam que o caso de Barcelona, mais que regra, é uma exceção. O modelo dos megaeventos esportivos e o discurso de legado do esporte para as cidades-sede estão sendo bastante questionados, pois os fracassos e problemas são muito mais abrangentes que os casos de êxito, como o de Barcelona.

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Entretanto, dentre as várias definições de megaeventos, a que nos soa central é a de

Maurice Roche (apud SILVA, 2006)8, que aponta que o megaevento esportivo é

reconhecido em geral, como “um evento de produção da mídia” com impactos políticos,

econômico e tecnológico. Ou seja, é impossível conceber esse tipo de atividade, sem a

atuação direta dos meios de comunicação de massa.9 A partir dessa breve reflexão,

podemos avançar para uma reflexão sobre a comunicação, já que essas atividades do

esporte-espetáculo são construídas fundamentalmente na relação com as mídias.

O jornalismo Esportivo e a economia das imagens

Para avançar no entendimento proposto para este artigo, precisamos agora chegar ao

cerne da questão envolvendo a midiatização do esporte, por meio do jornalismo esportivo.

De fato, de uma mera disputa seja em qual esporte olímpico for ou, ainda, na tradicional e

concorrida abertura das Olimpíadas, em todos esses casos há duas dinâmicas ocorrendo

simultaneamente: a do jogo que assistimos ao vivo estando na arena e outra, igualmente

importante no mundo atual, que é o jogo assistido pela transmissão dos meios de

comunicação de massa dessa partida, para torcedores fora daquele local de disputa.

Assim, o entendimento sobre o que é comunicação esportiva tem relação com a

percepção de que, nos dois casos, haverá comunicação a serviço do que está sendo

comunicado (o jogo), mas elas terão naturezas distintas (CAMPOS, 2014a). Questão

crucial, isso precisa ser considerado, pois o número de pessoas que se inteiram das práticas

esportivas pelos dispositivos comunicacionais é infinitamente maior que o de pessoas que

podem ir ao campo onde se dá a ação esportiva.

Bourdieu (1997) teoriza sobre isso, ao falar dos Jogos Olímpicos, lembrando que os

megaeventos esportivos geram duas “realidades”, pois são duplamente produzidos:

“Uma primeira vez por todo um conjunto de agentes, atletas, treinadores, médicos, organizadores, juízes, cronometristas, encenadores de todo o cerimonial, que concorrem para o bom transcurso da competição esportiva no estádio (Ibidem, p. 127).”

E, ainda segundo Bourdieu, agora inserindo a ação dos meios de comunicação de

massa:

8 A citação a Maurice Roche está no verbete “Gestão da Segurança dos Megaeventos Esportivos”, desenvolvido pesquisador José da Silva, para o Atlas do Esporte no Brasil, um dos mais importantes portais de informação esportiva nacionais, organizado por Lamartine DaCosta. 9 Em Campos (2014, p. 115-156), desenvolvemos uma ampla reflexão sobre o conceito de megaevento esportivo e sua dimensão comunicacional.

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“Uma segunda vez por todos aqueles que produzem a reprodução em imagens e em discursos desse espetáculo, no mais das vezes sob a pressão da concorrência e de todo o sistema das pressões exercidas sobre eles pela rede de relações objetivas na qual estão inseridos (Ibidem, p.127).”

Por isso, é possível afirmar que há “dois eventos esportivos” acontecendo no campo

comunicacional, o do jogo sendo jogado e um segundo, que é o do jogo sendo convertido

em um produto midiático. Se retomarmos o fato de que o contato midiático é a forma como

massivamente grandes grupos de pessoas se aproximam dos megaeventos esportivos,

percebemos que há um significativo desequilíbrio entre estar em relação direta com o

esporte e estar em relação midiatizada com ele.

A relação do espectador com o esporte, principalmente para aqueles que se

relacionam com o mundo esportivo pelos meios de comunicação de massa, é marcada pelo

sentido dado pelo espetáculo midiático. E o jornalismo é uma das formas em que se dá esse

processo de segunda comunicação do esporte. Acreditamos ser fundamental estudar a

dimensão comunicativa dos megaeventos esportivos – como os Jogos Olímpicos e as Copas

do Mundo de Futebol, entre outros –, pois eles representam o ápice desse processo de

construção de imagens esportivas espetaculares, que são midiatizadas de forma massiva. E,

com isso, eles são um grande desafio para o jornalismo esportivo.

Nas várias camadas de complexidade dos megaeventos esportivos, há uma

complexa rede de fatores simbólicos que geram imagens e elas, ligadas à espetacularização

inerente a esses eventos, criam uma teia contínua de imagens, tecida a partir de uma lógica

de produção de sentido economicamente estruturada (CAMPOS, 2014a).

Para entender a natureza desse tipo de atividade, entendemos que os megaeventos

esportivos funcionam como dispositivos, no sentido dado por Agamben (2009). Eles fazem

parte de um projeto maior de globalização e produção de hegemonia cultural. Assim, os

megaeventos esportivos são constituídos a partir de uma contradição intrínseca, pois eles

aglutinam audiências planetárias com a realização de atividades esportivas em espaços

limitados, para poucos. Vamos além:

“Um megaevento esportivo tem como principal objetivo ser cada vez maior, ser cada vez mais hegemônico, ser um organismo social que perdura crescendo. Para isso, ele vai ‘economizar o esporte’10, como seu recurso estratégico. Ele encontra na gestão das imagens a solução para a escassez inerente ao mundo esportivo. A

10 A explicação a seguir, é do texto original: “Ao usar a expressão ‘economizar’ não queremos dizer somente ‘poupar’. Entendemos que o conceito de ‘economizar’ envolve a ideia de ‘administrar economicamente’, ou seja, fazer a gestão dos recursos, poupando e gastando, em prol de um objetivo maior. (Campos, 2014b: 4).

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espetacularização do esporte cria um ambiente midiático em que MENOS ESPORTE É MAIS MEGAEVENTO ESPORTIVO. Nesse paradoxo sistêmico surge a beleza contraditória de uma Copa do Mundo ou de uma Olimpíada. (CAMPOS, 2014b, p. 4).”

Nos megaeventos esportivos, o mecanismo que ocorre é o da troca das

pessoas/corpos/objetos por imagens como forma de gerar a comunicação almejada, dentro

de um contexto de ambiência midiática. Assim, para ser mais, ser “mega”, os megaeventos

estruturam-se como algo que é menos: abstraem-se os corpos na preferência pelas imagens

espetacularizadas deles. Ou seja, os megaeventos esportivos lidam com um problema

econômico, pois há escassez de espaços, de públicos e de recursos em um mercado com alta

demanda por práticas e atividades esportivas e de entretenimento relacionado ao esporte.

Daí surge a discussão da economia das imagens do esporte, que também já abordamos em

outro momento (CAMPOS, 2014a).

O que nos interessa para entrar na fase final dessa reflexão é que a ideia de

economia pressupõe a gestão de recursos materiais e humanos para o bem comum. É por

isso que se torna importante compreender a estruturação, a gestão e a mediação desses

megaeventos. E, fazer isso, como já vimos com outros termos, é entendê-los a partir da

economia deles. Se eles são ambientes do espetáculo, acúmulos de imagens que mediam

relações entre pessoas, são, por excelência, regidos por uma economia das imagens,

particularizada em economia das imagens do esporte. Assim, “podemos propor o

entendimento da economia das imagens como a organização, a gestão e a comunicação dos

recursos convertidos em bens imagéticos nos ambientes constituídos dentro do ecossistema

da cultura” (CAMPOS, 2014a, p. 199).

É a gestão que permite haver uma economia das imagens. A gestão das imagens é,

por consequência, o mecanismo que permite ao dispositivo dos megaeventos comunicar

mais eficientemente com os seus públicos e suas demandas imediatas: público interno, o

que frequenta estádios, e público externo, que tem acesso ao esporte pelos meios de

comunicação de massa. Buscando eficiência nesse mercado complexo e – como é sabido

por todos – superpovoado de imagens, é que a gestão das imagens permite que aquelas com

mais eficiência no seu papel de realizar a economia dos megaeventos se imponham às

demais e tornem-se centrais no ambiente midiático onde se dá o megaevento esportivo. E

ela vai aparecer na comunicação dos megaeventos das mais variadas maneiras, inclusive no

jornalismo em crise, cada vez mais a serviço dos interesses capitalistas dos megaeventos.

Com o exemplo proposto neste artigo, a seguir, tentaremos aprofundar mais nessa questão.

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Ao fim desta parte, cabe problematizar sobre o jornalismo esportivo no contexto dos

megaeventos, como as Olimpíadas. Buscando-se uma definição clássica, o Dicionário

Enciclopédico Tubino do Esporte (2007, p. 719) diz que ele

“é uma atividade especializada de Jornalismo na qual são transmitidas informações, opiniões (interpretações e críticas) e análises do esporte em qualquer aspecto de sua abrangência sociocultural. O jornalismo esportivo é exercido por jornalistas com conhecimento em esportes em geral ou em aspectos esportivo. (...) A cobertura jornalística esportiva, na sua maioria, é setorizada, podendo incidir sobre clubes, modalidades, entidades dirigentes ou outros aspectos esportivos importantes.”

Ainda o próprio dicionário (ibidem, p. 719) aprofunda e atualizando a questão

acrescentando o impacto que o espetáculo e o entretenimento acabam tendo nessa área:

“o jornalismo esportivo, cada vez mais, tem buscado o sentido do espetáculo, o que leva a uma identificação integrada com o show, o profissionalismo e o negócio. A criação, a difusão e o reconhecimento de ídolos e mitos no Esporte têm sido algumas das iniciativas do Jornalismo Esportivo na construção do espetáculo.”

Barbeiro e Rangel (2006, p. 13) abordam também essa questão afirmando que

“ele (o jornalismo esportivo) se confunde, frequentemente, com puro entretenimento. Isto, por seu lado, propicia o aparecimento de alguns poucos ‘coroados’ e o envolvimento com outras atividades incompatíveis com a prática do jornalismo, como agenciamento de publicidade, marketing e política privada dos clubes, federações, confederações e empresas.”

Para os interesses da pesquisa que fundamenta este paper, a relação entre o

jornalismo e o entretenimento é um dos eixos importantes e que será aprofundada na

continuidade dos estudos. Por hora, aceitamos o entendimento de que o jornalismo

esportivo encontra-se imbricado na fronteira com o esporte-espetáculo, com o marketing

esportivo e com as novas ferramentas de comunicação, na relação com os megaeventos

esportivos e com as raízes epistemológicas da prática na produção de notícias e

informações relevantes a um determinado público.

Este parece ser o contexto no qual o jornalismo esportivo vai substituir a tradição do

herói olímpico, por estratégias da economia das imagens do esporte, pela cultura pop e pelo

universo dos super-heróis.

Análise de caso: o heroísmo em uma nova tradição

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Antes de entrarmos na análise introdutória dos objetos selecionados, cabe uma breve

apresentação sobre o jornal gratuito Metro. Segundo o site institucional do Grupo

Bandeirantes,

“O Metro é resultado de uma aliança estratégica do Grupo Bandeirantes de Comunicação com a Metro Internacional, empresa do grupo sueco Investment AB Kinnevik, criado em 1936 e que atua em diversas áreas da comunicação como Telecom, canais de televisão e telefonia móvel. A Metro Internacional é responsável pela edição do jornal em 21 países da Europa, Américas e da Ásia totalizando mais de 22 milhões de leitores diários em todo o mundo.”11

Um dos expoentes da tendência dos jornais de distribuição gratuita em ruas centrais

de grandes cidades, o Metro chegou ao Brasil, a partir da parceria descrita acima, em 2007,

com o lançamento da edição São Paulo. Aos poucos o veículo ampliou a sua circulação

para mais de 10 cidades brasileiras (São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Porto

Alegre, Brasília, Curitiba, Grande Vitória, Campinas, ABC). Em termos de tiragem,

segundo informações institucionais, a tiragem passa de mais de meio milhão de exemplares

por dia12.

Além da edição impressa, o Metro, como seus concorrentes diretos Destak e o

tradicional MetroNews, conta com um site de notícias, onde estão alocadas as notícias

publicadas na edição impressa e alguns materiais extras. Também fazem parte do trabalho

jornalístico cotidiano o compartilhamento das notícias em redes sociais, como Facebook e

Twitter.

É neste contexto institucional e de estratégias de publicação de notícias que

chegamos aos objetos recortados para a análise inicial neste paper. Como já foi dito

anteriormente, no momento de finalização deste estudo, a série “Superatletas Olímpicos”

ainda não estava finalizada. Optamos, por isso, para fazer uma leitura preliminar com as

quatro primeiras publicações, que perfazem as edições semanais de 24 de maio e 14 de

junho de 2016, sendo que, a cada semana, um novo personagem era introduzido.

A primeira publicação, no dia 24 de maio, na quarta capa do jornal, página 16, foi o

perfil do atleta jamaicano Usain Bolt (figura 1). Um dos grandes nomes do esporte mundial,

o velocista estreou a série de jornalismo visual do Metro. A página tem como título o nome

do velocista, mas há uma estilização na forma de apresentar esse nome, fazendo uma 11 Informações obtidas in: http://www.band.uol.com.br/grupo/outrasmidias.asp. Texto institucional não assinado. Acessado em 10 de julho de 2016. 12 Informações obtidas in: http://www.metrojornal.com.br/nacional/mundo/com-20-anos-de-historia-metro-e-o-maior-jornal-do-mundo-165821 . Texto institucional não assinado. Acessado em 10 de julho de 2016.

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aproximação com a grafia comercial da marca The Flash, que remete ao tradicional

personagem da DC Comics.

Figura 1 – Primeiro perfil publicado

na série “Superatletas Olímpicos": o

velocista jamaicano Usain Bolt,

apresentado como o super-herói da

HQ e do audiovisual, The Flash.

A segunda publicação, no dia 01 de junho de 2016, foi o perfil da jogadora de vôlei

da seleção feminina brasileira Jaqueline Carvalho (figura 2). A reportagem visual, como

nos demais casos, foi publicada na quarta capa, página 16. Diferentemente da página com

Bolt, nessa a chamada é um trocadilho mais direto com a super-heroína que servirá de

metáfora para a atleta, a Mulher Maravilha. O título “Jaqueline Maravilha” explicita qual

será a estratégia comunicativa para apresentar essa possível destaque do Rio 2016.

Figura 2 – Segundo

perfil publicado na série

“Superatletas Olímpicos: a

jogadora brasileira da seleção

de vôlei, Jaqueline Carvalho

como a super-heroína da HQ

e do audiovisual, Mulher

Maravilha.

A terceira publicação, no dia 07 de junho de 2016, também na quarta capa do jornal,

trouxe o ginasta brasileiro Arthur Zanetti (figura 3). Do conjunto em análise é a segunda

capa com brasileiro, junto com a da atleta de vôlei Jaqueline Carvalho. Mantendo o modelo

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usado a partir da segunda edição, nesse caso, também há um trocadilho entre o nome do

atleta e o personagem Superman. Daí a chamada “Superzanetti”.

E a quarta publicação, no dia 14 de junho de 2016, também quarta capa, foi

dedicada ao nadador norte-americano e multimedalhista olímpico Michael Phelps (figura4).

Do conjunto aqui destacado é a segunda reportagem com um atleta de fora do Brasil.

Seguindo o formato adotado desde a segunda edição, a chamada faz um trocadilho,

fundindo nomes: “Aquaphelps”.

Em um trabalho posterior, com a finalização da série no jornal Metro, poderemos

aprofundar nos aspectos de forma e conteúdo, verificando se o padrão de formatação

adotado se manteve, quais personagens fictícios foram associados a quais atletas,

linguagens adotadas, narrativas construídas e etc.

Figuras 3 e 4 – o ginasta brasileiro

Arthur Zanetti e o nadador norte-americano

Michael Phelps, respectivamente,

representados como Super Man e Aquaman

na série de perfis do jornal Metro.

Por hora, como primeira imersão ao objeto, levantaremos alguns aspectos que já se

destacam e que são relevantes para a reflexão que propomos aqui. Do recorte definido, há

claramente um equilíbrio entre brasileiros e estrangeiros. Não há repetição de esportes,

sendo que, com as escolhas feitas, as práticas esportivas apresentadas são: atletismo,

ginástica artística, vôlei e natação. Em termos de distribuição de cobertura entre gêneros, do

total, 3 são destaques masculinos, ou seja, 75% do total.

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Em termos estruturais, as quatro páginas em questão usam a técnica do jornalismo

visual com recursos de infografia para garantir uma página com a sensação de leveza em

termos de leitura, mas sem reduzir o volume de informações. Esse recurso vem sendo

explorado já há muito tempo no jornalismo impresso, como forma de inibir a crise de

redução de leitores.

Nas quatro páginas percebemos que há uma busca de uma solução visual e narrativa

que permita ao jornal construir, sob a tradicional base do jornalismo esportivo, uma

mensagem com a tentativa de surtir um efeito novo. Explicamos: dentro da rotina do

jornalismo esportivo em uma pré-olimpíada não é novidade a publicação de reportagens

que desenvolvam projeções sobre possíveis candidatos a conquistar medalhas e realizar

feitos notáveis. Muito pelo contrário, é um dos temas mais abordados em pautas.

Além disso, em pautas com essa natureza, há alguns abordagens que são regulares:

características do atleta, diferenciais competitivos, adversários, relato dos principais feitos,

características negativas ou fragilidades, entre outros. Esse tipo de informação também se

encontra nas páginas feitas para o especial, contudo, esses temas são figurativizados sobre a

alegoria do mundo dos super-heróis. Assim:

1. Diferenciais competitivos e características sobressalentes do atleta viram “arma

secreta” – esse item aparece nos quatro textos em estudo.

2. Concorrente desses atletas a medalhas nos jogos olímpicos é chamado de

“inimigo número 1”.

3. Companheiro de equipe ou atletas que se desenvolvem alguma ação de

complementariedade com os ídolos em análise são chamados de “aliados”, “superequipe”.

4. As limitações ou desafios a ser superados pelos atletas perfilados são chamadas

na série de reportagens de “pontos fracos”.

5. As façanhas esportivas e grandes conquistas são chamadas na série de “feitos

incríveis”.

Em relação aos aspectos visuais, é comum ao conjunto das quatro páginas em

análise a construção de uma cena “típica” do mundo dos HQs, ou seja, uma ilustração

manipulada por computador que mistura a imagem real do atleta com elementos indiciais

do mundo do super-herói que está metamorfoseado com ele na narrativa do jornal Metro.

Como exemplo, vemos a pauta do Usain Bolt, que é retratado como The Flash em

situação de corrida. Ou, ainda, o nadador Michael Phelps, que é retratado com Aquaman,

no fundo do mar, com tridente na mão e tudo mais. Já o ginasta Zanetti e a jogadora de

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vôlei Jaqueline são retratados em movimentos dos heróis, Superman e Mulher Maravilha,

respectivamente, com grande ênfase para as roupas típicas desses personagens de ficção.

Ainda sob a associação feita pelo jornal entre atletas e super-heróis, podemos

perceber que as associações feitas podem ser divididas em dois grupos: aquelas muito

diretas, de simples associação, como o caso de relacionar Bolt com The Flash ou Phelps

com Aquaman. A característica dos personagens fictícios faz com que a relação seja

bastante direta.

No caso de Zanetti e Jaqueline e a relação com Superman e Mulher Maravilha

respectivamente, a associação é mais abstrata. Ainda que a solução tenha sido estabelecer a

associação de atletas e super-heróis como já apresentada, outras relações poderiam ter sido

exploradas também, como link do ginasta com outro super-herói.

Considerações Finais

Como já dissemos no início deste paper, a pesquisa que estamos desenvolvendo

com essa ação envolvendo a cobertura olímpica do jornal gratuito Metro ainda não está

finalizada, pois a série tem números não publicados no momento de término deste primeiro

texto de análise. Por isso, com o recorte feito, objetivamos mais fundamentar a base teórica

para fazer as análises dos textos solicitados que, efetivamente, finalizar uma análise do

corpus definido.

Com o término da série poderemos voltar às análises para tentar, efetivamente,

apontar como o jornalismo esportivo vem construindo a imagens dos atletas olímpicos

atualmente, cada vez mais deslocada da tradição do esporte grego, na busca de outras

simbolizações mais conectadas com as novas gerações e o repertório de cultura pop delas.

Acreditamos que para uma maior eficiência nessas abordagens, será importante rever dois

autores de referência para essa questão: Morin (1984), com o conceito de “olimpianos” e

Eco (2006), com o conceito de cultura popular e “apocalípticos e integrados”.

Outro aspecto que poderá ser explorado na continuidade desta pesquisa é o fato de

que a página da seção “Superatletas Olímpicos”, não se restringe ao impresso. No site do

jornal, além de cada reportagem publicada com o arquivo original do projeto, à semelhança

do que foi publicado no impresso, há uma versão do conteúdo em vídeo. Os vídeos, na

relação com a peça gráfica, podem render outra interessante reflexão sobre convergência na

cobertura jornalística do esporte. Acreditamos que esta pesquisa, ao fim, poderá contribuir

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para o entendimento das estratégias jornalísticas da cobertura dos Jogos Olímpicos Rio

2016 e seus desdobramentos nos períodos seguintes.

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