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IX Salão de Iniciação Científica – PUCRS, 2008
IX Salão de Iniciação Científica PUCRS
Insuficiência Cardíaca e Colesterol HDL baixo: Análise prospectiva de uma população ambulatorial
Carine Elisabete Rost Drechsler1, Adriana Vier Azevedo
1, Tomas S. Adam, Lívia Descher, Débora
Klein Ferreira, Débora Cardoso, Angela Faistauer, Charles Stefani2, Dr. Luiz Cláudio Danzmann,
Dr. Luiz Carlos Bodanese (orientadores)
1Faculdade de Medicina, PUCRS
2 Residente da Faculdade de Medicina da PUCRS
Introdução
A prevalência da insuficiência cardíaca (IC) vem aumentando nas últimas duas
décadas devido à maior expectativa de vida da população aliada ao incremento da sobrevida
pós-infarto agudo do miocárdio. Esta patologia representa um importante problema de saúde
pública, visto que é causa de crescentes índices de morbidade e mortalidade. No Brasil,
segundo o DATASUS do Ministério da Saúde, atinge cerca de dois milhões de pessoas, e
possui incidência anual de 240 mil [1]. Ocasiona taxa de mortalidade de 30 a 40% ao ano para
classe funcional IV da New York Heart Association adequadamente tratados [1].
A doença arterial coronariana (DAC) é a etiologia mais frequente da IC,
correspondendo 60 a 70% das causas [2,3].
A hipercolesterolemia (principalmente a elevação
do colesterol total e a diminuição do colesterol- HDL) é o principal fator de risco para o
desenvolvimento de doença arterial coronariana, devido ao seu papel inflamatório endotelial
[4,5].
Sakatani et al demonstraram a relação entre os níveis séricos de colesterol total e a
sobrevida em pacientes com ICC classe II e III . Nesse estudo os pacientes com DAC se
beneficiaram com o colesterol total mais baixo, enquanto os pacientes sem DAC tiveram
melhor prognóstico com níveis mais alto de colesterol total [2]. Tamara et al demonstraram
maior mortalidade no grupo de pacientes com níveis de colesterol total < 129mg/dl (76,2%),
quando comparados com pacientes com níveis de colesterol >220mg/dl (44,8%), ambos
homogeneamente divididos entre classes funcionais III e IV. Nesses pacientes, os níveis de
HDL-colesterol foram significativamente mais baixos entre os não sobreviventes ao final de 5
anos de seguimento [6].
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A terapia com hipolipemiantes orais está sendo amplamente utilizada na prevenção de
ICC entre os pacientes com DAC devido à potencial melhora das funções diastólica e sistólica
do ventrículo esquerdo. No entanto, seu papel na sobrevida dos pacientes com insuficiência
cardíaca avançada não está bem estabelecido.
Devido à ocorrência de alterações no metabolismo das lipoproteínas nos pacientes
com insuficiência cardíaca, o papel do perfil lipídico como marcador de risco não está claro
nesta população. Neste contexto, observamos que existe pouca informação publicada sobre o
papel da fração HDL do colesterol em pacientes com IC.
Metodologia
Os pacientes foram selecionados ambulatório de IC do HSL- PUCRS, segundo o
diagnóstico de IC pelos critérios de Framingham. Foi realizada análise prospectiva dos dados
coletados nas consultas entre setembro de 2005 e fevereiro de 2009, a partir de protocolo
previamente definido em consonância com recomendações da Sociedade Brasileira de
Cardiologia e dicotomizados em relação ao valor de colesterol HDL (HDL ≥40mg/dL e
<40mg/dL) e colesterol total (CT ≥ 200mg/dL e <200mg/dL).
Análise estatística:dados quantitativos foram descritos como média ± desvio padrão e
utilizado teste T de Student para testar diferença entre os grupos. Para os dados qualitativos
foi utilizado o χ2.
Resultados
Um total de 59 pacientes com idade de 59±15 anos e fração de ejeção do ventrículo
esquerdo média de 42±14,5%, sendo 53% mulheres. A prevalência de HAS foi de 74%; de
DM 30%; de IAM prévio 30% e 72% dos pacientes apresentaram classe funcional da New
York Heart Association entre II e III. A média do índice de massa corporal (IMC) de
29,8±5,9 kg/m2. Entre os pacientes com colesterol total ≥ 200mg/Dl, foram mais frequentes
os pacientes com classe funcional I da NYHA (n=11; 37,9%; P=0,019). A prevalência de
HAS foi maior no grupo com colesterol total<200mg/dL (72,5% x 27,5%, P=0,022). Com
relação ao colesterol HDL, verificou-se que o grupo com nível sérico <40mg/dL, apresentou
maior prevalência de IAM prévio (69% x 31%, P=0,001) e maior relação cintura quadril
(média 0,99±-0,60 x 0,96±0,80, P=0,04) quando comparado com o grupo HDL > 40mg/dL.
Analisando o CT como fator de risco em relação aos desfechos clínicos expostos, não
observamos um sumarizador de risco estatisticamente significativo.
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Já na avaliação de risco para os desfechos selecionados em relação ao colesterol-HDL
foi observado para o desfecho combinado uma diminuição do risco relativo de 6% (p=0,02),
porém para os demais desfechos não foi observado significância.
Tabela 1:Análise de risco do colesterol total quanto aos desfechos clínicos expostos
Desfecho
Combinado
Óbito Total Óbito
Cardiovascular
Internação
ICC
RR(IC 95%) 0,94 (0,90-
0,99)*
0,94 (0,85-
1,05)
0,92 (0,81-1,06) 0,96 (0,87-
1,05)
Tabela 2: Análise do colesterol HDL quanto aos desfechos clínicos expostos
Conclusão
Esta análise preliminar sugere efeito protetor do HDL-Colesterol em relação ao desfecho
cardiovascular combinado nesta população de pacientes com IC crônica.
Referências
1. Diretrizes da Sociedade Brasileira de Cardiologia para o Diagnóstico e Tratamento da
Insuficiência Cardíaca. Arq Bras Cardiol 1999;72 (supl.1):4- 14.
2. Sakatani T, Shirayama T, Suzaki Y, Yamamoto T, Mani H, Kawasaki T, Sugihara H,
Matsubara H. The association between cholesterol and mortality in heart failure:
comparison between patients with and without coronary artery disease. Int Heart J 2005;
619-28
3. European Heart Journal 2005; 26, 384–416
4. Kannel W. Incidence and Epidemiology of Heart Failure. Heart Failure Reviews, 2000;
5; 167-173
5. Giamouzis G, Butler J. Relationship between heart failure and lipids: the paradigm
continues to evolve. Journal of Cardiac Failure,2007; 13,254-58
6. Horwich T, Hamilton M, Maclellan W, Fonarow G. Low serum total cholesterol is
associated with marked increase in mortality in advanced heart failure. Journal of
cardiac failure 2002; 216-24.
Desfecho Combinado
Óbito Total Internação ICC
RR(IC 95%) 0,72 (0,99-
1,00)
0,89 (0,98-
1,01)
0,91 (0,98-
1,01)
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