instruÇÃo tÉcnica 06/2018...2018/03/21 · cada ator da rede no processo de enfrentamento à...
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COORDENAÇÃO DE APOIO TÉCNICO PERICIAL
CATEP
INSTRUÇÃO TÉCNICA 06/2018
Versão 1.0
Rede de Enfrentamento à Violência contra as
Mulheres
Fevereiro de 2018
APRESENTAÇÃO
A presente Instrução Técnica (IT), elaborada pela Unidade Técnico-Pericial em Serviço
Social, tem por objetivo auxiliar a atuação dos Promotores de Justiça do Ministério Público do
Estado de Goiás nas ações de construção e consolidação da Rede de Enfrentamento à Violência
contra as Mulheres nos municípios onde atuam. O conteúdo da presente Instrução Técnica
compreende os seguintes pontos principais: conceitos de rede; descrição dos principais atores
que podem compor as redes de enfrentamento à violência contra a mulher e de atendimento
à mulher em situação de violência; aspectos importantes do processo de implantação e
fortalecimento da Rede de Enfrentamento à Violência contra a Mulher; e o papel do Ministério
Público nesse enfrentamento.
A implantação de uma rede de serviços e o seu fortalecimento exige que os vários
serviços e instituições que a integram atuem de forma articulada, visando à garantia, com mais
efetividade, dos direitos de seus usuários. É a partir desse entendimento que a Unidade
Técnico-Pericial em Serviço Social apresenta esta Instrução Técnica.
Coordenação de Apoio Técnico Pericial.
Sumário 1. CONCEITOS ....................................................................................................................................... 4
2. NORMATIZAÇÃO APLICÁVEL ........................................................................................................... 7
3. COMPOSIÇÃO DA REDE DE ENFRENTAMENTO À VIOLÊNCIA CONTRA AS MULHERES ................. 8
4. COMPOSIÇÃO DA REDE DE ATENDIMENTO ÀS MULHERES EM SITUAÇÃO DE VIOLÊNCIA ......... 10
5. ASPECTOS IMPORTANTES PARA IMPLANTAÇÃO E FORTALECIMENTO DA REDE DE
ENFRENTAMENTO À VIOLÊNCIA CONTRA A MULHER .................................................................. 17
6. O PAPEL DO MINISTÉRIO PÚBLICO NO FORTALECIMENTO DA REDE DE ENFRENTAMENTO À
VIOLÊNCIA CONTRA AS MULHERES .............................................................................................. 20
7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ..................................................................................................... 22
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1. CONCEITOS
A violência é um fenômeno com múltiplas dimensões; assim, o seu enfretamento
exige a implementação de políticas públicas amplas e articuladas nas várias esferas da vida
social, especialmente da educação, do trabalho, da saúde, da segurança pública, da justiça, da
assistência social. O conceito de violência contra as mulheres abarca diferentes tipos de
violência: a violência doméstica (que pode ser psicológica, sexual, física, moral e patrimonial),
a violência sexual, o abuso e a exploração sexual de mulheres adolescentes/jovens, o assédio
sexual no trabalho, o assédio moral, o tráfico de mulheres, a violência institucional.
Observa-se que ainda existe uma tendência ao isolamento dos serviços e à
desarticulação entre os diversos níveis de governo no enfrentamento da violência contra a
mulher. Nesse sentido, o trabalho em rede se apresenta como um caminho para superar essa
desarticulação e fragmentação dos serviços, objetivando aprimorar os atendimentos
prestados às mulheres. Destaca-se que uma das diretrizes da Política Nacional de
Enfrentamento à Violência contra as Mulheres1 é estruturar a Rede de Atendimento à Mulher
em Situação de Violência nos estados, municípios e Distrito Federal - DF.
Tomando como parâmetro os conceitos sobre rede definidos pelos documentos e
normativas mencionados no último parágrafo deste tópico, assim como no tópico 2 desta IT,
seguem os conceitos de Rede de Atendimento às Mulheres em Situação de Violência e de
Rede de Enfrentamento à Violência contra as Mulheres. Vale destacar que a distinção entre
esses dois conceitos de rede é importante para um melhor entendimento acerca da temática
de redes, porém, as discussões mais recentes sobre a violência contra as mulheres trazem
uma mudança na conceituação da rede de atendimento, ampliando o seu sentido, que é de
enfrentar a violência. Assim, a nomenclatura mais adequada e utilizada hoje é Rede de
Enfrentamento à Violência contra as Mulheres, que abrange não somente aquelas instituições
1 Elaborada pela Secretaria de Políticas para as Mulheres, da Presidência da República (SPM/PR), em
2005.
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e entidades envolvidas diretamente com a assistência às mulheres em situação de violência,
mas, também, outros atores, como os organismos de políticas para as mulheres (por exemplo,
secretarias, diretorias, coordenadorias, superintendências de Políticas para as Mulheres),
serviços de responsabilização e educação para os agressores, coordenadorias das Delegacias
de Atendimento às Mulheres, Núcleos de Gênero do MP, entre outros. Apesar de não
comporem a rede de atendimento às mulheres, esses atores estão envolvidos no combate e
na prevenção da violência, bem como na garantia dos direitos deste público.
A Rede de Atendimento à Mulher em Situação de Violência refere-se ao conjunto de
ações e serviços de diferentes áreas – especialmente a assistência social, a saúde, a justiça e
a segurança pública – destinados à ampliação e à melhoria na qualidade do atendimento, à
identificação e ao encaminhamento das mulheres em situação de violência. A rede de
atendimento contempla o eixo da “assistência” da Política Nacional de Enfrentamento à
Violência contra as Mulheres.
A Rede de Enfrentamento à Violência contra as Mulheres, por sua vez, refere-se à
atuação articulada entre agentes governamentais e não-governamentais formuladores,
fiscalizadores e executores de políticas voltadas para as mulheres, não hierárquica, com o
objetivo de desenvolver estratégias efetivas de prevenção à violência contra a mulheres e
políticas que garantam seus direitos e assistência qualificada, bem como a responsabilização
dos agressores. Observa-se que a ideia de enfrentamento contempla o combate, a prevenção,
a assistência/atendimento e a garantia de direitos das mulheres, aspectos estes que compõem
os Eixos Estruturantes da Política Nacional de Enfrentamento à Violência contra as Mulheres.
Destaca-se que essa atuação articulada implica no reconhecimento da importância de
cada ator da rede no processo de enfrentamento à violência contra a mulher, no
compartilhamento de saberes, ações, objetivos e projetos (Rede de Atenção a Crianças,
Adolescentes e Mulheres em Situação de Violência de Goiânia, maio de 2008).
Diante da exposição desses dois conceitos de rede, pode-se dizer, para uma melhor
compreensão, que a Rede de Atendimento às Mulheres em Situação de Violência é parte da
Rede de Enfrentamento à Violência contra as Mulheres. O quadro abaixo faz uma comparação
simplificada entre a rede de enfrentamento e a rede de atendimento.
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Quadro 1: Principais Características da Rede de Enfrentamento e da Rede de Atendimento às
Mulheres em Situação de Violência
Rede de Enfrentamento Rede de Atendimento
Contempla todos os eixos da política Nacional (combate, prevenção, assistência e garantia de direitos)
Refere-se somente ao eixo da Assistência/Atendimento
Inclui órgãos responsáveis pela gestão e controle social das políticas de gênero, além dos serviços de atendimento
Restringe-se a serviços de atendimento (especializados e não-especializados)
É mais ampla que a rede de atendimento às mulheres em situação de violência
Faz parte da rede de enfrentamento à violência contra as mulheres
Fonte: Rede de Enfrentamento à Violência contra as Mulheres – Secretaria de Políticas para as Mulheres da Presidência da República. Brasília, 2011.
Destaca-se que a complexidade da violência contra as mulheres e o seu aspecto
multidimensional perpassam diversas áreas, destacadamente a saúde, a assistência social, a
segurança pública e a justiça, o que torna imprescindível a construção e o fortalecimento da
Rede de Enfrentamento à Violência contra as Mulheres nos municípios brasileiros.
Informa-se que, para os conceitos aqui trazidos, tomou-se como referência,
especialmente, os conteúdos das normativas elencadas no tópico 2 desta Instrução Técnica e,
ainda, os seguintes documentos:
1 Rede de Enfrentamento à Violência contra as Mulheres, elaborado pela
Secretaria Nacional de Políticas para as Mulheres, da Presidência da República;
2 Linha de Cuidado para a Atenção Integral à Saúde de Crianças, Adolescentes e
suas Famílias em Situação de Violência, elaborado pelo Ministério da Saúde;
3 Rede de Atenção a Crianças, Adolescentes e Mulheres em Situação de Violência
de Goiânia, produzido pela Secretaria de Saúde de Goiânia.
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2. NORMATIZAÇÃO APLICÁVEL
2.1 - Lei nº 11.340, de 07 de agosto de 2006 – Lei Maria da Penha;
2.2 - Política Nacional de Enfrentamento à Violência contra as Mulheres (Secretaria Nacional
de Enfrentamento à Violência contra as Mulheres / Secretaria de Políticas para as Mulheres –
Presidência da República, 2011);
2.3 - Pacto Nacional pelo Enfrentamento à Violência contra as Mulheres (Secretaria Nacional
de Enfrentamento à Violência contra as Mulheres / Secretaria de Políticas para as Mulheres –
Presidência da República, Brasília, 2011);
2.4 - Plano Nacional de Políticas para as Mulheres 2013-2015 (Secretaria de Políticas para as
Mulheres – Presidência da República, Brasília, 2013);
2.5 - Diretrizes Gerais para Implantação e Implementação dos Serviços da Rede de
Enfrentamento à Violência contra as Mulheres (Secretaria de Políticas para Mulheres da
Presidência da República, Brasília, 2011);
2.6 - Diretrizes Nacionais para o Abrigamento de Mulheres em Situação de Risco e Violência
(Secretaria de Políticas para Mulheres da Presidência da República, Brasília, 2011);
2.7 - Norma Técnica de Padronização - Centro de Referência de Atendimento à Mulheres
(Secretaria de Políticas para Mulheres da Presidência da República, Brasília, 2006).
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3. COMPOSIÇÃO DA REDE DE ENFRENTAMENTO À VIOLÊNCIA CONTRA AS
MULHERES
A Rede de Enfrentamento é mais ampla que a Rede de Atendimento, incluindo órgãos
responsáveis pela gestão e controle social das políticas de gênero, além de serviços de
atendimento. Assim, essa rede contempla os quatro eixos da Política Nacional de
Enfrentamento à Violência contra as Mulheres:
Combate – ações punitivas e cumprimento da Lei Maria da Penha;
Prevenção – ações educativas e culturais que interfiram nos padrões sexistas;
Assistência – ações de fortalecimento da Rede de Atendimento e de capacitação dos
agentes públicos para atuar nesta rede;
Garantia de Direitos – ações relativas ao cumprimento da legislação nacional e
internacional e ao empoderamento das mulheres.
Dentre os principais atores que podem compor a Rede de Enfrentamento à Violência
contra as Mulheres, tem-se:
1 organismos de políticas para as mulheres (por exemplo, Secretarias,
coordenadorias, gerências, diretorias, superintendências de políticas para as
mulheres);
2 ONGs feministas;
3 movimentos de mulheres;
4 conselhos dos direitos das mulheres;
5 núcleos de gênero do Ministério Público
6 núcleos de enfrentamento ao tráfico de mulheres;
7 serviços e programas destinados à responsabilização dos agressores – serviço
coordenado pelo Tribunal de Justiça (Juizado de Violência Doméstica e Familiar
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contra a Mulher) e pela Secretaria Cidadã (Superintendência de Políticas para as
Mulheres) . A normativa “Diretrizes Gerais dos Serviços de Responsabilização e
Educação do Agressor”, que orienta a implantação deste serviço, está disponível
no site da Secretaria de Políticas para as Mulheres, da Presidência da República
(SPM);
8 universidades;
9 órgãos públicos municipais responsáveis pela garantia de direitos nas áreas de
habitação, educação, trabalho, seguridade social, cultura, entre outros;
10 serviços especializados e não-especializados de atendimento às mulheres em
situação de violência, que formam a Rede de Atendimento às Mulheres em
Situação de Violência e que estão especificados no tópico 4 desta Instrução
Técnica.
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4. COMPOSIÇÃO DA REDE DE ATENDIMENTO ÀS MULHERES EM SITUAÇÃO
DE VIOLÊNCIA
A Rede de Atendimento às Mulheres em Situação de Violência abrange quatro áreas
principais: a saúde, a assistência social, a segurança pública e a justiça. Como mencionado
anteriormente, essa rede contempla o eixo da “assistência” dentro da Política Nacional de
Enfrentamento à Violência contra as Mulheres.
É composta por duas categorias principais de serviços: serviços não especializados e
serviços especializados de atendimento à mulher.
4.1 Serviços não especializados de atendimento à mulher
Os serviços não especializados referem-se àqueles que, normalmente, são a porta de
entrada da mulher na rede, mas que não atendem, exclusivamente, a mulheres. Dentre esses
serviços, estão:
1 Hospitais gerais;
2 Serviços de atenção básica de saúde;
3 Programa Estratégia de Saúde da Família (antigo Programa de Saúde da Família –
PSF);
4 Delegacias comuns;
5 Instituto Médico Legal – IML;
6 Polícia Militar;
7 Polícia Federal;
8 Centros de Referência de Assistência Social – CRAS;
9 Centros de Referência Especializados de Assistência Social – CREAS;
10 Ministério Público;
11 Defensorias Públicas.
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Destaca-se que, no trabalho de fortalecimento da Rede de Enfrentamento à Violência
contra as Mulheres, nos municípios, deve ser evidenciada a importância de os serviços não
especializados prestarem um atendimento mais humanizado/qualificado às mulheres em
situação de violência que os procurarem, mesmo não sendo destinados à assistência exclusiva
a este público. Dentro desse atendimento humanizado, destaca-se a escuta qualificada e os
encaminhamentos adequados das mulheres aos serviços da rede de atendimento.
4.2 Serviços especializados de atendimento à mulher
Os serviços especializados são aqueles que prestam atendimento exclusivo a
mulheres e que, por isto, possuem grande conhecimento nas temáticas relacionadas à
violência contra este público.
Vale destacar que as orientações para a implantação e implementação de alguns
serviços especializados se encontram detalhadas em documentos produzidos pela Secretaria
de Políticas para Mulheres, da Presidência da República, que podem ser acessados no site da
SPM. Esses documentos são os seguintes:
1 Diretrizes Gerais para Implantação e Implementação dos Serviços da Rede de
Enfrentamento à Violência contra as Mulheres;
2 Diretrizes Nacionais para o Abrigamento de Mulheres em Situação de Risco e
Violência;
3 Norma Técnica de Padronização de Delegacias Especializadas de Atendimento à
Mulher;
4 Norma Técnica de Padronização - Centro de Referência de Atendimento à Mulher.
Os principais serviços especializados que compõem a Rede de Atendimento às
Mulheres em Situação de Violência são:
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4.2.1 Centros de Atendimento à Mulher em Situação de Violência
São espaços de acolhimento e atendimento psicológico e social, orientação e
encaminhamento jurídico à mulher em situação de violência, que objetivam colaborar para a
superação dessa situação, para o fortalecimento da mulher e para o resgate de sua autonomia.
Os Centros de Atendimento são vinculados ao organismo de políticas para as
mulheres do município ou, na inexistência deste, ao órgão gestor da política municipal de
assistência social e podem se materializar por meio dos seguintes equipamentos, dependendo
da realidade do município:
1 Centros de Referência de Atendimento à Mulher - são implantados com recursos
municipais, cabendo ao governo estadual (Secretaria Cidadã) a orientação para
sua implantação e a capacitação dos agentes públicos envolvidos na execução
dos serviços;
2 Núcleos de Atendimento à Mulher em Situação de Violência – diferem-se dos
Centros de Referência de Atendimento à Mulher pela sua estrutura física e
localização, pois, em geral, funcionam em espaços menores e em municípios de
pequeno porte;
3 Centros Integrados da Mulher – são espaços físicos integrados de atendimento à
mulher, que podem reunir diversos serviços, como o Juizado de Violência
Doméstica e Familiar contra a Mulher, o Centro de Referência de Atendimento à
Mulher, a Promotoria Especializada e o Instituto Médico Legal.
Em Goiás, o Centro Integrado da Mulher tem se materializado como Casa da Mulher
Goiana e a sua implantação tem ocorrido por meio de uma parceria entre o governo estadual,
que garante recursos financeiros (via Agência de Habitação – AGEHAB), orientação para a
implantação e capacitação (por meio da Secretaria Cidadã), e o governo municipal, ao qual
cabe garantir os recursos humanos, os equipamentos e o lote para construção da Casa.
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4.2.2 Casas-Abrigo (Serviços de Acolhimento Institucional)
São espaços seguros, que oferecem moradia protegida, temporária e, normalmente,
sigilosa e atendimento integral às mulheres que correm risco de morte, em decorrência de
violência doméstica, nos quais elas podem permanecer até que consigam retomar o curso de
suas vidas.
As Casas-Abrigo são serviços da Proteção Social Especial de Alta Complexidade do
Sistema Único da Assistência Social (SUAS), vinculadas, portanto, ao órgão gestor da política
municipal de assistência social, e previstas na Tipificação Nacional dos Serviços
Socioassistenciais (Resolução CNAS nº 209, 2009).
A sua implantação depende de expansão de serviços ofertada pelo governo federal
(Ministério de Desenvolvimento Social – MDS) e exige contrapartida do governo municipal. O
governo estadual pode participar com a orientação para a implantação e capacitação para os
agentes públicos que irão trabalhar no equipamento. De acordo com a Tipificação Nacional
dos Serviços Socioassistenciais, a Casa-Abrigo pode ser implantada, também, de forma
regionalizada, englobando um grupo de municípios com proximidade geográfica, quando a
incidência da demanda e o porte do município não justificarem a disponibilização do serviço
no seu âmbito. O documento Diretrizes Nacionais para o Abrigamento de Mulheres em
Situação de Risco e Violência prevê, devido à complexidade do abrigamento deste público e
aos altos custos para a manutenção de serviços, a implantação de serviços de abrigamento
também por meio de consorciamento, preferencialmente consórcios públicos.
4.2.3 Casas de Acolhimento Provisório
São serviços de abrigamento provisório (curta duração – cerca de 15 dias) e não
sigiloso de mulheres em situação de violência, que podem estar acompanhadas ou não se seus
filhos. As Casas de Acolhimento provisório devem garantir integridade física e emocional das
mulheres, bem como realizar um estudo da situação por elas vivenciadas para fazer os
encaminhamentos mais adequados.
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O atendimento nessas casas não se restringe a mulheres em situação de violência
doméstica ou familiar, mas àquelas que se encontram em situação de qualquer tipo de
violência. Esses espaços também não se destinam ao abrigamento de mulheres que correm
risco de morte, em razão de suas especificidades.
Destaca-se que a implantação das Casas de Acolhimento Provisório se dá conforme o
que foi descrito acima, no tópico sobre as Casas-Abrigo.
4.2.4 Serviços de saúde voltados para o atendimento dos casos de violência sexual
contra a mulher
Tomando como base a Lei nº 12.845, de 1º de agosto de 2013, e a Norma Técnica de
Prevenção e Tratamento dos Agravos Resultantes da Violência Sexual contra Mulheres e
Adolescentes, do Ministério da Saúde, a área da saúde oferece atendimento emergencial
integral e multidisciplinar às pessoas em situação de violência sexual na rede SUS, dentre elas
as mulheres. Esses atendimentos visam ao controle e ao tratamento dos agravos físicos e
psíquicos, incluindo, também, encaminhamentos para os serviços de assistência social e
orientações.
Os atendimentos para as mulheres que sofrem violência sexual aguda devem ser
realizados o mais rápido possível, em até 72 horas, e visam ao acolhimento, à Profilaxia Pós-
Exposição de risco à infecção pelo HIV, à Profilaxia às Infecções Sexualmente Transmissíveis
Não Virais (sífilis, gonorreia, entre outras), à Profilaxia às Infecções Sexualmente Transmissíveis
Virais (Hepatites B e C), à Anticoncepção de Emergência, exames e vacinas. A interrupção de
gravidez nos casos previstos em lei (Abortamento Legal) amplia esses serviços públicos
especializados destinados às mulheres em situação de violência sexual, no âmbito do SUS.
A Secretaria de Saúde do Estado de Goiás tem realizado qualificações para
profissionais que atendem às pessoas em situação de violência sexual e feito visitas técnicas
nos municípios que são referência para esse tipo de atendimento. Tem, também, divulgado a
existência desses serviços especializados, visando ampliar a oferta de cuidados de saúde. Os
municípios que não possuem esse serviço de referência para o atendimento às mulheres em
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situação de violência sexual e que não reúnem condições financeiras e técnicas para implantá-
los podem direcionar o atendimento das mulheres em serviços de saúde de outros municípios,
onde essas ações já estejam implantadas.
Goiás conta, hoje, com cerca de 14 unidades de referência regional de saúde que
prestam esses serviços especializados, distribuídas em 11 municípios. Destaca-se que a
Secretaria Estadual de Saúde constituiu o Grupo Condutor da Rede de Atenção às Pessoas em
Situação de Violências para implementar/implantar os serviços de saúde para o atendimento
de violência sexual nos municípios.
No que se refere ao Abortamento Legal, a realização deste procedimento está
concentrada no Hospital Materno Infantil de Goiânia.
Ressalta-se que a implantação desses serviços especializados na área da saúde exige
a contrapartida financeira dos municípios, do Estado e do Ministério da Saúde.
4.2.5 Central de Atendimento à Mulher
Criada em 2005, pela Secretaria Nacional de Políticas para as Mulheres, para orientar
as mulheres em situação de violência sobre seus direitos e sobre os serviços disponíveis para
o atendimento de suas demandas específicas. Trata-se de um número de utilidade pública,
que pode ser acessado gratuitamente por mulheres de todo o país.
Dentre os principais serviços especializados que compõem a Rede de Atendimento
às Mulheres em Situação de Violência, cita-se ainda:
4.2.6 Delegacias Especializadas de Atendimento à Mulher (DEAM)
4.2.7 Núcleos ou Postos de Atendimento à Mulher nas Delegacias Comuns
4.2.8 Defensorias da Mulher ou Núcleo Especializado da Mulher
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4.2.9 Juizados de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher
4.2.10 Promotorias Especializadas de Violência Doméstica contra a Mulher
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5. ASPECTOS IMPORTANTES PARA IMPLANTAÇÃO E FORTALECIMENTO DA
REDE DE ENFRENTAMENTO À VIOLÊNCIA CONTRA A MULHER
A construção e o fortalecimento da Rede de Enfrentamento à Violência
contra a Mulher, em cada município, implicam em algumas ações essenciais. São elas:
1 Realizar o mapeamento das instituições governamentais e entidades não-
governamentais envolvidas na prevenção, combate, assistência e garantia de
direitos à mulher em situação de violência existentes no município;
2 Definir, com a participação de todas essas instituições e entidades, os fluxos e
protocolos de atendimento/encaminhamento, destacando as responsabilidades
e competências de cada uma delas na Rede de Enfrentamento à Violência contra
as Mulheres, visando garantir o acesso qualificado deste público aos serviços;
3 Construir mecanismos de gestão dessa rede que garantam a sistemática
articulação entre as instituições e entidades que a compõem – por exemplo,
reuniões regulares, estudos de casos, fóruns, entre outros eventos;
4 Definir que outras entidades e instituições podem ser implantadas para compor
a Rede de Enfrentamento à Violência contra as Mulheres no município, levando
em consideração, especialmente, as demandas municipais e os recursos técnicos
e financeiros disponíveis;
5 Capacitar, permanentemente, os agentes públicos que atuam na rede,
especialmente nas questões referentes às relações de gênero e violência contra
a mulher, visando garantir atendimento qualificado e humanizado às mulheres
em situação de violência e a capilaridade do atendimento.
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A capacitação implica em conhecimento aprofundado das normativas que norteiam
o enfrentamento da violência contra as mulheres, dentre as quais destaca-se: Política Nacional
de Enfrentamento à Violência contra as Mulheres, Plano Nacional de Políticas para as
Mulheres e o Pacto Nacional pelo Enfrentamento à Violência contra as Mulheres.
A capacitação é uma das ações primordiais previstas no Pacto Nacional pelo
Enfrentamento à Violência contra as Mulheres. Para a viabilização dessa capacitação, os
municípios podem buscar apoio dos organismos de políticas para as mulheres em âmbito
estadual e federal. Ressalta-se que a Secretaria de Políticas para as Mulheres da Presidência
da República disponibiliza uma matriz de conteúdo mínimo para a formação de agentes
públicos que atuam no atendimento às mulheres em situação de violência.
É importante mencionar que o Pacto Nacional de Enfrentamento à Violência contra
as Mulheres prevê, como umas das ações do seu Eixo II (Ampliação e Fortalecimento da Rede
de Serviços para Mulheres em Situação de Violência), a promoção do atendimento qualificado
às mulheres em situação de violência nos CRAS e nos CREAS, que são as unidades do Sistema
Único de Assistência Social mais presentes nos municípios brasileiros. Como já mencionado
nesta Instrução Técnica, apesar de não serem serviços que prestam atendimento
especializado à mulher em situação de violência, os CRAS e os CREAS mantêm uma grande
proximidade com a população dos municípios e constituem importantes portas de entrada
para as mulheres que se encontram em situação de violência e demandam serviços
especializados. Por isso, seus profissionais precisam estar preparados para uma escuta
qualificada dessas mulheres e para o encaminhamento adequado delas aos serviços
especializados, o que exige investimento em capacitação.
Destaca-se que o CREAS tem um importante papel, também, no atendimento à
mulher em situação de violência que necessita ser abrigada, realizando uma avaliação da
necessidade deste abrigamento, bem como no processo de desabrigamento, quando a equipe
do CREAS deve fazer o acompanhamento a esta mulher durante um certo tempo. Ressalta-se
que as atuações específicas do CREAS aqui mencionadas acontecem quando o município não
conta com o Centro de Referência de Atendimento à Mulher, já que, primordialmente, estas
Coordenação de Apoio Técnico Pericial Rua 23, esq. com Rua 03, Qd. A-12, Lt. 11, salas 107/108, Anexo MP
Bairro Jardim Goiás, Goiânia - Goiás - CEP 74.805-100.
62 3239-0667 / 0668 / 0664
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seriam funções da equipe deste equipamento.
6 Monitorar os serviços da Rede de Atendimento à Mulher em Situação de
Violência. O monitoramento é essencial para manter a qualidade dos serviços,
pois possibilita identificar entraves no funcionamento da rede e corrigi-los.
O monitoramento deve pautar-se, especialmente, na Política Nacional de
Enfrentamento à Violência contra as Mulheres e no Pacto Nacional pelo Enfrentamento à
Violência contra as Mulheres, bem como em normativas mais específicas, a exemplo do
documento Diretrizes Gerais para Implantação e Implementação de Serviços da Rede de
Enfrentamento à Violência contra as Mulheres, e nas várias Normas Técnicas disponibilizadas
pela Secretaria de Políticas para as Mulheres, da Presidência da República – por exemplo, a
Norma Técnica do Centro de Referência de Atendimento à Mulher.
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6. O PAPEL DO MINISTÉRIO PÚBLICO NO FORTALECIMENTO DA REDE DE
ENFRENTAMENTO À VIOLÊNCIA CONTRA AS MULHERES
O documento intitulado Rede de Enfrentamento à Violência contra as Mulheres,
produzido pela Secretaria de Políticas paras as Mulheres, da Presidência da República (Brasília,
2011), destaca o papel do MP no fortalecimento e monitoramento na Rede de Atendimento
às Mulheres em Situação de Violência:
O MP representa um importante parceiro no processo de fortalecimento
e monitoramento da rede de atendimento à mulher em situação de
violência, na medida em que é o responsável pela fiscalização dos serviços
da rede de atendimento (segundo o previsto no art. 26 da Lei Maria da
Penha), podendo exigir por meio de instrumentos legais (p. e., termos de
ajustamento de conduta) que o executivo estadual e municipal
implemente políticas públicas no tocante à questão da violência contra as
mulheres e que constitua a rede de atendimento à mulher em situação de
violência (p. 26).
O Pacto Nacional de Enfrentamento à Violência contra as Mulheres, também
elaborado pela Secretaria de Políticas para as Mulheres da Presidência da República (Brasília,
2011), prevê, em um de seus cinco Eixos, que o Ministério Público, em articulação com o
Judiciário, o Sistema Único de Saúde, o Sistema Único de Assistência Social e o Sistema Único
de Segurança Pública, deve participar da ação governamental (nas diferentes esferas de
governo) de elaboração de protocolos, fluxos, procedimentos e normatização dos serviços que
compõem a rede de atendimento às mulheres em situação de violência (Eixo II, que trata do
Fortalecimento da Rede de Atendimento às Mulheres em Situação de Violência).
Nesse sentido, observa-se que a atuação do MP, articulada com a dos demais atores
da Rede de Enfrentamento à Violência contra as Mulheres, é essencial para a consolidação
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das políticas públicas destinadas a esse público, especialmente no que se refere ao acesso à
justiça e aos direitos de cidadania.
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7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BRASIL. Presidência da República. Secretaria de Políticas para as Mulheres (SPM). Rede de
Enfrentamento à Violência contra as Mulheres. Brasília, 2011.
Secretaria Municipal de Saúde de Goiânia. Rede de Atenção a Crianças, Adolescentes e
Mulheres em Situação de Violência de Goiânia. Goiânia, 2008.
Ministério da Saúde. Linha de Cuidado para a Atenção Integral à Saúde de Crianças,
Adolescentes e suas Famílias em Situação de Violência. Brasília, 2014.