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ISPGAYA Instituto Superior Politécnico Gaya Investigação I Divulgação I Curiosidades Politécnica Semestral I Dezembro 2002 número 6

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I S P G AYA

Instituto Superior Politécnico Gaya

Investigação I Divulgação I Curiosidades

Politécnica

Semestral I Dezembro 2002

número

6

1

66 Politécnica

Editorial

A standarização e a adaptação: implicações na delimitação do conceito demarketing internacional

Carlos Simões Adegas

Planificação e implementação de redes Móveis 2,5GJustino M. R. Lourenço

A Governação como Alternativa ao Modelo GestionárioCarla Sofia Rocha

A opção pelo teletrabalho e suas repercursõesSílvia Oliveira Santos

A linguagem e a revalorização das subjectividadesAndré Veríssimo

Porquê Gestão do Conhecimento? Porquê agora?Anabela Sarmento

Programação seguraLuís Miguel Silva

Problemas e curiosidadesJoaquim Albuquerque de Moura Relvas

Seminários, Conferências, Workshops

Divulgação

Submissão de artigos

3

7

13

15

23

27

33

37

45

49

50

52

Sumário

2

Director

Director Adjunto

Corpo Editorial

Comissão Científica

Marketing e Relações com o Exterior

Secretariado

Editor

Design

Pré-impressão e impressão

Tiragem: 500 exemplares

Preço número avulso: 3,25

Propriedade da Cooperativa de Ensino Politécnico. (CEP) CRL

Administração e redação:

Instituto Superior Politécnico Gaya

Rua António Rodrigues da Rocha 291, 341 – Santo Ovídio

4400-025 Vila Nova de Gaia

Tels. 22 374 57 30

Fax 22 374 57 39

ISSN: 0874-8799

Registo DGCS nº 123623

Depósito Legal nº 153740/00

Publicação semestral

Os artigos são da exclusiva responsabilidade dos seus autores.

As opiniões expressas pelos autores não representam

necessariamente posições da CEP.

João de Freitas Ferreira

José Manuel Moreira

Mário Dias Lousã

António Inácio do Carmo

Manuel Jorge Sá

Joaquim Moura Relvas

Armando Coelho Silva (Univ. Porto)

Maciel Barbosa (Univ. Porto)

João Álvaro Carvalho (Univ. Minho)

Ferreira da Silva (Univ. Porto)

Moura Relvas (ISPGaya)

Augusto Ferreira da Silva (ISPGaya)

Nelson Neves (ISPGaya)

José Manuel Moreira (ISPGaya)

Joaquim Agostinho (Univ. Porto)

José Duarte Santos

Andreia Reis

João de Freitas Ferreira

José Eduardo

[email protected]

Claret - Companhia Gráfica do Norte

Rua do Padrão 83

4415-284 Pedroso

Revista Politécnica nº 6

66 Politécnica

3

O Governo, através de uma Resolução do Conselho de

Ministros, comunicada em conferência de imprensa, a 07 de

Novembro de 2002, aprovou um novo regime de ingresso

no ensino superior, pelo qual determina que o candidato

obtenha, nas provas de ingresso, a classificação mínima de

95 pontos, numa escala de 0 a 200, com entrada em vigor a

partir do ano lectivo de 2004/2005.

Com este diploma, pretende o Governo promover a

qualidade do ensino superior, dignificar a tarefa docente e

garantir aos jovens portugueses igualdade de oportunidades

no acesso, sucesso académico no curso e êxito profissional

na vida activa. Neste ponto, andaram bem os governantes.

Todavia, deparamo-nos com algumas incongruências entre

as novas propostas e os métodos seguidos. Do mesmo

modo a data prevista para a entrada em vigor das alterações

agora aprovadas não nos parece adequada nem oportuna,

fazendo-nos prever consequências nefastas para o sistema

do ensino superior. Sobre estes pontos, incidirá a nossa

análise crítica e, a partir dela, seguir-se-ão algumas

sugestões que consideramos pertinentes.

1. A Resolução do Conselho de Ministros, apresentada

assim, sem qualquer fundamentação válida, parece mais a

resposta de um Governo acossado por alguma comunicação

social, sempre pronta para exigir a sua cabeça. O Governo

deveria ter começado por definir conceitos que estão

subjacentes a todo o processo, como o acesso e o ingresso,

e equacionar os problemas específicos com eles

relacionados. O “acesso” regula todo o sistema a montante

da entrada no ensino superior e esgota-se com a conclusão

do ensino secundário; o “ingresso” situa-se a jusante desse

processo, começa com a entrada no ensino superior e é

responsável por tudo aquilo que a ela diz respeito. Em nosso

entendimento, aceites estas definições, o regime de acesso

e ingresso no ensino superior há já muito que deveria ter

sido alterado de “modo a atribuir efectivamente às

instituições do ensino superior as condições necessárias para

exercerem directamente a sua competência na selecção e

seriação dos seus candidatos, como aliás se dispõe na Lei de

Bases do Sistema Educativo (LBSE), realizando elas próprias

as provas de ingresso que considerem adequadas à

frequência dos cursos que ministram”. (APESP, Alterações ao

Regime de Ingresso no Ensino Superior. 2002. Lisboa).

2. No entanto, mesmo mantendo-se o actual enquadramento

legal, a proposta de uma classificação mínima das provas de

ingresso prevista na alínea a) do art.º 24º do Decreto Lei não é

aceitável. Por um lado, torna-se aberrante que a mesma prova

assuma três valências, todas elas definitivas no desenho do

futuro do candidato, pois serve como exame nacional de

conclusão do ensino secundário (peso 30%), como

componente para o cálculo da média geral de ingresso (peso

de 35% a 50%) e, como prova eliminatória de acesso ao

ensino superior. Por outro lado, dado este cenário, a nota

mínima anula todo o trabalho do aluno e dos docentes no

ensino secundário. É pedagogicamente reprovável que a

classificação de uma única prova, que descura a reflexão e

avalia apenas a área cognitiva, se sobreponha à avaliação

contínua que é fruto de um trabalho de três anos, se baseia

em dezenas de testes e valoriza, através do contacto pessoal,

as atitudes, os comportamentos e o desenvolvimento das

capacidades intelectuais e humanas do candidato. Continua-

se a privilegiar 20% dos jovens que são dotados de

pensamento dedutivo e estão mais virados para a teoria, e

sacrifica-se 80% dos alunos que têm pensamento indutivo,

são experimentalistas e mostram o que valem nas bancadas

dos laboratórios.

3. Dentro do quadro que acabámos de analisar, convém

também interrogarmo-nos sobre a excelência pedagógica e

científica das provas de exame e a fiabilidade das respectivas

correcções e classificações.

Todos lamentamos que as classificações dos exames

nacionais de ingresso sejam inferiores às notas obtidas pelos

alunos na avaliação do secundário. Como acima referimos,

há um vasto campo de análise no secundário (atitudes,

comportamentos, capacidades) que escapa à classificação

obtida nas provas de ingresso. Iria realmente mal o nosso

Editorial

Alterações ao regime de ingressono ensino superior

JJooããoo ddee FFrreeiittaass FFeerrrreeiirraa

Presidente do Instituto Superior Politécnico GayaRua António Rodrigues da Rocha, 291, 341Santo Ovídio, 4400-025 Vila Nova Gaia

ensino, se, de facto, os resultados da avaliação contínua e a

classificação dos exames coincidissem. Admitem-se sempre

excepções, claro. Por outro lado, esquece-se que os alunos

oriundos das Escolas Secundárias, com cursos tecnológicos,

das Escolas Técnico-profissionais, das Escolas Profissionais e

dos Centros de Formação Profissional, vêem as suas

expectativas profundamente limitadas, pois são avaliados

apenas pela área científica, quando o esforço por eles feito

no secundário se repartiu, por igual, entre a sala de aulas e

o laboratório. Se a avaliação deve ser adequada aos

conteúdos e às metodologias utilizadas na formação,

convenhamos que algo está mal.

Por outro lado, pais, alunos, docentes e todos os

responsáveis pela vida escolar se interrogam acerca da

objectividade dos resultados dos exames nacionais. E é

legítima a sua apreensão. Esta funda-se no facto de 68,5%

dos alunos que interpuseram recurso à nota de Matemática

terem sido atendidos e terem visto a sua classificação

melhorada. Quando isto acontece numa disciplina do

domínio das ciências exactas, é mesmo de se duvidar da

objectividade e da fiabilidade daqueles resultados. E os

candidatos que nem sequer apresentam recurso?

4. Sabemos ser intenção do Governo promover, através

desta medida, a qualidade do ensino superior.

Reconhecemos também que a preparação do candidato à

entrada no ensino superior é elemento importante e até

determinante para uma carreira de sucesso na sua formação

científica e profissional. Mas também somos acérrimos

defensores de que a qualidade dos alunos não se afere à

entrada mas à saída do ensino superior. O diploma que lhes

é atribuído valida as suas capacidades no fim do curso,

mantendo, todavia, em aberto a necessidade de uma séria

formação contínua ao longo da vida. O verdadeiro diploma

ser-lhe-á passado pelo trabalho e autenticado pela própria

vida.

Aliás poderá perguntar-se: a taxa de sucesso no ensino

superior terá alguma relação com a nota de ingresso do

aluno? Terá o Ministério mandado fazer estudos sérios que

justifiquem a resolução agora aprovada em Conselho de

Ministros? Acreditamos que os candidatos com nota igual

ou superior a 150 pontos não tenham insucesso; mas

seguramente não andaremos longe da verdade se

admitirmos que um número razoável de candidatos com

classificação entre os 95 e os 140 pontos tenham insucesso

no ensino superior, como também admitimos que, pelo

contrário, um número elevado de alunos com nota inferior a

95 pontos consiga ser bem sucedido no ensino superior.

Faltam estudos rigorosos para podermos avaliar estas

situações.

5. Se as novas alterações ao regime de ingresso no ensino

superior forem promulgadas e entrarem em vigor,

auguramos consequências catastróficas para o tecido

empresarial e para a economia portugueses, a curto e a

médio prazo. Todos sabemos que as disciplinas mais

afectadas pelas notas negativas são a Matemática e a Física,

o que, a aplicar-se a Resolução agora aprovada, impedirá

cerca de 95% dos candidatos aos cursos de engenharia

Mecânica, Electrónica, Electrotécnica, Informática e aos

cursos de ciências exactas de entrarem no ensino superior.

Sendo certo que em Portugal só 20% dos alunos do

secundário frequentam cursos tecnológicos e profissionais e

que 80% seguem cursos gerais, enquanto na Alemanha a

situação se inverte (20% - cursos gerais, 80% - cursos

tecnológicos e profissionais), convém alterar esta tendência

rapidamente. Será que o Ministério o vai conseguir por este

processo? Não assistiremos antes ao triste espectáculo de

vermos gerações de jovens vocacionados para as

engenharias e para as ciências exactas abandonarem (o que

já vem acontecendo) estas áreas por medo da Matemática

e da Física e refugiarem-se amargurados em cursos gerais

que nada lhes dizem e que os conduzirão fatalmente ao

insucesso escolar e ao abandono?

Se o que se pretende com isto é purgar o ensino superior e

reduzir o número de licenciados no desemprego, o erro é

ainda mais grave. O número de alunos desmotivados nos

cursos gerais aumentará com prejuízo para os candidatos

4

aos cursos das engenharias. Se a falta de técnicos médios e

superiores nestas áreas já é gritante, de futuro acabará por

sufocar o desenvolvimento da nossa indústria. Precisamos

de reanimar o tecido industrial, para isso há que apostar na

formação de bons quadros superiores.

Há também quem diga que temos licenciados a mais em

Portugal. Nos cursos de humanidades acredito que sim;

mas, “Portugal é o país onde é menor a percentagem de

diplomados nas áreas das ciências exactas e tecnológicas

(Ciências Naturais, Matemática e Informática, Ciências

Médicas e Engenharia e Arquitectura). Com apenas 26% do

total de diplomados, está longe da maior parte dos

restantes (Dinamarca, 37%; Alemanha 48%; Espanha,

32%; França, 37%; Irlanda, 39%; Itália, 33%; Holanda,

31%; Áustria, 33%; Finlândia, 60%; Suécia, 47%; Reino

Unido, 36%)”. (Barreto, António, Tempo de Incerteza,

Relógio D’Água Editores, Lisboa 2002, pág. 40).

6. À guisa de conclusão, apresentamos as seguintes

sugestões:

a) Estudem-se e resolvam-se, primeiro, os problemas aqui

levantados e outros que possam estar subjacentes, e só

depois introduzam-se as alterações consideradas mais

pertinentes. Caso contrário, estaremos a crucificar

injustamente o ensino secundário e a comprometer o nosso

desenvolvimento industrial e a nossa economia.

b) “Já vai sendo tempo de considerarmos o Ensino

Secundário como um ciclo terminal, com objectivos próprios

e desligado do Ensino Superior. O acesso ao Ensino Superior

não deve ser determinado pelas classificações do Ensino

Secundário. (...) Deixemos ao Ensino Superior a possibilidade

de seleccionar os seus alunos, o que não impede as

instituições do Ensino Superior de, se assim o desejarem, se

servirem das classificações dos exames nacionais do Ensino

Secundário para essa selecção. Daqui resultariam benefícios

não só para o Ensino Secundário como para o Ensino

Superior” (Costa, A. (2002), Reforma do Secundário – O

défice de consistência e credibilidade in Correio da

Educação, nº 131, 02 de Dezembro).

66 Politécnica

5

c) A não se alterar o actual enquadramento legal,

concordamos que, transitoriamente, se exija a classificação

de 95 pontos como nota mínima de candidatura, mas que,

para os exames das provas de ingresso, se mantenha o

“percentil” em uso nos últimos anos.

6

66 Politécnica

7

impacte potencial de certas variáveis ligadas a ambientes

que lhe são estranhos4 - uma vez que os padrões de

referência utilizados para tomar decisões em ambientes

pouco familiares são baseados na experiência, a qual é por

sua vez profundamente afectada pela cultura em que se

está inserido. Finalmente numa terceira e última instância,

a necessidade de coordenar e de integrar planos de

marketing parcelares - sejam eles nacionais ou regionais -

num plano mais amplo, adiciona um novo patamar de

complexidade ao marketing internacional.

Nestas circunstâncias, poderemos apontar como uma das

principais tarefas do marketing internacional a gestão das

variáveis controláveis (ou seja, o produto, o preço, a

promoção e os canais de distribuição), dentro dos

constrangimentos levantados pelos elementos incontroláveis

do mercado (concorrência, sistema político-legal,

desenvolvimento tecnológico, etc.), de tal forma que os

objectivos do marketing sejam alcançados.

A figura 15 procura precisamente esquematizar as tarefas

e dificuldades do marketing internacional. O círculo

interior representa a área de decisão do gestor de

marketing, ou seja as variáveis que ele controla. No

segundo círculo, estão caracterizados os factores

incontroláveis do ambiente doméstico que afectam os

negócios internacionais (por exemplo as políticas

domésticas sobre investimento no exterior, valor da divisa

nacional, etc.). O círculo exterior simboliza por seu turno

os constrangimentos ambientais presentes em cada

mercado estrangeiro em que a empresa mantém

negócios. Por fim, a representação de múltiplos círculos

exteriores, serve para ilustrar que cada país apresenta

geralmente problemas diferentes com as mesmas

variáveis6 e alerta ainda para a necessidade de coordenar

os diferentes planos de marketing.

A standardização e a adaptação:implicações na delimitaçãodo conceito de marketinginternacional

CCaarrllooss SSiimmõõeess AAddeeggaass11

[email protected]

PALAVRAS-CHAVE: marketing doméstico, marketing

internacional, marketing multinacional, marketing global,

dimensões do marketing internacional, adaptação,

standardização.

1. O “marketing doméstico” e o “marketing

internacional”

Escreveu Kotler que « ... o conceito de marketing afirma que

a chave para atingir os objectivos da organização consiste

em determinar as necessidades e desejos dos mercados-alvo

e satisfazê-los mais eficaz e eficientemente do que os

concorrentes ... »2 Significa isto que a essência do conceito

de marketing, consiste na criação de um valor para o

consumidor superior ao criado pelos concorrentes, o que

apenas pode ser obtido concentrando recursos e esforços

em necessidades e desejos bem definidos.

Ora, há que reconhecer que o marketing internacional é,

antes de mais, marketing. Como tal, envolve a mesma

filosofia, conceitos, actividades e processos, inerentes ao

marketing no mercado doméstico. Para Cateora (1987), o

marketing internacional difere apenas do doméstico pelo

facto das actividades de marketing tomarem lugar em mais

de um país.

Estas semelhanças não são porém suficientes para

esconder o grau de complexidade bastante superior do

marketing internacional3. Numa primeira instância, tal

complexidade resulta da própria natureza e influência das

variáveis presentes em cada um dos mercados

(constrangimentos do ambiente global). O facto de ter de

lidar com diferentes variáveis incontroláveis em cada país,

conduz-nos a uma segunda dificuldade. Isto é, a

incapacidade dos gestores de marketing em avaliar o

Este artigo procura comparar a essência do marketing

internacional face ao marketing doméstico, para depois

abordar as implicações das abordagens standardizadas,

adaptadas e contingenciais ao marketing internacional. Com

base nessas implicações são ainda analisadas os diferentes

significados com que o termo marketing internacional pode ser

utilizado.

____________________________________________________________________

1 Licenciado em Gestão e Mestre em Gestão e Estratégia Industrial.Docente do ISPGaya e IPAM. Executive Manager de uma empresa deconsultoria.2 Kotler, P., Administração de marketing: Análise, planejamento,implementação e controle, Ed.Atlas, S. Paulo, 1993, p.46.3 «De todas as funções da gestão, existirão poucas dúvidas que omarketing é a mais afectada pelas operações internacionais» [Taggart eMcDermot 1993; p. 69].

____________________________________________________________________

4 “Principio do relativismo do marketing” [Cateora 1987, p. 15].5 Adaptado de Cateora (1987), op. cit., p. 9.6 Isto implica que as soluções encontradas para fazer face a problemasnum dado país, não sejam directamente transponíveis para outros países.

8

2. A standardização do marketing internacional e suas

vantagens

Sendo certo que os princípios do marketing são universais e

consequentemente válidos em qualquer ponto do globo,

uma importante questão que se levanta ao nível do

marketing internacional, será a de saber se as estratégias e

programas de marketing deverão, ou não, ser também

universais.

Para os defensores de uma actuação multi-mercados

standardizada - dentre os quais, Theodore Levitt com o

seu famoso artigo sobre a globalização dos mercados7,

foi um dos expoentes máximos - a padronização das

actuações à escala global8 é uma forma excelente de

consolidar a competitividade-custo. Ou seja, alcançar

vantagens em termos de sinergias, economias de escala e

efeitos de curva de experiência, que quando

transportadas para o mercado na forma de preços mais

baixos, permitirão enfrentar melhor uma concorrência

global, cada vez mais baseada na eficiência e na

competitividade-preço.

O argumento para a standardização assenta por isso em

dois princípios basilares. Em primeiro lugar, na

homogeneização das necessidades por todo o mundo. Em

segundo lugar, na disposição dos consumidores para abdicar

de produtos mais de encontro às suas preferências, por

outros produtos de preço mais baixo e qualidade igualmente

elevada.

3. A adaptação do marketing internacional e as críticas

à standardização

Os defensores das abordagens situacionais, advogam por

sua vez que a adaptação das estratégias e programas de

marketing às características idiossincráticas dos mercados

nacionais, é uma condição necessária para a obtenção de

sucesso nesses mercados.

Numa análise ao artigo de Levitt, Kotler (1993) alerta que

enquanto a empresa procura minimizar custos via

standardização, existem concorrentes prontos a oferecer aos

clientes mais do que eles querem. Consequentemente, o

abandono de um pensamento de marketing de longo prazo,

por um pensamento financeiro de curto prazo pode ter

efeitos nocivos para a empresa.

Para Terpstra e Sarathy (1994), apesar da gestão ser

fortemente incentivada à standardização no sentido de

reduzir os custos e a própria complexidade da sua tarefa,

deverá ser a satisfação dos consumidores, a resposta à

competição e ainda as restrições locais, a circunscrever o

grau de standardização possível.

Analisando a literatura existente, Usunier (1993) concluiu

que o processo de globalização ocorre ao nível da

competição e não ao nível do comportamento dos

consumidores. Este autor cita mesmo um estudo de Harold

Clark (1987), para quem os consumidores não são eles

próprios globais; não compram marcas ou produtos globais9;

e o valor que atribuem às marcas é afectado pela

individualidade própria. Aliás, para Usunier, implícito à

globalização está mesmo o pressuposto que todos

convergimos para um “estilo de vida moderno”, implicando

consequentemente que o “estilo de vida americano” teria

um apelo universal - facto que considera controverso e

questionável.

Autores como Whitelock e Pimblet (1997) vão ainda um

pouco mais longe nas suas críticas. Para eles, a questão

crucial consiste não em saber se a padronização pode

conduzir a economias de custos, mas antes se pode

contribuir para melhorar a rendibilidade a longo-prazo, o

que nos remete por conseguinte para o complexo problema

de avaliar e quantificar as poupanças de custos, contra as

potenciais diminuições nas vendas provocadas pela não

Figura 1 - A tarefa do marketing internacional

____________________________________________________________________

7 Levitt, T, “The globalization of markets”, Harvard Business Review, Vol.61 Nº3, (1983), p. 92-102.8 «A corporação global opera…como se o mundo inteiro (ou a maiorparte dele) fosse uma única entidade idêntica; ela faz e vende as mesmascoisas, sempre da mesma maneira, em todos os lugares» [Levitt 1990, p.36].

____________________________________________________________________

9 Eles não se preocupam se a marca está ou não presente em qualqueroutro lugar do planeta

66 Politécnica

9

determinação da standardização do

marketing internacional, uma vez que

a verdadeira questão não é adaptar ou

não adaptar, mas quanto adaptar

[Terpstra e Sarathy 1994, p. 190].

Assim, o grau de standardização,

variará num contínuum composto

pelos dois extremos anteriormente

analisados.

Wang (1996) propõe a este respeito

um modelo em que a extensão da

standardização é determinada a partir

dos três grupos de variáveis

contingênciais representados na Figura 212.

O ponto de partida deste modelo são então as

especificações das características do produto, ou seja, os

termos em que o produto é na realidade percebido e usado

pelos consumidores. Note-se por exemplo que um mesmo

produto pode satisfazer necessidades diferentes em

diferentes pontos do globo, assim como, também uma

mesma necessidade pode ser satisfeita, em diferentes

regiões, por diferentes produtos. Mas, mesmo que o

produto se destine a satisfazer uma necessidade global, será

pouco aconselhável desenvolver uma política de produto

standardizada sem atender às suas características, natureza,

ciclo de vida, padrões de consumo e de uso, custos de I&D,

papel do preço na aquisição, posicionamento, etc.

adaptação aos gostos locais.

Onkvisit e Shaw (1993) expressam uma opinião semelhante,

defendendo que os custos são muitas vezes confundidos

com os lucros e que a minimização dos custos não traduz

necessariamente um aumento dos lucros (se o produto não

se adequa ao mercado, não vende).

Resumindo, uma concentração elevada nos custos para

justificar a standardização e uma negligência de factores

como a gestão das marcas, o posicionamento, a promoção,

etc., indicia claramente uma orientação de produção e não

de marketing. Isto pode constituir um erro crasso perante

uma realidade competitiva cada vez mais feroz. A própria

evolução dos mercados no sentido de uma maior

sofisticação, torna até os consumidores mais exigentes,

podendo consequentemente induzir numa fragmentação

dos gostos e não na sua homogeneização10. A

standardização total é assim uma realidade que defronta

diversas barreiras (Tabela 111).

4. A abordagem contingencial à

standardização/adaptação

Bem analisados os dois pontos de vista opostos, podemos

concordar que «… não há lugar para posições extremistas

no posicionamento de marketing num contexto

internacional … A questão primordial passa por identificar

qual a estratégia de marketing que deve ser assumida de

forma a obter vantagens competitivas sustentadas, numa

base mundial ...» [Marques 1993, p. 23].

O “ser ou não ser” não será então relevante para a

Figura 2 - Variáveis contingênciais no estudo da standardização

Tabela 1 - Obstáculos à uniformização do marketing internacional

____________________________________________________________________

10 Alguns autores falam até do micro-marketing, ou o marketing “one toone”. A este respeito leia-se por exemplo Peppers, D. e Rogers, M., Theone-to-one future, Doubleday, New York, 1993; ou ainda Hallberg, G., Allconsumers are not created equal, John Willey & Sons, New York, 1995.11 Adaptado de Terpstra, International dimensions of marketing, PWS-Kent, Boston-Massachusetts, 1988, p. 9.

____________________________________________________________________

12 Adaptado de Wang, “The degree of standardization: a contingencyframework for global marketing strategy development”, Journal ofGlobal Marketing, vol 10 (1), (1996), p. 91.

OObbssttááccuullooss àà PPrroodduuttoo PPrreeççoo DDiissttrriibbuuiiççããoo PPrroommooççããoouunniiffoorrmmiizzaaççããoo

FFaaccttoorreess Diferentes níveis Diferentes níveis Diferentes Disponibilidadeeeccoonnóómmiiccooss de rendimento de rendimento estruturas do retalho dos media

FFaaccttoorreess Gostos e hábitos Hábitos de negociação Hábitos Diferentes ccuullttuurraaiiss dos consumidores de preços de compra linguagens

e atitudes

FFaaccttoorreess Natureza dos produtos Preços e custos Monopólio dos Apelos eccoommppeettiittiivvooss existentes dos concorrentes canais pelos orçamentos dos

concorrentes concorrentes

FFaaccttoorreess Regulamentos Controlos de Restrições à Restrições àlleeggaaiiss acerca do produto preço distribuição publicidade

e aos media

10

Analisado o produto, é depois necessário identificar as

influências ambientais e os efeitos das características dos

países nos comportamentos dos consumidores.

Referirmo-nos aqui aos factores comuns a todos os

consumidores num dado país, como sejam, os padrões

culturais dominantes e homogeneidade cultural;

sistemas sociais, políticos e económicos; nível de

desenvolvimento económico e tecnológico; infra-

estruturas de marketing; distâncias físicas e psicológicas

entre os diferentes países; grau de alfabetização;

mobilidade da população; etc. O potencial para uma

maior standardização, será por conseguinte determinado

pelo grau de semelhança entre os países em que a

empresa está presente, ou seja, pelo grau de

sobreposição entre as variáveis incontroláveis presentes

em cada país (Figura 313).

Finalmente as similaridades entre países e diferenças dentro

dos países, necessitam de ser avaliadas para identificar os

segmentos de consumidores potenciais, em termos de

padrões atitudinais e comportamentais. À partida, nada

implica que consumidores de diferentes países com uma

mesma necessidade, tenham de ser satisfeitos do mesmo

modo. No entanto, o reconhecimento da existência de

segmentos globais de consumidores, pode justificar o

recurso a estratégias de marketing standardizadas para

esses segmentos.

5. A delimitação (dimensões) do marketing

internacional

Não obstante o termo “marketing internacional” ser

frequentemente utilizado de forma indistinta, é no entanto

possível reconhecer a existência de várias dimensões de

marketing internacional, com sentidos e amplitudes

diferentes, particularmente no que respeita à forma como a

questão da adaptação ou standardização da filosofia,

políticas e procedimentos é encarada e conduzida.

Tais dimensões variam desde o marketing internacional (em

sentido restrito) ao marketing global (figura 414).

5.1. Marketing internacional em sentido restrito

Segundo Felício (1996), esta dimensão considera os

mercados internacionais como complemento e extensão do

mercado doméstico. O exterior é todo ele entendido como

um mercado, ignorando-se em regra as diferenças e

particularidades de cada país, porquanto a perspectiva

essencial para a empresa é assegurar o escoamento dos

produtos ou serviços para fora do seu mercado doméstico

(país de referência).

As empresas com uma perspectiva de marketing

internacional (em sentido restrito) são etnocêntricas e

possuem um foco no mercado doméstico, servindo por

adição outros mercados nacionais (geralmente mercados a

curta distância física ou psicológica). Estamos portanto

perante a extensão do plano e estratégia de marketing

doméstico ao resto do mundo.

5.2. Marketing multinacional

Na dimensão multinacional, a empresa reconhece que os

mercados estrangeiros são pelo menos tão importantes

como o mercado doméstico. A unidade não é mais o

mercado externo como um todo, mas sim países (ou grupos

deles), aos quais correspondam mercados razoavelmente

____________________________________________________________________

13 Adaptado de Onkvisit e Shaw, International Marketing - Analysis &Strategy,MacMillan, New York, 1993, p. 5.

____________________________________________________________________

14 Adaptado de Felício, A., “Metodologia para elaboração da estratégiade marketing internacional - Uma abordagem”, Estudos de Gestão, Vol 3Nº1, (1996), p. 48.

Figura 3 - Efeitos ambientais no marketing mix

Figura 4 - As dimensões do marketing internacional

66 Politécnica

11

homogéneos a nível político, cultural, económico, social,

etc. Neste contexto, as particularidades de cada país

desaconselham vivamente a mera extensão das políticas

domésticas ao exterior. São por isso adoptadas para cada

unidade as estratégias tidas como mais adequadas.

Obviamente que quanto maior o número de unidades, mais

fragmentados serão os esforços de marketing e menores

serão as economias de escala. É assim fundamental um

cuidadoso planeamento e controlo, tendo em vista

maximizar a integração e as sinergias, enquanto se

minimizam os custos da adaptação a cada mercado

estrangeiro.

Resumindo, o marketing multinacional preconiza uma

estratégia para cada país (ou grupo deles) que responda às

condições e diferenças únicas de cada um.

5.3. Marketing global

Na sua visão dos acontecimentos, Levitt (1983) advogava

que os ímpetos convergentes da chamada “República da

Tecnologia” (provocada pelo progresso nas TIC-Tecnologias

de Informação e Comunicação, nos media e nos

transportes), ao homogeneizarem os gostos e as

preferências dos consumidores, conduziram à realidade

comercial dos mercados globais para bens globalmente

padronizados.

Esta perspectiva traduz-se na mudança de foco dos

mercados geográficos para os mercados de produtos (ou

seja, grupos de consumidores com necessidades comuns,

independentemente da área geográfica onde se localizam).

Resulta daqui que o marketing global encara o mundo

como sendo o único mercado, integrando portanto as

abordagens internacional e multinacional, e adoptando uma

estratégia genérica e global baseada em princípios de

standardização, com o objectivo de criar maior valor

acrescentado para os clientes e maior vantagem competitiva

para a empresa. Todavia, a questão crítica no marketing

global, está não em saber se os consumidores são os

mesmos em todo o lado, mas sim, em que medida existem

necessidades comuns nos diferentes países [Dahringer e

Mühlbacher 1991].

5.4. Marketing “glocal”

O conceito “glocal” defende que para terem sucesso, as

empresas necessitam de actuar globalmente adaptando os

produtos e serviços às situações de mercado locais. Para tal

muito contribuíram, entre outros aspectos, a crescente

flexibilização dos sistemas produtivos (redutora da

importância das economias de escala) e a lenta diminuição

dos custos de transporte nos últimos anos (incentivadora da

produção local).

Para Marques (1993), apesar da noção de “globalização de

forma especifica” parecer um tanto ou quanto paradoxal, o

sucesso de uma actuação global, exige a aplicação dos

conceitos globais de forma flexibilizante relativamente a

cada situação concreta15. Por outras palavras, a filosofia deve

permanecer global, mas a fidelização dos clientes deve ser

alcançada por intermédio de uma postura contingencial16.

Na realidade e como crítica ao conceito “glocal”, pode

apontar-se o facto de se tratar mais de uma mudança de

nome que propriamente de filosofia, já que nem mesmo a

globalização implica um completo desprezo pelas diferenças

locais (admite até, segundo os seus defensores, adaptações

ligeiras na implementação dos programas de marketing).

5.5. Para além das dimensões

Para finalizar esta caracterização das dimensões do

marketing internacional, refira-se que nem todos os autores

apoiam esta divisão. Por exemplo, Onkvisit e Shaw (1993),

defendem que as diferenças entre as dimensões são tão

subtis que para efeitos práticos se trata de uma distinção

sem diferença, que nem as próprias empresas efectuam. Isto

porque apesar de em sentido literal o termo “marketing

internacional”, significar marketing entre (inter) nações, tal

não implica necessariamente que a empresa não seja uma

cidadã global nem tão pouco que apenas opera a partir da

sua base doméstica.

A visão de Cateora (1987) a este propósito, é contudo um

pouco mais refinada. Este autor reconhece igualmente que

todas as dimensões se referem ao processo de marketing

em mais de um país - podendo, nesse sentido, ser usadas

indistintamente - porém, reconhece ainda a importância

desta diferenciação quando se pretende analisar a forma

como o marketing internacional é conduzido.

____________________________________________________________________

15 Como o expuseram Czinkota et al. (1994, p.445), « o pensamento globalexige flexibilidade na exploração numa base mundial de boas ideias eprodutos ».16 Repare a título exemplificativo no anúncio do Union Bank ofSwitzerland e Swiss Bank Corporation (UBS AG), publicado no FinancialTimes, de 21 de Julho de 1998, p. 21: «Having even more global resources,make us even more personal».

12

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66 Politécnica

13

informações localizadas de trânsito, etc.) levará ao

crescimento exponencial do trânsito de dados [Lourenço,

2000b].

O dimensionamento adequado da rede também se complica

sempre que os operadores tenham implementado nas suas

redes móveis a tecnologia de frequency hoping, que não é

compatível com o tráfego de dados no modo pacote do

GPRS.

3- As vantagens e desvantagens do frequency hoping

A tecnologia de frequency hopping (ver figura 2) permite

que durante uma chamada de voz, a frequência utilizada

na comunicação, seja dinamicamente alterada. Dentro de

um conjunto conhecido de frequências possíveis, a

comunicação vai “saltar” (hop) de frequência em

frequência.

Esta tecnologia permite um acréscimo na capacidade de

canais de voz numa determinada célula GSM. Supondo, a

título de exemplo que duas estações base (BTS) vizinhas

estejam a transmitir canais em cinco frequências distintas,

todas elas iguais excepto uma delas, embora exista um risco

de colisão nas frequências partilhadas, os efeitos são

minimizados com o salto (“hop”) constante na frequência

utilizada.

Planificação e implementação deredes Móveis 2,5G

Justino M. R. Lourenço

ISPGaya

Rua Rodrigues da Rocha, 291, 341

Santo Ovídio, 4400-025 Vila Nova Gaia

1- A evolução do tráfego nas redes móveis.

O contínuo e acentuado crescimento dos utilizadores de

redes móveis de comunicação tem acentuado o desafio do

correcto planeamento de rede.

Durante a “infância” da tecnologia GPRS over GSM a

optimização e planificação da rede não sofreu complicações

adicionais [Trillium, 1999] [Rysavy, 1998]. Contudo, à

medida que o tráfego de dados aumenta, surge a

necessidade dos operadores alocarem os seus recursos

rádios de uma forma mais eficiente.

Actualmente, a maior parte das estações base (BTS) são

utilizadas para tráfego de voz e dados em simultâneo

[Lourenço, 2000a]. A gestão da alocação dos recursos rádio

é feita duma forma dinâmica, com base nas necessidades

instantâneas dos utilizadores. Esta situação afecta a

optimização dos recursos rádio duma forma diferente.

2- Planeamento e optimização

De forma a garantir uma qualidade de serviço da rede em

padrões aceitáveis, e simultaneamente satisfazer as

exigências de voz e dados, complicam a estratégia de

planificação da rede.

Na figura 1, aparecem representadas em imagens distintas

as necessidades de canais de voz e de canais de dados numa

rede móvel.

Em especial, o aparecimento de cada vez mais, de novos

serviços locais (como a localização geográfica,

Este artigo faz uma apresentação das condicionantes no

planeamento das redes GPRS over GSM. As exigências

crescentes no tráfego de dados, levam a alterações e inovações

na forma como uma rede é planificada.

Figura 1 – Distribuição do trafego de voz e dados.

Figura 2 – Frequency Hoping.

14

A qualidade de serviço (QoS) também é melhorada ao

conseguirmos reduzir o fenómeno de fast fading, onde um

sinal decresce bruscamente de intensidade numa

comunicação. Este fenómeno é em especial mais sentido em

zonas geográficas mais congestionadas, em que o utilizador

chega a perder a chamada. O fast fading está associado a

obstruções, reflexões e refracções indesejadas que levam a

alterações rápidas da intensidade de sinal que chega ao

terminal móvel.

A utilização da tecnologia de hoping, permite um acréscimo

significativo de qualidade numa comunicação, isto porque a

mudança constante de frequência de comunicação, reduz o

tempo de permanência em frequências com fortes

interferências.

Esta tecnologia é especialmente valorizada em redes móveis

fortemente congestionadas, já que permite uma

maximização dos recursos rádios, e em simultâneo uma

melhor qualidade de serviço para uma determinada

disponibilidade de espectro radioeléctrico.

4- Dificuldades da tecnologia

Embora se tenha apresentado as vantagens da aplicação de

frequency hoping em redes GSM para tráfego de voz, as

actuais redes GPRS over GSM não operam no modo hop. O

traáfego de dados tem que ficar sempre associado a um

transceiver que não detém capacidade de alterar a

frequência durante a comunicação [Kalakauskis, 2002].

Actualmente, o tráfego GPRS é substancialmente inferior ao

tráfego de voz, e a maior parte dos operadores alocam o

tráfego de dados aos time-slots disponíveis no canal

Broadcast Control Channel (BCCH), um canal utilizado para

difusão de informações da rede aos terminais móveis. Mas à

medida que o tráfego de dados cresce, chegamos

rapidamente ao limite disponível no BCCH. Quando tal

acontecer os operadores terão necessidade de alocar

transceivers totalmente dedicados ao trânsito de dados.

Nesse cenário de curto prazo a forma de planificação da

rede móvel será necessariamente repensada com o

acréscimo de dificuldade acrescido.

Acima de tudo, será necessário repensar a estratégia de

planificação da rede, assumindo uma estratégia de

transmissão simultânea de GSM e GPRS nas estações base.

Esta solução, até aqui utilizada e como foi visto inviabiliza a

implementação de frequency hoping, com todas as

consequências descritas neste artigo. Se os operadores

dedicarem um novo transceiver em cada estação base, a

capacidade de reutilização de frequências irá ter que ser

implementada para uma distância maior, o que reduzirá

drasticamente os canais de voz disponíveis.

No outro cenário, em que os operadores terão que limitar o

trafego de dados (GPRS) apenas a algumas estações base

seleccionadas, a optimização da cobertura da rede GPRS

será mais complexa e terá de obedecer a uma planificação

mais rigorosa. As estações BTS alocadas ao tráfego de

dados, devem estar situadas e configuradas de forma a

servir às “target areas” que apresentem maiores

necessidades de tráfego. Assim, os operadores deverão

determinar a cobertura rádio-eléctrica óptima baseando-se

na minimização do path loss para a área coberta. Também

deve ser tomada em atenção a minimização da

interferência, já que esta é especialmente preocupante em

GPRS, podendo levar à necessidade de retransmissão de

blocos de dados perdidos. [Rysavy, 1998].

5- Conclusões

A tarefa de planificação de uma rede móvel tem uma

variável nova, a necessidade crescente de optimização da

rede para o tráfego de dados. [Trillium, 1999].

A procura de um solução óptima deve considerar não só as

necessidades actuais de tráfego, como a perspectiva de

evolução rápida no curto prazo. A escolha da solução

adequada, geralmente obtida à custa de software adequado

deve, também, ter sempre em conta a minimização dos

custos de upgrade da rede.

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66 Politécnica

15

1. INTRODUÇÃO

Enquanto algum ramo da ciência oferece uma

abundância de problemas, significa que está vivo; uma

falta de problemas implica uma extinção ou cessar de

desenvolvimento... É pela solução de problemas que o

investigador testa o temperamento da sua

sensibilidade; encontra novos métodos e novos pontos

de vista, e ganha maior e mais livre horizonte.(David Hilbert, 1902)

David Hilbert transmitiu para a comunidade científica que

problemas não resolvidos são um sinal de vitalidade e que a

pesquisa sobre os problemas mais difíceis é necessária:

“porque o que é claro e de fácil compreensão atrai; o

complicado repele”.

Tal como há cem anos atrás, o espírito de hoje deve ser a

procura constante de novas soluções para problemas

actuais, e é com base nesta filosofia que vimos emergir na

Administração Pública novas teorias de gestão.

As condições económicas, tecnológicas e sociais de hoje,

exigem formas organizacionais diferentes daquelas que

dominaram as sociedades modernas desde a segunda

metade do século XIX. A organização burocrática,

caracterizada pela centralização e pelo controlo hierárquico,

é cada vez mais vista como uma forma organizacional

pouco adequada para lidar com os problemas inerentes às

sociedades contemporâneas.

Os modelos de Administração Pública estão a evoluir de

sistemas centralizados e centrados no Estado para sistemas

mais flexíveis e descentralizados (Araújo, 2001).

Governar através de redes (networks) surge como um novo

processo de coordenar as actividades e de dirigir as

organizações. Este modelo centra a sua atenção na

interdependência desenvolvida entre os vários actores, na

cooperação entre um grande número de organizações

públicas, semi-públicas e privadas. A gestão em networks

assenta em conceitos de reciprocidade em vez de competição,

exigindo um elevado grau de confiança entre os participantes.

2. EMERGÊNCIA DE UM NOVO MODELO DE

ORGANIZAÇÃO

As raízes da Administração Pública actual podem ser

encontradas no modelo burocrático de Max Weber, o qual

define a burocracia como sendo o Tipo Ideal de

Organização. Nesta concepção, a estrutura administrativa é

caracterizada pela centralização e hierarquia. O processo

administrativo é predominantemente um processo do tipo

Top-down, em que a coordenação é feita através de uma

série de regras que permitem o controlo da estrutura

administrativa. A este modelo, corresponde uma

administração que baseia o seu relacionamento com os

cidadãos no formalismo, com base em rotinas e

procedimentos estandardizados.

O carácter legal das normas e regulamentos, a hierarquia da

autoridade, a continuidade e a estabilidade são algumas das

características principais da burocracia, apresentadas por

Max Weber.

A crise económica dos anos setenta veio abalar este modelo

de administração. A insistência na melhoria de eficiência dos

serviços públicos, bem como a crise da teoria administrativa,

levaram a uma crescente reorientação da investigação para

a gestão pública ou “public management”. Embora não se

trate de uma nova disciplina separada da Administração

Pública (Bozeman, 1993), ressalta a importância do estudo

das políticas públicas e do “public management”, tendendo

este a aproximar-se da gestão empresarial. O que se

pretende com a “administração empresarial” é substituir a

gestão pública tradicional pela gestão de empresas privadas

já que se assume que tudo o que é público é ineficiente.

Em termos práticos, o modelo managerial insiste na

descentralização, na delegação de competências e na

possibilidade de distinção entre política e administração. À

política competiria definir as directrizes e à administração a

sua implementação segundo as regras da gestão privada.

Esta abordagem assume-se como uma alternativa ao

modelo burocrático orientando-se para os resultados.

A Governação como Alternativa aoModelo Gestionário

Tendo presente a crescente complexidade da actividade da

Administração Pública e dos problemas que procura solucionar,

assistimos ao aparecimento de novas formas de dirigir as

organizações. Este artigo analisa um novo modelo de gestão

pública: a governação em networks. Este modelo centra a sua

atenção na interdependência desenvolvida entre os vários

actores na cooperação entre um grande número de

organizações públicas, semi-públicas e privadas.

CCaarrllaa SSooffiiaa RRoocchhaa**

[email protected]

____________________________________________________________________

* Docente no Instituto Superior Politécnico GayaMestranda em Administração Pública na Universidade do MinhoTécnica Superior na Câmara Municipal de Santa Maria da Feira

16

A experiência posterior veio, porém, demonstrar que o

modelo managerial se mostrou inadequado para resolver os

problemas da Administração Pública. Mintzberg (1996) num

artigo da Harvard Business Review, “Managing Government,

Governing Management”, afirma que muitos dos problemas

da administração pública radicam na imitação da gestão

empresarial. Metcalfe (1993) afirma também que a gestão

pública deve deixar de imitar a gestão empresarial e

procurar inovar, já que se atingiram os limites da utilidade

da aplicação das práticas da gestão empresarial. Assim, o

modelo managerial tem vindo progressivamente a ser

abandonado com o aparecimento do conceito de

governação em rede que surge como um novo processo de

coordenar as actividades e de dirigir as organizações sendo

considerado por vários autores como um modelo alternativo

aos dois modelos anteriores (Araújo, 2002c).

Enquanto que o “new public management” representa uma

tentativa de introduzir técnicas de gestão privada nas

organizações públicas (tal como o contracting out,

orientação voltada para o cliente, introdução de

mecanismos de mercado), a gestão em networks tem como

objectivo a mediação e a coordenação interorganizacional

da formação política. Este último conceito (networks)

adquiriu, nos últimos anos, um lugar importante na ciência

política e na administração pública, demonstrada por um

número crescente de publicações na Europa e nos E.U.A..

O conceito de governação em networks está entre a

autonomia do mercado e a hierarquia burocrática e racional

(Kikert, 1997a).

CCaarraacctteerrííssttiiccaass ddaass rreeddeess ee hhiieerraarrqquuiiaass

3. O NOVO SISTEMA DE GOVERNAÇÃO

A procura de novos modelos administrativos e o

relançamento da discussão sobre gestão pública e

governação deve-se ao aparente consenso desenvolvido à

volta da ideia que o governo não é o piloto pelo qual a

sociedade é governada e à evidência que os processos de

formação política são geralmente uma acção combinada

entre vários actores.

A gestão em networks representa a resposta da sociedade

pós–burocrática às características da governação que se

baseiam na autonomia e na interdependência entre

organizações públicas, privadas e organizações sem fins

lucrativos (Araújo, 2002b).

Trata-se da substituição do modelo burocrático por um

modelo que enfatiza a imprecisão das fronteiras entre o

sector público e privado, a interdependência entre as

diferentes organizações, a necessidade de consensos e a

cooperação entre uma multiplicidade de actores.

Segundo Kikert (1997b), a gestão em networks consiste na

promoção da cooperação. De facto, o resultado da acção

administrativa torna-se em muitas áreas, não o resultado da

implementação autoritária de regras pré-estabelecidas, mas

o resultado da interacção e cooperação entre as várias

organizações (Offe,1984).

3.1. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA DA TEORIA DE

GESTÃO EM NETWORKS

O conceito de rede em ciência política recua ao início dos

anos 70.

Hierarquias Redes/ Networks

Estrutura administrativa • Centralização • Descentralização• Divisão específica do trabalho • Estrutura integrada e interligação entre sectores • Sectorização

Processo de implementação • De cima para baixo • De baixo para cima

Estilo governativo • Insistência nas regras • Desregulação • Direitos de controlo • Orientação de mercado• Gestão pelo governo • Comunicação/diálogo

• Redes governativas

Vantagens • Comando e controlo claros • Apoio mútuo • Legitimidade baseada na democracia • Oportunidades de aprendizagem erepresentativa desenvolvimento de competências

• Estabilidade • Flexibilidade• Autonomia • Visão holística

Desvantagens • Défice de implementação • Falta de método na tomada de decisões colectivas • Falta de conhecimento local • Conflitos ao nível do domínio, objectivos e métodos• Rigidez • Défice coordenativo• Problemas ao lidar com dinâmicas complexas • Fragmentaçãoe diversos sub-sistemas sócio – políticos

Fonte: Niemi- Iilahti Anita, «Will Networks and Hierarchies ever Meet?», p.4.

66 Politécnica

17

A abordagem da política interdependente é visível no

trabalho de autores como Allison (1971), Cohen (1972) e

Lindblom (1965). Nestes trabalhos, o termo “política”

aparece como o resultado da interacção entre múltiplos

actores, em que interesses contraditórios caracterizam os

processos políticos.

A gestão em networks foca a sua atenção no processo de

interacção entre os actores independentes e a complexidade

de objectivos e estratégias como uma consequência dessa

interacção. Nesta abordagem a maior atenção é dada ao

contexto institucional no qual o processo interactivo se

desenrola. Assim, são vários os autores unânimes em

defender que a teoria da gestão em rede é inspirada na

Teoria Inter-Organizacional (Klijn e Koppenjan, 2000).

O principal ponto de partida da abordagem inter-

organizacional é que o futuro das organizações consiste

noutras organizações, isto é, para sobreviver uma

organização necessita de recursos de outras organizações.

Estas comprometem-se a trocar relações umas com as

outras, e assim assistimos ao emergir de uma rede de

actores mutuamente dependentes. Na teoria inter-

organizacional há uma atenção especial para as ligações

entre as organizações e para as estratégias usadas por elas

para influenciar os processos de mudança.

Apesar do desenvolvimento da teoria da gestão em

networks ter sido influenciado pela teoria inter-

organizacional, esta abordagem de gestão tem desenvolvido

a sua própria estrutura teórica.

A abordagem em networks assume que a política é feita

através de um processo complexo e interactivo entre um

grande número de actores mutuamente dependentes.

Assim, a política só pode ter lugar com base na cooperação

(Klijn e Koppenjan, 2000), entre um grande número de

organizações públicas, semi–públicas e privadas.

No entanto, a cooperação nem sempre é fácil, visto que a

política ocorre em ambiente de tensão entre dependências e

diversidade de objectivos e interesses. Desde que a

cooperação e a colaboração nos objectivos e interesses

deixou de acontecer por comum acordo, tornou-se

necessário dirigir a rede. Estas estratégias de direcção, isto é,

a gestão da rede, tornou-se uma variável central na gestão

em networks, focando em primeiro lugar o aperfeiçoamento

da cooperação entre os diversos actores envolvidos.

Segundo Klijn e Koppenjan (2000) as suposições teóricas da

gestão em networks são:

RReeddeess

• Os actores são mutuamente dependentes para alcançar os

objectivos;

• As dependências criam relações sustentáveis entre actores;

• As dependências criam poder de veto para vários actores;

• A sustentabilidade das interacções cria e solidifica a

distribuição dos recursos entre actores;

• Os meios de distribuição e a formação das regras

conduzem a certas reservas da rede, relativamente aos

actores que estão de fora;

• As regras são formadas e solidificadas no decorrer das

interacções, o que regula o comportamento dos actores;

PPrroocceessssooss ppoollííttiiccooss

• Dentro da rede, as interacções entre actores na política

ganham importância, focando-se por um lado, na

resolução de tensões entre dependências e na divergência

e conflito de interesses por outro;

• Os actores partem para a percepção que defendem acerca

da área política, dos outros actores e das decisões a

apostar;

• Os actores seleccionam estratégias específicas na base da

percepção;

• Os processos políticos são complexos e não inteiramente

previsíveis em virtude da variedade de actores, das suas

percepções e estratégias;

RReessuullttaaddooss

• A política é o resultado de interacções complexas entre

actores que participam nos jogos da rede;

GGeessttããoo ddaa rreeddee

• Dada a variedade de objectivos e interesses, bem como

dos actuais e potenciais conflitos sobre a distribuição de

custos e benefícios, a cooperação não é automática e não

se desenvolve sem problemas;

• A acção concertada pode ser melhorada através de

incentivos de cooperação, de processos e conflitos de

gestão e da redução de riscos ligados à cooperação.

3.2. A GESTÃO EM REDE

3.2.1. O GESTOR DE REDE

Dentro da rede ocorrem interacções sucessivas à volta da

política e de outros assuntos, as quais podem ser chamadas

de jogos. Os processos políticos podem assim ser vistos

como um conjunto de jogos entre actores, onde cada um

tem a sua própria percepção da natureza do problema, das

soluções desejadas e dos outros actores da rede. Os

resultados do jogo são consequência das interacções das

estratégias dos diferentes jogadores do jogo. Estas

estratégias são todavia influenciadas por vários factores, tais

como: a percepção dos actores, o poder, os recursos

disponíveis e as regras da rede.

18

É implícito supor que estas diferenças de estratégia dos

diversos actores, levam à necessidade de dirigir os jogos que

ocorrem na rede.

Assim, o gestor de rede, não é o actor central ou o director,

mas um mediador ou estimulador. Este papel não é

necessariamente dirigido apenas a um actor. Apesar de os

actores públicos assumirem muitas vezes o papel de

gestores de rede, os demais actores não estão impedidos de

o fazer.

Neste modelo de gestão pública, o gestor público não tem

as mesmas funções das que são normalmente atribuídas ao

gestor privado. Segundo Kooiman (1993), o gestor de rede

é fundamentalmente um integrador da diversidade,

orientador das dinâmicas sociais e decompositor da

complexidade, procurando solucionar conflitos e promover a

colaboração entre os actores. Trata-se de um gestor “tipo

delta”, um superprofissional dotado de vastos

conhecimentos e inteligência prática, com uma enorme

capacidade de diálogo e de construir pontes entre os actores

(Dror,1997).

3.2.2. O PAPEL DO PODER E OS CONFLITOS NAS REDES

Uma das críticas dirigidas à teoria da gestão em networks é

que esta não tem em linha de conta os conflitos e as

diferenças de poder.

A cooperação é o elemento chave para que os actores que

se encontram em situações de dependência mútua

consigam realizar os seus objectivos. Este facto não implica

que a cooperação seja estabelecida sem conflitos, uma vez

que as relações de dependência duráveis não significam

necessariamente que nenhum conflito surgirá na

distribuição dos custos e benefícios dos processos políticos.

A falta de um actor dominante não implica que os recursos

sejam igualmente distribuídos entre os actores

(Knight,1992). As regras podem também operar em

vantagem de alguns e em desvantagem para outros,

levando a diferenças de poder. Não obstante, os actores

menos poderosos podem influenciar a tomada de decisão,

usando o seu poder de veto, ou a sua habilidade para usar

recursos no sentido da estagnação ou bloqueio do processo.

Assim, os actores mais poderosos precisam de considerar os

colegas menos poderosos.

O poder é um dos conceitos centrais na análise de redes.

Para Thorelli (1986), poder, é a capacidade para influenciar

as decisões ou acções dos outros. Segundo o mesmo autor,

as fontes de poder de um participante na rede são:

- Base económica;

- Tecnologia;

- Perícia;

- Confiança;

- Legitimidade do actor.

3.3. ACTORES PÚBLICOS E REDES POLÍTICAS

Na gestão em networks, os actores públicos não

representam o papel dominante que frequentemente é

atribuído noutras perspectivas da Administração Pública.

A gestão em networks é acusada de considerar o governo

como sendo meramente um “actor entre actores”, o que

pode conduzir a problemas de legitimidade democrática ou

de responsabilidade. O facto do governo ser confrontado

com a realidade das suas dependências perante outros

actores, não implica que a sua posição não seja especial.

Deste modo, para a teoria da rede, o governo não é apenas

mais um actor. Os governos têm recursos únicos à sua

disposição e trabalham para alcançar objectivos únicos,

ocupando uma posição especial que na maioria dos casos

não pode ser conseguida por outros. Os recursos que

determinam a referida posição incluem: orçamentos

consideráveis, acesso a meios de comunicação de massa,

monopólio no uso da força e legitimação democrática. O

acesso a estes recursos proporciona aos governos um poder

considerável. É certo que o governo ocupa um lugar

diferente dos outros parceiros da rede, contudo não os

domina unilateralmente nem dita hierarquicamente as suas

ordens.

Os autores Klijn e Koppenjan (2000) argumentam que

quando confrontados com uma situação de ligação à rede,

os governos têm as seguintes opções:

• Primeiro, podem escolher não se unir aos jogos da rede, o

que significa que tentarão impor unilateralmente as suas

ideias e objectivos a outros actores sociais;

• Segundo, os governos podem decidir levar a cabo as suas

tarefas em cooperação com outros actores públicos, semi

– públicos e privados;

• Terceiro, o governo pode tomar a posição de gestor do

processo e assim tentar facilitar o processo interactivo

destinado à resolução de certos problemas ou à realização

de projectos;

• Quarto, os governos podem escolher levar a cabo o papel

de construtores da rede.

Dados os recursos especiais dos governos e o seu papel

como representantes do interesse comum, os governos

parecem estar eminentemente adaptados para este último

papel.

Os autores apontam como um sério perigo a confusão

destes quatro papéis por parte do governo, o que pode

conduzir a desentendimentos e conflitos entre actores e pôr

em causa a fiabilidade e legitimidade do governo.

66 Politécnica

19

3.4. FACTORES RELEVANTES PARA O SUCESSO OU

FRACASSO DA GESTÃO EM NETWORKS

Na gestão em networks as explicações para o sucesso ou

fracasso dependem de uma questão chave: a Cooperação.

Esta abordagem assume que os resultados políticos são o

resultado da interacção entre vários actores. O envolvimento

destes actores é consequência do facto de possuírem

recursos que não são exclusivos de um só, havendo

necessidade do seu envolvimento para a resolução de um

problema particular. Quando os actores conseguem reunir

os seus esforços e formular objectivos e interesses comuns,

conduzem os jogos políticos a resultados satisfatórios.

Por outro lado, os actores podem perder o interesse nos

jogos políticos quando ocorre a estagnação. A estagnação e

os bloqueios podem também ser consequência de uma

quebra de equilíbrio entre os custos da interacção e os

resultados esperados dos jogos políticos. Uma importante

explicação para o fracasso da gestão em rede é o facto dos

actores poderem estar insuficientemente cientes das suas

dependências externas.

A acção combinada requer assim que os actores possam

avaliar as suas dependências mútuas, as possibilidades de

cooperação e os limitados riscos e custos envolvidos. A falta

de consciência de dependências mútuas, conflitos de

interesses e custos de interacção, são explicações

importantes para o fracasso da gestão em rede.

A forma como os recursos estão distribuídos pelos vários

actores, também influencia o sucesso dos jogos políticos.

Diferentes actores possuem diferentes recursos e como tal,

diferentes posições na rede. As mudanças na distribuição

dos recursos nas redes podem reflectir-se no jogo político e

conduzir uma rede do sucesso ao fracasso ou vice-versa.

Para além disso, as regras têm um papel muito importante

no desenvolvimento dos processos políticos. As interacções

entre actores de várias redes podem ser difíceis porque estes

têm poucas regras para orientar as suas interacções. As

regras são construções sociais dos actores na rede e diferem

de rede para rede. A sua existência reduz os custos de

transacção e simplifica a cooperação. A falta de confiança e

a inexistência de regras conduzirá mais depressa a

resultados de não cooperação e, por conseguinte, ao

fracasso dos jogos políticos. Scharpf (1997) conclui:

“Podendo confiar e sendo de confiança, é uma vantagem -

mas explorar a confiança pode ser mais vantajoso”.

As regras são um dos mais importantes pilares da confiança.

No entanto, não podemos esquecer que o resultado de

quebrar as regras pode ser atraente para os actores. Neste

sentido, qualquer estudo de gestão em rede deve dar uma

atenção especial à reformulação e reinterpretação das regras

como uma consequência externa de uma escolha de um

actor.

Os autores Klijn e Koppenjan (2000) identificam as

explicações para o sucesso ou fracasso da gestão em

networks:

AAoo nníívveell ddaa iinntteerraaccççããoo::

• Os actores apercebem-se das suas dependências;

• Os actores são bem sucedidos na redefinição de interesses

divergentes e conflituosos para o interesse comum;

• Os custos de interacção são ou não favoravelmente

equilibrados com a compreensão dos resultados da

interacção;

• Os riscos da interacção nos jogos são limitados como

consequência das estratégias de outros actores;

• Previsão da gestão do jogo (percepção mútua do

desenvolvimento, jogos e gestão conflituosa).

AAoo nníívveell ddaa rreeddee ::

• Os actores possuem poder de veto, visto que os recursos

são indispensáveis;

• Os actores com poder de veto estão actualmente

envolvidos no processo;

• Os actores nos jogos pertencem à mesma rede, interagem

uns com os outros e desenvolvem regras mutuamente.

3.5. FACTORES DE COESÃO EM NETWORKS

Desde Weber que os gestores públicos têm explicitamente

ou implicitamente aceite que é a autoridade legal inserida

numa hierarquia que mantém as pessoas a operar numa

estrutura burocrática, sendo esta a razão principal pela qual

as pessoas permitem a si próprias serem lideradas. As

networks não são baseadas no paradigma de autoridade

legal. Sendo assim, pode questionar-se porque razão

pessoas de diferentes organizações que não têm

relacionamentos legais de autoridade, decidem trabalhar

juntas na clarificação de problemas e na procura de

soluções. A literatura sugere a importância da confiança,

objectivos comuns, dependência mútua e a existência de

recursos limitados como os principais factores explicativos.

Na ausência de um estatuto legal, é usualmente aceite que

as pessoas trabalham juntas por causa de um motivo: a

confiança.

A confiança é necessária quando as organizações públicas e

não públicas tentam redefinir os seus relacionamentos

baseados na hierarquia e na legalidade, sendo entendida

como uma certeza na continuidade de uma relação de

satisfação recíproca. A confiança, segundo Thorelli (1986) é

baseada na reputação e, mais importante ainda, no

desempenho passado, sendo construída através de

20

amizades pessoais e laços sociais estabelecidos no interesse

do dia-a-dia.

Outros afirmam que uma crença partilhada ou um objectivo

comum, contribui para manter a rede junta. Assim, a

organização individual só é relevante para o entendimento

de como e porque razão cada organização contribui para a

coesão do grupo.

A dependência mútua é ainda outra explicação para a

coesão das networks. A literatura interorganizacional de

algumas décadas atrás, sugere que os actores de uma rede

estão numa espécie de dependência interactiva,

normalmente baseados no intercâmbio de recursos.

A liderança e a capacidade de orientação dentro de sistemas

de auto gestão é outro contribuinte proeminente para a

coesão de networks identificada na literatura de gestão

pública. É frequentemente entendido que a liderança e a

gestão em networks requerem princípios de orientação mais

flexíveis como substitutos da linha de comando e controlo.

Para alguns teóricos, a liderança é o factor central para

segurar a rede junta. O líder estabelece metas comuns, cria

um ambiente de confiança, gere contribuições

organizacionais e individuais e lança energias de acordo com

alguns planos estratégicos. É importante notar que estes

não são atributos pessoais, talentos, ou condições de

indivíduos, são papéis num sistema de interacções

estratégicas.

4. CONCLUSÃO

A gestão em networks é uma fonte importante de

inspiração para o desenvolvimento da administração

pública. A natureza das tarefas com as quais os governos

nas sociedades contemporâneas são confrontados, não

permite o comando e o controlo de todas as situações.

Devido à ambiguidade e complexidade destas tarefas, os

governos terão que aprender a estabelecer parcerias com

outras partes. As estratégias da gestão em rede terão que

fazer parte dos seus procedimentos.

Por exemplo, na Holanda esta visão é amplamente

reconhecida e importa salientar as experiências

desenvolvidas pela Universidade de Roterdão com base em

parcerias da administração local com o sector privado e

organizações não lucrativas.

A Administração Pública moderna é uma rede de ligações

verticais e horizontais entre organizações de todo o tipo -

públicas, privadas lucrativas e sem fins lucrativos e

voluntárias. E nesta rede de ligações complexas, os cidadãos

são o centro da Administração Pública (Araújo, 2002c).

66 Politécnica

21

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22

aumento da produtividade ao nível dos quadros médios e

superiores.

Sem dúvida, que a produtividade de um profissional, que

tem por missão a reflexão, é bastante reduzida, dadas as

constantes interrupções de que é alvo no decorrer do seu

dia de trabalho. Não podemos considerar possível que um

director de um departamento, possa desenvolver a

totalidade da sua actividade em regime de teletrabalho,

contudo é bastante aceitável, que se encontre um equilíbrio

que permita um regime misto.

O teletrabalho pode ser explorado em várias vertentes, não

sendo considerado como regime único, i.e., existem uma

série de funções que podem e devem contemplar uma

componente desenvolvida em regime de teletrabalho,

complementada com o trabalho exercido no espaço físico

da organização. Os gestores de topo são potenciais

candidatos a desempenhos desta natureza, resultando num

trabalho de qualidade superior, num menor espaço de

tempo. Para além das vantagens ao nível dos resultados, é

um factor motivador para os trabalhadores [Bentley e

Yoong, 2000].

Também ao nível da inserção das mulheres no mercado de

trabalho, esta via potencia-se como uma excelente

oportunidade de integrar mulheres com elevado valor, que

devido às suas responsabilidades no seio da família, têm

bastantes dificuldades em desempenhar funções de topo

numa organização [Papalexandris e Kramar, 1997]. Num

estudo efectuado em 1996, conclui-se que, 40% das

mulheres europeias, se encontram inseridas no mercado de

trabalho, enquanto que se torna crescente, a preocupação

da família como instituição, dando primazia aos valores da

família e às repercussões da ausência de acompanhamento

da família na sociedade do futuro. Daqui resulta um conflito

entre o trabalho e a família [Papalexandris e Kramar, 1997].

Manuela Peréz [Peréz et al., 2002], classifica o teletrabalho

em 3 grandes tipos:

• teletrabalho a partir de casa;

• escritórios satélite, usualmente denominados filial;

• trabalho móvel.

66 PolitécnicaA opção pelo teletrabalho e suasrepercussões

23

SSííllvv iiaa OOlliivv eeiirraa SSaannttooss 11

[email protected]

Palavras chave: teletrabalho, recursos humanos, sociologia.

1. Introdução

Na era da globalização, colocam-se, mais do que nunca, às

organizações novos desafios, que exigem dos seus líderes

uma total abertura, para encetar novas soluções que visem a

sua sobrevivência económica, não perdendo, contudo, de

vista a satisfação e motivação dos seus recursos humanos.

A gestão do conhecimento e a flexibilização do trabalho,

têm sido alvo de discussão e estudos, que são unânimes em

concluir que, permitindo uma maior flexibilização do

trabalho aos nossos profissionais e gestores, contribui para

sustentar a médio, longo prazo vantagens competitivas

[Pérez et al., 2002].

Ao nível das preocupações sociais, no respeitante ao

ambiente de trabalho e da família, procura encontrar-se

caminhos alternativos. Num esforço de controlar os níveis de

poluição e congestionamento de tráfego, vários governos

procuram incentivar as organizações a criar programas de

trabalho que contribuam para diminuir este tipo de

problemas. Também no que concerne aos clientes se

constata, que estes apostam em organizações que

demonstrem uma responsabilização ambiental e social.

Actualmente os clientes têm um nível educacional superior,

são mais exigentes e mais selectivos [Tan-Solano e Kleiner,

2001].

2. A opção pelo teletrabalho

Tem sido crescente a opção das organizações na

implementação do teletrabalho, tendo contribuído para esse

facto a conclusão que, na generalidade, os seus profissionais

são mais produtivos e têm um índice menor de rotatividade

e absentismo [Pérez et al., 2002]. As razões que estão na

base da utilização do teletrabalho prendem-se com dois

grandes objectivos por parte da organização, redução de

custos variáveis (em alguns casos também fixos) e o

O teletrabalho proporciona vantagens e desvantagens para o

trabalhador e para a organização, devendo-se ter em

consideração que não é para todas as pessoas, para todas as

funções e apenas porque está na vanguarda.

____________________________________________________________________

1 Licenciada em Recursos Humanos e Psicologia do Trabalho. Formador naárea de Recursos Humanos.

Entende-se por teletrabalho a partir de casa, o trabalho de

colaboradores que pressupõem uma ligação a um escritório

central. Não se inserem nesta categoria os trabalhadores por

conta própria que prestam determinados serviços para uma

organização em regime de outsourcing. Encontramos nesta

categoria funções como directores de marketing, directores

financeiros ou advogados. No caso dos escritórios satélite,

compreende-se os casos em que o trabalho é desenvolvido

num local, normalmente que mais se adeque aos

trabalhadores ou até aos clientes, que se encontra ligado ao

escritório central, podendo ser o caso de uma equipa de

vendas que cobre uma determinada área geográfica do país.

Os trabalhadores móveis desenvolvem o seu trabalho a

partir de locais tão diversos como um hotel, uma viatura,

um combóio, etc. [Pérez et al, 2002].

3. Repercussões inerentes ao teletrabalho

São várias as repercussões do teletrabalho nas organizações,

quer no que concerne ao trabalhador, que ao empregador.

Ao nível do trabalhador, nomeadamente, no aspecto social,

colocam-se várias questões que, apesar de alvo de vários

estudos, não são ainda conclusivas. Contudo, há uma série

de constatações inevitáveis que surgem como consequência

imediata do processo de isolamento, a que o indivíduo é

sujeito num regime desta natureza. Um dos receios mais

apontados pelos teletrabalhadores, é o facto de se sentirem

longe da organização e portanto a sua ausência física levar

ao esquecimento, nomeadamente quando surgem

possibilidades de promoção [Peréz et al., 2002].

“Longe da vista, longe do coração”, a ausência do local de

trabalho e o consequente distanciamento do olhar do chefe,

potenciam um acesso reduzido a novas oportunidades. Os

teletrabalhadores podem, muitas vezes, sentir que os

colegas que desempenham funções dentro da organização,

pela sua maior visibilidade têm o acesso a promoções

facilitado [Tan-Solano e Kleiner, 2001].

A interacção é diminuta, pelo que o estreitamento de laços,

muitas vezes adquiridos nos locais de trabalho, não se

verificam, sendo fundamental a existência de uma vida

social activa e rica.

Paralelamente com o teletrabalho podem surgir conflitos

com os outros membros da família, nomeadamente, quando

o trabalho interfere com a vida familiar. O tempo

despendido com o trabalho tem diferentes interpretações

por parte dos vários membros da família, especialmente,

quando este invade a esfera privada da vida familiar.

Especialmente, ao nível das crianças, torna-se muitas vezes

complicado compreender, que apesar de ter o adulto em

casa, isto não significa que esteja disponível para elas. Os

teletrabalhadores necessitam de actuar com muito cuidado,

de modo a não perder a noção do equilíbrio entre o espaço

para o trabalho e para a vida familiar [Tan-Solano e Kleiner,

2001].

Grande parte da literatura disponível nesta área aborda os

efeitos da adopção deste estilo de vida, nomeadamente ao

nível do isolamento social e da progressão na carreira.

Porém é necessário desenvolver análises quanto aos efeitos

directos nas famílias. Num estudo realizado nos Estados

Unidos, pela Universidade de Sul da Califórnia, a cerca de

400 teletrabalhadores, procurou avaliar-se quais os impactos

causados no indivíduo, tendo-se obtido onze categorias

sintetizadas no quadro seguinte [Nilles, 1996].

24

CCaatteeggoorriiaa ddee iimmppaaccttoo DDeessccrriiççããoo

Vida laboral em geral Diz respeito às alterações no relacionamentodos indivíduos com os seus supervisores,competências de trabalho auto avaliadasnoção de responsabilidade, influências,versatilidade e âmbito do trabalho.

Vida pessoal Este factor inclui alterações na qualidade dasrelações familiares, discrepância de tempo,controlo das próprias vidas, habilidade paraseparar a vida laboral da vida familiar, sucessona auto disciplina, coordenação no tempodedicado ao trabalho e à família, sabendoquando terminar o trabalho.

Visibilidade Os teletrabalhadores sentem-se esquecidospelos seus supervisores quando se encontramlonge da sua vista? Este factor englobaalterações nas próprias influências na estratégiada organização, percepção do que os outrosestão a fazer, como são recebidas as suassugestões e auto avaliada a sua visibilidade naorganização.

Influências do ambiente Inclui alterações no espaço de trabalho emcasa, stress causado pelo barulho existente emredor, habilidade para controlar o trabalho, bioritmo e sentimentos

Pertença Os teletrabalhadores sentem-se isolados? Aquitemos as alterações no envolvimento nasactividades sociais no escritório, quantidade defeed-back do trabalho efectuado, progressãoda carreira, estabilidade e relacionamento comos colegas.

Criatividade Alterações na criatividade no seu própriotrabalho, a quantidade de flexibilidade naperfomance do trabalho e capacidade de autoavaliação.

Também para a organização, são vários os desafios que se

colocam, sendo que, os responsáveis pelos

teletrabalhadores, devem receber formação que vise a

gestão de colaboradores neste regime de trabalho. Quando

os trabalhadores estão no escritório, o chefe, pode pelo

menos assegurar-se que este se encontra no seu posto de

trabalho. A impossibilidade deste tipo de controle causa um

certo estado de nervosismo e insegurança nos superiores. O

trabalhador pode estar a desenvolver outras tarefas, como

levar a criança à escola ou a outras actividades, mas por

outro lado, os mesmos trabalhadores podem trabalhar à

noite, aos fins-de-semana ou estar vinte horas a trabalhar

num determinado projecto [Tan-Solano e Kleiner, 2001].

Para que se verifique a redução efectiva de custos e o

aumento da qualidade e produtividade, é fundamental, ser

criterioso na implementação de um programa exaustivo e

muito bem planeado. Este é um processo constituído por

vários passos, tais como, a enumeração das políticas

subjacentes, avaliação da função, selecção dos

trabalhadores, levantamento do equipamento necessário,

etc [Tan-Solano e Kleiner, 2001].

Margaret Tan-Solano e Brian Kleiner, [Tan-Solano e Kleiner,

2001] citando, John Curran, analista de sistemas da Saltzer,

Surron and Endicott, afirma que as empresas poderão

aumentar a produtividade através do teletrabalho seguindo

os três R’s2.

Frequentemente, os teletrabalhadores preocupam-se com o

impacto que podem causar como trabalhadores nas suas

empresas. O trabalho desenvolvido em casa não tem

necessariamente menos distracções – filhos, TV, vizinhos,

vendedores porta-a-porta, amigos e família a telefonar a

qualquer hora do dia. Os teletrabalhadores tendem a

trabalhar mais horas em casa do que se trabalhassem no

escritório [Tan-Solano e Kleiner, 2001].

4. Considerações finais

Estudiosos acreditam, que trabalhar em casa tornar-se-á

cada vez mais comum, aceite e satisfatório na vida das

pessoas. Num recente estudo, realizado nos estados Unidos,

25% dos inquiridos afirmaram que gostariam de poder

desempenhar funções que lhe permitissem trabalhar em

casa [Tan-Solano e Kleiner, 2001].

São muitas as questões que se levantam em relação a este

assunto, contudo, são ainda muito poucos os estudos nesta

área, permitindo-nos apenas, tirar conclusões empíricas,

mas sem dúvida, que são inúmeras as potencialidades que

esta filosofia de vida pode trazer para as gerações futuras.

Em conclusão, podemos dizer que, como em todos os

processos existem vantagens e desvantagens na sua

66 Politécnica

25

AAss rraazzõõeess cceerrttaass

Teletrabalho é visto como um benefício e não como uma estratégiaempresarial. As empresas devem implementar teletrabalho por razões deaumento de produtividade, reduzir a necessidade de espaço físico,incrementar o contacto dos clientes com a força de vendas e incentivar autilização de pessoal altamente qualificado que não possui vínculo único coma organização.

AA ffuunnççããoo cceerrttaa

São várias as funções passíveis de serem desempenhadas em teletrabalho. Osvendedores são trabalhadores que beneficiam do acesso remoto, permitindodedicar mais tempo ao cliente. Telemarketeres podem mais confortavelmenteatingir os seus objectivos e angariar mais clientes.

AAss ppeessssooaass cceerrttaass

A selecção dos trabalhadores é uma das chaves para uma implementação bemsucedida. Motivação e disciplina têm de ser características naturais das pessoasque aderem a este estilo de vida. A inexistência de stress causado pela vida noescritório é o aspecto mais valorizado no teletrabalho. Todavia, estar distantedo escritório significa também perder a estimulação mental e a troca de ideiasentre os colegas.

Anulação do stress Alteração no trabalho no que diz respeitoaos custos, habilidade para ultrapassar menos valias físicas e inexistência depoliticas do escritório.

Libertação Este factor inclui alterações na capacidadede concentração nas tarefas cruciais, decontornar o excesso de tarefas e acapacidade de obter mais realizações.

Apreensão Abrange as inquietações causadas pelasfalhas do equipamento e sentimentos deculpa pelo facto de não estar a trabalharefectivamente.

Interdependência Este factor diz respeito à qualidade dasreuniões com os colegas e a dependênciaque têm dos outros para incrementar aqualidade do seu próprio trabalho.

Continuidade O último factor mede as alterações àliberdade individual causada pelasinterrupções.

Tabela nº 1 – Categorias de impacto do teletrabalho.

Fonte: Adaptado de Nilles, 1996, p. 19-20.Tabela nº 2 – Os três R’s.

Fonte: Adaptado de Tan-Solano e Kleiner, 2001, p. 125.

____________________________________________________________________

2 The Right Reasons; The Right Job; The Right People.

implementação. Cabe a cada organização, olhar

atentamente para o mercado onde está inserido, para o

trabalho que produz e para os seus recursos humanos e

avaliar qual o melhor caminho a seguir. Não há receitas

gerais e milagrosas que resolvam todos os problemas,

contudo, se estivermos atentos a toda a envolvência e

formos capazes de abrir os nossos horizontes, talvez

possamos encontrar plataformas que beneficiam a empresa,

mas que não esquecem a responsabilidade social, que cada

organização deve ter no meio onde actua.

26

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concordar com facilidade que os conceitos de saber

decorrentes do trabalho epistemológico não são inatos mas

construídos; assim é estranho a uma mente não-analítica o

termo “transcendental” em Immanuel Kant, “Eidética

Regional” em Martin Heidegger, ou mesmo a noção de

“Metafísica” em Aristóteles, ou da noção que exige rigor e

precisão terminológica da “Aufhebung” da Ciência da

Lógica em Hegel, de “Kairos” nos gregos ou de “conatus

essendi” em B. Espinosa. É claro, que assim as palavras

põem problemas.

3. No livro A Persuasão de Américo de Sousa (2001), o logos

encontra-se incondicionadamente ligado a um estudo para-

além-do-ser, e edificado razoavelmente (organicamente)

antes das palavras numa óptica cognitiva e consciente. É

que, sem pôr em causa esta visão tradicional do papel da

emoção na elaboração de um juízo, segundo Américo de

Sousa, António Damásio veio mostrar que, pelo contrário,

justamente por se aceitar a influência prejudicial das

emoções sobre o raciocínio é que mais surpreendente se

torna - como o provaram as suas experiências laboratoriais -

que “a ausência de emoções sobre o raciocínio não seja

menos incapacitadora nem menos susceptível de

comprometer a racionalidade que nos torna distintamente

humanos...”.

4. Impõe-se porventura uma reabilitação magistral de

Retórica e da Argumentação que, desde o anátema lançado

sobre elas por Platão, se viram excluídas do campo da

reflexão epistemológica. Longe de limitar a Argumentação

no plano discursivo, mostra-se que a Epistemologia, o

Direito ou a Lógica, para citar somente estas disciplinas,

actuam, cada uma de sua maneira, argumentando. É, assim,

uma verdadeira antropologia que une a nova Retórica. Tudo

começou com a rejeição do Positivismo Lógico, e

principalmente, do seu precursor, Gottlob Frege. Este último

também tinha a preocupação de tornar a linguagem natural

mais pura para a assentar sobre a linguagem científica. Nos

países de língua inglesa, tanto Frege quanto o

neopositivismo tiveram uma forte influência antes de serem

66 PolitécnicaA linguagem e a revalorização dassubjectividades

27

AAnnddrréé VVeerrííssssiimmoo

GFMC – UP

ISPGaya

[email protected]

Palavras chave: objectividade, subjectividade, linguagem,

retórica, ética, epistemologia, verdade.

1. Como diz o Sofista de Platão (diálogo em que se

procurava demonstrar que Sócrates poderia ser um

contrapeso ponderado a uma atracção desajeitada: assim a

dialéctica socrático-platónica era não disputativa e oposta à

erística com uma visão protréptica (exortativa) – uma

exortação de ética dialéctica que conduziria o interlocutor a

devotar-se a si mesmo ao conhecimento (sophia) e à

excelência humana (areté) … este é o nome dado desde

então às exortações no campo platónico ao saber ético. A

efectividade desta forma literária deriva da habilidade

platónica de tornar toda e qualquer asserção irónica ou

paradoxal, assim sobrepondo outros significados para além

do literal) no mesmo momento em que se trata de expor a

teoria do saber, a expressão do pensamento pela linguagem

causa problemas. A linguagem, como ligação de nomes por

verbos, pode não corresponder ao liame de coisas do real

que visa exprimir. Mais ainda, os próprios elementos da

ligação – os conceitos – podem não ser apropriados. E é

assim tarefa do epistemólogo fazer da linguagem uma

espécie de « característica » universal à boa maneira

leibniciana ou não, que em todos os casos possa

corresponder e convir às exigências do pensar, quer dizer

imitar pelo som da voz o que não tem som – a Essência

(Ousia) da cada coisa. Ora esta língua não foi inventada

pelos formalistas. A linguagem nesta perspectiva constitui-se

como um obstáculo para o saber. Se não podemos servir-nos

da linguagem como um veículo para alcançar as coisas e

mesmo o saber, o que poderá existir além disso ? Se existe o

saber, a coisa no-lo dirá, não a palavra. É a essência da coisa

que é objecto de saber. Ou seja, não existe saber sem

realidade objectiva. O saber está fundado sobre o Ser, não

sobre a linguagem (não o entende assim Crátilo numa

asserção nominalista); O saber estando subordinado ao Ser

torna irrecusável o saber derivado de imagens e signos do

Ser.

2. Todavia um trabalho de reflexão tópica permitir-nos-á

Procuramos com este ensaio uma nova valoração lógico-

semântica que enquadra as asserções do senso comum e a

grandeza das crenças que integram usos múltiplos dos

discursos lógicos, afectivo, ético, estético. O que está em causa

é em grande medida o questionar da rigidez de antinomias

como verdade e opinião, realidade e aparência, objectividade e

subjectividade. Segundo Chaïm Perelman, sem as opiniões, sem

as aparências e as impressões subjectivas estar-nos-ia negado o

acesso à verdade, à realidade e à objectividade, enquanto

metas ideais do nosso conhecer.

marginalizados, enquanto em França não se sabe ainda o

que as palavras “Positivismo Lógico” querem realmente

encobrir.

5. Hoje, as ideias do Positivismo são mais conhecidas por

nós, e, com a sua crítica, encontraram em Américo de Sousa

uma antecipação do seu próprio desenvolvimento na

vertente do cognitivismo e da interacção persuasiva.

6. Mas o que diz na verdade o Positivismo lógico? Em geral,

duas coisas. Por um lado, o modelo da actividade linguística

e o do raciocínio são fornecidos pela ciência lógico-

matemática e biológica na acepção dum mentalismo estrito.

O rigor, o carácter unívoco, a necessidade do raciocínio

demonstrativo são as características essenciais e úteis, em

que as outras ciências, e a Epistemologia em particular,

deveriam estribar-se. A demonstração e o raciocínio

hipotético-dedutivo são os pilares do raciocínio e da lógica.

Sem eles, não haveria lógica ou raciocínio que se

sustentasse. Por outro lado, e isto decorre do que acaba de

ser dito, os juízos de valor não decorrentes da lógica - dos

juízos ditos da verdade - mergulham, de forma inevitável,

tanto o homem de acção quanto o filósofo preocupado com

a justiça, no irracional. O Direito e a Justiça estariam

condenados separar-se da razão porque os valores não se

decidem nem de forma lógica, nem minimamente de forma

experimental.

7. São estes dois axiomas do Positivismo que se tornam

inexistentes, em proveito de uma concepção da razão

preocupada em estabelecer o ppllaannoo ddiissccuurrssiivvoo nnããoo--

mmaatteemmááttiiccoo no âmbito de seus direitos e a razão prática na

sua coerência.

8. O que se deve entender por visão da Retórica? Em

primeiro lugar, os usos principais da linguagem obedecem,

em geral, a modos de funcionamento opostos, em vários

pontos, aos que regulam a Matemática. Ao contrário de

Frege, que queria generalizar sobre a linguagem natural a

partir de uma linguagem tão artificial quanto a matemática -

“vocês sabem falar de álgebra” -, tenta-se mostrar que a

linguagem lógico-matemática é uma construção do espírito

que pressupõe a linguagem natural. Inspirada amostra deste

raciocínio está especificamente nos gradientes da persuasão:

[persuasão pessoal ou auto-persuasão, quando alguém

avalia os argumentos por si próprio elaborados (deliberação

íntima); persuasão interpessoal ou face-a-face a que se

dirige apenas a uma outra pessoa (pai-filho, vendedor-

cliente, etc.) e persuasão colectiva quando são múltiplos os

destinatários da mensagem persuasiva). É nesta última que

poderemos integrar a persuasão de grupo, a persuasão de

massas (tão óbvia no domínio do político), e no limite a

persuasão universal, que corresponderia à noção

perelmaniana de auditório universal] (Cf. Sousa, Américo,

2001: 156-157).

9. É pretensão excessiva querer expurgar a linguagem

natural do que a constitui, a saber, a ambiguidade dos

termos, o equívoco das palavras, a pluralidade dos sentidos

e das leituras interpretativas. Como é que se pode realizar o

uso quotidiano da linguagem se esta é tão imperfeita? Não

estaria ela, desde então, imprópria para a comunicação e a

expressão? A resposta é simples: a linguagem natural é

perfeitamente adaptada às suas funções, apesar das suas

imprevisões estruturais. De facto, um discurso é sempre

proferido num dado contexto que fornece a informação

necessária aos interlocutores, para dar um sentido ao que

eles escutam - se possível um único sentido - e, se não o for,

a informação contextual / co-textual ( Cf. M. Dascal, 1990,

pp. 61-100) permitirá, pelo menos, a eliminação de falsas

interpretações.

10. Em Matemática, pelo contrário, não podemos apoiar-

nos em dados desta natureza tão incerta, como a

informação contextual, que são muito subjectivos,

excessivamente incertos. Um raciocínio matemático deve ser

válido independentemente das pessoas às quais seja

susceptível de se dirigir. Aqui, não podemos pensar numa ou

noutra contribuição contextual, e o aspecto unívoco do

discurso tem de ser muito bem desenvolvido, mediante uma

construção que faça uso de símbolos bem definidos a priori,

de axiomas e teoremas, e demonstrações e de regras claras

e distintas numa forma cartesiana de formação e de

transição para toda (nova) a expressão possível.

11. Mas a linguagem natural permite a si mesma a

economia de um tal esforço, já que as suas expressões,

susceptíveis de receber sentidos e funções linguísticas

múltiplas, são finalmente dotadas de um significado preciso

graças ao carácter implícito do contexto, compartilhado pelo

enunciador e pelo auditório, e que serve para que um se

faça entender pelo outro. Desta forma, não é necessário

alinhar todas as suas premissas, nem mesmo explicitar toda

a informação quando comunicamos com outrem. Este

conhecimento constitui uma reserva quase infinita,

inominada, de proposições que se identificam, na verdade,

com o que chamamos cultura: da revista ao livro de

erudição, pode ser encontrado um vasto acervo de valores,

de lugares comuns, de pressupostos que alargam o campo

do implícito mediante o qual o explícito adquire precisão e

um rigor que, no caso da Matemática, como linguagem

28

excluída do contexto, tem de se impor a priori quando os

constrói. Na verdade, o modelo matemático, em matéria de

linguagem, tem por consequência tirar a linguagem natural

do contexto. Assim, ela actuaria no vazio, e não seria

compreensível que sequer os positivistas pudessem ter

imaginado que ela de alguma forma pudesse ter

funcionado. As frases adquiridas fora de qualquer contexto,

autónomas como proposições matemáticas, só podem gerar

equívocos e serem inferiores, do ponto de vista do status

funcional, às que são encontradas nas ciências e nas

linguagens formais. Américo de Sousa seguindo Chaïm

Perelman verifica que todo o discurso tem um contexto, e,

por conseguinte, um auditório para o qual ele é produzido.

A relação que se estabelece entre o auditório e o enunciador

é, propriamente dita, retórica, já que a adaptação ao

auditório é uma condição para a ppeerrssuuaassããoo e da lógica

funcional.

12. Para despertar a confiança nos ouvintes, o orador

precisa que estes lhe reconheçam três qualidades:

racionalidade, excelência e benevolência. Porque se o orador

não é racional na sua maneira de pensar, então será incapaz

de descobrir as melhores soluções. Já um orador racional

mas sem escrúpulos, pode encontrar a solução óptima mas

ou não a comunica ou tenta enganar, propondo gato por

lebre. Só num homem insigne, a um tempo racional,

excelente e bondoso, se pode confiar. Logo, o orador deve

dar a impressão de que possui um tal carácter, se pretende

persuadir, pois o seu êxito não depende só do que disser

mas também da imagem que de si próprio projectar no

auditório.

13. Sendo importante que o orador saiba dar a impressão

de possuir um carácter digno de confiança, é igualmente

necessário que conheça o carácter dos seus ouvintes e a ele

saiba adaptar-se. Por isso Aristóteles nos capítulos XII a XVII

do Livro II da Retórica procede à análise e classificação do

carácter em relação com a idade e a fortuna. No que

respeita à idade, distingue três classes: os jovens, os adultos

e os velhos. Os jovens são apaixonados, pródigos, valentes e

volúveis. Os velhos, são calculistas, avarentos, cobardes e

estáveis. Só os adultos maduros adoptam uma atitude

intermédia e sensata. "Falando em termos gerais, o homem

maduro possui as qualidades proveitosas que estão

distribuídas entre a juventude e a velhice, ficando num

termo médio e ajustado, pois que uma e outra ou se

excedem ou ficam aquém do necessário”. Em relação à

fortuna, Aristóteles considera os factores de nobreza,

riqueza, poder e boa sorte. Assim, os nobres tenderão a ser

ambiciosos e depreciativos, os ricos serão insensatos e

insolentes e os poderosos parecerão ricos, mas ainda mais

ambiciosos e viris.

14. Suscitar o entendimento e a adesão encontra-se,

necessariamente, na base de toda explicação da linguagem

real, da forma como ela é praticada diariamente. O discurso

científico é, na verdade, uma simples modalidade, e não um

modelo do racionalismo argumentativo, ou seja, do âmbito

discursivo. A omnipresencialidade do discurso científico

enquanto narrativa lógica deve ceder ao pensamento débil

assente na ambiguidade semântica e na modalidade

exponencial dos sentidos. Na ciência, também existe um

auditório - o auditório universal como dissemos acima -, e a

razão aqui empregada não deve ser concebida como sempre

foi, a saber, como se se entregasse a um monólogo consigo

mesmo. O entendimento divino, tornado científico, não

precisa de auditório. Mas será esta uma forma razoável de

considerar a actividade científica?

15. Sabemos, hoje, que toda obra científica se dirige a uma

comunidade à qual se esforça por convencer recorrendo,

nomeadamente, a critérios de exposição, como a

simplicidade ou o rigor formal da teoria. O auditório é a

realidade da razão humana, que sempre postula um outro

ao qual ela se dirige, este outro podendo ser um

interlocutor ideal, tão universal quanto um auditor preciso,

particular, cujos interesses e pressupostos exclusivos são

levados em consideração.

16. Foi deduzido que o Racionalismo e a linguagem formam

um par. Pois não existe uso da linguagem que não seja

baseado no esforço de convencer a pessoa a quem nos

propomos persuadir. Este Racionalismo provém da

argumentação e Américo de Sousa prefere falar em

“razoável” para deixar ao “racional” o campo da

argumentação constringente. O racional e o razoável

constituem o domínio da razão da maneira como se deseja

conceber actualmente. Porquê fazer referência ao razoável

quando se trata de Racionalismo argumentativo não-

demonstrativo? Pura e simplesmente porque a conclusão,

nada tendo de constringente ou de necessário na lógica

argumentativa, só se impõe como tal diante de valores, de

lugares comuns para os protagonistas, os quais são levados

a adoptá-la com base nestes pressupostos. A conclusão de

uma argumentação não-formal resulta de uma escolha que

sempre pode ser discutida e contestada, que pode impor-se

definitivamente porque, no âmbito da sociedade e dada a

herança compartilhada entre o enunciador e o auditório, é

razoável uma conclusão em vez de outra. Seria racional se

pudéssemos concluir “somente” isto em vez daquilo. Mas

66 Politécnica

29

todos sabemos, pelas discussões às quais nos entregamos

todos os dias no nosso trabalho ou no nosso viver comum,

que as conclusões que queremos ver adoptadas nada têm

de inevitável, e que elas podem gerar convicções baseando-

se, unicamente, no seu carácter de razoabilidade. É claro

que um tal carácter defende certos valores no tempo, mas

quem poderia ainda pretender que a razão, através de todos

os seus usos, seja imutável e abstracta, e que a História ou a

sociedade não existem e não implicam um domínio de

generatividade mental imprescindível ao crescimento do

conhecimento científico?

17. Uma lógica da argumentação é decididamente uma

lógica dos valores, uma lógica do razoável, do preferível, do

estratégico, da sedução, do opinável e no limite da

convicção dos auditórios e não uma lógica do tipo

matemático ou, como é dito geralmente, da necessidade

constringente, ou à maneira husserliana, apodíctica e

apofântica. Esta última força à unanimidade. Mas a maior

parte dos usos da linguagem não reúne esta unanimidade,

especialmente em matéria de moral e de política, ainda que

seja corrente aqui ou ali internar, prender, deportar, ou

aniquilar os que se recusam a aceitar a universalização

forçada das máximas do poder legitimado (Koestler, A.,

1979).

18. Com efeito, uma argumentação, pelo facto de não ser

constringente, autoriza várias conclusões, várias escolhas,

numa pluralidade de hipóteses uma recusa de valores, que

proporciona, assim, um debate interminável, (o que é o

plano horizontal da conversabilidade e propício às

inferências baseadas no espírito dialogal) a não ser que se

faça uso da força. Uma Ética é justa pelo facto de admitir

que os valores não são conclusões evidentes às quais o

universo deve submeter-se. Uma Ética deve apoiar-se na

realidade argumentativa, desestabilizada pelo jogo de

valores, só podendo resultar do pluralismo destes.

19. O domínio do ético envolve-se com o sujeito como

parceiro num diálogo e desenvolve-se num processo onde a

reflexão se torna mais contextualizada, embora como

processo de negação mais do que de confirmação do

âmbito do auto-evidente. No entanto, a reflexão determina-

se dentro de um círculo mágico: é um acto de liberdade e,

além disso, de luta pela própria possibilidade da liberdade.

Exige e condiciona a diversidade da liberdade e das

possibilidades humanas, por um lado, e, por outro lado,

requer actos de responsabilidade e coragem, quanto a si

mesmo e quanto aos outros. Mas, como actividade humana,

a reflexão ocorre num âmbito social e aí exerce um papel

30

específico - mesmo que problemático. Como tal, a reflexão

é apenas um elemento de uma intersubjectividade humana

dinâmica, rica e complexa. A reflexão é sempre alterada,

parcial e situada no meio de forças, objectivos e orientações

conflituantes. A ética não é, portanto, sinónimo de

relativismo, que a Retórica sempre foi acusada de defender.

Existe, claramente, um apelo ao implícito cultural que

assegura à argumentação não-racional o seu carácter

razoável.

20. Para Platão, o retórico age seduzido pela linguagem e

manipula-a de tal forma que possa sempre fazê-la dizer o

que melhor convêm nas diversas circunstâncias. Ele não tem

uma doutrina, mas pode defendê-las a todas, ao contrário

da linguagem científica, matemática, que autoriza

unicamente ideias claras e distintas, de evidências, como

dirá mais tarde Descartes, ou proposições apodícticas como

diz Edmund Husserl, ou mesmo a lógica da “falsação” de K.

Popper.

21. Será uma pretensão não judiciosa querer recalcar a

linguagem epistemológica sobre evidências incontestáveis,

oferecidas pelos discursos que garantem um fundamento

indestrutível. O discurso crítico não tem outro recurso senão

o do senso comum, que ele irá procurar desconstruir,

sistematizar, alterar. Neste sentido, o discurso

epistemológico é sempre submetido à discussão e ao debate

contraditório, e sabemos que, em matéria de Epistemologia,

o facto é comum, já que nenhum sistema epistemológico

escapou à sua obsolescência.

22. O que fazer da ambiguidade do mundo real, da

ambiguidade que nos oferece o senso comum, senão tutelá-

la, em vez de pretender poder vencê-la pela formalização

sistemática? A reabilitação do retórico no seio de uma Nova

Retórica consiste em finalmente consciencializar-se de que a

argumentação filosófica não tem nem o rigor das ciências

formais, nem os recursos experimentais das ciências

empíricas, e que ela trabalha a partir da linguagem natural,

repleta de noções confusas, submetidas perpetuamente ao

jogo social do debate contraditório, de onde não

saberíamos evadir-nos pelo simples recurso à experiência,

nem pela via da formalização que exclui as alternativas para

as questões tratadas. Há que permanecer com estas

questões e oferecer os meios de discuti-las como tais.

23. Américo de Sousa deu-nos uma tipologia de esquemas

argumentativos sobre os quais não há mais meios de

ampliar: generalizando, trata-se de afastar ou de

reaproximar, a cada vez que se argumenta, noções que

unimos, para fazer surgir um valor-referência que

rejeitamos, ou ao contrário, que queremos ver adoptado. A

analogia e a metáfora ilustram bem este mecanismo em que

achamos duas noções unidas para sugerir uma conclusão.

Tudo isto é suficientemente conhecido para que não seja

necessário que se continue a insistir. Mas o que é realmente

importante observar é a relação entre a retórica literária e a

nova retórica. Quanto ao discurso retórico propriamente

dito, pode dizer-se que, ao contrário do discurso científico,

ele tem pretensões literárias, pois brilhar, surpreender e até

divertir, pode contribuir decisivamente para persuadir o

auditório. Mas isso, segundo Aristóteles, não deve

confundir-se com o recurso a um estilo poético, pesado,

como o de Górgias, já que o uso de um estilo sereno, claro e

natural é o mais adequado quando se pretende ser

convincente. "Por isso não convém que se note a

elaboração nem dar a impressão de que se fala de modo

artificial mas sim natural (este último é o persuasivo, pois os

ouvintes predispõem-se para contrariar, quando ficam com a

ideia de que se está a metê-los numa armadilha, tal como

acontece com os vinhos misturados) ” (Aristóteles,

1998:242). O recurso literário mais importante da oratória é

a metáfora. Mas é preciso saber encontrar metáforas

adequadas, nem muito obscuras nem triviais. Por outro

lado, o discurso, embora sem cair no verso, não pode

renunciar ao ritmo. E Aristóteles explica porquê: "a forma

que carece de ritmo é indefinida e deve ser definida, ainda

que não seja em verso, já que o indefinido é desagradável e

difícil de entender” (Aristóteles, 1998: 263)

24. Mas isto é somente um deslocamento condicionado do

que se deve entender por retórica. Pois os efeitos de estilo,

as figuras do discurso, são ligados por uma possibilidade de

sugestão que ultrapassa a literatura e o que está aí incluído.

Uma tal possibilidade ganha o seu fundamento na relação

com o auditório, que se alimenta da história da cultura e do

implícito contextual e co-textual, cuja multiplicidade de

formas enquadra a epistemologia, a educação, a moral, o

discurso literário, e finalmente, o direito.

25. Assim como a matemática forneceu o paradigma e a

metodologia do racionalismo clássico, também o direito

fornece, não o modelo único, mas uma metodologia

complementar para aquele que reserva um lugar importante

para a argumentação. O direito caracteriza-se, com efeito,

também pelo ideal e o escopo de um pensamento

sistemático - fala-se em diversos sistemas jurídicos - que

define uma ordem que deve guiar a acção, mas uma ordem

aberta, flexível, capaz de se adaptar às circunstâncias e à

procura de uma decisão fundada na equidade. O raciocínio

jurídico não será impessoal, mas deverá tomar em

consideração as pretensões das partes, a opinião pública

esclarecida, e, acima de tudo, os tribunais superiores. O seu

campo é livre, mas não arbitrário, pois deve ser razoável.

26. Como se caracterizaria o razoável? Diz Aristóteles: … “e

também que o razoável permanece sempre e nunca muda,

como sucede com a lei geral (pois é conforme à natureza),

enquanto que as leis escritas o fazem com frequência (....)

atenderemos também ao que é o justo, não à sua

aparência, o que é verdadeiro e conveniente, de forma que

a escrita não é lei, porque não serve como a lei. E também

que o juiz é como o contrastador de moeda, que deve

distinguir entre a justiça adulterada e a legítima (....). Pelo

contrário, quando a lei seja favorável ao caso, há que dizer

que o “com o melhor critério” não serve para julgar contra

a lei, mas sim para evitar prejuízos pelo desconhecimento do

que a lei prescreve. E que ninguém escolhe o bom em

absoluto, senão o que é bom para ele….” (Aristóteles,

1998 :130-131 e 134).

27. O que caracteriza o direito, ao contrário das outras áreas

em que se exerce a argumentação, é que ele deve chegar a

uma decisão que terá força de coisa julgada. Com efeito,

sendo um dos objectivos do direito o estabelecimento da

paz social, os conflitos não devem perpetuar-se: o factor

tempo tem um papel considerável, se quisermos evitar a

acusação de obstruir a Justiça. O direito desenvolveu

procedimentos seculares que facilitam a solução dos

conflitos, tais como a delimitação de competências, a

organização dos debates judiciários, o recurso a presunções

de todo género, a distribuição do ónus da prova.

28. Quando a controvérsia é de natureza teórica, como nas

ciências humanas e epistemológicas, não há última instância

que possa impor, de uma vez por todas, o encerramento do

debate e uma solução definitiva, subsistindo assim uma

busca inacabada. Portanto, na medida em que os próprios

argumentos teóricos são ligados à tomada de decisões, eles

podem atingir decisões provisórias que serão questionadas

ulteriormente quando surjam teorias que falseiam as

anteriormente construídas, se surgirem razões suficientes e

contingentes para se mudar de atitude e de regime de

pensamento.

29. Ao fazer argumentação - o instrumento por excelência

do pensamento criador -, e não dedução formal, consegue-

se entender o carácter localizado, existencial e cultural do

procedimento epistemológico. Para além do carácter

abstracto e universal das proposições lógico-matemáticas

não sendo as suas concepções jamais constringentes, não

constituindo um sistema de verdades absolutas, ele só lhes

66 Politécnica

31

pode propor a adesão. Daí a necessidade do diálogo para o

progresso do pensamento epistemológico. Esta necessidade

estabelece o seu ponto de partida no senso comum numa

óptica que nos aproximaria de Popper nas Conjecturas e

Refutações e nos problemas impostos pelo recurso à

linguagem natural como plataforma comum do discurso

razoável. Enquanto os filósofos racionalistas, como

Descartes, Espinoza ou Leibniz, Frege, Alfred Whitehead,

Rudolf Carnap, Moritz Schlick, Otto Neurath, Bertrand

Russell ou mesmo Wittgenstein I, afastavam esta linguagem

imperfeita e as asserções do senso comum, concebidas

como superficiais e incoerentes, Américo de Sousa na linha

de Michel Meyer ou Chaïm Perelman (1999), ao mesmo

tempo em que admite a busca da clareza, da coerência e da

congruência pelo sujeito epistémico, constata que este é

levado pelas suas exigências a realizar uma escolha ao

mesmo tempo dentre usos múltiplos das noções confusas e

das teses do senso comum, para elaborar um discurso da

emoção razoável. (cf. Sousa, Américo, 2001: pp.204-205).

30. Este exemplo faz entender o pluralismo lógico-

linguístico, quanto seria exaustivo referi-lo, e a obrigação de

justificar as tomadas de posição. Estas não resultam nem de

uma intuição evidente, nem de uma decisão arbitrária, mas

são a expressão de uma escolha pensada, marcada tanto

pela personalidade do epistemólogo e dos seus valores, as

aspirações e crenças no meio das quais ele nasceu. A razão,

por cujo nome ele desenvolve as suas ideias, e para a qual

ele apela para torná-las admissíveis, não é o reflexo de uma

razão divina, mas a expressão de uma personalidade social e

culturalmente localizada, intersticial mas consistente.

32

RReeffeerrêênncciiaass

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2. Outras fontes:

http://plato.stanford.edu/entries/frege/#Adv

campo emergente não favorece o estabelecimento de uma

concordância sobre o que significa um projecto de gestão

do conhecimento ou sobre as suas áreas de actuação. Ainda

existem muitas interpretações sobre o seu âmbito e

conteúdo, bem como posicionamentos contraditórios no

que se refere às suas disciplinas base.

A questão que se coloca agora é saber porque é que o tema

do conhecimento surge no topo das prioridades e

preocupações dos gestores dos anos 90, quando ela já

existia há 100 anos atrás? Que factores ou preocupações se

conjugaram para dar esta importância à gestão do

conhecimento? De acordo com Quintas (2002), são seis os

factores:

• o valor das empresas passou a depender do seu

conhecimento e dos activos intangíveis;

• redescobre-se que muito do conhecimento organizacional

está nas pessoas;

• dá-se uma aceleração da mudança nos mercados,

competição e tecnologia, obrigando a uma aprendizagem

contínua;

• reconhece-se que a inovação é a chave para a

competitividade e que depende da criação de conhecimento

e da sua aplicação;

• verifica-se um aumento da importância das trocas de

conhecimento sem limites geográficos

• as organizações têm ao seu dispor tecnologias de

informação às quais se associam limites e potencialidades.

Estes aspectos serão alvo de discussão detalhada na sub

secção seguinte.

2. Factores condicionadores para a atribuição de

importância à gestão do conhecimento

VVaalloorr ddaass eemmpprreessaass ddeeppeennddee ddoo sseeuu ccoonnhheecciimmeennttoo ee

ddooss aaccttiivvooss iinnttaannggíívveeiiss;;

O valor das organizações tornou-se grandemente

dependente dos seus activos intangíveis, dos activos de

conhecimento, do capital intelectual e da propriedade

intelectual. No gráfico seguinte podemos observar cinco

66 PolitécnicaPorquê Gestão do Conhecimento?Porquê agora?

33

AAnnaabbeellaa SSaarrmmeennttoo

ISCAP /IPP

R. Dr. Jaime Lopes de Amorim

4465-111 S. Mamede Infesta

[email protected]

1. Introdução

A primeira referência à importância do conhecimento como

fonte de “saúde” para a economia surge há cerca de 110

anos, mais precisamente em 1890, proferida por Alfred

Marshall:

Capital consists in a great part of knowledge and

organization... Knowledge is our most powerful engine of

production.

No entanto, o reconhecimento de que o conhecimento é

um processo central para as organizações só ocorreu

recentemente. É, sobretudo, a partir de meados dos anos 90

que se observa um rápido crescimento no interesse sobre o

conhecimento e pela sua gestão. De acordo com Prusak

(2001), é possível datar o nascimento da “Gestão do

Conhecimento” em 1993, em Bóston, com a realização da

primeira conferência sobre esta temática, que atraiu mais de

150 participantes. Aqui, as discussões centraram-se,

sobretudo, na procura da definição de “Conhecimento

Organizacional”, diferenciando-o de dados e informação.

Como o tema era novo e ainda não tinha sido testado, a

maior parte das discussões ficaram-se pelos argumentos

teóricos.

A grande explosão no interesse sobre gestão do

conhecimento ocorre, sobretudo, entre os anos de 1997 e

1998. Na verdade, de acordo com os dados avançados por

Gordon e Grant (2000), passamos de cerca de 120 artigos

sobre este tema em 1997, para cerca de 410, em 1998, o

que representa um crescimento de mais de 300%.

Actualmente, e de acordo com Quintas (2002), a frase

“gestão do conhecimento”, para a maioria das

organizações, descreve mais uma aspiração do que uma

realidade. Além do mais, a natureza interdisciplinar deste

"Knowledge increases in proportion to its use, that is, the

more we teach the more we learn."

Helena Petrova Blavatsky (1831 - 1891), Russian author

and translator.

O conhecimento, e a sua gestão, assumem, actualmente, um

papel crítico para o sucesso e competitividade das

organizações.

Apesar de se ouvir falar em gestão do conhecimento há já

algum tempo, na prática as acções que facilitam a sua criação e

gestão são escassas, fruto de perspectivas divergentes acerca

do mesmo fenómeno e da dificuldade em criar ambientes onde

a partilha seja a palavra de ordem.

Atendendo a este cenário, com este artigo procura-se

compreender os factores condicionadores para atribuição de

importância à gestão do conhecimento.

exemplos de empresas americanas, cujo valor, em 1996,

dependia mais de valores não evidentes no balanço do que

propriamente dos seus activos líquidos.

Fonte: Roos, Roos e Edvinssen (1997)

Um outro exemplo que se pode avançar é o das empresas

virtuais tipo amazon.com e ebay.com. O seu valor de mercado

depende dos activos intangíveis tais como direitos de

propriedade intelectual ou marcas que excedem o valor dos

seus activos convencionais. O valor do conhecimento e a

habilidade para o criar está patente nos grandes investimentos

na área científica e na dependência de novas tecnologias.

Acredita-se que grande parte destes investimentos se baseiem

no pressuposto de que estas empresas vão criar conhecimento

que por sua vez irão gerar inovação em novos produtos e,

portanto, vantagem competitiva.

Uma das consequências desta preocupação com a gestão

do conhecimento traduz-se no número de modelos de

gestão do conhecimento. É incontável o número de

modelos existentes, com praticamente cada autor e

consultora a avançarem com uma solução. No entanto, é já

possível constatar uma evolução na preocupação destes

modelos que, de centrados na tecnologia como “a” solução

(1ª geração de modelos), passaram a estar centrados nos

recursos humanos (2ª geração de modelos) como fonte

indispensável e central para a gestão do conhecimento, o

que nos leva ao segundo factor.

Redescoberta de que o conhecimento organizacional

está nas pessoas

Parafraseando Brown e Duguid (2000)

If NASA wanted to go to the moon again, it would have to

start from the scratch, having lost not the data, but the

human expertise that took it there last time

Os programas estratégicos de gestão dos anos 80 e 90,

relacionados com o “emagrecimento” das estruturas

organizativas, com o outsourcing e com o de-layering,

contribuíram, de certa forma, para o actual interesse pela

gestão do conhecimento. Como resultado de tais

estratégias, muitas organizações constataram que muito do

conhecimento e da habilidade para reagir à mudança ou

para compreender os mercados e negócios onde actuavam,

se havia perdido. Como diz Quintas (2002), “haviam

perdido a sua memória organizacional e capacidades que

não sabiam que tinham ou precisavam” (p.5).

Desta forma, as empresas descobriram a importância das

pessoas. Em algumas situações, procedeu-se, inclusive, à

readmissão de pessoal uma vez que o conhecimento por

eles detido era insubstituível. Reconheceu-se que as pessoas

tinham conhecimentos e know-how, que possuíam

capacidade para criar conhecimento e valor e que, de forma

colectiva, constituíam a memória organizacional.

Reconhece-se, aqui, os valiosos contributos de Polany (1966)

com a conceptualização da dimensão tácita do

conhecimento, e de Nonaka e Takeuchi (1995), com o seu

modelo SECI de criação de conhecimento.

Apesar dos avanços nesta área, muito do conhecimento

necessário para que as organizações se tornem

competitivas, permanece desconhecido, ou quando

identificado, é ainda de difícil acesso. Nesta área, tem sido

desenvolvido algum trabalho, nomeadamente pela

Universidade de Sheffield, pela equipa de trabalho liderada

pelo Professor T.D. Wilson1, que tem procurado, por um

lado, compreender de que forma se pode capturar o

conhecimento e, por outro lado, motivar as pessoas a

partilhar o que sabem.

Mudança nos mercados, competição e tecnologia,

tornando essencial a aprendizagem contínua

As mudanças são cada vez mais e ocorrem a um ritmo cada

vez mais célere. Observamos mudanças nos mercados e

indústria, surgem novas formas de competição e a entrada

de novos concorrentes, desenvolvem-se novas tecnologias

cuja adopção resulta em inovação em produtos e processos,

que por sua vez têm impacto nas estruturas organizativas.

Estas mudanças obrigam a uma regeneração e

desenvolvimento contínuo do conhecimento organizacional,

isto é, organizações e pessoas têm necessidade de aprender

continuamente.

Esta mudança contínua implica o desenvolvimento das rotinas

organizacionais. Mas nada disto será possível sem o incentivo

e apoio da cultura organizacional para a criação, absorção e

assimilação de novo conhecimento que ajude a abandonar

rotinas e conhecimento que estejam desajustados.

34

____________________________________________________________________

1 Department of Information Studies, University of Sheffield, WesternBank, Sheffield.

RReeccoonnhheecciimmeennttoo ddee qquuee aa iinnoovvaaççããoo éé aa cchhaavvee ppaarraa aa

ccoommppeettiittiivv iiddaaddee ee qquuee ddeeppeennddee ddaa ccrriiaaççããoo ddee

ccoonnhheecciimmeennttoo ee ddaa ssuuaa aapplliiccaaççããoo

Em muitos sectores de actividade, a vantagem competitiva

ocorre através da inovação, seja de processos, produtos ou

serviços. Por seu lado, a inovação depende da criação de

conhecimento e da sua aplicação. Os investimentos fazem-

se em empresas que se espera terem as capacidades

intelectuais necessárias para criar o conhecimento que

levará à inovação e ao lucro. Por exemplo, no sector das

telecomunicações, é mais a capacidade de criar

continuamente novo conhecimento, e não tanto a existência

de recursos ou activos de conhecimento, que representam a

chave para a vantagem competitiva, tendo em conta a

velocidade a que a inovação ocorre neste tipo de mercado.

Um dos dilemas centrais da gestão do conhecimento reside

no facto de, por um lado, as organizações terem

necessidade de criar repositórios de conhecimento, de o

partilhar e de aprender a partir da experiência passada,

enquanto que, por outro, necessitam de criar algum “caos

criativo” (Nonaka, Toyama e Konno, 2002) como fonte para

novos desenvolvimentos. Os desafios que se colocam às

organizações é, então, encontrar um ponto de equilíbrio

entre os processos lineares e não lineares, entre o que é

previsível e o que o não é.

AAuummeennttoo ddaa iimmppoorrttâânncciiaa ddaass ttrrooccaass ddee ccoonnhheecciimmeennttoo

sseemm lliimmiitteess ggeeooggrrááffiiccooss

Nenhuma empresa é, ou foi, independente, em termos de

conhecimento, significando isto que, de alguma forma,

todas dependem de fontes externas de conhecimento. Num

contexto de rápidas e constantes mudanças, esta

dependência torna-se ainda mais visível e premente, sendo

impossível, para as organizações, cobrir todos os

desenvolvimentos potenciais e aumentar as capacidades de

conhecimento em todas as áreas de investigação.

Para ultrapassar estas limitações, as organizações

procuraram aceder e partilhar conhecimento, derrubando

barreiras culturais e organizacionais. Muito do

conhecimento é, então, criado no exterior da organização,

sendo, depois absorvido por ela, necessitando, para isso, de

desenvolver determinadas capacidades, nomeadamente, ser

capaz de aceder e assimilar novo conhecimento a partir de

fontes externas e ser capaz de integrar conhecimento

proveniente de outras áreas.

LLiimmiitteess ee ppootteenncciiaalliiddaaddeess ddaass tteeccnnoollooggiiaass ddee

iinnffoorrmmaaççããoo

Até algum tempo atrás, o enfoque dos temas das

conferências e jornais sobre gestão do conhecimento estava,

sobretudo, relacionado com as tecnologias de informação.

O curioso desta perspectiva é que as tecnologias de

informação preocupam-se com a informação e não com o

conhecimento. Segundo Prusak (2001), “as tecnologias de

informação centram-se na quantidades de bits, enquanto

que a gestão da informação e do conhecimento se

preocupa com a qualidade do conteúdo e de que forma a

organização e as pessoas podem beneficiar dessa

informação e conhecimento” (p.1005).

Embora se possa argumentar que o conhecimento

codificado é também informação (Quintas 2002), muito do

conhecimento não é passível de codificação, permanecendo

inacessível às tecnologias. Como dizem Davenport e Prusak

(1998:5), o conhecimento é

a fluid mix of framed experience, values, contextual information

and expert insight that provides a framework for evaluating

and incorporating new experiences and information. It has

origin and is applied in the mind of knower.

Tendo o conhecimento origem nas pessoas, facilmente se

compreende que ele seja complexo e de difícil

exteriorização. Davenport (1994) refere também que a

maior parte dos gestores, na sua recolha de informação de

suporte à tomada de decisão, preferem utilizar os seus

contactos (2/3 da informação recolhida), bem como aceder

a documentos, com origem, muitas vezes fora da

organização (1/3 da informação recolhida) do que

propriamente recorrer aos sistemas computorizados. De

acordo com Quintas (2002), os sistemas de informação

organizacional, chegaram, de alguma forma, ao seu limite

nos anos 90, necessitando de dar mais um passo em frente

para apoiarem a gestão do conhecimento.

Apesar destas limitações da tecnologia, há que reconhecer

as suas potencialidades como meio de comunicação do

conhecimento, permitindo encurtar tempos e distâncias.

Refira-se, a título exemplificativo, a World Wide Web que

permite aceder a informação numa base global, sendo, no

entanto, necessário, desenvolver competências relacionadas

com o conhecimento, nomeadamente, de atribuição de

sentido e aprendizagem, sem as quais será difícil separar o

“trigo” do “joio” e aprender de facto.

3. Conclusões

É inegável a importância da gestão do conhecimento na

competitividade das organizações. Esta importância tem-se

traduzido em inúmeros artigos e conferências um pouco por

todo o mundo, mesmo se as perspectivas sobre o seu

significado e práticas não são consensuais. Diversos são os

factores que se conjugaram neste momento para atribuírem

ao conhecimento e à sua gestão a sua importância,

nomeadamente, a constatação de que o valor das empresas

66 Politécnica

35

depende de activos intangíveis, a redescoberta de que o

conhecimento está nas pessoas, a aceleração das mudanças

implicando uma aprendizagem contínua, o reconhecimento

da importância da inovação, a globalização e a abolição de

fronteiras temporais e geográficas e o papel das tecnologias

de informação.

Apesar de alguma coisa se ter feito no sentido de

sensibilizar as organizações para esta problemática,

acreditamos que a maior parte do caminho ainda está por

fazer. É preciso identificar o conhecimento tácito necessário

à competitividade das empresas, identificar estratégias para

o explicitar e ajudar os indivíduos a partilharem o que sabem

e a utilizar o conhecimento explícito existente. Noutra

vertente, é necessário compreender de que forma os

sistemas de informação podem contribuir neste processo de

gestão do conhecimento, nunca descurando os actores

principais: as pessoas.

Nota:

No passado número da revista “Politécnica”, o artigo

intitulado “Porquê Gestão do Conhecimento? Porquê

agora?” da Dr. Anabela Sarmento, foi publicado contendo

importantes deficiências gráficas, às quais a autora é

completamente alheia. Deste modo, a qualidade do artigo e

a correcta leitura do artigo foram afectados. Sendo assim, o

corpo editorial da revista, achou por bem republicar o

referido artigo no presente número, apresentando desde já,

as desculpas à autora.O Corpo Editorial.

36

RReeffeerrêênncciiaass

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66 Politécnica

37

Inovador não pelo facto de trazer novidades a nível de

características do sistema propriamente dito mas sim no

facto de ser Open Source (o código fonte estava disponível).

Graças a esta sua escolha o código propagou-se por todo o

planeta através da Internet. Linus Torvalds criou então um

kernel (base de qualquer sistema operativo que permite a

comunicação entre o “software” e os “periféricos”) “open

source”. Ora o kernel é apenas a base fundamental de um

sistema.

Para o sistema ser totalmente funcional precisamos de

“software” especifico para esse sistema. Essa falha foi

rapidamente preenchida através da “fusão” com um outro

projecto já começado em 1984 que consistia em lançar um

sistema operativo que fosse baseado no já existente Unix e

que fosse livre. Esse projecto chama-se GNU. Como

podemos comparar pelas datas, o GNU era um projecto

mais antigo do que o Linux mas faltava-lhes o principal para

terem um sistema completamente operacional, o kernel.

Desta fusão nasceu então o sistema GNU/Linux.

E até aqui os leitores provavelmente questionam-se o

porquê de eu falar num sistema operativo livre, pois bem,

está tudo interligado.

O que levaria os utilizadores a usarem um sistema livre

(onde código fonte de todo o sistema é aberto ao público)?

Será que lhes interessa mesmo saber se os programadores

têm acesso ao código fonte do “software”/sistema? O que

atrairia novos utilizadores?

A resposta é simples: trazer “software” já existente de

outros sistemas para este novo GNU/Linux.

Com este movimento alguns programadores decidiram

fornecer o código de parte dos seus programas. Isto levou a

que fossem detectadas falhas críticas que até este

movimento nascer nunca tinham sido notadas.

De facto, mesmo durante o desenvolvimento de código

iniciado do zero haviam falhas que saltavam à vista dos

milhares (ou talvez até milhões) de programadores de

“software” livre. Afinal, em quem podemos confiar mais

para tomar conta do nosso “software”? Dezenas de

programadores que trabalham mantidos sob pressão

Programação segura

LLuuííss MMiigguueell SSiillvv aa

ISPGaya

Centro de Informática (CIISP)

Rua Rodrigues da Rocha, 291, 341

Santo Ovídio, 4400-025 Vila Nova Gaia

[email protected]

1-Introdução

O tema da segurança informática é ainda jovem e levanta

bastantes tabus à sua volta.

Geralmente associamos o hacking a algo malicioso. Falamos

em penetrar os sistemas da NASA (que são catalogados de

impenetráveis) , de entrar num banco ou algo semelhante e

ouve-se um grande “uhh” da multidão que acha

imediatamente que estamos a falar de algo completamente

fantástico, complexo e inexplicável.

Na realidade este tema tem esses contornos pelos

estereótipos dados pela sociedade.

Já alguma vez os leitores se questionaram sobre como é que

esses ditos “génios” da informática conseguem penetrar

nos sistemas?

Resumindo a um nível bastante cru a razão da maior parte

das falhas de um sistema obtemos dois “cabecilhas” no

topo da lista: O utilizador e o programador.

O utilizador, que através da sua ingenuidade para com as

tecnologias causa erros inesperados no “software” ou

random features (características aleatórias, como os

programadores lhes preferem chamar) abrindo falhas nos

sistemas e expondo informação crucial e o programador não

desenvolvendo as suas aplicações de forma elegante e

inteligente.

Qualquer programa deve ser desenvolvido a pensar em

todas as hipóteses possíveis, por mais remotas ou idiotas

que pareçam.

Na programação nunca devemos fazer suposições e tomar

algo como garantido. As tecnologias evoluem de tal forma

que uma condição que é considerada verdade hoje pode já

não o ser amanhã.

No início da década de 90 um jovem estudante da

Universidade de Helsínquia chamado Linus Torvalds, não

estando satisfeito com o sistema operativo “oferecido” com

o seu novo IBM 386 PC decidiu utilizar o Unix nesse mesmo

computador. O problema é que aos olhos do Linus Torvalds

o Unix é um sistema demasiado caro para o bolso de um

simples estudante. Foi então que este estudante começou a

desenvolver um sistema operativo inovador, o Linux.

A informação é vital nos nossos dias.

Podemos dizer que vivemos na era da informação. Uma era

onde os grandes avanços nas tecnologias nos permitem uma

troca rápida e eficiente de conhecimentos. Essa troca é em

grande parte garantida através do processamento de

“software” informático o que torna essencial assegurar que

nada falhe durante o processamento da informação.

constante na sua empresa para terminarem aquela nova

feature no “software” a tempo de ser comercializado

“ainda esta semana”, ou em milhares de indivíduos como

nós espalhados por todo o mundo que têm todo o interesse

em que o “software” seja desenvolvido correctamente e

sem preocupações de compromissos de entregas?

Podemos dizer que todas as empresas de “software”

comercial que não doam o seu código fonte seguem um

lema de security by obscurity (segurança pela obscuridade).

Isto não significa de modo algum que as falhas não existam,

apenas que poderão nunca ser notadas ou que vão demorar

bastante mais tempo a ser encontradas.

Este artigo, essencialmente baseado em código para o sistema

operativo Linux face às razões dadas acima, vai tentar

sensibilizar os leitores para as falhas mais comuns feitas

durante o desenvolvimento de “software” que aparentemente

são tão inocentes que achamos que nunca ninguém vai dar

por elas ou que nunca irão causar problemas.

2 – Falhas usuais

Proponho então apresentar ao leitor 8 falhas usuais.

Durante cada uma das falhas será apresentado código

alusivo à falha e como a aproveitar. É esperado do leitor um

conhecimento “mínimo” de programação (pseudo código,

linguagem C e “shell “script”ing”).

2.1- O uso de chamadas a funções como a system();

Conforme o ANSI C , podemos ver que o cabeçalho da

função system() é o seguinte:

int system (const char * string);

A função aceita como argumento uma string que será

executada na shell (linha de comandos do sistema) e retorna

–1 em caso de erro (por exemplo, se o fork() tiver falhado)

ou o valor retornado pelo programa executado.

Como exemplo de utilização desta função podemos ver algo

bastante usual como:

vuln1.c

#include <stdio.h>

#include <stdlib.h>

int main(void)

{

// chamada da função system(); para executar o comando

“clear” da shell

system(“clear”);

// Simples printf(); para escrever no stdout a frase “Hello

world!”

printf(“Hello world!\n”);

}

Será que este programa é tão seguro quanto pequeno?

Existe em Linux (e em inúmeros sistemas) uma variável

ambiente da “shell” chamada “PATH”.

Essa variável contém os caminhos para os directórios onde a

“shell” procura os comandos inseridos na mesma.

Por exemplo:

lms@paginas ~/testes$ gcc vuln1.c –o vuln1

lms@paginas ~/testes$ echo $PATH

/sbin:/usr/sbin:/usr/bin:/bin:/usr/sbin:/sbin:/usr/local/bin

lms@paginas ~/testes$

Isto mostra-nos que se eu executar o comando “clear” por

exemplo, a minha “shell” vai procurá-lo no directório /sbin,

/usr/sbin, /usr/bin, /bin e /usr/local/bin.

Não será necessário pensar muito para arranjar então

maneira de nos aproveitarmos do programa para executar

código nosso.

Vamos então fazer o programa anterior executar um

“script” nosso.

Exemplo:

# criar o nosso “script” fictício

lms@paginas ~/testes$ cat > clear

#!/bin/sh

echo "O meu código está a ser executado"

^C

# dar permissões de execução ao “script”

lms@paginas ~/testes$ chmod +x clear

# especificar à “shell” para procurar os binários no

directório corrente

# antes de os procurar nos directórios habituais

lms@paginas ~/testes$ PATH=".:$PATH"

lms@paginas ~/testes$ echo $PATH

.:/sbin:/usr/sbin:/usr/bin:/bin:/usr/sbin:/sbin:/usr/local/bin

# Executar o programa

lms@paginas ~/testes$ ./vuln1

O meu código está a ser executado

hello world

lms@paginas ~/testes$

Como podem ver conseguimos aproveitar esta falha para

executar código nosso arbitrário que poderia danificar o

nosso sistema.

Se este programa vulnerável tivesse privilégios de

administrador teriamos neste momento acesso completo

sobre o sistema.

2.2 - O Internal Field Separator (IFS)

Continuando a falar sobre falhas causadas por chamadas a

funções “inseguras” como a system() e sobre variáveis

ambiente da “shell”, introduzo aqui uma nova variável

também utilizada pela “shell”, a IFS. A variavél IFS,

38

acrónimo de Internal Field Separator serve para especificar à

“nossa” “shell” qual o caracter delimitador dos

argumentos.

Exemplo:

Se o IFS=’ ‘ e executarmos “ls –al” a “shell” sabe que o

“ls” é o nome do binário que queremos executar e o “-al” é

o primeiro e único argumento.

Se o IFS=’/’ e executarmos “ls/-al”, a “shell” sabe que o “ls”

é o nome do binário que queremos executar e o “-al” é o

primeiro e único argumento.

Então, se tivermos um novo programa como este:

vuln2.c

#include <stdlib.h>

int main(void)

{

system(“/bin/date”);

}

Conseguimos “enganar” o programa a executar o nosso

código através de:

lms@paginas ~/testes$ cat > bin

#!/bin/sh

IFS=' '

echo "estou novamente a executar código meu"

^C

lms@paginas ~/testes$ chmod +x bin

lms@paginas ~/testes$ IFS=/

lms@paginas ~/testes$ PATH=".:$PATH"

lms@paginas ~/testes$ ./vuln2

estou novamente a executar código meu

lms@paginas ~/testes$

A esta altura o leitor estará a questionar-se do porquê de

uma função tão insegura ser utilizada e de alternativas para

a mesma. Pois bem, a maior parte dos programadores usa

esta função por comodismo ou por desconhecer

alternativas.

O problema com esta função é que todas as variáveis

ambiente da “shell” são passadas para o ambiente do

programa que é executado pelo system();

Este problema é resolvido através do uso de funções da

família exec();

Estas funções permitem um controlo e filtragem sobre as

variáveis de ambiente e argumentos do programa a

executar.

2.3 - Dynamic Link Libraries (controlar as suas

operações)

O sistema operativo Linux utiliza shared libraries (bibliotecas

partilhadas).

Este conceito é bastante parecido com o uso de bibliotecas

“.dll” no sistema operativo Microsoft Windows.

Esta ideia possibilita algumas vantagens, como por exemplo

uma compilação mais rápida do código e menos espaço

ocupado em disco. Como desvantagens temos o tempo

extra de carregamento das bibliotecas durante a execução

do programa e a possibilidade de “enganar” o binário a

executar as nossas próprias funções através de métodos que

geralmente têm como finalidade um debugging das

aplicações mais simples.

Podemos comparar os prós e contras das librarias dinâmicas

às vantagens e desvantagens da alocação dinâmica de

memória num programa.

É possível controlar as operações do “dynamic loader”

através de variáveis ambiente da “shell”. Assim sendo,

apresenta-se uma lista das variáveis mais importantes para

este artigo:

LD_BIND_NOW – normalmente as funções não são

procuradas nas bibliotecas até serem chamadas. Esta flag

quando utilizada faz com que a procura das funções seja

efectuada quando o programa é carregado, causando um

arranque da aplicação mais lento. É útil utilizá-la quando

queremos ter a certeza que está tudo linkado.

LD_PRELOAD – pode apontar para um ficheiro que contém

funções que vão ultrapassar as definições das esperadas

pelo programa. Geralmente esta opção serve para efeitos de

debugging.

LD_LIBRARY_PATH – contém uma lista de directórios,

separados por virgulas, que por sua vez contêm librarias

partilhadas. Só tem efeito durante a execução do programa

e binários com a flag de sistema suid/sgid (serve para

especificar que o código daquele binário será executado

com os privilégios do dono ou grupo a quem pertence o

ficheiro) não são afectados.

A mais importante para a “falha” que se pretende

demonstrar é a LD_PRELOAD.

Tal como o que foi expresso na sua definição, é possivel

“enganar” o programa induzindo-o a executar funções

nossas. Isto é muito simples de alcançar interceptando

funções usadas no programa que queremos “enganar”,

carregando funções nossas através do LD_PRELOAD.

Então, seguimos para um exemplo simples de um programa:

vuln3.c

#include <stdio.h>

int main(void)

{

printf("O seu user id é %d\n",getuid());

66 Politécnica

39

}

O output normal deste programa será então:

[lms@bunker testes]$ gcc vuln3.c -o vuln3

[lms@bunker testes]$ ./vuln3

O seu user id é 500

[lms@bunker testes]$

Então, vamos interceptar a chamada à função getuid() (que

normalmente retornaria o user id do utilizador actual).

intercepta.c

int getuid(void)

{

// retornar 0 que é o UID do administrador em

sistemas *nix

return 0;

}

[lms@bunker testes]$ gcc -shared intercepta.c -o

intercepta.so

[lms@bunker testes]$ LD_PRELOAD=./intercepta.so

[lms@bunker testes]$ export LD_PRELOAD

[lms@bunker testes]$ ./vuln3

O seu user id é 0

[lms@bunker testes]$

Como podemos ver conseguimos interceptar a função com

sucesso!

Agora, imaginemos que o programa vuln3.c era um

programa que dependendo do nosso uid retornava uma

password ou nos dava acesso a áreas de administração do

programa que não teriamos acesso como um utilizador

normal, o que aconteciria?

Na realidade não foi apenas o nosso programa que

confundimos. Com esta técnica conseguimos também

“enganar” o próprio comando “id” do sistema.

[lms@bunker testes]$ id

uid=0(root) gid=100(users) euid=500(lms)

groups=100(users),0(root)

[lms@bunker testes]$

Não há problema nisto visto que o programa “id” é apenas

utilizado para fins informativos.

Apenas os programas compilados com bibliotecas dinâmicas

sofrem desta “falha”. Tendo isto em mente, convém então

frisar que se não especificarmos ao compilador (gcc) que

queremos que o programa seja estático (através da flag “-

static”) ele irá então por defeito compilar o nosso

“software” dinamicamente.

2.4 – “Race Conditions”

Tal como qualquer programador sabe o que diferencia um

procedimento de uma função é o facto da função

apresentar um valor de retorno.

Geralmente usamos o valor –1 para retornar uma situação

de erro ou NULL quando esperamos receber um apontador

e por qualquer motivo algo falhou durante a execução da

função.

Quantos dos leitores fazem testes exaustivos no “software”

que desenvolvem baseados nos valores de retorno das

funções?

A verdade é que muitas vezes escapam algumas condições

cruciais.

Entende-se por Race Conditions a ocorrência de um

comportamento anormal devido a uma dependência

excessiva em relação ao tempo ocorrido entre diferentes

eventos.

Estes eventos podem ir desde uma simples abertura de um

ficheiro a permissões inseguras ou até uma variável

partilhada por dois processos através de IPC (“interprocess

communication”).

Iremos então aqui analisar um pequeno excerto de código

que demonstra uma race condition devido à falta de

permissões/testes durante a abertura de um ficheiro

temporário.

vuln4.c

#include <stdio.h>

#include <stdlib.h>

#include <sys/stat.h>

#include <unistd.h>

#define FICHEIRO "/tmp/temporario-estatico"

int main(void)

{

FILE *fd;

if (access(FICHEIRO, F_OK) < 0)

{

fprintf(stderr,"O ficheiro temporário não

existe!\n");

fprintf(stderr,"A criar...\n");

fd = fopen(FICHEIRO,"a");

fprintf(fd, "Ficheiro acabado de criar!\n");

}

else

{

fprintf(stdout,"O ficheiro já existia\n");

fprintf(stdout,"A adicionar um pequeno \”hello

world\” no final...\n");

40

fd = fopen(FICHEIRO,"a");

fprintf(fd,"hello world\n");

}

fclose(fd);

return(0);

}

# compilar o programa

[root@bunker testes]$ gcc vuln4.c -o vuln4

# tornar o binário suid (para ser executado sempre com

privilégios de administrador)

[root@bunker testes]$ chmod +s vuln4

# executar o programa pela 1ª vez

[root@bunker testes]$ ./vuln4

O ficheiro temporário não existe!

A criar...

# o ficheiro é então criado...

[root@bunker testes]$ cat /tmp/temporario-estatico

Ficheiro acabado de criar!

[root@bunker testes]$ ./vuln4

O ficheiro já existia

A adicionar um pequeno "hello world" no final...

# desta vez é acrescentada uma linha ao ficheiro

temporário...

[root@bunker testes]$ cat /tmp/temporario-estatico

Ficheiro acabado de criar!

hello world

[root@bunker testes]$

Como podemos ver este programa não verifica as

permissões do ficheiro temporário quando o cria nem faz

um teste para ver se está realmenteo a escrever para um

ficheiro do qual é o próprio dono.

exploit-race_condition.c

#include <stdio.h>

#include <stdlib.h>

#include <sys/stat.h>

#include <unistd.h>

int main(int argc, char *argv[4])

{

if (argc < 2)

{

fprintf(stderr,"Sintaxe errada: %s

<\”programa\”>\n",argv[0]);

exit(-1);

}

while (1)

{

system("rm -rf /tmp/ temporario-estatico;ln -s

/etc/passwd temporario-estatico");

system(argv[1]);

break;

}

return(0);

}

Quando executassemos o programa exploit.c compilado,

este iria criar um symlink (um atalho) para o /etc/passwd e o

programa iria “cegamente” escrever para esse mesmo

ficheiro. Como o programa tinha a flag +s activada e o seu

dono era o administrador do sistema nada o poderia parar

de modificar qualquer ficheiro no sistema.

Este exemplo não tem grande utilidade visto que não

podemos controlar o que é escrito para o ficheiro apontado

pelo symlink mas, no entanto, existem programas que

escrevem conteúdos previsíveis em ficheiros temporários.

Nesses programas podemos, por exemplo, aproveitar esta

falha para criar uma conta com privilégios de administrador

no sistema.

Uma boa maneira de evitar estes problemas, além da já

apresentada que consiste em fazer testes exaustivos e não

tomar nada como garantido no nosso “software”,

poderíamos criar um ficheiro temporário com um nome

aleatório. Isto iria dificultar bastante a tarefa de qualquer

indivíduo que tentasse aproveitar-se do nosso programa.

2.5 – “Unicode Extensions”

Primeiro que tudo devemos colocar a pergunta: O que é o

“Unicode”?

O “Unicode” fornece uma correspondência única numérica

para cada caracter, independentemente da plataforma,

linguagem ou programa.

Antes do “Unicode” existir eram necessários centenas de

sistemas de codificação de caracteres. Por exemplo, há

certos caracteres que existem no teclado US que não

existem no PT e vice-versa.

O “Unicode” veio mudar isso associando um número único

para cada caracter.

Então o leitor deve questionar-se “mas o que é que isto tem

a ver com segurança?”.

Vamos então imaginar um cenário em que....

a) o programador quer fazer um “software” que lhe permita

partilhar os ficheiros dentro do directório /web/ficheiros/.

b) o programa necessita de aceder a directórios ddeennttrroo do

/web/ficheiros/.../

66 Politécnica

41

c) o programador tenta então tornar o seu “software” o

mais seguro possível, tentando que apenas consigam aceder

ao que está dentro do directório /web/ficheiros/.

Vamos então desenhar um protocolo simples de

comunicação para o efeito:

- Pedido de ficheiro -> “enviar /caminho/para/ficheiro”

- Pedido de listagem -> “lista /caminho/para/directorio”

Agora que temos o nosso protocolo feito, vamos testar

possíveis falhas numa implementação do protocolo.

- O que aconteceria se um utilizador malicioso fizesse o

seguinte pedido ao “software”:

enviar ../../../../../../etc/passwd

- Ou este pedido:

lista ../../../../../../etc/

Encontramos uma falha que não estavamos à espera. O

utilizador pode enganar o sistema andando para trás na

árvore de directórios do sistema.

Uma solução para este problema seria filtrar os “../” nos

pedidos feitos ao “software”.

É aqui que entra o “Unicode”. Voltando a repetir o que foi

dito em cima, “O ‘Unicode’ fornece uma correspondência

única numérica para cada caracter, independentemente da

plataforma, linguagem ou programa.” Podemos então

encontrar uma representação da nossa “/” e voltar a induzir

o “software” em erro. Uma representação possível para o

“../” em “Unicode” seria o “..%255c”.

Então bastaria fazermos o seguinte pedido:

envia ..%255c..%255c..%255c..%255cetc/passwd

Esta falha foi descoberta no servidor web da Microsoft, o IIS

(Internet Information Service).

No caso deste serviço da Microsoft o problema foi um

pouco mais grave.

Os CGIs (Common Gateway Interfaces) permitem uma

interacção entre o utilizador e o servidor. Um CGI não é

nada mais nada menos que um normal programa com

privilégios de execução que é executado pelo servidor.

A única diferença entre um CGI e um programa normal é

que:

• O output não é enviado para o ecran mas sim para o

“browser”, logo, deverá ser HTML

• O “input” é feito através de formulários em páginas html

através de variáveis do servidor

Na maior parte dos servidores web usa-se como base o

directório “cgi-bin” para guardar estes ficheiros. O servidor

sabe que pode executar qualquer ficheiro que esteja dentro

desse directório. Não será muito difícil imaginar o que

acontece quando fazemos um simples pedido deste tipo a

um servidor IIS no nosso browser:

http://www.site.pt/cgi-

bin/..%255c..%255cwinnt/system32/cmd.exe?/c+dir

Como devem perceber isto iria executar o comando “dir”

no servidor através da “shell” cmd.exe remotamente no

servidor simplesmente com o “browser”.

Penso que este exemplo é suficiente para mostrar os perigos

que algo supostamente tão inocente quanto uma simples

conversão de caracteres pode causar.

2.6 - Não validar correctamente o input do utilizador

Outro grande problema no “software” é confiarmos

demasiado nos utilizadores.

Se não nos precavermos, um utilizador malicioso poderá

apoderar-se completamente do nosso programa, sistema ou

base de dados.

É sobre esse problema de falta de filtragem da validação do

utilizador que iremos falar neste ponto 2.6.

Vamos supor que temos um “site” com um simples

formulário com dois campos.

NOME: _________________________________

EMAIL: ______________

O formulário iria enviar os dados para um CGI que, por sua

vez, iria inserir estes dados numa base de dados de *SQL.

O CGI, em pseudo código, seria algo deste género:

# partimos do pressuposto que o $NOME e o $EMAIL são os

# dados enviados pelo formulário

$PEDIDO=”insert into tabela values(‘’,’$NOME’,’$EMAIL’);”

executar_pedido_em_servidor_sql($PEDIDO);

Este código parece, novamente, bastante inocente e normal

mas na verdade não o é.

O que aconteceria se um utilizador enviasse para o CGI as

variáveis com o seguinte conteúdo:

$NOME=”Luís Miguel Silva”;

$EMAIL=”[email protected]’) and

INSERIR_INSTRUÇÃO_SQL_AQUI--“;

O cgi iria então executar o seguinte pedido no servidor:

insert into tabela values(‘’,’Luís Miguel

Silva’,’[email protected]’) and

INSERIR_INSTRUÇÃO_SQL_AQUI--“);

Visto que o SQL ignora o que estiver para a frente dos

caracteres “--“ num pedido, teriamos neste momento

completo acesso à base de dados de SQL.

Este tipo de problema é bastante comum hoje em dia com o

42

crescente número de ferramentas baseadas em tecnologias

para a WEB.

Para solucionar este problema bastaria filtrar os escape chars

(caracteres de escape) como, por exemplo, o ‘, “, \, /, & e

qualquer outro caracter que possa ser utilizado para escapar

ao nosso pedido normal ao servidor.

2.7 - Outras falhas comuns

Neste ponto apenas irei falar do nome de três tipos de

falhas bastante mais complexas de perceber e aproveitar.

Estou então a referir-me aos “buffer overflows”, “heap

overflows” e às format strings.

Irei discutir estes temas num próximo artigo.

3 – Conclusão

Tal como comecei por dizer no início deste artigo a

segurança começa em si. Quer seja um mero utilizador ou

um programador.

Como podemos concluir estas falhas são até de certa forma

engraçadas e ridículas, afinal, quem se iria lembrar de se

aproveitar de algo tão “obscuro” e no entanto que estava

mesmo em frente aos nossos olhos? Muita gente...

Neste momento o leitor deve estar mais sensibilizado para

este assunto. Afinal, quanto vale para si a sua

informação...?

4 – Agradecimentos

Gostaria de agradecer à minha mãe por tudo o que

representa para mim e aos Mestres António Marques e João

Neta que têm sido os meus tutores nestes últimos anos

desde que fui estudar para o mui nobre Instituto Superior

Politécnico Gaya. Não apenas pelos conhecimentos

informáticos que me transmitiram mas também pela sua

sabedoria global e pela sua visão da vida.

Devo também agradecimentos ao Eng José Manuel Moreira

pela revisão deste artigo e por toda a ajuda que me tem

dado desde que nos conhecemos.

Links úteis:

Informações úteis sobre o Linux e a sua história

[1]

http://www.cs.unc.edu/Courses/comp006/members/grace/G

uru/LinuxDevelopment.html

O projecto GNU

[2] http://www.gnu.org/

A free “software” foundation

[3] http://www.fsf.org/

Conhecendo a fundo o compilador GCC

[4] http://www.digitaltoad.net/docs/GCC-HOWTO.htm

O “unicode”

[5]

http://www.unicode.org/unicode/standard/WhatIsUnicode.ht

ml

[6]

http://www.packetstormsecurity.net/papers/general/IISUnico

deExplained.doc

66 Politécnica

43

44

66 Politécnica

45

correspondentes, conforme também se encontra indicado

na mesma figura. E ainda, dos factos do peral não pertencer

ao senhor Pinheiro e do laranjal não pertencer ao senhor

Oliveira, resulta que as intersecções Pi pe e O serem

conjuntos vazios, o que implica a inscrição de zeros nas

células correspondentes, conforme ainda se encontra

indicado na mesma figura.

Figura 2

O facto de, na linha pi (figura 2), estarem inscritos zeros nas

colunas Pi, L e O, significa que o pinhal (pi) não pertence

nem ao senhor Pinheiro, nem ao senhor LaraJeira, nem ao

senhor Pinheiro.

Figura 3

Então o pinhal só pode pertencer ao senhor Pereira (Pe),

facto que se encontra ilustrado na figura 3 pela inscrição de

um 1 na célula representativa da intersecção Pe pi. Por outro

lado, o facto de, na coluna O (figura 2), estarem inscritos

zeros nas linhas pi, e o significa que o senhor Oliveira (O)

Problemas e curiosidades

JJooaaqquuiimm AAllbbuuqquueerrqquuee ddee MMoouurraa RReellvv aass

ISPGaya

Rua Rodrigues da Rocha, 291, 341

Santo Ovídio, 4400-025 Vila Nova Gaia

[email protected]

1. PROBLEMAS DE LÓGICA.

No número anterior desta revista foi posto um problema

cujo texto seguidamente se transcreve:

«O senhor Pinheiro, o senhor Laranjeira, o senhor Oliveira e

o senhor Pereira têm um pinhal, um laranjal um olival e um

peral. Cada um tem apenas uma destas propriedades, mas

nenhuma delas corresponde ao nome do seu dono. Além

disso, nem o senhor Laranjeira nem o senhor Oliveira são

donos do Pinhal. O peral não pertence ao senhor Pinheiro

nem o laranjal ao senhor Oliveira. Qual o dono de cada

propriedade?»

Solução

Comece-se por considerar o universo do discurso

constituído por 16 conjuntos disjuntos, cada um dos quais

com 2 elementos, um proprietário Pj e uma propriedade pk,

sendo cada um deles formado pela intersecção Pj pk, cada

qual representada por uma célula no diagrama de Venn

ilustrado na figura 1. É claro que, quando um Pj não é

proprietário de uma pk, a intersecção Pj pk é um conjunto

vazio, a designar por 0.

Figura 1

O facto de nenhuma das propriedades corresponder ao

nome do seu dono traduz-se então na inscrição de zeros nas

correspondentes células do diagrama de Venn, conforme se

encontra indicado na figura 2. Além disso, do facto de nem

o senhor Laranjeira nem o senhor Oliveira serem donos do

pinhal, resulta que as intersecções L pi e O pi são conjuntos

vazios, o que implica a inscrição de zeros nas células

Pi L O Pe

Pi

O

Pe

Pi L O Pe

0 0 0

0 0

0

0

Pi

O

Pe 0

Pi L O Pe

0 0 0 1

0 0

0

0

Pi

O

Pe 1 0

46

não pode ser proprietário nem do pinhal (pi), nem do

laranjal ( ), nem do olival (o). Então só o senhor Oliveira

pode ser dono do peral, facto que se encontra ilustrado na

figura 3 pela inscrição de um 1 na célula representativa da

intersecção O pe.

Uma vez que a linha pe (figura 3) mostra que o peral

pertence ao senhor Oliveira, aquela propriedade não pode

pertencer ao senhor Laranjeira, facto que se encontra

representado, na figura 4, pela inscrição de um zero na

célula representativa da intersecção L pe. Por outro lado,

uma vez que a coluna Pe (figura 3) mostra que o senhor

Pereira é o proprietário do pinhal, conclui-se que não o é

nem do laranjal, nem do olival o, facto que se encontra

representado, na figura 4, pela inscrição de zeros nas células

representativas das intersecções Pe e Pe o.

Figura 4

O facto de, na linha (figura 4), estarem inscritos zeros nas

colunas L, O e Pe significa que o laranjal não pertence nem

ao senhor laranjeira, nem ao senhor Oliveira, nem ao senhor

Pereira. Então o olival só pode pertencer ao senhor Pinheiro,

facto que se encontra ilustrado na figura 5 pela inscrição de

um 1 na célula representativa da intersecção Pi. Por outro

lado, o facto de, na coluna L (figura 4), estarem inscritos

zeros significa que o senhor Laranjeira não pode ser

proprietário nem do pinhal (pi), nem do laranjal ( ), nem do

peral (pe). Então só o senhor Laranjeira pode ser proprietário

do Olival (o), facto que se encontra ilustrado na figura 5

pela inscrição de um 1 na célula representativa da

intersecção L o.

Figura 5

Finalmente, dado que a coluna Pi (figura 5) mostra que o

laranjal (_) pertence ao senhor Pinheiro, o olival (o) não

pode pertencer a este proprietário, até porque, de acordo

com a linha o da mesma figura, ele já pertence ao senhor

Laranjeira. Estes factos implicam a inscrição de um zero na

célula representativa da intersecção Pi o, tal como se ilustra

na figura 6. Então esta figura mostra que:

Figura 6

1. O senhor Pinheiro é o dono do laranjal.

2. O senhor Laranjeira é o dono do olival.

3. O senhor Oliveira é o dono do peral.

4. O senhor Pereira é o dono do pinhal.

Problema 7

Uma traça, com 1 centímetro de comprimento, «viajava»,

através de uma série compacta de livros, com a velocidade

constante de 15 centímetros por hora. Às tantas chegou a

um volume com 1 centímetro de espessura. Quantos

minutos demorou para atravessar o livro?

2. ALGUMAS DEFINIÇÕES DE EUCLIDES.

No número 1 desta revista transcreveu-se, dada a curiosidade

de que se revestia, o prefácio do livro «ELEMENTOS DE

EUCLIDES», da segunda metade do século XVIII. O livro

resultou da tradução da versão latina dos trabalhos do grande

geómetra Euclides de Alexandria, que viveu nessa cidade na

primeira metade do século III a.C.. O livro começa com uma

série de definições, cujo enunciado é apresentado de maneira

tão curiosa que não resistimos à tentação de transcrever para

aqui os enunciados das dez primeiras:

I. Ponto he o que não tem partes, ou o que não tem

grandeza alguma.

II. Linha he o que tem comprimento sem largura.

III. As extremidades da linha são pontos.

IV. A linha recta he aquella, que está posta igualmente entre

as suas extemidades.

V. Superficie he o que tem comprimento, e largura.

VI. As extremidades da superficie são linhas.

Pi L O Pe

0 0 0 1

0 0 0

0 0

0

Pi

O

Pe 0 1 0

Pi L O Pe

0 0 0 1

1 0 0 0

0 1 0 0

0

Pi

O

Pe 0 1 0

Pi L O Pe

0 0 0 1

1 0 0 0

1 0 0

0

Pi

O

Pe 0 1 0

66 Politécnica

47

VII. A superficie plana he aquella, sobre a qual assenta toda

huma linha recta entre dous pontos quaesquer, que

estiverrem sobre a mesma superfície.

VIII. O angulo plano he a inclinação reciproca de duas linhas,

que se tocão em huma superficie plana, sem estarem em

direitura huma com outra.

IX. O angulo plano rectilineo he a inclinação reciproca de

duas linhas rectas, que se encontrão, e não estão em

direitura huma com outra.

Se alguns angulos existirem no mesmo ponto B (Figura 1),

cada hum deles vem indicado com tres letras do alfabeto; e

a que estiver no vertice do angulo, isto he, no ponto, no

qual, se encontrão as rectas, que formão o angulo, se põe

no meio das outras duas; e destas huma está posta perto de

huma das ditas rectas, em alguma parte, e a outra perto da

outra linha. Assim o angulo feito pelas rectas AB, CB

representar-se-há com as letras ABC, ou CBA;

o angulo formado pelas rectas AB,DB, com as letras ABD,

ou DBA; e o angulo que fazem as rectas DB, CB, com as

letras DBC, ou CBD. Mas se hum angulo estiver separado de

outro qualquer, poder-se-há marcar com a mesma letra, que

estiver no vertice, como o angulo no ponto E (Figura 2).

X. Quando huma linha recta, cahindo sobre outra linha

recta, fizer com esta dous angulos iguaes, hum e huma, e

outro de outra parte, cada hum destes angulos iguaes se

chama angulo recto; e a linha incidente se diz perpendicular

à outra linha, sobre a qual cahe (Figura 3).

Joaquim Albuquerque de Moura Relvas

48

66 Politécnica

49

Segurança e Informática

Mestre António José Marques, docente no ISPGaya e

Administrador de Sistemas no Centro de Informática do

ISPGaya (CIISP); Luís Miguel Silva, aluno no 2º ano de

Engenharia Informática no ISPGaya e Administrador de

Sistemas Júnior no Centro de Informática do ISPGaya (CIISP).

Seminário realizado no dia 14 de Novembro de 2002.

Resumo: O conceito de “Hacking” é muitas vezes

deturpado pelos media criando uma tema controverso à

volta de um tabu sensacionalista. A realidade é que uma

grande percentagem de empresas/instituições (dentro e fora

de Portugal) não se preocupam minimamente com a

protecção dos seus dados e no que lhes pode acontecer

face a uma eventual quebra de segurança.

Este seminário pretende “educar” para o culto da segurança

informática mostrando qual a severidade de um worst case

scenario e o que fazer para o evitar.

Os tópicos que serão cobertos por este seminário são:

. Introdução à segurança.

. Alguns conceitos e os seus significados.

. Conceitos básicos de redes.

. Os sistemas operativos e as redes.

. Os serviços mais comuns.

. As Falhas mais comuns.

. Métodos de detecção e combate.

. Cryptografia.

. Resposta a incidentes.

. Auditorias, análise de ameaças, testes de penetração.

Seminários, conferências,workshops

(Título) Divulgação

50

SECONT

O Instituto Superior Politécnico Gaya encontra-se a

organizar um concurso de segurança em redes informáticas

que decorre entre o dia 1 de Outubro de 2002 e o dia 31 de

Janeiro de 2003. Os principais objectivos são:

• Sensibilizar para a necessidade da protecção dos dados

informáticos;

• Promover o aparecimento de novas técnicas de segurança

em redes informáticas;

• Incentivar a auto-aprendizagem e a iniciativa de protecção

de dados informatizados;

• Desmistificar a complexidade da segurança das redes

informáticas.

O desafio consiste em ultrapassar as barreiras de segurança

colocadas num servidor dedicado em exclusivo ao evento e

mudar a página principal do site do concurso -

www.secont.org.

Assim que um concorrente consiga atingir esse feito, o

concurso terminará imediatamente e o servidor reverterá

como prémio.

GABINETE DE RELAÇÕES COM O EXTERIOR (GREXT)

E

GABINETE DE ESTÁGIOS E EMPREGO (GEE)

O ISPGaya procedeu recentemente a uma realocação de

recursos nos gabinetes de Relações com o Exterior e de

Estágios e Emprego. Assim, com a cessação de funções do

dr. Fernando Lemos, o GEE passou a contar com o doutor

Hugo Coimbra como responsável do gabinete, enquanto

que o GREXT passou a ter como responsável o dr. José

Santos a quem compete também a gestão de serviços às

empresas/instituições.

66 PolitécnicaDivulgação

66 Politécnica(Título) Divulgação

51

CIISP

O Centro de Informática do Instituto Politécnico Gaya

(CIISP), é o núcleo responsável pela estrutura informática e

do sistema de informação do ISPGaya, tendo como

principais funções:

• Configurar e manter os equipamentos de informática

existentes nas diversas salas;

• Instalar e manter a rede informática interna;

• Gerir todos os sistemas informáticos centrais;

• Gerir o serviço de acesso à Internet;

• Gerir as aquisições de material informático e respectivo

software;

• Prestar apoio a todos os utentes do Centro;

• Prestar apoio a todos os funcionários do Instituto na

utilização dos meios informáticos;

• Prestar apoio na informatização de todos os serviços do

Instituto.

Constituído por uma equipa de seis pessoas, o CIISP

disponibiliza um conjunto de serviços, dos quais se

destacam os seguintes:

• Acesso livre aos laboratórios de Informática;

• Acesso incondicionado à Internet;

• Espaço em disco nos Servidores Newton, Leonardo e

Páginas;

• Conta de correio electrónico ([email protected]);

• Acesso à conta de email em qualquer parte do mundo

(http://webmail.ispgaya.pt ou utilizando um programa de

email);

• Página pessoal alojada no Servidor Páginas

(http://paginas.ispgaya.pt/~user);

• Acesso FTP sobre o servidor páginas;

• Possibilidade de trabalho remoto sobre o servidor Páginas;

• Disponibilidade de servidores de Bases de Dados;

• Computadores instalados com o Sistema Operativo

Windows e Linux;

• Utilização das versões de software mais recentes;

• Serviço de backup automático nos servidores;

• Disponibilização de equipamento para efectuar

digitalizações;

• Gravação de trabalhos académicos em CD;

• Apoio personalizado pelos monitores de informática que

integram o CIISP.

O parque informático do Instituto está distribuído por doze

salas de informática devidamente equipadas, abertas a toda

a comunidade do ISPGaya, podendo o aluno, professor ou

funcionário, usar qualquer computador, desde que este não

esteja numa sala em que decorra, nesse momento, uma

aula.

O número de computadores é, aproximadamente de duas

centenas, existindo todos os anos lectivos uma preocupação

em renovar o parque informático, com a finalidade de poder

fornecer uma resposta adequada às últimas versões de

software utilizado nas diversas cadeiras dos cursos, que

recorrem a equipamento informático como ferramenta de

apoio ou como núcleo da disciplina.

Divulgação

52

Os interessados em publicar artigos originais ou de revisão narevista Politécnica, bem como publicitar eventos, o poderãofazer submetendo os textos ao Corpo Editorial. Estes podem serenviados por disquete para: Revista Politécnica, Instituto SuperiorPolitécnico Gaya, Rua António Rodrigues da Rocha, 291, 341 –Santo Ovídio, 4400-025 Vila Nova de Gaia, ou por e-mail para oendereço [email protected]. Os artigos a ser submetidospara publicação devem ser redigidos em Português emMSWORD (PC ou MAC), juntamente com uma cópia impressa aespaçamento duplo. O tipo de letra a utilizar deverá ser o TimesNew Roman. Não está, no entanto, excluída a possibilidade darevista aceitar contribuições noutras línguas.

Letras de outros alfabetos e símbolos matemáticos ecientíficos devem ser escritos correctamente. Nunca utilizar"a" para a letra grega "α" (alfa), "u" para o grego "µ"(miu), etc., siglas e nomes registados (”, ‘, “) não devemaparecer em títulos. Abreviaturas e nomenclatura devem serconforme a prática estabelecida por organizações einstitutos profissionais, ou consagrados pelo seu usocorrente. Da primeira vez que apareça no texto alguma siglaou nome comercial registado, o seu significado deve serreferido por extenso entre parêntesis.Não devem ser utilizados sistemas de notação diversos. Paratextos de engenharia, utilizar símbolos e unidadesconvencionais, constantes das listas existentes.

1. Título.O título deverá ser escrito em letras maiúsculas, tamanho 14pt, negrito e centrado.

2. Autores.Após o título devem ser mencionados, os nomes dos autores,endereços e e-mail. O texto deve possuir tamanho 12 pt,itálico e centrado. Em rodapé deve ser incluído uma descriçãosumária das actividades desempenhadas. Os autores deverãoincluir uma fotografia actualizada, em formato digital.

3. Corpo do Artigo.O corpo do artigo deve estar subdividido logicamente emsecções numeradas e, se necessário em subsecçõesnumeradas. Os títulos devem ser a negrito.O texto deve ser escrito em duas coluna e com letra detamanho 12 pt e espaçamento de 1,5 linhas.

4. Resumo.Os artigos devem conter um resumo, no máximo de 90palavras, que perspective o problema e sumarie osresultados, ou conclusões. O resumo deve ser escrito comletra tamanho 10 pt, justificado e espaçamento simples.

5. Palavras Chave.A seguir ao resumo deverão ser mencionadas as palavraschave referentes ao artigo, escritas com letra tamanho 10pt, alinhado à esquerda.

6. Figuras.As figuras devem ser cuidadosamente preparadas,devidamente numeradas e acompanhadas por uma legenda(tamanho 10 pt, negrito). As figuras devem, igualmente, sergravadas num ficheiro separado com a extensão TIF ou JPG.

7. Tabelas.As tabelas também devem ser numeradas e acompanhadaspor um título (tamanho 10 pt, negrito). Todas as colunas deuma tabela devem possuir um cabeçalho.

8. Referências.As referências devem ser listadas, por ordem alfabética deautor, numa secção denominada "Referências", que devesurgir no final do artigo. Todas as referências devem sercitadas no texto por autor e data, dentro de parêntesisrectos.Ex.: [Pereira 1999] [Moreira, et al.1991]Ilustra-se de seguida a forma de apresentar as referências nofinal do artigo:a) Artigos de revistas:Ex.: Carvalho, J. e Moura, I., "A Avaliação do Sucesso dosSistemas de Apoio ao Trabalho de Grupo. AlgumasQuestões", Sistemas de Informação, 8, (1998), 23-41.b) Livros:Ex.: Porter, M., Estratégia Competitiva - Técnicas paraAnálise de Indústrias e da Concorrência, Editora Campos,Rio de Janeiro, 1991.

Os artigos publicados são única e exclusivamente daresponsabilidade dos seus autores.A aceitação de artigos estará sujeita a uma apreciação préviapor uma Comissão Científica, que, no entanto, não retira aresponsabilidade aos autores dos artigos.

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