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www.professorkalazans.com.br [email protected] INSTITUTO PROFESSOR KALAZANS USO RESTRITIVO DA PROPRIEDADE EM ÁREA DE SEGURANÇA AEROPORTUÁRIA. O PARCELAMENTO DE USO DO SOLO E SUA REPERCUSSÃO NAS ATIVIDADES AERONÁUTICAS. Marco Antonio Bessa Soares 1 Sumário: 1 Introdução 2 Competência da justiça federal para processar e julgar processos em zonas de proteção e gerenciamento de risco aeronáutico 3 Plano básico de zona de proteção de aeródromo Portaria nº 256 GC5, de 13 de maio de 2011 4 Da compatibilização do zoneamento do uso do solo e suas restrições especiais 5 Aumento das atividades aeronáuticas em locais próximos a aeródromos, e os riscos decorrentes das operações aéreas 6 Operações aeronáuticas nas futuras pistas 01 e 19 do novo aeródromo de Goiabeiras 7 Conclusão Resumo: Desde que o homem existe como ser que conquista e delimita seus espaços, sabe-se que, em vista de seu constante aprimoramento no plano terreno, busque um lugar onde estabelecer moradia para si e seus familiares, sendo também certo dizer que, de há muito, esse mesmo homem, em seu natural processo desenvolvimentista, tenha almejado alçar os céus, relegando a plano de somenos importância seu andar sobre a Terra como houvera, e para o qual fora criado. Este ser definido desde sua criação como homem, possui um complexo, sem igual, de assimetrias entre o seu agir e o que outorga direito a outrem de, também por assimetrias, buscar idêntico ou maior direito que lhe possa beneficiar. Daí, 1 Graduado em Direito pelo Centro Superior de Ciências Sociais de Vila Velha (CSCSVV). Especialista em Direito Civil e Processual Civil pela Universidade Gama Filho (Convênio UNESC). Curso de Carreira na Escola de Magistratura do Espírito Santo. Advogado Público. E-mail: [email protected]. É Professor de Regulamentação da Aviação Civil no ACES - Aeroclube do Espírito Santo e na EAHRA. Membro da SBDA Associação Brasileira de Direito Aeronáutico e Espacial, e da Academia Brasileira de Direito Aeronáutico.

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INSTITUTO PROFESSOR KALAZANS USO RESTRITIVO DA PROPRIEDADE EM ÁREA DE SEGURANÇA AEROPORTUÁRIA. O

PARCELAMENTO DE USO DO SOLO E SUA REPERCUSSÃO NAS ATIVIDADES AERONÁUTICAS.

Marco Antonio Bessa Soares1

Sumário: 1 Introdução 2 Competência da justiça federal para processar e julgar processos em

zonas de proteção e gerenciamento de risco aeronáutico 3 Plano básico de zona de proteção

de aeródromo – Portaria nº 256 GC5, de 13 de maio de 2011 4 Da compatibilização do

zoneamento do uso do solo e suas restrições especiais 5 Aumento das atividades aeronáuticas

em locais próximos a aeródromos, e os riscos decorrentes das operações aéreas 6 Operações

aeronáuticas nas futuras pistas 01 e 19 do novo aeródromo de Goiabeiras 7 Conclusão

Resumo: Desde que o homem existe como ser que conquista e delimita seus espaços, sabe-se

que, em vista de seu constante aprimoramento no plano terreno, busque um lugar onde

estabelecer moradia para si e seus familiares, sendo também certo dizer que, de há muito,

esse mesmo homem, em seu natural processo desenvolvimentista, tenha almejado alçar os

céus, relegando a plano de somenos importância seu andar sobre a Terra como houvera, e

para o qual fora criado. Este ser definido desde sua criação como homem, possui um

complexo, sem igual, de assimetrias entre o seu agir e o que outorga direito a outrem de,

também por assimetrias, buscar idêntico ou maior direito que lhe possa beneficiar. Daí,

1 Graduado em Direito pelo Centro Superior de Ciências Sociais de Vila Velha (CSCSVV). Especialista em

Direito Civil e Processual Civil pela Universidade Gama Filho (Convênio UNESC). Curso de Carreira na

Escola de Magistratura do Espírito Santo. Advogado Público. E-mail: [email protected]. É

Professor de Regulamentação da Aviação Civil no ACES - Aeroclube do Espírito Santo e na EAHRA.

Membro da SBDA – Associação Brasileira de Direito Aeronáutico e Espacial, e da Academia Brasileira de

Direito Aeronáutico.

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surgiram os conflitos de interesses que, inicialmente, se polarizaram sobre porções de

territórios em terra, mas que, em vista da conquista do ar, transpuseram essas delimitações,

verticalizando-as do nível do solo e mar, excepcionados neste os Estados Mediterrâneos, que

não o possuem, até uma faixa de aproximadamente 100km de altura, ao final da qual,

abandonar-se-ia o espaço aéreo de uma nação, acessando-se, então, o espaço exterior ou

cósmico. Neste toar, a maior abrangência ocasionada pelas operações aeronáuticas, e como

consequência lógica dessas, se fez premente ao longo de pouco mais de 100 anos de existência

do avião, a criação de restrições diversas, que impactam, dentre um sem número de situações,

até o uso parcelado e restritivo do solo em áreas de segurança aeroportuária. Sobre esse uso

parcelado e restritivo, é que trataremos neste nosso estudo.

Palavras-chave: Uso restrito da propriedade. Segurança aeroportuária. Parcelamento de uso

do solo.

1. INTRODUÇÃO

É fato que, em vista do uso do solo das áreas que se circunvizinham aos

aeródromos, exista uma chamada porção de espaço restrita, ou ASA – Área de Segurança

Aeroportuária, que é diretamente albergada em prol da segurança das operações aéreas.

Em vista de tal restrição, faz-se indissociável a necessidade de um maior e mais

expressivo rigor no planejamento e fiscalização dos empreendimentos localizados no entorno

dos aeródromos, objetivando eliminar riscos consideráveis às operações de aeronaves em

procedimentos de manobras, pousos e decolagens.

Este nosso breve estudo busca desmistificar um pouco as relações obrigacionais de

fiscalização existentes entre os Poderes Públicos entre si e o(s) privado(s), a guisa da existência

de normas especiais de parcelamento e uso restritivo do solo, que tratam de delimitar o pleno

uso da propriedade que se circunvizinha aos aeródromos, quer seja ela pertencente ao

particular, ou mesmo pertencente ao patrimônio estatal, demonstrando nítida a aplicação

isonômica de normas de Direito Administrativo a casos concretos.

Tomando como escopo fatos derivados de passado recente em nossa Capital, e

que remontam à ordem judicial emanada do MM. Juízo da 3ª Vara Federal Cível da Seção

Judiciária do Espírito Santo, em vista de pleito avençado pelo Município de Vitória, ultimando

fosse procedida a demolição de 03 (três) pavimentos de uma construção que extrapolava o

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gabarito de altura para o local e que, por sua localização, colocava em risco as operações

aeroportuárias na região, em vista da existência de um corredor de segurança enfeixado

dentro da porção territorial abrangida pelo Aeródromo de Goiabeiras.

Durante nossa breve exposição, abordaremos, dentre outros, a competência da

Justiça Federal para processar e julgar causas que envolvam o uso da propriedade

circunvizinha aos aeródromos.

Levamos em consideração para consecução deste nosso breve estudo, artigos

publicados em revistas especializadas da área de segurança aeronáutica, assim como normas

aeronáuticas e do Município de Vitória em vigor, e que servem de fundamento ao que nos

propusemos a estudar.

Desde já, a todos, uma boa leitura.

2. COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA FEDERAL PARA PROCESSAR E JULGAR PROCESSOS EM ZONAS

DE PROTEÇÃO E GERENCIAMENTO DE RISCO AERONÁUTICO

Em passado recente, mais precisamente em agosto de 2013, o proprietário de uma

edificação localizada no Bairro República, nesta Capital de Vitória, foi instado pelo Juízo da 3ª

Vara Federal Cível da Seção Judiciária do Espírito Santo2 para, no prazo estabelecido na ordem

mandamental forçada, promover a imediata demolição de 03 (três) pavimentos, de um total

de 06 (seis), do empreendimento, os quais, além de extrapolarem o gabarito de construção de

imóveis no local, não possuíam o aval liberatório do Estado-Administração, ocasionando, o que

é mais gravoso, risco real às operações aéreas de pouso e decolagem de aeronaves, realizadas

no Aeródromo de Goiabeiras.

A decisão mandamental, noticiada pela imprensa Capixaba3, causou impacto junto

à sociedade Vitoriense, não só porque neste estado seja inédita, mas, também, pelo rigor das

2 Vide: JUSTIÇA FEDERAL. Processo nº: 00058692720134025001. 3ª Vara Federal Cível. Seção Judiciária

do Espírito Santo. Disponível em:<http://www2.jfes.jus.br/jfes/portal/consulta/resconsproc.asp>.

Acesso em: 27 Ago. 2013.

3 Vide: A GAZETA. Gazeta Online: Justiça manda demolir prédio próximo ao Aeroporto de Vitória”. 06

Ago/2013. Disponível

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multas aplicadas, pela Justiça Federal, ao proprietário da edificação, o qual, instado

anteriormente a promover a demolição voluntária dos andares construídos clandestinamente,

não a fez, decorrendo daí a ordem coercitiva Federal que o impeliu ao cumprimento forçado

da mesma, com a aplicação das multas decorrentes do seu não cumprimento voluntário.

Não obstante a decisão exarada pelo MM. Juízo da 3ª Vara Federal Cível, alguns

segmentos, irresignados, da sociedade, questionaram a legitimidade da Justiça Federal para

conceder a ordem mandamental, já que o imóvel faça parte de porção de solo pertencente ao

Município de Vitória.

Alguns dos irresignados com a determinação coercitiva estatal federal, também

não vislumbraram motivos plausíveis à concessão da ordem judicial, como o foi, posto que o

imóvel em tela não se encontre ao menos na linha definida como eixo da pista do aeródromo

de Goiabeiras. Entretanto, ledo engano, pois a teor do que consta do inc. I, art. 22 da Cártula

Política do Brasil4, caiba privativamente à União Federal, legislar, entre outros, sobre direito

aeronáutico, sendo, por decorrente, detentora do monopólio das atividades relacionadas ao

transporte aéreo e infra-estrutura aeronáutica5 em sua parcela de território6, originando daí,

por lógica jurídico-legal, a plena competência da Justiça Federal7 para presidir e, claro, decidir

em:<http://gazetaonline.globo.com/_conteudo/2013/04/noticias/cidades/1433468-justica-manda-

demolir-predio-proximo-ao-aeroporto-de-vitoria.html>. Acesso em: 28 Ago. 2013.

4 BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil. “Art. 22. Compete privativamente à União

legislar sobre: I- direito civil, comercial, penal, processual, eleitoral, agrário, marítimo, aeronáutico,

espacial e do trabalho”. Disponível

em:<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm>. Acesso em: 04 Set. 2013.

5 BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil. Idem. “Art. 173. Ressalvados os casos

previstos nesta Constituição, a exploração direta de atividade econômica pelo Estado só será permitida

quando necessária aos imperativos da segurança nacional ou a relevante interesse coletivo, conforme

definidos em lei.” Disponível em:<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm>.

Acesso em: 04 Set. 2013.

6 BRASIL. Lei 7565 de 19 de dezembro de 1986. Dispõe sobre o Código Brasileiro de Aeronáutica. “Art.

11 - O Brasil exerce completa e exclusiva soberania sobre o espaço aéreo acima de seu território e mar

territorial”. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l7565.htm>. Acesso em: 04 Set.

2013.

7 BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil. Bis in idem.“Art. 109. Aos juízes federais

compete processar e julgar: I - as causas em que a União, entidade autárquica ou empresa pública

federal forem interessadas na condição de autoras, rés, assistentes ou oponentes, exceto as de falência,

as de acidentes de trabalho e as sujeitas à Justiça Eleitoral e à Justiça do Trabalho;”. Disponível

em:http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm. Acesso em: 04 Set. 2013

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as questões que envolvem as chamadas Zonas de Proteção de Aeródromos8, que formam o

conjunto de superfícies nas quais o aproveitamento e o uso do solo sofrem restrições

derivadas das áreas do Plano Básico de Gerenciamento de Risco Aeronáutico.

3. PLANO BÁSICO DE ZONA DE PROTEÇÃO DE AERÓDROMO – PORTARIA Nº 256 GC5, DE 13

DE MAIO DE 2011

De artigo da lavra de Aloysio Cavalcanti Lima9, que se reporta ao inc. XLII, art. 2º,

da Portaria nº 256 GC510, de 13 de maio de 2011, extrai-se lição no sentido de que o Plano

Básico de Zona de Proteção de Aeródromo, deva ser entendido como:

“ ‘O conjunto de superfícies limitadoras de obstáculos que estabelece as restrições impostas

ao aproveitamento das propriedades dentro da zona de proteção de um aeródromo. [...]’.

Trata-se de verdadeira zona de restrição que inibe a todos de promoverem

empreendimentos potencialmente lesivos à aviação.”

Mais ainda. De se ver que tais áreas delimitam um setor angular de segurança na

aproximação para pouso de aeronaves no aeródromo de Goiabeiras, nesta Capital, chamado

de cone de segurança ou cone de aproximação, onde tal condição, de per se, ocasiona, via

direta de consequência, diminuição da cabeceira da pista em cerca de 433mts, limitando, ainda

mais, o espaço entre o pouso das aeronaves e a segurança de sua paragem, decorrendo daí,

mais ainda, a incongruência entre a construção promovida pelo particular na área

circunvizinha do aeródromo e o cone de segurança.

8 BRASIL. Ministério da Defesa. Comando da Aeronáutica. Portaria nº 256/GC5, de 13 de maio de 2011.

Disponível em:<www.decea.gov.br/.../Portaria_256_GC5_de_13.05.2011_Atualizada_Port-271.pdf.>.

Acesso em: 28 Ago. 2013.

9 LIMA, Aloysio Cavalcanti. A tutela da segurança de voo em face do uso do solo no entorno de

aeródromos – o poder de polícia aeronáutico à luz da Portaria GC5, de 2011 – COMAER, Revista

Conexão SIPAER, v.4, n. 1, set/out. 2012, p. 115-128. Disponível em:

<http://inseer.ibict.br/sipaer/index.php/sipaer/article/view/221>. Acesso em: 02 Set. 2013.

10 BRASIL. Ministério da Defesa. Comando da Aeronáutica. Portaria nº 256/GC5, de 13 de maio de 2011.

Idem.

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Seguindo a mesma vortex de legalidade jurídico-legal, a segurança que defrui das

operações aviatórias ao derredor dos aeródromos é albergada pelo Código Brasileiro de

Aeronáutica, conforme textualizado em seu art. 43, abaixo transcrito:

“Art. 43. As propriedades vizinhas dos aeródromos e das instalações de auxílio à navegação

aérea estão sujeitas a restrições especiais.

Parágrafo único. As restrições a que se refere este artigo são relativas ao uso das

propriedades quanto a edificações, instalações, culturas agrícolas e objetos de natureza

permanente ou temporária, e tudo mais que possa embaraçar as operações de aeronaves

ou causar interferência nos sinais dos auxílios à radionavegação ou dificultar a visibilidade

de auxílios visuais.”

4. DA COMPATIBILIZAÇÃO DO ZONEAMENTO DO USO DO SOLO E SUAS RESTRIÇÕES

ESPECIAIS

Na mesma seara, o § 4º, art. 44 do CBAer - Código Brasileiro de Aeronáutica,

demonstra claro que: “As Administrações Públicas deverão compatibilizar o zoneamento do

uso do solo, nas áreas vizinhas aos aeródromos, às restrições especiais, constantes dos Planos

Básicos e Específicos”, observando-se para consecução de tal fim, o que resta contido no caput

do supracitado artigo 44, e que nos remete à condição inafastável de que tais restrições

especiais sejam de específica responsabilidade da autoridade aeronáutica, a qual, de turno

seu, levará em conta para sua aprovação, planos válidos para cada tipo de auxílio à navegação

aérea, decorrendo daí, então, a aplicação da norma regulamentadora tanto pela Infraero11,

como pela ANAC12, assim como pelo(s) município(s) onde se encontre o aeródromo

construído.

Em linha simétrica com os anteriormente citados dispositivos, o § 5º, art. 44 do

CBAer, assevera que: “As restrições especiais estabelecidas aplicam-se a quaisquer bens, quer

11

BRASIL. Lei 5.862 de 13 de dezembro de 1972. Autoriza o Poder Executivo a constituir a empresa

pública denominada Empresa Brasileira de Infra-Estrutura Aeroportuária - INFRAERO, e dá outras

providências. Disponível em:

<http://www.infraero.gov.br/index.php/br/institucional/competencias.html>. Acesso em: 02 Set. 2013.

12 BRASIL. Lei 11.182. Cria a Agência Nacional de Aviação Civil e dá outras providências.

Disponível em:<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2005/Lei/L11182.htm>. Acesso

em: 09 Set. 2013.

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sejam privados ou públicos”, declinando daí perfeita sintonia para aplicabilidade da norma

regulamentadora da matéria em estudo ao caso concreto, como o foi pela Justiça Federal do

Espírito Santo, diante de pleito avençado pelo Município de Vitória, dentro de seu mister.

Observe-se ainda que o Poder Público, dentro de seu espectro fiscalizatório, e em

observando irregularidade de obra ou construção que contrarie os Planos Básicos ou

Específicos de cada aeródromo, poderá adotar providências imediatas objetivando a

paralisação daquelas, aplicando para tal fim, a previsão legal contida no art. 45, do CBAer.,

verbis:

“A autoridade aeronáutica poderá embargar a obra ou construção de qualquer natureza

que contrarie os Planos Básicos ou os Específicos de cada aeroporto, ou exigir a eliminação

dos obstáculos levantados em desacordo com os referidos planos, posteriormente à sua

publicação, por conta e risco do infrator, que não poderá reclamar qualquer indenização.”

De outro giro, o art. 46 do mesmo Codex (CBAer), delimita que: “Quando as

restrições estabelecidas impuserem demolições de obstáculos levantados antes da publicação

dos Planos Básicos ou Específicos, terá o proprietário direito à indenização.”

Nesta toada, observa-se que a Infraero, através do ofício nº 898/SBVT (VTSO)

2012, ofereceu ao Município de Vitória, denúncia de acréscimo clandestino de área localizada

na Rua Jacinto Bresciane, nº 185, no Bairro República, nesta Capital de Vitória, posto que tal

acréscimo à área em comento viesse colocando em risco iminente as operações aviatórias

realizadas no Aeródromo de Goiabeiras, por se encontrar dentro da Zona de Proteção/Cone de

Segurança deste, contrariando, tanto a norma federal como a municipal, regulamentadoras da

matéria sub examen.

Uma vez tomando conhecimento da infração administrativa levada a efeito pelo

proprietário da edificação irregular, e como a Autoridade Aeronáutica não tenha embargado

por si mesmo a obra irregular, o Município de Vitória promoveu, a tempo e hora certos, Ação

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Demolitória c/c Pedido de Embargo Liminar13, resultando daí concessão de ordem liminar

assecuratória da tutela de urgência pelo Juízo Federal deste Estado, como buscada.

Impende ser dito, tão somente a título explicativo, que não obstante o supracitado

art. 46 da Lei 7.565/86, assevere que: “terá o proprietário direito à indenização”, tal não se

aplique ao proprietário do caso em estudo, posto que, inicialmente se trate de acréscimo

clandestino de área, decorrendo daí ser utilizado o que prevê o art. 45 da mesma norma

aeronáutica (Lei 7.565/86), bem como porque até o momento em curso, nada dê mostras que

à construção, de 06 (seis) pavimentos, para localidade onde o PDMU - Plano Diretor Municipal

Urbano, Lei 6.705/200614, autoriza somente 03 (três) andares, tenha sido outorgado o

indispensável aval ao proprietário da edificação para tal, tampouco lhe tenha sido concedido o

direito de avançar verticalmente (a altura) de sua construção fora do gabarito para aquela

região/bairro, em particular pelo que resta contido nos Anexos 9.2 e 10 da lei municipal acima

(6.705/2006), para Zona de Ocupação Restrita/11-ZOR/11, assim como inserto no art. 157 da

mesma, que assim textualiza:

“Art. 157. A altura máxima das edificações permitida, em qualquer zona de uso,

fica sujeita às normas estabelecidas na Lei Federal n° 7.565/86 (Código Brasileiro

de Aeronáutica) e legislações correlatas.”

Desta feita, agindo como agiu o proprietário da edificação clandestina, tratou este

de, além de inobservar o que preceitua o artigo 157 da Lei 6.705/2006, também ao que

determina o artigo 26 da Lei Municipal 4.821/9815, ipsis verbis:

“Art. 26 – Dependem, obrigatoriamente, de alvará de aprovação os projetos de:

I – edificação nova;

13

JUSTIÇA FEDERAL. Processo nº: 00116531920124025001. 3ª Vara Federal Cível. Seção Judiciária do

Espírito Santo. Disponível em:<http://www2.jfes.jus.br/jfes/portal/consulta/resconsproc.asp>. Acesso

em: 27 Ago. 2013.

14 VITÓRIA. Lei 6.705 de 16 de outubro de 2006. Institui o Plano Diretor Urbano do Município de

Vitória e dá outras providências-PDU. Disponível em:

<http://sistemas.vitoria.es.gov.br/webleis/consulta.cfm?id=167650>. Acesso em: 04 Set. 2013.

15 VITÓRIA. Lei 4.821 de 31 de dezembro de 1998. Institui o Código de Edificações do Município de

Vitória. Di sponível em: <http://sistemas.vitoria.es.gov.br/webleis/consulta.cfm?id=3164>. Acesso em:

04 Set. 2013.

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II - Reforma e regularização.”

Releva ser dito que o agir açodado do proprietário da edificação clandestina, e, o

que é pior, não autorizado pelo Estado-Administração, acabou por servir como o divisor de

águas que, definitivamente permitiu a derrubada dos pavimentos irregulares pelo mesmo

edificados, vista a flagrante infração às normas urbanísticas e de edificações do Município de

Vitória e, como decorrente, ao que assevera a norma aeronáutica em vigor.

5. AUMENTO DAS ATIVIDADES AERONÁUTICAS EM LOCAIS PRÓXIMOS A AERÓDROMOS, E

OS RISCOS DECORRENTES DAS OPERAÇÕES AÉREAS

Se nos parece imprescindível tecermos alguns breves comentários acerca do

aumento das atividades aeronáuticas ao derredor de aeródromos encravados nos grandes

centros urbanos, tanto no Brasil como no exterior, posto que se possa repersonificar àqueles

(aeródromos) como verdadeiras ilhas – cercadas de concreto (prédios) por todos os lados -,

que acabam por reverberar, de forma negativa, infelizmente, em dados estatísticos

relacionados à segurança aviatória como um todo.

Tanto se faz verdadeira essa assertiva, que em passado recente, fomos todos

surpreendidos, no Brasil, com o triste acidente aeronáutico que vitimou, na Capital Paulista,

199 (cento e noventa e nove) pessoas, dentre passageiros da aeronave sinistrada e em solo,

quando esta (aeronave), de bandeira brasileira, ultrapassou os limites da pista de pouso,

voando, literalmente, por sobre uma movimentada avenida que se circunvizinha ao

aeródromo de Congonhas, em São Paulo, indo de encontro ao prédio da própria empresa, do

outro lado da avenida.

O lamentável episódio, dentro das regras de segurança de voo, e por si só,

poderiam/podem explicar o acidente, mas esse não é o objetivo de nosso estudo.

Não obstante, o que parece ser bem equidistante do conhecimento do cidadão

comum e do público em geral, é que existam normas aeronáuticas que impactam diretamente

sobre o uso da propriedade da forma mais ampla pelo(s) seu(s) proprietário(s), toda vez que a

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segurança das operações aéreas for colocada em risco, determinando daí, a intervenção

estatal federal para resolver a questão.

Neste sentido, e para que melhor possa se situar o atento leitor, extrai-se de

brilhante artigo da lavra de Luisa Ferreira Lima16, o seguinte lecionar:

“A ocupação e as construções em áreas contíguas ou próximas de aeródromos interferem

de modo contundente nas operações aéreas, seja sob a forma de construções irregulares

que interferem nas trajetórias de pouso e decolagem, seja na utilização das propriedades

de modo a atrair aves que podem colidir com aeronaves. Nesse aspecto, o Poder Judiciário

Federal exerce importante papel na salvaguarda do cumprimento das limitações à

propriedade privada, em cumprimento à disciplina legal que objetiva a preservação da

segurança aeroportuária.

[...]

Em razão de recentes episódios de acidentes aéreos dentro do território nacional, o tema

ganhou repercussão na mídia e entre a população, que tem reclamado, cada vez mais, a

atuação do Poder Judiciário na solução das mais diversas controvérsias envolvendo o

assunto.

[...]

Aspecto relevante e que se liga inexoravelmente com o viés preventivo do assunto, na

medida em que garante o perfeito funcionamento das pistas de pouso e decolagem, atine

à questão da forma de ocupação das áreas próximas ou contíguas aos aeródromos, as

quais influem de forma contundente na segurança aeroportuária [...].”

Tal lição nos remete vez outra, à certeza de que o Estado-Administração, em sua

esfera Federal tenha, não só o condão, como a obrigação de promover restrições referentes ao

parcelamento e uso do solo urbano das propriedades que se demonstrem umbilicalmente

ligadas e/ou próximas de aeródromos, exatamente pelas particularidades que envolvem as

atividades aviatórias, mormente por influenciarem diretamente as operações de pousos que

devem observar, dentre outros, rampas ideais ou aproximações estabilizadas17 para pouso, e

16

LIMA, Luisa Ferreira. A proteção da área de segurança aeroportuária: aspectos normativos e breve

análise acerca da atuação do Poder Judiciário Federal. Revista Conexão SIPAER, Brasília, v.4, n. 1, p.

141-152, set. 2012. Disponível em:<http://inseer.ibict.br/sipaer/index.php/sipaer/article/view/223>.

Acesso em: 04 Set. 2013.

17 ZWERDLING. Robert. Quando arremeter é mais seguro. Aproximação estabilizada é a regra básica

durante o pouso para evitar sustos desnecessários e até prevenir um acidente grave. Revista

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que devem levar em consideração, dentre outros, a velocidade da aeronave, a distância a ser

percorrida pela mesma, assim como sua altura em relação ao ponto de toque/pouso, onde a

paragem da mesma deverá acontecer dentro de um padrão limítrofe estabelecido à realização

dessas operações.

A condição acima é tão gravosa, que uma vez violados os “domínios da servidão

aeronáutica configura o que se denomina por efeito adverso, cujas hipóteses de ocorrência

encontram-se estabelecidas no art. 89 da Portaria nº 256, CG5.”18

Isso quer dizer que toda vez que um objeto ou uma atividade colocar em risco a

segurança das operações aeronáuticas por ultrapassar as superfícies limitadoras de obstáculos

de aeródromos/helipontos, de auxílio à navegação aérea e de procedimentos de navegação

aérea, ou ainda for considerado implantação de natureza perigosa e estiver localizado nas

Superfícies de Aproximação, Decolagem e Transição, entre outros previstos no art. 89 da

citada Portaria 256, CG5/2011, deverá ser o fato comunicado à Advocacia Geral da União e ao

Ministério Público Federal para, dentro de seu espectro funcional, adotar(em) as

indispensáveis providências à resolução da irregularidade.

Ainda de bom alvitre ser dito que a adoção de providências que objetivam solver

as irregularidades verificadas/apontadas, por outras autoridades, quer sejam da esfera

estadual, municipal e/ou mesmo federal, não anulam “as prerrogativas da autoridade

aeronáutica em promover, manu militari, o embargo e a desobstrução dos obstáculos que

ofereçam riscos a aeronaves e à operação dos aeródromos.”19

Em assim sendo, e seguindo-se a primazia da norma reguladora aplicável ao fato,

in casu a Portaria 256, CG5/2011, dever-se-á recorrer ao que estabelece seu art. 102, verbis:

“Art. 102. Na infração às normas estabelecidas nesta Portaria, bem como na legislação

complementar, o COMAER, por intermédio da Junta de Julgamento da Aeronáutica, poderá

impor as seguintes providências administrativas:

Aeromagazine, São Paulo, fev/2012. Disponível em:<http://aeromagazine.uol.com.br/artigo/quando-

arremeter-e-mais-seguro_337.html>. Acesso em: 06 Set. 2013.

18 LIMA, Aloysio Cavalcanti, loc. cit.

19 LIMA, Aloysio Cavalcanti. Op. Cit. p. 119.

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I a III – omissis;

IV - embargo de implantação móvel ou fixa de qualquer natureza; e

V - eliminação de obstáculos contrários aos Planos.”

Observe-se por inafastável, que uma vez detectado o risco às atividades

aeronáuticas, este deverá ser tratado, prima facie, por todos os entes públicos envolvidos e

em quaisquer de suas esferas: Federal, Estadual ou Municipal, como interesse difuso realizado

em prol da sociedade, e não de uma parcela própria, única e/ou exclusiva de população.

Explico.

O interesse difuso aqui citado envolve, em verdade, não só o interesse coletivo

daquela parcela de população que se coloca ao derredor dos aeródromos, mas, também,

assim como, os passageiros transportados pelas aeronaves que pousam e decolam nas pistas

de pouso que àqueles (aeródromos) guarnecem, a comunidade aeroportuária (empregados de

empresas de transporte aéreo, de catering, de abastecimento de aeronaves, de segurança e

infraestrutura, limpeza e conservação, etc), e que nestes trabalham, abrindo um leque sem par

de outros possíveis interessados no sucesso das operações aeronáuticas, como por exemplo:

parentes de passageiros transportados, de empresas que se utilizam do transporte aéreo para

levar a efeito seus negócios derivados de importações/exportações e movimentação de cargas,

etc.

Desta feita, e como dito, o interesse coletivo para o caso aqui em estudo, deve ser

relegado a plano de somenos importância ao ser confrontado com o interesse difuso, por

muito maior sua área de abrangência.

Não só isso. Quadra ser dito que a Resolução CONAMA 004/9520, trate de delimitar

a área de segurança aeroportuária – ASA, “sendo esta variável em função do tipo de operação

do aeródromo, sendo mais comum a variação entre 13 e 20 quilômetros de um determinado

raio a partir do centro geométrico do aeródromo.”21

20

BRASIL. Conselho Nacional do Meio Ambiente – CONAMA. Resolução nº 4, de 9 de outubro de 1995.

Estabelece as Áreas de Segurança Aeroportuária – ASAs. Disponível

em:<http://www.mma.gov.br/port/conama/legiabre.cfm?codlegi=182>. Acesso em: 06 Set. 2013.

21 LIMA, Luisa Ferreira, loc. cit.

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Seguindo-se então tais delimitadores, força convir que as propriedades que se

coloquem diametralmente localizadas em áreas que se circunvizinhem e/ou se encontrem

próximas aos aeródromos, em um raio variável entre 13 e 20 quilômetros a partir do centro

geométrico do aeródromo, haverão sim, de se sujeitar àquelas restrições, posto que

inafastáveis ao cumprimento da norma, aplicável, inclusive, ao próprio Poder Público.

Neste toar, no caso em estudo, e não tendo a Autoridade Aeronáutica se utilizado

do seu mister, de promover à manu militari o embargo e a respectiva desobstrução do

obstáculo que oferecia risco às aeronaves e à operação do aeródromo de Goiabeiras, restou,

por decorrente direto ao Município de Vitória, onde se encontrava o imóvel

irregular/clandestino, patrocinar a respectiva ação em desfavor de seu proprietário, após a

citada denúncia apresentada pela Infraero.

Não obstante a condição acima, reitere-se que a Autoridade Aeronáutica possua,

por força legal inclusive, o poder-dever de adotar toda e qualquer providência alinhada ao

poder de polícia inerente ao Estado, quer seja objetivando o embargo ou a demolição de

construções que violem o que resta contido nos planos de proteção à navegação aérea e, em

caso de “recalcitrância do agente nocivo à aeronavegação, aí sim, será oportuno o socorro à

via judiciária.”, como bem delineado por Aloysio Cavalcanti Lima22, que arremata sua lição

enfeixando:

“Ao atuar energicamente, mas dentro das balizas jurídicas, a autoridade aeronáutica estará

evitando a convalidação de ilegalidades. Em se coibindo a construção do empreendimento

ilícito no nascedouro, será inviável cogitar-se da aplicação da teoria do fato consumado.

Noutros dizeres, a obra clandestina não deverá receber a chancela estatal pelo simples

fato de encontrar-se pronta e acabada.

E nem se invoque o disposto no artigo 94 da Portaria n.256 – CG5, para o fim de,

convenientemente, acomodar-se as obras ilícitas, com respaldo em parecer favorável das

autoridades locais. Tal dispositivo tem incidência excepcional e busca preservar

empreendimentos, que embora apresentem riscos à aviação, revestem-se de fundamental

valor social.”

6. OPERAÇÕES AERONÁUTICAS NAS FUTURAS PISTAS 01 e 19 DO NOVO AERÓDROMO DE

GOIABEIRAS

22

LIMA, Aloysio Cavalcanti, loc. cit.

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Impende ser dito no caso em estudo, que o novo aeródromo de Goiabeiras,

contemplará, quando de sua conclusão, um cone de segurança ou cone de aproximação

diferente do padrão hoje existente, posto que as operações hodiernamente efetuadas através

das Cabeceiras 05 (sentido do pouso: Vitória x Carapina) e 23 (sentido do pouso: Carapina x

Vitória), fazem, por inevitável, que as aeronaves em regime de pouso, obrigatoriamente

sobrevoem, ou os Bairros de Jardim da Penha e República (Cabeceira 05), ou os Bairros de

Carapina/Eurico Sales (Cabeceira 23) e, no futuro novo aeródromo de Goiabeiras, o padrão de

pouso será efetivado pelas cabeceiras 01 (sobre o mar) ou 19 (no través: lateralmente com o

Mestre Álvaro, e com a Serra sede), estas ainda em serviços de terraplanagem, conforme Fig.1,

abaixo.

Fig.1: Área do Aeródromo de Goiabeiras23

Sempre bom lembrar que a Zona de Proteção e Segurança de Aeródromo, terá,

como dito anteriormente, um novo cone de segurança ou cone de aproximação, adequado às

novas pistas de operações de pouso e decolagem.

23

ÁREA de movimento em SBVT. Aeroporto Internacional de Vitória. – Eurico de Aguiar Sales. Plano

Diretor. Disponível em: <http://www.infraero.gov.br/index.php/br/aeroportos/espirito-

santo/aeroporto-de-vitoria-eurico-de-aguiar-salles-vitoria-es/plano-diretor.html>. Acesso em: 12 Set.

2013.

Vista aérea do Aeródromo de Vitória com pista atual asfaltada e, futura

“nova” pista, com serviço de terraplanagem em execução com acréscimo

numeral demonstrativo das pistas ns. 01 e 19, nosso.

01

19

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Em sendo assim, novas áreas haverão de ser contempladas como restritivas de

altura de obstáculos nos sentidos vertical, horizontal e lateral, de forma que se mantenha a

perfeita sintonia entre as operações de pouso e decolagem de aeronaves, a segurança aérea

destas operações e, claro, o uso parcelado do solo dentro dos perímetros estabelecidos pelas

autoridades responsáveis pela adequação das normas em suas respectivas áreas de atuação:

federal, estadual e municipal.

Quadra relembrar que as Zonas de Proteção de Segurança de Aeródromos

objetivem, exatamente, conceder o condão da segurança às atividades aéreas, observando por

decorrente, a limitação mais ampla do uso solo por seus proprietários, ainda que a

propriedade faça parte do patrimônio da própria Administração Pública, o que, de per se,

demonstra a isonomia de tratamento aplicada, tanto ao bem do particular, como à res pública.

É imprescindível ainda ser dito a título explicativo, que caiba às Administrações

Municipais uma maior parcela de responsabilidade na fiscalização e no acompanhamento da

ocupação das áreas localizadas no entorno dos aeródromos e, uma vez se façam omissas com

relação aos seus misteres fiscalizatórios, e no adequado trato dos assuntos relacionados ao

parcelamento e uso do solo urbano, tal condição pode representar “grande ameaça para o

desenvolvimento e a operação dos aeródromos”24.

Para que se tenha uma melhor noção do que representa uma Zona de Proteção de

Aeródromo25, com suas correspectivas: áreas de aproximação, faixa de pista e área de

transição traz-se, em destaque, abaixo, a Fig. 2.

24

BRASIL. Comando da Aeronáutica. Departamento de Aviação Civil. IAC – Instituto de Aviação Civil.

Manual de gerenciamento do uso do solo no entorno de aeródromos. [2003?]. Brasília, p. 01-65,

Disponível em:<www2.anac.gov.br/arquivos/pdf/manualSolo.pdf>. Acesso em: 16 Set. 2013.

25 BRASIL. Comando da Aeronáutica. Departamento de Aviação Civil. IAC – Instituto de Aviação Civil.

Manual de gerenciamento do uso do solo no entorno de aeródromos. Idem.

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Fig. 2: Croqui de um Plano Básico de Zona de Proteção de Aeródromo.

É límpido que ao ultrapassar o padrão de construção das áreas onde se encontram

aeródromos, o(s) infrator(es) haverá(ão) de arcar com os percalços de sua opção(ões)

controvertida(s) do uso do seu direito de propriedade, sempre que contrariar os limítrofes da

lei, posto que não lhe caiba qualquer tipo de indenização, qual anteriormente citado.

De lado outro e em atendendo aos requisitos impostos pela lei e, no caso de se

tornar, ao depois, área restrita, o local onde se encontra localizada sua propriedade,

poderá/deverá o proprietário ser indenizado por quem de direito.

Quadra registrar que se faça indispensável para o sucesso do parcelamento e uso

pleno da propriedade, a rigorosa observância das normas que autorizam, através de padrões

pré-definidos, a realização de construções, reformas e/ou mesmo a colocação de objetos e

outros mais que não se tornem óbice à segurança das operações aéreas ao derredor dos

aeródromos, devendo, pois, assim, focar as autoridades responsáveis pela fiscalização em cada

uma de suas esferas de Administração, pela perfeita sintonia entre o desfrute do proprietário

do bem com a ocupação organizada/parcelada do solo.

7. CONCLUSÃO

Diante do que foi trazido através deste breve estudo, que tomou como norte

verdadeiro, fato acontecido em passado recente nesta Capital de Vitória, vem a lume a certeza

Zona de Proteção de Aeródromo: áreas de aproximação/decolagem, faixa de pista e

área de transição.

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de que, uma vez observado, sistematicamente, o que regulamenta o PDU das áreas

circunvizinhas aos aeródromos e outros mais, com suas indissociáveis características,

definições de orientação espacial-geográfica, seja possível a harmonização do uso e ocupação

do solo nas áreas de influência aeroportuária e a integração do desenvolvimento

aeroportuário com o desenvolvimento regional.

Cumpre também destacar que caiba àquele que seja proprietário do solo, observar

a imprescindível necessidade de buscar, junto aos organismos públicos responsáveis pela

securitização aeronáutica, as indispensáveis autorizações para promover reformas ou obras

em seus imóveis, sempre dentro do que prevêem as normas regentes, sob pena, é claro, de

amargar o uso da manu militare em seu desfavor, decorrendo daí, por conseguinte, uma série

outra de providências administrativas/judiciais capazes de fazer sucumbir sua senil vontade de

contrariar a lei e ser tal tolerada, o que conduz ao sério é fatídico erro de interpretação do que

lhe seja de direito ou lhe toque como obrigação.

Por derradeiro, se nos parece ainda oportuno manejar informação conclusiva no

sentido de que, quão maiores sejam as ocupações e construções, principalmente as

irregulares, realizadas em áreas dentro dos perímetros de segurança aeronáutica,

exponencialmente maiores se demonstrem as possibilidades de servirem essas de seríssimo

atrativo para aves, o que, de seu tempo, implicará na real possibilidade de colisão destas

(aves), com as aeronaves em procedimentos de pouso e/ou decolagem. Entretanto, esse

chamado risco aviário, não é tema de nosso presente estudo, mas, por certo, e por sua

importância para a segurança das operações aéreas, poderá se tornar objeto de futuras

pesquisas por parte de estudiosos da área.

8. REFERÊNCIAS

A GAZETA. Gazeta Online. Justiça manda demolir prédio próximo ao Aeroporto de Vitória. 06/Ago.

2013. Disponível em:<http://gazetaonline.globo.com/_conteudo/2013/04/noticias/cidades/1433468-

justica-manda-demolir-predio-proximo-ao-aeroporto-de-vitoria.html>. Acesso em: 28 Ago. 2013.

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Diretor. Disponível em: <http://www.infraero.gov.br/index.php/br/aeroportos/espirito-

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Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l7565.htm>. Acesso em: 04 Set. 2013.

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BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil. Disponível

em:<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm>. Acesso em: 04 Set. 2013.

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em: 27 Ago. 2013.

JUSTIÇA FEDERAL. Processo nº: 00116531920124025001. 3ª Vara Federal Cível. Seção Judiciária do

Espírito Santo. Disponível em:< http://www2.jfes.jus.br/jfes/portal/consulta/resconsproc.asp>. Acesso

em: 27 Ago. 2013.

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durante o pouso para evitar sustos desnecessários e até prevenir um acidente grave. Revista

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arremeter-e-mais-seguro_337.html>. Acesso em: 06 Set. 2013.

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