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Instituto Politécnico de Santarém Escola Superior de Gestão e Tecnologia O impacto da lei dos compromissos e pagamentos em atraso, consequências para os agentes económicos, para os gestores e responsáveis financeiros João Carlos Coelho Sardinha Orientador: Professor Doutor Jorge Manuel Alves de Faria Coorientador: Mestre José Manuel de Jesus Ferreira Santarém/2014

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  • Instituto Politcnico de Santarm

    Escola Superior de Gesto e Tecnologia

    O impacto da lei dos compromissos e pagamentos em atraso, consequncias

    para os agentes econmicos, para os gestores e responsveis financeiros

    Joo Carlos Coelho Sardinha

    Orientador: Professor Doutor Jorge Manuel Alves de Faria

    Coorientador: Mestre Jos Manuel de Jesus Ferreira

    Santarm/2014

  • O impacto da lei dos compromissos e pagamentos em atraso, consequncias para os agentes econmicos, para os gestores e responsveis financeiros

    Dissertao apresentada para cumprimento dos requisitos necessrios obteno do

    grau de Mestre em Gesto Pblica, realizada sob a orientao cientfica do Professor

    Doutor Jorge Manuel Alves de Faria, do Instituto Politcnico de Santarm

    Instituto Politcnico de Santarm

    Escola Superior de Gesto e Tecnologia

    2014

  • AGRADECIMENTOS

    A concretizao deste documento, s foi possvel, com o contributo de um conjunto de

    pessoas, a quem, eu tenho o dever de manifestar o meu pblico agradecimento.

    Ao meu orientador Professor Doutor Jorge Manuel Alves de Faria, pela

    disponibilidade, simplicidade e marcado rigor no assumir desta etapa da minha vida

    que consiste no realizar de um feito pessoal permitindo dar sociedade um contributo

    positivo.

    Igualmente ao meu coorientador mestre Jos Manuel de Jesus Ferreira, chefe de

    Diviso do Departamento de Gesto Financeira da Direo Nacional da Polcia de

    Segurana Pblica por me apoiar, naquilo que permite conscincia e sabedoria,

    estar sempre presente nos momentos de complexidade e coragem fortalecendo cada

    vez mais a confiana do crescer em sociedade.

    Exma. Sr. Dr. Ana Maria Tavares de Almeida e Bessa, diretora do Departamento

    de Gesto Financeira da Direo Nacional da Polcia de Segurana Pblica, a quem

    primeiro manifestei a inteno de desenvolver este projeto e que gentilmente me

    amparou em todos os momentos marcantes.

    Ao Exmo. Sr. Diretor Nacional Adjunto da Polcia de Segurana Pblica Jos Emanuel

    de Matos Torres, por fortificar a cincia do conhecimento em prol da investigao.

    Ao Exmo. Sr. Diretor do Departamento de Formao da Polcia de Segurana Pblica,

    Intendente Joo Manuel Alves Amado, por tambm partilhar a sua comunicao formal

    no progresso do ser humano.

    A todos aqueles que por pequenos gestos deram a sua participao, demonstrando

    que de todo positivo apoiar iniciativas desta natureza o meu obrigado.

    Por ltimo ao maior suporte de todo este caminho especial, por ser a realizao de um

    sonho, mas tambm pelo esforo ao longo deste caminho de empedrado, minha

    esposa pelas respostas prontas, que me outorgava, e eu, sempre com o pensamento

    ligado ao sonho, cada vez mais perto da realidade, minha filha Madalena pelos

    sorrisos e gestos de afetividade inesquecveis em que eu me carregava de energia,

    por todas as abdicaes.

    Obrigado a todos!

  • O impacto da lei dos compromissos e pagamentos em atraso, consequncias para os agentes econmicos, para os gestores e responsveis financeiros

    2014

    iii

    RESUMO

    A presente lei vem introduzir algumas normas de correo, na aplicao dos recursos

    financeiros do Estado, as quais estabelecem e delimitam as circunstncias e a forma

    de assuno de compromissos com terceiros. A mesma impe, para o efeito, que os

    compromissos s se possam concretizar depois de preenchidos todos os requisitos de

    execuo da despesa e desde que haja disponibilidade de fundos.

    Esse objetivo de tal modo preponderante para as finanas pblicas do pas, que a

    Lei dos Compromissos e Pagamentos em Atraso constitui, hoje, um instrumento

    basilar do sistema financeiro portugus. Pretende-se por isso apurar quais s

    alteraes que esta lei produziu no Departamento de Gesto Financeira da Polcia de

    Segurana Pblica a nvel nacional, definindo regras complementares aos demais

    normativos Lei de Enquadramento Oramental.

    Os dados obtidos para o estudo de caso foram no geral baseados em legislao de

    enquadramento contabilstico afeto s atividades, arquivo, documentos correntes

    relacionados com a gesto oramental, e utilizao de uma aplicao existente no

    Departamento de Gesto de Recursos Financeiros Partilhada.

    A metodologia utilizada tem como essncia qualitativa, os dados foram trabalhados

    para poderem ser interpretados de forma descritiva, evidenciando as vrias alteraes

    ocorridas em termos legislativos, apontando, para, os constrangimentos antes da

    entrada da lei, e depois da sua entrada.

    Por ltimo foram identificadas algumas lacunas existentes e determinados aspetos que

    podem ser melhorados, as limitaes que foram encontradas apesar da

    confidencialidade dos dados obtidos e tratados.

    Palavras-chave: Compromisso, fundos disponveis, dvida pblica, pagamentos em

    atraso, racionalizao, informao, responsabilidade.

  • O impacto da lei dos compromissos e pagamentos em atraso, consequncias para os agentes econmicos, para os gestores e responsveis financeiros

    2014

    v

    ABSTRACT

    This law introduces some standards of correctness, in applying the financial resources

    of the State, which establish and delimit the circumstances and manner of securing

    commitments with third parties.

    The same places, to the effect that commitments can only be completed after you finish

    all the requirements for implementing the expense and subject to the availability of

    funds.

    This goal is so predominant for Public Finance of the country so that the Law of

    commitments and payments Delay, today, constitutes a fundamental instrument of the

    Portuguese financial system. The intention is therefore to establish what changes that

    this law gave the Department of Financial Management of Public Security Police at

    national level, further defining the normative rules too - Budgetary Framework Law.

    The data obtained for the case study were generally based accounting framework

    legislation affect the activities, archive, current documents related to budget

    management, and use of an existing application in the Management Department of

    Shared Financial Resources.

    The methodology has the qualitative essence the data were worked out in order to be

    interpreted descriptively, showing the various changes in legislative terms, pointing to

    the constraints before the entry of the law, and after their entry.

    Finally some gaps and certain aspects that could be improved were identified, the

    limitations that were found despite the confidentiality of the data collected and

    processed.

    Keywords: Commitment, funds available, debt, arrears, rationalization, information,

    responsibility

  • O impacto da lei dos compromissos e pagamentos em atraso, consequncias para os agentes econmicos, para os gestores e responsveis financeiros

    2014

    vii

    NDICE

    AGRADECIMENTOS..........................................................................................................................i

    RESUMO ........................................................................................................................................ iii

    ABSTRACT ....................................................................................................................................... v

    NDICE ........................................................................................................................................... vii

    NDICE DE TABELAS ....................................................................................................................... xi

    INDICE DE FIGURAS ..................................................................................................................... xiii

    INDICE DE GRFICOS .................................................................................................................... xv

    ANEXOS ...................................................................................................................................... xvii

    LISTA DE ABREVIATURAS ............................................................................................................. xix

    1 INTRODUO ............................................................................................................................. 1

    1.1 Evoluo da Dvida Pblica Portuguesa ........................................................................ 1

    1.2 Objetivos e Problemtica da Investigao .................................................................... 4

    1.3 Metodologia .................................................................................................................. 6

    1.4 Estrutura da Dissertao ............................................................................................... 7

    2 REVISO DE LITERATURA ......................................................................................................... 11

    2.1 Evoluo da Contabilidade .......................................................................................... 11

    2.2 Origem da LCPA........................................................................................................... 22

    2.2.1 Amplitude da LCPA em Portugal .............................................................................. 23

    2.2.2 Entidades e Sistemas Contabilsticos ....................................................................... 25

    2.2.3 Movimento de Contas Para Realizao de Despesa ................................................ 28

    2.3 Objetivos da LCPA ....................................................................................................... 30

    2.3.1 Princpios Bsicos Para a Realizao de Despesas ................................................... 32

    2.3.2 Fases da Despesa com LCPA .................................................................................... 34

    2.3.3 Fundos Disponveis .................................................................................................. 37

    2.3.4 Prestao de Informao ......................................................................................... 40

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    2014

    viii

    2.3.5 Imperatividade da LCPA e o Impacto dos Pagamentos em Atraso .......................... 42

    2.3.6 Consequncias da Violao da LCPA ........................................................................ 43

    2.3.7 Vantagens e Desvantagens da LCPA ........................................................................ 49

    3 MTODO DE INVESTIGAO .................................................................................................... 51

    3.1 Determinao do Mtodo de Pesquisa ...................................................................... 51

    3.1.1 Recolha dos Dados ................................................................................................... 51

    3.1.2 Dados Secundrios ................................................................................................... 51

    3.1.3 Dados Primrios ....................................................................................................... 52

    3.1.4 Validade da Construo ........................................................................................... 52

    3.1.5 Confiabilidade .......................................................................................................... 52

    4 ESTUDO DE CASO ..................................................................................................................... 53

    4.1 Especificidade Orgnica da PSP .................................................................................. 53

    4.1.1 Principais Atribuies ............................................................................................... 55

    4.2 A PSP e o Advento dos Atuais Princpios Reguladores ................................................ 59

    4.2.1 Interveno Externa ................................................................................................. 61

    4.2.2 Ciclo de Despesa Anteriormente Adotado na Policia de Segurana Pblica ........... 64

    4.3 Evoluo do Oramento da Despesa .......................................................................... 65

    4.3.1 Analise Terico Prtica ............................................................................................. 73

    4.3.2 Padres Adotados em Reflexo das Limitaes ........................................................ 74

    4.3.3 Novo Ciclo da Despesa Adotado na PSP .................................................................. 75

    4.3.4 Projeo dos Agentes Econmicos .......................................................................... 81

    4.4 Apresentao dos Resultados ..................................................................................... 84

    1. Questo Operacional ................................................................................................... 85

    2. Questo Operacional ................................................................................................... 89

    3. Questo Operacional ................................................................................................... 90

    4. Questo Operacional ................................................................................................... 95

  • O impacto da lei dos compromissos e pagamentos em atraso, consequncias para os agentes econmicos, para os gestores e responsveis financeiros

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    ix

    4.5 Discusso dos Resultados ........................................................................................... 98

    5 CONCLUSES ............................................................................................................................ 99

    5.1 Recomendaes e Limitaes ................................................................................... 101

    BIBLIOGRAFIA ............................................................................................................................ 103

    LEIS ............................................................................................................................................ 109

    DECRETOS .................................................................................................................................. 111

    PORTARIAS ................................................................................................................................ 113

    DIRETIVAS .................................................................................................................................. 115

    ANEXOS ..................................................................................................................................... 117

  • O impacto da lei dos compromissos e pagamentos em atraso, consequncias para os agentes econmicos, para os gestores e responsveis financeiros

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    xi

    NDICE DE TABELAS

    Tabela 1 - Normativos mais Relevantes...................................................................... 12

    Tabela 2 - Variao Anual do Oramento da Despesa Realizada 2010/2012 ............. 66

    Tabela 3 Variao da Despesa Efetiva, Trinio 2010/2012 ...................................... 67

    Tabela 4 - Variao da Despesa Efetiva no Binio 2011/2012 .................................... 69

    Tabela 5 - Contas do POCP ....................................................................................... 81

    Tabela 6 - Mapa Comparativo da Dvida 2011-2013 ................................................... 88

    Tabela 7 - Fundos Disponveis PSP ........................................................................ 93

    Tabela 8 - Nmero Mdio Dirio de Cabimentos e Compromissos ............................. 94

    Tabela 9 - Nmero Mdio Mensal de Cabimentos e Compromissos ........................... 95

  • O impacto da lei dos compromissos e pagamentos em atraso, consequncias para os agentes econmicos, para os gestores e responsveis financeiros

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    xiii

    INDICE DE FIGURAS

    Figura 1 - Situaes Relevantes para Diferentes Estratgias de Pesquisa ................... 7

    Figura 2 - Fases da Despesa RAFE ........................................................................... 16

    Figura 3 - Tipos de Contabilidade ............................................................................... 19

    Figura 4 - Estrutura do Setor Pblico Portugus ......................................................... 24

    Figura 5 - Entidades e Sistemas Contabilsticos em Portugal ..................................... 26

    Figura 6 - Movimentos Contabilsticos de Execuo da Despesa com PLC ................ 29

    Figura 7 - Movimento Contabilsticos de Compromissos Plurianuais .......................... 29

    Figura 8 - Fases da Despesa LCPA ............................................................................ 36

    Figura 9 - Consequncias da Violao da LCPA ........................................................ 44

    Figura 10 - Mapa dos Pagamentos em Atraso Outubro de 2013 ................................ 57

    Figura 11 - Mapa dos Fundos Disponveis Outubro de 2013 ...................................... 58

    Figura 12 - Organograma do Unidade Orgnica Logstica e Finanas ........................ 60

    Figura 13 - Circuito do Processo de Despesa (anterior a 2012) .................................. 64

    Figura 14 - Mapa Disponibilidades de Execuo de Despesas (2013) ........................ 71

    Figura 15 - Circuito do Processo de Despesa (a partir de 2012) ................................. 76

    Figura 16 - Circuito do Processo de Despesa (a partir de 2012) ................................. 78

  • O impacto da lei dos compromissos e pagamentos em atraso, consequncias para os agentes econmicos, para os gestores e responsveis financeiros

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    INDICE DE GRFICOS

    Grfico 1 - Dvida Pblica (% PIB) ................................................................................ 2

    Grfico 2 Evoluo do Oramento da Despesa no Trinio 2010-2012 ..................... 66

    Grfico 3- Mapa Resumo da Execuo da Despesa (2012) ........................................ 72

  • O impacto da lei dos compromissos e pagamentos em atraso, consequncias para os agentes econmicos, para os gestores e responsveis financeiros

    2014

    xvii

    ANEXOS

    Anexo 1 - Organograma PSP/DN ............................................................................. 119

    Anexo 2 - Tabela de Medidas. .................................................................................. 120

    Anexo 3 - Fontes de Financiamento. ........................................................................ 122

    Anexo 4 - reas de Atividade. ................................................................................... 123

    Anexo 5 - Modelo de declarao de compromissos plurianuais existentes em

    31/12/2011 (Lei n. 8/2012, de 21 de Fevereiro). ...................................................... 127

    Anexo 6 - Modelo de declarao de pagamentos em atraso existentes em 31/12/2011

    (Lei n. 8/2012, de 21 de Fevereiro, art. 15., n.1, b)). ............................................ 127

    Anexo 7 - Plano de liquidao dos pagamentos em atraso. ...................................... 128

    Anexo 8 - Modelo de Recolha de Dados Previsionais - Despesa - Coberta por Receitas

    Gerais-Novembro 2013. ............................................................................................ 128

    Anexo 9 - Modelo de Recolha de Dados Previsionais - Despesa - Coberta por Outras

    Receitas (Exclui Receitas Gerais e Fundos Comunitrios) - Novembro 2013. .......... 129

    Anexo 10 - Modelo de Recolha de Dados Previsionais - Despesa - Coberta Fundos

    Comunitrios - Novembro 2013. ............................................................................... 129

    Anexo 11 - Modelo de Recolha de Dados Previsionais - Receita - Toda a Receita

    exceto Receitas Gerais e Fundos Europeus - Novembro 2013. ................................ 130

    Anexo 12 - Modelo de Recolha de Dados Previsionais - Receita - Fundos Europeus -

    Novembro 2013. ....................................................................................................... 130

  • O impacto da lei dos compromissos e pagamentos em atraso, consequncias para os agentes econmicos, para os gestores e responsveis financeiros

    2014

    xix

    LISTA DE ABREVIATURAS

    A

    ACSS Administrao Central do Sistema de Sade

    ANMP Associao Nacional dos Municpios Portugueses

    AP Administrao Pblica

    C

    CE Classificao Econmica

    CNC Comisso de Normalizao Contabilstica

    CFP Conselho das Finanas Pblicas

    D

    DEO Documento de Estratgia Oramental

    DGAL Direo Geral da Autarquias Locais

    DGF Departamento de Gesto Financeira

    DGO Direo Geral do Oramento

    DL Departamento de Logstica

    DLEO Decreto-Lei de Execuo Oramental

    DNA-UOLF Diretor Nacional Adjunto da Unidade Orgnica Logstica e Finanas

    DNPSP Direo Nacional da Policia de Segurana Pblica

    DR Dirio da Repblica

    DGAEP Direo-Geral da Administrao e do Emprego Pblico

    E

    EPP Escola Prtica da Polcia

    ESGT Escola Superior de Gesto e Tecnologia

    ESPAP Entidade de Servios Partilhados da Administrao Pblica

    EU Unio Europeia

    F

    FEDER Fundo Europeu de Desenvolvimento Regional

    FMI Fundo Monetrio Internacional

    FSE Fundo Social Europeu

    G

    GERFIP Gesto de Recursos Financeiros Partilhada

    GPEARI-MFAP Gabinete de Planeamento, Estratgia, Avaliao e Relaes

    Internacionais Ministrio das Finanas e da Administrao Pblica

    I

    IGCP Agncia de Gesto da Tesouraria e da Dvida Pblica

    IGF Inspeo Geral de Finanas

    IGFSS.IP Instituto de Gesto Financeira da Segurana Social, I. P

    INE Instituto Nacional de Estatstica

    IPS Instituto Politcnico de Santarm

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    2014

    xx

    IRS Imposto sobre o Rendimento das Pessoas Singulares

    IRC Imposto sobre o Rendimento das Pessoas Coletivas

    ISCPSI Instituto Superior de Cincias Policiais e Segurana Interna

    IVA Imposto Sobre o Valor Acrescentado

    L

    LCPA Lei dos Compromissos e Pagamentos em Atraso

    LEO Lei de Enquadramento Oramental

    LOE Lei do Oramento do Estado

    LOPTC Lei de Organizao e Processo do Tribunal de Contas

    M

    MEFP Memorando de Polticas Econmicas e Financeiras (Memorandum of

    Economic and Financial Policies

    O

    OCDE Organizao para a Cooperao e Desenvolvimento Econmico

    OE Oramento de Estado

    P

    PAEF Plano de Apoio Econmica e Financeira

    PAEL Plano de Apoio Economia Local

    PEC Plano de Estabilidade e Crescimento

    PIB Produto Interno Bruto

    POCISSSS Plano Oficial de Contabilidade das Instituies do Sistema de

    Solidariedade e de Segurana Social

    POC Plano Oficial de Contabilidade

    POCAL Plano Oficial de Contabilidade Autarquias Locais

    POCMS Plano Oficial de Contabilidade do Ministrio da Sade

    POCP Plano Oficial de Contabilidade Pblica

    POPH Programa Operacional Potencial Humano

    PPPV Pedido de Parecer Prvio Vinculativo

    PSP Polcia de Segurana Pblica

    Q

    QREN Quadro de Referncia Estratgia Nacional

    R

    RAFE Regime da Administrao Financeira do Estado

    RIGORE Rede Integrada de gesto Oramental e dos Recursos do Estado

    Sistema de Informao de Gesto

    S

    SAD Servio de Assistncia na Doena

    SEC 95 Sistema Europeu de Contas Nacionais e Regionais na Comunidade

    SFA Servios e Fundos Autnomos

  • O impacto da lei dos compromissos e pagamentos em atraso, consequncias para os agentes econmicos, para os gestores e responsveis financeiros

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    xxi

    SGMAI Secretria-geral do Ministrio da Administrao Interna

    SI Sistema de Informao

    SIC Sistema Integrado de Receita

    SNC Sistema de Normalizao Contabilstica

    SNS Servio Nacional de Sade

    SIC Sistema de Informao Contabilstica

    SIGO Sistema de Informao de Gesto Oramental

    SIREC Sistema de Informtico de Receita

    SGR Sistema de Gesto da Receita

    SOP Segurana e Ordem Pblica

    SPA Sector Pblico Administrativo

    T

    TIC Tecnologia de Informao e Comunicao

    U

    UEM Unio Econmica e Monetria

    UMIC Unidade de Misso e Inovao e Conhecimento

    UOLF Unidade Orgnica de Logstica e Finanas

  • O impacto da lei dos compromissos e pagamentos em atraso, consequncias para os agentes econmicos, para os gestores e responsveis financeiros

    2014

    1

    1 INTRODUO

    1.1 Evoluo da Dvida Pblica Portuguesa

    Como forma de evidenciarmos a necessidade de uma Lei fortemente disciplinadora da

    despesa pblica, Lei n. 8/2012, de 21 de Fevereiro, Lei dos Compromissos e

    Pagamentos em atraso (LCPA), operacionalizada pelo Decreto-Lei n. 127/2012, de 21

    de Junho, importa, observar a evoluo da dvida pblica portuguesa no perodo de

    1973 at aos dias de hoje e a sua importncia em termos de poltica oramental.

    Nesta perspetiva, verificamos que existe uma preocupao dominante em inverter a

    tendncia do aumento da dvida, consubstanciada no Documento de Estratgia

    Oramental 2013-2017, pg.2, que estabelece a necessidade de adotar medidas

    favorveis ao cumprimento de um objetivo de dfice oramental estrutural que apoie o

    crescimento estvel e melhore a distribuio de rendimento entre geraes.

    Para que, Portugal se situe nos ndices de endividamento da dcada de 70, cujo grau

    de dvida e despesas pblicas se encontrava de um modo geral baixo e controlvel.

    Nesta conjuntura em que, a despesa no se identificava como uma patologia, o que

    no fazia prever que a situao atual viesse a ocorrer. Alis, o descontrolo que gerou

    o dfice estrutural, no indito, ocorreu vrias vezes, a ltima das quais, entre 1983

    e 1985, quando tivemos que recorrer ao Fundo Monetrio Internacional (FMI), cuja

    interveno implicou um Plano de Ajuste para Portugal.

    Terminado aquele ciclo negativo econmico-financeiro, Portugal em 1 de Janeiro de

    1986 adere Comunidade Econmica Europeia, e seguem-se dez anos de

    prosperidade econmica, resultantes do investimento pblico alavancado pela

    transferncia de fundos estruturais, contudo apresenta uma dvida que se situa nos

    58,2 % do PIB. Isto , apesar do financiamento comunitrio, o pas viu crescer a sua

    dvida.

    Em 1995 e 1996, mantm-se a tendncia de crescimento da dvida pblica que no

    ltimo ano atinge 59,2 %, mas entre 1997 e 2001, consequncia do crescimento

    econmico resultante da adeso ao euro em 1 de Janeiro de 1999, inverte-se a

    tendncia e reduz-se a dvida pblica, que, em 2000, chega a situar-se nos 50,7 % do

    PIB atingindo em 2001 o ndice de 53,8% do PIB (uma reduo que se situa em 5,5

    pontos percentuais, face 1996), essa tendncia positiva do comportamento da

    economia e das finanas pblicas portuguesas, contribuiu decididamente para o

  • O impacto da lei dos compromissos e pagamentos em atraso, consequncias para os agentes econmicos, para os gestores e responsveis financeiros

    2014

    2

    aumento desmesurado do consumo interno e do investimento em infraestruturas,

    resultantes do acesso ao crdito mais fcil e s Parcerias Pblico Privadas, o que

    inverteu um rcio de dvida pblica que parecia coerente, espelhado na escalada do

    aumento da dvida, cujo ciclo reinicia em 2002 e em 2006 j se situa nos 69,4 % do

    PIB.

    Ora, sendo Portugal um dos Estados membros que integra a Unio Econmica e

    Monetria (UEM), est obrigado a cumprir o critrio de sustentabilidade das finanas

    pblicas, o que exige a conteno do dfice oramental e a reduo da dvida pblica

    ao abrigo das normas europeias, por isso, o pas tm de adotar procedimentos que

    no colidam com os princpios de estabilidade e crescimento, conforme referido no

    relatrio do Conselho de Finanas Pblicas (2013:3).

    No entanto, no fcil salvaguardar as necessidades que emergem das prestaes

    sociais e das funes de bem-estar (sade e educao, tendencialmente gratuitas), ou

    de outros bens e servios pblicos disponibilizados pelo Estado aos cidados, cujos

    preos no so equivalentes aos benefcios marginais auferidos, pois, esta situao

    agravou-se com o desemprego e com o envelhecimento da populao, que pela sua

    dimenso gerou o aumento exponencial das despesas pblicas, com subsdios de

    desemprego, subsdios sociais e penses de reforma, entre outros fatores que

    dificultam o equilbrio das despesas pblicas.

    Neste contexto de evoluo da dvida pblica portuguesa, a crise global

    desencadeada a partir dos EUA, em 2008, vem agudizar todas as perspetivas de

    inverso tendencial. Veja-se a evoluo da dvida pblica (Grfico 1).

    Grfico 1 - Dvida Pblica (% PIB)

    Fontes: Conselho das Finanas Pblicas (2013:3).

  • O impacto da lei dos compromissos e pagamentos em atraso, consequncias para os agentes econmicos, para os gestores e responsveis financeiros

    2014

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    Como se pode observar h uma tendncia de crescimento galopante, resultado da

    acumulao de sucessivos dfices oramentais, que culminou com as dificuldades do

    Estado se financiar no mercado, face ao aumento das taxas de juro exigidas pelos

    investidores institucionais.

    Para piorar a situao, num cenrio de fortes constrangimentos financeiros, o Estado

    Portugus disps-se a ajudar as instituies bancrias nacionais, na sua

    recapitalizao.

    Como soluo para se financiar, Portugal recorre Troika que imps para o

    ajustamento (resgate) das finanas pblicas portuguesas um severo programa de

    austeridade que se refletiu, fundamentalmente, sobre os rendimentos do trabalho e

    aumento dos impostos, traduzindo-se numa forte recesso da economia em resultado

    da menor procura interna e carncia de financiamento para o sector produtivo, tais

    fatores de austeridade fizeram decrescer o consumo, aumentar as insolvncias e o

    desemprego para ndices nunca vistos.

    Da a adoo de medidas que visam uma consolidao oramental e o equilbrio das

    finanas pblicas, pois s deste modo se conseguir uma sustentabilidade financeira

    mais duradoura.

    Certamente que polticas estruturais corretivas, com uma forte incidncia na reduo

    das despesas pblicas, dar-nos-o maiores garantias para atingirmos melhores

    resultados. tambm esta a perspetiva defendida pelo Conselho de Finanas

    Pblicas (2013:5) que no seu relatrio, relativamente a Portugal, refere que, para alm

    de reformas coerentes.

    () igualmente necessrio melhorar os processos de gesto da

    despesa. Revises peridicas de despesa, em paralelo com a introduo

    de flexibilidade na gesto das despesas em final de ano, so aspetos a

    considerar com vista a proporcionar aos gestores dos servios pblicos a

    estabilidade necessria para planearem as suas operaes numa escala

    temporal exequvel, permitindo igualmente uma melhor definio de

    prioridades dos gastos () .

    Em sntese, a anlise evolutiva da dvida pblica permite-nos extrair os seguintes

    dados: em 39 anos (de 1973 a 2012) passou-se de 13,3% para 123,6%, do PIB; ou

    seja, cresceu cerca de 110 pontos percentuais (p.p.), representando um aumento

    mdio anual de aproximadamente 2,8 pontos percentuais (p.p.).

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    2014

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    1.2 Objetivos e Problemtica da Investigao

    Os objetivos propostos para a presente investigao, visam evidenciar a introduo de

    uma Lei com forte cariz restritivo e disciplinador, que com o seu carcter inovador e

    natureza impositiva introduz no universo jurdico nacional da Administrao de

    Recursos do Estado, um controlo efetivo das disponibilidades de tesouraria e da dvida

    pblica, complementando essencialmente a Lei do Enquadramento Oramental (LEO),

    e os diplomas publicados anualmente Lei do Oramento e o Decreto-lei que

    estabelece as normas de execuo oramental mantendo inalterveis determinadas

    regras que se sobrepem s restantes.

    Essas sero as premissas que orientaro o nosso estudo, sem esquecer que este

    normativo um complemento essencial de outros que regulam e compem a estrutura

    jurdica financeira nacional e que a grande maioria advm de normas comunitrias, por

    isso analisaremos a sua nuclearidade para a regulao da execuo oramental da

    despesa e problemtica da dvida pblica.

    Pensamos, deste modo, vir a confirmar que a Lei dos Compromissos e Pagamentos

    em Atraso (LCPA) tem um carcter fortemente direcionado para colocar um travo na

    de dvida pblica portuguesa, principalmente, atravs da limitao da assuno

    compromissos em funo dos fundos disponveis que permitem a realizao de

    despesa.

    A tnica, nesta condicionante da despesa, est subjacente na necessidade de manter

    o equilbrio oramental. Da, ter antecipado uma etapa na execuo da despesa,

    tornando-a efetiva com assuno do compromisso e limitando-a s disponibilidades

    (dotao lquida).

    Com este novo cnone, o legislador aproveitou o compromisso para reforar o

    controlo numa fase anterior ao pagamento, ao transmitir s vrias entidades que sem

    a assuno de uma obrigao no h despesa, ora isto promove racionalidade propala

    aos decisores, gestores e responsveis financeiros que, as despesas s se devem

    realizar quando traduzem benefcios e existem recursos financeiros disponveis. Desta

    forma, a LCPA espelha uma forte coerncia quando associa a capacidade de

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    2014

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    financiamento da despesa, o que j ter despoletado algumas alteraes no seio das

    entidades envolvidas na aplicao desta lei Rocha et al. (2012:6).

    Desta conformao os objetivos propostos assentam na perspetiva de que a

    investigao procurar indicar solues para ultrapassar os constrangimentos, atravs

    da adoo de melhores prticas, e evidenciar o papel positivista da lei dentro da

    Organizao Policia de Segurana Pblica o que permitiu conduzir-nos s seguintes

    questes operacionais:

    1.Em que termos a Lei dos Compromissos e Pagamentos em Atraso (LCPA),

    torna a aplicao dos recursos pblicos mais eficientes?

    2.A natureza imperativa da LCPA e a responsabilizao pela assuno de

    compromissos associada ao condicionalismo dos Fundos Disponveis tornam o

    risco de incumprimento e a existncia de pagamentos em atraso mais

    acentuado?

    3.Como ajustar os condicionalismos previstos na Lei dos Compromissos e

    Pagamentos em Atraso com a necessidade de apresentao de declarao de

    compromisso oramental correspondente a totalidade da despesa exigido pelo

    Tribunal de Contas, aquando da submisso de fiscalizao prvia do contrato?

    4.Tomando como exemplo a PSP, um organismo com grande complexidade

    estrutural cujo oramento se divide em trs orgnicas (PSP Funcionamento,

    Instituto Superior de Cincias Policiais e Segurana Interna (ISCPSI) e Escola

    Prtica de Polcia (EPP) e 24 centros de custo. Como contornar as dificuldades

    de aferio dos gastos e compromissos para efeitos de consolidao de

    informao e para a determinao do valor dos fundos disponveis at ao 5. dia

    til de cada ms?

    Em suma, os objetivos e as questes colocadas relacionam-se, e tm como foco

    primordial o controlo da dvida pblica.

    Para aferio concreta desta problemtica, adotamos como metodologia o Estudo

    Caso, baseado numa Organizao desconcentrada da Administrao Pblica

    Portuguesa, um servio integrado, com autonomia administrativa, de grande dimenso

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    2014

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    e complexidade estrutural, com vista a alcanarmos os resultados pretendidos, a

    investigao debruar-se- sobre:

    a) Situaes prticas com que a PSP se depara no dia-a-dia, fazendo a conexo

    entre os fatores organizacionais que lhe esto associados, relativos sua

    especificidade estrutural (dimenso, complexidade e disseminao territorial) e

    sua atividade principal de segurana e ordem pblica, tendo presente a atual

    conjuntura financeira do pas, o quadro de escassez de recursos tcnicos e

    humanos com competncias na rea logstica, financeira e contabilstica, a par

    das exigncias impostas pelos diversos diplomas legais, interligando todos estes

    fatores com a execuo centralizada do oramento no Departamento de Gesto

    Financeira (DGF) da PSP, atravs do sistema de Gesto de Recursos

    Financeiros Partilhada (GERFIP) - plataforma gerida pela Entidade de Servios

    Partilhados da Administrao Pblica (ESPAP).

    b) Analisar e fazer um balano da aplicabilidade da LCPA em termos de melhoria,

    ou no, da sustentabilidade financeira e do controlo da dvida pblica.

    1.3 Metodologia

    A metodologia utilizada baseada no estudo de caso e para o efeito adotou-se uma

    perspetiva holstica da Organizao em anlise (Yin, 2003).

    Tratando-se de uma disposio metodologia de natureza qualitativa, ao longo da

    investigao, daremos resposta s questes investigatrias.

    Assim, atravs da metodologia qualitativa privilegiamos a descrio dos

    acontecimentos em funo dos processos utilizados e numa primeira fase, baseamos

    a nossa investigao na reviso bibliografia, terico-conceptual sobre a temtica.

    A segunda consiste em avaliar e medir dos resultados numricos obtidos na sequncia

    da entrada em vigor da LCPA, pois uma pesquisa com esse cariz permite igualmente a

    observao direta de resultados que derivam da aplicao prtica de novos mtodos

    de trabalho, os quais permitem avaliar a adaptao do modelo implementado e

    verificar se a recolha de dados e informaes documentais, esto em consonncia

    com os objetivos previamente definidos no estudo.

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    2014

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    Segundo, Yin (2003:19) um estudo de caso algo que permite ao investigador ou

    pesquisador fazer pesquisa de muitas maneiras, (Figura 1).

    Figura 1 - Situaes Relevantes para Diferentes Estratgias de Pesquisa

    Estratgia Forma da questo

    de pesquisa

    Exige controlo sobre eventos

    comportamentais?

    Focaliza acontecimentos

    contemporneos?

    Experimento Como, Por que Sim Sim

    Levantamento Quem, o que, onde,

    quantos, quanto No Sim

    Anlise de arquivos Quem, o que, onde,

    quantos, quanto No Sim/no

    Pesquisa histrica Como, Por que No No

    Estudo de caso Como, Por que No Sim

    Fonte: Adaptado Yin (2003:24).

    Contudo o mesmo autor advoga que a questo do como e por que, so as duas

    mais evidenciveis, quando se conjuga a pesquisa explanatria com a pesquisa

    descritiva e exploratria, esse mtodo deve ser adotado de acordo com Yin (2003:24-

    25), quando o pesquisador tem pouco controle sobre os eventos e quando o foco se

    encontra em fenmenos contemporneos inseridos em algum contexto da vida real.

    1.4 Estrutura da Dissertao

    Ao longo de vrios captulos que compem esta dissertao, procuraremos que a sua

    estrutura assente no vetor que deu origem ao seu ttulo, ou seja, vise essencialmente

    plasmar de forma sistemtica as variveis e fatores que espelham: o impacto da lei

    dos compromissos e pagamentos em atraso, consequncias para os agentes

    econmicos, para os gestores e responsveis financeiros, dentro do sector pblico

    administrativo.

    Considerando, que esta lei, em termos gerais, engloba todas as entidades pblicas,

    conquanto possa ser abordado a sua generalidade, in loco, a nossa investigao

    direciona-se para o setor pblico administrativo central.

    Deste modo, o primeiro captulo leva-nos a perceber de forma categrica a

    necessidade de regular o aumento incontrolvel da dvida pblica, pois, caso no o

    consigamos estaremos a comprometer as geraes futuras. Percebida a

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    2014

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    essencialidade da reduo das despesas pblicas e o controlo a dvida, os restantes

    captulos procuraro projetar as melhores solues e induzir todos os intervenientes

    para a aplicao dos recursos pblicos de forma racional, benfica e sem

    desperdcios, consolidando atravs de explicaes e fundamentos concretos as vrias

    questes e vetores que nos propusemos a investigar.

    No segundo captulo faremos a reviso de literatura, abordando as entidades pblicas

    envolvidas na aplicao da citada lei, fazendo referncia e realando, como foi

    importante a adoo dos Planos Oficiais de Contabilidade Pblica (POCP), nas suas

    diversas cambiantes - planos setoriais aplicados especificamente a determinadas

    entidades - para o controlo efetivo de cada uma das atividades do Estado.

    Ora, este avano contabilstico instrumentalmente relevante, pois serviu como

    mecanismo de controlo fundamental para que as autoridades oramentais (Ministrio

    das Finanas, Direo Geral do Oramento e as entidades coordenadoras dos

    programas oramentais) pudessem aferir e validar toda a informao facultada pelos

    vrios servios da administrao pblica, o que tornaria infrutfera ou incua a

    aplicabilidade da LCPA sem registos contabilsticos rigorosos e fiveis.

    Nesta perspetiva, no podamos deixar de referir os sistemas contabilsticos

    existentes, nas diversas entidades que constituem a administrao, pois atravs dos

    seus registos e out puts que se conseguem os resultados da execuo financeira e

    se extrai informao sobre os compromissos assumidos, disponibilidades e

    pagamentos, evidenciando, quaisquer infraes que possam existir em termos

    financeiros, quer dos compromissos quer dos pagamentos em atraso.

    Portanto, com base no paradigma do registo contabilstico existente na Polcia de

    Segurana Pblica que conseguiremos obter os dados e informao essencial para o

    desenvolvimento do nosso Estudo Caso, estamos a falar de um sistema integrado

    (SI) de contabilidade pblica, suportado pela Plataforma Partilhada do GERFIP.

    O terceiro captulo assenta na metodologia adotada para o estudo de caso, que foi

    proposto, pelo que com o desenrolar da investigao vo sendo apresentados os

    dados que acedemos e analismos para a construo de certezas que permitiram

    responder as questes de investigao pr-definidas.

    O quarto captulo no podia deixar de ser, uma exposio da entidade sobre a qual o

    estudo de caso se debrua, com vista a verificar analiticamente os custos inerentes ao

    desenvolvimento das diversas atividades que integram a organizao, analisaremos

    as vrias fontes de financiamento que suportam o oramento da Polcia de Segurana

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    Pblica, as rubricas econmicas mais relevantes, a dotao disponvel e os fundos

    que lhe deram origem.

    A enunciao e demonstrao dos mtodos adotados e posteriormente assumidos,

    para se ajustar aos preceitos e regras introduzidas pela LCPA. Isto , a apresentao

    dos dados recolhidos, designados por secundrios, que espelham a componente

    aplicativa o nmero de cabimentos, compromissos e pagamentos, numa tica

    financeira, econmica e contabilstica, bem como responder s questes operacionais

    propostas.

    No ltimo captulo concluses e recomendaes, procuraremos apresentar os

    resultados obtidos, enunciar solues (algumas formas que possibilitem outras

    entidades a aferir a sua situao financeira) e as premissas, que nosso entendimento,

    mais contriburam para a eficincia na aplicao dos recursos pblicos, ou seja,

    aquelas que mais contriburam para se alcanar as metas oramentais de reduo do

    dfice e controlo da dvida.

    Deste modo, neste captulo, procuramos gerar informao concludente e consolidar ou

    promover novas abordagens sobre a temtica, criando e potenciando novas questes

    para futuras investigaes, conferindo a este trabalho a tnica de partilha de

    conhecimento.

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    2 REVISO DE LITERATURA

    2.1 Evoluo da Contabilidade

    Quando se fala da administrao pblica portuguesa, importa fazer um

    enquadramento histrico, porquanto, num contexto mais lato, estamos a abarcar todos

    os entes pblicos, aqueles que de algum modo so financiados por receitas gerais do

    Estado, ou seja, os que direta ou indiretamente absorvem dinheiros pblicos quer por

    dotaes atribudas nos oramentos, quer por transferncias de verbas para os

    oramentos, ou ainda atravs de subsdios ou subvenes compensatrias.

    Nesta perspetiva Carvalho et al. (1999:25) aponta duas caractersticas bsicas que,

    para efeitos contabilsticos, diferenciam a Administrao Pblica das empresas, so a

    sua orientao no lucrativa e a origem dos seus recursos. Isto , um conjunto de

    medidas e registos que aplicadas na rea da contabilidade1, garantem uma execuo

    para um quadro do equilbrio oramental.

    Em grande parte, a evoluo normativa da aplicao dos recursos pblicos visa a

    interligao, complementaridade e cooperao entre sectores pblico, privado e social,

    assente numa gesto pblica pautada pela eficcia, eficincia e qualidade do servio

    pblico.

    Nesta tica, tem-se vindo a desenvolver um esforo permanente de reforo das

    relaes entre a Administrao e a sociedade Carvalho et al. (1999).

    com vista a atingir este desiderato, que, em matria de administrao dos recursos

    financeiros do Estado e prestao de contas, foi concebido um modelo normativo que

    inicia na dcada de 90 com a promulgao da lei de bases de contabilidade pblica e

    tm o seu maior impulso com a promulgao do Regime da Administrao Financeira

    do Estado (RAFE) e prossegue com a obrigatoriedade de adoo do Plano Oficial de

    Contabilidade Pblica Administrao Pblica (POCP).

    Deste modo, paulatinamente, Portugal, tem-se aproximado aos modelos vigentes na

    Unio Europeia, vinculando-se ordem jurdica comunitria que estabelece medidas

    contra os pagamentos em atraso e define que todos os pases da Unio Europeia

    1 LBCP, Lei n. 8/90, de 20 de Fevereiro - Lei de Bases da contabilidade pblica, Dirio da

    Repblica, n. 43/90, I Srie, de 20 de Fevereiro de 1990.

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    devem evitar dfices pblicos superiores a 3% do PIB, bem como valores da dvida

    pblica superiores a 60% do PIB (valores do PIB a preos de mercado)2.

    Neste contexto, a contabilidade passou a ser entendida como uma tcnica eficiente de

    gesto e um elemento primordial da gesto moderna, baseando-se em vrios

    pressupostos, tais como, a previso, o dinamismo, a inovao e a competitividade, por

    isso, semelhana de qualquer Estado Democrtico, Portugal, teve de promover

    mtodos de controlo rigorosos e fiveis, para superar mtodos tradicionais,

    anacrnicos e burocrticos, que descoravam a aferio da situao financeira e

    econmica e que conflituavam com as imposies de transparncia exigveis em

    sociedades democrticas, nas quais o Estado continuamente escrutinado nas suas

    aes face s aspiraes cada vez mais exigentes do cidado, cliente do servio

    pblico.

    Os vrios governos reconhecem que s adotando novas metodologias poderiam

    efetivar direitos e viabilizar iniciativas, que contribussem, decisivamente, para o

    crescimento e desenvolvimento socioeconmico do Pas, dessa preocupao advm a

    evoluo normativa da aplicao dos recursos pblicos (Tabela 1):

    Tabela 1 - Normativos mais Relevantes

    Data Normativos mais Relevantes

    1990 Lei n. 8/90 de 20 de Fevereiro - Lei de bases da contabilidade pblica (LBCP)

    1991 Lei n. 6/91, de 20 de Fevereiro, Enquadramento do Oramento do Estado

    (LEO)

    1992 Decreto-Lei n. 155/92, de 28 de Julho - O Regime de Administrao

    Financeira do Estado (RAFE)

    1997 Decreto-Lei n. 232/97, de 3 de Setembro - Plano Oficial de Contabilidade

    Pblica (POCP)

    1999 Decreto Lei n 54 A/99, de 22 de Fevereiro, aprova o Plano Oficial de

    Contabilidade das Autarquias Locais (POCAL)

    2000

    Portaria n 794/2000, de 20 de Setembro, aprova o Plano Oficial de

    Contabilidade para o Sector da Educao (POC-Educao)

    Portaria n 898/2000, de 28 de Setembro, aprova o Plano Oficial de

    Contabilidade do Ministrio da Sade - (POCMS)

    2 Ver, respetivamente, a Diretiva n. 2000/35/CE, do Parlamento Europeu e do Conselho, de 29

    de Julho de 2000 e a Diretiva n. 2011/7/UE, do Parlamento Europeu e do Conselho, de 16 de Fevereiro de 2011, e o Pacto de Estabilidade e Crescimento (PEC) previsto nos artigos 99 e 104 do Tratado de Roma (alterado pelo Tratado da Unio Europeia).

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    Data Normativos mais Relevantes

    2001 Lei n. 91/2001, de 20 de Agosto - Lei de Enquadramento Oramental (LEO)

    2002

    Decreto-Lei n. 12/2002, de 25 de Janeiro - Plano Oficial de Contabilidade das

    Instituies do Sistema de Solidariedade e de Segurana Social (POCISSSS)

    Decreto-Lei n. 26/2002, de 14 de Fevereiro - Estabelece o regime jurdico dos

    cdigos de classificao econmica das receitas e das despesas pblicas,

    bem como a estrutura das classificaes orgnicas aplicveis aos organismos

    que integram a administrao central.

    2007 Lei n. 2/2007, de 15 de Janeiro, Lei das Finanas Locais (LFL)

    2011

    Lei do Oramento do Estado, promulgada anualmente 3, Decreto-Lei que,

    anualmente, estabelece as normas de execuo do Oramento do Estado do

    respetivo ano.4

    Fonte: Elaborao Prpria.

    Da que, tendencialmente, segundo Nogueira e Carvalho (2008:16) a evoluo

    contabilstica;

    ...no esttica, antes pelo contrrio, pode ser revista: formada por

    conceitos dinmicos, que podem sofrer enriquecimento, preciso e at

    substituio; no se faz de vez: faz-se, refaz-se contnua e

    permanentemente... (Cruz, 1989:7)5

    A indubitvel necessidade de um sistema digrfico na contabilidade pblica para

    Carvalho et al. (1999) tem como origem a carta de Lei de 22 de Dezembro de 1761

    sustentabilidade econmica e financeira de qualquer pas assenta, essencialmente, na

    democratizao da sociedade, e essa afere-se atravs dos vetores que orientam a

    ao do setor pblico e o exerccio de gesto pblica, subjacentes na participao,

    proporcionalidade, igualdade, transparncia e imparcialidade, o que em termos

    financeiros, s se consegue, com regras bem definidas de acompanhamento, controlo

    e informao da execuo oramental nas suas duas componentes, Despesa e

    Receita e com aplicao das normas de responsabilizao dos seus agentes quando

    3 A Lei do Oramento de Estado (LOE) que aprovou o oramento para 2012 foi a Lei n. 64-

    B/2011 de 30 de Dezembro, o de 2013 foi aprovado pela Lei n. 66-B/2012, de 31 de

    Dezembro, e o de 2014 foi aprovado pela Lei n. 83-C/2013 de 31 de Dezembro.

    4 As normas de execuo oramental para 2012, foram estabelecidas pelo Decreto-Lei n.

    32/2012 de 13 de Fevereiro, e, em 2013, pelo Decreto-Lei n. 36/2013, de 11 de Maro. 5 Cruz, M. (1989). Geografia doze. Areal Editores, Porto.

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    praticam atos violadores dos princpios estabelecidos por lei, mas permaneceu o

    sistema unigrfico.

    Assim, a promulgao da lei de bases de contabilidade pblica, Lei n. 8/90, de 20 de

    Fevereiro, permite uma maior autonomia administrativa e financeira, para realizao

    de despesa e estabelece as bases para a criao de um novo regime dedicando uma

    maior autonomia para realizao de despesa conforme artigo 8..

    A realizao das despesas referentes aos servios e organismos

    dotados de autonomia administrativa e financeira ser autorizada pelos

    respetivos dirigentes, os quais autorizaro tambm o seu pagamento.

    Altera o sistema contabilstico pblico introduzido pelas reformas de 1928-1928 a

    1930-1936, que vigoravam at ento e que no permitiam uma uniformidade e

    consolidao de contas pblicas.

    Nestes termos a criao de dois regimes financeiros visa estabelecer uma distino:

    Autonomia administrativa mbito geral, ser unigrfico, devendo ser

    organizada uma contabilidade analtica indispensvel avaliao dos resultados da

    gesto... (n. 1 do artigo 14. lei n.8/90, de 20 de Fevereiro).

    Autonomia administrativa e financeira mbito exceo, ser digrfico e

    moldado no Plano Oficial de Contabilidade (POC), no plano de contas

    especialmente aplicvel s instituies bancrias ou ainda noutro plano de contas

    oficial adequado (n. 2 do artigo 14. lei n.8/90, de 20 de Fevereiro).

    A introduo de uma contabilidade de caixa e de compromisso previsto nesta lei

    (artigo 10.), j permite, ainda que de uma forma limitada, o controlo oramental, numa

    tica de pagamento e recebimento, pois atravs deste modelo contabilstico regista-se

    as sadas e entradas de valores monetrios, visto como um todo, por isso que no

    permite a apresentao de resultados financeiros e econmicos consolidados, que

    possibilitasse s entidades demonstrar nas suas contas o equilbrio entre custos e

    proveitos.

    Uma contabilidade de caixa, em detrimento do regime de acrscimo, s permite

    verificar a ocorrncia de dfice se os rendimentos efetuados pelas operaes forem

    inferiores aos gastos, Pinto et al. (2013: 89).

  • O impacto da lei dos compromissos e pagamentos em atraso, consequncias para os agentes econmicos, para os gestores e responsveis financeiros

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    Uma contabilidade de compromisso6 que permite em termos oramentais racionalizar

    as despesas e as obrigaes no momento em que geram. Permitindo que os

    pagamentos das despesas a autorizao para libertao de crditos, sejam efetuados

    atravs de transferncia bancria ou cheque emitido sobre o tesouro para um maior

    controlo oramental.

    Este diploma permite com que a realizao de despesa possa ser autorizada bem

    como o pagamento, dando assim alguma autonomia, mas a falta de um plano de

    contabilidade que permita a harmonizao entre as vrias entidades era esperado.

    Ora, com a promulgao da LEO, Lei n.91/2001, de 20 de Agosto, coloca um a cariz

    de interesse previsional no Oramento do Estado, conforme art. 12, Oramento do

    Estado contm, relativamente ao perodo a que respeita, as dotaes das despesas e

    as previses das receitas relativas aos organismos.

    Ficando reforada com maior impulsionamento com a promulgao do Regime da

    Administrao Financeira do Estado (RAFE) aprovado pelo Decreto-Lei n. 155/92, de

    28 de Julho que no mbito da realizao da despesa afere os procedimentos legais, j

    aplicados, como uma maior autonomia aos servios e organismos da administrao

    pblica, que j chega com as linhas de orientao da Lei n. 6/91, de 20 de Fevereiro,

    Enquadramento do Oramento do Estado que permitir uma melhor leitura com a

    criao da conta Geral do Estado (artigo 27).

    O RAFE consagra assim um combinado de bases contabilsticas, que permitem dar

    mais autonomia s entidades que necessitam de efetuar realizao do pagamento das

    despesas. No seguimento deste critrio para realizao de despesa, surge o duplo-

    cabimento no artigo 20, do RAFE, o fato de os organismos disporem de receitas

    consignadas, ao qual s ponderam, ser libertadas para fazer face a despesa a essa

    consignada.

    Nunca descorando e seguindo os fatores que permitem uma base legal a realizao

    de despesa a que o artigo 22 do RAFE faz aluso;

    Autorizao de despesa fica sujeita a verificao dos seguintes requisitos:

    a) Conformidade Legal

    b) Regularidade financeira

    c) Economia, eficincia e eficcia

    6 Segundo Carvalho (1999:45) consiste na anotao das obrigaes constitudas por atividade,

    com a indicao da respetiva rubrica de classificao econmica (artigo 10 do RAFE).

  • O impacto da lei dos compromissos e pagamentos em atraso, consequncias para os agentes econmicos, para os gestores e responsveis financeiros

    2014

    16

    Tendo em conta que a aquisio de bens e prestao de servios, depende de

    conformidade legal prvia que autorize a realizao de despesa, regularidade

    financeira consiste na existncia de inscrio oramental a qual deve constar e

    corresponder ao cabimento e respetiva classificao econmica7, permitindo

    enquadrar a sua aplicao.

    Com o prossuposto de um melhor servio pblico e de uma melhor gesto dos

    recursos existentes, qualidade no mais curto espao de tempo, para com os cidados,

    e visar garantir o mximo de rendimento com o mnimo de desperdcio, atendendo a

    sua carncia e ao acrscimo de benefcio dai decorrente Caiado e Pinto (2002).

    No seguimento dos requisitos gerais consagrados, revendo o RAFE as seguintes

    fases da despesa (Figura 2);

    Figura 2 - Fases da Despesa RAFE

    Fonte: Elaborao prpria com base no pelo Decreto-Lei n. 155/92, de 28 de Julho.

    7 Atualmente nos termos do Decreto-Lei n. 26/2002, de 14 de Fevereiro.

    Compromisso

    Processamento

    Autorizao de pagamento

    Pagamento

    Cabimento

    Autorizao de despesa

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    2014

    17

    O ciclo de despesa tem como primeira instncia, a necessidade da prestao de um

    servios ou aquisio de bens, com isto, a parte interessada, aquela, que necessita

    dessa carncia deve iniciar a pretenso. Deve solicitar aos servios adstritos atravs

    de uma requisio devidamente fundamentada.

    O processo de despesa deve respeitar os princpios previstos no Regime de

    Administrao Financeira do Estado, proposta de aquisio, onde deve constar a

    designao do bem ou servio, a qual deve conter os dados do fornecedor, os dados

    da aquisio e o seu valor.

    Cabimento: Numa primeira atuao compreende uma cativao propondo-se a

    realizao de delimitada despesa, identificando o seu valor previsto, a sua

    classificao econmica e saldo oramental.

    o ato de ligao em que se parte para a assuno de compromissos (Artigo 13.

    Registo de cabimento prvio do Decreto Lei n. 155/92 de 28 de Julho) Para a

    assuno de compromissos, devem os servios e organismos adotar um registo de

    cabimento prvio do qual constem os encargos provveis. Sendo atribudo um

    nmero de cabimento nico para cada processo.

    Autorizao da Despesa: D a continuidade ao processo de assuno de

    compromissos, contudo a autorizao de despesas fica sujeita conferncia dos

    seguintes requisitos previstos no artigo 22 da RAFE, sujeito a conformidade legal,

    regularidade financeira e econmica, eficincia e eficcia.

    Compromisso: Esta fase permite que o sistema possa gerar um nmero de

    compromisso, sequenciado, obrigando que aps este momento passe a existir uma

    obrigao de efetuar pagamentos a terceiros (outrem) em contrapartida do

    fornecimento de bens e servios que permita a garantia da satisfao previsto no art.

    10. do RAFE.

    Processamento: a continuidade do processo de despesas que permite o

    processamento a incluso em suporte normalizado dos encargos legalmente

    estabelecidos, para que se proceda sua liquidao e pagamento. Atravs de sistema

    informtico adotado por cada entidade, (Artigo 27. Definio do Decreto Lei n.

    155/92 de 28 de Julho.

    Autorizao de pagamento: a aferio prvia onde realizado a autorizao e a

    emisso dos meios de pagamento pertencem ao responsvel do servio ou

    organismo, com possibilidade de as delegar e subdelegar. Permitindo que seja

  • O impacto da lei dos compromissos e pagamentos em atraso, consequncias para os agentes econmicos, para os gestores e responsveis financeiros

    2014

    18

    concedido a autorizao e emitidos os respetivos meios de pagamento, ser efetuado

    imediatamente o respetivo registo. (Artigo 29. Autorizao de pagamento do Decreto

    Lei n. 155/92 de 28 de Julho).

    Pagamento: Finalizao do processo em termos de despesa atravs dos meios de

    pagamento a emitir pelos servios ou organismos so os aprovados pela Direco-

    Geral do Tesouro, Artigo 30., Meios de pagamento do Decreto Lei n. 155/92 de 28

    de Julho.

    Prevendo o RAFE a regularizao das despesas de anos anteriores, conforme n. 1 do

    artigo 34, Os encargos relativos a anos anteriores sero satisfeitos por conta das

    verbas adequadas do oramento que estiver em vigor no momento em que for

    efetuado o seu pagamento. Refere ainda, que para elaborao do Oramento do

    Estado deve ser levado em conta os instrumentos de gesto provisional constantes no

    artigo 49.

    Continuando com a obrigatoriedade de um modelo contabilstico adaptado

    Contabilidade da Administrao Pblica, deste modo, paulatinamente, Portugal, tem-

    se aproximado aos modelos vigentes na Unio Europeia.

    Vinculando-se ordem jurdica comunitria que estabelece medidas contra os

    pagamentos em atraso e define que todos os pases da Unio Europeia devem evitar

    dfices pblicos superiores a 3% do PIB, bem como valores da dvida pblica

    superiores a 60% do PIB (valores do PIB a preos de mercado)8.

    A necessidade de um plano de contas que tivesse uma integrao holstica no

    respeitante contabilidade oramental, patrimonial e analtica, leva para a

    organizao de vrios grupos de trabalho, do qual resultou a aprovao do Plano

    Oficial de Contabilidade das Autarquias Locais (POCAL) em 1999, Plano de Contas

    para Instituies Pblicas de Segurana Social (PCIPSS) 1989, Plano de contas para

    os Servios de Sade (1991), Plano de Contas para servios Municipalizados (1993) e

    Plano de Contas para as Instituies do Ensino Superior Pblico (1995), Carvalho et

    al. (1999:90).

    8 Ver, respetivamente, a Diretiva n. 2000/35/CE, do Parlamento Europeu e do Conselho, de 29 de Julho

    de 2000 e a Diretiva n. 2011/7/UE, do Parlamento Europeu e do Conselho, de 16 de Fevereiro de 2011, e

    o Pacto de Estabilidade e Crescimento (PEC) previsto nos artigos 99 e 104 do Tratado de Roma

    (alterado pelo Tratado da Unio Europeia).

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    19

    Aponta ainda (Carvalho et al., 1999) que esta proliferao de Planos de Contas no

    Setor Pblico tinha alguns inconvenientes, nomeadamente, a dificuldade na

    elaborao de contas consolidadas do Estado.

    Segundo Caiado et al. (2002:160), o Governo nomeou uma Estrutura de Misso

    que preparou um Projeto de Plano de Contas que foi objeto de aprovao, surge o

    Plano Oficial de Contabilidade Pblica, aprovado pelo Decreto-Lei n. 232/97, de 3 de

    Setembro, de acordo com o prembulo o seu objetivo a criao de condies

    para a integrao dos diferentes aspetos-contabilidade oramental, patrimonial e

    analtica- numa contabilidade pblica moderna, que constitua um instrumento

    fundamental de apoio gesto das entidades pblicas e sua avaliao.

    Conforme apresentamos (Figura 3):

    Figura 3 - Tipos de Contabilidade

    Objetivo

    Contabilidade

    Oramental Regista a execuo do oramento e determina os saldos oramentais.

    Contabilidade Patrimonial

    Proporciona a elaborao do Balano das entidades, revelando a composio e o valor do patrimnio, bem como a sua evoluo.

    Contabilidade Analtica

    Determinar os resultados analticos, pondo em evidncia os custos e, em alguns casos, os proveitos e o resultado/desempenho de cada bem, servio ou atividade.

    Fonte: Pinto et al. (2013:38).

    Na perspetiva de uma melhor gesto que permita um controlo financeiro no dentro das

    vrias entidades e consagrando o princpio da transparncia, para Carvalho et al.

    (1999:94) apresenta as seguintes caractersticas:

    1) um Plano de Contas oportuno dada a necessidade de uma homogeneizao dentro da Administrao Pblica.

    2) Aproveitou aspetos positivos dos outros planos de contas que esto em elaborao, nomeadamente o Plano de Contas para as Instituies do Ensino Superior, o Plano de Contas para as Autarquias e o Plano de Contas de Espanha

    3) Obriga existncia de trs sistemas de Contabilidade Pblica (oramental, patrimonial, e analtica)

    4) Cria uma classe 0 designada por Contas de Controlo Oramental e de Ordem no existe nos outros planos do setor pblico j aprovados ou em

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    2014

    20

    estudo, classe que inclui parte do subsistema de Contabilidade Oramental, embora no registe todas as fases legais das receitas e despesas pblicas;

    5) So registados no ativo os bens de Domnio Pblico9; 6) Cria uma Comisso de Normalizao Contabilstica especfica para a

    Administrao Pblica, independente de j existente Comisso de Normalizao Contabilstica criada pelo Decreto-Lei n. 47/77;

    No entanto com a adoo da moeda nica, passa a existir uma viso mais alargada, e

    Portugal passa, a ser acompanhado pela Comisso Europeia, isto leva a que cada vez

    mais a gesto do oramento, assuma um papel de relevncia.

    Na verdade, nos termos do artigo 104.-C do Tratado que instituiu a Unio Europeia:

    Os Estados membros devem evitar dfices excessivos

    Traadas as finalidades do POCP, A razo de ser do POCP assenta na necessidade

    de modernizao dos processos contabilsticos e da comparabilidade de informao

    Caiado (2002:184).

    Existindo vrios setores em Portugal, com a necessidade de encontrar uma forma de

    conseguir gerir o seu oramento em funo das necessidades, n. 1, art. 5 do POCP

    deixa uma porta aberta para que possam surgir novos planos de contabilidade com

    vista:

    As normas necessrias aplicao do Plano Oficial de Contabilidade Pblica, incluindo as formas simplificadas dessa aplicao, as normas de aplicao transitria, o seu faseamento e os prazos para adaptao dos planos sectoriais em vigor, bem como os planos sectoriais que se mostrem indispensveis,

    Desta forma, obrigou a um esforo de apresentao de vrios planos de contabilidade

    pblica, os quais foram adaptados com base Plano Oficial de Contabilidade Pblica.

    Plano Oficial de Contabilidade das Autarquias Locais, aprovado pelo Decreto

    Lei n. 54-A/99, de 22 de Fevereiro.

    Plano Oficial de Contabilidade Pblica para o setor da Educao, aprovado

    pela Portaria n. 794/2000, de 20 de Setembro.

    Plano Oficial de Contabilidade do Ministrio da Sade, aprovado pela Portaria

    n. 898/2000, de 28 de Setembro.

    9 Ao contrrio de Espanha onde os bens de domnio pblico no so ativados.

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    Plano Oficial de Contabilidade das Instituies Pblicas do Sistema de

    Solidariedade e de Segurana Social, aprovado pelo Decreto-Lei n. 12/2002,

    de 25 de Janeiro.

    Embora a formulao de um conjunto de planos de contabilidade adaptados ao POCP,

    permitissem a resoluo de alguns problemas, em termos de consolidao de

    informao, permitindo, numa tica nacional, o cruzamento de informao, envolvendo

    os vrios setores pblicos a tomar as medidas necessrias realizao de ajusto

    financeiro.

    Mas faltava ainda resolver um problema de fundo do POCP, o fato de aplicvel a

    diversos organismos que por natureza e lhes aplicvel a autonomia administrativa

    em contradio com a lei n. 8/90, de 20 de Fevereiro. Apenas com a publicao da

    nova Lei de Enquadramento Oramental, Lei n. 91/2001, de 20 de Agosto, situao

    ficou juridicamente resolvida. Pinto et al. (2013:19).

    Consagra este normativa legal no seu artigo 10,

    Os organismos do setor pblico administrativo ficam sujeitos ao Plano de

    Contabilidade Pblica, podendo ainda dispor de outros instrumentos necessrios

    boa gesto e ao controlo dos dinheiros e outros ativos pblicos, nos termos

    previstos na lei.

    Traados e definidos os objetivos dos planos de contabilidade no descorando as

    finanas pblicas, a no existncia de uma lei destinada a regular tal carncia, urge a

    necessidade de promulgao da Lei n. 2/2007, de 15 de Janeiro Lei da Finanas

    Locais, com vista a estabelecer uma sustentvel harmonizao dos princpios

    fundamentais, subjacentes em termos de autonomia financeira estabelecidos no artigo

    3 e princpios e regras oramentais, economia eficincia e eficcia j emanados do

    RAFE.

    No que concernente LCPA e respetivo decreto-lei que surge como panorama de

    operacionalizao, faremos uma retrospetiva nos pontos seguintes, ao qual

    destinamos um conjunto de entendimentos, a nosso ver de importncia considerada,

    considerando a aludida sofisticao da presente lei, e aspetos introdutrios.

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    22

    2.2 Origem da LCPA

    A LCPA e Decreto Regulamentar, surge no mbito de uma necessidade de agilizar os

    procedimentos das contas pblicas, que permitem efetuar realizao de despesa, pelo

    que no poderamos abordar esta temtica sem fazermos referncia aos vrios

    mecanismos do qual faz parte a Lei dos compromissos, a adoo de mecanismos

    que permitam um equilbrio das finanas pblicas.

    A situao que o Pas atravessa, relativamente ao deficit public, exige medidas que

    diminuam o endividamento de diversos organismos da administrao pblica central,

    regional, e local, bem como do setor empresarial do Estado (SEE), do setor

    empresarial regional (SER) e do setor empresarial local (SEL) , Carvalho et al.

    (2012:11).

    Para Rocha et al. (2012:6) a atualidade do tema no poderia ser mais evidente: a

    presente situao financeira pblica insustentvel, e ser indubitvel que

    ajustamentos profundos devem ser feitos no campo da despesa pblica.

    No entender de Correia (2012:7) LCPA-uma necessidade? Levar ao equilbrio

    econmico financeiro dos municpios?. Na realidade o que se vem demonstrando,

    segundo os relatrios que so emitidos e posteriormente publicitados pela DGO10,

    que o volume de dvida nos ltimos anos, tem aumentado, desta forma, deve ser

    encarado como um dos aspetos principais de sustentabilidade e visto como uma

    responsabilidade das prprias entidades.

    O excessivo endividamento das organizaes pblicas nos anos anteriores, fruto de

    uma gesto inoperante em detrimento da execuo da receita cobrada ser

    efetivamente desfasada, ou seja, no aferir a pretendida, tambm as previses falham,

    originando que regras previsionais inadequadas ao empolamento quando se

    pretende perspetivar o futuro, apesar de ser de valor inferior despesa exposta,

    contribui para que no exista a mdio e longo prazo um ajuste de dotaes,

    consentindo a dilatao inconsciente do endividamento segundo Correia (2012:11).

    10 http://www.dgo.pt/execucaoorcamental/Paginas/LeiCompromissosPagamentosEmAtraso.aspx,

    http://www.dgo.pt/execucaoorcamental/Paginas/LeiCompromissosPagamentosEmAtraso.aspx

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    Uma das questes mais volteis prende-se com os emprstimos que so adquiridos,

    que por sua vez no possam ser garantidos os pagamentos a mdio e longo prazo

    atravs da receita arrecadada Amado (2005: 44).

    Desta forma Correia (2012:11) aponta falta de importncia desmurada do oramento

    o qual descorou sempre a perspetiva econmica e financeira e monetria permitindo

    onerar o oramento para o ano em exerccio.

    No entanto, a necessidade de encontrar solues que possam na ausncia de outras

    resultar no arrecadar de receita, o Estado, viu-se obrigado a aumentar a carga fiscal o

    que por um lado cria receita mas afeta o Estado Social. Desta forma existe uma regra

    de ouro, que sustenta a matriz funcional das entidades, configura-se com a presena

    do princpio de equilbrio oramental.

    Numa principal incluso, podemos verificar que uma lei, que advoga um pertinente

    controlo que permita regular no sentido de reduzir a despesa pblica no curto e mdio

    prazo, contudo no podemos deixar que as entidades abarcadas ao qual a sua misso

    fundamentalmente est consagrada, passe a ser deturpada na sua execuo fruto de

    incumprimento dotacional.

    2.2.1 Amplitude da LCPA em Portugal

    Atendendo que as entidades envolvidas no mbito da aplicao da LCPA, esto

    preconizadas na Lei n. 91/2001, de 20 de Agosto, alterada pela Lei Orgnica n.

    2/2002, de 28 de Agosto, Lei n. 23/2003, de 2 de Julho, Lei n. 48/2004, de 24 de

    Agosto, 48/2010, de 19 de Outubro, 22/2011, de 20 de Maio, e 52/2011, de 13 de

    Outubro, com vista regularizao de pagamentos em atraso e de certa forma amplo,

    nestes termos foi o nosso manifesto interesso, esquematiz-las.

    Para efeitos da presente lei, consideram-se integradas no setor pblico administrativo

    portugus, os servios respetivos das entidades que, independentemente da sua

    natureza e forma, tenham sido includas em cada subsetor no mbito do Sistema

    Europeu de Contas, como demonstrado (Figura 4).

  • O impacto da lei dos compromissos e pagamentos em atraso, consequncias para os agentes econmicos, para os gestores e responsveis financeiros

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    Figura 4 - Estrutura do Setor Pblico Portugus

    Fonte: Elaborao prpria.

    Esto ao abrigo da lei dos compromissos e pagamentos em atraso, de uma maneira

    geral, todas as entidades do foro pblico no deixando de fora, o interesse para o

    setor privado, que interage direta ou indiretamente em termos gerais com o setor da

    administrao pblica portugus conforme Rocha et al. (2012:39-40).

    semelhana de Carvalho e Cunha (2012: 25-27) a LCPA aplica-se a todas as

    entidades que esto inseridas no Sistema Europeu de Contas Nacionais e

    Regionais11, dividindo-se por sua vez, nos termos e em conformidade com SEC95,

    11 Ver, SEC 95 sobre o dfice e a dvida das administraes pblicas, Junho de 2002, Luxemburgo:

    Servio das Publicaes Oficiais das Comunidades Europeias, 2002, ISBN 92-894-3235.

    Se

    tor

    P

    blic

    o P

    ort

    ug

    u

    s

    (SP

    P)

    Setor Pblico Empresarial (SPE)

    Empresas Pblicas (EP)

    Segurana Social (SS)

    Administrao Central (AC)

    Setor Pblico Integrado (SPI)

    Administrao Central Autnoma (ACA)

    Regies Autnomas (RA) Administrao Regional

    (AR)

    Distritos (D) Municpios (M) Freguesias (F)

    Administrao Local (AL)

    Setor Empresarial Local (SEL)

    Empresas Municipais (EM) Intermunicipais (I) Metropolitanas (IM)

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    25

    no deixando de fora as Entidades Pblicas que tenham sido reclassificadas12, nas

    ltimas contas sectoriais publicadas pelo Instituto Nacional de Estatstica (INE)13.

    Desta forma a necessidade de agrupar as vrias entidades, previstas no artigo 2 da

    LCPA, leva a uma necessidade de desenvolver mecanismos que permitam apurar o

    montante da dvida por setor, com o intuito de desenvolver e levar a cabo um equilbrio

    oramental, com forte componente na reduo dos compromissos que eventualmente

    possam aumentar os pagamentos em atraso h mais de 90 dias.

    No caso da administrao central os servios integrados, ao qual confere o regime

    estabelecido nos termos do artigo 2 da Lei n. 8/90, de 20 de Fevereiro:

    Os servios e organismos da Administrao Central disporo, em regra, de autonomia administrativa nos actos de gesto corrente, traduzida na competncia dos seus dirigentes para autorizar a realizao de despesas e o seu pagamento e para praticar, no mesmo mbito, actos administrativos definitivos e executrios.

    Contudo, o alargamento aos restantes sectores pblicos est previsto no seu artigo 6:

    o regime excepcional em que consagra Os servios e organismos da Administrao Central s podero dispor de autonomia administrativa e financeira quando este regime se justifique para a sua adequada gesto e, cumulativamente, as suas receitas prprias atinjam um mnimo de dois teros das despesas totais, com excluso das despesas co-financiadas pelo oramento das Comunidades Europeias.

    2.2.2 Entidades e Sistemas Contabilsticos

    Neste subcaptulo faremos aluso aos planos de contabilidade pblica, pertencente s

    vrias entidades do setor pblico portugus.

    Percebendo a importncia dos sistemas contabilsticos para uma contabilidade pblica

    equilibrada contendo a sua origem no Plano Oficial de Contabilidade Pblica, nas

    ltimas dcadas, que tem revelado um dos aspetos determinantes a incluso de uma

    contabilidade oramental, patrimonial e de custos, traduzindo-se em uma contabilidade

    moderna que possa dar apoio as vrias entidades, conforme (Figura 5).

    12 Consultar, Instrues de suporte integrao das Entidades Pblicas que tenham sido

    reclassificadas ao abrigo do Sistema Europeu de Contas Nacionais e Regionais, nas ltimas contas sectoriais publicadas pela autoridade estatstica nacional (INE). Disponvel em: http://www.dgo.pt/servicoonline/Documents/EntidadesPublicasReclassificadas_EPR_EnquadramentoEmpresas.pdf 13

    Disponvel em http://www.ine.pt/xportal/xmain?xpid=INE&xpgid=ine_main

    http://www.dgo.pt/servicoonline/Documents/EntidadesPublicasReclassificadas_EPR_EnquadramentoEmpresas.pdfhttp://www.dgo.pt/servicoonline/Documents/EntidadesPublicasReclassificadas_EPR_EnquadramentoEmpresas.pdfhttp://www.ine.pt/xportal/xmain?xpid=INE&xpgid=ine_main

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    Figura 5 - Entidades e Sistemas Contabilsticos em Portugal

    Fonte: Adaptado de Caiado (2007:44).

    Desta configurao, a necessidade por parte das entidades, em adotar um plano de

    contabilidade, que pode assim contribuir, para uma execuo e controlo do oramento

    do Estado. Neste sentido, o POCP e os vrios planos de contabilidade fornecem um

    conjunto de informao indispensvel de diferentes aspetos contabilidade oramental,

    patrimonial e analtica.

    Permitindo aos seus gestores a melhoria da qualidade da informao contabilstica,

    transportando a veracidade das entidades no mbito econmico e financeiro, para que

    se possa avaliar qual o grau de incumprimento dos pagamentos em atraso.

    O POCP destina-se todos os servios e organismos da administrao central,

    regional e local que no tenham natureza, forma e designao de empresa pblica,

    Seto

    r P

    blic

    o P

    ort

    ug

    us

    (SP

    P)

    Setor Pblico Empresarial (SPE)

    Segurana Social (SS)

    Administrao Central (AC)

    Administrao Regional (AR)

    Administrao Local (AL)

    Servio Nacional de Sade (SNS)

    Setor Empresarial Local (SEL)

    POCP

    POCP-Educao

    POCMS

    POCAL

    POCISSSS

    Entidades Sistema

    Contabilstico

    POC

  • O impacto da lei dos compromissos e pagamentos em atraso, consequncias para os agentes econmicos, para os gestores e responsveis financeiros

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    bem como segurana social estendendo-se que as suas disposies poderiam ser

    tambm aplicvel s organizaes de direito privado sem fins lucrativos que

    disponham de receitas maioritariamente provenientes do Oramento do Estado nos

    termos do artigo 2.

    Nestes termos o POCAL destina-se a todas as autarquias locais e entidades

    equiparadas nos termos do artigo 214, neste entendimento o ponto 3.3, fornece um

    conjunto de regras ao qual constitui um importante instrumento de gesto, no

    descorando a coerncia oramental Amado (2005:44;45).

    O POC-Educao destina-se;

    a todos os servios e organismos do Ministrio da Educao, bem como aos organismos autnomos sob sua tutela que no tenham natureza, forma e designao de empresa pblica ainda aplicvel s organizaes de direito privado sem fins lucrativos cuja atividade principal seja a educao ou que dependam, direta ou indiretamente, das entidades referidas no nmero anterior, desde que disponham de receitas maioritariamente provenientes do Oramento do Estado e ou dos oramentos privativos destas entidades,

    No campo de ao da Sade surge o POCMS, nos termos do artigo 2.

    aplicvel a todos os servios e organismos do Ministrio da Sade, bem como aos organismos autnomos sob sua tutela que no tenham natureza, forma e designao de empresa pblica e s organizaes de direito privado sem fins lucrativos cuja atividade principal seja a sade ou que dependam, direta ou indiretamente, das entidades referidas no nmero anterior, desde que disponham de receitas maioritariamente provenientes do Oramento do Estado e ou dos oramentos privativos destas entidades,

    Com a mesma ramificao POCSISSS aplica-se a todas as instituies do sistema de

    solidariedade e segurana social estendendo-se tambm s regies autnomas do

    arquiplago dos Aores e Madeira, nos termos do artigo 2.

    Por ultimo o Plano Oficial de Contabilidade (POC), revogado pelo Sistema de

    Normalizao Contabilstica (SNC) Decreto-Lei n. 158/2009, de 13 de Julho

    obrigatoriamente aplicvel s seguintes entidades:

    a) Sociedades abrangidas pelo Cdigo das Sociedades Comerciais;

    b) Empresas individuais reguladas pelo Cdigo Comercial;

    c) Estabelecimentos individuais de responsabilidade limitada;

    d) Empresas pblicas;

    14 Decreto Lei n. 54-A/99 de 22 de Fevereiro.

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    e) Cooperativas;

    f) Agrupamentos complementares de empresas e agrupamentos europeus de interesse econmico.

    Desta forma percebendo a amplitude de cada plano, constata-se que de um modo

    geral todos assentam numa perspetiva de disciplinar os gastos pblicos.

    No entender de Carvalho et al. (2012:76), existe vrias contas destinadas no mbito

    das vrias contabilidades, ao qual conseguem fornecer uma determinada informao

    peridica que permite aos seus gestores obter:

    Mapa de execuo do oramento da despesa por classificao econmica;

    Dvidas a pagar;

    Compromissos pagos, por classificao econmica

    Compromissos por pagar, por classificao econmica

    Compromissos de exerccios, futuros por classificao econmica

    Assim, os planos de contabilidade pblica permitem uma maior integridade no mbito

    dos compromissos oramentais, contribuindo para uma transparente apresentao de

    resultados da execuo do oramento com vista a uma consolidao oramental.

    2.2.3 Movimento de Contas Para Realizao de Despesa

    No que concernente realizao de despesa, interessa perceber o movimento

    contabilstico geralmente adotado pelas entidades pblicas, isto porque a PSP a partir

    de 2012, passou a utilizar o POCP, o que permitiu aferir os movimentos contabilsticos

    do processo de despesa em conformidade com contabilidade oramental no foro das

    despesas e receitas conducentes execuo do Oramento do Estado (contas POCP,

    0-contas de controlo oramental e de ordem).

    Contabilidade patrimonial pretende demonstrar a situao econmica e financeira da

    entidade relativo aos bens, crditos e fundos prprios Estado (contas POCP, classe 1

    a 8) por ltimo a contabilidade analtica pretende representar o fator custos como

    contornar a atividade da entidade, considerando o objeto do estudo servios

    integrados, n. 1 do artigo 18, do decreto-lei n. 32/2012, de 13 de Fevereiro.

    O POCP leva-nos a que tenha de passar a existir um maior e frequente, anlise da

    realizao da despesa, para que possa existir uma gesto mais equilibrada, evitando a

    violao da LCPA, conforme (Figura 6).

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    Figura 6 - Movimentos Contabilsticos de Execuo da Despesa com PLC

    N Descrio Dbito Crdito Classificao Oramental

    1. Aprovao do Oramento - Despesa

    01 021

    021 023

    Aprovao do Oramento - Receita 031 01

    034 031

    2. Cabimento 023 026

    3. Compromisso 026 027

    4. Processamento 3/4/6 Terceiro