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INSTITUTO NACIONAL DE PESQUISAS DA AMAZÔNIA – INPA DISSERTAÇÃO DE MESTRADO PROFISSIONAL EM GESTÃO DE ÁREAS
PROTEGIDAS NA AMAZÔNIA – MPGAP
A CONSTRUÇÃO PARTICIPATIVA DO PLANO DE USO PÚBLICO DO SETOR 03 DO PARQUE ESTADUAL SERRA DAS ANDORINHAS E DA APA ARAGUAIA,
ESTADO DO PARÁ
Abel Pojo Oliveira
MANAUS, AMAZONAS
Junho de 2013
ii
Abel Pojo Oliveira
A CONSTRUÇÃO PARTICIPATIVA DO PLANO DE USO PÚBLICO DO SETOR 03 DO PARQUE ESTADUAL SERRA DAS ANDORINHAS E DA APA ARAGUAIA,
ESTADO DO PARÁ
Orientadora: Drª. Maria Auxiliadora Drumond
Co- Orientadora: Esp. Lêda Márcia luz
Dissertação apresentada ao Instituo Nacional de Pesquisas da Amazônia, como parte dos requisitos para obtenção do título de Mestre em Gestão de Áreas Protegidas na Amazônia.
MANAUS, AMAZONAS
Junho de 2013
iii
BANCA EXAMINADORA
____________________________________ Sérgio Henrique Borges, Doutor
(Examinador 1)
____________________________________ Susy Rodrigues Simonetti, Mestre
(Examinador 2)
____________________________________ Mirleide Chaar Bahia, Doutora
(Examinador 3)
iv
O48 Oliveira, Abel Pojo A construção participativa do plano de uso público do setor 03 do
Parque Estadual Serra das Andorinhas e da APA Araguaia, estado do Pará / Abel Pojo Oliveira. --- Manaus : [s.n], 2013.
xiv, 166 f. : il. color. Dissertação (Mestrado) --- INPA, Manaus, 2013. Orientador : Maria Auxiliadora Drumond. Coorientador : Lêda Márcia luz.
Área de concentração : Conservação e Uso dos Recursos Naturais 1. Unidades de Conservação. 2. Planejamento Participativo. 3.
Parque Serra das Andorinhas. 4. APA Araguaia. I. Título.
CDD 333.783
v
Dedico este trabalho à minha mãe, linda e alva, Lindalva.
vi
AGRADECIMENTOS
Agradeço primeiramente a Deus, por ter me dado a vida, e a coisa mais importante
para mim: a minha família. Mãe, mano, mana, pai, vocês são meu alicerce, minha
fortaleza, minha inspiração. Tudo, sem vocês, não teria sentido algum.
Às amigas Bah, Cau e Paulok, as Tuuuudo Iiiisso, pelo incondicional apoio. À amiga
Socorro Almeida, pelas longas horas e momentos (leves, descontraídos, tensos e
desesperadores) partilhados. À Nedyma, Elzir e Chiquinho, pelos momentos de
descontração e incentivo. À Aina, pelo carinho e solicitude; ao amigo Éder, pelos
momentos de alegria partilhados. Ao amigo Regivaldo, pelos conselhos cirúrgicos. À
amiga Michelle (Biga), pelo apoio e contribuições com o resumen. À Nislene e seu
esposo, por terem cedido gentilmente sua casa, em Salinas/PA, para que
pudéssemos (Socorro e eu) avançar na produção dos capítulos; talvez vocês nunca
saibam o quanto isso foi importante para nós.
À Secretaria de Estado de Meio Ambiente do Pará – Sema, pela oportunidade e
apoio prestados no desenvolvimento deste estudo. Registro o nome dos servidores
de São Geraldo do Araguaia: Nilson, Evânio, Giselle, Adailton, Jefferson, Sousa,
Leila; os vigilantes Seu Osmar, Renildo, Edinei e Antônio; e os estagiários Nélia,
Tainara, Madson, Douglas, Leonardo e Wanderson. Todos prestaram apoio direto ao
desenvolvimento do trabalho. Também à Gerência de Geoprocessamento da
CEC/DIAP, pelo mapas; Marcelo Gadelha e Seu Vilhena, muito obrigado! Ao
professor Abraão (UFPA), e seus alunos Saymon e Thays, pela base cartográfica
que subsidiou os mapas.
Aos comunitários das Vilas Ilha de Campo, em especial ao Paulo e Sebastião; bem
como os comunitários da Vila Santa Cruz, em especial aos professores Leide e
Valdemir, à Sandra, Ana, Mayara, Vamilton, Vanin, Moacir e Raimundo Nonato
(Paçoca), sem os quais seria impossível o trabalho em campo.
À minha orientadora, Dodôra; co-orientadora, Lêda; e a amada amiga Bah (co-co-co-
orientadora), pela paciência e ricas contribuições. À Michelle Sena, pela ajuda na
condução de oficina. Aos conselheiros do Pesam e APA Araguaia, e demais
participantes das oficinas, pelas valorosas contribuições.
vii
Les baobabs, avant grandir, ça commence par être petit. Antoine de Saint Exupéry (Le Petit Prince)
viii
RESUMO
As Unidades de Conservação (UC), áreas legalmente instituídas pelo Poder Público com objetivos de conservação e sob especial regime de administração, surgem como espaços que possibilitam tanto a preservação ambiental quanto a integração da sociedade com um ambiente ecologicamente equilibrado. Com isso, a visitação pública vem crescendo de modo exponencial nesses espaços, especialmente nas últimas décadas. Tal fato exige de seus órgãos gestores providências quanto ao ordenamento do seu uso público, de modo a minimizar os impactos negativos decorrentes das atividades de visitação e a potencializar seus benefícios para o ecossistema e para as comunidades locais. Diante disso, este estudo apresenta uma discussão acerca da participação social na elaboração de Plano de Uso Público em Unidades de conservação. Além disso, o trabalho tem por objetivo elaborar, de modo participativo, o Plano de Uso Público do Setor 03 do Parque Estadual da Serra dos Martírios/Andorinhas (Pesam) e da Área de Proteção Ambiental de São Geraldo do Araguaia (APA Araguaia), unidades de conservação Estaduais localizadas no município de São Geraldo do Araguaia, no estado do Pará. A metodologia compreende tanto a revisão bibliográfica quanto a atividades de campo, realizada entre os anos de 2011 e 2013, com realização de três oficinas de diagnóstico e planejamento participativo. Os resultados alcançados foram a identificação dos atores sociais relacionados ao uso público do Pesam e APA Araguaia e a participação desses agentes na composição do plano, não somente como informantes, mas como tomadores de decisão mediante processo reflexivo sobre o Uso Público naquela região.
Palavras-chave: Unidades de Conservação. Uso Público. Planejamento Participativo. Parque Serra das Andorinhas. APA Araguaia.
ix
RESUMEN
Las unidades de conservación (UC), son áreas legítimamente establecidas por el Poder Público, con objetivos de conservación y bajo un régimen especial de administración, surgen como espacios que permiten la preservación ambiental y la integración de la sociedad con un ambiente que se encuentra ecológicamente equilibrado. En virtud de eso, las visitas públicas están creciendo de forma exponencial en estos espacios, en especial en las últimas décadas. Este hecho exige de sus órganos gestores las intervenciones necesarias en lo relacionado a planificación de la visitación pública, para que se puedan minimizar los impactos negativos causados por esa actividad y potenciar los beneficios para el ecosistema y las comunidades locales. De acuerdo con eso, en este trabajo se presenta una discusión sobre la participación social, junto con la elaboración del Plan de Visitación en unidades de conservación. El objetivo es elaborar, de manera participativa, el Plan de Visitación del sector 03 del “Parque Estadual serra das Martírios/Andorinhas (Pesam)” y del “Área de Protección Ambiental de São Geraldo do Araguaia (APA Araguaia)”. Estas dos áreas son de preservación ambiental y están ubicadas en el condado de “São Geraldo do Araguaia /Pará. El método incluye la revisión de la literatura, además actividades de campo realizadas entre los años de 2011 a 2013. En este período, se efectuaron tres talleres de diagnóstico y planificación participativa. Los resultados obtenidos fueron: la identificación de los actores sociales relacionados con las actividades de visitación de Pesam y APA/ Araguaia además de la participación de estos agentes en la elaboración del plan; ellos no solamente actuaron como informantes, sino como tomadores de decisiones frente al proceso de reflexión sobre la visitación en aquella región.
Palabras-Clave: Unidades de Conservación. Visitación Pública. Planificación Participativa. Parque Serra das Andorinhas. APA Araguaia.
x
LISTA DE QUADROS
Quadro 1 - Categorias de Manejo de Áreas Protegidas e seus objetivos segundo a UICN ................ 22
Quadro 2 - Matriz dos objetivo de manejo e as categorias de manejo de áreas protegidas da UICN . 23
Quadro 3 - Categorias de Manejo de Unidades de Conservação do SNUC ........................................ 26
Quadro 4 - Número de unidades de conservação no Brasil, sua área, e análise percentual .............. 27
Quadro 5 - Comparativo entre as categorias parque e APA, segundo o previsto no SNUC ............... 29
Quadro 6 - Análise das categorias de manejo de áreas protegidas da UICN, em relação à visitação
pública(pesquisa, turismo e educação ambiental) ................................................................................ 31
Quadro 7 - Análise da possibilidade de visitação pública nas unidades de conservação brasileira, com
base no SNUC....................................................................................................................................... 32
Quadro 8 - Benefícios potenciais do turismo em áreas protegidas ...................................................... 36
Quadro 9 - Riscos do turismo ................................................................................................................ 38
Quadro 10 - Comparativo de características entre o DRR e o DRP ..................................................... 50
Quadro 11 - Etapas e ferramentas participativa ................................................................................... 53
Quadro 12 - Instituições listadas pelos participantes da oficina ........................................................... 55
Quadro 13 - Matriz com o resultado da aplicação do Diagrama de Venn para identificar importância
versus proximidade de instituições relacionadas com o Uso Público do Pesam e APA Araguaia ...... 58
Quadro 14 - Atrativos apontados durante o mapeamento participativo................................................ 61
Quadro 15 - Calendário Sazonal de visitação dos atrativos do Setor 03 do Pesam e APA Araguaia e
região de entorno .................................................................................................................................. 65
Quadro 16 - Quadro comparativo entre organizações presentes e ausentes, em relação ao pré-
estabelecido durante aplicação do Diagrama de Venn com equipe gestora ........................................ 67
Quadro 17- Pontos de atenção para o Uso Público do Pesam e APA Araguaia ................................. 69
Quadro 18 - Matriz de planejamento construída de modo participativo durante a oficina.................... 73
Quadro 19 - Infraestrutura básica e infraestrutura turística apontada pelos participantes como ponto
de atenção para o desenvolvimento do Uso Público no Pesam e APA Araguaia ................................ 76
Quadro 20 - Evolução do Índice de Desenvolvimento Humano do município de São Geraldo do
Araguaia ................................................................................................................................................ 83
Quadro 21 - Ficha técnica do Parque Estadual da Serra dos Martírios/Andorinhas (Pesam) ............. 87
Quadro 22 - Ficha técnica da Área de Proteção Ambiental de São Geraldo do Araguaia (APA
Araguaia) ............................................................................................................................................... 88
Quadro 23 - Fitofisionomias do Pesam e suas especificidades ........................................................... 95
Quadro 24 - Lista de mamíferos ameaçados de extinção encontrados no Pesam .............................. 97
Quadro 25 - Lista de aves ameaçadas de extinção encontradas no Pesam ....................................... 98
Quadro 26 - Recomendações de visitação para o Setor Casa de Pedra ........................................... 104
Quadro 27 - Recomendações de visitação para o Setor Brejo dos Padres ....................................... 106
Quadro 28 - Recomendações de visitação para as cachoeiras do Setor ao longo do Rio Araguaia . 108
Quadro 29 - Quadro funcional do Pesam e APA Araguaia ................................................................. 110
Quadro 30- Atrativos listados durante a oficina de mapeamento participativo ................................... 118
Quadro 31 - Atrativos para visitação do Setor 03 (e entorno) do Pesam e APA Araguaia ................ 120
Quadro 32 - Principais espécies de peixes buscados por pescadores no rio Araguaia ..................... 132
Quadro 33 - Calendário Sazonal de visitação dos atrativos do Setor 03 do Pesam e APA Araguaia 135
Quadro 34 - Disponibilidade de atrativos durante o ano, de acordo com o interesse do visitante ..... 136
xi
LISTA DE FIGURAS
Figura 1 - Modo de aplicação do planejamento .................................................................................... 43
Figura 2 - Controle das decisões pelos membros, de acordo com o grau de participação .................. 47
Figura 3 - Levantamento das instituições relacionadas ao Uso Público do Pesam e APA Araguaia .. 55
Figura 4 - Explicação sobre a construção do Diagrama de Venn ......................................................... 56
Figura 5 - Resultado da aplicação do Diagrama de Venn para identificar importância e proximidade de
instituições relacionadas com o Uso Público do Pesam e APA Araguaia ............................................ 57
Figura 6 - Explicação sobre a ferramenta ............................................................................................. 60
Figura 7 - indicação de atrativos pelos moradores ............................................................................... 60
Figura 8 - Mapa participativo dos atrativos do setor 03 do Pesam e APA Araguaia e de seu entorno 62
Figura 9 - Identificação do período de estiagem e cheia pelos participantes ....................................... 63
Figura 10 - Identificação do período de estiagem e cheia pelos participantes ..................................... 64
Figura 11- Palestra da Setur/PA para os participantes da oficina ........................................................ 67
Figura 12 - Apresentação do projeto para os participantes da oficina.................................................. 67
Figura 13 - Aplicação da Ferramenta Chuva de Ideias......................................................................... 69
Figura 14 - Subgrupos em discussão ................................................................................................... 70
Figura 15 - Socialização e validação do trabalho do subgrupo ............................................................ 70
Figura 16 - Matriz de planejamento, com ênfase na decisão do grupo em deixar para as instituições
elencadas as fases de implementação das melhorias.......................................................................... 72
Figura 17 - Diagrama de representação das entidades responsáveis pela estruturação do uso público
............................................................................................................................................................... 77
Figura 18 - Ranking Instituições responsáveis pela estruturação do Uso Público ............................... 78
Figura 19 - Mapa de localização do município de São Geraldo do Araguaia ....................................... 80
Figura 20 - Mapa de acesso à São Geraldo do Araguaia, a partir de Marabá e Araguaína ................ 81
Figura 21 - Análise percentual do PIB de São Geraldo do Araguaia (PA) ........................................... 83
Figura 22 - Mapa do Clima .................................................................................................................... 85
Figura 23 - Precipitação no Brasil entre 2008 e 2012 ........................................................................... 86
Figura 24 - Mapa de localização do Pesam e APA Araguaia no Município de São Geraldo do
Araguaia/PA .......................................................................................................................................... 89
Figura 25 - Gravura rupestre, Ilha dos Martírios ................................................................................... 90
Figura 26 - Gravura rupestre, Pedra Escrita ......................................................................................... 90
Figura 27 - Geomorfologia do Pesam e APA Araguaia ........................................................................ 92
Figura 28 - Biomas do Brasil ................................................................................................................. 94
Figura 29- Vila Santa Cruz dos Martírios .............................................................................................. 99
Figura 30 - Coco babaçu secando para extração de óleo - Vila Ilha de Campo ................................ 101
Figura 31 - Setores de Visitação do Pesam ........................................................................................ 102
Figura 32 - Acesso da Casa de Pedra partindo da propriedade do senhor Zeca do Jorge (BR 153) 103
Figura 33 - Casa de Pedra (aspecto externo) ..................................................................................... 104
Figura 34 - Romeiros durante reza no Festejo do Divino (interior da Casa de Pedra) ....................... 104
Figura 35- Acesso ao Brejo dos Padres, partindo da Vila Santa Cruz. (BR 153) ............................... 105
Figura 36 - Acesso ao Setor 03, ao longo do Rio Araguaia, partindo da sede municipal. ................. 107
Figura 37 - Cachoeira "Sem Nome" .................................................................................................... 107
Figura 38 - Cachoeira Riacho Fundo .................................................................................................. 107
Figura 39 - Cachoeira do Spanner ...................................................................................................... 107
Figura 40 - Vila Santa Cruz ................................................................................................................. 108
Figura 41 - Vila Ilha de Campo ............................................................................................................ 108
Figura 42 - Cachoeiras contíguas e de aparente poder de atratividade em uma das glebas ocupadas
por moradores no interior do PESAM ................................................................................................. 109
Figura 43 - Faixada da sede administrativa da Sema em São Geraldo do Araguaia ......................... 110
Figura 44 - Sede administrativa da Sema em São Geraldo do Araguaia ........................................... 110
xii
Figura 45 -Placas de sinalização no Pesam e na APA Araguaia (Morro do Mirante) ........................ 111
Figura 46 - Placas de sinalização no Pesam e na APA Araguaia (Vila Santa Cruz) .......................... 111
Figura 47 - Acesso terrestre e fluvial ao Pesam e APA Araguaia ...................................................... 112
Figura 48 - aspecto do Rio Araguaia com destaque para o Pesam, ao fundo ................................... 113
Figura 49 - voadeira utilizada para navegar no Rio Araguaia ............................................................. 113
Figura 50 - transporte popularmente conhecido como “pau-de-arara” ............................................... 113
Figura 51 - aspecto da estrada de acesso ao Pesam e APA Araguaia .............................................. 113
Figura 52 - Grupo fazendo refeição na pousada da vila Santa Cruz .................................................. 114
Figura 53 - Espaço para refeições na Pousada Recanto das Andorinhas ......................................... 114
Figura 54 - Turma 2010 ....................................................................................................................... 115
Figura 55 - Turma 2012 ....................................................................................................................... 115
Figura 56 - Pousada Recanto das Andorinhas, Vila Santa Cruz ........................................................ 116
Figura 57 - Acampados em residência de morador da vila Santa Cruz ............................................. 116
Figura 58 - Posto de atendimento na Vila Santa Cruz ........................................................................ 117
Figura 59 – Ambulancha ..................................................................................................................... 117
Figura 60- Praia Ilha de Campo .......................................................................................................... 121
Figura 61 - Praia Remanso dos Botos ................................................................................................ 122
Figura 62 - Barraca de palha ............................................................................................................... 122
Figura 63 - Lago Remanso dos Botos ................................................................................................ 123
Figura 64 - Pinturas rupestres no Abrigo Casa da Cultura ................................................................. 124
Figura 65 - Leito do Igarapé Sucupira, próximo de sua foz ................................................................ 124
Figura 66 - Cachoeira “Sem Nome” .................................................................................................... 125
Figura 67 - Cachoeira Riacho Fundo .................................................................................................. 125
Figura 68 - Travessia sobre pedras na trilha da Cachoeira do Spanner ............................................ 126
Figura 69 - Cachoeira do Spanner ...................................................................................................... 126
Figura 70 - Painel Pedra Escrita ......................................................................................................... 127
Figura 71 - Caverna do Morcego ........................................................................................................ 127
Figura 72 - Visitantes na Ilha dos Martírios ......................................................................................... 128
Figura 73 - Gravuras rupestres (preenchidas com areia) na Ilha dos Martírios ................................. 128
Figura 74 - Praia de Santa Cruz; serra no estado do Tocantins, ao fundo ........................................ 129
Figura 75 - Final de tarde na praia de Santa Cruz .............................................................................. 129
Figura 76 - Poção de Santa Cruz ........................................................................................................ 130
Figura 77 - Poção do Zequinha ........................................................................................................... 130
Figura 78 - Poção do Isidoro ............................................................................................................... 130
Figura 79 - Visão panorâmica a partir do Morro do Mirante ............................................................... 131
Figura 80 - Rio Araguaia ..................................................................................................................... 132
Figura 81 - Acampamentos às margens do Araguaia......................................................................... 132
Figura 82- Corredores formados por rochas – Brejo dos Padres ....................................................... 133
Figura 83 - Abrigo sob pedras – Brejo dos Padres ............................................................................. 133
Figura 84 - Caldeirão do Diabo ........................................................................................................... 134
Figura 85 - Mapa de atrativos para visitação pública no Pesam e APA Araguaia – ESTIAGEM ....... 137
Figura 86 - Mapa de atrativos para visitação pública no Pesam e APA Araguaia – CHEIA .............. 138
xiii
SUMÁRIO
Sumário
INTRODUÇÃO .......................................................................................................... 15
CAPÍTULO 1: AS UNIDADES DE CONSERVAÇÃO E AS ATIVIDADES DE USO
PÚBLICO................................................................................................................... 19
1.1. Contextualização sobre áreas protegidas no mundo ................................... 19
1.2. O Sistema Nacional de Unidades de Conservação (SNUC) e as categorias
Parque Nacional e Área de Proteção Ambiental. ................................................... 24
1.3. O Uso Público em Unidades de Conservação ............................................. 30
1.4. Discussão conceitual e importância do Uso Público em Unidades de
Conservação .......................................................................................................... 33
CAPÍTULO 2: A PARTICIPAÇÃO SOCIAL NO PLANEJAMENTO DE UNIDADES DE
CONSERVAÇÃO ...................................................................................................... 41
2.1. Aspectos gerais sobre o Planejamento Participativo ................................... 41
2.2. Participação social nos processos de planejamento .................................... 45
2.3. A participação social nas Unidades de Conservação e o papel dos
Diagnósticos Rurais Participativos ......................................................................... 48
CAPÍTULO 3: O PROCESSO PARTICIPATIVO PARA A CONSTRUÇÃO DO PLANO
DE USO PÚBLICO DO SETOR 03 DO PESAM E APA ARAGUAIA ........................ 53
3.1. A realização das oficinas de diagnóstico e planejamento participativo:
momento de ação-reflexão .................................................................................... 53
3.1.1. Definição dos atores a serem convidados para colaborar com o plano .... 53
3.1.2. O mapeamento participativo dos atrativos para visitação pública e
elaboração de um calendário sazonal de visitação dos atrativos ....................... 59
3.1.3. Plano de ação para o desenvolvimento do Uso Público ........................ 66
CAPÍTULO 4: O PLANO DE USO PÚBLICO DO SETOR 03 DO PARQUE SERRA
DAS ANDORINHAS E APA ARAGUAIA ................................................................... 79
4.1. INFORMAÇÕES GERAIS ............................................................................... 79
4.1.1. O município de São Geraldo do Araguaia ................................................ 79
4.1.2. O Parque Estadual da Serra dos Martírios/Andorinhas (Pesam) e a Área
de Proteção Ambiental de São Geraldo do Araguaia (APA Araguaia) ............... 87
4.2. INVENTÁRIO E DIAGNÓSTICO ................................................................... 110
xiv
4.2.1. Infraestrutura e Serviços Existentes no Pesam e APA Araguaia ............ 110
4.2.1. Mapeamento dos pontos de Visitação do Setor 03 do Pesam e APA
Araguaia ........................................................................................................... 118
4.2.3. Caracterização dos Atrativos do Setor 03 Do Pesam e APA Araguaia... 121
4.2.4. Calendário de Visitação Pública do Setor 03 .......................................... 135
4.3. AS PROPOSTAS PARA VIABILIZAR O USO PÚBLICO NO SETOR 03 DO
PESAM E APA ARAGUAIA ................................................................................. 139
4.3.1. Infraestrutura e serviços de apoio à visitação ......................................... 140
4.3.2. Infraestrutura e serviços básicos relacionados com a visitação ............. 144
CONSIDERAÇÕES FINAIS .................................................................................... 146
ANEXOS ................................................................................................................. 154
APÊNDICES ............................................................................................................ 164
15
INTRODUÇÃO
As áreas protegidas vem sendo estabelecidas em todas as partes do globo
como estratégia para a conservação da biodiversidade e dos serviços ambientais
existentes em seu território. Além disso, possibilitam, muitas vezes, a conciliação da
ocupação humana com sua conservação, assegurando o modo tradicional de vida e
incentivando a relação sustentável com o meio ambiente.
De acordo com o Plano Estratégico Nacional de Áreas Protegidas (PNAP), as
áreas protegidas se subdividem em Terras de Quilombo, Terras Indígenas e
Unidades de Conservação, sendo que este estudo terá enfoque nesta última
categoria de área protegida (BRASIL, 2006).
De acordo com o disposto no Sistema Nacional de Unidades de Conservação
– SNUC, Lei Federal Nº 9.985/2000, Unidade de Conservação (UC) é um
espaço territorial e seus recursos ambientais, incluindo as águas jurisdicionais, com características naturais relevantes, legalmente instituído pelo Poder Público, com objetivos de conservação e limites definidos, sob regime especial de administração, ao qual se aplicam garantias adequadas de proteção (BRASIL, 2000).
Para Vernalha e Neimam (2010), as UC no Brasil foram criadas para, entre
outros fins, proporcionar momentos de lazer e educação ambiental aos seus
visitantes, fator que pode ocasionar, ao mesmo tempo, a proteção da biodiversidade
e a geração de renda para as comunidades do entorno, valorizando não só o
trabalho das mesmas, mas inserindo seu modo de vida neste processo, sendo
positivo tanto para a população local quanto para os visitantes. A visitação nessas
áreas é denominada com o termo Uso Público.
Nesse sentido, existe uma categoria de UC que tem especial relação com o
Uso Público: o Parque Nacional - que pode ser também estadual ou municipal -, pois
está grafado em seu objetivo básico “a preservação de ecossistemas naturais de
grande relevância ecológica e beleza cênica” (BRASIL, 2000), ou seja, são áreas
que geralmente chamam a atenção de visitantes por apresentarem paisagens
peculiares e de grande beleza.
16
Assim, o Parque Estadual da Serra dos Martírios/Andorinhas (Pesam),
localizado no estado do Pará, além da relevância biológica de seu ecossistema, teve
em sua beleza cênica e valor arqueológico fatores preponderantes para a sua
criação. No seu entorno foi criada, com o objetivo de ser sua zona de
amortecimento1, a Área de Proteção Ambiental (APA) Araguaia, com características
similares, porém sob grande pressão provocada pela ocupação antrópica (SECTAM,
2006a).Os atos normativos que as instituíram foram, respectivamente, as leis
estaduais nº. 5.982 e nº. 5.983 de 25 de julho de 1996.
Apesar do reconhecido valor ecológico e cênico destas duas unidades de
conservação estaduais, a visitação ocorre de modo espontâneo e ainda carece de
ordenamento. Com isso, é urgente a necessidade de se estabelecer um
planejamento de ações, com fins a ordenar a visitação pública nas duas UC’s,
reduzindo com isso os impactos sobre o meio ambiente, proporcionando ao visitante
o enriquecimento de sua experiência durante o contato com as unidades de
conservação e gerando algum nível de desenvolvimento local, em função da
atividade de visitação.
Nesse âmbito, o Pesam já possui em seu Plano de Manejo2, um Estudo
Específico de Uso Público que determina as zonas onde a visitação pode ocorrer e
que traça recomendações sobre ações de gestão para cumprir tal missão (a de
ordenar o uso público). Algumas recomendações do documento abrangem a APA
Araguaia, sua zona de amortecimento. Entretanto, tendo em vista que este
documento foi elaborado em 2006, e que a visitação pública vem crescendo de
modo compulsivo, existe a necessidade de se traçar estratégias mais específicas
para a gestão do Uso Público nessas unidades.
Elaborar um Planejamento voltado para o Uso Público, de modo que seja
exequível e que atenda as necessidades dos diversos atores, sejam governamentais
e não-governamentais; direta e indiretamente relacionados com a atividade, implica
1Zona de amortecimento: o entorno de uma unidade de conservação, onde as atividades humanas
estão sujeitas a normas e restrições específicas, com o propósito de minimizar os impactos negativos sobre a unidade. (BRASIL, 2000) 2Plano de Manejo: documento técnico mediante o qual, com fundamento nos objetivos gerais de uma
unidade de conservação, se estabelece o seu zoneamento e as normas que devem presidir o uso da área e o manejo dos recursos naturais, inclusive a implantação das estruturas físicas necessárias à gestão da unidade. Lei do SNUC (BRASIL, 2000)
17
na necessidade de estimular a participação dos mesmos para a negociação e a
definição das ações que deverão constar no documento técnico.
Nessa abordagem, o Plano Estratégico Nacional de Áreas Protegidas (PNAP)
(BRASIL, 2006), o documento Gestão Participativa em Unidades de Conservação
(IBASE, 2006) e o manual Diretrizes para a Visitação em Unidades de Conservação
(MMA, 2006) ressaltam a importância de se trabalhar a participação social nas
ações de planejamento e gestão de unidades de conservação, sendo este último
manual dedicado, especialmente, à questão do Uso Público em Unidades de
Conservação.
Considera-se a participação como uma condição na qual os conhecimentos e as experiências de diferentes atores envolvidos com as unidades de conservação são levantados e discutidos, com o objetivo de se planejar e desenvolver estratégias conjuntas (DRUMOND et al., 2009,p.10).
Deste modo, com fins a se alcançar este planejamento conjunto, o
planejamento participativo surge como possibilidade de materialização da
participação social no que tange à gestão de unidades de conservação
(RABINOVICI e PESSOA, 2010; LUZ e LEDERMAN, 2007). Esta forma de
planejamento proporcionaria o envolvimento de visões multidisciplinares de diversos
setores da sociedade para a construção de um objetivo comum.
Sob esta perspectiva é que será desenvolvida esta pesquisa, cujo objetivo
geral é elaborar, de modo participativo, o Plano de Uso Público do Setor 03 do
Pesam e da APA Araguaia. Objetivo esse que se desdobra em dois objetivos
específicos: (1) identificar os principais agentes relacionados às atividades de Uso
Público do Setor 03 do Pesam e da APA Araguaia, para que estes componham o
universo a ser pesquisado; (2) buscar informações e gerar reflexão junto aos
agentes, para subsidiar a elaboração do Plano de Uso Público.
Para se alcançar os objetivos propostos, a metodologia foi constituída de
revisão bibliográfica (documentos, livros, sítios na internet, artigos, cartilhas,
legislações e folders) e trabalho de campo nas duas UC foco desta pesquisa, entre
2011 e 2013, para a realização de oficinas, visitas aos atrativos e comunidades para
registro fotográfico, observação e conversas informais.
Foram realizadas, aproximadamente, 10 incursões ao campo, das quais três
foram para a realização de oficinas (duas na zona urbana e uma na zona rural),
18
onde foram aplicadas ferramentas de diagnóstico e planejamento participativo; uma
com gestores das UC, outra com comunitários e uma terceira com diversos atores
sociais relacionados com o Uso Público das unidades, poder público, setor
empresarial e organizações da sociedade civil.
A relevância deste estudo está na sua potencial contribuição para a gestão do
Uso Público no Pesam e APA Araguaia, pois além da discussão teórica, traz
soluções metodológicas voltadas para a real prática da participação social em
processos de planejamento, do ponto de vista do empoderamento da sociedade
sobre as decisões que influenciarão sua vida e contexto. Há que se pensar ainda
que os resultados podem somar no conhecimento e debate sobre a gestão de UC’s
na Amazônia.
O primeiro capítulo traz uma discussão conceitual sobre a relação entre as
Unidades de Conservação e o Uso Público, abordando aspectos positivos e
negativos da atividade, bem como o papel do instrumento de planejamento, o Plano
de Uso Público, nessa relação.
O segundo capítulo, aborda a questão dos processos participativos nas
atividades de planejamento, de um ponto de vista sociológico e com um
direcionamento para as Unidades de Conservação.
No terceiro capítulo, estão detalhados os passos metodológicos adotados
durante os momentos participativos – as oficinas – demonstrando as ferramentas
que foram aplicadas no processo de diagnóstico e planejamento participativo do
Plano de Uso Público, objeto deste estudo.
O quarto e último capítulo, apresenta o Plano de Uso Público do Setor 03 do
Pesam e APA Araguaia, conjugando o arcabouço teórico dos dois primeiros
capítulos com os resultados obtidos nas oficinas, descritos no terceiro capítulo,
sistematizados em linguagem simples, de modo a não restringir seu manuseio e sua
implementação apenas aos técnicos da área.
19
CAPÍTULO 1: AS UNIDADES DE CONSERVAÇÃO E AS ATIVIDADES
DE USO PÚBLICO
1.1. Contextualização sobre áreas protegidas no mundo
Hoje em dia, existe algo entre 18 e 21 milhões de km² em áreas protegidas no
mundo. Se tomarmos por base o menor valor, cerca de 14 milhões de km²
correspondem à superfície terrestre e 4 milhões de km² de mares territoriais. Isso
perfaz cerca de 13% da superfície terrestre e 6% do conjunto territorial marítimo do
planeta, respectivamente; para ter uma referência, seria uma soma aproximada dos
territórios do Brasil, Austrália e Argentina (MILANO, 2012).
Grande parte dessas áreas é formada por ecossistemas naturais ou quase
naturais, com diferentes graus de intervenção humana. Muitas guardam
acontecimentos históricos, além de registrarem a sutil interrelação entre as
atividades humanas e a natureza no decorrer do tempo (DUDLEY, 2008). São áreas
cujo objetivo maior é a conservação de suas características.
Um fato que influenciou fortemente o entendimento que temos hoje sobre a
conservação da natureza foi a criação do Parque Nacional de Yellowstone, em 1872,
nos Estados Unidos. Trata-se da ideia de se instituir espaços reservados, separados
do convívio humano, e que tem o seu uso controlado pelo poder público (COSTA
2002; DIEGUES, 2008; ARAÚJO, 2012; MILANO, 2012).
Segundo Diegues (2008), sua concepção decorre da ideia preservacionista,
tendo-o como uma área selvagem; não habitada, ou wilderness, usando o termo
norte-americano. Entretanto, existe outra corrente de pensamento, a
conservacionista, que prega o uso de recursos pelos cidadãos evitando os
desperdícios e pensando no bem comum.
A esse respeito, Diegues (2008) comenta que
se a essência da “conservação dos recursos” é o uso adequado e criterioso dos recursos naturais, a essência da corrente oposta, a preservacionista, pode ser descrita como a reverência à natureza no sentido da apreciação estética e espiritual da vida selvagem (DIEGUES, 2008. p. 32).
20
Essas duas correntes teóricas, que permearam as discussões iniciais sobre
as áreas protegidas, nos Estados Unidos, tiveram repercussão e ganharam adeptos
dentro e fora do país.
A partir de então, diversos países como Austrália (1879), Canadá (1885),
Nova Zelândia (1894), África do Sul (1898), México (1899), Argentina (1903), Chile
(1892), Equador (1934), Venezuela e Brasil (1937), entre outros, passaram a adotar
a criação de parques com base no modelo americano, no intuito maior de conservar
suas áreas naturais protegidas (COSTA, 2002).
Entendidas como peças-chave para a satisfação das necessidades humanas,
como estratégia de desenvolvimento sustentado por meio do uso adequado dos
recursos naturais, a proteção desses territórios passa a ser adotada e discutida
mundialmente. As Áreas Protegidas assumem mais de 140 designações diferentes
nos mais diversos países do mundo, variando de acordo com seus objetivos de
conservação (UICN, 1994).
Para Dudley (2008), as Áreas Protegidas:
Son la piedra angular de prácticamente todas las estratégias nacionales e internacionales de conservación, están destinadas a mantener ecossistemas naturales operativos, actuar como refugios para las especies y mantener procesos ecológicos incapaces de sobrevivir em los entornos terrestres y marítimos com um mayor nivel de intervención (p. 02).
O primeiro esforço para esclarecer essa terminologia - Área Protegida -
aconteceu em 1933 na Conferência Internacional para a Proteção da Fauna e Flora,
em Londres, onde foram estabelecidas quatro categorias de Áreas Protegidas:
Parque Natural, Reserva Natural Estrita, Reserva de Flora e Fauna; e Reserva com
Proibição de Caça e Coleta. Em 1942, A Convenção do Hemisfério Ocidental sobre
a Proteção das Natureza e Conservação da Vida Silvestre também incorporou
quatro tipos: Parque Natural, Reserva Nacional, Monumento Nacional e Reserva
Natural Estrita (DUDLEY, 2008; ARAÚJO, 2012).
Diante disso, a União Internacional para a Conservação da Natureza (UICN)3,
por meio de sua Comissão de Parques Nacionais e Áreas Protegidas (CPNAP) e de
3Muito citada nas literaturas como IUCN, sigla originária em inglês para International Union for Conservation of Nature, trata de organização internacional dedicada à conservação da natureza, fundada em 1948, sediada na Suíça. É hoje a maior e maios antiga do mundo nessa área. Com mais de 1.200 organizações membros ao redor de 160 países e 11.000 cientistas e pesquisadores voluntário agrupados em seis comissões, tem como missão influenciar, alentar e ajudar as sociedades de todo o mundo a conservar a integridade e diversidade
21
seu Conselho, adotou a reivindicação de gestores dessas áreas para que se
aprovasse um sistema de categorias de manejo que pudesse ser apresentado a
governos do mundo todo, com diretrizes para a categorização dessas áreas. A ideia
era facilitar a comunicação e informação e não dirigir os sistemas do mundo todo
(UICN, 1994).
Assim, em 1978, a CPNAP publicou um informe propondo dez (10)
categorias, quais sejam:
I. Reserva Científica/Reserva Natural Estrita;
II. Parque Nacional;
III. Monumento Natural/Elemento Natural Destacado;
IV. Reserva de Conservação da Natureza/Reserva Natural Manejada/Santuário de Vida Silvestre;
V. Paisagem Protegida;
VI. Reserva de Recursos Naturais;
VII. Área Biótica Natural/Reserva Antropológica;
VIll. Área Natural Manejada com Fins de Utilização Múltipla/Área de Manejo dos Recursos Naturais;
IX. Reserva da Biosfera; e
X. Sitio (Natural) de Patrimônio Mundial.
Entretanto, segundo a UICN (1994), no decorrer do tempo, a experiência com
o manejo dessas áreas apontou para a necessidade de revisar e atualizar esse
sistema de categorias. Assim, o CPNAP criou um Grupo de Tarefas Especiais, em
1984, com a missão de analisar e modificar o sistema. Em 1990, durante a
Assembleia Geral da UICN em Pearth, na Austrália, essa comissão apresentou
informe propondo que as categorias de I a V se tornassem base para a elaboração
de um sistema atualizado, suprimindo as categorias de VI a X. O informe foi bem
aceito, sendo posteriormente analisadas de modo mais profundo, culminando nas
categorias apresentadas na quadro 01:
da natureza, e assegurar que todo o uso dos recursos naturais seja equitativo e ecologicamente sustentável (IUCN, 2013).
22
Quadro 1 - Categorias de Manejo de Áreas Protegidas e seus objetivos segundo a UICN
CATEGORIAS OBJETIVO
Ia. Reserva Natural Estrita
Conservar em escala regional, nacional ou global ecossistemas, espécies e/ou características de geodiversidade extraordinários: tais atributos formaram-se principalmente ou exclusivamente por forças não humanas e se degradariam ou destruiriam se fossem submetidos a qualquer impacto humano significativo.
Ib. Área Natural Silvestre
Proteger a integridade ecológica em longo prazo de áreas naturais sem alterações significativas por atividades humanas, livres de infraestruturas modernas e onde predominam as forças e processos naturais, de forma que as gerações presentes e futuras tenham a oportunidade de experimentar tais áreas.
II. Parque Nacional
Proteger a biodiversidade natural junto com a estrutura ecológica subjacente e os processos ambientais nos quais se apóia, e promover a educação e o uso recreativo.
III. Monumento Natural
Proteger características naturais específicas marcantes e a biodiversidade e os hábitats associados a eles.
IV. Área de Manejo de Hábitats / Espécies
Manter, conservar e restaurar espécies e habitats.
V. Paisagens Terrestres e Marinhas
Proteger e manter paisagens terrestres/marinhas importantes e a conservação da natureza associada a elas, assim como outros valores criados pelas interações com os seres humanos mediante práticas de manejo tradicionais.
VI. Área Protegida Manejada
Proteger os ecossistemas naturais e usar os recursos naturais de forma sustentável, quando a conservação e o uso sustentável puderem beneficiar-se mutuamente.
Fonte: IUCN, 2013
É interessante observar que essas categorias refletem um processo de
amadurecimento, após a experiência adquirida ao longo de anos de funcionamento
do sistema de categorias de manejo de 1978. Elas representam diretrizes gerais e
cada país pode usar de flexibilidade ao adotar uma delas ou instituir novas
categorias, respeitando as peculiaridades de seus ecossistemas.
Quanto aos objetivos de manejo das áreas protegidas, a UICN destaca que
são nove, os principais. No quadro 02, podemos observar esses objetivos e sua
relação com cada uma das categorias propostas pela UICN em 1990.
23
Quadro 2 - Matriz dos objetivo de manejo e as categorias de manejo de áreas protegidas da UICN
Objetivos de Manejo Ia Ib II III IV V VI
Pesquisa Científica 1 3 2 2 2 2 3
Proteção de Zonas Silvestres 2 1 2 3 3 - 2
Preservação das espécies e da diversidade genética 1 2 1 1 1 2 1
Manutenção dos serviços ambientais 2 1 1 - 1 2 1
Proteção das características naturais e culturais específicas
- - 2 1 3 1 3
Turismo e recreação - 2 1 1 3 1 3
Educação - - 2 2 2 2 3
Uso sustentável dos recursos derivados dos ecossistemas naturais
- 3 3 - 2 2 1
Preservação dos atributos culturais e tradicionais - - - - - 1 2
Legenda: 1 Objetivo Principal 2 Objetivo Secundário 3 Objetivo potencialmente aplicável – não de aplica
Fonte: UICN, 1994, p. 186. Traduzido pelo autor. Língua original: espanhol.
Diante dessa análise, pode-se constatar que as categorias de manejo Ia e Ib
apresentam caráter mais restritivo em termos de atividades que devam/possam ser
desenvolvidas em seus territórios. A categoria VI é a menos restritiva. As demais (II,
III, IV e V) apresentam uma graduação intermediária entre a primeira e a última. É a
partir dos objetivos postulados pela categoria de manejo que sua gestão será
norteada.
Atualmente, o conceito de Área Protegida, reconhecido pela UICN, aborda-a
como
Um espacio geográfico claramente definido, reconocido, dedicado y gestionado, mediante médios legales y otros tipos de médios eficaces para conseguir la conservación a largo plazo de la naturaleza y de sus servicios ecosistémicos y sus valores culturales asociados (DUDLEY, 2008. p. 10).
Assim, com a finalidade maior de conservar áreas naturais - admitidos os
níveis existentes e desejáveis de intervenção humana nas mesmas -, as áreas
protegidas passam a ser uma estratégia para salvaguardar patrimônios ecológicos e
culturais marcantes nos mais diversos ecossistemas e contextos por todo o globo.
24
1.2. O Sistema Nacional de Unidades de Conservação (SNUC) e as
categorias Parque Nacional e Área de Proteção Ambiental.
No Brasil, o Plano Estratégico Nacional de Áreas Protegidas (PNAP),
reconhecido por meio do Decreto Nº. 5758/2006, considera como Áreas Protegidas
as Terras Indígenas, as Terras de Quilombo e as Unidades de Conservação
(BRASIL, 2006). Entretanto, para fins deste estudo, somente serão abordadas as
Unidades de Conservação.
Segundo Alegretti (2012), Leuzinger (2012b) e Ramos (2012), é a partir da
década de 1930 que surgem os marcos legais e institucionais voltados para
proteção dos recursos naturais no Brasil, a exemplo do Código Florestal de 1934
(Decreto Nº 23.793), tendo ocorrido diversas mudanças e evoluções até os tempos
modernos.
Segundo Costa (2002), apesar do esforço de André Rebouças, em 1876,
ainda durante o Império, para a criação dos Parques Nacionais de Sete quedas (PR)
e da Ilha do Bananal (TO), somente em 1937 foi criada a primeira Unidade de
Conservação brasileira, o Parque Nacional de Itatiaia, com base no Código Florestal
de 1934, que estabeleceu os primeiros conceitos de parques nacionais, florestas
nacionais e florestas protetoras.
Depois do Código Florestal de 1934, veio o de 1965 (Decreto Lei Nº. 4771)
adotando as categorias parque nacional, floresta nacional e reserva biológica. Dois
anos depois, a gestão desses territórios foi atribuída ao Instituto Brasileiro de
Desenvolvimento Florestal – IBDF; e em 1973 foi criada a Secretaria Especial de
Meio Ambiente – SEMA, vinculada à Presidência da República, que culminou com a
criação de novas categorias: estação ecológica, reserva biológica, área de relevante
interesse ecológico e área de proteção ambiental. Em 1980 surge a proposta do
Conselho Nacional dos Seringueiros quanto à criação de outra categoria: reserva
extrativista (ALEGRETTI, 2012; LEUZINGER, 2012b; RAMOS, 2012).
Anos depois, em 1988, foi promulgada a Constituição Federal Brasileira
(BRASIL, 1988), que em seu Art. 225 trouxe o seguinte texto:
25
todos tem direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao poder público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações.
E inscreveu em seu § 1º:
Para assegurar a efetividade desse direito, incumbe ao Poder Público:
I - preservar e restaurar os processos ecológicos essenciais e prover o manejo ecológico das espécies e ecossistemas;
II - preservar a diversidade e a integridade do patrimônio genético do País e fiscalizar as entidades dedicadas à pesquisa e manipulação de material genético;
III - definir, em todas as unidades da Federação, espaços territoriais e seus componentes a serem especialmente protegidos, sendo a alteração e a supressão permitidas somente através de lei, vedada qualquer utilização que comprometa a integridade dos atributos que justifiquem sua proteção;
[...]
VII - proteger a fauna e a flora, vedadas, na forma da lei, as práticas que coloquem em risco sua função ecológica, provoquem a extinção de espécies ou submetam os animais a crueldade.
Esses quatro incisos foram a base para a criação do Sistema Nacional de
Unidades de Conservação (SNUC). A proposta inicial dessa legislação foi elaborada
em 1988, pela Fundação Pró Natureza – Funatura, encomendada pelo IBDF, tendo
sido instituída por meio da Lei 5.985/2000 (ARAÚJO, 2012b; RAMOS, 2012). Essa
lei, que ficou conhecida como Lei do SNUC, funda um importante marco para a
gestão das UC no Brasil.
A Lei do SNUC, como ficou conhecida, já em seu capítulo I, adotou um
conceito – tomado até os tempos atuais – sobre Unidade de Conservação, sendo
caracterizada como:
espaço territorial e seus recursos ambientais, incluindo as águas jurisdicionais, com características naturais relevantes, legalmente instituído pelo Poder Público, com objetivos de conservação e limites definidos, sob regime especial de administração, ao qual se aplicam garantias adequadas de proteção (BRASIL, 2000).
Além desse e de outros conceitos importantes, essa lei institui 12 (doze)
categorias de manejo, dividindo-as em dois grandes grupos: Unidades de Proteção
Integral e Unidades de Uso Sustentável. No quadro 03, abaixo, é possível observar
essa divisão:
26
Quadro 3 - Categorias de Manejo de Unidades de Conservação do SNUC
Unidades de Proteção Integral (PI) Unidades de Uso Sustentável (US)
I - Estação Ecológica - Esec
II - Reserva Biológica - Rebio
III - Parque Nacional -Parna
IV - Monumento Natural
V - Refúgio de Vida Silvestre - Revis
I - Área de Proteção Ambiental - APA
II - Área de Relevante Interesse Ecológico - ARIE
III - Floresta Nacional - Flona
IV - Reserva Extrativista - Resex
V - Reserva de Fauna
VI – Reserva de Desenvolvimento Sustentável - RDS
VII - Reserva Particular do Patrimônio Natural - RPPN
Fonte: BRASIL, 2000
A diferença entre esses dois grandes grupos de UC reside nos seus objetivos.
Enquanto as de Proteção Integral (PI) visam à preservação da natureza por meio do
uso indireto dos seus recursos naturais, as de Uso Sustentável (US) primam pela
conservação da natureza por meio do uso direto dos seus recursos naturais, porém
garantido sempre na sustentabilidade dos mesmos (BRASIL, 2000).
Atualmente, 1762 UC estão inscritas no Cadastro Nacional de Unidades de
Conservação (CNUC), do Brasil, abarcando 11 categorias de manejo do SNUC –
nenhuma Reserva de Fauna foi criada até o momento - nas esferas municipal,
estadual e federal. Essas unidades perfazem uma área total de 1.527.213km², o que
corresponde a cerca de 18% do território nacional. Sua distribuição, de acordo com
a categoria de manejo, pode ser observada no quadro 04, que segue.
27
Quadro 4 - Número de unidades de conservação no Brasil, sua área, e análise percentual
Grupo/Categoria Nº. % Nº. Área (km²) % Área
Proteção Integral
Estação Ecológica 95 5,4 115.805 7,6
Monumento Natural 36 2,0 1.354 0,1
Parque Nacional / Estadual / Municipal 333 18,9 346.527 22,7
Refúgio de Vida Silvestre 29 1,6 3.731 0,2
Reserva Biológica 55 3,1 52.606 3,4
Uso Sustentável
Floresta Nacional / Estadual / Municipal 103 5,8 300.254 19,7
Reserva Extrativista 87 4,9 143.535 9,4
Reserva de Desenvolvimento Sustentável 31 1,8 116.615 7,6
Reserva de Fauna 0 0 0 0
Área de Proteção Ambiental 265 15,0 440.879 28,9
Área de Relevante Interesse Ecológico 47 2,7 920 0,1
Reserva Particular do Patrimônio Natural 681 38,6 4.987 0,3
TOTAL 1.762 100 1.527.213 100
Fonte: CNUC/MMA – www.mma.gov.br/cadastro_uc. Atualizada em 12/12/2012.
Ao ranquear as três primeiras categorias de UC, por número, no Brasil,
teremos: (1º) Reserva Particular do Patrimônio Natural, (2º) Parque e (3º) Área de
Proteção Ambiental. Se considerarmos na análise a área das UCs teremos: (1º)
Área de Proteção Ambiental, (2º) Parque Nacional/Estadual/Municipal e (3º) Floresta
Nacional/Estadual/Municipal. Nas duas análises, é possível notar a recorrência das
categorias de manejo Parque e APA. Em decorrência do direcionamento deste
estudo para essas duas categorias de UC, cabe aqui sua breve caracterização.
Segundo o preceituado na Lei do SNUC, o objetivo básico do Parque
Nacional – que também pode ser Estadual ou Municipal, a depender da esfera do
poder que o institua – é
a preservação de ecossistemas naturais de grande relevância ecológica e beleza cênica, possibilitando a realização de pesquisas científicas e o desenvolvimento de atividades de educação e interpretação ambiental, de recreação em contato com a natureza e de turismo ecológico (BRASIL, 2000).
Essa categoria de UC é de domínio público e às terras localizadas em seu
domínio cabe desapropriação, uma vez que a moradia e a produção em seu
território não está entre seus objetivos de criação, conforme se pode observar
acima.
28
A visitação pública é permitida, estando apenas sujeita às normas e restrições
previstas no Plano de Manejo e às normas previstas em seu regulamento. De
acordo com Pardini (2012), seu grande potencial de uso, se comparada às outras
categorias de UC, está ligado a essa atividade. A pesquisa científica em seu
território também pode ocorrer e depende de autorização prévia do órgão
responsável por sua administração.
Em relação às categorias de manejo propostas pela UICN, o Parque Nacional
proposto pelo SNUC se assemelha bastante a categoria II, que tem a mesma
denominação, especialmente no que concerne ao seu notável potencial para
visitação pública. A diferença primordial entre elas é o fato de, no caso da UICN, o
parque ter entre seus objetos abrigar comunidades locais; o que no caso do sistema
brasileiro é contra os seus objetivos de criação.
Lembremos aqui que a UICN propõe categorias e cada país adequa a sua
realidade e legisla a respeito. Para exemplificar essas diferenças, podemos citar que
nos parques bolivianos, equatorianos, colombianos e peruanos, podem morar
indígenas e eventualmente comunidades tradicionais; nos parques equatorianos,
pode-se explorar petróleo e minério (DOUROJEANNI, 2012). Essas áreas
provavelmente não se enquadram na categoria II, mas recebem a denominação de
parques.
Conforme prevê o Art. 29 da Lei do SNUC, cada unidade de proteção integral
disporá de um conselho consultivo. Com isso, o Conselho4 dos parques (nacionais,
estaduais e municipais) é consultivo, ou seja, opina e emite pareceres relacionados
à gestão da UC, podendo o órgão gestor acatá-los ou não (BRASIL, 2000; DANIELI
et al., 2012).
Já no caso da Área de Proteção Ambiental (APA), suas características
remetem a uma área geralmente extensa e que apresenta certo grau de ocupação
humana. Seus atributos (ecológicos, estéticos e culturais) constituem fator
importante para a qualidade de vida das populações humanas. O objetivo básico
dessas áreas é “proteger a diversidade biológica, disciplinar o processo de ocupação
e assegurar a sustentabilidade do uso dos recursos naturais” (BRASIL, 2000).
4 Órgão colegiado formado por um grupo de pessoas e/ou instituições que tem a função de ser um fórum
democrático de discussão, negociação e gestão da unidade de conservação e sua zona de amortecimento. Pode ser deliberativo ou consultivo. (DANIELI et al., 2012)
29
Diferente dos parques, que são constituídos de terras de domínio público, no
caso das APAs as terras podem ser públicas ou privadas, podendo ser
estabelecidas normas e restrições tanto para a utilização das terras públicas quanto
das particulares, salvaguardados os direitos constitucionais, nesse último caso.
Tanto a pesquisa quanto a visitação pública nas áreas de domínio público
devem obedecer às condições estabelecidas pelo plano de manejo e pelo órgão
gestor. No caso das áreas privadas, cabe ao proprietário o estabelecimento dessas
normas, respeitada a legislação vigente.
Em analogia às categorias de manejo propostas pela UICN, a APA teria na
categoria VI, Área Protegida Manejada, o seu correspondente. Em ambos os casos
(categorias da UICN e do SNUC), são as áreas menos restritivas e destinadas ao
uso dos recursos naturais sob os princípios da sustentabilidade.
No caso da APA, seu conselho poderá ser consultivo ou deliberativo.
Segundo Brasil (2000) e Danieli et al. (2012), ao passo que o consultivo opina, no
deliberativo há poder de decisão sobre as questões relacionadas a UC.
No quadro 05, pode-se visualizar de forma sistematizada as peculiaridades
dos parques e APA, segundo o que rege a Lei do SNUC:
Quadro 5 - Comparativo entre as categorias parque e APA, segundo o previsto no SNUC
PARQUE APA
Grupo Proteção Integral Uso Sustentável
Uso Indireto Direto
Domínio Público Público e/ou privado
Visitação pública Permitida Permitida
Pesquisa científica Permitida Permitida
Conselho Consultivo Consultivo ou Deliberativo
(BRASIL, 2000)
A partir das observações feitas, pode-se inferir ainda que, nos termos de
Diegues (2008), o parque está voltado para a preservação dos ecossistemas que
inclui, não sendo o seu uso compatível com a presença humana permanente, no
sentido de morar e produzir naquela área, o que caberia, entretanto, nos objetivos
30
da APA, cuja missão associa-se mais à conservação, admitindo a ocupação e uso
da área.
1.3. O Uso Público em Unidades de Conservação
O movimento de pessoas em direção às áreas naturais, buscando contato e,
por vezes, integração com esses espaços, é uma prática antiga que, desde o final
da Segunda Guerra Mundial, cresceu de modo exponencial, tendo como motivos
principais o desenvolvimento dos meios de transporte e vias de acesso; o aumento
no padrão de vida das pessoas e na disponibilidade de tempo livre; além da
melhoria nos sistemas de comunicação (COSTA, 2002; TAKAHASHI, 2004).
A esse respeito, diversos autores como Costa (2002), Takahashi (2004),
Rabinovici et al. (2010) e outros, asseguram que as unidades de conservação, em
suas distintas esferas e modalidades, são destinos que favorecem a visitação
pública e dela se beneficiam.
Por visitação entende-se, no contexto desta pesquisa, “o aproveitamento e a
utilização da Unidade de Conservação com fins recreacionais, educativos, entre
outras formas de utilização indireta dos recursos naturais e culturais” (MMA, 2008, p.
60).
Nesse sentido, Leuzinger (2012a) aborda que em virtude da popularidade
alcançada pelo turismo ecológico, a visitação nas unidades de conservação se
intensificou de tal modo, que se tornou indispensável a conciliação dessa atividade
com a preservação da biodiversidade e os outros recursos naturais encontrados
nessas áreas.
Nesse contexto, se fizermos breve análise no sistema de categorias de
manejo proposto pela UICN, observaremos que as únicas categorias que não são
passíveis de visitação pública são a Reserva Natural Estrita (Ia) e a Área Natural
Silvestre (Ib), conforme observamos no quadro 06.
31
Quadro 6 - Análise das categorias de manejo de áreas protegidas da UICN, em relação à visitação pública(pesquisa, turismo e educação ambiental)
Objetivos de Manejo Ia Ib II III IV V VI
Pesquisa Científica 1 3 2 2 2 2 3
Proteção de Zonas Silvestres 2 1 2 3 3 - 2
Preservação das espécies e da diversidade genética 1 2 1 1 1 2 1
Manutenção dos serviços ambientais 2 1 1 - 1 2 1
Proteção das características naturais e culturais específicas
- - 2 1 3 1 3
Turismo e recreação - 2 1 1 3 1 3
Educação - - 2 2 2 2 3
Uso sustentável dos recursos derivados dos ecossistemas naturais
- 3 3 - 2 2 1
Preservação dos atributos culturais e tradicionais - - - - - 1 2
Legenda: 1 Objetivo Principal 2 Objetivo Secundário 3 Objetivo potencialmente aplicável – não de aplica
Fonte: UICN, 1994, p. 186.[grifo do autor]
Entretanto, é grafada a seguinte ressalva no documento, ao abordar casos
em que esse tipo de área possa ter importância espiritual e religiosa: “en este caso
área puede contener lugares así que podrían ser visitados por un número reducido
de personas participantes em actividades religiosas que fueran consistentes com los
objetivos de gestión de la misma” (DUDLEY, 2008, p.16).
Sob a mesma perspectiva, ao se observar o sistema brasileiro de unidades de
conservação, constata-se que todas as categorias são passíveis dessa atividade,
sendo um pouco mais restritiva em apenas duas, das 12 categorias de manejo: a
estação ecológica e a reserva biológica, conforme se pode observar no quadro 07;
restrição essa que está condicionada apenas à observância às recomendações
dispostas no Plano de Manejo e no Plano de Uso Público de cada um dessas
unidades, não sendo efetivamente proibida. Em todas as UCs deve-se atentar ao
disposto no Plano de Manejo.
32
Quadro 7 - Análise da possibilidade de visitação pública nas unidades de conservação brasileira, com base no SNUC
ATIVIDADE CATEGORIA
Pesquisa científica
Educação ambiental
Recreação e turismo
Estação Ecológica P P R
Reserva Biológica P P R
Parque Nacional P P P
Monumento Natural P P P
Refúgio de Vida Silvestre P P P
Área de Proteção Ambiental P P P
Área de Relevante Interesse Ecológico
P P P
Floresta Nacional P P P
Reserva Extrativista P P P
Reserva de Fauna P P P
Reserva de Desenvolvimento Sustentável
P P P
Reserva Particular do Patrimônio Natural
P P P
Legenda: P = Permitida; R = Restritiva. (BRASIL, 2000)
Diante das análises feitas nas categorias de manejo de unidades de
conservação propostas pela UICN (em âmbito internacional) e no SNUC (sistema
brasileiro), sob a perspectiva da visitação pública – também tratada por uso público -
, pode-se notar que essa atividade é uma realidade nesses espaços, tornando-se
fundamental compreendê-la melhor, de modo que ela possa vir em favor da
conservação dessas áreas.
33
1.4. Discussão conceitual e importância do Uso Público em Unidades de
Conservação
Discutir conceitualmente Uso Público em UCs é uma tarefa das mais ousadas
na área da conservação ambiental, tendo em vista que poucos autores se
debruçaram sobre tal temática, sendo escassas as bibliografias nessa área. Por
isso, o auxílio de manuais, documentos técnicos e atos normativos serão
fundamentais para se alcançar sua compreensão nesta pesquisa.
O uso público remete a todo uso que não aquele voltado especificamente à gestão da unidade e realizado pelo seu quadro de colaboradores, sejam eles concursados, contratados ou terceirizados, respeitando-se as especificidades e dinâmica de cada atividade realizada (PARDINI, 2012, p. 125).
Essa abordagem, lato sensu, é fundamental ponto de partida para o
entendimento desse conceito. Entretanto, para a gestão dessas áreas, ainda que em
linhas gerais, é interessante caracterizar um pouco mais essa atividade, de modo a
entender o que é, e por quem são praticadas.
Ao discutir o tema Uso Público, autores como Costa (2002); Takahashi
(2004); Rocktaeschel (2006); Silva (2007); Rabinovici et al. (2010); Nelson (2012); e
Pardini (2012), enfocam basicamente o ecoturismo, o turismo de natureza e o
turismo sustentável. Dada a recorrência desses termos na literatura sobre o assunto,
é interessante debater a relação e a diferença entre eles, do ponto de vista
conceitual.
Sobre o ecoturismo e o turismo de natureza, Nelson (2012) afirma que
para que se considere uma atividade ecoturística, quatro elementos são fundamentais: atividade econômica, contribuição para a conservação, envolvimento comunitário e elemento educativo. Sem eles, não pode haver ecoturismo, e sim outro segmento, como turismo de natureza, que se caracteriza simplesmente pela contemplação/uso da natureza, sem o compromisso com a comunidade, conservação e informação (p. 217).
Diante disso, compreende-se que Ecoturismo e Turismo de Natureza são
atividades conceitualmente diferenciadas, tendo em vista que, no primeiro, o
interesse no contato com a natureza é unido a uma preocupação como o modo de
praticar a atividade e, no segundo, há apenas interesse no contato com a natureza.
34
Já sobre o turismo sustentável, Rabinovici et al. (2010) avaliam que seria uma
forma menos impactante e mais positiva de realizar o turismo, e segue destacando
que
para ser sustentável, o turismo deve considerar como meta a manutenção da integridade dos processos ecológicos, biológicos, ambientais, além de satisfazer as necessidades econômicas, culturais, éticas, estéticas das pessoas e dos ambientes (p. 40).
Sob as perspectivas apresentadas, a prática do ecoturismo pressupõe a
preocupação/interesse do turista com os impactos sociais, econômicos e ambientais
que envolvem suas atividades durante a visitação, ou seja, esse turista (ou
ecoturista) estaria praticando o turismo sustentável. Por outro lado o turismo de
natureza está apenas relacionado com o contato e a realização de atividades em
áreas naturais, não estando necessariamente esse turista (de natureza) preocupado
com a sustentabilidade do turismo que está praticando.
Cabe aqui um destaque para o conceito de turismo, que segundo a
Organização Mundial do Turismo – OMT, “[...] engloba as atividades das pessoas
que viajam e permanecem em lugares fora do seu ambiente usual durante não mais
do que um ano consecutivo, por prazer, negócios ou outros afins.” (apud IGNARRA,
2005, p.11), definição essa que perpassa por todos os termos abordados:
ecoturismo, turismo de natureza e turismo sustentável.
Esse entendimento nos encaminha a outra questão importante nesta
discussão sobre o tema uso público em unidades de conservação: o fato de que
nem todo visitante dessas áreas é um turista. Por exemplo, aquela pessoa que mora
nas proximidades de uma UC e que adentra sua área para tomar banho de
cachoeira, fazer uma trilha ou realizar alguma atividade de educação ambiental, por
exemplo, não reúne os requisitos para ser considerado turista, nos termos do
conceito apresentado pela OMT. Essa pessoa pode ser considerada, então, um
visitante do entorno.
Esse esclarecimento tem valor a partir do momento que identificamos
conceitos como do Decreto Estadual Nº 30.873/2012 - estado do Amazonas -que,
em seu art. 2º, inciso I, define Uso Público como
35
visitação com finalidade recreativa, esportiva, turística, histórico-cultural, educacional e de interpretação e conscientização ambiental, que se utiliza dos atrativos da unidade de conservação e da infraestrutura e equipamentos eventualmente disponibilizados para tal. (AMAZONAS, 2010).
Com isso, percebemos preliminarmente que o Uso Público na UC é praticado
tanto por turistas – esteja em uma prática sustentável do turismo, que abarca o
ecoturismo, ou simplesmente em busca do contato com ambientes naturais, que é o
caso do turismo de natureza -, quanto por visitantes do entorno da unidade de
conservação, que a procuram como opção de lazer5 e atividades de educação
ambiental.
Porém, a práxis do planejamento e gestão de unidades de conservação, que
pode ser observada em Estudo Específico de Uso Público (SECTAM, 2006b),
aponta que
entre as atividades de uso público destacam-se as pesquisas científicas [grifo do autor], a conscientização ambiental (educação e interpretação), ações de divulgação e relações públicas que incrementem o desenvolvimento das demais, além das atividades de visitação (recreação e turismo) (p. 44).
Nesse ponto, fica evidenciada a presença de um tipo de usuário que busca
essas áreas com uma finalidade específica, que não é necessariamente o lazer e a
educação ambiental, mas sim a pesquisa científica.
Diante do exposto, para fins deste estudo, o Uso Público será considerado o
uso das unidades de conservação por turistas e visitantes do entorno, com fins de
lazer e educação ambiental, bem como por pesquisadores, no desempenho de suas
atividades de pesquisa científica.
Esses três tipos de usuários de unidade de conservação (os turistas, os
visitantes do entorno e os pesquisadores), provocam, no decorrer de suas visitas,
impactos sobre essas áreas, sendo importante destacar que esses impactos podem
ser tanto positivos quanto negativos, como será avaliado a seguir.
Os pontos favoráveis relacionados ao uso público em unidades de
conservação residem no fato dessa atividade possibilitar a aproximação das
pessoas com a natureza, promovendo lazer, aprendizado e a educação ambiental,
ao tempo que se gera renda, que além de beneficiar as comunidades locais, pode
5 Entenda-se aqui lazer como a utilização do tempo livre (TAKAHASHI, 2004).
36
ser revertida para colaborar na conservação da unidade (TAKAHASHI, 2004;
LEUZINGER, 2012a; NELSON, 2012).
Além disso, Leuzinger (2012a) destaca um fato sobre o Uso Público bastante
relevante para a gestão dessas áreas
Os benefícios gerados para a população do entorno da UC podem constituir uma importante forma de se contornar os conflitos advindos da instituição de unidades de proteção integral, que não admitem a utilização direta de recursos, antes realizada por aquelas pessoas. Daí a urgência em se determinar maneiras de envolver a sociedade local na gestão da UC, mesmo que indiretamente, por meio da prestação de serviços que possam interessar aos turistas (p.05).
Ao analisar o turismo em áreas protegidas, Eagles et al. (2002) sistematizam
os benefícios gerados por essa atividade em três eixos: aumento das oportunidades
econômicas, proteção do patrimônio natural e cultural; e a melhoria da qualidade de
vida dos visitantes e comunidade local, conforme se observa no quadro 08. Essa
análise pode subsidiar a discussão sobre a visitação pública de um modo geral.
Quadro 8 - Benefícios potenciais do turismo em áreas protegidas
Benefícios
Aumento das oportunidades
econômicas
Aumenta os postos de trabalho para a comunidade local.
Aumenta a renda.
Estimula a criação de novas empresas turísticas, impulsiona e diversifica a economia local.
Fomenta a manufatura dos bens locais.
Gera novos mercados e divisas.
Melhora o nível de vida.
Gera maior arrecadação de imposto no local.
Promove aprendizado de novas técnicas para os trabalhadores.
Aumenta o fundo para serem investidos na unidade e as comunidades locais.
37
Proteção do patrimônio natural e cultural
Proteção dos processos ecológicos e bacias hidrográficas.
Conservação da biodiversidade (incluindo recursos genéticos, espécies e ecossistemas).
Proteção, conservação e valorização dos recursos naturais e patrimônio cultural.
Criação de valor econômico e proteção de alguns recursos que, de outro modo, não possuiriam valor percebido pelos habitantes ou que seriam considerados mais um custo que um benefício.
Transmissão dos valores da conservação mediante a educação e a interpretação.
Contribuição na comunicação e interpretação dos valores do patrimônio natural e construído; e da herança cultural para os visitantes e habitantes das áreas, criando-se uma nova geração de consumidores responsáveis.
Apoio à pesquisa e desenvolvimento de práticas ambientais e sistemas de gestão corretos que influenciem o funcionamento dos negócios turísticos, assim como comportamento dos visitantes nos destinos.
Melhora nas instalações, meios de transporte e comunicação locais.
Ajuda no desenvolvimento de mecanismos de autossustentação financeira das atividades da área protegida.
Melhoria da qualidade de
vida
Promoção dos valores estéticos, espirituais e de outra natureza relacionados ao bem estar.
Apoio a educação ambiental dos visitantes e residentes.
Criação de entorno atrativos para os destinos, residentes e visitantes, que podem desenvolver outras atividades compatíveis com a visitação, desde a pesca à empresa de serviços e produtos.
Melhora do entendimento intercultural.
Fomento do desenvolvimento da cultura, artesanato e arte.
Aumento no nível educacional da população local.
Estímulo para a população conhecer idiomas e culturas estrangeiros.
Estímulo para que a população autóctone valorize sua cultura e entorno.
Fonte: EAGLES et al. (2002)6.
Mesmo com os benefícios gerados pela visitação, conforme observado,
Nelson (2012) ressalta que as atividades de uso público em unidades de
conservação sempre resultam em impactos, sejam diretos ou indiretos, que tem o
potencial de degradar áreas por meio de poluição, desmatamento e pesca
predatória, por exemplo.
Ao explorar os potenciais impactos ambientais negativos decorrentes da
visitação em UC, Takahashi (2004), baseada em Eagles et al. (2002), nos apresenta
o quadro 09.
6 Traduzido pelo autor. Língua original: espanhol.
38
Quadro 9 - Riscos do turismo
Elementos Exemplo de risco das atividades turísticas
Ambientais A construção de acomodações, centro de visitantes e outras infraestruturas de serviço tem um impacto direto sobre o ambiente, mediante a remoção da vegetação, distúrbios provocados à fauna, impactos sobre a drenagem, etc.
Aumenta a demanda por água de boa qualidade.
Lançamento de água servida nos rios, lagos e oceanos.
Lançamento de gasolina de óleo e navios.
Transporte motorizado pode causar poluição (avião, trem, navio ou carros).
Caça e pesca podem mudar a dinâmica da população.
Distúrbios podem ser de diferentes tipos: barulho, visual ou comportamental.
Mamíferos marinhos podem ser feridos ou mortos pelo impactos das hélices dos botes e lanchas.
Compactação, remoção e erosão do solo em áreas de uso intensivo.
O fogo pode alterar a vegetação.
Econômicos O aumento da carga fiscal para a população local, em função do aumento na demanda de serviços básicos (segurança, saúde, saneamentos, outros).
A especulação imobiliária e riscos externos (desastres naturais, instabilidade de moeda e politica).
Social A competição de infraestrutura e serviços entre visitantes e residentes.
O aumento do vandalismo e delinquência.
O subemprego dos residentes.
Cultural Perda da identidade cultural.
Fonte: TAKAHASHI (2004), adaptado de EAGLES et al. (2002).
Em relação aos impactos decorrentes da visitação pública, Nelson (2012)
pontua que é importante monitorar essas áreas de modo a realizar intervenções
preventivas de minimização de impactos, de modo a reduzir danos ao ambiente,
economia e cultura local, bem como perdas na experiência e satisfação dos
visitantes.
Em consonância com essas análises, Pardini (2012) garante que para se
compatibilizar a conservação das áreas naturais protegidas com a visitação pública,
deve-se entender os potenciais impactos negativos, a fim de minimizá-los, e se
estabelecer estratégias para potencializar os benefícios decorrentes dessa atividade.
Nos termos da gestão desses espaços, Leuzinger (2012a) remete-nos à
necessidade de se elaborar um plano de manejo com um zoneamento apropriado
39
em relação às áreas que podem ser visitadas, justificando que “o impacto causado
pela visitação pública é, em muitos casos, bastante significativo, demandando
estudos técnicos que viabilizem a compatibilização entre preservação ambiental e
presença humana” (p. 05).
Nesse contexto, Takahashi (2004) e Nelson (2012) apontam o Plano de Uso
Público (PUP) como essencial para garantir maior eficiência na gestão dessa
atividade, sendo o mesmo entendido como um
documento oficial que visa ordenar e orientar o uso da UC, promovendo a experiência de estar na natureza, educando e divulgando sua importância. É o documento que identifica oportunidades de recreação, conciliando seu uso com a conservação, definindo áreas, atividades permitidas, infraestrutura necessária e delineando trilhas para a sua implementação (NELSON, 2012, p. 216).
Segundo Nelson (2012), de modo geral, o Plano de Uso Público desdobra-se
em três partes, como a maioria dos planos, constituindo-se basicamente de um
inventário, um diagnóstico e um prognóstico, visando estratégias para se chegar aos
níveis desejáveis de ordenamento da atividade de visitação.
Em roteiro específico para elaboração de Plano de Uso Público em Unidades
de Proteção Integral, proposto por Furtado et al. (2001), observamos sua
composição de modo mais detalhado:
(i) Diagnóstico: contempla informações gerais sobre a UC (localização,
acesso, características e ficha técnica), as atividades de uso público
previstas no plano de manejo (implementadas ou não), as atividades
não previstas e implementadas, classificação dessas atividades,
programas de turismo e as alternativas de uso para essas atividades.
(ii) Novas potencialidades e propostas: com base nas novas
potencialidades identificadas, serão propostas novas atividades (que
não as contempladas no diagnóstico);,
(iii) Proposta final: tabela onde deverá conter as atividades (a) previstas e
implementadas; (b) previstas e não implementadas; (c) não previstas e
implementadas; e (d) novas propostas.
(iv) Indicação de necessidades necessidade de elaboração de projetos
específicos;
(v) Infraestrutura (centro de visitantes, de vivência, etc.).
(vi) Estimativa de custos.
(vii) Cronograma físico-financeiro.
(viii) Modelos de intervenção (mapas, croquis, etc.).
40
Nesse sentido, Nelson (2012) destaca que cada UC está inserida em um
contexto e, por isso, haverá uma variação nas propostas do PUP, podendo conter
atividades diferentes, sempre no intuito de fornecer um leque de boas experiências
para seus visitantes, com segurança e qualidade dos serviços prestados,
enfatizando o documento como importante ferramenta para o gestor da UC, no
ordenamento e manejo da visitação.
É de responsabilidade do órgão gestor da UC a elaboração desse documento,
que pode ser também elaborado em parceria com Organizações Não-
Governamentais (ONGs) ou ainda terceirizado para empresa de consultoria nessa
área, porém, cabe ao órgão gestor supervisioná-lo e aprová-lo, ouvindo o seu
Conselho. Por reunir vários temas, requer uma equipe multidisciplinar para
realização dos estudos que o compõem.
Outro fator importante é o envolvimento das comunidades do interior e/ou do
entorno das UCs nas discussões sobre o PUP, uma vez que essas estão inseridas
naquele contexto e que potencialmente lidarão rotineiramente com os impactos
positivos e negativos advindos da atividade. As instituições relacionadas com as
UCs também devem ser ouvidas.
41
CAPÍTULO 2: A PARTICIPAÇÃO SOCIAL NO PLANEJAMENTO DE UNIDADES
DE CONSERVAÇÃO
2.1. Aspectos gerais sobre o Planejamento Participativo
No mundo ocidental, a ideia de planejamento teve dois importantes marcos
para o seu desenvolvimento. O primeiro ocorreu após a Segunda Guerra Mundial,
quando ficou claro que o planejamento era a base da força demonstrada pela União
Soviética durante esse conflito. O segundo marco ocorreu nas décadas de 1980
(concepção) e 1990 (realização), quando a crise econômica e a necessidade de
sobrevivência forçaram os países a vencerem qualquer tipo de resistência contra o
planejamento (GANDIN, 2010).
Desse contexto, ainda que com pouca estrutura técnica ou base científica,
despontam três correntes do planejamento: o Gerenciamento de Qualidade Total,
para o qual a finalidade maior é satisfazer o cliente; o Planejamento Estratégico, cujo
propósito é se firmar no mercado produzindo ambiente de lucro futuro; e o
Planejamento Participativo, que quer contribuir para a transformação da sociedade
na linha da justiça social (Id., ibid.). Essa última linha do planejamento é o centro de
discussão desta pesquisa.
Segundo Bordenave (1992), pode-se entender o Planejamento Participativo
como um tipo de participação concedida7, o que pode chegar a criar uma “ilusão de
participação”, uma vez representaria concessão parcial do poder de um dirigente
para agentes interessados em um determinado assunto, ou diretamente
relacionados a ele. Contudo, o autor elucida que "a participação, mesmo concedida,
encerra em si mesma um potencial de crescimento da consciência crítica, da
capacidade de tomar decisões e de adquirir poder" (Id., ibid., p. 29-30).
7Bordenave (1992) divide a participação em seis tipos: a) de fato - pertencimento a um núcleo, como família; b)
espontânea - grupos sem finalidades específicas, como grupo de amigos; c) imposta - o indivíduo é obrigado a participar do grupo, como nas eleições; d) voluntária - quando o grupo é criado pelos próprios participantes, como sindicatos e associações; e) provocada - similar à voluntária, porém o grupo é estimulado por agentes externos, a exemplo da extensão rural; e f) concedida - quando é parte de poder ou de influência exercida legitimamente por subordinados, como o planejamento participativo.
42
É importante avultar que na literatura sobre o assunto há posicionamentos
diferentes, como o de Lima Neto (1989), para o qual "a participação, sendo uma
procura de espaço para influir no poder, nunca é nem pode ser concedida, deve ser
conquistada” (p. 18). Entretanto, outros autores, como Rabinovici e Pessoa (2010),
reforçam o aspecto positivo dessa concessão de poder, justificando que "muitas
comunidades, por meio do poder de participação que lhes é conferido, tornam-se
coletivamente capazes de se mobilizar em busca dos seus interesses econômicos,
políticos, culturais e sociais" (p. 114).
Sobre a dicotomia que permeia essa discussão, Bordenave (1992) avalia que
em grupos sociais não acostumados à participação, pode ser necessário induzi-los à mesma. É claro que, ao fazê-lo, pode haver ocasionalmente intenções manipulatórias, mas também pode haver um honesto desejo de ajudar a iniciar um processo que vai continuar de maneira cada vez mais autônoma (Id., ibid., p. 78).
Nesse âmbito, Drumond et al. (2009) explica que “no início, o processo
participativo é mais lento e pode ser marcado por um maior número de entraves,
dependendo das relações e dos níveis de conflitos existentes” (p.13). Com isso,
nota-se que nessa modalidade de planejamento, o grupo que participa tende a
compreender o processo e, com o tempo, ganhar autonomia para desempenhá-lo.
Nesse contexto
entende-se que o planejamento participativo constitui um processo político, um contínuo propósito coletivo, uma deliberada e amplamente discutida construção do futuro da comunidade, na qual participe o maior número possível de membros de todas as categorias que a constituem. Significa, portanto, mais do que uma atividade técnica, um processo político vinculado à decisão da maioria, tomada pela maioria, em benefício da maioria (CORNELY, 1980, p. 27).
É pertinente destacar que, conforme prega Gandin (2001), esse tipo de
planejamento foi pensado para organizações que não primam, fundamentalmente,
pelo lucro, mas sim pela construção de uma realidade social melhor. Esse autor
segue afirmando que
43
O Planejamento Participativo pretende ser mais do que uma ferramenta para a administração; parte da ideia que não basta uma ferramenta para “fazer bem as coisas” dentro de um paradigma instituído, mas é preciso desenvolver conceitos, modelos, técnicas, instrumentos para definir “as coisas certas” a fazer, não apenas para o crescimento e a sobrevivência da entidade planejada, mas para a construção da sociedade; neste sentido, inclui como sua tarefa contribuir para a construção de novos horizontes, entre os quais estão, necessariamente, valores que constituirão a sociedade (Id, ibid., p. 87).
Sua base procedimental não difere de qualquer ação de planejamento,
entretanto, traz como diferencial a participação consciente e ativa dos grupos
interessados e beneficiados pelas mudanças que propõe (CORNELY, 1980;
GANDIN, 2001; GANDIN, 2010).
Caminhando em direção a uma noção sobre planejamento, recorremos a
Gandin (2010), para o qual o planejamento é uma intermediação entre as ideias e a
ação; é quando, diante de uma situação sobre a qual se pretende intervir, é
realizado um diagnóstico, composto de uma identificação da realidade à luz da teoria
(ou situação ideal), para que se alcance uma proposta de ação (plano), conforme
esquematizado por esse autor no diagrama da figura 01, que segue.
Figura 1 - Modo de aplicação do planejamento
(GANDIN, 2010, p.46)
Assim, no planejamento participativo, a participação está arraigada não
somente no “como” ou “com que” fazer, mas alcança o “o que” e o “para que” fazer.
(GANDIN, 2001). Porém, o envolvimento dos agentes em todas as fases, além dos
aspectos vantajosos, que serão observados adiante, traz desafios muito grandes.
A esse respeito, Cornely (1980) esclarece que
44
é provável que os primeiros projetos realmente participativos deixem muito a desejar em termos de rigor técnico. Isso não importa muito. O que importa realmente é que a comunidade e seus líderes aprendam fazendo. Aprendam a participar efetivamente da elaboração dos projetos, se capacitem das tarefas técnicas, ajudem a decidir e cresçam como pessoas que sabem o que querem (p. 33).
O autor também alerta para o risco de manipulação durante o processo, risco
esse já abordado com base em Bordenave (1992) e Lima Neto (1989), sendo
considerado por eles intrínseco ao processo, dada a característica de concessão de
poder que permeia o planejamento participativo.
Já em relação aos aspectos vantajosos, Cornely (1980) elenca pontos
interessantes de serem observados, como: uma imagem popular favorável dos
resultados (plano); dados mais realistas e com forte teor qualitativo; reconhecimento
dos problemas e soluções por todos os participantes; o comprometimento coletivo
reduz drasticamente o risco de descontinuidade, quando das mudanças na
administração; e forma um feedback dos cidadãos, ao acompanharem, fiscalizarem,
assessorarem e exigirem algo da ação do administrador e do legislador.
Assim, é importante refletir sobre os principais riscos e vantagens, ora
abordados, ao se optar por um planejamento pautado nos princípios da participação
social, pois como cita Gandin (2010):
escolher uma forma tecnocrática ou participativa de planejamento é uma opção das mais fundamentais para qualquer grupo, movimento ou instituição. No fundo, elaborar um só tem sentido se o que nele ficar determinado for levado à prática” (p.178).
Por fim, é fundamental atentarmos para o fato de o planejamento participativo
ser aplicável às mais diferentes realidades e contextos: organizações públicas,
privadas, organizações sociais, comunidades em contexto urbano e rural. Nesse
sentido, é relevante buscar compreender um pouco mais sobre a participação social
nos processos de planejamento.
45
2.2. Participação social nos processos de planejamento
Segundo Bordenave (1992), a participação social passou a ser discutida, por
suas potenciais contribuições positivas, frente a um descontentamento geral com os
resultados dos processos decisórios por poucos, influenciando a vida do povo sem
que o mesmo se pronunciasse a esse respeito, restando-lhes acatar e conviver com
essas decisões.
Esse mesmo autor afirma que a participação pode dar-se de dois modos:
microparticipação e macroparticipação. No primeiro, o indivíduo participa em nível
familiar e associativo com seus pares; no segundo, ele participa de modo ativo nas
lutas sociais, econômicas e políticas de seu contexto. Com isso, percebe-se que,
além de abranger organismos mais complexos como a política, a participação
começa na célula familiar.
Nesse sentido, Lima Neto (1989) destaca que os grupos da sociedade
caminham para a conquista da participação do poder, a partir da união em vistas de
interesses comuns a serem conquistados.
Participar é um desafio utópico. É uma utopia criadora que gera dentro da sociedade humana caminhos pacíficos - através do diálogo e da negociação - para conquista de seus direitos, para um aclareamento de seus deveres, para uma determinação dos seus limites e de sua potencialidade (LIMA NETO, 1989, p. 07).
Nessa mesma orientação, Bordenave (1992), ao tratar sobre as forças
atuantes nos grupos humanos, com base nos estudos da psicologia social, cita que
[...] a maior força para a participação é o diálogo. Diálogo, aliás, não significa somente conversa. Significa se colocar no lugar do outro para compreender seu ponto de vista; respeitar a opinião alheia; aceitar a vitória da maioria; pôr em comum as experiências vividas, sejam boas ou ruins; tolerar longas discussões para chegar a um consenso satisfatório para todos (BORDENAVE, 1992, p. 50).
Percebe-se, com isso, que a participação está diretamente ligada à
intervenção ativa na construção dos benefícios da sociedade, por meio dos
processos decisórios e das atividades de intervenção sobre a realidade; a
participação não acontece apenas pela recepção passiva desses benefícios. A
diferença entre a participação passiva e a participação ativa, é traduzida na distância
entre o cidadão inerte e o cidadão engajado (BORDENAVE, 1992).
46
Reforçando essa ideia, pode-se notar na fala de Lima Neto (1989) que
a participação é um processo prático de provocar a possibilidade de as pessoas interferirem nas decisões daqueles que detêm o poder, especialmente nas decisões que dizem respeito à coletividade da qual se é parte (p. 25).
Na acepção desses dois autores, fica evidenciada a participação como um
poder coletivo de intervenção em prol da melhoria da vida e do contexto do grupo, e
não somente na audição desses pelos tomadores de decisão (“autoridades”) a
respeito de seus problemas ou, ainda, na recepção dos benefícios oriundos de
processos decisórios que não os inclui de forma ativa.
Exatamente por isso, a participação pode ser entendida como "[...] uma
conquista do direito de poder responsabilizar-se pelas decisões que atingem e tem
influência sobre grupos de pessoas, sobre uma coletividade" (LIMA NETO, 1989, p.
17).
Entretanto, Bordenave (1992) chama atenção para o fato de que, apesar de
ser uma necessidade básica, o homem não nasce sabendo participar, e segue
afirmando que
[...] a participação não é um conteúdo que se possa transmitir, mas uma mentalidade e um comportamento com ela coerente. Também não é uma destreza, que se possa adquirir pelo treinamento. A participação é uma vivência coletiva e não individual, de modo que somente se pode aprender na práxis grupal. Parece que só se aprende a participar participando (p. 74).
Sob esse entendimento a respeito da participação, é relevante entender em
que níveis ela se dá, dada a heterogeneidade dos grupos humanos e os diferentes
contextos no qual esses grupos estão inseridos.
Para Gandin (2010), ela pode ser praticada em três diferentes níveis: a
colaboração, a decisão e a construção em conjunto. Na colaboração, a “autoridade”
chama as pessoas a contribuírem com a proposta por ela definida; na decisão, as
pessoas escolhem entre as alternativas postas por essa figura (autoridade), sendo
apenas franqueados aspectos menores de uma proposta já decidida; e na
construção em conjunto, o poder está realmente com as pessoas, que organizam
seus problemas e elaboram propostas de ações.
Já Bordenave (1992), gradua a participação em sete níveis: informação,
consulta facultativa, consulta obrigatória, elaboração/recomendação, co-gestão,
delegação e auto-gestão. Na primeira (informação), reside o menor grau de
47
CO
NT
RO
LE
participação, onde o grupo é apenas informado por um dirigente sobre uma decisão
já tomada e sua opinião poderá ser ou não tomada em conta; e na última (auto-
gestão) o maior grau, onde o grupo determina seus objetivos e escolhe os meios de
implementá-los. Os graus intermediários formam um gradiente entre o menor e o
maior.
De modo sistematizado, o autor analisa essa graduação em função do nível
de controle que os membros da organização detêm sobre os processos, conforme
se observa na figura 02, que segue. Nela podemos notar que quanto maior o nível
de participação, maior o controle dos dirigentes sobre os processos.
Figura 2 - Controle das decisões pelos membros, de acordo com o grau de participação
DIRIGENTES
MEMBROS
Informação Consulta Consulta Elaboração/ Co-gestão Delegação Auto- Informação/Reação
Facul-tativa
Obriga-tória
Recomen-dação
gestão
(BORDENAVE, 1992. p. 31)
Apesar de proporem diferentes níveis de graduação da participação, pode ser
apontado um consenso nas afirmações de Gandin (2010) e Bordenave (1992), pois
ambos tratam o menor nível de participação como um processo em que o grupo é
convidado apenas a prestar informação ou emitir opinião sobre um processo
decisório que está sendo concebido fora do mesmo; e tratam o maior nível de
participação como o grupo assumindo a responsabilidade pelo processo decisório,
passando pela informação, reflexão e decisão sobre as ações que serão tomadas.
Cabe ainda registrar outro aspecto destacado por Bordenave (1992):
conclui-se que a participação tem duas bases complementares: uma base afetiva - participamos porque sentimos prazer em fazer coisas com outros - e uma base instrumental - participamos porque fazer coisas com outros é mais eficaz e eficiente que fazê-las sozinhos (p. 16).
Essa compreensão, de que a participação social decorre sumariamente da
necessidade humana, seja em qual nível for, é o mote principal da teorização e da
influência do tema nos mais diversos campos da ciência e do trabalho, embasando
estudos e práticas pautadas em seus princípios.
48
2.3. A participação social nas Unidades de Conservação e o papel dos
Diagnósticos Rurais Participativos
Tendo as unidades de conservação como espaço para o desenvolvimento
deste estudo, é preciso compreender que a gestão dessas áreas, independente de
sua categoria ou grupo (proteção integral ou uso sustentável), envolve a relação
com as populações residentes e/ou de entorno das mesmas; quase sempre
comunidades rurais. Basta observar que:
A constituição de 1988, em seu artigo 10º, prevê: “Todo poder emana do povo, que o exerce indiretamente, através de seus representantes eleitos, ou diretamente, nos termos desta Constituição”. Assim, institui-se a possibilidade de criação de meios de participação da sociedade (plebiscito, referendo, iniciativa popular de lei, audiências públicas, conselhos, comitês, fóruns, orçamento participativo, ouvidorias etc.) (IBASE, 2006, p. 10).
No âmbito das Unidades de Conservação, a Lei do SNUC e o Decreto Nº.
4.340/2002, que posteriormente a regulamenta, trazem avanços significativos para
sua gestão quando estabelecem consulta pública para a criação das mesmas; define
atribuições aos conselhos consultivo e deliberativo, estimulando a participação social
na gestão; estabelece critério para a co-gestão entre poder público e as
organizações sociais de interesse público (OSCIP); clareia a relação com as
populações residentes na UC de proteção integral; e define regras para a aplicação
de recursos oriundos de compensação ambiental (ROCKTAESCHEL, 2006).
Ao analisar os benefícios dos processos participativos no âmbito da gestão de
UC, Drumond et al. (2009) destacam que as ações de conservação tornam-se mais
eficientes e sustentáveis em longo prazo; que propiciam o respeito às regras
mutuamente estabelecidas e as ações propostas ganham suporte para sua
continuidade; além de favorecer a criação e o fortalecimento de instituições locais.
Em consonância com essa análise, Rabinovici et Pessoa (2010) afirmam que
a partir do empoderamento, as comunidades residentes e de entorno da UC podem
tornar-se atuantes nos problemas, pactos e projetos políticos sociais dessas áreas,
correponsabilizando-se pela conservação sociocultural desses espaços.
O ponto chave desse envolvimento está no fato de que “se a sociedade não
estiver integrada à gestão de UC e percebê-la apenas como restrição ao uso, sua
49
percepção será negativa e ela não será parceira da UC para a proteção da natureza”
(IBASE, 2006. p. 08).
No meio rural, por volta dos anos 50 e 60, os países industrializados
buscaram soluções para o desenvolvimento, com a ideia inicial de transferir
“tecnologias modernas” ao homem do campo, em substituição as suas “técnicas
primitivas”. Iniciaram-se, então, os diagnósticos (levantamentos tradicionais ou
tecnocráticos) para identificar as “soluções corretas” para as áreas onde atuavam.
Todavia,
a maioria destes diagnósticos não deu certo porque estes eram: a) Superficiais- os pesquisadores faziam observações pelas “janelas dos carros” sem realmente ver os campos; b) Onerosos- demandavam muito tempo para coletar e analisar as informações, aumentando, assim, os custos do trabalho; c) As informações eram incompletas ou inúteis- muitas vezes não se falava com os produtores, ou os mesmos não informavam à luz da verdade, ou ainda as informações levavam tanto tempo para serem coletadas e analisadas que, muitas vezes, não representavam mais a situação atual da comunidade (GARRAFIEL, 1999, p. 04).
A esse respeito, Cornely (1980) e Geilfus (2009) assinalam que a maior parte
dos projetos de desenvolvimento realizados de modo tecnocráticos ficou muito longe
de suas metas iniciais, pois muitas vezes não refletiam as necessidades percebidas
pelos beneficiários dos mesmos, tendo sido a falta de participação desses atores em
sua elaboração apontada como possível causa do insucesso.
Diante disso, nos anos 70 e 80, especialistas na África, Ásia e América Latina
desenvolveram novas metodologias de pesquisa e extensão com fins a conhecer
melhor os sistemas agrícolas, numa abordagem sistêmica e mais integrada. Com
isso, surge no final dos anos setenta, com forte desenvolvimento na Tailândia e
Índia, o Diagnóstico Rural Rápido – DRR (GARRAFIEL, 1999; ARMANDO, 2013).
Segundo Armando (2013), o DRR propõe a união entre a prática científica e o
conhecimento da população rural sobre o seu meio. Esse se realiza em ambiente de
oficina, permitindo um intenso e contínuo debate sobre o processo e os resultados
do diagnóstico para chegar ao consenso nas opiniões e identificar os contrastes na
coletividade.
De acordo com Garrafiel (1999), na década de 1980 surgem as primeiras
publicações sobre o DRR e o Diagnóstico Rural Participativo (DRP), uma derivação
do DRR, entre outras. Nesse contexto,
50
[...] el Diagnóstico Rural Participativo (DRP) se puede considerar una continuación del DRR, pero com énfasis em otros aspectos. No sólo atribuye valor al conocimiento de la gente rural, sino también a sus capacidades de diagnosis y análisis (ARMANDO, 2013, p. 08).
Esse mesmo autor explica que o DRP propõe solucionar a tensão entre o
longo tempo necessário para a sistematização e a análise dos dados nos estudos
antropológicos e agronômicos; e a falta de confiança/validação nos dados de
pesquisas de curto prazo realizadas pelos pesquisadores.
Sobre o DRP, Faria e Neto (2006) esclarecem que o “R” (de rural) da sigla é
uma referência a sua origem, pois muitos dos diagramas propostos pela metodologia
participativa foram desenvolvidos no âmbito das ciências agrárias, na década de
1970, mais especificamente no norte da Tailândia, na Universidade de Chiang Mai.
Apesar de derivado do DRR, o DRP traz caracteres que o diferenciam
bastante do primeiro, conforme se pode observar no quadro 10.
Quadro 10 - Comparativo de características entre o DRR e o DRP
CARACTERÍSTICA DRR DRP
Período de tempo de maior desenvolvimento
Final dos anos 70; e anos 80 Final dos anos 80; e anos 90
Inovações mais importantes se baseiam em
Universidades ONGs, Universidades
Usuários mais importantes Agências de Cooperação; Universidades
ONGs, Organizações estatais, Universidades
Recurso-chave evidenciado Conhecimento local da população
Capacidades da população local
Inovação mais importante Métodos Atitude
Atitude predominante Extrativo Participativo, Catalizador
Objetivos ideais Aprendizagem dos agentes externos
Tomada de decisões pela população local
Resultado em longo prazo Planos, projetos, publicações Ação local sustentável e pesquisa
Tempo de execução 4-10 dias 4-10 dias, aberto no tempo
Fonte: Armando, 2013, p. 11. Adaptado8.
Assim, com origem nos trabalhos de Robert Chambers, nos Estados Unidos,
o DRP prega maior rapidez na obtenção de dados, a participação ativa da população
a ser beneficiada e uma multidisciplinaridade técnica, com fins a promoção do
8Traduzido pelo autor. Língua original: espanhol.
51
desenvolvimento socioeconômico para essa população (GARRAFIEL, 1999;
SOUZA, 2009).
Armando (2013) menciona ainda, em seu trabalho, o Diagnóstico Rural
Rápido e Participativo (DRRP). Esse seria, entretanto, um acrônimo composto do
DRR e DRP, embasado na revalorização dos recursos e conhecimentos locais; um
processo de aprendizagem mútuo, evitando incorrer em erros importantes de
interpretação, assimilação e aplicação do conhecimento nas comunidades rurais.
Em linhas gerais, na base de todos os métodos – DRR, DRP e DRRP -,
encontra-se uma habilidade de diálogo, onde as entrevistas com os atores sociais
não tem estruturas fechadas, sendo semiabertas e flexíveis, sem condicionar
respostas. Nos encontros, geralmente com grupo, é possível experimentar uma
validação contínua dos dados gerados pelos participantes, que serão beneficiários
das mudanças que motivaram essas discussões (ARMANDO, 2013).
Deste modo, os métodos de diagnóstico participativo têm forte relação com o
planejamento, sob a perspectiva do envolvimento da população local, tendo as
pessoas não apenas como fonte de informação, como informantes, mas
preponderantemente como cidadãos ativos em ações coletivas, embasados no
diálogo e na reflexão sobre sua realidade (FARIA e NETO, 2006).
No contexto das Unidades de Conservação, o DRP é a base dos
diagnósticos, pois a experiência de diferentes atores envolvidos com as UC permite
o desenvolvimento de estratégias conjuntas em prol da gestão dessas áreas, cuja
finalidade maior é a conservação da natureza (DRUMOND et al, 2009).
Para Rabinovici e Pessoa (2010),
[...] essa integração da população na gestão dos recursos naturais, levando em consideração as expectativas e as necessidades da comunidade local em convergência com a finalidade da conservação ambiental, é um componente facilitador da gestão, pois fomenta uma atuação conjunta na resolução de problemas ambientais e do cotidiano daquelas comunidades (p. 113).
Para que possa se concretizar, o método participativo se utiliza de diversas
ferramentas fundamentadas no diálogo, que atendem a um princípio fundamental:
todos os participantes do processo devem ser considerados fonte de informação e
decisão para analisar seus problemas e contribuir com soluções, gerando
aprendizado e fortalecimento local (DRUMOND et al, 2009; GEILFUS, 2009).
52
As ferramentas utilizadas no diagnóstico participativo são diagramas visuais e interativos que representam aspectos de uma determinada realidade e vão sendo construídos por um grupo de pessoas em discussão. Cada ferramenta tem usos e procedimentos específicos, mas todas elas são instrumentos de abstração acerca da realidade passada, atual ou futura (FARIA e NETO, 2006, p. 17).
A motivação para sua utilização reside no fato de permitir trabalhar com uma
linguagem comum ao grupo de discussão, independente do grau de instrução -
incluindo os não-alfabetizados; de possibilitar o levantamento e análise do
conhecimento a partir da percepção da comunidade local; e facilitar a visualização e
verificação de informações obtidas no processo, pelos participantes (FARIA e NETO,
2006).
Segundo Kummer (2007) e Geilfus (2009), as ferramentas participativas
utilizam a visualização e a comunicação oral como estratégia. Isso se fundamenta
no fato de que
[...] a retenção da informação em cada um de nós está correlacionado também com o nosso canal de comunicação mais desenvolvido: na maioria das pessoas, o canal visual é o mais desenvolvido. Por causa disso, a visualização do trabalho participativo facilita a participação ativa e a integração grupal, aumentando a qualidade da comunicação (KUMMER, 2007, p. 49).
São diversos os tipos de ferramentas e, segundo Drumond et al. (2009), sua
escolha estará relacionada com a complexidade dos temas a serem tratados, com a
quantidade de participantes presentes e sua aplicação, bem como no seu grau de
escolaridade.
Considerando essas variáveis, as ferramentas participativas escolhidas para
as oficinas de diagnóstico e planejamento participativo, que subsidiarão a
composição do Plano de Uso Público do Setor 03 do Pesam e APA Araguaia, serão
descritas no capítulo 3 deste trabalho.
53
CAPÍTULO 3: O PROCESSO PARTICIPATIVO PARA A CONSTRUÇÃO DO
PLANO DE USO PÚBLICO DO SETOR 03 DO PESAM E APA ARAGUAIA
3.1. A realização das oficinas de diagnóstico e planejamento participativo:
momento de ação-reflexão
Inicialmente foram pensadas as fases fundamentais que comporiam a
construção de um Plano de Uso Público (PUP). Assim, organizando as
necessidades deste estudo em específico, foram definidas as seguintes etapas: (i)
definição dos atores a serem convidados para colaborar com o plano; (ii) o
mapeamento participativo dos atrativos e elaboração de um calendário sazonal de
visitação no setor 03 do Pesam e APA Araguaia; e (iii) a elaboração do plano de
ações. Para cada um desses momentos participativos, foram escolhidas
ferramentas, conforme quadro 11, abaixo. A função e objetivo de utilização dessas
ferramentas será detalhado no relato de suas aplicações.
Quadro 11 - Etapas e ferramentas participativa
Etapa Ferramenta Participativa
(i) definição dos atores a serem convidados para colaborar com o plano
Diagrama de Venn
(ii) o mapeamento participativo dos atrativos e elaboração de um calendário sazonal de visitação dos atrativos
Mapa falado Calendário Sazonal
(iii) plano de ação para o desenvolvimento do Uso Público Chuva de ideias
Matriz de Planejamento
3.1.1. Definição dos atores a serem convidados para colaborar com o plano
Nesta etapa do plano, foi realizada uma oficina com a equipe gestora do
Pesam e da APA Araguaia, tendo em vista a vivência cotidiana dos mesmos com os
trabalhos em prol das unidades. A ferramenta aplicada foi o Diagrama de Venn.
A construção do Diagrama de Venn busca identificar as organizações formais
e não-formais relacionadas à realidade a ser estudada, possibilitando averiguar seu
grau de importância e proximidade, bem como suas interações no âmbito da
discussão (FARIA e NETO, 2006; KUMMER, 2007; DRUMOND et al., 2009;
GEILFUS, 2009; VERDEJO, 2010).
54
Dentre as variações existentes do diagrama, foi adotado o uso de círculos
concêntricos de diferentes diâmetros, com fins a realizar a averiguação de grau de
importância e de proximidade das instituições com as UCs, no que tange à atividade
de Uso Público nas mesmas. Nessa atividade foram utilizados folhas de cartolina,
círculos de papel com três tamanhos diferenciados, pincel atômico e fita adesiva.
A mobilização da equipe para a oficina foi realizada por meio de envio de
carta-convite. Foram convidados todos os 13 membros da equipe (técnicos de nível
superior, operacionais e estagiários), dos quais se fizeram presentes oito: uma
Zootecnista, um Engenheiro Agrônomo, um Licenciado em Letras, um Auxiliar
Operacional e quatro estagiários de nível médio.
Os técnicos de nível superior trabalham na gestão da unidade há pelo menos
quatro anos, sendo moradores do município e todos possuem um histórico de
trabalho voluntário na área desde antes de o parque ser criado (1996), por meio da
Fundação Serra das Andorinhas, que mantinha projetos na área; o auxiliar
operacional é nativo da APA Araguaia; os estagiários estão há pouco tempo
envolvidos com a gestão das UCs.
Antes da aplicação dessa ferramenta houve uma apresentação de slides com
a base conceitual do trabalho (Unidade de Conservação, Uso Público e
Planejamento Participativo) e caracterização do projeto (justificativa, objetivos,
metodologia e resultados esperados). Após a apresentação foi indagado por um dos
técnicos se o resultado do trabalho poderia ser utilizado pela gestão das UCs, sendo
respondido pelo pesquisador que esse era um dos propósitos do trabalho.
Iniciando a aplicação da ferramenta, em função de o grupo ser pequeno,
conviverem rotineiramente, incluindo em reuniões, optou-se por fazer a lista de
instituições com todos, sendo proposta (e inscrita em folha de cartolina fixada sobre
a parede) a seguinte pergunta: Quais os agentes envolvidos com o Uso Público no
Pesam e da APA Araguaia? Procedeu-se com a inscrição das instituições indicadas
pelos participantes, conforme se observa na figura 03.
55
Figura 3 - Levantamento das instituições relacionadas ao Uso Público do Pesam e APA Araguaia
Foto: Madson Amaral, 2013.
Foram listadas 30 instituições, conforme quadro 12. Todas foram
consensuadas entre os participantes. O único nome indicado por um participante,
questionado pelos outros e, em seguida, excluído de forma acordada, foi o da
Agência de Defesa Agropecuária do Pará (Adepará), tendo em vista que o trabalho
desta agência, embora relevante para a APA Araguaia, não foi considerado
relacionado com o Uso Público das unidades de conservação em questão.
Quadro 12 - Instituições listadas pelos participantes da oficina
Instituições Instituições
1. AgentesAmbientaisVoluntários (AAV) 2. Associação dos Municípios do Araguaia-
Tocantins (AMAT) 3. Associação dos Moradores do Parque Serra
das Andorinhas (AMPSA) 4. Artesãos 5. Assoc. dos Barqueiros 6. Banco do Brasil 7. Banco do Estado do Pará (Banpará) 8. Colônia dos Pescadores 9. Comunidades/Moradores/Vilas 10. Condutores de Atrativos Naturais 11. Cooperativa de Transporte
(COOPERTRANS) 12. Empresa de Assistência Técnica e Extensão
Rural do Estado do Pará (Emater) 13. Empresas de Turismo 14. Escolas (Zona Rural) 15. Escolas (Zona Urbana)
16. Fórum de Turismo Araguaia Tocantins
(FORUMTURAT) 17. Fundação da Casa da Cultura de Marabá
(FCCM) 18. Hoteleiros 19. Instituo Nacional de Pesquisas Amazônicas
(Inpa) 20. Museu Paraense Emílio Goeldi (MPEG) 21. Sec. de Estado de Meio Ambiente (Sema) 22. Sec. Mul. de Educação (Semed) 23. Sec. Mul. de Meio Ambiente (Semma) 24. Sec. Mul. Cultura (SEMCULT) 25. Sec. Mul. Obras (SEMOB) 26. Sec. Mul. Saúde (SMS) 27. Sec. Mul. Turismo (SEMTUR) 28. Secretaria de Estado de Turismo do Pará
(Setur) 29. Serviço Nacional de Aprendizagem Rural
(Senar) 30. Universidade Federal do Pará (UFPA)
56
Após formada a lista, foi explicado aos participantes sobre a construção do
diagrama (Figura 04). Para cada instituição, atribuir-se-iam duas qualidades: a
importância dela para o uso público do Pesam e APA Araguaia; e o seu grau de
proximidade com essas UCs. A importância seria traduzida no tamanho do círculo
na qual seria inscrita, e a proximidade com o posicionamento desse em relação às
unidades (que estariam posicionadas no centro do diagrama).
Figura 4 - Explicação sobre a construção do Diagrama de Venn
Foto: Nilson Amaral, 2013.
Assim, procedeu-se com a qualificação das instituições. As perguntas
utilizadas (e inscritas em papel cartolina afixado, na parede) foram: 1) Qual o grau
de importância desta instituição para o Uso Público do Pesam e APA Araguaia? e 2)
Qual o grau de aproximação desta instituição com as UCs? O resultado pode ser
observado na figura 05.
57
Figura 5 - Resultado da aplicação do Diagrama de Venn para identificar importância e proximidade de instituições relacionadas com o Uso Público do Pesam e APA Araguaia
As mesmas informações contidas nesse diagrama foram representadas
depois em uma matriz (quadro 13), que analisa a importância versus proximidade, o
que não está indicado como passo dessa ferramenta participativa Diagrama de
Venn, mas pode constituir, em caráter auxiliar, possibilidade para a visualização e
análise dos dados obtidos. Os dados do diagrama e da matriz são exatamente os
mesmos.
58
Quadro 13 - Matriz com o resultado da aplicação do Diagrama de Venn para identificar importância versus proximidade de instituições relacionadas com o Uso Público do Pesam e APA Araguaia
Proximidade das UCs
Alta Média Baixa
Imp
ort
ân
cia
para
as U
Cs
Alt
a
AAV Artesãos
Comunidade Condutores
Escola/Zona Rural FORUMTURAT
Sema Semed
Bancos (BB e Banpará) Hoteleiros
Escolas/Zona Urbana Assoc. de Barqueiros
AMPSA Empresas de Turismo
Semma Setur/PA SMCULT
SMOB SMTUR
Mé
dia
FCCM Inpa
MPEG Colônia de Pescadores
Coopersaga Emater Senar
Universidade
Baix
a
- - Amat SMS
O tempo de aplicação foi de 3,5 horas, contabilizando o intervalo de 30
minutos, para lanche e descontração. Percebeu-se, ainda, certo desconforto dos
participantes na fase inicial de qualificação das organizações (importância e
proximidade), entretanto, após a terceira instituição listada, todos compreenderam a
ferramenta e ficaram mais participativos, à medida que se dissipou o aparente
desconforto. Cabe avaliar ainda, sobre os resultados, que o número de instituições
listadas foi bem grande e que isso constitui um desafio na mobilização para a
realização da oficina de planejamento participativo.
59
3.1.2. O mapeamento participativo dos atrativos para visitação pública e
elaboração de um calendário sazonal de visitação dos atrativos
Para esta etapa, foram escolhidas duas ferramentas: o Mapa de Recursos e o
Calendário Sazonal. As duas foram aplicadas durante a mesma oficina, na Vila
Santa Cruz dos Martírios. A primeira, para identificar os atrativos no Setor 03 do
Pesam e APA Araguaia; a segunda para estabelecer um calendário de visitação
respeitando o período de cheia e estiagem, que estão relacionados com a
possibilidade ou não de acessar um atrativo em função da frequência de chuvas e o
nível do Rio Araguaia.
A mobilização foi realizada por meio de carta-convite, com o apoio de servidor
da Secretaria de Estado de Meio Ambiente - Sema (órgão gestor), tendo como
público os condutores de atrativos naturais, artesãs, professores, proprietária da
pousada e barqueiros. Foram emitidas 16 cartas-convite e participaram da oficina
sete pessoas, sendo seis moradores da vila.
Qualificando esse grupo, estavam presentes quatro mulheres, sendo a
Agente Comunitária de Saúde, a proprietária da única pousada da vila, uma artesã e
uma dona de casa/pescadora; e três homens, sendo um piloto de embarcação, um
funcionário público (Sema) e o Secretário Municipal de Cultura. Com exceção do
Secretário, os demais já haviam passado por formação de condutores de atrativos
naturais.
Inicialmente, os participantes foram informados sobre a proposta do Plano de
Uso Público que se propunha a fazer com esta pesquisa e que os resultados seriam
devolvidos diretamente à comunidade; foram informados que suas informações e
decisões comporiam o plano. Em seguida procedeu-se com a aplicação das
ferramentas.
Mapeamento participativo
O desenho de mapas participativos tem como objetivo a visualização espacial
de recursos que se deseja investigar, a partir de informações prestadas pelos
moradores da região ou grupo específico (FARIA e NETO, 2006; KUMMER, 2007;
DRUMOND et. al, 2009; GEILFUS, 2009; VERDEJO, 2010). Neste caso optou-se
60
por utilizar a ferramenta a partir do uso de base cartográfica, o que, segundo
Drumond et al. (2009), proporciona a geração e a análise de informações espaciais
georrefenciadas pelas comunidades, integrando diversas realidades e formas de
informação.
Os materiais utilizados foram: mapa (base cartográfica) impresso; folha de
papel transparente (vegetal) proporcional ao tamanho do mapa; cartelas de papel,
pincel atômico e máquina fotográfica digital. Utilizar a base cartográfica (extraída do
Plano de Manejo) foi importante por dois motivos: 1) permitia a visualização da
região, como um todo, com identificação dos principais pontos; e 2) indicava os
pontos do Parque que podiam receber visitantes, levando em conta seu
zoneamento.
Primeiramente foi fixado no solo o mapa e, sobre ele, o papel vegetal. Foi
explicado o objetivo da ferramenta, seguindo com a contextualização da imagem,
com indicação dos principais pontos de referência, de modo que os participantes
ficassem bem situados em relação ao mapa, como se pode observar na figura 06,
abaixo.
Figura 6 - Explicação sobre a ferramenta
Figura 7 - indicação de atrativos pelos moradores
Foto: Francisco Santos, 2013. Foto: Francisco Santos, 2013.
61
Após essa etapa, os participantes foram convidados a indicar os atrativos com
potencial de visitação da região. Atentando para o fato de que a região já recebe
visita e de que os participantes, geralmente, tem contato com essas pessoas, foi
explicado que eles poderiam indicar tanto os locais já visitados por visitantes, quanto
os locais que eles entendessem que tinham expoente beleza cênica e condições de
acesso para os visitantes. A proposta foi bem aceita e logo os lugares começaram a
ser apontados (figura 07, acima).
Foram indicados, então, os 22 atrativos listados abaixo, no quadro 14:
Quadro 14 - Atrativos apontados durante o mapeamento participativo
Atrativos Atrativos
1. Brejo dos Padres 2. Cachoeira “Sem Nome” (ou Véu de Noiva) 3. Cachoeira Riacho Fundo 4. Cachoeira do Spanner (ou do Félix) 5. Caldeirão do Diabo (caverna e cachoeira) 6. Caverna do Morcego 7. Caverna Remanso dos Botos 8. Foz do Igarapé Sucupira 9. Ilha dos Martírios 10. Lago Remanso dos Botos 11. Morro do Bode 12. Morro do Mirante
13. Abrigo Casa da Cultura (Pedra Pintada) 14. Poção de Santa Cruz 15. Poção do Antônio Crente 16. Poção do Cajú 17. Poção do Isidoro 18. Poção do Zequinha 19. Praia da Santa Cruz 20. Praia Ilha de Campo 21. Praia Remanso dos Botos 22. Rio Araguaia/Pesca Esportiva
Com exceção do Poção do Antônio Crente, do Poção do Cajú e do Morro do
Bode, que se localizam no interior do Pesam, onde o Plano de Manejo indicando a
necessidade de estudos aprofundados antes de permitir a visitação (SECTAM,
2006b), todos os atrativos acima comporão o plano, conforme ilustrado no mapa
abaixo (figura 08). Estes serão posteriormente caracterizados na composição do
Plano de Uso Público, no Capítulo 4.
62
Figura 8 - Mapa participativo dos atrativos do setor 03 do Pesam e APA Araguaia e de seu entorno
63
Calendário Sazonal
A elaboração de calendários sazonais objetiva a ampliação dos
conhecimentos sobre a variação, durante o ano, de acontecimentos ambientais
naturais e sociais relacionados à vida de uma comunidade, permitindo identificar a
relação entre esses acontecimentos (FARIA e NETO, 2006; KUMMER, 2007;
DRUMOND et al., 2009; GEILFUS, 2009; VERDEJO, 2010).
Iniciando esse momento da oficina, foram inscritos os doze meses do ano,
com ajuda dos mesmos participantes, um em cada cartela, que foram dispostas no
solo, formando a primeira linha superior da matriz (figura 09). Foi solicitado aos
presentes que identificassem os meses chuvosos desenhando uma nuvem e, para o
caso de meses com chuva muito intensa, duas; foi utilizada a mesma lógica para os
meses mais ensolarados, com o desenho do sol. Os meses de transição deveriam
receber um sol e uma nuvem, lado a lado.
Figura 9 - Identificação do período de estiagem e cheia pelos participantes
Foto: Abel Pojo, 2013.
Em seguida, foi proposto que os atrativos fossem listados, compondo a
primeira coluna da esquerda. Inicialmente, a ideia era de listar todos os atrativos.
Contudo, os participantes sugeriram dividir os atrativos em grupos, que podem ser
visitados: (a) na cheia, (b) na estiagem ou (c) o ano todo. A sugestão foi acatada e
implementada. Cada grupo foi identificado com um pedaço de papel na interseção
64
entre linha e coluna, como se visualiza na figura 10. O calendário está representado
no quadro 15, adiante.
Figura 10 - Identificação do período de estiagem e cheia pelos participantes
Foto: Abel Pojo, 2013
O tempo de aplicação dessa ferramenta foi de duas horas e o resultado
possibilitou visualizar a disponibilidade de atrativos de acordo com a época do ano
(estiagem ou cheia), o que subsidiará medidas para evitar situações relatadas pelos
moradores, segundo os quais é comum que visitantes cheguem com intuito de visitar
cachoeiras no verão, ou praias na cheia, saindo frustrados por não terem sido
informados antes que a variação da estação influencia na disponibilidade desses
atrativos. Os materiais utilizados foram tarjetas de papel e pincéis piloto.
.
65
Quadro 15 - Calendário Sazonal de visitação dos atrativos do Setor 03 do Pesam e APA Araguaia e região de entorno
Meses/Estações Atrativos
Jan
Fev
Mar
Abr
Mai
Jun
Jul
Ago
Set
Out
Nov
Dez
Cachoeira “Sem Nome” Cachoeira Riacho Fundo Cachoeira do Spanner Caldeirão do Diabo
CHEIA
Ilha dos Martírios Praia da Santa Cruz Praia Ilha de Campo Praia Remanso dos Botos
ESTIAGEM
Brejo dos Padres Caverna do Morcego Caverna Remanso dos Botos Lago Remanso dos Botos Foz do Igarapé Sucupira Morro do Mirante Abrigo Casa da Cultura Poção de Santa Cruz Poção do Isidoro Poção do Zequinha* Rio Araguaia/Pesca Esportiva
ANO TODO
66
3.1.3. Plano de ação para o desenvolvimento do Uso Público
A elaboração do plano aconteceu durante a capacitação dos conselheiros do
Pesam e APA Araguaia. Essa escolha decorreu dos seguintes fatores: 1) grande
parte dos atores identificados durante a aplicação do Diagrama de Venn compunha
o conselho; 2) a mobilização desses atores já seria feita pela gestão da UC; 3) na
última reunião ordinária dos conselhos, em 2012, os conselheiros decidiram que o
tema da formação, em 2013, seria o Uso Público, visto o potencial do Pesam e APA;
4) a Secretaria de Estado de Turismo do Pará - Setur/PA estaria presente e seria
responsável pela formação; e 5) as reuniões desses conselhos têm forte orientação
participativa.
Sobre a mobilização, além dos conselheiros, foram convidadas as demais
organizações identificadas pela equipe gestora da UC como relacionadas ao Uso
Público do Pesam e APA Araguaia. Ambos os convites foram expedidos pelo gestor
das UCs e presidente dos Conselhos, explicitando que durante a formação ocorreria
a elaboração do plano.
Das 30 organizações convidadas, se fizeram presentes 15, podendo o quadro
comparativo entre presentes e ausentes ser observado abaixo (quadro 16). Além
dessas 15 organizações, participaram também o Sindicato dos Produtores Rurais de
São Geraldo do Araguaia (SPRSAGA), o Instituto Chico Mendes para a
Conservação da Biodiversidade (ICMBIO) e o Sindicato dos Trabalhadores em
Educação Pública (SINTEP).
67
Quadro 16 - Quadro comparativo entre organizações presentes e ausentes, em relação ao pré-estabelecido durante aplicação do Diagrama de Venn com equipe gestora
Presentes Ausentes
1. AgentesAmbientaisVoluntários (AAV) 2. Artesãos 3. Assoc. dos Barqueiros 4. Comunidades/Moradores/Vilas 5. Condutores de Atrativos Naturais 6. Cooperativa de Transporte (Coopersaga) 7. Empresa de Assistência Técnica e
Extensão Rural do Estado do Pará (Emater) 8. Escolas (Zona Rural) 9. Fundação da Casa da Cultura de Marabá
(FCCM) 10. Sec. de Estado de Meio Ambiente (Sema) 11. Sec. Mul. de Meio Ambiente (Semma) 12. Sec. Mul. Cultura (SEMCULT) 13. Sec. Mul. Saúde (SMS) 14. Secretaria de Estado de Turismo do Pará
(Setur) 15. Hoteleiros
1. Associação dos Municípios do Araguaia-
Tocantins (Amat) 2. Associação dos Moradores do Parque
Serra das Andorinhas (AMPSA) 3. Banco do Brasil 4. Banco do Estado do Pará (Banpará)* 5. Colônia dos Pescadores 6. Empresas de Turismo 7. Escolas (Zona Urbana) 8. Fórum de Turismo Araguaia Tocantins
(FORUMTURAT) 9. Instituo Nacional de Pesquisas Amazônicas
(Inpa)* 10. Museu Paraense Emílio Goeldi (MPEG) 11. Sec. Mul. de Educação (Semed) 12. Sec. Mul. Obras (SEMOB) 13. Sec. Mul. Turismo (SEMTUR) 14. Serviço Nacional de Aprendizagem Rural
(Senar)* 15. Universidade Federal do Pará (UFPA)
Primeiramente foi realizada palestra dialogada por técnica da Setur/PA,
intitulada Turismo em Unidades de Conservação: incremento ao desenvolvimento
local (figura 11, abaixo). Esse momento durou pouco mais de uma hora e foram
abordados os temas: cenário do turismo mundial, turismo de natureza, demanda
turística, oferta turística local, ordenamento turístico, estrutura turística e as
potencialidades da atividade.
Figura 11- Palestra da Setur/PA para os participantes da oficina
Figura 12 - Apresentação do projeto para os participantes da oficina
Foto: Abel Pojo, 2013. Foto: Jefferson Barroso, 2013.
68
Em seguida, foi realizada pelo pesquisador a apresentação de slides (figura
12, acima), com a base conceitual do trabalho (Unidade de Conservação, Uso
Público e Planejamento Participativo) e caracterização do projeto (justificativa,
objetivos, metodologia e resultados esperados). Isso aconteceu em 15 minutos.
Depois, foi iniciada a segunda etapa com a aplicação de duas ferramentas:
chuva de ideias e matriz de planejamento. A primeira, foi utilizada com o intuito de
levantar os eixos sobre o qual decorreria a aplicação da outra ferramenta, que tem
por finalidade analisar a situação e selecionar encaminhamentos voltados para o
desenvolvimento do Uso Público no Setor 03 do Pesam e APA Araguaia.
Chuva de Ideias
A ferramenta chuva de ideias (ou tempestade de ideias; ou braimstorming)
tem por objetivo estimular que cada participante, individualmente ou no contexto do
grupo, reflita e expresse seu ponto de vista sobre um tema proposto; geralmente
estimulado por meio de formulação e visualização de questionamentos. Essa
ferramenta pode ser utilizada em qualquer fase do planejamento (KUMMER, 2007;
DRUMOND et al., 2009; GEILFUS, 2009).
Após o nivelamento proporcionado pela palestra da Setur/PA e pela
apresentação do projeto de pesquisa, iniciou-se a aplicação da ferramenta chuva de
ideias, sendo proposta para o grupo a seguinte pergunta: Quais são os pontos que
merecem atenção para o desenvolvimento do Uso Público do Pesam e APA
Araguaia, especialmente do setor 03? Foram disponibilizadas cartelas de papel e
pincéis-piloto para todos e acordado um tempo de 5 minutos para que refletissem,
individualmente, e escrevessem sua resposta nas cartelas.
Algumas pessoas do grupo alegaram não ter boa caligrafia, então, duas
participantes se disponibilizaram a escrever as opiniões desses colegas nas
cartelas. A opinião/cartela de cada participante foi lida em voz alta e visualizada pelo
grupo, sendo fixada, em seguida, no painel de madeira posto diante da plenária, de
modo que todos acompanhassem, conforme se observa na figura 13.
69
Figura 13 - Aplicação da Ferramenta Chuva de Ideias
Foto: Jefferson Barroso, 2013.
Quando surgia uma resposta similar, as cartelas eram agrupadas, mediante
consenso do grupo. Ao final, as cartelas repetidas foram eliminadas, restando uma
apenas que contemplasse a ideia das demais. Foram elencados 17 pontos de
atenção, conforme quadro 17. O tempo para aplicação foi de 50 minutos e os
materiais utilizados foram: tarjetas de papel, pincel atômico, painel compensado
coberto com tecido (TNT) e fita adesiva.
Quadro 17- Pontos de atenção para o Uso Público do Pesam e APA Araguaia
Pontos de Atenção
1. Alimentação
2. Barqueiros
3. Condutores
4. Divulgação
5. Estruturação Física da Unidade
6. Hospedagem
7. Informação turística
8. Pontos de comercialização do Artesanato
9. Qualificação
10. Sensibilização Turística
11. Serviço de transporte terrestre
12. Comunicação
13. Energia elétrica
14. Estradas
15. Posto de saúde
16. Rodoviária
17. Segurança
70
Matriz de Planejamento
A matriz é utilizada para averiguar a importância de diferentes temas em
relação a critérios determinados. As informações podem ser comparadas e
ordenadas segundo sua importância para o grupo, estimulando sua reflexão sobre o
tema; trata de mobilizar a capacidade das pessoas desenharem um plano de ação,
sendo a matriz a representação gráfica desse trabalho (FARIA e NETO, 2006;
KUMMER, 2007; DRUMOND et al., 2009; GEILFUS, 2009; VERDEJO, 2010).
Sob esse preceito, os 16 pontos de atenção indicados na ferramenta chuva
de ideias foram o ponto de partida para a construção da matriz, compondo a
primeira coluna da esquerda, sobre a qual foi posto o primeiro questionamento (que
debutou a primeira linha superior): Qual o cenário ideal para esse ponto de atenção?
Os participantes foram divididos em quatro subgrupos, com a atribuição de traçar o
cenário ideal para quatro pontos de atenção (figura 14, abaixo). Cada grupo teve
pontos de atenção diferentes para projetar o cenário ideal.
Decorridos 20 minutos, cada subgrupo elegeu um representante que
socializou os resultados em plenárias, validando-os e fixando-os no painel (figura 15,
acima), compondo assim uma 2ª coluna. Foi proposta uma segunda pergunta: Qual
o cenário atual para esse ponto de atenção? Decorreu-se com a mesma dinâmica
do primeiro questionamento.
Figura 14 - Subgrupos em discussão
Figura 15 - Socialização e validação do trabalho do subgrupo
Foto: Abel Pojo, 2013. Foto: Abel Pojo, 2013.
71
Esses dois primeiros questionamentos compõem, baseado em Gandin (2010),
o diagnóstico, uma vez que permite avaliar a situação atual, à luz de uma projeção
do cenário ideal para aquela situação. Esse entendimento contribui sobremaneira
para que sejam traçadas, posteriormente, as estratégias para se sair da situação
atual em direção à situação ideal, o que traduz claramente a base conceitual sobre
planejamento, discutida no referencial teórico deste estudo.
Em seguida, foi proposta ao grupo a próxima pergunta: O que deve ser feito
para sair do cenário atual em direção ao cenário ideal? Entretanto, um dos
participantes questionou que, sendo ampla a gama de pontos de atenção em
número e qualidade, seria mais interessante para o grupo ali presente definir quais
instituições deveriam ser acionadas para implementar as melhorias, cabendo a
essas instituições traçar e galgar os passos. A ideia foi imediatamente abraçada pelo
grupo.
Outro conselheiro, em fala complementar, disse que as instituições ali
presentes poderiam/deveriam assumir algumas dessas responsabilidades e,
inclusive os conselhos gestores, deveriam colaborar com a posterior implementação
do plano. Nenhum participante manifestou oposição e a proposta virou consenso (na
figura 16, observa-se a decisão do grupo em não definir ali os passos para se atingir
o cenário ideal).
72
Figura 16 - Matriz de planejamento, com ênfase na decisão do grupo em deixar para as instituições elencadas as fases de implementação das melhorias
Foto: Abel Pojo, 2013.
Partiu-se então para o último questionamento: Quem deve ficar responsável
por realizar esta ação? Nesta última etapa de aplicação da ferramenta, não foi
utilizada a dinâmica de subgrupos, mas sim a de plenária, de modo a otimizar as
contribuições de todos, em cada um dos pontos de atenção. Os participantes já
estavam bem entrosados e transmitiram estar à vontade e seguros com o trabalho.
A representação final da matriz resultante está no quadro 18, que segue.
73
Quadro 18 - Matriz de planejamento construída de modo participativo durante a oficina
Cenário Atual
Alimentação Poucos locais disponíveis e sem
qualificação
Qualificação das pessoas que
manipulam alimentos e maior
disponibilidade nos locais de
visitação e na sede
Vigilância Sanitária Sistema "S"
Barqueiros
Poucos barqueiros;
Pilotos com conhecimento,
qualificação, e autorização
Embarcações devidamente
autorizadas e os
barqueiros/pilotos qualificados
para a função
Marinha Dep. de Portos e Costas
Arcom
Condutores Existe a pessoa que leva e traz
com segurança e informação
A pessoa que leva e traz com
segurança e informação
Bombeiros BPA
SEMA Abeta
Divulgação O mínimo do básico
Site na internet;
Panfletos;
Mapas informativos
Sec. Mul. Cultura; SEMA; Paratur; FCCM; Semma
Sec. Mul. Educação Sec. Mul. Tur.; Conselho
Estruturação Física da
Unidade
Acesso não adaptado para
receber turista
Pontes, sinalização de trilhas e
mapas de risco SEMA
Pontos de Atenção Cenário Ideal Quem deve fazer?
74
Hospedagem
Qualidade fica a deseja por falta
de comunicação (telefonia e
internet)
Acomodação com qualidade Sistema "S";
Cadastur Iniciativa Privada
Informação turística Desestruturação do órgão local
Inventário da oferta turística
elaborado e órgão local
estruturado
Setur/PA Sec.Mul. Turismo
FCCM
Pontos de comercialização
do Artesanato Comercialização caseira Casa do Artesão
Seter; Emater; Sec. Mul. Cultura
Ação Social Senar
Qualificação Mão-de-obra não qualificada para
o turismo
Qualificar a rede de
atendimento turístico Setur/PA
Sistema "S"
Sensibilização Turística Individualismo e desorganização
da iniciativa privada
População organizada e
sensibilizada para a atividade
turística
Setur/PA Sistema "S"
Conselho das UCs
Serviço de transporte
terrestre Inexistente
Carros específicos para cada
necessidade
Cadastur Arcom
Iniciativa Privada
Comunicação
Telefonia fixa pouca e falha;
Telefonia móvel na Ilha de
Campo.
Telefonia fixa e móvel em
todas as comunidades
Particular Anatel
Min. Telecomunicações
75
Energia elétrica Não tem Energia elétrica 24h Programa Luz Para Todos
Estradas
BR 153 satisfatória;
Vicinais "nem mula anda"
(Péssimas condições de tráfego,
principalmente no inverno)
BR 153 e estradas vicinais em
boas condições de
trafegabilidade o ano todo
DNIT Sec. Mul. de Obras
Posto de saúde Inexistência de atendimento nas
comunidades
Implantação de atendimento de
saúde qualificada; ponto de
atendimento para turismo de
natureza
Sec. Mul.deSaúde
Rodoviária Não existe; usa-se a avenida
como rodoviária Criação de terminal rodoviário
Prefeitura; Sedurb
Segurança
Não tem policiamento
especializado para receber
turistas
Policiamento turístico Polícia Civil
Polícia Militar Sec. Est. de Segurança
76
A matriz mostrou-se muito rica em informações e, apesar de não ter sido
indicado na metodologia, considerou-se interessante para este estudo proceder com
algumas análises sobre os resultados obtidos.
Primeiramente, tendo em vista os pontos de atenção e apropriando-se da
divisão proposta por Ignarra (2003), para o qual a estrutura turística é composta por:
infraestrutura/serviços básicos e infraestrutura/serviços de apoio ao turismo, que,
associados aos atrativos, viabilizam a prática da visitação turística, incorre-se na
divisão apresentada no quadro 18. Os demais visitantes (pesquisadores e
comunidade da UC e entorno) se utilizam das mesmas estruturas durante a
visitação.
Quadro 19 - Infraestrutura básica e infraestrutura turística apontada pelos participantes como ponto de atenção para o desenvolvimento do Uso Público no Pesam e APA Araguaia
Infraestrutura Básica Infraestrutura Turística
1. Comunicação 2. Energia elétrica 3. Estradas 4. Posto de saúde 5. Rodoviária 6. Segurança
1. Alimentação 2. Barqueiros 3. Condutores 4. Divulgação 5. Estruturação Física da Unidade 6. Hospedagem 7. Informação turística 8. Pontos de comercialização do Artesanato 9. Qualificação 10. Sensibilização Turística 11. Serviço de transporte terrestre
Diante do quadro comparativo, atina-se para a necessidade de compreender
o desenvolvimento das atividades de Uso Público sob perspectiva ampla, uma vez
que a melhoria na Infraestrutura e nos serviços básicos atende e melhora a vida da
população local e, ao mesmo tempo, constituem elementos importantes para os
visitantes. Porém, estruturar fisicamente as unidades de conservação não garante
os benefícios potenciais da atividade de visitação, por essa razão deve haver a
preocupação em capacitar as comunidades locais para a prestação de serviços de
apoio a essa atividade.
Outra análise interessante pode ser obtida ao se considerar os mesmo pontos
de atenção, mas sob o aspecto da última coluna da matriz: Quem deve fazer? A
partir dessa ideia, construiu-se o diagrama observado na figura 17, que segue.
77
Figura 17 - Diagrama de representação das entidades responsáveis pela estruturação do uso público
Nesse diagrama pode-se notar o fundamental papel do poder público na
estruturação do uso público das UCs analisadas; ora associado à inciativa privada;
ora à organização social; cabendo não apenas fomentar a infraestrutura e serviços,
mas articular ações junto aos outros setores. Indo além e analisando apenas os
apontados como potenciais responsáveis ou co-responsáveis, temos o resultado
constante no gráfico da figura 18.
78
Figura 18 - Ranking Instituições responsáveis pela estruturação do Uso Público
Esse gráfico representa a percepção dos participantes da oficina e registra
um curioso dado: o órgão gestor das UCs (Sema), não foi apontado como o maior
responsável ou co-responsável pelo melhoramento dos pontos de atenção
relacionados com o Uso Público, cabendo-lhe, entretanto, o inerente papel de
articulador, visto que a atividade, segundo Eagles et al (2002), além de aumentar as
oportunidades econômicas e melhoria da qualidade de vida das comunidades,
também constitui relevante fator de proteção do patrimônio natural e cultural.
O tempo total de aplicação da ferramenta (incluindo intervalo) foi
aproximadamente 4 horas. Os materiais utilizados foram: tarjetas de papel em cores
diferentes (verde, amarelo, rosa e branco), pincel atômico, painel compensado
coberto com tecido (TNT) e fita adesiva.
A participação e comprometimento dos presentes foram latentes. Os
comentários dos participantes, ao tratarem sobre os pontos de atenção, foram
anotados e serão convenientemente utilizados durante a composição do plano, no
capítulo subsequente.
79
CAPÍTULO 4: O PLANO DE USO PÚBLICO DO SETOR 03 DO PARQUE SERRA
DAS ANDORINHAS E APA ARAGUAIA
4.1. INFORMAÇÕES GERAIS
Serão apresentadas aqui algumas informações relevantes para contextualizar
a região onde se desenvolve a pesquisa, tais como localização, acesso, histórico de
ocupação, dados socioeconômicos, clima, geomorfologia, vegetação e fauna. Esses
dados foram considerados importantes por estar diretamente ligados com a
composição da paisagem, tanto no tocante aos recursos naturais, quanto nas
questões socioeconômicas, o que será o campo de desenvolvimento da atividade de
visitação local.
4.1.1. O município de São Geraldo do Araguaia
Localização
Localizado na região sudeste do Pará, o município de São Geraldo do
Araguaia está a uma latitude 06º24'02" sul e a uma longitude 48º33'18" oeste. Nele
estão localizados o Parque Estadual da Serra dos Martírios/Andorinhas (Pesam) e a
Área de Proteção Ambiental de São Geraldo do Araguaia (APA Araguaia). Os
municípios limítrofes são: Piçarra (PA), Eldorado (PA), Xambioá (TO), Brejo Grande
do Araguaia (PA), São Domingos do Araguaia (PA) e Marabá (PA), conforme figura
19.
80
Figura 19 - Mapa de localização do município de São Geraldo do Araguaia
Fonte: pt.wikipedia.org
Acesso a São Geraldo do Araguaia
Para se chegar ao município de São Geraldo do Araguaia, onde estão
situados o Pesam e a APA Araguaia, existem duas principais “portas de entrada”: os
municípios de Marabá (PA) e de Araguaína (TO). Ver figura 20, que segue.
Em Marabá (PA), pode-se chegar de diversas partes do país por via aérea,
com voos comerciais regulares e diários; por via terrestre, a frequência e as
possibilidades de viagens são ainda maiores. Pela via de Araguaína (TO), também é
acessível por malha viária, de todas as partes do Brasil, especialmente por estar
situada à margem da BR 153 (Belém-Brasília); existem também voos regulares e
comerciais com desembarque diário nessa cidade.
Partindo de ambas as cidades, a opção de transporte é terrestre, em ônibus e
vans (diversas saídas diárias do terminal rodoviário, nos três turnos). Saindo de
Marabá são cerca de 160 km em estrada pavimentada (BR 153) em bom estado de
conservação, que podem ser percorridos em aproximadamente 2 horas. Partindo de
Araguaína, são cerca de 120 Km, pela mesma rodovia, também em bom estado; o
percurso leva, em média, 1,5 horas. Partindo de Araguaína é necessário atravessar
uma balsa ao final do trajeto, sobre o Rio Araguaia, com tempo médio de 15 minutos
de travessia; do outro lado da margem está São Geraldo do Araguaia.
81
Figura 20 - Mapa de acesso à São Geraldo do Araguaia, a partir de Marabá e Araguaína
82
Histórico de ocupação e criação do município de São Geraldo do Araguaia
Seu histórico remonta ao final da década de 40, quando entrou em
decadência a exploração de garimpo cristal de rocha na região localizada na
margem direita do rio Araguaia, onde hoje é a cidade de Xambioá (TO), levando os
trabalhadores a encontrar na coleta da castanha-do-pará e no plantio de roças para
subsistência, um meio de sobrevivência (IDESP, 2012).
Diante disso, por volta de 1953, o senhor João Rego Maranhão construiu um
barracão na margem esquerda do rio, próximo à foz do rio Xambioazinho, para
compra, sobretudo, da castanha coletada e do arroz produzido. Ao redor desse
ponto de comercialização se instalaram as famílias dos castanheiros. Com a morte
do único filho do senhor João, essas pessoas construíram uma capela para São
Geraldo, em homenagem ao rapaz (LOBATO e COSTA, 2008; IDESP, 2012).
Em função da criação do Grupo Executivo de Terras de Araguaia-Tocantins –
GETAT (para tentar solucionar os conflitos fundiários na região surgidos na década
de 1960), somada a abertura de estradas pelo exército, mais o assentamento de
posseiros ou colonos desalojados pelos projetos financiados pela Superintendência
de Desenvolvimento da Amazônia - Sudam, a região foi muito rapidamente povoada,
sobretudo ao longo da antiga OP-2 (Operação – 2), atualmente BR 153 (IDESP,
2012).
Já na década de 1980, as atividades extrativas cederam lugar à pecuária de
corte, dirigindo os moradores dos antigos castanhais para concentrações em
pequenas áreas ou vilas. Essas comunidades foram se estruturando e surgiram as
associações comunitárias nas vilas e povoados que, por meio de abaixo-assinados
dirigidos a políticos e ao governo do Estado, pleiteavam sua emancipação política e
administrativa (Id., ibid.).
Assim, o município de São Geraldo do Araguaia foi criado em 10 de maio de
1988, por meio da lei estadual nº 5.441, sancionada pelo governador Hélio Mota
Gueiros, e publicada em Diário Oficial nº 26.350, com área desmembrada do
município de Xinguara. Sua área territorial é de 3.168 km² (316.800 hectares). O
gentílico é o são-geraldense.
83
Dados socioeconômicos
Segundo dados de 2010 do IBGE, a população do município de São Geraldo
do Araguaia é de 25.587 habitantes, estando 53,1% na zona urbana e 46,9% na
zona rural. O Índice de Desenvolvimento Humano Municipal (IDHM) de São Geraldo
do Araguaia, em 2000, foi de 0,691, podendo ser considerado médio, com base nos
parâmetros do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD).
Quadro 20 - Evolução do Índice de Desenvolvimento Humano do município de São Geraldo do Araguaia
Identificação Anos
1991 2000
IDH – M 0,546 0,691
IDH – M Longevidade 0,632 0,748
IDH – M Educação 0,525 0,732
IDH – M Renda 0,48 0,593
Fonte: http://www.pnud.org.br
Segundo o Idesp (2012), o produto interno bruto municipal total é de R$
151.375,00, dividido entre serviços (R$ 87.875,00), agropecuária (R$ 52.514,00) e
indústria (R$ 10.986,00). Com base nesses dados, é possível observar a análise
percentual no gráfico que segue na figura 21, abaixo.
Figura 21 - Análise percentual do PIB de São Geraldo do Araguaia (PA)
84
Em relação ao trabalho, a tabela 01, abaixo, mostra que os três maiores
empregadores, nesta ordem, são, desde 1999, a administração pública, o comércio
e a agropecuária.
Tabela 1- Estoque de Emprego Segundo Setor de Atividade Econômica 1999-2010 no município de São Geraldo do Araguaia SETOR DE ATIVIDADE 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010
Extrativa Mineral 19 - - 1 - - - - - - - -
Indústria de Transformação
12 83 24 110 88 99 21 22 20 91 84 99
Serviços Indust Utilidade Pública
8 2 2 2 2 4 4 4 2 1 2 2
Construção Civil - - - - - - 2 1 32 - 9 10
Comércio 57 61 100 158 178 218 279 268 322 367 393 404
Serviços 14 19 26 43 80 84 95 45 41 54 80 65
Administração Pública 185 - 842 1.012 776 719 797 768 1.000 1.111 1.136 1.096
Agropecuária 27 24 76 91 89 289 431 446 363 463 376 365
Outros / Ignorados - - - - - - - - - - - -
TOTAL 322 189 1.070 1.417 1.213 1.413 1.629 1.554 1.780 2.087 2.080 2.041
Fonte: IDESP, 2012.
No meio rural, a principal atividade desenvolvida é a agropecuária, que ocupa
cerca de 189.714 hectares, aproximadamente 60% do território do município. A
produção anual do rebanho é de cerca de 350.000 cabeças, estando o município
inserido em um contexto pecuarista.
Clima
O clima do Município é tropical chuvoso, tipo Am, na classificação de Köppen,
no limite de transição para o Aw, ou seja, indo do subclima de curta estação seca a
inverno seco. A temperatura média anual de ocorrência na região é de 26,35º C,
apresentando a média máxima em torno de 32,0º e mínima de 22,7º C. A umidade
relativa do ar apresenta oscilações consideráveis entre a estação mais chuvosa e a
mais seca, que vão de 90% a 25%, sendo a média real de 78%.
85
Figura 22 - Mapa do Clima
Fonte: http://www.guianet.com.br/brasil/mapaclima.htm
Precipitação
O período chuvoso ocorre, notadamente, de novembro a maio, e o mais seco
de junho a outubro, estando o índice pluviométrico anual em torno de 2.000mm
(IDESP, 2012). Na figura 23 pode-se observar a precipitação dos últimos seis anos
(2008 a 2012), que culmina na variação do clima entre chuvoso e seco, na região do
município de São Geraldo do Araguaia.
86
Figura 23 - Precipitação no Brasil entre 2008 e 2012
Fonte: www.inmet.gov.br
87
4.1.2. O Parque Estadual da Serra dos Martírios/Andorinhas (Pesam) e a Área
de Proteção Ambiental de São Geraldo do Araguaia (APA Araguaia)
Ficha Técnica do Pesam e APA Araguaia
Quadro 21 - Ficha técnica do Parque Estadual da Serra dos Martírios/Andorinhas (Pesam)
FICHA TÉCNICA DO PESAM
Nome da Unidade de Conservação:
Parque Estadual da Serra dos Martírios/ Andorinhas - PESAM
Unidade Gestora Responsável:
Secretaria de Estado de Meio Ambiente - SEMA
Conselho gestor consultivo: Atuando desde 2009.
Endereço da sede: Av. Dom Pedro I, 260. Bairro: Centro. CEP: 68.570-000. São Geraldo do Araguaia/PA
Telefone: (94) 3331-1197; (91) 3184-3601
E-mail: -
Site: www.sema.pa.gov.br
Superfície da UC: 26.787,75 ha
Perímetro da UC: 158,39 km (cartográfico)
Município que abrange e percentual da UC no município:
São Geraldo do Araguaia; 100%
Estado: Pará
Coordenadas geográficas (latitude e longitude):
Latitude Máxima: 06°22’39” S Latitude Mínima: 06°04’36” S Longitude Oeste: 48°23’06” W Longitude Leste: 48°35’20” W
Ato de criação e data: Lei nº 5.982, de 25 de julho de 1996
Marcos geográficos referenciais dos limites:
Limite Oeste: Rio Araguaia
Biomas e ecossistemas: Cerrado e Amazônico – Ecótono Cerrado-Amazônia
ATIVIDADES OCORRENTES
Educação Ambiental Sim
Fiscalização Sistemática e mediante denúncia
Pesquisa: Sim
Visitação: Sim
Atividades Conflitantes: Caça, queimadas, abertura de estradas, extração de madeira, posseiros, desmatamento, pichações, descaracterização de sítios arqueológicos, visitação em locais não autorizados.
Atividades de Uso Público: Pouca visitação (demanda espontânea), sem o real controle, porém com ações de sensibilização e acompanhamento de grupos organizados.
(SECTAM, 2006)
88
Quadro 22 - Ficha técnica da Área de Proteção Ambiental de São Geraldo do Araguaia (APA Araguaia)
FICHA TÉCNICA DO PESAM
Nome da Unidade de Conservação:
Área de Proteção Ambiental de São Geraldo do Araguaia – APA Araguaia
Unidade Gestora Responsável:
Secretaria de Estado de Meio Ambiente - SEMA
Conselho gestor deliberativo:
Atuando desde 2009.
Endereço da sede: Av. Dom Pedro I, 260. Bairro: Centro. CEP: 68.570-000. São Geraldo do Araguaia/PA
Telefone: (94) 3331-1197; (91) 3184-3601
E-mail: -
Site: www.sema.pa.gov.br
Superfície da UC: 29.655,39 ha
Perímetro da UC: 287,1368 km (cartográfico)
Município que abrange e percentual da UC no município:
São Geraldo do Araguaia; 100%
Estado: Pará
Coordenadas geográficas (latitude e longitude):
Latitude Máxima: 06°03’30” S Latitude Mínima: 06°22’44” S Longitude Oeste: 48°23’27” W Longitude Leste: 48°36’13” W
Ato de criação e data: Lei nº 5.983, de 25 de julho de 1996
Marcos geográficos referenciais dos limites:
Limite Oeste: Rio Araguaia
Biomas e ecossistemas: Cerrado e Amazônico – Ecótono Cerrado-Amazônia
ATIVIDADES OCORRENTES
Educação Ambiental Sim
Fiscalização Sistemática e mediante denúncia
Pesquisa: Sim
Visitação: Sim
Atividades Conflitantes: Caça, queimadas, desmatamento, descaracterização de sítios arqueológicos, visita desordenada e além da capacidade das cachoeiras.
Atividades de Uso Público: Visitação intensa em cachoeiras causando degradação, porém com algumas ações de sensibilização e acompanhamento de grupos organizados.
(SECTAM, 2006)
89
Localização
Figura 24 - Mapa de localização do Pesam e APA Araguaia no Município de São Geraldo do Araguaia/PA
90
Histórico de Criação
Os primeiros registros da região do Pesam datam de 1594, quando
bandeirantes chefiados por Antônio de Macedo e Domingos Louis Grous, oficiais da
coroa portuguesa, impressionaram-se com a beleza e a biodiversidade local, o
potencial mineral e as gravuras rupestres. Tendo percebido nas gravuras, avistadas
em uma ilha e nas margens do rio Araguaia (figuras 25 e 26), semelhança com a
coroa de espinho do martírio de Cristo, chamaram a Ilha e a Serra que dela se
avistava de Ilha dos Martírios e Serra dos Martírios (FERREIRA, 1960 apud
LOBATO e COSTA, 2008).
Figura 25 - Gravura rupestre, Ilha dos Martírios
Figura 26 - Gravura rupestre, Pedra Escrita
Fonte: SEMA, N/D Fonte: Sema, N/D
Entretanto, séculos mais tarde, a serra mudou de nome, como explicam
Lobato e Costa (2008):
No período de 1970 a 1974, na época da ditadura militar, grupos guerrilheiros enfrentaram tropas regulares das Forças Armadas do Exército Brasileiro, ficando conhecido como a Guerrilha do Araguaia. A denominação Serra das Andorinhas foi dada na década de 70 pelos militares brasileiros que lutaram contra o movimento guerrilheiro. Este nome originou-se pela grande quantidade de andorinhas na região (p. 22).
O movimento para a proteção da então Serra das Andorinhas surgiu em 1986,
quando o Museu Paraense Emílio Goeldi (MPEG) convidou o setor de arqueologia
da Casa da Cultura de Marabá, para um projeto de salvamento arqueológico na
região, que seria inundada com a possível implantação da Hidrelétrica de Santa
Isabel (SECTAM, 2006a; LOBATO e COSTA, 2008). Até os dias atuais a hidrelétrica
ainda não foi implantada.
91
Em 1988, a partir dos resultados dessa expedição, a Secretaria de Estado de
Cultura do Pará (Secult), entendeu a importância de se tombar a área, o que
culminou na Lei Estadual nº. 4.855/1989, de 22 de setembro daquele ano, publicada
no Diário Oficial do Estado do Pará, dia 26 do mesmo mês (LOBATO e COSTA,
2008).
Nesse mesmo ano, a Fundação Serra das Andorinhas - FSA, que desenvolvia
projetos na região, solicitou ao Instituto de Desenvolvimento Econômico-Social do
Estado do Pará (Idesp) que incluísse a área da Serra das Andorinhas em seu
programa de proteção de recursos naturais do território paraense. A indicação foi
considerada relevante pelo rico patrimônio, e pela notável biodiversidade distribuída
em ecossistemas e altitudes diversos (Id., ibid.).
Com isso, em 1996, por meio da Lei Estadual 5.982 ,de 27 de julho, foi criado
o Parque Estadual da Serra dos Martírios/Andorinhas (Pesam), resgatando os dois
nomes – e momentos históricos – relacionados com a serra; simultaneamente, por
meio da Lei Estadual 5.983, foi instituída a Área de Proteção Ambiental de São
Geraldo do Araguaia (APA Araguaia), para servir como zona de amortecimento9
para o parque.
Segundo a SECTAM (2006a), o parque foi criado a partir de áreas
remanescentes que foram consideradas impróprias para a colonização no
Loteamento Gleba Andorinha, por ocasião da reforma agrária realizada pelo Instituto
Nacional de Colonização e Reforma Agrária- Incra e o Grupo Executivo de Terras do
Araguaia-Tocantins (GETAT). Na APA Araguaia, entorno do Parque, encontram-se,
ainda hoje, dois Projetos de Assentamento.
9 Zona de amortecimento: o entorno de uma unidade de conservação, onde as atividades humanas estão
sujeitas a normas e restrições específicas, com o propósito de minimizar os impactos negativos sobre a unidade (BRASIL, 2000).
92
Geomorfologia e relevo
O relevo da Região Norte brasileira é caracterizado por maioria de terras
baixas, como planícies, depressões e planaltos pouco elevados. As planícies
ocupam estreitas faixas de terra ao longo dos rios, como a planície dos rios
Amazonas, Araguaia e Guaporé. O restante das terras baixas corresponde às
depressões ou aos planaltos sedimentares de baixa altitude (SECTAM, 2006a).
Localizado na região compreendida entre a folha Araguaia e parte da folha
Tocantins, representado pela unidade morfoestrutural Depressão Periférica do Sul
do Pará, conforme se pode observar na figura 27, o município de São Geraldo do
Araguaia apresenta superfícies pediplanadas em rochas pré-cambrianas, recobertas
por depósitos superficiais, áreas dissecadas em colinas e ravinas que constituem a
maior porção da área, algumas cristas e eventuais serras. Em relação ao estado do
Pará, trata-se de relevo relativamente elevado (Id., ibid.).
Figura 27 - Geomorfologia do Pesam e APA Araguaia
Fonte: SECTAM, 2006a.
93
A Serra dos Martírios/Andorinhas constitui um pequeno maciço quartizítico
localizado no sudeste paraense, com altitudes máximas próximas a 600 metros. Ela
representa um dos últimos remanescentes do Sistema Cordilheiriano do Centro-
Norte do Tocantins. A serra tem forma ovalar grosseira, com rebaixo central no vale
do Ribeirão Sucupira (GORAYEB et al., 2008).
Segundo Gorayeb et al. (2008), as diversificadas formas de relevo podem ser
caracterizadas em:
a) Sistema Serrano Andorinhas: domínio de serras (altitude de 250 a 500
metros), com predomínio de cristas quartizíticas alongadas, localmente
com topos aplainados e paredões escarpados, e picos entre 500 e 587
metros;
b) Sistema Colinoso Periférico a Serra: com ampla área marginal, trata-se de
relevo colinoso relativamente monótono, com altitudes de até 220 metros,
sobre camadas de xisto;
c) Planalto Residual da Bacia do Parnaíba: planalto dissecado com altitude
acima de 350 metros, sustentados por rochas sedimentares da Bacia do
Parnaíba, situados mais a leste;
d) Platô Vila Bandinha: relevo colinoso com forma de topo aplainado de até
260 metros, na porção oeste, próximo à vila Bandinha;
e) Planície Fluvial Araguaia: tabuleiros adjacentes aos sistemas de drenagem
principal, com altitudes inferiores a 77 metros, distribuídos ao longo do rio
Araguaia e seus afluentes principais; e
f) Pedra do Araguaia: formas erosivas peculiares sobre quartizitos do canal
do rio Araguaia, no trecho entre Ilha de Campo e Remanso dos Botos.
Esse autor destaca, ainda, levando-se em consideração o tema ecoturismo,
que os pontos elevados da Serra e os complexos ruiniformes propiciam a
contemplação da beleza cênica proporcionada pelo rio Araguaia; e as escarpas
subverticais, com desníveis de dezenas de metros, incluindo as cachoeiras,
possibilitam a prática de rapel e outras modalidades de lazer, relacionadas com
turismo o de aventura.
94
Vegetação
O Pesam e a APA Araguaia localizam-se na zona de transição entre os
biomas Floresta Amazônica e Cerrado. Segundo o IBGE, a Amazônia é o maior
bioma do Brasil, com um território de 4.196.943 milhões de km2; o Cerrado, por sua
vez, é o segundo maior bioma, ocupando uma área de 2.036.448 km2, sendo
reconhecido como a savana mais rica do mundo. Na figura 28, pode-se observar os
biomas do Brasil.
De acordo com Amaral et al. (2008), as zonas de transição, também
denominadas ecótonos, “são consideradas como aquelas que apresentam elevada
diversidade biológica, pelo efeito de complementaridade ou aditivo das diferentes
comunidades que compõem o mosaico paisagístico” (p. 187).
Figura 28 - Biomas do Brasil
Fonte: http://profwladimir.blogspot.com.br
95
Sua diversidade biológica e paisagística está distribuída entre sete diferentes
fitofisionomias, que estão destacadas no quadro 22, com suas principais
características e representações de espécies associadas.
Quadro 23 - Fitofisionomias do Pesam e suas especificidades
Fitofisionomia Setores
Fitoecológicos Principais características Espécies Predominantes
Floresta Ombrófila Densa Aluvial
floresta de galeria
É encontrada ao longo dos vales onde ocorremcursos d’água perenes, contrastando com o cerrado circundante
jatobá (Himenaea courbaril); pau-pombo (Tapirira guianensis); buriti (Mauritia vinifera)
floresta de Várzea
Ocupa áreas adjacentes ao Rio Araguaia, são inundadasanualmente no período das cheias (dezembro a abril)
ingá (Inga sp); muruci (Byrsonima crassifolia); bacuri (Platonia insignis)
Floresta Ombrófila Densa Submontana
floresta mista
Áeas abaixo de 200 m de altitude, principalmente na regiãodo rio Sucupira, ocupando as encostas da serra. É formada por árvores latifoliaresperenifólias, bem espaçadas, com altura de 10 a 25 m
jatobá (Himenaea courbaril); sucupira (Diplotropis purpurea); sapucaia (Lecythis usitata); inajá (Maximiliana regia); ebabaçu (Orbygnia martiana)
floresta densa
Localizada em áreas relativamente baixas entre o Rio Araguaia ea Serra das Andorinhas. A ocorrência de árvores de grande porte, de até 50 m de altura,reduz a luminosidade, limitando a proliferação de arbustos e cipós
castanha-do-pará (Berthollethia excelsa); cupuaçu (Theobroma grandiflorum); sapucaia (Lecythis usitata); caju-de-janeiro (Anacardium sp); ipês (Tabebuia sp)
Áreas de Tensão Ecológica
áreas de tensão ecológica
Formadas pela ocorrência de mosaicos de áreasencravadas situadas entre duas regiões ecológicas, onde uma formação vegetacionaldisjunta encontra-se inserida em outra. No caso da região do PESAM as formaçõessavânicas, presentes na Serra das Andorinhas, estão inseridas dentro do domínio da floresta amazônica
---
Cerrado ou Savana Amazônica
cerrado
Regionalmente denominado de chapada, ocupa área acima de 250 m de altitude. Há espaçamento entreas árvores que apresentam casca grossa, enrugada, galhos tortuosos, folhasgrandes e coriáceas, sem espinhos
folha-larga (Salvetia convalariodora); muruci (Byrsonima crassifolia); canela-de-ema (Velozia sp); bruto (Annona sp); pequi (Caryocar villosum); cajuí (Anacardium giganteum); e mangabeira (Hancornia speciosa)
96
vegetação de carrasco
Ocupa as encostas da Serra, apresentando uma vegetaçãoque perde suas folhas no período seco
ipê-branco (Tabebuia sp); angico (Piptadenia sp); aroeira (Astronium sp); favapêndula (Parkia pedula)
Campo Cerrado ou Cerrado Ralo
campos litológicos
Pequenas áreas de altitudes acima de 500 m, entremeadasde estruturas runiformes que apresentam vegetação baixa e rasteira
gramíneas; bromélias
Campo Limpo Úmido ou Brejos Estacionais
vegetação do parque
Ocorre em meio aos campos cerrados e são representadas porpequenas áreas geralmente situadas acima de 400 m de altitude
gramíneas (Aristida sp); buriti (Mauritia vinifera)
Sistemas Secundários
floresta secundária
Formada a partir da recuperação parcial das florestas originaisderrubadas, geralmente floresta densa, floresta de galeria ou floresta mista
embaúba (Cecropia sp); babaçu (Orbygnia martiana); pau-pombo (Tapirira guianensis)
vegetação de pastagem e
roçado
áreas onde a floresta original foi destruídadando lugar às gramíneas para o gado ou plantações de mandioca, milho e arroz
---
Fonte: SECTAM, 2006a.
O Pesam apresenta 95 famílias em sua composição florística (uma não
identificada), pertencentes a 274 gêneros e 567 espécies. Há um destaque especial
para as orquídeas, cujos estudos realizados na área já identificaram 93 espécies,
especialmente nas florestas de galeria. Foram encontradas também 51 espécies de
plantas de uso medicinal, segundo tradição da população regional (SECTAM,
2006a).
97
Fauna
No Pesam, em função das características de relevo e ecossistemas terrestre
e aquático, existe grande variedade de espécies de fauna. Em 1999, foram
identificadas 486 espécies de aves, 51 de mamíferos, 35 de ofídeos, seis de
quelônios, 21 de anfíbios, 16 de squamatas e 190 de peixes (SECTAM, 2006a).
Das 51 espécies de mamíferos, quatro são endêmicos, sejam: Tatu-canastra
(Priodontes maximus), macaco-aranha (Ateles marginatus), gorgo/guariba (Alouatta
belzebul) e macaco zogue-zogue (Callicebus moloch). As espécies raras são quatro:
a anta (Tapirus terrestres), e três morcegos (Mesophyla macconnelli, Pteronotus
gymnonotus e Pteronotus parnellii). Além desses, 16 estariam na lista de espécies
ameaçadas de extinção (quadro 23).
Quadro 24 - Lista de mamíferos ameaçados de extinção encontrados no Pesam
Nome científico/espécie Nome científico/espécie
o Alouatta belzebul – guariba;
o Ateles marginatus –macaco-aranha;
o Atelocynus microtis – cachorro-do-mato;
o Chiropotes satanas – macaco-cuxiú;
o Euphractus sexcintus – tatu-peba;
o Leopardus pardalis – jaguatirica;
o Leopardus Wiedii·– gato-maracajá;
o Lutra longicaudis – lontra;
o Mesophylla macconnelli – morcego;
o Myrmecophaga tridactyla – tamanduá-bandeira;
o Panthera onca – onça-pintada;
o Pteronotus gimnonotus – morcego;
o Pteronotus parnelli – morcego;
o Priodontes maximus – tatu-canastra;
o Pteronura brasiliensis – ariranha;
o Puma concolor – suçuarana.
Fonte: SECTAM, 2006a
98
Das 486 espécies de aves encontradas no Pesam, 26 estariam na lista de
ameaçadas de extinção, conforme quadro 24.
Quadro 25 - Lista de aves ameaçadas de extinção encontradas no Pesam
Nome científico/espécie Nome científico/espécie
1. Anodorhynchus hyacinthinus = arara-azul;
2. Bucco macrodactylis = marucu-cabeça-castanha;
3. Crax fasciolata = mutum-pinima;
4. Crypturelus erythropus = inhambu-de-pés-vermelhos;
5. Deroptyus accipitrinus = anacã;
6. Graydidascaslus brachyurus = papagainho-verde;
7. Harpya harpyja = gavião-real;
8. Hemitriccus striaticollis = sebinho;
9. Iodopleura isabellae = assanhadinho-de-rabo-curto;
10. Malacoptila fusca = joão-barbudo-pardo;
11. Manacus manacus = rendeira;
12. Melanopareia torquata = mucuquinho-de-colar;
13. Morphnus gujanensis = uiraçu;
14. Myrmeciza longipes = papa-formiga-de-barriga-branca;
15. Nystalus striolatus = dormião-listrado;
16. Penelope marail = jacu-de-floresta;
17. Pipra nattereri = uirapuru-de-chapéu-branco;
18. Platalea ajaja = colheiro;
19. Pteroglossus bitorquatus = araçari-de-pescoço vermelho;
20. Pyriglena leuconota = olho-de-fogo;
21. Sakesphorus luctuosus = choca-lustrosa;
22. Tachyphonus cristatus = tié-galo;
23. Tinamus guttatus = inhambu-galinha;
24. Tinamus tao = azulona;
25. Tyranneutes virescens =uirapuruzinho-do-norte;
26. Xiphorhyncus spixii = arapaçu-de-spixi.
Fonte: SECTAM, 2006a
Em relação à herpetofauna, três ofídeos (canina – Pseustes sulphureus,
surucucu – Lachesis muta e sucuri – Eunectes murinus) e dois squamatas (jacaré-
açu – Melanosuchus niger e lagarto – Polychurus acutirostris) estão sob o risco de
ameaça a extinção; a jibóia (Boa constrictor) é a única espécie endêmica da
Amazônia encontrada no Pesam.
99
Dados Socioeconômicos das Vilas da APA Araguaia (entorno do Pesam)
Vila de Santa Cruz dos Martírios
Situada na margem esquerda do rio Araguaia, na APA Araguaia, a Vila de
Santa Cruz dos Martírios (figura 29) é um dos mais antigos povoados da região. O
General José Vieira Couto de Magalhães, desbravador e historiador no Brasil do
século XVII, que navegou pelo Araguaia, registrou em seus relatos o povoado; de
acordo com a senhora Rita Lopes da Silva, moradora, a comunidade tem mais de
120 anos de existência (SECTAM, 2006c).
De acordo com Costa (2008), o processo de ocupação da Vila ocorreu no final
do século XIX, quando migrantes de outros estados (como Goiás e Maranhão)
chegaram à região para trabalhar na extração da borracha, coleta da castanha-do-
pará (Bertholethia excelsa) e em garimpos. Hoje, pode-se chegar a esta Vila,
partindo de São Geraldo do Araguaia, por estrada de chão (39 km) ou pelo rio
Araguaia.
Figura 29- Vila Santa Cruz dos Martírios
Fonte: SEMA, N/D
A vila ocupa cerca de 21 hectares, com aproximadamente 170 moradores
(SEMA, 2009). Estes vivem basicamente da agricultura, pecuária, benefícios sociais
(aposentadoria, bolsa família, etc.), funcionalismo público e de trabalhos temporários
nas fazendas dos arredores (PMSAGA, 2010; COSTA, 2008).
100
Ainda segundo Costa (2008), relatos de moradores mais antigos apontam
para a existência, no passado, de uma aldeia indígena, o que é reforçado por
achados de materiais, como urnas, potes e cerâmicas, porém ainda não foram
realizados estudos aprofundados sobre os mesmos. Além disso, a vila foi palco de
alguns episódios da Guerrilha do Araguaia, que ainda é lembrada por alguns de
seus moradores que já ali viviam naquele período.
O padrão de construção das casas é variado (pau-a-pique, madeira e
alvenaria); a água é captada em igarapé que nasce no Pesam e distribuída na vila
por meio de tubulação, utilizando a pressão da gravidade, apenas; e a energia
elétrica vem de motores estacionários particulares, tendo em vista que o motor
comunitário, que funcionava de 18 às 22 horas está quebrado há vários meses.
Vila Sucupira
Localizada na APA Araguaia, distante cerca de 25 km da sede municipal, a
vila Sucupira está localizada no Vale de mesmo nome e possui aproximadamente 80
famílias residindo nessa. Ela teria surgido por volta de 1950, quando um baiano
conhecido como Seu Bento instalou-se ali em busca de garimpo (SECTAM, 2006c).
A vila possui duas escolas de ensino fundamental. A energia elétrica advém
de motores estacionários particulares, pois há muitos meses o motor comunitário
está parado por falta de manutenção e combustível. A água é captada em braço de
igarapé que nasce no interior do Pesam.
Os moradores vivem da agricultura de subsistência, trabalho nas fazendas do
entorno e benefícios provenientes de programas sociais. O padrão das casas é
variado (pau-a-pique, madeira e alvenaria).
Vila Ilha de Campo
A Vila Ilha de Campo é uma pequena Vila localizada na APA Araguaia, às
margens do Araguaia. Distante cerca de 25 km da sede municipal, sendo possível
seu acesso por rio ou estrada de chão. O nome da vila faz menção à Ilha que fica
em frente, onde há um campo. O início da vila se teria dado em 1957, quando um
101
grupo de pessoas chegou de Croá (GO) atrás de terra para morar e garimpo para
trabalhar (SECTAM, 2006c).
Figura 30 - Coco babaçu secando para extração de óleo - Vila Ilha de Campo
Fonte: Sema, N/D
Sua população não ultrapassa 54 habitantes (SEMA, 2009b) e seu sustento
está relacionado com as atividades de pesca, agricultura de subsistência e de
extração de azeite realizada pelas quebradeiras de coco babaçu (figura 30). A renda
proveniente dos programas sociais também representa importante fonte de renda
para a população. A maioria das casas é de madeira, coberta com palha.
Na vila existe uma escola de ensino fundamental. Um poço artesiano
abastece a população. A exemplo das outras vilas, também está com motor
comunitário sem funcionar há meses.
Projetos de Assentamento (PA) Tira-Catinga e Buqueirão
Instituído por meio da portaria do Incra nº. 159/1998, o PA Tira-Catinga possui
40 lotes, ocupa uma área de 1.445 hectares e está localizado na margem da BR
153. Em área contígua foi criado, no ano consecutivo, o PA Buqueirão, por meio da
portaria nº. 161/1999, do Incra, com área de 2.892 hectares, subdividida em 49 lotes
(SECTAM, 2006c).
102
A atividade pecuária, a exemplo da região, predomina nos assentamentos
rurais, havendo também a agricultura de subsistência, como da mandioca, com
venda de excedente. Ambos os assentamentos dispõem de associação constituída e
ativa (Id., ibid.).
O Uso Público no Pesam e entorno
Conforme disposto no Plano de Manejo do Pesam (SECTAM, 2006), a
visitação já ocorre no Pesam e na APA Araguaia, porém de modo pouco ordenado e
sem atrativos implementados. Para fins didáticos, o parque foi dividido em quatro
setores de visitação: 1- Casa de Pedra; 2 - Brejo dos Padres; 3 - Ao longo do Rio
Araguaia; e 4 - Novos Atrativos a serem implementados, conforme se observa na
figura 31, que segue.
Figura 31 - Setores de Visitação do Pesam
Fonte: SECTAM, 2006b.
103
Setor 01 – Casa de Pedra
Este atrativo localiza-se na porção noroeste do Pesam, tendo acesso por
trilha, com caminhada de cerca de 5 km, aproximadamente 3,5 hora, a partir da
residência do senhor Zeca do Jorge (BR 153), conforme figura 32; existe outro
caminho, pela entrada da Cachoeira Três Quedas, porém menos utilizado. O local é
acessível apenas por caminhada ou tração animal (equinos). No caminho é possível
se deparar com córregos e poções para banho.
Figura 32 - Acesso da Casa de Pedra partindo da propriedade do senhor Zeca do Jorge (BR 153)
Fonte: SECTAM, 2006.
A trilha é marcada pela presença de formações rochosas e espécies vegetais
representativas da região, com destaque especial para as orquídeas. Trata-se de
formação rochosa natural em forma de arco (figura 33), onde ocorre anualmente a
Festa do Divino Espírito Santo (figura 34), visitada por um grande contingente de
pessoas. A celebração ocorre desde 1989, segundo relato de romeiros (SECTAM,
2006b).
104
Figura 33 - Casa de Pedra (aspecto externo)
Figura 34 - Romeiros durante reza no Festejo do Divino (interior da Casa de Pedra)
Fonte: Abel Pojo, 2012 Fonte: SEMA N/D
Em relação às recomendações do Plano de Manejo do parque, há que se
destacar as que seguem no quadro 25, abaixo.
Quadro 26 - Recomendações de visitação para o Setor Casa de Pedra
Tempo médio de permanência no local
Mínimo: 1 hora Máximo: 3 pernoites
Nível de dificuldade De moderado a pesado
Capacidade de Suporte
Ocasiões normais: 40 pessoas Eventos organizados: 200 pessoas para visita/ 100 pessoas para permanência por noite
Aspectos de atratividade
Abióticos; Bióticos; Histórico-culturais; Religiosos; Paisagísticos e Recreativos
Público-alvo Visitantes convencionais;
Escolares de São Geraldo do Araguaia, São Domingos do Araguaia, Marabá e Xambioá;
Romeiros da Festa do Divino Espírito Santo;
Comunidade em geral.
Equipamentos facilitadores demandados
Placas indicativas e interpretativas no percurso; equipamentos de segurança em trechos íngremes (cordas e corrimões); calçamento em áreas críticas (úmidas e frágeis); delimitação de áreas para pernoite e fogueiras; curral para até 5 animais de carga, sanitários e depósito.
Fonte: SECTAM, 2006b. Adaptado.
Hoje o atrativo é visitado, basicamente, no período do Festejo do Divino, cuja
data é móvel, sendo o seu início40 dias após o domingo de páscoa, quando sobem
os primeiros romeiros. No primeiro dia é levantado o mastro em devoção ao Divino
Espírito Santo. Seguem-se com rezas diárias, pela manhã, pela tarde e pela noite e,
no décimo dia, o mastro é derrubado e os romeiros retornam para suas casas.
105
Setor 02 – Brejo dos Padres
O Brejo dos Padres situa-se na porção nordeste/central do Pesam. Seu
acesso é feito a partir da Vila Santa Cruz10, totalizando 10 km, dos quais cerca de
2,5 km por estrada de terra, em veículo tracionado, e o restante por caminhada. O
percurso completo leva cerca de 3,5 horas e pode ser observado na figura 35. No
caminho, especialmente nas épocas de chuva, existem trechos de travessia de
igarapés, áreas alagadas e campos úmidos, ambientes de extrema fragilidade
ecológica.
Figura 35- Acesso ao Brejo dos Padres, partindo da Vila Santa Cruz. (BR 153)
Fonte: SECTAM, 2006b.
O ponto final é constituído por formações rochosas em forma de corredores e
diversos abrigos sob rocha, além de um pequeno poço apropriado para banho.
Estes elementos ficam bastante próximos entre si, não ultrapassando um raio de
500 metros.
10
A vila Santa Cruz localiza-se na APA Araguaia e seu acesso pode ser feito à partir da sede municipal de São Geraldo do Araguaia por estrada de terra, em veículo tracionado, ou pelo Rio Araguaia, em voadeira com tempo de viagem estimado em uma hora.
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Em relação às recomendações do Plano de Manejo do parque, há que se
destacar as que seguem no quadro 26, abaixo.
Quadro 27 - Recomendações de visitação para o Setor Brejo dos Padres
Tempo médio de permanência no local
Mínimo: 1,5 hora Máximo: 2 pernoites
Nível de dificuldade De leve a moderado (desconsiderando a distância)
Capacidade de Suporte
Visita normal: 20 pessoas (divididas em dois grupos alternados) Pernoite: 5 pessoas
Aspectos de atratividade
Abióticos; Bióticos; Histórico-culturais; Paisagísticos; Recreativos
Público-alvo Ecoturistas.
Equipamentos facilitadores demandados
Pedras para calçamento em áreas alagadas, pontes e pinguelas11
para travessia de corpos d´água, se for o caso. Não deverá haver sinalização ou outras interferências na paisagem, deixando o ambiente no estado mais natural possível. A única placa indicada se localizará junto à área de camping, contendo as normas de permanência, e deverá preferencialmente ser em estilo ‘totem’ (feita em pedra), visando sua integração com o ambiente.
Fonte: SECTAM, 2006b. Adaptado.
Setor 03 – Ao longo do Rio Araguaia
Ao longo do rio Araguaia, partindo de São Geraldo do Araguaia até a Vila
Santa Cruz existem inúmeros pontos de atratividade, pertencentes ou não ao
Pesam, conforme se observa na figura 36. Pode-se chegar nessa vila, que serve
como ponto de apoio para visitar os atrativos do setor, por via fluvial ou terrestre.
Pelo Rio Araguaia, em voadeira, o percurso pode ser feito em cerca de uma hora.
Por terra, são 39 km em estrada de chão, acessível em veículo tracionado.
11
Pontes improvisadas a partir de troncos de árvore.
107
Figura 36 - Acesso ao Setor 03, ao longo do Rio Araguaia, partindo da sede municipal.
Fonte: SECTAM, 2006.
O Plano de Manejo (SECTAM, 2006b) divide os atrativos desse setor em:
cachoeiras, sítios arqueológicos/espeleológicos e povoados/vilas. Três cachoeiras
se destacam: “Sem Nome”, Riacho Fundo e Spanner, todas com visitação permitida
(Figuras 37, 38 e 39). A partir da margem do Araguaia, as caminhadas variam de 1 a
1,5 km.
Figura 37 - Cachoeira "Sem
Nome"
Figura 38 - Cachoeira Riacho
Fundo
Figura 39 - Cachoeira do
Spanner
Fonte: SEMA N/D
108
Em relação às recomendações do Plano de Manejo do parque, há que se
destacar as que seguem no quadro 27, abaixo.
Quadro 28 - Recomendações de visitação para as cachoeiras do Setor ao longo do Rio Araguaia
Tempo médio de permanência no local
1,5 hora
Nível de dificuldade De moderado a pesado (podendo diminuir mediante instalação de equipamentos facilitadores)
Capacidade de Suporte
Visita normal: 20 pessoas em cada(divididas em dois grupos alternados)
Aspectos de atratividade
Abióticos; Bióticos; Recreativos
Público-alvo Visitantes convencionais e ecoturistas
Equipamentos facilitadores demandados
Equipamentos de redução do impacto da visitação (pequenas passarelas, pontes e pinguelas) e equipamentos de segurança(pinguelas e cordas de apoio para lances de escalada mais complexos e locais escorregadios).
Fonte: SECTAM, 2006b. Adaptado.
Dos sítios arqueológicos/espeleológicos do setor, destacam-se a Caverna
Remanso dos Botos, Abrigo da Casa da Cultura, Pedra Escrita e abrigo associado.
No caso das cavernas, o número de visitantes nunca deve exceder dez pessoas.
Nos sítios, é importante fazer o salvamento de vestígios arqueológicos e
aprofundamento de estudos, bem como construção de anteparos para impedir o
contato direto do visitante com as pinturas rupestres (SECTAM, 2006b).
Os povoados localizados no setor são a Vila Santa Cruz e a Vila Ilha de
Campo (figuras 40 e 41). Essas vilas apresentam peculiaridades que podem chamar
a atenção dos visitantes, seja pela sua rusticidade ou pela possibilidade de desfrutar
seus pescados e ter contato com os “modos de ser, fazer e viver” dessas
comunidades (Id., Ibid.).
Figura 40 - Vila Santa Cruz
Figura 41 - Vila Ilha de Campo
Fonte: SEMA N/D Fonte: SEMA N/D
109
De acordo com a SECTAM (2006b), atividades especializadas podem ser
desenvolvidas a médio e longo prazos, porém, são necessárias ações de
capacitação de condutores de visitantes locais. Essas atividades são :observação de
aves, botos, jacarés, tartarugas e mamíferos terrestres diversos; explanações sobre
propriedades medicinais de plantas locais e seu aproveitamento culinário; além de
observação astronômica.
Esse setor do Pesam será melhor descrito no capítulo posterior, tendo em
vista ser o locus de desenvolvimento do plano participativo de uso público proposto
por este estudo.
Setor 04 – Porção sudoeste do Pesam
Localizado na região próxima ao vale do Sucupira, essa área possui beleza
cênica, com locais para banho e caminhadas, com presença de cachoeiras com
potencial de atratividade (figura 42). Além disso, nesse setor também está a gruta da
Cutia e a Caverna Serra das Andorinhas, sendo a segunda a maior cavidade natural
do Pesam, apresentando cerca de 1 km de desenvolvimento, grande salão, piso
plano e microestalactites (SECTAM, 2006b).
Esse setor está no entorno da vila Sucupira, que pode ser um ponto de apoio
a visitação, porém, essa área ainda não foi suficientemente estudada do ponto de
vista do Uso Público, ficando esses estudos indicados pelo plano de manejo, para
serem realizados como quarta prioridade para abertura a visitação (id., ibid.).
Figura 42 - Cachoeiras contíguas e de aparente poder de atratividade em uma das glebas ocupadas por moradores no interior do PESAM
Fonte: acervo pessoal do Sr. Guilherme A. Guimarães. (SECTAM, 2006b)
110
4.2. INVENTÁRIO E DIAGNÓSTICO
4.2.1. Infraestrutura e Serviços Existentes no Pesam e APA Araguaia
Infraestrutura de apoio à gestão
Para a sua gestão, o Pesam e a APA Araguaia contam com sede
administrativa alugada na sede municipal (figura 43), micro-ônibus, camionete com
tração nas quatro rodas, motocicleta e voadeira com motor de popa. Seu quadro
funcional atual está descrito no quadro 28, em seguida. No interior das unidades,
ainda não existe infraestrutura de apoio à gestão.
Figura 43 - Faixada da sede administrativa da Sema em São Geraldo do Araguaia
Figura 44 - Sede administrativa da Sema em São Geraldo do Araguaia
Fonte: Antônio Santos, 2013. Fonte: Antônio Santos, 2013.
Quadro 29 - Quadro funcional do Pesam e APA Araguaia
QUADRO FUNCIONAL QTD.
Gerente / Turismólogo 01
Zootecnista 01
Engenheiro Agrônomo 01
Licenciado em Letras 01
Piloto de Embarcação 01
Motorista 01
Auxiliar Operacional – campo 01
Auxiliar Operacional – escritório 01
Estagiário (nível médio) 05
Vigilante (escritório) 04
111
Sinalização
O parque conta com 11 placas de sinalização, localizadas em pontos
estratégicos para indicar seus limites (parque/APA) e nas vilas, à exemplo das
expostas nas figuras 45 e 46. Com exceção dessas, não existem outras placas
orientativas (direções, localidades, etc.) ou educativas.
Figura 45 -Placas de sinalização no Pesam e na APA Araguaia (Morro do Mirante)
Figura 46 - Placas de sinalização no Pesam e na APA Araguaia (Vila Santa Cruz)
Fonte: Jefferson Barroso, 2013.
Acesso e transporte para o Pesam e APA Araguaia
Partindo da sede municipal de São Geraldo do Araguaia, pode-se acessar o
Pesam e a APA Araguaia (figura 47) por via terrestre (BR 153 e/ou vicinais) ou por
via fluvial (Rio Araguaia); isso dependerá da região das unidades que se pretende
visitar. Por água, não existe linha regular (com dias e horários marcados), sendo
necessário fretar uma voadeira, geralmente com lotação de 4 a 6 passageiros (ver
figuras48 e 49); existe associação de barqueiros locais e os pilotos são habilitados e
tem conhecimento do trajeto.
112
Figura 47 - Acesso terrestre e fluvial ao Pesam e APA Araguaia
113
Figura 48 - aspecto do Rio Araguaia com destaque para o Pesam, ao fundo
Figura 49 - voadeira utilizada para navegar no Rio Araguaia
Fonte: Abel Pojo, 2011 Abel Pojo, 2012
Já por via terrestre, na BR 153, existem as linhas que atravessam essa
rodovia em direção à Marabá (ônibus e van); nas vicinais (figura 50), existe linha
regular, uma vez ao dia, em veículo popularmente conhecido como “pau-de-arara”
(figura 51). Os veículos terrestres particulares geralmente são mais usados, sendo
que no caso das vicinais, esse precisa ser tracionado nas quatro rodas.
Conforme observado em campo e levantado durante oficina de planejamento
participativo, as condições de trafegabilidade da rodovia são geralmente boas,
porém, as vicinais, especialmente no inverno, são ruins.
Figura 50 - transporte popularmente conhecido como “pau-de-arara”
Figura 51 - aspecto da estrada de acesso ao Pesam e APA Araguaia
Fonte: Abel Pojo, 2012 Abel Pojo, 2013
Para o Setor 03, enfoque deste estudo, os principais acessos são o Rio
Araguaia e a vicinal conhecida por Estrada do Sucupira. Para se chegar à Vila Ilha
de Campo, à partir da sede municipal, pode-se percorrer cerca de 18 km em estrada
114
ou 15 km pelo rio, com tempo médio de percurso de 30 e 20 minutos,
respectivamente. Para a vila Santa Cruz, são 39 km pela mesma estrada ou 35 km
pelo mesmo rio, com o tempo médio de 90 e 60 minutos, respectivamente.
Infraestrutura de apoio à visitação pública
Alimentação
Em nenhuma das duas vilas (Ilha de Campo e Santa Cruz) existe restaurante,
entretanto, em ambas existem moradores que eventualmente atendem aos
visitantes. Na vila Santa Cruz existe, ainda, uma pousada, que dispõe de estrutura
para refeições (espaço e utensílios), conforme figuras 52 e 53, bem como, pelo
menos, quatro moradoras que realizam o serviço em suas residências, quando
acionadas. Na vila Ilha de Campo, uma moradora costuma atender os grupos de
visitantes.
Figura 52 - Grupo fazendo refeição na pousada da vila Santa Cruz
Figura 53 - Espaço para refeições na Pousada Recanto das Andorinhas
Fonte: Abel Pojo, 2012. Fonte: Adailton Brito, 2013.
Conforme observação de campo e indicação na oficina de planejamento são
poucos os locais disponíveis e pouca a qualificação para atendimento ao público,
embora a boa acolhida seja característica dos dois lugares.
Condutores
Foram promovidos pelo órgão gestor das unidades duas edições do Curso de
Formação de Condutores de Visitantes em Atrativos Naturais. Na primeira edição,
115
em 2010, foram formados, aproximadamente, 20 moradores da Vila de Santa Cruz;
na segunda edição, em 2012, foram disponibilizadas vagas para as três vilas (Ilha de
Campo, Sucupira e Santa Cruz), sendo formados 13, apenas das vilas Sucupira e
Santa Cruz; nenhum morador da Vila Ilha de Campo se inscreveu e participou da
formação.
Figura 54 - Turma 2010
Figura 55 - Turma 2012
Fonte: SEMA, 2010. Fonte: Abel Pojo, 2012.
Hospedagem
Na vila Ilha de Campo, não há pousadas; a acolhida na casa dos moradores é
uma opção, mas não há estrutura disponível nas casas disponível especialmente
para receber visitantes. Na vila Santa Cruz, a possibilidade de acolhida residencial
também existe. Pelo menos três moradores, habitualmente, disponibilizam quartos
para receber visitantes (amigos ou turistas) e existe uma pousada nessa vila (figura
56) com dois quartos e redário, além de espaço para camping.
116
Figura 56 - Pousada Recanto das Andorinhas, Vila Santa Cruz
Figura 57 - Acampados em residência de morador da vila Santa Cruz
Fonte: Adaiton Brito, 2013 Fonte: Cibele Donato, 2011.
No caso das duas vilas é comum que no verão os visitantes alojem-se em
barracas nos quintais ou praias (figura 57), utilizando as casas dos moradores locais
como ponto de apoio para refeições e uso dos banheiros. Segundo dados
levantados em oficina, a disponibilidade de leitos atende parcialmente a demanda,
sendo o maior problema a falta de comunicação (telefonia e internet), que dificulta o
contato dos potenciais hóspedes com os meios de hospedagem disponíveis.
Energia Elétrica
Conforme observado em visitas de campo e apontado na oficina de
planejamento, nenhuma das vilas do setor 03 do Pesam (Ilha de Campo e Santa
Cruz), dispõe de eletricidade. Segundo os moradores, há quase um ano os três
motores estacionários que geravam energia elétrica – um em cada vila – queimaram
(não simultaneamente) e não foram concertados pela prefeitura municipal, que
habitualmente realizava os reparos e fornecia combustível necessário para o
funcionamento do motor entre 18 e 22 horas, diariamente.
Com isso, apenas os motores particulares atendem às famílias atualmente. O
funcionamento atende a necessidade de cada família. Não há previsão para
chegada de rede de energia elétrica e foi observada mobilização comunitária em prol
de resolver a questão. Essa foi apontada como problema comum e que dificultará o
desenvolvimento do uso público, visto que as vilas servem de ponto de apoio para
visitantes.
117
Posto de Saúde
Apenas a vila Santa Cruz dispõe de pequeno posto de atendimento pré-
hospitalar, com um auxiliar de enfermagem que é morador da vila; o local é posto e
residência do profissional. Existe, ainda, uma ambulancha, ou seja, uma voadeira
que serve para o transporte de pacientes para a sede municipal, onde há um
hospital. Existe também na vila um Agente Comunitário de Saúde (ACS). Na outra
comunidade, a Vila Ilha de Campo, existe apenas o ACS, que mediante urgências e
disponibilidade, utiliza sua voadeira particular para transportar pacientes para a sede
municipal.
Figura 58 - Posto de atendimento na Vila Santa Cruz
Figura 59 – Ambulancha
Fonte: Adailton Brito, 2013. Fonte: Adailton Brito, 2013.
Em oficina, os participantes apontaram a baixa capacidade de atendimento de
casos mais complexos nesse posto, por falta de utensílios e pessoas mais
especializadas, servindo como ponto de curativo e, eventualmente, distribuição de
remédios mais simples, sendo recorrente a necessidade de buscar o hospital
municipal.
118
4.2.1. Mapeamento dos pontos de Visitação do Setor 03 do Pesam e APA
Araguaia
Com vistas a fazer um cruzamento entre os locais de visitação do setor 03
apontados na oficina de mapeamento participativo e no Plano de Manejo do Pesam
(SECTAM, 2006b), que prevê visitação tanto em atrativos dessa UC, quanto da APA
Araguaia, visto tratarem-se de unidades contíguas, foi elaborado o quadro 29,
abaixo.
Quadro 30- Atrativos listados durante a oficina de mapeamento participativo
Atividades apontadas no Mapeamento Participativo
UC Indicação do Plano de Manejo para visitação?
23. Abrigo Casa da Cultura (Pedra Pintada) Pesam Sim
24. Abrigo Pedra Escrita APA Araguaia Sim
25. Brejo dos Padres Pesam Sim
26. Cachoeira “Sem Nome” (ou Véu de Noiva) Pesam Sim
27. Cachoeira do Spanner (ou do Félix) Pesam Sim
28. Cachoeira Riacho Fundo Pesam Sim
29. Caldeirão do Diabo (caverna e cachoeira) APA Araguaia Sim
30. Caverna do Morcego APA Araguaia Não
31. Caverna Remanso dos Botos APA Araguaia Sim
32. Foz do Igarapé Sucupira Pesam Sim
33. Ilha dos Martírios APA Araguaia Sim
34. Lago Remanso dos Botos APA Araguaia Não
35. Morro do Bode Pesam* Não
36. Morro do Mirante Pesam Não
37. Poção de Santa Cruz APA Araguaia Não
38. Poção do Antônio Crente Pesam* Não
39. Poção do Cajú Pesam* Não
40. Poção do Isidoro APA Araguaia Não
41. Poção do Zequinha APA Araguaia Não
42. Praia de Santa Cruz APA Araguaia Não
43. Praia Ilha de Campo APA Araguaia Não
44. Praia Remanso dos Botos APA Araguaia Não
45. Rio Araguaia/Pesca Esportiva - Não
Assim, atendendo ao disposto da Lei do SNUC (9.985/2000); e às
recomendações do Plano de Manejo do Pesam, foram excluídos os atrativos: Morro
do Bode, Poção do Antônio Crente e Poção do Cajú, por estarem no setor quatro do
119
Pesam, em área onde o Plano de Manejo indica a necessidade de estudos
complementares para assegurar que a visitação não causará grandes danos
ecológicos; o Morro do Mirante, apesar de não indicado para visitação no Plano de
Manejo, é atualmente visitado com anuência do órgão gestor e, inclusive, abrigará
infraestrutura para visitantes.
No caso da APA Araguaia, todos os atrativos indicados já recebem visitantes
(locais ou de fora) com anuência dos proprietários, para o caso das áreas
particulares, e com anuência das comunidades, para os casos de áreas de uso
comum dos moradores.
Diante disso, chega-se a proposta dos atrativos que comporão o Plano de
Uso Público do Setor 03 do Pesam e APA Araguaia, ficando evidente no quadro 30,
abaixo, quais já estavam previstos no Plano de Manejo e quais se tratam de nova
proposta. Esses estão, ainda, divididos em duas sub-regiões: vila Santa Cruz e vila
Ilha de Campo, com exceção para o Brejo dos Padres e o Caldeirão do Diabo, que
pertencem aos setores 02 e 04, respectivamente. Todos os atrativos serão
caracterizados no subtópico posterior, sendo alguns agrupados pela grande
proximidade geográfica.
120
Quadro 31 - Atrativos para visitação do Setor 03 (e entorno) do Pesam e APA Araguaia
Atrativos UC Indicação
Setor 03 – Região Vila Ilha de Campo
1. Praia Ilha de Campo APA Araguaia Nova proposta
2. Praia Remanso dos Botos APA Araguaia Nova proposta
3. Caverna Remanso dos Botos APA Araguaia Plano de Manejo
4. Lago Remanso dos Botos APA Araguaia Nova proposta
Setor 03 – Região Vila de Santa Cruz
5. Foz do Igarapé Sucupira/Abrigo Casa da Cultura
Pesam Plano de Manejo
6. Cachoeira “Sem Nome”/Cachoeira Riacho Fundo
Pesam Plano de Manejo
7. Cachoeira do Spanner Pesam Plano de Manejo
8. Abrigo Pedra Escrita/Caverna do Morcego APA Araguaia Plano de Manejo
9. Ilha dos Martírios APA Araguaia Plano de Manejo
10. Praia de Santa Cruz APA Araguaia Nova proposta
11. Poção de Santa Cruz/Poção do Zequinha APA Araguaia Nova proposta
12. Poção do Isidoro APA Araguaia Nova proposta
13. Morro do Mirante Pesam Nova proposta
14. Rio Araguaia/Pesca Esportiva - Nova proposta
Setor 02
15. Brejo dos Padres Pesam Plano de Manejo
Setor 04
16. Caldeirão do Diabo (caverna e cachoeira) APA Araguaia Plano de Manejo
121
4.2.3. Caracterização dos Atrativos do Setor 03 Do Pesam e APA Araguaia
REGIÃO ILHA DE CAMPO
Praia Ilha de Campo
Localizada na ilha em frente à Vila Ilha de Campo, essa praia (figura 60)
emerge com a baixa do rio Araguaia, formando uma ponta de areia que é muito
procurada para banho e acampamento durante o veraneio. Pode-se ir por estrada
(25 km) até a vila e depois atravessar em barco de morador, ou partir diretamente
embarcado da sede municipal, com percurso de cerca de15 minutos.
Figura 60- Praia Ilha de Campo
Fonte: Nilson Amaral, 2012
Atividades indicadas
Educação ambiental, lazer (banho e piquenique), acampamento, turismo de
aventura.
122
Praia Remanso dos Botos
Essa praia fica na região do Remanso dos Botos, na APA Araguaia, sendo
visitável no período da estiagem, quando desce o nível do rio Araguaia e despontam
os bancos de areia (figura 61). Ela é acessível por terra, cerca de 35 Km sobre
estrada de chão, à partir da sede municipal; ou por água, cerca de 25 minutos em
voadeira.
Figura 61 - Praia Remanso dos Botos
Figura 62 - Barraca de palha
Fonte: Nilson Amaral, 2012 Fonte: Nilson Amaral, 2012
O lugar recebe bastante visitantes, especialmente no mês de julho. Dispõe de
infraestrutura, como um bar e restaurante, alguns quartos (chalés) para pernoite,
além de barracas de palha instaladas na praia, geralmente utilizadas para cozinhar
pelos grupos que preferem acampar, como a da figura 62, acima.
Atividades indicadas
Educação ambiental, lazer (banho e piquenique), acampamento e turismo de
aventura.
Caverna Remanso dos Botos
Localizada na APA Araguaia, próximo à margem do rio Araguaia, na região do
Remanso dos Botos, a caverna apresenta acesso com certo grau de dificuldade, por
estar em região de alta declividade. A cavidade exibe um grande e alto salão de
entrada com boas características para visitação pública, não devendo ultrapassar o
número de 10 pessoas, sempre acompanhadas de condutor. O acesso à boca leste
123
e ao salão norte deve ser impedido, pois há perigo de desabamento (SECTAM,
2006b).
Atividades indicadas
Educação ambiental, educação patrimonial e pesquisa.
Lago Remanso dos Botos
O lago, localizado na APA Araguaia (figura 63), na região conhecida como
Remanso dos Botos, é acessível pelo rio Araguaia (20 minutos em voadeira), a partir
da sede municipal, desembarcando-se então na margem do Araguaia e perfazendo
caminhada de cerca de 200 metros; ou por estrada de chão (35 km a partir da sede
municipal).Trata-se de uma área particular.
Figura 63 - Lago Remanso dos Botos
Fonte: Socorro Almeida, 2010.
Atividades indicadas
Trilha interpretativa, lazer (piquenique e banho), educação ambiental,
esportes radicais (tirolesa, canoagem), pesquisa.
124
Foz do Igarapé Sucupira / Sítio Arqueológico Abrigo Casa da Cultura
Localizado no interior do Pesam, o sítio arqueológico é acessível através de
trilha de cerca de 200 metros, a partir da margem do rio Araguaia, junto à foz do
igarapé Sucupira. Trata-se de um pequeno abrigo de rocha que apresenta um painel
com pinturas rupestres (figura 64), ainda sem maiores estudos arqueológicos.
(SECTAM, 2006b; PEREIRA, 2008), estando em discussão a realização do mesmo
por meio de parceria com o IPHAN e o Museu Goeldi.
Figura 64 - Pinturas rupestres no Abrigo Casa da Cultura
Figura 65 - Leito do Igarapé Sucupira, próximo de sua foz
Fonte: Abel Pojo, 2012 Fonte: Abel Pojo, 2012
O atrativo integrado ao abrigo é o próprio igarapé Sucupira, que se destaca
pela beleza cênica do seu leito sobre rochas, nesse trecho junto à sua foz, com água
transparente e fria (figura 65).
Atividades indicadas
Trilha interpretativa, lazer (piquenique e banho), educação ambiental,
educação patrimonial, pesquisa e turismo e aventura.
Cachoeiras ‘Sem Nome’ e Cachoeira Riacho Fundo
Localizadas no interior do Pesam, essas duas cachoeiras (figuras 66 e 67)
são acessadas pela mesma trilha, com cerca de 1,5 km de extensão (cerca de 1
hora de caminhada), à partir da margem do rio Araguaia. A caminhada é iniciada em
uma fazenda (APA Araguaia), adentrando-se depois em área de mata (Pesam),
125
sempre margeando o córrego e em alguns momentos caminhando-se sobre a área
alagada, formada de pedras irregulares e em alguns trechos escorregadias.
Figura 66 - Cachoeira “Sem Nome”
Figura 67 - Cachoeira Riacho Fundo
Fonte: Abel Pojo, 2009 Jefferson Barroso, 2009
A primeira queda avistada, a Cachoeira ‘Sem Nome’, tem sua queda sobre
rochas, sem poção de banho (figura 66). Já a segunda, cerca de 200 metros
adiante, a Cachoeira Riacho Fundo (figura 67), possui um poção para banho. A
queda da primeira é de cerca de 60 metros, já da segunda de 15 metros, segundo o
Plano de Manejo do Pesam (SECTAM, 2006b).
Atividades indicadas
Trilha interpretativa, lazer (piquenique e banho), educação ambiental,
pesquisa e turismo de aventura.
Cachoeira do Spanner
Igualmente no interior do Pesam e com características similares às
cachoeiras ”Sem nome” e Riacho Fundo, esta cachoeira torna-se um pouco mais
acessível pela proximidade da Vila de Santa Cruz (cerca de 10 minutos de
voadeira). A caminhada para a mesma se inicia ainda na APA Araguaia, junto à Foz
do Igarapé do Félix, dentro de uma propriedade particular (uma fazenda), seguindo
126
por área de pasto até a entrada da mata (parque). São cerca de 1,5 km de
caminhada, o que leva, em média, 1 hora.
O caminho desta encontra-se bem demarcado e a dificuldade é relativamente
menor em relação às outras duas, porém apresenta também trechos com pedras
escorregadias (figura 68). De acordo com o Plano de Manejo (SECTAM, 2006b), sua
queda é de cerca de 70 metros (figura 69).
Figura 68 - Travessia sobre pedras na trilha da Cachoeira do Spanner
Figura 69 - Cachoeira do Spanner
Fonte: Abel Pojo, 2013 Abel Pojo, 2013
Atividades indicadas
Trilha interpretativa, lazer (piquenique e banho), educação ambiental,
pesquisa e turismo de aventura.
127
Sítio Arqueológico Pedra Escrita/ Caverna do Morcego
Localizado na APA Araguaia, junto à margem do Rio Araguaia, próximo à Vila
de Santa Cruz, o sítio reúne mais de 500 gravuras, entre antropomorfas (figuras
humanas), zoomorfas (figuras de animais) e grafismo puro (sem identificação com
nenhuma representação física do atual contexto) (PEREIRA, 2008).
Figura 70 - Painel Pedra Escrita
Figura 71 - Caverna do Morcego
Fonte: SEMA, N/D Fonte: SEMA, N/D
O destaque especial na figura 70, acima, é um painel que deu o nome ao
sítio, onde se concentram diversas dessas formas e que normalmente passa o ano
todo emerso, com exceção das grandes cheias do Rio Araguaia. Durante a seca,
pode-se chegar ao local caminhando a partir da Vila Santa Cruz, com percurso de
cerca de 300 metros; na cheia, somente por meio de voadeira, com 5 minutos de
trajeto a partir da mesma vila.
Com caminhada de cerca de dez minutos adiante da Pedra Escrita, chega-se
à Caverna do Morcego. Trata-se de abrigo sob rocha, que chama atenção pela
disposição de rochas como se fossem camadas, o que lhe confere uma singular
beleza, conforme se observa na figura 71, acima.
Atividades indicadas
Trilha interpretativa, educação ambiental, educação patrimonial, pesquisa.
128
Sítio Arqueológico Ilha dos Martírios
O sítio arqueológico Ilha dos Martírios (figuras 72 e 73), tornou-se bastante
conhecido por servir como referência para os bandeirantes sobre a localização de
supostas minas de ouro que existiriam na região. No entanto, o primeiro registro que
se tem dessas gravuras foi por meio de estudos do naturalista francês Henri
Coudreau, no final do século XIX, fruto de sua viagem entre os anos de 1896 e 1897
pela região (LOBATO e COSTA, 2008).
A técnica utilizada nas gravuras é a picotagem - formação de sulco sobre a
rocha - e as formas, num total de 3.039, majoritariamente grafismo puro, ou seja, a
maior parte das formas que não se identificam com representações materiais do
nosso universo. As demais gravuras fazem referência a figuras humanas e de
animais (PEREIRA, 2008).
Figura 72 - Visitantes na Ilha dos Martírios
Figura 73 - Gravuras rupestres (preenchidas com areia) na Ilha dos Martírios
Fonte: Abel Pojo, 2012 Fonte: SEMA, N/D
A ilha fica no Rio Araguaia em frente à vila de Santa Cruz, onde se chega de
voadeira, com percurso médio de 05 minutos, saindo da vila. Conforme aferido junto
aos moradores durante a oficina, a visitação somente é possível aproximadamente
entre os meses de junho e setembro, visto que nos demais meses ela fica submersa
pelo rio Araguaia.
Atividades indicadas
Educação ambiental, educação patrimonial e pesquisa.
129
Praia de Santa Cruz
Localizada na APA Araguaia, a praia de Santa Cruz (figuras 74 e 75),
segundo levantado em oficina com os moradores, fica emersa entre os meses de
junho a setembro, aproximadamente, recebendo um quantitativo razoável de
visitantes vindos, sobretudo, do Pará e do Tocantins. Essa se localiza junto à Vila e
é também muito utilizada pela população local, onde é possível interagir socialmente
e ouvir histórias sobre o rio Araguaia.
Figura 74 - Praia de Santa Cruz; serra no estado do Tocantins, ao fundo
Figura 75 - Final de tarde na praia de Santa Cruz
Fonte: Abel Pojo, 2012 Fonte: Abel Pojo, 2012
Atividades indicadas
Educação ambiental e lazer (banho e piquenique).
Poção de Santa Cruz e Poção do Zequinha
Localizados na APA Araguaia, tanto o Poção de Santa Cruz (figura 76) quanto
o Poção do Zequinha (figura 77) ficam a menos 1km da Vila de Santa Cruz. Tratam-
se de poços naturais para banho no Igarapé Santa Cruz. Destacam-se por suas
águas límpidas e frias; ideal para dias de sol e calor. Seu acesso pode ser feito por
caminhada em trilha (estiagem) ou por embarcação (no período da cheia).
130
Figura 76 - Poção de Santa Cruz
Figura 77 - Poção do Zequinha
Fonte: Abel Pojo, 2011 Fonte: Valdemir de Oliveira, 2012.
Atividades indicadas
Trilha interpretativa, educação ambiental, caminhada, lazer (banho e
piquenique) e pesquisa.
Poção do Isidoro
Localizado na APA Araguaia, próximo ao limite do Pesam, o Poção do Isidoro
(figura 78) é adequado para banho, e é acessível pela estrada que liga a Vila de
Santa Cruz à sede municipal. Este se localiza em propriedade do senhor Isidoro,
sendo estendido o seu nome ao local.
Figura 78 - Poção do Isidoro
Fonte: Adailton Brito, 2013.
131
Atividades indicadas
Trilha interpretativa, educação ambiental, caminhada, lazer (banho e
piquenique) e pesquisa.
Morro do Mirante
Localizado no interior do Pesam, junto à estrada do Sucupira, a cerca de 34
km da sede municipal (já próximo à Vila Santa Cruz), este local permite uma
visualização panorâmica (figura 79) dessa região da serra, onde é possível notar
claramente a transição de biomas (amazônico e cerrado), além de possuir
exponencial beleza cênica.
Figura 79 - Visão panorâmica a partir do Morro do Mirante
Fonte: Abel Pojo, 2012
Atividades indicadas
Turismo de aventura, Interpretação e educação ambiental.
Rio Araguaia
O rio Araguaia (figura 80), cujo significado em tupi é Rio das Araras
Vermelhas, nasce no município Goiano de Mineiro, na divisa dos estados de Goiás e
Mato Grosso do Sul. O rio, com 2.114km de extensão, é o divisor natural entre os
estados de Goiás, Mato Grosso, Tocantins e Pará. Um dos 20 municípios12 às
margens do Araguaia é São Geraldo do Araguaia – PA (SECTAM, 2006).
12
Os vinte municípios localizados às margens do rio Araguaia são: Aragarças – GO, Alto Araguaia – MT, Barra do Garças – MT, Aruanã – GO, Cocalinho – MT, Bandeirantes - GO (distrito do município de Crixás), Luiz Alves - GO (distrito do município de São Miguel do Araguaia), São Félix do Araguaia – MT, Luciara – MT, Santa Terezinha – MT, Caseara – TO, Araguacema – TO, Conceição do
132
Nesse município, o rio também margeia o Pesam e a APA Araguaia, onde
mantém características como sua beleza e piscosidade. Essas características
atraem visitantes durante o ano todo, mas especialmente no período da seca,
quando emergem as praias e diversos acampamentos são acomodados nos bancos
de areia (figura 81). A pesca esportiva é uma prática muito comum nessa região.
Figura 80 - Rio Araguaia
Figura 81 - Acampamentos às margens do Araguaia
Fonte: Nilson Amaral, 2012 Fonte: Nilson Amaral, 2012
Com ajuda de um morador da região, barqueiro e pescador, foi possível
identificar os tipos de peixes mais procurados por pescadores na região (tanto os
moradores da região, para subsistência, quanto os visitantes), conforme exposto no
quadro 31, que segue.
Quadro 32 - Principais espécies de peixes buscados por pescadores no rio Araguaia
Peixe Hábito Modalidade de pesca
1. JAÚ (grande porte; acima de 20 Kg.) noturno anzol com isca de peixe
2. TUCUNARÉ diurno isca artificial, isca viva
3. JARAQUI diurno rede/tarrafa
4. CACHORRA diurno isca artificial
5. CARANHA diurno diversos tipos de isca
6. PACÚ(de várias espécies) diurno Anzol
Araguaia – PA, Couto de Magalhães – TO, Araguanã – TO, São Geraldo do Araguaia – PA, Xambioá – TO, Araguatins – TO, São João do Araguaia – PA e Ponte Branca – MT (SECTAM, 2006).
133
Segundo moradores locais, já se notam impactos negativos em decorrência
da pesca, especialmente a diminuição na disponibilidade do pescado, sendo
necessária a realização de estudos de prospecção de pesca para se pensar em
medidas que reduzam os impactos da atividade sobre a ictiofauna.
Atividades indicadas
Educação ambiental, passeio de voadeira, banho e pesca esportiva.
Brejo dos Padres
Localizado no Setor 02 do Pesam, o Brejo dos Padres tem seu acesso feito a
partir da Vila Santa Cruz, totalizando 10 km (2,5 km por estrada de terra, em veículo
tracionado, e o restante por caminhada). O percurso completo leva cerca de 3,5
horas. O ponto final é constituído por formações rochosas que formam longos
corredores (figura 82) e diversos abrigos sob rocha (figura 83), além um pequeno
poço apropriado para banho.
Figura 82- Corredores formados por rochas – Brejo dos Padres
Figura 83 - Abrigo sob pedras – Brejo dos Padres
Fonte: SEMA, N/D Fonte: SEMA N/D
Segundo relatos de moradores da Vila Santa Cruz sobre a origem deste
nome, seria devido ao local ter servido de passagem para os missionários que se
dirigiam para as comunidades da região no intuito de catequizá-las. Essa área
também tem forte potencial para a observação de fauna, com grande ocorrência de
pegadas (SECTAM, 2006b).
134
Atividades indicadas
Educação ambiental e patrimonial, observação de fauna e trilha interpretativa.
Caldeirão do Diabo
Localizado na APA Araguaia, próximo à estrada do Sucupira, a cerca de 24
km a partir da sede municipal, o Caldeirão do Diabo é, ao mesmo tempo, caverna e
cachoeira, visto que é uma cavidade natural por onde corre água. Ele não se localiza
no setor 03, mas no 04 (porção sudoeste). O lugar não possui poço apropriado para
banho, mas é de latente beleza e costuma impressionar os visitantes, segundo os
moradores da região.
Figura 84 - Caldeirão do Diabo
Fonte: Nilson Amaral, 2013
Atividades indicadas
Educação ambiental, patrimonial, piquenique.
135
4.2.4. Calendário de Visitação Pública do Setor 03
Com base nos dados obtidos durante oficina participativa junto aos moradores deste setor do Pesam e APA Araguaia,
pôde-se construir o calendário anual de visitação apresentado no quadro 32, que segue.
Quadro 33 - Calendário Sazonal de visitação dos atrativos do Setor 03 do Pesam e APA Araguaia
Meses/Estações Atrativos
Jan
Fev
Mar
Abr
Mai
Jun
Jul
Ago
Set
Out
Nov
Dez
Cachoeira “Sem Nome”/Cachoeira Riacho Fundo Cachoeira do Spanner Caldeirão do Diabo
CHEIA
Ilha dos Martírios Praia da Santa Cruz Praia Ilha de Campo Praia Remanso dos Botos
ESTIAGEM
Brejo dos Padres Caverna Remanso dos Botos Lago Remanso dos Botos Foz do Igarapé Sucupira/Abrigo Casa da Cultura Morro do Mirante Abrigo Pedra Escrita/Caverna do Morcego Poção de Santa Cruz/Poção do Zequinha* Poção do Isidoro Rio Araguaia/Pesca Esportiva
ANO TODO
136
Com base no calendário apresentado no quadro anterior, que revela a
disponibilidade de atrativos durante o ano e, ainda, levando em consideração o
interesse do visitante, obtêm-se o quadro 33, abaixo. Em sequência, as figuras 85 e
86, apresentam os mapas de visitação na Estiagem e na Cheia, respectivamente.
Quadro 34 - Disponibilidade de atrativos durante o ano, de acordo com o interesse do visitante
Ano todo Somente no Verão/Estiagem (Jun a Set)
Somente no Inverno/Cheia (Jan a Mai)
Caminhada/Trilha Interpretativa
Brejo dos Padres
Foz do Igarapé Sucupira/Abrigo Casa da Cultura
Abrigo Pedra Escrita/Caverna do Morcego
Poção de Santa Cruz/ Poção do Zequinha
Poção do Isidoro
-
Cachoeira “Sem Nome”/ Cachoeira Riacho Fundo
Cachoeira do Spanner
Educação Ambiental
Brejo dos Padres
Caverna Remanso dos Botos
Lago Remanso dos Botos
Foz do Igarapé Sucupira/Abrigo Casa da Cultura
Morro do Mirante
Abrigo Pedra Escrita/Caverna do Morcego
Poção de Santa Cruz/Poção do Zequinha
Poção do Isidoro
Rio Araguaia/Pesca Esportiva
Ilha dos Martírios
Praia da Santa Cruz
Praia Ilha de Campo
Praia Remanso dos Botos
Cachoeira “Sem Nome”/Cachoeira Riacho Fundo
Cachoeira do Spanner
Caldeirão do Diabo
Sítios Arqueológicos/ Ed. Patrimonial
Brejo dos Padres
Foz do Igarapé Sucupira/Abrigo Casa da Cultura
Abrigo Pedra Escrita/Caverna do Morcego
Ilha dos Martírios
-
Banho de Cachoeira
Cachoeira “Sem Nome”/Cachoeira Riacho Fundo
Cachoeira do Spanner
Banho de Praia
Praia da Santa Cruz
Praia Ilha de Campo
Praia Remanso dos Botos
Pesca Esportiva Rio Araguaia
Turismo de aventura
Foz do Igarapé Sucupira/Abrigo Casa da Cultura
Morro do Mirante
Praia da Santa Cruz
Praia Ilha de Campo
Praia Remanso dos Botos
Cachoeira “Sem Nome”/Cachoeira Riacho Fundo
Cachoeira do Spanner
137
Figura 85 - Mapa de atrativos para visitação pública no Pesam e APA Araguaia – ESTIAGEM
138
Figura 86 - Mapa de atrativos para visitação pública no Pesam e APA Araguaia – CHEIA
139
4.3. AS PROPOSTAS PARA VIABILIZAR O USO PÚBLICO NO SETOR 03 DO
PESAM E APA ARAGUAIA
Conforme se pode observar no diagnóstico apresentado, o Pesam e a APA
Araguaia possuem diversificados atributos que constituem atrativos para visitantes
com demandas diferenciadas. Isso sinaliza o potencial para o desenvolvimento do
Uso Público, o que está inclusive grafado entre os objetivos das UCs, em especial
do Pesam. Contudo, uma série de medidas precisam ser tomadas, com fins a
viabilizar a atividade.
Como foi exposto durante a discussão teórica, o visitante das unidades de
conservação - seja ele um turista, um pesquisador ou um morador do entorno -, faz
uso de uma série de serviços e equipamentos – que podem ser básicos ou de apoio
à atividade -, sem os quais não conseguiria ter acesso ou, ainda, usufruir dos
atrativos de que as UCs dispõem, de forma segura, com impactos negativos
reduzidos para o meio ambiente e com a geração de benefícios para a conservação
da área e das comunidades locais.
Diante disso, refletindo especificamente sobre o contexto do Pesam e da APA
Araguaia, com enfoque no setor 03, mas sem tornar isso um aspecto limitador, foi
realizada uma consulta aos setores público, privado e às organizações sociais
atuantes na região, com a finalidade de traçar linhas de ação que comporiam um
Plano de Uso Público para o setor. Com base nos resultados da consulta, foram
traçadas as recomendações que seguem.
As recomendações subdividem-se em dois grupos: serviços/infraestrutura
básica e serviços/infraestrutura de apoio ao turismo. Todas serão organizadas em:
a) eixo; b) considerações; c) futuro desejado; e d) potenciais parceiros. Boa parte do
diagnóstico da situação atual já foi descrito nos tópicos anteriores; o conteúdo irá
refletir, basicamente, as discussões realizadas durante as oficinas de planejamento
participativo, em linguagem simples e direta, com fins a simplificar a leitura e
compreensão do leitor.
140
4.3.1. Infraestrutura e serviços de apoio à visitação
01 ALIMENTAÇÃO
Situação Atual: Poucos locais disponíveis e sem qualificação.
Futuro desejado: Pessoas qualificadas para a manipulação e venda de alimentos. Maior disponibilidade de locais para alimentação, tanto nos locais de visitação quanto na sede municipal.
Considerações: Muitas vezes o visitante, ou por já saber da pouca disponibilidade de locais para alimentação, ou por não saber se na região do parque e APA existem locais, ou ainda pela insegurança a respeito da qualidade/higiene do alimento ofertado, acaba levando mantimentos próprios e planejando períodos menores para permanecer nos locais visitados. Com isso, não consome o alimento local, não gera renda e não vivencia a culinária local.
Potenciais Parceiros:
Vigilância Sanitária e Sistema "S"
02 BARQUEIROS
Situação Atual: Poucos barqueiros, porém com conhecimento sobre a região, qualificação e autorização.
Futuro desejado: Embarcações devidamente autorizadas e os barqueiros/pilotos qualificados para a função.
Considerações:
Os barqueiros da sede municipal, em geral, tem autorização para conduzir passageiros, já os das vilas não. Todos devem tê-la, bem como atender as normas de segurança. Todos precisam de qualificação para lidar com visitantes, no sentido de passar segurança e entender as necessidades do mesmo para melhorar sua viagem/experiência.
Potenciais Parceiros:
Marinha; Departamento de Portos e Costas e Arcon-PA (Agência de Regulação e Controle de Serviços Públicos do Estado do Pará)
03 CONDUTORES
Situação atual Existem condutores capacitados pela SEMA/PA para acompanhar os visitantes com segurança e boa informação.
Futuro desejado: O condutor que leva e traz, com segurança e oferece informação de qualidade.
Considerações: Além de formados, os condutores precisam estar organizados (grupo, associação, cooperativa, o que couber no contexto). Poucas pessoas estão geralmente disponíveis para acompanhar visitantes, pois trabalham em fazendas ou por conta própria (roça). Muitos cursos, tanto da parte de atendimento quanto da parte de primeiros socorros e resgate na selva, precisam ser realizados. Os condutores precisam entender a necessidade de priorizar a segurança e de sensibilizar os visitantes sobre as normas das unidades de conservação.
Potenciais Parceiros:
Bombeiros Militar do Pará (BM/PA); Batalhão da Polícia Ambiental do Estado do Pará (BPA); Secretaria de Estado de Meio Ambiente (SEMA); Associação Brasileira de esportes de Aventura (Abeta).
04 DIVULGAÇÃO
141
Situação atual A divulgação é mínima.
Futuro desejado: Divulgação das unidades por meio de panfletos, mapas informativos e em sítios na internet.
Considerações: A divulgação deverá ocorrer, enfatizando a disponibilidade de atrativos no decorrer do ano (praias, cachoeiras, sítios arqueológicos e outros), levando em conta as estações de estiagem e cheia, que influenciam diretamente na variação do nível do rio Araguaia e demais corpos d’água. A divulgação deverá acompanhar a estruturação dos atrativos, com fins a reduzir riscos para os visitantes e danos aos recursos naturais.
Potenciais Parceiros:
Secretaria de Estado de Meio Ambiente (Sema); Companhia Paraense de Turismo (Paratur); Fundação da Casa da Cultura de Marabá (FCCM); Conselhos Gestores do Pesam e APA Araguaia; Secretarias Municipal de Meio Ambiente (Semma), de Educação (Semed), de Turismo (SEMTUR), e de Cultura (SEMCULT).
05 ESTRUTURAÇÃO FÍSICA DA UNIDADE
Situação atual Unidades não adaptadas para receber visitantes.
Futuro desejado: Centro de visitantes, instalação de pontes e guarda-corpos, sinalização de trilhas e mapas de risco.
Considerações: No caso da APA Araguaia, os investimentos devem se feitos pelos proprietários de terras, comunidades e particulares (áreas de uso comum), cabendo ao órgão gestor o papel de orientar a estruturação dos atrativos para visitação, bem como estabelecer regras para os proprietários e comunidades, quando couber. No caso do Pesam, a elaboração e execução de projetos para estruturação da UC para receber visitantes, deverão ser desenvolvidos pelo órgão gestor da UC. O parque precisa de um pórtico para controlar fluxo de entrada e saída de pessoas e veículos. As estruturas devem ser pensadas para reduzir os danos ambientais às unidades, bem como os riscos para os visitantes.
Potenciais Parceiros:
Sema
06 HOSPEDAGEM
Situação Atual Qualidade fica a desejar, com destaque para a falta de meios de comunicação.
Futuro desejado: Acomodação com qualidade para os visitantes.
Considerações: A pousada que existe, somada às residências dos moradores que dispõem de espaço e às áreas potenciais para camping, poderiam atender inicialmente a demanda. A maior necessidade é a capacitação para atendimento ao visitante. Uma capacitação voltada para os moradores que querem e têm condições dereceber visitantes em casa também é interessante. Um forte limitador para os meios de hospedagem é a falta de comunicação
Potenciais Parceiros:
Sistema "S"; Cadastur (Sistema de Cadastro de pessoas físicas e jurídicas que atuam no setor do turismo); Iniciativa Privada
07 INFORMAÇÃO TURÍSTICA
Situação Atual Órgão local de turismo desestruturado.
142
Futuro desejado: Inventário da oferta turística municipal elaborado e órgão local de gestão de turismo estruturado.
Considerações: Quando chega ao município, o visitante não tem nenhum ponto de referência para obter informações turísticas. Muitas vezes adentram o parque e APA sem saber que estão em uma unidade de conservação e, portanto, não buscam orientação/autorização junto ao órgão gestor.
Nos hotéis da cidade pouco se sabe a respeito dos atrativos que podem ser visitados, para poder indicá-los. Um reduzido número atrativos é conhecido pelos moradores da cidade e hoteleiros, logo são saturados por visitantes, como a Cachoeira Três Quedas e a do Paulinho do Peixe (Parque das Águas).
Potenciais Parceiros:
Secretaria de Estado de Turismo do Pará (Setur/PA); Secretaria Municipal de Turismo (SEMTUR), Fundação Casa da Cultura de Marabá (FCCM).
08 PONTOS DE COMERCIALIZAÇÃO DE ARTESANATO
Situação Atual Comercialização caseira da produção (incipiente).
Futuro desejado: Casa do artesão estruturada.
Considerações: Hoje pouco artesanato é produzido na região, tendo em vista as poucas oportunidades de escoamento. Foi estimulado o grupo Mulheres Artesãs da Serra das Andorinhas (Musas), com moradoras especialmente da vila de Santa Cruz dos Martírios e há produção artesanal do óleo do côco babaçu na vila Ilha de Campo. Não há, porém, local onde essa produção possa ser concentrada, servindo de ponto de referência para visitantes.
Potenciais Parceiros:
Secretaria de Estado de Emprego e Renda - SETER; Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural - EMATER; Secretaria Municipal de Cultura; Ação Social municipal; Serviço Nacional de Aprendizagem Rural – SENAR.
09 QUALIFICAÇÃO
Situação Atual Mão-de-obra não-qualificada para o turismo.
Futuro desejado: Rede de atendimento turístico qualificada.
Considerações: Apesar de existirem serviços de transporte, alimentação e meios de hospedagem, esses são prestados geralmente em residência de moradores, que não estão bem preparados para lidar com o visitante. As demandas e padrões diferenciados dos residentes que precisam ser compreendidos e respeitados, para melhorar a qualidade dos serviços prestados, devendo o morador entender que não está prestando favor, e sim um serviço.
Potenciais Parceiros:
Secretaria de Estado de Turismo do Pará (SETUR/PA); Sistema “S”.
10 SENSIBILIZAÇÃO TURÍSTICA
Situação Atual Individualismo e desorganização da iniciativa privada.
Futuro desejado: População organizada e sensibilizada para a atividade turística.
Considerações: Mais do que saber que a atividade turística existe e gera renda, tanto os comunitários como as organizações do setor público e privado, precisam entender a atividade, com seus riscos e potencialidades. Saber o papel de cada setor da sociedade e as possibilidades de colaboração em prol da atividade é
143
fundamental para desenvolvê-la. Fatores sociais, econômicos, culturais, ambientais, tudo está relacionado com a atividade, e desenvolvê-la quer dizer conviver com todos esses fatores.
Potenciais Parceiros:
Secretaria de Estado de Turismo do Pará (Setur/PA); Sistema “S”; Conselhos do Pesam e APA Araguaia.
11 SERVIÇO DE TRANSPORTE TERRESTRE
Situação Atual Inexistente.
Futuro desejado: Carros específicos para cada necessidade.
Considerações: Hoje não existe transporte para atender aos visitantes. O único meio de transporte que acessa o setor 03 é um caminhão tipo “pau-de-arara” utilizado pela população, com único horário de saída (06h00min vila-sede; 14h00min sede-vila), em dias alternados. Os transportes utilizados pelos visitantes são sempre particulares ou fretados, são poucos e precisam ser programados com antecedência. Somente carros tracionados e motos conseguem acessar esse setor. É difícil (e caro) estar na sede municipal e acessar o setor 03 em um único dia.
Potenciais Parceiros:
Cadastur(Sistema de Cadastro de pessoas físicas e jurídicas que atuam no setor do turismo); Arcon-PA (Agência de Regulação e Controle de Serviços Públicos do Estado do Pará); Iniciativa Privada.
12 COMUNICAÇÃO
Situação Atual Telefonia fixa restrita e precária, funcionado o sinal de telefonia móvel somente na Ilha de Campo.
Futuro desejado: Telefonia fixa e móvel em todas as comunidades.
Considerações: A falta de telefonia (fixa e móvel) foi um fato apontado por todos como grande fator de limitação, pois sem comunicação ou os visitantes chegam e os comunitários não estão preparados para servi-los em suas demandas, ou os visitantes se desencorajam de ir por não saber se terão disponibilidade de serviços como hospedagem e alimentação. Uma vez melhorada a comunicação, o limitador será o transporte.
Potenciais Parceiros:
Particular; Agência Nacional de Telecomunicações – Anatel; Ministério das Telecomunicações.
144
4.3.2. Infraestrutura e serviços básicos relacionados com a visitação
13 ENERGIA ELÉTRICA
Situação Atual Não tem
Futuro desejado: Energia elétrica 24 horas.
Considerações: A falta de energia elétrica não está relacionada somente com a demanda de conforto dos visitantes, embora seja muito importante. Ela está relacionada à conservação de alimentos e bebidas que os mesmos desejam consumir.
Potenciais Parceiros:
Programa Luz Para Todos do Governo Federal.
14 ESTRADAS
Situação Atual BR 153 satisfatória; as vicinais estão em péssimas condições de trafegabilidade, principalmente no inverno.
Futuro desejado: BR 153 e estradas vicinais em boas condições de trafegabilidade o ano todo.
Considerações: As estradas precisam de manutenção periódica, o que inclui as pontes sobre os córregos, pois após as chuvas os mesmos ficam cheios e impedem a passagem, deixando as pessoas “ilhadas”.
Potenciais Parceiros:
Departamento Nacional e Infraestrutura de Trânsito – DNIT; Secretaria Municipal de Obras.
15 POSTO DE SAÚDE
Situação Atual Inexistência de atendimento nas comunidades
Futuro desejado: Atendimento de saúde qualificada, com ponto de atendimento para turismo de natureza.
Considerações: O posto de saúde não está preparado para atender os acidentes mais possíveis de acontecerem durante a visitação, tais como torções, fraturas ou picadas de animais peçonhentos.
Potenciais Parceiros:
Secretaria Municipal de Saúde
16 RODOVIÁRIA
Situação Atual Não existe.
Futuro desejado: Implantação de terminal rodoviário.
Considerações: A via pública é usada como terminal para embarque e desembarque de passageiros. As informações sobre horários de partida, destinos são concentrados em pessoas e pouco acessíveis no final de semana, quando há potencial de maior fluxo de visitantes.
Potenciais Parceiros:
Prefeitura Municipal; Secretaria de Estado de Integração Regional, Desenvolvimento Urbano e Metropolitano – SEIDURB.
145
17 SEGURANÇA
Situação Atual Não tem policiamento especializado para receber turistas.
Futuro desejado: Policiamento turístico.
Considerações: Mesmo sem grandes índices de violência no município, é desejável se ter policiais prontos para orientar os turistas e agir preventivamente, evitando que a violência se propague e dando mais segurança aos visitantes e população.
Potenciais Parceiros:
Polícia Civil do Estado do Pará; Polícia Militar do Pará; Secretaria de Estado de Segurança Pública e Defesa Social – SEGUP/PA.
146
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Além de ser uma atividade permitida em todas as categorias de manejo de
unidades de conservação (UCs), ainda que em algumas seja mais restritiva do que
em outras, a atividade de Uso Público possibilitam a integração das pessoas com
esses espaços protegidos; quando além de contemplá-los, esses usuários podem
criar laços e perceber a necessidade de conservação dessas áreas.
O Uso Público trata do aproveitamento das unidades de conservação por
turistas e moradores do entorno, com fins de lazer e educação ambiental; bem como
por pesquisadores, no desempenho de suas atividades de pesquisa científica. Esse
entendimento veio a partir do juízo de que esses usuários requerem infraestrutura
similar para estarem presente nas UC.
Analisando os resultados da pesquisa, notou-se que essa infraestrutura está
dividida em infraestrutura e serviços básicos (água encanada, energia elétrica,
saneamento básico, e outros) e infraestrutura e serviços de apoio à visitação
(sinalização, estradas, pontes, pontos de apoio, transporte, alimentação,
hospedagem, guia, outros).
Deste modo, entende-se que, embora haja impactos negativos inerentes ao
Uso Público nas UCs, essa atividade pode, mediante planejamento, gerar impactos
positivos que possam superar os riscos da atividade, sejam estes sociais,
econômicos, ambientais ou culturais. Nesse âmbito, o Plano de Uso Público (PUP)
surge como alternativa para otimizar os benefícios advindos da visitação nas UC.
Porém, o modo como esse documento é elaborado influi diretamente na
qualidade dos seus resultados e recomendações. Assim, considerando que as
unidades de conservação não são vazios demográficos; que estão inseridas num
contexto sócio econômico local/regional, com comunidades residentes e em seus
entornos, e uma gama de instituições atuantes, a participação social na composição
do Plano de Uso Público contribui com a qualidade e aplicabilidade do mesmo.
Assim, participação social precisa ser compreendida não somente em seu
sentido filosófico, no ponto em que permite às pessoas ou grupos decidirem sobre
ações que irão resvalar diretamente sobre suas vidas; seu futuro, mas também no
sentido pragmático dessa participação, a partir do momento que soma esforços e
147
saberes (científico e empírico) para resolução de problemas práticos e orgânicos
que afetam o grupo.
Desse modo, o Diagnóstico Rural Participativo (DRP) e o Planejamento
Participativo mostraram-se valorosos para a composição do Plano de Uso Público
do Setor 03 do Parque Estadual da Serra dos Martírios/Andorinhas e Área de
Proteção Ambiental de São Geraldo do Araguaia, uma vez que possibilitaram a
participação social nas etapas de diagnóstico e planejamento refletidos no
documento.
Realizar as oficinas e aplicar as ferramentas participativas permitiu uma real
imersão, não somente no local da pesquisa, mas em seu contexto, em nada
violando a orientação técnica do trabalho, mas ampliando sua perspectiva e
abrangência para a compreensão e análise da realidade a qual se propôs entender e
dissertar.
Nessa perspectiva, atingiram-se os objetivos desse estudo, que foram: (1)
identificar os principais agentes relacionados às atividades de Uso Público do Setor
03 do Parque e APA, para que estes componham o universo a ser pesquisado; (2)
buscar informações e gerar reflexão junto aos agentes para subsidiar a elaboração
do Plano de Uso Público.
Alcançar o primeiro objetivo, com a realização da primeira oficina, possibilitou
a percepção preliminar da ampla gama de atores sociais relacionados com a
atividade de Uso Público nas unidades de conservação, indo muito além das
comunidades e do órgão gestor. Foram identificados órgãos públicos de apoio ao
desenvolvimento do turismo e empresas de turismo; escolas, universidades,
secretarias de cultura, educação, infraestrutura (obras), saúde e outros que tem
relação direta com essa atividade.
O segundo objetivo, intimamente ligado aos momentos participativos que
subsidiaram a elaboração do plano – em especial as oficinas -, revelou dois fatos
importantes: a do quanto é trabalhoso realizar esses momentos, especialmente na
mobilização dos atores para participar das oficinas; e a do quanto isso é factível,
uma vez que as pessoas que se fazem presente, geralmente estão dispostas a
colaborar com a realização do trabalho.
148
Com isso, acredita-se ter alcançado os resultados esperados pelo trabalho,
que foram: a identificação dos agentes relacionados ao uso público do Pesam e APA
Araguaia; e a participação dos agentes não somente como informantes, mas como
tomadores de decisão, mediante o processo reflexivo sobre o Uso Público no Setor
03 dessas UCs.
Por fim, analisa-se que a composição do plano Participativo de Uso Público
permitiu visualizar a amplitude da atividade, com apontamentos dos passos a serem
tomados em direção à viabilização da atividade de visitação, e potencial melhoria na
qualidade de vida da comunidade residente e de entorno.
Cabe ainda uma consideração no que tange à implementação do plano, uma
vez que essa, apesar de não estar entre os objetivos dessa pesquisa, foi bastante
discutida nas oficinas e abraçada pela gestão das unidades de conservação,
estando inserida inclusive nas discussões dos Conselhos dessas UC como potencial
ferramenta para a gestão da matéria pelo órgão gestor do Pesam e APA Araguaia e
seus conselheiros. O órgão gestor das UCs manifestou interesse na publicação dos
resultados e inserção das atividades previstas neste PUP no Planejamento
Operacional Anual (POA) das unidades a partir do ano de 2014.
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ANEXOS
ANEXO A: LEI DE CRIAÇÃO DO PESAM
Lei Estadual no. 5982 de 25/07/1996
Cria o Parque Estadual da Serra dos Martírios / Andorinhas e dá outras providências.
A ASSEMBLÉIA LEGISLATIVA DO ESTADO DO PARÁ estatui e eu sanciono a seguinte Lei: Art. 1º - Fica Criado o Parque Estadual da Serra dos Martírios/Andorinhas, no Município de São Geraldo do Araguaia, na região Sudeste do Pará. § 1º - O Parque de que trata este artigo tem por objetivo preservar os ecossistemas naturais englobados, contra quaisquer alterações que os desvirtuem, conciliando a proteção integral dos recursos naturais e das belezas cênicas, com a utilização para fins científicos, culturais, educacionais, recre Art. 2º - O Parque Estadual da Serra dos Martírios/Andorinhas possui uma área com forma de um polígono irregular, envolvendo uma superfície de 248,9738 Km2 (24.897,38ha) e perímetro de 176,7634 Km, entre as coordenadas geográficas aproximadas, cujos pontos extremos localizam-se ao Norte em 48o32’09’’ Long. W. Gr. x 06o04’36’’ Lat. Sul, UTM 772.746,10m E x 9.327.675,00 m N, ao Sul em 48o23’10’’ Long. W. Gr. x 06o22’39’’ Lat. Sul, UTM 789.148,60 m E x 9.294.302,00 m N, a Leste em 48o23’06’’ Long. W. Gr x 06o22’09’’ Lat. Sul, UTM 789.282,90 m E x 9.295.251,00 m N, e a Oeste em 48o35’20’’ Long. W. Gr. x 06o12’53’’ Lat. Sul, UTM 766,774,40m E x 9.312.424m N. Seu limite e confrontações iniciam no Marco I de coordenadas geográficas aproximadas de 48o27’23’’ Long. W. Gr. x 06o12’48’’ Lat. Sul, UTM 781.486,10m E x 9.312.211,00m N, confrontando com o lote no 12 da Banda Leste da Gleba Andorinhas; daí, segue em direção geral Sudeste, confrontando com os lotes 11, 10, 08, 06, 18, 19 e 20 (A, B, C, D, E, F, e G) da referida Banda e Gleba, passando pelos pontos de no 01 a 18, somando distâncias de 7.106,25m, de onde segue em direção geral Leste, a uma distância de 616,79m, chegando ao Marco II de coordenadas geográficas aproximadas 48o26’01’’ Long. W. Gr. x 06o15’31’’ Lat. Sul e UTM 785.738,40m E x 9.305.229m N; daí, segue em direção geral Sul, pela margem esquerda do Rio Araguaia, até o Marco IV de coordenadas geográficas aproximadas de 48o24’30’’ Long. W. Gr. x 06o18’45’’ Lat. Sul e UTM 786.728,70m E x 9.301.506,00m N, confrontando com o lote 22 da Banda Sudeste da Gleba Andorinhas; daí, segue os limites dos lotes 22, 23, 24, 25, 26, 27 e 28, passando pelos pontos 01 a 19, somando distâncias de 7.727,01m; deste ponto, segue em direção Sul, pela margem esquerda do Rio Araguaia, até alcançar o Marco V, no extremo Sul do Parque, de coordenadas geográficas aproximadas de 48o23’10’’ Long. W. Gr. x 06o22’39’’ Lat. Sul e UTM 789.148,60m E x 9.294.302,00m N; toma a direção geral Noroeste, ainda pela margem esquerda do Rio Araguaia, até confrontar com o lote 29 da Banda Sudeste da Gleba Andorinhas, seguindo pelos limites dos Lotes 29, 30, 31, 32, 33, 34, 35, 36, 38, 39 e 45 (B e C), passando pelos pontos 01 a 25, somando distâncias de 11.082,34m; daí, segue em direção Sudoeste, em linha de 115,29m, até alcançar o Marco VI, localizado entre os lotes 45 e 46, de coordenadas geográficas aproximadas 48o26’57’’ Long. W. Gr. x 06o18’23’’ Lat. Sul e UTM 782.191,80m E x 9.302.214,00m N; daí passa a confrontar com os lotes 46, 48, 49, 51, 52, 53, 54, 56, 57, 58 (D e H) da Banda Central (Vale do Sucupira) da Gleba Andorinhas, cuja linha une os pontos 01 a 28, com distâncias que somam 13.137,44m; daí, segue em direção Noroeste, em linha de 909,81m, até o Marco VII, de coordenadas geográficas aproximadas de 48o28’41’’ Long. W. Gr. x 06o12’53’’ Lat. Sul e UTM 779.076,60m E x 9.312.391,00m N; deste Marco, passa a limitar com a reserva particular do patrimônio natural da Fundação Serra das Andorinhas, que envolve as nascentes do Rio Sucupira, passando pelos pontos 01 a 19; daí, segue em direção Leste até o Marco VIII de coordenadas geográficas aproximadas de 48o30’03’’ Long. W. Gr. x 06o13’52’’ Lat. Sul e UTM 776.552,40m E x 9.310.566,00m N; deste Marco, toma a direção geral Sul, confrontando com os lotes 60 e 61, passando pelos pontos 01 a 06, somando retas de 2.523.34m, de onde segue em direção geral Oeste, limitando com os lotes 65, 66, 67 e 68, passando pelos pontos 07 a 15, somando distância de 6.048,05m; daí, segue a direção geral Sudeste, pelo limite do lote 68, numa distância de 2.096,12m, atingindo o ponto extremo, de onde toma a direção geral Nordeste, limitando os lotes 68, 67 e 66, passando pelos pontos 16 a 19, somando distâncias de 2.457,56m; deste ponto, toma a direção Sudeste, limitando os lotes 69, 70, 71 e 50, passando pelos pontos 20 a 30, somando distâncias de 7.042,29m; daí, segue a direção geral Sudoeste, limitando com o lote 46, passando pelos pontos 31 e 32, somando distância de 2.298,70m (estes lotes pertencem à Banda Central (Vale do Sucupira) da Gleba Andorinhas); deste último ponto, segue a direção Sul, com distância de 283,40m, até o Marco IX, entre os lotes 46 e 07 de coordenadas geográficas aproximadas de 48o29’08’’ Long. W. Gr. x 06o18’53’’ Lat. Sul e UTM 778.188,90m E x 9.301.305,00m N; deste marco, segue a direção geral Noroeste, limitando com os lotes 07, 98, 14, 15, 16, 23 e 97 da Banda Sul da Gleba Andorinhas, passando pelos pontos 01 a 06, somando distâncias de 7.214,60m, de onde segue a direção geral Oeste, com uma distância de 2.674,07m até o Marco X, localizado entre os lotes 97 e 74 de coordenadas geográficas aproximadas de 48o33’31’’ Long. W. Gr. x 06o17’29’’ Lat. Sul e UTM 770.097,30m E x 9.303.928,00m N, segue limitando o lote 74 da Banda Sudoeste, com distâncias de 1.727.95m, até o Marco XI, início da Banda Oeste da Gleba Andorinhas de coordenadas geográficas aproximadas de 48o33’46’’ Long. W. Gr. x 06o16’50’’ Lat. Sul e UTM 779.631,10m E x 9.305.123,00m N; deste marco, toma a direção geral Norte, confrontando com os lotes 75 A, 79, 78, 81, 82, 85, 09, 19, 02 e 18, somando distâncias de 21.769,83m, passando pelos pontos 01 a 35. No limite dos lotes 18 e 21, localiza-se o Marco XII, de coordenadas geográficas aproximadas de 48o34’30’’ Long. W. Gr. x 06o07’03’’ Lat.
Sul e UTM 768.392,20m E x 9.323.203,00m N; deste marco, segue confrontando com o lote 21 da Banda Noroeste, com uma distância de 3.090,10m, até o Marco XIII, localizado entre os lotes 21 e 26 de coordenadas geográficas aproximadas de 48o33’34’’ Long. W. Gr. x 06o06’19’’ Lat. Sul e UTM 769.786,00m E x 9.324.536,00m N; deste marco, segue confrontando com os lotes 26, 27, 31, 32 e 34 da Banda Norte, passando pelos pontos 01 a 11, com distância que somam 8.804,52m; daí, segue em direção Nordeste, ainda confrontando com o lote 34, em uma linha de 1.324,50m até o Marco XIV, de coordenadas geográficas aproximadas de 48o30’01’’ Long. W. Gr. x 06o05’28’’ Lat. Sul e UTM 776.697,00m E x 9.326.067,00m N; deste marco, segue a direção geral Sudeste, limitando com os lotes 32, 31, 29, 28, 27, 25, 24, 22, 20 e 21 da Banda Nordeste, passando pelos pontos 01 a 30, somando distâncias de 14.249,1; daí toma a direção Sudeste, com distância de 116,99m, até o Marco XV, localizado nas coordenadas geográficas aproximadas de 48o27’24’’ Long. W. Gr. x 06o11’05’’Lat. Sul e UTM 781.438,80m E x 9.315.698,00m N; daí, segue limitando os lotes 14, 15, 13, 16, 17 e 12 da Banda Leste da Gleba Andorinhas, passando pelos pontos 01 a 25, somando distâncias de 11.416,17m; deste último ponto, segue na direção Sudoeste, com distância de 66,05m, até o Marco XVI, localizado nas coordenadas geográficas aproximadas de 48o27’38’’Long. W. Gr. x 06o13’00’’Lat. Sul e UTM 781.010,80m E x 9.312.162,00m N; daí, segue em direção Leste, limitando a parte Sul do lote 12, com distância de 277,85m, até o Marco I, inicial da descrição. O lote de no 47 da Banda Central (Vale do Sucupira), da Gleba Andorinhas, que se encontra dentro do polígono, não pertence ao Parque. Art. 3º - Fica estabelecido o prazo de 3 (três) anos para a elaboração do Plano de Manejo e implantação da infra-estrutura do Parque Estadual da Serra dos Martírios/Andorinhas, pela Secretaria de Estado de Ciência, Tecnologia e Meio Ambiente (SECTAM) e pelo Instituto do Desenvolvimento Econômico-Social do Pará (IDESP). Art. 4º - As terras, os ecossistemas, a biodiversidade e as belezas naturais ficam sujeitas à legislação ambiental em vigor, especialmente o que trata a Lei no 4.771, de 15 de setembro de 1965, que "Institui o Novo Código Florestal"; a Lei no 5.197, de 3 de janeiro de 1967, que "Dispõe sobre a proteção à fauna, e dá outras providências"; a Lei no 6.938, de 31 de agosto de 1981, que "Dispõe sobre a Política Nacional do Meio Ambiente, seus fins e mecanismos de formulação e aplicação, e dá outras providências"; a Lei no 7.754, de 14 de abril de 1989, que "Estabelece medidas para a proteção das florestas existentes nas nascentes dos rios, e dá outras providências"; o artigo 255 da Constituição do Estado do Pará, suas regulamentações e alterações; e a Lei no 5.887, de 9 de maio de 1995, que "Dispõe sobre a Política Estadual do Meio Ambiente e dá outras providências". Art. 5º - Pelas características de seus ecossistemas, a conservação da biodiversidade e a localização geográfica, são consideradas de interesse para área de expansão do Parque os lotes 14, com 129,4685 ha; 15, com 47,0614 ha; 16, com 180,3182h e 17 com 132,4550 ha da Banda Leste; os lotes 47, com 102,1705 ha, 66, com 83,5690 ha; 67, com 119.5920 ha e 68, com 150, 4745 ha da Banda Central (Vale do Sucupira); os lotes 01 com 24,9409 ha; 02, com 157,4158 ha; 21, com 779,4523 ha; 22, com 173,5040 ha; 23, com 89,0000 ha; 24, com 227,7127 ha e o lote 26 com 336,6954 ha da Banda Nordeste. Art. 6º - Compete à Secretaria de Estado de Ciência, Tecnologia e Meio Ambiente administrar e estabelecer o regulamento para o pleno funcionamento do Parque, de acordo com os objetivos do art. 1o e da legislação ambiental em vigor, necessário à execução do disposto nesta Lei. Art. 7º - Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação. Art. 8º - Revogam-se as disposições em contrário.
PALÁCIO DO GOVERNO DO ESTADO DO PARÁ, 25 de julho de 1996
ALMIR GABRIEL Governador do Estado
NILSON PINTO DE OLIVEIRA
Secretário de Estado de Ciência, Tecnologia e Meio Ambiente
ANEXO B: LEI DE CRIAÇÃO DA APA ARAGUAIA
Lei Estadual no. 5983 de 25/07/1996
Cria a Área de Proteção Ambiental de São Geraldo do Araguaia, no Município de São Geraldo do Araguaia, e dá outras providências.
A ASSEMBLÉIA LEGISLATIVA DO ESTADO DO PARÁ estatui e eu sanciono a seguinte Lei: Art. 1º - Fica criada a Área de Proteção Ambiental, denominada São Geraldo do Araguaia, a seguir designada pela abreviatura de APA Araguaia, no Município de São Geraldo do Araguaia. Art. 2º - Na elaboração do plano de manejo será realizado o zoneamento ecológico-econômico, com o objetivo de conservar e recuperar os ecossistemas ou parte destes, visando à melhoria da qualidade de vida das populações locais, através de programas e projetos de desenvolvimento sustentado. Art. 3º - A APA Araguaia é composta de 3 (três) partes descontínuas da Gleba Andorinhas, sendo que a maior envolve a superfície de 287,8041 Km2 (28.780,41 ha), medindo um perímetro de 266,8151 Km. A segunda parte é formada pelos lotes 22, 23, 24, 25, 26, 27 e 28 da banda Sudeste, somando uma área de 7,7281 Km2 (772,81 ha) e com perímetro de 15,6969 Km. E a terceira parte é o lote 47 da Banda Central, com área de 1,0217 Km2 (102,17 ha) e perímetro de 4,6248 Km. O total envolve a superfície de 296,5539 Km2 (29.655,39 ha), medindo um perímetro de 287,1368 Km. localizam-se entre as coordenadas geográficas e planas (UTM) aproximadas de 06o03’30’’Lat. Sul a 06o22’44’’ (9.329.695,0m N a 9.293.774,0m N) e 48o23’27’’ a 48o36’13’’ Long. W. Gr. (788.762,9m E a 765.116,2m E). A delimitação inicia no Marco I, localizado no Lote 29 da Banda Sudeste, margem esquerda do Rio Araguaia, com coordenadas geográficas e planas (UTM) aproximadas de 48o23’44’’ Long. W. Gr. x 06o22’01’’ Lat. Sul (788.105,8m E x 9.295.487,0m N); deste marco, segue na direção geral Noroeste, confrontando com a margem esquerda do Rio Araguaia e limitando os lotes 30, 31, 32, 33, 34, 35, 36 e 37 da Banda Sudeste, passando pelos pontos 01 a 09, somando distâncias de 5.612,12m, localizados entre os referidos lotes; daí, toma a direção geral Oeste, ainda confrontando com a margem esquerda do rio Araguaia e limitando com os lotes 40, 41, 42, 43 e 44 da Banda Sudeste e os lotes 01, 02, 03, 04, 06, 08 e 11 da Banda Sul, passando pelos pontos 10 a 20, com distâncias de 6.957,32m, localizados entre os citados lotes; do ponto 20, segue limitando o lote 11, a uma distância de 1.567,15m, até a foz do Córrego Tira-Catinga, onde se encontra o Marco II, com coordenadas geográficas e planas (UTM) aproximadas de 48o30’22’’ Long. W. Gr. x 06o20’37’’ Lat. Sul (775.915,4m E x 9.298.116,0m N); daí, segue pela margem direita do Córrego Tira-Catinga em direção montante, até encontrar seu maior afluente desta margem, com coordenadas geográficas e planas (UTM) aproximadas de 48o33’27’’ Long. W. Gr. x 06o17’51’’ Lat. Sul (770.221,2m E x 9.303.263,0m N), passando pelos pontos 01 a 09, nos lotes 19, 92, 28, 32, 34, 35 e 97 da Banda Sul, somando distâncias de 9.593,24m; daí, segue limitando pelo lado Sul do lote 74 da Banda Sudoeste, com 3.359,25m, até o ponto 10, de onde segue limitando pelo mesmo lado os lotes 75 e 76 da Banda Oeste, numa distância de 3.450,78m, passando pelo ponto 11, até atingir o Marco III, no limite do lote 76 e a Rodovia PA-153, com coordenadas geográficas e planas (UTM) aproximadas de 48o36’01’’ Long. W. Gr. x 06o16’36’’ Lat. sul (765.508,9m E x 9.305.589,0m N), deste marco, segue a direção geral Norte, confrontando com a PA-153 e, limitando os lotes 76, 79, 81 e 83, atravessa os lotes 86, 09, Fernando L. F. Côrtes, Gonçalves e 14 e volta a limitar os lotes 17 e 40 da Banda Oeste, passando pelos pontos 01 e 10, somando distâncias de 19.748,48m, alcançando o Marco IV, com coordenadas geográficas e planas (UTM) aproximadas de 48o35’28’’ Long. W. Gr. x 06o07’12’’ Lat. Sul (766.589,0m E x 9.322.927,0m N); daí, segue a direção geral Nordeste, limitando com os lotes 40 e 18 da Banda Oeste, o lote 21 da Banda Noroeste e o lote 26 da Banda Norte, passando pelos pontos 01 a 04, localizados entre esses lotes, somando distâncias de 6.184,74m, onde alcança o Córrego Água-Fria, seguindo pela margem esquerda do mesmo, atravessando os lotes 27, 31 e 32 da Banda Norte, numa distância de 5.383,64m, até a sua foz, onde se localiza o Marco V de coordenadas geográficas e planas (UTM) aproximadas de 48o31’16’’ Long. W. Gr. x 06o03’42’’ Lat. Sul (774.375,6m E x 9.329.319,0m N), de onde segue pela margem direita do Rio Gameleira, confrontando com o lote 34 da Banda Norte e os lotes 33, 32, 31, 30, 29, 28, 27, 26, 13, 12, 11, 09 e 10 da Banda Nordeste, passando pelos pontos 01 e 13, somando distâncias de 22.231,18m, onde se localiza o Marco VI, com coordenadas geográficas e planas (UTM) aproximadas de 48o23’34’’ Long. W. Gr. x 06o08’12’’ Lat. Sul (788.541,4m E x 9.320.989,0m N); daí, segue pela margem esquerda do Rio Araguaia em direção à montante, limitando com os lotes 10, 09, 08, 07, 06, 05, 04, 03, 02, 01 e 21 da Banda Nordeste; os lotes 01, 03, 06, 18, 19 e 20 da Banda Leste e o lote 21 da Banda Sudeste, passando pelos pontos 01 e 17, localizados entre os lotes, somando distâncias de 20.216,10m, onde alcança o Marco VII, com coordenadas geográficas e planas (UTM) aproximadas de 48o25’03’’, Long. W. Gr. x 06o16’44’’ Lat. Sul (785.738,4m E x 9.305.229,0m N). Neste marco começa o limite interno da APA Araguaia, que em toda sua extensão limita com o Parque Estadual da Serra dos Martírios/Andorinhas, até encontrar o Marco I, início desta descrição. A segunda parte começa no Marco VIII, com coordenadas geográficas e planas (UTM) aproximadas de 48o24’30’’ Long. W. Gr. x 06o18’45’’ Lat. Sul (786.728,7m E x 9.301.506,0m N); daí, segue na direção geral Sul, pela margem esquerda do Rio Araguaia, limitando com os lotes 22, 23, 24, 25, 26, 27 e 28 da Banda Sudeste, passando pelos pontos de 01 a 06,
localizados entre os referidos lotes, somando distâncias de 7.903,02m, onde se localiza o Marco IX, com coordenadas geográficas e planas (UTM) aproximadas de 48o23’07’’ Long. W. Gr. x 06o22’06’’ Lat. Sul (789.262,3m E x 9.295.300,0m N); daí, passa a limitar, pela sua parte interna, com o Parque Estadual da Serra dos Martírios/Andorinhas, até o Marco VIII, fechando o polígono. Finalmente, o lote 47 da Banda Central, que se encontra envolvido pelo Parque Estadual da Serra dos Martírios/Andorinhas, começa no Marco X, com coordenadas geográficas e planas (UTM) aproximadas de 48o26’13’’ Long. W. Gr. x 06o17’47’’ Lat. Sul (783.583,0m E x 9.303.332,0m N), situado na margem direita do Igarapé Sucupira, de onde segue em direção à jusante, numa distância de 1.529,14m, até o Marco XI, de coordenadas geográficas e planas (UTM) aproximadas 48o25’18’’ Long. W. Gr. x 06o17’59’’ Lat. Sul (785.272,7m E x 9.302.922m N), de onde segue no Azimute 156o59’25’’, com 308,15m, até o ponto 01, seguindo no AZ 213o41’58’’, com 152,13m, até o PT 02, seguindo no AZ 245o05’39’’, com 630,35m, até o PT 03, seguindo no AZ 301o22’59’’, com 621,81m, até o PT 04, seguindo no AZ 260o39’25’’, com 443,07m, até o PT 05, seguindo no AZ 337o17’52’’, com 561,02m até o PT 06, seguindo no AZ 48o22’00’’, com 379,18m, até o Marco X, fechando o polígono. Art. 4º - Na implantação e funcionamento da APA Araguaia serão adotadas, entre outras, as seguintes medidas: 1. o plano de manejo e a implantação da APA Araguaia serão realizados pela Secretaria de Estado de Ciência, Tecnologia e Meio Ambiente - SECTAM e pelo Instituto do Desenvolvimento Econômico-Social do Pará - IDESP, ouvida a Prefeitura Municipal de São Geraldo do Araguaia e a Fundação Serra das Andorinhas - FSA; 2. o gerenciamento da APA Araguaia será realizado pela SECTAM, com a colaboração do IDESP e participação e apoio da Prefeitura Municipal de São Geraldo do Araguaia e da FSA; 3. a utilização dos instrumentos legais e dos incentivos financeiros governamentais, para assegurar a proteção da área, a conservação dos recursos naturais e a utilização racional do solo; 4. aplicação, quando cabível, de medidas destinadas a impedir ou evitar o exercício de atividades causadoras de degradação da qualidade ambiental, em especial as atividades agropecuárias e minerárias; 5. a divulgação das medidas previstas nesta Lei, visando ao esclarecimento do povo, em especial da comunidade local, sobre a APA Araguaia e suas finalidades. Art. 5º - Na APA Araguaia ficam proibidas ou restringidas: 1. a implantação de atividades industriais potencialmente poluidoras; 2. a realização de obras de terraplanagem e abertura de canais, quando essas iniciativas importarem em alteração das condições ecológicas locais, principalmente da Zona de Vida Silvestre, onde a biota será protegida com maior rigor; 3. o exercício de atividades capazes de provocar erosão das terras ou assoreamento das condições hídricas; 4. o exercício de atividades que ameacem as espécies da biota regional, as espécies migratórias e as nascentes dos cursos d’água; 5. o uso de biocidas, quando indiscriminado ou em desacordo com as normas ou recomendações técnicas oficiais. Art. 6º - Em caso de epidemias e endemias veiculadas por animais domésticos ou silvestres, incumbirá à Secretaria de Saúde do Estado do Pará, isoladamente ou em convênio com o Ministério da Saúde e órgãos estaduais de meio ambiente, promover programas especiais, para o controle dos referidos vetores. Art. 7º - A abertura de vias de comunicação, de canais, barragens em cursos d’água e a implantação de projetos de urbanização, sempre que importarem na realização de escavação e obras que causem alterações ambientais, dependerão da autorização prévia da SECTAM, que somente poderá concedê-la: 1. após estudo do projeto, exame das alterações possíveis e a avaliação de suas conseqüências ambientais; 2. mediante a indicação das restrições e medidas consideradas necessárias a salvaguarda dos ecossistemas atingidos. Parágrafo Único - As autorizações concedidas pela SECTAM não dispensarão outras autorizações e licenças federais e municipais exigíveis. Art. 8º - Para melhor controlar seus afluentes e reduzir o potencial poluidor das construções destinadas ao uso humano na APA Araguaia, não serão permitidas: 1. a construção de edificações em terrenos que, por suas características, não comportarem a existência simultânea de poços para receber o despejo de fossa séptica e poços de abastecimento d’água que fiquem a salvo da contaminação, quando não houver rede de coleta e estação de tratamento de esgoto em funcionamento; 2. a execução de projetos de urbanização sem as devidas autorizações, alvarás, licenças federais, estaduais e municipais exigíveis; 3. o despejo, por rios, igarapés e praias, de esgotos e outros afluentes, sem tratamento adequado que impeça a contaminação das águas.
Art. 9º - As Zonas de Vida Silvestre e Uso Especial são destinadas, prioritariamente, à salvaguardar da biota nativa, em especial das espécies ameaçadas de extinção, e proteção de ecossistemas aquáticos. Art. 10º - Com vistas a atingir os objetivos previstos para a APA Araguaia, bem como definir as atribuições e competências no controle de suas atividades, a SECTAM e o IDESP poderão firmar convênios com órgãos e entidades públicas ou privadas. Art. 11º - As penalidades previstas na legislação em vigor serão aplicadas aos transgressores das disposições desta Lei, pela SECTAM, com vistas ao cumprimento das medidas previstas e correlativas necessárias à conservação da qualidade ambiental. Parágrafo Único - Dos atos e decisões da SECTAM, referentes a esta APA, caberá recursos junto ao Conselho Estadual de Meio Ambiente - COEMA do Estado do Pará. Art. 12º - Os investimentos e a concessão de financiamentos e incentivos da administração pública federal e estadual, direta ou indireta, destinados à APA Araguaia, serão previamente compatibilizados com as diretrizes estabelecidas neste Lei. Art. 13º - As instruções que se fizerem necessárias à execução do disposto nesta Lei serão expedidas pela SECTAM. Art. 14º - A APA Araguaia terá a característica de ser a zona-tampão do Parque Estadual da Serra dos Martírios/Andorinhas. Art. 15º - A administração da APA Araguaia será realizada pela administração do Parque Estadual da Serra dos Martírios/Andorinhas. Art. 16º - Esta Lei entre em vigor na data de sua publicação. Art. 17º - Revogam-se as disposições em contrário.
PALÁCIO DO GOVERNO DO ESTADO DO PARÁ, 25 de julho de 1996.
ALMIR GABRIEL Governador do Estado
NILSON PINTO DE OLIVEIRA
Secretário de Estado de Ciência, Tecnologia e Meio Ambiente
ANEXO C: AUTORIZAÇÃO DE PESQUISA EMITIDA PELA SEMA/PA
ANEXO D: AUTORIZAÇÃO DE PESQUISA EMITIDA PELO COMITÊ DE ÉTICA
DO INPA
APÊNDICES
APÊNDICE: MODELO TCLE
MINISTÉRIO DA CIÊNCIA E TECNOLOGIA INSTITUTO NACIONAL DE PESQUISA DA AMAZÔNIA
MESTRADO PROFISSIONALIZANTE EM GESTÃO DE ÁREAS PROTEGIDAS NA AMAZÔNIA
TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO
Projeto: A CONSTRUÇÃO PARTICIPATIVA DO PLANO DE USO PÚBLICO DO SETOR 03 DO PARQUE
ESTADUAL SERRA DAS ANDORINHAS E DA APA ARAGUAIA, ESTADO DO PARÁ.
O aluno e pesquisador Abel Pojo Oliveira, solicita sua colaboração em participar com informações
sobre o Uso Público no Parque Estadual da Serra dos Martírios/Andorinhas e APA Araguaia, para a realização
de oficinas de planejamento participativo e entrevistas semiestruturadas que abordarão os seguinte
eixos/questões: 1) Quais os agentes envolvidos com o Uso Público no Parque Serra das Andorinhas e APA
Araguaia?; 2) O que queremos alcançar com o Uso Público do Parque Serra das Andorinhas?; 3) O que deverá
ser feito para alcançar o que queremos?; e 4) Quem será o responsável por essa ação? No caso das oficinas,
estes questionamentos serão postos por meio de ferramentas participativas, com a construção de matrizes,
diagramas e tabelas que permitam a construção e visualização coletiva. Nos casos das entrevistas
semiestruturadas, as perguntas serão formuladas de modo direto, sendo a mesma gravada (em áudio). Os
resultados obtidos serão sistematizados em relatório, por meio de programas de edição de texto, com o auxílio
de programa de edição de imagens, para os casos do diagrama.
A participação é voluntária e o participante não terá despesa ou receberá algo em troca. A
pesquisa envolve o risco potencial, para o indivíduo e coletividade, de criar expectativas em relação a
posterior aplicação do Plano, o que não dependerá do pesquisador ou da pesquisa, mas da
instituição que faz a gestão das unidades de conservação, neste caso, a SEMA/PA.
Consequentemente, a vantagem de sua participação é apenas de caráter científico. Mesmo após sua
autorização terá o direito e a liberdade de retirar seu consentimento em qualquer fase da pesquisa,
independente do motivo e sem qualquer prejuízo a sua pessoa e as informações fornecidas serão
utilizadas apenas na realização desse projeto. Caso forneça alguma informação considerada como
um conhecimento tradicional, os pesquisadores jamais a utilizarão para obter patente ou a
divulgarão em publicações técnico-científicas de circulação nacional ou internacional e em outros
veículos de divulgação de informação para a sociedade. As demais informações não relacionadas
com o conhecimento tradicional serão sistematizadas e os resultados serão divulgados, porém sua
identidade será mantida em sigilo para sempre.
Uma cópia dos resultados será entregue à gerência destas unidades, ao finalizar esta
pesquisa, os seus resultados serão publicados em um meio de comunicação popular, para o
conhecimento e divulgação para a sociedade. Se você quiser saber mais detalhes, pode fazer contato
com o pesquisador pelo endereço Av. Dom Pedro I, 260 – Centro – São Geraldo do Araguaia/PA –
CEP: 68.570-000; pelo telefone (63) 8131-8930 ou pelo E-mail: [email protected];
[email protected]. Para denuncias/reclamação, favor entrar em contato com o Comitê de Ética
em Pesquisa Envolvendo Seres Humanos do Instituto Nacional de Pesquisa da Amazônia, Av. André
Araújo, nº 2.936, Petrópolis, Manaus – Amazonas, Brasil, ou por meio eletrônico:
[email protected] – site: http://www.inpa.gov.br/comites/cep.php. Telefone/fax: (92) 3643-
3287.
Consentimento Pós-Informação
Eu, ________________________________________ residente ______________________________
entendi o que a pesquisa vai fazer e aceito participar de livre e espontânea vontade. Por isso dou
meu consentimento para inclusão como participante da pesquisa e atesto que me foi entregue uma
cópia desse documento.
..................................................................... ............/........../.............
Assinatura do entrevistado Data
Impressão do polegar,
caso não saiba escrever o
nome.
___________________________________________________ Data: ........../........../.............
Nome do profissional que realizou a entrevista