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INSTITUTO MATERNO INFANTIL PROF. FERNANDO FIGUEIRA IMIP PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM SAÚDE MATERNO-INFANTIL
-MESTRADO-
MARIA INÊS BEZERRA DE MELO
AVALIAÇÃO DO ESTADO NUTRICIONAL DE GESTANTES
UTILIZANDO TRÊS DIFERENTES MÉTODOS DE CLASSIFICAÇÃO
ANTROPOMÉTRICA: UM ESTUDO TRANSVERSAL
RECIFE
2007
ii
Melo, Maria Inês Bezerra Avaliação do estado nutricional de gestantes utilizando três diferentes métodos de classificação antropométrica: um estudo transversal. Maria Inês Bezerra de Melo. Recife: O autor, 2007.
87p. il. (tabelas e figuras)
Dissertação (mestrado)-Curso de Mestrado em Saúde Materno Infantil do Instituto Materno Infantil Prof. Fernando Figueira, IMIP.
Área de concentração:Saúde da Mulher Orientador: Ariani Impieri de Souza
Co-orientador: Malaquias Batista Filho
DESCRITORES: 1. Estado nutricional 2. Antropometria 3. Métodos de avaliação 4.Nutrição da gestante 5. Gestante. I. Souza, Ariani Impieri, orientadora II. Batista Filho, Malaquias, co-orientador III. Título IV. Instituto Materno Infantil Prof. Fernando Figueira, IMIP
iii
MARIA INÊS BEZERRA DE MELO
AVALIAÇÃO DO ESTADO NUTRICIONAL DE GESTANTES
UTILIZANDO TRÊS DIFERENTES MÉTODOS DE CLASSIFICAÇÃO
ANTROPOMÉTRICA: UM ESTUDO TRANSVERSAL
Área de Concentração: Saúde da Mulher
Linha de Pesquisa: - Avaliação e manejo do estado nutricional no ciclo vital
Orientadores: - Drª Ariani Impieri de Souza
- Dr. Malaquias Batista Filho
Dissertação apresentada ao Programa de Pós-
Graduação em Saúde Materno-Infantil do IMIP,
como parte dos requisitos para obtenção do Grau de
Mestre em Saúde Materno-Infantil.
RECIFE
2007
iv
DEDICATÓRIA
Aos meus pais a quem devo minha formação, valores morais e éticos.
A minha filha Maria Eduarda que adoça os momentos difíceis da minha vida.
v
AGRADECIMENTOS
A Deus por mais essa vitória, pela superação das dificuldades e por iluminar sempre meu
caminho;
A minha família, em especial a minha mãe, pelas suas orações em silêncio;
A Coordenadora Geral de Enfermagem do IMIP, Maria Cristina dos Santos Figueira, pelo
reconhecimento e oportunidade oferecida, sempre valorizando e incentivando o crescimento
da equipe;
A minha orientadora Ariani Impieri de Souza, pelo apoio e estímulo, dividindo seus
conhecimentos e valorizando cada etapa do aprendizado;
Ao Prof. Malaquias Batista Filho, pela idéia de executar este trabalho acreditando no
resultado final;
As Coordenadoras adjuntas Lannuze Gomes e Eliane Germano pela compreensão referente ao
afastamento das atividades profissionais, durante realização deste processo;
A todos os mestrandos da 11ª turma por tudo que vivemos durante esses dois anos; em
especial a Karla Ramos, por compartilharmos momentos difíceis, superando todos, com
paciência, dedicação e compromisso;
A minha sobrinha Thaísa Bezerra Figueiredo, pela dedicação e participação na coleta de
dados;
vi
A Luciana Andreto que dividiu seus conhecimentos incondicionalmente, se mostrando
sempre disponível;
Aos funcionários do ambulatório da Mulher, colaborando na busca de gestantes;
A todas as gestantes que contribuiram para realização deste trabalho, pois foram
fundamentais para conclusão deste processo;
A todos, que direta ou indiretamente contribuíram para realização deste trabalho científico.
vii
SUMÁRIO
LISTA DE SIGLAS E SÍMBOLOS
LISTA DE TABELAS E FIGURAS
RESUMO
ABSTRACT
1. INTRODUÇÃO 1
1.1 ASPECTOS CONCEITUAIS 1
1.2 ENFOQUE EPIDEMIOLÓGICO 5
1.3 CLASSIFICAÇÃO DO ESTADO NUTRICIONAL NA GESTAÇÃO 7
2. JUSTIFICATIVA 11
3. OBJETIVOS 13
4. MÉTODO 14
4.1 LOCAL DO ESTUDO 14
4.2 TIPO DO ESTUDO 14
4.3 AMOSTRA 14
4.4 TAMANHO DA AMOSTRA 15
4.5 CRITÉRIOS DE ELEGIBILIDADE 15
4.6 VARIÁVEIS DE ANÁLISE 16
4.7 INSTRUMENTO PARA COLETA DE DADOS 18
4.8 INSTRUMENTO UTILIZADO PARA COMPARAÇÃO DOS DADOS
SISVAN/MS 2005 20
viii
4.9 PROCESSAMENTO E ANÁLISE DOS DADOS 21
4.10 ASPECTOS ÉTICOS 22
5. RESULTADOS 23
5.1 CARACTÉRISTICAS SÓCIO-DEMOGRÁFICAS DA AMOSTRA 23
5.2 ESTADO NUTRICIONAL SEGUNDO CADA MÉTODO 25
5.3 CONCORDÂNCIA ENTRE OS TRÊS MÉTODOS 29
5.4 RESULTADOS OBTIDOS X ESPERADOS 31
6. DISCUSSÃO 41
7. CONCLUSÕES 54
8. RECOMENDAÇÕES 56
9. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 57
APÊNDICE
ANEXOS
ix
LISTA DE SIGLAS E SÍMBOLOS
BPN: Baixo peso ao nascer
CAM: Centro de Atenção à Mulher
CEP: Comitê de Ética e Pesquisa
CLAP: Centro Latino Americano de Perinatologia
cm: Centímetro
DEP: Desnutrição Energético Protéica
DUM: Data da Última Menstruação
EPI-INFO: Programa de Epidemiologia para Microcomputadores.
g: Grama
IBGE: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
IG: Idade Gestacional
IMC: Índice de Massa Corpórea
IMIP: Instituto Materno Infantil Prof. Fernando Figueira
IOM: Institute of Medicine
kg: Quilograma
K: Índice Kappa
MS: Ministério da Saúde
n: Número
OMS: Organização Mundial de Saúde
OPAS: Organização Pan-Americana da Saúde
PNSN: Pesquisa Nacional sobre Saúde e Nutrição
POF: Pesquisa de Orçamentos Familiares
RCIU: Restrição do crescimento intra-uterino
x
RMR: Região Metropolitana do Recife
RN: Recém-nascido
SISVAN: Sistema de Vigilância Alimentar e Nutricional
TCLE: Termo de Consentimento Livre e esclarecido
USG: Ultra-sonografia
χ2: Qui-quadrado
WHO: World Health Organization
xi
LISTA DE TABELAS E FIGURAS
Tabela 1. Características sociodemográficas das gestantes. IMIP-Recife, janeiro-junho/2006.
Tabela 2. Distribuição das gestantes de acordo com o estado nutricional através do
Normograma de Rosso por trimestre de gestação. IMIP-Recife, Janeiro-Junho/2006.
Tabela 3. Distribuição das gestantes de acordo com o estado nutricional através do método de
Atalah por trimestre de gestação. IMIP-Recife, Janeiro-Junho/2006.
Tabela 4. Distribuição das gestantes de acordo com o estado nutricional através do método da
Curva do CLAP por trimestre de gestação. IMIP-Recife, Janeiro-Junho/2006.
Tabela 5. Análise da concordância do estado nutricional das gestantes: (Rosso x Curva do
CLAP). IMIP-Recife, Janeiro-Junho/2006.
Tabela 6. Análise da Concordância do estado nutricional das gestantes: (Rosso x Atalah).
IMIP-Recife, Janeiro-Junho/2006.
Tabela 7. Análise da Concordância do estado nutricional das gestantes: (Atalah x Curva do
CLAP). IMIP-Recife, Janeiro-Junho/2006.
Tabela 8. Comparação entre a classificação de Rosso e os valores esperados do estado
nutricional de mulheres não gestantes em idade reprodutiva na Região Nordeste-2005.
Tabela 9. Comparação entre a classificação de Atalah e os valores esperados do estado
nutricional de mulheres não gestantes em idade reprodutiva na Região Nordeste-2005.
Tabela 10. Comparação entre a classificação do Curva do CLAP e os valores esperados do
estado nutricional de mulheres não gestantes em idade reprodutiva na Região Nordeste-2005.
xii
Tabela 11. Comparação entre a classificação de Rosso e os valores esperados do estado
nutricional de mulheres não gestantes em idade reprodutiva no Brasil-2005.
Tabela 12. Comparação entre a classificação de Atalah e os valores esperados do estado
nutricional de mulheres não gestantes em idade reprodutiva no Brasil-2005.
Tabela 13. Comparação entre a classificação da Curva do CLAP e os valores esperados do
estado nutricional de mulheres não gestantes em idade reprodutiva no Brasil-2005.
Figura 1- Prevalências das classificações do estado nutricional de gestantes, segundo os
métodos de Rosso, Atalah e a Curva do CLAP. IMIP-Recife, Janeiro-Junho/2006.
Figura 2-. Comparação entre a classificação de Rosso e os valores percentuais esperados do
estado nutricional de mulheres não gestantes em idade reprodutiva na Região Nordeste-2005.
Figura 3. Comparação entre a classificação de Atalah e os valores esperados do estado
nutricional de mulheres não gestantes em idade reprodutiva na Região Nordeste-2005.
Figura 4. Comparação entre a classificação da Curva de CLAP e os valores esperados do
estado nutricional de mulheres não gestantes em idade reprodutiva na Região Nordeste-2005.
Figura 5. Comparação entre a classificação de Rosso e os valores esperados do estado
nutricional de mulheres não gestantes em idade reprodutiva no Brasil-2005.
Figura 6. Comparação entre a classificação de Atalah e os valores esperados do estado
nutricional de mulheres não gestantes em idade reprodutiva no Brasil-2005.
Figura 7. Comparação entre a classificação da Curva do CLAP e os valores esperados do
estado nutricional de mulheres não gestantes em idade reprodutiva no Brasil-2005.
xiii
RESUMO
CENÁRIO: as deficiências nutricionais destacam-se entre os fatores que interferem na gravidez com importantes implicações para a mãe e para o concepto. As alterações do estado nutricional (desnutrição e sobrepeso/obesidade) são relacionadas a sérios agravos para a saúde, contribuindo para o aumento da morbi-mortalidade da mulher, particularmente durante a gestação. Ainda não se tem, de modo consensual, um método que possa ser utilizado de maneira padronizada para todas as gestantes e o Ministério da Saúde no Brasil vem adotando, nos últimos anos, diferentes métodos de avaliação do estado nutricional, sempre em caráter provisório, por não haver consenso sobre um instrumento considerado adequado. OBJETIVO: comparar os métodos de classificação habitualmente utilizados no Brasil para avaliação do estado nutricional durante a gestação (Rosso, Curva do CLAP e Atalah) analisando seus resultados em função da situação prevalente em mulheres não gestantes no Nordeste e no Brasil. MÉTODO: foi realizado um estudo observacional, do tipo corte transversal, em 992 gestantes assistidas no pré-natal de baixo risco do Centro de Atenção à Mulher (CAM), do Instituto Materno Infantil Prof. Fernando Figueira IMIP-Recife, entre janeiro e junho de 2006. A verificação da concordância entre os três métodos de avaliação foi feita pelo Índice Kappa (k). A comparação dos dados obtidos através de cada um dos métodos com os valores adotados como referência (mulheres não gestantes no Nordeste e no Brasil) foi feita pelo Teste qui−−−−quadrado de bondade de ajuste, para cada situação. O estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética e Pesquisas do IMIP. RESULTADOS: em relação às características das gestantes, a maioria (50,7%) encontrava-se no intervalo entre 18 e 24 anos e estavam na primeira gestação (54,7% com paridade = 0), 92,8% eram procedentes do Recife ou de sua Região Metropolitana. Observou-se 49,8% de gestantes com escolaridade alta (11 anos de estudo ou mais). O estado nutricional avaliado pelo método de Rosso apresentou taxa de baixo peso mai elevada (39,5%) do que a classificação de Atalah (20,0%) e a Curva do CLAP (18,0%) sendo muito diferentes dos valores utilizados para comparação no Nordeste (7,4%) e no Brasil (6,7%). Ao se avaliar a questão do sobrepeso/obesidade, observou-se o oposto. Pela curva de Rosso, os percentuais de sobrepeso/obesidade foram os menores (28,7%), quando comparados com os métodos de Atalah (34,6%) e a Curva do CLAP (35,2%). No caso do sobrepeso/obesidade, os valores encontrados por estes dois métodos estavam mais próximos dos utilizados para fins comparativos, tanto para o Nordeste (40,9%) quanto para o Brasil (44,3%). Tanto em relação ao baixo peso quanto em relação ao sobrepeso/obesidade, os métodos de Atalah e a Curva de CLAP foram os mais concordantes entre si; alcançando uma relação considerada ótima pelo Índice Kappa (k = 0,85). CONCLUSÃO: Ao comparar os métodos de avaliação do estado nutricional com os valores adotados como referência, as classificações de Atalah e do CLAP foram as que mais se aproximaram dos padrões nutricionais de mulheres não gestantes para o Nordeste e para o Brasil. No entanto, ainda estão longe de representar um instrumento satisfatório de avaliação do estado nutricional das gestantes, resultando em desvios grosseiros na estimação de baixo peso. PALAVRAS-CHAVES: Estado nutricional, Antropometria, Métodos de avaliação, Nutrição da gestante, Gestante.
xiv
ABSTRACT
BACKGROUND: nutritional deficiency is one of the main factors that interfere in the health of pregnant women. Alterations in the nutritional state (malnutrition and overweight/obesity) are related to serious health problems, contributing toward an increase in illness and mortality rates among women, especially during pregnancy. There is as yet no consensus on a method that may be employed in a standardized fashion for pregnant women. In recent years, the Brazilian Health Ministry has adopted different provisory nutrition assessment methods due to the lack of consensus regarding a single adequate method. OBJECTIVE: compare the habitually employed classification methods for assessment of the nutritional state during pregnancy (Rosso, Atalah and the CLAP Curve) and determine which comes closest to the patterns found in a population of non-pregnant women in Northeast Region as well as Brazil as a whole. METHOD: a cross-sectional study was carried out on 992 pregnant women in low-risk prenatal care at the Women's Care Center (Centro de Atenção à Mulher - CAM) of the Maternity and Children's Hospital (Instituto Materno Infantil Prof. Fernando Figueira) in the city of Recife between January and June 2006. Agreement between the three assessment methods was performed using the Kappa Index (k). Chi-Square Goodness-of-fit Analysis was used for each situation in the comparison of the data obtained from each method with the adopted reference values (non-pregnant women in the Northeast and in Brazil). The IMIP ethics committee approved the study. RESULTS: most of the pregnant women (50,7%) were between 18 and 24 years of age and were in their first gestation (54,7% with parity = 0); 92,8% were from Recife and its metropolitan region. There was a high level of schooling, with a predomination of 11 or more years of study (49,8%). The nutritional state of the pregnant women assessed using the Rosso method exhibited a greater percentage of underweight individuals (39,5%) in comparison to the Atalah (20,0%) and CLAP Curve (18,0%) methods, and far greater than the values used for the comparison with the Northeast (7,4%) and Brazil as a whole (6,7%). The opposite was observed in relation to overweight/obesity; using the Rosso method, the percentages of overweight/obesity were lower (28,7%) in comparison to the Atalah (34,6%) and CLAP Curve (35,2%) methods. The values regarding overweight/obesity were closer to the references used for comparative ends for both the Northeast (40,9%) and Brazil as a whole (44,3%). In relation to both underweight and overweight/obesity, the Atalah and CLAP Curve methods were more in concordance with one another, reaching excellent agreement in the Kappa Index (k = 0,85). CONCLUSION: in comparing nutritional assessment methods with the adopted reference values, the CLAP Curve and the Atalah came closest to the nutritional patterns of non-pregnant women in the Northeast and in Brazil, although it is far from being a satisfactory assessment method regarding the nutritional state of pregnant women. KEY WORDS: Nutritional state, Anthropometry, Assessment Methods, Nutrition of Pregnant Women, Pregnancy.
1
1. INTRODUÇÃO
1.1 ASPECTOS CONCEITUAIS
Em termos conceituais, o estado nutricional expressa o grau de ajustamento entre as
necessidades fisiológicas de energia e nutrientes e seu aporte através da alimentação. As
alterações polares do estado nutricional, sejam por carências globais (como a desnutrição
energético-protéica-DEP) ou específicas, sejam por excesso, como a obesidade em seus
estágios moderados e avançados, se relacionam com importantes agravos para a saúde,
contribuindo para o aumento da morbi-mortalidade.1
O período gestacional, por conta de demandas nutricionais aumentadas, transtornos
metabólicos próprios ou agravados pela gravidez e, ainda, por alterações psíquicas comuns
neste período, representa uma situação de reconhecida vulnerabilidade nutricional,
principalmente nas famílias em condiçoes socioeconômicas e ambientais desfavoráveis.2
Estas circunstâncias justificam o interesse de políticas públicas, especialmente de cuidados
pré e pós-natais, no sentido de acompanhar e intervir de forma oportuna e adequada no
desenvolvimento da gravidez e seu desenlace.
A desnutrição pode ser definida como uma condição clínica decorrente de uma
deficiência, relativa ou absoluta, de um ou mais nutrientes essenciais, que, por sua vez,
predispõe a uma série de complicações de maior ou menor gravidade, incluindo tendência à
infecção, deficiência de cicatrização de feridas, falência respiratória, insuficiência cardíaca,
diminuição da síntese de proteínas em nível hepático, com produção de metabólitos anormais,
crescimento e desenvolvimento deficientes, comprometimento de funções reprodutivas e
redução da capacidade de trabalho.1,3,4
2
A desnutrição materna tem sido referida como fator determinante da restrição do
crescimento intra-uterino, estimando-se que, em nível mundial, 30 milhões dos recém-
nascidos são afetados a cada ano. Alguns programas nacionais contra a desnutrição incluem
controle das carências nutricionais na gestação e enfocam que a desnutrição pode ser
prevenida e reduzida com sucesso por meio de uma combinação de fatores, entre eles a
adequada assistência pré-natal.5
A “transição nutricional” que vem sendo observada, resultante do sedentarismo
associado à concomitante mudança na alimentação, caracterizada pelo aumento do consumo
de gorduras, açúcar e cereais refinados e pela redução no consumo de carboidratos complexos
e fontes de fibras, mudou o perfil de morbi-mortalidade nas sociedades, destacando-se o
excesso de peso e a obesidade como o denominador comum de um elenco de morbidades
crônicas não transmissíveis.6
A obesidade é definida como um desequilíbrio entre consumo e gasto de energia,
levando a um aumento do depósito de triglicérides nas células adiposas. Trata-se de uma
situação complexa e multifatorial, de prevalência crescente e complicações variadas a curto e
longo prazo e que já atingiu proporções epidêmicas, acometendo cerca de 30% das mulheres
adultas na sociedade ocidental. Convenciona-se estabelecer que a obesidade existe quando o
componente de tecido adiposo representa mais de 20% do peso corporal total no homem e
mais de 25% no caso da mulher.7
É importante relacionar algumas questões conceituais e metodológicas ainda não
solucionadas no que se refere à avaliação de peso gestacional, seu comportamento evolutivo e
suas prováveis ou potenciais implicações com a saúde da mãe e do concepto.8
O peso prévio à gestação e o ganho de peso durante a gestação são as duas variáveis
mais importantes relacionadas ao peso fetal que, por sua vez, está diretamente relacionado ao
prognóstico neonatal e infantil.9
3
Em estudo realizado na maternidade-escola da UFRJ (Universidade Federal do Rio de
Janeiro), com o objetivo de avaliar o ganho ponderal durante a gestação através do gráfico de
Rosso (1985)10, foi verificado que 56,0% das gestantes estudadas apresentavam riscos
nutricionais, sendo 34,0% com baixo peso e 22,0% sobrepeso/obesidade.11 Outro estudo feito
para avaliar o estado nutricional das gestantes, no período de dezembro de 2002 a maio de
2003, no Centro de Saúde da Mulher e da Criança na cidade de Viçosa, em Minas Gerais,
identificou uma alta prevalência de gestantes que iniciaram o pré-natal com estado nutricional
desfavorável (43,1%), sendo 25,7% com baixo peso, 7,8% de sobrepeso e 9,6% de obesidade.
Foi observado também que, entre as gestantes de baixo peso, quase 60,0% apresentaram
ganho de peso insuficiente.12
Uma coorte de 5.564 gestantes atendidas em serviços de pré-natal geral do Sistema
Único de Saúde em seis capitais brasileiras, acompanhadas entre 1991 e 1995, verificou que o
sobrepeso ocorreu em 25,0% dos casos estudados e a obesidade (5,5%) foi mais frequente em
mulheres mais velhas, negras, com menor grau de escolaridade e multíparas, com um
percentual.13
O acompanhamento nutricional da mulher durante o pré-natal tem como principais
objetivos identificar as gestantes com inadequação do estado nutricional pela monitorização
do ganho de peso, possibilitando interferências terapêuticas e medidas profiláticas, com o
objetivo de obter recuperação nutricional de gestantes desnutridas bem como o controle do
ganho de peso nas situações de sobrepeso/obesidade.14, 15, 16, 17, 18
Atualmente, dispõe-se de evidências de que o estado nutricional materno no período
periconcepcional e durante a gravidez, bem como o estado nutricional da criança nos
primeiros anos de vida, são fatores determinantes da saúde de um indivíduo durante toda a
vida.19 No entanto o que mais tem interessado aos estudos do estado nutricional materno
seriam suas implicações com o baixo peso ao nascer (BPN), particularmente a restrição de
4
crescimento intra-uterino (RCIU), que é principalmente atribuído à desnutrição calórico
protéica no período pré-concepcional e no decurso da gravidez.19
Dados do Ministério da Saúde do Brasil, refere taxa de BPN (baixo peso ao nascer)
em 2001 de 8,7% para o país,20 semelhante ao encontrado em Pernambuco, na II Pesquisa
Estadual de Saúde e Nutrição, realizada em 1997,21 que encontrou uma taxa de 7,9%. Em
Recife, dados de uma avaliação da atenção à saúde da criança e de gestantes em serviços
municipais de saúde também revelam uma taxa de BPN muito próxima da média nacional e
estadual (8,7%). Por outro lado, dados de serviços de saúde, podem ser surpreendetemente
diferentes. Um estudo realizado em uma maternidade de Teresina-Piauí encontrou, entre 277
gestantes internadas para o parto, uma taxa de BPN de 1,5%,22 enquanto outro estudo
realizado numa maternidade municipal de São Paulo, encontrou uma taxa de BPN de 13,5% e
uma associação positiva entre desnutrição materna e baixo peso ao nascer, sendo que o risco
relativo de baixo peso ao nascer entre parturientes desnutridas foi praticamente o dobro do
apresentado por filhos de não desnutridas.23
ENFOQUE EPIDEMIOLÓGICO
Nos últimos 50 anos, o quadro de saúde no mundo passou a apresentar profundas e
rápidas modificações, caracterizando o que se convencionou chamar de transição
epidemiológica.24,25,26,27 Em termos simplificados, o processo transicional resulta numa
mudança marcante na situação de morbi-mortalidade, com a substituição do perfil das
doenças infecciosas para o modelo das doenças crônicas não transmissíveis. Estas duas
situações conceitualmente opostas têm estreita correspondência com a situação nutricional: na
fase de maior prevalência dos processos agudos ou prolongados das doenças infecciosas e
5
parasitárias, o quadro de comorbidades está habitualmente associado às doenças carenciais,
como a desnutrição, as anemias, a hipovitaminose A e a carência de iodo; por outro lado,
quando se instala o foco dominante das doenças crônicas não transmissíveis, passam a se
manifestar, em escala epidemiológica, o sobrepeso e a obesidade, em estreita correlação com
o diabetes mellitus, as dislipidemias, as doenças cardio-vasculares e suas complicações.
Consideradas em suas especificidades, as mudanças nutricionais que acompanham os dois
modelos constituem o que se denomina de transição nutricional.28
Historicamente, a transição epidemiológica na área de saúde e no campo da nutrição
desenvolveu-se inicialmente, nos países ricos, mas atualmente ocorre com maior intensidade
nos países em desenvolvimento.27
O Brasil é um país heterogêneo quanto às suas características demográficas,
econômicas, raciais e epidemiológicas, de modo que problemas de saúde, de sobrepeso e
obesidade coexistem com a desnutrição. Pesquisas recentes sobre o estado nutricional tem
posto o conjunto sobrepeso/obesidade como uma das prioridades no que se refere a agenda
atual de saúde no Brasil.13,27,29,30
Ainda de acordo com II Pesquisa Estadual de Saúde e Nutrição realizada em
Pernambuco em 199721, a prevalência de baixo peso em mulheres de 10 a 49 anos (Índice de
Massa Corpórea-IMC < 20) foi de 15,3%, sem diferenças consideráveis nas diversas áreas
estudadas: 17,2% na Região Metropolitana do Recife e 14,1% no Interior do estado. Vale
referir que estas prevalências seriam bem menores se se adotasse para o IMC o ponto de corte
de 18,5, recomendado para as mulheres. No mesmo espaço e ao mesmo tempo, o sobrepeso
(IMC entre 25 e 29,9) ocorre em 28,3% e obesidade (IMC≥30) em 13,7% para o estado e em
25,3% e 13,5% respectivamente, para a região Metropolitana do Recife.21
Em relação ao baixo peso das gestantes, a Secretaria de Saúde do Estado de
Pernambuco, no ano 2000, utilizando os critérios de Rosso (1985)10, encontrou
6
aproximadamente 32,0% de desnutrição entre 46.692 gestantes de primeiro e segundo
trimestre gestacional.31 Estudos epidemiológicos sobre o estado nutricional demonstram que o
excesso de peso se apresenta como grave problema de saúde pública nas sociedades afluentes
e nos países em desenvolvimento. Segundo estastísticas da Organização Mundial de Saúde
(OMS), calcula-se que cerca de 25% da população mundial é obesa.32 No Brasil, em 2003, o
excesso de peso afetava 40% das mulheres e a taxa de obesidade entre as mulheres adultas
encontrava-se em 13,1%.6,33
Assume-se que a desnutrição seja um problema relevante para os países não
desenvolvidos, porém sua ocorrência vem diminuindo no Brasil, não obstante as condições
socioeconômicas ainda precárias que caracterizam nossa realidade. De acordo com a Pesquisa
Nacional sobre Saúde e Nutrição,34 a desnutrição (IMC<20) em mulheres em 1974/75 era de
26,4% e em 1989 se reduziu para 16,5% representando uma queda relativa de 37% .
Enquanto isso o extremo oposto (obesidade, IMC≥30) que, em 1974/75, apresentava um
percentual de 6,9% em 1989 passou a 11,7% representando um aumento de 70% no período.
Estes dados indicam uma mudança expressiva no perfil epidemiológico do país.
CLASSIFICAÇÃO DO ESTADO NUTRICIONAL NA GESTAÇÃO
Não existe ainda um método plenamente aceito, em escala internacional, para a
classificação do peso gravídico e sua interpretação em termos de correspondência com o
estado nutricional das gestantes.35 Características étnicas, padrões de normalidade, enfoques
divergentes quanto aos desfechos esperados, razões operativas e outros aspectos dificultam o
estabelecimento de um consenso sobre os critérios, procedimentos e interpretação dos
resultados referentes à aplicação da antropometria nutricional no decurso da gravidez.8 A
7
altura da mulher, assim como outras medidas antropométricas como o peso, têm sido
utilizadas para se avaliar os riscos de baixo peso ao nascer, mortalidade perinatal, neonatal e
infantil. Os pontos de corte em relação à altura, que funcionam como preditores do baixo peso
ao nascer, se situam entre 140 e 150cm.36
Para uma adequada avaliação do diagnóstico nutricional, do ponto de vista
antropométrico, em geral, utiliza-se dados de peso e altura por serem relativamente simples
de coletar, de fácil obtenção e padronização, tendo como características a praticidade e o
baixo custo.1,16, 37, 38, 39 A partir das medidas antropométricas de peso e altura, calcula-se o
IMC, também chamado de índice de Quételet, representado pela razão entre o peso e a
estatura (metro linear como unidade de referência) elevada ao quadrado. Este indicador é de
grande utilização na prática ambulatorial, devido a sua facilidade na aferição e possibilidade
de comparação entre indivíduos adultos de diferentes estaturas e por ter boa correlação com
diferentes indicadores de medidas de composição corporal (massa e percentual de gordura
corporal, dobras cutâneas subcapsular e triciptal e circunferência abdominal).40
A Academia Nacional de Ciências dos Estados Unidos,41 recomenda que mulheres
com baixo peso pré-gestacional (IMC < 19,8) tenham um ganho de peso total na gestação
entre 12,5 e 18,0 kg. Já as que iniciam a gestação com peso normal (IMC de 19,8-26,0) e com
obesidade (IMC > 29,0) devem ganhar, respectivamente, de 11,5 a 16,0 kg e de 7,0 a 11,5 kg,
sendo o mínimo de 6,0 kg. O controle do ganho ponderal materno representa um importante
fator de influência na evolução da gestação.35,42
Em 1983, Fescina,43 a partir de um estudo realizado com 1.003 medidas de peso
obtidas de 43 gestantes uruguaias de classe média e com peso pré-gestacional adequado para
a altura, havia proposto um instrumento para avaliar o estado nutricional durante a gestação.
Deste modo, o modelo porposto possibilitaria a avaliação do peso da gestante através de duas
abordagens: a estimativa do estado antropométrico a partir do peso pré-gestacional,
8
permitindo o acompanhamento do ganho ponderal ao longo da gravidez, e a possibilidade
dessa estimativa com base no peso no momento da aferição, em caso de desconhecimento
desse parâmetro. Porém, além do pequeno número de gestantes avaliadas, o método de
Fescina fundamentava-se em relações corporais de mulheres no período reprodutivo a partir
de uma coorte de mulheres de uma população especifica (classe média) e pela aplicação
restrita a gestantes com estatura entre 140 e 169cm.43
Rosso, em 198510, propôs a utilização da relação peso/estatura na avaliação do estado
nutricional materno, em que a curva de classificação tinha como objetivo avaliar o ganho
ponderal baseado na adequação do peso/estatura de acordo com a idade gestacional,
possibilitando, além do diagnóstico nutricional na primeira consulta, o monitoramento do
ganho ponderal na gestação, tendo a vantagem de se constituir um instrumento de fácil
execução e baixo custo. Determinava como limite de risco para baixo peso ao nascer (BPN) o
percentual de adequação peso/altura inferior a 95% na 10a semana gestacional e abaixo de
120% entre as 40a e 41a semanas. Em 1988, a curva de avaliação do estado nutricional
proposta por Rosso foi recomendada pelo Ministério da Saúde no Brasil.44
Alguns autores consideram a curva de Rosso como um instrumento de avaliação de
valor limitado, pois utiliza-se basicamente de padrões internacionais de países desenvolvidos,
onde estão colocadas diferenças marcantes no potencial genético de crescimento para a
população adulta, podendo comprometer a extrapolação para países subdesenvolvidos.36,45
Atalah et al. (1997)46, na tentativa de corrigir distorções referentes a avaliação do
estado nutricional em gestantes observadas quando aplicado o normograma de Rosso,
construíram um gráfico que permitisse monitorar a evolução do estado nutricional durante a
gestação, baseado no IMC, partindo do princípio que as mulheres em geral deveriam
aumentar cerca de 20% do peso inicial durante a gravidez, classificando desta forma as
gestantes em quatro categorias: desnutridas, normal, sobrepeso e obesidade. Apesar deste
9
método tentar adaptar para a gravidez uma avaliação utilizada para população geral, até o
momento ainda não foi avaliado na população de mulheres gestantes do Brasil.
A partir do ano de 2000, o Ministério da Saúde passou a adotar um gráfico
(Gestograma) recomendado pelo CLAP- Centro Latino Americano de Perinatologia, para
avaliação do ganho de peso em função da idade gestacional. Assim, a interpretação desse
gráfico para uma determinada idade gestacional é considerada como normal, quando o valor
do aumento de peso estiver entre os percentis 25 e 90, e anormal quando o aumento de peso
for maior que o percentil 90 ou estiver abaixo do percentil 25. Outra alternativa seria a Curva
de Adequação Percentilar (Relação de peso-altura segundo a idade gestacional), que, na
realidade, deriva da proposta de Fescina utilizada para os casos em que o peso pré-gravídico é
desconhecido, observando se os valores de peso situam-se na intersecção da altura com a
semana de gestação entre os percentis 10 e 90 que, assim, definiriam o canal de evolução
ponderal considerado normal.47
Desse modo, ainda não se tem, de forma consensual, um método que possa ser
utilizado de maneira padronizada para as gestantes do Brasil. Ademais, como já se analisou,
não se trata apenas de uma controvérsia de âmbito nacional, mas de um questionamento bem
mais amplo. Por conseguinte, a busca de um método que possa ser utilizado nos serviços de
saúde de maneira simples e que permita avaliar adequadamente o estado nutricional em que
se encontram as gestantes permitiria conhecer e estabelecer um ganho de peso que fosse
considerado satisfatório tanto para o bem estar e a saúde da gestante quanto para os recém-
nascidos.38 Adicionalmente, seria um instrumento para avaliação epidemiológica de
possíveis diferenças regionais, temporais, sociais e biológicas no que se refere à situação
nutricional das gestantes.
10
JUSTIFICATIVA
Vários fatores determinam o progresso e o resultado de uma gravidez, inclusive o
estado nutricional da mãe, tendo relevantes conseqüências para a gestante e o concepto. No
entanto a questão metodológica de sua avaliação tem sido especialmente estudada no Brasil
com o apoio técnico da Organização Mundial de Saúde nos ultímos 20 anos. O Ministério da
Saúde ainda não dispõe de um método aceito de forma consensual para a avaliar o estado
nutricional da mulher durante a gestação e, assim, adotou sucessivamente o modelo proposto
por Rosso, que já foi utilizado durante mais de dez anos, sendo depois substituído pelo
método de Atalah. Durante algum tempo, discutiu-se a conveniência de se utilizar a tabela
percentilar proposta pelo CLAP (2000), o que representa de fato, o modelo sugerido por
Fescina (1983). O Instituto Materno Infantil Prof. Fernando Figueira (IMIP) por ser
credenciado como hospital de ensino e pesquisa pelos Ministérios da Educação e da Saúde,
em sua condição institucional de Centro de Referência Nacional e Estadual na área Materno-
Infantil, necessita dispor, como toda rede de serviço com essas atribuições, de um método
confiável, devidamente validado e aplicável à realidade regional e nacional. Desse modo,
busca-se comparar métodos (Atalah, Rosso e a Curva do CLAP), sendo os últimos já
preconizados pelo Ministério da Saúde do Brasil e utilizados pelo IMIP para avaliar a
classificação do estado nutricional durante a gestação.
Sem desprezar os vários aspectos conceituais que se acham envolvidos com o
problema da avaliação somatométrica da gravidez, é pertinente considerar os elementos
informativos que, para fins práticos, devem ser obtidos, integrados e analisados no dia a dia
da assistência pré-natal. Deste modo, a busca de um instrumento metodológico adequado
deve passar pela prova prática da rotina assistencial. Este estudo foi elaborado no intuito de
contribuir para busca de um método antropométrico de avaliação do estado nutricional que
possa ser facilmente aplicado durante assistência pré-natal e que represente, de forma
11
convicente, o estado nutricional de mulheres no curso da gestação, reduzindo as grandes
questões conceituais, técnicas e operativas dos critérios atualmente em uso.
Tendo em vista que os métodos mais atuais de classificação ponderal, da gestante
derivam, em última instância, do IMC de mulheres não grávidas, parece justificado raciocinar
que seus resultados, com os devidos ajustes, sejam comparáveis com os obtidos de mulheres
não gestantes, do mesmo grupo étario, no mesmo tempo e no mesmo espaço geográfico. É
este o enfoque condutor do estudo aqui apresentado.
12
3. OBJETIVOS
GERAL
Comparar os métodos de classificação utilizados (Rosso, Atalah e a Curva do
CLAP) para avaliação do estado nutricional durante a gestação e verificar o que mais
se aproxima dos resultados encontrados para a população de mulheres não gestantes
em escala populacional, sob o ponto de vista da antropometria nutricional.
ESPECÍFICOS Em gestantes de baixo risco atendidas no pré-natal do CAM/IMIP, propõe-se, como
aspectos de interesse específico:
1. Descrever as características sociodemográficas (idade, paridade, procedência,
situação marital, ocupação e escolaridade).
2. Avaliar o estado nutricional durante o segundo e terceiro trimestre da gestação
por 3 diferentes métodos (Rosso, Atalah e a Curva do CLAP).
3. Avaliar a concordância dos resultados da classificação do estado nutricional
(baixo peso, normalidade, sobrepeso/obesidade) entre os diferentes métodos
(Rosso, Atalah e a Curva do CLAP).
4. Comparar os resultados da classificação do estado nutricional definido pelos
diferentes métodos com a situação epidemiológica regional e nacional e
verificar o método que com a maior aproximação, reflita a situação nutricional
de mulheres do Nordeste e do Brasil.
13
4. MÉTODO
4.1 LOCAL DO ESTUDO
O estudo foi realizado no ambulatório do Centro de Atenção à Mulher (CAM)
do Instituto Materno Infantil Prof. Fernando Figueira (IMIP), órgão de referência do
Ministério da Saúde no que concerne à saúde materno infantil. O IMIP é uma
instituição de caráter filantrópico que atua na assistência médico-social, ensino,
pesquisa e extensão comunitária. O Ambulatório da Mulher do CAM, de acordo com
o “Relatório Anual do IMIP” referente a 2005, oferece atendimento em toco-
ginecologia, com uma média de 5.000 atendimentos/ano. Atende preferencialmente a
população de baixo poder socioeconômico proveniente da cidade do Recife, da Região
Metropolitana bem como em menor escala, do interior do estado.
4.2 TIPO DO ESTUDO
Foi realizado um estudo observacional, do tipo corte transversal, no
ambulatório do CAM entre janeiro e junho de 2006, tendo como referência a
população de gestantes assistidas no pré-natal de baixo risco do CAM/IMIP e
acompanhadas no referido serviço.
4.3 AMOSTRA
Foi utilizada uma amostra de conveniência, onde as gestantes eram captadas
diariamente a medida que compareciam ao ambulatório do CAM para a realização da
consulta de pré-natal de baixo risco.
14
4.4 TAMANHO DA AMOSTRA
O tamanho da amostra foi calculado no EPI-INFO 6.04, a partir de dados
contidos no relatório anual da instituição, onde foi encontrado um número aproximado
de 5.000 atendimentos/ano no ambulatório da mulher do CAM/IMIP. Para a
estimativa amostral foi considerada uma frequência esperada de 6% de desnutrição e
13% de obesidade em mulheres adultas, de acordo com a Pesquisa de Orçamentos
Familiares para o Brasil.33 Considerando um erro padrão de 1,5%, encontrou-se um
tamanho amostral de 807 para o intervalo de confiança de 95%. Considerando a
possibilidade de perdas, foi acrescida uma margem de segurança de cerca de 20,0%, o
que totalizou uma amostra de 992 gestantes.
4.5 CRITÉRIOS DE ELEGIBILIDADE
Foram incluídas na amostra todas as gestantes que procuraram o ambulatório
de pré-natal de baixo risco no período, que após serem informadas a respeito da
pesquisa e concordar em participar, foram devidamente identificadas, ou seja, todos os
cartões de atendimento eram marcados para que não houvesse duplicidade entre as
gestantes. Foram excluídas da pesquisa todas as gestantes que apresentaram alguma
patologia importante associada, tornando-as desta forma casos de alto risco, tais como
hipertensão arterial, diabetes mellitus, nefropatias, AIDS, cardiopatias e má formação
física evidente que pudesse interferir na aferição da antropometria. Foram excluídas
também as gestantes com idade inferior a 18 anos e as que se encontravam no
primeiro trimestre de gestação, devido a procura das gestantes para ínicio do pré-natal
a partir do 2˚ trimestre ser mais intensa. Em relação a este critério, considerou-se
primeiro trimestre quando a gestante se encontrava com até 13 semanas de gestação.
15
VARIÁVEIS DE ANÁLISE
• Idade: variável contínua, registrada de forma discreta, em anos completos,
informação referida pela mulher no momento da entrevista e conferida para fins de
validação pela data de nascimento.
• Procedência: variável categórica nominal, dicotômica. Local onde reside referido
pelas mulheres, classificada de acordo com as seguintes categorias: Recife; Outras
cidades da Região Metropolitana* (Abreu e Lima, Cabo, Camaragibe, Igarassu,
Ipojuca, Itamaracá, Itapissuma, Jaboatão, Moreno, Olinda, Paulista, São Lourenço) e
interior do Estado.
*RMR = Demais cidades que compõem a Região Metropolitana do Recife
• Situação marital: variável nominal e dicotômica. Considerada a situação da
relação vivida pelo casal, categorizada como: com companheiro e sem companheiro.
• Escolaridade: anos completos de estudo referidos pelas mulheres. Registrada
como variável numérica, discreta e, para fins de análise, categorizada adotando-se os
seguintes intervalos :0-3 anos; 4-7 anos ; 8-10 anos; 11 ou mais.
• Ocupação: variável nominal e dicotômica. Considerada a principal atividade
profissional desempenhada e referida pelas mulheres, de caráter profissional ou não.
Categorizada como: Remunerada e não remunerada.
16
• Paridade: variável numérica discreta. Considerando o número de filhos tidos pela
gestante.
• Trimestre Gestacional: variável definida durante o processo de análise para
indicar se a gestante estava no segundo trimestre de gravidez (14-27semanas e 6 dias
de gestação) ou no terceiro trimestre (28-42semanas de gestação).
• Estado nutricional: variável categórica. Foi classificada segundo as medidas
antropométricas, através do peso e altura das mulheres e categorizada para fins de
análise em: Baixo peso, peso normal, sobrepeso/obesidade, adotando-se os níveis de
corte propostos para essa avaliação pelos diferentes métodos (Normograma de Rosso,
Atalah e Curva percentilar), que foram comparativamente avaliados.
A. Normograma de Rosso: Avaliado pela adequação do peso/altura, de acordo
com a idade gestacional. As gestantes são classificadas como: Baixo peso,
Peso normal e Sobrepeso.72 (Anexo 1)
B. Atalah: Avaliado através da classificação do estado nutricional de gestantes de
acordo com o IMC ajustado para a idade gestacional. As gestantes são
classificadas como: Baixo peso, Peso normal, Sobrepeso e Obesidade.4 (Anexo
2)
C. Curva do CLAP (Relação peso-altura segundo a idade gestacional): é a forma
de avaliar se o peso encontrado é adequado para a idade gestacional quando a
gestante não conhece seu peso pré-gravídico. Após aferição do peso e da altura
e de determinar a idade gestacional, observa-se os valores de peso em relação
aos valores de p10 e p90 na intersecção da altura materna com a semana de
gestação. Desta forma as gestantes são classificadas em relação ao peso como:
17
Normal (entre p10 e p90), Baixo peso = abaixo do p10 e Sobrepeso/obesidade
= acima do percentil 90.21 O gráfico padrão está apresentado no anexo 3.
INSTRUMENTO PARA COLETA DE DADOS
Foi elaborado um formulário contendo questões fechadas. A gestante quando
solicitada para participar do estudo e esclarecida quanto ao seu objetivo decidia sua
aceitação em atender ao protocolo da pesquisa, assinando o Termo de Consentimento
Livre e Esclarecido (TCLE) (Apêndice 2). As gestantes foram submetidas a aferição
de medidas antropométricas, como peso e altura, realizadas por dois pesquisadores de
campo. As medidas finais de peso e altura resultaram da média das medidas de cada
um dos examinadores. As técnicas de pesagem e medição foram realizadas de acordo
com as recomendações do SISVAN,48 descritas adiante. Foi utilizada uma balança
eletrônica digital da marca Filizola, PL 150, do tipo plataforma, com uma variação de
100g. As gestantes estudadas usavam um mínimo de peças de vestuários e eram
avaliadas sempre sem sapatos. Foram seguidos os seguintes procedimentos:
Determinação de peso:
1. Ligar e esperar zerar a balança antes de ser utilizada, certificando-se de que está
bem apoiada em superfície plana, lisa, firme e afastada da parede;
2. Posição de costas para a balança, apoiando-se na plataforma do centro do
equipamento, descalça, com mínimo de roupa possível, ereta, com os pés juntos
e os braços estendidos ao longo do corpo;
3. Manter a gestante imóvel nesta posição;
18
4. Realizar a leitura após o valor fixado no visor;
5. Anotar o peso;
6. Retirar a gestante da balança;
7. Verificar se a escala de leitura do peso retornou ao ponto zero;
8. Repetir a operação com o segundo examinador e anortar o peso.
Determinação de altura:
1. Posicionar a gestante descalça no centro do equipamento (a mesma balança
utilizada para o peso) com a cabeça livre de adereços, devendo estar de pé, ereta,
com os braços estendidos ao longo do corpo mantendo a cabeça erguida olhando
para um ponto fixo na altura dos olhos posicionados no plano de Frankfurt (linha
reta imaginária que passa pelo limite inferior da órbita – cavidade ocular e pela
margem superior do meato auditivo externo);
2. Os calcanhares, os ombros e as nádegas devem estar em contato com o
antropômetro/aparelho;
3. As saliências internas dos calcanhares devem se tocar, bem como a parte interna de
ambos os joelhos. Os pés devem estar unidos formando um ângulo reto com as
pernas;
4. Posicionar a haste do equipamento fixando-a acima da cabeça com pressão
suficiente para comprimir o cabelo, formando um angulo de 90o. Retirar a gestante
quando o profissional tiver certeza que a mesma não se moveu;
5. Fazer a leitura da estatura sem soltar a parte móvel do equipamento;
6. Anotar o valor encontrado no formulário;
7. Repetir a operação com o segundo examinador e anotar a altura.
19
REFERENCIAIS PARA COMPARAÇÃO DOS RESULTADOS .
Nos dois quadros que se seguem, acham-se apresentados os valores referenciais para as
populações de mulheres no período reprodutivo, não gestantes, do Nordeste e do Brasil.49 As
respectivas estimativas foram construídas para fins comparativos com os resultados referentes
a avaliação antropométrica das gestantes estudadas no CAM-IMIP.
Qradro 1:
Valores esperados para população de não gestantes do
Nordeste (2005)
Categoria do estado
nutricional n %
Baixo peso 1.152 7,4
Peso normal 8.046 51,7
Sobrepeso 4.496 28,9
Obesidade 1.882 12,0
Total 15.576 100,0
Fonte: SISVAN, 2005
Qradro 2:
Valores esperados para população de não gestantes do
Brasil (2005)
Categoria do estado
nutricional n %
Baixo peso 2.223 6,7
Peso normal 16.242 49,0
Sobrepeso 9.592 28,9
Obesidade 5.126 15,4
Total 33.183 100,0
Fonte: SISVAN, 2005
40,9
44,3
20
4.9 PROCESSAMENTO E ANÁLISE DOS DADOS:
Foi elaborado um banco de dados com dupla entrada no software EPI-INFO
versão 6.04, a partir dos dados coletados nos formulários específicos. Estes dados
foram comparados e corrigidas as eventuais diferenças. O banco de dados definitivo
foi então submetido a testes de consistência, obtendo-se a listagem das variáveis de
análise e corrigindo as inconsistências a partir das informações contidas nos
formulários.
A análise dos dados foi efetuada utilizando-se o programa EPI-INFO 6.04.
Inicialmente obteve-se as distribuições de frequência das váriaveis utilizadas para
caracterizar a amostra. As gestantes foram classificadas de acordo com o estado
nutricional por diferentes métodos de avaliação (Rosso, Atalah e a Curva do CLAP)
durante o segundo ou terceiro trimestres gestacionais e então efetuadas as
distribuições das freqüências. As diferenças de estado nutricional relacionadas com a
idade gestacional foram analisadas pelo teste de χ2, adotando-se o nível de
significância de 5%. A concordância entre os três métodos de avaliação foi
estatisticamente avaliada pelo Índice Kappa.
Índice Kappa (k) Kappa Concordância <0,00 Ruim
0,00 – 0,20 Fraca 0,21 – 0,40 Sofrível 0,41 – 0,60 Regular 0,61 – 0,80 Boa 0,81 – 0,99 Ótima
1,00 Perfeita Fonte: OPAS, FNS, 1997 50
21
4.10 ASPECTOS ÉTICOS
Este estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética e Pesquisa em Seres Humanos do IMIP
registrado no CEP sob o número 726 em 02 de fevereiro de 2006. (Apêndice 1).
22
5. RESULTADOS 5.1-CARACTÉRISTICAS SÓCIO-DEMOGRÁFICAS DA AMOSTRA
Em relação à idade, 50,7% das gestantes encontravam-se no intervalo entre 18 e 24
anos, enquanto que a faixa etária subsequente (25 aos 34 anos) representou 42,4%. No que se
refere à paridade das mulheres, foi observado que 54,7% encontravam-se no curso da
primeira gestação (Paridade = 0). A quase totalidade das gestantes era procedente de cidades
referentes à Região Metropolitana do Recife (92,8%) das quais 41,7% residiam na cidade do
Recife. Observou-se que a grande maioria das gestantes vivia com companheiro, refletindo
um percentual de 85,5%. Quanto à ocupação das gestantes, encontrou-se que 64,3% não
exerciam nenhuma atividade remunerada. Apenas 3,4% tinham menos de quatro anos de
estudo, enquanto a escolaridade com mais de 11 anos de estudo nesta população representou
49,8% (Tabela 1).
23
Tabela 1. Características sociodemográficas das gestantes. IMIP-Recife, janeiro-junho/2006.
Característica
n(992)
%
% Acumulada
Idade (anos)
18 – 24 503 50,7 50,7 25 – 34 421 42,4 93,1 35 – 42 68 6,9 100,0 Paridade 0 543 54,7 54,7 1 280 28,2 82,9 2 111 11,2 94,1 ≥3 58 5,9 100,0 Procedência Recife 414 41,7 41,7 RMR* 507 51,1 92,8 Interior do Estado 71 7,2 100,0 Situação marital Com companheiro 848 85,5 85,5 Sem companheiro 144 14,5 100,0 Ocupação Remunerada 354 35,7 35,7 Não remunerada 638 64,3 100,0 Escolaridade (anos de estudo) 0-3 34 3,4 3,4 4-7 210 21,1 24,5 8-10 254 25,7 50,2 11 ou mais 494 49,8 100,0 *RMR = Demais cidades que compõem a Região Metropolitana do Recife
24
5.2 - ESTADO NUTRICIONAL SEGUNDO CADA MÉTODO
Conforme se observa na Tabela 2, na classificação do estado nutricional das gestantes
avaliado pelo Normograma de Rosso predominou o baixo peso, (39,5%) seguido de peso
normal, com uma frequência de 33,1% no segundo trimestre de gravidez e 30,0% no terceiro
trimestre. A condição do sobrepeso/obesidade apresentou o menor percentual de ocorrências
(28,7%). No entanto, não houve diferença estatisticamente significativa quando se
considerou, comparativamente, os trimestres de gestação. (p = 0,422).
Tabela 2. Distribuição das gestantes de acordo com o estado nutricional segundo o
Normograma de Rosso por trimestre de gestação. IMIP-Recife, Janeiro-Junho/2006.
Como se descreve na tabela 3, os resultados da classificação antropométrica das
gestantes pelo método de Atalah não variaram em função da idade gestacional (2° e 3°
trimestre). Os percentuais mais elevados de ocorrência (normalidade) praticamente se
equivalem nos dados de cada período estudado, o mesmo ocorrendo com as categorias de
frequência baixa (baixo peso), respectivamente 20,7% e 19,4%, no 2° e 3° trimestres. As
Trimestre Estado nutricional
(Rosso) 2º 3º Total
χ2
P
N % n % n %
Baixo peso 208 39,5 184 39,6 392 39,5
Peso normal 174 33,1 139 30,0 315 31,8
Sobrepeso/obesidade 144 27,4 141 30,4 285 28,7
Total
528 100,0 464 100,0 992
100,0
1,73
0,422
25
maiores diferenças foram encontradas na condição sobrepeso/obesidade, entre o 2° trimestre
(32,0%) e o 3° trimestre (37,5%). No entanto, as diferenças não foram estatisticamente
significativas.
Tabela 3. Distribuição das gestantes de acordo com o estado nutricional através do método de
Atalah por trimestre de gestação. IMIP-Recife, Janeiro-Junho/2006.
Observa-se na Tabela 4, onde foi utilizada a Curva do CLAP para avaliar o estado
nutricional das gestantes, que o peso normal também representou a principal categoria da
amostra em termos de frequência (46,8%), seguido do sobrepeso/obesidade (35,2%),
enquanto que o baixo peso foi a categoria de menor percentual (18,0%). As diferenças mais
evidentes foram obtidas na comparação de sobrepeso/obesidade no 2° trimestre (31,8%) em
relação aos resultados do 3° trimestre (39,0%) e provavelmente foi a categoria que mais
influiu na diferença estatística encontrada. (p = 0,024).
Trimestre Estado nutricional
Atalah 2º 3º Total
χ2
p
N % n % n %
Baixo peso 109 20,7 90 19,4 199 20,0
Peso normal 250 47,3 200 43,1 450 45,4
Sobrepeso/obesidade 169 32,0 174 37,5 343 34,6
Total 528 100,0 464 100,0 992 100,0 3,33 0,343
26
Tabela 4. Distribuição das gestantes de acordo com o estado nutricional através do método da
Curva do CLAP por trimestre de gestação. IMIP-Recife, Janeiro-Junho/2006.
O Gráfico 1, construido com resultados apresentados nas tabelas 2, 3 e 4, permite
visualizar tanto em relação ao segundo quando ao terceiro trimestre, as semelhanças de
resultados entre os métodos de Atalah e Curva do CLAP, na classificação de baixo peso
(desnutrição), bem como as condições de peso normal (eutrofia) e o sobrepeso/obesidade.
Simultaneamente, observa-se uma discrepância de dados em relação ao Normograma de
Rosso, praticamente duplicando as prevalências detectadas pelas outras duas classificações no
que se refere ao baixo peso. Embora sem a mesma ordem de valor, também foram observadas
diferenças em relação aos resultados comparativos referentes às condições de peso normal e
de sobrepeso/obesidade.
Trimestre Estado nutricional
Curva do CLAP 2º 3º Total
χ2
p
n % n % n %
Baixo peso 108 20,5 71 15,3 179 18,0
Peso normal 252 47,7 212 45,7 464 46,8
Sobrepeso/obesidade 168 31,8 181 39,0 349 35,2
Total 528 100,0 464 100,0 992 100,0 7,48 0,024
27
FIGURA 1- Prevalências das classificações do estado nutricional de gestantes, segundo os
métodos de Rosso, Atalah e a Curva do CLAP. IMIP-Recife, Janeiro-Junho/2006.
5.3 – CONCORDÂNCIA ENTRE OS TRÊS MÉTODOS
A análise de concordância entre os três foi feita considerando conjuntamente a
situação de todas as gestantes no 2˚ e 3˚ trimestres. Ao se efetuar a comparação dos resultados
obtidos através do Normograma de Rosso com a Curva do CLAP, observou-se uma
concordância regular (k = 0,58; p<0,001). Das 392 gestantes consideradas baixo peso pelo
Normograma de Rosso, apenas 177 também o foram pela Curva do CLAP, enquanto que 215
foram consideradas como peso normal. Por outro lado das 285 classificadas como
sobrepeso/obesidade pelo Normograma de Rosso, 283 foram concordantes e apenas duas
delas foram consideradas como peso normal pela Curva do CLAP. (Tabela 5)
0% 10% 20% 30% 40% 50% 60% 70% 80% 90% 100%
C. do CLAP 3º trimestre
Atalah 3º trimestre
Rosso 3º trimestre
C. do CLAP 2º trimestre
Atalah 2º trimestre
Rosso 2º trimestre
Baixo peso Peso normal Sobrepeso/obesidade
28
Tabela 5. Análise da concordância do estado nutricional das gestantes: (Rosso x Curva do
CLAP). IMIP-Recife, Janeiro-Junho/2006.
Estado Nutricional Curva do CLAP
Rosso Baixo peso Peso normal Sobrepeso/obesidade Total
Baixo peso 177 215 0 392
Peso normal 2 247 66 315
Sobrepeso/obesidade 0 2 283 285
Total 179 464 349 992
Índice Kappa (k)=0,58 p<0,001
A concordância encontrada entre o Normograma de Rosso e o método de Atalah na
avaliação do estado nutricional foi considerada boa (Kappa = 0,63; p<0,001); Das 392
gestantes classificadas como baixo peso pelo Normograma de Rosso, 199 foram concordantes
com a classificação e 193 foram consideradas peso normal. Por sua vez, todas as 285
gestantes consideradas como sobrepeso/obesidade pelo Normograma de Rosso também o
foram pelo método de Atalah. (Tabela 6).
Tabela 6. Análise da Concordância do estado nutricional das gestantes: (Rosso x Atalah).
IMIP-Recife, Janeiro-Junho/2006.
Estado nutricional Atalah
Rosso Baixo peso Peso normal Sobrepeso/obesidade Total
Baixo peso 199 193 0 392
Peso normal 0 257 58 315
Sobrepeso/obesidade 0 0 285 285
Total 199 450 343 992
Índice Kappa =0,63 p<0,001
29
A avaliação do estado nutricional pelos métodos de Atalah e Curva do CLAP foram as
mais concordantes e esta concordância foi considerada ótima (Kappa = 0,85; p<0,001). Das
199 gestantes classificadas como baixo peso pelo método de Atalah, 156 delas encontravam-
se também na condição de baixo peso pela Curva do CLAP. Das 343 gestantes categorizadas
como sobrepeso/obesidade pelo método de Atalah, 331 concordaram quando avaliadas pela
Curva do CLAP. Demonstrou-se ainda que, das 450 gestantes qualificadas como peso normal
pelo método de Atalah, 409 se enquadram na mesma condição, segundo a Curva percentilar.
(Tabela 7).
Tabela 7. Análise da Concordância do estado nutricional das gestantes: (Atalah x Curva do
CLAP). IMIP-Recife, Janeiro-Junho/2006.
Estado Nutricional Curva do CLAP
Atalah Baixo peso Peso normal Sobrepeso/Obesidade Total
Baixo peso 156 43 0 199
Peso normal 23 409 18 450
Sobrepeso/Obesidade 0 12 331 343
Total 179 464 349 992
Índice Kappa =0,85 p<0,001
5.4 – RESULTADOS OBTIDOS X ESPERADOS
A distribuição do estado nutricional, avaliado pelo Normograma de Rosso, Método de
Atalah e Curva do CLAP das gestantes foi significativamente diferente da distribuição do
estado nutricional da população de não gestantes tanto em nível regional (Nordeste) quanto
em nível nacional (Brasil). É o que se demonstra estatisticamente pelo Teste qui−−−−quadrado de
bondade de ajuste, para cada situação, conforme resultados descritos nas tabelas e figuras
abaixo.
30
Na tabela 8 e figura 2 acham-se descritos, os resultados do cruzamento estatístico
entre o estado nutricional das gestantes, segundo o Normograma de Rosso e os valores
esperados de mulheres não gestantes, em idade reprodutiva na Região Nordeste (2005).
Observa-se que as frequências comparativas das classificações em suas diversas categorias
(baixo peso, peso normal, sobrepeso/obesidade) divergem substancialmente, principalmente
em relação a ocorrência de baixo peso (39,5% em contraste com 7,4% encontrada na
população). Observou-se que houve diferença estatisticamente significativa entre os valores
(p<0,001) e, provavelmente a condição que mais contribuiu para a diferença foi a de baixo
peso (χ2 1.382,69).
Tabela 8. Comparação entre a classificação de Rosso e os valores esperados do estado
nutricional de mulheres não gestantes em idade reprodutiva na Região Nordeste-2005.
Valores
observados
Valores esperados para
população de não gestantes
(MS,2005)
Categoria do estado
nutricional
n % n %
Contribuição
para o χ2
Baixo peso 392 39,5 73,4 7,4 1.382,69
Peso normal 315 31,8 512,9 51,7 76,34
Sobrepeso/obesidade 285 28,7 405,7 40,9 35,92
Total 992 100,0 990 100,0
χ2 = 1.494,95; p<0,001
A figura 2 demonstra a comparação do estado nutricional das gestantes avaliadas pelo
Normograma de Rosso com a situação nutricional de mulheres não gestantes em idade
reprodutiva na Região Nordeste no ano de 2005.
31
Figura 2-. Comparação entre a classificação de Rosso e os valores percentuais esperados do
estado nutricional de mulheres não gestantes em idade reprodutiva na Região Nordeste-2005.
Apresenta-se, na tabela e figura seguintes (Tabela 9 e Figura 3), o quadro comparativo
dos resultados obtidos com a classificação do método de Atalah aplicado às gestantes com os
resultados esperados a partir dos valores antropométricos de mulheres do Nordeste não
gestantes em idade reprodutiva (2005). As diferenças extremas foram observadas nas
prevalências de baixo peso gravídico (desnutrição) por Atalah (20,0%) e a situação
correspondente no grupo comparativo de mulheres não grávidas da região Nordeste (7,4%).
Em relação às condições de peso normal (eutrofia) e sobrepeso/obesidade, as diferenças
percentuais de ocorrência foram bem menores. Nesta situação, a diferença estatística
observada deve-se, também provavelmente, à condição de baixo peso, uma vez que do valor
total do qui-quadrado (χ2=232,276), a maior contribuição (214,872) foi observada para esta
condição. (Tabela 9)
Tabela 9. Comparação entre a classificação de Atalah e os valores esperados do estado
nutricional de mulheres não gestantes em idade reprodutiva na Região Nordeste-2005.
Sobrepeso/obesidadePeso normal
Baixo peso
5 0
4 0
3 0
2 0
10
0
E sp er a d o/Região Nordeste Obse rva d o/Rosso
%
32
Valores
observados
Valores esperados para
população de não gestantes
Categoria do estado
nutricional
n % n %
Contribuição
para o χ2
Baixo peso 199 20,0 73,4 7,4 214,872
Peso normal 450 45,4 512,9 51,7 7,706
Sobrepeso/obesidade 343 34,6 405,7 40,9 9,698
Total 992 100,0 990 100,0
χ2 = 232,276; p<0,001
A figura 3 demonstra a comparação do estado nutricional das gestantes avaliadas pelo
método de Atalah com a situação nutricional de mulheres não gestantes em idade reprodutiva
na Região Nordeste no ano de 2005.
Figura 3. Comparação entre a classificação de Atalah e os valores esperados do estado
nutricional de mulheres não gestantes em idade reprodutiva na Região Nordeste-2005.
Sobrepeso/obesidadePeso normal
Baixo peso
5 0
4 0
3 0
2 0
1 0
0
E spe r ado/Região Nordeste Ob se r v ado/|Atalah
%
33
Em relação a Curva do CLAP, observa-se também que os maiores diferenciais de
prevalência entre as gestantes estudadas no IMIP e as mulheres em idade reprodutiva, não
gestantes, tomadas para fins comparativos (Região Nordeste), ocorreram na condição de
baixo peso: respectivamente 18,0% e 7,4%. As diferenças se reduzem na comparação das
prevalências referentes ao peso normal e o conjunto sobrepeso/obesidade, sendo que esta foi a
forma de classificação do estado nutricional que mais se aproxima da situação utilizada para
comparação. (Tabela 10 e Figura 4).
Tabela 10. Comparação entre a classificação da Curva do CLAP e os valores esperados do
estado nutricional de mulheres não gestantes em idade reprodutiva na Região Nordeste-2005.
Valores
observados
Valores esperados para
população de não gestantes
Categoria do estado
nutricional
N % n %
Contribuição
para o χ2
Baixo peso 179 18,0 73,4 7,4 151,886
Peso normal 464 46,8 512,9 51,7 4,656
Sobrepeso/obesidade 349 35,2 405,7 40,9 7,932
Total 992 100,0 990 100,0
χ2 =164,473; p<0,001
A figura 4 demonstra a comparação do estado nutricional das gestantes avaliadas pela
Curva de CLAP com a situação nutricional de mulheres não gestantes em idade reprodutiva
na Região Nordeste, no ano 2005.
34
Figura 4. Comparação entre a classificação da Curva de CLAP e os valores esperados do estado nutricional de mulheres não gestantes em idade reprodutiva na Região Nordeste-2005.
Foram comparados os resultados obtidos pela aplicação do Normograma de Rosso, na
classificação do estado nutricional de gestantes do IMIP com os valores derivados de
mulheres brasileiras adultas, observando-se uma razão de prevalência de quase seis vezes
(39,5% x 6,7%) na categoria de baixo peso. As diferenças percentuais de ocorrências são
estatísticamente significativas nas outras duas condições comparativas (peso normal e
sobrepeso/obesidade) das classificações antropométricas analisadas. No entanto, no resultado
final, o efeito preponderante nas diferenças estatísticas deriva, comprovadamente, da
comparação de prevalências no item baixo peso, tendo em conta as diferenças de resultados e
a contribuição de sua análise para o valor de χ2 (Tabela 11 e Figura 5).
Sobrepeso/obesidade Peso normal
Baixo peso
5 0
4 0
3 0
2 0
1 0
0
E spe r ado/Região Nordeste Ob se r v ado/Curva do CLAP
%
35
Tabela 11. Comparação entre a classificação de Rosso e os valores esperados do estado
nutricional de mulheres não gestantes em idade reprodutiva no Brasil-2005.
Valores
observados
Valores esperados para
população de não gestantes
Categoria do estado
nutricional
N % n %
Contribuição
para o χ2
Baixo peso 392 39,5 66,5 6,7 1594,45
Peso normal 315 31,8 486,0 49,0 60,21
Sobrepeso/obesidade 285 28,7 439,5 44,3 54,29
Total 992 100,0 990 100,0
χ2 = 1708,95; p<0,001
A figura 5 demonstra a comparação do estado nutricional das gestantes avaliadas pelo
Normograma de Rosso com a situação nutricional de mulheres não gestantes em idade
reprodutiva no Brasi,l no ano de 2005.
36
%
Figura 5. Comparação entre a classificação de Rosso e os valores esperados do estado
nutricional de mulheres não gestantes em idade reprodutiva no Brasil-2005.
Observam-se, na tabela 12 e Figura 6, as prevalências encontradas no estado
nutricional de gestantes assistidas no pré-natal do IMIP e a condição correspondente aos
valores encontrados em nível nacional para mulheres adultas não grávidas. Constatou-se que
as diferenças mais acentuadas ocorreram na situação de baixo peso: 20,0% segundo Atalah,
contra 6,7% para a situação do Brasil. Segue-se, em termos de magnitude de diferenças, o
contraste no item sobrepeso/obesidade das duas classificações comparadas. Em consonância
com estes resultados derivaram, principalmente, componentes diferenciais de ocorrências de
baixo peso entre o método de Atalah e os resultados do IMC referentes à mesma condição
nutricional em mulheres brasileiras não gestantes, em idade reprodutiva.
Sobrepeso/obesidadePeso normal Baixo peso
5 0
4 0
3 0
2 0
1 0
0
E spe r ado/Brasil Ob se r v ado/Rosso
37
Tabela 12. Comparação entre a classificação de Atalah e os valores esperados do estado
nutricional de mulheres não gestantes em idade reprodutiva no Brasil-2005.
Valores
observados
Valores esperados para
população de não gestantes
Categoria do estado
nutricional n % n %
Contribuição
para o χ2
Baixo peso 199 20,0 66,5 6,7 264,290
Peso normal 450 45,4 486,0 49,0 2,678
Sobrepeso/obesidade 343 34,6 439,5 44,3 21,171
Total 992 100,0 990 100,0
χ2 = 288,139; p<0,001
A figura 6 demonstra a comparação do estado nutricional das gestantes avaliadas pelo
método de Atalah com a situação nutricional de mulheres não gestantes em idade reprodutiva
no Brasil no ano 2005, visualizando-se as grandes diferenças percentuais referentes à
condição de baixo peso.
38
Figura 6. Comparação entre a classificação de Atalah e os valores esperados do estado
nutricional de mulheres não gestantes em idade reprodutiva no Brasil-2005.
Finalmente, foram comparados os resultados obtidos com a utilização da Curva do
CLAP com os valores conhecidos sobre a condição antropométrica de mulheres não gestantes
do país (Brasil, 2005). Verificou-se que as maiores diferenças foram obtidas nas condições de
baixo peso, com uma frequência quase três vezes maior (18,0% versus 6,7%). Já os resultados
referentes ao peso normal apresentaram os menores diferenciais, entre as três categorias
comparadas. Para o conjunto das análises estatísticas, o contraste de prevalências refentes ao
baixo peso representaram a maior parcela de contribuição para o valor final do qui-quadrado
(Tabela 13 e Figura 7).
Sobrepeso/obesidadePeso normal
Baixo peso
5 0
4 0
3 0
2 0
1 0
0
E spe r ado/Brasil Ob se r v ado/Atalah
%
39
Tabela 13. Comparação entre a classificação da Curva do CLAP e os valores esperados do
estado nutricional de mulheres não gestantes em idade reprodutiva no Brasil-2005.
Valores
observados
Valores esperados para
população de não gestantes
Categoria do estado
nutricional
n % n %
Contribuição
para o χ2
Baixo peso 179 18,0 66,5 6,7 190,545
Peso normal 464 46,8 486,0 49,0 1,003
Sobrepeso/obesidade 349 35,2 439,5 44,3 18,619
Total 992 100,0 990 100,0
χ2 = 210,167; p<0,001
A figura 7 demonstra a comparação do estado nutricional das gestantes avaliadas pela
Curva do CLAP com a situação nutricional de mulheres não gestantes em idade reprodutiva
no Brasil no ano de 2005.
Figura 7. Comparação entre a classificação da Curva do CLAP e os valores esperados do
estado nutricional de mulheres não gestantes em idade reprodutiva no Brasil-2005.
Sobrepeso/obesidadePeso normal
Baixo peso
5 0
4 0
3 0
2 0
1 0
0
E spe r a do/Brasil Ob se r v a do/C. Do CLAP
%
40
6. DISCUSSÃO
Antes de discutir os resultados aqui avaliados, parece pertinente estabelecer alguns
pressupostos que consolidam uma base de referências teóricas, operacionais e
epidemiológicas possibilitando situar critérios e perspectivas de busca de métodos
apropriados para a avaliação antropométrica das gestantes.
Sob aspecto teórico, existe consenso sobre alguns pontos que, necessariamente, devem
ser contemplados: o rítmo de aumento de peso gravídico nos diferentes estágios evolutivos da
gravidez, os componentes teciduais e humorais do aumento ponderal, os valores de estatura e
de peso próprios para a morfologia corporal de cada indivíduo, a situação prévia à instalação
da gravidez e, finalmente, o desfecho desejado do processo gestacional em relação à mãe e ao
concepto.51 A este conjunto basal podem ser agregadas eventuais situações patológicas que
implicam em considerações diferenciadas.52 De fato, o interesse do presente estudo seria a
aplicação de métodos usuais para as situações mais rotineiras do atendimento pré-natal, desde
que desvios patológicos ou circunstâncias fisiológicas discrepantes devem ser tratados,
evidentemente, dentro de suas especificidades.53,54
Ao lado de um modelo básico, que pode ser estatisticamente descrito e previsto, a
evolução do peso pré gravídico deve diferir a partir da situação inicial da gestante. Em outras
palavras: o ganho de peso teoricamente deve ser maior nos casos em que, previamente à
gestação, existe um déficit na relação peso/altura, ou seja, uma condição prévia de baixo
índice de massa corporal (IMC). Inversamente, pela mesma lógica, o aumento de peso
gravídico deve e pode ser menor nas mulheres que, antes da gestação, apresentam-se em
condições de sobrepeso ou de franca obesidade.41
Reconhece-se que a situação epidemiológica representa um contexto de grande
importância no direcionamento das soluções desejadas. Assim, nos cenários em que
predomina a desnutrição energético protéica (DEP) inclusive em populações adultas, a
41
classificação antropométrica da gestante passa a ser objetivada em procedimentos tipo
screening das carências orgânicas.55,56 Isto fez com que, durante os últimos 30 anos, os
métodos de avaliação antropométrica da gestação fossem um tanto direcionados pelo viés da
desnutrição, no sentido de se aumentar a sensibilidade dos métodos, objetivando a detecção
de todos ou quase todos os casos de risco nutricional.57 Em conseqüência, perde-se em
especificidade, resultando na superestimação de casos positivos de DEP pela incorporação
enviesada de casos negativos e, portanto, de falsos positivos.8 Dentro da mesma lógica, se
exagera o interesse pela predição dos casos de baixo peso ao nascer (RN com menos de
2.500g) e, particularmente, de casos de restrição do crescimento intra-uterino (RCIU),
assumidos como resultados da desnutrição materna.51,58,59
Estes pressupostos justificam o fato de que os métodos de avaliação aqui utilizados: A
classificação de Rosso e cols (1985), a de Atalah (1997) e a Curva do CLAP (na realidade, a
própria proposta de Fescina (1983) resultassem na detecção de elevadas prevalências de baixo
peso (ou desnutrição). O possível viés destes métodos, sobretudo a avaliação feita pelo
Normograma de Rosso, pode ser demonstrado pela prevalência de 39,5% de baixo peso nas
gestantes deste estudo. Prevalências semelhantes foram encontradas numa clientela de 46.692
gestantes no estado de Pernambuco (32,0%) no ano de 2000,31 de 25,7% na cidade de
Viçosa12 e de 56,0% no Rio de Janeiro.11
Apesar de prevalências de baixo peso materno terem sido menores quando avaliadas
pelo método de Atalah (20%) e pela Curva do CLAP (18%), estes resultados não se
compatibilizam com o quadro epidemiológico da última década entre a população de
mulheres adultas do Nordeste brasileiro, nas quais as prevalências de baixo peso se situa em
torno de 6,0% 60 nem tampouco com os dados referidos pelo MS/SISVAN 2005, que foi
utilizado para compararação dos dados deste estudo: 7,4% para o Nordeste e 6,7% para o
Brasil. Embora as comparações estejam sendo feitas com mulheres não gestantes, há, sem
42
dúvida, um grande viés produzido pelos métodos de avaliação antropométrica durante a
gestação. Por que uma população de mulheres não gestante com prevalência de desnutrição
(IMC menor que 18,5 ou 20) tão baixa (menor que 8%) teria uma prevalência no mínimo,
duas ou três vezes maior quando estas mesmas mulheres se tornam gestantes? Estas
diferenças persistem mesmo quando se compara os valores encontrados em inqueritos
populacionais realizados no Brasil entre 1974 e 1997, nais quais a prevalência de desnutrição
se situou em torno de 15%, distribuída de forma semelhante entre os dois sexos e atingindo
principalmente a população idosa segundo análise de Acuña e Cruz (2004).1
Por outro lado, à medida que o problema da desnutrição em mulheres adultas em idade
reprodutiva declinou substancialmente nos últimos anos, um outro cenário epidemiológico
passa a aparecer: a prevalência epidêmica ou mesmo pandêmica, do sobrepeso/obesidade, no
Brasil e no mundo.1,6,33 Neste caso, porém, ocorreu o inverso no presente estudo. As
prevalências encontradas foram subestimadas em relação aos parâmetros utilizados para
comparação (mulheres não gestantes do Nordeste e do Brasil). Embora com discrepâncias
bem menores do que quando se comparou o baixo peso, a avaliação pelo Normograma de
Rosso foi a que mais subestimou esta prevalência ou seja, a que mais se distanciou das
prevalências esperadas para sobrepeso/obersidade, encontrando 27,4% quando as gestantes
foram avaliadas no segundo trimestre e 30,4% no terceiro trimestre de gestação. Para a
situação de sobrepeso/obesidade esperava-se encontrar acima de 40% tanto para o Nordeste
quanto para o Brasil.
Por conseguinte, os métodos de classificação ponderal da gestante, além de
discriminar as situações carenciais, deveriam valer como screening de riscos de natureza
oposta, como o sobrepeso e a obesidade, como realidades do dia a dia da nova situação de
saúde no Nordeste, no país e em grande parte do mundo. Ou seja, os métodos de classificação
43
deveriam ser adequados para detectar as distribuições bi-caudais do peso gravídico: os casos
de déficit e os casos de excessos ponderais.14,15,16,17
Estes elementos preliminares ajudam a compreender os resultados das análises aqui
efetuadas, e, por conseguinte, as limitações que os métodos de classificação do estado
nutricional das gestantes, aqui analisadas comparativamente, podem apresentar.
De antemão, deve-se dizer que a caracterização da amostra, com 92,8% dos casos
provenientes do Recife ou das demais cidades que compõem a Região Metropolitana do
Recife, representa, com boa aproximação, o perfil demográfico deste espaço relatado por
Batista Filho e Romani (2002)61 na segunda avaliação das condições de saúde materno-
infantil do estado de Pernambuco. Em relação à ocupação, observou-se uma eventual
diferença, desde que 61% das mulheres eram empregadas, ao contrário do encontrado no
presente estudo (64,3% sem remuneração). Deste modo, apesar da maior parte das mulheres
não exercerem uma atividade remunerada, salienta-se que que tinham baixa paridade (82,9%
com no máximo 1 filho), escolaridade alta (49,8% com 11 ou mais anos de estudo) uma
situação marital estável (com companheiro), colocando-as numa situação socioeconômica
semelhante a das mulheres com ocupação. Durante a gestação muitas vezes as mulheres
maritalmente estáveis tenderiam a parar de trabalhar mais por questões culturais, já que a
situação de trabalho, muitas vezes não é estável e os salários poderiam não justificar a
manutenção do mesmo. Um estudo sobre saúde perinatal feito em Ribeirão Preto-SP na
década de 90, descreveu que apenas cerca de 20% das gestantes tinham emprego considerado
bem qualificado (nível superior ou médio), sendo que 43,7% tinham escolaridade considerada
média e/ou alta.62 Haidar e cols (2001)63 também encontraram associação entre escolaridade
alta e baixa paridade entre mulheres de serviços de saúde na Região de Guaratinguetá –SP.
Mesmo considerando as diferenças regionais e temporais, a situação sócio-demográfica das
mulheres gestantes parecem não ter se modificado.
44
Deve-se observar o fato de que, deliberamente foram excluídas da amostra as
gestantes com menos de 18 anos de idade. A faixa etária de 18 a 24 anos (faixa considerada
de jovens de acordo com o IBGE) representou 50,7% da amostra avaliada e foi compatível
com a faixa etária encontrada na avaliação da atenção à saúde da criança e da gestante em
serviços municipais de saúde em Recife em 2001, o que representou 63,3% de todo o
contingente de mulheres grávidas que demandam os serviços de pré-natal com idade até 24
anos.64 Esta freqüência de mulheres jovens parece alta quando comparada aos percentuais
encontrados na maioria dos estudos com gestantes que gira em torno de 25 a 30%.62,65
Ao avaliar a situação nutricional das gestantes pelos três diferentes métodos,
observou-se que apesar de se ter diferentes prevalências entre as categorias de estado
nutricional, na avaliação de Rosso e Atalah estas freqüências parecem ter distribuição mais
uniforme, sem diferenças estatísticas entre as ocorrências verificadas. Considerando todas as
categorias de estado nutricional, apenas em relação à Curva do CLAP as diferenças foram
estatisticamente significativas (p = 0,024). Ademais, os valores encontrados não estariam de
acordo com a lógica esperada, de que a maioria das mulheres fossem eutróficas (peso
normal), como se observa na população de mulheres não gestantes que foi utilizada para fins
comparativos (51,7% para o Nordeste e 49% para o Brasil).
No que se refere à prevalência da desnutrição, assumida como “proxi” de baixo peso
gestacional, demonstra-se, nas três classificações, uma freqüência bastante elevada: 39,5% e
39,6% para o segundo e terceiro trimestre de gestação pelo Normograma de Rosso; 20,7% e
19,4% para o segundo e terceiro trimestre pelo método de Atalah; e 20,5% e 15,3% pela
Curva do CLAP. Particularmente discrepantes em seus resultados, as prevalências obtidas
com as duas últimas classificações apresentam freqüências bem próximas entre si, nos casos
de baixo peso, correspondendo praticamente à metade da freqüência da primeira
classificação. Estes resultados conduzem a três reflexões mais imediatas: 1) a diferença
45
considerável da ocorrência de desnutrição segundo Rosso em comparação com as outras duas
classificações; 2) a boa comparabilidade dos métodos de Atalah e Curva do CLAP, isto se
reproduz na comparação dos resultados individuais pelo índice Kappa (k=0,85), considerado
ótimo, entre estes dois métodos de avaliação; 3) e a terceira e mais importante reflexão é que
as prevalências de desnutrição na gestação, seja qual for o modelo utilizado, diferem muito do
quadro existente em população de mulheres adultas não gestantes, tanto no Nordeste (7,4%),
quanto no Brasil (6,7%). Efetivamente a expectativa mais atual seria de uma prevalência de
desnutrição entre 5 a 7% de baixo peso em mulheres adultas4,33 e, consequentemente, em
gestantes acima de 20 anos, equivalendo já aos resultados dos países desenvolvidos.30 Um
estudo realizado por Silva em 2004,59 comparando o estado antropométrico de gestantes
segundo três métodos de avaliação de estado nutricional em gestantes, encontrou resultados
bastante próximos ao atual estudo: 34% de desnutrição (baixo peso) por Rosso, 17% por
Atalah e 12,8% por Fescina. A comparação é pertinente, embora os objetivos dos dois estudos
não sejam os mesmos, uma vez que Silva (2004)59 considerou as validações internas,
comparando a classificação nutricional obtida com os diferentes métodos entre si, enquanto o
objetivo do presente estudo consiste, em sobretudo na validação externa, comparando-os com
uma população de mulheres não grávidas.
Na realidade, os valores superestimados de baixo peso gestacional resultam da ótica
conceitual e sua representação operacional na definição dos padrões de classificação
utilizados, tendo em vista o interesse deliberado de aumentar intencionalmente a sensibilidade
do screening na detecção dos casos de desnutrição. Assim, Rosso (1985)10 usa os percentis
95% e 120% para demarcar a linha de discriminação de casos de desnutrição,
respectivamente, no início e no fim da gravidez. Há de se considerar que estes pontos de corte
são exageradamente elevados, induzindo a uma incorporação de muitos casos de eutrofia
como casos de desnutrição. De forma mais incisiva: a maioria absoluta das gestantes
46
desnutridas por esta classificação seria, de fato, normal, sob o ponto de vista de suas relações
somatométricas, isto é, o ajustamento de suas medidas de peso e altura.
Embora de forma menos grosseira, a classificação de Atalah incorre em distorções
marcantes da situação nutricional das gestantes, seja em escala epidemiológica ou clínica. O
metodo de avaliação proposto por Atalah et al (1997)46 baseado no IMC ajustado para idade
gestacional, parte do princípio que as mulheres em geral deveriam aumentar cerca de 20% do
peso inicial durante a gravidez, classificando desta forma as gestantes em quatro categorias:
desnutridas, normal, sobrepeso e obesidade. É evidente que considerar um aumento padrão
para todas as categorias de peso pré-gestacional pode levar a subestimação dos casos de
obesidade, uma vez que o esperado é que as mulheres desnutridas tenham mais espaço para
ganhar peso do que as que já ingressam na gestação com sobrepeso.
Na realidade, os resultados são indicativos de que os erros de classificação de casos de
desnutrição seriam, pelo menos, duas vezes maiores pelo método de Rosso em relação aos
outros dois, que por sua vez, também resultam, na superestimação de casos positivos para
baixo peso, quando confrontados com a prevalência teórica de 5%, que seria a esperada por
uma estimativa probabilística de normalidade numa população padrão ao se, adotar o
percentil 5 como ponto de corte discriminante. Em relação à situação regional e nacional, a
razão da prevalência seria mais de duas a quase seis vezes maior que os valores descritos para
as duas populações de mulheres não grávidas tomadas como referência do baixo peso.
No extremo oposto, no que se refere à classificação de sobrepeso/obesidade, os
resultados obtidos com as três classificações são bem mais comparáveis entre si e bem mais
aceitáveis, em termos de concordância com as expectativas decorrentes de uma analogia com
a situação do Nordeste ou com a situação do Brasil aqui comparadas (SISVAN,2005)49. Nas
duas situações (Regional e Nacional) as prevalências de sobrepeso/obesidade detectadas em
amostras representativas de populações adultas se situavam entre 40% a 45,0%. São,
47
portanto, valores mais aproximados das frequências de sobrepeso/obesidade encontrada pelo
método de Atalah (34,5%) e Curva do CLAP (35,2%). Por outro lado, a avaliação por Rosso
resultou numa maior subestimação em relação aos valores esperados para
sobrepeso/obesidade, em nível regional e nacional.
Mais uma vez, a classificação de Rosso produziu os resultados mais discrepantes:
27,4% e 30,4% para o 2° e 3° trimestres por ordem de referência, afastando-se, portanto das
frequências esperadas em função do quadro epidemiológico considerado para validação
externa dos resultados referentes ao Nordeste e ao Brasil. (SISVAN, 2005)49.
Nas três classificações, a prevalência de sobrepeso/obesidade aumentou no 3°
trimestre de gestação quando comparado com o 2° trimestre. Esta tendência seria compatível
com a observação documentada por outros autores57,66,67,68 representando o efeito que se
incorpora à chamada retenção do peso gravídico, ou seja, o aumento progressivo da massa
adiposa com a evolução do processo gestacional e sua permanência parcial no pós-natal.69
A observação destes resultados levaria à conclusão de que os três métodos de
classificação tendem a subestimar a ocorrência de sobrepeso/obesidade e que este viés
intrínseco aos métodos seria mais pronunciado na curva de Rosso, embora essas
considerações representem um aspecto ainda preliminar nas contribuições dos estudos
científicos sobre os problemas metodológicos, operacionais e clínicos da avaliação do estado
nutricional. Esta abordagem, estabelece uma perspectiva relevante e oportuna face ao
crescimento epidêmico do sobrepeso/obesidade e suas possíveis conseqüências obstétricas
adversas.5, 42 Face ao processo rápido de transição epidemiológica, amplia-se a agenda de
interesse da classificação e manejo do estado nutricional na gravidez, antes direcionada para a
prioridade da desnutrição. Isto vem reforçar ainda mais a idéia de que os métodos de
avaliações atuais que têm seus focos direcionados para o diagnóstico de desnutrição,
superestimando esta condição, se afastam, de certo modo, da situação provavelmente mais
48
realista, ou seja, na eventualidade da condição nutricional da mulher na gestação viesse a se
alterar, seria bem mais aceitável que fosse no sentido de ganho excessivo de peso e não de
risco de perda de massa corporal.67,69,70
No estudo conjunto das três classificações, considerando as três alternativas de
resultados de cada método classificatório, o que resulta numa matriz de nove diferentes
combinações, a condição de máxima concordância dos três métodos ocorreu na situação de
sobrepeso/obesidade e a seguir na de eutrofia.
A combinação de maior frequência, isoladamente, foi registrada na alternativa do
estado nutricional “adequado” entre a classificação de Atalah e a Curva do CLAP: 409
ocorrências em 992 observações. Estes também foram os dois métodos que mais concordaram
entre si, obtendo-se uma concordância considerada ótima (k=0,85) considerando todas as
categorias. As comparações entre todas as categorias pelos outros métodos resultaram em
obtiveram concordâncias menores: Rosso e Atalah com índice Kappa (k=0,63), com boa
concordância; e Rosso e Curva do CLAP, cuja concordância (índice Kappa) foi considerada
regular (k= 0,58). Desta forma, fica caracterizada a situação de discrepância das diversas
classificações entre si.
Tendo em vista estes desencontros de resultados nas análises comparativas, sobressai
a observação de que o melhor plano para avaliação crítica dos métodos estudados refere-se à
sua validade externa, que seria configurada em duas instâncias: no plano teórico-conceitual e,
particularmente, no aspecto de comparação com a própria realidade epidemiológica. No plano
teórico-conceitual, o fato de adotar como fundamento o índice de massa corporal (IMC)
representa um excelente ponto de partida. Isto porque o IMC, também chamado “índice de
Quetelét” agora aplicado ás gestantes, é considerado o melhor indicador de massa corporal no
adulto, embora os pontos de corte para discriminar situações nutricionais (baixo peso, peso
normal, sobrepeso e obesidade) sejam ainda recentes.1 Por outro lado, o IMC de populações
49
adultas tem sido validado contra diferentes desfechos, em termos de morbidade e
mortalidade.37,40 Conhece-se, assim, as situações de risco que podem ser deduzidas a partir de
seus valores extremos, bem como os resultados benéficos ou protetores na condição definida
como normalidade.
Sob o aspecto epidemiológico, os três métodos supervalorizam um problema
praticamente sob controle, pela própria evolução do processo econômico-social (a
desnutrição) e, ao mesmo tempo, subestimam um problema emergente e epidêmico: o
sobrepeso/obesidade. Embora se saiba que um dos objetivos gerais de uma classificação
diagnóstica deve ser sua acurácia em discriminar casos ou situações de risco que, portanto,
devem indicar a necessidade de intervenções preventivas ou curativas, (no caso em apreço, a
desnutrição e o sobrepeso/obesidade), está bem evidenciado que as três classificações
analisadas resultam em sérias limitações no que se refere ao cumprimento destes propósitos.
Questiona-se então, qual dos métodos comparados poderia ser o mais indicado para
uso no atendimento rotineiro do pré-natal. É possível que a discussão sobre este
questionamento deva ser desdobrada em vários direcionamentos.
Parece evidente que, ainda que a classificação resultante da aplicação da Curva do
CLAP tenda a diminuir as diferenças em relação à ocorrência de desnutrição nas gestantes
estudadas, em função dos valores esperados para a região e para o país, as discrepâncias
observadas não permitiriam dizer que esta representaria a melhor classificação, embora seja a
que mais se aproxima da situação encontrada para a população de mulheres não gestantes
utilizada aqui para fins comparativos.
Na realidade o que fica bem evidenciada seria a necessidade de redefinir os conceitos
e os referenciais práticos de classificação do estado nutricional. Coelho e cols. (2002),8
propõem-se uma nova curva chamada, provisoriamente, de “Atalah 2”, baseada num valor
limítrofe do IMC correspondente a 18,5, recomendado por comitês de especialistas em
50
antropometria nutricional para discriminar a separação entre mulheres adultas desnutridas e
eutróficas, uma vez que ainda não existe um “padrão-ouro” para avaliação do estado
nutricional da gestante. Para encontrar uma alternativa mais prática, Barros (1990)71 estudou
a circunferência braquial da gestante como um possível indicador indireto da relação
peso/altura, recorrendo à própria classificação de Rosso como referência comparativa. No
entanto, as próprias limitações da classificação de Rosso, aqui evidenciadas, indicam que não
se pode cogitar deste método como padrão ouro. Pelo contrário, parece representar a
referência que mais se distância dos valores esperados para uma população de mulheres
adultas e não gestantes.
Já em relação à questão do sobrepeso/obesidade que, em termos de tendências
epidemiológicas, configura a perspectiva mais adversa de evolução do quadro nutricional do
país, a classificação da Curva do CLAP seria a menos incompatível com a situação
nutricional de mulheres adultas do Nordeste em idade reprodutiva (SISVAN, 2005)49.
Entretanto, o mesmo não ocorre quando o exercício de validação é considerado em relação à
população de mulheres adultas do país, em que o Normograma de Rosso resulta em valores
bem mais aproximados. De qualquer maneira prevalece a observação final de que as três
classificações seriam incomparavelmente mais adequadas para detectar as situações de
sobrepeso/obesidade do que para discriminar a condição de baixo peso gravídico.
Tendo em conta que os dados empíricos aqui avaliados não incluem o peso de
nascimento das crianças dessas mães, cabe ainda, mesmo que não configurando um objetivo
deste estudo, refletir sobre o objetivo referencial que tem sido procurado como princípio,
meio e fim dos estudos sobre a classificação nutricional de gestantes: o baixo peso ao nascer.
É este o propósito consagrado em quase todos os estudos de validação antropométrica do
estado nutricional de gestantes.72,73,74
51
Uma consideração teórica importante consiste na observação universal de que a
evolução desejada da condição de saúde e do estado nutricional da gestante deve favorecer a
um produto (concepto) com boas condições de crescimento e desenvolvimento fetal. De
forma simplificada, este objetivo poderia ser representado na condição ponderal do recém-
nascido, evitando-se o baixo peso ao nascer, seja por prematuridade ou por restrição do
crescimento intra-uterino (RCIU).75,76,77
Em caráter fundamentalmente complementar e circunstancial, deve-se observar que a
atual ocorrência do problema (baixo peso ao nascer e, sobretudo, o déficit ponderal por
restrição de crescimento intra-uetrino - RCIU), representando entre 7 a 8% dos casos de
recém-nascidos, já não configura uma questão relevante no Brasil nem mesmo nas regiões
mais pobres (Norte e Nordeste), onde a prevalência de baixo peso alcança os valores mais
baixos do país,61,64 sendo compátiveis com a situação de muitos países desenvolvidos.78
Ademais como correlação ecológica, onde o problema de BPN, principalmente por
prematuridade, tem sido recentemente nas regiões mais ricas e, portanto, com menores riscos
de desnutrição materna. Em princípio, portanto, esta situação não justificaria a ênfase
dominante em considerar a desnutrição da gestante como um fator relevante de risco de baixo
peso ao nascer.74
Por outra parte, os estudos da parcialização de efeitos desenvolvidos por Barros
(1990)71 e Coelho e cols. (2002)8 no Recife, não comprovam que o chamado baixo peso
gestacional, discriminado pelas classificações de Rosso e Atalah, possam explicar a
ocorrência de baixo peso ao nascer, desde que abstraídos outros fatores de risco gravídico.
Em outras palavras: ocorrências de 30, 40% e mais de baixo peso gravídico x resultados por
três métodos não tem contribuido, de forma estatísticamente significativa, para a ocorrência
de baixo peso ao nascer, como risco relativo ou como risco atribuível.
52
Enfim, todas estas observações incluem argumentos no sentido de fortalecer as
evidências de que as elevadas prevalências de déficit ponderal da gestante, detectadas pelo
Normograma de Rosso, pelo método de Atalah ou pela Curva do CLAP, não expressam
situações verdadeiras de risco nutricional que possam justificar sua recomendação.
São, portanto, instrumentos que devem ser empregadas em caráter provisório,
enquanto se busca uma solução mais satisfatória para a questão da antropometria nutricional
da gestante.
53
7. CONCLUSÕES
• Sob o ponto de vista sócio-demográfico, as gestantes estudadas eram jovens (50,7%
com até 24 anos de idade), residentes na Região Metropolitana do Recife (92,8%),
tinham companheiro (85,5%), baixa paridade (54,7% sem filhos) e escolaridade alta
(49,8% com 11 ou mais anos de estudo).
• De acordo com o Normograma de Rosso, houve maior prevalência de gestantes com
baixo peso, enquanto que pelos outros dois métodos (Atalah e Curva do CLAP) a
maior prevalência seria de gestantes eutróficas (normais em relação ao peso), tanto no
2o como no 3o trimestre.
• As classificações de Atalah e da Curva do CLAP produzem resultados semelhantes
entre si, no que se refere à detecção dos casos de desnutrição (baixo peso) e
sobrepeso/obesidade, pricipalmente durante o 2o trimestre de gestação. A
concordância entre estes dois métodos foi considerada ótima (k=0,85).
• A avaliação do estado nutriconal pelo Normograma de Rosso é o método que mais
distorce os resultados classificatórios por hiper-estimação dos casos de desnutrição
(baixo peso gravídico) em detrimento dos casos de sobrepeso-obesidade.
• As três classificações estudadas superestimam as prevalências da desnutrição nas
gestantes segundo magnitudes que variam de duas a seis vezes, em função dos
critérios de comparação utilizados.
54
• Embora a Curva do CLAP seja o que menos se afastou dos resultados da população de
mulheres não gestantes, utilizadas como referência, não apresenta os necessários
atributos para ser seguramente recomendado como um instrumento satisfatório de
avaliação do estado nutricional da gestante.
• As classificações estudadas, portanto, têm uma utilidade limitada e duvidosa sob o
ponto de vista clínico e epidemiológico, na avaliação da condição nutricional na
clientela obstétrica.
55
8. RECOMENDAÇÕES
• Os fundamentos conceituais e teóricos que servem de referência aos três métodos de
classificação antropométrica na gravidez devem ser revistos.
• Qualquer dos atuais métodos que estão sendo utilizados no Brasil, com base nas
classificações aqui analisadas, devem ser aplicados e interpretados em caráter
provisório.
• Devem ser desenvolvidos estudos colaborativos multicêntricos, de avaliação do estado
nutricional de gestantes, de modo a encurtar o período de coleta de dados e
diversificar as caractéristicas amostrais obtidas em diferentes contextos e
considerando diferentes desfechos em relação à mãe e ao concepto.
56
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64
APÊNDICES
APÊNDICE 1
Autorização do comitê de ética.
65
APÊNDICE 2
TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO Título: “Avaliação do estado nutricional de gestantes utilizando três diferentes métodos de classificação antropométrica: um estudo transversal” INFORMAÇOES SOBRE A PESQUISA: Esta pesquisa tem o objetivo de avaliar o estado nutricional da mulher durante a gestação. Ainda não existe um método que seja considerado ideal para esta avaliação. Deste modo, esta pesquisa contribuirá para ajudar a estabelecer um método que melhor se aproxime da real situação nutricional das gestantes. CONSENTIMENTO PARA A PARTICIPAÇÃO: Eu__________________________________________________________________________ Registrada no IMIP com o prontuário________________, declaro que fui devidamente esclarecida em relação à pesquisa sobre “Avaliação do estado nutricional de gestantes utilizando três diferentes métodos de classificação antropométrica: um estudo transversal”e estou perfeitamente consciente que: 1. Estou concordando livremente em participar, sem receber qualquer tipo de pressão; 2. Continuarei a ser atendida no IMIP, dispondo de toda a atenção, independentemente da minha participação na pesquisa; 3. Receberei resposta a pergunta ou esclarecimento a quaisquer dúvida relacionada à pesquisa; para isso, estou recendo um folheto informativo sobre alimentaçao saudável e poderei me comunicar em qualquer momento pelos pesquisadores Maria Inês Bezerra de Melo ou Ariani Souza, através do telefone 2122-4113 ou com o comitê de Ética em Pesquisa do IMIP 2122-4702; 4. Vou responder voluntariamente as perguntas que serão feitas pela pesquisadora, durante meu atendimento; 5. Não serei identificada e será mantido o caráter confidencial das informações relacionadas a minha privacidade; 6. Tenho o direito de saber o resultado da pesquisa, se assim o desejar; 7. Poderei abandonar a qualquer momento a pesquisa caso não me sinta satisfeita, sem que isso venha prejudicar o meu atendimento no IMIP. Recife,______de________________de______ ______________________________________ Participante da Pesquisa _______________________________________ Responsável pela entrevista
66
APÊNDICE 3
FORMULÁRIO
AVALIAÇÃO DO ESTADO NUTRICIONAL DE GESTANTES UTILIZANDO TRÊS DIFERENTES MÉTODOS DE CLASSIFICAÇÃO ANTROPOMÉTRICA: UM ESTUDO TRANSVERSAL
DADOS DE IDENTIFICAÇÃO:
Nome:______________________________________________________________
Endereço:___________________________________________________________
Data de Nascimento:__/__/__ N˚ de Prontuário:______________
1. Idade da mulher (checar com a data do nascimento): ______
2. altura________
3. Peso (kg)_______________
4. Idade Gestacional pela DUM ____semanas – (anotar a DUM____________)
5. Idade Gestacional pela USG ____semanas – (corrigida para a data da entrevista)
6. Idade Gestacional estabelecida ________semanas
7. Número de filhos tidos ____
8. Procedência: 1.□ Recife 2.□ RMR* 3.□ Outros
*( Abreu e Lima, Cabo, Camaragibe, Igarassu, Ipojuca, Itamaracá, Itapissuma, Jaboatão,
Moreno, Olinda, Paulista, São Lourenço)
9. Situação Marital: □ com companheiro □ sem companheiro
10. Escolaridade: anos de estudo__________`
11. Ocupação 1.□ Remunerado 1.□ Não Remunerado
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ANEXO 1
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ANEXO 2
CLASSIFICAÇÃO DO ESTADO NUTRICIONAL DE GESTANTES DE ACORDO
COM O IMC AJUSTADO PARA IDADE GESTACIONAL
IDADE GESTACIONAL EM SEMANAS
DESNUTRIDA
NORMAL
SOBREPESO
OBESA
10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29 30 31 32 33 34 35 36 37 38 39 40 41 42
< 20.3 < 20.4 < 20.5 < 20.7 < 20.8 < 20.9 < 21.1 < 21.2 < 21.3 < 21.5 < 21.6 < 21.8 < 21.9 < 22.1 < 22.3 < 22.5 < 22.7 < 22.8 < 23.0 < 23.2 < 23.4 < 23.5 < 23.7 < 23.9 < 24.0 < 24.2 < 24.3 < 24.5 < 24.6 < 24.8 < 25.0 < 25.1 < 25.1
20.3 - 25.2 20.4 - 25.3 20.5 - 25.4 20.7 - 25.6 20.8 - 25.7 20.9 - 25.8 21.1 - 25.9 21.2 - 26.0 21.3 - 26.1 21.5 - 26.2 21.6 - 26.3 21.8 - 26.4 21.9 - 26.6 22.1 - 26.7 22.3 - 26.9 22.5 - 27.1 22.7 - 27.2 22.8 - 27.3 23.0 - 27.5 23.2 - 27.6 23.4 - 27.8 23.5 - 27.9 23.7 - 28.0 23.9 - 28.1 24.0 - 28.3 24.2 - 28.4 24.3 - 28.5 24.5 - 28.7 24.6 - 28.8 24.8 - 28.9 25.0 - 29.1 25.1 - 29.2 25.1 - 29.2
25.3 - 30.2 25.4 - 30.3 25.5 - 30.4 25.7 - 30.4 25.8 - 30.5 25.9 - 30.6 26.0 - 30.7 26.1 - 30.8 26.2 - 30.9 26.3 - 30.9 26.4 - 31.0 26.5 - 31.1 26.7 - 31.2 26.8 - 31.3 27.0 - 31.5 27.2 - 31.7 27.3 - 31.7 27.4 - 31.8 27.6 - 31.9 27.7 - 32.0 27.9 - 32.1 28.0 - 32.2 28.1 - 32.3 28.2 - 32.4 28.4 - 32.5 28.5 - 32.6 28.6 - 32.7 28.8 - 32.8 28.9 - 32.9 29.0 - 33.0 29.2 - 33.1 29.3 - 33.2 29.3 - 33.2
> 30.2 > 30.3 > 30.4 > 30.4 > 30.5 > 30.6 > 30.7 > 30.8 > 30.9 > 30.9 > 31.0 > 31.1 > 31.2 > 31.3 > 31.5 > 31.7 > 31.7 > 31.8 > 31.9 > 32.0 > 32.1 > 32.2 > 32.3 > 32.4 > 32.5 > 32.6 > 32.7 > 32.8 > 32.9 > 33.0 > 33.1 > 33.2 > 33.2
ATALAH et al, 1997
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ANEXO 3
Manual Técnico de Pré-natal, MS, 2000. Disponível em URL: http://bvsms.saude.gov.br/html/pt/pub_assunto/saude_mulher.html
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ANEXO 4
Estado Nutricional em Relação ao CID-Adulto/Relatórios Estatísticos, SISVAN-
2005
Disponível em URL: htpp//sisvan.datasus.gov.br/index.asp