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Instituto de Pesquisas Jardim Botânico do Rio de Janeiro Escola Nacional de Botânica Tropical Germinação de sementes de Pilosocereus arrabidae (Lem.) Byl. & Row (Cactaceae) de Arraial do Cabo, Rio de Janeiro Luiza São Thiago Martins 2007

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Instituto de Pesquisas Jardim Botânico do Rio de JaneiroEscola Nacional de Botânica Tropical

Germinação de sementes de Pilosocereus arrabidae (Lem.)Byl. & Row (Cactaceae) de Arraial do Cabo, Rio de Janeiro

Luiza São Thiago Martins

2007

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Luiza São Thiago Martins

Germinação de sementes de Pilosocereus arrabidae (Lem.) Byl. & Row(Cactaceae) de Arraial do Cabo, Rio de Janeiro

JBRJ/ENBT2007

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Instituto de Pesquisas Jardim Botânico do Rio de JaneiroEscola Nacional de Botânica Tropical

Germinação de sementes de Pilosocereus arrabidae (Lem.)Byl. & Row (Cactaceae) de Arraial do Cabo, Rio de

Janeiro

Luiza São Thiago Martins

Dissertação apresentada ao Programa dePós-Graduação em Botânica, EscolaNacional de Botânica Tropical, doInstituto de Pesquisas Jardim Botânico doRio de Janeiro, como parte dos requisitosnecessários para a obtenção do título deMestre em Botânica.

Orientador: Antônio Carlos Silva deAndrade

Rio de Janeiro2007

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Instituto de Pesquisas Jardim Botânico do Rio de JaneiroEscola Nacional de Botânica Tropical

Germinação de sementes de Pilosocereus arrabidae (Lem.)Byl. & Row (Cactaceae) de Arraial do Cabo, Rio de Janeiro

Luiza São Thiago Martins

Dissertação apresentada ao Programade Pós-Graduação em Botânica,Escola Nacional de Botânica Tropical,do Instituto de Pesquisas JardimBotânico do Rio de Janeiro, comoparte dos requisitos necessários para aobtenção do título de Mestre emBotânica.

Orientador: Antônio CarlosSilva de Andrade

Rio de Janeiro2007

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Germinação de sementes de Pilosocereus arrabidae (Lem.)Byl. & Row (Cactaceae) de Arraial do Cabo, Rio de Janeiro

Luiza São Thiago Martins

Dissertação submetida ao corpo docente da Escola Nacional de BotânicaTropical, Instituto de Pesquisas Jardim Botânico do Rio de Janeiro - JBRJ, comoparte dos requisitos necessários para a obtenção do grau de Mestre.

Aprovada por:

Prof. Dr. Antônio Carlos Silva de Andrade (Orientador) ________________

Prof. Dr. Eduardo Arcoverde de Mattos _________________

Prof. Dra. Sônia Cristina J.G.A. Perez _________________

em 19/04/2007

Rio de Janeiro2007

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Martins, Luiza São Thiago.M386g Germinação de sementes de Pilosocereus arrabidae (Lem.)

Byl. & Row (Cactaceae) de Arraial do Cabo, Rio de Janeiro /

Luiza São Thiago Martins – Rio de Janeiro, 2007.xii, 65 f. : 7 il.

Dissertação (Mestrado) – Instituto de Pesquisas Jardim

Botânico do Rio de Janeiro/Escola Nacional de Botânica

Tropical, 2007.Orientador: Antonio Carlos Silva de Andrade.Bibliografia.

1. Ecofisiologia. 2. Germinação. 3. Semente. 4.

Pilosocereus arrabidae. 5. Cactaceae. 6. Arraial do Cabo (RJ).

7. Rio de Janeiro (Estado) I. Título. II. Escola Nacional de

Botânica Tropical.

CDD 583.32

RESUMO

O maciço costeiro de Arraial do Cabo (Rio de Janeiro) possui notada população da cactácea

Pilosocereus arrabidae (Lem.) Byl. & Row. e se constitui numa área aberta (alta insolação)

circundada por praias. Tendo em mente tais características ambientais, objetivou-se relacioná-

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las com a germinação de P. arrabidae sob diferentes regimes de temperatura, luz e salinidade,

além de realizar a descrição morfológica do desenvolvimento pós-seminal da espécie.

Determinou-se o teor de água, peso seco, comprimento e largura das sementes, e a

granulometria do solo do local de coleta das sementes. As temperaturas constantes estudadas

foram 10, 15, 20, 25, 30, 35 e 40°C e os regimes alternados foram 25/20, 30/20, 35/20 e

40/20°C. A razões vermelho:vermelho-extremo (v:ve) utilizadas foram 0; 0,08; 0,35; 0,54;

0,73 e 1,12. As soluções de NaCl e PEG6000 tiveram os potenciais hídricos de 0,0; -0,2; -0,4;

-0,6; -0,8; -1,0; -1,2 e -1,4MPa. Verificou-se a germinação das sementes em água destilada

após soluções salinas, no experimento de recuperação. Os dados de teor de água, peso seco,

comprimento e largura da semente, assim como a granulometria do solo, foram representados

pela média (±d.p.). A germinação foi avaliada pelos parâmetros germinabilidade e velocidade

de germinação. Nos experimentos de temperatura, NaCl/PEG6000 e recuperação, ambos

parâmetros tiveram sua normalidade avaliada pelo teste de Kolmogorov-Smirnov e a

homogeneidade das variâncias analisada pelo teste de Bartlett. Os dados de germinabilidade

foram transformados para arco seno da raiz quadrade de x/100 e os dados de velocidade de

germinação foram transformados para raiz quadrada de x+3/8, e então a normalidade e a

homogeneidade das variâncias foram testadas novamente. As médias foram comparadas pela

ANOVA seguida pelo teste de Tukey. O experimento de luz foi avaliado apenas pelo

parâmetro germinabilidade, a qual foi representada pelo Notched Box Plot. Em todos os

experimentos, foram utilizadas seis repetições de 50 sementes. A descrição morfológica foi

realizada com auxílio de lupa esterioscópica. A semente de P. arrabidae tinha 7,8±0,6% de

agu e tamanho pequeno, e o solo do local era arenoso. A germinação se iniciou 4-7 dias após o

início da embebição, com a emergência da raiz principal através do opérculo. O hipocótilo da

plântula se mostrou crasso e os cotilédones eram vestigiais e verdes. As temperaturas

preferenciais para germinação foram 20 e 25/20°C, não havendo diferença entre os regimes

constante e alternado, além da germinação em faixa estreita de temperatura. A semente não

germinou no escuro e germinou em todas as razões v:ve. A germinação não ocorreu em todos

os potenciais hídricos utilizados, mas a germinabilidade foi bastante significativa após

transferência para água pura. A morfologia do desenvolvimento pós-seminal indicou que (1) a

germinação da espécie era do tipo faneroepígea com hipocótilo de reserva, o qual provê a

nutrição inicial da plântula, sendo os cotilédones vestigiais, e que (2) a semente de P.

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arrabidae apresentou mecanismos e estruturas para responder eficientemente à chegada da

chuva (escassa no ambiente semi-árido), quais sejam: semente pequena, protrusão da raiz

principal através do opérculo, presença de cúpulas na testa, germinação rápida e ausência de

dormência inata. Os estudos de ecofisiologia da germinação mostraram que (1) a semente não

possui dormência a ser removida por alternância da temperatura, e a melhor germinação

ocorreu na temperatura correspondente à presente no período chuvoso, (2) a semente possui

fotoblastismo positivo, o que evita a sua germinação em camadas profundas do solo e a

conseqüente depleção da pequena reserva que a semente possui antes que a plântula alcance a

luz na superfície do solo, e (3) a semente tem a capacidade de se manter viável mesmo após

exposição à alta salinidade do solo e germinar eficientemente quando chove, sendo P.

arrabidae então categorizado como uma espécie halófita. Concluindo, as sementes de P.

arrabidae possuem características morfológicas e fisiológicas que as permitem sobreviver

enquanto as condições desfavoráveis do clima semi-árido de Arraial do Cabo estão presentes, e

então germinar com eficiência quando as condições favoráveis se apresentam durante o

período chuvoso.

Palavras-chave: morfologia, germinação, luz, temperatura, salinidade, P. arrabidae, Arraial

do Cabo.

ABSTRACT

The coastal rock of Arraial do Cabo (Rio de Janeiro) has a marked population of the cactus

Pilosocereus arrabidae (Lem.) Byl. & Row. and it is characterized by an open area (high solar

irradiation) surrounded by beaches. Thinking about such environmental characteristics, the aim

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of this work was to relate those characteristics with the germination of P. arrabidae under

different temperatures, light and salinity treatments, as well as accomplishing the morphologic

description of the post-seminal development. The moisture content, dry weight, length and

width of the seeds, and the granulometry of the soil of the collection place were determined.

The analysed constant temperatures were 10, 15, 20, 25, 30, 35 and 40°C and the alternate

regimes were 25/20, 30/20, 35/20 and 40/20°C. The red:far-red ratios (r:fr) used were 0; 0,08;

0,35; 0,54; 0,73 and 1,12. The solutions of NaCl and PEG6000 had the water potentials of 0,0;

-0,2; -0,4; -0,6; -0,8; -1,0; -1,2 and -1,4MPa. The germination of the seeds after saline solutions

was also verified, in the recovery experiment. Data of moisture content, dry weight, lenght and

width of the seeds, and the soil granulometry were represented by mean (±s.d.). The

germination was evaluated by germinability and germination speed parameters. In the

temperature, NaCl/PEG6000 and recovery tests, both parameters were evaluated by

Kolmogorov-Smirnov test for normality and by Bartlett for homogeneity of variance.

Germinability data were transformed to arcsine square root of x/100 and germination speed

data were trasnformed to square root of x+3/8, and then the normality and homogeneity of

variance were tested again. The means were compared by ANOVA followed by Tukey test.

The light experiment was represented by nothced box plot. All experiments had six replicates

of 50 seeds. The morphologic description was accomplished by esterioscopic magnifying

glass. The seed of P. arrabidae had a moisture content of 7,8±0,6% and a small size, and the

soil of the place is sandy. The germination begins in the 4-7 days after the imbibition, with the

emergency of the main root through the operculum. The hipocotyl is thick and the cotyledons

are vestigial and green. The preferential temperatures for germination are 20 and 25/20°C, with

no difference among the constant and alternate regimes, besides the germination in naroow

range of temperature. The seed did not germinate in the darkness and did germinate in all the

r:fr ratios. The germination did not happen in all the water potentials used, but the

germinability is markedly significant after transference to distilled water. The post-seminal

development indicated that (1) germination of the species was phaneroepigeal type with

storage hipocotyl, the latter providing the nutrition to the seedling, and the cotyledons were

vestigial, and that (2) P. arrabidae seeds had mechanisms and structures to answer efficiently

when rain comes (very scarce in semi-arid environment), which are: small seeds, main root

protrusion through operculum, domed tegument, fast germination and absence of innate

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dormancy. Seed germination ecophysiology showed that (1) the seed has not exigence of

alternate temperatures to break dormancy, and the best germination occurs in suave

temperatures, which probably occurs during the rainy season (2) the seed is positive

photoblastic, which avoid the germination in deep soil and consequent storage depletion before

the seedling reach the light in superficial soil, and (3) the seed is able to maintain its viability

even after high soil salinity and to germinate efficiently when the rain comes, being P.

arrabidae classified as halophyte species. In conclusion, P. arrabidae seeds have

morphological and physiological characteristics that allow itself to survive when the

unfavorable conditions of the semi-arid climate of Arraial do Cabo are present, and then to

germinate when the favorable conditions come during the rainy season.

Keywords: morphology, germination, light, temperature, salinity, P. arrabidae, Arraial do

Cabo.

SUMÁRIO

DEDICATÓRIA..................................................................................................................1

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AGRADECIMENTOS........................................................................................................2

INTRODUÇÃO

Germinação de sementes de Pilosocereus arrabidae (Lem.) Byl. & Row (Cactaceae) deArraial do Cabo, Rio de Janeiro............................................................................................iGerminação de sementes de Pilosocereus arrabidae (Lem.) Byl. & Row (Cactaceae) deArraial do Cabo, Rio de Janeiro...........................................................................................iiGerminação de sementes de Pilosocereus arrabidae (Lem.) Byl. & Row (Cactaceae) deArraial do Cabo, Rio de Janeiro.........................................................................................iiiLuiza São Thiago Martins..................................................................................................iiiRio de Janeiro....................................................................................................................iii

Germinação de sementes de Pilosocereus arrabidae (Lem.) Byl. & Row (Cactaceae) deArraial do Cabo, Rio de Janeiro..........................................................................................ivRio de Janeiro.....................................................................................................................iv

Germinação de sementes de Pilosocereus arrabidae (Lem.) Byl. & Row (Cactaceae) deArraial do Cabo, Rio de Janeiro...........................................................................................vLuiza São Thiago Martins...................................................................................................vRio de Janeiro......................................................................................................................v

Análises matemática e estatística.......................................................................................19

Germinação de sementes de Pilosocereus arrabidae (Lem.) Byl. & Row (Cactaceae) deArraial do Cabo, Rio de Janeiro............................................................................................iGerminação de sementes de Pilosocereus arrabidae (Lem.) Byl. & Row (Cactaceae) deArraial do Cabo, Rio de Janeiro...........................................................................................iiGerminação de sementes de Pilosocereus arrabidae (Lem.) Byl. & Row (Cactaceae) deArraial do Cabo, Rio de Janeiro.........................................................................................iiiLuiza São Thiago Martins..................................................................................................iiiRio de Janeiro....................................................................................................................iii

Germinação de sementes de Pilosocereus arrabidae (Lem.) Byl. & Row (Cactaceae) deArraial do Cabo, Rio de Janeiro..........................................................................................ivRio de Janeiro.....................................................................................................................iv

Germinação de sementes de Pilosocereus arrabidae (Lem.) Byl. & Row (Cactaceae) deArraial do Cabo, Rio de Janeiro...........................................................................................vLuiza São Thiago Martins...................................................................................................vRio de Janeiro......................................................................................................................v

ANEXO – Por detrás dos panos: breve histórico do mestrado............................................51

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Ao João e Lucas,

pelo simples fato de

estarem presentes

na minha vida.

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AGRADECIMENTOS

Ao meu Anjo Guardião, tenho enorme reconhecimento por todas as orientações que me

deu em todo o percurso e por todas as pessoas que colocou no meu caminho para me ajudar,

pessoas essas às quais me reportarei agora para agradecer.

Muito obrigada, Dulce Mantuano, por ter me introduzido no Jardim Botânico.

Agradeço imensamente à minha família por ter dado todo o apoio financeiro, sem nada

pedir em troca, para que eu pudesse realizar minha pós-graduação. Até mais do que isso,

agradeço pelas palavras nos momentos de angústia diante de não ter como prover o sustento do

meu filho enquanto me qualificava. As palavras de alento das minhas queridas amigas Bárbara

Tadzia, Letícia Terreri, Karine Narahara, Alba Pereira e Amanda Carvalho foram também de

bastante importância pra mim.

Ao Antônio Carlos Silva de Andrade, que me aceitou de braços abertos, mesmo

sabendo das dificuldades que poderiam surgir em relação à recém-maternidade. Agradeço

também pelo grande empenho e solicitude durante todo o curso do mestrado.

Ao meu orientador da iniciação científica, Eduardo Arcoverde (Universidade Federal do

Rio de Janeiro, Brasil), meu muito obrigado pelo aprendizado que me passou e que me foi

extremamente útil durante o desenvolvimento da dissertação.

À Tânia Sampaio (Instituto de Pesquisas Jardim Botânico do Rio de Janeiro), muito

amiga, que me economizou horas sentadas no ônibus com suas muito prazerosas caronas, e que

foi muito precisa na pré-avaliação que fez da minha dissertação: muito obrigada! Novamente

agradeço à Tânia Sampaio e também à Ângela Saade pela parceria na descrição morfológica.

Agradeço ao meu irmão Daniel Martins e à minha mãe, Ana Lúcia Martins, pela

companhia durante as excursões de campo. Tenho muito a agradecer também a toda a equipe

do laboratório, que colocou a mão na massa durante os experimentos. Sem a ajuda da Alba

Pereira (mil vezes Alba!), Amanda Carvalho, Ana Paula Cruz, João Henrique Wolff, Bruno

Linhares, Marina Fernandes, Marli Barbosa, Luciana Espíndola e Charles Rogers, eu não teria

tanto sucesso nos experimentos. Muitíssima agradecida!

Obrigada à EMBRAPA SOLOS pelas análises do solo do local estudado.

Durante os meses de análise matemática e estatística dos dados produzidos, várias

dúvidas cruciais surgiram e sem o esclarecimento delas, não teria como prosseguir e finalizar as

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análises. Agradeço muito ao Dr. Muhammad Ajmal Khan (Universidade de Karachi, Paquistão)

e ao Dr. Irwin A. Ungar (Universidade de Kansas, EUA) por esclarecerem os cálculos da

recuperação. À Dr. Denise Garcia de Santana (Universidade Federal de Uberlândia, Brasil) e

Dr. Eduardo Arcoverde, obrigada por me salvarem da confusão que me meteria se deixasse os

dados de germinabilidade transformados para arco-seno expressos em radianos. Ao Pedro

Cavalin por aquela conversinha corriqueira no Messenger que me ajudou com os dados de

temperatura. E ao Antônio, pela paciência e esclarecimentos no passo-a-passo das análises.

Viviane Stern (Instituto de Pesquisas Jardim Botânico do Rio de Janeiro, Brasil) e

Dorothy Araujo (Universidade Federal do Rio de Janeiro, Brasil): muito obrigada também!!

Ajudaram-me muito nos últimos momentos com a interpretação do clima e da vegetação de

Arraial do Cabo. Viviane trouxe ainda enriquecedoras informações sobre o histórico da região

estudada.

À Kátia Regina, pelas infindáveis xerox, e por toda a paciência de economizar minhas

folhas copiando na frente e no verso delas. À guardete Edimar Almeida, pela companhia e

simpatia nas contagens em feriados e finais de semana. À Luciene Gomes, pelos vários cafés

que me reanimaram muitas vezes.

À Daniela Zappi (Royal Botanic Garden, Kew), pela gentileza de trazer-me um

exemplar do livro que elaborou sobre o gênero Pilosocereus. Este livro fez com que eu pudesse

enriquecer o trabalho com informações um tanto difíceis de se encontrar sobre a espécie

trabalhada. Á Delmira Silva (Universidade Estadual de Santa Cruz, Brasil), que gentilmente

enviou-me pelo correio seu trabalho sobre o gênero Pilosocereus.

À secretaria do PPG-ENBT, pelo capricho na organização dos cursos. Á coordenação

do PPG-ENBT, agradeço imensamente pelo super empenho para a aquisição de bolsas de

estudos para os alunos, mesmo que os resultados esperados não tenham sido de todo obtidos.

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INTRODUÇÃO

Os Centros de Diversidade Vegetal (CDV) constituem áreas de conservação prioritária

da flora, seja em escala global, regional, nacional ou local. Estas áreas são determinadas

principalmente em função da grande riqueza florística e/ou da quantidade significativa de

espécies endêmicas que abrigam, sendo também critérios importantes para a sua delimitação a

diversidade de habitats, a ameaça de devastação em grande escala, a proporção de espécies

adaptadas às condições edáficas do local e a proporção de espécies utilizadas (ou com potencial

de uso) pelo ser humano (Smithsonian National Museum of Natural History).

Inserido no domínio da Mata Atlântica, o Centro de Diversidade Vegetal de Cabo Frio

(CDVCF) constitui área de conservação prioritária porque, em termos vegetacionais, representa

a restinga do Estado do Rio de Janeiro com maior riqueza de espécies, estando entre elas a

maioria das espécies endêmicas à restinga do Estado (Araujo, 1997). Sobre os maciços

costeiros do CDVCF está presente uma vegetação xerofítica que já foi denominada “estepe

nordestina” ou “caatinga” pela semelhança que possui com a paisagem da caatinga do nordeste

brasileiro (Duarte, 1998; Ururahy et al., 1987). No entanto, Sá (2006) avaliou que não há

semelhança florística significativa entre a vegetação dos maciços costeiros do CDVCF e aquela

do nordeste brasileiro, preferindo denominar a primeira de Floresta Estacional Semidecídua.

No município de Arraial do Cabo, circunscrito pelo CDVCF, a Floresta Estacional

Semidecídua possui numerosos indivíduos de Pilosocereus arrabidae (Lem.) Byl. & Row.

(Cactaceae) ou facheiro da praia. Esta cactácea colunar está inserida na lista vermelha da IUCN

na categoria “proximamente ameaçada de extinção” (“NT = near threatened”) devido à perda e

degradação de habitat pela agricultura, lazer e turismo (IUCN, 2006).

Considerando o estado de conservação de P. arrabidae e o fato de parte da sua

ocorrência estar abrangida pelo CDVCF, os estudos da germinação das sementes desta espécie

possuem grande valia, uma vez que podem fornecer informações importantes caso a

necessidade de recuperação de área degradada ou de reintrodução da espécie se façam

presentes. Por exemplo, a informação sobre o tempo de germinação da espécie é bastante

importante dentro de um programa de produção de mudas para que seja possível planejar a

utilização dos espaços (Zamith & Scarano, 2004). Outra informação importante que os estudos

de germinação podem fornecer à produção de mudas é a detecção da presença de mecanismos

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de dormência em sementes de certas espécies, mecanismos estes que podem vir a dificultar o

planejamento dos viveiros (Zaidan & Barbedo, 2004).

As características morfológicas das sementes e plântulas são bastante variáveis entre as

espécies e grande parte desta diversidade morfológica se relaciona com fatores bióticos ou

abióticos específicos do habitat natural (Garwood, 1996). O conhecimento da morfologia da

semente/plântula constitui base importante para a identificação de espécies, para a classificação

taxonômica e para os estudos sobre sucessão e regeneração em ecossistemas naturais (Moraes

& Paoli, 1999). A morfologia de plântulas é também bastante importante para estabelecer

conexões filogenéticas através da presença de estruturas transitórias que surgem antes do

aparecimento das folhas definitivas e que depois desaparecem com o desenvolvimento da

planta (Oliveira, 2001).

Entre as praias Grande e Graçainha, no município de Arraial do Cabo (RJ), está presente

um maciço costeiro com Floresta Estacional Semidecídua, na qual predominam cactáceas e

gramíneas, ocorrendo alguns arbustos. Este maciço costeiro é caracterizado como uma área

aberta, sujeita à intensa irradiação solar (Figura 1). Ademais, as duas praias circundantes

continuamente oferecem spray de sal que reduzem o potencial hídrico do solo (Figura 2). A

cactácea P. arrabidae (Figura 3), bastante abundante em tal maciço costeiro, foi alvo deste

estudo, que teve por objetivos principais descrever a morfologia do seu desenvolvimento pós-

seminal e verificar a influência da temperatura, luz e salinidade sobre a germinação das suas

sementes, relacionando tais aspectos germinativos com as características ambientais do local de

coleta.

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Figura 1. Vegetação do maciço costeiro entre as praias Grande e Graçainha, Arraial do Cabo, RJ.Área aberta, com intensa irradiação solar. Fonte: Antônio Carlos Andrade

Figura 2. Observação da praia da Graçainha, uma das duas praias que circundam o maciçocosteiro estudado, Arraial do Cabo, RJ. À esquerda, indivíduo de P. arrabidae. Fonte: AntônioCarlos Andrade

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(a) (b)

(c)

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Figura 3. Indivíduos de P. arrabidae e de P. ulei (a); fruto (b) e flor (c) de P.

arrabidae. Fonte: Antônio Carlos Andrade.

REVISÃO DE LITERATURA

Aspectos gerais sobre a área de estudo - Arraial do Cabo, RJ

Em Arraial do Cabo (RJ) predominam durante todo o ano os ventos de Nordeste

(Barbière, 1975). Estes ventos provocam a ressurgência, fenômeno muito importante que

ocorre na região durante a primavera e o verão. Ao soprarem paralelo à costa, os ventos de

Nordeste fazem com que a água quente da corrente do Brasil seja deslocada para alto-mar,

deixando ascender à superfície a água fria (ca. 18°C) e mais profunda do Atlântico Sul. Esta

água mais profunda é carregada de compostos inorgânicos que não foram fotossintetizados pela

ausência de luz nesta camada. Ao chegarem à camada eufótica, na superfície do mar, estes

nutrientes desencadeiam grande produção de peixes, à medida que promovem o

desenvolvimento das comunidades planctônicas (Silva et al., 2006).

As águas frias que sobem à superfície do mar através da ressurgência, associadas a

outros fatores secundários como o afastamento da Serra do Mar da linha da costa, constituem o

principal fator determinante do clima da região de Cabo Frio, diferenciando-o do resto do

litoral sudeste brasileiro (Barbière & Neto, 1999; Turcq et al., 1999). Diferente do clima

tropical úmido predominante no litoral sudeste (Turcq et al., 1999), o clima de Arraial do Cabo

(RJ) é considerado semi-árido quente (Bsh) pela classificação de Köppen, com cinco meses de

seca (Duarte, 1998). A precipitação anual aumenta de 823mm na região de Cabo Frio a um

máximo de 3.035mm na porção noroeste da Serra do Mar (Barbière & Neto, 1999). O clima

seco de Arraial do Cabo (RJ) faz com que as lagoas e o solo do município possuam condições

hipersalinas, assim como em toda a região de Cabo Frio (Turcq et al., 1999). A maioria dos

elementos climáticos (temperatura, umidade relativa, evaporação e precipitação) da região de

Arraial do Cabo apresenta uniformidade ao longo do ano e apenas o elemento insolação é mais

variável. A temperatura média oscila em torno de 5°C entre o verão (25,0°C a 25,3°C) e o

inverno (21,4°C a 21,5°C), havendo assim uma regularidade sazonal na temperatura; a

amplitude térmica diária é de 5°C e é a mais baixa do Estado devido aos ventos constantes

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(Secretaria de Planejamento e Urbanismo, 2003). A umidade relativa do ar não se distancia

muito de 80% durante o ano. A região possui forte gradiente de evaporação devido à alta

insolação aliada aos ventos constantes (Barbière, 1984). A distribuição das chuvas é irregular

ao longo do ano, mas costumam ocorrer na primavera e no verão (Barbière, 1975). A grande

variação anual da insolação se dá na duração do dia (13h15min no verão e 10h45min no

inverno) e na energia luminosa (1,5 cal.g.cm-2 no verão e 0,95 cal.g.cm-2 no inverno)

(Yoneshigue, 1985).

O município de Arraial do Cabo tem 90% da sua extensão ocupada por restinga,

presente nas planícies arenosas. O restante da extensão do município é ocupado pela Floresta

Estacional Semidecídua disposta sobre os maciços costeiros, cuja origem se deu pela fusão das

colinas com os afloramentos rochosos (Duarte, 1998). O solo dos maciços costeiros possui

baixa retenção da umidade porque suas características pedológicas, como a dureza e

compactação, não permitem que a água tenha boa infiltração. O déficit hídrico do solo é

também provocado pela alta taxa de evapotranspiração regional, causada pela escassez de

chuvas e pelos ventos intensos e constantes (Secretaria de Planejamento e Urbanismo, 2003).

Morfologia do desenvolvimento pós-seminal

A morfologia do desenvolvimento pós-seminal considerada neste estudo diz respeito à

descrição morfológica do período entre o rompimento do tegumento da semente durante o

processo germinativo e a formação da plântula.

No sentido botânico, a semente se desenvolve a partir de um óvulo fertilizado (Dickie &

Stuppy, 2003) e é constituída basicamente por tegumento, embrião e tecidos de reserva

(Marcos Filho, 2005). O tegumento é dividido em testa (externamente) e tegme (internamente),

que freqüentemente estão fundidos em um só. A testa pode ser lisa ou ornamentada, variar na

cor e na forma (Barroso et al., 1999). O tegumento tem as funções principais de proteger o

embrião contra abrasões, choques e microrganismos, e de regular a embebição e a germinação

da semente. Neste último caso, à medida que controlam a saída de inibidores da germinação e

as velocidades de embebição e trocas gasosas, os tegumentos podem então provocar a

dormência da semente (Perez, 2004). O embrião é a parte da semente que porta os caracteres

específicos da planta e é formado por cotilédone(s) e eixo embrionário. Este eixo embrionário

possui ápice de crescimento caulinar numa ponta e ápice de crescimento radicular na outra

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ponta, e lateralmente estão presentes um ou dois cotilédones (Barroso et al., 1999). Os tecidos

de reserva podem ser endosperma e/ou perisperma, e servem para nutrir o embrião durante o

seu crescimento (Marcos Filho, 2005). Porém, o endosperma pode regredir durante o

desenvolvimento do embrião, nos casos em que as reservas são acumuladas nos cotilédones ou

no hipocótilo do embrião (Barroso et al., 1999).

A partir da semente se desenvolve a plântula, que fisiologicamente, é definida como o

indivíduo que ainda depende das reservas da sua semente - seja consumindo-a diretamente,

possuindo a maior parte da sua biomassa derivada dela, ou possuindo alguma estrutura

funcional produzida a partir dela (Melo et al., 2004). A plântula é formada por raiz principal,

hipocótilo, cotilédone(s) e gema plumular, que originarão mais tarde a raiz, caules e folhas.

Garwood (1996) propôs uma classificação para plântulas de acordo com a posição, exposição e

função dos cotilédones. Em relação à posição, a plântula é epígea se seus cotilédones estão

acima do solo e hipógea se ficam abaixo dele. Se os cotilédones são protegidos pelo tegumento,

a plântula é criptocotiledonar, e se ficam expostos (sem o tegumento) é fanerocotiledonar. Em

relação à função, os cotilédones podem ser fotossintetizantes ou de reserva. Combinando as

características dicotômicas de posição, exposição e função dos cotilédones, Garwood (1996)

então definiu cinco tipos funcionais de plântulas: fanero-epígeo-foliáceo, fanero-epígeo-

reserva, cripto-hipógeo-reserva e cripto-epígeo-reserva. Esta classificação também tem sido

utilizada para diferenciar os tipos de germinação (ex: Andrade et al., 2006; Andrade et al.,

2000; Leonhardt et al., 2002; Silva et al., 2005).

Germinação

A germinação pode ser considerada como a retomada do crescimento do embrião ora

retardado/paralisado durante a maturação e a dispersão da semente (Raven et al., 2001), com o

conseqüente rompimento do tegumento pela raiz principal (Marcos Filho, 2005). O processo

germinativo se inicia com a absorção de água pela semente (embebição) e termina com o início

do alongamento do eixo embrionário, geralmente a raiz principal (Borghetti, 2004). A

ocorrência da germinação das sementes é influenciada por fatores internos e externos a tais

diásporos.

Dentre os fatores internos à semente, destaca-se a viabilidade da semente como

premissa básica para ocorrência da germinação, isto é, a semente precisa estar viva e com

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estrutura completamente desenvolvida para germinar (Marcos Filho, 2005). Além de a semente

precisar estar viva para germinar, fatores fisiológicos e morfológicos são importantes no

processo germinativo, tais como: o nível de umidade da semente na maturação, a rigidez da

testa, o tamanho e o grau de desenvolvimento do embrião, a permeabilidade da testa ao

oxigênio e à água (Vázquez-Yanes & Orozco-Segovia, 1993). A dormência na semente

constitui um fator interno que bloqueia a sua germinação, mesmo que as condições ambientais

necessárias àquele processo estejam presentes; a semente quiescente, ao contrário da semente

dormente, germina rapidamente quando as condições ambientais exigidas são oferecidas

(Cardoso, 2004; Marcos Filho, 2005). A semente quiescente pode entrar em dormência após a

dispersão ao encontrar alguma condição desfavorável de temperatura, luz, água ou oxigênio

(como por exemplo, a embebição em anoxia), e este processo é classificado como dormência

secundária. A dormência primária ou inata instala-se na semente durante a sua maturação, e a

semente dispersada é então dormente e exige tratamentos específicos para se tornar quiescente

(Cardoso, 2004).

Dentre os principais fatores externos às sementes que afetam a sua germinação, podem

ser citados a umidade, luz e temperatura (Marcos Filho, 2005). A disponibilidade hídrica é o

primeiro fator necessário para que ocorra a germinação de uma semente viável e não-dormente,

pois é ela que vai reativar o metabolismo mantido nas taxas mais baixas desde que foi

completado o processo de maturação na planta-mãe (Castro & Hilhorst, 2004). A absorção de

água ou embebição ocorre em função do gradiente de potencial hídrico (ψ) entre a semente e o

seu ambiente (Castro & Hilhorst, 2004), pois a água tende a se difundir do maior para o menor

potencial hídrico. Assim, a germinação da semente pode ser comprometida em ambientes cujo

solo apresenta potencial hídrico bem mais negativo que aquele encontrado no interior dela.

Estes ambientes seriam aqueles nos quais a precipitação é baixa, o solo possui alta

granulometria, a evaporação é intensa e/ou é influenciado pela salinidade do mar. A salinidade

reduz o potencial hídrico do solo porque seus íons dissociados se ligam às moléculas de água,

de forma a tornarem-nas indisponíveis à embebição. Além deste efeito osmótico, quando

presente no substrato, o sal pode ocasionar o efeito tóxico sobre as sementes traduzido pelo

aumento da concentração de íons nas células do embrião, causando injúrias no complexo

metabólico (Duan et al., 2004). De maneira geral, espécies glicófitas e halófitas sofrem o efeito

osmótico do sal, tendo a sua germinação reduzida com o aumento da concentração do sal.

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Entretanto, halófitas se diferenciam das glicófitas pela capacidade de germinar quando a

salinidade é reduzida, indicando não sofrer o efeito iônico permanente do sal (Ungar, 1978).

Sementes de muitas halófitas são capazes de manter a viabilidade por longos períodos de

exposição ao sal e então germinar quando as condições são mais favoráveis (Woodell, 1985).

Em laboratório, a presença do efeito iônico na germinação de determinada espécie pode ser

determinada através da comparação da germinabilidade entre soluções de cloreto de sódio

(NaCl) e polietilenoglicol (PEG) com mesmo potencial hídrico (soluções isotônicas ou

isosmóticas). O PEG é um reagente que não atravessa as paredes celulares das sementes devido

ao seu alto peso molecular (Bradford, 1995), e por isso se a germinabilidade for

significativamente maior em soluções de PEG do que em soluções isotônicas de NaCl, conclui-

se que a espécie em estudo sofreu o efeito iônico do NaCl. Este efeito iônico terá causado

injúrias permanentes no complexo metabólico das sementes se estas, ao serem transferidas para

água pura, não germinarem – estas seriam sementes de espécies glicófitas. Contrariamente,

sementes de espécies halófitas apresentam boa recuperação por não terem sofrido o efeito

tóxico dos íons do sal de forma a impedir a germinação das suas sementes (Ungar, 1978).

A temperatura é um fator importante na germinação da semente porque os sistemas

enzimáticos envolvidos nas reações químicas do processo germinativo exigem temperaturas

específicas para funcionarem (Marcos Filho, 2005). Além disso, a temperatura influencia o

grau de permeabilidade da testa à água e ao oxigênio, à medida que regula a conformação das

membranas celulares da testa. Temperaturas muito altas ou muito baixas inibem a germinação

de quase todas as espécies, havendo uma temperatura ótima para cada espécie, isto é, a que

promoverá o máximo de germinação no menor tempo (Probert, 2000). À medida que a

temperatura aumenta, as proteínas das sementes sofrem alterações, promovendo assim o

processo germinativo. Contudo, se as temperaturas tornarem-se muito altas, estas alterações se

tornam deletérias. Temperaturas muito baixas podem causar injúrias no sistema de membranas

da semente, além de reduzir a velocidade da germinação e deste modo torná-la mais sensível às

adversidades do meio (Marcos Filho, 2005). As espécies podem germinar preferencialmente

em temperatura constante ou exigir a alternância entre duas temperaturas distintas (Baskin &

Baskin, 1998). A exigência por temperaturas alternadas geralmente está associada à

necessidade de quebra de dormência imposta pela testa, precisando neste caso que haja uma

diferença mínima entre as temperaturas máxima e a mínima para que a germinação possa

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ocorrer. Outros parâmetros da alternância de temperatura também são importantes para causar a

quebra de dormência, como o tempo de exposição e o número de ciclos de exposição às

temperaturas (Zaidan & Barbedo, 2004). O motivo da alternância de temperatura produzir a

interrupção da dormência da semente não é bem conhecido, mas supõe-se que a concentração

de inibidores da germinação é reduzida na temperatura mais baixa e a concentração de

promotores é aumentada na temperatura mais alta (Marcos Filho, 2005). Em laboratório, a

comparação entre a germinacão sob temperaturas constantes e alternadas pode evidenciar

algum tipo de dormência da espécie em estudo ou outra característica importante da sua

germinação (Borghetti, 2005).

A semente detecta a luz incidente em seu habitat por meio do pigmento fotorreceptor

fitocromo. O fitocromo existe em duas principais formas que se interconvertem ao serem

expostas a diferentes qualidades de luz ou comprimentos de onda – a forma ativa (FVE) e

indutora da germinação, é convertida para a forma inativa (FV) quando exposta à luz vermelho-

extremo (725-735nm), ocorrendo a conversão contrária quando há exposição de FV à luz

vermelha (655-665nm) (Taiz & Zeiger, 2004). Assim, o fitocromo pode detectar a qualidade da

luz através da razão entre os comprimentos de onda vermelho e vermelho-extremo (v:ve)

porque, sob condições naturais, o primeiro é mais abundante na luz solar direta enquanto o

segundo é mais abundante em ambientes sombreados. A propriedade de fotoreversão do

fitocromo é pequena na semente seca, sendo então necessária a embebição para que o pigmento

possa perceber a luz (Casal & Sánchez, 1998). A presença da luz pode favorecer ou não a

germinação – isto é, as sementes podem germinar somente na presença de luz (contínua ou

breve), germinar somente no escuro ou serem indiferentes à presença ou ausência de luz, sendo

denominadas, seqüencialmente, fotoblásticas positivas, fotoblásticas negativas e fotoblásticas

neutras (ou não fotoblásticas). Há ainda as espécies fotoblásticas preferenciais, isto é, que

germinam no escuro, mas a germinabilidade é significativamente maior na luz (Klein &

Felippe, 1991). Esta diferença na necessidade de luz para germinar entre as espécies pode

ocorrer por uma variação na concentração de FVE – espécies fotoblásticas positivas precisariam

atingir uma concentração mínima de FVE para germinar, enquanto as fotoblásticas negativas não

teriam esta concentração limitante de FVE, e as fotoblásticas neutras seriam capazes de germinar

sob concentrações baixíssimas de FVE (Marcos Filho, 2005). O fotoblastismo positivo pode

funcionar como um mecanismo para manter a semente dormente enquanto estiver enterrada no

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solo e, desta forma, evitar que as reservas sejam consumidas antes que a plântula alcance a luz;

ou então como um mecanismo de detecção da abertura de clareiras nas florestas tropicais

(Vàzquez-Yanes & Orozco-Segovia, 1990).

Cactaceae, ‘Pilosocereus’ e ‘Pilosocereus arrabidae’

A família Cactaceae, constituída por ca. 100 gêneros e 1500 espécies (Angiosperm

Phylogeny Website), é facilmente reconhecida por seus ramos suculentos, ausência de folhas

conspícuas e aréolas com espinhos; contudo, existem outros grupos de plantas que possuem

estas mesmas características, como o gênero Euphorbia. As cactáceas são melhor identificadas

por suas características reprodutivas, tais como sementes pequenas com embrião curvado e

reserva do tipo perisperma, antese floral noturna e flores com ovário ínfero (Gibson & Nobel,

1986). O ovário ínfero é típico de plantas altamente especializadas e está relacionado à

proteção contra injúrias mecânicas (Buxbaum, 1950). Os frutos de cactácea são na maioria do

tipo baga (Buxbaum, 1950), com polpa mucilaginosa e originada pelo espessamento dos

funículos (Barroso et al., 1999). O fruto é indeiscente, podendo ocorrer, em alguns casos, a

deiscência irregular devido a pressões internas causadas pelo intumescimento da polpa

(Barroso et al., 1999). A distribuição das cactáceas é quase restrita às Américas, do norte do

Canadá à Patagônia, na Argentina (Rojas-Aréchiga & Vázquez-Yanes, 2000), com algumas

espécies de Rhipsalis ocorrendo na África (Freitas, 1992). O sudeste do Brasil é o terceiro

maior centro de diversidade geográfica e de endemismo da família Cactaceae, precedido pelo

México (o mais importante) e o Andes central; a flora de cactos do Brasil tem ca. de 80% de

endemismo e inclui 11% do total de gêneros de cactos (Taylor, 1997). Os cactos são

especialmente abundantes nas regiões áridas e semi-áridas, estando no Brasil, em maior

variedade na região da caatinga no Nordeste e em certas áreas ao longo da Costa Atlântica,

sobre os afloramentos rochosos (Joly, 1976). Apesar de ocorrerem, principalmente em

ambiente seco, as cactáceas também crescem nas florestas temperadas, zonas tropicais e sub-

tropicais e nas regiões frias com neve (Rojas-Aréchiga & Vázquez-Yanes, 2000). Cactaceae

apresenta uma variedade de formas de vida, podendo o caule ser pouco alongado e globoso

(Melocactus), alongado com gomos longitudinais (Cereus), achatado no eixo maior (Opuntia)

ou totalmente cilíndrico não-segmentado (Rhipsalis) (Joly, 1976). Há espécies que possuem

hábito epifítico quando ocorrem em ambiente úmido, como é o caso de Pereskia aculeata

(Plum.) Mill.

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O gênero Pilosocereus Byles & Rowley se diferencia dos outros gêneros de Cactaceae

principalmente pelas características do fruto, que é globoso-achatado, deiscente por fissuras

irregulares e com polpa funicular (Zappi, 1994). As flores se abrem à noite, quando são

polinizadas pelos morcegos (Taylor & Zappi, 2004). Os ramos são relativamente curtos,

colunares e retos, o porte do cacto varia de arbóreo a arbustivo, existindo espécies anãs com

30cm altura, como P. machrisii (Dawson) Backeberg (Zappi, 1994). Pilosocereus é o terceiro

gênero mais representativo do Estado do Rio de Janeiro, possuindo três espécies do total de

espécies de cactácea encontradas no Estado, quais sejam: Pilosocereus ulei (K. Schum.) Byles

& Rowley, Pilosocereus brasiliensis (Britton & Rose) Backeberg e P. arrabidae (Calvente et

al., 2005). Pilosocereus arrabidae ou facheiro da praia tem origem no Brasil, onde se distribui

nas zonas de vegetação da costa arenosa dos Estados do Rio de Janeiro, Espírito Santo e Bahia

(Freitas, 1992). No Estado do Rio de Janeiro, a espécie teria sua distribuição concentrada mais

ao norte do Estado, com seu limite sul na restinga da Marambaia (Araujo, 2000). Os moradores

de Arraial do Cabo costumam utilizar os frutos de P. arrabidae na alimentação e alguns deles

cultivam a espécie em seus quintais (Fonseca-Kruel et al., 2006).

Germinação e Morfologia do desenvolvimento pós-seminal em Cactaceae

Para as sementes de cactáceas, as temperaturas mais favoráveis à germinação estão

entre 17 e 34ºC, sendo a temperatura ótima em torno de 25ºC – por exemplo, Pachycereus

hollianus (F.A.C. Weber) F. Buxb. e Neobuxbaumia tetetzo (Weber) Backeb. tiveram melhor

germinação em 26°C (Flores & Briones, 2001). De forma geral, as sementes de Cactaceae

germinam melhor nas temperaturas alternadas do que nas temperaturas constantes, embora o

efeito da temperatura alternada não esteja muito claro, visto que a maioria dos estudos utiliza

somente temperaturas constantes (Rojas-Aréchiga & Vázquez-Yanes, 2000).

Os estudos sobre a influência da luz na germinação de espécies de cactácea mostram

que a maioria delas apresenta fotoblastismo positivo, a exemplo de Carnegiea gigantea

(Engelm.) Britton & Rose (Alcorn & Kurtz, 1959) e Ferocactus peninsulae (F.A.C. Weber)

Britton & Rose (Yang et al., 2003). Existem alguns relatos de espécies não-fotoblásticas, como

Neobuxbaumia macrocephala (Weber) Dawson (Ramírez-Padilla & Valverde, 2005) e

Pachycereus pecten-aboriginum (Engelm.) Britton & Rose (Yang et al., 2003). Não foram

encontrados estudos relatando fotoblastismo negativo em Cactaceae. Apesar de terem estudado

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apenas sete espécies, Rojas-Aréchiga et al. (1997) sugerem uma tendência entre a forma de

vida das cactáceas e a exigência de luz para a germinação, sendo os cactos colunares

indiferentes à presença da luz e os cactos globosos exigentes de luz.

A influência da disponibilidade de água na germinação de sementes de Cactaceae

parece não ter sido ainda enfoque dos estudos de germinação; portanto, qualquer tendência não

pode ser aqui apresentada. Foram encontrados somente dois estudos – o de Nolasco et al.

(1996) com Pachycereus pringlei (S. Wats.) Britton & Rose e o de Ramírez-Padilla & Valverde

(2005) com três espécies de Neobuxbaumia.

Publicações tratando da morfologia do desenvolvimento pós-seminal da família

Cactaceae são praticamente inexistentes, tendo sido encontrada apenas um artigo sobre a

morfologia da semente e o padrão de rompimento do tegumento de 103 espécies de cactácea –

Bregman & Bouman, 1983. Trabalhos sobre morfologia e anatomia de frutos, flores e ramos

dos cactos são mais facilmente encontrados, como o de Jorge & Ferro (1989), Cruz & Casas

(2002), Altesor & Ezcurra (2003) e Arruda et al. (2005), e o de Silva & Alves (1999) sobre

anatomia dos órgãos vegetativos do gênero Pilosocereus.

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METODOLOGIA

Coleta, Extração e Armazenamento

Frutos maduros de 20 indivíduos de P. arrabidae foram coletados em novembro de

2005 no maciço costeiro situado entre as praias Grande e Graçainha, município de Arraial do

Cabo, RJ, Brasil (22°58’S, 42°00’O; temperatura média anual: 25°C; precipitação média anual:

800mm) (Araujo, 1997). Os frutos foram levados em recipientes plásticos abertos ao

Laboratório de Sementes do Jardim Botânico do Rio de Janeiro. As sementes foram extraídas

em peneiras e água corrente, e secadas em condição ambiente do laboratório durante um dia.

Em seguida, as sementes foram armazenadas em potes herméticos contendo sílica-gel a 10°C

até o início dos experimentos.

Determinações preliminares

O teor de água de 4x50 sementes e o peso seco de 4x25 sementes foram determinados

pelo método da estufa a baixa temperatura (103ºC/17h; ISTA, 1999). O comprimento e a

largura de 40 sementes foram determinados por paquímetro digital. Três amostras de solo do

local de estudo (0-20cm de profundidade) foram coletadas para a determinação da

granulometria, realizada pelo Serviço Nacional de Levantamento e Conservação de Solos (ou

EMBRAPA Solos).

Morfologia do desenvolvimento pós-seminal

Em função do rápido desenvolvimento pós-seminal de P. arrabidae, foi necessário

colocar sementes para germinar em quatro momentos diferentes, para que fosse possível a

ilustração de todas as fases do seu desenvolvimento. Duas placas contendo 25 sementes, três

folhas de papel de filtro e 2mL de água destilada cada uma, foram colocadas na temperatura

ótima de germinação da espécie, que fora determinada pelo experimento de temperatura. As

ilustrações foram feitas com auxílio de lupa esterioscópica com aumento de até 5x.

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Procedimentos gerais para experimentos de germinação

Nos experimentos de germinação, realizados em dezembro de 2005 e janeiro de 2006,

as sementes foram colocadas para germinar em placas de Petri (5,5cm diâmetro x 0,5cm altura)

contendo três discos de papel de filtro umedecido com 2mL de água destilada ou solução

osmótica específica (NaCl ou PEG6000). As posições das placas dentro das câmaras de

germinação (FANEM) foram aleatoriamente alteradas todos os dias. A temperatura das

câmaras nos experimentos de luz, soluções de NaCl e PEG6000 e recuperação, e nas ilustrações

da morfologia foi aquela apontada como ótima no experimento de temperatura. O fotoperíodo

utilizado foi o de 8h dia/16h noite, a menos que a luz fosse o fator estudado (4 lâmpadas

brancas fluorescentes de 20W; taxa de fluxo de fótons: 90µmol m-2 s-1). O critério de

germinação foi o de protrusão da raiz principal em 1mm com geotropismo positivo. As

sementes germinadas foram contadas e retiradas da placa. A germinação foi verificada

diariamente durante 20 dias, a exceção do experimento de luz que teve apenas uma única

contagem ao final de 20 dias. Todos os experimentos de germinação tiveram seis repetições de

50 sementes.

Experimento de temperatura

O experimento de temperatura foi representado pelas temperaturas constantes de 10, 15,

20, 25, 30, 35 e 40ºC (± 0,5°C) e pelos regimes alternados de 25/20, 30/20, 35/20 e 40/20ºC

(4/20h, respectivamente). A alternância de temperatura foi obtida pela transferência das placas

de Petri de uma câmara para outra.

Experimento de luz

O experimento de luz incluiu o escuro e cinco razões v:ve, a saber: 0,08; 0,35; 0,54;

0,73 e 1,12. O escuro foi obtido ao se embalar as placas em papel alumínio e colocá-las dentro

de gerbox preto (11cmx11cm). Os tratamentos 0,08; 0,35; 0,54 e 0,73 v:ve foram obtidos pela

adição de filtros verdes entre as placas e a fonte de luz (número serial 89, 121, 88, 138,

respectivamente; filtros Lee-USA). No tratamento 1,12 v:ve não houve a adição de filtros. A

luz foi obtida por duas lâmpadas brancas fluorescentes (22W) e duas lâmpadas incandescentes

(15W), totalizando 1,12 v:ve, que é próxima à luz solar (1,19 v:ve; Bliss & Smith, 1985). O

intervalo de tempo entre a adição de água nas placas contendo sementes e a colocação dos

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filtros foi o menor possível. Para sincronizar a ativação do fitocromo entre todos os

tratamentos, o tempo entre a adição de água e as placas também foi o menor possível.

Experimento de NaCl/PEG6000 e Recuperação

No experimento de NaCl e PEG6000 foram utilizados os potenciais hídricos de 0,0;

-0,2; -0,4; -0,6; -0,8; -1,0; -1,2 e -1,4MPa. O preparo das soluções de NaCl e PEG6000 seguiu,

sequencialmente, as equações de Van’t Hoff (Salisbury & Ross, 1992) e Michel & Kaufmann

(1973). A fim de minimizar a perda de água por evaporação, as placas foram pesadas a cada

dois dias para reposição da água evaporada (Ishikawa & Kachi, 2000), além das bandejas

portando as placas terem sido envoltas em sacos plásticos. No experimento de recuperação, as

sementes não germinadas nas soluções de NaCl e PEG6000 foram transferidas para a água

destilada, seguindo o mesmo procedimento já descrito.

Análises matemática e estatística

O peso seco, comprimento e largura foram representados pela média (±d.p.) dos dados.

A granulometria do solo foi representada pela porcentagem de cada fração granulométrica. A

germinação em todos os experimentos foi avaliada pelos parâmetros germinabilidade

(porcentagem de germinação) e velocidade de germinação (índice de Timson, no qual a

velocidade aumenta com o aumento do valor do índice; Santana & Ranal, 2004). A

germinabilidade na recuperação foi calculada pela razão entre as sementes germinadas na água

destilada e o número inicial de sementes (50) do experimento de NaCl/PEG6000. Todos os

dados de germinabilidade e velocidade de germinação possuíam normalidade e eram

heterocedásticos, sendo então transformados, respectivamente, para arco seno da raiz quadrada

de x/100 e para raiz quadrada de x+3/8 (Zar, 1999), transformações essas que tornaram os

dados homocedásticos. Antes e após as transformações, a normalidade foi avaliada pelo teste

de Kolmogorov-Smirnov e a homogeneidade das variâncias foi avaliada pelo teste de Bartlett

(Santana & Ranal, 2004). A diferença entre as médias foi indicada pela análise de variância

(ANOVA) de um fator e o detalhamento desta diferença foi realizada pelo teste de Tukey. O

experimento de luz foi representado pelos notched box plots (desenho esquemático dos cinco

números), no qual a sobreposição dos intervalos de confiança é interpretada como a presença

de similaridade estatística entre as medianas (McGill et al., 1978).

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RESULTADOS

Determinações preliminares

O teor de água das sementes foi de 7,8±0,6% e o peso seco médio de 25 sementes de P.

arrabidae foi de 20,6±0,9mg, o que representaria ca. de 1.210 sementes por quilograma. O

comprimento e a largura média de 40 sementes foram, respectivamente: 1,9±0,1mm e

1,22±0,1mm. O solo do maciço costeiro estudado tem predominância da fração areia, sendo

constituído por 40±3.8% de areia grossa (2-0,2mm), 38±2,5% de areia fina (0,2-0,05mm),

16±2,6% de silte e 7±1,2% de argila.

Morfologia do desenvolvimento pós-seminal

A semente de P. arrabidae tem a forma oval e a testa é negra e areolada, ou seja, com

ornamentações do tipo cúpula devido às densas depressões intercelulares (Figura 4A). O hilo da

semente é elíptico, com as margens e o centro esbranquiçados (Figura 4B).

A germinação da semente se inicia entre 4-7 dias após a embebição. Neste momento,

ocorre a ruptura dorsal dos tegumentos e a abertura integral do opérculo (Figura 4C), através do

qual há a protrusão da raiz principal, que é robusta e de coloração branco-esverdeada (Figura

4D). A ruptura do tegumento é, portanto, regular e origina duas valvas. De um a dois dias

depois, forma-se densa zona pilífera na raiz principal, marcadamente curvada em geotropismo

positivo, sendo o colo bem delimitado por um estreitamento (Figura 4E). Nos 10-13 dias, a

plântula esverdeada alonga-se, perdendo os tegumentos e expondo seus dois cotilédones

(Figura 4F). A plântula tem predominância do hipocótilo, resultante do embrião hipocotilar, ao

passo que o sistema radicular é ainda rudimentar, com raiz curta e muitos pêlos absorventes

(Figura 4F). Nos 14-17 dias, a raiz principal muito pilosa se alonga e origina raízes secundárias

robustas, e o colo é muito estreitado (Figura 4G). Neste mesmo momento, os cotilédones se

expandem e evidenciam a gema apical coberta por pêlos unisseriados; os cotilédones são

rudimentares, verdes como o hipocótilo, sésseis, muito curtos e crassos com células

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refringentes bem visíveis no ápice (Figura 4H). Nos 18-21 dias, os cotilédones estão

completamente expandidos e mais arredondados do que ovalados, encontrando-se na junção

deles, um tufo de pêlos longos contornados de pêlos curtos na sua base, constituindo a aréola

que recobre a gema apical (Figura 4I). Entre 3-6 meses nas condições do laboratório (sala

refrigerada com luz fria), os cotilédones são vestigiais e as raízes são robustas (Figura 4J); o

hipocótilo é carnoso, verde-escuro e com lúmen central em corte transversal (Figura 4L); a

gema apical não é mais coberta pelo tufo de pêlos e está desenvolvida em um cladódio plano-

achatado com várias aréolas portando cerdas precursoras de espinhos (Figura 4M). O cladódio

em corte transversal tem formato cilíndrico de contorno irregular, evidenciando as aréolas com

suas cerdas (Figura 4N).

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a b

c

d e

f g

h

(A)(B)

(C)

(D)(E)

(F) (G)

(H)

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Figura 4 (continuação). Morfologia do desenvolvimento pós-seminal de P. arrabidae: (I) Detalhe da aréola querecobre a gema apical com pêlos unisseriados; (J) Plântula com a gema desenvolvida e cotilédones vestigiais; (L) Cortetransversal do hipocótilo; (M) Corte transversal do cladódio; (N) Detalhe do cladódio com aréolas portando cerdasprecursoras dos espinhos.

(I)

(J)

(L)

(M)

(N)

Figura 4. Morfologia do desenvolvimento pós-seminal de P. arrabidae: (A) Semente; (B) Semente evidenciando o hilo; (C) Ruptura do

tegumento devido à emergência da raiz principal, evidenciando opérculo seminal; (D) Desenvolvimento do hipocótilo; (E) Plântula

evidenciando a raiz principal pilosa e colo; (F) Hipocótilo desenvolvido na plântula com cotilédones em expansão; (G) Plântula com as

estruturas essenciais; (H) Detalhe dos cotilédones sésseis e da gema apical pilosa.

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Experimento de temperatura

A germinação das sementes de P. arrabidae foi significativamente afetada pelos

diferentes tratamentos de temperatura, tanto na germinabilidade (g.l.=10; F=214,185; P<0,05)

quanto na velocidade de germinação (g.l.=10; F=157,539; P<0,05) (Figura 5). Os regimes de

temperatura constante e alternada afetaram a germinação similarmente (P>0,05). A germinação

ótima da espécie foi obtida em 25/20ºC e 20ºC, uma vez que estes regimes promoveram os

maiores valores de germinabilidade e velocidade de germinação. A temperatura de 20ºC foi

escolhida para conduzir os outros experimentos porque o regime alternado poderia acarretar a

variação no potencial hídrico das soluções de NaCl/PEG6000. Valores expressivos de

germinação (isto é, germinabilidade maior que 50% e velocidade de germinação maior que

200) ocorreram na faixa de 15-25°C do regime constante e nos regimes alternados de 25/20 e

30/20°C. No regime constante, a germinação foi completamente inibida nas temperaturas

extremas de 10, 35 e 40ºC, e no regime alternado, uma germinação insignificante (menor que

10%) ocorreu em 40/20 e 35/20ºC.

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Letras diferentes expressam diferença estatística na germinação final (letras minúsculas-○) ou na velocidadede germinação (letras maiúsculas-■) (Tukey; P<0.05).

Experimento de luz

A mediana da germinabilidade final em 0,00; 0,08; 0,35; 0,54; 0,73 e 1,12 v:ve foi,

respectivamente, 0%, 8%, 65%, 84%, 77% e 83%. Os notched box plots (Figura 6) mostraram

10 15 20 25 30 35 40 25/20 30/20 35/20 40/200

20

40

60

80

EdEd

BabAa

EeEe

CDc

ABb

ABab

Ee

BCb

Ger

min

ação

(%)

Temperatura (°C)

0

100

200

300

400

Vel

ocid

ade

de g

erm

inaç

ão

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L6 L5 L4 L3 L2 L1Red:Far-red

0

10

20

30

40

50

60

70

80

90

100

Ge

rmin

atio

n (

%)

Ger

min

ação

(%)

100

90

100

80

60

70

50

40

30

20

10

0

Vermelho:Vermelho-extremo

escuro 0,08 0,35 0,54 0,73 1,12L6 L5 L4 L3 L2 L1Red:Far-red

0

10

20

30

40

50

60

70

80

90

100

Ge

rmin

atio

n (

%)

Ger

min

ação

(%)

100

90

100

80

60

70

50

40

30

20

10

0

Vermelho:Vermelho-extremo

escuro 0,08 0,35 0,54 0,73 1,12

que as razões v:ve estudadas afetaram diferentemente a germinabilidade final de P. arrabidae.

As sementes germinaram em todos os tratamentos de luz, mas não germinaram no escuro. O

aumento da razão v:ve foi acompanhado pelo aumento da germinabilidade final, ocorrendo a

máxima germinação em 0,54 e 1,12 v:ve. Entretanto, a sobreposição dos intervalos de

confiança dos notched box plots de 0,54; 0,73 e 1,12 v:ve indica que não houve diferença

significativa na germinabilidade entre estes tratamentos.

Figura 6. Influência de seis razões v:ve na germinação de P. arrabidae (n=6). A sobreposição dosintervalos de confiança expressa semelhança estatística entre as razões v:ve.

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Experimentos de NaCl e PEG6000 e Recuperação

Houve diferença significativa entre os tratamentos de NaCl e PEG6000 em relação aos

parâmetros germinabilidade (g.l.=14; F=190,540; P<0,05) e velocidade de germinação

Figura 6. Influência de seis razões v:ve na germinação de P. arrabidae (n=6). A sobreposição dos intervalosde confiança expressa semelhança estatística entre as razões v:ve.

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NaCl/PEG6000 Recuperação NaCl/PEG6000 Recuperação

Controle 0 79±4.9 a - 412±29 a -

NaCl -0.2 63±7.0 b 6±3.4 d 262±37 b 44±30 e

-0.4 47±5.6 c 23±4.9 c 116±23 d 192±42 d

-0.6 2.3±2.3 f 64±4.8 a 1.7±2.3 f 564±59 a

-0.8 0±0 f 66±12.5 a 0±0 f 561±124 a

-1.0 0±0 f 68±5.0 a 0±0 f 559±46 a

-1.2 0±0 f 63±9.6 a 0±0 f 500±74 abc

-1.4 0±0 f 53±6.7 ab 0±0 f 392±77 bc

PEG6000 -0.2 63±7.2 b 16±5.3 cd 268±45 b 112±39 d

-0.4 56±5.9 bc 15±3.9 cd 183±22 c 113±40 d

-0.6 35±11.4 d 22±5.0 c 104±51 d 162±25 d

-0.8 15±7.7 e 44±5.7 b 36±18 e 351±56 c

-1.0 4±4.0 f 61±16.2 a 9.3±11 f 515±141 ab

-1.2 2±1.8 f 65±9.0 a 5±4.5 f 552±88 a

-1.4 0±0 f 64±7.1 a 0±0 f 530±56 ab

Soluto ψ (MPa)Germinabilidade Velocidade de germinação

(g.l.=14; F=228,755; P<0,05) (Tabela 1). O potencial hídrico de 0,00MPa (solução controle)

apresentou os maiores valores de germinabilidade e velocidade de germinação (P<0,05) e o

tempo para estabilização da germinação foi de 12 dias (Figura 7). A redução do potencial

hídrico das soluções ocasionou a redução na germinabilidade e na velocidade de germinação.

A germinação das sementes foi completamente inibida em -1,4MPa PEG6000 e entre -0,8 e

-1,4MPa NaCl (Tabela 1). Somente as soluções isotônicas -0,2MPa afetaram similarmente a

germinação (ambos os parâmetros; P>0,05). Soluções isotônicas com -0,4MPa apresentaram

germinabilidade semelhante (P>0,05), mas a velocidade de germinação foi estatisticamente

maior na solução de PEG6000 (P<0,05). Ambos os parâmetros de germinação foram

estatisticamente diferentes (P<0,05) entre os pares de soluções isotônicas em -0,6MPa e em

-0,8MPa, se tornando semelhantes (P>0,05) entre os pares de isotônicas em -1,0 e -1,4MPa

devido à inibição total ou parcial da germinação. As sementes provenientes das soluções de

-0,6 a -1,4MPa NaCl e de -1,0 a -1,4MPa PEG600, nas quais a germinabilidade havia sido

inferior a 10%, tiveram germinabilidade superior a 50% quando transferidas para água

destilada (recuperação) (Tabela 1). A velocidade de germinação na recuperação foi até cinco

vezes maior em relação às soluções de NaCl/PEG6000. Durante a recuperação, as sementes

provenientes de todos os pré-tratamentos de NaCl e PEG6000 começaram a germinar no

segundo dia após a transferência para água destilada (Figura 7).

Tabela 1. Germinabilidade e velocidade de germinação de P. arrabidae nas soluções de NaCl/PEG6000 e na recuperação.

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0 10 20 30 400

20

40

60

80

100Água pura (recuperação)NaCl

Ger

min

ação

(%)

Tempo (dias)

Valores são médias ± d.p. (n = 6) em todos os casos (Tukey; P<0,05). Letras diferentes expressam diferença estatística dentro dacoluna, isto é, entre os diferentes tratamentos.

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0 10 20 30 400

20

40

60

80

100Água pura (recuperação)PEG6000

Ger

min

ação

(%)

Tempo (dias)

Figura 7. Germinação de sementes de P. arrabidae em soluções de NaCl (acima) e PEG6000

(abaixo) com os potenciais hídricos de 0 (■; controle ); -0,2 (○); -0,4 (▲); -0,6 (●); -0,8 (Δ); -1,0 (◊);

-1,2 (▼) e -1,4 MPa (□), e após transferência para água pura (recuperação).

DISCUSSÃO

Morfologia do desenvolvimento pós-seminal

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Sementes de plantas de ambientes secos (áridos e semi-áridos) precisam responder

rapidamente à chegada da água e serem capazes de absorvê-la em quantidade suficiente para

que ocorra a germinação. Entre as várias estratégias que as sementes típicas destes ambientes

possuem, pode ser citado o aumento da sua relação superfície-volume (tendo um tamanho

pequeno, por exemplo) e/ou da área de contato com o solo (através de estruturas como pêlos)

(Bregman & Graven, 1997; Khurana & Singh, 2004). A presença de cúpulas ou depressões na

testa da semente de P. arrabidae faz com que a sua área de contato com o solo seja maior em

relação à testa lisa, e assim a superfície de absorção de água é aumentada. Baseando-se na

determinação de Flores et al. (2006) que aponta o peso seco inferior à 1mg para que as

sementes das cactáceas que estudaram sejam consideradas de tamanho pequeno, considera-se

que P. arrabidae também possui sementes pequenas, dados seu diminuto peso seco e

milimétricas dimensões de comprimento e largura. Sementes pequenas geralmente são mais

eficientes na absorção de água do que sementes grandes porque possuem maior relação

superfície-volume (Bregman & Graven, 1997).

A velocidade de germinação é vital para o recrutamento de novos indivíduos em

ambientes com restrição na disponibilidade de água (Evans & Etherington, 1990). A semente

de P. arrabidae reagiu de forma rápida à presença de água: a germinação se iniciou

rapidamente, entre 4-7 dias após a embebição, e as sementes não apresentaram dormência

inata ou primária, uma vez que não foram necessários pré-tratamentos para quebra de

dormência antes da embebição.

A protrusão da raiz principal através do opérculo, observada para a semente de P.

arrabidae, é a forma mais especializada de germinação, pois evita a protrusão através do

tegumento duro e espesso (Boesewinkel & Bouman, 1995). Este tegumento duro e espesso é

encontrado na maioria das sementes de cactáceas e evita que ocorra a dessecação no solo seco.

Contudo, a presença do opérculo permite que a raiz principal possa emergir mais rapidamente

e assim, a semente consegue aproveitar os curtos períodos de chuva sem precisar aguardar a

desintegração da testa pelos microorganismos (Bregman & Bouman, 1983).

A maioria das espécies apresenta uma ruptura irregular do tegumento das suas

sementes durante a germinação, ocorrendo apenas 10% de famílias de dicotiledôneas a ruptura

regular da testa (Boesewinkel & Bouman, 1995). Na germinação de P. arrabidae, a ruptura da

testa é regular e ocorre no dorso da semente, originando duas valvas, além do opérculo que se

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destaca. Este mesmo padrão de rompimento da testa foi observado para a grande maioria das

103 espécies de Cactaceae estudadas por Bregman & Bouman (1983).

No desenvolvimento pós-seminal de P. arrabidae, observa-se que os cotilédones se

erguem para acima do nível do solo durante o alongamento do hipocótilo, caracterizando uma

germinação epígea. Além disso, os cotilédones se desprendem dos tegumentos da semente,

constituindo uma germinação fanerocotiledonar. Estes cotilédones são fotossintetizantes, no

entanto, são rudimentares. Em síntese, a morfologia do desenvolvimento pós-seminal de P.

arrabidae pode ser caracterizada como do tipo faneroepígea (Garwood, 1996) com hipocótilo

de reserva. A nutrição inicial da plântula será realizada então pelo hipocótilo crasso e verde.

Os cotilédones vestigiais reduzidos da plântula de P. arrabidae são meras protuberâncias e

não constituem fontes de reserva para a plântula em seus primeiros dias de vida. O hipocótilo

crasso e os cotilédones reduzidos na plântula de P. arrabidae têm origem no embrião

hipocotilar da sua semente, isto é, embrião com hipocótilo bem desenvolvido e cotilédones

reduzidos, o que é visto na maioria dos embriões de Cactaceae (Bregman & Bouman, 1983).

A germinação epígea costuma ser predominante na flora da maioria dos ambientes

(Pujol et al., 2005), o que já foi demonstrado por Zanne et al. (2005) e Ressel et al. (2004) ao

compararem habitats com diferentes níveis de irradiação solar. A germinação hipógea parece

ser mais freqüente em habitats com passagem de fogo, como a savana e o cerrado, pois reduz

o risco de danos letais da parte aérea da plântula, como foi sugerido por Garwood (1996).

O estudo que Zanne et al. (2005) realizaram com 70 espécies indica que espécies com

semente pequena geralmente possuem germinação rápida, plântula com cotilédones

fotossintetizantes, e ocorrência em ambientes abertos. Contrariamente, espécies com semente

grande possuem germinação mais lenta, plântula com cotilédones de reserva, e ocorrência em

habitats muito sombreados, como o sub-bosque das florestas. Pilosocereus arrabidae possui

cotilédones fotossintetizantes (embora reduzidos), sementes pequenas, rápida velocidade de

germinação e ocorrência em ambientes abertos. A pequena reserva em sementes de tamanho

pequeno é compensada por um crescimento autotrófico mais rápido que a semente grande com

cotilédone de reserva possui, a qual é mais característica de habitats com pouca luz (Kitajima,

1996).

Devido ao pequeno tamanho e conseqüente fragilidade das plântulas de P. arrabidae,

acredita-se que elas se estabeleçam em micro-sítios do relevo ou sob outras plantas, onde a

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temperatura e a insolação sejam atenuadas, mas que haja luz suficiente para a germinação e

crescimento da plântula. A luz, temperatura e umidade estão entre os principais fatores

abióticos que influenciam o crescimento da plântula, assim como a germinação (Melo et al.,

2004). A transição entre a plântula e a planta jovem de P. arrabidae tem a duração de um ano

(Zappi, 1994). Desta forma, a germinação ocorrendo em micro-sítios do relevo ou sob outras

plantas assegura as condições mais amenas para o crescimento da plântula, que adentrará o

período seco de Arraial do Cabo. Vale ressaltar que a suculência já apresentada nas plântulas e

jovens de P. arrabidae (Gibson & Nobel, 1986) é caráter importante para a evitação à época

seca.

Ecofisiologia da germinação

A germinação das sementes de P. arrabidae variou entre as diferentes temperaturas e,

como não houve diferença estatística entre a melhor temperatura constante (20°C) e a melhor

temperatura alternada (25/20°C), observa-se que a espécie não exigiu alternância de

temperaturas para a germinação (Figura 1). Portanto, a espécie não possui dormência inata que

precise ser superada pela alternância de temperatura. A temperatura ótima para sementes de P.

arrabidae foi alcançada em 20°C e 25/20°C, pertencendo assim à faixa de temperatura

favorável à germinação de cactos (17-34°C; Rojas-Aréchiga & Vásquez-Yanes, 2000). O

cacto colunar P. arrabidae apresentou sensibilidade às temperaturas extremas testadas (i.e.,

germinabilidade inferior a 10%), tanto no regime constante (10, 35 e 40°C) quanto no regime

alternado (35/20, 40/20°C), e apresentou germinabilidade superior a 50% nas temperaturas

mais amenas de 15-25°C, 25/20°C e 30/20°C. Desta forma, a espécie estudada germinou numa

faixa estreita de temperaturas, diferentemente de outros quatro cactos colunares estudados por

Rojas-Aréchiga et al. (1998), que germinaram mais de 20% em 10 e 40°C, e mais de 40% em

35/20°C. A germinação ótima em 20°C e em faixa estreita de temperatura observada em

sementes de P. arrabidae também foi constatada em sementes de duas outras espécies de

cactáceas provenientes do mesmo maciço costeiro estudado: P. ulei (Martins, dados não

publicados) e Cereus fernambucensis Lem. (Andrade & Carvalho, dados não publicados).

Temperaturas mais amenas na superfície do solo, como exigidas durante o processo

germinativo destas três cactáceas, provavelmente ocorrem durante o período chuvoso, quando

a nebulosidade e a água disponível no solo aumentam. Devido ao fato da germinação ser um

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evento temporalmente curto e de ser ainda mais curto no caso de P. arrabidae em função da

sua alta velocidade de germinação, tal processo ocorreria em um intervalo de temperaturas

mais amenas e maior umidade do solo em meio ao clima semi-árido quente de Arraial do Cabo

(RJ). Ao se alternar as temperaturas de 25, 30, 35 e 40°C com a temperatura mais baixa de

20°C, a germinabilidade e/ou velocidade de germinação de P. arrabidae foram maiores que as

mesmas em regime constante. Isto se deu em função da alternância de temperatura possuir o

termoperíodo de 4h, tendo a temperatura mais alta do regime (25, 30, 35 e 40°C) a duração de

4h e a temperatura mais baixa (20°C) a duração de 20h. Assim, as temperaturas de 25, 30, 35 e

40°C em regime alternado foram mais favoráveis à germinação porque tinham duração menor

do que no regime constante.

O fotoblastismo positivo é bastante recorrente na família Cactaceae, a exemplo de

Opuntia tomentosa S.D. (Olvera-Carrillo et al., 2003), Stenocereus stellatus (Pfeiffer) (Rojas-

Aréchiga et al., 2001), Stenocereus queretaroensis (F.A.C.) Weber (De la Barrera & Nobel,

2003), Neobuxbaumia mezcalaensis (Bravo) Backeb. (Ramírez-Padilla & Valverde, 2005) e

outras 28 cactáceas estudadas por Flores et al. (2006). O fotoblastismo positivo das sementes

de P. arrabidae já fora citado por Dau & Labouriau (1974) e contraria a tendência

demonstrada por Rojas-Aréchiga et al. (1997) das sementes de cactos colunares serem

indiferentes à luz para germinar. O fotoblastismo positivo pode ser uma vantagem para as

pequenas sementes de P. arrabidae, pois evita que elas germinem em grande profundidade no

solo e tenham suas pequenas reservas consumidas antes de alcançarem a superfície do solo

(Ramírez-Padilla & Valverde, 2005). Outra evidência de que o fotoblastismo positivo está

relacionado com a manutenção da dormência enquanto a semente está enterrada no solo é a

boa germinação em curto fotoperíodo e em baixo v:ve (Vázquez-Yanes & Orozco-Segovia,

1990), tendo sido observado estes dois aspectos para P. arrabidae. Quando o fotoblastismo

positivo, de outra forma, age como um mecanismo de detecção da formação de clareiras,

geralmente são exigidos longos fotoperíodos e alto v:ve, e desta maneira a semente não

dispara o processo germinativo quando ocorre um sunfleck (flashes de luz de curta duração

que ocorrem sob o dossel nas florestas). Este papel ecológico do fotoblastismo positivo foi

descrito por Vázquez-Yanes & Orozco-Segovia (1990) e geralmente está presente em

sementes de espécies pioneiras de floresta tropical pluvial, como Cordia africana Lam.

(Yirdaw & Leinonen, 2002), Cecropia obtusifolia Bertol. e Piper auritum Kunth (Vázquez-

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Yanes & Smith, 1982). Assim, espécies fotoblásticas positivas podem diferir no nível de

sensibilidade à luz (Vázquez-Yanes & Orozco-Segovia, 1993), que é tanto menor quanto

menor for a semente (Pearson et al., 2003). As diminutas sementes de P. arrabidae

apresentaram baixa sensibilidade à luz, germinando em todos os v:ve estudados, até mesmo no

menor de todos – a germinabilidade em 0,08 v:ve foi baixa, mas o importante a destacar é que

a espécie foi capaz de perceber a presença da luz. Flores et al. (2006) mostraram o

fotoblastismo positivo de diversas espécies de Cactaceae estava associado ao pequeno

tamanho delas. A mediana de 84% de germinação obtida em 1,12 v:ve, que é próxima à 1,19

v:ve da luz solar intensa (Bliss & Smith, 1985), seria provavelmente reduzida em condições

naturais, nas quais a razão v:ve de 1,12 deve estar associada a uma maior temperatura e menor

disponibilidade de água do que as condições ótimas utilizadas no experimento. A composição

espectral da luz solar incidente no maciço costeiro é alterada por alguns filtros antes de atingir

as sementes no solo. O solo não é sombreado por um dossel, mas por uma cobertura de

gramíneas, cuja clorofila constitui o primeiro filtro da luz incidente, à medida que absorvem

predominantemente o azul e o vermelho (Schmitt & Wulff, 1993) e assim reduzindo a razão

v:ve que atinge a superfície do solo. A fração areia, predominante na composição

granulométrica do local, atenua os comprimentos de onda menores, reduzindo ainda mais a

razão v:ve. Bliss & Smith (1985) mostraram que após 6mm de profundidade do solo arenoso

desnudo, a razão v:ve passa de 1,19 na luz incidente a 0,35. Pilosocereus arrabidae foi capaz

de germinar 64% em 0,35 v:ve. Considerando que ainda há a cobertura de gramíneas no local,

a população de sementes da espécie deve estar numa profundidade de enterramento menor que

6mm para ter luz necessária à germinação. Ainda há que considerar que o percentual de

transmissão da luz é quatro vezes menor no solo arenoso seco do que no mesmo úmido e que

precipitação média anual na área de estudo é muito baixa (800mm; Araujo, 1997). Assim, em

relação ao fator luz, a germinação pode ser favorecida se a dispersão ocorrer no período

chuvoso, que é na primavera e verão na região de Arraial do Cabo (Barbière, 1984), quando a

energia solar e o fotoperíodo são também mais elevados (Yoneshigue, 1985).

Algum nível de tolerância à salinidade é esperado para a germinação das plantas

costeiras devido à exposição à salinidade que são submetidas (Woodell, 1985), salinidade essa

presente no solo local e proveniente das praias próximas. O cacto estudado teve a sua

germinação completamente inibida entre os potencias hídricos -0,8 e -1,4MPa NaCl (Tabela

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1), já tendo sido verificada inibição semelhante em sementes dos cactos N. tetetzo, N.

mezcalaensis e N. macrocephala em -1.0MPa (Ramírez-Padilla & Valverde, 2005) e o oposto

ocorrendo com S. queretaroensis cuja germinação foi de 50% em -1.0MPa (De La Barrera &

Nobel, 2003). Apesar da inibição total entre os potenciais hídricos de -0,8 e -1,4MPa NaCl, as

sementes de P. arrabidae mantiveram sua viabilidade após os tratamentos de NaCl e

PEG6000, germinando mais de 50% quando transferidas para água destilada em velocidade

até cinco vezes maior que nas soluções salinas. Este mecanismo de recuperação está presente

nas sementes de espécies halófitas, distinguindo-as das glicófitas, e permite que a semente

possa sobreviver ao período de alta salinidade e então germinar no período chuvoso, o que é

comum às sementes de regiões áridas e semi-áridas (Khan & Gul, 2006). Pilosocereus

arrabidae iniciou a germinação poucos dias após a embebição (5-7 dias) e apresentou um

curto período de germinação (12 dias para estabilização; Figura 7). Esta germinação rápida,

que favorece o aproveitamento do período chuvoso, já foi demonstrada para sementes de

várias espécies halófitas, a exemplo de três taxa halofíticos de Sarcocornia (Redondo et al.,

2004) e de Haloxylon recurvum Bunge ex. Boiss. (Khan & Ungar, 1996). Desta forma, a

germinação rápida e a expressiva recuperação das sementes após altas concentrações salinas

seriam mais determinantes do seu comportamento halofítico do que a ausência de germinação

nos menores potenciais hídricos, uma vez que o nível de tolerância ao sal é extremamente

variável entre as halófitas (Khan & Gul, 2006). Pilosocereus arrabidae poderia ser

considerada uma espécie moderadamente halófita de acordo com o estudo de Khan & Ungar

(1996), o qual apresentou esta classificação para Zygophyllum simplex L. devido à inibição da

germinação em concentrações superiores à 125mM (próximo a -0,6MPa) A redução da

germinabilidade e da velocidade de germinação acompanhando a redução do potencial hídrico

é um padrão comum encontrado tanto para halófitas quanto para glicófitas. Entretanto,

espécies halófitas se diferenciam das glicófitas pelo fato da germinação de suas sementes ser

afetada principalmente pelo efeito osmótico do sal, o que é evidenciado pela recuperação das

sementes após alta concentração salina (Duan et al. 2004). Pilosocereus arrabidae mostrou

similaridade estatística entre soluções isotônicas de NaCl e PEG6000 apenas no menor

potencial hídrico estudado (-0,2MPa), para os dois parâmetros avaliados. Isto poderia ser uma

indicação de efeito iônico sobre as sementes da espécie nas soluções de potencial hídrico

inferior a -0,2MPa. Entretanto, a recuperação expressiva das sementes quando transferidas

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para água destilada mostram que não foram suficientemente danificadas pelos íons do sal a

ponto da viabilidade ser completamente perdida.

Luz, temperatura e potencial hídrico exercem importante influência na germinação das

sementes (Bewley, 1997). Estes fatores estão interagindo entre si (e com outros fatores

bióticos e abióticos) nas condições naturais do solo e provavelmente produzindo respostas

diferentes das obtidas no estudo da ação dos fatores isoladamente. O fotoblastismo positivo

das sementes de P. arrabidae exige que elas estejam posicionadas na superfície do solo para

que possam germinar, pois é somente nesta camada que a luz é mais abundante no solo (El-

Keblawy & Al-Rawai, 2005). Desta forma, as sementes ficam expostas a temperaturas mais

extremas e oscilantes (Baskin & Baskin, 1998). Temperaturas mais altas na superfície do solo

aumentam a evaporação da água e assim fazem com que sementes fotoblásticas positivas

estejam submetidas à concentração maior de sal e, portanto, à menor disponibilidade hídrica.

As concentrações de sal podem ser de 2 a 100 vezes maior na superfície do solo do que em

horizontes mais profundos (Ungar, 1978). Como típico de sementes halofíticas, as sementes de

P. arrabidae são capazes de sobreviver às condições de hipersalinidade e então germinar num

período de maior disponibilidade de água (Woodell, 1985) – isto é, quando o sal do solo é

lixiviado pela chuva. Germinando num período chuvoso, as sementes fotoblásticas positivas

de P. arrabidae são mais favorecidas pelo aumento substancial na transmitância do fluxo de

fótons no solo arenoso úmido (Rojas-Aréchiga et al., 1997; Bliss & Smith, 1985).

Considerações gerais

Apenas sementes e plântulas bem adaptadas podem germinar e sobreviver ao calor do

ambiente árido (Nolasco et al., 1997). O clima de Arraial do Cabo (RJ) é na maior parte do

ano seco e quente, oferecendo condições de acúmulo de sal e temperaturas elevadas na

superfície do solo. No entanto, à medida que as sementes de P. arrabidae não mostraram

perder a viabilidade depois de submetidas às altas concentrações salinas e germinaram com

acentuada eficiência após transferência para água pura, a espécie apresenta potencial para

sobreviver à época seca de Arraial do Cabo (RJ) e germinar quando o sal do solo é lixiviado

pela chuva. As sementes de P. arrabidae evidenciaram ainda características que otimizam a

absorção de água neste curto período favorável: alta relação superfície-volume (dada pelo

tamanho pequeno), elevada área de contato com o solo (em função da ornamentação da testa),

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protrusão da raiz principal através do opérculo, germinação rápida e ausência de dormência

inata. No período chuvoso, a temperatura na superfície do solo é atenuada, favorecendo a

germinação de P. arrabidae sob temperaturas amenas. Adicionalmente, a água aumenta a

transmitância da luz dentro do solo arenoso, e a semente fotoblástica positiva do cacto

estudado tem sua germinação favorecida. De fato, a frutificação e dispersão da espécie

ocorrem no período chuvoso de Arraial do Cabo (RJ), quando as exigências de água,

temperatura e luz à germinação das sementes de P. arrabidae são oferecidas.

Em ambientes áridos e semi-áridos, a dinâmica de populações de muitas espécies varia

consideravelmente por conta tanto das temperaturas extremas como pela imprevisibilidade de

eventos de chuva (Polis, 1991). Nestes ambientes, o recrutamento de plântulas de espécies

suculentas pode estar restrito aos raros pulsos de chuvas intensas (Jordan & Nobel, 1979;

Pierson & Turner, 1998), mesmo quando são produzidas sementes viáveis em abundância

(Mandujano et al., 1998). Uma vez que as sementes de P. arrabidae apresentaram altas taxas

de germinação apenas em condições de temperaturas amenas (20ºC) e moderada

disponibilidade hídrica, condições semelhantes às que ocorrem durante as raras chuvas

intensas, o recrutamento de plântulas desta espécie pode estar restrito a estreitas ‘‘janelas de

oportunidade” (sensu Jelinski & Cheliak, 1992; Eriksson 1997).

A transição entre os estádios de plântula e planta jovem tem a duração de um ano para

P. arrabidae (Zappi, 1994), e por isso, mesmo que a germinação ocorra no período chuvoso, a

plântula terá parte da sua fase de crescimento alcançada pelo período seco de Arraial do Cabo

(RJ). Desta forma, é importante que as sementes germinem em micro-sítios do relevo ou sob

outras plantas (plantas focais), a fim de oferecer condições mais amenas para o crescimento da

plântula. Cada uma destas duas situações foi observada uma única vez dentro dos dois anos de

desenvolvimento deste trabalho: um indivíduo jovem emergindo da fenda de uma rocha na

área de estudo, e outro crescendo sob uma moita densa de leguminosa em área vizinha à

estudada. Neste último caso, denominado sistema de plantas focais, é conhecido como um

importante promotor da germinação das sementes e estabelecimento das plântulas em

ambientes áridos e já foi relatado para as cactáceas Stenocereus thurberi (Engelm.) Buxb. e P.

pecten-aboriginum (Nolasco et al., 1997). A ausência de plantas arbustivas e arbóreas na área

de estudo pode explicar a ausência de observações de plântulas de P. arrabidae no local

estudado, pois sem a presença da planta focal, as sementes germinadas não ofereceriam as

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condições ambientais adequadas ao desenvolvimento das plântulas. A ausência de plantas de

maior porte na área de estudo e a dominância das gramíneas, contrastando com áreas

imediatamente adjacentes, pode ser explicada pela grande devastação que a vegetação do

município sofreu após a instalação da Companhia Nacional de Álcalis (CNA) (Fontenelle,

1960), produtora de barrilha (carbonato de sódio) principalmente, e sal (Álcalis, 2007; Prado,

2002). Com a instalação da CNA na década de 40, diversas trilhas foram abertas e a obtenção

de lenha ficou mais fácil, passando a haver uma destruição sistemática da vegetação de Arraial

do Cabo. Neste processo destrutivo, é possível que tenha sido localmente extinta certa planta

focal que tivesse o papel de viabilizar os primeiros estádios do ciclo de vida de P. arrabidae.

Neste caso, a cobertura de gramíneas do solo atualmente presente não estaria sendo suficiente

para atenuar as condições ambientais. A ausência de outros indivíduos emergindo das fendas

da rocha além daquele observado seria explicada pelo fato da fenda oferecer condições menos

amenas que o dossel arbóreo (Kigel, 1995), sendo este último o necessário ao estabelecimento

da espécie.

CONCLUSÃO

- A morfologia do desenvolvimento pós-seminal indicou que a germinação de P. arrabidae é

do tipo faneroepígea com hipocótilo de reserva, o qual proverá o crescimento inicial da

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plântula, sendo os cotilédones vestigiais;

- A disponibilidade de água é prontamente aproveitada pelas sementes de P. arrabidae, na

medida em que têm a embebição otimizada pela alta relação superfície-volume (dada pelas

cúpulas da testa), pela elevada área de contato o solo (devido ao tamanho pequeno), pela

rápida velocidade de germinação e pela ausência de dormência inata.

- A espécie não exige temperaturas alternadas como mecanismo para interromper dormência

inata;

- A germinação ótima ocorre em temperaturas amenas, que devem estar presentes no solo

durante o período chuvoso;

- A semente é halófita por manter sua viabilidade após submissão a potenciais hídricos bem

negativos, mostrando uma capacidade de sobreviver à salinidade do solo no período seco e

germinar quando o sal é lixiviado no período chuvoso;

- As sementes de P. arrabidae possuem fotoblastismo positivo, mecanismo que

provavelmente funciona, nesta espécie, como forma de evitar que as sementes germinem nas

camadas profundas do solo e a plântula originada tenha seu crescimento prejudicado pela

ausência de luz;

- Os variados aspectos morfológicos e fisiológicos identificados indicam que a germinação de

P. arrabidae possivelmente ocorre em um intervalo de maior disponibilidade hídrica e

temperaturas mais amenas dentro do clima semi-árido quente de Arraial do Cabo (RJ), isto é,

em “janelas de oportunidade”.

- Uma vez que a plântula de P. arrabidae é pequena e frágil e demanda um ano para se tornar

uma planta jovem, adentrando assim a estação seca de Arraial do Cabo (RJ), a germinação

provavelmente ocorre em micro-sítios do relevo (como fendas) ou sob outras plantas para

oferecer condições mais amenas à plântula.

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ANEXO – Por detrás dos panos: breve histórico do mestrado

[Janeiro/2005] O projeto inicial, que foi encaminhado para a seleção do mestrado, era o

de comparar a germinação de duas espécies de Cactaceae provenientes de habitats com

variações nas características ambientais: Pilosocereus arrabidae habitando costão rochoso e

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Opuntia brasiliensis habitando a floresta seca, estando as sementes da primeira espécie,

portanto, sujeita à maiores temperaturas, intensidades luminosas e salinidade do substrato.

[Março/2005] Aprovada no mestrado, iniciou-se a proposta apresentada para a

comissão da seleção do mestrado. Na primeira ida ao local da coleta (Arraial do Cabo, RJ),

constatou-se que a frutificação de O. brasiliensis não ocorria em quantidade suficiente para a

realização dos experimentos. Optou-se por não realizar coletas desta espécie para evitar grave

depleção genética na população. A dissertação passou então a tratar da ecofisiologia da

germinação apenas de P. arrabidae, adicionando-se experimentos comparativos da

longevidade sob condições naturais e controladas.

[Maio/2005] Na primeira frutificação prevista para P. arrabidae no período do

mestrado, P. arrabidae estava frutificando e junto com ele, outros indivíduos que inicialmente

não sabíamos se eram indivíduos senescentes da mesma espécie ou se era de fato outra

espécie. Realizamos as coletas de ambos e, posteriormente, descobrimos que não eram

indivíduos senescentes de P. arrabidae, mas sim outra espécie congenérica – P. ulei -, que

ocorria em simpatria com P. arrabidae e era endêmico de Arraial do Cabo/RJ. O objetivo do

projeto de mestrado passou a ser então comparar a ecofisiologia da germinação e a

longevidade de sementes de P. arrabidae e P. ulei.

[Maio a outubro/2005] Os primeiros experimentos realizados com sementes de P.

arrabidae e P. ulei apresentavam uma porcentagem de germinação nunca superior a 50%. Este

número nos intrigou e, antes de concretizar os objetivos da dissertação, precisaríamos entender

o motivo da espécie ter a germinação da metade da sua produção, por mais favoráveis que

fossem as condições em laboratório. Estariam as sementes dormentes? Se estivessem, que tipo

de dormência seria? Será que a maturação das sementes se iniciava da abertura para a base do

fruto? Haveria inibidores da germinação na semente? Diversos testes foram realizados para

responder estas perguntas: imersão em ácido sulfúrico 98% em tempos diferentes; imersão em

nitrato de potássio com diversas concentrações; imersão em giberelina; divisão dos frutos em

duas partes (externa e base) e germinação das sementes destas partes separadamente; lavagem

por 48h de possíveis inibidores. Nenhum destes experimentos apresentou resultado positivo.

Quer dizer: as sementes não estavam dormentes, as sementes germinavam sincronicamente

dentro do mesmo fruto e inibidores da germinação não estavam presentes. O que fazer? Como

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dar início aos experimentos com sementes que aparentemente não eram provenientes de

população 100% viável?

[Outubro/2005] Constata-se que P. arrabidae e P. ulei perdem a viabilidade das suas

sementes sob condições controladas em 6 meses. Assim, não haveria possibilidade de realizar

mais experimentos com as sementes que estavam armazenadas na câmara de armazenamento

do Laboratório de Sementes do JBRJ.

[Novembro/2005 a janeiro/2006] Segunda frutificação de P. arrabidae e P. ulei. Os

frutos de ambas as espécies foram coletados e, adicionalmente, coletou-se frutos de Cereus

fernambucensis, cactácea também presente na localidade e que estava frutificando pela

primeira vez desde o início do trabalho. Tinham poucos frutos de P. ulei na população, e por

isso, o trabalho com esta espécie não pôde ser iniciado. Desta vez, ao beneficiar os frutos de

P. arrabidae, percebemos que os mesmos tinham aspecto diferente dos frutos coletados

anteriormente. Frutos desta coleta estavam com polpa mais porosa, com menos mucilagem

que os frutos da coleta de maio/2005. Esta impressão durante o beneficiamento foi uma

indicação que desta vez a porcentagem de germinação seria superior a 50%. E assim foi – o

máximo de germinabilidade ficou em 90%. Assim, os experimentos foram iniciados para P.

arrabidae e C. fernambucensis, ficando excluído P. ulei por não haver sementes suficientes

para realização dos ensaios. O primeiro experimento foi o de temperatura para que, sabendo da

temperatura ótima, os outros testes pudessem ser conduzidos. Neste experimento, as sementes

de C. fernambucensis em uma semana ficaram repletas de fungos e nenhuma delas germinou,

ficando esta espécie também excluída dos estudos. Os outros experimentos previstos (NaCl,

PEG6000, Recuperação e Luz) foram concluídos com sucesso para P. arrabidae.

[Maio/2006] Com a indicação de que a germinação das sementes de P. arrabidae era

influenciada pelo seu nível de maturação, surgida durante o beneficiamento em

novembro/2005, surge a idéia de se comparar a germinação entre os diferentes níveis de

maturação da espécie. Em meados de maio se realiza outra excursão de campo para iniciar o

trabalho de maturação de frutos e sementes de P. arrabidae e para tentar encontrar frutos de

P. ulei, não produzidos na última frutificação. Novamente não houve frutificação de P. ulei.

Frutos de diferentes fases de maturação foram coletados; tinham poucos frutos em cada fase.

Em laboratório, foi constatada a diferença na germinabilidade e teor de umidade de frutos e

sementes entre as diferentes fases de maturação. Realizou-se uma revisão bibliográfica sobre o

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assunto e então foi elaborada a metodologia a ser executada, com númeor maior de frutos para

que a nossa amostra fosse representativa da população. No final de maio foi realizada uma

excursão de campo para (1) marcar os indivíduos que teriam sua fenologia acompanhada e (2)

coletar frutos de diferentes fases de maturação. Surpreendentemente, parecia que havia tido

uma redução na quantidade de frutos entre as duas excursões (intervalo de 16 dias apenas). Só

foi possível coletar frutos verdes, pois os frutos das fases de maturação posteriores não

estavam presentes na população. De todo jeito, os testes foram realizados para os frutos verdes

coletados, na expectativa do trabalho poder ser continuado. Quinze e trinta dias depois outras

excursões foram realizadas e, para nossa surpresa, os frutos que estavam progressivamente

desaparecendo da população desapareceram completamente.

[novembro/2006] Foi realizada outra tentativa de executar o trabalho de maturação de

frutos e sementes de P. arrabidae. Coletaram-se frutos verdes na primeira excursão e com

eles, foram realizados os experimentos previstos. Quinze, trinta e quarenta e cinco dias depois,

outras três idas a campo foram realizadas. O mesmo foi observado para a frutificação anterior,

em maio/2006. Os frutos desapareceram da população e não se puderam obter frutos das

outras fases de maturação. Toda a extensão do município foi percorrida e apenas foram

encontrados um fruto roxo fechado e outro fruto verde-arroxeado. Esta amostra não seria

representativa da população, e assim novamente não terminamos o trabalho de maturação

previsto. Nesta excursão, observou-se que a cactácea exótica O. dillenii estava frutificando em

abundância. A coleta foi realizada, mas as sementes não germinaram, não estavam viáveis.

Tentou-se investigar a presença de dormência, mas nenhuma medida reverteu esta

possibilidade, que portanto foi descartada.

[Janeiro/2007] Sem tempo mais para continuar tentando agregar resultados à

dissertação, a ilustradora Ângela, que já há tempos vinha ilustrando o desenvolvimento pós-

seminal das espécies de cactácea em estudo, terminou as pranchas. Em parceria com Tânia

Sampaio, a morfologia do desenvolvimento pós-seminal de P. arrabidae foi descrita e

incorporada à dissertação. Tem-se por fim então o estudo da ecofisiologia da germinação de

sementes de P. arrabidae e a descrição morfológica da sua germinação.

[vésperas da entrega da dissertação] Por tudo isso, vejo que caminhos de outros

trabalhos com a espécie estudada apareceram durante o mestrado, mas não puderam ser

concluídos por limitações que a própria natureza nos impôs. A conclusão que chego,

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honestamente falando, é que trabalhos sobre germinação que tenham que ser realizados dentro

de um prazo determinado devem discorrer sobre espécies já com prévio conhecimento de

aspectos básicos, como a regularidade da frutificação e tempo que a semente permanece viável

depois de coletada.