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INSTITUTO DE PESQUISAS ENERGTICAS E NUCLEARES
AVALIAO DA RESISTNCIA MICRO-TRAO DA RESINA COMPOSTA
NO ESMALTE APS CLAREAMENTO DENTAL. INFLUNCIA DA
IRRADIAO COM O LASER DE Er:YAG E O TIPO DO SISTEMA ADESIVO
Laura Filgueiras Mohana Pinheiro
Dissertao apresentada como parte dos requisitos para obteno do Grau de Mestre Profissional em Lasers em Odontologia. Orientador: Edgar Yuji Tanji Co-Orientador: Edson Puig Maldonado.
So Paulo
2007
ii
A DEUS, por estar presente em todos
os momentos, conduzindo minha vida
e dando coragem para seguir em
frente.
minha famlia, especialmente aos
meus amados e queridos pais, Jos
Miguel Mohana Pinheiro e Maria
Tereza Filgueiras Mohana Pinheiro,
pelo amor, amizade, dedicao,
incentivo indispensveis na minha
vida; pela oportunidade de fazer o
mestrado, pela confiana depositada
em mim e por andarem sempre ao
meu lado durante minha caminhada.
iii
AGRADECIMENTOS ESPECIAIS
Ao Prof. Dr. Edgar Yuji Tanji cuja capacidade e competncia foram essenciais
para meu crescimento pessoal e profissional. Como orientador, agradeo pela pacincia,
ateno, compreenso e dedicao demonstrada em todos os momentos.
Leila Soares Ferreira pela ateno e dedicao sempre dispensadas e pela
participao no meu aprendizado tcnico e intelectual. Obrigada pelo constante estmulo e,
acima de tudo, pela amizade sempre demonstrada.
iv
AGRADECIMENTOS
Ao Instituto de Pesquisas Energticas e Nucleares (IPEN), na pessoa do
coordenador do Mestrado Profissionalizante Lasers em Odontologia Prof. Nilson Dias
Vieira Junior.
Ao Prof. Dr. Edson Puig Maldonado pela participao no meu aprendizado
durante o programa de mestrado e alegria demonstrada em suas aulas.
Aos demais professores do Mestrado Profissionalizante Lasers em
Odontologia pela contribuio em minha formao profissional.
Ao Laboratrio Especial de Laser em Odontologia (LELO) da Faculdade de
Odontologia da Universidade de So Paulo pela utilizao do laser de rbio, essencial para
concluso deste trabalho.
Ao Departamento de Dentstica da Faculdade de Odontologia da Universidade
de So Paulo, na pessoa da Profa. Dra. Adriana Bona Matos pela utilizao das mquinas
necessrias realizao deste trabalho.
Ao apoio administrativo do IPEN, na pessoa de Andra Malavasi pela
agradvel convivncia, dedicao e ateno prestada.
Ao apoio administrativo e tcnico do LELO, nas pessoas de Liliane, a Lili,
Joelma e Haroldo pela dedicao e incansvel disponibilidade em todos os momentos.
Profa. Dra. Maria Carmen Fontoura Nogueira da Cruz pela disponibilidade
demonstrada desde o incio da graduao, pelo incentivo constante e por tanta dedicao
dispensada ao longo desses anos. Sua amizade fundamental.
Aos colegas de mestrado pelo companheirismo e amizade em todos os
momentos. Em especial amiga Tatiana Cargnelutti pela agradvel convivncia, grande
amizade, incentivo constante e por tanta dedicao dispensada. Sua amizade foi essencial e
continuar sendo sempre.
Aos meus irmos, Gianna e Thiago pela amizade, apoio e compreenso.
Aos demais membros da minha famlia pelo apoio constante em todas as etapas
de minha caminhada.
Ao meu amigo, namorado, companheiro Ricardo pelo amor, compreenso e
apoio em todos os momentos.
amiga Sandra Leite pelas palavras de incentivo e amizade, pela sua constante
dedicao e ateno desde a poca de faculdade, muito obrigada.
v
querida Tia Helena pelas suas palavras de conforto, amizade, descontrao e
sua constante dedicao. No poderia deixar de agradecer a sua generosidade na minha
agradvel estada em So Paulo.
querida amiga Flvia por todos esses anos de amizade, dividindo alegrias,
vitrias, tristezas, mas sempre com alto-astral e me incentivando a ir em frente sempre.
A todos que direta e indiretamente contriburam para a realizao deste
trabalho.
Meus sinceros agradecimentos.
vi
AVALIAO DA RESISTNCIA MICRO-TRAO DA RESINA COMPOSTA
NO ESMALTE APS CLAREAMENTO DENTAL. INFLUNCIA DA
IRRADIAO COM O LASER DE Er:YAG E O TIPO DO SISTEMA ADESIVO
Laura Filgueiras Mohana Pinheiro
RESUMO
Este estudo teve como objetivo avaliar in vitro a influncia da irradiao do
laser de rbio (Er:YAG) na adeso da resina composta ao esmalte dental imediatamente
aps tratamento clareador (perxido de hidrognio a 35%), variando-se o tipo de solvente
do adesivo, lcool e acetona . Superfcies de esmalte de 16 pr-molares humanos foram
utilizados e divididos em 8 grupos: G1 (clareado, condicionamento com cido fosfrico +
laser, adesivo com solvente base de lcool), G2 (clareado, condicionamento com cido
fosfrico, adesivo com solvente base de lcool), G3 (clareado, condicionamento com
cido fosfrico + laser, adesivo com solvente base de acetona), G4 (clareado,
condicionamento com cido fosfrico, adesivo com solvente base de acetona), G5 (no
clareado, condicionamento com cido fosfrico + laser, adesivo com solvente base de
lcool), G6 (no clareado, condicionamento com cido fosfrico, adesivo com solvente
base de lcool), G7 (no clareado, condicionamento com cido fosfrico + laser, adesivo
com solvente base de acetona) e G8 (no clareado, condicionamento com cido fosfrico,
adesivo com solvente base de acetona). Os parmetros de irradiao foram: energia de 80
mJ por pulso, taxa de repetio de 4 Hz, correspondendo a uma densidade de energia de
6,4 J/cm2. Todas as amostras foram submetidas ao teste de micro-trao. Os resultados
mostram que o condicionamento do esmalte dental aps tratamento clareador com apenas o
cido fosfrico ainda a melhor opo quando se opta pela confeco de uma restaurao
com resina composta. Podemos concluir que na ausncia do clareador a associao cido
fosfrico + laser possui uma maior resistncia adesiva e que na presena do clareador no
h diferena entre as resistncias adesivas segundo o tipo de preparo de superfcie e o tipo
de solvente do sistema adesivo.
vii
EVALUATION OF MICRO-TENSILE BOND STRENGTH OF COMPOSITE
RESIN ON DENTALENAMEL AFTER BLEACHING. INFLUENCE OF THE
Er:YAG LASER IRRADIATION AND
THE ADHESIVE SYSTEM.
Laura Filgueiras Mohana Pinheiro
ABSTRACT
This study had as objective to evaluate in vitro the influence of the
irradiation of the erbium laser (Er:YAG) in the adhesion of the composite resin to the
dental enamel immediately after bleaching treatment (35% hydrogen peroxide) varying the
type of solvent of the adhesive. Enamel surfaces of 16 human beings 1st and 2nd bicuspid
had been used and divided into 8 groups: G1 (bleached, conditioning with phosphoric acid
+ laser, adhesive with solvent to the alcohol base), G2 (bleached, conditioning with
phosphoric acid, solvent adhesive to the alcohol base), G3 (bleached, conditioning with
phosphoric acid + laser, adhesive with solvent to the acetone base), G4 (bleached,
conditioning with phosphoric acid, solvent adhesive to the acetone base), G5 (not
bleached, conditioning with phosphoric acid + laser, adhesive with solvent to the alcohol
base), G6 (not bleached, conditioning with phosphoric acid, solvent adhesive to the alcohol
base), G7 (not bleached, conditioning with phosphoric acid + laser, adhesive with solvent
to the base of acetone) and G8 (not bleached, conditioning with phosphoric acid, solvent
adhesive to the acetone base). The irradiation parameters had been: energy of 80 mJ for
pulse, frequency standardized in 4 Hz, corresponding to energy density of 6,4 J/cm2. All
the samples had been submitted to the micron-traction test. The results show that the
conditioning of the dental enamel after the phosphoric acid only bleaching treatment is still
the best option when choosing the confection of a restoration with composed resin. We
finally conclude that in the absence of bleach the combination of phosphoric acid + laser
gets a better adhesive resistance. When the bleach is present, there is no difference between
viii
the adhesive resistances according to the way of surface preparation and the kind of
adhesive systems solvent.
ix
SUMRIO
Pgina
1 INTRODUO ............................................................................................... 16
2 OBJETIVO ...................................................................................................... 19
3 REVISO DE LITERATURA........................................................................ 20
3.1 Adeso............................................................................................................... 20
3.2 Clareamento dental ............................................................................................. 26
3.2.1 Evoluo histrica das tcnicas de clareamento..................................................... 26
3.2.2 Etiologia das alteraes de cor dos dentes .......................................................... 29
3.2.3 Agentes clareadores ........................................................................................... 30
3.2.3.1 Perxido de Hidrognio ..................................................................................... 30
3.2.3.2 Perxido de Carbamida...................................................................................... 31
3.2.4 Efeito sobre a adeso ......................................................................................... 31
3.3 Laser de Er:Yag................................................................................................. 36
4 MATERIAL E MTODO ............................................................................... 54
4.1 Materiais............................................................................................................ 54
4.1.1 Amostras ........................................................................................................... 54
4.1.2 Agente clareador................................................................................................ 54
4.1.3 Sistema adesivo e resina composta..................................................................... 55
4.1.4 Equipamentos .................................................................................................... 57
4.2 Mtodo .............................................................................................................. 58
4.2.1 Limpeza e armazenagem das amostras............................................................... 58
4.2.2 Preparo das amostras ......................................................................................... 59
4.2.3 Diviso dos grupos experimentais...................................................................... 59
4.2.4 Tratamento clareador ......................................................................................... 61
4.2.5 Tratamento das superfcies dentinrias............................................................... 61
4.2.6 Procedimento adesivo ........................................................................................ 62
4.2.7 Procedimento restaurador .................................................................................. 63
4.2.8 Armazenagem e estocagem das amostras em gua destilada............................... 63
x
4.2.9 Preparo das amostras para o teste de micro-trao.............................................. 63
4.2.10 Ensaios de micro-trao..................................................................................... 64
5 RESULTADOS ................................................................................................ 65
6 DISCUSSO .................................................................................................... 73
7 CONCLUSES................................................................................................ 80
8 ANEXO: Parecer de aprovao n 195/06 ...................................................... 81
9 REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS............................................................ 82
xi
LISTA DE TABELAS
Tabela 1 Medidas-resumo da Carga de Ruptura (MPa) por forma de preparo de
superfcie, tipo de adesivo e uso de clareador...........................................
65
Tabela 2 Anlise de Varincia do modelo completo para a varivel carga de
ruptura...........................................................................................................
69
Tabela 3 Anlise de Varincia do modelo nos grupos sem clareadores para a
varivel carga de ruptura..........................................................................
71
Tabela 4 Anlise de Varincia do modelo nos grupos com clareadores para a
varivel carga de ruptura..........................................................................
72
xii
LISTA DE FIGURAS
Figura 1 Agente clareador- perxido de hidrognio 35% e espessante (Whiteness
HP FGM).......................................................................................... ....
54
Figura 2 cido fosfrico 35%..................................................................................... 55
Figura 3 Sistema adesivo com solvente base de lcool ........................................ 55
Figura 4 Sistema adesivo com solvente base de acetona...................................... 56
Figura 5 Resina composta hbrida fotoativada........................................................ 56
Figura 6 LED Bright LEC (MMOptics). ................................................................ 57
Figura 7 Laser de Er:YAG (Kavo 2 KaVo Co.- Biberach Germany ................. 58
Figura 8 Preparo das amostras .............................................................................. 59
Figura 9 Irradiao com laser Er:YAG .................................................................. 62
Figura 10 Amostra aps procedimento restaurador...................................................... 63
Figura 11 Esquema de palitos....................................................................................... 63
Figura 12 Mquina universal de ensaio Mini-Instron, modelo 4442 ........................ . 64
xiii
LISTA DE QUADROS
Quadro 1 Resina composta e sua composio......................................................... . 56
Quadro 2 Diviso dos grupos..................................................................................... 60
xiv
LISTA DE GRFICOS
Grfico 1 Box-Plot da carga de ruptura (MPa) por grupos G1 e G3.......................... 66
Grfico 2 Box-Plot da carga de ruptura (MPa) por grupos G1 e G2......................... 67
Grfico 3 Box-Plot da carga de ruptura (MPa) por grupos G3 e G4. ......................... 68
Grfico 4 Mdias de carga de ruptura (MPa), por forma de preparo e adesivo sem
o uso de clareador......................................................................................
70
Grfico 5 Mdias de carga de ruptura (MPa), por forma de preparo e adesivo com
o uso de clareado......................................................................................
70
xv
LISTA DE SIGLAS
ANOVA Anlise de Varincia
ANSI Normas de Segurana Internacionais
ATM Articulao Tempor-Mandbula
EDS Espectrometria de Disperso de Energia
EDTA cido Etilenodiamino Tetra-actico
FOUSP Faculdade de Odontologia da Universidade de So Paulo
IPEN Instituto de Pesquisas Energticas e Nucleares
LASER Light Amplification by Stimulated Emission of Radiation
LELO Laboratrio Especial de Laser em Odontologia
MPa Mega Pascal
MET Microscopia Eletrnica de Transmisso
MEV Microscpio Eletrnica de Varredura
MO Microscpio ptico
MASER Microwave Amplificated by Stimulated Emission of Radiation
NGVB Nightguard Vital Bleaching
N Newton
16
1 INTRODUO
A vaidade muito mais que o desejo de melhor mastigar, tem sido o motivo
dominante no desenvolvimento da odontologia. Em uma sociedade consumista como a que
se vive, a aparncia esttica no somente um sinal de sade e beleza, mas tambm, de
auto-estima, situao financeira e at mesmo sensualidade, e acima de tudo encarada em
nossa cultura como ferramenta indispensvel para a competio profissional vivenciada
atualmente, impulsionada por uma mdia atuante e formadora de opinio, gerando um
padro esttico e de comportamento universal.
A esttica dos dentes, em particular se encontra dentro deste contexto, no qual
a demanda por uma beleza e preservao das estruturas dentrias tem sido a tnica da
odontologia atual. Motivo pelo qual os cirurgies-dentistas vm sendo largamente
solicitados para estabelecerem a aparncia natural dos dentes e melhorar a harmonia do
sorriso (Spalding, 2000).
O clareamento dental surge, neste contexto, como primeira opo para
solucionar casos de dentes escurecidos, por ser uma tcnica conservadora e que traz
resultados estticos satisfatrios, em um curto perodo de tempo.
Um dos agentes clareadores mais empregados para a tcnica do clareamento
dental em consultrio o perxido de hidrognio em concentraes que variam de 7,5% a
35%.
O processo qumico clareador se baseia em uma reao de oxidao, na qual
macromolculas orgnicas so oxidadas e convertidas em dixido de carbono e gua, os
quais sero difundidos atravs da superfcie dental.
Contudo, aps a realizao do clareamento, faz-se necessria a troca e ou a
confeco de restauraes adesivas estticas.
O incio deste desenvolvimento foi a preconizao da tcnica do
condicionamento cido do esmalte proposta por Buonocore em 1955, na qual, por meio do
tratamento qumico da superfcie do esmalte dental, conseguiu-se melhorar a adeso desta
estrutura materiais restauradores estticos. As principais dificuldades em se conseguir
17
adeso ideal ao substrato dentinrio so a presena de variveis na composio dos
adesivos e as caractersticas do substrato no quais estes iro atuar.
Aliado ao desenvolvimento dos sistemas adesivos, ocorreu um grande avano
nos aparelhos e equipamentos para uso em Odontologia, surgindo, dentre eles, os lasers. A
primeira fonte a emitir laser foi desenvolvida em 1960 por Theodore Maiman, atravs da
excitao de um cristal de rubi. Surgiu ento, a amplificao da luz por emisso estimulada
de radiao, recebendo o nome de Laser, acrnimo de Light Amplification by Stimulated
Emission of Radiation.
A utilizao do laser na atualidade vem obtendo grande xito, devido,
principalmente, s suas propriedades especiais que diferenciam a sua luz da comum. A
colimao (o feixe de luz direcional e no diverge como a luz comum) possibilita a
focalizao da luz laser em pequenas reas com emisso de altas densidades de energia,
produzindo sobre o tecido irradiado efeitos como a hemostasia, a coagulao, a
vaporizao e o corte.
A introduo do Laser de Er:YAG na odontologia surge como um instrumento
alternativo na odontologia restauradora . O laser de Er:YAG (2,94 m) pode ser utilizado
na clnica odontolgica para a realizao de preparos cavitrios por que seu comprimento
de onda efetivamente absorvido pela gua existente nos tecidos duros do dente, causando
um rpido aquecimento de um volume (Courrol et al., 2003).
Alguns estudos relatam a eficincia do laser de Er:YAG no preparo de
cavidades e a sua capacidade de expor os tbulos dentinrios. De acordo com estes
trabalhos, este laser deixa a superfcie dentinria apropriada para a adeso de resinas
compostas, no necessitando da utilizao do condicionamento cido (Visuri et al., 1995).
Com o objetivo de melhorar a adeso da resina composta ao esmalte aps
clareamento dental, vrios mtodos tm sido pesquisados para o tratamento da superfcie
do esmalte como o condicionamento cido que consiste na aplicao de cido fosfrico
37% e a irradiao laser, assim como a utilizao de diferentes sistemas adesivos, os quais
possuem diferentes tipos de solventes, como por exemplo sistema adesivo com solvente
base de acetona e sistema adesivo com solvente base de lcool.
Dessa forma, a fim de contribuir para a efetividade e confiabilidade do
tratamento clareador, deve ser realizado estudos para o aprimoramento clnico da
18
tecnologia laser e esclarecimentos sobre a minimizao dos efeitos do tratamento clareador
sobre a adeso ao esmalte.
19
2 OBJETIVO
O presente trabalho tem como objetivo avaliar in vitro a influncia da
irradiao do Laser de Er:YAG na adeso da resina composta ao esmalte imediatamente
aps o clareamento dental, variando-se o tipo do solvente do sistema adesivo.
20
3 REVISO DE LITERATURA
3.1 Adeso
Em 1955, Buonocore desenvolveu um mtodo para tratamento da superfcie de
esmalte em dentes humanos que aumenta a reteno de materiais restauradores acrlicos
nesta estrutura. Utilizando dois tipos de pr-tratamento do esmalte dental, cido
fosfomolibidlico-oxlico e cido fosfrico comparou a adeso sobre dentes, nos quais
gotas de acrlico foram colocadas sobre superfcies no tratadas. O autor observou que nos
dentes tratados com cido fosfomolibidlico-oxlico a resina acrlica permaneceu aderida
durante 160 horas, ao passo que nos dentes do grupo controle, a durao mdia foi de
somente 6 a 12h. Nos dentes tratados com cido fosfrico, a durao mdia foi de 1070
horas. Por no possuir entendimento completo do mecanismo envolvido no processo,
Buonocore (1955) concluiu que houve um aumento sensvel da adeso, quando o
tratamento superficial da superfcie do esmalte dental era efetuado com o cido, sendo
considerado um bom recurso para o aumento da reteno mecnica de resina superfcie
dental.
Caldwell et al. (1957), ressaltam as propriedades fsicas nicas do esmalte:
possui uma dureza muito alta, variando de 200 a 500 Knoop, situando-se no grau seis na
escala Mohs, um alto mdulo de elasticidade (alta rigidez) e uma relativamente baixa de
resistncia trao intrnseca, caracterstica indicativa de um material muito frivel, que
somente no se fratura facilmente devido alta resistncia compresso da dentina, da
qual o esmalte deriva sua funcional durabilidade.
Frank e Sognnaes (1960) relataram que o esmalte o tecido mineral mais duro
do corpo. O componente inorgnico do esmalte constitudo, principalmente, de apatita na
sua forma de hidroxi, fluoro ou carbono, sendo seus dois maiores componentes inorgnicos
o fosfato e o clcio, com leves variaes. O esmalte possui uma estrutura cristalina, no qual
os cristais possuem dimenso ultramicroscpica, razo pela qual so freqentemente
denominados cristalitos.
Apesar de toda essa abundncia de matria inorgnica, Carlstrom et al. (1963)
relatam que a gua tambm est presente no esmalte dental, associada matriz orgnica e
21
envolvendo os cristalitos de apatita, estando em muito maior proporo (4%) do que o
componente orgnico.
Gwinnett e Buonocore (1965) pesquisaram o efeito de vrias concentraes de
cidos no esmalte, utilizando solues condicionadoras como cido fosfrico a 10%, 20%,
30% e 40%, alm de uma soluo modificada a 50%, lquido do cimento de silicato, cido
clordrico a 40% com fluoreto de sdio a 3%, cido Etilenodiamino Tetra-actico (EDTA)
e sal tetrassdico do EDTA a 10%. Os autores concluram que superfcies tratadas com
solues de EDTA possuam uma adeso inferior, quando comparadas s superfcies
tratadas com os outros cidos. Solues de cido clordrico provocaram ataques intensos,
sendo que o melhor desempenho foi apresentado pela soluo modificada de cido
fosfrico. Foi observado que um aumento na concentrao do cido fosfrico produzia
menores alteraes na superfcie de esmalte dental.
Em 1968, Buonocore et al (1968), avaliando a penetrao das resinas no
esmalte condicionado por um minuto com cido fosfrico a 50%, com adio de 7% de
xido de zinco, concluram que um adequado tratamento da superfcie dental com cido,
associado ao uso de resina, poderia criar uma restaurao mais forte, selada e resistente
micro infiltrao.
Tambm Sharpe e Grenoble (1971) verificaram diminuio da infiltrao
marginal, verificando a penetrao da resina fluida no interior das micro retenes do
esmalte. As alteraes histolgicas e topogrficas no esmalte humano, aps tratamento
com agentes condicionadores cidos, foram analisadas atravs de Microscpio ptico
(MO), Microscopia Eletrnica de Varredura (MEV) e Micro Radiografia por Gwinnett
(1971), observando mais freqentemente a remoo do centro dos prismas de esmalte, e
com menor freqncia, houve a seletiva remoo da periferia dos prismas. A estrutura do
esmalte se apresentou com sutil alterao, com profundidade de 5 a 25 m (com cido
fosfrico a 10% e 50%) e acima de 25 m (com cido hidroclordrico a 0,5N), aumento de
sua porosidade, que propicia a penetrao de resina fluida e o mecanismo de reteno
mecnica dos materiais restauradores.
Garone Filho, Murillo e Garona Netto (1975) afirmou que o procedimento de
condicionar o esmalte, gerou profunda mudana na forma de reteno para as restauraes
estticas; estabeleceu no somente melhorias em termos de reteno, como tambm uma
22
efetiva diminuio da infiltrao na medida em que a penetrao das resinas fluidas no
interior das micro retenes estabeleciam o mecanismo de adeso.
Silverstone et al. (1975), mostraram que no esmalte dental humano, exposto a
diferentes solues cidas in vitro, apresentou-se com diferentes padres de
condicionamento, como o padro tipo 1, com dissoluo preferencialmente do centro dos
prismas de esmalte; o padro tipo 2, com a dissoluo preferencialmente da periferia dos
prismas de esmalte, deixando os centros dos prismas relativamente intactos; e o padro tipo
3, no qual h um padro aleatrio de dissoluo dos prismas de esmalte, no relacionado
com a morfologia dos prismas.
De acordo com Retief (1987), o condicionamento cido do esmalte elimina
efetivamente a micro infiltrao de restauraes em resina composta se o esmalte presente
for suficiente, particularmente, na margem gengival das restauraes. Afirmou tambm
que alguns novos sistemas adesivos de dentina tm potencial para prevenir micro
infiltrao, necessitando de mais estudos para que esta afirmativa seja estabelecida.
De acordo com o estudo de Tao (1988), a fora de adeso ao cisalhamento do
Scotchbond/Silux, em esmalte e dentina preparados com brocas de baixa e alta rotao,
discos abrasivos (320 ou 600) e lminas diamantadas em baixa velocidade, no apresentou
diferenas significantes. O condicionamento com cido fosfrico a 37% na superfcie do
esmalte, aproximadamente, duplicou os valores de adeso. Em MEV, pode-se observar que
pontas diamantadas de granulao fina criam uma camada de esfregao fina e densa, discos
abrasivos de carboneto de silcio em baixa velocidade ou brocas diamantadas grossas
produzem esfregao mais espesso e solto. Apesar dessas diferenas, os diferentes meios
para preparao do esfregao dentinrio apresentam similar fora de adeso.
Yamaguchi, Powers e Dennison (1989) avaliaram a fora de trao em esmalte
e dentina humanos, de dois sistemas adesivos. Foram utilizados vrios substratos
diferentes: dentina no condicionada, dentina condicionada com cido poliacrlico a 10%,
dentina condicionada com cido fosfrico, agente adesivo pr-polimerizado ou
polimerizado, juntamente com a resina composta, alm de dois tempos de estocagem em
gua a 370 C, 1 dia e 1 semana. De acordo com os resultados obtidos, a tcnica de
polimerizao e o tempo de estocagem no afetaram a fora de adeso. Com relao ao
substrato dentinrio, a dentina no condicionada foi a que obteve maior fora adesiva. A
23
explicao para o baixo resultado obtido na dentina condicionada por cido, seria o tipo de
sistema adesivo utilizado, que segundo os autores, foi desenvolvido para promover adeso
qumica ao clcio da dentina.
Garone Filho et al. (1993), relataram que, na verdade o procedimento de
condicionar o esmalte, o qual gerou profunda mudana na forma de reteno, para as
restauraes estticas, estabeleceu no somente melhorias em termos de reteno, mas em
efetiva diminuio da infiltrao marginal na medida em que a penetrao das resinas
fluidas no interior das micro retenes, estabeleciam o mecanismo de adeso, e que, o bisel
preparado em esmalte permite um padro mais homogneo de condicionamento.
A partir de um breve histrico da adeso ao esmalte e dentina, e uma viso do
estado atual, Swift Jr. et al. (1995), afirmaram que devido as caractersticas histolgicas, a
adeso de materiais restauradores ao esmalte apresenta menor dificuldade, e maior
eficincia, que quela realizada na dentina. O condicionamento com o cido fosfrico
remove cerca de 10 m da superfcie do esmalte e desmineraliza uma camada de 5 a 50 m
de profundidade na subsuperfcie do esmalte, criando micro porosidades e canais que sero
preenchidos pelo agente adesivo, promovendo o embricamento micro mecnico das resinas
estrutura do esmalte.
Em publicao sobre o uso clnico das resinas compostas em dentes
posteriores, Mondelli (1995) classifica a resina composta Z-100 (3M), como hbrida
intermediria, com indicao para uso em dentes posteriores, (multiuso), com tamanho de
partculas de 0,04 a 5,0 m. Preconiza a realizao do condicionamento cido do esmalte
com cido fosfrico a 37% por 30 segundos; lavagem abundante com jatos de gua/ar por,
no mnimo, 30 segundos. Segundo o autor, a utilizao do cido em forma de gel deve ser
preferida, pois, nesta forma de apresentao, consegue-se um melhor controle da regio a
ser condicionada, sem que extravase para dentro da cavidade ou em reas do esmalte que
no vo ser restauradas. Depois, seca-se a cavidade com jatos de ar e verifica-se a
ocorrncia do condicionamento, do esmalte pela sua aparncia esbranquiada e opaca.
Aps o condicionamento importante que o profissional no toque na rea com as mos
ou com algum instrumento metlico, para no fraturar os prismas de esmalte e tambm no
contaminar a rea condicionada com alguma substncia gordurosa, o que acarretar perda
da adeso no esmalte e falha da restaurao.
24
Souza Jr. (1995), fez ressalvas sobre os sistemas adesivos desenvolvidos
naquela poca, explicando sua evoluo, estgio e consideraes clnicas para sua
utilizao. Evidenciou a preocupao no emprego de sistemas adesivos restauradores que
empregassem monmeros hidroflicos capazes de estabelecer um bom selamento marginal
da cavidade, principalmente em margens sem a presena de esmalte.
Busato et al. (1997), relatam que a maioria dos autores tem escolhido, hoje,
como agente condicionador do esmalte, o cido fosfrico numa concentrao de 37 a 50%
com tempo de aplicao de 15 segundos a 1 minuto; e que, novos produtos foram testados
e comercializados para condicionar, tanto o esmalte quanto a dentina.
Carvalho (1998) relata que:
A obteno de uma adeso ao esmalte se fundamenta em um
preparo mecnico da superfcie, seguido de um tratamento
qumico. O preparo mecnico representado por uma abraso
(desgaste), realizado com a inteno de se remover a camada mais
superficial, normalmente menos reativa ao tratamento qumico. Em
restauraes de cavidades, esse desgaste o bisel, que alm de ser
benfico para a adeso, favorece a esttica final do trabalho. O
tratamento qumico consiste na aplicao de cidos sobre a rea
preparada mecanicamente, cuja finalidade promover uma
desmineralizao seletiva dos prismas de esmalte, originando
porosidades nas quais a posterior infiltrao do agente adesivo
resultar em reteno micro mecnica. A adequada infiltrao do
agente adesivo na estrutura do esmalte regida por fenmenos
fsico/qumicos existentes entre um lquido (agente adesivo) e um
slido (esmalte).
Perdigo e Lopes (1999) avaliaram a fora de adeso e a morfologia de
superfcies de esmalte e dentina que receberam a aplicao dos sistemas Prime & Bond 2.1
e Prime & Bond NT (Dentsply). A fora de adeso foi medida por meio de teste de
resistncia a cisalhamento e as superfcies foram analisadas atravs de Microscopia
Eletrnica de Varredura (MEV) e Microscopia Eletrnica de Transmisso (MET). Foram
utilizados dentes bovinos cujas superfcies de esmalte e dentina receberam aplicao dos
dois sistemas adesivos. Para a realizao dos testes, as amostras foram preparadas com lixa
de granulao 600 e, em seguida, receberam aplicao de soluo de cido fosfrico a 36%
e sistema adesivo. A partir da, alguns grupos foram preparados para teste de resistncia
adesiva e algumas amostras receberam preparo para anlise em MEV e MET. Aps anlise
25
dos resultados, no foram observadas diferenas estatsticas entre os dois sistemas
utilizados. Para ambos, a fora de adeso foi maior no esmalte que na dentina. A anlise
em MET mostrou que ambos os adesivos penetraram na dentina, formando camada
hbrida.
Lopes et al. (2003), verificaram a adeso de dentina sadia e dentina
hipermineralizada e a influncia no tempo do condicionamento cido nestas estruturas.
Utilizaram 42 molares humanos extrados, contendo leses de crie crnica na oclusal, os
quais foram seccionados transversalmente com uma broca diamantada sob refrigerao. A
leso de crie foi removida, expondo a dentina esclerosada no centro, e a superfcie
exposta foi preparada com uma lixa de granulao 600. Uma parte das amostras (n=15)
recebeu aplicao de cido fosfrico a 35% por 15 segundos, em seguida aplicaram o
sistema adesivo Single Bond (3M) e foi inserido quatro incrementos de 1 mm cada um de
resina composta hbrida (Filtek Z250, 3M). Outra parte da amostra (n=15) foi preparada da
mesma maneira que a anterior, porm o condicionamento cido foi realizado por 30
segundos. A amostra foi armazenada em gua por 24 horas. Os autores observaram que a
dentina esclerosada possui baixa fora de adeso. Porm, o aumento do tempo de
condicionamento cido resultou numa fora de adeso similar da dentina sadia.
Foong et al. (2006), relatam que sistemas adesivos de passo nico so menos
resistentes a testes de micro-cisalhamento em esmalte, quando comparados com sistemas
adesivos auto-condicionante de dois passos.
Harnirattisai et al. (2007) verificaram a influncia de dentina descolorida por
amlgama na adeso de sistemas adesivos e a relao da presena de ons metlicos ou
restos de material corrodo. Foram utilizados dentes humanos extrados e restaurados por
amlgama. O amlgama foi removido expondo dentina descolorida e dentina normal
adjacente. Os adesivos utilizados foram Single Bond e o Clearfil SE Bond. Aps aplicao
dos adesivos, as amostras foram submetidas ao teste de micro-trao. Os resultados
mostraram que a fora de adeso da dentina normal em ambos os adesivos foi maior que na
dentina descolorida. No foi encontrado diferenas na fora de adeso da dentina
descolorida entre os adesivos.
26
3.2 Clareamento dental
3.2.1 Evoluo histrica das tcnicas de clareamento
A preocupao com a esttica relatada na literatura odontolgica desde 1840
(Haywood, 1992; Ho; Goering, 1989).
A preocupao com a conservao da estrutura dentria tambm no
privilgio dos dias atuais, da a importncia das tcnicas de clareamento. Porm, de acordo
com Kirk (1893), nem todos os autores viam valor no esforo em clarear um dente, j que
este voltava a escurecer, optando por tcnicas mais radicais como uso de coroas totais. Mas
alguns autores relataram diferentes tcnicas para minimizarem falhas e evitar
reincidncias, relatando longevidade de 6 a 25 anos.
A partir de 1910, as tcnicas de clareamento passam a utilizar o perxido de
hidrognio, ao qual eram aplicados uma fonte de calor, um instrumento aquecido ou uma
fonte de luz, no intuito de aumentar a liberao de oxignio nascente. Cuidados com o
paciente como o uso do dique de borracha, proteo dos olhos, cuidados na manipulao
da soluo pelo profissional, bem como nmero de consultas e intervalo entre estas foram
descritas por Prinz (1924) obtendo reconhecimento no meio profissional.
De 1913 a 1940, perodo que inclui a Primeira Guerra Mundial, a depresso
econmica nos Estados Unidos e a Segunda Guerra Mundial, pouco foi escrito sobre
clareamento. A partir de 1940 o perxido de hidrognio novamente utilizado como
agente clareador em dentes vitais (Haywood, 1992).
Mc Innes (1966) relata uma tcnica desenvolvida em 1942 por ele, a qual
combinava cido clordrico e perxido de hidrognio para remover fluorose dental. A
soluo consistia de cinco partes de perxido de hidrognio, cinco partes de cido
clordrico a 36% e uma parte de ter etlico, aplicado diretamente na rea afetada dos
dentes por um perodo de 15 a 30 minutos. O autor relatou sua experincia em mais de 100
casos, nos quais obteve excelentes resultados aps uma nica sesso, declarando, ainda,
que os pacientes no reclamavam de dor e a perda de esmalte era imperceptvel.
Em 1970 Cohen e Parkins realizaram clareamento de dentes manchados por
tetraciclina. Utilizaram o perxido de hidrognio a 30% aplicado em uma gaze embebida
27
sobre os dentes, os quais se encontravam previamente isolados por dique de borracha,
aquecidos por instrumento manual, sem anestesia para no se ultrapassar o limite
suportvel de calor que 310C, por um perodo de 30 minutos. Os autores relataram
resultados estticos excelentes, observando que o clareamento ocorre principalmente nos
2/3 incisais em que a dentina mais fina, clareando mais os dentes incisivos laterais, sendo
assintomtico e necessrio o retratamento mensal para evitar recidivas.
Chandra e Chawla (1974) relatam seus resultados em 78 pacientes com
fluorose dental. Utilizaram o perxido de hidrognio a 30% em uma mecha de algodo
colocada sobre os dentes e aquecido com uma esptula ao rubro por 40 minutos, sendo
necessrio, geralmente, 5 sesses para se obter resultados satisfatrios. Relatam pouco
resultado nos dentes com cor branco leitoso e sensibilidade em 20% dos pacientes, quando
os mesmos ingerem alimentos quentes ou frios, fato atribudo ao calor, o qual causa uma
hiperemia pulpar reversvel, no havendo danos significativos polpa quando o calor
usado dentro dos limites tolerveis e controlado.
Feinmann et al. (1987) publicaram um livro sistematizando as tcnicas de
clareamento para dentes vitais e no vitais baseadas no uso de perxido de hidrognio. Esta
publicao incluiu a abordagem para clareamento em consultrio em casos de
manchamento por tetraciclina, fluorose e outros pigmentos externos atribudos ao de
alimentos e bebidas com corantes, bem como decorrentes de envelhecimento. Os autores
inovaram no tratamento de tetraciclina e pigmentos externos no relacionados ao flor,
recomendando condicionamento cido da superfcie do esmalte por 20 segundos com cido
fosfrico a 37%, aplicao de uma lmpada de alta intensidade, produzindo temperaturas
entre 460 e 600C e uso de doses individuais de 8 ml de perxido de hidrognio, o que
garantiria um produto mais ativo e no contaminado, uma vez que se sabe que o perxido
de hidrognio perde sua eficcia com o passar do tempo. Os autores recomendaram que
uma gaze embebida com soluo fosse mantida mida e aquecida por 30 minutos sobre os
dentes a serem clareados e devendo umedecer a gaze sempre que necessrio, podendo-se
clarear at 12 dentes por vez. O nmero de sesses seria de trs a dez, com intervalos de
duas a quatro semanas entre cada sesso.
Mas um verdadeiro avano nas tcnicas de clareamento veio com a publicao
de uma nova tcnica de clarear dentes vitais, proposta por Haywood e Heymann (1989).
28
Esta tcnica revolucionou tudo que se tinha visto nestes 140 anos da histria do
clareamento dental, pois utiliza um novo agente clareador o perxido de carbamida, em
concentraes de 10% a 15%, e o tratamento no mais era realizado no consultrio, mas
sim em casa pelo prprio paciente. Os autores chamaram esta tcnica de Nightguard Vital
Bleaching (NGVB), ou seja, clareamento vital com protetor noturno, ficando conhecida no
Brasil como Clareamento Caseiro (Baratieri et al., 1993), que teve uma imediata aceitao
tanto por profissionais quanto pelos pacientes, devido a sua segurana, efetividade,
praticidade, simplicidade e baixo custo.
A tcnica do clareamento caseiro foi, na verdade, desenvolvida por Bill
Klusmier a partir de 1960, segundo publicao do Adept Institute (1991) um ortodontista
do Estado do Arkansas, EUA, que ao recomendar a um paciente o uso de um antissptico a
base de perxido de carbamida (Gly-oxide), para ser aplicado junto com o mantenedor
ortodntico, verificou no apenas uma melhora na sade gengival como tambm um
acentuado clareamento dos dentes. Esta tcnica apesar de relatada por Klusmier no foi
publicada at 1989, sendo usada por alguns clnicos ligados ao Coastal Dental Study Club
na Carolina do Norte at 1988, quando Haywood e Heymann iniciaram estudos na
Universidade da Carolina do Norte, EUA, para avaliao cientfica da tcnica.
Hanosh e Hanosh (1992) descreveram um novo produto para clareamento em
consultrio, a base de perxido de hidrognio a 35%, para ser usado no clareamento de
dentes vitais e no vitais. Reconheceram que o clareamento caseiro com perxido de
carbamida a 10% seguro, eficiente e barato, mas, relataram que, em algumas situaes,
esta tcnica no pode ser indicada, como para pacientes com problemas de Articulao
Tempor-Mandbula (ATM) ou com dificuldade de manter o protetor ou seguir instrues,
da a opo por uma tcnica de consultrio, que tambm pode ser usada associada com a
tcnica caseira, quando das consultas de monitoramento, tanto nos casos severos como
quando se desejasse um resultado em menor tempo. O produto comercial chama-se Hi-
Lite, Shofu Dental Corp, U.S.A., um perxido de hidrognio a 35% que misturado a um p
branco, no descrito pelo fabricante, obtm-se uma fina pasta de cor verde, podendo reagir
quimicamente ou atravs de fotopolimerizao, em 10 minutos ou 4 minutos
respectivamente, passando ento a uma cor creme, o que indica que todo o oxignio foi
liberado. As vantagens deste sistema so um maior controle da soluo custica, evitando
29
acidentes como queimaduras qumicas e a no do calor ou ataque cido do esmalte a ser
clareado.
3.2.2 Etiologia das alteraes de cor dos dentes
Os dentes permanentes apresentam, ao erupcionar, um esmalte espesso, bem
formado e de cor branco leitoso, cuja vitalidade do dente recm-formado normal confere a
este um brilho e reflexo da sua cor branca. A manifestao desta cor predominantemente
determinada pela espessura e mineralizao do esmalte, bem como a cor e idade da
dentina. Neste estgio, a polpa dentria relativamente ampla em tamanho (Dzierzak,
1991).
A cor do esmalte dental varia consideravelmente, dependendo da sua espessura
e do seu grau de mineralizao. Quanto mais mineralizado o esmalte dental, mais
translcido ele se mostrar. Da mesma forma, a pouca espessura da dentina resultar numa
cor mais clara, situao que ir se reverter com a deposio dentinria ao longo dos anos
(Souza, 1993).
De acordo com Esberard et al. (1991), alteraes na cor natural dos dentes
ocorre por uma variedade de razes, da a importncia de tentarmos estabelecer a etiologia
da alterao de cor atravs de um exame anamnsico, clnico e radiogrfico, a fim de que
possamos estabelecer um prognstico. Estabelecer a etiologia da alterao da cor dos
dentes essencial para indicar o tratamento apropriado.
Segundo Feinman et al. (1987) podemos dividir didaticamente as alteraes de
cor dos dentes em dois grupos:
a) A causadas por fatores extrnsecos ,
- fatores extrnsecos - so aqueles causados pela ingesto diria de alimentos e
bebidas contendo corante como ch, caf, refrigerantes a base de cola,
chimarro, vinho tinto, beterraba, cigarro, etc., bem como resultado da
deposio de placa bacteriana e todos os pigmentos exgenos, como
suplementao de ferro e, vitaminas e medicamentos, ou resultado de agentes
qumicos como clorexidine. Certas bactrias cromgenas observadas em
pacientes com m higiene oral, tambm causam manchamento extrnseco,
resultando em manchas de cor verde, alaranjada ou preta. Certos metais
30
tambm podem causar manchas como ps metlicos de ferro, cobre, lato,
nquel e cdmio, os quais so de fcil remoo (De Deus, 1992);
b) B causadas por fatores intrnsecos,
- fatores intrnsecos - afetam tanto esmalte dental como a dentina, podendo ser:
congnitos, adquiridos, metablicos, iatrognicos, traumticos, hereditrios,
por degenerao pulpar, fisiolgicos, etc.
3.2.3 Agentes clareadores
Os agentes clareadores podem ser divididos em duas categorias: aqueles usados
no consultrio odontolgico e aqueles usados em casa, porm supervisionados pelo
dentista.
3.2.3.1 Perxido de Hidrognio
Desde 1884, o perxido de hidrognio vem sendo usado com a finalidade de
clarear os dentes e tem demonstrado efetividade na remoo de pigmentos intrnsecos e
extrnsecos, tanto em dentes vitais como em dentes no vitais. Por vezes, no o agente
empregado diretamente, mas aps a degradao inicial do composto, o perxido de
hidrognio o agente efetivo.
Perxido de Hidrognio um forte agente oxidante, porm o mecanismo pelo
qual age no esmalte e dentina mais do que um simples processo de oxidao, no qual o
oxignio liberado realiza tambm uma ao de limpeza-mecnica. Este processo que se
tem denominado de clareamento.
Perxido de Hidrognio pode ser encontrado em concentraes de 30% a 35%
para ser usado tanto em dentes vitais como no vitais, e que devido a sua natureza custica,
o seu uso deve ser restringido apenas em consultrio e sob isolamento absoluto. Em
clareamento caseiro, o perxido de hidrognio tem sido utilizado, porm em concentraes
menores que vo de 1% a 10%.
Segundo o Adept Institute (1991), o perxido de hidrognio clareia 2.76 vezes
mais rapidamente do que a mesma concentrao de perxido de carbamida.
31
3.2.3.2 Perxido de Carbamida
Solues de perxido de carbamida podem ser encontradas em concentraes
de 3% a 16%. A maioria dos clareadores caseiros disponveis comercialmente contm 10%
de perxido de carbamida, o que equivale a 3,6% de perxido de hidrognio
aproximadamente, obtendo-se, assim, boa liberao de oxignio com mnima irritao
tecidual.
Esses produtos base de perxido de carbamida contm tambm glicerina ou
propileno glicol, estanato de sdio e sabores. Como estes produtos so mais estveis em
solues cidas, cido fosfrico ou ctrico so adicionados. O tempo mdio de vida de
prateleira de dois anos, e as solues menos cidas tm menor tempo de vida til.
Segundo Haywood e Heymann (1991) o perxido de carbamida em contato
com a saliva se desdobra inicialmente em perxido de hidrognio e uria. O perxido de
hidrognio se degrada ainda em oxignio e gua e a uria se degrada em amnia e dixido
de carbono.
Outro fato importante nestes agentes clareadores se contem ou no carbopol.
Este um polmero, carboxipolimetileno, o qual usado como agente espessante das
preparaes, estando diretamente ligado velocidade de liberao do agente clareador.
Solues contendo carbopol levam entre 8 e 10 horas para liberao completa do oxignio,
ao passo que os que no contem carbopol liberam completamente o oxignio em alguns
minutos.
3.2.4 Efeito sobre a adeso
A alterao na adeso de resinas compostas ao esmalte dental clareado foi
inicialmente questionada por Titley et al. (1988). Os autores avaliaram a adeso de resinas
compostas ao esmalte de dentes bovinos clareados com perxido de hidrognio, tendo os
resultados demonstrados, tanto para o teste de trao quanto para o de cisalhamento,
valores menores de resistncia adesiva para os dentes clareados em relao aos no-
clareados.
Tem sido advogado que muitas alteraes de cor dos dentes necessitam de
complemento esttico atravs de tcnicas restauradoras adesivas, da a necessidade de se
correlacionar os efeitos notados na superfcie do esmalte clareado e uma possvel alterao
32
na adesividade s estruturas dentrias (Baratieri et al., 1993; Boksman; Jordan, 1983;
Feinman et al., 1987; Mc Evoy, 1989).
Torneck et al. (1990) realizaram um trabalho in vitro para avaliar a
influncia do tempo de exposio do perxido de hidrognio a 35% na adeso de resinas
compostas ao esmalte bovino clareado. Duzentos e cinqenta e seis incisivos bovinos
foram tratados com perxido de hidrognio a 35%, com e sem condicionamento cido
prvio, por perodos de 5 e 30 minutos, sendo a seguir restaurados e mantidos por perodo
de um a sete dias a 370C antes de serem testados. Testes de cisalhamento e tenso foram
realizados. Comparao entre os valores obtidos nas tabelas demonstraram que o
condicionamento cido prvio ao tratamento diminui ainda mais a fora de adeso tanto
com um como com sete dias. Os autores relataram ser evidente o efeito adverso aps 5
minutos de exposio ao perxido, independente da seqncia de condicionamento cido
ao esmalte ou tempo de armazenamento, e que este aumenta quando aplicado 30 minutos.
Concluram que os resultados estatsticos, indicam uma reduo significante na fora de
adeso das resinas compostas ao esmalte e que esta de tempo dependente, sendo razovel
concluir que o tempo de exposio ao perxido fator que influencia a fora de adeso, e
que esta adesivo-coesiva, ressaltando a necessidade de futuros estudos para identificar
melhor a presena de perxido de hidrognio ou substncias perxido relacionadas no
esmalte clareado e os efeitos disto na adeso.
Mc Guckin et al. (1991) realizaram trabalho in vitro para avaliar a fora de
adeso ao cisalhamento aps clareamento vital. Cento e sessenta dentes humanos
anteriores foram usados, divididos em 3 grupos e tratados com perxido de hidrognio a
30% e carbamida a 10% e dois sistemas adesivos diferentes. Aps o clareamento por um
perodo de 30 dias, as restauraes foram realizadas com intervalo de 1, 6, 24 horas e de
trs e sete dias, com o teste foi realizado 24 horas aps a restaurao finalizada. Os
resultados mostraram diferena significativa entre o tipo de clareamento, intervalo e agente
adesivo. A interao entre o tipo de clareamento e o intervalo no foi to significativa.
Anlises mostraram que 80% das falhas eram coesivas e a MEV sugeriu um incremento na
porosidade na rea de adeso nos tempos de intervalo medidos. Concluram que o
conhecimento do agente clareador e o tempo percorrido entre o final do tratamento
33
clareador e a realizao das restauraes, necessrio para se obter uma tima fora de
adeso ao cisalhamento.
Titley et al. (1991) realizaram um trabalho in vitro com o objetivo de
investigar atravs da observao no MEV da penetrao e da estrutura dos tags de resina
nas restauraes realizadas no esmalte bovino clareado e no controle em experimentos
anteriores (Titley et al., 1988). Foram selecionados dentes submetidos a forca de tenso.
Avaliando a aparncia dos tags formados na interface resina/esmalte no exame ao MEV,
mostrou que nos dentes controle os tags eram bem definidos, podendo-se ver claramente
sua penetrao no esmalte, estruturalmente intactos, contguos a resina, a qual estava
uniformemente aderida superfcie do esmalte. Nos espcimes submetidos ao perxido de
hidrognio a 35%, amplas reas do esmalte estavam livres da resina, podendo-se ver
apenas um pequeno nmero de tags penetrando o esmalte e quando presentes eram
fragmentados, curtos, pobremente definidos, com aparncia porosa, estruturalmente
incompletos e com menor profundidade de penetrao em relao ao controle. Os autores
concluram que os efeitos observados, devem-se inibio de polimerizao da resina
devido ao oxignio presente e que o aumento na porosidade da resina, deve-se formao
de gs oxignio, e que os estudos por eles conduzidos demonstraram que o armazenamento
dos espcimes tratados com perxido de hidrognio, previamente s restauraes com
resina composta, demonstrou uma completa reverso deste efeito deletrio.
Torneck et al. (1991) avaliaram, in vitro, o efeito do armazenamento em
gua dos dentes submetidos ao tratamento clareador na fora de adeso das resinas
compostas ao esmalte. Cento e noventa e dois incisivos bovinos foram tratados com
perxido de hidrognio a 35% e soluo salina controle e sem condicionamento cido
prvio por perodo de 5, 30 e 60 minutos, com intervalo de sete dias antes de se
procederem as restauraes, e de 24 horas aps o teste de cisalhamento e tenso. Os
resultados mostraram fora de adeso significantemente maior nos dentes tratados com
perxido de hidrognio em relao ao controle. Assim, os autores concluram que aps sete
dias de intervalo, foi eliminada a reduo na fora de adeso que ocorre quando as
restauraes so realizadas aps o clareamento e ainda relataram um aumento na fora de
adeso dos dentes clareados devido a um melhor condicionamento da superfcie ou ao de
limpeza.
34
Stokes et al. (1992), realizaram um experimento in vitro para avaliar o efeito
dos clareadores a base de perxido na adeso de resinas compostas ao esmalte. O objetivo
deste estudo foi determinar a fora de adeso ao cisalhamento de resinas
fotopolimerizveis ao esmalte humano condicionado e comparar estes valores com dentes
que foram clareados previamente com perxido de hidrognio a 35% e carbamida a 10%.
Os resultados mostraram que em todos os espcimes, a falha de adeso ocorreu na
interface resina/esmalte. Concluram, os autores, que o clareamento prvio confeco de
restauraes adesivas com perxido de hidrognio a 35% e carbamida a 10% reduz
significativamente a adeso destas ao esmalte, devendo-se cuidar deste aspecto, quando
tratamentos estticos adesivos sejam precedidos por tcnicas de clareamento.
Adibfar et al. (1992), realizaram um trabalho in vitro para avaliar a
liberao do perxido de hidrognio do esmalte bovino clareado. Como estudos anteriores
j descritos mostraram que as falhas na fora de adeso tenso e cisalhamento no
ocorrem devido alterao morfolgica do esmalte e sim est ligado concentrao e
tempo necessrio para sua eliminao da superfcie do esmalte, o propsito deste estudo foi
identificar e quantificar o perxido liberado do esmalte bovino aps imerso em perxido
de hidrognio a 35% por diferentes tempos. Os resultados mostraram uma diferena
significativa na quantidade de perxido liberado entre as amostras clareadas e controle,
independente do tempo aguardado para a liberao, sendo pequena e numericamente
insignificante quando se realizou um novo intervalo para liberao de perxido. Os autores
concluram que aps imerso, ocorre uma completa liberao do perxido do esmalte
clareado e que isto ocorre rapidamente.
Cullen et al. (1993), avaliaram in vitro os efeitos dos clareadores a base de
perxido na fora de trao de resinas compostas. O objetivo deste estudo foi investigar a
ao de um perxido de hidrognio a 30% (Generic, Mallinhckrodt Paris), dois perxidos
de carbamida a 10% (Gly-oxide, Omni Int. e Rembrandt Lighten Gel, Den-Mat) sobre a
fora de trao de 4 resinas compostas, Durafill VS (Kulzer), Silux Plus (3M Corp.),
Herculite XR (Sybron-Kerr) e Prisma APH (L.D. Caulk Co.). Os resultados mostraram
uma dramtica mudana na cor das resinas de micropartculas (Durafill e Silux Plus)
imersas no perxido de hidrognio a 30%, provavelmente resultado do aumento de valor
na opacidade da resina. A exposio das resinas ao perxido de carbamida a 10% no
35
apresentou efeito significante na fora de trao, entretanto, a exposio ao perxido de
hidrognio a 30% por um perodo de uma semana, resultou em um significante decrscimo
na fora de trao das resinas de micropartculas, porm, nenhum efeito significativo foi
observado nas resinas compostas posteriores (Herculite XR) e Hbrida (Prisma APH).
Kalili et al. (1993); e Barghi e Godwin (1994) sugerem em seus estudos que o
ps-tratamento do esmalte de dentes clareados com solues que removam gua (lcool ou
acetona) reduziram significativamente o efeito adverso do clareamento na interface
adesiva. Entretanto, a resistncia adesiva no retornou aos nveis encontrados no grupo
controle. Esses autores acreditam que essas substncias auxiliam na eliminao do
oxignio residual presente na estrutura dentria, por esse ser solvel em gua.
Dishman et al. (1994), realizaram um estudo in vitro para avaliar os efeitos
dos clareadores a base de perxido na fora de adeso de resinas compostas ao esmalte. O
objetivo foi investigar se o uso de um perxido concentrado (perxido de hidrognio a
25%) no clareamento do esmalte humano, na tcnica de consultrio, resultaria numa
reduo da fora de adeso de resinas compostas aderidas ao esmalte, e se esta de tempo
dependente, e se esta for verdadeira, tentar estabelecer qual o tempo necessrio para se
aguardar aps o clareamento para retornar fora de adeso mxima observada nos dentes
controles. Com este objetivo, 50 terceiros molares hgidos foram divididos em cinco
grupos, clareados 4 grupos com perxido de hidrognio a 25% (Denta-lite Plus Gel,
Challenge Dental Co), sendo o grupo controle e o grupo B restaurados imediatamente, e os
demais grupos C, D, E em intervalos de um dia, uma semana e um ms respectivamente.
Os resultados mostraram que o grupo B, restaurado imediatamente aps o clareamento,
teve a mais baixa fora de adeso, sendo estatisticamente significante. O exame ao MEV
do grupo B mostrou as falhas ocorridas na resina, com maior nmero de reas onde a
resina sem carga no estava recobrindo o esmalte e com poucos tags de resina
remanescente, e reas onde a resina se mostrava lascada. Concluem, os autores, afirmando
haver um decrscimo significativo na fora de adeso das resinas compostas aderidas ao
esmalte clareado na tcnica empregada neste trabalho in vitro, porm, que este valor
retorna a valores prximos aos obtidos no esmalte no clareado aps 24 horas do trmino
do clareamento, mantendo-se constante durante as subseqentes quatro semanas aps o
clareamento.
36
Josey et al. (1996), atravs da microscopia de luz polarizada, constataram no
esmalte de dentes submetidos a clareamento, indefinio das estrias de Retzius e
escurecimento da zona subsuperficial do esmalte, sugerindo que o processo de clareamento
resultou em uma perda de minerais do esmalte, mesmo aps 12 semanas de
armazenamento dos espcimes em saliva artificial. A resistncia adesiva no esmalte
clareado permaneceu em valores clinicamente aceitveis.
Ainda, Perdigo et al. (1998) observaram atravs da microscopia eletrnica de
transmisso, que o sistema adesivo base de acetona envolveu os cristais do esmalte sem
deixar nenhuma rea vazia, ao passo que, o sistema adesivo base de gua no formou
uma camada consistente, deixando espaos ao longo da interface resina/esmalte. No estudo
de Barghi e Godwin (1994), o uso do agente adesivo base de acetona eliminou o efeito
adverso do clareamento de consultrio na unio resina/esmalte. Todavia, efeito similar no
foi notado no clareamento caseiro, que foi significativamente reduzido, mas no eliminado.
Os autores acreditam que isso pode ser explicado pela exposio prolongada ao agente
clareador e tambm pela profundidade de penetrao do oxignio.
Owens et al. (1998) e Souza (1999) avaliaram o efeito de agentes clareadores
na infiltrao marginal de restauraes de resina composta, observando maior micro
infiltrao quando da exposio a maiores concentraes dos agentes clareadores.
Porm, Sung et al. (1999), compararam a resistncia adesiva de dentes
clareados, restaurados com sistemas adesivos base de lcool e de acetona, e encontraram
valores significativamente reduzidos em restauraes com sistema adesivo base de
acetona, ao passo que, no houve diferena estatstica entre a resistncia adesiva do
compsito para o esmalte clareado e o no-clareado, quando utilizado sistema adesivo
base de lcool.
3.3 Laser de Er:Yag
No incio do sculo, Einstein (1917) estudou as interaes entre luz e matria.
Nesta teoria, em certas condies, a incidncia da luz na matria poderia causar uma
emisso adicional de luz, que seria conhecida como emisso estimulada. Este seria o
primeiro passo para o desenvolvimento do laser.
37
Schowlow e Townes (1958) propuseram a aplicao dos princpios do
Microwave Amplificated by Stimulated Emission of Radiation (MASER) amplificao de
microondas por emisso estimulada de radiao, para regies do visvel e infravermelho do
espectro eletromagntico, sendo portanto, um prenncio do laser.
Maiman (1960) utilizando um cristal de rubi, obteve a primeira emisso
estimulada da luz visvel, que passou a ser chamada de Light Amplification by Stimulated
Emission of Radiation (LASER) amplificao da luz por emisso estimulada de radiao.
Os primeiros estudos da utilizao do laser em odontologia foram realizados a
partir de 1964 por Goldman et al (1964). Analisando os componentes inorgnicos de
tecidos calcificados irradiados com o laser de rubi, e por Stern e Sognnaes (1964), que
reportaram as alteraes no esmalte como fuso e vitrificao, e na dentina apresentando
crateras mais definidas com indcios de carbonizao, aps irradiao laser.
Os primeiros trabalhos que relacionam a utilizao do laser com o tratamento
dental, datam de 1964 (Stern e Sognnaes, 1964).
Gordon Jr. (1966) relata a formao de um material denso e amorfo na
superfcie do esmalte dental, aps preparo cavitrio com laser de rubi.
Na rea da preveno da doena da crie, tem-se preconizado a sua utilizao,
por promover uma superfcie de esmalte mais resistente ao ataque de leses cariosas
(Sognnaes e Stern, 1965; Stern e Sognnaes, 1972).
Adrian et al. (1971) utilizando o laser de rubi em dentes de ces, observou
grande remoo tecidual, porm, devido s altas taxas de energia, foram provocados danos
irreversveis s polpas, inviabilizando a utilizao deste laser em tecidos duros dentais.
Com isso, Stern (1974) contestou as afirmaes anteriores sobre o laser como
possvel substituto da broca, por j ter verificado os danos ocasionados ao tecido dental
aps a irradiao com o laser. Portanto, concluiu que o laser no poderia substituir os
instrumentos rotatrios, ao menos que mudanas radicais ocorressem nos equipamentos e
na conduta de aplicao.
A utilizao do laser de Er: YAG em odontologia foi primeiramente
demonstrada por Hibst et al. (1988); mostraram que este, por emitir comprimento de onda
de 2,94 m, coincidindo com o pico mximo de absoro da gua e dos radicais hidroxilas
38
(OH-) presentes na hidroxiapatita dos tecidos minerais, havendo grande absoro deste
laser pelos tecidos biolgicos, , portanto, promissor na remoo da estrutura dental.
Hibst e Keller (1989) avaliaram a eficincia de ablao do esmalte, dentina e
tecido cariado pelo laser de Er:YAG, analisando pelo Microscpio ptico (MO), o
dimetro e profundidade das cavidades, e a elevao da temperatura, atravs de uma
termo-cmera. Observaram que o laser de Er:YAG efetivamente absorvido pelos tecidos
mineralizados dentais, causando um aquecimento rpido, superficial e em pequeno
volume, promovendo a remoo tecidual pelo processo de ablao termo-mecnica, atravs
da vaporizao da gua e aumento da presso intra-tecidual, ocorrendo a expanso e
fragmentao tecidual, sendo o material ejetado atravs de microexploses. O limiar de
ablao do esmalte superior ao da dentina, logo, utilizando uma mesma energia de
irradiao, as cavidades produzidas no esmalte pela ablao eram menores do que na
dentina.
Realizando anlise morfolgica, em MO e MEV para avaliao das alteraes
provocadas pelo laser de Er:YAG, no esmalte e dentina, em dentes humanos, Hibst e
Keller (1989) observaram que este laser promoveu a remoo do tecido mineralizado por
um processo de exploso; com o laser Er:YAG, a maior parte da energia incidente
consumida pelo processo de ablao, e somente uma frao da energia resulta em
aquecimento dos tecidos remanescentes, logo, pode-se observar nas margens das
cavidades, e nos tecidos adjacentes regio irradiada, mnima ou nenhuma alterao
trmica, como carbonizao, trincas, fuso ou vitrificao.
Avaliando, num estudo in vitro, a mudana de temperatura na cmara pulpar
de dentes humanos durante o preparo com o laser de Er:YAG, Hoke et al. (1990),
observaram um aumento mdio de temperatura da ordem de 2,20 C quando utilizada
refrigerao a gua durante o procedimento e que, o uso de um fino jato de gua aumenta a
eficincia da ablao do laser Er:YAG. A anlise sob MEV mostrou tbulos dentinrios
intactos a uma distncia de aproximadamente 10 m da superfcie dentinria irradiada.
Kayano et al. (1989) avaliaram, atravs da MEV, a resistncia cida dos
tecidos duros dentais irradiados pelo laser de Er:YAG. Os resultados mostraram que o laser
de Er:YAG promoveu ablao dental, formando crateras, sem ocorrer fraturas ou trincas,
39
havendo uma resistncia ao cido, no esmalte marginal, adjacente rea irradiada pelo
laser.
Morioka et al (1991) estudaram os efeitos do laser de Er:YAG sobre o tecido
duro dental, comparando os resultados com os outros lasers (CO2, Argnio, Nd:YAG pulso
e Nd:YAG contnuo). O laser de Er:YAG foi aplicado focalizado, na superfcie do esmalte
de incisivos humanos, com ou sem pigmentao prvia, com 0,4 a 0,9 J de energia total e
taxa de repetio de 1,2 e 10 Hz, e posterior imerso dos espcimes, em gel tamponado de
0,1 M lactato (pH 4,5) por uma semana, para formao das cries artificiais. Foi
observado, pela microradiografia e MO, que o laser de Er:YAG foi eficaz na reduo da
descalcificao e aumento da resistncia cida, da superfcie e subsuperfcie do esmalte
dental, apresentando resultados superiores aos outros lasers.
Matsumoto et al. (1991) observaram as alteraes morfolgicas do esmalte e
dentina aps irradiao com laser de Er:YAG. Para este estudo, utilizaram dez dentes
humanos extrados. Parte dos espcimes foi pigmentada com corante preto, outra parte
possua leso cariosa e outra era hgida. Os dentes foram irradiados com o laser de
Er:YAG, com 15,9 J/cm2 de densidade de energia. A avaliao em microscopia eletrnica
de varredura mostrou a efetividade do laser para a remoo de esmalte e dentina cariados.
Verificaram que a energia, o tempo de exposio e o tipo de tecido alvo interferem na
profundidade das cavidades. Margens mais claras e cavidades mais profundas foram
observadas nas amostras pigmentadas, quando comparadas com as amostras sem
pigmentos.
Um laser pulsado de Er:YAG foi usado para determinar a profundidade da
ablao em cortes transversais no esmalte e dentina de dentes humanos extrados num
estudo realizado por Zhao-Zhang et al. (1992). Os autores utilizaram energia por pulso
variando de 25 a 365 mJ e taxa de repetio de 2 a 5 Hz. O laser foi focalizado sobre as
seces de 0.5 a 0.75 mm de dentes molares, incluindo o esmalte e a dentina. Fotografias
das cavidades preparadas com o laser com 2 a 5 Hz indicaram mnimo efeito trmico no
esmalte com densidade de energia abaixo de 80 J/cm2. Mnimo efeito trmico em dentina
foi notado com densidade de energia abaixo de 74 J/cm2. As imagens da dentina analisadas
atravs de microscopia eletrnica de varredura mostraram uma superfcie serrilhada e
irregular. Os autores concluram que o laser de Er:YAG pode efetivamente promover a
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ablao do esmalte e dentina com mnimo efeito trmico, quando se utilizaram taxas de
repetio de 2 a 5 Hz.
Com o propsito de comparar a superfcie do esmalte e da dentina aps a
irradiao com laser de Er:YAG e aps preparao mecnica, Gross et al. (1992)
utilizaram 150 dentes humanos extrados, livres de crie. Foram preparadas cavidades
padronizadas, aps limpeza superficial e com distncia de 2 a 4 mm entre as cavidades. A
energia utilizada variou de 50 a 400 mJ, sendo que a metade dos dentes foi tratadas sem
spray de gua. Os resultados foram comparados aos preparados convencionalmente
realizados com brocas carbide em dentina ou pontas diamantadas em esmalte. Para que as
anlises morfolgicas das superfcies fossem realizadas, foram utilizados MO e MEV e a
dentina foi tratada durante um minuto com cido ctrico e o esmalte com cido fosfrico a
37%. Os autores observaram que os espcimes tratados com Er:YAG sem spray de gua
foi induzida com zona mais densa de resduo, quando comparado com o tratamento com
Er:YAG e spray de gua. Nestes casos, foram observadas paredes mais lisas quando
maiores energias foram utilizadas (300 mJ em dentina e 400 mJ em esmalte). Quando os
autores compararam os dados obtidos no tratamento com o laser e os dados do tratamento
convencional, observaram que o esmalte se mostrava com uma zona de detritos em forma
de placas, e, em alguns casos com uma pequena zona de prisma desintegrados. A
superfcie permanecia spera aps a remoo dos fragmentos superficiais com o auxlio de
escovas. Alm disso, o tratamento com o laser proporcionava um condicionamento
adicional superfcie, resultando em um padro microretentivo. Tanto no tratamento
convencional quanto no tratamento com o Er:YAG laser, a anlise mostrou que a
superfcie da dentina se apresentava coberta com uma zona de detritos. Os tbulos
dentinrios abaixo da zona de preparao no mostraram mudanas morfolgicas. Em
ambos os grupos, a rugosidade superficial foi semelhante e, aps a escovao alguns
tbulos dentinrios estavam cobertos com uma camada de fragmentos. Aps o
condicionamento, a camada pode ser removida e os tbulos foram parcialmente reabertos.
A formao de fissuras foi observada com o mesmo nvel em ambos os grupos.
Wigdor et al. (1992), investigaram os efeitos dos lasers de CO2, Nd:YAG e
Er:YAG sobre o tecido dental. Devido diferena de absoro dos trs lasers utilizados no
tecido duro dental, potncias variadas foram empregadas para criar efeitos semelhantes.
41
Neste estudo no foram feitas comparaes de potncias, mas somente os defeitos criados
pelos diferentes lasers foram comparados especificamente para evidenciar os danos
trmicos e as mudanas na micromorfologia da dentina normal causados por cada um
deles. Para esta pesquisa, quatro dentes humanos extrados foram utilizados. Uma caneta
de alta rotao foi usada para remover o esmalte para criao de uma janela circular na
superfcie vestibular de aproximadamente 3 mm de dimetro e 2 mm de profundidade. Os
dentes foram preparados seguindo o protocolo: 1) preparado com a broca esfrica carbide
em baixa rotao; 2) preparado com laser de CO2 com 4 W de potncia, pulsado com 1
segundo de pausa e com o tamanho do foco de 1 mm de dimetro; 3) preparado com laser
de Nd:YAG contnuo, com 12,5 W de potncia atravs de uma fibra de quartzo de 2 mm;
4) preparado com de Er:YAG, com 1,5 W , 500 mJ/pulso e 3 Hz. Os dentes foram
fraturados, desidratados, montado em stubs de alumnio, cobertos com ouro e examinados
em MEV. Os resultados mostraram que o laser de Er:YAG foi o que causou o menor efeito
na dentina quando comparado com os outros lasers usados neste estudo. Foi observado o
corte claro da dentina, sem causar danos trmicos e, isto se deve aparentemente a alta
absoro deste laser pela gua e hidroxiapatita. Ambos os lasers de Nd:YAG e CO2
causaram mais fraturas na dentina. Nos espcimes irradiados pelo laser de CO2, os tbulos
dentinrios no se mostraram evidentes e houve um aumento de fraturas na dentina. O
laser de Nd:YAG causou uma fuso na dentina intertubular e apesar dos tbulos
dentinrios se mostrarem evidentes, seus tamanhos variam e no apresentam um padro
uniforme como observado na dentina tratada com o laser de Er:YAG ou com alta rotao.
Burkes et al. (1992) realizaram um estudo in vitro para avaliar os efeitos na
estrutura dental e na temperatura pulpar, da irradiao com o laser Er:YAG (ER 3000,
Schwartz, EUA), em dentes humanos com ou sem refrigerao de spray de gua. Quando
foi realizada a irradiao sem a refrigerao, houve uma ablao mnima do esmalte,
observado pela MEV alteraes trmicas com a fuso do esmalte, bolhas e fraturas,
ocorrendo uma elevao da temperatura intrapulpar maiores que 270C. Quando o laser foi
utilizado com refrigerao, o esmalte e a dentina foram eficientemente removidos pela
ablao, formando crateras nicas sem a fuso ou arredondamento do esmalte marginal
remanescente; e a elevao na temperatura intrapulpar foi de 40C; como o contedo de
gua maior na dentina que no esmalte, sua ablao foi mais efetiva.
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Hibst e Keller (1992a) avaliaram os efeitos de uma fina camada de spray de
gua, na temperatura e eficincia de ablao de esmalte e dentina durante irradiao com o
laser de Er:YAG. O laser de Er:YAG (Quantronix 294, EUA) foi aplicado, na superfcie do
esmalte e da dentina (com 2 ou 4 mm de espessura), com diferentes energias ( 0 a 1000
mJ) e taxas de repetio ( 2 ou 4 Hz) foi observado que a perda de energia proporcional a
espessura do filme de gua; a camada superficial de gua evaporada pela parte inicial do
pulso de energia, e a maior parte de energia absorvida pela gua confinada nos tecidos
mineralizados, formando vapores que melhoram a ejeo e eficincia de ablao de
esmalte e dentina.
Com o objetivo de quantificar o efeito trmico, na superfcie dental, de pulsos
simples do laser de Er:YAG, Hibst e Keller (1992b) utilizaram um sistema de imagem
termogrfica, para mensurao do aumento da temperatura. Observaram que a queda da
temperatura foi mais rpida em esmalte, devido a sua grande difusibilidade trmica, do que
em dentina; o efeito trmico foi mais pronunciado no esmalte quando comparado
dentina; a energia trmica foi depositada numa camada superficial, com espessura
infinitecimal, devido pequena profundidade de penetrao de Er:YAG nos tecidos
mineralizados (cerca de 10 m) para pulsos repetitivos, o efeito da temperatura
cumulativo, de acordo com o intervalo de tempo entre 2 pulsos, portanto, a taxa de
repetio o parmetro mais importante para determinar os efeitos trmicos no tecido
irradiado.
O primeiro estudo clnico com o laser Er:YAG (KaVo Key laser, Alemanha)
foi realizado por Hibst e Keller (1992c) comparando a remoo do tecido cariado e o
preparo de cavidades, com o laser Er:YAG ou com alta ou baixa rotao, sendo que as
cavidades foram restauradas com resinas compostas. Os resultados do acompanhamento
clnico mostraram que nenhum dente perdeu a vitalidade, nem houve sensibilidade
percusso, com o laser de Er:YAG; a anestesia foi utilizada neste caso, sendo que, a
maioria dos pacientes preferiram o laser para remoo de crie, devido reduzida
sensibilidade dolorosa. Os autores concluram que a remoo da crie e o preparo cavitrio
com o laser de Er;YAG vivel na prtica diria, sem causar danos polpa, mostrando
grande aceitao pelos pacientes.
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Kumazaki (1992) avaliou, atravs de teste de trao, a resistncia adesiva
superfcie do esmalte condicionado com o laser de Er:YAG (Hoya, Japo) com energia por
pulso de 100 a 1000 mJ e taxa de repetio de 10 Hz, associando ou no com cido
fosfrico por 30 segundos. Os resultados mostraram que o condicionamento do esmalte,
somente com o laser de Er:YAG com 600 mJ/pulso de energia, apresentou resultados
similares ou superiores aquele obtido com o cido fosfrico.
Li et al. (1992) avaliaram a relao da profundidade de ablao com a
densidade de energia do laser de Er:YAG (Quantronix, EUA). Observaram que os limiares
de ablao para o esmalte foram superiores dentina; o laser de Er:YAG promoveu uma
efetiva ablao do esmalte e dentina, com mnimos efeitos trmicos, utilizando taxa de
repetio de pulso de 2 a 5 Hz, resultando em um padro morfolgico micromecnico
favorvel a adeso.
Hibst e Keller (1993) analisaram o mecanismo de ablao do laser de Er:YAG
nos tecidos duros dentais. Os autores puderam constatar que o processo de ablao consiste
em uma contnua remoo de material durante a irradiao. Para altas energias, o processo
ocorre imediatamente aps o incio dos pulsos. Para baixas energias, os autores concluram
que ablao se faz na forma de pequenos fragmentos tanto em esmalte quanto em dentina.
A fragmentao ocorre, segundo os autores, pela evaporao da gua contida no esmalte e
na dentina. Alm disso, a presso interna gerada pode quebrar os tecidos duros e o vapor
pode acelerar a sada de fragmentos. Assim, o processo de ablao pode ser resumido em
fragmentao, devido presso interna gerada pela irradiao e acelerao do fragmento,
causada pela expanso do vapor de gua.
Neste mesmo ano, Hibst et al. (1993), estudaram a ao do laser de Er:YAG no
condicionamento de superfcie dentrias que seriam submetidas ao procedimento adesivo
posteriormente. Foram obtidas superfcie de esmalte e dentina de dentes humanos
extrados, que receberam diferentes condies de irradiao com laser de Er:YAG. Aps a
irradiao foram polimerizados compsitos sob as superfcies, com e sem aplicao prvia
de sistema adesivo. Para avaliao da resistncia adesiva foi utilizado teste de trao. As
superfcies obtidas apresentaram padro retentivo, com rugosidades produzidas pela
microexploso decorrente do processo de ablao. No foram fornecidos dados, com qual
mtodo foi utilizado para anlise morfolgica, nem os parmetros utilizados para
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irradiao. Com aplicao de baixas energias, no foram detectadas mudanas estruturais
ou superficiais.
Paghdiwala et al. (1993) estudaram os efeitos do laser de Er:YAG (Schwartz
Electro-Optics) na elevao da temperatura pulpar, utilizando ou no refrigerao com
spray de gua e diferentes parmetros de energia. Os resultados, da MEV e da termo-
cmera, indicaram que a elevao da temperatura proporcional potncia e tempo de
exposio, e inversamente proporcional espessura do remanescente dental. Os efeitos
trmicos podem ser minimizados com reduo da taxa de repetio de pulsos, mantendo
a energia constante, que leva a reduo da velocidade de corte, mas tambm, do risco de
danos trmicos. O uso da refrigerao, durante o preparo das cavidades, promoveu maior
eficincia de ablao, reduo da temperatura e ocorrncia de alteraes estruturais e
trmicas, sem reas de carbonizao ou trincas, comparando com os dentes que foram
irradiados pelo laser sem refrigerao.
Wigdor et al. (1993) avaliaram os efeitos dos lasers de CO2, Nd:YAG e
Er:YAG (Schwartz Electro-Optics) e da alta rotao em dentes humanos in vitro pela
MEV e na polpa de dentes de ces in vitro pela MO. Foi possvel observar que o laser
de Er:YAG causou o mnimo efeito trmico, semelhante ao mtodo convencional, com
manuteno de organizao e integridade da polpa, alm da formao de uma camada de
dentina reacional imediatamente subjacente rea irradiada, sugerindo uma biomodulao
do tecido pulpar.
Arcoria e Cozean (1994) avaliaram o aumento da temperatura, utilizando uma
termo-cmera, em dentes humanos tratados com os lasers de CO2, Nd:YAG, Ho:YAG e
Er:YAG, e com alta rotao, refrigerados ar/gua. Observaram que o laser de Er:YAG
promoveu, substancialmente, menores elevaes de temperatura do que os outros lasers,
estando dentro dos parmetros de segurana, para a vitalidade pulpar; sendo semelhante ao
mtodo convencional.
Gimble et al. (1994) realizaram estudo in vitro avaliando a eficcia do laser
de Er:YAG (Centauri-Premier, EUA), quando comparado aos tratamentos convencionais.
Do total de 352 procedimentos realizados (tratamentos em sulcos e fissuras, remoo de
cries, condicionamento e preparos cavitrios), 165 foram realizados com o laser e 187
com o mtodo convencional. Os resultados mostraram que o laser apresentou efetividade
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estatisticamente semelhante ao mtodo convencional, na remoo de tecido cariado e
preparo cavitrio, tendo ao altamente seletiva nos tecidos duros dentais, sendo o limiar
de ablao do tecido de cariado de 30 mJ, da dentina sadia de 50 mJ e do esmalte sadio de
80 mJ, havendo, a partir da, uma maior preservao da estrutura dental remanescente.
Somente trs tratamentos com laser necessitaram do uso de anestesia, ausncia do rudo da
alta rotao, substitudo pelo popping, e de vibrao tem efeitos fsicos e psicolgicos no
paciente. No foram observadas alteraes pulpares irreversveis na anlise histolgica dos
dentes extrados. A MEV mostrou uma superfcie dentinria tratada com o laser com
padro irregular, tbulos dentinrios abertos, sem evidncias de trincas ou carbonizao.
Schilke e Geurtsen (1994) avaliaram, atravs da MEV, os efeitos
micromorfolgicos na estrutura dental do laser de Er:YAG (KaVo Key, Alemanha), com
diferentes energias por pulso, taxas de repetio, com ou sem spray de gua. Observaram
que o laser promoveu alteraes na estrutura dental; as margens das crateras apresentaram-
se rugosas e irregulares; a dentina peritubular foi mais resistente irradiao laser que a
intertubular; a no utilizao do spray de gua levou formao de uma massa fundida,
no homognea e parcialmente aderida superfcie dental.
Visuri et al. (1995) estudaram os efeitos, do condicionamento com o laser de
Er:YAG, na adeso da resina composta superfcie dentinria de molares humanos. As
superfcies dentais foram desgastadas com brocas carbide em alta rotao ou com laser de
Er:YAG (350 mJ/6 Hz), com spray de ar/gua com fluxo de gua de 24 ml/min. A
rugosidade superficial, avaliada pelo rugosmetro, mostrou no haver diferena significante
no tratamento com laser e alta rotao; o teste de cisalhamento mostrou que os valores de
adeso para as superfcies tratadas com o laser de Er:YAG (12,3 MPa) foram
estatisticamente superiores alta rotao (8,4 MPa), sem a realizao do condicionamento
cido. A anlise das superfcies, pela MEV, mostrou que a broca carbide, em alta rotao,
criou superfcies irregulares, com muitas ranhuras superficiais e a formao da smear
layer. Com o laser foi evidente a ausncia da smear layer, a abertura dos tbulos
dentinrios, remoo da dentina intertubular, criando uma superfcie irregular, semelhante
a escamas e com alguma remoo da dentina peritubular.
Ramos (1996), estudaram microinfiltraes em cavidades classe V preparadas
com 400 mJ de energia do laser de Er:YAG e condicionados com 60 mJ de energia no
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esmalte cavo-superficial. O grupo controle (preparado e restaurado convencionalmente) e
um grupo laser (preparado e condicionado com laser de Er:YAG) receberam
condicionamento cido. Outro grupo laser foi condicionado apenas com o laser. Os
resultados no apresentaram diferenas estatisticamente significantes entre os grupos, na
anlise da microinfiltrao.
Eduardo et al. (1996) estudaram, atravs da MEV e do teste de resistncia ao
cisalhamento, os efeitos do laser de Er:YAG no esmalte dental. A superfcie vestibular de
molares humanos foi condicionada com o laser de Er:YAG (KaVo Key 2, Alemanha),
focalizado, com 140 e 300 mJ de energia por pulso e 1 HZ de taxa de repetio, sob
refrigerao gua ou com o cido fosfrico a 37%. Os resultados mostraram que o
condicionamento com o cido fosfrico a 37% promoveu maiores valores de adeso (21,22
MPa) que o realizado somente com o laser de Er: YAG, no havendo diferenas entre as
energias utilizadas (140 mJ e 300 mJ). A anlise morfolgica pela MEV, diferenciou com
nitidez, a rea irradiada da no irradiada, nesta verificam-se alteraes no esmalte, com
grande irregularidade superficial, aparncia de escamas ou flocos, e a exposio dos
prismas de esmalte, semelhantes a favos de mel.
Groth (1997) avaliou a resistncia adesiva, as foras de cisalhamento, da resina
composta superfcie do esmalte dental humano condicionado com cido fosfrico a 37%
por 30 segundos, com o laser de Er:YAG (KaVo Key 2, Alemanha), focalizado (com 60
mJ/10 Hz. 300 mJ/6 Hz e 500 mJ/2 Hz), com spray de gua, ou ainda, associado ao laser
de Er:YAG (60 mJ/10 Hz) com o cido fosfrico. Foram observados maiores valores de
adeso para o condicionamento com cido (12,19 MPa), ou a associao laser + cido
(12,42 MPa), sendo superiores a aplicao somente do laser (5,6 a 7,4 MPa), sendo que,
quanto maior a energia utilizada menores os valores de adeso. A MEV revelou que o laser
promoveu alteraes na superfcie do esmalte, decorrentes do processo de ablao, com
grande irregularidade de superfcie, exposio dos prismas de esmalte e um padro
morfolgico semelhante ao condicionamento cido, semelhante a favo de mel,
mostrando reas irradiadas e no irradiadas pelo la