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INSTITUTO DE ESTUDOS SUPERIORES MILITARES CURSO DE PROMOÇÃO A OFICIAL GENERAL 2012/2013 T I I Criação do Campus de Saúde Militar. Um projeto para o futuro O TEXTO CORRESPONDE A TRABALHO FEITO DURANTE A FREQUÊNCIA DO CURSO NO IESM SENDO DA RESPONSABILIDADE DO SEU AUTOR, NÃO CONSTITUINDO ASSIM DOUTRINA OFICIAL DAS FORÇAS ARMADAS PORTUGUESAS OU DA GUARDA NACIONAL REPUBLICANA

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  • INSTITUTO DE ESTUDOS SUPERIORES MILITARES CURSO DE PROMOO A OFICIAL GENERAL

    2012/2013

    T I I

    Criao do Campus de Sade Militar.

    Um projeto para o futuro

    O TEXTO CORRESPONDE A TRABALHO FEITO DURANTE A FREQUNCIA DO

    CURSO NO IESM SENDO DA RESPONSABILIDADE DO SEU AUTOR, NO

    CONSTITUINDO ASSIM DOUTRINA OFICIAL DAS FORAS ARMADAS

    PORTUGUESAS OU DA GUARDA NACIONAL REPUBLICANA

  • Criao do Campus de Sade Militar. Um projeto para o futuro.

    INSTITUTO DE ESTUDOS SUPERIORES MILITARES

    Criao do Campus de Sade Militar.

    Um projeto para o futuro.

    Simo Pedro Esteves Roque da Silveira

    COR/MD

    Trabalho de Investigao Individual do Curso de Promoo a Oficial General

    Pedrouos, 2013

  • Criao do Campus de Sade Militar. Um projeto para o futuro.

    INSTITUTO DE ESTUDOS SUPERIORES MILITARES

    Criao do Campus de Sade Militar.

    Um projeto para o futuro.

    Simo Pedro Esteves Roque da Silveira

    COR/MD

    Trabalho de Investigao Individual do CPOG

    Orientador: Cor ENGAED Vtor Marques

    Pedrouos, 2013

  • Criao do Campus de Sade Militar. Um projeto para o futuro.

    i

    Agradecimentos

    Agradeo a todos os que colaboraram com os

    seus conselhos e ideias para a execuo deste trabalho.

    Um agradecimento particular ao nosso orientador,

    Sr. Cor. Vtor Marques, pela compreenso e

    disponibilidade demonstradas.

    Finalmente, um agradecimento tambm queles

    que privei da minha presena ao longo deste percurso.

  • Criao do Campus de Sade Militar. Um projeto para o futuro.

    ii

    ndice

    Introduo

    - Tema . 1

    - Princpios orientadores do Sistema de Sade Militar .. 2

    - Justificao da atribuio do tema 3

    - Enunciado, contexto e base conceptual 3

    - Objeto do Estudo e sua delimitao . 4

    - Objetivos da Investigao 4

    - Questo Central e Questes Derivadas 4

    - Metodologia, percurso e instrumentos . 6

    1. O Servio de Sade Militar. Introduo histrica e abordagem contextual

    a. Introduo histrica 7

    b. Contexto atual .. 11

    c. As Foras Armadas e o Servio de Sade 12

    (1) Enquadramento normativo . 12

    (2) Aplicabilidade da Sade Militar no atual contexto estratgico

    Necessidades atuais .. 14

    d. Concluso em relao necessidade . 16

    2. A viabilidade do servio de Sade Militar

    a. Considerandos gerais . 17

    b. Servios de Sade Militares. Situao atual 18

    c. A criao do Hospital das Foras Armadas .. 19

    d. A Instituio Hospitalar versus a Instituio Militar.

    Misso e caractersticas 21

    e. A articulao do Servio de Sade Militar com a Rede Nacional

    de Prestao de Cuidados de Sade . 23

    f. Populao utente do HFAR ... 25

    g. Concluso em relao viabilidade . 25

    3. O Campus de Sade Militar

    a. Introduo .. 27

    b. As estruturas do Campus de Sade Militar 28

    (1) Estruturas assistenciais 29

  • Criao do Campus de Sade Militar. Um projeto para o futuro.

    iii

    (a) Centro de Sade Militar (CSM) e

    Cuidados de Sade Primrios. 31

    (1) As especificidades do

    Centro de Sade Militar 33

    (2) Articulao do Centro de Sade Militar com o

    Hospital das Foras Armadas ... 34

    (b) Hospital das Foras Armadas (HFAR) 34

    (c) UTITA .. 35

    (2) Estruturas operacionais.. 36

    (a) Hospital de Campanha .. 37

    (b) Centro de Fisiologia Militar .. 40

    (3) Escola do Servio de Sade Militar . 43

    (a) Necessidades de formao na rea da sade . 44

    (b) Centro de Simulao Mdica 45

    (4) Juntas Mdicas Militares . 45

    (5) Outras estruturas do Campus de Sade Militar 46

    c. Concluso em relao aos ganhos de eficincia

    (decorrentes da integrao e concentrao de servios) 46

    4. A Integrao do Pessoal de Sade das Foras Armadas.

    a. Os recursos humanos no Servio de Sade Militar 49

    b. Carreira Profissional ... 50

    c. A integrao dos quadros de pessoal numa estrutura nica.

    Concluso 53

    5. Concluses . 55

    Bibliografia 60

    ndice de Figuras

    Figura 1 (Hieronimus Bosch Die Steinoepration) .. 8

    Figura 2 (Regulamento do Conde de Lippe) 10

    Figura 3 (Interveno mdica no Afeganisto) 14

    Figura 4 (Hospital das Foras Armadas Plo Lumiar) . 20

    Figura 5 (Convento de Nossa Senhora da Estrela) .. 29

  • Criao do Campus de Sade Militar. Um projeto para o futuro.

    iv

    Figura 6 (Hospital de Campanha) . 37

    Figura 7 (Centro de Medicina Aeronutica) .. 41

    Figura 8 (Centro de Medicina Hiperbrica) 42

    Figura 9 (Hospital da Marinha) .. 42

    Figura 10 (Parada do Conde de Lippe) 43

    Figura 11 (Eneias tratado por Iapis perante Afrodite e Ascnio) ........ 59

    Figura 12 (Pormenor atual) 59

    ndice de Tabelas

    Tabela 1 (Questo Central. Questes derivadas) .. 5

    Tabela 2 (Hipteses) .. 5

    Tabela 3 (Unidades dependentes ou de apoio ao Servio de Sade) .. 18

    Tabela 4 (Beneficirios da ADM por escales etrios) 25

    Tabela 5 (Estruturas do Campus de Sade Militar) . 28

    Tabela 6 (Nveis de apoio sanitrio AJP 4.10) .. 39

    Tabela 7 (Recursos humanos do Servio de Sade) . 49

    Tabela 8 (estruturao funcional e hierrquica do Servio de sade Militar) . 57

  • Criao do Campus de Sade Militar. Um projeto para o futuro.

    v

    Resumo

    Uma abordagem histrica sumria permite inferir a utilidade da presena de

    servios mdicos junto das tropas, assim como a especificidade de um servio de sade

    militar, com necessidades e exigncias particulares em termos de conhecimentos e

    formao, disponibilidade e mobilidade.

    De facto, as necessidades assistenciais ditadas pela condio militar e as exigncias

    ditadas pela atividade operacional, assim como a evoluo tcnica associada aos modernos

    sistemas de armas que determinam condies fisiolgicas humanas particulares, so

    circunstncias que tornam imprescindvel a necessidade do Servio de Sade Militar.

    Ora, se faz parte da atribuio e da responsabilidade da gesto do Servio de Sade

    Militar atender a uma lgica de eficincia e racionalidade, evitando a multiplicao

    desnecessria de meios e o desperdcio de recursos, h tambm que atender questo da

    dimenso como fator limitador ou potenciador das potencialidades de desenvolvimento de

    uma unidade de sade, da manuteno das capacidades e competncias, e at como fator

    motivador dos profissionais que a desenvolvem a sua atividade.

    Parece portanto imprescindvel a integrao efetiva do Servio de Sade Militar na

    Rede Nacional de Prestao de Cuidados e a sua articulao dentro desta rede, quer seja

    com o SNS, quer seja com outras entidades prestadoras de cuidados, de forma a se criar a

    dimenso necessria, e a se otimizarem recursos (fsicos, humanos, e tcnico-cientficos).

    Assim sendo, o Servio de Sade Militar dever ser organizado tendo por base

    aquela que poder ser a verdadeira razo de ser da Sade Militar, ou seja, a garantia das

    condies fsicas e psquicas dos efetivos militares, em particular no apoio s foras em

    operaes ou em campanha, embora com duas vertentes major, interdependentes e a ser

    equacionadas em funo de dois objetos: a vertente assistencial e a vertente operacional.

    Ou, de outra forma, estruturas assistenciais, capazes de providenciar cuidados de sade -

    Centro de Sade Militar, Hospital das Foras Armadas, Hospital de Campanha, etc. -, e

    estruturas no assistenciais, envolvidas no recrutamento, avaliao e inspeo, juntas

    mdicas, ensino e formao - Centros de Medicina Aeronutica e Subaqutica, Seces de

    Treino , etc..

  • Criao do Campus de Sade Militar. Um projeto para o futuro.

    vi

    Da mesma forma, a integrao dos quadros pode vir a potenciar a sinergia de

    esforos decorrentes da integrao dos servios, pelo que aconselhvel associar-se a

    integrao dos servios, integrao respetiva dos quadros militares.

    Considerando os objetivos que se consideraram importantes no incio deste trabalho

    apresenta-se um modelo que visa conciliar a organizao do SSM numa mesma estrutura

    hierrquica e funcional.

    Conclui-se ento que a concentrao da Sade Militar num Campus de Sade

    Militar, nas suas diferentes vertentes (seleo, formao, preveno e tratamento), potencia

    a eficcia da sua atuao.

  • Criao do Campus de Sade Militar. Um projeto para o futuro.

    vii

    Abstract

    A brief historical approach allows us to infer the usefulness of the presence of

    medical services with the troops, as well as the specificity of a military health service, with

    needs and particular requirements in terms of knowledge and training, availability and

    mobility.

    In fact, the needs in what concerns health services, dictated by military condition

    and the requirements dictated by operating activities, as well as technical developments

    associated with modern weapons systems that determine particular human physiological

    conditions, are circumstances which make essential the need for Military Health Service.

    However, if part of the assignment and the responsibility for managing the Health

    Service Military attend a logic of efficiency and rationality, avoiding unnecessary

    multiplication and waste of resources, we must also address the question of size as a factor

    limiting or potentiating the capacities of development of a health facility, including

    maintenance of skills and competencies, and even as a motivating factor for professionals

    developing their activity.

    Therefore, it seems essential an effective integration of the Military Health Service

    in the Global National Medical Care System and its articulation with the National Health

    Service, or with other care providers in order to create the necessary dimension, and

    optimize resources (physical, human, and technical-scientific).

    Thus, the Military Health Service should be organized based on what may be the

    real reason for the Military Health, ie, the guarantee of physical and psychological

    conditions of military personnel, particularly in support of forces in operations or

    campaigning, with two major arms, regarding two objects: as a care provider system and

    as an operational support system. Or, otherwise, welfare structures, capable of providing

    health care - Military Health Center, Armed Forces Hospital, Campaign Hospital, etc.

    and other structures (not care providers), involved in recruitment, assessment and

    inspection, medical boards, education and training - Aeronautics and Underwater

    Medicine Centers, Physiological Training, etc..

    Likewise, integration of medical personnel under the same hierarchical system,

    might enhance synergic efforts arising from the integration of services. So, it is advisable

  • Criao do Campus de Sade Militar. Um projeto para o futuro.

    viii

    to include personnel integration the same time as concentration of military health facilities

    occurs.

    Considering the objectives that were considered important initially, we present a

    model that aims to reconcile the organization of Military Health System in a same

    hierarchical and functional structure.

    It was concluded that the concentration of health military services and facilities in

    a Military Health Campus, in their different aspects (selection, training, prevention and

    treatment), enhances the effectiveness of its action.

  • Criao do Campus de Sade Militar. Um projeto para o futuro.

    ix

    Palavras-chave

    - Apoio Sanitrio

    - Campus de Sade Militar

    - Hospital de Campanha;

    - Hospital das Foras Armadas;

    - Integrao da Sade Militar;

    - Servio de Sade Militar.

    Keywords

    - Armed Forces Hospital;

    - Campaign Hospital;

    - Integration of Military Health System;

    - Medical Support;

    - Military Health Campus;

    - Military Health Service.

  • Criao do Campus de Sade Militar. Um projeto para o futuro.

    x

    Lista de acrnimos e abreviaturas

    ADM

    ADSE

    CPOG

    Assistncia na Doena aos Militares

    Assistncia na Doena aos servidores do Estado

    Curso de Promoo a Oficial General

    CEDN Conceito Estratgico de Defesa Nacional

    CEMGFA

    CMA

    CMH - HM

    Chefe do Estado-Maior-General das Foras Armadas

    Centro de Medicina Aeronutica

    Centro de Medicina HiperbricaHospital da Marinha

    CPS

    CS

    CSM

    Cuidados Primrios de Sade

    Centro de Sade

    Centro de Sade Militar

    DL Decreto-lei

    EMGFA Estado-Maior-General das Foras Armadas

    ESSM

    FFAA

    Escola do Servio de Sade Militar

    Foras Armadas

    FND

    HFAR

    Foras Nacionais Destacadas

    Hospital das Foras Armadas

    IASFA

    Instituto de Ao Social das Foras Armadas

    IESM Instituto de Estudos Superiores Militares

    JMM

    Juntas Mdica Militares

    LOBOFA Lei Orgnica de Bases da Organizao das Foras

    Armadas

    MDN

    Ministrio da Defesa Nacional

  • Criao do Campus de Sade Militar. Um projeto para o futuro.

    xi

    MG/F

    NBQ

    Medicina Geral e Familiar

    Nuclear /Biolgico/Qumico

    OCDE

    OTAN

    Organizao para a Cooperao e Desenvolvimento

    Econmico

    Organizao do Tratado do Atlntico Norte

    PN Pessoal Navegante

    QC Questo Central

    QD

    SM

    Questo Derivada

    Sade Militar

    SNS

    SSM

    Servio Nacional de Sade

    Servio de Sade Militar

    TII Trabalho de Investigao Individual

    UTITA

    Unidade de Tratamento Intensivo de

    Toxicodependncias e Alcoolismo

  • Criao do Campus de Sade Militar. Um projeto para o futuro.

    1

    Introduo

    Tema

    A presena de mdicos ou cirurgies junto das tropas tornou-se normal logo que se

    tomou conscincia de que no acudir a feridos nem zelar pela sua sade, enfraquecia as

    tropas, corroendo o moral, e diminuindo a coeso.

    Mesmo sem Servio de Sade propriamente dito, organizado, fsicos e cirurgies

    tentavam prestar o socorro possvel aos feridos de guerra, sendo conhecido que, em

    algumas situaes que implicavam imobilidade das tropas, por exemplo, durante os cercos,

    o trabalho destes era facilitado, num acordo tcito entra as partes beligerantes. Ferno

    Lopes (citado por Reis, 2006, Revista Militar, pg. 2/17), referindo-se ao arraial dos

    sitiadores durante o cerco de Lisboa, escreveu: Ali havia fsicos e cerurgies e boticrios

    que nam somente tinham prestes as coisas necessrias para conservar a sade do corpo,

    mas desvairados modos de confeitos, e assucares e conservas, he achareis em muita

    fartura.

    Tambm desde muito cedo se verificou que no s o tratamento dos feridos de

    guerra, com o suporte emocional e a segurana que essa garantia implica, mas tambm

    uma seleo mais apurada, de forma a trazer para as fileiras os mais fortes e saudveis,

    tudo isto se constitua como forma de criar e manter um exrcito.

    A existncia de um Servio de Sade Militar (SSM) foi-se portanto impondo de

    forma progressiva como necessidade, cuidando inicialmente dos feridos e estropiados,

    exercendo aces preventivas de higiene, tratando dos doentes, contribuindo dessa forma

    para o moral, a coeso e a identidade da condio militar, mas acima de tudo com a

    finalidade de assegurar a prontido daqueles que constituem as fileiras das Foras

    Armadas.

    Como disse o Dr. Alberto Rodrigues Coelho, Director-Geral de Pessoal e

    Recrutamento Militar do Ministrio da Defesa Nacional, a verdadeira razo de ser da

    Sade Militar (SM) assenta na sua componente operacional, a qual visa a garantia das

    condies fsicas e psquicas dos efetivos militares, em particular no apoio s foras em

    operaes ou em campanha (Coelho, 2006, Revista Militar, pg. 3/5).

    Nessa vertente de prestao de cuidados de sade, a SM tem por finalidade no s a

    promoo e manuteno da sade fsica e mental dos efetivos militares, como a sua

  • Criao do Campus de Sade Militar. Um projeto para o futuro.

    2

    proteo em relao aos riscos resultantes da sua atividade e dos meios utilizados, e ainda,

    a sua adaptao ao ambiente fsico e psicolgico caraterstico do meio militar, de forma a

    permitir uma boa interface homem/mquina.

    Com a evoluo da cincia e da tcnica, a exigncia feita ao militar tem tambm

    evoludo, impondo novos riscos, mas tambm novas exigncias em termos fsicos e

    fisiolgicos. Tambm a evoluo da arte mdica veio introduzir novos modelos de atuao

    e novas prticas, o que determina uma cada vez maior necessidade de trabalho de equipa,

    interdisciplinar, com necessidade de recurso a meios diferenciados e dispendiosos. A ideia

    de um mdico apoiar uma fora perde progressivamente razo de ser, substituda por um

    sistema de apoio capaz de providenciar cuidados diferenciados, multidisciplinares,

    adequados a cada condio especfica.

    Este reconhecimento da necessidade de mudana da SM no , portanto, de hoje.

    Princpios orientadores do Servio de Sade Militar

    O SSM deve obedecer a um conjunto de valores e princpios fundamentais, que

    visem a melhor utilizao e agilizao dos recursos, a melhoria dos cuidados prestados, a

    satisfao das necessidades da populao que serve, e a melhoria das capacidades e

    aptides dos profissionais de sade.

    Assim, o SSM dever orientar-se pelos seguintes princpios (Coelho, 2006):

    1. Ao orientada sobretudo para assegurar a prontido dos efetivos militares nos

    vrios cenrios de atuao;

    2. Garantia de obteno de significativas mais-valias em matria de eficincia e,

    particularmente, de satisfao dos utentes e profissionais. Garantia de formao dos

    profissionais.

    3. Racionalizao e otimizao dos recursos.

    4. Cooperao, no mbito da defesa, com organismos e estruturas civis e militares,

    nacionais ou a nvel internacional;

    5. Articulao com o Servio Nacional de Sade (SNS) ou outras estruturas, no

    sentido da sua complementaridade, de modo a garantir sempre uma resposta eficiente e

    eficaz;

    6. Sentido de mudana e capacidade para apoiar e desenvolver projetos inovadores.

    7. Acompanhamento e avaliao sistemtica da misso e do desempenho.

  • Criao do Campus de Sade Militar. Um projeto para o futuro.

    3

    Justificao da atribuio do tema

    So conhecidas as recentes determinaes da tutela no sentido de se proceder

    integrao dos Servios de Sade dos Ramos, particularmente no que diz respeito

    medicina hospitalar.

    Com efeito, vem nessa sequncia a deciso da criao do Hospital das Foras

    Armadas (HFAR) no anterior Hospital da Fora Area, no Lumiar, actualmente j dirigido

    por uma comisso conjunta, sendo tambm inteno da tutela concentrar nesse espao no

    s a assistncia hospitalar, como tambm toda a formao na rea da sade, os centros

    dedicados fisiologia humana em ambiente aeronutico e subaqutico, e a seleo mdica

    de pessoal,

    Dadas as especificidades de cada um dos ramos, nomeadamente naquelas reas que

    impem cuidados adicionais, natural que esta integrao se revista de cuidados especiais,

    de forma a no se perder esse manancial de conhecimento dado pela experincia e a se

    potenciarem as competncias.

    Enunciado, contexto e base conceptual.

    Face ao tema escolhido, os objetivos deste trabalho so:

    - Efetuar uma resenha histrica da SM, determinando conceitos, reas de

    interveno e utilidade, tanto na sua vertente especfica de prestao de cuidados de sade,

    como no contributo para operacionalidade das Foras Armadas (FFAA) no geral.

    -Analisar a possvel articulao do SSM com a Rede Nacional de Prestao de

    Cuidados de Sade, de forma a se potenciarem as vertentes assistencial e de formao,

    contribuindo para a melhoria da sade da populao por um lado, e retirando do Servio

    Nacional de Sade (SNS) a experincia e a escola s possvel num universo alargado, com

    maior impacte epidemiolgico.

    -Avaliar as necessidades atuais das FFAA em termos de Servio de Sade, bem

    como a adequabilidade da existncia de vrios Servios de Sade.

    - Analisar a possvel estrutura de um Campus de Sade Militar, que abarque todas

    as valncias da SM, desde a formao prestao de cuidados, sejam primrios, de

    assistncia hospitalar, ou de reabilitao, como uma estrutura integradora de diferentes

  • Criao do Campus de Sade Militar. Um projeto para o futuro.

    4

    servios, fator de racionalizao de custos, potencializao de resultados e melhoria dos

    cuidados prestados.

    Objeto do Estudo e sua delimitao

    A restruturao da SM tem sido um problema recorrentemente abordado, impondo-

    se agora pela atual situao de restrio financeira, e dado o progressivo descontentamento

    dos profissionais no que diz respeito sua valorizao, que os leva a pensar que, com os

    mesmos meios, mas organizados de forma diferente, haveria lugar a um aumento do saber

    e das competncias, e a uma melhoria substancial dos cuidados prestados. Com ganho para

    os doentes e recompensa moral dos profissionais.

    A integrao de servios constitui-se assim como o cumprimento de expectativas de

    alguns profissionais, contribuindo para os objetivos das boas prticas mdicas, oferecendo

    aos militares e suas famlias servios de confiana, preenchendo as necessidades de

    formao constante e de manuteno das competncias, afinal o grande fator de motivao

    dos profissionais de sade.

    Para alm de que, com esta sinergia de esforos, se poder equacionar a

    possibilidade de se criarem servios que sejam referncia pelas competncias e

    capacidades cientficas, trazendo, por essa via, uma mais-valia passvel de ser utilizada

    pela tutela numa rea de negcio cada vez mais em expanso o negcio da sade.

    Objetivos da Investigao

    O objetivo principal da investigao visa permitir a identificao de um modelo de

    organizao do Campus de Sade Militar, adequado s necessidades das Foras Armadas.

    Questo Central e Questes Derivadas

    Decorrente do tema e enquadrada pela exposio que precede, a investigao passa

    pela resposta seguinte questo central (QC), e de onde foram deduzidas as questes

    derivadas (QD), tal como se refere na Tabela 1:

  • Criao do Campus de Sade Militar. Um projeto para o futuro.

    5

    Para responder a estas questes derivadas, foram colocadas as seguintes hipteses,

    conforme se explana na Tabela 2:

  • Criao do Campus de Sade Militar. Um projeto para o futuro.

    6

    Metodologia, percurso e instrumentos.

    A metodologia a seguir estar de acordo com a Metodologia de Investigao

    Cientfica (MIC), descrita na NEP n DE 218, de 15set2011.

    Definidas a questo central e as questes derivadas com base em leitura prvia de

    documentao de referncia e de reflexo sobre a realidade percecionada das matrias, a

    fase nuclear da investigao apoia-se na anlise e definio de conceitos, na explorao da

    bibliografia relevante e no estudo da documentao recolhida, complementada com recolha

    de opinies de peritos na matria, que possam assim viabilizar uma anlise consistente com

    as necessidades objetivas.

    Seguir-se- a fase da problemtica, onde se avaliar a misso, os meios, problemas

    e necessidades actuais, a forma de compatibilizar toda a SM com as exigncias globais das

    FFAA e a possvel interaco com a rede geral de cuidados de sade, integrando-se

    posteriormente toda esta informao, de modo a permitir a identificao de um modelo de

    organizao de um Campus de Sade, adequado s necessidades das FFAA.

    Finalmente e de acordo com o objetivo da investigao, sero apresentadas as

    concluses, que, atravs da validao das hipteses, confirmaro as questes derivadas,

    assim se consubstanciando a resposta questo central.

    O mtodo adotado ser o mtodo dedutivo, com base na recolha de dados que

    estabelecero as premissas iniciais para o desenvolvimento do tema. Ser dada especial

    ateno realidade actual, com uma caracterizao adequada da misso e dos meios, e do

    estudo das necessidades, atravs da leitura de estudos e artigos sobre o tema em questo,

    da comparao com a prtica de outras FFAA de pases europeus, nomeadamente de pases

    que integrem a Organizao do Tratado do Atlntico Norte (OTAN), e de entrevistas a

    pessoas com experincia na rea militares, mdicos, administradores hospitalares,

    anteriores directores de sade.

  • Criao do Campus de Sade Militar. Um projeto para o futuro.

    7

    1. O Servio de Sade Militar. Introduo histrica e abordagem contextual

    a. Introduo histrica

    Como j foi referido na introduo ao tema, a presena de mdicos ou cirurgies

    junto das tropas ocorreu logo que se tomou conscincia de que no acudir a feridos, nem

    zelar pela sua sade, enfraquecia as tropas, corroendo o moral e diminuindo a coeso.

    Homero, na Ilada, fala das feridas de guerra, particularmente aquelas provocadas

    por lanas, bem como da habilidade de alguns cirurgies no seu tratamento. De feridas

    contusas, passou-se a feridas cortantes, feridas penetrantes, esfacelos, politraumatismos de

    gravidade crescente, queimaduras, amputaes traumticas, e por diante (Reis, 2004, pg.

    22).

    Data do ano 2800 AC o Livro das Feridas, contido no Papiro Smith (Reis,

    2004, pg. 20), onde se elabora j ento, um tipo de interveno que, de certa forma, se

    pode considerar como o preldio de uma ao de triagem em situao de catstrofe

    (Doenas que vou tratar. Doenas com as quais me baterei. Doenas em que nada

    poderei fazer.).

    O Imprio Romano, construdo na base das armas, tambm sentiu a necessidade da

    permanncia de mdicos e cirurgies junto das suas legies, a ponto de, a partir de

    Augusto, haver um mdico em cada Legio e em cada navio de guerra. E foi tal o

    reconhecimento pelos servios prestados, que Jlio Csar atribuiu ento aos servus

    mdicus, na altura sobretudo gregos, a dignidade de cidados romanos, bem como honras

    e proveitos, e um progressivo prestgio social e poltico.

    Por outro lado, o desenvolvimento das campanhas militares, levou construo de

    hospitais militares onde houvesse soldados romanos (conforme descoberto em escavaes

    na Sua, na ustria e na Alemanha). Ao que se juntava o desenvolvimento das noes de

    higiene pessoal e pblica, construindo balnerios, esgotos, aquedutos, ou urinis pblicos.

    J ento se percebia a importncia da preveno das doenas, e da relao entre o

    bem-estar dos soldados e a sua capacidade de dar o rendimento necessrio s aces de

    guerra.

    Foi esse sempre o princpio que determinou a necessidade de mdicos e cirurgies

    junto das tropas ao longo da Histria, com reconhecido benefcio para ambas as partes, j

    que o bem-estar e as possibilidades de socorro e tratamento contribuem para a melhoria da

  • Criao do Campus de Sade Militar. Um projeto para o futuro.

    8

    condio e do moral do soldado, e porque a experincia de socorro a feridos de guerra se

    constituiu sempre como uma mais-valia na experincia do mdico e no avano da arte

    mdica.

    No que medicina militar portuguesa diz respeito, pode afirmar-se que a presena

    de fsicos e mestres junto dos soldados remonta tambm ao incio da nao portuguesa.

    De facto o sculo que se seguiu fundao de Portugal no foi um sculo pacfico,

    mas antes sempre marcado por lutas e escaramuas quer entre os reinos cristos da

    pennsula, quer no esforo da reconquista. As incurses militares desse tempo no eram

    morosas nem particularmente intensas, salvo as comandadas pelo Rei que levava com ele

    os seus fsicos e cirurgies, muitos deles ligados Igreja, clrigos, ou mesmo bispos,

    outros laicos, habitualmente chamados de Mestres, sobretudo os cirurgies.

    As Ordens Militares tiveram tambm grande importncia na fundao do pas e, tal

    como os cruzados, devem ter trazido alguns conceitos novos no que respeita ao tratamento

    dos feridos de guerra. Por outro lado, as ordens monsticas foram autnticos centros de

    cultura, sobretudo em Alcobaa e Santa Cruz de Coimbra. Nesta ltima ensinou-se

    medicina, podendo considerar-se que teria sido a primeira escola mdica portuguesa.

  • Criao do Campus de Sade Militar. Um projeto para o futuro.

    9

    E assim se foi mantendo a presena da medicina junto das tropas. Foi alis nessa

    condio que fsicos e cirurgies participaram nas incurses por praas de Marrocos. Na

    tomada de Arzila morreu Mestre Abrao, fsico de D. Afonso V.

    J no que diz respeito aventura dos descobrimentos, h histria tambm da

    presena de mdicos. Percebe-se que preciso cuidar das tripulaes, dos soldados nas

    fortalezas, dos colonos. E entre os cosmgrafos que faziam viagens nas naus, figuram

    vrios fsicos, destacando-se, por exemplo, Pedro Nunes, figura mpar da histria e da

    cincia portuguesas.

    No entanto, com a Guerra da Restaurao que se vai organizar um exrcito

    permanente. E com ele, os cirurgies militares profissionais, como se refere na

    documentao sobre o seu recrutamento.

    Por exemplo, entre as atribuies do Conselho de Guerra, de 1643, estava a

    confirmao das nomeaes de fsicos e cirurgies pelos Mestres de Campo, tal como

    faziam em relao aos seus oficiais combatentes. Na altura havia um Fsico-Mor e

    Fsicos nos hospitais.

    De qualquer forma era notria a falta de cirurgies e a pouca qualidade dos

    existentes. ... esto feridos em Castelo de Vide quantidade de soldados que todos vieram

    despidos e por falta de cirurgio morreram alguns, seja V. M. servido de mandar um que

    seja homem de conta dos muitos que h em Lisboa, porque grande lstima que morro

    os homens depois de escaparem das mos do inimigo, por no haver quem os saiba

    curar,... (Reis, 2004, pg. 166).

    Em 1762, na sequncia de nova guerra com Espanha, o Marqus de Pombal

    chamou a Portugal o Conde de Lippe, com a finalidade de reorganizar o exrcito, o que fez

    elevando-o a um estado de eficincia nunca antes havido, tendo ento orientado o Servio

    de Sade nos moldes em que o rei Frederico o fizera na Prssia.

    Os Regulamentos do Conde de Lippe para os Regimentos de Infantaria, de 1763,

    previam no seu estado-maior um cirurgio-mor e seis ajudantes, e para os regimentos de

    cavalaria de um cirurgio-mor e quatro ajudantes de cirurgio, pondo de parte a

    interveno dos comandantes na nomeao dos cirurgies-mores, no podendo ser

    nomeado nenhum sem prvia apresentao do cirurgio-mor do Exrcito o qual o far

    examinar de Medicina e de Cirurgia.

  • Criao do Campus de Sade Militar. Um projeto para o futuro.

    10

    Para garantir o ingresso no exrcito de cirurgies melhor preparados criaram-se, no

    fim do sculo XVIII as Aulas de Anatomia e Cirurgia dos Hospitais Militares em Almeida

    (1773), Elvas (1783), Tavira (1786) e Chaves (1789).

    Determinou-se que se montassem hospitais mveis junto das tropas; montaram-se,

    porm, hospitais especiais perto das trincheiras, quando se cercavam praas. Atendidos no

    campo pelo pessoal das unidades, os feridos eram transportados depois para os hospitais

    mais prximos, se bem que, em condies tais que, por vezes, desse transporte resultava

    mais o agravamento do seu estado de sade.

    J aps as invases francesas, e restabelecida a Regncia entrou-se num perodo de

    grandes alteraes da estrutura militar. Beresford, como bom organizador, era muito

    cuidadoso no que respeitava ao bem-estar das suas tropas. O Servio de Sade a que estava

    particularmente atento, mereceu-lhe vrias intervenes, de que se destaca a criao de

    uma Junta para examinar os cirurgies-mores e ajudantes, sendo, os aprovados,

    graduados em capites e tenentes, respectivamente. Tambm em 9 de Fevereiro de 1813,

    publicaram os Governadores um Regulamento para os Hospitais Militares em cuja

    elaborao Beresford teve interveno directa ou atravs de delegados de sua escolha.

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    11

    D. Pedro, por seu lado, conforme permitia a melhoria de recursos, foi tambm

    remodelando o SSM mandando construir o primeiro hospital militar, construdo de raiz

    para esse efeito, o Hospital Militar de D. Pedro V, na cidade do Porto.

    Em 1849, j no reinado de D. Maria II, criada uma nova Repartio de Sade no

    Estado-Maior do Comando em Chefe do Exrcito, passando a ter como atribuies o

    pessoal de sade; juntas de sade; inspeces dos hospitais; convalescenas, ambulncias

    e servio de sade em campanha. (Reis, Revista Militar, 2006, pg 14/17) Posteriormente

    criado o lugar de Cirurgio-em-Chefe do Exrcito, com o posto de Coronel.

    Por Decreto de 7 de Setembro de 1899, publicado na OE n 10, h nova

    organizao do exrcito e os cirurgies passam a ser chamados pelos postos, seguidos da

    palavra mdico (tal como se verifica atualmente).

    O SSM foi-se portanto impondo de forma progressiva como necessidade, cuidando

    inicialmente dos feridos e estropiados, exercendo aces preventivas de higiene, tratando

    dos doentes, contribuindo dessa forma para o moral, a coeso e a identidade da condio

    militar, mas acima de tudo com a finalidade de assegurar a prontido daqueles que

    constituem as fileiras das FFAA.

    b. Contexto actual

    Da abordagem histrica que foi feita, depreendem-se diversas concluses que

    apontam para a necessidade, ao longo dos tempos, da presena de mdicos junto das

    tropas, a fim de providenciarem os cuidados necessrios, como tambm se depreende a

    especificidade desse trabalho, com necessidades particulares em termos de conhecimentos

    e formao, o que implica conhecimento, disponibilidade e mobilidade.

    Tambm muitas das actividades militares so hoje possveis, ou feitas em condies

    particulares de segurana acrescida, em funo dos conhecimentos que advm da medicina

    ou das cincias que lhe so subsidirias (fisiologia, bioqumica, etc.).

    o caso da contribuio da medicina aeronutica para a actividade area, da

    medicina subaqutica para as actividades submarinas, da medicina de esforo em situaes

    limite de exausto, e da contribuio da medicina no mbito da guerra nuclear, qumica ou

    biolgica. Ou do tratamento de feridos de guerra, estropiados ou queimados, dos

    conhecimentos da resultantes com aplicao nas tcnicas cirrgicas gerais, sejam da

    cirurgia reconstrutiva, seja da cirurgia geral. Entre tantos outros

  • Criao do Campus de Sade Militar. Um projeto para o futuro.

    12

    Da decorre tambm uma necessidade especfica de conhecimentos, que se afastam

    do habitual conhecimento mdico, o que leva a necessidades particulares de formao, tal

    como j se tinha verificado na antiguidade, e, entre ns, no sculo XVIII, e que levou

    criao das Aulas de Anatomia e Cirurgia dos Hospitais Militares - destinavam-se a ser

    frequentadas por ajudantes de cirurgio que, findo o curso, se dedicavam, uns ao Exrcito e

    outros clnica rural.

    Decorre tambm, j desde ento, a conscincia da necessidade da prestao de

    cuidados populao feitos pela medicina militar, da moralidade e da justia desses

    cuidados, particularmente quando prestados a uma populao carente e em risco.

    nesse contexto que abordaremos a necessidade de um servio de sade militar

    junto das tropas, da sua especificidade no que respeita a conhecimentos e competncias,

    das necessidades prprias de formao, da sua autonomia tcnica em relao prpria

    estrutura militar, e do esprito de servio prestado, no s aos militares mas a toda a

    populao, logo seja adequado e necessrio.

    c. As Foras Armadas e o Servio de Sade

    (1) Enquadramento normativo

    So misses das FFAA, no termos da Constituio e da Lei (Lei Orgnica n. 1-

    A/2009, de 7 de Julho, que Aprova a Lei Orgnica de Bases da Organizao das Foras

    Armadas (LOBOFA)):

    a) Desempenhar todas as misses militares necessrias para garantir a soberania,

    a independncia nacional e a integridade territorial do Estado;

    b) Participar nas misses militares internacionais necessrias para assegurar os

    compromissos internacionais do Estado no mbito militar, incluindo misses humanitrias

    e de paz;

    c) Executar misses no exterior do territrio nacional, num quadro autnomo ou

    multinacional, destinadas a garantir a salvaguarda da vida e dos interesses dos

    portugueses;

    ...

    f) Colaborar em misses de proteco civil e em tarefas relacionadas com a

    satisfao das necessidades bsicas e a melhoria da qualidade de vida das populaes.

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    13

    Por outro lado, conforme a mesma legislao, so estabelecidos os princpios gerais

    de organizao das FFAA:

    1 - A organizao das FFAA tem como objectivos essenciais o aprontamento

    eficiente e o emprego operacional eficaz das foras, no cumprimento das misses

    atribudas.

    2 - A organizao das FFAA rege-se por princpios de eficcia e racionalizao,

    devendo, designadamente, garantir:

    a) A optimizao da relao entre a componente operacional do sistema de Foras

    e a sua componente fixa;

    b) A articulao e complementaridade entre o Estado-Maior-General-das-Foras-

    Armadas e os Ramos, evitando duplicaes desnecessrias e criando rgos conjuntos,

    inter-ramos ou de apoio a mais de um ramo, sempre que razes objectivas o aconselhem;

    c) A correcta utilizao do potencial humano, militar ou civil

    3 No respeito pela sua misso fundamental, a organizao das FFAA deve

    permitir que a transio para o estado de guerra se processe com o mnimo de alteraes

    possvel.

    Tambm no que diz respeito ao Conceito Estratgico de Defesa Nacional (CEDN),

    este vem pr em evidncia os seguintes aspectos:

    - As Foras Armadas portuguesas, como vetores para consolidar Portugal no seu

    estatuto de coprodutor de segurana internacional.

    Pelo que a estratgia nacional dever definir com clareza:

    - as misses prioritrias das Foras Armadas, a escala geopoltica das

    prioridades do seu emprego e as capacidades necessrias.

    - as medidas de racionalizao que garantam maior eficincia na aplicao

    dos seus meios.

    Tendo em ateno:

    - O novo ambiente de segurana, as novas condies financeiras e as

    exigncias das alianas externas obrigam a uma capacidade de resposta diferente das

    Foras Armadas.

    - A internacionalizao e a modernizao das Foras Armadas portuguesas

    resultam da integrao de Portugal na Aliana Atlntica. (CEDN, 2013)

    Preconizando-se:

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    14

    - a participao relevante das Foras Armadas em misses internacionais de

    paz.

    - A racionalizao e rentabilizao de recursos, mediante o desenvolvimento de

    capacidades civis e militares integradas.

    -

    - A valorizao do princpio do duplo uso:

    - O apoio ao Servio Nacional de Proteo Civil,;

    - O apoio satisfao das necessidades bsicas das populaes;

    -

    - Uma maior integrao de estruturas... (CEDN, 2013)

    (2) Aplicabilidade da Sade Militar no actual contexto estratgico.

    Necessidades actuais.

    Daqui se depreende que, apesar de neste momento se verificar uma atenuao das

    ameaas tradicionais de cariz militar, no deixa no entanto de ser expectvel a necessidade

    de utilizao da fora militar, tanto em misses internacionais, no mbito das organizaes

    de que Portugal faz parte (quer para cumprimento da concretizao dos objectivos do

    estado no mbito da sua poltica externa, quer no mbito de misses de paz ou

    humanitrias), como na possibilidade de ter de se proceder a evacuao de cidados

    portugueses to espalhados pelo mundo, ou at no apoio populao civil em situaes de

    exceo.

    A instabilidade verificada no mundo, com o subsequente risco de ocorrncia de

    conflitos de pequena dimenso em locais onde vivem cidados nacionais, a possibilidade

  • Criao do Campus de Sade Militar. Um projeto para o futuro.

    15

    de concretizao de ameaas terroristas, podero impor o recurso s FFAA, com

    necessidade de apoio mdico, ou at impor o recurso a interveno mdica em locais de

    risco, acompanhando a fora militar.

    Por outro lado, imperioso lembrar que no meio militar a exigncia operacional se

    impe de uma forma muito mais intensa. O trabalho efetua-se muitas vezes em condies

    limite, tanto a nvel fsico, como psquico ou emocional. Estamos perante algum que se

    prope muitas vezes operar em ambiente no natural para o homem (no fisiolgico),

    sujeito a condies extremas de agressividade, cuja intensidade e variabilidade pode

    ultrapassar os mecanismos de adaptao humana. A aviao militar disso exemplo, sendo

    imprescindvel o conhecimento do ambiente em altitude e das capacidades de adaptao do

    organismo humano a esse ambiente. O mesmo se passa com o ambiente subaqutico e as

    suas caratersticas. Ou com o esforo fsico e psquico, tantas vezes necessrio e imposto

    para o cumprimento da misso do infante. Ou do operador de mquinas de combate que,

    sob risco iminente, se concentram a operar mecanismos complexos. O conhecimento

    dessas circunstncias essencial, de forma a se prestar o cuidado necessrio quando

    preciso, mas tambm de forma a se seleccionar bem, a prevenir o erro, garantindo o

    cumprimento da misso, minimizando os custos, aumentando a segurana tanto do prprio

    como de terceiros.

    Da tambm o interesse da medicina militar, como valncia imprescindvel de uma

    organizao que opere meios complexos em ambientes complexos. No s nas vertentes de

    seleco de pessoal, como na formao, no treino, na investigao, na operao de

    simuladores, na programao de algumas misses, no apoio ao combate e no tratamento e

    reabilitao.

    So estas necessidades de conhecimento e de competncias que determinam a

    especificidade de programas prprios de formao, que podem incluir valncias to

    diversas como medicina aeronutica ou subaqutica, fisiologia do exerccio, ambiente

    nuclear, qumico ou biolgico, medicina tropical e do viajante, medicina operacional,

    assim como o conhecimento dos meios e do ambiente em que vo operar os militares,

    factos que tornam a medicina militar to especfica e abrangente ao mesmo tempo.

    Finalmente, e parafraseando o Major-General Mdico Jorge Mateus Cardoso, a j

    expressiva e relevante participao de militares do Servio de Sade, em mltiplas

    misses de paz, no decurso dos ltimos anos, alargando sempre que possvel a prestao

  • Criao do Campus de Sade Militar. Um projeto para o futuro.

    16

    de cuidados s populaes locais, vem demonstrar a sua capacidade de adaptao a novas

    situaes e a sua aptido para servir em situaes operacionais e ambientais diversas e

    rigorosas, bem como a sua aptido tcnica para o desempenho das vrias funes, sejam

    elas de apoio sanitrio sejam de no mbito o planeamento e organizao, o que se

    poder traduzir numa capacidade acrescida para intervir em situaes de catstrofe ou

    calamidade (Cardoso, 2006, Revista Militar, pg. 6/6),).

    d. Concluso em relao necessidade

    Assim sendo, pensamos estar plenamente justificada a necessidade da existncia do

    SSM, da sua especificidade no que respeita a conhecimentos e competncias, bem como

    das necessidades prprias de formao, da sua autonomia tcnica em relao prpria

    estrutura militar, e do esprito de servio, prestado no s aos militares mas a toda a

    populao, logo seja adequado e necessrio.

    Pelo que consideramos validada a Hiptese1,

    A condio militar e as misses atribudas s FFAA apresentam especificidades

    que determinam a necessidade de um SSM capaz de dar essa resposta especfica.

    Dando resposta afirmativa QD1.

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    17

    2. Viabilidade do Servio de Sade Militar

    a. Considerandos Gerais

    Um Servio de Sade ser sempre uma organizao complexa, com impacto

    determinante na populao que serve, e cuja importncia no se limita aos cuidados de

    sade prestados, tendo tambm implicaes determinantes nos domnios pessoal, familiar,

    social, laboral, econmico e organizacional.

    Basta verificar o impacto nas populaes, e as reaes subsequentes, que tiveram

    recentes tentativas de reestruturao das Urgncias e Maternidades, para nos darmos conta

    da importncia dos cuidados de sade na qualidade de vida das pessoas e no sentimento de

    segurana que a garantia desses cuidados transmite.

    Esta complexidade, bem como as dificuldades que da advenham, no devem

    porm constituir impedimento a um processo de reorganizao, cuja necessidade parece

    incontestvel e que se justifica por muitas e boas razes, as menores das quais no sero,

    certamente, a prpria qualidade dos cuidados prestados, ou a sustentabilidade de um

    servio de sade, ameaado por custos crescentes, particularmente quando na sua estrutura

    se enquadra um hospital que se pretende de ponta, capaz de prestar cuidados diferenciados

    ao nvel do que se faz no melhor estado da arte.

    Tambm a formao dos profissionais de sade crucial na determinao deste

    processo de mudana. Com efeito, a necessidade de formao e actualizao constantes,

    apenas possvel em ambiente diferenciado, ou o treino derivado da automatizao de

    procedimentos adquirida pela experincia, tem estabelecido novos paradigmas de

    formao. Porque no basta transmitir conhecimentos, ou exigir conhecimento terico das

    tcnicas, tal como se de ensino pr-graduado se tratasse. imperioso desenvolver

    competncias e rotinas assistenciais modelares, capacidades, atitudes e comportamentos,

    capazes de tornar possvel a resposta adequada, feita de profissionalismo competente e

    experiente, atributo essencial no exerccio das profisses ligadas sade.

    Porque, com o desenvolvimento do conhecimento cientfico e de novas tecnologias,

    a actividade assistencial deixou h muito de ser da responsabilidade nica do mdico, para

    passar a ser o resultado do contributo de equipas cada vez mais alargadas e que recorrem a

    equipamentos cada vez mais sofisticados.

  • Criao do Campus de Sade Militar. Um projeto para o futuro.

    18

    b. Servios de Sade Militares. Situao actual

    O Sistema de Sade Militar em vigor incorpora os Servios de Sade dos Ramos,

    dependentes hierrquica, funcional e administrativamente das chefias do respectivo Ramo.

    Em cada Ramo, o Servio de Sade planeia, coordena, supervisiona ou executa:

    - a actividade assistencial;

    - a parte mdica das actividades de classificao e seleco;

    - o apoio sanitrio actividade operacional e as atividades de Medicina Preventiva,

    nomeadamente as relacionadas com o aprontamento de Foras;

    - as actividades ligadas avaliao do dano e reabilitao;

    - as aces de resposta a situaes de crise, emergncia e catstrofe, de acordo com

    directivas superiores;

    - a formao e treino em sade.

    No foram somente as alteraes verificadas a nvel das FFAA que determinaram a

    evoluo que se tem verificado nos seus Servios de Sade. Tambm a prpria evoluo

  • Criao do Campus de Sade Militar. Um projeto para o futuro.

    19

    dos cuidados de sade, verificada nos ltimos trinta anos, ditou essa transformao, pela

    evoluo dos conceitos tcnico-cientficos, por um lado, e pela necessidade de

    racionalizao de custos, numa rea cada vez mais especializada e dispendiosa.

    Conforme referido pelo MajorGeneral/Mdico Nunes Marques, verificou-se uma

    focalizao nos cuidados primrios, (a que os SSM tiveram de responder sem dispor de

    especialistas suficientes para o efeito) e, paralelamente, uma progressiva diferenciao dos

    Servios Hospitalares, por vezes dificultada nos Hospitais Militares pela multiplicao de

    servios das mesmas especialidades.

    Por outro lado, uma multiplicidade de tarefas, que ultrapassam a questo da

    assistncia hospitalar, exigida aos SSM a maior parte das vezes sem que isso seja

    devidamente evidenciado na produtividade:

    - o apoio sanitrio nas Unidades Militares, na prestao de cuidados primrios de

    sade.

    - a participao nos processos de recrutamento e seleco (a nvel hospitalar,

    Centros de Recrutamento, Centro de Medicina Aeronutica, etc.).

    - o aprontamento sanitrio prvio s misses das Foras Nacionais Destacadas

    (FND) e a avaliao aps o regresso;

    - o apoio sanitrio s FND, realizado pelo pessoal nomeado para integrar essas

    foras;

    - a realizao de Juntas Mdicas para apreciao da aptido/inaptido e

    capacidade/incapacidade para o servio militar, ou a avaliao de situaes de doena,

    sequelas ou incapacidades decorrentes do servio militar, de militares e ex-militares.

    c. A criao do Hospital das Foras Armadas (HFAR)

    A LOBOFA e a Lei Orgnica do EMGFA, aprovada pelo Decreto-Lei n.

    234/2009, de 15 de setembro, veio consagrar a criao do HFAR enquanto hospital militar

    nico, devendo o mesmo ficar organizado em dois plos hospitalares, um em Lisboa e

    outro no Porto.

    Foi tambm concebida uma proposta de Programa Funcional que identifica a

    populao a servir pelo referido polo hospitalar, assim como os servios a prestar e os

    recursos materiais imprescindveis ao seu pleno funcionamento.

  • Criao do Campus de Sade Militar. Um projeto para o futuro.

    20

    Posteriormente, atravs do despacho n. 16437/2011, de 4 de novembro, do MDN,

    foi assumida a deciso poltica de criar e implementar, numa primeira fase, o Plo de

    Lisboa do HFAR, mediante algumas alteraes ao referido programa funcional, no espao

    fsico ocupado pelo Hospital da Fora Area, (Unidade Hospitalar do Lumiar), por esta se

    afigurar a soluo mais adequada e exequvel na atual conjuntura das contas pblicas,

    atentos os critrios de eficcia e eficincia, consubstanciando um ponto timo de

    equilbrio entre as capacidades tcnica, mdica, logstica e financeira.

    Finalmente, o Decreto-Lei n. 187/2012, de 16 de agosto, no seguimento da

    inteno de restruturao hospitalar, como eixo essencial da poltica de sade a

    desenvolver no mbito militar, cria o Polo de Lisboa do HFAR. E o Decreto-

    Regulamentar 51/2012 de 10 de dezembro, vem regulamentar as matrias para o perodo

    de fuso hospitalar, at completa criao do HFAR, finalizado com a criao e

    implementao do Plo do Porto.

    Nesse Decreto-Lei, logo se estabelece a natureza e a misso do Polo de Lisboa do

    HFAR

    1 -

    2 - O Polo de Lisboa do HFAR resulta da fuso entre o Hospital da Marinha, o

    Hospital Militar Principal, o Hospital Militar de Belm e o Hospital da Fora Area.

    Sendo sua misso e atribuies:

  • Criao do Campus de Sade Militar. Um projeto para o futuro.

    21

    1 - Prestar cuidados de sade diferenciados aos militares das FFAA e famlia

    militar, bem como aos deficientes militares, podendo, na sequncia de acordos que venha

    a celebrar, prestar cuidados de sade a outros utentes.

    2 - a) Prestar cuidados de sade aos beneficirios da Assistncia na Doena aos

    Militares das Foras Armada/Instituto de Ao Social das Foras Armadas

    (ADM/IASFA);

    b) Colaborar no aprontamento sanitrio dos militares que integram as FND;

    c) Colaborar nos processos de seleo, inspeo e reviso dos militares das FFAA;

    d) Promover a cooperao e articulao com o SNS;

    e) Assegurar as condies necessrias ao treino e ensino ps-graduado dos

    profissionais de sade;

    f) Apoiar aes de formao e de investigao e cooperar com instituies de

    ensino nestes domnios;

    g) Articular com as estruturas do SNS e com as autoridades de proteo civil as

    modalidades de resposta s situaes de acidente grave ou catstrofe.

    Ressalta desta deciso a evidncia de que a misso e atribuies do HFAR abarcam

    aspectos to diversos como a prestao de cuidados assistenciais, a formao em sade,

    num sentido global, a colaborao nos processos de seleco, inspeco e revises mdicas

    dos militares das FFAA, a responsabilidade no aprontamento das tropas e no apoio s

    FND, bem como a possibilidade de articulao com a rede nacional de prestao de

    cuidados, e particularmente com o SNS, na prestao de cuidados populao no militar.

    d. A Instituio Hospitalar versus a Instituio Militar. Misso e

    caratersticas.

    Os hospitais no podem ignorar que tm, hoje em dia, uma tripla vertente na sua

    atividade: so simultaneamente plataformas tecnolgicas sofisticadas, instncias de

    acolhimento de pessoas em sofrimento e vectores essenciais de formao e ensino de

    profissionais de sade.

    So essas vertentes que vo caracterizar a especificidade de um hospital militar, de

    disponibilidade e prioridade na assistncia aos militares com enfoque dado primazia da

    sua prontido, bem como a disponibilidade de se mobilizar no apoio a foras destacadas

    (1), a capacidade de contribuir para todo um programa de formao em sade e para a

  • Criao do Campus de Sade Militar. Um projeto para o futuro.

    22

    formao especfica, pr e ps-graduada, dos seus profissionais de sade (2), e a

    capacidade, quando necessrio, de estender a sua aco populao (3).

    Para alm de outros aspetos to genuinamente caratersticos dos militares, como a

    segurana e a discrio, s vezes to importantes quando podero estar em causa interesses

    que o exijam.

    A definio da misso, no que diz respeito tica e valores, pode assumir, neste

    caso, aspectos particularmente relevantes, dada a hierarquia e a dinmica de um hospital

    no ser consentnea muitas vezes com o habitual funcionamento hierrquico militar. Em

    ambiente hospitalar sobrepem-se por vezes subordinaes tcnicas e hierrquicas que

    nem sempre coincidem, no sendo adequada a perspectiva puramente formalista, que

    pretenda a definio e imposio de objectivos de cima para baixo para serem cumpridos

    pelas bases da organizao (Grupo Tcnico para a Reforma da Organizao Interna dos

    Hospitais, 2010).

    Tambm se torna fundamental desenvolver esforos no sentido de efectivar o

    comprometimento da organizao na sua globalidade, bem como o comprometimento da

    comunidade, para que o hospital possa assumir um papel decisivo, com a criao de

    inovao e conhecimento, tornando-se tambm agente modificador da realidade.

    A misso do hospital, os valores assumidos, e a aco da resultante devem

    constituir-se como uma declarao dos valores humanitrios, e dos objectivos que se

    pretendem alcanar, reflectindo os valores da organizao que o suporta, mas que so

    compartilhados por todos - comprometimento com cuidados de elevada qualidade, em

    respeito pelo princpio da equidade; com a promoo da formao especfica e contnua; e

    com incentivo investigao e desenvolvimento.

    assumido que a cada hospital dever ser atribuda a responsabilidade de um papel

    especfico na rea assistencial a uma populao, seja uma rea geodemogrfica, seja uma

    populao especfica que se identifique por alguma caraterstica diferenciadora, devendo

    ser tomado em considerao a sua articulao, quer com uma rede cuidados primrios,

    quer com outras instituies (v,g, cuidados continuados).

    Um hospital dever portanto enquadrar-se num sistema de referenciao e numa

    rede de unidades de sade, cada qual com a sua misso e os seus objectivos especficos, de

    modo a:

  • Criao do Campus de Sade Militar. Um projeto para o futuro.

    23

    - Assegurar a prestao de cuidados de sade de qualidade (abordagem atempada,

    global, multidisciplinar, continuada).

    - Atender a uma lgica de eficincia e racionalidade, evitando o desperdcio ou a

    multiplicao desnecessria de recursos;

    - Garantir, em cada rea de interveno, a existncia de uma dimenso que

    possibilite aquisio e manuteno de experincia e de competncias.

    Um hospital deve dispor dos meios financeiros necessrios prossecuo dos

    objectivos que lhe esto atribudos. No planeamento da unidade hospitalar, h portanto que

    ter em considerao, tambm, a sua dimenso.

    De facto, unidades hospitalares de dimenso menor tm normalmente vantagens em

    ser integradas, no deixando assim de proporcionar, aos seus utilizadores, cuidados

    diferenciados, num contexto de proximidade, qualidade e sustentabilidade. Mais uma vez,

    a integrao dos hospitais militares a funcionar como factor de promoo da competncia,

    e de viabilizao da sua sustentabilidade.

    e. A articulao do Servio de Sade Militar com a Rede Nacional de

    Prestao de Cuidados de Sade

    Tem feito parte dos programas de governo desde h muito tempo, e faz parte ainda

    do actual programa de governo:

    a Reestruturao da Estrutura Superior da Defesa Nacional, concretizando a

    legislao recentemente aprovada, nomeadamente, a Lei de Defesa Nacional e a Lei de

    Bases das Foras Armadas. Neste quadro, assumem-se, ainda, como prioridades: a

    Reforma do Sistema de Sade Militar e instalao do Hospital das Foras Armadas;

    (Programa do XVIII Governo Constitucional, 2009, pg. 121).

    Uma caracterstica que atribuda ao sistema de sade nacional a complexidade

    intrnseca derivada das naturezas mltiplas que conjuntamente o compem. Efectivamente,

    e conforme a Lei de Bases da Sade (Lei n. 48/90, de 24 de Agosto), o sistema de sade,

    que visa a efectivao do direito proteco da sade, abarca no s os servios prprios

    do Estado, como as entidades privadas, sejam aquelas com contrato para a prestao de

    cuidados, sejam todas as outras entidades privadas, compreendendo toda a actividade

    pblica ou privada, a nvel da prestao de servios ou do seu financiamento, bem como o

    apoio e a fiscalizao to necessrias na rea da sade.

  • Criao do Campus de Sade Militar. Um projeto para o futuro.

    24

    Por outro lado, a complexidade do sistema de sade deriva igualmente das

    diferentes perspectivas em que o mesmo pode ser analisado, e em concreto nas de

    financiamento e de prestao dos cuidados de sade.

    Essa distino permite assim, e desde logo quanto perspectiva financiamento,

    distinguir o SNS financiador, os subsistemas pblicos financiadores, os subsistemas

    privados financiadores e os seguros de sade, bem como o financiamento privado dos

    cuidados de sade.

    J no que respeita perspectiva prestao de cuidados, identificam-se as

    situaes de prestao pblica, social ou privada.

    Por seu turno, a prestao pblica pode ser assegurada atravs de estabelecimentos

    integrados no SNS, ou atravs de estabelecimentos sociais e privados que foram

    contratados para a sua realizao.

    De onde se depreende que, no incluindo o SNS o SSM (e os estabelecimentos de

    sade militares), por no estar na dependncia do Ministrio da Sade, no deixa este de

    fazer parte do sistema de sade nacional, nem de estar sujeito s exigncias e normas legais

    que se aplicam ao SNS. Nomeadamente no que diz respeito s exigncias de diferenciao,

    competncia e formao, segurana, qualidade dos servios, ou respeito pelos direitos dos

    utentes.

    Alm disso, fazendo parte da atribuio e da responsabilidade da gesto dos

    hospitais militares atender a uma lgica de eficincia e racionalidade, poder-se- impor,

    pela necessidade dessa racionalizao, o recurso a servios prestados no seio da

    comunidade, quer pelo SNS, quer por entidades privadas, quando no se justifique a

    permanncia desses recursos no hospital militar. Ou a disponibilizao dos recursos

    prprios comunidade, uma vez se verifique a existncia de capacidade sobrante.

    Finalmente, tambm se evidencia a questo da dimenso como fator limitador ou

    potenciador das potencialidades de desenvolvimento de uma unidade hospitalar, da

    manuteno das capacidades e competncias, e at como fator motivador dos profissionais

    que a desenvolvem a sua actividade. Porque, em ltima anlise, todos queremos um dia

    ser tratados por profissionais experientes, treinados, com rotina nos protocolos de atuao,

    e segundo o melhor estado da arte no momento.

  • Criao do Campus de Sade Militar. Um projeto para o futuro.

    25

    f. Populao utente do Hospital das Foras Armadas.

    Conforme se pode verificar no relatrio de actividades do IASFA, os beneficirios

    da ADM, afinal os potenciais utentes do hospital militar, distribuem-se conforme as tabelas

    que se seguem:

    Destes 135.028 contabilizados no final de 2010, 69.737 so beneficirios titulares

    (englobando o ativo, reserva e reforma), sendo 65.291 familiares (IASFA).

    Por outro lado, h que referir que estes beneficirios se estendem por todo o

    territrio nacional, sendo que apenas cerca de 30% reside no Distrito de Lisboa,

    percentagem que aumenta para 50%, quando se juntam os distritos limtrofes de Leiria,

    Santarm e Setbal (IASFA). Pelo que, do total de potenciais utentes do HFAR, h a

    referir que cerca de 50% vivem longe, o que anula o factor proximidade e se constitui

    como motivo de afastamento desta populao do seu hospital, e de recurso a cuidados no

    mbito do SNS ou de entidades privadas com acordo com a ADM.

    g. Concluso em relao viabilidade

    Pelo que, quando observada a dimenso do hospital no plano do universo de

    utentes, percebemos que h necessidade de alargar esse universo, de forma a se manter a

    um nvel que permita a manuteno da proficincia, e das possibilidades de

    desenvolvimento dos servios e dos profissionais que a trabalham.

    Tambm assim sendo, far cada vez mais sentido olharmos para a realidade deste

    universo, adequando o hospital aos servios que poder vir a prestar de forma adequada,

    com os critrios de qualidade e de competncia tcnico-cientfica, para que no nos

  • Criao do Campus de Sade Militar. Um projeto para o futuro.

    26

    retenhamos num modelo idealizado, com servios que depois no sero sustentveis, por

    no terem suporte na prtica.

    Pelo que nos parece imprescindvel a integrao efectiva do SSM na Rede Nacional

    de Prestao de Cuidados, e a sua articulao dentro desta rede, quer seja com o SNS quer

    seja com outras entidades prestadoras de cuidados (v.g. entidades privadas, sociais ou

    pblicas), e o estabelecimento de acordos, quer com o SNS quer com outros Sistemas de

    Sade (v.g. Assistncia da Doena Aos Servidores do Estado - ADSE) de forma a se criar

    por um lado a dimenso necessria, e por outro, a optimizar os recursos, fsicos, humanos,

    e tcnico-cientficos.

    Pelo que nossa opinio de que se encontra validada a Hiptese2:

    A viabilidade do SSM, quer em termos de adequabilidade econmico-financeira,

    quer no que diz respeito qualidade dos servios prestados, depende da sua articulao

    com a rede geral de prestao de cuidados de sade, ou com o SNS.

    Dando resposta afirmativa QD2.

  • Criao do Campus de Sade Militar. Um projeto para o futuro.

    27

    3. O Campus de Sade Militar

    a. Introduo

    Tem-se portanto chegado concluso que o SSM se nos afigura de utilidade

    imprescindvel, seno inquestionvel. E que este servio dever assumir caractersticas e

    manter valncias particulares, que no apenas a nvel da vertente assistencial.

    Com efeito, e de acordo com o que j foi anteriormente referido, o servio de sade

    dever tambm considerar (Nunes Marques, 2006, Revista Militar, pg. 4/9 e 5/9):

    a) Os processos de seleo, inspeo e reviso.

    b) O aprontamento sanitrio dos militares que integram as FND; o apoio sanitrio

    s FND, de acordo com as obrigaes assumidas;

    c) O treino e o ensino do pessoal operacional, no que ao Servio de Sade diga

    respeito.

    e) A criao de condies necessrias ao treino e ensino ps-graduado dos

    profissionais de sade;

    f) Aes de formao e de investigao; cooperao com instituies de ensino

    nestes domnios;

    Tambm a vertente assistencial no se poder basear apenas na vertente hospitalar,

    dada a abrangncia exigida, nomeadamente quando se baseia o modelo assistencial na

    preveno e nos cuidados primrios de sade, e se assume que os cuidados de sade se

    devero orientar para a pessoa, e no para o episdio de doena propriamente dito.

    Por outro lado, foi tambm referida a questo da dimenso como fator limitador ou

    potenciador de potencialidades, da manuteno das capacidades e competncias, e at

    como fator motivador dos profissionais

    Finalmente, h que evidenciar que a exigncia de uma lgica de eficincia e

    racionalidade implica que se evite a multiplicao desnecessria de recursos e o

    desperdcio de meios.

    nessa perspectiva que tem vindo a ser equacionada a criao de um Campus de

    Sade Militar que assegure uma utilizao comum e sinrgica de servios por parte dessas

    estruturas, conduzindo a uma maior rentabilizao de recursos, com previsveis proveitos

    de eficcia e eficincia. (Despacho MDN n. 11250/2012).

  • Criao do Campus de Sade Militar. Um projeto para o futuro.

    28

    b. Estruturas do Campus de Sade Militar

    Neste contexto poder-se- afirmar que o SSM dever ser organizado, tendo por

    base aquela que poder ser a verdadeira razo de ser da Sade Militar, ou seja, a garantia

    das condies fsicas e psquicas dos efectivos militares, em particular no apoio s foras

    em operaes ou em campanha, embora com duas vertentes major, interdependentes, a ser

    equacionadas em funo de dois objectos (Conforme se explicita na tabela 4):

    Por um lado, a vertente assistencial, orientada para o homem enquanto doente a

    necessitar de cuidados. Por outro lado, a vertente operacional, orientada para a organizao

  • Criao do Campus de Sade Militar. Um projeto para o futuro.

    29

    militar que necessita de gente formada, capaz, em condies fsicas e psicolgicas

    adequadas ao cumprimento da misso.

    Ou ainda:

    Por um lado, as estruturas capazes de providenciar cuidados de sade - Centros de

    Sade, Hospital, Hospital de Campanha;

    Por outro lado, estruturas no assistenciais, envolvidas no recrutamento, avaliao e

    inspeco, juntas mdicas, ensino e formao Centros de Medicina Aeronutica e

    Subaqutica, Seces de Treino Fisiolgico, Medicina Do Exerccio, Juntas Mdicas

    Militares.

    Finalmente, e considerando as necessidades especficas do SSM no que diz respeito

    a formao e ensino, e a prioridade que dever ser dada s vertentes de investigao e

    desenvolvimento, torna-se imprescindvel que as FFAA se constituam como factor de

    referncia no mbito da medicina operacional, da interveno em situao de emergncia e

    catstrofe, ou de outras reas em que tem sido pioneira programas de interveno nas

    reas do alcoolismo e das toxicodependncias, ambiente, etc. -, assumindo o conceito de

    Escola como criao e fonte de informao e conhecimento, consubstanciado na Escola do

    Servio de Sade Militar (ESSM).

    (1) Estruturas assistenciais

  • Criao do Campus de Sade Militar. Um projeto para o futuro.

    30

    A evoluo das sociedades, com a modernizao e conhecimento crescentes,

    implica mudana nas espectativas, e na sua opinio sobre a forma como pretendem viver

    como indivduos e como membros da sociedade.

    Da tambm a mudana como valorizam o pacto social que estabeleceram com o

    Estado, no que respeita ao que esperam que lhes seja garantido, bem como a aspectos da

    vida em comum, que podem incluir a segurana, a solidariedade ou a incluso. E neste

    campo inclui-se tambm a forma como vivem as espectativas em relao sade e aos

    cuidados de sade, como funo integral da forma como vivem o seu dia-a-dia.

    Por outro lado, tambm o mundo tem vindo a registar alteraes significativas:

    globalizao, urbanizao e envelhecimento combinam-se, determinando alteraes nos

    estilos de vida, criando um diferente quadro de incidncia de patologias, marcada pela

    predominncia das doenas crnicas doena cardiovascular, diabetes, neoplasias e

    patologia depressiva e dos traumatismos, como causas cada vez mais determinantes de

    morbilidade e de mortalidade.

    De fato, se h cerca de trinta anos 38% da populao mundial vivia em cidades,

    em 2008 essa percentagem era j superior a 50% (equivalente a 3,3 mil milhes de

    pessoas), esperando-se que, em 2030 cerca de 5 mil milhes de pessoas residiam em reas

    urbanas, e a que se associa uma mobilidade crescente. Tambm se sabe que este universo

    mvel e urbanizado est a envelhecer (com o consequente aumento da multimorbilidade

    dos doentes), estimando-se que em 2050, o mundo possa contar com 2 mil milhes de

    pessoas acima dos 60 anos de idade (World Health Organization, 2008, pg 8).

    Espera-se portanto que as polticas de sade se saibam antecipar a esta realidade

    que j no surpresa, e que os cuidados de sade se adaptem a novas necessidades e a

    custos crescentes. Novas necessidades, que passam pela necessidade de abordagens globais

    que intervenham na preveno, na educao para a sade, na abordagem do doente

    centrada nele prprio, pela continuidade dos cuidados e sua integrao numa rede

    abrangente, e pela responsabilidade social dos prestadores de cuidados com ateno no s

    aos princpios ticos e cientficos da sua ao, mas tambm com ateno prpria

    administrao e sustentabilidade do sistema (World Health Organization, 2008).

  • Criao do Campus de Sade Militar. Um projeto para o futuro.

    31

    (a) Centro de Sade (CS) e Cuidados Primrios de Sade (CPS)

    Pode afirmar-se que durante praticamente todo o sculo XX os sistemas de sade

    gravitaram volta das entidades hospitalares, detentoras da evoluo mdica e tecnolgica

    mais meditica, e das especialidades e subespecialidades mdicas, que se constituram

    assim como atores principais na prestao de cuidados.

    Este acrescento de importncia do Hospital acabou por se tornar fonte de

    ineficcia e de desigualdade, tal como reconhecido pela maioria da comunidade mdica

    que no deixa, no entanto, de se mostrar extraordinariamente resistente mudana. Mesmo

    as autoridades polticas de sade, reconhecendo esta desproporcionalidade, e quantas vezes

    dando voz preocupao sobre a necessidade de se privilegiarem os CPS, continuam a

    contemporizar com a fragmentao dos cuidados que a subespecializao favorece (World

    Health Organization, 2008).

    Por exemplo, nos pases da Organizao para a Cooperao e Desenvolvimento

    Econmico (OCDE), a um crescimento de 35% no nmero de mdicos, (1990-2005),

    correspondeu um aumento de 50% no nmero de especialistas e de apenas 20% de mdicos

    de clnica geral. O que quer dizer que, evidentemente impulsionado por interesses e

    tradies profissionais, tem sido este nvel, mais dispendioso da prestao de cuidados, o

    favorecido. Apesar de a experincia ter vindo a demonstrar que este desequilbrio em favor

    dos cuidados especializados pouco valoriza o dinheiro gasto (World Health Organization,

    2008, pg 12).

    O que se tem verificado que esta organizao hospitalocntrica implica custos

    acrescidos (v.g. medicao ou iatrognese desnecessrias), comprometendo muitas vezes

    as dimenses humana e social da sade.

    Pelo que, desde h mais de vinte anos, uma boa parte dos pases da OCDE tem

    tentado manter os custos sob controlo, atravs da diminuio do predomnio da interveno

    de especialistas e tecnologias hospitalares, diminuindo camas hospitalares, privilegiando os

    cuidados domicilirios, racionalizando equipamento, e estabelecendo polticas que

    promovem a eficincia dos cuidados extra-hospitalares (World Health Organization, 2008,

    pg 13).

    Torna-se importante, portanto, equacionar a SM, na sua vertente assistencial, fora

    da viso centrada no Hospital, valorizando-se os CPS, a educao para a sade, a

  • Criao do Campus de Sade Militar. Um projeto para o futuro.

    32

    preveno, a integrao e continuidade dos cuidados, a constncia do mdico assistente e a

    proximidade quanto possvel, de forma a se potenciar a qualidade e eficcia dos cuidados,

    com reduo de custos. Esta valorizao dos CPS ter de passar necessariamente pela

    implementao da Medicina Geral e Familiar (MG/F) como especialidade mdica

    fundamental no mbito global da Sade Militar.

    A MG/F uma Disciplina acadmica e cientfica, com os seus prprios

    contedos educacionais, investigao, base de evidncia e actividade clnica; uma

    especialidade clnica orientada para os cuidados primrios (Allen, J. 2002, Sociedade

    Europeia de Clnica Geral/Medicina Familiar, pg 6 ), e que se caracteriza por:

    a) Assegurar a primeira linha de cuidados de sade, seja no diagnstico, no

    tratamento ou na recuperao;

    b) Ser habitualmente a porta de entrada no Sistema de Sade;

    c) Coordenar e manter a continuidade da prestao de cuidados;

    d) Manter um Processo Clnico, individual e personalizado;

    f) Atuar na promoo da educao para a sade, promover o bem-estar, e a sade,

    e agir como fator de preveno;

    g) Assumir uma viso global da sade da comunidade.

    Da mesma forma, um Centro de Sade dever ter como responsabilidade a

    prestao garantida dos CPS populao que serve:

    a) Promoo da sade e Preveno da doena;

    b) Prestao de cuidados na doena;

    c) Integrao e continuidade de cuidados;

    d) Vigilncia epidemiolgica;

    e) Avaliao de resultados e ganhos em sade;

    f) Formao profissional;

    g) Investigao em cuidados de sade.

    A sua interveno ter, portanto, um mbito pessoal, centrada no doente, e um

    mbito comunitrio, orientada para a populao. Compreende tambm aces to diversas

    como o apoio domicilirio, a vacinao, a gesto de riscos ambientais, podendo incluir

    inclusivamente outras responsabilidades desde que correspondam a necessidades comuns e

    transversais dessa populao (e.g. medicina ocupacional).

  • Criao do Campus de Sade Militar. Um projeto para o futuro.

    33

    (1) As especificidades do Centro de Sade Militar (CSM):

    A populao militar apresenta caratersticas prprias que decorrem da sua prpria

    condio, e que derivam da grande mobilidade que a vida militar lhes impe, da partilha de

    riscos comuns e de condies de trabalho que lhe so particulares.

    Trata-se, na maioria das vezes, de uma actividade em que a componente

    traumtica est latente, e onde os aspetos de ordem psquica assumem importncia no

    desenvolvimento de patologias incapacitantes.

    Finalmente, impe-se a necessidade da recuperao rpida dos recursos humanos

    em situao de incapacidade, particularmente quando se fala em recursos dispendiosos na

    sua formao.

    portanto de assumir que a populao militar apresenta uma potencialidade para

    formas prprias de adoecer, e necessidades especficas em termos de educao para a

    sade, aces de preveno, ou de apoio na vertente ocupacional, pelo que a prestao de

    cuidados primrios de sade nesta populao deve ter em ateno essa diferena e garantir

    a adequabilidade dos cuidados prestados, em eficincia e em tempo.

    Por outro lado, a prestao de cuidados de sade famlia militar assume ainda

    importncia mais relevante, quando se obriga o militar a fixar-se longe da comunidade de

    origem, se impem colocaes longe do agregado familiar, ou quando o militar chamado

    ao cumprimento de misses em locais distantes.

    Pelo que a necessidade de uma estrutura de CPS assume maior interesse, mais do

    que um Hospital que atua essencialmente a nvel dos cuidados secundrios ou tercirios.

    Apenas a disperso territorial das unidades militares se poderia considerar entrave

    eficcia do CSM. O que nos parece poder ser compensado atravs do contato

    personalizado que se poder estabelecer ento com o mdico assistente, ou atravs da

    criao de extenses mais ou menos diferenciadas, com acesso ou no a servios de

    telemedicina - nos locais onde a concentrao de militares o justifique.

    O CSM, orientado para a prestao de CPS, dever assim assumir as

    responsabilidades atrs referidas e atribudas generalidade dos centros de sade, devendo

    tambm, tal como a HFAR, contribuir para as restantes actividades da medicina militar:

    seleo, inspeo e reviso mdicas; consultas mdicas especficas (Medicina do Viajante,

  • Criao do Campus de Sade Militar. Um projeto para o futuro.

    34

    Medicina Tropical, etc,) e concorrer para o cumprimento da generalidade da misso do

    SSM.

    Dever tambm assegurar a gesto e funcionamento das suas extenses, (gesto

    corrente das necessidades de sade, prestao dos cuidados imediatos necessrios,

    articulao com os outros servios de sade militares ou com as unidades de sade locais,

    apoio das Unidades Militares conforme as necessidades do comando).

    (2) - Articulao do Centro de Sade Militar com o Hospital das Foras Armadas:

    Como foi referido atrs, a existncia de um servio prestador de CPS, impe-se

    como fator de racionalizao de recursos e de poupana de meios, na medida em que se

    substitui aco da instituio hospitalar, sempre mais dispendiosa.

    Tambm o recurso a cuidados mdicos fora do contexto militar, nomeadamente

    aqueles que, no mbito de acordos com o Instituto de Ao Social das Foras Armadas

    (IASFA), se vo substituindo aos hospitais militares, leva a um desperdcio de recursos que

    poderiam ser gastos no SSM, e que iro acabar por contribuir para a falncia dos ADM e

    do prprio IASFA, para alm de abalar a noo de imprescindibilidade do HFAR.

    Juntar no mesmo local o CSM e o HFAR, num trabalho em complementaridade e

    parceria, ir permitir uma articulao mais adequada, j que torna mais fcil a orientao

    do doente, melhorando a continuidade de cuidados, centralizando a informao clnica,

    gerindo melhor os processos, mantendo a informao e os registos actualizados,

    permitindo racionalizao de recursos (tcnicos e humanos) e a reorientao do paciente

    para o SSM, afinal o servio que se pretende venha a ser a fonte dos cuidados a prestar aos

    militares e suas famlias.

    (b) Hospital das Foras Armadas.

    Diz o Decreto Regulamentar n. 51/2012 de 10 de dezembro:

    No mbito do processo de reestruturao hospitalar preconizado pela

    Resoluo do Conselho de Ministros, a LOBOFA, , e a Lei Orgnica do Estado-

    Maior-General das Foras Armadas, , consagraram a criao do Hospital das Foras

    Armadas (HFAR) enquanto hospital militar nico, organizado em dois polos hospitalares,

    um em Lisboa e outro no Porto.

    Mais refere o mesmo Decreto Regulamentar:

  • Criao do Campus de Sade Militar. Um projeto para o futuro.

    35

    A populao a servir, o conjunto dos servios a prestar e os recursos materiais

    imprescindveis ao funcionamento do Polo de Lisboa do HFAR encontram-se identificados

    no programa funcional concebido e apresentado pelo Grupo de Trabalho criado pelo

    Despacho n. 10825/2010, de 16 de junho, do MDN,

    A mesma legislao estabelece ainda a natureza, sede, misso e atribuies do

    HFAR, bem como a sua estrutura funcional e reas de actividade, e os princpios de gesto

    aplicveis.

    Pelo que nos parece que a consulta da legislao e do programa funcional em

    causa se nos afigura esclarecedora, nada mais havendo a argumentar num momento em que

    est em curso a implementao dessa deciso.

    Apenas nos faz sentido transcrever o que foi considerado ser Misso e atribuies

    do HFAR, uma vez que nos parece que esta transcrio faz sentido no contexto de todo o

    estudo sobre o Campus de Sade Militar.

    1 O HFAR tem por misso prestar cuidados de sade diferenciados aos

    militares das Foras Armadas e famlia militar, bem como aos deficientes militares,

    podendo, na sequncia de acordos que venha a celebrar, prestar cuidados de sade a

    outros utentes.

    Sendo atribuies do HFAR no s a prestao de cuidados de sade, cooperando

    a articulando-se com o SNS, mas tambm a colaborao em todos os processos que visem

    a seleco, inspeco e reviso do pessoal militar, de uma forma global ou no contexto do

    seu aprontamento sanitrio para integrar FNDs, para alm da responsabilidade no treino do

    pessoal de sade, e da participao em projectos de formao e investigao.

    Pensamos, portanto, que o caminho traado aponta para a resoluo das questes

    que se consideravam entrave manuteno de uma estrutura hospitalar adequada, vivel e

    sustentvel, nomeadamente no que diz respeito dimenso, articulao com a rede geral

    de prestao de cuidados de sade (SNS) e racionalizao e rentabilizao de recursos.

    (c) Unidade de Tratamento Intensivo de Toxicodependentes e

    Alcolicos (UTITA)

    O Programa de Combate Droga e Alcoolismo nas Foras Armadas, abrange uma

    srie de aces a nvel da dissuaso e preveno, que vo desde as aces de

  • Criao do Campus de Sade Militar. Um projeto para o futuro.

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    sensibilizao, formao e o rastreio toxicolgico aleatrio, ao tratamento e reabilitao

    dos doentes dependentes de substncias psicoativas.

    Estamos, nestes casos, perante uma patologia do foro mental e comportamental,

    da carter biopsicossocial, que necessita de programas de reabilitao estruturados, com

    caratersticas prprias, que devem ser trabalhados por equipas multidisciplinares que

    ultrapassam a interveno hospitalar, e atravessam todos os nveis de preveno. A sua

    execuo em ambiente comunitrio far todo o sentido, j que se trata de um programa de

    reabilitao psicossocial, e at pelo carcter medico-medicamentoso puro que se pretende

    excluir da prpria abordagem teraputica.

    O fato de se ter optado por uma estrutura com autonomia tcnica, funcionando

    fora do contexto hospitalar e fora do ambiente mdico estrito, tem-se mostrado uma

    alternativa adequada, tal como se verificou noutros locais, em servios similares que

    adoptam o mesmo modelo.

    Finalmente, os resultados clnicos da actividade da UTITA tm sido animadores,

    com exemplares taxas de adeso ao processo de reabilitao e recuperao.

    Pelo que nos parece que, independentemente da sua integrao na estrutura do

    SSM, se justifica manter o actual modelo de funcionamento da UTITA, permitindo o seu

    funcionamento de forma mais integrada na comunidade.

    (2) Estruturas operacionais

    Como j foi referido anteriormente, o SSM tem por misso garantir o apoio

    sanitrio aos efectivos militares, procedendo avaliao permanente dos recursos humanos

    das FFAA, desde a sua admisso sua passagem disponibilidade.

    Pelo que, para alm de uma estrutura assistencial, deve ser capaz de proceder

    avaliao e seleco (fsica e psquica), formao e ao treino do pessoal para operar em

    situaes de adaptao adversa (meio areo, meio aqutico, situaes climticas extremas,

    situaes de esforo extremo), bem como proceder educao e formao dos militares no

    mbito da educao para a sade e no mbito dos primeiros socorros.

    Se, por um lado, a funo assistencial se efetua, em tempo de paz e no espao do

    territrio nacional, essencialmente a nvel das estruturas assistenciais fixas, j em situao

    de crise, ou quando se impe o destacamento de foras, pode haver necessidade de

    mobilizar estruturas de tratamento mais diferenciadas e eficazes para o teatro de operaes.

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    Porque se deve partir do princpio que o SSM deve estar sempre orientado para a

    manuteno da capacidade operacional das FFAA, pensamos que far ento todo o sentido

    diferenciar neste trabalho as estruturas orientadas para esse desiderato, j que devero ser

    possuidoras de uma organizao prpria, capaz de ser implementada a todo o momento,

    logo que se mostre necessrio, mesmo que utilizem os meios materiais e humanos do

    HFAR ou do CSM.

    As estruturas que constituem o corpo da vertente operacional do SSM

    compreendem:

    - Hospital de Campanha.

    - Centro de Fisiologia Militar.

    - Medicina Aeronutica (Cmara hipobrica e simuladores).

    - Medicina Subaqutica (Cmara hiperbrica).

    - Medicina do Exerccio.

    (a) Hospital de Campanha

    OO apoio mdico em operaes, sendo responsabilidade dos respectivos pases,

    deve (1) estar de acordo com as leis e convenes internacionais, com a tica e deontologia

    mdicas e com os padres de tratamento existentes nos respectivos pases, (2) ser orientado

    para o bem estar fsico e psquico dos doentes; (3) ser de fcil acessibilidade e garantir a

    continuidade do tratamento, ou seja, desde a linha da frente at ao hospital do respectivo

    pas (NATO Principles and Policies of Operational Medical Support, - MC 326/2).

    Deve portanto obedecer a um planeamento que abarque a Medicina de

    Emergncia, Cuidados Primrios, Cuidados Secundrios e Evacuao Sanitria e que tenha

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    em considerao a aferio do risco, ou seja, as condies do terreno e do clima, as

    questes endmicas da regio, as necessidades, os riscos ambientais, a qualidade da gua e

    alimentao, o nmero eventual de mortos ou feridos e o tipo de ferimentos, possibilidade

    de uso de meios Nucleares, Biolgicos ou Qumicos (NBQ), etc., de forma a se

    providenciar no s a melhor preparao das tropas, como a planear o nvel de necessidade

    de apoio mdico e sanitrio.

    esta aferio que ir permitir estabelecer qual o suporte sanitrio a destacar para

    determinada operao. E o nvel de prestao de cuidados deve obedecer a parmetros de

    capacidade assistencial bem definidos, tendo em conta as condies julgadas necessrias.

    Os diversos nveis de apoio sanitrio em operaes (Role ou Ech