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Instituto de Ciências Sociais

Ana Catarina Neto Dias Alves

PRÁTICAS AMBIENTAIS E A RELAÇÃO DOS

VIZELENSES COM O RIO VIZELA

Dissertação de Mestrado em Geografia

Especialização em Planeamento e Gestão do Território

Trabalho realizado sob orientação de:

Virgínia Maria Barata Teles

e de:

Miguel de Melo Sopas Bandeira

Outubro de 2014

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II

DECLARAÇÃO

Nome: Ana Catarina Neto Dias Alves

Endereço eletrónico: [email protected] Telefone: 913226959

Número do Bilhete de Identidade: 1401182

Título dissertação: PRÁTICAS AMBIENTAIS E A RELAÇÃO DOS VIZELENSES COM O RIO VIZELA

Orientadores: Professora Doutora Virgínia Maria Barata Teles e Professor Doutor Miguel de Melo

Sopas Bandeira

Ano de conclusão: 2014

Designação do Mestrado: Dissertação de Mestrado em Geografia - Especialização em

Planeamento e Gestão do Território

É AUTORIZADA A REPRODUÇÃO PARCIAL DESTA TESE/TRABALHO (indicar, caso tal seja necessário, nº

máximo de páginas, ilustrações, gráficos, etc.), APENAS PARA EFEITOS DE INVESTIGAÇÃO, MEDIANTE

DECLARAÇÃO ESCRITA DO INTERESSADO, QUE A TAL SE COMPROMETE;

Universidade do Minho, 30 de outubro de 2014

Assinatura: ________________________________________________

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III

Agradecimentos

O desenvolvimento desta investigação nem sempre teve ocasiões fáceis, pelo que não

posso deixar de agradecer a todos aqueles que, sem eles, este trabalho jamais havia sido

concluído.

Primeiramente, a minha imensurável gratidão aos meus orientadores: à Professora

Doutora Virgínia Maria Barata Teles pelo acompanhamento assíduo na elaboração desta

dissertação, nomeadamente nos momentos mais difíceis. Por ter acreditado sempre em mim, por

nunca me ter deixado desistir e pela amizade, que levarei para a vida. Ao Professor Doutor Miguel

de Melo Sopas Bandeira, pelas considerações sempre pertinentes e assertivas, pelo carinho e

acompanhamento neste projeto.

A todos os docentes do Departamento de Geografia da Universidade do Minho que, de

uma forma ou de outra, me foram ajudando a moldar enquanto geógrafa.

A todos os meus colegas, muitos deles amigos também, pelo apoio, partilha, incentivo e

carinho. Sem esquecer nem descurar o papel de ninguém, devo um agradecimento especial ao

Daniel Ferreira, à Mónica Moreira, ao Alexandre Pereira, ao Francisco Damas, à Marcela Macedo,

à Eva Mendes e ao Hélder Lopes, ao Luciano Duarte, ao Tozé Silva e ao Sr. Manuel Barbosa.

À Dona Isabel Salgado, pelo carinho infinito, pela amizade incondicional, pela confiança e

incentivo permanentes.

Ao Ruben Torres, pela generosidade com que me presenteou.

À minha família, suporte fundamental desde sempre, pelo carinho, generosidade e

compreensão. Aos meus pais por serem, invariavelmente, os melhores do Mundo, com tudo o que

isso implica. Aos meus irmãos, pela cumplicidade ímpar e pela força que sempre me deram para

que nunca desistisse.

À Helena, a minha maior gratidão pelo amor único que nos une, pelo carinho, pelas

lágrimas e vitórias partilhadas, pelo apoio desmedido que sempre me deu, por todos os dias me

fazer entender o verdadeiro sentido de Deus nos ter dado uma à outra como irmãs!

Aos meus avós, pelo orgulho mútuo e infinito, pelas partilhas e pela cumplicidade que se

pode ler nos olhos. À avó Rosinha por ser mais do que mãe, por todos os momentos de

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IV

confidência, de carinho, de amor, por sermos, para sempre, uma parte muito bonita e feliz uma

da outra. À avó Maria pela felicidade de partilharmos muito daquilo que somos, por me fazer cada

dia mais forte e mais agradecida por, de alguma forma, lhe pertencer. Ao avô João, por me ter

mostrado que nada é mais forte do que o abraço aconchegante de quem nos quer

incondicionalmente bem. Ao avô Ivo, pelas lições de vida, pela família maravilhosa que me deu e

por todas as partilhas.

À minha madrinha Alexandrina, ao meu padrinho Ângelo, à tia Helena e à tia Teresa

agradeço a amizade preciosa com que me veem crescer.

Aos amigos, pela força transmitida, pelo facto de estarem sempre presentes e de me

acompanharem durante todos este processo, assim como pelas oportunas distrações. À Marta

Lopes, à Diana Pereira, à Sãozinha e à Dona Beatriz, ao João Neto, ao Zé Miguel e ao Miguel

Madureira, à Inês Andrade, à Catarina Neto, ao Martim, ao Santiago e à Maria, à Carolina Barros

em especial.

Ao Zé, pelo apoio incondicional, pelo amor, pelo carinho e pelo ânimo! Por me ter feito

entender que o amor verdadeiro tudo pode.

A Deus, por tudo!

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V

Resumo

PRÁTICAS AMBIENTAIS E A RELAÇÃO DOS VIZELENSES COM O RIO VIZELA

Os fatores da degradação ambiental têm condicionado a evolução da situação ambiental

e a crescente consciencialização ecológica.

O ritmo acelerado que o desenvolvimento tecnológico e científico tem conhecido nos

últimos tempos determina uma modificação permanente na sociedade. A inovação tecnológica foi,

durante muito tempo, vista como uma forma de mitigar os problemas ambientais, sendo capaz de

produzir tecnologias que minimizassem os efeitos das atividades produtivas sobre o ambiente.

Contudo, a generalização do uso das tecnologias acabou por levantar muitas e difíceis

questões que dizem respeito ao envolvimento da ciência e da técnica na crise social e global do

ambiente.

A procura do progresso industrial como motor de desenvolvimento trouxe angústias

imprevisíveis e problemas de complexa resolubilidade. Se anteriormente se esperava do progresso

tecnológico a sustentação de uma sociedade altamente industrializada e moderna, não levou muito

tempo até que a sociedade percebesse que esse, gerado pelo mundo globalizado não era isento

de preocupações e ansiedades.

A emergência de uma sociedade mais reflexiva, bem como o processo de desenvolvimento

da consciência coletiva das responsabilidades da atividade económica pelo desgaste ambiental,

mais atento ao ambiente e aos seus problemas, tem trazido à discussão a necessidade de uma

maior participação pública em matéria ambiental.

Este estudo surge da necessidade de perceber e identificar a consciencialização, atitudes

e práticas ambientais dos vizelenses com o seu território, ainda que inserido num contexto mais

amplo, mas igualmente intrincado que é o Vale do Ave.

As estreitas relações que se estabelecem entre a sociedade, as atividades económicas

com a rede hidrográfica é uma importante marca na identidade deste território que, ainda assim,

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VI

é indissociável de um problema ambiental grave como é a poluição que, graças aos meios de

comunicação social, se tornou um problema que preocupou o país durante algumas décadas.

Por outra parte, a fragilidade económica consequente de uma mão-de-obra com fraca

instrução e, daí, mal remunerada e com pouca capacidade de adaptação à mudança faz de Vizela

e do Vale do Ave um território economicamente pouco robusto e que, perante um cenário de crise

económica, não apresenta capacidade de resiliência e acaba por se ressentir das fragilidades

económicas do país.

A ligação dos vizelenses à água é intrínseca, desde sempre associada ao seu crescimento

económico, seja pelas termas (Caldas de Vizela) que muita gente atraiu até este território, seja

pelo desenvolvimento industrial que se foi fazendo ao longo dos cursos de água, servindo-se destes

como força motriz. Assim, torna-se absolutamente fundamental entender de que modo os seus

habitantes percecionam e agem relativamente aos problemas ambientais que daí decorrem.

Através deste estudo tentamos aferir como as pessoas percecionavam a poluição do rio

Vizela aquando do predomínio da indústria e verificamos que, predominantemente, os inquiridos

consideram que, apesar de haver preocupações com o estado do rio, a vitalidade e o crescimento

económicos eram mais importantes para a sociedade. Verifica-se, então, uma maior preocupação

com os aspetos estéticos da paisagem.

Importou-nos ainda entender como é que, na atualidade, se institui a relação da população

vizelense com o rio. Perante uma economia em desaceleramento, a amostra responde

predominantemente que os vizelenses não demonstram grande preocupação com o estado do rio,

o que contraria a noção de que estes mantém relativamente às decisões de caráter ambiental:

todos devemos participar delas, mesmo que não nos digam diretamente respeito.

Palavras-chave: Vale do Ave, problemas ambientais, perceção, atitudes ambientais.

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VII

Abstract

ENVIRONMENTAL PRACTICES AND THE RELATIONSHIP OF VIZELA RESIDENTS

WITH VIZELA RIVER

Degradation factors have been conditioning the evolution of the environmental situation

and the raising of ecological awareness

In recent times, technological and scientific development accelerated pace causes a

permanent change in society.

Technological innovation have been seen as a means to mitigate environmental problems,

being able to produce technologies that minimize the effects of production activities on the

environment.

However, widespread use of technologies turned out to raise many and difficult questions

concerning the involvement of science and technology in the social and global environmental crisis.

The demand for industrial progress as a development engine brought unforeseen troubles

and complex problems. It did not take long for society to question the idea that technological

progress could sustain a highly industrialized and modern society and realize that technological

progress generated by a globalized world was not exempt from worries and anxieties.

The emergence of a more reflexive society and the development of a collective

consciousness about the responsibilities for the environmental stresses associated to economic

activities have brought to discussion the need for increased public participation in environmental

matters.

This study seeks to understand and identify the awareness, attitudes and environmental

practices of the inhabitants of Vizela within its territory and in the broader context of the Vale do

Ave.

The close relations established between economic activities and the hydrographic network

are an important identity element of this territory which is inseparable from pollution, a serious

environmental problem which received a large media coverage.

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VIII

On the other hand, the resulting economic fragility of a manpower with poor education,

underpaid and weak ability to adapt to change makes Vizela and Vale do Ave to a economic

precarious territory that, against a backdrop of economic crisis, lacks resilience and ends up

resenting from the economic weaknesses of the country.

The connection of the inhabitants of Vizela to water is intrinsic, always linked to economic

growth, either by the spa (Caldas de Vizela), whether by the industrial development that occurred

along watercourses, which were the driving force. Thus, it is absolutely critical to understand how

their inhabitants perceive and act regarding the resulting environmental problems

This study attempts to assess how people perceive the pollution of the river Vizela when

industry was the dominant economic activity. We found that, predominantly, respondents consider

that, despite concerns about the state of the river, the vitality and economic growth were more

important to society., resulting in a greater focus on the aesthetic values of the landscape.

Another goal was to understand the present relationship of the population of Vizela with

the river. Facing an economic slowdown, the inhabitants of Vizela do not express great concern

about the state of the river, which contradicts their responses regarding environmental decisions

that we should all participate, even if do not relate directly to us.

Keywords: Vale do Ave, environmental problems, perception, environmental attitudes.

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IX

ÍNDICE GERAL

AGRADECIMENTOS .................................................................................................................. III

RESUMO ................................................................................................................................... V

ABSTRACT .............................................................................................................................. VII

ÍNIDICE DE FIGURAS ................................................................................................................ XI

ÍNDICE DE QUADROS ............................................................................................................. XIII

ABREVIATURAS E SIGLAS ........................................................................................................ XV

INTRODUÇÃO .......................................................................................................................... 17

1- Pertinência da temática de investigação ......................................................................... 17

2- Justificação da área de estudo ....................................................................................... 20

3- Objetivos ...................................................................................................................... 21

4- Metodologia ................................................................................................................... 22

5- Organização da tese ...................................................................................................... 22

PARTE I – AMBIENTE E TECNOLOGIA ..................................................................................... 25

CAPÍTULO 1. Ambiente e Desenvolvimento .......................................................................... 27

1.1 Inovação tecnológica e degradação ambiental ............................................................ 27

CAPÍTULO 2. Cidadania e mobilização ambiental ................................................................. 35

2.1 Perceções, atitudes e práticas ambientais .................................................................. 35

2.2 Dimensões da mobilização ambiental ....................................................................... 39

PARTE II- ENQUADRAMENTO TERRITORIAL ............................................................................. 45

CAPÍTULO 3. O Vale do Ave e o conselho de Vizela ............................................................... 47

CAPÍTULO 4. Os elementos naturais e socioeconómicos como estruturantes do território .... 59

4.1 Os elementos naturais ............................................................................................... 59

4.2 A população .............................................................................................................. 61

4.3 As atividades económicas .......................................................................................... 72

PARTE III – ESTUDO DE CASO................................................................................................. 79

CAPÍTULO 5. As práticas ambientais e a relação dos vizelenses com o Rio Vizela ................. 81

5.1 Aspetos metodológicos .............................................................................................. 81

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X

5.1.1 O inquérito ......................................................................................................... 81

5.1.2 Características da amostra ................................................................................. 84

5.2 Análise de resultados ................................................................................................. 88

5.2.1 Atitudes ambientais ........................................................................................... 88

5.2.2 Práticas ambientais e cidadania ......................................................................... 98

5.2.3 Perceção dos problemas ambientais do concelho .............................................102

CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES .....................................................................................111

BIBLIOGRAFIA .......................................................................................................................121

ANEXOS ................................................................................................................................131

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XI

ÍNDICE DE FIGURAS

Figura 1 - Enquadramento territorial do Vale do Ave ............................................................... 47

Figura 2 - Freguesias do concelho de Vizela .......................................................................... 49

Figura 3 – Moínho sobre o rio Vizela ...................................................................................... 51

Figura 4 - Conurbação do Vale do Ave por Domingues (2011) ............................................... 54

Figura 5 - Localização das principais concentrações industriais .............................................. 55

Figura 6 - Mapa da Rede Hidrográfica da NUT III – Vale do Ave ............................................. 59

Figura 7 - Geologia do concelho de Vizela .............................................................................. 61

Figura 8 - População residente no município de Vizela entre 1890 e 2011 ............................. 63

Figura 9 - Variação da população residente por município do Vale do Ave ............................. 64

Figura 10 - Distribuição da densidade populacional das freguesias do Concelho de Vizela ..... 65

Figura 11 - Pirâmides etárias da população residente no concelho de Vizela (2001 e 2011) ... 68

Figura 12 - Distribuição da população residente por sexo e nível de escolaridade em 2011 (%) –

Portugal, Norte, NUT III Ave e Vizela ..................................................................... 71

Figura 13 - População residente segundo a condição perante a atividade económica no concelho

de Vizela .............................................................................................................. 73

Figura 14 – Distribuiçãos dos inquiridos por grupos etários ................................................... 84

Figura 15 - Distribuição dos inquiridos por sexo (%)................................................................ 85

Figura 16 – Distribuição dos inquiridos por grupos etários ..................................................... 85

Figura 17 - Distribuição dos inquiridos por habilitações académicas ....................................... 86

Figura 18 - Distribuição dos inquiridos por condição perante o trabalho ................................ 86

Figura 19 - Distribuição dos inquiridos pela freguesia de residência ....................................... 87

Figura 20 - Concordância relativamente à relação ambiente - desenvolvimento ...................... 89

Figura 21 - Atitudes face à ciência e a tecnologia ................................................................... 90

Figura 22 - Relação de concordância "A tecnologia resolverá os problemas ambientais alterando

um pouco o nosso estilo de vida" segundo o grupo etário ..................................... 91

Figura 23 - Relação de concordância entre “Confio mais na ciência que na fé para a resolução

de problemas” e habilitações académicas ............................................................ 93

Figura 24 - Preocupações ambientais .................................................................................... 94

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XII

Figura 25 - Grau de concordância com “Tudo o que fazemos prejudica o ambiente” segundo o

grupo etário ......................................................................................................... 96

Figura 26 - Práticas ambientais: ambiente e cidadania .......................................................... 99

Figura 27 - Assinatura de petições ambientais segundo os grupos etários (%) .......................101

Figura 28 - Concordância relativamente à afirmação "É difícil para uma pessoa como eu fazer

alguma coisa pelo ambiente" .............................................................................102

Figura 29 - Participação em ações de caráter municipal (%) .................................................103

Figura 30 - Manifestação dos vizelenses aquando da elevação de Vizela a concelho, Lisboa .104

Figura 31 - Posição relativamente à participação em matérias de caráter ambiental .............105

Figura 32 Preocupação com o estado do rio Vizela aquando do predomínio do têxtil ............106

Figura 33 Cartaz anónimo exposto aos olhos da opinião pública no lugar da Ponte de Velha…108

Figura 34 Preocupação dos vizelenses com os recursos hídricos na atualidade ....................109

Figura 35 Zona ribeirinha do rio Vizela, contígua ao Parque das Termas ..............................110

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XIII

ÍNDICE DE QUADROS

Quadro 1 Evolução das Sociedades na perspetiva de Ulrich Beck ......................................... 29

Quadro 2 População residente nos municípios da NUT III Ave em 2001 e 2012 ..................... 63

Quadro 3 Taxa de crescimento efetivo (%) para as freguesias do concelho de Vizela................ 67

Quadro 4 Índice de envelhecimento populacional - Portugal, Norte, Ave em 2001 e 2013 (‰) 69

Quadro 5 Distribuição da população ativa por setor de atividade em % em 2001 e 2011 ........ 75

Quadro 6 Taxa de desemprego total por sexo nos concelhos da NUT III Ave em 2001 e 2011 76

Quadro 7 Taxa de desemprego por grupos etários (NUT III – Ave e município de Vizela) para os

anos de 2001 e 2011 (%) ......................................................................................... 77

Quadro 8 Grau de confiança nas fontes de informação (%) ..................................................... 97

Quadro 9 Participação dos vizelenses em questões ambientais (%) .......................................100

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XIV

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XV

SIGLAS E ABREVIATURAS

AMAVE – Associação de Municípios do Vale do Ave

CNA – Comissão Nacional do Ambiente

CEE – Comunidade Económica Europeia

CPCJ – Comissão de Proteção de Crianças e Jovens

EFTA – European Free Trade Association

EM-DAT - International Disaster Database

ETAR – Estação de Tratamento de Águas Residuais

GEOTA – Grupo de Estudos de Ordenamento do Território e Ambiente

GNR – Guarda Nacional Republicana

ICN – Instituto Nacional da Natureza

INE – Instituto Nacional de Estatística

ISSP – International Social Survey Programme

M.R.C.V. - Movimento para a Restauração do Concelho de Vizela

NUT – Nomenclatura de Unidade Territorial

NV – Notícias de Vizela

OBSERVA - Observatório de Ambiente e Sociedade

PDM – Plano Diretor Municipal

PORDATA – Base de Dados de Portugal Contemporâneo

SEPNA – Serviço da Protecção da Natureza e do Ambiente da GNR

SMAS – Serviços Municipalizados de Água e Saneamento

UN-ISDR – United Nations Office for Disaster Risk Redution

U.T. – Unidade Territorial

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XVI

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17

INTRODUÇÃO

1. Pertinência da temática de investigação

Em Geografia, os problemas ambientais constituem questões centrais pois estes decorrem

da ação humana sobre o território. A perceção individual e social destes problemas tem vindo a

adquirir uma abordagem importante no que respeita às políticas públicas, através do incentivo à

participação pública, em matéria de Ambiente.

A ciência e a tecnologia geraram “novos riscos”, tornando-se o risco um dos grandes

paradigmas da sociedade moderna. A interação entre natureza, sociedade e tecnologia apresenta

um amplo conjunto de problemas resultantes das respostas dadas pela população, pelo que se torna

importante, entender o modo como as pessoas percecionam os problemas ambientais e de que

modo esta condiciona as atitudes e práticas.

A natureza dos riscos alterou-se pelo facto de vivermos numa sociedade onde a

industrialização e os avanços tecnológicos transformaram a capacidade da sociedade em os

apreender, compreender e gerir.

São múltiplas as classificações de riscos, assim como são vastas as perceções que os

indivíduos e a sociedade constroem destes. A comunidade científica, bem como os diversos órgãos

que são, de algum modo, responsáveis pelas questões do risco, não reuniram, ainda consenso

relativamente à classificação dos riscos. Isto denota a grande complexidade e controvérsia em torno

desta questão.

Procurando um entendimento sobre que tipo de risco é a poluição hídrica, rapidamente

compreendemos que esta não é considerada como tal nas principais tipologias de risco, mesmo

que amplamente relacionada com os problemas nefastos provocados pelo sobre uso da tecnologia.

“De uma forma ideológica, iconográfica e estética, a Natureza

tem sido apreendida e simbolizada sob múltiplas facetas,

traduzindo ora uma sensibilidade mística, ora uma visão

mecanicista, identificando escolhas e valores contraditórios

dos pontos de vista ético, político e económico.”

Queirós (2001:20)

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18

Nas diversas tipologias de risco, de onde ressaltamos a do EM – DAT – International Disaster

Database e a da Autoridade Nacional da Proteção Civil, a poluição dos cursos de água por descargas

de efluentes industriais não é considerada “risco tecnológico”, embora as suas consequências se

identifiquem com falhas humanas associadas aos acidentes industriais.

O ritmo acelerado que o desenvolvimento tecnológico e científico tem conhecido nos últimos

tempos determina uma modificação permanente na sociedade. Levantam-se muitas e difíceis

questões no que diz respeito ao envolvimento da ciência na crise social e global do ambiente (Levy,

2002).

O capitalismo tornou-se a forma dominante de organização da economia, permitindo uma

produção e acumulação crescente de capitais, uma economia globalizada que, invariavelmente,

alterou o ambiente físico. A supremacia do paradigma mecanicista, quer na investigação científica,

quer na inovação tecnológica, acabou por desenvolver o seu próprio contrassenso: por um lado, a

esfera económica separa e isola-se das suas dependências anteriores perante o divino, o místico e

o natural; por outro, a maximização da produção, a exploração abusiva dos recursos naturais e a

produção desmesurada de resíduos resultaram numa crise ambiental com elevados custos sociais,

comprometendo a eficiência do próprio sistema económico dominante (Queirós, 2001). Perante isto

parece-nos fundamental promover a centralidade do ambiente no debate político atual, procurando

uma reintegração da economia na Natureza.

As sociedades humanas através das suas relações e da organização das suas atividades

alteram os territórios em que se inserem, afetando a disponibilidade, produção, diversidade,

permanência, resiliência e evolução dos recursos naturais, criando “janelas de vulnerabilidade”

(Dow, 1992).

A civilização industrial moderna procurou romper com o passado e orientou-se para os

mercados globalizados, assumindo, desta forma, a incerteza dos resultados e a probabilidade de

aparecimento de efeitos não desejados ou mesmo inesperados. O risco constitui indubitavelmente

“um elemento central no dinamismo económico e da inovação social desejadas, Arriscar tornou-se

sinónimo de mudança” (Hespana e Carpintiero, 2001). A sociedade atual é frequentemente

caraterizada como a sociedade do conhecimento e do desenvolvimento tecnológico, com múltiplas

plataformas de inovação que requer dos cidadãos uma maior capacidade de intervenção e um

estado de alerta constante.

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19

Todavia, a busca do progresso industrial como motor de desenvolvimento trouxe dissabores

inesperados e problemas de complexa resolubilidade. Se anteriormente se esperava do progresso

tecnológico a sustentação de uma sociedade altamente industrializada e moderna, não levou muito

tempo até que a sociedade percebesse que o avanço tecnológico e científico, causa e consequência

do mundo globalizado, não se apresenta ausente de preocupações e angústias, dando origem às

sociedades pós-modernas ou aquilo a que Giddens (2002) e Beck et al. (2002), denominaram de

“modernidade reflexiva”, em que a incerteza e a insegurança são geradas por novos riscos, o que

“justificam as frequentes preocupações com os riscos naturais, os riscos tecnológicos, os riscos

biológicos e os riscos económicos e sociais” (Teles, 2010:32).

A reclamação de uma maior participação emerge de um público mais “reflexivo”, mais

atento aos dilemas da relação estreita entre a investigação científica e as dinâmicas económicas e

políticas, que têm posto em evidência a necessidade de serem repensados os processos de decisão

democrática (Gonçalves, 2000).

Os comportamentos, atitudes e práticas dos portugueses perante os problemas ambientais

contemporâneos apresentam uma multiplicidade de dimensões culturais, sociais e políticas que

estruturam o modo como se relacionam com o ambiente.

A forma como a questão ambiental é sentida e vivida parte do pressuposto de que as

dimensões da cidadania passam, não só pelas diversas formas de participação pública mas,

também, pela partilha de conhecimentos e informações sobre as questões ambientais. Isto é, o

modo como as sociedades contemporâneas se vão organizando de modo a cooperar na superação

dos problemas ambientais, tanto individual como coletivamente. Neste sentido, os media e a aposta

numa educação ambiental têm desenvolvido um papel fundamental. Ainda que nem sempre a ação

que estes vêm encetando sejam isentas de interesses e de manipulação, é inegável o modo como

a sua ação se tem repercutido na mudança de mentalidades e numa maior consciência da sociedade

para a importância da ecologia e do seu equilíbrio.

Enquanto problema social e político, a questão do ambiente tem, em boa medida, origem

na ação coletiva organizada. Mas também é verdade que ela se desenvolve enquanto esfera de

atuação de políticas publicas sob o signo da participação cívica e como área privilegiada de

expressão da cidadania (Nave e Fonseca, 2004). Para estes autores, as formas e predisposições

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20

para a participação na esfera da cidadania ambiental são particularmente mediadas pelos

mecanismos de perceção de risco associado a fenómenos ambientais.

Atualmente, o sentido de responsabilidade ambiental está, segundo Queirós (2001),

associado à crença de que a biodiversidade e a paisagem não podem ser destruídas por decisão

humana. O desgaste ambiental é entendido hoje como sinónimo de crise global do ambiente.

A ambivalência da ciência e da tecnologia perante o ambiente resulta desta situação dupla

e dúbia que as arrasta para o centro de discussão sobre preservação e degradação ambiental (Lima

e Guerra, 2004)

Potenciais fontes de soluções para uma crise ambiental global de que elas próprias estão

na origem, a ciência e a tecnologia não parecem despertar opiniões unanimes. Se a ciência pode,

por um lado, fornecer soluções pode, por outra parte, ser ela própria, fonte de problemas.

O papel a desempenhar pelo Estado e/ou instituições públicas em geral, é inevitavelmente

convocado quando estão em causa interesses públicos ambientais, património natural e comum, e

no meio disto, as atividades económicas potencialmente conflituantes (Schmidt et al., 2004).

Outros trabalhos têm sido desenvolvidos com o objetivo de avaliar as perceções e as práticas

ambientais dos portugueses e nos serviram de ponto de partida para esta investigação, com os quais

tentamos, sempre que possível, estabelecer comparações dos resultados obtidos.

Os trabalhos de referência sobre a perceção, atitudes e práticas ambientais que orientaram

o nosso estudo foram os produzidos pela equipa do Programa OBSERVA – Ambiente, Sociedade e

Opinião Pública, do Instituto Superior de Ciências do Trabalho e da Empresa (ISCTE), em particular

os resultados dos dois inquéritos nacionais às representações e práticas dos portugueses sobre o

ambiente, publicados nos anos 2000 e 2004 bem como o estudo elaborado pelo Instituto de

Ciências Sociais (ICS) em colaboração com o International Social Survey Programme (ISSP) da

Universidade de Lisboa. A estes fomos buscar ajuda metodológica para a construção do nosso

inquérito, bem como a base comparativa para os nossos trabalhos.

2 - Justificação da área de estudo

A escolha do estudo de caso prendeu-se com duas questões fundamentais: a proximidade

entre a área geográfica selecionada – o concelho de Vizela e o investigador, havendo uma

propinquidade entre o território e as vivências. O segundo motivo prendeu-se fundamentalmente

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com a urgência que os problemas ambientais assumem no contexto científico atual mas, também,

social e cultural.

O concelho de Vizela insere-se num contexto mais alargado e, igualmente, complexo do Vale

do Ave. A forte industrialização desta área que se inicia em 1845 com a Fábrica de Tecidos do Rio

Vizela, em Santo Tirso, e acabaria por se espraiar, grosso modo, a todo o território, haveria de

marcar para sempre as vivências das pessoas, a morfologia urbana e as suas dinâmicas

demográficas.

Esta complexidade onde o Vale do Ave se inscreve acaba por lhe conferir uma identidade

própria que decorre, em parte, da mediatização do problema da poluição dos cursos de água do rio

Ave, proveniente das indústrias têxteis que aí se instalaram.

3 - Objetivos

É nosso objetivo primordial estudar o modo como os vizelenses tomaram consciência dos

problemas ambientais do concelho de Vizela, nomeadamente os que mais diretamente se

relacionam com a forte industrialização deste território e, de que modo, esta condicionou as suas

atitudes e práticas ambientais.

Como objetivos específicos, pretendemos encontrar resposta a algumas questões de

partida, nomeadamente às atitudes e práticas dos vizelenses e à sua perceção dos problemas

ambientais:

1) Que atitudes manifestam face…?:

- À relação ambiente/ desenvolvimento;

- À ciência;

- Às preocupações ambientais;

-À confiança nas fontes de informação.

2) Como se refletem as práticas ambientais e de cidadania?

- Nas suas intenções;

- Na sua participação em ações de caráter ambiental.

3) Qual a perceção dos problemas ambientais do concelho de Vizela?

- Das ações de caráter municipal em que assumiram um papel ativo;

- Sobre as atitudes perante as decisões de caráter ambiental;

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- Preocupação com o estado do rio Vizela aquando do predomínio da indústria têxtil;

- Aferição das alterações (se existentes) na consciência por parte dos vizelenses sobre o

estado do rio;

- Compreensão sobre o modo como as pessoas sentiram que as alterações no estado do rio

tem vindo a repercutir-se na relação do Ser humano com o meio.

4 - Metodologia

A resposta dada aos objetivos que formulamos será tanto mais assertiva, quanto melhores

as metodologias adotadas, desde as mais teóricas às mais práticas. As diferentes metodologias que

foram sendo adotadas são devidamente descritas nos respetivos capítulos.

Genericamente, o enquadramento concetual/ teórico deste trabalho prendeu-se com uma

vasta recolha bibliográfica com o intuito de entender de que modo as atitudes ambientais da

sociedade são condicionadas pelas perceções que esta desenvolve dos problemas ambientais.

A caraterização da área de estudo – o concelho de Vizela, suportou-se numa ampla recolha

bibliográfica, bem como numa base cartografia, quer digital, quer impressa. Recaiu, ainda,

fundamentalmente sobre um sistemático trabalho de campo, elementar para o conhecimento do

território, mas também para a compreensão das relações que a população vizelense estabelece com

este, nomeadamente com os problemas ambientais que aí se encerram, indissociáveis do rio Vizela.

No sentido de aferirmos as atitudes ambientais e as relações que os vizelenses com 15 ou

mais anos, estabelecem com o rio Vizela procedeu-se à aplicação de um inquérito entre os meses

de Março e Junho de 2014. Os dados resultantes da aplicação do inquérito por questionário foram

tratados estatisticamente através do software IBM SPSS®. Os dados obtidos, bem como os

cruzamentos de dados efetuados estão devidamente apresentados no capítulo 3, reservado à

discussão dos resultados dos inquéritos.

No sentido de sustentar a nossa investigação, recorremos ainda a fontes documentais,

nomeadamente à pesquisa de notícias e artigos de opinião em jornais locais, nomeadamente no

Notícias de Vizela, desde 1976 até à atualidade.

5 - Organização da tese

A presente investigação apresenta-se organizada em três partes distintas: a Parte I –

Ambiente e Tecnologia, que se subdivide em dois capítulos, constituindo o suporte teórico deste

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trabalho, a Parte II – Enquadramento territorial que se subdivide, também, em duas partes e a Parte

III – Estudo de caso.

No primeiro capítulo - Ambiente e desenvolvimento, discute-se a ambiguidade da relação

tecnologia vs ambiente, e os “novos riscos” que resultam da relação que se estabelece entre estes.

Apresentam-se ainda as inseguranças e incertezas em que vivem as sociedades atuais, que geram

novas vulnerabilidades. O segundo capítulo – Cidadania e Mobilização ambiental, prende-se com o

modo como o Ser Humano desenvolve, apreende e expressa as perceções, atitudes e práticas

ambientais e de que modo isso se expressa nas múltiplas dimensões da mobilização ambiental.

No Capítulo 3 – O Vale do Ave e o Concelho de Vizela, procedemos à definição dos limites

territoriais sobre as quais desenvolveríamos a contextualização territorial. Aqui é ainda

contextualizado o concelho de Vizela num contexto mais abrangente, mas com uma realidade

igualmente complexa, do Vale do Ave, tentando perceber de que modo o desenvolvimento deste

nicho industrial se foi expressando territorialmente.

O quarto capítulo - Os elementos naturais e socioeconómicos como estruturantes do

território, discutimos o modo como os elementos naturais, nomeadamente o território e a rede

hidrográfica organizam o território. Neste sentido, procedeu-se ainda à análise da evolução da

população que vive, transforma e se apropria do território, assim como analisamos de que modo as

atividades económicas reagem à situação de crise económica que assola todo o país,

particularmente o Vale do Ave, procurando entender que condicionantes humanas que motivam esta

situação.

O último capítulo respeita ao caso de estudo – As práticas ambientais e relação dos

vizelenses com o rio Vizela, em que a interação entre o território e as suas representações são

essências. Aqui discutimos os resultados obtidos no inquérito aplicado.

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PARTE I – Ambiente e Tecnologia

________________________________________________

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Capítulo 1 – Ambiente e desenvolvimento

A inegável evolução da ciência e da técnica trouxe bem-estar à sociedade, mas fê-lo através

da exploração de recursos naturais existentes, traduzindo-se numa irreversível degradação ambiental.

Se, por um lado, à ciência e à técnica são imputadas as responsabilidades de inúmeros

problemas ambientais, por outro, sem estas não seria possível, em muitos casos, sinalizar como

problemas algumas questões ambientais.

Atualmente são graves os desafios ambientais com que a humanidade se debate que nos

exigem uma reflexão séria sobre os modelos de crescimento e de desenvolvimento seguidos, assim

como nos incitam a procurar equacionar o tipo de relação que se estabelece entre o Ser Humano e a

técnica.

1.1 Progresso tecnológico e degradação ambiental

Se o progresso tecnológico ajudou resolução de alguns problemas com que a sociedade se

confrontava no passado conduziu, também, à consciência dos riscos que a ameaçavam. Na tentativa

de resolver os problemas existentes, a tecnologia acabou por gerar novos riscos, tornando-se num dos

principais paradigmas da modernidade.

A interação entre a Natureza, a sociedade e a tecnologia, numa variedade de escalas espaciais

cria um mosaico de riscos que apresenta um conjunto muito diferente de problemas.

A sociedade do risco é uma teoria social que descreve a produção e a gestão dos riscos na

sociedade moderna que se organiza de modo a responder aos riscos a que se encontram expostas.

Neste contexto, Ulrich Beck e Antonhy Giddens são as referências fundamentais.

“No caso dos problemas ambientais, a sua existência traduz

não só a dificuldade em se perspetivar o modelo de

desenvolvimento económico e social sustentado que saiba

compaginar o impacto da industrialização com o bem-estar

das populações, como reflete o dilema de encontrar um novo

posicionamento na relação técnica do homem com o

mundo”.

Correia (2001:148)

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As chamadas sociedades do risco aumentam a consciência individual e coletiva relativamente

aos potenciais perigos. Do mesmo modo que aumentam a consciência, alastra o campo de ação dos

riscos, tornando-se difusos no espaço e no tempo, dotados, muitas vezes, de uma forte volatilidade.

Verifica-se uma reorganização social em torno da questão dos riscos que chamou à atenção não só

dos decisores, dos políticos ou da comunidade académica, mas também dos cidadãos para a

consciencialização dos riscos que os rodeavam.

A intolerância social aos riscos resulta da evolução da perceção e da imagem social da

Natureza. Hoje em dia, a causa ambiental e a necessidade de proteger a diversidade biofísica impõem-

se de forma cada vez mais partilhada, para o que largamente tem contribuído a ação dos movimentos

ambientalistas e o poder difusor dos media que empresta visibilidade sem precedentes a situações de

rutura ecológica (Lima e Guerra, 2004).

Os problemas ambientais resultantes da sobre utilização da tecnologia apresentam-se como

falhas nos sistemas políticos, sociais e económicos, daí que a degradação ambiental surja como

resultado da potencialização humana dos riscos, consequência da modernização, em si mesma. Os

riscos tecnológicos e a degradação ambiental são, ambiguamente, um produto da atividade humana

e objeto de mitigação e resolução, ou seja, os riscos tecnológicos são construções sociais (Cutter,

1995).

Neste sentido, Beck (1992), expõe a evolução da sociedade em três períodos: Sociedades

Tradicionais, Primeira Modernidade e Segunda Modernidade (Quadro 1). As sociedades tradicionais

prevaleceram na Europa até ao início da revolução Industrial, caracterizadas pelo predomínio das

estruturas feudais. Verifica-se uma grande influência da família e da religião na construção das

mentalidades. A definição das perceções individuais circunscreviam-se às relações familiares e de

vizinhança.

A primeira modernidade afirmou-se na sociedade europeia através das múltiplas revoluções

ao nível da política e da indústria que se desenvolvem entre os séculos XVII e XVIII. Aqui a igreja perde

o poder que outrora detivera. Aumentaram as relações sociais, mais impessoais e formais. Apesar das

diferenças entre si, nas sociedades tradicionais e nas da primeira modernidade, dominava um clima

de confiança, previsibilidade e de segurança. Esta fase caracteriza-se pela aceitação da ciência e da

técnica por parte das sociedades, sem grandes questionamentos. Aqui reside a emergência dos

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problemas ambientais decorrentes da tecnologia, ainda que não haja a perceção, quer ao nível da

comunidade científica, quer dos leigos, da fragilidade que lhe era inerente.

Quadro 1 Evolução das Sociedades na perspetiva de Ulrich Beck

Entre a primeira e a segunda modernidade verificaram-se alterações profundas. Beck (1992)

considera que a modernização envolveu alterações na estrutura das relações e nos agentes sociais.

Os riscos alteraram o processo de modernização. A crítica crescente às práticas modernas industriais

resultou numa modernidade reflexiva que, segundo Giddens (2004) é a “possibilidade de uma (auto)

destruição criativa para toda uma era: aquela sociedade industrial”. Salienta-se que o “sujeito dessa

destruição não é uma revolução, não é a crise, mas a vitória da modernização ocidental” (Beck et al.,

1995:12).

Sabemos que as situações de crise que atingem determinadas áreas do Planeta ou certas

sociedades não têm uma génese local, mas constituem o resultado de fortes interdependências que

unificam os espaços a uma escala muito alargada (Hespanha e Carpinteiro, 2001). Ainda assim,

segundo os mesmos autores, isto não obsta que as formas através das quais a crise é combatida e

dos recursos mobilizados para esse efeito não possa ser configurada como uma análise das respostas

locais a fenómenos globais.

Reconhecendo que o risco é um conceito fluido, fundado culturalmente e contestado

socialmente, variável em função das experiências individuais ou coletivas, circunstâncias históricas,

Fonte: Adaptado de Queirós et al. (2006)

.

Sociedades Tradicionais Primeira Modernidade Segunda Modernidade

. Crenças/ religião

. Preponderância da família na

construção da individualidade

. Estruturas comuns

. Dogmas

. Importância do Estado-nação

. Estruturação da sociedade em

classes

. Pleno emprego

. Rápida industrialização

. Exploração da natureza não visível

. Reflexibilidade

. Individualização

. Globalização

. Desemprego

. Liberdade de escolha

. Progresso tecnológico

. Poder tecnocrático

Segurança

Previsibilidade

Confiança

Norma

Dúvida quotidiana

Incerteza

Fragmentação cultural

Insegurança

Comportamentos predefinidos Pensa antes de agir

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contextos económicos, institucionais e, sobretudo, territoriais, é possível afirmar não haver uma

verdade objetiva, monolítica, acerca da relação sociedade/ambiente (Queirós, 2001).

Hoje os riscos estão em todos os lugares. Noutros contextos históricos, a experiência dos

riscos nunca foi tão ampla e profunda como se tem verificado nas últimas décadas. As situações de

risco atuais são quantitativa e qualitativamente distintas das formas anteriores de risco. As mudanças

ocorrem cada vez mais rápidas e em maior grau e intensidade. Estas alterações geram situações

novas sobre as quais não é possível ter controlo. A incerteza passou a ser uma das caraterísticas mais

relevantes da modernidade.

A civilização industrial moderna procura, decididamente, romper com o passado, gerando

uma economia globalizada, assumindo a incerteza dos resultados e o aparecimento de efeitos não

desejados que, em muitos casos, nem foram anteriormente previstos. Do mesmo modo que estes

novos modos de vida se assumem como motor de dinamismo económico e de inovação social que

tantas angústias motivou, como carece de mudanças.

Estas inseguranças invadiram praticamente todos os domínios da vida social, sendo que “o

mal-estar causado por estas mudanças manifesta-se em revolta, angústia e desânimo, mas também

em desemprego e pobreza, em doença e suicídio, em violência e insegurança (Lima, 2005:15).

Um efeito especialmente visível da globalização consiste na emergência ou na amplificação

do risco social, através de processos, por vezes muito complexos de rutura dos desequilíbrios sociais

à escala global (Hespanha e Carpinteiro, 2001).

Os riscos globais são, do ponto de vista de Aragão (2008), “riscos em larga escala, com

magnitudes sem precedentes. As ações conjugadas da evolução científica e tecnológica e da

intensificação de produção industrial e agrícola, com a aceleração do consumo e a globalização do

mercado dos produtos e serviços conduziram a uma massificação dos riscos”. São riscos irreversíveis

aqueles que, ao se efetivarem, tenham consequências permanentes ou tão duradouras à escala

humana. Segundo a mesma autora, a irreversibilidade é um aspeto fulcral da caracterização dos riscos

que, comportando para as gerações futuras perda de oportunidades de realização, pelo que a defesa

de certas irreversibilidades se justifique pelo interesse na manutenção das escolhas potenciais para o

presente e para o futuro. Entende por riscos retardados aqueles que se desenvolvem lentamente e

levam gerações a materializar-se, assumindo, em determinadas situações, dimensões catastróficas

inerentes à sua extensão e irreversibilidade.

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Não faz sentido falar em novos riscos sem falar, então, em precaução. O princípio da

precaução destina-se, sobretudo, a regular os novos riscos ambientais que são globais, irreversíveis e

retardados no tempo.

Os “novos riscos” exigem uma gestão antecipatória, ou seja, segundo o Quinto Programa de

Ação em Matéria de Ambiente e Desenvolvimento Sustentável, em vigor no período 1993-2000, “não

nos podemos dar ao luxo de esperar e verificar se estamos errados”. Os riscos são importantes e

devastadores demais para que possamos estar à espera de obter provas irrefutáveis ou do consenso

científico geral.

Giddens (2001) aponta que nas sociedades que se guiavam mais pelo costume e pela

tradição, as pessoas agiam, por vezes, de forma mais irrefletida. Nos dias de hoje, a realidade é

diferente, uma vez que em virtude da ciência e da tecnologia podem-se utilizar tais mecanismos e

interferir nas decisões, expondo a sociedade a riscos desnecessários em razão das incertezas

científicas. Exemplo disso, é o facto de, que nos dias de hoje, se poder escolher o número de filhos

que cada casal pretende ter.

Neste sentido, parece estabelecer-se uma dicotomia artificial e nociva entre uma visão

maléfica, quase satânica, da técnica e a sua apresentação como um instrumento redentor da

Humanidade. Correia (2001) defende que um objeto técnico tem dimensões tanto naturais como

artificiais, o que vem contrapor o pressuposto de que a técnica e os objetos técnicos fazem parte de

um mundo artificial, diferenciando-se, nesta perspetiva, à Natureza. O autor sugere a importância de

se refletir com maior atenção sobre a essência da técnica, procurando o ponto de equilíbrio no seio

da distinção entre o que podemos entender como natural e artificial, entendendo daí que a técnica se

apresenta como algo híbrido, que oscila entre estas duas definições.

A justificação para uma cada vez maior aposta na inovação tecnológica prende-se, não raras

vezes, com a melhoria da qualidade de vida e o bem-estar da sociedade. Nesta busca contínua pelo

conforto material, a sociedade e a tecnologia acabam por estabelecer uma complexa rede de relações

onde uma é afetada pela outra de forma ininterrupta.

A procura de uma certa equidade entre o Ser Humano e o meio em que se envolve, ou seja,

uma conceção não utilitarista da Natureza impõem, desde logo, uma questão fundamental: “Um novo

protagonismo atribuído ao ambiente será, efetivamente, autónomo de qualquer apreciação

utilitarista?”

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Como resposta a esta questão, os fatores de degradação ambiental da modernidade terão

condicionado a emergência do conceito de ambiente que se tem vindo a demarcar do conceito de

natureza, assumindo significados mais abrangentes.

O ambiente resume-se frequentemente aos valores naturais e às ameaças que recaem sobre

a natureza. Esta ideia de equivalência entre ambiente e natureza deixaria de fora o espaço entre

mundo social e mundo natural. Ainda assim, a tendência atual parece apontar para uma inserção

progressiva da esfera natural num processo mais vasto e complexo que reúne e integra os mais

diversos setores e as suas consequências (Lima e Guerra, 2004). Assim, o conceito de ambiente tem

vindo a ganhar uma certa independência, primeiramente nas esferas académicas e, por consequência,

nos media e na sociedade.

Este conceito é frequentemente associado aos valores naturais e às ameaças que caem sobe

a natureza. Atualmente, o conceito de ambiente demarca-se do conceito da noção de natureza. As

várias representações do ambiente acentuam uma outra dimensão e dão origem, fundamentalmente,

a três grandes conceções que correspondem a distintos estádios de autonomização do ambiente em

relação à natureza (Theys, 1993):

1) Conceção objetiva e biocêntrica: o ambiente é entendido enquanto aglomerado de elementos

naturais e suas relações e interdependências, pouco se distanciando do conceito de natureza. O

próprio Homem e a sociedade surgem representados enquanto organismos naturais, dependentes,

como quaisquer outros, das leis, do funcionamento da natureza. O interesse pelo ambiente não

traduzirá mais, de acordo com esta conceção, que a crescente tomada de consciência da pertença

social ao sistema mais vasto da biosfera;

2) Conceção subjetiva e antropocêntrica: Se, na conceção objetiva, o Homem se deve adaptar às

leis e condições naturais, na conceção subjetiva, os problemas ambientais só ganham visibilidade

na medida em que afetam o próprio Ser Humano. O ambiente afirma-se aqui como um espaço de

relações entre o Homem e o seu meio envolvente (natural ou construído) e é neste espaço em que

a sociedade engloba a natureza e determina a sua evolução que ganham sentido os termos “uso”,

“recursos”, “património”, “delapidação”, “preservação”, “acesso”, etc.. No limite, a defesa do

ambiente e a preservação dos recursos naturais mais não fazem do que pugnar pela manutenção

das condições necessárias à sobrevivência da própria humanidade.

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3) Conceção objeto-subjetiva e tecnocêntrica: A ideia de que o Ser Humano e o seu meio (natural

e construído) fazem parte de uma relação interdependente, condicionando-se mutuamente, está

na base da conceção tecnocêntrica que, por isso, incorpora simultaneamente uma visão objetiva

e subjetiva. O conceito de ambiente, nesta perspetiva, projeta a existência de relações de

transformação recíproca, num processo dialético de ações e reações que realçam a capacidade de

adaptação dos vários elementos. Sociedade e natureza tendem, deste ponto de vista a integrar-se

cada vez mais, pelo que o destino de uma determinará, certamente, o futuro da outra. Esta

definição concebe o ambiente como um conjunto de limites, de disfuncionalidades, de riscos ou

de problemas que devem ser resolvidos, tendo em conta as interações do sistema global.

Resultado deste processo e imbricado nele, assiste-se ao progressivo abandono dos valores

antropocêntricos em que assenta o Paradigma Social Dominante (cimentado em pressupostos de

crescimento económico e de progresso perpétuos), em simultâneo com a crescente assunção de

valores do Novo Paradigma Ecológico (Catton e Dunlap, 1978; Catton e Dunlap, 1980; Dunlap, 1993;

Dunlap, Van Liere, Mertig e Jones, 2000 citado Teles, 2010), que reequaciona o lugar e o papel da

humanidade no mundo e os limites ecológicos a que, como tantas outras espécies, está sujeita (Lima

e Guerra, 2004). Esta viragem representa a tomada de consciência que questiona o lugar na

humanidade no mundo e o papel que desempenha na transformação do ambiente.

A emergência do Novo Paradigma Ecológico que se manifestou não só nos meios académicos

mas também na população em geral, através de uma maior consciencialização da importância do

ambiente per si, põe em evidência a necessidade da reinterpretação de fenómenos até então

negligenciados em detrimento dos indicadores de crescimento económico como a ameaça da

poluição, a escassez de recursos e o declínio da qualidade de vida das populações. Assim se abriu

caminho para uma noção de dependência ecológica das sociedades. Segundo Lima (2006), a noção

de escassez ecológica do ecossistema global, subjacente a esta perspetiva, implica a assunção de leis

naturais a que os humanos não podem deixar de estar sujeitos. Num planeta finito, os limites da

humanidade serão, apesar do engenho tecnológico, as leis da natureza.

Do ponto de vista de Coelho et al. (2006), o ambiente parece representar-se, sobretudo, pela

natureza e pelos elementos naturais (conceção biocêntrica) que, ainda assim, não deixam de estar

acompanhados por ideias bucólicas de campo e paisagens, indicadores de uma qualidade de vida

perdida que se prende com uma conceção antropocêntrica do ambiente. Uma conceção com

contornos marcadamente tecnocêntrica, que alia o mundo natural e social numa ação de efeitos e

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contra-efeitos, é ainda minoritária. Os grupos mais jovens e mais escolarizados parecem optar quer

por uma maior adesão à conceção tecnocentrada do ambiente, quer por um relativo distanciamento

das conceções mais antropocêntricas que medem e leem o mundo à medida das necessidades da

humanidade.

Por sua vez, Beatley (1994) vinca uma dicotomia de atitudes relativamente à relação que se

estabelece entre o ser humano e o ambiente: de um lado a visão antropocêntrica, paradigma

dominante do mundo ocidental centrado na logica utilitarista da ação que gera a maior quantidade de

valor, do outro a visão ecocêntrica que rejeita toda a ação que se justifica apenas na maximização do

valor. Queirós (2001) esclarece que a primeira posição supõe uma separação entre um mundo social

e a natureza. A Humanidade é “natural” (porque se considera biológica e, nesta perspetiva, possui

uma primeira natureza) mas também é “racional” (porque se considera plena de racionalidade). Como

testemunho da liberdade humana face ao ambiente físico, um mundo natural pode e deve ser usado

pelos humanos para o seu desenvolvimento, entendidos como únicos seres de direito. Pelo contrário,

a segunda atitude assume a Humanidade como parte indissociável da Natureza e, como tal, deve

respeita-la do ponto de vista ético e moral. Esta perspetiva holística revela uma clara compreensão da

interdependência ecológica entre as sociedades humanas e o seu ambiente.

Esta consciência ecológica tem vindo a ganhar visibilidade e aceitação progressivas na

sociedade em geral. Ainda assim, este trata-se de um confronto sem fim à vista que resulta do facto

de, por um lado, as sociedades humanas dependeram da exploração dos ecossistemas envolventes

para progredirem, mas, por outro lado, a intensificação da exploração de recursos naturais a que se

vem assistindo, poderem estar a destruir a sua própria base de sustentação.

Muito há ainda a fazer no que respeita a esta confronto entre as duas principais formas de

entender as relações do Ser Humano com a Natureza: a ideia de que a natureza existe para responder

às necessidades da humanidade versus a ideia da humanidade entendida como uma das espécies

inclusa nos ecossistemas.

É neste confronto de ideias que se assentou o trabalho empírico desenvolvido, procurando

compreender as atitudes ambientais dos vizelenses relativamente à relação

ambiente/desenvolvimento, face à ciência e às preocupações ambientais.

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Capítulo 2 – Cidadania a mobilização ambiental

2.1 Perceções, atitudes e práticas ambientais

A perceção social dos riscos naturais e tecnológicos tem sido fortemente debatida, com

principal destaque nos últimos anos. A produção científica tem recaído sobretudo na forma como as

diversas perceções sociais são (ou não) integradas em processos de tomada de decisão ou em

medidas de mitigação de situações de risco.

De entre os muitos trabalhos desenvolvidos no nosso país sobre a temática dos riscos, em

especial no domínio dos riscos naturais, parece haver uma maior propensão para o estudo dos

processos perigosos do que para o estudo de como a sociedade os recebe, lhes resiste ou se recupera,

ou sejam as componentes suscetibilidade e perigosidade continuam a ser bem estudados, o mesmo

não se passando a componente da vulnerabilidade (Cunha et al., 2013).

O estudo da perceção está intimamente ligado com os domínios da Psicologia. Ainda assim,

outras ciências como a Geografia, o Urbanismo ou a Arquitetura têm desenvolvido estudos importantes

no sentido da sua compreensão. O que se procura fazer é desenvolver os conceitos da perceção

aplicados ao espaço.

Nas ciências sociais têm-se desenvolvido bastantes trabalhos de abordagens à perceção do

risco, quer a nível internacional, quer em Portugal.

Segundo Goddey e Gold (1986), a geografia do comportamento e da perceção, baseada em

visões subjetivas do mundo, tem origem em pesquisas behavioristas que têm por finalidade a

compreensão do comportamento humano. Deste modo, a perceção e análise do risco deve ser vista

em duas perspetivas, muito distintas mas absolutamente complementares, a dos leigos e a dos

especialistas.

“O associativismo faz parte da vitalidade e do “capital social” de

uma sociedade civil que é capaz de desenvolver uma

multiplicidade de tarefas e iniciativas que lhe cabem na

modernização e um país.”

(Soromenho Marques, 2001)

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Segundo Lima (2005), por perceção de risco entende-se a forma como os leigos pensam o

risco, referindo-se à avaliação subjetiva do grau de ameaça potencial de um determinado

acontecimento. A distinção entre risco percebido (perceived risk) e risco atual (actual risk) ou «objetivo»

presume que o primeiro representa uma distorção do segundo e deve-se a crenças, experiências

subjetivas, medos irracionais, quando não «histerias» dos não especialistas (Lima, 2000: 160; Flynn

e Slovic, 2000:109).

A análise do risco e a perceção do risco apresentam-se como conceitos distintas. Enquanto a

primeira integra a objetividade, a segunda é um processo subjetivo, ao ser constituída pelas imagens

individuais dos riscos (Navarro e Cardoso, 2005). A análise do risco é fundamental para a gestão dos

riscos, já que supõe que se pode reduzir a frequência ou a gravidade das consequências de um

acidente tecnológico ou de uma catástrofe natural (Queirós, 2000). Ainda assim, este tipo de

abordagem, independentemente de ser eficiente ou não, nem sempre satisfaz a sociedade.

A perceção dos riscos é principalmente considerada como um fenómeno individual. Do ponto

de vista das Neurociências (Lent, 2010), perceção é a capacidade que os seres humanos têm de

associar informações sensoriais à memória e à cognição de modo a formar conceitos sobre o mundo

e sobre nós mesmos e orientar o nosso comportamento.

Os estudos sobre a perceção dos problemas ambientais mostram que nem todas as ameaças

têm, para os cidadãos, o mesmo caráter inaceitável e potencialmente mobilizador da opinião pública.

Lima (2003) considera que a perceção de risco é um pensamento construído socialmente,

influenciado pelos mesmos fatores que influenciam outros tipos de pensamento social. Assim, a

perceção dos riscos está intimamente relacionada aos valores, e ao mesmo tempo, limitada pelo nível

escolar e frequentemente confundida pela linguagem (Queirós, 2000).

Os indicadores de perceção pública dos problemas ambientais permitem vislumbrar a posição

que a sociedade tem diante dos problemas que o ambiente vai manifestando. Vários fatores explicam

o processo de perceção do risco, sendo estes internos e pessoais, como o método de processamento

de informação, a importância de informação recolhida e processada anteriormente. Verificam-se

sensibilidades diferentes de pessoa para pessoa, dependendo dos múltiplos fatores que determinam

a vulnerabilidade de cada indivíduo.

Do ponto de vista de Renn (2004), os indivíduos constroem a sua própria realidade e avaliam

o risco de acordo com as suas perceções subjetivas. Segundo Queirós et al. (2006) este processo de

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formação da perceção do risco é de extrema complexidade ao incluir as experiências que o indivíduo

adquiriu ao longo da sua vida e refletindo igualmente a sua esfera sociocultural e ideológica. Neste

sentido, muitas vezes a visão da comunidade científica não se coadunam com as perceções da

população porque os indivíduos o constroem de forma diferenciada.

Slovic (1987) sugere que as preocupações dos leigos juntam outras dimensões, tais como: o

risco é controlável? Individual ou coletivo? Justo ou injusto? Conhecido ou desconhecido? São as suas

consequências imediatas ou de longo prazo? Podemos confiar na avaliação dos políticos, tal como na

dos especialistas.

Lima (2003) defende que a perceção é um tipo de pensamento social complexo, ambíguo e

importante. É, todavia, possível, conciliar, na opinião de Queirós (2000), as perspetivas objetivas e

subjetivas nos estudos do risco através de uma posição intermédia que aceite procedimentos

científicos que consideram que os riscos ambientais não são puramente objetivos e a introdução de

valores a eles associados é uma questão necessária.

Mesmo numa sociedade vulgarmente tida como homogénea do ponto de vista cultural e social

como é a europeia, verificam-se grandes dissemelhanças no que respeita à perceção social dos riscos.

Ao contrário do que sucedeu com outros países europeus, em Portugal as preocupações

ambientais surgiram tardiamente e a sua trajetória vem marcada por determinados detalhes históricos

e culturais, influenciando opiniões, atitudes e práticas relativamente ao ambiente. Do ponto de vista

de Schmidt et al. (2004), a sociedade portuguesa carateriza-se pela prevalência de uma sociedade

fortemente centrada sobre valores tradicionais [valorizados pelo regime do Estado Novo], uma

industrialização tardia e incipiente, um processo de urbanização acelerado e desordenado com o

correspondente despovoamento do interior; a par da manutenção de baixos níveis de literacia e de um

sistema político autoritário que desabituou os cidadãos de intervir.

Invariavelmente, o ritmo a que sucediam os fenómenos em Portugal foi muito díspar do que

se ia sucedendo no resto da Europa. Enquanto na maioria dos países europeus as políticas e

preocupações da opinião pública sobre o ambiente eclodia no final dos anos 60, a par do Tratado de

Roma em 1969 e da Conferência de Estocolmo em 1972, em Portugal, apenas nos anos 80 se regista

a emergência do tema ambiental, tendo surgido um quadro legislativo e uma estrutura institucional

(Soromenho-Marques, 1998).

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Em Portugal, o primeiro movimento social de conservação da natureza, em 1948, deu-se com

a criação da Liga para a Proteção da Natureza (LPN), conjugando as preocupações de investigadores

ligados à agronomia, geologia e áreas afins. Como prioridade de intervenção estabeleceu a questão

da educação dos cidadãos. A LPN mantem a sua intervenção até à atualidade, com atuações

importante em domínios de conservação da natureza e do desenvolvimento rural, bem como nas

questões de participação cívica, sempre com a preocupação de uma fundamentação científica rigorosa

das suas propostas e ações (Carpeto, 1998).

Em 1967, as cheias de Lisboa constituíram a marca na afirmação da consciencialização

ambiental dos portugueses. Neste sentido, o Arq. Ribeiro Teles surgiu a explicar o desencadear da

crise como consequência da ocupação das linhas de água e leitos de cheia por construções nas

periferias de Lisboa, onde habitavam pessoas socialmente excluídas. Esta denúncia da ineficácia do

ordenamento do território alertou consciências e pôs a nu problemas graves em que o Homem

assumia um papel preponderante.

Graças à conjugação de mecanismos e instrumentos de político-administrativos com o

financiamento comunitário possibilitou a publicação em 1987 dois diplomas legais fundamentais: a Lei de

Bases do Ambiente (Lei nº 11/87 de 7 de Abril) e a Lei das Associações da Defesa do Ambiente (Lei nº

10/87 de 4 de Abril). Verifica-se um esforço para a institucionalização dos órgãos para as questões

ambientais, ao mesmo tempo que surgem associações ambientalistas como o Grupo de Estudos de

Ordenamento do Território e Ambiente – GEOTA (1981) e Quercus (1985).

Os valores e atitudes são fatores intrínsecos a cada um de nós. São os valores que

condicionam as atitudes que diariamente se expressam através das nossas ações. Sucintamente, as

atitudes podem definir-se como atributos psicológicos do indivíduo que determinam a sua tendência

para agir de um determinado modo, em determinada situação (Moore, 1995). As atitudes têm uma

relação direta com uma predisposição para a ação.

Para desenvolver uma atitude é necessário adquirir algumas convicções ou crenças e

comportamentos de aceitação e recusa. A aprendizagem de uma atitude manifesta-se,

essencialmente, por mudanças nas reações e nas respostas emotivas do Ser Humano, bem como nas

modificações de conhecimentos e aptidões instrumentos associados a essas reações.

O conceito de preocupação ambiental relaciona-se com a preocupação, o conhecimento, as

atitudes em relação ao ambiente e à natureza, as intenções e o comportamento efetivo (Van Liere e Dunlap,

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1981). Perante isto, torna-se evidente que é necessário separar as duas vertentes da preocupação

ambiental: as atitudes e as práticas (ou comportamentos).

Conhecendo as atitudes, conseguimos estimar comportamentos. Neste sentido, o estudo das

atitudes ambientais pode contribuir para o estudo da dimensão social das afirmações ambientais. De

acordo com Coelho et al. (2006), estas podem ser consideradas como sentimentos favoráveis ou

desfavoráveis acerca do ambiente ou sobre um problema relacionado com ele, e têm sido definidas

como perceções ou convicções relativas ao meio físico, inclusive fatores que afetam a sua qualidade.

Os mesmos autores argumentam, também, que as crenças, atitudes e valores são atrelados formando

um sistema cognitivo funcionalmente integrado, pelo que uma mudança em qualquer parte do sistema

afeta outras partes e culmina em mudança comportamental.

2.2 Dimensões da mobilização ambiental

O ambiente surge com frequência como uma plataforma privilegiada de aplicação dos valores

da cidadania e do exercício democrático expresso pela participação. Pode associar-se esta questão às

exigências intrínsecas de mobilização da sociedade civil, bem como da participação individual, em

ações concretas de preservação do ambiente.

Na perspetiva de Nave e Fonseca (2004), este processo de mobilização tem sido claramente

marcado pela evolução registada ao nível de um conjunto muito vasto de fatores e circunstancias,

desde logo, a progressiva importância e valorização que vem sendo socialmente atribuída às questões

relacionadas com a preservação do ambiente na promoção da qualidade de vida dos cidadãos.

A participação pública afigura-se como um instrumento essencial no que respeita à

governança dos riscos. Para que seja eficaz, esta deve ser “precoce e alargada, ou seja, ocorrer desde

os primeiros estádios do procedimento, envolvendo todas as partes potencialmente afetadas ou

interessadas” (Aragão: 2008: 43). A autora evidencia ainda que esta é uma dimensão recente no que

respeita à gestão dos riscos: a relevância atribuída aos cidadãos, leigos, cuja opinião profana foi, desde

sempre, desprezada e só recentemente, com a convenção de Aarhus, em 1998, começou a ganhar

algum estatuto.

Esta convenção adquiriu um carater inovador, uma vez que estabelece relações entre direitos

ambientais e direitos humanos, partindo do pressuposto que o desenvolvimento sustentável só poderá

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ser alcançado com o envolvimento de todos os cidadãos. Assim, esta convenção não representa

apenas um acordo internacional em matéria de ambiente, mas tem em conta também os princípios

de responsabilização, transparência e credibilidade que se aplicam aos indivíduos e às instituições.

A Convenção de Aarhus está aberta a estados não europeus, pelo que, embora continue a

ser regional no seu âmbito, o significado desta é global. Esta está edificada em três pilares

fundamentais: o acesso à informação, a participação do público e o acesso à justiça em matéria de

ambiente.

As Nações Unidas vêm enfatizando a importância da participação como uma forma de

promover a democracia e fortalecer o estado de direito (Delgado, 2013). Nos objetivos de

desenvolvimento do milénio para 2000 – 2015 é proclamada a necessidade de desenvolver

coletivamente progressos políticos abrangentes de modo a permitirem a participação efetiva de todos

os cidadãos.

Diversos autores veem a participação pública como um modo de aumentar a satisfação dos

cidadãos (Ferreira, 2003; Guerra, 2006; Healey, 2006; Ascher, 2010), uma vez que se pode

estabelecer uma correspondência entre os resultados e as aspirações destes. Em sentido inverso,

intervenções onde os pressupostos de diálogo e transparência não estejam presentes podem gerar

um clima de controvérsia e insatisfação, aumentadas as clivagens sociais e limitando os pressupostos

democráticos (Delgado, 2013).

Em Portugal, os níveis de participação pública são reduzidos. Mattoso (2008) explica que em

Portugal o Estado desempenha um papel de intensa regulação social, mas permanece uma grande

distância entre representantes e representados. É o Estado que tenta imitar os padrões de atuação

dos Estados e das políticas mais desenvolvidos, o que se reflete numa legislação frequentemente

muito progressista, sem que os agentes políticos interiorizem esses padrões nas orientações

operacionais e na prática política. Por sua vez Lourenço et al. (1997) salientavam a ausência de

participação em Portugal mencionando o excessivo caráter técnico dos documentos postos à

discussão, o facto de a participação pública ser motivada fundamentalmente pelos interesses

particulares em detrimento dos interesses difusos, a fraca ressonância da participação pública nas

decisões finais, as debilidades técnicas das autarquias à mercê do Poder Central, a cientificação das

decisões e a falta de informação científica adequada ao nível de conhecimentos do cidadão em geral.

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Tem-se verificado uma abertura da problemática ambiental à esfera da cidadania cívica e

política. Isto pode explicar-se por múltiplas razões: a importância crescente que os meios de

comunicação social vêm dando às questões relacionadas com os problemas ambientais, a legitimação

democrática e a promoção da participação pública em processos de decisão, ação de organizações

do movimento ambientalista, ações de mobilização e protesto por parte destes, ou mesmo por atores

de base local e popular fizeram do ambiente um tema de interesse coletivo para a sociedade

portuguesa.

Os media desempenham um papel crucial na amplificação de determinados discursos e na

supressão de outros. Os significados construídos pelos media relativamente ao ambiente têm

importantes aplicações para a legitimação ou contestação de escolhas políticas, de estudos científicos

e de propostas de ONGs, bem como para perceção e atitudes do público (Hansen, 1993; Anderson,

1997, Carvalho et al., 2005). A avaliação que fazemos do risco e dos problemas ambientais e a adoção

de formas particulares de agir perante estes são fortemente interferidas pelos órgãos de comunicação

social.

A perceção pública das questões ambientais têm sido concetualizadas como uma forma de

conhecimento socialmente elaborado e partilhado, gerado no decurso de uma comunicação

interpessoal quotidiana (Moscovici, 1981; Jodelet, 1989). As instituições, bem como os meios de

comunicação mediáticos ou informais intervêm na sua elaboração, por meio de processos de

influência social (Carvalho et al., 2005).

A escassa literacia e débil organização da sociedade civil, que se consubstanciou no “elevado

grau de analfabetismo e repressão política que mantiveram sem pausa até 1974, tornaram a

sociedade portuguesa altamente autonomizada e renitente à mobilização e participação na coisa

pública. Apesar dos inegáveis progressos na dinamização da sociedade civil, aportados pelo processo

de democratização, essa dificuldade ainda se faz sentir atualmente no baixo de associativismo

ambiental” (Soromenho-Marques, 2001:116). Por outro lado, um estado demasiado burocrático, com

um baixo índice de racionalização, não se apresentava como um cenário propício para o associativismo

ou uma política de ambiente forte.

Os progressos da ciência estenderam o conhecimento acerca das consequências múltiplas e

indiretas das intervenções humanas na Natureza. A consciência das responsabilidades do Ser Humano

nos desequilíbrios ambientais mantem relação direta com os direitos ambientais na agência política

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internacional. A defesa dos direitos legitima a luta pela preservação dos recursos naturais a longo

prazo. Isto vem alertar para a necessidade de reformular as ideologias e as teorias económicas

dominantes, de modo a apoiar um quadro de valores ambientais de referência universal capaz de dar

resposta as normas e práticas dos indivíduos, da sociedade e do espaço.

É impossível não relacionar a construção dos factos de memória com a respetiva transmissão

mediática, sendo evidente o peso dos media em matéria de popularização dos problemas ambientais,

assumindo um papel detonador da inquietação ambiental (Schmidt et al, 2004).

Segundo dados recolhidos no II Inquérito Nacional às Representações e Práticas dos

Portugueses (2004), Chernobyl e Hiroshima são catástrofes que marcam as memórias de alguns

elementos das diversas gerações indistintamente até aos 65 anos, ao passo que que o problema

global do buraco do ozono foi especialmente sensibilizante para os mais novos e estudantes.

Aqui, os meios de comunicação social manifestam um aumento de interesse em matérias

relacionadas com o ambiente. Começam a atribuir-lhe ênfase noticiosa, dando voz a mobilizações

ambientais, bem como a denúncias e queixas dos cidadãos.

A discussão gerada em torno da controvérsia sobre a coincineradora de resíduos industriais foi

amplamente debatida publicamente e alvo de agitação social. A discussão gerada e amplamente divulgada

e amplificada pelos meios de comunicação social apresenta-se como uma solução para o problema da

acumulação de resíduos resultantes da atividade industrial, do mesmo modo que gera inúmeros impactos

negativos no ambiente e na saúde pública. O caso da Encefalopatia Espongiforme Bovina, vulgarmente

designada por “Doença das Vacas Loucas” foi, também, mediatizado.

As últimas décadas representaram uma nova abordagem aos problemas ambientais,

resultado de uma democracia mais aberta à consciencialização pública, a adesão à União Europeia e,

necessariamente, às políticas comunitárias que fizeram transpor para o direito nacional importantes

diretivas comunitárias, nomeadamente no que respeita à proteção ambiental e à importância da

participação pública e da auscultação dos medos e preocupações que as pessoas desenvolvem

relativamente a estas questões. Soromenho Marques (1998) afirma que muitas das medidas

legislativas e institucionais relativas ao ambiente criadas em Portugal foram, no entanto, introduzidas

e dinamizadas pelas pressões comunitárias, o que indica que, pelo menos inicialmente, o processo

de ambientalização política resultou mais de influencias externas do que de dinâmicas endógenas.

Contudo, só com a criação do OBSERVA – Observatório Permanente sobre o ambiente e a Sociedade

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“foi possível construir de uma forma continuada, incentivar a análise que se pretende pluridisciplinar

sobre o ambiente enquanto questão social” (Lima et al., 2002:16).

Hoje em dia a proteção ambiental e a natureza biofísica, enquanto suporte da vida humana,

impõem-se de modo cada vez mais partilhado, para que largamente têm contribuído a ação dos

diversos grupos ambientalistas, bem como da amplificação que os meios de comunicação têm dado

às situações de rutura ecológica.

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PARTE II - Enquadramento territorial

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Capítulo 3 – O Vale do Ave e o concelho de Vizela

A definição dos limites territoriais do Vale do Ave apresentou-se como um dos principais focos

de discussão no presente trabalho. Esta indefinição face à área sobre a qual desenvolveríamos o

estudo fez-nos optar pelo território correspondente à NUT III Ave, sem as alterações impostas pelo

Decreto-Lei nº 68/2008 de 14 de Abril de 2008, isto é, correspondente aos municípios de Guimarães,

Fafe, Santo Tirso, Vieira do Minho, Vizela, Santo Tirso e Trofa e Vila Nova de Famalicão (Figura 1).

Esta opção justifica-se pelo facto de esta área apresentar uma maior homogeneidade territorial,

nomeadamente no que respeita ao seu caráter socioeconómico, assentando numa forte

industrialização que, entretanto, entrou em declínio.

Fig. 1 Enquadramento territorial do Vale do Ave

“O território do Vale do Ave é constituído por

diferentes estruturas espaciais que lhe foram

imprimindo ordens sobrepostas ao longo do tempo. ”

Paulo Providência (2002)

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O Ave é uma sub-região estatística da região Norte (NUT1 nível III). É limitada a norte e a leste

pelas NUT III Cávado e Alto Trás-os-Montes, a este e a sul pelo Tâmega e a Oeste pelo Grande Porto.

Esta sub-região começou por ter, em 1989, seis concelhos: Fafe, Guimarães, Póvoa de

Lanhoso, Vieira do Minho, Vila Nova de Famalicão e Santo Tirso. Em 2002 incorporou dois concelhos,

que entretanto haviam sido criados: Vizela e Trofa, conforme previsto pelo Decreto-Lei n.o 244/2002,

de 5 de Novembro.

A NUT III Ave tem atualmente uma área de 1238 km2, compreendendo oito concelhos2: Fafe,

Guimarães, Póvoa de Lanhoso, Vieira do Minho, Vila Nova de Famalicão, Cabeceiras de Basto e

Mondim de Basto. Este Decreto-Lei promulgou a integração dos municípios de Cabeceiras de Basto e

Mondim de Basto (provenientes da NUT III Tâmega), na unidade territorial do Ave e, por sua vez, os

municípios de Trofa e Santo Tirso (provenientes da NUT III Ave) na Unidade Territorial do Grande Porto.

O município de Vizela abrange uma área de 23,92km2, subdividindo-se tradicionalmente em

sete freguesias: Caldas de Vizela (São Miguel), Caldas de Vizela (São João), Santa Eulália, Vizela (Santo

Adrião), Infias, Vizela (São Paio) e Tagilde (Figura 2). Segundo a Tipologia das Áreas Urbanas (TIPAU3

referente a 2009), todas as freguesias que constituem o município são consideradas

Predominantemente Urbanas (A.P.U.).

A reorganização administrativa das freguesias é estabelecida através da criação de freguesias

por agregação ou por alteração dos limites territoriais, conforme a Lei no 11 – A/2013 de 28 de janeiro.

Relativamente ao município de Vizela, as freguesias alvo de agregação foram Caldas de Vizela (São

Miguel), Caldas de Vizela (São João), Tagilde, Vizela (São Paio), tendo resultado na União de Freguesias

de Caldas de Vizela (São Miguel e São João) e na União de freguesias de Tagilde e Vizela São Paio.

Infias, Santa Eulália e Vizela (Santo Adrião) não sofreram alterações.

1 O conceito de Nomenclatura das Unidades Territoriais (NUT’s), foi introduzido pelo EUROSTAT, com o propósito de criar um padrão único e uniforme para a produção de estatísticas e de repartição de fundos ao nível regional na União Europeia. 2 Segundo Decreto-Lei nº 68/2008 de 14 de Abril de 2008. 3 A Tipologia de áreas urbanas para fins estatísticos, da responsabilidade do INE, consiste numa classificação tripartida das freguesias do território nacional em Áreas predominantemente urbanas (APU), Áreas mediamente urbanas (AMU) e Áreas predominantemente rurais (APR).

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Fig. 2 Freguesias do concelho de Vizela

O reconhecimento do Vale do Ave como um território provido de uma certa individualidade e

identidade socioeconómica e cultural é um fenómeno recente. Só em meados do século XX é que este

território começa a ser referida como tal. Esta identidade que se gerou tem raízes históricas que

remontam a um artesanato ligado ao linho e à implementação do têxtil e do algodão a partir do século

XIX. Nos anos 50 do século XX o Vale do Ave adquire contornos de unicidade que se prendem com

um cariz marcadamente industrial, uma forte aposta na indústria têxtil, a fraca aposta na qualificação

e uma urbanização difusa decorrente do crescimento urbano desordenado.

Segundo a Associação de Municípios do Vale do Ave (AMAVE), ao Vale do Ave associam-se

três problemáticas que devem ser debatidas:

1) Alguns dos municípios desta Unidade Territorial (U.T.), como Vieira do Minho, Póvoa de Lanhoso

e parte do concelho de Fafe, apresentam um forte cariz rural;

2) Outra correspondente à área dos municípios de Guimarães, Vizela, Trofa, Vila Nova de Famalicão

e parte ocidental de Fafe, debate-se com a necessidade de modernização da indústria têxtil e a

diversificação do tecido produtivo; por outro lado;

3) Verifica-se nos municípios de Póvoa de Varzim e Vila do Conde fortes afinidades com a área

central do Vale do Ave, essencialmente em matérias de despoluição da rede hidrográfica do Ave,

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assim como em matéria de complementaridade turística, ainda que apresente uma cada vez maior

aproximação à Área Metropolitana do Porto.

Um primeiro olhar sobre o território do Vale do Ave inspira-nos uma paisagem difusa, até

caótica. Sá Marques (1988) considera que a produção de um território onde a dispersão é a nota

dominante não se poderá entender senão na sequência de um modelo, historicamente construído que

é explicável pelas vicissitudes de uma indústria que surgiu na continuidade de um artesanato

disseminado pelas explorações agrícolas.

O crescimento urbano disseminou-se pelos territórios rurais, acabando por destruir a

tradicional dicotomia urbano-rural que perdurou durante séculos e absorveu a paisagem de forma

descontrolada. Assim, a cidade deixou de se conter em si mesma, adquirindo uma forma dificilmente

delimitada.

O urbano e o rural opunham-se do ponto de vista morfológico, mas, simultaneamente,

apresentavam uma importante complementaridade funcional. Deste modo, o modelo urbano

desorganiza-se e perde definição:

Esta indefinição entre o urbano e o rural que caracteriza o Vale do Ave advém de um longo

desenrolar de transformações históricas que este território tem vindo a conhecer. Apresentou, desde

sempre, uma forte ligação com a agricultura e esteve profundamente conexo às primitivas atividades

oficinais. Isto é, o resultado de uma intensa ocupação humana que aqui se fixou ao longo dos tempos

que, tirando partido das condições naturais, souberam-lhes tirar o melhor proveito e utilizar os solos

férteis. Segundo Ferreira (2014), a escassez e grande retalhamento da propriedade agrícola deu

origem à concentração de uma grande diversidade de atividades oficinais – em parte rurais, artesanais

e industriais – que encontraram aí meio de subsistência. O predomínio do minifúndio inviabilizava o

sustento familiar em regime produtivo exclusivamente agrícola, fomentando por isso a procura de um

rendimento exterior à agricultura. As atividades oficinais aparecem assim como complemento natural

à faina agrícola.

“A passagem da cidade para o urbano arrastou uma metamorfose profunda: de centrípeta, passou a

centrífuga; de limitada e contida, passou a coisa desconfinada; de coesa e contínua passou a difusa e

fragmentada; de legível e estruturado passou a campo de forças organizado por novas mobilidades e

espacialidades de contrária ou híbrida do “rural”, passou a transgénico que assimila e reprocessa

elementos que antes pertenciam a um e outro rurais ou urbanos; de organização estruturada pela

relação a um centro, passou a sistema de vários centros; de ponto num mapa, passou a mancha, etc.”

(Domingues, 2009)

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A rede hidrográfica apresenta-se como um elemento estruturante fundamental. É na

contiguidade dos cursos de água que as pequenas oficinas se instalam, tirando partido da força motriz

e da irrigação subjacentes à água. Esta proximidade fez despontar o aparecimento de novos

mecanismos e engenhos sobre o rio (Figura 3). Foram construídos açudes, comportas, mós e moinhos

de cereais, azenhas, engenhos de azeite e de linho.

Fonte: Ferreira (2014)

O rio Ave e os seus afluentes sinalizam a implantação industrial do têxtil, muito devido às

vantagens inerentes às facilidades de se valerem dos recursos hídricos, para a produção de energia e

o abastecimento de água para as diferentes fases dos processos industriais.

Segundo Cordeiro (1995), numa primeira fase, as grandes indústrias utilizavam água como

força motriz para produção de energia. Verificaram-se dois tipos de aproveitamento: um mais

rudimentar, utilizando a tradicional roda hidráulica e, posteriormente a introdução da turbina

hidráulica, que, nas décadas de 1860 e 1870 já era utilizada na Fábrica de Fiação do Rio Vizela e na

Fábrica de Fiação de Bugio. Este último, mais complexo e dispendioso, introduziu vantagens ao

sistema operativo. Para além de se adaptar a condições de funcionamento muito adversas, como por

exemplo, a variação de caudal, atingia um maior rendimento hidráulico, o que permitia um aumento

de produção. As turbinas hidráulicas aproveitam entre 70 a 80% da potência produzida pela queda de

água, ao passo que as rodas hidráulicas não ultrapassam os 30%. Relativamente a esta temática,

embora esta tecnologia seja mais eficiente, implicava investimentos mais avultados, o que acabou por

inviabilizar a sua utilização.

A energia a vapor foi introduzida no século XIX, devido ao aumento de produção e à

consequente maior necessidade de energia. Esta fonte de energia adquire especial importância na

Fig. 3 Moinho sobre o rio Vizela

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época estival, em que o caudal do rio diminui acentuadamente. O uso deste tipo de energia é limitado,

uma vez que o combustível – carvão, é limitado.

Segundo Mendes (2002), a industrialização quase se fez, no Vale do Ave, sem a máquina a

vapor. Em certa medida, “queimando-se” a etapa da energia a vapor – a qual, além de ter tido um

curto período de utilização não chegou a generalizar-se-, passou-se quase diretamente da energia

hidráulica à energia elétrica, o que constituiu umas das especificidades do respetivo processo.

Alves (2000), considera que se, por um lado, a distribuição da energia elétrica avançava

lentamente, os industriais não podiam esperar e procuravam a auto-produção. Na segunda e terceira

e década do século XX, multiplicaram-se as centrais de auto-produção, quer térmicas, quer

hidroelétricas. A zona industrial do Vale do Ave, nos concelhos de Famalicão, Guimarães e Santo Tirso

tornou-se exemplar, com múltiplas pequenas centrais, animadas pelos fabricantes locais, que, às

vezes, forneciam para o exterior, ajudando a iluminar as localidades em que se inseriam.

Estes desenvolvimentos fizeram com que as populações se apercebessem das

potencialidades energéticas inerentes à água e à rede hidrográfica, aumentando a sua curiosidade e

predisposição para a sua utilização, o que propiciou a criação de condições ideais ao aparecimento

de uma atividade proto-industrial neste território.

A indústria linífera surge no Vale do Ave ligado à autossuficiência da vida rural, onde os

abundantes lameiros que se geram nas margens dos rios favorecem a cultura do linho, que serve de

matéria-prima para a produção de fio. As feiras eram as principais estruturas de escoamento desta

produção linífera que atingia proporções elevadas, quer pela produção doméstica das mulheres rurais,

quer pelas oficinas que entretanto se organizavam (Alves, 1999). Segundo o mesmo autor, o algodão,

de origem colonial ocupava um lugar central na têxtil mundial. Embora presente desde os primórdios

da colonização, só ao longo da segunda metade do século XIX o algodão entra em força na economia

portuguesa, depois de algumas tentativas falhadas, ajudando a configurar o nosso incipiente tecido

industrial.

A cultura do algodão ganha espaço devido a vários fatores: por ser mais acessível e ajustável

aos processos mecânicos, e com maior variedade de acabamentos, aliado ao facto de a cultura do

linho se encontrar em decadência na região. Verifica-se uma proliferação do algodão, introduzido

desde há muito tempo na cidade do Porto, até ao Vale do Ave, em meados do século XIX.

Aqui acabaria por emergir um processo de industrialização que adquire características muito

próprias, que marcariam de um modo profundo e permanente toda a região, tendo-se assistido durante

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mais de um século, a uma forte proliferação industrial que se implementa numa realidade que mantém

economias e sociedades marcadamente rurais e tradicionais.

Alves (2002), considera que o Vale do Ave surge como um reservatório histórico de

experiências industriais, em face da densa implementação fabril. Por outro lado, alimenta

representações de um tecido empresarial frágil e vulnerável aos ciclos económicos, fenómeno só

observável para lá da paisagem. Do mesmo modo que este território reside na memória como um

foco industrial importante, reside também a noção da vulnerabilidade inerente a este processo, sem

a aposta necessária num desenvolvimento sustentado.

O Vale do Ave apresenta-se como uma paisagem complexa, onde os elementos se organizam

segundo relações e regras muito próprias e que, por isso, admitem leituras muito diversas. A aposta

num denso tecido industrial sem a aposta necessária na qualificação da mão-de-obra, em que o

abandono escolar precoce é um indicador claro, de que resulta uma enorme debilidade que se

mostrou demasiado indefesa perante a crise económica que o país atravessa na atualidade. Por outro

lado, a fraca aposta no ensino e aprendizagem libertou mão-de-obra barata e jovem, causadora do

dinamismo que a indústria adquiriu no Vale do Ave, ainda que a sustentabilidade deste modelo tenha

cedido à primeira dificuldade.

Todos estes processos que marcaram o Vale do Ave acabaram por se refletir na paisagem.

Segundo Portas (1986), o modelo territorial do Ave configura-se como um contínuo urbanizado (com

a exceção do alto Ave), incluindo centros urbanos de pequena e média dimensão e alguns milhares

de lugares de pequeníssima dimensão, dispostos ao longo de uma extensa teia viária, nacional,

municipal e adjacente. A acentuada dispersão dos assentamentos urbanos, das unidades industriais

e do comércio a retalho aparece estruturado pelos cursos de água e por uma extensa rede viária.

A produção de um território onde a dispersão é nota dominante, só se poderá compreender a

partir de um modelo historicamente construído e que é explicável pelas vicissitudes de uma indústria,

que surgiu na continuidade de um artesanato ligado ao linho, disseminado pelas explorações agrícolas

(Costa e Gonçalves, 2002).

Esta dispersão das atividades económicas e da população acabou por se espraiar por um

contínuo, sem que se possa distinguir o “urbano” e o “rural”. Segundo Domingues (2013), uma

“cidade continuada”, como aquela a que se desenha o Vale do Ave, é cada vez mais a imagem da

conurbação, forma e processo bem mais complexos que a metáfora simples da “mancha de óleo”

que vai alastrando por manchas concêntricas e manchas contíguas até encontrar outras, coalescendo

então até formar uma “megapolis”. No noroeste de Portugal, a conurbação prossegue a par e passo

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com a dupla metamorfose do urbano e do rural, numa matriz geográfica que herdou do passado

longínquo a lógica do povoamento denso e disperso e a escala miúdo do minifúndio.

Analisando o mapa (Figura 4), individualizam as principais áreas industriais, destacando-se

manchas de contíguos urbanizados. Este rendilhado de zonas industriais continua a ser o suporte

fundamental do emprego e da capacidade de fixação de população. O reforço do setor terciário nas

sedes de concelho, é outro pilar desta economia/território.

A urbanização difusa é indissociável da industrialização do Ave, no século XIX ligada à indústria

linífera, que se desenvolve numa matriz rural densamente povoada, desenvolvendo uma localização

dispersa, junto as linhas de água. Mais recentemente, a diversificação da fileira para jusante (confeção

Fig. 4 Conurbação do Vale do Ave por Domingues (2011)

Fonte: Domingues (2011)

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e vestuário) e as próprias mudanças tecnológicas dos segmentos de fiação, tecelagem e acabamentos,

recentraram a difusão da localização industrial para junto dos principais eixos viários (Domingues,

1996). Na figura 5 verifica-se que nos concelhos de Guimarães e Vizela, as principais concentrações

industriais se fazem, grosso modo, ao longo dos principais eixos viários: autoestradas, rodovias e

ferrovias, assim como ao longo da principal rede hidrográfica.

Fig. 5 Localização das principais concentrações industriais

Fonte: PROAVE, Guia de Localização Industrial para novos investimentos (1991:13)

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O caminho-de-ferro, os cursos de água e a progressiva densificação da rede viária foram

permitindo e catalisando um padrão difuso de industrialização assim desenvolvido (Domingues e Sá

Marques, 1987).

Segundo Alves (2003), acompanhando as características de povoamento disperso da região,

as fábricas disseminaram-se pelo Vale do Ave devido a múltiplos fatores de localização:

1) Os cursos de água necessários ao aproveitamento das energias hidráulicas e a outras

operações industriais;

2) As novas vias de comunicação, que entretanto foram surgindo, facilitando o acesso aos

mercados de aprovisionamento e de distribuição;

3) A existência de potencial humano ainda não aproveitado no mercado industrial;

4) As disponibilidades domésticas de espaço coberto ou para construção apropriada à

funcionalidade fabril.

Segundo Sá Marques (1987:8), a acentuada dispersão dos aglomerados urbanos e das

unidades industriais configura um «contínuo urbanizado». Este caracterizando-se por uma expressão

espacial de contornos imprecisos, onde a maioria das indústrias se dispersa e a população vive “entre

cidades” (Domingues, 1996).

A urbanização difusa é o resultado de um crescimento industrial extensivo, processo baseado

na quantidade de trabalho e na duração da jornada de trabalho (Reis, 1987), bem como o fraco

potencial do setor terciário.

É possível identificar um conjunto de fatores principais que explicam a formação deste modelo

territorial: em primeiro lugar a fragmentação da propriedade da terra permite o desenvolvimento

espontâneo de áreas mistas para uso residencial e industrial, cabendo à iniciativa individual o comando

do processo de urbanização. Em segundo lugar, o tipo de relações interempresariais, ao favorecer a

proximidade geográfica, acentuam o modelo de urbanização e industrialização difuso, em virtude de

relações de subcontratação entre grandes e pequenas empresas (Sá Marques, 1987). Em terceiro

lugar, as grandes empresas situadas nos principais aglomerados urbanos iniciaram um processo de

deslocalização da atividade em busca de mão-de-obra barata em áreas rurais e pela oportunidade de

valorização do solo industrial que ocupavam na cidade com a mudança de uso. Por último, a

fragmentação da propriedade rural foi permitindo a manutenção da atividade agrícola, a tempo parcial,

como complemento da atividade industrial.

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Se no início do século XX, a dispersão se vinculava nitidamente à produção artesanal

domiciliária, hoje em dia as formas de subcontratação contribuem para a sua manutenção,

funcionando como uma forma dominante de coesão do sistema produtivo local.

Pode considerar-se que o Vale do Ave, apesar de indissociável de uma intensa atividade

industrial, se constitui como área dotada de grande diversidade interna, diversidade essa que lhe

confere unidade identitária: por entre os campos retalhados da região, surgem as grandes indústrias,

fazendo conviver, no mesmo espaço realidades e elementos muito diferenciados e não raras vezes,

complementares (Ferreira, 2014).

Em suma, o modelo territorial do Ave desencadeou uma necessidade de desenvolvimento de

uma política de ordenamento industrial, cuja definição de loteamentos e de zonas industriais se efetua

de modo a solidificar as áreas de elevada densidade de estabelecimentos. Esta política de

ordenamento industrial prende-se com os problemas de poluição hídrica e o esforço de rendibilização

dos recentes investimentos na despoluição do Vale do Ave.

Segundo Domingues (2009), determinadas qualidades paisagísticas herdadas dos padrões

tradicionais do minifúndio, do povoamento disperso, da associação entre parcelas agrícolas e

construção, perdem-se nos critérios genéricos da dicotomia rural/urbano e na opacidade de muitas

categorizações, que na sua aparente objetividade escondem de facto uma diversidade enorme de

escalas, usos, formas, tipologias, morfologias, maior ou menor pressão ou intensidade urbanística

derivada do tipo de função, do uso de energia, de geração de mobilidade, entre outros. Se assim for,

perdem-se velhas qualidades e o que se ganha são apenas fragmentos de supostas racionalidades

que não se sabe a que qualidades atendem.

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Capítulo 4. Os elementos naturais e socioeconómicos como estruturantes

do território

4.1 – Os elementos naturais

O Vale do Ave é o resultado de uma longa e intensa ocupação humana, condicionada por

condições físicas particulares, quer em termos de relevo, quer, especialmente, em termos de clima, e

com especial relevância para os recursos hídricos (Costa, 2008), apresentando-se a rede hidrográfica

como um fator preponderante na localização industrial do território do Vale do Ave, verificando-se uma

distribuição espacial das unidades industriais acompanhando muito de perto o traçado de algumas

linhas de água.

O território do Vale do Ave corresponde quase inteiramente à área da Bacia Hidrográfica do

rio Ave (Figura 6) e dos seus afluentes e atinge o seu ponto mais alto na Serra da Cabreira (concelho

de Vieira do Minho) a 1261 metros de altitude.

Fonte: Atlas do Ambiente e CAOP (2014) Fig. 6 Mapa da Rede Hidrográfica da NUT III – Vale do Ave

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O rio Ave é um elemento preponderante na paisagem, com cerca de 100 km de extensão,

com inúmeros afluentes, recebendo na margem esquerda, em Caniços, ligeiramente a montante de

Santo Tirso, o rio Vizela, sendo este o seu principal afluente. Este apresenta-se como um dos seus

principais tributários, a par do rio Este.

Segundo Ferreira (2014), as áreas drenadas por estes dois rios possuem sistemas

paisagísticos muito contrastados. Segundo o mesmo autor, o rio Vizela, começa o seu percurso a uma

quota superior a 700 metros de altitude, caracterizando-se pela existência de quedas de água e pelo

localização de diversas estruturas industriais, quer nas suas margens, quer nas margens dos seus

principais afluentes (os rios Ferro e Bugio), utilizando a sua água como força motriz; por outro lado, o

rio Este tem as suas cabeceiras a uma quota muito inferior (a cerca de 300 metros de altura),

apresenta um caudal mais lento e espraiado, drenando, por isso, uma área predominantemente

agrícola e fornecendo água, essencialmente, para irrigação.

Dominada, do ponto de vista geológico pelo afloramento de rochas granitoides e algumas

intercalações de rochas metassedimentares, a tectónica desta área está densamente marcada por

duas direções preferenciais: NNE/SSW a NW/SE e NE/SW (Ferreira et al., 1987), que marcam a

definição dos vales estreitos da rede hidrográfica principal (Figura 7).

Desta forma, a rede de drenagem de toda a região é profundamente condicionada pela

tectónica, com os vales escavados ao longo de fraturas, conferindo disposição característica ao

modelado fluvial; só assim se compreende o traçado retilíneo e o paralelismo de certos cursos de

água, e, mesmo, a topografia da região cujas altitudes diminuem, duma maneira geral, de NE e SE

para W (Costa, 2010).

A água assume uma importância assinalável no seio e na identidade do Vale do Ave,

apresentando um caráter complexo como recurso, sendo causa e consequência das caraterísticas que

este foi adquirindo.

Decorrente das características hidrogeológicas deste território resultam as águas sulfurosas

com particularidades terapêuticas das Caldas de Vizela. Os rumores curativos que passavam de boca

em boca faziam com que a procura às Caldas de Vizela aumentasse significativamente, apesar das

condições precárias em termos de equipamentos e higiene disponibilizadas para o usufruto da água.

Com a criação do balneário termal pela Companhia de Banhos de Vizela, em 1873, e com a chegada

do comboio, em 1883, reuniram-se as condições para que este território se tornasse um polo de

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desenvolvimento económico, alicerçado num turismo de procura de bem-estar e qualidade de vida.

Esta imagem reside no imaginário clássico que se desenvolveu sobre este Vizela.

Fonte: CAOP (2013) e Carta Geológica 9B (Guimarães) .

Fig. 7 Geologia do concelho de Vizela

As atividades económicas, assim como a geração do crescimento económico

deste território manteve, desde sempre uma estreita dependência dos recursos

naturais, quer pelo usufruto das águas termais das Caldas de Vizela, quer pela forte

industrialização contígua aos principais cursos de água, t irando partido da força motriz

e da irrigação subjacentes à água.

4.2 – A População

Os primeiros dados relativos à população existentes para Vizela datam de 1706, em que o

Padre António Carvalho Costa, na sua obra Corografia Portuguesa e descrição topográfica do famoso

reino de Portugal, nos dá a conhecer um pouco de Vizela no século XVIII, nomeadamente ao nível da

população. Nas sete freguesias, que vieram a fazer parte do atual concelho, viviam, à data, cerca de

2200 pessoas. O número de fogos cifrava-se em 550.

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Francisco Costa (1964), na sua publicação Ad Perpetuam (edição de autor) menciona que,

em 1821 Vizela possuía 480 fogos e perto de 1500 almas.

A partir do momento em que em Portugal se realizam de modo sistemático recenseamentos

gerais da população, torna-se possível avaliar diacronicamente e notar com mais firmeza a evolução

do comportamento demográfico dos territórios. No que diz respeito à evolução da população da

população residente em Vizela, entre 1890 e 2011, denota-se uma evolução positiva e gradual dos

efetivos populacionais (Figura 8).

No período em análise, devemos considerar que não há dados para algumas freguesias, o

que se condiciona a caraterização da evolução da população do concelho de Vizela. Esta situação

reconhece-se devido a vários motivos: a criação e extinção de freguesias, nomeadamente Santa Eulália

e Vizela (São Paio), e devido ao facto do concelho de Vizela ter sido formado, aquando da sua

independência autárquica, a partir de 3 concelhos, nomeadamente Guimarães, Lousada e Felgueiras.

A freguesia de Santa Eulália só faz parte de Vizela desde a sua elevação a concelho em 1998,

pertencendo anteriormente em ao concelho de Lousada, o que se repercutir num aumento

significativamente da população vizelense aquando da sua agregação.

Entre 1911 e 1920, verifica-se um decréscimo populacional, sendo que essa quebra

demográfica se verifica em todas as freguesias de Vizela. A justificação para esta situação prende-se

com vários fatores, entre os quais, a partida para a Primeira Grande Guerra e a emigração para o

Brasil.

Após este período confirma-se um aumento da população que se justifica pelo aumento da

taxa de natalidade e pela forte mobilidade interna, consequente do importante surto industrial, que faz

Vizela tornar-se num núcleo polarizador, decorrente da bacia de emprego que se gerou pela

multiplicação de unidades fabris que aí iam surgindo.

No período que antecede a elevação de Vizela a concelho (entre 1981 e 1991) verifica-se uma

certa estagnação na evolução da população. Isto pode advir de diversos fatores, tais como uma maior

instabilidade política e social, um assentamento do número de empresas e, consequentemente, a

incapacidade de absorver mais quantidade de mão-de-obra que deixa de se sentir atraída para residir

neste território.

Entre os censos de 1991 e 2001, verifica-se um aumento muito significativo que se prende

com a agregação com a freguesia de Santa Eulália, como referido anteriormente, sendo esta,

atualmente, a segunda freguesia mais populosa do concelho de Vizela.

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Fonte: Dados estatísticos do INE – Recenseamentos Gerais da População .

Fig. 8 População residente no município de Vizela entre 1890 e 2011

Em 2011, em Vizela residiam 23 851 habitantes, sendo, de entre os municípios pertencentes

à NUT III, um dos menos populosos, registando menos de 5% do total de população total do Ave.

No entanto, verificou uma variação populacional positiva, com um aumento de 1098

residentes entre 2001 e 2011 (Quadro 2). O município de Vizela apresenta, também, uma elevada

densidade populacional – 997hab/Km2, quando comparado com os restantes municípios de Vale do

Ave.

Quadro 2 População residente nos municípios da NUT III Ave em 2001 e 2012

2001 2012 Variação VALE DO AVE 511631 497731 -13900 Fafe 52736 50249 -2487 Guimarães 159915 157214 -2701 Póvoa de Lanhoso 22735 21889 -846 Santo Tirso 72562 70992 -1570 Trofa 37808 38843 1035 Vieira do Minho 14614 12719 -1895

Vila Nova de Famalicão 128508 133974 5466 Vizela 22753 23851 1098

A análise demográfica incidiu nos dois últimos momentos censitários, por serem estes os que

se realizaram após a independência de Vizela a Guimarães. No que respeita à evolução da população

residente por municípios do Vale do Ave (Figura 9), verificamos que, Fafe, Guimarães, Póvoa de

0

5000

10000

15000

20000

25000

1890 1900 1911 1920 1930 1940 1950 1960 1970 1981 1991 2001 2011

Fonte: Censos 2011 e Estimativas do INE para 2012

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Lanhoso, Santo Tirso e Viera do Minho apresentaram perdas de população, com especial destaque

para Vieira do Minho ao apresentar uma perda de cerca de 13% da sua população entre 2001 e 2011.

De entre os municípios que registaram acréscimos de população, Vila Nova de Famalicão é aquele

onde se registam valores mais expressivos (5.466 habitantes), seguindo-se-lhe Vizela e Trofa, os mais

recentes municípios criados no seio do Vale do Ave.

Fonte: INE .

Fig. 9 Variação da população residente por município do Vale do Ave entre 2001 e 2011

No que respeita à densidade populacional (hab./km2) por freguesia, do município de Vizela

para o ano de 2011, verifica-se que Caldas de Vizela (São Miguel), Caldas de Vizela (São João), Santa

Eulália e Infias apresentam os valores acima da média do município: 1 388,8 hab./km2, 1 168,2

hab./km2, 1 031 hab./km2 e 989,2 hab./km2, respetivamente.

Por seu turno, as freguesias Vizela (Santo Adrião), Vizela (São Paio) e Tagilde apresentam

densidades populacionais inferiores à média municipal com 657,1 hab./km2, 659,2 hab./km2 e 679,2

hab./km2, respetivamente. Vizela é um concelho pequeno no que respeita à sua área, nomeadamente

no contexto do Vale do Ave, mas apresenta densidades populacionais muito elevadas (Figura 10).

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Fig. 10 Distribuição da densidade populacional das freguesias do Concelho de Vizela (2011)

Analisando a distribuição da densidade populacional nas freguesias do município,

relativamente aos dois últimos momentos censitários, verificamos que as três freguesias com mais

população são Caldas de Vizela (São Miguel), Santa Eulália e Caldas de Vizela (São João), ordenadas

de forma decrescente. Ainda assim, apenas as duas primeiras têm apresentado uma variação

populacional positiva nos últimos anos, tendo um saldo positivo, entre 1991 e 2011, de 1670 e 1330

habitantes, respetivamente, ao passo que Caldas de Vizela (S. João) verifica uma perda de 388 no

espaço temporal de duas décadas, representando uma perda de cerca de 11% da sua população total.

Relativamente às freguesias menos populosas, todas verificaram um acréscimo populacional

entre os anos de 1991 e 2001, embora Vizela (Santo Adrião) tenha apurado entre 2001 e 2011 uma

perda de 180 habitantes. De entre estas freguesias, Tagilde é aquela que mais positivamente se

destaca, com um aumento populacional de 488 indivíduos.

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No que respeita à taxa de crescimento efetivo4 (Quadro 3), Vizela apresenta entre1991 e 2011

uma taxa de crescimento efetivo de 16,1%, sendo que esta é superior na década 1991-2001, porém,

entre 2001 e 2011 apresentou uma desaceleração importante.

Se, por um lado, Tagilde, Santa Eulália, Caldas de Vizela (São Miguel) e Vizela (São Paio)

verificam taxas de crescimento efetivo muito positivas entre 1991 e 2011, acima dos 20%, bem como

Infias que, apesar de apresentar uma taxa de crescimento menos expressivo, é, ainda assim, positiva;

por seu turno, a freguesia de Caldas de Vizela (São João), apresentou uma taxa de crescimento

negativa que se acentuou marcadamente na década correspondente a 2001-2011.

As taxas de crescimento efetivo são mais positivas em Tagilde dada as relações de

proximidade com o concelho de Felgueiras, sendo uma freguesia periférica do concelho de Vizela e de

pequena dimensão, pelo que, um pequeno acréscimo populacional pode repercutir-se numa taxa de

crescimento efetivo bastante significativo; em Caldas de Vizela (São Miguel), a freguesia mais central

do concelho de Vizela e também a mais populosa, tem atraído população, aumentando a taxa de

crescimento efetivo; em Santa Eulália a taxa de crescimento é também muito expressivo, sendo esta

uma freguesia também muito populosa e com muitos jovens.

Caldas de Vizela (São João), por sua vez, apesar de ser a terceira freguesia mais populosa do

concelho de Vizela, apresenta uma taxa de crescimento negativa com bastante expressividade, o que

se pode justificar pela maior ruralidade, nomeadamente a sul, que faz fronteira com Santo Tirso, onde

há grande predomínio das atividades agrícolas e pelo envelhecimento da população residente.

Uma exceção às situações enunciadas é a freguesia de Santo Adrião que, na década

correspondente a 1991-2001 apresenta uma taxa de crescimento efetivo de 15,1% e na década que

se lhe sucede a tendência inverte-se, apresentando uma taxa de crescimento efetivo negativa de -7,6%.

4 A taxa de crescimento efetivo é o crescimento real da população durante um tempo definido, relativamente à população média desse período. É calculada com base na fórmula:

𝑇𝐶𝑒𝑓𝑒𝑡𝑖𝑣𝑜 =𝑃𝑡−𝑃0𝑃𝑡+𝑃0

2

∗ 100, onde P0 é a população no momento considerado inicial e Pt é a população no

momento considerado final.

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Quadro 3 Taxa de crescimento efetivo (%) para as freguesias do concelho de Vizela

Freguesias

Taxa de crescimento efetivo (%)

1991-2001 2001-2011 1991-2011

Caldas de Vizela (São Miguel) 12,3 14,0 26,1

Caldas de Vizela (São João) -2,1 -8,6 -10,8

Santa Eulalia 19,2 7,7 26,8

Vizela (Santo Adrião) 15,2 -7,6 7,7

Infias 5,2 4,2 9,4

Vizela (São Paio) 14,5 7,5 21,9

Tagilde 25,7 4,6 30,2

Vizela (concelho) 12,2 4,9 16,1 Fonte: INE

A Taxa de Crescimento Migratório, dentro da NUT III Ave tem evidenciando uma tendência

negativa. No ano de 2000, todos os municípios, à exceção de Vieira do Minho, apresentavam taxas

positivas. Vizela, no decorrer da década apresentava valores nulos, ou seja, verificava-se um equilíbrio

entre as emigrações e as imigrações, tendo em 2004 verificado Taxa de Crescimento Migratório de

0,06%. Por outro lado, em 2008 e 2012 apresenta taxas negativas, de -0,14% e -0,13%,

respetivamente, verificando um desequilíbrio importante devido à saída mais pronunciada de

habitantes para outros municípios ou para o estrangeiro.

Se atentarmos na caraterização do perfil etário da população portuguesa cronologicamente,

apontamos claramente três grandes padrões de comportamento: a redução da população jovem

(compreendida entre os 0-14 anos ou 0-19 anos), a estabilização da população adulta (entre os 20 e

os 64 anos) e da população que se encontra em idade ativa (entre os 15 e os 64 anos e, por último,

o aumento considerável dos indivíduos com idade igual ou superior aos 65 anos. Verifica-se um

“envelhecimento da base” (Nazareth, 1996: 95), confirmando a entrada na última fase de transição

demográfica, já que reforça os níveis de mortalidade e natalidade reduzidos, assim como é evidente a

perda na proporção de jovens.

Relativamente ao concelho de Vizela (Figura 11), verifica-se que o número de jovens (com

menos de 15 anos) tem apresentado uma diminuição substancial, traduzindo-se na regressão da base

da pirâmide, tendência bem evidente entre 2001 e 2011. Esta situação apresenta uma relação direta

com a redução da Taxa de Bruta de Natalidade de 11,3‰ em 2001 para 7,4‰ em 2011 em Vizela,

seguindo de perto as tendências que Portugal, o Norte e a NUT III Ave apresentaram para o mesmo

período, segundo os dados obtidos a partir do Recenseamentos Gerais da População.

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O estrangulamento da base assim como o empolamento do topo da pirâmide etária são

evidentes em 2011. Esta situação deve-se à combinação do decréscimo da taxa de natalidade

discutida acima, com o índice de envelhecimento (Quadro 4). Segundo o Índice de Envelhecimento de

2001, por cada 100 jovens existiam 40 idosos, tendo, em 2013, verificado quase o dobro desse valor.

Este facto, aliado à diminuição da taxa de mortalidade e ao aumento da esperança média de vida tem

revelado uma estrutura etária envelhecida. Embora estes valores para o concelho sejam preocupantes

e sigam a mesma tendência que as unidades territoriais hierarquicamente superiores, estes são, ainda

assim, muito inferiores.

De entre os municípios do Vale do Ave, são aqueles que ostentam uma génese mais rural que

apresentam também maiores índices de envelhecimento: Vieira do Minho, Santo Tirso, Fafe e Póvoa

de Lanhoso. Ainda que uns apresentem valores mais elevados que outros, todos os municípios

correspondentes à NUT III duplicaram, grosso modo, o índice de envelhecimento, o que não

acompanha a tendência nacional, onde o Índice de Envelhecimento era em 2001 já muito alto, mas

o aumento verificado em 2013 foi menos significativo.

Fonte: INE . Fig. 11 Pirâmides etárias da população residente no concelho de Vizela (2001 e 2011)

1 200 900 600 300 0 300 600 900 1 200

0-4

5-9

10-14

15-19

20-24

25-29

30-34

35-39

40-44

45-49

50-54

55-59

60-64

65-69

70-74

74-79

80-84

>85

Mulheres 2011

Homens 2011

Mulheres 2001

Homens 2001

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69

Em 2001, os grupos etários que concentravam mais população eram os correspondentes ao

intervalo de idades 25 – 34 anos, concentrando 26,6% da população total do concelho. Por outro lado,

verificamos que à data dos últimos censos, os grupos etários correspondentes ao intervalo de idades

35 – 49 anos eram os que apresentavam maior frequência, reunindo 25,4% do total de população do

concelho. Esta análise vem reforçar a noção de que a população vizelense tem manifestamente

envelhecido e que, a longo prazo, perderá população ativa e, consequentemente, mão-de-obra para

trabalhar e, deste modo, garantir a sustentabilidade do Estado Providência.

Apesar de Portugal ter desenvolvido pioneiramente legislação, estabelecendo a

obrigatoriedade de frequência da escolaridade básica, “foi registando, até bem dentro do século XX,

proporções anormalmente elevadas de crianças afastadas do contacto com a escola e um atraso

igualmente muito significativo no acesso da população à instrução básica, média e superior” (Borges

Pereira et al., 2012:44).

Aquando do arranque do processo de industrialização no Ave (fim do século XIX), a taxa de

escolarização da população portuguesa apresentava um grande desfasamento relativamente a alguns

países europeus. Até meados do século XX, esta tendência mantém-se, embora se tenham mantido

esforços aquando da institucionalização da Primeira República para contrariar esta situação. O Estado

Novo reduziu o investimento na instrução das gerações mais jovens, contrariamente à maioria dos

países europeus que, à época apostavam largamente na escolaridade da sua população. Esta situação

fez com que se verificasse uma grande debilidade dos níveis de alfabetização que se verificava em

Quadro 4 Índice de envelhecimento populacional - Portugal, Norte, Ave em 2001 e 2013 (‰)

2001 2013

Portugal 101,6 123,5

Norte 79,4 122,0

NUT III - Ave 60,1 104,8

Fafe 71,0 113,5

Guimarães 52,0 96,6

Póvoa de Lanhoso 74,5 114,7

Santo Tirso 77,4 140,0

Trofa 52,0 97,4

Vieira do Minho 109,8 170,0

Vila Nova de Famalicão 55,9 95,2

Vizela 40,0 77,3 Fonte: PORDATA .

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70

Portugal à entrada da década de 60 do século XX. Esta disposição não foi alheia aos processos de

urbanização e modernização da economia.

Segundo Borges Pereira et al. (2012), só no início da década de 1960 foram criadas condições

para a generalização da escolaridade mínima a todas as crianças portuguesas. Após o regresso do

país à democracia, verifica-se um crescimento acentuado de participação das gerações mais jovens

no sistema de ensino. Em simultâneo, diminui também a proporção de analfabetos, tendo passado

de 40% em 1950 para 9% em 2001. No caso específico do Ave, verifica-se um decréscimo ainda mais

significativo, comparativamente com os valores nacionais, no que respeita à taxa de analfabetismo.

No que respeita à escolaridade da população (Figura 12 e Anexo 1), precedemos à

comparação entre ambos os sexos, segundo o nível de escolaridade, estabelecendo paralelismos entre

Portugal, o Norte, o Ave e Vizela, recorrendo aos dados recolhidos pelo último Recenseamento Geral

da População, em 2011.

No que respeita à população sem nível de escolaridade ou analfabeta evidencia-se uma clara

proeminência das mulheres em Vizela relativamente às restantes unidades territoriais, não sendo tão

evidente no que respeita aos homens. Esta situação reflete uma certa tradição de priorizar a

escolaridade do sexo masculino, negligenciando a formação das mulheres. Isto verifica-se

fundamentalmente nas classes etárias mais idosas.

Relativamente ao Ensino Básico (4º ano, 6º ano e 9º ano) verifica-se em Vizela as mulheres

seguem a tendência nacional, não havendo desfasamentos percentuais assinaláveis, por seu turno,

os homens, apresentam valores superiores comparativamente às proporções nacionais.

Quando analisamos a distribuição da população que frequentam ou possuem o ensino

secundário das U.T. em análise, concluímos que, quer o sexo feminino, quer o masculino, no concelho

de Vizela, apresentam uma divergência percentual negativa relativamente aos valores nacionais de

cerca de 5%.

A população nacional que frequenta ou possuiu o ensino superior (16,4% no sexo feminino e

13,6 no sexo masculino), em 2011, é largamente mais elevado quando comparada com a população

vizelense (12,3% no caso das mulheres e 6,2% no caso dos homens).

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Comparando os valores percentuais relativos à população vizelense com os da NUT III Ave

para o ensino superior, verificamos que Vizela apresenta uma maior proporção de população a

frequentar ou que concluiu o ensino superior.

Assim, verifica-se que, no caso do sexo feminino, em meados do século XX recaía o atraso

das populações perante a escola. Esta situação encontra algum paralelismo com os dias de hoje, uma

vez que ainda são as mulheres, o sexo que, quer no país, quer no Ave, apresentam taxas mais elevadas

de analfabetismo. Por outro lado, ao olharmos para os valores relativos à instrução de nível superior,

verificamos uma inversão do desfavorecimento das mulheres perante a escolaridade, tanto à escala

nacional, regional, bem como no Ave e em todos os seus concelhos. Aquando da generalização do

acesso aos níveis de escolaridade não obrigatória, as raparigas ganharam em Portugal grande

destaque relativamente aos jovens do sexo masculino.

Fonte: INE

Fig. 12 Distribuição da população residente por sexo e nível de escolaridade em 2011 (%) – Portugal, Norte, NUT III Ave e Vizela

0

5

10

15

20

25

30

35

Nenhum nívelde

escolaridade

4ºano 6ºano 9ºano Ensinosecundário

Ensinosuperior

Analfabetoscom 10 ou +

anos

Per

cen

tage

m

Homens

0

5

10

15

20

25

30

35

Nenhum nívelde

escolaridade

4ºano 6ºano 9ºano Ensinosecundário

Ensinosuperior

Analfabetoscom 10 ou +

anos

Per

cen

tage

m

Mulheres

Portugal Norte Ave Vizela

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72

Um outro aspeto importante, segundo o Diagnóstico Social – Plano de Desenvolvimento Social

2010-2015 para Vizela (2010), no que respeita à escolaridade da população vizelense, é o abandono

escolar precoce. Este é um fenómeno persistente no concelho, embora seja cada vez mais evidente

que, na população com menos de 15 anos, ele tende a desaparecer. Esta situação é percetível,

nomeadamente, na redução de casos denunciados à Comissão de Coordenação de Crianças e Jovens

(C.P.C.J.).

4.3 – As Atividades Económicas

A condição da população perante a atividade económica pode ser ativa ou inativa. Por

população ativa entende-se o conjunto de pessoas, com 15 ou mais anos que exercem uma profissão

remunerada ou que estejam desempregados à procura de novo ou do primeiro emprego e, ainda,

aqueles que se encontram a cumprir serviço militar. A população que não detém atividade económica

(inativa) abrange a restante população que trabalha e não é remunerada, como os estudantes ou as

domésticas, mas, também, a população que não trabalha: crianças, incapacitados, reformados ou

outros.

Consideram-se desempregados indivíduos com idade dos 15 anos as 74 anos que, no

período de referência, se encontravam simultaneamente nas seguintes situações:

1) Não tinham trabalho remunerado nem qualquer outro tipo;

2) Tinham procurado ativamente trabalho remunerado ou não ao longo de um período específico

(o período de referência são as três semanas anteriores);

3) Estavam disponíveis para trabalhar num trabalho remunerado ou não.

O dinamismo económico de um dado território se mede pela proporção de população ativa

no total de população residente, nomeadamente através da sua taxa de atividade.

Vizela apresentava em 2001 uma taxa de atividade de 69,6%, valor que desceu

consideravelmente, tendo verificado uma taxa de atividade de 64,17% em 2011. Além do decréscimo

da taxa de atividade, verifica-se ainda uma perda de população empregada e um aumento da

população desempregada no bolo total da população ativa (Figura 13), tendo a proporção de

população desempregada aumentado de 4,9% em 2001 para 13,3% em 2011.

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73

Com atividade económica Sem atividade económica

Fonte: INE

Fig. 13 População residente segundo a condição perante a atividade económica no concelho de Vizela

(2001 e 2011)

Em termos económicos, o Vale do Ave caracteriza-se fortemente pela predominância da

indústria transformadora, que se insere no setor secundário, resultado de um dos mais antigos

processos de industrialização do país. Ao longo do século XX, este processo ganhou uma grande força,

fortalecendo a tradição industrial na região e a sua tradição no setor têxtil. Isto traduz-se num forte

período de especialização de atividade económica.

Segundo Pereira (2010), é notório ao longo deste período o peso do setor secundário na

região, bastante acima do valor médio relativo ao país, num quadro económico marcado pela quebra

contínua da atividade agrícola e pela crescente terciarização da economia, este setor manteve-se como

o principal destino da mão-de-obra, abrangendo em 2001 mais de 74,4% dos ativos no concelho de

Vizela, quase 40% acima do valor médio nacional. Ainda assim, é assinalável o decréscimo da

percentagem do setor secundário em Vizela, entre os anos 2001 e 2011, decaindo para 63%.

Do ponto de vista do mesmo autor, dentro do sector secundário, assume particular relevo a

indústria transformadora, que concentrava em 2001 mais de metade dos ativos no Ave, e que

11752

607

2001

0 1000 2000 3000 4000

Estudante

Doméstica

Reformados

Incapacitados

Outros

10863

1517

2011

0 1000 2000 3000 4000

Estudante

Doméstica

Reformados

Incapacitados

Outros

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74

contribuiu para cerca de 45% da riqueza gerada na região. Assiste-se a uma monoespecialização da

população ativa.

Analisando a variação da população ativa entre os anos 2001 e 2011 por setores de atividade

(Quadro 5), verifica-se que o setor primário adquire fraca expressividade no que respeita à população

ativa no município de Vizela; 1,2% e 0,5%, respetivamente, apresentando um decréscimo entre o

período considerado.

O setor secundário apresenta uma variação negativa. Apesar de preocupante, este valor é

inferior à variação negativa que o Ave verificou de população ativa a laborar no setor secundário. Esta

situação deve-se, em muito, ao declínio das indústrias têxtil e do vestuário, que, perante a capacidade

de competir com a abertura dos mercados abrem falência e coloca uma significativa fatia de população

em situação de desemprego. Esta situação é de tal forma gravosa que, muitas vezes, esta situação

prolonga-se indefinidamente, votando estas pessoas em situações de desemprego e longa duração.

O setor terciário é o único a apresentar variação positiva, apresentado um aumento de 38,5%

da população ativa, sendo Vizela o concelho de entre os pertencentes à NUT III Ave, o que apresenta

uma maior variação, entre o período considerado, de ativos a trabalhar neste setor.

Avaliando a distribuição da população ativa por setor de atividade entre os anos de 2001 e

2011, tanto a nível nacional como no Norte, no Vale do Ave e no concelho de Vizela, é o setor terciário

o único que verifica aumento de percentagem de população ativa. Tem muito mais representatividade

a nível nacional, correspondendo a 70,5% da população do país em 2011, do que no caso de estudo

– o concelho de Vizela, onde representava, em 2011, cerca de 40% da população ativa.

O setor primário era em 2001 o setor económico menos representativo, tendo verificado

decréscimos em todas as U.T. em análise.

No que respeita ao setor secundário, este é o que tem maior representatividade no Vale do

Ave e, mais evidentemente no concelho de Vizela, onde, em 2001, 74,4% da população ativa laborava,

tendo decrescido e, em 2011, havia perdido cerca de 10% da população a trabalhar no setor. Há uma

grande diferença entre a representatividade do setor secundário entre o Vale do Ave e Portugal, onde

o setor secundário, apesar de ter verificado uma diminuição considerável que, em 2011, apenas 26,5%

da população nacional trabalhava no setor secundário.

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Economistas como J. Silva Costa e M. Rui Silva (1994) vislumbram na aglomeração têxtil do

Vale do Ave características dos “sistemas produtivos locais relativamente monoespecializados” e

apontam a predominância de um modelo empresarial assente na “iniciativa do empresário indivíduo”,

que se desenvolve numa atmosfera industrial específica derivada da concentração de empresas de

um mesmo setor em determinadas áreas, como é o caso do têxtil. Aqui se geraram sinergias e

aprendizagens empíricas ao aparecimento endógeno de novas empresas e de novos empresários,

originando uma difusão da inovação e uma geração de bacias de empregos.

Segundo Sá Marques (1988), o peso da tradição no ramo industrial e a ausência de formação

profissional fazem com que a dinâmica industrial se traduza na multiplicação de pequenas empresas

dependentes de experiencias profissionais anteriores e sujeitas à forte concorrência horizontal.

Segundo a autora, a integração neste tecido produtivo difuso, composto, sobretudo, de empesas

“mãe” e empresas subcontratadas, no qual as últimas dominam mas as primeiras controlam o tecido

industrial, e onde o recurso à economia oculta não se encontra ausente, processa-se, principalmente

através de sistemas de subcontratação.

O Vale do Ave apresentou desde sempre uma industrialização monoespecializada em

atividades fortemente sujeitas à concorrência de economias emergentes – segmentos produtivos

intensivos de mão-de-obra (especialmente confeção) e, por outro lado, aos países com economias

mais consolidadas em segmentos intensivos em capital (a indústria têxtil) acabam por determinar a

instabilidade deste segmento económico.

O facto de ter assente os fatores concorrenciais nos custos mais baixos da mão-de-obra, assim

como no fraco investimento em inovação e na formação de técnicos especializados denuncia a

fragilidade desta indústria que acabou por sucumbir à abertura da economia portuguesa aos mercados

externos.

Quadro 5 Distribuição da população ativa por setor de atividade em % em 2001 e 2011

Primário Secundário Terciário 2001 2011 2001 2011 2001 2011

Portugal 5,0 3,1 35,1 26,5 59.9 70,5 Norte 4,8 2,9 45,8 35,5 49,5 61,6

Vale do Ave 2,0 1,2 63,4 50,1 34,6 48,6 Vizela 1,2 0,5 74,4 63,0 24,4 36,6

Fonte: PORDATA

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76

Nos últimos anos, no Vale do Ave tem-se assistido, muito por consequência da crise nacional,

a um fenómeno de desemprego acentuado nos fatores de atividade económica tradicionais,

nomeadamente nas indústrias têxtil e do vestuário.

A vulnerabilidade da economia local pode explicar-se pela utilização intensiva de mão-de-obra

em atividades de baixo valor acrescentado que se associa às dificuldades de adaptação a novas

realidades profissionais decorrentes do baixo nível de escolaridade.

As caraterísticas da estrutura produtiva, bem como o perfil classicista do Vale do Ave sugere

estarmos perante um território que apresenta um encastelamento de vulnerabilidades de vária ordem.

Pelo que, à medida que se foi intensificando a pressão competitiva dos mercados globais sobre o setor

têxtil, com especial destaque para a quase monoespecialização do Ave, a crise fez-se sentir e instalou-

se na região.

Na atualidade, o concelho de Vizela tem vindo a apresentar níveis de desemprego

preocupantes, acima da média nacional, embora bem perto da realidade na NUT III Ave. Entre 2001

e 2011, Vizela viu aumentar a sua taxa de desemprego em 9,45%, sendo essa subida mais expressiva

no que respeita ao sexo feminino (Quadro 6).

Quadro 6 Taxa de desemprego total por sexo nos concelhos da NUT III Ave em 2001 e 2011

Fonte: PORDATA . .

Total Masculino Feminino

2001 2011 Dif.* 2001 2011 Dif. 2001 2011 Dif.

Ave 5,6 15,1 9,50 4,8 13,6 8,8 6,4 16,8 10,4

Fafe 6,5 14,8 8,30 6,2 14,1 7,9 6,9 15,6 8,7

Guimarães 5,3 14,3 9,00 4,9 13,4 8,5 5,7 15,1 9,4

Póvoa de Lanhoso 4,5 13,2 8,70 3,5 12,1 8,7 6,2 14,5 6,3

Santo Tirso 6,7 17,4 10,70 5,3 15,4 10,1 8,2 19,4 11,2

Trofa 4,4 16,8 12,40 3,7 12,9 9,2 5,4 21,2 15,8

Vieira do Minho 9,2 16,3 7,10 5,5 14 8,5 15,6 16,4 3,8

Vila Nova de Famalicão

5,2 14,9 9,70 4,6 13 8,4 6 17 11

Vizela 4,9 14,3 9,45 4,7 13,7 9 5,2 15 9,8

* Diferença percentual entre os anos de 2001 e 2011

Num contexto de desemprego jovem, muitas vezes altamente qualificado, e de desemprego

de população em idade ativa, mas considerada pelos empregadores, demasiado velhos para exercer

funções, é conveniente analisar a taxa de desemprego por grupos etários (Quadro 7).

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Os grupos etários dos 15 aos 24 anos e os compreendidos entre os 45 e 64 anos de idade

apresentam, no concelho de Vizela, entre 2001 e 2011 um aumento de taxa de desemprego superior

a 10 pontos percentuais.

Embora este fenómeno seja expressivo para ambos os conjuntos, ele tem explicações

distintas. A população mais jovem, qualificada, muitas vezes com formação superior, apresenta um

aumento da taxa de desemprego assente numa maior especialização e instrução da mão-de-obra, que

um mercado baseado na produção de bens de baixo valor acrescentado não é capaz de absorver. A

população ativa mais velha (entre os 45 e os 64 anos) resultam da falência de grande parte do tecido

produtivo que, aliado à falta de oportunidades de emprego e menor produtividade que as pessoas

mais velhas são capazes de gerar, se encontram numa situação de desemprego que é, muitas vezes,

de difícil solução.

Quadro 7 Taxa de desemprego por grupos etários (NUT III – Ave e município de Vizela) para os anos

de 2001 e 2011 (%)

Grupos etários

15 – 24 25 – 34 35 – 44 45 – 54 55 – 64 65 e +

Ave 2001 6,7 4,0 4,4 6,8 11,5 0,7

2011 21,6 11,1 11,5 17,1 25,8 0,3

Vizela 2001 4,4 3,3 3,6 7,5 14,7 1,6

2011 15,4 9,8 10,0 19,1 29,1 0,0 Fonte: PORDATA

Nos últimos dez anos, o aumento do desemprego que, sobre o signo da “crise”, tem registado

no nosso país encontrou correspondência num reforço assinalável da enfâse colocada na importância

do investimento no conjunto das medidas que habitualmente se associam às chamadas “políticas

ativas de formação e emprego” (Queirós, 2012), de modo a tentar dar resposta a uma necessidade

de reforçar a competitividade da economia nacional, através da sua modernização. Segundo Borges

et al. (2012), não surpreende que à medida que se foi intensificando a pressão competitiva dos

mercados globais sobre a fileira têxtil, que no Médio Ave adquiriu um estatuto de quase monoindústria,

a “crise”, enquanto impasse objetivo e operador de sentido, se tenha instalado na região.

Embora se tenha verificado um aumento significativo no empenho da formação e qualificação

da população ativa, colocam-se muitas dúvidas quanto à capacidade de encontrar correspondência no

perfil das estruturas produtivas do Vale do Ave.

A análise dos principais indicadores permite-nos localizar o Ave como uma região com uma

configuração demográfica particular, podendo aferir certas especificidades que importam destacar.

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Globalmente o Ave apesenta um reconhecido processo de consolidação do período demográfico

“moderno”.

Analisando a composição etária da região, podemos verificar que a subida lenta da

população idosa foi sendo acompanhada por uma progressiva redução da população jovem. Ainda

assim, em peso da fecundidade, dos fluxos migratórios e das taxas de natalidade, assiste-se a uma

forte persistência de uma população jovem, quando comparada com a realidade nacional. O

envelhecimento da população, bem como a redução da taxa de natalidade não deixam de ser

preocupantes, não garantindo o índice de renovação de gerações, nem assegurando uma estrutura

etária da população equilibrada, de modo a dar resposta às necessidades da sociedade.

Relativamente às atividades económicas, verifica-se que há uma clara predominância, no

concelho de Vizela, do setor secundário que se prende com a evidente ligação que se estabelece entre

o território do Vale do Ave e da indústria. O setor terciário tenho ganho terreno face ao secundário, e

isto pode associar-se à decadência da indústria têxtil, o que faz com que os trabalhadores

desempregados procurem empregos noutras áreas.

O desemprego apresenta-se à atual situação do Vale do Ave e, especificamente do caso de

Vizela como um flagelo há muito anunciado, resultante de uma monoespecialização, de uma fraca

aposta na formação da mão-de-obra.

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Parte III – Caso de Estudo

_________________________________________________

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81

Capítulo 5 - As práticas ambientais e relação dos vizelenses com o rio Vizela

Os efeitos acumulados de uma sociedade amplamente apoiada no crescimento económico e

no progresso científico e tecnológico parecem ter confluído numa profunda crise ambiental que põe

em causa os modos de vida próprios da modernidade, bem como evidencia uma necessidade

premente de uma maior consciência ambiental decorrente da progressiva degradação. Esta

consciencialização prende-se com múltiplas e diferenciadas visões, sensibilidades e interesses,

impondo-se como uma construção social.

5.1 – Aspetos metodológicos

5.1.1 O inquérito

Foi nosso propósito analisar as práticas ambientais vizelenses, assim como a sua relação com

o rio Vizela, através da aplicação de um inquérito por questionário realizado entre os meses de Março

e Maio do ano de 2014.

Relativamente ao inquérito, procedeu-se a um cuidadoso trabalho de afinação do instrumento

utilizado – o questionário-, de modo a dotá-lo não só dos necessários compromissos de eficiência e

clareza, dimensão de abrangência de temas afetos à investigação, mas também tentar aproximá-lo de

outros questionários desenvolvidos no âmbito das atitudes e práticas ambientais, anteriormente

aplicados, como é o caso do Inquérito Nacional às Representações e Práticas dos Portugueses sobre

o Ambiente do OBSERVA e um outro estudo levado a cabo pelo Instituto de Ciências Sociais (ICS) em

colaboração com o International Social Survey Programme (ISSP) da Universidade de Lisboa

Neste exercício, a interação entre o território e as suas representações são essenciais.

Procurou-se uma visão holística da paisagem, integrada e apoiada em vários aspetos. Esta abordagem

sobre o território requer uma grande base referencial, de dados, de análises, de registos, de

“As sociedades humanas sempre se pensaram a si próprias e

aos seus problemas. O modo como pensam sempre interferiu,

de maneiras diversas, com o que elas fazem e sempre fez

parte das suas caraterísticas próprias daquilo que elas vão

sendo, daquilo em que se vão transformando.”

João Ferreira de Almeida (2000:1)

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82

documentos e de levantamentos. Mesmo assim, todos esses são escassos para satisfazer as respostas

que pretendemos aferir. Neste sentido, a experiência pessoal, in loco, assume-se como um elemento

fundamental na tentativa de descodificação das nuances impressas sobre o território.

O questionário usado como fonte primária na presente investigação foi aplicado a 120

indivíduos de ambos os sexos, com mais de 15 anos de idade, sem descriminação relativamente à

escolaridade ou status social.

A amostra foi selecionada em todas as freguesias do município de Vizela, tentando assegurar,

tanto quanto possível, a representatividade da opinião de todos os munícipes, com uma margem de

erro,α, de aproximadamente, 0,5%, o que não garante que os resultados obtidos se possam

extrapolar a toda a população do concelho de Vizela.

Não havendo estudos para o Vale do Ave e, concretamente sobre problemática da poluição

da sua rede hidrográfica quanto à perceção dos seus residentes, foi desenvolvido um esforço

importante no ajustamento das questões. Isto fez com que não nos restasse tempo suficiente para a

recolha de uma amostra maior e, consequentemente, mais representativa. Não obstante,

conseguimos aferir desfechos importantes no que respeita aos comportamentos e atitudes preditivos

daquilo que serão os comportamentos futuros dos vizelenses em matéria ambiental.

Para o efeito não tivemos por base a nova reorganização administrativa territorial autárquica,

aprovada pela lei nº22/2012 de 30 de Maio. Consideramos que, ao optar pela nova reorganização,

isto constituiria uma maior generalização da informação, bem como uma menor compatibilidade com

informação recolhida em entidades oficiais, tais como o INE ou o PORDATA.

A amostragem foi aleatória simples, em que todos os indivíduos da população tiveram a

mesma possibilidade de serem selecionados. O universo foi a população residente no concelho de

Vizela com 15 ou mais anos de idade, tendo-se procedido à agregação dos indivíduos por escalões

etários: 15-24 anos; 24-49 anos; 50-64 anos e 65 e mais anos. Procedeu-se ainda ao agrupamento

de dados em função do sexo, do estado civil, da condição perante o trabalho, da naturalidade ou da

freguesia de residência. Pelo cruzamento das caraterísticas da amostra permitiu uma mais fácil leitura

e tratamento dos dados, bem como o estabelecimento de padrões de comportamento em detrimento

das características em análise.

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83

O tratamento dos dados recolhidos foi realizado através do software IBM SPSS® que nos

permitiu estabelecer valores estatísticos descritivos para cada uma das respostas, bem como cruzar

dados que consideramos pertinentes de caraterísticas dos inquiridos.

De modo a aferir o maior ou menor grau de significância dos cruzamentos que realizamos,

foram utilizados métodos de inferência estatística, através da análise de dados bivariada, como a

variância e o teste do qui-quadrado para as frequências amostrais.

O pré-teste foi realizado no dia 17 de Abril de 2014 na Rua da Porteladinha, na freguesia de

Caldas de Vizela (São João), entre as 14:30 e as 17:00 horas. A realização do pré-teste serviu para

aperfeiçoar o questionário de modo a torná-lo percetível e compreensível pela população, bem como

para corrigir pequenos lapsos que não haviam sido detetado anteriormente.

Pretendemos, com recurso aos resultados obtidos e que aqui documentamos, saber mais

acerca o que pensam os vizelenses sobre as questões ambientais, nomeadamente a poluição do rio

Vizela e de que forma a sua relação com o rio se assume como causa e consequência das suas

práticas.

O inquérito dividiu-se em quatro partes (Anexo 2). A primeira correspondeu à caracterização

social do inquirido, a segunda parte é relativa às atitudes dos vizelenses relativamente à relação

ambiente/desenvolvimento; face à ciência; às preocupações ambientais e ao grau de confiança que

detêm em determinados grupos para receber informação acerca das causas de poluição.

Nesta parte as perguntas versaram sobre o grau de concordância sobre algumas atitudes

relativamente às questões ambientais, variando entre “Concordo totalmente” e “Discordo totalmente”,

numa escala de 4 possibilidades. Não foi aberta a hipótese “Nem concordo nem discordo”, de modo

a “compelir” os inquiridos a definir uma atitude positiva ou negativa em relação às questões

formuladas.

A terceira parte é relativa à forma como as práticas ambientais e de cidadania dos

vizelenses se refletem nas suas intenções (disposição para pagar preços e impostos mais elevados

pela proteção ambiental); bem como na sua participação em ações de caráter ambiental.

A última parte diz respeito à aferição da perceção pública dos problemas do concelho

de Vizela pelos seus habitantes através das ações de carater municipal em que assumiram um papel

ativo; atitudes perante as decisões de caráter ambiental; preocupação com o estado do rio Vizela

quando do predomínio da indústria têxtil; preocupações com o ambiente atualmente e da sua opinião

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84

acerca das alterações que a independência de Vizela face a Guimarães imprimiu nas práticas

ambientais.

A aplicação do inquérito foi feita em todas as freguesias que constituem o município de Vizela:

Caldas de Vizela (São Miguel), Caldas de Vizela (São João), Santa Eulália, Vizela (Santo Adrião), Infias,

Vizela (São Paio) e Tagilde. Pretendemos aquando da recolha da amostra manter proporcionalidade

entre o número de inquiridos e os habitantes de cada freguesia. Ainda assim, isso não foi fácil de

conseguir porque, tratando-se de uma amostragem aleatória simples, não pudemos garantir uma

proporcionalidade direta entre estes dois fatores.

Pretendeu-se a construção de um questionário simples, de fácil resposta por qualquer pessoa,

independentemente das suas habilitações académicas, onde a formulação de questões foi orientada

para a busca de uma melhor compreensão da matéria em análise.

Embora tenhamos adotado esta metodologia de trabalho, muitas críticas podem apontar-se-lhe,

que se prendem com a impossibilidade de medir quantitativamente atitudes e níveis de conhecimento,

considerando que os métodos quantitativos extensivos não têm em conta as especificidades locais.

5.1.2 Características da amostra

IDADE

Relativamente à idade, procedemos à divisão dos inquiridos mediante os grupos etários: 15-

24 anos; 25-49 anos; 50-64 anos e 65 e mais anos. O grupo etário que apresenta maior

representatividade é o relativo ao intervalo de idades 25-49 anos (33,3% dos inquiridos), seguindo-se

o grupo etário respetivo aos 15-24 anos. Os grupos com menos representatividade são os

correspondentes aos inquiridos com mais idade; 50-64 anos e 65 ou mais anos (Figura 14).

Fig. 14 Distribuição dos inquiridos por grupos etários

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85

SEXO

No que respeita à distribuição da amostra por sexo, verifica-se um grande equilíbrio, tendo-se

verificado 59 pessoas do sexo feminino e 61 do sexo masculino. (Figura 15).

Fig. 15 Distribuição dos inquiridos por sexo (%)

ESTADO CIVIL

A maioria dos inquiridos são solteiros, correspondendo a 44,2% da amostra, verificando-se um

equilíbrio com a porção de inquiridos casados (42,5%)5. Temos ainda 5,8% a viver em união de facto,

4,2% divorciados e 3,3% viúvos (Figura 16).

Fig. 16 Distribuição dos inquiridos por estado civil

HABILITAÇÕES ACADÉMICAS

Relativamente às habilitações académicas (Figura 17), verificamos que 25% dos inquiridos

concluiu o ensino secundário, que encontra paralelismo com os inquiridos que concluíram o ensino

5 Procedeu-se à distinção entre relacionamento de “facto” ou de “direito”.

Feminino

Masculino

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86

superior (22,5%), sem que se tenha distinguido entre os vários ciclos deste. Dos restantes, os que

frequentaram ou possuem o 3º ciclo do ensino básico (9º ano) rondam 21%, 15% concluíram o

primeiro ciclo do ensino básico (antiga 4ª classe) de cerca de 12% concluíram o 2º ciclo do ensino

básico. Verificamos que a percentagem referente à ausência de escolaridade é de 4,2%, sendo este

um valor muito baixo, ou seja, 48,4% dos inquiridos concluíram ou frequentaram o ensino básico.

Fig. 17 Distribuição dos inquiridos por habilitações académicas

SITUAÇÃO SOCIOPROFISSIONAL

Cerca de 38% dos inquiridos desenvolvia atividade profissional aquando da realização do

questionário. A população estudantil representa 27% dos inquiridos, e os reformados 18%. Verifica-se

uma grande predominância da percentagem de inquiridos em situação de desemprego – cerca de

16%. A condição de doméstico(a) é pouco significativo – apenas representa 1,7% da amostra (Figura

18).

Fig. 18 Distribuição dos inquiridos por condição perante o trabalho

Estudante

Doméstico(a)

Desempregado(a)

Empregado(a)

Reformado(a)

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NATURALIDADE

No que respeita à naturalidade, a esmagadora maioria dos inquiridos é natural de Vizela

(58,3%). Guimarães é, seguidamente, a naturalidade mais representada, com cerca de 19% dos

inquiridos. Santo Tirso e Lousada tem ainda alguma representatividade, entre os 5 e os 10%.

A justificação para a forte preponderância da naturalidade dos inquiridos ser Guimarães

prende-se com o facto de, à data de nascimento, os pais poderem escolher como naturalidade a

freguesia e o concelho de residência habitual da mãe ou a freguesia ou concelho da maternidade onde

se deu o nascimento. A maternidade correspondente à área de Vizela situa-se no concelho de Guimarães.

FREGUESIA DE RESIDÊNCIA

No que respeita à freguesia de residência dos inquiridos verifica-se que mais 20% destes

residem na freguesia de Caldas de Vizela (S. Miguel), sendo esta a freguesia do município de Vizela

que apresenta um maior número de residentes (7.222 residentes à data dos últimos censos). Caldas

de Vizela (S. João) tem também grande representatividade da amostra - 15,5%, embora seja Santa

Eulália, segundo os Censos 2011, a segunda freguesia com mais população no município de Vizela.

De Vizela (Santo Adrião) foram inquiridos 20 indivíduos (16,7% do espaço amostral), de Infias 15

pessoas, de Vizela (São Paio), 11 pessoas e, finalmente, 8 pessoas de Tagilde, sendo esta a freguesia

menos representada neste estudo (Figura 19).

Fig. 19 Distribuição dos inquiridos pela freguesia de residência

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5.2 Análise de resultados

Importa-nos averiguar a consciência que os vizelenses desenvolveram sobre a importância do

ambiente, bem como a peso da relação que este estabelece com o crescimento da economia,

inserindo necessariamente esta perceção em contextos sociais e económicos particulares que

evidentemente a manipulam.

No nosso caso de estudo, estas nuances sociais ganham ainda mais visibilidade. Vizela em

particular, mas inserido num contexto mais amplo e com uma complexidade condizente, apresenta

um contexto de degradação ambiental muito particular. É evidente uma relação de ampla adjacência

entre a degradação ambiental e o crescimento económico deste território.

5.2.1 Atitudes ambientais

A noção de “atitudes ambientais” não apresenta tradição no seu desenvolvimento concetual,

sendo utilizado de forma dispersa e, normalmente, de forma meramente descritiva. É mobilizada, por

exemplo, em estudos sobre temas como o interesse relativamente a problemas ambientais, a simpatia

pelo movimento ambientalista, a participação em ações ambientalistas, a tomada de posição numa

questão local, ou o posicionamento em escalas de preocupação com o ambiente (Dunlap, 1975;

Brasier, 1995; Bord, 1997).

Entender como se interligam predisposições, atitudes e participação em ações de preservação

ambiental no desencadear de uma sociedade mais ativa e participativa deve fazer-se em função de

diferentes perspetivas como as habilitações académicas, a idade, ou o género. Diferentes

caraterísticas podem ser indicadores de comportamentos díspares. Esta é uma tarefa analítica com

vista a aferir os contornos da mobilização e consciência ambiental dos vizelenses.

AMBIENTE E DESENVOLVIMENTO

Duas questões aplicadas no inquérito encontram-se diretamente relacionadas com a

dicotomia que se estabelece entre ambiente e desenvolvimento. Deste modo, avalia-se o grau de

concordância manifestados às afirmações “O progresso económico abrandará se não se

cuidar do ambiente” e “O crescimento económico prejudica sempre o ambiente” (Figura

20). Pretendemos aferir a consciência que os vizelenses manifestam relativamente à subestimação

dos recursos ambientais relativamente ao crescimento económico.

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Fig. 20 Concordância relativamente à relação ambiente - desenvolvimento

Verificamos que os vizelenses apresentam uma maior concordância relativamente ao facto do

se verificar um abrandamento no crescimento económico caso não se cuide do ambiente, sendo que

93% dos inquiridos concordam ou concordam totalmente com esta afirmação.

Relativamente ao facto do crescimento económico prejudicar sempre o ambiente, apesar de

se verificarem níveis de concordância consideráveis, apenas 9,2% dos inquiridos concordam

totalmente, ainda que cerca de 58% da amostra diga concordar, verificando-se uma maior relutância

relativamente a esta questão. Isto expressa-se fundamentalmente nos 33% de inquiridos que dizem

discordar ou discordar totalmente desta afirmação.

Validamos a noção de que a relação ambiente e desenvolvimento dos vizelenses se encontra

fortemente vincada pela noção de uma necessidade eminente de se cuidar do ambiente em prol do

progresso económico. Esta posição marcada deve relacionar-se com o facto de os vizelenses terem

vivenciado muito de perto uma relação ambígua entre progresso económico e degradação ambiental,

que de certo modo, legitima a sua preocupação relativamente a esta questão. Verifica-se assim, uma

necessidade expressa, pelos vizelenses, de uma maior aposta numa articulação inevitável entre

crescimento económico e ambiente.

Relativamente à maior renitência relativamente ao facto de que o crescimento económico

prejudicar sempre o ambiente, esta prende-se com um despertar para a possibilidade da integração

do crescimento económico com a proteção ambiental. O afastamento da população de uma atividade

tão nefasta para o ambiente como a indústria têxtil e o consequente aumento da consciencialização

desses efeitos, alertou a população para a necessidade de procurar atividades económicas que

estabeleçam conexões mais próximas e de complementaridade com o ambiente. Ainda que, muitas

vezes, essas relações não se consubstanciem num maior respeito pelo ambiente, as pessoas

desenvolveram a noção de que há essa possibilidade.

O crescimento ecómico prejudica sempre oambiente

O progresso ecómico abrandará se não se cuidardo ambiente

Concordo totalmente Concordo Discordo Discordo totalmente Ns/Nr

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Consideramos que seria importante termos a possibilidade de estabelecer uma comparação

cronológica no que refere a estas questões, comparando as atitudes dos vizelenses durante o período

áureo da indústria no Vale do Ave, servindo de sustento económico a muitas famílias, e as que

manifestam agora, no decorrer da crise económica e social, que fez encerrar muitas destas indústrias

e forçar uma reestruturação económica da sociedade em torno de outras atividades,

fundamentalmente em torno do setor terciário.

ATITUDES FACE À CIÊNCIA

A ciência, a técnica e crescente aposta na tecnologia apresentam-se como as principais causas

dos riscos ambientais, mas, comitativamente, alguns dos meios mais eficazes de os definir, localizar,

e de os tentar neutralizar, avançando com soluções. A ciência e a tecnologia têm, neste sentido, uma

valência híbrida perante as questões ambientais, o que envolve a sua ação numa certa dualidade e

vem justificar a pertinência de auscultar o que a população vizelense pensa e sente em relação a esta

problemática.

No sentido de tentar avaliar as atitudes dos vizelenses face à ciência formulamos três

afirmações e pedimos que nos indicassem o grau de concordância face às mesmas (Figura 21).

Fig. 21 Atitudes face à ciência e a tecnologia

Relativamente à afirmação “A tecnologia resolverá os problemas ambientais

alterando um pouco o nosso estilo de vida” verificamos que cerca de 44% dos inquiridos

concordam ou concordam totalmente, sendo que cerca de 55,8% dos mesmos discordam ou

discordam totalmente. Verificamos que são raras as posições extremas relativamente a esta questão.

Grosso modo, os inquiridos dizem “concordar” ou “discordar”.

Confio mais na ciência do que na fé para aresolução dos problemas

De uma forma geral, a tecnologia causa maisprejuízos do que benefícios.

A tecnologia resolverá os problemas ambientaisalterando um pouco o nosso estilo de vida

Concordo totalmente Concordo Discordo Discordo totalmente Ns/Nr

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Aquando da realização dos inquéritos à população, muitas pessoas iam mencionando que a

tecnologia poderia ajudar a resolver os problemas ambientais, uma vez que sem acesso às inovações

tecnológicas, não havia como tratar os resíduos industriais que eram imediatamente lançados para os

cursos de água ou para depósitos de armazenamento, sem qualquer tipo de tratamento.

É difícil para as pessoas definirem uma posição muito marcada relativamente a esta questão.

As pessoas desenvolveram a consciência de que a tecnologia, do mesmo modo que veio trazer

soluções importantes para os problemas ambientais, desenvolveram, igualmente, medo face ao

desconhecido, o receio inerente às consequências do uso de tecnologia de que não têm pleno

conhecimento.

Tendo em consideração as diferentes relações que os diversos grupos etários em análise

mantêm com a tecnologia, consideramos pertinente avaliar de que modo é que a idade dos inquiridos

se relaciona com o grau de concordância relativamente à questão formulada (Figura 22).

Fig. 22 Relação de concordância "A tecnologia resolverá os problemas ambientais alterando um pouco o nosso estilo de vida" segundo o grupo etário

Os jovens apresentam uma melhor relação com a tecnologia, olhando para esta como uma

fonte de soluções para os problemas ambientais, denotando também uma maior inconsciência para

os problemas despoletados por esta. Por sua vez, são os mais velhos são aqueles que apresentam

uma maior relutância relativamente ao papel apaziguador da tecnologia nos problemas ambientais.

Os inquiridos mais idosos apresentam uma maior consciência dos problemas resultantes dos avanços

0%

10%

20%

30%

40%

50%

60%

70%

80%

90%

100%

15 - 24 anos 25 - 49 anos 50 - 64 anos 65 e mais anos

%

Concordo Totalmente Concordo Discordo Discordo Totalmente

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92

tecnológicos, mas também um maior afastamento e, como tal, um maior desconhecimento face a

estes, o que se traduz num medo daquilo que consideram não dominar.

No que respeita à asserção “De uma forma geral, a tecnologia causa mais prejuízos

que benefícios” verifica-se uma grande concordância com esta discussão, em que cerca de 12% da

população diz “concordar totalmente” e mais de 40% concorda. Como já foi referido, Vizela viu, de há

uns anos a esta parte, a sua história marcadamente relacionada com a aposta tecnológica.

Primeiramente ela permitiu a instalação de empresas e a geração de emprego, que foi vista como

uma mais-valia. Posteriormente, e com intensificação da industrialização, os vizelenses verificaram

que ela acarretou, além dos benefícios económicos, uma degradação ambiental sem precedentes que

tem exigido mais esforço do que o esperado para a ver solucionada, ou, pelo menos, mitigada, esta

questão.

Aquando da abertura da economia ao mercado global verificou-se uma grande incapacidade

da população face à adaptação a tecnologias mais eficazes e competitivas, decorrente da falta de

escolarização e formação. Esta situação gerou uma incompatibilidade entre o plano social e a

tecnologia que, por outro lado, também veio substituir muitos postos de trabalho e gerou ainda mais

desemprego. Analisando os vários prismas da relação que os vizelenses estabelecem com a

tecnologia, facilmente se entende a desarmonia de respostas relativamente a esta questão, bem como

a dispersão de atitudes face à ciência.

Estabelecendo paralelismos com os dados obtidos pelo inquérito aplicado em Portugal através

do ISSP, verificamos que os resultados são condizentes, isto é, tanto à escala nacional como concelhia,

as pessoas concordam com o facto de a tecnologia causar mais prejuízos que benefícios,

manifestando uma posição de afastamento e desconfiança face aos benefícios inerentes à utilização

da tecnologia.

Uma questão que nos importou avaliar prende-se com a relação que vizelenses estabelecem

com a ciência ou a tecnologia e a fé para a resolução dos seus problemas. Relativamente à questão

“Confio mais na ciência que na fé para a resolução de problemas”, cerca de 44% dos

inquiridos dizem discordar ou discordar totalmente, contra cerca de 64%, que concorda ou concorda

totalmente. Sendo esta uma sociedade marcadamente religiosa, verificamos que a fé no divino se

apresenta como uma compensação emocional e uma necessidade de algo mais do que o meramente

material em momentos de dificuldade. Ainda assim, não é muito díspar a parte da amostra que se

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evidencia mais afeta à fé daquela que confia mais na ciência. Verificou-se uma discrepância pouco

significativa, de onde se deve assinalar a manifestação de uma grande confiança na ciência por parte

de muitos dos inquiridos, nomeadamente entre os inquiridos com maior grau de instrução (Figura 23).

Quando comparados os dados obtidos com os relativos ao inquérito aplicado pelo ISSP, que

analisou a concordância dos portugueses face à afirmação “Confiamos demasiado na ciência e não o

suficiente na fé e nos sentimentos”, verificamos que 50,2% da amostra recolhida pelo estudo

comparativo diz concordar com a afirmação, isto é, cerca de metade da amostra recolhida exprime

uma certa insegurança relativamente à confiança que a sociedade atual deposita na ciência,

considerando que se devia confiar mais na fé e na força divina para a resolução dos problemas. Nas

respostas obtidas ao inquérito aplicado em Vizela verificamos que as opiniões não são tão marcadas,

distribuindo-se mais unanimemente pela confiança que mantêm na ciência e na fé.

Fig. 23 Relação de concordância entre “Confio mais na ciência que na fé para a resolução de

problemas” e habilitações académicas

Quando analisamos o grau de concordância relativamente à afirmação “Confio mais na ciência

que na fé para a resolução de problemas”, verificamos quanto mais elevado nível de instrução (Ensino

Secundário e Ensino Superior), mais evidente é a confiança que os indivíduos detêm na ciência e na

técnica para a resolução dos problemas. Por outro lado, pessoas com graus inferiores de habilitações

académicas depositam mais a sua confiança na fé quando se trata da resolução dos problemas.

0%

10%

20%

30%

40%

50%

60%

70%

80%

90%

100%

Semescolaridade

Ensino básico(4ª classe)

Ensino Básico(6º ano)

Ensino Básico(9º ano)

EnsinoSecundário

Ensino Superior

%

Concordo totalmente Concordo Discordo Discordo totalmente Não sabe/ Não responde

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94

Uma maior proximidade ao mundo académico e à produção científica por parte dos indivíduos

instiga ao desenvolvimento de uma maior confiança na tecnologia no que respeita ao auxílio na

resolução dos problemas.

PREOCUPAÇÕES AMBIENTAIS

Na opinião de Soromenho- Marques (2004:254), “as preocupações ambientais nasceram sob

o signo de uma interpretação redutora, (...) essencialmente conservacionista: tratava-se de preservar,

face às ameaças predatórias da ação humana, determinados valores naturais, da fauna e da flora,

que de outra forma estariam ameaçados de extinção”.

Podem estabelecer-se paralelismos entre a evolução do pensamento relativamente às

questões ambientais a nível nacional e o que se verificou em Vizela. O nosso estudo de caso apresenta

algumas particularidades importantes, nomeadamente, devido à expressão que a indústria e os

problemas ambientais decorrentes desta – poluição hídrica – trouxeram a este território. Isto refletiu-

se, invariavelmente, na perceção que os vizelenses têm do ambiente, nas suas atitudes e nas práticas

que mantêm. Importa-nos aferir se a relação que os vizelenses observam com o ambiente e os

problemas que este apresenta se mantiveram inalteráveis ou se apresentam uma evolução decorrente

dos múltiplos fatores que adiante analisaremos.

De modo a aferirmos os valores e preocupações ambientais dos vizelenses inquirimo-los

relativamente à concordância que manifestam relativamente a três discussões (Figura 24).

A análise deste grupo de questões, ao contrário do que se verifica com as anteriormente

analisadas, revelam posições mais marcadas, evidenciando um posicionamento mais homogéneo da

amostra recolhida no que respeita.

Fig. 24 Preocupações ambientais

Tudo o que fazemos prejudica o ambiente

A proteção do ambiente devia ser uma prioridadenacional

As preocupações com as ameaças ambientais sãomuitas vezes exageradas

Concordo totalmente Concordo Discordo Discordo totalmente Ns/Nr

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Relativamente ao facto de as “preocupações com as ameaças ambientais serem

exageradas”, verifica-se uma predominância de inquiridos que discordam ou discordam totalmente

(cerca 78% da amostra), isto é, grande parte dos inquiridos manifesta que os desassossegos com os

assuntos ambientais não são exagerados, tendo uma porção significativa dos inquiridos manifestado

que estes deviam ser ainda mais evidentes e traduzirem-se em políticas efetivas de melhoria do

ambiente.

Comparados os resultados obtidos para Vizela com os recolhidos a nível nacional pelo ISSP

em 2004, as disparidades são evidentes. Os resultados do estudo comparativo mostram que 47% dos

inquiridos acham que os dados são empolgados e as preocupações com as ameaças ambientais são

exageradas. Para o estudo de caso de Vizela, apenas cerca de 12% dos inquiridos mantêm essa

expectação. Esta situação pode prender-se com a evidente conotação pesada e próxima do que são

os problemas ambientais para a população vizelense, uma vez que alguns são vividos bem de perto,

diariamente. Neste sentido, o Vale do Ave tem até uma conotação muito marcada no que respeita aos

problemas de poluição hídrica, que define largamente a imagem que o país desenvolveu deste

território.

Avaliando a dispersão de respostas por sexo, idade e grau de escolaridade não foi possível

identificar padrões marcantes entre estas variáveis e as respostas obtidas à questão em análise. Estas

dependerão maioritariamente da criticidade que cada individuo desenvolve da capacidade de filtro

relativamente à informação que lhe chega.

Na avaliação dos resultados da concordância dos inquiridos relativamente ao facto de “A

preocupação com o ambiente devia ser uma prioridade nacional” verificamos que há uma

maior conformidade nas respostas. Cerca de 89% dos inquiridos dizem “concordar” ou “concordar

totalmente”. Verifica-se uma consciência comum que devia o ambiente ser, de entre as questões

prioritárias nacionais, uma a considerar.

“Tudo o que fazemos prejudica o ambiente”. Cerca de 62% discorda, referindo que

podemos muitas vezes desenvolver esforços no sentido de minorar ou até mesmo mitigar a

degradação ambiental inerente às nossas atividades. Esta consciência prende-se com a larga difusão

das ideias de sustentabilidade, da difusão das mesmas através de programas educativos, da ação

difusora dos media, bem como do papel dos grupos ambientalistas.

Ainda assim, há, no inquérito por nós aplicado, um número assinável de inquiridos que dizem

concordar com esta afirmação. Podemos ainda verificar que a grande maioria dos inquiridos dizem

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“concordar” ou “discordar”, isto é, não assume, relativamente a esta questão, uma posição muito

marcada, sendo muitas vezes, relutantes nas respostas dadas, denotando posições pouco marcadas

ou indecisas.

Ao cruzar as respostas obtidas pelos grupos etários a que correspondem os inquiridos (Figura

25), verificamos que há uma correspondência bastante evidente entre a idade dos inquiridos e a

posição que mantêm relativamente à afirmação “Tudo o que fazemos prejudica o ambiente”. São os

grupos etários mais jovens (dos 15 aos 24 anos e dos 25 aos 49 anos) que manifestam maior

discordância. Isto pode explicar-se por um maior acesso a educação ambiental e uma maior

consciencialização para práticas mais amigas do ambiente como é o caso da separação e reciclagem

dos resíduos domésticos, a racionalização do uso da água e o despertar para a necessidade de uma

maior intervenção nas decisões de caráter ambiental. Por seu turno, os grupos etários que

correspondem a idades mais avançadas evidenciam uma maior concordância com esta afirmação,

apresentando um maior alarmismo relativamente aos problemas ambientais.

Fig. 25 Grau de concordância com “Tudo o que fazemos prejudica o ambiente” segundo o grupo etário

CONFIANÇA NAS FONTES DE INFORMAÇÃO

O conhecimento ambiental que as pessoas adquirem tende a influenciar largamente as

atitudes e práticas de cada um. Ainda assim, a informação que muitas vezes chega às pessoas não é

fidedigna, seja por ser manipulada em função de interesses e objetivos, seja pelo défice de

conhecimento e investigação sobre os temas.

0%

10%

20%

30%

40%

50%

60%

70%

80%

90%

100%

15 - 24 anos 25 - 49 anos 50 - 64 anos 65 e mais anos

Concordo totalmente Concordo Discordo

Discordo totalmente Não sabe/ Não responde

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As pessoas são expostas a muitas fontes de informação além das proveniências científicas e

técnicas e são capazes de assimilar e ponderar informação de diferentes origens, o que enriquece o

conhecimento adquirido pelos cidadãos relativamente a problemas relacionados com a questão

ambiental.

Hoje em dia, a causa ambiental e a necessidade de proteger recursos naturais impõem-se de

forma cada vez mais partilhada para o que, em grande parte, tem contribuído a ação dos movimentos

ambientalistas e o poder difusão dos media. Estes têm potenciado uma visibilidade sem precedentes

às situações de rutura ecológica.

Inquirimos os vizelenses acerca do grau de confiança que mantinham relativamente a cinco

grupos: empresas e indústrias, grupos ambientalistas, jornais, rádio e televisão e serviços

governamentais para receber informação correta acerca das causas de poluição (quadro 8).

Verificamos que são os grupos ambientalistas aqueles que recolhem o maior grau de

confiança para obter informação. Paradoxalmente, é também este o grupo que apresenta maior

percentagem de respostas inconclusivas.

Alguns dos inquiridos refeririam não ter conhecimento das atividades desenvolvidas por estes

grupos ou sobre a veracidade das informações emitidas por estes. Reside ainda uma certa controvérsia

no que respeita a estes grupos, acusado muitas vezes de demasiado alarmismo.

Por seu turno, são as empresas e indústrias em que os vizelenses menos confiam para obter

informação acerca das causas de poluição. Aquando da recolha de dados no terreno, os inquiridos

manifestaram descrédito em relação à informação emitida por este grupo, uma vez que, segundo eles,

esta pode ser manipulada em função dos seus interesses. Apesar das respostas não denotarem um

Quadro 8 Grau de confiança nas fontes de informação (%)

Abso

luta

co

nfia

nça

Bas

tant

e C

onfia

nça

Algu

ma

Con

fianç

a

Nen

hum

a C

onfia

nça

Ns/

Nr

Empresas e indústrias 0,8 12,5 53,3 30,8 2,5

Grupos ambientalistas 35,8 49,2 6,7 2,5 5,8

Jornais 5 66,7 27,5 0,8 0

Rádio e televisão 3,3 52,5 40,8 3,3 0

Serviços governamentais 2,5 26,7 55 15 0,8

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98

grau de confiança tão negativamente drástico em relação aos serviços governamentais, apenas cerca

de 30% dizem ter absoluta ou bastante confiança nos serviços governamentais. Este descrédito face

à ação do estado no sentido de gerar informação credível acerca das causas de poluição pode ter uma

relação direta com a descredibilização da ação estatal em muitos outros domínios decorrentes da crise

económica e social que Portugal vive atualmente.

5.2.2 Práticas ambientais e cidadania

Entender como se conectam predisposições, atitudes e participação em ações de preservação

ambiental no desencadear de uma sociedade civil mais ativa e entusiasta e como esses

desenvolvimentos poderão relacionar-se com a evolução da mobilização ambiental é um trabalho

analítico que se impõe realizar de modo a aferir os contornos de mobilização ambiental no seio da

população residente em Vizela.

Anteriormente verificamos que as preocupações ambientais são amplamente manifestadas

pela sociedade vizelense. Importa agora aferir de que modo estas inquietações exprimidas se

consubstanciam em práticas de defesa do ambiente e participação pública. Será sobre a afinidade

que se institui entre as atitudes e práticas ambientais que seguidamente nos iremos forcar.

INTENÇÕES

Perante a situação económica fragilizada que os portugueses manifestam atualmente,

nomeadamente no Vale do Ave onde o problema do desemprego é ainda mais flagrante, é importante

tentar aferir de que modo é que isso se reflete na sua disponibilidade para contribuir para a causa

ambiental.

Como se constata pelos dados obtidos manifestos na figura 26, a percentagem daqueles que

aceitariam sem reservas o aumento dos preços ou o aumento dos impostos em detrimento da

proteção ambiental é nula em ambos os casos. Mostrando-se bastante disponíveis, 28,3%

concordariam com o aumento dos preços, sendo em número menos expressivo aqueles que

concordariam com um eventual aumento dos impostos.

Relativamente àqueles que recusam de forma mais ou menos vincada esta ideia de sacrifício

pelo ambiente, os valores aumentam significativamente: 72.5% relativamente ao aumento de impostos

e 65% no que respeita ao aumento dos preços.

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Fig. 26 Práticas ambientais: ambiente e cidadania

Embora se verifique uma fraca predisposição dos vizelenses face à disponibilidade para pagar

preços ou impostos mais elevados, é assinalável que, ainda assim, a amostra revelou maior disposição

para suportar um aumento dos preços que aumento dos impostos, considerando que já lhes são

cobrados demasiados impostos e seria difícil suportar uma maior carga fiscal.

Comparativamente, os resultados obtidos pelo inquérito aplicado pelo ISSP verificam que

aqueles que aceitariam sem reservas aumentos dos preços, aumento dos preços e redução do nível

de vida para protegerem o ambiente é residual. A percentagem dos que mostram grande

disponibilidade é cerca de 15%, enquanto os indecisos se situam entre os 20 e 24%. Os valores

aumentam significativamente entre as categorias que, de forma mais ou menos vincada, esta ideia de

sacrífico pelo ambiente.

Se se começam a evidenciar a consciência de uma degradação ambiental, uma boa parte

destes parece ainda pouco predisposta a aceitar sacrifícios que possam travar esse processo. Isto

verifica-se tanto ao nível nacional como, especificamente no município de Vizela.

PARTICIPAÇÃO PÚBLICA

Em matéria de participação pública e cidadania, os resultados não são tão animadores,

verificando-se uma grande passividade, quer no geral, quer no que toca especificamente a matérias

ambientais. Esta passividade não é condizente com o interesse manifestado pelos cidadãos em

exprimir opiniões sobre as questões ambientais, mesmo que estas não lhes digam diretamente

respeito.

No II Inquérito Nacional às Representações e Práticas dos Portugueses sobre o ambiente, os

resultados obtidos indicam, de forma recorrente, níveis reduzidos de mobilização participativa dos

cidadãos nas decisões coletivas para além do patamar mínimo do quadro democrático atual. As ações

mais frequentes detetadas no inquérito são aquelas que apontam para formas de participação de tipo

Estaria disposto a pagar preços mais elevados parapreços para proteger o ambiente

Estaria disposto a pagar impostos mais elevados paraproteger o ambiente

Concordo totalmente Concordo Discordo Discordo totalmente Ns/Nr

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100

mais passivo, assentes essencialmente nas práticas mais tradicionais de exercício democrático que

não envolvem custos ou exigências relevantes à iniciativa individual.

Esta aparente contradição entre a forte vontade de participar e os fracos índices de

participação efetiva é recorrente em inquéritos aplicados a outras escalas de análise, nomeadamente

a nível nacional e europeu. Dizem os especialistas e comprovam estudos e inquéritos levados a cabo

à escala europeia (e.g. European Social Survey, 2002/2003) que a sociedade portuguesa mantém

sinais claros de um forte défice de participação cívica, seja do ponto de vista da militância cívica, seja

na própria ação política de intervenção mais direta.

Ainda assim, os cidadãos não são os únicos responsáveis na falta de participação na vida

coletiva e nas decisões da administração pública, sendo especialmente evidente o enraizamento das

dificuldades de interação entre administração e cidadãos, nomeadamente a resistência remanescente

dos serviços do Estado (sejam centrais, sejam locais) em disponibilizar informação e enveredar

decisivamente por práticas de decisão mais transparentes que se coadunem com imperativos de boa

“governança” (Schmidt e Guerra, 2006).

Os resultados obtidos no inquérito por nós aplicado, constantes no quadro 9 são elucidativos,

também eles, de uma tradição pouco interventiva da sociedade vizelense em matéria ambiental.

Quadro 9 Participação dos vizelenses em questões ambientais (%)

Sim Não NS/NR

É membro de algum grupo ambientalista? 5 95 0

Já deu dinheiro algum grupo ambientalista? 19,2 78,3 2,5

Já assinou alguma petição sobre uma questão ambiental? 45,8 52,5 1,7 Já participou em alguma manifestação sobre uma questão ambiental? 4,2 95 0,8

Apenas 5% dos inquiridos são membros de um grupo ambientalista e a situação não melhora

quando questionados sobre a sua participação em alguma manifestação relacionada com alguma

questão ambiental. Relativamente ao facto de terem ajudado monetariamente algum grupo

ambientalista, o valor é mais animador: 19,2% da amostra diz já ter contribuído.

No que respeita ao facto de terem assinado ou não alguma petição, esta é a questão que

recebe mais respostas afirmativas: cerca de 46% da amostra. Ao aferirmos junto dos inquiridos em

que circunstâncias assinaram ou costumam assinar este tipo de petições, uma quantidade significativa

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101

menciona que o faz através da internet. Dada facilidade de acesso a este tipo de petições e o cada

vez maior acesso generalizado à internet faz com que esta seja a prática ambiental que recolhe, de

entre a amostra, maior participação. Dado o maior acesso e familiaridade da população mais jovem

com o acesso às novas tecnologias, verificou-se que são os grupos etários mais jovens que mais

assinam petições relacionadas com os problemas ambientais (Figura 27). Fazem-no, maioritariamente

através de plataformas online disponíveis para o efeito. Neste sentido, o amplo uso das redes sociais

surte também um efeito positivo uma maior difusão das causas ambientais que mais facilmente

chegam a públicos que, de outra forma, se manteriam mais apáticos e distantes destas temáticas.

Fig. 27 Assinatura de petições ambientais segundo os grupos etários (%)

Do mesmo modo que a população vizelense se mostra pouco interventiva, 60% dos inquiridos

diz “discordar” da afirmação “É difícil para uma pessoa como eu fazer alguma coisa pelo

ambiente” (Figura 28), ou seja, a maioria da população inquirida considera-se capaz de fazer algo

pelo ambiente, considerando que pode ter um papel ativo no que respeita a uma melhoria da

degradação ambiental. Alguns dos inquiridos enumeram o facto de fazerem reciclagem dos resíduos

domésticos, poupar água no banho ou lavar os dentes. Estas são as contribuições para a melhoria

ambiental que a maior parte dos inquiridos enumera.

0%

10%

20%

30%

40%

50%

60%

70%

80%

90%

100%

15 - 24 anos 25 - 49 anos 50 - 64 anos 65 e mais anos

Sim Não Não sabe/ não responde

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102

Fig. 28 Concordância relativamente à afirmação "É difícil para uma pessoa como eu fazer alguma coisa

pelo ambiente"

5.2.3 Perceção dos problemas ambientais no concelho de Vizela

Os cidadãos, em contacto direto com os problemas, desenvolvem visões e consciências

diferenciadas e mais amplas das dos técnicos. Estas constituem mais-valias na avaliação dos

problemas e na concretização de soluções, pelo que não devem ser negligenciadas.

A sociedade pode assim sentir-se mais integrada nos problemas a resolver e constituam

fontes concretas de soluções. Permite uma melhoria da qualidade de vida das pessoas, pois as

soluções encontradas vão mais ao encontro das suas necessidades, bem como aumenta a

legitimidade das decisões ambientais e permite um melhor acompanhamento da implementação dos

processos.

Se por um lado, algumas sociedades se mantêm extremamente atentas aos seus direitos de

participação, outras nem tanto. A participação pelo público em decisões tomadas pelo governo central

ou local ou por privados, relacionados com o bem-estar da sociedade ou individual, não constituiu

evidentemente, prática comum em todas as comunidades. É útil atentarmos no modo como os

cidadãos manifestam as suas preferências e os meios que existem para ajudar a compreender as

questões fundamentais e formular as suas opiniões.

Questionamos os inquiridos relativamente em que ações de âmbito municipal participaram

(Figura 29). Verificamos que 74% dos inquiridos não participaram em nenhuma das ações

Concordo Totalmente

Concordo

Discordo

Discordo Totalmente

NS/NR

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enumeradas nem sugeriram outras. Cerca de um terço, nomeadamente de entre os inquiridos mais

velhos, participou na luta pela elevação de Vizela a concelho. De entre as causa que mobilizaram nas

últimas décadas os vizelenses, esta foi a que mais se destacou e a que mais envolveu a população.

A discussão do Plano Diretor Municipal que se encontra em vigor desde Janeiro de 2013 foi

a segunda ação mais participada relativamente às ações de âmbito municipal. O PDM é um

instrumento de planeamento territorial, de âmbito municipal que estabelece as políticas urbanas

municipais. Como a sua consulta pública foi realizada no centro da cidade de Vizela, durante um

período alargado de tempo, despertou a curiosidade das pessoas, ainda que não tenhamos procedido

à aferição de possíveis reclamações, observações e sugestões, bem como os pedidos de

esclarecimento que foram feitos por parte dos inquiridos.

Fig. 19 Participação em ações de caráter municipal (%)

A grande maioria da população envolveu-se ativamente nesta causa, tendo-se associada a elas

algumas elites políticas e culturais. Em 1964 foi constituído o Movimento para a Restauração do

Concelho de Vizela (M.R.C.V.), tendo como objetivo liderar a luta pela independência de Vizela. Na

mesma altura foi apresentada pela sétima vez, no século XX, um pedido para a criação do município.

Os anos 80 do século XX foram tempestuosos, marcados por confrontos com a Guarda

Nacional Republicana (G.N.R.), devido a uma certa intransigência por parte de alguma população e

agentes, bem como o boicote às eleições autárquicas de 1982.

Não participei

Luta para elevação de Vizela aconcelho

Discussão do Plano de DiretorMunicipal (PDM)

Assembleia Municipal

Em várias

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Na década de 90, com a eleição do Partido Socialista nas eleições legislativas de 1995

conjeturam-se, novamente, uma solução para esta situação. Ainda assim, o Partido Socialista falhou

o compromisso que anteriormente havia arrogado e chumba a proposta de Vizela passar à categoria

de Cidade.

A ascensão de Vizela a Cidade e a Sede de Município (Figura 30), desejo de longa data, trouxe

à globalidade da população um novo ânimo e vontade de acreditar no futuro, fazendo acreditar num

crescimento económico sustentado e numa qualidade de vida livre da subordinação ao concelho de

Guimarães, com quem, desde há muito tempo mantinha más relações. O periódico jornal local

Notícias de Vizela foi um importante impulsionador desta luta, acompanhando-a de perto, constituindo

uma fonte documental deste período da história de Vizela irrefutável.

A luta pela elevação a concelho prendeu-se largamente com a necessidade expressa dos

vizelenses em se autonomizar face a Guimarães. Assentou em pretensões de primazia política e

administrativa que se viram legitimadas pelo franco crescimento económico que Vizela verificara.

PARTICIPAÇÃO NAS DECISÕES DE CARÁTER AMBIENTAL

Em matéria de participação nas decisões de caráter ambiental, verificamos que 60% dos

inquiridos afirmam que “devemos participar nas decisões mesmo que não nos afetem diretamente”,

27% e 20% da amostra afirma que “Só aqueles que são afetados pela decisão em causa devem

Fig. 30 Manifestação dos vizelenses aquando da elevação de Vizela a concelho, Lisboa

Fonte: Pinto, 1998, pp.. 4

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105

participar” e “As decisões devem ser deixadas apenas aos órgãos de soberania, que têm autoridade

e competência nesta matéria, respetivamente (Figura 31).

Verificamos que os vizelenses revelam a aceitação das ideias ambientalistas, defendendo a

participação da sociedade nas decisões de caráter ambiental, mesmo que estas não lhes digam

diretamente respeito. Ainda assim, estes resultados não são condizentes com as suas práticas. Isto é,

apesar de considerarem pertinente e adequado que a sociedade se mobilize e participe nas questões

ambientais, analisou-se acima uma muito fraca mobilização da sociedade vizelense no que respeita à

participação em ações de caráter municipal ou às suas atitudes face à proteção ambiental.

Fig. 31 Posição relativamente à participação em matérias de caráter ambiental

PREOCUPAÇÕES COM O ESTADO DO RIO VIZELA

A indústria têxtil afirmou-se como o principal motor de desenvolvimento do concelho de Vizela,

tendo gerado inúmeros problemas ambientais decorrentes da sua atividade, nomeadamente no que

respeita aos recursos hídricos que foram amplamente afetados pelas descargas de efluentes,

apresentando uma degradação evidente. O manifesto crescimento económico que o território

verificava e o aumento do poder de compra das suas populações faziam ou não esquecer

os problemas decorrentes desse crescimento? Procuramos então entender qual a consciência

que as pessoas tinham sobre as preocupações com o rio Vizela (Figura 32).

Avaliando as respostas dos inquiridos, mais de metade destas apontam no sentido de as

pessoas se preocuparem, mas como o desenvolvimento económico era mais importante, o estado do

Devemos participar nas decisõesmesmo que não nos afetemdiretamente

Só aqueles que são afetados peladecisão em causa devemparticipar

As decisões devem ser deixadasapenas aos órgãos de soberania,que tem autoridade ecompetência nesta matéria

NS/NR

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curso de água era negligenciado. Contudo, verifica-se que 30% da amostra aponta para uma total

ausência de preocupação com as descargas provenientes das indústrias para o rio. Apenas 15% dos

inquiridos manifestam que à época, “os vizelenses viam o estado do rio como um problema ambiental

grave”. Com isto podemos inferir que a população suportava um certo “sentimento de culpa” pela

degradação do rio Vizela com o qual haviam mantido, anteriormente, aquando do predomínio rural e

nos tempos áureos da Vizela termal, relações de proximidade e de complementaridade. Todavia, o

desejo de desenvolvimento económico que legitimasse as pretensões de independência administrativa

de Vizela face a Guimarães e que se traduzisse na melhoria da qualidade de vida das pessoas,

adquiriam um papel central.

Fig. 32 Preocupação com o estado do rio Vizela aquando do predomínio do têxtil

De modo a estabelecermos uma correspondência entre a opinião entre as opiniões expressas

através da aplicação do inquérito, fizemos uma revisão das edições do “Notícias de Vizela”.

Verificamos que, apesar de saírem com alguma regularidade notícias, crónicas e reportagens

acerca do estado do rio Vizela que denotam preocupação e que debatem possíveis soluções, esse

desassossego adquire uma certa sazonalidade, isto é, em alturas do ano em que se verificavam na

vila e, posteriormente, cidade de Vizela, efemérides que captavam mais a atenção dos leitores, as

preocupações ambientais ficavam relegadas para um segundo plano.

Em Setembro de 1990, o “Notícias de Vizela” (Anexo 3) desenvolveu uma série de entrevistas

a pessoas que consideravam pertinentes ouvir acerca dos problemas relacionados com o rio Vizela.

O diretor do SMAS (Serviços Municipalizados de Água e Saneamento), o Eng .º. Vítor Ferreira,

relata a fraca capacidade do SMAS no que respeita a um maior controlo das entidades poluidoras,

Não havia preocupação com asdescargas provenientes dasindústrias para o rio

As pessoas manifestavampreocupação, mas odesenvolvimento económicoera mais importante

Os vizelenses viam o estado dedegradação do rio Vizela comoum problema ambeintal grave

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devido à fraca capacidade de intervenção, à escassez de meios financeiros e de autoridade política.

Embora algumas empresas possuíssem já estações de tratamento de águas, a maior parte destas

desligam o sistema grande parte do tempo, isto é, “faziam a estação para se licenciarem, mas depois

para não gastarem na manutenção desligam a estação a maior parte do tempo”, relatou Vítor Ferreira

ao NV. Quando questionado sobre se a Câmara Municipal vinha recebido queixas relativas à poluição

das águas provocadas pelas indústrias, o diretor do SMAS à data refere que “de uma forma geral não.

O facto é que quando o rio vai colorido, a poluição é tão óbvia que ninguém pensa sequer em queixar-

se”. Isto demonstra uma certa sensação de impunidade das empresas que poluíam o rio, decorrente

das suas atividades, daí desenvolverem até uma certa indiferença relativamente a este problema

gritante que atingia todos os cidadãos, de um modo mais ou menos direto.

Por sua vez, Manuel Ferreira, antigo presidente da Câmara Municipal de Guimarães e vereador

da mesma e, à data da entrevista, administrador e delegado da Associação de Municípios do Vale do

Ave que ressalva que “se vai ganhando, finalmente, a consciência que representa, para o futuro da

Humanidade, os aspetos ambientais, ecológicos e sobretudo, o que representa a água para a vida do

homem sobre a terra”. À data iniciavam-se esforços para despoluição do rio Ave e dos seus afluentes.

Manuel Ferreira acreditava que com a entrada em funcionamento das ETAR (previstas para Dezembro

de 1993), “o rio Vizela, o Selho e o Ave voltariam a ter água limpa. Os rios voltariam a ser um elemento

importante para o desenvolvimento das comunidades”.

Em Agosto do mesmo ano, o NV auscultou o que os autarcas, os industriais e os vizelenses

pensavam acerca do estado de degradação sem precedentes que o rio Vizela apresentava. Dinis Costa,

à data, presidente da Junta de Freguesia de São Miguel, quando questionado acerca das medidas que

estariam a ser tomadas para o combate à poluição, refere que estas se prendem com “alerta a todas

as entidades competentes” perante a ausência de poder para as tomar de outro tipo, segundo o

próprio. O autarca entende, tal como havia referido também o Eng.º. Vítor Ferreira, a despoluição é

“um problema de âmbito governamental”, acrescentando que “o Governo nada faz contra esta

situação pois em quase todos os países da CEE para se construírem fábricas, têm primeiro de construir

ETARs”.

No que respeita à visão da indústria sobre a questão da poluição do rio, Domingos Vaz Pinheiro

afirma que “não há dúvida que nós [indústria] poluímos. Mas poluímos como poluiu o cidadão

comum”. Denota a nas suas afirmações uma preocupação com a qualidade de vida dos cidadãos,

referindo que “não queremos pensar só no trabalho das pessoas, pois temos que lhe dar condições

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108

de trabalho e condições de vida”. A empresa que liderava [Timalhas], estaria já a desenvolver estudos

para a implementação da sua própria ETAR, contudo, fatores de ponderação fizeram a empresa ter

de reequacionar as soluções encontradas. Os custos económicos decorrentes da construção da ETAR

apresentavam-se como um grande impedimento, como refere o industrial: “isso ficava-nos por 80.000

contos, fora os custos de manutenção que seriam de cerca de 1.000 contos/ano”. A incerteza face à

comparticipação do estado fez a empresa ter receio do investimento avultado que a construção da

ETAR significa.

Apesar dos vizelenses nem sempre se demonstrarem preocupados com o estado do rio,

verificam-se manifestações a considerar como a que se mostra a figura 33, um cartaz anónimo que

denuncia o problema da poluição do rio Vizela, apelidando de “criminosos” os responsáveis pela

situação degradante em que o rio se encontrava.

Fonte: Notícias de Vizela, 03 de Agosto de 1990 . Fig. 33 Cartaz anónimo exposto aos olhos da opinião pública no lugar da Ponte de Velha

Convém ainda aferir se a preocupação com a degradação dos recursos hídricos se mantem

deficitária atualmente ou se os vizelenses consideram que há uma consciência comum da necessidade

de um ambiente mais saudável (Figura 34).

Das respostas obtidas verificamos que, à semelhança dos resultados obtidos relativamente à

questão analisada anteriormente, mais de metade da amostra tem uma posição prevenida

relativamente à resposta que dá, isto é, consideram que os vizelenses manifestam alguma

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preocupação com o estado do rio, denotando que, apesar de algumas inquietações relativamente ao

estado do curso de água, muito mais haveria a fazer. Porém, cerca de metade dos inquiridos divide-

se entre uma perspetiva marcadamente positiva relativamente às preocupações dos vizelenses com o

estado do rio e aqueles que têm uma visão negativa das relações que atualmente se estabelecem

entre as pessoas e o curso de água. Ainda assim, a porção de inquiridos com uma perspetiva positiva

é substancialmente maior que os que mantêm uma perspetiva negativa da relação Ser Humano –

Ambiente.

Fig. 34 Preocupação dos vizelenses com os recursos hídricos na atualidade

Invariavelmente, as relações que a população mantem com o rio repercutem-se na

proximidade ou afastamento que as pessoas mantêm deste. Recentemente foram levadas a cabo

obras de requalificação da área ribeirinha do rio Vizela, numa zona contígua ao Parque das Termas,

na margem esquerda do rio (Figura 35). A zona ajardinada com zonas de lazer e prática desportiva

tem chamado a atenção da população que tem acorrido a essa área para prática desportiva ou para

lazer.

Quase 90% dos inquiridos consideram que a requalificação da área ribeirinha é positiva,

averiguando que um espaço com estas valências fazia falta em Vizela, tendo reaproximado as pessoas

do rio e aumentou a consciência da necessidade de uma maior preocupação com os problemas que

este ainda apresenta. Os restantes consideram ser indiferente, fundamentando essa resposta com o

facto de não lhe dar uso, ou as suas valências não irem ao encontro daquilo que entenderam ser das

coisas mais importantes a fazer no concelho. Apenas um dos inquiridos considerou esta requalificação

como negativa, tendo por base a ausência de preocupação com a naturalização das margens, a

construção de equipamentos de lazer e mobiliário urbano em zonas de inundação, que a cada inverno

Os vizelenses nãodemonstram preocupaçãocom o estado do rio.

Os vizelenses manifestamalguma preocupação com oestado do rio.

A poluição do rio Vizela éuma das principaispreocupações dos vizelenses.

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sofrem degradações graves. Este cenário foi negligenciado, devido à “grande capacidade da infiltração

da área”, segundo o Plano de Pormenor do Poço Quente, relativo a esta área.

Fig. 35 Zona ribeirinha do rio Vizela, contígua ao Parque das Termas

A requalificação do edifício termal é também visto de forma muito positiva pelos vizelenses,

no sentido em que permitirá um reaproveitamento de um recurso que desde há muito tempo se

revelou importante na história deste território, assim como um rejuvenescimento de um tipo de turismo

que, aquando do predomínio da indústria têxtil em Vizela, se viu entrar em decadência e

desvalorização. Cerca de 80% dos inquiridos vêm esta requalificação como “boa”, sendo que a

restante percentagem corresponde a inquiridos que a vêm como “indiferente”, advogando que, como

não usufruem de tratamentos termais, não lhe causará qualquer diferença.

Verificamos que, apesar de a população manifestar solidariedade e mostrar-se

maioritariamente disponível para uma participação conjunta e mais sustentada para a resolução dos

problemas ambientais, mesmo que estes não os afetem diretamente, verifica-se simultaneamente

uma certa ataraxia quando questionadas relativamente à sua participação em questões concretas, em

que o nível de participação da amostra é baixo, denotando uma carta apatia e desligamento face aos

problemas com que a sociedade se debate.

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Conclusão e Recomendações

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Conclusão

Antigamente, os prolemas ambientais não eram vistos como tal, eram fenómenos entendidos

como consequências desastrosas, mas inevitáveis do progresso e não como problemas.

Portugal apresentou, desde sempre, uma fraca tradição científica nesta matéria de que

resultaram equívocos na avaliação do risco e na forma como lidar com ele. Ainda os problemas mais

básicos estavam por resolver e já emergiam fenómenos complexos e globais com os quais não

tínhamos capacidade de lidar. A falta de informação resultou na sobrevalorização de alguns ricos e na

sobrevalorização de outros.

A par destes “velhos riscos” que, lentamente, foram sendo consciencializados, surgiram

entretanto “novos riscos” que se relacionam com a integração do país na economia de mercado e

respetiva abertura (Schmidt et al., 2004). Estes riscos, amplamente complexos, estão associados a

uma incerteza científica.

Sempre se verificou uma forte heterogeneidade no que ao grau de desenvolvimento

tecnológico diz respeito. Enquanto que nalguns países europeus predominaram fortes níveis de

desenvolvimento tecnológico e de inovação, no caso de Portugal, as vantagens comparativas tendiam

a assentar fundamentalmente na mão-de-obra barata que oferecia. Este fator nunca deixou, ainda

assim, de comprometer o desenvolvimento da indústria cujo excessivo peso nas exportações

nacionais, bem como a forte concentração geográfica, como é disso exemplo o Vale do Ave,

constituíram sempre problemas estruturais graves.

Apesar de Portugal não ter tido um desenvolvimento industrial intenso como se verificou em

muitos países europeus, o país não viveu, contudo, num estado de isenção – implementaram-se

unidades industriais sem respeitar regras elementares de “pacto ambiental”, originando uma situação

de desordenamento do território grave (Schmidt et al, 2004).

O Vale do Ave registou uma situação ímpar em Portugal e, mesmo na Europa – uma fortíssima

mono-indústrialização que baseou o seu desenvolvimento no aproveitamento intensivo de mão-de-obra

local. Verificou-se, desde sempre, a necessidade gritante de diversificar a estrutura produtiva do Ave.

Não obstante, a aposta na produção de bens de baixa qualidade e de reduzido valor acrescentado

devido à fraca inovação tecnológica, por um lado, e baixos índices de produtividade, por outro, resultou

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na perda de competitividade. Esta insustentabilidade do modelo de produção levou a uma queda

evidente e generalizada da economia local.

Atualmente, resiste um “passivo ambiental” que mergulha as raízes num tecido industrial

obsoleto e economicamente frágil, o qual coexiste com algumas indústrias de grandes dimensões. O

crescimento económico fez-se à custa do desordenamento e da agudização dos problemas ambientais,

a sociedade ressente-se e requer com urgência a sua resolução.

A degradação ambiental e o desordenamento territorial que se verificaram nos últimos anos,

a par da divulgação de que foram alvo, tornaram-se suficientemente visíveis para que a sociedade não

lhes fosse indiferente. Neste sentido, o papel dos media, dos grupos ambientalistas e da educação

para os valores ecológicos tiveram um papel central.

A sociedade sempre se mostrou alheia e indiferente às questões de participação pública. Se

durante o Estado Novo era praticamente impossível às populações reclamarem, após esse período,

os valores políticos e económicos sobrepuseram-se às preocupações ambientais e as atenções

voltaram-se para outras questões.

Entretanto, a diversidade dos grupos sociais e a sua possibilidade de interferência – ainda que

sempre desigual – no processo coletivo, constituem sintomas da crescente necessidade de lhes

entender os interesses e os valores. O que é tanto mais verdade quanto mais as sociedades

(contemporâneas) vão aguentando a sua reflexibilidade, ou seja, a sua capacidade alargada de

incorporar representações, e, por aí, de as tornar influentes nos processos de conjunto (Almeida,

2000).

Num panorama geral de desinformação, aliada à ausência de tradição participativa, articulada

com desorganização dos poderes públicos, os cidadãos não têm estímulo para participar e intervir. Os

níveis reduzidos de mobilização participativa dos cidadãos nas decisões coletivas deixam denotar uma

passividade, seja do ponto de vista da militância cívica, seja na própria ação política de intervenção

mais direta.

Em matéria de participação pública, o ambiente surge como uma plataforma privilegiada de

aplicação dos valores de cidadania e do exercício democrático. Uma maior mobilização tem sido

marcado pela progressiva importância atribuída às questões que se relacionam com a preservação do

ambiente num contexto de promoção da qualidade de vida dos cidadãos.

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Se, por um lado, as pessoas se mostram amplamente preocupadas e consideram que as

soluções para os problemas ambientais devem ser uma busca comum e partilhada no sentido de os

solucionar efetivamente, por outro, isso acaba por não se traduzir na participação efetiva. Esta

dualidade verifica-se tanto ao nível de Portugal, como no nosso estudo de caso – concelho de Vizela.

No que respeita às atitudes ambientais e à ambivalência que se estabelece entre ambiente e

desenvolvimento, verificamos, através dos dados dos inquéritos realizados, que os vizelenses

concordam com a necessidade de se cuidar do ambiente, de modo a garantir a sustentabilidade do

tecido económico. Por outro lado, no que respeita à noção de que o crescimento económico acaba

sempre por prejudicar o ambiente, verifica-se uma maior relutância que se prende com o facto de

muitos considerarem que pode apostar-se em atividades económicas menos nocivas para o ambiente

e, desta forma, poupá-lo.

Validamos a noção de que, para os vizelenses, o crescimento económico depende, em larga

escala da proteção ambiental. Isto relaciona-se diretamente com o facto de Vizela ter vivido muito de

perto no seio desta ambiguidade. Verifica-se ainda a necessidade de aproximar o modelo de

crescimento económico a opções mais sustentáveis que articule coerentemente o crescimento

económico e o ambiente.

A ciência e a tecnologia detêm, como oportunamente discutimos, uma posição híbrida no que

diz respeito aos problemas ambientais. No território, palco do nosso estudo, esta dualidade é ainda

mais visível. A distribuição das respostas pelos inquiridos põe em evidência esta questão, sendo-lhes

difícil definir uma posição muito marcada no que respeita a esta relação. Ainda assim, são os jovens

o grupo etário que melhor se relaciona com a tecnologia, vendo-a como uma fonte de soluções para

os problemas ambientais evidenciando, também, uma maior inconsciência para os problemas que

esta pode despoletar.

Se há quem deposite uma maior esperança na ciência para a resolução das suas angústias,

muitos há que partilham esse “protagonismo” com a fé que vão depositando na religião para a

resolução dos seus problemas. Em Vizela, os indivíduos com níveis de instrução mais elevados

evidenciam uma maior confiança na ciência para a resolução dos seus problemas. Ainda assim,

independentemente do nível de escolaridade, a amostra recolhida não denota uma posição muito

marcada relativamente a esta questão. Uma sociedade marcadamente católica e com um aumento

significativo de população com níveis de instrução mais elevados pode explicar esta hesitação.

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As pessoas podem não saber muito sobre o ambiente, mas preocupam-se e essa preocupação

aumenta à medida que vão sabendo mais – como é o caso dos mais novos e dos mais escolarizados

(Schmidt et al., 2000). Contudo, não podemos considerar que as preocupações são resultado da

consciencialização ambiental, mas é certo que o processo de mobilização da opinião pública para o

ambiente resulta de uma forte implicação mediática. Assim, o ambiente já está entre as preocupações

fundamentais dos portugueses.

Vizela apresenta um contexto muito próprio, nomeadamente devido à expressão que a

indústria têxtil e os problemas por esta despoletados trouxeram a este território. Os vizelenses

consideram que as preocupações ambientais não são exageradas, sendo que, para muitos inquiridos,

estas deviam ser ainda mais evidentes e refletir-se em políticas efetivas de melhoria do ambiente.

Verifica-se, ainda, uma consciência comum que o ambiente devia ser, de entre as prioridades

nacionais, uma a considerar.

Em matéria de participação de decisões de caráter ambiental, verificamos que os vizelenses

inquiridos concordam com o facto de que devemos participar nas decisões, mesmo que estas não nos

afetem diretamente. Assim, verifica-se uma aceitação dos valores ambientalistas, defendendo partilha

e participação nas decisões ambientais por toda a sociedade, mesmo que não lhes diga diretamente

respeito. Contudo, os resultados não são condizentes com as suas práticas: apesar de considerarem

pertinente e adequado que a sociedade se mobilize e participe nas questões ambientais, verifica-se

uma muito débil participação em ações de carater municipal.

O conhecimento sobre as questões ambientais é, em muitos casos, amplamente influenciado

pela informação recolhida. As pessoas são expostas a muitas fontes de informação, além das

científicas e técnicas e são capazes de assimilar e ponderar informações de diferentes origens, nem

sempre fidedigna.

Os grupos ambientalistas, apesar de recolherem grande aceitação e confiança por parte dos

vizelenses, não têm desenvolvido uma participação organizada e coletiva na persecução de uma maior

qualidade ambiental do concelho de Vizela, nem tão pouco desenvolvido ações diretamente

relacionadas com a problemática da poluição do Vale do Ave.

São as empresas e indústrias aquelas em que os vizelenses menos confiam para receber

informação acerca das causas de poluição, considerando que esta pode se alvo de manipulação em

função dos seus interesses. Também se verifica um fraco nível de confiança relativamente à

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informação emitida por parte dos serviços governamentais, o que pode ser reflexo do descrédito da

ação governamental em outros domínios da vida pública.

Perante a situação económica e socialmente fragilizada que a sociedade portuguesa atravessa

atualmente, nomeadamente no Vale do Ave, em que os problemas de desemprego são ainda mais

evidentes, decorrentes da mono-esopecialização e da deficitária aposta na instrução e formação, aferir

o modo como isso se reflete na sua disponibilidade para contribuir para a causa ambiental, pareceu-

nos fundamental.

Verificamos que nenhum dos inquiridos aceitaria, sem reservas, o aumento dos preços ou dos

impostos para a proteção ambiental. Contudo, é mais expressivo daqueles que concordariam com o

aumento dos preços do que os que manifestam concordância com um eventual aumento de impostos.

Muito mais expressiva é a porção de inquiridos que recusam, de forma mais ou menos vincada, o

aumento dos preços ou da carga fiscal, mesmo que isso se destinasse à proteção ambiental.

A sociedade vizelense demonstra uma tradição pouco interventiva em matéria ambiental. Esta

situação é condizente com a realidade o país no seu todo, estudada anteriormente por outras

investigações. De entre os inquiridos, é residual a porção daqueles que fazem parte de um grupo

ambientalista ou dos que já participaram em alguma manifestação sobre uma questão ambiental.

Dada a familiaridade cada vez maior da população mais jovem com as tecnologias da informação e

da comunicação, verifica-se que estes têm manifestado uma maior ação interventiva em matérias

ambientais, assinando petições públicas que são, muitas vezes, disponíveis em plataformas online

destinadas ao efeito.

A tradição pouco interventiva dos vizelenses estende-se além da esfera ambiental. Em ações

de caráter municipal, a luta pela elevação de Vizela a concelho foi a que verificou maior mobilização.

Este envolvimento pouco comum da população vizelense numa questão que é de todos, assentou em

pretensões de primazia política e administrativa que se viram legitimadas pelo franco crescimento

económico que Vizela havia verificado.

A indústria têxtil apresentou-se, durante muitas décadas, como o principal motor de

desenvolvimento do concelho de Vizela, de que decorreram muitos problemas ambientais. Nesta

ambivalência de degradação ambiental e crescimento económico, verificamos que os vizelenses

detinham preocupação com o estado do rio, mas, ainda assim, o fator económico tinha maior

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preponderância. Por outro lado, as preocupações ambientais versavam essencialmente sobre as

questões estéticas que a degradação da paisagem afetavam.

Atualmente, resultado de um conjunto de circunstâncias como a “crise” económica, a falência

do modelo económico atual, a ampla difusão por parte dos media e dos grupos ambientalistas da

importância da qualidade e proteção ambiental per si, verificamos que os vizelenses começam a

denotar uma maior consciência para o valor ecológico da paisagem, que se vem repercutindo na

relação de uma maior proximidade com o rio Vizela.

Hoje é relativamente consensual que a ameaça dos cidadãos ao equilíbrio dos ecossistemas

é uma reação crítica à evolução tecnológica que, por um lado, criou e acumulou stress ecológico no

ar, água, solos e biota, incluindo seres humanos; por outro, gerou e alimentou uma séria ameaça à

capacidade das sociedades humanas de se manterem e reproduzirem no futuro (Queirós, 2001).

Com a tomada de consciência de que é o próprio funcionamento do Planeta que está em jogo

novas configurações se definem. Somos remetidos para uma lógica de “globalização” dos problemas

ambientais que afetaram todos e não apenas os países mais desenvolvidos, os mais poluidores, os

mais poluídos, os mais poluídos com “valores pró-materialistas” (E. Dunlap e A. G. Mertig, 1995 citado

por M. L. Lima et al., 2002, p.14). Segundo Teles (2010), podemos afirmar, então, sem margem para

dúvidas, que, ao longo do tempo é crescente o interesse pelas questões ambientais mas é, também,

diferente o modo de sentir e agir perante as preocupações ambientais.

O papel das escolas, das associações ambientalistas e dos meios de comunicação social,

preferencialmente da televisão, têm sido fundamentais na efetivação desta mudança (Schmidt et al.,

1999 e 2000).

Deste modo, se tem verificado uma mudança de uma leitura ambiental centrado no domínio

do Homem sobre a Natureza – antropocentrismo, para uma outra de consciencialização que a ação

antrópica afetam o seu equilíbrio débil e daí podem decorrem consequências desastrosas –

ecocentrismo ou Novo Paradigma Ecológico.

Hoje, o sentido de responsabilidade ambiental está associado à crença de que a

biodiversidade e a paisagem não podem ser destruídas por ação humana. Contudo, a visão

antropocêntrica do mundo criou um conflito a propósito do crescimento económico (Queirós, 2001).

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Recomendações

A realização deste trabalho, apesar de nos ter permitido responder às questões de partida e,

portanto, ter sido concluído com sucesso, muito há ainda a fazer no sentido de um maior entendimento

das perceções e práticas ambientais no território correspondente ao município de Vizela, quer num

contexto mais amplo – no Vale do Ave, com quem partilha muitas questões que aqui debatemos.

Em investigações futuras seria, na nossa perspetiva, pertinente avaliar a consciência, as

práticas e a relação que, além dos cidadãos, os políticos e demais agentes decisores, industriais, e

agentes sindicais estabelecem com os elementos naturais da paisagem e a importância que lhe

atribuem. Isto permitiria um exercício fundamental de comparação de perspetivas de diferentes

agentes relativamente às questões ambientais.

Por outra parte, não deixaria de ser interessante e fundamental, entender de que modo as

perceções que a população de outros concelhos inseridos no Vale do Ave se aproximam ou diferenciam

da realidade aqui estudada para o concelho de Vizela.

Num outro prisma, estudar afincadamente a sucessão dos ciclos económico que caracterizam

a sociedade vizelense permitiria entender mais amplamente o que provoca essa sucessão e sustentar

a compreensão do modo como estes mantêm estreitas relações com os recursos naturais,

nomeadamente com os recursos hídricos e o seu aproveitamento.

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Estatísticas

INE (2001) – XIV Recenseamento Geral da População e IV Recenseamento Geral da Habitação.

Resultados Definitivos. Norte. Censos 2001, INE. Portugal.

INE (2011) – XIV Recenseamento Geral da População e IV Recenseamento Geral da Habitação.

Resultados Definitivos. Norte. Censos 2001, INE. Portugal.

Legislação

Lei de Bases do Ambiente (Lei nº 11/87, de 7 de Abril).

Lei no 11 – A/2013 de 28 de janeiro.

Decreto-Lei nº 68/2008 de 14 de Abril de 2008.

Decreto-Lei n.o 244/2002, de 5 de Novembro.

Imprensa

Notícias de Vizela, Ano XXII, nº393, 3 de Agosto 1990.

Notícias de Vizela, Ano XXII, nº334, 1 de Setembro 1990.

Notícias de Vizela, Ano XXII, nº395, 14 de Setembro 1990.

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Anexos

_________________________________________________

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ANEXO 1 – Escolaridade por sexo em 2011 para Portugal, Norte, NUT III Ave e Vizela e respetivas taxas

Portugal Norte Ave Vizela H M %H %M H M %H %M H M %H %M H M %H %M

Nenhum nível de escolaridade 358413 536727 7,067 9,369 159904 226248 8,812 11,077 22178 29525 8,738 10,563 1099 2517 9,228 17,096

4ºano 1466001 1686777 28,905 29,445 554529 629372 30,559 30,813 79927 89862 31,491 32,149 3993 4337 33,526 29,457

6ºano 592331 506325 11,679 8,839 241976 211185 13,335 10,339 37694 34563 14,851 12,365 1800 1554 15,113 10,555

9ºano 880828 780136 17,367 13,618 308375 275247 16,994 13,476 45899 38846 18,084 13,898 2390 1958 20,067 13,299

Ensino secundário 925918 937017 18,256 16,357 290280 293707 15,997 14,380 39212 39769 15,450 14,228 1635 1735 13,728 11,784

Ensino superior 688583 941317 13,577 16,432 208096 290763 11,468 14,235 22117 32145 8,714 11,500 736 1817 6,180 12,341

Analfabetos com 10 ou + anos 159705 340231 3,149 5,939 51434 116017 2,834 5,680 6780 14805 2,671 5,297 257 805 2,158 5,468

Total 5071779 5728530 1814594 2042539 253807 279515 11910 14723

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Anexo 2 – Inquérito “Práticas ambientais e relação dos vizelenses com o rio

Vizela”

Este inquérito por questionário insere-se no desenvolvimento da Dissertação de

Mestrado em Geografia, ramo de especialização em Gestão e Ordenamento do

Território pela Universidade do Minho, pela mestranda Ana Catarina Neto Dias Alves.

Pretende-se aferir a perceção das práticas ambientais e a relação que os

vizelenses mantêm com o rio Vizela, em contextos sociais e económicos que foram

sofrendo alterações num contexto alargado.

Agradecemos a sua participação, sendo esta da máxima importância, face à falta

de estudos e informação sobre a forma como os vizelenses se relacionam com o rio

Vizela e sobre o modo como a emergência da indústria têxtil no Vale do Ave condicionou

essa relação.

Os dados fornecidos pelo inquirido são confidenciais. Agradecemos que

responda com rigor às questões formuladas.

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1. Caracterização social do inquirido(a) 1.1 Idade: _____ anos 1.2 Sexo: F M 1.3 Naturalidade: ______________________________________ 1.4Residência (concelho e freguesia):______________________ 1.5 Estado civil Casado Solteiro Divorciado Viúvo União de facto NS/NR 1.6 Habilitações Académicas: Sem escolaridade

Ensino Básico 1º ciclo (4ª classe)

Ensino Básico 2º ciclo (6º ano)

Ensino Básico 3º ciclo (9º ano)

Ensino Secundário (12º ano)

Ensino superior. Área de formação: ______________________________

1.7 Situação socioprofissional

Estudante

Doméstico(a)

Desempregado(a)

Empregado(a)

Desempregado(a)

Reformado(a)

Outra. Qual? ____________________________________________________

1.8 Profissão (atual ou última): ___________________________________________

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2. Atitudes ambientais

2.1 Diga em que medida concorda ou discorda com cada uma das seguintes afirmações

2.2 Que grau de confiança tem em cada um dos seguintes grupos para receber informação

correta sobre as causas de poluição?

Ab

solu

ta

con

fia

nça

Ba

sta

nte

co

nfi

an

ça

Alg

um

a

con

fia

nça

Ne

nh

um

a

con

fia

nça

NS

/ N

R

Empresas e indústria

Grupos ambientalistas

Serviços Governamentais

Jornais

Rádio ou televisão

Centros de investigação e universidades

3. Práticas ambientais e cidadania

3.1 Diga em que medida concorda ou discorda com cada uma das seguintes afirmações

Co

nco

rdo

T

ota

lme

nt e

Co

nco

rdo

Dis

cord

o

Dis

cord

o

tota

lme

nte

NS

/ N

R

AMBIENTE E DESENVOLVIMENTO

O progresso económico abrandará se não se cuidar do ambiente.

O crescimento económico prejudica sempre o ambiente.

ATITUDES FACE À CIÊNCIA

A tecnologia resolverá os problemas ambientais alterando pouco o nosso estilo de vida.

De uma forma geral, a tecnologia causa mais prejuízos do que benefícios.

Confio mais na ciência do que na fé para a resolução dos problemas.

PREOCUPAÇÕES AMBIENTAIS

As preocupações com as ameaças ambientais são muitas vezes exageradas.

A proteção do ambiente deveria ser uma prioridade nacional.

Tudo o que fazemos hoje prejudica o ambiente.

Co

nco

rdo

T

ota

lme

nt e

Co

nco

rdo

Dis

cord

o

Dis

cord

o

tota

lme

nte

NS

/ N

R

INTENÇÕES Estaria disposto(a) a pagar preços bastante mais elevados para proteger o ambiente?

Estaria disposto(a) a pagar impostos mais elevados para proteger o ambiente?

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3.2 Nos últimos anos fez alguma das ações que seguidamente se colocam?

Sim Não NS/NR

É membro de algum grupo ambientalista?

Já deu dinheiro a algum grupo ambientalista?

Já assinou alguma petição/ abaixo-assinado relacionada com uma questão ambiental?

Já participou numa manifestação ou num protesto sobre uma questão ambiental?

4. Perceção dos problemas ambientais no concelho de Vizela

4.1 Em que ações de caráter municipal assumiu um papel ativo?

Luta para a elevação de Vizela a concelho.

Discussão do Plano Diretor Municipal (PDM).

Reuniões da Câmara Municipal.

Assembleia Municipal.

Assembleia de Junta de Freguesia.

Não participei.

Outras. Quais?___________________________________________

4.2 Quotidianamente tomamos decisões que têm implicações sobre a política

ambiental. Relativamente às decisões de carácter ambiental, diria que:

Devemos participar nas decisões mesmo que não nos afetem diretamente.

Só aqueles que são afetados pela decisão em causa devem participar.

As decisões devem ser deixadas apenas aos órgãos de soberania, que tem autoridade e

competência nesta matéria.

NS/ NR.

4.3 A indústria têxtil, motor de desenvolvimento económico, afetou a condição

ambiental do rio Vizela. Aquando da predomínio do Têxtil no Vale do Ave, considera

que…

Não havia preocupação com as descargas provenientes das indústrias para o rio.

As pessoas manifestavam preocupação, mas o desenvolvimento económico era mais importante.

Os vizelenses viam o estado de degradação do rio Vizela como um problema ambiental grave.

4.4 Atualmente, muitas são as políticas com incidência na gestão dos recursos

hídricos. Considera que, hoje em dia, …

Os vizelenses não demonstram preocupação com o estado do rio.

As preocupações dos vizelenses não demonstram grande preocupação com o estado do rio.

A poluição do rio Vizela é uma das maiores preocupações dos vizelenses.

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4.5 Sentiu que a poluição do rio Vizela afastou as pessoas da sua proximidade?

Não.

Sim.

4.5.1 Porquê?

4.7 Já apresentou queixa de alguma descarga ilegal de resíduos para o rio Vizela?

Não.

Sim. A que entidade? ____________________ Quando?_________________

4.7 Considera que a independência do município de Vizela face a Guimarães veio

alterar as práticas ambientais?

Não.

Sim.

4.5.1 Porquê?

4.8 Como vê a requalificação da área ribeirinha?

Boa.

Indiferente.

Má.

4.8.1 Porquê?

4.9 Como vê a requalificação das Termas de Vizela?

Boa.

Indiferente.

Má.

4.9.1 Porquê?

4.10 Acha que a relação dos vizelenses com o rio tem vindo a sofrer alterações?

Porquê?

Muito Obrigada pela Colaboração!

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Anexo 3 - Entrevistas realizadas pelo Notícias de Vizela

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