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Instituto de Ciências Sociais
Ana Catarina Neto Dias Alves
PRÁTICAS AMBIENTAIS E A RELAÇÃO DOS
VIZELENSES COM O RIO VIZELA
Dissertação de Mestrado em Geografia
Especialização em Planeamento e Gestão do Território
Trabalho realizado sob orientação de:
Virgínia Maria Barata Teles
e de:
Miguel de Melo Sopas Bandeira
Outubro de 2014
II
DECLARAÇÃO
Nome: Ana Catarina Neto Dias Alves
Endereço eletrónico: [email protected] Telefone: 913226959
Número do Bilhete de Identidade: 1401182
Título dissertação: PRÁTICAS AMBIENTAIS E A RELAÇÃO DOS VIZELENSES COM O RIO VIZELA
Orientadores: Professora Doutora Virgínia Maria Barata Teles e Professor Doutor Miguel de Melo
Sopas Bandeira
Ano de conclusão: 2014
Designação do Mestrado: Dissertação de Mestrado em Geografia - Especialização em
Planeamento e Gestão do Território
É AUTORIZADA A REPRODUÇÃO PARCIAL DESTA TESE/TRABALHO (indicar, caso tal seja necessário, nº
máximo de páginas, ilustrações, gráficos, etc.), APENAS PARA EFEITOS DE INVESTIGAÇÃO, MEDIANTE
DECLARAÇÃO ESCRITA DO INTERESSADO, QUE A TAL SE COMPROMETE;
Universidade do Minho, 30 de outubro de 2014
Assinatura: ________________________________________________
III
Agradecimentos
O desenvolvimento desta investigação nem sempre teve ocasiões fáceis, pelo que não
posso deixar de agradecer a todos aqueles que, sem eles, este trabalho jamais havia sido
concluído.
Primeiramente, a minha imensurável gratidão aos meus orientadores: à Professora
Doutora Virgínia Maria Barata Teles pelo acompanhamento assíduo na elaboração desta
dissertação, nomeadamente nos momentos mais difíceis. Por ter acreditado sempre em mim, por
nunca me ter deixado desistir e pela amizade, que levarei para a vida. Ao Professor Doutor Miguel
de Melo Sopas Bandeira, pelas considerações sempre pertinentes e assertivas, pelo carinho e
acompanhamento neste projeto.
A todos os docentes do Departamento de Geografia da Universidade do Minho que, de
uma forma ou de outra, me foram ajudando a moldar enquanto geógrafa.
A todos os meus colegas, muitos deles amigos também, pelo apoio, partilha, incentivo e
carinho. Sem esquecer nem descurar o papel de ninguém, devo um agradecimento especial ao
Daniel Ferreira, à Mónica Moreira, ao Alexandre Pereira, ao Francisco Damas, à Marcela Macedo,
à Eva Mendes e ao Hélder Lopes, ao Luciano Duarte, ao Tozé Silva e ao Sr. Manuel Barbosa.
À Dona Isabel Salgado, pelo carinho infinito, pela amizade incondicional, pela confiança e
incentivo permanentes.
Ao Ruben Torres, pela generosidade com que me presenteou.
À minha família, suporte fundamental desde sempre, pelo carinho, generosidade e
compreensão. Aos meus pais por serem, invariavelmente, os melhores do Mundo, com tudo o que
isso implica. Aos meus irmãos, pela cumplicidade ímpar e pela força que sempre me deram para
que nunca desistisse.
À Helena, a minha maior gratidão pelo amor único que nos une, pelo carinho, pelas
lágrimas e vitórias partilhadas, pelo apoio desmedido que sempre me deu, por todos os dias me
fazer entender o verdadeiro sentido de Deus nos ter dado uma à outra como irmãs!
Aos meus avós, pelo orgulho mútuo e infinito, pelas partilhas e pela cumplicidade que se
pode ler nos olhos. À avó Rosinha por ser mais do que mãe, por todos os momentos de
IV
confidência, de carinho, de amor, por sermos, para sempre, uma parte muito bonita e feliz uma
da outra. À avó Maria pela felicidade de partilharmos muito daquilo que somos, por me fazer cada
dia mais forte e mais agradecida por, de alguma forma, lhe pertencer. Ao avô João, por me ter
mostrado que nada é mais forte do que o abraço aconchegante de quem nos quer
incondicionalmente bem. Ao avô Ivo, pelas lições de vida, pela família maravilhosa que me deu e
por todas as partilhas.
À minha madrinha Alexandrina, ao meu padrinho Ângelo, à tia Helena e à tia Teresa
agradeço a amizade preciosa com que me veem crescer.
Aos amigos, pela força transmitida, pelo facto de estarem sempre presentes e de me
acompanharem durante todos este processo, assim como pelas oportunas distrações. À Marta
Lopes, à Diana Pereira, à Sãozinha e à Dona Beatriz, ao João Neto, ao Zé Miguel e ao Miguel
Madureira, à Inês Andrade, à Catarina Neto, ao Martim, ao Santiago e à Maria, à Carolina Barros
em especial.
Ao Zé, pelo apoio incondicional, pelo amor, pelo carinho e pelo ânimo! Por me ter feito
entender que o amor verdadeiro tudo pode.
A Deus, por tudo!
V
Resumo
PRÁTICAS AMBIENTAIS E A RELAÇÃO DOS VIZELENSES COM O RIO VIZELA
Os fatores da degradação ambiental têm condicionado a evolução da situação ambiental
e a crescente consciencialização ecológica.
O ritmo acelerado que o desenvolvimento tecnológico e científico tem conhecido nos
últimos tempos determina uma modificação permanente na sociedade. A inovação tecnológica foi,
durante muito tempo, vista como uma forma de mitigar os problemas ambientais, sendo capaz de
produzir tecnologias que minimizassem os efeitos das atividades produtivas sobre o ambiente.
Contudo, a generalização do uso das tecnologias acabou por levantar muitas e difíceis
questões que dizem respeito ao envolvimento da ciência e da técnica na crise social e global do
ambiente.
A procura do progresso industrial como motor de desenvolvimento trouxe angústias
imprevisíveis e problemas de complexa resolubilidade. Se anteriormente se esperava do progresso
tecnológico a sustentação de uma sociedade altamente industrializada e moderna, não levou muito
tempo até que a sociedade percebesse que esse, gerado pelo mundo globalizado não era isento
de preocupações e ansiedades.
A emergência de uma sociedade mais reflexiva, bem como o processo de desenvolvimento
da consciência coletiva das responsabilidades da atividade económica pelo desgaste ambiental,
mais atento ao ambiente e aos seus problemas, tem trazido à discussão a necessidade de uma
maior participação pública em matéria ambiental.
Este estudo surge da necessidade de perceber e identificar a consciencialização, atitudes
e práticas ambientais dos vizelenses com o seu território, ainda que inserido num contexto mais
amplo, mas igualmente intrincado que é o Vale do Ave.
As estreitas relações que se estabelecem entre a sociedade, as atividades económicas
com a rede hidrográfica é uma importante marca na identidade deste território que, ainda assim,
VI
é indissociável de um problema ambiental grave como é a poluição que, graças aos meios de
comunicação social, se tornou um problema que preocupou o país durante algumas décadas.
Por outra parte, a fragilidade económica consequente de uma mão-de-obra com fraca
instrução e, daí, mal remunerada e com pouca capacidade de adaptação à mudança faz de Vizela
e do Vale do Ave um território economicamente pouco robusto e que, perante um cenário de crise
económica, não apresenta capacidade de resiliência e acaba por se ressentir das fragilidades
económicas do país.
A ligação dos vizelenses à água é intrínseca, desde sempre associada ao seu crescimento
económico, seja pelas termas (Caldas de Vizela) que muita gente atraiu até este território, seja
pelo desenvolvimento industrial que se foi fazendo ao longo dos cursos de água, servindo-se destes
como força motriz. Assim, torna-se absolutamente fundamental entender de que modo os seus
habitantes percecionam e agem relativamente aos problemas ambientais que daí decorrem.
Através deste estudo tentamos aferir como as pessoas percecionavam a poluição do rio
Vizela aquando do predomínio da indústria e verificamos que, predominantemente, os inquiridos
consideram que, apesar de haver preocupações com o estado do rio, a vitalidade e o crescimento
económicos eram mais importantes para a sociedade. Verifica-se, então, uma maior preocupação
com os aspetos estéticos da paisagem.
Importou-nos ainda entender como é que, na atualidade, se institui a relação da população
vizelense com o rio. Perante uma economia em desaceleramento, a amostra responde
predominantemente que os vizelenses não demonstram grande preocupação com o estado do rio,
o que contraria a noção de que estes mantém relativamente às decisões de caráter ambiental:
todos devemos participar delas, mesmo que não nos digam diretamente respeito.
Palavras-chave: Vale do Ave, problemas ambientais, perceção, atitudes ambientais.
VII
Abstract
ENVIRONMENTAL PRACTICES AND THE RELATIONSHIP OF VIZELA RESIDENTS
WITH VIZELA RIVER
Degradation factors have been conditioning the evolution of the environmental situation
and the raising of ecological awareness
In recent times, technological and scientific development accelerated pace causes a
permanent change in society.
Technological innovation have been seen as a means to mitigate environmental problems,
being able to produce technologies that minimize the effects of production activities on the
environment.
However, widespread use of technologies turned out to raise many and difficult questions
concerning the involvement of science and technology in the social and global environmental crisis.
The demand for industrial progress as a development engine brought unforeseen troubles
and complex problems. It did not take long for society to question the idea that technological
progress could sustain a highly industrialized and modern society and realize that technological
progress generated by a globalized world was not exempt from worries and anxieties.
The emergence of a more reflexive society and the development of a collective
consciousness about the responsibilities for the environmental stresses associated to economic
activities have brought to discussion the need for increased public participation in environmental
matters.
This study seeks to understand and identify the awareness, attitudes and environmental
practices of the inhabitants of Vizela within its territory and in the broader context of the Vale do
Ave.
The close relations established between economic activities and the hydrographic network
are an important identity element of this territory which is inseparable from pollution, a serious
environmental problem which received a large media coverage.
VIII
On the other hand, the resulting economic fragility of a manpower with poor education,
underpaid and weak ability to adapt to change makes Vizela and Vale do Ave to a economic
precarious territory that, against a backdrop of economic crisis, lacks resilience and ends up
resenting from the economic weaknesses of the country.
The connection of the inhabitants of Vizela to water is intrinsic, always linked to economic
growth, either by the spa (Caldas de Vizela), whether by the industrial development that occurred
along watercourses, which were the driving force. Thus, it is absolutely critical to understand how
their inhabitants perceive and act regarding the resulting environmental problems
This study attempts to assess how people perceive the pollution of the river Vizela when
industry was the dominant economic activity. We found that, predominantly, respondents consider
that, despite concerns about the state of the river, the vitality and economic growth were more
important to society., resulting in a greater focus on the aesthetic values of the landscape.
Another goal was to understand the present relationship of the population of Vizela with
the river. Facing an economic slowdown, the inhabitants of Vizela do not express great concern
about the state of the river, which contradicts their responses regarding environmental decisions
that we should all participate, even if do not relate directly to us.
Keywords: Vale do Ave, environmental problems, perception, environmental attitudes.
IX
ÍNDICE GERAL
AGRADECIMENTOS .................................................................................................................. III
RESUMO ................................................................................................................................... V
ABSTRACT .............................................................................................................................. VII
ÍNIDICE DE FIGURAS ................................................................................................................ XI
ÍNDICE DE QUADROS ............................................................................................................. XIII
ABREVIATURAS E SIGLAS ........................................................................................................ XV
INTRODUÇÃO .......................................................................................................................... 17
1- Pertinência da temática de investigação ......................................................................... 17
2- Justificação da área de estudo ....................................................................................... 20
3- Objetivos ...................................................................................................................... 21
4- Metodologia ................................................................................................................... 22
5- Organização da tese ...................................................................................................... 22
PARTE I – AMBIENTE E TECNOLOGIA ..................................................................................... 25
CAPÍTULO 1. Ambiente e Desenvolvimento .......................................................................... 27
1.1 Inovação tecnológica e degradação ambiental ............................................................ 27
CAPÍTULO 2. Cidadania e mobilização ambiental ................................................................. 35
2.1 Perceções, atitudes e práticas ambientais .................................................................. 35
2.2 Dimensões da mobilização ambiental ....................................................................... 39
PARTE II- ENQUADRAMENTO TERRITORIAL ............................................................................. 45
CAPÍTULO 3. O Vale do Ave e o conselho de Vizela ............................................................... 47
CAPÍTULO 4. Os elementos naturais e socioeconómicos como estruturantes do território .... 59
4.1 Os elementos naturais ............................................................................................... 59
4.2 A população .............................................................................................................. 61
4.3 As atividades económicas .......................................................................................... 72
PARTE III – ESTUDO DE CASO................................................................................................. 79
CAPÍTULO 5. As práticas ambientais e a relação dos vizelenses com o Rio Vizela ................. 81
5.1 Aspetos metodológicos .............................................................................................. 81
X
5.1.1 O inquérito ......................................................................................................... 81
5.1.2 Características da amostra ................................................................................. 84
5.2 Análise de resultados ................................................................................................. 88
5.2.1 Atitudes ambientais ........................................................................................... 88
5.2.2 Práticas ambientais e cidadania ......................................................................... 98
5.2.3 Perceção dos problemas ambientais do concelho .............................................102
CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES .....................................................................................111
BIBLIOGRAFIA .......................................................................................................................121
ANEXOS ................................................................................................................................131
XI
ÍNDICE DE FIGURAS
Figura 1 - Enquadramento territorial do Vale do Ave ............................................................... 47
Figura 2 - Freguesias do concelho de Vizela .......................................................................... 49
Figura 3 – Moínho sobre o rio Vizela ...................................................................................... 51
Figura 4 - Conurbação do Vale do Ave por Domingues (2011) ............................................... 54
Figura 5 - Localização das principais concentrações industriais .............................................. 55
Figura 6 - Mapa da Rede Hidrográfica da NUT III – Vale do Ave ............................................. 59
Figura 7 - Geologia do concelho de Vizela .............................................................................. 61
Figura 8 - População residente no município de Vizela entre 1890 e 2011 ............................. 63
Figura 9 - Variação da população residente por município do Vale do Ave ............................. 64
Figura 10 - Distribuição da densidade populacional das freguesias do Concelho de Vizela ..... 65
Figura 11 - Pirâmides etárias da população residente no concelho de Vizela (2001 e 2011) ... 68
Figura 12 - Distribuição da população residente por sexo e nível de escolaridade em 2011 (%) –
Portugal, Norte, NUT III Ave e Vizela ..................................................................... 71
Figura 13 - População residente segundo a condição perante a atividade económica no concelho
de Vizela .............................................................................................................. 73
Figura 14 – Distribuiçãos dos inquiridos por grupos etários ................................................... 84
Figura 15 - Distribuição dos inquiridos por sexo (%)................................................................ 85
Figura 16 – Distribuição dos inquiridos por grupos etários ..................................................... 85
Figura 17 - Distribuição dos inquiridos por habilitações académicas ....................................... 86
Figura 18 - Distribuição dos inquiridos por condição perante o trabalho ................................ 86
Figura 19 - Distribuição dos inquiridos pela freguesia de residência ....................................... 87
Figura 20 - Concordância relativamente à relação ambiente - desenvolvimento ...................... 89
Figura 21 - Atitudes face à ciência e a tecnologia ................................................................... 90
Figura 22 - Relação de concordância "A tecnologia resolverá os problemas ambientais alterando
um pouco o nosso estilo de vida" segundo o grupo etário ..................................... 91
Figura 23 - Relação de concordância entre “Confio mais na ciência que na fé para a resolução
de problemas” e habilitações académicas ............................................................ 93
Figura 24 - Preocupações ambientais .................................................................................... 94
XII
Figura 25 - Grau de concordância com “Tudo o que fazemos prejudica o ambiente” segundo o
grupo etário ......................................................................................................... 96
Figura 26 - Práticas ambientais: ambiente e cidadania .......................................................... 99
Figura 27 - Assinatura de petições ambientais segundo os grupos etários (%) .......................101
Figura 28 - Concordância relativamente à afirmação "É difícil para uma pessoa como eu fazer
alguma coisa pelo ambiente" .............................................................................102
Figura 29 - Participação em ações de caráter municipal (%) .................................................103
Figura 30 - Manifestação dos vizelenses aquando da elevação de Vizela a concelho, Lisboa .104
Figura 31 - Posição relativamente à participação em matérias de caráter ambiental .............105
Figura 32 Preocupação com o estado do rio Vizela aquando do predomínio do têxtil ............106
Figura 33 Cartaz anónimo exposto aos olhos da opinião pública no lugar da Ponte de Velha…108
Figura 34 Preocupação dos vizelenses com os recursos hídricos na atualidade ....................109
Figura 35 Zona ribeirinha do rio Vizela, contígua ao Parque das Termas ..............................110
XIII
ÍNDICE DE QUADROS
Quadro 1 Evolução das Sociedades na perspetiva de Ulrich Beck ......................................... 29
Quadro 2 População residente nos municípios da NUT III Ave em 2001 e 2012 ..................... 63
Quadro 3 Taxa de crescimento efetivo (%) para as freguesias do concelho de Vizela................ 67
Quadro 4 Índice de envelhecimento populacional - Portugal, Norte, Ave em 2001 e 2013 (‰) 69
Quadro 5 Distribuição da população ativa por setor de atividade em % em 2001 e 2011 ........ 75
Quadro 6 Taxa de desemprego total por sexo nos concelhos da NUT III Ave em 2001 e 2011 76
Quadro 7 Taxa de desemprego por grupos etários (NUT III – Ave e município de Vizela) para os
anos de 2001 e 2011 (%) ......................................................................................... 77
Quadro 8 Grau de confiança nas fontes de informação (%) ..................................................... 97
Quadro 9 Participação dos vizelenses em questões ambientais (%) .......................................100
XIV
XV
SIGLAS E ABREVIATURAS
AMAVE – Associação de Municípios do Vale do Ave
CNA – Comissão Nacional do Ambiente
CEE – Comunidade Económica Europeia
CPCJ – Comissão de Proteção de Crianças e Jovens
EFTA – European Free Trade Association
EM-DAT - International Disaster Database
ETAR – Estação de Tratamento de Águas Residuais
GEOTA – Grupo de Estudos de Ordenamento do Território e Ambiente
GNR – Guarda Nacional Republicana
ICN – Instituto Nacional da Natureza
INE – Instituto Nacional de Estatística
ISSP – International Social Survey Programme
M.R.C.V. - Movimento para a Restauração do Concelho de Vizela
NUT – Nomenclatura de Unidade Territorial
NV – Notícias de Vizela
OBSERVA - Observatório de Ambiente e Sociedade
PDM – Plano Diretor Municipal
PORDATA – Base de Dados de Portugal Contemporâneo
SEPNA – Serviço da Protecção da Natureza e do Ambiente da GNR
SMAS – Serviços Municipalizados de Água e Saneamento
UN-ISDR – United Nations Office for Disaster Risk Redution
U.T. – Unidade Territorial
XVI
17
INTRODUÇÃO
1. Pertinência da temática de investigação
Em Geografia, os problemas ambientais constituem questões centrais pois estes decorrem
da ação humana sobre o território. A perceção individual e social destes problemas tem vindo a
adquirir uma abordagem importante no que respeita às políticas públicas, através do incentivo à
participação pública, em matéria de Ambiente.
A ciência e a tecnologia geraram “novos riscos”, tornando-se o risco um dos grandes
paradigmas da sociedade moderna. A interação entre natureza, sociedade e tecnologia apresenta
um amplo conjunto de problemas resultantes das respostas dadas pela população, pelo que se torna
importante, entender o modo como as pessoas percecionam os problemas ambientais e de que
modo esta condiciona as atitudes e práticas.
A natureza dos riscos alterou-se pelo facto de vivermos numa sociedade onde a
industrialização e os avanços tecnológicos transformaram a capacidade da sociedade em os
apreender, compreender e gerir.
São múltiplas as classificações de riscos, assim como são vastas as perceções que os
indivíduos e a sociedade constroem destes. A comunidade científica, bem como os diversos órgãos
que são, de algum modo, responsáveis pelas questões do risco, não reuniram, ainda consenso
relativamente à classificação dos riscos. Isto denota a grande complexidade e controvérsia em torno
desta questão.
Procurando um entendimento sobre que tipo de risco é a poluição hídrica, rapidamente
compreendemos que esta não é considerada como tal nas principais tipologias de risco, mesmo
que amplamente relacionada com os problemas nefastos provocados pelo sobre uso da tecnologia.
“De uma forma ideológica, iconográfica e estética, a Natureza
tem sido apreendida e simbolizada sob múltiplas facetas,
traduzindo ora uma sensibilidade mística, ora uma visão
mecanicista, identificando escolhas e valores contraditórios
dos pontos de vista ético, político e económico.”
Queirós (2001:20)
18
Nas diversas tipologias de risco, de onde ressaltamos a do EM – DAT – International Disaster
Database e a da Autoridade Nacional da Proteção Civil, a poluição dos cursos de água por descargas
de efluentes industriais não é considerada “risco tecnológico”, embora as suas consequências se
identifiquem com falhas humanas associadas aos acidentes industriais.
O ritmo acelerado que o desenvolvimento tecnológico e científico tem conhecido nos últimos
tempos determina uma modificação permanente na sociedade. Levantam-se muitas e difíceis
questões no que diz respeito ao envolvimento da ciência na crise social e global do ambiente (Levy,
2002).
O capitalismo tornou-se a forma dominante de organização da economia, permitindo uma
produção e acumulação crescente de capitais, uma economia globalizada que, invariavelmente,
alterou o ambiente físico. A supremacia do paradigma mecanicista, quer na investigação científica,
quer na inovação tecnológica, acabou por desenvolver o seu próprio contrassenso: por um lado, a
esfera económica separa e isola-se das suas dependências anteriores perante o divino, o místico e
o natural; por outro, a maximização da produção, a exploração abusiva dos recursos naturais e a
produção desmesurada de resíduos resultaram numa crise ambiental com elevados custos sociais,
comprometendo a eficiência do próprio sistema económico dominante (Queirós, 2001). Perante isto
parece-nos fundamental promover a centralidade do ambiente no debate político atual, procurando
uma reintegração da economia na Natureza.
As sociedades humanas através das suas relações e da organização das suas atividades
alteram os territórios em que se inserem, afetando a disponibilidade, produção, diversidade,
permanência, resiliência e evolução dos recursos naturais, criando “janelas de vulnerabilidade”
(Dow, 1992).
A civilização industrial moderna procurou romper com o passado e orientou-se para os
mercados globalizados, assumindo, desta forma, a incerteza dos resultados e a probabilidade de
aparecimento de efeitos não desejados ou mesmo inesperados. O risco constitui indubitavelmente
“um elemento central no dinamismo económico e da inovação social desejadas, Arriscar tornou-se
sinónimo de mudança” (Hespana e Carpintiero, 2001). A sociedade atual é frequentemente
caraterizada como a sociedade do conhecimento e do desenvolvimento tecnológico, com múltiplas
plataformas de inovação que requer dos cidadãos uma maior capacidade de intervenção e um
estado de alerta constante.
19
Todavia, a busca do progresso industrial como motor de desenvolvimento trouxe dissabores
inesperados e problemas de complexa resolubilidade. Se anteriormente se esperava do progresso
tecnológico a sustentação de uma sociedade altamente industrializada e moderna, não levou muito
tempo até que a sociedade percebesse que o avanço tecnológico e científico, causa e consequência
do mundo globalizado, não se apresenta ausente de preocupações e angústias, dando origem às
sociedades pós-modernas ou aquilo a que Giddens (2002) e Beck et al. (2002), denominaram de
“modernidade reflexiva”, em que a incerteza e a insegurança são geradas por novos riscos, o que
“justificam as frequentes preocupações com os riscos naturais, os riscos tecnológicos, os riscos
biológicos e os riscos económicos e sociais” (Teles, 2010:32).
A reclamação de uma maior participação emerge de um público mais “reflexivo”, mais
atento aos dilemas da relação estreita entre a investigação científica e as dinâmicas económicas e
políticas, que têm posto em evidência a necessidade de serem repensados os processos de decisão
democrática (Gonçalves, 2000).
Os comportamentos, atitudes e práticas dos portugueses perante os problemas ambientais
contemporâneos apresentam uma multiplicidade de dimensões culturais, sociais e políticas que
estruturam o modo como se relacionam com o ambiente.
A forma como a questão ambiental é sentida e vivida parte do pressuposto de que as
dimensões da cidadania passam, não só pelas diversas formas de participação pública mas,
também, pela partilha de conhecimentos e informações sobre as questões ambientais. Isto é, o
modo como as sociedades contemporâneas se vão organizando de modo a cooperar na superação
dos problemas ambientais, tanto individual como coletivamente. Neste sentido, os media e a aposta
numa educação ambiental têm desenvolvido um papel fundamental. Ainda que nem sempre a ação
que estes vêm encetando sejam isentas de interesses e de manipulação, é inegável o modo como
a sua ação se tem repercutido na mudança de mentalidades e numa maior consciência da sociedade
para a importância da ecologia e do seu equilíbrio.
Enquanto problema social e político, a questão do ambiente tem, em boa medida, origem
na ação coletiva organizada. Mas também é verdade que ela se desenvolve enquanto esfera de
atuação de políticas publicas sob o signo da participação cívica e como área privilegiada de
expressão da cidadania (Nave e Fonseca, 2004). Para estes autores, as formas e predisposições
20
para a participação na esfera da cidadania ambiental são particularmente mediadas pelos
mecanismos de perceção de risco associado a fenómenos ambientais.
Atualmente, o sentido de responsabilidade ambiental está, segundo Queirós (2001),
associado à crença de que a biodiversidade e a paisagem não podem ser destruídas por decisão
humana. O desgaste ambiental é entendido hoje como sinónimo de crise global do ambiente.
A ambivalência da ciência e da tecnologia perante o ambiente resulta desta situação dupla
e dúbia que as arrasta para o centro de discussão sobre preservação e degradação ambiental (Lima
e Guerra, 2004)
Potenciais fontes de soluções para uma crise ambiental global de que elas próprias estão
na origem, a ciência e a tecnologia não parecem despertar opiniões unanimes. Se a ciência pode,
por um lado, fornecer soluções pode, por outra parte, ser ela própria, fonte de problemas.
O papel a desempenhar pelo Estado e/ou instituições públicas em geral, é inevitavelmente
convocado quando estão em causa interesses públicos ambientais, património natural e comum, e
no meio disto, as atividades económicas potencialmente conflituantes (Schmidt et al., 2004).
Outros trabalhos têm sido desenvolvidos com o objetivo de avaliar as perceções e as práticas
ambientais dos portugueses e nos serviram de ponto de partida para esta investigação, com os quais
tentamos, sempre que possível, estabelecer comparações dos resultados obtidos.
Os trabalhos de referência sobre a perceção, atitudes e práticas ambientais que orientaram
o nosso estudo foram os produzidos pela equipa do Programa OBSERVA – Ambiente, Sociedade e
Opinião Pública, do Instituto Superior de Ciências do Trabalho e da Empresa (ISCTE), em particular
os resultados dos dois inquéritos nacionais às representações e práticas dos portugueses sobre o
ambiente, publicados nos anos 2000 e 2004 bem como o estudo elaborado pelo Instituto de
Ciências Sociais (ICS) em colaboração com o International Social Survey Programme (ISSP) da
Universidade de Lisboa. A estes fomos buscar ajuda metodológica para a construção do nosso
inquérito, bem como a base comparativa para os nossos trabalhos.
2 - Justificação da área de estudo
A escolha do estudo de caso prendeu-se com duas questões fundamentais: a proximidade
entre a área geográfica selecionada – o concelho de Vizela e o investigador, havendo uma
propinquidade entre o território e as vivências. O segundo motivo prendeu-se fundamentalmente
21
com a urgência que os problemas ambientais assumem no contexto científico atual mas, também,
social e cultural.
O concelho de Vizela insere-se num contexto mais alargado e, igualmente, complexo do Vale
do Ave. A forte industrialização desta área que se inicia em 1845 com a Fábrica de Tecidos do Rio
Vizela, em Santo Tirso, e acabaria por se espraiar, grosso modo, a todo o território, haveria de
marcar para sempre as vivências das pessoas, a morfologia urbana e as suas dinâmicas
demográficas.
Esta complexidade onde o Vale do Ave se inscreve acaba por lhe conferir uma identidade
própria que decorre, em parte, da mediatização do problema da poluição dos cursos de água do rio
Ave, proveniente das indústrias têxteis que aí se instalaram.
3 - Objetivos
É nosso objetivo primordial estudar o modo como os vizelenses tomaram consciência dos
problemas ambientais do concelho de Vizela, nomeadamente os que mais diretamente se
relacionam com a forte industrialização deste território e, de que modo, esta condicionou as suas
atitudes e práticas ambientais.
Como objetivos específicos, pretendemos encontrar resposta a algumas questões de
partida, nomeadamente às atitudes e práticas dos vizelenses e à sua perceção dos problemas
ambientais:
1) Que atitudes manifestam face…?:
- À relação ambiente/ desenvolvimento;
- À ciência;
- Às preocupações ambientais;
-À confiança nas fontes de informação.
2) Como se refletem as práticas ambientais e de cidadania?
- Nas suas intenções;
- Na sua participação em ações de caráter ambiental.
3) Qual a perceção dos problemas ambientais do concelho de Vizela?
- Das ações de caráter municipal em que assumiram um papel ativo;
- Sobre as atitudes perante as decisões de caráter ambiental;
22
- Preocupação com o estado do rio Vizela aquando do predomínio da indústria têxtil;
- Aferição das alterações (se existentes) na consciência por parte dos vizelenses sobre o
estado do rio;
- Compreensão sobre o modo como as pessoas sentiram que as alterações no estado do rio
tem vindo a repercutir-se na relação do Ser humano com o meio.
4 - Metodologia
A resposta dada aos objetivos que formulamos será tanto mais assertiva, quanto melhores
as metodologias adotadas, desde as mais teóricas às mais práticas. As diferentes metodologias que
foram sendo adotadas são devidamente descritas nos respetivos capítulos.
Genericamente, o enquadramento concetual/ teórico deste trabalho prendeu-se com uma
vasta recolha bibliográfica com o intuito de entender de que modo as atitudes ambientais da
sociedade são condicionadas pelas perceções que esta desenvolve dos problemas ambientais.
A caraterização da área de estudo – o concelho de Vizela, suportou-se numa ampla recolha
bibliográfica, bem como numa base cartografia, quer digital, quer impressa. Recaiu, ainda,
fundamentalmente sobre um sistemático trabalho de campo, elementar para o conhecimento do
território, mas também para a compreensão das relações que a população vizelense estabelece com
este, nomeadamente com os problemas ambientais que aí se encerram, indissociáveis do rio Vizela.
No sentido de aferirmos as atitudes ambientais e as relações que os vizelenses com 15 ou
mais anos, estabelecem com o rio Vizela procedeu-se à aplicação de um inquérito entre os meses
de Março e Junho de 2014. Os dados resultantes da aplicação do inquérito por questionário foram
tratados estatisticamente através do software IBM SPSS®. Os dados obtidos, bem como os
cruzamentos de dados efetuados estão devidamente apresentados no capítulo 3, reservado à
discussão dos resultados dos inquéritos.
No sentido de sustentar a nossa investigação, recorremos ainda a fontes documentais,
nomeadamente à pesquisa de notícias e artigos de opinião em jornais locais, nomeadamente no
Notícias de Vizela, desde 1976 até à atualidade.
5 - Organização da tese
A presente investigação apresenta-se organizada em três partes distintas: a Parte I –
Ambiente e Tecnologia, que se subdivide em dois capítulos, constituindo o suporte teórico deste
23
trabalho, a Parte II – Enquadramento territorial que se subdivide, também, em duas partes e a Parte
III – Estudo de caso.
No primeiro capítulo - Ambiente e desenvolvimento, discute-se a ambiguidade da relação
tecnologia vs ambiente, e os “novos riscos” que resultam da relação que se estabelece entre estes.
Apresentam-se ainda as inseguranças e incertezas em que vivem as sociedades atuais, que geram
novas vulnerabilidades. O segundo capítulo – Cidadania e Mobilização ambiental, prende-se com o
modo como o Ser Humano desenvolve, apreende e expressa as perceções, atitudes e práticas
ambientais e de que modo isso se expressa nas múltiplas dimensões da mobilização ambiental.
No Capítulo 3 – O Vale do Ave e o Concelho de Vizela, procedemos à definição dos limites
territoriais sobre as quais desenvolveríamos a contextualização territorial. Aqui é ainda
contextualizado o concelho de Vizela num contexto mais abrangente, mas com uma realidade
igualmente complexa, do Vale do Ave, tentando perceber de que modo o desenvolvimento deste
nicho industrial se foi expressando territorialmente.
O quarto capítulo - Os elementos naturais e socioeconómicos como estruturantes do
território, discutimos o modo como os elementos naturais, nomeadamente o território e a rede
hidrográfica organizam o território. Neste sentido, procedeu-se ainda à análise da evolução da
população que vive, transforma e se apropria do território, assim como analisamos de que modo as
atividades económicas reagem à situação de crise económica que assola todo o país,
particularmente o Vale do Ave, procurando entender que condicionantes humanas que motivam esta
situação.
O último capítulo respeita ao caso de estudo – As práticas ambientais e relação dos
vizelenses com o rio Vizela, em que a interação entre o território e as suas representações são
essências. Aqui discutimos os resultados obtidos no inquérito aplicado.
24
25
PARTE I – Ambiente e Tecnologia
________________________________________________
26
27
Capítulo 1 – Ambiente e desenvolvimento
A inegável evolução da ciência e da técnica trouxe bem-estar à sociedade, mas fê-lo através
da exploração de recursos naturais existentes, traduzindo-se numa irreversível degradação ambiental.
Se, por um lado, à ciência e à técnica são imputadas as responsabilidades de inúmeros
problemas ambientais, por outro, sem estas não seria possível, em muitos casos, sinalizar como
problemas algumas questões ambientais.
Atualmente são graves os desafios ambientais com que a humanidade se debate que nos
exigem uma reflexão séria sobre os modelos de crescimento e de desenvolvimento seguidos, assim
como nos incitam a procurar equacionar o tipo de relação que se estabelece entre o Ser Humano e a
técnica.
1.1 Progresso tecnológico e degradação ambiental
Se o progresso tecnológico ajudou resolução de alguns problemas com que a sociedade se
confrontava no passado conduziu, também, à consciência dos riscos que a ameaçavam. Na tentativa
de resolver os problemas existentes, a tecnologia acabou por gerar novos riscos, tornando-se num dos
principais paradigmas da modernidade.
A interação entre a Natureza, a sociedade e a tecnologia, numa variedade de escalas espaciais
cria um mosaico de riscos que apresenta um conjunto muito diferente de problemas.
A sociedade do risco é uma teoria social que descreve a produção e a gestão dos riscos na
sociedade moderna que se organiza de modo a responder aos riscos a que se encontram expostas.
Neste contexto, Ulrich Beck e Antonhy Giddens são as referências fundamentais.
“No caso dos problemas ambientais, a sua existência traduz
não só a dificuldade em se perspetivar o modelo de
desenvolvimento económico e social sustentado que saiba
compaginar o impacto da industrialização com o bem-estar
das populações, como reflete o dilema de encontrar um novo
posicionamento na relação técnica do homem com o
mundo”.
Correia (2001:148)
28
As chamadas sociedades do risco aumentam a consciência individual e coletiva relativamente
aos potenciais perigos. Do mesmo modo que aumentam a consciência, alastra o campo de ação dos
riscos, tornando-se difusos no espaço e no tempo, dotados, muitas vezes, de uma forte volatilidade.
Verifica-se uma reorganização social em torno da questão dos riscos que chamou à atenção não só
dos decisores, dos políticos ou da comunidade académica, mas também dos cidadãos para a
consciencialização dos riscos que os rodeavam.
A intolerância social aos riscos resulta da evolução da perceção e da imagem social da
Natureza. Hoje em dia, a causa ambiental e a necessidade de proteger a diversidade biofísica impõem-
se de forma cada vez mais partilhada, para o que largamente tem contribuído a ação dos movimentos
ambientalistas e o poder difusor dos media que empresta visibilidade sem precedentes a situações de
rutura ecológica (Lima e Guerra, 2004).
Os problemas ambientais resultantes da sobre utilização da tecnologia apresentam-se como
falhas nos sistemas políticos, sociais e económicos, daí que a degradação ambiental surja como
resultado da potencialização humana dos riscos, consequência da modernização, em si mesma. Os
riscos tecnológicos e a degradação ambiental são, ambiguamente, um produto da atividade humana
e objeto de mitigação e resolução, ou seja, os riscos tecnológicos são construções sociais (Cutter,
1995).
Neste sentido, Beck (1992), expõe a evolução da sociedade em três períodos: Sociedades
Tradicionais, Primeira Modernidade e Segunda Modernidade (Quadro 1). As sociedades tradicionais
prevaleceram na Europa até ao início da revolução Industrial, caracterizadas pelo predomínio das
estruturas feudais. Verifica-se uma grande influência da família e da religião na construção das
mentalidades. A definição das perceções individuais circunscreviam-se às relações familiares e de
vizinhança.
A primeira modernidade afirmou-se na sociedade europeia através das múltiplas revoluções
ao nível da política e da indústria que se desenvolvem entre os séculos XVII e XVIII. Aqui a igreja perde
o poder que outrora detivera. Aumentaram as relações sociais, mais impessoais e formais. Apesar das
diferenças entre si, nas sociedades tradicionais e nas da primeira modernidade, dominava um clima
de confiança, previsibilidade e de segurança. Esta fase caracteriza-se pela aceitação da ciência e da
técnica por parte das sociedades, sem grandes questionamentos. Aqui reside a emergência dos
29
problemas ambientais decorrentes da tecnologia, ainda que não haja a perceção, quer ao nível da
comunidade científica, quer dos leigos, da fragilidade que lhe era inerente.
Quadro 1 Evolução das Sociedades na perspetiva de Ulrich Beck
Entre a primeira e a segunda modernidade verificaram-se alterações profundas. Beck (1992)
considera que a modernização envolveu alterações na estrutura das relações e nos agentes sociais.
Os riscos alteraram o processo de modernização. A crítica crescente às práticas modernas industriais
resultou numa modernidade reflexiva que, segundo Giddens (2004) é a “possibilidade de uma (auto)
destruição criativa para toda uma era: aquela sociedade industrial”. Salienta-se que o “sujeito dessa
destruição não é uma revolução, não é a crise, mas a vitória da modernização ocidental” (Beck et al.,
1995:12).
Sabemos que as situações de crise que atingem determinadas áreas do Planeta ou certas
sociedades não têm uma génese local, mas constituem o resultado de fortes interdependências que
unificam os espaços a uma escala muito alargada (Hespanha e Carpinteiro, 2001). Ainda assim,
segundo os mesmos autores, isto não obsta que as formas através das quais a crise é combatida e
dos recursos mobilizados para esse efeito não possa ser configurada como uma análise das respostas
locais a fenómenos globais.
Reconhecendo que o risco é um conceito fluido, fundado culturalmente e contestado
socialmente, variável em função das experiências individuais ou coletivas, circunstâncias históricas,
Fonte: Adaptado de Queirós et al. (2006)
.
Sociedades Tradicionais Primeira Modernidade Segunda Modernidade
. Crenças/ religião
. Preponderância da família na
construção da individualidade
. Estruturas comuns
. Dogmas
. Importância do Estado-nação
. Estruturação da sociedade em
classes
. Pleno emprego
. Rápida industrialização
. Exploração da natureza não visível
. Reflexibilidade
. Individualização
. Globalização
. Desemprego
. Liberdade de escolha
. Progresso tecnológico
. Poder tecnocrático
Segurança
Previsibilidade
Confiança
Norma
Dúvida quotidiana
Incerteza
Fragmentação cultural
Insegurança
Comportamentos predefinidos Pensa antes de agir
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contextos económicos, institucionais e, sobretudo, territoriais, é possível afirmar não haver uma
verdade objetiva, monolítica, acerca da relação sociedade/ambiente (Queirós, 2001).
Hoje os riscos estão em todos os lugares. Noutros contextos históricos, a experiência dos
riscos nunca foi tão ampla e profunda como se tem verificado nas últimas décadas. As situações de
risco atuais são quantitativa e qualitativamente distintas das formas anteriores de risco. As mudanças
ocorrem cada vez mais rápidas e em maior grau e intensidade. Estas alterações geram situações
novas sobre as quais não é possível ter controlo. A incerteza passou a ser uma das caraterísticas mais
relevantes da modernidade.
A civilização industrial moderna procura, decididamente, romper com o passado, gerando
uma economia globalizada, assumindo a incerteza dos resultados e o aparecimento de efeitos não
desejados que, em muitos casos, nem foram anteriormente previstos. Do mesmo modo que estes
novos modos de vida se assumem como motor de dinamismo económico e de inovação social que
tantas angústias motivou, como carece de mudanças.
Estas inseguranças invadiram praticamente todos os domínios da vida social, sendo que “o
mal-estar causado por estas mudanças manifesta-se em revolta, angústia e desânimo, mas também
em desemprego e pobreza, em doença e suicídio, em violência e insegurança (Lima, 2005:15).
Um efeito especialmente visível da globalização consiste na emergência ou na amplificação
do risco social, através de processos, por vezes muito complexos de rutura dos desequilíbrios sociais
à escala global (Hespanha e Carpinteiro, 2001).
Os riscos globais são, do ponto de vista de Aragão (2008), “riscos em larga escala, com
magnitudes sem precedentes. As ações conjugadas da evolução científica e tecnológica e da
intensificação de produção industrial e agrícola, com a aceleração do consumo e a globalização do
mercado dos produtos e serviços conduziram a uma massificação dos riscos”. São riscos irreversíveis
aqueles que, ao se efetivarem, tenham consequências permanentes ou tão duradouras à escala
humana. Segundo a mesma autora, a irreversibilidade é um aspeto fulcral da caracterização dos riscos
que, comportando para as gerações futuras perda de oportunidades de realização, pelo que a defesa
de certas irreversibilidades se justifique pelo interesse na manutenção das escolhas potenciais para o
presente e para o futuro. Entende por riscos retardados aqueles que se desenvolvem lentamente e
levam gerações a materializar-se, assumindo, em determinadas situações, dimensões catastróficas
inerentes à sua extensão e irreversibilidade.
31
Não faz sentido falar em novos riscos sem falar, então, em precaução. O princípio da
precaução destina-se, sobretudo, a regular os novos riscos ambientais que são globais, irreversíveis e
retardados no tempo.
Os “novos riscos” exigem uma gestão antecipatória, ou seja, segundo o Quinto Programa de
Ação em Matéria de Ambiente e Desenvolvimento Sustentável, em vigor no período 1993-2000, “não
nos podemos dar ao luxo de esperar e verificar se estamos errados”. Os riscos são importantes e
devastadores demais para que possamos estar à espera de obter provas irrefutáveis ou do consenso
científico geral.
Giddens (2001) aponta que nas sociedades que se guiavam mais pelo costume e pela
tradição, as pessoas agiam, por vezes, de forma mais irrefletida. Nos dias de hoje, a realidade é
diferente, uma vez que em virtude da ciência e da tecnologia podem-se utilizar tais mecanismos e
interferir nas decisões, expondo a sociedade a riscos desnecessários em razão das incertezas
científicas. Exemplo disso, é o facto de, que nos dias de hoje, se poder escolher o número de filhos
que cada casal pretende ter.
Neste sentido, parece estabelecer-se uma dicotomia artificial e nociva entre uma visão
maléfica, quase satânica, da técnica e a sua apresentação como um instrumento redentor da
Humanidade. Correia (2001) defende que um objeto técnico tem dimensões tanto naturais como
artificiais, o que vem contrapor o pressuposto de que a técnica e os objetos técnicos fazem parte de
um mundo artificial, diferenciando-se, nesta perspetiva, à Natureza. O autor sugere a importância de
se refletir com maior atenção sobre a essência da técnica, procurando o ponto de equilíbrio no seio
da distinção entre o que podemos entender como natural e artificial, entendendo daí que a técnica se
apresenta como algo híbrido, que oscila entre estas duas definições.
A justificação para uma cada vez maior aposta na inovação tecnológica prende-se, não raras
vezes, com a melhoria da qualidade de vida e o bem-estar da sociedade. Nesta busca contínua pelo
conforto material, a sociedade e a tecnologia acabam por estabelecer uma complexa rede de relações
onde uma é afetada pela outra de forma ininterrupta.
A procura de uma certa equidade entre o Ser Humano e o meio em que se envolve, ou seja,
uma conceção não utilitarista da Natureza impõem, desde logo, uma questão fundamental: “Um novo
protagonismo atribuído ao ambiente será, efetivamente, autónomo de qualquer apreciação
utilitarista?”
32
Como resposta a esta questão, os fatores de degradação ambiental da modernidade terão
condicionado a emergência do conceito de ambiente que se tem vindo a demarcar do conceito de
natureza, assumindo significados mais abrangentes.
O ambiente resume-se frequentemente aos valores naturais e às ameaças que recaem sobre
a natureza. Esta ideia de equivalência entre ambiente e natureza deixaria de fora o espaço entre
mundo social e mundo natural. Ainda assim, a tendência atual parece apontar para uma inserção
progressiva da esfera natural num processo mais vasto e complexo que reúne e integra os mais
diversos setores e as suas consequências (Lima e Guerra, 2004). Assim, o conceito de ambiente tem
vindo a ganhar uma certa independência, primeiramente nas esferas académicas e, por consequência,
nos media e na sociedade.
Este conceito é frequentemente associado aos valores naturais e às ameaças que caem sobe
a natureza. Atualmente, o conceito de ambiente demarca-se do conceito da noção de natureza. As
várias representações do ambiente acentuam uma outra dimensão e dão origem, fundamentalmente,
a três grandes conceções que correspondem a distintos estádios de autonomização do ambiente em
relação à natureza (Theys, 1993):
1) Conceção objetiva e biocêntrica: o ambiente é entendido enquanto aglomerado de elementos
naturais e suas relações e interdependências, pouco se distanciando do conceito de natureza. O
próprio Homem e a sociedade surgem representados enquanto organismos naturais, dependentes,
como quaisquer outros, das leis, do funcionamento da natureza. O interesse pelo ambiente não
traduzirá mais, de acordo com esta conceção, que a crescente tomada de consciência da pertença
social ao sistema mais vasto da biosfera;
2) Conceção subjetiva e antropocêntrica: Se, na conceção objetiva, o Homem se deve adaptar às
leis e condições naturais, na conceção subjetiva, os problemas ambientais só ganham visibilidade
na medida em que afetam o próprio Ser Humano. O ambiente afirma-se aqui como um espaço de
relações entre o Homem e o seu meio envolvente (natural ou construído) e é neste espaço em que
a sociedade engloba a natureza e determina a sua evolução que ganham sentido os termos “uso”,
“recursos”, “património”, “delapidação”, “preservação”, “acesso”, etc.. No limite, a defesa do
ambiente e a preservação dos recursos naturais mais não fazem do que pugnar pela manutenção
das condições necessárias à sobrevivência da própria humanidade.
33
3) Conceção objeto-subjetiva e tecnocêntrica: A ideia de que o Ser Humano e o seu meio (natural
e construído) fazem parte de uma relação interdependente, condicionando-se mutuamente, está
na base da conceção tecnocêntrica que, por isso, incorpora simultaneamente uma visão objetiva
e subjetiva. O conceito de ambiente, nesta perspetiva, projeta a existência de relações de
transformação recíproca, num processo dialético de ações e reações que realçam a capacidade de
adaptação dos vários elementos. Sociedade e natureza tendem, deste ponto de vista a integrar-se
cada vez mais, pelo que o destino de uma determinará, certamente, o futuro da outra. Esta
definição concebe o ambiente como um conjunto de limites, de disfuncionalidades, de riscos ou
de problemas que devem ser resolvidos, tendo em conta as interações do sistema global.
Resultado deste processo e imbricado nele, assiste-se ao progressivo abandono dos valores
antropocêntricos em que assenta o Paradigma Social Dominante (cimentado em pressupostos de
crescimento económico e de progresso perpétuos), em simultâneo com a crescente assunção de
valores do Novo Paradigma Ecológico (Catton e Dunlap, 1978; Catton e Dunlap, 1980; Dunlap, 1993;
Dunlap, Van Liere, Mertig e Jones, 2000 citado Teles, 2010), que reequaciona o lugar e o papel da
humanidade no mundo e os limites ecológicos a que, como tantas outras espécies, está sujeita (Lima
e Guerra, 2004). Esta viragem representa a tomada de consciência que questiona o lugar na
humanidade no mundo e o papel que desempenha na transformação do ambiente.
A emergência do Novo Paradigma Ecológico que se manifestou não só nos meios académicos
mas também na população em geral, através de uma maior consciencialização da importância do
ambiente per si, põe em evidência a necessidade da reinterpretação de fenómenos até então
negligenciados em detrimento dos indicadores de crescimento económico como a ameaça da
poluição, a escassez de recursos e o declínio da qualidade de vida das populações. Assim se abriu
caminho para uma noção de dependência ecológica das sociedades. Segundo Lima (2006), a noção
de escassez ecológica do ecossistema global, subjacente a esta perspetiva, implica a assunção de leis
naturais a que os humanos não podem deixar de estar sujeitos. Num planeta finito, os limites da
humanidade serão, apesar do engenho tecnológico, as leis da natureza.
Do ponto de vista de Coelho et al. (2006), o ambiente parece representar-se, sobretudo, pela
natureza e pelos elementos naturais (conceção biocêntrica) que, ainda assim, não deixam de estar
acompanhados por ideias bucólicas de campo e paisagens, indicadores de uma qualidade de vida
perdida que se prende com uma conceção antropocêntrica do ambiente. Uma conceção com
contornos marcadamente tecnocêntrica, que alia o mundo natural e social numa ação de efeitos e
34
contra-efeitos, é ainda minoritária. Os grupos mais jovens e mais escolarizados parecem optar quer
por uma maior adesão à conceção tecnocentrada do ambiente, quer por um relativo distanciamento
das conceções mais antropocêntricas que medem e leem o mundo à medida das necessidades da
humanidade.
Por sua vez, Beatley (1994) vinca uma dicotomia de atitudes relativamente à relação que se
estabelece entre o ser humano e o ambiente: de um lado a visão antropocêntrica, paradigma
dominante do mundo ocidental centrado na logica utilitarista da ação que gera a maior quantidade de
valor, do outro a visão ecocêntrica que rejeita toda a ação que se justifica apenas na maximização do
valor. Queirós (2001) esclarece que a primeira posição supõe uma separação entre um mundo social
e a natureza. A Humanidade é “natural” (porque se considera biológica e, nesta perspetiva, possui
uma primeira natureza) mas também é “racional” (porque se considera plena de racionalidade). Como
testemunho da liberdade humana face ao ambiente físico, um mundo natural pode e deve ser usado
pelos humanos para o seu desenvolvimento, entendidos como únicos seres de direito. Pelo contrário,
a segunda atitude assume a Humanidade como parte indissociável da Natureza e, como tal, deve
respeita-la do ponto de vista ético e moral. Esta perspetiva holística revela uma clara compreensão da
interdependência ecológica entre as sociedades humanas e o seu ambiente.
Esta consciência ecológica tem vindo a ganhar visibilidade e aceitação progressivas na
sociedade em geral. Ainda assim, este trata-se de um confronto sem fim à vista que resulta do facto
de, por um lado, as sociedades humanas dependeram da exploração dos ecossistemas envolventes
para progredirem, mas, por outro lado, a intensificação da exploração de recursos naturais a que se
vem assistindo, poderem estar a destruir a sua própria base de sustentação.
Muito há ainda a fazer no que respeita a esta confronto entre as duas principais formas de
entender as relações do Ser Humano com a Natureza: a ideia de que a natureza existe para responder
às necessidades da humanidade versus a ideia da humanidade entendida como uma das espécies
inclusa nos ecossistemas.
É neste confronto de ideias que se assentou o trabalho empírico desenvolvido, procurando
compreender as atitudes ambientais dos vizelenses relativamente à relação
ambiente/desenvolvimento, face à ciência e às preocupações ambientais.
35
Capítulo 2 – Cidadania a mobilização ambiental
2.1 Perceções, atitudes e práticas ambientais
A perceção social dos riscos naturais e tecnológicos tem sido fortemente debatida, com
principal destaque nos últimos anos. A produção científica tem recaído sobretudo na forma como as
diversas perceções sociais são (ou não) integradas em processos de tomada de decisão ou em
medidas de mitigação de situações de risco.
De entre os muitos trabalhos desenvolvidos no nosso país sobre a temática dos riscos, em
especial no domínio dos riscos naturais, parece haver uma maior propensão para o estudo dos
processos perigosos do que para o estudo de como a sociedade os recebe, lhes resiste ou se recupera,
ou sejam as componentes suscetibilidade e perigosidade continuam a ser bem estudados, o mesmo
não se passando a componente da vulnerabilidade (Cunha et al., 2013).
O estudo da perceção está intimamente ligado com os domínios da Psicologia. Ainda assim,
outras ciências como a Geografia, o Urbanismo ou a Arquitetura têm desenvolvido estudos importantes
no sentido da sua compreensão. O que se procura fazer é desenvolver os conceitos da perceção
aplicados ao espaço.
Nas ciências sociais têm-se desenvolvido bastantes trabalhos de abordagens à perceção do
risco, quer a nível internacional, quer em Portugal.
Segundo Goddey e Gold (1986), a geografia do comportamento e da perceção, baseada em
visões subjetivas do mundo, tem origem em pesquisas behavioristas que têm por finalidade a
compreensão do comportamento humano. Deste modo, a perceção e análise do risco deve ser vista
em duas perspetivas, muito distintas mas absolutamente complementares, a dos leigos e a dos
especialistas.
“O associativismo faz parte da vitalidade e do “capital social” de
uma sociedade civil que é capaz de desenvolver uma
multiplicidade de tarefas e iniciativas que lhe cabem na
modernização e um país.”
(Soromenho Marques, 2001)
36
Segundo Lima (2005), por perceção de risco entende-se a forma como os leigos pensam o
risco, referindo-se à avaliação subjetiva do grau de ameaça potencial de um determinado
acontecimento. A distinção entre risco percebido (perceived risk) e risco atual (actual risk) ou «objetivo»
presume que o primeiro representa uma distorção do segundo e deve-se a crenças, experiências
subjetivas, medos irracionais, quando não «histerias» dos não especialistas (Lima, 2000: 160; Flynn
e Slovic, 2000:109).
A análise do risco e a perceção do risco apresentam-se como conceitos distintas. Enquanto a
primeira integra a objetividade, a segunda é um processo subjetivo, ao ser constituída pelas imagens
individuais dos riscos (Navarro e Cardoso, 2005). A análise do risco é fundamental para a gestão dos
riscos, já que supõe que se pode reduzir a frequência ou a gravidade das consequências de um
acidente tecnológico ou de uma catástrofe natural (Queirós, 2000). Ainda assim, este tipo de
abordagem, independentemente de ser eficiente ou não, nem sempre satisfaz a sociedade.
A perceção dos riscos é principalmente considerada como um fenómeno individual. Do ponto
de vista das Neurociências (Lent, 2010), perceção é a capacidade que os seres humanos têm de
associar informações sensoriais à memória e à cognição de modo a formar conceitos sobre o mundo
e sobre nós mesmos e orientar o nosso comportamento.
Os estudos sobre a perceção dos problemas ambientais mostram que nem todas as ameaças
têm, para os cidadãos, o mesmo caráter inaceitável e potencialmente mobilizador da opinião pública.
Lima (2003) considera que a perceção de risco é um pensamento construído socialmente,
influenciado pelos mesmos fatores que influenciam outros tipos de pensamento social. Assim, a
perceção dos riscos está intimamente relacionada aos valores, e ao mesmo tempo, limitada pelo nível
escolar e frequentemente confundida pela linguagem (Queirós, 2000).
Os indicadores de perceção pública dos problemas ambientais permitem vislumbrar a posição
que a sociedade tem diante dos problemas que o ambiente vai manifestando. Vários fatores explicam
o processo de perceção do risco, sendo estes internos e pessoais, como o método de processamento
de informação, a importância de informação recolhida e processada anteriormente. Verificam-se
sensibilidades diferentes de pessoa para pessoa, dependendo dos múltiplos fatores que determinam
a vulnerabilidade de cada indivíduo.
Do ponto de vista de Renn (2004), os indivíduos constroem a sua própria realidade e avaliam
o risco de acordo com as suas perceções subjetivas. Segundo Queirós et al. (2006) este processo de
37
formação da perceção do risco é de extrema complexidade ao incluir as experiências que o indivíduo
adquiriu ao longo da sua vida e refletindo igualmente a sua esfera sociocultural e ideológica. Neste
sentido, muitas vezes a visão da comunidade científica não se coadunam com as perceções da
população porque os indivíduos o constroem de forma diferenciada.
Slovic (1987) sugere que as preocupações dos leigos juntam outras dimensões, tais como: o
risco é controlável? Individual ou coletivo? Justo ou injusto? Conhecido ou desconhecido? São as suas
consequências imediatas ou de longo prazo? Podemos confiar na avaliação dos políticos, tal como na
dos especialistas.
Lima (2003) defende que a perceção é um tipo de pensamento social complexo, ambíguo e
importante. É, todavia, possível, conciliar, na opinião de Queirós (2000), as perspetivas objetivas e
subjetivas nos estudos do risco através de uma posição intermédia que aceite procedimentos
científicos que consideram que os riscos ambientais não são puramente objetivos e a introdução de
valores a eles associados é uma questão necessária.
Mesmo numa sociedade vulgarmente tida como homogénea do ponto de vista cultural e social
como é a europeia, verificam-se grandes dissemelhanças no que respeita à perceção social dos riscos.
Ao contrário do que sucedeu com outros países europeus, em Portugal as preocupações
ambientais surgiram tardiamente e a sua trajetória vem marcada por determinados detalhes históricos
e culturais, influenciando opiniões, atitudes e práticas relativamente ao ambiente. Do ponto de vista
de Schmidt et al. (2004), a sociedade portuguesa carateriza-se pela prevalência de uma sociedade
fortemente centrada sobre valores tradicionais [valorizados pelo regime do Estado Novo], uma
industrialização tardia e incipiente, um processo de urbanização acelerado e desordenado com o
correspondente despovoamento do interior; a par da manutenção de baixos níveis de literacia e de um
sistema político autoritário que desabituou os cidadãos de intervir.
Invariavelmente, o ritmo a que sucediam os fenómenos em Portugal foi muito díspar do que
se ia sucedendo no resto da Europa. Enquanto na maioria dos países europeus as políticas e
preocupações da opinião pública sobre o ambiente eclodia no final dos anos 60, a par do Tratado de
Roma em 1969 e da Conferência de Estocolmo em 1972, em Portugal, apenas nos anos 80 se regista
a emergência do tema ambiental, tendo surgido um quadro legislativo e uma estrutura institucional
(Soromenho-Marques, 1998).
38
Em Portugal, o primeiro movimento social de conservação da natureza, em 1948, deu-se com
a criação da Liga para a Proteção da Natureza (LPN), conjugando as preocupações de investigadores
ligados à agronomia, geologia e áreas afins. Como prioridade de intervenção estabeleceu a questão
da educação dos cidadãos. A LPN mantem a sua intervenção até à atualidade, com atuações
importante em domínios de conservação da natureza e do desenvolvimento rural, bem como nas
questões de participação cívica, sempre com a preocupação de uma fundamentação científica rigorosa
das suas propostas e ações (Carpeto, 1998).
Em 1967, as cheias de Lisboa constituíram a marca na afirmação da consciencialização
ambiental dos portugueses. Neste sentido, o Arq. Ribeiro Teles surgiu a explicar o desencadear da
crise como consequência da ocupação das linhas de água e leitos de cheia por construções nas
periferias de Lisboa, onde habitavam pessoas socialmente excluídas. Esta denúncia da ineficácia do
ordenamento do território alertou consciências e pôs a nu problemas graves em que o Homem
assumia um papel preponderante.
Graças à conjugação de mecanismos e instrumentos de político-administrativos com o
financiamento comunitário possibilitou a publicação em 1987 dois diplomas legais fundamentais: a Lei de
Bases do Ambiente (Lei nº 11/87 de 7 de Abril) e a Lei das Associações da Defesa do Ambiente (Lei nº
10/87 de 4 de Abril). Verifica-se um esforço para a institucionalização dos órgãos para as questões
ambientais, ao mesmo tempo que surgem associações ambientalistas como o Grupo de Estudos de
Ordenamento do Território e Ambiente – GEOTA (1981) e Quercus (1985).
Os valores e atitudes são fatores intrínsecos a cada um de nós. São os valores que
condicionam as atitudes que diariamente se expressam através das nossas ações. Sucintamente, as
atitudes podem definir-se como atributos psicológicos do indivíduo que determinam a sua tendência
para agir de um determinado modo, em determinada situação (Moore, 1995). As atitudes têm uma
relação direta com uma predisposição para a ação.
Para desenvolver uma atitude é necessário adquirir algumas convicções ou crenças e
comportamentos de aceitação e recusa. A aprendizagem de uma atitude manifesta-se,
essencialmente, por mudanças nas reações e nas respostas emotivas do Ser Humano, bem como nas
modificações de conhecimentos e aptidões instrumentos associados a essas reações.
O conceito de preocupação ambiental relaciona-se com a preocupação, o conhecimento, as
atitudes em relação ao ambiente e à natureza, as intenções e o comportamento efetivo (Van Liere e Dunlap,
39
1981). Perante isto, torna-se evidente que é necessário separar as duas vertentes da preocupação
ambiental: as atitudes e as práticas (ou comportamentos).
Conhecendo as atitudes, conseguimos estimar comportamentos. Neste sentido, o estudo das
atitudes ambientais pode contribuir para o estudo da dimensão social das afirmações ambientais. De
acordo com Coelho et al. (2006), estas podem ser consideradas como sentimentos favoráveis ou
desfavoráveis acerca do ambiente ou sobre um problema relacionado com ele, e têm sido definidas
como perceções ou convicções relativas ao meio físico, inclusive fatores que afetam a sua qualidade.
Os mesmos autores argumentam, também, que as crenças, atitudes e valores são atrelados formando
um sistema cognitivo funcionalmente integrado, pelo que uma mudança em qualquer parte do sistema
afeta outras partes e culmina em mudança comportamental.
2.2 Dimensões da mobilização ambiental
O ambiente surge com frequência como uma plataforma privilegiada de aplicação dos valores
da cidadania e do exercício democrático expresso pela participação. Pode associar-se esta questão às
exigências intrínsecas de mobilização da sociedade civil, bem como da participação individual, em
ações concretas de preservação do ambiente.
Na perspetiva de Nave e Fonseca (2004), este processo de mobilização tem sido claramente
marcado pela evolução registada ao nível de um conjunto muito vasto de fatores e circunstancias,
desde logo, a progressiva importância e valorização que vem sendo socialmente atribuída às questões
relacionadas com a preservação do ambiente na promoção da qualidade de vida dos cidadãos.
A participação pública afigura-se como um instrumento essencial no que respeita à
governança dos riscos. Para que seja eficaz, esta deve ser “precoce e alargada, ou seja, ocorrer desde
os primeiros estádios do procedimento, envolvendo todas as partes potencialmente afetadas ou
interessadas” (Aragão: 2008: 43). A autora evidencia ainda que esta é uma dimensão recente no que
respeita à gestão dos riscos: a relevância atribuída aos cidadãos, leigos, cuja opinião profana foi, desde
sempre, desprezada e só recentemente, com a convenção de Aarhus, em 1998, começou a ganhar
algum estatuto.
Esta convenção adquiriu um carater inovador, uma vez que estabelece relações entre direitos
ambientais e direitos humanos, partindo do pressuposto que o desenvolvimento sustentável só poderá
40
ser alcançado com o envolvimento de todos os cidadãos. Assim, esta convenção não representa
apenas um acordo internacional em matéria de ambiente, mas tem em conta também os princípios
de responsabilização, transparência e credibilidade que se aplicam aos indivíduos e às instituições.
A Convenção de Aarhus está aberta a estados não europeus, pelo que, embora continue a
ser regional no seu âmbito, o significado desta é global. Esta está edificada em três pilares
fundamentais: o acesso à informação, a participação do público e o acesso à justiça em matéria de
ambiente.
As Nações Unidas vêm enfatizando a importância da participação como uma forma de
promover a democracia e fortalecer o estado de direito (Delgado, 2013). Nos objetivos de
desenvolvimento do milénio para 2000 – 2015 é proclamada a necessidade de desenvolver
coletivamente progressos políticos abrangentes de modo a permitirem a participação efetiva de todos
os cidadãos.
Diversos autores veem a participação pública como um modo de aumentar a satisfação dos
cidadãos (Ferreira, 2003; Guerra, 2006; Healey, 2006; Ascher, 2010), uma vez que se pode
estabelecer uma correspondência entre os resultados e as aspirações destes. Em sentido inverso,
intervenções onde os pressupostos de diálogo e transparência não estejam presentes podem gerar
um clima de controvérsia e insatisfação, aumentadas as clivagens sociais e limitando os pressupostos
democráticos (Delgado, 2013).
Em Portugal, os níveis de participação pública são reduzidos. Mattoso (2008) explica que em
Portugal o Estado desempenha um papel de intensa regulação social, mas permanece uma grande
distância entre representantes e representados. É o Estado que tenta imitar os padrões de atuação
dos Estados e das políticas mais desenvolvidos, o que se reflete numa legislação frequentemente
muito progressista, sem que os agentes políticos interiorizem esses padrões nas orientações
operacionais e na prática política. Por sua vez Lourenço et al. (1997) salientavam a ausência de
participação em Portugal mencionando o excessivo caráter técnico dos documentos postos à
discussão, o facto de a participação pública ser motivada fundamentalmente pelos interesses
particulares em detrimento dos interesses difusos, a fraca ressonância da participação pública nas
decisões finais, as debilidades técnicas das autarquias à mercê do Poder Central, a cientificação das
decisões e a falta de informação científica adequada ao nível de conhecimentos do cidadão em geral.
41
Tem-se verificado uma abertura da problemática ambiental à esfera da cidadania cívica e
política. Isto pode explicar-se por múltiplas razões: a importância crescente que os meios de
comunicação social vêm dando às questões relacionadas com os problemas ambientais, a legitimação
democrática e a promoção da participação pública em processos de decisão, ação de organizações
do movimento ambientalista, ações de mobilização e protesto por parte destes, ou mesmo por atores
de base local e popular fizeram do ambiente um tema de interesse coletivo para a sociedade
portuguesa.
Os media desempenham um papel crucial na amplificação de determinados discursos e na
supressão de outros. Os significados construídos pelos media relativamente ao ambiente têm
importantes aplicações para a legitimação ou contestação de escolhas políticas, de estudos científicos
e de propostas de ONGs, bem como para perceção e atitudes do público (Hansen, 1993; Anderson,
1997, Carvalho et al., 2005). A avaliação que fazemos do risco e dos problemas ambientais e a adoção
de formas particulares de agir perante estes são fortemente interferidas pelos órgãos de comunicação
social.
A perceção pública das questões ambientais têm sido concetualizadas como uma forma de
conhecimento socialmente elaborado e partilhado, gerado no decurso de uma comunicação
interpessoal quotidiana (Moscovici, 1981; Jodelet, 1989). As instituições, bem como os meios de
comunicação mediáticos ou informais intervêm na sua elaboração, por meio de processos de
influência social (Carvalho et al., 2005).
A escassa literacia e débil organização da sociedade civil, que se consubstanciou no “elevado
grau de analfabetismo e repressão política que mantiveram sem pausa até 1974, tornaram a
sociedade portuguesa altamente autonomizada e renitente à mobilização e participação na coisa
pública. Apesar dos inegáveis progressos na dinamização da sociedade civil, aportados pelo processo
de democratização, essa dificuldade ainda se faz sentir atualmente no baixo de associativismo
ambiental” (Soromenho-Marques, 2001:116). Por outro lado, um estado demasiado burocrático, com
um baixo índice de racionalização, não se apresentava como um cenário propício para o associativismo
ou uma política de ambiente forte.
Os progressos da ciência estenderam o conhecimento acerca das consequências múltiplas e
indiretas das intervenções humanas na Natureza. A consciência das responsabilidades do Ser Humano
nos desequilíbrios ambientais mantem relação direta com os direitos ambientais na agência política
42
internacional. A defesa dos direitos legitima a luta pela preservação dos recursos naturais a longo
prazo. Isto vem alertar para a necessidade de reformular as ideologias e as teorias económicas
dominantes, de modo a apoiar um quadro de valores ambientais de referência universal capaz de dar
resposta as normas e práticas dos indivíduos, da sociedade e do espaço.
É impossível não relacionar a construção dos factos de memória com a respetiva transmissão
mediática, sendo evidente o peso dos media em matéria de popularização dos problemas ambientais,
assumindo um papel detonador da inquietação ambiental (Schmidt et al, 2004).
Segundo dados recolhidos no II Inquérito Nacional às Representações e Práticas dos
Portugueses (2004), Chernobyl e Hiroshima são catástrofes que marcam as memórias de alguns
elementos das diversas gerações indistintamente até aos 65 anos, ao passo que que o problema
global do buraco do ozono foi especialmente sensibilizante para os mais novos e estudantes.
Aqui, os meios de comunicação social manifestam um aumento de interesse em matérias
relacionadas com o ambiente. Começam a atribuir-lhe ênfase noticiosa, dando voz a mobilizações
ambientais, bem como a denúncias e queixas dos cidadãos.
A discussão gerada em torno da controvérsia sobre a coincineradora de resíduos industriais foi
amplamente debatida publicamente e alvo de agitação social. A discussão gerada e amplamente divulgada
e amplificada pelos meios de comunicação social apresenta-se como uma solução para o problema da
acumulação de resíduos resultantes da atividade industrial, do mesmo modo que gera inúmeros impactos
negativos no ambiente e na saúde pública. O caso da Encefalopatia Espongiforme Bovina, vulgarmente
designada por “Doença das Vacas Loucas” foi, também, mediatizado.
As últimas décadas representaram uma nova abordagem aos problemas ambientais,
resultado de uma democracia mais aberta à consciencialização pública, a adesão à União Europeia e,
necessariamente, às políticas comunitárias que fizeram transpor para o direito nacional importantes
diretivas comunitárias, nomeadamente no que respeita à proteção ambiental e à importância da
participação pública e da auscultação dos medos e preocupações que as pessoas desenvolvem
relativamente a estas questões. Soromenho Marques (1998) afirma que muitas das medidas
legislativas e institucionais relativas ao ambiente criadas em Portugal foram, no entanto, introduzidas
e dinamizadas pelas pressões comunitárias, o que indica que, pelo menos inicialmente, o processo
de ambientalização política resultou mais de influencias externas do que de dinâmicas endógenas.
Contudo, só com a criação do OBSERVA – Observatório Permanente sobre o ambiente e a Sociedade
43
“foi possível construir de uma forma continuada, incentivar a análise que se pretende pluridisciplinar
sobre o ambiente enquanto questão social” (Lima et al., 2002:16).
Hoje em dia a proteção ambiental e a natureza biofísica, enquanto suporte da vida humana,
impõem-se de modo cada vez mais partilhado, para que largamente têm contribuído a ação dos
diversos grupos ambientalistas, bem como da amplificação que os meios de comunicação têm dado
às situações de rutura ecológica.
44
45
PARTE II - Enquadramento territorial
____________________________________________________
46
47
Capítulo 3 – O Vale do Ave e o concelho de Vizela
A definição dos limites territoriais do Vale do Ave apresentou-se como um dos principais focos
de discussão no presente trabalho. Esta indefinição face à área sobre a qual desenvolveríamos o
estudo fez-nos optar pelo território correspondente à NUT III Ave, sem as alterações impostas pelo
Decreto-Lei nº 68/2008 de 14 de Abril de 2008, isto é, correspondente aos municípios de Guimarães,
Fafe, Santo Tirso, Vieira do Minho, Vizela, Santo Tirso e Trofa e Vila Nova de Famalicão (Figura 1).
Esta opção justifica-se pelo facto de esta área apresentar uma maior homogeneidade territorial,
nomeadamente no que respeita ao seu caráter socioeconómico, assentando numa forte
industrialização que, entretanto, entrou em declínio.
Fig. 1 Enquadramento territorial do Vale do Ave
“O território do Vale do Ave é constituído por
diferentes estruturas espaciais que lhe foram
imprimindo ordens sobrepostas ao longo do tempo. ”
Paulo Providência (2002)
48
O Ave é uma sub-região estatística da região Norte (NUT1 nível III). É limitada a norte e a leste
pelas NUT III Cávado e Alto Trás-os-Montes, a este e a sul pelo Tâmega e a Oeste pelo Grande Porto.
Esta sub-região começou por ter, em 1989, seis concelhos: Fafe, Guimarães, Póvoa de
Lanhoso, Vieira do Minho, Vila Nova de Famalicão e Santo Tirso. Em 2002 incorporou dois concelhos,
que entretanto haviam sido criados: Vizela e Trofa, conforme previsto pelo Decreto-Lei n.o 244/2002,
de 5 de Novembro.
A NUT III Ave tem atualmente uma área de 1238 km2, compreendendo oito concelhos2: Fafe,
Guimarães, Póvoa de Lanhoso, Vieira do Minho, Vila Nova de Famalicão, Cabeceiras de Basto e
Mondim de Basto. Este Decreto-Lei promulgou a integração dos municípios de Cabeceiras de Basto e
Mondim de Basto (provenientes da NUT III Tâmega), na unidade territorial do Ave e, por sua vez, os
municípios de Trofa e Santo Tirso (provenientes da NUT III Ave) na Unidade Territorial do Grande Porto.
O município de Vizela abrange uma área de 23,92km2, subdividindo-se tradicionalmente em
sete freguesias: Caldas de Vizela (São Miguel), Caldas de Vizela (São João), Santa Eulália, Vizela (Santo
Adrião), Infias, Vizela (São Paio) e Tagilde (Figura 2). Segundo a Tipologia das Áreas Urbanas (TIPAU3
referente a 2009), todas as freguesias que constituem o município são consideradas
Predominantemente Urbanas (A.P.U.).
A reorganização administrativa das freguesias é estabelecida através da criação de freguesias
por agregação ou por alteração dos limites territoriais, conforme a Lei no 11 – A/2013 de 28 de janeiro.
Relativamente ao município de Vizela, as freguesias alvo de agregação foram Caldas de Vizela (São
Miguel), Caldas de Vizela (São João), Tagilde, Vizela (São Paio), tendo resultado na União de Freguesias
de Caldas de Vizela (São Miguel e São João) e na União de freguesias de Tagilde e Vizela São Paio.
Infias, Santa Eulália e Vizela (Santo Adrião) não sofreram alterações.
1 O conceito de Nomenclatura das Unidades Territoriais (NUT’s), foi introduzido pelo EUROSTAT, com o propósito de criar um padrão único e uniforme para a produção de estatísticas e de repartição de fundos ao nível regional na União Europeia. 2 Segundo Decreto-Lei nº 68/2008 de 14 de Abril de 2008. 3 A Tipologia de áreas urbanas para fins estatísticos, da responsabilidade do INE, consiste numa classificação tripartida das freguesias do território nacional em Áreas predominantemente urbanas (APU), Áreas mediamente urbanas (AMU) e Áreas predominantemente rurais (APR).
49
Fig. 2 Freguesias do concelho de Vizela
O reconhecimento do Vale do Ave como um território provido de uma certa individualidade e
identidade socioeconómica e cultural é um fenómeno recente. Só em meados do século XX é que este
território começa a ser referida como tal. Esta identidade que se gerou tem raízes históricas que
remontam a um artesanato ligado ao linho e à implementação do têxtil e do algodão a partir do século
XIX. Nos anos 50 do século XX o Vale do Ave adquire contornos de unicidade que se prendem com
um cariz marcadamente industrial, uma forte aposta na indústria têxtil, a fraca aposta na qualificação
e uma urbanização difusa decorrente do crescimento urbano desordenado.
Segundo a Associação de Municípios do Vale do Ave (AMAVE), ao Vale do Ave associam-se
três problemáticas que devem ser debatidas:
1) Alguns dos municípios desta Unidade Territorial (U.T.), como Vieira do Minho, Póvoa de Lanhoso
e parte do concelho de Fafe, apresentam um forte cariz rural;
2) Outra correspondente à área dos municípios de Guimarães, Vizela, Trofa, Vila Nova de Famalicão
e parte ocidental de Fafe, debate-se com a necessidade de modernização da indústria têxtil e a
diversificação do tecido produtivo; por outro lado;
3) Verifica-se nos municípios de Póvoa de Varzim e Vila do Conde fortes afinidades com a área
central do Vale do Ave, essencialmente em matérias de despoluição da rede hidrográfica do Ave,
50
assim como em matéria de complementaridade turística, ainda que apresente uma cada vez maior
aproximação à Área Metropolitana do Porto.
Um primeiro olhar sobre o território do Vale do Ave inspira-nos uma paisagem difusa, até
caótica. Sá Marques (1988) considera que a produção de um território onde a dispersão é a nota
dominante não se poderá entender senão na sequência de um modelo, historicamente construído que
é explicável pelas vicissitudes de uma indústria que surgiu na continuidade de um artesanato
disseminado pelas explorações agrícolas.
O crescimento urbano disseminou-se pelos territórios rurais, acabando por destruir a
tradicional dicotomia urbano-rural que perdurou durante séculos e absorveu a paisagem de forma
descontrolada. Assim, a cidade deixou de se conter em si mesma, adquirindo uma forma dificilmente
delimitada.
O urbano e o rural opunham-se do ponto de vista morfológico, mas, simultaneamente,
apresentavam uma importante complementaridade funcional. Deste modo, o modelo urbano
desorganiza-se e perde definição:
Esta indefinição entre o urbano e o rural que caracteriza o Vale do Ave advém de um longo
desenrolar de transformações históricas que este território tem vindo a conhecer. Apresentou, desde
sempre, uma forte ligação com a agricultura e esteve profundamente conexo às primitivas atividades
oficinais. Isto é, o resultado de uma intensa ocupação humana que aqui se fixou ao longo dos tempos
que, tirando partido das condições naturais, souberam-lhes tirar o melhor proveito e utilizar os solos
férteis. Segundo Ferreira (2014), a escassez e grande retalhamento da propriedade agrícola deu
origem à concentração de uma grande diversidade de atividades oficinais – em parte rurais, artesanais
e industriais – que encontraram aí meio de subsistência. O predomínio do minifúndio inviabilizava o
sustento familiar em regime produtivo exclusivamente agrícola, fomentando por isso a procura de um
rendimento exterior à agricultura. As atividades oficinais aparecem assim como complemento natural
à faina agrícola.
“A passagem da cidade para o urbano arrastou uma metamorfose profunda: de centrípeta, passou a
centrífuga; de limitada e contida, passou a coisa desconfinada; de coesa e contínua passou a difusa e
fragmentada; de legível e estruturado passou a campo de forças organizado por novas mobilidades e
espacialidades de contrária ou híbrida do “rural”, passou a transgénico que assimila e reprocessa
elementos que antes pertenciam a um e outro rurais ou urbanos; de organização estruturada pela
relação a um centro, passou a sistema de vários centros; de ponto num mapa, passou a mancha, etc.”
(Domingues, 2009)
51
A rede hidrográfica apresenta-se como um elemento estruturante fundamental. É na
contiguidade dos cursos de água que as pequenas oficinas se instalam, tirando partido da força motriz
e da irrigação subjacentes à água. Esta proximidade fez despontar o aparecimento de novos
mecanismos e engenhos sobre o rio (Figura 3). Foram construídos açudes, comportas, mós e moinhos
de cereais, azenhas, engenhos de azeite e de linho.
Fonte: Ferreira (2014)
O rio Ave e os seus afluentes sinalizam a implantação industrial do têxtil, muito devido às
vantagens inerentes às facilidades de se valerem dos recursos hídricos, para a produção de energia e
o abastecimento de água para as diferentes fases dos processos industriais.
Segundo Cordeiro (1995), numa primeira fase, as grandes indústrias utilizavam água como
força motriz para produção de energia. Verificaram-se dois tipos de aproveitamento: um mais
rudimentar, utilizando a tradicional roda hidráulica e, posteriormente a introdução da turbina
hidráulica, que, nas décadas de 1860 e 1870 já era utilizada na Fábrica de Fiação do Rio Vizela e na
Fábrica de Fiação de Bugio. Este último, mais complexo e dispendioso, introduziu vantagens ao
sistema operativo. Para além de se adaptar a condições de funcionamento muito adversas, como por
exemplo, a variação de caudal, atingia um maior rendimento hidráulico, o que permitia um aumento
de produção. As turbinas hidráulicas aproveitam entre 70 a 80% da potência produzida pela queda de
água, ao passo que as rodas hidráulicas não ultrapassam os 30%. Relativamente a esta temática,
embora esta tecnologia seja mais eficiente, implicava investimentos mais avultados, o que acabou por
inviabilizar a sua utilização.
A energia a vapor foi introduzida no século XIX, devido ao aumento de produção e à
consequente maior necessidade de energia. Esta fonte de energia adquire especial importância na
Fig. 3 Moinho sobre o rio Vizela
52
época estival, em que o caudal do rio diminui acentuadamente. O uso deste tipo de energia é limitado,
uma vez que o combustível – carvão, é limitado.
Segundo Mendes (2002), a industrialização quase se fez, no Vale do Ave, sem a máquina a
vapor. Em certa medida, “queimando-se” a etapa da energia a vapor – a qual, além de ter tido um
curto período de utilização não chegou a generalizar-se-, passou-se quase diretamente da energia
hidráulica à energia elétrica, o que constituiu umas das especificidades do respetivo processo.
Alves (2000), considera que se, por um lado, a distribuição da energia elétrica avançava
lentamente, os industriais não podiam esperar e procuravam a auto-produção. Na segunda e terceira
e década do século XX, multiplicaram-se as centrais de auto-produção, quer térmicas, quer
hidroelétricas. A zona industrial do Vale do Ave, nos concelhos de Famalicão, Guimarães e Santo Tirso
tornou-se exemplar, com múltiplas pequenas centrais, animadas pelos fabricantes locais, que, às
vezes, forneciam para o exterior, ajudando a iluminar as localidades em que se inseriam.
Estes desenvolvimentos fizeram com que as populações se apercebessem das
potencialidades energéticas inerentes à água e à rede hidrográfica, aumentando a sua curiosidade e
predisposição para a sua utilização, o que propiciou a criação de condições ideais ao aparecimento
de uma atividade proto-industrial neste território.
A indústria linífera surge no Vale do Ave ligado à autossuficiência da vida rural, onde os
abundantes lameiros que se geram nas margens dos rios favorecem a cultura do linho, que serve de
matéria-prima para a produção de fio. As feiras eram as principais estruturas de escoamento desta
produção linífera que atingia proporções elevadas, quer pela produção doméstica das mulheres rurais,
quer pelas oficinas que entretanto se organizavam (Alves, 1999). Segundo o mesmo autor, o algodão,
de origem colonial ocupava um lugar central na têxtil mundial. Embora presente desde os primórdios
da colonização, só ao longo da segunda metade do século XIX o algodão entra em força na economia
portuguesa, depois de algumas tentativas falhadas, ajudando a configurar o nosso incipiente tecido
industrial.
A cultura do algodão ganha espaço devido a vários fatores: por ser mais acessível e ajustável
aos processos mecânicos, e com maior variedade de acabamentos, aliado ao facto de a cultura do
linho se encontrar em decadência na região. Verifica-se uma proliferação do algodão, introduzido
desde há muito tempo na cidade do Porto, até ao Vale do Ave, em meados do século XIX.
Aqui acabaria por emergir um processo de industrialização que adquire características muito
próprias, que marcariam de um modo profundo e permanente toda a região, tendo-se assistido durante
53
mais de um século, a uma forte proliferação industrial que se implementa numa realidade que mantém
economias e sociedades marcadamente rurais e tradicionais.
Alves (2002), considera que o Vale do Ave surge como um reservatório histórico de
experiências industriais, em face da densa implementação fabril. Por outro lado, alimenta
representações de um tecido empresarial frágil e vulnerável aos ciclos económicos, fenómeno só
observável para lá da paisagem. Do mesmo modo que este território reside na memória como um
foco industrial importante, reside também a noção da vulnerabilidade inerente a este processo, sem
a aposta necessária num desenvolvimento sustentado.
O Vale do Ave apresenta-se como uma paisagem complexa, onde os elementos se organizam
segundo relações e regras muito próprias e que, por isso, admitem leituras muito diversas. A aposta
num denso tecido industrial sem a aposta necessária na qualificação da mão-de-obra, em que o
abandono escolar precoce é um indicador claro, de que resulta uma enorme debilidade que se
mostrou demasiado indefesa perante a crise económica que o país atravessa na atualidade. Por outro
lado, a fraca aposta no ensino e aprendizagem libertou mão-de-obra barata e jovem, causadora do
dinamismo que a indústria adquiriu no Vale do Ave, ainda que a sustentabilidade deste modelo tenha
cedido à primeira dificuldade.
Todos estes processos que marcaram o Vale do Ave acabaram por se refletir na paisagem.
Segundo Portas (1986), o modelo territorial do Ave configura-se como um contínuo urbanizado (com
a exceção do alto Ave), incluindo centros urbanos de pequena e média dimensão e alguns milhares
de lugares de pequeníssima dimensão, dispostos ao longo de uma extensa teia viária, nacional,
municipal e adjacente. A acentuada dispersão dos assentamentos urbanos, das unidades industriais
e do comércio a retalho aparece estruturado pelos cursos de água e por uma extensa rede viária.
A produção de um território onde a dispersão é nota dominante, só se poderá compreender a
partir de um modelo historicamente construído e que é explicável pelas vicissitudes de uma indústria,
que surgiu na continuidade de um artesanato ligado ao linho, disseminado pelas explorações agrícolas
(Costa e Gonçalves, 2002).
Esta dispersão das atividades económicas e da população acabou por se espraiar por um
contínuo, sem que se possa distinguir o “urbano” e o “rural”. Segundo Domingues (2013), uma
“cidade continuada”, como aquela a que se desenha o Vale do Ave, é cada vez mais a imagem da
conurbação, forma e processo bem mais complexos que a metáfora simples da “mancha de óleo”
que vai alastrando por manchas concêntricas e manchas contíguas até encontrar outras, coalescendo
então até formar uma “megapolis”. No noroeste de Portugal, a conurbação prossegue a par e passo
54
com a dupla metamorfose do urbano e do rural, numa matriz geográfica que herdou do passado
longínquo a lógica do povoamento denso e disperso e a escala miúdo do minifúndio.
Analisando o mapa (Figura 4), individualizam as principais áreas industriais, destacando-se
manchas de contíguos urbanizados. Este rendilhado de zonas industriais continua a ser o suporte
fundamental do emprego e da capacidade de fixação de população. O reforço do setor terciário nas
sedes de concelho, é outro pilar desta economia/território.
A urbanização difusa é indissociável da industrialização do Ave, no século XIX ligada à indústria
linífera, que se desenvolve numa matriz rural densamente povoada, desenvolvendo uma localização
dispersa, junto as linhas de água. Mais recentemente, a diversificação da fileira para jusante (confeção
Fig. 4 Conurbação do Vale do Ave por Domingues (2011)
Fonte: Domingues (2011)
55
e vestuário) e as próprias mudanças tecnológicas dos segmentos de fiação, tecelagem e acabamentos,
recentraram a difusão da localização industrial para junto dos principais eixos viários (Domingues,
1996). Na figura 5 verifica-se que nos concelhos de Guimarães e Vizela, as principais concentrações
industriais se fazem, grosso modo, ao longo dos principais eixos viários: autoestradas, rodovias e
ferrovias, assim como ao longo da principal rede hidrográfica.
Fig. 5 Localização das principais concentrações industriais
Fonte: PROAVE, Guia de Localização Industrial para novos investimentos (1991:13)
56
O caminho-de-ferro, os cursos de água e a progressiva densificação da rede viária foram
permitindo e catalisando um padrão difuso de industrialização assim desenvolvido (Domingues e Sá
Marques, 1987).
Segundo Alves (2003), acompanhando as características de povoamento disperso da região,
as fábricas disseminaram-se pelo Vale do Ave devido a múltiplos fatores de localização:
1) Os cursos de água necessários ao aproveitamento das energias hidráulicas e a outras
operações industriais;
2) As novas vias de comunicação, que entretanto foram surgindo, facilitando o acesso aos
mercados de aprovisionamento e de distribuição;
3) A existência de potencial humano ainda não aproveitado no mercado industrial;
4) As disponibilidades domésticas de espaço coberto ou para construção apropriada à
funcionalidade fabril.
Segundo Sá Marques (1987:8), a acentuada dispersão dos aglomerados urbanos e das
unidades industriais configura um «contínuo urbanizado». Este caracterizando-se por uma expressão
espacial de contornos imprecisos, onde a maioria das indústrias se dispersa e a população vive “entre
cidades” (Domingues, 1996).
A urbanização difusa é o resultado de um crescimento industrial extensivo, processo baseado
na quantidade de trabalho e na duração da jornada de trabalho (Reis, 1987), bem como o fraco
potencial do setor terciário.
É possível identificar um conjunto de fatores principais que explicam a formação deste modelo
territorial: em primeiro lugar a fragmentação da propriedade da terra permite o desenvolvimento
espontâneo de áreas mistas para uso residencial e industrial, cabendo à iniciativa individual o comando
do processo de urbanização. Em segundo lugar, o tipo de relações interempresariais, ao favorecer a
proximidade geográfica, acentuam o modelo de urbanização e industrialização difuso, em virtude de
relações de subcontratação entre grandes e pequenas empresas (Sá Marques, 1987). Em terceiro
lugar, as grandes empresas situadas nos principais aglomerados urbanos iniciaram um processo de
deslocalização da atividade em busca de mão-de-obra barata em áreas rurais e pela oportunidade de
valorização do solo industrial que ocupavam na cidade com a mudança de uso. Por último, a
fragmentação da propriedade rural foi permitindo a manutenção da atividade agrícola, a tempo parcial,
como complemento da atividade industrial.
57
Se no início do século XX, a dispersão se vinculava nitidamente à produção artesanal
domiciliária, hoje em dia as formas de subcontratação contribuem para a sua manutenção,
funcionando como uma forma dominante de coesão do sistema produtivo local.
Pode considerar-se que o Vale do Ave, apesar de indissociável de uma intensa atividade
industrial, se constitui como área dotada de grande diversidade interna, diversidade essa que lhe
confere unidade identitária: por entre os campos retalhados da região, surgem as grandes indústrias,
fazendo conviver, no mesmo espaço realidades e elementos muito diferenciados e não raras vezes,
complementares (Ferreira, 2014).
Em suma, o modelo territorial do Ave desencadeou uma necessidade de desenvolvimento de
uma política de ordenamento industrial, cuja definição de loteamentos e de zonas industriais se efetua
de modo a solidificar as áreas de elevada densidade de estabelecimentos. Esta política de
ordenamento industrial prende-se com os problemas de poluição hídrica e o esforço de rendibilização
dos recentes investimentos na despoluição do Vale do Ave.
Segundo Domingues (2009), determinadas qualidades paisagísticas herdadas dos padrões
tradicionais do minifúndio, do povoamento disperso, da associação entre parcelas agrícolas e
construção, perdem-se nos critérios genéricos da dicotomia rural/urbano e na opacidade de muitas
categorizações, que na sua aparente objetividade escondem de facto uma diversidade enorme de
escalas, usos, formas, tipologias, morfologias, maior ou menor pressão ou intensidade urbanística
derivada do tipo de função, do uso de energia, de geração de mobilidade, entre outros. Se assim for,
perdem-se velhas qualidades e o que se ganha são apenas fragmentos de supostas racionalidades
que não se sabe a que qualidades atendem.
58
59
Capítulo 4. Os elementos naturais e socioeconómicos como estruturantes
do território
4.1 – Os elementos naturais
O Vale do Ave é o resultado de uma longa e intensa ocupação humana, condicionada por
condições físicas particulares, quer em termos de relevo, quer, especialmente, em termos de clima, e
com especial relevância para os recursos hídricos (Costa, 2008), apresentando-se a rede hidrográfica
como um fator preponderante na localização industrial do território do Vale do Ave, verificando-se uma
distribuição espacial das unidades industriais acompanhando muito de perto o traçado de algumas
linhas de água.
O território do Vale do Ave corresponde quase inteiramente à área da Bacia Hidrográfica do
rio Ave (Figura 6) e dos seus afluentes e atinge o seu ponto mais alto na Serra da Cabreira (concelho
de Vieira do Minho) a 1261 metros de altitude.
Fonte: Atlas do Ambiente e CAOP (2014) Fig. 6 Mapa da Rede Hidrográfica da NUT III – Vale do Ave
60
O rio Ave é um elemento preponderante na paisagem, com cerca de 100 km de extensão,
com inúmeros afluentes, recebendo na margem esquerda, em Caniços, ligeiramente a montante de
Santo Tirso, o rio Vizela, sendo este o seu principal afluente. Este apresenta-se como um dos seus
principais tributários, a par do rio Este.
Segundo Ferreira (2014), as áreas drenadas por estes dois rios possuem sistemas
paisagísticos muito contrastados. Segundo o mesmo autor, o rio Vizela, começa o seu percurso a uma
quota superior a 700 metros de altitude, caracterizando-se pela existência de quedas de água e pelo
localização de diversas estruturas industriais, quer nas suas margens, quer nas margens dos seus
principais afluentes (os rios Ferro e Bugio), utilizando a sua água como força motriz; por outro lado, o
rio Este tem as suas cabeceiras a uma quota muito inferior (a cerca de 300 metros de altura),
apresenta um caudal mais lento e espraiado, drenando, por isso, uma área predominantemente
agrícola e fornecendo água, essencialmente, para irrigação.
Dominada, do ponto de vista geológico pelo afloramento de rochas granitoides e algumas
intercalações de rochas metassedimentares, a tectónica desta área está densamente marcada por
duas direções preferenciais: NNE/SSW a NW/SE e NE/SW (Ferreira et al., 1987), que marcam a
definição dos vales estreitos da rede hidrográfica principal (Figura 7).
Desta forma, a rede de drenagem de toda a região é profundamente condicionada pela
tectónica, com os vales escavados ao longo de fraturas, conferindo disposição característica ao
modelado fluvial; só assim se compreende o traçado retilíneo e o paralelismo de certos cursos de
água, e, mesmo, a topografia da região cujas altitudes diminuem, duma maneira geral, de NE e SE
para W (Costa, 2010).
A água assume uma importância assinalável no seio e na identidade do Vale do Ave,
apresentando um caráter complexo como recurso, sendo causa e consequência das caraterísticas que
este foi adquirindo.
Decorrente das características hidrogeológicas deste território resultam as águas sulfurosas
com particularidades terapêuticas das Caldas de Vizela. Os rumores curativos que passavam de boca
em boca faziam com que a procura às Caldas de Vizela aumentasse significativamente, apesar das
condições precárias em termos de equipamentos e higiene disponibilizadas para o usufruto da água.
Com a criação do balneário termal pela Companhia de Banhos de Vizela, em 1873, e com a chegada
do comboio, em 1883, reuniram-se as condições para que este território se tornasse um polo de
61
desenvolvimento económico, alicerçado num turismo de procura de bem-estar e qualidade de vida.
Esta imagem reside no imaginário clássico que se desenvolveu sobre este Vizela.
Fonte: CAOP (2013) e Carta Geológica 9B (Guimarães) .
Fig. 7 Geologia do concelho de Vizela
As atividades económicas, assim como a geração do crescimento económico
deste território manteve, desde sempre uma estreita dependência dos recursos
naturais, quer pelo usufruto das águas termais das Caldas de Vizela, quer pela forte
industrialização contígua aos principais cursos de água, t irando partido da força motriz
e da irrigação subjacentes à água.
4.2 – A População
Os primeiros dados relativos à população existentes para Vizela datam de 1706, em que o
Padre António Carvalho Costa, na sua obra Corografia Portuguesa e descrição topográfica do famoso
reino de Portugal, nos dá a conhecer um pouco de Vizela no século XVIII, nomeadamente ao nível da
população. Nas sete freguesias, que vieram a fazer parte do atual concelho, viviam, à data, cerca de
2200 pessoas. O número de fogos cifrava-se em 550.
62
Francisco Costa (1964), na sua publicação Ad Perpetuam (edição de autor) menciona que,
em 1821 Vizela possuía 480 fogos e perto de 1500 almas.
A partir do momento em que em Portugal se realizam de modo sistemático recenseamentos
gerais da população, torna-se possível avaliar diacronicamente e notar com mais firmeza a evolução
do comportamento demográfico dos territórios. No que diz respeito à evolução da população da
população residente em Vizela, entre 1890 e 2011, denota-se uma evolução positiva e gradual dos
efetivos populacionais (Figura 8).
No período em análise, devemos considerar que não há dados para algumas freguesias, o
que se condiciona a caraterização da evolução da população do concelho de Vizela. Esta situação
reconhece-se devido a vários motivos: a criação e extinção de freguesias, nomeadamente Santa Eulália
e Vizela (São Paio), e devido ao facto do concelho de Vizela ter sido formado, aquando da sua
independência autárquica, a partir de 3 concelhos, nomeadamente Guimarães, Lousada e Felgueiras.
A freguesia de Santa Eulália só faz parte de Vizela desde a sua elevação a concelho em 1998,
pertencendo anteriormente em ao concelho de Lousada, o que se repercutir num aumento
significativamente da população vizelense aquando da sua agregação.
Entre 1911 e 1920, verifica-se um decréscimo populacional, sendo que essa quebra
demográfica se verifica em todas as freguesias de Vizela. A justificação para esta situação prende-se
com vários fatores, entre os quais, a partida para a Primeira Grande Guerra e a emigração para o
Brasil.
Após este período confirma-se um aumento da população que se justifica pelo aumento da
taxa de natalidade e pela forte mobilidade interna, consequente do importante surto industrial, que faz
Vizela tornar-se num núcleo polarizador, decorrente da bacia de emprego que se gerou pela
multiplicação de unidades fabris que aí iam surgindo.
No período que antecede a elevação de Vizela a concelho (entre 1981 e 1991) verifica-se uma
certa estagnação na evolução da população. Isto pode advir de diversos fatores, tais como uma maior
instabilidade política e social, um assentamento do número de empresas e, consequentemente, a
incapacidade de absorver mais quantidade de mão-de-obra que deixa de se sentir atraída para residir
neste território.
Entre os censos de 1991 e 2001, verifica-se um aumento muito significativo que se prende
com a agregação com a freguesia de Santa Eulália, como referido anteriormente, sendo esta,
atualmente, a segunda freguesia mais populosa do concelho de Vizela.
63
Fonte: Dados estatísticos do INE – Recenseamentos Gerais da População .
Fig. 8 População residente no município de Vizela entre 1890 e 2011
Em 2011, em Vizela residiam 23 851 habitantes, sendo, de entre os municípios pertencentes
à NUT III, um dos menos populosos, registando menos de 5% do total de população total do Ave.
No entanto, verificou uma variação populacional positiva, com um aumento de 1098
residentes entre 2001 e 2011 (Quadro 2). O município de Vizela apresenta, também, uma elevada
densidade populacional – 997hab/Km2, quando comparado com os restantes municípios de Vale do
Ave.
Quadro 2 População residente nos municípios da NUT III Ave em 2001 e 2012
2001 2012 Variação VALE DO AVE 511631 497731 -13900 Fafe 52736 50249 -2487 Guimarães 159915 157214 -2701 Póvoa de Lanhoso 22735 21889 -846 Santo Tirso 72562 70992 -1570 Trofa 37808 38843 1035 Vieira do Minho 14614 12719 -1895
Vila Nova de Famalicão 128508 133974 5466 Vizela 22753 23851 1098
A análise demográfica incidiu nos dois últimos momentos censitários, por serem estes os que
se realizaram após a independência de Vizela a Guimarães. No que respeita à evolução da população
residente por municípios do Vale do Ave (Figura 9), verificamos que, Fafe, Guimarães, Póvoa de
0
5000
10000
15000
20000
25000
1890 1900 1911 1920 1930 1940 1950 1960 1970 1981 1991 2001 2011
Fonte: Censos 2011 e Estimativas do INE para 2012
64
Lanhoso, Santo Tirso e Viera do Minho apresentaram perdas de população, com especial destaque
para Vieira do Minho ao apresentar uma perda de cerca de 13% da sua população entre 2001 e 2011.
De entre os municípios que registaram acréscimos de população, Vila Nova de Famalicão é aquele
onde se registam valores mais expressivos (5.466 habitantes), seguindo-se-lhe Vizela e Trofa, os mais
recentes municípios criados no seio do Vale do Ave.
Fonte: INE .
Fig. 9 Variação da população residente por município do Vale do Ave entre 2001 e 2011
No que respeita à densidade populacional (hab./km2) por freguesia, do município de Vizela
para o ano de 2011, verifica-se que Caldas de Vizela (São Miguel), Caldas de Vizela (São João), Santa
Eulália e Infias apresentam os valores acima da média do município: 1 388,8 hab./km2, 1 168,2
hab./km2, 1 031 hab./km2 e 989,2 hab./km2, respetivamente.
Por seu turno, as freguesias Vizela (Santo Adrião), Vizela (São Paio) e Tagilde apresentam
densidades populacionais inferiores à média municipal com 657,1 hab./km2, 659,2 hab./km2 e 679,2
hab./km2, respetivamente. Vizela é um concelho pequeno no que respeita à sua área, nomeadamente
no contexto do Vale do Ave, mas apresenta densidades populacionais muito elevadas (Figura 10).
65
Fig. 10 Distribuição da densidade populacional das freguesias do Concelho de Vizela (2011)
Analisando a distribuição da densidade populacional nas freguesias do município,
relativamente aos dois últimos momentos censitários, verificamos que as três freguesias com mais
população são Caldas de Vizela (São Miguel), Santa Eulália e Caldas de Vizela (São João), ordenadas
de forma decrescente. Ainda assim, apenas as duas primeiras têm apresentado uma variação
populacional positiva nos últimos anos, tendo um saldo positivo, entre 1991 e 2011, de 1670 e 1330
habitantes, respetivamente, ao passo que Caldas de Vizela (S. João) verifica uma perda de 388 no
espaço temporal de duas décadas, representando uma perda de cerca de 11% da sua população total.
Relativamente às freguesias menos populosas, todas verificaram um acréscimo populacional
entre os anos de 1991 e 2001, embora Vizela (Santo Adrião) tenha apurado entre 2001 e 2011 uma
perda de 180 habitantes. De entre estas freguesias, Tagilde é aquela que mais positivamente se
destaca, com um aumento populacional de 488 indivíduos.
66
No que respeita à taxa de crescimento efetivo4 (Quadro 3), Vizela apresenta entre1991 e 2011
uma taxa de crescimento efetivo de 16,1%, sendo que esta é superior na década 1991-2001, porém,
entre 2001 e 2011 apresentou uma desaceleração importante.
Se, por um lado, Tagilde, Santa Eulália, Caldas de Vizela (São Miguel) e Vizela (São Paio)
verificam taxas de crescimento efetivo muito positivas entre 1991 e 2011, acima dos 20%, bem como
Infias que, apesar de apresentar uma taxa de crescimento menos expressivo, é, ainda assim, positiva;
por seu turno, a freguesia de Caldas de Vizela (São João), apresentou uma taxa de crescimento
negativa que se acentuou marcadamente na década correspondente a 2001-2011.
As taxas de crescimento efetivo são mais positivas em Tagilde dada as relações de
proximidade com o concelho de Felgueiras, sendo uma freguesia periférica do concelho de Vizela e de
pequena dimensão, pelo que, um pequeno acréscimo populacional pode repercutir-se numa taxa de
crescimento efetivo bastante significativo; em Caldas de Vizela (São Miguel), a freguesia mais central
do concelho de Vizela e também a mais populosa, tem atraído população, aumentando a taxa de
crescimento efetivo; em Santa Eulália a taxa de crescimento é também muito expressivo, sendo esta
uma freguesia também muito populosa e com muitos jovens.
Caldas de Vizela (São João), por sua vez, apesar de ser a terceira freguesia mais populosa do
concelho de Vizela, apresenta uma taxa de crescimento negativa com bastante expressividade, o que
se pode justificar pela maior ruralidade, nomeadamente a sul, que faz fronteira com Santo Tirso, onde
há grande predomínio das atividades agrícolas e pelo envelhecimento da população residente.
Uma exceção às situações enunciadas é a freguesia de Santo Adrião que, na década
correspondente a 1991-2001 apresenta uma taxa de crescimento efetivo de 15,1% e na década que
se lhe sucede a tendência inverte-se, apresentando uma taxa de crescimento efetivo negativa de -7,6%.
4 A taxa de crescimento efetivo é o crescimento real da população durante um tempo definido, relativamente à população média desse período. É calculada com base na fórmula:
𝑇𝐶𝑒𝑓𝑒𝑡𝑖𝑣𝑜 =𝑃𝑡−𝑃0𝑃𝑡+𝑃0
2
∗ 100, onde P0 é a população no momento considerado inicial e Pt é a população no
momento considerado final.
67
Quadro 3 Taxa de crescimento efetivo (%) para as freguesias do concelho de Vizela
Freguesias
Taxa de crescimento efetivo (%)
1991-2001 2001-2011 1991-2011
Caldas de Vizela (São Miguel) 12,3 14,0 26,1
Caldas de Vizela (São João) -2,1 -8,6 -10,8
Santa Eulalia 19,2 7,7 26,8
Vizela (Santo Adrião) 15,2 -7,6 7,7
Infias 5,2 4,2 9,4
Vizela (São Paio) 14,5 7,5 21,9
Tagilde 25,7 4,6 30,2
Vizela (concelho) 12,2 4,9 16,1 Fonte: INE
A Taxa de Crescimento Migratório, dentro da NUT III Ave tem evidenciando uma tendência
negativa. No ano de 2000, todos os municípios, à exceção de Vieira do Minho, apresentavam taxas
positivas. Vizela, no decorrer da década apresentava valores nulos, ou seja, verificava-se um equilíbrio
entre as emigrações e as imigrações, tendo em 2004 verificado Taxa de Crescimento Migratório de
0,06%. Por outro lado, em 2008 e 2012 apresenta taxas negativas, de -0,14% e -0,13%,
respetivamente, verificando um desequilíbrio importante devido à saída mais pronunciada de
habitantes para outros municípios ou para o estrangeiro.
Se atentarmos na caraterização do perfil etário da população portuguesa cronologicamente,
apontamos claramente três grandes padrões de comportamento: a redução da população jovem
(compreendida entre os 0-14 anos ou 0-19 anos), a estabilização da população adulta (entre os 20 e
os 64 anos) e da população que se encontra em idade ativa (entre os 15 e os 64 anos e, por último,
o aumento considerável dos indivíduos com idade igual ou superior aos 65 anos. Verifica-se um
“envelhecimento da base” (Nazareth, 1996: 95), confirmando a entrada na última fase de transição
demográfica, já que reforça os níveis de mortalidade e natalidade reduzidos, assim como é evidente a
perda na proporção de jovens.
Relativamente ao concelho de Vizela (Figura 11), verifica-se que o número de jovens (com
menos de 15 anos) tem apresentado uma diminuição substancial, traduzindo-se na regressão da base
da pirâmide, tendência bem evidente entre 2001 e 2011. Esta situação apresenta uma relação direta
com a redução da Taxa de Bruta de Natalidade de 11,3‰ em 2001 para 7,4‰ em 2011 em Vizela,
seguindo de perto as tendências que Portugal, o Norte e a NUT III Ave apresentaram para o mesmo
período, segundo os dados obtidos a partir do Recenseamentos Gerais da População.
68
O estrangulamento da base assim como o empolamento do topo da pirâmide etária são
evidentes em 2011. Esta situação deve-se à combinação do decréscimo da taxa de natalidade
discutida acima, com o índice de envelhecimento (Quadro 4). Segundo o Índice de Envelhecimento de
2001, por cada 100 jovens existiam 40 idosos, tendo, em 2013, verificado quase o dobro desse valor.
Este facto, aliado à diminuição da taxa de mortalidade e ao aumento da esperança média de vida tem
revelado uma estrutura etária envelhecida. Embora estes valores para o concelho sejam preocupantes
e sigam a mesma tendência que as unidades territoriais hierarquicamente superiores, estes são, ainda
assim, muito inferiores.
De entre os municípios do Vale do Ave, são aqueles que ostentam uma génese mais rural que
apresentam também maiores índices de envelhecimento: Vieira do Minho, Santo Tirso, Fafe e Póvoa
de Lanhoso. Ainda que uns apresentem valores mais elevados que outros, todos os municípios
correspondentes à NUT III duplicaram, grosso modo, o índice de envelhecimento, o que não
acompanha a tendência nacional, onde o Índice de Envelhecimento era em 2001 já muito alto, mas
o aumento verificado em 2013 foi menos significativo.
Fonte: INE . Fig. 11 Pirâmides etárias da população residente no concelho de Vizela (2001 e 2011)
1 200 900 600 300 0 300 600 900 1 200
0-4
5-9
10-14
15-19
20-24
25-29
30-34
35-39
40-44
45-49
50-54
55-59
60-64
65-69
70-74
74-79
80-84
>85
Mulheres 2011
Homens 2011
Mulheres 2001
Homens 2001
69
Em 2001, os grupos etários que concentravam mais população eram os correspondentes ao
intervalo de idades 25 – 34 anos, concentrando 26,6% da população total do concelho. Por outro lado,
verificamos que à data dos últimos censos, os grupos etários correspondentes ao intervalo de idades
35 – 49 anos eram os que apresentavam maior frequência, reunindo 25,4% do total de população do
concelho. Esta análise vem reforçar a noção de que a população vizelense tem manifestamente
envelhecido e que, a longo prazo, perderá população ativa e, consequentemente, mão-de-obra para
trabalhar e, deste modo, garantir a sustentabilidade do Estado Providência.
Apesar de Portugal ter desenvolvido pioneiramente legislação, estabelecendo a
obrigatoriedade de frequência da escolaridade básica, “foi registando, até bem dentro do século XX,
proporções anormalmente elevadas de crianças afastadas do contacto com a escola e um atraso
igualmente muito significativo no acesso da população à instrução básica, média e superior” (Borges
Pereira et al., 2012:44).
Aquando do arranque do processo de industrialização no Ave (fim do século XIX), a taxa de
escolarização da população portuguesa apresentava um grande desfasamento relativamente a alguns
países europeus. Até meados do século XX, esta tendência mantém-se, embora se tenham mantido
esforços aquando da institucionalização da Primeira República para contrariar esta situação. O Estado
Novo reduziu o investimento na instrução das gerações mais jovens, contrariamente à maioria dos
países europeus que, à época apostavam largamente na escolaridade da sua população. Esta situação
fez com que se verificasse uma grande debilidade dos níveis de alfabetização que se verificava em
Quadro 4 Índice de envelhecimento populacional - Portugal, Norte, Ave em 2001 e 2013 (‰)
2001 2013
Portugal 101,6 123,5
Norte 79,4 122,0
NUT III - Ave 60,1 104,8
Fafe 71,0 113,5
Guimarães 52,0 96,6
Póvoa de Lanhoso 74,5 114,7
Santo Tirso 77,4 140,0
Trofa 52,0 97,4
Vieira do Minho 109,8 170,0
Vila Nova de Famalicão 55,9 95,2
Vizela 40,0 77,3 Fonte: PORDATA .
70
Portugal à entrada da década de 60 do século XX. Esta disposição não foi alheia aos processos de
urbanização e modernização da economia.
Segundo Borges Pereira et al. (2012), só no início da década de 1960 foram criadas condições
para a generalização da escolaridade mínima a todas as crianças portuguesas. Após o regresso do
país à democracia, verifica-se um crescimento acentuado de participação das gerações mais jovens
no sistema de ensino. Em simultâneo, diminui também a proporção de analfabetos, tendo passado
de 40% em 1950 para 9% em 2001. No caso específico do Ave, verifica-se um decréscimo ainda mais
significativo, comparativamente com os valores nacionais, no que respeita à taxa de analfabetismo.
No que respeita à escolaridade da população (Figura 12 e Anexo 1), precedemos à
comparação entre ambos os sexos, segundo o nível de escolaridade, estabelecendo paralelismos entre
Portugal, o Norte, o Ave e Vizela, recorrendo aos dados recolhidos pelo último Recenseamento Geral
da População, em 2011.
No que respeita à população sem nível de escolaridade ou analfabeta evidencia-se uma clara
proeminência das mulheres em Vizela relativamente às restantes unidades territoriais, não sendo tão
evidente no que respeita aos homens. Esta situação reflete uma certa tradição de priorizar a
escolaridade do sexo masculino, negligenciando a formação das mulheres. Isto verifica-se
fundamentalmente nas classes etárias mais idosas.
Relativamente ao Ensino Básico (4º ano, 6º ano e 9º ano) verifica-se em Vizela as mulheres
seguem a tendência nacional, não havendo desfasamentos percentuais assinaláveis, por seu turno,
os homens, apresentam valores superiores comparativamente às proporções nacionais.
Quando analisamos a distribuição da população que frequentam ou possuem o ensino
secundário das U.T. em análise, concluímos que, quer o sexo feminino, quer o masculino, no concelho
de Vizela, apresentam uma divergência percentual negativa relativamente aos valores nacionais de
cerca de 5%.
A população nacional que frequenta ou possuiu o ensino superior (16,4% no sexo feminino e
13,6 no sexo masculino), em 2011, é largamente mais elevado quando comparada com a população
vizelense (12,3% no caso das mulheres e 6,2% no caso dos homens).
71
Comparando os valores percentuais relativos à população vizelense com os da NUT III Ave
para o ensino superior, verificamos que Vizela apresenta uma maior proporção de população a
frequentar ou que concluiu o ensino superior.
Assim, verifica-se que, no caso do sexo feminino, em meados do século XX recaía o atraso
das populações perante a escola. Esta situação encontra algum paralelismo com os dias de hoje, uma
vez que ainda são as mulheres, o sexo que, quer no país, quer no Ave, apresentam taxas mais elevadas
de analfabetismo. Por outro lado, ao olharmos para os valores relativos à instrução de nível superior,
verificamos uma inversão do desfavorecimento das mulheres perante a escolaridade, tanto à escala
nacional, regional, bem como no Ave e em todos os seus concelhos. Aquando da generalização do
acesso aos níveis de escolaridade não obrigatória, as raparigas ganharam em Portugal grande
destaque relativamente aos jovens do sexo masculino.
Fonte: INE
Fig. 12 Distribuição da população residente por sexo e nível de escolaridade em 2011 (%) – Portugal, Norte, NUT III Ave e Vizela
0
5
10
15
20
25
30
35
Nenhum nívelde
escolaridade
4ºano 6ºano 9ºano Ensinosecundário
Ensinosuperior
Analfabetoscom 10 ou +
anos
Per
cen
tage
m
Homens
0
5
10
15
20
25
30
35
Nenhum nívelde
escolaridade
4ºano 6ºano 9ºano Ensinosecundário
Ensinosuperior
Analfabetoscom 10 ou +
anos
Per
cen
tage
m
Mulheres
Portugal Norte Ave Vizela
72
Um outro aspeto importante, segundo o Diagnóstico Social – Plano de Desenvolvimento Social
2010-2015 para Vizela (2010), no que respeita à escolaridade da população vizelense, é o abandono
escolar precoce. Este é um fenómeno persistente no concelho, embora seja cada vez mais evidente
que, na população com menos de 15 anos, ele tende a desaparecer. Esta situação é percetível,
nomeadamente, na redução de casos denunciados à Comissão de Coordenação de Crianças e Jovens
(C.P.C.J.).
4.3 – As Atividades Económicas
A condição da população perante a atividade económica pode ser ativa ou inativa. Por
população ativa entende-se o conjunto de pessoas, com 15 ou mais anos que exercem uma profissão
remunerada ou que estejam desempregados à procura de novo ou do primeiro emprego e, ainda,
aqueles que se encontram a cumprir serviço militar. A população que não detém atividade económica
(inativa) abrange a restante população que trabalha e não é remunerada, como os estudantes ou as
domésticas, mas, também, a população que não trabalha: crianças, incapacitados, reformados ou
outros.
Consideram-se desempregados indivíduos com idade dos 15 anos as 74 anos que, no
período de referência, se encontravam simultaneamente nas seguintes situações:
1) Não tinham trabalho remunerado nem qualquer outro tipo;
2) Tinham procurado ativamente trabalho remunerado ou não ao longo de um período específico
(o período de referência são as três semanas anteriores);
3) Estavam disponíveis para trabalhar num trabalho remunerado ou não.
O dinamismo económico de um dado território se mede pela proporção de população ativa
no total de população residente, nomeadamente através da sua taxa de atividade.
Vizela apresentava em 2001 uma taxa de atividade de 69,6%, valor que desceu
consideravelmente, tendo verificado uma taxa de atividade de 64,17% em 2011. Além do decréscimo
da taxa de atividade, verifica-se ainda uma perda de população empregada e um aumento da
população desempregada no bolo total da população ativa (Figura 13), tendo a proporção de
população desempregada aumentado de 4,9% em 2001 para 13,3% em 2011.
73
Com atividade económica Sem atividade económica
Fonte: INE
Fig. 13 População residente segundo a condição perante a atividade económica no concelho de Vizela
(2001 e 2011)
Em termos económicos, o Vale do Ave caracteriza-se fortemente pela predominância da
indústria transformadora, que se insere no setor secundário, resultado de um dos mais antigos
processos de industrialização do país. Ao longo do século XX, este processo ganhou uma grande força,
fortalecendo a tradição industrial na região e a sua tradição no setor têxtil. Isto traduz-se num forte
período de especialização de atividade económica.
Segundo Pereira (2010), é notório ao longo deste período o peso do setor secundário na
região, bastante acima do valor médio relativo ao país, num quadro económico marcado pela quebra
contínua da atividade agrícola e pela crescente terciarização da economia, este setor manteve-se como
o principal destino da mão-de-obra, abrangendo em 2001 mais de 74,4% dos ativos no concelho de
Vizela, quase 40% acima do valor médio nacional. Ainda assim, é assinalável o decréscimo da
percentagem do setor secundário em Vizela, entre os anos 2001 e 2011, decaindo para 63%.
Do ponto de vista do mesmo autor, dentro do sector secundário, assume particular relevo a
indústria transformadora, que concentrava em 2001 mais de metade dos ativos no Ave, e que
11752
607
2001
0 1000 2000 3000 4000
Estudante
Doméstica
Reformados
Incapacitados
Outros
10863
1517
2011
0 1000 2000 3000 4000
Estudante
Doméstica
Reformados
Incapacitados
Outros
74
contribuiu para cerca de 45% da riqueza gerada na região. Assiste-se a uma monoespecialização da
população ativa.
Analisando a variação da população ativa entre os anos 2001 e 2011 por setores de atividade
(Quadro 5), verifica-se que o setor primário adquire fraca expressividade no que respeita à população
ativa no município de Vizela; 1,2% e 0,5%, respetivamente, apresentando um decréscimo entre o
período considerado.
O setor secundário apresenta uma variação negativa. Apesar de preocupante, este valor é
inferior à variação negativa que o Ave verificou de população ativa a laborar no setor secundário. Esta
situação deve-se, em muito, ao declínio das indústrias têxtil e do vestuário, que, perante a capacidade
de competir com a abertura dos mercados abrem falência e coloca uma significativa fatia de população
em situação de desemprego. Esta situação é de tal forma gravosa que, muitas vezes, esta situação
prolonga-se indefinidamente, votando estas pessoas em situações de desemprego e longa duração.
O setor terciário é o único a apresentar variação positiva, apresentado um aumento de 38,5%
da população ativa, sendo Vizela o concelho de entre os pertencentes à NUT III Ave, o que apresenta
uma maior variação, entre o período considerado, de ativos a trabalhar neste setor.
Avaliando a distribuição da população ativa por setor de atividade entre os anos de 2001 e
2011, tanto a nível nacional como no Norte, no Vale do Ave e no concelho de Vizela, é o setor terciário
o único que verifica aumento de percentagem de população ativa. Tem muito mais representatividade
a nível nacional, correspondendo a 70,5% da população do país em 2011, do que no caso de estudo
– o concelho de Vizela, onde representava, em 2011, cerca de 40% da população ativa.
O setor primário era em 2001 o setor económico menos representativo, tendo verificado
decréscimos em todas as U.T. em análise.
No que respeita ao setor secundário, este é o que tem maior representatividade no Vale do
Ave e, mais evidentemente no concelho de Vizela, onde, em 2001, 74,4% da população ativa laborava,
tendo decrescido e, em 2011, havia perdido cerca de 10% da população a trabalhar no setor. Há uma
grande diferença entre a representatividade do setor secundário entre o Vale do Ave e Portugal, onde
o setor secundário, apesar de ter verificado uma diminuição considerável que, em 2011, apenas 26,5%
da população nacional trabalhava no setor secundário.
75
Economistas como J. Silva Costa e M. Rui Silva (1994) vislumbram na aglomeração têxtil do
Vale do Ave características dos “sistemas produtivos locais relativamente monoespecializados” e
apontam a predominância de um modelo empresarial assente na “iniciativa do empresário indivíduo”,
que se desenvolve numa atmosfera industrial específica derivada da concentração de empresas de
um mesmo setor em determinadas áreas, como é o caso do têxtil. Aqui se geraram sinergias e
aprendizagens empíricas ao aparecimento endógeno de novas empresas e de novos empresários,
originando uma difusão da inovação e uma geração de bacias de empregos.
Segundo Sá Marques (1988), o peso da tradição no ramo industrial e a ausência de formação
profissional fazem com que a dinâmica industrial se traduza na multiplicação de pequenas empresas
dependentes de experiencias profissionais anteriores e sujeitas à forte concorrência horizontal.
Segundo a autora, a integração neste tecido produtivo difuso, composto, sobretudo, de empesas
“mãe” e empresas subcontratadas, no qual as últimas dominam mas as primeiras controlam o tecido
industrial, e onde o recurso à economia oculta não se encontra ausente, processa-se, principalmente
através de sistemas de subcontratação.
O Vale do Ave apresentou desde sempre uma industrialização monoespecializada em
atividades fortemente sujeitas à concorrência de economias emergentes – segmentos produtivos
intensivos de mão-de-obra (especialmente confeção) e, por outro lado, aos países com economias
mais consolidadas em segmentos intensivos em capital (a indústria têxtil) acabam por determinar a
instabilidade deste segmento económico.
O facto de ter assente os fatores concorrenciais nos custos mais baixos da mão-de-obra, assim
como no fraco investimento em inovação e na formação de técnicos especializados denuncia a
fragilidade desta indústria que acabou por sucumbir à abertura da economia portuguesa aos mercados
externos.
Quadro 5 Distribuição da população ativa por setor de atividade em % em 2001 e 2011
Primário Secundário Terciário 2001 2011 2001 2011 2001 2011
Portugal 5,0 3,1 35,1 26,5 59.9 70,5 Norte 4,8 2,9 45,8 35,5 49,5 61,6
Vale do Ave 2,0 1,2 63,4 50,1 34,6 48,6 Vizela 1,2 0,5 74,4 63,0 24,4 36,6
Fonte: PORDATA
76
Nos últimos anos, no Vale do Ave tem-se assistido, muito por consequência da crise nacional,
a um fenómeno de desemprego acentuado nos fatores de atividade económica tradicionais,
nomeadamente nas indústrias têxtil e do vestuário.
A vulnerabilidade da economia local pode explicar-se pela utilização intensiva de mão-de-obra
em atividades de baixo valor acrescentado que se associa às dificuldades de adaptação a novas
realidades profissionais decorrentes do baixo nível de escolaridade.
As caraterísticas da estrutura produtiva, bem como o perfil classicista do Vale do Ave sugere
estarmos perante um território que apresenta um encastelamento de vulnerabilidades de vária ordem.
Pelo que, à medida que se foi intensificando a pressão competitiva dos mercados globais sobre o setor
têxtil, com especial destaque para a quase monoespecialização do Ave, a crise fez-se sentir e instalou-
se na região.
Na atualidade, o concelho de Vizela tem vindo a apresentar níveis de desemprego
preocupantes, acima da média nacional, embora bem perto da realidade na NUT III Ave. Entre 2001
e 2011, Vizela viu aumentar a sua taxa de desemprego em 9,45%, sendo essa subida mais expressiva
no que respeita ao sexo feminino (Quadro 6).
Quadro 6 Taxa de desemprego total por sexo nos concelhos da NUT III Ave em 2001 e 2011
Fonte: PORDATA . .
Total Masculino Feminino
2001 2011 Dif.* 2001 2011 Dif. 2001 2011 Dif.
Ave 5,6 15,1 9,50 4,8 13,6 8,8 6,4 16,8 10,4
Fafe 6,5 14,8 8,30 6,2 14,1 7,9 6,9 15,6 8,7
Guimarães 5,3 14,3 9,00 4,9 13,4 8,5 5,7 15,1 9,4
Póvoa de Lanhoso 4,5 13,2 8,70 3,5 12,1 8,7 6,2 14,5 6,3
Santo Tirso 6,7 17,4 10,70 5,3 15,4 10,1 8,2 19,4 11,2
Trofa 4,4 16,8 12,40 3,7 12,9 9,2 5,4 21,2 15,8
Vieira do Minho 9,2 16,3 7,10 5,5 14 8,5 15,6 16,4 3,8
Vila Nova de Famalicão
5,2 14,9 9,70 4,6 13 8,4 6 17 11
Vizela 4,9 14,3 9,45 4,7 13,7 9 5,2 15 9,8
* Diferença percentual entre os anos de 2001 e 2011
Num contexto de desemprego jovem, muitas vezes altamente qualificado, e de desemprego
de população em idade ativa, mas considerada pelos empregadores, demasiado velhos para exercer
funções, é conveniente analisar a taxa de desemprego por grupos etários (Quadro 7).
77
Os grupos etários dos 15 aos 24 anos e os compreendidos entre os 45 e 64 anos de idade
apresentam, no concelho de Vizela, entre 2001 e 2011 um aumento de taxa de desemprego superior
a 10 pontos percentuais.
Embora este fenómeno seja expressivo para ambos os conjuntos, ele tem explicações
distintas. A população mais jovem, qualificada, muitas vezes com formação superior, apresenta um
aumento da taxa de desemprego assente numa maior especialização e instrução da mão-de-obra, que
um mercado baseado na produção de bens de baixo valor acrescentado não é capaz de absorver. A
população ativa mais velha (entre os 45 e os 64 anos) resultam da falência de grande parte do tecido
produtivo que, aliado à falta de oportunidades de emprego e menor produtividade que as pessoas
mais velhas são capazes de gerar, se encontram numa situação de desemprego que é, muitas vezes,
de difícil solução.
Quadro 7 Taxa de desemprego por grupos etários (NUT III – Ave e município de Vizela) para os anos
de 2001 e 2011 (%)
Grupos etários
15 – 24 25 – 34 35 – 44 45 – 54 55 – 64 65 e +
Ave 2001 6,7 4,0 4,4 6,8 11,5 0,7
2011 21,6 11,1 11,5 17,1 25,8 0,3
Vizela 2001 4,4 3,3 3,6 7,5 14,7 1,6
2011 15,4 9,8 10,0 19,1 29,1 0,0 Fonte: PORDATA
Nos últimos dez anos, o aumento do desemprego que, sobre o signo da “crise”, tem registado
no nosso país encontrou correspondência num reforço assinalável da enfâse colocada na importância
do investimento no conjunto das medidas que habitualmente se associam às chamadas “políticas
ativas de formação e emprego” (Queirós, 2012), de modo a tentar dar resposta a uma necessidade
de reforçar a competitividade da economia nacional, através da sua modernização. Segundo Borges
et al. (2012), não surpreende que à medida que se foi intensificando a pressão competitiva dos
mercados globais sobre a fileira têxtil, que no Médio Ave adquiriu um estatuto de quase monoindústria,
a “crise”, enquanto impasse objetivo e operador de sentido, se tenha instalado na região.
Embora se tenha verificado um aumento significativo no empenho da formação e qualificação
da população ativa, colocam-se muitas dúvidas quanto à capacidade de encontrar correspondência no
perfil das estruturas produtivas do Vale do Ave.
A análise dos principais indicadores permite-nos localizar o Ave como uma região com uma
configuração demográfica particular, podendo aferir certas especificidades que importam destacar.
78
Globalmente o Ave apesenta um reconhecido processo de consolidação do período demográfico
“moderno”.
Analisando a composição etária da região, podemos verificar que a subida lenta da
população idosa foi sendo acompanhada por uma progressiva redução da população jovem. Ainda
assim, em peso da fecundidade, dos fluxos migratórios e das taxas de natalidade, assiste-se a uma
forte persistência de uma população jovem, quando comparada com a realidade nacional. O
envelhecimento da população, bem como a redução da taxa de natalidade não deixam de ser
preocupantes, não garantindo o índice de renovação de gerações, nem assegurando uma estrutura
etária da população equilibrada, de modo a dar resposta às necessidades da sociedade.
Relativamente às atividades económicas, verifica-se que há uma clara predominância, no
concelho de Vizela, do setor secundário que se prende com a evidente ligação que se estabelece entre
o território do Vale do Ave e da indústria. O setor terciário tenho ganho terreno face ao secundário, e
isto pode associar-se à decadência da indústria têxtil, o que faz com que os trabalhadores
desempregados procurem empregos noutras áreas.
O desemprego apresenta-se à atual situação do Vale do Ave e, especificamente do caso de
Vizela como um flagelo há muito anunciado, resultante de uma monoespecialização, de uma fraca
aposta na formação da mão-de-obra.
79
Parte III – Caso de Estudo
_________________________________________________
80
81
Capítulo 5 - As práticas ambientais e relação dos vizelenses com o rio Vizela
Os efeitos acumulados de uma sociedade amplamente apoiada no crescimento económico e
no progresso científico e tecnológico parecem ter confluído numa profunda crise ambiental que põe
em causa os modos de vida próprios da modernidade, bem como evidencia uma necessidade
premente de uma maior consciência ambiental decorrente da progressiva degradação. Esta
consciencialização prende-se com múltiplas e diferenciadas visões, sensibilidades e interesses,
impondo-se como uma construção social.
5.1 – Aspetos metodológicos
5.1.1 O inquérito
Foi nosso propósito analisar as práticas ambientais vizelenses, assim como a sua relação com
o rio Vizela, através da aplicação de um inquérito por questionário realizado entre os meses de Março
e Maio do ano de 2014.
Relativamente ao inquérito, procedeu-se a um cuidadoso trabalho de afinação do instrumento
utilizado – o questionário-, de modo a dotá-lo não só dos necessários compromissos de eficiência e
clareza, dimensão de abrangência de temas afetos à investigação, mas também tentar aproximá-lo de
outros questionários desenvolvidos no âmbito das atitudes e práticas ambientais, anteriormente
aplicados, como é o caso do Inquérito Nacional às Representações e Práticas dos Portugueses sobre
o Ambiente do OBSERVA e um outro estudo levado a cabo pelo Instituto de Ciências Sociais (ICS) em
colaboração com o International Social Survey Programme (ISSP) da Universidade de Lisboa
Neste exercício, a interação entre o território e as suas representações são essenciais.
Procurou-se uma visão holística da paisagem, integrada e apoiada em vários aspetos. Esta abordagem
sobre o território requer uma grande base referencial, de dados, de análises, de registos, de
“As sociedades humanas sempre se pensaram a si próprias e
aos seus problemas. O modo como pensam sempre interferiu,
de maneiras diversas, com o que elas fazem e sempre fez
parte das suas caraterísticas próprias daquilo que elas vão
sendo, daquilo em que se vão transformando.”
João Ferreira de Almeida (2000:1)
82
documentos e de levantamentos. Mesmo assim, todos esses são escassos para satisfazer as respostas
que pretendemos aferir. Neste sentido, a experiência pessoal, in loco, assume-se como um elemento
fundamental na tentativa de descodificação das nuances impressas sobre o território.
O questionário usado como fonte primária na presente investigação foi aplicado a 120
indivíduos de ambos os sexos, com mais de 15 anos de idade, sem descriminação relativamente à
escolaridade ou status social.
A amostra foi selecionada em todas as freguesias do município de Vizela, tentando assegurar,
tanto quanto possível, a representatividade da opinião de todos os munícipes, com uma margem de
erro,α, de aproximadamente, 0,5%, o que não garante que os resultados obtidos se possam
extrapolar a toda a população do concelho de Vizela.
Não havendo estudos para o Vale do Ave e, concretamente sobre problemática da poluição
da sua rede hidrográfica quanto à perceção dos seus residentes, foi desenvolvido um esforço
importante no ajustamento das questões. Isto fez com que não nos restasse tempo suficiente para a
recolha de uma amostra maior e, consequentemente, mais representativa. Não obstante,
conseguimos aferir desfechos importantes no que respeita aos comportamentos e atitudes preditivos
daquilo que serão os comportamentos futuros dos vizelenses em matéria ambiental.
Para o efeito não tivemos por base a nova reorganização administrativa territorial autárquica,
aprovada pela lei nº22/2012 de 30 de Maio. Consideramos que, ao optar pela nova reorganização,
isto constituiria uma maior generalização da informação, bem como uma menor compatibilidade com
informação recolhida em entidades oficiais, tais como o INE ou o PORDATA.
A amostragem foi aleatória simples, em que todos os indivíduos da população tiveram a
mesma possibilidade de serem selecionados. O universo foi a população residente no concelho de
Vizela com 15 ou mais anos de idade, tendo-se procedido à agregação dos indivíduos por escalões
etários: 15-24 anos; 24-49 anos; 50-64 anos e 65 e mais anos. Procedeu-se ainda ao agrupamento
de dados em função do sexo, do estado civil, da condição perante o trabalho, da naturalidade ou da
freguesia de residência. Pelo cruzamento das caraterísticas da amostra permitiu uma mais fácil leitura
e tratamento dos dados, bem como o estabelecimento de padrões de comportamento em detrimento
das características em análise.
83
O tratamento dos dados recolhidos foi realizado através do software IBM SPSS® que nos
permitiu estabelecer valores estatísticos descritivos para cada uma das respostas, bem como cruzar
dados que consideramos pertinentes de caraterísticas dos inquiridos.
De modo a aferir o maior ou menor grau de significância dos cruzamentos que realizamos,
foram utilizados métodos de inferência estatística, através da análise de dados bivariada, como a
variância e o teste do qui-quadrado para as frequências amostrais.
O pré-teste foi realizado no dia 17 de Abril de 2014 na Rua da Porteladinha, na freguesia de
Caldas de Vizela (São João), entre as 14:30 e as 17:00 horas. A realização do pré-teste serviu para
aperfeiçoar o questionário de modo a torná-lo percetível e compreensível pela população, bem como
para corrigir pequenos lapsos que não haviam sido detetado anteriormente.
Pretendemos, com recurso aos resultados obtidos e que aqui documentamos, saber mais
acerca o que pensam os vizelenses sobre as questões ambientais, nomeadamente a poluição do rio
Vizela e de que forma a sua relação com o rio se assume como causa e consequência das suas
práticas.
O inquérito dividiu-se em quatro partes (Anexo 2). A primeira correspondeu à caracterização
social do inquirido, a segunda parte é relativa às atitudes dos vizelenses relativamente à relação
ambiente/desenvolvimento; face à ciência; às preocupações ambientais e ao grau de confiança que
detêm em determinados grupos para receber informação acerca das causas de poluição.
Nesta parte as perguntas versaram sobre o grau de concordância sobre algumas atitudes
relativamente às questões ambientais, variando entre “Concordo totalmente” e “Discordo totalmente”,
numa escala de 4 possibilidades. Não foi aberta a hipótese “Nem concordo nem discordo”, de modo
a “compelir” os inquiridos a definir uma atitude positiva ou negativa em relação às questões
formuladas.
A terceira parte é relativa à forma como as práticas ambientais e de cidadania dos
vizelenses se refletem nas suas intenções (disposição para pagar preços e impostos mais elevados
pela proteção ambiental); bem como na sua participação em ações de caráter ambiental.
A última parte diz respeito à aferição da perceção pública dos problemas do concelho
de Vizela pelos seus habitantes através das ações de carater municipal em que assumiram um papel
ativo; atitudes perante as decisões de caráter ambiental; preocupação com o estado do rio Vizela
quando do predomínio da indústria têxtil; preocupações com o ambiente atualmente e da sua opinião
84
acerca das alterações que a independência de Vizela face a Guimarães imprimiu nas práticas
ambientais.
A aplicação do inquérito foi feita em todas as freguesias que constituem o município de Vizela:
Caldas de Vizela (São Miguel), Caldas de Vizela (São João), Santa Eulália, Vizela (Santo Adrião), Infias,
Vizela (São Paio) e Tagilde. Pretendemos aquando da recolha da amostra manter proporcionalidade
entre o número de inquiridos e os habitantes de cada freguesia. Ainda assim, isso não foi fácil de
conseguir porque, tratando-se de uma amostragem aleatória simples, não pudemos garantir uma
proporcionalidade direta entre estes dois fatores.
Pretendeu-se a construção de um questionário simples, de fácil resposta por qualquer pessoa,
independentemente das suas habilitações académicas, onde a formulação de questões foi orientada
para a busca de uma melhor compreensão da matéria em análise.
Embora tenhamos adotado esta metodologia de trabalho, muitas críticas podem apontar-se-lhe,
que se prendem com a impossibilidade de medir quantitativamente atitudes e níveis de conhecimento,
considerando que os métodos quantitativos extensivos não têm em conta as especificidades locais.
5.1.2 Características da amostra
IDADE
Relativamente à idade, procedemos à divisão dos inquiridos mediante os grupos etários: 15-
24 anos; 25-49 anos; 50-64 anos e 65 e mais anos. O grupo etário que apresenta maior
representatividade é o relativo ao intervalo de idades 25-49 anos (33,3% dos inquiridos), seguindo-se
o grupo etário respetivo aos 15-24 anos. Os grupos com menos representatividade são os
correspondentes aos inquiridos com mais idade; 50-64 anos e 65 ou mais anos (Figura 14).
Fig. 14 Distribuição dos inquiridos por grupos etários
85
SEXO
No que respeita à distribuição da amostra por sexo, verifica-se um grande equilíbrio, tendo-se
verificado 59 pessoas do sexo feminino e 61 do sexo masculino. (Figura 15).
Fig. 15 Distribuição dos inquiridos por sexo (%)
ESTADO CIVIL
A maioria dos inquiridos são solteiros, correspondendo a 44,2% da amostra, verificando-se um
equilíbrio com a porção de inquiridos casados (42,5%)5. Temos ainda 5,8% a viver em união de facto,
4,2% divorciados e 3,3% viúvos (Figura 16).
Fig. 16 Distribuição dos inquiridos por estado civil
HABILITAÇÕES ACADÉMICAS
Relativamente às habilitações académicas (Figura 17), verificamos que 25% dos inquiridos
concluiu o ensino secundário, que encontra paralelismo com os inquiridos que concluíram o ensino
5 Procedeu-se à distinção entre relacionamento de “facto” ou de “direito”.
Feminino
Masculino
86
superior (22,5%), sem que se tenha distinguido entre os vários ciclos deste. Dos restantes, os que
frequentaram ou possuem o 3º ciclo do ensino básico (9º ano) rondam 21%, 15% concluíram o
primeiro ciclo do ensino básico (antiga 4ª classe) de cerca de 12% concluíram o 2º ciclo do ensino
básico. Verificamos que a percentagem referente à ausência de escolaridade é de 4,2%, sendo este
um valor muito baixo, ou seja, 48,4% dos inquiridos concluíram ou frequentaram o ensino básico.
Fig. 17 Distribuição dos inquiridos por habilitações académicas
SITUAÇÃO SOCIOPROFISSIONAL
Cerca de 38% dos inquiridos desenvolvia atividade profissional aquando da realização do
questionário. A população estudantil representa 27% dos inquiridos, e os reformados 18%. Verifica-se
uma grande predominância da percentagem de inquiridos em situação de desemprego – cerca de
16%. A condição de doméstico(a) é pouco significativo – apenas representa 1,7% da amostra (Figura
18).
Fig. 18 Distribuição dos inquiridos por condição perante o trabalho
Estudante
Doméstico(a)
Desempregado(a)
Empregado(a)
Reformado(a)
87
NATURALIDADE
No que respeita à naturalidade, a esmagadora maioria dos inquiridos é natural de Vizela
(58,3%). Guimarães é, seguidamente, a naturalidade mais representada, com cerca de 19% dos
inquiridos. Santo Tirso e Lousada tem ainda alguma representatividade, entre os 5 e os 10%.
A justificação para a forte preponderância da naturalidade dos inquiridos ser Guimarães
prende-se com o facto de, à data de nascimento, os pais poderem escolher como naturalidade a
freguesia e o concelho de residência habitual da mãe ou a freguesia ou concelho da maternidade onde
se deu o nascimento. A maternidade correspondente à área de Vizela situa-se no concelho de Guimarães.
FREGUESIA DE RESIDÊNCIA
No que respeita à freguesia de residência dos inquiridos verifica-se que mais 20% destes
residem na freguesia de Caldas de Vizela (S. Miguel), sendo esta a freguesia do município de Vizela
que apresenta um maior número de residentes (7.222 residentes à data dos últimos censos). Caldas
de Vizela (S. João) tem também grande representatividade da amostra - 15,5%, embora seja Santa
Eulália, segundo os Censos 2011, a segunda freguesia com mais população no município de Vizela.
De Vizela (Santo Adrião) foram inquiridos 20 indivíduos (16,7% do espaço amostral), de Infias 15
pessoas, de Vizela (São Paio), 11 pessoas e, finalmente, 8 pessoas de Tagilde, sendo esta a freguesia
menos representada neste estudo (Figura 19).
Fig. 19 Distribuição dos inquiridos pela freguesia de residência
88
5.2 Análise de resultados
Importa-nos averiguar a consciência que os vizelenses desenvolveram sobre a importância do
ambiente, bem como a peso da relação que este estabelece com o crescimento da economia,
inserindo necessariamente esta perceção em contextos sociais e económicos particulares que
evidentemente a manipulam.
No nosso caso de estudo, estas nuances sociais ganham ainda mais visibilidade. Vizela em
particular, mas inserido num contexto mais amplo e com uma complexidade condizente, apresenta
um contexto de degradação ambiental muito particular. É evidente uma relação de ampla adjacência
entre a degradação ambiental e o crescimento económico deste território.
5.2.1 Atitudes ambientais
A noção de “atitudes ambientais” não apresenta tradição no seu desenvolvimento concetual,
sendo utilizado de forma dispersa e, normalmente, de forma meramente descritiva. É mobilizada, por
exemplo, em estudos sobre temas como o interesse relativamente a problemas ambientais, a simpatia
pelo movimento ambientalista, a participação em ações ambientalistas, a tomada de posição numa
questão local, ou o posicionamento em escalas de preocupação com o ambiente (Dunlap, 1975;
Brasier, 1995; Bord, 1997).
Entender como se interligam predisposições, atitudes e participação em ações de preservação
ambiental no desencadear de uma sociedade mais ativa e participativa deve fazer-se em função de
diferentes perspetivas como as habilitações académicas, a idade, ou o género. Diferentes
caraterísticas podem ser indicadores de comportamentos díspares. Esta é uma tarefa analítica com
vista a aferir os contornos da mobilização e consciência ambiental dos vizelenses.
AMBIENTE E DESENVOLVIMENTO
Duas questões aplicadas no inquérito encontram-se diretamente relacionadas com a
dicotomia que se estabelece entre ambiente e desenvolvimento. Deste modo, avalia-se o grau de
concordância manifestados às afirmações “O progresso económico abrandará se não se
cuidar do ambiente” e “O crescimento económico prejudica sempre o ambiente” (Figura
20). Pretendemos aferir a consciência que os vizelenses manifestam relativamente à subestimação
dos recursos ambientais relativamente ao crescimento económico.
89
Fig. 20 Concordância relativamente à relação ambiente - desenvolvimento
Verificamos que os vizelenses apresentam uma maior concordância relativamente ao facto do
se verificar um abrandamento no crescimento económico caso não se cuide do ambiente, sendo que
93% dos inquiridos concordam ou concordam totalmente com esta afirmação.
Relativamente ao facto do crescimento económico prejudicar sempre o ambiente, apesar de
se verificarem níveis de concordância consideráveis, apenas 9,2% dos inquiridos concordam
totalmente, ainda que cerca de 58% da amostra diga concordar, verificando-se uma maior relutância
relativamente a esta questão. Isto expressa-se fundamentalmente nos 33% de inquiridos que dizem
discordar ou discordar totalmente desta afirmação.
Validamos a noção de que a relação ambiente e desenvolvimento dos vizelenses se encontra
fortemente vincada pela noção de uma necessidade eminente de se cuidar do ambiente em prol do
progresso económico. Esta posição marcada deve relacionar-se com o facto de os vizelenses terem
vivenciado muito de perto uma relação ambígua entre progresso económico e degradação ambiental,
que de certo modo, legitima a sua preocupação relativamente a esta questão. Verifica-se assim, uma
necessidade expressa, pelos vizelenses, de uma maior aposta numa articulação inevitável entre
crescimento económico e ambiente.
Relativamente à maior renitência relativamente ao facto de que o crescimento económico
prejudicar sempre o ambiente, esta prende-se com um despertar para a possibilidade da integração
do crescimento económico com a proteção ambiental. O afastamento da população de uma atividade
tão nefasta para o ambiente como a indústria têxtil e o consequente aumento da consciencialização
desses efeitos, alertou a população para a necessidade de procurar atividades económicas que
estabeleçam conexões mais próximas e de complementaridade com o ambiente. Ainda que, muitas
vezes, essas relações não se consubstanciem num maior respeito pelo ambiente, as pessoas
desenvolveram a noção de que há essa possibilidade.
O crescimento ecómico prejudica sempre oambiente
O progresso ecómico abrandará se não se cuidardo ambiente
Concordo totalmente Concordo Discordo Discordo totalmente Ns/Nr
90
Consideramos que seria importante termos a possibilidade de estabelecer uma comparação
cronológica no que refere a estas questões, comparando as atitudes dos vizelenses durante o período
áureo da indústria no Vale do Ave, servindo de sustento económico a muitas famílias, e as que
manifestam agora, no decorrer da crise económica e social, que fez encerrar muitas destas indústrias
e forçar uma reestruturação económica da sociedade em torno de outras atividades,
fundamentalmente em torno do setor terciário.
ATITUDES FACE À CIÊNCIA
A ciência, a técnica e crescente aposta na tecnologia apresentam-se como as principais causas
dos riscos ambientais, mas, comitativamente, alguns dos meios mais eficazes de os definir, localizar,
e de os tentar neutralizar, avançando com soluções. A ciência e a tecnologia têm, neste sentido, uma
valência híbrida perante as questões ambientais, o que envolve a sua ação numa certa dualidade e
vem justificar a pertinência de auscultar o que a população vizelense pensa e sente em relação a esta
problemática.
No sentido de tentar avaliar as atitudes dos vizelenses face à ciência formulamos três
afirmações e pedimos que nos indicassem o grau de concordância face às mesmas (Figura 21).
Fig. 21 Atitudes face à ciência e a tecnologia
Relativamente à afirmação “A tecnologia resolverá os problemas ambientais
alterando um pouco o nosso estilo de vida” verificamos que cerca de 44% dos inquiridos
concordam ou concordam totalmente, sendo que cerca de 55,8% dos mesmos discordam ou
discordam totalmente. Verificamos que são raras as posições extremas relativamente a esta questão.
Grosso modo, os inquiridos dizem “concordar” ou “discordar”.
Confio mais na ciência do que na fé para aresolução dos problemas
De uma forma geral, a tecnologia causa maisprejuízos do que benefícios.
A tecnologia resolverá os problemas ambientaisalterando um pouco o nosso estilo de vida
Concordo totalmente Concordo Discordo Discordo totalmente Ns/Nr
91
Aquando da realização dos inquéritos à população, muitas pessoas iam mencionando que a
tecnologia poderia ajudar a resolver os problemas ambientais, uma vez que sem acesso às inovações
tecnológicas, não havia como tratar os resíduos industriais que eram imediatamente lançados para os
cursos de água ou para depósitos de armazenamento, sem qualquer tipo de tratamento.
É difícil para as pessoas definirem uma posição muito marcada relativamente a esta questão.
As pessoas desenvolveram a consciência de que a tecnologia, do mesmo modo que veio trazer
soluções importantes para os problemas ambientais, desenvolveram, igualmente, medo face ao
desconhecido, o receio inerente às consequências do uso de tecnologia de que não têm pleno
conhecimento.
Tendo em consideração as diferentes relações que os diversos grupos etários em análise
mantêm com a tecnologia, consideramos pertinente avaliar de que modo é que a idade dos inquiridos
se relaciona com o grau de concordância relativamente à questão formulada (Figura 22).
Fig. 22 Relação de concordância "A tecnologia resolverá os problemas ambientais alterando um pouco o nosso estilo de vida" segundo o grupo etário
Os jovens apresentam uma melhor relação com a tecnologia, olhando para esta como uma
fonte de soluções para os problemas ambientais, denotando também uma maior inconsciência para
os problemas despoletados por esta. Por sua vez, são os mais velhos são aqueles que apresentam
uma maior relutância relativamente ao papel apaziguador da tecnologia nos problemas ambientais.
Os inquiridos mais idosos apresentam uma maior consciência dos problemas resultantes dos avanços
0%
10%
20%
30%
40%
50%
60%
70%
80%
90%
100%
15 - 24 anos 25 - 49 anos 50 - 64 anos 65 e mais anos
%
Concordo Totalmente Concordo Discordo Discordo Totalmente
92
tecnológicos, mas também um maior afastamento e, como tal, um maior desconhecimento face a
estes, o que se traduz num medo daquilo que consideram não dominar.
No que respeita à asserção “De uma forma geral, a tecnologia causa mais prejuízos
que benefícios” verifica-se uma grande concordância com esta discussão, em que cerca de 12% da
população diz “concordar totalmente” e mais de 40% concorda. Como já foi referido, Vizela viu, de há
uns anos a esta parte, a sua história marcadamente relacionada com a aposta tecnológica.
Primeiramente ela permitiu a instalação de empresas e a geração de emprego, que foi vista como
uma mais-valia. Posteriormente, e com intensificação da industrialização, os vizelenses verificaram
que ela acarretou, além dos benefícios económicos, uma degradação ambiental sem precedentes que
tem exigido mais esforço do que o esperado para a ver solucionada, ou, pelo menos, mitigada, esta
questão.
Aquando da abertura da economia ao mercado global verificou-se uma grande incapacidade
da população face à adaptação a tecnologias mais eficazes e competitivas, decorrente da falta de
escolarização e formação. Esta situação gerou uma incompatibilidade entre o plano social e a
tecnologia que, por outro lado, também veio substituir muitos postos de trabalho e gerou ainda mais
desemprego. Analisando os vários prismas da relação que os vizelenses estabelecem com a
tecnologia, facilmente se entende a desarmonia de respostas relativamente a esta questão, bem como
a dispersão de atitudes face à ciência.
Estabelecendo paralelismos com os dados obtidos pelo inquérito aplicado em Portugal através
do ISSP, verificamos que os resultados são condizentes, isto é, tanto à escala nacional como concelhia,
as pessoas concordam com o facto de a tecnologia causar mais prejuízos que benefícios,
manifestando uma posição de afastamento e desconfiança face aos benefícios inerentes à utilização
da tecnologia.
Uma questão que nos importou avaliar prende-se com a relação que vizelenses estabelecem
com a ciência ou a tecnologia e a fé para a resolução dos seus problemas. Relativamente à questão
“Confio mais na ciência que na fé para a resolução de problemas”, cerca de 44% dos
inquiridos dizem discordar ou discordar totalmente, contra cerca de 64%, que concorda ou concorda
totalmente. Sendo esta uma sociedade marcadamente religiosa, verificamos que a fé no divino se
apresenta como uma compensação emocional e uma necessidade de algo mais do que o meramente
material em momentos de dificuldade. Ainda assim, não é muito díspar a parte da amostra que se
93
evidencia mais afeta à fé daquela que confia mais na ciência. Verificou-se uma discrepância pouco
significativa, de onde se deve assinalar a manifestação de uma grande confiança na ciência por parte
de muitos dos inquiridos, nomeadamente entre os inquiridos com maior grau de instrução (Figura 23).
Quando comparados os dados obtidos com os relativos ao inquérito aplicado pelo ISSP, que
analisou a concordância dos portugueses face à afirmação “Confiamos demasiado na ciência e não o
suficiente na fé e nos sentimentos”, verificamos que 50,2% da amostra recolhida pelo estudo
comparativo diz concordar com a afirmação, isto é, cerca de metade da amostra recolhida exprime
uma certa insegurança relativamente à confiança que a sociedade atual deposita na ciência,
considerando que se devia confiar mais na fé e na força divina para a resolução dos problemas. Nas
respostas obtidas ao inquérito aplicado em Vizela verificamos que as opiniões não são tão marcadas,
distribuindo-se mais unanimemente pela confiança que mantêm na ciência e na fé.
Fig. 23 Relação de concordância entre “Confio mais na ciência que na fé para a resolução de
problemas” e habilitações académicas
Quando analisamos o grau de concordância relativamente à afirmação “Confio mais na ciência
que na fé para a resolução de problemas”, verificamos quanto mais elevado nível de instrução (Ensino
Secundário e Ensino Superior), mais evidente é a confiança que os indivíduos detêm na ciência e na
técnica para a resolução dos problemas. Por outro lado, pessoas com graus inferiores de habilitações
académicas depositam mais a sua confiança na fé quando se trata da resolução dos problemas.
0%
10%
20%
30%
40%
50%
60%
70%
80%
90%
100%
Semescolaridade
Ensino básico(4ª classe)
Ensino Básico(6º ano)
Ensino Básico(9º ano)
EnsinoSecundário
Ensino Superior
%
Concordo totalmente Concordo Discordo Discordo totalmente Não sabe/ Não responde
94
Uma maior proximidade ao mundo académico e à produção científica por parte dos indivíduos
instiga ao desenvolvimento de uma maior confiança na tecnologia no que respeita ao auxílio na
resolução dos problemas.
PREOCUPAÇÕES AMBIENTAIS
Na opinião de Soromenho- Marques (2004:254), “as preocupações ambientais nasceram sob
o signo de uma interpretação redutora, (...) essencialmente conservacionista: tratava-se de preservar,
face às ameaças predatórias da ação humana, determinados valores naturais, da fauna e da flora,
que de outra forma estariam ameaçados de extinção”.
Podem estabelecer-se paralelismos entre a evolução do pensamento relativamente às
questões ambientais a nível nacional e o que se verificou em Vizela. O nosso estudo de caso apresenta
algumas particularidades importantes, nomeadamente, devido à expressão que a indústria e os
problemas ambientais decorrentes desta – poluição hídrica – trouxeram a este território. Isto refletiu-
se, invariavelmente, na perceção que os vizelenses têm do ambiente, nas suas atitudes e nas práticas
que mantêm. Importa-nos aferir se a relação que os vizelenses observam com o ambiente e os
problemas que este apresenta se mantiveram inalteráveis ou se apresentam uma evolução decorrente
dos múltiplos fatores que adiante analisaremos.
De modo a aferirmos os valores e preocupações ambientais dos vizelenses inquirimo-los
relativamente à concordância que manifestam relativamente a três discussões (Figura 24).
A análise deste grupo de questões, ao contrário do que se verifica com as anteriormente
analisadas, revelam posições mais marcadas, evidenciando um posicionamento mais homogéneo da
amostra recolhida no que respeita.
Fig. 24 Preocupações ambientais
Tudo o que fazemos prejudica o ambiente
A proteção do ambiente devia ser uma prioridadenacional
As preocupações com as ameaças ambientais sãomuitas vezes exageradas
Concordo totalmente Concordo Discordo Discordo totalmente Ns/Nr
95
Relativamente ao facto de as “preocupações com as ameaças ambientais serem
exageradas”, verifica-se uma predominância de inquiridos que discordam ou discordam totalmente
(cerca 78% da amostra), isto é, grande parte dos inquiridos manifesta que os desassossegos com os
assuntos ambientais não são exagerados, tendo uma porção significativa dos inquiridos manifestado
que estes deviam ser ainda mais evidentes e traduzirem-se em políticas efetivas de melhoria do
ambiente.
Comparados os resultados obtidos para Vizela com os recolhidos a nível nacional pelo ISSP
em 2004, as disparidades são evidentes. Os resultados do estudo comparativo mostram que 47% dos
inquiridos acham que os dados são empolgados e as preocupações com as ameaças ambientais são
exageradas. Para o estudo de caso de Vizela, apenas cerca de 12% dos inquiridos mantêm essa
expectação. Esta situação pode prender-se com a evidente conotação pesada e próxima do que são
os problemas ambientais para a população vizelense, uma vez que alguns são vividos bem de perto,
diariamente. Neste sentido, o Vale do Ave tem até uma conotação muito marcada no que respeita aos
problemas de poluição hídrica, que define largamente a imagem que o país desenvolveu deste
território.
Avaliando a dispersão de respostas por sexo, idade e grau de escolaridade não foi possível
identificar padrões marcantes entre estas variáveis e as respostas obtidas à questão em análise. Estas
dependerão maioritariamente da criticidade que cada individuo desenvolve da capacidade de filtro
relativamente à informação que lhe chega.
Na avaliação dos resultados da concordância dos inquiridos relativamente ao facto de “A
preocupação com o ambiente devia ser uma prioridade nacional” verificamos que há uma
maior conformidade nas respostas. Cerca de 89% dos inquiridos dizem “concordar” ou “concordar
totalmente”. Verifica-se uma consciência comum que devia o ambiente ser, de entre as questões
prioritárias nacionais, uma a considerar.
“Tudo o que fazemos prejudica o ambiente”. Cerca de 62% discorda, referindo que
podemos muitas vezes desenvolver esforços no sentido de minorar ou até mesmo mitigar a
degradação ambiental inerente às nossas atividades. Esta consciência prende-se com a larga difusão
das ideias de sustentabilidade, da difusão das mesmas através de programas educativos, da ação
difusora dos media, bem como do papel dos grupos ambientalistas.
Ainda assim, há, no inquérito por nós aplicado, um número assinável de inquiridos que dizem
concordar com esta afirmação. Podemos ainda verificar que a grande maioria dos inquiridos dizem
96
“concordar” ou “discordar”, isto é, não assume, relativamente a esta questão, uma posição muito
marcada, sendo muitas vezes, relutantes nas respostas dadas, denotando posições pouco marcadas
ou indecisas.
Ao cruzar as respostas obtidas pelos grupos etários a que correspondem os inquiridos (Figura
25), verificamos que há uma correspondência bastante evidente entre a idade dos inquiridos e a
posição que mantêm relativamente à afirmação “Tudo o que fazemos prejudica o ambiente”. São os
grupos etários mais jovens (dos 15 aos 24 anos e dos 25 aos 49 anos) que manifestam maior
discordância. Isto pode explicar-se por um maior acesso a educação ambiental e uma maior
consciencialização para práticas mais amigas do ambiente como é o caso da separação e reciclagem
dos resíduos domésticos, a racionalização do uso da água e o despertar para a necessidade de uma
maior intervenção nas decisões de caráter ambiental. Por seu turno, os grupos etários que
correspondem a idades mais avançadas evidenciam uma maior concordância com esta afirmação,
apresentando um maior alarmismo relativamente aos problemas ambientais.
Fig. 25 Grau de concordância com “Tudo o que fazemos prejudica o ambiente” segundo o grupo etário
CONFIANÇA NAS FONTES DE INFORMAÇÃO
O conhecimento ambiental que as pessoas adquirem tende a influenciar largamente as
atitudes e práticas de cada um. Ainda assim, a informação que muitas vezes chega às pessoas não é
fidedigna, seja por ser manipulada em função de interesses e objetivos, seja pelo défice de
conhecimento e investigação sobre os temas.
0%
10%
20%
30%
40%
50%
60%
70%
80%
90%
100%
15 - 24 anos 25 - 49 anos 50 - 64 anos 65 e mais anos
Concordo totalmente Concordo Discordo
Discordo totalmente Não sabe/ Não responde
97
As pessoas são expostas a muitas fontes de informação além das proveniências científicas e
técnicas e são capazes de assimilar e ponderar informação de diferentes origens, o que enriquece o
conhecimento adquirido pelos cidadãos relativamente a problemas relacionados com a questão
ambiental.
Hoje em dia, a causa ambiental e a necessidade de proteger recursos naturais impõem-se de
forma cada vez mais partilhada para o que, em grande parte, tem contribuído a ação dos movimentos
ambientalistas e o poder difusão dos media. Estes têm potenciado uma visibilidade sem precedentes
às situações de rutura ecológica.
Inquirimos os vizelenses acerca do grau de confiança que mantinham relativamente a cinco
grupos: empresas e indústrias, grupos ambientalistas, jornais, rádio e televisão e serviços
governamentais para receber informação correta acerca das causas de poluição (quadro 8).
Verificamos que são os grupos ambientalistas aqueles que recolhem o maior grau de
confiança para obter informação. Paradoxalmente, é também este o grupo que apresenta maior
percentagem de respostas inconclusivas.
Alguns dos inquiridos refeririam não ter conhecimento das atividades desenvolvidas por estes
grupos ou sobre a veracidade das informações emitidas por estes. Reside ainda uma certa controvérsia
no que respeita a estes grupos, acusado muitas vezes de demasiado alarmismo.
Por seu turno, são as empresas e indústrias em que os vizelenses menos confiam para obter
informação acerca das causas de poluição. Aquando da recolha de dados no terreno, os inquiridos
manifestaram descrédito em relação à informação emitida por este grupo, uma vez que, segundo eles,
esta pode ser manipulada em função dos seus interesses. Apesar das respostas não denotarem um
Quadro 8 Grau de confiança nas fontes de informação (%)
Abso
luta
co
nfia
nça
Bas
tant
e C
onfia
nça
Algu
ma
Con
fianç
a
Nen
hum
a C
onfia
nça
Ns/
Nr
Empresas e indústrias 0,8 12,5 53,3 30,8 2,5
Grupos ambientalistas 35,8 49,2 6,7 2,5 5,8
Jornais 5 66,7 27,5 0,8 0
Rádio e televisão 3,3 52,5 40,8 3,3 0
Serviços governamentais 2,5 26,7 55 15 0,8
98
grau de confiança tão negativamente drástico em relação aos serviços governamentais, apenas cerca
de 30% dizem ter absoluta ou bastante confiança nos serviços governamentais. Este descrédito face
à ação do estado no sentido de gerar informação credível acerca das causas de poluição pode ter uma
relação direta com a descredibilização da ação estatal em muitos outros domínios decorrentes da crise
económica e social que Portugal vive atualmente.
5.2.2 Práticas ambientais e cidadania
Entender como se conectam predisposições, atitudes e participação em ações de preservação
ambiental no desencadear de uma sociedade civil mais ativa e entusiasta e como esses
desenvolvimentos poderão relacionar-se com a evolução da mobilização ambiental é um trabalho
analítico que se impõe realizar de modo a aferir os contornos de mobilização ambiental no seio da
população residente em Vizela.
Anteriormente verificamos que as preocupações ambientais são amplamente manifestadas
pela sociedade vizelense. Importa agora aferir de que modo estas inquietações exprimidas se
consubstanciam em práticas de defesa do ambiente e participação pública. Será sobre a afinidade
que se institui entre as atitudes e práticas ambientais que seguidamente nos iremos forcar.
INTENÇÕES
Perante a situação económica fragilizada que os portugueses manifestam atualmente,
nomeadamente no Vale do Ave onde o problema do desemprego é ainda mais flagrante, é importante
tentar aferir de que modo é que isso se reflete na sua disponibilidade para contribuir para a causa
ambiental.
Como se constata pelos dados obtidos manifestos na figura 26, a percentagem daqueles que
aceitariam sem reservas o aumento dos preços ou o aumento dos impostos em detrimento da
proteção ambiental é nula em ambos os casos. Mostrando-se bastante disponíveis, 28,3%
concordariam com o aumento dos preços, sendo em número menos expressivo aqueles que
concordariam com um eventual aumento dos impostos.
Relativamente àqueles que recusam de forma mais ou menos vincada esta ideia de sacrifício
pelo ambiente, os valores aumentam significativamente: 72.5% relativamente ao aumento de impostos
e 65% no que respeita ao aumento dos preços.
99
Fig. 26 Práticas ambientais: ambiente e cidadania
Embora se verifique uma fraca predisposição dos vizelenses face à disponibilidade para pagar
preços ou impostos mais elevados, é assinalável que, ainda assim, a amostra revelou maior disposição
para suportar um aumento dos preços que aumento dos impostos, considerando que já lhes são
cobrados demasiados impostos e seria difícil suportar uma maior carga fiscal.
Comparativamente, os resultados obtidos pelo inquérito aplicado pelo ISSP verificam que
aqueles que aceitariam sem reservas aumentos dos preços, aumento dos preços e redução do nível
de vida para protegerem o ambiente é residual. A percentagem dos que mostram grande
disponibilidade é cerca de 15%, enquanto os indecisos se situam entre os 20 e 24%. Os valores
aumentam significativamente entre as categorias que, de forma mais ou menos vincada, esta ideia de
sacrífico pelo ambiente.
Se se começam a evidenciar a consciência de uma degradação ambiental, uma boa parte
destes parece ainda pouco predisposta a aceitar sacrifícios que possam travar esse processo. Isto
verifica-se tanto ao nível nacional como, especificamente no município de Vizela.
PARTICIPAÇÃO PÚBLICA
Em matéria de participação pública e cidadania, os resultados não são tão animadores,
verificando-se uma grande passividade, quer no geral, quer no que toca especificamente a matérias
ambientais. Esta passividade não é condizente com o interesse manifestado pelos cidadãos em
exprimir opiniões sobre as questões ambientais, mesmo que estas não lhes digam diretamente
respeito.
No II Inquérito Nacional às Representações e Práticas dos Portugueses sobre o ambiente, os
resultados obtidos indicam, de forma recorrente, níveis reduzidos de mobilização participativa dos
cidadãos nas decisões coletivas para além do patamar mínimo do quadro democrático atual. As ações
mais frequentes detetadas no inquérito são aquelas que apontam para formas de participação de tipo
Estaria disposto a pagar preços mais elevados parapreços para proteger o ambiente
Estaria disposto a pagar impostos mais elevados paraproteger o ambiente
Concordo totalmente Concordo Discordo Discordo totalmente Ns/Nr
100
mais passivo, assentes essencialmente nas práticas mais tradicionais de exercício democrático que
não envolvem custos ou exigências relevantes à iniciativa individual.
Esta aparente contradição entre a forte vontade de participar e os fracos índices de
participação efetiva é recorrente em inquéritos aplicados a outras escalas de análise, nomeadamente
a nível nacional e europeu. Dizem os especialistas e comprovam estudos e inquéritos levados a cabo
à escala europeia (e.g. European Social Survey, 2002/2003) que a sociedade portuguesa mantém
sinais claros de um forte défice de participação cívica, seja do ponto de vista da militância cívica, seja
na própria ação política de intervenção mais direta.
Ainda assim, os cidadãos não são os únicos responsáveis na falta de participação na vida
coletiva e nas decisões da administração pública, sendo especialmente evidente o enraizamento das
dificuldades de interação entre administração e cidadãos, nomeadamente a resistência remanescente
dos serviços do Estado (sejam centrais, sejam locais) em disponibilizar informação e enveredar
decisivamente por práticas de decisão mais transparentes que se coadunem com imperativos de boa
“governança” (Schmidt e Guerra, 2006).
Os resultados obtidos no inquérito por nós aplicado, constantes no quadro 9 são elucidativos,
também eles, de uma tradição pouco interventiva da sociedade vizelense em matéria ambiental.
Quadro 9 Participação dos vizelenses em questões ambientais (%)
Sim Não NS/NR
É membro de algum grupo ambientalista? 5 95 0
Já deu dinheiro algum grupo ambientalista? 19,2 78,3 2,5
Já assinou alguma petição sobre uma questão ambiental? 45,8 52,5 1,7 Já participou em alguma manifestação sobre uma questão ambiental? 4,2 95 0,8
Apenas 5% dos inquiridos são membros de um grupo ambientalista e a situação não melhora
quando questionados sobre a sua participação em alguma manifestação relacionada com alguma
questão ambiental. Relativamente ao facto de terem ajudado monetariamente algum grupo
ambientalista, o valor é mais animador: 19,2% da amostra diz já ter contribuído.
No que respeita ao facto de terem assinado ou não alguma petição, esta é a questão que
recebe mais respostas afirmativas: cerca de 46% da amostra. Ao aferirmos junto dos inquiridos em
que circunstâncias assinaram ou costumam assinar este tipo de petições, uma quantidade significativa
101
menciona que o faz através da internet. Dada facilidade de acesso a este tipo de petições e o cada
vez maior acesso generalizado à internet faz com que esta seja a prática ambiental que recolhe, de
entre a amostra, maior participação. Dado o maior acesso e familiaridade da população mais jovem
com o acesso às novas tecnologias, verificou-se que são os grupos etários mais jovens que mais
assinam petições relacionadas com os problemas ambientais (Figura 27). Fazem-no, maioritariamente
através de plataformas online disponíveis para o efeito. Neste sentido, o amplo uso das redes sociais
surte também um efeito positivo uma maior difusão das causas ambientais que mais facilmente
chegam a públicos que, de outra forma, se manteriam mais apáticos e distantes destas temáticas.
Fig. 27 Assinatura de petições ambientais segundo os grupos etários (%)
Do mesmo modo que a população vizelense se mostra pouco interventiva, 60% dos inquiridos
diz “discordar” da afirmação “É difícil para uma pessoa como eu fazer alguma coisa pelo
ambiente” (Figura 28), ou seja, a maioria da população inquirida considera-se capaz de fazer algo
pelo ambiente, considerando que pode ter um papel ativo no que respeita a uma melhoria da
degradação ambiental. Alguns dos inquiridos enumeram o facto de fazerem reciclagem dos resíduos
domésticos, poupar água no banho ou lavar os dentes. Estas são as contribuições para a melhoria
ambiental que a maior parte dos inquiridos enumera.
0%
10%
20%
30%
40%
50%
60%
70%
80%
90%
100%
15 - 24 anos 25 - 49 anos 50 - 64 anos 65 e mais anos
Sim Não Não sabe/ não responde
102
Fig. 28 Concordância relativamente à afirmação "É difícil para uma pessoa como eu fazer alguma coisa
pelo ambiente"
5.2.3 Perceção dos problemas ambientais no concelho de Vizela
Os cidadãos, em contacto direto com os problemas, desenvolvem visões e consciências
diferenciadas e mais amplas das dos técnicos. Estas constituem mais-valias na avaliação dos
problemas e na concretização de soluções, pelo que não devem ser negligenciadas.
A sociedade pode assim sentir-se mais integrada nos problemas a resolver e constituam
fontes concretas de soluções. Permite uma melhoria da qualidade de vida das pessoas, pois as
soluções encontradas vão mais ao encontro das suas necessidades, bem como aumenta a
legitimidade das decisões ambientais e permite um melhor acompanhamento da implementação dos
processos.
Se por um lado, algumas sociedades se mantêm extremamente atentas aos seus direitos de
participação, outras nem tanto. A participação pelo público em decisões tomadas pelo governo central
ou local ou por privados, relacionados com o bem-estar da sociedade ou individual, não constituiu
evidentemente, prática comum em todas as comunidades. É útil atentarmos no modo como os
cidadãos manifestam as suas preferências e os meios que existem para ajudar a compreender as
questões fundamentais e formular as suas opiniões.
Questionamos os inquiridos relativamente em que ações de âmbito municipal participaram
(Figura 29). Verificamos que 74% dos inquiridos não participaram em nenhuma das ações
Concordo Totalmente
Concordo
Discordo
Discordo Totalmente
NS/NR
103
enumeradas nem sugeriram outras. Cerca de um terço, nomeadamente de entre os inquiridos mais
velhos, participou na luta pela elevação de Vizela a concelho. De entre as causa que mobilizaram nas
últimas décadas os vizelenses, esta foi a que mais se destacou e a que mais envolveu a população.
A discussão do Plano Diretor Municipal que se encontra em vigor desde Janeiro de 2013 foi
a segunda ação mais participada relativamente às ações de âmbito municipal. O PDM é um
instrumento de planeamento territorial, de âmbito municipal que estabelece as políticas urbanas
municipais. Como a sua consulta pública foi realizada no centro da cidade de Vizela, durante um
período alargado de tempo, despertou a curiosidade das pessoas, ainda que não tenhamos procedido
à aferição de possíveis reclamações, observações e sugestões, bem como os pedidos de
esclarecimento que foram feitos por parte dos inquiridos.
Fig. 19 Participação em ações de caráter municipal (%)
A grande maioria da população envolveu-se ativamente nesta causa, tendo-se associada a elas
algumas elites políticas e culturais. Em 1964 foi constituído o Movimento para a Restauração do
Concelho de Vizela (M.R.C.V.), tendo como objetivo liderar a luta pela independência de Vizela. Na
mesma altura foi apresentada pela sétima vez, no século XX, um pedido para a criação do município.
Os anos 80 do século XX foram tempestuosos, marcados por confrontos com a Guarda
Nacional Republicana (G.N.R.), devido a uma certa intransigência por parte de alguma população e
agentes, bem como o boicote às eleições autárquicas de 1982.
Não participei
Luta para elevação de Vizela aconcelho
Discussão do Plano de DiretorMunicipal (PDM)
Assembleia Municipal
Em várias
104
Na década de 90, com a eleição do Partido Socialista nas eleições legislativas de 1995
conjeturam-se, novamente, uma solução para esta situação. Ainda assim, o Partido Socialista falhou
o compromisso que anteriormente havia arrogado e chumba a proposta de Vizela passar à categoria
de Cidade.
A ascensão de Vizela a Cidade e a Sede de Município (Figura 30), desejo de longa data, trouxe
à globalidade da população um novo ânimo e vontade de acreditar no futuro, fazendo acreditar num
crescimento económico sustentado e numa qualidade de vida livre da subordinação ao concelho de
Guimarães, com quem, desde há muito tempo mantinha más relações. O periódico jornal local
Notícias de Vizela foi um importante impulsionador desta luta, acompanhando-a de perto, constituindo
uma fonte documental deste período da história de Vizela irrefutável.
A luta pela elevação a concelho prendeu-se largamente com a necessidade expressa dos
vizelenses em se autonomizar face a Guimarães. Assentou em pretensões de primazia política e
administrativa que se viram legitimadas pelo franco crescimento económico que Vizela verificara.
PARTICIPAÇÃO NAS DECISÕES DE CARÁTER AMBIENTAL
Em matéria de participação nas decisões de caráter ambiental, verificamos que 60% dos
inquiridos afirmam que “devemos participar nas decisões mesmo que não nos afetem diretamente”,
27% e 20% da amostra afirma que “Só aqueles que são afetados pela decisão em causa devem
Fig. 30 Manifestação dos vizelenses aquando da elevação de Vizela a concelho, Lisboa
Fonte: Pinto, 1998, pp.. 4
105
participar” e “As decisões devem ser deixadas apenas aos órgãos de soberania, que têm autoridade
e competência nesta matéria, respetivamente (Figura 31).
Verificamos que os vizelenses revelam a aceitação das ideias ambientalistas, defendendo a
participação da sociedade nas decisões de caráter ambiental, mesmo que estas não lhes digam
diretamente respeito. Ainda assim, estes resultados não são condizentes com as suas práticas. Isto é,
apesar de considerarem pertinente e adequado que a sociedade se mobilize e participe nas questões
ambientais, analisou-se acima uma muito fraca mobilização da sociedade vizelense no que respeita à
participação em ações de caráter municipal ou às suas atitudes face à proteção ambiental.
Fig. 31 Posição relativamente à participação em matérias de caráter ambiental
PREOCUPAÇÕES COM O ESTADO DO RIO VIZELA
A indústria têxtil afirmou-se como o principal motor de desenvolvimento do concelho de Vizela,
tendo gerado inúmeros problemas ambientais decorrentes da sua atividade, nomeadamente no que
respeita aos recursos hídricos que foram amplamente afetados pelas descargas de efluentes,
apresentando uma degradação evidente. O manifesto crescimento económico que o território
verificava e o aumento do poder de compra das suas populações faziam ou não esquecer
os problemas decorrentes desse crescimento? Procuramos então entender qual a consciência
que as pessoas tinham sobre as preocupações com o rio Vizela (Figura 32).
Avaliando as respostas dos inquiridos, mais de metade destas apontam no sentido de as
pessoas se preocuparem, mas como o desenvolvimento económico era mais importante, o estado do
Devemos participar nas decisõesmesmo que não nos afetemdiretamente
Só aqueles que são afetados peladecisão em causa devemparticipar
As decisões devem ser deixadasapenas aos órgãos de soberania,que tem autoridade ecompetência nesta matéria
NS/NR
106
curso de água era negligenciado. Contudo, verifica-se que 30% da amostra aponta para uma total
ausência de preocupação com as descargas provenientes das indústrias para o rio. Apenas 15% dos
inquiridos manifestam que à época, “os vizelenses viam o estado do rio como um problema ambiental
grave”. Com isto podemos inferir que a população suportava um certo “sentimento de culpa” pela
degradação do rio Vizela com o qual haviam mantido, anteriormente, aquando do predomínio rural e
nos tempos áureos da Vizela termal, relações de proximidade e de complementaridade. Todavia, o
desejo de desenvolvimento económico que legitimasse as pretensões de independência administrativa
de Vizela face a Guimarães e que se traduzisse na melhoria da qualidade de vida das pessoas,
adquiriam um papel central.
Fig. 32 Preocupação com o estado do rio Vizela aquando do predomínio do têxtil
De modo a estabelecermos uma correspondência entre a opinião entre as opiniões expressas
através da aplicação do inquérito, fizemos uma revisão das edições do “Notícias de Vizela”.
Verificamos que, apesar de saírem com alguma regularidade notícias, crónicas e reportagens
acerca do estado do rio Vizela que denotam preocupação e que debatem possíveis soluções, esse
desassossego adquire uma certa sazonalidade, isto é, em alturas do ano em que se verificavam na
vila e, posteriormente, cidade de Vizela, efemérides que captavam mais a atenção dos leitores, as
preocupações ambientais ficavam relegadas para um segundo plano.
Em Setembro de 1990, o “Notícias de Vizela” (Anexo 3) desenvolveu uma série de entrevistas
a pessoas que consideravam pertinentes ouvir acerca dos problemas relacionados com o rio Vizela.
O diretor do SMAS (Serviços Municipalizados de Água e Saneamento), o Eng .º. Vítor Ferreira,
relata a fraca capacidade do SMAS no que respeita a um maior controlo das entidades poluidoras,
Não havia preocupação com asdescargas provenientes dasindústrias para o rio
As pessoas manifestavampreocupação, mas odesenvolvimento económicoera mais importante
Os vizelenses viam o estado dedegradação do rio Vizela comoum problema ambeintal grave
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devido à fraca capacidade de intervenção, à escassez de meios financeiros e de autoridade política.
Embora algumas empresas possuíssem já estações de tratamento de águas, a maior parte destas
desligam o sistema grande parte do tempo, isto é, “faziam a estação para se licenciarem, mas depois
para não gastarem na manutenção desligam a estação a maior parte do tempo”, relatou Vítor Ferreira
ao NV. Quando questionado sobre se a Câmara Municipal vinha recebido queixas relativas à poluição
das águas provocadas pelas indústrias, o diretor do SMAS à data refere que “de uma forma geral não.
O facto é que quando o rio vai colorido, a poluição é tão óbvia que ninguém pensa sequer em queixar-
se”. Isto demonstra uma certa sensação de impunidade das empresas que poluíam o rio, decorrente
das suas atividades, daí desenvolverem até uma certa indiferença relativamente a este problema
gritante que atingia todos os cidadãos, de um modo mais ou menos direto.
Por sua vez, Manuel Ferreira, antigo presidente da Câmara Municipal de Guimarães e vereador
da mesma e, à data da entrevista, administrador e delegado da Associação de Municípios do Vale do
Ave que ressalva que “se vai ganhando, finalmente, a consciência que representa, para o futuro da
Humanidade, os aspetos ambientais, ecológicos e sobretudo, o que representa a água para a vida do
homem sobre a terra”. À data iniciavam-se esforços para despoluição do rio Ave e dos seus afluentes.
Manuel Ferreira acreditava que com a entrada em funcionamento das ETAR (previstas para Dezembro
de 1993), “o rio Vizela, o Selho e o Ave voltariam a ter água limpa. Os rios voltariam a ser um elemento
importante para o desenvolvimento das comunidades”.
Em Agosto do mesmo ano, o NV auscultou o que os autarcas, os industriais e os vizelenses
pensavam acerca do estado de degradação sem precedentes que o rio Vizela apresentava. Dinis Costa,
à data, presidente da Junta de Freguesia de São Miguel, quando questionado acerca das medidas que
estariam a ser tomadas para o combate à poluição, refere que estas se prendem com “alerta a todas
as entidades competentes” perante a ausência de poder para as tomar de outro tipo, segundo o
próprio. O autarca entende, tal como havia referido também o Eng.º. Vítor Ferreira, a despoluição é
“um problema de âmbito governamental”, acrescentando que “o Governo nada faz contra esta
situação pois em quase todos os países da CEE para se construírem fábricas, têm primeiro de construir
ETARs”.
No que respeita à visão da indústria sobre a questão da poluição do rio, Domingos Vaz Pinheiro
afirma que “não há dúvida que nós [indústria] poluímos. Mas poluímos como poluiu o cidadão
comum”. Denota a nas suas afirmações uma preocupação com a qualidade de vida dos cidadãos,
referindo que “não queremos pensar só no trabalho das pessoas, pois temos que lhe dar condições
108
de trabalho e condições de vida”. A empresa que liderava [Timalhas], estaria já a desenvolver estudos
para a implementação da sua própria ETAR, contudo, fatores de ponderação fizeram a empresa ter
de reequacionar as soluções encontradas. Os custos económicos decorrentes da construção da ETAR
apresentavam-se como um grande impedimento, como refere o industrial: “isso ficava-nos por 80.000
contos, fora os custos de manutenção que seriam de cerca de 1.000 contos/ano”. A incerteza face à
comparticipação do estado fez a empresa ter receio do investimento avultado que a construção da
ETAR significa.
Apesar dos vizelenses nem sempre se demonstrarem preocupados com o estado do rio,
verificam-se manifestações a considerar como a que se mostra a figura 33, um cartaz anónimo que
denuncia o problema da poluição do rio Vizela, apelidando de “criminosos” os responsáveis pela
situação degradante em que o rio se encontrava.
Fonte: Notícias de Vizela, 03 de Agosto de 1990 . Fig. 33 Cartaz anónimo exposto aos olhos da opinião pública no lugar da Ponte de Velha
Convém ainda aferir se a preocupação com a degradação dos recursos hídricos se mantem
deficitária atualmente ou se os vizelenses consideram que há uma consciência comum da necessidade
de um ambiente mais saudável (Figura 34).
Das respostas obtidas verificamos que, à semelhança dos resultados obtidos relativamente à
questão analisada anteriormente, mais de metade da amostra tem uma posição prevenida
relativamente à resposta que dá, isto é, consideram que os vizelenses manifestam alguma
109
preocupação com o estado do rio, denotando que, apesar de algumas inquietações relativamente ao
estado do curso de água, muito mais haveria a fazer. Porém, cerca de metade dos inquiridos divide-
se entre uma perspetiva marcadamente positiva relativamente às preocupações dos vizelenses com o
estado do rio e aqueles que têm uma visão negativa das relações que atualmente se estabelecem
entre as pessoas e o curso de água. Ainda assim, a porção de inquiridos com uma perspetiva positiva
é substancialmente maior que os que mantêm uma perspetiva negativa da relação Ser Humano –
Ambiente.
Fig. 34 Preocupação dos vizelenses com os recursos hídricos na atualidade
Invariavelmente, as relações que a população mantem com o rio repercutem-se na
proximidade ou afastamento que as pessoas mantêm deste. Recentemente foram levadas a cabo
obras de requalificação da área ribeirinha do rio Vizela, numa zona contígua ao Parque das Termas,
na margem esquerda do rio (Figura 35). A zona ajardinada com zonas de lazer e prática desportiva
tem chamado a atenção da população que tem acorrido a essa área para prática desportiva ou para
lazer.
Quase 90% dos inquiridos consideram que a requalificação da área ribeirinha é positiva,
averiguando que um espaço com estas valências fazia falta em Vizela, tendo reaproximado as pessoas
do rio e aumentou a consciência da necessidade de uma maior preocupação com os problemas que
este ainda apresenta. Os restantes consideram ser indiferente, fundamentando essa resposta com o
facto de não lhe dar uso, ou as suas valências não irem ao encontro daquilo que entenderam ser das
coisas mais importantes a fazer no concelho. Apenas um dos inquiridos considerou esta requalificação
como negativa, tendo por base a ausência de preocupação com a naturalização das margens, a
construção de equipamentos de lazer e mobiliário urbano em zonas de inundação, que a cada inverno
Os vizelenses nãodemonstram preocupaçãocom o estado do rio.
Os vizelenses manifestamalguma preocupação com oestado do rio.
A poluição do rio Vizela éuma das principaispreocupações dos vizelenses.
110
sofrem degradações graves. Este cenário foi negligenciado, devido à “grande capacidade da infiltração
da área”, segundo o Plano de Pormenor do Poço Quente, relativo a esta área.
Fig. 35 Zona ribeirinha do rio Vizela, contígua ao Parque das Termas
A requalificação do edifício termal é também visto de forma muito positiva pelos vizelenses,
no sentido em que permitirá um reaproveitamento de um recurso que desde há muito tempo se
revelou importante na história deste território, assim como um rejuvenescimento de um tipo de turismo
que, aquando do predomínio da indústria têxtil em Vizela, se viu entrar em decadência e
desvalorização. Cerca de 80% dos inquiridos vêm esta requalificação como “boa”, sendo que a
restante percentagem corresponde a inquiridos que a vêm como “indiferente”, advogando que, como
não usufruem de tratamentos termais, não lhe causará qualquer diferença.
Verificamos que, apesar de a população manifestar solidariedade e mostrar-se
maioritariamente disponível para uma participação conjunta e mais sustentada para a resolução dos
problemas ambientais, mesmo que estes não os afetem diretamente, verifica-se simultaneamente
uma certa ataraxia quando questionadas relativamente à sua participação em questões concretas, em
que o nível de participação da amostra é baixo, denotando uma carta apatia e desligamento face aos
problemas com que a sociedade se debate.
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Conclusão e Recomendações
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Conclusão
Antigamente, os prolemas ambientais não eram vistos como tal, eram fenómenos entendidos
como consequências desastrosas, mas inevitáveis do progresso e não como problemas.
Portugal apresentou, desde sempre, uma fraca tradição científica nesta matéria de que
resultaram equívocos na avaliação do risco e na forma como lidar com ele. Ainda os problemas mais
básicos estavam por resolver e já emergiam fenómenos complexos e globais com os quais não
tínhamos capacidade de lidar. A falta de informação resultou na sobrevalorização de alguns ricos e na
sobrevalorização de outros.
A par destes “velhos riscos” que, lentamente, foram sendo consciencializados, surgiram
entretanto “novos riscos” que se relacionam com a integração do país na economia de mercado e
respetiva abertura (Schmidt et al., 2004). Estes riscos, amplamente complexos, estão associados a
uma incerteza científica.
Sempre se verificou uma forte heterogeneidade no que ao grau de desenvolvimento
tecnológico diz respeito. Enquanto que nalguns países europeus predominaram fortes níveis de
desenvolvimento tecnológico e de inovação, no caso de Portugal, as vantagens comparativas tendiam
a assentar fundamentalmente na mão-de-obra barata que oferecia. Este fator nunca deixou, ainda
assim, de comprometer o desenvolvimento da indústria cujo excessivo peso nas exportações
nacionais, bem como a forte concentração geográfica, como é disso exemplo o Vale do Ave,
constituíram sempre problemas estruturais graves.
Apesar de Portugal não ter tido um desenvolvimento industrial intenso como se verificou em
muitos países europeus, o país não viveu, contudo, num estado de isenção – implementaram-se
unidades industriais sem respeitar regras elementares de “pacto ambiental”, originando uma situação
de desordenamento do território grave (Schmidt et al, 2004).
O Vale do Ave registou uma situação ímpar em Portugal e, mesmo na Europa – uma fortíssima
mono-indústrialização que baseou o seu desenvolvimento no aproveitamento intensivo de mão-de-obra
local. Verificou-se, desde sempre, a necessidade gritante de diversificar a estrutura produtiva do Ave.
Não obstante, a aposta na produção de bens de baixa qualidade e de reduzido valor acrescentado
devido à fraca inovação tecnológica, por um lado, e baixos índices de produtividade, por outro, resultou
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na perda de competitividade. Esta insustentabilidade do modelo de produção levou a uma queda
evidente e generalizada da economia local.
Atualmente, resiste um “passivo ambiental” que mergulha as raízes num tecido industrial
obsoleto e economicamente frágil, o qual coexiste com algumas indústrias de grandes dimensões. O
crescimento económico fez-se à custa do desordenamento e da agudização dos problemas ambientais,
a sociedade ressente-se e requer com urgência a sua resolução.
A degradação ambiental e o desordenamento territorial que se verificaram nos últimos anos,
a par da divulgação de que foram alvo, tornaram-se suficientemente visíveis para que a sociedade não
lhes fosse indiferente. Neste sentido, o papel dos media, dos grupos ambientalistas e da educação
para os valores ecológicos tiveram um papel central.
A sociedade sempre se mostrou alheia e indiferente às questões de participação pública. Se
durante o Estado Novo era praticamente impossível às populações reclamarem, após esse período,
os valores políticos e económicos sobrepuseram-se às preocupações ambientais e as atenções
voltaram-se para outras questões.
Entretanto, a diversidade dos grupos sociais e a sua possibilidade de interferência – ainda que
sempre desigual – no processo coletivo, constituem sintomas da crescente necessidade de lhes
entender os interesses e os valores. O que é tanto mais verdade quanto mais as sociedades
(contemporâneas) vão aguentando a sua reflexibilidade, ou seja, a sua capacidade alargada de
incorporar representações, e, por aí, de as tornar influentes nos processos de conjunto (Almeida,
2000).
Num panorama geral de desinformação, aliada à ausência de tradição participativa, articulada
com desorganização dos poderes públicos, os cidadãos não têm estímulo para participar e intervir. Os
níveis reduzidos de mobilização participativa dos cidadãos nas decisões coletivas deixam denotar uma
passividade, seja do ponto de vista da militância cívica, seja na própria ação política de intervenção
mais direta.
Em matéria de participação pública, o ambiente surge como uma plataforma privilegiada de
aplicação dos valores de cidadania e do exercício democrático. Uma maior mobilização tem sido
marcado pela progressiva importância atribuída às questões que se relacionam com a preservação do
ambiente num contexto de promoção da qualidade de vida dos cidadãos.
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Se, por um lado, as pessoas se mostram amplamente preocupadas e consideram que as
soluções para os problemas ambientais devem ser uma busca comum e partilhada no sentido de os
solucionar efetivamente, por outro, isso acaba por não se traduzir na participação efetiva. Esta
dualidade verifica-se tanto ao nível de Portugal, como no nosso estudo de caso – concelho de Vizela.
No que respeita às atitudes ambientais e à ambivalência que se estabelece entre ambiente e
desenvolvimento, verificamos, através dos dados dos inquéritos realizados, que os vizelenses
concordam com a necessidade de se cuidar do ambiente, de modo a garantir a sustentabilidade do
tecido económico. Por outro lado, no que respeita à noção de que o crescimento económico acaba
sempre por prejudicar o ambiente, verifica-se uma maior relutância que se prende com o facto de
muitos considerarem que pode apostar-se em atividades económicas menos nocivas para o ambiente
e, desta forma, poupá-lo.
Validamos a noção de que, para os vizelenses, o crescimento económico depende, em larga
escala da proteção ambiental. Isto relaciona-se diretamente com o facto de Vizela ter vivido muito de
perto no seio desta ambiguidade. Verifica-se ainda a necessidade de aproximar o modelo de
crescimento económico a opções mais sustentáveis que articule coerentemente o crescimento
económico e o ambiente.
A ciência e a tecnologia detêm, como oportunamente discutimos, uma posição híbrida no que
diz respeito aos problemas ambientais. No território, palco do nosso estudo, esta dualidade é ainda
mais visível. A distribuição das respostas pelos inquiridos põe em evidência esta questão, sendo-lhes
difícil definir uma posição muito marcada no que respeita a esta relação. Ainda assim, são os jovens
o grupo etário que melhor se relaciona com a tecnologia, vendo-a como uma fonte de soluções para
os problemas ambientais evidenciando, também, uma maior inconsciência para os problemas que
esta pode despoletar.
Se há quem deposite uma maior esperança na ciência para a resolução das suas angústias,
muitos há que partilham esse “protagonismo” com a fé que vão depositando na religião para a
resolução dos seus problemas. Em Vizela, os indivíduos com níveis de instrução mais elevados
evidenciam uma maior confiança na ciência para a resolução dos seus problemas. Ainda assim,
independentemente do nível de escolaridade, a amostra recolhida não denota uma posição muito
marcada relativamente a esta questão. Uma sociedade marcadamente católica e com um aumento
significativo de população com níveis de instrução mais elevados pode explicar esta hesitação.
116
As pessoas podem não saber muito sobre o ambiente, mas preocupam-se e essa preocupação
aumenta à medida que vão sabendo mais – como é o caso dos mais novos e dos mais escolarizados
(Schmidt et al., 2000). Contudo, não podemos considerar que as preocupações são resultado da
consciencialização ambiental, mas é certo que o processo de mobilização da opinião pública para o
ambiente resulta de uma forte implicação mediática. Assim, o ambiente já está entre as preocupações
fundamentais dos portugueses.
Vizela apresenta um contexto muito próprio, nomeadamente devido à expressão que a
indústria têxtil e os problemas por esta despoletados trouxeram a este território. Os vizelenses
consideram que as preocupações ambientais não são exageradas, sendo que, para muitos inquiridos,
estas deviam ser ainda mais evidentes e refletir-se em políticas efetivas de melhoria do ambiente.
Verifica-se, ainda, uma consciência comum que o ambiente devia ser, de entre as prioridades
nacionais, uma a considerar.
Em matéria de participação de decisões de caráter ambiental, verificamos que os vizelenses
inquiridos concordam com o facto de que devemos participar nas decisões, mesmo que estas não nos
afetem diretamente. Assim, verifica-se uma aceitação dos valores ambientalistas, defendendo partilha
e participação nas decisões ambientais por toda a sociedade, mesmo que não lhes diga diretamente
respeito. Contudo, os resultados não são condizentes com as suas práticas: apesar de considerarem
pertinente e adequado que a sociedade se mobilize e participe nas questões ambientais, verifica-se
uma muito débil participação em ações de carater municipal.
O conhecimento sobre as questões ambientais é, em muitos casos, amplamente influenciado
pela informação recolhida. As pessoas são expostas a muitas fontes de informação, além das
científicas e técnicas e são capazes de assimilar e ponderar informações de diferentes origens, nem
sempre fidedigna.
Os grupos ambientalistas, apesar de recolherem grande aceitação e confiança por parte dos
vizelenses, não têm desenvolvido uma participação organizada e coletiva na persecução de uma maior
qualidade ambiental do concelho de Vizela, nem tão pouco desenvolvido ações diretamente
relacionadas com a problemática da poluição do Vale do Ave.
São as empresas e indústrias aquelas em que os vizelenses menos confiam para receber
informação acerca das causas de poluição, considerando que esta pode se alvo de manipulação em
função dos seus interesses. Também se verifica um fraco nível de confiança relativamente à
117
informação emitida por parte dos serviços governamentais, o que pode ser reflexo do descrédito da
ação governamental em outros domínios da vida pública.
Perante a situação económica e socialmente fragilizada que a sociedade portuguesa atravessa
atualmente, nomeadamente no Vale do Ave, em que os problemas de desemprego são ainda mais
evidentes, decorrentes da mono-esopecialização e da deficitária aposta na instrução e formação, aferir
o modo como isso se reflete na sua disponibilidade para contribuir para a causa ambiental, pareceu-
nos fundamental.
Verificamos que nenhum dos inquiridos aceitaria, sem reservas, o aumento dos preços ou dos
impostos para a proteção ambiental. Contudo, é mais expressivo daqueles que concordariam com o
aumento dos preços do que os que manifestam concordância com um eventual aumento de impostos.
Muito mais expressiva é a porção de inquiridos que recusam, de forma mais ou menos vincada, o
aumento dos preços ou da carga fiscal, mesmo que isso se destinasse à proteção ambiental.
A sociedade vizelense demonstra uma tradição pouco interventiva em matéria ambiental. Esta
situação é condizente com a realidade o país no seu todo, estudada anteriormente por outras
investigações. De entre os inquiridos, é residual a porção daqueles que fazem parte de um grupo
ambientalista ou dos que já participaram em alguma manifestação sobre uma questão ambiental.
Dada a familiaridade cada vez maior da população mais jovem com as tecnologias da informação e
da comunicação, verifica-se que estes têm manifestado uma maior ação interventiva em matérias
ambientais, assinando petições públicas que são, muitas vezes, disponíveis em plataformas online
destinadas ao efeito.
A tradição pouco interventiva dos vizelenses estende-se além da esfera ambiental. Em ações
de caráter municipal, a luta pela elevação de Vizela a concelho foi a que verificou maior mobilização.
Este envolvimento pouco comum da população vizelense numa questão que é de todos, assentou em
pretensões de primazia política e administrativa que se viram legitimadas pelo franco crescimento
económico que Vizela havia verificado.
A indústria têxtil apresentou-se, durante muitas décadas, como o principal motor de
desenvolvimento do concelho de Vizela, de que decorreram muitos problemas ambientais. Nesta
ambivalência de degradação ambiental e crescimento económico, verificamos que os vizelenses
detinham preocupação com o estado do rio, mas, ainda assim, o fator económico tinha maior
118
preponderância. Por outro lado, as preocupações ambientais versavam essencialmente sobre as
questões estéticas que a degradação da paisagem afetavam.
Atualmente, resultado de um conjunto de circunstâncias como a “crise” económica, a falência
do modelo económico atual, a ampla difusão por parte dos media e dos grupos ambientalistas da
importância da qualidade e proteção ambiental per si, verificamos que os vizelenses começam a
denotar uma maior consciência para o valor ecológico da paisagem, que se vem repercutindo na
relação de uma maior proximidade com o rio Vizela.
Hoje é relativamente consensual que a ameaça dos cidadãos ao equilíbrio dos ecossistemas
é uma reação crítica à evolução tecnológica que, por um lado, criou e acumulou stress ecológico no
ar, água, solos e biota, incluindo seres humanos; por outro, gerou e alimentou uma séria ameaça à
capacidade das sociedades humanas de se manterem e reproduzirem no futuro (Queirós, 2001).
Com a tomada de consciência de que é o próprio funcionamento do Planeta que está em jogo
novas configurações se definem. Somos remetidos para uma lógica de “globalização” dos problemas
ambientais que afetaram todos e não apenas os países mais desenvolvidos, os mais poluidores, os
mais poluídos, os mais poluídos com “valores pró-materialistas” (E. Dunlap e A. G. Mertig, 1995 citado
por M. L. Lima et al., 2002, p.14). Segundo Teles (2010), podemos afirmar, então, sem margem para
dúvidas, que, ao longo do tempo é crescente o interesse pelas questões ambientais mas é, também,
diferente o modo de sentir e agir perante as preocupações ambientais.
O papel das escolas, das associações ambientalistas e dos meios de comunicação social,
preferencialmente da televisão, têm sido fundamentais na efetivação desta mudança (Schmidt et al.,
1999 e 2000).
Deste modo, se tem verificado uma mudança de uma leitura ambiental centrado no domínio
do Homem sobre a Natureza – antropocentrismo, para uma outra de consciencialização que a ação
antrópica afetam o seu equilíbrio débil e daí podem decorrem consequências desastrosas –
ecocentrismo ou Novo Paradigma Ecológico.
Hoje, o sentido de responsabilidade ambiental está associado à crença de que a
biodiversidade e a paisagem não podem ser destruídas por ação humana. Contudo, a visão
antropocêntrica do mundo criou um conflito a propósito do crescimento económico (Queirós, 2001).
119
Recomendações
A realização deste trabalho, apesar de nos ter permitido responder às questões de partida e,
portanto, ter sido concluído com sucesso, muito há ainda a fazer no sentido de um maior entendimento
das perceções e práticas ambientais no território correspondente ao município de Vizela, quer num
contexto mais amplo – no Vale do Ave, com quem partilha muitas questões que aqui debatemos.
Em investigações futuras seria, na nossa perspetiva, pertinente avaliar a consciência, as
práticas e a relação que, além dos cidadãos, os políticos e demais agentes decisores, industriais, e
agentes sindicais estabelecem com os elementos naturais da paisagem e a importância que lhe
atribuem. Isto permitiria um exercício fundamental de comparação de perspetivas de diferentes
agentes relativamente às questões ambientais.
Por outra parte, não deixaria de ser interessante e fundamental, entender de que modo as
perceções que a população de outros concelhos inseridos no Vale do Ave se aproximam ou diferenciam
da realidade aqui estudada para o concelho de Vizela.
Num outro prisma, estudar afincadamente a sucessão dos ciclos económico que caracterizam
a sociedade vizelense permitiria entender mais amplamente o que provoca essa sucessão e sustentar
a compreensão do modo como estes mantêm estreitas relações com os recursos naturais,
nomeadamente com os recursos hídricos e o seu aproveitamento.
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130
Estatísticas
INE (2001) – XIV Recenseamento Geral da População e IV Recenseamento Geral da Habitação.
Resultados Definitivos. Norte. Censos 2001, INE. Portugal.
INE (2011) – XIV Recenseamento Geral da População e IV Recenseamento Geral da Habitação.
Resultados Definitivos. Norte. Censos 2001, INE. Portugal.
Legislação
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Notícias de Vizela, Ano XXII, nº334, 1 de Setembro 1990.
Notícias de Vizela, Ano XXII, nº395, 14 de Setembro 1990.
131
Anexos
_________________________________________________
132
133
ANEXO 1 – Escolaridade por sexo em 2011 para Portugal, Norte, NUT III Ave e Vizela e respetivas taxas
Portugal Norte Ave Vizela H M %H %M H M %H %M H M %H %M H M %H %M
Nenhum nível de escolaridade 358413 536727 7,067 9,369 159904 226248 8,812 11,077 22178 29525 8,738 10,563 1099 2517 9,228 17,096
4ºano 1466001 1686777 28,905 29,445 554529 629372 30,559 30,813 79927 89862 31,491 32,149 3993 4337 33,526 29,457
6ºano 592331 506325 11,679 8,839 241976 211185 13,335 10,339 37694 34563 14,851 12,365 1800 1554 15,113 10,555
9ºano 880828 780136 17,367 13,618 308375 275247 16,994 13,476 45899 38846 18,084 13,898 2390 1958 20,067 13,299
Ensino secundário 925918 937017 18,256 16,357 290280 293707 15,997 14,380 39212 39769 15,450 14,228 1635 1735 13,728 11,784
Ensino superior 688583 941317 13,577 16,432 208096 290763 11,468 14,235 22117 32145 8,714 11,500 736 1817 6,180 12,341
Analfabetos com 10 ou + anos 159705 340231 3,149 5,939 51434 116017 2,834 5,680 6780 14805 2,671 5,297 257 805 2,158 5,468
Total 5071779 5728530 1814594 2042539 253807 279515 11910 14723
134
135
Anexo 2 – Inquérito “Práticas ambientais e relação dos vizelenses com o rio
Vizela”
Este inquérito por questionário insere-se no desenvolvimento da Dissertação de
Mestrado em Geografia, ramo de especialização em Gestão e Ordenamento do
Território pela Universidade do Minho, pela mestranda Ana Catarina Neto Dias Alves.
Pretende-se aferir a perceção das práticas ambientais e a relação que os
vizelenses mantêm com o rio Vizela, em contextos sociais e económicos que foram
sofrendo alterações num contexto alargado.
Agradecemos a sua participação, sendo esta da máxima importância, face à falta
de estudos e informação sobre a forma como os vizelenses se relacionam com o rio
Vizela e sobre o modo como a emergência da indústria têxtil no Vale do Ave condicionou
essa relação.
Os dados fornecidos pelo inquirido são confidenciais. Agradecemos que
responda com rigor às questões formuladas.
136
1. Caracterização social do inquirido(a) 1.1 Idade: _____ anos 1.2 Sexo: F M 1.3 Naturalidade: ______________________________________ 1.4Residência (concelho e freguesia):______________________ 1.5 Estado civil Casado Solteiro Divorciado Viúvo União de facto NS/NR 1.6 Habilitações Académicas: Sem escolaridade
Ensino Básico 1º ciclo (4ª classe)
Ensino Básico 2º ciclo (6º ano)
Ensino Básico 3º ciclo (9º ano)
Ensino Secundário (12º ano)
Ensino superior. Área de formação: ______________________________
1.7 Situação socioprofissional
Estudante
Doméstico(a)
Desempregado(a)
Empregado(a)
Desempregado(a)
Reformado(a)
Outra. Qual? ____________________________________________________
1.8 Profissão (atual ou última): ___________________________________________
137
2. Atitudes ambientais
2.1 Diga em que medida concorda ou discorda com cada uma das seguintes afirmações
2.2 Que grau de confiança tem em cada um dos seguintes grupos para receber informação
correta sobre as causas de poluição?
Ab
solu
ta
con
fia
nça
Ba
sta
nte
co
nfi
an
ça
Alg
um
a
con
fia
nça
Ne
nh
um
a
con
fia
nça
NS
/ N
R
Empresas e indústria
Grupos ambientalistas
Serviços Governamentais
Jornais
Rádio ou televisão
Centros de investigação e universidades
3. Práticas ambientais e cidadania
3.1 Diga em que medida concorda ou discorda com cada uma das seguintes afirmações
Co
nco
rdo
T
ota
lme
nt e
Co
nco
rdo
Dis
cord
o
Dis
cord
o
tota
lme
nte
NS
/ N
R
AMBIENTE E DESENVOLVIMENTO
O progresso económico abrandará se não se cuidar do ambiente.
O crescimento económico prejudica sempre o ambiente.
ATITUDES FACE À CIÊNCIA
A tecnologia resolverá os problemas ambientais alterando pouco o nosso estilo de vida.
De uma forma geral, a tecnologia causa mais prejuízos do que benefícios.
Confio mais na ciência do que na fé para a resolução dos problemas.
PREOCUPAÇÕES AMBIENTAIS
As preocupações com as ameaças ambientais são muitas vezes exageradas.
A proteção do ambiente deveria ser uma prioridade nacional.
Tudo o que fazemos hoje prejudica o ambiente.
Co
nco
rdo
T
ota
lme
nt e
Co
nco
rdo
Dis
cord
o
Dis
cord
o
tota
lme
nte
NS
/ N
R
INTENÇÕES Estaria disposto(a) a pagar preços bastante mais elevados para proteger o ambiente?
Estaria disposto(a) a pagar impostos mais elevados para proteger o ambiente?
138
3.2 Nos últimos anos fez alguma das ações que seguidamente se colocam?
Sim Não NS/NR
É membro de algum grupo ambientalista?
Já deu dinheiro a algum grupo ambientalista?
Já assinou alguma petição/ abaixo-assinado relacionada com uma questão ambiental?
Já participou numa manifestação ou num protesto sobre uma questão ambiental?
4. Perceção dos problemas ambientais no concelho de Vizela
4.1 Em que ações de caráter municipal assumiu um papel ativo?
Luta para a elevação de Vizela a concelho.
Discussão do Plano Diretor Municipal (PDM).
Reuniões da Câmara Municipal.
Assembleia Municipal.
Assembleia de Junta de Freguesia.
Não participei.
Outras. Quais?___________________________________________
4.2 Quotidianamente tomamos decisões que têm implicações sobre a política
ambiental. Relativamente às decisões de carácter ambiental, diria que:
Devemos participar nas decisões mesmo que não nos afetem diretamente.
Só aqueles que são afetados pela decisão em causa devem participar.
As decisões devem ser deixadas apenas aos órgãos de soberania, que tem autoridade e
competência nesta matéria.
NS/ NR.
4.3 A indústria têxtil, motor de desenvolvimento económico, afetou a condição
ambiental do rio Vizela. Aquando da predomínio do Têxtil no Vale do Ave, considera
que…
Não havia preocupação com as descargas provenientes das indústrias para o rio.
As pessoas manifestavam preocupação, mas o desenvolvimento económico era mais importante.
Os vizelenses viam o estado de degradação do rio Vizela como um problema ambiental grave.
4.4 Atualmente, muitas são as políticas com incidência na gestão dos recursos
hídricos. Considera que, hoje em dia, …
Os vizelenses não demonstram preocupação com o estado do rio.
As preocupações dos vizelenses não demonstram grande preocupação com o estado do rio.
A poluição do rio Vizela é uma das maiores preocupações dos vizelenses.
139
4.5 Sentiu que a poluição do rio Vizela afastou as pessoas da sua proximidade?
Não.
Sim.
4.5.1 Porquê?
4.7 Já apresentou queixa de alguma descarga ilegal de resíduos para o rio Vizela?
Não.
Sim. A que entidade? ____________________ Quando?_________________
4.7 Considera que a independência do município de Vizela face a Guimarães veio
alterar as práticas ambientais?
Não.
Sim.
4.5.1 Porquê?
4.8 Como vê a requalificação da área ribeirinha?
Boa.
Indiferente.
Má.
4.8.1 Porquê?
4.9 Como vê a requalificação das Termas de Vizela?
Boa.
Indiferente.
Má.
4.9.1 Porquê?
4.10 Acha que a relação dos vizelenses com o rio tem vindo a sofrer alterações?
Porquê?
Muito Obrigada pela Colaboração!
140
Anexo 3 - Entrevistas realizadas pelo Notícias de Vizela
141
142