inovações tecnológicas na arquitetura de estádios - arenas esportivas multiuso

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INOVAÇÕES TECNOLÓGICAS NA ARQUITETURA DE ESTÁDIOS: ARENAS ESPORTIVAS MULTIUSO FELIPE BRUNO LIMA DA SILVA

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Page 1: Inovações tecnológicas na arquitetura de estádios - arenas esportivas multiuso

INOVAÇÕES TECNOLÓGICAS NA ARQUITETURA DE ESTÁDIOS:

ARENAS ESPORTIVAS MULTIUSO

FELIPE BRUNO LIMA DA SILVA

Page 2: Inovações tecnológicas na arquitetura de estádios - arenas esportivas multiuso

Universidade Federal de Viçosa Centro de Ciências Exatas e Tecnológicas

Departamento de Arquitetura e Urbanismo

INOVAÇÕES TECNOLÓGICAS NA ARQUITETURA DE ESTÁDIOS:

ARENAS ESPORTIVAS MULTIUSO

Monografia apresentada ao curso de Arquitetura e

Urbanismo da Universidade Federal de Viçosa, em

cumprimento parcial às exigências para obtenção do

título de Arquiteto e Urbanista.

Aluno: Felipe Bruno Lima da Silva

Orientador: Prof. Dr. Túlio Márcio de Salles Tibúrcio

Viçosa, Novembro de 2010

Page 3: Inovações tecnológicas na arquitetura de estádios - arenas esportivas multiuso

i

Dedico este trabalho ao meu pai, à minha mãe e aos meus irmãos

Gustavo e Júnior, em gratidão a todo apoio e incentivo nesses anos

de estudo e aprendizado.

Page 4: Inovações tecnológicas na arquitetura de estádios - arenas esportivas multiuso

ii

AGRADECIMENTOS

À Universidade Federal de Viçosa pelo apoio institucional.

Aos professores do DAU/UFV pelas contribuições a minha

formação profissional.

Ao professor Túlio Tibúrcio pelas orientações e oportunidade de

pesquisar sobre inovações tecnológicas na arquitetura.

Ao arquiteto Eduardo Castro Mello pela grande contribuição a este

trabalho nos esclarecimentos sobre a arquitetura de estádios.

Ao professor Gustavo Veríssimo pelas aulas de Sistemas

Estruturais e aprendizado nas orientações sobre estruturas.

Ao presidente do Clube BH Rugby, Alessandro Travassos, e o

jogador Igor Michalick pelas informações sobre a prática do rugby

em Belo Horizonte – MG.

À Orandi Mura pelas informações sobre o funcionamento do Estádio

do Morumbi.

Aos amigos da República Virakopus pela convivência, amizade e

momentos de descontração.

E aos amigos do curso de Arquitetura e Urbanismo pelas conversas

e sugestões que de alguma forma contribuíram para o

desenvolvimento deste trabalho.

Page 5: Inovações tecnológicas na arquitetura de estádios - arenas esportivas multiuso

iii

APRESENTAÇÃO Em cumprimento às exigências da disciplina ARQ 398 – Trabalho de curso /

Fundamentação, fez-se necessário a elaboração e apresentação dessa monografia.

O presente trabalho tem como objetivo principal dar o embasamento teórico e

identificar as informações necessárias para a elaboração de um projeto

arquitetônico, a ser desenvolvido na disciplina ARQ 399 – Trabalho de curso/

Proposição.

As disciplinas são oferecidas pelo Departamento de Arquitetura e Urbanismo da

Universidade Federal de Viçosa (UFV) como requisitos necessários à obtenção do

título de Arquiteto e Urbanista.

Page 6: Inovações tecnológicas na arquitetura de estádios - arenas esportivas multiuso

iv

“[...] A arquitetura depende de seu tempo. É a cristalização de

sua estrutura interna, o lento desenrolar da sua forma. Esta é

a razão pela qual a tecnologia e a arquitetura estão tão

intimamente relacionadas. Nossa esperança é que cresçam

juntas, para que um dia, uma seja o reflexo da outra. Só então

teremos uma arquitetura digna de seu nome: Arquitetura

como um verdadeiro símbolo de nossos tempos.”

Arquiteto Mies van der Rohe (1886 – 1969)

"Você já entrou em um estádio vazio? Tente isso. Pare no

meio do campo e ouça. Não há nada mais vazio que um

estádio vazio. Não há nada mais silencioso do que

arquibancadas sem pessoas."

Escritor e Jornalista Eduardo Galeano (1995)

Page 7: Inovações tecnológicas na arquitetura de estádios - arenas esportivas multiuso

v

SSUUMMÁÁRRIIOO

Dedicatória ................................................................................................................................................. i

Agradecimentos ....................................................................................................................................... . ii

Apresentação ............................................................................................................................. .............. iii

CAPÍTULO 1 INTRODUÇÃO

1

■ 1.1 Formulação do problema ................................................................................................ 4

■ 1.2 Justificativa ............................................................................................................................ 5

■ 1.3 Delimitação do objeto de estudo ................................................................................. 6

■ 1.4 Objetivos ............................................................................................................................. ..... 6

1.4.1 Objetivo geral ............................................................................................................................. .. 6

1.4.2 Objetivos específicos .................................................................................................................. 6

■ 1.5 Metodologia ............................................................................................................................ 7

1.5.1 Estudos de caso ......................................................................................................................... 7

1.5.2 Visitas técnicas ............................................................................................................................ 7

1.5.3 Entrevistas ............................................................................................................................. ..... 7

CAPÍTULO 2 A EVOLUÇÃO DA TIPOLOGIA DE ESTÁDIO 8

■ 2.1 Grécia antiga ..................................................................................................................... 9

■ 2.2 Roma antiga ....................................................................................................................... 10

■ 2.3 Idade Média ....................................................................................................................... 13

■ 2.4 Renascimento .................................................................................................................. 13

■ 2.5 Século XIX ........................................................................................................................... 14

■ 2.6 Século XX ........................................................................................................................... 15

CAPÍTULO 3 AS INOVAÇÕES TECNOLÓGICAS NOS ESTÁDIOS CONTEMPORÂNEOS

26

■ 3.1 Soluções em sistemas estruturais .......................................................................... 27

■ 3.2 Aplicações de novos materiais .................................................................................... 33

■ 3.3 Equipamentos e dispositivos .......................................................................................... 38

Page 8: Inovações tecnológicas na arquitetura de estádios - arenas esportivas multiuso

vi

CAPÍTULO 4 AS ARENAS ESPORTIVAS MULTIUSO 44

■ 4.1 O conceito de arena multiuso ....................................................................................... 45

■ 4.2 Flexibilidade na arquitetura de estádios ............................................................... 50

CAPÍTULO 5 ESTUDOS DE CASO 55

■ 5.1 Estádio AVIVA ........................................................................................................................ 56

5.1.1 Dados técnicos ........................................................................................................................... 56

5.1.2 Solução arquitetônica ............................................................................................................ 56

5.1.3 Solução estrutural ..................................................................................................................... 65

5.1.4 Equipamentos e dispositivos ................................................................................................... 68

■ 5.2 Estádio Wembley ............................................................................................................... 69

5.2.1 Dados técnicos ........................................................................................................................... 69

5.2.2 Solução arquitetônica ............................................................................................................... 69

5.2.3 Solução estrutural ..................................................................................................................... 80

5.2.4 Equipamentos e dispositivos ................................................................................................... 83

■ 5.3 Considerações sobre os estudos de caso ............................................................... 84

CAPÍTULO 6 CONCLUSÃO 86

■ 6.1 Considerações finais ......................................................................................................... 87

■ 6.2 Proposta .................................................................................................................................. 88

■ 6.3 Terreno e contexto ........................................................................................................... 89

■ 6.4 Programa e pré-dimensionamento ............................................................................. 92

■ 6.5 Conceito ............................................................................................................................. ..... 94

■ 6.6 Cronograma para o projeto .......................................................................................... 95

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 96

Page 9: Inovações tecnológicas na arquitetura de estádios - arenas esportivas multiuso

Inovações Tecnológicas na Arquitetura de Estádios: Arenas Esportivas Multiuso

Capítulo 1 – Introdução ■ 1

11 IINNTTRROODDUUÇÇÃÃOO

Herança arquitetônica das civilizações da Antiguidade Clássica, a tipologia

arquitetônica de estádio possivelmente tenha sido uma das que mais modificações

verificaram-se no decorrer da história. As transformações ocorreram tanto em

questões funcionais quanto estéticas, acompanhando as inovações tecnológicas

aplicadas à arquitetura e as novas demandas de uso da sociedade.

Um estádio é essencialmente um grande teatro para apresentação de feitos

heróicos. Da combinação de uma função dramática mais sua escala

monumental, deveria surgir uma arquitetura cívica poderosa. O primeiro

grande protótipo, o Coliseu de Roma, atingiu de fato esse ideal, mas poucos

estádios desde então têm sido bem sucedidos. Os piores são sórdidos,

lugares desconfortáveis, conjuram a depreciação de seu entorno pelo longo

período em que permanecem vazios e sem uso, com acentuado contraste

com os dias de jogos de extremo congestionamento. Os melhores são

confortáveis e seguros, e oferecem aos seus usuários tardes agradáveis ou

noites de entretenimento – mas mesmo esses podem estar aquém em

excelência arquitetônica. (JOHN; SHEARD; VICKERY, 2007, tradução

nossa)

Page 10: Inovações tecnológicas na arquitetura de estádios - arenas esportivas multiuso

Inovações Tecnológicas na Arquitetura de Estádios: Arenas Esportivas Multiuso

Capítulo 1 – Introdução ■ 2

Como exemplo dessas transformações, pode-se citar o retorno das práticas

esportivas no sistema educacional das escolas inglesas no século XIX – que

possibilitou uma retomada da valorização dos espaços destinados ao esporte, com a

invenção de novas modalidades esportivas.

Em 1830, a educação física foi inserida no sistema escolar público inglês na

esperança de desenvolver corpos disciplinados e saudáveis. Com isso, o

incentivo oficial à prática de esportes populares que, submetidos à

crescente regulamentação, resultou na "invenção" de diversas modalidades

esportivas [...] Rugby, futebol e cricket foram os mais populares destes

jogos. Entre 1820 e 1870, as escolas públicas inglesas funcionavam como

laboratórios para a invenção dos esportes modernos. (AGUSTIN, 1995,

apud GAFFNEY; MASCARENHAS, 2006, tradução nossa)

Inicialmente destinados a acomodar apenas as práticas esportivas do futebol e do

atletismo, os grandes estádios construídos no séc. XX se viram obsoletos e

abandonados por falta de manutenção. Assim, no final do século XX, outros usos

faziam-se necessários para os estádios, de forma a aproveitar a sua capacidade

espacial para atender outras demandas da sociedade pós-moderna.

Os estádios de futebol não mais encerram suas funções nas práticas

esportivas. Transformam-se em arenas com grande flexibilidade e potencial

para articulação cultural, econômica e turística, garantem efetivamente a

vitalidade local. (V & M do Brasil, 2008)

Logo, o estádio para o século XXI não mais se encerra na prática do futebol e do

atletismo. Ele necessita de outros espaços que atendam as necessidades da

sociedade contemporânea, que passa a utilizar o estádio não só para assistir aos

jogos, mas como espaço de entretenimento e lazer. Para o arquiteto Eduardo Castro

Mello1, “A tendência é que os estádios venham a ser exatamente como casas de

espetáculos, onde eventualmente tenha futebol.”

Para o gerente de marketing do São Paulo Futebol Clube Orandi Mura2 “idealizar um

estádio hoje não se limita a pensar apenas no seu uso em dias de jogos, mas

também no cotidiano, nos períodos entre os jogos”.

Seria o conceito de uma Arena esportiva Multiuso que busca aproveitar o potencial

espacial de um estádio para atender a demanda por espaços de entretenimento e

1 Entrevista de Eduardo Castro Mello (Castro Mello Arquitetura Esportiva) concedida ao autor em 24 set. 2010.

2 Entrevista de Orandi Mura (Gerente de marketing do São Paulo Futebol Clube) concedida ao autor em 23 set.

2010.

Page 11: Inovações tecnológicas na arquitetura de estádios - arenas esportivas multiuso

Inovações Tecnológicas na Arquitetura de Estádios: Arenas Esportivas Multiuso

Capítulo 1 – Introdução ■ 3

serviços, como: restaurantes, lojas, cinema, teatro, salas de escritórios, dentre

outros. Além disso, o campo poderia destinar-se a prática de outros esportes além

do futebol. Desde que exista compatibilidade entre as modalidades, como seria o

caso do Rugby, do Futebol e do Futebol Americano.

Essa flexibilidade no uso do campo seria possível no Brasil, cuja demanda por

estádios de futebol vêm crescendo desde o início do século XX, e pode atender

também à demanda por instalações esportivas destinadas à prática do Rugby - que

começa a se popularizar no país.

Segundo Mazzoni (1950) o rugby foi introduzido no Brasil no século XIX, mas

precisamente em 1875, quando da fundação do Paissandú Cricket Clube. Porém, o

esporte só começou a ser praticado de fato quando Charles Miller, também

conhecido por introduzir o futebol no Brasil, organizou o primeiro time de rugby

(Clube Brasileiro de Futebol Rugby) em São Paulo – SP.

Atualmente o esporte ganha novos adeptos no país com a formação de novos clubes

e times universitários, em diferentes categorias. De acordo com o IRB3 o Brasil está

em 28º colocado no ranking mundial, até 09 de Agosto de 2010, de um total de 95

seleções.

Recentemente o rugby brasileiro obteve o título de pentacampeão sul-americano pela

seleção adulta feminina. Já a seleção masculina tem um pouco mais de dificuldades

com a quarta colocação na América do Sul.

Dentre os principais campeonatos de rugby no Brasil, podem-se citar os torneios

estaduais, o Campeonato Brasileiro e a Copa Brasil de Rugby. Essas competições

são importantes para a formação de atletas que podem vir a disputar jogos

internacionais, tais como: A Copa do Mundo de Rugby e o Campeonato Mundial

Júnior.

De acordo com CBRu4 o Censo 2009 identificou, até 31 de Novembro de 2009, 104

clubes de rugby registrados junto à Confederação. Desse total, 81% não possuem

sede própria e apenas 49% tem campo fixo para treinamento.

O mesmo Censo 2009 revelou que nos últimos 5 anos o rugby cresceu

expressivamente fora do eixo Rio - São Paulo. Em 1997, São Paulo representava

72% dos clubes contra apenas 39% hoje.

3 IRB - International Rugby Board. Disponível em: < http://www.irb.com/>. Acesso em: 09 ago. 2010.

4 CBRu – Confederação Brasileira de Rugby. Disponível em: <http://www.brasilrugby.com.br/>. Acesso em: 14

ago. 2010.

Page 12: Inovações tecnológicas na arquitetura de estádios - arenas esportivas multiuso

Inovações Tecnológicas na Arquitetura de Estádios: Arenas Esportivas Multiuso

Capítulo 1 – Introdução ■ 4

Em Minas Gerais, o rugby tem como uma de suas origens, a prática do esporte na

cidade de Viçosa – MG, em meados da década de 1970. O fato da Universidade

Federal de Viçosa receber grande número de estudantes estrangeiros fez com que o

esporte passasse também a ser conhecido entre os estudantes brasileiros.

De acordo com as informações do BHR5, os jogadores do time de Viçosa se

reencontraram em 1998 em um campeonato em São Paulo. Porém, foi somente em

2003, em Belo Horizonte, que o time ganhou impulso – culminando no surgimento

do clube.

Atualmente o BH Rugby conta com mais de 100 atletas, que se dividem entre as

categorias: adulto masculino, adulto feminino, juvenil e infantil. E apesar de ter apenas

7 anos, é um dos clubes mais conhecidos e ativos do Brasil, conquistando boas

classificações nos campeonatos regionais e revelando atletas para a seleção

brasileira de rugby.

1.1 FORMULAÇÃO DO PROBLEMA

Daqui a 6 anos o Rio de Janeiro sediará os Jogos Olímpicos de 2016, sendo o rugby

novamente incluído na categoria dos esportes olímpicos. Essa será, provavelmente,

uma grande oportunidade para o esporte estreitar suas relações com o Ministério

dos Esportes, o Comitê Olímpico Brasileiro e com o público em geral.

Apesar da falta de instalações esportivas adequadas à prática do rugby no Brasil, o

esporte vem conquistando novos praticantes e boas colocações nos campeonatos

internacionais. Assim, seria importante nesse momento da história do país repensar

suas decisões quanto aos investimentos em outros esportes além do futebol, muitas

vezes esquecidos e sem a menor infra-estrutura necessária ao seu desenvolvimento.

Especificamente para o rugby, faz-se necessário a implantação de edificações

esportivas adequadas ao desenvolvimento da modalidade – isso devido ao grande

número de clubes existentes no Brasil e a ausência de estádios que atendam as

necessidades do rugby, por não terem sido pensados de forma a atender outras

modalidades além do futebol.

Em Belo Horizonte, o clube BH Rugby realiza seus treinos em campos improvisados

de futebol, dentre eles o campo da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) aos

5 BHR – Belo Horizonte Rugby Clube. Disponível em: <http://www.bhrugby.com.br/>. Acesso em: 09 ago. 2010.

Page 13: Inovações tecnológicas na arquitetura de estádios - arenas esportivas multiuso

Inovações Tecnológicas na Arquitetura de Estádios: Arenas Esportivas Multiuso

Capítulo 1 – Introdução ■ 5

sábados, e em um campo de futebol do bairro Sagrada Família as terças e quintas-

feiras.

De acordo com BH Rugby a partida da primeira final do Campeonato Mineiro de

Rugby realizou-se no Estádio FrigoArnaldo, em Contagem - MG. Sendo que a utilização

do Estádio Magalhães Pinto (Mineirão), como local para a final do Campeonato

Mineiro de Rugby, foi vetada.

Nesse contexto, essa pesquisa buscou responder as seguintes perguntas:

De que forma pode-se conceber uma instalação esportiva que atenda as

necessidades do futebol e do rugby em Belo Horizonte - MG e torná-la viável

no panorama atual da arquitetura esportiva brasileira?

Quais são as tendências e novas tecnologias na arquitetura dos estádios

contemporâneos?

Como as inovações tecnológicas contribuem para o funcionamento adequado,

a manutenção e o conforto dos usuários de um estádio?

Quais são as contribuições da aplicação dos conceitos de arena multiuso na

arquitetura dos estádios?

1.2 JUSTIFICATIVA

Diante da escassez de estudos específicos sobre a adequação de estádios para a

prática do rugby no Brasil, e devido à demanda por um espaço que atenda as

necessidades da prática do esporte, é que buscou-se realizar este trabalho.

Segundo Alessandro Travassos6 (Presidente do BH Rugby) “o projeto de uma arena

esportiva que atendesse as necessidades da prática do rugby em Minas Gerais é

justificável e o clube tem a pretensão de pleitear junto ao Estado de Minas Gerais a

construção de uma arena.”

A opção por uma arena multiuso, assim como no futebol, agregaria valores ao

projeto quanto à sua viabilidade econômica, social e cultural. E isso seria possível por

meio de decisões tomadas nas etapas de projeto, com vista a atender as

necessidades da prática do futebol e do rugby, da realização de eventos culturais e

da demanda por serviços de apoio aos usuários.

6 Entrevista de Alessandro Travassos (Presidente do clube BH Rugby) concedida ao autor em 14 ago. 2010.

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Inovações Tecnológicas na Arquitetura de Estádios: Arenas Esportivas Multiuso

Capítulo 1 – Introdução ■ 6

A investigação sobre inovações tecnológicas aplicadas aos estádios justificou-se pela

inserção da proposta de projeto dentro do contexto da Copa do Mundo de 2014 e

dos Jogos Olímpicos de 2016, no Brasil, a fim de desenvolver uma arquitetura de

estádio compatível com as edificações esportivas contemporâneas.

1.3 DELIMITAÇÃO DO OBJETO DE ESTUDO

O foco principal deste trabalho foi o estudo para a implantação de uma Arena

esportiva multiuso que atendesse as necessidades da prática do futebol e do rugby

na região metropolitana de Belo Horizonte – MG.

Tendo em vista a demanda regional e nacional por espaços para a prática do futebol

e do rugby, pretendeu-se por meio de revisão literária – tais como as

recomendações da FIFA (Fédération Internationale de Football Association) e do IRB

(International Rugby Board) – constituir uma base de subsídios que permitisse o

projeto de um estádio.

Além disso, pretendeu-se por meio da investigação do conceito de arena multiuso e

das possibilidades funcionais e estéticas das inovações tecnológicas, produzir um

projeto condizente com nosso tempo.

1.4 OBJETIVOS

1.4.1 Objetivo Geral

O objetivo geral deste trabalho é constituir uma base de subsídios sobre arquitetura

de estádios, com foco nos estádios contemporâneos, abordando as possibilidades

das inovações tecnológicas e do conceito de arena multiuso, para o desenvolvimento

do projeto de uma Arena esportiva multiuso, que atenda as necessidades da prática

do futebol e do rugby - em Belo Horizonte, Minas Gerais.

1.4.2 Objetivos Específicos

Analisar a evolução da tipologia de estádio no decorrer da história;

investigar as tendências da arquitetura de estádios contemporâneos;

identificar quais são as inovações tecnológicas utilizadas nos estádios

recentemente construídos;

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Inovações Tecnológicas na Arquitetura de Estádios: Arenas Esportivas Multiuso

Capítulo 1 – Introdução ■ 7

analisar o conceito de arena multiuso e sua aplicabilidade no projeto de

estádios, para fins de proporcionar maior flexibilidade do espaço a ser

projetado.

1.5 METODOLOGIA

Tendo em vista os objetivos apresentados, definiu-se uma pesquisa de caráter

exploratória por meio de métodos qualitativos. E com base em uma revisão

bibliográfica sobre a evolução da arquitetura de estádios, inovações tecnológicas de

estádios contemporâneos e o conceito de arena multiuso determinaram-se os

seguintes procedimentos:

1.5.1 Estudos de Caso

Avaliação dos espaços e dos usos assim como dos sistemas construtivos, seus

materiais e dispositivos. Optou-se pelas seguintes edificações:

Estádio AVIVA

Estádio Wembley

1.5.2 Visitas Técnicas

Visita ao treino do Clube BH Rugby no campo de futebol da UFMG em Belo

Horizonte – MG;

visita ao escritório Castro Mello Arquitetura esportiva em São Paulo - SP;

visita ao estádio Cícero Pompeu de Toledo (Estádio do Morumbi) para análise

da dimensão dos espaços, dos fluxos e dos usos.

1.5.3 Entrevistas

Dentro do contexto de arquitetura de estádios, da prática do futebol e do rugby no

Brasil, e do conceito de arena esportiva multiuso buscou-se informações com os

seguintes profissionais através de entrevistas estruturadas e não estruturadas:

Alessandro Travassos (Presidente do Clube BH Rugby)

Eduardo Castro Mello (Arquiteto - Castro Mello Arquitetura Esportiva)

Igor Michalick (Jogador do time BH Rugby)

Orandi Mura (Gerente de Marketing do São Paulo Futebol Clube)

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Inovações Tecnológicas na Arquitetura de Estádios: Arenas Esportivas Multiuso

Capítulo 2 – A Evolução da Tipologia de Estádio ■ 8

22 AA EEVVOOLLUUÇÇÃÃOO DDAA

TTIIPPOOLLOOGGIIAA DDEE EESSTTÁÁDDIIOO

A tipologia de estádio tem origem na formação da sociedade ocidental, com o

surgimento das primeiras práticas esportivas e competições oficiais da Grécia

Antiga. Segundo Cereto (2004) foi na Antiguidade Clássica que as atividades físicas

tornaram-se prática permanente da sociedade visando a um complemento do

conhecimento intelectual. Além disso, para os espartanos o esporte era primordial

na Educação, enquanto os atenienses o dignificaram, estabelecendo uma relação de

divindade com ele.

Assim, surgiram as primeiras competições esportivas disputadas entre as polis

gregas. Em função da popularidade desses eventos, das características do

programa e a dificuldade em adaptar o uso esportivo às diferentes edificações

helênicas, fez surgir à tipologia do estádio.

Page 17: Inovações tecnológicas na arquitetura de estádios - arenas esportivas multiuso

Inovações Tecnológicas na Arquitetura de Estádios: Arenas Esportivas Multiuso

Capítulo 2 – A Evolução da Tipologia de Estádio ■ 9

2.1 GRÉCIA ANTIGA

Para John, Sheard e Vickery (2007) os protótipos ancestrais das edificações

esportivas modernas está no stadia e no hipodromo. A palavra grega stadia

representava uma antiga medida de distância, e passou a descrever as atividades

decorrentes da disputa de velocidade entre os participantes. Enquanto que a palavra

hipodromo vem de hippos “cavalos” e domos “corrida”.

Na Grécia Antiga um dos estádios mais representativo, foi o Panatenaico (Figuras 1

e 2) em Atenas, construído para abrigar a Panatéia, competição disputada para

homenagear a deusa da guerra: Atena.

Em 380 a.C, Licurgo iniciava a construção do estádio Panatenaico em

Atenas. Os espectadores acomodavam-se nas colinas mais próximas, e as

pessoas mais importantes sentavam em lugares especiais. No século II, em

140 d. C., o rei Heródes mandou reconstruí-lo, revestindo com mármore

branco do Pentélico, o mesmo utilizado nos monumentos. [...] Essas

reformas elevaram o estádio de Atenas ao mais suntuoso do Mundo Antigo,

superando em riquezas arquitetônicas ao Circo Máximo e ao Coliseu de

Roma. Posteriormente em 1896, ele é reformado e nesse local realizam-se

os primeiros jogos olímpicos da Era Moderna. (CERETO, 2004)

Figura 1: Planta e corte do estádio Panatenaico em Atenas, Grécia.

Fonte: CAMPANINI, 1950.

Figura 2: Vista do estádio Panatenaico em Atenas, Grécia.

Fonte: ORTNER, 1957.

Segundo John, Sheard e Vickery (2007) os estádios gregos eram erguidos em forma

de U com uma pista central delimitada por uma linha de largada e chegada e o

retorno. Estes variavam pouco de comprimento; o estádio em Delphi (Figura 3)

possui 183 metros de comprimento, enquanto que o de Olímpia possui 192 metros.

De acordo com Inglis (1996) esses espaços eram construídos em encostas,

aproveitando a declividade do terreno para escavar os assentos construídos em

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Inovações Tecnológicas na Arquitetura de Estádios: Arenas Esportivas Multiuso

Capítulo 2 – A Evolução da Tipologia de Estádio ■ 10

bancos de pedra. Segundo Cereto (2004) o esquema de implantação do estádio em

encostas foi utilizado também em Thebes e Epidauros.

O modelo utilizado em Olímpia foi o primeiro com a conexão dos atletas a arena

através de um túnel (Figura 4), caracterizando assim um local para a espera dos

atletas; o que posteriormente haveria de ser as galerias romanas do anfiteatro e os

acessos aos vestiários dos estádios contemporâneos.

Figura 3: Ruínas das arquibancadas do estádio

em Delphi, Grécia.

Fonte: CAMPANINI, 1950.

Figura 4: Ruínas do túnel de acesso ao estádio

de Olímpia, Grécia. Fonte: CAMPANINI, 1950.

2.2 ROMA ANTIGA

No império romano a tipologia do estádio sofreu muitas transformações. Para

Cereto (2004) a figura do atleta dotado de grande sabedoria, educação e

religiosidade do período grego, daria lugar para o treinamento militar de dominação

romana com atletas sendo substituídos por gladiadores e feras.

[…] no Coliseu em Roma, os projetistas criaram uma obra-prima tecnológica;

múltiplos pavimentos, um espaço multifuncional, perfeito para visualização,

com um sofisticado sistema de circulação de público e uma cobertura em

lonas retráteis para manter a elite imperial confortável sob o sol escaldante

do mediterrâneo. (INGLIS, 1996, tradução nossa)

Para Inglis (1996) a denominação de arena tem como origem o fato de os

desportistas gregos e romanos se apresentarem em pisos de areia, que no latim se

escreve arena. O autor também faz uma comparação com os gramados dos

estádios contemporâneos:

Agora são executadas pistas sintéticas impecáveis. [...] a tecnologia dos

gramados avançou tão rapidamente que ao assistir vídeos de jogos de

futebol americano ou rugby, que ocorreram a partir da década de 1970, é de

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Inovações Tecnológicas na Arquitetura de Estádios: Arenas Esportivas Multiuso

Capítulo 2 – A Evolução da Tipologia de Estádio ■ 11

se impressionar com a qualidade das superfícies do jogo. (INGLIS, 1996,

tradução nossa)

O anfiteatro Flávio (Coliseu) foi concluído em 80 d.C. Atualmente é considerado uma

das novas Sete Maravilhas do Mundo, eleito com participação de voto popular em

concurso internacional promovido pela New Open World Foundation em 2007.

A transformação da função de pista do stadia grego para o ringue do anfiteatro

romano modificou profundamente o programa e o uso dos espaços, e determinou a

necessidade de mudanças nas dimensões da tipologia para acomodação dos

diferentes públicos.

Importante observar que essas mudanças só foram possíveis devido aos avanços na

engenharia da construção alcançados pelos romanos, que através de arcos em

abóbadas de concreto natural7 revestidos por pedras ou tijolos (na verdade a

alvenaria já servia de forma para o concreto) conseguiram construir múltiplos

pavimentos e criar os vãos e galerias necessários as circulações internas (Figura 5).

Outra inovação seria a cobertura do Coliseu que segundo Jota e Porto (2004) era

constituída “por cento e vinte mastros dispostos radialmente complementados por

uma rede de cordas suspensas. Porém, de acordo com novos estudos e

representações pictóricas da época, a estrutura constituía-se por vigas de madeira

em balanço e cordas tensionadas” (Figura 6).

Figura 5: Ilustração do sistema construtivo do Coliseu. (1) Circulação, (2) Abóbadas de berço, (3) Ancoramento da cobertura e (4) Cobertura.

Fonte: CERETO, 2004.

Figura 6: Representação da vista da cobertura do Coliseu. Fonte: JOTA; PORTO, 2004.

7 De acordo com Kaefer (1998) o concreto natural, utilizado pelos romanos, utilizava a cal como material

cimentíceo, além de areia e pozolana, em suas devidas proporções. A grande inovação está na capacidade hidráulica do cimento pozolânico (ou mais corretamente cal pozolânica) que permitiu a estrutura resistir melhor à ação da água.

Page 20: Inovações tecnológicas na arquitetura de estádios - arenas esportivas multiuso

Inovações Tecnológicas na Arquitetura de Estádios: Arenas Esportivas Multiuso

Capítulo 2 – A Evolução da Tipologia de Estádio ■ 12

Para John, Sheard e Vickery (2007) os sistemas construtivos dos romanos eram tão

apurados que o subsolo do Coliseu, onde ficavam os animais e os gladiadores,

chegou a ser totalmente inundado por água para representação de uma batalha

naval – antecipando os modernos espaços de entretenimento em massa da

atualidade.

Com o avanço das técnicas construtivas o edifício romano define a

independência da topografia, não havendo mais a necessidade de adaptar

as arquibancadas as colinas. A decisão marca o início de uma era de

edificações verticais. (CERETO, 2003)

Além de sua monumentalidade no perfil da cidade romana, a arena contava com

tribuna de honra para o imperador e, segundo Cereto (2004), o sistema de

circulação do Coliseu permitia que os 48.000 espectadores evacuassem suas

dependências em apenas três minutos.

Da mesma forma que o Teatro grego influenciou a concepção do Anfiteatro Romano,

o Hipódromo grego influenciou o Circus de Roma. Estes circos eram formados por

pistas de corrida de cavalos com a linha de chegada delimitando a entrada e

acomodando os estábulos dos cavalos e os carros.

O exemplo mais notável da tipologia do Circus é o Circo Maximus (Figura 7) em

Roma. De acordo com John, Sheard e Vickery (2007) esse foi possivelmente o maior

estádio já construído com 660 metros de comprimento por 220 metros de largura

e oferecia acomodação para todos os espectadores. Para os autores a adição das

tipologias do Teatro grego com o Hipódromo romano, na concepção do Hipódromo

Pessimus, seria o ancestral dos complexos estádios multiuso contemporâneos.

Figura 7: Planta do Circus Maximus, Roma. Fonte: CAMPANINI, 1950.

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Inovações Tecnológicas na Arquitetura de Estádios: Arenas Esportivas Multiuso

Capítulo 2 – A Evolução da Tipologia de Estádio ■ 13

2.3 IDADE MÉDIA

A centralização do poder da Igreja na Idade Média, após a queda do Império Romano,

fez com que “todas as manifestações esportivas fossem consideradas práticas

pagãs, e por decreto do Imperador Ludovico, foram, no ano de 399 d.C., abolidas as

Olimpíadas.” (CHOISY, 1899).

Nesse período, as competições ficaram restritas aos torneios públicos de cavaleiros

nas praças das cidades medievais (Figura 8). Assim, não se desenvolveram

atividades expressivas que solicitassem as tipologias clássicas do Mundo Antigo,

como se pode verificar na afirmação a seguir:

Como o Cristianismo se espalhou por toda a Europa, a ênfase da sociedade

passou a ser a salvação religiosa, e todo o esforço arquitetônico voltou-se

para a construção de igrejas em vez de espaços de recreação e

entretenimento. (JOHN; SHEARD; VICKERY, 2007, tradução nossa)

Figura 8: Ilustração dos torneios realizados nas praças públicas - Idade Média. Fonte: ORTNER, 1957.

2.4 RENASCIMENTO

Segundo Cereto (2004) a busca das tradições clássicas feita na Renascença, nos

conceitos esportivos, não foi de fato consumada, haja vista que, na Grécia, os

grandes pensadores davam o exemplo participando das Olimpíadas e dignificando os

esportes, enquanto que na Renascença os grandes intelectuais buscavam apenas o

desenvolvimento do intelecto, não do corpo.

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Inovações Tecnológicas na Arquitetura de Estádios: Arenas Esportivas Multiuso

Capítulo 2 – A Evolução da Tipologia de Estádio ■ 14

2.5 SÉCULO XIX

A tipologia de estádio ressurge no século XIX após a Revolução Industrial. De acordo

com Cereto (2004), em 1892 o barão francês Pierre de Coubertin, historiador e

apaixonado por esportes, declarou que “atletas amadores de todas as partes do

mundo deverão, mais uma vez, competir de quatro em quatro anos, sem nenhuma

restrição de raça, religião, classe social e riqueza. Todo o futuro do esporte repousa

no renascimento dos jogos olímpicos.”

O barão acreditava que as atividades e educação esportivas alimentariam o espírito

de paz entre as nações, a cada quatro anos, em diferentes cidades do mundo,

fazendo a internacionalização do esporte. Em 1894 foi criado o COI – Comitê

Olímpico Internacional, restabelecendo os Jogos Olímpicos e escolhendo como

primeira sede Atenas.

A primeira Olimpíada da Era Moderna ocorreu em 1896 no antigo estádio

Panatenaico. Segundo John, Sheard e Vickery (2007) o estádio foi escavado e

estudado pelo arquiteto e arqueólogo alemão Ziller. Posteriormente foi reformado e

suas arquibancadas revestidas em mármore, para receber 50.000 espectadores.

A invenção de dois novos esportes, na Inglaterra do final do século XIX, provocaria

uma ampla difusão da tipologia de estádio, que devido à popularização dos esportes,

se tornaria necessária além dos estádios construídos para os Jogos Olímpicos.

Esses esportes seriam o Futebol e o Rugby.

Fala-se em futebol na China na antiguidade. Fala-se em futebol na Itália na

Idade Média. A verdade, porém é que foram os ingleses que começaram

tudo. Houve uma briga entre os dissidentes do Rugby, no século passado, e

os dissidentes criaram uma nova modalidade, o futebol. (DUARTE, 1998,

apud CERETO, 2004)

De acordo com Cruz (2005) os times de futebol mais populares no século XIX

estavam no norte da Inglaterra, região marcada pela forte presença da classe

trabalhadora, sendo que alguns campos ficavam perto de fábricas nos centros

urbanos industriais (Figura 9).

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Inovações Tecnológicas na Arquitetura de Estádios: Arenas Esportivas Multiuso

Capítulo 2 – A Evolução da Tipologia de Estádio ■ 15

Figura 9: Going to the Match, 1953. Ilustração por L. S. Lowry (1887 – 1976). Fonte: JOHN; SHEARD; VICKERY, 2007.

O grande número de espectadores que se formou, fez com que os clubes ingleses

passassem a demarcar o campo de futebol com uma corda e, em seguida, a cobrar

ingressos dos torcedores como meio de arrecadar dinheiro para o clube construir

seus estádios.

Para Cruz (2005) os estádios começaram a ser setorizados com a segregação dos

torcedores, na cobrança diferenciada de ingressos. A elite inglesa, que tinha

condições de pagar ingressos mais caros, se acomodava em pavilhões providos de

assentos e cobertura. Enquanto os torcedores que não tinham condições de arcar

com o preço dos ingressos, se acomodavam em terraços elevados, geralmente

construídos com escombros e restos da construção civil.

2.6 SÉCULO XX

Segundo Inglis (1996) no início do séc. XX, o arquiteto escocês Archibald Leitch

desponta como principal projetista de estádios de futebol no Reino Unido. Dentre

seus projetos destacam-se: Ibrox, Hampden e Celtic Park (na Escócia). Assim como

os estádios dos principais clubes da Inglaterra, como: Sheffield (Figura 10),

Tottenham Hotspur, Liverpool, Fulham (Figura 11), Aston Villa e o Everton.

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Inovações Tecnológicas na Arquitetura de Estádios: Arenas Esportivas Multiuso

Capítulo 2 – A Evolução da Tipologia de Estádio ■ 16

Figura 10: Estádio Bramall Lane (1862),

Sheffield, Inglaterra. Fonte: http://en.structurae.de/

Figura 11: Cobertura das arquibancadas do

estádio do Fulham, Londres, Inglaterra. Fonte: http://footballgroundguide.ipbhost.com/

A principal contribuição de Archibald Leitch para a arquitetura de estádios está na

preocupação em cobrir a maior parte da arquibancada, protegendo os espectadores

das intempéries, e a acomodação dos torcedores em dois lances de arquibancadas.

Para Bale (1993) as grandes arquibancadas de Leitch, obviamente tornaram a vista

mais confortável, mas por adotar tal estrutura, os clubes também almejavam o

aumento de suas receitas.

Outro aspecto importante da arquitetura esportiva de Leitch está na disposição das

arquibancadas mais próximas do campo, devido ao fato desses estádios serem

projetados com a função de atender apenas à prática do futebol ou do rugby,

desvinculados da prática do atletismo. Essa disposição gerou o modelo de estádio

retangular, com fachadas lineares e pilares dispostos entre os assentos para

sustentar a cobertura.

Em 1904 foi fundada a FIFA (Fédération Internationale de Football Association) com

associação de representantes de países como: França, Holanda, Bélgica, Suíça,

Espanha, Dinamarca e Suécia. Segundo Cereto (2004) em 1928, a entidade sob

presidência de Jules Rimet, anunciou que iria organizar um Campeonato Mundial

aberto a todos os seus membros que quisessem participar.

A primeira Copa do Mundo de Futebol ocorreu no Uruguai, time que havia se

destacado nos últimos Jogos Olímpicos antes de 1930. Daí em diante, o mundial

seria disputado de 4 em 4 anos, em diferentes países do mundo, contribuindo

significativamente para a popularização do esporte e a construção de novos estádios.

No século XX, os idealizadores e construtores de estádios procuraram conceber

edifícios mistos, ou seja, que atendessem as necessidades da prática do futebol e do

Atletismo. Dessa forma, os estádios poderiam atender às necessidades dos Jogos

Olímpicos e também da Copa do Mundo.

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Inovações Tecnológicas na Arquitetura de Estádios: Arenas Esportivas Multiuso

Capítulo 2 – A Evolução da Tipologia de Estádio ■ 17

De acordo com Cereto (2004) a tipologia olímpica é a mais encontrada no século XX,

com a curvatura dos arcos plenos nas cabeceiras, definindo a forma do estádio a

partir dessa diretriz. Os modelos mais utilizados para o tipo olímpico são os modelos

semicircular (Figura 12), elíptico (Figura 13) e em ferradura (Figura 14). Porém,

deve-se ressaltar que os estádios tipo misto, apresentam sérios problemas de

visibilidade, não atendendo satisfatoriamente a todos os espectadores.

Figura 12: Modelo semicircular.

Fonte: ORTNER, 1957.

Figura 13: Modelo elíptico.

Fonte: ORTNER, 1957.

Figura 14: Modelo ferradura.

Fonte: ORTNER, 1957.

Importante destacar nos estádios construídos na primeira metade do século XX, o

uso recorrente do concreto armado, que gerou estádios de arquitetura maciça e

resistente. A plasticidade do concreto armado também permitiu a concepção de

estruturas com formas curvas e vãos maiores.

Como exemplo significativo desse período pode-se citar o Estádio Olímpico de Berlim

(Figura 15), projetado em 1934 pelo Arquiteto alemão Werner March, que se

tornou um marco do nazismo de Adolf Hitler nas Olimpíadas de 1936.

Figura 15: Estádio Olímpico de Berlim, Berlim, Alemanha. Fonte: V & M do Brasil, 2008.

Segundo Cereto (2004) a cidade de Barcelona havia sido indicada (com sede no

estádio de Montjuïc), mas a pressão política de Hitler apostava na força da raça

ariana e do império germânico forçando as olimpíadas a serem realizadas em

Berlim. Essa seria a famosa Olimpíada em que Jesse Owens, atleta negro americano,

entraria para a história como vencedor de quatro medalhas de ouro no atletismo.

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Inovações Tecnológicas na Arquitetura de Estádios: Arenas Esportivas Multiuso

Capítulo 2 – A Evolução da Tipologia de Estádio ■ 18

Destaca-se nesse estádio sua grande capacidade de público (100.000

espectadores); a abertura em seu perímetro no anel superior, que estabelece uma

continuidade espacial urbana; e os pórticos em concreto armado que permitiram os

vãos e as galerias de circulação na fachada do estádio.

De acordo com Cereto (2004) o estádio Comunale a Firenze (Figura 16), projetado

pelo Engenheiro Píer Luigi Nervi em 1929, é uma grande referência da arquitetura

esportiva da primeira metade do século XX. Sua cobertura em concreto armado,

material bastante explorado e desenvolvido pelos arquitetos modernistas, venceu um

balanço de 17 metros permitindo a proteção de um anel de arquibancada.

A ruptura com o modelo clássico é evidenciada no emprego da estrutura de

concreto armado não apenas como função estrutural. A proposta explora os

espaços gerados sob as arquibancadas, explorando a proposta do

movimento moderno da estrutura aparente. (CERETO, 2004)

Figura 16: Cobertura do estádio Comunale a Firenze, Florença, Itália. Fonte: http://www.artificeimages.com/

Em 1938, o Arquiteto Le Corbusier realizou estudos para um estádio de 100.000

espectadores (Figuras 17 e 18), dentro de um conceito de espaço não destinado

apenas à prática esportiva, mas também aos espetáculos, cinemas e atividades

cívicas (Figura 19). Destaca-se nos estudos de Le Corbusier a plasticidade da

cobertura atirantada, sustentada por um mastro de concreto armado e cabos de

aço.

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Capítulo 2 – A Evolução da Tipologia de Estádio ■ 19

Figura 17: Vista da Maquete do estádio de Le Corbusier. Fonte: CORBUSIER, 1957.

Figura 18: Corte transversal do estádio de Le Corbusier. Fonte: CORBUSIER, 1957.

Figura 19: Estudos de uso do estádio de Le Corbusier. Fonte: CORBUSIER, 1957.

De acordo com Cereto (2004) a proposta de Le Corbusier apresenta estudos de

insolação na tentativa de adequar a orientação solar no sentido sudeste - noroeste

através da utilização da cobertura e da arquibancada como quebra-sol. Assim, seria

possível garantir maior conforto para o público evitando a incidência solar direta e o

ofuscamento.

Verifica-se também nos estudos de Le Corbusier, a preocupação com o abrigo de

carros e ônibus e com a implantação da edificação pensando no transporte público.

Outro aspecto importante do projeto é a relação do edifício com o terreno, que não é

muito considerada, devido à intenção clara do arquiteto de criar um modelo que

pudesse ser adaptado a diferentes contextos, fazendo uma relação com o ideal de

muitos arquitetos modernista de criar um Estilo Internacional (International Style).

Na década de 1940 destaca-se o Estádio de Rotterdam (Figura 20), projeto do

Arquiteto Van der Vlugt, que utiliza a estrutura metálica como solução estrutural e

como composição arquitetônica. A estrutura porticada, que forma a cobertura e a

arquibancada, fixa o ritmo da fachada e o contraventamento da estrutura estabelece

um fechamento virtual.

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Inovações Tecnológicas na Arquitetura de Estádios: Arenas Esportivas Multiuso

Capítulo 2 – A Evolução da Tipologia de Estádio ■ 20

Figura 20: Vista do Estádio Olímpico de Roterdã, Holanda, 1940. Fonte: CAMPANINI, 1950.

No Brasil destaca-se nesse período a construção do Estádio Municipal de São Paulo

(Estádio do Pacaembu) (Figura 21) inaugurado pelo governo municipal e estadual de

São Paulo em 27 de Abril de 1940. Segundo Cereto (2004) na época, o Estádio do

Pacaembu foi considerado o maior da América Latina.

Figura 21: Estádio do Pacaembu na década de 1940. Fonte: http://www.universotricolor.com/

Os anos cinqüenta são marcados pela grandiosidade dos estádios olímpicos e não se

pode deixar de citar o gigantesco Estádio Jornalista Mário Filho (Maracanã) (Figura

22) construído no Rio de Janeiro para a Copa do Mundo de 1950.

O Maracanã é considerado até os dias de hoje, o maior estádio da América Latina e

na época de sua inauguração, era considerado o maior do mundo com capacidade

para 200.000 espectadores, sendo projetado exclusivamente para a prática do

futebol (fato inédito na época, em se tratando de um estádio desse porte).

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Inovações Tecnológicas na Arquitetura de Estádios: Arenas Esportivas Multiuso

Capítulo 2 – A Evolução da Tipologia de Estádio ■ 21

Figura 22: Os arquitetos Miguel Feldman e Antonio D. Carneiro diante

da maquete do Maracanã em jun. 1949. Fonte: http://acirurgiaeomilagre.blogspot.com/

O Estádio Governador Magalhães Pinto (Estádio do Mineirão) (Figura 23), projetado

pelos arquitetos Eduardo Mendes Guimarães Júnior e Gaspar Garreto, foi

inaugurado em 05 de Setembro de 1965 com capacidade para receber até

100.000 espectadores. O novo estádio, localizado no bairro da Pampulha, tornou-se

um dos ícones da arquitetura nacional e compõe, juntamente com o Mineirinho e as

obras de Oscar Niemeyer, o Complexo Arquitetônico da Pampulha (Figura 24).

Figura 23: Estádio do Mineirão concluído na década de 1960.

Fonte: http://200.198.49.28/ademg/

Figura 24: Vista do Complexo Arquitetônico da Pampulha para Copa de 2014.

Fonte: http://www.skyscraperlife.com/

Sua estrutura e arquitetura têm como principais características8:

88 pórticos de concreto armado, dispostos radialmente em torno de

uma elipse.

8 Informações obtidas no site da ADEMG (Administração de Estádios do Estado de Minas Gerais), disponível em <

http://www.ademg.mg.gov.br/> Acesso em: 09 out. 2010.

Page 30: Inovações tecnológicas na arquitetura de estádios - arenas esportivas multiuso

Inovações Tecnológicas na Arquitetura de Estádios: Arenas Esportivas Multiuso

Capítulo 2 – A Evolução da Tipologia de Estádio ■ 22

O vão livre entre pórticos mede 7,5 metros (8 metros de eixo a eixo). A

estrutura é composta de 28 setores de construção, estruturalmente

independentes.

A viga principal da cobertura vence um vão em balanço de 30,5

metros.

A década de 1970 marca o fim da idealização dos grandes estádios e seus

problemas de visualização, escala e o impacto urbano do ponto de vista estético e

funcional. Os estádios passam a ter uma capacidade menor, mas em contra partida,

buscam uma valorização do espetáculo. A transmissão dos jogos internacionais pela

televisão também provocou mudanças significativas na tipologia dos estádios:

A inserção da televisão no futebol marca o fim dos estádios gigantescos. A

partir de então, o programa passaria a ser modificado valorizando o valor do

ingresso, dando mais conforto aos espectadores (surgimento dos

camarotes) [...] As necessidades específicas das cabines de imprensa

apresentam condições distintas das transmissões radiofônicas. A iluminação

deveria ser mais intensa, a posição das cabines privilegiaria a câmera de

televisão, protegendo-a do ofuscamento dos raios solares. (CERETO,

2004)

Além das transformações nos aspectos funcionais dos estádios na segunda metade

do século XX, verificam-se também as novas soluções formais devido aos avanços

nos sistemas estruturais e de fechamento, que permitiram estruturas mais leves e

teve como marco, o Estádio de Munique (Figura 25) para as Olimpíadas de 1976.

Figura 25: Vista do Complexo do Estádio Olímpico de Munique,

Munique, Alemanha. Fonte: http://www.theoffside.com/

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Inovações Tecnológicas na Arquitetura de Estádios: Arenas Esportivas Multiuso

Capítulo 2 – A Evolução da Tipologia de Estádio ■ 23

A cobertura da Arena Olímpica de Munique, concebida em 1972 por Frei Otto e Jörg

Schlaich, demonstrou a liberdade quase ilimitada de forma que a rede de cabos com

malha quadrangular pode oferecer; além das propriedades de resistência e

plasticidade das membranas tensionadas.

[...] a cobertura é o elemento mais importante na concepção de um estádio.

A partir do projeto da malha de cabos estruturais que serviu de cobertura

para o Estádio Olímpico de Munique, usamos todo nosso conhecimento e

criatividade para fazer da cobertura de um estádio a estrela do evento.

(GÖPPERT; STOCKHUSEN, 2008)

A partir desse momento começa a haver uma preocupação maior em cobrir os

estádios, permitindo mais conforto aos espectadores e a preocupação em evitar o

forte contraste entre as áreas sombreadas e iluminadas no campo, que prejudicaria

a qualidade das transmissões televisivas.

Para Urs Linsi (Secretário Geral da FIFA) a década de 1980 também marcou o

processo de evolução da tipologia, fazendo necessário o estabelecimento de novas

regras para a construção de estádios, como nota-se na afirmação a seguir:

A segunda grande era do design de estádio provavelmente começou no final

de 1980, com a realização de muitos eventos esportivos no mundo do

futebol em que os antigos estádios estavam simplesmente impróprios para

utilização. Infelizmente, um fator-chave nesse processo foi uma série de

tragédias terríveis que resultou na morte de muitos adeptos do futebol [...]

Os investidores dos estádios, administradores e arquitetos têm respondido a

esse desafio, com a criação de estádios que vão além da necessidade de

encontro de torcedores: eles têm buscado construir estádios de tirar o

fôlego, cujo projeto fez-lhes uma fonte de orgulho para as comunidades

locais ou até mesmo para cidades inteiras.

(LINSI apud FIFA, 2007, tradução nossa)

O Stade de France (Figura 26), estádio construído para a Copa de 1998 na França,

estabeleceu a transição da tipologia de estádios do séc. XX para o séc. XXI. Essas

transformações ocorreram tanto nas soluções funcionais da tipologia, como também

em uma gama de novas soluções estruturais e de fechamento das edificações, já

que cobrir toda a arquibancada passou a ser uma forte tendência, garantindo maior

conforto ao espectador.

O volume do estádio [Stade de France] é coroado por uma cobertura que se

assemelha a uma auréola e transmite visualmente uma idéia de leveza [...] A

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Inovações Tecnológicas na Arquitetura de Estádios: Arenas Esportivas Multiuso

Capítulo 2 – A Evolução da Tipologia de Estádio ■ 24

cobertura protege todos os 80 mil espectadores e é um dos maiores

destaques do estádio. Sua concepção segue o princípio de ponte estaiada. A

estrutura de aço é totalmente suspensa por 18 mastros, de 60 metros de

altura, que atravessam a cobertura sem tocá-la. O vidro laminado adotado

no revestimento do anel interno permite a passagem de luz natural e

contribui para a estabilidade da estrutura de cobertura devido ao peso

próprio acrescido. (V & M do Brasil, 2008)

Figura 26: Vista do Stade de France, construído para a Copa do Mundo de 1998 na França. Fonte: V & M do Brasil, 2008.

Em 2007 a FIFA (Fédération Internationale de Football Association) lança a quarta

edição do manual de recomendações técnicas e requisitos necessários para o

projeto e a construção de estádios de futebol. Um grupo de renomados especialistas

em edificações esportivas e industriais se reuniu para atualizar as edições anteriores

levando em consideração questões referentes ao conforto e à segurança de

jogadores, espectadores, imprensa e comunidade local.

As novas exigências por parte da entidade, associadas às novas necessidades

funcionais de estádios, representariam o novo paradigma dos estádios

contemporâneos, dentro do contexto da nova economia do futebol. Como se pode

verificar na declaração do então Presidente da FIFA Joseph S. Blatter:

Desde os dias sombrios da década de 1980, a FIFA tomou a questão da

segurança nos estádios a tempo de novamente tentar melhorar os padrões

para arenas modernas de futebol. Uma conclusão fundamental é mais válida

do que nunca: a segurança para os espectadores e o conforto estão

diretamente conectados (...) Conforto significa mais espaço para cada

espectador, rotas de saída mais curtas, mais portões de entrada e saída,

Page 33: Inovações tecnológicas na arquitetura de estádios - arenas esportivas multiuso

Inovações Tecnológicas na Arquitetura de Estádios: Arenas Esportivas Multiuso

Capítulo 2 – A Evolução da Tipologia de Estádio ■ 25

áreas para convivência e áreas para descanso, assim como sanitários

públicos. Uma vez que todos esses fatores sejam levados em conta, quando

não há mais cercas e quando a maioria dos estádios ofereçam proteção

contra a incidência solar direta ou a chuva, quando os espectadores podem

sentar-se em paz, em vez de ficarem de pé por horas, é o que podemos

esperar para testemunhar os elementos desejáveis de um evento esportivo,

ou seja, um ambiente descontraído, eletrizante e emocionante, mas nunca

agitado e agressivo. (BLATTER apud FIFA, 2007, tradução nossa)

O livro (Football Stadiums: Technical Recommendations and Requirements - 4th

edition) é um manual prático para profissionais envolvidos no projeto, na construção

e na administração dos estádios, abordando questões como: implantação,

estratégias de sustentabilidade, segurança, acessos, estacionamentos, dimensões

do campo, qualidade do gramado, arquibancadas, vestiários, instalações sanitárias,

áreas de convívio, áreas destinada a pessoas com deficiência, áreas VIP, área

destinada à mídia, iluminação e comunicação.

Nesse contexto, arquitetos e engenheiros dedicados aos projetos de estádios para o

século XXI passaram a seguir as diretrizes e recomendações da FIFA, além de

estudar soluções estruturais de cobertura e novos materiais de fechamento, que

permitissem vencer grandes vãos além de possibilitar a ventilação e a iluminação

necessárias ao conforto dos usuários.

Apesar das recomendações e diretrizes da FIFA ter feito parte da revisão

bibliográfica deste trabalho, não serão analisadas nesta monografia, sendo o foco

principal a análise das inovações tecnológicas nos estádios contemporâneos e os

conceitos de arena esportiva multiuso. Porém, serão seguidas e levadas em

consideração na definição do programa, no pré-dimensionamento e nas etapas do

projeto a ser desenvolvido na segunda parte do Trabalho de Curso (Proposição).

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Inovações Tecnológicas na Arquitetura de Estádios: Arenas Esportivas Multiuso

Capítulo 3 - As Inovações Tecnológicas nos Estádios Contemporâneos ■ 26

33 AASS IINNOOVVAAÇÇÕÕEESS TTEECCNNOOLLÓÓGGIICCAASS NNOOSS

EESSTTÁÁDDIIOOSS CCOONNTTEEMMPPOORRÂÂNNEEOOSS

Em 2014 o Brasil sediará pela segunda vez um dos eventos mais importantes do

futebol: A Copa do Mundo. Para isso, fizeram-se necessários projetos de reforma e a

construção de novos estádios em 12 cidades diferentes. Os projetos das novas

arenas fazem uso de sistemas construtivos já consolidados, como os pré-moldados

de concreto, além de soluções inéditas de cobertura para atender a recomendação

da FIFA (Fédération Internationale de Football Association) para que todas as

arquibancadas sejam cobertas, protegendo os espectadores da chuva e do

ofuscamento causado pela luz do sol.

Dessa forma, esse capítulo busca identificar quais são as tendências e inovações

tecnológicas dos estádios contemporâneos, que serviram de parâmetros técnicos

para os projetos dos estádios no Brasil. A seguir, serão analisadas as novas soluções

estruturais, a aplicação de novos materiais e o uso de novos equipamentos que

possibilitaram melhorias para o conforto dos usuários e para a manutenção dos

estádios contemporâneos.

Page 35: Inovações tecnológicas na arquitetura de estádios - arenas esportivas multiuso

Inovações Tecnológicas na Arquitetura de Estádios: Arenas Esportivas Multiuso

Capítulo 3 - As Inovações Tecnológicas nos Estádios Contemporâneos ■ 27

3.1 SOLUÇÕES EM SISTEMAS ESTRUTURAIS

Bem diferente das soluções estruturais dos estádios do século XX, os estádios para

o século XXI vêm utilizando as mais avançadas técnicas de construção baseadas na

pré-fabricação. Esse novo processo construtivo permite organizar melhor o canteiro

de obras, garante rapidez nos processos de construção e reduz ao máximo o

desperdício de materiais. Sobre as novas técnicas construtivas utilizadas na

construção de estádios, o arquiteto Robert Hormes nota em sua entrevista9:

Enquanto as catedrais levaram décadas para serem construídas, a partir de

pedras, os estádios modernos são as catedrais de uma sociedade altamente

tecnológica e computadorizada, construídos muito mais rapidamente. O

projeto, nesse ambiente, permite que novos caminhos sejam trilhados, mas

também requer novos materiais para que ele se torne realidade [...] Novas

técnicas, usadas às vezes em ramos como a indústria automotiva, acabam

por ajudar no desenvolvimento de novas formas e construções que não

eram imagináveis antes.

Assim, sistemas construtivos como os pré-moldados de concreto passaram a ser

amplamente utilizados na construção da estrutura de arquibancadas (Figuras 27 e

28), enquanto as estruturas metálicas, por sua leveza e rapidez de montagem,

passaram a ser utilizadas na construção das grandes coberturas (Figura 29). Sobre

essas questões, o arquiteto Eduardo Castro Mello descreve em sua entrevista10:

Do ponto de vista estrutural os estádios do século XX foram construídos em

sua maioria em concreto armado, e aqui no Brasil isso ocorreu da década de

40 até os anos 70 [...] Naquela época, as normas construtivas para concreto,

os materiais disponíveis em termos de aço e os agregados para concreto

eram bem diferentes do que nós temos hoje. [...] Não se pensava em

trabalhar com pré-moldado, então hoje qualquer estádio desses terá que

ser pensado em escala para que se possa trabalhar com peças pré-

fabricadas em concreto, utilizando critérios de composição que garanta uma

maior resistência e uma qualidade melhor do material. A maioria das

arquibancadas seria pensada em pré-moldados, mas precisa ser um pré-

moldado bem estudado, não é simplesmente dizer que o pré-moldado é

bom [...] ele precisa ser bem planejado tanto do ponto de vista do design da

peça, quanto de resistência e capacidade de sustentação do público.

9 Entrevista de Robert Hormes concedida à Revista Arquitetura & Aço. Centro Brasileiro de Construção em Aço.

Número 22, 2010. Disponível em: < http://www.cbca-iabr.org.br/revistaarquitetura-e-aco.php?codDestaque=519 >. Acesso em: 06 set. 2010. 10

Entrevista de Eduardo Castro Mello (Castro Mello Arquitetura Esportiva) concedida ao autor em 24 set. 2010.

Page 36: Inovações tecnológicas na arquitetura de estádios - arenas esportivas multiuso

Inovações Tecnológicas na Arquitetura de Estádios: Arenas Esportivas Multiuso

Capítulo 3 - As Inovações Tecnológicas nos Estádios Contemporâneos ■ 28

Figura 27: Pré-moldados de concreto do Estádio Green Point, Cidade do Cabo, África do Sul.

Fonte: SEPLAN – Amazonas, Brasil.

Figura 28: Montagem da Arquibancada do Estádio Green Point, Cidade do Cabo, África do

Sul. Fonte: SEPLAN – Amazonas, Brasil.

Figura 29: Montagem das seções da estrutura do

arco do Estádio de Durban, África do Sul. Fonte: SEPLAN – Amazonas, Brasil.

Em Corsini (2010) o engenheiro Marco Juliani nota que a altura dos estádios de

futebol é outro fator contrário à moldagem feita no local definitivo da peça. "Para

uma construção moldada 'in loco' são necessários escoramentos enormes para uma

estrutura muito alta. Com o sistema pré-moldado, você tem uma economia grande

nesse aspecto, sem necessidade de preparar um escoramento físico."

Em relação à estrutura das coberturas, verifica-se na maioria dos projetos dos

estádios contemporâneos o uso recorrente do aço. Isso pode ser explicado, devido

às características de resistência e leveza do material para vencer grandes vãos

sobre as arquibancadas, que atualmente estão na faixa entre 50 e 70 metros.

Page 37: Inovações tecnológicas na arquitetura de estádios - arenas esportivas multiuso

Inovações Tecnológicas na Arquitetura de Estádios: Arenas Esportivas Multiuso

Capítulo 3 - As Inovações Tecnológicas nos Estádios Contemporâneos ■ 29

Para Nogueira (2002) o aço consegue responder às necessidades de resistência

estrutural da cobertura de um estádio, com capacidade para vencer grandes vãos

livres, sendo simultaneamente bastante versátil, o que permite produzir coberturas

com formas variadas que vão de encontro aos requisitos estéticos exigidos. Por

outro lado tem ainda as vantagens da pré-fabricação e da rapidez de montagem o

que, quando se está perante prazos de execução relativamente apertados, são

fatores condicionantes na escolha do material.

Sobre as possibilidades do aço na estrutura de estádios, o engenheiro Knut

Stockhusen declara11: “Steel can cover thousands people and you can shape steel

whatever form” (Aço pode cobrir milhares de pessoas e você pode moldar o aço sob

qualquer forma).

Em entrevista12 à Revista Arquitetura & Aço, o arquiteto sul-africano Piet Boer, um

dos responsáveis pelo projeto do Estádio Soccer City (Figura 30) para a Copa de

2010, afirma:

[...] o aço é completamente reciclável, o que permite que o impacto da

estrutura sobre o ambiente seja reduzido substancialmente. Ele também dá

aos arquitetos a liberdade de desenhar vãos gigantescos e contornos de

formas variáveis com as estruturas de apoio e o revestimento da edificação.

Trata-se de construir com extrema eficiência, o que possibilita o

desempenho necessário em termos de design e construção.

Figura 30: Estádio Soccer City em construção, Joanesburgo, África do Sul, 2009.

Fonte: http://www.soccerphile.com/

11

Informação obtida na palestra ministrada por Knut Stockhusen, Engenheiro estrutural associado ao escritório

alemão Schlaich Bergermann & Partners, no Construmetal 2010 – Congresso Latino Americano da Construção Metálica, em 01 set. 2010, São Paulo - SP. 12 Entrevista de Piet Boer concedida à Revista Arquitetura & Aço. Centro Brasileiro de Construção em Aço.

Número 22, 2010. Disponível em: < http://www.cbca-iabr.org.br/revistaarquitetura-e-aco.php?codDestaque=519 >. Acesso em: 06 set. 2010.

Page 38: Inovações tecnológicas na arquitetura de estádios - arenas esportivas multiuso

Inovações Tecnológicas na Arquitetura de Estádios: Arenas Esportivas Multiuso

Capítulo 3 - As Inovações Tecnológicas nos Estádios Contemporâneos ■ 30

A partir de então, arquitetos e engenheiros passaram a buscar nas características

específicas do aço, como alta resistência à tração, alta ductilidade e plasticidade,

novas soluções estruturais que atendessem aos requisitos para a cobertura de um

estádio. Sobre decisões projetuais para estádios, o arquiteto Robert Hormes, um dos

responsáveis pelo projeto do estádio Green Point (Figuras 31 e 32), para a Copa de

2010 na África do Sul, faz o seguinte comentário13:

É obrigação do arquiteto criar projetos de forma inteligente para que

recursos sejam poupados e os materiais sejam utilizados de forma mais

eficiente possível. Cidade do Cabo e Durban, com capacidade para

aproximadamente 70 mil espectadores, têm arquibancadas de até 70 m de

profundidade. Uma estrutura em balanço da cobertura, que deve estar

sobre as arquibancadas, torna-se menos eficiente à medida que seu vão

aumenta. A equipe da GMP, juntamente com os nossos parceiros da

Schlaich, Bergermann und Partners-SBP (Stuttgart, Alemanha), buscou

soluções que fizessem uso do aço da forma mais inteligente possível,

criando uma estrutura leve. O número de elementos sob compressão foi

limitado ao máximo, e tanto na Cidade do Cabo como em Durban esses

elementos se agregam em um grande anel de compressão.

Figura 31: Estádio Green Point em construção,

Cidade do Cabo, África do Sul. Fonte: http://www.conti-online.com/

Figura 32: Estádio Green Point concluído,

Cidade do Cabo, África do Sul, 2009. Fonte: http://gmp-architekten.de/

A solução que Hormes descreveu anteriormente diz respeito ao sistema estrutural

de cobertura tipo roda raiada ou roda de bicicleta (Figura 33). Composto

basicamente por um anel de compressão exterior e por um anel de tração interior,

interligados por cabos de aço dispostos radialmente. Isso permite uma eficiente

cobertura de todo o estádio, vencendo grandes vãos com a utilização de uma

quantidade mínima de material: seria o conceito de uma estrutura mínima para

cobrir todo um estádio.

13

Entrevista de Robert Hormes concedida à Revista Arquitetura & Aço. Centro Brasileiro de construção em aço.

Número 22, 2010. Disponível em: < http://www.cbca-iabr.org.br/revista-arquitetura-e-aco.php?codDestaque=519 >. Acesso em: 06 set. 2010.

Page 39: Inovações tecnológicas na arquitetura de estádios - arenas esportivas multiuso

Inovações Tecnológicas na Arquitetura de Estádios: Arenas Esportivas Multiuso

Capítulo 3 - As Inovações Tecnológicas nos Estádios Contemporâneos ■ 31

Figura 33: Representação esquemática da cobertura tipo roda raiada.

Fonte: LOPES; BOGÉA; REBELLO, 2006.

Essa solução estrutural foi utilizada na cobertura do Estádio Nacional de Kuala

Lumpur (Figura 34), uma das maiores coberturas do mundo (39.500m²), concluída

em 1997; no Estádio Century Lotus (Figura 35), China, 2006; no Estádio Nacional de

Varsóvia (Figura 36), para a EUROCOPA em 2012; e a solução adotada para a nova

cobertura do Estádio do Mineirão (Figura 37) para a Copa do Mundo de 2014 no

Brasil.

Figura 34: Estádio Nacional de Kuala Lumpur, Malásia.

Fonte: GÖPPERT; STOCKHUSEN, 2008.

Figura 35: Estádio Century Lotus, Foshan, China.

Fonte: V & M do Brasil, 2008.

Figura 36: Maquete do Estádio Nacional de Varsóvia, Polônia. Fonte: http://www.conti-online.com/

Figura 37: Vista da nova cobertura para o Estádio do Mineirão, Belo Horizonte, Brasil. Fonte: http://www.sortimentos.com/

Page 40: Inovações tecnológicas na arquitetura de estádios - arenas esportivas multiuso

Inovações Tecnológicas na Arquitetura de Estádios: Arenas Esportivas Multiuso

Capítulo 3 - As Inovações Tecnológicas nos Estádios Contemporâneos ■ 32

Esse tipo de cobertura vem em sentido contrário à solução desenvolvida para o

Estádio Nacional de Pequim (Ninho de pássaro) (Figura 38) para as Olimpíadas em

2008, que consumiu 44 mil toneladas de aço em sua estrutura, enquanto o Estádio

Green Point, para Copa de 2010, consumiu 7 mil toneladas de aço.

Figura 38: Maquete esquemática de uma seção da estrutura do

Estádio Nacional de Pequim, China. Fonte: http://en.beijing2008.cn

Dessa forma, pensar a estrutura do estádio desde sua concepção permitiria levar

em consideração aspectos referentes à fabricação do aço, ou seja, qual seria a

solução mais viável para atender uma região onde a disponibilidade de aço é pequena

e o transporte do material elevaria demasiadamente o custo final da obra?

A solução estrutural em roda raiada passou a ser então uma nova possibilidade para

a cobertura de estádios. Sua escolha não seria feita levando em consideração

apenas seus aspectos estéticos e funcionais, mas também questões referentes à

viabilidade do investimento e o baixo consumo de aço, que poderia atender aos

princípios de sustentabilidade na Arquitetura de estádios, defendidos pelo programa

Green Goal™14.

Para exemplificar algumas soluções estruturais é apresentado no final desse capítulo

um quadro comparativo com informações sobre a estrutura de alguns estádios

contemporâneos. Buscou-se selecionar diferentes soluções arquitetônicas e

estruturais que permitissem avaliar e identificar as possibilidades construtivas para

os estádios hoje.

14

O programa Green Goal™ é uma iniciativa da FIFA para que os estádios sejam construídos segundo princípios

de sustentabilidade ambiental. O programa recomenda o aproveitamento de recursos naturais, a redução de desperdícios, o incentivo ao uso do transporte público, dentre outros.

Page 41: Inovações tecnológicas na arquitetura de estádios - arenas esportivas multiuso

Inovações Tecnológicas na Arquitetura de Estádios: Arenas Esportivas Multiuso

Capítulo 3 - As Inovações Tecnológicas nos Estádios Contemporâneos ■ 33

3.2 APLICAÇÕES DE NOVOS MATERIAIS

A necessidade de se cobrir todo um estádio possibilitou novas soluções em materiais

de vedação para coberturas, que devido aos grandes vãos e a carga própria da

estrutura, seriam mais eficientes se fossem mais leves que outros materiais como,

as telhas metálicas e o concreto armado.

A partir de então, as membranas passaram a atender as necessidades funcionais,

estéticas e de manutenção das novas coberturas. Inicialmente, as membranas de

poliéster revestidas por PVC (policloreto de vinila) (Figuras 39 e 40) foram

amplamente utilizadas, principalmente nas estruturas de membrana tensionadas.

Figura 39: Cobertura em membrana de fibra de poliéster revestida com PVC - Estádio Gottilieb

Daimler. Sttutgart, Alemanha.

Fonte: V & M do Brasil.

Figura 40: Cobertura em membrana de fibra de poliéster revestida com PVC – Estádio Jaber Al

Ahmed, Kuwait.

Fonte: http://gmp-architekten.de/

Devido às questões referentes à exposição do material às intempéries e a

manutenção, outros polímeros passaram a ser estudados como o PTFE

(politetrafluoretileno), mais conhecido pelo nome comercial teflon, e o ETFE (etileno-

tetrafluoretileno), de forma a alcançar um desempenho melhor que as membranas

de PVC.

Segundo informações da Revista Finestra15 as membranas podem receber

tratamentos de resinas poliméricas que elevam sua resistência mecânica aos raios

ultravioleta, às intempéries, ao fogo e ao ataque de microorganismos, aumentando a

durabilidade para cerca de 30 anos. Também:

[...] pontualmente começa a encontrar-se a aplicação de um tecido de

revestimento constituído por uma membrana revestida com “Teflon”. Este

material consiste num tecido produzido a partir de fibra de vidro, revestido

por multicamadas de “Teflon” (composto à base de fluoropolímeros), com

15 Revista FINESTRA, Copa do Mundo de 2014 traz a tecnologia das tensoestruturas, arqpress, ano 15, nº 16,

mar/abr 2010.

Page 42: Inovações tecnológicas na arquitetura de estádios - arenas esportivas multiuso

Inovações Tecnológicas na Arquitetura de Estádios: Arenas Esportivas Multiuso

Capítulo 3 - As Inovações Tecnológicas nos Estádios Contemporâneos ■ 34

uma espessura final de 0,76 mm. Tem bons comportamentos em

revestimentos de coberturas, uma vez que transmite até 25 % da luz solar

que nele incide, não é degradável face à exposição aos raios ultra-violeta, ou

face à deposição de pó e outras sujidades, sendo facilmente lavável. O

aspecto visual é bastante agradável, permitindo formas mais arrojadas,

como pode ser observado nos estádios de Seul e Seogwipo que utilizam este

revestimento. (NOGUEIRA, 2002)

Para o arquiteto Eduardo Castro Mello16 as questões referentes à manutenção

dessas membranas devem ser levadas em consideração antes da especificação

desses materiais. Ele cita como exemplo o uso de painéis inflados de membrana ETFE

nos estádios Allianz Arena (Figura 41) e no Centro Aquático de Pequim (Cubo

D’àgua) (Figura 42), cujo material teve que ser trocado várias vezes devido aos danos

causados pelo ataque de pássaros, que ao verem sua imagem refletida nos painéis

inflados de ETFE, bicavam o material comprometendo a vedação.

Figura 41: Vedação externa em painéis inflados de ETFE- Allianz Arena. Munique, Alemanha.

Fonte: V & M do Brasil.

Figura 42: Vedação externa em painéis inflados de ETFE - Centro Aquático de Pequim (Cubo

D’água), China. Fonte: http://blog.2modern.com/

Além disso, para o arquiteto Eduardo Castro Mello, não se justificaria, em um país

como o Brasil, utilizar em estádios com grandes vãos uma membrana de PVC que

teria de ser trocada de 15 em 15 anos. O custo com manutenção seria muito alto

16

Entrevista de Eduardo Castro Mello (Castro Mello Arquitetura Esportiva) concedida ao autor em 24 set. 2010.

Page 43: Inovações tecnológicas na arquitetura de estádios - arenas esportivas multiuso

Inovações Tecnológicas na Arquitetura de Estádios: Arenas Esportivas Multiuso

Capítulo 3 - As Inovações Tecnológicas nos Estádios Contemporâneos ■ 35

em um curto intervalo de tempo. Logo, o uso da membrana de PTFE seria mais

indicado por possuir uma vida útil estimada de até 50 anos.

A fachada do Allianz Arena de painéis pneumáticos de ETFE (etileno-

tetrafluoretileno) é única no mundo com cerca de 65 mil metros quadrados

de superfície *Em 2008, o Centro Aquático Cubo D’água, construído para as

Olimpíadas de Pequim, fez uso da mesma tecnologia no fechamento da

edificação]. Esse revestimento externo possui um sistema de iluminação que

permite a mudança de cores. O estádio se transforma de acordo com o time

em campo: branco (Alemanha), vermelho (Bayern) e azul (München).

(V & M do Brasil, 2008)

O ETFE também foi utilizado na cobertura da Arena AWD (Figura 43), em Hanover na

Alemanha, na forma de placas translúcidas que permitem a passagem de até 95%

de luz natural. Dessa forma, o gramado tem sobrevida ampliada e minimizam-se

custos com manutenção.

Figura 43: Vista interna da cobertura em placas de ETFE. AWD Arena, Hanover, Alemanha.

Fonte: http://www.rankopedia.com/

A membrana de fibra de vidro pré-tensionada revestida com PTFE foi bastante

utilizada como material de cobrimento das coberturas dos estádios construídos para

a Copa de 2010 na África do Sul; como no Estádio Green Point (Figura 44) na Cidade

do Cabo, no Estádio Nelson Mandela Bay (Figura 45) em Port Elizabeth, e no Estádio

Soccer City em Joanesburgo.

Page 44: Inovações tecnológicas na arquitetura de estádios - arenas esportivas multiuso

Inovações Tecnológicas na Arquitetura de Estádios: Arenas Esportivas Multiuso

Capítulo 3 - As Inovações Tecnológicas nos Estádios Contemporâneos ■ 36

Figura 44: Instalação da membrana de fibra de vidro revestida com PTFE do Estádio Green

Point, Cidade do Cabo – África do Sul.

Fonte: SEPLAN – Amazonas, Brasil.

Figura 45: Instalação da membrana de fibra de vidro revestida com PTFE do Estádio Nelson

Mandela Bay, Port Elizabeth – África do Sul.

Fonte: http://www.nelsonmandelabay.gov.za/

Outra inovação tecnológica dos estádios contemporâneos, que não poderia deixar de

ser citada, seria o gramado sintético ou o gramado artificial (Figuras 46 e 47). Essa

viria a ser uma nova tecnologia como alternativa às limitações do uso do gramado

natural. Sobre essa nova tecnologia:

O gramado artificial tornou-se uma superfície de jogo aceitável para o

futebol com o seu elaborado tapete de grama desenvolvimento

especialmente para o esporte. As superfícies artificiais de jogo estão

disponíveis agora e permitem aos jogadores de futebol jogar de forma

dinâmica e segura. As vantagens de um gramado artificial são inúmeras. Ele

permite ter sempre uma superfície de jogo verde. Jogando em um gramado

artificial, os jogadores precisam se adaptar à superfície, mas sua

regularidade cria um jogo rápido e preciso no qual jogadores profissionais e

fisicamente padrão tenham chances iguais.

(FIFA, 2007, tradução nossa)

Figura 46: Instalação do gramado artificial no Estádio Commonwealth, Edmonton, Canadá.

Fonte: http://www.edmontonsun.com/

Figura 47: Instalação do gramado artificial no Estádio Commonwealth, Edmonton, Canadá.

Fonte: http://www.edmontonsun.com/

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Inovações Tecnológicas na Arquitetura de Estádios: Arenas Esportivas Multiuso

Capítulo 3 - As Inovações Tecnológicas nos Estádios Contemporâneos ■ 37

De acordo com o arquiteto Eduardo Castro Mello o gramado artificial, que se

enquadra nos padrões de qualidade da FIFA, é um gramado muito próximo do

gramado natural e aparece como forte tendência para as próximas Copas do

Mundo.

Segundo FIFA (2007) o gramado artificial pode ser mais utilizado que o gramado

natural, pois não sofre danos pelas mudanças climáticas e, além disso, seus custos

com manutenção são muito menores que os do gramado natural. Os tapetes

disponíveis no mercado são de fibras de polietileno e poliamida.

Na Copa de 2010 na África do Sul, a FIFA, após vistorias aos estádios sede da

competição, mandou remover todo o gramado que estavam em péssimas condições

de uso e substituí-los pelo gramado híbrido. Sobre o gramado híbrido (Figuras 48 e

49), Eduardo Castro Mello17 descreve:

O gramado híbrido é feito da seguinte forma: você prepara todo o terreno

com terra e os nutrientes necessários e depois coloca uma tela com parte de

grama artificial. Essa tela possui espaços vazios, onde se planta a grama

natural, e também pinos que ficam cravados no solo. A raiz da grama natural

se entrelaça naturalmente nesses pinos de ancoragem formando um tapete

contínuo. Depois você trata normalmente como se fosse um gramado

natural. A diferença é que o gramado híbrido possui uma resistência muito

maior e um aspecto visual muito bom, não parecendo estar desgastado em

um ponto ou outro, sempre tem grama verde. Essa tecnologia foi utilizada

no estádio do Arsenal na Inglaterra e em três estádios na África do Sul para

a Copa de 2010.

Figura 48: Representação esquemática do gramado híbrido.

Fonte: http://www.dessosports.com/

Figura 49: Campo com tecnologia em gramado híbrido. Estádio Emirates - Londres, Inglaterra.

Fonte: http://www.skysports.com/

17

Idem, pág. 34.

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Inovações Tecnológicas na Arquitetura de Estádios: Arenas Esportivas Multiuso

Capítulo 3 - As Inovações Tecnológicas nos Estádios Contemporâneos ■ 38

Em relação ao uso do gramado para a realização de shows, o arquiteto nota que:

[...] para efeito de utilização para shows, você consegue um evento sem

danificar o gramado utilizando sistemas de tablados de polipropileno

vazados que deixam passar água e luz natural. É como um grande tapete

que possibilita o trânsito de tratores, empilhadeiras e pessoas. Esse sistema

pode ficar sobre o gramado por até 15 dias, depois você recolhe e não se

verifica danos definitivos ao gramado como ocorre com a colocação de

compensados de madeira.

Dessa forma, as inovações tecnológicas em gramado artificial permitiram aos

estádios contemporâneos maximizarem suas possibilidades de uso do campo sem

danificar o espaço destinado à prática esportiva. Além disso, é possível atingir

condições estéticas mais satisfatórias para o público que acompanha os jogos e

permitir que os jogadores façam uso de um gramado com características físicas

uniformes por todo o campo.

3.3 EQUIPAMENTOS E DISPOSITIVOS

Além das novas tecnologias em sistemas estruturais e materiais, é importante

destacar também equipamentos e dispositivos utilizados nos novos estádios como

meio de contribuir para o seu funcionamento, para o conforto dos usuários e

também para sua manutenção.

Em se tratando do funcionamento dos estádios destacam-se as soluções

automatizadas que possibilitaram a movimentação de certos componentes das

edificações, permitindo que essas sejam usadas em diferentes ocasiões. Como

exemplos, podem-se citar: as coberturas em teto retrátil com deslizamento lateral,

as coberturas em membranas retráteis, o campo sobre plataforma deslizante e as

arquibancadas móveis em estrutura metálica.

A cobertura em membrana retrátil foi utilizada pela primeira vez na Arena

Commerzbank (Figuras 50 e 51), em Frankfurt, para a Copa do Mundo de 2006.

Com projeto do escritório alemão GMP (Von Gerkan, Marg & Partner) a cobertura do

estádio segue o princípio estrutural da roda de bicicleta e seu desempenho foi

melhorado pela cobertura retrátil central, possibilitando ao estádio ser um dos

maiores conversíveis do mundo.

Page 47: Inovações tecnológicas na arquitetura de estádios - arenas esportivas multiuso

Inovações Tecnológicas na Arquitetura de Estádios: Arenas Esportivas Multiuso

Capítulo 3 - As Inovações Tecnológicas nos Estádios Contemporâneos ■ 39

Figura 50: Cobertura central retrátil – Arena Commerzbank, Frankfurt, Alemanha.

Fonte: http://gmp-architekten.de/

Figura 51: Membrana de PVC e o cubo central – Arena Commerzbank, Frankfurt, Alemanha.

Fonte: http://gmp-architekten.de/

Composta por um conjunto de cabos inferiores e superiores, espaçados por

enrijecedores metálicos, a cobertura em membrana fica estacionada em um cubo

central, que se abre através de um mecanismo de acionamento; em seguida desliza

pelos cabos inferiores até cobrir toda a área do campo.

Essa mesma solução será utilizada no Estádio Nacional de Brasília, projetado pelo

escritório brasileiro Castro Mello Arquitetura Esportiva para a Copa de 2014, com o

diferencial de possuir geometria circular (Figura 52) o que, segundo o arquiteto

Eduardo Castro Mello18, facilitaria o funcionamento do sistema, pois todos os cabos

possuem o mesmo tamanho. Esse dispositivo de cobertura retrátil está previsto para

ser colocado após a Copa de 2014, mas toda a estrutura já prevê sua instalação.

Figura 52: Vista interna da cobertura para o Estádio Nacional de Brasília – Copa do Mundo de 2014, Brasil.

Fonte: http://www.castromello.com.br/

18

Idem, pág. 34.

Page 48: Inovações tecnológicas na arquitetura de estádios - arenas esportivas multiuso

Inovações Tecnológicas na Arquitetura de Estádios: Arenas Esportivas Multiuso

Capítulo 3 - As Inovações Tecnológicas nos Estádios Contemporâneos ■ 40

Atendendo à exigência da FIFA de que todos os espectadores devem ter um lugar

para sentar, que seja individual e tenha encosto com altura mínima de 30 cm; os

assentos passaram a ser revistos por arquitetos e designers para garantir maior

conforto aos espectadores e durabilidade dos equipamentos.

Segundo Eduardo Castro Mello os assentos rebatíveis (Figuras 53 e 54) facilitam a

circulação dos espectadores e evitam que o público fique de pé em cima das

cadeiras. Ao mesmo tempo, facilita a manutenção e limpeza do estádio, pois

eliminam problemas de acúmulo de poeira e outras sujeiras.

Figura 53: Assentos rebatíveis do Estádio Green Point, Cidade do Cabo, África do Sul.

Fonte: SEPLAN – Amazonas, Brasil.

Figura 54: Assentos rebatíveis do Estádio Emirates, Londres, Inglaterra.

Fonte: http://www.sportsvenue-technology.com/

Além desses equipamentos e dispositivos, podem-se citar o sistema de

aproveitamento de águas pluviais, que recolhe a água da cobertura, além daquelas

provenientes de áreas impermeáveis ao redor do edifício. Essas águas são recolhidas

por sistemas de calhas e tubulação e são destinadas a filtros e reservatórios

inferiores.

Essa água da chuva, tratada e armazenada, pode ser destinada à irrigação do

gramado, ao uso nas bacias sanitárias do estádio e na limpeza de pisos em geral,

representando uma economia considerável no consumo de água potável.

Esse sistema está previsto nos projetos da Arena da Amazônia e do Estádio Nacional

de Brasília (Figuras 55 e 56), em conformidade com as recomendações do

programa Green Goal™, criado pelo FIFA, na intenção de obtenção da certificação

LEED (Leadership in Energy and Environmental Design) pela entidade Green Building

Council (GBC).

Page 49: Inovações tecnológicas na arquitetura de estádios - arenas esportivas multiuso

Inovações Tecnológicas na Arquitetura de Estádios: Arenas Esportivas Multiuso

Capítulo 3 - As Inovações Tecnológicas nos Estádios Contemporâneos ■ 41

Figura 55: Projeto da Arena da Amazônia prevê sistema de aproveitamento de água pluvial.

Fonte: http://arquitetandonanet.blogspot.com/

Figura 56: Projeto do Estádio Nacional de Brasília prevê sistema de aproveitamento de

água pluvial.

Fonte: http://www.revistatechne.com.br/

Segundo o arquiteto Eduardo Castro Mello19, a FIFA sugeriu que todos os estádios

projetados para a Copa de 2014 fossem certificados, o que permitiu ao Brasil a

oportunidade de possuir estádios diferentes dos já construídos até hoje. “Seriam as

‘Ecoarenas’, ‘Eco’ tanto no conceito ecológico quanto econômico”.

Outra tecnologia que aproveita recursos naturais para aumentar a eficiência

energética da edificação são os painéis fotovoltaicos, que ainda de forma pontual

começam a ser incorporados na arquitetura de estádios. Essa tecnologia foi utilizada

significativamente na cobertura do Estádio Taiwan Solar Powered (Figuras 57 e 58),

projetado pelo arquiteto japonês Toyo Ito. Sua cobertura é formada por 8.844

painéis solares e gera 1,14 gigawatt hora de eletricidade durante todo o ano20.

Figura 57: Estádio Taiwan Solar Powered em construção. Taiwan, 2009.

Fonte: http://www.archdaily.com/

Figura 58: Painéis fotovoltaicos na cobertura do Estádio Taiwan Solar Powered – Taiwan.

Fonte: http://www.archdaily.com

Dessa forma é possível verificar que muito além dos resultados estéticos

decorrentes das novas estruturas ou materiais, as inovações tecnológicas nos

estádios contemporâneos têm um papel de extrema importância na garantia do

conforto dos usuários, da possibilidade de gerar espaços mais flexíveis e na

manutenção da edificação.

19

Idem pág. 34. 20

Informações obtidas no site: <http://www.archdaily.com/22520/taiwan-solar-powered-stadium-toyo-ito/>.

Acesso em: 20 out. 2010.

Page 50: Inovações tecnológicas na arquitetura de estádios - arenas esportivas multiuso

Inovações Tecnológicas na Arquitetura de Estádios: As Arenas do Século XXI

Capítulo 3 – As Inovações Tecnológicas nos Estádios Contemporâneos ■ 42

ESTÁDIO LOCAL PROJETO

ARQUITETÔNICO

CONCLUSÃO DA OBRA

CAPACIDADE SOLUÇÃO ESTRUTURAL OUTRAS INFORMAÇÕES IMAGENS

VELTINS ARENA Gersenkirchen,

Alemanha. HPP International 2001

61.000

espectadores

Cúpula formada por treliças estruturadas por

elementos tubulares metálicos com trecho

central móvel. Arquibancadas em estrutura

metálica.

A cobertura é vedada por membrana de fibra de

vidro e a parte central é móvel com deslizamento

lateral. O gramado sobre plataforma móvel se

desloca para o exterior da edificação e permite a

realização de diferentes atividades no interior do

estádio.

Fonte: V & M do Brasil, 2008

ESTÁDIO

RHEINENERGIE

Colônia,

Alemanha.

Von Gerkan, Marg und

Partner (GMP) 2004

46.000

espectadores

Estrutura do tipo ponte suspensa, sustentada

por 4 mastros, cabos de suspensão e os

cabos em arcos ancorados no solo.

Os quatro mastros que sustentam a cobertura

são iluminados tornando-se referência

arquitetônica de grande visibilidade.

Fonte: http://gmp-architekten.de/

AWD ARENA

Hanover,

Alemanha.

Schulitz & Partner

2004

45.000

espectadores

Estrutura do tipo roda de bicicleta estruturada

por elementos tubulares de aço. Uma segunda

estrutura forma o anel central , que é apoiado

no anel de tração e interligado ao anel de

compressão por barras de aço.

A arena de Hanover, originalmente construída

entre 1952 e 1954, foi reformada para ser uma

das sedes da Copa do Mundo de 2006.

Fonte: V & M do Brasil, 2008

ALLIANZ ARENA Munique,

Alemanha.

Herzog & De Meuron

2005

66.000 espectadores

Utilização de estruturas de aço e concreto

(Pilares de tubos de aço curvado com seção

preenchida por concreto). Cobertura

estruturada em treliças metálicas vencendo

um vão de 65 metros. As arquibancadas são

de concreto pré-moldado.

O estádio conta com lojas, escritórios, salas de

conferências e restaurantes, prevendo espaços

acessíveis para pessoas com deficiência.

Fonte: V & M do Brasil, 2008

ARENA COMMERZBANK

Frankfurt, Alemanha.

Von Gerkan, Marg und Partner (GMP)

2005 48.000

espectadores

A nova cobertura segue o formato retangular

do estádio e o princípio da cobertura em roda

raiada ou roda de bicicleta. A carga sobre a

estrutura foi reduzida ao mínimo, criando

assim uma rede de cabos e barras sujeitos

apenas à tração.

O processo de abertura da membrana requer

menos de 20 minutos, incluindo a descida do cubo

central e a abertura da caixa de proteção.

Fonte: http://gmp-architekten.de/

Page 51: Inovações tecnológicas na arquitetura de estádios - arenas esportivas multiuso

Inovações Tecnológicas na Arquitetura de Estádios: As Arenas do Século XXI

Capítulo 3 – As Inovações Tecnológicas nos Estádios Contemporâneos ■ 43

ESTÁDIO JOÃO

HAVELANGE

Rio de Janeiro,

Brasil.

Arquitetos: Carlos Porto, Geraldo Lopes,

Gilson Santos e José

Raymundo F. Gomes.

2006 45.000

espectadores

Quatro arcos que sustentam, por meio de

tirantes, uma cobertura com formato entre

um círculo e uma elipse, com área próxima a

34.000 m², e altura de 50 metros, sofrendo a

ação de ventos de região litorânea.

Para essa obra, foram necessários dois projetos,

um só para a estrutura de cobertura e outro só

para a estrutura de montagem.

Fonte: http://www.lanceactivo.com.br/

ESTÁDIO GOTTILIEB

DAIMLER

Sttutgart,

Alemanha.

Arat, Siegel & Partners. 2007 54.000

espectadores

A estrutura é sustentada por dois anéis

externos de compressão e pilares perimetrais,

em tubos metálicos. Cabos de aço interligam o

anel de tração interior aos anéis exteriores,

formando uma estrutura de cobertura tipo

roda raiada. A estrutura da cobertura foi

construída com 3 mil toneladas de tubos de

aço e 0,4 toneladas de cabos.

O estádio construído em 1933 passou por

diversas modernizações, uma delas em 1993

para o Campeonato Mundial de Atletismo e em

2004/2005 foi reformado para a Copa do

Mundo de 2006. Sua cobertura vence um vão de

58 metros sobre as arquibancadas.

Fonte: V & M do Brasil, 2008

ESTÁDIO NACIONAL DE

PEQUIM

Pequim, China.

Herzog & De Meuron

2008

91.000 espectadores

Apesar de aparentemente caótica, a estrutura

do estádio segue uma racionalidade. 24

colunas treliçadas em elementos tubulares de

aço, de diferentes alturas e em formato

piramidal, contornam todo o estádio e são

soldados a outros tubos de seção retangular.

Formando ao mesmo tempo a fachada e a

cobertura.

Mais conhecido como “Ninho de Pássaro”, hoje é

considerado um dos estádios que mais consumiu

aço em sua construção: aproximadamente 44 mil

toneladas.

Entre a estrutura externa e a estrutura da

arquibancada existe um espaço semi-aberto onde

se encontram restaurantes, bares, lojas e os

acessos às circulações verticais.

Fonte: http://www.archdaily.com/

ESTÁDIO GREEN POINT

Cidade do Cabo, África do Sul.

Von Gerkan, Marg und Partner (GMP)

2009 68.000

espectadores

Estrutura com pilares exteriores de concreto

armado, sustentando a cobertura. A estrutura

da cobertura é do tipo roda raiada, com a

combinação de treliças e cabos de aço

constituindo uma cobertura suspensa. O anel

de tração interior é formado por um conjunto

de cabos de aço. A estrutura da arquibancada

é em peças de concreto pré-moldado.

O revestimento externo é composto por

membrana de fibra de vidro pré-tensionada

revestida por PTFE (politetrafluoretileno) que filtra

a luz solar. A cobertura é revestida por placas de

vidro pintadas de branco, para refletir do calor.

Fonte: http://gmp-architekten.de/

ESTÁDIO MOSES MABHIDA

Durban, África do Sul.

Von Gerkan, Marg und Partner (GMP)

2009 70.000

espectadores

A cobertura é sustentada por um grande arco

de 100 metros de altura composto por 56

seções tubulares e retangulares de aço, que

vencem um vão de 350 metros. Uma série de

cabos de aço tipo full lock, instalados entre o

anel de compressão e o arco, permitem que a

cobertura seja atirantada.

Os arquitetos tiveram a intenção de produzir uma

arquitetura com efeitos similares ao do Museu

Guggenheim em Bilbao, ou seja, que a arquitetura

torna-se um marco turístico. Assim, aproveitaram

o arco da estrutura e criaram sobre ele um

teleférico que permite aos visitantes ter uma visão

panorâmica de Durban e do Oceano Índico.

Fonte: http://gmp-architekten.de/

Page 52: Inovações tecnológicas na arquitetura de estádios - arenas esportivas multiuso

Inovações Tecnológicas na Arquitetura de Estádios: Arenas Esportivas Multiuso

Capítulo 4 – As Arenas Esportivas Multiuso ■ 44

44 AASS AARREENNAASS EESSPPOORRTTIIVVAASS MMUULLTTIIUUSSOO

Muito diferente do contexto social, cultural e econômico do período da construção

dos estádios olímpicos do século XX, os estádios hoje apresentam outras

necessidades funcionais, de atenderem melhor a lógica da atual economia do futebol

e a dinâmica da sociedade contemporânea. Segundo Cereto (2003) os antigos

estádios com pista de atletismo e uso exclusivo do futebol, devem ser substituídos

pelo palco para apresentações e atividades de comércio e serviços, integrando as

atividades esporádicas do esporte com as atividades cotidianas da sociedade.

Page 53: Inovações tecnológicas na arquitetura de estádios - arenas esportivas multiuso

Inovações Tecnológicas na Arquitetura de Estádios: Arenas Esportivas Multiuso

Capítulo 4 – As Arenas Esportivas Multiuso ■ 45

4.1 O CONCEITO DE ARENA MULTIUSO

O programa de necessidades de um estádio influencia não só nas distribuições

internas da edificação, mas também nos espaços externos, nos acessos, no

zoneamento e nos fluxos. Para Cereto (2003) a solução arquitetônica de um estádio

fica definida em função de dois critérios: as possibilidades estruturais e o programa.

O fato de no passado os estádios terem sido destinados, em sua maioria apenas à

prática do futebol, com eventos esportivos realizados esporadicamente, levou a um

orçamento apertado sem verbas suficiente para a manutenção da edificação. Como

resultado, tivemos a origem de um grande número de estádios obsoletos e

degradados, conhecidos popularmente como “elefantes brancos”.

Para Cereto (2003) o uso de edificações dotadas de capacidade controlada

aproxima esses ícones da arquitetura brasileira, com as qualidades dos edifícios da

primeira geração, com uma escala mais doméstica. A visibilidade das arquibancadas

é bastante apreciada nos edifícios com capacidade menor, trazendo mais conforto

ao público.

As novas administrações dos estádios projetados no século passado passaram a

readequar seus espaços para atender a essa nova demanda funcional e permanecer

em condições de uso. Como exemplo pode-se citar o Estádio Cícero Pompeu de

Toledo (Estádio do Morumbi) em São Paulo - SP, que além de acomodar a realização

de shows (Figuras 59 e 60), também readaptou alguns espaços sob as

arquibancadas para disponibilizar ao público, ambientes como: lojas (Figuras 61 e

62), restaurante, bar e lanchonete.

Figura 59: Vista da cadeira inferior do show da banda Bon Jovi, no estádio do Morumbi em 06 out. 2010. Fonte: Arquivo pessoal de Ludmila Mendes.

Page 54: Inovações tecnológicas na arquitetura de estádios - arenas esportivas multiuso

Inovações Tecnológicas na Arquitetura de Estádios: Arenas Esportivas Multiuso

Capítulo 4 – As Arenas Esportivas Multiuso ■ 46

Figura 60: Mapa do show da banda Bon Jovi, no estádio do Morumbi em 06 out. 2010.

Fonte: http://entretenimento.r7.com/

Figura 61: Loja de produtos alimentícios do Estádio do Morumbi. Fonte: Autor, 2010.

Figura 62: Loja do São Paulo Futebol Clube e Camarote sob arquibancada. Fonte: Autor, 2010.

Segundo Ludmila Mendes21 (Estudante de Arquitetura e Urbanismo), que assistiu ao

show da banda Bon Jovi no estádio do Morumbi em 06 out. 2010, o evento foi bem

organizado, porém algumas situações foram desconfortáveis para os espectadores

do evento, como: a falta de lugar coberto para a espera do show no exterior do

estádio (Figura 63); os sanitários químicos (Figura 64) que, apesar de necessários,

não atenderam de forma satisfatória as necessidades dos usuários, e o

congestionamento de veículos na saída do estádio.

21

Entrevista de Ludmila Mendes (espectadora do show da banda Bon Jovi, no Estádio do Morumbi em 06 out.

2010) concedida ao autor em 14 out. 2010.

Page 55: Inovações tecnológicas na arquitetura de estádios - arenas esportivas multiuso

Inovações Tecnológicas na Arquitetura de Estádios: Arenas Esportivas Multiuso

Capítulo 4 – As Arenas Esportivas Multiuso ■ 47

Figura 63: Espectadores do show da banda Bon

Jovi aguardando no exterior do Estádio do Morumbi.

Fonte: Arquivo pessoal de Ludmila Mendes.

Figura 64: Sanitários químicos para o show da

banda Bon Jovi no Estádio do Morumbi. Fonte: Arquivo pessoal de Ludmila Mendes.

De acordo com o gerente de marketing do São Paulo Futebol Clube Orandi Mura22, os

shows representam uma parcela considerável da arrecadação do estádio, e sua

realização é possível através de uma adequação da agenda de eventos, que

possibilita a realização dos shows entre os dias de jogos de futebol.

Outro exemplo de readequação espacial em estádios é o projeto de revitalização do

Estádio Municipal de São Paulo (Estádio do Pacaembu), de autoria do arquiteto

Mauro Munhoz, que utilizou os espaços sob as arquibancadas para instalar o Museu

do Futebol (Figura 65), além de prever um restaurante (Figura 66), uma loja e um

auditório.

Figura 65: Exposição no Museu do Futebol. Fonte: http://revistaepocasp.globo.com/

Figura 66: Área externa do restaurante no Estádio do Pacaembu. Fonte: http://www.clubepeugeot.com/

Os estádios hoje buscam usufruir de sua disponibilidade espacial para a realização de

shows e outras atividades de entretenimento, como teatro, cinema e bares. Isso

atrai a população para o estádio e dinamiza seus usos. Outro uso recorrente nos

estádios contemporâneos são os centros comerciais, com lojas, restaurante e

lanchonetes, que servem tanto como apoio para os espectadores quanto para a

população que transita pelo entorno.

22

Entrevista de Orandi Mura (Gerente de marketing do São Paulo Futebol Clube) concedida ao autor em 23 set.

2010.

Page 56: Inovações tecnológicas na arquitetura de estádios - arenas esportivas multiuso

Inovações Tecnológicas na Arquitetura de Estádios: Arenas Esportivas Multiuso

Capítulo 4 – As Arenas Esportivas Multiuso ■ 48

Segundo Igor Michalick23, jogador do time BH Rugby, um fator importante que

diferencia uma partida de rugby de uma partida de futebol é o terceiro tempo, que

consiste na reunião das duas equipes para comemorar o jogo e comentar lances e

expectativas dos dois times.

No Terceiro tempo é esquecida a possível rivalidade existente entre as duas equipes

e é de costume que seja bancado pelo time da casa e oferecido ao time visitante. De

acordo com o jogador essa é uma prática tradicional do esporte que deve ser levada

em consideração no projeto de um estádio para o rugby, prevendo espaços como

bares e restaurantes.

Nos Estados Unidos e Inglaterra grande parte dos estádios se transformou em

verdadeiras arenas multiuso (Figuras 67 e 68) de forma a atender a grande

demanda por entretenimento e atrair o público para os estádios. Dessa forma, a

tipologia marcou sua importância no contexto social e cultural desses países.

Frente à concorrência extra da televisão e as muitas outras atividades de

lazer que surgiram para satisfazer os anseios de um grande número de

clientes cada vez mais afastados, os estádios foram forçados a se adaptar

para sobreviver. Essa mudança começou nos EUA durante a década de 1960

com instalações pioneiras como o Houston Astrodome, em 1965, um dos

primeiros e mais sofisticados com instalações multiuso, que procurou atrair

uma gama de novos espectadores para além do núcleo dos fanáticos por

esportes que iriam participar dos eventos em quaisquer condições.

(SHEARD, 2001, tradução nossa)

Figura 67: O Astrodome Houston, uma das

primeiras arenas multiuso dos EUA em uso como espaço para rodeio.

Fonte: SHEARD, 2001.

Figura 68: O estádio Alfred MacAlpine em

Huddersfield, local do show da banda Eagles, em dia entre temporadas de futebol e rugby.

Fonte: SHEARD, 2001.

Dessa forma, o que caracteriza de fato uma arena multiuso não é apenas dispor de

lanchonetes, ou restaurantes, esses seriam serviços de apoio extremamente

23

Entrevista de Igor Machalick (Jogador do time BH Rugby) concedida ao autor em 14 ago. 2010.

Page 57: Inovações tecnológicas na arquitetura de estádios - arenas esportivas multiuso

Inovações Tecnológicas na Arquitetura de Estádios: Arenas Esportivas Multiuso

Capítulo 4 – As Arenas Esportivas Multiuso ■ 49

necessários aos usuários que passam um período considerável de seu tempo dentro

do estádio.

Para caracterizar-se como uma arena multiuso, é preciso que o estádio disponibilize

espaços que atendam outras funções, além da prática esportiva, como: atividades de

entretenimento, atividades corporativas, atividades comerciais, ou seja, usos que não

nos remetem diretamente à tipologia de um estádio, mas que acabam sendo

incorporados por ele.

Como exemplos significativos de arenas esportivas multiuso, podem-se citar: o

estádio Allianz Arena, que conta com lojas, escritórios, salas de conferência (Figura

69) e restaurantes (Figura 70); o Estádio Veltins Arena, que explora a

multifuncionalidade com a possibilidade do uso da arena para vários tipos de eventos

(Figuras 71 e 72); e também o Stade de France, cujos espaços sob as

arquibancadas foram projetados para abrigar instalações como escritórios, escolas,

restaurantes e lojas.

Figura 69: Auditório para conferências do Estádio Allianz Arena.

Fonte: http://www.flickr.com/

Figura 70: Restaurante do Estádio Allianz Arena.

Fonte: V & M do Brasil.

Figura 71: Veltins Arena usado em campeonato

de esqui. Fonte: http://www.skyscrapercity.com/

Figura 72: Veltins Arena usado em apresentação

musical. Fonte: http://www.skyscrapercity.com/

Para a Copa de 2014 no Brasil, a maioria dos projetos está prevendo outros usos

além da prática do futebol de forma a garantir a constante utilização do estádio após

o evento. Como exemplos podem-se citar o Estádio Nacional de Brasília (Figura 73),

Page 58: Inovações tecnológicas na arquitetura de estádios - arenas esportivas multiuso

Inovações Tecnológicas na Arquitetura de Estádios: Arenas Esportivas Multiuso

Capítulo 4 – As Arenas Esportivas Multiuso ■ 50

cuja cobertura retrátil central permitirá a realização de grandes shows e

espetáculos; e a Arena Cuiabá (Figura 74) que permitirá que caminhões acessem o

campo, facilitando a realização de shows e espetáculos.

Figura 73: Vista da maquete eletrônica para o Estádio Nacional de Brasília – Copa do Mundo

2014, Brasil. Fonte: http://www.castromello.com.br/

Figura 74: Vista da maquete eletrônica para Arena Cuiabá - Copa do Mundo 2014, Brasil.

Fonte: http://www.gcp.arq.br/

Esses novos usos é o que diferencia um estádio só para o futebol, de uma arena

esportiva multiuso. Prever esses espaços significa pensar na sua permanência no

decorrer do tempo e usufruir de todo o potencial espacial que se possa alcançar em

sua arquitetura.

4.2 FLEXIBILIDADE NA ARQUITETURA DE ESTÁDIOS

Os estádios olímpicos do tipo misto (com pista de atletismo incorporada) foi um

modelo que provocou o distanciamento do público do campo, afastando o espectador

do jogo. Sobre essa questão, o arquiteto Eduardo Castro Mello24 nota:

Em um estádio com pista de atletismo, o primeiro degrau da arquibancada

fica 40 a 45 metros de distância da linha do campo, e justamente os últimos

degraus da arquibancada vão acabar ficando fora dos 190 metros de

distância a partir do core oposto, que é uma das exigências da FIFA. Acaba

sendo um estádio muito maior porque o perímetro da arquibancada

aumenta e você acaba gastando mais para fazer um estádio olímpico do que

você gastaria para fazer um estádio só para o futebol. A quantidade de

público para o atletismo é diferente da quantidade de público do futebol.

Uma competição de atletismo de alto nível, você vai ter por volta de 20 mil a

25 mil pessoas no máximo, ao passo que no futebol você chega a 70 mil,

como a FIFA exige para uma abertura de Copa. Então, esse é um ponto

clássico que tem que ser adotado, enquanto os estádios de antigamente

eram sempre estádios de atletismo e futebol, hoje já não é mais assim, é

24

Entrevista de Eduardo Castro Mello (Castro Mello Arquitetura Esportiva) concedida ao autor em 24 set. 2010.

Page 59: Inovações tecnológicas na arquitetura de estádios - arenas esportivas multiuso

Inovações Tecnológicas na Arquitetura de Estádios: Arenas Esportivas Multiuso

Capítulo 4 – As Arenas Esportivas Multiuso ■ 51

separado [...] Essas questões têm que ficar bem claras, não é uma briga

entre o futebol e o atletismo, é só uma adequação entre os dois esportes.

O Stade de France, para a Copa do Mundo de 1998, foi um dos estádios que buscou

na flexibilidade de suas arquibancadas (Figuras 75 e 76) uma solução arquitetônica

que resolvesse os problemas funcionais do uso de campo e pista de atletismo no

estádio:

O estádio de Saint-Dennis de 1998, na França, dos arquitetos Macary,

Zublena, Regembal e Constantini, possibilitou uma mudança nas relações de

compatibilidade não vista até então do uso do futebol x atletismo. A

estrutura das arquibancadas possibilita a ampliação da capacidade do

estádio para atividades do futebol em função do uso de arquibancadas

retráteis sobre a pista de atletismo. Assim, a forma das arquibancadas para

o uso do futebol configura o modelo com laterais arqueadas e o fundo reto,

enquanto que para a prática do atletismo a forma configurada é a do

modelo semicircular. (CERETO, 2004)

Figura 75: Stade de France com campo utilizado para as práticas do futebol e do rugby. Fonte:http://www.irishrugby.ie/

Figura 76: Estádio Stade de France com arquibancadas adaptadas para a prática do atletismo.

Fonte: http://www.ethersound.com/

Atualmente a FIFA não recomenda a pista de atletismo justamente pelos problemas

de visibilidade. Mas não restringe o uso do campo para a prática de outros esportes

como o rugby, ou a realização de eventos culturais no campo. Porém, a entidade

recomenda o uso do gramado artificial nessas circunstâncias:

Projetando estádios para que eles possam atender eventos esportivos e de

entretenimento irá aumentar a sua utilização e a sua viabilidade financeira.

O uso de grama artificial torna isso mais fácil, pois permite que o campo seja

usado e / ou coberto por um número ilimitado de dias, sem afetar

negativamente a superfície de jogo. O gramado artificial é também cada vez

mais usado para atender outros esportes, como o rugby, o cricket e o

Page 60: Inovações tecnológicas na arquitetura de estádios - arenas esportivas multiuso

Inovações Tecnológicas na Arquitetura de Estádios: Arenas Esportivas Multiuso

Capítulo 4 – As Arenas Esportivas Multiuso ■ 52

futebol americano [...] Os estádios de futebol também podem receber

eventos de entretenimento, incluindo concertos, festivais, apresentações

teatrais e feiras comerciais. (FIFA, 2007, tradução nossa)

Para jogos de Copa do Mundo, A FIFA estabelece as medidas de 68m x 105 m como

padrão para o campo de futebol, além das seguintes marcações e áreas auxiliares

(Figuras 77 e 78):

Figura 77: Diagrama de dimensões do campo. Fonte: FIFA, 2007.

Figura 78: Diagrama de dimensões das áreas auxiliares. Fonte: FIFA, 2007.

Porém, outras dimensões são possíveis. Como se pode vê nas medidas máximas e

mínimas de um campo de futebol, encontradas no manual Laws of the Game,

publicado pela FIFA em 2007:

Comprimento do campo:

Mínimo: 100 m

Page 61: Inovações tecnológicas na arquitetura de estádios - arenas esportivas multiuso

Inovações Tecnológicas na Arquitetura de Estádios: Arenas Esportivas Multiuso

Capítulo 4 – As Arenas Esportivas Multiuso ■ 53

Máximo: 110 m

Largura do campo:

Mínimo: 64 m

Máximo: 75 m

O IRB (International Rugby Board) estabelece as medidas de 70m x 100 m como

padrão para o campo de rugby (Figura 79), além das seguintes marcações e áreas

auxiliares:

Figura 79: Diagrama de dimensões padrões do campo de Rugby. Fonte: IRB, 2010.

Dessa forma é possível conciliar a prática do rugby e do futebol, adaptando o campo

de futebol ao campo de rugby, que é mais inflexível quanto à suas dimensões. Assim

um campo flexível para atender o futebol e o rugby teria 70 m de largura por 100 m

de comprimento. Um campo de futebol com as medidas para jogos oficiais da copa

do mundo seria possível prevendo o espaço restante somado às áreas auxiliares.

A FIFA recomenda ainda uma distância máxima de 190 metros do espectador em

relação ao extremo oposto do campo e considera 90 metros como a distância ótima

(Figuras 80 e 81). Dessa forma, o estádio de modelo retangular, que aproxima as

arquibancadas do campo, passou a ser o mais utilizado nas Arenas Esportivas

Multiuso, permitindo melhor visualização do jogo ou de eventos culturais.

Page 62: Inovações tecnológicas na arquitetura de estádios - arenas esportivas multiuso

Inovações Tecnológicas na Arquitetura de Estádios: Arenas Esportivas Multiuso

Capítulo 4 – As Arenas Esportivas Multiuso ■ 54

Figura 80: Máximas distâncias do espectador em relação ao campo

do Estádio Green Point, Cidade do Cabo – África do Sul. Fonte: http://gmp-architekten.de/

Figura 81: Diagrama de máxima distância do espectador em relação ao campo. Fonte: FIFA, 2007.

Essa distância máxima de visualização exigida pela FIFA contribui para o conforto

visual tanto na realização de jogos quanto na realização de shows, pois os

espectadores vão ao estádio na pretensão de conseguir visualizar o mais nítido

possível todo o evento.

Page 63: Inovações tecnológicas na arquitetura de estádios - arenas esportivas multiuso

Inovações Tecnológicas na Arquitetura de Estádios: Arenas Esportivas Multiuso

Capítulo 5 – Estudos de Caso ■ 55

55 EESSTTUUDDOOSS DDEE CCAASSOO

Como estudos de caso para o presente trabalho optou-se pela análise dos estádios

AVIVA e Wembley, projetados e construídos para atender à prática do futebol, do

rugby e funcionarem como arenas esportivas multiuso. Além disso, esses estádios

contemporâneos destacam-se arquitetonicamente entre os outros por terem sido

construídos sob as mais avançadas tecnologias construtivas e terem sido projetados

segundo rígidos padrões de qualidade.

Page 64: Inovações tecnológicas na arquitetura de estádios - arenas esportivas multiuso

Inovações Tecnológicas na Arquitetura de Estádios: Arenas Esportivas Multiuso

Capítulo 5 – Estudos de Caso ■ 56

5.1 ESTÁDIO AVIVA

5.1.1 Dados técnicos

Local: Dublin, Irlanda.

Projeto arquitetônico: POPULOUS™ (liderado por Ben Vickery) e Scott Talon Walker

Architects.

Projeto estrutural: Buro Happold (liderado por Geoff Werran).

Início do projeto: 2007

Conclusão da obra: 2010

Capacidade: 50.000 espectadores (Todos os assentos são cobertos).

Dimensões do estádio: 47,65 metros de altura, 189,9 metros de norte a sul, 230

metros de leste a oeste.

Área total construída: 63.802 m².

Área da cobertura: 19.000 m².

Demolição: O antigo estádio Lansdowne Road foi inteiramente demolido em dois

meses. Cerca de 25.000 toneladas de concreto e alvenaria foram reutilizados como

material para enchimento da base na construção do novo estádio. Mais de 1,5

toneladas de aço do antigo estádio foi reciclada.

Construção:

5.000 toneladas de aço estrutural.

8.000 unidades de concreto pré-moldado.

72.000 toneladas de concreto moldado in loco.

1.600 estacas de fundação.

30.000 m² de paredes de bloco de alvenaria.

5.1.2 Solução arquitetônica

Anteriormente conhecido como Estádio Lansdowne Road (Figura 82), o mais antigo

estádio de rugby do mundo que sediou jogos a partir de 1878 na Irlanda, atualmente

teve sua arquitetura totalmente renovada e passou a se chamar Estádio AVIVA

(Figura 83). A revitalização buscou remodelar o estádio de modo a atender os novos

requisitos técnicos para as arenas esportivas internacionais e atender à prática do

futebol, do rugby e a realização de eventos culturais.

Page 65: Inovações tecnológicas na arquitetura de estádios - arenas esportivas multiuso

Inovações Tecnológicas na Arquitetura de Estádios: Arenas Esportivas Multiuso

Capítulo 5 – Estudos de Caso ■ 57

Figura 82: Antigo estádio Lansdowne Road

demolido para a construção do estádio AVIVA. Fonte: http://www.stadiumguide.com/

Figura 83: Vista aérea do Estádio AVIVA.

Fonte: http://www.pmg.ie/

O novo estádio está orientado no eixo norte-sul, diferentemente da antiga orientação

noroeste-sudeste do estádio Lansdowne Road (Figura 84). O estádio está situado

entre uma área residencial a norte, o rio Dodder ao leste e sul e pela linha férrea que

liga Dublin à Wexford a oeste (Figura 85). A construção de uma esplanada sobre a

linha de trem permite que os pedestres acessem o estádio por escadas e rampas.

Figura 84: Diagrama de situação mostrando em verde o estádio antigo e em azul a nova

situação.

Fonte: Architecture Ireland, 2010.

Figura 85: Perímetro da situação do estádio AVIVA.

Fonte: Architecture Ireland, 2010.

A forma curvilínea do estádio (Figura 86) foi o resultado da conciliação de uma série

de restrições definidas pelo entorno. Numerosas formas de bolha foram estudadas e

modeladas de modo a gerar o mínimo de impacto na vizinhança. Dessa forma, para

se chegar a um equilíbrio entre a implantação do edifício, a distribuição dos assentos

e a qualidade de visualização do espectador, os arquitetos chegaram à forma de uma

taça.

As arquibancadas sul, leste e oeste possuem quatro anéis de assentos; já no lado

norte, existe apenas um anel de arquibancada, pois a cobertura do estádio vai

diminuindo drasticamente de altura (Figura 87) para minimizar o impacto do estádio

sobre as edificações adjacente e permitir que elas recebam luz do sol.

Page 66: Inovações tecnológicas na arquitetura de estádios - arenas esportivas multiuso

Inovações Tecnológicas na Arquitetura de Estádios: Arenas Esportivas Multiuso

Capítulo 5 – Estudos de Caso ■ 58

Figura 86: Contraste entre a arquitetura residencial do entorno e a solução arrojada do

estádio AVIVA.

Fonte: http://www.ireland.com/

Figura 87: A altura do estádio no lado norte permite que as residências vizinhas recebam luz

do sol.

Fonte: Architecture Ireland, 2010.

A vedação da cobertura (Figuras 88, 89, 90 e 91) é composta por dois tipos de

policarbonato, cuja principal diferença é o grau de opacidade – fornecendo assim

uma gradação na sombra projetada no campo e evitando fortes contrates. Além

disso, a cobertura e a fachada translúcidas refletem a luz e as cores variáveis do céu

e permitem o máximo aproveitamento da luz natural.

Figura 88: Estudo mostrando o escoamento e a torção máxima dos painéis.

Fonte: SHEPARD; HUDSON, 2007.

Figura 89: Desenho mostrando o sistema de fixação dos painéis.

Fonte: SHEPARD; HUDSON, 2007.

Figura 90: Montagem da estrutura de fixação das placas de policarbonato sobre as treliças.

Fonte: http://www.flickr.com/

Figura 91: Reflexos da luz do céu sobre as placas de policarbonato.

Fonte: http://www.stwarchitects.com/

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Inovações Tecnológicas na Arquitetura de Estádios: Arenas Esportivas Multiuso

Capítulo 5 – Estudos de Caso ■ 59

Pelo desenho das fachadas (Figuras 92 e 93) é possível observar a escala do estádio

em relação ao entorno e a diferença de altura entre as elevações norte e sul.

O arquiteto Ben Vickery25 principal responsável pelo projeto do estádio AVIVA,

descreve o conceito do projeto:

Nós nos esforçamos para criar um estádio digno das ocasiões desportivas

que ocorrerão dentro dele, bem como criar um edifício que funcione em

harmonia com a comunidade local e o meio ambiente. O design arrojado da

cobertura do Aviva cria a imagem do céu caindo ao encontro do solo em

uma taça de cristal reflexivo.

Figura 92: Elevação leste do estádio AVIVA. Fonte: http://www.stwarchitects.com/

Figura 93: Elevação sul do estádio AVIVA. Fonte: http://www.stwarchitects.com/

Internamente os ambientes se dividem em seis níveis. O nível térreo consiste de

múltiplos acessos, com espaços de serviços e atendimento ao público - os acessos

dos jogadores e da mídia são separados.

Nos níveis 01 e 05 reúnem-se as áreas de verificação dos ingressos e estão abertas

ao exterior. As áreas VIPs localizam-se nos níveis 02, 03 (Figura 94) e 04. Sob as

arquibancadas ao sul localiza-se um restaurante com capacidade para atender até

650 pessoas.

A forma orgânica do estádio ditou a distribuição dos ambientes internos, localizados

mais internamente com as áreas de circulação mais próximas à fachada; assim

como as soluções estruturais e de vedação (ver cortes nas Figuras 95, 96, 97 e 98).

25

Informações obtidas através do site: < http://www.architecturefoundation.ie/>. Acesso em 05 de nov. 2010.

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Inovações Tecnológicas na Arquitetura de Estádios: Arenas Esportivas Multiuso

Capítulo 5 – Estudos de Caso ■ 60

Figura 94: Planta baixa do nível 03. (1) Acesso Premium, (2) Acesso geral para ingresso nas

arquibancadas, (3) Esplanada, (4) Escadaria, (5) Espaço com pé-direito duplo. Fonte: Architecture Ireland, 2010.

Figura 95: Corte transversal do estádio AVIVA mostrando os seis níveis sob as arquibancadas. Fonte: http://www.stwarchitects.com/

Figura 96: Corte longitudinal do estádio AVIVA mostrando as diferentes inclinações da cobertura. Fonte: http://www.stwarchitects.com/

Page 69: Inovações tecnológicas na arquitetura de estádios - arenas esportivas multiuso

Inovações Tecnológicas na Arquitetura de Estádios: Arenas Esportivas Multiuso

Capítulo 5 – Estudos de Caso ■ 61

Figura 97: Corte transversal do estádio AVIVA mostrando as estacas de fundação e as áreas

externas. Fonte: Architecture Ireland, 2010.

Page 70: Inovações tecnológicas na arquitetura de estádios - arenas esportivas multiuso

Inovações Tecnológicas na Arquitetura de Estádios: Arenas Esportivas Multiuso

Capítulo 5 – Estudos de Caso ■ 62

Figura 98: Corte mostrando as inclinações do pilar de sustentação e os painéis de vedação de policarbonato. Fonte: SHEPARD; HUDSON, 2007.

Além dos espaços necessários à prática esportiva (Figuras 99 e 100) e a realização

de eventos culturais, o estádio acomoda lojas, escritórios administrativos, além dos

seguintes espaços26:

18 bares (Figura 101).

16 restaurantes (Figura 102).

2 confeitarias.

36 camarotes corporativos com capacidade para até 850 pessoas (Figura

103).

1 Auditório com capacidade para 190 pessoas.

250 lugares reservados para pessoas com cadeiras de rodas, distribuídos

por todo o estádio.

Área para a imprensa com capacidade para até 400 jornalistas.

Sanitários adaptados para atender dias de jogos e eventos culturais.

Instalações médicas para atender espectadores e jogadores.

26

Informações obtidas através do site do Estádio AVIVA: <http://www.avivastadium.ie/>. Acesso em 05 de nov.

2010.

Page 71: Inovações tecnológicas na arquitetura de estádios - arenas esportivas multiuso

Inovações Tecnológicas na Arquitetura de Estádios: Arenas Esportivas Multiuso

Capítulo 5 – Estudos de Caso ■ 63

Figura 99: Vestiário dos jogadores. Fonte: http://www.stwarchitects.com/

Figura 100: Vestiário dos jogadores. Fonte: http://www.stwarchitects.com/

Figura 101: Bar em ilha com vista para o campo e pé-direito duplo. Fonte: http://www.stwarchitects.com/

Figura 102: Restaurantes com capacidade para atender até 650 pessoas.

Fonte: http://www.stwarchitects.com/

Figura 103: Espaço corporativo multifuncional com vista para o campo.

Fonte: http://www.stwarchitects.com/

O trabalho de especificação dos materiais e o esforço das equipes de projeto para

atingir um alto nível de qualidade no acabamento são notórios no estádio. Houve a

preocupação de especificar materiais de boa qualidade, boa resistência e de fácil

manutenção.

Nas circulações encontram-se acabamentos de piso em resinas na cor laranja e

cinza; já as vedações internas são geralmente de concreto aparente ou de paredes

em bloco de alvenaria (Figuras 104 e 105), fazendo referências aos fechamentos

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Inovações Tecnológicas na Arquitetura de Estádios: Arenas Esportivas Multiuso

Capítulo 5 – Estudos de Caso ■ 64

em alvenaria aparente das residências do entorno. Nos ambientes VIPs, encontram-

se materiais mais sofisticados, como painéis de madeira e metal nas paredes e

carpete nos pisos.

Figura 104: Os materiais nos acessos incluem

concreto aparente, piso de resina laranja e blocos de alvenaria com texturas cinza e laranja.

Fonte: http://www.stwarchitects.com/

Figura 105: Piso da circulação em resina cinza

e parede em concreto aparente com desenhos em tinta acrílica.

Fonte: http://www.stwarchitects.com/

Além de ser amplamente utilizado para jogos de rugby na Irlanda (Figura 106), o

estádio tem o campo com dimensões previstas para receber jogos de futebol (Figura

107) e também possui estrutura para a realização de shows e espetáculos (Figura

108).

Figura 106: Primeiro jogo de rugby no estádio

AVIVA entre os times Leinster e Munster em 2010.

Fonte: http://news.bbc.co.uk/

Figura 107: Jogo amistoso entre Argentina e

Irlanda no estádio AVIVA em 2010. Fonte: http://www.irishtimes.com/

Figura 108: Gramado do estádio AVIVA protegido por tablados de material plástico para realização do show do cantor Michael Bublé

em 2010. Fonte: http://www.irishtimes.com/

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Inovações Tecnológicas na Arquitetura de Estádios: Arenas Esportivas Multiuso

Capítulo 5 – Estudos de Caso ■ 65

5.1.3 Solução estrutural

A forma de taça do estádio, juntamente com vários requisitos de distribuição dos

ambientes internos foram os principais fatores no desenvolvimento da geometria das

estruturas dos pisos, das arquibancadas e da cobertura.

Devido à curvatura na fachada do estádio e a diferença de extensão na extremidade

exterior entre os pisos, optou-se por colunas de concreto de alta resistência –

bifurcadas no pavimento térreo (Figura 109) e inclinadas conforme sobem os

pavimentos.

A escolha pelas lajes de concreto tipo cogumelo (Figura 110) levou em consideração

os vãos e a forma orgânica do estádio, cuja solução em concreto pré-moldado seria

mais cara devido à produção de diferentes peças curvas - dificultando o processo de

pré-fabricação.

Porém, as peças de concreto pré-moldado foram utilizadas nos pisos das

arquibancadas e nos primeiros níveis do estádio. A estrutura de sustentação das

arquibancadas é constituída por pilares em perfil de aço que descarregam os

esforços nos pilares de concreto (Figura 111).

Figura 109: Colunas bifurcadas de concreto armado.

Fonte: http://www.streetsofdublin.com/

Figura 110: Lajes tipo cogumelo dos pisos e peças pré-moldadas de concreto.

Fonte: http://www.streetsofdublin.com/

Figura 111: Estrutura de sustentação das arquibancadas em perfis metálicos.

Fonte: http://www.skyscrapercity.com/

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Inovações Tecnológicas na Arquitetura de Estádios: Arenas Esportivas Multiuso

Capítulo 5 – Estudos de Caso ■ 66

Segundo Shepard e Hudson (2007) a fim de sustentar a cobertura sem necessitar

de colunas próximas ao gramado ou entre os espectadores, um sistema estrutural

de treliças venceu os grandes vãos requeridos e transferiram as cargas para as

colunas localizadas no perímetro do estádio.

O desenvolvimento da solução estrutural envolveu uma complexa e avançada técnica

de projeto utilizando modelos paramétricos, que permitiram uma solução estrutural

mais eficiente, atendendo a forma proposta na arquitetura.

O esquema resultante (Figura 112) é constituído por um sistema hierárquico de

treliças de aço, compreendendo uma treliça primária em forma de ferradura (anel

interno vermelho), treliças secundárias alinhadas radialmente de acordo com a

profundidade da arquibancada (diagonais radiais verdes) e uma treliça externa no

perímetro do estádio (anéis externos rosas). As treliças terciárias menores (linhas

radiais azuis) vencem os vãos radialmente a partir de colunas perimetrais da taça

(círculos pretos).

Figura 112: Vista superior do plano hierárquico estrutural. Fonte: SHEPARD; HUDSON, 2007.

No dimensionamento da inovadora treliça em forma de ferradura foi necessário levar

em consideração a visualização dos espectadores sentados na última fileira das

arquibancadas (Figura 113), além das análises dos Momentos fletores na

associação das treliças (Figura 114).

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Inovações Tecnológicas na Arquitetura de Estádios: Arenas Esportivas Multiuso

Capítulo 5 – Estudos de Caso ■ 67

Figura 113: A linha de visão do último assento está abaixo da treliça “ferradura”. Fonte: SHEPARD; HUDSON, 2007.

Figura 114: Diagrama de Momento fletor na treliça terciária. Fonte: SHEPARD; HUDSON, 2007.

Após a conclusão da estrutura das arquibancadas e da treliça perimetral, começou-

se a montar a estrutura da cobertura içando partes da treliça em ferradura a partir

das duas colunas de apoio localizadas na extremidade norte (Figura 115).

As treliças secundárias e terciárias foram montadas simultaneamente até que os

dois lados da estrutura se encontrassem na extremidade sul (Figura 116),

concluindo dessa forma a estrutura do estádio (Figura 117).

Figura 115: Imagem aérea do início da montagem da estrutura da cobertura. Fonte: http://www.flickr.com/

Figura 116: Içamento das partes das treliças e montagem simultânea da cobertura nos lados

leste e oeste do estádio.

Fonte: http://www.flickr.com/

Figura 117: Estádio concluído com vedação da cobertura e fachadas.

Fonte: http://www.stwarchitects.com/

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Inovações Tecnológicas na Arquitetura de Estádios: Arenas Esportivas Multiuso

Capítulo 5 – Estudos de Caso ■ 68

5.1.4 Equipamentos e dispositivos

Sistema de aproveitamento de águas pluviais com reservatórios inferiores

com capacidade para armazenar até 320 mil litros de água e irrigar o

gramado natural (Figura 118).

As escadas rolantes estão equipadas com sensores para garantir que só

funcionem quando as pessoas estão sobre elas.

Mictórios com acionamentos econômicos foram usados nos sanitários para

economia de água potável.

Cada gerador do estádio é equipado com radiadores e sistema de troca de

calor que permitem utilizar a energia que seria desperdiçada, para o

aquecimento de água utilizada nos banheiros e cozinhas.

Os assentos das arquibancadas são rebatíveis, facilitando a circulação dos

espectadores e evitando o acúmulo de sujeira (Figuras 119 e 120).

Figura 118: Campo com gramado natural.

Fonte: http://www.stwarchitects.com/

Figura 119: Assentos rebatíveis do estádio AVIVA.

Fonte: http://bigredbench.blogspot.com/

Figura 120: Os assentos rebatíveis facilitam a circulação dos espectadores no estádio.

Fonte: http://www.irb.com/totalrugby/

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Inovações Tecnológicas na Arquitetura de Estádios: Arenas Esportivas Multiuso

Capítulo 5 – Estudos de Caso ■ 69

5.2 ESTÁDIO WEMBLEY

5.2.1 Dados técnicos

Local: Londres, Inglaterra.

Projeto arquitetônico: Foster & Partners e POPULOUS™.

Projeto estrutural: Mott Stadium Consortium.

Início do projeto: 1996

Conclusão da obra: 2007

Capacidade: 90.000 espectadores (Todos os assentos são cobertos).

Dimensões do estádio: 133 metros de altura (altura do arco) e aproximadamente 1

km de circunferência.

Área total útil: 120.000 m².

Área da cobertura: 40.000 m², dos quais 13.722 m² são retráteis.

Construção:

23.000 toneladas de aço estrutural.

93.000 m³ de concreto.

4.500 estacas de fundação.

125.000 m² de paredes de bloco de alvenaria.

5.2.2 Solução arquitetônica

Originalmente construído para a Exposição Universal de 1924, o antigo estádio

Wembley (Figuras 121 e 122), com capacidade para 100.000 espectadores, foi

sede dos Jogos Olímpicos de 1948 e da final da Copa do Mundo de 1966. Muito

mais que um estádio, Wembley se tornou um símbolo para os ingleses como grande

casa da prática desportiva, sendo também palco de inúmeros concertos de rock e

outros eventos culturais.

Segundo Campanini (1950) os arquitetos Sir John Simpson e Maxwell Ayerton foram

escolhidos para projetar o estádio em 1923, devido a suas preferências pelo uso do

concreto, fato que evidencia a vanguarda modernista na Inglaterra.

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Inovações Tecnológicas na Arquitetura de Estádios: Arenas Esportivas Multiuso

Capítulo 5 – Estudos de Caso ■ 70

O desafio de reinventar o estádio de Wembley para o século XXI representaria

construir um novo edifício sobre esse patrimônio e ainda torná-lo um local que

atendesse as novas exigências para arenas esportivas multiuso, preservando a

importância do estádio para a sociedade inglesa.

Figura 121: Plano do Estádio Olímpico de Wembley, 1923.

Fonte: CAMPANINI, 1950.

Figura 122: Antigo estádio Wembley, inaugurado em 1924.

Fonte: http://www.worldleagueofamericanfootball.com

O arquiteto inglês Norman Foster, responsável pelo projeto do novo estádio, propôs

um edifício com cobertura atirantada e retrátil, parcialmente sustentada por quatro

mastros no lado norte do estádio (Figuras 123 e 124). O lado sul não teria os

mastros para maximizar o aproveitamento da luz do sol dentro do estádio e permitir

que o gramado recebesse luz solar por mais tempo.

Figura 123: Croquis da fachada para o novo estádio Wembley por Norman Foster.

Fonte: http://www.daapspace.daap.uc.edu/

Figura 124: Croquis da cobertura para o novo estádio Wembley e estudo solar.

Fonte: http://www.daapspace.daap.uc.edu/

Na evolução do partido arquitetônico, o arquiteto optou por substituir os quatro

mastros por um arco (Figuras 125 e 126), que além de representar uma ousada

solução estrutural para a cobertura, criaria um novo marco arquitetônico para a

cidade de Londres (Figuras 127 e 128).

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Inovações Tecnológicas na Arquitetura de Estádios: Arenas Esportivas Multiuso

Capítulo 5 – Estudos de Caso ■ 71

Figura 125: Novo croquis para a fachada do

estádio Wembley por Norman Foster. Fonte: http://www.daapspace.daap.uc.edu

Figura 126: Novo croquis da cobertura para o

estádio Wembley por Norman Foster. Fonte: http://www.daapspace.daap.uc.edu/

Figura 127: Desenho do arquiteto Norman

Foster do arco do estádio Wembley iluminado a noite.

Fonte: http://www.daapspace.daap.uc.edu/

Figura 128: O arco se destaca na paisagem de

Londres, podendo ser vistos de várias partes da cidade.

Fonte: http://www.daapspace.daap.uc.edu/

Parte da cobertura é suportada estruturalmente por um arco de 133 metros de

altura (quase quatro vezes a altura do antigo estádio) (Figura 129) vencendo um vão

de 315 metros, proporcionando a substituição icônica das antigas torres gêmeas.

Figura 129: Perfis mostrando a diferença de altura entre o antigo e o novo estádio Wembley. Fonte: http://www.daapspace.daap.uc.edu/

Além disso, a nova cobertura cobre aproximadamente uma área duas vezes maior

em relação ao antigo estádio e os painéis retráteis, se fecham totalmente em 60

minutos - abrigando por completo os 90.000 espectadores. Quando abertos

garantem que o gramado receba luz e ventilação suficientes para condições ótimas

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Inovações Tecnológicas na Arquitetura de Estádios: Arenas Esportivas Multiuso

Capítulo 5 – Estudos de Caso ■ 72

de manutenção, enquanto que em dias de chuvas, comuns em Londres, podem ser

fechados e cobrir todos os assentos.

O campo do estádio tem sua maior dimensão orientada no eixo leste-oeste (Figura

130). De acordo com FIFA (2007) a orientação ideal do campo é norte-sul, em sua

maior dimensão; que pode proteger os jogadores, os espectadores e os jornalistas

do ofuscamento causado pelo brilho do sol durante o período da tarde.

O estádio foi projetado para atender as necessidades da prática do futebol e do

rugby e sua geometria retangular arqueada e inclinação das arquibancadas

garantem que todos os espectadores tenham boas condições de visualização,

inclusive em dias de shows. Ver desenhos técnicos (Figuras 131, 132, 133, 134,

135, 136, 137, 138, 139, 140 e 141).

Figura 130: Planta de situação do Estádio Wembley. Fonte: http://www.constructalia.com/

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Capítulo 5 – Estudos de Caso ■ 73

Figura 131: Planta do nível B1 do Estádio Wembley. Fonte: http://www.constructalia.com/

Figura 132: Planta do nível B2 do Estádio Wembley. Fonte: http://www.constructalia.com/

Figura 133: Planta do nível S1 do Estádio Wembley. Fonte: http://www.constructalia.com/

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Capítulo 5 – Estudos de Caso ■ 74

Figura 134: Planta do nível S2 do Estádio Wembley. Fonte: http://www.constructalia.com/

Figura 135: Planta do nível S3 do Estádio Wembley. Fonte: http://www.constructalia.com/

Figura 136: Planta do nível S4 do Estádio Wembley. Fonte: http://www.constructalia.com/

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Capítulo 5 – Estudos de Caso ■ 75

Figura 137: Planta do nível S5 do Estádio Wembley.

Fonte: http://www.constructalia.com/

Figura 138: Panta do nível S6 do Estádio Wembley. Fonte: http://www.constructalia.com/

Figura 139: Desenho da cobertura do estádio Wembley. Fonte: http://www.fosterandpartners.com/

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Inovações Tecnológicas na Arquitetura de Estádios: Arenas Esportivas Multiuso

Capítulo 5 – Estudos de Caso ■ 76

Figura 140: Corte longitudinal do Estádio Wembley. Fonte: http://www.constructalia.com/

Figura 141: Corte transversal do Estádio Wembley. Fonte: http://www.constructalia.com/

As instalações foram projetadas de acordo com os mais rigorosos padrões de

qualidade e com especial atenção ao conforto dos usuários. Além dos espaços

necessários à prática esportiva (Figura 142) e a realização de concertos musicais, o

estádio acomoda lojas (Figura 143), espaços flexíveis para conferências (Figura

144), além dos seguintes espaços27:

34 bares (Figura 145).

688 pontos de vendas de bebidas e comidas (Figura 146).

162 camarotes corporativos com capacidade para até 2123 pessoas (Figura

147).

8 restaurantes (Figura 148) – incluindo um salão para banquetes com

capacidade para 2000 pessoas.

2618 sanitários em todo o estádio (Figura 149).

98 cozinhas.

Auditório para coletivas de imprensa com capacidade para 200 pessoas

(Figura 150).

27

Informações obtidas através do site oficial do Estádio Wembley: <http://www.wembleystadium.com/>. Acesso

em 08 de nov. 2010.

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Inovações Tecnológicas na Arquitetura de Estádios: Arenas Esportivas Multiuso

Capítulo 5 – Estudos de Caso ■ 77

310 lugares reservados para pessoas com cadeira de rodas e

acompanhantes, distribuídos por todo o estádio (Figura 151).

150 sanitários adaptados para atender pessoas com deficiência.

Figura 142: Vestiários dos jogadores do Estádio Wembley.

Fonte: http://portfolio.populous.com/

Figura 143: Loja de vestuários do Estádio Wembley.

Fonte: http://www.wembleystadium.com/

Figura 144: Grande Hall com capacidade para acomodar até 1000 pessoas sentadas em

conferências e outros eventos.

Fonte: http://www.fosterandpartners.com/

Figura 145: Mesas e cadeiras de um dos bares do Estádio Wembley.

Fonte: http://www.wembleystadium.com/

Figura 146: Um dos pontos de vendas de comida e bebida do Estádio Wembley. Fonte: http://www.wembleystadium.com/

Figura 147: Área VIP do estádio Wembley com vista para o campo. Fonte: worldinteriordesignnetwork.com/

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Inovações Tecnológicas na Arquitetura de Estádios: Arenas Esportivas Multiuso

Capítulo 5 – Estudos de Caso ■ 78

Figura 148: Restaurantes com capacidades

entre 500 e 2 mil pessoas. Fonte: http://portfolio.populous.com/

Figura 149: Uma das instalações sanitárias

para os espectadores. Fonte: http://www.wembleystadium.com/

Figura 150: Auditório para coletivas de imprensa.

Fonte: http://www.wembleystadium.com/

Figura 151: Espaços destinados a pessoas com cadeiras de rodas e acompanhantes.

Fonte: http://www.wembleystadium.com/

A grama natural do campo foi rigorosamente selecionada entre 250 espécies de

gramíneas (Figura 152), contendo a cada metro quadrado de gramado entre

150.000 e 200.000 lâminas foliares. O gramado foi instalado sobre 22.161

toneladas de materiais, em cinco camadas diferentes, tubulações de aquecimento e

drenagem (Figura 153).

Figura 152: Colheita do gramado do estádio Wembley no condado de Lincolnshire em 12

junho 2006. Fonte: http://www.wembleystadium.com/

Figura 153: Instalação do gramado natural no estádio Wembley em junho 2006.

Fonte: http://www.wembleystadium.com/

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Inovações Tecnológicas na Arquitetura de Estádios: Arenas Esportivas Multiuso

Capítulo 5 – Estudos de Caso ■ 79

O novo estádio Wembley foi projetado e construído para ser multiuso e atender a

realização de eventos musicais (Figuras 154 e 155), além da prática do rugby

(Figura 156) e do futebol (Figura 157). Sob as arquibancadas, existem grandes

salões providos de ambientes de apoio, como sanitários e cozinhas, permitindo que

esses espaços sejam flexíveis e atendam a uma variedade de eventos.

Figura 154: Dave Grohl da banda Foo Fighters em apresentação no festival de música Live Earth no Estádio Wembley, 2007. Fonte: http://www.abc.net.au/

Figura 155: Apresentação da banda Foo Fighters para 86.000 espectadores, em 6 jun.

2008 no estádio Wembley. Fonte: http://www.blu-ray.com/

Figura 156: Final do campeonato de rugby Challenge Cup Final 2009 entre Huddersfield e

Warrington no estádio Wembley.

Fonte: http://www.mcopley.co.uk/

Figura 157: Jogo de futebol entre Manchester United e Chelsea no estádio Wembley em 2009.

Fonte: http://www.guardian.co.uk/

Para a realização de competições olímpicas, uma plataforma em estrutura de aço

pode ser montada sobre o campo e o anel inferior de arquibancadas, de forma a

adaptar o centro do estádio às dimensões necessárias à prática do Atletismo. Essas

características fazem do Estádio Wembley uma das maiores arenas esportivas

multiuso construídas nos últimos tempos.

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Inovações Tecnológicas na Arquitetura de Estádios: Arenas Esportivas Multiuso

Capítulo 5 – Estudos de Caso ■ 80

5.2.3 Solução estrutural

Após a demolição do antigo estádio Wembley em março de 2003 (Figura 158),

começaram as obras do novo estádio Wembley com a construção das fundações e

dos núcleos rígidos (Figura 159) que iriam contraventar a estrutura metálica do

estádio.

Figura 158: Vista aérea do antigo estádio

Wembley sendo demolido em janeiro de 2003. Fonte: http://www.wembleystadium.com/

Figura 159: Construção das fundações e dos

núcleos rígidos do novo estádio Wembley em maio de 2003.

Fonte: http://www.wembleystadium.com/

Os pisos e as arquibancadas do edifício são estruturados basicamente por vigas e

pilares em estrutura metálica (Figura 160), com exceção dos pilares do pavimento

inferior que são de concreto armado. As lajes dos pisos são de concreto armado

(Figura 161) e os pisos das arquibancadas são de peças pré-moldadas de concreto

(Figura 162).

Figura 160: Montagem da estrutura metálica dos pisos sobre os pilares de concreto armado em novembro de 2003. Fonte: http://www.constructalia.com/

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Capítulo 5 – Estudos de Caso ■ 81

Figura 161: Concretagem das lajes do lado sul do estádio em abril de 2004. Fonte: http://www.wembleystadium.com/

Figura 162: Instalação das peças pré-moldadas de concreto das arquibancadas em maio de 2004.

Fonte: http://www.wembleystadium.com/

A cobertura do estádio Wembley (Figura 163) pesa 7000 toneladas sendo que 70%

desse total são sustentados por um arco de 133 metros de altura, tão alto quanto a

London Eye (famosa roda gigante da capital britânica) que tem 135 metros de

altura28.

O arco sustenta toda a parte norte da cobertura, 60% da parte sul e os painéis

retráteis. Um modelo reduzido (Figura 164) foi ensaiado em túnel de vento, na etapa

de projeto, para análise do comportamento estrutural sobre as cargas de vento.

Figura 163: Vista aérea da cobertura do

estádio Wembley. Fonte: http://www.wembleystadium.com/

Figura 164: Modelo do estádio ensaiado em

túnel de vento. Fonte: http://www.daapspace.daap.uc.edu/

Essa solução possibilitou que a cobertura do estádio vencesse um vão de 52 metros

sobre as arquibancadas, garantindo assim a inexistência de pilares como obstáculos

para os espectadores.

O arco está inclinado 60° ao norte em relação ao plano horizontal e vence um vão de

315 metros. Os outros 40% da carga da cobertura são transferidos pelas treliças

28

Informações obtidas através do site oficial do ponto turístico londrino: < http://www.londoneye.com/>. Acesso

em: 12 de nov. 2010.

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Inovações Tecnológicas na Arquitetura de Estádios: Arenas Esportivas Multiuso

Capítulo 5 – Estudos de Caso ■ 82

que formam uma cúpula em estrutura de aço sobre o estádio (Figura 165), que

transfere as cargas para uma treliça perimetral (Figura 166) descarregando na

estrutura metálica da arquibancada e em seguida nos pilares.

Figura 165: Vista interior do estádio mostrando a cúpula de treliças e a treliça perimetral. Fonte: http://www.fosterandpartners.com/

Figura 166: Primeira seção da treliça perimetral sendo unida às vigas de aço da arquibancada em agosto de 2004.

Fonte: http://www.wembleystadium.com/

O arco pesa 1750 toneladas de aço, suas partes foram fabricadas em 10 meses e

consistem de 504 tubos e 41 anéis de aço soldados in loco formando 13 módulos

de 7 metros de diâmetro e 20,5 metros de comprimento (Figura 167).

As peças das extremidades do arco são ligadas a dois vínculos articulados de 70

toneladas cada (Figura 168), formados por perfis de aço e concreto. Por sua vez

esse apoio descarrega toda a carga em fundações de 35 metros de profundidade.

Figura 167: Módulo da estrutura metálica do arco soldado in loco.

Fonte: http://www.wembleystadium.com/

Figura 168: Um dos vínculos articulados em concreto e aço.

Fonte: http://www.wembleystadium.com/

O arco foi todo montado no solo (Figura 169) e a operação de içamento levou seis

meses até que o arco ficasse na inclinação desejada. Toda a operação foi controlada

por computador para que o arco fosse elevado uniformemente em quatro etapas e

necessitou de cinco estações operacionais para tração dos cabos de elevação

(Figura 170) além de 80 trabalhadores.

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Capítulo 5 – Estudos de Caso ■ 83

Figura 169: Montagem do arco em novembro

de 2003. Fonte: http://www.wembleystadium.com/

Figura 170: Vista do oeste da estrutura de

içamento do arco em maio de 2004. Fonte: http://www.wembleystadium.com/

A estrutura em cúpula de treliças metálicas foi construída sobre 6000 toneladas de

torres provisórias de aço (Figura 171), que foram removidas quando as cargas de

suporte a tração foram aplicadas aos cabos permanentes do arco (Figura 172).

Figura 171: Estrutura provisória de sustentação das treliças da cobertura.

Fonte: http://www.daapspace.daap.uc.edu/

Figura 172: Peça de ancoragem dos cabos do arco na treliça perimetral.

Fonte: http://www.wembleystadium.com/

5.2.4 Equipamentos e dispositivos

26 elevadores e 30 escadas rolantes facilitam a circulação dos espectadores

dentro do estádio dando acesso inclusive aos segundo e terceiro anéis de

arquibancadas;

2 telões com tamanho aproximado a 600 vezes o tamanho de uma TV

comum ficam localizados nas extremidades leste e oeste do estádio (Figura

173).

Todos os assentos das arquibancadas são rebatíveis, facilitando a circulação

e a limpeza no estádio (Figura 174).

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Inovações Tecnológicas na Arquitetura de Estádios: Arenas Esportivas Multiuso

Capítulo 5 – Estudos de Caso ■ 84

Figura 173: Telão localizado na extremidade

leste do estádio Wembley. Fonte: http://www.wembleystadium.com/

Figura 174: Assentos rebatíveis instalados no

estádio em dezembro 2005. Fonte: http://www.wembleystadium.com/

5.3 CONSIDERAÇÕES SOBRE OS ESTUDOS DE CASO

Os estudos de caso foram de fundamental importância para este trabalho, pois

permitiram aprofundar a análise das inovações tecnológicas dos estádios

contemporâneos. A escolha pela análise dos estádios AVIVA e Wembley, construídos

sob as mais avançadas técnicas construtivas para serem arenas multiuso,

possibilitou compreender as soluções arquitetônicas e estruturais levando em conta

seus efeitos no canteiro de obras.

O levantamento de dados quantitativos relacionados às construções permitiu

compreender as dimensões e os custos que envolvem a obra de um estádio de

acordo com sua capacidade de público e usos.

Apesar de ambos os estádios possuírem usos múltiplos, com espaços para

realização de eventos culturais, restaurantes e espaços para conferências; a

diferença de 40 mil espectadores entre eles é representativa na escala final do

edifício e na demanda por espaços de apoio e de serviços para os espectadores.

Uma semelhança entre os estádios é o fato de ambos terem sido projetados para

substituir um estádio antigo com a necessidade de reconstruí-los sob as novas

exigências técnicas para a prática esportiva e a demanda por espaços de

entretenimento e serviços pela sociedade contemporânea.

Como exemplo, pode-se citar o fato de ambos terem coberturas que cobrem todos

os assentos, protegendo os usuários do ofuscamento pelo brilho do sol, do calor ou

da chuva. Ambas as soluções de cobertura atendem a atual recomendação da FIFA

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Inovações Tecnológicas na Arquitetura de Estádios: Arenas Esportivas Multiuso

Capítulo 5 – Estudos de Caso ■ 85

(Fédération Internationale de Football Association) para que todos os anéis de

arquibancadas sejam cobertos.

A reconstrução desses novos estádios, em centros urbanos consolidados, também

representou um fator determinante nas propostas arquitetônicas que tiveram suas

implantações definidas de acordo com as restrições e condicionantes do entorno, e

seus possíveis impactos na vizinhança.

Outro ponto importante identificado nos dois estádios foi a preocupação das equipes

de projeto de encontrar soluções estruturais que atendessem a arquitetura e ao

mesmo tempo facilitassem a construção do edifício através de um número

considerável de elementos pré-fabricados. Assim, são comuns nos dois estádios os

usos de estrutura metálica e pré-moldados de concreto.

Em relação aos materiais, é possível verificar que as especificações de acabamentos

nas etapas de projeto foram determinantes para atender a rígidos critérios de

qualidade e contribuir para aspectos referentes à manutenção dos estádios, o

conforto dos usuários e as intenções estéticas.

Quanto às estratégias de aproveitamento de recursos naturais, verificou-se que

foram mais utilizadas no estádio AVIVA, que possui sistema de aproveitamento de

águas pluviais, dispositivos controladores da vazão de água nas instalações sanitárias

e fachadas que permitem o aproveitamento da luz natural durante o dia.

Conclui-se que as inovações tecnológicas aplicadas aos estádios AVIVA e Wembley

contribuíram para atender aos requisitos de conforto dos usuários e para aumentar

a utilização dos edifícios. Além disso, possibilitaram a flexibilidade dos espaços, por

elementos móveis e grandes vãos; e a diminuição dos impactos ambientais da

construção pelo uso de elementos pré-fabricados, que diminuíram

consideravelmente o desperdício de materiais no canteiro de obras.

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Inovações Tecnológicas na Arquitetura de Estádios: Arenas Esportivas Multiuso

Capítulo 6 – Conclusão ■ 86

66 CCOONNCCLLUUSSÃÃOO

Neste capítulo pretende-se apresentar a conclusão deste trabalho através de

considerações finais sobre as informações levantadas e analisadas nos capítulos

anteriores, desenvolvidos durante a disciplina ARQ 398 – Trabalho de Curso

(Fundamentação). Também será apresentada a proposta de projeto, incluindo as

informações sobre o terreno escolhido, a contextualização do local, o programa e o

pré-dimensionamento. Por fim, tem-se o conceito para o projeto que será

desenvolvido na próxima etapa deste trabalho na disciplina ARQ 399 – Trabalho de

Curso (Proposição).

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Inovações Tecnológicas na Arquitetura de Estádios: Arenas Esportivas Multiuso

Capítulo 6 – Conclusão ■ 87

6.1 CONSIDERAÇÕES FINAIS

A tipologia de estádio passou por diversas transformações no decorrer da história

que, como analisado no capítulo 2, nos permite afirmar que ocorreram devido aos

avanços tecnológicos na arquitetura e às novas demandas funcionais para os

estádios.

Alguns momentos nesse processo de transformações foram significativos em

relação às inovações tecnológicas, dentre eles: os avanços na engenharia da

construção alcançados pelos romanos, que permitiram a verticalização da tipologia;

o emprego da estrutura de concreto armado na construção dos estádios do séc. XX,

que possibilitaram maiores vãos nas estruturas de cobertura e arquibancada; e o

aprimoramento das técnicas de construção no séc. XX, através do uso das

estruturas metálicas e das membranas tensionadas, que permitiram cobrir grandes

áreas com soluções mais leves e sofisticadas.

Em relação às novas necessidades funcionais da tipologia, têm-se como principais

determinantes: o surgimento do futebol e do rugby no século XIX, que intensificou o

processo de setorização e segregação espacial dos estádios; o início das

transmissões televisivas das partidas que representaram o fim de estádios

gigantesco e uma maior preocupação em atrair o público; e as novas diretrizes e

recomendações da FIFA para o projeto e a construção dos estádios

contemporâneos.

Essas novas exigências por parte da FIFA fazem parte de um processo de análise e

estudos sobre o funcionamento dos estádios já construídos e a identificação de seus

problemas. Assim, os estádios contemporâneos passam a ser projetados e

construídos de acordo com as recomendações da entidade de modo a atenderem a

rígidos critérios de segurança e conforto dos usuários.

Nesse sentido, para atender essas novas exigências funcionais, arquitetos e

engenheiros responsáveis pelo projeto de estádios contemporâneos passaram a

buscar nas inovações tecnológicas, os meios para alcançar tais objetivos. Dessa

forma, surgiram novas soluções estruturais para as coberturas; e a estrutura

metálica, por sua leveza e capacidade de vencer grandes vãos, foi eleita a solução

mais versátil até então.

Como analisado no capítulo 3, nos processos de construção dos estádios

contemporâneos foram amplamente utilizados os sistemas construtivos baseados

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Inovações Tecnológicas na Arquitetura de Estádios: Arenas Esportivas Multiuso

Capítulo 6 – Conclusão ■ 88

na pré-fabricação, utilizando os pré-moldados de concreto e os perfis de aço, que

evitam os desperdícios de materiais e reduzem o tempo de execução da obra.

Verifica-se também que as soluções em membranas de PTFE passaram a atender as

novas necessidades estruturais e de conforto dentro do estádio, pois reduzem

consideravelmente as cargas sobre a estrutura, permitem a passagem de luz

natural para o interior dos estádios e possuem um tempo de vida útil de até 50 anos,

que contribui consideravelmente para reduzir custos na manutenção do edifício.

Os avanços quanto às tecnologias em gramado artificial, as coberturas retráteis e as

arquibancadas móveis permitiram maior flexibilidade dentro dos estádios

contemporâneos na realização de shows e espetáculos, garantindo mais conforto

aos usuários, independentemente das condições climáticas e de utilização.

Dessa forma, a inserção de novos usos além da prática esportiva, como espaços de

entretenimento, espaços para conferências e serviços, possibilitam a utilização da

capacidade espacial dos estádios, como arquitetura de massas, e contribui

significativamente para sua viabilidade financeira.

Conclui-se que as inovações tecnológicas e os conceitos de arenas multiuso

possibilitaram aos estádios atenderem aos anseios da sociedade contemporânea,

por espaços para o lazer e o entretenimento, além de contribuírem para o

desenvolvimento das práticas esportivas tendo como prioridades a segurança e o

conforto de seus usuários.

6.2 PROPOSTA

A proposta consiste de uma arena esportiva destinada à prática do futebol e do

rugby na cidade de Nova Lima (Região Metropolitana de Belo Horizonte - MG), que

atenda a demanda regional por espaços para a prática esportiva e a realização de

eventos culturais.

Pretende-se também explorar no projeto o conceito de arena multiuso, prevendo

espaços flexíveis que possam ser utilizados para realização de conferências, show e

outros serviços; que possam ser utilizados tanto pelos espectadores em dias de

jogos quanto pela população em geral, como: restaurantes, cafeterias, lojas e bares.

Além disso, as recomendações e diretrizes da FIFA (Fédération Internationale de

Football association) e do IRB (International Rugby Board) serão levadas em

Page 97: Inovações tecnológicas na arquitetura de estádios - arenas esportivas multiuso

Inovações Tecnológicas na Arquitetura de Estádios: Arenas Esportivas Multiuso

Capítulo 6 – Conclusão ■ 89

consideração na etapa de projeto para conceber uma edificação dentro dos padrões

de qualidade, conforto e segurança para estádios contempor

6.3 TERRENO E CONTEXTO

O terreno localiza-se na cidade de Nova Lima - MG, na região sul da grande Belo

Horizonte, escolhido por está em uma das áreas de expansão urbana da capital

mineira. Possui aproximadamente 100.000 m² de área e sua escolha também levou

em consideração a localização do Estádio Gov. Magalhães Pinto (Mineirão) (Figura

175), ao norte da capital mineira, de forma a não gerar conflitos de fluxos e usos na

cidade.

Figura 175: Localização do terreno na região sul da região metropolitana

de Belo Horizonte – Minas Gerais, Brasil. Fonte: Google Earth /modificado pelo autor.

Margeando a rodovia BR 040, o terreno está situado ao lado da antiga fábrica de

cerveja da Skol (atualmente desativada) (Figuras 176 e 177) e a implantação do

projeto poderia representar um incentivo à revitalização da edificação,

transformando-a em espaço destinado a atividades culturais.

Page 98: Inovações tecnológicas na arquitetura de estádios - arenas esportivas multiuso

Inovações Tecnológicas na Arquitetura de Estádios: Arenas Esportivas Multiuso

Capítulo 6 – Conclusão ■ 90

Figura 176: Terreno localizado às margens da rodovia BR040 e ao lado da antiga fábrica da Skol. Fonte: Google Earth /modificado pelo autor.

Figura 177: Perspectiva da área de implantação. Fonte: Google Earth /modificado pelo autor.

Essa região apresenta uma forte tendência de crescimento urbano, com o

surgimento de novos empreendimentos imobiliários nos últimos anos e, além disso,

caracteriza-se como uma região muito utilizada pela população para a prática de

atividades esportivas e lazer.

Nas proximidades do terreno encontram-se: o campo de futebol Mário Lima (Figura

178), de propriedade do ex-jogador do Clube Atlético Mineiro Reinaldo; a Lagoa dos

ingleses (Figura 179), onde são praticados esportes como, wakeboard e triátlon; o

Minas Tênis Clube, complexo esportivo destinado a pratica de natação (Figura 180),

voleibol, dentre outros esportes; o Aeroclube 14 BIS, na serra da moeda, onde é

praticado vôos de parapente (Figura 181); a pista de pouso da Associação Mineira

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Inovações Tecnológicas na Arquitetura de Estádios: Arenas Esportivas Multiuso

Capítulo 6 – Conclusão ■ 91

de Aeromodelismo (Figura 182); além de estradas para a realização de

campeonatos de offroad (Figura 183).

Figura 178: Campo de Futebol Mário Lima, Nova Lima – MG.

Fonte: http://www.panoramio.com/

Figura 179: Etapa brasileira do Mundial de wakeboard 2010 na Lagoa dos Ingleses em

Nova Lima – MG. Fonte: http://globoesporte.globo.com/

Figura 180: Piscina olímpica do Minas Tênis Clube, Nova Lima – MG. Fonte: http://raia-quatro-blog.zip.net/

Figura 181: Vôo de parapente na Serra da Moeda, Nova Lima – MG, Fonte: http://www.overmundo.com.br/

Figura 182: Aeromodelos nas instalações da Associação Mineira de Aeromodelismo.

Fonte: http://www.amamg.org/

Figura 183: 3ª etapa da Copa Pegeout de rally de velocidade em 2008, Nova Lima – MG.

Fonte: http://oradical.uol.com.br/

Dessa forma, o estádio seria inserido em uma região já conhecida pela população

por suas atividades destinadas ao lazer e ao esporte; representaria um incentivo ao

desenvolvimento urbano da região, e poderia atender à realização de eventos

esportivos e culturais de forma satisfatória, devido a sua proximidade em relação à

capital mineira.

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Inovações Tecnológicas na Arquitetura de Estádios: Arenas Esportivas Multiuso

Capítulo 6 – Conclusão ■ 92

6.4 PROGRAMA E PRÉ-DIMENSIONAMENTO

Este programa e pré-dimensionamento foram organizados e calculados seguindo as

diretrizes e recomendações da FIFA (2007) e do IRB (2010).

Espectadores

Item Área (m²) Qtd. Total (m²)

Assentos 0,45 20000 9000

Sanitários femininos 50 16 800

Sanitários masculinos 50 16 800

Lanchonetes 40 16 640

Bares 50 4 200

Restaurante 300 2 600

Sala de assistência médica 40 4 160

Circulação 20% da área total 2440

Estacionamento (carros) 12,5 3333 41662,5

Estacionamento (ônibus) 50 167 8350

Total: 64552,5 m²

Campo

Item Área (m²) Qtd. Total (m²)

Campo (Futebol/Rugby + áreas auxiliares) =87 x 125m 9625 1 10875

Banco de reservas 30 2 60

Banco quarto e quinto árbitro 5 1 5

Área equipe médica 16 1 16

Total: 10956 m²

Jogadores e Árbitros

Item Área (m²) Qtd. Total (m²)

Vestiários masculinos para os times 150 2 300

Vestiários femininos para os times 150 2 300

Vestiário masculino para árbitros 30 1 30

Vestiário feminino para árbitros 30 1 30

Vestiários para gandulas 15 2 30

Área de aquecimento para os jogadores 100 2 200

Sala controle Anti-doping 36 1 36

Sala de assistência médica 50 1 50

Sala para técnico 30 2 60

Sala para delegados da partida 50 1 50

Túnel de acesso ao campo 90 1 90

Estacionamento para ônibus 50 2 100

Estacionamentos para carros 12,5 8 100

Circulação 20% da área total 275,2

Total: 1651,2 m²

Imprensa

Item Área (m²) Qtd. Total (m²)

Zona mista 200 1 200

Cabines de Transmissão 10 6 60

Central de mídia 75 1 75

Auditório para entrevistas coletivas 100 1 100

Assentos com mesa na arquibancada para imprensa 100 1 100

Sala para reparação de câmeras 30 1 30

Cafeteria 50 1 50

Circulação 20% da área total 123

Page 101: Inovações tecnológicas na arquitetura de estádios - arenas esportivas multiuso

Inovações Tecnológicas na Arquitetura de Estádios: Arenas Esportivas Multiuso

Capítulo 6 – Conclusão ■ 93

Estacionamento 12,5 150 6250

Total: 6988 m²

VIP

Item Área (m²) Qtd. Total (m²)

Assentos 0,45 2000 900

Restaurante e Bar 200 1 200

Banheiro feminino 50 2 100

Banheiro masculino 50 2 100

Sala de assistência médica 40 1 40

Circulação 20% da área total 268

Estacionamento 12,5 333 4165.5

Total: 4433,5 m²

VVIP

Item Área (m²) Qtd. Total (m²)

Assentos 0,8 500 400

Restaurante e Bar 200 1 200

Banheiro feminino 50 1 50

Banheiro masculino 50 1 50

Sala de assistência médica 40 1 40

Hall de cerimônias 100 1 100

Circulação 20% da área total 168

Estacionamento 12,5 100 1250

Total: 2258 m²

Administração

Item Área (m²) Qtd. Total (m²)

Recepção 10 1 10

Sala diretoria 20 1 20

Secretaria 25 1 25

Sala de reunião 25 1 25

Departamentos 30 6 180

Copa 1 15 15

Circulação 20% da área total 55

Estacionamento 12,5 15 187,5

Total: 517,5 m²

Apoio

Item Área (m²) Qtd. Total (m²)

Bilheterias 50 4 200

Área de verificação de Tickets e Crachás 50 8 400

Salas para lojas 50 10 500

Sala de Controle 30 2 60

Cabine controle de placar 10 1 10

Depósitos de materiais 100 2 200

Depósitos de equipamentos 100 1 100

Oficina de manutenção 100 1 100

Central elétrica 100 1 100

Vestiário masc. para funcionários 50 1 50

Vestiário fem. para funcionários 50 1 50

Circulação 20% da área total 354

Total: 2114 m²

Área total estrutural: 20449,2 m²

Área total do estádio (Estrutura e campo): 31405,2 m²

Área total de estacionamento: 62065,5 m²

Área total geral: 113919,9 m²

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Inovações Tecnológicas na Arquitetura de Estádios: Arenas Esportivas Multiuso

Capítulo 6 – Conclusão ■ 94

6.5 CONCEITO

A arquitetura para a nova Arena Esportiva Multiuso buscará referências formais na

singular topografia da região central do estado de Minas Gerais (Figura 184),

marcada pela sequência de montanhas da paisagem mineira que passou a ser

conhecida como: o mar de morros de Minas Gerais.

Figura 184: Vista da Serra da Moeda, Nova Lima – MG; paisagem característica da região do terreno. Fonte: http://www.panoramio.com/

A intenção é que a arquitetura simbolize o “retorno” de seus recursos minerais ao

seu local natural, através da utilização do aço das estruturas metálicas em

coberturas curvas que passam a fazer referências à paisagem local e sua

importância simbólica para a cultura Mineira.

O estádio seria inserido na paisagem de forma harmoniosa, utilizando as

propriedades de leveza e plasticidade das estruturas metálicas e das inovações

tecnológicas em materiais de vedação, criando transições suaves entre espaços

externos e a edificação.

Além disso, pretende-se explorar ao máximo as possibilidades de iluminação e

ventilação naturais para gerar ambientes agradáveis e confortáveis aos usuários,

desde os acessos até o campo.

O projeto para a arena esportiva multiuso irá seguir as recomendações da FIFA e do

IRB, de forma a atender as necessidades funcionais, de segurança e conforto para

edificações esportivas contemporâneas.

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Inovações Tecnológicas na Arquitetura de Estádios: Arenas Esportivas Multiuso

Capítulo 6 – Conclusão ■ 95

6.6 CRONOGRAMA PARA O PROJETO

Atividades Março/2011 Abril/2011 Maio/2011 Junho/2011 Julho/2011

1 2 3 4 1 2 3 4 1 2 3 4 1 2 3 4 1 2 3 4

Partido

Estudo

Preliminar

Anteprojeto

Detalhamento Memorial

descritivo

Preparação

das pranchas

Entrega e

Apresentação

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Inovações Tecnológicas na Arquitetura de Estádios: As Arenas Esportivas Multiuso

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE VIÇOSA

DEPARTAMENTO DE ARQUITETURA E URBANISMO

VIÇOSA – MINAS GERAIS

2010