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EXEMPLAR CORTESIA ANO 2 | N O 12 | AGO 2011 DE OLHO NO BRASIL Estudantes estrangeiros descobrem um novo País MAURÍCIO BORGES O presidente da Apex-Brasil fala sobre a nova política para exportação, baseada em inovação R$ 12,00 ANDRIS BOVO PLANO BRASIL MAIOR ENFRENTA A DESINDUSTRIALIZAçãO APEX-BRASIL/DIVULGAçãO

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Revista INOVA ed. numero 12

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EXEMPLARCORTESIA

ANO 2 | NO 12 | AGO 2011

De olho no BrasilEstudantes estrangeiros descobrem um novo País

maurício Borges O presidente da Apex-Brasil fala sobre a nova política para exportação, baseada em inovação

R$ 12,00

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pacto deinovaçãoplano brasil maior enfrenta a desindustrialização

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– É só enxergar o que está ocorrendo nas ruas e su-permercados. Na Europa e Estados unidos, o comércio está vazio. Europeus e americanos não enfiam a mão nos bolsos para nada. Não consomem nada. E, aqui, veja as ruas... Eles não estão interessados apenas em comprar a Schin para controlar 100% das cervejarias brasileiras. Eles querem cada centímetro do brasil...

Colhida em conversa de padaria, a observação empíri-ca do renomado publicitário Eduardo Fischer – recém chegado de viagem à Europa e Estados unidos –, a crise financeira de proporções ainda insuspeitas, está no centro dos desafios colocados aos brasileiros no fu-turo imediato. Ao mesmo tempo em que aparece como pesadelo, também motivou o governo da presidente dil-ma Rousseff a anunciar neste início de agosto o Plano brasil Maior. Resgatar a competitividade e a capacida-de de inovação da indústria brasileira, ameaçada pela invasão de importados, é o novo foco da política indus-trial do governo brasileiro e o objeto da reportagem especial desta edição.

“É como se fosse um incêndio na fábrica” alerta o deputado federal José de Filippi (PT/SP), na mesma reportagem, para justificar a necessidade de governo, empresários e trabalhadores repactuarem políticas que possam garantir competitividade e inovação para a in-dústria brasileira.

O calor desse “incêndio”, aliás, já vinha motivando sin-dicatos tradicionalmente atentos aos interesses dos trabalhadores, como o dos Metalúrgicos do AbC, a se mobilizarem em busca de alternativas para “apagar o fogo”. depois de inúmeras iniciativas de buscar o diá-logo com empresários e governo, em meados de julho, metalúrgicos decidiram ir às ruas para exigir providên-cias, ocupando a via Anchieta, em São bernardo do Campo, como mostra a foto de capa desta edição.

depois de incluir a palavra inovação no nome do Minis-tério de Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI) – e, por

extensão, tudo que ela representa – o ministro Aloizio Mercadante explica decisões estratégicas contidas no Plano brasil Maior, entre elas a capitalização da Finan-ciadora de Estudos e Projetos (Finep) e a criação da Embrapi, a Empresa brasileira de Pesquisas Industriais, a Embrapa da indústria.

Mas o Plano traz ainda outras iniciativas igualmente ou-sadas. Entre elas, pela primeira vez se fala em renúncia fiscal com contrapartida em investimentos em inovação e preservação de componentes da indústria nacional. uma pancada nas importadoras de automóveis. Outra medida de importância igualmente estratégica, embora possa ser considerada apenas como primeiro passo – ex-perimental – é a desoneração da folha de pagamentos.

O conjunto de decisões resumidas nestas páginas de INOvA, independente do que venha a representar de fato para a indústria brasileira, por si mesmo é um sinal extremamente positivo para o brasil. Com o Plano, a presidente dilma Rousseff mostrou que seu governo não está de mãos amarradas e dará continui-dade aos avanços conquistados durante os oito anos do governo Lula.

Sem deixar que o poder lhe suba à cabeça, e sem es-morecer diante do pessimismo e das contradições da mídia conservadora, ela vem enfrentando e superan-do obstáculos que normalmente imobilizam governos sem espinha dorsal.

Com isto, depois de seis meses de governo, tudo indi-ca que, sob o comando da primeira mulher presidente, o brasil vai continuar caminhando para um futuro de justiça social e desenvolvimento sustentável. É o que explica o fato de estar hoje entre os países que mais atraem inteligência internacional, como revelam as re-portagens do correspondente Flávio Aguiar e da repór-ter Rosangela dias.

O EdITOR

atraindo inteligência

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um mês antes das novas medidas: manifestação de metalúrgicos do AbC e de São Paulo

agosto 2011 | INOvA 5

ano 2 | no 12 | ago 2011

eXPeDienTe: INOVA é uma publicação da MIDIA PRESS Editora Ltda. INOVA não se responsabiliza pelos conceitos emitidos nos artigos assinados. Trav. Monteiro Lobato, 95, Centro São Bernardo do Campo Fone (11) 4128-1430 DireTor: Celso Horta (MTb 140002/51/66 SP) eDiTor: Sérgio Pinto de Almeida eDiTora assisTenTe: Sonia Nabarrete ParTiciParam DesTa eDição: Claudia Mayara, Clébio Cavagnolle Cantares, Joana Horta, Laís Correard, Maurício Thuswohl e Rosângela Dias. corresPonDenTe: Flávio Aguiar arTe: Ligia Minami TraTamenTo De imagens: Fabiano Ibidi DeParTamenTo comercial: Fone (11) 4335-6017 PuBliciDaDe: Jader Reinecke assinaTura: Jéssica D’Andréa imPressão: Leograf Tiragem: 25 mil exemplares

12 medidas do governo mexem com a indústria brasileira e podem provocar um salto de inovação

16 governo, trabalhadores e empresários enfrentam o desafio do futuro

a vez do plano maior

13dILMA ROuSSEFFtudo pela inovação: mais dinheiro, mais bolsas de estudo e novas políticas

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6 EntrevistaMAuRíCIO bORGESpresidente da apex-brasil avalia os entraves da exportação brasileira, a disputa com a china e o papel da inovação

20 PesquisaINOvAçãOpsicóloga conclui que inovação e criatividade acontecem mais em empresas nascentes

21 ProdutoOdONTOLOGIAo material que era usado apenas na construção civil vai parar na boca dos pacientes

22 InternacionalEduCAçãOo correspondente flávio aguiar conversa com estudantes alemães que só querem saber do brasil

25 IntercâmbioEduCAçãOa prática se inverte e os professores estrangeiros desembarcam no brasil

26 Política SocialSEGuRANçAno combate à criminalidade, estados do nordeste utilizam métodos da administração privada na gestão pública

28 InvestimentosAuTOMóvEISmontadoras instaladas no brasil encaram os chineses

29 TecnologiaPLáSTICOo plástico de origem renovável já está no mercado

30 SustentabilidadeLIXOtem quem não acredite, mas a usinaverde garante que transforma o lixo e não polui

33 TecnologiaTRANSPORTEsimulador de comboios fluviais treina técnicos no transporte de combustíveis

38 Ponto de vistaPATRICIA TAvARES MAGALhãES dE TOLEdOcom mais núcleos de inovação tecnológica, a parceria entre universidades e empresas fica muito mais fácil

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6 INOvA | agosto 2011

Maurício borges é Phd em direito

internacional e mestre em direito

comercial europeu pela universidade

de bristol, na Inglaterra. À frente

da Agência brasileira de Promoção de

Exportações e Investimentos

(Apex-brasil), tem a missão de ampliar a presença do produto

brasileiro no mercado internacional, apostando em

tecnologia e inovação. Mineiro, nascido em Patos

de Minas, foi coordenador de

inovação e gerente da área internacional da Agência brasileira de desenvolvimento

Industrial (AbdI) e gerente de comércio

exterior no Sebrae de São Paulo.

noVas rotas para as EXPORTAçõES bRASILEIRAS

entrevista maurício borges

Celso [email protected]

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INOVA – A sua presença na Apex-Brasil significa que o Brasil parou de exportar inteligências?Maurício Borges – Fui pesquisador, bolsis-ta da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes). Fui para o exterior e vivi essa realidade. Desde a dé-cada de 1990, os pesquisadores começaram a querer voltar para o Brasil. Você vê um re-torno e um aumento das parcerias e a troca está acontecendo cada vez mais. Há pouco tempo isso não acontecia porque não havia estrutura aqui. Hoje nós temos laboratórios, centros de pesquisa e alta tecnologia e os cen-tros de pesquisa internacionais estão buscan-do esses profissionais para fechar parcerias bilaterais, não apenas importando o pesqui-sador. Estive na Inglaterra e vi um centro de pesquisas, em Bristol, estudando a molécula da mandioca. Com recursos de fundos euro-peus, essa pesquisa está sendo estendida para um centro de pesquisas no Brasil.

INOVA – Segundo o discurso do empresariado brasileiro, é impossível enfrentar o mercado externo com as atuais taxas de juros e de câmbio. Como a Apex-Brasil responde a essa reclamação?MB – Juros e câmbio podem alavancar, mas não podem ser uma moeda de troca. A Ale-manha é hoje um dos maiores exportadores do mundo e sua mão de obra é muito cara. A Inglaterra é outro exemplo. Não sou in-gênuo, sei que existem outros fatores que pesam nessa balança, como investimentos, tecnologia, design e inovação, que fazem com que você se torne mais ou menos com-petitivo e supere essa questão (juros e câm-bio) ou outras.

INOVA – Antes de assumir a presidência, como gerente técnico e diretor de negócios, o senhor estruturou e coordenou os atuais Projetos Setoriais Integrados (PSI). Como definir as prioridades por setor?MB – Nós organizamos as ações por comple-xos – alimentos, bebidas e agronegócios; casa e construção civil; entretenimento e serviços;

máquinas e equipamentos e moda, tecnolo-gia e saúde. Dentro desses complexos, estão os setores. No de construção, por exemplo, você tem o moveleiro, o cerâmico, a infraes-trutura. A opção de organizar um complexo é poder oferecer um programa setorial inte-grado de apoio às empresas. Esses programas são bianuais e promovem as ações brasileiras em missões, rodadas de negócios e feiras. Esse agrupamento é uma forma estratégica de pro-moção comercial dos produtos e serviços do País. A moda hoje não é só o calçado, é a jóia, são produtos de maior valor agregado.

INOVA – Há a opção de priorizar setores que oferecem produtos com alto valor agregado?MB – Essa sempre foi uma opção da agência. Incentivar, buscar mais valor aos produtos brasileiros, por meio da agregação de tec-nologia. O setor de confecção, por exemplo, evoluiu muito e trabalha com nanotecnologia, softwares de corte ou construção de imagem.

INOVA – As multinacionais instaladas em território nacional, assim como as montadoras, não dispensam as ações da Apex-Brasil em suas políticas de exportação? MB – Você trabalha com a cadeia produ-tiva. É lógico que não temos de sustentar as multinacionais, mas elas reúnem um nú-mero muito grande de fornecedores, 100% nacionais. As autopeças, por exemplo, que desenvolvem tecnologia para empresas es-trangeiras com unidades aqui, podem tam-bém fornecer para outras empresas e outros países. Isso já está acontecendo. Uma ação que nós fizemos e vamos continuar fazendo é localizar novos mercados para essas em-presas e eliminar intermediários.

INOVA – Evitar intermediários é uma das formas de aumentar as exportações?MB – Sim. Nós descobrimos, por exemplo, que uma mangueira produzida aqui era comprada pelos Estados Unidos, beneficia-da lá e depois enviada para a África do Sul. Nós levantamos essa informação e a leva-

mos para a empresa produtora, que passou a dirigir diretamente esse negócio, sem o intermediário. A missão da Apex-Brasil é fazer essa comunicação acontecer.

INOVA – O que a Apex-Brasil tem a oferecer do ponto de vista de políticas de apoio à regionalização, no âmbito das exportações?MB – Existe uma série de políticas, não só no sentido da regionalização, mas apoio a setores que estão instalados em regiões que possuem, não só potencial exportador, como de crescimento, de competir no mercado in-ternacional. Temos o Projeto de Extensão Industrial Exportadora (Peiex), que visa à estruturação do potencial exportador. Nos próximos meses, vai ser instalado mais um escritório do Peiex na região do ABCD. Em 2010, a Apex foi escolhida pelo Internatio-nal Trade Center (ITC), da ONU, como a melhor agência de promoção comercial do mundo entre os países em desenvolvimen-to, e eu credito nossa premiação, em grande parte, a esse programa inovador.

INOVA – O que há de inovador no Peiex?MB – O programa leva uma ferramenta de apoio para as empresas que buscam expor-tar. Ele cria um processo de apoio contínuo, que começa mostrando quais são os passos a serem dados para que se tornem mais compe-titivas. Os empreendedores recebem o apoio de um instituto de pesquisa e de consultores, que fazem o diagnóstico da capacidade da empresa, e depois vão pensar nas atividades que essas empresas têm de realizar para atin-gir níveis de competitividade para a interna-cionalização. Os resultados do programa já são realidade. Você encontra em várias regi-ões do País, nos estados do Rio Grande do Sul e Minas Gerais, casos de empresas que passaram por essa experiência e que come-çaram a exportar, sejam elas microempresa, média, ou grande empresa. E nesse processo trabalhamos com mais manufaturas do que com commodities. São empresas de calçados, de móveis, de software.

agosto 2011 | INOvA 7

presidente da apex-brasil, entidade organizada durante o governo lula, maurício borges tem a missão de liderar as empresas brasileiras para que exportem mais e produtos com maior valor agregado

noVas rotas para as EXPORTAçõES bRASILEIRAS

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INOVA – Há uma crítica à dependência das commodities na balança comercial brasileira. Há alguma política de valorização de produtos manufaturados?MB – A gente não pode negar o peso e a importância que as commodities têm para o País. Mas temos que lembrar que, atrás das commodities, há muita tecnologia, pesquisa e desenvolvimento. Acredito que, agora, o Brasil vem conseguindo aumentar, talvez não ainda o desejável, suas exportações em termos de valor agregado. Hoje você tem a Embraer, que está entre os maiores exporta-dores brasileiros, e muitas que estão entrando no mercado. A partir de 1990, você percebe a presença de mais empresas com esse perfil. O setor de tecnologia da informação, liderando vários segmentos, como serviços bancários, exportação de games, softwares de jogos. Ou-tros exemplos são os segmentos das tecno-logias médico-odontológicas, calçadista, de defesa. Então já existe uma resposta.

INOVA – Como a Apex-Brasil pensa a estratégia de competitividade com a China?MB – Nós vemos a China como oportunidade. É um país com uma classe média de 300 milhões de habitantes, uma população classe A que, em 2015, deve chegar a 150 milhões e acho que hoje nós podemos fornecer para esses dois públicos. O setor calçadista, por exemplo, acabou de re-alizar uma missão empresarial itinerante, em Pequim, Xangai e Hong-Kong. Quatro empre-sários decidiram montar um showroom perma-nente. E esse trabalho todo começou com um estudo da Apex-Brasil que mostrava um mer-cado para empresas com produtos de alto valor agregado. A partir da informação comercial, eles decidiram se instalar no país.

INOVA – Mas existe o temor de que nossa indústria possa morrer antes de chegar à China...MB – Eu não posso ser competitivo no câmbio. Eu tenho que ser competitivo no design, na tecnologia, na inovação. O foco competitividade, simplificação dos proces-sos, toda essa política tem de ser direcio-nada. Existe uma nova política, que está sendo desenhada, e vai criar oportunida-des de exportações, porque eu vou traba-lhar com empresas mais inovadoras. INOVA – Qual mercado tem mais peso?MB – O mercado chinês está realmente crescendo muito. Mas há, por exemplo, uma demanda muito grande para a Áfri-ca, principalmente no setor de constru-ção, de alimentos e têxteis. Na época da crise, em 2008, enquanto o mundo reduzia importações, Angola crescia nos setores mais delicados, como moda. As exporta-ções cresciam mais lá do que no resto do mundo.

INOVA – E as relações de comércio com a América Latina? A atual configuração política ajuda?MB – Para alguns segmentos existem grandes parceiros na América Latina. O Uruguai, por exemplo, é um de nossos principais compradores de vestuário e confecções. A Colômbia está demandando cosméticos, jóias, calçados. E a atual con-figuração política ajuda, sim. Países como Cuba, Paraguai, Venezuela, que vêm pro-movendo o crescimento de suas classes médias, demandam produtos de maior va-lor agregado.

INOVA – Já alcançamos o respeito no mercado internacional pela qualidade de nossos produtos?MB – Nós identificamos que os parceiros internacionais olham determinados produ-tos brasileiros e se sentem seguros em com-prá-los. Como no setor médico-odontológi-co, o importador sabe que aquele produto passou por uma série de processos de segu-rança, que tem muita tecnologia embutida. Uma máquina de corte que é muito respei-tada por sua qualidade, assim como muitos outros produtos. E isso é resultado de uma política de oito anos, implantada pelo ex-presidente Lula. Hoje a presidente Dilma está dando continuidade a esse processo.

INOVA – A Apex-Brasil colaborou para a criação da Associação Brasileira de Biotecnologia (BrBiotec). Por que investir nesse segmento? Podemos exportar biotecnologia? MB – O Brasil já desenvolveu muita tecno-logia no campo da biotecnologia, tecnolo-gia reconhecida não só aqui, nas Américas, pela excelência. É um setor de ponta, capaz de alavancar as exportações em vários seg-mentos dentro do setor tecnológico, e que tem feito a diferença. Esse é um negócio potencial com a China. A BrBiotec é um produto bastante inovador, dirigido a pe-quenas e médias empresas que hoje estão fazendo um trabalho muito importante.

INOVA – O Brasil está fazendo investimentos na marca Made in Brasil?MB – Sim. Eu acredito que o governo federal esteja fazendo grandes investimentos para a marca Made in Brasil. A marca passou a ser utilizada e respeitada. Hoje as empresas sen-tem orgulho e segurança quando apresentam a etiqueta, o que há dez anos não acontecia. O empresário tinha receios em apresentar a origem brasileira. E esse Made in Brasil tem o reconhecimento em vários países por signi-ficar qualidade, tecnologia, sustentabilidade, segurança, confiabilidade.

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programe-seSETEMbRO

15 a 17 de setembro | ecoenergy | Feira Internacional de Tecnologias Limpas e Renováveis para Geração de Energia | No Centro de Exposições Imigrantes, em São Paulo, com exposição comercial, palestras e conferências sobre o tema. Informações: www.mundofeiras.com/ecoenergy

NOvEMbRO

3 a 5 de novembro | recicla nordeste 2011 | No Centro de Convenções do Ceará, em Fortaleza, sobre o tema “Reciclando a sustentabilidade”. Informações: www.reciclanordeste.com.br

16 a 18 de novembro | rio infra-Feira de Produtos e serviços para obras de infraestrutura | No Riocentro, no Rio de Janeiro, com participação de fabricantes de máquinas, equipamentos, acessórios, que mostrarão produtos, serviços e inovações. Informações: www.rioinfra.com.br

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notas

senador quer mais institutos tecnológicosA tese é do senador Cristovam Buarque (PDT-DF) e foi defendida em plenário: o Brasil precisa dar um salto que o transfor-me em produtor de bens com alto conteúdo de inteligência e o primeiro passo para isso é a “revolução na educação”. Para esse sal-to, Buarque sugere a criação de institutos tecnológicos, como o Instituto de Tecnolo-gia Aeronáutica (ITA), direcionados a seto-res de energia, biotecnologia, inteligência artificial, nanotecnologia, genética, desen-volvimento sustentável e telecomunicações, entre outros.Também propõe a criação de uma política salarial que fortaleça a pesquisa, permitindo que os “cérebros” do País se dediquem a ati-vidades no setor de ciências e tecnologia. O que não pode mais acontecer, segundo o se-nador, é o caso de um jovem que concluiu o doutorado em nanotecnologia na Bélgica e, de volta ao Brasil, por não encontrar traba-lho, resolveu prestar concurso para a Polícia Civil e a Polícia Federal.

inovação premiadaOito empresas selecionadas entre 24 finalistas receberam o Prêmio Nacional de Inovação con-cedido pela Confederação Nacional da Indústria (CNI) e pelo Movimento Brasil Competitivo (MBC). Um total de 427 projetos de 254 empresas fo-ram inscritos na competição, dividida em quatro categorias: Gestão de Inovação, Competitividade, Design e Desenvolvimento Sustentável.A Zenite Soluções de TI, de Recife, foi a ven-cedora na categoria Gestão de Inovação, na modalidade micro e pequena empresa. A in-dústria implantou melhorias nos processos de produção, como a instalação de um software para avaliar a produtividade, além de progra-mas que estimulam os empregados a atuarem de forma inovadora. Na modalidade média e grande empresa, a vencedora em Gestão de Inovação foi a Siemens, de São Paulo, empre-sa onde os processos inovadores ocorrem de forma sistematizada.O Prêmio Nacional de Inovação tem o apoio do Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT) e da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep).

empresários brasileiros na super feira de cantãoFederações de indústrias brasileiras estão montando verdadeiras caravanas para levar seus associados à Feira de Cantão, na China, que deverá acontecer no próximo mês de outubro. A feira será gigantesca e ocupará uma área de 1,13 milhão de metros quadra-dos, com um total de 57.136 estandes de 23.559 expositores. Dividida em três fases, a primeira delas é a mais procurada pelos brasileiros, ao concentrar os fabricantes de máquinas. Mas o interesse dos empresários vai além: aproveitando o dólar barato, eles também têm interesse em importar insumos e até mesmo produtos acabados.

mega parque tecnológico de u$s 10 bilhõesOutra grande atração da China é o Parque Tecnológico de TI. O parque está sendo erguido na província de Chengdu, no oeste do país, com investimentos de US$10 bilhões. Já existem 200 empresas, com cerca de 30 mil empregados instaladas no local. O projeto prevê ainda a construção de condomínios, com prédios residenciais, áreas de comércio e de lazer. Quando concluído, deverá ter 600 mil moradores.

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ação

oscar do design para dez brasileirosUm capacete inteligente para motoqueiros que permite a entrada de ar e evita emba-çamento da viseira. Um biombo que possibilita maior aproveitamento da madeira. Um biscoito em forma de mexedor de café. Estes são alguns produtos criados no Brasil e que foram contemplados com o prêmio International Design Excellence Awards, o Idea, por serem inovadores na fusão de praticidade, tecnologia e sustentabilidade. O melhor projeto do Brasil nessa premiação, promovida anualmente pela Industrial De-signers Society of America (IDSA), foi o projeto Fiat Mio, carro-conceito desenvolvido com base em uma plataforma aberta na web. O Fiat Mio ganhou bronze e o ouro da competição foi para o avião americano Boeing 787 Dreamli-ner, desenvolvido para proporcionar maior conforto aos passageiros, sem gerar desperdícios – por exemplo, a iluminação interna do aparelho é de LED, que imita as luzes reais do dia e da noite.

finep apoia 24 projetos inovadoresDe 140 empresas inscritas, 24 foram sele-cionadas para receber acompanhamento e apoio da área de investimentos da Finep, por meio do projeto Inovar. Os contemplados participaram do I Fórum Sul Brasileiro de In-vestimentos, promovido pela Federação da Indústria do Paraná, com participação das entidades de Santa Catarina e do Rio Grande do Sul e pela Associação Brasileira de Private Equaty & Venture Capital (ABVCAP). Foram escolhidas oito empresas de cada Estado. Participaram empresas classificadas em dois grupos, as nascentes, com faturamento anual de até R$ 5 milhões, e as crescentes, com faturamento anual entre R$ 5 milhões e R$ 35 milhões. Durante o evento, as empresas apresentaram seus negócios a investidores, na expectativa de receber apoio financeiro para a realização de seus projetos. No con-junto, esses projetos envolvem investimentos de R$ 86,5 milhões, em ideias inovadoras nascentes ou já em desenvolvimento.O fórum, realizado em Curitiba, no mês de ju-lho, foi o primeiro a contar com a participação da Financiadora de Estudos e Projetos Finep. “Desde o início do Inovar, temos consciência de que o sucesso e a sustentabilidade das nossas atividades de investimento e empreen-dedorismo estão relacionados com a redução da nossa atuação no mercado e é isto que vemos aqui”, disse Patrícia Freiras, superinten-dente da área de investimentos da Finep.Especialistas da Finep participaram da avalia-ção das empresas e seus projetos, oferecendo transferência de tecnologia, responsabilidade e expertise para os organizadores em todas as etapas do evento.

a mão como uma senhaAs 3.672 agências do Bradesco e toda a sua rede de autoatendimento no País estão aposen-tando a senha para adotar um sistema de bio-metria que lê a palma da mão do cliente. Fun-ciona como um scanner que captura o padrão da imagem vascular, única para cada pessoa. A biometria é uma das mais avançadas tecnolo-gias de segurança, substituindo as senhas com vantagens, segundo técnicos do banco.

réveillon em copacabana com sustentabilidadeA licitação para escolha da empresa que produ-zirá o tradicional réveillon de Copacabana, no Rio de Janeiro, vai exigir das concorrentes que apre-sentem projetos de sustentabilidade. Os projetos deverão conter propostas de soluções para redu-zir ou neutralizar a emissão de carbono e estimu-lar a reciclagem de lixo produzido na festa.O secretário municipal de Turismo, Antonio Pe-dro Figueira de Melo, explica a exigência como forma de inserção na Conferência das Nações Unidas para o Meio Ambiente e Desenvolvimento (Rio+20), a ser realizada na cidade em junho do ano que vem, duas décadas após a Rio 92.

dinamarca troca lixo por energia limpaA Dinamarca, que já processa 100% do lixo que produz, agora vai comprar resíduos de países do Norte e do Leste Europeu, como Alemanha e Polônia, para alimentar uma nova usina de pro-cessamento de lixo, em construção na capital, Copenhague. A usina, da cooperativa de Amargerforbraeding, será a segunda maior do país. O tratamento de lixo reduz a emissão de dióxido de carbo-no, principal gás responsável pelo aquecimento global, e produz biogás, usado na Dinamarca para aquecimento de casas, substituindo com-bustíveis fósseis.

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especial competitividade industrial Metalúrgicos do AbC e de São Paulo param

a via Anchieta: na defesa da indústria e

do trabalho

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crescimentoum plano para Virar o jogo e garantir o

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a manhã de 8 de julho, mais de 30 mil trabalhadores de empresas como Volkswa-gen, Ford, Scania, Toyota e Mercedes Benz, entre outras, fecharam por algu-mas horas a Via Anchieta,

na divisa entre as cidades de São Paulo e São Bernardo do Campo. O motivo era claro: pro-testar contra a perda de competitividade da in-dústria brasileira e o conseqüente risco que isso traz ao Brasil em termos de desindustrialização e diminuição de postos de trabalho. O ato em defesa da indústria nacional, organizado pelos sindicatos de metalúrgicos do ABC – filiados à Central Única dos Trabalhadores (CUT) – e de São Paulo – filiados à Força Sindical –, refletiu uma preocupação que hoje envolve governo, trabalhadores e empresários. O diagnóstico co-mum a todos é de que o setor produtivo brasi-leiro encontra-se enfraquecido em um contexto marcado pelas altas taxas de juros, pelo câmbio desfavorável e pela concorrência nem sempre leal em um mercado internacional, ainda forte-mente influenciado pela crise econômica global iniciada em 2008.

Em 2 de agosto, quase um mês após a ma-nifestação dos metalúrgicos, o governo federal lançou um pacote de ações e programas que promete ser o primeiro passo em direção a uma nova política industrial brasileira. Para tornar as empresas nacionais mais competitivas, o Pla-no Brasil Maior prevê, para os próximos dois anos, desonerações tributárias da ordem de R$ 24,5 bilhões e um maior incentivo aos investi-mentos em ciência, tecnologia e inovação. En-tre as principais medidas nesse sentido, estão o fortalecimento financeiro em R$ 2 bilhões da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), órgão subordinado ao Ministério da Ciência e Tecnologia (que oficialmente integrou Inova-ção ao seu nome), e a previsão de uma linha de crédito do BNDES destinado às empresas no valor de R$ 500 bilhões até 2014.

O governo convidou os trabalhadores a par-ticipar, por intermédio de seus sindicatos e das centrais sindicais, da gestão da nova política industrial brasileira como membros dos Conse-lhos de Competitividade Setorial. O convite foi feito pela presidente Dilma Rousseff durante uma reunião realizada no Palácio do Planalto, dois dias após o lançamento do Plano Brasil

Maior: “A presidente reafirmou seu compro-misso com a produção e o emprego. Acho que o movimento sindical saiu daqui satisfeito com o que ouviu”, disse o presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, Sérgio Nobre, pre-sente à reunião.

Na base do novo modelo de gestão da indústria, os Conselhos de Competitividade Setorial terão a participação dos empresários e serão subordina-dos ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Industrial, que também é tripartite. O governo prevê a criação de 25 conselhos, com destaque para o conselho do setor automobilístico, cuja perda de competitividade era apontada como um dos mais graves problemas pelos trabalhadores. Para aumentar o poder de fogo do setor, o novo regime tributário, criado pelo Plano Brasil Maior e confirmado pela Medida Provisória 540 editada pelo governo, prevê redução dos descontos de IPI até 2016 para as montadoras instaladas no Brasil que agregarem conteúdo nacional em suas pro-duções e investirem em inovação.

Nobre define a confirmação da participação dos trabalhadores na gestão da nova política industrial como “um golaço”. Ele foi um dos que mais se queixou da pouca participação dos sindicatos durante a elaboração do plano, mas reconhece que o governo procurou ser o mais discreto possível antes do anúncio oficial das medidas, de forma a evitar uma onda de especulações entre os setores da sociedade: “A participação nos conselhos, como reconheceu a própria presidente, foi conquistada pelas se-guidas mobilizações dos trabalhadores”, disse.

O sindicalista diz esperar que o conselho do segmento automobilístico “seja representativo, trazendo gente que conhece o setor, que vive o setor e que tem propostas”, e faz uma obser-vação: “É preciso ter poder de decisão e imple-mentação, como foi com a Câmara Setorial da Indústria Automobilística em 1992. Aquele espaço reuniu o que havia de melhor no setor, tanto pelo lado dos trabalhado-res quanto pelo lado dos empresários, e tinha poder de decisão e vontade de executar. Você discutia, bus-cava o consenso e implementa-va. Ideias como a do carro popular e a do carro flex nasceram ali.”

plano brasil maior é a grande aposta do governo para fortalecer a indústria nacional. abre perspectivas para a criação de uma nova política industrial e aumenta os incentivos à inovação

Maurício [email protected]

É urgente garantirmos condições tributárias e de financiamento adequadas para o estímulo aos investimentos produtivos e à geração de empregos”presidente dilma rousseff

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especial competitividade industrial

Enfrentamos problemas de logística, falta de infraestrutura, necessidade de uma reforma trabalhista e moeda sobrevalorizada artificialmente. Tudo isso ajuda a minar a competitividade da indústria brasileira”paulo skaf, presidente da federação das indústrias do estado de são paulo (fiesp)

concorrência deslealDurante a cerimônia de lançamento do

Plano Brasil Maior, a presidente Dilma Rousseff ressaltou a importância estratégi-ca das medidas anunciadas: “Hoje, mais do que nunca, é imperativo defender a indús-tria brasileira e nossos empregos da concor-rência desleal e da guerra cambial que reduz nossas exportações e, mais grave ainda, ten-ta reduzir o mercado interno que constru-ímos com grande esforço e com muita de-dicação. É urgente garantirmos condições tributárias e de financiamento adequadas para o estímulo aos investimentos produti-vos e à geração de empregos”, disse.

Ao comentar a aprovação pelo congresso norte-americano de um pacote de medidas que amplia a capacidade de endividamen-to dos Estados Unidos, coincidentemen-te ocorrida no mesmo dia da divulgação do novo plano para a indústria brasileira, Dilma foi enfática: “Dois de agosto poderá ter um significado especial para o Brasil e o mundo. A decisão do Congresso dos Es-tados Unidos evitará o pior, mas o mundo viverá um longo período de tensão econô-mica, resultado dramático da insensatez, da incapacidade política e da supremacia de ambições regionais ou corporativas de al-guns países sobre as necessidades globais”. A presidente afirmou ainda que “vivemos um período de turbulência e que o excesso de liquidez imposto pelos países ricos em direção aos países emergentes resulta em opressivo desequilíbrio cambial.”

Por sua vez, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, afirmou que fortalecer a indústria brasileira e dar a ela condições de competir no ambiente extremamente adverso que estamos vivendo hoje é o prin-cipal objetivo do plano: “O mundo está em crise, ela já se arrasta há mais de dois anos e os países avançados não dão sinais de resolução dos seus problemas. Pelo con-trário, temos visto nas últimas semanas os Estados Unidos à beira de um default, algo que nunca havia acontecido, e a União Eu-ropéia com problemas em alguns países e equacionando dívidas muito elevadas. Essa situação não vai melhorar, é uma continu-ação da crise financeira de 2008 e podemos esperar que continue nos próximos dois ou três anos, até que haja uma recuperação desses países.”

indústria mais forteSegundo Sérgio Nobre, o Brasil precisa

se unir em torno do plano lançado pelo go-verno: “Defender a indústria brasileira é de interesse de todos os brasileiros porque ne-nhum país, nenhuma sociedade no mundo que conseguiu erradicar a miséria e garantir o acesso da população ao ensino público e à universidade, que conseguiu universalizar a saúde e construir um sistema de previdência social eficiente, fez isso sem uma indústria muito forte e de alta tecnologia. O Brasil não vai alcançar os seus benefícios sociais, se não tiver uma indústria muito forte.”

Nobre aponta como “grandes adversá-rios” da indústria brasileira aqueles setores que ganham muito dinheiro sem gerar um posto de trabalho sequer: “Os bancos, por exemplo. Os importadores também, eles estão fazendo uma farra agora e ganhando muito dinheiro, importando coisas que po-deriam ser produzidas no Brasil”. Contra esse time, acredita o presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, a união com os patrões da indústria é de interesse nacional: “Por mais divergência que a gente possa ter com o empresariado brasileiro da indústria – e vamos ter novamente na próxima cam-panha salarial –, a produção nacional e a geração de empregos no Brasil é uma coisa que nos une. Não tem sentido nenhum não trabalharmos juntos nesse tema”, diz.

incêndio na fábricaO deputado federal José de Filippi (PT-

SP) afirma que a nova política industrial brasileira somente se tornará realidade se houver colaboração entre empresários e trabalhadores: “Os trabalhadores terão de se sentar à mesa com os industriais numa nova perspectiva, não mais na dicotomia entre capital e trabalho. Essa dicotomia não vai deixar de existir, mas os representantes dos dois setores vão ter que negociar. É aí que eu vejo um potencial muito grande. É

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como se fosse um incêndio na fábrica que, se acontecer, vai fazer com que o industrial perca sua fonte de lucros e de negócios e o trabalhador perca seu emprego. Somadas, a baixa produtividade e a necessidade de ino-vação imediata de nosso processo produtivo formam um pré-incêndio vindo pra cima da gente”, disse.

redução do custo-brasilEntre os empresários, também predomi-

na o apoio ao Plano Brasil Maior, como atestou o presidente da Confederação Na-cional da Indústria (CNI), Róbson Braga de Andrade: “Essa política reafirma o papel da indústria no desenvolvimento da econo-mia brasileira e prioriza a competitividade e a inovação na estratégia industrial. E, mais importante, ela inaugura um processo. É nossa convicção que a política industrial não se desenvolve em um dia apenas. Te-mos certeza que o trabalho começa hoje e estaremos juntos com o governo. Nós, da CNI, agradecemos pelas medidas anuncia-das, que apontam para uma indústria forte, competitiva e preparada para enfrentar não apenas a concorrência local, mas uma con-corrência internacional.”

O presidente da CNI, que chegou à Bra-sília para o ato de anúncio da nova políti-ca industrial acompanhado por mais de 50 presidentes de associações setoriais, afirmou que os “muitos desafios” que o País tem pela frente estão corretamente identificados pelo governo: “Precisamos enfrentá-los com sentido de urgência, para que possamos dar competitividade à nossa indústria neste mundo ainda em crise. As medidas anuncia-das nos dão a sinalização de uma direção muito correta: a redução do custo dos in-vestimentos no Brasil. A inovação aponta para o futuro, para o desenvolvimento de competências que serão a base de nosso de-senvolvimento sustentável”, disse.

O presidente da Federação das Indús-trias do Estado de São Paulo (Fiesp), Paulo Skaf, por sua vez, disse apenas que “como medidas iniciais, as ações anunciadas são positivas”. Skaf, no entanto, pede a aten-ção do governo para outros fatores: “Da porta da fábrica para dentro, as indústrias são modernas. Mas, da porta para fora en-frentamos problemas de logística, falta de infraestrutura, necessidade de uma reforma

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cialmente. Tudo isso ajuda a minar a com-petitividade da indústria brasileira.”

pacto nacionalO deputado federal José de Filippi afirma

que o Brasil deve aumentar sua poupança interna para que possa investir em duas áre-as que considera fundamentais: a educação básica e tecnológica e a pesquisa e inovação. Ele faz um alerta ao empresariado nacional: “É preciso, em curto prazo, conseguir agre-gar valor aos nossos produtos. As empresas privadas brasileiras precisam entender que é preciso investir em inovação, não podem ficar dependendo de tecnologia estrangeira. Os países mais desenvolvidos, que são alta-mente capazes de melhorar sua produtivi-dade por intermédio da inovação, têm uma grande participação da iniciativa privada, que compõe o conjunto dos investimentos nessa área sem esperar que apenas o setor público vá investir.”

Filippi defende um grande pacto nacio-nal: “É preciso investir para que as novas gerações possam ser muito mais sensíveis e preparadas para estar presentes na inova-ção do processo produtivo como um todo. É preciso que trabalhadores e empresários, com a ajuda do governo, possam desper-tar e desenvolver rapidamente políticas voltadas para isso, seja através de câmaras setoriais, ou de projetos como esse que o governo lançou de bolsas de estudo para cem mil jovens cientistas. É preciso criar no Brasil essa cultura da inovação, da cria-tividade e do saber fazer de forma mais racional e sustentável. Tenho muita espe-rança de que a gente vá transformar essa ameaça em uma grande realização.”

Ao término da cerimônia de lançamento do Plano Brasil Maior, a presidente Dilma Roussef mandou um recado para empre-sários e sindicalistas: “Os industriais e tra-balhadores podem ter certeza de que esse governo está do lado deles. Se nós não con-cebemos nosso desenvolvimento sem inclu-são social, também não o concebemos sem uma indústria forte, inovadora e competiti-va, sólida e geradora de renda e emprego. Esse conjunto de medidas constitui um passo inicial de um diálogo que o governo irá desenvolver com trabalhadores e empresários.”

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especial competitividade industrial

Temos uma nova lei que permite que o estado brasileiro pague até 25% a mais no preço se o produto que nós estamos comprando gera emprego, salário e inovação no brasil”aloizio mercadante, ministro da ciência, tecnologia e inovação

Cinco vezes mais recursos para a inovaçãoa multiplicação de recursos revela o compromisso do governo em traçar seu projeto de desenvolvimento econômico sustentado pela inovação. nessa tarefa, a financiadora de estudos e projetos (finep) terá papel fundamental, podendo se tornar um banco de fomento, parceiro de empreendedores

Nas palavras do ministro da Ciência, Tec-

nologia e Inovação, Aloizio Mercadante, o Plano Brasil Maior lançado pelo governo federal coloca “a área de ciência, tecnolo-gia e inovação como um eixo fundamental da nova política industrial e do projeto de desenvolvimento econômico do Brasil”. Essa valorização, segundo o ministro, tem como principal aspecto o fortalecimento da Finep como instrumento de fomento à ino-vação: “Nós tivemos no ano passado R$ 1 bilhão para subvenção econômica e crédito na Finep. Este ano, já tivemos no primeiro semestre um valor de R$ 3 bilhões e agora a presidente Dilma Rousseff está adicionan-do mais R$ 2 bilhões. Portanto, estamos falando de cinco vezes mais recursos do que

nós tínhamos no ano passado, o que mostra claramente o compromisso de aprofundar os esforços em direção à inovação.”

A nova musculatura da Finep deve ser o primeiro passo na direção de um objetivo prioritário para o MCTI, que é fazer com que até o final dos primeiros quatro anos de governo Dilma, a Financiadora possa transformar sua atuação e se tornar um banco de fomento, com participações nos moldes do BNDES-Par. Mercadante de-fendeu o papel da Finep: “Esse conjunto de medidas tem que estar associado a uma visão de longo prazo. Nós só seremos com-petitivos se formos capazes de inovar, se mudarmos a nossa cultura passiva diante da tecnologia. Temos que ter uma parceria criativa com o setor privado, porque no mundo dois terços das patentes vêm de lá, enquanto no Brasil ocorre o inverso.”

Outra novidade importante anunciada pelo ministro foi a mudança na política de compras governamentais: “Temos uma nova lei que permite que o estado brasileiro pague até 25% a mais no preço se o produto que nós estamos comprando gera emprego, salário e inovação no Brasil”. Essa regula-mentação ocorrerá especialmente em três setores: saúde, defesa e informática: “O au-mento da demanda da população por saúde está aumentando o nosso déficit comercial, que foi de US$ 12 bilhões no ano passado _ US$ 6,5 bilhões em fármacos e US$ 5,5 bilhões em equipamentos médicos. Agora, o SUS vai comprar prioritariamente aquilo que gera tecnologia, perspectiva de progres-so e emprego no Brasil”, diz Mercadante.

O mesmo procedimento será adotado pelo Ministério da Defesa, que vai priori-zar a compra de equipamentos produzidos no Brasil: “Muitas vezes, o soldado que sai da tropa vai ser um operário nas fábricas. Queremos investir e modernizar as nossas Forças Armadas com tecnologia desenvol-vida aqui e emprego gerado no Brasil”, diz o ministro, que também defende “um salto em termos de valor agregado e inovação na cadeia da informática e do setor de Tecno-logia da Informação e Comunicação.”

“O País começa a avançar em direção a um grande programa de inclusão digital, o Plano Nacional de Banda Larga. Pretende-mos permitir que 69 milhões de alunos do Brasil tenham acesso a um computador e à internet. Será um salto de qualidade no sistema educacional, mas isso tem que ser

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feito com conteúdo nacional. Esse poder de compra pode permitir que a gente traga uma indústria de semicondutores que só 20 países têm e uma indústria de displays que só quatro países têm”, conclui Mercadante.

embrapiNo dia seguinte à divulgação da nova

política industrial do governo, Mercadan-te cumpriu uma promessa anunciada pelo MCTI em junho e assinou, juntamente com o presidente da CNI, Róbson Braga de Andrade, o memorando de entendimen-to para a criação da Empresa Brasileira de Pesquisa Industrial (Embrapi). A nova empresa seguirá o modelo da alemã Frau-nhofer, que integra 60 centros de pesqui-sa de diversas áreas, e coordenará em sua etapa-piloto os trabalhos desenvolvidos em três instituições: Instituto de Pesquisas Tec-nológicas (São Paulo), Instituto Nacional de Tecnologia (Rio de Janeiro) e Centro de Excelência do Senai (Bahia).

Após a etapa-piloto, prevista para durar seis meses, será criada oficialmente a Em-brapi. A partir daí, o objetivo é ampliar o raio de ação da nova empresa para outros 30 centros de pesquisa brasileiros até 2014: “Queremos criar um padrão de gestão da inovação, uma metodologia de avaliação do trabalho dos institutos e um critério de cre-denciamento para futuros institutos. O que nos interessa é o desempenho, e os institu-tos vão receber por aquilo que realizarem efetivamente na área de inovação”, disse o ministro. O projeto de criação da Embrapi já recebeu R$ 30 milhões do orçamento do ministério este ano.

bolsas no exteriorSegundo o ministro, a primeira iniciativa

a demonstrar o compromisso do governo com a busca pela inovação foi o programa que concederá 100 mil bolsas de estudo “para colocar os melhores alunos do Bra-sil nas melhores universidades do mundo, especialmente nas áreas de ciências básicas, engenharias e áreas tecnológicas”. Merca-dante avalia que esse programa vai permitir também atrair pesquisadores de alto nível do exterior para atuar nas áreas estratégi-cas para a inovação tecnológica: “Precisa-mos de apoio dos empresários para ampliar o esforço que o governo vai fazer de 75 mil

bolsas e R$ 3,2 bilhões em três anos.”Esse apoio, segundo o presidente da

CNI, já está garantido: “A indústria se compromete com as outras 25 mil bolsas. Estaremos juntos nesse processo, capita-lizando com toda a indústria nacional”, disse Róbson Braga de Andrade. O empre-sário, no entanto, pediu que o governo crie um mecanismo para evitar que as pessoas beneficiadas pelas bolsas sejam cooptadas a continuar no exterior. O ideal, segundo Andrade, seria que os bolsistas pudessem voltar ao Brasil para um período mínimo que correspondesse aquele em que estive-ram estudando fora.

O presidente do Sindicato dos Metalúrgi-cos do ABC, Sergio Nobre, conta uma his-tória que ilustra o que representa a falta de qualificação profissional na indústria brasi-leira: “Eu fui recentemente visitar uma fá-brica da Volkswagen na Alemanha que tem 50 mil trabalhadores. Desse total, cerca de 15 mil estão na montagem de automóveis. Os outros 35 mil estão na engenharia e na gestão. No Brasil, na nossa categoria, nos últimos oito anos o emprego está crescendo numa média de 4% ao ano. Mas onde é o emprego? É na montagem. Não é na enge-nharia, no desenvolvimento da ferramenta-ria, no projeto, na gestão”, compara.

limiar de uma decisãoSegundo Nobre, é assim que se percebe

que o Brasil precisa ter um conteúdo na-cional maior em sua indústria automo-bilística: “Nós estamos no limiar de uma decisão: se nós queremos ter de fato uma indústria de automóveis e desenvolver au-tomóveis aqui ou se vamos nos transformar em um país importador de veículos, que é o caminho para onde nós estamos indo se as coisas não mudarem. Essa é uma decisão de Estado”, diz.

As montadoras transnacionais, segundo Nobre, mantém em seus países de origem tudo aquilo que tem inteligência e quali-dade: “Todos os países que avançaram na indústria automobilística, que são produ-tores e desenvolvem automóveis, têm uma montadora nacional. A Alemanha tem a Volkswagen e a Mercedes Benz, a Itália tem a Fiat, os Estados Unidos tem a General Motors, etc. Essas montadoras traçam uma estratégia a partir do seu país. A falta de uma montadora nacional é um dos proble-

mas que a gente sente no Brasil. O futuro da indústria automobilística brasileira não é decidido no Brasil, é decidido na matriz. Esse é um sintoma importante.”

Superar o gargalo da formação de mão-de-obra qualificada é o grande desafio, segundo o sindicalista, que afirma que a escolaridade entre os metalúrgicos tem avançado nos últimos anos: “Em 1994, metade da nossa categoria não tinha en-sino fundamental completo. Hoje, isso se transformou. Quase 60% tem o segundo grau completo e 13% já tem o superior completo. Agora, se nós queremos produ-zir coisas de alta tecnologia, a elevação da escolaridade por si só não resolve, é preciso ter uma qualificação técnica e profissional de boa qualidade”, diz.

escola tÉcnica federal no abcd

Nobre usa o exemplo de sua região: “O ABCD tem universidades importantes, que são reconhecidas internacionalmen-te. Mas elas são privadas e a mensalidade custa R$ 1,2 mil. Qual o trabalhador que pode pagar um negócio desses? A gente vê com tristeza o Sistema S, tão importante para os metalúrgicos e que possibilitou inclusive ao ex-presidente Lula ser tornei-ro-mecânico e ter sua profissão. Apesar de receber recursos públicos, o Senai agora cobra pelos cursos. Hoje, o Lula não po-deria seguir sua profissão e chegar aonde chegou. Temos que pegar uma parte con-siderável da carga tributária brasileira e investir pesado em ciência e tecnologia, investir na estruturação das escolas téc-nicas no Brasil e garantir o acesso dos trabalhadores à qualificação de maneira gratuita ou que pelo menos seja barata e esteja ao alcance deles.”

Os metalúrgicos do ABCD apresentaram ao governo a proposta de criação de uma escola técnica federal na região: “Também estamos trabalhando para ter uma esco-la técnica própria do sindicato, para fazer esse tipo de formação, o que não é bara-to. Para levar escolaridade, você precisa de professor, lousa e cadeira. Mas, para fazer formação técnica, você tem que ter labora-tórios, máquinas, equipamento moderno. Tudo isso custa muito caro, daí a necessida-de de haver investimento público pesado”, diz Nobre.

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Essa medida (a desoneração da folha) vai estimular o emprego e combater a informalidade. Além disso, terá impacto neutro na Previdência, que será compensada com uma dotação do Tesouro. Todos os setores desejam a desoneração da folha. Estamos começando e vamos prosseguir nesse caminho nos próximos anos”guido mantega, ministro da fazenda

Brasil Maior: um plano de urgência para virar o jogoestimular a produção, o investimento e a inovação, defender a indústria e o mercado interno, e estimular a exportação e a defesa comercial, esses são os eixos do plano para conferir maior competitividade à indústria nacional

Principal razão do lançamento do Plano Brasil Maior pelo governo federal, a perda de competitividade da indústria brasilei-ra se exprime em números. Há cinco anos, segundo o Sistema Integrado de Comércio Exterior (Siscomex), o País registrava em sua balança comercial um superávit de US$ 5,3 bilhões no segmento de produtos indus-trializados. No ano passado, no entanto, a realidade, já sob os efeitos da crise interna-cional, era muito diferente e apontava para um déficit de US$ 71,1 bilhões. Ou seja, entre 2006 e 2010, a indústria nacional per-deu espantosos US$ 76,4 bilhões para seus concorrentes estrangeiros.

Em 2011, a tendência continua. Dados relativos ao primeiro semestre mostram um déficit de US$ 29,5 bilhões no segmento de produtos industrializados. A produção industrial em junho, coincidentemente di-vulgada pelo IBGE no mesmo dia do lan-çamento do Plano Brasil Maior, teve queda de 1,6% em relação a maio. O recuo foi re-gistrado em 20 dos 27 setores pesquisados, e foi mais sentido nos produtos semiduráveis e não duráveis (-2,4%), nos bens de consumo (-2%) e nos bens de capital (-1,9%). Segundo o IBGE, esses números estão em queda cons-tante desde outubro do ano passado.

Para reverter essa situação, o governo ela-borou um plano com medidas estruturadas em três linhas: estímulo à produção, investi-mento e inovação; defesa da indústria e do mercado interno; e estímulo à exportação e à defesa comercial. As mudanças têm sete di-retrizes: inovação (criar novas competências tecnológicas e de negócios, levando o Brasil à ponta em setores estratégicos), maior investi-mento (aumentar a eficiência do parque pro-dutivo e nivelá-lo à concorrência mundial), adensamento produtivo (inovar em métodos, parâmetros e incentivos), comércio exterior, qualificação profissional, produção sustentá-vel e competitividade das micro e pequenas empresas (MPEs).

folha de pagamentosA medida mais aguardada pelos indus-

triais brasileiros, a desoneração da folha de pagamentos, foi confirmada pelo governo. Ela acontecerá em projetos piloto realiza-dos em quatro setores com forte compo-nente de mão-de-obra intensiva e folhas de pagamento elevadas: confecções, calçados, móveis e softwares. A ideia é transferir par-te dos 20% da tributação de INSS para o faturamento das empresas. As alíquotas negociadas foram de 2,5% para o segmen-to de softwares e de 1,5% para os demais, e significarão uma renúncia fiscal estimada em R$ 7 bilhões.

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“Essa medida vai estimular o emprego e combater a informalidade. Além disso, terá impacto neutro na Previdência, que será compensada com uma dotação do Tesouro. Vamos criar um grupo de acompanhamen-to, formado por trabalhadores, empresários e governo, para analisar a sua aplicação em outros setores. Todos os setores desejam a desoneração da folha. Estamos começando e vamos prosseguir nesse caminho nos pró-ximos anos”, disse o ministro da Fazenda, Guido Mantega.

O plano também determina a prorroga-ção até dezembro de 2012 da desoneração do IPI em três segmentos (bens de capital, materiais de construção e caminhões e veí-culos comerciais leves), com renúncia fiscal estimada em R$ 8 bilhões. Outra medida é a redução de 12 meses para zero do prazo de utilização dos créditos do PIS/Cofins para bens de capital. Com aplicação imediata, essa apropriação terá, segundo o governo, um impacto favorável de aproximadamente R$ 8 bilhões no caixa das empresas.

programas de financiamento

O Plano Brasil Maior prevê também a reativação de antigos programas de finan-ciamento, como o Programa de Capital de Giro (Progeren) e o Revitaliza II, geridos pelo BNDES e voltados ao capital de giro para diversos setores (têxtil, softwares, bens de capital, calçados, confecções, artefatos de couro, autopeças, caminhões, tratores e máquinas, prestação de serviços e tecnolo-gia da informação). O banco estatal promo-verá, ainda, um aumento do financiamento para investimentos com juros reduzidos através da ampliação do Programa de Sus-tentação do Investimento (PSI), prorrogado até dezembro de 2012. Aos programas se-rão destinados montantes de R$ 10 bilhões (Progeren) e R$ 7 bilhões (Revitaliza II), com taxas entre 9% e 13% ao ano e prazo de até 36 meses.

Mantega anunciou ainda que, a partir de agora, todos os bancos públicos brasileiros só poderão financiar projetos com conte-údo local e geração de empregos no País: “O BNDES já fazia isso, mas outros ban-cos não. Agora, serão obrigados a fazê-lo. Esse programa vai forçar o conteúdo na-cional”, disse o ministro. A ação dos ban-cos terá o reforço da Finep, que teve R$ 2 bilhões adicionais anunciados para sua carteira de 2011 e distribuirá recursos do Programa de Estímulo à Inovação: “Esta-mos aumentando o raio de ação da Finep para estimular a inovação tecnológica e a competitividade da produção brasileira”, disse Mantega.

O governo também anunciou um pro-grama especial de incentivo tributário para premiar a inovação, o aumento de valor agregado, a produção de conteúdo local e o desenvolvimento tecnológico no país: “Começaremos com a indústria au-tomobilística, tendo em vista a concorrên-cia que existe hoje nesse segmento, mas o programa será ampliado para outros se-tores”, disse Mantega, acrescentando que estão assegurados os regimes automotivos regionais e também os acordos de com-plementaridade firmados com Argentina e México.

estímulo às exportações

Outra medida tributária adotada pelo go-verno é o Programa Reintegra, de estímulo ao setor exportador. Será gerado um crédito presumido de IPI acumulado na cadeia de exportação do setor manufatureiro, que ex-porta hoje cerca de R$ 85 bilhões. O governo concederá um crédito de 3% sobre o valor exportado. Válida até dezembro de 2012, essa medida tem vigência imediata, com iní-cio do pagamento em 90 dias. Seu objetivo principal é acelerar a devolução dos créditos de PIS e Cofins na exportação, acumu-lados em R$ 19 bilhões.

Outras metas até 2014Durante a divulgação do Plano Brasil Maior, o governo federal anunciou algumas metas com o objetivo de aumentar a competitividade da indústria brasileira até 2014:

Elevar os gastos privados em inovação, pesquisa e desenvolvimento tecnológico de 0,59% para 0,9% do PIB;

elevar de 30,1% para 31,5% a parcela de indústrias produtoras de conhecimento e alta tecnologia;

aumentar a qualificação dos trabalhadores brasileiros com pelo menos o nível médio de 53,7% para 65%;

ampliar em 50% o número de micro e pequenas empresas inovadoras, de 37 mil para 58 mil;

aumentar investimento em capital fixo de 18,4% para 22,4% do PIB;

expandir a participação brasileira no comércio exterior de 1,36% para 1,6%;

aumentar o número de domicílios urbanos com acesso à banda larga de 13,8 milhões para 40 milhões.

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pesquisa mostra resistência das empresas consolidadas no mercado

mpresas nascentes inves-tem mais em inovação. Essa constatação faz par-te de um estudo elaborado pelo Instituto de Psicolo-gia da Universidade de São

Paulo (USP), que avaliou a importância da criatividade humana no mundo dos negó-cios. A psicóloga Lisete Barlach, autora da pesquisa, afirma que a criatividade e a ino-vação são temas próximos, porém diferen-tes. Por exemplo, um catavento de criança e uma usina eólica têm o mesmo princípio de funcionamento. A ideia de transformar um catavento em uma usina é criativa. Já inovação é o ato de investir em pesquisa, desenvolver a usina e conseguir pessoas que patrocinem esse empreendimento, é trans-formar a ideia em realidade”, explica.

O interesse da pesquisadora pelo assunto teve início durante seu mestrado, quando ela investigou como as pessoas desenvolvem ideias criativas para lidar com situações ad-versas. “Alguém com uma doença terminal pode desenvolver uma solução criativa para viver o resto da vida com qualidade, apesar da doença”, exemplifica Lisete.

Para este novo estudo, defendido como tese de doutorado no ano passado, Lisete analisou seis das 20 entrevistas realizadas com empreendedores que criaram novos negócios no Centro de Inovação, Empre-endedorismo e Tecnologia (Cietec), a incu-badora de empresas da USP. Ela observou que a maioria dos novos empreendedores havia tentado vender seu projeto em gran-des empresas (como intraempreendedores), que resistiram em levá-los adiante. Uma das entrevistadas, uma engenheira química que trabalhava como gerente de projetos em uma indústria de adesivos, decidiu de-senvolver produtos ecologicamente corre-tos, sem substâncias tóxicas na composição. “A empresa recusou sua proposta, alegando

que o tempo e o custo para produção se-riam muito altos. Ela então pediu demissão e abriu uma pequena empresa para viabili-zar sua ideia e acabou prosperando”, afir-ma a psicóloga.

ambidestria organizacional

A partir das entrevistas, Lisete Barlach observou que a inovação e a criatividade são mais bem aceitas em empresas nas-centes, porque as que já estão inseridas no mercado de uma maneira sólida têm a ten-dência de não identificar aquilo que é novo. “O motivo principal é o que chamamos de ambidestria organizacional, ou seja, o fato de uma empresa precisar manter aquilo que já conquistou e, ao mesmo tempo, inovar permanentemente para não ficar para trás e sair do mercado”, conclui.

Romeo Busarello, diretor de Ambientes Digitais, Inovações e Relacionamento com Clientes da construtora Tecnisa, tem um lema curioso para o assunto: “Repetir é preciso, inovar não é preciso. Quando você repete uma prática, ela se torna precisa, efi-caz, sem risco. Quando ousa inovar, não há precisão, pode dar certo ou não, é um ris-co”, exemplifica.

Busarello tem colhido bons resultados na Tecnisa, a primeira construtora a ven-der imóveis através do iPhone, do Twitter e a realizar negócios, inclusive, pela fer-ramenta virtual Second Life. “Inovação é fruto de muita teimosia e tem um custo. Quem trabalha com isso precisa ir muito além do combinado. Implica em investi-mentos. O gasto é certo, a receita é uma esperança. A empresa precisa também de alguns requisitos: cultura, estrutura, pro-cesso, pessoas, recursos e estratégia. Do contrário, não dá”, avalia o executivo da Tecnisa. (CC)

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um catavento de criança e uma usina eólica têm o mesmo princípio de funcionamento: a ideia de transformar um catavento em uma usina é criativa. Já inovação é o ato de investir em pesquisa, desenvolver a usina e conseguir pessoas que patrocinem esse empreendimento, é transformar a ideia em realidade”lisete barlach, psicóloga e autora da pesquisa

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cimento refratário: material da construção civil serve para a odontologia

luminato de cálcio é o nome do material que tem tudo para provocar uma verdadeira revolução em procedimentos dentários: vai cortar à metade os cus-

tos de tratamento de canal. Com vantagens estéticas, também.

Trata-se de um cimento refratário muito utilizado na construção civil, e que, sob a marca comercial de EndoBinder, está em fase de registro na Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e poderá estar no mercado, em ampla escala, antes do final deste ano.

O projeto nasceu de pesquisas da Faculdade de Odontologia de Ribeirão Preto (Forp), que faz parte da Universidade de São Paulo (USP). Também é desenvolvido pela Universidade Fe-deral de São Carlos (Ufscar), com tecnologia transferida para a empresa privada Bindware.

A professora Fernanda Panzeri Pires, coor denadora das pesquisas e responsável pelo Laboratório de Análise de Biomate-riais da Forp, diz que o EndoBinder é mais eficiente, biocompatível e barato que o simi-lar atual no mercado. “As características do material permitirão tratamentos odontoló-gicos de melhor qualidade, a um preço mais acessível para os pacientes”, afirma.

Na história do cimento, um capítulo à parte é o da divulgação. Segundo a professora, quan-do o fabricante do material a procurou para desenvolver pesquisas para validação do pro-duto, o laboratório não dispunha de radiopaci-ficador, o equipamento que permite ao dentis-

ta ver a imagem dos canais tratados. “Fizemos vários testes até definirmos o radiopacificador ideal e nosso trabalho foi publicado no periódi-co internacional de maior impacto no setor, o Journal of Endodontics”, conta a professora.

Obtido o equipamento, começou a fase dos testes mecânicos, cujo objetivo era com-provar a resistência do material. Agora, o estudo está em fase de publicação em um periódico da área de cimentos, o Advances in Applied Ceramics.

A bateria de testes para validação do produto foi realizada em dentes de ratos, suínos e bovinos. “O material teve melhor resultado no selamento de perfurações den-tárias radiculares, causadas por cárie ou traumas.O teste foi muito satisfatório tam-bém na recuperação do tecido, pois causa menor inflamação”, avalia Fernanda.

diferentes usosOutro benefício do EndoBinder é causar

menos manchas nos dentes. Segundo a pro-fessora, o material hoje no mercado, ao final de um ano, apresentou aspecto acinzentado, enquanto o EndoBinder não mostrou dife-rença visual na aparência do dente, durante o mesmo período.

O produto agora passa por testes para outras finalidades. “Por se tratar de um material bastante versátil, estamos traba-lhando para que tenha características de manipulação de modo a permitir outros usos na odontologia. Além dos tratamen-

produto odontologia

da construção para o dentetos endodônticos, espera-se que possa ser indicado para tratamentos restauradores, como o de proteção da polpa do dente antes de sua restauração final”, adianta a coordenadora.

Chegar a esse novo material comprova a importância da aliança entre empresa e uni-versidade: “ambas trabalhando juntas para desenvolver produtos melhores, com mais tecnologia. Isso é prova de que o Brasil tem um nível de ciência semelhante ao de países desenvolvidos”, ressalta Fernanda.

E Hebert Rossetto, representante da Bind-ware, diz ter sido importante o suporte do governo para o desenvolvi-mento desse projeto e de outros similares. No caso do cimen-to, houve apoio do Conselho Nacional de Desenvolvimen-to Científico e Tec-nológico (CNPq), no âmbito do Pro-grama RHAE, e da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep). (CC)

Resultado de parceria entre empresa e universidade: novo produto vai para o mercado até o final deste ano

a professora fernanda garante: tratar canal vai ficar muito mais barato

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22 INOvA | agosto 2011

– Mario Schenk.Como é costume na Alemanha, Mario, aten-

dendo ao telefone, diz o nome, que aqui se es-creve sem acento.

– Olá, Mario. Aqui é o Flávio. Nós nos encon-tramos no Instituto Latino-Americano da Freie Universität-Berlin. Você me falou que está pen-sando em se mudar para o Brasil. Gostaria de entrevistá-lo sobre isso.

Mario resiste um pouco. Diz que não “é um caso típico”. Não vai se mudar para o Brasil por razões econômicas. Insisto:

– Não importa, não estou atrás de “casos tí-picos”, nem de estatísticas. Isso a gente conse-gue em outro lugar. Estou atrás de uma história de vida. Quero saber como o Brasil entrou na sua vida e como você chegou a essa ideia, de se mudar para lá.

Afinal, Mario concorda. Marcamos um encon-tro num dos cafés da Universidade Humboldt, na antiga Berlim Oriental. Mario me conta a sua história. Nasceu em Potsdam, na antiga Alema-nha Oriental, em 1981. Vai fazer 30 anos. Seus pais trabalhavam com música e literatura. Seu pai dirigia um coral, uma banda. Graças a isso, ao contrário da maioria dos cidadãos da Alema-nha comunista, conseguiam viajar com facilida-

de para o exterior. Isso, conta ele, o ajudou a abrir seus horizontes desde cedo. Diz também que seus pais participaram do movimento pela abertura na Alemanha Oriental, no fim da déca-da de 80, mas que ficaram decepcionados com o resultado: queriam democratizar o regime, não o fim do socialismo. Enfrentaram tempos duros. Depois da queda do Muro de Berlim, em 1989, perderam seus empregos, tiveram de trabalhar em outras atividades durante 20 anos, até recu-perarem suas antigas funções.

Ainda no Colégio, por estímulo do avô, Mario passou um tempo no Uruguai, pois estudava espanhol, língua que fala muito bem. Quando entrou no ensino superior, depois da queda do Muro, estudou História Contemporânea na Freie Universität, que no começo foi patrocinada pe-los norte-americanos, em Berlim Ocidental, e Estudos de Gênero na Universidade Humboldt, do antigo lado oriental. Movido pela curiosidade que vinha da infância, valeu-se da possibilida-de comum na Alemanha para começar a viajar pelo mundo. Ao invés de fazer o Serviço Mili-tar, os jovens podem fazer um Serviço Social. E a Alemanha estimula os jovens a estudar e se formar – durante algum tempo – no exterior. Escolheu o México, onde morou em Tijuana, na

INTERNACIONAL | educação

fláVio aguiar correspondente em berlim

[email protected]

cresce o interesse sobre o país entre os estudantes, as salas lotam e até a novela américa atrai

Os velhos clichês – praia, mulheres, futebol e carnaval – continuam a atrair, mas além deles o País apresenta outros valores para quem quer estudar e viver aqui

Os estudantes alemães de olho no Brasil

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agosto 2011 | INOvA 23

fronteira com os Estados Unidos, estudando, entre outras coisas, o tráfico de drogas.

Nessa altura, com esses interesses, vincu-lou-se ao Instituto Latino-Americano (LAI) da FU-Berlin, onde começou a estudar português. Ganhou – estimulado pelo pai – uma bolsa para o Brasil, “para estudar um novo idioma.”

– Para mim o Brasil era uma terra incógni-ta. Não era América Latina. Ir para o Brasil era preen cher um branco no meu mapa, diz ele.

Foi para São Paulo. E aí o Brasil virou uma opção. Por quê? Mario diz que há uma questão fundamental: “uma mulher é uma mulher”. Ou seja, ele encontrou o amor da sua vida. Mas houve mais, esclarece.

fim dos clichêsApesar do trânsito de São Paulo e do custo

de vida, coisas que o assustam, até que ele se adaptou muito bem. Conseguiu fazer tudo o que pretendia, em termos dos estudos, que realizou sobretudo na USP. Vai defender o doutorado em Berlim, mas tem planos para vi-ver no Brasil, trabalhar numa ONG, quem sabe no ramo editorial ou no ensino superior.

– O Brasil me deu uma “orientação”. Em Ber-

lim, eu me via disperso. O Brasil está vivendo um momento de mudança sócioeconômica e isso é muito atraente. A imagem que se tem hoje do Brasil na Alemanha mistura leveza e grandeza. Os velhos estereótipos (praia, mulhe-res, futebol, carnaval) estão cedendo espaço, outras imagens estão emergindo. Nesse senti-do, o Brasil é um país que eu ainda não captei, e isso me atrai.

a noVela “amÉrica”Mudança. De novo, essa é uma palavra

chave para Ullrich Farias, outro estudante ale-mão, ligado ao LAI, que também pretende mu-dar-se para o Brasil, em especial, para o Rio de Janeiro. Também me encontrei com ele na Universidade Humboldt. Ullrich nasceu e cres-ceu em Emmendingen, perto de Fraiburg, na Floresta Negra, no sul da Alemanha, em 1974. Seu pai era uruguaio e a mãe, alemã (essa história daria uma novela, mas deixemo-la para outra ocasião). O pai era linguista e a mãe, professora na área de literatura e cultu-ra. Ullrich foi pelo mesmo caminho. Estudou espanhol e inglês. Passou uma temporada na Inglaterra, no King’s College, voltando-se para

os Latin American Studies. Morou em Barce-lona e, com a mãe, viajou por vários países da América Latina, inclusive o Brasil, ainda criança.

Queria ser professor de línguas: além do espanhol e do inglês, alemão. Com os conta-tos do pai, passou um tempo no Uruguai. Mas como Mario, começou seu contato mais siste-mático com a América Latina pelo México, e acabou... no Brasil.

– Desde sempre eu pensava num traço de união entre as Américas: a anglo, a hispano e a brasileira. Numa viagem ao Brasil, para visitar uma namorada que eu tinha, assisti a telenovela “América” e fiquei fascinado. Aca-bei ficando seis meses.

Tão forte foi a atração, que Ullrich acabou fa-zendo sua tese de doutorado, defendida no LAI em julho de 2011, sobre “O imaginário social da telenovela brasileira”, aprovada com louvor.

A primeira namorada ficou para trás. Ele agora tem outra namorada brasileira, mas está cons-ciente de que a opção pelo Brasil veio antes.

– Morar no Rio significou uma paixão. Sim, havia um pouco de clichê nisso, mas não só. É mais fácil a gente se integrar no Brasil do que em outros países, especialmente da América

cresce o interesse sobre o país entre os estudantes, as salas lotam e até a novela américa atrai

Os estudantes alemães de olho no Brasil

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na visita à namorada brasileira, ullrich farias encontra a razão para estudar o país: a novela “américa”

mario schenk e as descobertas sobre o brasil: da terra incógnita ao ponto branco preenchido no mapa

Vinte anos ensinando português aos alemães e a gaúcha zinja zievell constata: o brasil virou atração

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24 INOvA | agosto 2011

Latina. É claro que o País tem uma série de deficiências, inclusive na educação. Mas isso está mudando, há muita mudança no ar, até mesmo na educação, nesse momento mais recente. Isso atrai. Abre possibilidades profis-sionais, posso ser professor de línguas, posso pensar em algo na universidade, por exemplo.

Ullrich deixa claro que também optou pelo Brasil por uma questão de qualidade de vida: adora praia e calor humano. E isso, afirma, ele encontrou no Rio. Morou também em São Pau-lo, conheceu outras cidades, como Porto Alegre, Fortaleza, mas nada se compara, para ele, com a capital carioca. Além disso, a sua namorada vive no Rio de Janeiro.

Ele ressalta que vários amigos seus pensam em ir para o Brasil. Um deles, de nome Fabian, já foi. Queria conhecer a América Latina. Come-çou pelo Rio: foi, viu e ficou. Estudou na Uni-versidade Gama Filho, formou-se, e vai fazer o mestrado a partir deste ano.

Por sua vez, Mario Schenk ressaltara na sua conversa ter descoberto que o intercâmbio com o Brasil, na Alemanha, é bem antigo e muito ex-tenso. Ele disse que não sabe muito bem por quê, mas na Alemanha ele nota uma “abertura incon-dicional” para o Brasil por parte de muita gente.

português “do brasil”

Vivendo na Alemanha há mais de 30 anos, a gaúcha Zinka Ziebell foi professora de portu-guês de ambos, Ullrich e Mario, no LAI. Zinka veio para a Alemanha muito jovem, ainda na casa dos 20, por causa de uma paixão e um casamento. Enviuvou, mas ficou. Professora de português há quase 20 anos, deu aulas em algumas universidades alemãs, como a Universidade Tecnológica de Berlim e a Uni-versidade de Bremen. Hoje é professora de português brasileiro no Centro de Línguas da FU e leitora da Embaixada Brasileira no LAI.

– Há vinte anos, os estudantes que iam para o Brasil participavam de programas de ajuda ao desenvolvimento. Isso é que dava o tom – até um tanto paternalista – desse inter-câmbio. Hoje não é mais assim. O português

do Brasil era ensinado praticamente só no LAI. Hoje isso mudou radicalmente. O interesse é muito maior e mais diversificado. Muitos estu-dantes buscam o Brasil para fazer ou auxiliar sua formação. Antes isso acontecia com ou-tros países da Europa, ou os Estados Unidos. Hoje os estudantes querem ir para fora desse círculo, e o Brasil tornou-se atraente.

Ela assinala que logo depois da queda do Muro de Berlim, muitos programas de coopera-ção com o Terceiro Mundo entraram em crise ou em colapso – como os com a África. O próprio LAI passou por uma crise (“pensamos que po-deria fechar”), mas sobreviveu e o intercâmbio se reestruturou em novas bases. Segundo ela, isso se deve também a uma maior presença do Brasil em todas as frentes.

– Recentemente, houve um dia dedicado ao intercâmbio universitário na FU. Havia três salas: uma dedicada ao “Mundo”, outra à Aus-trália, e a terceira, tão cheia quanto as outras, ao Brasil. Dos BRICS, os países que chamam mais a atenção dos estudantes são o Brasil e a China: muitos estudantes preferem o portu-guês do Brasil e o chinês, em todas as univer-sidades. Agora, há muitos estudantes que vêm do antigo Leste europeu. E o Brasil também passou a ser uma opção de intercâmbio e de destino para eles. No LAI, uma das instituições mais importantes é o novo Centro de Pesqui-sas do Brasil, que se tornou uma referência nesse campo.

Muitas outras histórias como essas de Ma-rio e Ullrich, no quadro pintado pela profes-sora Zinka, podem acontecer, agora que o go-verno brasileiro anuncia uma disposição mais intensa quanto à cooperação internacional, tanto no sentido de enviar estudantes para o exterior quanto no de trazer alunos e profes-sores de fora para os institutos de pesquisa. É claro que o foco principal desse interesse está nas ciências e na tecnologia. Mas, se esse é o carro-chefe dos programas a serem criados ou reforçados, sempre sobra um pouco de com-bustível para todas as áreas da pesquisa uni-versitária. Esse pouco pode definir destinos, num momento em que o Brasil redesenha seu perfil internacional.

Muitos estudantes buscam o brasil para fazer ou auxiliar sua formação. Antes isso acontecia com outros países da Europa ou os Estados unidos. hoje os estudantes querem ir para fora desse círculo, e o brasil tornou-se atraente”zinka ziebell, professora de português na alemanha

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na universidade federal do abc, mais de 10% dos docentes vieram de outros países

Rosângela [email protected]

rofessores de diversos can-tos do mundo têm voltado suas atenções para o mer-cado acadêmico brasileiro e os motivos para esse au-

mento de interesse vão desde o crescimento do desemprego em seus países de origem até a expansão dos investimentos do governo federal na área de pesquisa.

De olho na demanda de mão de obra alta-mente qualificada, o Ministério de Ciên cia, Tecnologia e Inovação anunciou a abertura de concurso público em 2011, para atrair profissionais estrangeiros, interessados em investir em sua carreira no País. “O Brasil hoje investe, cresce, tem estabilidade. Tive-mos uma diáspora de cérebros no passado e agora queremos atrair cérebros”, afirma Aloizio Mercadante, titular da pasta.

A Universidade Federal do ABC (UFA-BC) é um bom exemplo dessa nova atra-ção: dos 425 profissionais que formam seu corpo docente, 49 não nasceram no Brasil e quatro já se naturalizaram brasileiros. Desses 49 estrangeiros, 22 vieram da Euro-pa, nove da Argentina e seis da Rússia. O maior exportador indivi dual, portanto, é a vizinha Argentina.

duas paixõesO espanhol Francisco Javier Ropero Pe-

láez é um desses profissionais. É engenheiro eletrônico, tem doutorado em Neurociência pela Universidade de Madri e em Engenha-ria Mecatrônica pela Universidade de São Paulo (USP). Trabalha na área de Neuro-computação na UFABC desde 2009, na

qual ingressou por concurso público. No final dos anos 90, Peláez, contratado

de uma empresa petrolífera na Espanha, realizava pesquisas nas horas vagas. “Pes-quisar era um hobby para mim, até que so-licitei uma bolsa para trabalhar em projetos no Japão e consegui. Pedi, então, licença de dois anos no trabalho, porque minha inten-ção era retornar ao país”, explicou.

Mas duas paixões mudaram seus planos: no Japão, percebeu a profundidade de sua inclinação pela pesquisa e, também no Ja-pão, conheceu uma pesquisadora brasileira, por quem se apaixonou e que é, agora, sua esposa.

O casal transferiu-se para o Brasil em 1997, e Peláez trabalhou em algumas uni-versidades antes de ser aprovado em con-curso público para a UFABC. Ele garante que não pretende voltar a viver na Europa e explica como vê o mercado acadêmico bra-sileiro e o espanhol: “Na Espanha, a pes-quisa é mais voltada para linhas marcadas, a criatividade não é tão valorizada como aqui. Ter mais liberdade para pesquisar e para criar projetos foi uma das minhas mo-tivações. Estou muito contente aqui, por-que a UFABC representa uma inovação, com projeto pedagógico inovador que se diferencia de universidades daqui e de fora também.”

intercâmbio educação

universidades brasileiras, professores estrangeiros

Na Espanha, a pesquisa é mais voltada para linhas marcadas, não é tão valorizada como aqui. Ter mais liberdade para pesquisar e para criar projetos foi uma das minhas motivações”francisco jaVier ropero peláez, engenheiro eletrônico

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Comunidade de Calabar, em Salvador, a primeira a receber base Comunitária de Segurança: igual às uPPs do Rio de Janeiro

Abaixo, os secretários: Wilson damásio, secretário de defesa Social de Pernambuco e Maurício Teles barbosa, secretário de Segurança Pública da bahia

26 INOvA | agosto 2011

política social segurança

novo modelo de gestão reduz a criminalidade

Laís [email protected]

o primeiro semestre deste ano, o governo da Bahia conseguiu reduzir em 16%

o número de homicídios no estado, com a implantação de apenas algumas diretrizes do Programa Pacto Pela Vida. Lançado oficial-mente em junho, pelo governador Jacques Wagner, o programa objetiva reduzir os índi-ces de violência do estado, e vem ganhando notoriedade tanto pelos bons resultados al-cançados, como pela nova forma de gestão.

O primeiro passo foi criar uma política pública de segurança transversal e integra-da, em articulação com a sociedade civil, com os poderes Executivo, Legislativo e Judiciário, junto com o Ministério Público, municípios do estado e a União. Buscou-se unificar as diversas experiências bem suce-didas em outros estados, como Pernambu-co, São Paulo e Rio de Janeiro.

Para estabelecer o diálogo efetivo entre todas as esferas, foram criadas as Câmaras Setoriais de Articulação entre as 13 secreta-rias de governo; a Câmara de Articulação entre o Legislativo, Executivo e Judiciário e o Fórum Estadual de Segurança Pública, com a participação da sociedade civil. De

acordo com Robinson Almeida, secretário de Comunicação Social da Bahia, “essa integração visa agilizar o cumprimento de mandados, a revisão de penas, a ressociali-zação de apenados e a priorização de maté-rias que tramitam na Assembléia Legislativa relacionadas à Segurança Pública. Além de ações coordenadas em todas as áreas, como saúde, educação e cultura, orientadas com vistas à promoção da paz social”.

O Pacto pela Vida não prioriza apenas o aumento do efetivo policial, mas dá destaque também à prevenção aliada à repressão qua-lificada da criminalidade. Para evitar novas ocorrências, o governo iniciou uma série de atividades em localidades com altos índices de criminalidade. A comunidade de Calabar, em Salvador, foi a primeira a receber uma Base Comunitária de Segurança, semelhante às Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs), do Rio de Janeiro, além da oferta de serviços públicos, como emissão de documentos, exa-mes médicos e cursos profissionalizantes.

Paralelamente às ações de prevenção, vem sendo desenvolvido um trabalho para diminuir a impunidade. Para isso foi criado o Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) com a missão de identifi-car as áreas onde ocorrem os crimes, inves-tigar efetivamente todos os casos e retirar

o programa pacto pela Vida adota métodos do setor privado e integra governo com a sociedade civil

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agosto 2011 | INOvA 27

JOGO dA MEMóRIA AJudA A ENCONTRAR CRIMINOSOSA Secretaria de Segurança Pública da bahia criou uma nova estratégia para procurar os criminosos mais perigosos do estado: o “baralho do Crime”, um jogo da memória que está disponível no site da própria secretaria (www.ssp.ba.gov.br). As cartas mostram as fotos dos procurados, o crime de que são acusados e o telefone do disque-denúncia.“O baralho foi criado com objetivo de fazer com que a população identifique, memorize e ao mesmo tempo se sinta estimulada a denunciar. E isso já vem ocorrendo”, afirma o secretário da Segurança Pública, Maurício Teles barbosa.desde seu lançamento, no mês de junho de 2011, diversas cartas do “baralho do Crime” sofreram substituições, após os criminosos terem sido capturados pela polícia.

de circulação seus responsáveis. Desde sua abertura, em abril deste ano, houve um au-mento expressivo no índice de elucidação dos delitos, chegando a 70% somente nos primeiros dias de sua implantação.

o exemplo de pernambuco

O modelo adotado na Bahia seguiu a ex-periência bem sucedida no estado vizinho de Pernambuco. Lá, o Pacto pela Vida, criado pelo governador Eduardo Campos há qua-tro anos, nasceu em razão da necessidade de se encontrar uma ferramenta eficiente para acabar com a violência no estado, especial-mente na Região Metropolitana de Recife, cujas ocorrências chegavam a superar índi-ces de cidades como o Rio de Janeiro, com muito mais habitantes. O programa conse-guiu alterar esse cenário. Atualmente, em algumas regiões do estado, as estatísticas apontam no máximo 10 homicídios para cada 100 habitantes, números próximos aos que a Organização das Nações Unidas con-sidera como satisfatórios.

O estabelecimento de um plano de metas foi fundamental para alcançar tais resulta-dos. De acordo com Wilson Damásio, se-cretário de Defesa Social de Pernambuco,

“um dos grandes diferenciais do programa foi trazer para a gestão pública a eficiência do setor privado, com a realização de um planejamento estratégico pautado pelo al-cance de resultados.”

O objetivo é reduzir anualmente 12% dos homicídios em Pernambuco, com base nos dados do ano anterior. A motivação para o alcance dessa meta foi possível apenas depois da introdução de uma política de meritocracia. “A equipe que bate a meta na redução de homicídios recebe um abono salarial e os agentes da área campeã na re-dução de homicídios ainda recebem um 14º salário”, afirma o secretário.

Além disso, são dadas premiações para apreensão de crack e armas de fogo aos delegados que conseguem o maior núme-ro de mandados de prisão e às equipes que prendem o maior número de criminosos. São as chamadas Gratificação pelo Pacto pela Vida (GPPV). O secretário explica ainda que, “se os gestores e comandantes não apresentam resultados, eles são subs-tituídos, seguindo a mesma lógica de uma empresa da iniciativa privada.”

O monitoramento de tais metas é possível devido a um novo modelo de gestão adota-do. As Áreas Integradas de Segurança Pú-blica (AISP), unidades territoriais criadas

para a implantação de planos integrados permitem o acompanhamento das ações policiais e dos dois principais indicadores: os Crimes Violentos Letais Intencionais (CVLI) e os Crimes Violentos contra o Pa-trimônio (CVP).

bons resultadosWilson Damásio acredita também que

o fator de maior influência nos resultados alcançados esteja na atuação da Polícia Militar e da Polícia Civil. “Sem dúvida, o trabalho conjunto de diversos segmentos contribuíram para a redução da violência, mas a ação da polícia ainda é uma questão central quando falamos em segurança pú-blica. Por isso, passamos a integrá-las, des-manchando a prática passada, quando não compartilhavam as informações e chegavam até a ser inimigas”, explica Damásio. Os po-liciais civis e militares passaram a atuar jun-tos em operações de repressão qualificada, nas Áreas Integradas e nas reuniões sema-nais de monitoramento do Comitê Gestor do Pacto pela Vida. E para que a integra-ção se efetivasse de fato foi criada ainda a Academia Integrada de Defesa Social, com o objetivo de unir, desde a formação, os po-liciais militar, civil e os bombeiros.

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Alan Mulally, CEO mundial da

Ford, confirma novo recorde

de investimentos: até 2015,

R$ 4,5 bilhões

guerra das montadoras no Brasil se acirra. Com o de-sembarque no País de novos fabricantes, especialmente os chineses – que chegam com marketing agressivo

e ostentando seus modelos modernos e mais baratos – está previsto um verdadeiro boom de investimentos no setor. Ninguém quer per-der espaço e presença num mercado a cada dia mais promissor. A seguir, os planos das principais montadoras instaladas no Brasil:

FIAT – A Fiat completa 35 anos de opera-ções no Brasil dando início ao que chama de maior ciclo de investimentos de sua história. Entre 2011 e 2014, serão investidos R$ 10 bilhões, sendo R$ 7 bilhões destinados à fá-brica de Betim, para ampliar a capacidade de produção de 800 mil para 950 mil automóveis e comerciais leves por ano. “O acréscimo de capacidade anual de 150 mil unidades equi-vale, na prática, à implantação de uma nova fábrica de médio porte”, afirma Elisa Sar-ti, da área de Comunicação Corporativa da montadora. Outros R$ 3 bilhões serão desti-

nados à implantação de uma nova fábrica em Pernambuco, com capacidade de produção de cerca de 200 mil veículos por ano, o que a companhia considera um investimento estra-tégico, uma vez que se insere em um amplo programa de industrialização e desenvolvi-mento econômico e social da região.

FORd – Os R$ 4,5 bilhões que a Ford in-jetará no Brasil entre 2011 e 2015 represen-tam o maior volume aplicado pela empresa automobilística em suas operações no Bra-sil, em um período de cinco anos, ao longo de sua história de 90 anos no País. O foco desses investimentos será a nova geração do utilitário esportivo EcoSport, a partir de tecnologia avançada e de alta qualidade desenvolvida em Camaçari, na Bahia. É a primeira vez na história da Ford do Brasil que um veículo desenvolvido pela enge-nharia brasileira será produzido em outros países. “O desenvolvimento de veículos e plataformas verdadeiramente globais é uma parte essencial do nosso plano One Ford. A Ford Brasil já demonstrou sua habilidade na criação de excelentes veículos, com uma

contra a invasão chinesa, montadoras investem mais

fábricas planejam mais investimentos para os próximos anos

investimentos automóveis

equipe tão forte atuando em nosso Centro de Engenharia em Camaçari”, diz Alan Mulally, CEO mundial da Ford.

vOLkSWAGEN – A Volkswagen destinará R$ 6,2 bilhões para a ampliação de fábricas e novos produtos até 2014. A principal meta da companhia é chegar à produção de um milhão de veículos por ano. O valor permi-tirá o desenvolvimento de novos produtos e a ampliação da capacidade de produção das fábricas de São Bernardo do Campo, Tau-baté e de motores em São Carlos, todas no estado de São Paulo.

GENERAL MOTORS – O ciclo de inves-timentos da General Motors, estimado em R$ 5 bilhões até 2012, integrará a expan-são da fábrica em Gravataí, no Rio Grande do Sul, o desenvolvimento da nova família Onix de veículos, no Centro Tecnológico de São Caetano do Sul, e no campo de provas de Indaiatuba, em São Paulo. Estão previs-tas também a duplicação e a modernização do Centro Tecnológico de Engenharia e De-sign da montadora e do campo de provas de Cruz Alta, em Indaiatuba, incluindo a construção de novos laboratórios e pistas de testes. A fábrica no ABCD, em São Paulo, deve ser modernizada e adequada à produ-ção de novos modelos. O complexo de São José dos Campos, também em São Paulo, será adaptado para a produção de dois no-vos modelos, e está prevista ainda a cons-trução de uma nova fábrica de motores e componentes em Joinville, Santa Catarina.

MERCEdES-bENz – Os investimentos da Mercedes-Benz, no valor de R$ 1,5 bilhão, estão direcionados para o aumento da ca-pacidade de produção de caminhões e ôni-bus na planta de São Bernardo do Campo, em São Paulo e a expansão da produção de caminhões para a planta de Juiz de Fora, em Minas Gerais. Nesse montante, também estão considerados investimentos em pes-quisas, no desenvolvimento de tecnologias e na modernização das áreas de produção, logística e de serviços.(CC)

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agosto 2011 | INOvA 29

fabricado desde 2010, material derivado do etanol polui menos

embalagem, batizada de PantBlottle está sendo produzida, desde 2010, no Polo Petroquímico de Triunfo, no Rio Gran-de do Sul, onde o Grupo

Braskem instalou a maior unidade indus-trial de eteno, derivado do etanol, do plane-ta. Ali são fabricadas 200 mil toneladas de polietileno verde por ano.

A Coca-Cola foi a primeira empresa a aderir à novidade na América Latina. Por ter origem parcialmente vegetal, 30% à base de cana de açúcar, a embalagem reduz a depen-dência da empresa em relação aos recursos não-renováveis. A cana-de-açúcar utilizada provém de fornecedores auditados, que uti-lizam essencialmente a irrigação natural, ou seja, a chuva, além da colheita mecânica.

Na vanguarda das iniciativas que envol-vem o plástico renovável, o Grupo inves-tiu cerca de R$ 500 milhões no Projeto do Plástico Verde, concebido com tecnologia própria. “A Braskem quer contribuir de forma diferenciada para o desenvolvimento sustentável, por meio de soluções inovado-ras. O Plástico Verde faz parte de um gran-de avanço rumo à sustentabilidade”, afirma Jorge Soto, diretor de Desenvolvimento Sustentável da empresa.

Desde 2008, a Braskem desenvolve pes-quisas para o projeto de um plástico de ori-

gem renovável, em convênio de cooperação com a Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e a Fundação de Amparo à Pes-quisa do Estado de São Paulo (Fapesp).

menos poluiçãoSegundo a Braskem, o plástico verde retira

até 2,5 toneladas de carbono da atmosfera para cada tonelada produzida de polietileno, desde a origem da matéria-prima. Funciona como se o material fosse feito de CO2 capturado da at-mosfera na fotossíntese da cana-de-açúcar. A empresa destaca que este é o mais competiti-vo entre todos os plásticos de origem renová-vel, o que já é amplamente reconhecido pelo mercado. Entre os compradores do produto, destacam-se Tetra Pak, Toyota Tsusho, Shi-seido, Natura, Acinplas, Johnson&Johnson, Procter&Gamble e Petropack, entre outras. O plástico verde, de origem renovável, já é utiliza-do em produtos destinados à higiene pessoal e limpeza doméstica, embalagens de alimentos, brinquedos e utilidades domésticas.

O produto final tem exatamente as mes-mas propriedades e características do polie-tileno tradicional, podendo ser processado nos equipamentos dos clientes sem necessi-dade de adaptações. A Braskem tem inten-sificado suas pesquisas no desenvolvimento de outros biopolímeros, especialmente do polipropileno verde. Recentemente, acertou

tecnologia plástico

o plástico dO FuTuROuma parceria com o Laboratório Nacional de Biociências (LNBio), de Campinas, no interior de São Paulo, para a instalação de um laboratório de pesquisas na área de bio-tecnologia.

A empresa projeta ainda, para o segundo semestre de 2013, o investimento de cerca de US$ 100 milhões e a capacidade mínima de produção de 30 mil toneladas de propile-no verde ao ano. O polipropileno é o segun-do plástico mais utilizado no mundo, o que reforça as grandes possibilidades de avanço do setor. (CC)

r$ 500 milhões de investimentos e nasce um novo plástico: o plástico verde

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na garrafas de coca-cola, a novidade: primeira empresa a adotar o plástico verde

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30 INOvA | agosto 2011

sustentabilidade lixo

á dez anos, um time de em-preendedores, entre enge-nheiros, administradores e pesquisadores, se uniu para desenvolver uma alternativa aos aterros sanitários, prin-cipal destino do lixo gerado no Brasil. Como resultado,

surgiu a Usinaverde, empresa que desenvol-ve tecnologias para a eliminação de resídu-os sólidos e a geração de energia. Hoje, a empresa mantém um centro de pesquisas na Ilha do Fundão, no Rio de Janeiro, onde transforma diariamente 30 toneladas de re-síduos sólidos, provenientes de um aterro sanitário carioca.

Com o apoio do Instituto Alberto Luiz Coimbra de Pós-graduação e Pesquisa de Engenharia (Coppe), ligado à Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), os empre-sários desenvolveram, com tecnologia 100% nacional, o sistema patenteado como Usina-verde. Na unidade, cerca de 50 funcionários trabalham na seleção de resíduos passíveis de reutilização ou de reciclagem, que são sepa-rados e retirados, e o restante é incinerado.

Os gases ácidos resultantes da incineração do lixo são lavados com água alcalinizada e ocor-re, então, uma reação química que transforma tais substâncias em sais minerais e água.

Além de ser uma opção para o descarte do lixo urbano, a usina também se apresen-ta como uma alternativa às fontes energéti-cas. Cerca de 90% do peso do lixo é trans-formado em eletricidade. Por meio de uma caldeira de recuperação instalada no forno da usina, o calor da incineração dos gases de combustão é reaproveitado, gerando energia elétrica suficiente para abastecer mais de duas mil residências, com consumo médio de 200 kW/ mês.

A inovação não fica apenas no campo da destinação do lixo e da geração de energia. De acordo com Henrique Saraiva, diretor-presidente da Usinaverde, atualmente a usi-na modelo funciona apenas como centro tec-nológico e não tem fins lucrativos. “O cerne do negócio está na venda da tecnologia e das patentes para várias cidades brasileiras ca-rentes de alternativas para o descarte do lixo não reciclável. A empresa deve faturar com o licenciamento da tecnologia de proces-

samento, pelos 20 anos que esses contratos costumam durar, com a consultoria para sua implantação e com a assistência técnica”.

O módulo comercial da Usinaverde tem capacidade para receber 150 toneladas di-árias de resíduos, quantidade produzida por uma cidade com uma média de 180 mil habitantes. Assim, a planta geraria energia suficiente para mais de sete mil residências. Ou seja, cerca de 20% dessa população po-deria ser abastecida com seu próprio lixo.

a questão socioambiental

Ainda que a Usinaverde defenda e apre-sente a tecnologia como solução sustentá-vel e ambientalmente correta, há quem não acredita na iniciativa. Alguns ambientalistas não concordam com a solução por utilizar a queima em seu processo. Outra questão po-lêmica tem sido o embate com os catadores de material reciclável.

No mês de julho deste ano, uma mani-festação contra o projeto de instalação de uma usina verde foi realizada nas ruas de

a energia que Vem dO LIXOesquenta o debate sobre a queima de resíduos sólidos no brasil como alternativa aos superlotados aterros sanitários e à geração de energia

Joana [email protected]

Claudia Mayara [email protected]

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a energia que Vem dO LIXOesquenta o debate sobre a queima de resíduos sólidos no brasil como alternativa aos superlotados aterros sanitários e à geração de energia

São Bernardo do Campo. Mesmo sem citar a tecnologia que seria adotada, o prefeito Luiz Marinho, que levantou o debate, so-freu pressões da sociedade civil organizada para que a iniciativa não fosse levada adian-te. Integrantes do Movimento Nacional dos Catadores de Material Reciclável (MNCR) chegaram a protocolar uma ação no fórum municipal de São Bernardo do Campo. Segundo uma das catadoras e membro da equipe de articulação do movimento, Ma-ria Mônica da Silva, o incinerador poderia poluir o meio ambiente do município. “Nós somos contra porque agride o meio am-biente. Queimando os resíduos, terão que extrair novos recursos naturais para produ-zir mais matéria-prima. Se não cuidarmos do planeta agora, não saberemos como vai ficar daqui a alguns anos”.

Além do impacto ambiental, Maria Môni-ca também destacou os prejuízos sociais com a medida, principalmente com o futuro dos catadores, que vêem no incinerador a desarti-culação dos postos de trabalho gerados pela coleta e venda de recicláveis. “Os catadores já fazem parte da sociedade. Com o incinera-

crÉditos de carbonoA usina modelo da Usinaverde pos-sui certificação como Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL). Em 2007, a tecnologia foi monitorada e atingiu os padrões necessários para receber créditos de carbono. Consta-tou-se que, além de não liberar me-tano, gás danoso ao meio ambiente, a usina modelo usa resíduos sólidos em substituição ao combustível fós-sil, como o petróleo, para produzir energia. O crédito de carbono é um dos mecanismos de flexibilidade permitidos pelo Tratado de Kyoto – acordo assinado pelas principais na-ções poluidoras, em 1997, no Japão. O sistema possibilita que os países do Norte cumpram as exigências de redução de emissões de gases po-luentes fora de seu território.

dor serão eliminados postos de trabalho que a reciclagem gera. Nós geramos e movemos a economia local. Colocamos as pessoas de volta à sociedade”, afirma.

noVos resíduosNa opinião da coordenadora do proje-

to de Coleta Seletiva Brasil-Canadá, Jutta Gutber let, as usinas de lixo não são susten-táveis e são incapazes de substituir em 100% os aterros sanitários. “A queima dos resídu-os gera cinzas tóxicas, que variam entre 20% e 40%, dependendo da tecnologia emprega-da”, afirma. Jutta ainda critica o reaprovei-tamento desse material. “As cinzas são um coquetel de materiais de tudo que geramos, portanto é um risco usá-lo”.

Como resposta ao movimento ambientalis-ta, Henrique Saraiva, da Usinaverde, defende que, com a tecnologia desenvolvida os resíduos – cinzas que saem da caldeira de recuperação de calor e partículas inertes que saem do forno – podem ser misturados ao cimento e reapro-veitados na produção de tijolos. “Uma usina que processa 150 toneladas de lixo por dia tam-

Tecnologia 100% nacional: 30

toneladas diárias de lixo reciclado e

energia para duas mil residências por mês

Movimento Nacional dos Catadores de Material Reciclável: críticas à usina e defesa do emprego A

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bém pode gerar tijolos para a construção de uma casa de 50 metros quadrados por dia”.

Para ele, o embate na questão ambiental surge em função da falta de conhecimento sobre as novas tecnologias. “O mundo intei-ro já utiliza o sistema de queima de lixo. Na Alemanha, isso ocorre há mais de meio sécu-lo. Em Tóquio, mais de vinte usinas operam transformando resíduos em energia e são instalações urbanas”, argumenta Saraiva. “O Brasil está muito atrasado nessa discus-são e entendemos que a Usinaverde tem res-ponsabilidade em estimular esse debate”.

Mestre e doutorando em direito ambien-tal, Luiz Carvalho, que presta consultoria ao projeto de inovação formulado pela Faculdade Getulio Vargas (FGV) para a prefeitura de São Bernardo do Campo, concorda com Henrique Saraiva no que diz respeito ao atraso e ao desconhecimento da tecnologia no Brasil. “Países da Europa e da Ásia apresentam muitos casos que mostram um trabalho não apenas econômico dessas usinas, mas também social e pedagógico. Na França, existe uma usina às margens do Rio Sena, mostrando à população que o lixo não some. Como ele é gerado, preci-sa ter uma correta destinação”, ressalta. “A implementação de usinas termoelétricas que utilizam rejeitos como matéria-prima será uma grande inovação no Brasil. Mas deve acontecer em conjunto com outros proces-sos, o de redução do consumo, o respeito à reciclagem e outras formas de reaproveita-mento que estão à frente da incineração”.

a questão legalA questão legal que envolve a implemen-

tação de usinas é um ponto que gera discus-sões, tanto por parte de quem desenvolve a tecnologia, quanto do lado de ambientalis-tas e da sociedade civil. A falta de um mar-co regulatório que defina parâmetros para o funcionamento de sistemas de queima de resíduos e geração de energia deixa um cam-po aberto para embates e discussões. Nesse sentido, São Paulo já está um passo à frente da realidade nacional. Em 2010, publicou a resolução 079, que estabelece diretrizes e

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condições para a operação e o licenciamen-to da atividade de tratamento térmico de resíduos sólidos em Usinas de Recuperação de Energia (URE).

Outro avanço importante foi a reformu-lação da Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS), apresentada em 2010, no governo do ex-presidente Luis Inácio Lula da Silva. Assim como a resolução paulis-ta, a política nacional se inspira na experi-ência européia. A PNRS se interrelaciona com outros instrumentos legais, como as diretrizes nacionais do saneamento bási-co, a lei de prevenção, controle e fiscali-zação da poluição por óleos e substâncias perigosas e as diretrizes nacionais da edu-cação ambiental.

Na análise de Luiz Carvalho, a PNRS prevê a existência de usinas de queima e geração de energia, inclusive como instru-mentos inovadores e de suporte à política nacional. “A usina não pode e não deve in-terferir nos processos de reciclagem ou re-aproveitamento. O que deve ser queimado é um material específico que só teria uma possibilidade de destinação correta, o ater-ro sanitário. Como alternativa, buscando o aproveitamento da energia deste rejeito, encontramos espaço para as tecnologias de recuperação de energia por incineração.”

O advogado também conclama a socie-dade civil e os movimentos sociais para que acompanhem os processos de instalação e funcionamento das usinas. “Estabelecidos os parâmetros, que são pesquisados e desenvol-vidos durante anos, a sociedade deve atuar como agente fiscalizador”, afirma.

mestre em direito ambiental, luiz

carvalho critica: o brasil está atrasado

e desconhece a tecnologia da usina

Nas ruas de São bernardo a manifestação acusa: a usina polui

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transporte de combustível fica mais seguro com apoio de simulador

e a inovação está apenas dando suas primeiras braça-das no transporte fluvial no Brasil, as perspectivas são grandes, em especial após a criação do simulador de operação para comboios

fluviais na Hidrovia Tietê-Paraná.Resultado de parceria entre pesquisadores

do Tanque de Provas Numérico, da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo, e da Petrobras Transportes (Transpetro), o simulador está instalado na sede da empre-sa, no Rio de Janeiro, para demonstrações e testes. Contou em seu desenvolvimento, tam-bém, com apoio do Instituto de Pesquisas Tecnológicas do Estado de São Paulo (IPT).

O equipamento, que tem telas para visua-lização em 3D, é destinado à análise de pro-cedimentos e dimensionamento de sistemas no treinamento ou na reciclagem de capitães e pilotos fluviais que atuarão no transporte de combustíveis (álcool e biodiesel).

pronto em quatro mesesSegundo Eduardo Aoun Tannuri, professor do Departamento de Engenharia Mecatrô-

nica e um dos coordenadores do Tanque de Provas, o acordo para a elaboração do projeto foi assinado em dezembro de 2010, e, em menos de quatro meses, o sistema já foi apresentado – concluído e pronto para entrar em operação. “É uma tecnologia to-talmente nacional e inovadora”, diz o pro-fessor, a quem coube coordenar o desenvol-vimento do simulador, com participação de 15 alunos de pós-graduação da Poli, além de docentes e técnicos. Tannuri conta que o projeto surgiu da demanda de treinamen-to de operadores fluviais, em função do aumento do número de comboios que irão operar na Tietê-Paraná. “A Transpetro fará o transporte de biocombustível pela hidro-via, o que requer aumento da segurança operacional. Em média, um treinamento desse tipo poderia levar até dois anos. Com o simulador, pretende-se reduzi-lo a alguns meses”, afirma.

O novo simulador permite que os operado-res fluviais treinem a execução de tarefas críti-cas, como passagem sob pontes e eclusas, em condições adversas de chuva, neblina ou per-da de propulsão. “O objetivo é garantir maior segurança à operação de transporte fluvial. Já estamos trabalhando na replicação do simula-

tecnologia transporte

TECNOLOGIA 3d na hidroVia tietê-paraná

dor para uso em sala de aula de instrução para múltiplos alunos, bem como expansões para outras operações fluviais, marítimas e offshore (operações em costas)”, informa o professor.

desafios na tela 3dQuase como um videogame, o sistema tem um cenário virtual e uma bancada com dois manches, chamados telégrafos, que são ma-nipulados pelo condutor em treinamento para realizar as manobras virtuais.

O simulador mostra, em três telas con-vencionais 3D, um comboio fluvial forma-do por quatro chatas, que é empurrado pelo navio operado pelo condutor. “As maquetes virtuais são modelos que reproduzem fiel-mente o ambiente e o equipamento real que está sendo demandado pela Transpetro”, ressalta Tannuri.

Os desafios estão no trajeto, que inclui três pontos críticos da hidrovia: a curva do rio Paranaíba, a ponte sob a rodovia SP-595, em São José dos Dourados, e a eclusa de Promissão. A ideia dos pesquisadores é continuar os trabalhos até o mapeamento completo do percurso da hidrovia, aproxi-madamente mil quilômetros.

Eduardo Tannuri, um dos coordenadores

do Tanque de Provas: quase um videogame,

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Clébio Cavagnolle [email protected]

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serviços | fomento, financiamento e suporte à inovação

financiamentos com garantia do bndes fgi atingem r$ 1,2 bilhão

mais informações

www.bndes.gov.br/apoio/fgi

o que ÉParceria público-privada, tendo como cotistas o Tesouro Nacional, o BNDES e instituições financeiras habili-tadas a contratar operações, às quais o Fundo dá garantia. Criado com estrutura de governança própria, tem patrimônio separado do de seu administrador (o BNDES) e dos demais cotistas, o que o torna independente, sem risco de contingenciamento orçamentário. Por ser um fundo de natureza privada, tem CNPJ próprio.

objetiVoReduzir o risco de crédito das instituições financeiras no financiamento a micro, pequenas e médias empresas, ao mesmo tempo em que estimula seu acesso ao crédito. Pessoas físicas que trabalham no transporte de carga podem utilizar o programa para a aquisição de bens relacionados ao setor, por meio do BNDES Procaminhoneiro.

instituições financeiras habilitadasAtualmente são 17, das quais nove do setor privado, grandes bancos, na maioria. Os primeiros a entrar na operação foram Caixa, Banco do Brasil e Bradesco, seguidos por bancos de montadoras, como Scania Banco, Banco Volvo e Banco Fidis, agências de fomento, bancos de desenvolvimento e bancos regionais, como Nossa Caixa Desenvolvimento (SP), Badesul (RS), Investe Rio (RJ) e Banco de Desenvolvimento de Minas Gerais (BDMG). Itaú Unibanco e Santander estão se preparando para começar.

como funcionaNo atendimento a operações de repasse do BNDES. O beneficiário deve pedir financiamento do BNDES em uma das instituições financeiras credenciadas e habilitadas junto ao Fundo. A garantia do BNDES FGI é soli-citada pela instituição juntamente com o financiamento e, sendo ambos aprovados, a operação é contratada com garantia do Fundo.

o que pode ser garantidoDiversos produtos, linhas e programas do BNDES, como financiamento a investimento, capital de giro, finan-ciamento à produção voltada para exportação, financiamento de projetos de expansão e compra de veículos de transporte, entre outros. A cobertura pode chegar a 80% do risco de crédito em cada operação.

contragarantiasAs exigências feitas aos clientes finais para as operações cobertas pelo BNDES FGI são facilitadas. Para opera-ções com valor garantido de até R$ 1 milhão, é exigido somente o aval dos sócios controladores e, adicionalmen-te, é cobrado um encargo pela concessão da garantia, fixado em função do prazo e dimensionado para cobrir as perdas provenientes da carteira de garantias do BNDES FGI. Esse encargo é repassado pela instituição financeira ao cliente final e financiado junto com o montante da dívida.

impactos e benefíciosO BNDES FGI visa estimular de forma gradual e responsável a inclusão das micro, pequenas e médias empre-sas no mercado de crédito, em condições mais favoráveis que as do mercado em geral.

Antes de completar o primeiro ano de sua efetiva entrada em operação, o Fundo Garantidor para Investimentos, do Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social, o BNDES FGI, realizou 6.773 operações, mais de 90% delas com microempresas e pessoas físicas.

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brasil alemanha parceria acadêmica

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www.capes.gov.br/editais/abertos/4737-nopa

mais informações

www.santanderuniversidades.com.br/premios

mais informações

www.fdc.org.br

prêmio santander de empreendedorismoAté o dia 13 de setembro, estarão abertas as inscrições para o Prêmio Santander de Empreendedorismo, destinado a alunos de graduação e pós-graduação, para estimular a criação e o desenvol-vimento de projetos de estudantes com postura empreendedora.O líder e o orientador da equipe vencedora de cada categoria re-ceberão prêmio em dinheiro (50 mil reais) e bolsa de estudos no Babso n College, escola de negócios localizada em Wellesley, pró-xima a Boston, nos Estados Unidos. As categorias são: indústria, tecnologia da informação, tecnologia da comunicação, tecnologia da cultura e educação, produtos e serviços, biotecnologia e saúde.

nopaoBJeTiVos

Apoio ao intercâmbio científico entre grupos de pesquisa brasileiros e alemães, orientados pela demanda dos setores públicos e privados nas áreas fundamentais para o desenvolvi-mento sustentável: – proteção e gestão sustentável das florestas tropicais; – energias renováveis e eficiência energética;

Incentivo à inovação tecnológica no setor produtivo público e privado, a partir de resultados de pesquisas desenvolvidas por instituições qualificadas do Brasil e da Alemanha;

Formação de recursos humanos de alto nível nas áreas focais de cooperação.

FinanciamenTo

Duas viagens de curta duração (entre 10 e 20 dias) para a Alemanha, por ano, aos pesquisadores participantes;

Até oito bolsas por projeto nas seguintes modalidades: gra-duação sanduíche (4 a 10 meses), doutorado sanduíche (4 a 12 meses), pós-doutorado (2 a 12 meses);

R$ 10 mil por ano para custeio do projeto.

DuraçãoAté dois anos de duração, por projeto. O financiamento do se-gundo ano é condicionado à aprovação de relatórios e à dispo-nibilidade orçamentária das agências financiadoras.

O Programa Novas Parcerias (NoPa) foi criado para financiar pro-jetos de pesquisa multidisciplinar desenvolvidos em conjunto por instituições, docentes e pesquisadores brasileiros e alemães. No convênio, o Brasil é representado pela Coordenação de Aperfeiço-amento de Pessoal de Nível Superior (Capes), vinculado ao Minis-tério da Educação, e a Alemanha, pela Deutscher Akademischer Austausch Dienst (DAAD) e Deutsche Gesellschaft für Internationale Zusammenarbeit (GIZ).

programa customizado com foco em inoVaçãoProgramas Customizados são oferecidos pela Fundação Dom Ca-bral e por eles se faz o diagnóstico da organização interessada e, a partir daí, é estimulada a discussão e a troca de experiências, para gerar e disseminar conhecimento. Nesse trabalho, busca-se desenvolver projetos e atividades que proporcionem maior com-preensão e aprofundamento em subtemas da inovação. Para a Fundação, como cada organização tem uma identidade própria, um nível diferenciado de competências, planos e objetivos de de-senvolvimento, cada Programa Customizado deve ser construído junto com o cliente para atender a essas demandas.A FDC é considerada a quinta melhor escola de negócios do mun-do, em ranking da Financial Times. Criada em 1976, como des-dobramento do Centro de Extensão da Universidade Católica de Minas Gerais, é uma instituição autônoma e sem fins lucrativos. Por sua articulação com organismos e entidades internacionais, garante acesso a grandes centros produtores de tecnologia de gestão. Circulam anualmente por seus programas (abertos, fe-chados e de parcerias) cerca de 30 mil executivos de empresas de médio e grande porte.

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o Brasil, é recente o desta-que conferido à relevância das parcerias em pesquisa e desenvolvimento entre instituições de ensino e de pesquisa e empresas, que

convergem para a promoção da inovação e do desenvolvimento tecnológico do País. Abdicando de algumas poucas instituições com tradição na interação universidade-empresa, ainda é incipiente no País a es-truturação de um órgão responsável por centralizar o desenvolvimento de parcerias e iniciativas que estimulem a inovação base-ada no conhecimento gerado pela universi-dade. Se dá, principalmente, a partir da Lei de Inovação, que estipula a obrigatoriedade da criação dos Núcleos de Inovação Tecno-lógica (NIT) em Instituições de Ciência e Tecnologia (ICT).

A formação de um NIT possibilita a po-tencialização da atuação da ICT, no sentido de reduzir o “grande vale” existente entre a geração do conhecimento e a sua transfor-mação em riqueza e benefícios sociais. Do lado do pesquisador, os NITs constituem-se em uma ferramenta para proteger e transfe-rir os resultados de suas pesquisas. Do lado das empresas, compõem acesso a parcerias para desenvolvimento tecnológico com ICTs. Um exemplo de NIT é a Agência de Inovação Inova Unicamp, cujo início de tra-balho foi marcado por uma grande expecta-tiva em relação aos benefícios concretos que uma estrutura facilitadora da cooperação e parcerias com organizações privadas e pú-blicas poderia trazer à universidade.

Criada em 2003, com institucionalização anterior à obrigatoriedade da Lei de Inova-ção, a Agência de Inovação da Unicamp foi constituída como uma resposta à evolução

e o amadurecimento de políticas e práticas da universidade. Seu objetivo principal é ar-ticular parcerias com instituições públicas e privadas dirigidas para o desenvolvimento socioeconômico e tecnológico e para a ino-vação, beneficiando as atividades de pesqui-sa, ensino e avanço do conhecimento. Entre seus resultados é possível contabilizar uma média de 50 pedidos de patentes por ano para a Unicamp e mais de 50 contratos de licenciamentos firmados com empresas des-de a sua constituição. Fazem parte de suas atividades: o licenciamento de tecnologias, a busca por projetos colaborativos de pes-quisa, o incentivo à criação de empresas de alta tecnologia e iniciativas para aprimorar o sistema local de inovação.

Enfim, um NIT, enquanto escritório res-ponsável pela proteção e transferência de tecnologia, assume como parte de suas ati-vidades a criação de uma rede que estimule a participação da universidade no ambiente de inovação local. É importante enfatizar sua importância no incentivo à cooperação entre os setores público e privado para ma-ximizar os resultados da difusão do conhe-cimento científico e tecnológico constituído localmente. O estabelecimento de parcerias e a gestão do relacionamento e de projetos conjuntos são consideradas atividades al-tamente relevantes para o aprimoramento da pesquisa no país. A experiência da Uni-camp, por sua vez, tem demonstrado que o estabelecimento das parcerias entre institui-ções públicas de ensino e pesquisa e empre-sas pode diminuir o descompasso que existe entre a ciência, o mercado e a sociedade.

Patricia Tavares Magalhães de Toledo é diretora de Propriedade Intelectual e Transferência de Tecnolo-gias da Agência de Inovação Inova Unicamp.

ponto de vista

O núcleo potencializa a atuação das instituições de ciência e tecnologia, reduzindo a distância entre a geração do conhecimento e sua transformação em riqueza e benefícios sociais

Patricia Tavares Magalhães de Toledo

a importância do núcleo de inovação tecnológica

diV

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ação

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