iniciação científica - relatório final de iniciação científica

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NPE ESCOLA DE ESTUDOS SUPERIORES DE VIÇOSA Autorizada e credenciada – Portaria 2152/01-10-2001 Núcleo de Pesquisa e Extensão RELATÓRIO FINAL DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA (Modelo NPE-ESUV) Programa de Iniciação Científica – 2 0 0 9 / 1 DADOS DE IDENTIFICAÇÃO TÍTULO: A EFICÁCIA DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA NA ROTULAGEM DE ALIMENTOS Setores do conhecimento: ORIENTADOR: Prof. Carlos Roberto C0-ORIENTADORA: Profa. Cristiane Patrícia de Oliveira DISCENTE: Itamar Rios da Silva Curso: Direito Turma: B Matrícula: 07-2-01478 MÊS DE REFERÊNCIA: Agosto/2009 (Conforme Tabela de Áreas do Conhecimento do CNPq) 1. RESUMO (no máximo 300 palavras) É dever do Estado: o respeito e proteção à dignidade da pessoa humana, sua saúde e segurança, a proteção de seus interesses econômicos, a melhoria da sua qualidade de vida, bem como a transferência e harmonia das relações de consumo, promovendo fundamentalmente a informação. Objetivou-se com esse trabalho, avaliar a eficácia das normas aplicadas pelo Estado na proteção do consumidor de alimentos embalados, a partir da compreensão das informações dispostas em seus rótulos. Para tanto, realizou-se uma pesquisa por amostragem e técnica de estatística inferencial, com aplicação de um questionário a 183 indivíduos representando 38% de um universo de 480 alunos do Curso de Bacharelado em Direito de uma instituição particular de ensino no município de Viçosa-MG. Dos entrevistados, apenas 66% afirmaram ter o hábito de verificar os rótulos dos alimentos que consomem; destes, 36% disseram entender as informações publicadas, sendo que apenas 19% demonstraram este conhecimento. Dentre as informações contidas nos rótulos, 52% classificaram como prioritárias a “indicação do lote” e a “data de validade”, contudo apenas 12% conseguiram localizar com facilidade sua posição, revelando a incapacidade ou desinteresse em interpretá-la. De igual modo, apenas 3% considerou importantes as orientações quanto ao “preparo” e “instruções de uso”, critérios necessários às boas práticas alimentares, refletindo a negligência a princípios e cuidados fundamentais na escolha de alimentos. A falta de critério na seleção do alimento pode acarretar graves conseqüências à saúde, e o parco conhecimento induz o consumidor a erro. Essa situação pôde ser verificada ao se questionar quanto à “bebida láctea”, quando 63% dos entrevistados não souberam classificá-la corretamente, confundindo-a com “leite aromatizado” (17%) ou “iogurte menos denso” (37%). Os resultados apontam um desconhecimento das informações contidas nos rótulos pelos entrevistados e sugerem a ineficácia das normas e ações promovidas pelo Estado na defesa desses interesses constitucionais.

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Page 1: Iniciação Científica - Relatório Final de Iniciação Científica

NPE

ESCOLA DE ESTUDOS SUPERIORES DE VIÇOSA

Autorizada e credenciada – Portaria 2152/01-10-2001

Núcleo de Pesquisa e Extensão

R E L A T Ó R I O F I N A L D E I N I C I A Ç Ã O C I E N T Í F I C A ( M o d e l o N P E - E S U V )

Programa de Iniciação Científica – 2 0 0 9 / 1

DADOS DE IDENTIFICAÇÃO TÍTULO: A EFICÁCIA DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA NA ROTULAGEM DE ALIMENTOS Setores do conhecimento: ORIENTADOR: Prof. Carlos Roberto C0-ORIENTADORA: Profa. Cristiane Patrícia de Oliveira DISCENTE: Itamar Rios da Silva Curso: Direito Turma: B Matrícula: 07-2-01478 MÊS DE REFERÊNCIA: Agosto/2009 (Conforme Tabela de Áreas do Conhecimento do CNPq)

1. RESUMO (no máximo 300 palavras) É dever do Estado: o respeito e proteção à dignidade da pessoa humana, sua saúde e

segurança, a proteção de seus interesses econômicos, a melhoria da sua qualidade de vida, bem como a

transferência e harmonia das relações de consumo, promovendo fundamentalmente a informação.

Objetivou-se com esse trabalho, avaliar a eficácia das normas aplicadas pelo Estado na proteção do

consumidor de alimentos embalados, a partir da compreensão das informações dispostas em seus

rótulos. Para tanto, realizou-se uma pesquisa por amostragem e técnica de estatística inferencial, com

aplicação de um questionário a 183 indivíduos representando 38% de um universo de 480 alunos do

Curso de Bacharelado em Direito de uma instituição particular de ensino no município de Viçosa-MG.

Dos entrevistados, apenas 66% afirmaram ter o hábito de verificar os rótulos dos alimentos que

consomem; destes, 36% disseram entender as informações publicadas, sendo que apenas 19%

demonstraram este conhecimento. Dentre as informações contidas nos rótulos, 52% classificaram como

prioritárias a “indicação do lote” e a “data de validade”, contudo apenas 12% conseguiram localizar

com facilidade sua posição, revelando a incapacidade ou desinteresse em interpretá-la. De igual modo,

apenas 3% considerou importantes as orientações quanto ao “preparo” e “instruções de uso”, critérios

necessários às boas práticas alimentares, refletindo a negligência a princípios e cuidados fundamentais

na escolha de alimentos. A falta de critério na seleção do alimento pode acarretar graves conseqüências

à saúde, e o parco conhecimento induz o consumidor a erro. Essa situação pôde ser verificada ao se

questionar quanto à “bebida láctea”, quando 63% dos entrevistados não souberam classificá-la

corretamente, confundindo-a com “leite aromatizado” (17%) ou “iogurte menos denso” (37%). Os

resultados apontam um desconhecimento das informações contidas nos rótulos pelos entrevistados e

sugerem a ineficácia das normas e ações promovidas pelo Estado na defesa desses interesses

constitucionais.

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2. PARECER DO ORIENTADOR SOLICITANDO APROVAÇÃO (Considerar se o projeto foi desenvolvido conforme planejado, tocando o empenho e aptidão do aluno para a pesquisa). Data: _____/_____/_____ Assinat ura : _______________________________ 2. INTRODUÇÃO

Sob o fulcro do dever insofismável do Estado em promover o respeito e proteção à

dignidade da pessoa humana, sua saúde e segurança; a proteção de seus interesses econômicos; a

melhoria da sua qualidade de vida; bem como a transparência e harmonia das relações de consumo,

promovendo fundamentalmente a informação; objetivou-se com esse trabalho, avaliar a eficácia das

normas aplicadas pelo Estado na proteção do consumidor de alimentos embalados, inclusive no que

concerne a compreensão das informações dispostas em seus rótulos. Para tanto, realizou-se uma

pesquisa por amostragem com técnica de estatística inferencial, e aplicação de um questionário a 183

indivíduos, representando 38% de um universo de 480 alunos do Curso de Bacharelado em Direito da

Escola de Estudos Superiores de Viçosa – ESUV, que revelou a incapacidade ou desinteresse em

interpretar critérios necessários às boas práticas alimentares, refletindo a negligência a princípios e

cuidados fundamentais na escolha e preparo de alimentos. A falta de critério na seleção do alimento

pode acarretar graves conseqüências à saúde, e o parco conhecimento induz o consumidor a erro. Os

resultados apontam um desconhecimento das informações contidas nos rótulos pelos entrevistados e

sugerem a ineficácia das normas e ações promovidas pelo Estado na defesa desses interesses

constitucionais.

3. OBJETIVOS: GERAL E ESPECÍFICO

Analisar o nível de compreensão das informações contidas nos rótulos de alimentos

industrializados e comercializados nos supermercados de Viçosa, comumente consumidos pelos alunos

do curso de Direito, da Escola de Estudos Superiores de Viçosa – ESUV, bem como, avaliar se estas

informações estão em conformidade com o arcabouço legislativo em vigor, a fim de identificar falhas e

propor alternativas pertinentes à Administração Pública.

Para tanto, realizou-se uma pesquisa nos órgãos competentes a fim de levantar a legislação

de rotulagem de alimentos, vigente; a partir da relação dos produtos apontados pelos entrevistados,

promoveu-se uma avaliação de conformidade dos rótulos destes com a legislação em vigor; por meio

de realização de pesquisa por amostragem buscou-se avaliar a compreensão daqueles alunos em relação

às informações contidas nos rótulos, com o propósito de propor alternativas que possam minimizar

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eventuais discrepâncias identificadas na avaliação dos rótulos analisados.

4. REVISÃO DA LITERATURA

Conforme descrito na apresentação do “Manual de Orientação aos Consumidores”,

desenvolvido e publicado em parceria entre a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) e a

Fundação de Empreendimentos Científicos e Tecnológicos (FINATEC)/ Departamento de Nutrição da

Universidade de Brasília (NUT-UnB), em cumprimento ao que prescreve o art. 24, V e XII da

Constituição Federal de 1988, quando prescreve que:

“A promoção de práticas alimentares e estilos de vida saudáveis fazem parte do conjunto de indicações do Ministério da Saúde para cumprir a responsabilidade de promover e proteger a saúde da população”.

Para tanto, foi incumbido à ANVISA, através do “Programa Nacional de Monitoramento da

Qualidade Sanitária de Alimentos” o dever de:

“Monitorar a qualidade sanitária e os dizeres de rotulagem dos alimentos; estabelecer um histórico de qualidade dos alimentos; identificar as categorias de alimentos dispensados de registro que devem integrar-se ao de grupo de alimentos com obrigatoriedade de registro; identificar os setores da área de alimentos que necessitam de uma intervenção institucional de abrangência nacional e de caráter preventivo no processo produtivo; adotar as medidas legais no caso de detecção de irregularidades em determinado alimento e/ou estabelecimento responsável pela sua produção; bem como, estabelecer intercâmbio interinstitucional contínuo sobre as informações dos alimentos analisados e as providências adotadas”.

Contudo, os esforços despendidos pelo Estado têm se mostrado pouco eficazes, conforme

relata a pesquisa realizada pela Prof.(a) Maria Clara Coelho Câmara, em sua dissertação, apresentada

com vistas à obtenção do título de Mestre em Ciências na área de Saúde Pública, ao revelar que:

“Os dados obtidos, da comparação entre a legislação geral e específica vigente com as informações disponíveis nos rótulos, evidenciaram a presença de irregularidades em todos os produtos analisados, revelando, inclusive, mais de uma não conformidade em cada produto”.

(CAMARA: 2007)

Após esta constatação, a pesquisadora concluiu pela:

“...urgência de ações fiscalizadoras e educativas que permitam aos consumidores, particularmente no caso de produtos diet e light, acesso a informações confiáveis sobre esses alimentos”.

(CAMARA: 2007)

O direito à informação está insculpido na vigente Constituição Federal, e deve ser

adequado, suficiente e claro (PEREIRA:2006).

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Nas legislações mundiais, responsáveis por regular as relações de consumo, é uniforme o

entendimento quanto ao direito à informação. Haja vista a Resolução 30/248 da Assembléia Geral das

Nações Unidas, de 16 de abril de 1985, que determina, em seu art. 3º, que é necessário promover o

acesso dos consumidores à informação.

De forma explicita, a Constituição brasileira incluiu a defesa do consumidor no elenco dos

direitos fundamentais (art. 5º, XXXII) e, por sua relevante importância, previu que (art. 5º, XIV) é

assegurado a todos o acesso à informação.

É bem verdade que os direitos do consumidor, com destaque ao direito à informação,

inseridos nos direitos fundamentais de terceira geração, somente foram concebidos, praticamente, nas

últimas décadas do século XX. Porém, no mundo atual, o monumental aparato publicitário, que lança

incessantemente, novos produtos e serviços no mercado, enxerga o consumidor sob a ótica

economicista de valores, com pouca opção jurídica. Contudo, a partir da intervenção do Estado, muda

seu olhar e examina a dimensão humana do consumidor pelas vias do seu direito, à medida que o

reafirma como sujeito titular de direitos constitucionalmente protegidos.

Entretanto, é correto afirmar que uma informação difícil de ler e de compreender pode levar

a conseqüências drásticas para a saúde e segurança deste consumidor.

Em harmonia a esta assertiva, o Guia Alimentar para a População Brasileira, publicado pelo

Ministério da Saúde (2005 : 138 a 139), destaca que:

“Cada vez mais, é importante que o consumidor tenha acesso a informação, fortalecendo-o na capacidade de análise e decisão para optar por um ou outro produto, frente à indiscriminada quantidade de informações disponíveis nos diferentes veículos da mídia e publicidade. O fortalecimento dessa capacidade de decidir pelo alimento mais adequado, contrapondo-se às informações publicitárias e de marketing, é um desafio a conquistarmos, preservando o nosso direito de consumidores”.

Com vistas à saúde do consumidor, o Codex Alimentarius, programa conjunto da

Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO) e a Organização Mundial de

Saúde (OMS), responsável pela normatização dos alimentos, preconiza que nenhum alimento deve ser

descrito ou apresentado de forma falsa, equívoca ou enganosa, ou de maneira que possa criar no

consumidor uma impressão errônea quanto à sua natureza (PEREIRA:2006).

Neste sentido, o presente trabalho de pesquisa esforçou-se a analisar o nível de

compreensão das informações contidas nos rótulos de alimentos industrializados e comercializados nos

supermercados de Viçosa, comumente consumidos pelos alunos do curso de Direito, do turno noturno,

da Escola de Estudos Superiores de Viçosa – ESUV, bem como, avaliar se estas informações estão em

conformidade com o arcabouço legislativo em vigor, a fim de aferir possíveis falhas e propor

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alternativas pertinentes à Administração Pública.

5. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

Foi realizada pesquisa doutrinária e jurisprudencial em material bibliográfico, pertinente a

alimentos e rotulagem de alimentos.

Elaborou-se questionário com o propósito de avaliar o nível de compreensão das

informações contidas nos rótulos dos produtos apresentados na pesquisa.

O questionário elaborado foi aplicado aos alunos do curso de Direito, no turno noturno da

ESUV, no período de 01 a 04 de maio de 2009.

Os entrevistados foram escolhidos por amostragem, a partir de técnica de estatística

inferencial.

Realizou-se uma análise da conformidade dos rótulos dos produtos apontados na pesquisa e

comercializados em Viçosa, com a legislação vigente por meio de “check list”.

6. RESULTADOS E DISCUSSÃO

Conforme preceitua a Constituição Federal em seu art.196, “a saúde é direito de todos e

dever do Estado”. Neste sentido a Lei Orgânica do Sistema Único de Saúde – SUS (Lei 8.080/90)

explicita, em seu artigo segundo, que a saúde é um direito fundamental do ser humano e que o Estado

deve fornecer os mecanismos necessários ao seu pleno exercício. (GOMES, 2007, 22).

No Brasil, disciplinar a produção, transporte, armazenagem, distribuição, exposição,

comercialização e consumo de alimentos; compete concomitantemente a ANVISA, ao Ministério da

Agricultura, Pecuária e Abastecimento – MAPA, e ao Ministério da Saúde.

Acompanhando uma tendência mundial, a estes órgãos cumpre garantir a defesa do

consumidor, e para tanto empenham-se no monitoramento do processo produtivo “da fazenda ao

prato”, uma vez que a ingestão convencional de alimentos está diretamente relacionada à saúde, bem-

estar, longevidade e gastos do Estado com os seus cidadãos, visto que os alimentos são vetores

expressivos no bem-estar físico, biológico e na transmissão de patógenos.

No Brasil, as primeiras atividades da vigilância sanitária começaram ainda no final do

século XVIII, com o intuito de evitar a propagação de doenças. E conforme destaca o professor José

Carlos Gomes:

“as epidemias, na época, absorviam a maior parte dos recursos da saúde publica e, por isso, o controle sanitário era principalmente canalizado para o

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combate das doenças”

(GOMES, 2007, 25),

Assertiva harmônica ao que assevera FERREIRA (1995) quando discorre que de modo

geral, considera-se para cada unidade monetária gasta no enriquecimento de alimentos, a economia de

oitenta nos serviços sociais de aposentadoria precoces, internações hospitalares, etc. (FERREIRA,

199).

Atualmente o arcabouço principal que disciplina a rotulagem de alimentos compreende

vinte e sete diplomas legais, sendo: cinco Decretos, quatro Instruções Normativas, duas Leis, oito

Portarias e oito Resoluções (ANEXO I).

Dentre estes, há que se dar especial atenção a Resolução RDC n. 259 da ANVISA, de 23 de

setembro de 2002, que em obediência as diretrizes previstas na Resolução n.21 do MERCOSUL/GMC,

de 20 de junho de 2002, aprova o “Regulamento Técnico sobre Rotulagem de Alimentos Embalados”,

trazendo em seu conteúdo definições fundamentais, como: o que é rotulagem, embalagem,

ingredientes, aditivo, fracionamento de alimento, lote, dentre outras informações, além do modo de

apresentação obrigatório, inclusive.

Insta oportuno destacar a Resolução RDC 360, também da ANVISA, publicada em 26 de

dezembro de 2003, que aprova o “Regulamento Técnico sobre Rotulagem Nutricional de Alimentos

Embalados, tornando obrigatória a rotulagem nutricional”.

Convém ressaltar que esta Resolução não obsta a norma prevista na Portaria n. 398/99, que

aprova o regulamento técnico das diretrizes básicas para análise e comprovação de propriedades

funcionais e ou de saúde alegadas em rotulagem de alimentos, que visa coibir a publicação, nos rótulos

dos produtos, de informações que possam confundir o consumidor por meio de nomenclatura e

alegações ("claims") de propriedades não demonstradas cientificamente, acompanhando assim a

tendência do Codex Alimentarius e de vários países de disciplinar as alegações sobre as propriedades

funcionais dos alimentos ou de seus componentes, e a segurança de uso com base em evidências

científicas; invocando os princípios gerais do Regulamento Técnico para Rotulagem de Alimentos

Embalados, que vetam a apresentação de atributos de efeitos ou propriedades que não possam ser

demonstrados, como também, proíbem a indicação de que o alimento possui propriedades medicinais

ou terapêuticas.

Há de se considerar ainda o disposto no Decreto 4.680/03, que concomitante a Portaria

2.658 da ANVISA, regulamenta o direito à informação, assegurado pela Lei n o 8.078, de 11 de

setembro de 1990, quanto aos alimentos e ingredientes alimentares destinados ao consumo humano ou

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animal que contenham ou sejam produzidos à partir de organismos geneticamente modificados (OGM),

definindo o símbolo de que trata o art. 2º, § 1º, daquele Decreto, ratificado pela Instrução Normativa nº

01, do APA, em 02 de abril de 2004.

No que concerne a pesquisa aplicada aos alunos, pudemos computar os seguintes

resultados:

1. Considerando um universo de 183 entrevistados, 121 (66%) afirmaram ler com freqüência as

informações contidas nos rótulos dos alimentos que consomem1, enquanto 62 (34%) disseram

não atentar a este critério;

2. Quando questionados quanto ao símbolo que identifica os alimentos produzidos a partir da

utilização de substância decorrentes de transgênicos, 27 (21%) souberam identificar, 49 (22%)

afirmaram não saberem e 47 (16%) apresentaram respostas diversas;

3. Na identificação dos refrigerantes com baixa caloria, 72 (60%) os classificaram de maneira

equivocada, sendo que 19 (16%) afirmaram se tratar de “água mineral gaseificada” e 53 (44%)

“água mineral aromatizada”. 20 (17%) não souberam dar opinião e apenas 29 (24%)

classificaram corretamente;

4. Quanto a indicação do “valor diário” recomendado pelo MS, 81 (67%) afirmaram conhecer a

sigla que aponta esta informação, sendo que 74 (61%) classificaram esta informação como

prioritária2;

5. Quando questionados quanto a natureza da “bebida láctea”, 66 (54%) a classificaram

erroneamente, tendo que 21 (17%) disseram se tratar de “leite aromatizado” e 45 (37%), iogurte

menos denso” e apenas 41 (34%) classificaram-na corretamente. 14 (12%) não souberam

responder;

6. 63 (52%) dos entrevistados consideraram a “identificação do lote e prazo de validade” como

sendo a informação mais relevante no rótulo do produto, contudo, destes, apenas 27 (22%)

conseguiram informa, com precisão, a localização daquela informação3.

No que concerne ao refrigerante com baixa caloria, é importante salientar que os

consumidores foram induzidos a erro em decorrência da forma com que este produto lhes foi

apresentado, conforme se pode verificar no comercial veiculado no lançamento deste produto, por meio

1 Apenas as respostas deste grupo foram consideradas na avaliação desta pesquisa. 2 Para esta avaliação deduziu-se o grau de prioridade apontado pelos entrevistados ao indicar esta informação dentre as três mais relevantes; 3 A fim de aferir esta informação, foi solicitado ao entrevistado que fornecesse os nomes de três produtos consumidos regularmente.

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televisivo em cadeia nacional, disposto na internet, sob endereço eletrônico:

http://www.youtube.com//watch?v=rpUt53tIfVE.

No referido comercial, o anunciante apresenta o produto H2OH!4, insinuando situação em

que peixes, no intuito de tornar a “vida mais saborosa”, planejam derramar o conteúdo de uma garrafa

daquele produto, dentro do aquário.

Preceitua o art.9º do Dec. 6871/09 que:

“o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento poderá recusar o registro ou cancelar registro já concedido de quaisquer dos produtos abrangidos por este Regulamento, caso a rotulagem, embalagem ou quaisquer outras características possam induzir o consumidor a erro quanto à classe, tipo ou natureza do produto”.

Neste mesmo sentido estabelecer a Resolução RDC 259/02:

“os alimentos embalados não devem ser descritos ou apresentar rótulo que: a) utilize vocábulos, sinais, denominações, símbolos, emblemas, ilustrações ou outras representações gráficas que possam tornar a informação falsa, incorreta, insuficiente, ou que possa induzir o consumidor a equívoco, erro, confusão ou engano, em relação à verdadeira natureza, composição, procedência, tipo, qualidade, quantidade, validade, rendimento ou forma de uso do alimento”.

Com o objetivo de colocar à disposição da população, informações necessárias para a

compreensão dos rótulos de alimentos, possibilitando a adoção de padrões alimentares saudáveis, a

ANVISA e a FINATEC/NUT-UnB, publicaram o “Manual de Orientação aos Consumidores”, que

auxiliam o consumidor na escolha de seus alimentos, evitando que ele possa se enganar na hora da

compra.

Neste sentido foram regulamentadas algumas informações que os rótulos de alimentos não

podem declarar. Dentre elas: palavras, sinais ou desenhos que possam tornar a informação do rótulo

falsa, insuficiente, incompreensível ou que possam levar a um erro do consumidor; atribuir ao produto

qualidades que não possam ser demonstradas; destacar a presença ou ausência de componentes que são

próprios dos alimentos; declarar que leite, queijo ou iogurte são alimentos ricos em cálcio, pois todos

estes alimentos são ricos em cálcio; declarar que óleo vegetal apresenta vitamina E, pois todos os óleos

vegetais apresentam vitamina E; declarar que óleo vegetal não apresenta colesterol, pois todos os óleos

vegetais não apresentam colesterol em sua composição; dentre outros.

7. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Como se pode observar ao longo do trabalho, a ANVISA, o MAPA, o SUS, e demais

entidades envolvidas em diversos programas de monitoramento, fiscalização, orientação, legislação e

4 H2OH! é marca registrada da Pepsi/AmBev

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policiamento produção, transporte, armazenagem, distribuição, exposição, comercialização, rotulagem

e consumo de alimentos, com vistas a promover não só a segurança do consumidor, mas assegurar a

proteção de seus interesses e do Estado, no que concerne à saúde pública, têm criado normas, sistemas

e mecanismos diversos, no entanto, os resultados apontam um desconhecimento das informações

contidas nos rótulos dos produtos pelos entrevistados e sugerem a ineficácia desta normas e ações

promovidas pelo Estado na defesa desses interesses constitucionais.

No intuito de proporcionar esta segurança, é bem verdade que a ANVISA, principal órgão

responsável, estabelece um severo programa de monitoramento da qualidade sanitária dos alimentos,

sustentada em sólidos pilares, todavia, a partir da pesquisa realizada foi possível perceber falhas

identificadas no registro dos rótulos de vários produtos, cuja indústria, levada pelo monumental aparato

publicitário, lança incessantemente novos produtos e serviços no mercado, enxergando o consumidor

apenas sob a ótica economicista de valores (PEREIRA:2006), que com pouca opção jurídica, e em

decorrência de sua limitação de conhecimentos tecnológicos, ratifica sua condição de hipossuficiente

frente ao apelo do comércio.

Como se pode observar: há um grande número de produtos em circulação cujos rótulos não

preservam os devidos cuidados estabelecidos na legislação com o intuito de proteger o consumidor,

para que este não cometa erros no momento da escolha do produto. Fato comprovado a partir da

pesquisa que revelou a incapacidade ou desinteresse por parte do consumidor, em interpretar critérios

necessários às boas práticas alimentares, refletindo a negligência a princípios e cuidados fundamentais

na escolha e preparo de alimentos.

A falta de critério na seleção do alimento pode acarretar graves conseqüências à saúde, e o

parco conhecimento induz o consumidor a erro.

Os resultados concluem no desconhecimento das informações contidas nos rótulos pelos

entrevistados e sugerem a ineficácia das normas e ações promovidas pelo Estado na defesa desses

interesses constitucionais.

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8. BIBLIOGRAFIA PEREIRA, Hiraldo Leite. Língua e consumo: apresentação de produtos e serviços na língua do consumidor. As políticas lingüísticas das américas em um mundo multipolar: anais [do] / III Seminário Interamericano Sobre a Gestão das Línguas. - Rio de Janeiro: União Latina, 2006. ParkGraf Editora Ltda. – Petrópolis – RJ. 2006. CAMARA, Maria Clara Coelho.Análise crítica da rotulagem de alimentos diet e light no Brasil. Maria Clara Coelho Camara. Rio de Janeiro: s.n, 2007. x, 47 p., tab. BRASIL. Rotulagem nutricional obrigatória: manual de orientação aos Consumidores - Alimentos / Agência Nacional de Vigilância Sanitária – Universidade de Brasília – Brasília : Ministério da Saúde, Agência Nacional de Vigilância Sanitária / Universidade de Brasília, 2005. 17p. BRASIL. Código Penal e Constituição Federal. Obra coletiva de autoria da Editora Saraiva com a colaboração de Antonio Luiz de Toledo Pinto, Márcia Cristina Vaz dos Santos Windt e Lívia Céspedes. – 13. Ed. – São Paulo : Saraiva, 2007. ALLEMAR, Aguinaldo. Breves anotações sobre a tutela estatal à relação de consumo no direito estrangeiro: http://www.allemar.prof.ufu.br/consumo.pdf (acessado em 28/07/2008).

BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Coordenação-Geral da Política de Alimentação e Nutrição. Guia alimentar para a população brasileira / Ministério da Saúde, Secretaria de Atenção à Saúde, Coordenação-Geral da Política de Alimentação e Nutrição. – Brasília : Ministério da Saúde, 2005.

BUSSAB, W. O. e MORETTIN, P. A. Estatística Básica. São Paulo: Editora Saraiva, 2003. BARBETTA, P. A. Estatística Aplicada às Ciências Sociais. Florianópolis: Editora da UFSC, 1998. BRASIL. Rotulagem nutricional obrigatória: manual de orientação aos consumidores Alimentos / Agência Nacional de Vigilância Sanitária – Universidade de Brasília – Brasília : Ministério da Saúde, Agência Nacional de Vigilância Sanitária / Universidade de Brasília, 2001. 45p. BRASIL. Ministério da Saúde. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Resolução - RDC nº 259, de 20 de setembro de 2002. D.O.U de 23/09/2002. BRASIL. Ministério da Saúde. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Resolução - RDC n° 3. de 2 de janeiro de 2001. BRASIL. Ministério da Agricultura e do Abastecimento. Secretaria de Defesa Agropecuária. Instrução Normativa n° 30, de 27 de setembro de 1999. Brasil. Ministério da Agricultura e do Abastecimento. Portaria nº 371, de 04/09/97 - Regulamento Técnico para Rotulagem de Alimentos Embalados, de 04 de setembro de 1997. BRASIL. Ministério da Saúde. Regulamento Técnico referente a Rotulagem Nutricional de Alimentos Embalados. Portaria n. 41(12), de 14 de janeiro de 1998 - SVS. Brasília: Ministério da Saúde, 1998. BRASIL. Ministério da Saúde. Resolução n. 94, de 19 de novembro de 2000 (D.O.U. 3 de novembro de 2000) da Agência Nacional de Vigilância Sanitária, que aprova o Regulamento Técnico para Rotulagem Nutricional Obrigatória de Alimentos

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e Bebidas Embalados. Brasília: Ministério da Saúde, 2000. BRASIL. Aprova o Regulamento Técnico sobre Rotulagem Nutricional de Alimentos Embalados – Resolução RDC nº 360, de 23 de dezembro de 2003 – ANVISA - Ministério da Saúde, Brasil. Diário Oficial da União. Brasília, 26 de dezembro de 2003. BRASIL. Regulamento Técnico para Rotulagem de Produto de Origem Animal Embalado - Instrução Normativa nº 22, de 24 de novembro de 2005 - Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Brasil. Diário Oficial da União Brasília, 25 de novembro de 2005, seção 1, páginas 15 e 16. Brasil. Ministério da Agricultura e do Abastecimento. Rotulagem e registro na SIPA (Portaria nº 9, de 26 de fevereiro de 1986, bem como no Certificado Sanitário, deve ser observada a Circular nº 061, de 02.09.1983 e Circular nº 024/DICAR de 23.03.88. CODEX. Norma General para el Etiquetado de los Alimentos Preenvasados. CODEX STAN 1-1985, Rev. 1-1991. http://www.codexalimentarius.net/download/standards/32/CXS_001s.pdf (acessado em 23/07/2008). CODEX. Norma General para el Etiquetado de Aditivos Alimentarios que se venden Como Tales. CODEX STAN 107-1981. http://www.codexalimentarius.net/download/standards/2/CXS_107s.pdf (acessado em 23/07/2008). SANTOS, Regina Rezende dos. CRB. 5 / 1326 Bibliotecária / DIVISA Coletânea de monografias do curso de especialização em saúde coletiva com concentração em vigilância sanitária / Maria das Graças Hortélio Alves (Organizadora). - Salvador-Ba: DIVISA / ISC, 2004. 186p. il. Yoshizawa, N.; Pospissil, R.; Valentim, A.; Seixas, D.; Alves, F.; Cassou, F.; Yoshida, I.; Sega, R.; Cândido, L.. Rotulagem de alimentos como veículo de informação ao consumidor: adequações e irregularidades. Boletim do centro de pesquisa de processamento de alimentos, América do Sul, 21 22 02 2005. CELESTE, Roger K. Análise comparativa da legislação sobre rótulo alimentício do Brasil, Mercosul, Reino Unido e União Européia. Rev Saúde Pública 2001;35(3):217-23 217. www.fsp.usp.br/rsp (acessado em 21/07/2008). Câmara MCC, Marinho CLC, Guilam MC, Braga AMCB. A produção acadêmica sobre a rotulagem de alimentos no Brasil. Rev Panam Salud Publica. 2008;23(1):52–58. FERREIRA, Andréa Benedita; LANFER-MARQUEZ, Ursula Maria. Legislação brasileira referente à rotulagem nutricional de alimentos (Brazilian food labeling regulations) Rev. Nutr., Campinas, 20(1):83-93, jan./fev., 2007. Monteiro RA, Coutinho JG, Recine E. Consulta aos rótulos de alimentos e bebidas por freqüentadores de supermercados em Brasília, Brasil. Rev Panam Salud Publica. 2005;18(3):172-177 Coutinho JG, Recine E. Experiências internacionais de regulamentação das alegações de saúde em rótulos de alimentos. Rev Panam Salud Publica. 2007;22(6):432-437 SCAGLIUSI, Fernanda Baeza ; MACHADO, Flávia Mori Sarti ; TORRES, Elizabeth Aparecida Ferraz

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da Silva. Marketing aplicado à indústria de alimentos http://www.nutrociencia.com.br/upload_files/artigos_download/marketing.pdf (acessado em 28/07/2008). MACÊDO, J. A. B.; BARBOSA, N.R.;LEÃO, R.M.C.; VIEIRA, L.G.. Avaliação de rótulo e rotulagem de diferentes variedades de leite em pó, comercializados na cidade de Juiz de Fora - Minas Gerais. Revista do Instituto de Laticínios Candido Tostes, V.54, n.309, Jul/Ago 1999, p.210-216. 9. LISTA DE SIGLAS Acordo SPS - Acordo sobre Medidas Sanitárias e Fitossanitárias (ou SPS Agreement - Agreement on the Aplplication of Sanitary and Phytosanitary Measures) Acordo TBT - Acordo sobre Barreiras Técnicas ao Comércio (ou TBT Agreement - Agreement on Technical Barriers to Trade) AIS - Auto de Infração Sanitária Anvisa - Agência Nacional de Vigilância Sanitária (sigla atual) ANVS - Agência Nacional de Vigilância Sanitária (sigla antiga) APPCC - Análise de Perigos e Pontos Críticos de Controle (ou HACCP - Hazard Analysis Critical Control Point) BPA - Boas Práticas Agrícolas BPF - Boas Práticas de Fabricação BPH - Boas Práticas de Higiene CAC - Comissão do Codex Alimentarius (Codex Alimentarius Commission) CCE - Comissão das Comunidades Européias CDC - Código de Defesa do Consumidor CFDD - Conselho Federal Gestor do Fundo de Defesa de Direitos Difusos. CNNPA - Conselho Nacional de Normas e Padrões para Alimentos DOU - Diário Oficial da União FAO - Food and Agriculture Organization FDA - Agência Norte-Americana de Vigilância Sanitária de Alimentos e Medicamentos (Food and Drug Administration) GPROP/DIFRA - Gerência de Fiscalização e Monitoração de Propaganda, Publicidade, Promocao e Informação de Produtos Sujeios à Vigilância Sanitária/Diretoria Franklin Rubinstein Anvisa IBOPE - Instituto Brasileiro de Pesquisa e Opinião Pública IDEC - Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor MAPA - Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento MP - Medida provisória n - número OMC - Organização Mundial do Comércio (ou WTO - World Trade Organization) OMS - Organização Mundial da Saúde (ou WHO - World Health Organization) OMS - Organização Mundial de Saúde PCC - Pontos Críticos de Controle PIQ - Padrão de Identidade e Qualidade POP - Procedimento Operacional Padrão PPHO - Procedimento Padrão de Higiene Operacional RDC - Resolução da Diretoria Colegiada Reg.MS. - Registro no Ministério da Saúde Res.Anvisa - Resoução da Agência Nacional de Vigilância Sanitária RSI - Regulamento Sanitário Internacional SIF - Serviço de Inspeção Federal SIH - Sistema de Informações Hospitalares SIM - Sistema de Informação sobre Mortalidade SNVS - Secretaria Nacional de Vigilância Sanitária

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SUS - Sistema Único de Saúde SVS - Secretaria de Vigilância Sanitária UAN - Unidade de Alimentação e Nutrição VE-DTA - Vigilância Epidemiológica das Doenças Transmitidas por Alimentos