informativo_abril_2012

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Ano 3 - n o 4 - abril de 2012 Rua Heitor Penteado, 964 - Sumarezinho - São Paulo - SP - F.: 3868-4063 / 3873-2133 Análise: o que é isso? Sigmund Freud disse, com muita propriedade, que “o homem não é senhor em sua própria casa”. Afinal, em muitas ocasiões (ou quase sempre), esse mamífero falante, atraves- sa a vida com o fardo da an- gústia. A história humana tem os sintomas do desamparo. O homem tropeça no arsenal de fantasias e segue, com modos prepotentes dentro da redoma infantil. O oráculo está de cabe- ça para baixo. Sua alma é um entulho de assombração com o coração lavrado nos assuntos da morte. Seus atalhos são obs- curos e a queda é certa, no pre- cipício da insensatez. Por não saber o caminho, renuncia aos sopros da vida quando desfila cego e torto, entre cetins e lan- tejoulas. O corpo encouraçado perdeu as funções básicas. Até a respiração, elemento vital, está ofegante dentro do couro murcho e sonolento. E quando não reclama, como um bebê aos prantos, se lasca silencio- so no sofá da sala, diante da televisão (onde a vida é uma mercadoria). A vida é uma possibilidade grandiosa, isto foi dito pelo gê- nio de Wilhelm Reich, para ser desperdiçada com a baba do ódio, o ronco da inveja, o eco do ciúme e outros pendurica- lhos mortíferos. Eis o homem, assanhado e arrogante, cuja jornada é uma tempestade es- colhida a dedo, pelo princípio do prazer. Seu inferno, criado em berço esplêndido, é aqui. O bicho é a própria Medeia vestida no sangue da cobiça. E segue. Escolhe sem pensar. E segue. Estilhaça a vida de maneira infantil, no teatro das ilusões, sem fim. Afinal, tem como desculpa esfarrapada o destino ou as engrenagens do modo de produção (tanto faz, a cegueira é a mesma). O homem está surdo e cego, rugindo na direção de automóveis reluzentes (como Édipo, perdido sob o sol irra- diante da manhã). E segue com os punhos de narciso. Apaixo- nado pela bandeira da perver- são em seus labirintos onde a sedução se espraia e devora, sem piscar. Sua agonia é oca e paralisante. Para dormir: as- pirinas, em nome da indústria farmacêutica. Para encontrar a mulher: sementes azuis de Via- gra. Para os seios: porções de silicone. Para emagrecer, sob os imperativos da moda: folhas de alface em jejum ou o dedo fálico no meio da garganta. Para alcançar a fama: quinze minutos expostos ao açougue da mídia. Para um momento de tristeza, gesto tão humano, um arsenal medicamentoso, afinal, os imperativos do gozo reque- rem a felicidade eterna e sem limites. Para festejar a vitória de qualquer coisa: festanças regadas a álcool. E segue, de modo compulsivo, à procura de soluções mágicas. Será que o estatuto da vida só serve para aglomerar dores? Será que a única maneira de viver é capengar nos alicerces da eterna insatisfação? Afinal, análise , o que é isso? É a possibilidade do sujeito encontrar o (seu) barco para acomodar as tempestades. Aprumar o olho em direção às flores generosas da vida. Aná- lise é a possibilidade de sentir que o dragão, muitas vezes, é apenas um calango. Que o diga a canção de Eros. Mário Cezar Cândido Queiroz – psicanalista $57,*2 No dia 7 de abril teve início as reuniões do Núcleo do Autoconhecimento do IBCP. Trata-se de um espaço para aqueles que pretendem olhar para suas emoções, suas relações, seu corpo, na busca pela felicidade Um indivíduo não vive sozinho. Sua vida está alicerçada na convi- vência, na troca de informações, de impressões, de conhecimentos. De alguma forma, cada um de nós busca a interação, a identificação com um representante de nossos desejos, anseios, e que possa apon- tar em nós aquilo que não vemos, ou apenas percebemos muito sutil- mente. Precisamos do outro como uma espécie de espelho, na difícil tarefa de refletir aquilo que não conseguimos ou não queremos ver. A partir dessas reflexões, o IBCP reuniu uma equipe de psicanalistas, empenhados na elaboração de um projeto, que propiciasse a interação entre pessoas dispostas a discutir sobre suas dificuldades, nos mais variados aspectos da vida. Crenças, mitos e muitos outros assuntos, fa- zem parte das reuniões dos sábados à tarde, no Núcleo de Autoconheci- mento do IBCP. Um olhar para a maturidade Um olhar para as relações Um olhar para o corpo e Um olhar para a prosperidade Afinal, durante a vida, passamos por muitas fases, às vezes sem ter esse olhar atento para cada uma delas, e as infinitas possibilidades que acompanham o indivíduo, para a tão almejada felicidade. E então, como está o seu olhar? Para a psicanalista Sandra Fi- gueiredo, o Núcleo “poderá colabo- rar para que as emoções, muitas ve- zes ignoradas, possam ser olhadas fase a fase, proporcionando alívio e despertando para a vida, com mais harmonia e responsabilidade”. Um dos objetivos do trabalho é “atingir uma consciência com alegria e ma- turidade”, enfatiza ela. Participante assídua dos grupos terapêuticos, notadamente aquele que trata da maturidade do ser, Marli Aparecida Piovezan disse que a partir das dinâmicas descobriu que queria muito ter uma casa no interior de São Paulo. “Acabei por realizar meu sonho e estou muito feliz. Antes parecia muito difícil, quase impossível. Mas assumi meu desejo. Contei com a ajuda do grupo da maturidade”, disse ela animadamente. DUAS HORAS PARA OLHAR Sandra, Tereza Cristina e Mário Cézar integram o Núcleo O NÚCLEO REALIZA REUNIÕES AOS SÁBADOS, DAS 14 ÀS 16h VENHA FAZER PARTE DESTE GRUPO!

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Page 1: INFORMATIVO_ABRIL_2012

Ano 3 - no 4 - abril de 2012

Rua Heitor Penteado, 964 - Sumarezinho - São Paulo - SP - F.: 3868-4063 / 3873-2133

Análise: o que é isso?

Sigmund Freud disse, com muita propriedade, que “o homem não é senhor em sua própria casa”. Afinal, em muitas ocasiões (ou quase sempre), esse mamífero falante, atraves-sa a vida com o fardo da an-gústia. A história humana tem os sintomas do desamparo. O homem tropeça no arsenal de fantasias e segue, com modos prepotentes dentro da redoma infantil. O oráculo está de cabe-ça para baixo. Sua alma é um entulho de assombração com o coração lavrado nos assuntos da morte. Seus atalhos são obs-curos e a queda é certa, no pre-cipício da insensatez. Por não saber o caminho, renuncia aos sopros da vida quando desfila cego e torto, entre cetins e lan-tejoulas. O corpo encouraçado perdeu as funções básicas. Até a respiração, elemento vital, está ofegante dentro do couro murcho e sonolento. E quando não reclama, como um bebê aos prantos, se lasca silencio-so no sofá da sala, diante da televisão (onde a vida é uma mercadoria).

A vida é uma possibilidade grandiosa, isto foi dito pelo gê-nio de Wilhelm Reich, para ser desperdiçada com a baba do ódio, o ronco da inveja, o eco do ciúme e outros pendurica-lhos mortíferos. Eis o homem, assanhado e arrogante, cuja jornada é uma tempestade es-colhida a dedo, pelo princípio do prazer. Seu inferno, criado em berço esplêndido, é aqui. O bicho é a própria Medeia vestida no sangue da cobiça. E segue. Escolhe sem pensar. E segue. Estilhaça a vida de maneira infantil, no teatro das ilusões, sem fim. Afinal, tem

como desculpa esfarrapada o destino ou as engrenagens do modo de produção (tanto faz, a cegueira é a mesma).

O homem está surdo e cego, rugindo na direção de automóveis reluzentes (como Édipo, perdido sob o sol irra-diante da manhã). E segue com os punhos de narciso. Apaixo-nado pela bandeira da perver-são em seus labirintos onde a sedução se espraia e devora, sem piscar. Sua agonia é oca e paralisante. Para dormir: as-pirinas, em nome da indústria farmacêutica. Para encontrar a mulher: sementes azuis de Via-gra. Para os seios: porções de silicone. Para emagrecer, sob os imperativos da moda: folhas de alface em jejum ou o dedo fálico no meio da garganta. Para alcançar a fama: quinze minutos expostos ao açougue da mídia. Para um momento de tristeza, gesto tão humano, um arsenal medicamentoso, afinal, os imperativos do gozo reque-rem a felicidade eterna e sem limites. Para festejar a vitória de qualquer coisa: festanças regadas a álcool. E segue, de modo compulsivo, à procura de soluções mágicas.

Será que o estatuto da vida só serve para aglomerar dores? Será que a única maneira de viver é capengar nos alicerces da eterna insatisfação?

Afinal, análise , o que é isso?

É a possibilidade do sujeito encontrar o (seu) barco para acomodar as tempestades. Aprumar o olho em direção às flores generosas da vida. Aná-lise é a possibilidade de sentir que o dragão, muitas vezes, é apenas um calango. Que o diga a canção de Eros.

Mário Cezar Cândido Queiroz – psicanalista

No dia 7 de abril teve início as reuniões do Núcleo do Autoconhecimento do IBCP. Trata-se de um espaço para aqueles que pretendem olhar para suas emoções, suas relações, seu corpo, na busca pela felicidade

Um indivíduo não vive sozinho. Sua vida está alicerçada na convi-vência, na troca de informações, de impressões, de conhecimentos. De alguma forma, cada um de nós busca a interação, a identificação com um representante de nossos desejos, anseios, e que possa apon-tar em nós aquilo que não vemos, ou apenas percebemos muito sutil-mente. Precisamos do outro como uma espécie de espelho, na difícil tarefa de refletir aquilo que não conseguimos ou não queremos ver.

A partir dessas reflexões, o IBCP reuniu uma equipe de psicanalistas, empenhados na elaboração de um projeto, que propiciasse a interação entre pessoas dispostas a discutir sobre suas dificuldades, nos mais variados aspectos da vida. Crenças, mitos e muitos outros assuntos, fa-zem parte das reuniões dos sábados à tarde, no Núcleo de Autoconheci-mento do IBCP.

Um olhar para a maturidadeUm olhar para as relaçõesUm olhar para o corpo eUm olhar para a prosperidade

Afinal, durante a vida, passamos por muitas fases, às vezes sem ter esse olhar atento para cada uma delas, e as infinitas possibilidades que acompanham o indivíduo, para a tão almejada felicidade.

E então, como está o seu olhar?Para a psicanalista Sandra Fi-

gueiredo, o Núcleo “poderá colabo-rar para que as emoções, muitas ve-zes ignoradas, possam ser olhadas fase a fase, proporcionando alívio e despertando para a vida, com mais harmonia e responsabilidade”. Um dos objetivos do trabalho é “atingir uma consciência com alegria e ma-turidade”, enfatiza ela.

Participante assídua dos grupos terapêuticos, notadamente aquele que trata da maturidade do ser, Marli Aparecida Piovezan disse que a partir das dinâmicas descobriu que queria muito ter uma casa no interior de São Paulo. “Acabei por realizar meu sonho e estou muito feliz. Antes parecia muito difícil, quase impossível. Mas assumi meu desejo. Contei com a ajuda do grupo da maturidade”, disse ela animadamente.

DUAS HORAS PARA OLHAR

Sandra, Tereza Cristina e Mário Cézar integram o Núcleo

O NÚCLEO REALIZA REUNIÕES AOS SÁBADOS, DAS 14 ÀS 16h

VENHA FAZER PARTE DESTE GRUPO!

Page 2: INFORMATIVO_ABRIL_2012

CONVÊNIOS: CPP - Centro do Professorado Paulista SINSESP - Sindicato das Secretárias do Estado de São Paulo

A ESCUTA

O que você anda escutando? Sua música

preferida, no seu fone de ouvido, em meio à

multidão? As buzinas que entram em seus ou-

vidos num congestionamento? Seus próprios

pensamentos? ou alguém que está a seu lado?

Mas, será que você está escutando mesmo?

Necessitamos nos comunicar com outros

seres humanos, queremos que nos escutem,

caso contrário, viveremos em solidão? Para

que essa escuta seja satisfatória devemos nos

desnudar de preconceitos e julgamentos? É

como olhar-se no espelho e conseguir se iden-

tificar? Primeiro me respeito, sei quem sou, daí

posso diferenciar-me, podendo assim escutar o

externo e seu significado, separando o que é o

meu pensar/sentir, do pensar/sentir do outro?

Vivemos no coletivo para adquirir impor-

tantes virtudes, como paciência e superação?

Ou nossa vida é uma guerra interna e externa

onde ninguém se escuta, ninguém se entende?

Com a ajuda da psicanálise podemos per-

ceber nosso ser, nossos desejos, tomar posse

de nós mesmos como sujeito e assim fazer

nossas escolhas na vida.

Experimente tirar seu fone de ouvido, dire-

cione sua atenção, escute sua mensagem, sua

história. Lembre-se dos primeiros desenhos

dos homens das cavernas, eram representa-

ções do que viam. Observe gestos, olhares,

porque escutar implica em: estar atento, per-

ceber e entender, mesmo que a mensagem

não tenha “som”.

Márcia Gallão Lourenço - turma I

Você já pensou sobre a im-portância de escutar o que uma criança quer dizer com seu choro, suas emoções? Pois saiba que em suas expressões nada é gratuito, já que nós somos seres de linguagem desde muito cedo.

A psicanalista Françoise Dolto afirma que a expressão das mágo-as com palavras permite à criança humanizar-se. Há o desejo dos pais e filhos de se compreende-rem mutuamente. E é a mediação da palavra que permite esse en-tendimento na família. Centradas nesses objetivos, as psicanalistas Maria Therezinha Thomazin e Fá-tima Esteves, criaram um espaço de discussão e aprendizado para

psicanalistas, estagiários, psicólo-gos e profissionais interessados na área, dispostos a ingressar na difícil tarefa de decifrar o código dos pequenos.

O aluno de psicanálise da turma I, Ricardo Martinez, disse que reco-menda o curso porque “aprendeu a olhar a criança de forma diferente, mais de acordo com a sua lingua-gem”. Segundo ele, “a criança é muito natural, seu comportamento muda em segundos. Aprendi a descontrair”.

Para Maria Therezinha, o curso oferece conhecimentos para o pro-fissional trabalhar com a escuta da criança e, acrescenta, “já que o in-consciente é atemporal, o psicanalis-

ta também poderá aprender a lidar com a criança interna do paciente”.

Para Fátima Esteves, “esta Orien-tação Infantil visa contribuir não só com a formação dos profissionais, como enriquecer a convivência dos pais e cuidadores”.

O Projeto Orientação Infantil: “A escuta analítica no espaço da crian-ça” reserva toda terceira sexta-feira do mês, sempre às 19 horas, esse espaço de discussão e aprendizado.

O próximo encontro ocorrerá no dia 20 de abril, com o tema “A linguagem e a fala”.

VENHA CONHECER O UNIVERSO DA CRIANÇA!

Maria Therezinha:

“é preciso escutar a criança”

Fátima: “enriquecer a convivência”

Ricardo: “aprendi a

descontrair”

Daniel, que freqüenta o IBCP, é um dos beneficiados pela escuta analítica da criança. De acordo com sua mãe, Luciana, “ele apresentou mudanças desde o início, quando meu marido e eu procuramos ajuda para uma situação que sozinhos não conseguíamos resolver”.

No dia 14 de abril, das 16 às 18 horas, ocorrerá o curso sobre Winnicott, ministrado pelo profes-sor e psicanalista Arthur Meucci. O objetivo é fa-miliarizar os psicanalistas com as discussões teóricas e técnicas que marca-ram de forma decisiva a história da psicanálise. Winnicott foi um dos mais importantes pensadores do movimento psicana-lítico depois de Freud. É um convite para repen-sar as práticas clínicas consagradas sobre uma nova perspectiva, que leva em consideração a busca pelo si-mesmo (Self), as relações transferenciais, transicionais e potenciais entre analista e paciente, entre outros.

DURAÇÃO: 3 MESES2° E 4° SÁBADOS DO MÊS

RESERVE SUA VAGA!

Arthur ajuda a repensar práticas clínicas