informativo vet today n19 -...

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A esterilização felina Evita a prenhez indesejada e o abandono de animais; Reduz os passeios externos; Auxilia no controle de contágio por doenças infecciosas, afecções do sistema reprodutivo, acidentes, traumatismos e intoxicações; Aumenta a expectativa de vida do gato Redução da taxa metabólica basal; Redução da atividade física; Redução das necessidades energéticas; Aumento da ingestão de alimentos; Aumento do risco de obesidade; Aumento da probabilidade de formação de cálculos urinários de estruvita e oxalato de cálcio; Aumento na concentração de glicose e lipídeos sanguíneos; Resistência à insulina. A esterilização é um procedimento cirúrgico rotineiramente utilizado para evitar a reprodução de modo definitivo em animais de estimação. A esterilização é recomendada para gatos não apenas pelos vários benefícios diretos aos animais, mas também pelos benefícios aos proprietários e à sociedade, embora benéfica, vários estudos sugerem a ocorrência de alterações importantes no organismo do animal após a esterilização, para as quais os proprietários devem ser alertados pelo Médico-Veterinário (fig.1). N°19 • Setembro/2013 Vets TODAY Referências Bibliográficas Belsito, KR. J Anim Sci. 87:594-602, 2009. Fettman MJ, et al. Res Vet Sci. 62: 131-136, 1997. Kanchuk, ML et al J Nutr. 132: 1730-1732S, 2003. Lekcharoensuk, C et al. J Am Vet Med Assoc. 217(4): 520-525, 2000 Root, MV et al. Am J Vet Re. 57:371–374, 1996. Scarlett, JM et al. Int J Obesity. 18:22-28S, 1994. Prahl et al. JFMS, 9: 351-358, 2007. Mendes, WS. Esterilização felina e urolitíases: abordagem com foco no RSS. Vets today, 17, Royal Canin, 2013. Panciera DL et al. J Am Vet Med Assoc, 197:1504-1508, 1990. Lund EM et al. Intern J Appl Res Vet Med, 3: 88-9, 2005. Dúvidas, sugestões e informações sobre nossos Informativos Técnicos, por favor entrem em contato pelo e-mail: [email protected] Figura 1: Benefícios e possíveis alterações causadas pela esterilização em felinos. BENEFÍCIOS DA ESTERILIZAÇÃO: POSSÍVEIS ALTERAÇÕES CAUSADAS PELA ESTERILIZAÇÃO: Alimentos completos exclusivos para prescrição e balanceados para gatos esterilizados Feldhahn JR, et al. J Fel Med Surg, 1: 107-115, 1999. Nelson RW, et al. Am J Vet Res 51: 1357-1362, 1990. Laflamme DP, Hannah SS. Intern J Appl Res Vet Med, 3: 62-68, 2005. Harper, et al. J. Small Anim. Pract. 42:433–438, 2001. Sunvold GD et al. WSAVA 1998 German, A; Martin, L. Feline obesity: epidemiology, pathophysiology and management. Encyclopedia of Feline Clinical Nutrition Royal Canin , p. 5-44, 2008. Alimentos completos exclusivos para prescrição e balanceados para gatos esterilizados Veterinary Care Nutrition Para fêmeas, da esterilização aos 7 anos de idade. Para machos, da esterilização aos 7 anos de idade. Para machos e fêmeas, da esterilização aos 7 anos de idade. Para gatos esterilizados a partir de 12 anos de idade, que apresentem manifestações claras de envelhecimento. Alimento rico em proteínas para contribuir para a manutenção do peso ideal Diluição da urina S/O INDEX Alto teor de fibra para promover a saciedade Calorias moderadas S/O INDEX Apoio ao envelhecimento: níveis moderados de fósforo e enriquecimento com antioxidantes Manutenção do peso ideal S/O INDEX YOUNG FEMALE YOUNG MALE WEIGHT CONTROL MATURE CONSULT SENIOR CONSULT Alimento rico em proteínas para contribuir para a manutenção do peso ideal Amido moderado S/O INDEX Para gatos esterilizados, dos 7 aos 12 anos de idade, que não apresentem manifestações claras de envelhecimento. Complexo Vitalidade: enriquecimento com antioxidantes Energia ideal S/O INDEX Criam ambiente desfavorável à formação de cálculos urinários de estruvita e oxalato de cálcio; Respeitam as diferenças entre machos e fêmeas; Apresentam soluções nutricionais específicas para o envelhecimento; Promovem a diluição urinária, baseando-se no índice de Supersaturação Relativa da urina (RSS), abordagem mais completa e eficiente para as urolitíases. Alguns autores citam que estas alterações podem estar relacionadas à interrupção da circulação de hormônios gonadais. O estrógeno, hormônio produzido pelas gônadas femininas, possui receptores no hipotálamo e interage com a leptina, aumentando sua atividade. A leptina, por sua vez, é responsável pelo controle da ingestão alimentar e a interação entre a leptina e o estrógeno possui papel na regulação do apetite, além disso, o estrógeno é associado ao aumento da atividade física voluntária. Portanto, a esterilização e a redução de estrógeno circulante podem estar relacionadas com falhas na regulação do apetite e no decréscimo da atividade física (Belsito et al, 2009). Particularmente na espécie felina, gatos machos esterilizados sofrem de modo mais pronunciado à perda de capacidade de regular o apetite do que as fêmeas. Nos machos, paradoxalmente, essa alteração pode não ser mediada pela interrupção da circulação de testosterona, mas sim regulada por estrógenos produzidos pelas glândulas androgênicas em quantidades inferiores à produção de estrógeno pelos ovários nas fêmeas, por atividade de aromatases teciduais (Kanuck et al, 2003). Coordenação Comunicação Científica Royal Canin do Brasil.

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Page 1: Informativo VET Today N19 - portalvet.royalcanin.com.brportalvet.royalcanin.com.br/download.aspx.../downloads/...N19.pdf · Redução da taxa metabólica basal; Redução da atividade

A esterilização felina

Evita a prenhez indesejada e o abandono de animais;

Reduz os passeios externos;

Auxilia no controle de contágio por doenças infecciosas,

afecções do sistema reprodutivo, acidentes,

traumatismos e intoxicações;

Aumenta a expectativa de vida do gato

Redução da taxa metabólica basal;

Redução da atividade física;

Redução das necessidades energéticas;

Aumento da ingestão de alimentos;

Aumento do risco de obesidade;

Aumento da probabilidade de formação de cálculos

urinários de estruvita e oxalato de cálcio;

Aumento na concentração de glicose e lipídeos

sanguíneos;

Resistência à insulina.

A esterilização é um procedimento cirúrgico rotineiramente utilizado para evitar a reprodução

de modo definitivo em animais de estimação. A esterilização é recomendada para gatos não

apenas pelos vários benefícios diretos aos animais, mas também pelos benefícios aos

proprietários e à sociedade, embora benéfica, vários estudos sugerem a ocorrência de

alterações importantes no organismo do animal após a esterilização, para as quais os

proprietários devem ser alertados pelo Médico-Veterinário (fig.1).

N°19 • Setembro/2013

VetsTODAY

Referências Bibliográficas

Belsito, KR. J Anim Sci. 87:594-602, 2009.

Fettman MJ, et al. Res Vet Sci. 62: 131-136, 1997.

Kanchuk, ML et al J Nutr. 132: 1730-1732S, 2003.

Lekcharoensuk, C et al. J Am Vet Med Assoc. 217(4): 520-525, 2000

Root, MV et al. Am J Vet Re. 57:371–374, 1996.

Scarlett, JM et al. Int J Obesity. 18:22-28S, 1994.

Prahl et al. JFMS, 9: 351-358, 2007.

Mendes, WS. Esterilização felina e urolitíases: abordagem com foco no RSS. Vets today, 17, Royal Canin, 2013.

Panciera DL et al. J Am Vet Med Assoc, 197:1504-1508, 1990.

Lund EM et al. Intern J Appl Res Vet Med, 3: 88-9, 2005.Dúvidas, sugestões e informações sobre nossos

Informativos Técnicos, por favor entrem em contato peloe-mail: [email protected]

Figura 1: Benefícios e possíveis alterações causadas pela esterilização em felinos.

BENEFÍCIOS DA ESTERILIZAÇÃO: POSSÍVEIS ALTERAÇÕES CAUSADAS PELA ESTERILIZAÇÃO:

Alimentos completos exclusivos para prescrição e balanceados para gatos esterilizados

Feldhahn JR, et al. J Fel Med Surg, 1: 107-115, 1999.

Nelson RW, et al. Am J Vet Res 51: 1357-1362, 1990.

Laflamme DP, Hannah SS. Intern J Appl Res Vet Med, 3: 62-68, 2005.

Harper, et al. J. Small Anim. Pract. 42:433–438, 2001.

Sunvold GD et al. WSAVA 1998

German, A; Martin, L. Feline obesity: epidemiology, pathophysiology and management.

Encyclopedia of Feline Clinical Nutrition Royal Canin , p. 5-44, 2008.

Alimentos completos exclusivos para prescrição e balanceados para gatos esterilizados

Veterinary Care Nutrition

Para fêmeas, da esterilização aos 7 anos de idade.

Para machos, da esterilização aos 7 anos de idade.

Para machos e fêmeas, da esterilização aos 7 anos de idade.

Para gatos esterilizados a partir de12 anos de idade, que apresentemmanifestações claras de envelhecimento.

Alimento rico em proteínas para contribuir para a manutenção do peso idealDiluição da urinaS/O INDEX

Alto teor de fibra para promover a saciedadeCalorias moderadasS/O INDEX

Apoio ao envelhecimento: níveis moderados de fósforo e enriquecimento com antioxidantesManutenção do peso idealS/O INDEX

YOUNG FEMALE

YOUNG MALE

WEIGHT CONTROL

MATURE CONSULT

SENIOR CONSULT

Alimento rico em proteínas para contribuir para a manutenção do peso idealAmido moderadoS/O INDEX

Para gatos esterilizados, dos 7 aos 12 anosde idade, que não apresentem

manifestações claras de envelhecimento.

Complexo Vitalidade: enriquecimento com antioxidantesEnergia idealS/O INDEX

Criam ambiente desfavorável à formação de cálculos urinários de estruvita e oxalato de cálcio;Respeitam as diferenças entre machos e fêmeas;Apresentam soluções nutricionais específicas para o envelhecimento;Promovem a diluição urinária, baseando-se no índice de Supersaturação Relativa da urina (RSS), abordagem mais completa e eficiente para as urolitíases.

Alguns autores citam que estas alterações podem estar relacionadas à interrupção da

circulação de hormônios gonadais. O estrógeno, hormônio produzido pelas gônadas femininas,

possui receptores no hipotálamo e interage com a leptina, aumentando sua atividade. A leptina,

por sua vez, é responsável pelo controle da ingestão alimentar e a interação entre a leptina e o

estrógeno possui papel na regulação do apetite, além disso, o estrógeno é associado ao

aumento da atividade física voluntária. Portanto, a esterilização e a redução de estrógeno

circulante podem estar relacionadas com falhas na regulação do apetite e no decréscimo da

atividade física (Belsito et al, 2009). Particularmente

na espécie felina, gatos machos esterilizados sofrem

de modo mais pronunciado à perda de capacidade de

regular o apetite do que as fêmeas. Nos machos,

paradoxalmente, essa alteração pode não ser mediada

pela interrupção da circulação de testosterona, mas

sim regulada por estrógenos produzidos pelas

glândulas androgênicas em quantidades inferiores à

produção de estrógeno pelos ovários nas fêmeas, por

atividade de aromatases teciduais (Kanuck et al,

2003).

Coordenação Comunicação Científica Royal Canin do Brasil.

Page 2: Informativo VET Today N19 - portalvet.royalcanin.com.brportalvet.royalcanin.com.br/download.aspx.../downloads/...N19.pdf · Redução da taxa metabólica basal; Redução da atividade

VetsTODAY VetsTODAY

Gatos esterilizados são 3,4 vezes mais propensos à obesidade,

principalmente entre 4 e 10 anos de idade (Scarlett et al, 1994). Os

mecanismos que contribuem para o ganho de peso após a esterilização

em gatos ainda não foram completamente elucidados. Alguns estudos

demonstraram que a esterilização causa mudanças na taxa metabólica,

na atividade física e no padrão de alimentação, levando ao ganho de

peso.

Root et al (1996) mensuraram, por calorimetria indireta, a taxa

metabólica de gatos esterilizados e gatos sexualmente intactos (não

esterilizados). Esses autores observaram uma produção de calor (medida

da taxa metabólica) 28% maior para machos intactos e 33% para fêmeas

intactas, comparados aos seus equivalentes esterilizados. Esses

resultados sugerem que gatos machos esterilizados requerem ingestão

calórica 28% menor do que gatos intactos e fêmeas esterilizadas 33%

menor do que gatas esterilizadas.

Fettman et al (1997) observaram redução de tiroxina (T4) e da taxa

metabólica basal em fêmeas esterilizadas, mas não em machos, três

meses após a esterilização. Os gatos dessa pesquisa foram alimentados

em regime ad libitum (à vontade) e todos os grupos apresentaram ganho

de peso e de tecido adiposo, porém, isto foi mais evidenciado nos grupos

de animais esterilizados, com maior proporção de ganho de peso na forma

de gordura quando comparados aos grupos de animais inteiros. Os

autores relacionaram essas observações ao aumento do consumo de

alimentos, mas consideraram que a redução da taxa metabólica

observada nas fêmeas esterilizadas possivelmente contribuiu para o

ganho de peso, e que, apesar de não monitorado nessa pesquisa, o nível de

atividade voluntária não pode ser descartado como fator contribuinte.

Belsito et al (2008) estudaram o impacto da esterilização e da ingestão de

alimentos na composição corporal, atividade física, parâmetros

bioquímicos e em genes associados ao metabolismo lipídico e à

inflamação em tecidos adiposo e muscular esquelético em gatas. O estudo

durou 24 semanas, sendo que nas primeiras 12 semanas os animais

foram alimentados com quantidade controlada para manutenção do peso

corporal, e nas 12 semanas conseguintes foram alimentados em regime

ad libitum. Para manter a condição corporal ideal após a esterilização, a

ingestão de alimentos precisou ser reduzida em 30,6%. As mudanças

significativas no período em que a alimentação foi fornecida à vontade (12

a 24 semanas) foram: o aumento do consumo voluntário de alimentos

(40,5%), do peso corporal, da gordura corporal, e do conteúdo mineral

ósseo (para suportar o ganho de peso corporal); e a, redução no

percentual de massa magra. Além disso foram observadas alterações em

parâmetros bioquímicos (aumento da glicose, triacilgliceróis e tendência

ao aumento da leptina) e na expressão genética de genes associados com

metabolismo lipídico e inflamação (decréscimo de LPL, HSL e adiponectina

mRNA, aumento de IL-6 mRNA), que foram associadas à interrupção da

circulação de estrogéno e à mudança do padrão alimentar (ad libitum). A

restrição de alimentos (0 a 12 semanas) também alterou alguns

parâmetros estudados, porém positivamente, e manteve os metabólitos

sanguíneos e a condição corporal inalterados, fundamentando a

importância da intervenção nutricional pós-esterilização com o objetivo de

prevenir a obesidade e desordens relacionadas. A atividade física sofreu

significativa redução total, de aproximadamente 52%, (destes, a redução

em 60% da atividade diurna e em 33% de atividade noturna). Nas

primeiras 12 semanas, quando a alimentação foi controlada, a atividade

diurna permaneceu inalterada, mas a atividade noturna decresceu

dramaticamente, em aproximadamente 20%. Já no período de

alimentação ad libitum, a atividade física total sofreu redução, porém com

maior impacto da atividade diurna.

Kanchuck et al (2003) observaram aumento significativo do consumo

A obesidade está no centro das possíveis alterações que podem surgir após a

esterilização dos felinos, uma vez que a obesidade está associada à ocorrência de

diversas doenças. Em estudo retrospectivo com 1457 gatos, Scarlett et al (1998) verificaram que comparados aos gatos com peso corporal ótimo, gatos obesos são

4,9 vezes mais propensos à claudicação, 3,9 vezes mais propensos à desenvolver

diabetes mellitus e 2,3 vezes mais propensos a desenvolver doenças dermatológicas

não alérgicas. Vários outros riscos à saúde são citados para felinos na literatura,

decorrentes da obesidade, dos quais merecem destaque as doenças do trato

urinário inferior, incluindo urolitíases, lipidose hepática e redução da expectativa de

vida.

As causas dessa íntima relação com a obesidade são variadas, mas sabe-se que

envolvem a liberação de citocinas pró-inflamatórias e hormônios pelo tecido adiposo

(adipocinas), bem como relaciona-se ao aumento do estresse oxidativo.

Gatos esterilizados são 7 vezes mais propensos à formação de urólitos de oxalato de

cálcio e 3,5 vezes mais propensos a desenvolver urólitos de estruvita, quando

comparados aos gatos sexualmente intactos (Lekcharoensuk et al, 2000).

O hormônio insulina é secretado pelas células B pancreáticas, e controla a absorção e

utilização de glicose em tecidos periféricos. Gatos esterilizados são mais propensos a

desenvolver diabetes mellitus tipo 2 (Panciera, 1990; Prahl, 2007).

A obesidade é o principal fator de risco para o diabetes felino (Nelson et al, 1990), que

está relacionado à redução da sensibilidade à insulina (Feldhahn et al, 1999).

Entretanto, a possibilidade da esterilização causar a resistênciainsulínica por outros

mecanismos não pode ser descartada.

Alguns estudos demonstram que gatos machos esterilizados sofrem de modo mais

pronunciado à perda de capacidade de regular o apetite e consequentemente

apresentam maior risco ao ganho de peso e ao acúmulo de gorduras corporais após

a esterilização. Em estudo retrospectivo com 8159 gatos, Lund et al (2005)

relataram que, de todos os grupos de gatos estudados (machos e fêmeas

esterilizados e intactos), os gatos machos esterilizados apresentaram maior

prevalência de sobrepeso (33,3%) e obesidade (7%), enquanto as fêmeas intactas

representaram o grupo com a menor prevalência.

Gatos esterilizados, especialmente os machos, são mais propensos a desenvolver

diabetes mellitus (Panciera, 1990; Prahl, 2007). Embora isto possa ser explicado por

uma possível diferença de ganho de peso e tecido adiposo de acordo com o sexo,

levando à redução da sensibilidade à insulina (Feldhahn et al, 1999), a possibilidade

de ocorrência de alterações hormonais distintas não devem ser excluídas.

Esterilização e obesidade

Consequências da obesidade

Esterilização e urolitíases

Esterilização e diabetes

Diferenças entre machos e fêmeas

Intervenções nutricionais para gatos esterilizados

voluntário de alimentos em gatos machos esterilizados, comparados aos gatos

intactos, além de um peso corporal aproximadamente 30% maior 36 semanas após

esterilização, como resultado de acréscimo de tecido adiposo. Como esses autores

não observaram redução da taxa metabólica basal, o ganho de peso foi relacionado ao

aumento do consumo de alimentos, evidenciado precocemente nesse estudo, já a

partir de apenas dois dias após a esterilização. Entretanto, o gasto energético basal foi

realizado através do isótopo de deutério e o gasto energético foi expresso com base

na massa magra, o que pode explicar os resultados diferentes dos encontrados na

literatura (redução de 20 a 25% na taxa metabólica basal após a esterilização), que

foram obtidos por outros métodos.

Palm & Westropp (2011) citaram em revisão de literatura que gatos machos

apresentam mais urólitos por oxalato de cálcio, quando comparados às

fêmeas. E, devido às características anatômicas (uretra mais longa e estreita),

os machos são mais acometidos por obstruções urinárias do que as fêmeas.

litíases. Nesse contexto, a substituição da polpa de beterraba por polpa de chicória é

uma medida eficaz para animais que têm maior predisposição ao desenvolvimento

de Oxalato de Cálcio, como gatos machos e animais idosos;

3. manipulação no pH urinário através da dieta a fim de produzir pH urinário inferior a

6,5 como medida preventiva à formação de cálculos de estruvita. O RSS para

cálculos de Oxalato de Cálcio não apresenta forte correlação com o pH urinário,

especialmente perante a diluição urinária que suplanta o efeito do pH, motivo pelo

qual não é necessário, tão pouco eficaz, fornecer alimento alcalinizante para a

prevenção e tratamento desse tipo de urólito.

(consultar maiores detalhes em Vets Today 17 – “Esterilização felina e urolitíases: abordagem

com foco no RSS”)

- Alimentos úmidos: a água não contém calorias. Alimentos úmidos podem ser

usados para reduzir a ingestão diária de energia e contribuir com a saciedade. Ao

mesmo tempo, consiste uma medida mais eficaz para reduzir o RSS para todos os

tipos de urólitos, por mecanismos já citados.

- Manejo alimentar: a adoção de apropriado manejo alimentar (e hídrico!) é também

muito importante. Qualquer alimento fornecido ad libitum é capaz de provocar

mudanças no peso e composição corporal. Por outro lado, empregar um alimento

inadequado à condição do animal (gatos esterilizados) em restrições inadequadas,

mesmo os bem formulados e de boa qualidade, pode provocar deficiências

nutricionais específicas.

Figura 2: Ação da L-carnitina no transporte de AGCL através da membrana mitocondrial

É importante ter em mente e

conscientizar os proprietários que os

benefícios da esterilização superam a

possib i l idade de ocorrência de

alterações, pois estas podem ser

evitadas a partir de cuidados e nutrição

adequada. Neste contexto, o papel do

médico-veterinário na orientação dos

proprietários e avaliação rotineira dos

pacientes é essencial para auxilar a

preservar a saúde e o bem-estar dos

gatos esterilizados!

Considerações finais

Frente a todas as possíveis alterações que podem ocorrer após a esterilização

felina, em especial a obesidade, é prudente adotar um alimento especialmente

formulado para gatos esterilizados e um manejo alimentar adequado.

De um modo geral, alimentos para gatos esterilizados devem apresentar:

- Baixa energia: a redução das calorias do alimento consiste na estratégia

primária para a manutenção da condição corporal ideal. Uma vez que os gatos

machos esterilizados apresentam maior predisposição à obesidade, um

alimento especialmente formulado, com menor aporte energético do que um

alimento para fêmeas pode ser interessante. A literatura sugere restrições

energéticas de 20 a 30%. Harper et al (2001) trabalharam com 55,5

kcal/kg/dia para manutenção da condição corporal ideal em gatos

esterilizados, mas verificaram que para alguns gatos é necessário utilizar

somente 40 kcal/kg/dia.

- Alta proteína: entre os nutrientes que fornecem energia, a proteína fornece a

menor quantidade em energia líquida (fração realmente aproveitada pelo

metabolismo celular). Além disso, as proteínas colaboram com o controle

glicêmico, saciedade e preservam a massa muscular magra (Laflamme &

Hannah, 2005). Outra estratégia interessante é aumentar a proporção de

calorias provenientes da proteína para machos esterilizados devido à sua

maior propensão ao ganho de peso.

- Alta Fibra: o maior aporte de fibras dietéticas contribui para a “diluição” da

energia e estimula os mecanismos mecânicos da saciedade de gatos glutões

(vulgo gulosos). Fontes de fibras com capacidade higroscópica (afinidade por

água), como a semente de psyllium e alguns tipos de celulose, promovem maior

saciedade induzida pela água absorvida. Porém, é importante ressaltar que as

fibras também afetam o aproveitamento de nutrientes, por reduzirem a

digestibilidade de todas as frações dietéticas. Portanto, não basta acrescentar

fibras à dieta dos animais. Os alimentos com alta fibra devem conter teores

elevados de nutrientes essenciais, incluindo os micronutrientes, a fim de se

evitar deficiências.

- L-carnitina: trata-se de um composto derivado dos aminoácidos lisina e

metionina, mas que também pode ser acrescentado diretamente aos

alimentos, com o objetivo de melhorar o transporte de ácidos graxos de cadeia

longa através da membrana mitocondrial e consequentemente otimizar sua

oxidação e produção de energia (ATP). Sunvold et al (1998) demonstraram a

eficácia da L-carnitina na perda de peso e gordura corporal em cães quando

fornecida em doses de 50-100 mg/kg. Não há dados publicados sobre gatos,

mas acredita-se que as doses eficazes sejam semelhantes (figura 2).

- Redução do RSS para oxalato de cálcio e estruvita através de:

1. promoção da ingestão de água, que pode ser obtida através do

fornecimento de alimentos com alto teor de umidade ou através do

incremento do teor de sódio na dieta a fim de estimular o consumo voluntário

de água (principal fator preventivo), promover a diurese, a queda da saturação

e diluição de macroelementos na urina;

2. seleção de ingredientes que não sejam ricos nos íons que compõem os ++ 3- 4+ 2+ 2-urólitos (estruvita: Mg , PO4 e NH ; oxalato de cálcio: Ca , C O ) e em 2 4

substâncias promotoras é o segundo fator mais importante na prevenção das