informativo de setembro/2016

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Participantes da Oficina de Avaliação Parcial, Brasília Informativo da Rare Brasil n o 2 | Setembro 2016 Equipes responsáveis pela implementação das Campanhas por Orgulho em seis Reservas Extrativistas no litoral brasileiro participam de oficina para avaliação da iniciativa em Brasília Oficina de Mapeamento Comunitário................................................... pág. 3 Entrevista com Monica Brick Peres, Oceana ...................................... pág. 5 Fique por dentro: Brasil e Moçambique, seleção de novas áreas de trabalho, vídeos educativos e mais .................................................... pág. 7 Entrevistas com Coordenadores de Campanha ................................ pág. 8

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Participantes da Oficina de Avaliação Parcial, Brasília

Informativo da Rare Brasilno 2 | Setembro 2016

Equipes responsáveis pela implementação das Campanhas por Orgulho em seis Reservas

Extrativistas no litoral brasileiro participam de oficina para avaliação da iniciativa em Brasília

• Oficina de Mapeamento Comunitário................................................... pág. 3

• Entrevista com Monica Brick Peres, Oceana ...................................... pág. 5

• Fique por dentro: Brasil e Moçambique, seleção de novas áreas de trabalho, vídeos educativos e mais .................................................... pág. 7

• Entrevistas com Coordenadores de Campanha ................................ pág. 8

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“Maré me leva, maré me traz...”, era o verso entoado pelo coro dos coordenadores das Campanhas por Orgulho durante uma atividade da oficina de avaliação que foi realizada pela Rare entre os dias 29 de agosto e 02 de setembro, em Brasília. A cantoria animou o relato de suas experiências, fruto do trabalho que vêm realizando ao implementar campanhas que visam o engajamento comunitário para a melhoria da gestão pesqueira nas Reservas Extrativistas (Resex) Marinhas de Cururupu (MA), Delta do Parnaíba (PI e MA), Prainha do Canto Verde (CE), Baía de Iguape (BA), Canavieiras (BA) e Pirajubaé (SC).

A iniciativa acontece no escopo do Pesca para Sempre, um programa global empreendido pela Rare em cinco países e que, no Brasil, conta com a parceria do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), da Comissão Nacional para o Fortalecimento das Reservas Extrativistas Costeiras e Marinhas (Confrem), de universidades, organizações locais e associações de moradores e pescadores.

Ao longo de cinco dias, cerca de 30 pessoas - além dos coordenadores das campanhas, também participaram do evento seus supervisores, os gestores das Resex, pesquisadores e estudantes das universidades parceiras, representantes da Confrem e da sede do ICMBio e integrantes da equipe técnica da Rare – tiveram a oportunidade de compartilhar e avaliar criticamente o aprendizado obtido pelo programa Pesca para Sempre em seus primeiros dois anos de atuação no país e traçar os passos e ações finais para que as campanhas possam ser concluídas com sucesso.

“A agenda foi planejada de forma a estimular um intercâmbio qualitativo das experiências e dos avanços

Oficina de Avaliação Parcial do Programa Pesca para Sempre

obtidos em cada área-alvo, contendo atividades em plenária e em pequenos grupos que possibilitaram tanto a reflexão sobre os desafios e as oportunidades das campanhas, quanto a proposição de sugestões de melhoria para os diferentes componentes do programa”, explica Luis Lima, diretor executivo da Rare Brasil.

Na avaliação do oceanólogo Enrico Marone, gerente de programas da Rare, as discussões foram bastante ricas e denotam o crescimento profissional dos coordenadores de campanha ao longo do processo. Ao apresentar o contexto e a evolução da iniciativa “Marisqueira com orgulho, quilombola para sempre!”, que coordena na Resex Marinha Baía de Iguape (BA) com o intuito de incrementar a renda das famílias extrativistas por meio do aumento da produção de ostras nativas, Daniel Souza ressaltou o protagonismo das mulheres que lideram a atividade na região. “O sucesso da campanha não é meu, nem da Rare, e tampouco das organizações locais. O sucesso da campanha é das marisqueiras”, afirmou.

Para Felipe Carvalho, especialista em pesca da Rare Brasil, a contribuição da academia no trabalho de monitoramento das espécies marinhas-alvo das campanhas e o notório aumento da participação e do engajamento dos pescadores nas atividades de manejo das Resex são fatos que merecem destaque. “Algumas discussões pontuais ocorridas na oficina também nos ajudaram a melhorar aspectos da estratégia pesqueirae do monitoramento e avaliação”, relata.

A discussão e as ideias resultantes da semana de avaliação foram, ao final, incorporadas aos planos de trabalho de cada Resex, documento que rege a execução das ações das Campanhas por Orgulho.

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Entre os meses de junho e julho deste ano, a Rare iniciou o trabalho de mapeamento comunitário das Resex Marinhas onde vem atuando. Um dos resultados esperados com esta ação é a identificação de áreas-chave para a criação de ‘áreas de reprodução’ (também chamadas de áreas sem pesca), uma estratégia essencial para a recuperação dos estoques pesqueiros das espécies-alvo das Campanhas por Orgulho.

Até o momento já foi realizado o mapeamento em quatro das seis reservas, sendo que a última oficina aconteceu na Reserva de Canavieiras, de 18 a 19 de julho, com a presença de aproximadamente 50 pescadores e lideranças das comunidades baianas de Puxim do Sul, Ilha de Atalaia, Canavieiras, Campinhos e Belmonte. Todas elas compõem o Grupo de Trabalho (GT) do Robalo, no âmbito da campanha “Robalo – eu pesco, eu amo, eu cuido’, implementada pela Rare e parceiros na região.

O objetivo desta oficina foi mapear os principais habitats da Resex Canavieiras, além de verificar as áreas de pesca mais utilizadas pelos pescadores artesanais do robalo na Reserva e os pontos críticos para a espécie (locais de desova e berçários de juvenis).

O especialista em pesca da Rare, Felipe Carvalho, conta que os habitats mais importantes observados foram os de água marinha, água estuarina, canais de rio, manguezais, apicuns, dunas, terra firme e ilhas. “Vários pesqueiros (pontos de pesca) e habitats críticos (berçários de juvenis) foram igualmente identificados. A partir de uma ferramenta de visualização espacial, os pescadores sugeriram diversas áreas de reprodução baseadas em três critérios: acesso à área ou facilidade de fiscalização e vigilância; importância para a espécie-alvo como berçário e/ou locais de desova; e menor dependência das comunidades sobre estas áreas”, informa.

Ao todo, oito áreas foram mapeadas e identificadas como prioritárias para a criação de ‘áreas de reprodução’. Segundo Carvalho, estas foram apresentadas pelos próprios pescadores do GT do Robalo nas reuniões que aconteceram em cada comunidade para a elaboração do Acordo de Gestão da Resex no mês de agosto. “Esse é o primeiro passo para a futura criação destas áreas, que poderão ajudar na recuperação local do estoque de robalo”, explica. Oficinas semelhantes estão acontecendo nas outras Resex com o intuito também de priorizar a criação das áreas de reprodução para a sustentabilidade da espécie-alvo.

Mapeamento Comunitário: ferramenta estratégica para a recuperação dos estoques pesqueiros

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Oficina em Pernambuco reúne lideranças da pesca artesanal no país

O encontro “Pesca artesanal e gestão pesqueira no Brasil: troca de experiências” reuniu em Tamandaré (PE), de 20 a 22 de julho, 23 pescadores e pescadoras artesanais da costa brasileira para trocar experiências e debater a representação e a participação da categoria nos Comitês Permanentes de Gestão (CPGs).

O objetivo central foi promover a formação e apoiar os movimentos sociais relacionados à pesca artesanal para que possam ter um papel efetivo nesses Comitês, fomentando assim um sistema eficaz de gestão compartilhada da pesca no Brasil. Segundo Luís Lima, diretor executivo da Rare, os CPGs são espaços consultivos de extrema importância para uma gestão pesqueira qualificada. “Há anos, eles constituem uma demanda da sociedade brasileira que visa ampliar a participação social das comunidades pesqueiras nos processos decisórios”, aponta.

Em agosto de 2015 foram criados oito CPGs (sendo seis marinhos), separados por abrangência geográfica e pelo tipo de recursos pesqueiros. Os pescadores reivindicam do governo, entretanto, a ampliação de seu envolvimento na gestão da pesca. “Não queremos participar apenas para legitimar decisões que não nos interessam, mas participação real, igualitária, tornando os CPGs instrumentos que gerem resultados”, desabafa Maria Martilene de Lima, do Movimento de Pescadoras e Pescadores (MPP). Os CPGs, que antes estavam nas pastas do extinto Ministério da Pesca e Aquicultura (MPA) e do Ministério do Meio Ambiente (MMA), hoje se encontram nas jurisdições do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) e do MMA e ainda estão sob estruturação.

Para Alberto Catanhede Lopes, representante da Comissão Nacional para o Fortalecimento das Reservas Extrativistas Costeiras e Marinhas (Confrem), é preciso aliar o conhecimento científico ao tradicional, de forma a influenciar os rumos das políticas traçadas. “Nós temos conhecimento tradicional, mas não temos reconhecimento. A equidade de participação entre governo e sociedade civil é importante, mas a capacidade de argumentar é que vai fazer a diferença”, avalia.

A mesa de abertura do evento foi composta por Monica Peres (Oceana), Enrico Marone (Rare), Maria José Pache-co (CPP), Josana Serrão Pinto (MPP) e Ernesto Monteiro (Confrem). Em sua apresentação, Peres, diretora da Oceana Brasil (entrevistada nesta edição), fez uma contextualização da temática, explanando sobre o sistema de gestão compartilhada, o funcionamento e a estrutura dos CPGs. Já

as palestras das pesquisadoras Ana Glinfskoi Thé (Unimon-tes) e Beatrice Padovani (Universidade Federal de Pernam-buco/UFPE) mostraram conceitos básicos relacionados ao manejo dos recursos pesqueiros.

A questão da equidade de gênero também foi um tema debatido ao longo do evento, lembrado por Josana Serrão Pinto, pescadora do MPP: “é preciso incluir as mulheres pescadoras nos processos de discussão sobre a gestão da pesca”. Ela pontuou que a atividade vai muito além da captura, constituindo um processo que envolve desde a preparação anterior até os cuidados posteriores à retirada do peixe do mar. “As mulheres precisam ser enxergadas nesse contexto. Não é só o homem que trabalha com a pesca. A realidade é que existem mulheres pescadoras e marisqueiras que participam de todo o processo”, conclui.

Durante a oficina, os participantes acordaram que seria elaborado posteriormente um documento contendo as principais reivindicações dos pescadores artesanais para os CPGs, de modo a garantir a devida representação da categoria nesta instância que é um instrumento importante para o ordenamento pesqueiro no país. “Este documento se

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encontra em construção pelos movimentos sociais e sinaliza uma estratégia de mobilização e inserção dos pescadores tanto nos CPGs quanto nos Subcomitês Científicos, além de sugerir formas de subsidiar a logística para viabilizar a presença das lideranças nas reuniões realizadas em Brasília”, informa Enrico Marone, gerente de programas da Rare.

O evento aconteceu no Centro de Pesquisa e Conservação da Biodiversidade Marinha do Nordeste (Cepene/ICMBio), em frente à Área de Proteção Ambiental (APA) Costa dos Corais, a maior unidade de conservação marinha do Brasil, e contou com a presença de representantes das instituições organizadoras – Oceana, em conjunto com o Conselho Pastoral dos Pescadores (CPP), o MPP e a Confrem, com apoio da Rare e do ICMBio. Também participaram membros do MMA, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e da UFPE. (c

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isso!

P: Quais são os grandes gargalos da pesca e da conservação marinha no país hoje? Se você tivesse o poder de decisão, quais seriam as três iniciativas mais importantes que tomar-ia para posicionar o Brasil no caminho da pesca responsável e sustentável?

R: Os gargalos são também as oportunidades e as soluções. Eu não tenho qualquer dúvida.

Primeiro, eu investiria em reconstruir o sistema nacional de informações pesqueiras (Sinpesq), criado por um decreto presidencial, que precisa de regulamentação. Só é possível manejar sustentavelmente uma atividade de extração de recursos vivos com informação. Temos que saber quanto é possível explorar, sem comprometer a própria atividade no futuro, assim como a saúde dos ecossistemas que susten-tam as populações exploradas.

Segundo, eu investiria em estruturar um sistema de con-sultas, um espaço de discussão com a sociedade. Não tem como manejar uma atividade sem interlocução com usuários e outros setores interessados da sociedade, como organizações ambientalistas, cientistas etc.

E, por último, eu investiria em controle e fiscalização. Se tivermos dados, discussão e legislação adequada, esta deve ser cumprida. A pesca só deveria ser praticada por embar-cações registradas e licenciadas, só deveria ser praticada se estiver sendo registrada, e só deveria ser praticada se for uma atividade legal. Por isso, o controle das atividades não registradas, não regulamentadas e ilegal é absolutamente essencial para a manutenção das pescarias em longo prazo.

reconhecida. Todos falam em incentivar a aquicultura e falam do potencial econômico dessa atividade, mas ninguém se dá conta de que a pesca, com muito pouco cus-to, daria um retorno socioeconômico enorme. Sem manejo e sem controle, as pescarias só têm um único destino – o colapso! A pesca não pode ser vista apenas como a ativi-dade de captura de pescado. Além da captura, tem a pro-dução de petrechos e barcos, o beneficiamento do pescado, a comercialização e, até, a exportação. Quando uma pescar-ia colapsa, ou seja, não é mais rentável por falta de recursos naturais, temos enormes prejuízos em termos de empregos, renda e segurança alimentar, prejuízos até hoje não quanti-ficados. Em termos de políticas públicas, do Estado brasileiro, eu considero isso muito pouco inteligente. Essa lógica tem que mudar, e a Rare e a Oceana estão aqui para

“Sem manejo e sem controle, as pescarias só têm um único destino – o colapso!”, alerta a oceanógrafa Mônica Peres,

diretora da Oceana no Brasil, em entrevista à Rare

Monica Brick Peres, diretora geral da Oceana no Brasil, tem larga experiência em formulação de políticas públicas, pesquisa marinha, educação, diagnóstico e manejo da pes-ca. Graduada em Ciências Biológicas, possui mestrado e doutorado em Oceanografia Biológica, tendo dedicado sua vida profissional à conservação da vida marinha e principalmente à promoção da pesca sustentável por meio do manejo pesqueiro no país. Durante quatro anos, foi pesquisadora do Centro de Pesquisa e Gestão dos Recursos Pesqueiros Estuarinos e Lagunares (Ceperg/Iba-ma) e ocupou por seis anos a função de analista ambiental do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversi-dade (ICMBio). Também foi responsável pela política nacional de conservação da biodiversidade no Ministério do Meio Ambiente (MMA) e atuou como chefe da delegação brasileira nos Comitês Científicos da Comissão Internacional Baleeira (SC-IWC) e da Comissão para a Conservação dos Recursos Marinhos Vivos da Antártica (SC-CCAMLR).

P: Como você descreveria a situação atual da pesca e da conservação marinha no Brasil? Houve avanços nesses temas nos últimos anos?

R: No âmbito federal, infelizmente, só tivemos perdas e retrocessos em relação à gestão pesqueira. O Brasil já teve seus espaços de discussão com a sociedade – os Comi-tês Permanentes de Gestão (CPGs) com seus Subcomitês Científicos e os grupos de pesquisa, que analisavam dados de cruzeiros de pesquisa, dados de desembarque, dados de observadores científicos a bordo das embarcações, além de dados básicos econômicos, como preço da primeira comercialização. Estas informações permitiam um ordenamento muito mais qualificado das pescarias do que aquele que temos agora. É claro que tínhamos críticas, e o sistema não era perfeito, mas agora não temos mais nada.

Isso é um grande problema, porque a pesca tem uma importância grande no país, mas essa importância não é

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P: Oceana e Rare abriram recentemente escritórios no Brasil, com a missão de coibir a sobrepesca no país e promover o manejo eficiente e sustentável. Qual é, na sua opinião, o papel das duas organizações para avançar as agendas da pesca sustentável e da conservação marinha?

R: Eu acho a Bloomberg Philantropies uma fundação vi-sionária. Eles idealizaram a parceria e o trabalho conjunto dessas duas organizações – Oceana e Rare – com o objetivo maior de evitar a sobrepesca, ou pesca mal manejada, e garantir mais peixe no mar. Todos sabemos que o peixe é a proteína mais saudável para o ser humano, e também um recurso natural de alta importância para milhares de comu-nidades costeiras no Brasil e no mundo. Muitos governos, em muitos países, não têm consciência dessa riqueza. A Oceana trabalha com políticas públicas, principalmente em nível federal, e a Rare trabalha com as comunidades no âmbito local. São atividades complementares e têm tudo para ter uma grande sinergia. A contribuição desse trabalho conjunto em termos de conservação é inestimável porque, na nossa Zona Econômica Exclusiva, a pesca excessiva e não manejada é, certamente, um dos principais impactos à biodiversidade marinha brasileira.

P: Alguma informação adicional que você gostaria de ressal-tar?

R: Esperamos que a nova formatação institucional, com concentração de atribuições de gestão da pesca no Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) permita que os processos comecem, novamente, a andar. Não podemos mais conviver com esta paralisia em relação aos problemas da pesca no Brasil.

Recentemente, nos reunimos com o secretário nacional da Aquicultura e Pesca do Mapa, o senhor Dayvson de Souza, a fim de solicitar a liberação de recursos para as pesquisas pesqueiras que estão pendentes no CNPq, pedir a implan-tação dos CPGs e a retomada do monitoramento da pesca. Nossa expectativa é a de que tudo isso comece novamente a funcionar. Vivemos um momento em que, se as coisas contin-uarem paralisadas, corremos o risco de deixar pescarias co-lapsarem e novas espécies serem classificadas de ameaçadas.

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Fique por dentro

Rare na mídia A Rare Brasil e as Campanhas por Orgulho foram tema da matéria "Rede Protetora", publicada na edição de 18 de maio de 2016 da revista Veja. No texto, Luís Lima, diretor executivo da ONG no Brasil, falou sobre o trabalho no país: "o prin-cipal intuito é estimular o envolvimento dos pescadores na gestão das áreas marinhas protegidas. Para isso, lançamos mão de um esforço coordenado que engloba desde o despertar de orgulho pelos recursos naturais até ações de mon-itoramento biológico". Para acessar a matéria na integra, acesse o link https://www.facebook.com/rarebrasil/photos/a.1457098957916704.1073741830.1451271501832783/1578375989122333/?type=3&theater

Brasil e Moçambique – Pesca para Sempre

O gerente de programas da Rare, Enrico Marone, passou duas semanas em Moçambique, no mês de agosto, apoiando o treinamento dos coordenadores de campanha locais. A Rare recém se estabeleceu no país africano, onde irá implementar Campanhas por Orgulho por meio do Pro-grama Pesca para Sempre. Marone levou a experiência do Brasil à Moçambique e deu início a um intercâmbio institucional – que será mantido no longo prazo – para a troca de aprendizado entre as equipes da Rare nesses dois países lusófonos com relação ao manejo dos recursos pesqueiros.

Difusão de inovações: a curva em S

“A difusão de inovações: a curva em S” é um vídeo pro-duzido pela Rare que aborda o conceito da curva em “S” e seu funcionamento no processo de adesão a determinada inovação ou adoção de um novo comportamento. Em toda sociedade, existem segmentos diferenciados da população que testam um novo produto ou adotam um comportamen-to em ritmos e etapas distintos. Os pesquisadores descobri-ram, entretanto, que qualquer processo de inovação sempre acaba seguindo o mesmo padrão gráfico da curva em “S”. Este é mais um dos materiais educativos utilizados pela Rare para divulgar sua metodologia de trabalho. Assista em https://youtu.be/hL-nO498FPY

Estratégia de 5 anos

Quem quiser conhecer a estratégia de trabalho da Rare no Brasil, referente ao quinquênio 2015-2020, pode acessar em www.rare.org/pt-br/brazil um sumário executivo, que contém as metas e os objetivos da atuação da organização no país.

Seleção de novas áreas de trabalho

Em breve, a Rare irá ampliar o alcance do seu trabalho, passando a atuar em novos locais. Além de outras Resex marinhas no litoral brasileiro, o próximo conjunto de áreas-foco deve contemplar também as Áreas de Proteção Ambiental (APAs) e áreas de acesso aberto, fora dos limites oficialmente protegidos. A equipe técnica da ONG está visitando áreas nos Estados do Pará, Maranhão, Piauí e Pernambuco e terá definido, até dezembro deste ano, com o apoio do ICMBio e da Confrem, a lista final das áreas selecionadas.

Oportunidade na Rare

A Rare Brasil está com uma vaga aberta para Gerente de Treinamento em seu escritório no Rio de Janeiro. Dentre as principais funções atribuídas à posição estão o desenvolvi-mento e a coordenação dos programas de treinamento para líderes comunitários e comunidades pesqueiras marinhas em ferramentas de marketing social e manejo pesqueiro. É importante que o candidato tenha formação em educação para adultos e algum conhecimento de marketing so-cial. O candidato deverá ter, como requisitos mínimos, bacharelado em área afim com as temáticas relacionadas à função (mestrado é desejável), nível avançado – escrito e falado – de inglês, experiência de cinco a sete anos no tema e disponibilidade para viagens.

Profissionais interessados na posição devem acessar o link www.rare.org/pt-br/careers para prosseguir com sua candi-datura no sistema online e atentar para o fato de que CVs enviados por email não serão considerados para o recruta-mento.

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Inspiração familiar, liderança respeitosa e comprometimento com as origens

Lindomar Fernandes de Lima, Coordenador da Campanha “O mar da Prainha é nosso” na Resex Prainha do Canto Verde

Nascido e criado em uma família de pescadores artesanais na Prainha do Canto Verde (CE), paraíso ecológico a 110 km de Fortaleza, Lindomar Fernandes iniciou sua trajetória de engajamento comunitário por inspiração paterna. Aos 18 anos de idade, viu seu pai partir com outros três pescadores em uma viagem de 72 dias que percorreria o trecho litorâneo que vai do município de Beberibe, no Ceará, até a cidade do Rio de Janeiro. O objetivo era chamar a atenção nacional para a pesca predatória, a especulação imobiliária e a ocupação desordenada que a comunidade estava testemunhando na região. Apesar de apreensivo pela segurança do pai, Lindomar sentiu-se orgulhoso dos resultados gerados pela expedição. Com o retorno dos jangadeiros à Prainha e a grande repercussão da iniciativa na mídia, teve início um movimento coordenado de pescadores do litoral cearense para defesa do território e melhoria da qualidade de vida das populações locais. Para o jovem Lindomar, começava

Entrevistas com Coordenadores da Campanha por Orgulho

ali a construção de uma história – que segue até hoje - de comprometimento com os interesses de sua comunidade e de valorização de suas origens. Desde então, ele já ocupou os cargos de presidente da Associação dos Moradores da Prainha do Canto Verde e do Grupo de Jovens, tendo sido também coordenador de turismo local. Em 2007, Lindomar liderou o processo de licenciamento das embarcações para a pesca da lagosta e, seguindo um sonho do pai, se candidatou em 2012 a vereador do município de Beberibe. Apesar de não ter sido eleito, ainda tem ambições políticas que um dia pretende realizar. Hoje ele é membro do Conselho de Turismo Comunitário (CTC) da Associação de Moradores da Prainha do Canto Verde e representa o CTC no Conselho Deliberativo da Resex.

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P: Quais são os resultados concretos já alcançados com os esforços da campanha?

R: Eu destaco o engajamento dos pescadores nas ações da campanha. Eles têm participado ativamente de todas as discussões sobre os novos regulamentos que temos que adotar para manejar sustentavelmente as espécies-alvo e têm sido bastante propositivos, acreditando nas ações. A comunicação interpessoal entre as crianças e os professores tem surtido também um efeito bem positivo.

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A gincana escolar e a semana do meio ambiente foram atividades promovidas pela escola e pela Campanha Por Orgulho envolvendo professores, alunos e pais de alunos.

P: O que você pretende alcançar até o final do projeto?

R: Toda a campanha está focada em quatro mudanças de comportamento, são elas: vigilância comunitária, regularização dos atratores artificiais de pesca artesanal para uso coletivo, adequação nas malhas das redes de pesca e monitoramento biológico. Quando os pescadores estiverem adotando estas mudanças, acreditamos que poderemos estabelecer um acordo de pesca local com o intuito de estabilizar os estoques pesqueiros das espécies-alvo (ariacó, cavala, guarajuba, serra e robalo) da campanha para “Pescar, Conservar e Prosperar” no longo prazo.

P: Como tem sido a experiência de coordenar esta campanha?

R: Tem sido uma grande oportunidade e, ao mesmo tempo, um grande desafio realizar um trabalho dentro da minha comunidade. Oportunidade de estar contribuindo para que a comunidade através da atividade pesqueira melhore sua qualidade de vida. O desafio é construir junto com os pescadores o acordo de pesca para a Resex.

P: As crianças são sempre parte especial de qualquer comunidade e imagino que na região da Prainha não seja diferente. Como você vê a relação dos mais jovens com a pesca na Resex?

R: É verdade. O que preocupa é que os pais não querem mais que seus filhos sigam seus passos e sejam pescadores, já que a pesca mal administrada pelo poder público não promete um futuro promissor e afasta os jovens da profissão. Acredito que isso esteja acontecendo em outras comunidades pesqueiras ao longo da costa do país. Porém, aqui na Prainha do Canto Verde é bem diferente, a pesca faz parte do dia a dia da vida das crianças desde cedo. Ao longo dos anos, a Prainha tem sido objeto de projetos e trabalhos de apoio à pesca, assim como centro da articulação dos pescadores do litoral leste do Estado do Ceará para a pesca sustentável e responsável. O trabalho das lideranças e a organização da própria comunidade têm incentivado os pescadores a fazerem a sua parte - “Pescar, Conservar e Prosperar” - para continuar tendo mais peixe no futuro pra pescar.

P: Você sente que os pescadores envolvidos estão engajados na Campanha por Orgulho? Já conseguiu notar alguma mudança no comportamento deles?

R: Uma grande parte dos pescadores está engajada. Um exemplo é a sua participação direta ao gerar informações das embarcações que fazem pesca irregular dentro da Resex e o repasse dessas informações à equipe gestora do Instituto Chico Mendes a fim de coibir a pesca ilegal. Vale salientar também a participação deles no processo de discussão e confecção de bandeiras de sinalização da Resex, que é uma ação que foi demandada por eles mesmos com objetivo de demarcar toda a área da Reserva para que todos os pescadores da Prainha e os usuários de outras comunidades tenham conhecimento de que ali a pesca deve respeitar o acordo de pesca.

Outro ponto é a participação ativa dos pescadores no monitoramento biológico. Eles estão fornecendo dados de desembarque a partir do diário de bordo, gerando informação para coleta de dados do pescado, como tamanho, peso, local e petrecho usado. Estas informações são importantes para o trabalho de avaliação do estoque pesqueiro que é realizado pela professora Carolina Feitosa, do Laboratório de Ciências do Mar da Universidade Federal do Ceará . Além de fornecerem informações sobre o desembarque, os pescadores participam da avaliação dos pesqueiros naturais e artificiais dentro da área de pesca junto com a equipe de pesquisadores, por meio de mergulho para o censo visual no fundo do mar. Esse conjunto de informações irá contribuir para propor medidas de manejo na área de pesca da Resex Prainha do Canto Verde.

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Vanessa Santana Santos, Coordenadora da Campanha “Robalo - eu pesco, eu amo, eu cuido” na Resex de CanavieirasBaiana nascida em Caravelas, litoral sul do Estado, Vanessa Santos participa de movimentos comunitários no povoado de Barra de Caravelas já há 12 anos. Desde pequena descobriu a paixão pela música e aos 13 anos aprendeu a tocar clarineta. Integra hoje a Filarmônica Lira Imaculada Conceição, associação cultural fundada em 1936 que tem por finalidade a difusão cultural da música e a promoção de atividades sociais, educacionais, culturais e desportivas. A instituição também oferece cursos de fotografia, mídias impressas, rádio, cinema, vídeo, televisão e internet. Foi por meio da interação com outros músicos e alunos da Filarmônica que Vanessa despertou seu interesse pelas questões sociais e culturais locais.

Inspirada pela riqueza natural da região e pelo seu amor pelos animais, decidiu estudar biologia e formou-se em 2013 em Ciências Biológicas pela Universidade Estadual da Bahia. No ano seguinte, aproximou-se do trabalho realizado pelo ICMBio na Resex de Cassurubá (BA) e ajudou no cadastramento das famílias beneficiárias. E, em 2015, foi convidada pela Rare para coordenar o trabalho de implementação local da Campanha por Orgulho na Resex Canavieiras.

Força feminina na união pela pesca sustentável em Canavieiras

Pedrina Rodrigues Reis, Assessora Pesqueira da Campanha “Robalo - eu pesco, eu amo, eu cuido”

Natural de Belmonte, no sul da Bahia, Pedrina Reis vem de uma família de pescadores. Filha e neta de pescador, é também pescadora com carteira profissional adquirida em 2007. Professora de formação, ajudou na alfabetização de crianças e adultos, deu aulas de português para 5ª e 6ª séries e participou do programa Pescando Letras, uma iniciativa do Ministério da Educação para alfabetizar pescadores e aquicultores.

Desde os tempos da adolescência, nos grupos de canto da igreja, Pedrina tem se engajado na questões sociais locais, buscando despertar o interesse das pessoas no cuidado com os recursos naturais

Hoje, aos 34 anos de idade, Pedrina é vice-presidente da Associação das Marisqueiras de Belmonte e da Associação Mãe dos Extrativistas (Amex) da Resex de Canavieiras, onde trabalha com o grupo de mulheres na busca por melhorias na qualidade de vida, na equidade de gênero e na valorização da atividade pesqueira. Atua ainda como membro do Conselho Deliberativo da Resex, representando as mulheres pescadoras e as marisqueiras da Rede de Mulheres local. Com outras colegas, criou o grupo de samba de roda das marisqueiras e, em parceria com Mestre Raio, a Associação de Capoeira Herdeirarte e a Associação das Marisqueiras de Belmonte, fundou o projeto Mariscando Vidas que acolhe e envolve mais de 50 pessoas - entre crianças, adolescentes e adultos - em atividades de cultura, ensino, esporte e lazer, incentivando boas práticas.

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Vanessa Pedrina

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P: Levando em consideração o atual contexto nacional das políticas públicas em pesca e meio ambiente, vocês acham que projetos como a campanha “Robalo – eu pesco, eu amo, eu cuido” podem ser uma boa opção para promover a sustentabilidade da pesca artesanal? Por quê?

R: Acreditamos, sim, que as Campanhas e outros projetos são opções bastante positivas para promover a sustentabilidade da pesca artesanal. Porém, a situação de vulnerabilidade e falta de assistência em que se encontram as comunidades que dependem dos recursos naturais para seu meio de vida é muito grave, o que pode trazer resistência e levar qualquer ação ao descrédito, ainda que seja proposta pela própria comunidade.

É desafiador tentar construir um discurso e ações comuns que garantam a sustentabilidade da pesca uma vez que existem grupos com interesses bastante distintos e, muitas vezes, com visões antagônicas. Tempo é o elemento crucial para que se estabeleça de fato a confiança necessária entre esses grupos. Só assim poderá haver uma melhor apropriação das ideias e ações, minimizando os conflitos para que a mudança possa se concretizar e a promoção da sustentabilidade de fato acontecer.

P: O que vocês imaginam ser o legado ideal deixado pela campanha na Resex ao final do projeto?

R: A concretização da ideia da criação de áreas de reprodução e proteção das espécies, onde a pesca é proibida, visto que esse é um dos caminhos mais efetivos para reverter o quadro atual de diminuição da quantidade e do tamanho dos pescados. .Vários fatores têm contribuído para esse quadro, tais como o aquecimento global diminuindo o fluxo de água nos rios e os pesqueiros, os empreendimentos assoreando e poluindo os rios, e a sobrepesca. Apesar de algumas comunidades já terem tentado estabelecer áreas de reprodução localmente, com algum sucesso, expandir essa ideia e trazê-la para a discussão em espaços mais amplos tem feito com que as comunidades pesqueiras reflitam sobre os melhores caminhos para que os estoques se renovem e a produção cresça sustentavelmente.

P: A pesca do robalo é uma tradição na região da Resex Canavieiras, além da principal fonte de renda para uma boa parte das famílias. Vocês acreditam que os impactos da campanha já estão sendo sentidos entre as famílias? Quais seriam eles?

R: Os impactos da campanha começaram a ser percebidos

desde seu lançamento em março deste ano, no momento em que os pescadores se propuseram a se deslocar de suas comunidades para participar do evento numa comunidade distante, fora da Resex. A partir daí começamos a perceber, em vários deles, o desejo da mudança para uma pesca mais sustentável. No decorrer dos trabalhos, os pescadores começaram a entender e se apropriar da importância, por exemplo, de preencher um diário de bordo, registrando o resultado de sua pescaria.

Afinal, só poderemos manejar sustentavelmente a pesca com informação para compreender quanto estamos explorando e quanto ainda é possível explorar, sem comprometer a própria atividade no futuro. Os pescadores também entenderam a relevância de se mapear os vários pesqueiros e as artes de pesca utilizados, de compartilhar os saberes tradicionais e aprender mais sobre a biologia da espécie com o monitoramento pesqueiro. A campanha está ajudando a suscitar uma reflexão conjunta sobre as más ações praticadas por alguns hoje, que podem interferir na vida das futuras gerações. Os agricultores, por exemplo, anseiam por terra para produzir e deixar frutos para seus filhos e netos. E o pescador, o que tem feito? Se eles não cuidarem do mar, do recurso pesqueiro hoje, não haverá mais nada para seus filhos e netos usufruírem no futuro.

Diante desse cenário só há um caminho: o pescador deve cuidar do seu próprio ambiente. Só assim eles, seus filhos e netos podem prosperar, em sintonia com a natureza e os recursos naturais dos quais dependem.

P: Qual o maior desafio para se colocar em prática a metodologia e os treinamentos da Rare na realidade local, junto aos pescadores?

R: O mais difícil é construir a confiança entre os envolvidos e manter o engajamento num cenário de muita instabilidade e insegurança. São experiências passadas que não deram certo, muitas ameaças externas à pesca (infraestrutura, poluição, mudanças climáticas etc.). Mas é preciso acreditar e ir em frente. A Campanha pode ser o caminho da mudança que garanta a sustentabilidade da pesca do robalo e outras espécies, das quais várias famílias dependem para viver. O robalo é uma espécie de grande valor para a pesca artesanal, apreciada nos mercados e por aqueles que de alguma forma se beneficiam da espécie para viver, os pescadores e suas famílias. Proteger é preciso! Buscar alternativas para melhorar e aumentar os estoques pesqueiros é extremamente necessário.

Rare Brasil

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Informativo

Texto, revisão e coordenação editorial: Isabela Santos e Marcia Cota

Colaboração: Sacha Gilbert