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(In)FORMAÇÃO n.º 2 outubro/2014 Programa Escola da Família Circulação interna Meio Ambiente

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(In)FORMAÇÃO n.º 2 – outubro/2014

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Meio Ambiente

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Editorial

Caro Educador,

é com alegria que chegamos à 2ª

edição desta revista eletrônica, então

convidamos você a participar com sua

leitura e a descobrir as muitas

estratégias, aqui apresentadas, para que

“o fazer em” e “para a comunidade”

fortaleçam, cada vez mais, o capital

humano existente nas regiões do Estado.

Neste número, saberá como o

futebol pode fazer muitos gols nos

campos da leitura e da aquisição da

língua inglesa; conhecerá também o belo

trabalho de solidariedade em Apiaí.

Dessa leitura irá surgindo a

admiração, como quando se deparar com

o trabalho dos catadores de materiais

descartados – os verdadeiros guardiões

do planeta Terra (texto de Maurício

Waldman).

No artigo Espaço que Educa,

encontrará algumas atitudes simples, que

fazem a diferença, como o Jogo Limpo,

prática comum no Programa, desde sua

implantação.

Poderá também colocar os olhos

na beleza em branco e cinza da arte de

Brecheret, que contrasta com as pinturas

urbanas e coloridíssimas de Kobra.

Entenderá, no depoimento da diretora

escolar Miriam Borges, a importância do

Programa por significar oportunidade de

cultura, de lazer e de cidadania.

Deixe-se encantar com a cultura

popular de nosso Estado e encontre, nos

batelões no Rio Tietê, a fé e a

religiosidade dos romeiros. Perceba as

múltiplas faces e a importância da

Educação, principalmente quando o

Programa alonga-se para escutar,

atentamente, as vozes do território

guarani, que trazem o desafio da tarefa

coletiva de reviver e preservar essa

cultura.

Assim, na fé dos romeiros e na

presença do nheengatu, será possível

conhecer nossa gente, formar alianças,

ampliar o entendimento de mundo – em

prol da busca solidária para cada

necessidade das comunidades.

Boa Leitura!

3

Sumário

Capa ............................................................................................................................. 1

Editorial ....................................................................................................................... 2

Expediente / Sumário .................................................................................................. 3

Conhecer e Aprender: Oficinas de papel machê produzem os primeiros frutos .................... 4

Nossa Gente: Algumas tradições do coração da Paulistânea ............................................. 5

Artigo / Entrevista: Meio Ambiente – Entrevista com Maurício Waldman .................... 12

Comunidade Leitora: Um dia na escola do meu Filho .................................................. 24

Vale Muito: Clube de Leitura / Teatro em Família ...................................................... 27

Acontece no PEF: Exposição Victor Brecheret / Horta comunitária / Velhas e novas

tradições no território guarani / Dia do bem fazer / Aniversário de 11 anos do PEF

/Agita Família ........................................................................................................... 31

Coordenadas: Espaço que educa .................................................................................. 45

A palavra é Sua: Sugestões ......................................................................................... 48

Expediente

Colaboraram nesta edição com: redação, revisão, diagramação e arte-final: Ana

Maria Stuginski, Brisa Bejarano Campos, Claudia Aratangy, Elen de Cássia Barreto,

Elisabete Barlach, Ivânia P. L. Barros de Almeida, Rosangela Asselta, Ataulfo

Santana (Tatá), Thelma Calil Jorge e Janaína Prestes de Lima (vice-diretora/PEF).

4

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er

Seçã

o 1

Oficinas de papel machê

produzem os primeiros frutos

A Diretoria Regional de Ensino de

Osasco tem organizado oficinas para

ensinar a técnica de se trabalhar com a

massa de papel machê. As oficinas foram

oferecidas pela Coordenação Geral e o

artista e oficineiro contratado foi Sérgio

Azevedo, formado pela Faculdade de

Belas Artes de São Paulo e especialista

em design de interiores. As oficinas foram

sediadas na EE “Prof.ª Marina Cintra”/

DE Centro e organizadas em quatro

módulos.

A educadora Marilda, que participou

do “curso”, está animada por poder

repassar a técnica aos educadores do PEF

e já começa a perceber os primeiros

resultados da aprendizagem. Ela conta

que ensinou universitários do PEF,

crianças da comunidade e alunos do EJA

a fazerem a massa e a modelar.

A massa de papel machê permite

criar objetos, os mais variados, de

vários tamanhos e para vários fins. Nessa

DE a criatividade inspirou-se nas festas

de final de ano e foram confeccionadas

inúmeras bolas de Natal para decoração

de árvores e ambientes. Satisfeita,

Marilda garante que as oficinas têm

trazido interesse, participação e muito

sucesso.

Fotos:

1-Oficina para a comunidade.

2-Oficina para educadores universitários.

3-Oficina para alunos do EJA.

... a criatividade inspirou-se

nas festas de final de ano e

foram confeccionadas

inúmeras bolas de Natal

para decoração de árvores e

ambientes.

5

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te

Seçã

o 2

Algumas tradições do coração da

Paulistânia – área de cultura

paulista

"A cultura caipira está no nosso jeito

de ser. É a cultura que está em nossa casa,

nas nossas ruas. É a

cultura popular, não a de

massa. O embrião da

cultura caipira nasceu na

época das capitanias

hereditárias e se

intensificou com o Ciclo do

Ouro, em Minas Gerais

(1700 a 1800)”– Luzimar

Goulart Gouvêa, professor

de literatura da

Universidade de Taubaté.

O caipira é originário da

"Paulistânia", região que abrangia a

Capitania de São Vicente e era formada

por todo o Estado de São Paulo e parte

dos Estados fronteiriços: Minas Gerais,

Mato Grosso do Sul, Paraná e Rio de

Janeiro.

O relevo dessa região não permitia a

criação de uma grande agricultura

comercial, a exemplo do Ciclo da Cana-

de-açúcar, no Nordeste e apenas os menos

abastados de Portugal fixaram residência

na capitania de São Vicente, como a

região era conhecida. Depois, na Era do

Ouro, ainda outros, que tinham um

pouco mais de condições, migraram para

Minas Gerais. À época, só o homem

simples, que vivia da subsistência, ficou.

Portanto, nesse contexto,

foi necessária a

implantação de uma

economia que se

fundamentava em uma

rede de solidariedade:

troca de alimentos,

cuja conservação

se dava por meio

da banha de porco

ou mesmo de

compotas;

ajudas no campo:

mutirões/união/comunidades;

a religiosidade, já presente em

toda a colônia, nessa época,

tornou-se latente, propiciando o

surgimento de diversos feriados

em homenagem aos santos.

“A cultura caipira

está no nosso jeito de

ser. É a cultura que

está em nossa casa,

nas nossas ruas.”

6

Acabado o Ciclo do Ouro, grandes

fazendeiros voltaram à região, dando

início a uma “guerra” para expulsar os

caipiras dali e elitizar a área.

É daí que vem toda a "pecha" do caipira:

do olhar de uma classe social

de proprietários rurais e de

famílias ricas das cidades

para ridicularizar o humilde

homem do campo.

Apesar das grandes

mudanças no campo, os dias

santos ainda hoje são

respeitados, e outros

costumes, mantidos. Vide o

uso de compotas para

conservar alimentos, o

espírito “comunidade” entre

vizinhos e, até mesmo, aquele

desejo de que as cidades da

região não se tornem

metrópoles.

Ainda que o processo de urbanização

tenha-se intensificado, muitos saberes e

"fazeres" da gente simples do interior

permanecem vivos. Eles ainda unem e

aproximam seus praticantes, sendo

instrumentos valiosos de guarda da

memória e da identidade de pessoas e

grupos. Essas práticas abarcam as

crenças e superstições, passando pelos

usos e costumes, linguagem, brincadeiras,

artes e técnicas, música, literatura,

cultura infantil e outros aspectos mais.

Nos últimos anos, esses saberes têm sido

nomeados de cultura

popular, cultura

tradicional-popular e

cultura popular de

tradição oral.

As festas,

particularmente,

representam momentos

de grande importância

social. São instantes

especiais da vida

coletiva, que

possibilitam

oportunidades de

afirmar ou criticar

valores e normas sociais,

consolidar o espaço da

diversão coletiva, vivenciar a refeição

partilhada, exercer a religiosidade, criar e

expressar as realizações artísticas, assim

como confirmar os laços de identidade e

solidariedade do grupo.

As danças e os folguedos não são

apenas "diversão" para serem vistas e

ouvidas, são também atos de fé, de

As festas,

particularmente,

representam momentos

de grande importância

social. São instantes

especiais da vida coletiva,

que possibilitam

oportunidades de afirmar

ou criticar valores e

normas sociais,

consolidar o espaço da

diversão coletiva...

7

solidariedade, de partilha da vivência e

da história comum das pessoas, do

presente e do passado, rememorando com

orgulho os costumes caipiras.

As celebrações tradicionais paulistas

seguem, em linhas gerais, o calendário

institucionalizado pela tradição católica,

compreendendo determinados

ciclos temáticos fixos, como: o

natalino e de Reis, entre

dezembro e janeiro; o

carnavalesco, geralmente entre

fevereiro ou março; o da

Quaresma e Semana Santa,

que se estabelece por 40 dias

após a Quarta-feira de Cinzas;

o do Divino, que ocorre 50 dias

após a Páscoa; e o Junino, sempre no mês

de junho. Porém, a maioria dessas

celebrações requer uma longa preparação,

antecedendo assim, em muito, o

momento culminante das comemorações

propriamente ditas. Por exemplo: a Festa

do Divino costuma ser antecedida, em

muitas localidades, por meses de "giros"

(percursos) da Folia do Divino para

cantar louvores e recolher donativos para

a festa.

Algumas comemorações, como as do

Divino podem ser realizadas também em

datas diferentes, dependendo da tradição

própria de cada localidade. Assim, na

cidade paulista de Tietê, ela é realizada

no último fim de semana de dezembro.

Ainda, festas como as de Nossa Senhora

do Rosário e São Benedito ocorrem em

datas diversas. Além disso, há celebrações

que independem de

ciclos ou datas

específicos, como a

Dança de São Gonçalo,

que se realiza

normalmente aos

sábados em qualquer

época do ano, menos no

período da Quaresma.

Festas

do Divino

A devoção ao Divino Espírito Santo

constitui-se em um dos fortes núcleos das

devoções populares em São Paulo.

Herança do colonizador português, se

exterioriza de diversas formas, resultando

sempre em grandes festas, sendo estas

cheias de pompa e esplendor desde os

tempos do Brasil Colônia. Fazem parte

da celebração festiva os imperadores,

mordomos, bandeireiros, império e

levantamento do Mastro do Divino.

A devoção ao Divino

Espírito Santo

constitui-se em um

dos fortes núcleos das

devoções populares em

São Paulo.

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As Festas do Divino são difusas por

todo o Estado, concentradas no tempo

Pentecostal (Pentecostes é a celebração

do calendário cristão que comemora a

descida do Espírito Santo sobre os apóstolos

de Jesus Cristo. Pentecostes é celebrado 50

dias depois do domingo

de Páscoa, e no décimo dia

depois do dia da Ascensão.)

prescrito pela Igreja e fora

dele. São muitos os

municípios que as realizam

com imponência e fartura

de quitutes. Assumem

peculiaridades regionais,

ressaltando-se as que são

organizadas no Médio

Tietê, os famosos

encontros fluviais das

Irmandades do Divino em

grandes batelões. Nas do Litoral e Vale

do Paraíba multiplicam-se os cortejos de

muitos devotos, cada qual com sua

bandeira votiva. Ainda nesta região são

comuns os cortejos a cavalo (as famosas

cavalarias), e a farra do João Paulino e

da Maria Angu (bonecos gigantes). Nelas

não podem faltar o levantamento do

Mastro Votivo, o Império do Divino

ricamente ornamentado, e as comidas,

símbolo da maior graça do Divino - a

fartura.

Regiões: Angatuba, Anhembi, Araçoiaba

da Serra, Arandu, Biritiba-Mirim, Buri,

Cananéia, Capão Bonito, Caraguatatuba,

Conchas, Cotia, Cunha,

Divinolândia, Iguape, Itu,

Jacupiranga, Laranjal

Paulista, Lagoinha, Mogi

das Cruzes, Nazaré

Paulista, Nuporanga,

Paraibuna, Pereiras,

Piedade, Piracaia,

Piracicaba, Porongaba,

Porto Feliz, Ragoinha,

Santa Branca, Salesópolis,

São Luís do Paraitinga,

Silveiras, Suzano, Tietê,

Ubatuba, Ubirajara.

Festa do Divino

Anhembi – SP

Um mês antes do início da festa,

os encarregados promovem a “derrubada

das canoas”, um pequeno ritual em que

as embarcações saem do seco para serem

colocadas no rio Tietê. Já é uma tradição

bem antiga e o motivo é fazer a madeira

do barco inchar com a água para adquirir

o peso adequado, verificar eventuais

furos no casco e promover os devidos

... não podem faltar o

levantamento do

Mastro Votivo, o

Império do Divino

ricamente

ornamentado, e as

comidas, símbolo da

maior graça do

Divino – a fartura.

9

reparos. É um ritual necessário porque,

como em todos os anos, os barcos serão

usados para cumprir uma importante

etapa da Festa do Divino de Anhembi.

Os irmãos da redondeza vão todos para a

cidade de Anhembi e se reúnem na Casa

do Divino, onde é servido café e almoço

para todos, num ritual

cercado de cantigas

religiosas. No começo da

tarde, seguem para a “casa

dos barcos”, de onde saem

com as embarcações para o

rio Tietê. Essa casa é um

barracão construído para

abrigar tanto os batelões

velhos como os novos,

utilizados pela irmandade

que produz a festa, e é um verdadeiro

acervo histórico de modelos utilizados no

passado – os primeiros foram feitos de

“um pau só”, Isto é, um só tronco de

árvore para construir cada barco.

Com a derrubada dos barcos, a

Festa do Divino é oficialmente

inaugurada e a pequena cidade, com

quase 6 mil habitantes, começa a entrar

em clima de festa, que vai perdurar ao

longo de um mês. Na praça central já se

pode participar de quermesses e bingos e

apreciar quitutes locais. A cada dia, a

celebração vai se encorpando, ganhando

atrações e frequência, para chegar ao seu

ápice no começo de maio. Todos esses

eventos completam a grande lista de

preparativos para os três dias de apogeu

da festa, quando as atividades se

intensificam e a frequência

de visitantes aumenta

sensivelmente – no auge da

festa, a cidade recebe cerca

de 30 mil visitantes, vindos

das mais variadas regiões do

Estado de São Paulo e fora

dele.

A festa mantém suas

tradições como a comida

feita em tachos na casa da

festa e nas casas dos “pousos”. Causa

admiração a fé desse povo que vem de

longe para cumprir uma promessa, bem

como os da cidade que passam um mês

em comemoração. É um grande evento

tradicional, rico em valores espirituais,

que conta com a colaboração de todos os

munícipes e autoridades locais.

Uma das características mais

peculiares da Festa do Divino de

Anhembi é a romaria de nove dias que

antecede o auge do evento. Nela, o grupo

A Casa dos Barcos

“[...] é um

verdadeiro acervo

histórico de

modelos utilizados

no passado...”

.

10

de romeiros refaz todos os anos a

penitência de viajar de casa em casa

levando a bandeira e cantando louvores

ao Divino. É o que chamam de “Pouso do

Divino”, uma tradição cuja origem está

ligada à passagem de bandeirantes pela

região. O objetivo dessa peregrinação é

obter “prendas” das fazendas visitadas –

normalmente provisões para as refeições

oferecidas pela organização

da festa aos devotos: cereais,

aves, suínos, caprinos e

lenha. A Casa do Divino,

sede central dos festejos,

permanece aberta durante

todo esse tempo, servindo

doces, carnes e bandeirinhas,

e preparando as refeições

para os visitantes: os

festeiros e ajudantes, durante o tempo em

que visitam os sítios e fazendas,

hospedam-se na Casa do Divino.

Dessa romaria depende muito o

sucesso da festa: quanto mais angariarem

em suas excursões, mais a “Casa da

Festa” dará de comer ao público – e todos

estão convidados. Normalmente, a “Casa

da Festa” alimenta aproximadamente 5

mil pessoas, a maioria vinda de outras

cidades.

Na romaria, os participantes vão

a caráter: usam uniformes azuis e, na

cabeça, trazem o gorro bretão, com um

pompom vermelho na ponta. Os punhos,

a faixa da cintura e a gola também são da

mesma cor. Cantando e tocando, batem

às portas de todas as casas, solicitando

aos seus donos, pouso, comida, ofertas

para a “Casa da Festa”. Fazem essa

peregrinação usando

variadas formas de

transporte – a pé, a cavalo,

navegando pelo rio Tietê

nos batelões tradicionais. A

utilização dos barcos é uma

alusão ao meio de

transporte principal dos

bandeirantes, uma tradição

mantida até hoje. São dois

batelões que transportam 120 irmãos do

Divino. No domingo da festa, vestem-se

de branco e reproduzem cenas de

prováveis encontros que ocorriam

antigamente. É o chamado Encontro das

Bandeiras que ocorre nas águas do rio

Tietê na altura da ponte que liga

Piracicaba a Anhembi. Além dessa, a

festa tem outras características muito

marcantes, que lhe dão personalidade

especial:

Saranga – são cânticos

entoados pelos irmãos de

fé durante a

peregrinação e no dia do

Encontro das Bandeiras.

11

Saranga – são cânticos entoados pelos

irmãos de fé durante a peregrinação e no

dia do Encontro das Bandeiras. Em

uníssono, fazem um clamor em gemidos

que comove toda a assistência.

Amortalhados – são aqueles devotos que

se enrolam em lençóis ou bandeiras e

deitam nas ruas da cidade para cumprir

suas promessas. Nessa ocasião, chegam a

contabilizar cerca de mil amortalhados

em cada festa.

Levantamento do mastro – mantém-se o

costume de se colocar o mastro em frente

da Matriz, após o encontro das canoas no

rio e pouco antes da missa campal. Os

foliões cantam o Divino e o mastro é

levantado sem o uso das mãos, o que é

feito somente com remos e lenços.

Foliões – um ou dois adultos e mais três

ou quatro meninos compõem a equipe de

foliões, encarregada de conduzir os

cânticos em várias situações do ritual

religioso. As músicas são sempre as

mesmas, mas não se conhece o autor.

Estima-se que foram criadas por volta de

1850.

Encontro dos batelões no rio Tietê.

12

Art

igo

/En

trev

ista

Se

ção

3

Meio ambiente

Maurício Waldman

Pós-Doutor em Geografia pelo Instituto

de Geociências UNICAMP

Pós-Doutor em Relações Internacionais

pela Universidade de São Paulo

Pós-Doutorando em Meio Ambiente pela

UNOESTE – Univ. do Oeste Paulista

(In)FORMAÇÃO: Vivemos uma

situação difícil e preocupante com relação

às questões que interferem negativamente

na saúde do planeta. Quais são as mais

sérias e urgentes? E também, qual o grau

de importância?

Prof. Maurício: Há uma questão

central, cada vez mais incisiva,

relacionada com o esgotamento dos

recursos naturais planetários. Isto é:

dilemas colocados pela escassez dos

insumos, carências que se agigantam dia

a dia. Paralelamente, três outras questões

básicas, dizendo respeito aos recursos

hídricos, resíduos sólidos e matriz

energética transparecem como

problemáticas específicas em razão do

enorme impacto que suscitam na

sociedade contemporânea. Contudo,

entenda-se que essas três crises estão na

realidade interligadas. Mais ainda,

nenhuma delas pode, efetivamente, ser

dissociada das demais. Objetivamente,

cada uma dessas variáveis retroalimenta

as outras e assim por diante. A bem da

verdade, não poderia ser de outro modo.

A água é, por exemplo, afetada pela

gestão dos resíduos urbanos e pela

conversão da energia que, via de regra,

utiliza recurso hídrico como insumo

operacional. Aliás, o que observamos hoje

em dia, no País, é a mais pura

substantivação do quanto o lixo e a

geração da energia prontificam-se como

atores impactantes para os corpos

d’água, induzindo perdas em quantidade

e qualidade derivadas, justamente dos

vínculos mantidos com o líquido. Por sua

vez, todo refugo expressa tanto uma

incorporação de água na sua produção

quanto de energia. No caso dos recursos

hídricos, isso transparece no que é

denominado de água virtual ou água

embutida. Inferência que escapa da

percepção da maioria das pessoas é que,

praticamente, todos os bens que nos

rodeiam configuram um input hídrico.

Quanto à energia, atente-se que todos os

refugos, ao resultarem de bens que para

serem produzidos solicitaram energia,

sintetizam certo conteúdo energético. Por

fim, temos a articulação da energia com a

água e o lixo. Observe-se que a energia é

imprescindível para colocar em

movimento estações de tratamento de

esgoto e viabilizar a adução da água

potável pelas redes de distribuição. A

respeito do lixo, os vínculos se explicitam

nos esquemas de aproveitamento

13

energético, de queima dos resíduos pelos

incineradores. Retornando ao início da

argumentação, estes três epifenômenos

da crise ambiental da Modernidade –

água, lixo e energia – estão

transformando-se em estacas de um

colapso sistêmico, devido aos limites que

a finitude dos recursos está impondo ao

sistema de produção de mercadorias, que

se apresenta fortemente atada aos

modelos de vida e de consumo. Vale a

pena recordar o documento Limites do

Crescimento, relatório icônico publicado

pelo Clube de Roma nos anos 1960.

Limites do Crescimento foi o primeiro

texto a vaticinar a respeito da

impossibilidade de a economia manter

taxas de expansão ilimitada. Faz

cinquenta anos que o alerta sobre a

necessidade de se repensar a produção e o

consumo foi dado – ponderação que se

afirma no plano concreto,

cotidianamente. Entendo que esse

prognóstico articula-se com um presságio

proferido no início do Século XX, pelo

filósofo francês Paul Valéry. Considerado

um visionário, o pensador antecipou a

imposição de um poder humano

irrefreável na escala planetária.

Sintetizou o sábio: “Não mais existem

vazios sobre o mapa. Começa a era do

mundo finito”. É esse o ponto nodal a ser

discutido: um mundo de escassez,

desprovido de fronteiras para o

crescimento infinito.

(In)FORMAÇÃO: Quais ações de

responsabilidade governamental

necessitam ser realizadas?

Prof. Maurício: Antes de tudo, a

própria natureza do Estado

contemporâneo posiciona-se na condição

de objeto prioritário de análise. Seria o

caso de pautar as intercorrências

postadas pelo ambiente político, em cujo

seio o Estado moderno interage com uma

moldura, na qual não deixaram de estar

ausentes nem a dominação social e,

tampouco, a exploração. Essa arena

política coloca em cheque a noção de

sociedade como uma modalidade de

circuito regulador autoestabilizado. Dito

de outro modo, o meio social – tal como

recorda o cientista político alemão

Joachim Hirsch – reflexiona com um

aparato estatal, em que a

heterogeneidade de seus mecanismos

nada mais traduz do que uma teia de

relações contraditórias, friccionando-se

entre si e com o edifício social como um

todo. Para o meio ambiente, o nexo

contraditório da ação estatal evidencia-

se numa situação paradoxal. Note-se que

parte da engrenagem da máquina estatal

refere-se a canais institucionais de defesa

ambiental. Porém, outra parte atua

como um agente direto de devastação do

meio ambiente. Esse quadro

problematiza, em profundidade,

quaisquer proposições quanto à

proficiência do Estado, em termos de um

14

enfrentamento claro dos problemas

ambientais. Podemos inferir a respeito do

que vem acontecendo em termos de

problemas ambientais no País, que não

há como negar esse papel duplamente

contraditório do aparato de Estado.

(In)FORMAÇÃO: Como fica a

sociedade neste panorama?

Prof. Maurício: Penso que

contrariamente a uma baixa autoestima

que se omite de observar as

potencialidades das iniciativas da

sociedade, é justamente a começar por

ela que identificamos ações altamente

positivas na direção dos equilíbrios

ambientais. Atentemos para a

recuperação dos materiais presentes no

lixo urbano. Faz décadas que um

numeroso contingente da população tem

arregaçado as mangas e impedido que a

questão dos resíduos se desdobre em uma

calamidade. Hoje em dia, são os

catadores de recicláveis os principais

atores que trabalham para abastecer o

segmento industrial, com valiosas

sucatas retiradas das ruas pelo trabalho

informal. Autênticos heróis do meio

ambiente, os trabalhadores da catação

captam mais de 97% dos materiais que

nutrem a indústria da reciclagem.

Todavia, o Estado tende a responder

aquém das manifestações de cidadania

ambiental. Para citar novamente a

questão do lixo, apenas 2,5% dos

municípios mantém parceria com os

catadores. Porém, o enorme potencial de

atenuar os impactos ambientais não tem

sido levado em consideração.

(In)FORMAÇÃO: No meio

corporativo, como isso ocorre?

Prof. Maurício: O meio

empresarial é diversificado na plena

acepção da palavra. Isso posto, não

necessariamente comunga procedimentos

comuns. Cumpre sublinhar que não se

trata, apenas, de falta de consenso. Em

muitos momentos, o empresariado fica

dividido quanto ao tipo de atitude a ser

assumida, diante de questões ambientais

estratégicas.

Para citar um caso emblemático,

investigado ao longo de meu primeiro

Pós- Doutorado, realizado em 2010, no

Instituto de Geociências da UNICAMP,

existe uma clara divergência dos agentes

econômicos quanto ao destino a ser dado

para o lixo, ou seja, na disputa daquilo

que sobra. Pontuando melhor: para as

recicladoras, os resíduos urbanos

constituem matéria-prima. Contudo,

para o segmento fabril “tradicional”, a

reciclagem funciona apenas como uma

possibilidade de minimizar custos de

produção. Quanto aos que estão

devotados em recuperar energia do lixo,

esses entendem os rejeitos como

combustível e não como algo

15

reaproveitável. Para os que gerenciam

aterros e coletam os rebotalhos, o que

interessa é a quantidade de restos a ser

tirada da calçada, e não sua recuperação.

Por sua vez, aspectos econômicos

envolvidos na atividade não são vistos na

mesma perspectiva pelos catadores

“avulsos” ou pelas cooperativas. Para

completar, na esfera político-

administrativa os gestores públicos

podem discordar dos objetivos dos

catadores, das propostas das empresas

que atuam com o lixo ou então, proceder

como de fato procedem, ignorando

solenemente a reciclagem como política

pública efetiva. Devemos também

rubricar que essas contradições se

reproduzem em outros aspectos setoriais,

como no tocante à apropriação dos

recursos hídricos e no consumo

energético. Arrematando, além dos

desacordos internos, os empresários estão

permanentemente inseguros na sua

relação com as autoridades, seja lá em

que nível for: municipal, estadual e

nacional. Em meio a uma burocracia tida

como das mais inoperantes do mundo,

fica difícil exigir respostas fáceis por

parte do empresariado.

(In)FORMAÇÃO: Os

antagonismos da classe empresarial com o

Estado são, portanto, de nível político?

Prof. Maurício: Sim e não. É claro

que o fator político pesa e muito.

Entretanto estou me detendo nos

aspectos administrativos da gestão

exercida pelos agentes estatais. Nesse

particular observamos situações

verdadeiramente surrealistas. Atente-se

para uma problemática praticamente

ignorada pela opinião pública, que diz

respeito à indústria têxtil. Por incrível

que pareça, o Brasil está importando

plástico PET do Paraguai para abastecer

a linha de produção de camisetas, cuja

matéria-prima é a fibra recuperada da

sucata plástica. O País também adquire

no mercado internacional restos de tecido

para fazer estopa. Isso porque a captação

institucional no território nacional é

insuficiente para atender à demanda das

recicladoras. Os gestores estatais do lixo

dão-se ao luxo de desprezar em torno de

50% do plástico PET, que fica ao léu nas

sarjetas, entupindo bueiros e

contribuindo para as enchentes. Quanto

aos retalhos de têxteis, o desperdício é

maior ainda: 90% são descartados nas

lixeiras. Dito de outro modo: o sistema

fabril é induzido a dar solução ao lixo dos

outros, dos estrangeiros. Absurdamente,

o Brasil importou mais de 223 mil

toneladas de resíduos, no biênio 2008-

2009, quando se sabe que no País o lixo

literalmente transborda por todos os

lados. É impossível deixar de ficar

indignado com o que acontece.

16

(In)FORMAÇÃO: Nesse sentido, a

importação de lixo evidencia problemas de

gestão?

Prof. Maurício: Sem dúvida

alguma. Estamos resolvendo os

problemas de gestão dos resíduos alheios

e permitindo que nossos rios regurgitem

garrafas plásticas e os aterros fiquem

entupidos com retalhos das confecções.

Esses são claros exemplos das falhas

estruturais nos esquemas de

interceptação das sobras. O pior nessa

situação é que a importação de lixo

termina revestindo-se de legitimidade. É

o que permite entender a chegada aos

portos brasileiros de contêineres vindos

do exterior, trazendo toda sorte de

refugos contaminados, que geralmente

apelam para a titularidade de materiais

recicláveis, nos registros oficiais e guias

de importação.

(In)FORMAÇÃO: De qualquer

modo a mídia enfoca, constantemente,

medidas do meio empresarial relacionadas

com a conservação dos recursos naturais.

O que existe, então, de autêntico nisso

tudo?

Prof. Maurício: Na realidade – a

despeito de uma série de obstáculos

logísticos e institucionais – existem

muitas experiências interessantes. Um

dado novo neste debate é o avanço da

conscientização ecológica.

Paulatinamente – seja sincera ou não a

adoção de políticas preservacionistas por

parte das empresas – o setor produtivo

tem incorporado “o verde” em sua cadeia

produtiva, acatando tanto pressões

utilitárias e da sociedade quanto do

mercado internacional. Ademais,

conexões entre sustentabilidade e

empreendedorismo social ensejaram a

criação de inúmeros programas de

sustentabilidade. Nesse quesito, caberia

menção obrigatória ao Compromisso

Empresarial para a Reciclagem

(CEMPRE). Fundado na cidade de São

Paulo por 14 empresas privadas, em

Março de 1992, o CEMPRE constituiu-

se, desde sua entrada em cena, no

principal fórum multissetorial do gênero

no País. A entidade, centrada em

promover o conceito de Gerenciamento

Integrado do Resíduo Sólido Municipal,

incentivar a reciclagem pós-consumo e

difundir a educação ambiental, mantém

parcerias com entidades de catadores.

Ademais, dotados de potencial

multiplicador de boas práticas

ambientais, programas de

sustentabilidade como o ECOS,

desenvolvido conjuntamente pelo Serviço

Social do Comércio (SESC), Serviço

Nacional de Aprendizagem Comercial

(SENAC) e Confederação Nacional do

Comércio de Bens, Serviços e Turismo

(CNC), sinalizam para práticas

sustentáveis, intersetoriais e

17

colaborativas nas rotinas de trabalho.

Não seria demasiado lembrar que no

Brasil, o mercado para produtos com

apelo ecológico está em franco

crescimento, inferência que encontraria

ressonância, por exemplo, no estrondoso

sucesso de programas ambientais

instituídos por bancos. Muitas casas

bancárias expandiram sua carteira de

clientes na casa dos milhões, justamente

por apoiarem medidas de cunho

ambiental. Nessa senda, não podemos

esquecer o papel do marketing. As

empresas, é claro, agregam simpatia às

suas marcas e imagem pública, ao se

mostrarem adeptas da defesa do meio

ambiente.

(In)FORMAÇÃO: Não existiria

certa dose de manipulação nesses

procedimentos?

Prof. Maurício: Claro está que o

termo greenwashing conquistou

popularidade entre os aficionados da

ecologia, por exatamente identificar

táticas manipulatórias. Traduzido do

inglês como “maquiagem verde”, refere-

se sinteticamente a toda

instrumentalização de imagem pública

favorável ao meio ambiente. Nada mais

consistindo do que um mascaramento, o

greenwashing demarca, na realidade, uma

atuação contrária aos bens ambientais.

Essa prática pode ser encontrada em

produtos autodefinidos como inseticidas

livres de substâncias químicas (como se

isso fosse possível), sem CFC (proibidos

há pelo menos 30 anos) ou em

embalagens que adotam a cor verde,

procurando convencer o comprador de

que se trata de uma mercadoria

ecológica. Práticas que denunciam má fé

explícita. Todavia, cabe ao mesmo tempo

lembrar que o greenwashing não constitui

monopólio das empresas. Tampouco que

exista, por definição, má intenção por

trás das medidas adotadas pelo

empresariado. Lembre-se que bem mais

do que o meio corporativo, são os

gestores estatais os que mais abusam

desse tipo de estratagema. Basta

acompanhar como o temário é

trabalhado pela propaganda oficial dos

órgãos estatais. Qualquer um que assista

ao cipoal de “propaganda verde” no

Brasil – aliás, paga pelo contribuinte pela

arrecadação de impostos de todo tipo e

natureza – seria capaz de jurar que o

País está instalado em um verdadeiro

paraíso ambiental.

(In)FORMAÇÃO: Como fica o

desenvolvimento sustentável nesse

contexto?

Prof. Maurício: Um parecer que

não permite calar é que após vinte anos

do encontro Rio 92 e da divulgação

massiva do conceito de Desenvolvimento

Sustentável, os avanços foram pequenos.

Certificando-se melhor, observaram-se

18

retrocessos em muitos setores. Conforme

divulgado no relatório Panorama

Ambiental Global de 2011 do Programa das

Nações Unidas para o Meio Ambiente

(PNUMA) – apenas quatro das 90

metas ambientais mais importantes

acertadas nos últimos 40 anos

observaram avanço significativo. Outros

40 objetivos avançaram minimamente.

Para completar, 24 não apresentaram

praticamente nenhum progresso. Com

base nesse pano de fundo, é evidente que

o Desenvolvimento Sustentável tem

obtido progressão sofrível. Basta

recordar o pronunciamento à imprensa

do ano de 2012, oferecido por ninguém

menos que Gro Brundtland, referência

mundial por sua participação na

confecção do relatório Nosso Futuro

Comum (Our Common Future),

documento matricial da cúpula do Rio

92. Considerada “mãe” do conceito de

Desenvolvimento Sustentável,

Brundtland advertiu que a

Sustentabilidade ainda aguarda

materialização para tornar-se prática

real. Mais ainda, admoestou que o termo

é utilizado de forma abusiva, sem a

menor conexão com as intenções que

deram origem à Rio 92. Para ela, o

Desenvolvimento Sustentável não

acontece na maior parte dos casos. Sinal

de que devemos aprofundar esse debate,

tornando concreto um conceito que não

pode ser ignorado.

(In)FORMAÇÃO: A água é um

assunto prioritário, pois afeta diretamente

a vida de pessoas, animais e plantas.

Enfim, todo o planeta. Em que isso

repercute em termos de acesso ao líquido?

Prof. Maurício: A água é um

recurso essencial em razão de constituir-

se componente bioquímico indispensável

para a totalidade dos seres vivos,

incluindo-se nessa acepção, o conjunto da

raça humana. Organismos muito simples

podem sobreviver sem ar. Todavia,

mesmo essas formas de vida não

conseguem sobreviver sem água. Ora,

essa nuança, no tocante à pessoa

humana, reveste o acesso ao líquido da

condição de direito inalienável. Não é à

toa que movimentos cívicos globais têm

reivindicado poder dispor de quantidade

gratuita mínima de água potável para a

população pobre, independentemente

dela possuir, ou não, dinheiro para pagar

pelo serviço. Exemplificando: na África

do Sul, onde essa mobilização já acontece

há muitos anos, o que se solicita é uma

free lifeline – linha de garantia de vida –

para uma provisão hídrica garantida pelo

poder público e que, nesse País, está

orçada no patamar de 50 litros de água

pessoa/dia. Entrementes, o conceito de

água como direito tem sido solapado das

mais diversas formas e meios,

configurando um panorama bem

inquietante.

19

(In)FORMAÇÃO: O que tem

colocado sob risco, o acesso à água por

parte das populações?

Prof. Maurício: Desenvolvi duas

pesquisas centradas nos recursos hídricos:

um Doutorado sobre a Represa Billings e

o abastecimento de água na Grande São

Paulo (Geografia USP, 2006) e um Pós

Doutorado com eixo na crise hídrica na

África Austral (Relações Internacionais

USP, 2013). Nos dois trabalhos, a

totalidade de informações coletadas

sinalizou para um movimento crescente

de privatização do líquido, uma

conjuntura que, conotando a água como

mercadoria, é igualmente alavancada

pela escassez hídrica mundial. Em

resumo, vale a ponderação do geógrafo

francês Claude Raffestin, que assinala ter

acabado para sempre, o tempo quando o

líquido era considerado um bem livre.

Numa exata oposição à regalia ancestral

de obter água, hoje, devido à utilização e

ao consumo maximizados pela

demografia e requisições da economia,

praticamente todos os países se

confrontam com chamado stress hídrico.

Esse parâmetro técnico, que denuncia a

insuficiência para cobrir demandas

humanas básicas por água doce, tem sido

reclamado para carimbar a exiguidade

dos recursos hídricos em um grupo cada

vez maior de países em todo o globo. Da

posição de um bem que pelo seu volume

colossal seria praticamente infinito, as

águas passaram a ser confrontadas com

as desventuras da finitude. Daí que a

água, tal como qualquer outro insumo,

tornou-se motivo para disputas de poder,

de conflitos e crispações internacionais.

(In)FORMAÇÃO: Concretamente,

em que essas variáveis interferem

internacionalmente? Que medidas estão

sendo tomadas pelas autoridades? O que

falta fazer?

Prof. Maurício: Vitaminada pela

penúria hídrica, a água tornou-se a mais

promissora commodity do comércio

mundial, aclamada com justiça como o

ouro azul do século XXI. Coerentemente,

a mídia corporativa registrava, em 1995,

uma cortante máxima apregoada por

Ismael Serageldin, então vice-presidente

do World Bank, o Banco Mundial: “Se as

guerras desse século foram lutas pela posse

do petróleo, as guerras do próximo século

terão a água no centro das disputas”. Tal

averbação é, em boa parte, a explicação

do conflito entre Israel e a Palestina e de

muitos outros, tal como o que opõe

Angola à África do Sul, ainda em fase

larvar. De outra parte, nos dias que

seguem o acesso à água, o mais sério

dilema da Humanidade é: em maior ou

menor grau são 3,5 bilhões de humanos

carentes do líquido. Em 25 anos, uma

terça parte dos humanos estará sem

água. Sem uma radical mudança de

rumos, em 2050 não estarão garantidos

20

sequer 50 litros per capita/dia para 4,2

bilhões de pessoas. Do que foi exposto,

fica evidente o caráter central de que se

reveste o debate sobre os recursos

hídricos. Isso especialmente quanto aos

modelos econômicos e de consumo.

Rarefeita pelas desventuras humanas,

assegurar o acesso à água requer revisão

de prioridades, gestão de excelência,

padrões de ecoeficiência e de preservação

das águas doces. Medidas minimamente

cabíveis a um insumo que sendo vital,

estratégico e essencial, impõe ao poder

público enorme responsabilidade pela

vida dos cidadãos.

(In)FORMAÇÃO: As ocupações

nas regiões de mananciais e bordos de

represas têm impactado de forma

significativa essa crise?

Prof. Maurício: Gostaria de, em

primeiro lugar, destacar que os

mananciais não constituem uma área de

proteção ambiental. Na mesma linha, as

represas e os reservatórios – cujo entorno

são as áreas de manancial – referem-se a

obras humanas, antropogênicas e

artificiais. Certo é que existem

movimentos ambientalistas dedicados a

preservar as represas. Mas isso, antes de

tudo, nada mais confirma do que o

caráter mutante do significado histórico

de natureza, responsável por transferir

rugosidades eminentemente artificiais

como barragens, açudes e represas rumo

a uma reserva imaginária do natural.

Uma segunda declinação pontuaria que

todas as legislações a respeito dos

mananciais, até por coerência com o

postulado anterior, não materializam

normatizações de índole “ecológica”. O

ponto nodal da discussão não é, portanto,

se os mananciais deveriam ou não ser

ocupados, mas antes, como essa ocupação

deveria ter se processado. O que

infelizmente deve ser ressalvado é que os

mananciais foram ocupados da pior

forma possível, em muitos casos com a

conivência das autoridades, fechando os

olhos para atuação dos loteadores

clandestinos. Por sinal, historicamente o

poder público tem sido aluno aplicado

das práticas de destruição premeditada

dos recursos hídricos, adotando como

matriz conceitual o modelo do

“torvelinho hídrico”. Nessa modalidade

de “gestão” as fontes d’água locais são

brutalizadas, destruídas e devoradas pela

especulação imobiliária. Daí que regiões

mais distantes são convocadas para

matar a sede da metrópole. Nitidamente,

a região metropolitana paulista reproduz

um modelo de ressecamento das águas. A

metrópole, ao se estender, distende suas

fontes de provimento hídrico, eliminando

os recursos hídricos mais próximos,

repassando para regiões mais recuadas o

ônus do fornecimento do líquido. Assim

sendo, o resgate de mananciais como

Billings, Cotia e Guarapiranga

21

constituem, pois juntamente com outras

políticas efetivas de defesa das águas

doces, peça fundamental para que a

metrópole paulista abandone o papel de

epicentro da crise hídrica, oxigenando

regiões doadoras como as da Bacia do

Piracicaba, Capivari e Jundiaí. Sem a

alteração desse mecanismo, nada de fato

irá mudar a gestão das águas doces

metropolitanas.

(In)FORMAÇÃO: É possível

recuperarmos a água das represas e rios

que estão secando? De que forma?

Quanto tempo levaria para tê-los de volta

e com o volume de água ideal?

Prof. Maurício: Claro que sim.

Estão aí para comprovar as mais diversas

experiências de reflorestamento levadas

adiante em países como Quênia, Israel e

Etiópia. O reflorestamento e a

preservação das matas ciliares

contribuem para manter reservas de

umidade, fundamentais para que os rios

garantam o essencial de seu débito

fluvial, mesmo em situações de extremos

climáticos como os que estamos

atualmente presenciando. Seria meritório

comentar que a cidade mineira de

Extrema, cujos rios abastecem o Sistema

Cantareira, desenvolveu projeto de

replantio internacionalmente

reconhecido. O projeto “Conservador das

Águas”, lançado em 2007, foi

extremamente bem-sucedido.

Remunerando o agricultor para

reflorestar e salvaguardar o entorno das

nascentes e cursos d’água, o projeto

contribuiu para manter a vazão do Rio

Jaguari, que alimenta o sistema

Cantareira. Assim, a iniciativa desse

pequeno município mineiro terminou

beneficiando a metrópole paulista, que é

abastecida por ele. Um exemplo a ser

repetido em todo o País.

(In)FORMAÇÃO: Cite algumas

ações que a sociedade civil pode e deve

fazer diariamente para preservar os

recursos hídricos e a boa qualidade da

água que chega às nossas torneiras.

Prof. Maurício: É sempre possível

evocar o célebre ditado: “Sabendo usar

não vai faltar”, que serve como regra

geral. Entretanto gostaria de fornecer

exemplificação mais criativa. Segue uma

ponderação para fazer pensar. Toda

propaganda voltada para conscientizar a

respeito da economia de água apela para

algumas imagens entronizadas: mãos

fechando torneiras, advertência para

ficar pouco tempo no chuveiro etc. O que

as pessoas não pensam é na quantidade

de água que é jogada fora junto com os

alimentos descartados. Logo no começo

da entrevista, foi frisada a interconexão

entre recursos hídricos e resíduos sólidos,

pois não existe produção que não

pressuponha uma água virtual ou

embutida. No caso da produção de carne

22

bovina, com base em pecuária extensiva

de baixo conteúdo técnico, sabe-se que

são necessários 100.000 litros de água

para produzir um quilo do produto. Ora,

outra forma de pensar esse montante

gigantesco de água virtual e repensar

formas de economia de recursos hídricos,

seria recordar que 100.000 litros de água

é suficiente para uma pessoa tomar

banho de ducha, durante quatro anos e

oito meses. Por conseguinte, poupa-se

mais água deixando de descartar,

aleatoriamente, meio quilo de carne do

que se isentando de tomar banho durante

um ano inteiro. Imagine-se, então, o

quanto de água que pode ser poupado,

com uma educação alimentar mais

equilibrada e em conformidade com a

cidadania ambiental!

(In)FORMAÇÃO: Existem

experiências bem-sucedidas de sociedades

que enfrentaram problemas com a

escassez de água e que hoje vivem uma

situação mais tranquila?

Prof. Maurício: É interessante

observar que certas partes do mundo,

como Califórnia, Espanha e Israel,

embora assolados pela aridez, nem de

longe estão ensombrados pela ameaça da

sede. Isso a despeito de serem territórios

cujo índice pluviométrico chegue a ser

muitíssimo inferior ao Nordeste

brasileiro. Nesse sentido, o geógrafo

pernambucano Manuel Correia de

Andrade, relativamente à escassez de

água em Israel, faz observações que para

o senso comum seriam surpreendentes.

Salientava o pesquisador, para dar uma

ideia do déficit de umidade israelense,

que no sertão brasileiro, em Cabaceiras,

na Paraíba, o município mais seco do

País, chove 259 mm por ano. Pois bem,

essa quantidade é dez vezes a quantidade

de chuvas que cai na maior parte de

Israel. Em síntese: não adianta ter muita

água e não saber gerenciá-la. O Brasil –

“país de muitas águas”, na definição da

Carta de Pero Vaz de Caminha – detém

12% da água superficial do Planeta. Mas,

o montante assombroso de água do Brasil

pode constituir uma ilusão. É insuficiente

ser agraciado com ótima disponibilidade

física do líquido. Para garantir que a sede

não atormente os brasileiros, é necessário

muito mais: uma administração pública

que funcione, programas concretos de

educação ambiental e ampliação do senso

de cidadania. Caso isso não aconteça,

vencerão as expectativas pessimistas. Em

2011, a Agência Nacional de Águas

(ANA) alertou que na iminência de não

se realizarem investimentos em sistemas

de captação e coleta de água, 55% dos

municípios brasileiros poderão sofrer com

falta d’água em 2015. É o fantasma das

torneiras secas ou apagão da água. Então

temos de enfrentar a desafiante lição de

casa: transformar o que vem a ser uma

excelente oferta natural de água, em uma

23

abundante provisão a serviço do bem-

estar de nosso povo.

(In)FORMAÇÃO: Deixe uma

mensagem, uma recomendação aos

educadores do Programa Escola da

Família sobre o assunto.

Prof. Maurício: A luta pelo

equilíbrio ambiental requer a somatória

dos esforços de muitas pessoas, de muitos

acervos culturais, histórias e vivências.

Muitas são as dificuldades, mas nada

disso interfere nas boas possibilidades de

sucesso. Lembremos as palavras do

filósofo francês Edgar Morin, que em Os

Sete Saberes Necessários à Educação do

Futuro, comentou: “Na história, temos

visto com frequência, infelizmente, que o

possível se torna impossível e podemos

pressentir que as mais ricas possibilidades

humanas permanecem ainda impossíveis

de se realizar. Mas vimos também que o

inesperado torna-se possível e se realiza;

vimos com frequência que o impossível se

realiza mais que o possível; saibamos,

então, esperar o inesperado e trabalhar para

o improvável”.

É isso. Boas Notícias? Lutemos

por elas!

Sobre Maurício Waldman:

Curriculum Acadêmico CNPq-Lattes:

http://lattes.cnpq.br/3749636915642474

Pos Doc UNOESTE:

http://www.mw.pro.br/mw/eco_PDResumoportal

_2014.pdf

Portal Acadêmico do Professor Maurício

Waldman: www.mw.pro.br

Blog do Waldman/Waldman's Blog:

http://mauriciowaldman.blogspot.com.br/

Biografia/Biography (BrE):

http://en.wikipedia.org/wiki/Maurício_Waldman

Contatos:

E-mail: [email protected]

Skipe: mauricio.waldman.mw

Caixa Postal/Po Box: 45375; Cep: 04010-970; São

Paulo/ Brasil

Prof. Maurício Waldman

24

Co

mu

nid

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Leit

ora

Se

ção

4

Um dia na escola do meu

filho Histórias e lendas que nos encantam

DE Votorantim

Mais uma edição do Um Dia na

Escola do meu Filho foi realizada nas

Diretorias de Ensino do Estado e

movimentou educadores, voluntários,

parceiros e pessoas das

comunidades. Dessa vez, o

tema que orientou o

planejamento de atividades

foi: Histórias e lendas que nos

encantam e, para ilustrar o

clima vivido nesse final de

semana (23/08), esta notícia

trará um pouco do que

aconteceu na EE Profª

Dimpina Rocha Lopes – DE

Votorantim.

Ali, as atividades

foram iniciadas com a peça

teatral Diomira e o Coronel

Carrerão – A Sherazade do

Sertão, de Ivana Arruda

Leite, que foi encenada por voluntários

do Programa Escola da Família.

Na sequência, houve uma sessão

de contação de histórias típicas da região,

por alguns pais de alunos, o que

possibilitou mais integração entre escola

e comunidade, além do que, valorizou o

patrimônio imaterial de causos e lendas,

arquivados na memória das pessoas que

vivem ali, e que fazem parte da tradição

oral.

Uma apresentação musical feita

por alunos e pais, em parceria com o

Grêmio Estudantil, também abrilhantou o

dia. Nesse clima de narrativas e de notas

musicais, a vice-diretora do PEF falou

sobre o tema norteador:

Histórias e lendas que

nos encantam, a

importância da leitura

na formação e na vida

das pessoas, bem como

a herança das tradições

culturais que são

preservadas quando

passadas de geração a

geração.

Depois os pais e

responsáveis foram às

salas de aula para

acompanharem o

rendimento escolar de

seus filhos. Ao final, em clima de

confraternização, todos participaram de

um delicioso café da manhã e puderam

saborear um caprichado arroz-doce,

preparado por mães de alunos e

voluntárias do PEF.

Divulgação

A divulgação do evento deu-se de

três formas: painel informativo da escola,

Contar histórias valorizou

o patrimônio imaterial de

causos e lendas,

arquivados na memória

das pessoas que vivem ali,

e que fazem parte da

tradição oral.

25

convite aos pais e divulgação pelos

docentes em sala de aula.

Parcerias

Prefeitura Municipal de Piedade.

Rede de mercado local (doação de

ingredientes para o preparo do

café da manhã).

Integração com a semana letiva

A semana letiva trabalhou o tema

Histórias e lendas que nos encantam,

apresentando literatura do gênero

contos/lendas que pôde ser lida e

discutida pelos alunos, seguida de

produção textual.

Integração com outro projeto da

Pasta

O Um Dia na Escola do meu Filho

contou com a participação do Professor

Mediador Escolar e Comunitário, no

preparo e organização da programação.

Palavras de um educador

“Dias como esse são de grande valia,

pois o bairro atendido pela escola é distante

da cidade, e como boa parte da população é

de baixa renda, momentos como os que

foram proporcionados hoje levam cultura a

essa comunidade, proporcionando

momentos de bem-estar, lazer e

entretenimento. Esse encontro é proveitoso

no sentido dos pais saberem mais sobre o

andamento da vida escolar de seus filhos,

como também para se inteirarem de outros

assuntos relativos à escola.”

Número de participações, ano a

ano, no Um Dia na Escola do meu Filho:

Ano Participações

2012 214.742

2013 616,041

2014 757.350

Total 1.588.133

DE de Santo André

26

DE de Votuporanga

DE de Itapevi

DE de Itapevi

DE de Bauru

27

Val

e M

uit

o

Seçã

o 5

Clube da Leitura

Projeto Premier Skills

A FDE – Fundação para o

Desenvolvimento da Educação – acaba de

firmar parceria com a

Companhia das Letras, em

setembro, no âmbito do

Projeto Premier Skills, para

inauguração dos Clubes de

Leitura.

O Premier Skills é um

projeto que foi pensado e

organizado em três áreas

distintas, mas interligadas:

Esporte Comunitário, Leitura

e Inglês. Sua inserção nas

escolas com PEF foi

viabilizada pelas parcerias

firmadas com o Esporte Clube

Corinthians e o British

Council.

A Companhia das Letras convidou

para participar desse Clube (público:

crianças e jovens), educadores

universitários e voluntários que serão os

responsáveis pelas sessões de leitura no

Premier Skills. Esse grupo de mediadores

teve em julho, uma oficina sobre leitura

e, em setembro, o primeiro encontro do

Clube de Leitura, que aconteceu na

Biblioteca de São Paulo.

Atualmente a editora Companhia

das Letras coordena 58 clubes em 15

cidades brasileiras. O Clube é um espaço

dedicado às pessoas que gostam de

literatura e às que querem despertar o

gosto. Os encontros acontecem uma vez

por mês e, além de

fomentarem a formação de

leitores e ampliarem o

repertório dos

participantes, constituem-

se, também, como um

espaço importante de

compartilhamento e trocas.

No Clube de Leitura

Penguin-

Companhia/Premier Skills,

teremos uma biblioteca

circulante à disposição dos

participantes.

Fotos:

1 - Participantes do Clube de

Leitura.

2 - Escolha de livros doados.

Os encontros, além

de fomentarem a

formação de leitores

e ampliarem o

repertório dos

participantes,

constituem-se,

também, como um

espaço importante de

compartilhamento e

trocas.

.

28

Teatro em Família

Se Maomé não pode ir à montanha, por

que a montanha não pode ir a Maomé?

Foi partindo desta indagação,

que Bento de Abreu, Auriflama, Oriente,

Palmares Paulista, Pongaí, Coroados,

Sabino, Guaraçaí, Urânia, entre vários

outros municípios de pequeno porte,

puderam ser atendidos no projeto Teatro

em Família, do Programa

Escola da Família.

Nos mesmos moldes

do projeto Os astros vêm até

você: planetário e cinema no

Escola da Família, o Teatro

em Família tem como

objetivo, justamente,

atender localidades com

menos de 15 mil habitantes,

de regiões afastadas dos

centros urbanos e de difícil

acesso a teatros, museus ou

cinemas. Nessas cidades, a escola

costuma ser um dos únicos espaços de

convívio e lazer disponíveis e, por isso, o

Escola da Família é tão importante.

Assim, esses projetos têm buscado

atender a esse público de maneira

diferenciada – levando para dentro da

escola, opções de entretenimento e

cultura, que costumam estar disponíveis

apenas nos grandes centros.

No caso do Teatro em Família, foi

feito Chamamento Público para um edital

de credenciamento. As companhias

teatrais interessadas em se inscrever

tiveram de apresentar, não apenas, a

documentação solicitada pela legislação,

mas também, um DVD com a filmagem

integral da peça, ficha técnica, currículo

dos integrantes, portfólio com matérias

em jornais, críticas etc.

Uma comissão foi

instituída para assistir a

todas as peças enviadas e

para analisar sua

adequação quanto ao

público, ao espaço

(quadra da escola) e à

linguagem (termos chulos

e/ou apologia a algum

tipo de preconceito e

discriminação). Durante

semanas, a comissão

reuniu-se para debater

peça por peça. Foi um

trabalho árduo, mas também divertido.

Depois de aprovadas a

documentação jurídica e técnica e de a

peça passar pelo crivo da comissão,

publicou-se a lista das credenciadas e

todas as informações importantes de cada

uma foram registradas em um intrasite,

para que as escolas pudessem acessar,

escolher, agendar a de sua preferência e,

depois, avaliar a apresentação.

... levando para dentro

da escola, opções de

entretenimento e

cultura, que

costumam estar

disponíveis apenas nos

grandes centros.

.

29

Para garantir o entendimento e o

sucesso do projeto, foi feita uma reunião

com representantes de todos os grupos

teatrais, com o intuito de apresentar-lhes

o Escola da Família, contar-lhes um

pouco as características de seu público,

das escolas, podendo assim, criar neles

uma expectativa positiva.

Da mesma forma, houve uma

videoconferência com as Diretorias

contempladas pelo projeto, em que não só

explicamos a parte operacional e o

funcionamento do site para

agendamento, como também,

destacamos o valor da atividade e o papel

da escola e da DE, quanto às

providências para o máximo

aproveitamento da peça escolhida:

divulgação, promoção e discussão das

apresentações.

Essa iniciativa é inédita.

Chamamento, edital, credenciamento,

cardápio de peças para a escola escolher e

agendamento online foram passos

necessários para garantir o teatro no

PEF. Embora tenha havido alguns

percalços no processo de credenciamento,

não foi nada que não pudesse ser

superado.

Estamos chegando ao final da

primeira edição – atendimento a 100

escolas –, com um saldo bastante

positivo, tendo sido contabilizado sucesso

de público e de crítica. A maioria das

apresentações, graças ao empenho das

equipes locais e regionais, teve público

superior a 100 pessoas. Em alguns casos,

o público superou o número de 300

pessoas: alunos, pais, equipes do

Programa Escola da Família e escolar,

alunos das escolas municipais e mesmo

adultos do entorno da escola,

compareceram em massa para desfrutar

desse momento especial.

A vice-diretora Ana Rosa

Miranda, da EE José Pimenta de Pádua,

de Getulina, avaliou como ótima a

apresentação da peça Escola não é Gaiola,

da Cia. Teatro Salada Vinte, e destacou:

“Foi bastante importante porque enfatizou

a diversidade de alunos que temos na escola

e transformou os personagens que eram

vistos como maus para não haver mais

rotulação”. Segundo ela, houve muita

participação do público presente.

Para João Carlos Estonaro, vice-

diretor da EE Prof. Akio Satoru, de

Urânia, a apresentação de Vidas Secas,

feita pelo grupo Kelly Vanessa

Schoemberguer, “foi muito apreciada pelo

público presente” e “atendeu a todas as

expectativas do público, sendo alvo de

elogios tanto da comunidade local, quanto

das comunidades vizinhas”. Nós, da

Coordenação do Programa, estamos

muito felizes com esses resultados e

animados com a 2ª edição, que terá início

30

em breve. Acreditamos que o Programa

Escola da Família pode, cada vez mais,

oferecer ações diferenciadas, que atendam

às expectativas e necessidades de seus

públicos tão variados. Como espaço

privilegiado de interface entre escola e

família, deve oferecer, sempre que

possível, momentos como esses – tanto de

crescimento cultural como de diversão

para todos.

Depoimentos:

Gostaríamos de agradecer e

parabenizar a FDE pela oportunidade de

presenciar este belíssimo espetáculo que nos

foi proporcionado e que possamos receber

outras peças teatrais, porque isso realmente

é um Teatro da Família – EE CEL.

FRANCISCO PRUDENTE CORRÊA –

RUBIÁCEA/SP (peça assistida:

Farradança).

O Projeto Teatro em Família

trouxe à comunidade uma significativa

atividade cultural, principalmente às

crianças. Incentivou a leitura e despertou a

imaginação. Desde então, os alunos sempre

perguntam quando haverá teatro novamente – E.E. PROFESSOR LOURENÇO

LUCIANO CARNEIRO – MARACAÍ/SP

(peça assistida: Pedro e o Lobo).

Crianças assistem à peça Pedro e o Lobo.

Cores, luzes e... ação

31

Aco

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o 6

Um Dia na Escola do

meu Filho

Exposição sobre vida e obra de Victor

Brecheret: “700 OLHARES”

“A arte não é um espelho do

mundo, é sim uma

ferramenta para consertá-

lo” – Vladimir

Maiakovski.

Victor Brecheret foi

um escultor ítalo-brasileiro

(1894 -1955), considerado

um dos mais importantes

do País e responsável pela

introdução do Modernismo

na escultura brasileira.

Muitas de suas

obras estão espalhadas em

locais públicos e museus do mundo; a

exemplo, temos aqui na cidade de São

Paulo: Monumento às Bandeiras (Parque

Ibirapuera), Depois do Banho (Largo do

Arouche), Diana Caçadora (Teatro

Municipal de São Paulo), Anjo (Cemitério

da Consolação) etc.

Atualmente, uma exposição sobre

vida e obras do artista, organizada por

sua filha Sandra Brecheret Pellegrini,

tem percorrido escolas da rede estadual

de ensino, consideradas de difícil

acessibilidade a bens culturais.

A exposição itinerante já atingiu

um público de 20 mil pessoas, soma que

ultrapassou a meta

inicial que era de 1.000.

Ela permanece aberta

à visitação de sexta a

segunda-feira, sendo

que aos sábados e

domingos,

participantes do

Programa Escola da

Família também

podem visitá-la. Sob

monitoria da Profª

Tokie, do Projeto

Ações Preventivas na

Escola (APE), alunos, professores,

funcionários e pessoas das comunidades

têm recebido informações importantes

que as fazem entender melhor a vida e as

obras de Brecheret, bem como o

movimento Modernista e o período

histórico em que ele viveu.

Além de escolas, algumas

Diretorias de Ensino também fazem

... pessoas das comunidades

têm recebido informações

importantes que as fazem

entender melhor a vida e as

obras de Brecheret, bem

como o movimento

Modernista e o período

histórico em que ele viveu.

32

parte desse circuito e sediam a exposição:

Itu, Sertãozinho e Itaquaquecetuba.

A escola formal por dentro da

vida e obras brecheretianas

Por onde a exposição tem

passado, professores das diversas

disciplinas têm trabalhado o assunto com

seus colegas e alunos. Esse diálogo tem

proporcionado uma qualidade interativa

nas reflexões, discussões e fazeres –

capazes de legitimar a escola como espaço

propício de informação e aprendizagem.

Nesse contexto multidirecional, em que

os saberes se conversam e se completam

mutuamente, todos saem ganhando.

Para ilustrar o fato, a exposição

que esteve na EE Jardim da Luz – DE

Taboão da Serra/Embu das Artes, no Um

Dia na Escola da meu Filho, contou

com o trabalho articulado dos professores

Ricardo Silva Santana e Hemerson Paula

da Silva (Matemática). Eles discutiram as

obras de Brecheret, sob a ótica dos

conceitos matemáticos e geométricos

(volume, massa, medidas, simetria,

assimetria etc.). A professora, Lourdes

de Souza (Artes) e Viviane Batista

Xavier (Português) trabalharam a

biografia do artista, o contexto histórico-

cultural em que viveu, o movimento

Modernista e o estilo brecheretiano

cunhado em suas esculturas. Rosivaldo

Correia da Paixão (Química) também

levou à sala de aula, um bate-papo sobre

as propriedades de certos materiais

utilizados na criação de objetos artísticos.

O moderno e o contemporâneo

em um mesmo espaço: Brecheret e

Eduardo Kobra

A mesma sala que exibiu as

releituras de Brecheret também exibiu as

de Eduardo Kobra. Kobra é considerado

um expoente da neovanguarda paulista e

seus trabalhos surgiram na década de

1980, tendo recebido influências diretas

do pixo e do grafite. Com os

desdobramentos que a arte urbana

ganhou em São Paulo, Kobra derivou

para o muralismo, tendo sido

especialmente influenciado por pintores

mexicanos e pelo designer norte-

americano, Eric Grohe.

As releituras de suas obras foram

realizadas por alunos de Nilda Garcia

(professora de Artes), que lhes deu

informações e orientações para motivar a

produção dos objetos.

33

As telas coloridas e os desenhos dividiram

um mesmo espaço, contrastando as

diferentes propostas e estilos de Kobra e

Brecheret. Se por um lado tínhamos a

monotonia do cinza e do branco da argila,

do outro, deparávamo-nos com a

profusão de cores vibrantes, cheias de

calor e vida.

Porque brincar é preciso

Enquanto pais, alunos e outras

pessoas da região prestigiavam a

exposição, do lado de fora, crianças

brincavam em brinquedos desenhados no

chão, pelo vice-diretor do PEF, Danilo

Pedro de Lima. Ele inventou uma corrida

de carrinhos muito disputada entre a

criançada. Um enorme dado, ao ser

jogado para cima, indica quantas casas

cada carrinho avançará. Aquele que

chegar primeiro ganhará o jogo.

Com vocês: a diretora

Miriam Borges de Carvalho, diretora da

unidade escolar, contou-nos que em 2007,

quando a escola deixou de contar com o

Programa Escola da Família, a

depredação tomou conta do prédio e

instaurou uma situação de caos. Hoje,

feliz por poder reaver o PEF na escola,

ela conta que o Programa operou

mudanças importantíssimas para toda a

comunidade: as instalações deixaram de

ser invadidas e vandalizadas para serem,

novamente, espaços de encontro de

gerações, de aprendizagem e de lazer.

Além dos educadores universitários, ela

também conta a colaboração de alunos

empreendedores, como a jovem e

estudante de Ensino Médio, Bruna Soares

dos Santos, que reforça o time de

educadores que atua aos finais de

semana.

O PEF, nessa escola, é um

programa reconhecido pela população

local, pois oferece oportunidades de

cultura, de lazer e de cidadania. Seu

público é cativo e não para de crescer a

cada final de semana.

Para conhecer um pouco mais

sobre Victor Brecheret, Eduardo Kobra e

suas obras, acesse:

http://www.victor.brecheret.nom.br/

http://www.victor.brecheret.nom.br/obra

s1.htm

http://eduardokobra.zip.net/

34

https://www.youtube.com/watch?v=tP1

bfOzIBMM

https://www.youtube.com/watch?v=cLbs

GVsTgXI

Entrada da exposição.

Monumento às Bandeiras.

A comunidade conhece Brecheret.

Sarau – década de 1930.

35

Desenho no pátio precede a exposição.

Autorretrato – década de 1940.

Releituras: obras de Eduardo Kobra.

36

Horta Comunitária

A EE Euclides Igesca – DE

Suzano tem desenvolvido, juntamente

com alunos e a comunidade, o Projeto

Horta Comunitária. Inicialmente é

ensinada a técnica que produz adubo

orgânico, com cascas de frutas, de

legumes, de ovos; pó de café, enfim, com

sobras da cozinha que iriam direto para o

lixo.

O preparo da terra com esse

adubo é o segundo passo para a

semeadura e plantio de mudas. Esse

trabalho é realizado sempre aos

domingos, das 9h30 às 11h30 e a

educadora universitária Laudeni é a

responsável pelo projeto.

A iniciativa surgiu porque

educadores do PEF perceberam a

necessidade de terem um projeto em que

as crianças entrassem em contato com a

terra e conhecessem a importância de se

ter à mesa, alimentos saudáveis, livres de

agrotóxicos. Além desse aspecto, o

projeto prova que é possível cultivar com

facilidade o que se come, e que alimentos

orgânicos não são encontrados apenas em

grandes mercados.

A Horta Comunitária traz de

volta para as novas gerações, a época em

que os quintais também eram espaços de

plantio, cultivo e colheita. O lugar onde

as crianças brincavam; os adultos

conversavam, trabalhavam, cuidavam de

suas plantas e eram mais senhores do

tempo.

(Com base nos depoimentos da

PCNP Valdinea Cilene Vicentini e do

vice-diretor/PEF: Norberto Paulino dos

Santos.)

Fotos:

Canteiro com pés de alface.

Pé de manjericão.

37

Velhas e novas tradições: a experiência do

PEF no território guarani

Há mais ou menos um ano, a

Coordenação Geral do PEF abriu o

Programa em uma escola indígena da

etnia guarani, na capital. Localizada na

região norte da cidade, sob os cuidados da

DE Norte 1, a Escola Estadual Djakupè

Amba Arandy preserva a primeira

construção escolar indígena do Estado.

Lá, a educação básica atende

hoje, durante a semana letiva, mais de

cento e cinquenta crianças, conduzidas

pelo ensino bilíngue e por educadores da

etnia. Abrir o Programa Escola da

Família, em um ambiente cujo

entendimento educacional e físico é

regido pela lógica comunitária, é para

todos os envolvidos nesta gestão, um

desafio enorme, porque nada do que se

aprende neste espaço segue paradigmas

instituídos.

Aos poucos, a equipe da

Coordenação Geral foi aproximando-se

dessa comunidade, a fim de entender suas

demandas prioritárias e traçar objetivos

possíveis para ampará-la.

Todo esse processo incluiu a

presença de muitos parceiros que também

atendem esse público. No que compete à

erradicação da precariedade na região, o

comprometimento coletivo, já

constituído, pode ser entendido como

uma bandeira, pois, seus participantes

encabeçam, discutem e fortalecem ações

pontuais e necessárias.

Entender o processo histórico de

precariedade, em que comunidades

indígenas urbanas encontram-se, é uma

tarefa sempre multideterminada e regida

por ideologias mais amplas. Desde o

período do Brasil Colônia, a luta pelo

reconhecimento da terra, da língua e das

diferenças tem sido tema fundamental de

diferentes etnias. Os movimentos

indígenas que se fortaleceram, nos

últimos anos, pautam a valorização da

própria cultura, os ideais de

autodeterminação e o diálogo

intercultural, com base na ética e no

respeito à diversidade. Os gestores

públicos têm como desafio permanente

entender esse processo e proporcionar

ações de qualidade, visando ao respeito

pelas diferenças.

A pedido do corpo docente, que é

guarani, e de representantes da Aldeia

Tekoa Ytu (Aldeia de Cima) e Tekoa

Pyau (Aldeia de Baixo), iniciou-se, no

segundo semestre de 2013, o Projeto de

Saúde Ambiental. Com a perspectiva de

aumentar ações mobilizadoras, atreladas

ao resgate da cultura guarani, foram

priorizados temas como: lixo,

reflorestamento, alimentação e horta

tradicional.

38

O começo das ações –

reconhecimento do solo, das espécies de

plantio já existentes no terreno, das

espécies usadas na cultura guarani;

escolha de bons locais para horta – foram

os primeiros passos. Descobriu-se que a

erva-mate, cabaça, fumo preto, juçara,

urucum e jenipapo já cresciam no

território e estavam disponíveis. Uma

caminhada pela comunidade, juntamente

com o cacique, tornou a Coordenação

Geral mais próxima daquele espaço.

Um encontro, sob a mesma

metodologia, possibilitou a identificação

de mais plantas, bem como seu uso

medicinal tão tradicional: urtiga branca e

cinamomo (planta e árvore adstringentes,

boas para redução de fluxo menstrual e

cólicas), capeba (chá ótimo para curar

gripe), taioba (verdura altamente

nutritiva), mandioca-brava (usada no

combate a formigas), miolo de bananeira

(para tingimento e nutrição dos cabelos),

mamona (excelente adubo para terra

fraca e eficiente para matar ácaros e

pulgões) e guaçatonga (ingerida como

cafezinho do mato; cura gastrite e picada

de inseto).

A criação da horta na escola, sob

os cuidados dos educadores guaranis e da

DE Norte 1, foi uma outra ação bem-

sucedida, nela a vegetação vem sendo

cultivada para o subsídio sustentável de

toda a comunidade. Isso é motivo de

orgulho e representa mais um aspecto do

Programa e das políticas educacionais.

Trata-se somente do início de uma longa

trajetória que a Coordenação Geral tem

tido a oportunidade de acompanhar de

perto.

Os PCNPs Juvelino Carabante e

Ângela Cardoso, juntamente com todos

os Educadores Guaranis, são os

protagonistas dessa experiência que,

merecidamente, deve ser debatida,

registrada e monitorada, para que todos

possam continuar aprendendo e

percebendo que a Educação possui

múltiplas faces e importâncias.

A educação escolar indígena

cresce a cada ano e para os gestores da

área, o diálogo intercultural passa a ser

premissa para essa “nova-velha”

Educação, que vem sendo

institucionalizada. Escuta atenta é uma

das qualidades necessárias para ser gestor

e, quanto ao Programa Escola da Família,

uma de suas prioridades é a política de

inclusão, tema que tem merecido

atenção, análise e propostas. O PEF

respeita a realidade de suas escolas e

respectivas comunidades, sabendo, de

antemão, que suas características e

potencialidades são diferentes, e que

necessitam de planejamentos específicos,

como é o caso das unidades escolares

indígenas.

39

Feliz, por estar participando

dessa experiência, a Coordenação Geral

convida todas as Diretorias que têm

escolas indígenas, a sentirem o gosto por

essa incrível empreitada educativa.

PCNP Juvelino Carabante, com crianças da

aldeia Tekoa Ytu/Bairro do Jaguaré-SP,

cuidando da horta guarani (jul. 2014).

Horta da aldeia do Jaguaré (out. 2014).

Horta da aldeia do Jaguaré(out.2014).

40

“Dia do bem fazer”

Lar Fraterno São Vicente de Paulo – Apiaí

Janaína Prestes de Lima

Pelo sexto ano consecutivo, o

Instituto Camargo Corrêa e o Grupo

Camargo Corrêa reúnem, em um domingo

do mês de agosto, milhares de pessoas em

dezenas de cidades, no Brasil e em outros

países, em um grande evento de

voluntariado – “O dia do bem fazer”.

Neste ano as atividades foram realizadas

no dia 24 de agosto, em cerca de 70

municípios brasileiros e em localidades de

Moçambique, Argentina, Paraguai,

México, Venezuela, Colômbia e África do

Sul.

Neste ano, na cidade de Apiaí, a

entidade contemplada com as ações do

“Dia do bem fazer” foi o asilo Lar

Fraterno São Vicente de Paulo, que

abriga 41 idosos com idades variando de

60 a 106 anos, sendo 23 homens e 18

mulheres.

Para que a casa pudesse passar

pela reforma, os idosos tiveram de ser

retirados do local, sendo levados à

Chácara Recanto Feliz, onde passaram o

dia com atividades dirigidas e

organizadas.

Fomos surpreendidos quando a

responsável pelo abrigo indicou a equipe

do Programa Escola da Família, para

desenvolver, realizar e acompanhar as

atividades com idosos na chácara.

Juntamente com a responsável

pelo evento, organizamos todas as

atividades a serem desenvolvidas com os

idosos durante o dia, garantindo que

todos pudessem participar, até mesmo

aqueles com mobilidade reduzida e

acamados.

Nesse dia foram oferecidas aos

idosos diversas atividades, como: dança,

corte de cabelo, manicure e pedicure,

massagem, limpeza de pele, atividades

educativas (pintura, caça-palavras,

leitura, jogos), música ao vivo, café da

manhã, almoço e lanche da tarde,

incluindo um bolo para comemoração dos

aniversariantes do mês.

Os vice-diretores, monitores

educacionais, universitários e alunos

empreendedores contribuíram para que

todas as atividades ocorressem de forma

organizada, e que o atendimento a todos

os idosos presentes fosse feito de maneira

que tornasse o dia ainda mais agradável –

física e emocionalmente.

Nesse dia tivemos contato com o

presidente do Rotary Club – Apiaí, que

vendo a desenvoltura dos alunos

empreendedores e a forma como se

comportaram em relação ao atendimento

com os idosos, ofereceu um curso de

41

formação para jovens empreendedores,

que acontecerá no dia 18/10/2014.

Esse dia proporcionou momentos

de lazer, solidariedade, entretenimento,

beleza e autoestima para os idosos. Um

encontro de gerações – os jovens de hoje

serão os idosos de amanhã. Integração e

aprendizagem entre voluntários, muito

significativas para a vida.

(Janaína Prestes de Lima – vice-

diretora).

Sessão de reflexologia.

Sessão de estética facial.

Cuidados com aparência.

Sessão de ginástica.

42

Aniversário de 11 anos do

PEF

O PEF comemora, neste mês de

agosto, 11 anos de existência. As escolas

das 91 Diretorias Regionais de Ensino

planejaram uma programação

diversificada para receber, em clima de

festa, as comunidades.

Foi o que aconteceu, no dia 17 de

agosto, na EE Seraphina Etelvina

Pagliuso – DE Tupã, município

Rinópolis. Durante a semana, a escola

mobilizou-se para confeccionar convites

que seriam entregues às famílias dos

alunos e aos vários segmentos da

sociedade local. No sábado, dia 16, foi

criado um painel e a escola, toda

enfeitada para o aniversário.

No domingo, ela amanheceu

colorida, bonita, organizada – pronta

para receber seus convidados. Do lado de

fora, a partir das 9h, uma fila já se

formava, aguardando a festa que teria

início às 11h. Muitas crianças só iriam

embora às 17h30, hora do fechamento

dos portões.

Pais e filhos e pessoas da

comunidade participaram da festa, que

contou com brincadeiras, oficina de

pintura artística facial e comes e bebes.

No decorrer do dia, uma mãe

expressou sua opinião sobre o Programa:

“Acho incrível a escola abrir aos finais de

semana, tirando assim muitas crianças

das ruas e ensinando algo de bom nas

oficinas”.

“Parabéns Programa Escola da

Família, por tantos feitos, tantas

histórias, tantos talentos, tantas

conquistas... Tudo isso merece registro

nas páginas do livro: História da

Educação Paulista” – Eliane M. Val

(vice-diretora do PEF).

Porque brincar é preciso!

Educadores em clima de festa.

43

Programa Agita Família

As atividades do Agita Família

são desenvolvidas como ações

permanentes, aos sábados e domingos,

com sessões de atividades físicas

acumuladas em 30 minutos diários (início

e final do dia).

Tradicionalmente, como nos anos

passados, nos dias 30 e 31 de agosto, nas

escolas com PEF, o Programa agitou

inúmeras pessoas, perfazendo este ano

um total de 312.834 participações. A real

intenção das ações educativas

preventivas, oferecidas à população, é

combater os males do sedentarismo e

conscientizar quanto aos benefícios de se

adotar um estilo de vida saudável.

Atividades realizadas:

alongamentos, matroginástica, jogos

cooperativos, resgate de brincadeiras,

cãominhada, passeio ciclístico,

caminhadas com a família etc.

Agita Família 2014

Atividade Física: Um Gol de

Placa! Um Gol de Saúde!

Depoimento da Diretoria de Ensino:

Sertãozinho

Nos dias 30 e 31 de agosto, o

Programa Escola da Família realizou a

ação Agita Família 2014 – Atividade

Física: Um Gol de Placa! Um Gol de

Saúde!

Além das atividades normais, realizamos

jogos cooperativos, brincadeiras

dinâmicas, futsal, basquete, vôlei e tênis

de mesa. As propostas foram: combater o

sedentarismo e oferecer melhor qualidade

de vida à comunidade.

Por conta da resposta positiva do

público, as ações serão permanentes e

proporcionarão momentos alegres e

descontraídos. O intuito é que a

comunidade do Programa troque os

meios eletrônicos pelo interesse e

participação em atividades físicas,

percebendo que tais propostas corporais

estimulam o raciocínio rápido, a agilidade

e o espírito de equipe.

Os universitários estão engajados

nessa nova ação e esforçam-se para obter

resultados positivos – o que já é

percebido, quando se constata que

pessoas de várias idades estão animadas

para modificar seus hábitos, passando a

incluir, no dia a dia, 30 minutos de

atividade física.

As crianças, que também

participam da ação, têm a oportunidade

de contar aos pais os prazerosos

momentos que passam na escola,

44

transmitindo assim, os benefícios de um

estilo de vida mais ativo. Certamente isso

poderá encorajá-los a tornarem-se

adeptos da prática. Esta é a

intencionalidade da ação: que o

conhecimento adquirido atinja o

cotidiano dos alunos e de demais pessoas.

Sem dúvida, a ação incentiva e

proporciona integração de toda

comunidade com esse e outros projetos

oferecidos pelo Programa Escola da

Família.

Jogos cooperativos.

Uma bagunça gostosa que faz bem à

vida!

45

Co

ord

enad

as

Seçã

o 7

Espaço que educa

As palavras vão, mas os gestos ficam.

Uma cidade melhor, um país

melhor, um mundo melhor começa no

quintal de nossa casa, de nossa escola,

de nosso trabalho. Pequenos, mas

importantes gestos têm o poder de

educar. Se pensarmos que vivemos em

comunidade e que somos

constantemente observados por olhos

próximos ou distantes, perceberemos

o quanto nossas atitudes influenciam

o comportamento de outras pessoas –

para o bem ou para o mal...

Cuidar dos espaços onde

vivemos e convivemos desperta e

instaura no outro o sentimento de

preservação e de carinho. O

companheiro de lida, de estudos, de

lazer também acaba sendo

corresponsável pela qualidade da

manutenção desse espaço.

Certa vez conversei com uma

funcionária de uma universidade,

aqui em São Paulo – que, diga-se de

passagem, possui espaços belíssimos e

sem nenhuma pichação, lixo nos

corredores ou qualquer outro sinal de

46

violência ou desleixo – e perguntei o

que faziam para que as paredes não

tivessem rabiscos e desenhos,

daqueles típicos de vandalismo

urbano. E ela me respondeu:

“Temos uma filosofia: se

pichou, imediatamente pintamos; se

sujou com lixo, varremos e lavamos; se

quebrou, consertamos. Vencemos os

alunos que têm esse hábito, pela

canseira. Não é fácil, mas dá menos

trabalho e é mais barato do que pintar e

arrumar tudo de uma vez durante as

férias escolares. O interessante é que os

próprios alunos vigiam os espaços e

quando isso acontece vêm correndo nos

falar ou mandam mensagem anônima.

Conseguimos diminuir o número de

funcionários da limpeza.”

Esse depoimento fez-me

avançar em minhas reflexões: na

verdade, bem mais do que desejar

delatar o vândalo responsável pela

depredação ao patrimônio, existe no

íntimo da pessoa que denunciou a

intenção de realmente querer cuidar.

Cuidar para que visualmente o lugar

continue sendo limpo, bonito,

agradável para se estar. É como

banheiro. Alguém gosta de usar um

banheiro sujo, malcheiroso, com

paredes encardidas, com chão

molhado de urina...? Alguém tem

coragem de dizer que sim?

Assim é a escola. Só que não

podemos esquecer de que somos

referenciais para nossos alunos e

pessoas das comunidades atendidas

pelo PEF. Quando falamos, mas não

praticamos aquilo que é falado,

acabamos por ter um discurso

mentiroso, vazio e ilegítimo. Já

cansamos de ver colegas que exigem a

47

limpeza das salas de aulas por parte

de seus alunos, mas são incapazes de

jogar o próprio lixo no local adequado

para isso, quando tomam um

lanchinho ou um cafezinho na sala

dos professores. Estou exagerando?

Essa é a vida como ela realmente é!

Então, sejamos nós os

primeiros a dar o primeiro passo.

Dessa forma, conseguiremos resgatar

o Jogo Limpo, prática tão comum logo

que o PEF teve início em 2003.

Sabemos que há coisas que realmente

são de competência e dever de sujeitos

de outras esferas do poder, mas

também que podemos e devemos ser

protagonistas de mudanças e de bons

resultados. Basta um gesto!

À época da última Copa do

Mundo em nosso País, fiquei

abismada quando ouvi e li os

comentários exacerbados, veiculados

nas mídias, sobre o nobre gesto dos

japoneses que recolheram o lixo deles

e de outros – não se esquecendo de

que grande parte de torcedores eram

brasileiros! Meu Deus, precisávamos

que nossos irmãos orientais viessem

aqui para nos ensinar o que é ser um

cidadão consciente? Francamente?

Senti muita vergonha e irritação.

Triste não?

Então é isso, vamos criar um

movimento de preservação crescente e

contínuo nos espaços escolares, que

permita a quem atua e participa no

Programa Escola da Família adotar

uma postura permanente de bem

cuidar, e que esse gesto torne-se,

naturalmente, um estilo de vida.

Alguém muito sábio já disse:

Educamos com o exemplo!

48

A P

alav

ra é

Su

a Se

ção

8

Para participar desta seção, reporte-se ao e-mail [email protected].

Sugestões

Este espaço é dedicado a sua

opinião, ideias e sugestões – ele é seu!

Portanto, sinta-se à vontade para

registrar o que pensa o que sente. Suas

impressões guiarão nosso propósito para

que este instrumento seja,

crescentemente, a voz, o coração e a

identidade do PEF.

Agora é com você, a palavra é

sua!