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Informativo 559-STJ (06/04 a 16/04/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 1 Márcio André Lopes Cavalcante Julgados não comentados por terem menor relevância para concursos públicos ou por terem sido decididos com base em peculiaridades do caso concreto: REsp 1.371.750-PE; REsp 1.234.153-SC. Leia-os ao final deste Informativo. ÍNDICE DIREITO ADMINISTRATIVO SERVIDORES TEMPORÁRIOS Acumulação de aposentadoria de emprego público com remuneração de “cargo” temporário. PROCESSO ADMINISTRATIVO DISCIPLINAR Possibilidade de execução imediata de penalidade imposta em PAD. IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA Competência para julgar ação de improbidade proposta por Município contra ex-prefeito que não prestou contas de convênio federal. DIREITO CIVIL RESPONSABILIDADE CIVIL Possibilidade de absolutamente incapaz sofrer dano moral. DPVAT Prazo prescricional para cobrança ou complementação de valor do seguro DPVAT. DIREITO DO CONSUMIDOR DIREITOS BÁSICOS DOS CONSUMIDORES Dever de utilização do sistema Braille por instituições financeiras. RESPONSABILIDADE POR FATO DO SERVIÇO Responsabilidade da ECT por roubo ocorrido no interior de banco postal. DIREITO EMPRESARIAL CÉDULAS DE CRÉDITO RURAL Aval em cédulas de crédito rural. DIREITO PROCESSUAL CIVIL COMPETÊNCIA Conexão por prejudicialidade. EXECUÇÃO Penhora de quotas sociais na parte relativa à meação. Responsabilidade do adjudicante por dívidas condominiais pretéritas.

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  • Informativo 559-STJ (06/04 a 16/04/2015) Esquematizado por Mrcio Andr Lopes Cavalcante | 1

    Mrcio Andr Lopes Cavalcante Julgados no comentados por terem menor relevncia para concursos pblicos ou por terem sido decididos com base em peculiaridades do caso concreto: REsp 1.371.750-PE; REsp 1.234.153-SC. Leia-os ao final deste Informativo.

    NDICE DIREITO ADMINISTRATIVO

    SERVIDORES TEMPORRIOS Acumulao de aposentadoria de emprego pblico com remunerao de cargo temporrio. PROCESSO ADMINISTRATIVO DISCIPLINAR Possibilidade de execuo imediata de penalidade imposta em PAD. IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA Competncia para julgar ao de improbidade proposta por Municpio contra ex-prefeito que no prestou contas

    de convnio federal.

    DIREITO CIVIL

    RESPONSABILIDADE CIVIL Possibilidade de absolutamente incapaz sofrer dano moral. DPVAT Prazo prescricional para cobrana ou complementao de valor do seguro DPVAT.

    DIREITO DO CONSUMIDOR

    DIREITOS BSICOS DOS CONSUMIDORES Dever de utilizao do sistema Braille por instituies financeiras.

    RESPONSABILIDADE POR FATO DO SERVIO Responsabilidade da ECT por roubo ocorrido no interior de banco postal.

    DIREITO EMPRESARIAL

    CDULAS DE CRDITO RURAL Aval em cdulas de crdito rural.

    DIREITO PROCESSUAL CIVIL

    COMPETNCIA Conexo por prejudicialidade. EXECUO Penhora de quotas sociais na parte relativa meao. Responsabilidade do adjudicante por dvidas condominiais pretritas.

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    EXECUO FISCAL Oferecimento de seguro garantia em execuo fiscal. JUIZADOS ESPECIAIS Requisitos para admissibilidade de reclamao e de pedido de uniformizao de jurisprudncia. AO MONITRIA Demonstrativo de dbito atualizado como requisito da petio inicial.

    DIREITO PENAL

    CRIME CONTINUADO Aumento de pena no mximo pela continuidade delitiva em crime sexual. ESTELIONATO PREVIDENCIRIO Estelionato previdencirio e devoluo da vantagem indevida antes do recebimento da denncia. ART. 273 DO CP Inconstitucionalidade do preceito secundrio do art. 273, 1-B, V, do CP. CDIGO DE TRNSITO BRASILEIRO O crime de entrega de direo de veculo automotor a pessoa no habilitada de perigo abstrato.

    DIREITO PROCESSUAL PENAL

    COMPETNCIA Competncia para apreciar quebra de sigilo em investigao de crime de uso de artefato incendirio contra prdio

    da Justia Militar da Unio. Latrocnio cometido contra policiais rodovirios federais que reprimiram assalto a banco. RECURSOS Prazo para oposio de embargos de declarao contra acrdo que analisa astreintes impostas por juzo

    criminal. EXECUO PENAL Perda dos dias remidos em razo de cometimento de falta grave.

    DIREITO PENAL E PROCESSUAL PENAL MILITAR

    COMPETNCIA Competncia para apreciar quebra de sigilo em investigao de crime de uso de artefato incendirio contra prdio

    da Justia Militar da Unio.

    DIREITO INTERNACIONAL

    CONVENO DE HAIA Relao de prejudicialidade externa entre ao fundada na Conveno de Haia e ao de guarda.

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    DIREITO ADMINISTRATIVO

    SERVIDORES TEMPORRIOS Acumulao de aposentadoria de emprego pblico com remunerao de cargo temporrio

    Importante!!!

    Maria empregada pblica federal aposentada. Como se aposentou cedo e ainda est cheia de vitalidade, ela decide que deseja continuar trabalhando e, por isso, se inscreve no processo seletivo aberto pelo Ministrio do Meio Ambiente para contratar servidores temporrios.

    A empregada pblica aposentada poder ser contratada e receber, ao mesmo tempo, os proventos da aposentadoria e tambm a remunerao proveniente do servio temporrio?

    SIM. possvel a cumulao de proventos de aposentadoria de emprego pblico com remunerao proveniente de exerccio de cargo temporrio.

    O 3 do art. 118 da Lei 8.112/90 probe apenas a acumulao de proventos de aposentadoria com remunerao de cargo ou emprego pblico efetivo.

    Os servidores temporrios contratados sob o regime do art. 37, IX, no esto vinculados a um cargo ou emprego pblico, exercendo apenas uma funo administrativa temporria (funo autnoma, justamente por no estar vinculada a cargo ou emprego).

    Alm disso, ainda que se considere que isso um cargo pblico, no se trata de cargo pblico efetivo j que as pessoas so selecionas mediante processo seletivo simplificado e iro exercer essa funo por um prazo determinado, no possuindo direito estabilidade.

    Em suma, no cargo; mas mesmo que fosse, no seria cargo efetivo.

    Ademais, a aposentadoria da interessada se deu pelo Regime Geral de Previdncia Social RGPS (ela era empregada pblica), no se lhe aplicando, portanto, o disposto no 10 do art. 37 da CF/88, segundo o qual vedada a percepo simultnea de proventos de aposentadoria decorrentes do art. 40 ou dos arts. 42 e 142 com a remunerao de cargo, emprego ou funo pblica, ressalvados os cargos acumulveis na forma desta Constituio, os cargos eletivos e os cargos em comisso declarados em lei de livre nomeao e exonerao. Isso porque a aposentadoria dos empregados pblicos, concedida no regime do RGPS, disciplinada no pelo art. 40 da CF/88, mas sim pelo art. 201. Logo, no se pode atribuir interpretao extensiva em prejuzo do empregado pblico aposentado pelo RGPS.

    STJ. 2 Turma. REsp 1.298.503-DF, Rel. Min. Humberto Martins, julgado em 7/4/2015 (Info 559).

    NOES GERAIS SOBRE OS SERVIDORES TEMPORRIOS

    Exceo ao princpio do concurso pblico A CF/88 instituiu o princpio do concurso pblico, segundo o qual, em regra, a pessoa somente pode ser investida em cargo ou emprego pblico aps ser aprovada em concurso pblico (art. 37, II). Esse princpio, que na verdade uma regra, possui excees que so estabelecidas no prprio texto constitucional. Assim, a CF/88 prev situaes em que o indivduo poder ser admitido no servio pblico mesmo sem concurso. Podemos citar como exemplos: a) cargos em comisso (art. 37, II); b) servidores temporrios (art. 37, IX); c) cargos eletivos; d) nomeao de alguns juzes de Tribunais, Desembargadores, Ministros de Tribunais; e) ex-combatentes (art. 53, I, do ADCT); f) agentes comunitrios de sade e agentes de combate s endemias (art. 198, 4). Vamos estudar agora apenas a hiptese dos servidores temporrios (art. 37, IX, da CF/88).

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    Redao do art. 37, IX O art. 37, IX, prev o seguinte:

    IX a lei estabelecer os casos de contratao por tempo determinado para atender a necessidade temporria de excepcional interesse pblico;

    Servidores temporrios Os servidores que so contratados com base nesse fundamento so chamados de servidores temporrios. Caractersticas Para ser vlida, a contratao com fundamento no inciso IX deve ser... - feita por tempo determinado (a lei prev prazos mximos); - com o objetivo de atender a uma necessidade temporria; e - que se caracterize como sendo de excepcional interesse pblico. Processo seletivo simplificado A contratao com base no inciso IX ocorre sem a realizao de prvio concurso pblico. A lei, no entanto, pode prever critrios e exigncias a serem observadas pelo administrador no momento de contratar. Ex.: a Lei n 8.745/93, que rege o tema em nvel federal, exige que os profissionais a serem contratados sejam submetidos a uma espcie de processo seletivo simplificado (art. 3), ou seja, um procedimento mais simples que o concurso pblico, por meio do qual, no entanto, se possa selecionar os melhores candidatos funo e de maneira impessoal. Nada impede tambm que a lei no preveja nem mesmo o processo seletivo simplificado. No mbito federal, por exemplo, a contratao para atender s necessidades decorrentes de calamidade pblica, de emergncia ambiental e de emergncias em sade pblica prescindir de processo seletivo. Lei de cada ente dever reger o tema Repare que o inciso IX fala que LEI estabelecer os casos de contratao. No se trata de uma s lei. O que esse dispositivo est afirmando que cada ente da Federao dever editar a sua prpria lei prevendo os casos de contratao por tempo determinado. No poderia uma s lei dispor sobre o tema porque preciso que se respeite a autonomia administrativa dos entes. Ex.1: no mbito federal, a lei que rege o tema a Lei n 8.745/93. Ex.2: em Gois, quem traz as hipteses a Lei estadual n 13.664/2000. Ex.3: em Manaus, a contratao por prazo determinado dever observar a Lei municipal n 1.425/2010.

    Ao prestar concursos estaduais/municipais, importante verificar se o edital exige a lei de contratao por tempo determinado. A lei de cada ente ir prever as regras sobre essa contratao, ou seja, as hipteses em que ela ocorre, seu prazo de durao, direitos e deveres dos servidores, atribuies, responsabilidades etc. Vale ressaltar que a referida lei no poder contrariar a moldura (os limites) que o inciso IX do art. 37 da CF/88 deu ao tema. No ocupam cargo ou emprego pblico Os servidores temporrios contratados sob o regime do art. 37, IX, no esto vinculados a um cargo ou emprego pblico, exercendo apenas uma funo administrativa temporria (funo autnoma, justamente por no estar vinculada a cargo ou emprego).

    Vnculo especial de direito administrativo O vnculo jurdico entre o servidor contratado temporariamente (art. 37, IX) e o Poder Pblico um vnculo de cunho administrativo. Apesar de existirem opinies doutrinrias em sentido contrrio, o STF j decidiu que a lei municipal ou estadual que regulamente o art. 37, IX no pode estabelecer que o regime a ser aplicado seja o celetista.

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    SERVIDOR PBLICO APOSENTADO PODE SER CONTRATADO COMO SERVIDOR TEMPORRIO?

    Imagine a seguinte situao adaptada: Maria empregada pblica federal aposentada (prestava servios em empresa pblica federal). Como se aposentou cedo e ainda est cheia de vitalidade, ela decide que deseja continuar trabalhando e, por isso, se inscreve no processo seletivo aberto pelo Ministrio do Meio Ambiente para contratar servidores temporrios para o rgo. Mesmo tendo sido aprovada, o administrador pblico recusou-se a contratar Maria alegando que o art. 6

    da Lei n. 8.745/93 (Lei de contratao temporria no mbito federal) veda, em regra, que servidores pblicos sejam contratados como servidores temporrios. Confira o que diz o dispositivo:

    Art. 6 proibida a contratao, nos termos desta Lei, de servidores da Administrao direta ou indireta da Unio, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municpios, bem como de empregados ou servidores de suas subsidirias e controladas.

    O administrador pblico afirmou, ainda, que Maria no poderia acumular os proventos da aposentadoria com a remunerao do exerccio da funo temporria porque existiria bice expresso no 3 do art. 118

    da Lei n. 8.112/90 (Estatuto dos Servidores Pblicos federais):

    Art. 118. Ressalvados os casos previstos na Constituio, vedada a acumulao remunerada de cargos pblicos. 1 A proibio de acumular estende-se a cargos, empregos e funes em autarquias, fundaes pblicas, empresas pblicas, sociedades de economia mista da Unio, do Distrito Federal, dos Estados, dos Territrios e dos Municpios. (...) 3 Considera-se acumulao proibida a percepo de vencimento de cargo ou emprego pblico efetivo com proventos da inatividade, salvo quando os cargos de que decorram essas remuneraes forem acumulveis na atividade.

    Irresignada, Maria procura a Defensoria Pblica que impetra mandado de segurana contra a recusa. Indaga-se: agiu corretamente a Administrao Pblica? O art. 6 probe que servidores pblicos aposentados sejam contratados como servidores temporrios? NO. Segundo entendeu o STJ, no se extrai da redao nenhuma restrio aos servidores inativos. Em

    outras palavras, o art. 6 da Lei n. 8.745/93 somente veda que servidores pblicos da ativa sejam contratados como servidores temporrios, no estendendo essa proibio para servidores aposentados.

    E o art. 118, 3 da Lei n. 8.112/90? A empregada pblica aposentada poder ser contratada e receber, ao mesmo tempo, os proventos da aposentadoria e tambm a remunerao proveniente do servio temporrio? SIM. possvel a cumulao de proventos de aposentadoria de emprego pblico com remunerao proveniente de exerccio de cargo temporrio. Ao ler o 3 do art. 118, percebe-se que ele probe apenas a acumulao de proventos de aposentadoria com remunerao de cargo ou emprego pblico efetivo. Os servidores temporrios contratados sob o regime do art. 37, IX, no esto vinculados a um cargo ou emprego pblico, exercendo apenas uma funo administrativa temporria (funo autnoma, justamente por no estar vinculada a cargo ou emprego). Alm disso, ainda que se considere que isso um cargo pblico, no se trata de cargo pblico efetivo j que as pessoas so selecionas mediante processo seletivo simplificado e iro exercer essa funo por um prazo determinado, no possuindo direito estabilidade.

  • Informativo 559-STJ (06/04 a 16/04/2015) Esquematizado por Mrcio Andr Lopes Cavalcante | 6

    Em suma, no cargo; mas mesmo que fosse, no seria cargo efetivo. Ademais, a aposentadoria da interessada se deu pelo Regime Geral de Previdncia Social RGPS (ela era empregada pblica), no se lhe aplicando, portanto, o disposto no 10 do art. 37 da CF/88, segundo o qual vedada a percepo simultnea de proventos de aposentadoria decorrentes do art. 40 ou dos arts. 42 e 142 com a remunerao de cargo, emprego ou funo pblica, ressalvados os cargos acumulveis na forma desta Constituio, os cargos eletivos e os cargos em comisso declarados em lei de livre nomeao e exonerao. Isso porque a aposentadoria dos empregados pblicos, concedida no regime do RGPS, disciplinada no pelo art. 40 da CF/88, mas sim pelo art. 201. Logo, no se pode atribuir interpretao extensiva em prejuzo do empregado pblico aposentado pelo RGPS.

    PROCESSO ADMINISTRATIVO DISCIPLINAR Possibilidade de execuo imediata de penalidade imposta em PAD

    Importante!!!

    Ateno! Advocacia Pblica

    Determinado servidor pblico federal recebeu pena de demisso em processo administrativo disciplinar contra si instaurado. O servidor interps recurso administrativo com a deciso proferida. Ocorre que, antes mesmo de ser julgado o recurso, a Administrao Pblica j cessou o pagamento da remunerao do servidor e o afastou das funes.

    possvel que a sano aplicada seja desde logo executada mesmo que ainda esteja pendente recurso interposto no mbito administrativo?

    SIM. possvel o cumprimento imediato da penalidade imposta ao servidor logo aps o julgamento do PAD e antes do julgamento do recurso administrativo cabvel.

    No h qualquer ilegalidade na imediata execuo de penalidade administrativa imposta em PAD a servidor pblico, ainda que a deciso no tenha transitado em julgado administrativamente.

    STJ. 1 Seo. MS 19.488-DF, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, julgado em 25/3/2015 (Info 559).

    Imagine a seguinte situao hipottica: Joo servidor pblico federal e praticou ato de corrupo. Foi instaurado processo administrativo disciplinar para apurar sua conduta, tendo-lhe sido imposta a pena

    de demisso, conforme prevista no art. 132, XI, da Lei n. 8.112/90. Joo interps recurso administrativo contra a deciso proferida. Ocorre que, antes mesmo de ser julgado o recurso, a Administrao Pblica j cessou o pagamento da remunerao do servidor e o afastou das funes. A Administrao Pblica poderia ter feito isso? possvel que a sano aplicada seja desde logo executada mesmo que ainda esteja pendente recurso interposto no mbito administrativo? SIM. possvel o cumprimento imediato da penalidade imposta ao servidor logo aps o julgamento do PAD e antes do julgamento do recurso administrativo cabvel. Em outras palavras, no h qualquer ilegalidade na imediata execuo de penalidade administrativa imposta em PAD a servidor pblico, ainda que a deciso no tenha transitado em julgado administrativamente.

  • Informativo 559-STJ (06/04 a 16/04/2015) Esquematizado por Mrcio Andr Lopes Cavalcante | 7

    Argumentos: 1) Os atos administrativos gozam de autoexecutoriedade, possibilitando que a Administrao Pblica realize, atravs de meios prprios, a execuo dos seus efeitos materiais, independentemente de autorizao judicial ou do trnsito em julgado da deciso administrativa. 2) A execuo dos efeitos materiais de penalidade imposta ao servidor pblico (ex: corte da remunerao) no depende do julgamento de recurso interposto na esfera administrativa, j que este, em

    regra, no possui efeito suspensivo, conforme previsto no art. 109 da Lei n. 8.112/90:

    Art. 109. O recurso poder ser recebido com efeito suspensivo, a juzo da autoridade competente.

    (...) O recurso administrativo recebido, via de regra, apenas no efeito devolutivo, o que permite a execuo imediata da deciso tomada no processo administrativo. (...) (STJ. 3 Seo. MS 14.425/DF, Rel. Min. Nefi Cordeiro, julgado em 24/09/2014).

    IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA Competncia para julgar ao de improbidade proposta por Municpio contra ex-prefeito que

    no prestou contas de convnio federal

    Importante!!!

    Determinado Municpio ajuizou Ao Civil Pblica de Improbidade Administrativa contra o ex-prefeito da cidade, sob o argumento de que este, enquanto prefeito, firmou convnio com rgo/entidade federal e recebeu recursos para aplicar em favor da populao e, no entanto, no prestou contas no prazo devido, o que fez com o que o Municpio fosse includo no cadastro negativo da Unio, estando, portanto, impossibilitado de receber novos recursos federais.

    Esta ao de improbidade administrativa dever ser julgada pela Justia Federal ou Estadual?

    Regra: compete Justia Estadual (e no Justia Federal) processar e julgar ao civil pblica de improbidade administrativa na qual se apure irregularidades na prestao de contas, por ex-prefeito, relacionadas a verbas federais transferidas mediante convnio e incorporadas ao patrimnio municipal.

    Exceo: ser de competncia da Justia Federal se a Unio, autarquia federal, fundao federal ou empresa pblica federal manifestar expressamente interesse de intervir na causa porque, neste caso, a situao se amoldar no art. 109, I, da CF/88.

    STJ. 1 Seo. CC 131.323-TO, Rel. Min. Napoleo Nunes Maia Filho, julgado em 25/3/2015 (Info 559).

    Imagine a seguinte situao adaptada: O Municpio XXX ajuizou Ao Civil Pblica de Improbidade Administrativa contra Joo da Silva, ex-prefeito da cidade, sob o argumento de que este, enquanto prefeito, firmou convnio com a FUNASA, recebeu recursos para aplicar na sade local e, no entanto, no prestou contas no prazo devido, o que fez com que o Municpio fosse includo no cadastro negativo da Unio, estando, portanto, impossibilitado de receber novos recursos federais. Ressalte-se que as nicas partes na ao so o Municpio e o ex-prefeito.

    Esta ao de improbidade administrativa dever ser julgada pela Justia Federal ou Estadual? Justia Estadual.

    Em regra, compete Justia Estadual (e no Justia Federal) processar e julgar ao civil pblica de improbidade administrativa na qual se apure irregularidades na prestao de contas, por ex-prefeito, relacionadas a verbas federais transferidas mediante convnio e incorporadas ao patrimnio municipal.

  • Informativo 559-STJ (06/04 a 16/04/2015) Esquematizado por Mrcio Andr Lopes Cavalcante | 8

    Exceo: ser de competncia da Justia Federal se a Unio, autarquia federal, fundao federal ou empresa pblica federal manifestar expressamente interesse de intervir na causa porque, neste caso, a situao se amoldar no art. 109, I, da CF/88:

    Art. 109. Aos juzes federais compete processar e julgar: I - as causas em que a Unio, entidade autrquica ou empresa pblica federal forem interessadas na condio de autoras, rs, assistentes ou oponentes, exceto as de falncia, as de acidentes de trabalho e as sujeitas Justia Eleitoral e Justia do Trabalho;

    Smulas 208 e 209 do STJ O STJ possui dois enunciados muito conhecidos. Vamos relembr-los:

    Smula 208-STJ: Compete Justia Federal processar e julgar prefeito municipal por desvio de verba sujeita a prestao de contas perante rgo federal. Smula 209-STJ: Compete Justia Estadual processar e julgar prefeito por desvio de verba transferida e incorporada ao patrimnio municipal.

    Esses enunciados foram editados pela 3 Seo do STJ, que julga processos e recursos criminais. Desse modo, tais smulas foram aprovadas, originalmente, para resolver questes relacionadas com a competncia em matria penal. Nos processos criminais, para que a competncia seja da Justia Federal, basta que exista interesse da Unio, de suas autarquias ou empresas pblicas. Veja:

    Art. 109. Aos juzes federais compete processar e julgar: IV - os crimes polticos e as infraes penais praticadas em detrimento de bens, servios ou interesse da Unio ou de suas entidades autrquicas ou empresas pblicas, excludas as contravenes e ressalvada a competncia da Justia Militar e da Justia Eleitoral;

    Vamos comparar:

    Competncia penal da JF Competncia cvel da JF

    Art. 109. Aos juzes federais compete processar e julgar: IV - os crimes polticos e as infraes penais praticadas em detrimento de bens, servios ou interesse da Unio ou de suas entidades autrquicas ou empresas pblicas, excludas as contravenes e ressalvada a competncia da Justia Militar e da Justia Eleitoral; Em relao s matrias penais, o art. 109 estabelece critrios mais amplos na fixao da competncia da Justia Federal do que quanto s aes cveis. Isso porque no mbito criminal, para que a competncia seja federal, basta que exista interesse da Unio, entidades autrquicas e empresas pblicas.

    Art. 109. Aos juzes federais compete processar e julgar: I - as causas em que a Unio, entidade autrquica ou empresa pblica federal forem interessadas na condio de autoras, rs, assistentes ou oponentes, exceto as de falncia, as de acidentes de trabalho e as sujeitas Justia Eleitoral e Justia do Trabalho; Em matria cvel, a Justia Federal s ser competente se a Unio possuir interesse que lhe permita atuar como autora, r, assistente ou oponente. Logo, se a Unio, entidade autrquica ou empresa pblica no figurar como parte no processo cvel, a competncia no ser da Justia Federal.

    No se est afirmando que as smulas 208 e 209 do STJ no possam ser aplicadas como critrios para definio de competncia em matria cvel. Existem inmeros precedentes do STJ que utilizam esses enunciados em processos cveis, inclusive em aes de improbidade administrativa. Nesse sentido: STJ. 2 Turma. REsp 1391212/PE, Rel. Min. Humberto Martins, julgado em 02/09/2014.

  • Informativo 559-STJ (06/04 a 16/04/2015) Esquematizado por Mrcio Andr Lopes Cavalcante | 9

    O que se est explicando que as referidas smulas, em especial o enunciado 208, no podem ser aplicadas de forma absoluta nos processos cveis. Para a definio da competncia cvel, o principal ser saber se a Unio, suas entidades autrquicas ou empresas pblicas esto intervindo no processo ou no.

    CONFLITO DE COMPETNCIA. AO DE IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA AJUIZADA POR MUNICPIO CONTRA EX-PREFEITO. CONVNIO ENTRE MUNICPIO E ENTE FEDERAL. UTILIZAO IRREGULAR DE RECURSOS PBLICOS. COMPETNCIA DA JUSTIA ESTADUAL. 1. Trata-se de ao de improbidade administrativa proposta por Municpio contra ex-prefeito, por suposto desvio de verba j incorporada pela Municipalidade sujeita prestao de contas perante rgo federal, no caso, a FUNASA (fundao pblica vinculada ao Ministrio da Sade). 2. Nos termos do inciso I, do art. 109, da CRFB/88, a competncia cvel da Justia Federal define-se pela natureza das pessoas envolvidas no processo rationae personae , sendo desnecessrio perquirir a natureza da causa (anlise do pedido ou causa de pedir), excepcionando-se apenas as causas de falncia, de acidente do trabalho e as sujeitas s Justias Eleitoral e do Trabalho. 3. Malgrado a demanda tenha como causa de pedir a ausncia de prestao de contas (por parte do ex prefeito) de verbas recebidas em decorrncia de convnio firmado com rgo federal situao que, nos termos da Smula 208/STJ, fixaria a competncia na Justia Federal (j que o ex gestor teria que prestar contas perante o referido rgo federal), no h, no polo passivo da ao, quaisquer dos entes mencionados no inciso I do art. 109, da CF. Assim, no h que se falar em competncia da Justia Federal. 4. Corrobora o raciocnio, o entendimento sedimentado na Smula 209/STJ, no sentido de fixar na Justia Estadual a competncia para o processo e julgamento das causas em que as verbas recebidas pelo Municpio, em decorrncia de irregularidades ocorridas no Convnio firmado com a Unio, j tenham sido incorporadas Municipalidade hiptese dos autos. 5. Conflito de competncia conhecido para declarar competente o Juzo de Direito de Marcelncia/MT, o suscitado. STJ. 1 Seo. CC 100.507/MT, Rel. Min. Castro Meira, julgado em 11/03/2009.

    (...) 2. Deve-se observar uma distino (distinguishing) na aplicao das Smulas 208 e 209 do STJ, no mbito cvel. Isso porque tais enunciados provm da Terceira Seo deste Superior Tribunal, e versam hipteses de fixao da competncia em matria penal, em que basta o interesse da Unio ou de suas autarquias para deslocar a competncia para a Justia Federal, nos termos do inciso IV do art. 109 da CF. 3. A competncia da Justia Federal, em matria cvel, aquela prevista no art. 109, I, da Constituio Federal, que tem por base critrio objetivo, sendo fixada to s em razo dos figurantes da relao processual, prescindindo da anlise da matria discutida na lide. 4. Assim, a ao de improbidade movida contra Prefeito, fundada em uso irregular de recursos advindos de convnio celebrado pelo Municpio com a FUNASA, com dano ao errio, no autoriza por si s o deslocamento do feito para a Justia Federal. 5. No caso, a presena da autarquia na condio de assistente simples (art. 50 do CPC) j admitida no feito - em razo do interesse jurdico na execuo do convnio celebrado - firma a competncia da Justia Federal, nos termos do mencionado art. 109, I, da CF. (...) STJ. 2 Turma. REsp 1325491/BA, Rel. Min. Og Fernandes, julgado em 05/06/2014.

    Voltando ao caso concreto: Na ao de improbidade ajuizada pelo Municpio, nem a Unio, nem a FUNASA, nem qualquer outra entidade federal manifestou interesse de intervir na causa. Assim, a despeito da Smula 208 do STJ, a competncia ser da Justia Estadual porque a competncia absoluta enunciada no art. 109, I, da CF/88 exige, de forma clara e objetiva, a presena de uma entidade federal na lide. A situao seria diferente se, por exemplo, a FUNASA houvesse pedido para atuar como assistente do Municpio-autor. Neste caso, a competncia para jugar a ao seria da Justia Federal.

  • Informativo 559-STJ (06/04 a 16/04/2015) Esquematizado por Mrcio Andr Lopes Cavalcante | 10

    DIREITO CIVIL

    RESPONSABILIDADE CIVIL Possibilidade de absolutamente incapaz sofrer dano moral

    Determinado indivduo portador de doena mental grave (demncia total e irreversvel). Certo dia, a filha desse indivduo notou que houve saques indevidos (fraudulentos) que foram feitos de sua conta bancria por um terceiro.

    Foi proposta ao de indenizao por danos morais contra o banco.

    O absolutamente incapaz, mesmo sem entender seus atos e os de terceiros, pode sofrer dano moral?

    SIM. O absolutamente incapaz, ainda quando impassvel de detrimento anmico, pode sofrer dano moral.

    O dano moral caracteriza-se por uma ofensa a direitos ou interesses juridicamente protegidos (direitos da personalidade). A dor, o vexame, o sofrimento e a humilhao podem ser consequncias do dano moral, mas no a sua causa.

    Dano moral: a ofensa a determinados direitos ou interesses. Basta isso para caracteriz-lo.

    Dor, sofrimento, humilhao: so as consequncias do dano moral (no precisam necessariamente ocorrer para que haja a reparao).

    STJ. 4 Turma. REsp 1.245.550-MG, Rel. Min. Luis Felipe Salomo, julgado em 17/3/2015 (Info 559).

    Imagine a seguinte situao adaptada: Joo portador de doena mental (demncia total e irreversvel) e j foi, inclusive, declarado judicialmente interditado, tendo-lhe sido nomeada a sua filha como curadora. Joo mantm uma conta bancria onde recebe um benefcio assistencial. Determinado dia, a sua filha notou que houve saques indevidos (fraudulentos) que foram feitos de sua conta bancria por um terceiro. Mesmo aps ser alertado acerca do saque indevido, o banco nada fez, no restituindo a quantia sacada. Diante disso, Joo, representado por sua filha e curadora, ajuizou ao de ressarcimento por danos materiais e morais contra o banco. O banco contestou o pedido afirmando que o autor no sofreu qualquer dano moral porque, sendo ele portador de demncia total, nem mesmo teve conscincia de que foram feitos saques de sua conta. Logo, no se pode dizer que tenha sofrido uma dor, um abalo em seu ntimo. A questo chegou at o STJ. O absolutamente incapaz, mesmo sem entender seus atos e os de terceiros, pode sofrer dano moral? SIM. O absolutamente incapaz, ainda quando impassvel de detrimento anmico, pode sofrer dano moral. O dano moral caracteriza-se por uma ofensa, e no por uma dor ou um padecimento. Eventuais mudanas no estado de alma do lesado decorrentes do dano moral, portanto, no constituem o prprio dano, mas eventuais efeitos ou resultados do dano. Os bens jurdicos cuja afronta caracteriza o dano moral so os denominados pela doutrina como direitos da personalidade, que so aqueles reconhecidos pessoa humana tomada em si mesma e em suas projees na sociedade. A CF/88 deu ao homem lugar de destaque, realou seus direitos e fez deles o fio condutor de todos os ramos jurdicos. A dignidade humana pode ser considerada, assim, um direito constitucional subjetivo essncia de todos os direitos personalssimos , e o ataque a esse direito o que se convencionou chamar dano moral.

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    Aprofundando mais a discusso: Para que haja dano moral, necessrio que o seu titular tenha sentido uma dor em seu ntimo? No voto, o excelente Min. Luis Felipe Salomo faz um interessante estudo sobre o conceito de dano moral. Segundo constata o Ministro, a doutrina se divide em dois grupos:

    Dano moral exige dor da vtima Dano moral no exige dor da vtima

    H aqueles que dizem que o dano moral a alterao negativa do nimo do indivduo. Assim, para que haja dano moral, necessrio que o titular tenha sido vtima de sofrimento, tristeza, vergonha etc, ou seja, alteraes negativas no seu estado anmico, psicolgico ou espiritual. De acordo com os que pensam o dano moral dessa forma, no h dano moral sem dor, padecimento ou sofrimento, fsico ou moral. o caso, p. ex., de Carlos Alberto Bittar, para quem os danos morais se traduzem em turbaes de nimo, em reaes desagradveis, desconfortveis ou constrangedoras, ou outras desse nvel, produzidas na esfera do lesado (BITTAR, Carlos Alberto. Os direitos da personalidade. 7.ed. Rio de Janeiro: Forense Universitria, 2004).

    Por outro lado, h aqueles que reconhecem que existe dano moral pelo simples fato de ter havido uma violao de um bem ou interesse jurdico, sem exigir que a vtima tenha sofrido dor ou qualquer outra modificao no seu estado da alma. O dano moral existe pelo simples ataque em si a determinado direito, e no com sua consequncia, ou seja, com o resultado por ele provocado. a posio de Sergio Cavalieri, para quem: o dano moral no est necessariamente vinculado a alguma reao psquica da vtima. Pode haver ofensa dignidade da pessoa humana sem dor, vexame, sofrimento, assim como pode haver dor, vexame e sofrimento sem violao da dignidade. Dor, vexame, sofrimento e humilhao podem ser consequncias, e no causas. Assim como a febre o efeito de uma agresso orgnica, a reao psquica da vtima s pode ser considerada dano moral quando tiver por causa uma agresso sua dignidade. Com essa ideia, abre-se espao para o reconhecimento do dano moral em relao a vrias situaes nas quais a vtima no passvel de detrimento anmico, como se d com doentes mentais, as pessoas em estado vegetativo ou comatoso, crianas de tenra idade e outras situaes tormentosas. Por mais pobre e humilde que seja uma pessoa, ainda que completamente destituda de formao cultural e bens materiais, por mais deplorvel que seja seu estado biopsicolgico, ainda que destituda de conscincia, enquanto ser humano ser detentora de um conjunto de bens integrantes de sua personalidade, mais precioso que o patrimnio. a dignidade humana, que no privilgio apenas dos ricos, cultos ou poderosos, que deve ser por todos respeitada. Os bens que integram a personalidade constituem valores distintos dos bens patrimoniais, cuja agresso resulta no que se convencionou chamar dano moral. (CAVALIERI FILHO, Sergio. Programa de responsabilidade civil. 8 ed. So Paulo: Atlas, 2008, p. 79-80)

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    O STJ aderiu segunda corrente e concluiu que possvel concluir que o dano moral se caracterize pela simples ofensa a determinados direitos ou interesses. O evento danoso no se revela na dor, no padecimento, que so, na verdade, consequncias do dano, seu resultado. As mudanas no estado de alma do lesado, decorrentes do dano moral, no constituem, pois, o prprio dano, mas efeitos ou resultados do dano (ANDRADE, Andr Gustavo C. de. A evoluo do conceito de dano moral. In Revista da Escola da Magistratura do Rio de Janeiro, 2008). Resumindo: Dano moral: a ofensa a determinados direitos ou interesses. Basta isso para caracteriz-lo. Dor, sofrimento, humilhao: so as consequncias do dano moral (no precisam necessariamente

    ocorrer para que haja a reparao). Existem outros precedentes do STJ no mesmo sentido da 2 corrente? SIM. H na jurisprudncia do STJ precedentes que visualizaram a configurao do dano moral, por violao a direito da personalidade, em relao a sujeitos cujo grau de discernimento baixo ou inexistente e, naquelas decises, o estado da pessoa no foi motivo suficiente ao afastamento do dano. o caso, por exemplo, de crianas de tenra idade ou mesmo recm-nascidos:

    (...) 5. Caracterizao de dano extrapatrimonial para criana que tem frustrada a chance de ter suas clulas embrionrias colhidas e armazenadas para, se for preciso, no futuro, fazer uso em tratamento de sade. 6. Arbitramento de indenizao pelo dano extrapatrimonial sofrido pela criana prejudicada. (...) STJ. 3 Turma. REsp 1291247RJ, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, DJe 01102014.

    (...) As crianas, mesmo da mais tenra idade, fazem jus proteo irrestrita dos direitos da personalidade, entre os quais se inclui o direito integridade mental, assegurada a indenizao pelo dano moral decorrente de sua violao, nos termos dos arts. 5, X, in fine, da CF e 12, caput, do CC02. - Mesmo quando o prejuzo impingido ao menor decorre de uma relao de consumo, o CDC, em seu art. 6, VI, assegura a efetiva reparao do dano, sem fazer qualquer distino quanto condio do consumidor, notadamente sua idade. Ao contrrio, o art. 7 da Lei n 8.07890 fixa o chamado dilogo de fontes, segundo o qual sempre que uma lei garantir algum direito para o consumidor, ela poder se somar ao microssistema do CDC, incorporando-se na tutela especial e tendo a mesma preferncia no trato da relao de consumo. (...) STJ. 3 Turma. REsp 1037759RJ, Rel. Min. Nancy Andrighi, DJe 05032010.

    DPVAT Prazo prescricional para cobrana ou complementao de valor do seguro DPVAT

    (obs: nem todos os concursos cobram esse tema; verifique seu edital para no estudar matrias desnecessrias)

    Qual o prazo que o beneficirio possui para ajuizar ao cobrando da seguradora a indenizao do DPVAT que no lhe foi paga? Qual o termo inicial?

    A ao de cobrana do seguro obrigatrio DPVAT prescreve em 3 anos (Smula 405-STJ e art. 206, 3, IX, do CC).

    O termo inicial do prazo prescricional a data em que o segurado teve cincia inequvoca do carter permanente da invalidez ou da morte.

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    E se o beneficirio recebeu apenas uma parte do seguro, mas no concorda com o valor e quer o pagamento do restante? Ex: sofreu invalidez permanente, recebeu R$ 10 mil, mas acha que tem direito a R$ 13.500,00. Qual o prazo neste caso?

    O prazo de prescrio para o recebimento da complementao do seguro DPVAT tambm trienal. No h motivo para que o prazo da ao pedindo o complemento seja diferente daquele previsto para que se pleiteie o todo.

    O prazo prescricional comea no dia que foi realizado o pagamento administrativo que o beneficirio considera que tenha sido menor que o devido.

    Em suma, a pretenso de cobrana e a pretenso a diferenas de valores do seguro DPVAT prescrevem em trs anos, sendo o termo inicial, no ltimo caso, o pagamento administrativo considerado a menor.

    STJ. 2 Seo. REsp 1.418.347-MG, Rel. Min. Ricardo Villas Bas Cueva, julgado em 8/4/2015 (recurso repetitivo) (Info 559).

    NOES GERAIS

    Em que consiste o DPVAT? O DPVAT um seguro obrigatrio contra danos pessoais causados por veculos automotores de via terrestre, ou por sua carga, a pessoas, transportadas ou no. Em outras palavras, qualquer pessoa que sofrer danos pessoais causados por um veculo automotor, ou por sua carga, em vias terrestres, tem direito a receber a indenizao do DPVAT. Isso abrange os motoristas, os passageiros, os pedestres ou, em caso de morte, os seus respectivos herdeiros. Ex.: dois carros colidem e, em decorrncia da batida, acertam tambm um pedestre que passava no local. No carro 1, havia apenas o motorista. No carro 2, havia o motorista e mais um passageiro. Os dois motoristas morreram. O passageiro do carro 2 e o pedestre ficaram invlidos. Os herdeiros dos motoristas recebero indenizao de DPVAT no valor correspondente morte. O passageiro do carro 2 e o pedestre recebero indenizao de DPVAT por invalidez. Para receber indenizao, no importa quem foi o culpado. Ainda que o carro 2 tenha sido o culpado, os herdeiros dos motoristas, o passageiro e o pedestre sobreviventes recebero a indenizao normalmente. O DPVAT no paga indenizao por prejuzos decorrentes de danos patrimoniais, somente danos pessoais.

    Quem custeia as indenizaes pagas pelo DPVAT? Os proprietrios de veculos automotores. Trata-se de um seguro obrigatrio. Assim, sempre que o proprietrio do veculo paga o IPVA, est pagando tambm, na mesma guia, um valor cobrado a ttulo de DPVAT. O STJ afirma que a natureza jurdica do DPVAT a de um contrato legal, de cunho social. O DPVAT regulamentado pela Lei n 6.194/74. VALOR DA INDENIZAO DO DPVAT

    Qual o valor da indenizao de DPVAT prevista na Lei? no caso de morte: R$ 13.500,00 (por vtima) no caso de invalidez permanente: at R$ 13.500,00 (por vtima) no caso de despesas de assistncia mdica e suplementares: at R$ 2.700,00 como reembolso cada

    vtima. Como a indenizao por invalidez de at R$ 13.500,00, entende-se que esse valor dever ser proporcional ao grau da invalidez permanente apurada. Nesse sentido, existe um enunciado do STJ:

    Smula 474-STJ: A indenizao do seguro DPVAT, em caso de invalidez parcial do beneficirio, ser paga de forma proporcional ao grau da invalidez.

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    AES DE COBRANA ENVOLVENDO O SEGURO DPVAT

    Caso a pessoa beneficiria do DPVAT no receba a indenizao ou no concorde com o valor pago pela seguradora, ela poder buscar auxlio do Poder Judicirio? Sim. A pessoa poder ajuizar uma ao de cobrana contra a seguradora objetivando a indenizao decorrente de DPVAT. Contra quem essa ao proposta? Contra a Seguradora Lder dos Consrcios do Seguro DPVAT. O Conselho Nacional de Seguros Privados CNSP determinou que fossem constitudos consrcios de seguros privados para administrar o pagamento do seguro DPVAT, sendo esses comandados por uma seguradora lder (Seguradora Lder dos Consrcios do Seguro DPVAT). A Seguradora Lder-DPVAT uma companhia de capital nacional, constituda por seguradoras que participam dos dois consrcios. As seguradoras consorciadas so responsveis pela garantia das indenizaes, prestando, tambm, atendimento a eventuais dvidas dos usurios. No entanto, em demandas administrativas ou judiciais, elas so representadas pela Seguradora Lder-DPVAT. PRAZO PRESCRICIONAL NA AO COBRANDO A INDENIZAO DO DPVAT

    Qual o prazo que o beneficirio possui para ajuizar ao cobrando da seguradora a indenizao do DPVAT que no lhe foi paga? A ao de cobrana do seguro obrigatrio DPVAT prescreve em 3 anos (Smula 405-STJ e art. 206, 3, IX, do CC). Qual o termo inicial do prazo prescricional? O termo inicial do prazo prescricional a data em que o segurado teve cincia inequvoca do carter permanente da invalidez ou da morte. Em regra, a pessoa somente tem cincia inequvoca da invalidez permanente com o laudo mdico que atesta essa situao. Assim, em regra, o termo inicial do prazo a data do laudo. Exceo: nos casos de invalidez permanente notria ou naqueles em que o conhecimento anterior resulte comprovado na fase de instruo, a cincia inequvoca da invalidez no depende de laudo mdico. Dessa forma, em caso de invalidez notria, o termo inicial do prazo a data da invalidez (em geral, a data do acidente). STJ. 2 Seo. REsp 1.388.030-MG, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, julgado em 11/6/2014 (recurso repetitivo) (Info 544). PRAZO PRESCRICIONAL NA AO COBRANDO A COMPLEMENTAO DA INDENIZAO DO DPVAT

    E se o beneficirio recebeu apenas uma parte do seguro, mas no concorda com o valor e quer o pagamento do restante? Ex: sofreu invalidez permanente, recebeu R$ 10 mil, mas acha que tem direito a R$ 13.500,00. Qual o prazo neste caso? O prazo de prescrio para o recebimento da complementao do seguro DPVAT tambm trienal. No h motivo para que o prazo da ao pedindo o complemento seja diferente daquele previsto para que se pleiteie o todo (STJ. 4 Turma. REsp 1220068/MG, Rel. Min. Luis Felipe Salomo, julgado em 06/12/2011). Qual o termo inicial do prazo prescricional? O prazo prescricional comea no dia que foi realizado o pagamento administrativo que o beneficirio considera que tenha sido menor que o devido. STJ. 2 Seo. REsp 1.418.347-MG, Rel. Min. Ricardo Villas Bas Cueva, julgado em 8/4/2015 (recurso repetitivo) (Info 559).

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    PRAZO PRESCRICIONAL DURANTE A TRAMITAO ADMINISTRATIVA DO PEDIDO DO DPVAT

    Como vimos acima, o prazo prescricional para que a pessoa cobre o seguro DPVAT comea na data em que o segurado teve cincia inequvoca do carter permanente da invalidez. Imaginemos que a vtima soube, no dia 02/02, que ficou invlida permanentemente em razo do acidente de trnsito. Este o termo inicial para cobrar a indenizao. Ela faz o requerimento administrativo na seguradora no dia 02/03. A seguradora demora um ms para analisar o pedido. Durante esse perodo de tramitao administrativa, o prazo prescricional fica suspenso, conforme prev enunciado do STJ:

    Smula 229-STJ: O pedido do pagamento de indenizao seguradora suspende o prazo de prescrio at que o segurado tenha cincia da deciso.

    Depois que a seguradora informar ao beneficirio o resultado do seu pedido, podemos imaginar duas situaes: 1) O pedido foi indeferido: neste caso, o prazo prescricional (que estava suspenso) volta a correr. No h interrupo, mas simples retorno do curso do prazo prescricional. Isso significa que o beneficirio j perdeu uma parte do prazo, ou seja, o tempo que transcorreu entre a data da cincia da invalidez e a entrada do requerimento administrativo. 2) O pedido foi acolhido, mas a indenizao paga no foi no valor mximo: neste caso, entende-se que houve interrupo do prazo prescricional para se postular a indenizao integral. Em outras palavras, a partir do dia em que seguradora aceitou pagar parcialmente o valor da indenizao surge o prazo de 3 anos para que o beneficirio ajuze ao pleiteando a complementao do valor.

    DIREITO DO CONSUMIDOR

    DIREITOS BSICOS DOS CONSUMIDORES Dever de utilizao do sistema Braille por instituies financeiras

    Importante!!!

    As instituies financeiras devem confeccionar em Braille os contratos de adeso que so assinados para contratao de seus servios a fim de que os clientes com deficincia visual possam ter conhecimento, por meio prprio, das clusulas contratuais ali contidas.

    Os bancos devem tambm enviar os extratos mensais impressos em linguagem Braille para os clientes com deficincia visual.

    Alm disso, tais instituies devem desenvolver cartilha para seus empregados com normas de conduta para atendimentos ao deficiente visual.

    A relutncia da instituio financeira em utilizar o mtodo Braille nos contratos bancrios de adeso firmados com pessoas portadoras de deficincia visual representa tratamento manifestamente discriminatrio e tem o condo de afrontar a dignidade deste grupo de pessoas gerando danos morais coletivos.

    STJ. 3 Turma. REsp 1.315.822-RJ, Rel. Min. Marco Aurlio Bellizze, julgado em 24/3/2015 (Info 559).

    Imagine a seguinte situao adaptada: A associao de amparo aos deficientes visuais ajuizou ao civil pblica contra o Banco do Brasil pedindo que a instituio financeira fosse condenada a: a) confeccionar em Braille os contratos de adeso que so assinados para contratao de seus servios a fim de que os clientes com deficincia visual pudessem ter conhecimento, por meio prprio, das clusulas;

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    b) enviar os extratos mensais impressos em linguagem Braille para os clientes com deficincia visual; c) desenvolver cartilha para seus empregados com normas de conduta para atendimentos ao deficiente visual; d) pagar indenizao pelos danos morais coletivos causados, valor a ser recolhido em favor do Fundo de Defesa de Direitos Difusos. O Banco contestou a ao sustentando, dentre outros argumentos, que o pedido no tem amparo legal e que o BACEN disciplina os requisitos e trmites exigveis durante a contratao bancria e no impe que os contratos sejam fornecidos em Braille. A Resoluo do BACEN exige apenas que as contrataes feitas com deficientes visuais sejam precedidas de leitura, em voz alta, por terceiro, das clusulas contratuais, na presena de testemunhas. O STJ concordou com os pedidos feitos pela associao? SIM. As instituies financeiras devem utilizar o sistema Braille na confeco dos contratos bancrios de adeso e todos os demais documentos fundamentais para a relao de consumo estabelecida com indivduo portador de deficincia visual. Fundamentos legais: Apesar de no haver uma lei que diga de forma expressa que as instituies financeiras devem oferecer seus documentos em Braille para os clientes cegos, possvel extrair esse dever de trs diplomas normativos presentes em nosso ordenamento jurdico: 1) Lei 4.169/62

    O art. 1 da Lei n. 4.169/1962 oficializa as convenes Braille para uso na escrita e leitura dos cegos. 2) Lei 10.048/2000

    A Lei n. 10.048/2000 determina que as pessoas portadoras de deficincia devem ter prioridade de atendimento, inclusive em instituies financeiras. A referida Lei, ao estabelecer normas gerais e critrios bsicos para a promoo da acessibilidade das pessoas portadoras de deficincia ou com mobilidade reduzida, explicitou a necessidade de que sejam suprimidas todas as barreiras e obstculos existentes para pessoas com deficincia, em especial, nos meios de comunicao. 3) Decreto 6.949/2009 O Decreto 6.949/2009 promulgou a Conveno Internacional sobre os Direitos das Pessoas com Deficincia e seu Protocolo Facultativo, cujo texto possui valor equivalente ao de uma emenda constitucional, e, por veicular direitos e garantias fundamentais do indivduo, tem aplicao concreta e imediata (art. 5, 1 e 3, da CF/88). A conveno imps aos Estados signatrios a obrigao de assegurar s pessoas portadoras de deficincia o exerccio pleno e equitativo de todos os direitos humanos e liberdades fundamentais, conferindo-lhes tratamento materialmente igualitrio (diferenciado na proporo de sua desigualdade), acessibilidade fsica, de comunicao e informao, alm de incluso social, autonomia e independncia. Especificamente sobre a barreira da comunicao, a Conveno faz meno em diversos dispositivos ao mtodo Braille, determinando que ele seja incentivado como forma de propiciar aos deficientes visuais o efetivo acesso s informaes. Nesses termos, valendo-se das definies trazidas pelo Tratado, pode-se afirmar que a no utilizao do mtodo Braille durante as negociaes e assinatura do contrato configuram, a um s tempo, intolervel discriminao por deficincia e inobservncia da almejada adaptao razovel. 4) CDC A utilizao do mtodo Braille nos contratos bancrios com pessoas portadoras de deficincia visual encontra fundamento, ainda, na legislao consumerista, que preconiza ser direito bsico do consumidor o fornecimento de informao suficientemente adequada e clara do produto ou servio oferecido,

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    encargo a ser observado no apenas por ocasio da celebrao do contrato, mas tambm durante todas as fases, inclusive pr-contratual. No caso do consumidor deficiente visual, a consecuo deste direito somente alcanada por meio da utilizao do mtodo Braille, que viabiliza a integral compreenso das clusulas contratuais submetidas sua apreciao, especialmente aquelas que impliquem limitaes de direito, assim como dos extratos mensais, dando conta dos servios prestados, taxas cobradas etc. Argumento de o BACEN no fazer essa exigncia Ressalte-se que, diante da magnitude do direito em exame, que tem fundamento na conveno internacional, na CF/88 e na lei, mostra-se sem qualquer relevncia o fato de a Resoluo 2.878/2001 do BACEN no exigir o mtodo Braille, contentando-se com a mera leitura em voz alta das clusulas contratuais. Este singelo procedimento insuficiente proteo dos interesses dos deficientes visuais, alm de violar sua intimidade, j que outras pessoas (terceiros) tero acesso s suas informaes bancrias, que sero lidas perante testemunhas. de se concluir, assim, que a obrigatoriedade de confeccionar em Braille os contratos bancrios de adeso para os clientes portadores de deficincia visual, alm de encontrar esteio no ordenamento jurdico nacional, afigura-se absolutamente razovel e consentneo com o princpio da dignidade da pessoa humana. Danos morais coletivos A jurisprudncia mais recente do STJ tem admitido a existncia de dano extrapatrimonial coletivo e o correspondente dever de repar-lo. O artigo 6, VI, do CDC explcito ao possibilitar o cabimento de indenizao por danos morais aos consumidores, tanto de ordem individual quanto coletivamente. De igual modo, o artigo 1 da LACP, admite a pretenso reparatria por danos extrapatrimoniais causados a qualquer interesse difuso ou coletivo. Assim, o STJ entende que possvel, em tese, a configurao de dano moral coletivo sempre que a leso ou a ameaa de leso levada a efeito pela parte demandada atingir valores e interesses fundamentais do grupo, afigurando-se, pois, descabido negar a essa coletividade o ressarcimento de seu patrimnio imaterial aviltado. A propsito, cita-se os seguintes precedentes:

    (...) O dano moral coletivo, assim entendido o que transindividual e atinge uma classe especfica ou no de pessoas, passvel de comprovao pela presena de prejuzo imagem e moral coletiva dos indivduos enquanto sntese das individualidades percebidas como segmento, derivado de uma mesma relao jurdica-base. 2. O dano extrapatrimonial coletivo prescinde da comprovao de dor, de sofrimento e de abalo psicolgico, suscetveis de apreciao na esfera do indivduo, mas inaplicvel aos interesses difusos e coletivos. (...) STJ. 2 Turma. REsp 1057274/RS, Rel. Min. Eliana Calmon, julgado em 01/12/2009.

    (...) 8. O dano moral coletivo a leso na esfera moral de uma comunidade, isto , a violao de direito transindividual de ordem coletiva, valores de uma sociedade atingidos do ponto de vista jurdico, de forma a envolver no apenas a dor psquica, mas qualquer abalo negativo moral da coletividade, pois o dano , na verdade, apenas a consequncia da leso esfera extrapatrimonial de uma pessoa. 9. H vrios julgados desta Corte Superior de Justia no sentido do cabimento da condenao por danos morais coletivos em sede de ao civil pblica. (...) 10. Esta Corte j se manifestou no sentido de que "no qualquer atentado aos interesses dos consumidores que pode acarretar dano moral difuso, que d ensanchas responsabilidade civil. Ou seja, nem todo ato ilcito se revela como afronta aos valores de uma comunidade. Nessa medida, preciso que o fato transgressor seja de razovel significncia e desborde os limites da tolerabilidade. Ele deve ser grave o suficiente para produzir verdadeiros sofrimentos, intranquilidade social e alteraes relevantes na ordem extrapatrimonial coletiva. (REsp 1.221.756RJ, Rel. Min. MASSAMI UYEDA, DJe 10.02.2012).

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    (...) 12. Afastar, da espcie, o dano moral difuso, fazer tabula rasa da proibio elencada no art. 39, I, do CDC e, por via reflexa, legitimar prticas comerciais que afrontem os mais basilares direitos do consumidor. (...) STJ. 2 Turma. REsp 1397870/MG, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, julgado em 02/12/2014

    No caso concreto, o STJ entendeu que a relutncia da instituio financeira em utilizar o mtodo Braille nos contratos bancrios de adeso firmados com pessoas portadoras de deficincia visual confere-lhe tratamento manifestamente discriminatrio e tem o condo de afrontar a dignidade deste grupo de pessoas gerando danos morais coletivos.

    RESPONSABILIDADE POR FATO DO SERVIO Responsabilidade da ECT por roubo ocorrido no interior de banco postal

    Importante!!!

    A ECT responsvel pelos danos sofridos por consumidor que foi assaltado no interior de agncia dos Correios na qual fornecido o servio de banco postal.

    STJ. 4 Turma. REsp 1.183.121-SC, Rel. Min. Luis Felipe Salomo, julgado em 24/2/2015 (Info 559).

    Banco postal O Banco Postal a marca dos Correios que designa sua atuao como correspondente na prestao de servios bancrios bsicos em todo o territrio nacional. Tem como objetivo levar servios de correspondente populao desprovida de atendimento bancrio e proporcionar acesso ao Sistema Financeiro. (Conceito disponvel no site dos Correios: http://www.correios.com.br/). Em outras palavras, o banco postal uma agncia dos Correios que, alm dos servios postais tradicionais (envio de cartas, encomendas etc.), tambm oferece alguns servios bancrios, como pagamentos de contas at determinado valor. Os bancos postais existem normalmente em municpios do interior onde no h bancos ou onde existem muito poucos em razo dos altos custos para se manter agncias nessas localidades. Imagine a seguinte situao hipottica: Cristiano estava pagando contas em um banco postal, quando foi vtima de um roubo armado, tendo, inclusive, levado um tiro. Em razo do ocorrido, ele ajuza na Justia Federal uma ao de indenizao contra a Empresa de Correios e Telgrafos ECT (empresa pblica federal). A ECT contesta o pedido afirmando que o banco postal, por mais que preste servios bancrios, no pode

    ser obrigado a cumprir as mesmas exigncias de segurana impostas aos bancos pela Lei n. 7.102/83, j que no uma agncia bancria, mas sim uma agncia de correios e que presta alguns servios bancrios mais simples em determinadas regies mais afastadas do pas, especialmente em locais onde no existem (ou so poucas) instituies financeiras. O pedido dever ser julgado procedente? Os Correios possuem responsabilidade civil neste caso? SIM. A ECT responsvel pelos danos sofridos por consumidor que foi assaltado no interior de agncia dos Correios na qual fornecido o servio de banco postal. Realmente, os Correios esto certos quando dizem que no possvel exigir de um banco postal todas as

    exigncias de segurana previstas na Lei n. 7.102/83, tais como: equipamentos de filmagem, vigilncia ostensiva, artefatos que retardem a ao de criminosos, cabina blindada, dentre outros. At mesmo

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    porque se tudo isso fosse obrigatrio, acabaria inviabilizando a instalao e o funcionamento dos bancos postais em diversas localidades do pas.

    No entanto, mesmo sem ter que cumprir todas as exigncias da Lei n. 7.102/83, ainda assim a ECT possui responsabilidade civil no caso concreto com base no Cdigo de Defesa do Consumidor. As pessoas que vo at a agncia dos Correios, seja para utilizar os servios postais propriamente dito, seja para os servios do banco postal, so consideradas consumidoras, desde que sejam destinatrias finais do produto ou servio. Foi o caso do cliente do exemplo. Os Correios, enquanto empresa pblica prestadora de servios pblicos, submete-se responsabilidade civil objetiva, seja por fora do art. 37, 6 da CF/88, seja em razo do art. 14 do CDC, devendo indenizar o consumidor. O fato de ter havido um roubo armado no pode ser enquadrado como fortuito externo, que uma causa excludente de responsabilidade? NO. O banco postal presta um servio cuja natureza traz, em sua essncia, risco segurana, justamente por tratar de atividade financeira com guarda de valores e movimentao de numerrio, alm de diversas outras atividades tipicamente bancrias. Assim, apesar de no ser juridicamente uma instituio financeira

    para fins de incidncia do art. 1, 1, da Lei n. 7.102/83, aos olhos do consumidor nada mais do que um banco, como o prprio nome revela: banco postal. Dessa forma, no caso de assaltos ocorridos dentro de bancos postais, sendo o risco inerente atividade, a instituio (ECT) quem deve assumir o nus desses infortnios. Os roubos em agncias bancrias (e tambm em agncias de banco postal) no podem ser enquadrados como fortuito externo porque so eventos previsveis. Houve fortuito interno (no fortuito externo) Na hiptese, o servio prestado pelos Correios foi inadequado e ineficiente, porque descumpriu o dever de segurana legitimamente esperado pelo consumidor, no havendo falar em caso fortuito para fins de excluso da responsabilidade com rompimento da relao de causalidade, mas sim fortuito interno, porquanto incide na proteo dos riscos esperados da atividade empresarial desenvolvida.

    Fortuito interno Fortuito externo

    Est relacionado com a organizao da empresa. um fato ligado aos riscos da atividade desenvolvida pelo fornecedor.

    No est relacionado com a organizao da empresa. um fato que no guarda nenhuma relao de causalidade com a atividade desenvolvida pelo fornecedor. uma situao absolutamente estranha ao produto ou ao servio fornecido.

    Ex1: o estouro de um pneu do nibus da empresa de transporte coletivo;

    Ex2: cracker invade o sistema do banco e consegue transferir dinheiro da conta de um cliente. Ex3: durante o transporte da matriz para uma das agncias ocorre um roubo e so subtrados diversos tales de cheque (trata-se de um fato que se liga organizao da empresa e aos riscos da prpria atividade desenvolvida).

    Ex1: assalto mo armada no interior de nibus coletivo (no parte da organizao da empresa de nibus garantir a segurana dos passageiros contra assaltos);

    Ex2: um terremoto faz com que o telhado do banco caia, causando danos aos clientes que l estavam.

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    Para o STJ, o fortuito interno NO exclui a obrigao do fornecedor de indenizar o consumidor.

    Para o STJ, o fortuito externo uma causa excludente de responsabilidade.

    Ademais, como dito, aos olhos do usurio, inclusive em razo do nome e da prtica comercial, no se pode concluir de outro modo. Com efeito, o consumidor efetivamente cr que o banco postal (correspondente bancrio) nada mais do que um banco com funcionamento dentro de agncia dos Correios. De fato, dentro do seu poder de livremente contratar e oferecer diversos tipos de servios, ao agregar a atividade de correspondente bancrio ao seu empreendimento, acaba-se por criar risco inerente prpria atividade das instituies financeiras, devendo, por isso, responder pelos danos que essa nova atribuio tenha gerado aos seus consumidores, uma vez que atraiu para si o nus de fornecer a segurana legitimamente esperada para esse tipo de negcio. ATENO. NO CONFUNDIR: No Info 536 do STJ expliquei um julgado do STJ que era um pouco diferente deste, mas que pode gerar confuso. Naquele Info foi comentado o seguinte: Cristiano estava pagando contas em uma casa lotrica, quando foi vtima de um roubo armado, tendo, inclusive, levado um tiro. Em razo do ocorrido, ele ajuza na Justia Federal uma ao de indenizao contra a Caixa Econmica Federal (empresa pblica federal), alegando que a casa lotrica um estabelecimento equiparado instituio financeira, prestando servios bancrios em nome da CEF. Em suma, a tese a de que a casa lotrica, por realizar pagamentos em nome da CEF, deve ser equiparada a uma de suas agncias bancrias. Logo, a CEF teria responsabilidade pelos roubos l ocorridos. O STJ concordou com a tese exposta? NO. O funcionamento das loterias federais regulado pela Circular Caixa n 539/2011. As instituies financeiras so regidas pela Lei n 4.595/64. O STJ, ao interpretar estes dois atos normativos, entendeu que as casas lotricas, apesar de autorizadas a prestar alguns servios bancrios (como o recebimento de contas), no possuem natureza de instituio financeira, j que no realizam as atividades definidas pela Lei n 4.595/1964 como sendo prprias das instituies financeiras (captao, intermediao e aplicao de recursos financeiros). Em sntese, as loterias no so instituies financeiras, porque no fazem captao, intermediao e aplicao de recursos financeiros. Como as casas lotricas no so instituies financeiras, a CEF no obrigada a adotar as mesmas normas de segurana exigidas para as agncias bancrias e que esto previstas na Lei n 7.102/83. Alm disso, o contrato que celebrado entre a CEF e os permissionrios das casas lotricas estabelece que a unidade lotrica assume responsabilidade direta e exclusiva por todos e quaisquer nus, riscos ou custos das atividades, inclusive por indenizaes de qualquer espcie reivindicadas por terceiros prejudicados. Outro argumento contrrio tese est no fato de que a loteria, sendo uma permisso, est submetida Lei n 8.987/95. Este diploma prev que o permissionrio exerce a delegao por sua conta e risco (art. 2, IV) e que o delegatrio responde por todos os prejuzos causados aos usurios ou a terceiros (art. 25).

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    Assim, como no h qualquer obrigao legal ou contratual imposta CEF que conduza sua responsabilizao por dano causado no interior de unidade lotrica, fica evidente a sua ilegitimidade passiva em ao que objetive reparar danos materiais e compensar danos morais causados por roubo ocorrido no interior de unidade lotrica.

    Por fim, deve-se ressaltar que a eventual possibilidade de responsabilizao subsidiria do concedente dos servios pblicos prestados pela agncia lotrica, verificada apenas em situaes excepcionais, no autoriza, por imperativo lgico decorrente da natureza de tal espcie de responsabilidade, o ajuizamento de demanda indenizatria unicamente em face do concedente (nesses casos, a CEF).

    Por fim, um ltimo argumento no explicitado no julgado, mas que tambm pertinente. A Lei n 12.869/2013 dispe sobre o exerccio da atividade e a remunerao do permissionrio lotrico e em seu art. 2, I reafirma a ideia j presente na Lei n 8.987/95 de que o permissionrio lotrico atua nos servios delegados por sua conta e risco. Logo, no h responsabilidade da CEF. A Caixa Econmica Federal CEF no tem responsabilidade pela segurana de agncia com a qual tenha firmado contrato de permisso de loterias. STJ. 4 Turma. REsp 1.224.236-RS, Rel. Min. Luis Felipe Salomo, julgado em 11/3/2014 (Info 536). STJ. 3 Turma. REsp 1.317.472-RJ, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 5/3/2013 (Info 518).

    DIREITO EMPRESARIAL

    CDULAS DE CRDITO RURAL Aval em cdulas de crdito rural

    (Obs.: esse assunto cobrado em pouqussimos concursos; verifique se o edital exige a matria)

    Admite-se o aval em cdulas de crdito rural.

    A vedao contida no 3 do art. 60 do Decreto-Lei 167/1967 (so nulas quaisquer outras garantias, reais ou pessoais, salvo quando prestadas pelas pessoas fsicas participantes da empresa emitente, por esta ou por outras pessoas jurdicas) no aplicvel s cdulas de crdito rural. Isso porque a proibio contida no referido 3 no se refere ao caput (cdulas de crdito), mas apenas ao 2 (nota promissria e duplicata rurais).

    STJ. 4 Turma. REsp 1.315.702-MS, Rel. Min. Luis Felipe Salomo, julgado em 10/3/2015 (Info 559).

    STJ. 1 Turma. REsp 1.483.853-MS, Rel. Min. Moura Ribeiro, julgado em 4/11/2014 (Info 552).

    TTULOS RURAIS Existem alguns ttulos de crdito que so gerais e mais conhecidos, como o caso da letra de cmbio, duplicata, cheque etc. No entanto, a experincia mostrou que seria interessante que fossem criados ttulos de crdito com caractersticas especficas, para facilitar as negociaes envolvendo determinados setores da economia. Em suma, verificou-se a necessidade de se criarem ttulos de crdito especficos para algumas transaes empresariais. No caso da atividade rural, por exemplo, foram idealizados quatro ttulos de crdito especficos, chamados de ttulos rurais. So eles: a) cdula de crdito rural; b) cdulas de produto rural; c) nota promissria rural; d) duplicata rural.

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    CDULA DE CRDITO RURAL Em que consiste? A cdula de crdito rural uma promessa de pagamento em dinheiro, sem ou com garantia real cedularmente constituda, sendo regulamentada pelo Decreto-Lei 167/67. Existem as seguintes modalidades de cdulas de crdito rural: I cdula Rural Pignoratcia; II cdula Rural Hipotecria; III cdula Rural Pignoratcia e Hipotecria; IV nota de Crdito Rural. possvel que haja aval em cdula de crdito rural? SIM. Admite-se o aval nas cdulas de crdito rural. A vedao contida no 3 do art. 60 do Decreto-Lei 167/1967 (so nulas quaisquer outras garantias, reais ou pessoais, salvo quando prestadas pelas pessoas fsicas participantes da empresa emitente, por esta ou por outras pessoas jurdicas) no aplicvel s cdulas de crdito rural. Essa proibio do 3 do art. 60 s vale para notas e duplicatas rurais. STJ. 1 Turma. REsp 1.483.853-MS, Rel. Min. Moura Ribeiro, julgado em 4/11/2014 (Info 552).

    DIREITO PROCESSUAL CIVIL

    COMPETNCIA Conexo por prejudicialidade

    Importante!!!

    A conexo entre duas causas ocorre quando elas, apesar de no serem idnticas, possuem um vnculo de identidade entre si quanto a algum dos seus elementos caracterizadores. So duas (ou mais) aes diferentes, mas que mantm um vnculo entre si.

    Segundo o texto do CPC, existe conexo quando duas ou mais aes tiverem o mesmo pedido (objeto) ou causa de pedir.

    Quando o juiz verificar que h conexo entre duas causas, ele poder ordenar, de ofcio ou a requerimento, a reunio delas para julgamento em conjunto. Essa a regra geral, no sendo aplicvel, contudo, quando a reunio implicar em modificao da competncia absoluta.

    O conceito de conexo previsto na lei conhecido como concepo tradicional (teoria tradicional) da conexo. Existem autores, contudo, que defendem que possvel que exista conexo entre duas ou mais aes mesmo que o pedido e a causa de pedir sejam diferentes. Em outras palavras, pode haver conexo em situaes que no se encaixem perfeitamente no conceito legal de conexo. Tais autores defendem a chamada teoria materialista da conexo, que sustenta que, em determinadas situaes, possvel identificar a conexo entre duas aes no com base no pedido ou na causa de pedir, mas sim em outros fatos que liguem uma demanda outra. Eles sustentam, portanto, que a definio tradicional de conexo insuficiente.

    Essa teoria chamada de materialista porque defende que, para se verificar se h ou no conexo, o ideal no analisar apenas o objeto e a causa de pedir, mas sim a relao jurdica de direito material que discutida em cada ao. Existir conexo se a relao jurdica veiculada nas aes for a mesma ou se, mesmo no sendo idntica, existir entre elas uma vinculao.

  • Informativo 559-STJ (06/04 a 16/04/2015) Esquematizado por Mrcio Andr Lopes Cavalcante | 23

    Essa concepo materialista que fundamenta a chamada conexo por prejudicialidade. Podemos resumi-la em uma frase: quando a deciso de uma causa interferir na soluo da outra, h conexo.

    No caso concreto, havia duas aes: em uma delas o autor (empresa 1) executava uma dvida da devedora (empresa 2). A executada, por sua vez, ajuizou ao declaratria de inexistncia da relao afirmando que nada deve para a empresa 1. Nesta situao, o STJ reconheceu que havia conexo por prejudicialidade e decidiu o seguinte: pode ser reconhecida a conexo e determinada a reunio para julgamento conjunto de um processo executivo com um processo de conhecimento no qual se pretenda a declarao da inexistncia da relao jurdica que fundamenta a execuo, desde que no implique modificao de competncia absoluta.

    Importante: o CPC 2015 manteve, no caput do art. 55, a definio tradicional de conexo. No entanto, dando razo s criticas da doutrina, o novo CPC adota, em seu 3, a teoria materialista ao prever a conexo por prejudicialidade:

    3 Sero reunidos para julgamento conjunto os processos que possam gerar risco de prolao de decises conflitantes ou contraditrias caso decididos separadamente, mesmo sem conexo entre eles.

    STJ. 4 Turma. REsp 1.221.941-RJ, Rel. Min. Luis Felipe Salomo, julgado em 24/2/2015 (Info 559).

    Imagine a seguinte situao adaptada: A empresa AA ajuizou ao de cobrana contra a empresa BB, tendo esta sido julgada procedente e transitado em julgado. Depois de a ao de cobrana ter sido julgada, mas antes de ser iniciado o cumprimento de sentena (execuo), a empresa BB foi vendida parcialmente para a empresa CC. Ficou ajustado que os dbitos da empresa BB continuariam sendo pagos por ela, ficando, em tese, a empresa CC livre das dvidas originrias da empresa BB. Cumprimento de sentena A empresa AA no concordou com essa clusula de iseno da responsabilidade da empresa CC e ingressou com pedido de cumprimento de sentena (execuo) contra as duas empresas: BB e CC. Ao declaratria de inexistncia de relao jurdica A empresa CC, por sua vez, ingressou com ao declaratria de inexistncia de relao jurdica contra as empresas AA e BB. Na ao, a empresa CC pede que seja cumprida a clusula que a isenta de responsabilidade por dvidas da empresa BB e que o Judicirio declare que ela no tem qualquer obrigao para com a empresa AA. Conexo A empresa CC alega, por fim, que existe conexo entre a execuo em andamento e a ao declaratria que foi proposta. Logo, pede que a ao declaratria seja distribuda por conexo para o mesmo juzo (vara) onde tramita o cumprimento de sentena. O juiz do processo de cumprimento de sentena deferiu a distribuio por dependncia e a tramitao conjunta. Ocorre que a empresa AA no concordou e suscitou exceo de incompetncia O que decidiu o STJ: possvel que seja reconhecida a conexo no presente caso? SIM. Pode ser reconhecida a conexo e determinada a reunio para julgamento conjunto de um processo executivo com um processo de conhecimento no qual se pretenda a declarao da inexistncia da relao jurdica que fundamenta a execuo, desde que no implique modificao de competncia absoluta.

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    Conexo A conexo entre duas causas ocorre quando elas, apesar de no serem idnticas, possuem um vnculo de identidade entre si quanto a algum dos seus elementos caracterizadores. So duas (ou mais) aes diferentes, mas que mantm um vnculo entre si. A conexo est prevista no art. 103 do CPC 1973 (art. 55 do CPC 2015):

    Art. 103. Reputam-se conexas duas ou mais aes, quando lhes for comum o objeto ou a causa de pedir.

    Art. 55. Reputam-se conexas 2 (duas) ou mais aes quando lhes for comum o pedido ou a causa de pedir.

    Assim, esse vnculo entre as aes por fora da identidade de um de seus elementos denomina-se de conexo. Efeito da conexo Quando o juiz verificar que h conexo entre duas causas, ele poder ordenar, de ofcio ou a requerimento, a reunio delas para julgamento em conjunto. Isso est previsto no art. 105 do CPC 1973 (art. 55, 1 do CPC 2015):

    Art. 105. Havendo conexo ou continncia, o juiz, de ofcio ou a requerimento de qualquer das partes, pode ordenar a reunio de aes propostas em separado, a fim de que sejam decididas simultaneamente.

    Art. 55. (..) 1 Os processos de aes conexas sero reunidos para deciso conjunta, salvo se um deles j houver sido sentenciado.

    possvel que haja conexo, mas sem que haja a reunio de processos Apesar de a redao do novo CPC ter sido muito enftica ( 1 Os processos de aes conexas sero reunidos para deciso conjunta), importante esclarecer que possvel que ocorra conexo entre duas aes, mas, mesmo assim, elas no sejam reunidas para julgamento em conjunto. Uma coisa a conexo (fato); outra o efeito (reunio de processos). Em alguns casos, o juiz pode reconhecer que h a conexo (realmente as duas aes possuem uma semelhana entre si), mas, mesmo assim, no ser possvel/recomendvel a reunio (mesmo sendo conexas, sero julgadas em separado). Exemplo de situao em que reconhecida a conexo, mas no se deve reunir os processos: quando a reunio implicar em modificao da competncia absoluta. Ex: duas causas so conexas, mas uma delas tramita na vara cvel e outra na vara criminal. No poder haver reunio. Suspenso de um dos processos Nesses casos, em vez de reunir, um dos processos ficar suspenso aguardando o julgamento do outro, nos termos do art. 265, IV, a, do CPC 1973 (art. 313, V, a,, do CPC 2015):

    Art. 265. Suspende-se o processo: (...) IV - quando a sentena de mrito: a) depender do julgamento de outra causa, ou da declarao da existncia ou inexistncia da relao jurdica, que constitua o objeto principal de outro processo pendente;

    Art. 313. Suspende-se o processo: (...) V - quando a sentena de mrito: a) depender do julgamento de outra causa ou da declarao de existncia ou de inexistncia de relao jurdica que constitua o objeto principal de outro processo pendente;

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    Teoria materialista de identificao da conexo Conforme o conceito de conexo dado pelo CPC, duas ou mais aes sero conexas ser forem iguais:

    o seu objeto (pedido); ou

    a sua causa de pedir. Em suma, os pedidos das duas aes devem ser iguais ou, ento, as causas de pedir devem ser iguais. Esse conceito de conexo previsto na lei conhecido como concepo tradicional (teoria tradicional) da conexo. Existem autores, contudo, que defendem que possvel que exista conexo entre duas ou mais aes mesmo que o objeto e a causa de pedir sejam diferentes. Em outras palavras, pode haver conexo em situaes que no se encaixem perfeitamente no art. 103, caput, do CPC 1973. Tais autores defendem a chamada teoria materialista da conexo, que preconiza que, em determinadas situaes, possvel identificar a conexo entre duas aes no com base no pedido ou na causa de pedir, mas sim em outros fatos que liguem uma demanda outra. Eles sustentam, portanto, que o conceito tradicional de conexo insuficiente. Essa teoria chamada de materialista porque defende que, para se verificar se h ou no conexo, o ideal no analisar apenas o objeto e a causa de pedir, mas sim a relao jurdica de direito material que discutida em cada ao. Existir conexo se a relao jurdica veiculada nas aes for a mesma ou se, mesmo no sendo idntica, existir entre elas uma vinculao. Nesse sentido:

    A conexo, neste caso, decorrer do vnculo que se estabelece entre as relaes jurdicas litigiosas. Haver conexo se a mesma relao jurdica estiver sendo examinada em ambos os processos, ou se diversas relaes jurdicas, mas entre elas houver um vnculo de prejudicialidade ou preliminaridade. (DIDIER, Fredie. Curso de Direito Processual Civil. Salvador: Juspodivm, 2015, p 233). Essa concepo materialista que fundamenta a chamada conexo por prejudicialidade. Podemos resumi-la em uma frase: quando a deciso de uma causa interferir na soluo da outra, h conexo. O tema difcil, mas com exemplos talvez fique um pouco mais claro: Ex1: Joo (locador) ajuza ao de despejo por falta de pagamento; Pedro (locatrio), alegando que Joo cobra mais do que devido, prope ao de consignao em pagamento dos alugueis que entende corretos. Essas duas aes tm objetos (pedidos) diferentes e causas de pedir tambm diversas. Joo quer receber os alugueis e tirar o locatrio da casa; Pedro quer pagar aquilo que reputa devido. A causa de pedir da primeira o inadimplemento; a da segunda a cobrana indevida. Mesmo no se enquadrando no art. 103 do CPC 1973, a jurisprudncia reconhece que tais causas devem ser julgadas em conjunto, havendo conexo por prejudicialidade (teoria materialista). Ex2: a empresa 1 ajuza ao pedindo que a empresa 2 cumpra as clusulas do contrato; a empresa 2, por sua vez, prope demanda requerendo a nulidade do pacto. Importante. Novidade do CPC 2015: O CPC 2015 manteve, no caput do art. 55, a definio tradicional de conexo. Veja novamente:

    Art. 55. Reputam-se conexas 2 (duas) ou mais aes quando lhes for comum o pedido ou a causa de pedir.

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    No entanto, dando razo s criticas da doutrina, o novo CPC adota, em seu 3, a teoria materialista ao prever a conexo por prejudicialidade:

    3 Sero reunidos para julgamento conjunto os processos que possam gerar risco de prolao de decises conflitantes ou contraditrias caso decididos separadamente, mesmo sem conexo entre eles.

    Voltando ao caso concreto: No exemplo que dei logo no incio desta explicao, a ao declaratria tem por objeto a declarao de inexistncia de relao jurdica que fundamenta a execuo. Neste caso, recomenda-se a reunio das aes para julgamento em conjunto por identificar-se uma conexo por prejudicialidade. A ao declaratria negativa serve ao executado como defesa heterotpica e muito se assemelha aos embargos do devedor, que tambm possuem a mesma natureza declaratria.

    EXECUO Penhora de quotas sociais na parte relativa meao

    Joo foi casado com Cristina, com quem teve um filho (Arthur). O pai paga penso alimentcia em favor do filho. Atualmente, Joo vive em unio estvel com Beatriz. Beatriz scia, juntamente com uma amiga, de uma sociedade empresria limitada (empresa XXX). Vale ressaltar que ela se tornou scia desta sociedade depois que j vivia em unio estvel com Joo. Joo deixou de pagar a penso alimentcia, razo pela qual Arthur ingressou com execuo de alimentos. Ocorre que no foram localizados bens penhorveis em nome de Joo.

    Diante disso, o exequente pediu que fossem penhoradas 50% das cotas sociais de Beatriz (companheira do executado) na sociedade empresria XXX. A tese do exequente foi a seguinte: como Beatriz vive em unio estvel com Joo, metade do patrimnio dela pertence a Joo (direito dele meao). Logo, ele possui metade das cotas dela na empresa. Sendo esse patrimnio dele, pode ser penhorado para pagar suas dvidas.

    A tese construda pelo exequente correta?

    SIM. Se duas pessoas vivem em unio estvel, como se elas fossem casadas sob o regime da comunho parcial de bens (art. 1.725 do CC). Por isso, o companheiro (no caso, Joo) possui direito metade dos bens da companheira (Beatriz), incluindo metade das quotas sociais porque estas foram adquiridas onerosamente durante unio estvel, de forma que se comunicam ao companheiro.

    A legislao permite a penhora de quotas sociais?

    SIM. Isso est previsto no art. 655, VI, do CPC 1973 (art. 835, IX, do CPC 2015):

    No caso concreto, era possvel que o juiz j determinasse, como primeira providncia, a penhora da metade das quotas de Beatriz (companheira do devedor)?

    NO. O STJ entende que a penhora sobre as quotas sociais no deve ser a primeira opo porque esta medida poder acarretar o fim da pessoa jurdica e nosso Direito consagra os princpios da conservao da empresa e da menor onerosidade da execuo.

    Assim, no se pode autorizar desde logo a penhora sobre as quotas sociais. Cabia ao exequente requerer, antes disso, a penhora dos lucros relativos s quotas sociais correspondentes meao do devedor, no podendo ser deferida, de imediato, a penhora das cotas sociais de sociedade empresria que se encontra em plena atividade, o que poderia causar prejuzo a terceiros, como funcionrios, fornecedores etc. Somente se no houvesse lucros que poderia ser feita a penhora das quotas com a liquidao da sociedade (art. 1.026 do CC).

    STJ. 4 Turma. REsp 1.284.988-RS, Rel Min. Luis Felipe Salomo, julgado em 19/3/2015 (Info 559).

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    Imagine a seguinte situao hipottica: Joo foi casado com Cristina, com quem teve um filho (Arthur). O pai paga penso alimentcia em favor do filho. Atualmente, Joo vive em unio estvel com Beatriz. Beatriz scia, juntamente com uma amiga, de uma sociedade empresria limitada (empresa XXX). Vale ressaltar que ela se tornou scia desta sociedade depois que j vivia em unio estvel com Joo. Execuo de alimentos Joo deixou de pagar a penso alimentcia, razo pela qual Arthur ingressou com execuo de alimentos. Ocorre que no foram localizados bens penhorveis em nome de Joo. Diante disso, o exequente pediu que fossem penhoradas 50% das cotas sociais de Beatriz (companheira do executado) na sociedade empresria XXX. A tese do exequente foi a seguinte: como Beatriz vive em unio estvel com Joo, metade do patrimnio dela pertence a Joo (direito dele meao). Logo, ele possui metade das cotas dela na empresa. Sendo esse patrimnio dele, pode ser penhorado para pagar suas dvidas. A tese construda pelo exequente correta? SIM. Se duas pessoas vivem em unio estvel, como se elas fossem casadas sob o regime da comunho parcial de bens (art. 1.725 do CC). Por isso, o companheiro (no caso, Joo) possui direito metade dos bens da companheira (Beatriz), incluindo metade das quotas sociais porque estas foram adquiridas onerosamente durante a unio estvel, de forma que se comunicam ao companheiro. Logo, o STJ admite a penhora da meao do devedor para satisfao do dbito que est sendo executado (REsp 708.143-MA, Quarta Turma, DJ 26/2/2007). A penhora de quotas sociais, em tese, tambm admitida, estando prevista no art. 655, VI, do CPC 1973 (art. 835, IX, do CPC 2015):

    Art. 655. A penhora observar, preferencialmente, a seguinte ordem: (...) VI - aes e quotas de sociedades empresrias;

    Art. 835. A penhora observar, preferencialmente, a seguinte ordem: (...) IX - aes e quotas de sociedades simples e empresrias;

    Essa penhora das quotas sociais possvel ainda que no contrato social da sociedade exista uma clusula proibindo a alienao das quotas. Isso porque tal disposio no tem o condo de afastar a previso legal e s vale mesmo entre as partes. Assim, para que Beatriz venda suas quotas, precisa da autorizao de sua scia, mas o Judicirio, para penhor-las, no necessita (por bvio) da concordncia da referida scia nem de Beatriz. Entendida a situao jurdica em tese, vem uma nova pergunta: no caso concreto, era possvel que o juiz j determinasse, como primeira providncia, a penhora da metade das quotas de Beatriz (companheira do devedor)? NO. O STJ entende que a penhora sobre as quotas sociais no deve ser a primeira opo porque esta medida poder acarretar o fim da pessoa jurdica e nosso Direito consagra os princpios da conservao da empresa e da menor onerosidade da execuo. Assim, no se pode autorizar desde logo a penhora sobre as quotas sociais. Cabia ao exequente requerer, antes disso, a penhora dos lucros relativos s quotas sociais correspondentes meao do devedor, no podendo ser deferida, de imediato, a penhora das cotas sociais de sociedade empresria que se encontra em plena atividade, o que poderia causar prejuzo a terceiros, como funcionrios, fornecedores etc.

  • Informativo 559-STJ (06/04 a 16/04/2015) Esquematizado por Mrcio Andr Lopes Cavalcante | 28

    Segundo o STJ, essa ordem de preferncia (primeiro, penhora sobre os lucros; s depois, penhora das quotas com a liquidao da sociedade) est prevista no art. 1.026 do CC:

    Art. 1.026. O credor particular de scio pode, na insuficincia de outros bens do devedor, fazer recair a execuo sobre o que a este couber nos lucros da sociedade, ou na parte que lhe tocar em liquidao.

    Veja o que diz a doutrina em abono deciso do STJ: Note que o credor do scio somente pode pedir a liquidao da quota do devedor se no houver lucros a distribuir. Se houver lucros, eles devem ser penhorados, no sendo lcito o pedido de liquidao da quota social. No se trata de uma opo do exequente. uma situao em que a aplicao do princpio da menor onerosidade da execuo fundamental. A liquidao parcial da sociedade, para a satisfao do crdito de um credor do scio, medida drstica, pois implica diminuio forada do capital social de uma sociedade. No se pode descartar a possibilidade de o juiz, diante das particularidades do caso concreto, e em homenagem funo social da empresa, rejeitar o pedido de liquidao parcial da sociedade. O dispositivo torna as quotas sociais eventualmente penhorveis: ou seja, s podem ser penhoradas na ausncia de outros bens do devedor, adotando-se sistema semelhante ao do CPC39. (DIDIER JUNIOR, Fredie; CUNHA, Leonardo Jos Carneiro da; BRAGA, Paula Sarno; OLIVEIRA, Rafael. Execuo. Salvador: Juspodivm, 2009, vol. 5, p. 570-572) Assim, no cabe ao credor particular do scio escolher se vai receber os lucros ou se vai liquidar parte da sociedade como forma de pagamento do que lhe devido. O art. 1.026 do CC estabelece uma ordem de prioridade, devendo, sempre que possvel, ser feita a opo pela reteno dos lucros correspondentes quota social do devedor.

    EXECUO Responsabilidade do adjudicante por dvidas condominiais pretritas

    Situao 1. O edital de hasta pblica no menciona que o imvel que est sendo oferecido possui vrios meses de taxa de condomnio atrasados. Se uma pessoa resolver arrematar (adquirir) esse apartamento, ele ficar responsvel pelo pagamento dessas cotas condominiais que venceram antes da arrematao?

    NO. As dvidas condominiais anteriores alienao judicial e que no estavam previstas no edital no sero de responsabilidade do arrematante, devendo ser quitadas com o valor obtido com a alienao judicial do imvel, podendo o arrematante pedir a reserva de parte desse valor para o pagamento das referidas dvidas (STJ. 3 Turma. REsp 1092605/SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 28/06/2011).

    Situao 2. Houve uma tentativa de alienao judicial do bem, mas no apareceram interessados. Diante disso, o exequente decidiu adjudicar o apartamento. O exequente ficar responsvel pelo pagamento dessas cotas condominiais que venceram antes da adjudicao?

    SIM. O exequente que adjudicou o imvel deve arcar com as despesas condominiais anteriores aquisio, ainda que tais dvidas tenham sido omitidas no edital da hasta pblica.

    A adjudicao e a arrematao possuem caractersticas diversas e, portanto, merecem tratamento distinto no que diz respeito vinculao ao edital.

    A adjudicao consiste na aquisio espontnea pelo exequente do bem penhorado por preo no inferior ao da avaliao, no havendo sua subordinao ao edital de praa, haja vista que essa forma de aquisio da propriedade no se insere no conceito de hasta pblica. Logo, no podem ser aplicados adjudicao os mesmos dispositivos que tratam sobre a arrematao.

  • Informativo 559-STJ (06/04 a 16/04/2015) Esquematizado por Mrcio Andr Lopes Cavalcante | 29

    Em outras palavras, os dispositivos do CPC que permitem ao arrematante recusar-se a cumprir a arrematao caso o edital no esteja completo quanto aos nus existentes, no pode ser aplicado ao exequente que faz a adjudicao.

    Assim, nada impede que o adjudicante responda pelo pagamento das contribuies condominiais no pagas no perodo anterior adjudicao, aplicando-se o art. 1.345 do CC em sua ntegra.

    STJ. 4 Turma. REsp 1.186.373-MS, Rel. Min. Luis Felipe Salomo, julgado em 24/3/2015 (Info 559).

    ADJUDICAO Antes de explicar o julgado, necessrio relembrar o que consiste a chamada adjudicao. O que acontece com o bem penhorado? Se o bem penhorado for dinheiro, e