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Informativo 539-STJ (15/05/2014) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 1 Márcio André Lopes Cavalcante Julgados não comentados por terem menor relevância para concursos públicos ou por terem sido decididos com base em peculiaridades do caso concreto: EREsp 1.030.597-MG; REsp 1.235.220-PR; REsp 1.430.257-CE; REsp 1.141.219- MG; REsp 702.417-SP; RHC 37.895-RS; Leia-os ao final deste Informativo. ÍNDICE Direito Administrativo Desapropriação para fins de reforma agrária e área de reserva legal. Pensão por morte a filho inválido de servidor público federal. A indisponibilidade de bens na ação de improbidade não pode recair sobre os bens impenhoráveis. Direito Civil Termo inicial dos juros de mora no caso de ação de indenização pela execução não autorizada de músicas. Responsabilidade civil por abuso no direito de propor ação de execução. Legitimidade para ação de doação inoficiosa. Direito Processual Civil Chamamento ao processo e fornecimento de medicamento. Consequência pelo descumprimento de determinação de exibição de documento. Decisão que fixa valor das astreintes não preclui nem faz coisa julgada. Decisão monocrática do art. 557 do CPC. Nulidade da decisão do relator que julga o agravo de instrumento a favor do agravante sem ouvir o agravado. Penhora de valores depositados em conta bancária conjunta. Garantia do juízo na execução fiscal deve abranger o valor dos honorários advocatícios. Cobrança dos honorários por meio de RPV ainda que ainda que o crédito dito “principal” seja executado por meio do regime de precatórios. Direito Penal Advogado não comete calúnia se não ficar provada sua intenção de ofender a honra. Roubo de uso é crime. Omissão de anotação na CTPS e necessidade de ser demonstrado o dolo de falso. A Lei presume a hipossuficiência da mulher vítima de violência doméstica. Não é cabível transação penal nem para crimes nem para contravenções penais praticadas com violência doméstica. Direito Processual Penal A serendipidade no encontro de provas de novos crimes inicialmente não investigados é admitida pela jurisprudência. Para que o juiz decrete a perda dos dias remidos na fração de 1/3 é necessária fundamentação concreta. A prática de novo crime durante a vigência do livramento condicional não gera a perda dos dias remidos. Direito Financeiro Restrição para transferência de recursos federais a Município que possui pendências no CAUC. Direito Previdenciário Regra de transição para pessoas inscritas no RGPS até o advento da Lei 8.213/91. Legitimidade passiva nas demandas em que se questiona a exigibilidade das contribuições previdenciária.

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Informativo 539-STJ (15/05/2014) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 1

Márcio André Lopes Cavalcante Julgados não comentados por terem menor relevância para concursos públicos ou por terem sido decididos com base em peculiaridades do caso concreto: EREsp 1.030.597-MG; REsp 1.235.220-PR; REsp 1.430.257-CE; REsp 1.141.219-MG; REsp 702.417-SP; RHC 37.895-RS; Leia-os ao final deste Informativo.

ÍNDICE Direito Administrativo Desapropriação para fins de reforma agrária e área de reserva legal. Pensão por morte a filho inválido de servidor público federal. A indisponibilidade de bens na ação de improbidade não pode recair sobre os bens impenhoráveis.

Direito Civil Termo inicial dos juros de mora no caso de ação de indenização pela execução não autorizada de músicas. Responsabilidade civil por abuso no direito de propor ação de execução. Legitimidade para ação de doação inoficiosa.

Direito Processual Civil Chamamento ao processo e fornecimento de medicamento. Consequência pelo descumprimento de determinação de exibição de documento. Decisão que fixa valor das astreintes não preclui nem faz coisa julgada. Decisão monocrática do art. 557 do CPC. Nulidade da decisão do relator que julga o agravo de instrumento a favor do agravante sem ouvir o agravado. Penhora de valores depositados em conta bancária conjunta. Garantia do juízo na execução fiscal deve abranger o valor dos honorários advocatícios. Cobrança dos honorários por meio de RPV ainda que ainda que o crédito dito “principal” seja executado por meio

do regime de precatórios.

Direito Penal Advogado não comete calúnia se não ficar provada sua intenção de ofender a honra. Roubo de uso é crime. Omissão de anotação na CTPS e necessidade de ser demonstrado o dolo de falso. A Lei presume a hipossuficiência da mulher vítima de violência doméstica. Não é cabível transação penal nem para crimes nem para contravenções penais praticadas com violência doméstica.

Direito Processual Penal A serendipidade no encontro de provas de novos crimes inicialmente não investigados é admitida pela

jurisprudência. Para que o juiz decrete a perda dos dias remidos na fração de 1/3 é necessária fundamentação concreta. A prática de novo crime durante a vigência do livramento condicional não gera a perda dos dias remidos.

Direito Financeiro Restrição para transferência de recursos federais a Município que possui pendências no CAUC.

Direito Previdenciário Regra de transição para pessoas inscritas no RGPS até o advento da Lei 8.213/91. Legitimidade passiva nas demandas em que se questiona a exigibilidade das contribuições previdenciária.

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DIREITO ADMINISTRATIVO

Desapropriação para fins de reforma agrária e área de reserva legal

Não se encontrando averbada no registro imobiliário antes da vistoria, a reserva florestal não poderá ser excluída da área total do imóvel desapropriando para efeito de cálculo da produtividade do imóvel rural.

STJ. 2ª Turma. REsp 1.235.220-PR, Rel. Min. Benedito Gonçalves, julgado em 22/4/2014.

Imagine a seguinte situação hipotética: João tinha uma fazenda de 5.000ha (hectares) que foi desapropriada por interesse social para fins de reforma agrária por ser improdutiva. Para analisar se um imóvel rural é ou não produtivo, o INCRA realiza uma perícia na qual verifica o grau de utilização da terra segundo um percentual entre a área explorada e a área aproveitável. Assim, quanto mais for a área aproveitável (área com condições de ser trabalhada), maior terá que ser a área efetivamente utilizada

pelo proprietário. A Lei n. 8.629/93 traz essas regras. Veja o que diz o § 1º do art. 6º:

Art. 6º Considera-se propriedade produtiva aquela que, explorada econômica e racionalmente, atinge, simultaneamente, graus de utilização da terra e de eficiência na exploração, segundo índices fixados pelo órgão federal competente. § 1º O grau de utilização da terra, para efeito do caput deste artigo, deverá ser igual ou superior a 80% (oitenta por cento), calculado pela relação percentual entre a área efetivamente utilizada e a área aproveitável total do imóvel.

O INCRA fez a vistoria na propriedade de João e constatou que, pelo tamanho da área aproveitável existente na Fazenda, o espaço por ele utilizado de forma produtiva estava abaixo do que determina a Lei. Ação proposta por João O proprietário não concordou e ajuizou ação ordinária com o objetivo de comprovar que sua fazenda era produtiva. Seu objetivo era o de evitar a desapropriação. Isso porque a CF/88 não permite que a propriedade produtiva seja desapropriada por interesse social para fins de reforma agrária (art. 185, II). Para provar que a sua fazenda era produtiva, João alegou que ele mantinha uma área nativa intocada de 1.000ha, caracterizando a reserva florestal exigida por lei. João alegou que como esses 1.000ha são área de reserva legal (onde ele não pode cultivar), não poderiam ter sido incluídos pelo INCRA no total de área aproveitável da Fazenda. Em outras palavras, ele disse que a Fazenda não estava subaproveitada porque uma grande área (1.000ha) era de reserva legal.

O autor fundamentou seu pedido no art. 10, IV, da Lei n. 8.629/93:

Art. 10. Para efeito do que dispõe esta lei, consideram-se não aproveitáveis: IV - as áreas de efetiva preservação permanente e demais áreas protegidas por legislação relativa à conservação dos recursos naturais e à preservação do meio ambiente.

Desse modo, João pediu que fossem refeitos os cálculos de produtividade de sua fazenda, excluindo os 1.000ha que ele mantinha como reserva legal. O grande problema de João era o seguinte: os 1.000ha que ele supostamente mantinha como área de reserva legal não eram averbados no registro de imóveis da Fazenda, ou seja, não estavam formalmente instituídos como reserva florestal.

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A tese de João poderá ser acolhida pela jurisprudência? NÃO. O STJ e o STF entendem que, se a reserva florestal NÃO estiver averbada no registro imobiliário antes da vistoria, não poderá ser excluída da área total do imóvel desapropriando para efeito de cálculo da produtividade do imóvel rural. Para a jurisprudência, a reserva legal precisa estar devidamente identificada e averbada na matrícula do imóvel a fim de que seja possível saber se o proprietário vem cumprindo ou não as obrigações positivas e negativas que a legislação ambiental lhe impõe.

(...) 4. Para a exclusão das áreas de preservação permanente ou de reserva legal, estas devem estar devidamente averbadas no respectivo registro do imóvel. Não se encontrando individualizada na averbação, a reserva florestal não poderá ser excluída da área total do imóvel desapropriando para efeito de cálculo da produtividade. (...) (STF. Plenário. MS 24.924/DF, Rel. p/ Acórdão Min. Joaquim Barbosa, julgado em 24/2/2011)

O novo Código Florestal (Lei n. 12.651/2012) modificou o tratamento legal e passou a dizer que as reservas florestais devem ser registradas no órgão ambiental. Veja:

Art. 18. A área de Reserva Legal deverá ser registrada no órgão ambiental competente por meio de inscrição no CAR de que trata o art. 29, sendo vedada a alteração de sua destinação, nos casos de transmissão, a qualquer título, ou de desmembramento, com as exceções previstas nesta Lei. (...) § 4º O registro da Reserva Legal no CAR desobriga a averbação no Cartório de Registro de Imóveis, sendo que, no período entre a data da publicação desta Lei e o registro no CAR, o proprietário ou possuidor rural que desejar fazer a averbação terá direito à gratuidade deste ato.

Apesar disso, o STJ decidiu recentemente que o Novo Código Florestal manteve inalterada a intenção do legislador de exigir a perfeita identificação da área de reserva legal, modificando apenas o órgão responsável pelo registro e manutenção desses dados, não se justificando a alteração do entendimento jurisprudencial a respeito da matéria (STJ. 2ª Turma. REsp 1297128/BA, Rel. Min. Eliana Calmon, julgado em 06/06/2013).

Pensão por morte a filho inválido de servidor público federal (Obs: somente interessa para quem presta concursos federais)

Não se exige prova de dependência econômica para a concessão de pensão por morte a filho inválido de servidor público federal.

STJ. 2ª Turma. REsp 1.440.855-PB, Rel. Min. Humberto Martins, julgado em 3/4/2014.

Imagine a seguinte situação adaptada: Felipe, 33 anos, era servidor público, quando sofreu um acidente de carro e ficou inválido. Por conta disso, foi aposentado por invalidez. Dois anos depois, João (pai de Felipe), servidor público federal, faleceu. Felipe pediu para receber a pensão em virtude da morte de seu pai. A União indeferiu o requerimento, alegando que Felipe não provou que era dependente economicamente de seu pai. Ao contrário, essa dependência econômica não existia, já que ele recebia aposentadoria por invalidez.

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O indeferimento do pedido formulado por Felipe foi correto? NÃO. Vejamos:

O Estatuto dos Servidores Públicos federais (Lei n. 8.112/90) prevê uma pensão por morte paga aos dependentes dos agentes públicos falecidos:

Art. 215. Por morte do servidor, os dependentes fazem jus a uma pensão mensal de valor correspondente ao da respectiva remuneração ou provento, a partir da data do óbito, observado o limite estabelecido no art. 42.

A situação do filho inválido encontra amparo no art. 217, II, “a”:

Art. 217. São beneficiários das pensões: (...) II - temporária: a) os filhos, ou enteados, até 21 (vinte e um) anos de idade, ou, se inválidos, enquanto durar a invalidez;

Conforme se vê pela redação do dispositivo, não se exige prova de dependência econômica para a concessão de pensão por morte a filho inválido de servidor público federal, ainda que este seja maior de 21 anos ou tenha alguma outra fonte de renda. É possível a cumulação de aposentadoria por invalidez com a pensão por morte? SIM. É perfeitamente possível acumulação de pensão por morte com aposentadoria por invalidez, por possuírem naturezas distintas, com fatos geradores diversos (REsp 486.030/ES).

A indisponibilidade de bens na ação de improbidade não pode recair sobre os bens impenhoráveis

A medida de indisponibilidade de bens na ação de improbidade deve recair sobre a totalidade do patrimônio do acusado, excluídos, contudo, os bens impenhoráveis.

Os valores investidos em aplicações financeiras cuja origem remonte a verbas trabalhistas não podem ser objeto de medida de indisponibilidade em sede de ação de improbidade administrativa. Isso porque a aplicação financeira das verbas trabalhistas não implica a perda da natureza salarial destas, uma vez que o seu uso pelo empregado ou trabalhador é uma defesa contra a inflação e os infortúnios.

Desse modo, é possível a indisponibilidade do rendimento da aplicação, mas o estoque de capital investido, de natureza salarial, é impenhorável.

STJ. 1ª Turma. REsp 1.164.037-RS, Rel. Min. Sérgio Kukina, Rel. para acórdão Min. Napoleão Nunes Maia Filho, julgado em 20/2/2014.

Sanções previstas na CF/88 para os atos de improbidade administrativa Se a pessoa praticar um ato de improbidade administrativa, estará sujeita às sanções previstas no § 4º do art. 37 da CF/88, quais sejam: suspensão dos direitos políticos; perda da função pública; indisponibilidade dos bens e ressarcimento ao erário. A Lei nº 8.429/92 (Lei de Improbidade Administrativa) regulamenta as consequências no caso da prática de atos de improbidade administrativa.

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Para garantir que a pessoa que praticou ato de improbidade responda pelas sanções do § 4º do art. 37 da CF, o art. 7º da Lei nº 8.429/92 prevê a possibilidade de ser decretada a indisponibilidade dos seus bens. Veja o que preleciona a Lei:

Art. 7º Quando o ato de improbidade causar lesão ao patrimônio público ou ensejar enriquecimento ilícito, caberá à autoridade administrativa responsável pelo inquérito representar ao Ministério Público, para a indisponibilidade dos bens do indiciado. Parágrafo único. A indisponibilidade a que se refere o caput deste artigo recairá sobre bens que assegurem o integral ressarcimento do dano, ou sobre o acréscimo patrimonial resultante do enriquecimento ilícito.

A indisponibilidade pode recair sobre verbas absolutamente impenhoráveis? NÃO. Segundo decidiu o STJ, as verbas absolutamente impenhoráveis não podem ser objeto da medida de indisponibilidade na ação de improbidade administrativa. Isso porque, sendo elas impenhoráveis, não poderão assegurar uma futura execução (STJ. 1ª Turma. REsp 1164037/RS, Rel. p/ Ac. Min. Napoleão Nunes Maia Filho, julgado em 20/02/2014). Vale ressaltar que esse entendimento acima exposto (REsp 1164037/RS) é contraditório com julgados do STJ que afirmam que é possível que a indisponibilidade recaia sobre bem de família, por exemplo, que, como se sabe, é impenhorável (REsp 1204794/SP, Rel. Min. Eliana Calmon, Segunda Turma, julgado em 16/05/2013). Melhor posição para concursos: a medida de indisponibilidade de bens deve recair sobre a totalidade do patrimônio do acusado, excluídos, contudo, os bens impenhoráveis. A indisponibilidade pode recair sobre verbas salariais investidas em aplicação financeira? NÃO. A 1ª Turma do STJ decidiu que os valores investidos em aplicações financeiras cuja origem remonte a verbas trabalhistas não podem ser objeto de medida de indisponibilidade em sede de ação de improbidade administrativa. Isso porque a aplicação financeira das verbas trabalhistas não implica a perda da natureza salarial destas, uma vez que o seu uso pelo empregado ou trabalhador é uma defesa contra a inflação e os infortúnios. Desse modo, é possível a indisponibilidade do rendimento da aplicação, mas o estoque de capital investido, de natureza salarial, é impenhorável. Ex: o trabalhador recebeu 100 mil reais de rescisão trabalhista (verba de natureza trabalhista). Após alguns meses investidos, o dinheiro aplicado está em 110 mil reais. Desse modo, em tese, é possível que seja feita a indisponibilidade de apenas 10 mil reais (rendimento da aplicação).

DIREITO CIVIL

Termo inicial dos juros de mora no caso de ação de indenização pela execução não autorizada de músicas

Na execução comercial DESAUTORIZADA de obras musicais, a relação entre executor e ECAD (mandatário dos titulares das obras) é EXTRACONTRATUAL, de sorte que eventual condenação judicial fica sujeita a juros de mora contados desde o ato ilícito (art. 398 do CC).

Na execução comercial AUTORIZADA, a relação entre executor e ECAD é contratual, de maneira que sobre eventual condenação judicial incidem juros de mora contados desde a citação (art. 405 do CC).

STJ. 3ª Turma. REsp 1.424.004-GO, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 25/3/2014.

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SITUAÇÃO 1: Imagine a seguinte situação hipotética: O Escritório Central de Arrecadação e Distribuição (ECAD) ajuizou ação de indenização contra a empresa “Boa Música”, em razão de ela ter feito um show no qual foram executadas diversas músicas sem o pagamento dos valores relativos aos direitos autorais. O juiz julgou o pedido procedente, condenando a empresa a pagar 100 mil reais de indenização, acrescidos de correção monetária e juros de mora. Os juros de mora deverão ser contados a partir de quando: do dia em que as músicas foram executadas sem autorização ou da data em que a empresa foi citada para a ação? Do dia em que as músicas foram executadas sem autorização. Segundo decidiu o STJ, os juros de mora devidos em razão do não recolhimento de direitos autorais ECAD são contados do dia da execução pública não autorizada da obra musical (e não da data da citação). Na execução comercial DESAUTORIZADA de obra musical, a relação entre o titular da obra (representado pelo ECAD) e o executor será extracontratual, uma vez que não existe vínculo entre as partes. Logo, a condenação judicial fica sujeita a juros de mora contados desde o ato ilícito, nos termos do art. 398 do CC/02 e do enunciado nº 54 do STJ:

Art. 398. Nas obrigações provenientes de ato ilícito, considera-se o devedor em mora, desde que o praticou.

Súmula 54-STJ: Os juros moratórios fluem a partir do evento danoso, em caso de responsabilidade extracontratual.

SITUAÇÃO 2: Imagine agora uma segunda situação: A empresa “Boa Música” iria realizar diversos shows, nos quais iriam ser executadas diversas músicas. Para tanto, procurou o ECAD, que cobrou o valor relativo aos direitos autorais e autorizou a execução das músicas nos shows. Ocorre que a “Boa Música” passou a não cumprir as obrigações combinadas, razão pela qual o ECAD ajuizou ação de indenização contra a empresa. Os juros de mora deverão ser contados a partir de quando? A partir da data da citação. A situação muda quando a execução comercial de composições musicais advém de prévia autorização do titular, ainda que por intermédio do ECAD, em que há autêntico acordo de vontades para a cessão parcial, temporária e não exclusiva de direitos autorais. Assim, na execução comercial AUTORIZADA, a relação entre executor e ECAD é contratual, de maneira que sobre eventual condenação judicial incidem juros de mora contados desde a citação, nos termos do art. 405 do CC:

Art. 405. Contam-se os juros de mora desde a citação inicial.

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Quadro-resumo:

Execução comercial de músicas Tipo de relação Termo inicial dos juros de mora

NÃO-AUTORIZADA EXTRACONTRATUAL DIA DA EXECUÇÃO DA MÚSICA

AUTORIZADA CONTRATUAL DATA DA CITAÇÃO

Responsabilidade civil por abuso no direito de propor ação de execução

O advogado que ajuizou ação de execução de honorários de sucumbência não só contra a sociedade limitada que exclusivamente constava como sucumbente no título judicial, mas também, sem qualquer justificativa, contra seus sócios dirigentes, os quais tiveram valores de sua conta bancária bloqueados sem aplicação da teoria da desconsideração da personalidade jurídica, deve aos sócios indenização pelos danos materiais e morais que sofreram.

STJ. 3ª Turma. REsp 1.245.712-MT, Rel. Min. João Otávio de Noronha, julgado em 11/3/2014.

Imagine a seguinte situação adaptada: A sociedade empresária BB Ltda ajuizou uma ação contra outra a empresa “X”. Ao final, a ação foi julgada improcedente e a sociedade empresária BB foi condenada a pagar 100 mil reais de honorários ao advogado da empresa “X” (Dr. Rui). Execução proposta por Dr. Rui Dr. Rui ajuizou ação de execução cobrando os 100 mil reais que a ele pertencem como honorários. Até aí, tudo bem. O problema é que Dr. Rui propôs a execução contra a sociedade empresária BB Ltda e contra os sócios da empresa (Bruno e Breno). Vale ressaltar que o capital social da sociedade empresária estava totalmente integralizado pelos sócios. O juiz da execução determinou a penhora on line do valor, tendo sido penhorados 40 mil da conta bancária de Bruno e 60 mil de Breno. Em agravo de instrumento, o TJ excluiu os sócios da execução e desbloqueou as verbas deles penhoradas. Dr. Rui poderia ter incluído os sócios na execução proposta? NÃO. Quem foi condenada e figurava como devedora dos honorários na sentença foi a sociedade empresária BB (e não os sócios). A sociedade empresária é uma pessoa jurídica distinta dos sócios e possui autonomia patrimonial. Logo, não havia qualquer razão jurídica que justificasse a inclusão dos sócios no polo passivo da ação executiva. Repetindo: os sócios foram executados sem que estivessem no título executivo, ou seja, sem que fossem devedores. No caso de as cotas de cada um estarem totalmente integralizadas, o patrimônio pessoal dos sócios não responde por dívidas da sociedade. Portanto, a regra legal a observar é a do princípio da autonomia da pessoa jurídica, distinta da pessoa de seus sócios. De fato, é possível afastar essa regra no caso da aplicação da teoria da desconsideração da personalidade jurídica. No entanto, para isso, seria necessário que tivesse sido comprovado “o abuso da personalidade jurídica, caracterizado pelo desvio de finalidade, ou pela confusão patrimonial” (art. 50 do CC). Na situação concreta, nem o exequente pediu a desconsideração da personalidade jurídica, nem o juiz fundamentou sua decisão nesse sentido. Em suma, manejou-se a execução contra os sócios sem qualquer menção à desconsideração.

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Ação de indenização de Bruno e Breno Depois que conseguiram ser excluídos da execução, os sócios ajuizaram ação de indenização por danos morais e materiais contra Dr. Rui. O STJ entendeu que os sócios deveriam ser indenizados por danos materiais? SIM. Para o STJ, o credor/exequente utilizou de forma abusiva da ação executiva, praticando abuso de direito, previsto no art. 187 do CC:

Art. 187. Também comete ato ilícito o titular de um direito que, ao exercê-lo, excede manifestamente os limites impostos pelo seu fim econômico ou social, pela boa-fé ou pelos bons costumes.

Logo, o exequente deverá indenizar os prejudicados nos termos do art. 574 do CPC:

Art. 574. O credor ressarcirá ao devedor os danos que este sofreu, quando a sentença, passada em julgado, declarar inexistente, no todo ou em parte, a obrigação, que deu lugar à execução.

E no que tange aos danos morais? Também é devida a compensação. O STJ afirmou que o simples fato de os sócios terem figurado no polo passivo da execução não é motivo, por si só, para serem indenizados por danos morais. Contudo, no caso concreto, os sócios viram, desnecessariamente, parte de seu patrimônio ser penhorado, e isso em razão da astúcia do credor, pois, sendo técnico em direito, já que é advogado, não é razoável concluir que não soubesse que agia ferindo a lei. Dessa forma, há nexo causal entre o ato abusivo praticado pelo credor e os danos causados aos sócios com aborrecimentos que atingiram a esfera pessoal de cada um.

Legitimidade para ação de doação inoficiosa

O herdeiro que cede seus direitos hereditários continua tendo legitimidade para pleitear a declaração de nulidade de doação inoficiosa realizada pelo autor da herança em benefício de terceiros.

STJ. 3ª Turma. REsp 1.361.983-SC, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 18/3/2014.

Conceito de doação Considera-se doação o contrato em que uma pessoa, por liberalidade, transfere do seu patrimônio bens ou vantagens para o de outra (art. 538 do CC). Restrições à liberalidade de doar Em regra, a pessoa sendo proprietária da coisa, pode doá-la para quem quiser. A lei impõe, contudo, algumas restrições ao exercício desse direito. Veja: 1) Doação feita por pessoa casada O cônjuge que for casado, para doar, precisa da autorização do outro, exceto: a) no regime da separação absoluta; b) na doação remuneratória; c) nas doações propter nuptiaes de bens feitos aos filhos quando casarem ou estabelecerem economia separada. 2) Doação feita por incapaz O absolutamente incapaz não pode realizar doações. Se fizer, é nula.

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3) Doação universal Doação universal é aquela que engloba a totalidade de bens do devedor.

CC/Art. 548. É nula a doação de todos os bens sem reserva de parte, ou renda suficiente para a subsistência do doador.

4) Doação inoficiosa Doação inoficiosa é a que invade a legítima dos herdeiros necessários. A pessoa que tenha herdeiros necessários só pode doar até o limite máximo da metade de seu patrimônio, considerando que a outra metade é a chamada “legítima” (art. 1.846 do CC) e pertence aos herdeiros necessários. 5) Doação colacionável A pessoa pode doar para seus ascendentes, descendentes ou cônjuges. No entanto, isso será considerado “adiantamento da legítima”, ou seja, um adiantamento do que o donatário iria receber como herdeiro no momento em que o doador morresse. 6) Doação fraudulenta É aquela realizada pelo devedor insolvente ou que, com a doação, torna-se insolvente. Vale ressaltar que devedor insolvente é aquele cujo patrimônio passivo (dívidas) é maior que o ativo (bens). A doação, nesses casos, somente é válida se foi realizada com o consentimento de todos os credores. Se feita sem tal consentimento, configura fraude contra os credores, sendo, portanto, anulável. 7) Doação do cônjuge adúltero a seu cúmplice

CC/Art. 550. A doação do cônjuge adúltero ao seu cúmplice pode ser anulada pelo outro cônjuge, ou por seus herdeiros necessários, até dois anos depois de dissolvida a sociedade conjugal.

O pródigo pode realizar doações? SIM, desde que assistido pelo curador.

Art. 1.782. A interdição do pródigo só o privará de, sem curador, emprestar, transigir, dar quitação, alienar, hipotecar, demandar ou ser demandado, e praticar, em geral, os atos que não sejam de mera administração.

Doação inoficiosa Como visto, a pessoa que tenha herdeiros necessários só pode doar até o limite máximo da metade de seu patrimônio, considerando que a outra metade é a chamada “legítima” (art. 1.846 do CC) e pertence aos herdeiros necessários. Se o doador não tiver herdeiros necessários, poderá doar livremente, contanto que não seja doação universal. Quem são os herdeiros necessários? Ascendentes, descendentes e cônjuge supérstite, ou seja, cônjuge sobrevivente (art. 1.845). A doação inoficiosa é nula ou anulável? O art. 549 do CC afirma que é nula.

Art. 549. Nula é também a doação quanto à parte que exceder à de que o doador, no momento da liberalidade, poderia dispor em testamento.

Ação cabível para se obter a anulação: ação de nulidade de doação inoficiosa (ação de redução). Quem pode propor: apenas os herdeiros necessários do doador.

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Mesmo que o herdeiro necessário tenha cedido sua parte na herança, ele terá legitimidade para a ação de anulação? SIM. O STJ decidiu que o herdeiro que cede seus direitos hereditários possui legitimidade para pleitear a declaração de nulidade de doação inoficiosa realizada pelo autor da herança em benefício de terceiros. Isso porque o fato de o herdeiro ter realizado a cessão de seus direitos hereditários não lhe retira a qualidade de herdeiro, que é personalíssima (STJ. 3ª Turma. REsp 1.361.983-SC, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 18/3/2014). Prazo da ação: 10 anos (art. 205 do CC) (STJ REsp 1049078/SP). Quando se inicia esse prazo? Conta-se a partir do registro do ato jurídico que se pretende anular.

DIREITO PROCESSUAL CIVIL

Chamamento ao processo e fornecimento de medicamento

Importante!!!

Nas ações para fornecimento de medicamentos, apesar de a obrigação ser solidária entre Municípios, Estados e União, caso o autor tenha proposto a ação apenas contra o Estado-membro, não cabe o chamamento ao processo da União, medida que apenas iria protelar a solução da causa.

STJ. 1ª Seção. REsp 1.203.244-SC, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em 9/4/2014 (recurso repetitivo).

Imagine a seguinte situação: Determinado paciente ingressou com ação de obrigação de entrega de coisa certa contra o Estado-membro pedindo que este forneça o remédio “X”. Em sua resposta, o Estado-membro alega que a saúde é um dever constitucional imposto não apenas ao Estado, como também à União e aos Municípios. Desse modo, formula o chamamento ao processo da União, com base no art. 77, III, do CPC:

Art. 77. É admissível o chamamento ao processo: III - de todos os devedores solidários, quando o credor exigir de um ou de alguns deles, parcial ou totalmente, a dívida comum.

É cabível o chamamento ao processo nesse caso? NÃO. O STJ tem jurisprudência consolidada de que esse chamamento ao processo não é admitido. Argumentos:

Este art. 77, III, é típico de obrigações solidárias de pagar quantia, o que não é o caso, uma vez que as ações para fornecimento de medicamento são para entrega de coisa certa;

O chamamento ao processo da União por determinado Estado-membro revela-se medida protelatória, que não traz nenhuma utilidade ao processo, além de atrasar a resolução do feito, revelando-se meio inconstitucional para evitar o acesso aos remédios necessários para o restabelecimento da saúde do enfermo.

Obs: não há qualquer problema se o autor enfermo optar por ajuizar a ação contra o Estado e a União como litisconsortes passivos. Nesse caso, a demanda será processada na Justiça Federal. O que não pode é o réu acionado querer impor ao autor que litigue também contra os demais entes federativos.

Obs2: esse julgado é bem possível de ser cobrado no próximo concurso da Defensoria Pública.

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Consequência pelo descumprimento de determinação de exibição de documento

Importante!!!

Não é cabível a multa cominatória, caso o autor tenha ingressado com pedido, incidental ou autônomo, de exibição de documento relativo a direito DISPONÍVEL.

Em caso de processos que tratam sobre direitos indisponíveis, o STJ tem admitido a cominação de astreintes.

STJ. 2ª Seção. REsp 1.333.988-SP, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, julgado em 9/4/2014 (recurso repetitivo).

EXIBIÇÃO DE DOCUMENTO OU COISA Caso uma pessoa precise de determinado documento ou coisa para defender seu interesse em juízo e esta prova esteja em poder da parte adversa (contrária) ou na posse de terceiro, ela poderá ingressar com um pedido ao juiz para que este ordene a exibição do documento ou coisa. Esse pedido de exibição pode ser: a) Incidental: quando o documento for necessário para ser exibido em um processo que já está em curso

(arts. 355-363 do CPC); b) Preparatório (cautelar, autônomo): quando o pleito de exibição for formulado antes da instauração

do processo (arts. 844-845 do CPC). PEDIDO DE EXIBIÇÃO INCIDENTAL O pedido de exibição incidental ocorre quando já existe um processo em curso e aqui surge a necessidade de que se traga aos autos um documento ou coisa que não está no poder da parte que irá se beneficiar com ele. Ex: João ajuizou uma ação de cobrança contra Pedro; o autor precisa de um contrato que prova seu direito, mas este se encontra em poder do réu; logo, João formula um pedido de exibição incidental deste documento. No exemplo acima dado, o documento estava em poder do réu (parte adversa). Mas poderia ocorrer de o documento estar na posse de um terceiro (ex: banco, empresa, sócio etc.). O procedimento do pedido de exibição incidental está regulado pelos arts. 355 a 363 do CPC. Vale a pena ler tais dispositivos. Caso a parte adversa, intimada a exibir o documento, de forma incidental, deixe de fazê-lo no prazo estipulado, ela poderá ser multada por conta disso? O juiz pode determinar a Pedro que exiba o documento, sob pena de multa diária de 500 reais? Depende:

NÃO: se o direito pleiteado em juízo for DISPONÍVEL.

SIM: se o direito pleiteado em juízo for INDISPONÍVEL. Consequências quando a PARTE ADVERSA se recusa injustificadamente a apresentar o documento:

Se o direito pleiteado em juízo for DISPONÍVEL: A consequência para o caso de recusa injustificada é que o juiz deverá admitir como verdadeiros os fatos que seriam provados por meio daquele documento. Em nosso exemplo, o juiz admitiria que o contrato mencionado por João realmente existe. É isso que determina o art. 359 do CPC:

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Art. 359. Ao decidir o pedido, o juiz admitirá como verdadeiros os fatos que, por meio do documento ou da coisa, a parte pretendia provar: I - se o requerido não efetuar a exibição, nem fizer qualquer declaração no prazo do art. 357; II - se a recusa for havida por ilegítima.

Ressalte-se que se trata de uma presunção relativa, podendo o juiz decidir de forma diversa da pretendida pelo interessado na exibição, com base em outros elementos de prova constantes dos autos. Além disso, o juiz pode, por exemplo, antes de aplicar a presunção, entender pertinente tentar a busca e apreensão do documento (STJ. 4ª Turma. AgRg no Ag 1.179.249/RJ). Tal conduta seria legítima, com base nos poderes instrutórios do magistrado. Se o direito pleiteado em juízo for INDISPONÍVEL: Nesse caso, a presunção de veracidade é incabível, porque a legislação não admite a presunção de veracidade quanto a direitos indisponíveis (art. 319 c/c art. 320, II, do CPC). Assim, como não poderá se valer da presunção, restará ao juiz determinar a busca e apreensão do documento que estaria na posse da parte adversa. Ocorre que, na prática, a medida da busca e apreensão se mostra com diminuta eficácia, sendo normalmente infrutífera, seja porque a parte pode esconder o documento em outro local, seja porque em alguns casos é extremamente difícil para o oficial de justiça localizar um documento em meio ao universo de papeis que existem em grandes prédios onde funcionam empresas ou bancos. Diante desse cenário, em caso de processos que tratam sobre direitos indisponíveis, o STJ tem admitido a cominação de astreintes a fim de evitar o sacrifício do direito da parte interessada. Nesse sentido: STJ. 1ª Seção. REsp 1112862/GO, Rel. Min. Humberto Martins, julgado em 13/04/2011. (recurso repetitivo). E qual é a consequência caso o TERCEIRO (ex: banco que não é réu na ação) se recuse injustificadamente a apresentar o documento? Se o terceiro, sem justo motivo, se recusar a efetuar a exibição, o juiz ordenará que ele faça a entrega (depósito) do documento ou coisa no cartório da vara ou em outro lugar designado, no prazo de 5 dias. Se o terceiro descumprir essa ordem de entrega, o juiz expedirá mandado de apreensão, requisitando, se necessário, força policial. Além disso, o terceiro poderá ser responsabilizado por crime de desobediência (art. 362 do CPC). Não cabe a presunção de veracidade quando é o terceiro que se recusa a exibir o documento. Isso porque a parte adversa não pode ser prejudicada por uma recusa que não é sua. AÇÃO DE EXIBIÇÃO DE DOCUMENO (AUTÔNOMA) Aqui as partes ainda não estão litigando, ou seja, não existe um processo judicial em curso. Apesar disso, uma das partes que precisa do documento entende por bem requerê-lo antes de ajuizar a ação principal. Logo, ela propõe uma ação cautelar para que a parte adversa ou um terceiro exiba o documento. Exemplo: João quer ajuizar uma ação de cobrança contra Pedro; ele precisa, no entanto, de um contrato que prova seu direito, mas este se encontra em poder de Pedro; logo, antes de intentar a ação de cobrança, João propõe uma ação cautelar de exibição de documento contra Pedro. No caso de ser proposta uma ação de exibição de documento, se a parte for intimada a exibir e deixar de fazê-lo no prazo estipulado, ela poderá ser multada por conta disso?

NÃO: se o direito pleiteado em juízo for DISPONÍVEL.

SIM: se o direito pleiteado em juízo for INDISPONÍVEL.

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Se o direito pleiteado em juízo for DISPONÍVEL: Não é cabível a aplicação de multa cominatória na hipótese em que a requerida foi intimada, em ação de exibição, a entregar determinado documento, não o fazendo no prazo estipulado. Existe, inclusive, um enunciado explicitando esse entendimento:

Súmula 372-STJ: Na ação de exibição de documentos não cabe a aplicação de multa cominatória.

E qual é a consequência pela recusa injustificada a apresentar o documento? Nesse caso, o juiz determinará a expedição de busca e apreensão para tentar localizar e coletar o documento no provável local onde ele se encontra guardado. Nesse caso, se não for localizado, o juiz poderá aplicar a presunção de veracidade? Poderá presumir que aquele documento realmente existe e que ele contém aquilo que o autor afirma? NÃO. Segundo a jurisprudência do STJ, a presunção de veracidade contida no art. 359 do Código de Processo Civil NÃO se aplica às ações cautelares de exibição de documentos (REsp 1094846/MS, Rel. Min. Carlos Fernando Mathias (Juiz Federal convocado do TRF1), Segunda Seção, julgado em 11/03/2009 – recurso repetitivo). Em outras palavras, a presunção de veracidade só ocorre no caso de recusa em exibição incidental e desde que se trate de direitos disponíveis. Podemos concluir, portanto, que, na AÇÃO DE EXIBIÇÃO, se a parte se recusa a entregar o documento, o único meio admitido para a efetivação do pedido é a busca e apreensão. Se o direito pleiteado em juízo for INDISPONÍVEL: O STJ admite a cominação de astreintes.

Decisão que fixa valor das astreintes não preclui nem faz coisa julgada

Importante!!!

A decisão que comina astreintes não preclui, não fazendo tampouco coisa julgada.

A jurisprudência do STJ é pacífica no sentido de que a multa cominatória não integra a coisa julgada, sendo apenas um meio de coerção indireta ao cumprimento do julgado, podendo ser cominada, alterada ou suprimida posteriormente.

STJ. 2ª Seção. REsp 1.333.988-SP, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, julgado em 9/4/2014 (recurso repetitivo).

Se o autor ajuíza uma ação pretendendo que o réu seja obrigado a fazer ou não fazer alguma coisa, o juiz, atendidos os requisitos legais, poderá conceder a tutela antecipada, na forma de tutela específica, determinando que o réu adote o comportamento que é objeto da ação. Exemplo hipotético (diferente o caso concreto): “A”, atriz, ingressa com ação de obrigação de fazer contra o site “X”, especializado em celebridades, tendo como pedido (objeto) que o referido site retire de suas páginas fotos íntimas da autora e cuja publicação ela não autorizou. O juiz analisa a petição inicial e entende que é relevante o fundamento da demanda e que há justificado receio de ineficácia do provimento final, razão pela qual concede liminarmente a tutela antecipada determinando que o site retire, em 24 horas, as fotos de suas páginas. Essa decisão interlocutória está fundada no § 3º do art. 461 do CPC:

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Art. 461. Na ação que tenha por objeto o cumprimento de obrigação de fazer ou não fazer, o juiz concederá a tutela específica da obrigação ou, se procedente o pedido, determinará providências que assegurem o resultado prático equivalente ao do adimplemento. (...) § 3º Sendo relevante o fundamento da demanda e havendo justificado receio de ineficácia do provimento final, é lícito ao juiz conceder a tutela liminarmente ou mediante justificação prévia, citado o réu. A medida liminar poderá ser revogada ou modificada, a qualquer tempo, em decisão fundamentada.

O juiz, para que sua decisão tenha “força” e desperte no réu a ânsia de cumpri-la, deve determinar alguma medida coercitiva. A mais conhecida delas é a multa cominatória, prevista no § 4º do art. 461 do CPC:

§ 4º O juiz poderá, na hipótese do parágrafo anterior ou na sentença, impor multa diária ao réu, independentemente de pedido do autor, se for suficiente ou compatível com a obrigação, fixando-lhe prazo razoável para o cumprimento do preceito.

Principais características da multa cominatória (astreinte)

Essa multa coercitiva tornou-se conhecida no Brasil pelo nome de “astreinte” em virtude de ser semelhante (mas não idêntica) a um instituto processual previsto no direito francês e que lá assim é chamado.

A finalidade dessa multa é coercitiva, isto é, pressionar o devedor a realizar a prestação. Trata-se de uma técnica judicial de coerção indireta.

Apresenta um caráter híbrido, possuindo traços de direito material e também de direito processual.

Não tem finalidade ressarcitória, tanto é que pode ser cumulada com perdas e danos (§ 2º do art. 461).

Pode ser imposta pelo juiz de ofício ou a requerimento, na fase de conhecimento ou de execução.

Apesar do CPC falar em “multa diária”, a doutrina afirma que essa multa pode ser estipulada também em meses, anos ou até em horas.

O valor das astreintes é revertido em favor do credor, ou seja, o destinatário das astreintes é o autor da demanda (REsp 949.509-RS).

A parte beneficiada com a imposição das astreintes somente continuará tendo direito ao valor da multa se sagrar-se vencedora. Se no final do processo essa parte sucumbir, não terá direito ao valor da multa ou, se já tiver recebido, deverá proceder à sua devolução.

Voltando ao nosso exemplo. O juiz concedeu liminarmente a tutela antecipada para que o site retirasse as fotos em até uma hora, sob pena de multa de 200 mil reais por cada hora de descumprimento. A direção do site recebeu a intimação, mas somente retirou as fotos 41 horas depois. Na sentença, o juiz confirmou a tutela antecipada concedida e julgou procedente o pedido da atriz. As partes não recorreram e foi certificado o trânsito em julgado. Execução das astreintes Com o trânsito em julgado, a atriz ajuizou execução cobrando o valor da multa imposta, já que o site cumpriu a decisão com 40 horas de atraso. Assim, pleiteou o pagamento de 8 milhões de reais de multa. O site se defendeu alegando duas teses: 1) Mesmo com atraso, a determinação judicial foi cumprida. Logo, é possível que a multa seja relevada. 2) A multa imposta foi abusiva, exagerada, exorbitante, razão pela qual deverá ser reduzida. A tese 1 pode ser aceita? NÃO. O cumprimento da obrigação após o transcurso do prazo judicialmente fixado não exime o devedor do pagamento da multa cominatória arbitrada. A aplicação da multa cominatória somente pode ser afastada quando restar provado que a obrigação foi cumprida dentro do prazo judicialmente assinalado. Isso porque a multa cominatória – instituto processual

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por meio do qual o juiz força a vontade do devedor no sentido de efetivamente cumprir a obrigação judicialmente acertada –, embora se destine à realização do interesse do credor, caracteriza-se como verdadeira sanção a ser aplicada na hipótese de desobediência a uma ordem judicial. STJ. 3ª Turma. REsp 1.183.774-SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 18/6/2013 (Info 526). A tese 2 pode ser aceita? A astreinte fixada pode ser modificada mesmo já tendo havido trânsito em julgado? SIM. A decisão que comina astreintes NÃO PRECLUI e NÃO FAZ COISA JULGADA. Assim, o juiz poderá, mesmo na fase de execução, alterar o valor da multa, nos termos do § 6º do art. 461 do CPC:

§ 6º O juiz poderá, de ofício, modificar o valor ou a periodicidade da multa, caso verifique que se tornou insuficiente ou excessiva.

Veja alguns precedentes:

A jurisprudência do STJ entende que a redução do valor das astreintes, disposta no § 6º do art. 461 do CPC, não faz coisa julgada material, podendo seu valor ser revisto, a qualquer tempo, caso se torne insuficiente ou excessivo. (...) STJ. 2ª Turma. AgRg no AREsp 485.780/RJ, Rel. Min. Humberto Martins, julgado em 06/05/2014.

Em atendimento ao princípio da proporcionalidade e para se evitar o enriquecimento ilícito, é possível a redução do valor da multa cominatória sem que se incorra em violação à coisa julgada, podendo ser alterada, inclusive, na fase de execução. STJ. 4ª Turma. AgRg no AREsp 309.958/RS, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, DJe 10/12/2013.

Decisão monocrática do art. 557 do CPC

Não há ofensa ao art. 557 do CPC quando o Relator nega seguimento a recurso com base em orientação reiterada e uniforme do órgão colegiado que integra, ainda que sobre o tema não existam precedentes de outro órgão colegiado – do mesmo Tribunal – igualmente competente para o julgamento da questão recorrida.

STJ. 2ª Turma. AgRg no REsp 1.423.160-RS, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em 27/3/2014.

Imagine a seguinte situação: Rodolfo interpôs recurso especial no STJ argumentando que o TRF errou ao decidir que o Decreto “X” está de acordo com a Lei. Em suma, o recorrente afirma que o referido Decreto é ilegal. O recurso foi distribuído para a 1ª Turma do STJ. O Min. Relator, de forma monocrática, negou seguimento ao recurso, argumentando que o entendimento exposto pelo acórdão recorrido está de acordo com a posição da 1ª Turma do STJ, que também considera como sendo legal o Decreto “X”. Logo, o recurso de Rodolfo estaria em confronto com a jurisprudência dominante no STJ. O Min. Relator poderia fazer isso? SIM, há previsão expressa neste sentido no CPC:

Art. 557. O relator negará seguimento a recurso manifestamente inadmissível, improcedente, prejudicado ou em confronto com súmula ou com jurisprudência dominante do respectivo tribunal, do Supremo Tribunal Federal, ou de Tribunal Superior.

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Se a parte tiver a intenção de modificar esta decisão do Relator, qual recurso deverá interpor? Agravo regimental, previsto no art. 258 do RISTJ, a ser julgado pela 1ª Turma do STJ. No agravo regimental, Rodolfo alegou o seguinte: O Min. Relator não poderia ter julgado monocraticamente, uma vez que a 2ª Turma do STJ ainda não apreciou o tema, ou seja, ainda não disse se o Decreto “X” é legal ou não. Logo, segundo Rodolfo, não se poderia afirmar que o recurso por ele interposto estava de confronto com a jurisprudência dominante do STJ. Em suma, ao assim decidir, o Ministro teria violado o art. 557 do CPC. A tese do recorrente foi aceita? NÃO. O STJ decidiu que não há ofensa ao art. 557 do CPC quando o Relator nega seguimento a recurso com base em orientação reiterada e uniforme do órgão colegiado que integra, ainda que sobre o tema não existam precedentes de outro órgão colegiado – do mesmo Tribunal – igualmente competente para o julgamento da questão recorrida. Para que se configure a jurisprudência dominante não é necessário que todos os órgãos competentes em um mesmo Tribunal tenham proferido decisão a respeito do tema. Isso porque essa norma é inspirada nos princípios da economia processual e da razoável duração do processo e tem por finalidade a celeridade na solução dos litígios. Assim, se o Relator conhece orientação de seu órgão colegiado, desnecessário submeter-lhe, sempre e reiteradamente, a mesma controvérsia.

Nulidade da decisão do relator que julga o agravo de instrumento a favor do agravante sem ouvir o agravado

O Desembargador Relator do agravo de instrumento poderá decidi-lo de forma monocrática em algumas hipóteses previstas nos arts. 557, caput e § 1ºA, do CPC.

Se o Desembargador for julgar de forma contrária ao agravante, ele nem precisará intimar o agravado para apresentar contrarrazões.

Ao contrário, se o Relator julgar de forma favorável ao agravante, ele obrigatoriamente precisará intimar o agravado para apresentar contrarrazões (com o objetivo de garantir o contraditório).

Desse modo, se o Relator decide monocraticamente a favor do agravante, sem ouvir o agravado, incorre em nulidade processual. Essa nulidade, contudo, é SANÁVEL, e não será declarada se o prejudicado não a alegar no primeiro momento em que falar aos autos.

No caso concreto julgado pelo STJ, o agravado prejudicado pela decisão proferida sem a sua prévia oitiva somente alegou esse vício ao opor embargos de declaração contra o acórdão que julgou o agravo regimental, ou seja, após diversas outras etapas processuais (e não na primeira oportunidade que teve para falar nos autos). O STJ considerou que, ao assim agir, a parte valeu-se de uma “estratégia” processual por meio da qual não se alega a nulidade no primeiro instante, mas apenas em um momento posterior, se as suas outras teses não conseguirem ter êxito. Trata-se, portando, de uma “nulidade de algibeira” (bolso), que não é tolerada pela jurisprudência por violar os deveres de boa-fé processual e lealdade.

STJ. 3ª Turma. REsp 1.372.802-RJ, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, julgado em 11/3/2014.

Agravo de instrumento e multa do art. 557, § 2º do CPC

Vejamos algumas etapas do processamento e julgamento do agravo de instrumento:

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1) João ajuíza ação contra Pedro e requer uma tutela cautelar.

2) Após ouvir o réu, o juiz profere uma decisão interlocutória denegando a tutela cautelar.

3) Contra as decisões interlocutórias prolatadas pelo juízo de 1ª instância cabe, em tese, agravo retido ou agravo de instrumento, conforme o caso concreto.

4) Imaginemos que seja hipótese de agravo de instrumento.

5) A parte prejudicada, no prazo máximo de 10 dias (em regra), interpõe, diretamente no Tribunal (entrega o recurso no protocolo do Tribunal e não no do Fórum), o agravo de instrumento (petição acompanhada das peças obrigatórias e facultativas – vide arts. 524 e 525).

6) O agravante, no prazo de 3 dias, tem o dever de juntar aos autos do processo em 1ª instância, cópia da petição do agravo de instrumento interposto e do comprovante de sua interposição, assim como a relação dos documentos que instruíram o recurso.

7) No Tribunal, o agravo de instrumento é distribuído incontinenti (imediatamente), sendo sorteado um Desembargador Relator.

8) Relator CONTRÁRIO à tese do agravante (art. 527, I c/c art. 557). O Desembargador Relator poderá, de forma monocrática e liminar (sem ouvir o agravado): - negar seguimento (ou negar provimento) ao agravo de instrumento se o recurso for: - manifestamente inadmissível (não preenche os requisitos para ter o seu mérito conhecido), - improcedente (a tese defendida pelo recorrente não encontra amparo no direito), - prejudicado (a parte já não tem mais interesse no recurso, houve perda do objeto), - ou se estiver em confronto com súmula ou com jurisprudência dominante do respectivo tribunal, do STF, ou de Tribunal Superior.

Repare, portanto, que, para o Desembargador julgar de forma contrária ao agravante, ele nem precisará intimar o agravado para apresentar contrarrazões. Isso porque a decisão é favorável ao recorrido, não havendo motivo para perder tempo ouvindo-o.

9) Relator FAVORÁVEL à tese do agravante (art. 557, § 1º-A). O Desembargador Relator poderá, após ouvir o agravado, de forma monocrática: - dar provimento ao recurso - se entender que a decisão recorrida está em manifesto confronto com - súmula ou jurisprudência dominante do STF ou de Tribunal Superior

Para o Desembargador julgar de forma favorável ao agravante, ele obrigatoriamente precisará intimar o agravado para apresentar contrarrazões. Isso porque é necessário garantir o contraditório. Como explica a doutrina: “No agravo de instrumento, a situação deve submeter-se a essa metodologia: para negar seguimento, o relator já pode fazê-lo, sem precisar instaurar contraditório, eis que se trata de decisão favorável ao agravado, e contrária ao agravante. Para dar provimento ao recurso, deverá, contudo, instaurar o prévio contraditório, pois se trata de decisão contrária ao agravado, e favorável ao agravante. Ao agravado se deve possibilitar a chance de tentar participar do convencimento do magistrado, em homenagem ao princípio do contraditório.” (DIDIER JR., Fredie; CUNHA, Leonardo Carneiro da. Curso de Direito Processual Civil. Vol. 3. 11ª ed., 2013, p. 183). Esse é também o entendimento do STJ: (...) A intimação do recorrido para apresentar contra-razões é o procedimento natural de preservação do princípio do contraditório, previsto em qualquer recurso, inclusive no de agravo de instrumento (CPC, art. 527, V). Justifica-se a sua dispensa quando o relator nega seguimento ao agravo (art. 527, I), já que a decisão vem em benefício do agravado. Todavia, a intimação para a resposta é condição de

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validade da decisão monocrática que vem em prejuízo do agravado, ou seja, quando o relator acolhe o recurso, dando-lhe provimento (art. 557, § 1º-A). Nem a urgência justifica a sua falta: para situações urgentes há meios específicos e mais apropriados, de 'atribuir efeito suspensivo ao recurso (art. 558), ou deferir, em antecipação da tutela, total ou parcialmente, a pretensão recursal' (CPC, art. 525, III) (STJ. 1ª Seção. EREsp 1.038.844/PR, Min. Rel. Teori Zavascki, DJe 20/10/2008). Desse modo, se o Relator decide monocraticamente a favor do agravante (art. 557, § 1º-A do CPC) sem ouvir o agravado, incorre em nulidade processual. A pergunta que surge é a seguinte: essa nulidade é insanável, podendo ser declarada a qualquer tempo? NÃO. A 3ª Turma do STJ decidiu que a nulidade decorrente da ausência de intimação para contrarrazões é sanável, pois o contraditório se renova continuamente no curso do processo, havendo mais à frente outras oportunidades nas quais o agravado pode (ou poderá) se manifestar, exercendo o contraditório (STJ. 3ª Turma. REsp 1.372.802-RJ, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, julgado em 11/3/2014). No caso concreto julgado pelo STJ, o agravado prejudicado pela decisão proferida sem a sua prévia oitiva somente alegou esse vício ao opor embargos de declaração contra o acórdão que julgou o agravo regimental, ou seja, após diversas outras etapas processuais (e não na primeira oportunidade que teve para falar nos autos). O STJ considerou que, ao assim agir, a parte valeu-se de uma “estratégia” processual por meio da qual não se alega a nulidade no primeiro instante, mas apenas em um momento posterior, se as suas outras teses não conseguirem ter êxito. Dessa forma, a parte fica com um trunfo, com uma “carta na manga”, escondida, para ser utilizada mais a frente, como um último artifício. Essa “estratégia” processual é válida? NÃO. A isso o STJ chamou de “nulidade de algibeira”, ou seja, uma nulidade que a parte guarda no bolso (na algibeira) para ser utilizada quando ela quiser. Segundo reportagem no site do STJ, a expressão “nulidade de algibeira” foi cunhada pelo falecido ministro Humberto Gomes de Barros, sendo esse o nome dado para a manobra utilizada pela parte quando ela deixa estrategicamente de se manifestar em momento oportuno, para suscitar a nulidade em momento posterior. Tal postura viola claramente a boa-fé processual e a lealdade, que são deveres das partes e de todos aqueles que participam do processo (art. 14, II, do CPC). Por essa razão, a “nulidade de algibeira” é rechaçada pela jurisprudência do STJ.

Penhora de valores depositados em conta bancária conjunta

A penhora de valores depositados em conta bancária conjunta solidária somente poderá atingir a parte do numerário depositado que pertença ao correntista que seja sujeito passivo do processo executivo, presumindo-se, ante a inexistência de prova em contrário, que os valores constantes da conta pertencem em partes iguais aos correntistas.

STJ. 4ª Turma. REsp 1.184.584-MG, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 22/4/2014.

Imagine a seguinte situação hipotética: João e Maria possuem uma conta bancária conjunta, na qual estão depositados 100 mil reais. João é réu em uma execução de título extrajudicial no qual lhe é cobrado o valor de 70 mil reais. O juiz da execução ordenou a penhora on line, sendo bloqueados 70 mil da referida conta bancária.

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Maria apresenta embargos de terceiro pedindo o desbloqueio dos 70 mil reais, afirmando que esse dinheiro pertencia a ela. Vale ressaltar que Maria não apresentou nenhum documento comprovando que o dinheiro pertencia realmente a ela. O que o juiz deverá decidir nesse caso? O pedido de Maria poderá ser atendido? Em parte. A penhora de valores contidos em conta bancária conjunta é admitida pelo ordenamento jurídico. No entanto, a constrição não pode se dar em proporção maior que o numerário pertencente ao devedor da obrigação, devendo ser preservado o saldo dos demais cotitulares. Em outras palavras, deve ser penhorado apenas o dinheiro que pertence ao executado. Assim, quando se penhora o valor constante em conta bancária conjunta solidária, deve-se permitir que o cotitular prove que a quantia penhorada pertence a ele. Logo, Maria poderia ter provado que o dinheiro penhorado pertencia inteiramente a ela. Nesse caso, a verba seria liberada. Se o cotitular não executado não conseguir provar que a verba penhorada pertencia inteiramente a ele, deve-se presumir que a quantia existente na conta bancária era dividida igualmente entre os cotitulares. Em outras palavras, como Maria não conseguiu provar que o dinheiro era todo dela, deve-se considerar que dos 100 mil reais, 50 mil eram seus e a outra metade era de João. Dessa forma, em nosso exemplo, o juiz deverá manter penhorados 50 mil reais e desbloquear os 20 mil reais que, presumidamente, são de Maria. Confira um julgado do STJ que espelha esse entendimento:

(...) Recaindo a penhora sobre contas bancárias conjuntas, não havendo prova em contrário, presume-se que cada titular detém metade do valor depositado, não se podendo inquinar de teratológica ou manifestamente ilegal, a decisão que permite a constrição de 50% dos saldos existentes, pertencentes à executada, co-titular. (...) STJ. 3ª Turma. AgRg no AgRg na Pet 7456/MG, Rel. Min. Sidnei Beneti, julgado em 17/11/2009.

Garantia do juízo na execução fiscal deve abranger o valor dos honorários advocatícios

A garantia do juízo no âmbito da execução fiscal deve abranger honorários advocatícios, mesmo que eles não estejam previstos na CDA e somente venham a ser arbitrados pelo juiz ao despachar a petição inicial na execução.

STJ. 2ª Turma. REsp 1.409.688-SP, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em 11/2/2014.

Conceito Execução fiscal é a ação judicial proposta pela Fazenda Pública (União, Estados, DF, Municípios e suas respectivas autarquias e fundações) para cobrar do devedor créditos (tributários ou não tributários) inscritos em dívida ativa. A execução fiscal é regida pela Lei nº 6.830/80 (LEF) e, subsidiariamente, pelo CPC. O seu procedimento pode ser assim sintetizado: 1) Petição inicial (art. 6º da LEF)

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2) Despacho do juiz (art. 7º) 3) Citação do executado (art. 8º) 4) Opções do executado: Depois de citado, o executado poderá: a) pagar; b) garantir a execução; c) não pagar nem garantir. 5) Pagamento Se o executado decidir pagar o valor cobrado, a execução é extinta. O pagamento deve ser feito por meio de depósito em conta bancária vinculada ao juízo. 6) Garantia da execução O executado poderá decidir oferecer uma garantia à execução, permitindo, com isso, que possa opor embargos à execução. É indispensável que o executado ofereça garantia para que possa apresentar embargos à execução fiscal? SIM. A Lei nº 6.830/80 prevê, expressamente, que, na execução fiscal, para que o devedor possa se defender por meio de embargos, é indispensável a garantia da execução (§ 1º do art. 16): § 1º - Não são admissíveis embargos do executado antes de garantida a execução. A garantia do juízo no âmbito da execução fiscal deve abranger honorários advocatícios mesmo que eles não constem na CDA? SIM. Há situações em que o valor dos honorários advocatícios já consta na própria CDA. Isso ocorre quando a lei que rege o crédito cobrado permite essa inclusão. Nesses casos, não há qualquer dúvida de que a garantia oferecida deverá abranger também o montante dos honorários. Existem, contudo, outras hipóteses em que na CDA não vêm previstos os honorários e estes são arbitrados pelo juiz ao despachar a petição inicial na execução. Aqui havia dúvida se a garantia deveria também englobá-los. O STJ entendeu que sim. Isso porque, como a LEF não trata do assunto, deve-se aplicar subsidiariamente o CPC e este determina que a penhora de bens seja feita de modo a incluir o principal, os juros, as custas e os honorários advocatícios. Em resumo, a garantia do juízo no âmbito da execução fiscal deve abranger honorários advocatícios, sejam eles previstos na CDA ou arbitrados judicialmente.

Cobrança dos honorários por meio de RPV ainda que o crédito dito “principal” seja executado por meio do regime de precatórios.

Importante!!!

Mudança de entendimento!

Se a Fazenda Pública for condenada a pagar dinheiro, deverá o pagamento ser feito, em regra, por meio de precatório.

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Se a quantia for considerada como de “pequeno valor”, não haverá necessidade de precatório.

É possível que a execução de honorários advocatícios devidos pela Fazenda Pública se faça mediante Requisição de Pequeno Valor (RPV) na hipótese em que os honorários não excedam o valor limite a que se refere o art. 100, § 3º, da CF, ainda que o crédito dito “principal” seja executado por meio do regime de precatórios.

STJ. 1ª Seção. REsp 1.347.736-RS, Rel. Min. Castro Meira, Rel. para acórdão Min. Herman Benjamin, julgado em 9/10/2013 (recurso repetitivo).

Regime de precatórios Se a Fazenda Pública Federal, Estadual, Distrital ou Municipal for condenada, por sentença judicial transitada em julgado, a pagar determinada quantia a alguém, este pagamento será feito, em regra, sob um regime especial chamado de “precatório” (art. 100 da CF/88). Exceção ao regime de precatórios O § 3º do art. 100 da CF prevê uma exceção ao regime de precatórios. Estabelece este dispositivo que, se a condenação imposta à Fazenda Pública for de “pequeno valor”, o pagamento será realizado sem a necessidade de expedição de precatório. Pequeno valor Quanto é “pequeno valor” para os fins do § 3º do art. 100? Este quantum poderá ser estabelecido por cada ente federado (União, Estado, DF, Município) por meio de leis específicas, conforme prevê o § 4º do art. 100:

§ 4º Para os fins do disposto no § 3º, poderão ser fixados, por leis próprias, valores distintos às entidades de direito público, segundo as diferentes capacidades econômicas, sendo o mínimo igual ao valor do maior benefício do regime geral de previdência social.

União Para as condenações envolvendo a União, pequeno valor equivale a 60 salários mínimos (art. 17, § 1º, da

Lei n. 10.259/2001). E se o ente federado não editar a lei prevendo o quatum do “pequeno valor”? Nesse caso, segundo o art. 87 do ADCT da CF/88, para os entes que não editarem suas leis, serão adotados, como “pequeno valor” os seguintes montantes: I - 40 salários mínimos para Estados e para o Distrito Federal; II - 30 salários mínimos para Municípios. RPV Nas hipóteses de “pequeno valor”, o pagamento é feito por meio de requisição de pequeno valor (RPV), que se trata de uma ordem expedida pela autoridade judicial à autoridade da Fazenda Pública responsável para pagamento da quantia devida. Em caso de descumprimento da RPV Desatendida a requisição judicial, o Juiz determinará o sequestro do numerário suficiente ao cumprimento

da decisão (§ 2º do art. 17 da Lei n. 10.259/2001). Impossibilidade de o credor receber parte em RPV e o restante em precatório: É vedado o fracionamento, repartição ou quebra do valor da execução para que o credor receba parte do valor devido sem precatório (como pequeno valor) e o restante por precatório (§ 8º do art. 100, da CF). Ex: José tinha direito de receber da União 70 salários mínimos; não pode receber 60 salários mínimos agora (sem precatório) e deixar para receber os 10 salários mínimos restantes por meio de precatório.

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Possibilidade de renunciar ao que excede o “pequeno valor” para receber sem precatório O credor poderá, no entanto, renunciar ao valor que exceder o quantum de pequeno valor para receber tudo sem precatório. Ex: João tinha direito de receber da União 70 salários mínimos; decide renunciar a 10 salários mínimos e receber todos os 60 salários mínimos sem precatório. Isso está previsto no parágrafo único do art. 87 do ADCT da CF/88. Fazenda Pública e pagamento de honorários sucumbenciais Se a Fazenda Pública for condenada na ação de conhecimento, ela também terá que pagar honorários sucumbenciais? SIM. Neste caso, os honorários serão fixados segundo apreciação equitativa do juiz:

CPC/Art. 20 (...) § 4º Nas causas de pequeno valor, nas de valor inestimável, naquelas em que não houver condenação ou for vencida a Fazenda Pública, e nas execuções, embargadas ou não, os honorários serão fixados consoante apreciação equitativa do juiz, atendidas as normas das alíneas a, b e c do parágrafo anterior.

O precatório deverá prever o valor a ser pago à parte (crédito principal objeto da condenação) e a quantia a ser paga ao advogado da parte (honorários advocatícios). Assim, no precatório deverá estar discriminado, de forma separada:

o valor a ser pago pela Fazenda Pública para a parte vencedora, constando o nome da parte como beneficiária;

o valor a ser pago pela Fazenda Pública para o advogado da parte vencedora, a título de honorários sucumbenciais, constando o nome do advogado como beneficiário.

É possível fracionar o valor da execução movida contra a Fazenda Pública, de modo a permitir a cobrança dos honorários sucumbenciais pelo rito da Requisição de Pequeno Valor – RPV e o crédito principal ser cobrado mediante precatório? Em outras palavras, o advogado pode separar a sua parte (referente aos honorários advocatícios) e pedir o pagamento imediato como RPV? SIM. O STJ decidiu que é possível que a execução de honorários advocatícios devidos pela Fazenda Pública se faça mediante Requisição de Pequeno Valor (RPV) na hipótese em que os honorários não excedam o valor limite a que se refere o art. 100, § 3º, da CF, ainda que o crédito dito “principal” seja executado por meio do regime de precatórios. Isso porque os honorários advocatícios (inclusive os de sucumbência) podem ser executados de forma autônoma – nos próprios autos ou em ação distinta –, independentemente da existência do montante principal a ser executado. A relação creditícia dos honorários é autônoma e não se subordina ao crédito “principal”. Diz-se que os honorários são créditos acessórios apenas porque não são o bem da vida imediatamente perseguido em juízo, e não porque dependem de um crédito dito “principal”. Por essa razão, não é correto afirmar que a natureza acessória dos honorários impede que se adote procedimento distinto do que for utilizado para o crédito “principal”. Além disso, no direito brasileiro, os honorários de quaisquer espécies (inclusive os de sucumbência) pertencem ao advogado; e o contrato, a decisão e a sentença que os estabelecem são títulos executivos

que podem ser executados autonomamente, nos termos dos arts. 23 e 24, § 1º, da Lei n. 8.906/1994 (Estatuto da Ordem dos Advogados do Brasil).

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DIREITO PENAL

Advogado não comete calúnia se não ficar provada sua intenção de ofender a honra

A manifestação do advogado em juízo para defender seu cliente não configura crime de calúnia se emitida sem a intenção de ofender a honra.

STJ. 3ª Seção. Rcl 15.574-RJ, Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz, julgado em 9/4/2014.

Calúnia O crime de calúnia é previsto no art. 138 do Código Penal nos seguintes termos:

Art. 138. Caluniar alguém, imputando-lhe falsamente fato definido como crime: Pena - detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, e multa. § 1º - Na mesma pena incorre quem, sabendo falsa a imputação, a propala ou divulga. § 2º - É punível a calúnia contra os mortos.

O advogado, ao defender seu cliente em juízo, goza de imunidade quanto ao crime de calúnia?

NÃO. Segundo prevê o art. 7º, § 2º da Lei n. 8.906/94 (Estatuto da OAB), a manifestação do advogado, no exercício da advocacia, em juízo ou fora dele, não pode ser punida como injúria ou difamação. Desse modo, a imunidade profissional do advogado somente abrange os crimes de INJÚRIA e DIFAMAÇÃO, não alcançando a calúnia. Isso significa que se o advogado, em uma petição, indicar que alguém praticou um crime, ele deverá necessariamente ser punido por calúnia? NÃO. A manifestação do advogado em juízo para defender seu cliente não configura crime de calúnia se emitida sem a intenção de ofender a honra. Assim, o advogado somente cometerá calúnia se ficar demonstrado que ele preencheu todos os requisitos necessários para a configuração do delito, dentre eles o elemento subjetivo, ou seja, o dolo.

Roubo de uso é crime

Furto de uso: NÃO é crime (fato atípico).

Roubo de uso: É crime (configura o art. 157 do CP).

STJ. 5ª Turma. REsp 1.323.275-GO, Rel. Min. Laurita Vaz, julgado em 24/4/2014.

SITUAÇÃO 1: Imagine a seguinte situação hipotética: Ana subtraiu maliciosamente determinada peça de roupa de alto valor de uma amiga, com a intenção tão só de utilizá-la em uma festa de casamento. Após o evento, Ana, tendo atingido seu objetivo, devolveu a vestimenta. Ana responderá pelo crime de furto? NÃO. Para que se configure o crime de furto, é necessário que o agente tenha o fim de assenhoreamento definitivo, ou seja, a vontade de não mais devolver o bem, agindo como se fosse o dono. Em outras palavras, é indispensável que fique demonstrado o animus rem sibi habendi. No direito, quando alguém age com a intenção de ter a coisa para si, dizemos que essa pessoa possui animus rem sibi habendi. No exemplo dado, Ana não tinha animus rem sibi habendi. Sua intenção era apenas a de usar momentaneamente a coisa e restitui-la à real proprietária.

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Logo, Ana praticou o chamado “furto de uso”, que não se configura como crime de furto (art. 155 do CP), não sendo punido pelo Direito Penal comum. Obs: o furto de uso é crime no Código Penal militar (art. 241). Quais são os requisitos para que se configure o furto de uso? Segundo Cleber Masson (Direito Penal esquematizado. Vol. 2, p. 345), o furto de uso depende dos seguintes requisitos: a) subtração de coisa alheia móvel infungível; b) intenção de utilizar momentaneamente a coisa subtraída (requisito subjetivo); c) restituição da coisa depois do uso momentâneo, imediatamente, ao seu possuidor originário (requisito objetivo). SITUAÇÃO 2: Imagine a seguinte situação hipotética: João estava dirigindo seu veículo quando, ao parar no sinal, foi abordado por um homem armado que, mediante grave ameaça, exigiu que ele saísse do carro. O agente ficou meia hora andando com o carro e depois o abandonou. Esse agente responderá pelo crime de roubo? SIM. Prevalece que o chamado “roubo de uso” é figura típica, sendo punida como roubo (art. 157 do CP). Entende-se que o “roubo de uso” não pode ser aceito,b já que a grave ameaça ou violência empregada para a realização do ato criminoso não se compatibilizam com a intenção de restituição, como bem explica Guilherme de Souza Nucci, citado pelo Ministro em seu voto: “O agente, para roubar - diferentemente do que ocorre com o furto -, é levado a usar violência ou grave ameaça contra a pessoa, de forma que a vítima tem imediata ciência da conduta e de que seu bem foi levado embora. Logo, ainda que possa não existir, por parte do agente, a intenção de ficar com a coisa definitivamente (ex; quer um carro somente para praticar um assalto, pretendendo devolvê-lo, por exemplo), consumou-se a infração penal.” (in Manual de direito penal: parte gral; parte especial. 4.ª ed., São Paulo RT, p. 700).

Omissão de anotação na CTPS e necessidade de ser demonstrado o dolo de falso

A simples omissão de anotação na Carteira de Trabalho e Previdência Social (CTPS) não configura, por si só, o crime de falsificação de documento público (art. 297, § 4º, do CP). Isso porque é imprescindível que a conduta do agente preencha não apenas a tipicidade formal, mas antes e principalmente a tipicidade material, ou seja, deve ser demonstrado o dolo de falso e a efetiva possibilidade de vulneração da fé pública.

STJ. 5ª Turma. REsp 1.252.635-SP, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em 24/4/2014.

O art. 297, § 4º do CP prevê o seguinte delito:

Falsificação de documento público Art. 297 - Falsificar, no todo ou em parte, documento público, ou alterar documento público verdadeiro: Pena - reclusão, de dois a seis anos, e multa. (Incluído pela Lei nº 9.983/2000) (...) § 3º Nas mesmas penas incorre quem insere ou faz inserir: I – na folha de pagamento ou em documento de informações que seja destinado a fazer prova perante a previdência social, pessoa que não possua a qualidade de segurado obrigatório;

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II – na Carteira de Trabalho e Previdência Social do empregado ou em documento que deva produzir efeito perante a previdência social, declaração falsa ou diversa da que deveria ter sido escrita; III – em documento contábil ou em qualquer outro documento relacionado com as obrigações da empresa perante a previdência social, declaração falsa ou diversa da que deveria ter constado. § 4º Nas mesmas penas incorre quem omite, nos documentos mencionados no § 3º, nome do segurado e seus dados pessoais, a remuneração, a vigência do contrato de trabalho ou de prestação de serviços. (Incluído pela Lei nº 9.983/2000)

Vale ressaltar que esse crime foi inserido no Código Penal por meio da Lei nº 9.983/2000. Antes dessa inovação legislativa, tal conduta não era típica. De quem é a competência para julgar o crime do art. 297, § 4º do CP? Em regra, trata-se de delito de competência da JUSTIÇA ESTADUAL.

(...) A conduta do agente que se limita a deixar de fazer anotações em carteira de trabalho de seus empregados não demostra prejuízo à União, suas autarquias e fundações, o que afasta a competência da Justiça Federal para o exame do feito. (...) STJ. 3ª Seção. AgRg no CC 116.740/SC, Rel. Min. Og Fernandes, julgado em 13/06/2012.

Qual é o momento consumativo desse delito? Consiste em crime instantâneo ou permanente? O delito do art. 297, § 4.º, do Código Penal é omissivo próprio e configura-se como crime instantâneo de efeitos permanentes, pois o momento consumativo é o da contratação do empregado sem realizar as devidas anotações na CTPS no prazo legal. Ex: um empresário contratou um empregado em 1999, deixando de fazer a anotação do contrato de trabalho em sua CTPS. A relação de emprego perdurou até 2003. Nesse caso, esse empresário não terá cometido o crime do art. 297, § 4º do CP. Isso porque, como já vimos, esse delito só foi inserido no CP com

a Lei n. 9.983, que entrou em vigor no ano de 2000. A conduta praticada pelo empresário foi em 1999, ou seja, antes de existir o crime (STJ. 5ª Turma. REsp 1359302/GO, Rel. Min. Laurita Vaz, julgado em 12/11/2013. É possível aplicar o princípio da insignificância para esse delito? SIM. O STJ já absolveu um réu com base no princípio da insignificância em situação na qual a falta de registro na CTPS referia-se a um prazo de apenas 2 (dois) meses de vínculo: STJ. 6ª Turma. HC 107572/SP, Rel. Min. Celso Limongi (Desembargador convocado do TJ/SP), julgado em 14/04/2009. Para que o crime se configure é necessária a presença da tipicidade formal e material Imagine a seguinte situação: Leila, sócia administradora de uma escola infantil, em janeiro de 2010, fez um contrato de prestação de serviços com Maria para que ela trabalhasse como professora autônoma. No final do ano, o contrato foi encerrado. Como era um contrato de prestação de serviços (e não um contrato de emprego), Leila não assinou a carteira de trabalho (CTPS) da referida docente. Maria ingressou com reclamação trabalhista contra a escola pedindo o reconhecimento do vínculo empregatício e as consequências trabalhistas daí decorrentes. O juiz do trabalho considerou que a reclamante não poderia ser autônoma, pois dava aulas dentro da atividade principal da empresa e que não se tratava de trabalho eventual. Com base nisso, reconheceu o vínculo empregatício e determinou que fosse assinada a CTPS. Além disso, extraiu cópias dos autos e as encaminhou ao Ministério Público estadual para apurar a eventual prática do crime previsto no art. 297, § 4º do CP.

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Para o STJ, houve crime no presente caso? NÃO. A 5ª Turma do STJ entendeu que, embora de forma equivocada - conforme reconhecido pela Justiça Trabalhista -, a relação entabulada entre a dona do colégio e a professora era de cunho cível, portanto, não se exigia, num primeiro momento, a anotação na Carteira de Trabalho. Com a decisão definitiva da Justiça do Trabalho, momento em que se reconheceu o vínculo empregatício, a ré fez as devidas anotações e pagou os valores devidos, não se configurando, portanto, o dolo necessário ao preenchimento do tipo penal. Prevalece no STJ que a simples omissão de anotação de contrato na CTPS já preenche o tipo penal descrito no § 4º do art. 297 do Código Penal. Contudo, é imprescindível que a conduta preencha não apenas a tipicidade formal, mas antes, e principalmente, a tipicidade material. Indispensável, portanto, a demonstração do dolo de falso e da efetiva possibilidade de vulneração à fé pública. O Direito Penal só deve ser invocado quando os demais ramos do Direito forem insuficientes para proteger os bens considerados importantes para a vida em sociedade. A controvérsia foi efetivamente resolvida na Justiça Trabalhista - que reconheceu não ser possível se falar em contrato de prestação de serviço autônomo, reconhecendo o vínculo empregatício, matéria, aliás, que pode assumir contornos de alta complexidade. Dessarte, a simples omissão pode revelar, no máximo, típico ilícito trabalhista - art. 47 da CLT - sem nenhuma nuance que demande a intervenção automática do Direito Penal. O tipo penal de falso, quer por ação quer por omissão, deve ser apto a iludir a percepção de outrem. A conduta imputada à recorrida não se mostrou suficiente a gerar consequências outras além de um processo trabalhista. Não se verifica, assim, a efetiva vulneração ao bem jurídico tutelado, qual seja, a fé pública, haja vista a CTPS não ter perdido sua autenticidade. De igual modo, não havendo a anotação de quaisquer dados não há como se afirmar, peremptoriamente, que se pretendia alterar ideologicamente a realidade. A melhor interpretação a ser dada ao art. 297, § 4º, do Código Penal, deveria passar necessariamente pela efetiva inserção de dados na Carteira de Trabalho, com a omissão de informação juridicamente relevante, demonstrando-se, da mesma forma, o dolo do agente em falsear a verdade, configurando efetiva hipótese de falsidade ideológica, o que a tutela penal visa coibir.

A Lei presume a hipossuficiência da mulher vítima de violência doméstica

Importante!!!

O fato de a vítima ser figura pública renomada não afasta a competência do Juizado de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher para processar e julgar o delito. Isso porque a situação de vulnerabilidade e de hipossuficiência da mulher, envolvida em relacionamento íntimo de afeto, revela-se ipso facto, sendo irrelevante a sua condição pessoal para a aplicação da Lei Maria da Penha. Trata-se de uma presunção da Lei.

STJ. 5ª Turma. REsp 1.416.580-RJ, Rel. Min. Laurita Vaz, julgado em 1º/4/2014.

Imagine a seguinte situação adaptada: O ator “DD” foi condenado pelo juiz do juizado de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher por ter praticado lesão corporal contra sua então namorada, a também atriz “LP” (art. 129, § 9º do CP), com quem mantinha um relacionamento de 8 meses.

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Tese da defesa: a vítima não era hipossuficiente nem vulnerável O ator recorreu contra a decisão e o Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro entendeu que a Lei Maria da

Penha não deveria ser aplicada à hipótese, uma vez que a Lei n. 11.340/2006 seria restrita aos casos em que a vítima for hipossuficiente e vulnerável. Veja um trecho da ementa do julgado: “(...) uma simples análise dos personagens do processo, ou mesmo da notoriedade de suas figuras públicas, já que ambos são atores renomados, temos que a indicada vítima além de não conviver em uma relação de afetividade estável com o réu ora embargante, não pode ser considerada uma mulher hipossuficiente ou em situação de vulnerabilidade.” Com base nisso, o TJ declarou a incompetência do Juizado da Violência Doméstica e Familiar e anulou a sentença, determinando que o caso fosse novamente julgado por uma vara criminal. Contra esse acórdão, o Ministério Público interpôs recurso especial. O STJ concordou com a conclusão do TJ? NÃO. 1º ponto: Em primeiro lugar, deve-se deixar claro que, para a jurisprudência do STJ, o namoro é uma relação íntima de afeto que independe de coabitação; portanto, a agressão do namorado contra a namorada, ainda que tenha cessado o relacionamento, mas que ocorra em decorrência dele, caracteriza violência doméstica (CC 96.532/MG). 2º ponto: A segunda conclusão é que, para aplicar a Lei Maria da Penha, NÃO se exige demonstração de hipossuficiência ou de vulnerabilidade da mulher agredida.

A situação de vulnerabilidade e fragilidade da mulher, nas circunstâncias descritas pela Lei n. 11.340/2006, se revela ipso facto, ou seja, pelo simples fato de estar previsto na Lei. Desse modo, a Lei presume de forma absoluta a hipossuficiência da mulher, exigindo que o Estado ofereça proteção especial para reequilibrar a desproporcionalidade existente. Em nenhum momento, o legislador condicionou esse tratamento diferenciado à demonstração, no caso concreto, da hipossuficiência da mulher. Assim, mesmo a vítima sendo uma conhecida atriz, ela é considerada por lei como sendo hipossuficiente no caso de violência doméstica, sendo a competência para julgar esse delito do Juizado da Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher.

Não é cabível transação penal nem para crimes nem para contravenções penais praticadas com violência doméstica

Importante!!!

A transação penal não é aplicável na hipótese de contravenção penal praticada com violência doméstica e familiar contra a mulher.

STJ. 6ª Turma. HC 280.788-RS, Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz, julgado em 3/4/2014.

Não se aplica a Lei n. 9.099/95 para os crimes com violência doméstica O art. 41 da Lei Maria da Penha tem a seguinte redação:

Art. 41. Aos crimes praticados com violência doméstica e familiar contra a mulher, independentemente da pena prevista, não se aplica a Lei 9.099, de 26 de setembro de 1995.

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O STF decidiu que este art. 41 é constitucional e que, para a efetiva proteção das mulheres vítimas de violência doméstica, foi legítima a opção do legislador de excluir tais crimes do âmbito de incidência da Lei

n. 9.099/95 (STF. Plenário. ADI 4424/DF, rel. Min. Marco Aurélio, 9/2/2012).

Vale ressaltar que a Lei n. 9.099/95 não se aplica NUNCA E PARA NADA que se refira à Lei Maria da Penha. O art. 41 fala apenas em crimes. Se o agente praticar uma contravenção penal com violência doméstica,

será possível aplicar a Lei n. 9.099/95? É cabível a transação penal (art. 76 da Lei n. 9.099/95) para contravenções cometidas com violência doméstica? NÃO. A transação penal NÃO é aplicável na hipótese de contravenção penal praticada com violência doméstica e familiar contra a mulher. De fato, a interpretação literal do art. 41 da Lei Maria da Penha poderia indicar em uma análise rápida, a

conclusão de que os institutos despenalizadores da Lei n. 9.099/1995, entre eles a transação penal, seriam aplicáveis às contravenções penais praticadas com violência doméstica e familiar contra a mulher. Entretanto, em uma interpretação que atenda os fins sociais a que a lei se destina, deve-se concluir que o

art. 41 da Lei n. 11.340/2006 afasta a Lei n. 9.099/1995 tanto em relação aos crimes quanto às contravenções penais praticados contra mulheres no âmbito doméstico e familiar. Ademais, o STJ e o STF já se posicionaram no sentido de que os institutos despenalizadores da Lei 9.099/1995, entre eles a transação penal, não se aplicam a nenhuma prática delituosa contra a mulher no âmbito doméstico e familiar, ainda que configure contravenção penal.

Repetindo: a Lei n. 9.099/95 não se aplica NUNCA E PARA NADA que se refira à Lei Maria da Penha.

DIREITO PROCESSUAL PENAL

A serendipidade no encontro de provas de novos crimes inicialmente não investigados é admitida pela jurisprudência

O fato de elementos indiciários acerca da prática de crime surgirem no decorrer da execução de medida de quebra de sigilo bancário e fiscal determinada para apuração de outros crimes não impede, por si só, que os dados colhidos sejam utilizados para a averiguação da suposta prática daquele delito.

Com efeito, pode ocorrer o que se chama de fenômeno da serendipidade, que consiste na descoberta fortuita de delitos que não são objeto da investigação.

STJ. 6ª Turma. HC 282.096-SP, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, julgado em 24/4/2014.

Imagine a seguinte situação hipotética: A Polícia Federal instaurou inquérito policial para apurar o suposto delito de fraude contra licitação (art. 90

da Lei n. 8.666/90) praticado por João e outros. A requerimento da autoridade policial e do MPF, o juiz decretou uma série de medidas cautelares, dentre elas a quebra do sigilo bancário e fiscal. Durante o cumprimento dessas medidas, a Polícia detectou a existência de indícios de que João teria praticado também o delito de peculato (art. 312 do CP).

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O MPF ofereceu denúncia contra João por fraude contra licitação e também por peculato. O réu impetrou habeas corpus, alegando que as provas do delito de peculato não poderiam ser utilizadas porque foram obtidas enquanto se investigava um outro crime (art. 90 da Lei de Licitações). A tese do réu deverá ser acolhida? NÃO. O fato de elementos indiciários acerca da prática de crime surgirem no decorrer da execução de medida de quebra de sigilo bancário e fiscal determinada para apuração de outros crimes não impede, por si só, que os dados colhidos sejam utilizados para a averiguação da suposta prática daquele delito. É possível (e até comum) que as investigações inicialmente destinadas à averiguação de determinados crimes acabem se ampliando e tomando cursos diferenciados, na medida em que são descobertas novas provas e novos investigados, estendendo-se a rede delituosa. Como afirma o Min. Og Fernandes, “tal fato não retira, de modo algum, a regularidade dos atos investigatórios, pois não se pode esperar ou mesmo exigir que a autoridade policial, no momento em que dá início a uma investigação saiba exatamente o que irá encontrar, definindo, de antemão, quais são os crimes configurados.” (Resp 187.189 – SP).

(...) Ainda que as condutas imputadas aos ora pacientes não guardem relação direta com aquelas que originaram a quebra do sigilo, mostra-se legítima a utilização da referida medida cautelar preparatória, se por meio dela descobriu-se fortuitamente a prática de outros delitos. (...) STJ. 6ª Turma. HC 187.189/SP, Rel. Min. Og Fernandes, julgado em 13/08/2013.

No caso, ocorreu o chamado fenômeno da serendipidade, que consiste na descoberta fortuita de delitos que não são objeto da investigação. A serendipidade (tradução literal da palavra inglesa serendipity), também é conhecida como “descoberta casual” ou “encontro fortuito”. Para Luiz Flávio Gomes, “serendipidade é o ato de fazer descobertas relevantes ao acaso, em forma de aparentes coincidências. De acordo com o dicionário Houaiss, a palavra vem do inglês serendipity: descobrir coisas por acaso.” (http://lfg.jusbrasil.com.br/noticias/2586994/artigos-do-prof-lfg-interceptacao-telefonica-serendipidade-e-aceita-pelo-stj).

Para que o juiz decrete a perda dos dias remidos na fração de 1/3 é necessária fundamentação concreta

Reconhecida falta grave no decorrer da execução penal, não pode ser determinada a perda dos dias remidos na fração máxima de 1/3 sem que haja fundamentação concreta para justificá-la.

STJ. 6ª Turma. HC 282.265-RS, Rel. Min. Rogerio Shietti Cruz, julgado em 22/4/2014.

Falta grave A Lei de Execução Penal (Lei nº 7.210/84) prevê um rol taxativo de situações que configuram falta grave do condenado que esteja cumprindo pena privativa de liberdade.

Art. 50. Comete falta grave o condenado à pena privativa de liberdade que: I - incitar ou participar de movimento para subverter a ordem ou a disciplina; II - fugir; III - possuir, indevidamente, instrumento capaz de ofender a integridade física de outrem; IV - provocar acidente de trabalho; V - descumprir, no regime aberto, as condições impostas;

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VI - inobservar os deveres previstos nos incisos II e V, do artigo 39, desta Lei; VII – tiver em sua posse, utilizar ou fornecer aparelho telefônico, de rádio ou similar, que permita a comunicação com outros presos ou com o ambiente externo. Parágrafo único. O disposto neste artigo aplica-se, no que couber, ao preso provisório.

Assim, caso fique constatado que o reeducando praticou falta grave, ele poderá sofrer uma série de sanções disciplinares, dentre elas as seguintes:

sujeição ao regime disciplinar diferenciado (RDD);

interrupção do prazo para a aquisição de alguns benefícios, como a progressão de regime;

regressão de regime;

revogação em até 1/3 do tempo remido. Remição O art. 126 da Lei de Execuções Penais (Lei nº 7.210/84) estabelece:

Art. 126. O condenado que cumpre a pena em regime fechado ou semiaberto poderá remir, por trabalho ou por estudo, parte do tempo de execução da pena.

O art. 126 da LEP trata, portanto, da remição (ato de remir). Remição é...

o direito que possui o condenado ou a pessoa presa cautelarmente

de reduzir o tempo de cumprimento da pena

mediante o abatimento

de 1 dia de pena a cada 12 horas de estudo ou

de 1 dia de pena a cada 3 dias de trabalho. É uma forma de estimular e premiar o condenado para que ocupe seu tempo com uma atividade produtiva (trabalho ou estudo), servindo ainda como forma de ressocialização e de preparação do apenado para que, quando termine de cumprir sua pena, possa ter menos dificuldades de ingressar no mercado de trabalho. O tempo remido será considerado como pena cumprida para todos os efeitos (art. 128). Obs: a remição de que trata a LEP é com “ç” (remição). Remissão (com “ss”) significa outra coisa, qual seja, perdão, renúncia etc., sendo muito utilizada no direito civil (direito das obrigações) para indicar o perdão do débito. Perda dos dias remidos Uma das punições impostas em caso de falta grave é a perda de parte dos dias remidos, conforme previsto no art. 127 da LEP:

Art. 127. Em caso de falta grave, o juiz poderá revogar até 1/3 (um terço) do tempo remido, observado o disposto no art. 57, recomeçando a contagem a partir da data da infração disciplinar.

Repare que a Lei fala em “até 1/3”, ou seja, a perda dos dias remidos pode ser inferior a essa fração. Para o STJ, caso o juiz aplique a perda em 1/3, será indispensável que ele fundamente a decisão, expondo as razões pelas quais fez incidir a fração máxima. Veja:

(...) Firme nesta Corte o entendimento de que o cometimento de falta grave implica na perda de até 1/3 dos dias remidos, cabendo ao Juízo das Execuções dimensionar o quantum cabível, observando os critérios do artigo 57 da Lei n. 7.210/1984, relativos à natureza, aos motivos, às circunstâncias e às consequências

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do fato, bem como à pessoa do faltoso e seu tempo de prisão, recomeçando a contagem a partir da data da infração. - A perda dos dias remidos no patamar máximo de 1/3 exige fundamentação idônea do juízo da execução, o que se verifica no caso. (...) STJ. 6ª Turma. HC 271185/RS, Rel. Min. Marilza Maynard (Des. Conv. do TJ/SE), julgado em 25/02/2014.

Dessa forma, ao decretar a perda dos dias remidos, o magistrado não pode apenas repetir o disposto no art. 57 da LEP, deixando de apontar elementos concretos do caso que, efetivamente, evidenciem a necessidade de decretação da perda dos dias remidos na fração máxima de 1/3. Isso porque, a motivação dos atos jurisdicionais, conforme imposição do artigo 93, IX, da CF, funciona como garantia da atuação imparcial e secundum legis (sentido lato) do órgão julgador.

A prática de novo crime durante a vigência do livramento condicional

não gera a perda dos dias remidos

A prática de crime no curso do livramento condicional não pode ser considerada como falta grave e não gera, por isso, a perda de 1/3 dos dias remidos (art. 127 da LEP).

O cometimento de novo delito durante a vigência do livramento condicional já traz graves consequências que são previstas no art. 88 do Código Penal. Esse dispositivo não menciona a perda dos dias remidos.

Desse modo, não há a possibilidade de imposição de faltas disciplinares ao beneficiado com o livramento condicional.

STJ. 6ª Turma. HC 271.907-SP, Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz, julgado em 27/3/2014.

O que é livramento condicional? Livramento condicional é... - um benefício da execução penal - concedido ao condenado preso - consistindo no direito de ele ficar em liberdade - cumprindo algumas condições - desde que preencha os requisitos previstos na lei. O indivíduo que está no gozo do livramento condicional desfruta de uma liberdade antecipada, condicional e precária. Entenda: Antecipada: porque o condenado é solto antes de ter cumprido integralmente a pena. Condicional: uma vez que durante o período restante da pena (chamado de período de prova), ele terá

que cumprir certas condições fixadas na decisão que conceder o benefício. Precária: tendo em vista que o benefício poderá ser revogado (e ele retornar à prisão) caso descumpra

as condições impostas. (MASSON, Cleber. Direito Penal esquematizado. 8ª ed., São Paulo: Saraiva, 2014, p. 808).

Previsão legal As regras sobre o livramento condicional estão elencadas nos arts. 83 a 90 do CP e arts. 131 a 146 da LEP.

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Requisitos Para que o condenado tenha direito ao livramento condicional, deverá atender aos seguintes requisitos:

Requisitos OBJETIVOS

O condenado deve ter: 1) sido sentenciado a uma pena privativa de liberdade igual ou superior a 2 anos. 2) reparado o dano causado com o crime, salvo se for impossível fazê-lo. 3) cumprido parte da pena, quantidade que irá variar conforme ele seja reincidente ou

não: Condenado não reincidente em crime doloso e com bons antecedentes: basta

cumprir mais de 1/3 (um terço) da pena. É chamado de livramento condicional SIMPLES.

Condenado reincidente em crime doloso: deve cumprir mais de 1/2 (metade) da pena para ter direito ao benefício. É o livramento condicional QUALIFICADO.

Condenado por crime hediondo ou equiparado, se não for reincidente específico em crimes dessa natureza: deve cumprir mais de 2/3 (dois terços) da pena. É o livramento condicional ESPECÍFICO.

Condenado por crime hediondo ou equiparado, se for reincidente específico em crimes dessa natureza: não terá direito a livramento condicional.

Requisitos SUBJETIVOS

O condenado deve ter: 1) Bom comportamento carcerário, a ser comprovado pelo diretor da unidade

prisional; 2) Bom desempenho no trabalho que lhe foi atribuído; 3) Aptidão para prover a própria subsistência mediante trabalho honesto. 4) Para o condenado por crime doloso, cometido com violência ou grave ameaça à

pessoa, a concessão do livramento ficará também subordinada à constatação de condições pessoais que façam presumir que o liberado não voltará a delinquir.

Revogação Se o condenado que recebeu o livramento condicional envolver-se em determinadas situações, ele terá o seu benefício revogado. No art. 86, o CP traz duas hipóteses que geram a revogação obrigatória do benefício. No art. 87, por sua vez, são previstos casos em que essa revogação é facultativa, uma vez que, mesmo ocorrendo, o juiz pode decidir manter o livramento. Revogação obrigatória (art. 86) Revoga-se obrigatoriamente o livramento se o indivíduo liberado for novamente condenado definitivamente a uma pena privativa de liberdade:

I - por crime cometido DURANTE a vigência do benefício

II - por crime cometido ANTES da vigência do benefício e desde que, somando as duas penas, não seja possível manter o benefício.

Consequências da revogação (art. 88 do CP):

O tempo em que ele esteve solto NÃO será computado como pena cumprida;

Não poderá ser concedido novo livramento condicional em relação à mesma pena pela qual ele já havia recebido o benefício;

Não se pode somar o restante da pena do primeiro delito com a do segundo para fins de concessão de novo livramento condicional.

Consequências da revogação:

O tempo em que ele esteve solto SERÁ computado para abater sua pena;

Poderá ser concedido novo livramento condicional, desde que o condenado cumpra os requisitos objetivos e subjetivos;

É possível somar o restante da pena do primeiro delito com a do segundo para fins de concessão de novo livramento condicional.

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Revogação facultativa (art. 87) Existem também duas hipóteses de revogação facultativa:

I – Se o liberado deixar de cumprir qualquer das obrigações constantes da sentença

II – Se o liberado for irrecorrivelmente condenado, por crime ou contravenção, a pena que não seja

privativa de liberdade

Consequências da revogação: Se o juiz entender que deverá revogar o benefício, as consequências dessa revogação serão as mesmas previstas para o caso da revogação obrigatória do inciso I do art. 86 (primeiro quadro da tabela acima).

Consequências da revogação:

Se a condenação foi por crime praticado durante o benefício: as consequências dessa revogação serão as mesmas previstas para o caso da revogação obrigatória do inciso I do art. 86 (primeiro quadro da tabela acima).

Se a condenação foi por crime anterior ou por contravenção: os efeitos serão os do inciso II do art. 86 (segundo quadro da tabela acima).

Falta grave e crime cometido durante o livramento condicional A Lei de Execução Penal (Lei nº 7.210/84) prevê um rol taxativo de situações que configuram falta grave do condenado que esteja cumprindo pena privativa de liberdade. Assim, caso fique constatado que o reeducando praticou falta grave, ele irá sofrer uma série de sanções, como, por exemplo, perda de 1/3 dos dias remidos (art. 127 da LEP). Diante desse panorama, a pergunta que surge é a seguinte: Se o liberado pratica novo crime durante a vigência do livramento condicional, além de isso ser causa de revogação obrigatória (art. 86, I, do CP), pode-se dizer que ele cometeu falta grave e que deverá ser punido com a perda de parte dos dias remidos? NÃO. A prática de crime no curso do livramento condicional não pode ser considerada como falta grave e não gera, por isso, a perda de 1/3 dos dias remidos (art. 127 da LEP). Como vimos acima, o cometimento de novo delito durante a vigência do livramento condicional já traz graves consequências que são previstas no art. 88 do Código Penal. Esse dispositivo não menciona a perda dos dias remidos. Desse modo, não há a possibilidade de imposição de faltas disciplinares ao beneficiado com o livramento condicional.

DIREITO TRIBUTÁRIO

No regime de lucro presumido, o ICMS compõe a base de cálculo do IRPJ e da CSLL

No regime de lucro presumido, o ICMS compõe a base de cálculo do IRPJ e da CSLL.

Assim, nas empresas optantes pelo lucro presumido, a inclusão do ICMS na base de cálculo do IRPJ e CSLL não se reveste de ilegalidade, pois o cálculo de tais exações se efetivam sobre a “receita bruta” da entidade, compreendido o ICMS na sua composição.

STJ. 2ª Turma. AgRg no REsp 1.423.160-RS, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em 27/3/2014.

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DIREITO FINANCEIRO

Restrição para transferência de recursos federais a Município que possui pendências no CAUC

A restrição para transferência de recursos federais a Município que possui pendências no Cadastro Único de Exigências para Transferências Voluntárias (CAUC) não pode ser suspensa sob a justificativa de que os recursos destinam-se à pavimentação de vias públicas.

STJ. 1ª Turma. REsp 1.372.942-AL, Rel. Min. Benedito Gonçalves, julgado em 1º/4/2014.

Imagine a seguinte situação: Determinado Município firmou ajuste com o Ministério das Cidades por meio do qual receberia 200 mil reais destinados à pavimentação de ruas. As obras foram concluídas, mas o Ministério não efetuou o repasse por ter constatado que o Município possui pendências no Cadastro Único de Exigências para Transferências Voluntárias (CAUC). O CAUC é um instrumento de consulta, por meio do qual se pode verificar se os Estados-membros ou Municípios estão com débitos ou outras pendências perante o Governo federal. O CAUC é alimentado com as informações constantes em bancos de dados como o SIAFI e o CADIN. Se houver, por exemplo, um atraso do Município na prestação de contas de um convênio com a União, essa informação passará a figurar no CAUC e ele ficará impedido de receber verbas federais. Em uma alegoria para que você entenda melhor (não escreva isso na prova!), seria como se fosse um “Serasa” de débitos dos Estados e Municípios com a União. Onde está prevista a impossibilidade de repasse de recursos de convênios federais para os Estados e Municípios inadimplentes com o Governo federal?

Na própria Lei de Responsabilidade Fiscal (LC n. 101/2000). Veja:

Art. 25. Para efeito desta Lei Complementar, entende-se por transferência voluntária a entrega de recursos correntes ou de capital a outro ente da Federação, a título de cooperação, auxílio ou assistência financeira, que não decorra de determinação constitucional, legal ou os destinados ao Sistema Único de Saúde. § 1º São exigências para a realização de transferência voluntária, além das estabelecidas na lei de diretrizes orçamentárias: (...) IV - comprovação, por parte do beneficiário, de: a) que se acha em dia quanto ao pagamento de tributos, empréstimos e financiamentos devidos ao ente transferidor, bem como quanto à prestação de contas de recursos anteriormente dele recebidos;

Existe alguma exceção a essa regra, ou seja, uma hipótese em que seja possível a transferência dos recursos mesmo estando o ente figurando no CAUC?

SIM. Tais situações excepcionais são previstas tanto na LC n. 101/2000 como na lei que regulamenta o

CADIN (Lei n. 10.522/2002) LC 101/2000:

Art. 25 (...) § 3º Para fins da aplicação das sanções de suspensão de transferências voluntárias constantes desta Lei Complementar, excetuam-se aquelas relativas a ações de educação, saúde e assistência social.

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Lei n. 10.522/2002:

Art. 26. Fica suspensa a restrição para transferência de recursos federais a Estados, Distrito Federal e Municípios destinados à execução de ações sociais ou ações em faixa de fronteira, em decorrência de inadimplementos objetos de registro no Cadin e no Sistema Integrado de Administração Financeira do Governo Federal - SIAFI. (Redação dada pela Lei nº 12.810/2013)

Dessa forma, se as transferências de recursos federais tiverem por objeto (finalidade) a realização de ações de educação, saúde, assistência social ou outras ações sociais, bem como ações em faixa de fronteira, será permitido o repasse dos valores mesmo que o Estado ou Município esteja figurando no CAUC. O serviço de pavimentação de ruas pode ser enquadrado nessas exceções? Voltando ao nosso exemplo, o Município poderá receber os recursos do Ministério da Cidade? NÃO. O STJ decidiu que a restrição para transferência de recursos federais a Município que possui pendências no Cadastro Único de Exigências para Transferências Voluntárias (CAUC) não pode ser suspensa sob a justificativa de que os recursos destinam-se à pavimentação de vias públicas. Isso porque a pavimentação de vias públicas não pode ser enquadrada no conceito de ação social previsto no art. 26 da

Lei n. 10.522/2002. A suspensão da restrição para a transferência de recursos federais aos Estados, Distrito Federal e Municípios inscreve-se em norma de direito financeiro e é exceção à regra, estando limitada às situações de execução de ações sociais ou ações em faixa de fronteira, não podendo sua interpretação ser abrangente a ponto de abarcar situações que o legislador não previu.

Nessa linha, o conceito da expressão “ações sociais”, para o fim da Lei n. 10.522/2002, deve ser resultado de uma interpretação restritiva, teleológica e sistemática, mormente diante do fato de que qualquer ação governamental em prol da sociedade poderia ser passível de enquadramento no conceito de ação social. Além disso, a interpretação que resultar do conceito de "ações sociais" não pode conflitar com o que estabelece o § 3º do art. 25 da LC 101/2000 (“Para fins da aplicação das sanções de suspensão de transferências voluntárias constantes desta Lei Complementar, excetuam-se aquelas relativas a ações de educação, saúde e assistência social”). Ao contrário, deve com ele ser coerente, complementando a intenção do legislador federal em prever situações que devam ser, obrigatoriamente, implementadas pelo ente federado inscrito no Cadastro Único de Exigências para Transferências Voluntárias (CAUC), subsistema do Sistema Integrado de Administração Financeira do Governo Federal (SIAFI), não sendo, por isso, razoável a suspensão da transferência de recursos federais necessários à respetiva implementação.

A ação social a que se refere a Lei n. 10.522/2002 é referente às ações que objetivam atender a direitos sociais assegurados aos cidadãos, cuja realização é obrigatória por parte do Poder Público, como aquelas mencionadas pela CF/88 nos arts. 6º, 193, 194, 196, 201, 203, 205, 215 e 217 (alimentação, moradia, segurança, proteção à maternidade e à infância, assistência aos desamparados, ordem social, seguridade social, saúde, previdência social, assistência social, educação, cultura e desporto).

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DIREITO PREVIDENCIÁRIO

Legitimidade passiva nas demandas em que se questiona a exigibilidade das contribuições previdenciárias

(Obs: somente interessa para quem presta concursos federais)

Após a vigência da Lei 11.457/2007, o INSS não possui legitimidade passiva nas demandas em que se questione a exigibilidade das contribuições sociais previstas nas alíneas “a”, “b” e “c” do parágrafo único do art. 11 da Lei 8.212/1991, ainda que se tenha por objetivo a restituição de indébito de contribuições recolhidas em momento anterior ao advento da Lei 11.457/2007.

STJ. 2ª Turma. REsp 1.355.613-RS, Rel. Min. Humberto Martins, julgado em 24/4/2014.

Com a edição da Lei n. 11.457/2007, as atividades referentes a tributação, fiscalização, arrecadação, cobrança e recolhimento das contribuições sociais vinculadas ao INSS foram transferidas à Secretaria da Receita Federal do Brasil, órgão da União, cuja representação ficou a cargo exclusivo da Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional para eventual questionamento quanto à exigibilidade das contribuições

previstas no nas alíneas "a", "b" e "c" do parágrafo único do art. 11 da Lei n. 8.212/91, ainda que em demandas que têm por objetivo a restituição de indébito tributário. Assim, o INSS deixou de ter legitimidade passiva ad causam para ações que visem a cobrança de contribuições tributárias ou sua restituição, após a vigência da referida Lei, que centralizou a arrecadação tributária a um único órgão central.

Regra de transição para pessoas inscritas no RGPS até o advento da Lei 8.213/91

O inscrito no RGPS até 24/7/1991, mesmo que nessa data não mais apresente condição de segurado, caso restabeleça relação jurídica com o INSS e volte a ostentar a condição de segurado após a Lei 8.213/1991, tem direito à aplicação da regra de transição prevista no art. 142 do mencionado diploma, devendo o requisito da carência, para a concessão de aposentadoria urbana por idade, ser definido de acordo com o ano em que o segurado implementou apenas o requisito etário – e não conforme o ano em que ele tenha preenchido, simultaneamente, tanto o requisito da carência quanto o requisito etário.

STJ. 2ª Turma. REsp 1.412.566-RS, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, julgado em 27/3/2014.

Penso que, para fins de concurso, basta saber a parte acima destacada. Mas se quiser conferir maiores informações sobre o julgado, segue a íntegra da notícia divulgada no Informativo original: O inscrito no RGPS até 24/7/1991, mesmo que nessa data não mais apresente condição de segurado, caso restabeleça relação jurídica com o INSS e volte a ostentar a condição de segurado após a Lei 8.213/1991, tem direito à aplicação da regra de transição prevista no art. 142 do mencionado diploma, devendo o requisito da carência, para a concessão de aposentadoria urbana por idade, ser definido de acordo com o ano em que o segurado implementou apenas o requisito etário – e não conforme o ano em que ele tenha preenchido, simultaneamente, tanto o requisito da carência quanto o requisito etário. Com o advento da Lei 10.666/2003, que passou a disciplinar especificamente a questão da dissociação dos requisitos para obtenção do benefício, a nova sistemática não faz distinção entre o tempo anterior e o posterior à perda da qualidade de segurado. Nesse sentido, o § 1º do art. 3º dessa mesma lei estabelece que, para a concessão de aposentadoria por idade, “a perda da qualidade de segurado não será considerada para a

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concessão desse benefício”, desde que o segurado preencha o requisito da carência (recolhimento mínimo de contribuições) exigido para a concessão do benefício. Além disso, sob a perspectiva da Lei 10.666/2003, o STJ, em sede de incidente de uniformização de jurisprudência (Pet 7.476-PR, Terceira Seção, DJe 25/4/2011), firmou orientação de que a norma contida no § 1º do art. 3º da Lei 10.666/2003 permitiu a dissociação da comprovação dos requisitos para os benefícios da aposentadoria por contribuição, da aposentadoria especial e da aposentadoria por idade urbana, os quais pressupõem contribuição, de modo que não é necessária a manutenção da qualidade de segurado para fins de concessão do benefício da aposentadoria urbana por idade. Sendo assim, admitindo-se a aplicação do art. 142 da Lei 8.213/1991 combinado com o § 1º do art. 3º da Lei 10.666/2003, deve-se permitir a incidência da regra de transição do art. 142 da Lei 8.213/1991 ao segurado inscrito no RGPS até 24/7/1991 que tenha reestabelecido o vínculo com o INSS após a Lei 8.213/1991. Além do mais, no tocante à aplicação da regra de transição prevista no art. 142 da Lei 8.213/1991, o STJ já afirmou que não é obrigatório o preenchimento simultâneo dos dois referidos requisitos (idade mínima e carência) para a concessão da aposentadoria urbana por idade (AgRg no AG 1.364.714-RS, Quinta Turma, DJe 6/5/2011; e REsp 784.145-SC, Quinta Turma, DJ 28/11/2005). Isso porque a interpretação a ser dada ao aludido dispositivo legal deve ser finalística, em conformidade com os seus objetivos, que estão voltados à proteção do segurado que se encontre no período de transição ali especificado. Dessa forma, a implementação dos requisitos para a aposentadoria urbana por idade poderá ocorrer em momentos diversos (sem simultaneidade) e, uma vez que o segurado atinja o requisito etário (idade mínima), o prazo de carência será consolidado, de modo que ele poderá cumpri-la posteriormente à implementação do requisito etário.

JULGADOS NÃO COMENTADOS

DIREITO TRIBUTÁRIO. ÍNDICE APLICÁVEL À CORREÇÃO MONETÁRIA DAS DEMONSTRAÇÕES FINANCEIRAS DO ANO-BASE DE 1989. O IPC é o índice aplicável à correção monetária das demonstrações financeiras de janeiro de 1989, para fins de apuração da base de cálculo do Imposto de Renda da Pessoa Jurídica. Com efeito, o STF reconheceu a inconstitucionalidade dos arts. 30, § 1º, da Lei 7.730/1989 e 30 da Lei 7.799/1989, normas que veiculavam a indexação da correção monetária das demonstrações financeiras no período-base de 1989, para efeito da apuração do Imposto de Renda da Pessoa Jurídica e Contribuição Social sobre o Lucro Líquido, no âmbito do Plano de Estabilização Econômica - Plano Verão. Cumpre esclarecer que, antes de implementar o referido plano econômico, a inflação era medida com base nas coletas de preços praticados entre o dia 15 do mês anterior e o dia 14 do mês de referência. Daí a escolha do dia 15 de janeiro de 1989 para servir de base ao chamado "choque" de preços e implantação do Plano Verão. Ocorre que a última coleta de preços abrangeu somente o período de 15/11/1988 a 14/12/1988, dela resultando o IPC de 28,79% que, por sua vez, foi utilizado na apuração da OTN de janeiro de 1989, a chamada OTN "cheia", cujo valor atingiu Cz$6.170,17 (NCz$ 6,17). Sendo assim, o período de 15/12/1988 a 14/1/1989 ficou à margem da coleta de preços e, consequentemente, não deu sua contribuição à obtenção do valor da OTN de janeiro/1989, situação que não foi solucionada com o uso da OTN Fiscal, cujo valor atingia, no dia 15/1/1989, NCz$ 6,92. Posteriormente ao dia 15/1/1989, foi concluída a coleta de preços do período faltante e o número oficial obtido do IPC foi expressivo: 70,28%, índice que não foi considerado de nenhuma forma nos cálculos dos valores das OTNs. Desse modo, ficou caracterizado prejuízo aos contribuintes do Imposto de Renda pela aplicação dos arts. 30, § 1º, da Lei 7.730/1989 e 30, da Lei 7.799/1989, só recentemente declarado inconstitucional pelo STF, pois houve um significativo expurgo da parcela real de correção monetária, implicando desrespeito ao direito dos contribuintes de corrigirem suas demonstrações financeiras com base em índices que refletissem a real inflação do período. Neste contexto, após a declaração de inconstitucionalidade dos arts. 30, § 1º, da Lei 7.730/1989 e 30 da Lei 7.799/1989 pelo STF, é necessária a revisão da jurisprudência do STJ no sentido de que a correção monetária das demonstrações financeiras no período-base de 1989 deverá tomar como parâmetro os termos da legislação

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revogada pelo Plano Verão. Destarte, considerando que até 15 de janeiro de 1989 a OTN já era fixada com base no IPC, e que somente no próprio mês de janeiro, por disposição especifica da Lei 7.799/1989 (art. 30, declarado inconstitucional), o seu valor foi determinado de forma diferente (NCz$ 6,92) e também que a BTN criada passou a ser fixada pelo IPC, deverá ser aplicado o IPC para o período como índice de correção monetária, consoante os arts. 6º, parágrafo único, do Decreto-Lei 2.283/1986, 6º, parágrafo único, do Decreto-Lei 2.284/1986, e 5º, §2º, da Lei 7.777/1989. Assim, deve ser afastado o reconhecimento da duplicidade de índices de correção monetária por este STJ para um mesmo período, quer se trate de obrigação civil ou tributária. Ou seja, não se pode ter como válido em direito tributário o percentual de 28,79% para janeiro de 1989 (OTN de NCz$ 6,17), quando o mesmo já fora afastado pelos precedentes do STJ para as dívidas civis. Sendo assim, os índices do IPC aplicáveis são aqueles consagrados pela jurisprudência do STJ e já referidos no REsp 43.055-SP (Corte Especial, DJ 25/8/1994) e nos EREsp 439.677-SP (Primeira Seção, DJ 25/9/2006), quais sejam: índice de 42,72% em janeiro de 1989 e reflexo lógico de 10,14% em fevereiro de 1989, não se aplicando o mencionado índice de 70,28% ou o índice de 28,79%. EREsp 1.030.597-MG, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, julgado em 23/4/2014.

DIREITO TRIBUTÁRIO. ISENÇÃO TRIBUTÁRIA DO SENAI REFERENTE À IMPORTAÇÃO DE PRODUTOS E SERVIÇOS. O Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (SENAI) goza de isenção do imposto de importação, da contribuição ao PIS-importação e da COFINS-importação independentemente de a entidade ser classificada como beneficente de assistência social ou de seus dirigentes serem remunerados. Isso porque a isenção decorre diretamente dos arts. 12 e 13 da Lei 2.613/1955. Apesar de o art. 195, § 7º, da CF disciplinar a imunidade das entidades beneficentes de assistência social, não há exclusão de quaisquer outros benefícios fiscais que possam ser concedidos por lei ordinária, tal como o caso da isenção prevista na Lei 2.613/1955. Pensar de forma diferente significaria admitir que para essas entidades o ordenamento jurídico somente possibilitaria a imunidade, sem prever quaisquer outros benefícios fiscais, o que é absurdo lógico. Isso tudo é válido enquanto os arts. 12 e 13 da Lei 2.613/1955 permanecerem em vigor no ordenamento jurídico, ou seja, enquanto não houver sua revogação ou declaração de sua inconstitucionalidade. Desse modo, também se exclui a relevância de se verificar o cumprimento dos requisitos do art. 55 da Lei 8.212/1991 (agora dos arts. 1º, 2º, 18, 19 e 29 da Lei 12.101/2009), notadamente, a existência de remuneração ou não de seus dirigentes. Ademais, também não se vê qualquer conflito com os arts. 175 a 179 do CTN, pois a isenção concedida nos termos dos arts. 12 e 13 da Lei 2.613/1955 se deu por lei e em caráter geral para as entidades SESI, SESC, SENAI e SENAC, criando uma equiparação de tratamento com a União no que diz respeito a seus bens e serviços, o que permite a abrangência dos tributos posteriormente instituídos que onerem tais bens e serviços, havendo, portanto, especificação suficiente dos tributos a que se aplica, pois os invoca justamente pela sua hipótese de incidência (patrimônio, renda e serviços). Precedentes citados: AgRg no AREsp 73.797-CE, Primeira Turma, DJe 11/3/2013; e REsp 1.293.322-ES, Segunda Turma, DJe 24/9/2012. REsp 1.430.257-CE, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, julgado em 18/2/2014.

DIREITO CIVIL. JUROS REMUNERATÓRIOS NÃO PREVISTOS NO CONTRATO DE MÚTUO FIRMADO ENTRE A COOPERATIVA DE CRÉDITO E O COOPERADO. A cooperativa de crédito pode exigir de seu cooperado juros remuneratórios em percentual não superior à taxa média de mercado, quando o percentual do encargo tiver sido estipulado pelo conselho de administração da cooperativa, conforme previsão estatutária, e tenha ocorrido a ampla divulgação da referida taxa, mesmo que o contrato de mútuo seja silente em relação ao percentual dos juros remuneratórios. Com efeito, decorre do art. 21, caput, da Lei 5.764/1971 que a filiação à cooperativa implica adesão automática e implícita às normas do estatuto social, mantendo a higidez das relações entre os cooperados e entre esses e a cooperativa. Nessa linha, o STJ assevera que os estatutos das cooperativas contêm as normas fundamentais sobre a organização, a atividade de seus órgãos e os direitos e deveres dos associados. Ressalte-se, ainda, que as cooperativas de crédito não perseguem o lucro, havendo rateio

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de sobras e perdas, conforme previsão no estatuto social, levando em conta a proporcionalidade da expressão econômica das operações dos associados. Nesse contexto, sobressaem as atividades com encargos e tarifas menores às oferecidas pelo mercado, destacando-se que a cobrança de juros é uma das formas pela qual a entidade arrecada contribuições de seus associados e pela qual lhes propicia vantagem comparativa em relação às demais instituições financeiras. Além disso, as cooperativas de crédito são instituições financeiras, razão pela qual não há submissão dessas à Lei de Usura. Desse modo, a estipulação dos juros remuneratórios pelo conselho de administração da cooperativa, consoante previsão estatutária, permite a cobrança do encargo ali definido, ainda que esse não conste no contrato de mútuo, desde que o percentual exigido não supere a taxa média estabelecida pelo mercado. REsp 1.141.219-MG, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 3/4/2014.

DIREITO EMPRESARIAL E PROCESSUAL CIVIL. JUÍZO UNIVERSAL DA FALÊNCIA. O reconhecimento, por sentença transitada em julgado, de que elidiu a falência o depósito do valor principal do título executivo extrajudicial cujo inadimplemento baseou o pedido de quebra (art. 1º, § 3º, Decreto-Lei 7.661/1995) não torna prevento o juízo para um segundo pedido de falência fundado na execução frustrada (art. 2º, I, do Decreto-Lei 7.661/1945) do título executivo advindo daquela sentença quanto aos juros e a correção monetária. O juízo da falência é indivisível porque competente para todas as ações sobre bens e interesses da massa falida, conforme enfatizava o art. 7º, § 2º, da antiga Lei Falimentar (Decreto-Lei 7.661/45), norma repetida no art. 76 da atual Lei de Recuperação de Empresas (Lei 11.101/2005). O objetivo da vis atractivado juízo falimentar é submeter a universalidade dos bens do devedor comum a um regime único, evitando que apareçam duas ou mais falências paralelas em juízos diferentes, para que, assim, haja paridade no tratamento dos créditos. É necessário, portanto, que, para se instaurar o juízo universal da falência, seja efetivamente decretada a falência pelo juízo competente. Na hipótese em análise, houve reconhecimento do depósito elisivo do primitivo pedido de quebra, por sentença transitada em julgado, desaparecendo a possibilidade de decretação da falência com fundamento no título de crédito, não se tendo, por isso, instaurado o juízo universal da falência. Efetivamente, o fato de existir uma execução frustrada, advinda de um título judicial nascido de uma ação falimentar extinta pelo depósito elisivo parcial, não tem o condão de determinar a distribuição, por prevenção, de um segundo pedido de falência, pelo fato de que não mais existe a possibilidade de ocorrerem falências em juízos diferentes. REsp 702.417-SP, Rel. Min. Raul Araújo, julgado em 11/3/2014.

DIREITO CONSTITUCIONAL E PROCESSUAL PENAL. RHC QUE CONSISTA EM MERA REITERAÇÃO DE HC. A análise pelo STJ do mérito de habeas corpus com o objetivo de avaliar eventual possibilidade de concessão da ordem de ofício, ainda que este tenha sido considerado incabível por inadequação da via eleita, impede a posterior apreciação de recurso ordinário em habeas corpus que também esteja tramitando no Tribunal, e que consista em mera reiteração do mandamus já impetrado (com identidade de partes, objeto e causa de pedir).Isso porque, nessa hipótese, estaria configurada a litispendência, instituto que visa precipuamente à economia processual e ao propósito de evitar a ocorrência de decisões contraditórias. Vale ressaltar que, de um lado, não se veda à defesa do paciente a impetração de mandamus incabível, na busca da sorte da concessão de ordem de habeas corpus de ofício. De outro lado, porém, caso o habeas corpus seja analisado, pode-se ter de arcar com o ônus de o recurso ordinário também impetrado não ter seu pedido de mérito apreciado pelo Tribunal, embora se trate da correta via de impugnação. Nesse contexto, deve-se ter em conta que o acesso ao Judiciário não pode acontecer de forma indiscriminada e deve ser conduzido com ética e lealdade, sendo consectário do princípio da lealdade processual a impossibilidade de a defesa pleitear pretensões descabidas, inoportunas, tardias ou já decididas, que contribuam com o abarrotamento dos tribunais. RHC 37.895-RS, Rel. Min. Laurita Vaz, julgado em 27/3/2014.