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Informativo 534-STJ – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 1 Márcio André Lopes Cavalcante Julgados excluídos por terem menor relevância para concursos públicos (leia-os na íntegra ao final do Informativo): AgRg no REsp 1.239.867-RS; REsp 1.410.594-PR; REsp 1.423.027-PR; AgRg noAREsp 426.242-RS. ÍNDICE Direito Administrativo Gratificação de desempenho genérica deve ser estendida aos aposentados e pensionistas. Direito Civil Município não tem direito à indenização por danos morais por violação de sua imagem ou honra. Para conceder indenização por invalidez, a seguradora poderá exigir nova perícia mesmo que o segurado já esteja aposentado por invalidez pelo INSS. É válida a cláusula que prevê a prorrogação automática da fiança em caso de prorrogação do contrato principal? O espólio só terá obrigação de pagar alimentos ao filho do falecido se eles já tinham sido fixados antes da morte (por acordo ou decisão judicial). Direito do Consumidor Shopping center deve indenizar cliente por danos morais decorrentes de tentativa de roubo ocorrida na cancela do estacionamento. Direito Processual Civil Se a exceção de pré-executividade é procedente, haverá condenação em honorários. Direito Penal Inaplicabilidade do princípio da insignificância para agente, com várias anotações criminais, que furtou uma máquina de cortar cerâmica avaliada em 130 reais. Se a pessoa emite uma duplicata, mas não foi vendida nenhuma mercadoria nem prestado nenhum serviço haverá o crime do art. 172 do CP. A posição atualmente majoritária é no sentido de que o descaminho é crime formal. No autofinanciamento para o tráfico o agente responderá apenas pelo art. 36 c/c art. 40, VII, da Lei de Drogas, ficando excluído o delito do art. 36. Direito Tributário Para que o Município cobre ITBI de um imóvel da Igreja é preciso que ele prove que esse bem está desvinculado de sua destinação institucional. Se o Fisco demora mais que 5 anos para examinar pedido de parcelamento e não propõe execução fiscal nesse prazo, haverá prescrição. Direito Previdenciário A entidade pública patrocinadora do plano não tem legitimidade para figurar na ação de revisão de benefício proposta por participante contra entidade de previdência privada.

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  • Informativo 534-STJ Esquematizado por Mrcio Andr Lopes Cavalcante | 1

    Mrcio Andr Lopes Cavalcante

    Julgados excludos por terem menor relevncia para concursos pblicos (leia-os na ntegra ao final do Informativo): AgRg

    no REsp 1.239.867-RS; REsp 1.410.594-PR; REsp 1.423.027-PR; AgRg noAREsp 426.242-RS.

    NDICE Direito Administrativo Gratificao de desempenho genrica deve ser estendida aos aposentados e pensionistas. Direito Civil Municpio no tem direito indenizao por danos morais por violao de sua imagem ou honra. Para conceder indenizao por invalidez, a seguradora poder exigir nova percia mesmo que o segurado j esteja

    aposentado por invalidez pelo INSS. vlida a clusula que prev a prorrogao automtica da fiana em caso de prorrogao do contrato principal? O esplio s ter obrigao de pagar alimentos ao filho do falecido se eles j tinham sido fixados antes da morte (por

    acordo ou deciso judicial). Direito do Consumidor Shopping center deve indenizar cliente por danos morais decorrentes de tentativa de roubo ocorrida na cancela do

    estacionamento. Direito Processual Civil Se a exceo de pr-executividade procedente, haver condenao em honorrios. Direito Penal Inaplicabilidade do princpio da insignificncia para agente, com vrias anotaes criminais, que furtou uma mquina

    de cortar cermica avaliada em 130 reais. Se a pessoa emite uma duplicata, mas no foi vendida nenhuma mercadoria nem prestado nenhum servio haver o

    crime do art. 172 do CP. A posio atualmente majoritria no sentido de que o descaminho crime formal. No autofinanciamento para o trfico o agente responder apenas pelo art. 36 c/c art. 40, VII, da Lei de Drogas,

    ficando excludo o delito do art. 36. Direito Tributrio Para que o Municpio cobre ITBI de um imvel da Igreja preciso que ele prove que esse bem est desvinculado de sua

    destinao institucional. Se o Fisco demora mais que 5 anos para examinar pedido de parcelamento e no prope execuo fiscal nesse prazo,

    haver prescrio. Direito Previdencirio A entidade pblica patrocinadora do plano no tem legitimidade para figurar na ao de reviso de benefcio

    proposta por participante contra entidade de previdncia privada.

  • Informativo 534-STJ Esquematizado por Mrcio Andr Lopes Cavalcante | 2

    DIREITO ADMINISTRATIVO

    Gratificao de desempenho genrica deve ser estendida aos aposentados e pensionistas

    Ateno! Advocacia Pblica

    As gratificaes de desempenho, ainda que possuam carter pro labore faciendo, se forem pagas indistintamente a todos os servidores da ativa, no mesmo percentual, convertem-se em gratificao de natureza genrica, extensveis a todos os aposentados e pensionistas. Entendimento do STJ e STF.

    STJ. 1 Turma. AgRg no REsp 1.372.058-CE, Rel. Min. Benedito Gonalves, julgado em 4/2/2014.

    O que o princpio da paridade?

    Princpio da paridade era uma garantia que os servidores pblicos aposentados possuam, segundo a qual todas as vezes que havia um aumento na remunerao recebida pelos servidores da ativa, esse incremento tambm deveria ser concedido aos aposentados.

    Ex: Joo servidor aposentado do Ministrio da Fazenda, tendo se aposentado com os proventos do cargo de tcnico A1. Quando era concedido algum reajuste na remunerao do cargo tcnico A1, esse aumento tambm deveria ser estendido aos proventos de Joo.

    No dicionrio, paridade significa a qualidade de ser igual. Assim, o princpio da paridade enunciava que os proventos deveriam ser iguais remunerao da ativa.

    Por que a paridade era algo positivo para os servidores aposentados?

    Os servidores aposentados possuem um poder de presso e de barganha menor que os servidores em atividade. Isso porque estes ltimos podem fazer greve, dificultar a prestao dos servios pblicos, realizar operaes padro etc. Todos esses mecanismos servem como instrumento de presso contra o Governo. Desse modo, sem o princpio da paridade, a Administrao Pblica poderia reajustar apenas a remunerao dos servidores da ativa, no concedendo o mesmo aumento aos aposentados. Com isso, agradaria aqueles que poderiam causar maiores transtornos e faria economia ao no beneficiar os inativos.

    Com a paridade, os aposentados poderiam ser sempre agraciados quando os servidores ativos conseguissem alguma conquista remuneratria para a categoria.

    O princpio da paridade ainda existe?

    NO. Esse princpio foi revogado, restando somente para os servidores com direito adquirido, que j preenchiam os requisitos para a aposentadoria antes da edio da EC n. 41 (art. 3, EC n. 41), ficando tambm resguardado o direito para aqueles que esto em gozo do benefcio (art. 7, EC n. 41) e os que se enquadrarem nas regras de transio do art. 6 da EC n. 41 e do art. 3 da EC n. 47. (MARINELA, Fernanda. Direito Administrativo. 7 ed., Niteri: Impetus, 2013, p. 774).

    Desse modo, se voc ingressar no servio pblico hoje, no ter a garantia da paridade quando se aposentar.

    No lugar da paridade, existe hoje o chamado princpio da preservao do valor real, previsto no art. 40, 8, da CF/88, segundo o qual os proventos do aposentado devem ser constantemente reajustados para que seja sempre garantido o seu poder de compra.

    Art. 40 (...) 8 assegurado o reajustamento dos benefcios para preservar-lhes, em carter permanente, o valor real, conforme critrios estabelecidos em lei. (Redao dada pela Emenda Constitucional n 41/2003)

  • Informativo 534-STJ Esquematizado por Mrcio Andr Lopes Cavalcante | 3

    O que o Governo faz(ia) para burlar o princpio da paridade?

    A Administrao Pblica cria(va) algumas gratificaes e, no texto da lei, classifica(va) essas verbas como sendo pro labore faciendo.

    Abrindo um parntese: o que uma gratificao pro labore faciendo?

    Gratificao pro labore faciendo significa um valor pago a mais ao servidor em atividade por conta de um trabalho que ele est desempenhando (pro labore faciendo = por um trabalho que est fazendo).

    Trata-se de uma gratificao instituda para recompensar o servidor pelo nus que ele est tendo ao desempenhar servios que esto fora das atribuies normais de seu cargo.

    Como a gratificao pro labore faciendo paga por causa desse servio a mais que o servidor est desempenhando, essa verba somente se justifica enquanto o agente pblico estiver no efetivo exerccio da atividade. Logo, no h razo jurdica para pagar a quantia se o servidor est aposentado.

    Ex: Guilherme ocupa o cargo de tcnico A1 do Ministrio da Fazenda. criada uma gratificao de 2 mil reais para os tcnicos A1 que estejam cuidando do processo de reformulao da arrecadao tributria. Nem todos os tcnicos A1 iro receber essa quantia, mas somente aqueles que estiverem no exerccio dessa atividade especfica. Isso significa que essa gratificao pro labore faciendo. Logo, ela no ser paga aos servidores inativos, mesmo que eles tenham se aposentado na poca em que vigorava o princpio da paridade.

    Pode-se dizer que a gratificao pro labore faciendo uma verba que no est abrangida pelo princpio da paridade.

    Voltando ao que falvamos. O que o Governo faz(ia) para burlar o princpio da paridade?

    A Administrao Pblica cria(va) algumas gratificaes e, no texto da lei, classifica(va) essas verbas como sendo pro labore faciendo.

    Ocorre que essas gratificaes eram concedidas a todos os servidores ativos indistintamente.

    Assim, o Governo dizia que era uma gratificao pro labore, mas ela era paga a todos os servidores em atividade, independentemente de qualquer servio extraordinrio que eles estivessem desempenhando.

    Ex: criada uma gratificao de 2 mil reais para os tcnicos A1 que estejam em atividade. Todos os tcnicos A1 iro receber essa quantia, independentemente de estarem ou no fazendo um servio fora de suas atribuies ordinrias. Isso significa que essa gratificao no , juridicamente, pro labore faciendo. Trata-se de uma burla apenas para que no seja paga aos servidores inativos que possuam direito ao princpio da paridade.

    Entendimento da jurisprudncia sobre o tema

    Ao longo dos anos foram criadas vrias gratificaes de desempenho para os servidores pblicos federais que tinham a roupagem de gratificaes pro labore, mas que, se analisadas tecnicamente, eram verdadeiros reajustes concedidos indistintamente para todos os agentes pblicos daquele cargo especfico.

    Tais gratificaes seriam pagas em um escala de percentuais (pontos obtidos por cada servidor) de acordo com o desempenho do servidor, obtido a partir de uma avaliao individualizada. Exs: GDATA, GIFA, GDSST, GDARA etc. Assim, com base nessa avaliao de desempenho, o servidor iria receber um percentual a mais sobre seu vencimento.

    Na prtica, contudo, essas avaliaes individuais de desempenho nunca eram regulamentadas e realizadas e todos os servidores ocupantes recebiam a gratificao no valor mximo, indistintamente.

    Desse modo, essas gratificaes que foram institudas pro labore faciendo, tornavam-se, na realidade, gratificaes genricas e impessoais. Acabava sendo um reajuste disfarado, concedido somente aos servidores da ativa.

  • Informativo 534-STJ Esquematizado por Mrcio Andr Lopes Cavalcante | 4

    Em razo do exposto, os aposentados comearam a ingressar com aes judiciais pleiteando a extenso desses aumentos disfarados para os seus proventos.

    O que o STF e o STJ decidiram?

    O STF e o STJ consolidaram o entendimento de que devem ser estendidas a todos os aposentados e pensionistas (que ainda possuem o direito paridade) as gratificaes de desempenho pagas indistintamente a todos os servidores da ativa, no mesmo percentual, ainda que possuam carter pro labore faciendo. Isso porque as referidas vantagens, quando pagas indistintamente a todos os servidores na ativa, no mesmo percentual, assumem natureza genrica.

    DIREITO CIVIL

    Municpio no tem direito indenizao por danos morais por violao de sua imagem ou honra

    Importante!!!

    A pessoa jurdica de direito pblico no tem direito indenizao por danos morais relacionados violao da honra ou da imagem.

    No possvel pessoa jurdica de direito pblico pleitear, contra particular, indenizao por dano moral relacionado violao da honra ou da imagem.

    STJ. 4 Turma. REsp 1.258.389-PB, Rel. Min. Luis Felipe Salomo, julgado em 17/12/2013.

    Imagine a seguinte situao:

    No caso concreto, o Municpio de Joo Pessoa pretendia receber indenizao da Rdio e Televiso Paraibana Ltda., sob a alegao de que a empresa teria atingido, ilicitamente, sua honra e imagem.

    Segundo alegou o Municpio, os apresentadores da referida rede de Rdio e Televiso teriam feito diversos comentrios que denegriram a imagem da cidade. Entre os comentrios mencionados na ao estava o de que a Secretaria de Educao e o seu Secretrio praticavam maus-tratos contra alunos da rede pblica.

    Ao analisar o recurso do Municpio, o Min. Luis Felipe Salomo ressaltou que o STJ admite apenas que pessoas jurdicas de direito privado possam sofrer dano moral, especialmente nos casos em que houver um descrdito da empresa no mercado pela divulgao de informaes desabonadoras de sua imagem.

    No se pode admitir, contudo, o reconhecimento de que o Municpio pleiteie indenizao por dano moral contra o particular, considerando que isso seria uma completa subverso da essncia dos direitos fundamentais.

    No caso concreto, o Ministro entendeu que a pretenso do Municpio representava uma ameaa imprensa livre e independente.

  • Informativo 534-STJ Esquematizado por Mrcio Andr Lopes Cavalcante | 5

    Para conceder indenizao por invalidez, a seguradora poder exigir nova percia, mesmo que o segurado j esteja aposentado por invalidez pelo INSS

    Para fins de percepo da indenizao por incapacidade total e permanente prevista em contrato de seguro privado, a concesso de aposentadoria por invalidez pelo INSS no desobriga o beneficirio de demonstrar que se encontra efetivamente incapacitado. Isso porque a concesso de aposentadoria pelo INSS faz prova apenas relativa da invalidez, da a possibilidade da realizao de nova percia com vistas a comprovar, de forma irrefutvel, a presena de incapacidade.

    STJ. 4 Turma. AgRg no AREsp 424.157-SP, Rel. Min. Raul Arajo, julgado em 21/11/2013.

    Imagine a seguinte situao:

    Joo era empregado de uma empresa privada e, portanto, segurado obrigatrio do regime geral de previdncia social (administrado pelo INSS).

    Alm disso, ele tambm possua um plano de seguro e previdncia complementar privada que lhe oferecia diversos benefcios, dentre eles uma indenizao no caso de aposentadoria por invalidez.

    Determinado dia, Joo sofreu um grave acidente e ficou impossibilitado de trabalhar.

    Requerimento de aposentadoria junto ao INSS

    Joo ingressou com requerimento administrativo no INSS pedindo sua aposentadoria por invalidez.

    Foi marcada uma percia e o mdico oficial do INSS exarou laudo afirmando que ele estava invlido para o trabalho de forma total e permanente.

    Com base nisso, o INSS concedeu a aposentadoria por invalidez.

    Requerimento de aposentadoria junto seguradora

    Dias aps receber o deferimento, Joo tirou cpia integral do processo administrativo (inclusive da percia feita pelo mdico do INSS) e ingressou com requerimento junto empresa de previdncia privada pedindo a concesso da indenizao prevista na aplice por conta da invalidez permanente.

    A empresa determinou que ele fosse submetido a nova percia, feita, agora, por mdico perito indicado pelo plano de previdncia privada. O novo laudo apontou que a invalidez seria parcial (e no total).

    Com base nisso, o plano negou a indenizao por invalidez total e permanente.

    Ao judicial

    Inconformado com a negativa, Joo props ao judicial contra a seguradora. Alegou, em sntese, que, tendo sido concedida a aposentadoria por invalidez pelo INSS, no poderia ter sido exigida nova percia e o resultado desta no poderia ter sido contrrio ao do mdico oficial da autarquia previdenciria.

    O STJ concorda com o argumento do autor?

    NO. O reconhecimento por parte do INSS de que o segurado tem direito aposentadoria por invalidez no o exonera de fazer a demonstrao de que, efetivamente, se encontra incapacitado, total ou parcialmente, para fins de percepo da indenizao em contrato de previdncia privada. Isso porque a concesso de aposentadoria pelo INSS faz prova apenas relativa da invalidez. Da ser possvel que o plano de previdncia exija a realizao de nova percia com vistas a comprovar, de forma irrefutvel, a presena da doena que acarreta a incapacidade total e permanente do segurado.

  • Informativo 534-STJ Esquematizado por Mrcio Andr Lopes Cavalcante | 6

    vlida a clusula que prev a prorrogao automtica da fiana

    em caso de prorrogao do contrato principal?

    vlida a clusula que prev a prorrogao automtica da fiana em caso de prorrogao do contrato principal?

    1 corrente: NO. Posio da 3 Turma do STJ.

    2 corrente: SIM. Posio da 4 Turma do STJ.

    STJ. 3 Turma. AgRg no REsp 1411683/RS, Rel. Min. Sidnei Beneti, julgado em 21/11/2013 (no divulgado em Info).

    STJ. 4 Turma. REsp 1.374.836-MG, Rel. Min. Luis Felipe Salomo, julgado em 3/10/2013 (Info 534).

    Imagine a seguinte situao hipottica:

    Fausto celebrou contrato de abertura de crdito com determinado banco. Por meio desse ajuste, o banco colocou 10 mil reais disposio do cliente, que poderia ou no se utilizar desses recursos, caso necessitasse. Em outras palavras, sempre que quisesse, Fausto poderia tomar emprestado at 10 mil reais do banco, pagando certa taxa de juros. Esse contrato popularmente conhecido como cheque especial.

    Alex, parente de Fausto, figurou no contrato como fiador.

    O que fiana?

    Fiana um tipo de contrato por meio do qual uma pessoa (chamada de fiadora) assume o compromisso junto ao credor de que ela ir satisfazer a obrigao assumida pelo devedor, caso este no a cumpra (art. 818 do Cdigo Civil).

    Logo, Alex, ao assinar o contrato, na condio de fiador, forneceu ao banco uma garantia pessoal (uma cauo fidejussria): se Fausto no pagar o que deve, pode cobrar a dvida de mim.

    Caractersticas do contrato de fiana

    a) Acessrio: pressupe a existncia de um contrato principal. Em nosso exemplo, o contrato principal a abertura de crdito e a fiana um ajuste acessrio a esse.

    b) Formal: afirma-se que a fiana um contrato formal porque exige a forma escrita (art. 819 do CC). Logo, no vlida a fiana verbal. Contrato formal diferente de solene. A fiana formal (precisa de forma escrita), mas no solene, j que no exige escritura pblica.

    c) Gratuito ou benfico: na grande maioria dos casos, a fiana gratuita, considerando que o fiador no ter nenhuma prestao em seu favor, nada recebendo em troca da garantia prestada. Vale ressaltar, no entanto, que possvel que o fiador seja remunerado por esse servio e, ento, o contrato passa a ser oneroso (fiana onerosa). o caso, por exemplo, da fiana bancria na qual o banco aceita ser fiador de determinada pessoa em troca de uma remunerao por conta disso.

    d) Subsidirio: em regra, a fiana subsidiria porque depende de inexecuo do contrato principal. Todavia, possvel (e muito comum) que haja a previso da clusula de solidariedade na qual o fiador renuncia ao benefcio de ordem e assume o compromisso de poder ser diretamente acionado em caso de dvida.

    e) Unilateral: em regra, a fiana gera obrigao apenas para o fiador (satisfazer o credor caso o devedor no cumpra a obrigao). Normalmente, nem o credor nem o devedor possuem obrigaes para com o fiador. Exceo: na fiana remunerada, o devedor tem a obrigao de pagar uma quantia ao fiador por ele ter oferecido esse servio.

  • Informativo 534-STJ Esquematizado por Mrcio Andr Lopes Cavalcante | 7

    f) No admite interpretao extensiva: as clusulas do contrato de fiana devem ser interpretadas restritivamente. Assim, em caso de dvida sobre a interpretao das clusulas, a exegese dever ser feita em favor do fiador. Isso se justifica porque a fiana, em regra, um contrato gratuito. Logo, no seria justo que, por meio de interpretaes extensivas, o fiador assumisse obrigaes que ele no expressamente aceitou no pacto escrito. Desse modo, o fiador responde somente por aquilo que declarou

    no contrato de fiana. Ex: Ricardo assinou contrato de fiana afirmando que pagaria os alugueis caso Fabiano (locatrio) ficasse em atraso. Fabiano pagou todos os alugueis, mas, aps a devoluo do apartamento, o locador percebeu que ele deixou a bancada de mrmore da cozinha quebrada. Se o contrato de fiana no mencionava a responsabilidade do fiador por avarias no imvel, no ser possvel que o locador cobre essa despesa de Ricardo.

    Contrato bancrio tinha vigncia de 2 anos

    O contrato bancrio possua uma clusula de vigncia de 2 anos, ou seja, vigorava at o dia 05/05/2010.

    Havia, contudo, uma clusula prevendo expressamente a possibilidade de prorrogao automtica do contrato caso no houvesse distrato e, nesse caso, haveria tambm a prorrogao da fiana.

    No dia 10/10/2011, Fausto tomou emprestado 9 mil reais do crdito disponvel e at hoje no pagou.

    Diante do inadimplemento do devedor, o banco cobrou a dvida de Alex. Este se defendeu alegando que:

    para a fiana continuar vlida seria necessrio que ela tivesse anudo expressamente com a prorrogao;

    a fiana no admite interpretao extensiva;

    a clusula que prev a prorrogao automtica abusiva e, portanto, nula de pleno direito.

    O banco poder cobrar a dvida da fiadora? O contrato de fiana ainda est em vigor?

    NO. Posio da 3 Turma do STJ SIM. Posio da 4 Turma do STJ

    Para a 3 Turma do STJ, a clusula que prev prorrogao automtica no contrato bancrio no vincula o fiador, haja vista a interpretao restritiva que se deve dar s disposies relativas ao instituto da fiana.

    Em regra, a fiana no se estende alm do perodo de tempo previsto no contrato. Justamente por isso, para que a fiana seja prorrogada preciso a concordncia expressa do fiador. Sobre o tema, o STJ editou, inclusive, um enunciado:

    Smula 214-STJ: O fiador na locao no responde por obrigaes resultantes de aditamento ao qual no anuiu.

    No entanto, a 4 Turma do STJ decidiu que vlido que o contrato preveja uma clusula dizendo que, em caso de prorrogao do contrato principal, a fiana (pacto acessrio) tambm ser prorrogada.

    Assim, a 4 Turma do STJ entende que, havendo expressa e clara previso contratual da manuteno da fiana, em caso de prorrogao do contrato principal, o pacto acessrio tambm prorrogado automaticamente, seguindo a sorte do principal.

  • Informativo 534-STJ Esquematizado por Mrcio Andr Lopes Cavalcante | 8

    Essa clusula no viola o art. 819 do CC, que afirma que a fiana no pode ser interpretada extensivamente?

    NO. Isso porque no houve interpretao extensiva. No admitir interpretao extensiva significa to somente que o fiador responde, precisamente, por aquilo que declarou no instrumento da fiana.

    No caso concreto, a fiadora concordou com todos os termos do contrato, inclusive com a clusula que previa a prorrogao automtica da fiana em caso de prorrogao automtica do contrato principal.

    Logo, a clusula era muito clara, tendo sido interpretada literalmente.

    Essa clusula no abusiva (art. 51 do CDC) e, portanto, nula?

    NO. A 4 Turma entendeu que a simples e clara previso de que em caso de prorrogao do contrato principal h a prorrogao automtica da fiana no implica violao ao art. 51 do CDC, no sendo uma clusula abusiva mesmo em contratos de consumo.

    Mas o fiador ficar preso para sempre a esse contrato?

    NO. Ele tem o direito de, no perodo de prorrogao contratual, notificar o credor afirmando que no mais deseja ser fiador. A isso se d o nome de notificao resilitria, estando prevista no art. 835 do CC:

    Art. 835. O fiador poder exonerar-se da fiana que tiver assinado sem limitao de tempo, sempre que lhe convier, ficando obrigado por todos os efeitos da fiana, durante sessenta dias aps a notificao do credor.

    PRORROGAO DO PRAZO E A SITUAO DA FIANA NO CASO DE LOCAO DE IMVEIS URBANOS

    Vamos agora falar sobre um assunto correlato: a fiana nos contratos de locao de imveis urbanos, onde o tratamento da matria ligeiramente diferente e, por isso, importante que voc no confunda.

  • Informativo 534-STJ Esquematizado por Mrcio Andr Lopes Cavalcante | 9

    Imagine a seguinte situao: Pedro (locador) celebra com Rui (locatrio) contrato de locao pelo prazo de 2 anos. Joo fiador do contrato. Findo o prazo de 2 anos, Rui continua na posse do imvel sem oposio de Pedro e, por fora de lei, mesmo sem que tenha havido qualquer aditivo ao ajuste, este se transforma em contrato por prazo indeterminado. Vale ressaltar que, no contrato, no havia previso de que a fiana iria se estender at a entrega das chaves (ou seja, at a entrega do imvel). Mesmo no havendo expressa previso contratual da manuteno da fiana, em caso de prorrogao por prazo indeterminado do contrato de locao de imvel urbano, o pacto acessrio tambm seria prorrogado automaticamente, seguindo a sorte do principal? Em outras palavras, o fiador de um contrato de locao por prazo determinado continua vinculado ao pacto (e responsvel pelo dbito) caso este ajuste se prorrogue automaticamente e se transforme em contrato por prazo indeterminado? Em nosso exemplo, Joo continua sendo responsvel por eventual inadimplemento de Rui?

    Depende. O modo como a Lei de Locaes (Lei n. 8.245/91) disciplinava esse tema foi alterado pela Lei n. 12.112/2009. Assim, para responder essa questo, deve-se analisar a data em que o contrato foi celebrado:

    Contratos ANTERIORES Lei 12.112/09 Contratos POSTERIORES Lei 12.112/09

    NO Na prorrogao do contrato de locao, havendo clusula expressa de responsabilidade do fiador aps a prorrogao do contrato, este dever responder pelas obrigaes posteriores, a menos que tenha se exonerado na forma dos art.835 do CC. Assim, o entendimento da jurisprudncia era o de que o fiador ficaria isento em caso de prorrogao automtica do contrato anteriormente celebrado como de prazo determinado, salvo se houvesse previso de que o fiador se responsabilizaria pelos alugueis at a entrega das chaves (devoluo do imvel).

    SIM Essa Lei determinou que a prorrogao da locao por prazo indeterminado implica tambm a prorrogao automtica da fiana. A fiana , assim, prorrogada por fora de lei (ope legis), salvo se houver disposio contratual em sentido contrrio (ex: no contrato de fiana, h uma clusula dizendo que o fiador fica isento de responsabilidade na hiptese de prorrogao do contrato).

    Aplicava-se inteiramente a smula 214-STJ: O fiador na locao no responde por obrigaes resultantes de aditamento ao qual no anuiu.

    Com a nova redao do art. 39 da Lei do Inquilinato, mesmo sem ter anudo, o fiador responder pelo aditamento (prorrogao) do contrato.

    Regra: o fiador respondia apenas at o fim do prazo do contrato por prazo determinado. Exceo: responderia pela prorrogao se houvesse clusula dizendo que a garantia se estenderia at a entrega do imvel (entrega das chaves). Em outras palavras, a regra era que a fiana no se prorrogava automaticamente com a prorrogao do contrato de locao, salvo disposio em sentido contrrio.

    Regra: mesmo sem clusula expressa, o fiador responde em caso de prorrogao automtica do contrato. Exceo: o fiador poder fazer constar uma clusula no contrato dizendo que no responder se houver prorrogao automtica do contrato. Em outras palavras, a regra a de que a fiana prorroga-se automaticamente com a prorrogao do contrato de locao, salvo disposio em sentido contrrio.

  • Informativo 534-STJ Esquematizado por Mrcio Andr Lopes Cavalcante | 10

    Esta distino acima foi ressaltada pela 4 Turma do STJ no julgamento do REsp 1.326.557-PA, Rel. Min. Luis Felipe Salomo, julgado em 13/11/2012.

    Veja a dico do art. 39 da Lei n. 8.245/1991, com redao dada pela Lei n. 12.112/2009:

    Art. 39. Salvo disposio contratual em contrrio, qualquer das garantias da locao se estende at a efetiva devoluo do imvel, ainda que prorrogada a locao por prazo indeterminado, por fora desta Lei.

    O esplio s ter obrigao de pagar alimentos ao filho do falecido se eles j tinham sido fixados antes da morte (por acordo ou deciso judicial)

    Ateno! Concursos estaduais

    O esplio de genitor do autor de ao de alimentos no possui legitimidade para figurar no polo passivo da ao na hiptese em que inexista obrigao alimentar assumida pelo genitor por acordo ou deciso judicial antes da sua morte.

    STJ. 4 Turma. REsp 1.337.862-SP, Rel. Min. Luis Felipe Salomo, julgado em 11/2/2014.

    O que a herana?

    A herana o conjunto de bens deixado pela pessoa falecida.

    Caracteriza-se, por fora de lei, como sendo bem imvel, universal e indivisvel.

    A herana formada automaticamente pela morte e somente ser dissolvida quando houver a partilha.

    O que o esplio?

    O esplio o ente despersonalizado que representa a herana em juzo ou fora dele.

    Mesmo sem possuir personalidade jurdica, o esplio tem capacidade para praticar atos jurdicos (ex: celebrar contratos, no interesse da herana) e tem legitimidade processual (pode estar no polo ativo ou passivo da relao processual) (FARIAS, Cristiano Chaves. et. al., Cdigo Civil para concursos. Salvador: Juspodivm, 2013, p. 1396).

    Quem representa o esplio em juzo (quem age em nome do esplio)?

    Se j houve inventrio, o esplio representado em juzo pelo inventariante.

    Imagine agora a seguinte situao adaptada:

    Joo, pai de Igor, faleceu. Durante o tempo em que ele estava vivo, no pagava penso alimentcia para o filho.

    Aps a morte, Igor props ao de alimentos contra o esplio de Joo (representado pelo inventariante) pedindo o pagamento de uma prestao mensal para seu sustento e educao.

    Como fundamento legal, o autor invocou o art. 1.700 do CC, que estabelece o seguinte:

    Art. 1.700. A obrigao de prestar alimentos transmite-se aos herdeiros do devedor, na forma do art. 1.694.

    Nesse caso concreto, a ao proposta ter xito?

    NO. O esplio do pai de Igor somente teria legitimidade para figurar no polo passivo da ao de alimentos se, antes de ele morrer, a obrigao alimentar j tivesse sido fixada por meio de acordo ou deciso judicial.

  • Informativo 534-STJ Esquematizado por Mrcio Andr Lopes Cavalcante | 11

    Realmente, o art. 1.700 do CC estabelece que a obrigao de prestar alimentos transmite-se aos herdeiros do devedor. Ocorre que, de acordo com a jurisprudncia do STJ e com a doutrina majoritria, esse dispositivo s pode ser invocado se a obrigao alimentar j foi estabelecida anteriormente ao falecimento do autor da herana por acordo ou sentena judicial. Isso porque o art. 1.700 do CC no impe a transmissibilidade em abstrato do dever jurdico de prestar alimentos. O que esse dispositivo determina que ser transmitida, para os herdeiros do devedor, a obrigao alimentar j assumida pelo genitor por acordo ou deciso judicial antes da sua morte.

    (...) A obrigao de prestar alimentos s se transmite ao esplio quando j constituda antes da morte do alimentante. (...) (STJ. 3 Turma. AgRg no AREsp 271.410/SP, Rel. Min. Sidnei Beneti, julgado em 23/04/2013).

    (...) Inexistindo condenao prvia do autor da herana, no h por que falar em transmisso do dever jurdico de prestar alimentos, em razo do seu carter personalssimo e, portanto, intransmissvel (...) (STJ. 3 Turma. AgRg no REsp 981.180/RS, Rel. Min. Paulo De Tarso Sanseverino, julgado em 07/12/2010).

    Assim, o autor no poderia ter xito na ao de alimentos proposta em face do esplio porque quando o autor da herana faleceu (pai de Igor) no havia alimentos fixados em acordo ou sentena em seu favor.

    Em suma, o esplio s teria a obrigao de pagar pelos alimentos se:

    eles j estivessem fixados antes da morte (por acordo ou deciso judicial); e apenas at os limites das foras da herana.

    Desse modo, para o STJ, apesar do art. 1.700 do CC, os alimentos continuam ostentando carter personalssimo, de forma que, no que tange obrigao alimentar, no h que se falar em transmisso do dever jurdico (em abstrato) de prest-los (REsp 1130742/DF, Rel. Min. Luis Felipe Salomo, Quarta Turma, julgado em 04/12/2012).

    Nesse mesmo sentido, afirmou o Min. Joo Otvio de Noronha:

    (...) No se pode confundir a regra do art. 1.700, segundo o qual a obrigao de prestar alimentos transmite-se aos herdeiros do devedor, com a transmisso do dever jurdico de alimentar, utilizada como argumento para a propositura da presente ao. Trata-se, na verdade, de coisas distintas. O dever jurdico abstrato e indeterminado e a ele se contrape o direito subjetivo, enquanto que a obrigao concreta e determinada e a ela se contrape uma prestao.

    Havendo condenao prvia do autor da herana, h obrigao de prestar alimentos e esta se transmite aos herdeiros. Inexistente a condenao, no h por que falar em transmisso do dever jurdico de alimentar, em razo do seu carter personalssimo e, portanto, intransmissvel. (...) (REsp 775180/MT).

    O que se transmite, portanto, a obrigao concreta j fixada antes da morte, mas no o dever jurdico (em abstrato).

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    DIREITO DO CONSUMIDOR

    Shopping center deve indenizar cliente por danos morais decorrentes de tentativa de roubo

    ocorrida na cancela do estacionamento

    O shopping center deve reparar o cliente pelos danos morais decorrentes de tentativa de roubo, no consumado apenas em razo de comportamento do prprio cliente, ocorrida nas proximidades da cancela de sada de seu estacionamento, mas ainda em seu interior.

    STJ. 4 Turma. REsp 1.269.691-PB, Rel. originria Min. Isabel Gallotti, Rel. para acrdo Min. Luis Felipe Salomo, julgado em 21/11/2013.

    Imagine a seguinte situao adaptada:

    Na sada do estacionamento do shopping center, Marcelo parou o veculo na cancela para passar o tquete de pagamento no leitor tico e sair do local, quando foi abordado por um ladro armado que anunciou um assalto e determinou que Marcelo sasse do veculo.

    Agindo de forma reflexa, Marcelo engatou marcha-r visando sair da mira do assaltante, conseguindo evadir-se do local, indo em direo a outro setor do estacionamento.

    Houve, portanto, uma tentativa de roubo, que no se consumou em razo do comportamento do prprio cliente que conseguiu fugir da situao.

    Ao de indenizao

    Marcelo ajuizou ao de indenizao por danos morais contra a administradora do shopping center, argumentando, em sntese, que:

    a relao entre ele e o shopping center de consumo, de forma que a responsabilidade objetiva; houve defeito na prestao do servio (art. 12 do CDC).

    Contestao

    O shopping contestou a ao afirmando que:

    o evento ocorreu na cancela de sada do estacionamento, ou seja, alm dos limites de proteo do estabelecimento;

    no houve falha na prestao do servio; segundo a Smula 130 do STJ, somente haveria o dever de indenizar se tivesse ocorrido um furto ou dano no

    interior do estacionamento. No caso, foi uma tentativa de roubo e que se deu na rea limtrofe do shopping; no houve dano moral.

    O STJ concordou com a tese do consumidor? A administradora do shopping center tem o dever de indenizar esse cliente?

    SIM. O STJ entendeu que o shopping center deve reparar o cliente por danos morais causados pela tentativa de roubo. Veja as principais concluses manifestadas:

    H uma relao de consumo no presente caso e o shopping center (fornecedor do servio) possui o dever de proteger a pessoa e os bens do consumidor, sob pena de responsabilidade objetiva (art. 14 do CDC).

    A sociedade empresria que fornea servio de estacionamento aos seus clientes deve responder por furtos, roubos ou latrocnios ocorridos no interior do seu estabelecimento; pois, em troca dos benefcios financeiros

  • Informativo 534-STJ Esquematizado por Mrcio Andr Lopes Cavalcante | 13

    indiretos decorrentes desse acrscimo de conforto aos consumidores, assume-se o dever implcito na relao contratual de lealdade e segurana, como aplicao concreta do princpio da confiana.

    Apesar de a smula 130 falar apenas em dano ou furto de veculo, no se pode interpret-la de modo restritivo, podendo ser aplicada tambm no caso de roubos ocorridos dentro de shopping centers.

    Ressalte-se que o leitor tico situado na sada do estacionamento encontra-se ainda dentro da rea do shopping center, sendo certo que tais cancelas com controles eletrnicos que comprovam a entrada do veculo, o seu tempo de permanncia e o pagamento do preo so ali instaladas no exclusivo interesse da administradora do estacionamento com o escopo precpuo de evitar o inadimplemento pelo usurio do servio. Esse controle eletrnico exige que o consumidor pare o carro, insira o tquete no leitor tico e aguarde a subida da cancela, para que, s ento, saia efetivamente da rea de proteo, o que, por bvio, torna-o mais vulnervel atuao de criminosos.

    No mbito do direito do consumidor, os danos indenizveis estendem-se tambm aos danos morais decorrentes da conduta ilcita de terceiro.

    No caso concreto, de fato, no ocorreu dano material uma vez que o roubo no se consumou. No entanto, houve aflio e sofrimento do consumidor, no se podendo dizer que um assalto mo armada se enquadre em um mero aborrecimento cotidiano.

    Em uma situao semelhante a essa, o STJ manteve a condenao em 8 mil reais.

    Vejamos dois outros precedentes no mesmo sentido:

    (...) De acordo com os ditames do Cdigo de Defesa do Consumidor, os shoppings, hotis e hipermercados que oferecem estacionamento privativo aos consumidores, mesmo que de forma gratuita, so responsveis pela segurana tanto dos veculos, quanto dos clientes.

    Aplicao, ainda, da inteligncia da Smula 130/STJ. (...)

    (EREsp 419.059/SP, Rel. Min. Luis Felipe Salomo, Segunda Seo, julgado em 11/04/2012)

    ......

    (...) dever de estabelecimentos como shoppings centers e hipermercados zelar pela segurana de seu ambiente, de modo que no se h falar em fora maior para eximi-los da responsabilidade civil decorrente de assaltos violentos aos consumidores (...)

    (REsp 582.047/RS, Rel. Min. Massami Uyeda, Terceira Turma, julgado em 17/02/2009)

    Temas correlatos

    A questo envolvendo furtos e roubos e responsabilidade civil do fornecedor repleta de casos interessantes e nem sempre a soluo dada a mesma. Veja esse quadro com algumas situaes j enfrentadas pela jurisprudncia do STJ:

    SITUAO FORNECEDOR RESPONDE?

    EXPLICAO

    Furto ou roubo no cofre do banco que estava locado para guardar bens de cliente.

    SIM

    O roubo ou furto praticado contra instituio financeira e que atinge o cofre locado ao cliente constitui risco assumido pelo banco, sendo algo prprio da atividade empresarial, configurando, assim, hiptese de fortuito interno, que no exclui o dever de indenizar (REsp 1250997/SP, DJe 14/02/2013).

    Cliente roubado no interior da agncia bancria.

    SIM H responsabilidade objetiva do banco em razo do risco inerente atividade bancria (art. 927, p. n., CC e art. 14, CDC) (REsp 1.093.617-PE, DJe 23/03/2009).

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    Cliente roubado na rua, aps sacar dinheiro na agncia.

    NO Se o roubo ocorre em via pblica, do Estado (e no do banco), o dever de garantir a segurana dos cidados e de evitar a atuao dos criminosos (REsp 1.284.962-MG, DJe 04/02/2013).

    Cliente roubado no estacionamento do banco.

    SIM O estacionamento pode ser considerado como uma extenso da prpria agncia (REsp 1.045.775-ES, DJe 04/08/2009).

    Roubo ocorrido no estacionamento privado que oferecido pelo banco aos seus clientes e administrado por uma empresa privada.

    SIM

    Tanto o banco como a empresa de estacionamento tem responsabilidade civil, considerando que, ao oferecerem tal servio especificamente aos clientes do banco, assumiram o dever de segurana em relao ao pblico em geral (Lei 7.102/1983), dever este que no pode ser afastado por fato doloso de terceiro. Logo, no se admite a alegao de caso fortuito ou fora maior j que a ocorrncia de tais eventos so previsveis na atividade bancria (AgRg nos EDcl no REsp 844186/RS, DJe 29/06/2012).

    Cliente, aps sacar dinheiro na agncia, roubado mo armada em um estacionamento privado que fica ao lado, mas que no tem qualquer relao com o banco.

    NO

    No haver responsabilidade civil nem do banco nem da empresa privada de estacionamento. A empresa de estacionamento se responsabiliza apenas pela guarda do veculo, no sendo razovel lhe impor o dever de garantir a segurana e integridade fsica do usurio e a proteo dos bens portados por ele (REsp 1.232.795-SP, DJe 10/04/2013).

    Passageiro roubado no interior do transporte coletivo (exs: nibus, trem etc.).

    NO

    Constitui causa excludente da responsabilidade da empresa transportadora o fato inteiramente estranho ao transporte em si, como o assalto ocorrido no interior do coletivo (AgRg no Ag 1389181/SP, DJe 29/06/2012).

    Cliente roubado no posto de gasolina enquanto abastecia seu veculo.

    NO

    Tratando-se de postos de combustveis, a ocorrncia de roubo praticado contra clientes no pode ser enquadrado, em regra, como um evento que esteja no rol de responsabilidades do empresrio para com os clientes, sendo essa situao um exemplo de caso fortuito externo, ensejando-se, por conseguinte, a excluso da responsabilidade (REsp 1243970/SE, DJe 10/05/2012).

    Roubo ocorrido em veculo sob a guarda de vallet parking que fica localizado em via pblica.

    NO

    No servio de manobrista em via pblica no existe explorao de estacionamento cercado com grades, mas simples comodidade posta disposio do cliente. Logo, as exigncias de garantia da segurana fsica e patrimonial do consumidor so menos contundentes do que aquelas atinentes aos estacionamentos de shopping centers e hipermercados (REsp 1.321.739-SP, DJe 10/09/2013).

    Furto ocorrido em veculo sob a guarda de vallet parking que fica localizado em via pblica.

    SIM

    Nas hipteses de furto, em que no h violncia, permanece a responsabilidade, pois o servio prestado mostra-se defeituoso, por no apresentar a segurana legitimamente esperada pelo consumidor.

    Furto ou roubo ocorrido em veculo sob a guarda de vallet parking localizado dentro do shopping center.

    SIM

    A ocorrncia de roubo no constitui causa excludente de responsabilidade civil nos casos em que a garantia de segurana fsica e patrimonial do consumidor inerente ao servio prestado pelo estabelecimento comercial.

    Tentativa de roubo ocorrida na cancela do estacionamento do shopping center.

    SIM

    A ocorrncia de roubo no constitui causa excludente de responsabilidade civil nos casos em que a garantia de segurana fsica e patrimonial do consumidor inerente ao servio prestado pelo estabelecimento comercial (REsp 1269691/PB, DJe 05/03/2014).

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    DIREITO PROCESSUAL CIVIL

    Se a exceo de pr-executividade procedente, haver condenao em honorrios

    Importante!!!

    Julgada procedente em parte a exceo de pr-executividade, so devidos honorrios de advogado em favor do excipiente/executado na medida do respectivo proveito econmico.

    A procedncia do incidente de exceo de pr-executividade, ainda que resulte apenas na extino parcial da execuo ou reduo de seu valor, acarreta a condenao na verba honorria.

    STJ. 1 Turma. REsp 1.276.956-RS, Rel. Min. Ari Pargendler, julgado em 4/2/2014.

    Defesas do executado

    Se o devedor est sendo executado, ele tem o direito de se defender. Qual a defesa tpica do devedor executado?

    No processo de execuo (execuo de ttulo extrajudicial): a defesa tpica do executado so os EMBARGOS EXECUO (embargos do devedor).

    No cumprimento de sentena (execuo de ttulo judicial): a IMPUGNAO.

    Vale ressaltar que a pessoa executada poder se defender ainda por meio de:

    Exceo de no-executividade (exceo de pr-executividade / objeo de pr-executividade); ou

    Aes autnomas (chamadas de defesas heterotpicas do executado).

    O que uma exceo de pr-executividade?

    A exceo de pr-executividade uma forma de defesa do executado que, por meio de uma simples petio, alega ao juzo da execuo matrias que podem ser provadas documentalmente, no necessitando de outras provas.

    Fredie Didier explica que, quando a exceo de pr-executividade foi idealizada, ela somente servia para alegar matrias que pudessem ser conhecidas de ofcio pelo juiz. Contudo, com o tempo, a doutrina e a jurisprudncia passaram a aceit-la mesmo quando a matria deduzida no fosse de ordem pblica (cognoscvel de ofcio), desde que houvesse prova pr-constituda da alegao feita pelo executado.

    Assim, segundo informa o autor baiano, o critrio passou a ser o seguinte: qualquer alegao de defesa pode ser veiculada por meio de exceo de pr-executividade, desde que possa ser comprovada por prova pr-constituda (DIDIER JR., Fredie; et. al. Curso de Direito Processual Civil. Vol. 5. Execuo. Salvador: Juspodivm, 2013, p. 403).

    Nomenclatura

    A terminologia exceo de pr-executividade, apesar de ser bastante conhecida e utilizada nos julgados do STJ, criticada por alguns autores. Assim, voc pode encontrar em alguns livros esta defesa sendo chamada de objeo de pr-executividade, objeo de no-executividade ou exceo de no-executividade.

    Se a exceo de pr-executividade for julgada PROCEDENTE, o exequente dever pagar honorrios advocatcios?

    SIM. Julgada procedente a exceo de pr-executividade, so devidos honorrios advocatcios. Isso porque o exequente, ao propor uma execuo indevida, obrigou o executado a contratar um advogado para

  • Informativo 534-STJ Esquematizado por Mrcio Andr Lopes Cavalcante | 16

    demonstrar essa situao, devendo, portanto, arcar com tal despesa.

    Ex: Joo estava sendo executado por Mrio; o executado apresenta exceo de pr-executividade e o juiz entende que ela procedente, extinguindo a execuo. Nesse caso, Mrio ter que pagar honorrios advocatcios a Joo.

    Se a exceo de pr-executividade for julgada PROCEDENTE EM PARTE, o exequente, mesmo assim, dever pagar honorrios advocatcios?

    SIM. Julgada procedente em parte a exceo de pr-executividade, so devidos honorrios de advogado em favor do excipiente/executado na medida do respectivo proveito econmico.

    A procedncia do incidente de exceo de pr-executividade, ainda que resulte apenas na extino parcial da execuo ou reduo de seu valor, acarreta a condenao na verba honorria (STJ. 2 Turma. EDcl no AgRg no REsp 1275297/SC, Rel. Min. Humberto Martins, julgado em 03/12/2013).

    Ex: Joo estava sendo executado por Mrio, que lhe cobrava 500 mil reais; o executado apresenta exceo de pr-executividade e o juiz entende que ela parcialmente procedente, reduzindo a execuo para 100 mil reais. Nesse caso, Mrio ter que pagar honorrios advocatcios a Joo que vo incidir sobre o proveito econmico obtido (ex: 10% de 400 mil reais).

    Se a exceo de pr-executividade for julgada IMPROCEDENTE, o executado dever pagar honorrios advocatcios?

    NO. No cabem honorrios advocatcios em exceo de pr-executividade julgada improcedente (STJ. 2 Turma. REsp 1.256.724-RS, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, julgado em 7/2/2012). Isso porque a exceo de pr-executividade no uma ao proposta pelo executado, mas sim uma mera defesa. Logo, ao propor a exceo, o executado no obriga que o exequente contrate advogado para se defender.

    Vale ressaltar, ainda, que o exequente j ir receber os honorrios advocatcios por causa da execuo proposta.

    Ex: Joo estava sendo executado por Mrio que lhe cobrava 500 mil reais; o executado apresenta exceo de pr-executividade e o juiz entende que ela improcedente. Joo ter que pagar honorrios advocatcios por causa da execuo proposta, isto , como no cumpriu voluntariamente a dvida, forando Mrio a contratar um advogado para cobr-la em juzo, o executado ter que pagar honorrios advocatcios decorrentes da execuo. Por outro lado, Joo no ter obrigao de pagar honorrios em virtude de ter perdido a exceo de pr-executividade. Caso Joo fosse obrigado a pagar honorrios pela exceo de pr-executividade, ele teria que arcar com duas verbas honorrias: uma pela execuo e outra pela exceo, o que seria desproporcional.

    Resumindo:

    Exceo de pr-executividade julgada PROCEDENTE (no todo ou em parte): CABEM honorrios. Exceo de pr-executividade julgada IMPROCEDENTE: NO CABEM honorrios.

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    DIREITO PENAL

    Inaplicabilidade do princpio da insignificncia para agente, com vrias anotaes criminais, que

    furtou uma mquina de cortar cermica avaliada em 130 reais

    No se aplicou o princpio da insignificncia para o ru que furtou uma mquina de cortar cermica avaliada em R$ 130,00 que a vtima utilizava usualmente para exercer seu trabalho e que foi recuperada somente alguns dias depois da consumao do crime. Vale ressaltar, ainda, que o agente respondia a vrios processos por delitos contra o patrimnio.

    STJ. 6 Turma. HC 241.713-DF, Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz, julgado em 10/12/2013.

    Para aplicar o princpio da insignificncia importante avaliar empiricamente:

    o valor do bem furtado; a situao econmica da vtima; as circunstncias em que o crime foi perpetrado; a personalidade e as condies pessoais do agente, notadamente se demonstra fazer da subtrao de

    coisas alheias um meio ou estilo de vida, com sucessivas ocorrncias (reincidente ou no).

    Do ponto de vista da mera dogmtica penal, a personalidade e as condies pessoais do agente no poderiam ser consideradas como empecilhos ao reconhecimento da insignificncia penal uma vez que isso significaria dar prevalncia ao direito penal do autor e no do fato. No entanto, o juiz, na avaliao da conduta formalmente correspondente a um tipo penal, no pode ignorar tais circunstncias, que evidenciam o comportamento humano avesso norma penal e ao convvio respeitoso e harmnico que se espera de todo componente de uma comunho social.

    Assim, por razes derivadas predominantemente de poltica criminal, no se deve admitir a incidncia do princpio da bagatela em casos nos quais o agente contumaz autor de crimes contra o patrimnio, ressalvadas, vale registrar, as hipteses em que a inexpressividade da conduta ou do resultado to grande que, a despeito da existncia de maus antecedentes, no se justifica a utilizao do aparato repressivo do Estado para punir o comportamento formalmente tipificado como crime.

    No caso concreto, no se pode considerar tambm como inexpressiva a leso jurdica provocada, visto que o valor da ferramenta de trabalho subtrada da vtima (130 reais) no insignificante.

    Se a pessoa emite uma duplicata, mas no foi vendida nenhuma mercadoria nem prestado nenhum

    servio haver o crime do art. 172 do CP

    O delito de duplicata simulada, previsto no art. 172 do CP (redao dada pela Lei 8.137/1990), configura-se quando o agente emite duplicata que no corresponde efetiva transao comercial, sendo tpica a conduta ainda que no haja qualquer venda de mercadoria ou prestao de servio.

    STJ. 6 Turma. REsp 1.267.626-PR, Rel. Min. Maria Thereza de Assis Moura, julgado em 5/12/2013.

  • Informativo 534-STJ Esquematizado por Mrcio Andr Lopes Cavalcante | 18

    Conceito de duplicata

    - Duplicata um ttulo de crdito

    - que consiste em uma ordem de pagamento emitida pelo prprio credor

    - por conta de mercadorias que ele vendeu ou de servios que prestou

    - e que esto representados em uma fatura

    - devendo ser paga pelo comprador das mercadorias ou pelo tomador dos servios.

    Emisso da duplicata

    O vendedor ou prestador dos servios emite a fatura discriminando as mercadorias vendidas ou os servios prestados. Com base nessa fatura, esse vendedor ou prestador poder emitir a duplicata.

    Toda duplicata sempre ter origem em uma fatura.

    Uma duplicata s pode corresponder a uma nica fatura (art. 2, 2, da Lei).

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    Duplicata simulada

    O Cdigo Penal prev, sem seu art. 172, o delito de duplicata simulada:

    Art. 172. Emitir fatura, duplicata ou nota de venda que no corresponda mercadoria vendida, em quantidade ou qualidade, ou ao servio prestado.

    Pena - deteno, de 2 (dois) a 4 (quatro) anos, e multa. (Redao dada pela Lei n. 8.137/90)

    Ex1: Joo emite uma duplicata afirmando que vendeu 50 pares de sapato, mas, na verdade, foram 100 pares (no correspondncia quanto quantidade).

    Ex2: Joo emite uma duplicata afirmando que vendeu 10 esculturas de cobre, mas, na verdade, foram 10 de ouro (no correspondncia quanto qualidade).

    Alterao do art. 172 do CP

    O art. 172 do CP foi alterado pela Lei n. 8.137/90. Vamos comparar como era a redao anterior:

    Redao original Redao atual

    Art. 172. Expedir ou aceitar duplicata que no corresponda, juntamente com a fatura respectiva, a uma venda efetiva de bens ou a uma real prestao de servio.

    Pena. Deteno de um a cinco anos, e multa equivalente a 20% sobre o valor da duplicata.

    Art. 172. Emitir fatura, duplicata ou nota de venda que no corresponda mercadoria vendida, em quantidade ou qualidade, ou ao servio prestado.

    Pena. deteno, de 2 (dois) a 4 (quatro) anos, e multa.

    Perceba que o tipo penal prev que crime a conduta de emitir duplicata dizendo que vendeu certa quantidade, quando, na verdade, foi vendida outra. Tambm haver o delito quando se emitir a duplicata informando ter vendido um determinado tipo de mercadoria, e a venda ter sido de outra espcie.

    A redao atual do art. 172, contudo, no fala, expressamente, que crime quando a pessoa emitiu a duplicata, mas no vendeu nada.

    Diante disso, Fbio Ulhoa Coelho defendeu a tese de que a nova redao do art. 172 tornou ATPICA a emisso de duplicata no fundada em efetiva compra e venda mercantil. Para o doutrinador, o atual art. 172 somente se configuraria quando, tendo havido um negcio real, a duplicata mencionasse qualidade ou quantidade diversa da verdadeira. Logo, a conduta de emitir a duplicata e no vender nada ou no prestar nenhum servio seria atpica porque no estaria prevista no referido tipo penal.

    Essa tese de Fbio Ulhoa Coelho foi aceita pelo STJ?

    NO. Para o STJ, se a pessoa emite uma duplicata, mas no foi vendida mercadoria nenhuma nem prestado nenhum servio, haver sim o crime do art. 172 do CP.

    O delito de duplicata simulada, previsto no art. 172 do CP, configura-se quando o agente emite duplicata que no corresponde efetiva transao comercial, sendo tpica a conduta ainda que no haja qualquer venda de mercadoria ou prestao de servio.

    Os penalistas discordam da concluso de Coelho e tambm enxergam crime na presente situao:

    (...) por uma impreciso lamentvel, deixou-se de constar expressamente no tipo que a emisso de fatura, duplicata ou nota por venda ou servio inexistente tambm crime. Mencionou-se a emisso que no corresponda mercadoria vendida ou ao servio prestado, como se efetivamente uma venda ou um servio tivesse sido realizado. No faria sentido, no entanto, punir o emitente por alterar a quantidade ou a qualidade

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    da venda feita e no punir o comerciante que nenhuma venda fez, emitindo a duplicata, a fatura ou a nota assim mesmo. Portanto, de se incluir nesse contexto a 'venda inexistente' ou o 'servio no prestado.' Trata-se de decorrncia natural da interpretao extensiva que se pode - e deve fazer do tipo penal. (NUCCI, Guilherme de Souza. Cdigo Penal Comentado. 9 ed. So Paulo: RT, 2008, p. 798).

    O prprio STF j decidiu dessa forma: 2 Turma. HC 72538, Rel. Min. Marco Aurlio, julgado em 27/06/1995.

    A posio atualmente majoritria no sentido de que o descaminho crime formal

    O descaminho crime formal ou material?

    FORMAL: posio da 5 Turma do STJ e da 2 Turma do STF. Material: corrente adotada pela 6 Turma do STJ.

    STF. 2 Turma. HC 99740, Rel. Min. Ayres Britto, julgado em 23/11/2010.

    STJ. 5 Turma. HC 218.961/SP, Rel. Min. Laurita Vaz, julgado em 15/10/2013.

    STJ. 6 Turma. AgRg no REsp 1379695/PR, Rel. Min. Assusete Magalhes, julgado em 03/10/2013.

    O crime de descaminho est previsto na segunda parte do art. 334 do Cdigo Penal (a primeira parte do artigo traz o delito de contrabando):

    Contrabando ou descaminho Art. 334. Importar ou exportar mercadoria proibida ou iludir, no todo ou em parte, o pagamento de direito ou imposto devido pela entrada, pela sada ou pelo consumo de mercadoria: Pena - recluso, de um a quatro anos.

    O delito de descaminho est classificado, topograficamente, no Cdigo Penal, como crime praticado por particular contra a administrao em geral. Apesar disso, tanto o STJ como o STF consideram que se trata de uma espcie de crime tributrio. A questo relevante, no entanto, a seguinte: O descaminho crime tributrio material? Para o ajuizamento da ao penal necessria a constituio definitiva do crdito tributrio? Aplica-se a Smula Vinculante 24 ao descaminho?

    NO SIM

    O descaminho crime tributrio FORMAL. Logo, para que seja proposta ao penal por descaminho no necessria a prvia constituio definitiva do crdito tributrio. No se aplica a Smula Vinculante 24.

    O descaminho crime tributrio MATERIAL. Logo, para que seja proposta ao penal por descaminho necessria a prvia constituio definitiva do crdito tributrio. Aplica-se a Smula Vinculante 24.

    O crime de descaminho se perfaz com o ato de iludir o pagamento de imposto devido pela entrada de mercadoria no pais. No necessria, assim, a apurao administrativo-fiscal do montante que deixou de ser recolhido para a configurao do delito. Trata-se, portanto, de crime formal, e no material, razo pela qual o resultado da conduta delituosa

    Nos crimes contra a ordem tributria previstos no art. 1 da Lei 8.137/90 a constituio definitiva do crdito tributrio com a fixao do valor devido e o consequente reconhecimento de sua exigibilidade configura condio objetiva de punibilidade. (SV 24/STF). O crime de descaminho, descrito na segunda figura

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    relacionada ao quantum do imposto devido no integra o tipo legal. O bem jurdico protegido pela norma em tela mais do que o mero valor do imposto. Engloba a prpria estabilidade das atividades comerciais dentro do pas, refletindo na balana comercial entre o Brasil e outros pases. O produto inserido no mercado brasileiro, fruto de descaminho, alm de lesar o fisco, enseja o comrcio ilegal, concorrendo, de forma desleal, com os produzidos no pas, gerando uma srie de prejuzos para a atividade empresarial Em suma: a configurao do crime de descaminho, por ser formal, independe da apurao administrativo-fiscal do valor do imposto iludido, embora este possa orientar a aplicao do princpio da insignificncia quando se tratar de conduta isolada. STJ. 5 Turma. HC 218.961/SP, Rel. Min. Laurita Vaz, julgado em 15/10/2013.

    do art. 334 do CP, ainda que inserido entre os Crimes Contra a Administrao em Geral, tem como bem jurdico tutelado a Administrao Fiscal, configurando modalidade especial de Crime Contra a Ordem Tributria, cuja consumao tambm ocorre somente aps lanamento definitivo do crdito tributrio, quando a existncia de tributo iludido torna-se certa e seu valor lquido e exigvel. STJ. 6 Turma. AgRg no REsp 1379695/PR, Rel. Min. Assusete Magalhes, julgado em 03/10/2013.

    Aguardemos para saber se a 6 Turma do STJ tambm ir alterar sua posio tradicional e passar a entender que o descaminho crime formal.

    No autofinanciamento para o trfico o agente responder apenas pelo art. 33 c/c art. 40, VII, da Lei de Drogas, ficando excludo o delito do art. 36

    Importante!!!

    Se o agente financia ou custeia o trfico, mas no pratica nenhum verbo do art. 33: responder apenas pelo art. 36 da Lei de Drogas.

    Se o agente, alm de financiar ou custear o trfico, tambm pratica algum verbo do art. 33: responder apenas pelo art. 33 c/c o art. 40, VII da Lei de Drogas (no ser condenado pelo art. 36).

    STJ. 6 Turma. REsp 1.290.296-PR, Rel. Min. Maria Thereza de Assis Moura, julgado em 17/12/2013.

    Imagine a seguinte situao hipottica:

    Em uma operao policial, foi presa uma organizao criminosa voltada ao trfico de drogas.

    Segundo as investigaes, Pablo, um dos integrantes do grupo, alm de ter em depsito e vender a droga, era tambm o responsvel por financiar a organizao criminosa, fornecendo os recursos necessrios para que fossem compradas as drogas.

    Pablo praticava, portanto, aquilo que a doutrina chama de autofinanciamento do trfico, ou seja, a situao em que o agente atua ao mesmo tempo como financiador e como traficante de drogas.

    Diante desse contexto, Pablo foi denunciado pela prtica dos crimes de trfico de drogas (art. 33) e financiamento ao trfico (art. 36) em concurso material.

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    O STJ considerou correta a tipificao? Nos casos de autofinanciamento, o agente dever responder pelos arts. 33 e 36 em concurso?

    NO. Segundo decidiu a 6 Turma do STJ, o agente praticou apenas o delito de trfico de drogas (art. 33, caput, da Lei n. 11.343/2006) com a causa de aumento prevista no art. 40, VII.

    Art. 33. Importar, exportar, remeter, preparar, produzir, fabricar, adquirir, vender, expor venda, oferecer, ter em depsito, transportar, trazer consigo, guardar, prescrever, ministrar, entregar a consumo ou fornecer drogas, ainda que gratuitamente, sem autorizao ou em desacordo com determinao legal ou regulamentar:

    Pena - recluso de 5 (cinco) a 15 (quinze) anos e pagamento de 500 (quinhentos) a 1.500 (mil e quinhentos) dias-multa.

    (...)

    Art. 40. As penas previstas nos arts. 33 a 37 desta Lei so aumentadas de um sexto a dois teros, se:

    VII - o agente financiar ou custear a prtica do crime.

    O agente que atua diretamente na traficncia, executando, pessoalmente, as condutas tipificadas no art. 33 e que tambm financia a aquisio das drogas, deve responder apenas pelo crime previsto no art. 33 com a causa de aumento prevista no art. 40, VII, sendo afastado o crime do art. 36.

    O financiamento ou custeio ao trfico ilcito de drogas (art. 36) delito autnomo aplicvel somente ao agente que NO tem participao direta na execuo do trfico, limitando-se a fornecer os recursos necessrios para subsidiar a mercancia.

    Ao prever como delito autnomo a atividade de financiar ou custear o trfico (art. 36), o objetivo do legislador foi estabelecer uma exceo teoria monista e punir o agente que no tem participao direta na execuo no trfico e que se limitada a fornecer dinheiro ou bens para subsidiar a mercancia, sem praticar qualquer conduta do art. 33.

    Assim, nas hipteses em que ocorre o AUTOFINANCIAMENTO para o trfico ilcito de drogas, como no caso concreto, no h que se falar em concurso material entre os crimes dos arts. 33 e 36, devendo o agente ser condenado pela pena do trfico (art. 33), com a causa de aumento de pena do art. 40, VII, da Lei de Drogas.

    Se o agente que faz autofinanciamento fosse condenado pelos arts. 33 e 36, haveria bis in idem. Alm disso, chegaramos concluso de que o art. 40, VII nunca poderia ser aplicado em conjunto com o art. 33.

    Resumindo:

    Se o agente financia ou custeia o trfico, mas no pratica nenhum verbo do art. 33: responder apenas pelo art. 36 da Lei de Drogas.

    Se o agente, alm de financiar ou custear o trfico, tambm pratica algum verbo do art. 33: responder apenas pelo art. 33 c/c o art. 40, VII da Lei de Drogas (no ser condenado pelo art. 36).

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    DIREITO TRIBUTRIO

    Para que o Municpio cobre ITBI de um imvel de Igreja, preciso que ele prove que esse bem est desvinculado de sua destinao institucional

    Em se tratando de entidade religiosa, h presuno relativa de que o imvel da entidade est vinculado s suas finalidades essenciais, o que impede a cobrana de impostos sobre aquele imvel de acordo com o art. 150, VI, c, da CF.

    Nesse contexto, a descaracterizao dessa presuno para que incida ITBI sobre imvel de entidade religiosa nus da Fazenda Pblica municipal, nos termos do art. 333, II, do CPC.

    STJ. 2 Turma. AgRg no AREsp 444.193-RS, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, julgado em 4/2/2014.

    IMUNIDADE TRIBUTRIA

    Imunidade tributria consiste na determinao de que certas atividades, rendas, bens ou pessoas no podero sofrer a incidncia de tributos. Trata-se de uma dispensa constitucional de tributo. A imunidade uma limitao ao poder de tributar, sendo sempre prevista na prpria CF.

    IMUNIDADE TRIBUTRIA RELIGIOSA

    O art. 150, VI, b, da CF/88 prev que os templos de qualquer culto gozam de imunidade tributria quanto aos impostos. Vejamos a redao do dispositivo constitucional:

    Art. 150. Sem prejuzo de outras garantias asseguradas ao contribuinte, vedado Unio, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municpios: VI - instituir impostos sobre: b) templos de qualquer culto;

    Vamos estudar um pouco mais sobre esta imunidade: Nomenclatura: Chamada pela doutrina de imunidade tributria religiosa. Razo de sua existncia: A imunidade religiosa impede que o Estado se utilize do poder de tributar como forma de embaraar o funcionamento das entidades religiosas (ALEXANDRE, Ricardo. Direito Tributrio Esquematizado. 6 ed., So Paulo: Mtodo, 2012, p. 158). Desse modo, o Estado, se quisesse exterminar determinada religio no pas, poderia tribut-la, com elevadas alquotas, a fim de que ela perdesse fora. Como h a imunidade, isso no possvel. Fala-se, portanto, que a razo de ser dessa imunidade garantir a liberdade religiosa e o laicismo (ou secularismo), isto , a neutralidade do Estado com relao a qualquer religio (art. 19, I, CF). Clusula ptrea: Essa imunidade religiosa uma clusula ptrea, de forma que uma emenda constitucional no pode ser editada tendente a abolir essa garantia (art. 60, 4, IV, da CF/88). Impostos: Essa imunidade abrange apenas os impostos. Assim, devido o pagamento das demais espcies tributrias, como as taxas e as contribuies.

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    Templos de qualquer culto = entidade religiosa A CF fala que a imunidade relativa aos impostos que incidem sobre templos de qualquer culto. Se fossemos interpretar literalmente o dispositivo, os nicos impostos que estariam imunes seriam os relativos ao imvel (IPTU ou ITR). A doutrina e a jurisprudncia, contudo, afirmam que a CF disse menos do que ela queria. Assim, a imunidade incide no apenas sobre o templo (prdio destinado ao culto), mas sim sobre o patrimnio, a renda e os servios relacionados com as finalidades essenciais da igreja (STF RE 325.822/SP). Desse modo, deve-se interpretar a expresso templos de qualquer culto como sendo entidade religiosa. Imunidade subjetiva: Essa imunidade classificada como subjetiva ou pessoal, considerando que outorgada em funo da condio pessoal da entidade religiosa. Em outras palavras, imunidade subjetiva porque incide para beneficiar uma pessoa (entidade religiosa). O contrrio da imunidade subjetiva a imunidade objetiva, que incide sobre bens. o caso, por exemplo, da imunidade sobre livros, jornais, peridicos e o papel destinado sua impresso (art. 150, VI, d, da CF). Patrimnio, renda e servios relacionados com as finalidades essenciais das entidades religiosas: Essa imunidade abrange apenas o patrimnio, a renda e os servios relacionados com as finalidades essenciais das entidades religiosas (art. 150, 4). Exemplos dessa imunidade (a entidade religiosa no pagar os seguintes impostos): Ex1: IPTU sobre o prdio utilizado para o culto. Ex2: IPVA sobre o nibus utilizado pela igreja para evangelizar; Ex3: ITBI sobre a aquisio de prdio onde funcionar a igreja; Ex4: IR sobre os dzimos dos fiis; Ex5: ISS sobre os servios prestados pela igreja, como batismo, casamento etc. Se a entidade religiosa possui um imvel e o aluga a um terceiro, esse bem imune (estar livre do pagamento de IPTU)? SIM, desde que o dinheiro seja utilizado nas atividades essenciais da Igreja. Smula 724-STF: Ainda quando alugado a terceiros, permanece imune ao IPTU o imvel pertencente a qualquer das entidades referidas pelo art. 150, VI, "c", da Constituio, desde que o valor dos aluguis seja aplicado nas atividades essenciais de tais entidades. Obs: apesar da smula referir-se imunidade do art. 150, VI, c, seu enunciado tambm se aplica imunidade religiosa prevista no art. 150, VI, b. A entidade religiosa goza de imunidade tributria sobre o cemitrio utilizado em suas celebraes? Sim, desde que este cemitrio seja uma extenso da entidade religiosa. Nesse sentido, j decidiu o STF:

    Os cemitrios que consubstanciam extenses de entidades de cunho religioso esto abrangidos pela garantia contemplada no art. 150 da Constituio do Brasil. Impossibilidade da incidncia de IPTU em relao a eles. (...) (RE 578.562, Rel. Min. Eros Grau, julgamento em 21-5-2008, Plenrio, DJE de 12-9-2008)

    No caso julgado pelo STF, o cemitrio analisado era uma extenso da capela destinada ao culto da religio anglicana, situada no mesmo imvel.

  • Informativo 534-STJ Esquematizado por Mrcio Andr Lopes Cavalcante | 25

    A maonaria goza da imunidade religiosa? NO. A 1 Turma do STF decidiu que as organizaes manicas no esto includas no conceito de templos de qualquer culto ou de instituies de assistncia social para fins de concesso da imunidade tributria prevista no art. 150, VI, b e c, da CF. Segundo entendeu o STF, a maonaria seria uma ideologia de vida e no uma religio. Logo, as organizaes manicas devem pagar IPTU e os demais impostos. STF. 1 Turma. RE 562351/RS, rel. Min. Ricardo Lewandowski, 4/9/2012. ITBI ITBI significa imposto sobre transmisso inter vivos, sendo tributo de competncia dos Municpios. Segundo o art. 156, II da CF/88, o ITBI ser cobrado quando houver transmisso inter vivos, a qualquer ttulo, por ato oneroso, de bens imveis, por natureza ou acesso fsica, e de direitos reais sobre imveis, exceto os de garantia, bem como cesso de direitos a sua aquisio. Ex: Joo vende uma casa a Pedro. Sobre essa transmisso, haver a incidncia do ITBI. Caso concreto julgado pelo STJ Determinada Igreja efetuou a compra de um terreno baldio (imvel vago) que seria utilizado para a construo de um templo, conforme um projeto que j estava aprovado. O Municpio efetuou o lanamento do ITBI afirmando que a Igreja somente gozaria de imunidade quanto a esse bem quando o projeto j estivesse concludo e o templo construdo. A tese do Municpio foi aceita pelo STJ? NO. Segundo decidiu o STJ, haveria imunidade no presente caso. Em se tratando de entidade religiosa, h presuno relativa de que o imvel da entidade est vinculado s suas finalidades essenciais, o que impede a cobrana de impostos sobre aquele imvel de acordo com o art. 150, VI, c, da CF. A descaracterizao dessa presuno para que incida ITBI sobre imvel de entidade religiosa nus da Fazenda Pblica municipal, nos termos do art. 333, II, do CPC. Em suma, para fins de cobrana de ITBI, do municpio o nus da prova de que imvel pertencente a entidade religiosa est desvinculado de sua destinao institucional. Obras consultadas ALEXANDRE, Ricardo. Direito Tributrio Esquematizado. 6 ed., So Paulo: Mtodo, 2012. SABBAG, Eduardo. Manual de Direito Tributrio. 4 ed., So Paulo: Saraiva, 2012.

    Se o Fisco demora mais que 5 anos para examinar pedido de parcelamento e no prope execuo

    fiscal nesse prazo, haver prescrio

    A suspenso da lei que autoriza o pagamento em prestaes do dbito tributrio, por fora de medida liminar deferida em ao direta de inconstitucionalidade, implica o imediato indeferimento do pedido de parcelamento; a inrcia da Fazenda Pblica em examinar esse requerimento, por mais de cinco anos, acarreta a prescrio do crdito tributrio.

    STJ. 1 Turma. REsp 1.389.795-DF, Rel. Min. Ari Pargendler, julgado em 5/12/2013.

  • Informativo 534-STJ Esquematizado por Mrcio Andr Lopes Cavalcante | 26

    Imagine a seguinte situao adaptada:

    Determinada empresa realizou o fato gerador, mas no pagou o imposto estadual no tempo devido. Em razo disso, o Fisco fez a autuao e o lanamento de ofcio do valor que deveria ter sido pago. Com isso, houve a constituio do crdito tributrio.

    Caso a empresa no pague o crdito tributrio, qual o prazo para que a Fazenda Pblica ajuze execuo fiscal contra o devedor?

    05 anos, conforme o art. 174 do CTN:

    Art. 174. A ao para a cobrana do crdito tributrio prescreve em cinco anos, contados da data da sua constituio definitiva.

    Lei de parcelamento

    Voltando ao nosso exemplo. Antes que a empresa pagasse o dbito, o Estado-membro editou uma lei prevendo a possibilidade de os devedores de tributos parcelarem suas dvidas com reduo de juros e multa.

    A empresa ingressou com um pedido de adeso a esse programa de parcelamento.

    Antes que o pedido da empresa fosse deferido e ela ingressasse no parcelamento, o Ministrio Pblico ajuizou uma ADI contra a Lei e o Tribunal concedeu liminar suspendendo a sua eficcia.

    Com a liminar deferida pelo Tribunal, o pedido da empresa ficou sobrestado na Secretaria de Fazenda at que houvesse uma deciso definitiva sobre o tema.

    Pedido de extino do crdito tributrio pela prescrio

    Ocorre que o Fisco, alm de no apreciar o pedido de parcelamento da empresa, tambm no props a execuo fiscal cobrando o valor do tributo.

    Assim, aps 5 anos, a empresa ingressou com um requerimento pedindo o reconhecimento da extino do crdito tributrio pela prescrio.

    A tese da empresa est correta?

    SIM. O STJ decidiu que ocorre a prescrio da pretenso executria do crdito tributrio objeto de pedido de parcelamento aps 5 anos de inrcia da Fazenda Pblica em examinar esse requerimento, ainda que a norma autorizadora do parcelamento tenha tido sua eficcia suspensa por medida cautelar em ao direta de inconstitucionalidade.

    O fato de o Tribunal ter suspendido a eficcia da Lei do parcelamento no acarretou a suspenso da exigibilidade do crdito tributrio. Ao suspender a lei do parcelamento, o Tribunal, de forma implcita, deu dois comandos ao administrador pblico: a) deixe de aplicar a norma que est sendo questionada nesta ao; e b) aplique a legislao anterior sobre a matria. Logo, diante da deciso do Tribunal, o Fisco deveria ter indeferido o pedido de parcelamento e ter iniciado, desde logo, a execuo fiscal contra a empresa devedora. Como no o fez no prazo de 5 anos, houve a prescrio.

  • Informativo 534-STJ Esquematizado por Mrcio Andr Lopes Cavalcante | 27

    DIREITO PREVIDENCIRIO

    A entidade pblica patrocinadora do plano no tem legitimidade para figurar na ao de reviso de

    benefcio proposta por participante contra entidade de previdncia privada

    Em caso de ao de reviso de benefcio previdencirio proposta por participante contra entidade de previdncia privada, no cabe fazer a denunciao da lide entidade pblica patrocinadora do plano.

    STJ. 4 Turma. REsp 1.406.109-SP, Rel. Min. Luis Felipe Salomo, julgado em 21/11/2013.

    Funcef

    A Fundao dos Economirios Federais (Funcef) uma entidade fechada de previdncia complementar privada criada com o objetivo de administrar o plano de previdncia complementar dos empregados da Caixa Econmica Federal (CEF).

    A Funcef mantida pelas contribuies previdencirias mensais pagas pelos empregados e tambm por meio de aportes financeiros feitos pela Caixa Econmica.

    Assim, podemos dizer que a CEF a patrocinadora do plano de previdncia fechada complementar mantida pela Funcef.

    Ao para reviso de benefcio previdencirio

    Imagine que Pedro, funcionrio aposentado da Caixa, ajuze uma ao de reviso de seu benefcio contra a Funcef pedindo que seja aumentado o valor de seus proventos.

    A entidade fechada de previdncia complementar (no caso, a Funcef) poder fazer a denunciao da lide entidade pblica patrocinadora do plano (CEF)? Em outras palavras, a patrocinadora tambm dever estar no polo passivo dessa ao de reviso?

    NO. descabida a litisdenunciao da entidade pblica patrocinadora de plano de previdncia fechada complementar no caso de litgio envolvendo participantes e a entidade de previdncia privada em que se discuta a reviso de benefcio previdencirio.

    No h, no caso, litisconsrcio necessrio uma vez que no h lei impondo nem se trata de relao jurdica indivisvel (art. 47 do CPC).

    A entidade de previdncia privada possui personalidade jurdica prpria, que no se confunde com a do patrocinador.

    Ademais, os arts. 32 e 36 da LC 109/2001 afirmam que as entidades de previdncia privada operam os planos e, por isso, tm legitimidade para compor o polo passivo das aes relacionadas com os planos de benefcios que administram.

    Alm disso, o art. 34 da LC 109/2001 deixa claro que as referidas entidades fechadas apenas administram os planos, sendo os participantes e assistidos os verdadeiros detentores do fundo acumulado.

    Assim, a eventual sucumbncia da entidade de previdncia ser suportada pelo patrimnio acumulado, no havendo cogitar em pretenso a ensejar o ajuizamento de ao de regresso em face do patrocinador. Logo, no existindo possvel prejuzo ao patrocinador, ele no deve figurar no polo passivo da demanda.

  • Informativo 534-STJ Esquematizado por Mrcio Andr Lopes Cavalcante | 28

    Em suma:

    A entidade patrocinadora do plano de previdncia privada no em legitimidade para figurar no polo passivo das aes propostas por participante do plano para discutir os benefcios (complementao de aposentadoria, aplicao de ndices de correo monetria, resgate de valores vertidos ao fundo etc.).

    Tais aes devero ser propostas e tramitar unicamente contra a entidade de previdncia privada.

    EXERCCIOS

    Julgue os itens a seguir:

    1) (OAB 2012 FGV) Joana DArc, beneficiria de penso por morte deixada por ex-fiscal de rendas, falecido em 5/1/1999, ajuizou ao ordinria em face da Unio, alegando que determinado aumento remuneratrio genrico concedido aos fiscais de renda em atividade no lhe teria sido repassado. Assim, isso teria violado a regra constitucional da paridade remuneratria entre ativos, inativos e pensionistas. Acerca de tal alegao, correto afirmar que manifestamente:

    A) procedente, pois, embora a regra da paridade remuneratria entre ativos, inativos e pensionistas tenha sido revogada pela EC 41/2003, a penso por morte rege-se pela lei vigente poca do bito, quando ainda vigia tal regra;

    B) improcedente, pois, nos termos do verbete 339 da Smula de Jurisprudncia do STF, no cabe ao Poder Judicirio, que no tem funo legislativa, aumentar vencimentos de servidores pblicos sob fundamento de isonomia;

    C) improcedente, pois a regra da paridade remuneratria entre ativos, inativos e pensionistas foi revogada pela EC 41/2003, sendo absolutamente irrelevante o fato de o ex-servidor ter falecido antes da edio da referida emenda;

    D) procedente, pois a CRFB garante o reajustamento da penso por morte dos benefcios para preservar-lhes, em carter permanente, o valor real, conforme critrios estabelecidos em lei.

    2) (DPE/AM 2013 FCC adaptada) A EC n. 19/98, trouxe uma srie de alteraes nos dispositivos constitucionais referentes Administrao Pblica, no bojo do que veio a ser alcunhado de Reforma Administrativa, baseada no chamado Modelo Gerencial de Administrao Pblica. Uma das medidas introduzidas por essa Emenda foi o fim da chamada paridade entre proventos aposentados e pensionistas e vencimentos de servidores em atividade, determinando o reajustamento dos benefcios, conforme critrios estabelecidos em lei, visando a manuteno do seu valor real. ( )

    3) A pessoa jurdica de direito pblico no tem direito indenizao por danos morais relacionados violao da honra ou da imagem. ( )

    4) Para fins de percepo da indenizao por incapacidade total e permanente prevista em contrato de seguro privado, a concesso de aposentadoria por invalidez pelo INSS no desobriga o beneficirio de demonstrar que se encontra efetivamente incapacitado. ( )

    5) (DPE/ES 2012 CESPE) De acordo com a jurisprudncia do STJ, caso uma pessoa se obrigue como principal pagador dos aluguis de imvel at a entrega das chaves, a prorrogao do contrato por prazo indeterminado acarretar a exonerao da fiana. ( )

  • Informativo 534-STJ Esquematizado por Mrcio Andr Lopes Cavalcante | 29

    6) Shopping center no deve indenizar cliente por danos morais decorrentes de tentativa de roubo ocorrida na cancela do estacionamento. ( )

    7) (Juiz TJAM 2013 FGV) Chegando ao shopping center, Joo deixa seu veculo no estacionamento que o estabelecimento disponibiliza para comodidade dos seus clientes, com vigilncia terceirizada. Sem nada adquirir, Joo decide ir embora. Chegando ao estacionamento, descobre que seu veculo foi furtado. Inconformado com o ocorrido, Joo ingressa com ao judicial imputando responsabilidade civil ao shopping center. Segundo a posio do STJ sobre o tema, assinale a afirmativa correta.

    A) Joo no se enquadra no conceito de consumidor, na forma do Art. 2 do CDC, pois no houve aquisio de qualquer produto ou servio como destinatrio final, durante o perodo em que esteve no shopping.

    B) O shopping no pode ser responsabilizado se houver prvia e expressa comunicao ao proprietrio do veculo, no comprovante de estacionamento entregue no momento do ingresso, de clusula de exonerao de responsabilidade por quaisquer danos ao veculo.

    C) A hiptese aborda responsabilidade subjetiva, que depende da verificao da culpa do estabelecimento, porquanto o shopping center, in casu, no pode ser enquadrado no conceito de fornecedor de que trata o Art. 3 do CDC, 1 e 2.

    D) Embora haja relao de consumo, a responsabilidade civil no pode ser atribuda ao shopping, mas sim empresa de vigilncia terceirizada.

    E) A questo da aquisio de bens ou servios por Joo, para efeito da responsabilidade civil, irrelevante, isso porque o shopping, ao oferecer local presumivelmente seguro para estacionamento, assume obrigao de guarda e vigilncia, o que o torna civilmente responsvel por furto de veculo ali ocorrido.

    8) (Juiz Federal TRF4 2013) Acolhida, total ou parcialmente, a exceo de pr-executividade na execuo fiscal, cabvel a fixao de honorrios advocatcios em favor do excipiente. ( )

    9) A suspenso da lei que autoriza o pagamento em prestaes do dbito tributrio, por fora de medida liminar deferida em ao direta de inconstitucionalidade, implica o imediato indeferimento do pedido de parcelamento; a inrcia da Fazenda Pblica em examinar esse requerimento, por mais de cinco anos, acarreta a prescrio do crdito tributrio. ( )

    10) Em caso de ao de reviso de benefcio previdencirio proposta por participante contra entidade de previdncia privada, no cabe fazer a denunciao da lide entidade pblica patrocinadora do plano. ( )

    Gabarito

    1. Letra A 2. E 3. C 4. C 5. E 6. E 7. Letra E 8. C 9. C 10. C

  • Informativo 534-STJ Esquematizado por Mrcio Andr Lopes Cavalcante | 30

    JULGADOS NO COMENTADOS

    DIREITO TRIBUTRIO. MODIFICAO DA OPO DO REGIME DE CLCULO DE CRDITO PRESUMIDO DE IPI.

    Aps optar, em determinado exerccio, pela manuteno do sistema original de clculo do crdito presumido de IPI previsto na Lei 9.363/1996 ou pela migrao para o regime alternativo preconizado pela Lei 10.276/2001, o contribuinte no poder retificar sua opo em relao ao exerccio em que ela foi realizada ou em relao aos exerccios anteriores, mesmo que a escolha tenha ocorrido por desdia decorrente da ausncia de modificao da sistemtica quando legalmente possvel (dentro do prazo legal), ou ainda que ela se relacione ao regime mais oneroso.

    Precedentes citados: AgRg no REsp 1.119.893/RS, Segunda Turma, DJe 1/8/2013; e REsp 1.002.855/SC, Segunda Turma, DJe 15/4/2008.

    AgRg no REsp 1.239.867-RS, Rel. Min. Benedito Gonalves, julgado em 4/2/2014.

    DIREITO ADMINISTRATIVO. INSCRIO DE INDSTRIA DE LATICNIOS NO CONSELHO DE QUMICA.

    A pessoa jurdica cuja finalidade precpua a industrializao e o comrcio de laticnios e derivados no obrigada a registrar-se no Conselho Regional de Qumica.

    Precedentes citados: REsp 410.421-SC, Segunda Turma, DJ 1/8/2005; e REsp 816.846-RJ, Primeira Turma, DJ 17/4/2006.

    REsp 1.410.594-PR, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em 22/10/2013.

    DIREITO PREVIDENCIRIO E PROCESSUAL CIVIL. INCLUSO DE EXPURGOS INFLACIONRIOS EM FASE DE LIQUIDAO DE SENTENA.

    O ndice de Reajuste do Salrio Mnimo (IRSM) do ms de fevereiro de 1994 pode ser includo no clculo da Renda Mensal Inicial (RMI) de benefcio previdencirio na fase de liquidao de sentena, ainda que sua incluso no tenha sido discutida na fase de conhecimento. A jurisprudncia desta Corte firme no sentido de que a incluso de expurgos inflacionrios na fase de liquidao de sentena, embora no discutidos na fase de conhecimento, no implica violao da coisa julgada, por refletir correo monetria a recomposio do valor da moeda aviltada pelo processo inflacionrio.

    Precedente citado: AgRg no AREsp 188.862-PR, Segunda Turma, DJe 14/9/2012.

    REsp 1.423.027-PR, Rel. Min. Humberto Martins, julgado em 6/2/2014.

    DIREITO TRIBUTRIO. MAJORAO DA ALQUOTA DA COFINS.

    A majorao da alquota da Cofins de 3% para 4% prevista no art. 18 da Lei 10.684/2003 no alcana as sociedades corretoras de seguro. Isso porque as referidas sociedades, responsveis por intermediar a captao de interessados na realizao de seguros, no podem ser equiparadas aos agentes de seguros privados (art. 22, 1, da Lei 8.212/1991), cuja atividade tpica das instituies financeiras na busca de concretizar negcios jurdicos nas bolsas de mercadorias e futuros.

    Precedentes citados: AgRg no AREsp 341.927/RS, Primeira Turma, DJe 29/10/2013; e AgRg no AREsp 370.921/RS, Segunda Turma, DJe 9/10/2013.

    AgRg noAREsp 426.242-RS, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em 4/2/2014.