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www.dizerodireito.com.br Página1 INFORMATIVO esquematizado Informativo 523 – STJ Márcio André Lopes Cavalcante Obs: não foi incluído neste informativo esquematizado o seguinte julgado, decidido com base em peculiaridades do caso concreto e que possui pouca importância para concursos públicos: CC 121.390-SP. DIREITO ADMINISTRATIVO Responsabilidade civil do Estado por fraude ocorrida em Registro de Imóveis Deve ser extinto o processo, sem resolução do mérito, na hipótese de ação em que se pretenda obter do Estado, antes de declarada a nulidade do registro imobiliário, indenização por dano decorrente de alegada fraude ocorrida em Cartório de Registro de Imóveis. Nessa situação, falta interesse de agir, pois, antes de reconhecida a nulidade do registro, não é possível atribuir ao Estado a responsabilidade civil pela fraude alegada. Isso porque, segundo o art. 252 da Lei 6.015/73, o registro, enquanto não cancelado, produz todos os efeitos legais, ainda que, por outra maneira, prove-se que o título está desfeito, anulado, extinto ou rescindido. Comentários Imagine a seguinte situação adaptada: João ajuizou ação de indenização contra o Estado, alegando que “perdeu” a propriedade do imóvel “X”, em razão de ter ocorrido um registro fraudulento no Cartório de Registro de Imóveis atribuindo o bem a outra pessoa. O STJ afirmou que o processo deve ser extinto sem resolução do mérito por falta de interesse de agir. Isso porque o art. 252 da Lei de Registros Públicos (Lei n. 6.015/73) estabelece que: Art. 252. O registro, enquanto não cancelado, produz todos os efeitos legais ainda que, por outra maneira, se prove que o título está desfeito, anulado, extinto ou rescindido. Dessa forma, enquanto o ato jurídico apontado como fraudulento no presente caso não for anulado por meio de ação própria, conforme dispõe o art. 252 da LRP, esse registro estará produzindo todos os efeitos legais. Logo, antes de pleitear indenização do Estado, a parte prejudicada precisará ajuizar ação própria, autônoma, para obter a anulação do registro. Enquanto não for declarada a nulidade do ato jurídico tido como fraudulento e, consequentemente, o cancelamento do registro originado por tal ato, o autor não possui interesse de agir para postular indenização. Vale ressaltar, ainda, que, uma vez declarada a nulidade do ato, a situação do registro retornará ao status quo ante, ou seja, o imóvel objeto do registro voltará ao domínio do autor, não havendo falar em indenização por danos a ser pleiteada em face do Estado considerando que inexistirá prejuízo. Processo STJ. 1ª Turma. REsp 1.366.587-MS, Rel. Min. Benedito Gonçalves, julgado em 18/4/2013. Página1 Concurso Cartório

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Informativo 523 – STJ

Márcio André Lopes Cavalcante

Obs: não foi incluído neste informativo esquematizado o seguinte julgado, decidido com base em peculiaridades do caso concreto e que possui pouca importância para concursos públicos: CC 121.390-SP.

DIREITO ADMINISTRATIVO

Responsabilidade civil do Estado por fraude ocorrida em Registro de Imóveis

Deve ser extinto o processo, sem resolução do mérito, na hipótese de ação em que se pretenda obter do Estado, antes de declarada a nulidade do registro imobiliário, indenização por dano

decorrente de alegada fraude ocorrida em Cartório de Registro de Imóveis. Nessa situação, falta interesse de agir, pois, antes de reconhecida a nulidade do registro, não é

possível atribuir ao Estado a responsabilidade civil pela fraude alegada. Isso porque, segundo o art. 252 da Lei 6.015/73, o registro, enquanto não cancelado, produz todos os efeitos legais, ainda que,

por outra maneira, prove-se que o título está desfeito, anulado, extinto ou rescindido. Comentários Imagine a seguinte situação adaptada:

João ajuizou ação de indenização contra o Estado, alegando que “perdeu” a propriedade do imóvel “X”, em razão de ter ocorrido um registro fraudulento no Cartório de Registro de Imóveis atribuindo o bem a outra pessoa.

O STJ afirmou que o processo deve ser extinto sem resolução do mérito por falta de

interesse de agir. Isso porque o art. 252 da Lei de Registros Públicos (Lei n. 6.015/73) estabelece que:

Art. 252. O registro, enquanto não cancelado, produz todos os efeitos legais ainda que, por outra maneira, se prove que o título está desfeito, anulado, extinto ou rescindido.

Dessa forma, enquanto o ato jurídico apontado como fraudulento no presente caso não for anulado por meio de ação própria, conforme dispõe o art. 252 da LRP, esse registro estará produzindo todos os efeitos legais.

Logo, antes de pleitear indenização do Estado, a parte prejudicada precisará ajuizar ação própria, autônoma, para obter a anulação do registro. Enquanto não for declarada a nulidade do ato jurídico tido como fraudulento e, consequentemente, o cancelamento do registro originado por tal ato, o autor não possui interesse de agir para postular indenização.

Vale ressaltar, ainda, que, uma vez declarada a nulidade do ato, a situação do registro retornará ao status quo ante, ou seja, o imóvel objeto do registro voltará ao domínio do autor, não havendo falar em indenização por danos a ser pleiteada em face do Estado considerando que inexistirá prejuízo.

Processo STJ. 1ª Turma. REsp 1.366.587-MS, Rel. Min. Benedito Gonçalves, julgado em 18/4/2013. Pág

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Pretensão de danos morais decorrentes de tortura no regime militar é imprescritível

As ações de indenização por danos morais decorrentes de atos de tortura ocorridos durante o Regime Militar de exceção são imprescritíveis.

Não se aplica o prazo prescricional de 5 anos previsto no art. 1º do Decreto 20.910/1932. Processo STJ. 2ª Turma. REsp 1.374.376-CE, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em 25/6/2013.

Prazo prescricional no caso de desapropriação indireta

O prazo prescricional no caso de ação de desapropriação indireta é de 10 anos. Comentários Conceito de desapropriação indireta

A desapropriação indireta ocorre quando o Estado (Poder Público) se apropria do bem de um particular sem observar as formalidades previstas em lei para a desapropriação, dentre as quais a declaração indicativa de seu interesse e a indenização prévia. Trata-se de um verdadeiro esbulho possessório praticado pelo Poder Público. A desapropriação indireta é também chamada de apossamento administrativo. O que a pessoa faz no caso de desapropriação indireta?

Se o bem expropriado ainda não está sendo utilizado em nenhuma finalidade pública: pode ser proposta uma ação possessória visando a manter ou retomar a posse do bem.

Se o bem expropriado já está afetado a uma finalidade pública: considera-se que houve fato consumado e somente restará ao particular ajuizar uma “ação de desapropriação indireta” a fim de ser indenizado. Nesse sentido é o art. 35 do Decreto-Lei 3.365/41: Art. 35. Os bens expropriados, uma vez incorporados à Fazenda Pública, não podem ser objeto de reivindicação, ainda que fundada em nulidade do processo de desapropriação. Qualquer ação, julgada procedente, resolver-se-á em perdas e danos.

Ação de desapropriação indireta Consiste, portanto, na ação proposta pelo prejudicado em face do Poder Público, que se apossou do bem pertencente a particular sem observar as formalidades legais da desapropriação. Trata-se de uma ação condenatória, objetivando indenização por perdas e danos. Também é chamada de “ação expropriatória indireta” ou “ação de ressarcimento de danos causados por apossamento administrativo”. Qual é o prazo da ação de desapropriação indireta?

No CC-1916: era de 20 anos.

No CC-2002: é de 10 anos. Repito: atualmente, segundo este julgado do STJ, o prazo de desapropriação indireta é de 10 anos. Cuidado porque muitos livros trazem informação diferente quanto a isso. No entanto, em concursos CESPE, deve-se adotar o entendimento do STJ. Qual é o fundamento jurídico para esse prazo? Segundo o STJ, a ação de desapropriação indireta possui natureza real e pode ser proposta pelo particular prejudicado enquanto não tiver transcorrido o prazo para que o Poder Público adquira a propriedade do bem por meio da usucapião.

ATENÇÃO

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Em outras palavras, como não há um prazo específico previsto na legislação, o STJ entendeu que deveria ser aplicado, por analogia, o prazo da usucapião extraordinária. Assim, enquanto não tiver passado o prazo para que o Estado adquira o imóvel por força de usucapião, o particular poderá buscar a indenização decorrente do ato ilícito de apossamento administrativo. Qual é o prazo de usucapião extraordinária? No CC-1916: era de 20 anos (art. 550). No CC-2002: 15 anos (art. 1.238). No entanto, este prazo passa a ser de 10 anos se o possuidor tiver realizado obras ou serviços de caráter produtivo no local (parágrafo único do art. 1.238). Como na desapropriação indireta pressupõe-se que o Poder Público tenha realizado obras no local ou tenha dado ao imóvel uma utilidade pública ou de interesse social, entende-se que a situação se enquadraria no parágrafo único do art. 1.238 do CC, de sorte que o prazo para a usucapião seria de 10 anos. Logo, atualmente, o prazo prescricional aplicável às expropriatórias indiretas passou a ser de 10 anos, com fundamento analógico no parágrafo único do art. 1.238 do CC. Súmula 119-STJ: A ação de desapropriação indireta prescreve em vinte anos. Cuidado. A súmula 119 do STJ foi editada em 1994 e não está mais em vigor, considerando que utilizava como parâmetro o CC-1916. Atualmente, a ação de desapropriação indireta prescreve em 10 anos. Faça essa observação em seu vademecum.

Direito intertem-poral

O que acontece se o prazo prescricional iniciou na vigência do CC-1916 e se estendeu para o CC-2002? Nesse caso, deverá ser aplicada a regra de direito intertemporal prevista no art. 2.028 do CC-2002:

Art. 2.028. Serão os da lei anterior os prazos, quando reduzidos por este Código, e se, na data de sua entrada em vigor, já houver transcorrido mais da metade do tempo estabelecido na lei revogada.

Interpretando esse art. 2.028 do CC: Continua sendo o prazo do CC-1916: • quando ele foi reduzido pelo CC-2002, e • se, na data da entrada em vigor do CC-2002, já tinha transcorrido mais da metade do

tempo estabelecido no CC-1916. Exemplo: A pretensão de indenização por desapropriação indireta prescrevia em 20 anos no CC-1916. No CC-2002 prescreve em 10 anos. Se uma pessoa sofreu o desapossamento administrativo em 1991, em 2003 (data em que entrou em vigor o CC), já havia se passado 12 anos. Logo, prevalece o prazo do CC-1916 e esta vítima só terá mais 8 anos para ajuizar a ação. Se a pessoa sofreu o desapossamento em 1994, em 2003 havia se passado apenas 9 anos. Logo, será aplicado o novo prazo do CC-2002 (de 10 anos). A partir de 11/01/2003 (data da entrada em vigor do CC-2002) iniciará o prazo de 10 anos para que a vítima ajuíze a ação. E se o CC-2002 aumentou o prazo? Nesse caso, aplica-se o do CC-2002.

Processo STJ. 2ª Turma. REsp 1.300.442-SC, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em 18/6/2013.

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Honorários advocatícios no caso de desapropriação indireta

No caso de ação de desapropriação indireta, os honorários advocatícios devem ser fixados entre 0,5% e 5% do valor da diferença do preço oferecido, ou seja, nos limites percentuais

estabelecidos no art. 27, §§ 1º e 3º, do Decreto-Lei 3.365/1941. Comentários O art. 27 do DL n.° 3.365/1941 estabelece:

§ 1º A sentença que fixar o valor da indenização quando este for superior ao preço oferecido condenará o desapropriante a pagar honorários do advogado, que serão fixados entre meio e cinco por cento do valor da diferença, observado o disposto no § 4º do art. 20 do Código de Processo Civil, não podendo os honorários ultrapassar R$ 151.000,00 (cento e cinquenta e um mil reais). (Redação dada MP nº 2.183-56, de 2001) (Vide ADIN nº 2.332-2)

§ 3º O disposto no § 1º deste artigo se aplica: (Incluído pela MP nº 2.183-56)

(...) II - às ações de indenização por apossamento administrativo ou desapropriação indireta.

Na ADI 2332, o STF suspendeu os efeitos da norma do DL 3.365 que, com a redação dada pela MP 2183 instituía um valor máximo para esses honorários advocatícios (R$ 151.000,00). Em outras palavras, os honorários advocatícios poderão sim ultrapassar 151 mil reais.

Não foi suspensa, contudo, a norma que limitou o percentual dos honorários (0,5 a 5%).

Para a fixação do percentual, o juiz deverá levar em conta os mesmos fatores de avaliação previstos no CPC (art. 20, § 4º).

Processo STJ. 2ª Turma. REsp 1.300.442-SC, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em 18/6/2013.

Processo administrativo (independência de instâncias)

Não deve ser paralisado o curso de processo administrativo disciplinar apenas em função de ajuizamento de ação penal destinada a apurar criminalmente os mesmos fatos investigados

administrativamente. As esferas administrativa e penal são independentes, não havendo falar em suspensão do

processo administrativo durante o trâmite do processo penal. Comentários Imagine a seguinte situação:

Surgiram notícias de que João, servidor público, havia recebido indevidamente dinheiro para praticar um ato relacionado com a sua função. Diante disso, a Administração Pública instaurou um processo administrativo disciplinar. Paralelamente, o MP requisitou um inquérito policial. Quando o processo administrativo já estava em curso, o IP foi concluído e o MP ofereceu denúncia, que foi recebida pelo juiz. Diante disso, João impetrou mandado de segurança pedindo a suspensão do PAD enquanto não houvesse uma decisão no processo penal, sob o argumento de que “a cognição no âmbito jurisdicional esgota todos os meios de defesa e o resultado do penal influencia no administrativo, em algumas hipóteses.” A tese do impetrante deve ser acolhida? NÃO. As esferas administrativa e penal são independentes, não havendo falar em suspensão do processo administrativo durante o trâmite do processo penal.

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Ademais, é perfeitamente possível que determinados fatos constituam infrações administrativas, mas não ilícitos penais, permitindo a aplicação de penalidade ao servidor pela Administração, sem que haja a correspondente aplicação de penalidade na esfera criminal. Vale destacar que é possível que em alguns casos o resultado do processo penal repercuta na esfera administrativa, como é o caso da absolvição criminal com fundamento na negativa da existência do fato ou da sua autoria (art. 386, I e IV, do CPP). No entanto, em tais hipóteses, a pena administrativa porventura aplicada antes do término do processo penal pode ser revista, não havendo, portanto, prejuízo ao servidor.

Processo STJ. 1ª Seção. MS 18.090-DF, Rel. Min. Humberto Martins, julgado em 8/5/2013.

Processo administrativo disciplinar (desnecessidade de intimação após o relatório final)

Conclusões expostas pelo STJ sobre processo administrativo disciplinar: I – Não é obrigatória a intimação do interessado para apresentar alegações finais após o relatório final de processo administrativo disciplinar. Isso porque não existe previsão legal nesse sentido. II – É possível utilizar, em processo administrativo disciplinar, na qualidade de “prova emprestada”, a interceptação telefônica produzida em ação penal, desde que devidamente autorizada pelo juízo criminal e com observância das diretrizes da Lei 9.296/1996. III – É pacífica a jurisprudência do STJ no sentido de que o excesso de prazo para a conclusão do processo administrativo disciplinar não gera, por si só, qualquer nulidade no feito. O excesso de prazo só tem o condão de macular o processo administrativo se ficar comprovado que houve fundado e evidenciado prejuízo, pois não há falar em nulidade sem prejuízo (pas de nulité sans grief). IV – Deve ser aplicada a penalidade de demissão ao servidor público federal que obtiver proveito econômico indevido em razão do cargo, independentemente do valor auferido (no caso, eram apenas 40 reais). Isso porque não incide, na esfera administrativa, o princípio da insignificância quando constatada falta disciplinar prevista no art. 132 da Lei 8.112/1990. Comentários I – NOÇÕES GERAIS

O processo administrativo disciplinar dos servidores públicos federais encontra-se previsto

nos arts. 143 a 182 da Lei n. 8.112/90. O processo administrativo disciplinar (em sentido amplo) divide-se em: 1) Sindicância; 2) Processo administrativo disciplinar propriamente dito (PAD); Caso a autoridade administrativa tome conhecimento de alguma possível irregularidade no serviço público, ela é obrigada a promover a sua apuração imediata. Como é feita essa apuração? Por meio de uma sindicância ou de um processo administrativo disciplinar.

Art. 143. A autoridade que tiver ciência de irregularidade no serviço público é obrigada a promover a sua apuração imediata, mediante sindicância ou processo administrativo disciplinar, assegurada ao acusado ampla defesa.

Desse modo, a sindicância e o PAD são os dois instrumentos que a Lei n. 8.112/90 prevê para a apuração de infrações administrativas praticadas pelos servidores públicos federais. Segundo o STJ, a autoridade administrativa tem a faculdade de instaurar um ou outro procedimento disciplinar (MS 16.031-DF, Rel. Min. Humberto Martins, julgado em 26/6/2013).

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A opção pela realização da sindicância justifica-se quando há a necessidade de elucidação de fatos que aparentemente constituem infração punível pela Administração Pública. Entretanto, quando a existência do fato é plenamente caracterizada e a respectiva autoria é conhecida, a Administração Pública pode optar pela instauração direta do procedimento administrativo disciplinar. Como explica Ivan Barbosa Rigolin, existem situações que são tão graves e evidentes “que nem mesmo é preciso a sindicância para apontar a necessidade de processo disciplinar. Nessa hipótese, deve ser logo de início instaurado aquele processo, convocando-se todas as pessoas, bem como invocando-se todos os meios de provas necessários à boa condução do trabalho e à elucidação do fato apontado.” (Comentários ao Regime Único dos Servidores Públicos Civis. 7ª ed., São Paulo: Saraiva, 2012, p. 350). II – SINDICÂNCIA A sindicância é instaurada, inicialmente, para servir como uma espécie de investigação prévia do fato. Nesse caso, ela é chamada de sindicância investigatória ou preparatória. A sindicância pode ser conduzida por um único servidor ou por uma comissão de servidores. Da sindicância poderá resultar: I – o arquivamento do processo: quando não houver prova da prática de qualquer infração administrativa punível; II – a aplicação de penalidade de advertência ou suspensão de até 30 (trinta) dias: nesse caso, a sindicância é chamada de sindicância contraditória, acusatória ou apuratória. III – a instauração de processo disciplinar: quando for constatada a existência de indícios de que houve a prática de uma infração administrativa grave.

Art. 146. Sempre que o ilícito praticado pelo servidor ensejar a imposição de penalidade de suspensão por mais de 30 (trinta) dias, de demissão, cassação de aposentadoria ou disponibilidade, ou destituição de cargo em comissão, será obrigatória a instauração de processo disciplinar.

O prazo para conclusão da sindicância não excederá 30 dias, podendo ser prorrogado por igual período, a critério da autoridade superior. Na sindicância é obrigatório assegurar contraditório e ampla defesa?

Na sindicância investigatória: NÃO (a ampla defesa será feita no PAD).

Na sindicância acusatória: SIM. III – PROCESSO ADMINISTRATIVO DISCIPLINAR PROPRIAMENTE DITO (PAD)

Art. 151. O processo disciplinar se desenvolve nas seguintes fases: I - instauração, com a publicação do ato que constituir a comissão; II - inquérito administrativo, que compreende instrução, defesa e relatório; III - julgamento.

III.1 INSTAURAÇÃO Portaria de instauração do PAD O PAD é instaurado por meio de uma portaria, na qual constará o nome de 3 servidores estáveis no serviço público, que irão formar a comissão que conduzirá os trabalhos do processo disciplinar.

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O objetivo principal desta portaria de instauração é dar publicidade à constituição da comissão processante, ou seja, informar quem serão os servidores responsáveis pela instrução do feito. Somente após o início da instrução probatória, a Comissão Processante poderá fazer o relato circunstanciado das condutas supostamente praticadas pelo servidor indiciado, capitulando as infrações porventura cometidas. Desse modo, a descrição minuciosa dos fatos se faz necessária apenas quando o servidor for indiciado (fase de indiciamento), após a fase instrutória, não sendo imprescindível que conste da portaria de instauração. Comissão processante O art. 149 prevê o seguinte:

Art. 149. O processo disciplinar será conduzido por comissão composta de três servidores estáveis designados pela autoridade competente, observado o disposto no § 3º do art. 143, que indicará, dentre eles, o seu presidente, que deverá ser ocupante de cargo efetivo superior ou de mesmo nível, ou ter nível de escolaridade igual ou superior ao do indiciado.

Finalidade da comissão: A função precípua da comissão é a apuração dos fatos, concluindo pela inocência ou responsabilidade do servidor (art. 165). Presidente da comissão: qualidade especial Dentre os membros da comissão, a autoridade competente indicará o seu presidente. O presidente da Comissão deverá ser ocupante de cargo efetivo superior ou de mesmo nível, ou ter nível de escolaridade igual ou superior ao do indiciado. Demais membros Os demais membros da Comissão não precisam ocupar cargo efetivo superior e podem ter nível de escolaridade mais baixo que o do indiciado. O único requisito para ser membro (não presidente) da Comissão é ser servidor estável. O que acontece se algum membro da comissão não for estável? Haverá a nulidade do processo administrativo disciplinar. Por que os membros da comissão devem ser estáveis?

Segundo o STJ, a ratio essendi do art. 149 da Lei n. 8.112/90 é garantir a imparcialidade e isenção dos membros da comissão processante. Entende-se que se o servidor é estável, estará menos imune a pressões capazes de alterar o equilíbrio na tomada de decisões. Desse modo, a exigência é uma garantia ao investigado, pois tem por escopo assegurar a independência total dos servidores que ocupam a comissão, sem ingerência da chefia. Essa estabilidade deve ser no cargo atual que o servidor ocupa ou pode ser a estabilidade no serviço público? É necessário que os membros da comissão sejam estáveis no serviço público, mesmo que ainda não tenham adquirido a estabilidade no cargo atual que ocupam. A estabilidade exigida no art. 149 acima mencionado deve ser aferida no serviço público, não no cargo. Logo, não é nulo o processo administrativo disciplinar – PAD conduzido por servidores que não possuam estabilidade no atual cargo que ocupam, desde que já tenham adquirido a estabilidade no serviço público. Em um caso concreto julgado pelo STJ (AgRg no REsp 1.317.278-PE), um dos membros da comissão processante ainda se encontrava em estágio probatório relativo ao cargo de

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Auditor Fiscal, mas, em virtude de já ter ocupado outro cargo por cerca de dez anos (Técnico da Receita Federal), já era estável no serviço público. III.2 INQUÉRITO ADMINISTRATIVO Nesta fase, ocorrerá a instrução, defesa e elaboração do relatório pela comissão processante. Instrução: trata-se da colheita das provas (oitiva de testemunhas, análise de documentos, requisição de perícias etc.); Utilização no PAD da interceptação telefônica decretada no juízo criminal É possível utilizar, em processo administrativo disciplinar, na qualidade de “prova emprestada”, a interceptação telefônica produzida em ação penal, desde que

devidamente autorizada pelo juízo criminal e com observância das diretrizes da Lei n. 9.296/1996. (Lei de Interceptação Telefônica). STJ. 1ª Seção. MS 16.146-DF, Rel. Min. Eliana Calmon, julgado em 22/5/2013. Ex: a Polícia Federal, por meio de interceptação judicial deferida pelo juízo criminal, conseguiu captar conversa na qual determinado servidor público exige quantia para praticar certo ato relacionado com suas atribuições. Com base nessa prova e em outras constantes do inquérito, o MPF oferece denúncia contra esse servidor. A Administração Pública, por sua vez, instaura processo administrativo disciplinar.

Indaga-se: a comissão processante poderá requerer, ao juízo criminal, essas gravações telefônicas para que sejam utilizadas no processo administrativo? SIM. É plenamente possível utilizar, em processo administrativo disciplinar, na qualidade de “prova emprestada”, a interceptação telefônica produzida em ação penal, desde que a interceptação tenha sido feita com autorização do juízo criminal e com observância das

demais exigências contidas na Lei n. 9.296/1996 (Lei de Interceptação Telefônica).

Esse é também o entendimento do STF: Pet 3683 QO, Rel. Min. Cezar Peluso, Tribunal Pleno, julgado em 13/08/2008. Defesa: o servidor processado possui ampla defesa, podendo, por exemplo, contraditar as testemunhas, ter acesso e impugnar documentos, apresentar quesitos a serem respondidos pelos peritos etc. Atenção. O acusado pode ser acompanhado por advogado se assim desejar. No entanto, não é obrigatório que o processado tenha a assistência jurídica. Logo, caso não tenha sido auxiliado por advogado, tal circunstância, por si só, não gera a nulidade do PAD. Nesse sentido:

Súmula Vinculante n. 5 do STF: A falta de defesa técnica por advogado no processo administrativo disciplinar não ofende a Constituição.

O que acontece se o servidor processado deixar de comparecer à audiência designada para seu interrogatório?

O processo segue normalmente. “Inexiste no regime da Lei n. 8.112/90 a revelia - até porque teria o direito de meramente comparecer e restar calado, podendo, igualmente, restar ausente - ou qualquer efeito processual decorrente da ausência do acusado, regularmente intimado, à audiência de interrogatório. Sendo assim, ocorrendo tal situação, deverá a comissão registrar em ata a ausência e dar seguimento, normalmente, aos demais atos do processo.” (LUCARELLI, Fábio Dutra. Comentários à Lei do Regime Jurídico Único dos Servidores Públicos Civis da União. 2ª ed. Florianópolis: Conceito Editorial, 2012, p. 321).

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Relatório: é o documento no qual a comissão expõe as suas conclusões sobre as provas produzidas e a defesa apresentada pelo acusado. O relatório deve ser motivado e conclusivo, ou seja, precisa apontar se a comissão recomenda a absolvição do servidor ou a sua condenação, sugerindo a punição aplicável. Esse relatório será encaminhado à autoridade competente para o julgamento, segundo a estrutura hierárquica do órgão. Após o relatório ter sido produzido pela comissão, ele deverá ser apresentado ao servidor

processado para que este possa impugná-lo? Existe previsão na Lei n. 8.112/90 de alegações finais a serem oferecidas pelo servidor após o relatório final ter sido concluído? NÃO. Segundo entende o STJ, NÃO é obrigatória a intimação do interessado para apresentar alegações finais após o relatório final de processo administrativo disciplinar. Isso porque não existe previsão legal nesse sentido. STJ. 1ª Seção. MS 18.090-DF, Rel. Min. Humberto Martins, julgado em 8/5/2013.

No processo administrativo disciplinar regido pela Lei n. 8.112/90 não há a previsão para a apresentação, pela defesa, de alegações após o relatório final da Comissão Processante, não havendo falar em aplicação subsidiária da Lei 9.784/99 (MS 13.498/DF, Rel. Min. Maria Thereza de Assis Moura, Terceira Seção, julgado em 25/5/2011).

A Lei n. 8.112/90 determina apenas que, quando a Comissão concluir os seus trabalhos deverá encaminhar o respectivo relatório à autoridade que julgará o servidor, consoante consta dos arts. 166 e 167 da Lei n. 8.112/90. A defesa escrita é apresentada antes da elaboração do Relatório. III.3 JULGAMENTO DO PROCESSO ADMINISTRATIVO DISCIPLINAR O processo disciplinar se encerra mediante o julgamento do feito pela autoridade competente. A autoridade competente para o julgamento irá absolver ou condenar o servidor. A autoridade poderá acolher ou não as conclusões expostas no relatório da comissão.

Se decidir acolher: não precisará motivar essa decisão, podendo encampar a fundamentação exposta no relatório.

Se decidir não acolher: nesse caso, é indispensável a motivação, demonstrando que o relatório contraria as provas dos autos.

Art. 167. No prazo de 20 (vinte) dias, contados do recebimento do processo, a autoridade julgadora proferirá a sua decisão. Art. 168. O julgamento acatará o relatório da comissão, salvo quando contrário às provas dos autos. Parágrafo único. Quando o relatório da comissão contrariar as provas dos autos, a autoridade julgadora poderá, motivadamente, agravar a penalidade proposta, abrandá-la ou isentar o servidor de responsabilidade.

(...) A autoridade julgadora não está atrelada às conclusões propostas pela comissão, podendo delas discordar, motivadamente, quando o relatório contrariar a prova dos autos, nos termos do art. 168 da Lei n.º 8.112/90. (...) (MS 16.174/DF, Rel. Min. Castro Meira, Primeira Seção, julgado em 14.12.2011)

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Excesso de prazo para conclusão do PAD: É pacífica a jurisprudência do STJ no sentido de que o excesso de prazo para a conclusão do processo administrativo disciplinar não gera, por si só, qualquer nulidade no feito. O excesso de prazo só tem o condão de macular o processo administrativo se ficar comprovado que houve fundado e evidenciado prejuízo, pois não há falar em nulidade sem prejuízo (pas de nulité sans grief). STJ. 1ª Seção. MS 16.031-DF, Rel. Ministro Humberto Martins, julgado em 26/6/2013. Infração disciplinar e princípio da insignificância Imagine agora a seguinte situação: Determinado Policial Rodoviário Federal foi flagrado recebendo 40 reais de propina de dois caminhoneiros. Após todo o processo administrativo disciplinar, tendo sido provado o fato, o servidor foi punido com a pena de cassação de aposentadoria (art. 127, V e art. 134). Vale esclarecer que a pena de cassação de aposentadoria é como se fosse a pena de demissão, no entanto, aplicada ao servidor que se aposenta após ter praticado a conduta infracional. Veja:

Art. 134. Será cassada a aposentadoria ou a disponibilidade do inativo que houver praticado, na atividade, falta punível com a demissão.

O servidor punido não concordou com a sanção recebida e impetrou mandado de segurança no STJ. Segundo alegou, viola o princípio da proporcionalidade punir com demissão ou com cassação de aposentadoria um Policial Rodoviário Federal, com quase trinta anos de serviço, sem notícia de qualquer infração anterior, pelo simples fato de ter recebido uma propina de apenas 40 reais. O STJ acolheu essa tese? NÃO. Conforme explicou o Min. Humberto Martins, na esfera administrativa o proveito econômico auferido pelo servidor é irrelevante para a aplicação da penalidade, não incidindo o princípio da insignificância, como na esfera penal, razão pela qual é despiciendo falar em razoabilidade ou proporcionalidade da pena, pois o ato de demissão é vinculado, nos termos do art. 132, XI, da Lei n. 8.112/90:

Art. 132. A demissão será aplicada nos seguintes casos: XI - corrupção;

Para o Min. Relator, o ato de demissão é vinculado, ou seja, incidindo as hipóteses do art.

132 da Lei n. 8.112/90, ao Administrador não cabe fazer qualquer valoração, cabendo-lhe unicamente aplicar a penalidade prescrita.

Processo STJ. 1ª Seção. MS 18.090-DF, Rel. Min. Humberto Martins, julgado em 8/5/2013; MS 16.146-DF, Rel. Min. Eliana Calmon, julgado em 22/5/2013; MS 16.031-DF, Rel. Ministro Humberto Martins, julgado em 26/6/2013; MS 16.031-DF, Rel. Ministro Humberto Martins, julgado em 26/6/2013.

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Processo administrativo disciplinar e exclusão de militar estadual

É possível que, em processo administrativo disciplinar, o militar seja punido com a exclusão (demissão) caso ele viole as regras de conduta necessárias à sua permanência na corporação. O art. 125, § 4º da CF/88 não proíbe que o militar estadual seja punido administrativamente com demissão no caso de ter praticado falta grave. O que esse dispositivo legal afirma é que

somente a Justiça Militar estadual poderá decretar a perda da graduação do militar como pena acessória da sanção criminal aplicada em processo penal.

Comentários Imagine a seguinte situação: João, soldado da Polícia Militar do Estado de Pernambuco, praticou homicídio culposo. Diante disso, foi instaurada contra ele uma ação penal, além de um processo administrativo disciplinar. Antes que a ação penal fosse julgada, o processo administrativo foi concluído e João punido com a sua exclusão da Polícia Militar. Mandado de segurança O militar excluído impetrou mandado de segurança, afirmando que o art. 125, § 4º da CF/88 determina que somente o Poder Judiciário pode determinar a exclusão do militar da corporação, não sendo isso possível em processo administrativo. Art. 125, § 4º, da CF/88

§ 4º Compete à Justiça Militar estadual processar e julgar os militares dos Estados, nos crimes militares definidos em lei e as ações judiciais contra atos disciplinares militares, ressalvada a competência do júri quando a vítima for civil, cabendo ao tribunal competente decidir sobre a perda do posto e da patente dos oficiais e da graduação das praças.

A tese defendida pelo impetrante é acolhida pelo STJ? NÃO. Segundo o STJ e o STF, é possível, em processo administrativo disciplinar, impor, como sanção, a exclusão do militar estadual que viole regras de conduta necessárias à sua permanência na corporação. O art. 125, § 4º da CF/88 não proíbe que o militar estadual seja punido administrativamente com demissão no caso de ter praticado falta grave. O que esse dispositivo legal afirma é que somente a Justiça Militar estadual poderá decretar a perda da graduação do militar como pena acessória da sanção criminal aplicada em processo penal. Veja: (...) a competência da Justiça Militar estadual, nos termos do art. 125, § 4º, da Constituição, restringe-se à decisão sobre a perda da graduação de praças como pena acessória de crime, o que não obsta a competência do Comando Geral da Polícia Militar para decretar a perda da graduação como sanção administrativa disciplinar. (...) (STF. 2ª Turma. AgRg no AI 794.949/SP, Min. Ricardo Lewandowski, julgado em 25/9/2012)

Processo STJ. 2ª Turma. RMS 40.737-PE, Rel. Min. Humberto Martins, julgado em 16/4/2013.

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Aposentadoria compulsória não se aplica para servidores ocupantes de cargo em comissão

Os servidores públicos ocupantes de cargo em comissão não se submetem à aposentadoria compulsória aos 70 anos.

Comentários Não é aplicável a regra da aposentadoria compulsória por idade na hipótese de servidor público que ocupe exclusivamente cargo em comissão. Com efeito, a regra prevista no art. 40, § 1º, II, da CF/88, cujo teor prevê a aposentadoria compulsória do septuagenário, destina-se a disciplinar o regime jurídico dos servidores efetivos, não se aplicando a todos os servidores em sentido amplo. Assim, ao que ocupa exclusivamente cargo em comissão, aplica-se, conforme determina o § 13 do art. 40 da CF, o regime geral de previdência social, no qual não é prevista a aposentadoria compulsória por idade.

Processo STJ. 2ª Turma. RMS 36.950-RO, Rel. Min. Castro Meira, DJe 26/4/2013.

Improbidade administrativa (art. 11)

Configura ato de improbidade administrativa a conduta de professor da rede pública de ensino que, aproveitando-se dessa condição, assedie sexualmente seus alunos.

Isso porque essa conduta atenta contra os princípios da administração pública, subsumindo-se ao disposto no art. 11 da Lei n. 8.429/1992.

Processo STJ. 2ª Turma. REsp 1.255.120-SC, Rel. Min. Humberto Martins, julgado em 21/5/2013.

Improbidade administrativa (indisponibilidade de bens)

A indisponibilidade de bens prevista no art. 7º da Lei de Improbidade pode ser decretada em qualquer hipótese de ato de improbidade administrativa (arts. 9º, 10 e 11).

Segundo o STJ, em que pese o silêncio do art. 7º, uma interpretação sistemática permite que se decrete a indisponibilidade de bens também na hipótese em que a conduta tida como ímproba

se subsuma apenas ao disposto no art. 11 da Lei 8.429/1992. Comentários Se a pessoa praticar um ato de improbidade administrativa, estará sujeita às sanções previstas

no § 4º do art. 37 da CF/88, quais sejam: suspensão dos direitos políticos perda da função pública indisponibilidade dos bens e ressarcimento ao erário.

A Lei n. 8.429/92 (Lei de Improbidade Administrativa) regulamenta as consequências no caso da prática de atos de improbidade administrativa. A LIA traz, em seus arts. 9º, 10 e 11, um rol exemplificativo de atos que caracterizam improbidade administrativa. Art. 9º: atos de improbidade que importam enriquecimento ilícito do agente público Art. 10: atos de improbidade que causam prejuízo ao erário Art. 11: atos de improbidade que atentam contra princípios da administração pública

Concurso MP

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Para garantir que a pessoa que praticou ato de improbidade responda pelas sanções do § 4º

do art. 37, da CF, os arts. 7º e 16 da Lei n. 8.429/92 preveem a possibilidade de ser decretada a indisponibilidade (art. 7º) e o sequestro (art. 16) dos seus bens. Veja o que diz a Lei:

Art. 7° Quando o ato de improbidade causar lesão ao patrimônio público ou ensejar enriquecimento ilícito, caberá à autoridade administrativa responsável pelo inquérito representar ao Ministério Público, para a indisponibilidade dos bens do indiciado. Parágrafo único. A indisponibilidade a que se refere o caput deste artigo recairá sobre bens que assegurem o integral ressarcimento do dano, ou sobre o acréscimo patrimonial resultante do enriquecimento ilícito.

Art. 16. Havendo fundados indícios de responsabilidade, a comissão representará ao Ministério Público ou à procuradoria do órgão para que requeira ao juízo competente a decretação do sequestro dos bens do agente ou terceiro que tenha enriquecido ilicitamente ou causado dano ao patrimônio público. § 1º O pedido de sequestro será processado de acordo com o disposto nos arts. 822 e 825 do Código de Processo Civil. § 2° Quando for o caso, o pedido incluirá a investigação, o exame e o bloqueio de bens, contas bancárias e aplicações financeiras mantidas pelo indiciado no exterior, nos termos da lei e dos tratados internacionais.

Quem decreta essa indisponibilidade? O juiz, a requerimento do Ministério Público. A redação do art. 7º não é muito clara, mas o que a lei quer dizer é que a autoridade administrativa irá comunicar a suposta prática de improbidade ao MP e este irá analisar as informações recebidas e, com base em seu juízo, irá requerer (ou não) a indisponibilidade dos bens do suspeito ao juiz, antes ou durante o curso da ação principal (ação de improbidade). Em outras palavras, a indisponibilidade pode ser requerida como medida preparatória ou incidental. Quando o art. 7º fala em “inquérito”, está se referindo a inquérito administrativo, mas essa representação pode ocorrer também no bojo de um processo administrativo ou de um processo judicial. Além disso, o MP poderá requerer a indisponibilidade ainda que não tenha sido provocado por nenhuma autoridade administrativa, desde que, por algum outro modo, tenha tido notícia da suposta prática do ato de improbidade (ex: reportagem divulgada em jornal). De qualquer forma, muito cuidado com a redação dos arts. 7º e 16 porque muitas vezes são cobrados na prova a sua mera transcrição, devendo este item ser assinalado, então, como correto. Essa indisponibilidade pode ser decretada em qualquer hipótese de ato de improbidade?

Redação dos arts. 7º e 16 da LIA STJ e doutrina

NÃO. A indisponibilidade é decretada apenas quando o ato de improbidade administrativa: a) causar lesão ao patrimônio público; ou b) ensejar enriquecimento ilícito.

Assim, pela redação LITERAL só cabe a indisponibilidade nas hipóteses do arts. 9º e 10 da LIA. Não caberia a indisponibilidade no caso de prática do art. 11.

SIM. Não se pode conferir uma interpretação literal aos arts. 7º e 16 da LIA, até mesmo porque o art. 12, III, da Lei

n. 8.429/92 estabelece, entre as sanções para o ato de improbidade que viole os princípios da administração pública, o ressarcimento integral do dano - caso exista -, e o pagamento de multa civil de até cem vezes o valor da remuneração percebida pelo agente. Logo, em que pese

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o silêncio do art. 7º, uma interpretação sistemática que leva em consideração o poder geral de cautela do magistrado induz a concluir que a medida cautelar de indisponibilidade dos bens também pode ser aplicada aos atos de improbidade administrativa que impliquem violação dos princípios da administração pública, mormente para assegurar o integral ressarcimento de eventual prejuízo ao erário, se houver, e ainda a multa civil prevista no art. 12, III, da Lei n. 8.429/92 (AgRg no REsp 1311013/RO, DJe 13/12/2012). No mesmo sentido: AgRg no REsp 1.299.936-RJ, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, julgado em 18/4/2013. Na doutrina, esta é a posição de Emerson Garcia e Rogério Pacheco Alves (Improbidade Administrativa. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2011).

Processo Segunda Turma. AgRg no REsp 1.229.942-MT, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, julgado em 6/12/2012.

DIREITO CIVIL

Pretensão de danos morais decorrentes de tortura no regime militar é imprescritível

As ações de indenização por danos morais decorrentes de atos de tortura ocorridos durante o Regime Militar de exceção são imprescritíveis.

Não se aplica o prazo prescricional de 5 anos previsto no art. 1º do Decreto 20.910/1932. Processo STJ. 2ª Turma. REsp 1.374.376-CE, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em 25/6/2013.

Aplicação do princípio da boa-fé objetiva ao contrato de representação comercial

Não é possível ao representante comercial exigir, após o término do contrato de representação comercial, a diferença entre o valor da comissão estipulado no contrato e o efetivamente

recebido, caso não tenha havido, durante toda a vigência contratual, qualquer resistência ao recebimento dos valores em patamar inferior ao previsto no contrato.

Comentários Não é possível que o representante comercial exija, após o término do contrato de representação comercial, a diferença entre o valor da comissão estipulado no contrato e o efetivamente recebido, caso não tenha havido, durante toda a vigência contratual, qualquer resistência ao recebimento dos valores em patamar inferior ao previsto no contrato. Exemplo: a empresa “xx” era representante comercial da indústria “ZZ”. No contrato de representação, havia a previsão de que a representante iria receber 4% sobre o valor das

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vendas. Contudo, desde o primeiro mês de vigência do referido contrato (março de 2004) até sua denúncia, em abril de 2006, a representada efetuou o pagamento da comissão no percentual de 2,5% das vendas. Segundo decidiu o STJ, no caso em que a comissão tenha sido paga ao representante em valor inferior ao que celebrado no contrato, durante toda a sua vigência, sem resistência ou impugnação por parte do representante, pode-se concluir que a este interessava a manutenção do contrato, mesmo que em termos remuneratórios inferiores, tendo em vista sua anuência tácita para tanto. Como desde o início da relação contratual a comissão foi paga em valor inferior ao que pactuado, conclui-se que a cláusula que estipula pagamento de comissão em outro valor nunca chegou a viger. Se o representante permanece silente durante todo o contrato em relação ao valor da comissão, pode-se considerar que tenha anuído tacitamente com essa condição de pagamento, não sendo razoável que, somente após o término do contrato, venha a reclamar a diferença. Com efeito, a boa-fé objetiva, princípio geral de direito recepcionado pelos arts. 113 e 422 do CC/2002 como instrumento de interpretação do negócio jurídico e norma de conduta a ser observada pelas partes contratantes, exige de todos um comportamento condizente com um padrão ético de confiança e lealdade, induz deveres acessórios de conduta, impondo às partes comportamentos obrigatórios implicitamente contidos em todos os contratos, a serem observados para que se concretizem as justas expectativas oriundas da própria celebração e execução da avença, mantendo-se o equilíbrio da relação. Essas regras de conduta não se orientam exclusivamente ao cumprimento da obrigação, permeando toda a relação contratual, de modo a viabilizar a satisfação dos interesses globais envolvidos no negócio, sempre tendo em vista a plena realização da sua finalidade social. Além disso, o referido princípio tem a função de limitar o exercício dos direitos subjetivos. A esta função, aplica-se a teoria do adimplemento substancial das obrigações e a teoria dos atos próprios como meio de rever a amplitude e o alcance dos deveres contratuais, daí derivando o instituto da supressio, que indica a possibilidade de considerar suprimida determinada obrigação contratual na hipótese em que o não exercício do direito correspondente, pelo credor, gerar ao devedor a legítima expectativa de que esse não exercício se prorrogará no tempo. Em outras palavras, haverá redução do conteúdo obrigacional pela inércia qualificada de uma das partes em exercer direito ou faculdade ao longo da execução do contrato, criando para a outra a sensação válida e plausível — a ser apurada casuisticamente — de ter havido a renúncia àquela prerrogativa. Assim, o princípio da boa-fé objetiva torna inviável a pretensão do representante comercial de exigir retroativamente valores que foram por ele dispensados, de forma a preservar uma expectativa legítima, construída e mantida ao longo de toda a relação contratual pelo representado.

Processo STJ. 3ª Turma. REsp 1.162.985-RS, Rel. Ministra Nancy Andrighi, julgado em 18/6/2013.

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Base de cálculo da comissão de representante comercial

O valor dos tributos incidentes sobre as mercadorias integra a base de cálculo da comissão do representante comercial.

Comentários De acordo com o art. 32, § 4º, da Lei 4.886/1965, a comissão paga ao representante comercial deve ser calculada pelo valor total das mercadorias. Assim, na base de cálculo da comissão do representante, deve ser incluído o valor dos tributos incidentes sobre as mercadorias. Isso porque, no Brasil, o preço total da mercadoria traz embutido tanto o IPI quanto o ICMS, compondo o próprio preço do produto.

Processo STJ. 3ª Turma. REsp 1.162.985-RS, Rel. Ministra Nancy Andrighi, julgado em 18/6/2013.

Regime de bens (comunhão parcial)

João e Maria eram casados sob o regime da comunhão parcial e decidiram se divorciar. Surgiu um impasse quanto à partilha de um apartamento. O referido apartamento foi pago, durante o casamento, com dinheiro doado pelo pai de Maria. João alegava que o pai de Maria não afirmou expressamente que a doação era exclusivamente para ela e que, diante desse silêncio, deveria ser interpretada como sendo para o casal. A interpretação conferida por João está correta? Em caso de silêncio na doação, deve-se interpretar que essa liberalidade aconteceu em favor do casal? NÃO. As conclusões são as seguintes: • Se o bem for doado para um dos cônjuges, em um casamento regido pela comunhão parcial

dos bens, a regra é que esse bem pertence apenas ao cônjuge que recebeu a doação. Em outras palavras, esse bem doado não se comunica, não passa a integrar os bens do casal.

• Em um regime de comunhão parcial, o bem doado somente se comunica se, no ato de doação, ficar expressa a afirmação de que a doção é para o casal.

• Logo, em caso de silêncio no ato de doação, deve-se interpretar que esse ato de liberalidade ocorreu em favor apenas do donatário (um dos cônjuges).

Comentários Regime de bens Quando duas pessoas se casam, é estabelecido um regime de bens que irá vigorar neste matrimônio. O regime de bens representa o conjunto de regras que irão disciplinar as relações patrimoniais envolvendo os cônjuges. Quando é escolhido o regime de bens? O regime de bens é definido pelos nubentes antes do casamento. Caso escolham o regime da comunhão parcial, basta que indiquem esta opção no requerimento de habilitação do casamento, que é feito no Registro Civil das Pessoas Naturais (RCPN). Se os nubentes quiserem escolher um regime diferente da comunhão parcial, deverão celebrar um pacto antenupcial, que é feito por meio de escritura pública lavrada pelo Tabelião de Notas (art. 1.653 do CC). Para valer perante terceiros, o pacto antenupcial deverá ser registrado pelo oficial do Registro de Imóveis do domicílio dos cônjuges (art. 1.657 do CC). Regimes de bens previstos no CC O CC prevê expressamente quatro espécies de regime de bens: a) Regime de comunhão parcial (art. 1.658); b) Regime de comunhão universal (art. 1.667); c) Regime de participação final nos aquestos (1.672); d) Regime de separação de bens (art. 1.687).

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REGIME DA COMUNHÃO PARCIAL Previsão: o regime da comunhão parcial é tratado pelos arts. 1.658 a 1.666 do CC. Principal característica: No regime da comunhão parcial, comunicam-se os bens que sobrevierem ao casal, na constância do casamento, com exceção dos casos previstos no Código Civil. Em outras palavras, os bens adquiridos durante o casamento passam a ser de ambos os cônjuges, salvo em algumas situações que o Código Civil determina a incomunicabilidade.

Art. 1.658. No regime de comunhão parcial, comunicam-se os bens que sobrevierem ao casal, na constância do casamento, com as exceções dos artigos seguintes.

O art. 1.660 lista bens que, se adquiridos durante o casamento, pertencem ao casal:

Art. 1.660. Entram na comunhão: I - os bens adquiridos na constância do casamento por título oneroso, ainda que só em nome de um dos cônjuges; II - os bens adquiridos por fato eventual, com ou sem o concurso de trabalho ou despesa anterior; III - os bens adquiridos por doação, herança ou legado, em favor de ambos os cônjuges; IV - as benfeitorias em bens particulares de cada cônjuge; V - os frutos dos bens comuns, ou dos particulares de cada cônjuge, percebidos na constância do casamento, ou pendentes ao tempo de cessar a comunhão.

O art. 1.659, por sua vez, elenca aquilo que é excluído da comunhão:

Art. 1.659. Excluem-se da comunhão: I - os bens que cada cônjuge possuir ao casar, e os que lhe sobrevierem, na constância do casamento, por doação ou sucessão, e os sub-rogados em seu lugar; II - os bens adquiridos com valores exclusivamente pertencentes a um dos cônjuges em sub-rogação dos bens particulares; III - as obrigações anteriores ao casamento; IV - as obrigações provenientes de atos ilícitos, salvo reversão em proveito do casal; V - os bens de uso pessoal, os livros e instrumentos de profissão; VI - os proventos do trabalho pessoal de cada cônjuge; VII - as pensões, meios-soldos, montepios e outras rendas semelhantes.

Imagine agora a seguinte situação hipotética (com diferenças em relação ao caso concreto): João e Maria eram casados sob o regime da comunhão parcial e decidiram se divorciar. Surgiu um impasse quanto à partilha de um apartamento. O referido apartamento foi pago, durante o casamento, com dinheiro doado pelo pai de Maria para ela. João alegava que o pai de Maria não afirmou expressamente que a doação era exclusivamente para ela e que, diante desse silêncio, deveria ser interpretada como sendo para o casal. A interpretação conferida por João está correta? Em caso de silêncio na doação, deve-se interpretar que essa liberalidade aconteceu em favor do casal? NÃO. As conclusões são as seguintes:

Se o bem for doado para um dos cônjuges, em um casamento regido pela comunhão parcial dos bens, a regra é que esse bem pertence apenas ao cônjuge que recebeu a doação. Em outras palavras, esse bem doado não se comunica, não passa a integrar os bens do casal.

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Em um regime de comunhão parcial, o bem doado somente se comunica se, no ato de doação, ficar expressa a afirmação de que a doção é para o casal.

Logo, em caso de silêncio no ato de doação, deve-se interpretar que esse ato de liberalidade ocorreu em favor apenas do donatário (um dos cônjuges).

O voto da Ministra cita lição de Rolf Madaleno: “Próprios são os bens havidos individualmente pelos cônjuges por doação, herança ou legado e, nessas condições não se comunicam, salvo quando destinados a ambos os nubentes. A única exceção é a de o doador atribuir a liberalidade aos dois cônjuges, em comunhão, quando então manifesta de forma clara, expressa e inequívoca essa sua vontade, não deixando nenhuma dúvida de ter endereçado o bem doado aos dois cônjuges, não precisando, por evidente, ser em frações iguais.” (MADALENO, Rolf. Curso de Direito de Família. 4ª ed., Rio de Janeiro: Forense, 2011, p. 739).

Processo STJ. 3ª Turma. REsp 1.318.599-SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 23/4/2013.

DIREITO DO CONSUMIDOR

Aplicação do CDC no contrato de administração imobiliária

É possível aplicar o CDC à relação entre proprietário de imóvel e a imobiliária contratada por ele para administrar o bem. Em outras palavras, a pessoa que contrata uma empresa

administradora de imóveis pode ser considerada consumidora. Comentários

DEFINIÇÃO DO CONCEITO DE CONSUMIDOR Teoria finalista O art. 2º do CDC prevê o seguinte:

Art. 2º Consumidor é toda pessoa física ou jurídica que adquire ou utiliza produto ou serviço como destinatário final.

Em regra, a jurisprudência do STJ afirma que o art. 2º deve ser interpretado de forma restritiva e que deve ser considerado destinatário final tão somente o destinatário fático e econômico do bem ou serviço, seja ele pessoa física ou jurídica. Com isso, em regra, fica excluído da proteção do CDC o consumo intermediário, assim entendido como aquele cujo produto retorna para as cadeias de produção e distribuição, compondo o custo (e, portanto, o preço final) de um novo bem ou serviço (Min. Nancy Andrighi). Para ser considerada uma relação de consumo, o bem ou serviço não pode ter sido adquirido com finalidade lucrativa ou para integrar a cadeia de produção (atividade negocial). Essa é a aplicação da concepção finalista. Teoria finalista mitigada, abrandada ou aprofundada Embora consagre o critério finalista para interpretação do conceito de consumidor, a jurisprudência do STJ também reconhece a necessidade de, em situações específicas, abrandar o rigor desse critério para admitir a aplicabilidade do CDC nas relações entre os adquirentes e os fornecedores em que, mesmo o adquirente utilizando os bens ou serviços para suas atividades econômicas, fique evidenciado que ele apresenta vulnerabilidade frente ao fornecedor. Diz-se que isso é a teoria finalista mitigada, abrandada ou aprofundada. Em suma, a teoria finalista mitigada, abrandada ou aprofundada consiste na possibilidade

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de se admitir que, em determinadas hipóteses, a pessoa, mesmo sem ter adquirido o produto ou serviço como destinatária final, possa ser equiparada à condição de consumidora, por apresentar frente ao fornecedor alguma vulnerabilidade. Nesse sentido: REsp 1.195.642/RJ, Min. Nancy Andrighi, 3ª Turma, julgado em 13/11/2012. Portanto, saber se um destinatário final de um produto ou serviço se enquadra no conceito de consumidor é compreender, além da sua destinação, se a relação jurídica estabelecida é marcada pela vulnerabilidade daquele, pessoa física ou jurídica, que adquire ou contrata produto ou serviço diante do seu fornecedor (Min. Villas Bôas Cueva). CONTRATO DE ADMINISTRAÇÃO IMOBILIÁRIA Imagine a seguinte situação: João, proprietário de um apartamento, contrata uma empresa administradora de imóveis para que ela alugue o bem, receba os aluguéis do locatário e fiscalize o contrato. Que espécie de contrato foi celebrado entre João e a empresa? Um contrato de administração de imóveis (contrato de administração imobiliária). Em que consiste esse contrato? É um contrato de prestação de serviços, por meio do qual o proprietário do imóvel (ou o condomínio) confere a um administrador (pessoa física ou jurídica), por meio de mandato ou autorização, o poder de gerir o imóvel ou de dirigir seus interesses, mediante o pagamento de uma contraprestação. Nessa relação jurídica firmada com a imobiliária, João pode ser considerado consumidor? Esse contrato poderá ser regido pelo CDC? SIM. A 3ª Turma do STJ decidiu que é possível a aplicação do CDC à relação entre proprietário de imóvel e a imobiliária contratada por ele para administrar o bem. Isso porque o proprietário do imóvel é, de fato, destinatário final fático e também econômico do serviço prestado. Ademais, existe uma presunção de que o contratante é vulnerável por força de três fatores:

o contrato firmado é de adesão;

trata-se de uma atividade complexa e especializada;

e o mercado imobiliário se comporta de forma diferenciada e específica em cada lugar e período, de modo que o contratante não detém esse conhecimento técnico.

Ao tratar sobre o tema, Cláudia Lima Marques afirma que, no caso de contratos de administração imobiliária, o contratante é consumidor porque apresenta vulnerabilidade fática, técnica, informacional e jurídica. Isso fica ainda mais claro nas hipóteses em que a pessoa só possua um imóvel para alugar (Contratos no Código de Defesa do Consumidor. 5ª ed., São Paulo: RT, 2005, p. 430-431). Natureza jurídica complexa do contrato de administração imobiliária O contrato de administração imobiliária possui natureza jurídica complexa, em que convivem características de diversas modalidades contratuais típicas - corretagem, agenciamento, administração, mandato -, não se confundindo com um contrato de locação, nem necessariamente dele dependendo. No cenário caracterizado pela presença da administradora na atividade de locação imobiliária se sobressaem pelo menos duas relações jurídicas distintas: a de prestação de

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serviços, estabelecida entre o proprietário de um ou mais imovéis e essa administradora, e a de locação propriamente dita, em que a imobiliária atua como intermediária de um contrato de locação. Na primeira, o dono do imóvel ocupa a posição de destinatário final econômico daquela serventia, vale dizer, aquele que contrata os serviços de uma administradora de imóvel remunera a expertise da contratada, o know how oferecido em benefício próprio. A atividade da imobiliária, que é normalmente desenvolvida com o escopo de propiciar um outro negócio jurídico, uma nova contratação, envolvendo uma terceira pessoa física ou jurídica, pode também se resumir ao cumprimento de uma agenda de pagamentos (taxas, impostos e emolumentos) ou apenas à conservação do bem, à sua manutenção e até mesmo, em casos extremos, ao simples exercício da posse, presente uma eventual impossibilidade do próprio dono, tudo a evidenciar a sua destinação final econômica em relação ao contratante.

Processo STJ. 3ª Turma. REsp 509.304-PR, Rel. Min. Villas Bôas Cueva, julgado em 16/5/2013.

DIREITO PROCESSUAL CIVIL

Sanção ao advogado pela não devolução dos autos no prazo legal

É direito do advogado retirar os autos do cartório mediante assinatura no livro de carga. A legislação prevê que, após retirar os autos do cartório, o advogado deverá devolvê-los no

prazo legal, sob pena de perder o direito à vista fora do cartório e de receber uma multa. Para que sejam aplicadas tais sanções, é indispensável que o advogado tenha sido previamente intimado para devolver os autos e tenha se quedado inerte no prazo de 24 horas. Essa intimação prévia deverá ser feita por mandado (Oficial de Justiça), na pessoa do advogado. Se o causídico foi intimado por meio da Imprensa Oficial a devolver os autos e não o fez, não

poderão ser aplicadas as referidas sanções. As sanções somente podem ser aplicadas ao advogado que retirou os autos e não aos demais

causídicos e estagiários que, apesar de representarem a mesma parte, não tenham sido responsáveis pela retenção indevida.

Comentários É direito do advogado retirar os autos do cartório mediante assinatura no livro de carga:

CPC/ Art. 40. O advogado tem direito de: III - retirar os autos do cartório ou secretaria, pelo prazo legal, sempre que lhe competir falar neles por determinação do juiz, nos casos previstos em lei.

Estatuto da OAB Art. 7º São direitos do advogado: XV - ter vista dos processos judiciais ou administrativos de qualquer natureza, em cartório ou na repartição competente, ou retirá-los pelos prazos legais;

A legislação prevê que, após retirar os autos do cartório, o advogado deverá devolvê-los no prazo legal, sob pena de perder o direito à vista fora do cartório e de receber uma multa:

CPC/ Art. 196. É lícito a qualquer interessado cobrar os autos ao advogado que exceder o prazo legal. Se, intimado, não os devolver dentro em 24 (vinte e quatro) horas, perderá o direito à vista fora de cartório e incorrerá em multa, correspondente à metade do salário mínimo vigente na sede do juízo. Parágrafo único. Apurada a falta, o juiz comunicará o fato à seção local da Ordem dos Advogados do Brasil, para o procedimento disciplinar e imposição da multa.

Prática forense

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Essa sanção de não poder ter vista dos autos fora do cartório vale para todo e qualquer processo? NÃO. Só vale para o respectivo processo que foi retirado e devolvido depois do prazo. Quanto a outros processos, ele continuará tendo o direito de vista dos autos fora do cartório. Essa sanção perdura até quando? Até o encerramento do processo. Necessidade de intimação prévia do advogado Para que sejam aplicadas as sanções acima explicadas, é indispensável que o advogado tenha sido previamente intimado para devolver os autos e tenha se quedado inerte no prazo de 24 horas. Em outras palavras, constando que o advogado está com o processo há mais tempo do que poderia, o juiz deverá determinar a intimação do causídico para devolvê-lo. Caso o patrono não o faça em 24 horas, incidirão as penalidades. Como é feita essa intimação prévia? Essa intimação prévia deverá ser feita por mandado (Oficial de Justiça), na pessoa do advogado que retirou os autos e cujo nome consta do livro de carga. Assim, se o advogado foi intimado por meio da Imprensa Oficial a devolver os autos e não o fez, não poderão ser aplicadas as referidas sanções. “Não se aplicam as penalidades de perda do direito de vista do processo fora do cartório e multa a advogado que não foi pessoalmente intimado para devolver os autos. (...)” (AgRg no Ag 1257316/RJ, Rel. Min. Maria Isabel Gallotti, Quarta Turma, julgado em 14/05/2013). As sanções somente podem ser aplicadas ao advogado que retirou os autos e não ao escritório No caso em que advogado não tenha devolvido os autos ao cartório no prazo legal, não é possível estender a sanção de proibição de vista dos autos fora do cartório (art. 196 do CPC), aplicada àquele advogado, aos demais causídicos e estagiários que, apesar de representarem a mesma parte, não tenham sido responsáveis pela retenção indevida. Isso porque, tratando-se de norma de ordem pública de natureza punitiva, sua interpretação não pode ser ampliativa, sob pena de subversão dos princípios básicos da hermenêutica jurídica.

Processo STJ. 4ª Turma. AgRg no REsp 1.089.181-DF, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 4/6/2013.

Degravação de depoimento de testemunha

No âmbito do processo civil, não é do juízo deprecado o encargo de providenciar a degravação de depoimento de testemunha por ele inquirida pelo método audiovisual.

Comentários Imagine a seguinte situação adaptada: Em um processo cível, o juízo da comarca “A” expediu uma carta precatória para que o juízo da comarca “B” (pertencente a outro Estado da Federação) ouvisse uma testemunha que lá reside. O juízo deprecado (juízo da comarca “B”) ouviu a testemunha por meio de gravação audiovisual e devolveu a carta precatória acompanhada de DVD contendo o depoimento. O juízo deprecante (juízo da comarca “A”), ao receber a carta, proferiu despacho determinando que esta retornasse ao juízo deprecado com o objetivo de que lá (na comarca “B”) fosse feita a degravação do depoimento prestado pela testemunha e, somente após isso, a carta retornasse.

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Em outras palavras, o juízo deprecante afirmou que era uma obrigação do juízo deprecado transcrever, para o meio físico (papel), o depoimento colhido por meio audiovisual. O juízo deprecado não concordou. Diante desse impasse quanto ao cumprimento da carta precatória, o que poderá fazer o juízo deprecado? Suscitar conflito negativo de competência. Isso porque a obrigação de ter que degravar ou não os depoimentos colhidos é uma discussão relativa à amplitude da competência do juízo deprecado no cumprimento de cartas precatórias. Logo, trata-se do debate de quem seria competente para tal ato. Quem irá julgar esse conflito? O Superior Tribunal de Justiça, considerando que são juízes vinculados a tribunais diferentes (art. 105, I, “d”, CF/88). De quem é a responsabilidade pela degravação dos depoimentos? Do juízo DEPRECANTE. Em verdade, não existe regra específica na legislação processual civil determinando de quem seja a responsabilidade pela degravação de depoimento colhido através de carta precatória. Diante dessa lacuna, o Min. Relator valeu-se da Resolução 105/2010 do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), que disciplinou, no âmbito do processo penal, sobre a “documentação dos depoimentos por meio de sistema audiovisual e realização de interrogatório e inquirição de testemunha por videoconferência”. Apesar de se tratar de uma regulamentação específica para o processo penal, o Ministro entendeu que poderia ser também aplicada, por analogia, ao processo civil. Segundo a Resolução 105/2010-CNJ, “caracteriza ofensa à independência funcional do juiz de primeiro grau a determinação, por magistrado integrante do Tribunal, da transcrição de depoimentos tomadas pelo sistema audiovisual”. Em outros termos, o CNJ afirmou que o Tribunal não poderá determinar que o juízo de 1º grau faça a transcrição dos depoimentos prestados pelo sistema audiovisual. Veja uma decisão do CNJ que espelha esse entendimento:

(...) Caracteriza ofensa à independência funcional do juiz de primeiro grau a determinação, por magistrado de segundo grau, da transcrição de depoimentos tomados pelo sistema audiovisual, seja em processos em grau de recurso, seja em processos de competência originária do Tribunal. 2. A transcrição da gravação da audiência configura faculdade, e não dever do magistrado. Se o desembargador defere o pedido de transcrição requerido pelo MP, deve disponibilizar sua própria equipe técnica para o desempenho da tarefa, e não obrigar o magistrado de 1º grau a fazê-lo. (...) (CNJ - PP - Pedido de Providências - Conselheiro - 0001602-36.2012.2.00.0000 - Rel. NEY JOSÉ DE FREITAS - 149ª Sessão - j. 19/6/2012)

Ora, se nem mesmo o Tribunal tem o poder de obrigar que o juiz faça a transcrição dos depoimentos colhidos por meio audiovisual, com maior razão não poderá um juiz de igual estatura hierárquica (juízo deprecante) ordenar que o juízo deprecado proceda à degravação.

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Em regra, “os depoimentos documentados por meio audiovisual não precisam de transcrição” (art. 2º da Resolução 105/2010). Isso porque exigir que haja sempre a degravação provocará o fim das vantagens do sistema audiovisual, tendo em conta que, segundo estudos realizados pelo CNJ, “para cada minuto de gravação leva-se, no mínimo, 10 (dez) minutos para a sua degravação” (texto da Resolução). Se o juiz não se acostuma ou não gosta de analisar os depoimentos em meio audiovisual, ele tem o direito de fazer a degravação, no entanto, isso tem que ocorrer por conta própria, não podendo obrigar o juízo deprecado a fazê-lo. Essa é a ideia constante do parágrafo único do art. 2º da Resolução 105/2010 do CNJ:

Parágrafo único. O magistrado, quando for de sua preferência pessoal, poderá determinar que os servidores que estão afetos a seu gabinete ou secretaria procedam à degravação, observando, nesse caso, as recomendações médicas quanto à prestação desse serviço.

Finaliza o Min. Sérgio Kukina afirmando: “Mais não é preciso dizer, restando claro que, se o juízo deprecante assim o desejar, deverá ele mesmo tomar a iniciativa de, em seu próprio reduto de trabalho, implementar as providências necessárias à indigitada degravação, sem que se onere o juízo deprecado com essa adicional e desgastante tarefa.”

Processo STJ. 1ª Seção. CC 126.770-RS, Rel. Min. Sérgio Kukina, julgado em 8/5/2013.

Inaplicabilidade do parágrafo único do art. 298 do CPC ao procedimento sumário

Nas causas submetidas ao procedimento sumário, a desistência da ação em relação a corréu não citado não altera o prazo para o comparecimento dos demais réus à audiência de

conciliação. Isso porque não pode ser aplicado ao procedimento sumário o parágrafo único do art. 298 do CPC, segundo o qual, se o autor desistir da ação quanto a algum réu ainda não

citado, o prazo para a resposta correrá da intimação do despacho que deferir a desistência. Comentários

Explicando o caput do art. 298 do CPC:

Art. 298. Quando forem citados para a ação vários réus, o prazo para responder ser-lhes-á comum, salvo o disposto no art. 191. Parágrafo único. Se o autor desistir da ação quanto a algum réu ainda não citado, o prazo para a resposta correrá da intimação do despacho que deferir a desistência.

No procedimento ordinário valem as seguintes regras:

Quando dois ou mais réus forem citados, eles terão o prazo de 15 dias para oferecer resposta (contestação, reconvenção etc.).

Esse prazo é comum, ou seja, todos os réus terão os mesmos 15 dias para apresentar a resposta.

Se os réus litisconsortes tiverem procuradores (advogados) diferentes, o prazo para resposta será em dobro (30 dias), nos termos do art. 191 do CPC.

A partir de quando começa a correr o prazo para que o réu apresente resposta? Segundo o art. 241, o prazo começa a correr: I - da data em que for juntado aos autos o aviso de recebimento (AR): quando a citação foi feita pelo correio; II - da data em que for juntado aos autos o mandado de citação cumprido: quando a citação foi feita por oficial de justiça.

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E se houver dois ou mais réus? Nesse caso, o prazo começa a correr da data em que for juntada aos autos o último aviso de recebimento ou o último mandado de citação cumprido. Essa regra está prevista no art. 241, III, do CPC:

Art. 241. Começa a correr o prazo: III - quando houver vários réus, da data de juntada aos autos do último aviso de recebimento ou mandado citatório cumprido;

Exemplo: Rui propôs ação contra João e Pedro, que foram citados por via postal (carta com aviso de recebimento). No dia 07/02/2013, o AR da citação de João é juntado aos autos; no dia 09/03/2013, ocorre a juntada aos autos do AR da citação de Pedro. O prazo para resposta começa a correr tanto para João como para Pedro no dia 09/03/2013, ou seja, data em que foi juntado aos autos o último aviso de recebimento.

Explicando agora o parágrafo único do art. 298 do CPC:

Art. 298. (...) Parágrafo único. Se o autor desistir da ação quanto a algum réu ainda não citado, o prazo para a resposta correrá da intimação do despacho que deferir a desistência.

Voltando ao nosso exemplo: Rui propôs ação contra João e Pedro. No dia 07/02/2013, o AR da citação de João é juntado aos autos. Antes que Pedro fosse citado, Rui peticiona ao juiz pugnando pela desistência da ação quanto a Pedro e o prosseguimento com relação a João. O advogado de João estava tranquilo porque ele sabia que o prazo para a resposta somente começaria a correr na data em que fosse juntado aos autos o último AR. Agora, no entanto, ele ficou preocupado e na dúvida: A partir de quando começa a correr o prazo para que João apresente sua contestação? O prazo para a resposta correrá da intimação do despacho que deferir a desistência, nos termos do parágrafo único do art. 298 do CPC. Assim, o juiz deverá despachar, homologando o pedido de desistência formulado por Rui, e o prazo de resposta começará a correr da data em que João for intimado sobre isso. Como João será intimado do despacho que homologou a desistência parcial?

Se João já havia constituído um advogado nos autos: a intimação será feita na pessoa do advogado;

Se João ainda não havia constituído advogado nos autos: a intimação deverá ser pessoal.

O parágrafo único do art. 298 do CPC se aplica ao procedimento sumário?

O parágrafo único do art. 298 do CPC não se aplica ao procedimento sumário. No procedimento sumário, o réu é citado para comparecer à audiência de conciliação, a ser realizada no prazo de 30 dias, momento em que, não tendo havido conciliação, apresentará a sua defesa. O réu deverá ser citado com antecedência mínima de 10 dias.

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Para o STJ, nas causas submetidas ao procedimento sumário, a desistência da ação em relação a corréu não citado não altera esse prazo para o comparecimento dos demais réus à audiência de conciliação. Segundo a Corte, não pode ser aplicado ao procedimento sumário o parágrafo único do art. 298 do CPC. De fato, embora o legislador tenha previsto a aplicação subsidiária das regras do procedimento ordinário ao sumário (parte final do parágrafo único do art. 272), também se previu que o procedimento sumário rege-se "pelas disposições que lhe são próprias" (parte inicial do parágrafo único do art. 272). Nesse sentido, pela busca de rapidez e simplificação das formas procedimentais, vige, no procedimento sumário, o princípio da concentração dos atos processuais, razão pela qual a audiência preliminar, conquanto seja formada por duas fases diversas e excludentes — a primeira, referente ao comparecimento do réu à audiência de conciliação (ou o de seu advogado, munido de mandato com poderes para transigir) com vistas à eventual composição do litígio, e a segunda, relativa ao oferecimento da resposta (quando frustrada a conciliação), sob pena de revelia —, materializa-se em um único ato processual. Sendo assim, mostra-se inviável a aplicação subsidiária das regras do procedimento ordinário ao sumário nesses casos, diante da existência de regras específicas no âmbito do procedimento sumário sobre o momento de conciliação e apresentação da resposta.

Como conciliar o art. 241 com o art. 184, § 2º, do CPC?

Aproveitando que falamos acima sobre prazos processuais, vejamos agora como conciliar o art. 241 com o art. 184, § 2º, do CPC?

O art. 241 do CPC dispõe:

Art. 241. Começa a correr o prazo: I - quando a citação ou intimação for pelo correio, da data de juntada aos autos do aviso de recebimento; II - quando a citação ou intimação for por oficial de justiça, da data de juntada aos autos do mandado cumprido; III - quando houver vários réus, da data de juntada aos autos do último aviso de recebimento ou mandado citatório cumprido; IV - quando o ato se realizar em cumprimento de carta de ordem, precatória ou rogatória, da data de sua juntada aos autos devidamente cumprida; V - quando a citação for por edital, finda a dilação assinada pelo juiz.

O art. 184, § 2º do CPC, por sua vez, preconiza:

Art. 184. Salvo disposição em contrário, computar-se-ão os prazos, excluindo o dia do começo e incluindo o do vencimento. (...) § 2º Os prazos somente começam a correr do primeiro dia útil após a intimação (art. 240 e parágrafo único).

Imagine a seguinte situação: Rui propõe uma ação ordinária contra João, que terá o prazo de 15 dias para contestar. O réu foi citado por meio do Oficial de Justiça no dia 02. O Oficial devolveu o mandado cumprido no dia 05. O servidor da Secretaria da Vara fez a juntada do mandado cumprido aos autos no dia 09.

Nos termos do art. 241, II, do CPC, o prazo para João contestar começou a correr no dia 09, data de juntada aos autos do mandado cumprido. O prazo de João, contudo, somente começará a ser contado no primeiro dia útil subsequente à intimação, conforme prevê o art. 184, § 2º do CPC. Assim, a data em que se iniciará a contagem do prazo é dia 10.

Processo STJ. 2ª Seção. EAREsp 25.641-RJ, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 12/6/2013.

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Procedimento sumário (ausência do réu na audiência preliminar)

Nas causas submetidas ao procedimento sumário, o não comparecimento injustificado do réu regularmente citado à audiência de conciliação, caso não tenha oferecido sua resposta em

momento anterior, pode ensejar o reconhecimento da revelia. Isso porque o § 2º do art. 277 do CPC — que dispõe que, deixando injustificadamente o réu de comparecer à audiência, reputar-

se-ão verdadeiros os fatos alegados na petição inicial (art. 319), salvo se o contrário resultar da prova dos autos — aplica-se às demandas submetidas ao procedimento sumário.

Além do mais, a decretação da revelia, na hipótese, também se justifica pelo não oferecimento de resposta em momento anterior à audiência de conciliação, fato que evitaria a revelia, mesmo no caso em que o réu citado não tivesse comparecido à audiência de conciliação.

Obs: as conclusões expostas nesta parte amarela foram retiradas do Informativo e do voto do Ministro, mas não constam da ementa do julgado e revelam-se polêmicas. Explico abaixo os

entendimentos majoritários. Comentários Sobre a audiência no procedimento sumário, estabelece o CPC:

Art. 277. O juiz designará a audiência de conciliação a ser realizada no prazo de trinta dias, citando-se o réu com a antecedência mínima de dez dias e sob advertência prevista no § 2º deste artigo, determinando o comparecimento das partes. Sendo ré a Fazenda Pública, os prazos contar-se-ão em dobro. § 1º A conciliação será reduzida a termo e homologada por sentença, podendo o juiz ser auxiliado por conciliador. § 2º Deixando injustificadamente o réu de comparecer à audiência, reputar-se-ão verdadeiros os fatos alegados na petição inicial (art. 319), salvo se o contrário resultar da prova dos autos, proferindo o juiz, desde logo, a sentença. § 3º As partes comparecerão pessoalmente à audiência, podendo fazer-se representar por preposto com poderes para transigir. § 4º O juiz, na audiência, decidirá de plano a impugnação ao valor da causa ou a controvérsia sobre a natureza da demanda, determinando, se for o caso, a conversão do procedimento sumário em ordinário. § 5º A conversão também ocorrerá quando houver necessidade de prova técnica de maior complexidade.

Principais pontos: • Prazo para audiência: 30 dias • Antecedência mínima para o réu ser citado: 10 dias • Se a Fazenda Pública for ré: tais prazos são contados em dobro

Finalidades da citação: O CPC afirma que o réu é citado para comparecer à audiência de conciliação, a ser realizada no prazo de 30 dias, momento em que, não tendo havido conciliação, apresentará a sua defesa. O réu deverá ser citado com antecedência mínima de 10 dias.

Fases da audiência A audiência preliminar divide-se em duas etapas distintas:

Etapas da audiência preliminar no procedimento sumário (concentradas em um só ato processual)

a) Audiência de conciliação

Em um primeiro momento, deverá ser buscada a conciliação. É indispensável a presença do réu ou de seu advogado, munido de procuração com poderes para transigir. Não há problema se, nessa etapa, o réu não estiver acompanhado de advogado.

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Essa primeira etapa poderá ser conduzida por conciliador. Havendo acordo, o conciliador reduzirá a termo para que o juiz homologue.

b) Oferecimento da contestação

Não obtida a conciliação, o réu oferecerá, na própria audiência, a contestação (oral ou escrita). Essa segunda etapa deverá ser presidida por juiz togado. Não havendo advogado, deverá ser decretada a revelia.

Aspectos sobre a revelia: 1) Firme no propósito de concentrar os atos processuais, o procedimento sumário prevê a

necessidade de presença do réu na audiência de conciliação para que primeiro seja tentada a autocomposição da demanda e, em caso de negativa, se prossiga com a apresentação de contestação, sob pena de decretação da revelia (REsp 1096396/DF, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, Quarta Turma, julgado em 07/05/2013);

2) Assim, em regra, haverá revelia se o réu não comparecer à audiência. Se não for à audiência, mas enviar advogado com poderes para transigir, o réu não será considerado revel;

3) O réu será considerado revel se comparecer à audiência e, não sendo obtida a conciliação, não apresentar contestação neste ato (AgRg no Ag 1331798/RJ, Rel. Min. João Otávio De Noronha, Quarta Turma, julgado em 05/05/2011);

Na segunda etapa da audiência preliminar, é indispensável a presença do advogado?

SIM (majoritário) NÃO

A presença do advogado do réu é imprescindível na audiência de conciliação do procedimento sumário, uma vez que neste momento processual será oportunizada a prática de atos defensivos e outros relativos à produção de prova, os quais jamais podem ser realizados pela própria parte, mas, sim, por intermédio de seu causídico. Assim, mesmo que o réu tenha comparecido à audiência conciliatória, a defesa em juízo deve ser praticada por defensor regularmente habilitado. Logo, a contestação não pode ser apresentada pelo réu sem advogada, sob pena de considerarmos a inexistência do ato e, por conseguinte, a revelia do réu. (REsp 336848/DF, Rel. Min. Vasco Della Giustina (Desembargador Convocado do TJ/RS), Terceira Turma, julgado em 06/04/2010, DJe 16/04/2010)

A presença do advogado não é imprescindível se o réu comparecer à audiência e levar a sua contestação assinada pelo advogado. STJ. 2ª Seção. EAREsp 25.641-RJ, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 12/6/2013.

Para esta primeira corrente, mesmo que o réu leve a contestação assinada por advogado, ele não poderá apresentá-la porque exige-se capacidade postulatória para tanto.

Para esta segunda corrente, é possível que o réu, mesmo que não esteja acompanhado de advogado, apresente sua contestação, desde que, neste caso, a peça esteja assinada pelo causídico.

Processo STJ. 2ª Seção. EAREsp 25.641-RJ, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 12/6/2013.

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Defensor Público tem direito à vista pessoal dos autos antes da audiência preliminar no procedimento sumário

No procedimento sumário, não pode ser reconhecida a revelia pelo não comparecimento à audiência de conciliação na hipótese em que tenha sido indeferido pedido de vista da

Defensoria Pública formulado, dias antes da data prevista para a referida audiência, no intuito de garantir a defesa do réu que somente tenha passado a ser assistido após a citação.

Comentários Imagine a seguinte situação: Pedro ajuizou uma ação contra João objetivando a revogação de uma doação, processo que tramita sob o rito sumário (art. 275, II, g, do CPC). João foi citado para comparecer à audiência de conciliação, a ser realizada no prazo de 30 dias. O réu procurou a Defensoria Pública, que peticionou ao juiz, habilitando-se e pedindo vista pessoal dos autos com carga e prazo em dobro para preparar a defesa do assistido (art. 89, I e VI, da LC 80/94). O juiz indeferiu o pedido. No dia da audiência, o Defensor Público não compareceu, tendo sido decretada a revelia de João após não ter sido obtida a conciliação com Pedro.

Agiu de forma correta o juiz? NÃO. No procedimento sumário, não pode ser reconhecida a revelia pelo não comparecimento à audiência de conciliação na hipótese em que tenha sido indeferido pedido de vista da Defensoria Pública formulado, dias antes da data prevista para a referida audiência, no intuito de garantir a defesa do réu que somente tenha passado a ser assistido após a citação. O procedimento sumário prevê a necessidade da presença do réu na audiência de conciliação para que, restando infrutífera a tentativa de autocomposição, prossiga-se com a apresentação de contestação, sob pena de decretação da revelia. Dessa forma, na situação em análise, a não concessão de vista dos autos à Defensoria Pública, responsável pela defesa da parte ré, acaba privando esta de seu direito à ampla defesa, ao contraditório e de acesso à Justiça, gerando, assim, evidentes prejuízos, os quais não podem ser desconsiderados.

Processo STJ. 4ª Turma. REsp 1.096.396-DF, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 7/5/2013.

Recurso cabível contra decisão que indefere justiça gratuita na sentença

O indeferimento, na prolação da sentença, do pedido de assistência judiciária gratuita, é impugnável por meio de apelação. Isso porque, pelo princípio da unirrecorribilidade, cada ato

decisório só pode ser atacado por um único recurso. Comentários Garantia de assistência jurídica integral e gratuita

A CF/88 prevê a garantia da assistência jurídica integral e gratuita em seu art. 5º, LXXIV: o Estado prestará assistência jurídica integral e gratuita aos que comprovarem insuficiência de recursos.

Esse dispositivo constitucional consagra duas garantias:

I – Assistência jurídica integral e gratuita II – Benefício da gratuidade judiciária (justiça gratuita).

Fornecimento pelo Estado de orientação e defesa jurídica, de forma integral e gratuita, a ser prestada pela Defensoria Pública, em todos os graus, dos necessitados (art. 134 da CF). Regulada pela Lei Complementar 80/94.

Isenção das despesas que forem necessárias para que a pessoa necessitada possa defender seus interesses em um processo judicial.

Regulada pela Lei n. 1.060/50.

Defensoria Pública

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Lei n. 1.060/50

A Lei n. 1.060/50 estabelece normas para a concessão de assistência judiciária aos necessitados. É conhecida como Lei de Assistência Judiciária (LAJ).

Qual é o momento em que esse pedido deverá ser formulado? Normalmente, o pedido de justiça gratuita é feito na própria petição inicial (no caso do autor) ou na contestação (no caso do réu). No entanto, a orientação pacífica da jurisprudência é de que a assistência judiciária gratuita pode ser pleiteada a qualquer tempo (REsp 1261220/SP, DJe 04/12/2012). Se o juiz, na sentença, nega o pedido de justiça gratuita, qual será o recurso cabível a ser interposto pela parte prejudicada? APELAÇÃO. O indeferimento, na prolação da sentença, do pedido de assistência judiciária gratuita, é impugnável por meio de apelação. Isso porque, pelo princípio da unirrecorribilidade, cada ato decisório só pode ser atacado por um único recurso. Ressalte-se que a hipótese em análise não se confunde com aquela na qual o pedido de assistência judiciária gratuita é apreciado em decisão interlocutória, situação em que o recurso cabível será o agravo de instrumento.

Processo STJ. 4ª Turma. AgRg no AREsp 9.653-SP, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 2/5/2013.

Multa no caso de agravo manifestamente inadmissível

A exigência de que a parte recolha a multa antes de recorrer somente vale para o caso de recurso interposto contra a mesma matéria já decidida no agravo e em razão da qual foi

imposta a sanção. Não se exige o prévio recolhimento da multa se o recurso que a parte vai interpor objetive a

impugnação de matéria diferente daquela tratada no agravo que deu origem à multa. Se fosse ser exigido o recolhimento prévio para interpor qualquer recurso, sobre qualquer

outra matéria e em qualquer fase processual, haveria uma limitação muito grande ao exercício do direito de defesa.

Comentários Agravo de instrumento e multa do art. 557, § 2º do CPC

Vejamos algumas etapas do processamento e julgamento do agravo de instrumento:

1) João ajuíza ação contra Pedro. Requereu liminarmente uma tutela cautelar.

2) Juiz profere uma decisão interlocutória denegando a tutela cautelar.

3) Contra as decisões interlocutórias prolatadas pelo juízo de 1ª instância cabe, em tese, agravo retido ou agravo de instrumento, conforme o caso concreto;

4) Imaginemos que seja hipótese de agravo de instrumento;

5) A parte prejudicada, no prazo máximo de 10 dias (em regra), interpõe, diretamente no Tribunal (entrega o recurso no protocolo do Tribunal e não no do Fórum), o agravo de instrumento (petição acompanhada das peças obrigatórias e facultativas – vide arts. 524 e 525);

6) O agravante, no prazo de 3 dias, tem o dever de juntar, aos autos do processo em 1ª instância, cópia da petição do agravo de instrumento interposto e do comprovante de sua interposição, assim como a relação dos documentos que instruíram o recurso;

7) No Tribunal, o agravo de instrumento é distribuído incontinenti (imediatamente), sendo sorteado um Desembargador Relator.

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8) O Desembargador Relator poderá negar seguimento (ou negar provimento) ao agravo de instrumento liminarmente (sem ouvir a parte contrária/recorrida) e de forma monocrática (decidindo sozinho, isto é, sem levar o caso ao Colegiado) se o recurso do recorrente for manifestamente inadmissível (não preenche os requisitos para ter o seu mérito conhecido), improcedente (a tese defendida pelo recorrente não encontra amparo no direito), prejudicado (a parte já não tem mais interesse no recurso, houve perda do objeto) ou se o recurso estiver em confronto com súmula ou com jurisprudência dominante do respectivo tribunal, do Supremo Tribunal Federal, ou de Tribunal Superior (art. 527, I, do CPC).

9) E se a parte não concordar com essa decisão monocrática do Relator que nega seguimento ao agravo de instrumento (art. 527, I do CPC), o que ela poderá fazer? A parte poderá, neste caso, interpor um agravo interno para o órgão colegiado do Tribunal, no prazo de 5 dias, questionando a decisão monocrática do Relator.

10) Imaginemos que João interpôs um agravo interno “abusivo” contra a decisão que negou

seguimento ao agravo de instrumento. Se o órgão colegiado do Tribunal considerar que o agravo interno interposto é manifestamente inadmissível ou infundado, ele aplicará ao recorrente duas sanções:

condenará o agravante a pagar ao agravado multa entre 1% e 10% do valor corrigido da causa;

condicionará o depósito do valor da multa em juízo para que futuros recursos sejam recebidos.

Estas sanções estão previstas no § 2º do art. 557 do CPC:

§ 2º Quando manifestamente inadmissível ou infundado o agravo, o tribunal condenará o agravante a pagar ao agravado multa entre um e dez por cento do valor corrigido da causa, ficando a interposição de qualquer outro recurso condicionada ao depósito do respectivo valor.

O STJ analisou esse dispositivo e respondeu a seguinte pergunta: A exigência de que a parte recolha a multa do § 2º do art. 557 do CPC vale para todo e qualquer recurso, ainda que em diferente fase processual ou versando sobre matéria diversa da que foi impugnada no agravo? NÃO. A exigência de que a parte recolha a multa antes de recorrer somente vale para o caso de recurso interposto contra a mesma matéria já decidida no agravo e em razão da qual foi imposta a sanção. Não se exige o prévio recolhimento da multa se o recurso que a parte vai interpor objetive a impugnação de matéria diferente daquela tratada no agravo que deu origem à multa. Se fosse ser exigido o recolhimento prévio para interpor qualquer recurso, sobre qualquer outra matéria e em qualquer fase processual, haveria uma limitação muito grande ao exercício do direito de defesa. Assim, se o juiz decidir o mérito da causa, por exemplo, e João for apelar contra a sentença, ele não precisará recolher previamente a multa porque esta é matéria diferente daquela que foi decidida no agravo abusivo.

Processo STJ. 4ª Turma. REsp 1.354.977-RS, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 2/5/2013.

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Recurso especial interposto no dia da publicação dos embargos e Súmula 418 do STJ

Não é extemporâneo o recurso especial interposto na mesma data em que disponibilizado, no Diário da Justiça eletrônico, o acórdão referente ao julgamento dos embargos de declaração

opostos no tribunal de origem. Comentários TEMPESTIVIDADE

Para que um recurso seja conhecido, é indispensável que ele preencha requisitos intrínsecos e extrínsecos. Um dos requisitos extrínsecos de todo e qualquer recurso é a tempestividade. Tempestividade significa que o recurso deve ser interposto dentro do prazo fixado em lei. Todo recurso tem um prazo e, se a parte o interpõe após este prazo, o recurso não será conhecido por intempestividade. RECURSO INTERPOSTO ANTES DO JULGAMENTO DOS EMBARGOS Imagine o seguinte exemplo hipotético: João é o autor de uma ação contra Pedro. O pedido foi julgado parcialmente procedente em 1ª instância e ambas as partes apelaram ao Tribunal de Justiça, que manteve a sentença. O acórdão do TJ foi publicado no dia 22/04/2013. Quais os recursos que as partes poderiam interpor contra esse acórdão do TJ? Em tese, tanto João como Pedro poderiam interpor os seguintes recursos:

Recurso especial

Recurso extraordinário

Embargos de declaração No dia 24/04/2013, João interpôs recurso especial alegando que a decisão do TJ violava lei federal. No dia 25/04/2013, Pedro opõe embargos de declaração afirmando que a decisão do TJ foi omissa quanto a alguns pontos. Quem julgará esses recursos e qual deles deverá ser apreciado por primeiro? O REsp é julgado pelo STJ e os embargos de declaração pelo próprio TJ. Justamente por isso, os embargos devem ser julgados em primeiro lugar e só depois os autos serão remetidos ao STJ para apreciação do REsp. Os embargos de declaração foram conhecidos e improvidos em 20/05/2013 e o acórdão publicado no dia 23/05/2013. Diante disso, indaga-se: O recurso que havia sido interposto antes da decisão dos embargos de declaração continua valendo e poderá ser conhecido pelo Tribunal ad quem ou a parte que o ajuizou deverá ratificá-lo (confirmá-lo) após os embargos serem julgados?

Posição do STJ e do STF: É necessário RATIFICAR o recurso.

Julgado da 1ª Turma do STF: NÃO é necessário ratificar o recurso.

Súmula 418-STJ: É inadmissível o Recurso Especial interposto antes da publicação do acórdão dos embargos de declaração, sem posterior ratificação.

A 1ª Turma já decidiu que a parte pode, a partir do primeiro dia do prazo, interpor o recurso extraordinário, independentemente da parte contrária ter oposto embargos declaratórios.

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Assim, não será necessária a ratificação do RE após o julgamento dos embargos. RE 680371 AgR/SP, rel. orig. Min. Dias Toffoli, red. p/ o acórdão Min. Marco Aurélio, 11/6/2013 (Info 710).

Vale ressaltar que essa decisão da 1ª Turma do STF vai de encontro ao entendimento até então pacífico da Corte Especial do STJ e do Plenário do próprio STF. Desse modo, deveremos aguardar um pouco para saber se essa nova posição irá prevalecer ou não. Por enquanto, o entendimento ainda majoritário é no sentido de ser necessária a ratificação. RECURSO INTERPOSTO NO DIA DA PUBLICAÇÃO DO JULGAMENTO DOS EMBARGOS Imagine agora o caso peculiar: João é o autor de uma ação contra Pedro. O pedido foi julgado parcialmente procedente em 1ª instância e ambas as partes apelaram ao Tribunal de Justiça, que manteve a sentença. O acórdão do TJ foi publicado no dia 22/04/2013. No dia 25/04/2013, Pedro opõe embargos de declaração afirmando que a decisão do TJ foi omissa quanto a alguns pontos. Os embargos de declaração foram conhecidos e improvidos em 20/05/2013 e o acórdão publicado no dia 23/05/2013. No dia 23/05/2013 (mesma data da publicação do acórdão dos ED), João interpôs o REsp. O REsp interposto por João foi tempestivo? SIM. Segundo decidiu o STJ, não é extemporâneo o recurso especial interposto na mesma data em que disponibilizado, no Diário da Justiça eletrônico, o acórdão referente ao julgamento dos embargos de declaração opostos no tribunal de origem. É certo que, nos termos do art. 4º da Lei 11.419/2006, considera-se como dia da publicação o dia útil seguinte àquele em que ocorrida a disponibilização. Todavia, deve-se observar que o referido dispositivo legal tem por escopo facilitar o exercício do direito de recurso, assegurando à parte o prazo integral, a contar do dia seguinte ao da disponibilização. Dessa forma, se o advogado da parte se dá por ciente no mesmo dia em que efetuada a disponibilização, oferecendo desde logo o recurso, não há prematuridade, mas simples antecipação da ciência e, portanto, do termo inicial do prazo. Nessa situação, não incide o entendimento contido na Súmula 418 do STJ, que deve ser aplicado apenas no caso de interposição do recurso especial antes do julgamento dos embargos de declaração. Com efeito, deve-se considerar a razão de ser da edição da referida súmula, qual seja, a de evitar que o recurso especial seja interposto antes do julgamento dos embargos de declaração, pois, nessa hipótese, não está exaurida a instância ordinária, sendo prematura a interposição do recurso especial, o que impõe a ratificação das razões do recurso especial após o julgamento dos embargos de declaração, sob pena de não conhecimento.

Processo STJ. 4ª Turma. AgRg no REsp 1.063.575-SP, Rel. Min. Isabel Gallotti, julgado em 16/4/2013.

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Embargos de divergência e dissídio sobre a interpretação de regra de direito processual

É possível o conhecimento de embargos de divergência na hipótese em que exista dissídio entre órgãos do STJ acerca da interpretação de regra de direito processual, ainda que não haja semelhança entre os fatos da causa tratada no acórdão embargado e os analisados no acórdão

tido como paradigma. Comentários Os embargos de divergência são um recurso previsto nos arts. 496, VIII e 546 do CPC, bem

como nos regimentos internos do STF e do STJ. Esse recurso possui dois objetivos: 1) Obter a reforma ou anulação do acórdão embargado; 2) Uniformizar a jurisprudência interna do STF e do STJ, evitando que prevaleçam decisões

conflitantes. Só cabem os embargos de divergência contra decisão de:

turma do STJ em julgamento de Recurso especial;

turma do STF em julgamento de Recurso extraordinário. A decisão da turma do STJ deve ter sido divergente em relação ao julgamento de outra turma, da seção ou do órgão especial do STJ. A decisão da turma do STF deve ter sido divergente em relação ao julgamento de outra turma ou do plenário do STF. Ao propor este recurso, o recorrente deverá realizar uma comparação entre o acórdão recorrido e um acórdão paradigma do mesmo Tribunal, provando que o acórdão recorrido foi divergente do acórdão paradigma. Normalmente, os livros de doutrina afirmam que os embargos de divergência NÃO são admitidos se não houver similitude fática entre os arestos paradigma e embargado. O que o julgado examinado afirmou é que a matéria versada nos embargos de divergência não precisa ser necessariamente de direito material. Assim, pode ser interposto este recurso quando a divergência entre o acórdão recorrido e o acórdão paradigma for relacionada a aspectos de direito processual civil. Neste caso (divergência sobre aspectos de direito processual), não será nem mesmo necessária a similitude fática entre os pressupostos de fato do processo.

Processo STJ. 2ª Seção. EAREsp 25.641-RJ, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 12/6/2013.

Multa fixada contra o réu em ação cautelar não persiste se a ação principal for improcedente

No caso de improcedência do pedido formulado na ação principal, será inexigível a multa cominatória fixada na ação cautelar.

Comentários Imagine a seguinte situação adaptada: A empresa “Z” possuía um contrato com uma fabricante de cervejas, por meio do qual tinha o direito de distribuir e comercializar os produtos da cervejaria. Iniciaram-se algumas divergências comerciais entre as empresas.

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Ação cautelar Diante disso, com receio, a empresa “Z” ajuizou uma ação cautelar pedindo para que lhe fosse assegurada a manutenção do contrato de revenda e distribuição dos produtos. A pretensão liminar foi deferida, sendo fixada multa diária de 10 mil reais em caso de descumprimento. Durante 10 dias, a decisão judicial foi desatendida. Ao final, a ação cautelar foi julgada procedente e a liminar confirmada. Houve trânsito em julgado do processo cautelar. Ação principal Paralelamente, após ter sido concedida a liminar, a empresa “Z” ajuizou a ação principal contra a cervejaria, pedindo a manutenção do contrato. Após já ter ocorrido o trânsito em julgado do processo cautelar, a ação principal foi julgada improcedente. Houve o trânsito em julgado do processo principal. Indaga-se: a multa de 100 mil reais decorrente dos 10 dias de descumprimento da medida liminar poderá ser executada? NÃO. Segundo decidiu o STJ, no caso de improcedência do pedido formulado na ação principal, será inexigível a multa cominatória fixada na ação cautelar. A decisão concessiva da tutela cautelar é proferida com base em cognição sumária do direito acautelado, em juízo de mera probabilidade. A sentença prolatada na ação principal, por sua vez, é fundada em cognição exauriente acerca da questão de fundo. Desse modo, pela lógica, a sentença definitiva prolatada na ação principal sobrepõe-se à decisão proferida no processo cautelar. Assim, o não acolhimento da pretensão formulada na ação principal esvazia o provimento acautelatório de um dos pressupostos sobre os quais se fundou: a verossimilhança do direito invocado. Além disso, o julgamento de improcedência do pedido deduzido na ação principal (que se reveste dos atributos de definitividade e satisfatividade em relação ao objeto litigioso) faz cessar a eficácia da sentença cautelar e, por conseguinte, inviabiliza a execução de eventual multa nela fixada.

Processo STJ. 3ª Turma. REsp 1.370.707-MT, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 4/6/2013.

Execução de verbas reconhecidas a anistiado político (Julgado que interessa apenas para concursos federais difíceis)

O procedimento de execução contra a Fazenda Pública (art. 730 do CPC) não é adequado ao cumprimento de portaria ministerial que tenha reconhecido condição de anistiado político. Portaria concessiva de anistia e indenização não constitui título executivo extrajudicial, não

estando abrangida pelo art. 585, II, do CPC. Comentários Anistia política (art. 8º do ADCT e Lei n. 10.559/2002)

O art. 8º do ADCT prevê a concessão de anistia política a pessoas que foram prejudicadas por perseguições decorrentes de motivação política no período de 18/09/1946 até a data

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de promulgação da CF/88. Há previsão de que o anistiado receba uma reparação de natureza econômica a ser paga pela União.

A Lei n. 10.559/2002 regulamentou o art. 8º do ADCT e a concessão dessa anistia. Imagine agora a seguinte situação adaptada: Determinada Portaria do Ministério da Justiça reconheceu a condição de anistiado político a João, concedendo-lhe reparação econômica no valor de 100 mil reais. Ocorre que não houve o pagamento da quantia devida. Diante disso, João ajuizou execução contra a Fazenda Pública, nos termos do art. 730 do CPC. Agiu de forma correta o anistiado? Em caso de descumprimento da portaria de anistia política, o procedimento adequado é a execução contra a Fazenda Pública? NÃO. O procedimento de execução contra a Fazenda Pública (art. 730 do CPC) não é adequado ao cumprimento de portaria ministerial que tenha reconhecido condição de anistiado político. Isso porque não se trata apenas do recebimento de prestação pecuniária, mas sim do integral cumprimento de ato administrativo que reconhece a condição de anistiado político. A portaria de concessão da anistia pode ser considerada título executivo extrajudicial? NÃO. Essa espécie de portaria NÃO pode ser considerada título executivo extrajudicial, pois o art. 585, II, do CPC deve ser interpretado de forma restritiva. Ressalte-se, ainda, que não estão presentes, nesse tipo de portaria, os requisitos da certeza e da exigibilidade — que caracterizam os títulos executivos extrajudiciais —, devendo o interessado, primeiramente, ingressar com processo de conhecimento para que a dívida seja reconhecida, obtendo, assim, o título executivo hábil ao manejo de uma execução contra a Fazenda Pública.

Processo STJ. 2ª Turma. AgRg no REsp 1.362.644-PE, Rel. Min. Humberto Martins, julgado em 23/4/2013.

Revisão de contrato em embargos do devedor (embargos à execução)

No âmbito de embargos do devedor, é possível proceder à revisão do contrato de que se origine o título executado, ainda que, em relação ao referido contrato, tenha havido confissão de dívida.

Comentários Imagine a seguinte situação adaptada: João celebrou um contrato com a empresa “A”, no qual consta também a assinatura de duas testemunhas. João estava descumprindo o contrato, razão pela qual a empresa o chamou para renegociar. Na renegociação, a empresa combinou de dilatar o prazo para cumprimento da obrigação e, em contrapartida, João assinou um termo confessando a dívida. Ocorre que João continuou inadimplente, razão pela qual a empresa ajuizou uma execução de título executivo extrajudicial cobrando o valor da multa e dos juros. João opôs embargos do devedor alegando que determinadas cláusulas do contrato eram abusivas. A empresa ofereceu impugnação, afirmando que tais matérias não poderiam ser discutidas em embargos e que o devedor confessou a dívida. Diante disso, indaga-se: é possível que o executado, em embargos do devedor, pretenda a revisão do contrato que está sendo executado? SIM.

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Mesmo que ele tenha assinado um termo de confissão de dívida? SIM. Segundo o STJ, no âmbito de embargos do devedor, é possível proceder à revisão do contrato de que se origine o título executado, ainda que, em relação ao referido contrato, tenha havido confissão de dívida. Aplica-se ao caso o mesmo raciocínio que deu origem à Súmula 286 do STJ: A renegociação de contrato bancário ou a confissão da dívida não impede a possibilidade de discussão sobre eventuais ilegalidades dos contratos anteriores.

Processo STJ. 3ª Turma. REsp 1.330.567-RS, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 16/5/2013.

Excesso de execução deve ser alegado nos embargos à execução

Não é possível ao juiz conhecer de suposto excesso de execução alegado pelo executado somente após a oposição dos embargos à execução. Isso porque eventual excesso de execução é típica matéria de defesa, e não de ordem pública, devendo ser arguida pelo executado por meio

de embargos à execução, sob pena de preclusão. Comentários Imagine a seguinte situação:

João é credor da Fazenda Pública por força de uma sentença judicial transitada em julgado. João ajuíza, então, execução contra a Fazenda Pública cobrando o valor devido. O procedimento de execução contra a Fazenda Pública é previsto nos arts. 730 e 731 do CPC. Dessa feita, a Fazenda será citada para, se quiser, opor embargos em 30 dias (o art. 1º B da Lei 9.494/97 ampliou o prazo previsto no art. 730, caput, do CPC). Assim, a defesa típica da Fazenda Pública, na execução contra ela proposta, são os embargos à execução. O que a Fazenda Pública poderá alegar nos embargos à execução?

Art. 741. Na execução contra a Fazenda Pública, os embargos só poderão versar sobre: I – falta ou nulidade da citação, se o processo correu à revelia; II – inexigibilidade do título; III – ilegitimidade das partes; IV – cumulação indevida de execuções; V – excesso de execução; VI – qualquer causa impeditiva, modificativa ou extintiva da obrigação, como pagamento, novação, compensação, transação ou prescrição, desde que superveniente à sentença; VII – incompetência do juízo da execução, bem como suspeição ou impedimento do juiz.

Voltando ao nosso exemplo: Dentro do prazo de 30 dias, a União apresentou embargos à execução alegando que o título seria inexigível, nos termos do art. 741, II, do CPC. O que o juiz deverá fazer? Não sendo caso de rejeição liminar dos embargos, o juiz deverá recebê-los, suspender a execução e determinar a intimação do exequente/embargado para apresentar resposta aos embargos opostos. Qual é o nome da manifestação do exequente/embargado? Impugnação aos embargos.

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Qual é o prazo dessa impugnação? 15 dias, nos termos do art. 740 do CPC:

Art. 740. Recebidos os embargos, será o exequente ouvido no prazo de 15 (quinze) dias; a seguir, o juiz julgará imediatamente o pedido (art. 330) ou designará audiência de conciliação, instrução e julgamento, proferindo sentença no prazo de 10 (dez) dias.

Vejam a peculiaridade que aconteceu no caso concreto: Após o exequente/embargado ter apresentado a impugnação aos embargos, a Fazenda Pública peticionou ao juiz, invocando o princípio da ampla defesa, e pedindo que, além dos elementos indicados na inicial, ele acolhesse, como fundamento dos embargos, o excesso de execução (art. 741, V). Em outras palavras, após já ter apresentados os embargos, a Fazenda Pública peticionou complementando a Inicial e afirmando que deveria ser reconhecido o excesso de execução, anteriormente não alegado. A Fazenda Pública argumentou que poderia fazer isso porque o excesso de execução seria matéria de ordem pública e que, portanto, poderia ser conhecida de ofício pelo juiz. O STJ concordou com a tese da Fazenda Pública? NÃO. Para o STJ a petição apresentada depois dos embargos à execução não pode ser conhecida, porquanto o suposto excesso de execução é típica matéria de defesa, e não de ordem pública, a qual deve ser alegada pelo executado a quem aproveita. Portanto, era ônus da Fazenda Pública executada provar, com a oposição dos embargos, que a execução era excessiva. Como não o fez no momento próprio, ocorreu a preclusão. O STJ mencionou, ainda, que não seria cabível a exceção de pré-executividade, uma vez que o excesso de execução é matéria reservada aos embargos à execução (art. 741, V) e, portanto, as questões reservadas aos embargos não são passíveis de conhecimento ex officio pelo magistrado.

Processo STJ. 2ª Turma. AgRg no AREsp 150.035-DF, Rel. Ministro Humberto Martins, julgado em 28/5/2013.

Bens impenhoráveis

As quantias previstas no inciso IV do art. 649 do CPC somente manterão a condição de impenhoráveis enquanto estiverem “destinadas ao sustento do devedor e sua família”. Se tais

valores forem aplicados em alguma aplicação financeira, perderão o caráter de impenhorabilidade.

Assim, é possível a penhora de valores que, apesar de recebidos pelo devedor em decorrência de rescisão de contrato de trabalho, tenham sido posteriormente transferidos para fundo de

investimento. Comentários O procedimento para execução de quantia pode ser de duas formas:

a) Execução de quantia fundada em título executivo extrajudicial; b) Execução de quantia fundada em título executivo judicial (cumprimento de sentença). Tanto em um caso como no outro, o devedor é chamado em juízo para pagar o débito e, caso não o faça, seus bens são penhorados. O que é a penhora? Penhorar significa apreender judicialmente os bens do devedor para utilizá-los, direta ou indiretamente, na satisfação do crédito executado.

ATENÇÃO

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Todo e qualquer bem pode ser penhorado? NÃO. O art. 649 do CPC estabelece um rol de bens que não podem ser objeto de penhora. Dentre eles, veja o que diz o inciso IV:

Art. 649. São absolutamente impenhoráveis: IV - os vencimentos, subsídios, soldos, salários, remunerações, proventos de aposentadoria, pensões, pecúlios e montepios; as quantias recebidas por liberalidade de terceiro e destinadas ao sustento do devedor e sua família, os ganhos de trabalhador autônomo e os honorários de profissional liberal, observado o disposto no § 3º deste artigo;

As verbas rescisórias estão incluídas nesse inciso IV? SIM. As quantias referentes à rescisão trabalhista são consideradas verbas alimentares e podem ser equiparadas a “salário”. Se a pessoa recebeu um determinado valor como verba rescisória e o depositou em um fundo de investimento para que ele ficasse rendendo juros, tal quantia poderá ser penhorada? SIM. Segundo entendeu o STJ, as quantias previstas no inciso IV do art. 649 do CPC somente manterão a condição de impenhoráveis enquanto estiverem “destinadas ao sustento do devedor e sua família”. Se tais valores forem investidos em alguma aplicação financeira, perderão o caráter de impenhorabilidade. Assim, é possível a penhora de valores que, apesar de recebidos pelo devedor em decorrência de rescisão de contrato de trabalho, tenham sido posteriormente transferidos para fundo de investimento. Conforme decidiu a Min. Nancy Andrighi, na hipótese de qualquer quantia salarial se mostrar, ao final do período (isto é, até o recebimento de novo provento de igual natureza), superior ao custo necessário ao sustento do titular e de seus familiares, essa sobra perde o caráter alimentício e passa a ser uma reserva ou economia, tornando-se, em princípio, penhorável. Ex: pessoa recebe 10 mil reais de salário; mantém 5 mil na conta corrente; se, no mês seguinte receber o novo salário (mais 10 mil), totalizando 15 mil na conta, estes 5 mil “excedentes” poderão, em tese, ser penhorados. Para a Ministra, não é razoável, como regra, admitir que verbas alimentares não utilizadas no período para a própria subsistência sejam transformadas em aplicações ou investimentos financeiros e continuem a gozar do benefício da impenhorabilidade. O legislador criou uma única exceção a essa regra, prevendo expressamente que são impenhoráveis os valores até o limite de 40 salários mínimos aplicados em caderneta de poupança. É o que está no inciso X do art. 649 do CPC:

Art. 649. São absolutamente impenhoráveis: X - até o limite de 40 (quarenta) salários mínimos, a quantia depositada em caderneta de poupança.

Estabeleceu-se, assim, uma presunção de que os valores depositados em caderneta de poupança até esse limite assumem função de segurança alimentícia pessoal e familiar. Trata-se, pois, de benefício que visa à proteção do pequeno investimento, da poupança modesta, voltada à garantia do titular e de sua família contra imprevistos, como desemprego ou doença. É preciso destacar que a poupança constitui investimento de baixo risco e retorno, contando com proteção do Fundo Garantidor de Crédito e isenção do imposto de renda,

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tendo sido concebida justamente para pequenos investimentos destinados a atender o titular e sua unidade familiar em situações emergenciais, por um período determinado e não muito extenso. Outras modalidades de aplicação financeira de maior risco e rentabilidade — como é o caso dos fundos de investimento — não detêm esse caráter alimentício, sendo voltadas para valores mais expressivos, menos comprometidos, destacados daqueles vinculados à subsistência mensal do titular e de sua família. Essas aplicações buscam suprir necessidades e interesses de menor preeminência — ainda que de elevada importância —, como a aquisição de bens duráveis, inclusive imóveis, ou mesmo a realização de uma previdência informal de longo prazo. Aliás, mesmo aplicações em poupança em valor mais elevado perdem o caráter alimentício, tanto que o benefício da impenhorabilidade foi limitado a 40 salários mínimos. Valores mais expressivos, superiores ao referido patamar, não foram contemplados pela impenhorabilidade fixada pelo legislador, até para que possam, efetivamente, vir a ser objeto de constrição, impedindo que o devedor abuse do benefício legal, escudando-se na proteção conferida às verbas de natureza alimentar para se esquivar do cumprimento de suas obrigações, a despeito de possuir condição financeira para tanto. Diante disso, deve-se concluir que o art. 649, X, do CPC não admite intepretação extensiva de modo a abarcar todo e qualquer tipo de aplicação financeira. Com efeito, o que se quis assegurar com a impenhorabilidade de verbas alimentares foi a sobrevivência digna do devedor, e não a manutenção de um padrão de vida acima das suas condições às custas do credor.

Precedente em sentido contrário

Registre-se que há um precedente antigo da 4ª Turma do STJ em sentido contrário ao que foi exposto acima, mas que acredito que esteja superado: REsp 978.689//SP, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, DJe de 24/08/2009.

Processo STJ. 3ª Turma. REsp 1.330.567-RS, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 16/5/2013.

Arrematação (Legitimidade para arrematar)

O depositário fiel do bem penhorado, mesmo atuando como representante de outra pessoa jurídica do mesmo grupo empresarial da executada, deve ser enquadrado nas hipóteses

impeditivas de arrematação do art. 690-A do CPC. Nenhum dos incisos do art. 690-A do CPC menciona expressamente a situação do depositário

fiel. No entanto, o STJ entendeu que esse rol de impedimentos “permite interpretação e adequação pelo aplicador do direito em homenagem à intenção do legislador, o que afasta a

sua taxatividade”. Comentários O procedimento para execução de quantia pode ser de duas formas:

c) Execução de quantia fundada em título executivo extrajudicial; d) Execução de quantia fundada em título executivo judicial (cumprimento de sentença). Tanto em um caso como no outro, o devedor é chamado em juízo para pagar o débito e, caso não o faça, seus bens são penhorados. O que é a penhora? Penhorar significa apreender judicialmente os bens do devedor para utilizá-los, direta ou indiretamente, na satisfação do crédito executado.

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Formas de utilizar o bem penhorado para satisfação da dívida: Como visto, os bens do devedor são penhorados a fim de serem utilizados, direta ou indiretamente, para a satisfação da dívida. O que acontece com o bem penhorado? Se o bem penhorado for dinheiro, ele é transferido ao credor, quitando-se a obrigação. Se o bem penhorado for coisa diferente de dinheiro, ele poderá ser: a) Adjudicado; b) Alienado por iniciativa particular; c) Alienado em hasta pública; d) Concedido em usufruto ao exequente. A isso se dá o nome de expropriação, conforme previsto no art. 647 do CPC:

Art. 647. A expropriação consiste: I - na adjudicação em favor do exequente ou das pessoas indicadas no § 2º do art. 685-A desta Lei; II - na alienação por iniciativa particular; III - na alienação em hasta pública; IV - no usufruto de bem móvel ou imóvel.

I – Adjudicação A adjudicação ocorre quando a propriedade do bem penhorado é transferida ao exequente ou aos terceiros legitimados.

Art. 685-A. É lícito ao exequente, oferecendo preço não inferior ao da avaliação, requerer lhe sejam adjudicados os bens penhorados. § 1º Se o valor do crédito for inferior ao dos bens, o adjudicante depositará de imediato a diferença, ficando esta à disposição do executado; se superior, a execução prosseguirá pelo saldo remanescente. § 2º Idêntico direito pode ser exercido pelo credor com garantia real, pelos credores concorrentes que hajam penhorado o mesmo bem, pelo cônjuge, pelos descendentes ou ascendentes do executado. § 3º Havendo mais de um pretendente, proceder-se-á entre eles à licitação; em igualdade de oferta, terá preferência o cônjuge, descendente ou ascendente, nessa ordem. (...)

II – Alienação por iniciativa particular

Art. 685-C. Não realizada a adjudicação dos bens penhorados, o exequente poderá requerer sejam eles alienados por sua própria iniciativa ou por intermédio de corretor credenciado perante a autoridade judiciária. § 1º O juiz fixará o prazo em que a alienação deve ser efetivada, a forma de publicidade, o preço mínimo (art. 680), as condições de pagamento e as garantias, bem como, se for o caso, a comissão de corretagem. § 2º A alienação será formalizada por termo nos autos, assinado pelo juiz, pelo exequente, pelo adquirente e, se for presente, pelo executado, expedindo-se carta de alienação do imóvel para o devido registro imobiliário, ou, se bem móvel, mandado de entrega ao adquirente. § 3º Os Tribunais poderão expedir provimentos detalhando o procedimento da alienação prevista neste artigo, inclusive com o concurso de meios eletrônicos, e dispondo sobre o credenciamento dos corretores, os quais deverão estar em exercício profissional por não menos de 5 (cinco) anos.

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III – Alienação em hasta pública Se não houver interessados na adjudicação (inciso I do art. 647 do CPC) e se o credor não requerer a alienação particular do bem (inciso II), então o destino do bem será a sua alienação em hasta pública (inciso III). A hasta pública é a oferta do bem penhorado aos interessados em adquiri-lo em um evento organizado pelo Estado-juiz. Existem duas formas de hasta pública (art. 686, IV): a) Praça: quando a coisa a ser alienada for bem imóvel; b) Leilão: quando a coisa a ser alienada for bem móvel. O que é arrematação? Consiste na alienação do bem penhorado em hasta pública. Legitimidade para arrematar (art. 690-A do CPC) Em regra, qualquer pessoa que esteja na livre administração de seus bens poderá lançar, ou seja, poderá arrematar bens em uma hasta pública. É o que diz a primeira parte do caput do art. 690-A do CPC:

Art. 690-A. É admitido a lançar todo aquele que estiver na livre administração de seus bens, com exceção:

O que é “lançar”? Significa dar um “lance” (lanço, oferta, proposta) para adquirir o bem no leilão ou na praça. Quem são as pessoas impedidas de lançar (impedidas de arrematar): I - os tutores, curadores, testamenteiros, administradores, síndicos ou liquidantes, quanto aos bens confiados a sua guarda e responsabilidade; II - dos mandatários, quanto aos bens de cuja administração ou alienação estejam encarregados; III - do juiz, membro do Ministério Público e da Defensoria Pública, escrivão e demais servidores e auxiliares da Justiça. Imagine agora a seguinte situação: João, diretor da empresa executada, ficou na condição de depositário fiel do bem que foi levado a leilão. Durante o leilão, João, atuando como representante de uma outra empresa (que pertencia ao mesmo grupo econômico da executada), fez um lance e arrematou o bem. O STJ entendeu que ele estava impedido de arrematar considerando que era depositário fiel do bem penhorado. Logo, enquadrava-se na previsão contida no inciso I do art. 690-A do CPC. Rol não taxativo: Repare que nenhum dos incisos do art. 690-A do CPC menciona expressamente a situação do depositário fiel. No entanto, o STJ entendeu que esse rol de impedimentos “permite interpretação e adequação pelo aplicador do direito em homenagem à intenção do legislador, o que afasta a sua taxatividade”. Logo, o depositário fiel do bem penhorado, mesmo atuando como representante de outra pessoa jurídica do mesmo grupo empresarial da executada, deve ser enquadrado nas hipóteses impeditivas de arrematação do art. 690-A do CPC.

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IV – Usufruto de bem móvel ou imóvel Se o juiz conceder o usufruto do bem penhorado ao exequente, significa que ele autoriza que o credor fique recebendo os frutos ou rendimentos que a coisa produzir até que consiga quitar a dívida. Ex: foi penhorado um apartamento do executado que se encontra alugado a um terceiro; pode o juiz conceder o usufruto judicial desse apartamento ao exequente, que passará a receber o valor dos alugueis até que o débito da execução seja totalmente pago. Apesar do CPC chamar esse inciso IV de “usufruto”, a doutrina afirma que, na verdade, não se trata de usufruto, mas sim de uma forma de “anticrese”.

Art. 716. O juiz pode conceder ao exequente o usufruto de móvel ou imóvel, quando o reputar menos gravoso ao executado e eficiente para o recebimento do crédito. Art. 717. Decretado o usufruto, perde o executado o gozo do móvel ou imóvel, até que o exequente seja pago do principal, juros, custas e honorários advocatícios.

Processo STJ. 2ª Turma. REsp 1.368.249-RN, Rel. Min. Humberto Martins, julgado em 16/4/2013.

Pedido de suspensão de segurança

O pedido de suspensão é um instrumento processual (incidente processual) por meio do qual as pessoas jurídicas de direito público ou o Ministério Público requerem ao Presidente do

Tribunal que for competente para o julgamento do recurso que suspenda a execução de uma decisão, sentença ou acórdão proferidos sob o argumento de que esse provimento

jurisdicional prolatado causa grave lesão à ordem, à saúde, à segurança e à economia públicas.

Da decisão do Presidente do Tribunal que conceder ou negar a suspensão cabe algum recurso? SIM. Caberá agravo interno para o Plenário ou Corte Especial do Tribunal. Nesse sentido, veja o

§ 3º do art. 4º da Lei n. 8.437/92: § 3º Do despacho que conceder ou negar a suspensão, caberá agravo, no prazo de cinco dias, que

será levado a julgamento na sessão seguinte a sua interposição.

Obs: segundo entende o STJ e o STF, o prazo para esse agravo é de 5 dias mesmo que tenha sido interposto pela Fazenda Pública ou pelo MP. Em outras palavras, NÃO incide o art. 188 do CPC (que

confere prazo em dobro para recorrer à Fazenda Pública ou ao MP) na hipótese de o recurso interposto ser o incidente de suspensão de liminar previsto no art. 4º, § 3º, da Lei n. 8.437/92.

Comentários PEDIDO DE SUSPENSÃO DE SEGURANÇA Conceito O pedido de suspensão é - um instrumento processual (incidente processual) - por meio do qual as pessoas jurídicas de direito público ou o Ministério Público - requerem ao Presidente do Tribunal que for competente para o julgamento do recurso - que suspenda a execução de uma decisão, sentença ou acórdão proferidos, - sob o argumento de que esse provimento jurisdicional prolatado causa grave lesão à

ordem, à saúde, à segurança e à economia públicas. Natureza jurídica Prevalece que se trata de um “incidente processual” (Leonardo José Carneiro da Cunha).

Advocacia Pública

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A decisão de suspensão de segurança possui caráter político ou jurisdicional?

1ª corrente: 2ª corrente:

Trata-se de um juízo político a respeito da lesividade do ato judicial à ordem, à saúde, à segurança e à economia públicas, sendo, por isso, impassível de recurso especial. É a posição pacífica do STJ.

2ª) trata-se de decisão judicial, considerando que uma decisão político-administrativa não poderia atingir uma decisão judicial anterior; além disso, se fosse política, poderia ser tomada de ofício. É a posição de Marcelo Abelha e Leonardo da Cunha. A vedação ao Resp e ao RE decorreria, segundo tais autores, do fato de que tais recursos não admitem análise de matéria de fato ou de prova.

Nomenclatura Comumente, esse instituto é chamado de pedido de “suspensão de segurança”. Isso porque ele foi previsto originalmente na lei apenas para suspender as decisões liminares ou sentenças proferidas em mandados de segurança. Ocorre que, com o tempo, foram editadas novas leis trazendo a possibilidade de suspensão para, praticamente, toda e qualquer decisão judicial prolatada contra a Fazenda Pública. Por essa razão, atualmente, além de “suspensão de segurança”, pode-se falar em “suspensão de liminar”, “suspensão de sentença”, “suspensão de acórdão” etc. Previsão legal Há cinco diferentes leis prevendo pedido de suspensão:

Art. 12, § 1º da Lei n. 7.347/85 (suspensão de liminar em ACP):

Art. 4º da Lei n. 8.437/92 (suspensão de liminar ou sentença em ação cautelar, em ação popular ou em ACP). É considerada pela doutrina como a previsão mais geral sobre o pedido de suspensão;

Art. 1º da Lei n. 9.494/97 (suspensão de tutela antecipada concedida contra a Fazenda Pública);

Art. 16 da Lei n. 9.507/97 (suspensão da execução de sentença concessiva de habeas data);

Art. 15 da Lei n. 12.016/09 (suspensão de liminar e sentença no mandado de segurança).

Lei n. 8.437/92:

Art. 4° Compete ao presidente do tribunal, ao qual couber o conhecimento do respectivo recurso, suspender, em despacho fundamentado, a execução da liminar nas ações movidas contra o Poder Público ou seus agentes, a requerimento do Ministério Público ou da pessoa jurídica de direito público interessada, em caso de manifesto interesse público ou de flagrante ilegitimidade, e para evitar grave lesão à ordem, à saúde, à segurança e à economia públicas. § 1° Aplica-se o disposto neste artigo à sentença proferida em processo de ação cautelar inominada, no processo de ação popular e na ação civil pública, enquanto não transitada em julgado.

Possibilidade de formular pedido de suspensão e interpor recurso: Contra uma decisão interlocutória proferida por um juiz, em 1ª instância, poderão ser interpostos o agravo de instrumento e, concomitantemente, o pedido de suspensão. Isso porque o pedido de suspensão não é recurso. Logo, não há violação ao princípio da singularidade ou unirrecorribilidade. Além disso, os objetivos do agravo e do pedido de suspensão são diferentes. Vale ressaltar que essa possibilidade é prevista expressamente:

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Lei n.° 8.437/92 Art. 4º (...) § 6º A interposição do agravo de instrumento contra liminar concedida nas ações movidas contra o Poder Público e seus agentes não prejudica nem condiciona o julgamento do pedido de suspensão a que se refere este artigo.

Lei n.° 12.016/2009 Art. 15 (...) § 3º A interposição de agravo de instrumento contra liminar concedida nas ações movidas contra o poder público e seus agentes não prejudica nem condiciona o julgamento do pedido de suspensão a que se refere este artigo.

Legitimidade Quem pode formular pedido de suspensão? a) União, Estados, Distrito Federal e Municípios; b) Autarquias e fundações; c) Ministério Público; d) Concessionárias de serviço público (desde que para tutelar o interesse público primário). Competência

Decisão prolatada por juiz de 1ª instância:

A competência para apreciar o pedido de suspensão é do Presidente do Tribunal que teria competência para julgar o recurso contra a decisão. Ex: concedida liminar por juiz federal do AM, o pedido de suspensão será julgado pelo Presidente do TRF1. Ex2: concedida liminar por juiz de direito do AM, o pedido de suspensão será julgado pelo Presidente do TJAM.

Decisão prolatada por membro de TJ ou TRF:

O pedido de suspensão será decidido pelo:

Presidente do STF: se a matéria for constitucional.

Presidente do STJ: se a matéria for infraconstitucional. Ex: concedida liminar pelo Desembargador do TJ/AM, o pedido de suspensão será dirigido ao Presidente do STF ou do STJ, e não

ao Presidente do TJ/AM (art. 25 da Lei n. 8.038/90).

Decisão prolatada por membro de Tribunal Superior:

Se a causa tiver fundamento constitucional, é possível o ajuizamento de pedido de suspensão dirigido ao Presidente do STF. Se a causa não tiver fundamento constitucional, não há possibilidade de pedido de suspensão.

Não se examina o mérito no pedido de suspensão: Na análise do pedido de suspensão, é vedado o exame do mérito da demanda principal. O que será examinado pelo Tribunal é se a decisão prolatada acarreta risco de grave lesão à: a) ordem b) saúde c) segurança ou d) economia públicas. A suspensão de liminar e de sentença limita-se a averiguar a possibilidade de grave lesão à ordem, à segurança, à saúde e à economia públicas. Os temas de mérito da demanda principal não podem ser examinados nessa medida, que não substitui o recurso próprio. (AgRg na SLS 1.135/MA, Rel. Ministro PRESIDENTE DO STJ, Rel. p/ Acórdão Ministro CESAR ASFOR ROCHA, CORTE ESPECIAL, julgado em 12/04/2010, DJe 20/05/2010)

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Apesar de não se examinar o mérito, deve ser realizado um juízo mínimo de delibação: Mesmo sendo vedado ao Presidente do Tribunal examinar o mérito da demanda principal, é preciso, para que se conceda a suspensão de liminar, que haja um mínimo de plausibilidade na tese da Fazenda Pública porque o pedido de suspensão funciona como uma contracautela, devendo, por isso, demonstrar fumus boni iuris e periculum in mora inverso: (...) 1. A jurisprudência pacificada do Supremo Tribunal Federal permite o proferimento de um juízo mínimo de delibação, no que concerne ao mérito objeto do processo principal, quando da análise do pedido de suspensão de decisão (SS 846-AgR/DF, rel. Ministro Sepúlveda Pertence, DJ 29.5.96; SS 1.272-AgR, rel. Ministro Carlos Velloso, DJ 18.5.2001, dentre outros). (STA 73 AgR, Relator(a): Min. ELLEN GRACIE, Tribunal Pleno, julgado em 17/03/2008, DJe-078 DIVULG 30-04-2008 PUBLIC 02-05-2008 EMENT VOL-02317-01 PP-00001) Recurso contra a decisão proferida no pedido de suspensão: Da decisão do Presidente do Tribunal que conceder ou negar a suspensão cabe algum recurso? SIM. Caberá agravo interno para o Plenário ou Corte Especial do Tribunal. Nesse sentido,

veja o § 3º do art. 4º da Lei n. 8.437/92:

§ 3º Do despacho que conceder ou negar a suspensão, caberá agravo, no prazo de cinco dias, que será levado a julgamento na sessão seguinte a sua interposição.

Obs: o prazo para esse agravo é de 5 dias mesmo que tenha sido interposto pela Fazenda Pública ou pelo MP. Em outras palavras, NÃO incide o art. 188 do CPC (que confere prazo em dobro para recorrer à Fazenda Pública ou ao MP) na hipótese de o recurso interposto ser o incidente de suspensão de liminar previsto no art. 4º, § 3º, da Lei 8.437/1992 (REsp 1.331.730-RS, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em 7/5/2013). Cabe recurso da decisão do Plenário ou da Corte Especial que julga esse agravo? NÃO. Segundo entendimento pacífico, não cabe Recurso Extraordinário ou Recurso Especial de decisões proferidas no âmbito do pedido de suspensão. O recurso especial não se presta à revisão do juízo político realizado pelo tribunal a quo para a concessão da suspensão de liminar, notadamente porque decorrente de juízo de valor acerca das circunstâncias fáticas que ensejaram a medida, cujo reexame é vedado nos termos da Súm. n. 7/STJ (AgRg no AREsp 126.036-RS). No entanto, se, na decisão do agravo, não for concedida ou mantida a suspensão, a Fazenda Pública ainda terá outro instrumento: apresentar novo pedido de suspensão, desta vez para o STJ ou para o STF, a depender da natureza da matéria (se infraconstitucional ou constitucional). Lei n.° 8.437/92

Art. 4º (...) § 4º Se do julgamento do agravo de que trata o § 3º resultar a manutenção ou o restabelecimento da decisão que se pretende suspender, caberá novo pedido de suspensão ao Presidente do Tribunal competente para conhecer de eventual recurso especial ou extraordinário.

Ex1: juiz concede liminar contra a Fazenda Pública, que formula pedido de suspensão para o Presidente do TJ; este concede a suspensão; a parte autora agrava da decisão do Presidente para o Plenário, que reforma a decisão do Presidente e restabelece a liminar concedida em primeira instância. Dessa decisão do Plenário, a Fazenda Pública não poderá interpor Resp ou RE, mas terá a possibilidade de formular novo pedido de suspensão para o STJ ou para o STF.

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Ex2: juiz concede liminar contra a Fazenda Pública, que formula pedido de suspensão para o Presidente do TJ; este não concede a suspensão; a Fazenda Pública agrava da decisão do Presidente para o Plenário, que mantém a decisão do Presidente e a liminar concedida em primeira instância. Dessa decisão do Plenário, a Fazenda Pública não poderá interpor Resp ou RE, mas terá a possibilidade de formular novo pedido de suspensão para o STJ ou para o STF. A doutrina afirma que se trata de um pedido de suspensão “por salto de instância”.

Obra consultada

CUNHA, Leonardo José Carneiro da. A Fazenda Pública em Juízo. São Paulo: Dialética, 8ª ed, 2010.

Processo STJ. 2ª Turma. REsp 1.331.730-RS, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em 7/5/2013.

Ações possessórias

Não gera nulidade absoluta a ausência de citação do réu, na hipótese do art. 928 do CPC, para comparecer à audiência de justificação prévia em ação de reintegração de posse.

Comentários Interditos possessórios: Existem três ações tipicamente possessórias (interditos possessórios): a) Ação de reintegração de posse; b) Ação de manutenção de posse; c) Interdito proibitório. Diferença entre elas: a) Ação de reintegração de posse: deverá ser proposta pela pessoa que sofreu um

esbulho, ou seja, perdeu a posse. b) Ação de manutenção de posse: proposta quando a pessoa está sofrendo uma turbação,

isto é, quando estão sendo praticados contra ela atos materiais concretos de agressão à posse, sem que ela tenha sido ainda desapossada integralmente. Ex: o agressor ingressa várias vezes, mas depois sai novamente. Ex2: o agressor invadiu apenas parte do imóvel.

c) Interdito proibitório: ajuizada quando a pessoa estiver sofrendo ameaças de efetiva ofensa à posse, sem que tenha havido, contudo, um ato material concreto. Ex: os invasores já foram vistos várias vezes rondando a localidade, demonstrando que podem entrar no terreno.

Regulamentação: O procedimento das ações possessórias é regulamentado pelos arts. 926 a 933 do CPC. Posse nova e posse velha Posse nova: é aquela que tem menos de 1 ano e 1 dia. Posse velha: é aquela que tem mais de 1 ano e 1 dia. Ação de força nova e ação de força velha

Se a ação for proposta contra uma turbação ou esbulho que ocorreu há menos de 1 ano e 1 dia, diz-se que essa ação é de força nova (a posse do “invasor” é nova). Desse modo, ação de força nova é aquela proposta dentro do prazo de ano e dia a contar da data do esbulho ou da turbação.

Se a ação for proposta contra uma turbação ou esbulho que ocorreu há mais de 1 ano e 1 dia, diz-se que essa ação é de força velha (a posse do “invasor” já é “velha”).

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Ação de força nova (ação contra posse nova): segue o procedimento especial previsto nos arts. 926 a 931 do CPC. Ação de força velha (ação contra posse velha): segue o procedimento ordinário.

Art. 924. Regem o procedimento de manutenção e de reintegração de posse as normas da seção seguinte, quando intentado dentro de ano e dia da turbação ou do esbulho; passado esse prazo, será ordinário, não perdendo, contudo, o caráter possessório.

Petição inicial da ação possessória Segundo o art. 927, incumbe ao autor provar: I - a sua posse; Il - a turbação ou o esbulho praticado pelo réu; III - a data da turbação ou do esbulho; IV - a continuação da posse, embora turbada, na ação de manutenção; a perda da posse, na ação de reintegração. Possibilidade de concessão da liminar inaudita altera partes Se a petição inicial estiver devidamente instruída, o juiz poderá deferir, sem ouvir o réu, a expedição do mandado liminar de manutenção ou de reintegração da posse (art. 928). A liminar será concedida quando o autor conseguir demonstrar que: a) O ato de agressão à posse deu-se há menos de 1 ano e 1 dia (posse nova); b) Existe fumus boni iuris nas alegações deduzidas na petição inicial. Para a concessão da liminar na ação possessória não é necessária a demonstração de periculum in mora (NEVES, Daniel Amorim Assumpção. Manual de Direito Processual Civil. São Paulo: Método, 2010, p. 1.367). Impossibilidade de concessão de liminar inaudita contra a Fazenda Pública:

Art. 928 (...) Parágrafo único. Contra as pessoas jurídicas de direito público não será deferida a manutenção ou a reintegração liminar sem prévia audiência dos respectivos representantes judiciais.

Caso o juiz entenda que não é o caso de conceder a liminar: audiência de justificação Se o magistrado não estiver convencido dos requisitos para a concessão da liminar, ele deverá designar uma audiência para que o autor justifique previamente o que ele alegou na petição inicial. O objetivo da audiência é dar a oportunidade para que o autor traga mais provas sobre a presença dos requisitos necessários à concessão da liminar. Essa audiência é chamada de “audiência de justificação prévia” Participação do réu na audiência de justificação O art. 928 do CPC afirma que o réu deverá ser citado para comparecer a essa audiência. Vale ressaltar, no entanto, que ele não será, em regra, ouvido na audiência. Em regra, o réu irá participar da audiência ouvindo as testemunhas arroladas pelo autor, não podendo levar testemunhas suas, considerando que ainda haverá o momento para isso, qual seja, a audiência de instrução. Durante a audiência de justificação, o réu poderá formular perguntas ou oferecer contradita, sempre por meio de advogado. Nessa audiência, o juiz também deverá tentar obter a conciliação entre as partes.

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Se o réu não for citado para comparecer à audiência de justificação, haverá nulidade absoluta do processo? NÃO. Não gera nulidade absoluta a ausência de citação do réu, na hipótese do art. 928 do CPC, para comparecer à audiência de justificação prévia em ação de reintegração de posse. Segundo entendeu o STJ, o termo “citação” foi utilizado de forma imprópria no art. 928 do CPC, na medida em que, nessa hipótese, o réu não é chamado para se defender, mas sim para, querendo, comparecer e participar da audiência de justificação. Na audiência de justificação, a prova é exclusiva do autor, cabendo ao réu, caso compareça, apenas fazer perguntas. Somente após a referida audiência é que começará a correr o prazo para contestar (parágrafo único do art. 930). Após a realização da audiência de justificação prévia: Depois de colher as provas, o magistrado deverá decidir sobre a medida liminar, podendo fazê-lo na própria audiência ou no prazo de 10 dias.

Se o juiz se convencer dos argumentos do autor, deverá conceder a liminar. Nesse caso, diz-se que o juiz julgou procedente a justificação (art. 929 do CPC).

Se o juiz considerar que os argumentos foram insuficientes mesmo após a audiência, deverá denegar a liminar.

Art. 929. Julgada procedente a justificação, o juiz fará logo expedir mandado de manutenção ou de reintegração.

Recurso cabível contra a decisão que concede ou denega a liminar: agravo de instrumento. Concedida ou não a liminar, o réu será citado para contestar a ação, no prazo de 15 dias:

Art. 930. Concedido ou não o mandado liminar de manutenção ou de reintegração, o autor promoverá, nos 5 (cinco) dias subseqüentes, a citação do réu para contestar a ação. Parágrafo único. Quando for ordenada a justificação prévia (art. 928), o prazo para contestar contar-se-á da intimação do despacho que deferir ou não a medida liminar.

Art. 931. Aplica-se, quanto ao mais, o procedimento ordinário.

Processo STJ. 3ª Turma. REsp 1.232.904-SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 14/5/2013.

Arrolamento sumário

NÃO é cabível, em arrolamento sumário, a discussão acerca da eventual configuração da decadência do direito da Fazenda Pública de efetuar lançamento tributário referente ao

imposto sobre transmissão causa mortis e doação. Comentários INVENTÁRIO

Inventário é o procedimento, judicial ou extrajudicial, por meio do qual são arrecadados, descritos, avaliados e liquidados os bens e outros direitos que pertenciam à pessoa morta, e, após serem pagas as dívidas do falecido, o eventual saldo positivo será distribuído entre os seus sucessores (partilha).

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ESPÉCIES DE INVENTÁRIO

Inventário judicial: é um processo judicial.

Inventário extrajudicial: é o inventário realizado por meio de escritura pública. Somente pode ser feito se não houver testamento e se todos os interessados forem capazes e houver consenso entre eles quanto à divisão dos bens.

INVENTÁRIO JUDICIAL: Se o inventário for judicial, ele poderá ser realizado de três formas: a) Inventário comum; b) Arrolamento sumário (arts. 1.031); c) Arrolamento comum (art. 1.036). O arrolamento sumário e o arrolamento comum são considerados como “formas simplificadas” de inventário. ARROLAMENTO SUMÁRIO

Ocorre quando todos os herdeiros forem maiores e capazes e estiverem de acordo quanto à partilha.

Ocorre também quando houver herdeiro único.

Não importa o valor do patrimônio transmitido.

Os próprios herdeiros apresentam ao juiz a partilha, inclusive a quitação de tributos.

Não ocorre a intervenção do Ministério Público porque não há interesse socialmente relevante nem direitos individuais indisponíveis.

Como não há conflito de interesses no arrolamento sumário, a doutrina classifica esse procedimento como sendo de jurisdição voluntária.

O CPC prevê a seguinte regra a respeito do arrolamento sumário:

Art. 1.034. No arrolamento, não serão conhecidas ou apreciadas questões relativas ao lançamento, ao pagamento ou à quitação de taxas judiciárias e de tributos incidentes sobre a transmissão da propriedade dos bens do espólio.

Com base nessa regra, o STJ reafirmou que NÃO é cabível, em arrolamento sumário, a discussão acerca da eventual configuração da decadência do direito da Fazenda Pública de efetuar lançamento tributário referente ao imposto sobre transmissão causa mortis e doação. A controvérsia sobre esses temas terá que ser dirimida em outro processo, considerando que, no arrolamento sumário, o legislador limitou o procedimento a uma cognição parcial. ARROLAMENTO COMUM

Poderá ser feito o arrolamento comum (mais simples que o inventário) quando o valor dos bens que compuserem o espólio não ultrapassar 2.000 OTN’s.

Aqui não importa se existem ou não herdeiros incapazes.

Aqui não importa se existe ou não acordo entre os herdeiros.

O que interessa para ser realizado o arrolamento comum é o valor os bens ser inferior a 2.000 OTN’s.

Se houver herdeiro incapaz, o MP será intimado para intervir no processo.

Processo STJ. 2ª Turma. REsp 1.223.265-PR, Rel. Min. Eliana Calmon, julgado em 18/4/2013.

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Legitimidade do MP para ACP em benefício de uma só pessoa em questões de saúde

O Ministério Público tem legitimidade para ajuizar ACP contra a concessionária de energia elétrica com a finalidade de evitar a interrupção do fornecimento do serviço à pessoa carente

de recursos financeiros diagnosticada com enfermidade grave e que dependa, para sobreviver, da utilização doméstica de equipamento médico com alto consumo de energia.

Conforme entendimento do STJ, o MP detém legitimidade para propor ACP que objetive a

proteção do direito à saúde de pessoa hipossuficiente, porquanto se trata de direito fundamental e indisponível, cuja relevância interessa à sociedade.

Comentários Imagine a seguinte situação adaptada e que pode ser cobrada em uma prova discursiva: Por conta de uma grave doença pulmonar, João, hipossuficiente, precisa ficar o dia inteiro ligado a um aparelho concentrador elétrico de oxigênio domiciliar, equipamento indispensável à sua subsistência, o qual, contudo, proporciona um consumo exorbitante de energia elétrica. Em razão de não mais conseguir pagar a conta de energia elétrica, os familiares de João procuraram o Ministério Público em busca de ajuda. Como Promotor de Justiça, sob o ponto de vista processual, você poderia propor alguma medida judicial em favor de João? SIM. O Ministério Público possui legitimidade para ajuizar ACP contra a concessionária de energia elétrica com a finalidade de evitar a interrupção do fornecimento do serviço à pessoa carente de recursos financeiros diagnosticada com enfermidade grave e que dependa, para sobreviver, da utilização doméstica de equipamento médico com alto consumo de energia. Conforme entendimento do STJ, o MP detém legitimidade para propor ACP que objetive a proteção do direito à saúde de pessoa hipossuficiente, porquanto se trata de direito fundamental e indisponível, cuja relevância interessa à sociedade.

Processo STJ. 1ª Turma. AgRg no REsp 1.162.946-MG, Rel. Ministro Sérgio Kukina, julgado em 4/6/2013.

DIREITO PENAL

Falsidade ideológica é absorvida pelo descaminho

Responderá apenas pelo crime de descaminho, e não por este em concurso com o de falsidade ideológica, o agente que, com o fim exclusivo de iludir o pagamento de tributo devido pela

entrada de mercadoria no território nacional, alterar a verdade sobre o preço desta. O pagamento do tributo devido extingue a punibilidade do descaminho.

No caso em que a falsidade ideológica tenha sido praticada com o fim exclusivo de proporcionar a realização do crime de descaminho, a extinção da punibilidade quanto a este — diante do

pagamento do tributo devido — impede que o agente seja punido apenas pelo crime-meio. Exaurindo-se o crime-meio na prática do crime-fim, cuja punibilidade não mais persista, falta

justa causa para a persecução pelo crime de falso, porquanto carente de autonomia. Comentários Imagine a seguinte situação:

Roberto efetuou a importação de uma determinada mercadoria. No momento do desembaraço aduaneiro, Roberto apresentou declaração de que a mercadoria custava um valor bem abaixo do seu preço real. Com isso, ele pagou um imposto de importação inferior ao que seria devido. Denúncia do MPF Descoberta a fraude, o MPF denunciou Roberto, narrando que ele praticou subfaturamento

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com fins de iludir o pagamento do imposto de importação, alterando a verdade sobre fato juridicamente relevante e prejudicando direito do Fisco federal. Na denúncia, o MPF imputou ao réu os delitos de descaminho (art. 334 do CP) em concurso formal com a falsidade ideológica (art. 299):

Art. 334. Importar ou exportar mercadoria proibida ou iludir, no todo ou em parte, o pagamento de direito ou imposto devido pela entrada, pela saída ou pelo consumo de mercadoria: Pena - reclusão, de um a quatro anos. Art. 299. Omitir, em documento público ou particular, declaração que dele devia constar, ou nele inserir ou fazer inserir declaração falsa ou diversa da que devia ser escrita, com o fim de prejudicar direito, criar obrigação ou alterar a verdade sobre fato juridicamente relevante: Pena - reclusão, de um a cinco anos, e multa, se o documento é público, e reclusão de um a três anos, e multa, se o documento é particular.

PRIMEIRA tese da defesa: princípio da consunção

A defesa argumentou que a falsidade ideológica foi o meio para a prática do descaminho. Logo, estaria absorvida pelo crime-fim. O STJ acatou esse argumento? SIM. Para o STJ, responderá apenas pelo crime de descaminho, e não por este em concurso com o de falsidade ideológica, o agente que, com o fim exclusivo de iludir o pagamento de tributo devido pela entrada de mercadoria no território nacional, alterar a verdade sobre o preço desta. Isso porque, na situação em análise, a primeira conduta realizada pelo agente, com adequação típica no art. 299 do CP, serve apenas como meio para alcançar o fim pretendido, qual seja, a realização do fato previsto como crime no art. 334 do CP. Trata-se, pois, de uma das hipóteses em que se aplica o princípio da consunção, quando um crime é meio necessário ou normal fase de preparação ou de execução de outro crime. Nesse contexto, evidenciado o nexo entre as condutas e inexistindo dolo diverso que enseje a punição do falso como crime autônomo, fica este absorvido pelo descaminho. Aplica-se o mesmo raciocínio que motivou a edição da súmula 17 do STJ: Súmula 17-STJ: Quando o falso se exaure no estelionato, sem mais potencialidade lesiva, é por este absorvido.

SEGUNDA tese da defesa: pagamento do tributo extingue a punibilidade do descaminho

O réu efetuou o pagamento integral do tributo devido, além da multa. Em razão disso, requereu a extinção da punibilidade. O pagamento do tributo extingue o crime de descaminho? SIM. O STJ possui os seguintes entendimentos sobre o delito de descaminho (HC 265.706/RS, Min. Marco Aurélio Bellizze, 5ª Turma, julgado em 28/05/2013):

Crime tributário: embora encontre-se, topograficamente, no capítulo destinado aos crimes contra a Administração Pública, o descaminho protege, como bem jurídico imediato, o erário (cofres públicos). Logo, trata-se de crime tributário;

Crime material: o descaminho é crime material, tendo em vista que o art. 334 do CP exige a ilusão, no todo ou em parte, do pagamento do imposto devido;

Constituição definitiva: para que se configure, o descaminho exige a constituição definitiva do crédito tributário, podendo ser a ele aplicado o raciocínio presente na

Súmula Vinculante n. 24 do STF.

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Com base nessas três premissas, o STJ conclui que, se o agente efetua o pagamento do tributo devido, ocorre a extinção da punibilidade do delito de descaminho, nos termos dos arts. 34, caput, da Lei nº 9.249/1995, 9º, § 2º, da Lei nº 10.684/2003 e 83, § 4º, da Lei nº 9.430/1996, com redação dada pela Lei nº 12.382/2011.

TERCEIRA tese da defesa: sendo o crime-fim extinto, extingue-se também o crime-meio

Sendo extinto o crime-fim (descaminho), mesmo assim poderá o agente ser punido pelo crime-meio (falsidade ideológica)? NÃO. No caso em que a falsidade ideológica tenha sido praticada com o fim exclusivo de proporcionar a realização do crime de descaminho, a extinção da punibilidade quanto a este — diante do pagamento do tributo devido — impede que o agente seja punido apenas pelo crime-meio. Exaurindo-se o crime-meio na prática do crime-fim, cuja punibilidade não mais persista, falta justa causa para a persecução pelo crime de falso, porquanto carente de autonomia. Em suma, o agente não vai responder por nenhum crime.

Processo STJ. 5ª Turma. RHC 31.321-PR, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em 16/5/2013.

DIREITO PROCESSUAL PENAL

Prisão preventiva

É ilegal a manutenção da prisão provisória na hipótese em que seja plausível antever que o início do cumprimento da pena, em caso de eventual condenação, será feita em regime menos

rigoroso que o fechado. Comentários Imagine a seguinte situação:

João e mais outras três pessoas foram presas em flagrante e denunciadas pela prática dos delitos previstos no art. 334, § 1º, “c” e “d” e art. 288, ambos do Código Penal.

Art. 334 Importar ou exportar mercadoria proibida ou iludir, no todo ou em parte, o pagamento de direito ou imposto devido pela entrada, pela saída ou pelo consumo de mercadoria: Pena - reclusão, de um a quatro anos. § 1º - Incorre na mesma pena quem: (...) c) vende, expõe à venda, mantém em depósito ou, de qualquer forma, utiliza em proveito próprio ou alheio, no exercício de atividade comercial ou industrial, mercadoria de procedência estrangeira que introduziu clandestinamente no País ou importou fraudulentamente ou que sabe ser produto de introdução clandestina no território nacional ou de importação fraudulenta por parte de outrem; d) adquire, recebe ou oculta, em proveito próprio ou alheio, no exercício de atividade comercial ou industrial, mercadoria de procedência estrangeira, desacompanhada de documentação legal, ou acompanhada de documentos que sabe serem falsos. Art. 288. Associarem-se mais de três pessoas, em quadrilha ou bando, para o fim de cometer crimes: Pena - reclusão, de um a três anos.

Defensoria Pública

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Liberdade provisória João interpôs um pedido de liberdade provisória, tendo o juiz indeferido o benefício e mantido a prisão cautelar. A discussão sobre a liberdade do réu chegou até o STJ.

Decisão do STJ A 5ª Turma do STJ decidiu conceder a liberdade ao acusado. Para a Corte, é ilegal a manutenção da prisão provisória na hipótese em que seja plausível antever que o início do cumprimento da pena, em caso de eventual condenação, será feita em regime menos rigoroso que o fechado. No caso concreto, o STJ vislumbrou que, se o réu for condenado, ele não o será no regime fechado. Logo, por essa razão, não deveria responder o processo preso.

Conforme afirmou o Ministro, a prisão provisória é providência excepcional no Estado Democrático de Direito, só sendo justificável quando atendidos os critérios de adequação, necessidade e proporcionalidade.

Dessa forma, para a imposição da medida, é necessário demonstrar concretamente a presença dos requisitos autorizadores da preventiva (art. 312 do CPP) — representados pelo fumus comissi delicti e pelo periculum libertatis — e, além disso, não pode a referida medida ser mais grave que a própria sanção a ser possivelmente aplicada na hipótese de condenação do acusado. É o que se defende com a aplicação do princípio da homogeneidade, corolário do princípio da proporcionalidade, não sendo razoável manter o acusado preso em regime mais rigoroso do que aquele que eventualmente lhe será imposto quando da condenação.

Processo STJ. 5ª Turma. HC 182.750-SP, Rel. Min. Jorge Mussi, julgado em 14/5/2013.

DIREITO TRIBUTÁRIO

Prescrição para pretensão de reconhecimento de créditos presumidos de IPI (obs: este julgado somente será exigido no caso de concursos federais que exijam

Direito Tributário de forma mais intensa)

Prescreve em 5 anos a pretensão de reconhecimento de créditos presumidos de IPI a título de benefício fiscal a ser utilizado na escrita fiscal ou mediante ressarcimento.

Comentários Prescreve em cinco anos a pretensão de reconhecimento de créditos presumidos de IPI a título de benefício fiscal a ser utilizado na escrita fiscal ou mediante ressarcimento. Isso porque o referido prazo prescricional deve obedecer ao art. 1º do Dec. 20.910/1932, e não aos dispositivos do CTN.

Processo STJ. 2ª Turma. AgRg no AREsp 292.142-MG, Rel. Min. Castro Meira, julgado em 21/5/2013.

EXERCÍCIOS DE FIXAÇÃO

Julgue os itens a seguir: 1) (Juiz TJBA 2012 CESPE) Conforme entendimento sumulado pelo STJ, o prazo prescricional da ação de

desapropriação indireta é de cinco anos. ( ) 2) As ações de indenização por danos morais decorrentes de atos de tortura ocorridos durante o Regime Militar de

exceção são imprescritíveis. ( ) 3) Os servidores públicos ocupantes de cargo em comissão não se submetem à aposentadoria compulsória aos 70

anos. ( )

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4) Quando o ato de improbidade causar lesão ao patrimônio público ou ensejar enriquecimento ilícito, caberá à autoridade administrativa responsável pelo inquérito representar ao Ministério Público, para a indisponibilidade dos bens do indiciado. ( )

5) Segundo o STJ, a medida cautelar de indisponibilidade dos bens também pode ser aplicada aos atos de improbidade administrativa que impliquem violação dos princípios da administração pública. ( )

6) É possível aplicar o CDC à relação entre proprietário de imóvel e a imobiliária contratada por ele para administrar o bem. Em outras palavras, a pessoa que contrata uma empresa administradora de imóveis pode ser considerada consumidora. ( )

7) Não devem ser conhecidos os embargos de divergência na hipótese em que exista dissídio entre órgãos do STJ acerca da interpretação de regra de direito processual, especialmente se não houver semelhança entre os fatos da causa tratada no acórdão embargado e os analisados no acórdão tido como paradigma. ( )

8) Mesmo que a ação principal seja julgada improcedente, persiste sendo exigível a multa cominatória fixada na ação cautelar. ( )

9) No âmbito de embargos do devedor, é possível proceder à revisão do contrato de que se origine o título executado, ainda que, em relação ao referido contrato, tenha havido confissão de dívida. ( )

10) Não gera nulidade absoluta a ausência de citação do réu, na hipótese do art. 928 do CPC, para comparecer à audiência de justificação prévia em ação de reintegração de posse. ( )

11) O Ministério Público tem legitimidade para ajuizar ACP contra a concessionária de energia elétrica com a finalidade de evitar a interrupção do fornecimento do serviço à pessoa carente de recursos financeiros diagnosticada com enfermidade grave e que dependa, para sobreviver, da utilização doméstica de equipamento médico com alto consumo de energia. ( )

12) É cabível, em arrolamento sumário, a discussão acerca da eventual configuração da decadência do direito da Fazenda Pública de efetuar lançamento tributário referente ao imposto sobre transmissão causa mortis e doação. ( )

13) É ilegal a manutenção da prisão provisória na hipótese em que seja plausível antever que o início do cumprimento da pena, em caso de eventual condenação, será feita em regime menos rigoroso que o fechado. ( )

Questões discursivas: (Juiz TJMS/2010) Desenvolva o conceito jurídico de desapropriação indireta. (Juiz TJAM/2013) O Estado do Amazonas construiu um hospital em área que entendia ser de sua propriedade. Passados seis anos, João Tício ajuíza ação em face do estado do Amazonas postulando a reintegração na posse do referido imóvel, ou, alternativamente, indenização. No curso da demanda ficou comprovado que o imóvel, onde se construiu o hospital público, era de propriedade de João Tício. Assim, após o regular processamento da demanda, com a devida contestação, veio parecer do MP, no sentido da ocorrência da prescrição quinquenal. Sendo você o Juiz da causa, apresente os fundamentos da decisão, indicando o instituto posto, e o eventual direito de João Tício.

Gabarito

1. E 2. C 3. C 4. C 5. C 6. C 7. E 8. E 9. C 10. C 11. C 12. E 13. C

JULGADO QUE NÃO FOI COMENTADO POR SER DE POUCA

RELEVÂNCIA PARA CONCURSOS PÚBLICOS

DIREITO PROCESSUAL CIVIL. COMPETÊNCIA PARA O JULGAMENTO DE AÇÕES CONEXAS CUJA CAUSA DE PEDIR REMOTA ENVOLVA DIREITO DE PROPRIEDADE. Compete ao foro do local em que situado o imóvel o julgamento de ação consignatória e de ação de rescisão contratual cumulada com retificação de escritura pública, perdas e danos e alteração do registro imobiliário na hipótese em que lhes for comum causa de pedir remota consistente em contrato verbal de sociedade de fato formada para a compra do referido bem. De início, cumpre esclarecer que há conexão entre as ações, já que possuem a mesma causa de pedir remota (art. 103 do CPC), sendo conveniente a sua reunião, a fim de evitar a prolação de decisões conflitantes. Posto isso, observa-se que o art. 95 do CPC prevê regra de competência absoluta ao dispor que, nas ações fundadas em direito real sobre imóveis, é competente o foro da situação da coisa, quando o litígio recair sobre direito de propriedade. Na hipótese, a ação de rescisão contratual contém, como decorrência lógica do pedido, pleito de modificação do próprio registro imobiliário. Assim, uma vez julgado procedente o pedido, ter-se-á a modificação da propriedade do imóvel, com alteração da respectiva matrícula. Dessa maneira, verificado o caráter real da ação, o foro da situação do imóvel é o competente para a reunião dos processos. CC 121.390-SP, 2ª Seção, Rel. Min. Raul Araújo, julgado em 22/5/2013.