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www.dizerodireito.com.br Página1 INFORMATIVO esquematizado Informativo 522 – STJ Márcio André Lopes Cavalcante Obs: não foram incluídos neste informativo esquematizado os julgados de menor relevância para concursos públicos ou aqueles decididos com base em peculiaridades do caso concreto. Caso seja de seu interesse conferi-los, os acórdãos excluídos foram os seguintes: REsp 1.353.016-AL; REsp 1.336.213-RS; REsp 1.360.212-SP; REsp 1.201.635-MG; CC 111.230-DF; REsp 1.331.033-SC; REsp 1.339.432-MS; AgRg no AREsp 150.390-SP; REsp 1.104.377-SP. DIREITO ADMINISTRATIVO Concurso público e início do prazo do MS na hipótese de aprovação por força de questão anulada Na hipótese em que houver, em ação autônoma, o reconhecimento da nulidade de questões de concurso público, o termo inicial do prazo para que o candidato beneficiado impetre mandado de segurança objetivando sua nomeação no cargo público será a data do trânsito em julgado da decisão judicial. Isso porque o candidato favorecido pela decisão judicial somente passa a ter direito líquido e certo à nomeação a partir da referida data. Comentários Imagine a seguinte situação hipotética: João fez determinado concurso público, tendo ficado com 69 pontos, segundo o resultado final divulgado em 02/02/2011, sendo que a nota de corte foi 70 pontos. Diante disso, ingressou com ação buscando a anulação de uma questão objetiva (que era absurda), tendo a demanda sido julgada procedente, com trânsito em julgado em 02/02/2013. Com a anulação, João passou a ter pontos suficientes para ser aprovado dentro do número de vagas e nomeado. Apesar disso, não foi chamado. Vale ressaltar que a nomeação do último candidato aprovado dentro do número de vagas ocorreu em 02/02/2012. Em 02/04/2013, João impetrou mandado de segurança pedindo sua nomeação e posse. A Fazenda Pública contestou, afirmando que houve decadência, considerando que o MS deveria ter sido impetrado em até 120 dias contados do resultado final (02/02/2011) ou, então, da data em que foi nomeado o último candidato aprovado (02/02/2012). A tese da Fazenda Pública foi acolhida pelo STJ? NÃO. Segundo decidiu o STJ, na hipótese em que houver, em ação autônoma, o reconhecimento da nulidade de questões de concurso público, o termo inicial do prazo para que o candidato beneficiado impetre mandado de segurança objetivando sua nomeação no cargo público será a data do trânsito em julgado da decisão judicial. Isso porque o candidato favorecido pela decisão judicial somente passa a ter direito líquido e certo à nomeação a partir da referida data. Processo STJ. 1ª Turma. AgRg no REsp 1.284.773-AM, Rel. Min. Benedito Gonçalves, julgado em 23/4/2013. Página1

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Informativo 522 – STJ

Márcio André Lopes Cavalcante Obs: não foram incluídos neste informativo esquematizado os julgados de menor relevância para concursos públicos ou aqueles decididos com base em peculiaridades do caso concreto. Caso seja de seu interesse conferi-los, os acórdãos excluídos foram os seguintes: REsp 1.353.016-AL; REsp 1.336.213-RS; REsp 1.360.212-SP; REsp 1.201.635-MG; CC 111.230-DF; REsp 1.331.033-SC; REsp 1.339.432-MS; AgRg no AREsp 150.390-SP; REsp 1.104.377-SP.

DIREITO ADMINISTRATIVO

Concurso público e início do prazo do MS na hipótese de aprovação por força de questão anulada

Na hipótese em que houver, em ação autônoma, o reconhecimento da nulidade de questões de concurso público, o termo inicial do prazo para que o candidato beneficiado impetre mandado de segurança objetivando sua nomeação no cargo público será a data do trânsito em julgado da

decisão judicial. Isso porque o candidato favorecido pela decisão judicial somente passa a ter direito líquido e certo à nomeação a partir da referida data.

Comentários Imagine a seguinte situação hipotética: João fez determinado concurso público, tendo ficado com 69 pontos, segundo o resultado final divulgado em 02/02/2011, sendo que a nota de corte foi 70 pontos. Diante disso, ingressou com ação buscando a anulação de uma questão objetiva (que era absurda), tendo a demanda sido julgada procedente, com trânsito em julgado em 02/02/2013. Com a anulação, João passou a ter pontos suficientes para ser aprovado dentro do número de vagas e nomeado. Apesar disso, não foi chamado. Vale ressaltar que a nomeação do último candidato aprovado dentro do número de vagas ocorreu em 02/02/2012. Em 02/04/2013, João impetrou mandado de segurança pedindo sua nomeação e posse. A Fazenda Pública contestou, afirmando que houve decadência, considerando que o MS deveria ter sido impetrado em até 120 dias contados do resultado final (02/02/2011) ou, então, da data em que foi nomeado o último candidato aprovado (02/02/2012).

A tese da Fazenda Pública foi acolhida pelo STJ? NÃO. Segundo decidiu o STJ, na hipótese em que houver, em ação autônoma, o reconhecimento da nulidade de questões de concurso público, o termo inicial do prazo para que o candidato beneficiado impetre mandado de segurança objetivando sua nomeação no cargo público será a data do trânsito em julgado da decisão judicial. Isso porque o candidato favorecido pela decisão judicial somente passa a ter direito líquido e certo à nomeação a partir da referida data.

Processo STJ. 1ª Turma. AgRg no REsp 1.284.773-AM, Rel. Min. Benedito Gonçalves, julgado em 23/4/2013. Pág

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Concurso público e “pé torto congênito bilateral”

Os candidatos que tenham "pé torto congênito bilateral" têm direito a concorrer às vagas em concurso público reservadas às pessoas com deficiência.

A mencionada deficiência física enquadra-se no disposto no art. 4º, I, do Dec. 3.298/1999. Comentários Apenas a título de curiosidade, segue abaixo as definições dos diversos tipos de deficiência

(não é preciso que você saiba isso!): Art. 4º É considerada pessoa portadora de deficiência a que se enquadra nas seguintes categorias: I - deficiência física - alteração completa ou parcial de um ou mais segmentos do corpo humano, acarretando o comprometimento da função física, apresentando-se sob a forma de paraplegia, paraparesia, monoplegia, monoparesia, tetraplegia, tetraparesia, triplegia, triparesia, hemiplegia, hemiparesia, ostomia, amputação ou ausência de membro, paralisia cerebral, nanismo, membros com deformidade congênita ou adquirida, exceto as deformidades estéticas e as que não produzam dificuldades para o desempenho de funções; II - deficiência auditiva - perda bilateral, parcial ou total, de quarenta e um decibéis (dB) ou mais, aferida por audiograma nas frequências de 500HZ, 1.000HZ, 2.000Hz e 3.000Hz; III - deficiência visual - cegueira, na qual a acuidade visual é igual ou menor que 0,05 no melhor olho, com a melhor correção óptica; a baixa visão, que significa acuidade visual entre 0,3 e 0,05 no melhor olho, com a melhor correção óptica; os casos nos quais a somatória da medida do campo visual em ambos os olhos for igual ou menor que 60o; ou a ocorrência simultânea de quaisquer das condições anteriores; IV - deficiência mental – funcionamento intelectual significativamente inferior à média, com manifestação antes dos dezoito anos e limitações associadas a duas ou mais áreas de habilidades adaptativas, tais como: a) comunicação; b) cuidado pessoal; c) habilidades sociais; d) utilização da comunidade; d) utilização dos recursos da comunidade; e) saúde e segurança; f) habilidades acadêmicas; g) lazer; e h) trabalho; V - deficiência múltipla – associação de duas ou mais deficiências.

Processo STJ. 1ª Turma. RMS 31.861-PE, Rel. Min. Sérgio Kukina, julgado em 23/4/2013.

Convocação de candidato por DO sendo que as chamadas anteriores foram também pela internet

A convocação de candidato para a fase posterior de concurso público não pode ser realizada apenas pelo diário oficial na hipótese em que todas as comunicações anteriores tenham ocorrido,

conforme previsão editalícia de divulgação das fases do concurso, também pela internet. Comentários João estava prestando concurso para Policial Militar.

Todas as comunicações e convocações desse certame eram feitas por Diário Oficial e também por meio da internet. Após ter sido aprovado nas etapas anteriores, João foi convocado para o exame médico por meio apenas do Diário Oficial. Desse modo, ao contrário das outras convocações, o chamado para o exame médico não foi feito também pela internet. O candidato não compareceu ao exame médico, tendo sido eliminado do concurso.

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A Administração Pública agiu corretamente nesse caso? NÃO. Segundo decidiu o STJ, a convocação de candidato apenas pelo Diário Oficial não atende adequadamente ao princípio da publicidade, especialmente se houver previsão no edital de que as etapas do concurso devem ser também divulgadas pela rede mundial de computadores (internet). O diário oficial não tem o mesmo alcance de outros meios de comunicação, não sendo razoável exigir-se que os candidatos aprovados em concurso público o acompanhem. Ademais, como todas as fases anteriores do concurso foram divulgadas pela internet, isso gerou para os candidatos a justa expectativa de que as demais comunicações do certame seguiriam esse padrão. Apesar do acórdão não ter mencionado isso, pode-se dizer que houve, no caso, uma espécie de surrectio, ou seja, o surgimento de um direito do candidato de ser convocado também pela internet, em consequência da prática reiterada dessa forma de comunicação.

Outros julgados

Sobre o tema “convocação de candidato aprovado” vejamos também este outro entendimento consolidado do STJ: Viola o princípio da razoabilidade a convocação para determinada fase de concurso público ou para nomeação de candidato aprovado apenas mediante publicação do chamamento em Diário Oficial quando passado muito tempo entre a realização ou a divulgação do resultado da etapa imediatamente anterior e a referida convocação, uma vez que é inviável exigir que o candidato acompanhe, diariamente, com leitura atenta, as publicações oficiais. STJ. 2ª Turma. AgRg no RMS 35.494-RS, Rel. Min. Humberto Martins, julgado em 20/3/2012.

Processo STJ. 2ª Turma. AgRg no RMS 33.696-RN, Rel. Min. Eliana Calmon, DJe 22/4/2013.

Não há direito à nomeação se foram criados novos cargos, mas não há dotação orçamentária

Ainda que sejam criados novos cargos durante a validade do concurso, a Administração Pública não poderá ser compelida a nomear candidato aprovado fora do número de vagas oferecidas no

edital de abertura do certame na hipótese em que inexista dotação orçamentária específica. Comentários SITUAÇÃO 1

Regra: Candidato aprovado dentro do número de vagas: direito subjetivo O candidato aprovado dentro do número de vagas previstas no edital do concurso público possui direito subjetivo de ser nomeado e empossado dentro do período de validade do certame. Posição pacífica do STJ e STF.

Exceções: O STF, ao analisar o tema em sede de repercussão geral, identificou hipóteses excepcionais em que a Administração pode deixar de realizar a nomeação de candidato aprovado dentro do número de vagas, desde que se verifique a ocorrência de uma situação com as seguintes características (RE 598.099/MS, Pleno, DJe de 3.10.2011): a) superveniência: os eventuais fatos ensejadores de uma situação excepcional devem ser necessariamente posteriores à publicação do edital do certame público; b) imprevisibilidade: a situação deve ser determinada por circunstâncias extraordinárias, imprevisíveis à época da publicação do edital; c) gravidade: os acontecimentos extraordinários e imprevisíveis devem ser extremamente graves, implicando onerosidade excessiva, dificuldade ou mesmo impossibilidade de cumprimento efetivo das regras do edital; d) necessidade: a solução drástica e excepcional de não cumprimento do dever de nomeação deve ser extremamente necessária, de forma que a Administração somente pode adotar tal medida quando absolutamente não existirem outros meios menos gravosos para lidar com a situação excepcional e imprevisível.

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SITUAÇÃO 2:

Regra: Se o candidato foi aprovado fora do número de vagas (o concurso não previa cadastro de reserva), mas durante o prazo de validade do concurso foram criados novos cargos, ele terá direito subjetivo à nomeação? Não necessariamente. O candidato aprovado fora do número de vagas, em princípio, não tem direito subjetivo à nomeação, mesmo que surjam ou sejam criadas vagas durante o prazo de validade do concurso. Assim, o fato de terem sido criados novos cargos enquanto ainda vigente o concurso não obriga, por si só, a Administração a nomear o candidato aprovado fora do número de vagas: “A mera criação de novos cargos enquanto ainda vigente o concurso não garante, por si só, o direito do candidato aprovado, mas não classificado dentre as vagas ofertadas, à nomeação. Tampouco obriga, a princípio, a administração a prorrogar o prazo de validade do concurso, ato discricionário, submetido ao juízo de oportunidade e conveniência administrativas.” (AgRg no REsp 1263916/PR, Rel. Min. Castro Meira, Segunda Turma, julgado em 14/08/2012, DJe 24/08/2012) (STJ AgRg no REsp 1263916/PR).

Exceção: O candidato aprovado fora do número de vagas do edital adquire direito subjetivo à nomeação caso consiga comprovar que: a) surgiram novas vagas durante o prazo de validade do concurso público; e b) existe interesse da Administração Pública em preencher essas vagas.

SITUAÇÃO 3: Regra:

Se o candidato foi aprovado fora do número de vagas, mas dentro do cadastro de reserva previsto no edital e durante o prazo de validade do concurso surgiram novos cargos, ele terá direito subjetivo à nomeação? Em regra sim. Segundo vem decidindo o STJ, “a aprovação do candidato dentro do cadastro de reserva, ainda que fora do número de vagas inicialmente previstas no edital do concurso público, confere-lhe o direito subjetivo à nomeação para o respectivo cargo, se, durante o prazo de validade do concurso, houver o surgimento de novas vagas, seja em razão da criação de novos cargos mediante lei, seja em virtude de vacância decorrente de exoneração, demissão, aposentadoria, posse em outro cargo inacumulável ou falecimento.” (RMS 38443/AC, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, 2ª Turma, julgado em 02/04/2013).

Exceções Existem exceções? Em outras palavras, existem casos em que o candidato foi aprovado fora do número de vagas, mas dentro do cadastro de reserva, e que ele não terá direito subjetivo à nomeação mesmo tendo surgido novas vagas? SIM, são as mesmas exceções previstas na situação 1. Assim, o candidato aprovado dentro do cadastro de reservas poderá deixar de ser nomeado mesmo que tenham surgido novos cargos caso se verifique uma situação superveniente, imprevisível, grave e necessária. Exemplo: não haverá direito subjetivo à nomeação do candidato aprovado dentro do cadastro de reservas mesmo que tenham surgido vagas na hipótese em que não houver dotação orçamentária para a realização de nomeações. O reconhecimento da existência de necessidade de servidores não garante, por si só, a nomeação de candidatos, se o orçamento desse ano não suporta o acréscimo de despesas.

Processo STJ. 2ª Turma. RMS 37.700-RO, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, julgado em 4/4/2013.

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Desapropriação (indenização proposta pelo arrendatário)

A União é parte legítima para figurar no polo passivo de ação em que o arrendatário objetive ser indenizado pelos prejuízos decorrentes da desapropriação por interesse social, para a

reforma agrária, do imóvel arrendado. Comentários Antônio possuía um imóvel rural e o arrendou a João (contrato de arrendamento rural).

A União realizou a desapropriação do imóvel rural por interesse social, para fins de reforma

agrária, nos termos do art. 184 da CF/88 e da Lei n. 8.629/93. O contrato de arrendamento teve que ser extinto por força da desapropriação. João alega que teve prejuízos com o fim do ajuste. Ele poderá ajuizar uma ação de indenização contra a União? SIM. A desapropriação resolve o contrato de arrendamento. Como o arrendatário não é titular de um direito real (mas sim pessoal), não há a sub-

rogação do seu direito no valor indenizatório (art. 31 do Decreto-Lei n. 3.365/41). Em outros termos, a União não fica isenta de indenizar o arrendatário pelo simples fato de já ter pago a indenização pelo imóvel. Logo, o arrendatário faz jus à indenização a ser paga pela União, desde que prove ter sofrido prejuízos com a resolução do contrato por força da desapropriação. “O pedido indenizatório não pode ser formulado nos autos do processo de desapropriação, mas em ação autônoma, já que se trata de matéria alheia à transferência do bem, que constitui o objeto da ação expropriatória.” (CARVALHO FILHO, José dos Santos. Manual de direito administrativo. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2010, p. 941).

Processo STJ. 2ª Turma. REsp 1.130.124-PR, Rel. Min. Eliana Calmon, julgado em 4/4/2013.

DIREITO ADMINISTRATIVO MILITAR (obs: este julgado somente interessa a quem presta concursos que exijam esta matéria)

Promoção de anistiado político militar

Não é possível a promoção de anistiado político (art. 6º da Lei 10.559/2002) para carreira militar diversa da que ele integra.

Comentários Não é possível a promoção de anistiado político (art. 6º da Lei 10.559/2002) para carreira militar diversa da que ele integra. De fato, ao anistiado político foram asseguradas, na forma do art. 8º do ADCT, as promoções a que teria direito se na ativa estivesse, em observância ao disposto no art. 6º, §§ 3º e 4º, da Lei 10.559/2002. Essa prerrogativa, contudo, é restrita às promoções da carreira à qual o anistiado pertence.

Processo STJ. 1ª Seção. REsp 1.357.700-RJ, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em 12/6/2013.

Reforma de militar temporário por incapacidade

Não tem direito à reforma o militar temporário no caso de incapacidade definitiva para o serviço castrense causada por evento que não guarde relação com o exercício da função.

Comentários Não tem direito à reforma o militar temporário no caso de incapacidade definitiva para o serviço castrense causada por evento que não guarde relação com o exercício da função. Isso porque aos militares temporários somente é garantida a reforma no caso de incapacidade definitiva para o serviço ativo das Forças Armadas se for comprovado que a lesão decorre de circunstância inerente ao exercício da função.

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Observe-se que o critério de concessão de reforma para militar temporário é diferente daquele considerado para militar estável. Com efeito, para a concessão de reforma de militar temporário, são consideradas duas informações: a extensão da incapacidade para o trabalho e a relação de causalidade da lesão com a atividade militar. Quanto à extensão da incapacidade para o trabalho, o Estatuto dos Militares (Lei 6.880/1980) a distingue em dois tipos: uma chamada de incapacidade definitiva para o serviço ativo nas Forças Armadas (que abrange exclusivamente as atividades militares, não considerando as atividades laborais civis) e a invalidez (conceito que engloba todas as atividades, castrenses ou civis). Quanto ao nexo causal da lesão incapacitante com o exercício da função militar, se comprovado, o militar temporário terá direito à reforma independentemente de sua extensão (incapacidade definitiva ou invalidez). Contudo, se o evento incapacitante não guardar relação com a função castrense, o militar temporário somente terá direito à reforma no caso de invalidez.

Processo STJ. 2ª Turma. REsp 1.328.915-RS, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, julgado em 4/4/2013.

DIREITO CIVIL

Correção monetária sobre o valor das parcelas pagas no caso de rescisão de contrato

No caso de rescisão de contrato de compra e venda de imóvel, a correção monetária do valor correspondente às parcelas pagas, para efeitos de restituição, incide a partir de cada desembolso.

Comentários Imagine a seguinte situação hipotética: João celebrou um contrato de promessa de compra e venda de unidade imobiliária (apartamento) em construção com determinada imobiliária, ficando acertado que o promitente comprador pagaria o bem em 60 prestações mensais. Após ter pago 10 parcelas, as obras do prédio foram paralisadas por conta de dificuldades empresariais da imobiliária. Diante disso, João ajuizou ação pleiteando a rescisão do contrato e a devolução das parcelas pagas, acrescidas de correção monetária e juros moratórios. A ação foi julgada procedente. Diante disso, indaga-se: Na devolução das prestações, a correção monetária será contada considerando o dia em que a imobiliária foi citada ou a data em foram realizados os pagamentos? O termo inicial da correção será a data dos respectivos pagamentos de cada parcela. Segundo a jurisprudência do STJ, em caso de rescisão de contrato de promessa de compra e venda de imóvel, a correção monetária das parcelas pagas, para efeitos de restituição, incide a partir de cada desembolso realizado pelo então comprador. Ex: em 10/10/2010, João pagou uma parcela de 3 mil reais. Logo, a imobiliária, que foi citada para a ação em 05/05/2012, deverá devolver os 3 mil reais com correção monetária contada a partir de 10/10/2010. A segunda parcela foi paga em 10/11/2010, data a partir da qual será calculada a correção monetária quanto a esse valor e assim sucessivamente. A correção monetária não constitui acréscimo pecuniário à dívida, mas apenas fator que garante a restituição integral do valor devido, fazendo frente aos efeitos erosivos da passagem do tempo. Dessa forma, para que a devolução se opere de modo integral, a incidência da correção monetária deve ter por termo inicial o momento dos respectivos desembolsos, quando aquele que hoje deve restituir já podia fazer uso das importâncias recebidas.

Processo STJ. 4ª Turma. REsp 1.305.780-RJ, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 4/4/2013.

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Responsabilidade civil em caso de adultério

Três conclusões sobre este julgado:

I – O “cúmplice” (amante) da esposa não tem o dever de indenizar o marido traído. Em que pese o alto grau de reprovabilidade da conduta daquele que se envolve com pessoa casada, o

“cúmplice” da esposa infiel não é responsável a indenizar o marido traído, pois ele não era obrigado, por lei ou contrato, a zelar pela incolumidade do casamento alheio.

II – A esposa infiel não tem o dever de restituir ao marido traído os alimentos pagos por ele em favor de filho criado pelo casal, ainda que a adúltera tenha ocultado do marido o fato de que a

referida criança era filha biológica sua e de seu “cúmplice” (amante).

III – A esposa que traiu pode ser condenada a indenizar por danos morais o marido traído em hipóteses excepcionais, como o caso julgado pelo STJ, no qual, além de a traição ter ocorrido

com um amigo do cônjuge, houve o nascimento de uma criança registrada erroneamente como descendente do marido, mas que era filho biológico do amante. Na hipótese, a esposa ocultou

do ex-marido por anos após a separação, o fato de que a criança nascida durante o matrimônio e criada como filha biológica do casal era, na verdade, filha sua e de seu “cúmplice”.

Comentários A situação fática, com algumas adaptações, foi a seguinte: Dr. Bento Santiago (Bentinho) era casado com Maria Capitolina Santiago (mais conhecida por Capitu) e, durante a relação, nasceu Ezequiel, registrado como filho do casal. A relação entre Bentinho e Ezequiel sempre foi excelente, tendo sido desenvolvido um intenso vínculo de afeto. Bentinho e Capitu decidiram se separar. No entanto, a relação entre pai e filho permaneceu forte, sendo certo que Bentinho realizava inúmeras despesas com o sustento, educação e lazer de Ezequiel. Anos mais tarde, Bentinho descobriu, por meio de exame de DNA, que não era pai biológico de Ezequiel, sendo este filho de Escobar, amigo do casal, fruto de um relacionamento adulterino que manteve com Capitu na época. Ação de indenização Diante dessa terrível revelação, Bentinho ajuizou ação de indenização contra Capitu e Escobar, cobrando o ressarcimento de todas as despesas que realizou com Ezequiel, além de uma reparação por danos morais em virtude de ter sido humilhado em seu círculo social pela torpeza da ex-mulher e do suposto amigo. Escobar (o amigo/amante) tem o dever de indenizar Bentinho? NÃO. Em que pese o alto grau de reprovabilidade da conduta daquele que se envolve com pessoa casada, o STJ, recentemente, entendeu que o “cúmplice” da esposa infiel não é solidariamente responsável a indenizar o marido traído, pois tal fato não constitui ilícito civil ou penal. Em outras palavras, o “cúmplice” (amante) não é obrigado, por lei ou contrato, a zelar pela incolumidade do casamento alheio ou a revelar ao marido traído que está mantendo relacionamento extraconjungal com a sua esposa (3ª Turma. REsp 922.462-SP, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 4/4/2013).

Além do entendimento manifestado nesse julgado, o STJ já possuía outro precedente no mesmo sentido. Confira: (...) O cúmplice de cônjuge infiel não tem o dever de indenizar o traído, uma vez que o conceito de ilicitude está imbricado na violação de um dever legal ou contratual, do qual resulta dano para outrem, e não há no ordenamento jurídico pátrio norma de direito público ou privado que obrigue terceiros a velar pela fidelidade conjugal em casamento do qual não faz parte. (...)

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O réu é estranho à relação jurídica existente entre o autor e sua ex-esposa, relação da qual se origina o dever de fidelidade mencionado no art. 1.566, inciso I, do Código Civil de 2002. (REsp 1.122.547/MG, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, Quarta Turma, julgado em 10/11/2009) Assim, a conduta de Escobar, ainda que moralmente reprovável, não gera dever de indenizar o traído por eventuais danos materiais ou morais que ele tenha sofrido.

Capitu (a ex-esposa) deverá pagar indenização por danos materiais a Bentinho? Em outros termos, ela deverá restituir as despesas que ele fez com o sustento, educação e lazer de Ezequiel, criado como filho do casal? NÃO. Entre Bentinho e Ezequiel foram desenvolvidos laços de afeto, configurando-se verdadeira paternidade socioafetiva, motivo pelo qual resta vedada a pleiteada repetição da verba alimentar paga durante o período em que perdurou o convívio com o então filho. Além disso, o fato de um dos cônjuges não ter cumprido o dever de fidelidade, inerente ao casamento, não pode servir para prejudicar a criança e a relação de paternidade socioafetiva que foi gerada. Ressalte-se que a jurisprudência do STJ afirma que a filiação socioafetiva deve ser reconhecida e amparada juridicamente (REsp 1.244.957/SC, Rel. Min. Nancy Andrighi, Terceira Turma, julgado em 07/08/2012). Vale ressaltar, por fim, que o valor pago para suprir as necessidades do filho, ainda que erroneamente registrado, é irrepetível, considerando que se trata de verba alimentar.

Capitu (a ex-esposa) deverá pagar indenização por danos morais a Bentinho? SIM. Em um caso concreto, envolvendo essas peculiaridades, o STJ entendeu que era devida a indenização por danos morais. Mas atenção: não se está afirmando que o cônjuge adúltero (mulher ou homem) sempre terá a obrigação de indenizar o seu consorte por danos morais em caso de traição. O que se está dizendo é que, no caso concreto, o STJ considerou devida a indenização considerando que, além da traição, houve um outro fato muito relevante: durante anos, a ex-esposa escondeu de seu ex-marido que o filho que ele criava não era seu descendente biológico, mas sim de seu amigo. Dessa forma, diante desses dois fatos, naquele caso concreto, o STJ entendeu que era cabível o pagamento de reparação por danos morais. Vamos explicar melhor os principais argumentos utilizados pelo STJ no julgado: Segundo ponderou, o Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, atualmente, o direito não mais dá importância em identificar o culpado pelo fim de uma relação afetiva. Isso ficou ainda mais claro com o fim da separação judicial, operacionalizada pela EC 66/2010. Esse desprezo atual do direito pela investigação de quem é culpado representa um enorme avanço no tratamento do tema considerando que deixar de amar o cônjuge ou companheiro é uma circunstância de cunho estritamente pessoal, não podendo ser taxado de ato ilícito apto a ensejar indenização. Assim, a dor sentida pelo cônjuge/companheiro abandonado pelo fim de uma relação NÃO é apta, em regra, a ensejar danos morais. Além disso, a violação dos deveres impostos por lei para o casamento (art. 1.566 do CC) e para a união estável (art. 1.724 do CC) NÃO constitui, por si só, ofensa à honra e à dignidade do consorte, apta a ensejar a obrigação de indenizar. Em suma, em regra, o cônjuge/companheiro que descumpre os seus deveres NÃO tem obrigação de pagar indenização.

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Não é porque houve o desrespeito a um dos deveres do casamento ou da união estável que haverá, necessariamente, o dever de indenizar. Não há como se impor o dever de amar. Não se pode transformar a desilusão pelo fim dos vínculos afetivos em obrigação indenizatória. Todavia, não é possível ignorar que a vida em comum impõe restrições que devem ser observadas, destacando-se o dever de fidelidade nas relações conjugais. O descumprimento a esse dever pode, diante de peculiaridades do caso concreto, acarretar danos morais, como na situação analisada pelo STJ, em que, de fato, restou demonstrado o abalo emocional do marido pela traição da então esposa, além da notícia de que seu suposto descendente não era seu filho biológico. Dessa forma, no caso concreto, restou configurado o dano moral, considerando que a ex-mulher traiu a vítima com seu amigo, fazendo-o, ainda, acreditar que tinha tido um filho biológico que era do outro. Na situação em análise, outro ponto a ser ainda destacado é que o STJ afastou a defesa apresentada pela ex-esposa de que somente traiu o homem pelo fato de ele não manter com ela relações sexuais. Segundo explicou o Ministro Relator, não há compensação de culpas no Direito de Família, sendo a fidelidade um dever incondicionado de ambos os cônjuges. Foi arbitrado o valor da indenização por danos morais em 200 mil reais.

Processo STJ. 3ª Turma. REsp 922.462-SP, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 4/4/2013.

DIREITO EMPRESARIAL

Responsabilidade da sociedade incorporadora

A sucessão, por incorporação, de empresas, determina a extinção da personalidade jurídica da incorporada, com a transmissão de seus direitos e obrigações à incorporadora.

Logo, à luz do instituto jurídico da incorporação, deve-se reconhecer que a incorporadora detém legitimidade passiva para responder pelos atos da sociedade incorporada.

Comentários Incorporação Incorporação é a operação por meio da qual uma ou mais sociedades são absorvidas por outra, que lhes sucede em todos os direitos e obrigações (art. 227 da LSA) (art. 1.116 do CC). Ex: a sociedade empresária “Telesc” foi incorporada pela “Brasil Telecom S/A”. Isso significa que a “Telesc” deixou de existir e passou a fazer parte da “Brasil Telecom S/A”. “Conforme disciplina a Lei n. 6.404, de 15.12.1976 (Lei das Sociedades por Ações), a incorporação - operação pela qual uma ou mais sociedades são absorvidas por outra - enseja a extinção da personalidade jurídica da sociedade incorporada, equiparando-se, para efeitos legais, à morte da pessoa física ou natural.” (AgRg no REsp 895.577/RS, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, Segunda Turma, julgado em 19/10/2010). Regramento Se a incorporação envolver uma sociedade institucional (anônima ou comandita por ações),

a Lei que irá disciplinar esta operação é a Lei n. 6.404/76 (Lei das Sociedades Anônimas). Se a incorporação envolver outras espécies societárias, aplicam-se as regras previstas no Código Civil.

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Responsabilidade De quem é a responsabilidade pelas dívidas da sociedade incorporada? Como a sociedade incorporada deixa de existir, quem responderá pelas suas dívidas é a sociedade incorporadora. (STJ REsp 645.455/TO). O Min. Paulo de Tarso Sanseverino aponta que a incorporação caracteriza-se, essencialmente, por dois requisitos: a) absorção total do patrimônio da incorporada pela incorporadora (todos os direitos e

obrigações); b) extinção da personalidade jurídica da incorporada. Assim, quando da incorporação da “Telesc” pela “Brasil Telecom S/A”, aquela, na qualidade de incorporada, teve extinta sua personalidade jurídica, e esta, na qualidade de incorporadora, absorveu todos os direitos e obrigações da primeira. Logo, à luz do instituto jurídico da incorporação, deve-se reconhecer que a “Brasil Telecom S/A” detém legitimidade passiva para responder pelos atos da antiga “Telesc”.

Processo STJ. 2ª Seção. REsp 1.322.624-SC, Rel. Ministro Paulo de Tarso Sanseverino, julgado em 12/6/2013.

DIREITO PROCESSUAL CIVIL

Conflito de competência

É possível a existência de conflito de competência entre juízo estatal e câmara arbitral. Isso porque a atividade desenvolvida no âmbito da arbitragem tem natureza jurisdicional.

Processo STJ. 2ª Seção. CC 111.230-DF, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 8/5/2013.

Intimação do representante da Fazenda Pública Nacional

É válida a intimação do representante judicial da Fazenda Pública Nacional por carta com aviso de recebimento quando o respectivo órgão não possuir sede na comarca em que tramita o feito.

Comentários Os Procuradores da Fazenda Nacional possuem a prerrogativa de serem intimados pessoalmente dos atos processuais?

SIM, conforme previsto no art. 20 da Lei n. 11.033/2004:

Art. 20. As intimações e notificações de que tratam os arts. 36 a 38 da Lei Complementar n. 73, de 10 de fevereiro de 1993, inclusive aquelas pertinentes a processos administrativos, quando dirigidas a Procuradores da Fazenda Nacional, dar-se-ão pessoalmente mediante a entrega dos autos com vista.

Se a causa tramitar em um Município do interior onde não exista sede da PFN, como poderá ser feita esta intimação? Neste caso, será válida a intimação do representante judicial da Fazenda Pública Nacional por carta com aviso de recebimento. Para o STJ, no caso de inexistência de órgão de representação judicial na comarca em que tramita o feito, admite-se a intimação pelos Correios, à luz do art. 237, II, do CPC, aplicável subsidiariamente às execuções fiscais:

Art. 237. Nas demais comarcas aplicar-se-á o disposto no artigo antecedente, se houver órgão de publicação dos atos oficiais; não o havendo, competirá ao escrivão intimar, de todos os atos do processo, os advogados das partes:

ATENÇÃO

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(...) II - por carta registrada, com aviso de recebimento quando domiciliado fora do juízo.

Vale ressaltar que o próprio legislador adotou esta solução nos casos de intimações a serem concretizadas fora da sede do juízo (art. 6º, § 2º, da Lei 9.028/1995):

Art. 6º A intimação de membro da Advocacia-Geral da União, em qualquer caso, será feita pessoalmente. (...) § 2º As intimações a serem concretizadas fora da sede do juízo serão feitas, necessariamente, na forma prevista no art. 237, inciso II, do Código de Processo Civil.

Processo STJ. 1ª Seção. REsp 1.352.882-MS, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em 12/6/2013 (recurso repetitivo).

Honorários sucumbenciais em caso de renúncia ou desistência para aderir ao REFIS da crise (obs: este julgado somente interessa para os concursos federais mais difíceis)

São devidos honorários advocatícios sucumbenciais na hipótese de renúncia ao direito ou desistência de ação com o objetivo de aderir ao regime de parcelamento tributário instituído

pela Lei n. 11.941/2009 (REFIS da crise). Comentários A Lei n. 11.941/2009 previu a possibilidade de parcelamento de débitos oriundos de

tributos federais. Para receber o parcelamento, contudo, o sujeito passivo deveria desistir de eventual ação judicial em curso que estivesse discutindo tais débitos e, além disso, renunciar ao direito

sobre o qual se funda a ação (art. 269, V, do CPC) (Portaria Conjunta PGFN/RFB n. 6/2009). Em caso de desistência ou renúncia, aquele que desistiu ou renunciou deverá pagar os honorários de sucumbência à outra parte? SIM. Esta é a regra geral prevista no art. 26 do CPC:

Art. 26. Se o processo terminar por desistência ou reconhecimento do pedido, as despesas e os honorários serão pagos pela parte que desistiu ou reconheceu.

Assim, em regra, quem desistiu da ação e renunciou ao direito sobre o qual ela se funda para

aderir ao parcelamento da Lei n. 11.941/2009 deverá pagar honorários de sucumbência. Exceção:

A Lei n. 11.941/2009 prevê uma única exceção e afirma que se a ação judicial que estava tramitando tinha como objetivo o restabelecimento de sua opção ou a sua reinclusão em outros parcelamentos, neste caso a parte estará dispensada de pagar os honorários mesmo tendo desistido e renunciado. É o que diz o art. 6º, § 1º:

Art. 6º O sujeito passivo que possuir ação judicial em curso, na qual requer o restabelecimento de sua opção ou a sua reinclusão em outros parcelamentos, deverá, como condição para valer-se das prerrogativas dos arts. 1º, 2º e 3º desta Lei, desistir da respectiva ação judicial e renunciar a qualquer alegação de direito sobre a qual se funda a referida ação, protocolando requerimento de extinção do processo com resolução do mérito, nos

termos do inciso V do caput do art. 269 da Lei n. 5.869, de 11 de janeiro de 1973 – Código de Processo Civil, até 30 (trinta) dias após a data de ciência do deferimento do requerimento do parcelamento. § 1º Ficam dispensados os honorários advocatícios em razão da extinção da ação na forma deste artigo.

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Resumindo:

Os honorários advocatícios só são dispensados do sujeito passivo tributário (contribuinte) que desistir de ação judicial em que requeira o restabelecimento de sua opção ou a sua reinclusão em outros parcelamentos (§ 1º do art. 6º).

Nas demais hipóteses (ações que tenham outro objetivo), aplica-se o art. 26, caput, do CPC, que determina o pagamento dos honorários advocatícios pela parte que desistiu do feito.

Processo STJ. 1ª Seção. REsp 1.353.826-SP, Rel. Ministro Herman Benjamin, julgado em 12/6/2013.

Concessão de benefício previdenciário diverso do requerido na petição inicial

O juiz pode conceder ao autor benefício previdenciário diverso do requerido na inicial, desde que preenchidos os requisitos legais atinentes ao benefício concedido. Isso porque, tratando-se de matéria previdenciária, deve-se proceder, de forma menos rígida, à análise do pedido. Assim,

nesse contexto, a decisão proferida não pode ser considerada como extra petita ou ultra petita. Comentários Princípio da congruência, correlação ou adstrição

Segundo esse princípio, o juiz:

não poderá conceder algo a mais ou diferente do que foi pedido;

não poderá fundamentar o veredito em causa de pedir diferente daquela que foi exposta; e

deverá julgar a demanda em relação a todas as partes da lide, não podendo atingir terceiros que não participaram do processo.

Previsão do princípio da congruência O princípio da congruência está previsto em dois dispositivos do CPC:

Art. 128. O juiz decidirá a lide nos limites em que foi proposta, sendo-lhe defeso conhecer de questões, não suscitadas, a cujo respeito a lei exige a iniciativa da parte.

Art. 460. É defeso ao juiz proferir sentença, a favor do autor, de natureza diversa da pedida, bem como condenar o réu em quantidade superior ou em objeto diverso do que lhe foi demandado.

Violação ao princípio da congruência Quando o juiz viola o princípio da congruência, a decisão, em regra, incidirá em um dos seguintes vícios:

a) Sentença extra petita: ocorre quando a decisão concede algo diferente do que foi pedido pelo autor. Ex: em uma ação em que se pede a declaração de falsidade do documento “X”, será extra petita a sentença se o juiz, sem analisar o pedido de declaração de falsidade do documento “X”, declarar a falsidade do documento “Y”, não pretendida pelo autor (exemplo fornecido por Vallisney de Souza);

b) Sentença ultra petita: ocorre quando a decisão concede além do que foi pedido. “Na sentença ultra petita, o juiz concede ao autor a tutela jurisdicional pedida, o gênero do bem da vida pretendido, mas extrapola a quantidade indicada pelo autor.” (NEVES, Daniel Amorim Assumpção. p. 484). Ex: em uma ação em que se pede a declaração de falsidade do documento “X”, será ultra petita a decisão que, além de declarar a falsidade do documento “X”, avançar para declarar também a falsidade do documento “Y”;

c) Sentença citra petita (infra petita): ocorre quando a decisão “fica aquém do pedido do autor ou deixa de enfrentar e decidir causa de pedir ou alegação de defesa apresentada pelo réu. No aspecto subjetivo é citra petita a decisão que não resolve a demanda para todos os sujeitos processuais” (NEVES, Daniel. ob. cit., p. 485).

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Feitas as observações acima, imagine a seguinte situação: João ajuíza uma ação contra o INSS pedindo a concessão de seu auxílio-doença, alegando que possui uma incapacidade total, mas temporária, para o exercício de suas funções. Durante a instrução, a perícia conclui que o segurado possui uma incapacidade total e permanente. Logo, João não faz jus ao auxílio-doença e sim à aposentadoria por invalidez (esta último benefício que ele não pediu, nem mesmo subsidiariamente). Diante disso, o juiz poderá conceder a aposentadoria por invalidez mesmo que o autor, na petição inicial, tenha requerido somente o auxílio-doença? SIM. Segundo o STJ, o juiz pode conceder ao autor benefício previdenciário diverso do requerido na inicial, desde que preenchidos os requisitos legais atinentes ao benefício concedido. Isso porque, tratando-se de matéria previdenciária, deve-se proceder, de forma menos rígida, à análise do pedido. Assim, nesse contexto, a decisão proferida não pode ser considerada como extra petita ou ultra petita.

Obras consultadas

DIDIER JR., Fredie; BRAGA, Paulo Sarno; OLIVEIRA, Rafael. Curso de Direito Processual Civil. Vol. 2. Salvador: Juspodivm, 2013. NEVES, Daniel Amorim Assumpção. Manual de Direito Processual Civil. São Paulo: Método, 2010. OLIVEIRA, Vallisney de Souza. Nulidade da sentença e o princípio da congruência. São Paulo: Saraiva, 2004, p. 270.

Processo STJ. 2ª Turma. AgRg no REsp 1.367.825-RS, Rel. Min. Humberto Martins, julgado em 18/4/2013.

Ação rescisória 1

Não é possível a rescisão de sentença com fundamento no inciso VII do art. 485 do CPC na hipótese em que, além de não existir comprovação acerca dos fatos que justifiquem a ausência

de apresentação do documento em modo e tempo oportunos, este se refira a fato que não tenha sido alegado pelas partes e analisado pelo juízo no curso do processo em que se formara

a coisa julgada. Comentários Conceito

Ação rescisória é uma ação que tem por objetivo desconstituir uma decisão judicial transitada em julgado. Natureza jurídica A ação rescisória é uma espécie de ação autônoma de impugnação (sucedâneo recursal externo). Atenção: a ação rescisória NÃO é um recurso. O recurso é uma forma de impugnar a decisão na pendência do processo, enquanto que a ação rescisória somente pode ser proposta quando há trânsito em julgado, ou seja, quando o processo já se encerrou. Competência A ação rescisória é sempre julgada por um tribunal (nunca por um juiz singular). Quem julga a rescisória é sempre o próprio tribunal que proferiu a decisão rescindenda. Hipóteses O CPC prevê as hipóteses em que a ação rescisória é cabível:

Art. 485. A sentença de mérito, transitada em julgado, pode ser rescindida quando: I - se verificar que foi dada por prevaricação, concussão ou corrupção do juiz;

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II - proferida por juiz impedido ou absolutamente incompetente; III - resultar de dolo da parte vencedora em detrimento da parte vencida, ou de colusão entre as partes, a fim de fraudar a lei; IV - ofender a coisa julgada; V - violar literal disposição de lei; VI - se fundar em prova, cuja falsidade tenha sido apurada em processo criminal ou seja provada na própria ação rescisória; VII - depois da sentença, o autor obtiver documento novo, cuja existência ignorava, ou de que não pôde fazer uso, capaz, por si só, de lhe assegurar pronunciamento favorável; VIII - houver fundamento para invalidar confissão, desistência ou transação, em que se baseou a sentença; IX - fundada em erro de fato, resultante de atos ou de documentos da causa; § 1º Há erro, quando a sentença admitir um fato inexistente, ou quando considerar inexistente um fato efetivamente ocorrido. § 2º É indispensável, num como noutro caso, que não tenha havido controvérsia, nem pronunciamento judicial sobre o fato.

Análise da hipótese do inciso VII (documento novo) O inciso VII do art. 485 prevê o seguinte:

Art. 485. A sentença de mérito, transitada em julgado, pode ser rescindida quando: VII - depois da sentença, o autor obtiver documento novo, cuja existência ignorava, ou de que não pôde fazer uso, capaz, por si só, de lhe assegurar pronunciamento favorável;

O que é “novo? Inicialmente, cumpre esclarecer que “documento novo” não é aquele que foi constituído posteriormente ao julgamento da causa. O documento já existia na época em que a decisão rescindenda foi prolatada. A lei chama o documento de “novo” porque ele não existia no processo originário. Dito de outra forma: documento novo é aquele que já havia no mundo dos fatos, mas que não existia no processo. Requisitos do documento novo para fins de rescisória O Min. Paulo de Tarso, em seu voto, elenca quatro requisitos que devem ser preenchidos para que o “documento novo” possa ser utilizado como fundamento para ação rescisória baseada no inciso VII do art. 485 do CPC: a) O documento deve ser contemporâneo à prolação da decisão rescindenda (como

explicamos acima, o documento já existia na época em que a decisão foi prolatada; ele não havia sido juntado ao processo originário);

b) O documento deve ser apto a, por si só, sustentar julgamento favorável ao postulante (se o documento for de menor importância, não há razão lógica para se reabrir a discussão sobre o caso transitado em julgado);

c) O documento novo era ignorado pela parte que o aproveita ou ela até sabia da sua existência, mas estava impossibilidade de apresentá-lo por algum motivo justificado; e

d) O documento deve estar relacionado diretamente com o(s) fato(s) alegado(s) no processo em que se formou a coisa julgada que se pretende desconstituir.

Com base nesse quarto requisito, o STJ decidiu que, para que o documento novo seja admitido como apto a abrir a via da ação rescisória, é necessário que a prova que se deseja ver agora apreciada se refira a fato alegado pelas partes e analisado pelo juízo no curso do processo em que se formara a coisa julgada.

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A intenção do legislador em prever o “documento novo” como uma das hipóteses que autoriza o uso da ação rescisória não foi a de ajudar aquele que exerceu mal o seu direito de defesa. O objetivo foi de permitir que a parte possa apresentar, na rescisória, um documento que comprove aquilo que ela alegou durante o processo, mas que não juntou tal documento pelo fato de não saber que ele existia, ou mesmo sabendo, estar impossibilitada de apresentá-lo (ex: o documento estava extraviado). Em outras palavras, a hipótese do art. 485, VII, do CPC não serve para que a parte possa trazer novos argumentos ao processo já encerrado. A finalidade do dispositivo é que a parte possa juntar um novo documento para comprovar os argumentos velhos (ou seja, que já tinham sido alegados).

Exemplo hipotético: João propõe uma ação de cobrança contra Antônio. A única defesa do réu foi a de que ele nunca manteve nenhum contrato com o autor e, por isso, essa dívida nunca existiu. Entretanto, João conseguiu provar que houve sim o débito, razão pela qual a sentença foi procedente. Houve apelação, tendo a decisão sido confirmada, ocorrendo o trânsito em julgado. Um ano mais tarde, Antônio descobre que o autor da ação tinha em seu poder um documento que prova ter ele quitado o débito com João. Diante disso, Antônio ajuíza uma ação rescisória fundada no art. 485, VII, alegando que a dívida realmente existiu, mas que ela foi paga conforme o documento novo que ele agora dispõe e que estava na posse do credor, motivo pelo qual não pode anexar em sua defesa no processo originário. Não será cabível a ação rescisória nesse caso, considerando que a prova que se deseja ver agora apreciada se refere a fato não alegado pelo réu (quitação) e que, portanto, não foi analisado pelo juízo no curso do processo em que se formara a coisa julgada.

Fredie Didier explica bem essa circunstância: “O documento novo deve, enfim, referir-se a fato alegado no processo originário, não contendo serventia aquele que diga respeito a fato não invocado no feito em que proferida a decisão rescindenda. (...) os fatos não alegados oportunamente no processo originário são alcançados pelo efeito preclusivo da coisa julgada.” (DIDIER JR., Fredie; CUNHA, Leonardo Carneiro da. Curso de Direito Processual Civil. Vol. 3., 11ª ed., Salvador: Juspodivm, 2013, p. 452).

Processo STJ. 3ª Turma. REsp 1.293.837-DF, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, julgado em 2/4/2013.

Ação rescisória 2

Em regra, se a parte já possuía o documento antes da propositura da ação original (o documento era preexistente), não tendo sido juntado por desídia, não será permitido, em

regra, que ajuíze a ação rescisória trazendo esta prova como documento novo. De forma excepcional, o STJ entendeu que é possível ao tribunal, na ação rescisória, analisar

documento novo para efeito de configuração de início de prova material destinado à comprovação do exercício de atividade rural, ainda que esse documento seja preexistente à

propositura da ação em que proferida a decisão rescindenda referente à concessão de aposentadoria rural por idade.

Nesse caso, é irrelevante o fato de o documento apresentado ser preexistente à propositura da ação originária, pois devem ser consideradas as condições desiguais pelas quais passam os

trabalhadores rurais, adotando-se a solução pro misero. Comentários Como vimos, o inciso VII do art. 485 prevê o seguinte:

Art. 485. A sentença de mérito, transitada em julgado, pode ser rescindida quando: VII - depois da sentença, o autor obtiver documento novo, cuja existência ignorava, ou de que não pôde fazer uso, capaz, por si só, de lhe assegurar pronunciamento favorável;

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Segundo a doutrina, “a parte, para valer-se da ação rescisória fundada em documento novo, deve demonstrar que não conhecia tal documento durante o processo originário ou, se o conhecia, a ele não teve acesso. Na hipótese de a parte deixar de juntar aos autos o documento por desídia ou por culpa sua, não poderá, posteriormente, intentar a rescisória fundada no inciso VII do art. 485 do CPC.” (DIDIER JR., Fredie; CUNHA, Leonardo Carneiro da. Curso de Direito Processual Civil. Vol. 3., 11ª ed., Salvador: Juspodivm, 2013, p. 452). Assim, se a parte já possuía o documento antes da propositura da ação (o documento era preexistente), não tendo sido juntado por desídia, não será permitido, em regra, que ajuíze a ação rescisória trazendo esta prova como documento novo. Exceção no caso de ação proposta para aposentadoria rural De forma excepcional, o STJ entende que é possível ao tribunal, na ação rescisória, analisar documento novo para efeito de configuração de início de prova material destinado à comprovação do exercício de atividade rural, ainda que esse documento seja preexistente à propositura da ação em que proferida a decisão rescindenda referente à concessão de aposentadoria rural por idade. Nesse caso, é irrelevante o fato de o documento apresentado ser preexistente à propositura da ação originária, pois devem ser consideradas as condições desiguais pelas quais passam os trabalhadores rurais, adotando-se a solução pro misero. Ex: Maria propôs uma ação contra o INSS com o objetivo de obter aposentadoria rural. Ocorre que a autora não conseguiu provar, com documentos, que exercia atividade rural, tendo a demanda sido julgada improcedente. Após o trânsito em julgado, Maria, por intermédio da DPU, ajuizou ação rescisória, com fundamento no art. 485, VII, do CPC, juntando, como documento novo, a certidão de nascimento dos seus filhos,b onde consta que ela era lavradora quando eles nasceram. Vale ressaltar que essa certidão já estava disponível quando Maria propôs a primeira ação. Logo, tecnicamente, não se trata de documento novo. Em uma situação assim, em regra, o STJ afirma que não cabe ação rescisória. No entanto, nos casos de trabalhadores rurais, tem sido adotada a solução pro misero para admitir a análise do documento, como novo, ainda que ele fosse anterior à ação originária e já estivesse disponível para que a parte o tivesse apresentado. Didier, com a genialidade que lhe é peculiar, já havia apontado a existência de tal exceção: “No caso de aposentadorias rurais, o conceito de documento novo deve ser alargado, admitindo-se a prova documental que, mesmo existente quando ainda em curso o processo originário e ainda que acessível ao trabalhador rural e dele conhecida, pode ser utilizada para ajuizamento da ação rescisória, que, nesse caso, deve ser admitida e, até mesmo, acolhida.” (ob. cit., p. 455).

Processo STJ. 3ª Seção. AR 3.921-SP, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, julgado em 24/4/2013.

Execução fiscal

Na execução fiscal, o executado não tem direito subjetivo de que a Fazenda Pública aceite o bem por ele nomeado à penhora se esta indicação estiver em desacordo com a ordem estabelecida no art. 11 da Lei n. 6.830/80 na hipótese em que não tenha apresentado elementos concretos que

justifiquem a incidência do princípio da menor onerosidade (art. 620 do CPC). Comentários Execução fiscal é a ação judicial proposta pela Fazenda Pública (União, Estados, DF,

Municípios e suas respectivas autarquias e fundações) para cobrar do devedor créditos (tributários ou não tributários) inscritos em dívida ativa.

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A execução fiscal é regida pela Lei n. 6.830/80 (LEF) e, subsidiariamente, pelo CPC.

Qual é o procedimento da execução fiscal até chegar à penhora? 1) Petição inicial da execução (art. 6º); 2) Despacho do juiz deferindo a inicial e determinando a citação do executado (art. 7º); 3) Citação do executado para, em 5 dias, pagar a dívida ou garantir a execução (art. 8º); 4) Executado pode: a) pagar; b) garantir a execução; c) não pagar nem garantir; 5) Se pagar, extingue-se a execução; 6) Se garantir a execução (art. 9º), poderá opor embargos à execução; 7) Se não pagar nem garantir a execução, o juiz determinará a penhora de bens (art. 10): Penhora é o ato pelo qual são apreendidos bens do devedor que serão utilizados para satisfazer o crédito executado. Antes de o juiz determinar a penhora, o próprio executado poderá se antecipar e oferecer bens a serem penhorados? SIM. Esta possibilidade está prevista no art. 9º, III, da LEF:

Art. 9º - Em garantia da execução, pelo valor da dívida, juros e multa de mora e encargos indicados na Certidão de Dívida Ativa, o executado poderá: III - nomear bens à penhora, observada a ordem do artigo 11;

Existe alguma ordem de preferência que o executado deverá obedecer ou ele poderá oferecer qualquer espécie de bem à penhora? A Lei prevê uma ordem de preferência para penhora, ou seja, existem bens que devem ser oferecidos à penhora antes que outros. Esta lista de prioridades está prevista no art. 11 da LEF:

Art. 11. A penhora ou arresto de bens obedecerá à seguinte ordem: I - dinheiro; II - título da dívida pública, bem como título de crédito, que tenham cotação em bolsa; III - pedras e metais preciosos; IV - imóveis; V - navios e aeronaves; VI - veículos; VII - móveis ou semoventes; e VIII - direitos e ações.

Em regra, somente poderão ser penhorados os bens do inciso II se não houver do inciso I e assim sucessivamente. Não se pode penhorar um carro, por exemplo, se o executado tiver uma pedra preciosa. O devedor irá indicar os bens a serem penhorados por meio de petição dirigida ao juízo ou diretamente ao oficial de justiça no prazo de 5 após ter sido citado da execução. Imagine agora que João esteja sendo executado pela União e que ele possua diversos imóveis e veículos. João indicou para penhora um veículo em detrimento dos imóveis, alegando que a execução deve ser feita do meio menos gravoso para o devedor (art. 620 do CPC) e que, para ele, é melhor perder o carro que o imóvel. Logo, o meio menos gravoso é a penhora do veículo. A tese desenvolvida pelo executado é correta? O bem indicado pelo devedor à penhora deve ser obrigatoriamente aceito pela Fazenda Pública (exequente) ainda que exista outro que seja preferencial?

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NÃO. Na execução fiscal, o executado não tem direito subjetivo de que a Fazenda Pública aceite o bem por ele nomeado à penhora se esta indicação estiver em desacordo com a

ordem estabelecida no art. 11 da Lei n. 6.830/1980 na hipótese em que não tenha apresentado elementos concretos que justifiquem a incidência do princípio da menor onerosidade (art. 620 do CPC). É ônus do devedor comprovar que, naquele caso concreto, é extremamente necessário afastar-se a ordem legal dos bens penhoráveis. Assim, para que se afaste a regra do art. 11 não basta a mera invocação genérica do art. 620 do CPC. Exige-se, para a superação da ordem legal, que estejam presentes circunstâncias fáticas especiais que justifiquem a prevalência do princípio da menor onerosidade para o devedor. Desse modo, a Fazenda Pública não é obrigada a aceitar bens nomeados à penhora fora da

ordem legal insculpida no art. 11 da Lei n. 6.830/80, pois o princípio da menor onerosidade do devedor, preceituado no art. 620 do CPC, tem que estar em equilíbrio com a satisfação do credor.

Processo STJ. 1ª Seção. REsp 1.337.790-PR, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em 12/6/2013.

Inquérito civil e denúncia anônima

É possível a instauração e o prosseguimento de inquérito civil com a finalidade de apurar possível incompatibilidade entre a evolução patrimonial de vereadores e seus respectivos rendimentos, ainda que o referido procedimento tenha se originado a partir de denúncia

anônima, na hipótese em que realizadas administrativamente as investigações necessárias para a formação de juízo de valor sobre a veracidade da notícia.

Ressalte-se que o art. 13 da Lei de Improbidade obriga os agentes públicos a disponibilizarem periodicamente informações sobre seus bens e evolução patrimonial. Vale destacar que os agentes

políticos sujeitam-se a uma diminuição na esfera de privacidade e intimidade, de modo que se mostra ilegítima a pretensão de não revelar fatos relacionados à evolução patrimonial.

Comentários Imagine a seguinte situação adaptada: O Ministério Público, por meio de sua página na internet, recebeu uma “denúncia anônima” relatando que determinados vereadores tiveram uma evolução patrimonial incompatível com seus rendimentos. O Promotor de Justiça determinou a instauração de inquérito civil baseado apenas nessa “denúncia anônima” e requisitou dos investigados inúmeras informações, dentre elas fontes de renda que possuem, além da remuneração recebida do Município. O que é um inquérito civil? O inquérito civil é um procedimento administrativo, investigativo, de natureza inquisitorial, instaurado pelo membro do Ministério Público com a finalidade de apurar fatos que podem ser objeto de uma ação civil pública. Características: • procedimento administrativo; • investigativo; • inquisitorial (para a maioria, não existe contraditório e ampla defesa); • unilateral; • não obrigatório (facultativo); • público; • exclusivo do Ministério Público (só ele pode instaurar).

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Regulamentação • Art. 129, III, da CF/88;

• Art. 8º da Lei n. 7.347/85 (Lei de Ação Civil Pública);

• Art. 6º da Lei n. 7.853/89 (pessoas com deficiência);

• Art. 201, V, da Lei n. 8.069/90 (ECA);

• Art. 6º, VII, da LC n. 75/93 (Lei do MPU);

• Art. 25, IV, da Lei n. 8.625/93 (Lei orgânica do MP);

• Art. 74, I, da Lei n. 10.741/2003 (Estatuto do Idoso);

• Resolução n. 23/2007-CNMP. Fases: são três as fases do inquérito civil: instauração, instrução e conclusão. Instauração O inquérito civil poderá ser instaurado:

I – de ofício;

II – em face de requerimento ou representação formulada por qualquer pessoa ou comunicação de outro órgão do Ministério Público, ou qualquer autoridade. Obs: o requerimento ou representação pode ser formulada inclusive verbalmente, situação em que o MP reduzirá a termo as declarações. A falta de formalidade, por si só, não implica indeferimento do pedido de instauração de inquérito civil.

III – por designação do Procurador-Geral de Justiça, do Conselho Superior do Ministério Público, Câmaras de Coordenação e Revisão e demais órgãos superiores da Instituição, nos casos cabíveis. Forma: a instauração do inquérito civil se dá por meio de portaria. Denúncia anônima é válida para a instauração de IC? SIM. A jurisprudência do STJ admite a atuação investigatória do Ministério Público, no âmbito administrativo, em caso de denúncia anônima. É certo que a CF/88 veda o anonimato (art. 5°, IV). No entanto, essa previsão deve ser harmonizada, com base no princípio da concordância prática, com o dever constitucional imposto ao Ministério Público de promover o Inquérito Civil e a Ação Civil Pública para a proteção do patrimônio público e social, do meio ambiente e de outros interesses difusos e coletivos (art. 129, III).

Nos termos do art. 22 da Lei n. 8.429/1992, o Ministério Público pode, mesmo de ofício, requisitar a instauração de inquérito policial ou procedimento administrativo para apurar qualquer ilícito previsto no aludido diploma legal. Se pode de ofício, nada impede que o faça mediante uma denúncia anônima. Assim, ainda que a notícia da suposta discrepância entre a evolução patrimonial de agentes políticos e seus rendimentos tenha decorrido de denúncia anônima, não se pode impedir que o membro do Parquet tome medidas proporcionais e razoáveis, como no caso dos autos, para investigar a veracidade do juízo apresentado por cidadão que não se tenha identificado.

Vale ressaltar que o § 3º do art. 2º da Resolução n. 23/2007-CNMP autoriza a instauração de inquérito civil mesmo em caso de manifestação anônima, desde que obedecidos os mesmos requisitos para as representações em geral, isto é, desde que existam, por meios legalmente permitidos, informações sobre o fato e seu autor.

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Confira dois precedentes recentes nesse sentido: (...) O STJ reconhece a possibilidade de investigar a veracidade de denúncia anônima em Inquérito Civil ou Processo Administrativo (...) (RMS 38.010/RJ, Rel. Min. Herman Benjamin, Segunda Turma, julgado em 02/05/2013) (...) 2. A Lei n. 8.625/1993, lei orgânica do Ministério Público, e a Resolução n. 23/2007 do Conselho Nacional do Ministério Público autorizam a atuação investigatória do parquet, no âmbito administrativo, em caso de denúncia anônima. (...) (RMS 37.166/SP, Rel. Min. Benedito Gonçalves, Primeira Turma, julgado em 09/04/2013) Os investigados poderiam alegar o direito à intimidade para se recusarem a prestar informações sobre sua evolução patrimonial?

NÃO. O art. 13 da Lei de Improbidade Administrativa (Lei n. 8.429/92) obriga os agentes públicos a disponibilizarem periodicamente informações sobre seus bens e evolução patrimonial. Segundo já decidiu o STJ, os agentes políticos sujeitam-se a uma diminuição na esfera de privacidade e intimidade, de modo que se mostra ilegítima a pretensão de não revelar fatos relacionados à evolução patrimonial (RMS 38.010/RJ). Qual é o instrumento jurídico cabível por meio do qual os investigados podem questionar a instauração de um inquérito civil abusivo? Algumas leis orgânicas de Ministérios Públicos estaduais preveem a existência de um recurso administrativo contra a instauração. Os investigados poderão também impetrar mandado de segurança. É cabível a impetração de habeas corpus nesse caso? NÃO. O habeas corpus não é meio hábil para questionar-se aspectos ligados quer ao inquérito civil público, quer à ação civil pública, porquanto, nesses procedimentos, não se faz em jogo, sequer na via indireta, a liberdade de ir e vir. (HC 90378, Rel. Min. Marco Aurélio, Primeira Turma, julgado em 13/10/2009)

Processo STJ. 2ª Turma. RMS 38.010-RJ, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em 4/4/2013.

DIREITO PENAL

Confissão espontânea e reincidência

No caso de concurso de agravantes e atenuantes (art. 67 do CP), a reincidência prevalece sobre a confissão espontânea?

1ª corrente: SIM. A reincidência prevalece (STF).

2ª corrente: NÃO. A confissão e a reincidência se compensam (STJ).

Comentários O que acontece se o juiz, ao sentenciar, perceber que existe, ao mesmo tempo, agravantes e atenuantes aplicáveis àquele caso concreto? Ex: o réu praticou o crime por relevante valor moral (o que é uma atenuante), mas cometeu contra seu irmão (o que configura uma agravante) Neste caso, dizemos que existe um “concurso de agravantes e atenuantes”. O Código Penal prevê o que o magistrado deve fazer em tais situações:

Art. 67. No concurso de agravantes e atenuantes, a pena deve aproximar-se do limite indicado pelas circunstâncias preponderantes, entendendo-se como tais as que resultam dos motivos determinantes do crime, da personalidade do agente e da reincidência.

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Se compararmos a agravante e a atenuante existentes e nenhuma delas for preponderante em relação à outra, dizemos que elas são equivalentes (igualmente preponderantes). Neste caso, uma irá neutralizar a eficácia da outra, de forma que não haverá aumento nem diminuição nesta fase. A isso a doutrina chama de equivalência das circunstâncias. Explicado isso, indaga-se: Caso o réu tenha confessado a prática do crime (o que é uma atenuante), mas seja reincidente (o que configura uma agravante), qual dessas circunstâncias irá prevalecer? Existem duas correntes sobre o tema:

1ª) A reincidência prevalece. Posição do STF

2ª) Reincidência e confissão se compensam. Posição do STJ.

É a posição do STF: A teor do disposto no art. 67 do Código Penal, a circunstância agravante da reincidência, como preponderante, prevalece sobre a confissão. (HC 96061, Rel. Min. Teori Zavascki, Segunda Turma, julgado em 19/03/2013)

É a posição do STJ: (...)devem ser compensadas a atenuante da confissão espontânea e a agravante da reincidência por serem igualmente preponderantes. (...) (STJ 3ª Seção. EREsp 1.154.752-RS, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, j. em 23/5/2012).

O art. 67 do CP menciona “motivos”, “personalidade” e “reincidência”. Onde está prevista a “confissão” como fator preponderante? Para a 2ª corrente, a confissão está prevista no rol das circunstâncias preponderantes, considerando que é um aspecto relacionado com a “personalidade do agente”. Resumindo o tema: No caso de concurso de agravantes e atenuantes (art. 67 do CP), a reincidência prevalece sobre a confissão espontânea? 1ª corrente: SIM. A reincidência prevalece (STF). 2ª corrente: NÃO. A confissão e a reincidência se compensam (STJ). A novidade é que o tema foi decidido agora pelo STJ sob a sistemática do recurso repetitivo.

Processo STJ. 3ª Seção. REsp 1.341.370–MT, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, julgado em 10/4/2013 (recurso repetitivo).

DIREITO PROCESSUAL PENAL

Exceção da verdade e competência

A exceção da verdade oposta em face de autoridade que possua prerrogativa de foro pode ser inadmitida pelo juízo da ação penal de origem caso verificada a ausência dos requisitos de

admissibilidade para o processamento do referido incidente. Comentários Calúnia

O art. 138 do Código Penal prevê o delito de calúnia:

Art. 138. Caluniar alguém, imputando-lhe falsamente fato definido como crime: Pena - detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, e multa.

Ex: Pedro afirma que João (desembargador) “vendeu” decisão favorável no processo “X”. Se esta afirmação for falsa e Pedro souber disso, ele comete calúnia.

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Exceção da verdade Só existe calúnia se o fato que o autor imputou a alguém for falso. Se o fato criminoso imputado for verdadeiro, não há calúnia. Assim, se João realmente “vendeu” a decisão, não há calúnia na declaração prestada por Pedro. Justamente por conta disso, uma das defesas que a pessoa acusada de calúnia pode formular é a exceção (= defesa) da verdade, ou seja, o réu defende-se da acusação de calúnia provando que sua declaração não é falsa. Ação penal Em regra, no caso de calúnia, a ação penal é privada. Em outras palavras, se o agente praticar calúnia contra determinada pessoa, esta terá que ajuizar uma queixa-crime contra o ofensor. Em regra, o MP não será o autor desta ação penal. No caso da calúnia praticada contra funcionário público, em razão de suas funções (art. 141, II, do CP), a ação será:

Ação penal privada; ou

Ação penal pública condicionada à representação. Trata-se de uma hipótese de legitimação concorrente, ou seja, a vítima poderá optar entre oferecer queixa-crime (ação penal privada) ou, então, oferecer uma representação para que o MP denuncie o acusado (ação penal pública condicionada). Veja o que diz a Súmula 714 do STF:

Súmula 714-STF: É concorrente a legitimidade do ofendido, mediante queixa, e do Ministério Público, condicionada à representação do ofendido, para a ação penal por crime contra a honra de servidor público em razão do exercício de suas funções.

Voltemos ao nosso exemplo Pedro afirma que João (desembargador) “vendeu” decisão favorável no processo “X”. Inconformado, João decide tomar providências penais contra Pedro. João poderá oferecer uma representação ao Ministério Público, narrando o que Pedro declarou e pedindo que o Parquet ofereça denúncia contra este. Como outra opção, João poderá, ele próprio, por intermédio de advogado, ajuizar queixa-crime contra Pedro. Competência para julgar a eventual calúnia praticada por Pedro Imaginemos que João tenha ajuizado uma queixa-crime. A ação penal privada proposta por João (desembargador) contra Pedro deverá ser julgada pelo juízo de 1ª instância, considerando que o réu não tem foro por prerrogativa de função. Em nosso exemplo, quem tem foro por prerrogativa de função é João, mas ele não é réu e sim autor. Pedro deseja provar que suas declarações são verdadeiras O querelado (Pedro) quer se defender provando que as declarações por ele proferidas são verdadeiras. Logo, ele deverá oferecer uma defesa chamada de “exceção da verdade” (exceptio veritatis). A exceção da verdade é um incidente processual. Provando que João, de fato, “vendeu” a decisão, não haverá crime contra a honra, considerando que só existe calúnia se o fato imputado for falso. Personagens e nomenclatura João: autor da ação penal (querelante) / demandado na exceção da verdade (excepto); Pedro: réu na ação penal (querelado) / demandante na exceção da verdade (excipiente).

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Quem deverá julgar a exceção da verdade? Em regra, quem julga a exceção da verdade é o próprio juiz competente para a ação penal privada. No entanto, se o excepto for uma autoridade que possua foro por prerrogativa de função, a competência para julgar a exceção será do Tribunal competente para julgar o excepto. Ex: como João é desembargador, caso ele pratique algum crime, deverá ser julgado pelo STJ (seu foro privativo é no STJ). Logo, a exceção da verdade contra ele proposta deverá ser também julgada pelo STJ. Por que a exceção da verdade deverá ser julgada pelo mesmo Tribunal que for competente para julgar criminalmente o excepto? Porque se a exceção da verdade for julgada procedente, isso significa que ficou provado que o fato imputado é verdadeiro, ou seja, restou demonstrado, indiretamente, que aquela autoridade praticou um crime. E só quem pode reconhecer que a autoridade praticou um delito é o Tribunal competente. O juiz de 1ª instância não tem competência para reconhecer, ainda que indiretamente, que um Desembargador cometeu um crime. Previsão legal Apesar da redação do dispositivo não ser muito clara, o que foi explicado acima está previsto no art. 85 do CPP:

Art. 85. Nos processos por crime contra a honra, em que forem querelantes as pessoas que a Constituição sujeita à jurisdição do Supremo Tribunal Federal e dos Tribunais de Apelação, àquele ou a estes caberá o julgamento, quando oposta e admitida a exceção da verdade.

Juízo de admissibilidade, processamento e instrução da exceção são feitos pelo juízo de 1ª instância Vale ressaltar que apenas o julgamento da exceção será de competência do Tribunal. Assim, a admissão da exceção, o processamento e os atos de instrução são realizados em 1ª instância. Somente depois que a exceção estiver recebida e instruída pelo juízo de 1ª instância é que ela será encaminhada ao Tribunal competente apenas para julgamento do mérito da exceção. Desse modo, em nosso exemplo, Pedro deverá oferecer a exceção da verdade perante o juízo de 1ª instância. Este irá fazer um juízo de admissibilidade, ou seja, verificar se, naquele caso específico, a legislação permite a exceção da verdade. Se o juízo de admissibilidade for positivo, o juiz irá colher toda a prova produzida e remeter ao STJ. Então o juízo de 1ª instância poderá fazer um juízo negativo de admissibilidade da exceção? SIM. O juízo de 1ª instância pode realizar um juízo negativo de admissibilidade da exceptio veritatis, sem adentrar, obviamente, no mérito. A competência por prerrogativa de foro é só para o julgamento do mérito da exceção, cabendo ao juízo de origem a admissibilidade e a instrução do feito. Ex1: o juízo de 1ª instância poderá negar admissibilidade à exceção por esta ser intempestiva. Ex2: o juízo de 1ª instância poderá negar admissibilidade em razão dos fatos que o excipiente almeja provar serem diferentes daqueles pelos quais ele está sendo acusado na ação penal privada.

Processo STJ. Corte Especial. Rcl 7.391-MT, Rel. Min. Laurita Vaz, julgado em 19/6/2013.

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Modificação de competência pela assunção de cargo público e ratificação de atos

O réu foi denunciado pelo Promotor, tendo a denúncia sido recebida pelo juízo de 1ª instância. O processo prosseguia normalmente, quando o acusado foi eleito prefeito. Diante disso, foi

declinada a competência para que o TJ julgasse a causa. No Tribunal, o processo teve prosseguimento e o réu foi condenado.

Nesse caso, quando o processo chegou ao TJ, não se fazia necessária a ratificação da denúncia e dos atos praticados pelo juízo. Isso porque não se tratam de atos nulos, mas sim válidos à

época em que praticados, cabendo ao Tribunal apenas prosseguir no julgamento do feito a partir daquele instante.

Comentários Imagine a seguinte situação: O réu foi denunciado pelo Promotor de Justiça, tendo a denúncia sido recebida pelo juízo de 1ª instância. O processo prosseguia normalmente, quando o acusado foi eleito prefeito. Diante disso, considerando que os prefeitos possuem foro por prerrogativa de função no Tribunal de Justiça (art. 29, X, da CF/88), o juiz de 1ª instância declinou da competência a partir do momento da diplomação. No TJ, o processo teve prosseguimento e o réu foi condenado. Após a condenação, a defesa alegou que houve nulidade, tendo em vista que o Procurador-Geral de Justiça, que atuou no processo no TJ, precisaria ter ratificado a denúncia quando o processo foi para lá deslocado. O STJ concordou com esse argumento? NÃO. Quando a denúncia foi oferecida e recebida pelo juiz, o réu não era detentor de foro privativo. Logo, na época, tanto o Promotor de Justiça possuía atribuição para ajuizar, como o juízo de 1ª instância era competente para conhecer da ação penal. O réu somente passou a ostentar foro privativo no curso da instrução processual, ocasião em que os autos foram encaminhados ao TJ. Desse modo, não há que se falar em necessidade de ratificação da peça inaugural, tampouco da decisão que a acolheu, uma vez que não se tratam de atos nulos, mas válidos à época em que praticados, cabendo ao TJ prosseguir no julgamento do feito a partir daquele instante, tal como de fato procedeu. Ademais, há que se ressaltar que assim que os autos foram remetidos ao TJ, o Desembargador Relator abriu vista ao Procurador-Geral de Justiça que, após analisar a denúncia ofertada e os demais atos praticados no juízo inicialmente competente, não vislumbrou qualquer irregularidade ou mácula que pudesse contaminá-los, opinando pelo prosseguimento da ação, o que demonstra que, ainda que implicitamente, concordou com os termos da denúncia apresentada. Em suma, tratando-se de incompetência superveniente, permanecem válidos os atos praticados pelas autoridades inicialmente competentes.

Processo STJ. 5ª Turma. HC 202.701-AM, Rel. Ministro Jorge Mussi, julgado em 14/5/2013.

Outra situação

Veja esta situação um pouco diferente envolvendo um caso no qual a denúncia ainda não havia sido recebida pelo juízo de 1ª instância: Exemplo hipotético: O Procurador Geral de Justiça (Ministério Público estadual) ofereceu denúncia, no Tribunal de Justiça, contra “X” (prefeito). Deve-se lembrar que os Prefeitos possuem foro por prerrogativa de função no Tribunal de Justiça (art. 29, X, da CF/88). Antes que a denúncia fosse recebida, “X” foi eleito e diplomado Governador do Estado. A competência para processar e julgar os Governadores pela prática de infrações penais comuns é do STJ (art. 105, I, a, da CF/88). Logo, o TJ perdeu a competência para analisar se deveria ou não receber a denúncia, devendo remeter o processo ao STJ.

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Chegando o processo ao STJ, a denúncia oferecida pelo Ministério Público Estadual somente poderá ser examinada por aquela Corte se for ratificada pelo Procurador-Geral da República (ou por um dos Subprocuradores-Gerais que atue por delegação), em homenagem ao princípio do promotor natural. Isso porque o órgão ministerial que tem legitimidade para atuar no STJ é o Procurador-Geral da República (ou um Subprocurador-Geral, mediante

delegação do Procurador-Geral). Nesse sentido, confira o art. 48, II, da LC n. 75/93:

Art. 48. Incumbe ao Procurador-Geral da República propor perante o Superior Tribunal de Justiça: (...) II - a ação penal, nos casos previstos no art. 105, I, "a", da Constituição Federal. Parágrafo único. A competência prevista neste artigo poderá ser delegada a Subprocurador-Geral da República.

Assim, se o Ministério Público estadual oferece uma denúncia na Justiça estadual contra o réu e esta é posteriormente encaminhada ao STJ, tal denúncia somente poderá ser processada e julgada se for ratificada pelo Procurador-Geral da República ou por um dos Subprocuradores-Gerais. A partir do momento em que houve modificação de competência para o processo e julgamento do feito, a denúncia oferecida pelo parquet estadual somente poderá ser examinada pelo STJ se for ratificada pelo MPF, órgão que tem legitimidade para atuar nas ações penais de competência originária do Tribunal da Cidadania. STJ. Corte Especial. APn 689-BA, Rel. Min. Eliana Calmon, julgada em 17/12/2012. .

Reconsideração da decisão de recebimento da denúncia após a defesa do réu

O fato de a denúncia já ter sido recebida não impede o juízo de primeiro grau de, logo após o oferecimento da resposta do acusado, prevista nos arts. 396 e 396-A do CPP, reconsiderar a anterior decisão e rejeitar a peça acusatória, ao constatar a presença de uma das hipóteses

elencadas nos incisos do art. 395 do CPP, suscitada pela defesa. Comentários Vejamos algumas etapas do procedimento penal comum (ordinário e sumário):

Assim, após o MP oferecer a denúncia, o juiz irá decidir se ela deverá ser recebida ou rejeitada. A denúncia é recebida, portanto, antes do réu ter sido citado e de ter apresentado sua defesa. Por quais motivos o juiz pode rejeitar a denúncia?

Art. 395. A denúncia ou queixa será rejeitada quando:

Denúncia

Recebimento Citação Réu citado p/

responder à acusação em 10 dias.

Defesa preliminar (art. 396-A)

Absolvição sumária

(art. 397)

Rejeição da absolvição sumária e designação

de audiência

Rejeição (art. 395, CPP)

Defensoria

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I - for manifestamente inepta; II - faltar pressuposto processual ou condição para o exercício da ação penal; ou III - faltar justa causa para o exercício da ação penal.

Essas hipóteses de rejeição da denúncia são analisadas pelo juiz sem a possibilidade de que o réu tenha exercido o contraditório, ou seja, a única versão que tem nos autos, por enquanto, é a do MP.

Recebida a denúncia, o réu é citado e apresenta, no prazo de 10 dias, a sua resposta escrita, isto é, a sua primeira defesa no processo.

Recebendo a defesa preliminar*, de acordo com o texto da lei, o juiz tem apenas duas opções: a) Absolver sumariamente o réu (art. 397 do CPP). b) Rejeitar a absolvição sumária e designar audiência. Por quais motivos o juiz pode absolver sumariamente o réu? São as mesmas hipóteses da rejeição da denúncia? NÃO. São hipóteses diferentes. Os motivos pelos quais o juiz pode absolver sumariamente o réu estão previstos no art. 397:

Art. 397. Após o cumprimento do disposto no art. 396-A, e parágrafos, deste Código, o juiz deverá absolver sumariamente o acusado quando verificar: I - a existência manifesta de causa excludente da ilicitude do fato; II - a existência manifesta de causa excludente da culpabilidade do agente, salvo inimputabilidade; III - que o fato narrado evidentemente não constitui crime; ou IV - extinta a punibilidade do agente.

Imagine agora a seguinte situação: O MP ajuizou uma ação penal. O juiz, analisando a peça acusatória, em um primeiro momento, não vislumbrou nenhuma hipótese pela qual ela poderia ser rejeitada (art. 395 do CPP), razão pela qual a denúncia foi recebida. Ocorre que o réu apresentou uma excelente resposta escrita (defesa preliminar), demonstrando claramente que falta um pressuposto processual. A ausência de pressuposto processual não se enquadra em nenhuma das hipóteses do art. 397, de forma que o juiz não pode absolver sumariamente o réu com base nesse motivo. A falta de pressuposto processual, contudo, é causa de rejeição da peça acusatória (art. 395, I). Ocorre que esta denúncia já foi recebida. Diante dessa lacuna da lei, o que o magistrado poderá fazer? O juiz poderá voltar atrás e reconsiderar a decisão que recebeu a peça acusatória, proferindo nova decisão, agora rejeitando a denúncia. Segundo decidiu o STJ, o fato de a denúncia já ter sido recebida não impede o juízo de primeiro grau de, logo após o oferecimento da resposta do acusado (arts. 396 e 396-A), reconsiderar a anterior decisão e rejeitar a peça acusatória, ao constatar a presença de uma das hipóteses elencadas nos incisos do art. 395 do CPP, suscitada pela defesa. Nos termos do art. 396, se não for verificada de plano a ocorrência de alguma das hipóteses do art. 395, a peça acusatória deve ser recebida e determinada a citação do acusado para responder por escrito à acusação. Em seguida, na apreciação da defesa preliminar, segundo o art. 397, o juiz deve absolver sumariamente o acusado quando verificar uma das quatro hipóteses descritas no dispositivo. Contudo, nessa fase, o juiz não pode ter a sua cognição

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limitada às hipóteses de absolvição sumária (art. 397 do CPP), devendo ser permitido que o magistrado possa, além de absolver sumariamente o acusado, fazer também um novo exame sobre o recebimento da denúncia. O próprio art. 396-A, ao tratar sobre a resposta escrita, esclarece que o réu poderá arguir, em sua defesa, preliminares. Ora, nenhuma das hipóteses de absolvição sumária (art. 397) trata sobre “preliminares”. Em verdade, caso o juiz acate uma preliminar (ex: falta de condição da ação), deverá fundamentar sua decisão nas situações de rejeição da denúncia (art. 395, II). Seria desarrazoado que o juiz constatasse, por exemplo, que falta uma condição da ação e, mesmo assim, continuasse a instrução processual simplesmente porque já havia proferido decisão recebendo a denúncia. Haveria uma violação aos princípios da economia e celeridade processuais.

Além de todos os argumentos que já foram acima expostos, o magistrado poderia, ainda, fundamentar sua decisão no art. 267, § 3º, CPC, aplicável ao processo penal por analogia, segundo o qual o juiz conhecerá de ofício, em qualquer tempo e grau de jurisdição, enquanto não proferida a sentença de mérito, das matérias de ordem pública.

* Uma observação terminológica: A resposta apresentada pelo art. 396-A do CPP não tem uma nomenclatura pacífica. O CPP fala em “resposta escrita”. Boa parte da doutrina e da jurisprudência chama de “resposta preliminar” ou “defesa preliminar”.

Processo STJ. 6ª Turma. REsp 1.318.180-DF, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, julgado em 16/5/2013.

Medida de segurança

O inimputável submetido à medida de segurança de internação em hospital de custódia e tratamento psiquiátrico não poderá cumpri-la em estabelecimento prisional comum, ainda

que sob a justificativa de ausência de vagas ou falta de recursos estatais. Comentários Sanção penal é a resposta dada pelo Estado à pessoa que praticou uma infração penal.

Existem duas espécies de sanção penal: a) Pena; b) Medida de segurança.

“Medida de segurança é a modalidade de sanção penal com finalidade exclusivamente preventiva, e de caráter terapêutico, destinada a tratar inimputáveis e semi-imputáveis portadores de periculosidade, com o escopo de evitar a prática de futuras infrações penais.” (MASSON, Cleber. Direito Penal esquematizado. São Paulo: Método, 2012, p. 815).

Existem duas espécies de medida de segurança (art. 96 do CP):

DETENTIVA RESTRITIVA

Consiste na internação do agente em um hospital de custódia e tratamento psiquiátrico. Obs: se não houver hospital de custódia, a internação deverá ocorrer em outro estabelecimento adequado.

Consiste na determinação de que o agente se sujeite a tratamento ambulatorial.

É chamada de detentiva porque representa uma forma de privação da liberdade do agente.

O agente permanece livre, mas tem uma restrição em seu direito, qual seja, a obrigação de se submeter a tratamento ambulatorial.

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Neste julgado, o STJ reafirmou o entendimento de que o inimputável submetido à medida de segurança de internação em hospital de custódia e tratamento psiquiátrico NÃO poderá cumpri-la em estabelecimento prisional comum (presídio, cadeia pública etc.), ainda que sob a justificativa de ausência de vagas ou falta de recursos estatais. Isso porque não pode o agente ser submetido a situação mais gravosa do que aquela definida judicialmente.

Processo STJ. 5ª Turma. HC 231.124-SP, Rel. Min. Laurita Vaz, julgado em 23/4/2013.

DIREITO TRIBUTÁRIO

Requisitos para a instituição de contribuição de melhoria

A instituição de contribuição de melhoria depende de lei prévia e específica, bem como da ocorrência de efetiva valorização imobiliária em razão da obra pública, cabendo ao ente

tributante o ônus de realizar a prova respectiva. Comentários Conceito de contribuição de melhoria

Contribuição de melhoria é um tributo cobrado dos proprietários de bens imóveis como forma de contraprestação pelo fato de o poder público ter realizado uma obra que ocasionou a valorização desses imóveis. Previsão

CF/Art. 145. A União, os Estados, o DF e os Municípios poderão instituir os seguintes tributos: III - contribuição de melhoria, decorrente de obras públicas.

CTN/Art. 81. A contribuição de melhoria cobrada pela União, pelos Estados, pelo Distrito Federal ou pelos Municípios, no âmbito de suas respectivas atribuições, é instituída para fazer face ao custo de obras públicas de que decorra valorização imobiliária, tendo como: * limite total a despesa realizada e * como limite individual o acréscimo de valor que da obra resultar para cada imóvel beneficiado.

Decreto-Lei n.° 195, de 24 de fevereiro de 1967 Dispõe sobre a cobrança da Contribuição de Melhoria.

Diferença entre contribuição de melhoria, taxa e imposto

Contribuição de melhoria Taxa Imposto

Pressupõe uma obra pública que gere valorização do bem imóvel do contribuinte.

Pressupõe a utilização de um serviço público (que é diferente de obra pública) ou de poder de polícia.

Não pressupõe nenhuma contraprestação por parte do estado.

O princípio justificador é a atribuição da mais-valia imobiliária gerada pela obra pública.

O princípio justificador é a retribuição ou remuneração dos serviços públicos ou do poder de polícia.

O princípio norteador é a capacidade contributiva do contribuinte.

Tributo bilateral, sinalagmático ou contraprestacional.

Tributo bilateral, sinalagmático ou contraprestacional.

Tributo unilateral, não sinalagmático ou não contraprestacional.

Competência para instituir contribuições de melhoria Trata-se de tributo de competência comum, ou seja, pode ser instituído pela União, Estados/DF e Municípios.

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Fato gerador O fato gerador da contribuição de melhoria é a valorização imobiliária decorrente de uma obra pública, também chamado de mais valia.

Desse modo, o FG = obra pública + valorização imobiliária

Deixando ainda mais claro: é necessário que tenha havido uma obra pública que tenha produzido uma valorização e que esta mais-valia tenha recaído sobre um imóvel do contribuinte.

O pagamento deve ser feito após a obra ter sido concluída e desde que o ente tributante comprove ter ocorrido a efetiva valorização imobiliária em razão da obra pública (REsp 1.326.502-RS, Rel. Min. Ari Pargendler, julgado em 18/4/2013). Requisitos previstos no CTN:

Art. 82. A lei relativa à contribuição de melhoria observará os seguintes requisitos mínimos: I - publicação prévia dos seguintes elementos: a) memorial descritivo do projeto; b) orçamento do custo da obra; c) determinação da parcela do custo da obra a ser financiada pela contribuição; d) delimitação da zona beneficiada; e) determinação do fator de absorção do benefício da valorização para toda a zona ou para cada uma das áreas diferenciadas, nela contidas; II - fixação de prazo não inferior a 30 (trinta) dias, para impugnação pelos interessados, de qualquer dos elementos referidos no inciso anterior; III - regulamentação do processo administrativo de instrução e julgamento da impugnação a que se refere o inciso anterior, sem prejuízo da sua apreciação judicial. § 1º A contribuição relativa a cada imóvel será determinada pelo rateio da parcela do custo da obra a que se refere a alínea c, do inciso I, pelos imóveis situados na zona beneficiada em função dos respectivos fatores individuais de valorização. § 2º Por ocasião do respectivo lançamento, cada contribuinte deverá ser notificado do montante da contribuição, da forma e dos prazos de seu pagamento e dos elementos que integram o respectivo cálculo.

Esta lei de que trata o art. 82 do CTN deverá ser:

prévia (anterior à obra pública);

específica (deverá ser editada uma lei para cada obra pública).

Processo STJ. 1ª Turma. REsp 1.326.502-RS, Rel. Min. Ari Pargendler, julgado em 18/4/2013.

Constituição do crédito tributário com base em confissão de dívida e decadência

Não é possível a constituição de crédito tributário com base em documento de confissão de dívida tributária apresentado, para fins de parcelamento, após o prazo decadencial previsto no

art. 173, I, do CTN. Comentários Imagine a seguinte situação hipotética:

A empresa Y deixou de pagar um tributo federal, que venceu em setembro/1995. Vale ressaltar que esse tributo era sujeito a lançamento de ofício. Isso significa que a Receita Federal tinha 5 anos para fazer esse lançamento, iniciando-se o prazo em 1º de janeiro de 1996, conforme prevê o art. 173 do CTN:

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Art. 173. O direito de a Fazenda Pública constituir o crédito tributário extingue-se após 5 (cinco) anos, contados: I - do primeiro dia do exercício seguinte àquele em que o lançamento poderia ter sido efetuado;

Em outras palavras, em 01/01/1996 iniciou o prazo decadencial para que a Fazenda Pública fizesse o lançamento do tributo. Esse prazo se encerrou em 01/01/2001 sem que houvesse o lançamento. Logo, nessa data, houve a decadência, que é uma causa de extinção do crédito tributário (art. 156, V, do CTN). Pedido de parcelamento depois da extinção do crédito tributário Suponha agora que a empresa Y, não conhecendo bem a legislação tributária, não sabia que o crédito tributário já estava extinto e, então, formulou, em 01/02/2001, um pedido de parcelamento do referido tributo. No ato do parcelamento, a Administração Tributária, como é comum, exigiu que a empresa contribuinte assinasse um documento confessando que possuía realmente aquele débito tributário e que renunciava ao direito de questionar a dívida judicialmente. Esse documento é chamado, usualmente, de “termo de confissão de dívida tributária”. Empresa deixa de pagar o parcelamento Alguns meses depois, a empresa contratou uma consultoria jurídica e o advogado percebeu que o parcelamento celebrado referia-se a uma obrigação tributária que sequer se constituiu em crédito tributário, porquanto houve a decadência antes do lançamento. Em palavras simples, não houve constituição do crédito tributário e o Fisco perdeu o prazo decadencial para fazê-lo. Diante disso, a recomendação do advogado foi para que a empresa deixasse de pagar o parcelamento. Execução fiscal Como já era esperado, a Fazenda ajuizou execução fiscal contra a empresa. O tema jurídico discutido é o seguinte: O documento de confissão de dívida tributária firmado pelo devedor tem o poder de constituir o crédito tributário mesmo tendo sido celebrado após o prazo decadencial que o Fisco tinha para fazer o lançamento (art. 173, I, do CTN)? NÃO. A decadência é uma forma de extinção do crédito tributário (art. 156, V, do CTN). Sendo assim, uma vez extinto o direito, não pode ser reavivado por qualquer sistemática de lançamento ou autolançamento, seja ela via documento de confissão de dívida, declaração de débitos, parcelamento ou de outra espécie qualquer. Segundo o STJ, se o crédito já estava extinto (pela decadência), não havia mais o que ser confessado sob o ponto de vista jurídico. Além disso, não se pode conferir à confissão de débitos eficácia superior àquela própria do lançamento de ofício (arts. 145 e 149, do CTN). Se o crédito está extinto pela decadência, isso significa que a Administração Tributária não pode mais lançar o tributo. Logo, também não poderá haver a constituição desse tributo pela confissão. Em suma, a confissão de dívida para fins de parcelamento não tem efeitos absolutos, não podendo reavivar crédito tributário já extinto.

Processo STJ. 1ª Seção. REsp 1.355.947–SP, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, julgado em 12/6/2013.

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DIREITO PREVIDENCIÁRIO

Aposentadoria rural por idade e comprovação de atividade rural

Para a concessão de aposentadoria rural, a certidão de nascimento dos filhos que qualifique o companheiro como lavrador deve ser aceita como início de prova documental do tempo de

atividade rurícola da companheira. Comentários Para ter direito à aposentadoria rural, a pessoa pode comprovar o exercício de atividade

rurícola com base apenas em testemunhas? NÃO. Existe até mesmo uma súmula afirmando isso. Súmula 149-STJ: A prova exclusivamente testemunhal não basta à comprovação da atividade rurícola, para efeito da obtenção de benefício previdenciário. Assim, a prova exclusivamente testemunhal é insuficiente para comprovação da atividade laborativa do trabalhador rural, sendo indispensável que ela venha corroborada por razoável início de prova material, conforme exige o art. 55, § 3º, da Lei n. 8.213/1991:

Art. 55 (...) § 3º A comprovação do tempo de serviço para os efeitos desta Lei, inclusive mediante justificação administrativa ou judicial, conforme o disposto no art. 108, só produzirá efeito quando baseada em início de prova material, não sendo admitida prova exclusivamente testemunhal, salvo na ocorrência de motivo de força maior ou caso fortuito, conforme disposto no Regulamento.

Início de prova material “Considera-se início de prova material, para fins de comprovação da atividade rural, documentos que contêm a profissão ou qualquer outro dado que evidencie o exercício da atividade rurícola e seja contemporâneo ao fato nele declarado. Na prática previdenciária, o mais comum é a certidão de casamento em que conste a profissão de lavrador; atestado de frequência escolar em que conste a profissão e o endereço rural; declaração do Tribunal Regional Eleitoral; declaração de ITR; contrato de comodato etc.” (AMADO, Frederico. Direito e processo previdenciário sistematizado. Salvador: Juspodivm, 2013, p. 566). O segurado pode apresentar prova material de apenas uma parte do tempo de serviço e se valer de testemunhas para comprovar o restante? SIM. Pode haver a apresentação de prova material de apenas parte do lapso temporal, de forma que a prova material é complementada por prova testemunhal idônea. Segundo o STJ, não é imperativo que o início de prova material diga respeito a todo o período de carência estabelecido pelo art. 143 da Lei nº 8.213/91, desde que a prova testemunhal amplie sua eficácia probatória, vinculando-o, pelo menos, a uma fração daquele período (AgRg no REsp 1326080/PR, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, Segunda Turma, julgado em 06/09/2012). No mesmo sentido entende a TNU: Súmula 14-TNU: Para a concessão de aposentadoria rural por idade, não se exige que o início de prova material corresponda a todo o período equivalente à carência do benefício. Qual é o rol de documentos hábeis à comprovação do exercício de atividade rural?

Essa relação encontra-se prevista no art. 106 da Lei n. 8.213/91.

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Esse rol de documentos é taxativo ou o requerente pode se valer de outros tipos de documento? Trata-se de rol meramente exemplificativo, e não taxativo, sendo admissíveis, portanto, outros documentos além dos previstos no mencionado dispositivo. Certidão de nascimento dos filhos onde consta a profissão de lavrador Neste julgado o STJ decidiu que a certidão de nascimento dos filhos que qualifique o companheiro como lavrador deve ser aceita como início de prova documental do tempo de atividade rurícola da companheira para fins de concessão de aposentadoria rural. Ex: Maria quer a aposentadoria rural. Ela poderá juntar a cópia da certidão de nascimento dos seus filhos onde consta que seu companheiro, João, era lavrador. Isso será considerado como início de prova material. Esse entendimento do STJ vai ao encontro da posição também defendida na TNU: Súmula 06-TNU: A certidão de casamento ou outro documento idôneo que evidencie a condição de trabalhador rural do cônjuge constitui início razoável de prova material da atividade rurícola.

Processo STJ. 3ª Seção. AR 3.921-SP, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, julgado em 24/4/2013.

Benefícios previdenciários recebidos indevidamente não podem ser inscritos em dívida ativa

Não é possível a inscrição em dívida ativa de valor correspondente a benefício previdenciário indevidamente recebido e não devolvido ao INSS.

Comentários Imagine a seguinte situação hipotética: João é segurado do INSS e recebe um benefício no valor de 1 salário mínimo. Em uma determinado mês, a autarquia, por equívoco, depositou 2 salários mínimos na conta do beneficiário. Constatado o erro, João foi chamado até a agência do INSS, sendo solicitado que ele devolvesse os valores percebidos, pedido este recusado pelo segurado. O INSS poderá inscrever estes valores em dívida ativa e, com isso, ajuizar uma execução fiscal contra João? NÃO. Para o STJ, não é possível a inscrição em dívida ativa de valor correspondente a benefício previdenciário indevidamente recebido e não devolvido ao INSS. Isso porque a inscrição em dívida ativa de valor decorrente de ilícito extracontratual deve ser fundamentada em dispositivo legal específico que a autorize expressamente, o que não é o caso. Se o legislador quisesse que o recebimento indevido de benefício previdenciário ensejasse a

inscrição em dívida ativa, teria previsto expressamente na Lei n. 8.212/1991 ou na Lei n. 8.213/1991, o que não fez.

Não se pode aplicar por analogia o que está previsto no § 1º do art. 47 da Lei n. 8.112/1990 porque seria uma analogia em matéria de restrição de direitos:

Art. 47. O servidor em débito com o erário, que for demitido, exonerado, ou que tiver sua aposentadoria ou disponibilidade cassada, ou ainda aquele cuja dívida relativa a reposição seja superior a cinco vezes o valor de sua remuneração terá o prazo de sessenta dias para quitar o débito. § 1º A não quitação do débito no prazo previsto implicará sua inscrição em dívida ativa.

O que o INSS deverá fazer para reaver os valores pagos indevidamente?

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Se João ainda estiver recebendo benefício do INSS: A autarquia poderá descontar do próprio benefício que ainda será pago em períodos posteriores e, nos casos de dolo, fraude ou má-fé, a lei prevê a restituição de uma só vez (descontando-se do benefício) ou mediante acordo de parcelamento (art. 115, II e § 1º, da

Lei n. 8.213/1991 e art. 154, II e § 2º, do Dec. 3.048/1999).

Se não for possível efetuar os descontos: Na impossibilidade da realização desses descontos, seja porque o beneficiário deixou de sê-lo (suspensão ou cessação), seja porque seu benefício é insuficiente para a realização da restituição de uma só vez ou, ainda, porque a pessoa que recebeu os valores o fez indevidamente, jamais tendo sido a real beneficiária, a lei não prevê a inscrição em dívida ativa. Nessas situações, por falta de lei específica que determine a inscrição em dívida ativa, torna-se necessário que o INSS ajuíze uma ação de repetição de indébito pleiteando o ressarcimento.

Atenção ao Decreto n. 3.048/99:

O Decreto n. 3.048/99 prevê a possibilidade de inscrição em dívida ativa nessa hipótese. No entanto, tal previsão não é considerada válida porque os benefícios previdenciários indevidamente recebidos, qualificados como enriquecimento ilícito, não se enquadram no conceito de crédito tributário ou não tributário previsto no art. 39, § 2º, da Lei 4.320/1964. Logo, fica reforçado que inexiste previsão legal para a sua inscrição em dívida ativa.

Processo STJ. 1ª Seção. REsp 1.350.804-PR, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, julgado em 12/6/2013.

Ação rescisória por documento novo e comprovação de atividade rural

Em regra, se a parte já possuía o documento antes da propositura da ação original (o documento era preexistente), não tendo sido juntado por desídia, não será permitido, em

regra, que ajuíze a ação rescisória trazendo esta prova como documento novo. De forma excepcional, o STJ entendeu que é possível ao tribunal, na ação rescisória, analisar

documento novo para efeito de configuração de início de prova material destinado à comprovação do exercício de atividade rural, ainda que esse documento seja preexistente à

propositura da ação em que proferida a decisão rescindenda referente à concessão de aposentadoria rural por idade.

Nesse caso, é irrelevante o fato de o documento apresentado ser preexistente à propositura da ação originária, pois devem ser consideradas as condições desiguais pelas quais passam os

trabalhadores rurais, adotando-se a solução pro misero. Comentários Para maiores informações, vide julgado indexado na seção de Direito Processual Civil.

Processo STJ. 3ª Seção. AR 3.921-SP, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, julgado em 24/4/2013.

EXERCÍCIOS DE FIXAÇÃO

Julgue os itens a seguir: 1) É válida a intimação do representante judicial da Fazenda Pública Nacional por carta com aviso de

recebimento quando o respectivo órgão não possuir sede na comarca em que tramita o feito. ( ) 2) O juiz pode conceder ao autor benefício previdenciário diverso do requerido na inicial, desde que

preenchidos os requisitos legais atinentes ao benefício concedido. ( ) 3) (DPE/RR 2013 CESPE) O recente pronunciamento dos tribunais superiores consolidou-se no sentido da

impossibilidade de o julgador, na aplicação da pena, compensar a agravante da reincidência com a atenuante da confissão espontânea. ( )

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4) (MP/RO 2010 CESPE) O inquérito civil constitui procedimento de instauração obrigatória pelo MP, destinado a coligir provas e quaisquer outros elementos de convicção, de forma a viabilizar o exercício responsável da ação civil pública. ( )

5) (MP/MS 2013) A abertura de inquérito civil não é condição preliminar ao ajuizamento de ação civil pública. ( )

6) (DPE/AC 2012 CESPE) É obrigatória a observância, no inquérito civil, dos princípios do contraditório e da ampla defesa. ( )

7) (MP/RO 2010 CESPE) O inquérito civil, em que não há, em regra, a necessidade de se atender aos princípios do contraditório e da ampla defesa, constitui procedimento meramente informativo, que visa à investigação e à apuração de fatos. ( )

8) (DPE/AM 2013 FCC) Nos termos da Lei da Ação Civil Pública, dentre os legitimados ativos para a sua propositura, somente o Ministério Público pode instaurar inquérito civil. ( )

9) (DPE/MS 2012) De acordo com a Lei Federal n.º 7.347/1985, o inquérito civil público é facultativo e de titularidade exclusiva do Ministério Público. ( )

10) (Juiz TJBA 2012 CESPE) O defensor público deve, antes de ajuizar qualquer demanda, instaurar inquérito civil público, a fim de investigar os fatos. ( )

11) (Juiz TJES 2012 CESPE) O defensor público deve, antes de ajuizar qualquer demanda, instaurar inquérito civil público, a fim de investigar os fatos narrados pelos consumidores por ele atendidos. ( )

12) (MP/SP 2012) Quando houver representação, o inquérito civil não poderá ser instaurado enquanto não for identificado o representante, ainda que o fato seja determinado. ( )

13) (MP/SP 2012) A representação para instauração do inquérito civil deverá ser apresentada por escrito, não devendo o Promotor de Justiça aceitá-la se for de outra forma. ( )

14) (MP/SP 2012) A representação poderá ser indeferida sem necessidade de motivação, quando apócrifa. ( )

15) (Juiz TJPA 2012 CESPE) Não configura constrangimento ilegal o recolhimento em presídio comum, pelo prazo superior a um ano, de sentenciado submetido a medida de segurança que consista em internação em hospital de custódia e tratamento psiquiátrico, caso seja comprovada a falta de vagas nesse tipo de estabelecimento. ( )

Gabarito

1. C 2. C 3. E 4. E 5. C 6. E 7. C 8. C 9. C 10. E

11. E 12. E 13. E 14. E 15. E

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JULGADOS QUE NÃO FORAM COMENTADOS POR SEREM DE POUCA RELEVÂNCIA PARA CONCURSOS PÚBLICOS

DIREITO ADMINISTRATIVO. GRATIFICAÇÃO DE ATIVIDADE (GAE) PAGA AOS ADVOGADOS DA UNIÃO. RECURSO REPETITIVO (ART. 543-C DO CPC E RES. 8/2008-STJ). A Gratificação de Atividade (GAE) instituída pela Lei Delegada 13/1992 é devida aos Advogados da União somente até a edição da MP 2.048-26/2000, momento em que foi substituída pela Gratificação de Desempenho de Atividade Jurídica (GDAJ). A MP 2.048-26/2000 reestruturou e reorganizou carreiras, cargos e funções comissionadas técnicas no âmbito da Administração Pública Federal, entre as quais a de Advogado da União, concedendo-lhes, no art. 41, uma nova gratificação, a GDAJ. Assim, não obstante o fato de o art. 1º dessa medida provisória não ter se referido ao cargo de Advogado da União, devem ser interpretados, sistemática e teleologicamente, seus arts. 41 e 59 para concluir que a GAE foi retirada de todos os cargos tratados por ela — e não apenas dos relacionados às carreiras elencadas em seu art. 1º — para ser substituída pela GDAJ. REsp 1.353.016-AL, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, julgado em 12/6/2013.

DIREITO ADMINISTRATIVO. COBRANÇA DE REAJUSTE INCIDENTE SOBRE PARCELA REMUNERATÓRIA INCORPORADA. RECURSO REPETITIVO (ART. 543-C DO CPC E RES. 8/2008-STJ). A incorporação da Parcela Autônoma do Magistério (PAM) aos vencimentos dos professores públicos do Estado do Rio Grande do Sul não implica, por si só, a prescrição do fundo de direito da pretensão de cobrança dos reajustes incidentes sobre a parcela incorporada instituídos, antes da incorporação, pela Lei Estadual 10.395/1995. De fato, embora a PAM tenha sido incorporada aos vencimentos dos professores públicos do Estado do Rio Grande do Sul (Lei Estadual 11.662/2001), os reajustes incidentes sobre a parcela incorporada e anteriores a esse evento repercutem continuamente na esfera jurídico-patrimonial dos servidores, gerando efeitos financeiros de trato sucessivo. Assim, não há que se falar em negativa inequívoca do direito à revisão da verba incorporada ante a incorporação. Nessa situação, incide a regra da Súmula 85 do STJ, segundo a qual, nas relações jurídicas de trato sucessivo em que a Fazenda Pública figure como devedora, quando não tiver sido negado o próprio direito reclamado, a prescrição atinge apenas as prestações vencidas antes do quinquênio anterior à propositura da ação. Precedentes citados: REsp 1.313.586-RS, Segunda Turma, DJe 4/2/2013 e AgRg no REsp 1.313.646-RS, Primeira Turma, DJe 21/9/2012. REsp 1.336.213-RS, Rel. Ministro Herman Benjamin, julgado em 12/6/2013.

DIREITO PROCESSUAL CIVIL. DESNECESSIDADE DE AJUIZAMENTO DE AÇÃO ESPECÍFICA PARA A DISCUSSÃO DE ENCARGOS INCIDENTES SOBRE DEPÓSITOS JUDICIAIS. RECURSO REPETITIVO (ART. 543-C DO CPC E RES. 8/2008-STJ). A discussão quanto à aplicação de juros e correção monetária nos depósitos judiciais independe de ação específica contra o banco depositário. Precedentes citados: AgRg no REsp 1.136.119-SP, Segunda Turma, DJe 30/9/2010 e AgRg no AG 522.427-SP, Terceira Turma, DJe 2/10/2009. REsp 1.360.212-SP, Rel. Ministro Herman Benjamin, julgado em 12/6/2013.

DIREITO TRIBUTÁRIO. CREDITAMENTO DE ICMS SOBRE A ENERGIA ELÉTRICA CONSUMIDA PELAS PRESTADORAS DE SERVIÇOS DE TELECOMUNICAÇÕES. RECURSO REPETITIVO (ART. 543-C DO CPC E RES. 8/2008-STJ). É possível o creditamento do ICMS incidente sobre a energia elétrica consumida pelas prestadoras de serviços de telecomunicações para abatimento do imposto devido quando da prestação de serviços. O art. 19 da LC 87/1996, em âmbito legal, assegura o direito à não-cumulatividade para o ICMS, prevendo a compensação do que for devido em cada operação relativa à circulação de mercadorias ou prestação de serviços de transporte — interestadual e intermunicipal — e de comunicação com o montante cobrado nas operações anteriores pelo mesmo estado ou por outro. Por sua vez, o art. 33, II, “b”, do referido dispositivo

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legal prevê a possibilidade de creditamento de ICMS relativamente à aquisição de energia elétrica, na hipótese em que o estabelecimento a utilize no processo de industrialização. A propósito, por força do Dec. 640/1962 — recepcionado pela Constituição atual e compatível com a legislação tributária posterior —, os serviços de comunicação são equiparados à indústria. Assim, em virtude da essencialidade da energia elétrica, como insumo, para o exercício da atividade de telecomunicações, induvidoso se revela o direito ao creditamento de ICMS, em atendimento ao princípio da não-cumulatividade. Precedentes citados: REsp 842.270-RS, Primeira Seção, DJe 26/6/2012, e AgRg no AgRg no REsp 1.134.930-MS, Segunda Turma, DJe 19/12/2012. REsp 1.201.635-MG, Rel. Min. Sérgio Kukina, julgado em 12/6/2013.

DIREITO PROCESSUAL CIVIL. CONHECIMENTO DE CONFLITO DE COMPETÊNCIA SUSCITADO APÓS O OFERECIMENTO DE EXCEÇÃO DE INCOMPETÊNCIA. O anterior oferecimento de exceção de incompetência não obsta o conhecimento de conflito de competência quando o objeto deste for absolutamente distinto do objeto daquela. Isso porque não se pode interpretar a regra processual contida no art. 117 do CPC — segundo o qual não pode suscitar conflito a parte que, no processo, ofereceu exceção de incompetência — de modo a gerar uma situação de impasse, subtraindo da parte meios de se insurgir contra uma situação que repute injusta, haja vista que o direito processual deve, na máxima medida possível, estar a serviço do direito material, como um instrumento para a sua realização. CC 111.230-DF, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 8/5/2013.

DIREITO PROCESSUAL CIVIL. COMPETÊNCIA DO JUÍZO ARBITRAL PARA O JULGAMENTO DE MEDIDA CAUTELAR DE ARROLAMENTO DE BENS. Na hipótese em que juízo arbitral tenha sido designado por contrato firmado entre as partes para apreciar a causa principal, será este — e não juízo estatal — competente para o julgamento de medida cautelar de arrolamento de bens, dependente da ação principal, que tenha por objeto inventário e declaração de indisponibilidade de bens. De fato, em observância aos requisitos fixados pelo art. 857 do CPC para o deferimento da medida cautelar de arrolamento de bens — demonstração do direito aos bens e dos fatos em que funda o receio de extravio ou de dissipação dos bens —, nota-se que não se trata de medida que, para ser deferida, demande cognição apenas sobre o receio de redução patrimonial do devedor. Na verdade, trata-se de medida cujo deferimento demanda, também, que esteja o juízo convencido da aparência de direito à obtenção desses bens, o que nada mais é do que uma análise ligada ao mérito da controvérsia, a qual, por sua vez, é de competência do juízo arbitral na hipótese em que exista disposição contratual nesse sentido. Ademais, é importante ressaltar que o receio de dissipação do patrimônio não fica desprotegido com a manutenção exclusiva da competência da corte arbitral para o julgamento da medida de arrolamento, pois os árbitros, sendo especialistas na matéria de mérito objeto da lide, provavelmente terão melhores condições de avaliar a necessidade da medida. Além disso, o indispensável fortalecimento da arbitragem, que vem sendo levado a efeito desde a promulgação da Lei 9.307/1996, torna indispensável que se preserve, na maior medida possível, a autoridade do árbitro como juiz de fato e de direito para o julgamento de questões ligadas ao mérito da causa. Isso porque negar essa providência esvaziaria o conteúdo da Lei de Arbitragem, permitindo que, simultaneamente, o mesmo direito seja apreciado, ainda que em cognição perfunctória, pelo juízo estatal e pelo juízo arbitral, muitas vezes com sérias possibilidades de interpretações conflitantes para os mesmos fatos. CC 111.230-DF, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 8/5/2013.

DIREITO TRIBUTÁRIO. CREDITAMENTO DO IPI EM RELAÇÃO À ENERGIA ELÉTRICA CONSUMIDA NO PROCESSO PRODUTIVO. O contribuinte não tem direito a crédito presumido de IPI, em relação à energia elétrica consumida no processo produtivo, como ressarcimento das contribuições ao PIS/Pasep e à Cofins, na forma estabelecida pelo art. 1º da Lei 9.363/1996. Isso porque a energia elétrica consumida na produção industrial não integra o conceito de “matéria-prima”, “produto intermediário” ou “material de

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embalagem” para efeito da legislação do IPI. Efetivamente, é de se observar que os citados termos veiculam conceitos jurídicos que não se encontram diretamente definidos na legislação que instituiu o benefício do crédito presumido, mas sim na própria legislação do imposto, conforme remissão feita pelo parágrafo único do art. 3º da mesma lei, o qual permite a utilização subsidiária da legislação do IPI para o estabelecimento dos conceitos de “matéria-prima”, “produtos intermediários” e “material de embalagem”. Nesse contexto, o art. 82 do Dec. 87.981/1982 (RIPI) prevê que os estabelecimentos industriais poderão creditar-se “do imposto relativo a matérias-primas, produtos intermediários e material de embalagem, adquiridos para emprego na industrialização de produtos tributados, incluindo-se, entre as matérias-primas e produtos intermediários, aqueles que, embora não se integrando ao novo produto, forem consumidos no processo de industrialização”. De fato, a expressão "consumidos no processo de industrialização" significa consumo, desgaste ou alteração de suas propriedades físicas ou químicas durante a industrialização. Portanto, a legislação tributária considera como insumo aquilo que se integra, de forma física ou química, ao novo produto ou aquilo que sofre consumo, desgaste ou alteração de suas propriedades físicas ou químicas. Desse modo, a energia elétrica consumida no processo produtivo, por não sofrer ou provocar ação direta mediante contato físico com o produto, não integra o conceito de "matéria-prima" ou "produto intermediário" para efeito da legislação do IPI e, por conseguinte, para efeito da obtenção do crédito presumido do imposto como ressarcimento das contribuições ao PIS/PASEP e à COFINS. Ainda, observe-se que esse entendimento já se encontra pacificado na seara administrativa pela Súmula 12 do Segundo Conselho de Contribuintes do Ministério da Fazenda. Precedentes citados: AgRg no REsp 1.000.848-SC, Primeira Turma, DJe 20/10/2010; e AgRg no REsp 919.628- PR, Segunda Turma, DJe 24/8/2010. REsp 1.331.033-SC, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, julgado em 2/4/2013.

DIREITO TRIBUTÁRIO. TERMO INICIAL DA CORREÇÃO MONETÁRIA INCIDENTE SOBRE OS CRÉDITOS ESPONTANEAMENTE RECONHECIDOS PELA ADMINISTRAÇÃO TRIBUTÁRIA. A correção monetária incide a partir do término do prazo de trezentos e sessenta dias, previsto no art. 24 da Lei 11.457/2007, contado da data do protocolo do pedido administrativo de ressarcimento realizado pelo contribuinte. Isso porque, conforme dispõe o art. 24 da Lei 11.457/2007, é “obrigatório que seja proferida decisão administrativa no prazo máximo de 360 (trezentos e sessenta) dias a contar do protocolo de petições, defesas ou recursos administrativos do contribuinte”. Portanto, o Fisco somente deve ser considerado em mora a partir do término do referido prazo, quando, então, estará configurada a denominada "resistência ilegítima" prevista na Súmula 411 do STJ: "É devida a correção monetária ao creditamento do IPI quando há oposição ao seu aproveitamento decorrente de resistência ilegítima do Fisco". REsp 1.331.033-SC, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, Segunda Turma, julgado em 2/4/2013.

DIREITO CIVIL E AGRÁRIO. DIREITO DE PREFERÊNCIA NA AQUISIÇÃO DE IMÓVEL RURAL. O contrato firmado como “arrendamento de pastagens”, na hipótese em que não tenha havido o exercício da posse direta da terra explorada pelo tomador da pastagem, não confere o direito de preempção previsto na Lei 4.504/1966 e no Dec. 59.566/1966. De fato, o art. 92, § 3º, da Lei 4.504/1966 e o art. 45 do Dec. 59.566/1966 estabelecem o direito de preempção do arrendatário rural na aquisição do imóvel arrendado. Pode-se afirmar que o referido direito foi conferido ao arrendatário rural como garantia do uso econômico da terra explorada por ele, não abrangendo outras modalidades de contratos agrários por se tratar de norma restritiva do direito de propriedade. Nesse contexto, vale observar que o contrato de arrendamento rural tem como elemento essencial a posse do imóvel pelo arrendatário, que passa a ter o uso e gozo da propriedade. Dessa forma, na hipótese em que tenha sido firmado contrato de “arrendamento de pastagens” sem que o tomador da pastagem tenha a posse direta da terra a ser explorada, deve-se afastar a natureza do contrato de arrendamento para considerá-lo como de “locação de pastagem”, caso em que não é possível exercer o direito de preferência que a lei estabelece para o arrendatário. REsp 1.339.432-MS, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 16/4/2013.

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DIREITO PROCESSUAL CIVIL. INTERESSE DE AGIR PARA O AJUIZAMENTO DE AÇÃO DE PRESTAÇÃO DE CONTAS EM FACE DE ENTIDADE DE PREVIDÊNCIA PRIVADA. O participante de entidade de previdência privada tem interesse em demandar a respectiva entidade em ação de prestação de contas para esclarecimentos sobre as importâncias vertidas ao fundo por ela administrado, ainda que ele não tenha esgotado a via administrava e mesmo que sejam cumpridas pela entidade as exigências legais de divulgação anual das informações pertinentes ao plano por ela administrado. Com efeito, mesmo com a divulgação anual das informações referentes ao plano de benefícios — conforme determinam os arts. 22 a 24 da LC 109/2001 —, não afasta o interesse de participante da entidade em postular judicialmente, na forma individualizada, a prestação de contas. Além disso, o esgotamento da via administrativa não é condição para o surgimento do interesse em ajuizar a referida ação de prestação de contas. Precedentes citados: AgRg no Ag 1.163.447-DF, Quarta Turma, DJe 17/12/2010; e AgRg no REsp 888.090-DF, Terceira Turma, DJe 7/6/2010. AgRg no AREsp 150.390-SP, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 9/4/2013.

DIREITO PROCESSUAL CIVIL. PRESTAÇÃO DE CONTAS REALIZADA POR ENTIDADE DE PREVIDÊNCIA PRIVADA DE FORMA DIVERSA DA MERCANTIL. O magistrado não pode desconsiderar a prestação de contas realizada por entidade de previdência privada, ainda que de forma diversa da mercantil, na hipótese em que as contas tenham sido apresentadas de maneira clara e inteligível. Com efeito, o magistrado deve verificar se as contas apresentadas atingem as finalidades do processo e, em caso positivo, afastar o rigor da norma inserida no art. 917 do CPC, pois o escopo da referida norma é apenas a indicação pormenorizada dos débitos e créditos, das receitas e despesas, a fim de permitir aos autores a exata compreensão da forma como se chegou ao resultado apresentado. Precedentes citados: AREsp 11.904-DF, Terceira Turma, DJe 17/2/2012; e REsp 1.171.676-DF, Terceira Turma, DJe 19/3/2012. AgRg no AREsp 150.390-SP, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 9/4/2013.

DIREITO PROCESSUAL CIVIL. NÃO CONFIGURAÇÃO DE LITISCONSÓRCIO PASSIVO NECESSÁRIO NO CASO DE AÇÃO EM QUE SE OBJETIVE A RESTITUIÇÃO DE PARCELAS PAGAS A PLANO DE PREVIDÊNCIA PRIVADA. Na ação em que se objetive a restituição de parcelas pagas a plano de previdência privada, não há litisconsórcio passivo necessário entre a entidade administradora e os participantes, beneficiários ou patrocinadores do plano. Com efeito, no caso em que existam diversos titulares de direitos que derivem do mesmo título ou do mesmo fato jurídico e que estejam em jogo direitos patrimoniais, cabendo a cada titular uma parcela do todo divisível, será, em regra, eficaz o provimento concedido a algum deles, mesmo sem a presença dos demais. Isso porque a própria lei confere caráter de excepcionalidade ao litisconsórcio necessário, impondo-o apenas nas hipóteses previstas em lei ou pela natureza da relação jurídica (art. 47 do CPC). Sendo assim, como não se trata de hipótese em que o litisconsórcio necessário seja imposto por lei, tampouco se cuida de uma única relação jurídica indivisível, não há como falar, nesses casos, na configuração de litisconsórcio passivo necessário. REsp 1.104.377-SP, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 18/4/2013.