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www.dizerodireito.com.br Página1 INFORMATIVO esquematizado Informativo 520 – STJ Márcio André Lopes Cavalcante Obs: não foram incluídos neste informativo esquematizado os julgados de menor relevância para concursos públicos ou aqueles decididos com base em peculiaridades do caso concreto. Caso seja de seu interesse conferi-los, os acórdãos excluídos foram os seguintes: REsp 1.150.429-CE; REsp 1.220.934-RS; RMS 38.359-SE; REsp 1.357.139-DF; AgRg no REsp 1.090.784-DF; REsp 1.331.548-RJ; REsp 1.124.133-RJ; REsp 1.133.338-SP. DIREITO ADMINISTRATIVO Concurso público (teste físico e candidata grávida) O STF e o STJ possuíam posição consolidada no sentido de que era permitida a remarcação de teste de aptidão física em concurso público com o objetivo de proporcionar a participação de candidata comprovadamente grávida, ainda que o edital não contivesse previsão nesse sentido. Ocorre que, no dia 15/5/2013, o Plenário do STF, ao julgar o RE 630733/DF (rel. Min. Gilmar Mendes), em regime de repercussão geral, decidiu, de forma genérica, que os candidatos em concurso público NÃO têm direito à prova de segunda chamada nos testes de aptidão física em razão de circunstâncias pessoais, ainda que de caráter fisiológico ou de força maior, salvo se houver previsão no edital permitindo essa possibilidade. No RE 630733/DF não foi discutido especificamente o caso de uma candidata gestante, mas sim o de um candidato que apresentava problema de saúde. Após este acórdão, nem o STF nem o STJ tiveram a oportunidade de decidir novamente um processo envolvendo concurso público e remarcação da prova por conta de gravidez. Assim, será necessário aguardar para saber se a gestante continua ou não tendo direito de remarcação da prova física. Comentários Se, na data marcada para o teste físico do concurso público, a candidata estiver gestante e, com isso, impossibilitada de participar, ela terá direito de fazer prova em outro dia, mesmo que não haja previsão no edital autorizando? Posição tradicional do STF e STJ: SIM. No caso de gravidez, tanto o STF como o STJ entendiam, de forma tranquila, que era possível a remarcação de teste de aptidão física em concurso público com o objetivo de proporcionar a participação de candidata comprovadamente grávida, ainda que o edital não contivesse previsão nesse sentido. Precedentes: STJ. 6ª Turma. RMS 31.505-CE, julgado em 16/8/2012; STF. 1ª Turma. AI 825545 AgR, julgado em 13/04/2011. Página1

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INFORMATIVO esquematizado

Informativo 520 – STJ

Márcio André Lopes Cavalcante Obs: não foram incluídos neste informativo esquematizado os julgados de menor relevância para concursos públicos ou aqueles decididos com base em peculiaridades do caso concreto. Caso seja de seu interesse conferi-los, os acórdãos excluídos foram os seguintes: REsp 1.150.429-CE; REsp 1.220.934-RS; RMS 38.359-SE; REsp 1.357.139-DF; AgRg no REsp 1.090.784-DF; REsp 1.331.548-RJ; REsp 1.124.133-RJ; REsp 1.133.338-SP.

DIREITO ADMINISTRATIVO

Concurso público (teste físico e candidata grávida)

O STF e o STJ possuíam posição consolidada no sentido de que era permitida a remarcação de teste de aptidão física em concurso público com o objetivo de proporcionar a participação de candidata

comprovadamente grávida, ainda que o edital não contivesse previsão nesse sentido.

Ocorre que, no dia 15/5/2013, o Plenário do STF, ao julgar o RE 630733/DF (rel. Min. Gilmar Mendes), em regime de repercussão geral, decidiu, de forma genérica, que os candidatos em

concurso público NÃO têm direito à prova de segunda chamada nos testes de aptidão física em razão de circunstâncias pessoais, ainda que de caráter fisiológico ou de força maior, salvo se

houver previsão no edital permitindo essa possibilidade.

No RE 630733/DF não foi discutido especificamente o caso de uma candidata gestante, mas sim o de um candidato que apresentava problema de saúde. Após este acórdão, nem o STF nem o

STJ tiveram a oportunidade de decidir novamente um processo envolvendo concurso público e remarcação da prova por conta de gravidez. Assim, será necessário aguardar para saber se a

gestante continua ou não tendo direito de remarcação da prova física. Comentários Se, na data marcada para o teste físico do concurso público, a candidata estiver gestante e,

com isso, impossibilitada de participar, ela terá direito de fazer prova em outro dia, mesmo que não haja previsão no edital autorizando? Posição tradicional do STF e STJ: SIM. No caso de gravidez, tanto o STF como o STJ entendiam, de forma tranquila, que era possível a remarcação de teste de aptidão física em concurso público com o objetivo de proporcionar a participação de candidata comprovadamente grávida, ainda que o edital não contivesse previsão nesse sentido. Precedentes: STJ. 6ª Turma. RMS 31.505-CE, julgado em 16/8/2012; STF. 1ª Turma. AI 825545 AgR, julgado em 13/04/2011. P

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Possível mudança de entendimento: No dia 15/5/2013, o Plenário do STF, ao julgar o RE 630733/DF (rel. Min. Gilmar Mendes), em regime de repercussão geral, decidiu que os candidatos em concurso público NÃO têm direito à prova de segunda chamada nos testes de aptidão física em razão de circunstâncias pessoais, ainda que de caráter fisiológico ou de força maior, salvo se houver previsão no edital permitindo essa possibilidade.

Houve, portanto, uma alteração na jurisprudência do STF? Sim. Foi uma guinada na jurisprudência do STF, o que, por certo, irá também influenciar no entendimento do STJ:

Antes Atualmente

STF entendia ser possível a remarcação do teste físico do candidato no concurso, desde que devidamente comprovado motivo de força maior que afetasse a sua higidez física. Isso seria permitido mesmo que o edital do certame proibisse expressamente.

Os candidatos em concurso público NÃO têm direito à prova de segunda chamada nos testes de aptidão física em razão de circunstâncias pessoais, ainda que de caráter fisiológico ou de força maior, salvo se houver previsão no edital permitindo essa possibilidade.

Mesmo no caso da candidata grávida? Acredito que sim. Como já explicado acima, há precedentes recentes do STF e do STJ permitindo a remarcação das provas físicas para os casos de candidata grávida, mas penso que, com esta nova decisão do Pleno (em sede de repercussão geral), está superado o entendimento já que não foi feita qualquer ressalva no julgamento para situações de gravidez. Assim, em minha opinião, o STF e o STJ não irão mais admitir remarcação de teste físico para candidatos em concurso público, incluindo gestantes.

No caso concreto noticiado neste informativo, o STJ afirmou que “é possível a remarcação de teste de aptidão física em concurso público com o objetivo de proporcionar a participação de candidata comprovadamente grávida, ainda que o edital não contenha previsão nesse sentido”. Ocorre que esta decisão do STJ foi proferida em 21/3/2013, antes, portanto, do novo entendimento do Plenário do STF construído no RE 630733/DF, de 15/5/2013. Após a decisão do STF, nem o STF nem o STJ tiveram a oportunidade de decidir novamente um processo envolvendo concurso público e remarcação da prova por conta de gravidez. Dessa forma, será necessário aguardar para se ter certeza se a gestante continua ou não tendo direito de remarcação da prova física, mas penso que não.

Ação judicial pleiteando a remarcação do teste físico não é pedido jurídica-mente impossível

Como vimos acima, o entendimento majoritário atualmente é o de que os candidatos em concurso público NÃO têm direito à prova de segunda chamada nos testes de aptidão física em razão de circunstâncias pessoais, ainda que de caráter fisiológico ou de força maior, salvo se houver previsão no edital permitindo essa possibilidade.

Se, mesmo com esta posição jurisprudencial contrária, a pessoa decidir ajuizar uma ação pleiteando a remarcação de seu teste físico em concurso público, o juiz poderá deixar de apreciar este pedido, extinguindo o processo sem resolução do mérito, sob o argumento de que se trata de pedido juridicamente impossível? NÃO. Não é possível a extinção do processo sem resolução do mérito por impossibilidade jurídica do pedido (art. 267, VI, do CPC), tendo em vista que, a partir da análise da pretensão deduzida e independentemente de qualquer juízo de valor acerca do enquadramento da situação narrada como apta a caracterizar a alegada força maior, deve-se concluir que se trata, efetivamente, de pedido passível de apreciação pelo Poder Judiciário (STJ. 2ª Turma. REsp 1.293.721-PR, Rel. Min. Eliana Calmon, julgado em 4/4/2013).

Processo STJ. 2ª Turma. RMS 37.328-AP, Rel. Min. Humberto Martins, julgado em 21/3/2013.

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Responsabilidade civil do Estado no caso de suicídio de preso é objetiva

A Administração Pública está obrigada ao pagamento de pensão e indenização por danos morais no caso de morte por suicídio de detento ocorrido dentro de estabelecimento prisional

mantido pelo Estado. Nessas hipóteses, não é necessário perquirir eventual culpa da Administração Pública.

Na verdade, a responsabilidade civil estatal pela integridade dos presidiários é OBJETIVA. Comentários Caso uma pessoa que esteja presa cometa suicídio, o Estado terá o dever de indenizar seus

familiares? Em caso positivo, qual seria o tipo de responsabilidade? SIM. O Estado tem o dever de indenizar os familiares do preso que cometeu suicídio dentro de uma unidade prisional. Para a jurisprudência do STF e do STJ, trata-se de responsabilidade civil OBJETIVA. Assim, os familiares do preso, para serem indenizados, não precisarão provar eventual culpa/omissão da Administração Pública em caso de suicídio de detento, já que a responsabilidade civil estatal pela integridade dos presidiários é objetiva em face dos riscos inerentes ao meio em que eles estão inseridos por uma conduta do próprio Estado. Há precedente recente do STF no mesmo sentido: ARE 700927 AgR, Rel. Min. Gilmar Mendes, Segunda Turma, julgado em 28/08/2012. O Min. Gilmar Mendes, em seu voto, foi bastante claro: “o Estado tem o dever objetivo de zelar pela integridade física e moral do preso sob sua custódia, atraindo, então, a responsabilidade civil objetiva, em razão de sua conduta omissiva, motivo pelo qual é devida a indenização decorrente da morte do detento, ainda que em caso de suicídio.”

Este tema é bastante explorado nos concursos públicos, tendo sido cobrado este ano na prova do CESPE de Juiz Federal do TRF da 3ª Região. Confira: Conforme jurisprudência do STF, no caso de suicídio de detento que esteja sob a custódia do sistema prisional, configurar-se-á a responsabilidade do Estado na modalidade objetiva, devido a conduta omissiva estatal. (alternativa CORRETA)

Processo STJ. 2ª Turma. AgRg no REsp 1.305.259-SC, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, julgado em 2/4/2013.

DIREITO ADMINISTRATIVO/EDUCACIONAL Revalidação de diploma estrangeiro

É legal a exigência feita por universidade, com base em resolução por ela editada, de prévia aprovação em processo seletivo como condição para apreciar pedido de revalidação de

diploma obtido em instituição de ensino estrangeira. Comentários O registro de diploma estrangeiro no Brasil está submetido a prévio processo de

revalidação, segundo o regime previsto na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Brasileira (art. 48, § 2º, da Lei 9.394/1996). Não existe qualquer dispositivo legal que proíba a universidade de exigir um processo seletivo para aceitar o pedido de revalidação de diploma, além do que isso está inserido na autonomia didático-científica e administrativa da Instituição (art. 53, V, da Lei 9.394/1996 e art. 207 da CF/88). Portanto, desde que observados os requisitos legais e os princípios constitucionais, deve-se garantir às universidades a liberdade para editar regras específicas acerca do procedimento destinado à revalidação de diplomas expedidos por universidades estrangeiras.

Processo STJ. 1ª Seção. REsp 1.349.445-SP, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, julgado em 8/5/2013.

ATENÇÃO

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DIREITO CIVIL

Responsabilidade civil dos bancos por compensação de cheque adulterado

O banco responde objetivamente pelos danos causados ao correntista por conta da compensação de cheque falsificado (sem culpa do cliente), ainda que a falsificação seja sofisticada.

Comentários Imagine a seguinte situação hipotética (baseada no caso concreto): João comprou uma mercadoria na loja e pagou com um cheque de 50 reais. No mês seguinte, o consumidor foi surpreendido com a compensação do cheque em sua conta no valor de 5.000 reais. Ficou comprovado que a loja, para obter capital de giro, cedeu o cheque a um terceiro. Este, sem que a loja soubesse, foi o responsável pela adulteração do valor do cheque e por sua apresentação. Vale ressaltar que ficou demonstrado que a falsificação do cheque foi sofisticada e somente poderia ter sido percebida por aparelhos especializados de grafotécnica (é o chamado “falso hábil”). João ajuizou ação de indenização por danos morais e materiais contra o banco. O banco possui responsabilidade civil sobre o prejuízo causado a João? SIM.

O parágrafo único do art. 39 da Lei n. 7.357/85 (Lei do Cheque) estabelece que: “o banco sacado responde pelo pagamento do cheque falso, falsificado ou alterado, salvo dolo ou culpa do correntista, do endossante ou do beneficiário, dos quais poderá o sacado, no todo ou em parte, reaver a que pagou”. Assim, doutrina e o STJ afirmam que os bancos possuem responsabilidade OBJETIVA pelo pagamento de cheque falso, falsificado ou alterado, a qual somente é elidida pela culpa exclusiva do próprio correntista, do endossante ou do beneficiário. Com base neste dispositivo e no CDC, podemos assim sintetizar a responsabilidade dos bancos no caso de cheque falso ou falsificado:

RESPONSABILIDADE DOS BANCOS NO CASO DE CHEQUE FALSO OU FALSIFICADO

1 Inexistindo

culpa do correntista

(cliente)

O banco faz o pagamento do cheque habilmente falsificado sem que o correntista tenha qualquer parcela de culpa no evento danoso. Ex: cheque falsificado por terceiros sem a participação do correntista (situação de João).

Aplica-se a súmula 479-STJ: As instituições financeiras respondem objetivamente pelos danos gerados por fortuito interno relativo a fraudes e delitos praticados por terceiros no âmbito de operações bancárias. A falsificação promovida por terceiro é considerada fortuito interno (fato ligado aos riscos da atividade desenvolvida pelo fornecedor). Isso porque o banco tem o dever contratual de gerir com segurança as movimentações bancárias dos clientes.

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2 Culpa

exclusiva do cliente

A conduta do cliente foi a causa eficiente da ocorrência do dano. Ex: o cheque foi falsificado pelo próprio correntista ou por terceiro a seu mando.

A responsabilidade do banco é excluída (art. 39, da Lei 7.357/1985 c/c o art. 14, § 3º, II, do CDC). Cabe ao banco o ônus de provar a culpa exclusiva do correntista.

3 Culpa

concorrente

Ocorre quando a conduta do cliente foi uma concausa do evento danoso. O cliente contribuiu, de alguma forma, para que a falsidade existisse.

O banco continua tendo responsabilidade pelo dano, no entanto, a culpa do cliente servirá para compensar (atenuar) o valor a ser pago pela instituição financeira. Cabe ao banco alegar e provar a concorrência de culpa.

As conclusões expostas no quadro acima a atual “leitura” que deve ser feita da Súmula 28 do STF: O estabelecimento bancário é responsável pelo pagamento de cheque falso, ressalvadas as hipóteses de culpa exclusiva ou concorrente do correntista. Na época em que a Súmula 28 foi editada (década de 60), o entendimento era o de que a culpa concorrente do cliente possibilitava o afastamento da responsabilidade bancária. Tal posição, atualmente, não é mais aceita, servindo a culpa concorrente, no máximo, como fator de atenuação do montante indenizatório.

Processo STJ. 4ª Turma. REsp 1.093.440-PR, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 2/4/2013.

Cooperativa (responsabilidade dos cooperados)

A distribuição aos cooperados dos eventuais prejuízos da cooperativa deve ocorrer de forma proporcional à fruição, por cada um deles, dos serviços prestados pela entidade, ainda que

haja alteração do estatuto por deliberação da Assembleia Geral Ordinária determinando que a distribuição dos prejuízos seja realizada de forma igualitária.

Comentários Imagine a seguinte situação: Determinada cooperativa de médicos teve prejuízo em dois anos seguidos (2003 e 2005). A Assembleia Geral Ordinária (AGO) da cooperativa decidiu alterar o estatuto social e efetuar o rateio desse prejuízo de forma igualitária entre todos os cooperados, e não de modo proporcional aos serviços por eles usufruídos. A AGO poderia ter alterado o estatuto social da cooperativa? NÃO. A alteração do estatuto social de uma sociedade cooperativa é de competência exclusiva da Assembleia Geral Extraordinária (AGE) e não da Assembleia Geral Ordinária (AGO), nos termos do art. 46, I, da Lei 5.764/71 (Lei das Cooperativas):

Art. 46. É da competência exclusiva da Assembleia Geral Extraordinária deliberar sobre os seguintes assuntos: I - reforma do estatuto;

Ainda que a alteração do estatuto tivesse sido feita pela AGE, seria legítima esta mudança para que os prejuízos fossem divididos igualitariamente?

NÃO. Esta mudança no estatuto contraria o disposto no art. 89 da Lei n. 5.764/71:

Art. 89. Os prejuízos verificados no decorrer do exercício serão cobertos com recursos provenientes do Fundo de Reserva e, se insuficiente este, mediante rateio, entre os associados, na razão direta dos serviços usufruídos, ressalvada a opção prevista no parágrafo único do artigo 80.

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A ressalva contida no art. 80, parágrafo único, da Lei trata apenas da possibilidade do estatuto prever o rateio igualitário das despesas gerais da sociedade, as quais não se confundem necessariamente com os prejuízos.

Processo STJ. 3ª Turma. REsp 1.303.150-DF, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 5/3/2013.

DIREITO DO CONSUMIDOR

Interpretação de cláusula mais favorável à parte aderente

No caso de relação de consumo instrumentalizada por contrato de adesão, as cláusulas contratuais que foram redigidas pela própria seguradora devem ser interpretadas da forma

mais favorável à parte que apenas aderiu ao contrato (consumidora aderente), de acordo com o que dispõe o art. 47 do CDC.

Assim, em um determinado contrato de seguro de saúde, havia uma cláusula prevendo que os

tratamentos de saúde necessários ao filho da segurada também seriam cobertos, desde que este tivesse nascido durante a vigência do pacto. O filho de uma segurada dependente precisou

de tratamento e a seguradora negou, afirmando que a cobertura restringe-se ao filho da “segurada titular” e que, no caso concreto, o indivíduo era filho da “segurada dependente”,

razão pela qual não teria direito ao tratamento.

O STJ deu razão à consumidora e afirmou que, caso a seguradora pretendesse restringir o campo de abrangência da cláusula contratual, deveria ter especificado serem elas aplicáveis

apenas à titular do seguro. Comentários No caso de relação de consumo instrumentalizada por contrato de adesão, as cláusulas

contratuais que foram redigidas pela própria seguradora devem ser interpretadas da forma mais favorável à parte que apenas aderiu ao contrato (consumidora aderente), de acordo com o que dispõe o art. 47 do CDC:

Art. 47. As cláusulas contratuais serão interpretadas de maneira mais favorável ao consumidor.

Sérgio Cavalieri Filho, citado pelo Ministro Relator, afirma que: “(...) essa é a sábia regra do art. 47 do CDC: quem escreve não tem a seu favor o que escreveu. E não somente as cláusulas ambíguas dos contratos de adesão se interpretam em favor do aderente, contra o estipulador, mas o contrato de consumo como um todo. A regra geral, assevera Cláudia Lima Marques, é que se interprete o contrato de adesão, especialmente as suas cláusulas dúbias, contra aquele que redigiu o instrumento. É a famosa interpretação contra proferente (ob. cit., p. 75).” (CAVALIERI FILHO, Sérgio. Programa de Direito do Consumidor. 2ª ed. São Paulo: Editora Atlas, 2010, p. 143).

Processo STJ. 3ª Turma. REsp 1.133.338-SP, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, julgado em 2/4/2013.

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DIREITO EMPRESARIAL

Contrato de abertura de crédito rotativo não é título executivo

O contrato de abertura de crédito rotativo, ainda que acompanhado dos extratos relativos à movimentação bancária do cliente, não constitui título executivo.

Aplica-se a Súmula 233 do STJ: O contrato de abertura de crédito, ainda que acompanhado de extrato da conta-corrente, não é título executivo.

Comentários É comum que os bancos, ao oferecerem seus serviços, façam um contrato de abertura de crédito rotativo com seus clientes. Por meio deste contrato de abertura de crédito rotativo, o banco se compromete a disponibilizar determinada quantia (chamada comumente de “limite”) ao seu cliente, que poderá, ou não, utilizar-se desse valor a título de empréstimo. É vulgarmente conhecimento como “cheque especial”. Ex: João abre uma conta corrente no Banco “B”. No meio de todos os papeis que ele é “convidado” a assinar estará um contrato de abertura de crédito rotativo por meio do qual, mesmo que João não tenha dinheiro em sua conta, ele terá disponível 1 mil reais para sacar sempre que quiser. Este valor, se sacado, constitui-se em um empréstimo, devendo ser devolvido com juros e correção monetária ao banco.

O contrato de abertura de crédito rotativo é título executivo? NÃO. O contrato de abertura de crédito rotativo não possui liquidez e certeza, considerando que o ajuste menciona apenas que o correntista poderá sacar, como empréstimo, determinado valor até um certo limite (ex: 1 mil reais). Isso não significa, necessariamente, que a pessoa tenha decidido usar este valor e que efetivamente tenha sacado todo o limite, podendo ter se utilizado de apenas parte da quantia. Quando ocorre a assinatura do contrato de abertura de crédito pelo consumidor, ocasião em que a obrigação nasce para a instituição financeira de disponibilizar determinada quantia ao seu cliente, não há dívida líquida e certa, sendo que os valores eventualmente utilizados são documentados unilateralmente pela própria instituição, sem qualquer participação, muito menos consentimento, do cliente.

O contrato de abertura de crédito fixo é título de crédito? SIM. O contrato de abertura de crédito rotativo é diferente do contrato de abertura de crédito fixo. No caso de crédito fixo, o cliente celebra um contrato com o banco, por meio do qual a instituição financeira empresta um valor certo ao cliente, sendo esta quantia creditada na conta do correntista após a assinatura do termo. Trata-se de um mútuo feneratício (empréstimo de valor).

Como explica o Min. Luis Felipe Salomão: “O contrato de crédito fixo, como a própria nomenclatura evidencia, consiste na concessão, por parte da instituição financeira ao seu cliente, de valor certo, com termo e encargos pré-definidos, sendo que, no momento da assinatura do contrato, o contratante sabe de antemão o valor da dívida, com ela assentindo mediante firma.”

Resumindo: O contrato de abertura de crédito fixo é título executivo. O contrato de abertura de crédito rotativo NÃO é título executivo (aplica-se a súmula 233-STJ).

A súmula 233 do STJ refere-se ao contrato de abertura de crédito rotativo: Súmula 233 do STJ: O contrato de abertura de crédito, ainda que acompanhado de extrato da conta-corrente, não é título executivo.

Processo STJ. 4ª Turma. REsp 1.022.034-SP, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 12/3/2013.

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DIREITO PROCESSUAL CIVIL

Competência para ação de indenização em que os fatos que geraram o dano ocorreram durante a relação de trabalho e em decorrência dela

Compete à Justiça do Trabalho processar e julgar ação de execução por quantia certa, proposta por empregador em face de seu ex-empregado, na qual sejam cobrados valores relativos a

contrato de mútuo celebrado entre as partes para o então trabalhador adquirir veículo automotor particular destinado ao exercício das atividades laborais.

Comentários Imagine a seguinte situação hipotética: João (empregado da empresa B) queria comprar um carro, mas não possuía recursos suficientes para isso. A empresa também tinha interesse que João comprasse o automóvel porque isso ajudaria em seu trabalho, considerando que ele era vendedor externo. Diante disso, ficou acertado que a empresa faria o empréstimo do dinheiro (contrato de mútuo) para João, a fim de que ele adquirisse o veículo. As parcelas do empréstimo seriam descontadas do pagamento mensal do funcionário. O empregado saiu da empresa e deixou de pagar as prestações. A empresa deseja ajuizar uma execução por quantia certa contra o ex-empregado. Qual é o juízo competente para esta ação? JUSTIÇA DO TRABALHO. Segundo decidiu o STJ, a formalização do contrato de empréstimo somente ocorreu porque o ex-empregado prestava serviços à empresa. Dessa forma, as peculiaridades do financiamento, como, por exemplo, as condições mais favoráveis do empréstimo, aliado a seu propósito específico, qual seja a aquisição de automóvel inicialmente destinado ao exercício da função assumida na empresa, apontam, necessariamente, para um pacto acessório ao contrato de trabalho. A contratação, assim, relaciona-se com o fornecimento de utilidade ínsita ao trabalho desenvolvido, destinada a viabilizar a própria prestação dos serviços. Desse modo, verifica-se que a ação de execução possui como causa de pedir pacto acessório à relação de trabalho e somente assumido em função dela, sendo manifesta a competência da Justiça Laboral, nos termos do art. 114, I e IX, da CF/88.

Processo STJ. 2ª Seção. CC 124.894-SP, Rel. Min. Raul Araújo, julgado em 10/4/2013.

Competência da Justiça comum para ação de indenização proposta por pastor contra sua antiga igreja baseada em outros fundamentos que não na relação de trabalho

Determinado pastor ajuizou ação de indenização por danos morais e materiais contra a igreja que pertencia, alegando que foi desligado sem um justo motivo e em desacordo com as regras da igreja.

Na petição inicial afirma expressamente que não era empregado da igreja. Quem irá julgar esta demanda é á Justiça comum estadual, considerando que a controvérsia

posta na demanda deriva de relação jurídica de cunho eminentemente religioso e civil. A causa de pedir e o pedido deduzidos na exordial não se referem à existência de relação de

trabalho entre as partes. Logo, é incompetente a Justiça do Trabalho. Comentários Imagine a seguinte situação adaptada:

Samuel era pastor de determinada igreja evangélica, tendo sido desligado da congregação

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por decisão de um pastor hierarquicamente superior. Diante disso, Samuel ajuizou ação de indenização por danos morais e materiais contra a igreja, afirmando que somente poderia ter sido expulso por deliberação da Assembleia, conforme estatuto da congregação. Alegou, ainda, que seu afastamento foi "ilegal", motivado, provavelmente, pelo término da relação conjugal com sua esposa e que tal fato seria inaceitável, pois se trataria de episódio relacionado exclusivamente à sua vida íntima. Quem será competente para julgar esta demanda? Justiça comum ou Justiça do Trabalho? JUSTIÇA COMUM ESTADUAL. Segundo o STJ, a competência para o julgamento de uma ação é fixada em razão da natureza da causa. E como se define a natureza de uma causa? A natureza da causa é definida pelo pedido e pela causa de pedir que foram apresentados pelo autor na petição inicial. Desse modo, a competência é definida pelo que o autor alega e pede na ação. No caso concreto, o pedido e a causa de pedir deduzidos pelo autor relacionam-se com aspectos ligados à política interna da igreja na relação com seus ministros, envolvendo direitos e garantias constitucionais de liberdade e exercício de culto e de crença religiosos (CF, art. 5º, VI e VIII). Logo, a competência para processar e julgar a lide é da Justiça Comum. Como se observa na petição inicial do autor, a ação proposta não tem causa de pedir e pedidos fundados em eventual relação de trabalho entre as partes. Em momento algum da exordial o autor afirma ter relação de trabalho com a ré, assim como não postula o pagamento de nenhuma verba de natureza trabalhista. Na verdade, o autor afirma justamente o contrário. Na réplica apresentada à contestação atesta peremptoriamente que: “não pleiteia direitos trabalhistas, como reza as jurisprudências apostas na Contestação; se os pleiteasse com certeza seria na Justiça do Trabalho; mas como busca indenização pelos danos sofridos moralmente e materialmente o faz através da Justiça comum.” Ora, se a parte autora alega que o pedido deduzido na exordial não decorre de nenhum vínculo de natureza trabalhista com a entidade religiosa ré, a competência para julgamento do pedido de indenização por danos morais e materiais não pode ser da Justiça do Trabalho, que somente julga danos morais e materiais decorrentes de relação de trabalho. Não compete à Justiça do Trabalho processar e julgar demanda em que a causa de pedir e o pedido deduzidos na inicial não guardam relação com as matérias de competência da Justiça Laboral elencadas no art. 114 da CF/88.

Processo STJ. 2ª Seção. CC 125.472-BA, Rel. Min. Raul Araújo, julgado em 10/4/2013.

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Apelação e causa madura

O tribunal, ao apreciar apelação interposta em face de sentença que tenha reconhecido a prescrição da pretensão veiculada em ação monitória fundada em cheques prescritos que não circularam, não pode desde logo julgar a lide, mediante a aplicação do procedimento previsto

no § 3º do art. 515 do CPC (teoria da causa madura), na hipótese em que, existindo dúvida plausível acerca da entrega da mercadoria que dera origem à emissão dos cheques, não tenha

havido, em 1ª instância, a produção e análise das provas. Havia dúvida sobre a entrega ou não das mercadorias que deram origem à emissão dos

cheques. Dessa forma, a resolução do mérito da causa dependia da produção de provas, sendo que as partes não tiveram esta oportunidade em virtude da extinção precipitada do processo.

Por essa razão, o STJ determinou o retorno dos autos à 1ª instância para que abra a oportunidade de produção de provas.

Comentários O § 3º do art. 515 do CPC estabelece o seguinte:

§ 3º Nos casos de extinção do processo sem julgamento do mérito (art. 267), o tribunal pode julgar desde logo a lide, se a causa versar questão exclusivamente de direito e estiver em condições de imediato julgamento.

Este dispositivo permite que o TJ ou o TRF, ao julgar a apelação interposta contra sentença terminativa, julgue ele próprio (o Tribunal) o mérito da ação caso entenda que o juiz não deveria ter extinguido o processo sem resolução do mérito. Ex: “A” ajuíza uma ação contra “B” e o magistrado profere sentença extinguindo o processo sem resolução do mérito por entender que o autor seria parte ilegítima (art. 267, VI, do CPC). “A” interpõe apelação ao TJ. O Tribunal analisa o recurso e entende que “A” é sim parte legítima, ou seja, não havia razão jurídica para o magistrado ter extinguido o processo sem examinar o mérito. Ao invés de mandar o processo de volta à 1ª instância para analisar o mérito, o próprio TJ poderá julgar o mérito da demanda. Para isso, no entanto, a causa tem que versar exclusivamente sobre matéria de direito e deve estar em condições de imediato julgamento. O § 3º do art. 515 é denominado por alguns doutrinadores e julgados de “teoria da causa madura”. Requisitos para aplicação do § 3º do art. 515:

a) O juiz deve ter extinguido o processo sem julgamento do mérito, nos termos do art. 267 do CPC (exceção no caso de prescrição e decadência).

Em regra, para que seja aplicado o § 3º do art. 515, a sentença examinada pelo Tribunal deve ter sido terminativa, ou seja, fundada em um dos incisos do art. 267 do CPC. Vale ressaltar, no entanto, que, se a apelação for interposta contra sentença que reconheceu a prescrição ou a decadência, caso o Tribunal discorde do juiz, também será possível aplicar a teoria da causa madura. mesmo se tratando de matérias elencadas no inciso IV do art. 269 do CPC (neste sentido: REsp 274.736/DF).

b) A parte deve ter interposto recurso de apelação.

O § 3º está ligado ao art. 515, que trata sobre a apelação. Por conta disso, o entendimento majoritário no STJ e STF é o de que a teoria da causa madura somente se aplica quando o Tribunal estiver julgando uma apelação.

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Assim, por exemplo, para a maioria dos julgados do STJ e STF, o § 3º do art. 515 NÃO pode ser adotado pelo Tribunal no julgamento de recurso ordinário contra sentença em mandado de segurança (posição a ser adotada nos concursos). Vale mencionar que o tema é polêmico e que a doutrina critica esta posição, afirmando que a regra deste § 3º pode ser aplicada, por analogia, a outros recursos, como é o caso do recurso ordinário (há decisões da 1ª Turma do STJ neste sentido).

c) A causa em análise deve tratar sobre questão exclusivamente de direito (poderá também ser aplicada se a questão for de direito e de fato, mas não houver necessidade de se produzirem provas).

Cuidado: a redação literal do § 3º exige que a causa verse sobre questão exclusivamente de direito. No entanto, o STJ amplia esta possibilidade e afirma que o mencionado dispositivo deve ser interpretado em conjunto com o art. 330, o qual permite ao magistrado julgar antecipadamente a lide se esta versar unicamente sobre questões de direito ou, "sendo de direito e de fato, não houver necessidade de produzir prova em audiência": “A regra do art. 515, § 3º, do CPC deve ser interpretada em consonância com a preconizada pelo art. 330, I, do CPC, razão pela qual, ainda que a questão seja de direito e de fato, não havendo necessidade de produzir prova (causa madura), poderá o Tribunal julgar desde logo a lide, no exame da apelação interposta contra a sentença que julgara extinto o processo sem resolução de mérito.” (EREsp 874.507/SC, Rel. Min. Arnaldo Esteves Lima, Corte Especial, julgado em 19/06/2013)

d) A causa deve estar em condições de imediato julgamento.

A causa deve estar madura, ou seja, pronta para julgamento imediato, sem que o Tribunal precise tomar qualquer outra providência. Se ainda for necessária qualquer outra providência por parte do Tribunal, não se aplica o § 3º do art. 515 do CPC.

Para que se aplique o § 3º do art. 515 é necessário que a parte recorrente tenha requerido expressamente esta providência quando interpôs o recurso ou o Tribunal poderá aplicar a teoria da causa madura de ofício? A regra prevista no § 3º do art. 515 do CPC pode ser aplicada de ofício pelo Tribunal, ou seja, mesmo que o recorrente não tenha requerido esta providência em seu recurso. Assim, conforme a jurisprudência do STJ, ainda que não exista pedido expresso da parte recorrente, afastada a extinção do processo sem exame do mérito, pode o Tribunal, de imediato, julgar o feito, aplicando-se a teoria da causa madura, nos termos do art. 515, § 3º, do CPC (AgRg no AREsp 93.707/SP, Min. Sidnei Beneti, 3ª Turma, julgado em 05/02/2013). Caso concreto: No caso concreto, a empresa “E” manejou uma ação monitória contra “W” fundada em cheques prescritos. O juiz extinguiu o processo sem resolução do mérito, afirmando que já havia passado o prazo para o ajuizamento da ação monitória (estava prescrita).

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A empresa “E” interpôs apelação e demonstrou que o magistrado contou errado o prazo prescricional. Assim, o Tribunal de Justiça afirmou que realmente a ação monitória não estava prescrita. Indaga-se: o TJ poderia aplicar o § 3º do art. 515 do CPC e julgar o mérito da ação monitória? Em tese sim, considerando que os dois primeiros requisitos estariam presentes (juiz extinguiu o processo por conta de prescrição e a parte interpôs apelação). Ocorre que, no caso concreto, o TJ não poderia desde logo julgar a lide, mediante a aplicação do § 3º do art. 515 do CPC porque a causa não estava madura e havia uma discussão ainda pendente sobre a existência ou não do negócio jurídico subjacente que deu ensejo à emissão dos cheques. Havia dúvida sobre a entrega ou não das mercadorias que deram origem à emissão dos cheques e, em primeira instância, não houve o exercício de contraditório e ampla defesa sobre este tema, já que o magistrado extinguiu o processo pela prescrição. Dessa forma, a resolução do mérito da causa dependia da produção de provas, sendo que as partes não tiveram esta oportunidade em virtude da extinção precipitada do processo. Por essa razão, o STJ determinou o retorno dos autos à 1ª instância para que abra a oportunidade de produção de provas.

Processo STJ. 4ª Turma. REsp 1.082.964-SE, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 5/3/2013.

Embargos de divergência

Não é possível a utilização de decisão monocrática como paradigma em embargos de divergência para comprovação do dissídio jurisprudencial, ainda que naquela decisão se tenha

analisado o mérito da questão controvertida. Comentários Os embargos de divergência são um recurso previsto nos arts. 496, VIII e 546 do CPC, bem

como nos regimentos internos do STF e do STJ. Este recurso possui dois objetivos: 1) Obter a reforma ou anulação do acórdão embargado; 2) Uniformizar a jurisprudência interna do STF e do STJ, evitando que prevaleçam decisões

conflitantes. Só cabem os embargos de divergência contra decisão de:

turma do STJ em julgamento de Recurso especial;

turma do STF em julgamento de Recurso extraordinário. A decisão da turma do STJ deve ter sido divergente em relação ao julgamento de outra turma, da seção ou do órgão especial do STJ. A decisão da turma do STF deve ter sido divergente em relação ao julgamento de outra turma ou do plenário do STF. Ao propor este recurso, o recorrente deverá realizar uma comparação entre o acórdão recorrido e um acórdão paradigma do mesmo Tribunal, provando que o acórdão recorrido foi divergente do acórdão paradigma. Não é possível a utilização de decisão monocrática (quando o Relator decide sozinho) como paradigma em embargos de divergência para comprovação do dissídio jurisprudencial, ainda que naquela decisão se tenha analisado o mérito da questão controvertida. Isso

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porque o acórdão paradigma deve ter sido proferido por turma, seção ou órgão especial. No caso concreto julgado, a parte queria opor embargos de divergência utilizando como paradigma uma decisão proferida monocraticamente pelo Ministro Relator (sem participação da Turma, Seção ou Corte Especial), razão pela qual não foi admitido pelo STJ.

Processo STJ. 3ª Seção. AgRg nos EAREsp 154.021-SP, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em 13/3/2013.

Continência no caso de ações coletivas propostas por entidades distintas

No caso em que duas ações coletivas tenham sido propostas perante juízos de competência territorial distinta contra o mesmo réu e com a mesma causa de pedir e, além disso, o objeto de uma, por ser mais amplo, abranja o da outra, competirá ao juízo da ação de objeto mais amplo o processamento e julgamento das duas demandas, ainda que ambas tenham sido propostas

por entidades associativas distintas. Comentários Em 2009, houve um derramamento de óleo causado pela Petrobrás no litoral da Bahia.

Diante disso, foram propostas duas ações de indenização:

a primeira delas, pela Colônia de Pescadores de São Francisco do Conde/BA, na vara da comarca de São Francisco do Conde/BA, pedindo indenização para os pescadores deste município;

a segunda, ajuizada pela Federação dos Pescadores e Aquicultores da Bahia na Vara Cível de Salvador/BA, pleiteando indenização para os pescadores de diversos municípios, dentre eles os de São Francisco do Conde/BA.

Existe continência ou conexão neste caso? A conexão está prevista no art. 103 do CPC:

Art. 103. Reputam-se conexas duas ou mais ações, quando Ihes for comum o objeto ou a causa de pedir.

A continência, por seu turno, está descrita no art. 104:

Art. 104. Dá-se a continência entre duas ou mais ações sempre que há identidade quanto às partes e à causa de pedir, mas o objeto de uma, por ser mais amplo, abrange o das outras.

Toda continência é também uma conexão. Isso porque em toda continência a causa de pedir é igual e isso já é conexão. Mas, tecnicamente, houve mera conexão ou efetivamente ocorreu continência? No caso concreto, ficou reconhecida a existência de CONTINÊNCIA (art. 104 do CPC). Requisitos da continência: Os requisitos da continência são os seguintes:

Duas ou mais ações;

Partes iguais nas ações;

Causas de pedir iguais nas ações;

O pedido de uma ação abrange o da outra. O polo ativo da segunda ação (proposta em Salvador) é mais amplo e abrange não apenas os pescadores de São Francisco do Conde/BA, mas também de outros municípios. O aspecto subjetivo da litispendência nas ações coletivas deve ser visto sob a ótica dos beneficiários atingidos pelos efeitos da decisão, e não pelo simples exame das partes que

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figuram no polo ativo da demanda. Assim, considera-se que há partes iguais porque os moradores de São Francisco do Conde/BA serão atingidos pelo resultado das duas demandas. Não se considera como partes, para fins de continência, a Colônia e a Federação de pescadores. O objeto (pedido) da segunda ação (proposta em Salvador) é mais amplo que o da primeira, pois abrange indenização não apenas para os pescadores de São Francisco do Conde/BA como também de outros municípios. Quem irá julgar a causa? Competirá ao juízo da ação de objeto mais amplo o processamento e julgamento das duas demandas. Logo, a competência será da Vara de Salvador.

Processo STJ. 4ª Turma. REsp 1.318.917-BA, Rel. Min. Antonio Carlos Ferreira, julgado em 12/3/2013.

Execução provisória em ação coletiva

No âmbito de execução provisória em processo coletivo, para a aplicação da regra constante do art. 475-O, § 2º, I, do CPC (que admite a dispensa de caução para o levantamento de depósito em dinheiro e a prática de atos que importem alienação de propriedade ou dos quais possa

resultar grave dano ao executado), deve o magistrado considerar a situação individual de cada um dos beneficiários.

Comentários Em 2009, houve um derramamento de óleo causado pela Petrobrás no litoral da Bahia. Diante disso, a Federação dos Pescadores da Bahia ajuizou ação coletiva pleiteando, dentre outros pedidos, liminarmente, o pagamento a pescadores de uma quantia de 500 reais a título de "salário", diante dos prejuízos decorrentes da impossibilidade de exercício da atividade pesqueira. A antecipação de tutela foi deferida, com a determinação do pagamento da pensão mensal de 500 reais para cada substituído. É cabível execução provisória em processo coletivo? SIM. É possível execução provisória em processo coletivo, que deverá obedecer as regras previstas no CPC (art. 475-O). Os pescadores poderão sacar este dinheiro depositado pela Petrobrás por força da decisão que concedeu a tutela antecipada? SIM, no entanto, como se trata de uma forma de execução provisória (irão se beneficiar da decisão antes do trânsito em julgado) deverão observar as regras da execução provisória trazidas pelo art. 475-O. No caso de execução provisória de quantia, em regra, a pessoa beneficiada somente poderá levantar o dinheiro depositado pelo executado se prestar uma caução suficiente e idônea, arbitrada de plano pelo juiz. Isso porque, se ao final, a decisão for revertida, o executado terá como ser ressarcido do valor que depositou e foi sacado. Esta previsão está no 475-O, III, do CPC:

Art. 475-O. A execução provisória da sentença far-se-á, no que couber, do mesmo modo que a definitiva, observadas as seguintes normas: III – o levantamento de depósito em dinheiro e a prática de atos que importem alienação de propriedade ou dos quais possa resultar grave dano ao executado dependem de caução suficiente e idônea, arbitrada de plano pelo juiz e prestada nos próprios autos.

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Existe alguma hipótese em que esta caução pode ser dispensada? SIM. A caução poderá ser dispensada nas hipóteses previstas nos incisos do § 2º do art. 475-O: I – na execução provisória de crédito de natureza alimentar ou decorrente de ato ilícito, se o valor não exceder 60 salários-mínimos e desde que o exequente demonstre situação de necessidade; ou II – quando estiver pendente apenas agravo de instrumento contra a decisão que não admitiu recurso especial ou extraordinário, salvo se da dispensa puder resultar risco de grave dano, de difícil ou incerta reparação. Voltando ao caso concreto. Os pescadores poderão sacar o dinheiro depositado pela Petrobrás sem ter que prestar caução? Em outras palavras, poderão executar provisoriamente a decisão sem oferecer caução? SIM. A situação se enquadra no inciso I do § 2º do art. 475-O do CPC, tendo em vista que o valor que cada um irá receber é inferior a 60 salários-mínimos, enquadra-se como verba alimentar e os exequentes são pessoas que passam por situação de necessidade. No âmbito de execução provisória em processo coletivo, para a aplicação da regra constante do art. 475-O, § 2º, I, do CPC, o magistrado deve considerar a situação individual de cada um dos beneficiários.

Processo STJ. 4ª Turma. REsp 1.318.917-BA, Rel. Min. Antonio Carlos Ferreira, julgado em 12/3/2013.

DIREITO PENAL

Princípio da insignificância e existência de outras ações penais em curso

O STJ decidiu que, mesmo sendo o acusado reincidente ou portador de maus antecedentes, deveria ser aplicado o princípio da insignificância no caso da subtração de 11 latas de leite em

pó avaliadas em R$ 76,89 pertencentes a um supermercado. Comentários Princípio da insignificância e outras ações penais

É possível a aplicação do princípio da insignificância para réus reincidentes ou que respondam a outros inquéritos ou ações penais? Trata-se de tema ainda polêmico na jurisprudência do STF e do STJ, havendo decisões recentes nos dois sentidos. Não deveria, portanto, ser cobrado em provas objetivas. No entanto, em se tratando de concursos, tudo é possível. Posição que penso ser a mais segura para as provas (até o presente momento): Em regra, a existência de circunstâncias de caráter pessoal desfavoráveis, tais como o registro de processos criminais em andamento, a existência de antecedentes criminais ou mesmo eventual reincidência NÃO SÃO óbices, por si só, ao reconhecimento do princípio da insignificância. Assim, em tese, é possível aplicar o princípio da insignificância para réus reincidentes ou que respondam a inquéritos ou ações penais. No entanto, existem muitos julgados do STF e do STJ que, no caso concreto, afastam esse princípio pelo fato do réu ser reincidente ou possuir diversos antecedentes de práticas delituosas, o que, segundo alguns Ministros, dá claras demonstrações de ser ele um infrator contumaz e com personalidade voltada à prática delitiva. Nesses casos, aplicar o princípio da insignificância seria um verdadeiro incentivo ao descumprimento da norma legal, especialmente tendo em conta aqueles que fazem da criminalidade um meio de vida.

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Desse modo, de acordo com as peculiaridades do caso concreto, a existência de antecedentes pode demonstrar a reprovabilidade e ofensividade da conduta, o que afastaria o princípio da bagatela. Caso concreto No caso julgado pelo STJ e noticiado neste Informativo, o paciente havia sido condenado pelo furto de 11 latas de leite em pó avaliadas em R$ 76,89 pertencentes a um supermercado. Mesmo sendo o réu reincidente, o STJ entendeu que deveria ser aplicado o princípio da insignificância.

Processo STJ. 6ª Turma. HC 250.122-MG, Rel. Min. Og Fernandes, julgado em 2/4/2013.

Homicídio culposo cometido por médico e causa de aumento do art. 121, § 4º do CP

É possível a aplicação da causa de aumento de pena prevista no art. 121, § 4º, do CP no caso de homicídio culposo cometido por médico e decorrente do descumprimento de regra técnica no

exercício da profissão. Nessa situação, não há que se falar em bis in idem. Comentários Imagine a seguinte situação hipotética (adaptada em relação ao caso concreto):

Dr. M, médico, estava realizando uma cirurgia, no entanto, agiu com desídia (negligência) ao deixar de observar um procedimento médico indispensável ao caso. Em virtude disso, o paciente veio a óbito. Acusação Dr. M foi denunciado pela prática de homicídio culposo (§ 3º do art. 121 do CP), tendo o Ministério Público imputado também a causa de aumento prevista no § 4º do art. 121:

Homicídio culposo § 3º Se o homicídio é culposo: Pena - detenção, de um a três anos. Aumento de pena § 4º No homicídio culposo, a pena é aumentada de 1/3 (um terço), se o crime resulta de inobservância de regra técnica de profissão, arte ou ofício, ou se o agente deixa de prestar imediato socorro à vítima, não procura diminuir as consequências do seu ato, ou foge para evitar prisão em flagrante. Sendo doloso o homicídio, a pena é aumentada de 1/3 (um terço) se o crime é praticado contra pessoa menor de 14 (quatorze) ou maior de 60 (sessenta) anos.

Defesa A defesa argumentou que não se pode utilizar a alegação de que o médico foi negligente para enquadrar sua conduta como homicídio culposo (art. 121, § 3º) e valer-se da mesma alegação (negligência) para dizer que ele não observou regra técnica de profissão, aplicando a causa de aumento do § 4º. Para a defesa, houve bis in idem, tendo em vista que um mesmo fato (“deixar de observar determinado procedimento médico”) foi utilizado para enquadrar a conduta como homicídio culposo e também para fazer incidir a causa de aumento. Em um caso análogo a este, o que decidiu o STJ? A 5ª Turma do STJ, por maioria, decidiu que é possível a aplicação da causa de aumento de pena prevista no art. 121, § 4º, do CP no caso de homicídio culposo cometido por médico e decorrente do descumprimento de regra técnica no exercício da profissão.

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Nessa situação, não há que se falar em bis in idem. Isso porque o legislador, ao estabelecer a circunstância especial de aumento de pena prevista no referido dispositivo legal, pretendeu reconhecer maior reprovabilidade à conduta do profissional que, embora tenha o necessário conhecimento para o exercício de sua ocupação, não o utilize adequadamente, produzindo o evento criminoso de forma culposa, sem a devida observância das regras técnicas de sua profissão. De fato, caso se entendesse caracterizado o bis in idem na situação, ter-se-ia que concluir que essa majorante somente poderia ser aplicada se o agente, ao cometer a infração, incidisse em pelo menos duas ações ou omissões imprudentes ou negligentes, uma para configurar a culpa e a outra para a majorante, o que não seria condizente com a pretensão legal.

Processo STJ. 5ª Turma. HC 181.847-MS, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, Rel. para acórdão Min. Campos Marques (Desembargador convocado do TJ/PR), julgado em 4/4/2013.

DIREITO PROCESSUAL PENAL

Competência no caso de pessoa que “baixa” conteúdo pedófilo da internet

Pessoa que “baixa” da internet e armazena, em computador da escola, vídeos pornográficos envolvendo crianças e adolescentes pratica o delito do art. 241-A, § 1º, I, do ECA, sendo esta

conduta, neste caso concreto, crime de competência da Justiça Estadual. Comentários Imagine a seguinte situação adaptada:

Adriano, funcionário de uma escola municipal, “baixou” da internet, no computador do trabalho, diversas imagens e vídeos pornográficos envolvendo crianças e adolescentes. Qual crime praticou Adriano? O STJ reconheceu que ele praticou, em tese, o delito previsto no art. 241-A, § 1º, I, do ECA:

Art. 241-A. Oferecer, trocar, disponibilizar, transmitir, distribuir, publicar ou divulgar por qualquer meio, inclusive por meio de sistema de informática ou telemático, fotografia, vídeo ou outro registro que contenha cena de sexo explícito ou pornográfica envolvendo criança ou adolescente: (Incluído pela Lei nº 11.829, de 2008) Pena – reclusão, de 3 (três) a 6 (seis) anos, e multa. § 1º Nas mesmas penas incorre quem: I – assegura os meios ou serviços para o armazenamento das fotografias, cenas ou imagens de que trata o caput deste artigo;

O juiz de direito declinou a competência para a Justiça Federal, alegando que o Brasil é signatário da Convenção sobre Direitos da Criança, adotada pela Assembleia Geral das Nações Unidas, aprovada pelo Decreto legislativo 28/90 e pelo Decreto 99.710/90. Logo, a competência seria federal, nos termos do art. 109, V, da CF/88:

Art. 109. Aos juízes federais compete processar e julgar: (...) V - os crimes previstos em tratado ou convenção internacional, quando, iniciada a execução no País, o resultado tenha ou devesse ter ocorrido no estrangeiro, ou reciprocamente;

A decisão declinatória do juiz de direito foi acertada? NÃO. Para que o delito seja de competência da Justiça Federal com base neste inciso V do art. 109 são necessários três requisitos: a) Previsão do fato como crime no Brasil; b) Compromisso de combater este crime assumido pelo Brasil em tratado ou convenção

internacional; e

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c) Relação de internacionalidade. A relação de internacionalidade ocorre quando: • iniciada a execução do crime no Brasil, o resultado tenha ou devesse ter ocorrido no

estrangeiro; • iniciada a execução do crime no estrangeiro, o resultado tenha ou devesse ter ocorrido

no Brasil. Desse modo, não é suficiente que o crime esteja previsto em tratado ou convenção internacional para ser julgado pela Justiça Federal. No caso concreto, o delito do art. 241-A do ECA é um crime que o Brasil, por meio de tratado internacional, comprometeu-se a reprimir, considerando que somos signatários da Convenção sobre Direitos da Criança, adotada pela Assembleia Geral das Nações Unidas, aprovada pelo Decreto legislativo 28/90 e pelo Decreto 99.710/90. Logo, estão preenchidos os dois primeiros requisitos (letras “a” e “b”). Por outro lado, não se verifica a existência de relação de internacionalidade. Isso porque o agente fez o download das imagens para o computador e não as repassou para nenhum destinatário fora do país nem as disponibilizou em uma página da internet onde pudessem ser acessadas por quaisquer pessoas do mundo. Assim, o material de conteúdo pornográfico, após ter sido obtido pelo agente, não ultrapassou os limites da escola (ficou restrito àquele computador). Apesar da origem das imagens e vídeos ser da Internet, não há indícios de que o investigado tenha divulgado ou publicado o material pornográfico além das fronteiras nacionais, restringindo-se sua conduta a manter os arquivos no computador da escola. Em suma, trata-se de delito da competência da JUSTIÇA ESTADUAL.

Processo STJ. 3ª Seção. CC 103.011-PR, Rel. Min. Assusete Magalhães, julgado em 13/3/2013.

Execução penal e prisão domiciliar

Se não existir Casa do Albergado na localidade ou se não houver mais vagas, o que acontece com o condenado? Se não existe Casa do Albergado ou não há mais vagas disponíveis, o condenado deverá cumprir a pena em prisão domiciliar. Trata-se de uma hipótese de prisão domiciliar não prevista no art. 117 da LEP, mas concedida em homenagem aos princípios da dignidade da pessoa humana, da humanidade da pena e da individualização da pena. Se existir Casa do Albergado na localidade, mas as suas condições forem precárias, além de haver superlotação de presos, o condenado poderá ir para prisão domiciliar? 1ª corrente: SIM. 6ª Turma do STJ. 2ª corrente: NÃO. 5ª Turma do STJ. Comentários Prisão domiciliar do CPP x Prisão domiciliar da LEP

Vale ressaltar que o tema “prisão domiciliar” é tratado tanto no CPP como na LEP, sendo, contudo, institutos diferentes, conforme se passa a demonstrar:

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PRISÃO DOMICILIAR DO CPP PRISÃO DOMICILIAR DA LEP

Arts. 317 e 318 do CPP. Art. 117 da LEP.

O CPP, ao tratar da prisão domiciliar, está se referindo à possibilidade do réu, ao invés de ficar em prisão preventiva, permanecer recolhido em sua residência.

A LEP, ao tratar da prisão domiciliar, está se referindo à possibilidade da pessoa já condenada cumprir a sua pena privativa de liberdade na própria residência.

Trata-se de uma medida cautelar que substitui a prisão preventiva pelo recolhimento da pessoa em sua residência.

Trata-se, portanto, da execução penal (cumprimento da pena) na própria residência.

Hipóteses (importante): O juiz poderá substituir a prisão preventiva pela domiciliar quando o agente for: I - maior de 80 anos; II - extremamente debilitado por motivo de doença grave; III - imprescindível aos cuidados especiais de pessoa menor de 6 anos de idade ou com deficiência; IV - gestante a partir do 7º (sétimo) mês de gravidez ou sendo esta de alto risco. Obs: os magistrados, membros do MP, da Defensoria e da advocacia têm direito à prisão cautelar em sala de Estado-Maior. Caso não exista, devem ficar em prisão domiciliar.

Hipóteses (importante): O preso que estiver cumprindo pena no regime aberto poderá ficar em prisão domiciliar quando se tratar de condenado(a): I - maior de 70 anos; II - acometido de doença grave; III - com filho menor ou deficiente físico ou mental; IV - gestante.

O juiz pode determinar que a pessoa fique usando uma monitoração eletrônica.

O juiz pode determinar que a pessoa fique usando uma monitoração eletrônica.

O julgado aqui noticiado refere-se à prisão domiciliar da LEP. Como vimos, as hipóteses da prisão domiciliar da LEP estão previstas no art. 117, sendo destinadas a condenados que estejam cumprindo pena no regime aberto. Algumas perguntas sobre o tema: 1ª) Onde o condenado cumpre pena no regime aberto? Na Casa do Albergado (art. 93 da LEP). 2º) Se não existir Casa do Albergado na localidade ou se não houver mais vagas, o que acontece com o condenado? A jurisprudência afirma que, se não existe Casa do Albergado ou não há mais vagas disponíveis, o condenado deverá cumprir a pena em prisão domiciliar (STF HC 96169). Trata-se de uma hipótese de prisão domiciliar não prevista no art. 117 da LEP, mas concedida em homenagem aos princípios da dignidade da pessoa humana, da humanidade da pena e da individualização da pena.

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O reeducando que esteja no regime aberto deverá cumprir pena em casa de albergado ou estabelecimento adequado. Caso não exista casa de albergado na cidade ou se existir, mas não houver vagas, este condenado deverá cumprir a pena em prisão domiciliar até que surja vaga. STJ. 6ª Turma. HC 216.828-RS, Rel. Min. Maria Thereza de Assis Moura, julgado em 2/2/2012.

3º) Se existir Casa do Albergado na localidade, mas as suas condições forem precárias, além de haver superlotação de presos, o condenado poderá ir para prisão domiciliar?

1ª corrente: SIM. 6ª Turma do STJ.

2ª corrente: NÃO. 5ª Turma do STJ.

(...) A superlotação e a precariedade do estabelecimento penal, é dizer, a ausência de condições necessárias ao cumprimento da pena em regime aberto, permite ao condenado a possibilidade de ser colocado em prisão domiciliar, até que solvida a pendência (...) (HC 248.358/RS, Min. Maria Thereza de Assis Moura, 6ª Turma, j. 11/04/2013)

Os argumentos de superlotação e de precárias condições da casa de albergado não permitem, por si sós, a concessão do benefício pleiteado. (HC 240.715/RS, Rel. Min. Laurita Vaz, 5ª Turma, julgado em 23/04/2013)

4º) É possível a concessão de prisão domiciliar a pessoa que esteja cumprindo pena em regime fechado ou semiaberto? Pela literalidade da LEP, somente teria direito à prisão domiciliar a pessoa condenada ao regime aberto que se enquadrasse em uma das hipóteses do art. 117 da LEP. No entanto, em hipóteses excepcionais, a jurisprudência tem autorizado que condenados que estejam no regime fechado ou semiaberto possam ter direito à prisão domiciliar desde que:

sejam portadores de doença grave; e

fique demonstrada a impossibilidade de receberem o tratamento adequado no estabelecimento prisional onde cumprem pena.

(...) A jurisprudência tem admitido a concessão da prisão domiciliar aos condenados que se encontram em regime semiaberto e fechado, em situações excepcionalíssimas, como no caso de portadores de doença grave, desde que comprovada a impossibilidade da assistência médica no estabelecimento prisional em que cumprem sua pena. (...) (HC 244.540/GO, Min. Maria Thereza de Assis Moura, Sexta Turma, julgado em 21/05/2013)

Processo STJ. 5ª Turma. HC 240.715-RS, Rel. Min. Laurita Vaz, julgado em 23/4/2013.

DIREITO TRIBUTÁRIO

IPTU e unidades autônomas

O Fisco, verificando a divisão do imóvel preexistente em unidades autônomas, pode cobrar o IPTU sobre as novas unidades autônomas, mesmo que estas ainda não tenham sido

previamente registradas no cartório de imóveis. Comentários Imagine a seguinte situação adaptada:

O imóvel “X”, localizado na zona urbana do Município, medindo 1200m2, possuía matrícula e estava devidamente inscrito no Registro de Imóveis.

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Vale ressaltar que incidia IPTU sobre o referido imóvel. O proprietário deste bem decidiu desmembrá-lo em três outros imóveis de 400m2. Para isso, ele dividiu fisicamente o imóvel em três, construindo muros separando os terrenos.

Segundo a Lei de Registros Públicos (Lei n. 6.015/73), o desmembramento tem que ser averbado na matrícula do imóvel originário, resultando na abertura de tantas matrículas quantos forem os imóveis dele resultantes. Em outras palavras, o proprietário deverá requerer o encerramento da matrícula mãe e a instituição de três matrículas novas. Antes que o proprietário fizesse tais alterações no registro do imóvel, o Fisco municipal, percebendo a modificação, efetuou o lançamento e cobrança de três IPTU’s, um sobre cada imóvel desmembrado. O proprietário do imóvel se insurgiu contra isso, alegando que somente após o registro imobiliário do desmembramento do imóvel é que o IPTU poderia incidir sobre cada área individualizada, deixando de recair sobre a área matriz. Em outros termos, argumentou que, enquanto houvesse apenas uma matrícula em relação ao imóvel, somente um IPTU deveria ser cobrado. A questão chegou até o STJ. O que foi decidido? O STJ decidiu que o Fisco, verificando a divisão do imóvel preexistente em unidades autônomas, pode cobrar o IPTU sobre as novas unidades autônomas, mesmo que estas ainda não tenham sido previamente registradas no cartório de imóveis. O art. 32 do CTN estabelece que o fato gerador do IPTU é a propriedade, o domínio útil ou a posse do imóvel:

Art. 32. O imposto, de competência dos Municípios, sobre a propriedade predial e territorial urbana tem como fato gerador a propriedade, o domínio útil ou a posse de bem imóvel por natureza ou por acessão física, como definido na lei civil, localizado na zona urbana do Município.

O art. 34, por sua vez, estabelece que o contribuinte do IPTU é o proprietário, o titular do seu domínio útil ou o seu possuidor a qualquer título. A partir da análise desses dois dispositivos, o STJ chegou à conclusão de que é dispensável a exigência de prévio registro imobiliário das novas unidades para que se proceda ao lançamento do IPTU individualizado, uma vez que basta a configuração da posse de bem imóvel para dar ensejo à exação. Para que haja cobrança do IPTU basta que se verifique que foram acrescidas unidades autônomas ao imóvel, uma vez que os impostos reais (como é o caso do IPTU e do ITBI referem-se aos bens autonomamente considerados (REsp 722.752/RJ, Rel. Min. Herman Benjamin, Segunda Turma, DJe 11/11/2009).

Processo STJ. 1ª Turma. REsp 1.347.693-RS, Rel. Min. Benedito Gonçalves, julgado em 11/4/2013.

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DIREITO PREVIDENCIÁRIO

Aposentadoria por invalidez

A concessão da aposentadoria por invalidez deve considerar não apenas os elementos previstos no art. 42 da Lei nº 8.213/91, mas também aspectos socioeconômicos, profissionais e culturais do segurado, ainda que o laudo pericial tenha concluído pela incapacidade somente

parcial para o trabalho. Comentários O que é a aposentadoria por invalidez?

A aposentadoria por invalidez é concedida à pessoa que for considerada incapaz para o trabalho e insusceptível de reabilitação para o exercício de outra atividade que lhe garanta

a subsistência, sendo-lhe paga enquanto permanecer nesta condição (art. 42 da Lei n. 8.213/91). Como é comprovada esta incapacidade? A pessoa deverá ser submetida a exame médico-pericial, a cargo da Previdência Social (exame feito por médico habilitado e registrado no INSS), podendo o segurado, às suas expensas, fazer-se acompanhar de médico de sua confiança (§ 1º do art. 42). No caso da concessão do benefício estar sendo discutida judicialmente, o juiz poderá nomear um médico para realizar a perícia. Para que seja concedida esta espécie de aposentadoria, é necessário que a invalidez seja total? Em outras palavras, para ter direito à aposentadoria, o segurado deve estar inválido para toda e qualquer atividade laboral ou basta que esteja inválido para o trabalho que desempenhava anteriormente? Para a concessão da aposentadoria por invalidez, é necessário que a invalidez seja total e permanente e que não haja possibilidade do segurado ser reabilitado para exercer outra atividade laborativa, compatível com sua condição de saúde.

Aposentadoria por invalidez = invalidez total e permanente + impossibilidade de reabilitação

Diante disso, podemos concluir:

Se a invalidez for parcial e for possível a reabilitação do segurado em outra atividade, não será concedida a aposentadoria por invalidez;

Ao contrário, se a invalidez for parcial, mas a reabilitação do segurado se mostrar inviável, deverá ser concedida a aposentadoria por invalidez.

A avaliação da invalidez e da (im)possibilidade de reabilitação deverá ser feita com base nas peculiaridades do caso concreto, levando-se em consideração os aspectos socioeconômicos, profissionais e culturais do segurado. Vejamos: Situação 1: Vitor, 20 anos de idade, ensino médio completo, era motorista de uma empresa privada em uma grande capital. Sofreu um acidente e ficou paraplégico. Trata-se de incapacidade parcial. Vitor poderá ser reabilitado para exercer outra atividade remunerada (exs: balconista, telefonista, atividades intelectuais etc.). Logo, não terá direito à aposentadoria por invalidez porque se mostra viável a sua reabilitação para que desempenhe outra profissão. Invalidez parcial e impossibilidade de reabilitação: Situação 2: João, 50 anos de idade, apenas alfabetizado, foi motorista de caminhão durante toda a sua vida profissional em uma pequena cidade do interior, nunca tendo tido outra

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ocupação. Sofreu um acidente e ficou paraplégico. Trata-se de incapacidade parcial. Ocorre que, analisando os aspectos socioeconômicos, profissionais e culturais do segurado (idade, nível de escolaridade e experiência), percebe-se que é inviável a sua reabilitação para exercer outra atividade remunerada. Logo, terá direito à aposentadoria por invalidez. Neste mesmo sentido, podemos citar a Súmula 47 da TNU:

Súmula 47-TNU: Uma vez reconhecida a incapacidade parcial para o trabalho, o juiz deve analisar as condições pessoais e sociais do segurado para a concessão de aposentadoria por invalidez.

Assim, a jurisprudência do STJ é firme no sentido de que o magistrado não está adstrito ao laudo, devendo considerar também aspectos socioeconômicos, profissionais e culturais do segurado a fim de examinar se será possível, ou não, seu retorno ao trabalho, ou a sua inserção no mercado de trabalho, mesmo porque a invalidez laborativa não é meramente o resultado de uma disfunção orgânica, mas uma somatória das condições de saúde e pessoais de cada indivíduo (AgRg no AREsp 81.329/PR, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, Quinta Turma, julgado em 14/2/2012).

Processo STJ. 2ª Turma. AgRg no AREsp 283.029-SP, Rel. Min. Humberto Martins, julgado em 9/4/2013.

Desaposentação

É possível a renúncia à aposentadoria por tempo de serviço (desaposentação) objetivando a concessão de novo benefício mais vantajoso da mesma natureza (reaposentação), com o

cômputo dos salários de contribuição posteriores à aposentadoria anterior, não sendo exigível, nesse caso, a devolução dos valores recebidos em razão da aposentadoria anterior.

Para o STJ, a aposentadoria, assim como os demais benefícios previdenciários, é um direito patrimonial disponível e, portanto, suscetível de desistência pelos seus titulares, prescindindo-se da devolução dos valores recebidos da aposentadoria a que o segurado deseja preterir para

a concessão de novo e posterior jubilamento. Comentários DESAPOSENTAÇÃO

Conceito A desaposentação consiste no ato do segurado de renunciar a aposentadoria que recebe a fim de que possa requerer uma nova aposentadoria (reaposentação), desta vez mais vantajosa, no mesmo regime previdenciário ou em outro.

Hipóteses mais comuns O pedido de desaposentação ocorre normalmente nos casos em que a pessoa se aposenta, mas continua trabalhando e, portanto, contribuindo. Assim, este tempo de contribuição após a primeira aposentadoria, se computado, gerará um provento maior, o que justifica a renúncia ao benefício que a pessoa está recebendo para que possa formular novo pedido de aposentação. É possível também que um aposentado pelo regime geral (INSS) faça um concurso e depois de anos trabalhando no cargo público concursado requeira a renúncia do benefício no regime geral para requerer uma nova aposentadoria no regime próprio dos servidores públicos utilizando o tempo de contribuição anterior.

Mas a pessoa aposentada que estiver trabalhando deve pagar contribuição previdenciária? SIM. O aposentado pelo Regime Geral de Previdência Social (RGPS) que estiver exercendo ou que voltar a exercer atividade remunerada é segurado obrigatório em relação a essa atividade, ficando sujeito ao pagamento de contribuição previdenciária, para fins de custeio

da Seguridade Social (§ 3º do art. 11 da Lei n. 8.213/91).

ATENÇÃO Concursos federais

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O INSS aceita o pedido de desaposentação? NÃO. Para o INSS, a desaposentação não possui previsão legal expressa. Ao contrário,

segundo a autarquia previdenciária, isto seria vedado pelo § 2º do art. 18 da Lei n. 8.213/91 e pelo art. 181-B do Regulamento da Previdência Social:

Lei n. 8.213/91: Art. 18 (...) § 2º O aposentado pelo Regime Geral de Previdência Social–RGPS que permanecer em atividade sujeita a este Regime, ou a ele retornar, não fará jus a prestação alguma da Previdência Social em decorrência do exercício dessa atividade, exceto ao salário-família e à reabilitação profissional, quando empregado.

Decreto n. 3.048/99: Art. 181-B. As aposentadorias por idade, tempo de contribuição e especial concedidas pela previdência social, na forma deste Regulamento, são irreversíveis e irrenunciáveis.

Assim, se o segurado formular requerimento administrativo de desaposentação, ele será negado. “Ação de desaposentação” Como o INSS não admite administrativamente, os segurados passaram a ajuizar uma ação judicial postulando a desaposentação. Posições existentes a respeito do tema: Há muita polêmica se a desaposentação deve ou não ser aceita, existindo três correntes principais sobre o tema:

1ª) Não se admite a desaposentação.

2ª) Admite-se a desaposentação, mas para que o segurado tenha direito a nova aposentadoria será necessário que devolva os proventos recebidos enquanto esteve aposentado.

3ª) Admite-se a desaposentação e o segurado não precisa devolver os proventos que já recebeu enquanto esteve aposentado.

Posição do INSS. Julgado da TNU (Proc. 2007.83.00.505010-3).

Posição do STJ.

Recurso repetitivo no STJ A fim de que houvesse uma definição quanto ao tema, o STJ, por meio da 1ª Seção (1ª e 2ª Turmas), analisou o tema, sob o regime de recurso repetitivo. O que decidiu a Corte?

É POSSÍVEL a renúncia à aposentadoria por tempo de serviço (desaposentação) objetivando a concessão de novo benefício mais vantajoso da mesma natureza (reaposentação), com o cômputo dos salários de contribuição posteriores à aposentadoria anterior, não sendo exigível, nesse caso, a devolução dos valores recebidos em razão da aposentadoria anterior. Para o STJ, a aposentadoria, assim como os demais benefícios previdenciários, é um direito patrimonial disponível e, portanto, suscetível de desistência pelos seus titulares, prescindindo-se da devolução dos valores recebidos da aposentadoria a que o segurado deseja preterir para a concessão de novo e posterior jubilamento. (REsp 1334488/SC, Rel. Min. Herman Benjamin, Primeira Seção, julgado em 08/05/2013)

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Em suma, o STJ confirmou que adota a 3ª corrente acima exposta. Como a decisão do STJ foi tomada em sede de recurso repetitivo, este entendimento terá que ser adotado pela TNU (Turma Nacional de Uniformização dos Juizados Especiais Federais) e pelos Tribunais Regionais Federais. Existe um prazo para que o segurado possa requerer a desaposentação? SIM. Segundo a 2ª Turma do STJ, deverá ser aplicado o prazo decadencial de 10 anos,

previsto no art. 103 da Lei n. 8.213/91 (AgRg no REsp 1.305.914, julgado em 16/08/2012). O STF já possui decisões sobre a desaposentação? NÃO. O STF começou a analisar o tema, tendo o Min. Marco Aurélio proferido voto favorável à desaposentação. O julgamento foi suspenso em virtude de pedido de vista do Min. Dias Toffoli (RE 381.367/RS – Informativo 600).

Processo STJ. 1ª Seção. REsp 1.334.488-SC, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em 8/5/2013 (recurso repetitivo)

Necessidade de prévio requerimento administrativo para ajuizamento de ação previdenciária

Para que o segurado ajuíze ação pleiteando a concessão de benefício previdenciário é

indispensável que tenha formulado previamente requerimento administrativo?

NÃO. É dispensado o prévio requerimento administrativo. É a posição majoritária do STF e STJ.

Obs: para a 2ª Turma do STJ, o prévio requerimento administrativo é indispensável,

salvo quando se tratar de matéria em que haja resistência notória por parte do INSS ao pedido formulado. Trata-se também da tese institucional dos Procuradores do INSS.

Tema proposto

A grande maioria das ações propostas contra o INSS objetivando benefícios previdenciários é de competência dos Juizados Especiais Federais (JEF). No JEF, o autor não precisa de advogado e não paga custas em 1ª instância. Diante disso, é muito comum que o segurado, sem que requeira administrativamente o benefício previdenciário em um dos postos do INSS, opte por já ajuizar direto uma ação judicial no JEF pedindo a concessão da aposentadoria, por exemplo. Esta prática é admitida? O segurado ou dependente pode ingressar com a ação judicial pleiteando a prestação previdenciária mesmo sem ter feito previamente requerimento administrativo no INSS? Haveria neste caso falta de interesse de agir em razão de não ter sido negado o pedido na via administrativa?

Posição majoritária no STF e STJ

O prévio requerimento administrativo é DISPENSÁVEL. (...) Conforme a jurisprudência reiterada do STJ, é desnecessário o prévio requerimento administrativo para o ajuizamento de ação que vise a implementação ou revisão de benefício previdenciário. (...) (AgRg no AREsp 119.366/RS, Min. Benedito Gonçalves, Primeira Turma, julgado em 18/04/2013) (...) é firme a compreensão da Terceira Seção no sentido da desnecessidade de prévio requerimento administrativo como condição para a propositura de ação que vise à concessão de benefício previdenciário. (...) (EDcl no AgRg no REsp 1.137.447/RS, Rel. Min. Og Fernandes, Sexta Turma, DJe de 07/02/2013).

ATENÇÃO Concursos Federais

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(...) 1. A jurisprudência desta nossa Corte firmou-se no sentido de ser desnecessário para o ajuizamento de ação previdenciária o prévio requerimento administrativo do benefício à autarquia federal. Precedentes. (...) (RE 549055 AgR, Rel. Min. Ayres Britto, Segunda Turma, julgado em 05/10/2010)

Posição da 2ª Turma do STJ e do INSS

Regra: Para a 2ª Turma do STJ, em regra, o segurado/dependente somente pode ajuizar a ação judicial pleiteando a concessão do benefício previdenciário, se anteriormente formulou requerimento administrativo junto ao INSS. Assim, em regra, o ajuizamento da ação de concessão de benefício da seguridade social reclama (exige) que tenha havido prévio requerimento administrativo. Caso seja proposta a ação sem que tenha havido prévio requerimento administrativo deverá o juiz extinguir o processo sem resolução do mérito por ausência de interesse de agir, considerando que havia a possibilidade de seu pedido ter sido atendido pelo INSS na via administrativa. Se o INSS, contudo, contesta o mérito da ação, afirmando que o autor não tem direito, não deverá o juiz extinguir o processo porque restou claro que a autarquia previdenciária não aceitaria o pedido também na via administrativa. Exceção: A ação pode ser proposta diretamente pelo autor, ou seja, sem a necessidade de prévio requerimento administrativo, nas hipóteses em que é notório que o INSS não admite aquele tipo de pedido na via administrativa. É o caso, por exemplo, da desaposentação. O segurado poderá ajuizar diretamente a ação de desaposentação (mesmo que não tenha formulado pedido na via administrativa) porque é sabido por todos que o INSS não admite esta tese. Logo, é patente que o autor tem interesse na demanda. Em suma, o prévio requerimento administrativo é indispensável para o ajuizamento da ação judicial em que se objetive a concessão de benefício previdenciário quando se tratar de matéria em que não haja resistência notória por parte do INSS à pretensão do beneficiário. (...) A Segunda Turma desta Corte firmou o entendimento de que o interesse processual do segurado e a utilidade da prestação jurisdicional concretizam-se nas seguintes hipóteses: recusa de recebimento do requerimento; negativa de concessão do benefício previdenciário, seja pelo concreto indeferimento do pedido, seja pela notória resistência da autarquia à tese jurídica esposada. (...) (AgRg no AREsp 283.743/AL, Rel. Min. Castro Meira, Segunda Turma, julgado em 16/04/2013)

Processo STJ. 2ª Turma. AgRg no REsp 1.341.269-PR, Rel. Min. Castro Meira, julgado em 9/4/2013.

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EXERCÍCIOS DE FIXAÇÃO

Julgue os itens a seguir: 1) (Juiz Federal TRF1 2011 CESPE) O estabelecimento bancário não é responsável pelo pagamento de

cheque falso, ressalvadas as hipóteses de culpa exclusiva ou concorrente do correntista. ( ) 2) (Juiz TJAC 2012 CESPE) O CDC determina explicitamente que a interpretação das cláusulas contratuais

seja mais favorável ao consumidor, estando, por isso, em dissonância com o princípio constitucional da isonomia. ( )

3) (Juiz TJAC 2012 CESPE) Considere a seguinte situação hipotética. Márcio, servidor público estadual, inconformado com ato tido por ilegal de secretário de Estado, que, sem justificativa, indeferiu o seu pedido de férias, resolveu impetrar, no tribunal de justiça competente, mandado de segurança contra essa decisão administrativa. Nesse colegiado, houve acórdão acolhendo a preliminar, de forma que a ação mandamental se extinguiu sem resolução de mérito. Inconformado, o impetrante propôs recurso ordinário, oportunidade em que o STJ superou a preliminar e adentrou ao mérito do pedido. Nessa situação hipotética, agiu acertadamente o STJ, com base em previsão do CPC, segundo a qual, nos casos de extinção do processo sem julgamento de mérito, o tribunal pode julgar desde logo a lide, se a causa versar sobre questão exclusivamente de direito e estiver em condições de imediato julgamento. ( )

4) (Juiz TJMG 2012 VUNESP) A Lei n.º 12.403/11 inovou ao prever outra modalidade de medida cautelar, que consiste na prisão domiciliar. Com relação às hipóteses de aplicação da prisão domiciliar, como substitutiva da prisão preventiva, conforme a lei citada, assinale a alternativa correta. A) Para a gestante a partir do 6.º (sexto) mês de gestação, independentemente de risco para a gravidez. B) Quando o acusado ou indiciado for paraplégico. C) Quando o agente for imprescindível para os cuidados especiais de pessoa menor de 7 (sete) anos de idade. D) Quando o indiciado ou acusado for maior de 80 (oitenta) anos de idade.

5) (MP/AL 2012 FCC) o juiz poderá substituir a prisão preventiva pela domiciliar quando o agente for imprescindível aos cuidados especiais de pessoa de até sete anos de idade. ( )

6) (MP/AL 2012 FCC) A prisão domiciliar consiste no recolhimento do indiciado ou acusado em sua residência, só podendo dela ausentar-se com autorização judicial. ( )

7) (Juiz Federal TRF2 2009 CESPE) Incumbe ao Estado aparelhar-se visando à observância das decisões judiciais. Se não houver meios de assegurar o cumprimento da pena em regime semiaberto, ocorre a transformação em aberto e, se inexistente casa do albergado, em prisão domiciliar. ( )

8) (DPE/RR 2013 CESPE) A concessão de aposentadoria por invalidez depende da verificação da condição de incapacidade do segurado mediante exame médico-pericial a cargo da assistência social, podendo o segurado, às suas expensas, fazer-se acompanhar, durante a avaliação, de médico de sua confiança. ( )

9) (Juiz Federal TRF2 2011 CESPE) A respeito da aposentadoria por invalidez no âmbito do RGPS, a jurisprudência do STJ reconhece que a concessão desse benefício deve considerar tão somente os elementos jurídicos previstos na Lei n.º 8.213/1991 e abster-se da análise dos aspectos socieconômicos, profissionais e culturais do segurado. ( )

10) (Juiz Federal TRF5 2009 CESPE) O STJ firmou entendimento no sentido de que o prévio requerimento na esfera administrativa é condição para propositura da ação de natureza previdenciária, uma vez que a prestação jurisdicional só se justifica mediante a comprovação do conflito de interesses. ( )

11) (Juiz Federal TRF3 2011 CESPE) O prévio requerimento administrativo de prorrogação de auxílio-doença é requisito para o ajuizamento de ação em que se pleiteie o restabelecimento do benefício previdenciário, importando sua ausência na extinção do processo sem resolução de mérito. ( )

12) (Procurador BACEN 2009 CESPE) Eurico obteve aposentadoria proporcional no âmbito do RGPS, mas continuou trabalhando e contribuindo para o INSS e, posteriormente, requereu à autarquia a utilização desse tempo para conseguir a aposentadoria integral. Nessa situação, a jurisprudência do STJ admite tal possibilidade, desde que Eurico devolva os benefícios já recebidos. ( )

Gabarito

1. E 2. E 3. E 4. Letra D 5. E 6. C 7. C 8. E 9. E 10. E 11. E 12. E

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JULGADOS QUE NÃO FORAM COMENTADOS POR SEREM DE POUCA (OU DE NENHUMA) RELEVÂNCIA PARA CONCURSOS PÚBLICOS

DIREITO CIVIL. LEGITIMIDADE DO CESSIONÁRIO PARA DISCUTIR EM JUÍZO QUESTÕES ENVOLVENDO MÚTUO HABITACIONAL COM COBERTURA DO FCVS CELEBRADO ATÉ 25/10/1996. RECURSO REPETITIVO (ART. 543-C DO CPC E RES. 8/2008-STJ). Tratando-se de contrato de mútuo habitacional garantido pelo Fundo de Compensação de Variações Salariais, celebrado até 25/10/1996 e transferido sem a intervenção da instituição financeira, o cessionário possui legitimidade para discutir e demandar em juízo questões pertinentes às obrigações assumidas e aos direitos adquiridos. Isso porque, nos termos da legislação pertinente, é possível a regularização do referido contrato de cessão de direitos — conhecido como “contrato de gaveta” —, o que implica afirmar que, nesses casos, o cessionário é equiparado ao mutuário, possuindo, portanto, legitimidade para discutir e demandar em juízo questões pertinentes às obrigações assumidas e aos direitos adquiridos. Com efeito, o art. 20, caput, da Lei 10.150/2000 estabelece que as “transferências no âmbito do SFH, à exceção daquelas que envolvam contratos enquadrados nos planos de reajustamento definidos pela Lei 8.692, de 28 de julho de 1993, que tenham sido celebradas entre o mutuário e o adquirente até 25 de outubro de 1996, sem a interveniência da instituição financiadora, poderão ser regularizadas” nos termos daquela lei. Nesse contexto, os arts. 22 da Lei 10.150/2000 e 2º da Lei 8.004/1990 (com redação dada pela Lei 10.150/2000) determinam que, diante da existência de cláusula de cobertura de eventual saldo devedor residual pelo FCVS, a transferência se dá mediante a substituição do devedor, mantidas para o novo mutuário as mesmas condições e obrigações do contrato original. Cumpre destacar, ademais, que essa possibilidade de equiparação do cessionário à condição de mutuário se deve ao fato de que, no caso de contratos com cobertura do FCVS, o risco imposto à instituição financeira é apenas relacionado ao pagamento das prestações pelo cessionário, porquanto o saldo devedor residual será garantido pelo Fundo. Precedentes citados: REsp 986.873-RS, Segunda Turma, DJ 21/11/2007, e REsp 627.424-PR, Primeira Turma, DJ 28/5/2007. REsp 1.150.429-CE, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 25/4/2013.

DIREITO CIVIL. ILEGITIMIDADE DO CESSIONÁRIO PARA DISCUTIR EM JUÍZO QUESTÕES ENVOLVENDO MÚTUO HABITACIONAL SEM COBERTURA DO FCVS CELEBRADO ATÉ 25/10/1996. RECURSO REPETITIVO. Tratando-se de contrato de mútuo habitacional sem cobertura do Fundo de Compensação de Variações Salariais, celebrado até 25/10/1996, transferido sem a anuência do agente financiador e fora das condições estabelecidas pela Lei 10.150/2000, o cessionário não tem legitimidade ativa para ajuizar ação postulando a revisão do respectivo contrato. Isso porque, nos termos da legislação pertinente, não é possível a regularização do referido contrato de cessão de direitos — conhecido como “contrato de gaveta” —, o que implica afirmar que, nesses casos, o cessionário não pode ser equiparado ao mutuário e, portanto, não possui legitimidade para postular em juízo a revisão do respectivo contrato. Com efeito, o art. 20, caput, da Lei 10.150/2000 estabelece que as “transferências no âmbito do SFH, à exceção daquelas que envolvam contratos enquadrados nos planos de reajustamento definidos pela Lei 8.692, de 28 de julho de 1993, que tenham sido celebradas entre o mutuário e o adquirente até 25 de outubro de 1996, sem a interveniência da instituição financiadora, poderão ser regularizadas” nos termos daquela lei. Contudo, os arts. 23 da Lei 10.150/2000 e 3º da Lei 8.004/1990 (com redação dada pela Lei 10.150/2000) determinam que, diante da inexistência de cláusula de cobertura de eventual saldo devedor residual pelo FCVS, a transferência de direitos e obrigações referentes ao imóvel financiado pelo SFH não é automática e somente ocorrerá a critério da instituição financeira, que estabelecerá novas condições para o ajuste, de modo que o terceiro adquirente só terá legitimidade ativa para ajuizar ação relacionada ao mencionado contrato de cessão se o agente financeiro tiver concordado com a transação. Cumpre destacar, ademais, que essas transferências dependem da anuência da instituição financiadora, segundo seu critério e mediante novas condições financeiras, na medida em que a lei não impôs a ela o risco de arcar com o saldo devedor residual da transação — diferentemente do que ocorreria caso houvesse cobertura do FCVS, situação em que o saldo devedor seria garantido pelo Fundo. Precedente citado: REsp 1.171.845-RJ, Quarta Turma, DJe 18/5/2012. REsp 1.150.429-CE, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 25/4/2013.

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DIREITO CIVIL. ILEGITIMIDADE DO CESSIONÁRIO PARA DISCUTIR EM JUÍZO QUESTÕES ENVOLVENDO MÚTUO HABITACIONAL, COM OU SEM COBERTURA DO FCVS, CELEBRADO APÓS 25/10/1996. RECURSO REPETITIVO (ART. 543-C DO CPC E RES. 8/2008-STJ). Tratando-se de cessão de direitos sobre imóvel financiado no âmbito do Sistema Financeiro da Habitação realizada após 25/10/1996, a anuência da instituição financeira mutuante é indispensável para que o cessionário adquira legitimidade ativa para requerer revisão das condições ajustadas, tanto para os contratos garantidos pelo Fundo de Compensação de Variações Salariais como para aqueles sem a garantia mencionada. Isso porque, nos termos da legislação pertinente, não é possível a regularização do referido contrato de cessão de direitos — conhecido como “contrato de gaveta” —, o que implica afirmar que, nesses casos, o cessionário não pode ser equiparado ao mutuário e, portanto, não possui legitimidade para postular em juízo a revisão do respectivo contrato. Com efeito, o art. 20, caput, da Lei 10.150/2000 estabelece que as “transferências no âmbito do SFH, à exceção daquelas que envolvam contratos enquadrados nos planos de reajustamento definidos pela Lei 8.692, de 28 de julho de 1993, que tenham sido celebradas entre o mutuário e o adquirente até 25 de outubro de 1996, sem a interveniência da instituição financiadora, poderão ser regularizadas” nos termos daquela lei. Precedentes citados: AgRg no Ag 1.006.713-DF, Quarta Turma, DJe 22/2/2010; REsp 721.232-PR, Primeira Turma, DJe 13/10/2008, e AgRg no REsp 980.215-RJ, Segunda Turma, DJe 2/6/2008. REsp 1.150.429-CE, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 25/4/2013.

DIREITO ADMINISTRATIVO. DESCLASSIFICAÇÃO DE LICITANTE DECORRENTE DA FALTA DE APRESENTAÇÃO DE DECLARAÇÃO DE CONCORDÂNCIA DO RESPONSÁVEL TÉCNICO NA FASE DE HABILITAÇÃO. A sociedade empresária que, em concorrência realizada para ampliação de prédio público, deixe de apresentar, no envelope de habilitação, declaração de concordância do responsável técnico, descumprindo exigência prevista no edital, não tem direito líquido e certo a realizar o referido ato em momento posterior e por meio diverso do estabelecido no instrumento convocatório, tampouco a ser considerada habilitada no procedimento licitatório, ainda que tenha apresentado documentos assinados por seu represente legal que comprovem ser este um engenheiro civil. Deve-se registrar, de início, que a exigência de apresentação de atestado de concordância do responsável técnico encontra respaldo no art. 30, II e § 1º, I, da Lei 8.666/1993. Isso posto, deve-se ressaltar que atos assinados pelo sócio administrador da sociedade empresária, ainda que seja profissional da engenharia civil, não suprem a exigência de concordância deste com o encargo de responsável técnico da obra, munus cujas responsabilidades civil, administrativa e penal diferem das próprias de sócio. Desse modo, a Administração Pública, por conta própria, não pode atribuir a responsabilidade técnica por presunção, uma vez que é necessária expressa concordância do profissional. Assim, não se pode falar que a referida declaração seria pura formalidade que poderia ser relevada pela administração. Ademais, prevendo o edital que a declaração de concordância de responsável técnico deve constar do envelope referente aos documentos de habilitação, configuraria violação dos princípios da legalidade e da impessoalidade dar oportunidade a algum dos licitantes de comprovar o cumprimento da referida exigência por meio diverso do previsto no instrumento convocatório ou em momento posterior do estabelecido no edital, conferindo-lhe prazo superior ao dos demais licitantes. RMS 38.359-SE, Rel. Min. Benedito Gonçalves, julgado em 11/4/2013.

DIREITO ADMINISTRATIVO. IMPOSSIBILIDADE DE CONFERIR AOS PSICÓLOGOS, POR RESOLUÇÃO, AUTORIZAÇÃO PARA O EXERCÍCIO DA TÉCNICA DA ACUPUNTURA. É inadmissível que resolução do Conselho Federal de Psicologia estenda aos profissionais da área a possibilidade de utilização da acupuntura como método complementar de tratamento, ainda que no Brasil não exista legislação que discipline o exercício dessa técnica. Não se pode deduzir, a partir desse vácuo normativo, que se possa permitir, por intermédio de ato administrativo editado pelo conselho profissional, a prática da acupuntura. Ademais, não é possível aos profissionais de psicologia estender seu campo de trabalho por meio de resolução, pois suas competências já estão fixadas na Lei 4.119/1962, que regulamenta o exercício da profissão. REsp 1.357.139-DF, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho, julgado em 18/4/2013.

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TRIBUTÁRIO. CESSÃO DE CRÉDITO DECORRENTE DE EMPRÉSTIMO COMPULSÓRIO SOBRE ENERGIA ELÉTRICA. É possível a cessão dos créditos decorrentes de empréstimo compulsório sobre energia elétrica. De fato, o empréstimo compulsório instituído em favor da Eletrobrás pela Lei 4.156/1962 e alterações posteriores tem a forma de resgate disciplinada pelo Dec.-Lei 1.512/1976. Ao estabelecer o modo de devolução do referido tributo, a legislação de regência não criou óbice à cessão do respectivo crédito a terceiros, razão pela qual não há impedimento para tanto. Precedente citado: REsp 1.094.429-RJ, Segunda Turma, DJe 4/11/2009. AgRg no REsp 1.090.784-DF, Rel. Min. Arnaldo Esteves Lima, julgado em 11/4/2013.

DIREITO ADMINISTRATIVO. INEXISTÊNCIA DE DIREITO DE BIOMÉDICO À PARTICIPAÇÃO EM CONCURSO PÚBLICO DESTINADO AO PROVIMENTO DE CARGO DE BIÓLOGO. Os biomédicos não possuem o direito de participar de concurso público cujo edital prescreva como atribuições do cargo atividades específicas de biólogo. Da análise da Lei 6.684/1979 e dos Decretos 88.438/1983 e 88.439/1983, extrai-se a conclusão de que as profissões de biólogo e de biomédico, apesar de se assemelharem em alguns pontos, são distintas, com atribuições e áreas de atuação próprias. Foram, inclusive, reguladas por atos normativos diversos e seus profissionais são registrados em conselhos profissionais distintos. Dessa forma, a Administração, entendendo necessitar de biólogos, não é obrigada a aceitar, em concurso destinado a suprir essa necessidade, profissionais de outras áreas. REsp 1.331.548-RJ, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, julgado em 4/4/2013.

DIREITO TRIBUTÁRIO. INCIDÊNCIA DE IR SOBRE O LUCRO AUFERIDO EM OPERAÇÃO DE VENDA DE TDA. Incide imposto de renda sobre o ganho de capital oriundo da diferença positiva entre o preço de aquisição e o preço de venda de TDA a terceiros. O recebimento de indenização em virtude de desapropriação para fins de reforma agrária não entra no cômputo do rendimento bruto da pessoa física ou do lucro real da pessoa jurídica, mesmo se for apurado nessa transferência ganho de capital, consoante o art. 22, parágrafo único, da Lei 7.713/1988 e o art. 184, § 5º, da CF/1988. Outrossim, não é tributada a operação financeira consistente na obtenção do rendimento do título da dívida agrária — TDA. Essas “isenções” têm recebido amparo no STJ e foram estendidas pela jurisprudência aos terceiros portadores do título no que diz respeito ao resgate do seu valor principal ou dos valores correspondentes a juros compensatórios e moratórios ali previstos. Ocorre que, na hipótese tratada, o que se pretende excluir da tributação é a própria operação de compra e venda desses títulos no mercado, ou seja, uma operação financeira como outra qualquer, suscetível de gerar rendimento tributável (art. 43, I, do CTN). Trata-se de situação diferente da aquisição do título como indenização pro soluto da desapropriação realizada, ou do recebimento dos juros que remuneram o título enquanto não vencido o principal, ou do recebimento do valor do título quando de seu vencimento. A venda de TDA pode gerar lucro ou prejuízo se comparados os preços de aquisição e de venda. O lucro gerado é ganho de capital que deve submeter-se à tributação do imposto de renda como qualquer outro título mobiliário. Não há aí qualquer impacto na justa e prévia indenização, visto que a tributação somente ocorre quando o título for alienado com lucro (ganho de capital) pelo expropriado ou pelo portador. REsp 1.124.133-RJ, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, julgado em 7/3/2013.

DIREITO CIVIL E DO CONSUMIDOR. INCLUSÃO DE DEPENDENTE EM CONTRATO DE SEGURO DE SAÚDE. Na hipótese de seguro de saúde contratado em momento anterior ao início da vigência da Lei 9.656/1998, caso não tenha sido garantido à titular segurada o direito de optar pela adaptação do contrato ao sistema da nova lei (art. 35, caput, da Lei 9.656/1998), é possível a inclusão, na qualidade de dependente, de neto, filho de uma de suas filhas originariamente indicada como dependente no referido seguro. Isso porque, nesse contexto, não se admite impor ao contratante a restrição estabelecida no § 5º do art. 35 da Lei 9.656⁄1998, segundo o qual a “manutenção dos contratos originais pelos consumidores não-optantes tem caráter personalíssimo, devendo ser garantida somente ao titular e a seus dependentes já inscritos, permitida inclusão apenas de novo cônjuge e filhos, e vedada a transferência da sua titularidade, sob qualquer pretexto, a terceiros”. De fato, se não houve opção, por imperativo lógico, não se pode considerar a titular segurada como não-optante, sendo, nesse caso, inaplicável a restrição. REsp 1.133.338-SP, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, julgado em 2/4/2013.