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www.dizerodireito.com.br Página1 INFORMATIVO esquematizado Informativo 503 – STJ Márcio André Lopes Cavalcante Obs: não foram incluídos neste informativo esquematizado os julgados de menor relevância para concursos públicos ou aqueles decididos com base em peculiaridades do caso concreto. Caso seja de seu interesse conferi-los, os acórdãos excluídos foram os seguintes: REsp 1.319.171-SC; REsp 745.739-RJ; REsp 1.119.859- PR; REsp 1.105.663-SP; REsp 1.003.359-RS; REsp 1.230.097-PR; AgRg no REsp 1.293.221-RS; HC 226.673-SP. DIREITO ADMINISTRATIVO Improbidade administrativa Se a pessoa estiver sendo acusada de ter praticado atos de improbidade administrativa, poderá ser decretada a indisponibilidade de seus bens. Para isso, deverá ser provado o fumus boni iuris, ou seja, que há fortes indícios de que essa pessoa realmente praticou atos de improbidade. Não é necessário, contudo, provar o periculum in mora, ou seja, que a pessoa está se desfazendo de seu patrimônio para evitar o ressarcimento. O requisito cautelar do periculum in mora está implícito, já que o bloqueio de bens visa a “assegurar o integral ressarcimento do dano”. Em outras palavras, a indisponibilidade de bens é medida que, por força do art. 37, § 4º da Constituição, decorre automaticamente do ato de improbidade. Havendo fortes indícios de que a pessoa praticou o ato ímprobo, deverá ser decretada cautelarmente a indisponibilidade, ainda que o agente não esteja praticando qualquer ato para se desfazer de seu patrimônio. Comentários Se a pessoa praticar um ato de improbidade administrativa estará sujeita às sanções previstas no § 4º do art. 37 da CF/88, quais sejam: suspensão dos direitos políticos perda da função pública indisponibilidade dos bens e ressarcimento ao erário. A Lei n. 8.429/92 (Lei de Improbidade Administrativa) regulamenta as consequências no caso da prática de atos de improbidade administrativa. A LIA traz, em seus arts. 9º, 10 e 11, um rol exemplificativo de atos que caracterizam improbidade administrativa. Art. 9º: atos de improbidade que importam enriquecimento ilícito do agente público Art. 10: atos de improbidade que causam prejuízo ao erário Art. 11: atos de improbidade que atentam contra princípios da administração pública Para garantir que a pessoa que praticou ato de improbidade responda pelas sanções do § 4º do art. 37, da CF, os arts. 7º e 16 da Lei n. 8.492/92 preveem a possibilidade de ser decretada a indisponibilidade (art. 7º) e o sequestro (art. 16) dos seus bens. Veja o que diz a Lei: Página1

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Informativo 503 – STJ

Márcio André Lopes Cavalcante Obs: não foram incluídos neste informativo esquematizado os julgados de menor relevância para concursos públicos ou aqueles decididos com base em peculiaridades do caso concreto. Caso seja de seu interesse conferi-los, os acórdãos excluídos foram os seguintes: REsp 1.319.171-SC; REsp 745.739-RJ; REsp 1.119.859-PR; REsp 1.105.663-SP; REsp 1.003.359-RS; REsp 1.230.097-PR; AgRg no REsp 1.293.221-RS; HC 226.673-SP.

DIREITO ADMINISTRATIVO

Improbidade administrativa

Se a pessoa estiver sendo acusada de ter praticado atos de improbidade administrativa, poderá ser decretada a indisponibilidade de seus bens.

Para isso, deverá ser provado o fumus boni iuris, ou seja, que há fortes indícios de que essa pessoa realmente praticou atos de improbidade.

Não é necessário, contudo, provar o periculum in mora, ou seja, que a pessoa está se desfazendo de seu patrimônio para evitar o ressarcimento. O requisito cautelar do periculum in mora está implícito, já que o bloqueio de bens visa a “assegurar o integral ressarcimento do

dano”. Em outras palavras, a indisponibilidade de bens é medida que, por força do art. 37, § 4º da

Constituição, decorre automaticamente do ato de improbidade. Havendo fortes indícios de que a pessoa praticou o ato ímprobo, deverá ser decretada cautelarmente a indisponibilidade, ainda que o agente não esteja praticando qualquer ato para se desfazer de seu patrimônio.

Comentários Se a pessoa praticar um ato de improbidade administrativa estará sujeita às sanções previstas no § 4º do art. 37 da CF/88, quais sejam:

suspensão dos direitos políticos

perda da função pública

indisponibilidade dos bens e

ressarcimento ao erário.

A Lei n. 8.429/92 (Lei de Improbidade Administrativa) regulamenta as consequências no caso da prática de atos de improbidade administrativa. A LIA traz, em seus arts. 9º, 10 e 11, um rol exemplificativo de atos que caracterizam improbidade administrativa. Art. 9º: atos de improbidade que importam enriquecimento ilícito do agente público Art. 10: atos de improbidade que causam prejuízo ao erário Art. 11: atos de improbidade que atentam contra princípios da administração pública Para garantir que a pessoa que praticou ato de improbidade responda pelas sanções do § 4º

do art. 37, da CF, os arts. 7º e 16 da Lei n. 8.492/92 preveem a possibilidade de ser decretada a indisponibilidade (art. 7º) e o sequestro (art. 16) dos seus bens. Veja o que diz a Lei:

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Art. 7° Quando o ato de improbidade causar lesão ao patrimônio público ou ensejar enriquecimento ilícito, caberá à autoridade administrativa responsável pelo inquérito representar ao Ministério Público, para a indisponibilidade dos bens do indiciado. Parágrafo único. A indisponibilidade a que se refere o caput deste artigo recairá sobre bens que assegurem o integral ressarcimento do dano, ou sobre o acréscimo patrimonial resultante do enriquecimento ilícito.

Art. 16. Havendo fundados indícios de responsabilidade, a comissão representará ao Ministério Público ou à procuradoria do órgão para que requeira ao juízo competente a decretação do sequestro dos bens do agente ou terceiro que tenha enriquecido ilicitamente ou causado dano ao patrimônio público. § 1º O pedido de sequestro será processado de acordo com o disposto nos arts. 822 e 825 do Código de Processo Civil. § 2° Quando for o caso, o pedido incluirá a investigação, o exame e o bloqueio de bens, contas bancárias e aplicações financeiras mantidas pelo indiciado no exterior, nos termos da lei e dos tratados internacionais.

Algumas perguntas relacionadas ao tema:

1) Quem decreta essa indisponibilidade? O juiz, a requerimento do Ministério Público. A redação do art. 7º não é muito clara, mas o que a lei quer dizer é que a autoridade administrativa irá comunicar a suposta prática de improbidade ao MP e este irá analisar as informações recebidas e, com base em seu juízo, irá requerer (ou não) a indisponibilidade dos bens do suspeito ao juiz, antes ou durante o curso da ação principal (ação de improbidade). Em outras palavras, a indisponibilidade pode ser requerida como medida preparatória ou incidental. Quando o art. 7º fala em “inquérito”, está se referindo a inquérito administrativo, mas essa representação pode ocorrer também no bojo de um processo administrativo ou de um processo judicial. Além disso, o MP poderá requerer a indisponibilidade ainda que não tenha sido provocado por nenhuma autoridade administrativa, desde que, por algum outro modo, tenha tido notícia da suposta prática do ato de improbidade (ex: reportagem divulgada em jornal). De qualquer forma, tome muito cuidado com a redação dos arts. 7º e 16 porque muitas vezes são cobrados na prova a sua mera transcrição, devendo este item ser assinalado, então, como correto. 2) Essa indisponibilidade é decretada em qualquer hipótese de ato de improbidade? NÃO. A indisponibilidade é decretada apenas quando o ato de improbidade administrativa: a) causar lesão ao patrimônio público; ou b) ensejar enriquecimento ilícito. Assim, só cabe a indisponibilidade nas hipóteses do arts. 9º e 10 da LIA. Não cabe a indisponibilidade no caso de prática do art. 11. 3) A indisponibilidade pode ser decretada antes do recebimento da petição inicial da ação de improbidade? SIM. 4) Tendo sido instaurado procedimento administrativo para apurar a improbidade, conforme permite o art. 14 da LIA, a indisponibilidade dos bens pode ser decretada antes mesmo de encerrado esse procedimento? SIM.

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5) Essa indisponibilidade dos bens pode ser decretada sem ouvir o réu? SIM. É admissível a concessão de liminar inaudita altera pars para a decretação de indisponibilidade e sequestro de bens, visando assegurar o resultado útil da tutela jurisdicional, qual seja, o ressarcimento ao Erário. Desse modo, o STJ entende que, ante sua natureza acautelatória, a medida de indisponibilidade de bens em ação de improbidade administrativa pode ser deferida nos autos da ação principal sem audiência da parte adversa e, portanto, antes da notificação para defesa prévia (art. 17, § 7º da LIA). 6) Para que seja decretada a indisponibilidade dos bens da pessoa suspeita de ter praticado ato de improbidade exige-se a demonstração de fumus boni iuris e periculum in mora? NÃO. Basta que se prove o fumus boni iuris, sendo o periculum in mora presumido. Assim, é desnecessária a prova do periculum in mora concreto, ou seja, de que os réus estejam dilapidando seu patrimônio, ou na iminência de fazê-lo, exigindo-se apenas a demonstração de fumus boni iuris, consistente em fundados indícios da prática de atos de improbidade. 7) Então, pode ser decretada a indisponibilidade dos bens ainda que o acusado não esteja se desfazendo de seus bens? SIM. A indisponibilidade dos bens visa, justamente, a evitar que ocorra a dilapidação patrimonial. Não é razoável aguardar atos concretos direcionados à sua diminuição ou dissipação. Exigir a comprovação de que tal fato esteja ocorrendo ou prestes a ocorrer tornaria difícil a efetivação da medida cautelar e, muitas vezes, inócua (Min. Herman Benjamin). 8) Pode ser decretada a indisponibilidade sobre bens que o acusado possuía antes da suposta prática do ato de improbidade? SIM. A indisponibilidade pode recair sobre bens adquiridos tanto antes como depois da prática do ato de improbidade. 9) A indisponibilidade é decretada para assegurar apenas o ressarcimento dos valores ao Erário ou também para custear o pagamento da multa civil? Para custear os dois. A indisponibilidade de bens deve recair sobre o patrimônio do réu de modo suficiente a garantir o integral ressarcimento de eventual prejuízo ao erário, levando-se em consideração, ainda, o valor de possível multa civil como sanção autônoma. 10) A indisponibilidade de bens constitui uma sanção? NÃO. A indisponibilidade de bens não constitui propriamente uma sanção, mas medida de garantia destinada a assegurar o ressarcimento ao erário (DPE/MA – CESPE – 2011).

Processo Primeira Turma. AgRg no AREsp 188.986-MG, Rel. Min. Teori Albino Zavascki, julgado em 28/8/2012.

Processo administrativo (obs: este julgado somente interessa a quem presta concursos federais)

O processo administrativo disciplinar, no âmbito federal, é conduzido por uma comissão composta de três servidores estáveis.

Os membros dessa comissão devem ser estáveis no atual cargo que ocupam. Desse modo, a estabilidade deve ser no cargo, e não apenas no serviço público.

Comentários A Lei n. 8.112/90 (Estatuto dos Servidores Públicos da União) traz uma série de regras sobre o processo administrativo disciplinar nos arts. 148 a 182.

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O art. 149 prevê o seguinte:

Art. 149. O processo disciplinar será conduzido por comissão composta de três servidores estáveis designados pela autoridade competente, observado o disposto no § 3º do art. 143, que indicará, dentre eles, o seu presidente, que deverá ser ocupante de cargo efetivo superior ou de mesmo nível, ou ter nível de escolaridade igual ou superior ao do indiciado.

Vamos analisar este art. 149: Comissão processante O processo disciplinar será conduzido por uma COMISSÃO composta de 3 servidores estáveis designados pela autoridade competente. Presidente da comissão: qualidade especial Dentre os membros da comissão, a autoridade competente indicará o seu presidente. O presidente da Comissão deverá ser ocupante de cargo efetivo superior ou de mesmo nível, ou ter nível de escolaridade igual ou superior ao do indiciado. Demais membros Os demais membros da Comissão não precisam ocupar cargo efetivo superior e podem ter nível de escolaridade mais baixo que o do indiciado. O único requisito para ser membro (não presidente) da Comissão é ser servidor estável. O que acontece se algum membro da comissão não for estável? Haverá a nulidade do processo administrativo disciplinar. Por que os membros da comissão devem ser estáveis?

Segundo o STJ, a ratio essendi do art. 149 da Lei n. 8.112/90 é garantir a imparcialidade e isenção dos membros da comissão processante. Assim, entende-se que se o servidor é estável, estará menos imune a pressões capazes de alterar o equilíbrio na tomada de decisões. Desse modo, essa exigência é uma garantia ao investigado, pois tem por escopo assegurar a independência total dos servidores que ocupam a comissão, sem ingerência da chefia. Essa estabilidade deve ser no cargo atual do servidor: No julgado noticiado neste informativo, o STJ afirmou que os membros da comissão que conduzem o processo administrativo disciplinar devem ser estáveis no cargo atual que ocupam. No caso concreto, a comissão era formada por dois auditores fiscais que estavam em estágio probatório no cargo de auditor, mas anteriormente eram servidores estáveis da Receita Federal como técnicos. Desse modo, eram servidores estáveis da Receita, mas no cargo atual que ocupam (auditor fiscal) não haviam ainda completado três anos para adquirir estabilidade. A 2ª Turma entendeu, portanto, que a estabilidade deve ser no cargo, e não apenas no serviço público, pois este não oferece ao servidor essa independência.

Processo Segunda Turma. AgRg no REsp 1.317.278-PE, Rel. Min. Humberto Martins, julgado em 28/8/2012.

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DIREITO CIVIL

Capacidade civil

O acordo celebrado por deficiente físico, ainda que abrindo mão de tratamento particular de saúde em troca de pecúnia, não pode ser impugnado pelo MP sob o pálio do art. 5º da Lei 7.853/89.

A deficiência física, por si só, não tira da pessoa sua capacidade civil e sua aptidão para manifestar livremente sua vontade.

Além disso, no acordo objeto de homologação, o deficiente físico não renunciou a um tratamento de saúde, simplesmente optou pelo tratamento na rede pública.

Comentários Imagine a seguinte situação adaptada do caso concreto: “B” trabalhava para a empresa “X”, quando sofreu um acidente que deixou sequelas irreversíveis, fazendo com que fosse considerado deficiente físico, sendo aposentado por invalidez. Em 2001, “B” celebrou um acordo com “X” (homologado em juízo), tendo a empresa se comprometido a: a) pagar uma indenização em dinheiro a “B”; b) custear eternamente todo o tratamento médico particular que fosse necessário por conta do problema de saúde que “B” adquiriu. Em 2004, “B” e a empresa “X” decidiram modificar o acordo anterior e combinaram o seguinte: ao invés da empresa custear eternamente o tratamento de saúde, ela iria pagar a “B” mais um valor a título de indenização para se eximir das responsabilidades médicas. O novo acordo foi celebrado e foi pedida a homologação judicial, que foi deferida pelo juiz. Ocorre que o Ministério Público recorreu contra essa homologação, alegando que “B” não poderia ter renunciado ao tratamento de saúde custeado pela empresa, considerando que se trata de direito indisponível.

O MP alegou ainda que sua atuação estava legitimada pelo art. 5º da Lei n. 7.853/89:

Art. 5º O Ministério Público intervirá obrigatoriamente nas ações públicas, coletivas ou individuais, em que se discutam interesses relacionados à deficiência das pessoas.

A questão chegou até o STJ. O que decidiu a 3ª Turma? R: O acordo é válido. “B” apresenta uma deficiência física (e não mental). Logo, encontra-se em pleno gozo de suas faculdades mentais e, em um ato de manifestação livre de vontade, decidiu celebrar o acordo. Como “B” não apresenta nenhuma redução em sua capacidade de discernimento, ele é, do ponto de vista da capacidade civil, uma pessoa capaz como outra qualquer, podendo adquirir direitos e assumir obrigações sem qualquer assistência ou representação. Nessa circunstância, não se pode admitir que o MP, atuando no suposto auxílio da pessoa deficiente, negue-se a lhe garantir o direito básico de manifestar livremente sua vontade. Correta ou errada a decisão, é direito da pessoa tomá-la com autonomia e independência.

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Vale ressaltar, ainda, que a qualquer adulto saudável é dado, por exemplo, contratar ou rescindir um contrato de seguro-saúde. Qualquer pessoa pode optar por receber tratamento particular, pagando o preço correspondente, ou valer-se da saúde pública. No acordo objeto de homologação, o deficiente físico não renunciou a um tratamento de saúde. Apenas optou pelo tratamento na rede pública.

Processo Terceira Turma. REsp 1.105.663-SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 4/9/2012.

Nome da pessoa natural Obs: se você estiver se preparando para concursos na área notarial/registral, é fundamental estudar bem esse julgado. No entanto, para os demais concursos, basta ler a parte amarela.

Segundo o CC-2002, o cônjuge pode acrescentar sobrenome do outro (§ 1º do art. 1.565). Em regra, o sobrenome do marido/esposa é acrescido no momento do matrimônio, sendo essa

providência requerida já no processo de habilitação do casamento. Imagine agora a seguinte situação: marido e mulher se casaram e, no momento da habilitação do casamento, não requereram a alteração do nome. É possível que, posteriormente, um possa

acrescentar o sobrenome do outro? SIM. Aos cônjuges é permitido incluir ao seu nome o sobrenome do outro, ainda que após a

data da celebração do casamento. Vale ressaltar, no entanto, que esse acréscimo terá que ser feito por intermédio da ação de

retificação de registros públicos, nos termos dos arts. 57 e 109 da Lei 6.015/1973. Assim, não será possível a alteração pela via administrativa, mas somente em juízo.

Comentários NOME DA PESSOA NATURAL Conceito O nome da pessoa física é... - um sinal (elemento de identificação) - que individualiza a pessoa - fazendo com que ela seja diferenciada dos demais membros da família e da sociedade. Importância A pessoa, ao praticar os atos da vida civil, identifica-se por meio do nome que lhe foi atribuído no registro de nascimento. Desse modo, toda pessoa tem que ter, obrigatoriamente, um nome. A pessoa recebe o nome ao nascer e este o acompanha mesmo depois da sua morte, considerando que será sempre identificada por esse sinal (exs: inventário, direitos autorais). Veremos mais a frente que, em alguns casos, é possível a mudança do nome, mas de forma excepcional. Natureza jurídica (teorias sobre o nome) Existem quatro principais teorias que explicam a natureza jurídica do nome: a) Teoria da propriedade: segundo esta concepção, o nome integra o patrimônio da

pessoa. Esta teoria é aplicada no caso dos nomes empresariais. No que tange à pessoa natural, o nome é mais do que o mero aspecto patrimonial, consistindo, na verdade, em direito da personalidade.

b) Teoria negativista: afirma que o nome não é um direito, mas apenas uma forma de designação das pessoas. A doutrina relata que era a posição adotada por Clóvis Beviláqua.

c) Teoria do estado: sustenta que o nome é um elemento do estado da pessoa natural. d) Teoria do direito da personalidade: o nome é um direito da personalidade. É a teoria

adotada pelo CC (art. 16): “toda pessoa tem direito ao nome, nele compreendidos o prenome e o sobrenome”.

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Proteção do nome O direito ao nome é protegido, dentre outros, pelos seguintes diplomas:

Convenção Americana de Direitos Humanos (art. 18).

Convenção dos Direitos da Criança (art. 7º).

Código Civil (art. 16). Alteração do nome Regra: o nome, em regra, é imutável. É o chamado princípio da imutabilidade relativa do nome civil.

A regra da inalterabilidade relativa do nome civil preconiza que o nome (prenome e sobrenome), estabelecido por ocasião do nascimento, reveste-se de definitividade, admitindo-se sua modificação, excepcionalmente, nas hipóteses expressamente previstas em lei ou reconhecidas como excepcionais por decisão judicial (art. 57, Lei 6.015/75), exigindo-se, para tanto, justo motivo e ausência de prejuízo a terceiros. (REsp 1138103/PR, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, Quarta Turma, julgado em 06/09/2011)

Excepcionalmente, é possível a alteração do nome nas seguintes hipóteses: 1) No primeiro ano após atingir a maioridade civil (procedimento administrativo)

Art. 56 da Lei de Registros Públicos (Lei n. 6.015/73):

Art. 56. O interessado, no primeiro ano após ter atingido a maioridade civil, poderá, pessoalmente ou por procurador bastante, alterar o nome, desde que não prejudique os apelidos de família, averbando-se a alteração que será publicada pela imprensa.

Observações:

Processo administrativo;

Requerimento de forma pessoal ou por procuração;

Sem necessidade de advogado;

Não precisa ser declarado nenhum motivo (trata-se de possibilidade de troca imotivada);

Não pode prejudicar os apelidos de família;

Será averbada a alteração e publicada pela imprensa. 2) Retificação de erros que não exijam qualquer indagação para sua constatação imediata (administrativo)

LRP/Art. 110. Os erros que não exijam qualquer indagação para a constatação imediata de necessidade de sua correção poderão ser corrigidos de ofício pelo oficial de registro no próprio cartório onde se encontrar o assentamento, mediante petição assinada pelo interessado, representante legal ou procurador, independentemente de pagamento de selos e taxas, após manifestação conclusiva do Ministério Público. § 1º Recebido o requerimento instruído com os documentos que comprovem o erro, o oficial submetê-lo-á ao órgão do Ministério Público que o despachará em 5 (cinco) dias. § 2º Quando a prova depender de dados existentes no próprio cartório, poderá o oficial certificá-lo nos autos. § 3º Entendendo o órgão do Ministério Público que o pedido exige maior indagação, requererá ao juiz a distribuição dos autos a um dos cartórios da circunscrição, caso em que se processará a retificação, com assistência de advogado, observado o rito sumaríssimo. § 4º Deferido o pedido, o oficial averbará a retificação à margem do registro, mencionando o número do protocolo e a data da sentença e seu trânsito em julgado, quando for o caso.

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Observações:

Processo administrativo;

Os erros a serem corrigidos não exigem qualquer indagação para a sua constatação imediata;

Tais erros poderão ser corrigidos de ofício pelo Oficial no próprio cartório, mediante petição assinada pelo interessado, representante legal ou procurador;

O interessado não precisa de advogado;

O interessado não paga selos ou taxas;

É indispensável a prévia manifestação do MP (prazo: 5 dias);

O Oficial pode certificar informações a fim de produzir a prova necessária à retificação;

Se o MP entender que o pedido exige maior indagação, requererá ao juiz a distribuição dos autos, situação em que o processo administrativo será transformado em judicial (com a necessária assistência de advogado). O rito é o sumaríssimo;

Exemplo dessa retificação: o nome do rapaz consta como Renata, ao invés de Renato. 3) Acréscimo ou substituição por apelidos públicos notórios (judicial)

LRP/Art. 58. O prenome será definitivo, admitindo-se, todavia, a sua substituição por apelidos públicos notórios.

4) Averbação do nome abreviado, usado como firma comercial ou em atividade profissional (judicial)

LRP/Art. 57 (...) § 1º Poderá, também, ser averbado, nos mesmos termos, o nome abreviado, usado como firma comercial registrada ou em qualquer atividade profissional.

5) Enteado pode adotar o sobrenome do padrasto

LRP/Art. 57 (...) § 8º O enteado ou a enteada, havendo motivo ponderável e na forma dos §§ 2º e 7º deste artigo, poderá requerer ao juiz competente que, no registro de nascimento, seja averbado o nome de família de seu padrasto ou de sua madrasta, desde que haja expressa concordância destes, sem prejuízo de seus apelidos de família.

Observações:

Deve haver motivo ponderável;

O requerimento é feito ao juiz;

Será averbado o nome de família do padrasto ou madrasta;

É indispensável que haja a concordância expressa do padrasto ou madrasta;

Não pode haver prejuízo aos apelidos de família do enteado. 6) Pessoas incluídas no programa de proteção a vítimas e testemunhas

LRP/Art. 57 (...) § 7º Quando a alteração de nome for concedida em razão de fundada coação ou ameaça decorrente de colaboração com a apuração de crime, o juiz competente determinará que haja a averbação no registro de origem de menção da existência de sentença concessiva da alteração, sem a averbação do nome alterado, que somente poderá ser procedida mediante determinação posterior, que levará em consideração a cessação da coação ou ameaça que deu causa à alteração.

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Lei n. 9.807/99 Art. 9º Em casos excepcionais e considerando as características e gravidade da coação ou ameaça, poderá o conselho deliberativo encaminhar requerimento da pessoa protegida ao juiz competente para registros públicos objetivando a alteração de nome completo. § 1º A alteração de nome completo poderá estender-se às pessoas mencionadas no § 1o do art. 2o desta Lei, inclusive aos filhos menores, e será precedida das providências necessárias ao resguardo de direitos de terceiros. § 2º O requerimento será sempre fundamentado e o juiz ouvirá previamente o Ministério Público, determinando, em seguida, que o procedimento tenha rito sumaríssimo e corra em segredo de justiça. § 3º Concedida a alteração pretendida, o juiz determinará na sentença, observando o sigilo indispensável à proteção do interessado: I - a averbação no registro original de nascimento da menção de que houve alteração de nome completo em conformidade com o estabelecido nesta Lei, com expressa referência à sentença autorizatória e ao juiz que a exarou e sem a aposição do nome alterado; II - a determinação aos órgãos competentes para o fornecimento dos documentos decorrentes da alteração; III - a remessa da sentença ao órgão nacional competente para o registro único de identificação civil, cujo procedimento obedecerá às necessárias restrições de sigilo. § 4º O conselho deliberativo, resguardado o sigilo das informações, manterá controle sobre a localização do protegido cujo nome tenha sido alterado. § 5º Cessada a coação ou ameaça que deu causa à alteração, ficará facultado ao protegido solicitar ao juiz competente o retorno à situação anterior, com a alteração para o nome original, em petição que será encaminhada pelo conselho deliberativo e terá manifestação prévia do Ministério Público. 7) Por via judicial, com motivo declarado, por sentença, após oitiva do MP

LRP/Art. 57. A alteração posterior de nome, somente por exceção e motivadamente, após audiência do Ministério Público, será permitida por sentença do juiz a que estiver sujeito o registro, arquivando-se o mandado e publicando-se a alteração pela imprensa, ressalvada a hipótese do art. 110 desta Lei.

Observações:

Processo judicial de jurisdição voluntária;

Obrigatória a oitiva do MP;

Decidido pelo juiz por sentença;

Será competente o juiz a que estiver sujeito o registro;

Arquiva-se o mandado no RCPN;

Publica-se a alteração pela imprensa; Exemplos de alteração do nome com base nesse art. 57: Alterar o prenome caso exponha seu portador ao ridículo; Retificar o patronímico constante do registro para obter a nacionalidade de outro país

(o STJ já reconheceu o direito de suprimir incorreções na grafia do patronímico para que a pessoa pudesse obter a cidadania italiana. REsp 1138103/PR)

Alterar o nome em virtude de cirurgia de retificação de sexo. 8) Casamento Segundo o CC-2002, o cônjuge pode acrescentar sobrenome do outro. Tanto a mulher pode acrescentar o do marido, como o marido o da mulher.

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CC-2002/Art. 1.565 (...) § 1º Qualquer dos nubentes, querendo, poderá acrescer ao seu o sobrenome do outro.

Em regra, o sobrenome do marido/esposa é acrescido no momento do matrimônio, sendo essa providência requerida já no processo de habilitação do casamento. Imagine agora a seguinte situação: marido e mulher se casaram e, no momento da habilitação do casamento, não requereram a alteração do nome. É possível que, posteriormente, um possa acrescentar o sobrenome do outro? SIM. A 4ª Turma do STJ decidiu que aos cônjuges é permitido incluir ao seu nome o sobrenome do outro, ainda que após a data da celebração do casamento. Vale ressaltar, no entanto, que esse acréscimo terá que ser feito por intermédio da ação de retificação de registros públicos, nos termos dos arts. 57 e 109 da Lei de Registros Públicos (Lei n. 6.015/1973). Assim, não será possível a alteração pela via administrativa, mas somente em juízo. Exemplo: Ricardo Oliveira casou-se com Izabel Fontana. No processo de habilitação, não foi solicitada a mudança de nome. Desse modo, após o casamento, os nomes permaneceram iguais aos de solteiro. Ocorre que, após 5 anos de casada, Izabel decide acrescentar o patronímico de seu marido. Para tanto, Izabel procura o Cartório (Registro Civil) onde foi lavrada sua certidão de casamento e pede essa providência ao Registrador Civil. Este poderá fazer essa inclusão? NÃO. Izabel e Ricardo deverão procurar um advogado e este ajuizará uma ação de retificação de registro público, com base nos art. 57 e 109 da LRP expondo a situação. O juiz, após ouvir o Ministério Público, poderá determinar que Izabel inclua, em seu nome, o patronímico de seu marido, passando a chamar Izabel Fontana Oliveira. 9) Separação/Divórcio Regra: na separação e no divórcio o nome é mantido, salvo se a pessoa que acrescentou o sobrenome de seu cônjuge desejar retirá-lo. Exceção: Somente haverá a perda do sobrenome contra a vontade da pessoa que acrescentou se preenchidos os seguintes requisitos: 1) Houver pedido expresso do cônjuge que “forneceu” o sobrenome; 2) A perda não pode causar prejuízo à identificação do cônjuge. Ex: Marta Suplicy; 3) A perda não pode causar prejuízo à identificação dos filhos; 4) Estar provada culpa grave por parte do cônjuge.

Processo Quarta Turma. REsp 910.094-SC, Rel. Raul Araújo, julgado em 4/9/2012.

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Bem de família

O bem de família pode ser penhorado para pagar débitos relativos à pensão alimentícia. Esses débitos de pensão alimentícia podem ser decorrentes de relações familiares como também os alimentos devidos em razão de obrigação de reparar danos (obrigação oriunda de ato ilícito). Assim, a impenhorabilidade do bem de família não pode ser oposta pelo devedor ao credor de

pensão alimentícia decorrente de indenização por ato ilícito. Comentários No Brasil, existem duas espécies de bem de família:

a) Bem de família convencional ou voluntário (arts. 1711 a 1722 do Código Civil)

b) Bem de família legal (Lei n. 8.009/90). Bem de família legal - Consiste no imóvel residencial próprio do casal, ou da entidade familiar. - Considera-se residência um único imóvel utilizado pelo casal ou pela entidade familiar

para moradia permanente. - Na hipótese de o casal, ou entidade familiar, ser possuidor de vários imóveis utilizados

como residência, a impenhorabilidade recairá sobre o de menor valor, salvo se outro tiver sido registrado, para esse fim, no Registro de Imóveis e na forma do Código Civil (bem de família convencional).

Qual é a proteção conferida ao bem de família legal? O bem de família legal é impenhorável e não responderá por qualquer tipo de dívida civil, comercial, fiscal, previdenciária ou de outra natureza, contraída pelos cônjuges ou pelos pais ou filhos que sejam seus proprietários e nele residam, salvo nas hipóteses previstas na

Lei n. 8.009/90.

O art. 3º da Lei n. 8.009/90 traz as hipóteses excepcionais em que o bem de família legal pode ser penhorado. No inciso III do art. 3º consta:

Art. 3º A impenhorabilidade é oponível em qualquer processo de execução civil, fiscal, previdenciária, trabalhista ou de outra natureza, salvo se movido: III - pelo credor de pensão alimentícia;

Desse modo, se o devedor não paga a pensão alimentícia, o credor poderá requerer ao juiz a penhora do bem de família desse devedor, podendo o imóvel ser vendido em hasta pública para quitar o débito. Até aí, tudo bem. A pergunta agora é a seguinte: Quando o inciso III fala em “pensão alimentícia” ele está se referindo apenas aos alimentos decorrentes do direito de família (ex: alimentos devidos pelo pai ao filho) ou inclui também os alimentos devidos em caso de indenização por responsabilidade civil? R: Abrange tanto os alimentos decorrentes de vínculo familiar como também os alimentos devidos em razão de obrigação de reparar danos (obrigação oriunda de ato ilícito).

O inciso III do art. 3º da Lei n. 8.009/90 não faz distinção se a pensão alimentícia é fixada em razão de relações de parentesco ou a título de indenização pela prática de ato ilícito. Assim, a impenhorabilidade do bem de família não pode ser oposta pelo devedor ao credor de pensão alimentícia decorrente de indenização por ato ilícito. Esse é o entendimento pacífico do STJ (EREsp 679.456-SP).

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Exemplo: “X” (menor de idade) foi atropelado por “B”, em acidente de trânsito, tendo falecido. “A”, mãe de “X”, ingressou com ação de indenização contra “B”, tendo este sido condenado ao pagamento de pensão alimentícia, no importe de 1/3 do salário mínimo, desde a data do evento danoso até o dia em que a vítima completaria 70 anos. A sentença transitou em julgado e “B” começou a atrasar os pagamentos da pensão alimentícia, motivo pelo qual “A” executou a dívida. Nesse caso, o juiz poderá determinar a penhora do imóvel de propriedade de “B” em que ele reside, mesmo sendo bem de família.

Processo Terceira Turma. REsp 1.186.225-RS, Rel. Min. Massami Uyeda, julgado em 4/9/2012.

DIREITO PROCESSUAL CIVIL

Boa-fé objetiva aplicada ao processo civil

O princípio da boa-fé objetiva é aplicado ao direito processual civil.

Se o processo estava suspenso, não era possível que fosse praticado nenhum ato processual, ressalvados os urgentes a fim de evitar dano irreparável.

Desse modo, ao homologar a convenção pela suspensão do processo, o Poder Judiciário criou

nas partes a legítima expectativa de que o processo só voltaria a tramitar após o prazo convencionado.

Não se pode admitir que, durante o prazo de suspensão deferido pelo juiz, seja publicada a

sentença (ato processual) e, o pior, que a partir de então comece a correr o prazo para recurso contra a decisão. Ao agir dessa forma, o Estado-juiz incidiu na vedação de venire contra factum

proprium considerando que praticou ato contraditório, incompatível com a suspensão. Comentários Um dos temas de grande destaque nos últimos anos no direito brasileiro foi a aplicação da

boa-fé objetiva nas relações jurídicas. A origem da teorização da boa-fé objetiva é alemã. As quatro principais manifestações da boa-fé objetiva são as seguintes:

venire contra factum proprium

supressio

surrectio

tu quoque Vale ressaltar, contudo, que a boa-fé objetiva vai além desses quatro institutos. Não se pode confundir boa-fé objetiva com boa-fé subjetiva.

Boa-fé objetiva

Significa manter uma conduta de acordo com padrões sociais de lisura, honestidade e correção. Tem como objetivo não frustrar a legítima confiança da outra parte. Deve ser examinada externamente, ou seja, não importa qual era o sentimento da pessoa, mas sim a sua conduta.

Boa-fé subjetiva Não é um princípio, mas sim um estado psicológico. Para examinar a boa-fé subjetiva, deve-se analisar se a pessoa pensava, sinceramente, que agia ou não de acordo com o direito (é

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examinado se a pessoa tinha boas ou más intenções). Deve ser examinada internamente, ou seja, de acordo com o sentimento da pessoa.

Normalmente, o estudo da boa-fé objetiva é feito no Direito Civil. No entanto, indaga-se: É possível a aplicação da boa-fé objetiva nos demais ramos do Direito? SIM. A boa-fé objetiva surgiu inicialmente no Direito Civil, mas a sua aplicação foi expandida para todos os demais ramos do direito, inclusive para os ramos do chamado “direito público”, como é o caso do Direito Administrativo. Assim, por exemplo, de acordo com o STJ, a teoria dos atos próprios (venire contra factum proprium) é aplicada ao poder público. Em suma, a boa-fé objetiva deve estar presente em toda e qualquer relação jurídica. É possível a aplicação da boa-fé objetiva no Processo Civil? SIM, com certeza. Um dos melhores autores que trata sobre o princípio da boa-fé processual é Fredie Didier Jr. (Curso de Direito Processual Civil. Salvador: JusPodivm, 13ª ed., 2011, p. 66 e ss), cuja obra serve de citação indireta para esta explicação: O que é o princípio da boa-fé processual: Significa que os sujeitos do processo devem comportar-se de acordo com a boa-fé, entendida como uma norma de conduta (boa-fé objetiva). Tem como objetivo não frustrar a legítima confiança da outra parte. Uma das importantes funções da boa-fé objetiva é impedir que a parte exerça o seu direito de forma abusiva. Por isso, diz-se que a boa-fé objetiva serve como limitação contra os abusos de direito. Fundamento constitucional: A boa-fé objetiva possui fundamento na Constituição, mais precisamente no princípio do devido processo legal (STF RE 464.963-2/GO). Previsão legal:

CPC/Art. 14. São deveres das partes e de todos aqueles que de qualquer forma participam do processo: II - proceder com lealdade e boa-fé;

Esse art. 14, II, do CPC refere-se à boa-fé objetiva ou subjetiva? 1ª corrente: boa-fé subjetiva. Doutrina tradicional. 2ª corrente: boa-fé objetiva. Doutrina contemporânea (ex: Fredie Didier). Para a doutrina contemporânea, o art. 14, II, do CPC é uma cláusula geral processual que proíbe quaisquer hipóteses de comportamento desleal pelos sujeitos do processo. O princípio da boa-fé processual é destinado somente às partes? NÃO. Os destinatários da norma são todos aqueles que de qualquer forma participam do processo, o que inclui, não apenas as partes, mas também o próprio juiz. Exemplos de aplicação da boa-fé objetiva no processo civil (exemplos de Didier): Ex: a parte não pode recorrer contra uma decisão que já havia manifestado sua aceitação (art. 503 do CPC). Isso seria venire contra factum proprium.

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Ex2: a parte não pode pedir a invalidação de um ato cujo defeito foi ela própria quem deu causa (art. 243 do CPC). Isso também seria venire contra factum proprium. Ex3: se o réu exerce seu direito de defesa de forma abusiva, o juiz poderá, como sanção, conceder a tutela antecipada ao autor (art. 273, II, do CPC). O réu, nesse caso, violou a boa-fé objetiva. Ex4: se a parte interpõe recurso com intuito manifestamente protelatório, significa que violou o princípio da boa-fé processual, podendo ser multada por litigância de má-fé (art. 17, VII, do CPC). Venire contra factum proprium A teoria dos atos próprios, ou a proibição de venire contra factum proprium protege a parte contra aquele que pretenda exercer uma conduta em contradição com o comportamento assumido anteriormente. A proibição do venire contra factum proprium é um dos corolários do princípio da boa-fé objetiva e impede que a pessoa adote posturas contraditórias. Justamente por isso, diz-se que, no âmbito do processo civil, a proibição do venire é um dos fundamentos teóricos que justifica a existência da preclusão lógica. Lembrando que preclusão lógica é a perda de um poder processual em razão da prática de um ato anterior com ele incompatível. Caso julgado pelo STJ: No caso noticiado neste informativo, o STJ reafirmou a aplicação do princípio da boa-fé objetiva ao processo civil. A situação foi, com algumas adaptações, a seguinte: “X” ajuizou ação contra “Y”. Antes de ser publicada a sentença, “X” e “Y” combinaram de suspender o processo pelo prazo de 90 dias. Isso é possível? Sim, é possível, com base no art. 265, II, do CPC: Art. 265. Suspende-se o processo: II - pela convenção das partes; Essa suspensão do processo por convenção das partes nunca poderá exceder 6 (seis) meses (§ 3º do art. 265). Ocorre que, no 30º dia em que o processo estava suspenso, o juiz proferiu a sentença. Quando acabou o prazo de 90 dias de suspensão do processo, a parte que foi prejudicada com a sentença ingressou com apelação. O Tribunal, no entanto, considerou que o recurso era intempestivo sob o argumento de que o recurso deveria ter sido interposto mesmo o processo estando suspenso. A questão chegou até o STJ. O que decidiu a Corte? Segundo o Relator, Min. Herman Benjamin, o entendimento do TJ foi equivocado. Antes mesmo de publicada a sentença contra a qual foi interposta a apelação, o juízo de 1° grau já havia homologado requerimento de suspensão do processo pelo prazo de 90 dias. Em havendo suspensão do processo, o art. 266 do CPC veda a prática de qualquer ato processual, com a ressalva dos urgentes a fim de evitar dano irreparável. A lei processual não permite, desse modo, que seja publicada decisão durante a suspensão do feito, não se podendo cogitar, por conseguinte, do início da contagem do prazo recursal enquanto paralisada a marca do processo.

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Ao homologar a convenção pela suspensão do processo, o Poder Judiciário criou nos jurisdicionados a legítima expectativa de que o processo só voltaria a tramitar após o prazo convencionado. Por óbvio, não se pode admitir que, logo em seguida, seja praticado ato processual de ofício – publicação de decisão – e, ademais, considerá-lo como termo inicial do prazo recursal. Desse modo, para o STJ, a conduta de publicar a decisão no período de suspensão do processo e de contar o início do prazo recursal caracterizou a prática de ato contraditório por parte do magistrado. Assim agindo, o Poder Judiciário feriu a máxima nemo potest venire contra factum proprium, que é aplicável no âmbito processual.

Processo Segunda Turma. REsp 1.306.463-RS, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em 4/9/2012.

Curador especial e réu preso após a citação

Se o réu é preso, após a sua citação pessoal, porém antes do término do prazo para a contestação, essa prisão constituiu caso fortuito que justifica a não apresentação da resposta.

Logo, deveria o juiz ter nomeado curador especial a esse réu. Como não o fez, o processo é nulo desde a citação.

Comentários Curador especial O CPC prevê que, em determinadas situações, o juiz terá que nomear um curador especial que irá defender, no processo civil, os interesses do réu. O curador especial também é chamado de curador à lide. Hipóteses em que será nomeado curador especial: Estão previstas no art. 9º do CPC. São quatro situações: a) Quando o réu for incapaz (absoluta ou relativamente) e não tiver representante legal; b) Quando o réu for incapaz (absoluta ou relativamente) e tiver representante legal, mas

os interesses deste (representante) colidirem com os interesses daquele (incapaz); c) Quando o réu estiver preso; d) Quando o réu tiver sido citado por edital ou com hora certa e não tiver apresentado

resposta no prazo legal (ou seja, tiver sido revel). Veja a redação legal:

Art. 9º O juiz dará curador especial: I - ao incapaz, se não tiver representante legal, ou se os interesses deste colidirem com os daquele; II - ao réu preso, bem como ao revel citado por edital ou com hora certa.

Questão julgada pelo STJ (adaptada): No caso noticiado neste Informativo, “A” ajuizou uma ação contra “B”. “B” foi citado, no entanto, antes de terminar o prazo para que apresentasse sua resposta, ele foi preso. “B” não apresentou resposta, sendo considerado revel. O juiz entendeu que “B” não teria direito a curador especial porque quando ele foi citado ainda não estava preso. Com isso, o juiz decretou a revelia de “B” e julgou antecipadamente o feito, condenando o réu. O juiz agiu corretamente ao não dar curador especial ao réu? NÃO, foi o que entendeu o STJ.

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A Turma considerou que o recolhimento do réu à prisão após a sua citação pessoal, porém antes do término do prazo para a contestação, constituiu caso fortuito que impossibilitou a apresentação de resposta perante o juízo cível. Logo, a omissão do juiz em nomear curador especial culminou na nulidade do processo desde a citação, devendo ser-lhe restituído o prazo para a apresentação de defesa.

Processo Quarta Turma. REsp 1.032.722-PR, Rel. Min. Marco Buzzi, julgado em 28/8/2012.

Recursos (princípio da unirrecorribilidade)

O princípio da singularidade, também denominado da unicidade do recurso, ou unirrecorribilidade consagra a premissa de que, para cada decisão a ser atacada, há um único

recurso próprio e adequado previsto no ordenamento jurídico. O princípio da unirrecorribilidade não veda a interposição de um único recurso para impugnar mais de uma decisão. E não há, na legislação processual, qualquer impedimento a essa prática,

não obstante seja incomum. Desse modo, é possível, em tese, que a parte ingresse com um único agravo de instrumento

para impugnar duas decisões interlocutórias distintas. Comentários Princípio da singularidade

Também chamado de unicidade do recurso ou unirrecorribilidade. Segundo esse princípio, para cada decisão a ser atacada, há um único recurso próprio e adequado previsto no ordenamento jurídico. Assim, em regra, não é possível a utilização de mais de um recurso para impugnar a mesma decisão, sob pena do segundo recurso não ser conhecido, por preclusão consumativa. Imagine a seguinte situação adaptada do caso concreto: “X” propõe uma ação contra “Y”. Durante o curso da ação, o juiz profere uma decisão interlocutória contrária à “Y”. Cinco dias depois, o juiz prolata outra decisão desfavorável à “Y”. “Y” interpôs um único agravo de instrumento contra essas duas decisões interlocutórias. Tese do TJ para não conhecer o agravo (tese 1) O Tribunal de Justiça não conheceu do agravo sob o argumento de que a interposição de um único recurso com o desiderato de buscar a reforma de duas decisões distintas implicaria “violação do princípio da unicidade ou singularidade recursal, segundo o qual para cada decisão admite-se um recurso específico”. Tese defendida pelo recorrente (tese 2) “Y” argumentou que o TJ equivocou-se ao invocar o princípio da unirrecorribilidade para fundamentar o não conhecimento do seu agravo porque referido princípio apenas trata da impossibilidade de interposição de mais de um recurso contra a mesma decisão. Sustentou, ainda, que não existe nenhuma vedação legal para a interposição de um único recurso contra duas decisões. A questão chegou até o STJ. Qual das duas teses o STJ considerou correta? “Y” poderia interpor um único agravo de instrumento contra as duas decisões interlocutórias ou teria que apresentar dois agravos, um contra cada decisão? R: O STJ entendeu que a tese 2 (defendida pelo recorrente) está correta.

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Segundo a Min. Nancy Andrighi, de fato, o ordenamento jurídico brasileiro consagra o princípio da singularidade, segundo o qual para cada decisão a ser atacada, há um único recurso previsto no ordenamento jurídico. Todavia, mencionado princípio não veda a interposição de um único recurso para impugnar mais de uma decisão. E não há, na legislação processual, qualquer impedimento a essa prática, não obstante seja incomum. A Ministra ressaltou que não se está afirmando se tratar de uma prática recomendável a interposição de um único recurso para impugnar mais de uma decisão. O que se está dizendo é apenas que não há vedação na legislação quanto a essa prática.

Informação extra

O princípio da unirrecorribilidade é absoluto ou comporta exceções? Há exceções a esse princípio. As duas principais exceções, mencionadas, inclusive pela Min. Nancy Andrighi neste julgado, são as seguintes (vale ressaltar que alguns doutrinadores acrescentam outras hipóteses menos comuns):

a) Possibilidade de ser interposto, simultaneamente, recurso especial e extraordinário contra um mesmo acórdão (essa exceção é pacífica);

b) Possibilidade da parte apresentar embargos de declaração ou então interpor o recurso próprio (agravo, apelação, REsp, RE etc.) (alguns autores criticam essa exceção porque a parte irá interpor um recurso de cada vez e não os dois simultaneamente).

Processo Terceira Turma. REsp 1.112.599-TO, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 28/8/2012.

Execução fiscal e art. 53 da Lei n. 8.212/91 (obs: este julgado somente interessa a quem presta concursos federais)

Na execução judicial da dívida ativa da União, suas autarquias e fundações públicas, a Fazenda Pública, na própria petição inicial, pode fazer a nomeação dos bens do devedor a serem penhorados. A penhora desses bens é deferida pelo juiz no momento em que despacha a

petição inicial e será efetivada no mesmo instante em que ocorrer a citação do executado. Com base nessa previsão, a Fazenda poderá indicar, na petição inicial da execução, a existência

de ativos financeiros e créditos em conta para serem penhorados. Comentários Execução fiscal é a ação judicial proposta pela Fazenda Pública (União, Estados, DF,

Municípios e por suas respectivas autarquias e fundações) para cobrar do devedor créditos (tributários ou não tributários) inscritos em dívida ativa.

A execução fiscal é regida pela Lei n. 6.830/80 (LEF) e, subsidiariamente, pelo CPC. No caso da execução fiscal, é possível que a Fazenda Pública, na própria petição inicial, faça a nomeação dos bens do devedor a serem penhorados. A penhora desses bens é deferida pelo juiz no momento em que despacha a petição inicial e será efetivada no mesmo instante em que ocorrer a citação do executado.

Essa autorização está prevista no art. 53 da Lei n. 8.212/1991:

Art. 53. Na execução judicial da dívida ativa da União, suas autarquias e fundações públicas, será facultado ao exequente indicar bens à penhora, a qual será efetivada concomitantemente com a citação inicial do devedor. § 1º Os bens penhorados nos termos deste artigo ficam desde logo indisponíveis.

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§ 2º Efetuado o pagamento integral da dívida executada, com seus acréscimos legais, no prazo de 2 (dois) dias úteis contados da citação, independentemente da juntada aos autos do respectivo mandado, poderá ser liberada a penhora, desde que não haja outra execução pendente.

Com base nesse art. 53, a Fazenda poderá indicar, na petição inicial da execução, a existência de ativos financeiros e créditos em conta para serem penhorados? SIM. Isso porque o art. 655 do CPC e o art. 11 da Lei 6.830/1980 estabelecem que, na penhora de bens, o dinheiro deveria ser o primeiro a ser objeto de constrição:

Art. 655. A penhora observará, preferencialmente, a seguinte ordem: I - dinheiro, em espécie ou em depósito ou aplicação em instituição financeira;

Art. 11. A penhora ou arresto de bens obedecerá à seguinte ordem: I - dinheiro;

O juiz, ao despachar a petição inicial da execução fiscal, já deverá deferir a penhora

requerida na forma do art. 53 da Lei n. 8.212/91? SIM. Quando a Fazenda Pública procede à nomeação de bens, já na petição inicial, para os fins do art. 53 da Lei 8.212/1991, presume-se que o requerimento tenha sido feito a bem do interesse público, razão pela qual a penhora deve ser desde logo deferida, realizando-se concomitantemente com a citação. O executado poderá questionar essa penhora? SIM. A penhora dos bens indicados pela Fazenda Pública deve ser realizada concomitantemente com a citação do devedor. No entanto, o executado terá o direito de questionar essa penhora desde que comprove que foi excessiva ou muito gravosa, pedindo, então, para que haja a substituição da penhora por outros bens. Essa possibilidade decorre do princípio da menor onerosidade, previsto no art. 620 do CPC:

Art. 620. Quando por vários meios o credor puder promover a execução, o juiz mandará que se faça pelo modo menos gravoso para o devedor.

Contudo, essa impugnação e análise é feita somente após a penhora, que é efetivada concomitantemente com a citação do devedor. Se o executado pagar a dívida, esses bens penhorados são liberados? Em regra, sim. No entanto, é possível que o juízo da Execução Fiscal, mesmo após o pagamento integral da dívida, mantenha a constrição judicial sobre os bens, se houver outra execução fiscal pendente contra o mesmo devedor.

Vale ressaltar que o art. 53 da Lei n. 8.212/91 não é válido para as execuções fiscais estaduais ou municipais, sendo aplicável apenas às execuções fiscais propostas pela União, suas autarquias e fundações.

PFN Esse art. 53 da Lei n. 8.212/91 é pouco conhecido, sendo, contudo, dispositivo muito importante para os concursos da Procuradoria da Fazenda Nacional.

Processo Segunda Turma. REsp 1.287.915-BA, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em 4/9/2012.

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DIREITO PENAL

Falsificação, corrupção, adulteração ou alteração de produto destinado a fins terapêuticos ou medicinais (art. 273 do CP)

Para a configuração do crime previsto no art. 273, §§ 1º e 1º B, I, não se exige perícia, bastando a ausência de registro na ANVISA, obrigatório na hipótese de insumos destinados a fins

terapêuticos ou medicinais. Comentários “A” possuía uma loja de suplementos alimentares e, em uma fiscalização, foram

encontrados expostos à venda alguns produtos que não possuíam registro na ANVISA. “A” foi denunciado pela prática do crime previsto no art. 273, §§ 1º e 1º-B do Código Penal:

Art. 273. (...) Pena - reclusão, de 10 (dez) a 15 (quinze) anos, e multa.

§ 1º - Nas mesmas penas incorre quem importa, vende, expõe à venda, tem em depósito para vender ou, de qualquer forma, distribui ou entrega a consumo o produto falsificado, corrompido, adulterado ou alterado.

§ 1º-B - Está sujeito às penas deste artigo quem pratica as ações previstas no § 1º em relação a produtos em qualquer das seguintes condições: I - sem registro, quando exigível, no órgão de vigilância sanitária competente;

Para a configuração desse crime é necessário que seja realizada perícia nos produtos encontrados? NÃO. A 5ª Turma entendeu que, para a configuração do aludido delito, não é exigível a perícia, bastando a ausência de registro na ANVISA, obrigatório na hipótese de insumos destinados a fins terapêuticos ou medicinais. Segundo o STJ, as características dos produtos podem ser atestadas por fiscal técnico da Agência, conhecedor das normas de regulação que, no exercício do seu mister, tem fé pública. No caso concreto, foram os profissionais da Anvisa – conhecedores das normas da agência que gozam de fé pública no exercício de suas funções – que identificaram que os produtos apreendidos no estabelecimento não possuíam o necessário registro, portanto não se mostra lógico, tampouco razoável, exigir a perícia, até porque eram insumos sujeitos à vigilância, previstos na legislação.

Processo Quinta Turma. HC 177.972-BA, Rel. Min. Laurita Vaz, julgado em 28/8/2012.

DIREITO PROCESSUAL PENAL

Início do foro por prerrogativa de função no caso de detentores de mandato eletivo

A competência originária por prerrogativa de função dos titulares de mandatos eletivos firma-se a partir da diplomação.

Constatada a incompetência absoluta, os autos devem ser remetidos ao Juízo competente. O juízo competente poderá ratificar ou não os atos já praticados, inclusive os decisórios não

referentes ao mérito da causa.

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Comentários Como podemos conceituar foro por prerrogativa de função? Trata-se de uma prerrogativa - prevista pela Constituição - segundo a qual as pessoas ocupantes de determinados cargos ou funções, - somente serão processadas e julgadas - criminalmente (não engloba processos cíveis) - em foros privativos colegiados (TJ, TRF, STJ, STF). Quando uma pessoa vence as eleições para ocupar um cargo público (exs: prefeito, governador, deputado, senador etc.), a partir de que dia ela passa a ter foro por prerrogativa de função? A partir do dia da diplomação. A competência originária por prerrogativa de função dos titulares de mandatos eletivos firma-se a partir da diplomação. Uma vez diplomado, o detentor de cargo eletivo passa a gozar da jurisdição especial que lhe é assegurada em face da função pública que desempenhará. Assim, se estiver respondendo a um processo em 1ª instância, o juiz deverá remeter os autos ao tribunal responsável pelo seu julgamento. E se o juiz não souber que a pessoa já foi diplomada e sentenciar o processo criminal contra esse réu que passou a ostentar foro por prerrogativa de função? Nesse caso, o juízo de 1ª instância era absolutamente incompetente. Logo, essa condenação é nula. Quando for constada essa incompetência absoluta, o que deve ser feito? Constatada a incompetência absoluta, os autos devem ser remetidos ao Juízo competente. Todos os atos já praticados são nulos? Não necessariamente. O juízo competente (no caso, o Tribunal) poderá ratificar ou não os atos já praticados, conforme autorizam o art. 567 do CPP e o art. 113, § 2º, do CPC (o CPC é aplicado por analogia):

CPP/Art. 567. A incompetência do juízo anula somente os atos decisórios, devendo o processo, quando for declarada a nulidade, ser remetido ao juiz competente. CPC/Art. 113 (...) § 2º Declarada a incompetência absoluta, somente os atos decisórios serão nulos, remetendo-se os autos ao juiz competente.

Os atos decisórios também poderão ser ratificados? Sempre se entendeu que apenas os atos não-decisórios é que poderiam ser ratificados. Os atos decisórios deveriam ser anulados, conforme determina o art. 567 do CPP. Ocorre que o STF alterou sua jurisprudência e passou a entender que, mesmo os atos decisórios praticados por juízo absolutamente incompetente podem ser ratificados. Veja:

(...) Este Tribunal fixara anteriormente entendimento no sentido de que, nos casos de incompetência absoluta, somente os atos decisórios seriam anulados, sendo possível a ratificação dos atos sem caráter decisório. Posteriormente, passou a admitir a possibilidade de ratificação inclusive dos atos decisórios. (...) (RE 464894 AgR, Relator(a): Min. EROS GRAU, Segunda Turma, julgado em 24/06/2008)

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Apesar de haver certa divergência, esse é o entendimento que prevalece também no STJ:

Reconhecida a incompetência do Juízo para processar o feito, não há qualquer óbice à ratificação da denúncia, bem como do despacho que a recebe, no órgão jurisdicional competente. (HC 76.946/SP, Rel. Ministra Laurita Vaz, Quinta Turma, julgado em 17/02/2009)

Conforme ensina Renato Brasileiro: “(...) prevalece nos Tribunais o entendimento de que os atos probatórios não devem ser anulados no caso de reconhecimento de incompetência sendo possível que até mesmo os atos decisórios sejam ratificados perante o juízo competente.” (Manual de Processo Penal. Vol. II. Niterói : Impetus, 2012). No caso concreto noticiado neste informativo, o STJ decidiu que a condenação deveria ser anulada, mas os demais atos decisórios poderiam ser ratificados ou não pelo Tribunal de Justiça com base na análise dos autos.

Processo Quinta Turma. HC 233.832-PR, Rel. Min. Jorge Mussi, julgado em 4/9/2012.

Absolvição sumária

É incabível a absolvição sumária quando não evidenciada qualquer das hipóteses previstas nos incisos I a IV do art. 397 do CPP.

Quando há controvérsia se o réu sabia ou não que o produto era criminoso, não deve o juiz absolver sumariamente o acusado por ausência de dolo, já que, para isso, será indispensável a

instrução probatória. Comentários Vejamos algumas etapas do procedimento penal comum (ordinário e sumário):

Desse modo, conforme se observa, após a defesa preliminar*, o juiz tem duas opções: a) Absolver sumariamente o réu (art. 397 do CPP). b) Rejeitar a absolvição sumária e designar audiência. As hipóteses em que o juiz pode absolver sumariamente o réu estão previstas no art. 397:

Art. 397. Após o cumprimento do disposto no art. 396-A, e parágrafos, deste Código, o juiz deverá absolver sumariamente o acusado quando verificar: I - a existência manifesta de causa excludente da ilicitude do fato; II - a existência manifesta de causa excludente da culpabilidade do agente, salvo inimputabilidade; III - que o fato narrado evidentemente não constitui crime; ou IV - extinta a punibilidade do agente.

Denúncia

Recebimento Citação Réu citado p/

responder à acusação em 10 dias.

Defesa preliminar (art. 396-A)

Absolvição sumária

(art. 397)

Rejeição da absolvição sumária e designação

de audiência

Rejeição (art. 395, CPP)

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O que o STJ decidiu neste julgado? 1) É incabível a absolvição sumária quando não evidenciada qualquer das hipóteses previstas nos incisos I a IV do art. 397 do CPP. 2) Quando há controvérsia se o réu sabia ou não que o produto era criminoso, não deve o juiz absolver sumariamente o acusado por ausência de dolo, já que, para isso, será indispensável a instrução probatória.

* Uma observação terminológica: A resposta apresentada pelo art. 396-A do CPP não tem uma nomenclatura pacífica. O CPP chama de “resposta escrita”. Boa parte da doutrina e da jurisprudência denomina “resposta preliminar”. Outros falam, ainda, em “defesa preliminar”.

Processo Quinta Turma. REsp 1.206.320-ES, Rel. Min. Laurita Vaz, julgado em 4/9/2012.

Interrogatório e perguntas feitas pelo advogado do corréu

Durante o interrogatório do acusado, o advogado do corréu tem direito de fazer perguntas. Comentários “X” e “Y” são corréus em um processo criminal.

No momento do interrogatório de “X”, o advogado de “Y” pode fazer perguntas a “X”? R: SIM Não há no CPP nenhum dispositivo que proíba a participação do defensor do corréu no ato do interrogatório. Ademais, o interrogatório é também um meio de prova, de forma que, em homenagem à ampla defesa, deve-se permitir que o advogado do corréu possa fazer perguntas durante o interrogatório do outro acusado. A doutrina também comunga do mesmo entendimento: (...) não temos dúvidas em ver incluído, no princípio da ampla defesa, o direito à participação da defesa técnica - do advogado - de corréu durante o interrogatório de todos os acusados. Isso porque, em tese, é perfeitamente possível a colisão de interesses entre os réus, o que, por si só, justificaria a participação do defensor daquele corréu sobre quem recaiam acusações por parte de outro, por ocasião do interrogatório. A ampla defesa e o contraditório exigem, portanto, a participação dos defensores dos corréus no interrogatório de todos os acusados. (OLIVEIRA, Eugênio Pacelli de. Curso de processo penal. 13. ed. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2010, p. 400) Vale ressaltar que o acusado que estiver sendo interrogado não sofrerá nenhum tipo de prejuízo, considerando que não é obrigado a responder as perguntas (art. 186, parágrafo único, CPP).

Outros precedentes

STJ 1. Embora o interrogatório mantenha seu escopo eminentemente como meio de defesa, quando envolve a acusação ou participação de outro denunciado, cria a possibilidade à defesa do litisconsorte passivo realizar reperguntas, assegurando a ampla defesa e a participação ativa do acusado no interrogatório dos corréus.

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2. Não há que se confundir, nessa situação, o corréu com testemunha, pois o interrogado não estará obrigado a responder as perguntas dos demais envolvidos, preservado o direito de permanecer em silêncio e de não produzir provas contra si. Precedentes desta Turma e do Supremo Tribunal Federal. (...) 4. Habeas corpus concedido em parte para determinar a renovação dos interrogatórios dos acusados, assegurando o direito das defesas dos corréus realizarem reperguntas, resguardado o direito dos interrogados à não auto-incriminação e ao de permanecer em silêncio, mantidos os demais atos da instrução. (HC 162.451/DF, Rel. Ministro Haroldo Rodrigues (Desembargador Convocado do TJ/CE), Sexta Turma, julgado em 15/06/2010, DJe 16/08/2010)

STF A decisão que impede que o defensor de um dos réus repergunte ao outro acusado ofende os princípios constitucionais da ampla defesa, do contraditório e da isonomia, gerando nulidade absoluta. (...) (HC 101648, Relator(a): Min. CÁRMEN LÚCIA, Primeira Turma, julgado em 11/05/2010)

Processo Quinta Turma. HC 198.668-SC, Rel. Min. Jorge Mussi, julgado em 4/9/2012.

Recursos (interposição por meio de fax)

No caso de recurso interposto por fax, a apresentação dos originais deve ocorrer em até 5 (cinco) dias, conforme determina o art. 2.º da Lei n.º 9.800/99, cujo prazo é contínuo, iniciando

no dia imediatamente subsequente ao termo final do prazo recursal, ainda que não haja expediente forense.

Comentários Imagine a seguinte situação adaptada do caso concreto: O réu foi absolvido pelo juiz em 1ª instância. O Ministério Público interpôs apelação, tendo, contudo, enviado o recurso por meio de fax. Qual é a providência que o MP terá que adotar então?

Deverá juntar os originais do recurso no prazo de 5 dias, conforme prevê o art. 2º, da Lei n. 9.800/99. Esse prazo de 5 dias é contado da data em que a parte interpôs o recurso ou da data em que se encerraria o prazo recursal? R: O prazo de 5 dias é contado da data em que se encerraria o prazo do recurso.

Veja a redação da Lei n. 9.800/99:

Art. 2º A utilização de sistema de transmissão de dados e imagens não prejudica o cumprimento dos prazos, devendo os originais ser entregues em juízo, necessariamente, até cinco dias da data de seu término.

No caso de recurso interposto por fax, a apresentação dos originais deve ocorrer em até 5 (cinco) dias, conforme determina o art. 2.º da Lei n.º 9.800/99, cujo prazo é contínuo, iniciando no dia imediatamente subsequente ao termo final do prazo recursal, ainda que não haja expediente forense. Nesse sentido, o STJ possui outros precedentes cobrados em provas:

1. Os originais da petição recursal interposta via fac-símile devem ser protocolados em juízo em até 5 (cinco) dias da data final do prazo do respectivo recurso, sob pena de

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intempestividade. Inteligência do art. 2º, caput, da Lei 9.800/1999. 2. Por ser o prazo para a apresentação dos originais um mero prolongamento do prazo recursal, ele é contínuo, não havendo suspensão ou interrupção por ocorrência de feriado, sábado ou domingo. (...) (AgRg no AREsp 47.172/RJ, Rel. Ministro Vasco Della Giustina (Desembargador convocado do TJ/RS), Sexta Turma, julgado em 17/11/2011, DJe 28/11/2011)

Processo Quinta Turma. HC 244.210-RS, Rel. Min. Jorge Mussi, julgado em 6/9/2012.

Princípio do in dubio pro societate e primeira fase do Tribunal do Júri

A decisão de pronúncia encerra simples juízo de admissibilidade da acusação, exigindo o ordenamento jurídico somente o exame da ocorrência do crime e de indícios de sua autoria, não se demandando aqueles requisitos de certeza necessários à prolação de uma sentença condenatória. Assim, nessa fase processual, as questões resolvem-se a favor da sociedade

(princípio do in dubio pro societate).

Desse modo, afirmar se o réu agiu com dolo eventual ou culpa consciente é tarefa que deve ser analisada pelo Corpo de Jurados, juiz natural da causa.

Comentários O princípio do in dubio pro societate existe no ordenamento jurídico brasileiro?

O princípio do in dubio pro societate significa que, na dúvida, deve-se dar prosseguimento à ação penal. O princípio do in dubio pro societate contrapõe-se ao princípio do in dubio pro reo. Não existe uma resposta pacífica sobre o tema. Vamos tentar dar as orientações mais seguras para a prova, ressaltando, mais uma vez, não haver consenso sobre o assunto:

Fase de recebimento da denúncia

CPP/Art. 395. A denúncia ou queixa será rejeitada quando: (...) III - faltar justa causa para o exercício da ação penal.

1ª corrente: afirma que o CPP não exige prova de autoria, mas apenas indícios. Desse modo, ter-se-ia adotado o princípio do in dubio pro societate. Era a posição clássica, mas hoje tende a ser superada. 2ª corrente: defende que tal princípio não possui amparo legal, nem decorre da lógica do sistema processual penal brasileiro, pois a sujeição ao juízo penal, por si só, já representa um gravame. Assim, é imperioso que haja razoável grau de convicção para a submissão do indivíduo aos rigores persecutórios, não devendo se iniciar uma ação penal carente de justa causa. Foi a posição sustentada no julgado noticiado neste informativo (HC 175.639-AC, Rel. Min. Maria Thereza de Assis Moura, julgado em 20/3/2012).

Decisão de pronúncia no procedimento do Tribunal do Júri

CPP/Art. 413. O juiz, fundamentadamente, pronunciará o acusado, se convencido da materialidade do fato e da existência de INDÍCIOS suficientes de autoria ou de participação.

1ª corrente: a maioria da doutrina e da jurisprudência ainda entende que se aplica o princípio do in dubio pro societate, exigindo-se, no entanto, que seja interpretado com reservas uma vez que é necessária a presença de indícios mínimos de autoria. Nesse sentido: Távora e Alencar:

“Note-se que vigora, nesta fase, a regra do in dubio pro societate: existindo a possibilidade de se entender pela imputação válida do crime contra a vida em relação ao acusado, o juiz deve admitir a acusação, assegurando o cumprimento da Constituição, que reservou a competência para o julgamento de delitos dessa espécie para o tribunal popular. (...) Todavia, o in dubio pro societate deve ser aplicado com prudência, para evitar que os

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acusados sejam pronunciados sem um suporte probatório que viabilize o exame válido da causa pelos jurados.” (Curso de Direito Processual Penal. 7ª ed., Salvador: Juspodivm, p. 843). O julgado noticiado neste Informativo adota essa 1ª corrente: Na primeira fase do procedimento do tribunal do júri prevalece o princípio in dubio pro societate, devendo o magistrado, na decisão de pronúncia, apenas verificar a materialidade e a existência de indícios suficientes de autoria ou participação (art. 413 do CPP). Assim, a verificação do dolo eventual ou da culpa consciente deve ser realizada apenas pelo Conselho de Sentença. (...) REsp 1.279.458-MG, Rel. Min. Jorge Mussi, julgado em 4/9/2012. 2ª corrente: afirma que, para a pronúncia, exige-se realmente apenas indícios (e não provas) e que, em caso de dúvida, a regra é a remessa para o Tribunal Popular decidir. No entanto, defende que esta regra não significa que tenhamos adotado o princípio do in dubio pro societate. É o que defende a doutrina mais moderna. Por todos, cite-se Pacelli e Fischer:

“Há entendimento jurisprudencial e doutrinário no sentido de que, nessa fase procedimental, a submissão ao Tribunal Popular decorreria do princípio do in dubio pro societate. Compreendemos que, num sistema orientado por uma Constituição garantista, não poderia em sua essência o princípio invocado servir como supedâneo para a submissão ao Tribunal Popular. De fato, a regra é a remessa para julgamento perante o juízo natural nessas circunstâncias (eventual dúvida). Mas não pelo in dubio pro societate. Parece-nos que esse é o fundamento preponderante: como regra, apenas o Tribunal do Júri é quem pode analisar e julgar os delitos dolosos contra a vida (também os conexos – art. 78, I, CPP). É dizer, o juiz natural para a apreciação dos delitos contra a vida é o Tribunal do Júri, a quem, como regra (salvo nas hipóteses de absolvição sumária ou desclassificação), deverá ser regularmente encaminhado o processo.” (Comentários ao Código de Processo Penal e Sua Jurisprudência. São Paulo: Atlas, 2012, p. 849).

No momento da análise da autoria e materialidade na

prolação da sentença (sem ser Tribunal do Júri)

Adota-se o princípio do in dubio pro reo.

Aqui não há qualquer dúvida, considerando que a insuficiência de provas, conduz à absolvição, nos termos do art. 386, VII, do CPP.

Processo Quinta Turma. REsp 1.279.458-MG, Rel. Min. Jorge Mussi, julgado em 4/9/2012.

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Tribunal do Júri e revisão criminal

A condenação penal definitiva imposta pelo Júri também pode ser desconstituída mediante revisão criminal, não lhe sendo oponível a cláusula constitucional da soberania do veredicto

do Conselho de Sentença. Se o Tribunal de Justiça, ao julgar uma revisão criminal, entender que a condenação do réu foi

proferida de forma contrária à evidência dos autos, ele poderá absolver diretamente o condenado, não sendo necessário que outro júri seja realizado.

Havendo empate de votos no julgamento da revisão criminal, se o presidente do Tribunal, Câmara ou Turma, não tiver votado ainda, deverá proferir o voto de desempate. Caso já tenha

votado, prevalecerá a decisão mais favorável ao réu. Comentários Revisão criminal é...

- uma ação autônoma de impugnação - de competência originária dos Tribunais (ou da Turma Recursal no caso dos Juizados) - por meio da qual a pessoa condenada requer ao Tribunal - que reveja a decisão que a condenou (e que já transitou em julgado) - sob o argumento de que ocorreu erro judiciário. Revisão criminal e ação rescisória A revisão criminal se parece com a ação rescisória do processo civil. Existem, no entanto, duas diferenças principais:

Revisão criminal Ação rescisória

Pode ser interposta a qualquer tempo após o trânsito em julgado (não há prazo de decadência para ajuizar a revisão).

Deve ser interposta até o prazo de 2 anos após o trânsito em julgado.

Só pode ser ajuizada em favor do condenado (só existe revisão criminal pro reo; não existe revisão criminal pro societate).

A ação rescisória pode ser proposta pelo autor ou pelo réu.

Então a revisão criminal pode ser proposta a qualquer tempo? SIM. A revisão poderá ser requerida em qualquer tempo, mesmo após já ter sido extinta a pena (art. 622 do CPP). Natureza jurídica A revisão criminal NÃO é um recurso. Trata-se de uma ação autônoma de impugnação, mais precisamente uma ação penal de natureza constitutiva (tem por objetivo desconstituir uma decisão transitada em julgado). Pressupostos: A revisão criminal tem dois pressupostos: a) existência de decisão condenatória (ou absolutória imprópria) com trânsito em julgado; b) demonstração de que houve erro judiciário. Quem pode propor a revisão criminal?

O próprio réu;

Procurador legalmente habilitado pelo réu;

O cônjuge, ascendente, descendente ou irmão do réu, caso este já tenha morrido.

CPP/Art. 623. A revisão poderá ser pedida pelo próprio réu ou por procurador legalmente habilitado ou, no caso de morte do réu, pelo cônjuge, ascendente, descendente ou irmão.

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O MP pode propor revisão criminal em favor do réu? Há divergência na doutrina. No entanto, para fins de prova objetiva, deve-se afirmar que não é possível, considerando que o CPP não prevê essa legitimidade. Juízo rescindente e juízo rescisório: No julgamento da revisão criminal, se o Tribunal decidir desconstituir a decisão impugnada, diz-se que houve juízo rescindente. Se, além de desconstituir a decisão impugnada, o próprio Tribunal proferir uma outra decisão em substituição àquela que foi rescindida, diz-se que houve juízo rescisório. Vamos comparar essas duas situações:

Juízo rescindente (juízo revidente) (juízo de cassação):

Juízo rescisório (juízo revisório) (juízo de reforma):

Haverá juízo rescindente quando o Tribunal desconstituir a decisão impugnada.

Haverá juízo rescisório quando o Tribunal, após desconstituir a decisão impugnada, proferir uma nova decisão em substituição àquela que foi rescindida.

Repare que, após realizar o juízo rescindente, pode acontecer (ou não) de o Tribunal realizar o juízo rescisório. Quando haverá juízo rescisório na revisão criminal? O CPP prevê o seguinte:

Art. 626. Julgando procedente a revisão, o tribunal poderá alterar a classificação da infração, absolver o réu, modificar a pena ou anular o processo.

Dessa feita, julgando procedente a revisão (juízo rescindente), o Tribunal poderá: - alterar a classificação da infração (juízo rescindente + juízo rescisório) - absolver o réu (juízo rescindente + juízo rescisório) - modificar a pena (juízo rescindente + juízo rescisório) ou - anular o processo (nesse caso, só haverá juízo rescindente porque o processo será

devolvido à 1ª instância onde lá será proferida nova sentença). Hipóteses em que caberá a revisão criminal:

Art. 621. A revisão dos processos findos será admitida: I - quando a sentença condenatória for contrária ao texto expresso da lei penal ou à evidência dos autos; II - quando a sentença condenatória se fundar em depoimentos, exames ou documentos comprovadamente falsos; III - quando, após a sentença, se descobrirem novas provas de inocência do condenado ou de circunstância que determine ou autorize diminuição especial da pena.

Revisão criminal e soberania dos veredictos: A Constituição Federal afirma que, no Tribunal do Júri, o veredicto dos jurados é soberano:

Art. 5º (...) XXXVIII - é reconhecida a instituição do júri, com a organização que lhe der a lei, assegurados: c) a soberania dos veredictos;

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Sobre esse tema, existem dois grandes debates:

1) A revisão criminal pode ser aplicada no caso de condenações proferidas pelo júri ou haveria uma violação à soberania dos veredictos? Em outras palavras, a revisão criminal de uma decisão condenatória do júri ofende o princípio da soberania dos veredictos? R: NÃO. Cabe revisão criminal mesmo no caso de condenações proferidas pelo Júri. Assim, a condenação penal definitiva imposta pelo Júri também pode ser desconstituída mediante revisão criminal, não lhe sendo oponível a cláusula constitucional da soberania do veredicto do Conselho de Sentença. Esse é o entendimento do STF e do STJ, tendo sido reafirmado neste julgado. Argumentos: A soberania dos veredictos do Júri, apesar de ser prevista constitucionalmente, não é

absoluta, podendo a decisão ser impugnada, seja por meio de recurso, seja por revisão criminal. A CF não previu os veredictos como um poder incontrastável e ilimitado.

Segundo a doutrina, a soberania dos veredictos é uma garantia constitucional prevista em favor do réu (e não da sociedade).

Desse modo, se a decisão do júri apresenta um erro que prejudica o réu, ele poderá se valer da revisão criminal. Não se pode permitir que uma garantia instituída em favor do réu (soberania dos veredictos) acabe por prejudicá-lo, impedindo que ele faça uso da revisão criminal.

Agora vem a pergunta mais polêmica: 2) O Tribunal que irá julgar a revisão criminal, além de fazer o juízo rescindente, poderá também efetuar o juízo rescisório? Ex: se o Tribunal de Justiça entender que a decisão condenatória do júri foi contrária à evidência dos autos (art. 621, I, do CPP), ele terá que apenas anular a decisão e determinar que outra seja proferida (juízo rescindente) ou poderá, além de desconstituir a decisão condenatória, julgar o caso e absolver desde logo o réu (juízo rescisório)?

1ª corrente: O Tribunal, ao julgar a revisão, tem

competência para fazer o juízo rescindente e também o juízo rescisório.

2ª corrente: O Tribunal só poderá fazer o juízo rescindente, devendo determinar que seja realizado novo

júri ao invés de absolver o réu.

Quem defende: Ada Pellegrini Grinover Quem defende: Guilherme de Souza Nucci

Qual é o entendimento do STJ? Trata-se de tema polêmico, mas a 5ª Turma do STJ recentemente adotou a 1ª corrente. Assim, se o Tribunal de Justiça, ao julgar uma revisão criminal, entender que a condenação do réu foi proferida de forma contrária à evidência dos autos, ele poderá absolver diretamente o condenado, não sendo necessário que outro júri seja realizado. Confira:

(...) 1. É possível, em sede de revisão criminal, a absolvição, por parte do Tribunal de Justiça, de réu condenado pelo Tribunal do Júri. (...) 5. Em uma análise sistemática do instituto da revisão criminal, observa-se que entre as prerrogativas oferecidas ao Juízo de Revisão está expressamente colocada a possibilidade de absolvição do réu, enquanto a determinação de novo julgamento seria consectário lógico da anulação do processo. (...) (REsp 964.978/SP, Rel. Min. Laurita Vaz, Rel. p/ Acórdão Min. Adilson Vieira Macabu (Desembargador Convocado do TJ/RJ), Quinta Turma, julgado em 14/08/2012, DJe 30/08/2012)

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Uma última pergunta: Se houver empate no julgamento da revisão criminal pelo Tribunal, o que acontece? Em caso de empate, deve-se aplicar, por analogia, a regra prevista no § 1º do art. 615 do CPP:

§ 1º Havendo empate de votos no julgamento de recursos, se o presidente do tribunal, câmara ou turma, não tiver tomado parte na votação, proferirá o voto de desempate; no caso contrário, prevalecerá a decisão mais favorável ao réu.

Obra consultada

LIMA, Renato Brasileiro de. Manual de Processo Penal. Vol. II. Niterói : Impetus, 2012.

Processo Quinta Turma. HC 137.504-BA, Rel. Min. Laurita Vaz, julgado em 28/8/2012.

DIREITO TRIBUTÁRIO

ICMS e energia elétrica

A energia furtada antes da entrega ao consumidor final não pode ser objeto de incidência do ICMS. O fato gerador do ICMS é o consumo de energia elétrica, portanto o momento do consumo é o

elemento temporal da obrigação tributária, sendo o aspecto espacial o local onde ela é consumida (o Estado de destino é que recolhe o imposto).

Dessa forma, o ICMS deve incidir sobre o valor da energia efetivamente consumida. Assim, a energia elétrica furtada nas operações de transmissão e distribuição não sofre

incidência de ICMS por absoluta “intributabilidade” em face da não ocorrência do fato gerador. Comentários IMPOSTO SOBRE A CIRCULAÇÃO DE MERCADORIAS E PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS – ICMS

Previsão O ICMS é um imposto estadual previsto no art. 155, II, da CF e na LC 87/96:

Art. 155 - Compete aos Estados e ao Distrito Federal instituir impostos sobre: II - operações relativas à circulação de mercadorias e sobre prestações de serviços de transporte interestadual e intermunicipal e de comunicação, ainda que as operações e as prestações se iniciem no exterior;

Características Principais características do imposto:

Plurifásico: incide sobre o valor agregado, obedecendo-se ao princípio da não-cumulatividade;

Real: as condições da pessoa são irrelevantes;

Proporcional: não é progressivo;

Fiscal: tem como função principal a arrecadação. Fatos geradores Eduardo Sabbag afirma que, resumidamente, o ICMS pode ter os seguintes fatos geradores (Manual de Direito Tributário. 4ª ed., São Paulo: Saraiva, 2012, p. 1061):

Circulação de mercadorias;

Prestação de serviços de transporte intermunicipal;

Prestação de serviços de transporte interestadual;

Prestação de serviços de comunicação. Energia elétrica A energia elétrica é considerada “mercadoria” para fins de ICMS?

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Quando ocorre a circulação (compra e venda) de energia elétrica, haverá incidência de ICMS? R: SIM. A energia elétrica é classificada como “mercadoria”, havendo pagamento de ICMS. Em verdade, a própria CF/88 catalogou a energia elétrica como mercadoria para fins de ICMS (art. 155, § 2º, X, “b” e § 3º). Algumas conclusões sobre o ICMS e a energia elétrica:

No caso da energia elétrica, o nosso sistema tributário adotou como elemento temporal da hipótese de incidência do ICMS o consumo, vale dizer, o momento em que a energia, saindo da rede elétrica, é utilizada pelo estabelecimento consumidor. Em outras palavras, o ICMS incide por ocasião do consumo da energia elétrica.

O fato gerador do ICMS apenas se aperfeiçoa, fazendo com que surja a obrigação tributária, com o fornecimento da energia elétrica ao consumidor final.

Se a venda de energia elétrica envolver mais de um Estado, o ICMS deverá ser recolhido ao Estado de destino, onde situado o consumidor final. Desse modo, o elemento espacial do ICMS-Energia é o local onde consumida a energia.

As empresas distribuidoras de energia elétrica são responsáveis, na qualidade de substitutas tributárias, pelo recolhimento do imposto que será devido ao Estado de destino.

O ICMS deve incidir sobre o valor da energia elétrica efetivamente consumida, isto é, a que for entregue ao consumidor, a que tenha saído da linha de transmissão e entrado no estabelecimento da empresa. Assim, a energia elétrica só é gerada e só circula quando há consumo (STJ REsp 960.476/SC).

Feitas essas explicações, vejamos o que foi debatido pelo STJ: Se a energia for furtada antes da entrega ao consumidor final, mesmo assim poderá haver a cobrança do ICMS? Se ocorre furto de energia elétrica (exs: adulteração de medidores, "gato" etc.), haverá mesmo assim incidência de ICMS? NÃO.

Roque Antônio Carraza explica que, para que haja incidência do ICMS-Energia Elétrica é imprescindível que ocorra uma operação jurídica com o consumidor final. Assim, só há que se falar em nascimento do dever de pagar ICMS quando o fornecimento de energia elétrica decorrer de um negócio jurídico regular. Logo, o ICMS deixa de ser devido nos casos em que a energia elétrica se perde, quer por razões físicas ("vazamentos" no sistema), quer por motivos de ordem criminal (furto). É que, inexistindo consumo regular, ausente está – pelo menos sob a óptica do Direito Tributário – qualquer operação relativa ao fornecimento de energia elétrica (ICMS. 13ª ed., São Paulo: Malheiros Editores, 2009, p. 272-273). O STJ, considerando esse entendimento de Carraza e de outros doutrinadores, chegou às seguintes conclusões:

A energia furtada antes da entrega ao consumidor final não pode ser objeto de incidência do ICMS;

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O FG do ICMS é o consumo de energia elétrica, portanto o momento do consumo é o elemento temporal da obrigação tributária, sendo o aspecto espacial o local onde ela é consumida (o Estado de destino é que recolhe o imposto);

O ICMS deve incidir sobre o valor da energia efetivamente consumida.

Assim, a energia elétrica furtada nas operações de transmissão e distribuição não sofre incidência de ICMS por absoluta “intributabilidade” em face da não ocorrência do fato gerador.

Processo Segunda Turma. REsp 1.306.356-PA, Rel. Min. Castro Meira, julgado em 28/8/2012.

EXERCÍCIOS DE FIXAÇÃO

Julgue os itens a seguir: 1) (Juiz Federal/TRF3 – CESPE – 2011) Em havendo fundados indícios de responsabilidade pela prática de

ato de improbidade, a comissão processante designada pela autoridade administrativa competente pode, de ofício, decretar o sequestro dos bens do agente público ou terceiro que tenha causado dano ao patrimônio público. ( )

2) (AGU – CESPE – 2012) Autorizada a cumulação do pedido condenatório e do de ressarcimento em ação por improbidade administrativa, a rejeição do pedido condenatório por prescrição não obsta o prosseguimento da demanda relativa ao pedido de ressarcimento, que é imprescritível. ( )

3) (Promotor/RR – CESPE – 2012) Consoante entendimento do STJ, para a decretação da indisponibilidade de bens, é necessária a prova de periculum in mora concreto, ou seja, de que o acusado esteja dilapidando seu patrimônio, ou na iminência de fazê-lo, além da demonstração de fumus boni iuris, consistente em fundados indícios da prática de atos de improbidade administrativa. ( )

4) (Promotor/SP – 2012) Com relação à Lei de Improbidade Administrativa (Lei 8.429/92), é correto afirmar que caberá à autoridade administrativa responsável pelo inquérito representar ao Ministério Público para indisponibilidade dos bens do indiciado. ( )

5) (Juiz TJCE – CESPE – 2012) A Lei n.º 8.429/1992, que trata da improbidade administrativa, determina que a autoridade administrativa responsável pelo inquérito apresente ao MP representação para a indisponibilidade dos bens do indiciado, nos casos em que o ato de improbidade ensejar enriquecimento ilícito, providência prescindível caso as condutas causem lesão ao erário ou atentem contra os princípios da administração. ( )

6) (Juiz TJCE – CESPE – 2012) Entre as medidas de natureza cautelar que podem ser adotadas na esfera administrativa, contra o agente que pratique ato de improbidade, incluem-se o afastamento do exercício do cargo, emprego ou função, e o sequestro e bloqueio de bens. ( )

7) (Juiz Federal/TRF3 – CESPE – 2011) Em havendo fundados indícios de responsabilidade pela prática de ato de improbidade, a comissão processante designada pela autoridade administrativa competente pode, de ofício, decretar o sequestro dos bens do agente público ou terceiro que tenha causado dano ao patrimônio público. ( )

8) (Promotor/RR – CESPE – 2012) Determinada pessoa pode exercer um direito contrariando um comportamento anterior próprio, sem necessidade de observância dos elementos constitutivos da boa-fé objetiva. ( )

9) (PFN – ESAF – 2012) A proibição do venire contra factum proprium, corolário do princípio da boa-fé, impede que sejam adotadas posturas contraditórias no processo e constitui lastro para a teorização da preclusão lógica no processo civil. ( )

10) (Juiz Federal/TRF2 – CESPE – 2009 – adaptada) A boa-fé objetiva recomenda a verificação da vontade aparente das partes. ( )

11) (Juiz Federal/TRF2 – CESPE – 2009) Por se tratar de regra de conduta, a boa-fé objetiva da parte é analisada externamente. ( )

12) (Juiz Federal/TRF3 – CESPE – 2011) A consideração pelo juiz da possibilidade de existência de propósito protelatório do réu indica análise da situação conforme o princípio da boa fé processual, sob o ângulo objetivo. ( )

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13) (Juiz Federal/TRF3 – CESPE – 2011) A configuração do abuso de direito exige o elemento subjetivo. ( ) 14) (Juiz Federal/TRF3 – CESPE – 2011) De acordo com o STJ, a teoria dos atos próprios não se aplica ao

poder público. ( ) 15) (Promotor/RR – CESPE – 2012) O princípio da unirrecorribilidade não comporta exceções. ( ) 16) (Promotor/TO – CESPE – 2012) O princípio da unirrecorribilidade — unicidade ou singularidade recursal

— é a regra geral e implica a impossibilidade de interposição de mais de um recurso, simultaneamente, contra a mesma decisão. ( )

17) (Juiz TJ/AC – CESPE – 2012) A execução de dívida oriunda de pensão alimentícia não pode ensejar a penhorabilidade do bem de família. ( )

18) A impenhorabilidade do bem de família não pode ser oposta pelo devedor ao credor de pensão alimentícia decorrente de indenização por ato ilícito. ( )

19) (DPU – CESPE – 2010) A revisão criminal, que é um dos aspectos diferenciadores do mero direito à defesa e do direito à ampla defesa, este caracterizador do direito processual penal, tem por finalidade o reexame do processo já alcançado pela coisa julgada, de forma a possibilitar ao condenado a absolvição, a melhora de sua situação jurídica ou a anulação do processo. ( )

20) (Promotor/SE – CESPE – 2010) Compete ao tribunal de justiça processar e julgar revisão criminal em que o réu condenado pelo juizado especial criminal, por praticar crime de menor potencial ofensivo, pugne pela reforma de decisão. ( )

21) (Promotor/RO – CESPE – 2010) Acerca dos recursos e das ações penais autônomas, assinale a opção correta. a) A soberania dos vereditos no tribunal do júri não é absoluta, pois se admite revisão criminal, ação na qual o réu que foi condenado pelo conselho de sentença poderá ser absolvido. b) De acordo com o CPP, têm legitimidade para promover a revisão criminal o próprio réu, seu procurador legal, membro do MP e, em caso de morte do réu, o cônjuge, ascendente, descendente ou irmão do condenado. c) A revisão criminal pode ser proposta a qualquer tempo, desde que não esteja extinta a punibilidade, hipótese em que não será possível a revisão por falta de interesse de agir. d) É pressuposto da revisão criminal o trânsito em julgado de uma sentença penal condenatória, sendo inadmissível nos casos de sentença penal absolutória, ainda que se aplique medida de segurança. e) De acordo com a Lei de Execuções Penais, das decisões proferidas pelo juiz das execuções caberá recurso de agravo no prazo de dez dias, com efeito suspensivo.

22) (Juiz/PB – CESPE – 2011) Conforme jurisprudência do STJ, a decisão de pronúncia exige juízo de certeza, não podendo, no entanto, o magistrado proferir manifestação exauriente sobre a prática do delito, sob pena de incorrer em invasão da competência constitucional do júri. ( )

23) (Promotor/RR – CESPE – 2012) De acordo com a Lei Federal n.º 9.800/1999, é possível a prática de qualquer ato processual escrito por meio de sistema de transmissão de dados e imagens do tipo fac-símile ou outro similar, entendendo o STJ que o prazo de juntada dos originais em juízo deve ser contínuo, não se interrompendo nos sábados, domingos e feriados. ( )

Questão discursiva: (Juiz Federal/TRF5 – CESPE – 2011) Consoante o art. 513 do Código de Processo Civil, da sentença caberá apelação. Analise, de forma fundamentada, esse dispositivo legal à luz dos princípios contrapostos da unirrecorribilidade e da fungibilidade dos recursos, discutindo a possibilidade de interposição de outros recursos diante de uma sentença, nos termos de permissivos também presentes na legislação processual cível. Caso tal interposição seja considerada possível, identifique os recursos.

Gabarito

1. E 2. C 3. E 4. C 5. E 6. E 7. E 8. E 9.C 10. C

11. C 12. C 13. E 14. E 15. E 16. C 17. E 18. C 19. C 20. E

21. Letra A 22. E 23. C