influÊncia da preparaÇÃo de amostras de concreto com agregado reciclado e cinza de casca de arroz...

15
1 3º Encontro Nacional Sobre Reaproveitamento de Resíduos na Construção Civil São Leopoldo, 10 a 12 de julho de 2013 _____________________________________________________________________________ INFLUÊNCIA DA PREPARAÇÃO DE AMOSTRAS DE CONCRETO COM AGREGADO RECICLADO E CINZA DE CASCA DE ARROZ NA PENETRAÇÃO DE ÍONS CLORETO TATIANE I. HENTGES (1) ; MARLOVA P. KULAKOWSKI (2) ; MARIANA B. FEDUMENTI (3) (1) Bolsista de Iniciação Científica Probiti (Fapergs) UNISINOS [email protected]; (2) Professora PPGEC – [email protected]; (3) Mestre em Engenharia Civil – UNISINOS – [email protected] RESUMO Os agregados reciclados de concreto (ARC) podem aumentar a penetração de cloretos no concreto e diminuir sua durabilidade, e a cinza de casca de arroz (CCA) pode diminuir este aspecto negativo. Comumente emprega-se o método ASTM C1202 para avaliar a penetração de cloretos em concretos. Existem muitas críticas relativas ao mesmo, principalmente para avaliar concretos com ARC. Neste método, satura-se as amostras em água fervida. O NT Build 492, outro método empregado neste tipo de avaliação, onde a saturação é feita em água destilada com cal. O trabalho objetiva avaliar os resultados de penetração de cloretos em concretos com ARC e CCA pelo método ASTM C 1202, comparando-se a forma padrão de saturação e a saturação em água com cal. Empregou-se concretos com 0, 25 e 50% de ARC em substituição ao agregado natural; 0, 10 e 20% de CCA em substituição ao cimento. Não há diferenças significativas entre os resultados dos dois modos de preparo, com exceção dos concretos com 50% de ARC. Empregar água com cal evita a lixiviação em concretos com e sem ARC e padroniza a saturação. Palavras-chave: penetração de cloreto; preparação de amostra; ASTM C 1202; agregado reciclado de concreto.

Upload: tatiane-hentges

Post on 15-Sep-2015

7 views

Category:

Documents


1 download

DESCRIPTION

Artigo apresentado no III ENARC - Encontro Nacional sobre Aproveitamento de Resíduos na Construção Civil ASTM C 1202

TRANSCRIPT

  • 1 3 Encontro Nacional Sobre Reaproveitamento de Resduos na Construo Civil

    So Leopoldo, 10 a 12 de julho de 2013 _____________________________________________________________________________

    INFLUNCIA DA PREPARAO DE AMOSTRAS DE CONCRETO COM

    AGREGADO RECICLADO E CINZA DE CASCA DE ARROZ NA PENETRAO

    DE ONS CLORETO

    TATIANE I. HENTGES (1); MARLOVA P. KULAKOWSKI (2); MARIANA B. FEDUMENTI (3)

    (1) Bolsista de Iniciao Cientfica Probiti (Fapergs) UNISINOS

    [email protected]; (2) Professora PPGEC [email protected]; (3) Mestre

    em Engenharia Civil UNISINOS [email protected]

    RESUMO

    Os agregados reciclados de concreto (ARC) podem aumentar a penetrao de cloretos

    no concreto e diminuir sua durabilidade, e a cinza de casca de arroz (CCA) pode

    diminuir este aspecto negativo. Comumente emprega-se o mtodo ASTM C1202 para

    avaliar a penetrao de cloretos em concretos. Existem muitas crticas relativas ao

    mesmo, principalmente para avaliar concretos com ARC. Neste mtodo, satura-se as

    amostras em gua fervida. O NT Build 492, outro mtodo empregado neste tipo de

    avaliao, onde a saturao feita em gua destilada com cal. O trabalho objetiva

    avaliar os resultados de penetrao de cloretos em concretos com ARC e CCA pelo

    mtodo ASTM C 1202, comparando-se a forma padro de saturao e a saturao em

    gua com cal. Empregou-se concretos com 0, 25 e 50% de ARC em substituio ao

    agregado natural; 0, 10 e 20% de CCA em substituio ao cimento. No h diferenas

    significativas entre os resultados dos dois modos de preparo, com exceo dos

    concretos com 50% de ARC. Empregar gua com cal evita a lixiviao em concretos

    com e sem ARC e padroniza a saturao.

    Palavras-chave: penetrao de cloreto; preparao de amostra; ASTM C 1202;

    agregado reciclado de concreto.

  • 2 3 Encontro Nacional Sobre Reaproveitamento de Resduos na Construo Civil

    So Leopoldo, 10 a 12 de julho de 2013 _____________________________________________________________________________

    INFLUENCE OF PREPARATION OF CONCRETE SPECIMENS WITH RECYCLED

    AGGREGATE ON THE PENETRATION OF CHLORITE IONS

    ABSTRACT

    The recycled concrete aggregate may increase the chlorite penetration into concrete

    and decrease its durability, and the rice husk ash may decrease this aspect. Commonly

    employ the method ASTM C 1202 to assess penetration of chlorites in concrete. There

    are many criticisms about this method, especially to assess concretes with recycled

    concrete aggregate. On this method, the specimens are saturated in boiled water. The

    NT Build 492, also a method employed on this kind of evaluation, where the saturation

    is made in distilled water with lime. This study aims evaluate the results of penetration

    of chlorite into concretes with 0, 25 and 50% of recycled concrete aggregate in place of

    natural aggregate; 0, 10 and 20% of rice husk ash to replace the cement. There are no

    significant differences among the results of two ways of penetrations, except for

    concretes with 50% of recycled concrete aggregate. Employ water with lime prevents

    lixiviation on concretes with and without recycled concrete aggregate and standardizes

    the saturation.

    Key-words: penetration of chloride; specimens preparation; ASTM C 1202; recycled

    concrete aggregate.

    1. INTRODUO

    Pesquisas referentes ao efeito da insero do agregado reciclado de concreto (ARC) no

    concreto vm tomando espao no meio cientfico, e to importante quanto testar a

    influncia nas resistncias fsicas, conhecer o efeito na durabilidade desses novos

    concretos(1).

    A ASTM C 1202(2), que avalia a penetrao de ons cloreto no concreto, uma norma

    bastante utilizada em pesquisas para determinao da durabilidade de concretos. A

    Tabela 1 mostra alguns trabalhos feitos no Estado do Rio Grande do Sul ao longo de 20

    anos que aplicaram este ensaio na metodologia da pesquisa.

  • 3 3 Encontro Nacional Sobre Reaproveitamento de Resduos na Construo Civil

    So Leopoldo, 10 a 12 de julho de 2013 _____________________________________________________________________________

    Tabela 1 - Autores que utilizaram ASTM C 1202(2).

    ANO AUTOR TRABALHO INSTITUIO MATERIAIS UTILIZADOS

    1994 KULAKOWSKI(3) Dissertao de Mestrado UFRGS Argamassas de cimento Portland e areia com

    adio de microsslica para reparos de estruturas

    2001 HOFFMANN(4) Dissertao de Mestrado UFRGS Concretos variando a relao gua/aglomerante,

    teor de adio de slica ativa, temperatura e tempo de cura

    2004 MISSAU(5) Dissertao de Mestrado UFSM Concretos compostos com diferentes teores de

    CCA

    2004 MOREIRA(6) Dissertao de Mestrado UFSM Concreto com altos teores de cinza volante

    2005 SCHNEIDER(7) Dissertao de Mestrado UFSM Concretos com escoria de alto forno e ativador

    qumico com diferentes perodos de cura

    2008 SIQUEIRA (8) Dissertao de Mestrado UFSM Concretos compostos com cimento Portland

    branco e escria de alto forno ativados quimicamente

    2010 TROIAN(1) Dissertao de Mestrado UNISINOS Concretos produzidos com diferentes teores de

    ARC

    2010 CRAUSS(9) Dissertao de Mestrado UFSM Concretos com diferentes tipos de cimento

    submetidos a tratamento superficial

    Outra norma que simula a penetrao acelerada de cloretos no concreto com auxlio

    de corrente eltrica, a NT Build 492(10). As duas normas prescrevem mtodos muito

    semelhantes de preparo das amostras, diferenciando apenas a soluo onde as fatias

    de concreto so saturadas.

    Conforme a ASTM C 1202(1), a gua para saturao das amostras deve ter sido fervida e

    estar temperatura ambiente. Segundo a NT Build 492(10), para elaborar a soluo de

    saturao da amostra deve-se encher o recipiente com soluo saturada de Ca(OH)2,

    dissolvendo sem excesso o hidrxido de clcio em gua destilada ou deionizada, de

    forma a submergir completamente as amostras.

    A norma brasileira NBR 5738/2003(11) descreve no item 8.2.3 que, quando submersa, a

    cura dos corpos de prova deve ser executada em soluo saturada de hidrxido de

    clcio com temperatura constante de 232C.

    A hidratao do cimento traz, em poucas horas, como resultado da interao entre

    clcio, sulfato, aluminato e ons hidroxilas, grandes cristais de hidrxido de clcio e

    pequenos cristais fibrosos de silicato de clcio hidratado. Estes ocupam o lugar que era

    preenchido pela gua existente nos espaos vazios(12).

  • 4 3 Encontro Nacional Sobre Reaproveitamento de Resduos na Construo Civil

    So Leopoldo, 10 a 12 de julho de 2013 _____________________________________________________________________________

    provvel que no existam ons de clcio livres na gua fervida utilizada no mtodo

    padro ASTM C 1202(2). Assim, quando esta entra em contato com o concreto

    endurecido, tende a dissolver clcio dos produtos de hidratao, principalmente o

    Ca(OH)2. Devido sua solubilidade alta em gua pura, o hidrxido de clcio o

    constituinte mais sensvel eletrlise, ocorrendo a lixiviao(13). Por isso, a adio da

    cal importante quando os corpos de prova de concreto so imersos na soluo de

    saturao.

    Alm disso, observar a forma de preparao das amostras ainda mais relevante

    quando se trabalha com concretos produzidos com agregado reciclado de concreto.

    Parte do ARC composto de argamassa que tambm possui produtos de hidratao

    facilmente solubilizados e lixiviados e o emprego de soluo saturada de cal para

    preparo das amostras a serem ensaiadas evitar distores nos resultados deste tipo

    de concreto.

    Fedumenti(14), ao trabalhar com concretos com ARC, estudou dois mtodos de

    penetrao de ons cloreto (ASTM C 1202(2) e NT Build 492(10)), preparando os corpos

    de prova por saturao em gua com cal de forma a impedir o processo de lixiviao

    do concreto durante o perodo de saturao.

    O presente trabalho foi desenvolvido para validar a adaptao na forma de preparar os

    corpos de prova no mtodo ASTM C 1202(2) proposta por Fedumenti(14).

    2. OBJETIVO

    O objetivo deste trabalho analisar a influncia da soluo de saturao, com e sem

    cal, empregada na preparao de amostras de concretos com agregados reciclados de

    concreto e cinza de casca de arroz, nos resultados de penetrao acelerada de ons

    cloreto, conforme mtodo ASTM C 1202(2).

    3. MATERIAIS

    Os materiais utilizados foram os mesmos do trabalho de Fedumenti (2013)(14). As

    principais caractersticas dos materiais so apresentadas na sequncia.

  • 5 3 Encontro Nacional Sobre Reaproveitamento de Resduos na Construo Civil

    So Leopoldo, 10 a 12 de julho de 2013 _____________________________________________________________________________

    3.1. Cimento

    O cimento utilizado neste trabalho foi o CPII-F-32, por no possuir adies reativas,

    facilitando a compreenso dos resultados, com massa especfica de 3,11 kg/dm.

    3.2. Cinza de casca de arroz

    A cinza de casca de arroz utilizada nos ensaios apresenta alto teor de slica e dimenso

    mdia de partcula de 6,22 m e massa especfica de 2,12 kg/dm. O ndice de

    atividade pozolnica foi de aproximadamente 105% pelo mtodo NBR 5752/2012(15),

    enquanto que pelo mtodo adaptado da norma com o uso de aditivo foi de

    aproximadamente 132%.

    3.3. Agregado mido natural

    Proveniente do Rio Jacu, no Rio Grande do Sul, o agregado mido natural utilizado

    neste trabalho foi areia quartzosa. A caracterizao foi feita no Laboratrio de

    Materiais de Construo (LMC) da Unisinos, obtendo-se uma massa especfica de 2,55

    g/cm e massa unitria de 1,52 g/cm.

    3.4. Agregado grado natural

    O agregado grado natural empregado na pesquisa foi brita basltica, proveniente do

    distrito da Linha So Jorge, cidade de Garibaldi, Rio Grande do Sul. Tambm executada

    no LMC da Unisinos, a caracterizao apresentou massa especfica de 2,67 g/cm e

    massa unitria de 1,40 g/cm.

    3.5. Agregado reciclado de concreto (ARC)

    Este agregado proveniente de resduo da produo de laje pr-fabricada tipo Rott,

    submetida cura convencional, com fck 35 MPa, britada em um britador de

    mandbulas com abertura de 20 mm. O agregado utilizado passante na peneira de

    malha de abertura 19 mm e retido na 4,8 mm. A massa unitria do ARC de 1,13

    g/cm e a massa especfica de 2,21 g/cm.

  • 6 3 Encontro Nacional Sobre Reaproveitamento de Resduos na Construo Civil

    So Leopoldo, 10 a 12 de julho de 2013 _____________________________________________________________________________

    3.6. Aditivo

    O aditivo utilizado foi um aditivo superplastificante de alto desempenho da marca MC-

    PowerFlow 1180. O mximo de aditivo aplicado foi de 0,28%.

    3.7. gua

    Para execuo dos corpos de prova, foi utilizada gua proveniente da rede de

    abastecimento local.

    A gua utilizada para saturao das amostras no ensaio padro ASTM C 1202(2), foi a

    mesma, tendo sido fervida at o ponto de ebulio pelo menos dois dias antes de sua

    utilizao e armazenada em recipiente fechado em sala com temperatura constante de

    212C.

    3.8.gua destilada com cal

    A gua destilada proveniente de destilador do Laboratrio de Anlise Ambiental da

    Unisinos. A esta foi adicionada cal hidratada at que a soluo ficasse saturada.

    3.9.Soluo de Cloreto de sdio

    Especificada na norma ASTM C 1202(2), a soluo de NaCl de 3,0% em massa (grau de

    reagente) em gua destilada.

    3.10. Soluo de Hidrxido de Sdio

    Soluo de hidrxido de sdio (NaOH) de 0,3-N (grau de reagente) em gua destilada.

    4. MTODOS

    4.1. Penetrao de cloretos

    A norma da ASTM C 1202(2) prescreve a utilizao de amostras com 102 mm x 51 mm.

    Assim, so moldados corpos de prova cilndricos de 100 mm x 200 mm e cortadas trs

    fatias perpendiculares ao eixo, excluindo-se aproximadamente 25 mm das

    extremidades.

  • 7 3 Encontro Nacional Sobre Reaproveitamento de Resduos na Construo Civil

    So Leopoldo, 10 a 12 de julho de 2013 _____________________________________________________________________________

    Aps o corte, as laterais das fatias devem ser impermeabilizadas e, a partir disso, as

    amostras devem ser colocadas em um dessecador para aplicao de vcuo com

    presso de 50 mm Hg (6665 Pa). Passadas trs horas de vcuo, coloca-se gua fervida

    (e j esfriada temperatura ambiente) at a completa submerso das amostras

    (durante este processo o vcuo continua sendo aplicado). Aps a submerso, a bomba

    de vcuo permanece ligada por mais uma hora. A partir do momento em que

    desligado o vcuo, o aparato deve permanecer sem entrada de ar por 182 horas.

    Finalizada a preparao, faz-se a montagem das amostras com as clulas, as telas e os

    aros. Neste trabalho, as fatias foram ligadas s clulas com selante base de

    poliuretano. Assim que o selante usado na montagem estiver seco, inicia-se o ensaio. A

    Figura 1 ilustra o procedimento realizado nas amostras at o momento.

    Figura 1. Procedimento adotado no ensaio ASTM C 1202(2): (a) Corpo de prova 100mm x 200mm; (b) Corte das clulas; (c) Impermeabilizao das faces laterais; (d) Saturao

    das amostras; (e) Montagem das clulas para o ensaio.

    Fonte: Schneider(7)

    O ensaio consiste em conectar as clulas em paralelo com uma fonte que deve

    fornecer a tenso de 600,1 Volts pelo perodo do ensaio (Figura 2). Na montagem,

    deve-se ter cuidado para que a face superior da fatia fique em contato com a soluo

    de cloreto de sdio (onde ser conectado o polo negativo da fonte de alimentao), e

    a face inferior esteja em contato com a soluo de hidrxido de sdio (conectada ao

    polo positivo). Devem ser anotadas as correntes passantes (em Coulombs) de cada

    amostra no momento em que inicia o ensaio e a cada 30 minutos, durante 6 horas. Ao

    final do ensaio so registradas 13 correntes passantes em cada amostra, sendo a

    ltima aos 360 minutos. Com essas informaes, a norma permite quantificar, com

  • 8 3 Encontro Nacional Sobre Reaproveitamento de Resduos na Construo Civil

    So Leopoldo, 10 a 12 de julho de 2013 _____________________________________________________________________________

    auxlio da Equao (A), a penetrao de ons cloreto na amostra, resultado que dado

    em coulombs.

    Figura 2. Esquema de ligao fonte-clulas-ampermetro-voltmetro

    (A)

    Onde Q = carga passante (coulombs); I0 = corrente (amperes) imediatamente aps a

    tenso ser aplicada; e It = corrente (amperes) em t minutos aps a tenso ser aplicada.

    Tendo calculado o valor final, a ASTM C 1202(2) classifica a resistncia dos concretos

    quanto penetrao dos ons cloreto, conforme Tabela 2.

    Tabela 2 Penetrabilidade de ons cloreto com base na carga passante Carga Passante (coulombs) Penetrabilidade de ons cloreto

    >4000 Alta

    2000 4000 Moderada

    1000 2000 Baixa

    100 1000 Muito baixa

    < 100 Desprezvel

    Fonte: ASTM C 1202(2)

  • 9 3 Encontro Nacional Sobre Reaproveitamento de Resduos na Construo Civil

    So Leopoldo, 10 a 12 de julho de 2013 _____________________________________________________________________________

    4.2. Saturao dos corpos de prova

    Como j descrito, o foco deste trabalho consiste na avaliao do mtodo de preparo

    das amostras para o ensaio. Foram realizadas duas formas distintas de preparo destas

    amostras: a primeira delas, descrita conforme o mtodo padro da norma e a segunda,

    com a submerso das amostras em gua destilada com cal (Figura 3). Para ambos os

    mtodos, foi aplicado vcuo e submergido as amostras de acordo com cada preparo.

    Figura 3. Saturao das amostras: (a) gua fervida; (b) soluo de cal em gua destilada.

    (a) (b)

    4.3. Produo dos corpos de prova

    Foram produzidos e ensaiados concretos elaborados com nove traos distintos, com 0,

    10 e 20% de substituio do cimento por cinza de casca de arroz (CCA) e 0, 25 e 50% de

    substituio do agregado grado natural por agregado reciclado de concreto (ARC). O

    trao unitrio em massa empregado foi 1:2,36:2,74 e a relao gua/aglomerante foi

    0,53. Para cada um dos mtodos de saturao foram empregadas trs amostras,

    totalizando 54 ensaios.

    4.4. Tratamento e anlise de dados

    Com os resultados obtidos do ensaio de penetrao de ons cloreto, utilizou-se a

    Equao A e fez-se a mdia da penetrabilidade de cada trao. Foi empregada a anlise

    de varincia (ANOVA) como anlise estatstica para o tratamento dos dados, para

    investigar se h ou no diferena significativa entre os efeitos da variveis envolvidas

    no estudo sobre a penetrao de ons cloreto, bem como os efeitos devido s possveis

  • 10 3 Encontro Nacional Sobre Reaproveitamento de Resduos na Construo Civil

    So Leopoldo, 10 a 12 de julho de 2013 _____________________________________________________________________________

    interaes entre essas variveis a partir dos resultados obtidos. As anlises foram

    feitas na verso de demonstrao do software Statistica 10.

    As variveis de anlise foram: teor de cinza de casca de arroz, teor de agregado

    reciclado de concreto, e mtodo de preparao das amostras (submergidas em gua

    destilada com ou sem cal).

    5. RESULTADOS

    A carga total passante nas amostras apresentada na Figura 4, com destaque para as

    classificaes de penetrabilidade descritas pela norma: A (alta), M (moderada), B

    (baixa), MB (muito baixa) e D (desprezvel). Percebe-se que as nicas amostras que

    apresentam alta penetrabilidade so as que no contm cinza de casca de arroz. A

    substituio do cimento por 10% de CCA muda a classificao dos concretos estudados

    para moderada e as amostras de concreto com 20% da pozolana apresentam

    resultados na classe de penetrao de ons cloreto muito baixa*.

    *Desprezados os 4,3 coulombs ultrapassados pelo trao E com cal.

    Figura 4 Grfico da penetrabilidade de cloretos das amostras e classificao: (A) alta; (M) moderada; (B) baixa; (MB) muito baixa; e (D) desprezvel

    A anlise da influncia da adio de cal no preparo das amostras por ANOVA (Tabela 3)

    indicou no haver diferena significativa entre os resultados de carga total passante.

    Com exceo de dois traos, todos os outros mostraram uma diminuio da carga

  • 11 3 Encontro Nacional Sobre Reaproveitamento de Resduos na Construo Civil

    So Leopoldo, 10 a 12 de julho de 2013 _____________________________________________________________________________

    passante total quando a soluo de preparo empregou cal. Esta diminuio, porm,

    no alterou a classificao dos traos quanto penetrao de ons cloreto.

    Tabela 3 - Anlise da influncia das variveis no preparo das amostras por

    ANOVA

    Fonte SQ GDL MQ Teste F Significncia - p Efeito

    ARC 1675288 2 837644 2.272 0,117650 NS

    CCA 248149956 2 124074978 336.604 0,000000 S

    CAL 467448 1 467448 1.268 0,267566 NS

    ARC*CCA 3538616 4 884654 2.400 0,067979 NS

    ARC*CAL 2173002 2 1086501 2.948 0,065237 NS

    CCA*CAL 393403 2 196701 0.534 0,591038 NS

    ARC*CCA*CAL 4160994 4 1040249 2.822 0,039073 S

    Erro 13269887 36 368608

    SQ = soma dos quadrados; GDL=graus de liberdade; MQ = mdia quadrada; Teste F = MQG/MQR (mdia

    quadrada do grupo/mdia quadrada do erro); valor-p = probabilidade, distribuio t de Student;

    significncia: S= significativo, NS = no significativo

    Os dois traos que apresentam maior carga passante para as amostras preparadas com

    cal foram os compostos com 50% de substituio de agregado grado natural por

    agregado reciclado de concreto.

    O efeito isolado do teor de agregado reciclado sobre os resultados da carga total

    passante no concreto apresentado no grfico de mdias da Figura 5. Substituindo-se

    25% de ARC a carga passante aumenta em cerca de 15% quando comparada com o os

    resultados dos concretos sem agregado reciclado. Porm, quando a substituio

    maior, de 50%, o aumento da carga total cai para 11%. Deve-se lembrar que esse

    grfico leva em considerao os resultados de todos os traos estudados, ou seja, a

    CCA pode estar interferindo no comportamento.

    A Figura 6 mostra as mdias do efeito isolado da influncia do fator cinza de casca de

    arroz sobre o total de carga passante. Este fator foi um dos que mais contribuiu para

    o comportamento do concreto, tendo em vista que a simples substituio de 10% de

    cimento por CCA diminui 62% a carga total passante em relao aos concretos sem

    CCA. Quando se compara a mdia de valores entre os concretos sem CCA e com 20%

  • 12 3 Encontro Nacional Sobre Reaproveitamento de Resduos na Construo Civil

    So Leopoldo, 10 a 12 de julho de 2013 _____________________________________________________________________________

    de substituio de cimento por CCA, a diminuio da carga total passantes se eleva

    para 85%.

    Figura 5 Efeito isolado da varivel ARC no comportamento da carga total passante nas

    amostras.

    Figura 6 - Efeito isolado da varivel CCA no comportamento da penetrao total de

    cloretos.

    A influncia da cal na carga total passante nas amostras apresentada no grfico da

    Figura 7, onde a adio desta diminui em pouco mais de 6% a penetrabilidade de

    cloretos. A carga total passante das amostras preparada com cal, de modo geral, no

    ultrapassa os limites estipulados pela ASTM C1202 para variabilidade dos resultados

    (12,3%) e pode evitar um processo de lixiviao.

    Figura 7 Efeito isolado da varivel mtodo de preparao no comportamento da carga total passante.

    A interao de segunda ordem entre a CCA, o ARC e a CAL pode ser visualizada na

    Figura 8. H, em geral, uma diminuio na carga total quando se adiciona cal na gua

    de preparao das amostras, porm essa diferena no significativa, pois o

  • 13 3 Encontro Nacional Sobre Reaproveitamento de Resduos na Construo Civil

    So Leopoldo, 10 a 12 de julho de 2013 _____________________________________________________________________________

    percentual de diminuio de 12,3%. A Tabela 3 mostra o efeito percentual que a

    adio de cal causa nos resultados do ensaio ASTM C 1202(1) para cada trao.

    Figura 8 - Interao da varivel CCA, ARC e A/AGL em relao penetrao de cloretos.

    Tabela 3 Influncia do emprego de cal na preparao das amostras - diferena entre os mtodos de preparao para cada trao estudado

    Teor ARC(%) Teor CCA (%)

    Influncia do emprego de cal na carga total

    passante Diferena (%)

    0 0 Diminuio 5,00

    0 10 Diminuio 7,04

    0 20 Diminuio 4,52

    25 0 Diminuio 25,53

    25 10 Diminuio 6,33

    25 20 Diminuio 3,37

    50 0 Aumento 17,59

    50 10 Diminuio 11,50

    50 20 Aumento 17,22

    Com estes dados, percebe-se que para a maioria dos resultados a variao entre os

    dois mtodos baixa, com algumas excees. Estas excees podem estar vinculadas

    obteno da fatia pois, em outro estudo(15), foi comprovado que existe diferena de

    carga total passante entre as fatias retiradas em diferentes alturas de um mesmo

    corpo de prova cilndrico. As fatias do topo do corpo de prova apresentam maior

    penetrao do que aquelas retiradas da base do corpo de prova. No caso deste estudo,

  • 14 3 Encontro Nacional Sobre Reaproveitamento de Resduos na Construo Civil

    So Leopoldo, 10 a 12 de julho de 2013 _____________________________________________________________________________

    empregaram-se fatias retiradas de diferentes alturas dos corpos de prova, em funo

    do programa experimental no qual estava inserido.

    6.CONCLUSO

    Conforme os resultados obtidos, a modificao do mtodo de preparo da ASTM C

    1202(2) no apresentou diferenas significativas entre os resultados quando

    comparados ao mtodo de preparo da NT Build 492(10), com cal. Porm, h uma

    alterao nos resultados com a utilizao de 50% de ARC, sendo necessrio um maior

    cuidado quando se utiliza grandes quantidades de substituio de agregado reciclado

    de concreto por agregado natural.

    De maneira geral, aconselhvel o uso de saturao das amostras em gua com cal,

    visto que desta forma previne-se a lixiviao do hidrxido de clcio dos concretos em

    estudo, evita-se a necessidade de ferver a gua e os riscos agregados, assim como

    diminui o tempo de preparo da soluo para saturar as amostras. Obtm-se ainda uma

    padronizao da preparao de dois mtodos de ensaios que buscam os mesmos

    resultados: avaliar a penetrabilidade de cloretos em concretos.

    7. REFERNCIA

    1.TROIAN, Aline. Avaliao da durabilidade de concretos produzidos com agregado reciclado de concreto frente penetrao de ons cloreto. 2010. 127p. Disserta (Mestrado em Engenharia Civil) Programa de Ps-graduao em Engenharia Civil: Gesto de Resduos. Universidade do Vale do Rio dos Sinos. So Leopoldo, RS, 2010.

    2.AMERICAN SOCIETY FOR TESTING MATERIALS. ASTM C1202-07: Standard Test Method for Electrical Indication of concretes Ability to Resist Chloride Ion Penetration. Philadelphia, 2007.

    3.KULAKOWSKI, Marlova Piva. Argamassa dom adio de microsslica para preparos estruturais: estudo da penetrao de cloretos. 1994. 125f. Dissertao (Mestrado em Engenharia Civil) Curso de Ps-Graduao em Engenharia Civil, Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Porto Alegre, RS, 1994.

    4.HOFFMANN, Anelise T. Influncia da Adio de slica ativa, relao gua/aglomerante, temperatura e tempo de cura no coeficiente de difuso de cloretos em concretos. 2001. 132f. Dissertao (Mestrado em Engenharia Cvil) Programa de Ps-Graduao em Engenharia Civil, Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Porto Alegre, RS, 2001.

    5.MISSAU, Fabiano. Penetrao de cloretos de concretos contendo diferentes teores de cinza de casca de arroz. 2004. 129f. Dissertao (Mestrado em Engenharia Civil) -

  • 15 3 Encontro Nacional Sobre Reaproveitamento de Resduos na Construo Civil

    So Leopoldo, 10 a 12 de julho de 2013 _____________________________________________________________________________

    Programa de Ps-Graduao em Engenharia Civil, Universidade Federal de Santa Maria. Santa Maria, RS, 2004.

    6.MOREIRA. Bianca P. Estudo da penetrao de cloretos na camada de cobrimento do concreto com altos teores de cinza volante. 2004. 135f. Dissertao (Mestrado em Engenharia Civil) - Programa de Ps-Graduao em Engenharia Civil, Universidade Federal de Santa Maria. Santa Maria, RS, 2004.

    7.SCHNEIDER, Jonas Andr. Penetrao de cloretos em concretos com escria de alto forno e ativador qumico submetidos a diferentes perodos de cura. 2005. 154f. Dissertao (Mestrado em Engenharia Civil) Programa de Ps-Graduao em Engenharia Civil. Universidade Federal de Santa Maria, Santa Maria, RS, 2005.

    8.SIQUEIRA, Henrique C. Penetrao de cloretos em concretos compostos com cimento Portland branco e escria de alto forno, ativados quimicamente. 2008. 141f. Dissertao (Mestrado em Engenharia Civil) Programa de Ps-Graduao em Engenharia Civil. Universidade Federal de Santa Maria, Santa Maria, RS, 2008.

    9.CRAUSS, Camila. Penetrao de cloretos em concretos com diferentes tipos de cimento submetidos a tratamento superficial. 2010. 89f. Dissertao (Mestrado em Engenharia Civil) Programa de Ps-Graduao em Engenharia Civil, Universidade Federal de Santa Maria. Santa Maria, RS, 2010.

    10.NT BUILD 492 - NORDTEST METHOD Concrete, Mortar and Cement-Based Repair Materials: Chloride Migration Coefficient From Non-Steady-State Migration Experiments. Nordtest, Espoo, Finland, 1999.

    11.ASSOCIAO BRASILEIRA DE NORMAS TCNICAS ABNT. NBR 5738: 2003. Concreto Procedimento para moldagem e cura de corpos-de-prova. Rio de Janeiro, 2003.

    12.MEHTA, P.K., MONTEIRO, P.J.M. Concreto: estrutura, propriedades e materiais. So Paulo: IBRACON, 2008. 573f.

    13.LAPA, Jos Silva. Patologia, recuperao e reparo das estruturas de concreto. 2008. 56f. Monografia (Especializao em Construo Civil) Departamento de Engenharia de Materiais e Construo. Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, MG, 2008.

    14.FEDUMENTI, Mariana B. Avaliao da influncia da cinza de casca de arroz na penetrao de ons cloreto em concretos com agregado reciclado de concreto. 2013. 128f. Dissertao (Mestrado em Engenharia Civil) Programa de Ps-Graduao em Engenharia Civil, Universidade do Vale do Rio dos Sinos. So Leopoldo, RS, 2013.

    15.HENTGES, T.I. Comparao de mtodos de preparo de corpos de prova para o mtodo de penetrao de cloretos ASTM C 1202. In: II CONGRESSO DE INCIAO CIENTFICA E PS-GRADUAO CICPG 2012. Anais... So Leopoldo: Unisinos, 2012. p. 2416-2417