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Edição 229 - Setembro/Outubro de 2016 ISSN 1981 8319 Revista Maçônica

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Edição 229 - Setembro/Outubro de 2016

ISSN

1981 8

319

Revista Maçônica

QUINTESSÊNCIA OUQUINTA-ESSÊNCIA

REGULARIDADE,RECONHECIMENTOE JURISDIÇÃOCOMPARTILHADA

Os Grão-Mestres abaixo assinados, aqui representando suas respectivas Potências Maçônicas no âmbito do estado de Santa Catarina, tendo presente que a Maçonaria Brasilei-ra permanece fiel à tradição de instituição partícipe nos mais importantes movimentos liber-tários e democráticos de nosso País e de tantos outros episódios marcantes da vida política do Brasil, não podem deixar de se manifestar frente à iminência de um verdadeiro atentado contra a cidadania, contra as liberdades individuais, contra a autonomia das instituições le-galmente constituídas e contra a soberania dos Poderes da República.

Assim, vimos ante Vossa Excelência para expressar nosso amplo repúdio ao contido no Projeto de Lei nº 280, originário do Senado Federal e de autoria do Senador Renan Calhei-ros, na medida em que o mesmo pretende definir como “Crime de Abuso de Autoridade” as ações dos agentes públicos de investigação, diligência, captura, condução, detenção e prisão de suspeitos e indiciados, tendendo a inibir e até mesmo inviabilizar a atuação do Ministério Público Federal, da Polícia Federal, da Receita Federal e da Justiça Federal no combate à cor-rupção, particularmente, no que diz respeito à Operação Lava-Jato.

É fundamental, para o êxito do atual processo de resgate da Ética na Política e da Moralidade no Trato da Coisa Pública em todos os níveis, que os citados órgãos continuem desfrutando, nos limites da legalidade e da imparcialidade, de total liberdade e independên-cia de atuação, investigando, comprovando delitos e punindo os corruptos e corruptores que, de maneira impatriótica, contribuem para minar a esperança na decência das relações so-ciais no seio da Nação, vilipendiando as instituições, saqueando o erário e comprometendo a imagem de agentes públicos e trabalhadores honestos que, dia-a-dia, oferecem seus serviços para manter a confiança, a credibilidade e o bom conceito do País, tanto no âmbito interno quanto junto à comunidade internacional.

Neste sentido, REQUEREMOS que Vossa Excelência, que é um dos legítimos represen-tantes da Nação Brasileira, VOTE CONTRA a aprovação do referido Projeto de Lei, em mais uma demonstração de cidadania, civismo e patriotismo, conscientes.

Limitados ao exposto, colhemos a oportunidade para renovar protestos de elevada estima e consideração.

Atenciosamente,

POSIÇÃO DO GRANDE ORIENTE DE SANTA CATARINAE DA GRANDE LOJA DE SANTA CATARINA

SOBRE O PROJETO DE LEI DO SENADO FEDERAL Nº 280

Florianópolis/SC, 3 de novembro de 2016

Expediente

GRANDE ORIENTE DESANTA CATARINA - GOSC

Grão-Mestre:João Paulo SventnickasGrão-Mestre Adjunto:

Sergio Martinho Nerbass

02 A IDEIA, O juízO, A OpINIãO A DúvIDA E A CERTEzA Ir\ Júlio César Napoli

06 MAÇONARIA E RELIGIãO – pASSADO E pRESENTE Ir\ Felipe Rovai Schaefer

15 O SIMBOLISMO DA RÉGuA DE vINTE E QuATRO pOLEGADAS

Ir\ Alexandre Dutra Mayerle

19 REGuLARIDADE, RECONHECIMENTO E juRISDIÇãO COMpARTILHADA Ir\ Rubens Ricardo Franz

23 juSTIÇA E EQuIDADE NA MAÇONARIA IIr\ Ademir Paulo Tombini e Santo Zacarias Gomes

26 LA MASONERíA y LA ÉTICA DE LA vIDA HuMANA Ir\ Jorge L. Zamora Prado

29 QuINTESSENCIA Ou QuINTA-ESSÊNCIA Ir\ Cristiano Alves de Jesus

32 SALA DOS pASSOS pERDIDOS Ir\ Daniel Mayerle

37 REvOLuÇãO FARROupILHA Ir\ Maurício José Gom

Sumário

O pRuMOFundada em 24/06/1970 por

Ir∴ Miguel ChristakisIr∴ Lúcio Nelson Martins

Ir∴ Arony Natividade da CostaIr∴ Wilson Libório de Medeiros

ADMINISTRAÇãO,REDAÇãO, puBLICIDADE

Rua dos Ilhéus, 38 - Ed. Aplub - 1º andarCEP 88010-560 - Florianópolis - SC.

Fone/Fax (48) 3952-3314

E-mail: [email protected]

DIRETORRubens Ricardo Franz

COMISSãO EDITORIALIr∴ Adauto Celso Sambaquy

Ir∴ Everaldo ScainiIr∴ Laudelino Santos NetoIr∴ Rubens Ricardo Franz

jORNALISTA RESpONSÁvELRogério Junkes

(Registro Profissional nº 775 - DRT)

EDITORAÇãORogério Junkes

NOTA

As matérias e artigos publicados são de exclusiva

responsabilidade dos seus autores, não refletindo

necessariamente o pensamento da Direção, da

Comissão Editorial e do Jornalista. Os trabalhos

recebidos serão analisados pelo Conselho Editorial,

não sendo devolvidos os originais a seus autores.

Revista BimestralAno 46 – Nº 229

Setembro/Outubro de 2016Circulação Internacional Fundador da Associação Brasileira da Imprensa

Maçônica – ABIM – Nº 003/R

2 O PRUMO

a idEia, o juízo, a opiniãoa dúvida E a cErtEza

MATÉRIA/ESPÍRITO

Ir\ júlio César NapoliARLS Consensio 115, Oriente de Içara – GOSC - COMAB

1. introduÇão Na vida humana temos uma divisão

clara entre um lado material e espiritu-al. A busca constante pela perfeição nos faz homens de bem seja em nossa vida profana ou maçônica. O conhecimento filosófico nos torna ainda mais profun-dos e questionadores.

Ao nos depararmos com uma sim-ples frase de cinco palavras podemos pensar inicialmente ser fácil discorrer sobre elas ou mesmo conceituá-las. En-tretanto ao entrar no âmago dos precei-tos vemos a profundidade que tal elenco pode nos proporcionar.

O grande objetivo deste trabalho não é delinear e concluir sobre ideia, juízo, opinião, dúvida e certeza. É sobretudo coligar os termos, através de uma visão filosófica e ao mesmo tempo pessoal, buscando através do estudo entender o posicionamento pessoal e da sociedade em relação à questão proposta.

2. corpo do traBaLHo

Estruturamos o trabalho nos seguin-tes pontos:

2.1. Conceitos básicos dos termos 2.2. Visão filosófica dos termos e in-

terligações entre os mesmos2.3. Visão pessoal sobre os termos e

suas aplicações 2.1. Conceitos básicos dos termos:

IdEIa – toda a espécie de repre-sentação mental, noção, conceito. Uma representação intelectual, abstrata e ge-ral de um objeto de pensamento. Pode--se também tratar comouma descoberta, um achado ou mesmo uma invenção. Quando temos uma ideia,muitas vezes dissemos que temos um plano, um pro-jeto. Uma ideia pode ser descrita como uma interpretação de nosso pensamento.

Juízo – pode ser entendido como o ato ou faculdade de julgar. Entretanto tambémpode ter a conotação de sensa-tez, bom senso, discernimento, tino. Na lógicaencontramos que juízo pode ser o ato de estabelecer a existência de uma relaçãodeterminada entre dois ou mais termos, para afirmar ou negar a sua conveniência.

Ainda podemos entender o juízo como uma apreciação sobre as pessoas ou as coisas, determinar um parecer, emitir um conceito ou então uma opi-nião.

“podemos ainda dizer que a dúvida é uma encruzilhada nos caminhos da razão. a indecisão [...] sempre foi a primeira condição para a busca da verdade, onde o ser humano em sua sapiência se permite suspender o juízo para verificar se ele está certo ou errado.”

3O PRUMO

opInIão – um parecer emi-tido sobre um assunto. Uma ava-liação de uma pessoa sobre deter-minada área. Pode ser entendida como uma simples ideia, ou mes-mo, umaadesão a um juízo, sem exclusão do receio de errar, crença, convicção, sentimento. Uma opi-nião pode ser uma adesão sem a certeza de se estar na verdade.

dúvIda – é o estado de espí-rito de quem se interroga sobre se um fato é real ou ano,sobre se uma proposição é verdadeira ou falsa. Dúvida é incerteza, hesitação, inde-cisão, receio, muitas vezes suspeita.

CErtEza – qualidade do que é certo, convicção. É um estado de espírito caracterizado pela crença de que se está de posse da verdade. Certeza pode ser vista como evi-dencia e muitas vezes como estabi-lidade.

2.2. visão filosófica dos termos e interligações entre os mesmos

O desejo de conhecer a nature-za das coisas é inato e se manifesta desde os primeiros momentos da vida humana. A história da filoso-fia se entrelaça com a evolução hu-mana e seu desenvolvimento é re-sultado da contribuição intelectual de toda a sociedade. A filosofia em seus primórdios confundiu-se em alguns casos com religião e ciência. O estudo filosófico é extremamente importante por seu caráter crítico, procurando entender e explicar as causas avaliando suas razões.

Dentro da filosofia temos di-versas linhas de pensamento, bem como de divisões que permeiam sua estrutura. Entre elas encontra-mos a lógica que é a ciência das leis

ideais do pensamento e trata da arte de aplicá-las a pesquisa e a de-monstração da verdade. No estudo da lógica por sua vez encontramos três termos: a lógica formal, a lógi-ca material e a lógica crítica. Neste ponto encontramos os termos de nossa pesquisa, bem como de que maneira a filosofia aborda os mes-mos.

Começamos então avaliando o que pode ser entendido como uma ideia. A ideia é imaterial, abstrata. É simplesmente uma representação intelectual de um objeto. Para ava-liar uma ideia podemos considerar dois aspectos: a compreensão e a extensão. Quanto maior for a com-

preensão tanto menor será a exten-são da ideia. Outro aspecto interes-sante é sobre a clareza da ideia, que denota a constituição da mesma e o perfeito entendimento da mesma. Segundo Descartes as ideias não podem vir de algo fora da mente, pois assim, elas dependeriam de outra coisa que não permitiria o conhecimento total do objeto, já que o pensamento interno é possí-vel de ser conhecido. Possivelmente as ideias sejam uma inclinação na-tural para imprimir algo no espíri-to. As ideias não são falsas, assim como as vontades. Todavia quan-do relacionamos ideias com algo no exterior estamos possivelmente

4 O PRUMO

emitindo juízos.Sob o ponto de vista da lógica o

juízo é um objeto ideal, uma forma de pensamento. De maneira con-creta é um produto de ideias. Um juízo pode ser afirmativo ou nega-tivo. Pode-se dizer que o juízo é um ato pelo qual o espírito afirma ou nega uma coisa de outra. Fazer um julgamento, ou julgar neste senti-do, é estabelecer uma relação entre conceitos, é teoricamente uma bus-ca pelo pensamento lógico, abstrair das ideias valores que possibilitem atitudes racionais.

Esta correlação entre abstrato e concreto, que podemos dividir entre a ideia e o juízo, nos levam a passar para a lógica critica, que nada mais trata da busca da verda-de e do erro. Ao nos defrontarmos com a busca da verdade encontra-mos uma diversidade de estados de espírito. Se a verdade for desco-nhecida como se para nós ela não existisse chamamos de estado de ignorância. Se a verdade parecer possível dizemos que temos um estado de dúvida. Diante da pro-babilidade estamos em estado de opinião ou afinal se a verdade for evidente estamos então em estado de certeza.

A opinião é o estado de espírito que afirma com temor de se enga-nar. O valor dela depende da maior ou menor probabilidade das razões que fundamentam a afirmação. Segundo Jolivet, podemos afirmar através da opinião, mas de uma ma-neira tal que as razões de negar não sejam eliminadas por uma certeza.

Já no caso da dúvida o que en-contramos é um estado de equilí-brio entre a afirmação e a negação,

podendo ser classificada muitas vezes como a suspensão do juízo. Fica claro que ao escutar ou deline-ar uma ideia e correlacioná-la com algo material, estamos emitindo um juízo sobre este pensamento. Ao duvidar deste pensamento esta-mos suspendendo nosso juízo. Fal-ta-nos a certeza. Ainda podemos dizer que a dúvida pode se dividir em: espontânea (falta de exame de pró e contra); refletida (quando examinamos pró e contra) e metó-dica (suspensão fictícia ou real afim de controlar seu valor).

Podemos ainda dizer que a dú-vida é uma encruzilhada nos ca-minhos da razão. A indecisão para Descartes sempre foi a primeira condição para a busca da verdade, onde o ser humano em sua sapi-ência se permite suspender o juízo para verificar se ele está certo ou errado.

A busca da verdade após estes estágios anteriores que podem es-tar sozinhos ou conjugados, ou me-lhor dizendo, interligados, nos leva ao estado de certeza. A certeza é o firme propósito de adesão firme, sem temer enganar-se. A certeza se concreta na evidencia. Segundo Jo-livet é clareza plena de decisão.

2.3. visão pessoal sobre os termos e suas aplicações

Avaliando todo o material de cunho filosófico e em alguns casos espiritual que apóia este trabalho, procuramos através de dois exem-plos tentar interligar e dar uma co-notação pessoal ao tema.

Em nossa vida profana muitas vezes nos deparamos com situações em que temos uma diversidade de

opiniões dentro do nosso ambiente de trabalho. Por conseguinte essas opiniões que provém de ideias abs-tratas de pessoas de diversos ramos e culturas, nos levam a criar pen-samentos irracionais ou racionais, criando estados de juízo. Tendemos sempre a rechaçar ideias inovado-ras, ou melhor, perturbadoras, pois estamos encravados de velhos con-ceitos, que podemos denominar de juízos por assim dizer. Contudo ao fazer isto não estamos nos dando o direito da dúvida. Pois ao tomar posicionamentos defensivos, au-tomaticamente nos colocamos em estado de certeza, pois já havíamos vivido aquelas possíveis opiniões ou ideias. Sobre esta análise fica claro que devemos e temos a obri-gação de escutar as ideias e opini-ões, nos dar o estado da dúvida, para daí poder emitir algum tipo de juízo, procurando ter a certeza de entender a verdade.

O mesmo se aplica a nossa vida maçônica. Provavelmente muitas vezes em nossa caminhada vamos nos deparar com diversos pontos de inflexão, que podemos denominar de dúvidas. Nesses casos devemos nos perguntar o porquê de ao invés de arbitrarmos estados de juízo e soberba, não escutamos as opiniões e ideias daqueles irmãos que estão ao nosso lado, estejam eles onde es-tiverem. Com humildade e sempre buscando a verdade com intuito de nos tornarmos homens melhores e de bem para toda a sociedade.

3. concLuSão Os conceitos teóricos de ideia,

juízo, opinião, dúvida e certeza são claros e podem nos trazer luz sobre

5O PRUMO

o tema. Todavia somente quando adentramos nos preceitos filosófi-cos dos termos é que compreende-mos a profundidade dos mesmos e sua interligação que os tornam importantes na busca da verdade e do erro.

Muito interessante para nos-sa vida profana e maçônica que possamos aplicar um pouco desta conceituação que a primeira vista parece complexa. Afinal duvidar é um direito de todos, opinar tam-bém, assim como ter e gerar ideias. Contudo ter a certeza e a convicção do que queremos, bem como estar-mos prontos para emitir juízos das ideias alheias além de respeitar opi-niões e não destruir ideias, deveria

ser uma obrigação de todos nós. O GADU nos deu e permitiu o livre arbítrio, mas está claro que dentro dos preceitos morais e éticos, res-peitando todos os termos discuti-dos e, sobretudo, não encerrando os assuntos com a nossa verdade, pois a verdade nossa pode não ser a do outro, e para isto necessitamos estar despojados não só de nossos metais, mas principalmente de nos-sas vaidades.

4. BiBLioGraFia Capra, Fritjof. A Teia da Vida. Ed. Pensa-

mento-Cultrix Ltda. São Paulo. 1996 Chauí, Marilena. Convite a Filosofia. Ed.

Ática, São Paulo. 2000 Prade, Péricles. Prelúdio: O Nascimen-

to da Ciência e da Filosofia. O Prumo

1970¬2010 : Coletânea de artigos: Grau 2 - Companheiro. Florianópolis : Gran-de Oriente de Santa Catarina, 2010. Vo-lume 1. P. 194-199

artigos na Internet: Descartes, René. Gnosologia Cartesiana

Disponível em:http://www.cfh.ufsc.br/~simpozio/Me-

gahist-filos/Descartes/3686y102.htm Garcia, Francisco Antonio: Filosofia e ver-

dade. Disponível em:http://periodicos.uem.br/ojs/index.php/

ActaSciHumanSocSci/article/viewFi-le/2799/1906

Pires, Herculano J. A dúvida e a certeza Dis-ponível em:

http://www.comunidadeespirita.com.br/esponline/agonia%2009%20duvida%20e%20certeza.htm

Régis, Jolivet. Curso de Filosofia. Disponível em: http://www.consciencia.org/cursofi-losofiajolivet6.shtml

Sociedade das Ciências Antigas. Introdução a Filosofia.Disponível em: http://www.sca.org.br/opusculo/Filosofia.pdf

6 O PRUMO

MaÇonaria E rELiGião– paSSado E prESEntE

CONCEITOS

Ir\ Felipe Rovai SchaeferARLS Aurora nº 105 Oriente de Florianópolis-SC GOSC - COMAB

1. introduÇãoO presente trabalho aborda um as-

sunto um tanto quanto polêmico e mís-tico, no entanto, respeitadas as diversas teses estudas e alicerçado em elementos legais e oficialmente reconhecidos pela Ordem Maçônica Universal, busca-se demonstrar com a maior clareza pos-sível o posicionamento da Maçonaria para com a religião no passado, período operativo, e, o atual posicionamento da-quela, nessa fase especulativa, em rela-ção a esta última, e, vice-versa.

2. MaÇonaria X rELiGião – concEitoS

Da leitura do texto dos Princípios Gerais da Maçonaria insculpido pelos princípios normativos da Ordem Maçô-nica Universal e adotado por esta Insti-tuição, se extraí o conceito da Maçona-ria, assim colaciona-se:

“a Maçonaria é uma ESCoLa do ConHECIMEnto e do apErFEI-ÇoaMEnto que o homem, em seu percurso histórico, produziu. É, comple-mentar e subsidiariamente, uma insti-tuição essencialmente iniciática, filosófi-ca, filantrópica, educativa e progressista, adogmática e apartidária, que tem por finalidade oferecer instrumentos para formar homens que propugnem por uma sociedade alicerçada na trindade da liberdade, igualdade e fraternidade.”

Quanto ao conceito de religião, es-pecialmente, por se tratar de uma ques-tão filosófica, existem várias correntes. Assim, trago abaixo o conceito de reli-gião definido por alguns estudiosos do tema, transcreve-se:

“Quaisquer crenças que envolvem a aceitação de uma esfera sagrada e tran-sempírica e quaisquer comportamentos destinados a afetar a relação de uma pes-soa com essa esfera (Peter Connolly).”

“É a crença em seres espirituais (E.B. Tylor).”

“A Religião esconde a face de Deus (Martin Buber).”

“É um sistema de crenças e práticas o qual um grupo de pessoas lida com os problemas últimos da vida humana (J.M.Yenger).”

“A religião é uma ilusão (Sigmund Freud).”

“A religião é um vírus (Richard Da-wkins).”

“É o suspiro da criatura oprimida, o sentimento de um mundo sem coração, a alma num mundo sem alma; é o ópio do povo (Karl Marx).”

“o Maçom tem assegurado plena liberdade de crença, mas deverá abster-se de manifestar preconceitos e de provocar polêmicas de natureza política partidária ou religiosa.”

7O PRUMO

“Crenças, ações e instituições que supõem a existência de entida-des sobrenaturais dotadas de pode-res de ação, ou forças ou processos impessoais que têm uma finalidade moral (Steve Bruce).”

“Religião é uma crença em Deus, que é o fundamento incon-dicionado de todas as coisas, e em seres espirituais, resultando em experiência pessoal de salvação ou iluminação, comunidades, escritu-ras, rituais e um estilo de vida (Ro-bert Crawford).”

da leitura dos conceitos acima nota-se visivelmente que Maçona-ria e religião são assuntos total-mente distintos, com finalidades e meios distintos.

Enquanto a primeira busca o aperfeiçoamento do ser humano como indivíduo inserido dentro

de uma sociedade através do co-nhecimento, a outra atua através da crença em um ser superior (deus), a qual provocará em cada individuo experiência pessoal di-ferentes, de iluminação, salvação, hábitos, costumes, e, por consequ-ência, nas suas comunidades.

De outro lado existem várias semelhanças e aspectos em comum entre estas duas ‘Doutrinas’, se as-sim podemos chamar, o que passa-remos a ver adiante.

3. MaÇonaria E rELiGião dEntro do EnFoQuE LEGaL da inStituÇão MaÇonica Neste prisma, indispensável ci-tar que a Maçonaria Especulativa como Instituição organizada que é, traz no bojo de seus Regulamentos recomendações e orientações acer-

ca do assunto Religião. Desta forma, respeita a hierar-

quia das Leis, partimos das Leis mais antigas e que regem a Maço-naria Universal, os LandMarKS, os quais prescrevem fundamentos e princípios basilares, os quais da óti-ca legal são considerados cláusulas pétreas, imutáveis, ou seja, não pas-síveis de alteração, ou modificação.

Assim o Landmarks 19 dispõe: 19. “todo o maçom há de crer

na existência de deus como Gran-de arquiteto do universo.”

Vale observar que a partir do texto acima a Maçonaria insere dentre os seus princípios funda-mentais e imutáveis a necessidade do maçom ter uma crença em um Deus (G.A.D.U.), neste tocante, cria um ponto em comum.

Os chamados tHE oLdE

8 O PRUMO

CHarGES – Os Antigos Deveres -, os quais à época da Maçonaria ope-rativa, as lojas, ou seja, as organiza-ções de pedreiros mantinham es-critos sobre pergaminhos, algumas Leis, dentre elas as mais conhecidas são: o Poema Regius e o Manuscri-to Cooke (os quais serão abordados mais a frente), atualmente chama-dos de regulamentos gerais e proce-dimentos, os quais fazem parte in-tegrante da Constituição do Grande Oriente de Santa Catarina.

Com efeito, Geroge Payne, pri-meiro Grão-Mestre da Grande Loja no ano de 1.720, visando criar or-ganismos de Leis que pudessem orientar as ações da Maçonaria compilou um Regulamento Geral, dando à Ordem a estrutura de um governo próprio, o qual fora entre-gue ao Reverendo James Anderson (Presbítero de uma Igreja organi-zada) para estudar as comparações e propor uma Constituição, a qual veio a ser denominada Constitui-ções de anderson cuja sua primei-ra parte abordou seis artigos e seis parágrafos dos chamados os an-tigos deveres – tHE oLd CHar-GES, havendo entre eles um artigo específico (artigo I) relacionado a Deus e à Religião, colaciona-se:

“I – Concernente a deus e à religião

um Maçom é obrigado, por

dever de ofício, a obedecer a Lei moral; e se entende corretamen-te a arte, ele nunca será um ateu estúpido, nem um Libertino irre-ligioso. Mas embora nos tempos antigos os Maçons tivessem sido obrigados, em cada país, a ser da religião deste país ou desta nação, qualquer que ela fosse, agora se considera mais adequado obrigá--los somente àquela religião com a qual todos os homens concordam, guardando as suas próprias opini-ões para si mesmos; isto é ser um homem bom e leal ou um homem de honra e honestidade, quaisquer que sejam as denominações ou crenças que os distingam; em ra-zão disso a Maçonaria tornar-se--á o Centro de união e o meio de conciliar verdadeira amizade en-tre pessoas que teriam ficado em perpétua distância.”

Como não poderia ser diferente a Carta Magna da nossa potência – Constituição do Grande Oriente de Santa Catarina (GOSC), em seu artigo 3º (terceiro), da Declaração de Princípios, faz menção ao tema crença, o qual dispõe:

“3. o Maçom tem assegurado plena liberdade de crença, mas de-verá abster-se de manifestar pre-conceitos e de provocar polêmicas de natureza política partidária ou religiosa.”

Importante, ainda, citar alguns dos princípios normativos da or-dem Maçônica universal, os quais são observados e respeitados pelo Grande Oriente de Santa Catarina, dentre eles:

1. da crença na existência de um princípio Criador, a quem in-voca sob a denominação de Grande arquiteto do universo;

2. do juramento em presença do Grande Arquiteto do Universo, sobre o Livro da Lei, obedecido o que consagra o Rito específico;

3. da presença nas lojas e tri-ângulos das Três Grandes Luzes da Maçonaria – Livro da Lei, Esqua-dro e Compasso – durante os tra-balhos ritualísticos;

4. da proibição, em Loja, de toda e qualquer discussão em tor-no de sectarismo, discriminação, de assuntos religiosos singulares ou de política partidária;

5. do respeito às autoridades legalmente constituídas, às leis do país, à família e às religiões.

Frente aos textos acima expos-tos, bem como diante do fato incon-teste de que muitos ritos específicos a exemplo: do Inglês de York, Esco-cês ou Antigo, Schroeder, os quais durante os trabalhos em Loja utili-zam o Livro da Lei Sagrada, a Bíblia, fato este que trona visível à conexão estreita existente entre a Maçonaria e a Religião.

No entanto, é imprescindível asseverar que esta estreita conexão não possuí um condão de subordi-nação dos maçons à religião, mas sim demonstra um ato de respeito para com esta, até mesmo porque não se analisa, nem se discute, ou

9O PRUMO

mesmo se interpreta o conteúdo in-trínseco sob o prisma teológico ou apologético da referida escritura.

Ainda, ressalta-se que certos ri-tos Francês ou Moderno, o Livro da Lei Sagrada não é utilizado durante as sessões, e, sim a Constituição da Republica Federativa do Brasil, ou outros livros como: a Constituição da Potência a que estão filiados, ou mesmo o Estatuto da própria Loja.

4. MaÇonaria E rELiGião no paSSado – MitoS E LEndaS

A Maçonaria em sua fase opera-tiva, ou seja, até data de 24 de junho de 1717 (Proclamação da Consti-tuições de Anderson), as lojas, ou organizações de pedreiros (freema--sons / pedreiros livres), manti-nham seus escritos sobre pergami-nhos, os quais faziam referências às lojas, aos deveres, segredos e usos daquela fraternidade. Entre estes escritos os mais antigos são: o Po-ema Regius e o Manuscritos Cooke.

No primeiro documento encon-tram-se insculpidas diversas lendas como: a arte dos quatro coroados (Ars Quartuor Coronatorum), a Torre de Babel, Nabucodonosor, Euclides e seu ensinamento, e com-

plementarmente regras comporta-mentais na Igreja e nas sessões.

Estes documentos eram usados em reuniões maçônicas como com-pêndio da história tradicional e das leis da fraternidade.

o poema regius, ou Manuscri-to regio, composto por 294 versos duplos, 15 artigo + (mais) 15 pon-tos complementares, supostamente datado de 1390, o Mestre Euclides assim chamado e considerado, des-ta forma funda a guilda da Maçona-ria - guilda da geometria - na terra do Egito - Alexandria – Arquitetura Egípicia -, ‘Euclides’ então é consi-derado o pai da Maçonaria.

Do referido documento, desta-ca-se do 1º ponto complementar o dever do maçom de adorar ao Deus e a sua Igreja, transcreve-se:

“Deve sempre amar muito a Deus a Santa Igreja

E também ao Mestre a que esti-ver ligado

Onde quer que vá, no campo ou na floresta,

E seus companheiros amará também,

Para que tua Guilda aceite o que fazes.”

O documento trata-se de uma

rica e bela obra literária, da qual diversos versos corroboram a exis-tência de um forte elo entre a ma-çonaria operativa e a religião, assim colaciona-se um dos versos do es-crito em questão, ‘in verbis’:

“Isto vocês devem conhecerE vocês têm que saber muito

maisDo que aqui encontraram escri-

to.Se vos faltar entendimento para

issoRezem a Deus que vos dê inte-

ligênciaPelo próprio Cristo, no ensinaQue a Santa Igreja é a casa da

DeusQue não foi feita para nada maisQue lá orar, como diz no livroLá as pessoas deverão passar

pela portaPara orar e chorar por seus pe-

cadosTratem de não chegar atrasados

à igrejaPor ter ficado falando de devas-

sidão na porta.”o Manuscrito Cooke, suposta-

mente datado de 1410 é composto em prosa e contém citações de cé-lebres autores, narra as origens da

10 O PRUMO

fraternidade, tendo como locais o Egito e a Judéia. Nele são encon-tradas citações sobre as reuniões, procedimentos e instruções para novas admissões; referenciavam à jurisdição e uma declaração de que a Assembleia foi fundada, a fim de que humilde e elevado, sejam bem servidos nesta arte, por toda a In-glaterra.

Dito documento, também, faz menção a diversos textos Bíblicos, tais quais: Livro do Gênesis Capí-tulos 4, 10 e 12; Primeiro Livro dos Reis Capítulos 4, 5, 6 e 7, os quais tratam do período do reinado de Salomão e acerca da Construção do Templo de Salomão.

Do texto destes últimos Capítu-los, nasce a Lendária história de que a 1ª (primeira) Loja Maçônica teria sido o templo do Rei Salomão e este teria sido o primeiro grão mestre.

Assim, vale destacar trecho dos textos Bíblico em menção, do qual se denota estreita semelhança entre aquela Majestosa obra e os templos maçônicos, transcreve-se:

“Hiram levantou duas colunas no pórtico do templo: a coluna direita, que chamou Jaquin e a es-querda que chamou Boaz.” Primei-ro Livro dos Reis, Capítulo 7, versí-culo 21.

Além destes dois antigos escritos existem tantos outros capazes de demonstrar o robusto laço de afini-dade entre a maçonaria e a Religião Católica Cristã Romana Apostólica, dentre os quais, destacam-se: a Car-ta de Bologna e o Manuscrito Edin-burg, Register House.

O primeiro (Carta de Bologna) a qual para muitos estudiosos é con-

siderado o documento escri-to mais antigo pertencente à maçonaria operativa, da-tado de aproximadamente 1248 (D.C.), proferido na cidade de Bologna, Itália, em Latim, registra que a sociedade Maçônica não era só católica, como era protegida pela Igreja - as reuniões eram re-alizadas na então ca-tedral, a igreja de São Pedro (atualmente a catedral de Bolonha é outra, dedicada a São Petrônio) ou na casa do Bispo.

O Segundo (Ma-nuscrito Edinburgh/Register House), da-tado de 1696 (D.C.) retrata os pri-meiros catecismos maçônicos.

Com efeito, diante dos textos acima resta claro que a maçona-ria operativa – reconhecida como tal até 24 de junho de 1717, a qual se organizava de forma não insti-tucional –, possuía um laço, um elo muito íntimo com a religião Católica apostólica romana Cristã, calcada e alicerçada no reconhecimento do deus cria-dor como sendo o deus Cristão, aquele mesmo adorado pela re-ligião Católica apostólica roma-na Cristã, e, ainda, impunha o dever, a obrigação aos maçons de frequentarem as Igrejas, e, pres-crevia modos e comportamentos que deveriam ser adotados e ob-servados pelos maçons daquela época, ou membros daquela so-ciedade.

5. viSão da iGrEja acErca do aSSunto MaÇonaria E rELiGião

5.1. visão da Igreja a partir da Idade Moderna – Maçonaria Es-peculativa.

Apenas para melhor elucidar a questão acerca do posicionamento adotado pela Igreja na Idade Mo-derna, após o período da Queda do Império Romano para com a Maço-naria Especulativa, cabe detalhar o assunto.

Assim, vale ressaltar que a Igreja já a época da Idade Média encon-trava-se em forte descensão e sofria grande perda de poder em razão do conflito e controvérsia em que vi-via, certo que pregava uma coisa e patrocinava outra, ou seja, pregava o amor a Deus acima de todas as

11O PRUMO

coisas e ao seu semelhante como a si mesmo, e, ao mesmo tempo pro-movia grandes guerras e batalhas, verdadeiras chacinas com fito de impor a sua Doutrina de Fé às di-versas sociedades que existiam e vi-viam sobre a orbe terrestre, aquela época.

Neste período, como vimos aci-ma, a Maçonaria Operativa – orga-nizada de forma não Institucional -, ainda impunha aos seus membros o dever de adorar ao Deus Cristão e a sua Igreja, ou seja, estava de cer-ta formada em harmonia com os princípios da Igreja Católica Apos-tólica Romana Cristã.

No entanto, já na Idade Moder-na, mais especificamente, com o advento da promulgação das Cons-tituições de Anderson, a Maçona-ria passou a se organizar de forma

institucional, e deixou de ser uma Maçonaria meramente operati-va, criando Leis, normas e prin-cípios Universais.

Neste momento histórico a Maçonaria, diga-se de passa-gem, de forma brilhante e in-teligente, passou a adotar um posicionamento fundado na religião universal, baseada na razão humana (busca da verdade), buscou assim, um ponto de intersecção entre algumas ou todas as religi-ões.

Assim, a Grande Loja Unida da Inglaterra con-signou declaração da qual os ensinamentos morais da Maçonaria são aceitos por todas as

religiões, conforme consta do texto da Constituições de anderson aci-ma citado.

Porém, a ideia de uma religião universal não tardou em se reve-lar utopia. A busca do fundamento comum tropeçou em inúmeras di-ficuldades, tanto no plano prático como no teórico. Tendo presentes estas limitações e os corresponden-tes polêmicos, se pôs em relevo, como não poderia deixar de ser a necessidade de distinguir Maçona-ria de qualquer forma de Religião.

Desta feita, a Maçonaria formula a Ata de União de 1813, a qual reite-ra, enfaticamente, o fundamento de que maçonaria não é religião.

Por esta razão. O Grande Orien-ta da França, em 1877, eliminou de seus rituais a expressão Grande Ar-quiteto do Universo, no entanto, ja-mais deixou de admitir o princípio

da transcendência, e, consequente-mente o G.A.D.U., vez que sobre-vive a exigência do Maçom em crer num principio criador Supremo.

Neste prisma, A Maçonaria ja-mais pretendeu impor a seus mem-bros uma doutrina de fé específica, partindo do princípio de que o ser Supremo (G.A.D.U.) não representa nenhum Deus de uma religião par-ticular, o que permite que a maço-naria esteja aberta aos homens de qualquer fé religiosa e que, o Deus do Maçom é o mesmo Deus da re-ligião que professa e que a Maçona-ria espera que seus adeptos sigam a própria fé e que ponham seus deve-res com Deus acima dos demais.

Alhures, a Igreja Católica Apos-tólica Romana Cristã não admite o posicionamento adotado pela Instituição Maçônica e declara ser totalmente contrária aos princípios e fundamentos desta Ordem, sus-tentando serem estes incompatíveis com a Doutrina e a Fé a que pro-fessam.

Tal posicionamento é evidente e explícito, a exemplo das Consti-tuições Apostólicas: i) In eminenti apostulatus especula e ii) Providas Romanoro Pontificum.

A Bula Papal In eminenti apos-tulatus especula, é a primeira con-denação pontifica, promulgada no dia 28 de abril de 1.738, pelo Papa Clemente XII,veja, apenas 21 anos após o início da Maçonaria Moder-na ou Especulativa.

Tal documento é reconhecido pelos estudiosos como obscuro, vez que não deixa claro o motivo da im-posição de tamanha condenação.

Alec Mellor, conhecido advoga-

12 O PRUMO

do católico Francês, iniciado na ma-çonaria no dia 29 de março do ano de 196, sustenta que “o motivo para a condenação não era religioso ... os motivos do Papa eram de ordem política e ligados ao destino da infe-liz família real de Stuart, destronada e refugiada em Roma, sob a prote-ção da Igreja.”

Porém, através da Bula Providas Romanoro Pontificum, promulga-da pelo Papa Bento XIV aos 18 de maio de 1751, compreende-se me-lhor as razões que levam a Igreja a promulgar tal condenação, tal do-cumento enumerada 06 (seis) prin-cipais motivos:

1. Filiação de homens de todos os credos;

2. Obrigação estrita do segredo indevassável;

3. Juramento a comprometer-se a guardar inviolável segredo;

4. Reconhecimento de tais socie-dades serem contrárias às sanções civis e católicas;

5. O fato de que tais sociedades e agremiações teriam sido proscri-tas e eliminadas por lei e princípios seculares;

6. O fato de que tais sociedades e agremiações serem reprovadas por homens prudentes e honestos.

Das razões acima apontadas no-ta-se que a única que fato é justificá-vel é a primeira, vez que demonstra um visível perigo a pureza da reli-gião católica. Com efeito, a reunião de pessoas de diversas religiões e credos, poderia levar a considerar a religião católica apenas como um caminho possível entre outros mui-tos.

Durante o resto do século XVIII

não há nenhum outro documen-to pontifico de condenação solene dessa sociedade.

No entanto, no século XIX, do-cumentos de tal caráter se multi-plicam, em tal período, chamado de tempo das sociedades secretas, ou, o século das seitas, a maçonaria passa a ser considerada no seio do Vaticano como a mais importante entre elas.

Dentre os ditos documentos, citam-se: i) A Constituição Apos-tólica Ecclesiam a Iesu Christo (13/09/1821) do Papa Pio VII, ii) A Constituição Apostólica Quo Gra-viora (13/05/1825), do papa Leão XII.

Neste último documento apa-rece pela primeira vez a formula-ção que passará para o Código de Direito Canônico, no sentido de considerar a Maçonaria como uma sociedade que tem como finalidade maquinar, ou seja, conspirar contra a Igreja e os legítimos poderes do Estado.

Um dado relevante e que não poderia deixar de citar é de que de Pio IX a Leão XII surgem nada me-nos que 350 (trezentos e cinquenta) intervenções pontifícias contra a Maçonaria.

5.2. atual visão da Igreja a par-tir do ponto de vista de um Mis-sionário

Entrevistado – Padre Valdeci Cardoso Vieira – Pároco da Paró-quia e Reitor do Santuário de Nossa Senhora da Imaculada Conceição da Lagoa – Lagoa da Conceição – Florianópolis-SC.

Formação:- Licenciatura em Filosofia;

- Bacharelado em Teologia;- Psicopedagogo;- Seminarista desde 1986;- Padre há 16 anos, desde 1998 –

iniciado na Comarca de Rio Gran-de-RS.

- Pergunta: Durante a sua forma-ção como Padre (seminário – 1986 a 1998) houve alguma instrução da Igreja sobre a maçonaria?

R: De forma formal não houve qualquer citação, certamente, de modo informal sim.

- Pergunta: Após a sua iniciação como Padre houve alguma orien-tação por parte da Igreja acerca da Maçonaria?

R: Para mim de forma direta não houve qualquer instrução.

- Pergunta: Teve notícia da exis-tência de algum Bispo ou Padre ter envolvimento com a Maçonaria?

R: Sim,- Pergunta: Como era e como é

visto pela Igreja a situação destes Padres e Bispos que são de fato ma-çons?

R: Quando o Padre ou o Bispo são de fato maçons, estes não são bem vistos, no sentido institucio-nal, ou seja, da mesma forma quan-do um Padre ou um Bispo é filiado a um partido político, há o senti-mento de falta de envolvimento, de adesão plena, com a sua instituição de origem. Num linguajar popular, pode-se dizer que a Igreja é ciumen-ta, nestas ocasiões sente-se traída.

- Pergunta: Qual a visão da Igre-ja em relação à Maçonaria?

R: De que se trata de um grupo fechado, com muitos segredos, que contraria os princípios do Evange-lho de que tudo deve ser às claras,

13O PRUMO

sem segredos.- Pergunta: O Sr. tem conheci-

mento da existência de alguma nor-ma, ou determinação da Igreja que veda o ingresso dos Padres na insti-tuição maçônica?

R: É possível que sim, porém eu não tenho este conhecimento até porque se trata de um assunto que nunca me interessou e na formação dos Padres não se trabalha isso de forma sistemática.

- Pergunta: O Sr. tem conheci-mento da existência de uma norma

da Igreja denominada bula Papal?- R: Sim, porém não tenho co-

nhecimento do conteúdo do tex-to, pois nunca tive interesse em conhecê-lo, no entanto, passarei a me interessar a partir de agora. Não tenho muita segurança, mas me pa-rece que a ‘bula papal’, trata-se de ‘normas’ proferida pelo Papa Cle-mente XII, onde constam orienta-ções da Igreja sobre vários aspectos pertinentes à época, entre estes, faz referência sobre a maçonaria.

- Pergunta: No seu entendimen-

to qual é o conceito de religião?- R: Eu gosto do conceito latino

de ‘religare’. Isto parte do principio Bíblico do Livro do Genesis, (Capí-tulos I e II), onde Deus criou todas as coisas, inclusive o Homem, para que vivessem em harmonia entre si numa profunda relação com o Cria-dor, porém, o pecado da desobedi-ência criou esta cisão da criação entre si, e esta com Deus. A religião por sua vez é aquela que deve fazer o papel de religar, reconstruir o pro-jeto de Deus.

6. SEMELHanÇaS E diFErEnÇaS EntrE MaÇonaria E rELiGião6.1. Semelhanças:MaÇonaria rELiGiãoA existência de ruma ritualística – ou ritos A existência de ruma ritualística – ou ritosCrença na existência de um Princípio Criador Crença na existência de um ser Superior (Deus)Superior (G.A.D.U.) criador de todas as coisas.Utilização do Livro da Lei – A Sagrada Bíblia Utilização do Livro da Lei – A Sagrada Bíblia– específico de alguns ritos – durante a realizaçãodos trabalhos em loja

6.2. diferenças:MaÇonaria rELiGiãoNão há uma doutrina teológica Professa sobre uma doutrina teológica específicaProíbe as discussões sobre religião Promove o debate sobre o assunto a fim de promover e fortalecer a doutrina e a fé que confessaNão oferta sacramentos e sim ordenações: i) iniciação, Oferece sacramentos: i) batismo, ii) ii) crisma, ii) elevação, iii) exaltação e iv) instalação iii) Eucaristia, iv) Penitência ou confissão, v) Unção dos enfermos, vi) Ordem (episcopado/Bispos e presbiterado/Padres) e vii) Matrimônio.Promove a formação, o aprimoramento do individuo Promete a salvação mediante obrasatravés do conhecimento em busca da verdade,do autoconhecimento.Favorece e incentiva a prática da religião Opõe-se veemente a prática da Maçonaria

7. concLuSãoDiante de todo o acima e expos-

to nota visível que a Maçonaria em seu período Operativo, que ocorreu até 1.717, tida como uma organiza-

ção de pedreiros (feema-sons) im-punha aos seus membros o dever, a obrigação de adorar ao Deus Cris-tão e a sua Igreja, assim como dava instruções de modos e regras com-

portamentais a serem observadas por seus adeptos nas Igrejas.

Desta foram, resta visível que a Maçonaria operativa e a Igreja Ca-tólica Apostólica Romana Cristã

14 O PRUMO

naquele período histórico tinham uma relação, um elo, uma ligação calcada e alicerçada na fé fundada na crença a um mesmo Deus (Jesus Cristo), nesta direção caminhavam lado a lado.

No entanto, frente a queda do Império Romano e a consequen-te crise e descensão sofrida pela Igreja Católica Apostólica Romana, consubstanciada na pratica de atos violentos, promovendo a guerra e batalhas como modo de impor as outras sociedades que habitavam sobre a orbe terrestre, a Doutrina e a Fé que professavam, atuando de forma diretamente oposta ao que pregavam; amar a Deus acima de todas as coisas e seu semelhante como a si mesmo.

Inevitável e fatal que o sistema da Instituição Católica Apostólica Romana Cristã viria a sofrer as con-sequências destes atos, responsá-veis, pelo aparecimento de diversos movimentos oposicionistas.

Neste momento histórico, ou até mesmo antes, a Maçonaria que até então era operativa, resolveu por bem se organizar de forma institu-cional, tendo um dos seus fundado-res, o Presbítero James Anderson, promulgado as Constituições de Anderson (24/06/1.717).

Através deste ato, a Maçonaria de forma preventiva, brilhante e in-teligente garantia a sua sobrevivên-cia no Mundo Moderno, vez que, passou a permitir o ingresso em sua instituição de indivíduos de credos religiosos diferentes.

Como outrora fartamente elu-cidado, tal ato provocou espanto e amedrontou a Igreja Católica Apos-

tólica Romana Cristã, a qual a par-tir de então, mais precisamente, 21 (vinte e um) anos após o início da Maçonaria Moderna ou Especu-lativa, promulgou a primeira con-denação pontifica, a Bula Papal In eminenti apostulatus especula (28/04/1738) Papa Clemente XII, e, logo após promulgou a Bula pa-pal Providas Romanoro Pontificum (18/05/1751) Papa Bento XIV, e daí por diante fora uma série de atos em oposição a maçonaria, até o adven-to do Código de Direito Canônico de 1917, o qual mantém a proibição da filiação de católicos à Maçonaria, sob a mesma motivação tradicional, transcreve-se:

“os que dão seu nome a seita ma-çônica ou a outras associações, que maquinam contra a Igreja ou contra os legítimos poderes civis, incorrem pelo próprio fato, em excomunhão simplesmente reservada a Santa Sé Apostólica”. (Código Canônico, 2335)

Como se vê, para a Igreja Ca-tólica Apostólica Romana Cristã a Instituição Maçônica possuí de di-reito uma presunção de ação cons-piratória, daí o termo ‘machinatio maçônica’, contra a Igreja e o Esta-do, trata-se de algo intrínseco que prescinde de prova na prática.

De outro lado, e, como acima robustamente corroborado a ma-çonaria na sua forma organizada e institucional não é uma religião, e como tal incentiva os seus mem-bros a pratica da religião a que pro-fessam, e, espera que sigam sua fé e que ponham seus deveres com a sua crença acima dos demais.

“o Conhecimento é a pedra

angular de toda a evolução maçô-nica, eis que inicia com o autoco-nhecimento – tarefa que incumbe a cada um de nós -, se estende às relações interpessoais, para ao fi-nal, estabelecer as condições ne-cessárias à convivência digna e fraterna”.

Mensagem dirigida ao povo Ma-çônico pelos Irs .˙. Alaor Francisco Tissot e Rubens Ricardo Franz, res-pectivamente, a época, Grão-Mes-tre Adjunto e Grão-Mestre, Boletim Oficial n.º 497, de 01/06/2008.

8. rEFErÊnciaS BiBLioGrÁ-FicaSBÍBLIA DE JERUSALÉM. Livro I

de Reis, capítulo 7.CRAWFORD; Robert. O que é Re-

ligião. Petrópolis, Capítulos 1 e 16, p. 13 a 20 e 210 a 220. Editora Vozes, 2005.

GOSC – Princípios Gerais – Ma-çonaria, Landmarks, Constitui-ção GOSC, Os Antigos Deveres. Florianópolis-SC, 2010.

HORTAL; Jesus. Maçonaria e Igre-ja, Conciliáveis ou Inconciliá-veis? São Paulo, Paulus, 1.993.

PETERS; Ambrósio. O Manuscrito Régio e o Livro das Constitui-ções. 1.ª Edição, Londrina: Edi-tora Maçônica ‘A Trolha’ Ltda, novembro de 1997.

SOBRINHO; Octacílio Schüler. Maçonaria e Religião (I) e (II). O Prumo. Florianópolis-SC, Volu-me 1, Grau 1 – Aprendiz, p. 142 a 157, 2010.

15O PRUMO

o SiMBoLiSMo da rÉGua dE vintE E Quatro poLEGadaS

SÍMBOLOS MAÇÔNICOS

Ir\ Alexandre Dutra Mayerle ARLS Expedicionário Nilson Vasco Gondin nº 111 - Oriente de Florianópolis - GOSC

paLavraS-CHavE Maçonaria, Simbolismo, Aprendiz Maçom, Ferramentas de Trabalho, Régua de 24 Po-

legadas.

rESuMo Este trabalho trata dos significados simbólicos da Régua de Vinte e Quatro Polegadas

enquanto instrumento de trabalho do Aprendiz Maçom, busca em literaturas maçônicas alguns exemplos de seu significado físico e simbólico, e traça um paralelo com a compre-ensão do número vinte e quatro em religiões tradicionais. Conclui-se pela simbologia que o Aprendiz pode ter para si da Régua de Vinte e Quatro Polegadas.

1. introduÇão A Maçonaria, como escola de Filoso-

fia, utiliza-se de símbolos e alegorias cujos significados são os ensinamentos íntimos da Ordem, para a transmissão de suas ideias e valores. A cada grau, novos sím-bolos são desvendados pelo Maçom, e de-les são realizadas interpretações dos seus significados moral, físico e metafísico.

No grau de Aprendiz Maçom, no iní-cio da caminhada dentro dos mistérios da Ordem, são apresentadas as três ferra-mentas utilizadas pelo Aprendiz: o maço, o cinzel e a régua de vinte e quatro pole-gadas.

É possível fazer uma relação direta com a função destes instrumentos nos ofí-cios profanos com os significados mais ín-timos e diretos das ferramentas do Apren-diz: símbolos do trabalho de polir a pedra bruta ou a si mesmo.

O simbolismo maçônico apresenta o maço como a representação da força, pois

desfere os golpes no cinzel, que representa a beleza e aplica a força bruta numa forma utilitária, que desbastará a pedra. A régua tem sua significância como a sabedoria, necessária para o planejamento da obra, mensuração da força e formas, e avaliação do trabalho acabado.

Dentro da Loja, as ferramentas são associadas às colunas que a sustentam: a Sabedoria, a Força e a Beleza, personaliza-das, respectivamente, nas pessoas do Ve-nerável Mestre, 1º Vigilante e 2º Vigilante.

“o número vinte e quatro, associado à régua, é primeiramente referido às horas do dia. Em número de vinte e quatro, divididas em três períodos iguais de oito horas, sugere que o homem deve empregar com equilíbrio seu dia em descanso, trabalho, e a serviço de deus e um irmão necessitado.”

16 O PRUMO

No microcosmo da consciência humana é possível associar as ferra-mentas do grau de Aprendiz à cons-ciência representada pela medida tomada pela régua; à sensação, repre-sentada pelo toque do cinzel na pedra bruta; e à ação, representada pela for-ça desferida pelo maço.

Esta peça de arquitetura deter-se--á em explorar o significado e sim-bolismo da régua de vinte e quatro polegadas.

2. o SIMBoLISMo da rÉGua A régua, por excelência, é um ins-

trumento de medida. Através dela é possível obter a informação sobre a longitude de uma dimensão espacial. Encontrada desde tempos imemo-riais1, especula-se que a régua possa ter surgido com o período Neolítico da Humanidade, onde a medida da terra tornou-se necessária para o pla-nejamento das colheitas dos primei-ros povos sedentários.

A etimologia da palavra na Língua Portuguesa vem do latim regula. Nas línguas românticas, além da Língua Portuguesa, é grafada regla, règle e ri-ghello, nas línguas Castelhana, Fran-cesa e Italiana, respectivamente. Nas línguas de origem romântica esse vo-cábulo encontra íntima ligação com outros com significância equivalente a “reger”, “regular” ou “governar”. Os autores de idioma inglês têm utiliza-do também o léxico gauge ou gage, ao invés de ruler, o que seria uma tradu-

ção mais direta. O vocábulo gauge, no léxico inglês, pode ser traduzido como medida ou calibre, trazendo o significado estrito da utilização ins-trumental da régua. Já Albert Pike, em seu Magnus Opus Moral e Dog-ma do Rito Escocês Antigo e Aceito, dá o subtítulo de seu primeiro capí-tulo concernente ao grau de Apren-diz como “The Twelve-Inch Rule and the Common Gavel”, ou A Régua de Vinte e Quatro Polegadas e o Maço Comum, em tradução livre.

A medida associada à régua é a longitude ou comprimento. Na ciên-cia da metrologia a longitude é uma das sete medidas fundamentais. São elas: longitude, massa, tempo, tempe-ratura, corrente elétrica, intensidade luminosa e quantidade de matéria2. As demais formas de compreensão das quantidades do universo derivam destas.

Dada a estreita intercorrelação entre a medida de longitude e demais grandezas, é possível afirmar que a régua é um instrumento que pode ser utilizado para compreender o Uni-verso. Na Teoria Especial da Relati-vidade de Albert Einstein, de 1905, postulou-se que tempo e longitude são grandezas dependentes entre si3, proporcionais à velocidade dos siste-mas de referência. Assim, a longitude (espaço) e tempo tornam-se variá-veis que, hora ou outra, podem ser entendidas como intercambiáveis, a depender de como se expressa ma-

tematicamente o fenômeno a ser es-tudado. A compreensão desta faceta do Universo levou aos subsequentes avanços no estudo da física nuclear, quântica e cosmologia.

De fato, ainda referindo-se à ciên-cia da metrologia, a 17ª Conferência Geral de Pesos e Medidas, em 1983, definiu o metro, unidade de longitu-de, como:

O metro é o comprimento do trajeto percorrido pela luz no vácuo durante um intervalo de tempo de 1/299.792.458 de se-gundo.

Assim, na ciência moderna, em reconhecimento às implicações da Teoria Especial da Relatividade, en-tende-se a longitude e o tempo como grandezas interdependentes. Essa observação é de especial importância quanto se traslada o significado físi-co da régua para o entendimento da simbologia maçônica.

Na arte do Desenho, a régua não é instrumento de traçado, ao contrário do que sua forma reta e rígida sugere4. Esta função, de traçar linhas retas, é designada ao esquadro. À régua é le-gado o trabalho tanto de obter, como de impor medidas aos desenhos. Neste último viés, a régua é o sím-bolo do planejamento da construção. Nessas atividades, a régua toma uma forma dual, passiva e ativa, respecti-vamente, da tomada e imposição da medida. Na simbologia maçônica, a régua é tida como o instrumento ne-

1 Há registro arqueológico de réguas confeccionadas em marfim, datadas desde 2400 a.C., finamente graduadas. Possivelmente réguas feitas em madeira,

material menos durável se decompuseram sem deixar vestígios. 2 Expressos no Sistema Internacional, respectivamente, nas unidades de metro, quilograma, segundo, Kelvin, Ampère, candela e mol. 3 A título de curiosidade, sugere-se inquirir sobre as Transformadas de Lorenz para a demonstração matemática da correlação entre espaço e tempo.4 Reta e rígida se tomarmos como símbolo a régua comum. Há na prática, no entanto, réguas curvas, flexíveis ou ambas.

17O PRUMO

cessário ao planejamento do desbaste da pedra bruta, onde as dimensões perfeitas serão impressas.

Aldo Lavagnini, na obra Manual do Aprendiz Franco-Maçom, explica:

A longitude, que é medida por meio da Régua, representa o ca-minho da vida e o progresso na direção que escolhemos. LAVAGNINI, Aldo. Manual do Aprendiz Franco-Maçom.

Ainda, Oswald Wirth comenta: Colocado de posse da Régua, ele controla seu trabalho para torná-lo irrepreensível no que concerne a um primeiro lado da Pedra. WIRTH, Oswald. Os Mistérios da Arte Real.

Albert Pike, ainda na obra Morals and Dogma, comenta:

The FORCE of the people, or the popular will, in action and exerted, symbolized by the GA-VEL, regulated and guided by and acting within the limits of LAW and ORDER, symbolized by the TWENTY-FOUR-INCH RULE, has for its fruit LIBER-TY, EQUALITY, and FRATER-NITY,—liberty regulated by law; equality of rights in the eye of the law; brotherhood with its duties and obligations as well as

its benefits. PIKE, Albert. Morals and Dog-ma of the Ancient and Accepted Scottish Rite.

Daniel Berésniak faz o mesmo co-mentário com relação à régua de vin-te e quatro polegadas em Symbols of Freemasonry, como instrumento de medida por excelência:

The gauge is a measuring tool, divided into twenty-four sec-tions, like the division of the day into twenty-four hours, and allows us to check that the finished building conforms to the original plan. BERÉSNIAK, Daniel. Symbols of Freemasonry.

3. o SiMBoLiSMo do núMEro vintE E Quatro

O número vinte e quatro, associa-do à régua, é primeiramente referido às horas do dia. Em número de vinte e quatro, divididas em três períodos iguais de oito horas, sugere que o ho-mem deve empregar com equilíbrio seu dia em descanso, trabalho, e a serviço de Deus e um irmão necessi-tado.

Albert Mackey, na Encyclopaedia of Freemasonry, coloca:

It has been adopted as one of the working-tools of the Entered Appren-

tice in Speculative Masonry, where its divisions are supposed to represent hours. Hence its symbolic use is to te-ach him to measure his time so that, of the twenty-four hours of the day, he may devote eight hours to the service of God and a worthy distressed bro-ther, eight hours to his usual vocation, and eight to refreshment and sleep. In the symbolic language of Masonry, therefore, the twenty-four-inch gage is a symbol of time well employed.

MACKEY, Albert. Encyclopaedia of Freemasonry.

Com relação ao número vinte e quatro, Daniel Béresniak lembra que ele é resultado do produto dos quatro primeiros números naturais, ou 24 = 4! = 4 × 3 × 2 × 1, sendo assim, igual-mente divisível por estes, e capaz de produzir medidas proporcionais a estes.

The number of sections on the gau-ge is divisible by two and by three, and is the product of the first four natural numbers (1 x 2 x 3 x 4). It is thus ideal for checking if proportions are correct.

BERÉSNIAK, Daniel. Symbols of Freemasonry.

Algumas referências são encon-tradas quando estudadas comparati-vamente às religiões:

São vinte e quatro os livros que compreendem a Tanakh, o cânone

18 O PRUMO

judeu e o Velho Testamento cristão5.Vinte e quatro também é o número de Tirthankharas, seres humanos que, segundo a religião jainista, in-terromperam seu ciclo de reencar-nações através da iluminação ou ob-tenção do nirvana, e são inspiração e fonte de sabedoria para os seguidores da religião jainista.

No hinduísmo, são vinte e qua-tro os raios da Roda do Dharma. Os raios representam vinte e quatro vir-tudes6, assim como lembra as vinte e quatro horas do dia e da constância da movimentação do tempo. A Roda do Dharma representa também uma roda de fiar, símbolo dos movimen-tos para a independência da Índia e posteriormente adotado como um dos símbolos deste país.

É possível, então, correlacionar o número vinte e quatro às virtudes no jainismo e hinduísmo, bem como na tradição judaico-cristã, na medida em que referencia o cânone do pri-meiro e o Velho Testamento cristão.

4. concLuSÕESA régua de vinte e quarto polega-

das é, junto com o maço e o cinzel, uma das ferramentas do Aprendiz Maçom. Representa a sabedoria, com a qual o Aprendiz deve planificar e construir seu templo interior. É ins-trumento de medida por excelência, onde as proporções das dimensões lineares podem ser conhecidas.

Da mesma forma, é dividida em vinte e quatro porções iguais, que lembram as horas do dia e da forma sábia que estas devem ser emprega-das. O número vinte e quatro, por si só, enquanto lembra a divisão ho-rária do dia, é o produto dos quatro primeiros números naturais. Além da divisão do dia, podem-se traçar refe-rências a virtudes encontradas em outras religiões, com significâncias próprias, que remetem ao próprio simbolismo de retidão da régua.

A lição que o Aprendiz Maçom deve obter da régua de vinte e quatro polegadas é da proporcionalidade e

retidão, expressos em sabedoria, no planejamento e mensuração do seu tempo.

5. BiBLioGraFia PIKE, Albert. Morals and dogma of the

ancient and accepted Scottish rite of Freemasonry. The Supreme Council of the Southern Jurisdiction, A. A. S. R., U. S. A. Charleston; 1905.

LAVAGNINI, Aldo. Manual do aprendiz Franco-Maçom. 1991.

WIRTH, Oswald. os Mistérios da arte real. 1932.

MACKEY, Albert. Encyclopaedia of Free-masonry. Vol. 2; The Masonic History Company. Nova Iorque; 1912. p. 811.

BÉRESNIAK, Daniel. Symbols of Free-masonry. Barnes & Noble Books. Nova Iorque. p. 54.

INMETRO. SIStEMa Internacional de unidades – SI. 8ª Edição revisada. Rio de Janeiro, 2007.

Ashoka Chakra. Disponível em: http://pt.wikipedia.org/wiki/Ashoka_Chakra - Acessado em 10/07/2014.

Tirthankaras. Disponível em: http://en.wikipedia.org/wiki/Tirthankaras - Acessado em 10/07/2014.

18 O PRUMO

5 Tanakh é a abreviatura de Torah-Neviim-Khetuvim (םיבותכ-םיאיבנ-הרות), e compreende os seguintes livros: Torah (Lei): 1. Gênese, 2. Êxodo, 3. Levítico, 4. Números, 5. Deuteronômio; Neviim (Profetas): 6. Josué, 7. Juízes, 8. Samuel (I e II), 9. Reis (I e II), 10. Isaías, 11. Jeremias, 12. Ezequiel, 13. Os 12 Profetas (Oséias, Nahum, Joel, Habacuque, Amós, Sofonias, Obadias, Ageu, Jonas, Miquéias, Zacarias e Malaquias); Khetuvim (Escritos): 14. Salmos, 15. Provérbios, 16. Jó, 17. Cânticos, 18. Ruth, 19. Lamentações, 20. Eclesiastes, 21. Esther, 22. Daniel, 23. Esdras e Neemias, e 24. Crônicas (I e II).

6 1. Amor, 2. Coragem, 3. Paciência, 4. Pacificidade, 5. Magnanimidade, 6. Bondade, 7. Fidelidade, 8. Gentileza, 9. Altruísmo, 10. Sacrifício, 11. Autocontrole, 12. Verdade, 13. Justiça, 14. Retidão, 15. Misericórdia, 16. Benevolência, 17. Humildade, 18. Empatia, 19. Simpatia, 20. Espiritualidade, 21. Moral, 22. Sabedoria, 23. Temor a Deus, e 24. Fé em Deus.

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rEGuLaridadE, rEconHEciMEntoE juriSdiÇão coMpartiLHada1

CONFERÊNCIA

Ir\ Rubens Ricardo FranzGrão-Mestre Honorário do GOSC – Grande Oriente de Santa Catarina.

1 Conferência apresentada por ocasião do 1º Simposium Masónico Internacional, realizado nos dias 06 a 08 de outubro de 2016. Tijuana, Baja Califórnia, México.

2 Artigo publicado na Revista O Prumo – GOSC – Grande Oriente de Santa Catarina em junho de 2011.3 Potência Maçônica é única e exclusivamente designada à Grande Oriente e/ou Grande Loja (simbolismo), aonde o seu Grão-Mestre exerce o seu poder

consoante com os Landmarks.4 Constituídas por Potência (s) Maçônica (s) igualmente regular (es).5 Um mesmo território pode ser formal ou tacitamente compartilhado entre duas ou mais Potências Maçônicas regulares. 6 Não dividir seu Poder com outra Instituição.

Participando deste Simpósio Maçônico Internacional que reúne entre outros, gran-des expoentes da maçonaria internacional: Thomas W. Jackson – Presidente Ad Vitam da Conferência Mundial de Grandes Lojas e Grandes Orientes Regulares; Rudy Barbosa Levy – past Grão-Mestre da Grande Loja da Bolívia e Secretário Executivo da CMI – Confederação Maçônica Interamericana; Edmund D. Harrison – General Grand Chapter of Royal Arch Masons Internatio-nal; Chris L. Smith – Potentado Imperial – Shriners International e Gaspar Ruiz Tenorio – Soberano Gran Comendador del Supremo Consejo de México del Rito Escoces Antiguo y Aceptado, me coube a missão, conjuntamente com os meus pares igualmente convidados, de transmitir uma mensagem sobre “Regularidade, Reconhe-cimento e Jurisdição Compartilhada”.

Quando o assunto é regularidade, é justo buscar luzes nas palavras habilmente levadas à texto pelo nosso querido irmão Onosandro Trejo Cerda - past Soberano Gran Comendador del Supremo Consejo de México del Rito Escoces Antiguo y Acepta-do - em artigo de sua lavra intitulado “La Regularidad Masónica”2, quando diz, “La Regularidad es la que da existencia a una

potencia u organización masónica y, por lo tanto, constituye un requisito indispensable.”

E regularidade em maçonaria é cons-tituída com base nas seguintes basilares: a) Origem: ter sido constituída por uma

Potência Maçônica3 Regular ou por três Lojas Regulares4, num território independente ou compartilhado5, e ser soberana6 em sua administração.

b) Orgânica: estar organizada de acordo com os antigos costumes, a sua consti-tuição e suas leis.

c) Funcionamento: atuar mediante a crença em um Ser Superior; sigilo; simbolismo operativo; divisão apenas em três graus: Aprendiz Companheiro e Mestre; observar a Lenda do Tercei-ro Grau; juramento perante o Livro Sagrado; presença do Livro Sagrado, Esquadro e Compasso; investigar a Ver-dade; proibição de discussões sectárias político-partidárias e religiosas.

“[...] deveremos com base na Experiência acumulada por todos nós, utilizar da alavanca da determinação, para promovermos as mudanças tão necessárias para fortalecer o sistema da maçonaria regular, tradicional e internacional [...]”

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Desta forma, uma Potência Ma-çônica que atende a essas regras, ela é indiscutivelmente regular. Sendo que para nós, desde que, atuante no sistema cujo eixo de relacionamento esteja ancorado na maçonaria tradi-cional que envolve principalmente a Grande Loja Unida da Inglaterra, Confederação de Grandes Lojas Americanas, Conferência Mundial de Grandes Lojas / Grandes Orientes Regulares e Confederação Maçônica Interamericana – CMI.

No que tange ao reconhecimen-to, em maçonaria, este é um ato da diplomacia, baseada entre outros no direito maçônico interpotencial. Sen-

do que cada Potência Maçônica tem garantido o exercício da sua soberania para reconhecer ou não outra Potência Maçônica regular, bem como, como retirar esse reconhecimento a qual-quer tempo.

Lembrando ainda, o ensinamento do nosso querido irmão Onosandro Trejo Cerda, quando ainda escreveu: “...El Reconocimiento se realiza me-diante un procedimiento de legalidad masónica, que entraña dos momentos: el de la verificación, examen o averi-guación de la Regularidad de Origen, Regularidad Orgánica y Regularidad Funcional del reconocido o a reconocer; y, el de la Declaración de Aceptación por

parte de quien hace el reconocimiento al que es reconocido como potencia u organización masónica regular, lo que lleva implícita su existencia jurídico--masónica”.

Em se tratando de Jurisdição Compartilhada em maçonaria, esta nomenclatura é entendida quando uma ou mais Potências Maçônicas do nosso eixo de relacionamento interpo-tencial, operam dentro de um mesmo território, formal ou tacitamente7.

No sistema maçom que estamos inseridos, em sendo o eixo da maço-naria tradicional e global, através das suas lúcidas lideranças, devem estar atentas, visto que, ao mesmo tempo

7 A palavra tácito tem origem no latim tacitus, termo que pode ser entendido como “não expresso”, designando aquilo que está implícito, que não está dito ou expresso.

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que a prática de “maçonaria” através da internet, CLIPSAS e outras estão avançando e ganhando terreno, ao tempo que, Potências Maçônicas regu-lares, por motivos próprios de alguns dos seus líderes, criam entraves e di-ficuldades para a perfeita e definitiva conexão do nosso sistema tradicional como um todo.

Diante deste contexto, nos é ques-tionado pela organização deste Sim-pósio, quais conceitos tendem a ser aplicados para superar os vazios e/ou lacunas que existem em pleno Século XXI.

Neste aspecto em particular, leva-mos de forma singular, a reflexão de todos, a aceitação da verdade como ela o é nos respectivos territórios e articulando o desenvolvimento do tema “inclusão de Potências regulares ao sistema”.

Autoridades maçônicas interna-cionais têm atuado e devem continuar a fazê-lo diplomaticamente para fazer cumprir este objetivo primordial para a consolidação do processo de integração coordenada, porém, mais rápida, pois estamos indo à metade do primeiro quarto do século XXI.

Contudo de forma proativa como o fazem Thomas W. Jacksson, Derek Dinsmore, Oscar de Afonso Ortega e Rudy Barbosa Levy entre outros, junto aos processos de reconhecimento e inserção das mais diversas Potencias Maçônicas neste nosso sistema de regularidade e reconhecimento, a que denominamos de tradicional, e que vale lembrar a mensagem do nosso Irmão Derek Dinsmore - Grande Chanceler da UGLE - proferida em evento da CMI – Confederação Ma-çônica Interamericana em Madrid (15 de abril de 2015) – Espanha: “Onde diferimos de algumas Grandes Lojas regulares é que nossos princípios não

incluem a jurisdição territorial exclusi-va como um princípio de regularidade. Por razões históricas, seria impossível para nós fazê-lo”. Disse mais: “Para nós, soberania é uma Grande Loja ter autoridade única sobre seus membros e Lojas, onde quer que essas Lojas possam localizar-se geograficamen-te. Soberania não pode ser dividida. Território, por acordo mútuo, pode ser compartilhado, e compartilhar territó-rio de modo algum diminui a soberania das Grandes Lojas envolvidas”.

Desta forma, a nobre tarefa de “incluir” exige ação dos líderes e por consequência, dos que assim desejam “estar incluídos”, se exige a vontade e a determinação para fazer o que precisa ser feito.

Havendo inclusão e alinhamento do sistema da maçonaria regular internacional, deveremos partir para compreensão coletiva dos problemas, de forma conjunta e participação in-tegrada para a solução de problemas comuns a todos.

Jorge Vallejos8 já advertiu no pas-sado quando escreveu no artigo “La filosofía masónica del denominado Nuevo Humanismo”: “La francmaso-nería es el resultado de un complejo

proceso histórico en el que se combinan aspectos netamente espirituales con otros que pertenecen al campo social y político”. E continuando expressa ...“ Cuando las Grandes Logias en sus historias oficiales enumeran a los ma-sones que han participado en los actos fundacionales de sus naciones, cuando se establecen orgullosos porcentajes de legisladores, listas de presidentes, selecciones de líderes destacados y las consabidas e interminables columnas de masones famosos, se está enviando un mensaje claro a la sociedad: Este es el poder de la masonería. El peso de estos masones es el que ha marcado los hechos con la impronta masónica, determinando su rumbo.

... El iniciado aspira a que la forma-ción iniciática contribua a la construc-ción moral de la política; sin embargo, cuando se aborda la problemática “masonería y política” nos reducimos al campo restringido de la secularización. Un repaso de la dimensión política de la masonería en el último siglo no excede en mucho el marco profano de la lucha por los espacios de poder por parte de las fuerzas seculares y la cuestión de los derechos y libertades humanas”.

E sintetiza: “La masonería se ha

8 Jorge Vallejos, Past Gran Maestre da Gran Logia de Libres e Aceptados Masones da Argentina no periodo 1999-2002 e 2002-2005, Secretario Ejecutivo Confederacion Masonica Interamericana pe-riodo 2006-2009.

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destacado en todos los tiempos por una característica propia que la diferencia de cualquier otra institución. El masón es un hombre entrenado en la difícil capacidad de tratar de percibir el rum-bo de la historia y adelantarse a ella para construir las ideas arquetípicas de cada nueva etapa. En otras palabras: entrenado en el uso de los símbolos el masón encuentra en el presente aquellos significados que hacen prever la direc-ción de la humanidade”.

Por sua vez, nosso querido irmão Rudy Barbosa Levy9 muito bem res-saltou em sua conferência durante as comemorações dos 120 anos de aniversário da Maçonaria da Baja Califórnia, com a apresentação do seu artigo intitulado “El principio de Orden y la Integración Iberoamericana”: “...Si queremos desarrollar masonería en el Siglo XXI, no podemos seguir utili-zando herramientas del Siglo XVIII. Debemos hacer lo que se viene hacien-do en los campos de la economía y la educación, es decir, acomodar nuestro sistema de trabajo a las necesidades y opciones actuales. Debemos pensar en un rediseño de la masonería dentro de un marco adecuado al Siglo XXI: colaboración, interdependencia, soste-nibilidad, transparencia, integridad y otros principios que son parte del nuevo molde social que se está desarrollando en un mundo cada vez mas interconec-tado y participativo...”.

Neste contexto, deveremos com base na Experiência acumulada por todos nós, utilizar da alavanca da determinação, para promovermos as mudanças tão necessárias para fortalecer o sistema da maçonaria regular, tradicional e internacional, estando habilmente integrada, frater-

na e solidária, avançar no processo de melhoria do estado de equilíbrio e fortalecimento deste modelo maçô-nico para enfrentarmos os desafios da atualidade, no que voltamos a sugerir aqui no México:I. Estar a maçonaria através das

suas Potências interconectadas em Confederações e/ou Confe-rências, inserida nos principais eventos decisórios da humani-dade, a partir do ambiente local de convívio e Poder, atuando nos projetos relevantes para o seu desenvolvimento socioeconômi-co com sustentabilidade, agindo e interagindo com a sociedade, mediante projetos estratégicos inteligentemente concebidos, com o uso de métodos, metodologias e tecnologias adequadas aos tempos, estudados e concebidos em Cen-tros de Inteligência Maçônica que poderiam estar estabelecidos nos nossos Continentes.

II. Implantar, por exemplo, algo como Centros Internacionais e/ou Na-cionais de Estudos Avançados de Conhecimento Maçom, para que possamos evoluir e sincronizar de forma integrada o processo for-mação e de aperfeiçoamento dos Iniciados focados num processo de autodesenvolvimento da liderança e o desenvolvimento com sustenta-bilidade do nosso planeta.

III. Atualizar a ação estratégica maçô-nica no âmbito internacional, no conjunto das Conferencias e/ou Confederações Maçônicas, apoia-das por estes Centros de Inteligên-cia Maçônica, com o envolvimento de todas as Potências Maçônicas internacionais regulares, poten-

cializando com a integração e a fraternidade os projetos continen-tais para a obtenção de resultados estratégicos necessários para a segunda metade do século XXI.

IV. Expandir dos quadros da Ma-çonaria de forma coordenada – sincronizada com uma Política Internacional dirigida para as Nacionais e/ou Regionais (respei-tada a soberania) que observe as qualidades individuais e coletivas que os tempos exigem, garantindo na iniciação, uma amostragem se-letiva do tecido social, no qual se encontram inseridos as Potencias Maçônicas com as suas respectivas Lojas.

V. Apoiar e estimular o exercício da Liderança e o Voluntariado dos nossos obreiros junto à sociedade, mediante a aplicação dos nossos princípios e valores, com a obser-vância da nossa filosofia e sim-bologia, e integrados aos nossos projetos estratégicos.Meus Irmãos, neste breve escrito e

pronunciamento, espero ter contribu-ído para um exercício de raciocínio e de reflexão para a construção de uma linha de pensamento que contribua para ações concretas para a evolução da nossa Ordem Maçônica Interna-cional e da humanidade em particular.

Agir faz a diferença. Todavia, agir integrados e a luz do conhecimento da maçonaria com experiência e determi-nação, faz uma profunda diferença. E a diferença pode ser a felicidade da humanidade num sentido utópico, mas agir contribuindo para a geração de felicidade no nosso meio e socie-dade a qual estamos inseridos é uma obrigação nata de um maçom.

9 Past Grão-Mestre da Grande da Bolívia e atual Secretário Executivo da CMI – Confederação da Maçonaria Interamericana.

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juStiÇa E EQuidadEna MaÇonaria

CONCEITOS

IIr\ Ademir paulo Tombini e Santo zacarias GomesLoja Acácia da Ilha, nº 31 – GOSC – Or. de Florianópolis.

introduÇãoO Rito Escocês Antigo e Aceito

(REAA), praticado no seio da Jurisdição do Supremo Conselho de Santa Catarina, é composto de trinta e três graus. Cada um desses graus, sem nenhuma exceção, apresenta um aspecto particular da tradi-ção que constitui uma etapa no caminho do conhecimento. O Grau 31, dedicado à dualidade – Justiça e Equidade – con-centra as funções judiciárias da Ordem. Quando se reúnem os Irmãos do Grau 31, está formado o Soberano Tribunal. Este órgão bate-se pela aplicação da Justiça e da Equidade, proscrevendo a Injustiça e a Iniquidade. Em se falando de Equidade, esta tem recebido interpretações variadas através dos tempos e está muito próxima do conceito de Justiça.

Para entender o significado de Justi-ça e Equidade exige a busca de definições de filósofos através dos tempos. Segundo Platão, os conceitos de felicidade e justiça caminham juntos.

Podemos definir felicidade, seguindo sua própria natureza e justiça, fazendo aquilo que é próprio de cada um. Em sen-do a temperança, a coragem e a sabedo-ria virtude básica de um homem justo, é admissível que a justiça seja a base dessas três virtudes.

No velho Egito, a Deusa Maat perso-nificava, ao mesmo tempo, a Justiça e a Verdade. O mesmo sucedia com Mitra, na antiga Pérsia. Entre os Gregos, conforme

a Teogonia, Zeus casou-se com Metis, a Sabedoria e depois, com Têmis, a Justiça.

O objetivo deste trabalho será o de reunir algumas informações que envol-vam os conceitos de Justiça, Equidade e seus contraditórios: Injustiça e Iniquida-de, num ensaio que contribua de alguma forma para o enriquecimento do saber maçônico.

LEi, juStiÇa E vErdadEPara a Maçonaria, Justiça é o mesmo

que Verdade em ação, equivalendo dizer que o direito sobrepõe-se à lei. Montes-quieu afirmou: “Sustentar que o direito não existe antes da lei, é o mesmo que pretender que, antes de traçar o círculo, todos os raios não sejam iguais”. Ao contrário do conceito Vêhmico de Justiça – inflexível e duro na aplicação - o conceito maçônico não exclui a caridade, levando em conta que o rigor exagerado no emprego da justiça, pode também conduzir à injustiça. Vale lembrar que os Tribunais vêhmicos, segundo regis-tra a História, formavam no seu conjunto, a Santa Vehme cuja criação é atribuída a Carlos Magno, reinante de 768 a 814.

Nos dias atuais, o homem comum não faz nenhuma distinção entre direito, justiça e lei. Ulpiano definiu Justiça como sendo

“justiça é virtude, liberdade, igualdade, racionalidade, boa vontade, boa fé, humildade ante a finitude da vida humana, moderação, etc.”

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a vontade firme e permanente de dar a cada um o seu direito. No entanto, continua sendo uma das noções mais difíceis de definir. É ideia e sentimen-to, não se sabendo até hoje se é mais uma coisa do que outra. É o ideal que persegue todo o direito e o fato de ter havido e haver direitos injustos, não destrói esse ideal.

Existem autores que acham que o direito nada tem a ver com a justiça. Outros dizem que é impossível saber se uma ordem jurídica é justa usando conceitos éticos. Para os gregos, por exemplo, a escravidão era uma insti-tuição justa; nos tempos hodiernos, isto soaria como uma estupidez con-ceitual. Justiça é virtude, liberdade, igualdade, racionalidade, boa vontade, boa fé, humildade ante a finitude da vida humana, moderação, etc. Hegel tem uma frase que dá a ideia exata da complexidade da justiça: O drama não é a luta entre a justiça e a injustiça, é a luta entre dois direitos igualmente justos.

Quanto à Equidade, esta tem re-cebido interpretações variadas atra-

vés dos tempos e está muito próxima do conceito de Justiça. Era tida em sentido análogo ao de justiça, pelo que, por vezes se confundiam. E, assim, tanto um como outro eram compreendidos como disposição de ânimo, constante e eficaz, de tra-tar qualquer pessoa, segundo sua própria natureza, ou tal como é, contribuindo em tudo que se tem ao alcance, desde que não seja em prejuízo próprio, para torná-la per-feita e feliz. Ampliando este sentido, chegavam a equipará-la à caridade, interpretando-a como a bondade cordial. Mas, no conceito atual, não é este o sentido de equidade, não podendo ser confundido com jus-tiça, onde é aplicada. É compreen-dida como a igualdade de que nos falam os romanos e pode ter com-plementos na razão absoluta ou no que é equitativo. É um abrandamen-to da interpretação da lei, para sua aplicação. Logo, a equidade não é a justiça, mas compõe o conceito de uma justiça fundada na igualdade, na conformidade do próprio princí-

pio jurídico e em respeito aos direi-tos alheios. Por isto, às vezes, possui sentido mais amplo, mostrando-se um princípio de Direito Natural, que pode contrariar a regra do Direito Positivo. Pelo princípio da equida-de, mais deve ser atendida a razão do que a própria regra do Direito e assim, a equidade é a que se funda na circunstância especial de cada caso concreto, concernente ao que for justo e razoável. E, certamente, quando a lei se mostrar injusta, o que se poderá admitir, a equidade virá corrigir seu rigor, aplicando o princípio que nos vem do Direito Natural, em face da verdade sabida ou da razão absoluta. Provavelmen-te por isto, o Código de Processo nacional instituiu o princípio de que o juiz, quando autorizado a decidir por equidade, aplicará a norma que estabeleceria se fosse legislador.

A Grécia pode ser considerada como o berço da equidade. O contexto das cidades-estado gregas, sobretudo Atenas, levou ao desenvolvimento da filosofia, que foi a fonte da equidade grega. Era chamada de epieikeia, e manifestava a ideia de adaptação do direito a um caso. Ela não pretendia dissolver o direito escrito, mas apenas torná-lo mais democrático. Dentre os filósofos gregos, destacam-se Platão, que foi o primeiro a preocupar-se com a equidade, separando-a de justiça, e colocando a primeira num patamar superior a da justiça normativa. Porém Aristóteles definiu a epieikeia como pouco prática devido a corrupção no judiciário e, por isso, não recomen-dou o seu uso irrestrito por parte dos juízes.

No Direito romano, a Equidade teve papel fundamental em seu desen-volvimento. O Direito Romano Arcai-co caracterizava-se pelo formalismo,

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oralidade e rigidez, aplicando a igual-dade “aritmética” e não a equidade. Ele não se estendia a todos os que viviam no império, criando uma massa de excluídos que não podiam recorrer à justiça. Com a invasão da Grécia pelos romanos, houve uma sincretização entre as duas culturas e, com isso, além da introdução de um direito escrito, a filosofia grega influenciou na quebra da rigidez do Direito, através do prin-cípio da equidade.

Na Idade Média prevaleceram as ideias de São Tomás de Aquino, que desenvolveu o conceito de equidade aplicado ao contexto cristão basea-do em Aristóteles. Neste período, a equidade também obteve sinônimo de virtude e de prudência; ou seja, julgar mais justamente.

Pode-se concluir que no desen-volvimento do Direito Romano--germânico Ocidental, os romanos nos deixaram, através de um direito formal e rígido, a certeza e a precisão, enquanto os gregos quebraram essa rigidez excessiva, contribuindo com o principío da equidade.

Como podemos ver, as funções da equidade mostram a sua enorme in-fluência na aplicação das leis, como na interpretação, pois ajuda o aplicador da lei a tratar casos singulares de uma forma mais humana e justa. Também influi na integração, pois suplementa a lei, preenchendo os vazios encontra-dos na mesma, e na correção das leis, pois previnem que as leis obsoletas acabem prejudicando algumas pessoas que tenham casos mais específicos.

Insistimos que a equidade não é meramente um simples método de interpretação, e sim uma forma de se evitar que a aplicação da norma geral do Direito positivo em casos concre-tos e específicos, acabe prejudicando alguns indivíduos, haja visto que toda

interpretação da justiça deva tender para o justo, à medida do possível.

concLuSão A questão da Equidade, perma-

nentemente acoplada à justiça mo-derna, tem suscitado nos últimos tempos muitos motivos para a refle-xão do Direito. Segundo Freires Bar-ros (2010) diante do quadro de de-sigualdades apresentado pelo Brasil hoje, tornou-se necessário repensar a questão da justiça. Este tema está em pauta na academia e se refere, princi-palmente, à má distribuição de bens na sociedade. A solução da teoria da justiça de Rawls, o filósofo político mais influente nos últimos tempos, é uma resposta opcional a este pro-blema. Como regular princípios de justiça distributiva? A resposta a esta questão é relevante para o desenho, a justificativa e a implementação de políticas públicas. Rawls fundamen-ta-se na prioridade do justo sobre o bem, ou seja, todas as liberdades individuais, embora prioritárias, de-vem ser complementares aos anseios por igualdade, e os princípios da jus-tiça devem estar acima de qualquer concepção de felicidade geral. Assim, a justiça torna-se uma obrigação po-lítica ao sistema cooperativo justo, que é a sociedade.

Do exposto pode-se facilmente aquilatar a grandeza e importância simbólica dos ensinamentos conti-dos no grau 31, ao nos apercebermos que Justiça e Equidade, que deveriam caminhar juntas, estão muitas vezes dissociadas em muitos setores da vida social, política e econômica dos povos. Se situarmo-nos no campo jurídico, encontraremos junto à opi-nião pública alguns conceitos como: “A lei é feita para ser cumprida pelos pobres, pois os ricos, através de bons

advogados, sempre se livram de seus rigores”; ou esta: “Somente irão para a cadeia os ladrões de galinhas, pois os grandes velhacos e corruptos, em sendo ricos, estarão sempre ao am-paro”. Foquemos a saúde, como um direito do cidadão: É tipicamente iníqua, pois privilegia as pessoas de posses econômicas. Por mais que se brade pedindo igualdade social, mais a iniquidade se escancara, ou seja, a Constituição diz que “Todos são iguais perante a Lei”, mas falta aos jui-zes, mandatários e ao povo em geral a noção correta de Equidade que nos conduza a uma sociedade realmente igualitária.

BIBLIoGraFIa ConSuLtada1 ARRUDA, J.J. e PILETTI, N. Toda

a Historia. Editora Ática, S. Paulo, 1996. 407 p.

2 CLAUSEN, H. C. – Comentários Sobre Moral e Dogma. Supremo Conselho do grau 33 do REAA – jurisdição sul – E.U.A. 1974.

3 CONCEIÇAO, E.N. Maçonaria, Raízes Históricas e Filosóficas. Editora O Prumo, Florianópolis, SC. 2006, 257 p.

4 CORTEZ, J.R.P. – Fundamentos da Maçonaria - Madras Editora – São Paulo, 2004, 172 p.

5 DA CAMINO, R. Rito Escocês Antigo e Aceito – 1º. Ao 33º. Ma-dras Editora – São Paulo – 2004, 377 p.

6 PETERS, A. Maçonaria, Historia e Filosofia. Editora Núcleo, Curi-tiba, 1998.254 p.

7 RITUAL DO GRAU 31. Grande Inspetor, inquisidor, comendador. 2010, 56 p.

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La MaSonEría y La ÉticadE La vida HuMana1

PRONUNCIAMENTO

Ir\ jorge L. zamora pradoPresidente de la Academia Centroamericana de AltosEstudios Masónicos

Doy inicio a esta intervención desde el relato del “laberinto de la incerteza”, categoría propuesta por el sociólogo francés Lévinas, en su texto “Totalidad e Infinito”, el que parodian-do a Don Quijote de la Mancha, recrea el pasaje en el que Don Quijote le dice a Sancho Panza:

“Los que me han encantado habrán tomado esa apariencia y semejanza; por-que es fácil a los encantadores tomar la figura que se les antoja, y habrán tomado las destos nuestros amigos para darte a ti ocasión de que pienses lo que piensas y ponerte en un laberinto de imaginacio-nes, [in-certezas] que no aciertes a salir dél, aunque tuvieses la soga de Teseo” (De Cervantes, 1997, p. 462).

Frente al aceleramiento de transiciones de temporalidades y racionalidades en que los cimientos del mundo moderno están siendo cuestionados, al igual que Don Quijote, los masones, no estamos exentos de las crisis de incertidumbre, y podemos encontrarnos en un laberinto de in-certezas, al interrogarnos si lo que lo que ha dicho el encantamiento de nosotros es realmente lo que nosotros pensa-mos de nosotros mismos.

Por mucho tiempo los masones hemos sido objeto del encanto de nuestros postulados fundantes de libertad, igualdad y fraternidad, y como un hechizo nos ha hecho sentirnos cómodos y encantados con la certeza que nos han brindado. Sin embargo, a lo externo de tal encantamiento, la humanidad se debate en una pérdida de identidad y de sentido, que socaba el pilar fundamental de la cultura: la realidad ético-moral, en donde el “deber ser” ha sido

substituido por el “es” y el “tener”, en donde los antiguos referentes identitarios de valores, creencias y tradiciones como las religiones, han entrado en una crisis moral-espiritual, que se identifica como la crisis de la modernidad.

Don Quijote, en su delirio, comenta a Sancho la angustia de no sentirse a gusto con lo que dicen los encantadores de su realidad: Tal incertidumbre se ve reflejada entre una realidad social actual de fragmentación cultu-ral, de individualización y de mundialización, y su desconexión con los referentes de aquel pasado fundado en principios de igualdad y en el primado de la razón, contexto mismo que no excluye a los masones, de donde deviene la reflexión sobre el desafió de un horizonte de sentido que les implique retomar el rol de constructores y actores de una historia rein-ventada que permita salir del encantamiento.

Consecuentes que la realidad transmuta a saltos agigantados, a los masones nos toca el proceso de construcción identitaria con la realidad vigente y la búsqueda de respuestas a la visión y misión del rol masónico en el nuevo milenio. Para ello, en principio cabe resaltar que tal análisis diagnóstico de la masonería no pasa solo por abordarla desde el derecho masónico, lo institucional o lo tecnológico, es más el solo hacerlo con centralidad en uno de estos aspectos, corre el riesgo de ser una lectura parcial si no unilateral.

El esfuerzo por lo mismo demanda de iniciativas integrales, pero que partan de un fundamento sólido que solo lo puede propor-cionar la filosofía masónica, aspecto que es recurrente se pase por alto. Desde lo filosófico

1 Pronunciamento do Irmão Jorge L. Zamora Prado no 1º Simposium Masónico Internacional - Tijuana / México

27O PRUMO

masónico, las lecturas obligan a acceder a lo epistemológico –el fundamento del conocimiento masónico-, lo ontológico –el fundamento existencial del ser como masonería y como masón-, la ética -el fundamento en la norma y el compor-tamiento masones- y la axiología – el fundamento de los valores masónicos-.

Solo como un ejercicio reflexivo de pasada, nos detendremos en un proble-ma de naturaleza ontológica masónica, que se hace importante determinar su diferencialidad, dado que su confusión ha derivado en caudas de complejidad y ambigüedad. Se hace referencia a la distinción necesaria en cuanto al ser masonería y al ser masón, que podría identificarse como el desafió al interno y el desafió externo de la masonería y la coherencia que entre ambas lógicas se demanda.

El desafió masónico a lo interno:Se trata de un asunto de fundamentos,

de principios, de tradiciones que denomi-namos los masones “usos y costumbres”, por consiguiente alude a una abstracción filosófica, pero cuya conservación ha preservado a la Orden por casi 300 años.

Se trata de una racionalidad masónica que no puede soslayar lo que la historia masónica atestigua, como heredera de una tradición de larga duración, como portadora de una filosofía humanista, como núcleo de un universo simbólico, como constructora y partícipe de un proceso histórico especifico, único e irrepetible, como un sistema moral que hace suya como norma fundamental el cumplimiento del deber.

Desde su perspectiva interna la ma-sonería siempre será la masonería, por lo mismo no es el producto de una épo-ca, sino un contenido de principios y virtudes transmitidos por una escuela formativa que enseña la investigación de la verdad y el ideal masónico de libe-ración de toda esclavitud derivada de la ignorancia y los vicios, los dogmas con-

fesionales y las políticas despóticas. Tal perspectiva fundacional, su prin-

cipal premisa la hace su universalidad, vigencia y consenso histórico, y que desde luego como todo constructo histórico por el hombre, no cabe interpretarse como escrita en piedra, pero que cuya concep-ción de renovación o cambio, para que no implique la negación de sus raíces histó-ricas, de su fundamentos filosóficos y su tradición iniciática, requiere de procesos muy puntuales que atiendan a finalidades fundamentales y no exclusivamente a medios, como lo podría ser la tecnología, la que por sí sola también a implicado frente a los desafíos del llamado “debate post-moderno”, la racionalidad instru-mental. La tecnología y la propia ciencia son medios no fines.

El desafió masónico a lo externo:Muy a diferencia del desafió interno,

que es de naturaleza abstracta, que tiene que ver con la masonería como institu-ción históricamente hablando, el exter-no su naturaleza es concreta, práctica, aplicada tiene que ver con el ser masón, con el adepto masónico, el responsable del silencio o del diálogo con el entorno comunitario al que se debe. El depositario de los procesos genuinos de liderazgo. Ya que la masonería como tal, no tiene porqué tener o no liderazgo alguno.

El masón como actor social que es, requiere tener claro que si la humani-dad ha de tener un futuro, este no se va construir reflexionando desde lo interno de los Templos Masónicos. Que frente al desafió de reconocer que paradójica-mente, la razón construyó una sociedad profundamente irracional, regida por una economía de mercado que origina una ética también de mercado, donde la vida humana es una mercancía más y el valor de un hombre se mide por su poder y su dinero; el compromiso que de él se demanda es de un enfoque ético de una visión íntegra que permite juzgar todo desde el punto de vista humano, por

consiguiente de intereses vitales.El adepto masón poseedor de una es-

cuela de virtudes, en la que aprende como lo señala Luis Umbert Santos:2

• Elaltovalordelapersonalidadhuma-na;

• Elderechodecadaunoparabuscarlaverdad según su propia convicción;

• Laresponsabilidadmoraldelhombrepara todos sus actos y determinacio-nes;

• La igualdad esencial de todos loshombres;

• Eldeberdetodosycadaunodela-borar activamente por el bien de la humanidad.Queda claro que la masonería invita a

su adepto a confrontar sus pensamientos, y le aporta los principios y la energía in-quebrantable, para que él como “arquitec-to de su propio destino”, y sustentado en la más rígida ética viva en plena integridad de valores.

Otro enfoque que se desprende de la filosofía masónica, es la ética masónica, a la cual la funda la moralidad masó-nica, que dicta el conjunto de normas de conducta y convivencia, mientras la ética masónica adecúa tales normas a su contexto de acuerdo a lo correcto o no correcto. La ética es pues un asunto a ubicarse desde el enfoque de desafió externo de la masonería.

Con todo ese caudal de principios, valores y tradiciones que el Masón ad-quiere, y que como sujeto si tiene tem-poralidad y por lo mismo responde a las demandas de su época, le toca afrontar las crisis de sentido, y sabedor que como nunca la humanidad de hoy enfrenta una crisis de incertidumbre y de identidad, requiere estar consciente del compromi-so en la búsqueda de los aportes válidos que sirvan de base para la solución de los problemas globales.

Y la contribución más emergente que los masones desde sus organizaciones pueden aportar es la construcción de una “ética de la vida humana”. Algo así como

2 Santos L. (1989), Cincuenta Lecciones de Cultura Masónica, México, Edit. Pax.

28 O PRUMO

cuando se aportó a la formulación de la Declaración de los Derechos Humanos en el contexto de la Organización de las Naciones Unidas.

“Ética de la vida humana”, que nuclee su centralidad alrededor de la categoría moral de la dignidad humana. Esto es partiendo del reconocimiento de que la dignidad es ella misma la esencia que el ser humano necesita para realizar su propia humanidad. Ética que ponga el acento en la recuperación de los ideales humanistas.

El aporte masónico de la construcción de un proyecto ético devenido de los valores más intrínsecos de la masonería, requiere la sentida exigencia de reorgani-zar la vida humana. Eso sí un aporte que va más allá del mero discurso y por lo mismo, decantado por la idea reguladora de la dignidad humana como criterio de actuación y compromiso de hacer. De tal forma que del mismo se desprendan las más generosas propuestas de un progreso social orientado hacia fines éticos y logrado por medios éticos. Cuyo principal parámetro de acción y logro sea la preservación y defensa de la dignidad humana, de donde deriven contextos de justicia social.

Si la masonería a través de sus adep-tos masones es de presencia universal, el proyecto de “ética de la vida humana”, será también planetario, esto es de co-rresponsabilidad por los efectos de la actividad masónica en el mundo. Conse-cuentemente, tal ética será también una ética sobre todo de afirmación rotunda de la vida humana ante todo rumbo de accionar irracional. Más atendiendo a la tradición masónica de vocación liber-taria, tal «ética de la vida humana”, será sobretodo una ética de la liberación, por lo mismo, centrada en la búsqueda de la identidad y la vía del desarrollo indepen-diente tanto de sujetos como de pueblos.

Uno de los desafíos que se plantean para los masones en este nuevo milenio, será sentar las bases filosóficas y me-todológicas de la “ética para la vida”, y

desarrollar su arquitectura social. Ética que contribuya a esparcir fuera de los Templos la trascendencia de la moralidad masónica, y con ello hacer del masón del siglo XXI, no solo el conservador ilustra-do u observador aséptico, sino el ser hu-mano autoconsciente, autorresponsable y partícipe del abordaje de la problemática y la solución social.

Toca a esta “ética para la vida”, frente a las amenazas de las tendencias globa-lizadoras devenidas del determinismo racional tecnológico y económico, asumir las mismas desde el eje de una “ética para la vida”, que implique la prioridad sobre cualquier otra de la protección del valor supremo de la vida humana, desde el principio que la vida humana es el criterio de la verdad práctica, en una comunidad de vida, desde una “vida buena” cultural e históricamente.

A manera de capitulación conclui-mos:• Ontológica y epistemológicamente,

se hace necesario diferenciar lo que propiamente es Masonería como abstracción filosófica, de lo que es el masón como sujeto operativo, que da concreción a la abstracción.

• La propuesta de producir, reproducir y desarrollar un sistema de “ética para la vida”, apareja la creación de institutos de “ética para la vida”, que pueden ser nacionales, regionales y continentales, en donde se diseñen los proyectos, programas y estrategias que se impulsarán a la ciudadanía.

• Todo enfoque de análisis masónico que se centre o parta de las esta-dísticas de membrecía, atañe al ser masón, no a la masonería, y respon-de a una lectura positivista y por lo mismo cuantitativa, que no puede dejar por un lado las interpretaciones cualitativas y críticas del evolucionar masónico.

• Desde lo cualitativo se imponen las interpretaciones en función del de-sarrollo educativo y de la proyección social-cultural que las iniciativas

masónicas impulsen.• El factor educación es la clave en el

cambio generacional de los masones, lo tecnológico será altamente positivo en la medida que se fundamenten en finalidades concretas, pero no dejará de ser un medio, que debe ser puesto al servicio de fines, como la educa-ción masónica.

• La educación masónica con vistas a la anhelada proyección social de los masones, requiere desde la iniciación del Aprendiz, incluir paralelo a los contenidos propiamente masónicos, la formación por lo menos en ética y axiología social, que prepare el cami-no a interpretar la futura aplicación del contenido masónico con sentido y compromiso social.

• Toda iniciativa tecnológica debe cui-dar se ponga al servicio de la finalidad masónica, y no al contrario que la masonería tenga que adecuarse a lo tecnológico. En tal sentido la tecnolo-gía será un gran recurso en la medida que no atropelle a la finalidad.

•Entonces frente a la angustia de Don

Quijote por lo que dicen los encantadores de su realidad, como símil masónico, nos presenta la encrucijada en la que, o los masones continuamos en nuestro “clima” de desencanto, autistas sociales ante los procesos de oportunidades nuevas para los cambios y recuperación de los ideales humanistas, o asumimos implicarnos en una actuación de producir, reproducir y desarrollar corresponsablemente un sistema de eticidad, una base normativa universal racionalmente fundada, de forma que intersubjetivamente podamos construir y liderar la universalidad de un consenso moral fundado en la afirmación ética de la vida, en el reconocimiento de la dignidad de la persona misma y una filosofía de la liberación garante de la sobrevivencia de un ser humano crítico, autónomo y responsable que reconozca el compromiso del sujeto en la transfor-mación propia de su destino.

29O PRUMO

QuintESSEncia ouQuinta-ESSÊncia

O QUINTO ELEMENTO

Ir\ Cristiano Alves de jesusARLS Monteiro Lobato 132, Oriente de Itajaí, 01/06/2015GOSC - COMAB

1. introduÇãoNo grau de Companheiro Maçom, o

número cinco é lembrado em variadas abordagens, este número demonstra marcante incidência nos estudos do grau, muito embora o próprio grau se relacione mais diretamente ao número 2, remetendo à dualidade, ao questionamento que deve nortear os estudos deste patamar da esca-lada maçônica.

São cinco os filósofos considerados primordiais nos estudos do grau de compa-nheiro (Aristóteles, Galileu Galilei, Platão, Arquimedes e Pitágoras), como grandes representantes da filosofia, que serviu de base ao desenvolvimento do conhecimento maçônico; o “homem Vitruviano” lembra a estrela de cinco pontas ou pentagrama, que por sua vez remete aos cinco sentidos, dos quais fomos dotados para viver os ensinamentos de “homem perfeito”; as cinco ordens de arquitetura, Dórica, Jônica, Coríntia, Compósita (união das duas ante-riores) e Toscana (simplificação das três); e os quatro elementos primordiais, fogo, água, terra e ar, aludindo que o homem não vive separado da natureza, mas sim dela faz parte, remetendo a um quinto elemento oculto, a quintessência, sobre o qual versa o presente estudo.

2. corpo do traBaLHoO que é quintessência?Para a maçonaria a quintessência é o

quinto elemento (quinta essentia), é a sínte-

se dos outros quatro elementos (terra, água, ar e fogo), o seu extrato mais puro, o éter. A vontade corresponde à terra; o coração, à água; o intelecto, ao ar; a alma ao fogo e o espírito ao éter. Pela sua vontade, coração, intelecto, alma e espírito o homem está em relação com os cinco elementos que trabalham o Cosmo. Assim o homem – o microcosmo – vive e trabalha no seio do Universo – o macrocosmo – Deus.

No princípio Deus criou os céus e o planeta Terra, quando surgiram então os elementos ar e terra. O espírito de Deus se movia sobre a face das águas. A água, então, tinha sido criada. E disse Deus: “Haja lumi-nares na expansão dos céus”. Foi a criação do fogo, fogo do Sol que evapora a água, a qual sobe em forma de ar úmido e cai sobre a Terra novamente como água.

Deus formou o homem do pó da terra, e do ar, água, fogo e terra, soprando em suas narinas deu-lhe o “fôlego da vida”; ou seja, à inércia dos quatro elementos primordiais foi agregada uma alma, um espírito. Todos os animais, incluindo o Homem, receberam uma alma, em seu nível mais primário (ne-

“a Quintessência ou quinto elemento representa a alma, o fôlego da vida soprado por deus ao âmago do Homem, e é o que o difere dos animais e lhe permite, pelo trabalho, estudo e aperfeiçoamento, infinitas possibilidades.”

30 O PRUMO

fesh, em hebraico), “que anima a existência dando-lhe força e vida, de movimento e propaga-ção das espécies”. No entanto, somente Adão recebeu algo novo e inédito no Universo: o sopro vivo de Deus, uma alma mais pura (neshamah, em hebraico), com a qual ambos, criatura e Criador, se tornam inseparavelmente ligados. Foi isso que distinguiu o Homem dos outros animais. Nasce, assim, a quinta-essência na versão das Sagradas Escrituras.

Diversos pensadores antigos bus-caram definir este elemento, que seria um dos quatro elementos unidos ou, simplesmente, o ouro representante simbólico do Sol, da Luz, do Poder Criativo e da Revelação Divina.

Para Aristóteles, o universo seria composto de quatro elementos natu-rais (terra, água, fogo e ar), acrescido de um quinto elemento, uma subs-tância etérea que permearia tudo e permitiriaa propagação das ondas eletromagnéticas, bem como impedi-ria os corpos celestes de caírem sobre a Terra.

Os alquimistas se esforçaram pela busca de um elemento primordial – que denominaram éter – do qual

derivariam todos os demais, e que seria obtido após cinco destilações sucessivas.

Para os cabalistas, a quinta-essên-cia se forma de Quatro pela adição de Um. Quatro são os elementos: Ar, Água, Terra e Fogo e Um, o espírito dominando os quatro elementos.

Já para a numerologia, o número cinco simboliza a união, o centro e o equilíbrio, pelo fato de ser a soma do elemento masculino céu (representa-do pelo número três), e o elemento feminino terra (representado pelo número dois). O número cinco seria, ainda, o símbolo do Homem e do Universo, da ordem, da perfeição e dos cinco sentidos (olfato, visão, audição,

paladar e tato).Isaac Newton, cientista

inglês, igualmente defendia em seus estudos sobre os con-ceitos de matéria e energia, a existência de um elemento, o qual também denominou “quintessência”, partindo da premissa daexistência de uma força imaterial presente nos corpos materiais e nas formas de energia, admitindo que a matéria e a luz comunicavam--se por algo desconhecido até então pela ciência (gravidade).

Em suas teorias sobre a propagação das vibrações dos corpos, chamava essa essência desconhecida pelo su-gestivo nome de “espírito da matéria”.

Recentemente, no ano de 1998, três astrofísicos da Universidade de Pensilvânia reintroduziram o termo “quintessência” para designar “um campo dinâmico gravitacionalmente repulsivo, no qual a dinamicidade seria a propriedade mais atraente da quintessência”. O maior desafio de qualquer teoria de energia escura é explicar as razões pelas quais ela existe na medida exata: numa quan-tidade não tão grande para impedir a formação das galáxias no universo primordial, e nem tão pequena que não pudesse ser detectada agora. A energia do vácuo, que é totalmente inerte, mantém a mesma densidade o tempo todo. Portanto, para explicar a quantidade de energia escura hoje, os valores deveriam ter sido muito bem sintonizados na criação do universo para ter o valor adequado com as observações de hoje.

Na estrela de cinco pontas, as quatro pontas de baixo representam os quatro elementos primordiais, e a quintessência é representada na ponta

31O PRUMO

superior, voltada ao Céu, correspon-dendo ao quinto elemento, ao Éter, ao Espírito que dá vida aos princípios inferiores, é a Consciência, a Inteli-gência Superior.

Vê-se que a quintessência é rela-cionada frequentemente ao éter, cujo significado vai além do significado químico (elemento químico inflamá-vel que se produz pela destilação do álcool com ácido sulfúrico), encon-trando um significado também no campo da Física, qual seja: “1 Fís Hi-potético fluido cósmico extremamente sutil, que enche os espaços, penetra os corpos e é considerado, pela teoria ondulatória, o agente de transmissão da luz, do calor, da eletricidade etc.”

E é sobre esse significado que resol-vemos criar um ponto de vista dentro do tema, abordando a quintessência igualmente como espírito, porém sob um ponto de vista mais prático e do dia a dia, a fim de identificar qual o espírito entendemos, a esta altura da caminhada maçônica e da vida pro-fana, deva prevalecer na maneira de se relacionar entre irmãos, de forma que as colunas se mantenham sempre fortes e inexoráveis.

Para além dos inquestionáveis postulados da igualdade, liberdade e fraternidade, da solidariedade que deve existir entre irmãos, das obri-gações decorrentes da utilização dos instrumentos dos graus de aprendiz e companheiro, os quais remetem a labor, retidão, moralidade, polidez, tolerância e dedicação tanto entre co-lunas como na vida profana, na eterna busca pela lapidação da pedra bruta pensamos ser necessário livrarmo--nos dos pré-julgamentos que vão se tornando automáticos ao longo da vida, das opiniões formadas a partir de nossa vivência particular e que,

muitas vezes, não se aplicam a outras realidades, pois todos somos dotados de um cérebro, mas em cada cérebro se forma uma mente, baseada nas próprias vivências e particularidades da forma de enxergar o mundo, de modo que ninguém se tornou o que é somente porque quis.

3. concLuSãoA Quintessência ou quinto ele-

mento representa a alma, o fôlego da vida soprado por Deus ao âmago do Homem, e é o que o difere dos animais e lhe permite, pelo trabalho, estudo e aperfeiçoamento, infinitas possibilidades.

Na Vida do Homem a Quintessên-cia se perfaz no elemento espiritual que o impulsiona à ação. A Vida vege-tativa representa a estagnação, que leva a morte, e difere da Vida Espiritual, sendo que o Espírito, aqui, representa a presença do Grande Arquiteto do Universo na mente do Companheiro.

Este estado espiritual surge no ma-çom desde a Iniciação, mas se mani-festa com maior intensidade no Grau de Companheiro, por se constituir no grau que intermedeia o grau inicial e a plenitude maçônica, que passa a ser trabalhada gradativamente no grau de mestre.

Nesse caminho devemos nos pau-tar pelo zelo, fervor e constância, mas também pelo respeito às diferenças, procurando absorver o quanto de me-lhor podemos extrair da relação entre irmãos, e principalmente o quanto de melhor podemos oferecer de nós.

A Maçonaria ajuda muito neste as-pecto, ela fomenta a amizade, mesmo entre desconhecidos. Respeitar dife-renças e limitações, deixar de lado o conceito prévio sobre alguém que você nunca viu na vida ou apenas procurar interpretar de uma maneira coerente e neutra, e se possível positiva, comen-tários e opiniões; pensamos ser este o espírito (ou o estado de espírito), a substância etérea que deve permear a relação entre irmãos, seja em loja, seja na vida profana.

4. rEFErÊnciaS BiBLioGrÁFicaS

Estrela Flamejante. Pág. 233 Vol II Prumo Coletanea.

Apostila do Grau de Companheiro do rito Adonhiramita.

Quinta-essência. KarloKoiti Kawamu-ra. ARBLS Duque de Caxias n. 29, 06/10/2014.

HOUAISS, Antonio e VILLAR, Mauro de Salles. Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa, Rio de Janeiro: Objetiva, 2001, p. 2363.

32 O PRUMO

SaLa doS paSSoS pErdidoS

PARA REFLEXÃO

Ir\ Daniel MayerleARLS Luz do Vale 43, Or. Rio do Sul - GOSC - COMAB

1. IntroduÇãoO intróito ritualístico do Aprendiz Ma-

çom, conforme aprovado pelo Grande Oriente de Santa Catarina – GOSC, explici-ta que a Sublime Ordem detém um sistema moral oculto por alegorias e por símbolos.

A própria disposição do templo remete a esta reflexão! Assim, a presente Peça de Ar-quitetura tem por objetivo, além de atender à solicitação do plano de trabalho da A R L S Luz do Vale 43, analisar a estrutura física denominada Sala dos Passos Perdidos.

Para consecução deste objetivo, através do texto que segue, foram realizadas pesqui-sas bibliográficas, além de consulta a ende-reços eletrônicos maçônicos, todos referen-dados ao final.

A peça foi dividida em quatro etapas para a sua consecução, passando pela ori-gem histórica do termo, a conceituação, re-lacionamento com o Átrio e analisando pon-derações imateriais sobre a Sala dos Passos Perdidos.

Longe de se esgotar o tema - por si só é amplo e sedutor – serve para, humildemen-te, provocar reflexões aos irmãos, indepen-dentemente de serem aprendizes, compa-nheiros ou mestres.

2. Corpo do traBaLHo 2.1 destaques históricos acerca da ori-

gem da denominaçãoInvestigando acerca da Sala dos Passos

Perdidos, antes de analisar qualquer sistema filosófico voltado para a compreensão onto-lógica, teológica ou suprassensível da reali-

dade, necessário abordar aspectos atinentes à sua designação.

Dependendo da fonte consultada, são apontadas diversas origens, contudo, inso-fismável que tal expressão deriva do mundo profano.

Mackey apud Lasmar (2010) afirma que seu nome deriva do fato de que todos os passos que se dão antes da entrada na Fra-ternidade, não se verificando de acordo com os preceitos da Ordem, consideram-se per-didos.

Controvérsia significativa, como ante-riormente anunciado, paira sobre a origem da denominação. Segundo alguns (LAS-MAR, 2010) a origem histórica da Sala dos Passos Perdidos remete a Salle des Pas Per-dus dos franceses.

Lasmar (2010) ainda faz referência a Bal-zac e a sua obra “Comédia Humana”, quan-do em determinada passagem descreve o Palácio de Justiça de Paris e refere-se a Sala Imensa dos Passos Perdidos. (...). Adiante, também menciona à cidade francesa de Poi-tiers:

“Sob o prisma de que o templo representa o cosmos e a Loja é a reunião dos obreiros para realização de objetivos justos e perfeitos, torna-se necessário ponderar que a “Sala dos passos perdidos” tem a função de lembrar a postura e atitude do maçom fora do templo ou seja, no Mundo profano.”

33O PRUMO

A cidade guarda e conserva suas re-líquias, maravilhas história [sic] como o Batistério, da Igreja de São João, do Século XII. Orgulha-se da arquitetura centenária, das suas Igrejas românti-cas. Entre essas jóias, os seus palácios, entre eles, o Palácio Justiça. Ele ostenta uma vasta sala, hoje silenciosa e nua; ela recorda solenes audiências, grandes julgamentos e sessões do Parlamento; uma bela Sala com seus balcões e jane-las interiores em estilo “flamboyant”, do templo dos Reis Plantanenetas. “Haal” dos reis angevinos, Henrique II e Ricar-do Coração de Leão, no século XII.

Era o antigo Palácio dos Con-des de Poitiers, século XIII, que Carlos II, em 1423, instalou o Parlamento.

Essa bela Sala do Palácio da Justiça da cidade de Poitier é a SALA DOS PASSOS PERDI-DOS!

Interessantes são os aportes colhi-dos de Castelani (2010), ao comen-tar que somente com a entrada dos primeiros maçons aceitos, a partir de 1600, é que os hábitos das reuniões em canteiros de obras da maçonaria opera-tiva começaram a mudar, em razão da pertinência temática.

Já para Figoli (2008), a origem da Sala dos Passos Perdidos é do parla-mento inglês. Tal faz sentido, em ana-lisando a perspectiva da construção da primeira Loja/Templo.

Conforme narra Castellani (2010, p. 231) (...) a 1º de maio de 1775, era lança-da a pedra fundamental do Freemason’s Hall, na Great Queen Street. (...).Justifi-ca também que

Para a construção da Loja da Great Queen Street, os maçons in-gleses foram buscar bases em edi-fícios e instituições que lhes eram bem conhecidos: o Parlamento britânico e as igrejas.

Do Parlamento britânico, exis-

tente desde 1296 – quase 500 anos antes, portanto, da primeira Loja moderna – foram imitados:

(...) 2. A Sala dos Passos Perdidos,

que é um anexo do Parlamento, onde as pessoas aguardam audiên-cias com os parlamentares. Como é uma sala de espera, onde se pode andar a esmo, os passos, que não são utilizados para ir de um lugar específico a outra, são passos “per-didos”. As Lojas maçônicas tam-bém possuem esse anexo, com o mesmo título.(...) (CASTELLANI, 2010, p. 233)

Muito sentido faz, partindo do princípio da reprodução do conhe-cimento amealhado, assim buscando inspiração nas grandes obras da maço-naria operativa, durante a Idade Média, sobejando na feitura dos idealizadores de edificações contendo no seu bojo diversos aspectos esotéricos, além de feitios práticos.

Desta feita, a inauguração da Freemason’s Hall em 1776, teve parte do formato do Parlamento Inglês. Mais que isso! De acordo com Neto (2011) a própria disposição e organização da Loja derivava daquela instituição, con-forme se colhe:

Como curiosidade, também as mesas dos Oficiais, a grande cadei-ra do Venerável Mestre e os luga-

res dos Irmãos nas Colunas tem a mesma origem, pois o Parlamento Inglês é cerca de 500 anos mais an-tigo do que o primeiro templo ma-çônico. Sabemos que antes as Lo-jas, Especulativas ou dos Aceitos, reuniam-se nas Tavernas e usavam o nome das mesmas para identifi-cá-las (“a Loja do Ganso e da Gre-lha”, “a Loja da Macieira”, etc.).

Com relação a semelhança com o templo de Jerusalém, aduzindo ser esta a verdadeira inspiração para a origem histórica da Sala dos Passos Perdidos, Castellani (2010, p. 234) não comunga desta opinião, eis que se manifesta:

A ideia de que a loja seria uma cópia do templo de Jerusalém, que lhe teria servido de arquétipo, é posterior a essa primeira constru-ção, graças ao fato de terem sido colocadas, no átrio, ou vestíbulo da Loja, duas colunas – como as existentes nas antigas igrejas – que tomaram os nomes de duas colu-nas existentes, segundo o Livro dos Reis, no pórtico do templo de Jerusalém, embora a sua forma fosse totalmente diferente daquela descrita nos textos bíblicos.

Superficialmente abordada a temá-tica da origem da denominação, neces-sário se faz conceituar adequadamente tal espaço, conforme se fará no tópico seguinte.

34 O PRUMO

2.2 Conceito Muito se expõe sobre as dimensões

do Templo, suas alegorias e símbolos. No concernente a Sala dos Passos Per-didos, o abastamento de informações não é realidade. Pelo contrário: pelos conteúdos pesquisados, a carência de detalhes é a regra!

Segundo o Grande Oriente de Santa Catarina:

(...) As dimensões de um Templo Maçônico, ou o local do trabalho, de-vem ser do comprimento igual ao tri-plo da largura, de modo a formar três quadrados perfeitos, sendo o Oriente um dos quadrados, o Ocidente dois quadrados e o Átrio com metade de um dos quadrados. (GOSC, 2009, p. 31)

A Sala dos Passos Perdidos é defi-nida por (GOMES) como “a ante-sala [sic] onde os Irmãos são recepcionados, se cumprimentam, se confraternizam e aguardam o momento de entrarem no Templo.”

No mesmo sentido indica Lasmar (2010) para quem (...) aquela que pre-cede a entrada ao Tempo Maçônico. Ela faz parte da simbologia maçônica e se presta à imaginação e ao gosto interpre-tativo de muitos.

Conforme já mencionado antes a Enciclopédia MACKEY, apud Pereira (2010) destaca:

O sentido maçônico desta denomi-nação se origina no fato de que todo o passo realizado antes do ingresso na Maçonaria, ou que não se coaduna com suas Leis, deve ser considerado simbo-licamente como perdido. Nas Lojas ma-çônicas de Paris é assim denominada a ante-sala [sic] do Templo.

A conclusão de Lasmar (2010) é que a “Sala dos Passos Perdidos” uma expressão francesa anterior à Maçona-ria Moderna.

O Grande Oriente de Santa Catari-na, ao efetuar a explanação acerca do Templo traça o conceito adotado para todos os fins perante a Sublime Ordem, como:

O edifício Maçônico deve ter uma sala de recepção, denominada Sala dos Passos Perdidos, que antecede o Átrio ou, na ausência deste, antecede a en-trada do Templo. Deve ser suficiente-mente ampla para receber convidados antes de adentrar ao Templo, principal-mente em sessões públicas. Poderá ser mobiliada e de paredes decoradas com quadros ou galeria de retratos de ma-

çons ilustres ou dos que se sucederam na administração da Loja. Poderá haver cadeiras ou poltronas de espera e uma mesa, sobre a qual devem estar, antes das sessões, o Livro de Presenças dos Irmãos e uma caneta. (GOSC, 2009, p. 41-42)

Formando o conceito operacional1 a Sala dos Passos Perdidos é o ambiente destinado a recepção, que antecede ao Átrio, onde os obreiros advindos das lidas profanas se encontram e congra-çam, até que sejam chamados pelo Ir MC para concentração no Átrio e pos-terior ingresso ao Templo.

1 Segundo Pasold (2011), o concei-to operacional (COP) é utilizado para definir uma palavra ou expressão, ob-jetivando que tal definição seja aceita para as ideias que expostas. Na presente Peça de Arquitetura, o COP é proposto por adoção.

Detalhe especial a expressão “que antecede o Átrio”, que será objeto de comento no próximo tópico.

2.3 relação Sala dos passos perdi-dos e Átrio

Remontando aspectos históricos, tem-se de forma genérica que o átrio era o nome atribuído aos

(...) três grandes recintos do tem-plo de Salomão, o primeiro era o átrio dos gentios, onde era permitida a en-trada de qualquer um que fosse orar, o segundo era o átrio de Israel, onde somente os hebreus podiam penetrar, (depois de haverem sido purificados) e o terceiro era o átrio dos sacerdotes, onde se erguia o local dos holocaustos e os sacerdotes exerciam seus mistérios. (PEREIRA, 2010)

Efetivamente, em termos mais mo-dernos, Lasmar (2010) menciona tra-tar-se do “lugar que representa a linha divisória entre o mundo profano e o sagrado.”

Ao tratar de determinados rituais, Camino (1999) indica a localização da

35O PRUMO

Sala dos Passos Perdidos e o Átrio, no concernente ao Templo Maçônico no Rito Escocês Antigo e Aceito, conforme se observa:

Desfaz-se a Cadeia, lentamente; cada Elo toma seu lugar na Loja e de-pois, são despedidos pelo Venerável Mestre, retirando-se, silenciosamente, em direção ao Átrio e após, à Sala dos Passos Perdidos, onde retomam a ativi-dade profana.

O Átrio é (...) uma sala vestibular no Templo. A rigor, é no Átrio que se colo-cam as colunas “J” e “B”, mas por ques-tão de espaço, poderão ser colocadas ladeando, por fora, a porta do Templo. (GOSC, 2009, p. 41).

Poderia se representar o Templo Maçônico conforme o esquisso rudi-mentar abaixo:

Observa-se então que grande dis-tinção existe quando a função prática dos ambientes, visto que o Átrio é parte do Templo e exige o devido acatamento e respeito enquanto que a postura e a conduta a ser mantida na Sala dos Pas-sos Perdidos está voltada a memória do mundo profano, posto ser mais externa e acessível.

Desta feita, o imóvel estabelecido na Rua Bom Pastor, nº 33, Bairro Canta Galo - Rio do Sul - SC, que é utiliza-da para os obreiros da A\R\L\S\ Luz do Vale 43, tem ocupado o Átrio para algumas atividade típicas da Sala dos Passos Perdidos.

2.4 ponderações imateriais sobre Sala dos passos perdidos

Certo bramido reside na expressão “Sala dos Passos Perdidos”, quando dita para os não iniciados.

Utilizando-se do jargão jurídico, é comum chamar de “Sala dos Passos Perdidos” como àqueles espaços havi-dos nos Tribunais, onde as partes, após finda a instrução processual, aguardam a sentença que poderá ser prolatada, ensejando muitas idas e vindas de um

canto a outro, motivadas pela ansieda-de.

Também porquê, “passos perdidos” correspondem a força/energia mal em-pregada, ou mesmo, desperdício desta, eis que não levam a lugar algum. Ape-nas denotam a espera ou a incerteza.

Sob o espectro simbólico, caminha o estudo pela digressão proposta por Mackey, acima mencionada, e aqui re-petida: caso alheia a caminhada evolu-tiva maçônica ou sua principiologia, os passos são perdidos.

Segundo Neto (2011):Os profanos, por desconhecimento,

e os maçons, por esquecimento, ao não seguirem os ensinamentos da Arte Real, andam a esmo, sem rumo. Suas ações tornam-se dispersas e os esforços vãos. Porém, ao se voltarem para a doutrina Maçônica, o Templo Interior se organi-za, a “Sala dos Passos Perdidos” passa a ficar fora da construção espiritual e aí podem, unidos com os demais Irmãos, dar um destino às suas ações em prol do auto desenvolvimento moral e espi-ritual e do bem estar da Humanidade.

Sob o prisma de que o Templo re-presenta o cosmos e a Loja é a reunião dos obreiros para realização de objeti-vos Justos e Perfeitos, torna-se neces-sário ponderar que a “Sala dos Passos Perdidos” tem a função de lembrar a postura e atitude do maçom fora do Templo ou seja, no Mundo Profano.

Segundo Gomes: Além disso, devemos estar cada

vez mais conscientes de que A Sala dos Passos Perdidos é um recinto também de reflexão, onde devemos - no míni-mo – pensar sobre o seu Real Objetivo: o de representar o mundo lá fora, com seus eventuais perigos e infortúnios. Para combater esses perigos e mazelas, o Maçom deve sempre se portar de es-pada, e estar pronto para guerra: para lutar contra a ignorância, os preconcei-tos e erros! lutar em prol do Direito, da Justiça e da Verdade, a bem da Pátria e da Humanidade

Nesta caminhada, ao ingressar no Átrio e posteriormente ao Templo, to-dos os passos serão úteis e válidos, pos-to que os objetivos da Sublime Ordem estarão presentes, com os valores de Li-berdade Igualdade e Fraternidade lade-ando o percurso, através da Egregora2, com o objetivo de se cavar masmorras ao vício e construir templos à virtude.

2 Deriva do grego “egrogorien”, com o significado de “vigiar”. A Maçonaria aceita a presença da Egrégora em suas sessões litúrgicas. A Egrégora é uma “entidade” momentânea; subsiste en-quanto o grupo está reunido. Para que surja a Egrégora é necessária a prepara-ção ambiental, formada pelo “som”, pelo “perfume do incenso” e pelas vibrações dos presentes. Essas vibrações devem ser “puras”, eliminando o maçom, antes

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de ingressar em Templo, no Átrio todos os pensamentos inapropriados para o culto maçônico. A ritualística e litur-gia preparam o momento do surgi-mento da Egrégora; no exato momen-to em que o Oficiante termina a leitura em voz alta do trecho do Livro Sagra-do, a Egrégora forma-se, brotando do Altar, como tênue fio espiritual para adquirir corpo etéreo como as carac-terísticas humanas. Os mais sensitivos percebem essa Entidade; ela se man-tém silenciosa, mas atua de imediato, em cada maçom presente, dando-lhe a assistência espiritual de que necessita, manipulando as “permutas” de ma-çom para maçom, construindo assim, a Fraternidade. Para cada Loja, forma--se uma Egrégora específica. Quando as Lojas se reúnem em congressos e se apresentam ritualisticamente, obser-vada a liturgia, essa Entidade especi-fica, podem forma-se e então surgirá uma Egrégora para cada grupo. Os céticos não aceitam essa Entidade; po-rém os estudos aprofundados revelam a possibilidade do seu surgimento; essa Egrégora não é motivo de ado-ração, pois é uma entidade formada pela força mental e pelas vibrações do conjunto; em resumo poder-se-ia di-zer que a Egrégora é a materialização da força do maço, enquanto em Loja. (ARSL FRATERNIDADE Nº 100, [s.d.])

3. ConCLuSãoPor todo o exposto, observa-se que

o desígnio Sala dos Passos Perdidos deriva do Mundo Profano, daqueles ambientes usados como antessala no aguardo de audiências. Também que tal associação aos Templos deriva da perspicácia dos Mestres da Maçona-ria operativa, que ao construírem o Freemason’s Hall buscaram reproduzir espaços que já conheciam.

Desta feita, colhe-se que a Sala dos Passos Perdidos é o ambiente destinado a recepção, que antecede ao Átrio, onde os obreiros advindos das lidas profanas se encontram e congraçam, até que se-jam chamados pelo Ir MC para concen-tração no Átrio e posterior ingresso ao Templo.

Versando sobre o aspecto simbó-lico, urge dizer que a não observância dos princípios maçônicos – quer por ignorância, quer por displicência – re-dunda em caminhar sem destino certo.

Doutra banda, ao observar/viver/aplicar os preceitos maçônicos, ocor-re uma interiorização do obreiro, e em conjunto com os irmãos, garantir o pro-moção e o desenvolvimento do bem co-mum, em favor da Humanidade.

Pelo visto, na Sala dos Passos Per-didos ainda atua o profano, enquanto no Átrio, opera o sagrado, observadas as regras e rituais próprios para que os trabalhos desenvolvidos no Templo re-sultem em honra e glória ao GADU.

4. rEFErÊnCIaS BIBLIoGrÁFICaSARSL FRATERNIDADE Nº 100. PEQUE-

NO DICIONÁRIO MAÇÔNICO. BLOG DA FRATERNIDADE N° 100, [s.d.]. Disponivel em: <http://lojafra-ternidadecemdicionario.blogspot.com.br/p/letra-e.html>. Acesso em: 1 no-vembro 2013.

CAMINO, R. D. Rito Escocês Antigo e Aceito: Graus 1º ao 33º. 2. ed. São Pau-lo: Madras, 1999.

CASTELLANI, J. A verdadeira origem his-tórica da Sala dos Passos Perdidos. In: SILVEIRA, W. O Prumo 1970-2010: coletânea de artigos: Grau 1 - Aprendiz. Florianópolis: Grande Oriente de Santa Catarina, v. I, 2010. p. 230-234.

COUTO, S. P. Dicionário Secreto da Maço-naria. São Paulo: Universo dos Livros , 2006.

FIGOLI, G. Origem Histórica e Arquite-tônica do Templo. Espaço do Maçom, 2008. Disponivel em: <http://espacodo-macom.blogspot.com.br/2008/07/ori-gem-histrica-e-arquitetnica-do.html>. Acesso em: 18 outubro 2013.

GOMES, D. D. S. A sala dos passos per-didos. Maçonaria.net. Disponivel em: <http://www.maconaria.net/portal/index.php/artigos-publicacoes/272-a--sala-dos-passos-perdidos?tmpl=component&print=1&page=>. Acesso em: 14 outubro 2013.

GOSC. Compêndio Litúrgico: Rito Escocês Antigo e Aceito. Florianópolis: [s.n.], 2009.

LASMAR, J. A Sala dos Passos Perdidos A Origem da expressão. In: SILVEIRA, W. O Prumo 1970-2010: coletânea de arti-gos: Grau 1 - Aprendiz. Florianópolis: Grande Oriente de Santa Catarina, v. II, 2010. p. 321-324.

NETO, R. J. A Sala dos Passos Perdidos. ARLS Liberdade e União, Informativo 304, 28 junho 2011. Disponivel em: <http://arlsliberdadeeuniao.files.word-press.com/2011/06/jb-news-informati-vo-nr-304-28-de-junho-de-2011.pdf>. Acesso em: 21 outubro 2013.

PASOLD, C. L. Prática da pesquisa jurí-dica: idéias e ferramentas úteis para o pesquisador do direito. Florianópolis: OAB/SC Editora, 2011.

PEREIRA, W. L. A sala dos passos perdi-dos. Revista Universo Maçônico, São Paulo, n. 14, dezembro 2010.

37O PRUMO

rEvoLuÇão FarroupiLHa

INFLUÊNCIA MAÇÔNICA

Ir\ Maurício josé GomARLS Jacques de Molay – nº 82 - GOSC - COMAB

I - IntroduÇãoA presente prancha de arquitetura tem

como objetivo fazer uma rápida incursão sobre a participação da maçonaria na revolução farroupilha. Transcorreremos mesmo que de forma concisa sobre a guerra dos farrapos, sua origem históri-ca, e sobre a participação da maçonaria neste importante levante da história do Rio Grande do Sul e do Brasil. Quanto a metodologia empregada, foi utilizado o método científico, pois a partir do tema proposto, buscamos orientação no maior número de obras ao nosso alcance.

A abordagem principal desta prancha, focaliza os farrapos e a provável influência da maçonaria no decorrer da guerra.

II - ContEXto HIStÓrICo A Revolução Farroupilha é considera-

da um dos episódios mais importantes e simbólicos da história política e cultural do Rio Grande do Sul. Cumpre-nos antes de mais nada, situar histórica e socialmente o que vivia o povo brasileiro e gaúcho, à época que eclodiu a guerra dos farrapos.

Infere-se, que nas primeiras décadas do séculos XIX, após D. Pedro I, abdicar o trono, surgiram em todo o país várias revoluções, como a sabinada na Bahia, a cabanagem no Pará, a confederação do Equador em Pernambuco, a farroupilha no Rio Grande do Sul, entre outras. Todos

estes movimentos eram de contestação ao colonialismo e tinham ideais iluministas, estribados na revolução francesa e na independência americana.

A Revolução Farroupilha ganhou corpo diante da insatisfação dos líderes gaúchos com o modelo centralizador da regência imperial, instituída após a re-núncia do rei, em 1831. Além de gradual-mente desmobilizar guarnições militares do sul, o governo central não impunha limites à entrada no Brasil do charque uruguaio e argentino, contrariando os interesses dos produtores rio-grandenses.

Na década de 1830, a elite intelectual gaúcha aderiu mais intensamente e quan-titativamente ao pensamento iluminista e liberal, especialmente de origem francesa. Ao pesquisarmos sobre o ambiente inte-lectual do Rio Grande do Sul às vésperas da Revolução Farroupilha, encontramos obras que explicam a difusão das socie-dades e clubes literários e secretos como fundamentais na vida política e cultural

“para entendermos melhor a participação maçônica na revolução em apreço, é importante salientarmos que os principais líderes farrapos eram maçons. por exemplo: Bento Gonçalves, david canabarro, vasconcelos jardim, onofre pires e Giuseppe Garibaldi que foi iniciado após ser integrado a revolução.”

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da província. As dificuldades econô-micas enfrentadas pelo Rio Grande do Sul em razão de sua condição periférica, e de economia voltada para o mercado interno, teriam es-timulado a resistência às políticas do poder central. Tal situação coincidia com um ambiente cultural propício à difusão de associações de “lojas misteriosas”.

Entre as sociedades secretas, a de maior destaque, na perspectiva da organização maçônica, foi o gabinete de leitura “O Correntino”, instalado na cidade de Porto Ale-gre. Na visão de alguns autores, o clima de radicalização política que opunha “caramurus” (imperialistas) e “liberais nativistas”(separatistas republicanos) havia sido, em muito, intensificado pela ação dos maçons gaúchos.

A maior parte dos liberais gaú-chos assumira a opção farroupilha em razão dos privilégios centrali-zadores do Império brasileiro, que desenvolvia uma política econômica vinculada à provável influência da instituição no campo cultural, isto é, na difusão do ideário que mais tarde seria assumido discursivamente pe-los líderes farroupilhas.

O descontentamento com essas

situações e com o presidente da pro-víncia, Fernandes Braga, eram ex-pressos na imprensa, em periódicos muitas vezes editados por maçons. A revolução estourou em 1835.

Neste capitulo, podemos enten-der através de nossa pesquisa, o mo-mento histórico e social do brasileiro e gaúcho na época da revolução, assim como, os motivos que fizeram--na eclodir, a seguir passaremos a contextualizar a participação da maçonaria neste movimento.

III – a partICIpaÇão da MaÇonarIa

Para entendermos melhor a par-ticipação maçônica na revolução em apreço, é importante salientarmos que os principais líderes farrapos eram maçons. Por exemplo: Bento Gonçalves, David Canabarro, Vas-concelos Jardim, Onofre Pires e Giuseppe Garibaldi que foi iniciado após ser integrado a revolução.

Segundo dados históricos a pri-meira loja gaúcha nasceu em 1831, chamava-se Philantropia e Liberda-de, tinha como endereço a Rua da Igreja, atual Duque de Caxias, nr 67, na cidade de Porto Alegre, na então província de São Pedro do Rio Gran-de. Teve como Venerável Mestre a

época da Revolução, o capitão Bento Gonçalves.

Um episódio muito interessante que encontramos durante a pesquisa para elaboração da presente prancha, é o da fuga de Bento Gonçalves do presídio na Bahia. Após ser derrota-do na batalha do Fanfa, foi aprisiona-do em 1836 e enviado, inicialmente, para o presídio Fortaleza da Lage, no Rio de Janeiro. Pouco tempo depois, foi transferido para o Forte de São Marcelo, na Bahia.

Assim que chegou a Salvador, ainda no porto, recebeu a saudação de irmãos maçons e conspiradores liberais. Abatido com a viagem, teria feito pouco caso do encontro. Dias depois, porém, emitiu um pedido de ajuda à loja local chamada Virtude, que logo providenciou uma comis-são para visitá-lo periodicamente e deu início ao plano de fuga.

Às 10 horas do dia 10 de setem-bro, um domingo, o general, então com 48 anos, despiu-se para o ba-nho de mar e pôs-se a nadar - não se sabe se a regalia era fruto da sua notória capacidade de persuasão ou de influência e propinas pagas por companheiros da ordem aos vigias.

Teria iniciado o exercício nadan-do em voltas para distrair a vigilân-cia, mas a dada hora distanciou-se com braçadas frenéticas até atingir um baleeiro de seis remos posicio-nado por seus cúmplices na baía. Dois escaleres ainda saíram atrás da embarcação, que rapidamente chegou à ilha de Itaparica.

O fugitivo raspou a barba para se disfarçar e foi acolhido pelos amigos conspiradores. Em 7 de outubro, após quase um mês escondido, o pre-sidente da República Rio-Grandense

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embarcou em um navio comercial carregado de farinha rumo ao sul. Aportou em Santa Catarina e cum-priu o resto do trajeto até a província vizinha a cavalo, sempre com o apoio da fraternidade.

Outro ponto importante para analise da participação maçom na revolução, remeto-nos o balaústre de número 67 da loja Philantropia e Liberdade que transcrevemos ipsis literis: “Aos 18 dias do mês de Setembro de 1835 da E.’.V.’., e 5835 da V.’. L.’., reunidos em sua sede, sita à Rua da Igreja, n 67, em lugar claríssimo, forte e terrível aos tiranos, situado abaixo da abobada celeste do zênite, aos 30º Sul e 5º de Latitude da América Brasileira, ao vale de Porto Alegre, Província de São Pedro do Rio Grande, nas de-pendências do gabinete de leituras onde funciona a Loj.’. Maç.’. PHI-LANTROPIA E LIBERDADE, com o fim de, especificamente, traçarem as metas finais para o início do movimento revolucionário com que seus integrantes pretendem resgatar os brios, os direitos e dignidade do povo Riograndense. A sessão foi aberta pelo Ven.’. Mestre Ir.’. Bento Gonçalves da Silva. Registre-se, a bem da verdade, ainda as presenças dos IIr.’. José Mariano de Matos, ex Ven.’. Mestre, José Gomes de Vas-concellos Jardim, Pedro Boticário, Vicente da Fontoura, Paulino da Fontoura, Antônio de Souza Neto e Domingos José de Almeida, o qual serviu como secretário e lavrou a presente ata. Logo de início o Ven.’. Mestre, depois de tecer breves considerações sobre os motivos da presente reunião de caráter extraor-dinário, informou a seus pares que o

movimento estava prestes a ser de-sencadeado. A data escolhida é o dia vinte de Setembro do corrente, isto é, depois de amanhã. Nesta data, todos nós, em nome do Rio Grande do Sul, nos levantaremos em luta contra o imperialismo que reina no país. Na ocasião, ficou acertada a tomada da capital da província pelas tropas do IIr.’. Vasconcellos Jardim e Onofre Pires, que deverão se deslocar desde a localidade de Pedras Brancas, quando avisados. Tanto Vasconcellos Jardim quanto

Onofre Pires, ao serem informados responderam que estariam a pos-tos aguardando o momento para agirem. Também se fez ouvir o nobre Ir.’. Vicente da Fontoura, que sugeriu o máximo cuidado, pois cer-tamente, o Presidente Braga seria avisado do movimento.  O Tronco de Beneficência fez a sua circula-ção e rendeu a medalha cunhada de 421$000, contados pelo Ir.’. Tes.’. Pedro Boticário. Por proposição do IIr.’. José Mariano de Matos, o Tron-co de Beneficência foi destinado à

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compra de uma Carta de Alforria de um escravo de meia idade, no valor de 350$000, proposta aceita por unanimidade. Foi realizada poderosa Cadeia de União pela justiça e grandeza da causa, pois em nome do povo Riograndense, lutariam pela Liberdade, Igualda-de, e Humanidade, pediam a força e a proteção do G.’.A.’. D.’.U.’. para todos os Ir.’. e seus companheiros que iriam participar das contendas. Já eram altas horas da madrugada quando os trabalhos foram encer-rados, afirmando o Ven.’. Mestre que todos deveriam confiar nas LL.’. do G.’. A.’. D.’. U.’. e, como ninguém mais quisesse fazer uso da palavra, foram encerrados os trabalhos, do que eu, Domingos José de Almeida, Secretário, tracei o presente Balaús-tre, a fim de que a história, através dos tempos, possa registrar que um grupo de maçons, homens livres e de bons costumes, empenhou-se com o risco da própria vida, em restabe-lecer o reconhecimento dos direitos desta abençoada terra, berço de grandes homens, localizada no ex-tremo Sul de nossa querida Pátria.  Oriente de Porto Alegre, aos dezoito dias do mês de setembro de 1835 da E.’. V.’., 18º dia do sexto mês Tirsi da V.’. L.’. do ano de 5835. Irmão Do-mingos José de Almeida. Secretário.”

Outra evidência de relevância é a bandeira do estado sul rio-gran-dense, idealizada após a revolução, que carrega alguns símbolos ma-çons. (Vejam ilustração na página anterior.)

Durante os prospectos de nossa pesquisa encontramos algumas obras de historiares profanos que contestam a veracidade do balaús-

tre de nr 67, assim como rejeitam a afirmação de que a maçonaria foi fundamental na fomentação e ma-nutenção da Revolução Farroupilha.

Trazem estes autores dados so-bre as lojas maçônicas gaúchas que estavam em formação há época. Também demonstram que muitas lojas eram de orientação politica imperialista “caramuru”, outras eram “separatistas republicanas”. Segundo estes historiadores, as lojas ao se for-marem já tinham tendência política como opção.

Iv – ConCLuSãoAo elaborarmos a presente pran-

cha, compreendemos a Revolução Farroupilha e a participação da maçonaria neste evento. Podemos observar alguns fatos são incontestes em alguns aspectos, entretanto, há historiadores seculares (não maçons) colocam em cheque se a participação foi decisiva e fundamental como alguns autores maçons ratificam, há inclusive discussão sobre a autentici-dade do teor do balaústre de número 67 da loja Philantropia e Liberdade.

Compreendemos também que apesar que dentre os pilares da ma-çonaria estão: igualdade, liberdade e fraternidade, não podemos nos furtar a perceber que, o que motivou a Revolução Farroupilha, fomentada ou não por maçons, foi o interesse econômico, por conta dos prejuízos que a importação de charque argen-tino e uruguaio, causavam a econo-mia local, assim como o menosprezo politico com que a província de São Pedro do Rio Grande era tratada pela coroa brasileira.

Aprendemos também que quan-do homens livres e de bons costumes,

unem-se por um objetivo lídimo, a possibilidade de se alcançar a meta estipulada é muito maior. Pois, as energias do universo colaboram com a consecução do ideal.

v – rEFErÊnCIaS BIBLIoGrÁFICaSantunES, Deoclécio Paranhos. Os

partidos políticos no Rio Grande do Sul: gênese e desdobramento histórico desde a proclamação da independência à república. In: Anais do I Congresso de História e Geografia Sul-Rio-Grandense. IHGRGS. Porto Alegre: Globo, 1936. v. 2. p. 215-266.

CoLuSSI, Eliane Lucia. A maçona-ria gaúcha no século XIX. 3. ed. Passo Fundo: Editora da UPF, 2003.

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FaGundES, Morivalde Calvet. Re-velações da história da maçonaria gaúcha. Hoy es Historia, Monte-vidéu, ano 4, n. 20, p. 41-50, 1989.

LEItMan, Spencer Lewis. Razões socioeconômicas da Guerra dos Farrapos: um capítulo da história do Brasil no século XIX. Rio de Janeiro: Edições Graal, 1979.

SILva, João Pinto da. A Província de S. Pedro (interpretação da histó-ria do Rio Grande). Porto Alegre: Globo, 1930. SPALDING, Walter. Farrapo. Porto Alegre: Sulina, s/d.