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MEC Ministério da Educação INEP Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira Situação educacional dos jovens brasileiros na faixa etária de 15 a 17 anos Carlos Eduardo Moreno Sampaio * * Mestre em Estatística e Métodos Quantitativos pela Universidade de Brasília. Funcionário de carreira do Inep e, atualmente, coordenador-geral do Sistema Integrado de Informações Educacionais da Diretoria de Tratamento e Disseminação de Informações Educacionais (DTDIE/Inep). Brasília-DF 2009

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  • MECMinistrio da Educao

    INEPInstituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Ansio Teixeira

    Situao educacional dos jovens brasileiros na faixa etriade 15 a 17 anos

    Carlos Eduardo Moreno Sampaio *

    * Mestre em Estatstica e Mtodos Quantitativos pela Universidade de Braslia. Funcionrio de carreirado Inep e, atualmente, coordenador-geral do Sistema Integrado de Informaes Educacionais daDiretoria de Tratamento e Disseminao de Informaes Educacionais (DTDIE/Inep).

    Braslia-DF2009

  • Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Ansio Teixeira (Inep) permitida a reproduo total ou parcial desta publicao, desde que citada a fonte.

    ASSESSORIA TCNICA DE EDITORAO E PUBLICAES

    NORMALIZAO BIBLIOGRFICARosa dos Anjos Oliveira

    REVISOAntonio Bezerra Filho

    DIAGRAMAO E ARTE-FINALRaphael C. Freitas

    TIRAGEM1.000 exemplares

    EDITORIAInstituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Ansio Teixeira (Inep)Assessoria Tcnica de Editorao e PublicaesEdifcio-sede do InepSRTVS Quadra 701, Lote 12, Bloco M Ed. Dario Macedo, Trreo Asa Sul70340-909 Braslia-DFFones: (61) 2022-3075 (61) 2022-3076 Fax: (61) [email protected]

    DISTRIBUIOInstituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Ansio Teixeira (Inep)Edifcio-sede do InepSRTVS Quadra 701, Lote 12, Bloco M Ed. Dario Macedo, Trreo Asa Sul70340-909 Braslia-DFFone: (61) [email protected]://www.publicacoes.inep.gov.br

    ESTA PUBLICAO NO PODE SER VENDIDA. DISTRIBUIO GRATUITA.A exatido das informaes e os conceitos e opinies emitidos so de exclusiva

    responsabilidade dos autores.

    Dados Internacionais de Catalogao na Publicao (CIP)Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Ansio Teixeira

    Sampaio, Carlos Eduardo MorenoSituao educacional dos jovens brasileiros na faixa etria de 15 a 17 anos / Carlos

    Eduardo Moreno Sampaio. Braslia : Instituto Nacional de Estudos e PesquisasEducacionais Ansio Teixeira, 2009.

    15 p. : il. (Srie Documental. Textos para Discusso, ISSN 1414-0640 ; 33)

    1. Escolaridade obrigatria. 2. Jovem. 3. Acesso ao ensino. 4. Desempenho no Enem.5. ndice de Adequao Idade-Anos de Escolaridade. I. Instituto Nacional de Estudos ePesquisas Educacionais Ansio Teixeira. II. Ttulo. III. Srie.

    CDU 37.014.14-053.6

  • SumrioSituao educacional dos jovens brasileiros na faixa etria

    de 15 a 17 Anos

    RESUMO ............................................................................................................................................ 5

    INTRODUO ................................................................................................................................... 5

    1 O GARGALO DO ENSINO FUNDAMENTAL.................................................................................... 6

    2 CUSTO DO ATRASO ESCOLAR ....................................................................................................... 7

    3 PERFIL DO ENSINO MDIO PBLICO ......................................................................................... 10

    4 JUVENTUDE E POBREZA ............................................................................................................. 11

    5 CONDIES DE ACESSO E FATORES DE EXCLUSO ................................................................... 12

    6 FRACASSO ESCOLAR E ANALFABETISMO .................................................................................. 13

    7 DESEMPENHO NO ENEM POR IDADE ........................................................................................ 14

    CONCLUSES .................................................................................................................................. 15

    REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS ..................................................................................................... 16

  • 5

    Situao educacional dos jovens brasileirosna faixa etria de 15 a 17 anos*

    Carlos Eduardo Moreno Sampaio

    RESUMO

    O desafio de assegurar 100% de frequncia escola para a populao de 15 a 17 anos nassries adequadas a cada idade ser analisado com base no ndice de Adequao Idade-Anos deEscolaridade, que se fundamenta nas informaes da Pnad e avalia a proporo da populaoque j alcanou a escolaridade apropriada sua idade. Os dados apresentados revelam que acapacidade instalada do ensino mdio insuficiente para a incorporao imediata do contingentede jovens aos quais ele se destina; a taxa de distoro idade-srie indica que quase metade dosalunos tem idade superior adequada para a srie frequentada; os indicadores de fluxo escolarapontam altos ndices de fracasso escolar; a maioria desse pblico-alvo (67,8%) provm de fam-lias com renda per capita igual ou inferior a um salrio mnimo; predominam os cursos regularesnoturnos e, em muitos municpios, no h oferta desse nvel de ensino.

    INTRODUO

    No momento em que influentes setores da opinio pblica e da mdia discutem a reduoda maioridade penal e pressionam fortemente o Congresso Nacional a aprovar o endurecimentode penas para crimes envolvendo menores, oportuno refletir sobre as condies em que vivemos jovens brasileiros e sobre as oportunidades educacionais que a sociedade lhes oferece. Estareflexo pode contribuir para mostrar quem so os adolescentes e jovens que esto sendo em-purrados para a delinquncia e para o crime, bem como orientar a adoo de polticas pblicasque possam interromper o crculo vicioso da pobreza, excluso e violncia que ameaa o futuroda juventude brasileira.

    1 Este texto foi escrito para ser apresentado no II Seminrio de Anlise dos Resultados da Pesquisa Nacio-

    nal por Amostra de Domiclios, promovido pelo Centro de Gesto e Estudos Estratgicos (CGEE) em 6 de

    maro de 2007, em Braslia, com o apoio do Ministrio do Planejamento, Oramento e Gesto (MP), do

    Ministrio do Desenvolvimento Social e Combate Fome (MDS), do Ministrio do Trabalho e Emprego

    (MTE), do Ministrio da Educao (MEC) e do Instituto de Pesquisa Econmica Aplicada (Ipea). O autor

    recebeu importantes contribuies de Paulino Motter, Liliane Aranha Oliveira e Vanessa Nespoli, entusias-

    tas da educao, amigos e colegas seus de longa data no Inep, aos quais deixa registrados sinceros

    agradecimentos.

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    O sistema educacional brasileiro tem como obrigatoriedade constitucional assegurar que todasas crianas, aos seis anos de idade,1 ingressem no ensino fundamental e exige a frequncia escolarpara todos aqueles na faixa de 7 a 14 anos. Teoricamente, uma vez observada a legislao em vigor,estaria garantida a concluso do ensino fundamental para aqueles que atingissem 15 anos. Assim, aclientela em idade adequada para frequentar o ensino mdio seria a populao de 15 a 17 anos. Ascaractersticas dessa populao que se prepara para o mercado de trabalho ou para a continuidade deseus estudos na educao superior ser o foco principal das reflexes apresentadas neste trabalho.

    Apesar das amplas garantias legais que protegem o direito educao, a realidade educacionalbrasileira est longe de corresponder aos anseios da sociedade. evidente que o Brasil conquistouavanos importantes na rea educacional nas ltimas dcadas: alunos evadidos voltaram a frequentara escola; o acesso ao ensino fundamental deu um salto significativo, tornando-se quase universal(97,1% das crianas de 7 a 14 anos frequentam a escola); e, com a criao do Fundef, maiores recursosforam destinados ao ensino fundamental. Essas conquistas so louvveis, porm insuficientes, umavez que no basta frequentar a escola: preciso que os alunos alcancem os nveis mais avanados daescolaridade bsica e, obviamente, obtenham a aprendizagem adequada aos anos de estudo acumu-lados. Isto garantir o que podemos chamar aqui de educao de qualidade para todos e, a longoprazo, tambm a universalizao do ensino mdio, no seu sentido mais preciso.

    1 O GARGALO DO ENSINO FUNDAMENTAL

    A discusso sobre a necessidade premente de ampliao do acesso ao ensino mdio rumo sua universalizao est na ordem do dia (Sampaio, Goulart, Nespoli, 2006). No sem tempo,dado que a Constituio Federal, em seu art. 208, j preconiza a progressiva extenso daobrigatoriedade ao ensino mdio. O parmetro de comparao o ensino fundamental, que jincluiu mais de 97% da populao-alvo de 7 a 14 anos, e este ndice pode dar a falsa percepo deque sua universalizao est assegurada. Esta concluso precipitada levou o clebre economistaJeffrey Sachs encarregado pela ONU de monitorar o cumprimento, pelos pases, das metasestabelecidas para o alcance dos Objetivos de Desenvolvimento do Milnio a propor ao Minis-trio da Educao a substituio da meta de universalizao do ensino fundamental para crianasde 7 a 14 anos pela de universalizar o ensino mdio para jovens de 15 a 17 anos, at 2017. Elepartiu do pressuposto de que, como registrava taxas de matrculas da ordem de 97% no ensinofundamental, o Brasil j cumprira o desafio da universalizao do ensino fundamental e, portan-to, deveria avanar em relao ao prximo nvel de ensino.

    A universalizao do ensino mdio entendida como assegurar populao de 15 a 17 anos100% de frequncia escola nas sries adequadas a cada idade exige, necessariamente, aregularizao do fluxo escolar no ensino fundamental. Sendo assim, antes de falar emuniversalizao do ensino mdio, preciso atingir a universalizao na concluso do ensinofundamental e no apenas no acesso.

    Para dimensionar o desafio que ser preciso vencer, propomos como indicador o ndice deAdequao Idade-Anos de Escolaridade (Sampaio, Nespoli, 2004), baseado nas informaes da

    1 A Lei n 11.274, de 6 de fevereiro de 2006, altera o art. 32 da Lei n 9.394, de 20 de dezembro de 1996, e

    estabelece que o ensino fundamental obrigatrio, com durao de nove anos, inicia-se aos seis anos de

    idade.

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    Pnad, que avalia a proporo da populao que j alcanou a escolaridade (concluiu o nmero desries) adequada sua idade.

    Apesar de o Brasil ter avanado bastante nos ltimos 10 anos, ainda grande o caminho aser percorrido para garantir, por exemplo, que os jovens de 19 anos tenham alcanado 11 anos deescolaridade, ou seja, completado a educao bsica. No Brasil, apenas 38% conseguem essafaanha. No Nordeste, apenas 22%.

    Tabela 1 ndice de Adequao Idade-Anos de Escolaridade por Idade, segundo o Ano Brasil e Regies1996/2005

    2 CUSTO DO ATRASO ESCOLAR

    Diante deste quadro, indispensvel para o desenho das polticas pblicas em educaosaber quem so e onde esto os jovens de 15 a 17 anos. Os dados da Pnad e do Censo Escolaroferecem valiosas pistas para responder a essas perguntas. Segundo a Pnad 2005, a taxa de frequncia escola na faixa de 15 a 17 anos de 81,7% de uma populao estimada em 10,6 milhes de jovens.No entanto, somente pouco mais da metade desses estudantes est frequentando o ensino mdio.Se observarmos a taxa de escolarizao bruta, identificamos que a capacidade instalada deatendimento no ensino mdio regular equivale a 80,7% da coorte de 15 a 17 anos.

    Tabela 2 Taxa de Frequncia Escola ou Creche Brasil 1996/2005

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    Tabela 3 Taxas de Escolarizao Bruta e Lquida por Nvel de Ensino Brasil 1996/2005

    O que indicam esses nmeros?

    Em primeiro lugar, a capacidade instalada do ensino mdio seria insuficiente para aincorporao imediata de todo o contingente de jovens de 15 a 17 anos que deveria frequentaresse nvel de ensino.1 Portanto, caso seja regularizado o fluxo do ensino fundamental, havernecessidade de se expandir o ensino mdio a fim de garantir o acesso a esse nvel para os jovensque continuam retidos no ensino fundamental ou que j abandonaram o sistema. Afinal, se81,7% esto na escola (Tabela 2) e apenas a metade est no ensino mdio, razovel supor queos demais ainda se encontram no ensino fundamental e, portanto, atrasados em seus estudosem relao idade. Por outro lado, em funo do atraso escolar acumulado no ensinofundamental, o jovem que sobrevive no sistema chega ao ensino mdio com a idade defasada.

    A taxa de distoro idade-srie do ensino mdio, segundo dados do Censo Escolar 2005, de 46,3%, o que indica que quase a metade dos alunos nesse nvel de ensino tem idade superior adequada srie frequentada. Este fenmeno contribui para as elevadas taxas de distoro daidade de concluso deste nvel de ensino, isto , cerca de 40% dos concluintes do ensino mdiotm idade superior a 17 anos.

    Estas consideraes ficam demonstradas, de maneira mais clara, pela anlise dos indicadoresde fluxo escolar (Klein, 2003). Em um sistema de ensino de progresso seriada, estes indicadoresso um valioso instrumento para se acompanhar a trajetria dos alunos e medir a eficincia dasredes de ensino e a capacidade do sistema para produzir concluintes. Os indicadores de fluxotornaram possvel desvendar um dos problemas crnicos da educao brasileira, ou seja, os altosndices de fracasso escolar dos alunos, que, apesar de passarem em mdia aproximadamente 10

    2 A regularizao do Fluxo Escolar no ensino fundamental exigiria a reorganizao das redes de ensino para

    o aproveitamento da capacidade fsica e de recursos humanos j instalados.

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    anos na escola bsica (ensino fundamental + ensino mdio), completam com sucesso pouco maisde 7 sries, portanto, menos do que a escolaridade obrigatria (ensino fundamental).

    Tais indicadores foram estimados pela simulao de fluxo escolar considerando as taxas detransio (promoo, repetncia e evaso) obtidas pelo Censo Escolar do Inep e so muitoprximos ao valor do indicador de escolaridade mdia da populao brasileira obtido pela Pnad,que de 6,9 anos de estudo ou sries concludas com aprovao, para o ano de 2005, considerandoa populao de 15 anos ou mais de idade.

    Mesmo que tenham diminudo nos ltimos anos, as taxas de repetncia no Brasil continuamelevadas e muito acima dos ndices registrados por pases com nveis de desenvolvimentoequivalente ou at mesmo inferior ao nosso.

    Com taxas de promoo ainda distantes do ideal e taxas de repetncia e evaso estagnadasem patamares bastante elevados, o quadro atual caracterizado pelo inchao do sistema e pelasbaixas taxas de concluso do ensino fundamental. Um nmero expressivo daqueles que concluemesse nvel de ensino o faz em idade superior considerada adequada e muitos nem sempreingressam no ensino mdio.

    Portanto, a rigor, s se pode falar em universalizao do acesso em relao ao ensinofundamental. Universalizar o ensino, pelo conceito aqui utilizado, pressupe, alm do acesso, apermanncia, a progresso e a concluso na idade adequada, ou seja, aos 15 anos de idade parao ensino fundamental e aos 18 anos para o ensino mdio.

    Tabela 4 Taxas de Transio (Promoo, Repetncia e Evaso) por Srie Brasil 1981/2004

    Em segundo lugar, alm dos que esto atrasados, necessrio considerar a parcela queest fora da escola, que representa um percentual de 18% do total da populao de 15 a 17 anos.As razes para esta situao geralmente envolvem o fracasso escolar no ensino fundamental,fatores socioeconmicos desfavorveis e, tambm, a dificuldade de acesso ao ensino mdio,que no obrigatrio no Pas.

    preciso que se leve em conta, ainda, que existem municpios, em todas as regies, nosquais no h a oferta desse nvel de ensino. De acordo com os dados do Censo Escolar 2006, 61municpios no tm escola que oferea o ensino mdio regular, enquanto em outros 34 a oferta incompleta, ou seja, no so oferecidas as trs sries que compem esse nvel de ensino,

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    totalizando 95 municpios. Os piores nmeros so encontrados no Sul e no Sudeste, onde, res-pectivamente, em 24 e 19 municpios, ou as escolas no tm ensino mdio ou, quando o tm, nooferecem todas as sries.

    O quadro mais preocupante em relao oferta do ensino mdio na modalidade deEducao de Jovens e Adultos (EJA), que se encontra ausente em mais da metade dos municpiosbrasileiros. Conforme analisado anteriormente, como a maioria dos jovens que chega ao ensinomdio tem idade mais avanada, a expanso da oferta na modalidade de EJA coloca-se como umaprioridade.

    Tabela 5 Nmero de Municpios que Oferecem Ensino Mdio Brasil e Regies 2006

    Tabela 6 Nmero de Municpios sem Ensino Mdio Oferecido em Cursos de Educao de Jovens eAdultos (EJA) Brasil e Regies 2006

    3 PERFIL DO ENSINO MDIO PBLICO

    Outra caracterstica do ensino mdio a predominncia de cursos regulares no perodonoturno esta situao tpica do ensino pblico. Em 2001, o ensino mdio pblico chegou a ter57% da sua matrcula no perodo noturno, enquanto no ensino privado esse percentual era deapenas 14%. Em 2006, apesar da mudana de tendncia quanto a essa distribuio, 48% dosalunos da rede pblica estavam matriculados no perodo noturno. Na rede privada, esse percentualcaiu para menos da metade do que era em 2001, chegando a 6%. Esta questo merece umainvestigao mais apurada quanto s suas razes. A forte concentrao da oferta no perodonoturno tanto pode ser uma resposta demanda como um reflexo da precariedade da

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    infraestrutura das redes pblicas de ensino. sabido que, na maioria dos Estados, o ensinomdio continua hospedado nos estabelecimentos de ensino fundamental.

    De qualquer maneira, o fato de que cerca da metade da matrcula do ensino mdio pblicoest concentrada no turno noturno demonstra uma distoro no atendimento de um pblicoque, em princpio, deveria ser composto, majoritariamente, por jovens na faixa de 15 a 17 anos.

    Tabela 7 Matrcula no Ensino Mdio por Dependncia Administrativa segundo o Turno Brasil 2001/2006

    Grfico 1 Distribuio da Matrcula por Srie e Turno Brasil 2006

    4 JUVENTUDE E POBREZA

    Mas... qual o perfil da populao de 15 a 17 anos? Segundo os dados da Pnad 2005, 67,8%desses jovens so provenientes de famlias com renda per capita igual ou inferior a um salriomnimo. So, portanto, na sua imensa maioria, jovens de baixa renda. No Nordeste, o percentualde jovens oriundos de famlias com renda per capita igual ou inferior a um salrio mnimo chega

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    a expressivos 86%. As condies materiais de sobrevivncia desses jovens so, portanto, bastan-te precrias, o que se constitui srio obstculo acumulao de capital educacional.

    Pode-se afirmar, assim, que qualquer poltica pblica destinada aos jovens brasileiros nes-sa faixa etria dever considerar seu baixo poder aquisitivo, mesmo nas regies economicamen-te mais desenvolvidas; quando frequentam escola, eles o fazem predominantemente na redepblica. Da a importncia crucial da melhoria da escola pblica para que esses jovens recebamuma educao de qualidade, sem a qual o seu futuro , no mnimo, incerto.

    Tabela 8 Populao de 15 a 17 Anos, por Renda Familiar Per Capita (em Salrio Mnimo)Brasil e Regies 2005

    5 CONDIES DE ACESSO E FATORES DE EXCLUSO

    Ainda segundo os dados da Pnad 2005,1 dos 8,9 milhes de jovens que frequentam aescola em qualquer nvel, 50,1% so mulheres, demonstrando que o quesito gnero no seapresenta como um fator de discriminao de acesso educao em nosso Pas. A materni-dade precoce uma experincia vivida por 1,6% das jovens estudantes. Todavia, ao analisaro grupo que no frequenta a escola, observa-se com espanto que 28,8% das jovens de 15 a 17anos j so mes, o que indica claramente que o fenmeno da gravidez na adolescncia estassociado ao abandono da escola, principalmente quando aliado baixa condiosocioeconmica.

    Quanto ao quesito cor ou raa, enquanto para o grupo que frequenta a escola esta caracte-rstica apresenta uma certa paridade e se mostra prxima da distribuio da populao brasileira,predominantemente miscigenada 53% dos estudantes se declararam no brancos , para apopulao que no frequenta a escola esta caracterstica reflete um quadro de desigualdade,com mais de 3/5 dos jovens se declarando no brancos. A excluso educacional no Brasil tem,portanto, um forte componente tnico-racial.

    Em relao condio de atividade entre a populao de 15 a 17 anos que frequenta escola,35,5% economicamente ativa e 24,4% trabalhou na semana de referncia da pesquisa. Ao ana-lisarmos este quesito entre o contingente que no frequenta a escola, os resultados so 56,6% e43,7% respectivamente.

    3 Os valores foram calculados a partir dos Microdados da PNAD 2005, considerando a varivel ano de

    nascimento.

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    Tabela 9 Condio de Atividade Econmica da Populao de 15 a 17Anos Brasil 2005

    Tabela 10 Condio de Ocupao na Populao de 15 a 17 Anos que Trabalha ou Procura EmpregoBrasil 2005

    Tais resultados sugerem que esta uma populao que busca colocao no mercado detrabalho, mesmo frequentando a escola e, em geral, no perodo noturno. O ensino mdio inte-grado educao profissional deve ser incentivado como alternativa para garantir a estes jovensa oportunidade de qualificao para o trabalho, sem o que estaro irremediavelmente condena-dos ao desemprego ou subemprego. Deve constituir-se, portanto, alta prioridade governamen-tal promover a ampliao da oferta de ensino mdio integrado educao profissional. A atribui-o de fator de diferenciao mais elevado a essa modalidade de ensino na repartio dos recur-sos do Fundeb poder criar um poderoso incentivo sua expanso pelas redes estaduais deensino.

    6 FRACASSO ESCOLAR E ANALFABETISMO

    O Brasil tem empreendido grandes esforos no sentido de garantir escolaridade sua popu-lao, sobretudo s crianas em idade escolar, e de promover a alfabetizao daqueles que notiveram acesso escola ou que, apesar de nela terem ingressado, no conseguiram sequer sealfabetizar. So aes integradas e complementares que pretendem melhorar o quadro atual daeducao nacional. Um dos aspectos que sempre mereceu a ateno do poder pblico foi o daalfabetizao de adultos. As taxas de analfabetismo no Brasil tm declinado nos ltimos anos,embora em ritmo mais lento que o desejvel. Os esforos para oferecer oportunidades educacio-nais aos adultos no-alfabetizados, por meio de iniciativas como o Programa Brasil Alfabetizado,tm alcanado resultados ainda modestos, mas necessrio persistir, aprimorando os programasde alfabetizao e de EJA, j que se trata de assegurar um direito fundamental de cidadania.

    Entretanto, importante observar que, para a reduo consistente do analfabetismo adul-to, essencial que o Pas deixe de produzir analfabetos. Para ilustrar este fato, apresentamos aseguir os dados sobre a populao brasileira com 15 anos ou mais segundo sua condio dealfabetizao. Cabe destacar que, no alvorecer do sculo 21, ainda no fomos capazes de estancara reproduo do analfabetismo basta observar o nmero de analfabetos de 15 anos. Este con-

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    tingente resultado direto do fracasso escolar recente no Pas. O que chama a ateno quecerca de 2% dos analfabetos tm 15 anos e quase 1/3 deles j frequentou a escola.

    Tabela 11 Populao de 15 Anos e/ou Mais Total, Analfabeta e Analfabeta que j FrequentouEscola Brasil 1996/2005

    8. DESEMPENHO NO ENEM POR IDADE

    Outro aspecto que merece ateno o desempenho escolar dos jovens estudantes brasi-leiros. Apresentamos a seguir os resultados do ltimo Exame Nacional do Ensino Mdio, desta-cando o desempenho dos alunos concluintes de 2006. Sem aprofundar a anlise dos resultadosapresentados, cabe destacar que os alunos que esto concluindo o ensino mdio com at 18 anosde idade, independentemente da rede em que estudam, tm desempenho superior quandocomparados com aqueles com idade mais avanada, o que refora a observaes feitas no inciodeste artigo sobre os impactos negativos da distoro idade/srie.

    Tabela 12 Desempenho Mdio na Parte Objetiva da Prova do Enem, por Situao em relao ao EnsinoMdio e Dependncia Administrativa da Escola Brasil e Regies 2005-2006

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    CONCLUSES

    Apesar do seu alto grau de descentralizao e segmentao, o sistema brasileiro de educa-o bsica e seus agentes tm se mostrado bastante sensveis aos incentivos criados pelo gover-no federal, o que confirmado pela resposta rpida ao Fundef (ampliao da matrcula noensino fundamental) e aos programas especficos voltados permanncia da criana na escola(Bolsa Escola, Bolsa Famlia, entre outros).

    Todavia, a estagnao dos indicadores de fluxo escolar do ensino fundamental verificadanos ltimos anos sugere que os efeitos iniciais do Fundef perderam flego, indicando claramen-te os limites de uma estrutura de incentivo baseada exclusivamente no quantitativo de matrcu-las. A garantia de repasse de recursos com base no nmero de alunos atendidos, independente-mente do desempenho de indicadores de qualidade e produtividade, parece ter gerado acomo-dao dos agentes responsveis pelas redes de ensino fundamental pblico.

    Esta constatao deve ser devidamente considerada na implementao do Fundeb, a partirdeste ano, e na reviso dos mecanismos de transferncia voluntria do MEC. Uma ideia a serexplorada seria a de atrelar a alocao mnima aceitvel por aluno a indicadores de eficincia,como aprovao, concluso e desempenho, considerando, para no gerar distores, no o valorbruto do indicador, mas a sua melhoria ao longo do tempo.

    De fato, a atual situao da educao bsica brasileira consequncia direta da baixa qua-lidade da oferta e do contexto em que ela se d. A anlise e compreenso desse quadro, visandosua reverso, deve levar em conta o fato de que a qualidade da educao traz implcitos mltiplossignificados. O exame da realidade educacional, com seus diferentes atores individuais einstitucionais, evidencia quo diversos so os elementos para qualificar, avaliar e precisar a natu-reza, as propriedades e os atributos desejveis do processo educativo, considerando a produo,organizao, gesto e disseminao de conhecimentos fundamentais ao exerccio da cidadania.

    O desencanto dos jovens com a escola e sua excluso precoce do sistema educacionalesto na raiz dos problemas sociais que alguns setores querem solucionar por meio de medidasrepressivas e punitivas. Se quisermos evitar a barbrie decorrente de um Pas desigual, o nicocaminho devolver aos jovens o direito de sonhar com um futuro. Para isso, o primeiro passo criar oportunidades educacionais no presente.

    REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS

    KLEIN, Ruben. Produo e utilizao de indicadores educacionais: metodologia de clculo dosindicadores do fluxo escolar da educao bsica. Revista Brasileira de Estudos Pedaggicos,Braslia, v. 84, n. 206/207/208, p. 107-157, jan./dez. 2003.

    SAMPAIO, Carlos E. Moreno; NESPOLI, Vanessa. ndice de Adequao Idade-Anos de Escolaridade.Revista Brasileira de Estudos Pedaggicos, Braslia, v. 85, n. 209/210/211, p. 85-100, jan./dez. 2004.

    SAMPAIO, Carlos E. Moreno; GOULART, Oroslinda M. Taranto; NESPOLI, Vanessa. O desafio dauniversalizao do ensino mdio. Braslia: MEC/Inep, 2006. (Srie Documental. Textos paraDiscusso, 22).

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